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EDUCAÇÃO PERSONALIZADA E DIFERENCIADA POR SEXO María Calvo Charro Presidenta de la Asociación Europea de Centros de Educación Diferenciada É Professora Titular de Direito Administrativo da Universidade Carlos III, em Madrid, Espanha, e uma das maiores defensoras deste modelo educativo. Na atualidade é a Presidente Acadêmica na Espanha da Associação Europeia de Centros de Educação Diferenciada (EASSE) que defende uma liberdade educativa que permita implantar sem dificuldades um modelo diferenciado nos Centros Escolares. Chama-se Educação Diferenciada a um tipo de organização escolar que educa tendo em conta as particularidades de aprendizagem de cada sexo, e que se traduz na diferenciação por sexos em todas ou em algumas das salas de aula, ainda mantendo-se um mesmo currículo para meninos e meninas. 2 CENTRO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA1 CURSO: EDUCAÇÃO PERSONALIZADA TODOS IGUAIS, MAS DIFERENTES: O DIREITO A UMA EDUCAÇÃO DIFERENCIADA. María Calvo Charro; Profesora Titular da Universidade Carlos III. Como podemos saber o que nos convém, sem antes saber quem somos? Platão. I – EDUCAÇÃO MISTA: UM “DOGMA” QUE PODE E DEVE SER QUESTIONADO Atualmente, se uma pessoa põe em dúvida o dogma da educação mista, ainda que seja apenas para levantar as possíveis desvantagens de meninos e meninas estudarem juntos, será imediatamente acusado de retrogrado, adepto de algum movimento religioso radical ou um excêntrico contrário a um principio democrático tido por indiscutível. Entretanto e com uma freqüência cada vez maior em muitos países de primeiro mundo a mais modernas tendências de direita e de esquerda e os movimentos feministas mais avançados estão reconsiderando este dogma e pedindo, com base em rigorosos estudos científicos e estatística, o reconhecimento do fracasso educativo do sistema misto, e a necessidade de aceitar que meninas e meninos são diferentes e que portanto necessitam de uma educação diferenciada. Em alguns desses países a discussão e a analise já deu lugar a medidas concretas com a criação de colégios públicos “single-sex” ou com a criação dentro de um mesmo colégio, de classes separadas de meninos e meninas durante determinadas idades. Como exemplo podemos citar o caso de Nova Gales do Sul, o estado mais populoso da Austrália, onde a procura por escolas publicas mistas teve uma queda de 50% em 2001 2, ou os do Lander Alemães de Berlim e Renania do norte-Westffalia, onde desde 1998 e por iniciativa do partido socialista e do partido verde e com o apoio dos movimentos feministas, depois de uma serie de pesquisas, foram autorizadas as aulas diferenciadas por sexo 3 . Nesse país a barreira definitiva caiu em 2004 quando o 1 Pertencente ao Instituto Internacional de Ciências Sociais – IICS – Cf. www.iics.org.br Entre as experiências realizadas na Austrália, podemos citar o êxito do Appin Park Primary School em Melbourne onde depois de um acordo entre pais, professores e alunos de formaram várias classes diferenciadas por sexo, tendo como conseqüência uma notória melhora no comportamento e no rendimento do alunado. Os dados foram publicados pelo jornal mais prestigioso de Melbourne. (The Age), em 11 de outubro de 2004. 3 Datos obtidos em www.arvonet.es. 2 3 semanário Der Spiegel, de tendência socialista, dedicou uma reportagem de capa a analisar a situação das escolas na Alemanha. Na Grã-Bretanha a rede escolar está formada por escolas masculinas, femininas e mistas exatamente na mesma situação. Como é sabidamente conhecido, os colégios mais prestigiosos não são os mistos. Existe neste país uma tradição muito forte de escolas diferenciadas 4. Ainda assim em dezembro de 2004 o ministro da educação David Miliband afirmou a necessidade de se insistir na divulgação dos benefícios que têm os jovens com uma educação em colégios diferenciados 5. Bastaria separar os meninos e meninas durante determinadas aulas ainda que permanecessem no mesmo colégio e inclusive na mesma classe durante alguns outros momentos do dia. Esta insistência partiu da recente publicação de um estudo resultado de 4 anos de pesquisa da faculdade de educação da universidade de Cambridge, onde se evidenciam pormenorizadamente os benefícios advindos da educação diferenciada comparada com a mista. A educação mista na França começou a ser seriamente questionada a partir da publicação do controvertido livro do sociólogo especialista em temas de família, adolescência e juventude Michel Fise “Las trampas de la educación mixta" (2003). Nesse livro se verifica como a educação francesa não conseguiu garantir a igualdade, nem de oportunidade nem de sexos. O livro abriu um clamoroso debate na sociedade entre os políticos franceses pois seu autor é conhecido por ser membro do “Centre National de la Recherche Scientifique (CNRC)” , e principalmente por haver sido assessor técnico entre 1997 e 2002, da então ministra da juventude e esportes MarieGeorge Buffet, membro do partido comunista francês 6 Em Quebec, o prestigioso conselho superior da educação, em um informe de 1998, afirmou ser necessária uma radical reforma pedagógica destinada a separar meninos e meninas nas escolas, e que de fato já está aplicando. Nos Estados Unidos, a maior parte das escolas publicas são mistas mas em distritos escolares de mais de uma dúzia de estados – Texas, Colorado, Michigan e Geórgia entre outros - se separaram alunos e alunas em algumas aulas para melhorar o resultado acadêmico e a disciplina (Cfr. Newsweek, 24-VI-96). A maioria das mudanças pretendia que as alunas conseguissem melhores resultados em matemática e ciência e que os meninos trabalhassem com mais ordem 7. Em maio de 2002 a administração Bush aboliu a lei de co-educação obrigatória que permanecia desde 1972 e autorizou a abertura de escolas não mistas ("Same sex schools"). Foram destinados mais de três milhões de dólares para financiar programas 4 5 A esse respeito é interessante o estudo realizado pela International Organisation for the Development of Freedom Education (OIDEL), onde se conclui que entre as 50 melhores escolas do Reino Unido, 36 são de educação diferenciada. Cfr. a respeito: Timesonline; Single-sex schools get top marks; november 18, 2004; by Christina Odone BBC News ; 1/12/2004 7 Michel Fize; Les Piéges de la mixité scolaire ; Presses de la Renaissance; 2003. 6 4 experimentais neste campo. Um exemplo emblemático é o da Young Women´s Lidership Academy, de East Harlem, aberta em 1996. este centro atinge taxas de sucesso de 100% enquanto que a média das escolas de Nova York é de 42%. Mesmo com 90% das alunas procedendo de famílias sem estudos a escola conseguiu que todas suas alunas entrassem na universidade 8. De acordo com o correspondente do Le Monde em Nova York (09/01/03), as novas escolas de educação separada recebem apoio de todas as tendências, desde republicanos e democratas, passando por neofeministas e pesquisadores progressistas 9 . Isto fez com que para 2005 o ministério de educação tenha anunciado a aprovação de um projeto de lei que obriga as escolas públicas a oferecer também a educação diferenciada. A Escócia pode ser o país seguinte na lista as estatísticas do governo demonstra que 55% das meninas menores de 21 anos entraram na faculdade no letivo de 20022003, enquanto que somente 42% dos meninos atingiram o mesmo objetivo. O primeiro ministro da Escócia Jack McConnell decidiu diante disso fazer a experiência das aulas de educação separada (Scotsman; 14/9/04). II- PORQUE UMA EDUCAÇÃO DIFERENCIADA Qual a razão dessa nova tendência? Por que agora se fala tanto em educação diferenciada? Porque finalmente se reconheceu algo que se tentou negar durante os últimos decênios e que entretanto é evidente pois é facilmente constatável em nossa vida diária ao nos relacionarmos com o sexo oposto: somos diferentes. Isso não é uma afirmação ofensiva, conservadora ou reacionária, produto da direita católica mais radical, mas paradoxalmente é a nova bandeira arvorada pela esquerda, e pelas feministas mais progressistas, com forte embasamento nos estudos científicos que demonstram diferenças entre homem e mulher até mesmo na estrutura cerebral10. Depois de décadas de investigação a neurociência, a endocrinologia genética e a psicologia do desenvolvimento demonstram que as diferenças entre os sexos em suas aptidões, formas de sentir, de trabalhar de reagir, não são apenas o resultado de “papéis sociais” tradicionalmente atribuídos a homens e mulheres, nem mesmo de condicionamentos histórico-culturais, mas são na verdade diferenças inatas11. Nas 8 Podemos citar outras experiências, com a de Pam Horton, diretora do colégio de North Jefferson, em Kimberly, que optou pela separação: “O motivo dessa mudança é que meninos e meninas aprendem de forma diferente, e portanto devem ser educados diferentemente. ... Temos menos problemas de disciplina, e obtemos agora resultados acadêmicos mais altos” 9 Vale a pena destacar nesse sentido a obra de Rosemary Salomone: Same, different, equal: rethinking single-sex schooling; e o livro de Christina Hoff : "The war against Boys: how feminism is harming our young men",. 