Dissertação - PRPG - Universidade Federal da Paraíba

Transcrição

Dissertação - PRPG - Universidade Federal da Paraíba
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
Programa Regional de Pós-Graduação
Em Desenvolvimento e Meio Ambiente
MESTRADO
Sub-Programa UFPB/UEPB
AÇUDE JATOBÁ I, PATOS-PB:
COLONIZAÇÃO DE INVERTEBRADOS,
USOS E PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS
ATORES SOCIAIS DO SEU ENTORNO
ARTUR HENRIQUE FREITAS FLORENTINO DE SOUZA
JOÃO PESSOA - PB
Fevereiro de 2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
Programa Regional de Pós-Graduação
Em Desenvolvimento e Meio Ambiente
MESTRADO
Sub-Programa UFPB/UEPB
AÇUDE JATOBÁ I, PATOS-PB: COLONIZAÇÃO DE INVERTEBRADOS,
USOS E PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS ATORES SOCIAIS DO SEU
ENTORNO
Dissertação apresentada ao Programa Regional
de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente – PRODEMA – Universidade Federal
da Paraíba, Universidade Estadual da Paraíba em
cumprimento às exigências para a obtenção do
grau de Mestre em desenvolvimento e Meio
Ambiente.
Orientador: Francisco José Pegado Abílio
Artur Henrique Freitas Florentino de Souza
João Pessoa – PB
Fevereiro de 2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
Programa Regional de Pós-Graduação
Em Desenvolvimento e Meio Ambiente
MESTRADO
Sub-Programa UFPB/UEPB
AÇUDE JATOBÁ I, PATOS-PB: COLONIZAÇÃO DE INVERTEBRADOS,
USOS E PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS ATORES SOCIAIS DO SEU
ENTORNO
Dissertação apresentada ao Programa Regional
de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente – PRODEMA – Universidade Federal
da Paraíba, Universidade Estadual da Paraíba em
cumprimento às exigências para a obtenção do
grau de Mestre em desenvolvimento e Meio
Ambiente.
Aprovado em _____/_____/________
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________
Prof. Dr. Francisco José Pegado Abílio – DME/CE/UFPB
Orientador
_____________________________________________
Prof. Dr. Eduardo Rodrigues Viana Lima – CCEN/UFPB
Membro Interno
_____________________________________________
Prof. Dr. Ramiro Gustavo Valera Camacho – DECB/FANAT/UERN
Examinador Externo
_____________________________________________
Prof. Dr. José Etham Lucena Barbosa – DFB/UEPB
Suplente
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho a todas as formas de vidas existentes
no Cosmo, bem como a todos os organismos que
foram sacrificados para a realização deste trabalho,bem como as pessoas que
disponibilizaram seu tempo para conceder as entrevistas.
Dedico a minha Família,
Dr.Valdemar Florentino de Souza Irmão
e Louraci Freitas de Souza, ao meu irmão,
Luis Gustavo F.F. de Souza, Luana Souza (Cunhada) e “Gustavo Filho”.
Dedico também a minha esposa, Maria do Céu Azevedo.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente ao nosso grande arquiteto, o todo poderoso, o nosso DEUS,
por ter me apresentado à vida da melhor maneira possível, aonde vem sempre colocando
obstáculos para que eu possa superá-los e prosseguir em frente, aprendendo sempre com os
erros e conquistas. Muito obrigado, DEUS!
Agradeço também por todo apoio financeiro, moral e motivador que obtive dos meus
pais Dr. SOUZA IRMÃO (“meu Véio”) e Dona “LOURA” (“minha Véia”) e ao meu Irmão
LUIS GUSTAVO (que me acompanhou durante todas as coletas como motorista).
Agradeço também a todos os estagiários, mestres e mestrandos, doutores e
doutorandos que se encontram trabalhando ou já passaram pelo Laboratório de Ecologia.
Agradecimentos a Larissa Rafael, do Rotaract Club Recife, pela confecção do mapa
que está na minha dissertação. Muito obrigado pela ajuda e pela paciência! (risos!).
O meu muito obrigado à professora Mestra Luciana, da UFCG campus de Patos, por
ter me aceitado no Estágio Docência, um dos requisitos da CAPES, bem como aos
professores Zanella, Graça, Rivaldo, Elenildo, e principalmente aos Professores Dr. Juarez e
Dr. Paulo, por ter aberto as portas dessa Universidade com os seus contatos.
Ao meu amigo Thiago Pereira Chaves (Tupan), por ter me conseguido documentos
importantes para essa dissertação. Ao Thiago Ruffo (Xuxu), por ter me ajudado na
dissertação nos momentos finais.
Ao pessoal da Estação de tratamento da CAGEPA, nas pessoas de Dr. Messias, João,
Adriana, Alexandre, Rossini e Juscelino, que me ajudaram muito no momento das análises
semanais da água do açude Jatobá I. Bem como ao Hamintas, do laboratório de Águas e
Solos da UFCG campus de Patos.
Aos meus colegas do mestrado do PRODEMA, assim como agradeço muitíssimo a
Pós Dra. CRISTINA CRISPIM, pela sua simplicidade ímpar que me proporcionou e
proporciona um bem-estar quando trabalho no laboratório de ecologia, quase como se eu
estivesse em casa!
Aos motoristas: Edison (da UFPB), “Seu Dedé” (motorista do PELD),”Baleia”
(taxista de Serra Branca), por terem me transportado muitas vezes para Serra Branca antes
que eu mudasse o projeto para Patos.
Ao diretor da Escola Agrícola de Patos, Everaldo, por ter dado a oportunidade de
trabalhar na mesma.
À minha mulher, MARIA DO CÉU AZEVEDO, por ter, em muitos momentos, me
incentivado a progredir na busca de concluir trabalho, nos momentos de desespero.
Aos meus colegas do Zobentos: Thiago (Xuxu), Hugo (Hugobel), Márcio (sem noção,
Lutador de SUMÔ... rááááááá!), Antônio (Xuxa), Camila, por toda a força enquanto estava
em Jampa!
Ao Leonardo Leôncio Ribeiro por toda a ajuda na parte de estatística e traduções dos
resumos.
Ao meu orientador e excepcional amigo, FRANCISCO JOSÉ PEGADO ABÍLIO
(CHICO PEGADO).
E para aqueles que colaboraram em minha pesquisa e que não me lembrei porque é
muita gente, mas o que vale é a boa intenção.
EPÍGRAFE
Tente Outra Vez
Veja!
Não diga que a canção está perdida/
Tenha em fé em Deus, tenha fé na vida
Tente outra vez!...
Beba! (Beba!)
Pois a água viva ainda tá na fonte/
Você tem dois pés para cruzar a ponte
Nada acabou!
Queira! (Queira!)
Basta ser sincero e desejar profundo/
Você será capaz de sacudir o mundo/ Vai!
Tente outra vez!
Tente! (Tente!)
E não diga que a vitória está perdida/
Se é de batalhas que se vive a vida
Tente outra vez!...
(Raul Seixas)
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Relação do perceptor com o meio que o envolve e que com ele se relaciona.
Retirado de Pinheiro (2004) ..................................................................................................... 20
Figura 2. Localização do município de Patos, Sertão do Estado da Paraíba, inserido na SubBacia Hidrográfica do rio Espinharas, destacando o Açude público Federal Jatobá I ............. 23
Figura 3. Vista panorâmica do Açude público Jatobá I, Patos-PB.......................................... 24
Figura 1.1. Idade e tempo de vivência dos entrevistados do entorno do açude Jatobá I, Patos –
PB ............................................................................................................................................. 32
Figura 1.2. Nível de formação dos atores sociais do entorno do açude Jatobá I entrevistados,
Patos – PB entre abril a julho de 2008...................................................................................... 32
Figura 1.3. Concepções prévias dos atores sociais do entorno do açude Jatobá I, Patos-PB,
sobre Meio Ambiente ............................................................................................................... 34
Figura 1.4. Percepção dos atores sociais sobre a importância do açude Jatobá I pata a cidade
de Patos e região ....................................................................................................................... 35
Figura 1.5. Percepção dos atores sociais do entorno do açude Jatobá I sobre as atividades
humanas existentes no local ..................................................................................................... 38
Figura 1.6. Agricultura familiar nas margens do açude público Jatobá I: (A) o cultivo de
capim-elefante e hortaliças na faixa seca; (B) plantação dentro da faixa molhada do tipo
vazante, onde são cultivadas hortaliças, acompanhando o decréscimo do nível da lâmina
d’água (usando esterco e/ou NPK) ........................................................................................... 39
Figura 1.7. Limpeza do açude. (A) macrófitas retiradas e amontoadas na margem do açude
para o plantio de capim. (B) queimada das macrófitas............................................................. 40
Figura 1.8. Cercas com arame farpado no açude Jatobá I: (A) antes das chuvas no mês de
março/2008; (B) após as chuvas no mês de abril /2008. Os arames não foram removidos
durante a época das chuvas ....................................................................................................... 41
Figura 1.9.: Atividades dos pescadores realizadas no açude Jatobá I, Patos-PB. (A) pesca de
anzol; (B) outras fontes de alimentos, como por exemplo, o camarão ..................................... 42
Figura 1.10. Tipos de instrumentos utilizados pelos pescadores do entorno do açude Jatobá I,
Patos-PB ................................................................................................................................... 43
Figura 1.11. Captura do “camarão miúdo”, usado como isca de peixe. (A) Coleta com o
auxílio de um landuá;
(B) camarão obtido, juntamente com os “aruás”, circulados de
amarelo ..................................................................................................................................... 44
Figura 1.12. Covos de alumínio, confeccionados artesanalmente, utilizados para a captura do
“camarão graúdo”. .................................................................................................................... 45
Figura 1.13. Percepção dos atores sociais do entorno do açude Jatobá I sobre os problemas
(impactos) ambientais existentes no local ................................................................................ 45
Figura 1.14. Efluentes domésticos despejados nas margens do açude Jatobá I, Patos PB. ..... 46
Figura 1.15. Atores sociais do açude Jatobá I realizando pescaria com o auxílio de tarrafas no
período de chuvas (2008) ......................................................................................................... 49
Figura 1.16. Percepção de mudanças ocorridas no entorno do açude Jatobá I, Patos-PB, no
intervalo de 15 anos .................................................................................................................. 50
Figura 1.17. Construções particulares em áreas irregulares (área de proteção permanente)
impedindo o livre acesso da população do entorno ao açude Jatobá I, na cidade de PatosPB ............................................................................................................................................. 53
Figura 1.18. Opinião dos atores sociais sobre a convivência no açude Jatobá I, se era melhor
antigamente ou nos dias de hoje ............................................................................................... 54
Figura 1.19. Opinião dos atores sociais a respeito de quem deveria cuidar do açude Jatobá I,
Patos-PB ................................................................................................................................... 56
Figura 1.20. Criação de animais no entorno do açude Jatobá I, Patos-PB, no período de
março, antes das chuvas............................................................................................................ 58
Figura 1.21. Consideração dos atores sociais entrevistados sobre se o açude Jatobá I se
encontrava limpa ou suja .......................................................................................................... 60
Figura 1.22. Ator social do entorno do açude Jatobá I consumindo a água diretamente do
açude, sem qualquer tratamento ............................................................................................... 62
Figura 1.23. Lista de animais aquáticos de açude Jatobá I, Patos-PB, percebidos pelos atores
sociais do seu entorno ............................................................................................................... 64
Figura 1.24. Postura da Pomacea lineata (ova de aruá) incrustadas em estacas dentro do
açude Jatobá I ........................................................................................................................... 66
Figura 2.1. Esquema de Substrato artificial utilizada em alguns experimentos para a captura
de macroinvertebrados bentônico. (Fonte: Artur Henrique F.F. de Souza, 2009) ................... 78
Figura 2.2. Estações de coletas estabelecidas no açude Jatobá I, Patos – PB. Os números em
destaque indicam as localidades: (1) Chácara do Pedro, próximo ao sangradouro; (2) Chácara
Pedra do Meio; (3) Chácara Santa Francisca (próximo ao criatório de peixe do estado da
Paraíba ...................................................................................................................................... 82
Figura 2.3. Localização da Sede da Escola Agrícola de Patos-PB, próximo ao açude público
Jatobá I, na margem esquerda (sentido Patos -São José do Bonfim) da rodovia Estadual PB –
110 ............................................................................................................................................ 83
Figura 2.4. Cesto de polietileno contendo 1 Kg de brita 25 como substrato artificial. Acima
do cesto destaca-se uma amarra de isopor para demarcar o local de instalação no açude Jatobá
I ................................................................................................................................................. 84
Figura 2.5. – Pluviosidade mensal (mm) do município de Patos - PB entre os meses de abril e
junho/2008 (período chuvoso) e julho e setembro/2008 (período de estiagem) ...................... 95
Figura 2.6 – Pluviosidade semanal (mm) do município de Patos - PB entre os meses de abril
e junho/2008 (período chuvoso) e julho e setembro/2008 (período de estiagem).................... 96
Figura 2.7. Valores médios do pH do açude público Jatobá I, Patos – PB, entre os meses de
abril/2008 a junho (período chuvoso) e julho e setembro/2008 (período de estiagem) ........... 97
Figura 2.8. Valores médios da Condutividade elétrica da água (µS/cm) do açude público
Jatobá I, Patos – PB, entre os meses de abril e junho/2008 (período chuvoso) e julho e
setembro/2008 (período de estiagem)....................................................................................... 97
Figura 2.9. Valores médios da Temperatura da água (ºC) do açude público Jatobá I, Patos –
PB, entre os meses de abril e junho/2008 (período chuvoso) e julho e setembro/2008 (período
de estiagem) .............................................................................................................................. 98
Figura 2.10. Valores médios do Oxigênio Dissolvido (mgO2/L) do açude público Jatobá I,
Patos – PB, entre os meses de abril e junho/2008 (período chuvoso) e julho e setembro/2008
(período de estiagem) ............................................................................................................... 98
Figura 2.11. Valores médios do Total de sólidos dissolvidos (mg/L), do açude público Jatobá
I, Patos – PB, entre os meses de abril e junho/2008 (período chuvoso) e julho e setembro/2008
(período de estiagem) ............................................................................................................. 100
Figura 2.12. Valores médios da Turbidez da água (unt) do açude público Jatobá I, Patos –
PB, entre os meses de abril e junho/2008 (período chuvoso) e julho e setembro/2008 (período
de estiagem) ............................................................................................................................ 101
Figura 2.13. Valores médios da Dureza total (mgCaCO3/L) do açude público Jatobá I, Patos
– PB, entre os meses de abril e junho/2008 (período chuvoso) e julho e setembro/2008
(período de estiagem) ............................................................................................................. 101
Figura 2.14. Valores médios da Alcalinidade (mgCaO3/L), por ponto de coleta, do açude
público Jatobá I, Patos – PB, entre os meses de abril e junho/2008 (período chuvoso) e julho e
setembro/2008 (período de estiagem)..................................................................................... 102
Figura 2.15. Valores médios da Amônia (µg NH3/L) do açude público Jatobá I, Patos – PB,
entre os meses de abril e junho/2008 (período chuvoso) e julho e setembro/2008 (período de
estiagem)................................................................................................................................. 103
Figura 2.16. Valores médios do Nitrito (µg NO2/L) do açude público Jatobá I, Patos – PB,
entre os meses de abril e junho/2008 (período chuvoso) e julho e setembro/2008 (período de
estiagem)................................................................................................................................. 103
Figura 2.17. Valores médios do Nitrato (µg NO3/L), por ponto de coleta, do açude público
Jatobá I, Patos – PB, entre os meses de abril e junho/2008 (período chuvoso) e julho e
setembro/2008 (período de estiagem)..................................................................................... 104
Figura 2.18. Valores médios do Fósforo total (mgPO4/L) do açude público Jatobá I, Patos –
PB, entre os meses de abril e junho/2008 (período chuvoso) e julho e setembro/2008 (período
de estiagem) ............................................................................................................................ 105
Figura 2.19. Hábitos alimentares dos invertebrados bentônicos obtido por substrato artificial
do açude público Jatobá I, Patos-PB, no período chuvoso e de estiagem entre os meses de
abril a setembro de 2008. *Desconsiderou-se a família Chironomidae, por esta possuir vários
hábitos alimentares, de acordo com Souza e Abílio (2006) ................................................... 107
Figura 2.20. Diagrama de agrupamentos com base no índice de Bray-Curtis para as amostras
dos experimentos de colonização de substratos artificiais no Açude Jatobá I (Patos-PB) nos
períodos Chuvoso ou úmido (U) e estiagem ou seco (S) (os números associados às letras dos
períodos indicam as coletas no experimento; as linhas pontilhadas indicam agrupamentos
significativamente distintos, de acordo com o Simproof, com 1000 simulações) ................. 108
Figura 2.21. Alunos da 6º ano (A) e da 7º ano (B) da Escola Agrícola respondendo ao préteste aplicado no mês de abril de 2008 ................................................................................... 108
Figura 2.22. Porcentagens das respostas dos alunos da escola agrícola de Patos, segundo as
categorias de Sauvé (1997 e 2005), sobre Meio Ambiente .................................................... 110
Figura 2.23. Porcentagens das respostas dos alunos da escola agrícola de Patos, segundo as
categorias de Guerra e Abílio (2006), para as concepções em Educação Ambiental ............ 113
Figura 2.24. Percepções dos educandos da Escola Agrícola de Patos-PB sobre a importância
do açude público Jatobá I ....................................................................................................... 114
Figura 2.25. Percepções dos educandos da Escola Agrícola de Patos-PB sobre as atividades
humanas que ocorrem no açude público Jatobá I ................................................................... 115
Figura 2.26. Banho de açude Jatobá I, Patos-PB, como uma atividade humana percebida
pelos educandos da escola Agrícola: (A) Festejos durante a sangria; (B) jovens saltando da
“casinha”................................................................................................................................. 116
Figura 2.27. Percepções dos educandos da Escola Agrícola de Patos-PB sobre os Impactos
Ambientais que ocorrem no açude público Jatobá I ............................................................... 117
Figura 2.28. Percepção dos educandos da Escola Agrícola de Patos sobre os animais
aquáticos que habitam o açude Jatobá I, Patos-PB ................................................................. 118
Figura 2.29. Percepção dos educandos da Escola Agrícola de Patos sobre a importância dos
animais aquáticos que habitam o açude Jatobá I .................................................................... 119
Figura 2.30. Percepção dos educandos da Escola Agrícola de Patos sobre os animais
aquáticos que apresentam perigo para o homem existente no açude Jatobá I ........................ 120
Figura 2.31. Reconhecimento dos invertebrados bentônicos através das ilustrações aplicadas
aos educandos da escola agrícola de Patos ............................................................................. 121
Figura 2.32. Excursão didática desenvolvida com os alunos e professores da Escola Agrícola
de Patos-PB, no mês de Agosto de 2008 ................................................................................ 123
Figura 2.33. Pomacea lineata (aruá) e Melanoides tuberculata (aruá-parafuso) encontrados
durante as observações em campo no açude Jatobá I, Patos – PB ......................................... 123
Figura 2.34. Instalação dos substratos artificiais no açude Jatobá I, juntamente com alunos e
professores da escola agrícola de patos, nas proximidades da sede educacional estudada .... 124
Figura 2.35. (A) Coleta de substrato artificial para a captura de zoobentos, no açude Jatobá I,
com os educandos da escola Agrícola de Patos (B); mostrando, em campo, alguns animais
capturados ............................................................................................................................... 125
Figura 1.36. Aula-palestra desenvolvida na Escola Agrícola de Patos-PB referente à
importância do açude Jatobá I para a região, bem como aprofundar nos problemas ambientais
existentes nos local devido às atividades humanas ................................................................ 126
LISTA DE TABELAS
Tabela 1.1. Respostas sobre a percepção dos atores sociais sobre meio Ambiente e as
respectivas categorias, de acordo com Sauvé (2005) .............................................................. 34
Tabela 1.2. Percepção dos atores sociais sobre animais existentes no açude Jatobá I que
oferecem riscos para o ser humano........................................................................................... 68
Tabela 2.1. Abundância relativa e valores absolutos da fauna bentônica obtida dos
experimentos de substrato artificial no açude público Jatobá I (Patos-PB), no período de abril
a junho/2008, correspondente ao período chuvoso .................................................................. 89
Tabela 2.2. Abundância relativa e valores absolutos da fauna bentônica obtida dos
experimentos de substrato artificial no açude público Jatobá I (Patos-PB), no período de junho
a setembro/2008, correspondente ao período de estiagem ....................................................... 90
Tabela 2.3. Comparação entre as informações dos educandos e classificação de Sauvé (1997
e 2005) sobre as concepções de Meio Ambiente .................................................................... 110
Tabela 2.4. Comparação entre as informações dos educandos e classificação de Guerra e
Abílio (2006) sobre as concepções de Educação ambiental ................................................... 113
SIGLAS
AESA - Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba
CAGEPA – Companhia de Água e Esgoto da Paraíba
CMMA – Código Municipal do Meio Ambiente
DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra a Seca
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
MMA – Ministério do Meio Ambiente
MME – Ministério das Minas e Energias
PB – Estado da Paraíba
UEPB – Universidade Estadual da Paraíba
UFCG – Universidade Federal de Campina Grande
UFPB – Universidade Federal da Paraíba
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO GERAL ..................................................................................................... 15
Zoobentos e qualidade ecológica .............................................................................................. 16
Percepção Ambiental ................................................................................................................ 18
2. OBJETIVOS ......................................................................................................................... 21
Geral ......................................................................................................................................... 21
Específicos ................................................................................................................................ 21
3. ÁREA DE ESTUDO ............................................................................................................ 22
Açude Público Jatobá I ............................................................................................................. 22
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 24
CAPÍTULO I. PERCEPÇÃO AMBIENTAL E MULTIPLOS USOS DOS MORADORES E
PESCADORES SOBRE O AÇUDE JATOBÁ I, PATOS-PB ................................................ 26
RESUMO ................................................................................................................................. 27
ABSTRACT ............................................................................................................................. 28
1.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 29
1.2 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................ 30
1.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................... 31
1.4 CONCLUSÕES .................................................................................................................. 71
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 72
CAPÍTULO II. COLONIZAÇÃO DE INVERTEBRADOS EM SUBSTRATOS
ARTIFICIAIS E A PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS ALUNOS DA ESCOLA AGRÍCOLA
NO AÇUDE JATOBÁ I, PATOS – PB ................................................................................... 75
RESUMO ................................................................................................................................. 76
ABSTRACT ............................................................................................................................. 77
2.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 78
2.1.1 O zoobentos em Substrato Artificial ............................................................................... 78
2.1.2 Percepção e Sensibilização ambiental ............................................................................. 79
2.2 MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................................... 81
2.2.1. Área de Estudo ............................................................................................................... 81
2.2.2 Colonização do Zoobentos em Substrato Artificial ......................................................... 83
2.2.3 Índice Pluviométrico ....................................................................................................... 84
2.2.4 Variáveis Físicas e Químicas da Água ............................................................................ 85
2.2.5 Análise Estatística ........................................................................................................... 86
2.2.6 Percepção dos alunos da Escola Agrícola ....................................................................... 86
2.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................... 87
2.3.1 Colonização e Sucessão Ecológica de Invertebrados Aquáticos ..................................... 87
2.3.2 Variáveis Ambientais ...................................................................................................... 94
2.3.3 Hábitos Alimentares ...................................................................................................... 105
2.3.4 Diagnose Prévia dos Alunos .......................................................................................... 108
2.3.5 Concepções dos Educandos sobre Meio Ambiente e educação Ambiental .................. 109
2.3.6 Percepção dos educandos sobre a Importância do Açude Jatobá I................................ 114
2.3.7 Excursão Didática .......................................................................................................... 122
2.3.8 Educandos e o Substrato Artificial ................................................................................ 124
2.3.9 Atividades em Sala de Aula .......................................................................................... 125
2.4 CONCLUSÕES ................................................................................................................ 127
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 128
RECOMENDAÇÕES............................................................................................................. 130
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 131
APÊNDICES .......................................................................................................................... 138
ANEXOS ................................................................................................................................ 145
15
1. INTRODUÇÃO GERAL
O Brasil possui cerca de 11,6% da água doce disponível nos mananciais superficiais
do planeta. Entretanto, sua distribuição é muito heterogênea. Dentro dessa distribuição, a
região Nordeste é a que possui menor proporção de recursos hídricos (PHILIPPI JR, 2005).
