O mergulho digital

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O mergulho digital
O mergulho
digital
Este suplemento faz parte integrante do Jornal de Negócios n.o 3301,
de 27 de Julho de 2016, e não pode ser vendido separadamente.
Think tank
beyond - Portugal Digital Acceleration
Deep dive into digital
Talento
Quem é que pode chegar ao topo
Consumidor
Os desafios da nova era
Inês Lourenço
Publicidade
2 QUARTA-FEIRA 27 JUL 2016
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NEGÓCIOS INICIATIVAS beyond – Portugal Digital Acceleration
TALENT
Só chega
ao topo
quem tiver
soft skills
O talento é a corrida ao ouro das empresas no
novo mundo digital. É o “a priori” do digital,
garantem. Outras vezes é uma buzzword.
As actuais organizações têm dificuldades em
usá-lo porque implica redesenhar o futuro.
FILIPE S. FERNANDES
importânciadaatracção deste novo talento
équepodemajudarna
transformação das organizaçõesquetêmdemudarinternamente paralidar com estanova
realidadeemtermosdoskill-setena
formade organização (motivação,
recompensa,visibilidade).
Asempresasestãointeressadas
emtrazerasnovascompetênciasdas
geraçõesmaisnovasparadentrode
formaacontribuirparaestanovadigitalizaçãodetodasasáreas.Provavelmentevaiobrigarafazerumacoisainovadoraqueéaformaçãorevertida(reversetraining)emquemuda
o paradigma do formador e do
aprendizporquecomoasnovasferramentas impactam em todas as
áreas e os que entram estão mais
bempreparadosedetêmascompetências que no interiordaempresa
necessitam.
As empresas terão tendênciaa
transformar-seemorganizadorasdo
talentoporqueostalentosgostamde
sermotivados mas não de sercon-
A
trolados, são reactivos ao comandcontrol.
As fronteiras das empresas tornam-semaisporosaseoconceitode
inovaçãoabertaganhanovoimpulso pois é possível abrir o negócio à
criatividade existente como fez a
Netflixque colocou ao alcance dos
talentosamelhoriadoalgoritmoque
é parte dasuaestratégia. Poroutro
lado,expande-seoconceitodeprojecto, de criação de equipas parase
comprometeremcomdeterminado
objectivotalcomosefaznaindústria
docinemaedofutebol.Implicaque
aorganizaçãosaibacomofazercom
queaspessoastenhamengagement
comasorganizaçõesnomeadamente as pessoas não estão nas fronteirastradicionaisdaempresamasestãoemprojectosequecolocaquestõescomoagarantiadeconfidencialidade,controlodaactividade.
Todos têm talentos
Sempre se recrutou com skills
técnicos e comcompetências específicas paraumadeterminadafunção.Agrandediferençaéquevaipassararecrutar-sepessoasmaisbaseadosemsoftskills,adaptáveiseflexíveistalcomoseexigeàorganização.
Osvaloresquemaisprezamsãoaautonomia, têm a atracção pelo empreendedorismo, preferem bons
Entre os participantes foi sublinhada a ideia de que a atracção de novo talento pode ajudar a transformar as organizações.
ambientes de trabalho, lideranças
próximas. Os softskills podem ser
desenvolvidosatravésdemetodologiasdegestãodotempo,deequipas,
motivação, inteligênciaemocional,
deaspectoscomportamentais,deliderança, de negociação. E asuaimportânciapodesermedidapelofacto de, por exemplo, um executivo
normalmentefalharporfaltadesoft
skills. Também nas start-ups o sucesso passamuitas vezes pelo facto
deolíderdoprojectoterestascompetências.Mesmonomundotecnológico emque os skills técnicos são
fundamentais só chegaao topo que
tiversoftskills.
O talento é inerente àcondição
humanacomo tão bem descreve a
parábolabíblicadostalentos.Todas
aspessoastêmtalentose,porissoé
preciso detectá-lo, o que normalmentesefaznaescola.Masasorganizaçõestambémtêmdeencontrar
os talentos e uma das condições é
darliberdadeenãoformataraspessoasparaelaspoderemdaromelhor
de sipróprias e poderemdarideias
transformadoras. Ademonstração
do talento tanto pode apareceraos
cincoanoscomoaosquinzemasnão
sedeveconfundirtalentocomquem
é muito bom ajogarfutebol, acantar,namatemática.Otalentotema
vercomoconhecimentoeacapacidadeparaoadquiriroucomumadeterminadahabilidade ou skill, mas
também quem em agilidade mental, capacidade de se adaptaràmudança, o gosto por fazer coisas novas,acapacidadeparatrabalharcom
os outros, o gosto na assunção de
responsabilidades e riscos. Tudo
isto são talentos muito valorizados
nestaépoca.