10 Cfr. a respeito o livro da antropóloga Hellen Fisher : "El primer sexo"; 2003. 11 Stevens Rhoads, em seu livro "Taking sex differences seriously" (2004), relata as conclusões a que chegou depois de anos de pesquisa e estudo, dando conta das diferenças substanciais que existem entre homens e mulheres, até mesmo antes do nascimento. Demonstra, por exempo, que a agressividade é mais própria do sexo masculino, e que os homens tendem mais a competir enquanto que as mulheres preferem cooperar. . 5 palavras de Cristina Hoff Sommers (Doutora en Filosofía da Universidade de Brandeis, conhecida defensora dos direitos da mulher e do movimento feminista americano, “pode-se afirmar que tais diferenças estão no hardware, e não apenas no software imposto pela sociedade”12. Nesta mesma linha a escritora alemã Christa Meves afirma: “a ciências humanas foram contaminadas pela ideologia da igualdade, na suposição nunca demonstrada de que o comportamento típico dos sexos surgiu somente devido a um trato social desigual e que portanto a educação “numa mesma panela” poderia produzir a igualdade de sexos13”. Heidi Simonis, deputada alemã socialista e conhecida feminista, sustenta a necessidade de superar estereótipos: é necessário se desfazer de uma vez por todas do preconceito de que as meninas necessitam de aulas em conjunto com os meninos para não ficar em desvantagem no trabalho profissional. Isto é totalmente falso, como também é falsa a afirmação de que meninos e meninas aprendem a se conhecer melhor estando juntos”. Na Suécia, a parlamentar Chris Heister, presidente da Comissão para o estudo de educação apresentou em julho de 2004 um relatório definitivo: “Somos todos diferentes”. Nesse relatório afirma que o fracasso da educação atual tem suas raízes no empenho para desprezar as diferenças entre os sexos. Em suas próprias palavras: “Já se demonstrou que as meninas desde pequenas, entre os 7 e 15 anos aprendem com mais rapidez que os meninos, enquanto que no colégio têm maiores dificuldades que seus colegas. Por outro lado é preciso ter em conta que as meninas alcançam a maturidade muito antes que os meninos e ainda que tenham a mesma idade, não se podem tratar na mesma forma”. O relatório termina recomendando que se organize aulas somente com meninos ou meninas porque não é licito impor condutas ou modelos educativos idênticos para ambos os sexos. Nos Estados Unidos, Hillary Clinton, que fez seus estudos universitários em um dos 84 colleges femininos de ensino superior norte-americanos, é uma defensora convicta das vantagens da separação de sexos na escola. Esta iniciativa encontrou apoio tanto de democratas quanto de republicanos. Neste mesmo país foi um best seller o livro da antropóloga Hellen Fisher, O Primeiro Sexo (2003)14, Onde sustenta e defende a desigualdade entre homens e mulheres a partir de dados científicos sobre o cérebro, os hormônios e a genética. Segundo suas próprias palavras “as únicas que não gostaram do meu livro foram as feministas tradicionais, porque insistem em acreditar que homens e mulheres são absolutamente iguais. E isso não é verdade: cada sexo joga com um baralho de carta evolutivas diferentes”15 12 Christina Hoff Sommers; Dar uma oportunidade às escolas de um só sexo.2004. Christa Meves; Rapazes diminuidos, e meninas frustradas; 2003 14 Assim chamado em contraposição ao livro da feminista Simone de Beauvoir “O segundo sexo” (1949), onde se afirma que a mulher “não nasce, mas se faz”. 15 Victor Garcia Hoz, prestigiado pedagogo espanhol, sempre sustentou a necessidade de uma educação personalizada ao aluno, por meio de tutorias, onde o tutor se preocupasse não apenas com a vida escolar do menino ou menina, mas também com sua vida familiar, integração, amigos e outros problemas do menor. A obra clássica de García Hoz, Educación personalizada, publicada em 1971, originou depois um Tratado de Educación Personalizada de 33 volumes, publicados pela Rialp 1988 y 1997. 13 6 Na Espanha, Rosa Monteiro, escritora e jornalista, numa reportagem publicada no El País em 1993 mostrava que “os colégios de meninas que até a alguns anos eram considerados instituições conservadoras e obsoletas, são agora uma opção ardentemente defendida por uma parte importante dos educadores progressistas”. O debate da co-educação nasce portanto no meio de uma luta pelos direitos da mulher. Le Monde de l´Education, em seu primeiro numero de 2003 refletia sobre os efeitos da co-educação: as meninas continuam recebendo uma orientação deficiente que as leva a escolher as opções com menos futuro, apesar de suas melhores notas. Alem disso continuam sendo vítimas da violência sexista. Parece portanto perfeitamente justo tratar de forma diferente aquilo que a própria natureza diferencia. Não se trata apenas de uma reivindicação feminina, mas de algo mais profundo: reconsiderar a educação em si mesma, a caminho do ideal de uma educação “personalizada”. Isto, que aparece como novidade em países como a Suécia não é totalmente novo na Espanha, pois é uma posição sustentada há bastante tempo ainda que desprezada pela maioria, por prestigiosos pedagogos espanhóis como Victor Garcia Hoz.16, para quem a personalização inclui a dimensão social da pessoa, sem deixar de atender a sua individualidade, buscando a adequação da resposta pedagógica às diferenças humanas culturais, sociais e psicológicas.17 Os mais recentes estudos 18 revelam que a escola diferenciada consegue tirar o melhor dos estudantes, já que entre outras coisas leva em conta os distintos ritmos de aprendizagem dos alunos e das alunas. Não estamos diante de uma massa uniforme de menores, de seres assexuados de gênero neutro, mas diante de meninos e meninas, diante de pessoas únicas, para quem a tarefa educativa deve ser um trabalho de filigrana similar ao desenvolvido nos códices medievais. Nas palavras de Miguel Riera 19 essa atenção personalizada será tão mais exeqüível quanto mais uniforme seja o grupo. Uma certa uniformidade permite atender melhor à diversidade. Uma classe somente de meninas terá algumas características de variáveis emocionais, comportamentais evolutivas muito menos dispares do que uma classe mista, e por isso mesmo se poderá chegar melhor em cada aluna”. 16 Cfr neste sentido o trabalho de Ramón Pérez-Juste: "Pluralismo educativo y calidad de enseñanza"; en la obra colectiva: Educación y democracia; 2004. 17 Cfr a respeito os dados proporcionados pela National Association for Single Sex Public Education (NASSPE); Girls´Schools Association (GSA); Alliance of Girls´Schools (Australasia); International Boys´Schools Coalition (IBSC). 18 . Entre esses estudos destacamos: ROSEMARY SALOMONE; Same,different,equal: rethinking singlesex schooling (2003); CHRISTINA HOFF; The war against boys: how feminism is harming our young men (2003); HELLEN FISHER; El Primer sexo; 2003; CHRISTA MEVES; Varones disminuidos y chicas frustradas; 2003; MICHEL FIZE; Las trampas de la coeducación; 2003; NICOLE MOSCONI; Effects et limits de la mixité scolaire; 2004; LAURE POINSOT, Igualdad de oportunidades entre chicos y chicas en la escuela: ¿las cosas se mueven ya en Francia?; artículo de :http://www.penelopes 19 Miguel Riera é diretor do colégio La Farga, em San Cugat de Vallés (Barcelona). 7 A igualdade radical já parece ter esgotado o melhor de si mesmo. Agora é necessário reforçar as diferenças exatamente para erradicar na medida do possível a exclusão e as marginalizações e conseguir assim uma autentica igualdade de oportunidades. III- QUALIDADES E DEFEITOS DA EDUCAÇÃO MISTA E DA EDUCAÇÃO DIFERENCIADA. 