Controle de pressão na perfuração de poços de petróleo utilizando

Transcrição

Controle de pressão na perfuração de poços de petróleo utilizando
Controle de pressão na perfuração de poços de petróleo utilizando-se a válvula de
choke
1
2
2
3
Frederico R. B. Vieira, Wylmar C. Perezynski, Natália R. Greco, Márcia Peixoto Vega
1.
Discente do PPGEQ/UFRRJ
Discente do curso de Engenharia Química/UFRRJ
3
Professor da UFRRJ
2.
1,2,3
Departamento de Engenharia Química, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, BR465, km7, 23890-000,
Seropédica, RJ, Brasil
e-mail: [email protected]
RESUMO - O presente trabalho tem por objetivo controlar a pressão anular de fundo, alterando
a abertura da válvula choke (variável manipulada), através de uma estratégia de controle PI.
Foram realizados estudos de simulação e testes em uma unidade experimental que apresenta
os fenômenos mais relevantes do processo real.
Palavras-Chave: petróleo, controle, pressão anular de fundo
INTRODUÇÃO
O balanço de pressão entre a rocha
reservatório e o poço é uma variável muito
importante durante a perfuração de poços de
petróleo. Caso a pressão no poço seja maior que
a pressão nos poros do reservatório, o fluido de
circulação penetra na formação porosa. Caso a
formação seja permeável e a pressão no poço
menor que a pressão nos poros no reservatório,
ocorrerá invasão em direção ao poço. Durante a
perfuração do poço, há distúrbios que causam
flutuações na pressão. Como por exemplo, o
aumento da pressão com o aumento do
comprimento
do
poço.
Parâmetros
do
reservatório, como permeabilidade e pressão de
poros, influenciam o influxo dos fluidos do
reservatório para o poço, alterando a densidade e
a vazão da mistura fluida, e consequentemente
alterando a pressão no mesmo. A técnica de
perfuração convencional consiste em manter a
pressão no poço superior à pressão nos poros do
reservatório, evitando a ocorrência de kicks e
blowouts (influxos controláveis e incontroláveis
dos fluidos nativos do reservatório em direção ao
poço, respectivamente). No entanto, o fluido terá
a tendência de invadir a rocha reservatório, o que
pode causar um dano irreversível ao mesmo,
reduzindo sua permeabilidade original e afetando
a produção do poço.
Durante a perfuração, há frequentemente
distúrbios que causam flutuações na pressão do
poço. Por exemplo, o aumento do comprimento
do poço, durante o processo de perfuração,
produz um aumento da pressão do poço.
Parâmetros do reservatório, como densidade da
formação, permeabilidade e pressão nos poros,
influenciam o influxo dos fluidos do reservatório
para o poço, alterando a densidade e a vazão da
mistura fluida do poço, e consequentemente
alterando a pressão no mesmo. O procedimento
de conexão dos tubos, que é realizado durante a
perfuração, em intervalos de tempo iguais, é outra
fonte de perturbação. Durante a junção dos tubos,
interrompem-se a perfuração e o bombeamento
de fluido de perfuração. Em seguida, um novo
segmento de duto é conectado, e somente então
o bombeamento de fluido de perfuração é
reiniciado, assim como a perfuração. Este
procedimento, especialmente a interrupção e o
reinício de operação do bombeamento do fluido
de perfuração, produz flutuações de vazão e, por
conseqüência, perturbações na pressão do poço.
Para compensar as flutuações de pressão,
podem ser modificadas a densidade do fluido de
perfuração, a vazão de entrada do fluido de
perfuração e a velocidade de perfuração,
produzindo uma mudança na composição, tempo
de residência do fluido de perfuração no poço e
concentração
de
sólidos
no
anular,
respectivamente, que finalmente alteram a
pressão. Entretanto, a pressão no poço não é
modificada instantaneamente, já que há um
tempo morto para que as modificações sejam
sentidas ao longo de todo o poço. Uma outra
forma de se alterar a pressão no poço é mudar a
abertura da válvula, situada na superfície, por
onde escoa o fluido vindo da região anular do
poço. Este elemento final de controle produz uma
rápida resposta na variável controlada (pressão).
A literatura reporta trabalhos onde há
controle manual (Perez-Tellez et al., 2004; Suter,
1999; Jenner, 2004) e estratégias de controle
automático, motivadas pela existência de poços
com janelas operacionais, referentes a pressões
de poros e de fratura, cada vez menores (Eikrem
et al., 2004; Nygaard et al., 2004a; Nygaard et al.,
2004b).
