1 TRIBUNAL DE OSIRIS Ney Lisboa de Miranda 33º Assessor

Transcrição

1 TRIBUNAL DE OSIRIS Ney Lisboa de Miranda 33º Assessor
TRIBUNAL DE OSIRIS
Ney Lisboa de Miranda 33º
Assessor Especial
1ª Inspetoria Litúrgica
Oriente de Curitiba/PR
Curitiba, 27/05/11
O Tribunal com a presença de vários súditos interessados no julgamento
da Ação Penal que a Justiça do Povo Egípcio move contra o cidadão “Tifon,
também conhecido por Set-Tifon, ou apenas Set, denunciado sob a acusação
de homicídio e ocultação de cadáver praticado contra o rei, seu Irmão,
“OSIRIS” filho do Sol, levado pela inveja e desejo de apossar-se do trono, sem
conceder a Real vítima um mínimo do direito de defesa.
Os vassalos ingressaram no local destinado ao público, curiosos, no
interior do Tribunal, conversavam em tom moderado, alguns gesticulavam
emitiam suas opiniões. Os auxiliares judiciários tomaram seus lugares; todos
esperavam pela presença de “Amon-Ra” o Divino Julgador, o qual não se fez
esperar.
Em sinal de respeito, levantaram-se, e aguardaram a determinação do
Magistrado para sentar.
Com a voz pausada e calma, Amon-Ra “declara aberto o Tribunal e
instalada a Sessão de Julgamento para ouvir os que clamam por Justiça”.
Nesse momento, todos sentam-se.
“Amon-Ra considerando já ter oportunizado ao defensor do réu a palavra
e este usando da oralidade apresentou a defesa prévia alegando a falta de
provas de que o ora acusado tenha cometido tal crime, pediu a absolvição do
réu, afirmando, por fim, que o cidadão “Tifon”, também conhecido por ”SetTifon” era inocente do crime que lhe fora imputado, como restou provado,
requereu por entender ser de inteira justiça a declaração da inocência do réu e
sua libertação imediata. Dispensou os atos judiciais preliminares, pois o
processo é do conhecimento de todos, não havendo necessidade da leitura dos
Autos e da qualificação das partes.
Passa de imediato aos atos jurídicos subseqüentes.
Não houve objeção de Akirope, o malvado defensor do réu, ao ser-lhe
dada a oportunidade para manifestar-se.
Amon-Ra determina ao Porteiro do Tribunal que proceda à chamada dos
jurados adredemente sorteados.
Foram anunciados e convidados a ingressarem no recinto, os jurados;
Isis filha da Lua e seu filho Horus; sua irmã, Neftis, que tinha como pai outro
astro que não o Sol, e servidores da família, Tot o Mestre da Escrita e Anúbis,
ainda Maat, filha de Ra e para completar o Corpo de Jurados, foi chamado
Tutakamon
Apregoada as partes e as testemunhas arroladas no libelo e na
contrariedade.
1
Antes de conceder a palavra Amon-Ra Eminente julgador,
preambularmente, levado pelo alto espírito de justiça, assim se expressou:
...
“Ante o grito clamando por justiça emitida pelo nobre povo egípcio,
que chora a morte do seu “Rei”, caiam todas as barreiras, abram-se todas
as portas. Para dar mão forte a quem as profere, abandone o trabalhador
a sua charrua, o ferreiro a sua bigorna, o pedreiro a sua trolha, o
pescador a sua rede, o sábio o seu cadinho. Que o sacerdote desenvolva
todas as suas forças espirituais! Que o guerreiro desembainhe a sua
espada e só a guarde depois de haver facilitado ao queixoso o caminho
do Tribunal que reparar o mal, salvaguardar a inocência e punir o crime
praticado”.
Eminente Procurador Geral de Justiça: - Digno representante do povo e
defensor da lei; não preciso lembrar-vos que a administração da justiça é,
certamente, a função mais importante da sociedade organizada.