1- Os problemas advindos da coeducação Diversos estudos sobre a co-educação levados a cabo por pedagogos, psicólogos, psiquiatras e outros profissionais nos conduzem à identificação e ao reconhecimento de uma série de conseqüências amplamente demonstradas: a)- Não se conseguiu a pretensa igualdade de oportunidades e de sexos, antes pelo contrário, os estereótipos se radicalizam; b)- O rendimento escolar é mais baixo que nos colégios de educação separada; c)- A violência de gênero é muito mais elevada; d)- O conhecimento do sexo oposto paradoxalmente se desvirtua, pois os meninos e meninas não se mostram tal como são, mas como supõem que o outro sexo gostaria que fossem, ocultando muitas reações, sentimentos e idéias por temor do deboche ou da incompreensão, de tal forma que isso pode gerar em muitos casos reações de frustração nas meninas, e de violência machista nos meninos. Outro dado importante para se ter em conta é que estes problemas adquirem maior intensidade nas escolas de lugares onde predominam as classes mais pobres, ou em colégios onde são mais freqüentes minorias étnicas. A –Diferenças no processo de maturação, e na aprendizagem. As diferenças entre meninos e meninas são de ordem natural e biológica, mas incidem de forma direta em seu desenvolvimento pessoal, emocional e intelectual. Está amplamente demonstrado que o processo de maturação é diferente. As meninas amadurecem biológica e psicologicamente antes que seus colegas de mesma idade. Essa discrepância vem determinada pelas diferenças cerebrais que já existem entre os sexos desde o seio materno. (Cfr. a respeito os profundos estudos realizados pela antropóloga Helen Fisher). Neurocientistas demonstraram recentemente que os homens têm menos conexões entre os dois hemisférios cerebrais, e que seus cérebros estão em geral menos compartimentados que os das mulheres. Essa velocidade diferente de amadurecimento de meninos e meninas provoca por sua vez diferenças palpáveis no rendimento acadêmico de uns e de outras. Desde os 7 até os 16 anos as meninas rendem intelectualmente mais (especialmente no período entre 12 e 14). Por exemplo, em língua e escrita as meninas são sempre melhores. Um menino de 17 anos tem nessas matérias a habilidade de uma menina de 14. Isso, unido à maior indisciplina dos meninos nessa idade – pois que são mais buliçosos, ativos, inquietos – provoca não poucas vezes que estes reduzam seu nível de esforço e de aspirações, por sentimento de incapacidade ao competir com suas 8 colegas.20 O timing do desenvolvimento é diferente. Pretender igualar organismos desiguais é injusto e traz conseqüências nefandas. A revista “Le Monde de L´Education” em um dossiê dedicado ao estudo dessa nova problemática (2003), destacou a preocupação dos setores educativos pela inadaptação dos meninos. Em condições iguais, o rendimento escolar é muito superior nas meninas. O fracasso escolar dos meninos os faz padecer de um complexo de inferioridade que por sua vez provoca uma relação difícil e aumenta a tensão com o sexo oposto. O PISA (Projeto Internacional para a Produção de Indicadores de Resultados Educativos dos Alunos), da OCDE ( Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico) de 2001, chega às seguintes conclusões: em igualdade de idade e de condições, o rendimento escolar é superior entre as alunas, especialmente nos âmbitos relacionados com a aprendizagem da língua. O fracasso escolar de muitos meninos põe em perigo a coabitação dos dois sexos na escola. Mas não é apenas a maturação que é diferente. Como demonstram diversos estudos psicológicos, a socialização e as capacidades também diferem entre eles e elas. Essa disparidade de interesses e preferências entre meninos e meninas dificulta a tarefa dos educadores, diminuindo a eficácia de seu trabalho. No menino predomina a busca da independência e a aprendizagem de poder e de domínio. Daí uma maior conflitividade latente com o professor. Na mesma idade, os meninos são mais impulsivos e inquietos, menos ordenados, se concentram menos, encontram maiores dificuldades para expressar seus sentimentos, ficam atrás em destreza verbal, e muitos tem problemas de indisciplina. Muitos ainda sobressaem em agressividade, nível de aspirações, inadaptação escolar. Por outro lado, superam as meninas em força física e velocidade. Percebem melhor o espaço e lugar que ocupam os objetos, tendo mais desenvolvido o raciocínio abstrato (isto é, a capacidade de levar o real ao simbólico)21. Também superam suas colegas nos campos político, técnico e econômico.22 Entretanto, as meninas tendem a subestimar suas capacidades: até mesmo quando estão fazendo algo muito bem, necessitam ser constantemente animadas. Os meninos, pelo contrário, hipervalorizam suas realizações inclusive quando não as fazem bem, e necessitam ser continuamente chamados à realidade.23 Um estudo da Universidade de Bermont de 1997 comparou o comportamento de meninos de doze paises, desenvolvidos e não desenvolvidos, e em todos os casos a 20 21 Um estudo publicado na revista Business Week, “How the educational system bombs out for boys?”(2003), chega a calcular a diferença entre meninos e meninas em dois anos, no que diz respeito ao desenvolvimento da leitura e da escrita. Dados obtidos na página web do colégio Intisana (Quito, Ecuador); 2004. Justo Arnal Agustín ; Educación separada/coeducación. Problema y actualidad de siempre; Rev. De Asuntos Educativos, n.13. 23 Christina Hoff ; La guerra contra los chicos ; 2003 22 9 conclusão foi idêntica: os meninos são mais tendentes a lutar, dizer “tacos”, ter implicâncias, faltar à escola, e adotar atitudes ameaçadoras diante dos demais. Estamos falando, claro está, de regras gerais que evidentemente têm exceções, porque há meninas que brincam da mesma forma que os meninos e vice-versa. Mas são precisamente isso: exceções. A assimetria no campo psicológico é mais que apenas considerável. Victor Garcia Hoz mostra que se meninos e meninas estão em uma mesma classe e o professor explica de forma muito raciocinada e analítica, as meninas ficarão enfastiadas, e se explica de forma muito ágil e explícita, as meninas – mais intuitivas – captarão melhor, enquanto que os meninos não compreenderão integralmente. Nessas classes onde existem tantas variáveis emocionais e de conduta será muito mais complicado para o docente atingir igualmente a todos. E é utópico pretender que um professor explique de duas formas simultaneamente. Professores de colégios mistos norte-americanos afirmam perder 80% de seu tempo de aula resolvendo crises geradas pelas diferenças de critérios e formas de pensar entre meninos e meninas. Compreender e aceitar a existência dessas diferenças biológicas entre sexos nos permite aceitar da mesma forma a existência de diferentes formas de assimilar e aprender em meninos e meninas. Ignorar essas diferenças de maturação, socialização e de capacidades e preferências levaria a prejudicar a igualdade de oportunidades que se pretende oferecer, impedindo que meninos e meninas desenvolvam ao máximo as potencialidade próprias de seu gênero, de acordo com suas características psicológicas, somáticas e pessoais. Com a educação diferenciada se pretende dar uma solução para essa diferença de maturidade que se constata entre meninos e meninas, especialmente no período da adolescência, abrindo a porta à plena realização profissional e pessoal dos dois sexos. B- Exacerbação dos estereótipos machistas. Por outro lado, o menino adolescente, mais imaturo que as meninas, vive como que dominado por elas nos anos do colégio, e reage a isso com excessos de violência, com gestos que, mais que afirmar a virilidade, podem ser considerados de grosseria machista, o que dificulta a convivência tanto na escola quanto nos outros ambientes sociais. Os meninos tímidos também não saem lucrando com isso, porque normalmente se retraem e se fecham em si mesmos, evitando relacionar-se com as meninas. Em muitos meninos é o fracasso escolar que dificulta o relacionamento com o sexo oposto. A maturidade mais lenta leva não poucos deles a procurar se impor através de atitudes sexistas, de violência machista, visto que no campo acadêmico não podem buscar comparação. É comum que as meninas sejam objeto de insultos sexistas nos corredores, inclusive de assédio sexual físico ou verbal. Os comportamentos estereotipados e discriminatórios estão na ordem do dia. 10 Segundo Nicole Mosconi, professora de pedagogia na Universidade de Paris, estes estereótipos ficam reforçados nas escolas mistas.24 E isso curiosamente conduz a um distanciamento entre meninos e meninas, não apenas psicológico, mas também físico. Basta observar a tendência espontânea de uns e de outros para se agruparem na sala e aula e nos lugares de recreio. Segundo Michel Fize, os pátios de recreio são os espaços onde se desenvolve a “hegemonia masculina”, pois os meninos são tendentes a atividade mais violentas e cinéticas, impondo às meninas (que preferem brincadeiras mais calmas) um espaço muito reduzido e limitado25. Como assinalou recentemente Marie-Noelle Coevoet (Scouts d´Europe, mayo 2004), os debates atuais sobre a co-educação são dominados pelos assuntos referentes aos comportamentos violentos e sexistas, que levam à conclusão de que