Essa Região brasileira apresenta mais da metade de sua área com predominância da
zona semi-árida, e no Estado da Paraíba, possuindo mais de 90% de sua área total (DINIZ,
1995). Desse modo, as reservas hídricas do semi-árido são escassas em muitas localidades.
Zonas úmidas, açudes, barragens e mananciais são, em geral, estratégicas, tendo em vista sua
importância para a manutenção do homem no campo, para a manutenção da qualidade de vida
da população humana, para a sustentabilidade dos projetos de desenvolvimento econômico e
para as atividades produtivas agropecuárias.
Segundo Abílio (2002), os corpos d’água dessa região são de extrema importância
para a manutenção de suas populações, sendo seu estoque utilizado com o propósito de
irrigação, produção de peixes, abastecimento de cidades e outros.
Os açudes apresentam outra função além de fornecer água potável: eles também são
locais de fornecimento de proteína animal para as populações locais através da obtenção de
peixes (ESTEVES, 1998) e crustáceos, além de outros animais que vivem associados com o
corpo hidráulico. Porém, no Nordeste brasileiro, há uma prática muito difundida pelos órgãos
públicos que é o incentivo a introdução de peixes de origem exótica, mesmo sendo observada
uma deterioração na qualidade da água.
Estes vêm sendo cada vez mais pressionados pelas ações antrópicas e,
paradoxalmente, são vitais para a produção de alimentos e manutenção do homem no campo e
da cidade. Saber como os corpos aquáticos são utilizados e percebidos pelos seus usuários é
primordial, uma vez que muitas atividades desenvolvidas podem alterar a qualidade da água, e
causar sérios riscos para a saúde pública, principalmente quando esses ambientes são
utilizados para o consumo humano.
Esses fatores se agravam quando se tratam de açudes temporários, como os que
existem no sertão paraibano. Moredjo (1998), estudando o açude São Gonçalo, na Paraíba,
por exemplo, verificou que as atividades de irrigação às margens do açude, associadas com a
temperatura e as características geoquímicas do solo, contribuiu para o aumento da
condutividade elétrica no ambiente, e que a utilização de produtos químicos nas lavouras de
16
suas margens influenciava na qualidade da água e na dinâmica da comunidade zooplanctônica
do açude.
Segundo a resolução do CONAMA n.º 01 de 23/01/86, o impacto ambiental pode ser
definido como qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio
ambiente resultante de atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetem a saúde, a
segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as
condições estéticas e sanitárias do meio ambiente e a qualidade dos recursos ambientais.
O uso dos recursos hídricos deve atender, então, a priori, à satisfação das necessidades
básicas e à proteção dos ecossistemas aquáticos. Logo, parte-se do princípio de que a água é
um recurso indivisível e que a interligação complexa dos sistemas de água doce exige um
manejo holístico, fundamentado no exame equilibrado das necessidades da população e do
meio ambiente e certificados através de parâmetros físicos, químicos e biológicos, como
diagnóstico de sua qualidade e as atividades decorrentes destas práticas, devem envolver
ações para proteção e recuperação dos mananciais (OLIVEIRA, 2005).
Entretanto, o aumento expressivo da população humana e sua concentração formando
as cidades e/ou bairros nas proximidades dos corpos hidráulicos têm contribuído para o
quadro atual de degradação ambiental. Sendo assim, os que mais sentem com esses efeitos são
os organismos que vivem na água. Dentre esses organismos aquáticos, os invertebrados
bentônicos são os que melhores se adéquam para um diagnóstico ambiental associado com
análises físicas e químicas da água.
As informações sobre corpos aquáticos temporários da região semi-árida do Brasil
ainda são escassas, não havendo muitas informações sobre a dinâmica sazonal desses
ambientes e sobre os múltiplos usos que tradicionalmente vem sendo dados a esses ambientes.
Essas áreas vêm sendo cada vez mais pressionadas pelas ações humanas e paradoxalmente são
vitais para a produção de alimentos e manutenção do homem no campo.
Zoobentos e qualidade ecológica
Tratando-se de espécies pouco conhecidas, tanto pela ciência quanto pela população
humana que habitam o semi-árido, destacam-se os macroinvertebrados bentônicos
(zoobentos). Os macroinvertebrados bentônicos são animais visíveis a olho nu, que
apresentam organismos adaptados a diferentes condições ambientais. Devido a esta
característica, estes têm sido muito usados para indicar a qualidade das águas doces, ou seja,
são usados como bioindicadores (SILVEIRA e QUEIROZ, 2006).
17
Esta fauna compõe um grupo de grande importância ecológica em ecossistemas
aquáticos continentais, participando das cadeias alimentares, fluxo de energia para o sistema,
biorrevolvimento e também sendo um dos elos principais da estrutura trófica do ecossistema
(EATON, 2003). Além disso, a interação entre os fatores ambientais, tipo de substrato e sua
biocenose determina a composição, riqueza taxonômica e a distribuição dos invertebrados
nestes habitats (CARVALHO e UIEDA, 2004).
Os invertebrados bentônicos vêm sendo amplamente estudados, devido ao papel
relevante que desempenham no funcionamento do ambiente aquático, constituindo uma
ferramenta útil em avaliações e monitoramento ambiental.
A distribuição e abundância desses animais são alteradas pelas flutuações no nível da
água causadas principalmente pela alta taxa de evaporação, altas temperaturas e irregularidade
de precipitação, sendo, muitas vezes, utilizados como animais indicadores da qualidade da
água junto com análises físicas e químicas destes corpos aquáticos. Desta forma, permite uma
avaliação integrada dos efeitos ecológicos causados por múltiplas fontes de poluição. Esses
organismos são considerados bioindicadores porque, em determinadas condições ambientais,
os grupos mais resistentes podem se tornar numericamente dominantes, enquanto outros mais
sensíveis podem se tornar raros ou ausentes (BRIGANTE et al., 2003).
Embora se tenha um bom conhecimento sobre os invertebrados bentônicos Límnicos,
as dificuldades na identificação de espécie, principalmente na forma imatura (a maioria), é
devido à escassez de chaves de identificação, ainda se torna uma das barreiras para um
resultado mais apurado (CULLEN JR. et al., 2003). Apesar destas dificuldades, o número de
pesquisas na área de macroinvertebrados bentônicos vem aumentando na atualidade, o que a
contribuir futuramente para mais ferramentas para a identificação de espécies.
A carência de estudos sobre a biodiversidade e seus produtos, seja na forma de listas
de espécies, de manuais de identificação ou de catálogos ilustrados são fatos preocupantes,
porque muitas espécies que habitam variados ecossistemas correm sérios riscos de serem
extintas antes mesmo de se tornarem conhecidas. Essa falta de estudos sobre espécies
representativas da fauna e da flora nativas que são hoje exploradas pelo homem para obtenção
de alimento, energia, medicamentos e outros produtos, demonstra o quanto é urgente à
necessidade de se reverter esse quadro.
Por falta de estudos sobre a composição de espécies, dinâmica, estratégias contra a
dessecação, colonização e sucessão do zoobentos nestes ambientes, pretende-se fornecer,
neste trabalho, dados bioecológicos desta comunidade aquática. Esse tipo de diagnóstico de
curta duração, no açude Jatobá I, pode implicar em mais uma ferramenta para avaliar as
18
condições de qualidade ecológica, uma vez que o zoobentos, segundo a literatura
especializada, pode ser bioindicador de qualidade de água.
Todavia, se faz necessário uma interseção entre o conhecimento científico e o saber
popular para que essas informações sejam bem assimiladas pelos atores sociais com o intuito
de iniciar trabalhos futuros que abordem quanto a questão da interação homem x natureza,
como uma forma de conservá-la..
Percepção Ambiental
A percepção e leitura cognitiva da inter-relação do ser humano com o seu habitat
ocorrem por meio de signos que estimulam e contribuem na formação de crenças, construindo
os hábitos que asseguram seus costumes e os usos em relação ao meio ambiente. Esses
costumes e usos do ambiente humanos com o seu meio levam ou não a alterações ecológicas,
muitas vezes de modo significativo, produzindo impactos ambientais negativos (MUCELIN e
BELLINI, 2008).
A disponibilidade de água como um recurso essencial para a vida e atividades
humanas faz com que as cidades ou aglomerados sejam edificados próximos ou sobre o leito
de rios ou de reservatórios, como forma fácil de abastecimento (MUCELIN e BELLINI,
2008).
Quanto à importância da percepção, é por ela que iniciamos o processo de elaboração
de hipóteses (abdução), responsável pela construção das crenças que moldam os hábitos e que
estão ligados aos nossos usos, caracterizando a forma de utilização do ambiente (MUCELIN e
BELLINI, 2008).
A percepção ambiental pode ser utilizada para avaliar a degradação ambiental de uma
determinada região, pois o aporte da percepção fenomenológica pode proporcionar subsídios
para a compreensão da realidade vivida pelos indivíduos.
É através dessa compreensão que devem ser buscadas soluções para amenizar a
situação caótica gerada pela precariedade das condições de vida, em especial pela falta de
saneamento básico nos espaços onde os indivíduos são obrigados a lutarem pela
sobrevivência.
Assim dentro desse contexto, a maior preocupação é com relação à sobrevivência,
pois, na maioria das vezes, a ações que praticam, tem motivação apenas econômica e não
ambiental, onde, nesse caso, a necessidade supera a própria razão.
19
Percebe-se, que cada indivíduo tem sua interpretação de espaço, de acordo com a
realidade em que vive. O espaço vivenciado é que será refletido nas percepções E esse
parâmetro justifica a necessidade de compreender as ações de cada indivíduo, pois cada um
tem uma percepção diferente. No entanto, não existe percepção errada ou inadequada, existem
sim, percepções diferentes, condizentes com o espaço vivido.
A UNESCO (1973), já advertia que a pesquisa da percepção ambiental era de grande
importância para o planejamento do ambiente, proferindo: “uma das dificuldades para a
proteção dos ambientes naturais está na existência de diferenças nas percepções dos
valores e da importância dos mesmos entre os indivíduos de culturas diferentes ou de
grupos sócio-econômicos que desempenham funções distintas, no plano social, nesses
ambientes”.
A relação do homem com o ambiente natural é uma preocupação pertinente ao quadro
ambiental e social na atualidade, entretanto existem interesses e também conceitos distintos
para o estabelecimento de parâmetros mediadores de tais relações (OLIVEIRA e CORONA,
2008).
O homem sempre procurou expressar sua percepção sobre as relações e interações
com o meio em que vive buscando fontes de inspiração nos mais diversos fenômenos, fossem
climáticos ou decorrentes de suas ações sobre o ambiente. Através de seus registros ao longo
dos tempos, contando sua história mostrava sua relação com a natureza, apropriando-se de
seus recursos na fauna, flora e mineral para atender suas necessidades (PINHEIRO, 2004).
Nos estudos da percepção são indissociáveis o sujeito e objeto, o perceptor e o que é
vivenciado, sentido e construído, num processo contínuo, consciente ou subliminado, que vai
do racional e simbólico, ao sensorial e emocional, levando a experiências individuais e únicas.
Novos valores enriquecerão a “bagagem” cultural do indivíduo, originados de uma satisfação
ou insatisfação com a integridade do ambiente no qual ele estiver interagindo. Diferentes
comportamentos resultarão da compreensão, pelo perceptor, sobre sua relação com o
ambiente (PINHEIRO, 2004).
Nesse sentido, a Figura 1 mostra uma relação do perceptor com o meio que o envolve
e que com ele se relaciona. O perceptor vivenciará o ambiente atrelado aos seus valores
individuais e subjetivos, resultando em diferentes graus de satisfação ou insatisfação corelacionados ao estágio de integridade do ambiente com o qual se interage. Dessa interação é
que entendemos levar à aplicação dos processos para sensibilização e conscientização,
posterior ao processo racional da satisfação/ insatisfação.
20
Figura 1. Relação do perceptor com o meio que o envolve e que com ele se relaciona. Retirado de Pinheiro
(2004).
O estudo da percepção ambiental permite uma boa abrangência das inter-relações entre
os humanos e o seu meio ambiente, seja ele natural ou modificada pelo homem, pois a
produção do espaço resulta das percepções, dos processos cognitivos, julgamentos e
expectativas que cada indivíduo possui acerca de si, de sociedade e do meio em que vive.
Sendo assim, a percepção ambiental “se revela como poderoso instrumento para a
interpretação da realidade e formação de sistemas de valores” (DEL-RIO, 1999).
Já Palma (2005), diz que a Percepção Ambiental representa uma tomada de
consciência do ambiente pelo indivíduo, tendo como objetivo principal compreender os
fatores, processos e mecanismos que há em relação ao seu meio ambiente.
Pode-se verificar, através de um instrumento de pesquisa, que a percepção ambiental de
um público alvo poderá possibilitar projetos e atividades ambientais com base na realidade deste
público, favorecendo a construção de metodologias para que as pessoas tomem consciência
frente aos problemas ambientais. Aliando-se isso a educação ambiental, é possível realizar
trabalhos com bases locais. Isto é, saber como os indivíduos os quais se trabalha percebem o
ambiente em que vivem suas fontes de satisfações e insatisfações (PALMA, 2005).
Saber como os corpos aquáticos são utilizados e percebidos pelos seus usuários é
primordial, uma vez que muitas atividades desenvolvidas podem alterar a qualidade da água, e
causar sérios riscos para a saúde pública, principalmente quando esses ambientes são
utilizados para o consumo humano.
21
Enfim, a partir do acúmulo de conhecimentos sobre o perceber do ambiente pelo ator
social, suas concepções e os modos de utilizá-lo, torna-se uma ferramenta necessária para que
haja, futuramente, uma transposição do saber científico, buscando a melhor maneira de
diminuírem prováveis impactos causados por suas atividades, melhorando as relações entre o
homem e o seu meio.
2. OBJETIVOS
Geral
Avaliar a percepção ambiental de atores sociais do entorno do açude Jatobá I, com o
intuito entender as relações entre estes com o ambiente, desenvolvendo atividades de
sensibilização ambiental com educandos da Escola agrícola de Patos através das excursões
didáticas e experimentos com colonização de invertebrados bentônicos em substrato
artificial.
Específicos
•
Avaliar a percepção ambiental dos moradores e pescadores que residem e atuam no
entorno do açude Jatobá I;
•
Observar as diferentes formas de uso dos atores sociais na bacia hidráulica do
Jatobá I.
•
Avaliar a percepção dos alunos sobre a importância da vida aquática no
ecossistema em estudo, tomando como base a realização de experimentos da
colonização de invertebrados em substratos artificiais.
•
Diagnosticar o ambiente quanto à qualidade ecológica através do substrato
artificial com o zoobentos no açude Jatobá I;
•
Analisar os parâmetros físicos e químicos da água do Jatobá I para correlacionar
com os dados biológicos.
3. ÁREA DE ESTUDO
22
O município de Patos, cuja área é de 506,5km2, se localiza na região Centro-Oeste do
Estado da Paraíba, na meso-região do Sertão Paraibano, distando 300 Km da Capital João
Pessoa. Limita-se ao norte com os municípios de São José do Espinharas e São Mamede, leste
com São Mamede e Quixaba, ao sul com Cacimba de Areia, São José do Bonfim e Mãe
D'Água, e, a oeste com Malta e Santa Teresinha (Figura 2).
Ele possui um clima quente e úmido com chuvas de verão e outono, cuja pluviometria
média anual é de 715,3mm. A vegetação é do tipo Caatinga e a temperatura média anual está
entre 27 ºC e 28 ºC (BRASIL, 2005). A topografia dos terrenos do município de Patos revela
cotas situadas entre 240m e 580m. O seu relevo é predominantemente ondulado à suavemente
ondulado, possuindo vários inselbergs (Figura 3).
Esse município se encontra nos domínios da bacia hidrográfica do rio Espinharas,
principal tributário. É nessa Bacia hidrográfica que está localizado um dos primeiros corpos
de acumulação a ser construído na região: o açude Jatobá I.
Açude Público Jatobá I
O Açude Público Jatobá I, situado na periferia sul e distando 3 km do centro da cidade
de Patos-PB, foi construído pelo DNOCS, em 1953, sobre o Riacho dos Mares, e outros
pequenos riachos que pertencem à sub-bacia do Rio Espinharas, esta sendo considerada como
Tipo 3 (Bacia Média). Foi concluído em 1954, tendo a capacidade máxima de 17.516.000m3.
Seu propósito foi abastecer a cidade de Patos e as cidades circunvizinhas com água potável
(DNOCS, 1952 e 2004).
A bacia Hidráulica inundou uma área de 4.123.500m2, sendo grande parte das terras
inundadas pertencentes ao governo Federal constituído pelos Campos de Sementes Clarindo
Gouveia, do Ministério da Agricultura, e a parte restante pertencente a diversos proprietários,
onde foi demarcado e constou em desenho.
Toda a barragem, na parte montante assenta sobre a rocha firme tendo sido para a
parte jusante retirada apenas a camada superficial do terreno. À jusante, a barragem foi
formada por um enrocamento de pedras secas arrumadas que serviu para facilitar o
escoamento das águas de infiltração, baixar a linha de saturação, além de garantir maior
estabilidade ao mássico (DNOCS, 1952).
O volume calculado para o abastecimento daria para suprir 45.232 habitantes à base de
100 m3/habitantes. Anos. As principais características técnicas do açude Jatobá I, segundo o
mesmo relatório do DNOCS supracitado, são:
23
Capacidade........................................17.516.000,00 m3
Profundidade máxima........................11,66 m
Extensão máxima...............................4 km
Barragem...........................................Terra
Altura máxima...................................18,60 m
Largura do sangradouro.....................110,00 m
Descarga máxima...............................193,60 m3/s
Figura 2. Localização do município de Patos, Sertão do Estado da Paraíba, inserido na Sub-Bacia Hidrográfica
do rio Espinharas, destacando o Açude público Federal Jatobá I.
Figura 3. Vista panorâmica do Açude público Jatobá I, Patos-PB.
24
REFERÊNCIAS
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associado a macrófitas aquáticas em açudes do semi-árido paraibano, nordeste do
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25
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26
CAPÍTULO I
_____________________________________________
PERCEPÇÃO AMBIENTAL E MULTIPLOS USOS
DOS MORADORES E PESCADORES SOBRE O
AÇUDE JATOBÁ I, PATOS-PB
_____________________________________________
27
RESUMO
A maioria dos açudes no Nordeste do Brasil tem várias utilidades para a população, porém, a
pressão humana nestes corpos aquáticos, muitas vezes, tem gerado problemas devido às suas
atividades, sem a preocupação em conservá-los. Sendo assim, a percepção ambiental se
revela como poderoso instrumento para a interpretação da realidade e formação de sistemas
de valores de atores sociais que interagem com o meio em que vivem. Logo, objetivou-se
avaliar a percepção dos moradores e pescadores que vivem no entorno do açude Jatobá I com
relação à importância do açude público Jatobá I, além de verificar o modo como estes o
utilizam. A pesquisa foi qualitativa e fenomenológica, onde se seguiu uma seqüência de
perguntas abertas e gravadas com o consentimento do entrevistado. A investigação foi
realizada com 11 moradores e 09 pescadores locais, totalizando um universo de 20 atores
sociais com mais de 15 anos de vivência no entorno do açude Jatobá I. Os resultados
mostraram que havia, entre os entrevistados, uma topofilia com o local onde vivem,
entretanto, reclamam que os verdureiros estão vendendo suas terras por falta de condições.
Todos os atores envolvidos na pesquisa disseram que o açude Jatobá I é importante,
principalmente, para o abastecimento da cidade e sustento de muitas famílias que vivem no
seu entorno, como pescadores e pequenos agricultores. Porém, estes afirmaram que os
problemas existentes nesse corpo aquático foram atribuídos à poluição, a falta de zelo pelo
açude Jatobá I e a falta de fiscalização por parte dos órgãos públicos, principalmente pela
pesca predatória. Embora destacassem tais problemas, os entrevistados consideram a água do
Jatobá I limpa para o consumo in natura. Estes atores sociais perceberam, ainda, vários
animais aquáticos que vivem no local, mostrando a sua utilidade para as suas atividades,
como, por exemplo, os Macrobrachium sp. (camarões de água doce) são utilizados como isca
de peixes, além da postura da Pomacea lineata (aruá) que é usada para se fazer chá para
doenças respiratórias infantis. A maioria dos entrevistados disse que a poluição afeta a fauna
aquática. A busca da percepção e a sensibilização ambiental dos atores sociais que utilizam
os recursos naturais de forma direta de uma bacia hidrográfica podem vir a contribuir,
igualmente, para a prevenção da degradação, gestão e sustentabilidade dos recursos naturais a
ela associadas.
Palavras-chaves: Açude Jatobá I, percepção ambiental, moradores, pescadores
28
ABSTRACT
Perception of the residents and fishermen of the around of the Jatobá I reservoir, Patos-PB
Most of the dams in the Northeast of Brazil has several usefulness for the population,
however, the human pressure in these bodies aquatic, a lot of times, it has been generating
problems due to their activities, without the concern in conserving them. Being like this, the
environmental perception is revealed as powerful instrument for the interpretation of the
reality and formation of systems of social actors' values that you/they interact with the middle
in that you/they live. Therefore, this study aimed to evaluate the perception of residents and
fishermen who live at the nearby the Jatobá I reservoir, with respect to the importance of this
public reservoir, and also verify how they use it. The research was qualitative and
phenomenologic, askink and recording subject questions with the consent of the respondent.
The investigate was carried on with 11 residents and nine local fishermen, reaching a total of
20 social actors with more than 15 years living at the surroundings of the Jatobá I reservoir.
The results show that, among the respondents, there were a topofilia with the local they live,
however they claim that vegetable sellers are selling their fields because of loss of conditions.
Whole actors involved in the research told that the Jatobá I reservoir in important, mainly to
city water supply, and the livelihood of several families who live at the reservoir as well ,
such as fishermen and small farmers. However, these ones state that existing problems in this
waterbody are due to pollution, lack of zeal and supervision by the govenmets, and mainly by
predatory fisheries. Although such problems raised, the respondents consider water from
Jatobá I proper to consumption in natura. These social actors also percept several aquatic
animals who live at that place, showing the usability to their activities: for example,
Macrobrachium sp. (a freshwater prawn) is used as fish bait; and tea of Pomacea lineata’s
(aruá) egg clusters are used as medicine to breath diseases in children. The majority of
respondents told pollution affects the aquatic fauna. The search of the perception and the
social actors' environmental sensitization that you/they use the natural resources in direct way
of a hidrografic basin, they can come to contribute, equally, for the prevention of the
degradation, administration and sustainability of the natural resources to her associated.
Keywords: Jatobá I reservoir, environmental perception, residents, fishermen.
29
1.1 INTRODUÇÃO
A maioria dos açudes no Nordeste do Brasil tem várias utilidades para a população,
pois, geralmente, são as únicas fontes de água disponível nas regiões semi-áridas onde estão
localizados. Devido ao emprego múltiplo destes recursos hídricos, certas atividades, muitas
vezes, podem ocasionar problemas a outros usos, como por exemplo, a utilização de um açude
para irrigação de áreas agrícolas próximas a estes ecossistemas aquáticos, onde são utilizados
produtos químicos, que podem modificar a qualidade da água, tornando-os impróprios ao
consumo humano (MOREDJO, 1998).
O uso dos recursos hídricos deve atender, a priori, à satisfação das necessidades
básicas e à proteção dos ecossistemas aquáticos. Logo, parte-se do princípio de que a água é
um recurso indivisível e que a interligação complexa dos sistemas de água doce exige um
manejo holístico fundamentado no exame equilibrado das necessidades da população e do
meio ambiente. O estudo desse equilíbrio certifica-se através de parâmetros físicos, químicos
e biológicos, como diagnóstico de sua qualidade e, as atividades decorrentes destas práticas,
devem envolver ações para proteção e recuperação dos mananciais (OLIVEIRA, 2005).
Esses problemas têm se agravado nos mananciais que abastecem as pequenas e médias
cidades da região, porque o aumento excessivo da população humana e sua concentração
desordenada têm contribuído para o quadro atual de degradação ambiental, quando os
impactos antrópicos têm sido cada vez maiores e mais frequentes em função do grau de
desenvolvimento e da falta de conscientização ambiental.
