a defesa zona de syracuse
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a defesa zona de syracuse
A DEFESA ZONA DE SYRACUSE Jim Boeheim Mário Silva 2003 Todos os treinadores e analistas concordam que a defesa ganha jogos e campeonatos. A Universidade de Syracuse conquistou o título da NCAA (2003) , no Louisiana Superdome, derrotando o favorito Kansas (81-78), com o recurso à defesa zona 2.3. A defesa zona é tão antiga como o basquetebol e quase poderíamos dizer que tem o seu início em Springfield, com o Dr. Naismith. Já Michigan State, com Magic Johnson a defender na ”tabela”, tinha ganho o título em 1979 recorrendo exclusivamente zona 2.3. No jogo actual dos “College” muitos treinadores utilizam a zona como alternativa à defesa individual. Contudo John Chaney (Temple) e Jim Boeheim (Syracuse) têm-na usado com sucesso, como defesa principal nas últimas duas décadas. A zona 2.3 faz parte da tradição de Syracuse e foi determinante para o surpreendente triunfo desta época. Boeheim, que já leva 26 anos à frente da equipa, não foi sempre adepto desta defesa : nos primeiros 15 anos em Syracuse quase que só defendia individualmente. Posteriormente alterou a sua filosofia de jogo e hoje a zona 2.3 constitui a sua imagem de marca. Tomando como referencia a bibliografia disponível e o “scout” dos jogos de Syracuse no “NCAA Tournament” procuraremos explicar as razões para tão bem sucedida defesa. Mário Silva 2003 Razões do sucesso da zona de Syracuse Na época de 2002-2003 o Campeonato Universitário Norte Americano (NCAA) contou ( na 1ª Divisão ) com 327 equipas. O objectivo máximo foi alcançado por Syracuse que conquistou o 65º Campeonato. As razões do sucesso dos “Orangemen”, entre outras, são as seguintes: 1. Ao longo da época poucas equipas jogam contra defesa zona. Passam a maior parte do tempo a jogar e a treinar ataques contra defesa individual. Uma equipa que faz 10 jogos consecutivos face a defesas HxH encontra grandes dificuldades no dia em que defronta uma zona. No jogo final, os treinadores de Kansas estavam preocupados com o facto de terem tido apenas um dia para prepararem o ataque contra a zona. 2. A altura, a envergadura, a rapidez dos deslocamentos e a agressividade face ao jogador com bola, dos jogadores que saem a defender os atacantes do perímetro, limita a eficácia dos “Triplos”. 3. A altura, a envergadura, o peso e a capacidade de intimidar do defesa que joga no centro da área pintada, limita a eficácia do jogo interior do oponente. 4. É mais fácil preparar o plano de jogo com uma defesa zonal que com defesa individual dado que neste caso os ataques são mais variados. 5. Esconde os jogadores com problemas de faltas (Carmelo Anthony , a “estrela” da equipa, nunca teve problemas com as faltas). 6. Esconde um mau defensor, ainda que Syracuse não tenha maus defensores. 7. A equipa fica mais efectiva no ressalto defensivo o que lhe permite sair de forma mais organizada para o contra-ataque. 8. Permite alterar a forma e o ritmo do ataque adversário. Mário Silva 2003 Consequências da Zona Syracuse: Os atacantes entram em pânico. “ Eles ficam com uns olhos muito grandes e esbugalhados. Olham uns para os outros com se estivessem perdidos”, disse o jovem jogador Kueth Duany. Para atacar bem uma zona as equipas têm de ter jogadores que não tenham medo de atacar o cesto. As equipas raramente conseguiram equilibrar o jogo interior com o exterior. Equipas com bases pequenos encontraram grandes dificuldades para passar e lançar. As equipas foram obrigadas a fazer lançamentos difíceis e mesmo os lançamentos que foram feitos sem oposição normalmente foram falhados. Parecia que lançavam sem oposição mas de repente aparecia uma mão na cara do lançador. As equipas oponentes lançaram com baixa percentagem de lançamentos : Oklahoma State (35% total lançamentos e 15% nos triplos) Oklahoma (31% no total e 17% triplos) Missouri (38% no total ), Kansas (20 % triplos). Apenas Auburn esteve um pouco melhor (43%), provavelmente porque tivera mais tempo para preparar o jogo. Do mesmo modo , fizeram muitos turnovers.: Kansas (18) Oklahoma (19) e sofreram muitos desarmes de lançamento (Kansas 7). Mário Silva 2003 Porque perdeu Kansas a final ? Para atacar a zona de Syracuse os atacantes têm de saber passar, receber, penetrar e lançar. Kansas tinha vários jogadores que o sabiam fazer, mas mesmo assim não ganhou. Jogar na transição e marcar era a forma prevista para derrotar a zona de Syracuse. Do mesmo modo, uma das ideias-chave para a atacar era obrigá-la a alargar a sua área de influência, de forma a conseguir passar a bola para os jogadores interiores. Era pois necessário fazer um misto de jogo interior e exterior. O plano de Syracuse era diferente, já