O novo poder executivo
As organizações desde as mais
sofisticadasquesempreestiveram
noedgedainovaçãoatéàsmaistra-
dicionais percebem que o mundo
estáamudare passam aexigiroutro tipo de perfis, com capacidade
de serdiferente.
O executivo que hoje se exige
tem de ter visão estratégica, do
mercado e das suas tendências. A
experiênciapolifacetadaevariada
podeajudaraantecipartendências
e impactos no negócio e neste aspecto aquestão datecnologiae do
digitalassumemumpapelpreponderante.
Hojeolíderquetemdeinfluenciar directamente o negócio porque este vai ter enfrentar desafios
que muitas vezes ainda não estão
inteiramenteobjectivados,temde
seromotordamudança,tercriatividadeepensaroutofthebox,mudar afilosofiae o modelo de negócioaoqueatecnologiaoferece,inovar,aadaptaçãoeflexibilidadeque
deixam de ser valores acrescentados e passamaserstandard. I
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SUPLEMENTO
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Inês Lourenço
COMPETITIVIDADE
O impacto
da digitalização
É uma nova fase do digital. Nos serviços, a digitalização tem um efeito
imediato e de disrupção nos modelos de negócio pois há uma eficiência
que a digitalização traz. Mas também contribui com inovação em negócios
mais tradicionais e que geram muitas eficiências nas cadeias de valor.
E
Think tank e a regra
Chatham House
O objectivo deste think tank
promovido pela EY e o Negócios
foi reflectir sobre os temas estruturantes do beyond – Portugal Digital Acceleration: o talento, as comunidades e a partilha,
aspectos legais e de segurança,
cliente, competitividade e estilos de vida.
Para que a discussão fosse
mais livre e aberta adoptou-se a
regra conhecida de Chatham
House, em que os participantes
são livres de expressar as suas
opiniões e a informação recebida pode ser utilizada, mas não
pode ser atribuída.
Participaram Raul Vaz, director do Negócios, Miguel Fernandes, executive director da
EY, Eduardo Marçal Grilo, ex-administrador executivo da
Fundação Calouste Gulbenkian,
Francisco Veloso, director da
Católica Lisbon School ofBusiness, Miguel Castro Neto, professor na Nova Information Management School, Madalena
Tomé, CEO da SIBS, Maria João
Valente Rosa, directora da Pordata e Bento Correia, chairman
da Vision-Box. I
sta nova fase pressupõe
desafiosdiferentesdoque
se tiveram até agora. Resultammaisdaconvergênciadematuridade das tecnologias que têm
construído ao longo dos últimos
anosdoquedosurgimentodenovas
tecnologia. Nunca como agora se
temcapacidadepararecolhertanta
informação, e, além disso, tercapacidadeparaaarmazenar,processar,
trataretransformá-laeminteligência.Estastecnologiasderecolha,tratamentoeanáliseamadureceramao
longodosanoseestãoaatingiramaturidade num processo de convergência. Estatransformação digital
vai ter impacto tanto na produção
com a robótica e smart machines
mastambémpelacapacidadedeinteligênciae de predição. E teráimpactonaagricultura,naprospecção
depetróleosedeminérios.
Nos últimos cinco anos, os processosdedigitalizaçãodoupstream
donegóciodeumapetrolíferageraram poupanças da ordem dos 200
milhões de euros e tem nessas operaçõescercade1700quilómetrosde
fibraópticaparaconectarprocessos.
Todaestaevoluçãopermitequeuma
empresapetrolíferaconsigaganhar
dinheiro com o barril de petróleo a
50dólares,oqueseriaimpensávelhá
poucosanos.Eraimpossívelterasua
situaçãodecaixaequilibradaa60dólaresobarril.
OtecidoempresarialemPortugaléconstituídopor98%dePME,o
que colocaaquestão de como é que
sefazoefeitodedisseminaçãodatecnologia nestas empresas. As PME
têmdificuldadeemabsorveramãode-obra do conhecimento e com
grandequalificação.MasháemPortugal umadificuldade napassagem
dainvestigaçãoparaainovação,para
o produto ou o serviço aindaapresentaalgumasdificuldades.