Nygaard et al. (2006) apresentaram um
esquema de controle PI e preditivo não linear para
VIII Congresso Brasileiro de Engenharia Química em Iniciação Científica
27 a 30 de julho de 2009
Uberlândia, Minas Gerais, Brasil
estabilizar a pressão anular de fundo, durante o
processo de perfuração de poços de petróleo. O
modelo
fenomenológico
baseou-se
em
escoamento bifásico (gás-líquido). Os parâmetros
do controlador PI foram estimados através do
método de Ziegler-Nichols em malha fechada. Os
resultados evidenciaram que o esquema de
controle manual apresentou desempenho inferior
aos esquemas de controle PI e preditivo. No
entanto, no esquema de controle PI, foi
necessário re-estimar os parâmetros do
controlador quando as condições de operação se
afastavam das condições originais.
O presente trabalho implementou um
controlador clássico PI (proporcional-integral) para
regular a pressão de fundo durante o processo de
perfuração de poços. O esquema de controle
utilizou a abertura da válvula de choke, situada na
superfície, por onde escoa o fluido vindo da região
anular do poço (Figura 1), como variável
manipulada.
da válvula choke e parâmetros do controlador são
armazenados por um sistema de aquisição de
dados. O sistema dispõe de um medidor de vazão
mássica acoplado a um transmissor que envia os
dados de vazão para o sistema de aquisição de
dados. A foto da unidade de controle de pressão
anular de fundo pode ser vista na Figura 2.
Figura 2 - Unidade de perfuração de poços de
petróleo
Figura 1 - Representação esquemática da
perfuração de poços de petróleo
UNIDADE EXPERIMENTAL
A unidade experimental é composta por
dois reservatórios: um com fluido de perfuração
de alta densidade e outro com água. Ambos os
tanques de alimentação estão conectados a uma
bomba helicoidal de deslocamento positivo que
movimenta os fluidos através de uma tubulação
de ferro galvanizado, onde estão instalados
medidores de vazão e pressão e uma válvula
proporcional para controle de vazão, simulando a
válvula de choke do processo real. A válvula é
acionada via computador, permitindo fazer o
controle da pressão anular de fundo da unidade,
manipulando-se a sua abertura. A bomba é
acionada por um inversor de freqüência. O
dispositivo que mede o valor da variável
controlada do processo (pressão anular de fundo)
é um transdutor de pressão manométrica. Foi
desenvolvido um programa computacional de
monitoramento e controle em linguagem C++,
sendo que os dados de vazão, pressão, abertura
RESULTADOS
Simulação
Um
modelo
fenomenológico
de
escoamento, baseado em balanços de massa e
de momento, incluindo as fases gás-líquidosólido, foi produzido, gerando um modelo a
parâmetros concentrados. O acoplamento poçoreservatório foi modelado através de uma
formulação simples, chamada índice de
produtividade, que estabelece que o fluxo entre
poço-reservatório é proporcional à diferença de
pressão entre os mesmos. Este modelo
fenomenológico
foi
empregado
para
implementação de um controlador PI.
A Figura 3 ilustra a implementação de uma
estratégia de controle PI, através da manipulação
da válvula de choke, situada na superfície, por
onde escoa o fluido vindo da região anular do
poço.
0,025
a
vd, [m/s]
0,020
0,015
0,010
0,005
0,000
0,0
4
4,0x10
4
5
8,0x10
1,2x10
Tempo de amostragem
30
b
25
Wpump, [kg/s]
Implementam-se
perturbações
na
velocidade de perfuração (Fig. 3a), sendo que a
Fig. 3b evidencia o fato de o bombeamento ser
interrompido durante o procedimento de conexão
de tubos. A Fig. 3c ilustra os movimentos da
variável manipulada (mudança na abertura da
válvula de choke). Na Fig. 3d observa-se a
implementação de um teste de controle servo,
com mudança do set point do controlador para
300
bar.
Em
seguida,
analisa-se
o
comportamento do controlador frente a uma
rejeição de perturbação (a pressão do
reservatório diminui, simulando uma invasão de
fluido de perfuração no mesmo). Por fim, pode ser
observado que o controlador foi eficaz em mais
dois testes de controle regulatório: rejeição de
perturbação degrau positivo na velocidade de
perfuração e rejeição de distúrbios produzidos
pelas interrupções de perfuração e de vazão de
entrada de fluido de perfuração, durante o
procedimento de conexão de tubos.
20
15
10
5
0
0,0
4,0x10
4
8,0x10
4
1,2x10
5
Tempo de amostragem
1,0
c
0,8
0,6
0,4
4
0,0
4,0x10
8,0x10
4
5
1,2x10
Tempo de amostragem
Variável controlada
Pbot, [Pa]
Foram implementados testes degrau
positivo/negativo na unidade de perfuração, para
diferentes vazões (Figura 4), com o objetivo de
verificar se a planta apresenta alguma não
linearidade.
Observa-se que a magnitude e forma da
resposta ao degrau positivo/negativo foram
diferentes, evidenciando que o processo
apresenta alguma não linearidade e não obedece
ao princípio da superposição, indicando que o uso
de uma estratégia de controle clássico (PI, por
exemplo)
pode
apresentar
desempenho
insatisfatório, podendo ser necessário efetuar a
sintonia do controlador para diferentes níveis
operacionais ou partir para uma estratégia de
controle não linear, caso o desempenho da malha
continue inadequado.
