Resistance Maganize #4

Transcrição

Resistance Maganize #4
RESISTANCE
4ª Edição
Dezembro 2011
Editorial
“If you have ideas, you have the main asset you need, and there isn’t any limit to what
you can do with your business and your life. Ideas are any man’s greatest asset.”
Harvey S. Firestone
Sim, temos de escrever sempre um editorial mas nunca
sabemos o que escrever. Decidimos, então, bater o paleio
do costume (NOT!). Já repararam mas os cantos da revista
foram alterados: sim o nosso logótipo mudou, tal como é
visível na capa. E se estiveram na festa de lançamento de
quinta-feira já se devem ter apercebido que a revista está a
crescer em quantidade e qualidade. Com os nossos novos
membros, Guilherme Simões de Eng. Informática e da nova
caloirinha Catarina Oliveira de Eng. Biomédica, as nossas
áreas de incisão estão a aumentar, sendo os temas abordados
cada vez mais diversificados. Qualquer coisa já sabem,
comuniquem:
[email protected]
facebook.com/resistancemag
Table of contents
2_”TEDX”. Sérgio Pinto
3_”Biomédica, curso do futuro”. Ana Cortez
5_”Um olhar...DFUC”.Miguel Morgado, Ph.D
7_”À grande e à fracesa”. Carlos Moreira
8_”Caminhos do cinema português”. Fred Borges
9_”Entrevista”. Maria Constança
Providência Santarém e Costa
12_”Se divertindo em Genebra”. Edson Ferreira
13_”Estado estacionário”. João Borba
14_”Estado excitado”.Pierre Barroca
15_”16 fps”.
17_”78 rpm”.
19_”Stanford e Milgram”. Pedro Cunha
21_”Alfazema amarela”. Catarina Oliveira
22_”Pensamentos ao acaso”. Bernardo Fabrica
23_”Crónicas”
25_”Mãe, afinal sei cozinhar”. Nuno Balhau
26_”A gamer (re)view”
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Dezembro 2011
Ficha técnica:
Editores:
Joana Faria, Frederico Borges, Pedro Silva
Colaboradores:
Karen Duarte, Patrícia Silva, Ana Telma
Santos, Rui Nunes, André Silva, Guilherme
Simões e Catarina Oliveira
Revisão:
Ângela Dinis
Capa e Design
Rui Nunes e Pedro Silva
RESISTANCE
Sérgio Pinto
TEDx Coimbra
15 de Outubro de 2011
O grupo TED foi fundado em 1984 e a primeira conferência
aconteceu em 1990. Poderia começar por tentar explicar o que
é o conceito de uma TED talk, mas certamente nada melhor
do que dar um exemplo, numa altura em que possivelmente
se perdeu o melhor orador que alguma vez fez uma TED talk
mesmo não tendo sido num evento oficial, estou a falar de
Steve Jobs e do seu discurso em Stanford, uma TED talk é
apenas uma conversa, uma conversa para “dar assas aos
pensamentos”. Atualmente um evento TED aborda as mais
amplas temáticas, quase todos os aspectos de ciência e cultura
podendo até ser apenas uma conversa moral, uma história,
um retrato de vida...possivelmente é por ser isto tudo que os
eventos TED conseguem ter o sucesso global que possuem.
Passando ao evento TEDx Coimbra, este começou por
prestar 2 homenagens, 2 homenagens mais que merecidas,
homenagens devidas. Falo de 2 TED talkers que faleceram
recentemente, Steve Jobs, mais que um visionário, um
exemplo de sucesso e de entrega e de Diogo Vasconcelos, um
dos melhores empreendedores que existia em Portugal e que
tinha confirmado presença neste evento...Cada um diferente
mas ao mesmo tempo referencias, mais que oradores, eram
inspiradores! Com estas homenagens iniciou-se o TEDx
Coimbra, de seguida passamos a uma velocidade estonteante
por todas as palestras, cada uma diferente da anterior e da
seguinte, cada uma única. Não vou falar de todas, apenas
de algumas, daquelas que a mim me surpreenderam ou pela
temática ou pelo próprio orador:
“Ossos”: Eugénia Cunha – E não é que afinal a série “Bones”
não é ficção? Pois é, realmente tudo aquilo é verdade, é
possível e mais que isso é passado, costuma-se dizer que os
olhos são o espelho da alma, pois então agora digo então os
ossos são o espelho de uma história de vida.
“Estratégias para investigar o que não pode ser investigado”
RESISTANCE
– João Ramalho Santos – Porque às vezes a investigação
tem destas coisas, nem tudo está escrito como numa receita,
nem tudo é fácil, às vezes é preciso inovar, à bom português
é preciso “desenrascar”, esta palestra foi o mais puro
exemplo disso, como conseguir investigar o que não pode ser
investigado, aliando o tema com a à-vontade demonstrada pelo
orador, temos a receita para uma excelente TED talk. “Uma
nova era na imagem digital”: André Boto – Quem não tem
um fundo daqueles todos “futuristas” como wallpapper do
PC? Mas será que sabemos como é feito? O André primou
por mostrar o resultado final mas acima de tudo fazer algo que
nunca tinha visto que é a evolução como pegar numa imagem
de um Castelo, uma pedra e uma correntes e provar que é
possível fazer um castelo levitar ao ponto de ter de estar preso
por correntes... Afinal muitas das vezes para poder apreciar
a complexidade de uma imagem era bom poder ver como
começou, como evoluiu até chegar ao resultado final...Ficção
Digital na sua mais pura essência. “Voluntariado”: Fernanda
Freitas – Talvez um tema que muitas pudessem achar que
estaria desenquadrado de uma TED talk, ficou provado que
todos os temas têm espaço nestes eventos, simplesmente
fabulosa a interação com a plateia, suficiente para que todos
se levantassem e aplaudissem (quem lá esteve percebe melhor
esta). Não me posso alongar muito mais, deixo uma sugestão
não percam a próxima edição e deixem os vossos pensamentos
voar!
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Biomédica
Curso do futuro
Ana Cortez
“Foi em tempo de adversidade que os portugueses
souberam realizar os seus maiores feitos”
Começo esta breve “reflexão” com uma
análise prática dos acontecimentos que
acomodam a sociedade em que vivemos
e influenciamos. De facto, todos os dias
fazemos parte de uma História, que
apesar de um passado e de um presente
cheio de acontecimentos marcantes e
evolutivos, não esquece nunca o futuro
e os novos passos que ficarão
marcados
pelo
significado
profissional, pessoal e científico
daqui a alguns anos. O caminho
adoptado pela sociedade actual
não é totalmente correcto, ou será
que hoje em dia e no futuro, todos
os cidadãos deverão ter uma
formação académica superior?
A questão é controversa. Mas de
facto, a evolução da humanidade
é baseada nas descobertas que
todos os dias são potenciadas
nas mais diversas áreas e, dessa
forma, os efeitos da inovação têm
uma forte influência nos costumes e
comportamentos das sociedades. Assim,
será que amanhã ainda existirão pessoas
para desempenharem as funções
mais básicas da nossa sociedade? A
resposta é óbvia, mas não tanto como
há vinte anos atrás, em especial em
Portugal. O exemplo é muito fácil,
para um investigador poder fazer o
seu trabalho tem de se deslocar para o
local do laboratório, por exemplo, para
isso é necessário que o seu veículo
de transporte esteja disponível e em
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bom estado. Para isso tem de haver
mecânicos. Para o investigador se
poder alimentar tem de haver pão, por
isso tem de existir o padeiro. Para o
investigador dividir trabalho, tem de ter
uma secretária. Para a rua estar limpa e
evitar a propagação de doenças tem de
haver o “homem do lixo”. De facto, para
haver conhecimento e inovação, tem
de existir uma sinergia de funções na
sociedade, isto é, nas profissões. Apesar
desta realidade, deve-se ainda partir
para “o outro lado da moeda”. À medida
que a sociedade muda, existem outras
necessidades e dessa forma é imperativa
a adaptação dos sujeitos e das profissões
a essas mesmas modificações. Segundo
o Bureau of Labor Statistics’ list of the
fastest-growing occupations prevê-se o
surgimento de mais de um milhão de
novos empregos até 2018, mas o mesmo
não significa que existam profissionais
suficientes preparados para esse efeito.
Das dez categorias previstas, oito dizem
respeito à saúde ou cuidados médicos,
uma a serviços financeiros e a última
ao campo da tecnologia. Contudo, um
outro alerta é salientado pela mesma
entidade, o facto de estas serem as áreas
com maior oferta e com maior índice
de crescimento nos próximos
anos, tal não significa que todos
os interessados tenham um
emprego, já que estas exigem
muito tempo e muitas áreas
de formação. Em 17 de Abril
deste ano, o The New York
Times publicou a lista dos dez
empregos mais promissores,
intitulada de Top 10 List:
Where the Jobs Are. Com base
no juízo crítico que apresentei
anteriormente, o Engenheiro
Biomédico surge em primeiro
lugar, com um crescimento de 72%, ou
seja, 12 000 novos empregos em 2018.
A descrição feita acerca das funções de
um Engenheiro Biomédico é cada vez
mais clara, passando por áreas muito
abrangentes, desde os Biomateriais até
aos Componentes Electrónicos com
especial destaque na inovação e até nas
adaptações de técnicas já existentes. O
principal objectivo de um profissional
nesta área visa criar técnicas mais
rápidas, eficientes e não invasivas
para diagnóstico e tratamento médico,
com vista à melhoria da qualidade de
RESISTANCE
vida da sociedade. Obviamente para
isso, os profissionais desta área devem
passar por uma formação académica
muito intensiva nas mais diversas
áreas da Matemática, Física, Química,
Medicina e Engenharia, sem nunca
pôr de parte o espírito de inovação e
empreendedorismo. Na minha opinião,
os gostos profissionais na sociedade
passam por ciclos, consoante a área
que oferece emprego e confere estatuto.
Infelizmente, existem sujeitos que
exercem uma dada profissão para a
mudar de rumo para nos sentirmos
realizados profissionalmente. É neste
contexto que nasce o conceito de
Empreendedorismo! As funções de um
Engenheiro Biomédico exigem-lhe que
seja empreendedor na aplicação prática
e nas ideias de negócio. Isto é, não basta
ter a ideia brilhante e pôr um dispositivo
em prática, é necessário levá-lo a
conhecer ao mercado de trabalho e
fundar um negócio próprio inovador e
obviamente sustentável. Nos tempos
actuais, a conjuntura aconselha à
...o The New York Times publicou a lista dos
dez empregos mais promissores (…) o Engenheiro
Biomédico surge em primeiro lugar
qual não tem aptidão porque sabiam
que após a sua formação teriam um
emprego garantido e/ou porque a sua
influência na sociedade lhes confere
importância e altos salários. No nosso
país essa é uma realidade, infelizmente.
Assim, olhando à condição sócioeconómica de Portugal, e até mesmo do
Mundo, existem profissões sobrelotadas
e desgastadas, pelo que é necessário
RESISTANCE
prudência, mas não ao marasmo. Foi em
tempo de adversidade que os portugueses
souberam realizar os seus maiores feitos.
O universo empresarial não é excepção.
Com riscos e investimentos mais
controlados é possível empreender em
Portugal, desafiando todas as barreiras
(in Expresso – Emprego 22 de Outubro
de 2011). A ideia final que pretendo
partilhar é que existem cada vez mais
relatos de que os talentos portugueses
“fogem” para o estrangeiro em busca
de melhores oportunidades. Na minha
opinião, é em busca de melhores
salários, já que em Portugal existem
locais de instituições de prestígio
para a divulgação científica de novos
trabalhos, mas os financiamentos ainda
não são os suficientes. No mês passado
foi apresentada uma nova plataforma
que mostra toda a investigação que está
a ser produzida em Portugal na área
das ciências da Saúde. O projecto dá a
conhecer os projectos de Health Cluster
Portugal, salientando a importância
da retenção dos talentos nacionais
nesta grande área para uma ajuda na
recuperação económica do nosso país.
A maior ligação dos jovens talentos
entre a investigação e as empresas
poderia evitar essa fuga e ajudar a criar
melhores condições de trabalho de modo
a produzir mais riqueza para a ciência
e para Portugal, já que actualmente
24% dos investigadores trabalham em
empresas e 76% em Universidades.
Para terem ideia, nos EUA acontece o
contrário.
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Um olhar sobre os cursos de
Engenharia no DFUC
Miguel Morgado, Ph.D
Não sei precisar a data, mas em Setembro
passaram 27 anos desde o dia em que um
grupo de 20 alunos, no qual me orgulho de
estar incluído, iniciava as primeiras aulas
da Licenciatura em Engenharia Física da
Universidade de Coimbra (UC). Com isso
começava também a coordenação de cursos
de Engenharia no Departamento de Física
(DFUC). Estávamos no ano lectivo de
1984/1985. Hoje, setenta por cento dos
alunos inscritos nos cursos coordenados
pelo DFUC são alunos de cursos de
Engenharia. A criação do curso de
Engenharia Física (EF) foi impulsionada
por um conjunto de professores do DFUC,
dos quais é justo destacar o Prof. Carlos
Nabais Conde. Contudo, conforme
rapidamente me vim a aperceber, o novo
curso não foi bem visto por toda a
comunidade do DFUC. Uma parte
significativa dos docentes achava que a
existência de um curso de Engenharia não
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fazia sentido e era contrária à missão do
DFUC. Ensinar um curso de Engenharia
era visto como algo que desvirtuava a
pureza do ensino da Física. Recordo bem o
cartoon, da autoria de um professor, com
que a nova licenciatura e os seus alunos
foram mimados. Importa notar que o
DFUC assumia a tarefa de coordenar o
curso de EF sem que nele existisse qualquer
cultura de engenharia. Não havia
praticamente contactos entre o DFUC e o
tecido empresarial. Dos seus professores
em 1984, apenas 3 eram detentores de uma
licenciatura em Engenharia. O principal
argumento para tal coordenação era a forte
componente de investigação em Física
Tecnológica,
particularmente
em
instrumentação,
testemunhada
pelas
diversas publicações relacionadas com
detectores de radiação ou com electrónica
nuclear e pela participação em projectos
como o desenvolvimento do ENER1000, o
primeiro computador português. Apesar de
todos os constrangimentos, o curso de EF
prosperou. Se olharmos para os primeiros
10 anos da sua existência, verificamos que
o curso conseguiu sempre atrair alunos,
muitos deles de elevada qualidade. Quando
em 1989 os licenciados começaram a sair
para o mercado de trabalho beneficiaram
de um forte crescimento económico e, em
particular, da expansão da rede de ensino
superior e de investigação científica. Entre
1989 e 1994, o curso teve 37 licenciados.