O modelo da organização social humana, voltada para o consumo e a produção de
bens, vem modificando, negativamente, as condições naturais. Logo os países com economias
emergentes ou fortes e, conseqüentemente, agentes potencialmente poluidores precisam
encontrar uma solução que concilie proteção ambiental com crescimento econômico.
Por outro lado, a busca da percepção e a sensibilização ambiental dos atores sociais
que utilizam os recursos naturais de forma direta de uma bacia hidrográfica, podem vir a
contribuir, igualmente, para a prevenção da degradação, gestão e sustentabilidade dos
recursos naturais a ela associadas.
Merleau-Ponty (2006) diz que a percepção não é uma ciência do mundo, não é nem
mesmo um ato, uma tomada de posição deliberativa; ela é o fundo sobre o qual todos os atos
se destacam e ela é pressuposta por eles. Nota-se que percepção, nessas afirmações, não é
sinônima de conhecimento da realidade, mas é a base para a ação. Ela não é atitude, contudo
30
está inserida no ato. Para esse autor, a percepção se relaciona ao mundo sentido e vivido e não
ao juízo ou à razão.
Atualmente tem sido muito repensada a educação no semi-árido levando-se em conta
que o estudo da percepção ambiental dos atores sociais pode ser o melhor caminho que
engendrará tal proposta. Dias (2007), trabalhando em uma comunidade no semi-árido, disse
que era preciso que o conhecimento ambiental das comunidades em geral, seja valorizado e
aproveitado pelos responsáveis que tomam as decisões de políticas públicas, ao invés de
serem ignorados e desperdiçados, o que comumente acontece.
Assim sendo, objetivou-se neste trabalho analisar a percepção ambiental de moradores
e pescadores do entorno do açude Jatobá I em relação a sua importância para a cidade de
Patos e região, bem como conhecer as atividades humanas nele desenvolvidas e os possíveis
impactos decorrentes dessas mesmas atividades.
1.2 MATERIAL E MÉTODOS
A investigação se deu através de entrevistas semi-estruturadas junto aos diferentes
grupos sociais, que fundamentaram os temas definidos como fios condutores. Para isso,
utilizou-se elementos da pesquisa qualitativa utilizando-se como pré-supostos da
Fenomenologia (SATO, 2001; GIL, 2005; MERLAUT-PONTY, 2006).
Os sujeitos pesquisados pertenciam a dois grupos que residiam no entorno do açude
Jatobá I:
Grupo de moradores que residiam às margens – atores que desenvolvem atividades
agrícolas convencionais de subsistência e/ou que desenvolve a pecuária. Compreendem 11
atores, todos residentes no entorno que, apesar de não serem concessionários, não foram
proibidos de utilizarem a área.
Grupo de Pescadores que residiam nos bairros do entorno – grupo que pratica (com
cadastro no IBAMA) a pesca de subsistência tendo, geralmente, esta atividade como principal
fonte de renda familiar. O universo desse grupo entrevistado foi de 09 amostras, sendo quatro
do bairro do Mutirão, três do Bairro do Jatobá I e dois do Alto da Tubiba.
Os critérios adotados na seleção dos grupos de moradores e pescadores foram: a) ser
usuário da área; b) residir nos bairros ou propriedades rurais no entorno do açude Jatobá I há
pelo menos 10 anos; c) ter significativo entrosamento no grupo e demonstrar características
31
essenciais à natureza da pesquisa
(aspectos que se revelaram através da observação
participante).
Paralelamente, foi utilizada a metodologia "bola de neve" (BIERNACKI e
WALDORF, 1981), a qual solicitava indicações de outros atores sociais os quais indicaram
outros, repetindo-se o processo, seguindo-se os mesmos padrões exigidos.
Foi escolhido um número amostral de atores sociais influentes, no que diz respeito ao
convívio com a população local e com o modo de trabalho, respaldada na teoria de que, em
pesquisa qualitativa (MINAYO, 1994), o critério não era numérico. Considerou-se que a
amostra ideal foi aquela capaz de refletir a totalidade nas suas múltiplas dimensões,
privilegiando os sujeitos sociais que detêm os atributos que o investigador pretende conhecer.
As entrevistas semi-estruturadas foram construídas para investigar temas como:
experiências de vida, possibilidades de uso da área e percepção sobre a importância do açude
Jatobá I. Essa técnica de entrevista possibilitou que a fala fosse reveladora de condições
estruturais, de sistemas de valores, normas e símbolos.
A pesquisa foi executada no período de fevereiro a julho de 2008. As técnicas de
entrevistas gravadas em MP4, destinadas aos moradores e pescadores, foram aplicadas nas
suas residências ou local de trabalho, de acordo com a disponibilidade dos mesmos. Na
ocasião, todos os pesquisados foram informados de que suas identidades seriam mantidas em
sigilo e que suas informações seriam usadas apenas para fins científicos, onde cada
entrevistado recebeu um código, de acordo com o seu grupo: MA (Moradores nas margens do
Açude) e MP (Moradores Pescadores residentes nos bairros do entorno do açude). A
numeração após esse código revela simplesmente uma ordem.
Para a observação participante, foram feitas visitas regulares ao açude Jatobá I, com o
intuito de se registrar, em fotografias, as atividades humanas mais frequentes no local e os
decorrentes impactos ambientais.
1.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os entrevistados, residentes no entorno do açude Jatobá I, têm suas idades variando
entre 32 a 83 anos (média de 59,1) e o tempo médio de convivência no referido local foi de
38,2 anos. A Figura 1.1 mostra a idade dos entrevistados e o tempo de vivência no açude
Jatobá I.
32
Figura 1.1. Idade e tempo de vivência dos entrevistados do entorno do açude Jatobá I, Patos – PB.
Quanto à escolaridade dos entrevistados, estes apresentaram ter pouca instrução
quando não fossem analfabetos, em número razoável, como mostrado na Figura 1.2. Entre os
moradores do local o índice de analfabetismo atingiu 36,4%, enquanto que para os pescadores
essa percentagem foi menor, com 22,2%.
Para os que possuíam certo nível de escolaridade, 63,6% dos moradores e 33,3% dos
pescadores afirmaram que tinham o ensino fundamental incompleto, enquanto que 44,5% dos
pescadores o concluíram.
Figura 1.2. Nível de formação dos atores sociais do entorno do açude Jatobá I entrevistados, Patos – PB entre
abril a julho de 2008.
Os atores sociais envolvidos na pesquisa, no entanto, apresentaram, em sua totalidade,
um forte sentimento de Topofilia, o que pode influenciar as suas crenças, seus hábitos,
costumes e as formas de uso do ambiente.
33
Para Tuan (1980), o termo, Topofilia, significa o elo entre o indivíduo e o lugar ou
ambiente físico em que vive e o arraiga a sentimentos de amor à terra quase sempre difíceis de
remover. No caso em foco - atores sociais em estudo - tal sentimento pode ser explicado, em
parte, pelo tempo médio - 38 anos- que ali convivem sentindo-se satisfeitos .
Melazo (2005) diz que o ambiente natural, assim como os ambientes construídos são
percebidos de acordo com os valores e as experiências individuais dos homens onde são
atribuídos valores e significados num determinado grau de importância em suas vidas. Desse
modo, as diferentes percepções do mundo estão relacionadas às diferentes personalidades, à
idade, às experiências, aos aspectos sócio-ambientais, à educação e à herança biológica.
Quanto ao sentimento topofílico, de acordo com as respostas aos questionamentos
feitos pelo pesquisador, não houve diferença perceptiva entre os grupos de atores sociais
entrevistados com relação ao bem-estar no ambiente em que convive como se pode observar
nas respostas dos próprios moradores abaixo:
“Pra mim é o céu, porque é um lugar tranqüilo, não tem zuada e eu fico a
vontade, eu gosto de ficar dentro do roçado, crio uma galinha, crio uma
cabra, uma vaquinha pra tirar leite. Pra mim não tem lugar melhor do que
esse. Não quero rua. Tem o açude pra a gente trabalhar, né. Produzir”.
(MA1 - vive a 46 anos no local).
“Gosto daqui, porque é na beira do açude, e eu acho bom aqui, porque bem
dizer, fui nascida e criada aqui” (MA3 – convive a 57 anos no local)
“Acho bom, porque aqui é bom. Porque é onde sobrevivo, eu pesco e vivo
aqui mesmo”. (MP2 - convive a 48 anos no local)
“Gosto, com certeza. Porque eu moro aqui perto das águas onde eu pesco e
isso favorece o meu lado. Então por isso que eu gosto daqui”. (MP3 convive a 21 anos no local).
O contato com a natureza e as condições favoráveis para as respectivas profissões foi
algo benéfico identificado por estes atores sociais. Tuan (1980) trata a vinculação enraizada
dos atores sociais ao seu meio como se estivesse havendo uma intimidade física do contato
diário com os elementos da natureza e na dependência material do usufruto deste ambiente.
Diante do tempo em que esses atores sociais convivem no entorno do Jatobá I e a
experiência que lhes conferem no dia a dia, foi questionada aos mesmos, a respeito da idéia
que estes tinham sobre Meio Ambiente.
A maioria dos moradores o percebe como Natureza (36,4%), seguido da percepção
como biosfera (18,2%), enquanto que os pescadores perceberam como Natureza e como lugar
para viver, ambos com 22,2%. Outras categorias, segundo Sauvé (1997 e 2005) são
34
apresentadas na Figura 1.3. A seguir, a Tabela 1.1 exemplifica as respostas dos pescadores e
moradores.
Figura 1.3. Concepções prévias dos atores sociais do entorno do açude Jatobá I, Patos-PB, sobre Meio
Ambiente.
Tabela 1.1. Respostas sobre a percepção dos atores sociais sobre meio Ambiente e as
respectivas categorias, de acordo com Sauvé (2005).
Citações dos educandos
Classificação de Sauvé (2005)
“Todas as coisas do mundo da natureza” (MA1 convive a 46 anos no local)
Meio Ambiente como Natureza
“É a natureza” (MP1 - convive a 34 anos no
local)
“É onde nós vive, o que Deus criou” (MA 18).
Meio Ambiente como Lugar para se viver
“É o lugar onde a gente sobrevive” (MP4 convive a 49 anos no local)
“É pra deixar as coisas mais limpas, as coisas no
canto” (MA4 - CONVIVE A 32 ANOS NO Meio Ambiente como Problema
LOCAL).
“É não desmatar, se vê derrubando uma árvore
você defender”(MP9 - convive a 22 anos no
local).
“É onde a gente sobrevive da natureza” (MP6 - Meio Ambiente como Recurso
convive a 44 anos no local)
“É onde a gente tira o sustento da terra” (MA8convive a 38 anos no local)
“é tudo o que é vivo” (MP7 - convive a 50 anos Meio Ambiente como Biosfera
no local)
“Vida!” (MA6 - convive a 15 anos no local)
35
Os atores sociais apresentaram uma visão utilitarista para o ambiente, uma vez que a
natureza é algo que é de utilidade para plantas e para os animais, onde o homem está
dissociado do ambiente.
Ruskeinsky (2001), entrevistando os moradores da comunidade saco da Volta da
Mangueira, Rio Grande-RS, constatou que o meio ambiente está relacionado a lugar em que
se vive e em alguns casos como um lugar ideal, livre de degradação ambiental, ou seja, ligado
a natureza preservada.
Houve respostas de atores sociais que indicaram o açude Jatobá I como meio ambiente
a qual viviam as famílias que dele dependem, mostrando-se uma concepção de meio ambiente
como recurso. De acordo com Pinheiro (2004), o homem sempre procurou expressar sua
percepção sobre as relações e interações com o meio em que vive, buscando fontes de
inspiração nos mais diversos fenômenos, fossem climáticos ou decorrentes de suas ações
sobre o ambiente. Através de seus registros ao longo dos tempos, mostrava sua relação com a
natureza, apropriando-se de seus recursos no reino animal, vegetal ou mineral para atender
suas necessidades.
Foi proposto aos entrevistados falar sobre a importância do açude Jatobá I para a
cidade de Patos-PB e região. As respostas dos entrevistados mostraram diversas concepções,
as quais foram destacadas da Figura 1.4.
Figura 1.4. Percepção dos atores sociais sobre a importância do açude Jatobá I pata a cidade de Patos e região.
A maioria dos atores sociais entrevistados entende que a importância do açude em
questão está destinada ao abastecimento, tanto para a cidade de Patos, como para os residentes
da região do entorno, atingindo 39,1% para os moradores e 42,1% para os pescadores.
De acordo com o projeto do DNOCS (1952) a construção do açude Jatobá I estava
destinado principalmente para o abastecimento da cidade de Patos e cidades circunvizinhas.
36
No entanto, devido ao desenvolvimento da cidade de Patos, esse reservatório sozinho não
atende a demanda de água da população, sendo o abastecimento local complementada pelos
açudes de Capoeira, Farinha e Coremas-Mãe D’água.
Os entrevistados também responderam que o Jatobá I serve de fonte de renda para as
famílias que vivem no seu entorno, seja para a agricultura, criação de animais ou a pescaria,
obtendo-se um percentual de 34,8% e 36,8%, respectivamente, para moradores e pescadores.
Dentre algumas respostas, foram destacadas:
“Primeiramente para a Cidade água de beber, que é uma água especial. E
em segundo lugar, nós que vive aqui como posseiro arranjar o pão de cada
dia”. (MA1 - convive a 46 anos no local)
“Serve muito para o pessoal que gosta de plantar, de viver sobre isso, de
plantação, de principalmente verdura e outras coisas, criar uns animal
como eu crio assim, tem vaca, é bom demais. O meio ambiente também é
muita água, bastante água para a gente, pra população, e assim vamos
vivendo”. (MA4 - convive a 32 anos no local)
“Aff Maria, sem esse açude nós estamos mortos, porque vem água de toda
região, mas quem sustenta o tombo é o Jatobá I. Nós sem o Jatobá I não
temos água! Nós não temos sobrevivência sem o Jatobá I! Porque aí dá uma
verdura, uma batata, um capim, dá um peixe para a gente escapar, a gente
não tem condições de sair para outro canto todo tempo, devido a transporte,
custo de vida para fazer feira para levar pra fora. Tudo isso é difícil para
nós, então tudo tem que ser daí”. (MP4 - convive a 49 anos no local)
“Ele dá muito tempo de vida para o povo, o povo planta verdura, pra
sustentar a família, pro pescador, abastece a cidade”. (MP5 - convive a 24
anos no local)
Entretanto, 13% dos moradores enxergam o referido açude como um bem a ser
cuidado, mencionando-se os descasos da população local para com esse ambiente. Esses
reconhecem a importância da água do Jatobá I como destinada ao abastecimento, porém, seus
relatos destacam os problemas diários observados. Abaixo, seguem duas citações a esse
respeito de dois antigos moradores do entorno:
“Serve para se tomar água, isso é pra ser um açude muito limpo, mas o
povo não liga. Tomam banho dentro, sou contra o banho. Esse açude aqui
era para ser um açude muito limpo, que é aonde a gente bebe, tem que ter
zelo, zelar, limpar. Porque somos pedaço de carne podre, que nós para
morrer, morre ligeiro, toda seboseira faz mal a pessoa. O povo pensa que
37
medicina dá cura a pessoa, quem cura é DEUS e a pessoa tem que ser
limpa”.(MA2 – convive a 48 anos no local)
“Muito importante o açude Jatobá I, porque é uma água boa, aliás, era uma
água boa, agora não é mais por causa da imundice que tem, mas o jeito que
tem é a gente se virar com ela mesmo. Tem outra, para a gente tomar um
banho, para a gente lavar uma roupa é tudo dele, né! Sobre banho, lavam
roupa dentro, lava carro, faz cocô dentro, vem uns homens mais umas mulhé
ficam tudo aí dentro. Eu vi com meus olhos fazendo cachorrada dentro do
açude (sexo). Era um açude famoso, mas hoje o açude Jatobá I está um
caos”. (MA4 - convive a 32 anos no local)
Na percepção dos atores investigados, houve uma compreensão utilitarista do açude,
pois a maioria o reconhece como um recurso hídrico o qual o homem sempre poderá utilizá-lo
da forma que lhe for conveniente.
Os autores Mucelin e Bellini (2008), em estudo da percepção ambiental com
moradores da cidade de Madianeira-PR, observaram que os entrevistados também tinham
uma visão utilitarista do rio Alegre, percebendo-o como um recurso hídrico.
Para 4,3% dos moradores e 5,2% dos pescadores, a importância desse açude
representa um alto valor histórico, primordial. Estes relataram que todos os problemas da
cidade foram resolvidos com a construção do Jatobá I. Sobre tal valor, foram destacadas
abaixo as citações de um morador e um pescador:
“Jatobá I, vou dizer uma coisa: é o pai de Patos. Serve pra pescar, pra
plantar, pra verdura, pra fazer vazante, criar, Jatobá I é o pai de Patos. Eles
começaram o Jatobá I em 1953. Começaram. Quem socorria Patos era só o
Jatobá I que só tinha ele. Jatobá I sustenta 3.000 famílias” (MA6 – convive
a 48 anos no local).
Geralmente o berço dos mananciais iniciou com o Jatobá I, depois veio a
Farinha e posteriormente a Capoeira, mas ele é o berço. É aquela área
fundamental, é a história, é o eixo, é o elo de tudo é o Jatobá I. Hoje ele
abasteça assim mesmo, simplesmente com Coremas, que coloca uma faixa
de 30%. Se não fosse capoeira, farinha e o complemento do Jatobá I, a
população levava sufoco. Foi um dos primeiros que foram levado a água,
que saiu nas torneiras da população chama-se Jatobá I. É o coração. Eu
conheci o Jatobá I ele sendo retirado bastante verdura. Hoje não tem mais
esse produção de verdura como antigamente. Produção de peixe, sem
dúvida. Ninguém sabe quantas pessoas que tiram o sustento nesse açude,
plantando verdura, pescando. (MP6 - convive a 44 anos no local).
Para os atores sociais mais antigos na região, a construção do açude Jatobá I trouxe
novas expectativas de vida para a população, dando-lhes oportunidades de viverem com mais
38
dignidade, tirando o sustento dos recursos oferecidos por ele. Para esses entrevistados foi ele
quem trouxe o desenvolvimento e a qualidade de vida para a cidade de Patos-PB.
Baseado nisso, foi questionado aos entrevistados se estes poderiam citar quais as
principais atividades humanas existentes no entorno dessa bacia hidráulica, e em seguida,
quais os principais problemas (impactos ambientais) que se observam no açude Jatobá I.
Sobre as atividades humanas no açude em questão, houve diferenças de percepção
entre os pescadores e moradores. Para o grupo de moradores, a resposta mais abundante foi a
plantação de verdura, com um percentual de 27%, enquanto que para o grupo de pescadores, a
pesca alcançou 28%. Outras atividades foram citadas, conforme mostra a Figura 1.5, abaixo
mostra que os moradores perceberam mais atividades humanas (no total de 10), em relação ao
grupo de pescadores.
Figura 1.5. Percepção dos atores sociais do entorno do açude Jatobá I sobre as atividades humanas existentes no
local.
A agricultura familiar, praticada nas margens do açude, embora não seja de larga
escala, está espalhada ao redor desse corpo aquático, onde existe a plantação de vazante,
geralmente com hortaliças, e o cultivo de capim-elefante (Figuras 1.6).
39
Figura 1.6. Agricultura familiar nas margens do açude público Jatobá I: (A) o cultivo de capim-elefante e
hortaliças na faixa seca; (B) plantação dentro da faixa molhada do tipo vazante, onde são cultivadas hortaliças,
acompanhando o decréscimo do nível da lâmina d’água (usando esterco e/ou NPK).
Este tipo de agricultura foi definido por Moreira (2006) como aquela que cultiva sua
terra (própria ou arrendada) com a ajuda de sua família, contratando mão-de-obra externa
apenas para complementar o trabalho familiar (se for o caso, para a colheita, por exemplo).
A autora ainda complementa dizendo que esse tipo de agricultura segue uma lógica,
opondo-se ao capitalismo no que diz respeito à propriedade (considerado patrimônio familiar
a ser cuidado para ser transferido aos filhos) e a mão-de-obra (membro familiar, nãoexplorados).
Segundo as observações participantes no açude Jatobá I e perguntas realizadas aos
moradores entrevistados, 18,2% deles utilizam fertilizante químico como o NPK (ocorrendo
um pedido de dinheiro de um dos posseiros do entorno para a aquisição desse produto, antes
da entrevista), e 45,5% usam o esterco como fertilizante natural (mais comum e de fácil
aquisição), enquanto 36,3% não utilizam nenhum tipo de produto para as suas plantações,
justificando que a terra é boa para as plantas.
Abaixo segue as citações feitas pelos
moradores:
“Quando eu tinha meu plantio na beira d’água, quando ele ia baixando eu
ia acompanhando com a rama da batata, feijão, milho, melancia, gerimum,
pense que essa terra aí dá! Quando a gente já estava terminando de tirar,
aqui o inverno chegava e a gente ia subindo e acompanhando de novo até
cobrir tudo, só colocava adubo para o coentro crescer. Era como uma
areinha que a gente colocava nas carreirinhas e em três dias o coentro, ó!”
(MA4 - convive a 32 anos no local)
40
“Quando dá, eu planto uns negócio aqui. Planto batata, coentro. Alface.
Coloco um estrume para pegar bem as planta. E vou acompanhando a faixa
molhada”. (MA2 - convive a 48 anos no local).
Dos moradores do entorno, 9,1% responderam que outras atividades realizadas no
açude eram as queimadas nas suas margens, devido ao cultivo de capim-elefante, seja para
alimentar seus próprios animais, seja para a venda como uma forragem para o gado de
terceiros.
Essa prática esteve associada com a “limpeza do açude” a qual, em épocas em que o
Jatobá I estivesse secando, havia a retirada das macrófitas aquáticas (Figura 1.7), sendo estas
substituídas pelo capim-elefante. Abaixo, segue ma citação de um morador, revelando essa
prática no açude:
“As plantas é ruim porque tem que tirar para fora e queimar, pra poder
plantar. Tem que tirar e queimar lá mesmo. Tem umas coivaras, no período
da seca, que não tiver planta ali por perto a gente queima para não ficar
seboso o açude”. (MA10 – convive no local há 50 anos)
Figura 1.7. Limpeza do açude. (A) macrófitas retiradas e amontoadas na margem do açude para o plantio de
capim. (B) queimada das macrófitas.
Apenas (9,1%) se referiu que a remodelagem de cercas dentro do açude Jatobá I como
uma atividade, que acontece quando o açude começa a secar. Nas observações participantes
nesse corpo hídrico, constatou-se que em muitos casos, as cercas não foram retiradas da água
no período chuvoso, o que oferece perigo para os banhistas e pescadores que desse
ecossistema aquático depende, como observado na Figura 1.8.
41
Figura 1.8. Cercas com arame farpado no açude Jatobá I: (A) antes das chuvas no mês de março/2008; (B) após
as chuvas no mês de abril /2008. Os arames não foram removidos durante a época das chuvas.
De acordo com os moradores, existe um acordo entre os proprietários para que ocorra
a divisão dos terrenos, sendo as águas quem definem os lotes de cada posseiro. Abaixo, segue
um depoimento sobre isso:
“Que aqui é assim, a gente vai plantando capim quando ta pouca a água.
Quando encher cobre tudo. Bota uma cerca de arame, quando enche vai
tirando o arame. Tem as divisões de terreno é por cerca ou por riacho. O
riacho é quem decide quem vai estender a propriedade. E tem acorde entre
nós”. (MA1 - convive a 46 anos no local).
Todos os moradores que realizam essa atividade para delimitar suas propriedades no
entorno do Jatobá I, sabem que devem tirar os arames dos seus cercados à medida que o açude
vai aumentando seu nível d’água, uma vez que é proibido por lei. Contudo, no ano de 2008,
notou-se durante as entrevistas que havia um consenso entre dizendo que não haveria mais
chuvas, pois até o mês de março não havia precipitações pluviométricas.
Com as chuvas, estes foram surpreendidos com a rapidez que o açude Jatobá I elevou
seu nível, impedindo-os de retirarem os arames dos respectivos cercados. Abaixo, um
depoimento de um morador revelou tal acontecimento:
“...ali mesmo quando o açude estava enchendo, era para eles ter tirado logo
os arames com as estacas, mas eles não confiam muito em DEUS e aí dizem
que não vai cobrir não. Olha agora, está tudo coberto d’água. Daqui que
essa água seque...” (MA4 - convive a 32 anos no local).