a separação é o caminho mais fácil para evitar o pior... Mas raramente se aborda o aspecto do desenvolvimento harmônico do indivíduo, de sua estruturação, da educação da afetividade, do afinamento do gosto, da confiança em si mesmo (absolutamente necessária para ambos os sexos), da serenidade, da tranqüilidade, da alegria de não se estar obrigado a representar um papel nem de ter que se defender a todo o momento. C- O sexo masculino: o sexo débil. A vantagem das meninas no sistema educativo é real e persistente. O menor rendimento acadêmico, somado à sua maior agressividade leva os meninos a uma situação paradoxal, que é a de ser tornarem o sexo “vulnerável”, pois é o que sai perdendo, dado o seu alto grau de fracasso acadêmico em comparação com suas colegas26. Em certos casos o menor rendimento escolar pode gerar – especialmente na adolescência – complexo de inferioridade, depressão, queda da auto-estima, absenteísmo escolar, necessidade de evasão da realidade pelo consumo de drogas e de álcool. A revista Business Week, em maio de 2003, publicou um preocupante artigo sobre como os meninos estão sendo marginados pelo sistema educativo, frente a meninas de mesma idade que os superam em capacidade27, e que alem disso recebem o apoio dos professores, pelo fato de serem meninas, isto é, representantes do sexo supostamente “frágil”. Essa inferioridade do sexo masculino fica ainda mais acentuada se levamos em conta que 90% dos docentes não são conscientes das diferenças entre os sexos e não 24 25 . Nicole Mosconi; la mixité dans l´enseignement secondaire: un faux semblant?, PUF, 1989; Effets et limits de la mixité scolaire, 2004; Mixité scolaire et democratie, 2004; Femmes et savoir, 2004. . Michel Fize; La Vanguardia; 15/9/04. Sobre a « vulnerabilidade » masculina, cfr. Kraemer, S: The fragile male; British Medical journal; 2000. 27 Nesse sentido, a revista eletrônica Politicalaffairs.net, em um artigo de Joel Wendland, se pergunta se os meninos estão se convertendo no "sexo frágil". 26 11 tomam medidas adequadas para solucioná-las, exigindo o mesmo e da mesma forma tanto a meninos quanto a meninas, e pretendendo obter idênticos resultados. Pretendem que os meninos sejam todos tão pontuais, ordenados, constantes e tranqüilos quanto suas vizinhas de carteira. Impõem a estes uma igualdade impossível com as meninas, “mais dóceis e fáceis de lidar”, e essa imposição é simplesmente impossível de cumprir. Desejam implantar nas escolas um “ideal feminino”: meninos sentados em filas ordenadas, escutando as lições em silêncio e tomando notas em cadernos imaculados. Esquecem que os meninos têm outra forma de aprender.28 Os meninos se queixam de que são castigados com maior freqüência que as meninas, simplesmente por se comportarem como meninos.29 Enquanto que as meninas tendem a estar sentadas e prestar atenção, os meninos necessitam ter algo entre as mãos, movimentar-se na carteira, levantar-se30. Surge assim uma tendência a criminalizar o comportamento dos meninos. Essa situação em alguns casos levou a um fenômeno altamente preocupante: diagnosticar em muitos meninos um transtorno que é atualmente o mais estudado em crianças de idade escolar: o TDAH, (Transtorno de déficit de atenção com hiperatividade), quando na realidade o único problema desses meninos é serem ativos, enérgicos, competitivos e muito motivados, dividindo salas de aula com meninas mais quietas, disciplinadas e tranqüilas. Esse diagnóstico costuma levar à administração de um remédio atualmente bem conhecido: o Ritalin, nome comercial de uma droga (metilfedinato) que tem um efeito “calmante” sobre os hiperativos, e que em médio prazo pode gerar uma dependência perigosa31. Assim, se medicam meninos “sãos” para que não expressem os traços próprios de seu sexo (inquietude, agressividade, rapidez, expressividade, emotividade...), e se tornem mais semelhantes às meninas que supostamente são as “normais” pelo fato de serem mais tranqüilas e disciplinadas. Nos Estados Unidos calcula-se que em alguns distritos escolares 20 a 25% dos meninos estão sob os efeitos desse medicamento. Nesse país há entre os docentes e pedagogos um certo setor (“Ativistas da Equidade entre Gêneros”) que sustenta a superioridade da co-educação baseado no argumento de que a convivência entre meninos e meninas fará com que estes se deixem influenciar por estas, passando a ser mais delicados no trato, mais tranqüilos no comportamento, mais “like girls”. Essa teoria já resultou em fracasso absoluto como demonstraram diversas experiências que pretendiam levar à assimilação obrigando os meninos a fazer tricô, a brincar com bolhas de sabão, a cuidar de bonecas como se fossem bebês. O resultado era que os meninos usavam as agulhas como se fossem espadas, os canudos como lançadores de torpedos, e as bonecas como vítimas em suas lutas e brigas. Todos estamos de acordo em que os meninos têm que aprender a tratar bem os menores, a serem respeitosos com os maiores, serem amáveis e ajudar o próximo, mas isso tudo se ensina dando-lhes formação em valores, sem necessidade de afetar sua masculinidade. O menino é “bruto”, e gosta de brincar com agressividade, com 28 Jennifer Wolcott; The Christian Science Monitor; (25/X/04). Joel Wendland ; Reversing the Gender gap ; Politicalaffaire.net 30 Wayne Martin; The Birmingham News; agosto, 2004 31 National Institute on Drugs Abuse; Infofacts; Ritalin; 2004 29 12 rapidez, com movimento, o que não significa que não possa ser ao mesmo tempo justo, solidário, empático, honesto, generoso, trabalhador e sensível ao problema dos demais. Chegou-se a falar atualmente de uma crise da masculinidade, diante do predomínio das mulheres na escola. Fala-se também de uma “Guerra de Sexos”, em que a mulher já não pretende ser igual ao homem, mas dominá-lo32. Em princípios dos anos 90, no Reino Unido, o jornal londrino “The Times” advertiu sobre a possibilidade do surgimento de uma segunda classe de homens sem habilidades e sem emprego. Também o jornal “Economist” se referiu aos meninos como “o segundo sexo”, de amanhã. E isso porque as meninas na imensa maioria dos paises do mundo desenvolvido estão alcançando os primeiros lugares nos colégios, e chegam à universidade em maior proporção que os meninos. Se não houver uma mudança importante na forma como educamos nossos filhos, essa lacuna educativa irá crescendo até se tornar um abismo33. A educação diferenciada é uma forma de libertar os meninos de uma “competitividade entre os sexos” que não beneficia a ninguém. 2- Vantagens da Educação Diferenciada. A – Melhor rendimento escolar. Diversas estatísticas e pesquisas demonstram que os resultados acadêmicos dos colégios de educação diferenciada são melhores que os dos mistos34. Assim por exemplo, um estudo da Universidade de Manchester de 1995(Cfr. The Times, 22-8-95), mostra que metade das 48 escolas privadas com melhores resultados acadêmicos nos exames para ingresso nas Universidades são femininas (ainda que esse tipo de escolas sejam apenas 40% do total). No setor de educação pública a diferença é ainda mais clara: a terça parte das escolas melhor qualificadas são exclusivamente femininas (representando somente 9% do setor). O “Financial Times” publica em cada mês de agosto os resultados das “top independent schools”. Desde há muitos anos as 25 escolas que obtém os melhores resultados são sempre de educação diferenciada. A primeira mista aparece no número 26 da lista. Constatou-se que a separação reforça a auto-estima dos alunos e lhes permite desenvolver melhor suas capacidades. A National Foundation for Educational Research, da Inglaterra, publicou em 2002 um relatório em que depois de estudar os resultados de quase 3000 high schools num total de 370 000 alunos, chegava à conclusão de que os resultados acadêmicos eram significativamente melhores nos colégios de um só sexo. 32 Christa Meves; Fördergemeinschaft für Schulen in Freier Tägerschaft; 2003. Cristina Hoff Sommers ; La guerra contra los chicos, 2003 34 Entre outros Cfr.., C.RIORDAN, Girls and boys in school: together or separate?; New York; teachers College Press; 1990; D.G.SMITH; Women´s colleges and coed colleges: is there a difference for women 33 13 O Australian Council for Educational Research acompanhou a evolução de 270 000 alunos durante seis anos, e em 2001 publicou um relatório mostrando que os alunos e alunas de centros de educação diferenciada haviam obtido resultados acadêmicos entre 15 e 22% melhores que os meninos e meninas de escolas mistas, além de concluir também que nos colégios diferenciados o plano de estudos era mais exigente, o ambiente mais agradável, e o comportamento dos alunos melhor. Essa