Destes, apenas 10 tiveram o seu primeiro
emprego fora do sistema científico. Na
minha opinião, e algo paradoxalmente, o
sucesso na atracção de alunos de qualidade
(54% dos licenciados entre 1989 e 1994
vieram a doutorar-se) acabou por ser
prejudicial para o curso. Não existindo
relações entre o sector empresarial e o
DFUC, também não houve a preocupação
de as criar. Afinal o curso ia suprindo as
necessidades dos centros de investigação
do DFUC e isso era considerado como
indicador de que tudo estava bem. Quase
que poderíamos dizer que ao DFUC
bastava que o curso cumprisse esta função.
E com este conforto nunca houve a
preocupação em criar relações com o
mundo empresarial. Claro que as
consequências surgiram. Apesar de o
número de recém-licenciados com primeiro
emprego fora do sistema científico ter
aumentado a partir do meio da década de
90, uma boa parte destes empregos
correspondiam a funções de docência no
Ensino Secundário e em Formação
Profissional. Nem o facto de a designação
“Engenharia Física” ter adquirido maior
visibilidade junto dos empregadores obstou
a que se criasse a ideia, na minha opinião
injusta, de que o curso, além de ser difícil,
não dava emprego. As candidaturas
RESISTANCE
diminuíram, as vagas de acesso deixaram
de ser preenchidas. O DFUC demorou a
reagir. Muitas vezes ouvi dizer que não
havia problema. As vagas não eram
preenchidas mas os alunos que vinham
eram muito bons… Em 2002 entrava em
funcionamento o segundo curso de
engenharia coordenado pelo DFUC: a
então Licenciatura, hoje Mestrado
Integrado, em Engenharia Biomédica (EB).
A sua criação inseriu-se numa vaga
nacional de cursos de Engenharia
Biomédica, quase todos criados no seio de
departamentos de Física. E se é verdade
que estes departamentos já realizavam
investigação biomédica, nomeadamente
nas áreas da imagem e da instrumentação,
também o é que a criação destes cursos
resultou essencialmente da conjugação de
dois factores: a falta de alunos nos cursos
oferecidos por esses departamentos, com
consequências no seu financiamento, e o
elevado número de alunos de grande
qualidade que ficavam de fora dos cursos
de Medicina. Com o curso de EB, o DFUC
procurou não repetir erros passados. A
convivência com o curso de EF e o evoluir
dos
tempos
tinham
alterado
substancialmente a forma de encarar a
presença de cursos de Engenharia. Os
alunos foram incentivados a realizar o
Projecto final fora da Universidade: dos
184 projectos já concluídos, 41% foram
totalmente realizados em empresas ou
instituições externas à UC e outros 16%
resultaram
de
colaborações
entre
instituições externas e a UC. As ligações ao
mundo
empresarial
foram
ainda
RESISTANCE
incentivadas com o programa de Estágios
de Verão, que já envolveu 71 alunos. Qual
é o panorama actual? Desde há uns anos, o
DFUC encarou o problema do recrutamento
de alunos para os seus cursos, adoptou uma
atitude proactiva e realizou um trabalho
notável de divulgação junto das Escolas
Secundárias que foi crucial para se atingir o
estado actual em que todas as vagas de EF
e EB são preenchidas na 1ª fase. No entanto
muito está ainda por fazer. Os próximos
anos vão ser de grande exigência em termos
de colocação dos nossos Engenheiros no
mercado. Quer por condicionantes externas
como a crise económica, quer pelo maior
número de finalistas que resulta
inevitavelmente do sucesso no recrutamento
de alunos. E o DFUC não pode esquecer
que a empregabilidade dos seus cursos é o
melhor argumento para esse recrutamento.
Ainda são poucos os empresários que se
lembram do DFUC quando querem recrutar
um engenheiro. Os que se lembram são
basicamente sempre os mesmos. É raro ver
um empresário no DFUC a dar uma
palestra. Menos ainda a leccionar um
módulo numa cadeira ou a avaliar um
curso. Se exceptuarmos a Blueworks e a
jeKnowledge, nos últimos 15 anos pouco
há a assinalar em termos de
empreendedorismo. Apesar do sucesso do
curso, 50% dos diplomados de EB estão
colocados no sector de investigação
científica, um número muito superior ao
desejável (cerca de 20%). O número de
empresas que colabora com o curso de EB
estagnou nos últimos anos. Diria que os
cursos de Engenharia do DFUC estão a
precisar de um novo
abanão. E há urgência em
fazê-lo. O DFUC pode e
tem que fazer mais. Pode
fazer um esforço adicional
para aumentar o número de
empresas que proporcionam
estágios e projectos e para
alargar a base geográfica
dessas empresas. Pode criar
estruturas de avaliação e
aconselhamento dos seus
cursos
que
integrem
elementos externos à UC.
Pode abrir a leccionação de
matérias
de
cariz
tecnológico a especialistas
de empresas. Pode, em
colaboração com o NEDF,
criar
iniciativas
que
resultem na presença de
empresários no DFUC, particularmente
aquelas que promovam uma cultura
empreendedora. Mas não pode fazer tudo.
Há limitações institucionais que dificultam
a promoção dos cursos e dos seus
diplomados. A solução passa, na minha
opinião, pela criação de Associações de
Apoio aos cursos do DFUC, iniciativa que
deverá partir necessariamente dos antigos e
actuais alunos. Sei que está na forja uma
associação de apoio ao curso de EB. Penso
que há lugar para outras associações, em
particular para a EF. Elas podem captar
recursos financeiros e ter instrumentos de
promoção que não estão ao alcance do
DFUC. Um simples site web de divulgação
dos perfis dos alunos finalistas, dos
projectos que eles realizam, dos seus CVs,
das carreiras daqueles que já acabaram o
curso, foi algo que nunca foi possível fazer
dentro dos limites impostos pelos recursos
do DFUC e pela imagem institucional da
UC. E isto é apenas uma ideia relativamente
óbvia. Terminada uma primeira fase de
consolidação do curso de EB e de
recuperação do curso de EF, é urgente
trabalhar para um novo patamar. É
fundamental que seja criada, na comunidade
empresarial, a percepção de que o DFUC é
também uma escola de engenharia. Tal
exige um esforço considerável para tornar
o DFUC um lugar que os empresários se
habituem a frequentar. É tarefa do DFUC
iniciar e promover esse esforço mas a sua
total realização implica a criação de
organizações onde actuais e antigos alunos
se possam congregar no apoio e promoção
deles próprios e dos seus cursos.
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À grande e à francesa
Carlos Moreira
Pode-se dizer que esta expressão é levada à letra pela
indústria cinematográfica Francesa. Com um dos mais
prestigiados festivais de cinema do Mundo, a França tem
habituado ávidos cinéfilos a obras da sétima arte que tocam
os píncaros da excelência. Pela 12ª vez, Portugal partilhou
de obras cinematográficas Francesas “novinhas em folha”,
do mais “audaz” e “eclético” que por lá se fez, “delirantes”,
“corrosivas”, “magistrais” e mais qualquer coisa de causar
“pele de galinha”. Na verdade, aqui por Coimbra, o festival
passou nos dias 2 aa 8 de Novembro, mais uma vez, pelo
Teatro Académico de Gil Vicente e os
anfitriões deste evento não se pouparam
nos elogios na sessão de inauguração.
O sucesso deste festival por terras
lusitanas parece ser crescente ao
longo das sucessivas edições e não há
dúvidas de que veio para ficar. Como
nos anos anteriores, a Festa do Cinema
Francês trouxe estreias que ainda não
saíram comercialmente, comédias e
dramas bem ao estilo europeu e até
animações para os amantes de cinefilia
mais novinhos. E, para meu agrado,
acrescentou novamente este ano
vários clássicos recuperados e inovou
com a nova categoria de homenagem.
Também para festejar o 50º aniversário
da Semana da Crítica do Festival
de Cannes, foi possível fazer uma
pequena retrospectiva ao melhor
cinema feito até hoje. Mas nem tudo
foi perfeito como me fizeram acreditar,
com alguns trabalhos de fazer contar os
minutos no relógio e outros que intrigam e põem em causa a
suposta criatividade do realizador. Sim, porque, por detrás de
películas de me levar às lágrimas tanto de rir às gargalhadas,
como de chorar discretamente, há outras que me fizeram levar
as mãos à cabeça, tanto de pasmo por tantas cenas ocas e
sem nexo todas juntas como de revolta pelo investimento
de 3,5€ numas horinhas de consecutivos bocejos e reflexões
sobre as leis do Universo.Com a possibilidade de adquirir
um passe para 5 filmes num valor mais em conta, suspeito
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que a organização tentou atrair assim mais espectadores.
Resultou comigo. Ainda assim, não me vi a comprar mais
bilhetes para além do passe, como no ano passado. Talvez a
crise tenha chegado, não à minha carteira, mas à organização
do festival. Isto porque, desta vez, nem a inauguração teve
tanta pompa nem os organizadores falaram bem português.
Ah! E não houve macarrons… Pena. A escolhida para abrir
a festa foi a fita Poupoupidou de Hustache-Mathieu, mas sem
a presença da protagonista Sophie Quinton, que deu o ar de
sua graça na abertura em Lisboa. Um filme premiado e com
óptimas criticas, conta uma historia
incomum ao estilo inimitável do
realizador. Mas nada comparável ao
inesquecível L’Arnacoeur que abriu
por estes lados o festival passado. Vi
que este acontecimento teve o apoio
de tudo o que se possa imaginar,
incluindo a Universidade, mas por
Coimbra isso não se notou assim
tanto. Até as legendas dos filmes
tiravam folgas por momentos, o que
irritava sobretudo naquela comédia
onde a única pessoa a rir-se era o
estudante francês sentado na fila da
frente. Nem a madrinha do festival,
a excepcional Carole Bouquet cá
pôs os pés, ficando-se também pela
capital.Mas esquisitices à parte, há
que concordar que iniciativas destas
são muito bem-vindas. Pela minha
parte, até podiam fazer festas do
cinema de outras origens quaisquer,
já que, no fim de contas, vi bons
filmes, excelentes histórias e grandes actores. Os bilhetes são
relativamente baratos e o TAGV tem excelentes condições. E
agora, vestindo a pele daqueles críticos de cinema mas sem as
expressões carregadas de palavras difíceis que impressionam,
mas que ninguém percebe muito bem, acho que resumo esta
experiência como uma oportunidade única para admirar
o espantoso trabalho que nesta velha Europa se faz. Uma
viagem à cultura gaulesa sem ir muito longe, numa magnífica
ocasião que deve ser partilhada.
RESISTANCE
Caminhos do cinema português
“Porque não gostam os portugueses do cinema
português?
— Ninguém gosta de se ver ao espelho!”
Manoel de Oliveira
Frederico Borges
Manoel de Oliveira, um realizador
português com 103 anos, responde com
uma frase genial à relação dos portugueses
com a cultura. Nós não gostamos de nos
ver ao espelho. Preferimos, ver, ouvir
ou ler histórias fantásticas sobre seres
que têm as vidas que gostaríamos de
ter. Contam-nos as histórias dos nossos
sonhos e brincam com as nossas emoções
de forma a terem a maior receita possível.
Mas a arte não é isso. Como disse o Woody
Allen no seu último filme, o objectivo
da arte é procurar um antídoto para a
insignificância da vida. “Caminhos do
Cinema Português” mostram as diversas
tentativas dos nossos realizadores para
chegar a esse mesmo antídoto. Por isso,
Contam-nos as
histórias dos nossos
sonhos e brincam com as
nossas emoções de forma
a terem a maior receita
possível.
no TAGV não houve efeitos especiais,
nem filmes em 3D, explosões ruidosas
ou perseguições de carros. Só houve
Amor. Amor pelo Cinema. E que melhor
filme para demonstrar esse amor, que o
grande vencedor do festival. “Sangue
do Meu Sangue” de João Canijo. Com
grandes interpretações das três mulheres
RESISTANCE
(heroínas?) num Portugal que desejamos
fingir que não existe. Vencedor de 4
prémios, incluindo o grande prémio
do júri, realizador, argumento original
e actriz principal. Mas o que fez do
Festival uma experiêancia a não perder
foi a diversidade e quantidade de bons
filmes. Grandes documentários como
“José e Pilar” (Melhor documentário e
Prémio do Público), “Chamo-me António
da Cunha Teles” (sobre a nova vaga
do cinema português), “Meio Metro
de Pedra” (história do rock português)
ou “Éden” (Amor dos cabo-verdianos
pelo Cinema), exploram a realidade
das histórias esquecidas em Portugal.
Nas curtas-metragens vemos os novos
grandes realizadores a crescer para
assegurarem um futuro brilhante ao
cinema português. Nuno Piloto (vencedor
do prémio da melhor curta) e André
Badalo são exemplos disso. No entanto é
nas longas-metragens que o cinema chega
à sua essência. Com “Viagem a Portugal”,
vencedor da melhor longa-metragem
e com uma representação assombrosa
de Maria de Medeiros, e “América”,
a grande revelação do festival, ambos
abordando o tema da imigração em
Portugal. “O Barão”, um remake de um
filme destruído pelo Estado Novo com
uma montagem e fotografia memorável ,
e “Quinze Pontos na Alma”. Estes filmes
ficaram com os prémios do “Caminhos”.