Alguns moradores, por sua vez, se mostraram um pouco mais desconectados a cerca
dessa questão, mesmo convivendo diariamente no seu entorno. Disseram não saber quais as
atividades realizadas nesse açude (7,7%). Estes se justificam dizendo “não prestar atenção à
42
vida alheia”, ou “que estavam concentrados demais nas suas labutas diárias”, o que os
impediu de relatarem algo sobre quaisquer atividades humanas no açude Jatobá I.
Embora os pescadores, que possuam um maior acesso às diversas propriedades rurais
no entorno do açude Jatobá I, se translocando de um ponto a outro com o auxílio de uma
canoa, pudessem perceber outros tipos de atividades existentes, estes, no entanto, relataram
sobre o que mais se observava: a pesca e a agricultura.
Outra prática bastante frequente no açude Jatobá I, segundo as respostas dos
entrevistados (7,7% entre os moradores e 28% entre os pescadores) e as observações
participantes, foi a pesca (Figura 1.9), que ocorre tanto no período de estiagem quanto no
chuvoso.
Tal atividade é bastante importante para esses atores sociais do entorno que exercem
essa profissão como principal fonte de renda, visto que grande parte deles que ali residem
utilizam tal pescado para própria alimentação e sustento da família, afinal, um elevado
número de entrevistados revelou vender peixes para sobreviver.
Figura 1.9.: Atividades dos pescadores realizadas no açude Jatobá I, Patos-PB. (A) pesca de anzol; (B) outras
fontes de alimentos, como por exemplo, o camarão.
De acordo com a época do ano e o nível do açude Jatobá I, existem os tipos de
instrumentos de pescas mais apropriados: a rede de espera, o anzol e a tarrafa. O preferido
pelos pescadores, segundo seus relatos, seria a “pesca de linha”, como mostra a Figura 1.10
abaixo.
43
Figura 1.10. Tipos de instrumentos utilizados pelos pescadores do entorno do açude Jatobá I, Patos-PB
A pesca de anzol, segundo os relatos dos pescadores, pode ser praticada durante quase
todo o ano, salvo exceções e não existe nenhuma restrição para realizá-la. Dependendo do
peixe a qual se queria capturar, a pesca com esse tipo de equipamento, seria apropriada para a
obtenção do tucunaré (Cichla spp.) e/ou a traíra (Hoplias malabaricus), por serem carnívoros.
A prática com o anzol, segundo os relatos dos pescadores que usam esse tipo de
equipamento, é realizada durante o dia, para obter o tucunaré. Para captura da traíra, a pesca
se faz mais entre o final da tarde e durante a noite.
Os pescadores entrevistados utilizam como iscas, para esse fim, o camarão
(Macrobrachium sp.), a piaba (Astyanax sp.) e o aruá (Pomacea lineata).
Para a obtenção do “camarão miúdo”, os entrevistados disseram que utilizam o landuá
(conhecido também como gerereu), uma espécie de peneira que se arrasta dentro da água,
junto às macrófitas aquáticas, cujo local seria o esconderijo dele.
Para a captura do aruá, utiliza-se o mesmo processo descrito acima, uma vez que esse
animal seria muito encontrado entre as macrófitas aquáticas. A Figura 1.11 mostra o processo
de captura dessas iscas em uma das observações participantes.
44
Figura 1.11. Captura do “camarão miúdo”, usado como isca de peixe. (A) Coleta com o auxílio de um landuá.
(B) camarão obtido, juntamente com os “aruás”, circulados de amarelo.
Para a captura da piaba, utiliza-se uma garrafa PETI, com um pequeno corte no meio,
cujo interior esteja cheio de farelo de “pão-de-bóia” (pão que fica exposto ao sol durante
dias). Coloca-se esta armadilha em um local tranquilo, onde se espera por 15 a 30 minutos, o
tempo para que estes entrem na garrafa em uma considerável quantidade.
Para a pesca de linha, os pescadores utilizam malhas de acima 09 cm, o que seria
permitido de acordo com o artigo 7º, inciso I da instrução normativa no- 3, de 21 de fevereiro
de 2005 nas bacias hidrográficas do Nordeste, em açude da união (ver anexos).
De acordo com o relato dos pescadores, a pesca de linha e a tarrafa teriam melhores
resultados quando o açude estivesse secando, pois o mesmo cheio se torna ineficiente, pois há
muito espaço para os peixes.
Quando se torna adequada a realização dessa pesca, os horários costumam ir do final
da tarde ao início da manhã. Abaixo, seguem o depoimento de dois pescadores entrevistados:
“Pesco de linha, ou rede de espera. A malha teve época que era de 10 a 16
cm, (...) A gente usa tarrafa também, mas é na época que o açude está mais
baixo. Fazer com muita água, é perdido”. (MP1 - convive a 34 anos no
local).
“Uma de linha, rede de espera. Costumo colocar de 4 horas, cinco horas de
tarde e pego no outro dia de cinco horas da manhã (MP2 – convive no local
há 48 anos).
Para a obtenção do “camarão graúdo” os pescadores mais especializados nesse tipo de
pesca utilizam um tipo de armadilha, conhecida como covo, cujo interior seria preenchido de
bolinhos de pó-de-arroz ou resto de comida. Estas armadilhas seriam colocadas durante a
45
madrugada , a uma distância de 15 metros da margem e, novamente, capturadas após 24 horas
no local (concomitantemente à retirada dessas, novos covos eram colocados no local,
continuando o ciclo da pesca desse animal). A Figura 1.12 mostra um dos tipos de covos
encontrado frequentemente entre os pescadores do entorno do açude Jatobá I.
Figura 1.12. Covos de alumínio, confeccionados artesanalmente, utilizados para a captura do “camarão graúdo”.
Sobre a questão dos problemas ambientais mencionados pelos atores sociais
entrevistados (Figura 1.13), a poluição foi percebida como o maior problema existente por
parte dos pescadores (20%) e moradores (13,5%).
Figura 1.13. Percepção dos atores sociais do entorno do açude Jatobá I sobre os problemas (impactos)
ambientais existentes no local.
46
A coleta residual no entorno do açude Jatobá I ocorre duas vezes por semana nos
bairros do Mutirão e Alto da Tubiba (os mais próximos desse reservatório), não atendendo as
propriedades rurais no entorno desse corpo aquático.
Entretanto, nos relatos dos entrevistados, a poluição adveio principalmente dos
efluentes domésticos lançados no açude, do óleo proveniente de lavagens de carros, de atos
sexuais praticados, diariamente, além do lixo jogado ou esquecido, dentro do açude, pelos
banhistas. Contudo, dentro das propriedades também foram encontrados lixo e efluentes
domésticos, proveniente das residências dos entrevistados (Figura 1.14) ou de ação de
pescadores, a procura de iscas.
Figura 1.14. Efluentes domésticos despejados nas margens do açude Jatobá I, Patos PB.
Dessa maneira, os entrevistados percebem que os problemas ambientais existentes no
açude seria algo em que os mesmos estariam isentos de culpa, atribuindo esta para os demais
atores sociais ou dos governantes.
Segundo o código municipal do meio ambiente (PREFEITURA MUNICIPAL DE
PATOS-PB, 2006), o dever de fiscalizar os efluentes domésticos é competência da Secretaria
do Meio Ambiente de Patos. Porém, esta se encontra ainda em estruturação, não podendo
ainda realizar as inspeções nas propriedades do entorno do Jatobá I.
A falta de fiscalização por parte dos órgãos públicos competentes também foi
apontado tanto por pescadores e quanto moradores, como causador de problemas no referido
açude, como mostrados nas citações abaixo:
47
“Os problemas mesmo são esses daí mesmo que estou te falando! É porque
o Jatobá I não tem que olhe para ele, e ele está problemático por causa da
imundice. Aliás, todos os problemas do mundo está no Jatobá I, porque não
tem limpeza nessa água, não tem quem zele”. (MA3 - convive a 54 anos no
local)
“Problema tem, mas o pessoal não toma de conta. Não tem guarda, não tem
ninguém. Está abandonado”. (MA6 - convive a 48 anos no local)
“No açude falta o órgão competente quando ele seca para fazer uma
limpeza, por causa da sujeira, que é uma tristeza para a cidade de Patos a
gente tem o açude e a gente vê dentro do açude lavagem de carro, banho em
animais, pessoas que vão para lá fazer coisas ilícitas, por exemplo, fazer
sexo dentro d’água, é um absurdo. E não pode deixar de falar da pesca
predatória, porque os próprios pescadores eles contribuem para a sujeira
do açude Também. Eles pescam batendo buia, faz muito tipo de pesca
predatória, mas a gente sempre pede aos órgãos competentes. As famílias
correm risco por causa da poluição, por muitas coisas”. (MP1 - convive a
34 anos no local)
“É a poluição que não deveria existir, devia ter uma fiscalização, a
vigilância sanitária de saúde só olha por centro. Esse esgoto aqui é o maior
problema”. (MP3 - convive a 21 anos no local)
“Dentro da pesca a fiscalização, deixa muito a desejar. Fiscalização
federal, a colônia apenas ajuda na fiscalização. E outra coisa, é o problema
de banho no qual não poso reclamar porque a promotora que atua na
cidade de patos cortou o esse determinado ponto, porque era imoral, porque
na proporção que você tem um manancial da forma do Jatobá I, abastece a
cidade, e tem gente tomando banho, lavando carro, animal dentro e a gente
consumindo a água, eu acho errado isso. E no qual ela corrigiu. Isso é
recente, não tem nem um ano”. (MP2 - convive a 48 anos no local)
Com a falta de fiscalização e com o descaso popular a respeito desse açude, acarretou
uma série de problemas, gerando conflitos entre os profissionais da pesca, cadastrados pelo
IBAMA, e os pescadores clandestinos.
Um dos problemas revelados pelos atores sociais do açude Jatobá I foi a pesca
predatória, com uma maior porcentagem entre os moradores (13,5%) do que com os próprios
pescadores (5%). Os entrevistados afirmaram que, se não houver fiscalização mais rígida,
urgentemente, pode diminuir e/ou até acabar com a atividade pesqueira. Houve também quem
relatasse que a urbanização próxima ao açude tenha causado tal diminuição. Abaixo seguem
alguns trechos das entrevistas que revelam tais preocupações:
“Tem gente que pega mais de 100 Kg de peixe. Se ele não “bate a buia”, no
normal ele pega 15, 20, 25 peixes, no final de semana ele ta com um mói de
peixe. Mas não, o pescador tem olho grande e quanto mais pegar ele trás
48
tudo de uma vez. Até tilápia que a gente nunca costumava pegar de anzol,
tinha tanto no açude que onde a gente pescava pegava. Hoje em dia você
não vê isso mais. (MP4 - convive a 49 anos no local).”
“Quando não tinha o mutirão você podia amarrar uma linha na mão assim,
você enchia o saco de peixe, mas depois que fizeram esse mutirão é tarrafa,
é buia, aí acaba a produção de peixe. (MP5 - convive a 24 anos no local)”
Problemas com a pesca predatória e da falta de uma constante fiscalização também foi
constatado por Feitosa (2000), analisando a percepção dos atores sociais ligados ao Parque
Ecológico de Engenheiro Ávidos, no Município de Cajazeiras - PB, onde os depoimentos de
pescadores afirmavam que pessoas não-cadastradas pelo IBAMA invadiam o local e
realizavam a tal pesca, com equipamentos proibidos no açude Engenheiro Ávidos.
Ruskeinsky (2001) verificou que os entrevistados da comunidade Saco da Mangueira, na
Lagoa dos Patos, Rio Grande, RS, associaram a pesca predatória com a ineficiência dos
órgãos fiscalizadores.
Entretanto, um dos pescadores cadastrados pelo IBAMA revelou que usa um tipo de
malha abaixo do permitido pela lei para poder sobreviver, uma vez que a pesca no Jatobá I
não estava satisfazendo as suas necessidades básicas, evidenciando não ser um problema
restrito aos pescadores clandestinos. De acordo com Pinheiro (2004), os indivíduos são
obrigados a lutarem pela própria sobrevivência, pois assim, dentro desse contexto, a maior
preocupação é com relação à sobrevivência, porque, na maioria das vezes, a reciclagem que
praticam, tem motivação apenas econômica e não ambiental. A necessidade (sobrevivência)
fala mais alto que a própria razão (reciclagem).
Em observações participantes realizadas no entorno do açude Jatobá I, verificou-se um
grande intervalo de tempo entre uma inspeção e outra realizada pelo IBAMA (órgão
fiscalizador), principalmente contra a pesca predatória. Um respeitado membro da Colônia de
Pescadores Z-19, identificado neste trabalho como MP6, disse: “a colônia de pescadores ajuda
na fiscalização, mas não pode fazer nada quando o referido órgão fiscalizador não está
presente, pois não podemos prender ninguém”.
O IBAMA, na portaria nº 8, de 1º de fevereiro de 2008 (Anexo), proibiu a pesca nos
açudes públicos do estado da Paraíba devido ao período do Defeso, correspondente a 15 de
dezembro de 2007 a 15 de março de 2008, para que haja a reprodução de algumas espécies de
peixes, como o Piau (Pseudoplatystoma sp.) e a Curimatã (Prochilodus sp.) Nesse período,
os pescadores receberam indenizações do Governo Federal para não praticarem a sua
49
profissão. Abaixo, seguem as citações de dois pecadores sobre a proibição do IBAMA na
época das chuvas:
“Não só o Jatobá I, mas em todos os açudes da união. Que é o defeso. Do
dia 15 de dezembro a 15 de março”. (MP6 - convive a 44 anos no local).
“Do dia 15 de dezembro a 15 de março (...) Eles proíbem por causa da
época do defeso, época da reprodução do piau, da curimatã. Peixes que
desovam em água corrente. Quando não tinha o defeso, na época que o
açude Jatobá I sangrava, enchia de gente, era carro, era moto, bicicleta,
tinha gente de todo jeito pegando o peixe e carregando pra rua, queriam
saber se pegavam”. (MP1 – convive a 34 anos no local).
Entretanto, segundo as observações participantes em questão, foi observado e
registrado em fotografias que no período em que o açude Jatobá I estava transbordando (início
de abril de 2008), havia atores sociais utilizando tarrafas e rede de arrasto como mostra a
Figura 1.15.
Figura 1.15. Atores sociais do açude Jatobá I realizando pescaria com o auxílio de tarrafas no período de chuvas
(2008).
De acordo com as designações impostas pelo IBAMA, estes atores sociais não
estavam infringindo a lei. Todavia, de acordo com o pescador MP6, esse órgão fiscalizador
deveria rever as suas leis para açudes do sertão:
“Estamos tentando até prolongar para o dia 01 de janeiro até o final de
abril, porque o peixe produz normalmente sem problema. Não fizeram uma
correção, a gente perdeu um mês e a pesca começa quando o peixe está
desovando (MP6 - convive a 44 anos no local).
“Mas tem um projeto aí que eles estão querendo aumentar pra 4 meses. A
gente só sabe quando a portaria chega”. (MP1 – convive a 34 anos no
local).
50
Esse relato requer uma reavaliação por parte do IBAMA a respeito das datas
estabelecidas para a proibição da pesca em regiões do semi-árido, onde as irregularidades das
chuvas são constantes.
No caso, no ano de 2008, as precipitações pluviométricas ocorreram já no final de
março, logo após a data limite imposta pelo órgão fiscalizador sobre a proibição da pesca para
os que estavam cadastrados na colônia de pescadores. Dessa forma, o verdadeiro período de
desova não foi respeitado, permitindo que pescadores profissionais e amadores atuassem no
açude Jatobá I, sob os auspícios da Lei.
Outro problema também observado pelos atores sociais e não encarado como um tal
pelos agricultores familiares foi a substituição das macrófitas aquáticas pelo cultivo de capimelefante. Observou-se que quem desenvolve esse tipo de atividade não associa a um impacto
ambiental no açude Jatobá.
Para eles, isso não causaria nenhum tipo de prejuízo para o ambiente em que se vive.
A percepção dos moradores sobre as plantas aquáticas foi que estas deixam o referido corpo
aquático sujo, o que estimulava a sua “limpeza”. A substituição das macrófitas aquáticas pelo
capim-elefante ou qualquer outro cultivo, infelizmente, não é pontual. Assim, a questão do
valor econômico também pode imperar nas ações humanas no meio ambiente.
Quando questionados sobre a ocorrência de mudanças nos últimos 15 anos no entorno
do açude Jatobá I, os entrevistados relataram sobre as diferenças entre o passado e o presente.
Dentre os moradores, 100% contaram mudanças durante as duas décadas passadas, as quais
são mostradas na Figura 1.16.
Figura 1.16. Percepção de mudanças ocorridas no entorno do açude Jatobá I, Patos-PB, no intervalo de 15 anos.
51
Dentre as mudanças positivas percebidas pelos moradores (45,5%), houve melhorias
decorrentes do desenvolvimento da região (condições de uso do ambiente e eletrificação).
Abaixo, seguem algumas citações dos atores sociais que relataram que houve mudanças no
local:
“Mudou muito. Mudou que não tinha morada, não tinha energia. O governo
eletrificou o redor do açude, deu esse direito de nós trabalhar plantando
fruteira, planta capim, planta roçado, mudou muito a convivência na vida
do Jatobá I que era só a cascata de terra seca. Mudou para muito melhor, é
o céu”. (MA1 - vive a 46 anos no local).
“Mudou um pouco, porque muitas granjas que tem, muitas chácaras aí ao
lado e outras pessoas aí. Muitas, plantas, plantações de coqueiro... é bom,
né?”. (MA4 - convive a 32 anos no local)
Segundo Bergmann (2007), com relação às mudanças ocorridas, os entrevistados de
Giruá-RS, disseram que o ambiente havia melhorado, referindo-se a infra-estrutura e
construção de novas casas, porém, poucas pessoas tinham o conhecimento de que esse
desenvolvimento se refletia na qualidade de ambiente aquático, no que diz respeito aos
múltiplos usos por parte de seus moradores do entorno.
Para Scatena (2005), a valoração da paisagem pode estar associada a afetividade em
relação ao lugar. Muitas vezes, locais com fortes indicativos de baixa qualidade ambiental,
como falta de água encanada, rede de esgoto, coleta de lixo, podem assumir um alto valor pela
população local.
Já para os moradores que perceberam mudanças ocorridas no entorno desse
ecossistema aquático e associaram como um fator negativo (54,5%), um dos principais
argumentos foi o descaso com o açude em questão, atingindo além da falta de condições de
muitos antigos moradores do seu entorno. Abaixo, segue uma citação de dois moradores que
resumem sobre tais mudanças no Jatobá I:
“Mudou é que aqui só viviam os verdureiros, né. Plantando a verdura para
sobreviver, aí os verdureiros safados foi vendendo aos barão, os barão foi
comprando e foram levantando seus prédios de luxo, fazendo suas galerias
correndo para dentro do açude Jatobá e lá ficou só tem barão. Você conta
os flagelados plantando para sobreviver. Mudou muito por isso! Mudou
para pior, porque não tem quem queira trabalhar na beira do açude,
querem fazer ‘malvadia’ pra fazer galeria e os cocô deles correr para
dentro do açude”. (MA3 - convive a 54 anos no local)
52
“Mudou o escândalo que eles fazem. Não atendem. Pra você vê, naquele
tempo, se tivesse uma mulher lavando roupa, eu chegava e pedia e ela saía e
não vinha mais, se tivesse alguém lavando carro, pedia e ele saía. Hoje não
tem quem faça isso. Você chega e faz o que quiser ali dentro. Não tem mais
guarda como tinha antigamente. A noite eles vinham, mas se não desse jeito
a gente chamava a polícia. No tempo que eu trabalhava como vigia, quando
o açude enchia, as cercas eram tiradas. Agora ele botam até no meio do
açude, e os animais mijam, cagam tudo dentro do açude. Hoje piorou”.
(MA6 - convive a 48 anos no local)
Dentre os pescadores, registrou-se um percentual de mesma equivalência, tanto para
os que perceberam as mudanças como positivas quanto negativas, com 44,4%, obtendo-se
apenas um pescador que não as percebeu (11,2%).
A respeito das mudanças positivas, as condições de pesca, com a criação da colônia de
pescadores Z 19 e a fiscalização do IBAMA na área foram os fatores que favoreceram a
profissão da pesca no açude. Abaixo, segue uma citação de um pescador do açude Jatobá I:
“Mudou, porque logo quando a gente fez esse açude e a gente chegamos
aqui pra pescar, a gente não podia nem pescar porque os proprietários não
aceitavam, né. Esse povo que foram indenizadas as terras ficaram como
donos. Aí a gente chegava pra pescar e eles não queriam aceitar, né. A
gente pescava, mas oculto né, quando era bem cedinho, ninguém tava mais
dentro d’água, todo mundo tinha tirado o peixe e vendendo na rua. Hoje
não, hoje está uma liberdade total porque esse negócio do IBAMA está
muito diferente. Depois dessa associação a gente tem direito de pescar não
só no Jatobá I, mas em qualquer açude do governo e ninguém diz mais
nada, a gente entra em toda a propriedade, sai e ninguém fala mais nada.
Mudou tudo”. (MP2 - convive a 48 anos no local).
Com a criação da Colônia de pescadores, houve uma melhoria nas condições de pesca
e uma padronização dos equipamentos necessários para o desenvolvimento da pesca nos
açudes da região, principalmente do açude Jatobá I. Foi com essa Colônia que os pescadores
foram instruídos sobre os cuidados com o meio em que atuam, recebendo portarias que
determinam ou não a proibição da pesca no local.
Percebeu-se que, além disso, os pescadores se sentem mais orgulhosos com sua
profissão, que vem se tornando cada vez mais reconhecida com a criação da Colônia.
Como mencionado pelos moradores, os pescadores também relataram, como uma
mudança negativa que ocorreu durante pelo menos os últimos 15 anos, foi que a venda de
terrenos às margens do açude Jatobá I, transformando-se em áreas de laser, nos finais de
semana.
53
“De um ano pra cá, a coisa mudou, um não, depois que essa promotora
entrou, a coisa mudou no Jatobá I. Porque se via colocar um carro lá dentro
do açude, lavava ele lá, chegava com um animal lavava, todo mundo
tomando banho, e nós consumindo a água do Jatobá I. Isso é uma das coisas
negativas. Aqui também havia umas plantações de fumo, era logo aqui no
bar da mangueira e ao lado da ilha do Antero, faz mais ou menos uns 15
anos que pararam. Os produtores de verduras começaram a vender os
terreninhos para as pessoas mais recursosas, para transformar em área de
laser. Isso é uma coisa que mudou e continua mudando. Para o açude
mudou para pior. Para quem comprou, tem uma área de laser, quer divertir
brincar, ta bom. Mas não deixa de jogar um copo descartável, uma garrafa
e outras coisas mais”. (MP6 - convive a 44 anos no local)
Esse fato vem ocorrendo devido às pressões econômicas ou faltas de incentivos,
tornando a vida dos agricultores pobres, muitas vezes no limite da sobrevivência, difícil,
impedindo que estes continuem em suas propriedades, pois muitos deles não encontrando
condições suficientes para manter suas famílias nas propriedades rurais, vendem a terra à
procura de melhores oportunidades, muitas vezes nas cidades.
Os antigos proprietários, que há muito tempo convivem uns com os outros em prol das
plantações e criações de animais, vivendo de ajuda mútua, não aceitaram com empatia os
antigos posseiros que decidem vender suas propriedades no entorno do açude. Assim, os
novos proprietários que adquiriram as terras para transformá-las em áreas de lazer, para os
antigos moradores que ali permaneceram, não são considerados como igual, o que inicia uma
relação de antipatia entre os antigos e os novos moradores do entorno do açude. A Figura
1.17 mostra o que vêm acontecendo nos últimos anos nas margens do açude Jatobá I.
Figura 1.17. Construções particulares em áreas irregulares (Área de Proteção Permanente - APP) impedindo o
livre acesso da população do entorno ao açude Jatobá I, na cidade de Patos-PB.