- Tendes a palavra:
“-” A Justiça, ‘inicia o Eminente Procurador Geral’, não reside somente
na aplicação das Leis e no regulamentar interesse por uma autoridade
Judiciária. Ela consiste, ainda, no dever de dar a cada um a integridade do que
lhe é devida, fora mesmo de qualquer obrigação legal. Ela compreende a
tolerância para com as opiniões dissidentes; a imparcialidade esclarecida pela
razão, o esforço constante para melhorar a sorte dos que sofrem uma desgraça
imerecida; os sacrifícios necessários para assegurar às classes menos
favorecidas a participação no que representa o prazer e a dignidade da vida;
em uma só palavra, o cumprimento de deveres para com a família, a
humanidade, a Pátria e, particularmente hoje, a procura e utilização dos meios
mais eficazes para impedir guerras, implantando a arbitragem, a fim de obter
reformas mais completas nas relações entre os povos”.
- Senhores!
A sanha criminosa de Tifon, despertada e consumida pelo ciúme que
albergou no seu coração, regado pelo ódio nascido diante do sucesso do Rei,
seu irmão e a veneração que o povo lhe devotava; amado por todos,
considerado deus, filho de Cronos (o Sol).
Permitam-me traçar o perfil do acusado, antes de debruçar-me ao relato
de tão odioso crime praticado pelo Réu, com requintes de perversidade, como
comprovado está pelas diligências realizadas em juízo, acrescida das provas
materiais colhidas e depoimentos testemunhais juntados por termos ao
processo, fazem parte integrante dos Autos.
Isis, filha da Lua e Tifon, filho dos ardentes ventos do sul: embora
irmãos, Osíris desposa a Isis. Mais tarde, nasce-lhe um filho: Horus.
Isis possuía outra irmã, Neftis, que desposou a Tifon, unem-se à família
dois fiéis servidores Tot e Anúbis.
2
Sob o reinado de Osíris o Egito teve um surto de progresso, o monarca
dedicou-se à construção de canais de irrigação, retirando do Fabuloso e
Sagrado Nilo toda a reserva alimentar, vencendo a aridez do solo.
Jamais o povo egípcio conhecera tanta fartura, ordem e felicidade.
Os povos vizinhos, ansiosos por situações idênticas convidaram a Osíris
para construir suas nações.
Osíris formou um exército de homens pacíficos: artistas, artífices,
legisladores, enfim, artesãos de toda espécie e, sobretudo agricultores.
Sacerdotes e mestres-arquitetos com seus maços e cinzéis
acompanharam, e assim, partiu para uma longa viagem, passando pela Etiópia,
Arábia, Trácia, Índia, regressando pela Macedônia e Grécia.
Ao retornar ao Egito, após longa ausência, o povo se mantivera fiel, pois
Ísis, esposa de Osíris permanecera no Egito, mantendo toda a organização
deixada pelo esposo, com grande eficiência.
Os festejos pelo retorno do Rei sucediam-se por toda parte e Osíris
aceitava as homenagens.
Tifon, porém, consumido de ciúme, durante a ausência de Osíris,
mancomunado com sua amante, a rainha da Etiópia, preparou uma cilada para
destruir a seu Irmão Osíris.
Seu intento era ocupar o trono e eleger-se rei, destronando aos seus
dois irmãos Osíris e Ísis.
Dentre as programações festivas, Tifon organizou uma festa contada
com 72 dos fiéis companheiros e convidou as pessoas mais expressivas de
Tebas.
No dia aprazado Osíris, o homenageado, compareceu e ficou
deslumbrado pela recepção e expressões de boas vindas.
Para o encerramento da festa, Tifon, fez introduzir no recinto um cofre
magnificamente adornado, tanto por fora como por dentro, com trabalhos em
pedrarias e ouro.
A admiração de todos e a curiosidade concentraram a atenção naquele
objeto.
