a cidade pelo músico roberto menescal os refúgios cariocas de
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a cidade pelo músico roberto menescal os refúgios cariocas de
REVISTA DA ASSOCIAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – ANO 3 – N 0 7 – JULHO DE 2010 PATRIMÔNIO BRASIL OS REFÚGIOS CARIOCAS DE MACHADO DE ASSIS ENTREVISTA risocial o PROMOTORIAS ESPECILIZADAS ATENTAM PARA ÁREAS NEVRÁLGICAS DO ESTADO A CIDADE PELO MÚSICO ROBERTO MENESCAL Mosaico REVISTA DA ASSOCIAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ENDEREÇO DA REDAÇÃO: Rua Tobias da Silva, 253/408 Porto Alegre/RS, Brasil – 90570-020 – (51) 3395.2515 EDITORA E DIRETORA DE REDAÇÃO: Milene Leal [email protected] DIREÇÃO DE ATENDIMENTO: Izabella Boaz [email protected] REDAÇÃO: Débora Gares, Isabel Kopschitz, Lia Luz REVISÃO: Patrícia Pitta DIREÇÃO E EDIÇÃO DE ARTE: Luciane Trindade [email protected] FOTOGRAFIA: Marco Terranova, Cris Berger IMPRESSÃO: GRÁFICA PALLOTTI COORDENAÇÃO EDITORIAL: EDITORA JUSTIÇA E CIDADANIA Av. Nilo Peçanha, 50/gr. 501 – Rio de Janeiro – 20020-100 Tel. 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ASSOCIAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO PRESIDENTE: Marfan Martins Vieira VICE-PRESIDENTE: Eduardo da Silva Lima Neto SECRETÁRIO-GERAL: Alexandre Murilo Graça DIRETOR FINANCEIRO: Sérgio Nogueira de Azeredo DIRETOR CULTURAL: Manoela Penido Rocha Verbicário DIRETOR SOCIAL: Sumaya Therezinha Helayel DIRETOR DE DEFESA DE DIREITOS E PRERROGATIVAS FUNCIONAIS: Luciano Oliveira Mattos de Souza DIRETOR ASSISTENCIAL E DE ASSUNTOS RELATIVOS A APOSENTADOS E PENSIONISTAS: Luiz Antônio Ferreira de Araujo DIRETOR DE ASSUNTOS LEGISLATIVOS: Rodrigo Molinaro Zacharias DIRETOR DE ESPORTES: Marcus Cavalcante Pereira Leal CONSELHO CONSULTIVO: Dimitrius Viveiros Gonçalves, Eduardo Rodrigues Campos, Francisco Lopes da Fonseca, Homero das Neves Freitas Filho, Nelma Glória Trindade de Lima, Victoria Siqueiros Soares Le Cocq D'Oliveira, Vinicius Ribeiro, Virgílio Panagiotis Stavridis,Walberto Fernandes de Lima CONSELHO FISCAL: TITULARES: Stênio Lutgardes Neves (Presidente), Vera de Souza Leite, Maria do Carmo Casanova. SUPLENTES: Plínio de Sá Martins, Guilherme Mattos de Schueler, Guilherme Braga Peña de Moraes ENDEREÇO AMPERJ: Rua Rodrigo Silva, nº 26 - 8º andar - Centro - RJ – CEP: 20011-040 Fone: (21) 2242-1232 - Fax: (21) 2221-4768 – www.amperj.org.br PATROCINADORA CAPA: FOTO MARCO TERRANOVA CULTURA editorial Carta ao leitor Inaugurando o segundo semestre de 2010, estamos retomando a edição da revista Mosaico, cuja finalidade é trazer a vocês assuntos de interesses social e institucional, sem deixar de lado os temas culturais e a divulgação das atividades da nossa Associação. A revista traz à discussão um tema atual e de extrema relevância, que é o desenvolvimento social no RJ, refletindo a inequívoca necessidade de o Parquet se especializar e atuar de forma mais integrada para atender à crescente demanda da sociedade fluminense. Para compor a matéria, foram entrevistados alguns promotores de Justiça, que apresentaram os seus maiores desafios e conquistas nas diferentes áreas em que atuam. Na seção "Empreendedorismo Institucional", conheça um pouquinho do trabalho desenvolvido pelo promotor de Justiça Marcelo Lessa, titular da promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Campos dos Goytacazes, revelando soluções inovadoras para os embates que acontecem nessa região. Nesta edição, temos ainda um panorama das atividades que estão sendo desenvolvidas pelo Instituto Superior do Ministério Público que depois de completar dois anos de existência e continuar honrando o compromisso de oferecer cursos de excelência aos membros de nossa Instituição, recebe nova sede cuja inauguração será em breve. As solenidades de entrega das insígnias aos novos promotores de Justiça e de homenagem ao vice-presidente da República, José Alencar, e ao procurador de Justiça Ertulei Matos também foram contempladas neste exemplar. Na área cultural, destacam-se as matérias sobre a revitalização da zona portuária do Rio de Janeiro, a história pessoal do músico capixaba Roberto Menescal e a bossa nova, os refúgios cariocas de Machado de Assis e o curso suplementar de vinhos franceses, com início em agosto. A Amperj tem procurado diversificar suas atividades culturais, oferecendo cursos de vinho, história da arte, filosofia e dança de salão. Além dos cursos, acontecem as sessões do cineclube, em que são exibidos filmes com temáticas variadas, seguidos de debates com profissionais de diferentes áreas de atuação. Esses encontros têm sido uma oportunidade de, através da arte do cinema-som, imagem, movimento e emoção –, criarmos um link entre o imaginário e a realidade, para que possamos reconstruí-los a partir da nossa percepção. Em nome da Amperj, agradeço a todos que tornaram possível a produção desta edição, bem como à Petrobras, empresa a que dirigimos nossos agradecimentos especiais, por patrocinar a Revista e nos permitir divulgar o trabalho do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, levando informação de qualidade a todos os nossos leitores. Abraço, Manoela Verbicário Diretora Cultural da AMPERJ Í N D I C E Viva o Rio, viva a Bossa Nova História pessoal do músico capixaba Roberto Menescal é ambientada na cidade do Rio, à qual faz uma ode de amor 24 Refúgios de Machado de Assis A Revista Mosaico desvenda alguns dos lugares que o maior gênio da literatura brasileira costumava frequentar 30 Patamar elevado E M A I S ISMP ocupa novas instalações e celebra dois anos de compromisso com educação de excelência Infraestrutura 08 Amperj em ação 10 Empreendedorismo Institucional 38 Enologia 40 Novos promotores recebem insígnias 46 42 Mérito pelo exemplo Vice-presidente José Alencar, no exercício da Presidência da República, recebe Medalha do Mérito da Amperj 48 Desenvolvimento social no RJ Ministério Público especializou suas promotorias para cobrir áreas imprescindíveis ao crescimento do Estado 12 INFRAESTRUTURA Revitalização da zona portuária ganha reforço "PORTO MARAVILHA" CONSUMIRÁ CERCA DE R$ 300 MILHÕES NA PRIMEIRA FASE, COM REURBANIZAÇÃO DA PRAÇA MAUÁ, RECUPERAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO DA REGIÃO E DAS PRINCIPAIS VIAS DO ENTORNO 8 REVISTA MOSAICO Depois da comemorada confirmação de que o Rio de Janeiro será sede das Olimpíadas de 2016, a revitalização da Zona Portuária volta a despertar o interesse dos gestores da cidade, investidores e da população carioca. A região, que compreende os bairros de Santo Cristo, Saúde, Gamboa, São Cristóvão e Cidade Nova, por décadas, não recebeu investimentos e foi relegada a segundo plano pelas sucessivas administrações. O Projeto Porto Maravilha, apre- sentado no ano passado pela Prefeitura do Rio de Janeiro - em parceria com os governos estadual e federal -, surgiu como forma de reverter esse quadro e mostrar ao mundo, durante os Jogos Olímpicos, uma Zona Portuária reurbanizada. A meta é transformar a área, que hoje possui um dos mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) da cidade, em um atrativo ponto turístico, que combine movimentação comercial com empreendimentos residenciais. O projeto foi dividido em duas etapas. Na primeira, que já está em andamento, a Prefeitura destinará cerca de R$ 300 milhões para restauração completa da Praça Mauá, de imóveis degradados e das principais vias do entorno, como a Avenida Rodrigues Alves e as ruas Sacadura Cabral, Barão de Tefé e Venezuela, que ganharão novo calçamento e iluminação pública adequada. Na Praça Mauá será construída uma garagem subterrânea, com capacidade estimada de até mil veículos, e será instalada a Pinacoteca do Rio, no edifício Dom João VI. O Píer Mauá, agora administrado pela prefeitura, será transformado em um parque, com anfiteatro, chafarizes, restaurantes e quiosques, e o Morro da Conceição será reurbanizado e terá seu patrimônio histórico restaurado. Além disso, os armazéns 5 e 6 do Cais do Porto vão abrigar o "Museu do Amanhã". A segunda etapa do projeto consiste em incentivar a iniciativa privada a investir em ações de reestruturação da Zona Portuária. Para isso, o prefeito Eduardo Paes já sancionou dois projetos de lei. O primeiro deles fixa parâmetros urbanísticos para a região, enquanto que o segundo cria uma companhia estatal para acompanhar os projetos de iniciativa pública e privada. Uma importante conquista, anunciada pela Prefeitura do Rio, foi a aprovação pela Comissão de Coordenação dos Jogos Olímpicos do remanejamento da Vila de Mídia da Barra da Tijuca para a região portuária. A proposta vinha sendo negada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Segundo o presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), Sérgio Magalhães, outras mudanças que valorizarão ainda mais a Zona Portuária estão sendo amplamente discutida pelos responsáveis pelos Jogos. Uma delas é a transferência de parte dos equipamentos olímpicos da Barra da Tijuca para os galpões do Porto. Outra seria remanejar também para a região a vila dos atletas, como foi feito nos Jogos de Barcelona. "A revitalização do do Rio será um legado para a Porto vida toda. Um grande produto turístico e também de usufruto do carioca” PEDRO GUIMARÃES, SUBSECRETÁRIO MUNICIPAL DE TURISMO A Secretaria Municipal de Turismo e a RioTur ficarão responsáveis por fortalecer o aspecto turístico da zona portuária, do ponto de vista da operacionalidade do porto e também atrair investimentos e turistas para a região, além de realizar grandes eventos. De acordo com subsecretário municipal de Turismo, Pedro Guimarães, a ideia é mostrar que eventos importantes como a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 serão beneficiados com a revitalização da região. “Será um legado para a vida toda. Um grande produto turístico e também de usufruto do carioca, que poderá aproveitar esta área tão bonita e importante da cidade que ficou abandonada por tanto tempo, por falta de coordenação política“, afirma o subsecretário. Segundo ele, durante a elaboração do projeto Porto Maravilha, a prefeitura estudou casos de portos como o de Puerto Madero, em Buenos Aires, e os portos de Nova York, Barcelona, Lisboa, Vancouver, entre outras cidades que tiveram suas áreas portuárias desenvolvidas. “O caso de Buenos Aires é interessante, mas