melhora no rendimento e conseqüentemente nos resultados acadêmicos beneficia tanto as meninas quanto os meninos. Em relação a elas, há estudos que demonstram que as notas de meninas em colégios diferenciados chegam a ser até um terço mais elevadas que as de meninas similares em colégios mistos. (Estudo realizado pela National Foundation for Educational Reserarch, 2002). No que diz respeito aos meninos, podem-se aludir a muitas experiências positivas levadas a cabo em diferentes paises. Uma das mais significativas é a que já mencionamos na nota 1, a experiência piloto levada a cabo no em um colégio da Austrália, Appin Park (Melbourne), onde se formaram classes masculinas para tratar o problema de um grupo de meninos com baixa auto-estima e elevado absenteísmo. O resultado foi que meninos que no ano anterior não queriam ir ao colégio, passaram a freqüentar as aulas sem problemas, e obtiveram boas notas (The Age, october 11, 2004) B- Maiores possibilidades de atingir a igualdade de oportunidades. No que diz respeito às meninas, a separação por sexos no colégio tem uma importância especial com vistas ao objetivo de atingir depois uma igualdade real. Diversos estudos refletem que as meninas rendem mais e melhor em matérias tradicionalmente masculinas quando estão separadas35. Está demonstrado que nos colégios mistos as meninas não optam por matérias ou atividade “tipicamente masculinas” por medo de serem rechaçadas no grupo, ou não terem habilidade. Ao contrário, nos colégios apenas de meninas estas optam com naturalidade por atividades como o futebol, e têm muito melhor rendimento acadêmico em matérias como matemática ou informática. Da mesma forma nos colégios masculinos os meninos melhoram em literatura e poesia, matérias que costumam evitar nos colégios mistos, por terem a pecha de serem “pouco masculinas”. A convivência em classe melhora e isso cria um ambiente em que meninos e meninas escolhem suas opções mais livremente. A feminista e pedagoga da Universidade de Kiel, Lore Hoffmann reconhecia que com a educação diferenciada se consegue que as meninas se interessem muito mais pelas “típicas matérias de meninos, como a informática, química ou matemática, ao serem orientadas de acordo com suas necessidades”. Nos Estados Unidos, em 1992, a Associação Americana de Mulheres Universitárias publicou um informe em que se mostrava que nas escolas 35 V.E.LEE, H. MARKS y T. BYRD: Sexism in single-sex and coeducational secondary school classrooms. Sociology of Education; 1994. 14 exclusivamente femininas as meninas tinham mais confiança em si mesmas, obtinham melhores resultados e optavam mais por carreiras científicas ao entrarem na Universidade. Demonstrou-se que as meninas se sentem mais à vontade e seguras quando não têm a sensação de estarem constantemente sendo observadas. E isso alem do mais tem importantes conseqüências em relação a patologias como a anorexia, muito mais elevada em colégios mistos. Mas também os meninos são beneficiados, pois são respeitados seus próprios ritmos biológicos e de aprendizagem. A separação reforça sua auto-estima e lhes permite desenvolver melhor e mais livremente suas capacidades. Como demonstra Wolcott, “os meninos se distraem menos e se sentem mais tranqüilos e seguros. Por exemplo, não têm medo de fazer perguntas “estúpidas”, e se atrevem a brincar com os professores, coisas que não fariam se houvesse meninas presentes. Mas talvez o mais saliente seja que os meninos se libertam dos estereótipos masculinos e da pressão ambiental que os incita a se comportarem como “machos”36. Isso faz, por exemplo, com que nos colégios mistos os meninos optem pouquíssimo pelas aulas de francês, por medo de parecer pouco masculinos diante de suas colegas. Como explica um professor de Belmont Hill (uma escola masculina de Massachussets), nos colégios para meninos os alunos aprendem que há muitas formas de ser menino. E, além disso, têm tempo para crescer em seu próprio ritmo, enquanto que na escola mista tudo vem determinado pelo ritmo mais rápido e precoce das meninas. No mesmo sentido, o psicólogo Michael Tompson, autor de diversos livros sobre o assunto, confessa sua satisfação pelo renascimento das escolas masculinas, pois considera que “nos colégios para meninos estudar é coisa de homens, enquanto que nos mistos se corre o risco de que estudar seja coisa de meninas”. A educação diferenciada por sexo não discrimina os alunos. Simplesmente os separa por motivos pedagógicos (não por motivos religiosos, nem ideológicos, nem morais), com o objetivo de potenciar ao máximo as capacidades acadêmicas e humanas de cada sexo. Seria contrária ao espírito de igualdade se impedisse meninos ou meninas de receber uma educação de igual qualidade e conteúdo, o que não acontece em absoluto, antes pelo contrário oferece a ambos os sexos idênticos conteúdos quantitativa e qualitativamente, mas de forma adequada, segundo as capacidades de cada um. Definitivamente, é a melhor expressão do que chamamos de educação personalizada. 36 Jennifer Wolcott, en The Christian Science Monitor (25/5/04). 15 C- Normalidade no trato com o sexo oposto, por um conhecimento mais objetivo e tranqüilo. Aqueles que pretendem a igualdade radical entre sexos sustentam que uma sala de aula só de meninos ou de meninas é perigosamente artificial, já que a escola deve ser um espaço de socialização que facilite atitudes abertas e livres. Essa postura talvez pudesse ter validade em outra época (como de fato teve quando a mulher não estava integrada na sociedade), mas não se sustenta mais atualmente. Vejamos. A educação separada talvez fosse um problema para a integração de meninos e meninas numa época em que a própria sociedade não era mista por falta da incorporação da mulher ao mercado de trabalho, político e social em geral. Mas atualmente, supor que um menino vai ficar “traumatizado” por ir a um colégio diferenciado é um absurdo, máxime quando os temas sobre o sexo deixaram de ser tabu e se falam e comentam com naturalidade dentro da família (ou ao menos assim deveria ser, pois não se pode perder de vista que antes de ser aluno se é filho, e que os hábitos devem ser adquiridos em casa, já que onde um pai ou uma mãe não chegam, não se pode esperar que chegue o professor). O Estado e a escola não são pais, e por isso não podem satisfazer as necessidades emocionais ou morais dos jovens. A convivência familiar é um ensino incomparavelmente superior ao de qualquer arrazoado abstrato sobre a tolerância ou a paz social37. Como afirma William Bennett, a familia é o primeiro e melhor Ministério da Saúde, o primeiro e melhor Ministério da Educação, o primeiro e melhor Ministério do Bem-estar social38. Além disso, uma criança passa na escola, em um ano, 15% de seu tempo. Sobram-lhe portanto 85% para aprender a conviver com o sexo oposto em outros ambientes. Há sim, outras experiências que são extremamente traumatizantes para as crianças, e, no entanto, não se lhes presta uma atenção maior, porque são tidas e havidas como “normais”: a constante ausência dos pais do lar, a separação dos pais, a falta de carinho compensada pela compra indiscriminada de bens materiais, a falta de autoridade, a inexistência de regras e critérios, para citar algumas. Mas não o estar algumas horas por dia separados do sexo oposto, com o qual se poderá voltar a relacionar sem problemas nem entraves artificiais nos horários extra-escolares, ou nos finais de semana. O conhecimento mútuo, o aprendizado compartido, o respeito e a tolerância do diferente, são valores que a co-educação não foi capaz de proporcionar, apesar de em um momento ter parecido a situação ideal para isso. O resultado foi exatamente o contrário: agressividade, violência machista, guerra de sexos. Alem disso, especialmente na adolescência, os jovens necessitam de modelos que lhes sirvam de referência e que os acompanhem na aventura de buscar sentido para suas vidas, e lhes transmitam valores que lhes façam homens e mulheres fortes e livres no futuro. E isso é mais fácil nos colégios de educação diferenciada, onde o 37 38 José Ramón Ayllón; Cinco Claves de la educación Autor do Livro das Virtudes, para crianças e jovens. 