54
Assim, foi questionado aos entrevistados, em relação à vivência e a sua profissão
nesse açude, se estes gostavam mais do açude Jatobá I antigamente ou nos dias atuais. Dentre
as respostas dos pescadores, 55,5% disseram que gostavam mais antigamente e 11,5% nos
dias de hoje, enquanto que os moradores o percentual atingiu 36,6% tanto para os que
afirmaram gostar do açude nos dias de hoje, quanto antigamente.
Já os atores sociais que responderam “tato faz”, estes disseram “gostar do açude da
mesma maneira”, onde o percentual dos moradores e pescadores alcançou 27,3% e 33,3%,
respectivamente (Figura 1.18).
Figura 1.18. Opinião dos atores sociais sobre a convivência no açude Jatobá I, se era melhor antigamente ou nos
dias de hoje.
Uma das respostas mais freqüentes fornecida pelos pescadores que disseram que
gostavam mais do açude nas épocas passadas, a “Batida de Buia” (uma prática de pesca
predatória proibida por lei, que consiste em cercar uma área com redes de malhas, geralmente
em locais de grande concentração de macrófitas aquáticas, e promover uma pancadaria na
água, provocando a fuga dos peixes dos esconderijos, por ficarem atordoados com o barulho,
forçando-os a ficarem presos na malha), seguido pelo aumento do número de pescadores
(cadastrados) atuando no açude Jatobá I, implicando na diminuição de peixes. Abaixo, segue
um relato de um pescador a respeito desse assunto:
“Gostava mais antigamente, porque não tinha esse mutirão não, o mutirão o
pessoal bate buia e acaba a produção. Quando fizeram o mutirão aí
acanalharam mesmo. Quando não tinha o mutirão você podia amarrar uma
linha na mão assim, você enchia o saco de peixe, mas depois que fizeram
esse mutirão é tarrafa, é buia, aí acaba a produção de peixe”. (MP5 convive a 24 anos no local)
55
Corroborando com a informação acima, Pinheiro (2004), observou nas respostas
fornecidas pela população ribeirinha do rio Piraí, Joinville-SC, com relação a conhecimentos
práticos com a Ictiofauna, que onde havia atividade antrópicas nesse ambiente lótico,
percebeu-se uma diminuição de peixes por parte dos entrevistados.
Sendo assim, foi perguntado aos pescadores se aumentou ou diminuiu a quantidade de
peixes no açude Jatobá I de um tempo para cá. O número de pescadores entrevistados que
afirmaram que aumentou a quantidade de peixes foi de 55,5%. Entretanto, os que afirmaram
um aumento de cardume no açude Jatobá I, justificaram que, embora tivesse muito peixe, pois
foram introduzidos vários tipos de alevinos pelos próprios pescadores, não estavam sendo
capturados devido à “frieza” da água, como mostrado no depoimento abaixo:
“Tem aumentado ultimamente, porque o pessoal sempre solta e esse ano foi
muito bom de inverno então vem peixe de todo canto. No momento não ta
dando devido a frieza da água, mas tem muito peixe tem. O peixe no tempo
frio não sai não. A água estando gelada, o peixe não anda”. (MP3 - convive
a 21 anos no local)
Em análises físicas e químicas da água realizadas no açude Jatobá I, constatou-se que
no período de estiagem, entre julho a setembro de 2008, a temperatura chegou ao valor médio
de 24,6 ºC, devido às fortes ventanias que ocorriam.
Mas para 44,5% dos pescadores, a pesca predatória estava acabando com o estoque de
peixes do açude Jatobá I, mesmo com a introdução de alevinos. Isso mostra que existe uma
competição desleal entre os pescadores clandestinos e os cadastrados pelo IBAMA. Abaixo,
segue um relato de um pescador entrevistado:
Diminuiu, e muito, porque através dessa buia. O peixe não cai porque ele é
para cair... ele é empurrado. Faz um cerco num canto lá e desce o cacete. É
claro que o peixe vai correr. Tem gente que pega mais de 100 Kg de peixe.
Se ele não bate a buia, no normal ele pega 15, 20, 25 peixes, no final de
semana ele ta com um mói de peixe. Mas não, o pescador tem olho grande e
quanto mais pegar ele trás tudo de uma vez. Até tilápia que a gente nunca
costumava pegar de anzol, tinha tanto no açude que onde a gente pescava
pegava. Hoje em dia você não vê isso mais. (MP9 - convive a 22 anos no
local).
Outro problema encontrado no açude Jatobá I, embora não tenha sido relatado pelos
atores sociais, diz respeito à introdução de espécies exóticas, como a tilápia-do-nilo
(Oreochromis niloticus). Apesar dos benefícios sócio-econômicos que a introdução desta
espécie pode trazer para a região, esta pode causar também inúmeros problemas ambientais.
56
Cardoso (2006) e Marinho et al., (2006), ambos estudando os açudes do Cariri paraibanos,
dizem que a introdução da tilápia nos ambientes aquáticos do Nordeste acarreta a extinção de
espécies nativas e alterações na qualidade do habitat.
A respeito disso, foi questionado quem deveria cuidar do açude Jatobá I. A maioria
das respostas, tanto pelos pescadores quanto dos moradores atingiu 63,6% cada, diz que os
órgãos públicos ou governantes são responsáveis pela integridade do corpo hídrico, onde esta
não se incluía na responsabilidade por participar de tal fiscalização. Enquanto que 36,4% dos
moradores e 9% dos pescadores afirmaram que todos deveriam ter consciência e cuidar do
açude Jatobá I, sejam a população, os órgãos públicos competentes e os governantes (Figura
1.19).
Figura 1.19. Opinião dos atores sociais a respeito de quem deveria cuidar do açude Jatobá I, Patos-PB.
Algumas citações foram destacadas:
“Acho que todo esse povo que mora aqui, os da cidade, os de fora, os fiscais
do governo. Todos têm que ter a responsabilidade”. (MA1 - convive a 46
anos no local)
“Os Governantes. Porque os governadores que entram não olham para
açude Jatobá I. Você vai num baldo do açude que você vê que não é um
baldo”. (MA3 - convive a 54 anos no local)
“O IBAMA e o pessoal que usa o Jatobá I. Todo mundo, porque se não for
assim, ninguém sai ganhando”. (MP9 - convive a 22 anos no local)
“Todo mundo tem que ter a consciência de que esse açude deve se cuidado,
porque ele serve para todos. Mas seria bom se os órgãos do governo
intensificassem a fiscalização aqui”. (MP2 - convive a 48 anos no local)
Os entrevistados cujas respostas incluem que somente os órgãos públicos devem
fiscalizar e cuidar do açude Jatobá I, inserem a estes toda a responsabilidade de zelar pela
57
integridade desse ambiente aquático, excluindo-se de qualquer responsabilidade, não tomando
nenhuma providência a esse respeito.
Alda e Rodrigues (2005) também constaram essa visão unilateral quando
questionaram a comunidade ribeirinha pelo destino do rio Magu, no Estado do Maranhão,
onde as respostas indicavam que os órgãos públicos ou governo deveria cuidá-lo.
Segundo a lei nº 9433 de 8 de janeiro de 1997 capítulo I, inciso VI, a gestão dos
recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do poder Público, dos
usuários e das comunidades. Já o artigo 162 do Código do meio ambiente de Patos diz que
qualquer pessoa pode denunciar a prática de infração ambiental ou dirigir representação por
escrito a SEMADS, para efeito do exercício do seu poder de polícia, cabendo aos seus
servidores apurar de imediato as denúncias que chegarem ao seu conhecimento, mediante
processo administrativo próprio, sob pena de co-responsabilidade nos termos da lei.
Sendo assim, boa parte dos atores sociais entrevistados desconhece sobre a Política
Nacional dos Recursos Hídricos (PNRH), pois não se sente responsável por ajudar na
fiscalização do açude Jatobá I. Os pescadores, ao contrário, por estarem relativamente
organizados pela Colônia Z 19, e por terem o IBAMA como principal parceiro, estes
conhecem, em sua maioria sobre tais políticas.
Pinheiro (2004), estudando a percepção ambiental da população ribeirinha do rio Piraí,
Município de Joinville, Santa Catarina, constatou que os moradores criticam e fiscalizam
quando há problemas relacionados com irregularidades com a pesca no local, indicando uma
preocupação para com a conservação da ictiofauna. Nesse trabalho, foi verificado um indício
da existência de uma etnoconservação local, pois muitas vezes, pescadores amadores eram
abordados com violência por estarem usando equipamentos proibidos.
Zitzke (2002) diz que o conhecimento do ambiente em sua totalidade (biológico,
político, social, cultural, econômico, estético, educacional, paisagístico, sanitário, religioso,
etc.) e dos problemas que estão associados a ele e da presença da humanidade nele, é
fundamental para que os indivíduos e grupos sociais obtenham uma responsabilidade crítica.
Isto leva a uma análise do próprio comportamento, a uma mudança de atitude, de
procedimentos individuais ou coletivos, ou seja, uma ação, e não se restringir a um
“conformismo social”, substituindo a ação pelo comportamento, como vêm fazendo a
sociedade contemporânea.
Durante a realização da observação participante, registrou-se em quase todo o entrono
do açude que a criação de animais, principalmente a bovina, estava presente, como mostrado
na Figura 1.20.
58
Figura 1.20. Criação de animais no entorno do açude Jatobá I, Patos-PB, no período de março, antes das chuvas.
Sendo assim, quanto à questão da criação de animais, foi questionado aos moradores e
pescadores se estes achavam que de alguma forma prejudicam as águas do Jatobá I. Das
respostas fornecidas, houve dois grupos de representações, tanto para pescadores quanto
moradores: os que dizem que acarretaria problemas, uma vez que todos os dejetos desses
animais seriam, direta ou indiretamente, misturados com a água; e os que dizem que não faz
mal algum para a qualidade da água.
Entretanto, apenas dois atores sociais, equivalente a 10% das respostas não souberam
responder sobre o assunto. A seguir, os depoimentos transcritos por alguns do atores sociais:
“É claro, porque só a urina, o esterco, quando chove corre tudo pra dentro,
né”. (MA2 – convive a 48 anos no local)
“Preciso dizer? É o cocô e os xixi das vaca tudo indo pra dentro do açude.
É uma
imundice”. (MA3 - convive a 54 anos no local)
“Um pouco, por exemplo na Universidade o gado come dentro d’água. Faz
todo trabalho ali. O gado mija, caga, porque entra em contato com a água e
de todo jeito polui. A poluição é mínima porque é muita água, mas se fosse
menos água...” (MP3 - convive a 21 anos no local)
“Não, não prejudica porque o seguinte, o gado que vive ao redor do Jatobá
I todos tem cuidado nos seus gadinhos. Se alguma sai, na mesma hora eles
vão buscar. Às vez, tem algumas que bebem água, mas sai logo. Não vou
informar você sobre mentira. Eles mesmo tem higiene no Jatobá I, eles usam
a água, mas não deixa os bichos fazer de jeito nenhum seboseira ao redor
d’água não”. (MA1 - convive a 46 anos no local8)
“Não, porque não sou contra a ninguém, cada qual cuida de sua vida. Não
porque esse gado não vai para dentro d’água, só fora, e pra prejudicar é
aquelas águas que vem das roças, desses pés-de-serra, e animal do mesmo
jeito”.(MP2 - convive a 48 anos no local)
59
Inclusive, um dos moradores entrevistados afirmou que o gado evitaria doenças para a
cidade, o que para ele, a presença desse animal no Jatobá I é algo de útil não só para o dono,
como para as populações vizinhas. Abaixo, segue a sua citação:
“De jeito nenhum. O estrume de gado serve até de remédio. O bafo de gado
se o cara fizer uma casa pra morar e faça um curral para sentir o bafo do
gado serve até de remédio. Aqui em Patos teve um tempo que trouxeram o
gado de fora para curar a bexiga. Urina de gado, quando eu morava no
sítio, quando tinha conjuntivite e amanhecia com os olhos pregados a gente
lavava com urina de gado. O estrume serve de adubo para a terra”. (MA9 convive a 43 anos no local)
Ribeiro (2004), diz que perceber, todavia, não é um ato que depende apenas do
ambiente em si, pois o que o indivíduo percebe nem sempre é o que o ambiente é, mas o que
seus sentidos apreendem a partir de seu filtro cultural. Ou seja, que a percepção do ambiente
está estreitamente ligada com a história e a cultura que fora impregnado.
Do ponto de vista limnológico, Moredjo (1998) diz que a pecuária, apesar de ser
exercida em pequena escala, também pode influenciar negativamente a qualidade da água
através da defecação dos animais que circulam livremente nas margens do ambiente aquático.
No presente trabalho, foram feitas análises da água realizadas no açude Jatobá I
demonstrando os níveis das variáveis Amônia, Nitrito, Nitrato e Fósforo total (141,59 µg
NH3/L, 6,88 µg NO2/L, 43,21 µgNO3/L e 99,84 mgPO4/L, respectivamente) as quais não
ultrapassaram os índices recomendados pelo CONAMA para açudes destinados ao
abastecimento (ver Apêndices e Anexos), indicando que, mesmo com a criação de animais
nas margens do açude, não ofereceu grande risco para a qualidade ecológica do açude em
questão.
Após essas perguntas, para saber em qual o grau de qualidade em que o açude Jatobá I
se encontrava, na percepção dos entrevistados, foi questionado se o mesmo ambiente aquático
era considerado limpo ou sujo. Na Figura 1.21, mostram, em porcentagem, as respostas dos
moradores e pescadores.
60
Figura 1.21. Consideração dos atores sociais entrevistados sobre se o açude Jatobá I se encontrava limpa ou
suja.
Das respostas obtidas pelos moradores, 54,5% obteve-se que o açude se encontrava
limpo, enquanto que os pescadores (33,3%) afirmaram que a água estava igualmente limpa.
Dentre as respostas dos atores sociais entrevistados, MA1 mereceu destaque devido a sua
argumentação, como mostrado abaixo:
“O açude mais limpo da região e do estado é o açude Jatobá I. Falam em
poluição, mas é o açude mais limpo é o Jatobá I. Qual é o açude que não
tem poluição? Que o açude de Coremas tem 35 cidades despejando todo
desperdício pra dentro de Coremas. Jatobá I é o açude mais limpo que tem
porque tem o bairro do alto da Tubiba, um pedaço do São José do Bonfim, e
das fazendas dos fazendeiros da região”. (MA1 - convive a 46 anos no
local).
Verificou-se, no entanto, que as respostas mais freqüente com relação a qualidade da
água, por parte dos pescadores, foram enquadradas na categoria “meio termo” pois estes
justificaram que “dependendo do local onde eles estivessem, a água era limpa ou suja”.
Isso pode ser devido a estes profissionais percorrerem, em suas canoas, uma grande
distância de um ponto a outro do açude, o que os faz perceber uma realidade, embora não
cientificamente comprovada: de que haja locais mais e menos poluídos.
Para os moradores, ao contrário, eles que se ajustam aos seus meios de subsistência
em função de suas propriedades e/ou negócios, onde muitas vezes ficam limitados, mostramse mais generalistas com relação aos problemas do seu ambiente. Sendo assim, se suas
propriedades estiverem inseridas dentro de lugares bastante impactados ou não, a sua
61
percepção, restrita àquele lugar, tende a crer que todos os outros locais estão igualmente
impactados ou não.
A “crendice” entre os atores sociais é de que a água do Jatobá I é boa. Isso motiva a
que muitos pescadores e moradores do seu entorno a ingeriram in natura, sem qualquer tipo
de tratamento ou receio de contrair doenças. Baseado nisso, foi questionado se os
entrevistados bebem água do próprio açude, sem nenhum tratamento.
As respostas foram que os pescadores consomem água como uma última alternativa,
caso a sua água trazida de casa para o seu consumo, durante o trabalho, tenha se esgotado ou
os mesmos tenham esquecido de levá-las. Assim, muitos pescadores afirmaram que, sem
quaisquer constrangimentos ou temor captam a água diretamente do açude para consumi-la,
como verificado em depoimentos:
“Quando a gente ta pescando, a gente bebe água do açude mesmo. As vezes
a gente esquece de levar a água de casa”. (MP1 - convive a 34 anos no
local)
“Bebo. Sempre faço isso quando saio na canoa”. (MP4 - convive a 49 anos
no local)
“Às vezes eu pego uns gole d’água quanto tou na pescaria. Quando dá a
sede, eu tomo. Só num tomo quando ele ta secando muito”. (MP2 - convive
a 48 anos no local)
“Só quando a água que eu levo para beber de casa não dá, aí é que eu pego
a água do açude Jatobá I. Mas prefiro minha água gelada”. (MP2 - convive
a 48 anos no local)
Já para os moradores, o consumo in natura da água do açude é menos frequente,
encontrando-se apenas cinco moradores (45,5%) que disseram que beberiam água sim,
enquanto que a maioria deles (54,5%) respondeu que preferia água tratada (da CAGEPA).
Embora as respostas negativas fossem as mais frequentes entre esse grupo, não houve um
forte argumento para justificar esse fato. Abaixo, seguem algumas citações dos moradores
sobre essa questão:
“Não, porque só gosto de água tratada”. (MA1 - convive a 46 anos no
local)
“Não e nem quero. Porque esse açude é uma imundice”. (MA3 - convive a
54 anos no local)
62
“Ah, quando tou passeando pelo açude e dá vontade de tomar água, eu bebo
ali mesmo e não só sou eu que faço isso não”. (MA7 - convive a 15 anos no
local)
“Bebo sim. Aqui ela é limpa e só cato água onde tem goife (ninféias)”.
(MA9 - convive a 46 anos no local)
Durante uma entrevista realizada com o morador identificado neste trabalho como
MA7, na margem do Jatobá I, no momento em que foi questionado se este beberia água do
próprio açude, o mesmo fez uma pausa nos seus relatos, entrou no açude e, justificando que
estava com sede, começou a ingerir a água na zona litorânea. Essa atitude foi registrada, como
mostra a Figura 1.22, no mês de fevereiro de 2008, uma semana antes das primeiras chuvas,
momento em que o corpo aquático estava com 35% da sua capacidade (ver anexos).
Figura 1.22. Ator social do entorno do açude Jatobá I consumindo a água diretamente do açude, sem qualquer
tratamento.
Lemos e Guerra (2004), estudando a percepção ambiental no meio rural em MaquinéRS, verificou que a grande maioria da população da localidade ainda utilizava a água sem
nenhum tipo de tratamento. Os autores disseram que o consumo de água in natura por grande
parte dos seus entrevistados pode ser considerado um grave problema de saúde pública.
Os mesmos ainda afirmam que as doenças relacionadas com a água, e que afetam a
saúde do homem, são muito difundidas e abundantes nas áreas rurais dos países em
desenvolvimento e sua incidência depende de diversos fatores, dentre eles a distribuição, a
quantidade e qualidade da água de abastecimento.
No presente trabalho, foram realizadas análises da água do açude Jatobá I,
verificando-se que as variáveis ambientais Alcalinidade, Dureza Total e Salinidade Total (ver
Capítulo II e Apêndices) atingiram valores médios de 11,2 mg CaCO3/L, e 43,8 mg
63
CaCO3/L e 0,1 mg/L, respectivamente, indicando que, principalmente quanto a terceira
variável, estava dentro dos limites estabelecidos pela resolução do CONAMA, sendo
classificada como água doce esse corpo aquático, comprovando-se, assim, as afirmações dos
entrevistados (ver Anexos). Entretanto, neste trabalho não foram realizadas análises de
coliforme fecal e total, o que ainda pode oferecer riscos a saúde humana.
Foi perguntado aos entrevistados sobre a percepção da fauna aquática no açude Jatobá
I. A maioria dos atores sociais teve dificuldade em lembrar os nomes de animais que vivem na
água do ambiente em questão, exceto quando se tratava de peixes, cujas respostas atingiram
70,3% entre os pescadores e 45,1% para os moradores do entrono do Jatobá I. Abaixo, estão
destacadas os grandes grupos de animais (Figura 1.23).
Observa-se que para os moradores, estes perceberam os animais que foram mais
visíveis fora da água, como aves, anfíbios e invertebrados. Ao contrário, o mais perceptível
para os pescadores foi a fauna aquática propriamente dita ou que vive boa parte do tempo
debaixo d’água.
Muitas vezes, os entrevistados constantemente percebiam outros organismos aquáticos
no seu dia a dia, mas, ou não eram lembrados por entenderem que tais animais eram
insignificantes, comercialmente falando, ou por não saberem o nome vulgar do animal.
Os pescadores foram mais precisos lembrar-se da fauna aquática em relação aos
moradores. Isto, sem dúvidas, pode estar associado ao tipo de contato que estes profissionais
da pesca possuem em relação ao ambiente. Acostumados a não só da pesca no açude Jatobá I,
mas de outros corpos aquáticos, os pescadores passam a perceber que esses tipos de animais
são comuns na maioria dos ecossistemas aquáticos.
Dentre os animais aquáticos listados pelos atores sociais, o Tucunaré foi o mais
representativo, tanto para os pescadores (11,2%) quanto para os moradores (8,3%). A tilápia e
o piau foram também muito comentados pelos pescadores, atingindo 10% cada, do total de
respostas. Já para os moradores, a traíra e a piaba alcançaram cada uma, o percentual de 6,9%.
64
Figura 1.23. Lista de animais aquáticos de açude Jatobá I, Patos-PB, percebidos pelos atores sociais do seu
entorno.
Os peixes mais lembrados pelos pescadores podem estar associados ao valor
econômico atrelados a estes, uma vez que a sua procura é freqüente no mercado, por serem
65
muito apreciados pela população local, principalmente em bares e restaurantes especializados
nessa culinária.
Já a Piaba e o camarão, comumente utilizados como isca para a obtenção de peixes
como o tucunaré ou da traíra, (peixes carnívoros), não possuem o mesmo valor atrelado aos
dois primeiros, por ser apenas um instrumento para a obtenção daqueles. Constatou-se,
durante as observações participantes realizadas nas entrevistas, que todos dos pescadores
consideram o camarão como se fosse mais uma espécie de peixe, embora a aparência fosse
totalmente diferente.
Dentre as aves mais percebidas, o Marreco e a galinha d’água foram os mais
comentados, o que também se associa ao valor atribuído a esses animais, uma vez que são
alvos da caça no açude Jatobá I.
Para os invertebrados aquáticos, a percepção dos atores sociais foi relativamente baixa
em relação a outros animais. Dentre esses, o “cachorrinho-d’água” foi o mais comentado, com
4,1% do total de respostas, onde foi observado que havia um equívoco no reconhecimento
desse animal, pois na verdade, os entrevistados estavam se referindo às Náiade (ninfas) de
Odonata (libélulas) ou às suas exúvias (exoesqueleto mudado), muito comuns nas margens do
açude.
A Pomacea lineata (aruá) e o Melanoides tuberculata (aruá-parafuso), embora muito
visíveis no açude, foram pouco comentado pelos entrevistados, onde se alcançou 1,4% para
moradores e 1,2% para pescadores, respectivamente.
Diante de tantos animais percebidos, propôs-se aos entrevistados expor a sua opinião
sobre a importância dessa fauna aquática para o açude Jatobá I ou para o homem. Para os
atores sociais, houve dois grupos de representações: os que conheciam sobre os animais
aquáticos e o grupo que nada sabia a respeito.
A maioria dos moradores não sabia ou não associaram a importância desses animais
aquáticos (incluindo até os peixes) para o açude Jatobá I ou para o homem atingindo um
percentual de 54,5%, enquanto que 45,5% souberam.
Já entre os pescadores, a maioria (66,6%) sabia sobre a importância desses animais
para o ambiente aquático e para o ser humano, enquanto que 33,4% não souberam responder.
Um dos entrevistados, pertencente ao grupo de pescadores, comentaram a respeito da banha
de traíra e de cágado como remédios de grande importância contra certas doenças adquiridas
pelo homem. As citações abaixo mostraram um conhecimento de alguns atores sociais em
relação aos animais aquáticos:
66
“Para o homem é um alimento bom. O peixe se você está doente, sai da
carne vermelha e come a carne branca. O caldo do peixe cura a gastrite. E
o camarão também! A importância deles para o açude Jatobá I é com que
eles comem muita porcaria, eles fazem uma limpeza muito boa eles comem.
Só não comem tudo porque tem demais, né”. (MA4 - convive a 32 anos no
local).