Puerto Madero praticamente deixou de ser um porto, enquanto o Porto do Rio cada vez mais se consolida como um dos maiores portos de recepção de turistas da América do Sul. Por isso nosso projeto é tão especializado: queremos transformar o Píer Mauá em um pólo incentivador de hotéis, restaurantes etc., mas sem esquecer sua função principal. O objetivo é integrar o porto à cidade”, arremata Guimarães. PORTO SEGURO Uma ação, já confirmada pela Prefeitura do Rio, e que está sendo considerada chave para o sucesso do projeto Porto Maravilha é a instalação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Providência, que ficará no morro próximo a região do Porto. Hoje degradada, a Zona Portuária tem a criminalidade como um grande empecilho para atrair investimentos na área. A questão da violência era uma preocupação para os investidores. Eles temiam que isso atrapalhasse os projetos. Como a UPP passou a ser um sucesso em outras regiões e referência de controle da criminalidade, a instalação da unidade bem no coração da Zona Portuária foi uma grata surpresa - diz o secretário municipal de Desenvolvimento, Felipe Góes. Além de melhorar a qualidade de vida da população com mais segurança, a previsão é de que a UPP consiga também acelerar o desenvolvimento imobiliário. De acordo com o secretário, em outras áreas onde houve a ocupação foi possível identificar uma valorização em torno de 40%, sem contar com os outros investimentos. “Se somarmos a UPP à revitalização do Porto e à transferência dos equipamentos olímpicos, acredito que a valorização pode ser superior”, comemora o secretário. REVISTA MOSAICO 9 AMPERJ EM AÇÃO Vítimas das chuvas recebem doações ENTRE OS DIAS 12 DE ABRIL E 20 DE MAIO, A AMPERJ RECOLHEU DOAÇÕES E PARTICIPOU ATIVAMENTE DA CAMPANHA DE AJUDA AOS MORADORES DO RIO E DE NITERÓI, VÍTIMAS DAS FORTES CHUVAS QUE ASSOLARAM A REGIÃO NO PERÍODO. INTERAGINDO COM OS ÓRGÃOS DA DEFESA CIVIL, A AMPERJ ABRIU UMA CONTA NO BANCO ITAÚ E EXPEDIU COMUNICAÇÃO INTERNA À CLASSE, COM SOLICITAÇÃO DE DEPÓSITOS EM FAVOR DOS DESABRIGADOS. DIARIAMENTE, O DINHEIRO ERA CONVERTIDO EM GÊNEROS DE PRIMEIRA NECESSIDADE, SOB ORIENTAÇÃO DIRETA TAIS ORGANISMOS OFICIAIS, QUE INFORMAVAM QUAIS ERAM OS ITENS PRIORITÁRIOS. FORAM DOADAS TONELADAS DE ALIMENTOS E DE OUTROS PRODUTOS ESSENCIAIS, ENCAMINHADAS ÀS VÍTIMAS POR MEIO DOS POSTOS DE RECOLHIMENTO ADMINISTRADOS PELO CORPO DE BOMBEIROS. VEJA A SEGUIR A PRESTAÇÃO DE CONTAS. 10 REVISTA MOSAICO PRESTAÇÃO DE CONTAS AMPERJ DATA HISTÓRICO ENTRADAS SAÍDAS SALDO 12/ABR DEPÓSITOS 4.260,00 – 4.260,00 13/ABR WALMART BRASIL LTDA – 2.778,08 1.481,92 13/ABR DEPÓSITOS 3.200,00 – 4.681,92 13/ABR SENDAS DISTRIBUIDORA S/A – 1.903,93 2.777,99 14/ABR DEPÓSITOS 2.990,00 – 5.767,99 14/ABR CARREFOUR COM. E INDÚSTRIA – 1.414,67 4.353,32 14/ABR WALMART BRASIL LTDA – 1.603,86 2.749,46 14/ABR DEPÓSITOS 15/ABR WALMART BRASIL LTDA 16/ABR DEPÓSITOS 16/ABR XANTOCARPA PARTICIPAÇÕES LTDA 19/ABR DEPÓSITOS 20/ABR WALMART BRASIL LTDA 20/ABR 2.949,90 5.699,36 – 3.050,78 2.648,58 1.250,00 – 3.898,58 – 2.650,18 1.248,40 2.100,00 – 3.348,40 – 2.734,47 613,93 DEPÓSITOS 930,00 – 1.543,93 26/ABR DEPÓSITOS 1.000,00 – 2.543,93 27/ABR XANTOCARPA PARTICIPAÇÕES LTDA – 1.544,95 998,98 27/ABR DEPÓSITOS 500,00 – 1.498,98 28/ABR DEPÓSITOS 1,19 – 1.500,17 28/ABR XANTOCARPA PARTICIPAÇÕES LTDA – 1.500,17 - 29/ABR DEPÓSITOS 500,00 – 500,00 03/MAI DEPÓSITOS 1.550,00 – 2.050,00 05/MAI DEPÓSITOS 100,19 – 2.150,19 05/MAI XANTOCARPA PARTICIPAÇÕES LTDA – 2.050,19 100,00 06/MAI DEPÓSITOS 100,00 – 200,00 19/MAI DEPÓSITOS 1,50 – 201,50 20/MAI SENDAS DISTRIBUIDORA S/A – 201,50 – 21.432,78 21.432,78 – SALDO FINAL MATÉRIA DE CAPA 12 REVISTA MOSAICO Desenvolvimento soc al Após enfrentar anos de abandono, iniciado com a mudança da capital da República para Brasília, o Rio de Janeiro finalmente começa a encontrar o rumo e entrar de vez na rota do desenvolvimento econômico e social. No entanto, para que essa expectativa se consolide, faz-se necessária a participação de todos os atores da sociedade. Nesse sentido, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro especializou suas promotorias com vistas a cobrir áreas imprescindíveis ao crescimento do Estado, como meio ambiente, educação e direitos de crianças e adolescentes. É vasta a atuação do órgão essencial à função jurisdicional do Estado - o que incluí a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais. Conheça cada uma dessas promotorias e seus responsáveis. POR ISABEL KOPSCHITZ FOTOS MARCO TERRANOVA REVISTA MOSAICO 13 MATÉRIA DE CAPA OS CAMINHOS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Problemas de saneamento e de são o principal foco moradia Não há como pensar em desenvolvimento sustentável sem a adoção de políticas na área do meio ambiente. Vinicius Leal Cavalleiro é coordenador do 6º Centro de Apoio Operacional, que atua na área de tutela coletiva. As três maiores, segundo afirmou, são cidadania, meio ambiente e consumidor que, por sua vez, são divididas. Especificamente em relação ao meio ambiente, temos três subdivisões principais: o meio ambiente natural, o urbanismo e o patrimônio histórico. Cavalleiro contou que, no Estado do Rio de Janeiro, as preocupações ambientais e urbanísticas estão primordialmente voltadas aos problemas do saneamento e da moradia, que não raro conflitam, especialmente essa última, com o sistema jurídico legal de proteção das matas, dos rios e da fauna. "No Rio há uma enorme amplitude de conflitos urbano/ambientais, que variam desde as edificações pretendidas para a Copa do Mundo e para a Olimpíada, perpassando por problemas sanitários de alta complexidade, como o que se pretendia com o projeto de despoluição da Baía da Guanabara. Por outro lado, convive com o problema da pessoa, ou da família que edificou em área ambientalmente relevante", explicou o promotor. Ele destacou a decisão judicial proferida recentemente, que determinou a retirada de um núcleo populacional de dentro do parque do Humaitá e da Pedra Branca. "Isso gerou uma celeuma. É uma área de grande relevância ambiental, mas também é a moradia daquelas pessoas. Temos que ponderar sobre o que vale mais: a questão ambiental ou o suposto direito à moradia adequada daquelas famílias. É uma questão socialmente relevante, que chegou a trazer ameaça à integridade física meio ambiente dos membros do Parquet envolvidos no caso, já que as pessoas afetadas, em ato de desespero, ultrapassaram o xingamento e chegaram quase às vias de fato", disse. Segundo afirmou, as questões relacionadas ao meio ambiente tratadas pelo Ministério Público são complexas, pois envolvem aspectos jurídicos e também sociais. Apesar disso, as vitórias obtidas não são poucas. Exemplo disso foi o licenciamento da Vila Olímpica dos Jogos Panamericanos que, após muita discussão, não saiu do modo como fora idealizado, mas de forma a minimizar os impactos. Cavalleiro destacou ainda a importância da atuação especializada. "O Direito Ambiental está ganhando o contorno que eu imaginava. Hoje essa é a questão mais importante a ser discuti- da pela sociedade, pois visa à definição da nossa futura esfera de convivência", afirmou. HABITAÇÃO NA METRÓPOLE VERDE Atualmente, apenas uma em cada três residências no Rio recolhe o Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana, o IPTU. Ainda, segundos dados da prefeitura, há mais de 1000 favelas na cidade para apenas 80 bairros oficialmente existentes. Essa discrepância revela a medida do desafio, explicou Carlos Frederico, titular da 1ª Promotoria de Tutela Coletiva do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro. De acordo com ele, o Rio de Janeiro é uma metrópole verde porque dispõe de 42 milhões de metros quadrados em unidades de conservação, den- Questões do meio são jurídicas e ambiente sociais REVISTA MOSAICO 15 MATÉRIA DE CAPA Copa e Olimpíada ajudam a maus costumes mudar tre as quais o maior parque urbano do mundo, a Floresta da Tijuca. Além disso, temos 80 praias, duas Baías, dezenas de rios e lagoas que cumprem função vital na vocação turística da cidade. Mas é preciso pôr ordem na casa. Foi com esse objetivo que o Ministério Público especializou-se na área. De acordo com o promotor, o trabalho desenvolvido pela Instituição ganhou reforço com a escolha do País para a realização da Copa do Mundo e do Rio de Janeiro para sediar os Jogos Olímpicos. "Esses eventos fornecem a motivação social para transformar a realidade e mudar antigos maus costumes que muito nos atrapalharam no passado”, disse. O trabalho desenvolvido tem rendido frutos. O promotor destaca a assinatura recente, pelo Governo do Estado, do Termo de Ajuste de Conduta que assegurou recursos adicionais na ordem de R$ 363 milhões para projetos ambientais financiados pelo Fundo Estadual de Conservação Ambiental. O termo também garantiu a sobrevivência futura do fundo, que se beneficiará das receitas de royalties da exploração de petróleo na camada pré-sal, caso os critérios constitucionais sejam preservados. O promotor ressaltou, no entanto, que as conquistas não são medidas apenas com números. O trabalho das Promotorias de Meio Ambiente, nos últimos 20 anos, trouxe resultados abstratos, porém claramente perceptíveis. "O Ministério Público foi identificado e carimbado como instituição defensora do meio ambiente e, portanto, da própria sociedade. O tema ambiental foi colocado na agenda do dia e se tornou prioritário para os cidadãos, circunstância rara para um interesse difu- so num mundo individualista. Porém, internamente, as transformações não seguem a mesma velocidade. Precisamos exercitar a vocação do Ministério Público como instituição verde com maior efetividade, e isso é mais simples do que parece", finalizou. AÇÕES PREVENTIVAS NA SAÚDE PÚBLICA O acesso à saúde pública de qualidade é um fator importante e necessário para o desenvolvimento social. Garantir esse direito é o objetivo da promotora Vanessa Katz, titular da 2ª Promotoria de Tutela Coletiva do Núcleo Petrópolis, que abrange diversos municípios da região. Para Vanessa Katz, os maiores problemas nesta área estão relacionados à falta de financiamento e de planejamento, assim como à má gestão das verbas públicas. A promotora explicou que a atuação do MP de fomento à or- saúde ganização do SUS deve ser essencialmente preventiva. "As questões pontuais