Tifon, após pronunciar um discurso, que elogiava o homenageado, disse
que o cofre seria presenteado a pessoa que nele coubesse.
Ora, Osíris era de estatura avantajada sobressaindo-se a todos e
certamente, somente ele poderia ocupar aquelas medidas que para os demais
se apresentavam exageradas.
Contudo, todos os convidados, um a um, tentaram deitarem-se dentro do
cofre, mais por curiosidade e espírito competitivo que por aspiração ao prêmio.
Chegada à vez de Osíris, sob aplausos, entrando no cofre, as suas
medidas eram justamente aquelas do baú.
Os convivas aplaudiram muito e aproveitando o momento de
euforia de todos, Tifon abaixou a tampa do core e aprisionou a Osíris.
Os 72 companheiros armados expulsaram os convidados e Tifon,
apressadamente, levou o cofre até o rio Nilo, onde o colocou em um barco
frágil, deixando que as correntes o levassem.
Passados algumas semanas, Ísis, desesperada com a ausência do seu
consorte, cortou os cabelos, vestiu-se de luto e em companhia de Anúbis
desceu o rio em busca do corpo, reunindo como escolta sete escorpiões.
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Ísis tinha conhecimento, pelos comentários ouvidos, que Tifon havia
levado o cofre até o mar; por esse motivo, seguia o curso do Nilo percustrando
as suas margens.
Incansavelmente interrogava pessoas e pescadores que navegavam nas
águas caudalosas do rio Sagrado a procura do seu amado esposo.
Obteve informes que o cofre havia sido levado ao território de Biblos, e
as águas do Nilo depositaram o cofre junto a uma tamareira que crescia na
margem; essa árvore teve crescimento rápido e envolveu em seus ramos e
tronco, o precioso cofre.
Pela persistência e pela fé na justiça e na verdade, conseguiu reaver o
cofre com o seu precioso conteúdo colocado no interior do tronco da tamareira,
servia de coluna ornamental no palácio do rei Malcandro
A recuperação deveu-se em parte a interveniência da rainha, Astarté
esposa do rei de Biblos, compadecida com o drama de Ísis, pela perda do seu
amado consorte, comoveu o Rei Malcandro que não se negou a devolver o
cofre onde estava encerrado corpo de Osíris.
Ísis em companhia de Anúbis retorna a Tebas transportando o seu
precioso tesouro, o corpo de Osíris, que morrera em conseqüência de ter sido
encerrado vivo no cofre, pelo seu irmão Tifon e jogado nas águas do Nilo.
Aberto o cofre, o corpo de Osíris estava intato, Ísis debruçou-se sobre
ele e com profunda dor e carinho.
Cautelosamente procurou um lugar seguro e secreto para dar descanso
ao corpo material de Osíris, enquanto sua alma subiria aos Campos Elisios,
junto à Amon-Ra.
Mas o desalmado Tifon, soubera da longa peregrinação de Isis e que ao
retornar à Tebas mostrava-se misteriosa e preocupada, seguiu seus passos e
descobriu o local onde jazia o féretro.
Numa noite de lua cheia, e a socapa violou a sepultura, apossou-se do
cadáver de Osíris, esquartejou-o em quatorze pedaços, lançando todos ao
vento, os quais acabaram caindo nas águas do Nilo, caracterizando-se assim
em crime continuado e premeditado.
Desolada Ísis a “viúva” recebeu informações que Tifon havia descoberto
o local secreto onde teria escondido o corpo de Osíris e o retirara, cheio de
rancor e movido pelo ódio, havia esquartejado em quatorze pedaços e
lançados ao vento sendo carregados pelas águas do Nilo.
Anúbis e Horus, “filhos da Viúva”, acompanharam-na numa embarcação
feita com papiro, desceram o Nilo e foram achados os pedaços de Osíris.
Em cada localidade, levantava um Templo, informando que a totalidade
do corpo de Osíris lá se encontrava inumado, isto para que Tifon não pudesse,
novamente, destroçar a Osíris.