que face a uma equipa que joga bem na transição tinha que ser eficiente no ataque, para tornar mais lenta a transição defesa/ataque. Por outro lado tinha que controlar as tabelas e enviar dois ou três jogadores para a recuperação defensiva. Todos os jogadores tinham de correr para a defesa. Não havia tempo para celebrar os lançamentos convertidos. A defesa zonal de Syracuse teve papel de relevo, como mostram claramente os seguintes indicadores estatísticos : o elevado número de triplos falhados por Kansas (4 convertidos em 20), de lances-livres (12 em 30), os 7 desarmes de lançamento. Se lhes juntarmos a eficácia ofensiva de Syracuse, que esteve imparável nos lançamentos do perímetro (11 triplos convertidos em 18 ) e a extraordinária exibição de Carmelo Anthony ( 20 pontos, 10 ressaltos e 7 assistências), fica explicada a vitória. Mário Silva 2003 Características da zona de Syracuse Qualquer defesa, seja HxH ou zona, pode ser efectiva se convenientemente treinada e se tiver bons interpretes,. Muitas equipas universitárias fazem da zona a sua defesa secundária, mas poucas a usam como defesa principal. A defesa zona 2.3 de Syracuse é diferente de todas as outras, porque os seus jovens jogadores são diferentes. O sucesso dos campeões passa muito pela sua grande envergadura, altura, capacidades atléticas e técnicas. Os defesas de Syracuse fazem rápidos deslocamentos e andam em movimento constante com os braços bem levantados, alargando a zona de influência da defesa. Reagem a tempo e fazem os ajustes defensivos adequados face às manobras dos adversários. Tudo fica mais difícil para o ataque, que raramente tem cestos fáceis, e mesmo quando tem cestos sem oposição, falham ou são sujeitos a falta e obrigados a idas para a linha de lance-livre. Os passes para a área pintada são sempre muito pressionados devido à envergadura dos defesas. Os jogadores sabem quais as suas responsabilidades e áreas a marcar na zona, jogando na antecipação. Muitos jogadores com grande envergadura e altura complicam ainda mais os passes e as penetrações. Mário Silva 2003 Características dos jogadores: No alinhamento normal de Syracuse na zona 2.3 , a linha da frente é composta por McNamara e Duany, que defendem juntos e procuram não só pressionar os jogadores do perímetro como também retirar a bola do poste alto. Estão posicionados inicialmente no topo da área restritiva de forma a que poder tocar as mãos. (1)-Gerry McNamara (2)-Kueth Duany É o mais baixo do “cinco” (1.85 m). É um jogador que se adapta às necessidades da equipa. Pode ser um marcador ou um distribuidor de jogo. É um líder, sem ser a “estrela“ da equipa. Rápido na defesa, pressiona os jogadores do perímetro e limita a acção do poste alto. Joga na intercepção roubando muitas bolas. Jogador com elevada estatura (2 m) para a primeira linha da defesa, com “faro” para a bola. Agressivo no perímetro. Participa no ressalto defensivo de forma eficaz. Rápido nas acções, o que lhe permite roubar muitas bolas. É agressivo nos “traps”, o que dificulta a saída da bola . Mário Silva 2003 A linha mais recuada da defesa conta com Anthony e Warrick , que estão posicionados fora da área restritiva e Forth que joga no centro da defesa. (3) Carmelo Anthony Considerado o melhor freshman do país, e candidato a uma posição de destaque no próximo “draft”, e a uma entrada na NBA. Um atleta incrível : “All around player“, alto (2.05 m) e extremamente rápido nos deslocamentos defensivos, saindo rápido aos jogadores do perímetro e recuperando a tempo a posição interior. Jogador explosivo. Grande ressaltador. Sólido bloqueador. Mário Silva 2003 (5) Craig Forth Impressionante presença fisica : alto (2.05m) e pesado (120 kg) Não é um grande marcador de pontos mas tem a técnica suficiente para converter cestos. O seu trabalho é feito na defesa e nos ressaltos. Grande capacidade para intimidar os postes contrários e para desarmar lançamentos. Agressivo na zona central da defesa. Sabe passar. (4) Hakim Warrick Ganhou força na “off season”, o que fez dele um dos jogadores com maior progressão nesta época. Um super-atleta. Extremamente rápido nas suas acções defensivas, tal como Carmelo Anthony é alto (2.05 m ), defende agressivamente no perímetro (“close up”), e recupera a tempo de impedir os passes penetrantes interiores. Dá ajudas importantes na rotação defensiva. Marca cestos de qualquer lugar com “Dunks” espectaculares. Não é tão eficaz como devia nos desarmes de lançamento. A sua envergadura é a de um jogador gigante de 2.10 m. Áreas de responsabilidade dos jogadores Passes no perímetro Se 2 devolve a 1 os defesas regressam às posições iniciais com X2 a pressionar a bola. X2 não sai fora dos 6,25m. Os jogadores da linha da