16 professorado costuma ser também do mesmo sexo, o que favorece um contato mais simples e espontâneo39. D- Sobre namoros e colegas, em cenários diferentes. O psiquiatra Luis Rojas Marcos, em seu livro “Nossa incerta vida normal” (2004) ressalta a enorme importância de se compartimentar as atividades das quais extraímos momentos agradáveis. Trata-se de uma estratégia muito benéfica contra a vulnerabilidade. E ressalta: “Da mesma forma que os investidores não põem todo seu capital em um único negócio, não devemos depender de uma única fonte para abastecer nossa satisfação com a vida”. Dito de forma popular: não é bom carregar todos os ovos no mesmo cesto. Trata-se de ter nossas alegrias repartidas em vários cenários: o trabalho, a família, os amigos de fim de semana, hobbies (pintura, pesca, fotografia); atividades sociais e solidárias... De tal forma que se tivermos um problema em algum desses “departamentos”, podemos nos manter bastante equilibrados, já que temos outros “mundos” que continuam nos proporcionando satisfação. Pelo contrário, se apenas temos um cenário ou uma única parcela gratificante em nossa vida, onde estão incluídos e fundidos todos os protagonistas, a chegada de uma crise porá nosso mundo abaixo, e os efeitos do vazio, do desequilibro e da solidão poderão ser devastadores. Essa teoria, fundamental para o equilíbrio emocional e a felicidade dos adultos, é aplicável cem por cento aos adolescentes. Nos colégios mistos, o normal é que os jovens tenham dentro do colégio tanto seus amigos quanto seus namorados e namoradas, de tal forma que têm um único mundo ou cenário de vivência. Quando rompem com seus namorados (o que é muito freqüente nessas idades em que inclusive se muda de namoro em períodos de tempo mais ou menos breves) o efeito pode ser traumático, pois os envolvidos continuam inevitavelmente a se ver, nas aulas ou nos intervalos, queiram ou não. Alem disso, essas rupturas costumam provocar a vitimização do que foi “abandonado”, e em conseqüência a reação adversa de todo o grupo de amigos contra o que decidiu por fim à relação. Isso ocasiona situações muito incômodas na escola, que levadas ao extremo podem gerar o fenômeno hoje conhecido como “bulling”, isto é, a violência escolar entre companheiros, verbal ou material, física ou psicológica, que vai desde ignorar o colega como se não existisse, até quebrar ou esconder objetos pessoais, debicar, pôr apelidos, fazer ameaças e, em suas manifestações mais radicais, até mesmo golpear ou surrar o visado40. Pelo contrário, os meninos e meninas que freqüentam colégios de um só sexo, forçosamente diversificam os investimentos que fazem em suas amizades. No colégio têm os amigos ou as amigas, e fora do colégio têm os seus namorados ou namoradas. 39 Cfr.. A respeito, R.A.Noe; Women and mentoring, a review and research agenda; Academy of Management Review; 13; 1988. 40 Vid. Al respecto, Daniel J. Flannery: School Violence Risk. Preventive intervention and policy. O el monográfico de la Revista Educación; n.313; 1997; mayo-agosto; "La violencia en centros educativos". 17 De tal forma que os problemas que levam implícita a vida sentimental ficam sempre fora do colégio, e encontram nele o seu “refúgio”, uma parcela de intimidade à margem dos traumas românticos tão freqüentes na adolescência. IV – NA ESPANHA: A IMPOSIÇÃO DO MODELO MISTO COMO MODÊLO ÚNICO. (….) Atualmente, apenas um por cento dos colégios de Espanha é de educação separada, e nenhum deles é publico. Os colégios mistos públicos são o modelo único e obrigatório, sem muitas reflexões ou estudos que os justifiquem. Enquanto os países mais desenvolvidos de nosso entorno continuam reconhecendo a necessidade de aceitar as escolas diferenciadas como algo não apenas bom, mas necessário em benefício dos meninos e meninas, na Espanha esse é um assunto que nem se pode propor. Na França, Canadá, Suécia, Reino Unido, Alemanha, entre outros paises, se propugna como moderno e progressista a instauração de colégios públicos diferenciados, como alternativa para os colégios mistos. Na Espanha, pelo contrário, o progressista é o obsoleto. As conquistas sociais da mulher se baseiam em negar a sua feminilidade e converterem-se, juntamente com os homens, em seres assexuados, neutros, radicalmente iguais, coisa que curiosamente é inaceitável para as tendências femininas mais modernas. Manifestar o desejo de levar uma filha ou um filho a um colégio não misto é como falar de maus tratos a menores. Em lugar de ser considerado um direito, isso é visto com um ato politicamente incorreto e passível de denúncia. (....) Até nas mais altas instancias continuamos ainda com o lamentável reducionismo ideológico que considera intrinsecamente mau e machista a existência de colégios de educação separada. Eles, sem fundamento algum, são qualificados de sexistas, discriminadores e antisocializantes41. A realidade é que não apenas se rechaça esse modelo pedagógico como alem disso se recusa a estudar ou analisar seus possíveis benefícios. Simplesmente se pretende que a sociedade desconheça sua existência. Num Estado democrático e de Direito, é obrigação dos poderes públicos garantir a gratuidade do ensino obrigatório, independentemente do modelo escolar que os pais ou tutores tenham escolhido para seus filhos. Entretanto, o governo nega qualquer tipo de subvenção estatal aos pouquíssimos colégios de educação diferenciada que há na Espanha, precisamente por não serem mistos. 41 La Audiencia Nacional, en sentencia de 20 de diciembre de 1999 señala: "el hecho de que en un centro docente se impartan enseñanzas sólo a niños o solo a niñas, no puede considerarse que suponga una discriminación por razón de sexo desde el momento en que los padres o tutores pueden elegir, dentro de un entorno gratuito de enseñanza, entre los diversos centros existentes en un determinado territorio". 18 (.....) Como afirma o pedagogo Victor Garcia Hoz, a imposição por parte da autoridade de um modelo único estabelece um “totalitarismo educativo que não admite a pluralidade de centros... pois que a escolha de um tipo ou outro de escola não é um problema de técnica científica, mas de liberdade pessoal e social”42 Por sua parte, Leonard Sax (presidente da Associação Nacional para a Educação Pública não Mista nos EUA) se pergunta: se o ensino diferenciado apresenta vantagens, por que reservá-lo unicamente para os filhos de pais que podem pagar escola particular?43 A realidade nos mostra que estamos atualmente na Espanha na mesma situação que estávamos na época de Franco, com a imposição de um modelo único: o modelo que o poder decide unilateralmente como sendo o melhor. Na época da ditadura franquista foi a educação separada, e na atualidade é a co-educação. Continua a se confundir igualdade com igualitarismo. V- CONCLUSÃO. O DIREITO DE ESCOLHER. A DIALÉTICA “LIBERDADE DE ENSINO x IGUALDADE DE OPORTUNIDADES” Homens e mulheres dividimos a mesma humanidade e dignidade, e em um estado democrático está fora de dúvida que todos somos iguais no que diz respeito a nossos direitos constitucionais. Entretanto, também somos ao mesmo tempo plenamente diferentes, queiramos ou não. E apesar dos esforços que fazem alguns para o negar, a própria natureza nos impôs essa diferença, desde o seio materno. Não estamos educando anjos assexuados, mas meninos e meninas, de sexos diferentes, e portanto, com caracteres, dotes, faculdades e problemas diferentes. Malgrado muitos pseudo-pedagogos, os estrógenos e a testosterona continuam a agir. Como afirma o doutor em psicologia John Gray, especialista em terapia de casais, “os homens e as mulheres pensam, sentem, percebem, reagem, respondem, amam, necessitam e valorizam as coisas de formas totalmente diferentes. Quase parecem proceder de planetas distintos, com idiomas distintos, e necessidades também diferentes”44 O reconhecimento de que homens e mulheres somos diferentes tem importância não apenas do ponto de vista educativo. Muitos problemas conjugais e fracassos matrimoniais poderiam ser evitados com a simples consciência dessas diferenças. Muitos casais usam como argumento para sua separação o fato de serem “radicalmente diferentes”, ou “demasiado diferentes”, sem pararem para refletir que essas diferenças são normais, e acontecem em qualquer casal. O reconhecimento prévio das diferenças é imprescindível para conseguir a complementaridade. Duas 42 43 44 Citado por Ignacio Archéaga; Coeducación: Lo obsoleto es el modelo único; 2004. singlesexschools.org . John Gray; Los hombres son de Marte, las mujeres de Venus; ed: Mondadori; edición del 2000; pág.20. 