Éumadigitalizaçãomaisvirada
parao consumo emque háumdesenvolvimento de naturezatecnoló-
gicoedeconectividadequepermite
com um nível acelerado de digitalização,acustomizaçãoeaflexibilidade do que se fornece ao cliente. Exige-se criatividade, flexibilidade, capacidadederespostarápidaporque
o mundo mudacadavez mais rapidamente,oquepodeserumavantagemparaPMEestart-upsede,certo modo, paratecidos económicos
comoodePortugal.
Atransformaçãodigitalvaitocar
no mundo físico e vai acontecer de
umaformamaisrápida.Hojeemdia
umdosramosmaisdinâmicoséoda
robóticaedaautomação,quenãoincluiapenasarobóticamecânicacom
robôsemecanismosautómatosmas
também software com articulação
com aInteligênciaArtificial de formaaque os robôs possam interagir
econversar.Asmáquinasaprendem
comainformação.Hojeemdiaéfrequente falar-se paraum call-center
A ter
em conta
• Detecção, geração e atracção
de talento, é a forma de que um
país pode garantir que mantém
a sua competitividade e das suas
empresas.
• Qualificação para o digital e o
conhecimento.
• Investimento que se garante
que há financiamento da
economia e sobretudo da sua
inovação.
• Digitalização do Estado que
tem um efeito reprodutivo, nas
sociedades mais avançadas do
ponto de vista do digital verificase que são aquelas em que o
Estado é mais digitalizado.
• Transformar o I&D em
inovação.
eseratendidoporumrobô,quehoje
têm capacidade de aprendizagem.
Porissonofuturoosrobôsentrarão
emactividadescomoaagricultura,a
construçãoeapesca.
Como se financia
o digital
O presente jáé digital porisso o
futuropodesermaisqualquercoisa
mas vai ser digital. O digital é uma
oportunidademaséuminvestimento tão elevado como no mundo físico. A natureza do investimento
mudamasosmontantesnãoporque
odigitalnãoéumaáreadebaixoinvestimento. Claro que as start-ups
quetrazemnovosmodelosdenegóciopodemterideiasdisruptivascom
pouco investimento e conseguem
comero queijo às grandes multinacionais.Masnãopodehaverdeslumbramentos e pensar que pelo facto
de fazerumprogramade computador se vai ser competitivo à escala
global. O digital necessitade recursos qualificados, de investimentos
de promoção elevados paraque um
produto digital seja competitivo e
entrenosmercadosglobais,quedeve
sero verdadeiro objectivo porque a
lógicajánão é daproduto físico que
começapelomercadolocaledepois
vaiganhandoescalaefazaexpansão
global.
Comosefazofinanciamentoda
inovação, como é se financia processos, produtos, serviços cadavez
maisinovadores,maisdisruptivos,
maisrápidos,ecadaveztêmmenos
histórico? Fala-se fintech mas há
poucosreferenciaisnestaâmbitoe
esteexercíciodofinanciamentoda
inovação versus os mecanismos
tradicionais de financiamento é
provavelmente uma das questões
maisdisruptivascomquesetemlidar até porque tem consequências
naescalacomqueseacedemaosfinanciamentos parainvestimentos
naChinaouemPortugal. I
FILIPE S. FERNANDES
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NEGÓCIOS INICIATIVAS beyond – Portugal Digital Acceleration
Inês Lourenço
Tópicos
• Estilos de vida
diferenciados.
• Novos tipos
de socialização.
• Novas experiências
de território
e do tempo.
• Mais informação,
comunicação,
big data.
A digitalização vai ter impactos na velocidade, no escrutínio e no trabalho.
O papel
da escola
STYLES OF LIFE
As novas sociabilidades
Os estilos de vida tendem a ser diferentes e diferenciados
até pelos níveis de informação e de possibilidade de escolhas tanto
nas maneiras de viver como do pensamento e das ideias.
A
ssiste-seàemergênciade
novos tipos de sociabilidade. Por exemplo, hoje
quando um grupo de jovens está
reunido e se mantémao telemóvel
fá-lo paraincluir amigos ausentes
nocírculodeconversapoisanoção
espacial e temporal é diferente. As
relações com o tempo também se
alteraramehojeotempodotrabalhocruza-secomolazer,asrelações
alteram-se em termos territoriais
pois os sítios onde as pessoas nascem condicionam menos pois
pode-sesairtantoemtermosreais
comoemtermosvirtuais.Osterritóriosdeixamdesersófísicosearelação com acondicionante físicaé
diferente. O contacto humano e a
presença continuam a ser importantes mas assumem formas diferentesdequeéoexemplooaumento exponencial de conferências,
concertos, festivais.
