Fita 1 Lado A
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Fita 1 Lado A
Centro de Documentação e Memória Droga Raia Tradução de entrevista Nome: Arturo Pipponzi por Franco Pipponzi Cargo: Sócio Data: 16 e 23, novembro de 2004 Assuntos tratados: Fita 1 Lado A: o Sr. Arturo nasceu no dia 2 de outubro de 1912, em um vilarejo chamado Monte Verde, o qual era um subdistrito de Monte Giorgio (?), uma região central da Itália. O pai de Arturo era um ferroviário que cuidava da linha entre Monte Giorgio e Amândola, o qual cruzava todo o vale do rio Tena. Sua família era humilde, 6 filhos, três irmãos e três irmãs. Arturo era o terceiro filho, tendo um irmão e uma irmã mais velha. Teve uma infância feliz, estudou o ensino primário em Monte Verde e depois seu pai foi transferido para outra estação férrea, Maiale de Tena (?). Viveu de 1912 a 1924 na cidade de Monte Verde. Arturo passou sua infância no campo e costumava fazer traquinagens, como roubar frutas da vizinhança com seus amigos. Seu pai era um homem muito zeloso e sua mãe era quem cuidava da casa e da administração do lar. Quando seu pai faleceu, Arturo tinha 16 anos de idade. Foi um choque para a família. Sua mãe tinha dois filhos já formados, uma professora e o outro engenheiro, Arturo e mais três outros ainda em idade escolar. Arturo gostava de se vestir bem, porém sua mãe não tinha mais dinheiro para comprar roupas. Então, ela propôs Arturo que mantivesse sempre uma média acima de oito nos estudos. O dinheiro que sua mãe economizaria com os exames finais, seria assim usado para comprar roupas. Este foi um estímulo para ele estudar. Arturo gostava de se vestir como o Charles Chaplin. Usava terno e bengala, porém ainda não tinha bigode. Então usava um carvão para fazer um bigode falso e assim desfilar para as pessoas. á Arturo tinha alguns tios que estavam morando na Argentina e eles mandavam dinheiro para a sua mãe poder fazer a manutenção da casa. Quando Arturo mudou-se aos 12 anos, sua vida mudou muito pouco. Já estava estudando nas proximidades da nova cidade, em um Instituto Tecnológico. Lá, fez o curso técnico de química. Em 1932, Arturo formou-se. Era um período difícil na Itália, pois viviam a conjuntura da crise de 1929. Lembra-se muito pouco da Primeira Guerra. Somente que um tio seu tinha ido para os campos de batalha. Quando ele se formou, teve que prestar serviço militar. Era obrigatório todo o jovem servir nas forças armadas. Após ser convocado, teve que se apresentar em 24 horas. Prestou o serviço militar e tomou uma vacina contra tifo, extremamente dolorida. Foi mandado para a cidade de Luca, do outro lado da Itália, para fazer um curso de oficiais. Ele era de um regimento da cavalaria. Passou no exame para oficial e foi promovido a tenente. Foi transferido para Piemonte com esta patente e lá teve uma vida muito boa. Era respeitado, tinha uma boa casa e ganhava muito bem. Ficou oito meses no serviço militar. Vestia-se muito bem e as mulheres viviam atrás dele. Quando foi dispensado, começou a procurar emprego pela Itália. Foi as cidades de Turin, Milão, Florença. Encontrou alguns amigos, e por indicação deles, foi até a cidade de Coleferro, próximo a Roma, trabalhar em uma indústria química. Chegando nesta fábrica, ele reconheceu Paulo Paródi (7), um oficial que havia servido com ele em Piemonte. Paródi era dono da fábrica e empregou Arturo na fábrica. Foi seu primeiro emprego. A fábrica era muito grande. Foi ela que deu origem a cidade onde localizava-se. Arturo nunca foi muito religioso, mas quando viu-se estabilizado na empresa e com dependências para morar, foi até a igreja agradecer. Mandava