fasciculo nº6 - 1915-1950

Transcrição

fasciculo nº6 - 1915-1950
Enquanto isso, no Brasil e no mundo...
Semana de Arte
Moderna de 22
na Bahia
Realizada no Teatro
Municipal de São Paulo nos
dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, a Semana de
Arte Moderna foi organizada por Mário de Andrade, Oswald de Andrade,
Menotti del Picchia, Manuel Bandeira, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e outros.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
56
ANDRADE, Alberto Kirchner de. Estação de Itaú,
berço histórico de uma cidade, Itaú, Gráfica e
Editora Letrícia, 2001.
BORGES, Sebastião Wenceslau. Memoriando,
3ed, Passos, Editora São Paulo, 2003.
FAUSTO, Boris. História do Brasil, EDUSP,
2ed,1995.
GRILO, Antonio Theodoro. Sindicato Rural de
Passos, Passos, Editora São Paulo, 2002.
GRILO, Antonio Theodoro. Câmara Municipal
150 anos, Passos, Editora São Paulo, 1998.
LEMOS, Domiciano José. As Tiradas do Coronel,
São Paulo, Editora CLA, 1995.
NORONHA, Washington. História da cidade de
Passos, do Senhor Bom Jesus dos Passos, vol. 1 e 2.
PRETTI, Leonel. Lembranças de Passos, 1936.
VASCONCELOS, Elpídio Lemos de. Álbum de
Passos, 1920.
Acervo Darcy Maria da Silveira Moraes
- Fotos e documentos.
Gazeta de Passos, Edições nºs 113 a 268 de
1943 a 1945.
Tombo. Volume 1. Paróquia Santa Terezinha do
Menino Jesus. Itaú de Minas,1941-1985. p. 03-07.
EXPEDIENTE
Especial editado pelo Jornal Folha da Manhã e Fundação de
Ensino Superior de Passos - FESP
JORNAL FOLHA DA MANHÃ
Carlos Antônio Alonso Parreira - Diretor Jornalístico
Maria das Graças Lemos - Diretora Comercial
FESP/UEMG
Prof. Fábio Pimenta Esper Kallas - Presidente do Conselho
Curador
Moeda de níquel
de 1948. Ela
valia 10 centavos
e foi cunhada
em homenagem
a José Bonifácio.
EDIÇÃO
EDIÇÃO:: Carlos Antônio Alonso Parreira/ Profª. Selma Tomé
PESQUISA E REDAÇÃO: Profª. Leila Maria Suhadolnik Oliveira Pádua Andrade
REVISÃO: Prof. José dos Reis Santos
IMA
GENS E FO
TOGRAFIA
IMAGENS
FOT
OGRAFIA:: Prof. Diego Vasconcelos
PROJ
AGEM
/CAP
A : Profª. Heliza Faria
PROJ.. GRÁFICO/MONT
GRÁFICO/MONTA
GEM/CAP
/CAPA
Fascículo 06/10 - Agosto de 2008
A Semana marca o
advento do modernismo
brasileiro e é o ponto
de encontro das várias
tendências modernas
que vinham, desde a
Primeira Guerra Mundial (1914-18), se firmando em São Paulo e
no Rio de Janeiro. Tais
tendências defendiam a
liberdade nas artes e o
rompimento com os padrões europeus, inaugurando uma arte visual e letrada essencialmente brasileira.
Era V
ar
gas
Var
argas
A República do Café com Leite durou até 1930, quando, por meio da Revolução de 30, Vargas instalou um governo que durou 15 anos. Nesse período, as liberdades democráticas foram praticamente abolidas e a Constituição de
1891 foi suspensa. Os governadores eleitos foram destituídos de seus cargos,
sendo substituídos por interventores nomeados pelo governo federal.
A Era Vargas é tradicionalmente dividida em três fases.
Período Provisório (de 1930 a
1934) ou da instalação do regime varguista. Encontrou uma forte oposição por
parte de São Paulo, que liderou a Revolução Constitucionalista, iniciada em 9
de julho de 1932. O governo federal
venceu São Paulo, mas iniciou um processo de redemocratização.
De 1934 até 1937 houve um breve período chamado de Constitucional,
marcado pela elaboração de uma constituição com características democráticas
e o retorno do direito de voto.
Com a expansão dos regimes ditatoriais de direita nazi-fascista e dos movimentos da esquerda socialista, a situação política européia influenciou o
surgimento da Ação Integralista Brasileira (AIB), de inspiração fascista, e da
Aliança Nacional Libertadora (ANL), que
seguia o modelo socialista.