trazidas, as que são sempre enfrentadas, não afastam, antes pelo contrário, a necessidade de uma abordagem mais ampla de intervenção junto aos gestores na formulação e execução das ações de saúde. A experiência tem demonstrado que uma atuação próxima ao gestor, com o devido assessoramento dos peritos do Grupo de Apoio Técnico Especializado, é, em geral, mais efetiva do que uma medida judicial. O MP deve buscar na área da saúde uma atuação resolutiva, evitando ao máximo judicializar as questões", explicou. De acordo com a promotora, o MP deve assumir, na área da saúde, o papel de articulador entre os diversos entes públicos. "O Sistema Único de Saúde, por força da própria Constituição da República, é um sistema regionalizado e hierarquizado. Isso significa que os serviços de saúde são prestados ao ci- Falta de financiamento e planejamento afeta a saúde REVISTA MOSAICO 17 MATÉRIA DE CAPA MP buscará a de critérios técnicos adoção dadão por entes públicos diversos e não somente por aquele município de sua residência. É fundamental a atuação do MP na construção dessa rede, já que, muitas vezes, fatores políticos acabam interferindo negativamente e impedindo as pactuações. Fomentar a superação dessas dificuldades e a adoção de critérios técnicos para o planejamento regional da saúde é um novo papel que temos que desempenhar, ressalta. Vanessa Katz destacou ainda que é fundamental que o Ministério Público busque uma aproximação com os Conselhos Municipais de Saúde, que podem agir como "os olhos e os ouvidos" do promotor. A promotora citou algumas conquistas obtidas na área. Um exemplo foi o fechamento recente de um hospital psiquiátrico, em Petrópolis, que funcionava em condições precárias, expondo os pacientes a condições subumanas, riscos à saúde e integridade física. Por meio de negociações com o Estado, a verba que antes era empregada nesse hospital será usada para financiar a manutenção de uma residência terapêutica. Outra conquista que merece destaque foi a alteração do regimento interno do Conselho Municipal de Saúde de Petrópolis, feita a partir de uma recomendação expedida, que passou a prever a proibição do exercício da presidência pelo Secretário Municipal de Saúde, consagrando a independência do órgão de controle social. Por fim, merecem registro os Termos de Ajustamento de Conduta firmados com os Municípios de São José do Vale do Rio Preto e Areal visando à realização de concurso público, os quais solucionarão o problema da precarização dos vínculos na área de saúde. educação ATENÇÃO À QUALIDADE DO ENSINO A educação, fator importante para se aferir o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de uma cidade, vem merecendo uma atenção especial no Rio de Janeiro por parte do Ministério Público. Isso se deve às inúmeras dificuldades verificadas neste setor. Bianca Mota Moraes, titular da Promotoria de Justiça de Proteção à Educação da Capital, desde junho do ano passado, comentou algumas delas. De acordo com a promotora, são vários os fatores que interferem na qualidade do ensino. Exemplifica com os problemas relacionados à insuficiência das vagas e de professores, especialmente em creches, à superlotação de salas de aula, à falta de equipes de apoio nas escolas, às contratações temporárias de professores, à violên- cia no meio escolar, às irregularidades relativas à merenda e à necessidade da correta aplicação das verbas destinadas ao setor educacional. Segundo Bianca, para desempenhar as funções de acompanhar a elaboração e a execução das políticas públicas, fiscalizar o destino das verbas, combater a improbidade administrativa e verificar a regularidade do serviço prestado pelas redes pública e particular de ensino, tem sido necessária a contínua revisão e dinamização das práticas internas do órgão. Acrescentou ainda, que o vertiginoso crescimento da demanda na Promotoria tem demonstrado ser indispensável nova reflexão sobre suas atribuições. "Penso que a criação de uma Promotoria especializada na área da educação significou, sem dúvida, grande vitória Criação de promotoria na área da educação foi uma vitória REVISTA MOSAICO 19 MATÉRIA DE CAPA Rio carece de de inserção de ex-detentos ações social para o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. Já que precisamos eleger prioridades, focar em áreas sensíveis como as da educação e da saúde parece-me uma excelente estratégia, desde que o processo de especialização institucional prossiga acompanhando a evolução da demanda destas Promotorias, que são alvo de intensa e crescente busca social. Conheço capital de Estado da Federação, por exemplo, com população quase dez vezes menor e com questões menos complexas que as do Rio, que já possui três Promotorias da Educação", disse. RESSOCIALIZAÇÃO: SAÍDA PARA CONTER VIOLÊNCIA Gabriela Tabet é titular da 9ª Promotoria de Execução Penal da Capital há seis anos. De acordo com a promotora, o Rio carece de projetos e ações que visem à inserção social do egresso do sistema penitenciário. "Hoje, após a concessão do livramento condicional, durante o qual o preso se submete a algumas condições para que possa cumprir o restante de sua pena em liberdade, o acompanhamento do egresso é muito limitado. As obrigações legais do apenado restringem-se ao comparecimento ao Patronato Magarinos Torres, com a periodicidade determinada pelo juiz, normalmente a cada três meses, oportunidade em que declara se permanece residindo no mesmo endereço ou o atualiza. Não existe qualquer outro monitoramento, seja para auxiliar os ex-detentos que necessitam de recolocação no mercado de trabalho ou continuar seus estudos, seja para controlar com maior rigor as ações daqueles que apresentam perfil voltado para práticas criminosas reiteradas", afirmou. Segundo a promotora, outra agravante é a morosidade com que o Poder Judiciário aprecia os processos de apenados soltos, já que a prioridade é dispensada aos presos. "Em inúmeras situações, o MP, como órgão fiscalizador, requer a revogação do livramento condicional por descumprimento das obrigações legais, sem que haja decisão tempestiva do juízo. Um exemplo dramático ocorreu há poucos anos: o MP requereu a revogação do livramento condicional de um apenado, mas esse pedido não foi apreciado tempestivamente. Neste meio tempo, ele esquartejou uma mulher em Botafogo". Na avaliação dela, dentre os objetivos da pena, está-se longe de alcançar a prevenção de novos crimes e a efetiva ressocialização dos apenados. "Talvez a segregação do preso seja a única função da pena hoje alcançada, mesmo assim, com ressalvas, devido a inúmeras falhas do sistema, dentre as quais a que permite a comunicação ilegal de presos, como se dá com a entrada ilícita de aparelhos celulares em presídios, ou ainda a concessão inadequada de benefícios de saídas temporárias a apenados reconhecidamente perigosos". A promotora acredita que "olhar o ser humano individualmente" talvez seja um bom ponto de partida para solucionar as inúmeras carências do sistema prisional do Rio. "Com isso, quero englobar tanto a individualização do tratamento concedido aos internos e egressos, seja administrativo ou jurídico (com relação à avaliação de comportamento carcerário, concessão de benefícios e aplicação de sanções, por Apenado deveria ser olhado individualmente MATÉRIA DE CAPA Famílias têm falhado em proteger a infância exemplo), como também a necessidade de melhor capacitação, reconhecimento, garantias e segurança dos servidores, desde os inspetores de segurança até os profissionais de diversas áreas que atuam no sistema, como assistentes sociais, médicos e psicólogos, para que se possa deles cobrar responsabilidade e atuação efetiva", defendeu. No âmbito do MP, a criação de uma promotoria com atribuição de tutela coletiva para a execução penal vem sendo muito aguardada. ATUAÇÃO NA ÁREA DE INFÂNCIA A promotora Karina Fleury atua há dez anos na área da Justiça da Infância e da Juventude, sendo sete na Promotoria especializada em Campo Grande. O trabalho se realiza em duas vertentes: a extrajudicial e a judicial. No plano extrajudicial as Promoto- rias da área têm buscado ampliar a interlocução com os Poderes Públicos, visando superar entraves orçamentários ou burocráticos à consecução das políticas públicas essenciais aos direitos fundamentais, evitando ao máximo a judicialização das questões. Ela conta que inúmeros são os problemas na área, principalmente pela intersetorialidade necessariamente envolvida na atuação do Promotor da Infância e Juventude e pelas dificuldades inerentes à prestação dos serviços públicos. Outra dificuldade detectada relaciona-se às famílias, que têm falhado em sua missão primária de promover e proteger a infância e a adolescência de seus integrantes, procurando transferir suas responsabilidades para entidades públicas e privadas. "Essa postura das famílias assoberba a rede de proteção e prejudica a reação positiva das crianças e dos adolescentes diante de alguns problemas, aumentando a frustração de todos os envolvidos. Contudo, mesmo nos casos que realmente demandam atuação protetiva, há, de fato, profunda e ampla carência de programas de efetivo apoio e orientação às famílias, que muitas vezes procuram os Conselhos Tutelares e o Ministério Público para tratar de questões que poderiam ser dirimidas em órgãos afetos às políticas básicas", explicou. No tocante à proteção de direitos individuais em juízo, a experiência revela que a eficiência da atuação depende em grande parte do trabalho de escuta e análise percuciente dos fatos que envolvem a criança e sua família. Mesmo diante das adversidades, Karina registra êxito frente a tragédias, como por exemplo, o sucesso na bus- ca, apreensão e proteção de um bebê e de sua mãe doente mental que eram mantidos em cárcere privado pelo pai, que estuprou a filha e gerou o filho/neto, bem como no fomento da interlocução entre as Secretarias Municipais de Saúde e de Assistência Social para a definição de estratégias articuladas para o atendimento a crianças e adolescentes usuários de droga, em especial o crack. Segundo a Promotora, apesar das muitas frustrações e de um custo emocional difícil de dimensionar, é recompensante trabalhar nessa área. "Sintome útil na solução ou, pelo menos, na minimização de situações de risco e de sofrimento de crianças, adolescentes e de suas famílias. Cotidianamente, obtemos pequenas, mas importantes respostas acerca do exercício de nossas atribuições", disse carência Há de programas de orientação aos parentes E N T R E V I S T A Viva o RJ viva a Bossa Nova POR ISABEL NA HISTÓRIA DO MÚSICO CAPIXABA ROBERTO MENESCAL, A LIGAÇÃO COM O RIO DE JANEIRO MERECE UM CAPÍTULO A PARTE. E NÃO SÓ PORQUE A SUA FAMÍLIA, DE ARQUITETOS E ENGENHEIROS, ASSINA BADALADOS PROJETOS LOCAIS, COMO A GALERIA MENESCAL, EM COPACABANA, E OS CLUBES COSTA BRAVA, EXCURSIONISTA CARIOCA E CAMPING CLUBE. PARA UM DOS REPRESENTANTES DO CINQUENTENÁRIO MOVIMENTO DA BOSSA NOVA, NÃO HÁ DÚVIDAS DE QUE MÚSICA COMO ESSA NÃO PODERIA TER SURGIDO EM OUTRO LUGAR. 