“Não. A gente sabe da banha do cágado, que é muito remédio para a
garganta, a banha da traíra para moquisse, dor de ouvido. Foi um médico
mesmo que ensinou pra a gente. É muito procurado a banha da traíra. Quer
dizer, tem sim, o camarão pra pescar e comer”. (MP1 - convive a 34 anos
no local)
“Acho que é para alimentar outros animais. Fora o camarão e peixe, para o
homem nenhuma utilidade”. (MA4 - convive a 32 anos no local)
“Tem sim, o aruá se alimenta muito desses micróbio como mucuim, acho
que não tem mais mucuim por causa do aruá. As tilápias que morrem a
traíra comem. Tem e não tem, porque eles limpam o açude para nós. Como
muito os mucuins e muitos insetos dentro d’água, como a barata-d’água
que a gente tem mede demais” (MP5 - convive a 24 anos no local).
“Alguns insetos servem de alimento para outros. Muitas mariposas e
mosquitos, com o abrir do sol cai na água, quer dizer, aquilo é alimento
para o peixe. Tem pescadores que se aproveitam daquele momento. Tem
alguns que servem de isca, né, o aruá mesmo tem gente que faz de isca dele.
Outros a ova do aruá serve para remédio” (MP3 - convive a 21 anos no
local).
Foi perguntado aos atores sociais a respeito de uma massa rosada que fica incrustada
nas estacas ou pedras no meio do açude Jatobá I, mostrada na Figura 1.24.
Figura 1.24. Postura do gastrópode Pomacea lineata (popularmente conhecida como “ova de aruá”) incrustadas
em estacas dentro do açude Jatobá I.
67
Das respostas obtidas, 100% dos atores sociais (moradores e pescadores)
reconheceram ser a “ova de aruá” ou do “lolô”, informando esses ovos macerados serviam de
remédio para dor de cabeça, doenças respiratórias e “gastro” (feridas que surgem na boca de
crianças de colo). Estes ainda afirmam que as pessoas mais velhas vêm ao açude coletar essas
posturas os respectivos tratamentos. As respostas de alguns moradores foram destacadas a
seguir:
“O aruá nunca se acaba não. Quando o açude vai baixando na parede do
sangradouro fica aquelas ovinhas tudo pregadinha na parede, eles gostam
muito. Para gastro de criança. Usa pra fazer o chá. Machuca ela, aí coloca
água morna dentro, côa e dá a criança para aquele gastro intestinal da
criança e cura até tuberculose”. (MA4 - convive a 32 anos no local)
Para os pescadores, o conhecimento sobre a importância da fauna aquática obteve um
percentual de 66,6%, associando principalmente o valor econômico dos peixes no comércio
ou na alimentação humana.
Com relação à mesma fauna existente no Jatobá I, foi questionado aos atores sociais se
os problemas como poluição na água, criação de animais na beira desse açude, entre outros
problemas, poderia prejudicá-la, pedindo-se para que eles justificassem suas respostas. Dentre
as respostas, 80% dos entrevistados disseram que sim, à fauna seria prejudicada; 10%
responderam que não prejudicava e os outros 10% não responderam sobre o assunto. As
justificativas mais freqüentes estão destacadas nos depoimentos a seguir.
“Enquanto tiver muita água acho que não, mas quando a água for
diminuindo, pode prejudicar sim, porque a água está poluída. Um animal
tem o mesmo intestino do ser humano... do jeito que você se prejudica com
uma coisa que não presta... o animal também se prejudica”. (MA4 - convive
a 32 anos no local)
“Pode, porque contaminar né. Vamos dizer assim, se tiver um bocado de
saco plástico, quer dizer, entra um camarão, entra um peixe, entra piaba,
entra inseto, esses bichinhos da água né, não sai, morre. Porque a água fica
presa, não tem que movimentar? Se vai enchendo de peixe, os peixes morre,
apodrece tudo, porque o peixe quando morre solta um gás da carne, fica
quando ta podre. Fica aquele oleozinho boiando por cima na água do gás.
Isso aí se acumular muito apodrece. Que eu já vi açude secando e os peixes
morrendo e a gente não chega nem perto. Junta urubu”. (MA7 - convive a
15 anos no local).
“Sim, porque de todo jeito eles se alimentam na água, vive na água. Aquilo
através da sujeira pode prejudicar. Pode ir afetando o oxigênio da água e
acabando com aqueles animais”. (MP1 - convive a 34 anos no local)
68
“Eu creio que prejudica, por causa da sujeira. Já teve época que tinha
cachorro morto dentro d’água, aquele bicho tando em cima, já ta comendo
a sujeira mesmo. Mas, na minha opinião prejudica”. (MP9 - convive a 22
anos no local)
Com base nas respostas dos entrevistados, observou-se que estes tinham noções
básicas dos efeitos que a poluição poderia causar para os animais, o que leva a crer que os
atores também estão integrados com os animais no ambiente, associando a falta de oxigênio e
a decomposição da matéria orgânica na água.
Foi proposto aos atores sociais citar e justificar algum animal aquático que
apresentassem um potencial risco para a saúde humana. Os resultados obtidos indicaram que
58,3% dos moradores e 15,4% dos pescadores não sabiam ou disseram que não existia tais
animais no açude Jatobá I.
Dentre os que apresentavam perigo para o homem, a cobra foi a mais citada entre os
pescadores (30,7%), enquanto que para os moradores o “aruá” e a “barata-d’água”
representaram 16,6% para ambos. A Tabela 1.2 mostra as respostas obtidas.
Tabela 1.2. Percepção dos atores sociais sobre animais existentes no açude Jatobá I que
oferecem riscos para o ser humano.
Animais potencialmente perigosos
Aruá
Barata - d’água
Sanguessuga
Cobra
Sapo
Cangati
Não sabe
Moradores
(%)
16,6
16,6
8,3
58,3
Pescadores
(%)
23
30,7
15,4
7,7
7,7
15,4
Como mostrado nos resultados, a cobra foi o animal mais apontado pelos pescadores.
Isso pode ser explicado devido a grande quantidade de capim elefante e herbáceas existente
nas margens do açude Jatobá, principalmente na época das chuvas, associado ao horário de
trabalho de muitos pescadores, que geralmente iniciam a pescam na madrugada ou no final da
tarde, horários que favorece o animal.
Contudo, outros atores sociais disseram que antigamente esse animal era o mais
perigoso do açude jatobá, mas devido às atividades humanas no entorno do açude, as cobras
desapareceram. Abaixo, segue o depoimento desse ator social:
69
“Não, a beira d’água aqui é mansa, é tranqüila. Até para as cobras é
tranqüila, é muito difícil as cobras pica aqui na beira d’água.acho que é
porque vive desmatando direto que elas procuram sair, não tem apoio para
eles, Hoje eles fazem uma limpeza, vive queimando, bota fogo ma beira
d’água, acho que mata, né”. (MP4 - convive a 49 anos no local)
As respostas indicam que existe um mito de que o corte da concha do molusco
Pomacea lineata, vulgarmente conhecido como “aruá”, entre os moradores e pescadores,
pode transmitir um verme que causa um tipo de doença para o homem. Esse tipo de
informação equivocada foi muito comum entre os entrevistados. Além disso, o corte dessa
concha, segundo pode causar profundos corte para banhistas ou pescadores que entram
descalços no açude Jatobá I. Abaixo, segue um depoimento de um pescador sobre o assunto:
“O aruá, quando a gente pisa em cima a se corta, pra cicatrizar dá trabalho
e não vou me aprofundar nessa área, mas diz que ele transmite uma doença,
quando você sofre um corte, diz que transmite uma doença”. (MP6 - convive
a 44 anos no local)
A barata-d’água também foi um dos animais apontados, pelos moradores e
pescadores, que oferecem perigo ao homem, devido a sua picada que pode ocasionar fortes
dores, como também causar doenças. Um dos pescadores até descreve o que pode causar a
doença, como a citação abaixo:
“A barata d’água, dá logo febre e dor de cabeça na hora quando pica a
gente. O aruá quando morre porque se você andar descalço e pisar nele ele
faz um estrago feio no seu pé, é que nem uma navalha. ela tem um ferrão, o
grande, mas não é o ferrão dela não, ela joga no cabra é a urina. É como um ácido.
Ai pega no cabra e queima feito a moléstia. Uma vez peguei uma e
disse:”vou saber mesmo se é a urina dela mesma. Espremi e joguei na
minha testa, fui no céu e voltei. É a urina”. (MP5 - convive a 24 anos no
local)
A “urina” designada pelo ator social, na verdade é uma substância que sai do seu
aparelho picador-sugador. Segundo Epler (2006), diz que esses os Heteropteras (como por
exemplo, a barata-d’água) possuem digestão extracorpórea, liberando suas enzimas digestivas
em suas presas.
Também foi identificado um mito cultural entre os pescadores, pois estes acreditam
que o osso do sapo (Buffo sp.) pode apresentar um potencial risco a saúde dos atores sociais
que entram desprotegidos no açude Jatobá I, como em outros açudes. Segundo a sua
70
“crendice”, o osso desse animal pode aleijar e/ou até matar àquele, como segue a citação
abaixo:
“Alguns. Sapo vive dentro d’água, em contato com a água. O sapo morre e
se a gente pisar no osso do sapo aí é fatal, sem ver né. Aleja, isso prejudica.
O sapo é um dos piores insetos que é capaz de matar com uma furada”
(MP3 - convive a 21 anos no local).
Um peixe, vulgarmente conhecido como “cangati” também foi apontado como um
animal que oferece perigo ao ser humano, uma vez que sua nadadeira dorsal apresenta um
espinho. Para os banhistas que entram no Jatobá I desprotegidos, pisar nesse animal significa
muitas dores, como a citação do pescador entrevistado abaixo:
“O cangati também, ele tem uma asas assim. Ele tem um esporão, na hora
que ele pega você ele trava sangra na hora” (MP3 - convive a 21 anos no
local).
Apenas 8,3% dos moradores disseram que as Sanguessugas (também chamado por
eles de Xamixugas) apresentavam perigo para o homem, pois estes se alimentam do sugando
o sangue, como o próprio nome sugere.
Entretanto, houve um contra-senso entre os atores sociais, pois determinados relatos
destes afirmaram que existem sanguessugas no açude Jatobá I (45,5% e 33,3% para
moradores e pescadores, respectivamente), enquanto que o outro (54,5% e 66,7%, também
respectivo aos moradores e pescadores) afirmam que não existe esse animal no Jatobá I.
Foram realizadas análises de invertebrados aquáticos no referido açude, e foi
constatada, de acordo com a metodologia utilizada, que não houve registro da presença do
animal.
71
1.4. CONCLUSÕES
Os atores sociais entrevistados apresentam uma forte topofilia no local onde residem,
devido ao tempo médio de convivência no açude Jatobá I, onde oferece recursos e contato
com a natureza. Dos entrevistados, boa parte vive somente do que o açude Jatobá I oferece,
tornando-se um local/recurso para a sobrevivência de muitas famílias.
A maioria dos atores sociais do entorno desse açude percebe mudanças no ambiente
decorrente das atividades humanas, porém, não se articulam para que haja mudanças no
panorama em que o açude Jatobá I se encontra, esperando sempre que os órgãos públicos
atuem no local.
Os moradores e pescadores reconhecem que alguns impactos causados no açude
Jatobá I podem comprometer, direta ou indiretamente, a fauna aquática que coabitam no
mesmo, reconhecendo que alguns deles são importantes para o açude e para o homem.
Embora a quantidade de peixes tenha aumentado, devido à introdução de alevinos no
açude Jatobá I por parte dos pescadores, estes reclamam que a pesca predatória tem
contribuído para a escassez desses animais.
Apesar de a percepção ser uma linha de pesquisa recente, acredita-se que esta possa
contribuir nos trabalhos desenvolvidos pelos órgãos públicos e educadores que poderão
aplicar os métodos utilizados nesta pesquisa com o intuito de compreender melhor o dia-a-dia
dos atores sociais de baixo poder aquisitivo, e, de uma forma mais concreta, fazer algo para
amenizar os problemas sócio-ambientais.
72
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CAPÍTULO II
_____________________________________________
COLONIZAÇÃO DE INVERTEBRADOS EM
SUBSTRATOS ARTIFICIAIS E A PERCEPÇÃO
AMBIENTAL DOS ALUNOS DA ESCOLA
AGRÍCOLA NO AÇUDE JATOBÁ I, PATOS – PB
_____________________________________________
76
RESUMO
Objetivou-se investigar o processo de colonização e sucessão de macroinvertebrados
bentônicos em substrato artificial no açude Jatobá I, Patos-PB, com o intuito de entender a
dinâmica dessa biocenose em ecossistemas aquáticos da Caatinga. Ao mesmo tempo
apresentar essa fauna para os alunos da escola Agrícola de Patos, através de excursões
didáticas, para mostrar a importância desses animais para o referido corpo aquático e para o
homem. As coletas foram realizadas durante a estação chuvosa (abril a junho/2008) e de
estiagem (julho a setembro/2008), sendo acompanhadas, algumas vezes, por estudantes e
professores daquela escola, onde foram utilizados como substrato 1 kg de brita 25 para cada
cesto de polietileno (no total de 35 para cada ponto) por dez semanas em cada estação e
concomitantemente foram determinadas algumas variáveis ambientais para correlacionar com
os dados biológicos. Ao longo do estudo, registrou-se uma riqueza máxima de 37 táxons,
destacando-se: Insecta, Gastropoda, Annelida e Crustacea, sendo estes apresentados - in vivo para os estudantes em campo. As análises da taxocenose dos invertebrados indicaram
diferenças temporais entre os dois períodos sazonais, com variações na composição faunística
e nas variáveis ambientais. Constatou-se também uma maior riqueza do zoobentos na estação
chuvosa quando comparados com o período seco, porém a maior quantidade desses animais
foi registrada nos meses sem chuva. Portanto, faz-se necessário enfatizar que o uso de
substratos artificiais pode caracterizar a estrutura e a dinâmica de biocenoses que se
constituem numa eficiente ferramenta no monitoramento da comunidade zoobentônica e na
qualidade ambiental em corpos aquáticos do semi-árido paraibano.Essa ferramenta é de
grande importância para se ministrar aulas de campo para alunos da escola em referencia, cujo
convívio ambiental diário se dá no entorno de um açude. Isso contribui para uma maior
conscientização ecológica e, consequentemente, para a conservação desta biocenose no açude
Jatobá I, uma vez que estes animais são desconhecidos, porém muito importantes para o
equilíbrio do ecossistema aquático.
Palavras-chaves: Substrato Artificial, zoobentos, Açude Jatobá I, percepção, alunos
77
ABSTRACT
COLONIZATION AND ECOLOGICAL SUCCESSION OF ZOOBENTHS IN
ARTIFICIAL SUBSTRATA IN THE JATOBÁ I RESERVOIR, PATOS - PB
This study aimed to investigate the colonization process and ecological succession in artificial
substrates in the Jatobá Reservoir, Patos-PB, to understand this biocenose dynamics in the
Caatinga aquatic water bodies. At the same time, to show this fauna to the Escola Agrícola de
Patos’ students through didactic excursions, to they realize the importance of these animals to
that water body, and so to mankind. Samples were taken along the wet (April to June/2008)
and dry (July to September/2008) seasons, being sometimes accompanied by students and
teachers from that school, where polyethylene baskets with 1kg of pebble 25 (35 baskets at
each point) during ten weeks in each station, and some environmental variables were taken
concomitantly. Along the study, we registered a maximum richness of 37 taxa, with emphasis
on Insecta, Gastropoda, Annelida, Crustacea, and these animals were presented in vivo to the
students, in the field. The taxocenosis analysis of the invertebrates indicates temporal
differences between the two seasonal periods, wuth variations in faunistic composition an
environmental variables. We also observed higher zoobenthic richness at the wet but the dry
season, nevertheless the higher abundance was registered at the rainless months. Therefore, it
is necessary to emphasize that artificial substrates can characterize the biocenose’s structure
and dynamics, beindg an efficient tool in monitoring zoobenthic community and
environmental quality in water bodies in semiarid of Paraíba. This tool is very important to
teach classes in the field to students of the refered school, which daily environmental
conviviality happens at the surroundings of the reservoir. This contributes to improve the
ecological awareness and, consequently, to the conservation of this biocenose in the Jatobá I
Reservoir, for instance these animals are unknown, but very important to the ballance of
aquatic ecosystems.
Keywords: Artificial substrates, zoobenthos, Jatobá I reservoir, students’ perception
78
2.1. INTRODUÇÃO
2.1.1. O Zoobentos em Substratos Artificiais
De acordo com o tipo de localização no habitat, o zoobentos pode ser classificado
como: Endobentônico, que vivem enterrados no sedimento aquático; ou Epibentônico, que
estão associados à superfície desses. (BICUDO e BICUDO, 2004).
Segundo Henry (2003) e Bicudo e Bicudo (2004), a comunidade de invertebrados
bentônicos de águas continentais é composta por grande variedade de grupos taxonômicos
(Protozoários, crustáceos, moluscos, anelídeos e insetos adultos ou imaturos, entre outros),
geralmente maiores que 0,2mm.
Esses organismos são considerados bioindicadores porque, em determinadas
condições ambientais, os grupos mais resistentes podem se tornar numericamente dominantes,
enquanto outros mais sensíveis podem se tornar raros ou ausentes (BRIGANTE et al. 2003),
permitindo, desta forma, uma avaliação integrada dos efeitos ecológicos causados por
múltiplas fontes de poluição.
Os substratos artificiais são artefatos que procuram imitar, as características do
ambiente a ser amostrado, contendo material disponibilizado para a colonização por
organismos bentônicos (BICUDO e BICUDO, 2004). A Figura 2.1 mostra um exemplo de
substrato artificial para a colonização de sucessão ecológica do zoobentos e alguns exemplos
de componentes desta biocenose aquática.
Figura 2.1. Esquema de Substrato artificial utilizada em alguns experimentos para a captura de
macroinvertebrados bentônico. (Fonte: Artur Henrique F.F. de Souza, 2009).
79
A utilização desses artefatos padronizados tem sido usada como uma forma de
amenizar os problemas de variabilidade dos substratos naturais nos diferentes locais a serem
estudados, sendo uma técnica empregada desde o início do Século XX (GUERESCHI, 2004).
Os substratos artificiais, originalmente, servem para as coletas de macroinvertebrados
bentônicos quando não há possibilita o uso de equipamentos tradicionais no ambiente
desejado.
As vantagens da utilização dos substratos artificiais são: a redução da variabilidade
entre as amostras; maior controle das variáveis sobre o estudo; amostragens não-destrutivas
no ambiente estudado; amostradores baratos e de fácil confecção; unidade amostral com
menor quantidade de material estranho, permitindo uma triagem mais rápida (BICUDO e
BICUDO, 2004).
Segundo os autores, existem algumas desvantagens, como por exemplo: podem ser
seletivos para certos organismos; não fornecerem informações sobre o substrato local;
requerem tempo de colonização relativamente longo para que seja alcançado o equilíbrio da
comunidade, o que os torna inadequados para o estudo de curta duração; sujeito à perdas ou
alterações de eficiência em razão de vandalismo, sedimentação, enchentes ou secas;
possibilidade de perder organismos durante o recolhimento dos substratos.
Sendo assim, tais experimentos de colonização permitem conhecer a fauna de
invertebrados presentes numa área, como também possibilitam a análise das mudanças que
ocorrem na composição da comunidade ao longo do tempo (LIMA, 2002; CARVALHO e
UIEDA, 2004; GUERESCHI, 2004).
Contudo, o uso de substratos artificiais pode atuar como ferramenta indispensável no
monitoramento dos corpos aquáticos e/ou grau de degradação dos ecossistemas, o que leva a
produzir subsídios que elaboram estratégias de manejo na conservação de sistemas aquáticos
continentais. Isso resultaria em previsões mais precisas do que aquelas feitas com os métodos
tradicionais.
2.1.2. Percepção e Sensibilização Ambiental
Como cada indivíduo percebe, reage e responde diferentemente frente às ações sobre o
meio, faz-se necessário o estudo da percepção ambiental para que possamos compreender as
inter-relações entre o homem e o ambiente, suas expectativas, satisfações e insatisfações,
julgamentos e condutas para que possamos aprender a protegê-los e cuidá-lo da melhor forma
(GUERRA e ABÍLIO, 2006).
80
A percepção, de acordo com Tuan (1980): “A percepção é tanto a resposta dos
sentidos aos estímulos externos, como a atividade proposital, no qual certos fenômenos são
claramente registrados, enquanto outros retrocedem para a sombra ou são bloqueados”.
Desta forma, compreender as questões ambientais para além de suas dimensões
biológicas, químicas e físicas, enquanto questões sócio-políticas são uma das alternativas de
complementar a conservação do ecossistema como um todo, pois exigem a formação de uma
sensibilização ambiental e a preparação para o pleno exercício da cidadania, fundamentadas
nos conhecimentos prévios dos atores sociais que se utilizam dos ecossistemas do seu
entorno.
Assim sendo, o estudo da percepção ambiental permite uma boa abrangência das interrelações entre os humanos e o seu meio ambiente, seja ele natural ou modificada pelo homem,
pois a produção do espaço resulta das percepções, dos processos cognitivos, julgamentos e
expectativas que cada indivíduo possui acerca de si, de sociedade e do meio em que vive.
Sendo assim, a percepção ambiental “se revela como poderoso instrumento para a
interpretação da realidade e formação de sistemas de valores” (DEL RIO, 1999).
Para Palma (2005), a percepção ambiental representa uma tomada de consciência do
ambiente pelo indivíduo, tendo como objetivo principal compreender os fatores, processos e
mecanismos que há em relação ao seu meio ambiente.
Através de um instrumento de pesquisa, pode-se verificar que a percepção ambiental de
um público alvo poderá possibilitar projetos e atividades ambientais com base na realidade deste
público, favorecendo a construção de metodologias para que as pessoas tomem consciência
frente aos problemas ambientais. Aliando-se isso a educação ambiental, é possível realizar
trabalhos com bases locais. Isto é, saber como os indivíduos os quais se trabalha percebem o
ambiente em que vivem suas fontes de satisfações e insatisfações (PALMA, 2005).
Mas a necessidade de se ir além da transmissão de novos conceitos atrelados ao meio
ambiente, uma vez observados a ineficiência em gerar mudanças comportamentais a partir
desse paradigma dominante (capitalismo), é que se aplica o termo sensibilização. Portanto, a
sensibilização traz a proposta de transposição do enfoque racional na prática educativa e a
busca de se atingir as dimensões emotivas, espirituais da pessoa humana na sua interação com
a natureza (MARIN et al.,2003). Segundo os mesmos autores, ao fazermos uma análise das
práticas desenvolvidas em vários contextos onde um futuro processo de educação ambiental
se faz necessária, observamos que representam minoria das ações aquelas que conseguem
atingir essa complexidade e despertar a contemplação, a interatividade nostálgica, a reflexão e
a emoção.
81
Assim, promover excursões de campo com os educandos, no ambiente por eles
experienciados, estimulam-nos a observarem e perceberem o ambiente por uma nova óptica,
diante de novas situações ou conhecimentos. Sendo assim, o conhecimento mais aprofundado
do espaço em que se vive, associado ao conhecimento da biota existente nesse meio, torna-se
de fundamental importância, uma vez que as práticas de sensibilização nas escolas, estimulam
influir para que os atores repensem no modo de atuar com o ambiente, abrindo espaços para
que ocorra mudanças nos seus comportamentos.
Aprimorar os conhecimentos sobre o valor da fauna aquática, em especial o
zoobentos, nas escolas pode ser uma ferramenta para uma melhora na conservação destes
animais o ecossistema dulcícola, importantes para o ambiente e para as atividades humanas.
Objetivou-se estudar a colonização e a sucessão ecológica de zoobentos em substratos
artificiais no açude Jatobá I, Patos - PB, com o intuito de diagnosticar esse ambiente aquático
quanto à qualidade ecológica em detrimento às atividades humanas no seu entorno. E após
esse procedimento, avaliar a percepção dos discentes de Escola Agrícola de Patos e,
posteriormente, mostrar a realização e os resultados desses experimentos para os mesmos,
desvendando informações acerca da importância desses animais no ecossistema aquático e na
vida humana.