dinheiro para a sua mãe cuidar da casa e de seus outros irmãos mais novos. Arturo participou de um projeto muito caro na fábrica. Era a fabricação de um produto que estabilizava a pólvora, para que esta somente explodisse com um detonador. Arturo tinha relações diretas com o dono da empresa. Era um projeto que demandava trabalho 24 horas. Arturo trabalhava no período noturno. Entrava às 7 da noite e saía às 7 da manhã: Era um trabalho muito penoso. Em 25 de setembro de 1935, foi convocado pelo Ministério da Guerra para a guerra na Abissínia, atual Etiópia. Ficou todo empolgado com a idéia de não ter mais que trabalhar a noite na fábrica. Porém, Paulo Paródi disse a Arturo que ele deveria ficar na fábrica e que seu serviço militar deveria ser feito dentro da fábrica, pois a mesma produzia utensílios para as forças armadas. Arturo queria muito ir a guerra, porém não foi possível. Dois irmãos de Arturo foram para a Segunda Guerra. Seu irmão mais novo, Dario, tinha 19 anos na época. Alistou-se no exército italiano e teria seu soldo multiplicado por três pelo fato de ir lutar no fronte. Participou da campanha alemã na invasão da Rússia. Quando a contra ofensiva russa iniciou-se, Dario foi obrigado a recuar. Os alemães estavam motorizados na fuga, porém os italianos não. Dos 40 mil soldados italianos que foram para curva do Dome (?), somente mil sobreviveram. Recuaram até a cidade de Karkov , na Ucrânia, e lá Dario ficou todo esfarrapado e resistindo a um frio de 30° abaixo de zero. Um dia estava na estação ferroviária de Karkov e encontrou em um vagão um par de botas russas e um casaco. Conseguiu então aquecer-se e assim voltar para a Itália. Dario sentiu o fato como um milagre. Deus interviu a seu favor, mostrando aquelas vestimentas para ele. Desde então, tornou-se um religioso fervoroso. Esta contra ofensiva russa ocorreu em dezembro de 1943. Dario conseguiu pegar um trem em Karkov e foi até a Alemanha, onde ficou em um hospital italiano por um ano se recuperando. Ficou surdo de um ouvido e teve problemas de congelamento pelo corpo. Sua família ficou muito tempo sem notícias e um dia, quando Arturo estava trabalhando na fábrica, recebeu um telefonema do irmão Dario. Estava em um hospital na cidade de Florença. Arturo foi até lá visitar o irmão e lhe ofereceu uma vodka russa. Seu irmão mais velho, Adriano, era capitão do exército. Em 1943, Adriano foi mandado para a cidade de Lion na França, para ajudar o contingente de homens que já estavam no campo. No dia 7 de setembro de 1943, Milão sofreu um bombardeio dos aliados. Adriano pediu urnà licença de 24 horas para poder visitar Milão, pois tinha alguns pertences naquela cidade. No dia 8 de setembro, a Itália assinou o armistício. Os oficiais que estavam em Lion, foram presos ou mortos pelos alemães em represália a rendição da Itália. Adriano conseguiu escapar por pouco devido a licença concedida a ele no dia anterior! Arturo tinha muitos amigos na fábrica de Coleferro. Saía com diversas garotas para dançar, jogar tênis. No dia da explosão da fábrica, Arturo tinha saído do Hotel e a corrente de sua bicicleta havia arrebentado. Ele foi obrigado a trocá-Ia, o que resultou no seu atraso. A fábrica explodiu por volta das 7 horas da manhã e Arturo pôde ver a explosão de longe. Perdeu todos os seus amigos no incidente. A vida ficou muito diferente para ele. No ano de 1938, Arturo estava na praça de Veneza e lá pode ver toda a cúpula nazista presente ao lado de Mussolini. Por volta de 1936/37, Hitler tentou invadir a Áustria e Mussolini foi contra e colocou as tropas italianas na fronteira com a Áustria. No mesmo