Esses grupos tiveram um grande
chamamento popular, dando oportunidade para os seguidores de Vargas alega-
rem, devido à insegurança que causaram
os movimentos, o perigo de uma ameaça
comunista. Vargas, aproveitando-se da
situação, deu o Golpe Cohen e ficou no
poder até 1945. A partir de 1937, o
regime ditatorial foi explícito com ações
direcionadas por dois departamentos: o
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) e o Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP).
A Segunda Guerra Mundial, que
opôs Aliados e Eixo, criou uma contradição interna no Brasil. Vargas, ditador, entrou na guerra, em 1944, para defender
as democracias aliadas. No Brasil, vozes
se levantaram, especialmente em Minas
Gerais, com o Manifesto dos Mineiros.
Vargas foi deposto em 1945, pondo fim
aos 15 anos de poder.
Logo após, foi eleito o General Dutra, herdeiro do varguismo.
Em 1946, uma nova constituição foi
elaborada, iniciando o período denominado República Nova ou populista dos
anos 50 a 60.
O Brasil na Guerra
Em pleno desenrolar da Segunda
Guerra, em janeiro de 1943, o presidente norte-americano Franklin Roosevelt
esteve em Natal, no Rio Grande do Norte, onde se reuniu com Vargas, comentando as decisões importantes tomadas na
Conferência de Casablanca. Os dois líderes estabeleceram que o Brasil colocaria
navios mercantes à disposição dos Estados Unidos e mandaria forças armadas para
a guerra, lutando ao lado dos Aliados.
A FEB foi incorporada ao Exército
Americano, passou por treinamentos de
adaptação ao clima e compreensão de instruções e armamentos. Enfrentando dificuldades, eles combateram as tropas do
Eixo na Itália em diversas regiões: Vecchiano, norte de Pisa, Massarozza, Camaiore, Monte Prano, Galiciano, Barga e Monte San Quirino, fechando a primeira fase
de operação da tomada de Castel Nuovo.
Os expedicionários da FEB, conhecidos popularmente como pracinhas, retornaram ao Brasil em julho de 1945.
Desembarcaram no Rio de Janeiro em
meio a uma grande e emocionante comemoração de recepção pelo povo.
Após os conflitos intensos que levaram à matança do Fórum, os políticos passenses canalizaram
a disputa política por meio de dois partidos, que ficaram conhecidos pelos nomes de Pato e Peru.
Após o incidente, o primeiro presidente da Câmara foi o Coronel João de Barros, que concluiu
várias obras iniciadas por Neca Medeiros: construiu o adro e as escadarias da Matriz e o Jardim
Público.
O Coronel João de Barros era alto e vermelho e por isso apelidado de Peru, enquanto seu
oponente, Joaquim Gomes de Souza Lemos, tinha baixa estatura, o que favoreceu o apelido de
Pato. Assim, surgiram as denominações de Pato e Peru.
Os célebres
Patos e Perus
50
Perus: Cel. João de Barros, Dr. Lourenço Andrade, Cel. Azarias Lemos, Cel.
Francisco de Silva Maia, Cel. José Stockler de Lima, Cap. João Inácio de Andrade, Cap. Manuel Ferreira Cardoso, Cel.
Joaquim Botrel, Cap. Lucio da Silva Maia,
Cap. Antônio Domingos, Cel. Antônio
Domingos, Cap. José Pinto Oliveira Correa, Cel. José Israel, Cap. José de Melo
Pádua, Cap. Sabino Beraldo, Cap. Francisco Cândido de Souza, Cap. Olimpio
Souza Lima, Cap. Joaquim Alves da Silva, Cap. Sinfrônio de Vasconcelos, Cel.
Adoniro José Lemos e Cel. Brígido José
Bernardes.
Patos: Cel. Joaquim Gomes S.
Lemos, Cel. Francisco Gomes S. Lemos, Cap. Urias Lopes, Cap. Eusébio,
Cap. José de Melo Coelho, Cap. José
Rodrigues Teixeira, Cap. Irineu Francisco, Cap. Vitalino Barbosa, Cap. Randolfo Vasconcelos, Cap. Evaristo da
Silveira, Cap. João de Melo Santos,
Cap. Otaviano Cintra, Dr. Mario Amâncio da Silveira, Cel. Saturnino Gomes
Grilo, Dr. Wellington Brandão e Nestor Vilela Lemos.
Os irmãos Gomes Estação Mogiana
Joaquim Gomes ficou no poder até
1915, sendo sucedido por seu irmão Francisco Gomes. Jayme Gomes, irmão dos
dois, era deputado estadual e, de Belo
Horizonte, dava um suporte político para
o Partido Pato. Assim, os irmãos Gomes
trabalharam para conseguir trazer para
Passos a Ferrovia e o Telégrafo, entrando em entendimento com a administração da Companhia Mogiana, na cidade
de Campinas, Estado de São Paulo.