2.2. MATERIAL E MÉTODOS
2.2.1. Área de Estudo
No açude Jatobá I, os pontos foram situados de acordo com a Figura 2.3, sendo o
primeiro ponto de coleta localizava-se próximo ao sangradouro do açude, na chácara do
Sangradouro, onde havia uma pequena criação de animais e plantação de capim-elefante. Este
ponto situava-se mais próximo ao bairro do Mutirão.
O segundo ponto estava situado na chácara Pedra do Meio, onde havia plantação de
hortaliças, presença de banhistas e pescadores da região.
O terceiro ponto foi estabelecido na chácara Santa Francisca, visinho ao criatório de
alevinos do Estado da Paraíba, como também está próxima a escola agrícola de Patos. Nesse
ponto, houve a influência da criação de gado, irrigação, plantação de capim-elefante e de
pescadores da região, além dos efluentes oriundos dos tanques de piscicultura sem nenhum
tratamento.
82
Figura 2.2. Estações de coletas estabelecidas no açude Jatobá I, Patos – PB. Os números em destaque indicam as
localidades: (1) Chácara do sangradouro; (2) Chácara Pedra do Meio; (3) Chácara Santa Francisca (próximo ao
criatório de peixe do estado da Paraíba.
A Escola Agrícola de Patos fica situada na margem da Rodovia Estadual PB – 110,
que ligam as cidades de Patos a Teixeira-PB, como mostrado na Figura 2.2. É uma Escola
municipal, de ensino fundamental e técnico, que funciona somente no turno matutino e dista
do centro da cidade de Patos em 6 Km.
A sede dessa escola é a mais próxima do açude público Jatobá I, atendendo
principalmente os alunos vindos dos bairros do seu entorno, como Jatobá I, Mutirão e Alto da
Tubiba, além das demais propriedades rurais da sua periferia.
A escolha dessa instituição de ensino foi devida, principalmente, à grande maioria dos
discentes morarem no entorno do Jatobá, onde o seu convívio com esse corpo aquático é mais
intenso.
No ano de 2008, havia o registro de matrículas de apenas 54 alunos, sendo trinta e
quatro deles cursando o 6ª ano, oito alunos no 7º, enquanto que no 8ª e 9ª ano havia seis
discentes matriculados cada, totalizando um universo de 54 educandos entrevistados.
83
Figura 2.3. Localização da Sede da Escola Agrícola de Patos-PB, próximo ao açude público Jatobá I, na
margem esquerda (sentido Patos - São José do Bonfim) da rodovia Estadual PB – 110.
2.2.2. Colonização do Zoobentos em Substratos Artificiais
O experimento ocorreu em duas etapas: uma no período de abril a junho de 2008
(Chuvoso) e outra no período de julho a setembro de 2008 (estiagem). Todas as amostras
foram coletadas no mesmo horário estabelecido.
Para isso, foram utilizados cento e dois cestos de polietileno de abertura de malha
1,5cm x 1,5cm, com capacidade total de 2000 cm3 (dimensões de 20 x 20 x 5 cm). Para cada
cesto, foi necessário 1 kg de “brita” de nº 25 para servir como substrato artificial. Colocaramse 34 cestos em cada ponto de coleta, onde foram alocados a uma distância de 2 m de uma
para outro, entre 6 m a 15 m da margem, a uma profundidade entre 60 a 80 cm, marcados com
uma amarra de isopor (Figura 2.4).
84
Figura 2.4. Cesto de polietileno contendo 1 Kg de brita 25 como substrato artificial. Acima do cesto destaca-se
uma amarra de isopor para demarcar o local de instalação no açude Jatobá I.
Duas semanas após a instalação dos substratos no ambiente (em cada estação), foram
iniciadas as coletas, semanalmente, sendo amostradas três réplicas em cada ponto, onde esse
procedimento se repetiu por dez semanas. Os cestos, resgatados com o auxílio de uma rede de
malha de 500µm, foram alocados em sacos plásticos e em seguida transportados para o
laboratório, onde foram triados e fixados em álcool etílico absoluto e, posteriormente,
conservados em frascos de acrílico contendo álcool a 70%.
A identificação dos organismos bentônicos, realizada em laboratório, foi feita através
do auxílio do estereomicroscópio binocular de Zeis, e de chaves de identificação
especializadas, tais como: Merrit e Cummins (1984); Epler (1996 e 2006); Milligan (1997);
Richardson (2003); Pescador e Richard (2004); Pescador et al., (2004).
2.2.3. Índice pluviométrico
Os dados de pluviosidade, diários e em milímetros (mm) da região foram obtidos na
EMATER de Patos – PB, no setor da EMBRAPA (oficial para o município de Patos-PB). O
pluviômetro de precisão de 0,1mm, fora alocado em um lugar aberto de 20m2, sem
obstáculos, a uma altura de 1,5 m do chão, com medições diárias as 7:00 horas da manhã.
85
2.2.4. Variáveis Físicas e Químicas da Água
Amostras de água da superfície foram coletadas no mesmo dia, hora e local de coleta
do substrato artificial. As mesmas foram, imediatamente, transportadas em uma caixa térmica
contendo gelo e transferidas para um freezer. No laboratório da Estação de Tratamento da
CAGEPA, próximo ao açude Jatobá I, foram processaram-se as seguintes amostras:
As variáveis determinadas em campo foram:
Temperatura da água (ºC) – determinada utilizando-se um termômetro de mercúrio,
com 0,2 °C de precisão nos pontos determinados de coleta.
pH – determinado através de um medidor de pH portátil Waterproof Pen pH tester da
marca Instrutemp.
As variáveis determinadas no laboratório da CAGEPA foram:
Total de sólido dissolvido (TSD mg/L). Verificado, em ppm, através de uma aparelho
de bancada da marca;
Condutividade Elétrica (µS/cm) através de um condutivímetro de bancada;
Turbidez (unt) – através de um Turbidímetro digital microprocessado DL 350 da
marca Del lab.;
Alcalinidade (mg CaCO3/L) determinada por titulação, através do método descrito no
Standard Methods (EATON et al., 1995);
Dureza Total da Água (mg CaCO3/L) – foi determinada por titulação, através do
método descrito no Standard Methods (EATON et al., 1995);
Oxigênio Dissolvido (mg O2/L) determinado pelo método clássico de Winkler,
descrito em Golterman et al.,. (1978).
As variáveis abaixo, foram realizadas no laboratório de UEPB, seguiram as
metodologias segundo (EATON et al., 1995):
Nitrito (µg NO2/L-) O nitrito foi analisado através do método colorimétrico, onde este
reage com sulfanilamida diazotizada e dicloridrato de N-(1-naftil)-etilenodiamida em meio
ácido, produzindo uma coloração púrpura-avermelhada, cuja absorbância é registrada (l = 543
nm) e comparada com uma curva-padrão;
Nitrato (µg NO3/L) O nitrato foi analisado pelo método da coluna redutora de cádmio.
O NO3 - presente na amostra é reduzido a NO2 - na presença de cádmio;
Amônia (µg NH3/L) A amônia foi analisada pelo método do fenol. Neste
procedimento, a amônia reage com o fenol e hipoclorito em uma solução alcalina catalisada
86
por nitroprussiato para formar indofenol azul, cuja intensidade é proporcional ao teor de NH3.
A absorbância é medida em espectrofotômetro (l = 635 nm) e comparada com uma curva
padrão;
Fósforo total (µg PO4/L) A leitura foi obtida através da extinção luminosa num
espectrofotômetro a 880nm.
2.2.5. Análise Estatística
Como as variáveis não seguiram uma distribuição normal (teste de Shapiro-Wilk),
foram utilizados testes não-paramétricos. O teste U de Man-Whitney foi empregado para a
comparação entre os períodos de chuva e de estiagem de cada variável física e química da
água, bem como estes dados focam correlacionados com as abundâncias dos organismos da
comunidade bêntica através do índice de correlação de Spearman. Estes testes foram
calculados através do software Statistica for Windows (STATSOFT, 2004).
As similaridades da comunidade zoobentônica, entre cada semana de estudo, bem
como entre os períodos de chuva e estiagem, foram acessadas através do índice de BrayCurtis, que considera tanto a incidência quanto a abundância dos táxons nas amostras
comparadas.
Uma análise de agrupamentos também foi realizada com a média não-ponderada dos
grupos pares (Unweighted Par-Group Mean Average - UPGMA) como distância de
amalgamação, cujos dados foram previamente padronizados e transformados em log(x+1).
Para o teste de significância da análise de agrupamento, foram utilizadas 1000
simulações com o teste Simprof, onde a plataforma Primer (PRIMER-E, 2004) foi utilizada
para a execução destes testes.
2.2.6. Percepção dos alunos da escola agrícola
Utilizou-se a metodologia qualitativa baseado na percepção e fenomenologia de
acordo com Sato (2001), Merlaut-Ponty (2006), como também a observação participante de
acordo com Gil (2005).
O trabalho na Escola Agrícola de Patos-PB foi iniciado em abril de 2008 e teve seu
término em dezembro do mesmo ano. Para isso, foram aplicados em todas as turmas,
questionários semi-estruturados, com questões subjetivas para que fossem analisadas as
percepções e concepções prévias dos mesmos sobre Meio ambiente e Educação Ambiental,
87
analisando-se os resultados pelos critérios estabelecidos em Sauvé (1997 e 2005) e Guerra e
Abílio (2006), a importância e os problemas existentes no açude e dos animais aquáticos, em
especial o zoobentos.
Após esse questionário, foram realizadas excursões de campo nos pontos estabelecidos
no açude Jatobá I, juntamente com os docentes e os educandos, para que se acompanhassem
os respectivos experimentos com substrato artificial para a colonização e sucessão ecológica
do zoobentos. O propósito disso foi diagnosticar o ambiente aquático em questão, através
desses animais e, apresentá-los para os educandos da escola, desvendando-se a importância
dessa fauna tanto para o ecossistema aquático quanto para o homem.
Estes experimentos tiveram a duração de quatorze semanas, sendo metade para o
período chuvoso (abril a junho/2008) e a outra metade para o período seco (agosto a
outubro/2008). No caso, no dia da instalação de substrato em cada período, foram realizadas
juntamente com todas as turmas da escola, sendo as suas coletas realizadas semanalmente
após 14 dias das respectivas instalações.
Ao término dessas atividades em campo, o tema foi novamente abordado em sala de
aula, com o auxílio de um data show, apresentando-se os resultados do experimentos e das
observações realizadas no açude Jatobá I, de forma sucinta, ao mesmo tempo mostrando a
importância do açude e os múltiplos usos praticados pela população do entorno do Jatobá I.
2.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
2.3.1. Colonização e Sucessão Ecológica de Invertebrados Aquáticos
Foram capturadas, no total, utilizando-se os substratos artificiais, 37 UTOs (Unidades
Taxonômicas Operacionais) de invertebrados bentônicos do açude público Jatobá I.
Os representantes foram: Gastropoda (Ampullariidae, Planorbidae, Ancylidae e
Thiaridae); Insecta (Coleoptera, Diptera, Heteroptera, Homoptera, Odonata, Ephemeroptera,
Trichoptera, Hymenoptera e Collembola); Crustacea (Ostracoda, Malachostraca, Copepoda e
Cladocera); Annelida (Oligochaeta), Aranea e Hydracarina. Embora em toda a estação
chuvosa tenha sido capturado um maior número de táxons, foi na estação de estiagem que a
riqueza de táxons foi maior na segunda coleta do período seco (quarta semana), com 21
UTOs, como mostrado nas Tabelas 2.1 e 2.2.
Os insetos foram os mais freqüentes na colonização do substrato artificial,
principalmente na fase de chuvas. Segundo Correia e Trivino-Strixino (2005), a maioria dos
88
insetos aquáticos apresenta uma íntima associação com o substrato, pelo menos, durante uma
fase de sua vida, pois esses exercem grande influência sobre estes animais, podendo afetar
seu crescimento e sobrevivência, pois lhes fornecem hábitat, alimento e proteção.
Durante o período de estudo nesse corpo aquático, foi constatado que houve
mudanças de dominância de táxons de zoobentos, tanto na estação chuvosa quanto na
estiagem. Os dípteros Chironomidae foram os mais representativos durante os experimentos
na estação chuvosa, tendo a freqüência máxima registrada de 64,2% na oitava coleta do
período chuvoso, seguido da quanta semana do mesmo período, com 63,3%. Entretanto,
durante a estiagem, os mesmos não foram tão abundantes, tendo uma freqüência máxima
registrada de 9% na quarta coleta, seguido de 7,5% de freqüência na primeira coleta.
Os oligoquetos também foram muito representativos, onde se registrou a maior
abundância na época de estiagem, atingindo na sexta coleta, com 86,1%, seguido por 73,9%
na sétima coleta. Já durante a estação de chuvas, sua freqüência máxima atingida foi de 48,1%
na terceira coleta (quinta semana).
89
Tabela 2.1. Abundância relativa e valores absolutos da fauna bentônica obtida dos
experimentos de substrato artificial no açude público Jatobá I (Patos-PB), no período de abril
a junho/2008, correspondente ao período chuvoso.
Táxons
Coleta 1
Coleta 2
Coleta 3
Coleta 4
Coleta 5
Coleta 6
Coleta 7
Coleta 8
(Semana 3)
(Semana 4)
(Semana 5)
(Semana 6)
(Semana 7)
(Semana 8)
(Semana 9)
(Semana 10)
COLEOPTERA
-
-
-
-
2(0,5%)
-
2(0,6%)
-
2(3%)
-
-
-
1(0,2%)
-
3(1%)
-
Belostomatidae (CP)
-
-
-
-
-
-
1(0,3%)
-
Corixidae (CP)
-
-
-
-
1(0,2%)
-
1(0,3%)
-
Notonectidae (CP)
-
-
-
-
1(0,2%)
1(0,2%)
-
-
Mesoveliidae (CP)
-
-
-
3(0,7%)
1(0,2%)
-
1(0,3%)
2(1,8%)
Hydrometridae (CP)
-
-
-
-
1(0,2%)
-
-
-
Não identificado (CP)
-
-
-
-
2(0,5%)
1(0,2%)
-
-
HOMOPTERA (HP)
-
1(0,55%)
-
-
1(0,2%)
-
-
-
Dytiscidae (CE)
Hydrophilidae (CE, DC)
HETEROPTERA
ODONATA
-
-
-
2(0,4%)
2(0,5%)
1(0,2%)
-
-
Libellulidae (CP)
1(1,5%)
-
4(1,3%)
21(6%)
15(6,6%)
8(2,1%)
29(9,5%)
6(5,5%)
Gomphidae (CP)
1(1,5%)
-
-
-
-
-
-
Ceratopogonidae (CE)
-
-
-
1(0,2%)
1(0,2%)
1(0,3%)
1(0,3%)
1(0,9%)
Chaoboridae (CE)
-
-
-
1(0,2%)
-
-
-
-
Chironomidae **
37(55,2%)
73(40,35%)
119(40%)
266(63,3%)
191(47,8%)
219(58,1%)
156(51,4%)
70(64,2%)
Culicidae (DC)
-
-
-
-
2(0,5%)
-
-
-
Tabanidae (CE)
-
-
-
-
-
-
-
1(0,9%)
Baetidae (DC)
-
1(0,55%)
-
1(0,2%)
1(0,2%)
-
1(0,3%)
-
Caenidae (DC)
-
-
-
-
-
-
-
1(0,9%)
Limnephilidae (DC)
1(1,5%)
-
-
2(0,4%)
-
-
-
-
HYMENOPTERA
-
-
-
-
-
1(0,2%)
-
-
1(1,5%)
-
-
-
-
1(0,2%)
-
-
Pomacea lineata (HR)
1(1,5%)
-
-
-
-
2(0,5%)
1(0,3%)
1(0,9%)
Biomphalaria sp. (HR)
-
-
1(0,3%)
-
-
-
-
-
Melanoides tuberculata (ON)
-
1(0,55%)
-
1(0,2%)
-
2(0,5%)
-
2(1,8%)
Coenagrionidae (CP)
DIPTERA
EPHEMEROPTERA
TRICHOPTERA
COLLEMBOLA
GASTROPODA
DECAPODA
Macrobrachium sp. (DC)
12(18%)
22(12,1%)
26(9%)
19(4,5%)
24(6%)
17(4,5%)
12(4%)
4(3,6%)
OSTRACODA (DF)
-
-
-
8(1,9%)
37(9,3%)
1(0,2%)
9(3%)
2(1,8%)
CONCHOSTRACA (DF)
-
1(0,55%)
1(0,3%)
1(0,2%)
-
-
-
-
COPEPODA (DF)
-
1(0,55%)
2(0,7%)
6(1,4%)
1(0,2%)
1(0,2%)
-
-
CLADOCERA (DF)
-
1(0,55%)
-
-
-
-
-
-
Tubificidae (DC)
9(13,3%)
79(43,7%)
143(48,1%)
81(19,3%)
112(28%)
121(32,1%)
85(28%)
18(27,7%)
HYDRACARINA (CP)
1(1,5%)
1(0,55%)
1(0,3%)
6(1,4%)
-
-
1(0,3%)
-
-
-
1(0,3%)
-
-
-
-
-
OLIGOCHAETA
ARANEA (CP)
1(1,5%)
-
-
1(0,2%)
3(0,7%)
1(0,2%)
-
1(0,9%)
Total de indivíduos
67
181
297
420
399
377
303
109
Riqueza de táxons
11
10
9
16
19
15
14
11
Táxon Não-Identificado
*DC – detritívoro coletor; DF – detritívoro filtrador; DRe – detritívoro retalhador; HR – herbívoro raspador; HRe – herbívoro retalhador;
HM – herbívoro minerador; HP – herbívoro perfurador-sugador; CE – carnívoro engolidor; CP – carnívoro perfurador e/ou sugador; ONonívoro. ** Mais de dois grupos funcional de alimentação na família.
90
Tabela 2.2. Abundância relativa e valores absolutos da fauna bentônica obtida dos
experimentos de substrato artificial no açude público Jatobá I (Patos-PB), no período de
junho a setembro/2008, correspondente ao período de estiagem.
Táxons
Coleta 1
(Semana 3)
Coleta 2
(Semana 4)
Coleta 3
(Semana 5)
Coleta 4
(Semana 6)
Coleta 5
(Semana 7)
Coleta 6
(Semana 8)
Coleta 7
(Semana 9)
1(0,2%)
1(0,1%)
-
-
1(0,1%)
-
-
-
3(0,7%)
9(1,5%)
2(0,3%)
Coenagrionidae (CP)
2(0,5%)
Libellulidae (CP)
4(0,9%)
5(0,8%)
7(1,2%)
Gomphidae (CP)
2(0,5%)
2(0,3%)
Coleta 8
(Semana 10)
2(0,8%)
-
1(0,3%)
-
-
1(0,2%)
-
-
1(0,5%)
3(1,3%)
1(0,2%)
2(0,5%)
-
7(1,2%)
15(7,5%)
3(1,3%)
5(1%)
9(2,4%)
-
13(3,8%)
10(5%)
3(1,3%)
2(5,4%)
9(2,4%)
10(3%)
-
1(0,5%)
-
-
1(0,3%)
2(0,6%)
1(0,3%)
COLEOPTERA
Dytiscidae (CE)
Hydrophilidae (CE, DC)
HETEROPTERA
Corixidae (CP)
ODONATA
DIPTERA
-
-
1(0,1%)
-
-
2(0,4%)
-
Chaoboridae (CE)
1(0,2%)
-
-
-
-
-
-
-
Chironomidae **
31(7,5%)
43(7,3%)
13(2,3%)
18(9%)
16(7%)
5(1%)
5(1,3%)
21(6,4%)
-
-
-
-
-
1(0,2%)
-
-
Ephemeroptera adulto
1(0,2%)
2(0,3%)
-
-
-
-
-
-
Baetidae (DC)
3(0,7%)
6(1%)
-
1(0,5%)
-
-
-
-
Caenidae (DC)
4(0,9%)
7(1,2%)
7(1,2%)
10(5%)
-
1(0,2%)
1(0,3%)
22(6,7%)
2(0,5%)
3(0,5%)
2(0,3%)
5(2,5%)
6(2,6%)
3(0,6%)
2(0,5%)
2(0,6%)
-
1(0,1%)
-
-
-
-
-
-
Melanoides tuberculata (ON)
3(0,7%)
-
13(2,3%)
8(4%)
11(4,8%)
14(2,9%)
10(2,6%)
23(7%)
Gundlachia sp. (HR)
1(0,2%)
3(0,5%)
2(0,3%)
10(5%)
-
1(0,2%)
1(0,3%)
4(1,2%)
41(9,9%)
262(63,4%)
52(8,8%)
319(54%)
32(5,6%)
419(73,4%)
12(6%)
9(4,5%)
35(15,4%)
-
14(2,9%)
29(6,1%)
34(9%)
28(7,4%)
15(4,6%)
5(1,5%)
-
1(0,1%)
-
-
-
1(0,2%)
-
-
COPEPODA (DF)
10(2,4%)
5(0,8%)
3(0,5%)
-
-
-
-
-
CLADOCERA (DF)
2(0,5%)
4(0,6%)
2(0,3%)
-
-
-
-
-
Tubificidae (DC)
39(9,4%)
119(20,1%)
53(9,2%)
116(58 %)
147(64,7%)
410(86,1%)
278(73,9%)
222(67,9%)
ARANEA (CP)
1(0,2%)
1(0,1%)
-
-
-
-
-
-
-
-
1(0,1%)
1(0,5%)
1(0,4%)
-
-
-
Total de indivíduos
413
590
571
199
227
476
376
327
Riqueza de táxons
20
21
17
16
8
17
14
11
Ceratopogonidae (CE)
Stratiomyidae (CE)
EPHEMEROPTERA
GASTROPODA
Pomacea lineata (HR)
Biomphalaria sp.
DECAPODA
Macrobrachium sp. (DC)
OSTRACODA (DF)
CONCHOSTRACA (DF)
OLIGOCHAETA
Táxon Não-Identificado
*DC – detritívoro coletor; DF – detritívoro filtrador; DRe – detritívoro retalhador; HR – herbívoro raspador; HRe – herbívoro retalhador;
HM – herbívoro minerador; HP – herbívoro perfurador-sugador; CE – carnívoro engolidor; CP – carnívoro perfurador e/ou sugador; ONonívoro. ** Mais de dois grupos funcional de alimentação na família.
Entre os colonizadores, geralmente a família Chironomidae é dominante, já que suas
características eurióicas, somadas ao seu comportamento de dispersão pela deriva, conferem a
ela condições de pioneirismo (LOT, 2006). Isso explica os resultados obtidos no presente
estudo, uma vez que os Chironomidae foram dominantes no início da colonização no período
chuvoso, associada as suas adaptações morfológicas para ambientes hostis, seguido dos
Oligochaeta.
91
Ribeiro e Ueda (2005), também utilizando substrato artificial no riacho da Quinta
(Itatinga-SP) registrou uma abundância de 66% de Chironomidae, nos períodos de grande e
pequeno fluxo de água,
De acordo com Strixino e Trivinho-Strixino (2006), as larvas de Chironomidae e os
Oligochaeta têm uma importância no papel de converter matéria orgânica em alimento
disponível para outros consumidores, além de serem parcialmente responsáveis pela
decomposição da matéria orgânica.
Segundo os autores Higuti et al., (2005) e Trivinho-Strixino e Strixino (2005), os
Chironomidae têm sido potencialmente utilizados como ferramenta em estudos sobre
avaliação de qualidade ambiental. Peli (2001) e Piedras et al., (2006), classificaram tanto dos
Oligochaeta quanto dos Chironomidae como os animais bentônicos que mais toleram a
poluição, onde grande quantidade desses invertebrados é indicadora de elevado teor de
matéria orgânica.
Já no período de estiagem, o táxon Chironomidae reduziu a sua freqüência e
abundância na colonização do substrato. Caso semelhante foi observado na lagoa Serrote, por
Albuquerque (2008). Este resultado entra em contradição com Aburaya e Callil (2007), que
dizem que a assembléia de Chironomidae tende a aumentar no período de estiagem.
Os crustáceos Ostracoda também contribuíram para a sucessão ecológica nesses
experimentos, onde foram dominantes nas três primeiras coletas da estação seca, com
abundância relativa, da primeira a terceira, de 63,4%, 54% e 73,4%, respectivamente. Porém,
estes animais não foram tão expressivos durante a época das chuvas. Já os decápodes
Macrobrachium foram freqüentes nos dois períodos estudados, chegando a 18% na primeira
coleta (terceira semana) da estação chuvosa.