Hoje existe mais informação,
maisdados,maisformasdecomunicação,oquemuitasvezestornamais
difícilagiredecidir.Em1956nasceu
oprimeirocanaldetelevisãoemPortugal,hojeexisteumamiríadedecanaisedemeiosaudiovisuais.Adiversidadedeescolhaaumentodeforma
exponencial.Hánoentantoumpassoqueporvezesnãosedá.Ainformação e acomunicação são essenciais
mas háumapeçaque muitas faltae
queéoconhecimento.
Velocidade e
superficialidade
O impacto da digitalização em
termossocietaisserásobretudona
velocidade, no escrutínio e no trabalho. Avelocidade faz com que se
queira ter tudo rápida e imediatamente em qualquer ligar o que
mudao mindsetdas pessoas. O escrutíniofazcomquetudoestejaem
evidênciae passível de ser inquirido e apropriado e, por exemplo,
quando se desenvolve um serviço
ouumprodutoninguémquersaber
se quem o fez existe há 50 anos e
temumtrackrecordrecomendável
mas se é bom, se funciona. O papel
e o peso da recomendação bem
como a relação que se estabelece
tornam-se fundamentais nas opções e nas escolhas. Umbanco que
tem 110 mil clientes e 140 mil amigosnoFacebooknuncaprecisoude
responder aos que faziam um comentário a serviços ou produtos
porque a comunidade reagia e esclarecia. No trabalho a tecnologia
estáacausar disrupção nas indústrias tradicionais e nem todas as
leggacies se vão conseguir adaptar
e mesmo que isso aconteça será
com menos mão-de-obra. Um dos
exemploséaáreafinanceiracomo
aparecimento das fintech ou da
produção comaautomoção.
Afacilidadedeacessoeoincrementoexponencialdeinformação
e mensagens tende a tornar tudo
mais superficial e ser movido por
algoritmo que funcionam por defeito. Há também uma grande
proeminênciadaemoção,comose
verifica pelas constantes apelos a
mobilizaçõesquedepoisraramente se transformam em realidade.
Por isso era importante que houvesse um equilíbrio entre o lado
emocional e o racional.
O que marcao último século é
o desenvolvimento tecnológico
mas o que marcaaúltimafase são
as mudanças muito rápidas, por
isso o mobile e as apps, que atingiuo seutippingpoint, são apenas
um ponto de passagem. Mas esta
especialização técnicaacentua-se
cada vez mais e o que sobrevive
não é o mais forte mas o mais rápido. Arelação e aexperiênciasão
as palavras chave dos estilos de
vida actuais. I
FILIPE S. FERNANDES
A escola tem um papel
essencial na forma como
prepara as gerações para
elas fazerem as suas
opções não só porque sim.
Os media também são
fundamentais para
contribuir para uma
informação mais
sustentada e para as
decisões serem tomadas
com mais liberdade.
Comunicar ao serviço do
conhecimento é o grande
desafio. Por outro lado a
escola (do pré-escolar à
universidade) tem de
adquirir novos papéis
como o de fornecer mais
competências sociais aos
alunos, de cruzar temas e
conceitos para promover o
pensamento crítico. Há
também a necessidade de
redesenhar os programas
escolares com a introdução
de disciplinas de
programação e códigos o
mais cedo possível mas
também um reforço da
componente de minor arts
nos cursos mais
tecnológicos e científicos.
QUARTA-FEIRA
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SUPLEMENTO
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CUSTOMER
A nova era de um
consumidor ligado
Em 2025, mais de 50% das pessoas serão os
denominados millenials e as mudanças na relação
com os clientes e o tipo de serviço vai ter de evoluir
de acordo com esta crescente predominância.
O
s millenials vivem habituados a um novo ecossistema de aplicações,
têmumaexperiênciade comprae
de acesso ao consumo que é mais
diversificada,baseadaemdevices,
conexões e aplicações. Esta nova
geração dos millenials vê com alguma dificuldade canais ou interacções que não estejam disponíveis numa de base 24 horas sobre
7 dias. É preciso ter o foco muito
diferenciado para este tipo de
clientesqueprocurasimplicidade,
conveniência,facilidadedeacesso
eacedecomdificuldadeaoscanais
mais tradicionais.