Vários desencontros e incidentes
dificultaram o início dos trabalhos de
construção da estrada de ferro. No final do processo, a Cia. Mogiana exigiu
que se fizesse uma mudança no traçado inicial dos trilhos, aumentando em
70 km o percurso entre Guaxupé e
Passos, favorecendo a cidade de São
Sebastião do Paraíso.
No lançamento da pedra fundamental da Estação Mogiana de Passos, foram
colocadas no local moedas de circulação
da época, fotografias e uma cópia da ata
lavrada por Dr. Washington Noronha para
o Livro de Ouro da Municipalidade.
A Estação Ferroviária foi inaugurada em 1921, no mandato do Coronel João
de Barros. Nesse dia, duas placas estavam fixadas na parede da plataforma: uma
contendo os nomes dos vereadores que
compunham a Câmara Municipal e outra
de agradecimento à diretoria da Cia. Mogiana. Nenhuma das placas foi preservada; ambas encontram-se desaparecidas
desde a desativação da estação.
Em 1940, após várias petições do
povo passense, a empresa Mogiana colocou um trem expresso, de passageiros.
O Clube de Natal do Capitão Hilarino
Por vários
anos, o “Club”
editou um fascículo intitulado “O Natal”,
que circulava
uma vez por
ano, durante
as festas natalinas. Além de
relatos dos trabalhos desenvolvidos pelo
clube, eram incluídos contos,
poesias, homenagens a vivos
e mortos e artigos sobre Itapecerica, a cidade
natal do Capitão Hilarino.
O Clube
Infantil de
Natal foi uma
agremiação
infantil criada
em 1903,
por Hilarino
de Moraes,
para celebrar
o nascimento
do Menino
Jesus. Essas
festas eram muito populares em Portugal e denominavam-se apresentação das
Pastorinhas. O Capitão Hilarino estudou
no Colégio Caraça de Belo Horizonte e,
de lá, trouxe a tradição e os hinos. Foto
Pastorinhas. Foto Capitão Hilarino.
O “Club” foi crescendo, organizou
uma biblioteca que chegou a ter mais de
1200 volumes e ganhou prestígio entre
as famílias dos coronéis, que se envolviam com a preparação dos presépios e
das fantasias. Inicialmente, os trabalhos
foram modestos e simples; depois, as
celebrações foram ficando cada vez mais
luxuosas. Nos anos 20, além do luxo com
que se celebrava o Natal, havia disputa
entre as adolescentes para ter a honra de
participar das apresentações.
Após a morte do Capitão, a sra.
Elza Barros de Melo coordenou as Pastorinhas até os anos 80. O grupo religioso das Pastorinhas é uma encenação, na qual várias jovens vestidas de
pastoras visitam o Menino Jesus e fazem saudações por meio do canto e da
dança. Um pastor e a pastora Briosa lideram o grupo, fazendo contra-cantos.
Todo o ano preparava-se o Natal, ensaiando exaustivamente os passos e os
cantos das pastorinhas.
Os pracinhas passenses na Segunda Guerra
A partir de 1944, o Brasil envolveuse na Segunda Guerra Mundial e, devido
à presença do Tiro de Guerra na cidade,
muitos jovens passenses foram convocados para a guerra. Os nascidos em 1.922
e 1.923 fizeram parte do 12º Regimento
de Infantaria de São João Del Rey-MG,
cidade sede da infantaria, que treinou diversos jovens para compor a Força Expedicionária Brasileira (FEB).
A primeira
emissora
de rádio da
cidade
Dr. Breno Soares Maia, Jacob Negrão, José Figueiredo e Geraldo Starling
Soares perceberam a necessidade do veículo de informação e entretenimento e
foram os responsáveis pela instalação da
ZYN4 - Rádio Sociedade de Passos. No
dia 22 de dezembro de 1945, o Diário
Oficial da União publicou o decreto que
permitiu o surgimento da emissora.
O primeiro locutor a falar na Rádio
Passos, naquele dia, foi Antônio Caetano
Lemos. Desde a fundação, a emissora teve
a participação de um dos grandes comunicadores passenses: Alípio Ferreira Dias.
O primeiro operador de som e o primeiro funcionário registrado na Rádio
Sociedade Passos foi Joaquim Almeida
(Quinzinho do Cinema).
Os expedicionários de Passos
eram: Jones Pimenta de Vasconcelos,
Geraldo Silvério de Almeida, Antonio
Formágio, Lauro Sawaya, Jorge Jabur, Alfredo Lemos de Vasconcelos, João Lemos Filho, Maurício Gomes de Pádua e
Djalma Bordezan.