24 REVISTA MOSAICO KOPSCHITZ FOTOS MARCO BOSSA NOVA A Bossa Nova só podia ter nascido naquela época e no Rio de Janeiro. A geração anterior à minha morava em Botafogo, Flamengo, Centro, e cantava versos como "ninguém me ama, ninguém me quer" ("Ninguém me ama", de Nora Ney), aquela coisa mais melancólica, de quem mora em lugares fechados, mais nas entranhas da cidade. Quando viemos para Copacabana, que era o bairro do momento, começamos a cantar: "Era uma vez um lobo mau, que resolveu jantar alguém" ("Lobo bobo", de Carlos Lyra). Mudamos o discurso em função desse novo cenário de praia, de mar. Fomos a primeira geração que olhou a praia e percebeu que ali se tinha, de graça, a possibilidade de jogar vôlei, frescobol, surfar ou pegar jacaré, como se dizia naquela época, namorar e tocar violão de noite. Essa atmosfera fez com que a gente se inspirasse para fazer um movimento musical. Só o Rio tinha essa condição. TERRANOVA PERCALÇOS Tanta gente queria morar em Copacabana naquela época que se construíram prédios enormes, de 20 apartamentos por andar. Eu tinha amigos jornalistas que moravam no número 200 da Rua Barata Ribeiro e com quem nos encontrávamos à noite, depois do trabalho, para tocar. Mas as paredes dos apartamentos eram tão finas que o morador do lado sempre reclamava da nossa cantoria. A Bossa Nova é baixinha até hoje por causa das paredes finas e das reclamações dos vizinhos. CRIATIVIDADE A cidade não favorece a formação de um super músico. Mas sim a um músico (escritor, ou o que for) super criativo. Conheci músicos do Canadá que são extremamente técnicos. Agora lá, em meses nos quais a temperatura chega a 40 graus negativos, eles se fecham e vão estudar, desenvolver seu talento. Aqui isso não acon- E N T R E V I S T A Quando resolvi ser músico meu pai disse: “garanto casa e comida. O resto é por sua conta” tece. No máximo, se eu decidir não trabalhar hoje e sentar para olhar o mar, virão ideias maravilhosas à minha cabeça. Isso se percebe em várias músicas da Bossa Nova: "Rio que mora no mar/Sorrio pro meu Rio que tem no seu mar/.../Rio é mar, eterno se fazer amar" ("Rio", de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli). A poesia vem dessa paisagem. MERCADO DE TRABALHO Quando eu resolvi ser músico, aos 17 anos, meu pai disse: "casa e comida estão garantidos, mas o resto é por sua conta". Fiquei receoso na época, mas uns quatro meses depois eu já tinha um grupo, tocava em bailes e participava do movimento da Bossa Nova. Em um ano, eu já estava no mundo. Qualquer um de nós tem muito mais possibilidades do que imagina e o Rio ajuda muito nisso porque há poucas pessoas preocupadas em explorar essas possibilidades. BRASÍLIA: NOVA CAPITAL Acho que o Rio não teria comportado a capital por mais tempo. A pena é que sofreu muito com o esvaziamento. A turma dos deputados já gastava dinheiro naquela época, saía dos congressos e ia para a noite, para as boates, ia namorar. Com isso, se tinha um Rio muito vivo, brilhante, aceso. Mas tinha-se que levar a política para um lugar planejado para ela. Brasília, inclusive, já começa a ter problemas, mas ainda é possível pegar o carro, ir a determinado lugar e conseguir vaga para estacioná-lo. Aqui, onde se iria estacionar? BARRA: O NOVO RIO Eu moro na Barra há 20 anos e estou sempre descobrindo lugares novos na região. Meu estúdio, por exemplo, fica numa das ilhas da Lagoa da Tijuca. Tem muito carioca que não a conhece. Outro lugar maravilhoso é a Joatinga, que eu descobri aos 17 anos, quando fazia pesca submari- na. O Rio permite que, ainda hoje, 50 anos depois, se encontre lugares assim, belos e desconhecidos. CRESCIMENTO PELA ORLA Esse crescimento da cidade do Rio ao longo da orla, já ultrapassa o Recreio, vai até São Paulo. Eles estão vindo de lá e nós indo daqui. Em algum momento vamos nos encontrar e vai ter a guerra final do mundo (risos). Além das nossas belas praias, algumas até privativas, como a que o Chico Buarque teve entre Prainha e Grumari, há, de Paraty em diante, belas paisagens e praias semidesertas. DESENVOLVIMENTO PLANEJADO Como disse, o crescimento da cidade é inevitável. Pena que não se pratica no Rio um desenvolvimento planejado. A Barra teve a sorte de contar com um cara com a visão do (urbanista) Lúcio Costa para organizar tudo, determinar onde haveria casas, onde ficariam os prédios. Mas o grande pro- blema de quem mora na Barra e nos bairros próximos, agora é, chegar e sair daqui. Há 20 anos, quando eu saía do Barra Shopping e vinha até a minha casa, no condomínio Pedra de Itaúna, trafegava com medo porque não tinha uma lâmpada na rua. Hoje eu chego às 2h na Barra e o trânsito está infernal. E até o fim do ano, ainda devem ser entregues mais uns 20 condomínios na região, cada um para seis mil pessoas, e até agora não foi gerada nenhuma alternativa de transporte. O Rio sofre ainda por conta do relevo acidentado que tem. Em São Paulo, por exemplo, onde se tem um problema seríssimo de trânsito, há alternativas de trajeto. Já aqui no Rio, o relevo te limita. Se o trânsito parou, você relaxa, põe uma música e fica apreciando a paisagem. VIOLÊNCIA Acho que os problemas da cidade serão resolvidos. Até mesmo a violência. Se olharmos para a história das grandes cidades, perceberemos que a violência, bem como as doenças, são comuns em inícios e finais de século. Isso porque todos os séculos começam terminando o anterior e só vão ter o seu grande desenvolvimento econômico e cultural a partir dos anos 20, culminando nos anos 50 e 60, e depois entrando em fase de nova deterioração. Nesse momento, estamos enxugando o caldo do que foi feito no século anterior e começando a ver a história deste século, que certamente está ligada ao virtual. É o computador que vai mudar tudo, mas ainda não sabemos exatamente como. FAVELA E FAVELIZAÇÃO Favela é um problema mundial e o que mais me preocupa não são as favelas em si, mas o crescimento do contingente favelado, que é galopante em função da pobreza e faz com que haja cada vez mais favelas, maior agressão à natureza e mais violência. Hoje já são mais de mil na cidade e, se continuar assim, não teremos mais o REVISTA MOSAICO 27 E N T R E V I S T A nosso "Rio serras de veludo/Sorrio para o meu Rio, que sorri de tudo" ("Rio"). Eu vi Carlos Lacerda acabar, num só dia, com uma favela que havia perto do Cantagalo. E também vi ser removida a favela do Pinto, que ficava na Lagoa. Ou seja, é possível desfazer e há muitas áreas na Baixada Fluminense que poderiam ser aproveitadas para moradia, desde que se oferecesse também um transporte coletivo de qualidade para as pessoas. Se começarmos a cuidar dessas questões, em 30 anos se terá menos pobreza no Brasil. TRANSPORTE URBANO Há 120 anos, a França já tinha um sistema metroviário que cortava todo o seu subsolo. Na Rússia, há 100 anos já há um metrô igualmente completo. Em 1970, eu já levava meus filhos para ver o metrô chegando a Ipanema. Só que o dinheiro para a obra acabou. Na época o túnel foi tapado e só agora a obra foi retomada, quase 40 anos depois. Além dessas obras, as autoridades poderiam aproveitar também espaços como a Baixada de Jacarepaguá, que é lisa, para colocar um trem de alta tecnologia. E fazer na Avenida Niemeyer uma pista de dois andares como a que existe no Joá. APROVEITAMENTO TURÍSTICO O Rio é a cidade mais bonita em termos de natureza e a menos aproveitada. Certa vez em que estive no Japão, um conhecido me levou a um restaurante que tinha vista para o metrô. O metrô! Aqui poderíamos ter coisas muito melhores explorando até mesmo essas outras pontas que a Barra tem, como a Joatinga. Poderia haver um teleférico para subir a Pedra da Gávea. E o Forte de Copacabana tinha que ser o centro mais turístico do mundo, não só com a roda gigante, mas também com um restaurante fantástico, de frente para aquele marzão. Ali não é lugar de forte militar cheio de canhões sem serventia. CONSCIÊNCIA AMBIENTAL Minha geração não falava em ecologia. Eu mesmo, quando ia a Cabo Frio, via mil lagostas no fundo da água e pensava que podia tirar porque viriam outras mil. Jacques Cousteau veio ao Rio na década de 60 e disse que o mar era finito e, apesar de respeitarmos muito ele, achamos que aquilo era uma bobagem. Só que cinco anos depois, vimos que ele tinha razão. Não se viam mais a mesma quantidade de lagostas, de peixes. Parei de pescar em 1985 e hoje confesso que fui pecador. Tento compensar cultivando bromélias na minha casa, onde tenho cerca de 30 mil plantas, e numa chácara em Jacarepaguá. Também cedo algumas para o Sítio Burle Marx. Hoje sei que é preciso tomar cuidado com esse Rio de Janeiro porque não tem outros como este pelo mundo. À IMAGEM DO RIO Parecido com o Rio, só Caracas, porque fica num vale e, portanto, é rodeada por montanhas; e a Cidade do Cabo, que combina montanha e mar. Mas nessas cidades, principalmente na última, a beleza natural é melhor aproveitada turisticamente. DECLARAÇÃO DE AMOR Quando trabalhava na Polygram, na Barra, sempre começava as minhas reuniões de manhã perguntando aos funcionários: "vocês apreciaram a paisagem hoje ou vieram correndo para a reunião? Saiam 15 minutos antes e venham para cá numa boa, vendo o mar, e vocês vão chegar aqui com outro astral". As pessoas não podem se acostumar com o fato de o Rio ser bonito. Têm que achá-lo bonito todos os dias, sempre que for possível. Até porque, em nenhuma cidade do mundo se vê um cenário tão belo, em que a montanha invade o mar, ou podemos dizer, em que o mar invade a montanha. As pessoas não podem se acostumar. Elas têm de achar o Rio bonito todos os dias deleite PATRIMÔNIO BRASIL Redutos de Machado de Assis POR ISABEL KOPSCHITZ FOTOS MARCO