O grande perdedor foi “A Morte de
Carlos Gardel”, numa adaptação de um
livro do António Lobo Xavier. Deverá
ter ficado em segundo lugar em muitas
categorias, tais como, melhor realizador
e melhor longa-metragem. Também tenho
de referir a não atribuição do prémio de
melhor actor secundário a Nuno Melo
por “Sangue do Meu Sangue” como uma
enorme surpresa negativa. Nuno Melo
encheu a tela com esta representação.
Este festival proporcionou cerca de 50
horas de Cinema Português oferecendo
uma experiência fantástica a todos os que
participaram. Durante uma semana vimos
o verdadeiro Portugal e as suas tristezas e
felicidades. Já é altura de nos começarmos
a ver ao espelho, não??
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Entrevista
Maria Constança Providência Santarém e Costa
Profª Catedrática da FCTUC
texto_Rui Nunes
Quando despertou o seu interesse pelas
ciências exactas, ou mais concretamente,
para a física?
Eu sempre gostei muito de Matemática,
mas a Matemática só por si acho que é
um pouco abstracta, e a Física completa-a
porque temos que usar a matemática
para descrever o mundo que nos rodeia.
Eu não tinha ideia nenhuma em mente
para outra carreira, mas sempre gostei de
Matemática e de Física, portanto foi um
percurso natural. No final do secundário
tive muito bons resultados também a
Biologia e disse à professora de Biologia
que estava indecisa se havia de ir para
Física ou para Biologia e ela disse que
Biologia não, que devia apostar na Física
(risos). A partir daí não tive mais nenhum
ponto de interrogação sobre o que deveria
seleccionar.
Apesar de ter nascido em Birmingham,
tem nacionalidade Portuguesa e veio
a Licenciar-se pela Universidade de
Coimbra. Como era estudar em Coimbra
nesse tempo? Quão diferente era do que o
que observa agora?
Eu nasci em Inglaterra mas só fiquei lá
um ano. O meu pai estava lá a estudar,
nasci lá e quando regressei tinha um ano,
portanto os estudos foram todos feitos
cá em Portugal. Estudar em Coimbra
nesse tempo não era muito diferente de
agora. Bem, não havia barulho… (risos)
Eu acabei a minha licenciatura, que na
altura eram 5 anos, em 1981. A tradição
académica foi reposta em 1980, ano
em que houve já cortejo da Queima das
Fitas… no qual eu não participei.
Algum motivo pessoal?
Tenho a impressão que foi uma questão de
não ter crescido com a tradição e portanto
não me dizia nada de especial. No ano
seguinte, em 1981, os meus colegas
9
Dezembro 2011
desafiaram-me para integrar o cortejo
e fui com uma cartola, não como agora,
que a cartola na altura era preta, mas fui.
Apesar disso nunca fiquei muito ligada às
tradições e às vezes acho que há muitos
excessos. Se calhar porque nunca vivi
as tradições como têm sido vividas aqui,
mas eu, quando fui fazer doutoramento
em Inglaterra, fui considerada caloira,
ou “fresher”, e os caloiros lá também
são muito bem tratados. Não como aqui:
lá são convidados para todos os clubes,
para todas as associações e instituições
que estão ligadas à vida académica ou à
vida cultural… à vida da cidade. Portanto,
aquele primeiro trimestre é um trimestre
de ir tomar o “port wine”, de integração.
Ficamos a conhecer bem a oferta e eu
acabei por fazer parte da equipa feminina
dos barcos de 8 (remo). Isto só foi
possível porque os estudantes que chegam
todos os anos são integrados e acho que
a integração é importante. Coimbra tem
essa vida académica: tem uma Associação
Académica muito forte, uma vida cultural
e desportiva com uma oferta muito variada
e eu acho que é importante integrar os
estudantes, mas às vezes há excessos.
Começou a dar aulas logo após a
licenciatura…
E na altura foi mais fácil do que agora. Na
altura, logo após a licenciatura houve um
concurso para vários lugares, de modo que
fiquei colocada. Agora não é tão fácil… Eu
também não vejo tão mal o que agora se
passa no que diz respeito à possibilidade
de, depois de terminarmos um mestrado,
podemos ter facilmente uma bolsa e
tirar um doutoramento, porque também
quebrava (a continuidade). Depois de
terminar o mestrado, tínhamos sempre
que dar aulas e só depois podíamos ter
uma possibilidade de dispensa para
fazer um doutoramento. Quebrava a
continuidade do estudo e uma pessoa, nos
anos em que é mais activa e pode produzir
mais, ficava parada e tinha que dar aulas.
Conseguia conciliar, mas não com aquela
dedicação que devia acontecer. Eu acho
que nos primeiros anos nós devíamos ter
a possibilidade de ficarmos especialistas
numa área de modo a tornarmo-nos
independentes para podermos fazer a
nossa própria investigação. Se não há
aquele empurrão naqueles anos, depois é
mais difícil e as coisas vão estender-se no
tempo.
Mais tarde, após o mestrado, doutorouse em Oxford. O que a levou a voltar a
Inglaterra?
Na altura em que terminei o mestrado
tive uma bolsa Alemã, por 2 meses, para
ir discutir o meu tema de mestrado com
um professor e a experiência que eu tive
na Alemanha foi má. A comunicação
era a seguinte: tudo o que dizia respeito
à Física, discutia-se em Inglês, mas não
havia nada para além disso. Portanto,
durante dois meses eu vivi como uma
ermita. Discutia Física mas não havia
vida própria. Infelizmente, fui para
uma Universidade não muito grande,
que ficava num meio industrial, sem
vida cultural e eu senti isolamento. Lá
está, não houve integração. O grupo era
RESISTANCE
disciplina. Tínhamos que fazer três
disciplinas por trimestre e os trimestres
tinham 8 semanas, sem feriados. Podia
haver feriados na cidade, que eram sempre
à segunda-feira, mas a Universidade
não tinha feriados. Exigia trabalho
dos alunos, tinham as aulas teóricas,
chamadas lectures, e aulas tutoriais, onde
se discutiam todos os problemas que
tinham sido resolvidos. Isso obrigava a
um trabalho permanente… mas também
havia festa. Dava tempo para tudo.
pequeno, e talvez esse tivesse sido outro
motivo que dificultou… Aí eu logo pensei
“Alemanha, não”. Como o Inglês era uma
língua que eu conhecia, pois tinha nascido
em Inglaterra e tinha vontade de voltar ao
país, fui trabalhar com um Professor de
Física, David Brink [1], em Oxford. Ele
era muito boa pessoa do ponto de vista
científico e também muito agradável do
ponto de vista humano. Conjuguei essas
duas coisas: voltar a Inglaterra e trabalhar
com uma pessoa de quem eu gostava e
que já conhecia.
Que diferença notou no método Britânico?
A investigação, neste momento, é feita
em todos os lados segundo os mesmos
parâmetros. Mas claro, se estamos num
meio que tem um grande número de
pessoas a fazer investigação em temas
de fronteira é muito mais fácil ficar a
conhecer os novos campos, os novos
temas, e de estabelecer ligações para
futuras colaborações, o que torna tudo
muito mais rico. Além disso, uma saída
do país é sempre importante porque
nos mostra que o país é pequeno, que
há muito para lá das nossas fronteiras.
É algo sempre vantajoso, mesmo que
a experiência não seja 100% positiva,
porque nos dá outra perspectiva. Ali, no
Departamento de Física Teórica, que
estava também próximo do Departamento
de Física Nuclear e do “Rutherford
Laboratory”, as pessoas encontravamse e falava-se dos vários temas, o que é
muito enriquecedor. Relativamente às
aulas, tive que frequentar cursos durante
dois trimestres, obrigatoriamente, mais
um trimestre optativo, e tínhamos que
resolver problemas. Todas as semanas
tínhamos uma folha de problemas para
resolver, alternadamente, ou seja, na
mesma semana não tínhamos de outra
RESISTANCE
Como eram os momentos de lazer?
As pessoas encontravam-se nos colégios
uns dos outros. Vivíamos em colégios, e
encontrávamo-nos no bar de cada colégio.
O bar não ficava aberto até às 5h da
manhã… (risos) No máximo até à 1h ou
2h da manhã. Também havia saídas, ia-se
ouvir um concerto, ver uma peça de teatro,
idas até Londres ver um espectáculo
e havia um grande envolvimento no
desporto: todos os colégios tinham campos
de ténis, campos de squash… Mesmo que
não fossemos peritos, pegávamos numa
raquete e jogávamos, e tudo isso eram
momentos de encontro.
Em que incidiu a sua tese de
Doutoramento?
Naquela altura era um problema que
estava a ser discutido em meados dos anos
’80: a produção de piões, ou de fotões
muito energéticos, em colisões de iões
pesados com energias intermédias (por
volta de 50 MeV/partícula). Numa colisão
de carbono em carbono, ia haver um
núcleo com 12 x 50 = 600 MeV de energia
cinética que ia incidir no alvo. O que se
verificava é que era possível produzir
piões com uma massa de 140 MeV. Ora
uma só partícula, resultante da colisão de
uma partícula com outra, não era possível
produzir esse pião. A única maneira era
juntar a energia de parte dos nucleões
para conseguir produzir essa partícula, o
que significava que tinha que haver um
movimento colectivo que possibilitasse
a sua produção. Chamava-se a isso “a
produção de piões abaixo do limiar”,
ou seja, abaixo do limiar nucleãonucleão. Tratava-se de um problema
núcleo-núcleo e o meu trabalho
desenvolveu-se de modo a tentar
perceber se um certo mecanismo
podia explicar essa produção de
piões, ou de fotões muito energéticos,
que é o mesmo tipo de problema.
Como investigadora, faz parte do Centro
de Física Computacional. Que tipo de
trabalho é desenvolvido?
O Centro de Física Computacional está
dividido em cinco grupos: o grupo a que
eu pertenço dedica-se a problemas do
núcleo ou de muitos corpos. O meu tema
de investigação é as estrelas compactas
e a equação de estado de matéria
assimétrica. Uma estrela compacta é
aquilo que é conhecido por uma estrela de
neutrões com muitos neutrões e poucos
protões. Isso permite explorar a matéria
nuclear numa região do espaço que não
era conhecida e que agora, com os novos
equipamentos nos laboratórios, vai sendo
possível obter resultados experimentais.
Há também um conjunto de pessoas que
estão mais ligadas a modelos de quarks
ou mesões. Há um segundo grupo que
também está ligado a esta vertente, a
matéria hadrónica, um terceiro grupo que
tem como tema de investigação tanto a
Astrofísica como a Geofísica e há ainda
um quarto grupo que está relacionado
com a história, o ensino da Física e a
divulgação da Física, que tem sido sempre
uma vertente forte deste Centro. Há ainda
outro grupo muito activo, coordenado
pelo Professor Fernando Nogueira, que
presentemente se tem dedicado ao estudo
da resposta de nano-partículas incluindo
biomoléculas complexas a perturbações
exteriores.
Para o futuro, tanto próximo/distante:
Alguma descoberta importante eminente?
Tem algum(s) projecto (s) em vista?
Numa estrela compacta, uma estrela de
neutrões por exemplo, um objecto de
12km (de diâmetro), toda a informação
que nos chega, atravessa a crosta que tem
1 km. Enquanto o interior é composto,
mais ou menos, por matéria homogénea, a
crosta não é homogénea. Neste momento
tenho-me dedicado mais às propriedades
da crosta, e perceber coisas como como
é que se propagam as excitações e as
ondas, e quais as propriedades dos
Dezembro 2011
10
materiais da crosta (viscosidade, etc.).
Tudo isto é importante para perceber
o sinal que recebemos dessas estrelas
e é a perceber este sinal que podemos
ficar a saber mais sobre a matéria dos
núcleos. Este objecto é como um só
núcleo enorme, com 10km diâmetro e
com uma matéria muito densa, enquanto
que o campo magnético da terra é 0,5 G,
lá pode ser 1015 G à superfície. Neste
momento estou envolvida na descoberta
das propriedades internas destes objectos
e é um tema que me atrai.
Também já esteve ligada a projectos de
divulgação e ensino da Física…
Estive ligada a vários projectos da
Ciência Viva porque, à medida que
as minhas filhas foram crescendo,
eu fui acompanhando as escolas e
desenvolvendo algumas actividades
nas escolas delas, que acabei por juntar
em livros. Penso que a maneira como
as ciências são abordadas no 1º, 2º e 3º
Ciclos em Portugal não é como podia ser:
o programa permite que se faça mais mas
os professores não têm essa preparação.
e dá aso à imaginação.
Será que a Professora está a lançar um
desafio aos estudantes do Departamento?
Eu acho que isso era uma boa ideia! Em
primeiro lugar, estão mais próximos:
as crianças gostam muito e reagem
muito bem a ter visitas na sala de aula,
principalmente para abordar este tipo de
temas. O meu método era partir de uma
pergunta, por exemplo “quantas cores
tem a tua caneta preta?”, algo em que
eles nunca tinham pensado. Fazíamos
primeiro uma discussão, via-se o que é
que eles sabiam ou não sobre o tema,
o que é que eles já tinham pensado e
por vezes perguntava-lhes como é que
podiam testar alguma ideia que já tivesse
surgido. Se não tivesse ideias, propunhaas e eles realizavam a experiência,
interpretávamo-la
e
discutíamos.
É um percurso que acho que todos
podiam desenvolver, nomeadamente
aperceberem-se que há questões para
as quais não temos respostas, mas
podemos tentar encontrar uma resposta
e tentar perceber o que se está a passar.
Mas vocês, estudantes, já sabem: se precisarem
de alguma coisa é só virem ter comigo e falarmos,
estou à vossa disposição para diálogo.