Embora a guerra na Europa tenha
terminado em julho de 1945, os expedicionários chegaram a Passos somente
em novembro. Foram recebidos com
grande festa na Praça da Matriz, onde foi
realizado um comício homenageando-os.
O orador oficial foi o professor Teodoro,
que assim se expressou:
“Queridos expedicionários, vocês
são as marcas luminosas de nossa era,
amado povo de minha terra.(...) meu
coração está seco como erva do campo,
diante de nós desfila um rosário de cidades desoladas, guerra sanguinolenta, cruel, destruidora desumana, implacável. A cobra fumou: lutaram em Montese, Marano, Soprassasso, Coléchio,
Fornovo, Monte Castelo. Na Itália imortal venceram as batalhas. Vocês, pracinhas passenses, representam nossos
ideais! Salve!”
Para homenagear aos pracinhas, a
antiga Rua Primeira Chapada passou a
ser chamada de Avenida dos Expedicionários passenses, e na Praça Geraldo da
Silva Maia (Praça do Rosário), foi erguido
um monumento.
Pracinhas sem
ir à Europa
Jales Machado, Antonio Coelho de Melo e Antonio Caetano (Cuecão) foram convocados pela FEB,
mas não foram
para a Europa. Permaneceram prestando serviços na
Praia de Marataízes e depois em
Vila Velha, no Espírito Santo.
A foto foi tirada em São João Del Rey, em 1943, e nela estão:
Valdomiro Caetano, Antonieta, José Caetano Lemos e Jales (de pé); de
cócoras: Antonio Coelho de Melo, Antonio Caetano (Cuecão) e demais
recrutas.
55
Em 1882, por
meio da Câmara
Municipal de Passos,
importaram-se mudas de cana. Desde
o início da formação
das fazendas, há referências aos engenhos domésticos
para a fabricação
da rapadura, do
açúcar mascavo e da
garapa.
A partir da importação das mudas, a
produção passou a
ser mais efetiva e vai
se desenvolver cada
vez mais, chegando à
formação das Usinas
Açucareiras.
A Sociedade Rural na cidade
Em maio
de 1938, por
iniciativa dos
produtores rurais, foi fundada a União Rural de Passos.
E m
1.943, a 1ª Exposição Pecuária de Passos,
realizada pela
Prefeitura e
pela Sociedade
Rural no Largo do Rosário, foi um sucesso econômico e político. Foram montadas barracas, houve leilões e shows. A
presença do cantor Vicente Celestino,
muito famoso na época, despertou no
povo grande emoção e constante presença no local.
Na Confeitaria Seleta, de Souza,
Cintra e Cia. – um bar com salões de
bilhares e snookers, na Praça da Matriz
–, havia concentração diária de zebuzeiros e agricultores de
Passos e região. A Seleta, como passou a ser chamada, transformou-se no
ponto de encontro da elite passense.
Nesse tempo, era também o reduto do
partido Peru, enquanto o bar Pingüim,
na mesma rua, acolhia o partido Pato.
Nesses bares, os homens divertiamse jogando, apostando e exibindo os lucros que conseguiam com o gado. Vacas
eram batizadas com champanhe importado e alguns, em vez de usar palha para
enrolar o famoso cigarro de palha, usavam
uma nota de 100 réis. Era o delírio!
A Igreja Presbiteriana em Passos
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Carlos Suhadolnik dirigia, em
1932, o Curtume
Santa Isabel e uma
sapataria que produzia botinas. O governo de Minas entrou
em entendimento
com o curtume para
que produzisse botinas para os soldados que lutavam na
Revolução Constitucionalista de 32. Assim foi feito. Uma
partida de botinas
foi produzida em
tempo recorde e enviada ao governo estadual, que nunca
pagou a encomenda.
A partir de 1921,
com a expansão da Missão Cristã “West Brasil”,
a propaganda do culto
evangélico foi iniciada em
Passos pelos pioneiros
Rev. Roberto Daffin e o sr.
Paulo Valetim.
Houve muita resistência aos cultos evangélicos na
cidade que, até então, era
somente católica. Em 1925,
a Congregação comprou um
terreno na Primeira Chapada e continuou a expandir as pregações.
Os católicos ficaram incomodados com a
presença do novo culto e os protestantes
queriam continuar sua missão. Foi necessária a interferência da Câmara Municipal,
especialmente do Dr. Lourenço de Andrade e de Washington Noronha, já que
católicos exaltados e radicais depredaram
o local de culto dos evangélicos.