TERRANOVA REVISTA MOSAICO 31 PATRIMÔNIO BRASIL CONHEÇA ALGUNS DOS REDUTOS ADOTADOS PELO ESCRITOR MACHADO DE ASSIS NA CIDADE Reservado,ele preferia sua casa às badalações 32 REVISTA MOSAICO Ao contrário do que muita gente pensa, Machado de Assis (18391908) não era um homem boêmio. Diferentemente de contemporâneos do século XIX, como Castro Alves e Rui Barbosa, ele preferia sua casa às mesas de bar, festas ou badalações. Reservado, o maior escritor brasileiro - cuja morte completou cem anos em setembro de 2008 -, sofria de epilepsia, era gago e tinha complexos em relação à cor de sua pele. Naturalmente que essas características não o ajudavam a ser um bom orador, mas tampouco suprimiam seu intenso poder de crítica social. Nesta edição, a Revista Mosaico mostra alguns dos lugares que o gênio da literatura brasileira costumava frequentar na cidade. A maior parte dos locais preferidos do escritor ficava no Centro, por onde ele costumava passar ao ir de casa para o trabalho e vice-versa. Não é à toa que Capitu, personagem do célebre romance Dom Casmurro, vivia na Rua do Riachuelo. De origem humilde, Machado nasceu e foi criado no Morro do Livramento, no bairro da Saúde, zona portuária do Rio. Morou, também, em São Cristóvão, no Largo de São Francisco e na Lapa. Após conquistar notoriedade, mudou-se para a Rua o Bruxo das Laranjeiras e, em seguida, para a continuação da via: a Rua Cosme Velho. Foi lá que ficou conhecido como "O Bruxo do Cosme Velho". O motivo, dizem especialistas, era que ele cultivava a mania de queimar bilhetes, cartas e escritos dos quais não gostava numa panela grande, parecida com um pequeno caldeirão de bruxa. Outros dizem que o apelido lhe foi dado porque seu sucesso intrigava as pessoas. Muita gente não conseguia entender, naquela época, como um homem negro, de origem humilde, que mal conseguiu ter estudo formal, podia ter se transformado numa su- midade das letras – comenta o professor Carlos Roquette, que faz passeios guiados aos locais que o escritor e suas personagens frequentavam na cidade. Na infância, Machado foi coroinha na Igreja Nossa Senhora da Lampadosa, próxima à Praça Tiradentes, na Avenida Passos. Erguida no século XVIII, a igreja ficava relativamente próxima ao Morro do Livramento, onde ele nasceu e foi criado. Na adolescência, o escritor fazia diariamente o trajeto de barca entre o bairro de São Cristóvão, onde morava, e o Centro. Era o caminho mais rápido para chegar à tipografia em que trabalhava, na Hábitos e sucesso intrigantes renderam o apelido de “O Bruxo do Cosme Velho” REVISTA MOSAICO 33 coroinha na Lampadosa Na infância, foi Igreja da Praça XV. Passava todo o tempo mergulhado na leitura. Do antigo Cais Pharoux, onde desembarcava todas as manhãs, próximo à Praça XV, restou apenas um dos quatro torrões que marcavam a paisagem carioca até o princípio do século passado. No lugar, funciona hoje o restaurante Albamar, um dos mais tradicionais da cidade, especializado em frutos do mar. O Cais Pharoux ficava de frente para a Ilha Fiscal. Hoje, quem vai ao local pode ver barquinhos a balançar nas águas da Baía da Guanabara e a Ponte Rio-Niterói ao fundo, com direito a pousos e decolagens no aeroporto Santos Dumont. Um dos lugares mais importantes do período, a Rua do Ouvidor, era uma área elegante, com comércio variado e agitação cultural. Machado de Assis não se cansava de escrever sobre a via: "Aqui acharás a flor da sociedade, as senhoras que vêm escolher as jóias do Valais ou as sedas à Notre Dame, os rapazes vêm conversar de teatros, de salões, de modas e de mulheres" (do conto Tempo de Crise, em Contos Avulsos). Hoje, no trecho depois da Rua Primeiro de Março, fechado ao tráfego de veículos, há barezinhos que ficam lotados nos fins de tarde, com mesas espalhadas pela rua. Outro logradouro muito concorrido na época era o Passeio Público, concluído em 1783. Projetado por Mestre Valentim, é uma das áreas mais agradáveis do Centro do Rio, com jardins, chafarizes, lagos, pontes, estátuas e um lindo portão de ferro. Machado de Assis citou muitas vezes o Passeio em suas obras. Fica entre as ruas do Passeio, Teixeira de Freitas, Mestre Valentim e a Avenida Luís de Vasconcelos, próximo ao metrô da Cinelândia. Como ávido leitor que era, Machado era sócio do Real Gabinete Português de Leitura, prédio que sediou as cinco primeiras reuniões da Academia Brasileira de Letras (ABL). A construção fica na Rua Luís de Camões 30 no Centro. Pesquisadores verificaram PATRIMÔNIO BRASIL obra e vida são analisadas em pelo menos 26 publicações que o escritor também frequentava regularmente a Biblioteca Nacional, na Avenida Rio Branco. O "bruxo" também gostava de lanchar na tradicional Confeitaria Colombo, desde que foi inaugurada, em 1894. A casa ainda preserva a decoração elegante, com espelhos belgas, mármores italianos e móveis feitos de jacarandá. As bancadas de doces e salgados, logo à porta, exibem clássicos do lugar, como os pastéis de nata e a queijada de Évora, a "coxa-creme" e o camarão empanado. Existem pelo menos 26 publicações dedicadas a contar e analisar a vida e a obra de Machado de Assis. Foi presidente da ABL de 1896 a 1908, da qual foi o principal membro fundador. Em vida publicou oito romances entre eles os mais notórios: Memórias Póstumas de Brás Cubas (1880), Quincas Borba (1891) e Dom Casmurro (1899) – e seis livros de poesia, além de crônicas, contos, críticas e traduções. Foi traduzido para 15 idiomas, incluindo dinamarquês, holandês, árabe e tcheco. Já foram defendidas cerca de 80 monografias, dissertações e teses sobre o autor, em universidades de todo o Brasil e também dos EUA, Grã-Bretanha, Alemanha, Portugal, França, entre outros países. Amigo e admirador de José de Alencar, que morrera 20 anos antes da fundação da ABL, Machado o homenageou nomeando-o patrono da cadeira 23 da ABL. O corpo de Machado de Assis está atualmente no mausoléu da ABL, no cemitério São João Batista, em Botafogo. EMPREENDEDORISMO “Não há missão CHEIO DE INICIATIVA E SOLUÇÕES INOVADORAS, PROMOTOR DE CAMPOS Ele não é super-homem, mas sabe voar e tem no currículo "salvações" importantes. Há 15 anos como membro do Ministério Público do Estado do Rio, oito na Promotoria de Tutela Coletiva de Campos dos Goytacazes, o promotor Marcelo Lessa não precisa de denúncia para agir. Se percebe que algo está errado no município, e que há como ajudar, deixa o gabinete e toma as ruas (ou até mesmo os céus, com seu ultraleve), contribuindo para mudar a realidade local. Em alguns casos, a Justiça sequer precisa ser provocada, pois apenas sua experiência e influência bastam. Lessa ganhou destaque na mídia pela explosão de quatro diques, no fim do ano passado, em Campos, após enchente que resultou em mais de 50 mil desabrigados. Os diques protegiam fazendas irregulares no município, represando a Lagoa Feia e resultando em inundações. Como inicialmente o promotor teve a antecipação de tutela de sua dilicular negada, na 2ª Vara Cível de Campos, arregaçou as mangas. Recorreu ao secretário estadual de Saúde e Defesa Civil, Sérgio Côrtes, ao comandante geral do Corpo de Bombeiros do estado, coronel Pedro Marco Machado, e à secretária estadual de Meio Ambiente, Marilene Saldanha, que entenderam que a primeira explosão deveria ser feita 38 REVISTA MOSAICO impossível” FIRMA-SE COMO EXEMPLO DE PROFISSIONAL EMPREENDEDOR NO MP com urgência e independentemente de decisão judicial. A iniciativa foi muito bem sucedida: a água que inundava casas do distrito de Ururaí baixou 80 centímetros em apenas uma noite. Diante do sucesso, Lessa provocou o MP federal, no intuito de levar a demanda das outras três explosões à vara federal, já que a Lagoa Feia desemboca no mar e é área pertencente à Marinha. O MPF encampou a briga do promotor, promoveu ação e ganhou. Assim, foram explodidos os demais diques, sob a coordenação de Lessa, que acompanhou os trabalhos, mobilizando a Defesa Civil, as polícias Civil e Militar e até as Forças Armadas. Estou convencido de que fiz a coisa certa, e faria tudo de novo, se preciso fosse. Confio nos órgãos correicionais do MP e sei que não irão se curvar ao poderio econômico – declara, quando questionado sobre a representação que os pretensos proprietários de terras nas áreas dos diques fizeram contra ele, na Corregedoria e no Conselho Nacional do Ministério Público. Mas a atuação de Lessa não para por aí. Voluntariamente, ele faz voos frequentes em seu ultraleve, com agentes do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Campos, para identificar focos de dengue no município. Nos sobrevoos a baixa “O promotor deve se empenhar ao máximo em resolver os problemas que lhes são levados, de forma efetiva e eficaz, doa a quem doer” MARECELO LESSA, PROMOTOR DE JUSTIÇA altitude, eles descobrem os potenciais focos em caixas d´água abertas, piscinas sujas e em outros locais, poupando tempo das equipes do CCZ, que já visitam as casas certas. O promotor também garante a entrada dos agentes de saúde nas residências onde os moradores se recusam a recebê-los. Segundo Lessa, na maioria dos casos, não é necessária autorização judicial, bastando auxílio da polícia. “O promotor deve sempre se empenhar ao máximo em resolver os problemas que lhes são levados, de forma efetiva e eficaz, doa a quem doer, sem se preocupar com qualquer tipo de retaliação. Seu único compromisso deve ser a sua consciência e o interesse coletivo” – afirma Lessa, que tem 39 anos e leciona Processo Penal na Faculdade de Direito de Campos. Casado e pai de dois filhos, o promotor diz que conta com a compreensão da família em relação ao trabalho, que o absorve e reduz seu tempo em casa. Ele conta que procura minimizar sua ausência – decorrente do trabalho, das aulas e de viagens para ministrar palestras – se dedicando à família o máximo possível, sempre que está presente. POR ISABEL KOPSCHITZ F OT O M A R CO T E R R A N O V A REVISTA MOSAICO 39 EN OLOGIA Cursos de vinho fazem sucesso AMPERJ PROMOVE A 4ª EDIÇÃO DO CURSO DE VINHOS Nos dias 2, 9 e 16 de agosto de 2010, a Amperj realiza a 4ª edição do Curso de vinhos, em parceria com a Associação Brasileira de Sommeliers (ABS), reconhecida internacionalmente e referência no plano nacional quando o assunto é a bebida de Baco. As aulas acontecem das 19h às 22h, sempre às segundas-feiras. Em edições anteriores, já foram