Os professores têm medo de fazer
experiências. Isso era um campo em que
vocês, como estudantes, podiam ganhar
experiência: obriga a pessoa a ganhar
vocabulário, a conseguir exprimir ideias
complexas de uma maneira simples,
ajuda a saber relacionar-se com os outros
11
Dezembro 2011
Descobrir que podemos pensar sobre um
problema e chegar a algo que leve a uma
solução, que não é magia, e que as coisas
que estão nos livros é porque alguém as
testou e alguém as experimentou.
Foi presidente do Conselho Científico
do Departamento de Física desde 2007
a 2009. Como consegue conciliar tantas
actividades? Quais são as principais
funções desempenhadas neste Conselho?
Essa experiência terminou mas já vai
recomeçar brevemente pois acabei de
ser eleita Directora do Departamento
de Física. Eu acho que temos que ser
organizados e é necessário colaborar. Ser
Directora do Departamento ainda não sei
bem o que é mas rapidamente saberei
(risos). Como presidente do Conselho
Científico tinha que resolver problemas
do âmbito científico do Departamento
e os problemas são problemas de um
Departamento, de um conjunto de
pessoas que vivem num Departamento.
É preciso perceber o que é que se passa
e é preciso ter colaboradores com quem
trabalhemos bem, em quem confiemos e
com quem possamos dialogar de modo a
encontrar as funções que sejam as mais
adequadas. O trabalho de presidir, ou
dirigir, uma instituição é simplesmente
um trabalho de pôr as pessoas a falar e
a chegar a soluções para os problemas
que se levantam na instituição. Na altura,
naqueles dois anos, já se tinha feito toda
a transformação de “Bolonha”, já tinham
sido aprovados os primeiro e segundo
ciclos, de Física e de Engenharia Física,
e o curso de Engenharia Biomédica já
havia sido formulado como mestrado
integrado. Foram os anos em que foi
preciso pôr a funcionar esses novos
currículos e criar os terceiros ciclos.
Acho que o essencial é o diálogo e terse bons colaboradores. Tem que se ver
quais são as actividades que é importante
desenvolver, e responsabilizar pessoas
para essas actividades. Isso é bom para
a instituição, porque temos o ponto de
vista de outras pessoas, que é sempre
enriquecedor, e é bom para a pessoa,
porque se ganha experiência em algo que
talvez ainda não se tenha feito, e isso é
sempre importante.
Quais são as suas espectativas para a
Direcção do Departamento de Física?
Para já não tenho espectativas nenhumas
porque foi inesperado… (risos) Para já,
ainda não estou bem inteirada e ainda
nem estudei bem os problemas que o
Departamento possivelmente tenha como
Instituição. Sempre estive envolvida
mais na parte científica, mas logo que
tome posse como Directora ficarei a
saber quais são os problemas que terei
que resolver. Mas vocês, estudantes, já
sabem: se precisarem de alguma coisa é
só virem ter comigo e falarmos, estou à
vossa disposição para diálogo.
1 Prof. David Brink, Ph.D. é um dos
fundadores da Física Teórica Nuclear,
membro da Royal Society e galardoado
com a Rutheford Medal do Institute of
Physics, Reino Unido.
RESISTANCE
Se divertindo em Genebra
Edson Ferreira
A viagem foi fantástica, pois a cidade
de Genebra é linda, muito organizada e
as pessoas são simpáticas. Basicamente
toda a cidade de Genebra é plana, este
é uns dos motivos pelos quais grande
parte da população andam de bicicleta.
É interessante e até engraçado você
esta caminhado pela cidade e vê muitas
pessoas várias delas com terno indo
trabalhar de bicicleta, e as crianças
andam de patinete. Uma coisa que me
chamou muito a atenção é a organização
dos suíços, é espetacular! Eles possuem
um sistema de transporte bem eficiente,
composta de autocarro (ônibus), trem
e pequenas embarcações. Que para os
visitantes é gratuito, isto mesmo desde
o aeroporto e durante toda a sua estadia
em Genebra os transportes públicos são
gratuito. Quando você está caminhando
pelas ruas e fecha o sinal de transito,
mesmo que não esteja vindo nenhum
carro ninguém atravessa a faixa. Genebra
é um dos centros mais importantes da
diplomacia internacional, sendo sede
de vários órgãos de cooperação, como
a ONU, a Cruz Vermelha, OMC, OIT,
CERN etc. Sendo por isso conhecida
como a Capital da Paz. Genebra também
se destaca como um dos principais
centros financeiros do mundo. Em várias
partes da cidade você encontra enormes
bancos internacionais. Este é uns dos
motivos pelos quais os preços dos
produtos em Genebra são considerados
bem elevados em relação a grande parte
da Europa. Geralmente uma refeição
simples fica no mínimo entre 12,5 e
RESISTANCE
15,0 franco suíço se procurar algo um
pouco mais elaborada o preço sobe
exponencialmente. Se paga bem mais a
qualidade dos produtos é excelente, por
isso os relógios e os canivetes suíços
são conhecidos mundialmente pela sua
excelência. Não fica só nisto, até os
biscoitos considerados mais baratos são
deliciosos! Em relação à diversificação
cultural encontram-se pessoas vindas de
várias partes do planeta. Nota-se uma
grande concentração de árabe, chinês,
português etc. A Suíça possui vários
idiomas entres eles: alemão, francês e
italiano. O idioma oficial de Genebra
é o francês, mas quase toda gente fala
também o inglês, e desta forma não
tivemos problemas com o idioma. Fomos
visitar o CERN, o maior acelerador
de partículas do planeta, não deu para
ver muita coisa, pois os aceleradores
estavam em funcionamento. Mas deu
para conhecer o seu funcionamento,
visitar a estação onde são processadas
as informações de um dos aceleradores
que é o Atlas, conhecemos também um
enorme armazém onde são construídos e
testados os equipados que serão utilizados
nos aceleradores, deu para ver vários
equipamentos de perto, foi fantástico!
Por fim visitamos o microcosmo que é
uma exposição permanente de divulgação
científica que por sinal foi muito
interessante. Por Genebra ser toda plana
a estratégia utilizada para conhecê-la
melhor foi à caminhada visitamos quase
todos os principais pontos andando.
Visitamos a ONU (Organização das
Nações Unidas), foi uma visita guiada
com uma senhora muito simpática,
conhecemos a estrutura da organização,
um pouco da sua história e deu para entrar
e sentar nas cadeiras dos representantes
dos vários países, foi bem divertido!
Demos um pulinho em França para subir
uma de suas montanhas de teleférico,
chegamos ao ponto mais alto que era 1
100 m de altitude em cinco minutos. A
vista lá de cima era descomunal, dava
para ver toda Genebra e uma parte da
França. Para tornar o passeio um pouco
mais interessante decidimos descer
andando. A descida foi bem divertida, a
chão estava um pouco molhado, resultado
muitas pessoas escorregaram, nada
séria, mas suficiente para ser motivo de
muita graça. Descobri que levo jeito para
descer montanha, e que isto pode ser uma
atividade muito interessante. Perdemonos durante a descida, mas conhecemos
um pequeno povoado muito bonito e em
que os moradores eram bem simpáticos.
Depois de algumas voltas encontramos
novamente o caminho, toda esta aventura
levou cerca de três horas e meia. A
descida em si valeu muito a pena. Outro
lugar interessante que visitamos foi o
Museu de História Natural, que é um
prédio com cerca de cinco andares. Em
que cada andar ficava com uma classe
de animal como: mamíferos, repteis etc.
Além disso, possuía uma sessão destinada
aos minérios possuindo rochas e cristais
de varias partes do planeta.Visitamos
também o Jardim botânico que tinha
cerca de 30 hectares, o interessante além
de ser a paisagem que possuía espécies
de vários países, eram as estufas por
eles construídas. Estas estufas buscava
representar as varias características
como pressão, umidade, temperatura
etc. De diversos ambientes diferentes.
Conhecemos também o Museu Ariana,
que é um museu de artes cerâmica,
que possuía uma grande coleção de
porcelanas das diferentes regiões e
épocas históricas. Como era fantásticos
os detalhes empregados na construção
das peças, algo realmente digno de
admiração. Como não podia deixar de
ser visitamos três igrejas: uma cristã,
uma protestante e uma russa. Cada
uma com suas diferentes arquiteturas e
peculiaridade.
Dezembro 2011
12
Estado estacionário
Ilha Terceira
João Borba
É algures entre os EUA e Portugal Continental, no meio do
Oceano Atlântico, que se situa a minha terra natal. Sendo uma
das mais carismáticas ilhas do arquipélago dos Açores, a Ilha
Terceira apresenta no mapa uma forma praticamente elíptica, e
tem um perímetro de 90 kms e uma área de cerca de 402,2 km2.
Estes números já me valeram as mais diversas piadas durante
os meus seis anos em Coimbra, que vão desde “Lá onde vives
sais de casa, dás um passo errado e cais ao mar!” ou “Quando
as crianças vão para o infantário levam sempre braçadeiras para
o caso de acontecer algo de errado!” ou até “Lá nos Açores, os
carros têm duas mudanças…a primeira e a segunda! A mudança
para fazer recuo não é precisa, dá-se a volta à Ilha!”, entre
outras anedotas que até já me valeram algumas risadas. Por
vezes, porque tiveram mesmo piada, outras vezes porque são
o auge da ignorância. E aviso desde já: nós, os Terceirenses,
somos pessoas bastante protectoras do seu território e qualquer
piada semelhante poderá não ser respondida da forma mais
agradável. No entanto, e não querendo afugentar qualquer
turista, nós somos, por norma, pessoas extremamente
acolhedoras, humildes, e divertidas. Comunicamos entre nós
num dialecto extremamente peculiar (e que não tem nada
a ver com o dialecto de São Miguel, como muitos julgam),
onde falamos extremamente rápido, não acabamos as sílabas e
adicionamos “Is” antes de certas palavras. Para nós “Escada”,
dito é “Esquiada”, ou “Vamos Embora” é “Vamos Embiora”,
uma ‘Sagres Mini’ é uma ‘Fresca’, ou quando estamos
impressionados com algo, usamos uma variância do termo “É,
Homem!”, que é “É, uóme!” para exprimir o nosso espanto.
Existem diversos locais onde este dialecto é mais forte,
principalmente nas freguesias onde habitam menos pessoas.
A melhor altura para vir visitar a ilha Terceira (bem como
13
Dezembro 2011
qualquer ilha
dos Açores) é,
obviamente, no Verão.
Primeiro, porque é
Verão, e apesar do
clima ameno e húmido
predominar durante
os doze meses de
cada ano, a humidade
é menor durante o
Verão, o que permite
a existência de ondas
de calor. E segundo,
porque a ilha Terceira,
durante o Verão (e
fazendo uma analogia
com Coimbra),
resume-se a festa atrás de festa. Nós até costumamos dizer
em jeito de piada que os Açores têm oito ilhas e um parque de
diversões! Desde Junho a inícios de Outubro que a festa não
pára, tendo como exemplos maioritários as míticas Sanjoaninas
e as sempre esperadas Festas da Praia. De salientar também
a cultura taurina da ilha Terceira. Se um dia estiver nalguma
rua e esta ficar vedada ao trânsito, não estranhem. É apenas
uma das maiores atracções da nossa Ilha, as touradas à corda!
Nestas, um touro é amarrado com uma corda pelo pescoço que
é segurada por 6 homens (os denominados ‘pastores’). O touro
é então, largado na rua que tinha ficado vedada, e alguns mais
corajosos saem à rua para correr com ele. As outras pessoas
juntam-se nas casas e convidam os amigos e conhecidos para
entrarem para comer e beber enquanto vislumbram a tourada da
varanda ou da entrada da casa. Não se preocupem se perderem
uma tourada! É raro o dia de Verão em que não haja pelo menos
uma toirada à corda em algum local, é só estar informado sobre
qual será o próximo sítio! Não menos importante será referir
que Angra do Heroísmo (uma das duas cidades da Ilha Terceira,
sendo a outra a Praia da Vitória) é considerada Património
Mundial pela UNESCO, e que temos, num território pequeno,
uma beleza natural praticamente inigualável no Mundo [1]. O
único senão para se deslocarem aos Açores poderá ser os preços
das passagens. Devido à monopolização da parceria SATA/TAP,
90% das passagens ida e volta rondam os 300 euros por pessoa
de Lisboa para qualquer ilha, um valor que não é certamente
suportável por grande parte dos Portugueses, e ainda mais em
época de crise. No entanto, será um crime ir deste Mundo sem
nunca ter visitado os Açores, e principalmente, sem nunca ter
passado umas belas semanas no seu parque de diversões, a Ilha
Terceira!
[1] Relativamente a esta afirmação, falo em nome dos Açores.
RESISTANCE
Estado exitado
Ser Estudante em Uppsala:
viajar é aprender
Pierre Barroca
“SÓ viajas, SÓ viajas”, dizem uns; “SÓ vida boa, não fazes nenhum”, dizem
outros.
Em parte é verdade mas não é SÓ
isso. Tenho tido o privilégio de
viajar por alguns países com estatuto
diferente de mero turista e é difícil
passar esta ideia para o outro lado.
Mais que visitar a cidade, esforçome em aprendê-la e, nessa medida,
considero-me mais um Estudante
Viajante que um mero Turista. Em
Abril deste ano tive a sorte de ser
aceite como ajudante na organização
de um curso para estudantes europeus
na cidade universitária de Uppsala,
Suécia. Em Uppsala podem encontrar
umas das universidades mais antigas
da Europa, fundada em 1477 e à noite,
ruas recheadas de estudantes em festa!