período, estava ocorrendo a guerra civil na Espanha, luta encabeçada entre os franquistas e os republicanos. Hitler e Mussolini estavam ao lado dos franquistas e os republicanos eram apoiados por parcelas de russos, americanos, ingleses, franceses ... e com isso os alemães testaram suas armas que seriam usadas posteriormente na Segunda Guerra. As aproximações entre os dois líderes vem deste período. Em 1935, quando os italianos invadiram a Abissínia possuíam apenas uma colônia, a Líbia. A Inglaterra e a França promoveram um embargo econômico a Itália e quem começa a supri-Ia, foi a Alemanha nazista. Posteriormente com a entrada do Japão na guerra, estes três países formaram o Eixo. Hitler tenta pela segunda vez invadir a Áustria e obtêm êxito. A Inglaterra e a França são contra mas continuam apenas com represálias formais. Depois Hitler começa a cobiçar a Polônia por causa de seu porto. Em 1 de setembro de 1939, Hitler invadiu a Polônia e tem início a Segunda Guerra. Em um mês, a Alemanha conseguiu conquistar toda a Polônia. Veio então o inverno e as operações militares foram suspensas. No dia 15 de abril de 1940, em quinze dias Hitler conquistou toda a Noruega e a Dinamarca. Em 10 de maio, ele conquistou a Holanda e a Bélgica e entrou na França. No dia 20 de maio, as tropas alemãs já estavam desfilando pelas ruas de Paris. Os alemães hesitaram em atacar os ingleses que estavam retirando-se do território francês e retornando para a Inglaterra. Enquanto os alemães esperavam reforços, o que na realidade não era necessário, os ingleses conseguiram deslocar 300 mil homens de volta para a Inglaterra e salvar a elite do exército britânico. Em Coleferro, eles não tinham muitas notícias da guerra e já imaginavam que os alemães tinham vencido o conflito. A Alemanha não tinha possibilidade de desembarcar na Inglaterra e começaram a promover grandes bombardeios aéreos contra os ingleses. Somente com a entrada dos americanos na guerra, após o ataque a Pearl Harbor, o curso do conflito mudou. Desembarcaram em Casa Blanca, no Marrocos, depois invadiram a Tunísia, a Líbia, onde havia enorme contingente de italianos. Depois invadiram a Sicília e começaram a avançar sobre o território italiano. No mesmo período, ocorreu o dia D, com o desembarque na Normandia. Arturo, que estava em Roma, fugiu com outros companheiros com o temor da chegada das tropas norte-americanas na cidade. Ele fez a viagem a bordo de um caminhão da Cruz Vermelha. Fita 1 Lado B: Conseguiu chegar a cidade de Amândola de charrete. Ficou morando na casa de uma irmã e passou muito bem. As terras da região eram muito férteis. Depois foi para a Torre de San Patrício, uma região perto do litoral. Sua irmã tinha uma pequena fazenda naquela região. Ficou neste local até o mês de setembro de 1944. Os americanos utilizavam-se de aviões bombardeiros e de tropas compostas de líbios, marroquinos e turcos para invadir as cidades italianas. Os italianos viviam em um clima de tensão intenso. Arturo volta para a cidade de Coleferro com mais dois amigos. Vão para lá de bicicleta. Ficaram três dias e três noites viajando. Ele tinha uma namorada na cidade de Coleferro. A fábrica onde ele trabalhava tinha recebido 55 bombardeios. Reconstruíram a fábrica, Arturo voltou a trabalhar e em 1945 casou-se com Ana, mãe de Franco. Casaram-se de manhã, por volta das 6 horas, afim de evitar os bombardeios. Dirigiu-se para Roma por volta das 6 e meia da manhã e no caminho teve que se abrigar em uma galeria de águas pluviais por causa de um bombardeio violento dos aliados. Conseguiu chegar a Roma e ficou uns dois ou três dias na casa de um amigo, antes