oferecidos o curso básico e o avançado, além de um suplementar de vinhos chilenos e argentinos. Agora, é a vez dos franceses. Os cursos de vinho têm sido a atividade mais procurada dentre as várias iniciativas culturais da entidade. A propósito, no último ano, a Associação, por meio da Diretoria Cultural, realizou inúmeros eventos que extrapolam a área jurídica. Foram oferecidos cursos de Filosofia e de História da Arte, com o professor Marco Casanova; cursos de dança de salão, com o professor Carlinhos de Jesus; sessões de cinema no Cine Clube Amperj, seguidas de debates muito proveitosos; e aulas de "gerenciamento de stress através da respiração", em parceria com a Arte de Viver. O próximo curso dos vinhos, denominado de "Tour de France", terá o seguinte conteúdo programático: Dia 2 de agosto de 2010 (2ª feira) - Introdução, Jura, Savoie e Borgonha Dia 9 de agosto de 2010 (2ª feira) - Rhône, Languedoc-Roussillon, Provence Dia 16 de agosto de 2010 (2ª feira) - Bordeaux, Loire, Sudoeste e Alsácia Horário das aulas: 19h às 22h Haverá degustação de vinhos mais característicos das principais regiões abordadas e, ao final, serão certificados com diploma da ABS-Rio os alunos que participarem dos três encontros. BEBIDA NOBRE E POPULAR A história do vinho é tão rica, que diversos especialistas afirmam ser essa a bebida mais celebrada e sobre a qual mais se escreve no mundo. Hoje fabricado em diversos países, apenas recentemente tornou-se uma bebida popular. O vinho teria sido descoberto por acaso, cerca de oito mil anos atrás. Egípcios, gregos e romanos foram grandes fomentadores de sua produção, e sua história está muito ligada à aristocracia e à nobreza, por ser uma bebida para reis, faraós e sacerdotes da alta casta. Atualmente bastante popularizada, a bebida não perdeu sua aura nobre, acompanhando muito bem em diferentes ocasiões. REVISTA MOSAICO 41 E D U C A Ç Ã O EDUARDO GUSSEM Num patamar mais elevado INSTITUTO SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO TRANSFERE SEDE PARA ANDAR SUPERIOR E CELEBRA DOIS ANOS DE COMPROMISSO COM A EDUCAÇÃO DE EXCELÊNCIA E QUALIDADE POR ISABEL KOPSCHITZ F OTO S M A R CO T E R R A N O VA E L U I Z J E S U S 42 REVISTA MOSAICO Com dois anos de existência, o Instituto Superior do Ministério Público experimenta uma ascensão de duplo formato, intimamente ligados entre si. Se, por um lado, está concretamente alcançando um patamar mais elevado, ao transferir sua sede para o 9º. andar, por outro, experimenta um pulo simbólico para um nível mais alto de qualidade, que promete se acentuar ainda mais com a mudança física. O crescimento justifica-se por diversos fatores. Dentre eles tem destaque o fato de o ISMP ter firmado seu compromisso com a educação de excelência e anunciado sua mais nova missão: tornar-se referência do pensamento da categoria no cenário nacional. E, ao que tudo indica, já está na trilha certa. Atualmente, o Instituto é considerado a única entidade, entre as vinculadas às carreiras jurídicas do Estado, que possui certificação do Minis- DENISE TARIN, COORDENADORA INSTITUCIONAL DO ISMP tério da Educação. E mais: quando avaliado pelo MEC, obteve índices máximos de aprovação nos principais quesitos a que foi submetido. Esse ótimo desempenho na análise do órgão federal é fruto, em grande parte, do projeto pedagógico diferenciado. Os cursos de extensão, aperfeiçoamento e pós-graduação têm como proposta o raciocínio sobre o papel contemporâneo do Ministério Público diante das transformações sociais. Na opinião da coordenadora geral pedagógica, Elisa Pittaro, os debates de relevância jurídica e institucional propostos pelos renomados professores contribuem para o amadurecimento profissional dos alunos e para a qualidade dos cursos oferecidos. "Apesar de ser um Instituto jovem, com uma história recente, o ISMP tem alcançado resultados que o colocam entre os melhores cursos de pós-graduação do mercado", analisa. Denise Tarin, coordenadora insti- tucional do ISMP, conta o segredo do sucesso: "Com equilíbrio e determinação, e graças ao espírito de equipe e de colaboração, mantemos acesa a chama de construir um novo Ministério Público, mais empreendedor, mais participativo, mais efetivo", revela. Marcelo Lessa Barbosa, coordenador da Pós-Graduação em Processo Penal, complementa: "nossos cursos são concebidos para membros do MP, procurando dar ênfase a temas que fazem parte do dia a dia dos colegas, num enfoque democrático e participativo". Para os próximos anos, antecipa o presidente do ISMP, Eduardo Gussem, o objetivo é promover ainda mais atividades que proporcionem aos membros do MP a oportunidade de refletir criticamente sobre as questões institucionais, funcionais e culturais da atuação da classe. "Pretendemos tornar o Instituto um laboratório do pensamento do Minis- tério Público", anuncia. Tal ideia promete se intensificar daqui a dois meses, com a inauguração da nova sede, que passa do 8º ao 9º andar. O local será uma espécie de berço do primeiro banco de informações na área jurídica e ministerial do gênero no país. Também funcionará como um centro de pesquisa de referência, proporcionando aos alunos dos cursos intensificar o acompanhamento e o debate crítico dos temas em pauta na sociedade, como os projetos em tramitação em Brasília. A discussão de questões atuais, aliás, é um dos genes que caracterizam o DNA do ISMP e fazem das aulas um laboratório para a germinação de novas ideias e para a consequente consolidação do pensamento. Tudo isso é feito sob orientação e supervisão de grandes nomes na área. Os cursos de pós-graduação em Direito Ambiental, em Processo Penal, e em Direito Processual Civil Moderno, re- REVISTA MOSAICO 43 MARCELO LESSA BASTOS CELSO PACHECO FIORILLO Alunos debaterão, em aula, o de Processo Penal com quem o fez Código 44 REVISTA MOSAICO cém iniciados ou em vias de começar, levarão essa experiência ao extremo, buscando construir uma massa crítica dentro do Ministério Público. PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL MODERNO DEBATERÁ REFORMA DO CPP Com excepcional qualidade do corpo docente, composto pelos nomes de ponta no processo penal, a Pós-Graduação em Direito Processual Civil Moderno, com aulas quinzenais, às segundas e às sexta pela manhã, proporcionará aos alunos travarem discussões com a elite pensante do processo penal contemporâneo. Assim, enquanto a reforma do Código de Processo Penal não é aprovada pelo plenário do Senado Federal, os alunos do ISMP poderão debater, com quem mais tem propriedade para falar do assunto, os pontos polêmicos do PL nº 156. O coordenador acadêmico da pós-graduação em Processo Penal, Marcelo Lessa Bas- ROBSON GODINHO tos, trará para sala de aula os principais autores do Projeto de Lei e os membros da Comissão de Juristas constituída no âmbito do Senado. "Em nosso curso, o CPP mereceu duas disciplinas. A primeira consiste em sua exposição por quem o fez, ou seja, professores que integraram a Comissão de Juristas que elaborou o anteprojeto que resultou nele; e a segunda, em sua análise critica, para fins de debate", explicou. "Ou seja, vamos colocar as ideias à prova a partir da discussão com os alunos e, em seguida, a partir da abordagem crítica de outros professores que já tiveram a oportunidade de estudar e debater a fundo o anteprojeto na Comissão instituída no Âmbito da Amperj", finalizou. PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO AMBIENTAL BUSCA A EVOLUÇÃO DA ÁREA NO PAÍS Para alcançar o ousado objetivo de propiciar uma evolução ao Direito Ambiental no país, a pós-graduação na área se valerá de dois elementos diferenciais, que fortalecem e atestam a importância da iniciativa: a participação de advogados e membros do Ministério Público Estadual e do Federal e a diversidade na construção metodológica. "A essência do curso é a integração de profissionais das diversas carreiras jurídicas, bem como o compartilhamento de estudos e técnicas referentes ao direito ambiental, para possibilitar a reflexão e o fomento do conhecimento, com a finalidade de identificarmos soluções e alternativas para os conflitos", resume Denise Tarin, coordenadora institucional da pós. "Temos consciência de que o conflito é inerente à questão ambiental, porém acreditamos que podemos mitigá-lo no momento em que visualizamos o futuro comum: a sustentabilidade do Brasil", complementa. Com aulas às sextas pela manhã e pela tarde, e contando com uma equipe multidisciplinar de professores, abordando desde a legislação até a gestão ambiental e o desenvolvimento sustentável, passando pela responsabilidade civil e a reparação de danos ambientais, o curso ganha caráter único. "Pelo conjunto de professores e a qualidade do trabalho ético e acadêmico do Instituto, arrisco dizer que não conheço no país curso melhor", diz o coordenador acadêmico do curso, professor Celso Fiorillo. "O conteúdo programático proporciona uma visão completa dos principais temas vinculados ao Direito Ambiental Brasileiro", acrescenta. Na opinião do outro coordenador institucional do curso, Vinicius Leal Cavalleiro, um desses temas é o termo de ajustamento de conduta: "Com ele, advogados, membros do Ministério Público, entes públicos fiscais, bem como empresários ganham mais autonomia", analisa. Segundo ele, o curso é fundamental para procuradores e promotores, tendo em vista que esses são agentes legítimos da transformação social. "Precisamos de profissionais com perfil multidisciplinar e com uma visão menos cartesiana e mais humanitária acerca dos conflitos socioambientais usuais", finaliza. PÓS-GRADUAÇÃO EM PROCESSO CIVIL TRARÁ UM AMPLO PANORAMA DO TEMA Para conseguir a façanha de apresentar um amplo panorama da moderna produção brasileira, a PósGraduação em Direito Processual Civil Moderno reuniu uma pluralidade de linhas teóricas utilizadas por professores de variadas escolas e oriundos de praticamente todas as regiões do país. "E todos eles possuem larga experiência docente e acadêmica, contando com ampla produção bibliográfica", ressalva Robson Renault Godinho, coordenador-geral da pós. Com o objetivo de oferecer um aprofundamento teórico vinculado à aplicação prática do processo, sem perder de vista uma abordagem crítica dos institutos, o curso está organizado em diferentes fases. A primeira delas é dedicada ao estudo do modelo constitucional