19 peças não se encaixam se são idênticas. O encaixe de um “puzzle” só acontece entre peças de formas diferentes e complementares. A colaboração ativa entre homem e mulher deve partir precisamente do prévio reconhecimento da própria diferença45: “Para melhorar as relações entre os sexos, é necessário atingir a uma compreensão de nossas diferenças que aumente a auto-estima e a dignidade pessoal ao mesmo tempo que inspire a confiança mútua, a responsabilidade pessoal, uma maior cooperação e um amor mais grande... essa maior compreensão de nossas diferenças ajuda a solucionar em grande medida a frustração que advém do trato com o sexo oposto, e o esforço para o compreender”46. É exatamente a mulher, (que se pretendia favorecer igualando-a ao homem), que curiosamente está liderando a mudança e reivindicando a escola de sexo único como o melhor meio para garantir a igualdade de oportunidades e a verdadeira emancipação feminina. Cansadas de serem igualadas ao homem de forma radical, reclamam seu direito de serem reconhecidas como diferentes. Nem melhores nem piores, simplesmente diferentes. O que é realmente bom para a sociedade, pois a diferença e a variedade nos enriquecem a todos, enquanto que a monotonia, a uniformidade, a massa, é “chata”, e empobrecedora. O importante é cooperar com as diferenças em lugar de resistir a elas e tentar mudá-las. Não se está defendendo em absoluto a eliminação da escola mista. Simplesmente, trata-se de resolver suas disfuncionalidades. Para isso é preciso prescindir de critérios ideológicos e morais, e aceitar o curso dos acontecimentos. Como considera Michel Fize, o ensino misto não é um principio intangível do direito escolar, mas um instrumento para dois combates de fundo de nossa sociedade: a igualdade de oportunidades e a transmissão de valores fundamentados no respeito e na tolerância. O importante é ver se realmente está servindo para isso47. Não se trata de impor modelos e manter atitudes radicalizadas. O ensino diferenciado é melhor? Para alguns sim, enquanto que para outros será o misto. O importante é que exista a possibilidade de decidir entre um sistema e outro com inteira liberdade. Trata-se de debater sobre o que é o melhor para nossos filhos, informar os pais, e conceder-lhes o direito, agora negado, de escolher livremente uma das opções. Está em questão a própria liberdade de educação. O que, em um estado que se afirma democrático, é pelo menos chamativo48. O direito nuclear de liberdade de ensino tem suas raízes precisamente na liberdade de escolher livremente o tipo ou modelo de educação que se deseje. Como 45 Cfr. a respeito o ponto 4 da Carta da Congregação para a Doutrina da Fé, aos bispos da Igreja Católica sobre “A colaboração do homem e da mulher na Igreja e no mundo” (31 de julho de 2004)” 46 John Gray; Los hombres son de Marte y las mujeres de Venus; ed: grijalbo-mondadori; 2000; págs.1723, passim. 47 48 Michel Fize; La Vanguardia; 15/9/04. Para el Ministerio de Educación y Ciencia, la educación diferenciada no existe. Si entramos en su página web encontramos un apartado dedicado expresamente a explicar qué es la "coeducación" y sus ventajas sin hacer ninguna referencia en absoluto al sistema de educación diferenciada, como si no existiera o no se mereciera ni una mención. Vid.www.cnide.mecd.es 20 afirma Ortiz Diaz, este é o primeiro e mais típico dos direitos. Os outros direitos sobre liberdade de ensino apenas derivam deste, e implicam que este seja primeiramente reconhecido49. A liberdade de ensino deve alem disso desembocar na igualdade de oportunidades que, em educação e nas palavras de Legrand, deve considerar-se como “uma ocasião oferecida a todos de realizar-se ao máximo de suas possibilidades”50. Liberdade de ensino e igualdade de oportunidades são termos que se encontram em constante tensão dialética, quando o desejável seria que tivessem uma complementaridade absoluta. Como afirmou Bobbio ao analisar as relações existentes entre igualdade e liberdade: “ A história recente no ofereceu o dramático testemunho de um sistema social onde a busca da igualdade não apenas formal, mas sob muitos aspectos também substancial, se conseguiu (apenas em parte e de forma muito inferior ao prometido) em detrimento da liberdade, em todos os seus aspectos”51. As palavras desse pensador italiano têm seu fiel reflexo no âmbito educativo, onde em aras de uma igualdade de oportunidade mal entendida, se restringe a liberdade de ensino até o ponto de não permitir a livre escolha de uma escola para aqueles pais que optem pela educação diferenciada, e não podem ou não querem pagar um colégio particular. (...) Temos na Espanha atual cifras alarmantes de fracasso escolar (um recente estudo da União Européia demonstra que, depois de Portugal, Espanha é o país da União com maior fracasso escolar, com quase 30%), de absenteísmo, de abandono dos estudos por menores e de violência nos colégios. A solução proposta pelos partidos políticos passa pelo aumento do gasto público em educação infantil e fundamental. Mas nem o dinheiro nem a melhoria das instalações escolares vão por fim a essa situação. É necessário ir à raiz: a crise da família, a ausência de autoridade, o desprestigio do esforço pessoal, e também os defeitos verificados na co-educação são alguns dos fatores chave que fazem da educação atual um verdadeiro desastre. Alem disso, são o perfeito caldo de cultura para o fracasso escolar. E não percamos de vista que este costuma ser a desculpa idônea para o fracasso existencial de muitos jovens. Os remédios são vários, mas para todos eles há uma condição imprescindível: chegar a tempo. Como afirma José Ramón Ayllon, está claro que os jovens são sempre uma promessa que se pode cumprir, ou fracassar. E que sua educação será sempre o melhor investimento de uma família, e de um país52. 49 Ortiz Díaz, J; La libertad de enseñanza, 1980; Málaga. Legrand; Les Politiques de l´Education ; PUF ; París ; 1998 51 Norberto Bobbio; Derecha e izquierda. Razones y significados de una distancia política;Madrid; Taurus; 1995 50 52 José Ramón Ayllón; La educación escolar,2004. 21 (A integra deste artigo, em espanhol, pode ser encontrada no seguinte endereço: http://www.diferenciada.org/index.php?option=content&task=view&id=269&Itemid=) ANEXOS 10 CONSELHOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DE MENINAS DENTRO DA SALA DE AULA 1. O processo educativo se deve desenvolver em um ambiente confortável, procurando que a sala de aula – e o colégio em geral – esteja ordenada, limpa e que cheire bem. As meninas têm os sentidos sempre muito aguçados (especialmente audição, olfato e tato), y cuidar estas coisas facilita que se distraiam menos e que se sintam felizes. 2. A decoração da sala de aula deve ser colorida e significativa, isto é, “sua”: com pôsteres de cores e mensagens, trabalhos das matérias e fatos que sejam parte da vida da classe. 3. Para conseguir um bom ambiente que facilite a concentração é recomendável que a temperatura seja adequada – entre 22˚ e 23˚ C -, mais quente que para os meninos (muito calor irrita e o frio produz incomodidade e como consequência distração. 4. O tom de voz utilizado deve ser mais calmo que para os meninos (a bagunça e os gritos indicam agitação, não necessariamente ânimo ou entusiasmo). Quando se eleva o tom de voz, se desencadeia a falta de atenção e de controle (também de controle pessoal). 5. As meninas preferem que o professorado seja de mulheres, já que entendem melhor suas mudanças de humor e sensibilidade, assim como sua necessidade e seus sentimentos (as variações nos hormônios e a serotonina produzem emoções dramáticas e incontroladas durante determinados dias do mês). As professoras também respondem melhor às suas necessidades de sentirem-se queridas e compreendidas. 6. Manter no âmbito educativo e de aprendizagem – e no ambiente em geral da classe – um alto grau de diversão e de alegria é fundamental. Deve-se desfrutar com o conhecimento. 22 7. Para manter um bom ambiente na sala de aula é preciso cortar pela raiz o uso de ferramentas tipicamente femininas, como a difusão de rumores e de “fofocas”, sutilmente utilizadas às vezes pelas meninas para desprestigiar ou fazer dano a outras colegas. A professora deverá estar atenta a estes aspectos e não permitir comentários destrutivos ou a propagação de rumores daninhos. 8. As meninas necessitam expressar suas emoções, experiências pessoais e ser escutadas. Querem se sentir queridas e aceitas. Começar o dia com alguma destas facetas, em que se comparte de alguma forma alguma história breve, ou alguma chateação, tristeza, etc – durante um tempo limitado (5 a 10 minutos) – favorece que as meninas se sintam “acolhidas” em seu grupo e a gosto, e iniciem o dia mais relaxadas e contentes. Aproveitar esta necessidade natural de comunicação das alunas pode ser muito útil para conhecê-las e orientá-las. 9. “Ser escutadas” significa para uma menina que os demais a tomem a sério, e isto favorece sua auto-estima e confiança. As meninas são faladoras e sempre estão desejosas de transmitir seus sentimentos e experiências. Mas é preciso que aprendam a guardar silêncio durante as explicações da professora ou em momentos de trabalho pessoal. Para conseguir estes silêncios é bom que se desafoguem nos minutos iniciais da aula. Um bom método é permitir-lhes expor em voz alta algo que as preocupe ou compartilhar algo que as entusiasme, uma boa experiência ou um acontecimento surpreendente. Às meninas qualquer atividade acadêmica lhes resulta mais significativa se compartem o conhecimento, tempo e vivências. 