de prosseguir 5 viagem para a casa de sua mãe. Foi para a sua terra natal visitar a mãe e a irmã e ficou por lá umas duas semanas em lua de mel. Arturo, chegando a casa de sua mãe, pegou uma pneumonia dupla e ficou quinze dias entre a vida e a morte. Ficou quarenta dias em Amândola para depois retornar a Roma, onde havia alugado um imóvel. Sua mãe e sua esposa foram habitar a casa durante estes quarentas dias, senão perderiam a posse do imóvel. Ficou morando em Roma com sua esposa e em maio de 1946, foi para Coleferro votar no plebiscito para escolher entre o rei e a república. No dia seguinte, sua esposa amanheceu com uma forte dor de cabeça e foi até o médico. Constatou-se que ela estava com meningite. Somente as tropas anglo-americanas possuíam penicilina e por causa disso, Ana veio a falecer em 3 de julho de 1946. Franco tinha 9 meses de idade. Franco foi morar com sua avó e com sua tia em Amândola, enquanto Arturo continuou trabalhando em Roma na mesma fábrica em Coleferro. Um amigo húngaro, que trabalhou com Arturo no projeto da pólvora, e que foi trabalhar no Brasil na Laminação Brasileira de Metais, convidou Arturo para vir ao Brasil. Chegou na cidade do Rio de Janeiro com 50 dólares no bolso no dia 30 de junho de 1947. Ouviu umas festividades de São João, e por causa do barulho dos fogos, Arturo escondeu-se em um buraco, traumatizado com as guerras na Europa. Logo após, veio para São Paulo. Chegando em São Paulo, foi trabalhar na fábrica em Utinga, perto de Santo André e ficou muito chocado com o atraso do local, já que o seu referencial urbano era Roma. Hospedou-se em um quarto, numa pensão destinada a italianos. Neste local descobriu que os filhos da dona da pensão haviam feito o primário na mesma escola em que ele estudou. A pensão localizava-se na rua Santa Helena no bairro da Bela Vista. Esta mulher, dona Helena, tinha uma turma de alunas que faziam canto lírico. Uma de suas alunas, era amiga de Ada Raia. A amiga de Ada lhe disse que ela deveria conhecer "aquele italiano". Arturo conheceu Ada através desta amiga. Com o tempo, Arturo foi arrumando outros ofícios e já pretendia desligar-se da fábrica dos Pignatari onde ele trabalhava. Trabalhava também com importações de produtos. Quando ele sai da Pignatari, o governo começa a taxar restrições para a importação de produtos, o ramo o qual Arturo trabalhava. Ele já tinha marcado casamento com Ada e em 12 de -, o março de 1949 eles se casam. Apesar das burocracias governamentais, Arturo conseguiu fazer uma reserva financeira. Foram de lua de mel para a Itália e também para buscar Franco, que havia ficado com sua mãe. Chegaram na Itália no dia 3 de agosto de 1949 em lua de mel. Quando Arturo começou a sair com Ada, foi até a sua casa para conhecer os seus pais. Chegando lá, sentou-se na sala e ficou esperando. Entraram Arrigo Raia e João Batista Raia, os quais o ficaram analisando. Arturo conta que se existisse uma porta por perto, ele teria fugido na hora. Pediu dona Ada em casamento e após 20 dias, Ada teve que ir para a Itália com sua irmã Eda, que seria submetida a uma cirurgia no hospital de Bolonha. Ada não queria ir, mas João Batista a obrigou. Quando ela voltou da Itália, eles se casaram e foram morar na casa de João Batista. Era uma casa muito grande. Moraram de agosto a dezembro com João Batista, quando conseguiram alugar uma casa na alameda Jaú, 1.398, casa 7, Vila Violeta. Por volta de 1950, o Sr. João Batista Raia passou mal em uma noite e descobriram que ele estava com leucemia. Arrigo, que era o filho mais velho, não queria trabalhar com a farmácia, pois já era médico. Convidaram Arturo