Dos quatorze pedaços de Osíris, apenas treze foram encontrados, faltou
exatamente o órgão viril.
Ísis substituiu o membro perdido por um artificial e passou a consagrar o
“Falo” como divindade.
“- Senhores do Conselho de Sentença!”
- Eis o pequeno relato do caráter do desalmado Réu, que me competia
apresentar, ao qual, após examinado os Autos e diante da comprovação de
que o indivíduo, conhecido por “Set-Tifon” ou simplesmente “Tifon”, posso
afirmar, e... – com veemência, o afirmo: “Set-Tifon” é o criminoso! -
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- Afirmo louvado nas provas materiais e depoimentos das testemunhas,
que fazem parte integrante dos autos; a negativa da autoria, levantada pela
defesa, não posse consistência e nenhuma base; o que se ouviu foi uma série
artimanhas arquitetadas pela defesa, visando burlar a lei e confundir os nobres
senhores membros do Corpo de Jurados, o que naturalmente jamais ocorrerá;
- Visto que os indícios e circunstâncias gerais do crime provam
exuberantemente a culpabilidade de “Set-Tifon”, devendo ele, por isso, ser
condenado nas penas máximas pedido pelo libelo crime acusatório.
- O Presidente Julgador declarou encerrados os debates do processo e,
imediatamente, achando-se a causa em estado de ser decidida, indagou aos
senhores jurados, membros do Conselho de Sentença se estavam habilitados
e esclarecidos para julgá-la, ou se precisavam de mais esclarecimentos, como
todos respondessem negativamente, escreveu os quesitos e os leus em alta
voz e explicou o significado legal de dada um e o efeito da resposta afirmativa
ou negativa do jurado.
Determinou ao Porteiro do Tribunal que procedesse a distribuição das
cédulas aos jurados, e que os conduzissem a sala secreta onde deveriam de
acordo com a consciência e louvados em tudo o que viram e ouviram durante
os debates, procedesse à votação.
Conduzidos ao local designado, retornaram e colhidas as cédulas foram
entregues ao Presidente do Júri, que os leu uma a uma em voz alta.
Por sete votos, a zero os senhores jurados consideraram o Réu “SetTifon”, culpado pelo crime de homicídio e ocultação de cadáver, cometido
contra a vítima, seu irmão e rei – Osíris – movido apenas pelo ciúme e ódio e o
desejo de usurpação do trono Egípcio.
Da Sentença
O Magnífico e Divino Julgador - Amon-Ra – julgou procedente a
denúncia que contra o Réu foi oferecida pelo representante do Ministério
Público, pelo fato de haver o júri reconhecido ter sido o ato criminoso cometido
pelo réu “Set-Tifon” e com fundamento na Justiça Divina, condeno o réu: “SetTifon” a ser recolhido ao presídio do deus Plutão, senhor absoluto e sempre
invisível das profundezas, onde se situam os infernos e encarcerado no ventre
da terra, para sofrer as penas do fogo eterno, até que sua alma seja consumida
para todo o sempre.
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NOTA: Este trabalho é uma ficção da lenda sobre a morte de Osíris o deus Sol
dos Egípcios,
A lenda afirma que Osíris após ser encontrado pela sua consorte Isís e os
“filhos da viúva”, Horus e Tot, foi ressuscitado e Amon-Ra, atribuiu-lhe a tarefa
de Magistrado Julgador e designou-o Presidente do um Tribunal, para julgar a
alma dos egípcios cujos corações colocados na balança da justiça, caso
pesassem mais que o símbolo da Maat a deusa da verdade, seriam devorados
pelo monstro cinocéfalo; se mais leves, Osíris pronunciaria a absolvição e a
alma do morto seria assimilada ao próprio Osíris, a quem acompanharia
sempre na nave do sol, pelos espaços luminosos do céu, ou iria viver sua vida,
terrestre sob condições mais favoráveis nos Campos de Yalou.
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