Estas características jáse ma-
nifestam nos actuais consumidores. Vive-se a era do domínio da
GAF (Google, Amazon, Facebook) que aglutinamexperiências
e consumos e, ao mesmo tempo,
umaerade novos players e de modelos disruptivos de negócios,
como o caso daUber e daAirbnb,
que a partir de uma tecnologia
criaram experiências disruptivas
nos transportes públicos e nahotelaria. Estes novos players introduzemnovos factores de complexidade junto dos incumbentes
que têm de se adaptar a esta ordem digital e a uma estratégia
omnicanal.
Éumconsumidorqueestámui-
to dependente do seu intelligence
device,oquefazdelemaisexigente
e que espera ter conveniência, ou
seja,disponibilidadedeumprodutoeserviçoemqualquerlocaleem
qualqueraltura.Éumconsumidor
queesperaquetambémessaexperiênciasejaconsistente nos vários
pontosdecontactoquetemcomos
seus fornecedores.
Parafazerfaceaestenovoconsumidorimplicaqueaorganização
tenha uma proliferação de canais
e de pontos de contacto e esteja
muito viradaparao cliente. Receber esta jornada do cliente que é
bastante mais dispersa e mais
complexaesercapazderesponder
em simultâneo tanto pelos canais
tradicionaiscomoporestesnovos
canais. Um dos efeitos da digitalização é que os produtos e serviços
sãomaisrápidos,melhores,customizados e baratos.
A preocupação
pelos detalhes
Aapostano digitalexige daorganização a preocupação pelo detalhe,tornarosprocessosmaiseficientes e reinventarainfra-estrutura.Hojepredominaaculturado
buzz e das partilhas do social mediacomoassuaspossibilidadesde
escalabilidade,dimensãodeinformação e mensurabilidade. É um
desafio cultural para as empresas
já estabelecidas saber como é que
se mudaaorganização, passaavivercomaideiadasuafinitude,ese
faz aredefinição cultural e se prepara para concorrer com empresas que ainda não surgiram, produtoseserviçosquenãoforaminventados.
Odigitaléomáximodeexigência que uma indústria consegue
dareemquetodasasindústriasse
tornam comparáveis. Um dos as-
pectosemqueodigitaltemimpacto é no facto de exigir paraprodutosglobaisqueosstandardssejam
globais, o que coloca desafios adicionaisaempresascomoperações
internacionais e disseminadas
pelo mundo.
Conhecem-se os padrões de
consumo mas não os consumidores embora plataformas como a
Google, o Facebook ou a Amazon
acedam a um conjunto de informaçãomuitorelevante.Aprivacidade vai ter uma grande evolução
na próxima década. A tecnologia
vaiajudarateralgoritmos e interacções sem tornar visíveis determinadas informações. Os dados e
osinsightssãoretiradoseanalisadoseasinformaçõesmaispessoais
são reservadas. Mas vai aumentar
a capacidade de ter sistemas predictivos. I
FILIPE S. FERNANDES
Inês Lourenço
5 NOTAS
O snapchat
do novo
consumidor
1
Compra e consulta
produtos, serviços e
experiências em qualquer lado
(50% do movimento bancário é
feito online e mobile).
2
Ligação online em
permanência.
3
Multiplataformas
(computador,
smartphone, televisão).
4
Social em que a
recomendação e a
valorização feita por clientes
são muito importantes.
5
Os novos consumidores forçam a que as organizações tenham uma proliferação de canais e de pontos de contacto.
Informação é um activo e
valor fundamental para o
cliente pois permite a comparação
rápida, a avaliação, os trade-offs,
o que implica dar sempre o
máximo de informação de forma
simples e contextualizada.