para trabalhar com João Batista. No início, ele não quis aceitar, mas por insistência de Ada, Arturo acabou aceitando. Quando Arturo inicia na Raia, o escritório era um local bem rústico. Existia uma mesa e um banco para sentar. As mercadorias eram todas armazenadas em caixas com palha para serem enviadas ás filiais. Na época, tinham apenas 5 filiais: Araraquara, Piracicaba, Araçatuba, Campo Grande e talvez Marília. Nestas lojas, metade do negócio era de João Batista e a outra metade pertencia ao farmacêutico local da região, que geria a loja. Em São Paulo ficava o depósito que abastecia as lojas. Em 1951, compraram um estabelecimento na rua Barão de Itapetininga, local nobre na época da cidade de São Paulo. Pagaram 700 mil cruzeiros de luva. Para se ter uma idéia do valor da luva, o aluguel da casa pago por Arturo na Vila Violeta era 3 mil cruzeiros. O ponto da Barão de Itapetininga era grande. Era uma loja espaçosa com depósito nos fundos. Mudaram-se da rua São Francisco para a rua Barão de Itapetininga para iniciar a expansão em São Paulo. O local era um antigo restaurante e demoraram um ano para adaptar o local para a farmácia. Para diminuir custos dividiram a loja em duas e uma das partes foi alugada para uma empresa de turismo, a Sprinter. A loja tinha 13 metros de frente e 100 metros de fundo. Com a divisão, ficaram com 7 metros de frente e 100 metros de fundo. Quando eles estavam quase terminando a obra, a prefeitura embargou o projeto. Um primo de dona Ada interviu: conhecia o presidente da Câmara Municipal e liberou a obra. No dia da inauguração da loja, haviam feito diversas propagandas sobre a Drogapan e o chefe da vigilância sanitária não queria autorizar a abertura da loja. Tiveram que ir até a sede da vigilância sanitária para conseguir o aval para a abertura do estabelecimento. Logo em seguida, abriram a loja da rua João Mendes. Foi um momento muito difícil. A abertura da loja da rua Barão de Itapetininga foi feita com empréstimo bancário e faltou verba para abrir a filial da João Mendes. Tiravam recursos de uma filial para aplicarem na outra, e vice-versa, pagavam diversas contas, contraíam empréstimos. Foram dois anos de muita luta por que faltava capital de giro para a empresa. Depois tomaram um susto, pois a Drogasil também tinha uma filial na rua Barão de Itapetininga. Depois eles também abriram outra Drogasil em frente a calçada do Mappin. Porém, a Drogapan estava na calçada do lado da loja do Mappin, e esta era uma calçada muito melhor para o comércio. Por causa deste ponto, com o tempo conseguiram se estabilizar. Os laboratórios eram bem parecidos com os atuais. Muitos remédios eram semelhantes aos atuais. Para fazer a remessa das mercadorias, era muito trabalhoso. Para Campo Grande, por exemplo, demorava-se em média trinta dias. As lojas requisitavam as mercadorias, a matriz comprava e depois ia repondo. Arturo cuidava da parte administrativa, da direção da empresa. Não cuidava da parte de venda de mercadorias. Neste período, a Drogasil já era um potência no mercado farmacêutico e o controlava: vendiam as mercadorias no preço que quisessem, davam descontos do jeito que queriam e os concorrentes eram obrigados a acompanhar as mesmas taxas, para não ficarem fora do mercado. A Drogasil era a única empresa que publicava um catálogo com preços de produtos e as demais adquiriam este catálogo para praticarem preços semelhantes. A Droga Raia expandiu-se para o interior. João Batista queria ir para as localidades onde não havia a Drogasil. Mas a Drogasil começou a ir para as localidades onde a Droga Raia estava instalando-se. Chegaram a criar