À semelhança de Coimbra, são os
estudantes que fazem da cidade de
Uppsala uma cidade cheia de vida,
no entanto Caros conterrâneos, não
esperem sentir-se em casa por terras
escadinavas! Esqueçam saídas à noite
a partir da 1h, esqueçam escandaleira
nas ruas, esqueçam cerveja a 50cent,
esqueçam aquele xixi orgásmico
nos recantos das ruelas ou no meio
de arbustos, esqueçam fazer lixo,
ESQUEÇAM! 20h de quarta-feira
(melhor noite em Uppsala a par de
sexta) e já se viam fileiras a seguir
ordeiramente rua fora toneladas de
meninas bonitas bem vestidas (reitero,
TONELADAS) e meia dúzia de seres
humanos do sexo masculino. Perante
isto, pensava eu: “Toda a gente a jantar
fora? Rica vida!”. Mas NÃO! Eles já
se estavam a preparar para mais uma
noite boémia. Em Uppsala os bares
alvo estão divididos pelas chamadas
RESISTANCE
Nações que são mini-associações
de estudantes que representam os
estudantes cujos associados podem dar
entrada nos bares a custo zero. Não
sendo associado paga-se um pequeno
valor de entrada onde a cerveja é
baratíssima! Baratíssima em Uppsala
é sinónimo de 3,50eur no mínimo por
garrafinha de 33cl de birra!! Depois
de dar entrada é dá-se lugar à festa até
máximo dos máximos 2h da manhã.
Agora fora a vida noturna, que Uppsala
não se resume só a combeber, tenho
a referir que o modo de vida Sueco
é totalmente diferente do que estava
habituado. O meio de transporte
número um de todo e qualquer
estudante é a bicicleta. Mesmo vivendo
a 30 min da sua Faculdade. Perdi
todos os dias, no mínimo, 1h30min de
bicicleta a percorrer as ruas achatadas
da cidade. Fiquei impressionado com
a capacidade física de meninas de
cabelo amarelo e dos velhotes.Indo
a uma cidade maravilhosa como esta
podemos darmo-nos conta daquilo
que é realmente o resultado de um
sistema de Educação que funciona.
O sistema sueco ultrapassa qualquer
coisa que alguma vez pude imaginar.
Desde infraestruturas super cuidadas
e com tecnologia recente, serviços
competentes, todo o tipo de serviços
oferecidos aos alunos dentro do
próprio edifício da faculdade como
chuveiros acessíveis a qualquer hora
do dia, salas comuns com equipamento
de cozinha recente para fazermos
as nossas próprias refeições, salas
de estudo para pequenos grupos de
estudantes e até uma sala dedicada aos
estudantes de muçulmanos poderem
rezar na paz de Alá. Não se cobra
qualquer tipo de propina para além
de se garantir quase imediatamente
uma bolsa de no mínimo 200euros
para ajudar os estudantes a suportar
custos de alojamento em residências
universitárias.No que resulta tudo isto?
Conforto, sem dúvida mas não só.
Entre estudantes sentia-me um primata
durante discussões sem qualquer tipo
de atropelo lógico, na pontualidade
e na forma de interpretar algumas
questões. Dou como exemplo uma
das maiores lições que vem de uma
história de um grande amigo meu que
estudou em Uppsala que irei tentar
transcrever. “Estava eu a meio de um
exame quando vários suecos saem
subitamente da sala com o professor
presente. Passado algum tempo voltam
e retomam o exame. Depois do exame
acabado perguntei o que tinham ido
fazer fora da sala, no que eles me
dizem com toda a calma do mundo que
tinham ido a casa de banho. Chocado,
perguntei como podia o professor
aceitar tal coisa visto assim ser fácil
copiar, no que eles me respondem:
“Copiar, como assim? Se copiares não
aprendes!”. “ Posto isto o meu amigo
calou-se, acenou educadamente e
refugiou-se na vergonha em que a sua
pergunta, aparentemente ridícula, o
deixou. Esta é parte da realidade que se
vive numa cidade de estudantes sueca
que só um Estudante terá oportunidade
de viver e que eu recomendo a todos
experimentarem.
Dezembro 2011
14
16 frames por segundo
“Jamaica Inn” (1939)
Um dos filmes mais esquecidos e injustiçados de Hitchcock - um caso sério de afecto. Por volta
de 1800, na Cornualha, um bando de contrabandistas liderados discretamente por Sir Humphrey
Pengallan, o juiz local, provoca naufrágios na costa marítima, saqueando os navios. O seu “quartelgeneral” é a “Pousada da Jamaica”, gerida pelo casal Merlyn, que acolhe Mary Yellan, uma sobrinha
órfã que vai alterar o estado das coisas. Última fita britânica de Hitchcock antes do rumo à América,
A Pousada da Jamaica é uma surpreendente obra que não merece o desprezo a que foi votada. Tem
um preto-e-branco apaixonante, com a fotografia contendo uma saudável “sujidadezita” que emana na
perfeição aquela pureza dos filmes antigos consideravelmente estilizados. E que estilo tem Hitchcock!
Aproveita com uma perícia insuperável o céu, os navios, os cenários naturais exteriores, os close-ups
e até a indumentária dos actores para projectar planos de um deslumbramento visual arrebatador. É
sim um filme de cenas marcantes, mas acima de tudo, é um filme de sentimento estético marcante.
Charles Laughton dá um autêntico show interpretativo como Pengallan, com um egocentrismo
destacável mas com uma classe assombrosa. É um imponente e requintado vilão que só deixa boas
recordações. Já Maureen O’Hara, faz aqui a sua estreia ao encarnar a protagonista feminina, e fá-lo em
grande, demonstrando um carácter forte e um empenho não menos sentido, intervindo exemplarmente
num bom leque de cenas de puro fascínio superiormente filmadas. Quanto à cena final do filme, que
obviamente não revelarei, e que poderá parecer algo estranha, não prima por uma surpresa estonteante,
mas sim por uma afinada inteligência que proporciona um adequamento superior à obra. Não há
dúvidas: a fase britânica de Sir Alfred merece mais.
Artur Almeida
“Peaceful Warrior” (2006)
Filme de 2006, realizado por Victor Salva e baseado no livro “pseudo-auto-biográfico” motivacional,
The Way of The Peaceful Warrior. A história contada é a de Dan Millman (Scott Mechlowicz),
um estudante universitário e ginasta que sonha representar o seu país nas olimpíadas. E apesar de
aparentemente ter tudo o que deseja, o arrogante Dan parece não conseguir preencher um vazio no
campo da felicidade. Até que conhece Socrates (o veterano Nick Nolte), e se aventura por estradas
que ainda não tinha percorrido. As performances dos dois actores principais estão dentro do aceitável
tendo em conta o guião, que em muitos momentos se revela demasiado surreal. Aceitando que este
se baseia numa história verídica, e que o ponto forte do filme é a sua mensagem, de crença na força
do espírito humano, seria de esperar um argumento que reflectisse melhor a realidade. Que não desse
azo a que o espectador sinta que tudo não passa de mais uma historia banal e figurada de esperança.
Ainda assim, não deixa de ser uma historia inspiradora, que relembra ao espectador que mesmo nas
alturas mais difíceis, o Homem dá a volta ao mais improvável rumo dos acontecimentos. No final fica
a sensação que o filme perde credibilidade na transmissão do seu significado, e com isso, valor. Mas
se o espectador conseguir abstrair-se de alguns momentos menos credíveis, encontrando o verdadeiro
significado do filme, então não são (de todo!) duas horas perdidas.
Gonçalo Louzada
15
Dezembro 2011
RESISTANCE
16 frames por segundo
“Submarine” (2010)
Oliver Tate (Craig Roberts) é um jovem de 15 anos que vive problemas com as duas mulheres da
sua vida. De um lado, a sua depressiva mãe (Sally Hawkins) que vive um aborrecido e monótono
casamento com o seu ainda mais depressivo pai (Noah Taylor). As coisas ainda ficam piores com a
presença de um ex-namorado (Paddy Considine) de longa data da sua mãe na vizinhança. De outro
lado Jordana (Yasmin Paige), a sua recente namorada, e cuja relação entre ambos aparenta ser o oposto
do tradicional romance. O realizador Richard Ayoade retrata um Oliver que vive as ansiedades da
juventude (romance, sexualidade, pais, escola, colegas…) com um sentido de humor cru e por vezes
cruel, enriquecendo a história alegoricamente, fugindo à monotonia e linearidade. Num filme povoado
de pessoas aparentemente tristes, Ayoade evita o foco nessa tristeza, levando a viagem para o modo
como Oliver e companhia encaram a sua realidade. Os porquês são subjectivos, o tempo não pára e
Oliver segue caminho, perseguido pelas questões tão comuns da idade: Crescer? Viver? Fugir? Mas
desengane-se quem pensa que este é um filme comum. A banda sonora, composta pelo génio britânico
de Alex Turner, parece sempre encaixar perfeitamente nos momentos chave do filme. Nesses instantes,
a música fala pelas personagens. A peça que faltava a este puzzle. Uma comédia delicada, por vezes
negra, agridoce, que vive da sua continuidade enquanto história. A bela sensação de estar na mente
do alguém com 15 anos é real. Oliver pode não ser feliz para sempre. Mas por agora, o sempre não é
assim tão importante.
Gonçalo Louzada
“Atonement” (2007)
Expiação. Castigo. Pena. Penitência. Termos que a nossa mente não reconhece, na medida em que,
na sua perspectiva, tudo se trata da realidade; e o que é real é autêntico, não havendo forma de ser
revertido. Deste modo, é sempre uma tarefa árdua incutir-lhe não a realidade, pois ela própria constrói
uma sua, mas sim instigar-lhe a interpretação correcta do mundo exterior. Para isso, é necessário um
treino quase transcendental do nosso entendimento. E que o diga a pequena Briony, que, vitimada
por uma versão errónea dos factos que a sua mente lhe terá apresentado, despedaçara o afortunado
futuro da sua irmã, Cecilia, ao lado do seu eterno amado, Robbie, um simples filho de um caseiro.
Tudo terá sucedido no dia mais quente do Verão de 1935 que, apesar dos banhos refrescantes nas
mais paradisíacas lagoas; das roupas frescas e leves a “voluptuarem-se” sobre os corpos tórridos; dos
passeios no éden de jardins verdejantes; um balde de gelo precipitava-se sobre Inglaterra, vaticinando
a terrífica 2ª Guerra Mundial. Com 13 anos, uma vida luxuosa e oponente, e influenciada pelas piores
atitudes das pessoas menos indicadas, que se erguiam à sua volta, a pobre Briony terá iniciado a sua
própria guerra… um confronto invencível com a sua própria mente, com a conquista da paz interior.
Uma sequência de mal-entendidos, cenários irreais postos em causa, mentiras, e o velho problema do
“timing” errado, aniquila assim qualquer possibilidade de Robbie e Cecilia resistirem às atrocidades
hitlerianas. Um filme fantástico, arrepiante, emocionante e, acima de tudo, purificante; sim, porque
nos dá leveza à alma, porque nos obriga a rever-nos na personagem da pequena Briony e relembrar
todas as situações em que poderemos ter colocado a felicidade de alguém em causa, vitimizados pela
nossa mente frágil e adúltera e; paralelamente, a encontrarmos a paz interior. Sim, porque a realidade
verdadeira, aquela que não é falsificada pelo nosso intelecto, passa por nós a sorrir; nós é que não lhe
retribuímos o gesto, preferindo abraçar o espírito esvoaçante de um propósito egoísta sem retribuição
definida. Resta ver, para gratificar a realidade “concreta” pelo gesto tão simpático.
Joana Paiva
RESISTANCE
Dezembro 2011
16
78 rotações por minuto
Foals
Florence + The Machine
Antidotes
Ceremonials
Desengane-se quem pensa que Oxford é só Universidade.
Depois de construírem uma sólida comunidade de fãs, com
singles como Hummer ou Mathletics, e com loucas festas que
protagonizaram pelo meio, os Foals lançam Antidotes em 2008.
Produzido originalmente por Dave Sitek (guitarrista de TV
on The Radio), os próprios Foals refizeram esse trabalho em
Londres depois de não ficarem totalmente satisfeitos. Antidotes
é um álbum revigorante em que é impossível ser absorvido
pelas agudas guitarras de Yannis (também vocalista) e Jimmy,
que tão bem se completam e conjugam durante 44 minutos.
The French Open dá as boas vindas da melhor maneira,
conseguindo transmitir várias das sensações que o álbum vai
explorar. Depois da solene abertura, Cassius estala o verniz,
está na hora de dançar. Red Socks Pugie é reconhecida pela sua
inconfundível e enérgica bateria mas no final dá espaço para
Olympic Airways estabelecer o ambiente perfeito à entrada de
Electric Bloom. Sublime e bela na sua simplicidade, dura quase
5 minutos, ainda assim demasiado efémeros. Balloons volta
a subir o ritmo e as tímidas Heavy Water e Two Steps Twice
guardam o melhor para o seu fim. Inatamente alegre é Big Big
Love (Fig. 2), leve e serena. No final, um mergulho em Like
Swimming e Tron, que tal como o filme homónimo nos leva
ao virtual e nos deixa por lá. Uma fusão da energia do “DanceRock”, a complexidade do “Math-Rock” e aquele toque único
de “Brit-Indie-Rock”, tornam este álbum um misto de emoções
e energia, um antídoto para a monotonia musical que se vive
cada vez mais no mundo artístico.
Gonçalo Louzada
Devido a um primeiro álbum de enorme qualidade (Lungs,
2009), a uma atitude carismática fora e dentro do palco, e a
espectáculos ao vivo emocionantes e intimistas, Florence Welch
e a sua ‘máquina’ ganhou rapidamente uma fanbase fiel e elitista,
sem deixar de conseguir chegar ser mainstream num ou noutro
momento (principalmente com a tão conhecida “You Got The
Love”). Ceremonials é o sophomore effort de Florence, e foi
lançado no dia 31 de Outubro. Acaba por ser difícil descrever
Ceremonials. Florence deu asas à imaginação, e sempre frágil
mas confiante, exprime-se ainda mais do que se julgava possível.