Contornada a situação, que foi reprovada por grande parte da população
católica, a Congregação Presbiteriana de
Passos progrediu e foi pastoreada por líderes religiosos como Rev. Eduardo Lane
e Rev. Joaquim Augusto Machado. A partir de 1944, assumiu o pastorado o Rev.
Jairo Borges, que continuou à frente da
igreja até 1980, expandindo a ação pastoral para os bairros Coimbras e Bela Vista. Em 1966, a Presbiteriana e outras
igrejas evangélicas fundaram uma associação – a Servirás.
Em 1949, com o empenho de todos os congregados, foi inaugurado o
novo e majestoso templo no centro da
cidade, na Rua Cel. Neca Medeiros. O
templo é importante herança arquitetônica de Passos.
Anos 30: Passos ganha
organizações e cultura
1930
Foi fundado o Passos Club –
uma sociedade literária e recreativa com 88 sócios. Seus primeiros
dirigentes foram Dr. Sidney do
Amaral, Cel. Symphronio de Vasconcellos e Dr. Carlos José Lemos.
1934
Fundada a Associação Comercial de Passos. O primeiro presidente foi o Dr. Wellington Brandão e o secretário, Dr. Eduardo de
Carvalho. É a semente da ACIP.
Fundação da Associação Espírita Santo Agostinho. Desde a
sua fundação, dedicou-se a serviços gratuitos de ajuda à comunidade, como o Natal dos pobres,
distribuição gratuita de medicamentos, assistência social e Escolas do Evangelho. Mantém hoje
um albergue e uma creche que
atendem muitos necessitados
Foi construído o primeiro cinema de Passos – o Cine São Luiz –,
por Ângelo Oliveri. Os filmes eram
mudos, acompanhados de partituras que eram executadas ao vivo
pela exímia pianista D. Arminda.
1935
Foi fundado o Gymnásio de
Passos, um estabelecimento de ensino primário e secundário situado na Rua Cristiano Stockler, exclusivo para alunos do sexo masculino.
Fundação da Loja Maçônica
Deus Universo e Virtude na casa
do Sr. Fernandes de Souza Bueno.
1939
Em 02 de março, foi inaugurado o Cine Rex (atual Cine Roxy),
localizado na praça Presidente Getúlio Vargas (hoje Monsenhor Messias Bragança).
Residências
modernas
No período de 1912 a 1915, a Câmara Municipal estabeleceu algumas
posturas para modernizar as construções de casas, o que embelezou muito a
cidade. A Câmara encomendou ao Coronel Jorge Davis, que morava em Belo
Horizonte, alguns modelos de construções para servir de referência para os
construtores. As novas obras tiveram
que seguir, obrigatoriamente, o padrão
estabelecido pela Câmara.
Em 1919, ainda na gestão do presidente da Câmara, Francisco Gomes,
foi construído o Paço Municipal para abrigar a Câmara e, depois, a prefeitura. Tinha o estilo neoclássico com releituras
de rococó, representando um notável patrimônio da história passense. Foi durante muitos anos a sede do Fórum.
Liga Operária de Passos
Sociedade literária e recreativa
Durante os festejos de 1º de Maio,
em 1919, vários operários reuniram-se
para comemorar a data. Das conversas,
nasceu a idéia de se criar uma associação
com o nome de Liga Operária de Passos.
O seu primeiro presidente foi Leonel Pretti, o fotógrafo. Tinha como objetivos: “Proporcionar benefícios a seus associados e
contribuir para o engrandecimento da classe operária, moral e materialmente.”
Uma das primeiras providências
da diretoria foi fundar uma corporação
musical chamada Banda São José. Por
meio de apresentações, desfiles cívicos e saraus, a banda contribuiu para o
lazer dos passenses. A Liga possuía
uma biblioteca e promovia aulas noturnas e horas dançantes. Existiu até
1947, quando foi extinta.
Colégio Imaculada Conceição:
91 anos de existência
As cinco primeiras religiosas – Madre Maria del
Camino Hualde, Sóror
Mercedes D’Ávila, Sóror
Mariana Cuenca, Sóror Rafaela Perez e Irmã Rosa Alcalde – chegaram a Passos
no dia 20 de junho de
1917. O padre Dr. Eduardo de Oliveira Batista
empenhou-se para que
elas substituíssem as Irmãs da Providência, que
estavam deixando o Colégio São José e a cidade. Pe. Eduardo,
além de sacerdote da Igreja Matriz do
Senhor dos Passos, era advogado e amigo de D. Maria Bárbara de Melo, que
doou a casa grande, onde as irmãs passaram a morar. Essa casa estava situada
onde hoje é a capela do CIC.