acordos com a Drogasil para venderem sem desconto ou com pouco desconto para criarem margens de lucro. A distância encarecia o frete, porém, apesar das filiais do interior serem mais distantes, possuíam uma margem de lucro muito rentável por causa da prática de vender sem descontos. Porém, nas proximidades de São Paulo, a briga entre ambos era bem acirrada. Em 1956, os negócios partiram para a expansão. Tinham filiaisnapraçaJoão Mendes, VilaPrudente, naruaAntonio Godoi, SantoAndré,interiordeSãoPauloe Campo Grande. Mas,JoãoBatista Raia faleceu. Então os irmãos da Dona Ada foram trabalhar na empresa, Arrigo, Rui e José, seu cunhado casado com Eda. Mas os demais ganhavam a mesma quantia que Arturo e tinham outras atividades paralelas. Ou seja, trabalhavam menos e faziam a mesma retirada. Essa situação foi agravando-se até a compra da Raia. Estendeu-se de 1956 até a data da compra da empresa por Arturo. Ele ficava muito chateado, pois trabalhava na empresa e ganhava a mesma coisa que aqueles que não trabalhavam na Raia. Os primeiros a saírem da sociedade foram Arrigo e José. Rui ficou mais um período na Raia, mas só trabalhava algumas horas no período da tarde e recebia o mesmo que Arturo que trabalhava o dia inteiro. Arrigo decidiu que a empresa deveria ficar com Arturo. Mas Arturo nunca havia imaginado aquilo. Passado uns seis meses, o advogado da empresa e também advogado pessoal de Arrigo, Roberto Opis, aconselhou Arturo a ficar com a empresa. Ele se propôs a ser o intermediário da partilha da empresa." Iniciou-se a venda da Droga Raia. Fita 2 Lado A: Apesar de ser uma empresa com confusões administrativas, era uma empresa sólida e que Arturo estaria fazendo um bom negócio comprando-a dos irmãos de dona Ada. Arrigo ofereceu-se como intermediário entre Arturo e o banco para qualquer aval necessário. Arturo pegou dinheiro emprestado no banco para comprar a empresa dos demais. Os bancos concederam o empréstimo para Arturo e ele não precisou do aval de Arrigo. Sempre conseguiu honrar seus compromissos e pagar todas as suas dívidas em dia. De 1956 até 1966, ou seja, passado dez anos da morte de João Batista Raia, Arturo trabalhou em condições que ele não achava justo perante os demais herdeiros da empresa. O único que era mais realista com a situação era Arrigo. Foi ele quem decidiu que Arturo deveria ficar com a empresa. No dia 31 de dezembro de 1966, às 11:30 da manhã, Arturo conseguiu reunir todos os herdeiros e sócios da Droga Raia e efetuou a compra das ações. A partir daquele momento, apesar do volume de trabalho ter aumentado, sua vida mudou da água para o vinho. Os abusos que os herdeiros faziam da empresa não eram mais possíveis. Mas para isso Arturo pagou um preço bem alto. Ficou apenas com três lojas: a filial da praça João Mendes, a loja de Santo André e a loja de Araraquara. As demais lojas foram vendidas para os sócios locais. Assim começou o novo gerenciamento da Droga Raia. Na realidade, poderia ter iniciado com quatro lojas, porém um de seus cunhados que era advogado, perdeu o prazo da renovação de uma loja em Santo André, a segunda loja de Santo André, uma loja muito boa, localizada na rua Coronel Oliveira Lima. Para substituir esta loja, Arturo abriu uma filial na cidade de São Carlos iniciando assim um novo processo de expansão. Era uma loja muito boa, porém abriu um concorrente em São Carlos que estava dando descontos de 200/0. Para não ficar no prejuízo, Arturo comprou esta concorrente ficando com duas filiais na cidade de São Carlos. Esta farmácia adquirida, é a atual filial de São Carlos. A primeira ele adquiriu em 1967 e a segunda em 1968. --A.O