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NEGÓCIOS INICIATIVAS beyond – Portugal Digital Acceleration
SECURITY & LEGAL
Cibersegurança
é minimizada
Em Portugal, têm sido minimizadas as questões da cibersegurança,
que podem ter um grande impacto na reputação das empresas
e dos negócios. Também não há consciência pessoal e colectiva para
o valor dos dados que fazem a fortuna do Facebook e da Google.
s números do lado negro da internet são devastadores. Cerca de 1
milhões de novos malwares surgem todos os dias e os custos e
impactos do ciberataques atingem os 575 mil milhões de dólares por ano. Em Portugal têm
sido minimizadas as questões
da cibersegurança, que podem
ter um grande impacto nareputação das empresas e dos negócios. Muitas vezes a cibersegurançaestánumafase embrionária e as organizações estão muito frágeis e são muito permeáveis. O risco reputacional, que
tem impacto financeiro, de negócios e de credibilidade, é menosprezado. Esta é, segundo alguns especialistas, ainda mais
relevante no que se refere aos
stakeholders que interagem
com a empresa que têm de ter
credibilidade, estar certificados
e dar garantias de segurança na
informação. Hoje, por exemplo,
a cibersegurança é um factor
primordial nas operações de
aquisição de empresas e é uma
alínea do processo de due dilligence.
As empresas têm atenção na
segurança digital em áreas que
são core e por isso consideradas
críticas, mas mostram pouca
acuidade em relação paraos riscos que os sistemas em outras
áreas daempresaencerram. Estes riscos têm pouca visibilidade na análise de risco cibernético e muitas vezes são a porta de
entradaparahackers. Mais complexo ainda é o facto de muitas
vezes terem sido atacadas e não
terem dado conta. Estasituação
coloca em perigo não só a orga-
Inês Lourenço
O
O desafio da
privacidade
A segurança digital é uma área core para as empresas.
nização mas todos os que com
ela se relacionam. Aliás, as empresas muitas vezes escondem
que foram objecto de intrusão o
que as torna cúmplices de uma
situação que pode afectaroutras
empresas e pessoas.
Há necessidade de criar uma
consciênciacolectivasobreocontrolo e asegurançade dados pessoais como porexemplo aidentidadeelectrónica.Facilita-semuito o acesso aos dados das pessoas
e das organizações a empresas
como a Google, o Facebook, que
depois os manipulam através de
algoritmos e vendem essa informação e que hoje atingem o pico
dacapitalizaçãobolsistamundial.
Essa informação é valiosa e torna-se um valor.
A segurança está
nas pessoas
O maior problema de segurançaestáas pessoas, não estáas
tecnologias. Além disso há uma
assimetriaentreosexpertsdetecnologiaeosutilizadoreseénogap
de segurança entre estes dois
mundosquemuitassevezesseinfiltram os hackers. É fundamental haver um plano de marketing
interno de mobilização das pessoas em relação à segurança. É
ainda estratégico ter um conhecimentodasituaçãodaorganização em relação a segurança porqueéimpossívelimpedirumataque mas é possível detectar rapidamente o que foi e em que condições se deu para se poder responderrapidamente.Épeçacha-
ve na gestão do risco reputacional. Esta preocupação com a segurançaeasameaçasquevêmdo
espaçodigitaltambémtemdeincluir as PME, que deveriam ser
sensibilizadas para este tipo de
questões.
A certificação pode ser um
passo importante e começa a ser
importante impor este padrão a
todos os relacionamentos e ligaçõesdaempresa.Porissoexistea
norma ISO 27001 é o padrão e a
referência Internacional para a
gestão daSegurançadainformação.Asquestõesdecibersegurançapodem até sercolocadas e atacadasapartirdeumpontodevista de sector, desde que seja feito
com total transparência. I
FILIPE S. FERNANDES
Na nova ordem digital há temas que atravessam as temáticas da seguração, regulação
e legislação e da experiência
do consumidor. Com o advento do comércio electrónico e
da relação digital surgem as
perturbações em temas clássicos como os direitos individuais, a privacidade e a segurança dos dados, os ciberataques, a mudança tecnológica,
a expertise do consumidor, a
propriedade intelectual. Mas
há também a questão da confiança que é a pedra de toque
que constrói esta nova relação entre os mundos físico e
virtual, e há um trade-off e um
conflito entre a componente
regulatória e os negócios. Tal
como há novas questões que
podem ter impacto na competitividade das empresas e do
comércio electrónico de matriz nacional pois 50% das
compras online feitas em Portugal têm como destino sites
externos. Esta diluição de
fronteiras gera mais oportunidades para o comércio electrónico mas também para os
ciberataques. Um dos aspectos em que o digital tem impacto é no facto de para produtos globais exigir standard
globais, o que coloca desafios
adicionais a empresas com
operações internacionais e
disseminadas pelo mundo.