D. Maria Bárbara, esposa do Barão
de Passos, doou também o terreno contíguo. Nesse terreno, por meio de outras doações e da renda de quermesses,
foi edificado o Colégio Imaculada Conceição. É o prédio onde moram as irmãs.
Tem um estilo neoclássico, com decoração rococó na fachada.
O “Colégio das Freiras” passou a
ser a escola das filhas dos fazendeiros e
sempre ofereceu bolsas de estudo para
famílias das classes menos favorecidas,
seguindo o exemplo da fundadora espanhola Madre Carmen Sallés. D. Maria
Bárbara era viúva e não tinha filhos. Foi
acolhida pelas irmãs, que cuidaram dela
durante a doença até a sua morte.
Em 1934, a superiora do Colégio,
Me. Rosário Tejel, contou com a ajuda
de uma comissão para iniciar uma campanha visando à construção de uma capela mais espaçosa. A casa grande foi
derrubada e no seu lugar ergueu-se a
nova capela, que foi solenemente inaugurada no dia 14 de abril de 1936. O
sino foi doado pelo Sr. Joaquim Gomes
de Pádua. Portanto, a casa das irmãs e a
capela são dois importantes registros arquitetônicos e históricos de Passos.
51
Notas políticas
De 1922 a 1927, foi presidente da Câmara o Cel. José Stockler de Lima (o Juca Stockler), que
também era do Partido Progressista ou Peru. Seu governo contribuiu para a construção da Santa
Casa e do Asilo São Vicente de
Paula. Com seu mandato, encerrou o ciclo dos coronéis.
De 1923 a 1926, foi deputado estadual o passense Dr. Bernardino Vieira de Medeiros. Estudou Medicina no Rio de Janeiro,
destacando-se no estudo de doenças cardíacas. Além da medicina e da atividade agrícola, tinha
um talento para as letras e para a oratória. Escreveu vários poemas e dedicou-se, ferrenhamente,
à política local. Liberal e boêmio, desinteressou-se pela reeleição para deputado, mudando-se da
cidade. Seus poemas mais conhecidos são: Flor Azul, Castália, Vozes, O despertar do gigante sul
americano, Terra Natal e Passos.
Em 1927, Dr. Lourenço Ferreira de Andrade foi eleito vereador e presidente da Câmara, depois de
uma acirrada disputa. O partido Peru venceu as eleições e despontou, desde esse primeiro período, a
liderança do Dr. Lourenço. Com a ditadura Vargas, ele permaneceu 18 anos dirigindo a cidade.
Lourenço de Andrade: 18 anos de poder
A arte de Jerônimo Neto na Matriz
52
No dia da reinauguração da igreja, o bispo
diocesano Dom Ranulfo da Silva Farias, ao
lado do Monsenhor
João Pedro, benzeu-a
após uma missa festiva.
Em 1925, foi composta uma comissão visando reformar a Igreja Matriz. Na
época, o pároco era o Monsenhor João
Pedro, mas a presidência dos trabalhos
foi entregue ao Padre Eusébio Leite e,
depois, ao padre Felipe de Oliveira. Participaram da comissão: Capitão Adoniro
José Lemos, Otávio de Vasconcelos, Dr.
Lourenço Andrade, Capitão Lúcio da Silva Maia, Cel. Antenor Negrão, Arlindo
de Vasconcelos Figueiredo, Cel. Evaristo
Lemos, Alfredo Gomes de Souza Lemos
e o engenheiro Dr. Arthur Löfgren. O
Cel. Azarias José Lemos também se empenhou pela reforma e a Câmara Municipal de Passos financiou a instalação elétrica da igreja.
Durante os quatro anos de trabalho, os senhores João Orlandi e David
Baldini foram os construtores. A mais
encantadora das modificações foi a decoração do teto e das laterais do altar,
feita pelo artista Jerônimo Neto.
Jerônimo Felipe da Costa Neto era natural de Formiga, onde nasceu em setembro
de 1894. De família simples, cursou até o
terceiro ano primário. Era autodidata, inteligente, habilidoso e aprendeu vários
ofícios. Residia à Rua Dois de Novem-
bro, em uma casa onde cultivava muitas
flores: miosótis, açucenas, margaridas,
rosas e cravos. Inspirado nelas começou a fazer os primeiros rabiscos. Foi
carpinteiro, alfaiate primoroso das Lojas Sarno, cozinheiro, tocava flauta e
bandolim, tendo participado da banda de
música Nossa Senhora das Dores.
Para a família, era muito dedicado: fazia
deliciosas balas de coco e muita goiabada
para guardar em caixas. As asinhas dos anjos
usadas nas coroações eram feitas por ele.