do processo, com a exposição de estudos acadêmicos publicados pelos professores. A seguir, são abordados seus institutos fundamentais, sempre por docente que já tenha publicado estudos relacionados com o tema. Após essa etapa, que Godinho considera como uma parte geral, serão realizados módulos específicos sobre os recursos, o cumprimento de sentença e execução, o poder público em juízo e o processo coletivo, garantindo maior aprofundamento nas temáticas. A pós, que ocorrerá quinzenalmente, nas segundas e sextas pela manhã, conta ainda com uma exposição acerca do anteprojeto do Código de Processo Civil. Informações sobre os cursos pelos telefones (21) 2242-1232/22211641, das 9h às 18h ou pelo site www.ismp.org.br. Pós trará um amplo panorama da produção brasileira em Processo moderna Civil NOVOS PROMOTORES Entrega de insígnias TRADICIONAL SOLENIDADE FOI MARCADA POR CONFRATERNIZAÇÃO Os Promotores de Justiça aprovados no XXXI Concurso de ingresso na carreira receberam, no dia 21 de maio, suas insígnias institucionais, durante a já tradicional solenidade promovida pela Associação do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. O evento, que se inscreve entre os mais significativos da entidade de classe, foi realizado na sede social do Jockey Club Brasileiro, no Centro do Rio, e contou com a presença de mais de 500 pessoas. Como definiu o presidente da Amperj, Marfan Martins Vieira, o espírito de confraternização e de alegria, 46 REVISTA MOSAICO próprios desse primeiro encontro dos novos colegas com seu órgão de classe, deve estimular também "uma reflexão sobre o momento histórico que estamos atravessando e sobre o papel que o Ministério Público, como qualificado agente de transformação social, pode e deve desempenhar para a construção de uma sociedade mais justa e mais digna". Em sua saudação aos novos colegas, Marfan lembrou que, se até 1988, as incumbências do Ministério Público iam pouco além da "persecução penal e da tutela interventiva de interesses individuais", após a promulgação da Carta Política as atribuições da instituição passaram a abranger um universo bem mais amplo de responsabilidades. "O Ministério Público passou a desenvolver intensa e profícua atividade nas áreas relacionadas à proteção do patrimônio coletivo, do meio ambiente e das relações de consumo, além de zelar pelo respeito dos poderes públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados na própria Constituição", afirmou o presidente da Amperj. Os 28 novos membros do Ministério Público também receberam as institucionais E REFLEXÃO SOBRE O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO boas-vindas de outros colegas de classe, como o deputado federal Antonio Carlos Biscaia, que já ocupou as funções de Procurador-Geral de Justiça e de presidente da Amperj. Os novos Promotores de Justiça Paulo José Andrade de Araujo Sally e Christiane Louzão Costa de Sousa falaram em nome dos homenageados da noite. Desde o início do século XX, o antropólogo alemão Arnold van Gennep popularizou o termo "rito de passagem" para descrever aquelas celebrações que não apenas representam uma transição particular para o indivíduo, mas também a sua progressiva aceitação e participação na sociedade na qual se acha inserido, tendo, portanto, um cunho tanto individual quanto coletivo. Na noite de 21 de maio, entre colegas, amigos e familiares, os 28 novos membros do Ministério Público experimentaram essa dupla sensação de iniciar uma nova fase de vida no âmbito pessoal e de ingressar em uma classe profissional de grande envergadura. Finalizado o protocolo, seguiu-se o momento de descontração, em coquetel dançante animado pela banda V-Trix e pelo DJ Capelli. Festa teve coquetel dançante animado pela banda V-Trix e pelo DJ Capelli REVISTA MOSAICO 47 MEDALHA DO MÉRITO AMPERJ Mérito pelo exemplo JOSÉ ALENCAR É HOMENAGEADO PELO EXEMPLO DE VIDA. CERIMÔNIA FOI UMA DAS MAIS SIGNIFICATIVAS DA AMPERJ O vice-presidente da República, José Alencar, recebeu a Medalha do Mérito da Amperj, durante a solenidade comemorativa do "Dia Nacional do Ministério Público" realizada na sede da entidade em dezembro de 2009. Na ocasião, José Alencar estava no exercício da Presidência da República, substituindo o titular do cargo que cumpria missão oficial no Peru. Também foi homenageado com a honraria Ertulei Laureano Matos, procurador de Justiça que já ocupou diversos cargos na administração superior do Ministério Público fluminense, bem como na entidade de representação classista. Em breve pronunciamento, o presidente da Amperj, Marfan Martins Vieira, ressaltou a importância da comenda, que representa o justo reconhecimento àqueles que se destacaram na edificação e na consolidação dos ideais institucionais. Referindo-se ao momento de dificuldade vivido pela instituição, que enfrentava e ainda enfrenta fortes opositores no cenário político, Marfan afirmou que é preciso resistir com tenacidade, citando como exemplo o presidente José Alencar que "na sua luta pelo bem maior que é a vida, tem nos ensinado que é preciso ter fé, perseverança, confiança, dignidade e nobreza diante dos reveses que a vida nos impõe, e que devemos arrostá-los como provações necessárias a nossa depuração e evolução". REVISTA MOSAICO 49 Ao final, plateia aplaude de pé e com entusiasmo Falando em nome dos agraciados, José Alencar enfatizou a importância do papel desempenhado pelo Ministério Público no Estado Democrático de Direito, confessando-se um admirador da instituição. Em seguida, mudando o tom do discurso, o vicepresidente encantou a todos com histórias sobre sua vida, sobre o Rio e sobre o Brasil, arrancando sucessivos aplausos. Ao final, o homenageado foi aplaudido de pé e com grande entusiasmo por todos os presentes. A comenda foi entregue pelo presidente da Amperj e por Laércio Guarçoni, que é promotor de Justiça aposentado e sobrinho de José Alencar. A cerimônia foi das mais significativas já realizadas pela Amperj, não só 50 REVISTA MOSAICO O PROCURADOR DE JUSTIÇA ERTULEI LAUREANO MATOS TAMBÉM RECEBEU A MEDALHA DO MÉRITO DA AMPERJ pelo clima de emoção que envolveu o acontecimento, mas também porque essa foi a primeira vez que um presidente da República visitou a entidade. Estiveram presentes à solenidade, compondo a mesa diretora dos trabalhos, o deputado federal Antônio Carlos Biscaia; o procurador-geral de Justiça, Claudio Soares Lopes; o presidente do Tribunal de Contas do Estado, José Maurício de Lima Nolasco; o defensor público-geral do Estado, José Raimundo Teixeira Moreira; e o presidente do Tribunal de Contas do Município, Thiers Vianna Montebello. O evento foi prestigiado por numerosa assistência, que lotou as dependências da Associação dando brilho especial às homenagens. BIOGRAFIA DOS AGRACIADOS COM A MEDALHA DO MÉRITO DA AMPERJ JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA Nascido em 31 de outubro de 1931, no pequeno distrito de Itamuri, localizado no município de Muriaé, José Alencar foi o primogênito da numerosa prole, de quinze filhos, de Antônio Gomes da Silva e Dolores Peres Gomes da Silva. Em 1963, liderou a constituição da "Companhia Industrial União dos Cometas", que posteriormente mudou sua denominação para "Wembley Roupas S.A.", consolidandose, em 1967, com a fundação da "Companhia de Tecidos do Norte de Minas", a "Coteminas", maior fabricante brasileira no setor têxtil. A carreira política não tem menor brilho: em 1998, foi eleito senador da República pelo Estado de Minas Gerais e, a partir de 2002, alcançou o posto de vice-presidente da República, cargo que ocupa até hoje. PRESIDENTE DA REPÚBLICA EM EXERCÍCIO JOSÉ ALENCAR ERTULEI LAUREANO MATOS PROCURADOR DE JUSTIÇA DIA NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO Em 14 de dezembro, no ano de 1981, foi sancionada a Lei Complementar nº 40, a primeira Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, na qual começou a ser delineada a autonomia da instituição. A independência funcional de seus membros ganhou contornos definitivos, até alcançar status constitucional, com a promulgação da Carta de 1988. A data é um marco histórico e é comemorada para reviver a história do Parquet e enaltecer o trabalho daqueles que, dentro ou fora dos quadros da carreira, contribuíram para que o Ministério Público se tornasse a instituição forte e atuante que hoje é, além de afirmar a importância do papel que desempenha no contexto do Estado Democrático de Direito. Nascido na pequena e interiorana localidade de Sampaio Correia, em 21 de agosto de 1947, é filho de João Laureano da Silva Filho e Iracema Matos. Em 1973, colou grau como bacharel em Direito pela Universidade Federal Fluminense. A vocação para o serviço público já se revelava em 1975, quando foi aprovado em dois concursos: um para o cargo de assistente jurídico da União e outro para inspetor do Trabalho. Um ano depois, logrou êxito no primeiro concurso para provimento de cargos de promotor de Justiça realizado no Estado do Rio de Janeiro, após a fusão com o antigo Estado da Guanabara. Foi promotor de Justiça de 1977 a 1992, quando alcançou, por merecimento, o cargo de procurador de Justiça. Sempre exerceu intensa atividade classista, tendo sido diretor e conselheiro da Amperj por vários biênios. conto POR LUIZ C ARLOS VIVAS Um Santo da Porta da Igreja O PESCADOR JURANDIR DEU SUA PALAVRA DE QUE NÃO ENTRARIA NO TEMPLO ENQUANTO A MISSA NÃO FOSSE MINISTRADA EM PORTUGUÊS A missa havia acabado. Todos foram embora e ele permanecia ali. A face, molhada por lágrimas morosas, era emoldurada por uma cabeleira revolta e ponteada de branco. Os traços finos e delicados do rosto contrastavam com seu físico avantajado que teimava em resistir aos efeitos nocivos do tempo. Tinha o senho fechado e o olhar tristonho. Compenetrado, rezava do lado de fora do templo ajoelhado na calçada suja. Por que não entrava? Por que não orava no interior da igreja? Jurandir era seu nome, mas os companheiros o chamavam ora pela alcunha de Jura, ora pela de Professor. Alfabetizou-se e, embora trabalhasse como pescador, conseguiu maneira de continuar os estudos. Nas horas de folga, estava sempre lendo alguma coisa. Não gostava de embriagar-se, nem se entregava ao jogo de carteado como fazia a maioria dos pescadores do lugar. Seu lazer era a leitura à beira do cais. Vez por outra, ensinava as primeiras linhas