frente não saem dos 6,25m e pressionam o jogador com bola, com Carmelo (X3), Forth (X5) e Warrick (X3) ajustam a as duas mãos levantadas. Defesa na linha da posição na direcção da bola. bola/cesto. Todos os defesas estão orientados para a bola. Braços levantados. Na linha da frente os defesas X1 e X2 movimentam constantemente os braços para cima e para baixo, até à altura da cabeça. X1 sai ao 1º passe do seu lado. Ao passe inicial do base 1 para o extremo 2, MCNamara (X1), desliza e pressiona o jogador com bola. Duany (X2) desliza para a área do “cotovelo” do lado da bola. X2 orientado para a bola (paralelo à linha lateral) em ajuda . Todos os jogadores orientados para a bola. Movimento colectivo. Ao passe reagem TODOS. Mário Silva 2003 Na mudança do lado da bola, com o passe de 1 para 3, o defesa X3 sobe rápido à linha da frente e marca o jogador com bola até que X2 possa marcar o extremo. Pode fazer um “Bump” e regressar rápido para a posição original. X1 desliza e defende a área do “cotovelo”, do lado bola. X5 e X4 ajustam para o lado da bola. A aproximação ao jogador com bola (“close up”) é feita na maior parte das vezes com o braço interior levantado (orientar o atacante para a linha final). Algumas vezes a aproximação foi feita com as duas mãos levantadas, pressionando a bola. Ao passe para o canto, X3 sai agressivamente ao portador da bola. X5 ajusta na área do poste baixo. X2 entra em ajuda para a área do poste alto. Quando a bola é passada para trás, os jogadores voltam às posições originais. É importante que X1 e X2 recuperem rápido, porque as boas equipas tentam atacar o topo da área restritiva com o recurso ao drible de penetração. Os bases X1 e X3 defendem os três jogadores do perímetro com a ajuda de X3 e X4. X2 ajusta com o driblador. Mário Silva 2003 “ Short corner” Quando o ataque muda o lado da bola e obriga X3 a subir, este liberta uma área atrás dele (“short corner”) que pode ser aproveitada pelo atacante O4. Syracuse faz “trap” ao passe de O3 para O4. Com X3 e X5 no 2x1 e o defesa X4 no lado oposto a proteger o cesto. X1 protege o topo da área restritiva e X2 joga na intercepção ao passe de retorno. Penetração pela linha final Forçar o drible para a linha final é bom para fazer “traps”. É uma terra de ninguém com pouco espaço para o atacante jogar. Quando Syracuse defrontou Texas, o seu base (T.J. Ford) foi muitas vezes forçado a driblar para o “short corner”, uma área de “trap” para Syracuse. Texas ficava com problemas para sair do trap e passar contra dois defesas mais altos. Mário Silva 2003 “Trap” no canto Algumas vezes no passe ao canto (O2 para O4), Syracuse faz “trap” com X1 e X4. O defesa X2, na linha da frente, joga na intercepção no passe de retorno. X5 defende a área do poste baixo e X3 ajusta a posição de forma a defender o passe cruzado . Algumas vezes X2 ficava a marcar o poste alto e não saía à intercepção. Reacção rápida de todos os jogadores à saída da bola do “trap”. Penetração pelo meio O5 faz um “Muro” com os braços bem levantados parando as penetrações no meio / obrigando o atacante a alterar a trajectória do lançamento/ desarmando o lançamento/ obrigando a “Turnover”. X4 e X1 ajudam a parar a penetração em drible. X3 e X4 rodam. Mário Silva 2003 Na defesa da penetração de O3 pelo meio, X5 sai a tapar a zona central. X1 e x4 ajudam. X3 e X2 ajustam. Defesa do poste alto X2 marca o poste alto pela frente. Braços à altura dos ombros X5 defende a área perto do cesto e só sobe quando a bola entra no poste alto O5. Braços bem levantados, não salta. X1 e X2 pressionam o poste alto. X3 e X4 reagem rápido na direcção do cesto. Três jogadores à volta do poste alto. Colapso sobre o poste. Obriga a passar para fora. Se o poste alto usa o drible X1 e X2 roubam a bola. Ajuste colectivo ao passe para fora. Mário Silva 2003 Comunicação poste /poste Face transição de Kansas : ajuste da defesa de Syracuse. Quando a bola entra em O5 é marcado pelo defesa X5 . O5 comunica com O4 no “short corner”. X4 roda na linha final, X1 ajusta na rotação pela linha final. Muitas vezes X3 foi suficientemente rápido para recuperar e cortar a linha de passe para O4. Nas meias finais da “East Region” a equipa de Auburn conseguiu atacar a zona de Syracuse com sucesso, colocando o poste Marquis Daniels a receber a bola na linha de lance livre e daí conseguiu lançar com sucesso ou descobrir um companheiro em boa posição, enquanto o defesa Forth ou McNeil defendia a zona central. Mário Silva 2003 Ressalto defensivo Triângulo defensivo de ressalto. Área de ressaltos longos. Saíam ao lançamento. Bloqueiam o lançador. Quatro jogadores sempre no ressalto defensivo. Mário Silva 2003
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