Era muito caridoso e querido: à porta da sua
casa recorriam mendigos, doentes, necessitados ou quem queria apenas um aperto
de mão e uma palavra de atenção.
Em 1927, quando iniciou o trabalho de pintura da Igreja Matriz, ele mesmo preparou a madeira, os panos para a
pintura e as tintas. No barrado das bordas do teto, foram usados mais de 80
anjinhos diferentes e várias tonalidades.
O destaque são as quatro pinturas
da nave central que rememoram o Nascimento, a Transfiguração, a morte de
Cristo e Deus Pai. O quadro do nascimento é singular, pois, numa época em
que Jesus era comumente retratado loiro e de olhos azuis, Jerônimo buscou ins-
piração nas longínquas regiões do Oriente Médio para retratar o menino com
feições peculiares.
O quadro do centro, que retrata a
Transfiguração de Jesus, é uma releitura do quadro renascentista de Rafael Sânzio. O Cristo Crucificado tem
inspiração em Velásquez, um artista
do barroco espanhol.
Essas obras são muito valiosas e formam, com o corpo arquitetônico da igreja, um valioso conjunto do patrimônio
Histórico de Passos. Não é um bem tombado, mas encontra-se muito bem conservado pela Paróquia Matriz do Senhor
Bom Jesus dos Passos.
Álbuns de Passos: preservação da História através de fotos
Em 1920, foi publicado o Álbum do Município de
Passos, organizado por Elpídio Lemos de Vasconcelos
durante o mandato do Coronel João de Barros, que
exerceu a presidência da
Câmara de 1918 a 1922.
Nas 264 páginas do
álbum, podemos perceber
como era importante o
ramo do comércio na cidade de Passos. Naquela
época, havia 146 armazéns de secos e
molhados, ferragens e gêneros; 38 negociantes de fazendas (tecidos), armarinhos
e novidades, 32 açougues de gado e porcos e 11 padarias e confeitarias.
Pelas páginas dedicadas pelo Álbum
de Elpídio às fazendas criadoras, podese observar a importância que alcançou
a criação do gado zebu na região, transformando-a num dos melhores centros
pastoris de Minas Gerais. Os fazendei-
ros retrataram seus espécimes mais valiosos
para a posteridade.
Um novo álbum
fotográfico foi organizado por Leonel Pretti, em 1936, contendo 284 páginas.
Comparando-se os registros deste com os
do Álbum do Elpídio
de 1920, pode-se
obser var um crescimento da cidade no setor comercial
e industrial, destacando-se: bancos,
hotéis, escritórios jurídicos, empreiteiros e construtores, médicos,
dentistas, advogados, alfaiates, cabeleireiros, seleiros e açougues. Entre as várias casas de comércio, estão; Casa Dois
Irmãos, de Jorcelino José Esper; Casa
Nogueira, de Alexandre de Mello Nogueira; Casa Alux; Padaria São João, de
Eduardo Moraes; Casa Brasileira, de Li-
mirio de Paula e Silva; Casa das Louças, de
J. M. Duarte; Confeitaria Seleta; Casa Confiança, de Elias Kallás, etc.
O Álbum de Leonel Pretti mostra a
urbanidade em franco progresso e, nas
entrelinhas dos textos, podemos perceber que nos anos 30, a cidade passava
por grandes modificações: estava abandonando o passado da exclusividade pecuária invernista para dedicar-se também
ao comércio e às pequenas indústrias.
Os dois álbuns, deixaram uma contribuição muito grande para o estudo histórico e para a memória fotográfica da cidade.
Durante a Revolução de 30, Getúlio Vargas assumiu o poder, destituindo
Washington Luís e impedindo a posse
de Júlio Prestes, que havia saído vitorioso nas eleições. Todos os cargos públicos foram destituídos e, para seus lugares, foram nomeadas pessoas da confiança de Vargas. Benedito Valadares foi nomeado interventor para Minas Gerais e,
aqui em Passos, Dr. Lourenço de Andrade permaneceu durante 18 anos à frente
do poder municipal, com a criação do cargo de prefeito.
Assim, quando iniciou o governo provisório de Vargas, Dr. Lourenço foi indicado para o cargo. No Período Constitucional, que durou de 1934 a 1937, Dr. Lourenço de Andrade foi reeleito para o seu
segundo mandato à frente da Prefeitura
Municipal. Deveria permanecer por quatro anos, mas ficou até 1945, devido ao
Golpe de 1937, quando foi novamente
indicado pela ditadura varguista.