a um colega que se mostrasse interessado. Sentia prazer nisso! Tudo começou na época em que as missas eram rezadas em latim. Jura não se conformava com o fato. Apesar de assisti-las com assiduidade, o fazia contrariado. Vivia dizendo a Marta, sua esposa, que aquilo era um grande erro. Certo dia, Marta disse ao marido: “Jura, meu amor, não adianta você se aborrecer toda vez que vai a igreja assistir à missa. Assim, querido, não vale a pena ir...” Jurandir ficou em silêncio por alguns segundos, depois respondeu: “Você tem razão, mulher. Não devo ir a um lugar ouvir o que eu não posso entender. Fico me sentindo um bestalhão. Portanto, não vou mais a igreja enquanto a missa for rezada em latim. Dou a minha palavra!” A mulher tentou contornar a situação, mas era tarde... Ele já havia “dado a palavra” e, naquela época, “dar a palavra” era coisa muito séria... Tempos depois, com a morte de padre Antônio, homem bondoso e paciente, um outro sacerdote, de nome Sardini, foi designado para ocupar o lugar do falecido. Bem diferente do anterior, implicava com a altura das saias das adolescentes, com a camisa desabotoada dos moços, enfim, com quantos fiéis o rodeassem. Desde logo, começou a desagradar à comunidade local. Segundo soube uma beata, Sardini tinha problemas neurológicos e fora mandado para ali porque o lugar era tranqüilo. A intenção de seus superiores hierárquicos era facilitar sua recuperação, dando-lhe pouco trabalho e muita paz, diante daquele mar imenso que se abria aos pés da velha igreja. Tratando-se de cidade pequena, não tardou a chegar ao conhecimento do novo sacerdote a postura de protesto de Jurandir, a qual soou absurda aos ouvidos nervosos do religioso. O pescador, por seu turno, apesar de ter conhecimento dos atritos que o padre vinha provocando quando do relacionamento com os fiéis, procurava não falar mal dele, debitando todos os problemas na conta da doença do sacerdote. Com toda certeza, era Jura a única pessoa do lugar a ser condescendente com aquele homem de batina. Não só defendia o padre neurastênico, mas também tudo que se relacionasse à igreja, a qual amava, embora nem sempre concordasse com suas diretrizes. Quem o conhecia bem, sabia: ele não entraria no templo enquanto a missa não passasse a ser ministrada em português. Com certeza cumpriria o seu protesto até o fim. – Ah! Como seria bom entrar na igreja de novo! Apreciar seu interior, ver a nova pintura do teto, mirar outra vez o altar principal em madeira talhada, o chão de tábuas corridas bem conservadas, as cores suaves das vestes dos anjos, a luz do sol entrando pelo vitral colorido, a fisionomia bondosa dos santos, a bela imagem de Santa Teresinha colocada próximo da entrada da sacristia e, ainda, o Cristo na cruz, escultura que me emocionava tanto. Ah! Quando meus olhos poderão ver essas coisas?! – Jura pensava, desolado. Seu pensamento viajava, enquanto ele, sentado na proa do barco, via aos poucos a igreja diminuir de tamanho. Não entrar na igreja era um duro castigo que ele se impunha por um “pecado” que não era seu! Certo dia, a notícia por ele esperada durante anos, chegara de repente: sua santidade, o Papa, juntamente com a cúpula do clero, havia decidido que, dali em diante, as missas passariam a ser ministradas no idioma falado no lugar onde seriam rezadas. O pescador chorou, emocionado com a notícia: era muita alegria! Não foi visto assim tão feliz nem no dia de seu casamento! Ele exultava! Afinal, domingo poderia assistir à missa. Chegaria cedo. Primeiro rezaria aos pés da santa de sua devoção: Santa Teresinha. Depois, um Pai Nosso diante do Cristo crucificado. A seguir, examinaria as recentíssimas modificações no interior do templo, que só conhecia de ouvir dizer e, por fim, assistiria a missa em português. Parecia um sonho! Mas na madrugada de domingo soprou forte o sudoeste... As ondas batiam no cais com violência. O vento frio cortava feito navalha. Entrar no mar naquelas circunstâncias seria loucura. Jurandir dormia sob um grosso cobertor e acordou sobressaltado ao ouvir batidas fortes na porta do barraco. Era seu amigo Damião, pescador a quem alfabetizara. – Professor, estourou a corda da “poita” do seu barco e o bicho está à deriva. Se não andarmos rápido, o “Santa Teresinha” vai espatifar no cais – disse ele apressado e aflito. Marta, assustada, não sabia o que fazer: aconselhar o marido a permanecer em casa, ou incentivá-lo a enfrentar o mar revolto. Então, resolveu ficar calada. Jura, contudo, não perdeu tempo: vestiu o primeiro short que encontrou, enfiou um velho casaco de conto sacerdote “O fechou a porta, deixando o do lado de fora” pescador lã sobre a camisa rasgada, meteu os pés nos seus chinelos gastos e pôs força nas pernas. Doía-lhe imaginar seu “ganhapão” engolido pela água salgada, ou jogado em terra pelo mar enfurecido. Não dá para descrever o que foi aquele inferno! Jura, apesar de ainda forte, caminhava pela casa dos cinqüenta anos, mas parecia ter vinte ao lutar para salvar o que era seu. Enfim, depois de muito custo e, com ajuda de Damião, o barco acabou amarrado em lugar seguro. Jurandir estava sentado na beira do cais para descansar um pouco, quando, de repente, olhou para o relógio: faltavam cinco minutos para o início da missa, que começava, pontualmente, às sete horas. Não daria tempo de passar em casa para vestir uma roupa seca. Então, decidiu ir com aquela mesmo. Era um pescador. Ninguém iria reparar seus trajes. O short, abaixo dos joelhos parecendo bermuda, podia não ser bonito nem novo, mas era decente. O casaco velho cobria-lhe bem o peito, enquanto nos pés trazia emprestado o par de tênis de Damião. Sua elegância era discutível, é verdade, mas parecia composto. As pessoas já estavam acomodadas dentro da igreja, quando Padre Sardini, postado na porta de entrada, aguardava os últimos retardatários. Depois, iria fechá-la e dar início à missa, como sempre fazia. Terminada a cerimônia, um beato viria deixá-la aberta. Era o costume. Jura, último retardatário, vinha tão aflito preocupado em não chegar atrasado, que nem percebeu o padre junto à porta. – Podes parar aí! – disse o sacerdote, encostando uma das mãos no peito do pescador. – O senhor disse parar, seu padre?! – perguntou Jura, confuso. – Tu és surdo? Além de desrespeitador, és surdo? – Eu, desrespeitador, seu padre?! – Sim, tens coragem de te apresentares na Casa de Deus com as tuas pernas à mostra? – Seu padre, essa é a roupa que uso para trabalhar no meu barco e, hoje, vim direto do barco para a missa – respondeu humildemente o pescador. – Não venhas com conversa. Assim não entras na minha igreja. – Não lhe quero faltar ao respeito – retrucou Jura, e completou –, mas a igreja não é do senhor. – Mas quem manda aqui sou eu, estás ouvindo? – gritou 54 REVISTA MOSAICO Sardini visivelmente fora de si. – Padre, por favor, deixe-me entrar na igreja – implorou o pescador ajoelhando-se. Sardini, trêmulo, olhou fixamente nos olhos de Jurandir e depois perguntou: – Não és aquele pescador que se negava a assistir às missas em latim? – Sim, padre, era meu protesto solitário contra um erro da igreja que, afinal, foi consertado. – Um erro?! Pescador insolente! Quem pensas que és? – perguntou Sardini, agressivo, para depois concluir gritando – na minha igreja tu não entras com os trajes que apresentas. O pescador, embora constrangido, levantou a cabeça e falou em tom firme: – Padre, dou minha palavra, se eu não entrar agora na igreja, não entrarei nunca mais. E o senhor será responsabilizado por isso perante Deus, ouviu? O sacerdote sem nada dizer, fechou a porta, deixando o pescador do lado de fora. A missa transcorria ministrada em português, como estava previsto, quando, de repente, no meio da homilia o padre saiu do tema e iniciou um ataque verbal contra Jura. Começou acusandoo de desrespeitador porque o pescador pretendia, segundo o sacerdote, entrar na Casa de Deus com trajes mundanos. Mas à medida que Sardini falava, descontrolava-se e, descontrolado, ia inventando cada vez mais defeitos em Jurandir, até que, no final de sua fala, havia feito do pobre pescador a personificação do próprio Belzebu. Terminada a cerimônia, um beato veio abrir a porta do templo e deparou com Jura ajoelhado diante dela. Não lhe dirigiu palavra, do mesmo modo agiram os fiéis, que passavam por ele como se fossem carneiros assustados. O pescador continuou ali de joelhos. A face, molhada por lágrimas morosas, era emoldurada por uma cabeleira revolta e ponteada de branco. Os traços finos e delicados do rosto contrastavam com seu físico avantajado que teimava em resistir aos efeitos nocivos do tempo. Tinha o senho fechado e o olhar tristonho. Compenetrado, não se cansava de rezar, pedindo a Deus por Sardini e pela santa igreja, que tanto amava. ESCOLA DE DIREITO DA AMPERJ SEU CAMINHO PARA O MP PÓS-GRADUAÇÃO PRÓPRIA, ATRAVÉS DO ISMP, CONFERINDO, AO FINAL, UM ANO DE PRÁTICA JURÍDICA 64% DOS APROVADOS NO XXXI CONCURSO PARA INGRESSO NO MPRJ FORAM ALUNOS DA ESCOLA DE DIREITO DA AMPERJ Única credenciada pelo MEC - Ministério da Educação Melhor corpo docente do Rio Filiada ao Colégio Nacional de Diretores de Escolas do MP - CDEMP Av. Graça Aranha, nº 57, 2º andar, Centro, RJ Tels: (21) 2240-0593 / (21) 2220-6118 www.escoladedireito.com.br INSTITUTO SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO INSTITUTO SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO Curso de Pós-Graduação em PROCESSO PENAL Coordenação Acadêmica: Marcelo Lessa Bastos, Promotor de Justiça/RJ Corpo docente de excelência: Ada Pellegrini Grinover Afrânio Silva Jardim Diogo Malan Edilson Mougenout Bonfim Elmir Duclerc Eugênio Pacelli Fabiano Augusto Martins Silveira Fauzi Hassan Choukr Flávio Mirza Geraldo Prado Gláucia Quaresma Gustavo Badaró Humberto Dalla Bernardino de Pinho Jacindo Nelson de Miranda Coutinho Marcelo Lessa Bastos Marcelo Rocha Monteiro Patrícia Glioche Rosmar Antonni Rubens Casara IN ST ITUTO SUPERIO R MI NI ST ÉR DO IO PÚ BL ICO ISMP PÓS -GR ADUAÇ CREDEN ÃO LATO SE NSU CIADO PELO M EC P ó s - G ra d u a çã C re d e n ci o L a to S e n su a d o p e lo MEC MATRÍCULAS ABERTAS Rua Rodrigo Silva, nº 26, 8º andar Centro, Rio de Janeiro, RJ Tel.: (21) 2242-1232 Fax: (21) 2221-4768 www.ismp.edu.br O ISMP é a única Instituição de ensino vinculada às carreiras jurídicas do RJ credenciada pelo MEC