Florence explora novos caminhos, algures entre o soul e o gospel,
o que resulta num álbum com um clima bastante sombrio. Esses
ambientes mais negros estão exemplarmente expressos na faixa
inicial “Only If For The Night”, na misteriosa “Seven Devils” e
na honesta “Never Let Me Go”. E para não destoar, “What The
Water Gave Me” e “Breaking Down” juntam ambientes pseudo
– progressivos aos coros de igreja. Pelo meio, Florence continua
com uma facilidade notável em fabricar hinos atrás de hinos
(“Shake It Out”, “No Light, No Light”) e em saber construir
músicas poderosas, capazes de mandar uma casa abaixo como
“Heartlines” ou “Spectrum” (provavelmente a melhor faixa
do álbum). “Leave My Body” é também uma forma perfeita
de acabar um álbum emotivo: com um estrondo (e com uma
fantástica performance vocal de Florence Welch). Ceremonials
é uma investida extremamente bem-sucedida por caminhos
bastante perigosos. Durante as dozes músicas, dá sempre a
sensação que Florence canta os seus temas com o anjo e o diabo
em cada mão. O resultado é misto gritante de emoções à flor da
pele. Ceremonials é violento, poderoso, intenso, humano. Um
dos álbuns do ano!
João Borba
17
Dezembro 2011
RESISTANCE
78 rotações por minuto
Noel Gallagher High Flying Birds
Noel Gallagher’s High Flying Birds
João Borba
Oasis. É difícil não reconhecer pelo menos uma/duas músicas de uma das
bandas mais icónicas da infância/adolescência da tão injustamente afamada
geração “à rasca”. Apesar deste sucesso a nível mundial, era certo e sabido que
o ambiente dentro da banda nunca foi o melhor e que as brigas dos orgulhosos
irmãos Gallagher iriam, eventualmente, levar ao fim da banda. Há dois anos, esse final foi uma realidade, e cada irmão seguiu o seu
caminho. Liam Gallagher segurou os elementos dos Oasis e criou a banda Beady Eye logo após o término dos Oasis. Já com um
álbum lançado, a banda atingiu algum sucesso no Reino Unido. Já Noel preparou algo que há muito pretendia: a sua carreira a solo.
E assim nasceu Noel Gallagher’s High Flying Birds, cujo álbum homónimo foi lançado no dia 17 de Outubro em território europeu.
O álbum abre com “Everybody’s On The Run”, que ou muito me engano, ou estará na lista de melhores músicas de 2011. A mistura
de elementos clássicos com uma vontade auspiciosa de gritar a cantar está magistral. É também possível vislumbrar que a chama
dos Oasis ainda não se apagou no coração de Noel. “Dream On” e “If I Had A Gun” são cheesy brit pop, “The Death Of You And
Me” parece uma “The Importance Of Being Idle” (Oasis - Don’t Believe The Truth, 2005) limada até à perfeição, e “I Wanna Live
A Dream (In My Record Machine)” faz lembrar os bons psicadelismos de certos álbuns. E se julgavam que não é possível dançar
num álbum de Noel, serão surpreendidos por “AKA…What a Life!”, onde um piano triunfante dita um ritmo irresistível. Destaque
ainda para a polémica “Stop The Clocks”, uma música que estaria prevista para sair num dos álbuns do Oasis, mas que nunca chegou
a ver a luz do dia. É brilhante, e extremamente pessoal a produção que Noel colocou nesta música. Perdão, obra-prima! Foi Noel
quem decidiu colocar um ponto final nos Oasis. Terá sido a melhor decisão, em termos de fazer a sua música chegar às massas?
Claramente, não. Terá sido a melhor decisão a nível musical? Provavelmente. O prólogo do livro de Noel Gallagher tem um começo
mais auspicioso que o do seu irmão. Seguem-se os próximos capítulos…
Umphrey’s McGee
Anchor Drops
Rui Nunes
Desta vez trago-vos uma banda originária de Chicago; pouco conhecida no
panorama Americano, muito menos internacionalmente. O primeiro contacto que
tive com a música deles foi em Abril de 2007, no dia da Terra, num concerto
gratuito (e genial), ao ar livre, no Millennium Park, em Chicago. Os Umphrey’s
McGee tocaram literalmente do início ao fim, com sessões de jamming e solos
de guitarra e bateria unindo as músicas (enquanto um dos elementos da banda descansava, à vez). Devo dizer que ouvir este
álbum é uma experiência musical, mas vê-los ao vivo é algo único. A energia e a versatilidade dos Umphrey’s McGee, banda
preferencialmente de Rock Progressivo, é claramente audível neste álbum com muitas músicas criadas a partir de jam sessions (a
arte de improvisar em conjunto, seguindo ou não um dos elementos da banda). Anchor Drops foi o terceiro álbum da banda e une
as raízes de rock progressivo com outras linhas de influência, desde electrónicas (como por exemplo, em “Robot World”) ao folk
americano (em “Bullhead City”). Pessoalmente, a minha música preferida é a terceira, “In the Kitchen”, por começar com uma
gravação da voz ouvida no metro de Chicago anunciando “This is Chicago. Doors Closing” (ouve-se no final da música anterior)
e por retratar o rigoroso inverno de Chicago, transportando-me para uma noite de Janeiro, a nevar lá fora. Dou uma classificação
de 5 estrelas a este álbum, pela sua versatilidade e textura, que explora vários ritmos e instrumentos, em fusões pouco comuns ao
ouvido. É de destacar a qualidade do baterista, que tanto consegue criar aberturas explosivas (“Mulche’s Odyssey”) como de criar
um ambiente jazzy e reconfortante (trechos iniciais de “13 days”).
RESISTANCE
Dezembro 2011
18
3 Day Startup Portugal
Evento originário de Austin – EUA que chegará pela
primeira vez a Portugal (em Coimbra) em Fevereiro de
2012
12 eventos nos Estados Unidos e na Europa deram
origem a 14 empresas a receber cerca de $4 milhões em
financiamento. 7 empresas criadas no 3DS foram aceites
por incubadoras como a YCombinator, 500 Startups
andDreamit Ventures.
É assim que começa o Documento de Apresentação deste
evento, originário de Austin, no Texas – EUA, e que chegará
pela primeira vez a Portugal nos dias 24, 25 e 26 de Fevereiro
de 2012. O 3 Day Startup Portugal é um evento que terá lugar
em Coimbra, e que se realiza com o objetivo de ajudar os
estudantes a transformar as suas ideias em empresas de sucesso.
O que se quer é juntar alunos de diferentes áreas (Engenharias,
Gestão, Economia, Direito, …) para que durante um fimde-semana intenso possam transformar as suas ideias ainda
vagas em empresas concretas de base tecnológica Durante
os dias do evento, os participantes debatem as suas ideias,
analisam a validação de mercado, desenvolvem modelos
de negócio e constroem protótipos ao mesmo tempo que
vão recebendo feedback de mentores e investidores que
estarão presentes no terreno. Esta será, portanto, uma
oportunidade única para que os estudantes possam, de
forma absolutamente gratuita, desenvolver não só as suas
ideias como o seu espírito proativo, inovador e criativo. As
inscrições estão a ser aceites até ao dia 1 de Janeiro no site do
evento (http://coimbra.3daystartup.org), sendo que o número
de participantes está limitado a 40 estudantes, havendo
posteriormente uma fase de seleção presencial, visto que é
de expectar que se inscrevam mais pessoas. Ainda antes do
evento, existirão algumas breves sessões de networking com
os participantes, que servirão de preparação para o fim-desemana. Podem ainda acompanhar o 3 Day Startup Portugal
através do facebook ou do twitter.
Stanford e Milgram
Pedro Cunha
A experiência de Milgram
Neste artigo pretendo descrever duas
experiências sociais que revelam um lado
obscuro da psicologia humana. De acordo
com os seus resultados destas, qualquer
pessoa pode cometer actos terríveis se o
contexto for adequado. Na verdade, tenho
dúvidas que qualquer pessoa se imagine
a eletrocutar alguém, a humilhar e forçar
um grupo de pessoas a olhar para o chão
ou ainda a colocá-las em posições que
19
Dezembro 2011
abusem a integridade física e sexual. Na
verdade é precisamente isso que acontece
nas seguintes experiências, a pessoas
perfeitamente normais: A experiência de
Milgram foi pela primeira vez efectuada
na Universidade de Yale (Estados
Unidos) por Stanley Milgram e pretendeu
determinar o modo como uma pessoa
normal reage quando os seus valores
morais entram em colisão com ordens
directas de uma autoridade, assumindo
esta última total responsabilidade
pelos actos dessa pessoa. Para o efeito
era selecionado aleatoriamente um
voluntário experimental sem que este
tivesse conhecimento da experiência
em que estava realmente a participar.
Em vez disso, da sua perspectiva,
estaria a participar numa experiência
completamente diferente: determinar se
a memória de um indivíduo (“estudante”)
aumenta se, por cada resposta errada, este
sofrer um choque eléctrico de voltagem
crescente pela parte de um “professor”.
RESISTANCE
O indivíduo em teste assumia o papel de
“professor” sem ter conhecimento que o
respectivo “estudante” era de facto um
auxiliar do laboratório a representar o
papel de um outro voluntário experimental.
Após terem contato visual, o “professor”
e o “estudante” são colocados em salas
adjacentes, sendo feita questão de
mencionar que o “aluno” tem problemas
cardíacos. Um cientista é também
colocado na mesma sala que o sujeito
em teste para monitorizar a experiência.
Tal como foi sugerido anteriormente, o
“professor” questiona sistematicamente o
“aluno” e por cada resposta errada deste
dá-lhe um choque elétrico com voltagem
progressivamente crescente. Pelo menos
essa é a perspectiva do indivíduo: na
realidade ninguém apanha choque
nenhum e os gritos de dor que ele ouve
são mensagens pré-gravadas. Todas as
pessoas testadas chegaram a um ponto
algures durante a experiência em que
por momentos hesitaram em continuar e
questionaram a experiência. No entanto,
ao serem pressionados para continuar
pelo cientista e após este lhes assegurar
total impunidade pelas suas acções, a
grande maioria acabava por continuar,
ignorando os gritos de dor da sala do
lado. Concluiu-se que cerca de 65% das
pessoas testadas chegava à tensão final de
450V, sendo esta letal. Das pessoas que
recusaram ir até ao final, curiosamente
todas pediram autorização quando
pretenderam ir verificar o estado de saúde
do “aluno” e nenhum exigiu o final da
experiência. Acabou por se verificar mais
tarde que os resultados eram consistentes
com os de outros grupos populacionais
no mundo. A conclusão arrepiante que
qualquer indivíduo sob a acção de uma
autoridade e pressão suficiente poderá
cometer actos horríveis (especialmente
se tiver impunidade), levou a que esta
experiência ficasse famosa em psicologia.
Dos resultados também se verificou que
RESISTANCE
são muito raras as pessoas que são capazes
de resistir a este tipo de manipulação e
permanecer fieis aos seus valores morais.
Relembrando as atrocidades cometidas
pelos nazis nos campos de concentração
e a justificação de muitos deles: “Estava
só a cumprir ordens!” é possível atribuir
à experiência de Milgram um fundamento
bem real.
Experiência prisional de
Stanford
A experiência prisional de Stanford foi
efectuada na Universidade de Stanford
(Estados Unidos) por Philip Zimbardo
e pretendeu determinar se os abusos
cometidos pelos guardas nas prisões
estavam relacionados directamente com
as suas personalidades ou se são antes
influência do contexto em que estes
estavam inseridos quando cometeram
o abuso. Para o efeito foi seleccionado
um grupo de voluntários, sendo este
dividido em “guardas” e “prisioneiros”.
Aos guardas era permitido usar os meios
que achassem necessários para manter a
ordem e aos prisioneiros era permitido
desistir e sair se o exigissem. Zimbardo
analisou a evolução da experiência
através de câmaras de vigilância. Apesar
de ter sido planeada para 2 semanas, a
experiência foi abortada ao fim de apenas
6 dias. Ao fim de pouco tempo os guardas
começaram a apresentar comportamentos
violentos, em parte causados pelo receio
de não terem controlo sobre os prisioneiros
e pela alienação causada pelo sentimento
de impunidade e de poder absoluto. De
forma a controlar os motins, os guardas
implementaram castigos cada vez mais
cruéis, desde retirar o colchão para dormir
no chão, a impedir de urinar e defecar.
Outros tipos de humilhação incluíam
nudez e exercícios com contato físico
abusivo. De forma a despersonalizar os
prisioneiros, estes eram também forçados
a repetir o seu número de cela, por
vezes até á exaustão. Note-se que após
o seu turno, cada guarda podia sair das
instalações e tinha tempo para pensar nas
suas acções na experiência. No entanto
alguns utilizavam esse tempo livre para
encontrar novas formas de humilhação.
Ao fim de poucos dias, cerca de um terço
dos guardas tinha desenvolvido atitudes
sádicas. A despersonalização efectuada
ao longo da experiência levou a que todos
os intervenientes atingissem uma quase
obsessão pelo seu papel (tanto guarda
como prisioneiro). Este facto tornou-se
notório quando mesmo após a experiência
ser terminada, os prisioneiros continuaram
a responder pelo seu número de cela. Esta
lavagem cerebral levou a que tivessem
uma atitude passiva perante os abusos a
que eram sujeitos. O próprio Zimbardo
acabou por participar: ao optar por não
intervir para não influenciar o resultado,
atravessou a linha que separa uma
experiência científica de uma experiência
social bem real. Da sua perspectiva nada
de mal estava a ser cometido pois era tudo
a “fazer de conta”. Este só se apercebeu
das implicações éticas quando um agente
exterior (a namorada na verdade) visitou
a experiência e o alertou. Antes dela cerca
de 50 pessoas tinham também visitado as
instalações prisionais sem se aperceberem
do mesmo. A conclusão da experiência é
aterradora: as acções de uma pessoa são
quase totalmente induzidas pelo contexto
social em que o indivíduo se encontra
em cada momento. Ou seja, mudando o
contexto, mudam as acções consideradas
socialmente aceites. Neste caso concreto,
ao assumir que era tudo uma simulação,
os intervenientes não se aperceberam que
as suas acções eram bem reais. Poucas
pessoas têm a robustez moral para, ao
mudar de contexto social, manter os
seus valores éticos. Os resultados desta
experiência são também coerentes com a
de Milgram, onde um indivíduo aceita dar
choques eléctricos a outra pessoa em nome
da ciência. Os abusos na prisão em AbuGraib, Iraque, por soldados americanos e
a falta de apatia destes, revelam o quanto
estes resultados são reais. No julgamento
militar consequente, o próprio Zimbardo
prestou declarações de forma a clarificar
perante o júri o comportamento horrível
dos soldados, uma vez que estes não eram
psicopatas ou mentalmente perturbados.