10. A professora deve chamar à aluna pelo seu nome próprio e inclusive seu nome familiar, e falar-lhe olhando nos olhos (a falta de contato visual significa para a menina que não lhe prestamos atenção), e sempre em um tom amável e suave, inclusive quando se está meio chateada com ela por alguma indocilidade. Boletín mensual de ALCED · 2010 · No. 6 Extracto “Guía para una Educación Diferenciada” María Calvo Charro Abaixo, veremos uma entrevista de Maria Calvo Charro, concedida a Marta Vázquez-Reina sobre o modelo educativo de Educação Diferenciada. 23 1) Realmente são tão grandes as diferenças entre os modos de aprendizagem de meninos e meninas como para ter que diferenciar sua formação? Não existe dúvida em que os meninos e meninas são iguais em direitos e deveres, em relação a objetivos que cumprir e na inteligência. Mas, apesar dessas igualdades, as diferenças estão na forma de aprender, na forma de brincar, na forma de se comportar e nos ritmos de amadurecimento. São grandes diferenças que determinam um modo diferente de aprendizagem. 2) Entretanto, separar a educação por sexos pode se entender como uma idéia retrógada. Assim é. Quando se fala de educação diferenciada o mais habitual é relacioná-la com uma ideologia conservadora, com a religião ou com pautas e normas morais. Mas isto é um equívoco. A educação diferenciada que se propõe hoje em dia não tem nada que ver com a que havia faz 40 ou 50 anos atrás. Tem que ver com pedagogia e com eficácia. 3) Pode-se falar de uma base científica que respalde essas diferenças que comenta? Efetivamente. Graças aos avanços tecnológicos dos últimos 15 anos, pode-se desenvolver novos métodos de pesquisa da estrutura e do funcionamento cerebral. Os scanners e as ressonâncias magnéticas permitiram aos cientistas analisar um cérebro em atividade, e comprovar as diferenças entre eles e como respondem a distintos estímulos, demonstrando que existe um diformismo cerebral desde o ponto de vista sexual. Até então, se pensava que eram os papéis, as pautas culturais ou a educação que dávamos aos meninos e meninas o que determinava que fossem de uma maneira ou outra. Agora, graças a estes avanços, se pode afirmar que os cérebros de um homem e de uma mulher são diferentes desde o nascimento, e que cada sexo segue um desenvolvimento cerebral distinto, algo que se se houvesse dito faz 20 anos, se consideraria uma aberração. 4) A Educação Diferenciada segundo o gênero tem que ver com a “pedagogia e com a eficácia”. Como se manifestam essas diferenças cerebrais nos meninos em idade escolar? Nos anos da pré-escola e no fundamental I se demonstra que o ritmo cognitivo de maturação é muito mais rápido ou precoce nas meninas, e que o hemisfério esquerdo, que é o que se dedica às estruturas da fala e às habilidades lingüísticas, amadurece até dois anos antes que nos meninos. De maneira que as meninas falam antes, fazem frases completas, utilizam mais qualificativos e, além disso, escrevem melhor e antes, porque a psicomotricidade fina a têm mais desenvolvida. 5) Afeta isto ao rendimento escolar? Lógico. Os meninos ficam para trás das meninas nesta etapa evolutiva. Isto fica demonstrado nos recentes informes sobre os resultados educativos, como o PISA (Programa Internacional para Avaliação dos Estudantes), que reflete que os meninos 24 em compreensão de leitura estão muito abaixo das meninas. É preciso ter em conta que se os meninos vão se atrasando em leitura e escrita Infantil e Primária, passam para o Ensino Fundamental II com um déficit muito grande. 6) No fundamental II, seguem sendo diferentes os ritmos de maturação? No fundamental II ocorre o efeito contrário. Quando chegam à puberdade, o nível de testosterona dos meninos se dispara drasticamente, esta subida tem efeitos evidentes no interior do cérebro. Os meninos adquirem uma capacidade de raciocínio lógicomatemático e abstrato e uma visão espacial superior à das meninas, contribuindo-lhes maior facilidade para as disciplinas relacionadas com estas capacidades. Neste caso são as meninas que se ficam para trás. 7) Se os meninos e meninas aprendem de forma diferente, significa então que é preciso ensinar-lhe de forma diferente? Exatamente. A educação diferenciada procura valorizar as distintas qualidades para aprender que têm tanto os meninos como as meninas. O currículo é o mesmo, as disciplinas e os objetivos iguais, mas é preciso ter em conta sempre os distintos modos de aprendizagem. 8) Quais são essas qualidades? Por exemplo, os meninos são mais competitivos e portanto se amoldam melhor em um sistema de ensino no qual se lhes exigem tempos individuais e prazos mais breves, enquanto as meninas são mais colaborativas e aprendem melhor com trabalhos em grupo, exposições, etc. Por outro lado, o pensamento das meninas é mais indutivo, estão mais atentas aos detalhes e chegam a uma conclusão geral, enquanto que o dos meninos é mais dedutivo, partem de uma norma geral e logo chegarão às conclusões. Isto leva a que as meninas retenham mais os dados subjetivos, enquanto que os meninos retenham os objetivos. São capacidades de aprendizagem diferentes e portanto haveria que aproveitá-las. 9) Um dos argumentos pela educação diferenciada é que os alunos escolhem as opções acadêmicas mais livremente. Certo. Para por um exemplo, na Alemanha, na Lander de Berlim, separou-se em 156 colégios públicos as meninas em aulas de matemática e os resultados estão sendo espetaculares. Um recente estudo, fruto dessa experiência, demonstrou que as meninas educadas nesses centros buscam em maior medida as carreiras técnicas que 25 as educadas nos centros mistos, e a explicação é que a pressão ambiental que provoca o ver que os meninos vão na frente delas nessa disciplina, só leva a radicalizar os estereótipos de que os meninos são de ciências e as meninas de letras, quando o que ocorre é que cada um necessita aprender essas matérias de maneira diferentes. 10) Antes falou da Alemanha, que mudanças se estão produzindo, em nesse sentido, em outros países? Muitas investigações recentes estão levando a diferentes países a propor-se a educação diferenciada como a solução idônea ao fracasso educativo nas aulas. No Reino Unido, por exemplo, no informe “2020 Visão”, elaborado por OFSTED (Office for Standards in Education) em colaboração com os melhores cientistas do país, a conclusão mais importante é que o fracasso escolar e a violência nas aulas só se vão solucionar quando se separem meninos e meninas em determinadas matérias. De fato, nesse país 50% dos colégios públicos já são diferenciados. Por outro lado, nos Estados Unidos se aprovou em 2006 uma lei na qual se permite que qualquer colégio houvesse salas de aula separadas por sexo em determinadas disciplinas e se está investindo muitíssimo dinheiro em programas experimentais nesse âmbito. 11) Estão-se refletindo essas mudanças nos resultados acadêmicos? Obviamente que sim. Na Austrália, onde os Centros públicos diferenciados superam já os mistos. O Australian Council for Educational Research realizou em 2001 um estudo comparando os resultados de ambos os centros, havendo um seguimento da evolução de 270.000 estudantes durante seis anos. O informe afirmava que os alunos educados em salas de um só sexo haviam obtido resultados acadêmicos entre 15% e 22% melhores que os que iam a escolas mistas. No caso do Reino Unido as estatísticas comprovam que das 50 melhores escolas públicas, 68% correspondem a escolas com educação diferenciada por sexo, e entre as 10 melhores, 8 são diferenciadas e só 2 são mistas. 26 DADOS DA EDUCAÇÃO DIFERENCIADA POR SEXO DADOS DA EDUCAÇÃO DIFERENCIADA NA AMÉRICA LATINA CHILE: QUASE TODA A EDUCAÇÃO PÚBLICA JÁ É E.D. Em 70 nações dos cinco continentes já existem mais de 210.000 escolas de ED NA ARGENTINA, EQUADOR, VENEZUELA, PERÚ, MÉXICO, GUATEMALA É UMA TENDÊNCIA GENERALIZA 40.050.000 de alunos. NO BRASIL: Ainda nos primeiros passos SITUAÇÃO ATUAL DA EDUCAÇÃO DIFERENCIADA EM ALGUNS PAÍSES (EASSE) PAÍS TOTAL ESTATAIS PARTICULARES Reino Unido 1.092 416 676 Austrália 1.479 139 1.340 Coréia do Sul 1.483 703 780 Japão 402 380 22 U.S.A. 1.890 450 1.440 África do Sul 411 350 61 Nova Zelândia 121 98 23 Canadá 140 França 238 Alemanha 180 Número de Escolas Fonte: Associação Europeia de Centros de Educação Diferenciada (EASSE)