A Figura 5 ilustra o comportamento da
unidade (razão entre pressão de fundo e o ganho
estático, k e a magnitude do degrau, M) quando
da implementação de diferentes perturbações na
abertura da válvula de choke (95-25 %; 95-35 %;
95-55 %), variando-se, ainda, os níveis de vazão
através do inversor de freqüência (30 Hz; 40 Hz;
50 Hz; 60 Hz). Observa-se que o tempo morto
cresce ligeiramente à medida que as magnitudes
das perturbações degrau na abertura da válvula
crescem, indicando que este atraso é inerente ao
tempo de resposta do equipamento (válvula).
Verifica-se ainda que à medida que o nível de
pressão aumenta, seja pelo fechamento da
válvula ou pelo aumento da vazão de operação, o
sistema responde mais rápido (a constante de
tempo do sistema é menor), isto é, uma
modificação na entrada (abertura da válvula)
produz um rápido efeito na saída do sistema
(pressão). Desse modo, observa-se claramente a
transição do sistema de superamortecido para
Variável manipulada
abertura da válvula, [0-1]
Experimental
4,0x10
7
3,5x10
7
3,0x10
7
2,5x10
7
2,0x10
7
d
0,0
4,0x10
4
4
8,0x10
1,2x10
5
Tempo de amostragem
Figura 3. Controle da Pressão de fundo
através da manipulação da válvula de choke.
sub-amortecido, quando da implementação de
degrau de 95-25 % na abertura da válvula de
choke.
Os ajustes do controlador PI foram
calculados empregando-se o método de ZieglerNichols e, em seguida, implementados na
unidade experimental com ligeiras mudanças
(ajuste de campo). A Figura 6 ilustra a
implementação bem sucedida de testes de
controle servo (mudança de set point de pressão),
através da manipulação da abertura da válvula de
choke.
Degrau de amplitude de 35% na abertura da válvula "choke" a 30 Hz
Curva de reação para degrau de 95-25% na abertura da válvula "choke"
40
2
30 Hz
40 Hz
50 Hz
60 Hz
20
P/KM
Pressão (psi)
Degrau positivo
Degrau negativo
0
0
1
1
0
0,00
2
Tempo (min)
0,15
Degrau de amplitude 35% na abertura da válvula "choke" a 40 Hz
Curva de reação para degrau de 95-35% na abertura da válvula "Choke"
70
2
Degrau positivo
Degrau negativo
30 Hz
40 Hz
50 Hz
60 Hz
35
P/KM
Pressão (psi)
0,30
Tempo (min)
1
0
0
1
2
0
0,00
Tempo (min)
0,15
0,30
Tempo (min)
Degrau de amplitude 35% na abertura da válvula "choke" a 50 Hz
100
Curva de reação para degrau de 95-55% na abertura da válvula "choke"
2
30 Hz
40 Hz
50 Hz
60 Hz
50
P/KM
Pressão (psi)
Degrau positivo
Degrau negativo
1
0
0
1
2
0
0,00
Tempo (min)
0,15
0,30
Tempo (min)
Degrau de amplitude 35% na abertura da válvula "choke" a 60 Hz
140
Pressão (psi)
Degrau positivo
Degrau negativo
Figura 5 - Análise da unidade de perfuração de
poços
70
0
0
1
2
Tempo (min)
Figura 4 - Resposta ao degrau positivo e
negativo na abertura da válvula de choke
CONCLUSÃO
Teste servo para frequência de 30 Hz
Pressão (psi)
40
20
Set Point
0
0,00
1,25
2,50
Tempo (min)
Teste servo para a frequência de 40 Hz
80
Neste trabalho o modelo fenomenológico
de escoamento bifásico de Nygaard e Naevdal
(2006) foi modificado para levar em consideração
a fase sólida, visando à implementação de um
controlador clássico PI (proporcional-integral) para
regular a pressão anular de fundo durante o
processo de perfuração de poços. Foram
investigadas
estratégias
via
simulação,
empregando-se como variável manipulada a
abertura da válvula de choke. Para fins de
implementação experimental, foi empregada uma
unidade de perfuração que utilizou a abertura da
válvula de choke como variável manipulada.
Foram realizados, com sucesso testes de
identificação e controle (teste servo).
Pressão (Psi)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
40
Set Point
0
0,00
1,25
2,50
Tempo (min)
Teste servo para frequência de 50 Hz
Pressão (psi)
90
45
Set Point
0
0,00
1,26
Tempo (min)
Teste servo para frequência de 60 Hz
Pressão (psi)
150
75
Set Point
0
0,00
1,25
Tempo (min)
2,50
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UBD-10 Choke, in: Proceedings of the IADC,
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AGRADECIMENTOS
FINEP/PETROBRAS
Figura 6 - Teste servo

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