Eram apenas pessoas normais.
Dezembro 2011
20
Alfazema Amarela
Uma vez que sou adepta dos intrapessoalismos clichés
e dos generalismos, é isso mesmo que vou fazer! E que
esteja perdoada em caso de erro! É certo que estudar em
Coimbra é o sonho de qualquer futuro universitário! Mas, no
preciso momento em que se recebe o «mailzinho» mágico que
nos avisa que vamos passar os próximos anos a dezenas de
quilómetros de casa, não há nó no estômago atestado com uma
espécie de ansiedade agridoce – vinda de partes de nós que
nem sabíamos que existiam – que escape ao inócuo e verde
adolescente, prestes a entrar na que será, provavelmente, a
maior das aventuras da sua vida. A noite da véspera é sempre
um tormento! Não há sono que espreite e sentimos o corpo num
colossal turbilhão de energia que nem duas dúzias de Red Bulls
conseguiriam igualar. Porém, mal se consegue, finalmente,
pregar o olho, toca o despertador – e bolas!, olheiras até o
umbigo logo no primeiro dia! Vestimos, num ápice, a roupa já
previamente idealizada e preparada em antemão, demorámos
mais vinte minutos a arranjarmo-nos do que o costume (e não
digam que não!) e caminhámos, em microhiperventilações, em
direcção ao nosso futuro lar; percorremos a multidão, isolados,
em busca de caras conhecidas, e sentimo-nos estranhamente
desconfortáveis com o incógnito que nos rodeia. Entretanto,
e chegados do nada, aparecem uns fulanos trajados, a quem,
supostamente, temos de chamar “doutores” (aqueles que - “Ai,
meu Deus!” – são descritos e pintados pelas bocas do mundo
como sendo uns assombros sedentos do sangue imaculado
dos pobres caloiros, ansiosíssimos por descarregar-lhes em
cima as suas frustrações, enquanto os ridiculizam, manhosos,
na sua superioridade). E aí inicia-se a primeira espécie de
solidariedade telepática entre aquelas criaturas noviças que se
perdem vinte vezes num único metro quadrado, assarapantadas
21
Dezembro 2011
Catarina Oliveira
“Etta Pandora”
com o “mas o que é isto?” e o “que raio vai sair daqui?”. No
início é sempre uma confusão! “Olhos no chão!”, mãos dadas
ao gajo do lado que nunca se viu na vida, nada de rir e toca a
cantar o hino, “que isso ainda não está em condições”! E se
alguém riposta, pumba!, lá vem um velhaco zangado, com
mais matrículas do que nós, prestes a passar-nos um «blá
blá» fastidioso! Mas não tarda muito para que percebamos
que a praxe não passa de uma nanometáfora dos obstáculos
que nos irão surgir na nossa jornada e que o «blá, blá»,
afinal, não é mais do que um alerta de alguém que já passou
pelo mesmo (sobrevivendo!) e até se preocupa connosco.
Inconscientemente, aprendemos a não desistir à primeira
dificuldade, a respeitar, a colaborar e a ser persistente – uma
série de coisas que só com o passar de uma vida poderíamos
assimilar, caso não entrássemos de cabeça nesta (bela!) fase da
nossa existência. E, no fim de contas, os “doutores” - aqueles
bichos-de-sete-cabeças maquiavélicos e astutos - não faziam
nada mais do que «desperdiçar», voluntariamente, o seu tempo
útil (que poderia, por certo, ser aproveitado para seu belprazer noutra coisa qualquer) para que nos integrássemos, nos
conhecêssemos e criássemos laços – o que seria difícil de outra
forma, dado o alto número de alunos por curso, em cada ano
-, sem estabelecermos, logo de início, grupinhos preferenciais.
Porque na praxe é assim: não há melhores nem piores,
bonitos ou feios - somos todos farinha do mesmo saco.
Terminado com as generalizações, é certo que esta mudança
brusca foi acompanhada de um choque inicial – como não
poderia deixar de ser. (Muita) mais liberdade, (muita) mais
responsabilidade… e o mesmo cérebro! Porém, e apesar de
ainda só cá estar há dois meses, sinto que já tenho a felicidade
de puder chamar vários colegas de «amigos» e estou super
impaciente para o que ainda está para vir! Como se diz: “só se
é caloiro uma vez”!
RESISTANCE
Pensamentos ao acaso
Bernardo Fabrica
Para todas as senhoras: sim, nós estamos
a olhar-vos para os seios; não, não
vamos desviar a cara; sim, queremos
tocar. Têm algum problema com isso?
Muito bem, para a próxima não tragam
a camisola tão puxada para baixo. Não
me digam que, com um decote desses,
vocês esperavam que nós reparássemos
nos vossos olhos e personalidade. Outro
dia entrei num cubículo do quarto de
banho dos homens de um Pizza Hut e
vi lá escrito algo semelhante a “ (Nome
de Rapariga) amo-te mt pra xempre.
(Nome de Rapaz) xoxo”. O que me
ocorreu naquele momento não foi o
porquê do “sempre” com x nem o quão
querido era existir ali uma declaração
de amor. O que me passou pela cabeça
foi um profundo momento de tristeza
pela raça humana. Que besta-quadrada
se lembra de colocar uma declaração
de amor a uma rapariga, num cubículo
de quarto de banho, que, para além de
ter o característico aspecto e cheiro
desses mesmos locais, era dos homens!
Terei eu lido mal o nome, e na realidade
aquilo era uma declaração de um rapaz
para outro? Se assim fosse tudo bem,
continua a ser um pouco parvo colocar
uma declaração num local onde parece
que um cego foi urinar (a sério, gostava
de perceber como é que as casas de
banho chegam a tal ponto de limpeza;
será assim tão difícil acertar no urinol?),
mas pelo menos foi posta num sítio
onde é possível que o outro vá ver. Terá
aquilo sido escrito pelo rapaz depois de
eles terem estado lá dentro a praticar
o amor? Se assim foi continuo a torcer
o nariz, pois fazê-lo não me aparenta
RESISTANCE
ser muito bom para a saúde púb(l)ica
em geral. Sem contar que é para essas
declarações que existem jardins com
árvores para escrever e arbustos para
esconder. Portanto, dá para perceber a
minha tristeza. Aquela leitura para mim
foi mais que o vislumbramento de um
momento de estupidez. Aquilo para mim
foi uma carta de despedida da minha
esperança na inteligência humana. Mas,
pelo menos, mandou beijos.
Questão: terá sido a regra de não falar
com a boca cheia alguma coisa que
surgiu como todas as regras do nada ou
terá havido alguma mãe prostituta que
aprendeu isso no emprego e resolveu
ensinar aos filhos, que não entenderam
na altura a mensagem? Falando de
da boca era uma tentativa delas de
manterem pelo menos um orifício maior
do corpo ligeiramente livre de doenças.
Se bem que esta teoria cai pelo chão se
eu pensar em todas as coisas que essas
senhoras fazem com a boca.
Sabem o que eu odeio? O facto de
ser visto com maus olhos por não
me lembrar do nome de alguém com
quem falei duas vezes, só porque
essa pessoa se lembra de mim. Quão
egocêntrico isso é: “Claramente, tens
que te lembrar de MIM! Eu, uma pessoa
tão importante! Eu, que me dignei a
dirigir-te a palavra!”. Desculpa lá, a tua
presença não me marcou a vida para
todo o sempre. Devia estar distraído.
Obviamente eu tenho a culpa toda,
Não me digam que, com um decote desses, vocês
esperavam que nós reparássemos nos vossos olhos e
personalidade.
prostituição, nunca entendi aquela
lendária regra do “Só não dou beijo na
boca”. Será isso algo real? Se sim, será
alguma imposição que elas colocam
para ter a certeza que não existe
qualquer ligação emocional? Eu sempre
achei isso estranho. Sei como facto que
é possível existirem batalhas de línguas
entre pessoas sem que ocorra grande
conversa anterior. Basta colocar duas
raparigas bêbadas e oferecer-lhes shots
se elas beijarem-se para comprovar esta
teoria. E não, isto não é machismo. Só
nunca vi isto a funcionar com pessoas
do sexo masculino. Sabem o que eu
sempre achei? Sempre achei que essa
nada recai sobre tu seres incapaz de ter
uma conversa de interesse capaz de me
captar a atenção.
Lembrei-me agora sobre quartos de
banho (sim, onde isso já vai) um poema
que li certa vez num que ia assim:
“Neste local solitário/Onde toda a
vaidade se apaga/Onde todo o cobarde
faz força/Onde todo o valente se caga”.
Algures aqui existe uma mensagem
sobre a existência humana, não me
consigo lembrar qual.
Outra coisa que odeio? Não saber como
acabar esta mistela de pensamentos mais
ou menos interligados. Portanto… É
isso… Adeus e assim.
Dezembro 2011
22
Crónica
“Clash of Titans”
texto_Rita Morais
Desde há muito que, tal como os actuais estudantes dos
departamentos de Física e Química da UC, estas duas ciências
disputam a derradeira batalha: qual delas a melhor? Qual delas a
mais importante? Estaríamos a ser honestos se disséssemos que
uma jamais poderia “sobreviver” sem a outra, que caminham
de mão dada? Talvez. Sabemos, perfeitamente, que é a Física
quem nos fornece as leis científicas, as relações entre simples
factos do quotidiano, que nos fornece o como. E como obter
o porquê? Tal seria impossível sem a química, sem as suas
experiências, tentativas cegas com destinos possíveis: o sucesso
ou um memorável desastre!Já Einstein dizia que “a teoria é
assassinada mais cedo ou mais tarde pela experiência”, ou seja,
e perdoem-me desde já por uma perspectiva um pouco química,
que sem a prática, as teorias apresentadas pelos físicos pouca ou
nenhuma validade teriam, uma vez que sobre elas não pairaria
qualquer tipo de certeza. Afinal qual a conclusão, se é que nos
é possível chegar a alguma? Não sei, e penso nunca vir a saber
qual das duas ciências reina neste mundo, no entanto, acredito
que é fulcral a união das ambas para que esta grande máquina
giratória possa continuar a avançar no tempo e no conhecimento.
Devemos, por isso, “(…)aprender sempre, até mesmo com um
inimigo” (Isaac Newton)!
Afinal as touradas não são só na cama…
texto_André Silva
A tauromaquia é um assunto que gera sempre controvérsia, seja
em Portugal ou em qualquer outro ponto do mundo: uns apoiamse na tradição como peça chave para a preservação deste acto;
outros acham esta prática uma barbaridade obsoleta que apenas
serve como forma de prazer através da “sacrifício” de animais.
Posso ser um bocado suspeito talvez por ter crescido num meio
tauromáquico, mas sim, sou a favor das touradas e estou a escrever
para vos elucidar o porquê desta minha escolha: primeiro acho
uma das formas de cultura mais bonitas e nobres que existe já
que a destreza do homem é posta à prova. E sim, apesar de eu
ser pró-touradas não aprecio muito o facto de um indivÍduo se
sentar em cima de um cavalo a espetar farpas no touro só porque
sim. O resto demonstra uma destreza e risco humano ao qual
só se submete quem tem a coragem necessária para o efeito: e
aí sim, há que dar valor, já que o limiar entre a vida e a morte
está a ser posto à prova de uma maneira totalmente voluntária
não havendo qualquer protecção. O confronto homem-touro é
digno aqui e quem não gosta de sentir a adrenalina de situação
de risco extremo? Por mais paleio que me possam dar, a minha
opinião não muda neste ponto. Sim à custa de um animal, mas
quem não o faz? Ter um cão fechado num apartamento todo dia,
um periquito na gaiola ou até um porco a ser criado para depois
ser comido é equiparado a esta situação; preocupem-se antes em
estar contra o massacre intelectual que é um programa televisivo
chamado “Casa dos Segredos”, onde se metem pessoas fechadas
numa casa (equiparada à arena) e onde se gozam os intervenientes
apenas para belo prazer do público; mas ninguém é contra isso.
23
Dezembro 2011
A meu ver, o ser humano ainda está num patamar superior ao do
animal; caso contrário, tornem-se todos vegans. E aí vai haver
alguém que quer “salvar as alfaces”: repito são opiniões. Digo
mais só vê touradas quem quer, ninguém é obrigado. Facto: 75%
dos portugueses são a favor das touradas ou são indiferentes à
realização das mesmas. Facto: desde quando é que uma minoria
(e mesmo que fosse uma maioria) tem o direito de interferir
...preocupem-se antes em estar
contra o massacre intelectual que é um
programa televisivo chamado “Casa dos
Segredos”...
num acto de outros desde que esse acto não esteja directamente
relacionado com eles? Podem dizer que não, mas ponto assente:
os touros bravos são dos animais mais respeitados e adorados
por nós; o processo de criação é o mais digno e acreditem que
a larga maioria das ganadarias tratam melhor os touros do que
muitas pessoas são tratadas. Preocupem-se então em salvar o
mundo das questões que realmente interessam e deixem-se de
coisas.Finalizo, não com o intuito de “converter” pessoas à
tauromaquia mas com um apelo àqueles que se auto intitulam
anti-touradas, para que respeitem quem o faz. Mas pessoas do
contra só porque sim sempre houve e sempre vai haver. E essas,
nem merecem sequer participar numa discussão.