QUARTA-FEIRA
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SUPLEMENTO
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NEGÓCIOS INICIATIVAS beyond – Portugal Digital Acceleration
COMMUNITIES & SHARING
Os dados
são capitais
Mais do que cidades inteligentes, cidadãos inteligentes, mais do que cidades felizes,
cidadãos felizes, poderiam ser motes para uma campanha autárquica, mas é mais do que
isso de uma nova vida nas cidades e comunidades urbanas. É a consequência da criação
de redes e fluxos de informação pelos interstícios dos territórios e das comunidades.
á uma proliferação de
dados nas cidades provenientes da miríade
de sensores que funcionam
como o seu sistema nervoso. O
desafio está em converter esses
dados em informação paragerar
conhecimentos que se transformem em reflexão, decisão, políticas, empreendedorismo. Sem
dados perdem-se as interacções
e a energia das start-ups. Por
isso, os dados públicos abertos
que devem ser colocados ao serviço das comunidades, mas também servem paradarumamaior
transparência das políticas públicas e um maiorenvolvimento
cidadão.
A transformação digital já
não é uma questão de recursos
económicos mas de contextos,
iniciativas, estímulos. O foco nas
cidades inteligentes que passa
pelas redes de comunicação: as
cidades paraas pessoas e das pessoas. Neste sentido, a conectividade é umvalorrelevante e as cidades como Lisboa, por exemplo, poderiam em troca da taxa
turísticaoferecerligações de internetsem custos, o que poderia
ter impacto não só no turismo
mas nas aplicações e nas informações aque os viajantes teriam
acesso.
Hoje acompetição económicaentre as cidades é muito forte
o que tem implicações nas ligações entre cidades e comunidades, nacapacitação dos recursos
humanos da administração.
Além disso, o desafio é a capacidade de aproveitar e atrair mais
talentos porque a importância
está na criatividade em criar valorapartirdos dados e dos recur-
H
sos. Por isso hoje as cidades,
como Lisboa, Barcelona, Los Angeles, SingapuraouDubaidisputamrecursos paraseremas mais
competitivas, as mais inovadoras e as mais criativas. Para isso
têm saber o que quem e que visão têm, como se organizam as
infra-estruturas e as redes de dados, como se alia a inovação social com o empreendedorismo,
desmaterialização e digitalização da administração, e maior
proficiêncianainterpermutabilidade dos dados através de plataformas que ligue os vários sistemas.
rismo jovem mas se olharmos
para a realidade verifica-se muitas vezes que paraisso acontecer
erapreciso que houvesse amatéria-prima da sociedade digital.
Estatransformação digitalacontece à medida que formos capazesdecriarnovosmodelosdenegócio, novos produtos e serviços
quetirampartidodastecnologias
e dos dados que se conseguem
capturar e obter.
Se houvesse uma cultura diferente em que as organizações
públicas e privadas fossemlibertando os dados que possam servirparaconstruirnovos serviços
e novos produtos. Háumapanópliade dados que podemsercruzados que podemalteraraforma
como se vive em comunidade.
Isto jáacontece de umaformalocal com os orçamentos participativos, aplicações do tipo o Meu
Bairro.
É preciso tirar partido da rapidez e baixo custo de alguma
inovação, mas também é importante que a legislação tente
acompanhar este ritmo, o que é
difícilpois avelocidade de inovação é muito superioràadaptação
da legislação. I
FILIPE S. FERNANDES
Tópicos
Na comunidade digital o capital de confiança (social capital) é tão importante como o
capital financeiro.
Valores de participação vs. valores de troca.
Cooperação vs. Competição
Sustentabilidade vs. Consumismo.
O cidadão é um sensor
A transformação digital está
aatingirprofundamente as cidades, os territórios, as comunidades tanto na forma como o cidadão interage com acomunidade,
a administração, as empresas e
as outras organizações e que vai
criando novos modelos de participação e de desenvolvimento
económico sustentável. Háuma
grande interpenetração entre o
que são os modelos tradicionais
de comunicação e de vivênciaem
comunidade com o que é a utilização das novas tecnologias.
O cidadão hoje com o seu
smartphone é um sensorvivo do
território mas depois muitas vezes não se têm acesso aos dados
para poder criar valor. O grande
constrangimentoparaosterritórios e das comunidades darem o
salto de transformação digitalé a
libertaçãodosdadosqueestãoretidosnaadministraçãoenaspróprias empresas. Háumatendênciaglobalparaoaparecimentode
start-ups e parao empreendedo-
Inês Lourenço
A conectividade é um factor relevante para a competitividade das cidades.
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