Nesse período até 1942, a política passense foi marcada pelo protecionismo. Vargas, Valadares e Lourenço
representavam a aliança a favor da ditadura populista. Dr. Lourenço de Andrade exerceu um mandato com muita
ação. Um dos seus principais feitos foi
dotar a cidade de um moderno sistema
de abastecimento de água, finalizando
a canalização e concluindo a construção do reservatório da Praça do Rosário. Assim, a população estava “abastecida de puríssima água potável, com
previsão mínima de 20 anos, assinalando-se, desde já, a baixa de 50% da
mortalidade”, segundo suas próprias
palavras.
Conseguiu do governo do Estado
a construção da estrada Passos-São
José da Barra, importantíssima na ligação com a capital Belo Horizonte. A
construção do Mercado Municipal e o
calçamento das ruas Antônio Carlos,
Rui Barbosa (hoje Deputado Lourenço
de Andrade) e Avenida da Estação também foram obras de sua administração.
Dr. Lourenço preocupava-se com a
educação. Incrementou a instrução primária e secundária, com a construção de
prédios escolares, incentivando o funcionamento de 25 escolas rurais. Em 1929,
com apoio de sua esposa Blandina de
Andrade, do Cel. Azarias Lemos e do
presidente do Estado Antonio Carlos de
Andrada, foi criada a Escola Normal Oficial de Passos. O primeiro diretor foi o
Dr. Washington Álvaro de Noronha e o
secretário foi Eduardo Ferreira de Carvalho.
A escola funcionou provisoriamente na Rua do Colégio e depois foi transferida, em 1934, para o Largo do Rosário, permanecendo por 24 anos.
Lourenço Andrade promoveu também a remodelação das praças da Matriz
e do Rosário, com a criação de belos jardins, com traçado harmonioso, de inspiração européia. Pagina 188 e outras Album Pretti Dedicou especial zelo ao setor da saúde pública, reestruturando a
Santa Casa de Misericórdia, da qual era
diretor clínico.
Organizou e comandou a “Companhia de Guerra de Passos”, um grupo de
112 homens que participou da Revolução Paulista de 32. Os combatentes dirigiram-se para a região de São Sebastião do Paraíso e Guaxupé, onde permaneceram por quinze dias, evitando que
as tropas paulistas invadissem territórios de Minas Gerais.
Em 1945, a ditadura varguista estava desgastada devido a uma dicotomia
interna. O Brasil, país com um governo
ditatorial, entrou na guerra defendendo
os Aliados democratas. O governo Vargas caminhou rapidamente para a deposição e, com ele, os governantes de Estados e municípios que o apoiavam ou
que foram indicados por ele.
O longo período à frente da Prefeitura trouxe desgaste político. Dr.
Lourenço foi perdendo apoio de importantes líderes da cidade. Em 1.944,
houve eleição para a diretoria da Sociedade Rural do Sudoeste Mineiro.
Francisco Ferreira Maia, apoiado pelo
Dr. Lourenço, perdeu para José Meirelles Junqueira (dono da empresa de
energia) e isso desgastou as relações
da família com o prefeito.
Com a abertura política partidária no
país, os representantes políticos da cidade Francisco Ferreira Maia, Joaquim de
Melo Pádua e Dr. Wellington Brandão
dirigiram-se a Belo Horizonte a fim de
conversarem com o governador Valadares e pressioná-lo a destituir o prefeito.
A decisão do governador foi revelada em 10 de maio de 1.945. Dr. Lourenço foi exonerado do cargo e, para seu
lugar, foi nomeado o Dr. Geraldo Starling Soares. Houve comício, passeata e
manifestações a favor do novo prefeito
nomeado e contra o Dr. Lourenço. Foi o
fim da “Era Lourenço de Andrade”.
De 1945 a 1946, Dr. Geraldo Starling Soares, natural da cidade de Alvinópolis, deixou sua marca na história de
Passos, apesar do pouco tempo de mandato. Conseguiu uma verba de 150 mil
réis, com a qual foi construído o Estádio
de futebol que leva seu nome. Foi também um dos criadores da primeira emissora de rádio passense.
Em 1947, Lourenço de Andrade foi
eleito Deputado Estadual representando a cidade e os distritos do Glória, Alpinópolis e Delfinópolis.
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Itaú de Minas,
que pertencia a Passos, era chamado de
Córrego dos Ferros e
tinha uma indústria
de cimento Portland.
Foi a primeira fábrica a ser instalada no
Sul de Minas e era
um orgulho para a
população passense. Desentendimentos entre o Dr. Lourenço de Andrade,
que era o chefe clínico da Santa Casa,
com a empresa de
energia Siqueira,
Meirelles, Junqueira
e Cia. levaram a desavenças políticas,
culminando com a
criação do município
de Pratápolis, que
encampou a região
de Itaú.

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