RESISTANCE
Crónica
Crise? Qual crise?
texto_Frederico Borges
Nos últimos três anos a palavra que,
provavelmente, mais lemos nos jornais
deverá ser a palavra ‘Crise’. Crise para
aqui, e Crise para ali. O PIB de Portugal
diminui, o da UE e dos EUA também. E
segundo os economistas, aparentemente,
na última década todos os países ditos
civilizados viviam acima das suas
possibilidades. E aquando do Crash da
bolsa em 2008 a bolha rebentou. Mas,
para os mais atentos, no fim dos jornais
não sensacionalistas aparece uma frase
que diz: O PIB do Mundo tem aumentado
sucessivamente ao longo das últimas
décadas. Isto significa que o mundo
está a produzir mais riqueza de ano para
problema. Agora apercebemo-nos que
os empregos que estes países nos estão a
tirar são altamente necessários para todos
os países desenvolvidos. Finalmente
já nos apercebemos que Portugal não
pode somente depender do Turismo e
da Tecnologia de ponta. O Turismo está
muito dependente de modas e do estado
dos mercados; não há dinheiro, não há
férias. A Tecnologia de ponta precisa de
muitos investimentos para resultados
completamente incertos. Não são todas
as empresas que se tornam numa Apple
ou numa Airbus. Existem muitas a falir
porque não conseguem competir com
outras do mesmo ramo. A Tecnologia
Temos de acabar com a mania que temos de
ser todos doutores e engenheiros em Portugal
ano. Então, se o mundo está a produzir
mais riqueza por que é que nós estamos
mais pobres? Basicamente o dinheiro
está a sair dos países desenvolvidos para
os países em desenvolvimento como
a China, a Índia, o Brasil, a Turquia,
etc. Isto é outra forma de dizer que o
PIB está a aumentar a níveis de 5% a
8% nos países em desenvolvimento,
enquanto o PIB em Portugal se estima
que seja à volta -2%, em 2011. Parece
que vamos entrar em recessão. Mas o
que é importante salientar é que pessoas
que há dez anos estavam a passar fome,
agora começam a ter os postos de
trabalho que nós já não queremos ter.
Em vez de adiarmos o problema, como
sempre o fizemos, através da caridade;
estamos a dar-lhes emprego e dinheiro
para sobreviverem um pouco mais
condignamente. Mas isto leva-nos a outro
RESISTANCE
de ponta não é um investimento seguro,
caso contrário teríamos conhecimento de
empresas Austríacas e Dinamarquesas,
que investem muito mais que Portugal
em Tecnologia e não obtêm resultados de
relevância internacional. A verdade é que
temos de voltar ao passado. Precisamos de
investir no sector primário que sustentou
Portugal durante décadas. Temos que
investir na pesca (porque somos o país
europeu com maior região exclusiva
marítima da UE), na agricultura (porque
temos terrenos muito férteis e clima
apropriado para tal), nas minas (temos
minérios altamente necessários para a
respectiva Tecnologia de ponta) e nas
fábricas têxtil (os nossos produtos têxtil
são reconhecidos internacionalmente
pela qualidade superior). Temos de
acabar com a mania que temos de
ser todos doutores e engenheiros
em Portugal. Mas existe um enorme
problema político nisto. Enquanto um
trabalhador do sector primário português
recebe o ordenado mínimo, existem
outros países que produzem o mesmo
produto com trabalhadores a receber
até 10 vezes menos. Obviamente que o
produto será bem mais barato, e o sector
primário não poderá escoar os produtos,
e o investimento será em vão. Mas tem
de haver alguma solução…Como o
regresso ao Escudo é um suicídio a longo
prazo, porque apesar da desvalorização
da moeda resolver o problema a curto
prazo, deixaríamos de evoluir a longo
prazo porque precisamos da UE para tal.
Portanto, para competirmos no sector
primário existem duas soluções. Ou os
nossos trabalhadores trabalham por dois
ou três trabalhadores, ou temos de ter
ordenados semelhantes aos dos países
que produzem os mesmos produtos.
Esta é a única maneira para termos
possibilidade de ter os nossos produtos
com preços competitivos no mercado.
Uma ideia para tal, diminuam o ordenado
mínimo e introduzam uma taxa de
suplemento de ordenado por cada quilo,
peça, etc. que o trabalhador produza. Se
o trabalhador quer ganhar mais, então
que trabalhe para tal. Vamos acabar com
aqueles que passam a vida a viver à custa
do trabalho dos outros. Concluindo, se
Portugal produzir mais, consumiríamos
mais produtos nacionais o que significaria
que as importações iriam diminuir e
por sequentemente estaríamos menos
dependentes dos mercados externos. Com
o aumento da produção também iríamos
exportar mais, o que aliado com menos
importação iria fazer aumentar o PIB.
Portanto pergunto. Crise? Qual Crise?
Dezembro 2011
24
Mãe, afinal sei cozinhar!
Pontapés de javali com
batatas à Floriana “avec touts”!
Nuno Balhau
TEMPO DE PREPARAÇÃO
48 horas se congelado, 36 se descongelado….
CUSTO APROXIMADAMENTE EXACTO
Se tiveres sido tu a matar o javali, o que custa mais é a grade
de minis por isso gastas por volta de 9 euros porque entretanto
te lembraste dos cacahuetes! Se tiveres que comprar o javali,
então este não é o prato para ti…. E custa por volta de 50
euros, sem cacahuetes.
CALORIAS
tenho é fome, pá…
Ingredientes :
Uma perna de javali (sem pele); várias cebolas; alho (e quando
digo alho, é alho a sério! Muito… mais ainda!); vinagre; vinho
branco; piripiri; tomate pelado, o do pingo doce é fixe… “praí”
uma cena das grandes; louro; pimentão-doce; batata; mais
cebola para a batata; alho, mais alho; limão(s); sal; pimentão;
cogumelos; um pimento, vermelho (viv’ó Benfica!).
Modo de Preparação:
Corta a porção de perna de javali, que vejas que consegues
malhar, em pequenos cubos. Coloca a carne cortada dentro
de um recipiente e mistura vinho, muito limão, alhos e não te
esqueças do sal. Bebe a grade, come os cacahuetes… dorme,
acorda e vai comprar outra grade (de médias, as minis vão
num instante) e mais cacahuetes… Passaram 24h15min:
lava a carne, muda de recipiente (isto foi para tirar o cheiro a
bedum da carne)… No novo recipiente da carne coloca alho e
25
Dezembro 2011
BASTANTE VINHO! Junta-lhe pimentão, piripiri, o tomate
pelado e de seguida mistura (com as mãos lavadas). Mistura
mais… Descasca as batatas, os alhos, as cebolas… Corta as
batatas aos cubos, e os alhos e as cebolas aos bocadinhos.
Mistura esses três suplementos num tacho com azeite. Bebe
a grade, come os cacahuetes… Passaram 12 horas (tenho
o javali descongelado, não sou tolo…). Tentando afastar
o molho, coloca a carne numa panela com alho e cebolas
previamente alourados e deixa de maneiras a carne a guisar.
Guarda o molho do recipiente onde estava a carne temperada.
Em paralelo, uma meia hora mais tarde, liga o lume do tacho
das batatas. Com as batatas alouradas, junta um pouco de
polpa de tomate, pimentão e uns poucos de tomates pelados,
não são precisos muitos é só para dar cor. Junta o molho que
ainda está no recipiente (onde estava a carne) com a carne
alourada e tapa… Junta uns pimentos cortados pequeninos
e uns cogumelos. Junta um copo de água às batatas para
não agarrarem ao fundo. A batata é para cozer sempre no
nível mais fraco de lume, enquanto que a carne é com mais
“fogacidade”. Junta um pouco de sal às batatas e um pouco
de vinho branco… não muito, se não as batatas não acabam
de cozer (as batatas não cozem com vinho). A carne já deve
cheirar bastante bem, mas deve ainda estar dura que nem
uma pedra… adiciona mais molho, caso ainda tenhas e haja
pouco na panela… se não tiveres e a panela estiver a secar
junta vinho branco: um copo deve chegar… Deixa a cozinhar
tapado mais meia hora! Com as batatas no mínimo e a carne
no lume com pujança, faz uma salada de tomate, alface, couve
roxa… etc. (a Resistance impõe regras acerca das calorias!) e
30 Minutos depois desliga tudo. Põe a mesa, arranja um bom
tintol, disfruta do jantar (depois de um banho, que agora quem
cheira a javali és tu) e… jantar cumprido, arranja um mitra
para lavar a loiça.
RESISTANCE
A gamer (re)view
Bruno Galhardo
1947, Los Angeles. A cidade vivia um
clima de prosperidade advindo de um
pós-guerra, onde a vida exuberante de
Hollywood se encontrava lado a lado
com uma crescente onda de homicídios,
tráfico de droga em proliferação e uma
corrupção descontrolada. É neste cenário
que o ex-militar Cole Phelps é inserido
na polícia de LA, após o regresso do
seu destacamento em Okinawa. O jogo
encontra-se dividido em casos. Cada
caso é um crime que tens de resolver,
passando tanto pela análise das provas,
como pelo interrogatório aos indivíduos
com que te vais deparando. Com alguma
ajuda musical, acabas por encontrar
facilmente essas tais provas do crime.
Quanto ao interrogatório, esse envolve
conseguires detectar a veracidade do
discurso dos inquiridos. Depois da
tua análise das expressões faciais e
corporais, se eventualmente desconfiares
do sujeito, verificas se tens provas para
o poder acusar. Tudo isto é possível
graças a uma nova tecnologia que é
capaz de capturar movimentos faciais
RESISTANCE
dos actores, e os transportar para o motor
de jogo, dando resultado às personagens
mais reais alguma vez representadas
em videojogos. Este é dos pontos mais
fortes do jogo, sendo possível distinguir
no jogo diversos actores conhecidos
tanto do cinema, como das séries de
TV. Uma coisa é certa: quer sejas o Gil
Grissom ou não faças a mínima ideia do
caso que estás a tentar desvendar, acabas
sempre por conseguir resolver os crimes!
O jogo dá-te a mão ao longo de toda a
experiência, levando-te a crer que estás
mesmo a resolver o crime. Isso é apenas
uma ilusão. São muitas as ajudas que vais
tendo ao longo dos casos e, mesmo que a
solução que encontres não seja a melhor,
passas ao próximo caso, onde recebes
felicitações dos teus superiores por um
crime supostamente bem resolvido. A
única recompensa que vais ter pela tua
inteligência vão ser as estrelas atribuídas
no final na missão. Esta desconexão entre
os casos tem o intuito de fazer avançar
a história principal - independentemente
do sucesso nows casos isolados. Esta
história principal em paralelo vai deixarte a adivinhar até ao fim, sendo outro
grande ponto alto deste jogo. Também
o setting LA dos Anos 40 está bastante
bem conseguido. Durante os casos tens a
liberdade de andar por onde quiseres na
cidade e conduzir qualquer um dos 90 e
poucos veículos da época que encontres.
Como deves imaginar, conduzir pelas
ruas da única recreação virtual fiel da LA
desses anos dá uma grande satisfação!
Apesar da sensação de liberdade que
o jogo te oferece ao poderes andar
livremente pela cidade, não há muito
para fazer ao explora-la. Podes conduzir
entre localizações nos casos e, de vez em
quando, podes fazer trabalho de polícia
em missões secundárias, mas que não
demoram mais de dois minutos e que
nada têm a ver com a história. Podes,
ainda, ter de perseguir suspeitos pelas
ruas da cidade, quer em veículo, quer
a pé, num artifício para criar alguma
acção no meio de uma aventura que,
de outra forma, seria bastante calma.
Como as perseguições são bastante
semelhantes entre si, estas tornamse aborrecidas muito rapidamente, já
que estes encontros são muitas vezes
scriptados para que as perseguições
acabem sempre da mesma maneira. Em
resumo: se procuras um jogo de acção
com um grande desafio, este não é
definitivamente pra ti. Estamos perante
uma “experiência interactiva” onde o
jogo te convida a seguir com ele. Vale
certamente a pena principalmente se
fores fã de CSI ou de policiais em geral,
ou até se simplesmente gostares do
setting, e tenhas curiosidade em saber
como era ser polícia naquela época.
Disponível para PS3, XBox360 e PC
Dezembro 2011
26
Monopoly HARDCORE
Consoante o número de peças, n, podem jogar n-1
pessoas.
Itens necessários:
Jogo do monopólio
Regras:
Atribuir um número do dado a cada jogador.
Se o teu monopólio tiver moedas, deves distribui-las
por todos os jogadores. As moedas servem para dar
aos outros jogadores e estes têm de beber um gole
de sumo. A pessoa que ficar com a banca bebe um
shot a cada transacção. A peça que fica de fora deve
ser o moinho e troca de jogador de 5 em 5 minutos,
para trocar o moinho lança-se o dado e o jogador
que calhar bebe um shot de um sumo muito forte.
Quem quiser sair da mesa bebe um shot de um sumo
extremamente forte.Para sair da prisão o jogador
deve pagar 50€ e beber um shot. Sempre que saiam
duplos nos dados o jogador deve beber o número
de goles correspondente. A cada transacção de 100€
corresponde um
gole de sumo
e o número de
goles é sempre
arredondado
para cima. Cada
jogador que calhe
na propriedade
de um adversário
deve além de pagar o aluguer, beber os goles
correspondentes a esse valor. Cada vez que o jogador
passa na partida, além de receber os 200€, bebe 2
goles. Nas casas da sorte, quando ganhas dinheiro
mandas beber e quando perdes dinheiro bebes os
goles correspondentes ao valor. Quem calhar no
estacionamento livre manda beber o número de
goles correspondente ao valor que recebe. Todas as
negociações devem envolver transacções de sumo.
Nota: ao contrário do que o Fred pensa o objectivo do
jogo não é ganhar, mas sim beber e inventar as tuas
próprias regras ;)
by Bruno Agatão
E um feliz natal a todos
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Dezembro 2011
RESISTANCE

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