Entretanto, os Ostracoda durante as três primeiras coletas da estiagem foram os mais
dominantes, enquanto que os Oligochaeta passaram a dominar no restante desse experimento.
Em relação aos Ostracoda, de acordo com Monkolski et al.,(2006), corresponde a um
grupo tipicamente bentônico, que apresenta certa tolerância a estresses por baixa concentração
de oxigênio, podendo se sobressair nestas condições. Porém, Souza e Abílio (2006), dizem
que os Ostracoda geralmente são comuns em ambientes temporários e são influenciados pelo
teor de oxigênio dissolvido e temperatura da água, também constatado por Ruffo (2008) na
lagoa Panati (Taperoá-PB), e Albuquerque (2008) na lagoa Serrote, (Boa Vista-PB), ambos no
Cariri do Estado. Embora não tenha apresentado nenhuma correlação, a presença desses
animais coincidiu com elevados valores de oxigênio dissolvido e baixas temperaturas na
estação seca.
92
Dentre os Gastropoda registrados no açude Jatobá I, os mais abundantes foram as
espécies Melanoides tuberculata, com freqüência máxima de 7% registrada na oitava coleta
da estação de estiagem, e Gundlachia sp., com 5% na quarta coleta da mesma estação.
Os Melanoides tuberculata (Thiaridae), espécie de gastrópode Afro-asiática resistente
à dessecação, não foram tão expressivos no período de chuva, sendo estes mais
freqüentemente registrados na época de estiagem, o que leva a crer que a população desse
animal sofre uma diminuição com o aumento do nível da lâmina d’água. O resultado deste
presente trabalho mostrou que houve uma correlação negativa significativa do M. tuberculata
com as precipitações pluviométricas. Abílio (1997), Abílio (2002) e Abílio et al., (2006), em
Taperoá-PB e Santana (2006), em São João do Cariri-PB, também obtiveram os mesmo
resultados em relação à mesma situação com a referida espécie de gastrópode.
No açude Jatobá I, tanto na estação chuvosa quanto a seca, o gastrópode planorbídeo
Biomphalaria sp. foi registrado na terceira coleta do período chuvoso, com um percentual de
0,3% e na segunda coleta da estação de estiagem, com 0,1%. De certa forma, a presença da
Pomacea lineata e do M. tuberculata explica a população reduzida do planorbídeo na
colonização dos substratos artificiais. Abílio (1997), trabalhando com a bio-ecologia dos
moluscos em corpos aquáticos para o Estado da Paraíba, também encontrou no açude Jatobá I
com uma população reduzida da Biomphalaria sp.
Segundo Pamplim (2004), o registro da espécie M. tuberculata em todo o mundo
indica uma forte e rápida dispersão, sendo introduzido em muitos ambientes como um
controlador biológico contra a Biomphalaria sp., hospedeiro intermediário da Schistosoma
mansoni, que causa a esquistossomose.
Porém, aquela espécie pode ser hospedeira
intermediária de vermes que causam doenças para o homem.
Com relação aos heterópteros, estes tiveram uma maior riqueza taxonômica durante a
realização dos experimentos na fase chuvosa, sendo registradas quatro famílias, cada uma
com 0,2% na quinta coleta, e um táxon não-identificado dessa ordem de inseto atingindo na
mesma coleta 0,5% do total da fauna.
Foram obtidas três famílias de Odonata, sendo os Libellulidae e os Coenagrionidae as
mais abundantes, com um percentual máximo respectivo de 9,5% na sétima coleta da estação
chuvosa e 7,5% na quarta coleta da estiagem.
Os Ephemeroptera foram freqüentes durante a realização do diagnóstico de curta
duração, sendo apenas registradas duas famílias: Baetidae e Caenidae. A primeira obteve seu
maior percentual na segunda coleta do período seco, com 1%, enquanto que os Caenidae
tiveram um percentual máximo de 6,7% na oitava coleta da mesma estação.
93
Também houve raros registros de alguns táxons de invertebrados bentônicos em
substrato artificial no açude Jatobá I, como é o caso dos Trichoptera, sendo a família
Limnephilidae obtida somente no período chuvoso, com um percentual de 1,5% na primeira
coleta e 0,4% na quarta coleta.
Os chamados bioindicadores, de acordo com Roland et al., (2005), são organismos
que refletem a integridade ecológica dos ecossistemas onde vivem, respondendo a diferentes
agentes estressantes. Estes organismos são sensíveis à poluição orgânica e são os primeiros a
sofrerem interferências nas suas populações devido a mudanças bruscas no ambiente aquático
(SILVEIRA e QUEIROZ, 2006).
Como animais sensíveis, muitas dessas espécies são as primeiras a serem eliminadas
do habitat com o aumento do processo de eutrofização, sendo, portanto, bioindicadores de
qualidade ambiental (ABÍLIO, 2002).
Dentre os animais sensíveis a mudanças no ambiente, estão os efemerópteros e os
tricópteros. Sendo assim, pode-se tentar explicar uma rara freqüência desses organismos no
açude Jatobá I durante o período de estudo, sendo registrada somente no período chuvoso.
Outra possível explicação foi que em muitos locais do açude Jatobá I estava
desmatado, com o solo exposto ao intemperismo. Segundo Egler (2002), a erosão do solo
pode comprometer a qualidade física, química e biológica da água, pois o aporte de silte para
dentro do corpo aquático (decorrente de práticas agrícolas que não conservam o solo) pode
danificar as brânquias dos animais aquáticos, interferindo na respiração, eliminando muitos
desses organismos, entre eles os mais sensíveis, em caso de lixiviação.
Além disso, a presença de óleo pode também prejudicar a respiração de muitos
organismos aquáticos, podendo reduzir bastante a riqueza e a densidade de espécies
(QUEIROZ et al., 2008).
Registrou-se em campo, no açude Jatobá I, na época das chuvas, a presença de óleo na
superfície da água. Durante essa época, é freqüente o aumento de lanchas e jetski passeando
no local, além de barcos improvisados a motor utilizados pelos moradores rurais que tem o
acesso as suas propriedades cobertas pelas águas.
Além disso, muitas outras práticas foram observadas em campo, como despejo de
efluentes advindos de criatório de peixes de um órgão do estado da Paraíba, ás margens do
açude Jatobá I, efluentes domésticos, lavagens de carro e motos, retiradas de macrófitas
aquáticas para o plantio de capim-elefante.
Moredjo (1998), diz que devido à utilização múltipla deste recurso hídrico, certas
atividades, muitas vezes, podem ocasionar problemas a outros usos, por exemplo, para
94
irrigação de áreas agrícolas próximas a estes ecossistemas, onde são utilizados produtos
químicos, pode modificar a qualidade da água.
Já em relação aos Ephemeroptera, a presença da família Caenidae foi relativamente
expressiva durante a fase seca, na ultima semana. Resultados parecidos também foram obtidos
por Florentino e Abílio (2006), onde essa família esteve presente no período seco com uma
abundância relativa máxima de 23,31% no açude Namorados, São João do Cariri-PB.
Segundo Melo, (2006) referenciou que a família Caenidae tem hábitos alimentares de
raspar algas do substrato. Embora não se tenha analisado o biofilme (perifíton) no presente
trabalho, foi constatado em campo que, ao ser retirado do ambiente, o substrato artificial
estava repleto de biofilme, principalmente nas ultimas coletas do período de estiagem.
Florentino (2008), também atribuiu a grande abundância de Caenidae com o perifíton
incrustado no substrato artificial em seus experimentos.
Outros animais, como os dípteros Culicidae (0,5% na quinta coleta da estação
chuvosa), Tabanidae (0,9% na oitava coleta da mesma estação) e Stratiomyidae (0,2% na
sexta coleta da estiagem) também foram raros em abundância, sendo registrados apenas em
uma coleta. Já os Chaoboridae foram obtidos apenas com um espécime em cada experimento,
chegando a 0,2% tanto na quarta coleta da estação chuvosa como na primeira coleta da
estiagem.
2.3.2. Variáveis Ambientais
O açude Jatobá I apresentou características próprias e pode ter sido influenciado por
fatores ambientais como a precipitação pluviométrica, alteração na qualidade física e química
da água. Segundo Abílio (2002) e Souza e Abílio (2006), os fatores ambientais como a
precipitação pluviométrica propiciam alterações das condições físicas, químicas e biológicas
dos corpos aquáticos.
No município de Patos-PB, no ano de 2008, foi observado que no período úmido (do
mês de março ao mês de junho), registrando-se um acumulado pluviométrico de 627,1 mm
nesse período. O mês de março foi registrado a maior precipitação de chuvas, com 489,5 mm.
Enquanto isso, no mesmo ano, o período de estiagem, o acumulado pluviométrico
atingiu 12,7 mm de julho até o mês de setembro do mesmo ano (Figura 2.5).
Nesse período chuvoso (úmido), durante a primeira fase de experimento de substrato
artificial, os maiores acumulados semanais de chuvas foram obtidos na terceira e quarta
semana após a instalação dos cestos, com 130,6mm e 170,2mm, respectivamente.
95
Já no período de estiagem, o valor máximo de chuvas foi registrado na primeira
semana de instalação, com 9,7mm, permanecendo sem precipitações durante o resto do
experimento, exceto na penúltima semana de estudo, com 3,7 mm de chuva, como mostrado
na Figura 2.6.
O resultado deste presente trabalho mostrou que houve uma correlação negativa
significativa do Thiaridae Melanoides tuberculata com as precipitações pluviométricas (r = 0,77, p≤ 0,05 – ver Apêndices). Resultados semelhantes sobre a influência da pluviosidade
sobre aquele gastrópode também foram obtidos em Abílio (1997), Abílio (2002) e Abílio et
al., (2006), ambos no açude “Taperoá” (Taperoá-PB) e Santana (2006), no riacho Aveloz, em
São João do Cariri-PB.
Figura 2.5. – Pluviosidade mensal (mm) do município de Patos - PB entre os meses de abril e junho/2008
(período chuvoso) e julho e setembro/2008 (período de estiagem).
Figura 2.6 – Pluviosidade semanal (mm) do município de Patos - PB entre os meses de abril e junho/2008
(período chuvoso) e julho e setembro/2008 (período de estiagem).
O pH da água do açude Jatobá I mostrou-se ligeiramente ácida no início do
experimento no período chuvoso, obtendo-se o valor médio mínimo de 5,74 na semana 1
(semana de instalação) no mês de abril. Entretanto, na semana de instalação do período seco,
96
o pH se tornou ligeiramente alcalino, chegando ao valor médio máximo de 8,45. A variação
do pH do açude Jatobá I foi de 2,71 (Figura 2.7). O pH foi ligeiramente mais elevado no
período seco (U = 11600, p < 0,01).
Essa variação indicou que o aumento das precipitações pluviométricas alterou os
valores desta variável ambiental, uma vez que as águas das chuvas podem lixiviar o solo
introduzindo no sistema aquático material alóctone com um considerável percentual de íons
que podem alterar tais valores.
De acordo com Esteves (1998), a maioria das bacias hidráulicas continentais
apresentam valores de pH oscilando de 6,0 a 8,0. Já Leite (2001) e Oliveira (2005)
consideraram que a natureza geológica da bacia hidrográfica onde está situado o corpo
hidráulico também pode influenciar na mudança de valores dessa variável ambiental, bem
como da condutividade elétrica da água.
A resolução CONAMA nº 357 de 17 de março de 2005 (BRASIL, 2006),estabelece
que o pH dos açudes classe II esteja na faixa entre 6,0 a 9,0. Com exceção da primeira semana
do período chuvoso (instalação), cujo valor médio estava abaixo de 6,0, o pH do açude Jatobá
I estava dentro dos limites estabelecidos (ver Anexo). Uma provável explicação para o fato de
o pH ter sido registrado abaixo do que estabelece o CONAMA pode ter sido as fortes
precipitações pluviométricas que inundaram as plantações de capim-elefante que existiam nas
margens, promovendo-se assim, uma decomposição e liberação de ácidos na água, além de
materiais oriundos da lixiviação.
Como se pode verificar na Figura 2.7 abaixo, os valores dessa variável foram um
pouco mais elevados durante o período de estiagem, possivelmente devido ao acúmulo de
carbonato de cálcio e a forte evaporação do corpo aquático.
O pH influenciou negativamente a Gundlachia sp. (r = -0,83, p≤ 0,05). Isso pode ser
explicado devido à fragilidade da concha desse molusco, a qual a acidez da água pode
interferir na sua produção.
97
Figura 2.7. Valores médios do pH do açude público Jatobá I, Patos – PB, entre os meses de abril/2008 a junho
(período chuvoso) e julho e setembro/2008 (período de estiagem).
A condutividade elétrica da água do Jatobá I foi mais elevada no período seco (U =
2356; p < 0,01), apresentando uma pequena variação durante o período estudado, chegando a
50,8 µS/cm. Dentre as médias dessa variável, o maior e o menor valor registrados,
respectivamente, foram obtidos na quinta semana da estiagem, com o valor de 218,6 µS/cm e
na oitava semana da mesma estação, com 167,8 µS/cm (Figura 2.8).
Figura 2.8. Valores médios da condutividade elétrica da água (µS/cm) do açude público Jatobá I, Patos – PB,
entre os meses de abril e junho/2008 (período chuvoso) e julho e setembro/2008 (período de estiagem).
A temperatura foi mais elevada no período úmido do que no seco (U = 81; p < 0,01),
apresentando uma variação média de 6,5 ºC. Os valores médios mínimos e máximos obtidos
foram, respectivamente, 24,6ºC da quarta semana da estação seca e 31,3ºC na segunda
semana da estação chuvosa (Figura 2.9).
98
Uma possível explicação para o fato de no período de estiagem a temperatura da água
do referido açude estar mais baixa pode ter sido relacionada com a grande quantidade de
ventos na região, além do céu estar parcialmente encobertos por nuvens.
Figura 2.9. Valores médios da Temperatura da água (ºC) do açude público Jatobá I, Patos – PB, entre os meses
de abril e junho/2008 (período chuvoso) e julho e setembro/2008 (período de estiagem).
Observou-se uma forte variação nas concentrações de oxigênio dissolvido no açude
Público Jatobá I durante os experimentos, cuja diferença foi de 8,15 mgO2/L. Essa variável
foi maior no período de estiagem ao período úmido (U = 265,5; p < 0,01) (Figura 2.10) onde
o maior e menor valor médio, respectivamente, foram obtidos nas semanas de instalação de
cada experimento, com 10,39 mgO2/L (período seco) e 2,24 mgO2/L (período chuvoso).
Figura 2.10. Valores médios do Oxigênio Dissolvido (mgO2/L) do açude público Jatobá I, Patos – PB, entre os
meses de abril e junho/2008 (período chuvoso) e julho e setembro/2008 (período de estiagem).
99
Autores como Lima (2002) e Guereshi (2004) afirmam que a temperatura da água é
uma variável de grande importância, pois estes influenciam, direta ou indiretamente, as
propriedades físicas e químicas em toda a coluna d’água, desempenhando um importante
papel na duração do ciclo de vida dos animais bentônicos.
Os resultados mostraram que a temperatura influenciou negativamente o M.
tuberculata (r = -0,82, p≤ 0,05 – ver Apêndices). Já os insetos da família Caenidae e
Coenagrionidae também apresentaram correlação negativa com a temperatura (r = -0,75 e 0,73, p ≤ 0,05, respectivamente).Em geral, à medida que a temperatura se elevava, os níveis
de oxigênio diminuíam no açude Jatobá I. O contrário ocorreu na estação seca, no mesmo
açude, onde as condições de fortes ventanias favoreceram o decréscimo da temperatura,
aumentando-se assim, o oxigênio dissolvido na água. Esteves (1998) diz que a temperatura é
inversamente proporcional ao oxigênio dissolvido, devido às condições de solubilidade dos
gases.
Segundo Pamplin (2004), o oxigênio dissolvido é considerado uma das variáveis
ambientais imprescindíveis no ecossistema aquático porque pode determinar a duração do
ciclo de vida de insetos e muitos outros animais nesse ambiente.
A resolução CONAMA nº 357 de 17 de março de 2005 (BRASIL, 2006) não permite
uma concentração de OD, em qualquer amostra inferior a 5 mg/L O2 (ver Anexo). Exceto na
semana 1 da estação chuvosa, onde a concentração média dessa variável não estava dentro dos
limites permitidos pela Resolução anteriormente mencionada, o Oxigênio dissolvido
encontrou-se no restante do estudo dentro de tais limites.
No entanto, Monkolski et al., (2006) diz que alguns organismos apresentam
adaptações morfofisiológicas que permitem a sobrevivência em ambientes hostis, ou em
outras palavras, com déficit em oxigênio dissolvido, onde os anelídeos Oligochaeta e os
dípteros Chironomidae dispõem de estratégias como a presença de pigmentos respiratórios
semelhantes à hemoglobina, mecanismos de desintoxicação e ventilação ondulatória do
abdômen.
Quanto ao Total de Sólidos Dissolvido (TSD), houve uma variação de 28,8 mg/L
durante o estudo, sendo o maior e o menor valor médio, respectivamente, registrados durante
o período de estiagem, na oitava semana (84,13 mg/L) e décima semana (113 mg/L), como
mostrada na Figura 2.11. A concentração dos sólidos totais dissolvidos foi mais elevada no
período seco (U = 2353; p < 0,01 – ver Apêndices).
100
Figura 2.11. Valores médios do Total de Sólidos Dissolvidos (mg/L), do açude público Jatobá I, Patos – PB,
entre os meses de abril e junho/2008 (período chuvoso) e julho e setembro/2008 (período de estiagem).
A Turbidez da água do açude Jatobá I apresentou uma variação de 5,59 unt em todo o
período de estudo. O maior valor médio foi obtido na semana de instalação dos experimentos
do período úmido, registrado-se 7,69 unt, enquanto que o menor valor médio da turbidez foi
de 2,10 ntu, na terceira semana dos experimentos da estação seca, e as diferenças observadas
entre as estações foram significativas (U = 2019; p < 0,01) (Figura 2.12).
No período inicial do experimento, o qual se registrou um elevado índice
pluviométrico no município, foi marcado pelo elevado valor da turbidez no açude Jatobá I.
Segundo Esteves (1998), os fatores principais para o aumento desta variável são as partículas
suspensas. Entretanto, não foi o que se verificou neste trabalho, uma vez que o total de sólidos
dissolvidos foi mais elevado na estação seca.
Já Freitas (2004) referenciou que os valores crescentes da turbidez estavam
relacionados com as atividades antrópicas ao longo do rio Manguaba, em Alagoas. No açude
Jatobá I, as atividades mais presentes foram a agricultura e a criação de animais, o que
favoreceu a retirada da cobertura vegetal em muitas partes do seu entorno.
A resolução CONAMA nº 357 de 17 de março de 2005 (BRASIL, 2006) permite uma
turbidez até 100 unt (ver Anexo). Logo, o açude Jatobá I encontrou-se dentro dos limites
estabelecidos.
101
Figura 2.12. Valores médios da Turbidez da água (unt) do açude público Jatobá I, Patos – PB, entre os meses
de abril e junho/2008 (período chuvoso) e julho e setembro/2008 (período de estiagem).
O valor registrado da Dureza total da água foi mais elevado no período seco (U =
1350, p < 0,01). Esta apresentou uma baixa heterogeneidade temporal, com uma diferença de
5,5 mgCaCO3/L. O maior valor médio obtido foi no final do experimento, precisamente na
oitava semana da estação de estiagem, onde essa variável atingiu 47 mgCaCO3/L, enquanto
que o menor valor mínimo foi na terceira semana da estação chuvosa (Figura 2.13).
De acordo com a classificação de Dussart (1976) a classificação dos ambientes em
relação a dureza podem ser: águas de dureza média (>30 mgCaCO3/l) a duras (> 80
mgCaCO3/l). Para o açude Jatobá I, foi considerada de dureza média.
Figura 2.13. Valores médios da Dureza total (mgCaCO3/L) do açude público Jatobá I, Patos – PB, entre os
meses de abril e junho/2008 (período chuvoso) e julho e setembro/2008 (período de estiagem).
A Alcalinidade também não variou temporalmente no tempo estudado, porém foram
observadas diferenças significativas entre os períodos seco e úmido (U = 365; p < 0,01). Os
valores médios variaram entre 9,78 mgCaCO3/L na semana de instalação e terceira semana na
102
estação de chuvas, a 13,33 mgCaCO3/L na semana final do experimento (oitava semana da
estação de estiagem), como mostrado na Figura 2.14.
Figura 2.14. Valores médios da Alcalinidade (mgCaO3/L), por ponto de coleta, do açude público Jatobá I,
Patos – PB, entre os meses de abril e junho/2008 (período chuvoso) e julho e setembro/2008 (período de
estiagem).
Durante os experimentos, na época das chuvas, a Alcalinidade e a Dureza Total da
água se mostraram com valores relativamente baixos. Tal fato pode ser explicado pelas
chuvas ocorridas no município de Patos. Além disso, fatores como o tipo de solo e das rochas
presente na bacia hidráulica também podem contribuir para baixos níveis dessas variáveis.
Tanto a Alcalinidade quanto a Dureza total são importantes para os moluscos, uma vez
que estes animais utilizam o carbonato de cálcio para a construção de suas conchas. No
presente trabalho, a correlação de Sperman mostrou que houve uma correlação positiva
significativa (R = 0,85 e 0,88, p ≤ 0,05 – ver Apêndices), para alcalinidade e Dureza
respectivamente. Abílio (1997) em seu trabalho em três corpos aquáticos no Estado da
Paraíba, constatou que tais variáveis também influenciaram a referida espécie.
Com relação aos níveis de Amônia, houve uma heterogeneidade temporal, sendo o
maior valor médio registrado na sexta semana durante a estação chuvosa, com 141,59 µg
NH3/L. Os menores valores médios de amônia foram registrados com maior freqüência na
estação chuvosa, da sétima semana a décima, e na primeira semana (semana de instalação) da
época de estiagem, com valores variando de 0,01 a 0,03 µg NH3/L, como mostrado na Figura
2.15. As diferenças entre os períodos foram significativas (U = 1637,5; p < 0,01 – ver
Apêndices).
Para as águas brasileiras classificadas dentro da classe 2, a resolução CONAMA nº
357 de 17 de março de 2005 (BRASIL, 2006) determina uma concentração máxima de 1,0
103
mgN/l (1.000 µg/l) para amônia total (ver Anexo). Neste caso, os três ambientes estudados
encontram-se dentro desse limite.
Figura 2.15. Valores médios da Amônia (µg NH3/L) do açude público Jatobá I, Patos – PB, entre os meses de
abril e junho/2008 (período chuvoso) e julho e setembro/2008 (período de estiagem).
Os valores de nitrito não apresentaram diferenças entre os períodos amostrais (U =
2884,5; p = 0,34), porém ocorreram variações temporais, sendo o maior valor médio
registrado na quinta semana de experimento da estação chuvosa, com 6,88 µg NO2/L.
Contudo, os menores valores médios obtidos foram a partir da sétima semana da
estação chuvosa e da primeira semana do período de estiagem, cujos valores oscilaram na
faixa entre 0 a 0,02 µg NO2/L. A Figura 2.16 mostra os resultados de Nitrito.
Com relação a esta variável, o açude Jatobá I apresentou valores dentro do limite
estabelecido pela resolução CONAMA nº 357 de 17 de março de 2005 (BRASIL, 2006),
onde o máximo para Classe 1 a 3 é de 1,0 mg/l (1000 µg/l) (ver Anexo).
Figura 2.16. Valores médios do Nitrito (µg NO2/L) do açude público Jatobá I, Patos – PB, entre os meses de
abril e junho/2008 (período chuvoso) e julho e setembro/2008 (período de estiagem).
104
Os valores médios de Nitrato, da mesma forma que os demais nitrogenados, houve
menor diferença temporal durante a estação seca, como mostra a Figura 2.17. Durante a
realização dos experimentos na estação chuvosa, a partir da sétima semana, o valores de
nitrato oscilaram entre 0,01 a 0,02 µgNO3/L.
Porém, o maior valor médio foi registrado durante a época da estiagem, na terceira
semana de experimento, onde se obteve 43,21 µgNO3/L. As concentrações de nitrato foram
significativamente mais elevadas no período seco (U = 2321,5; p < 0,01).
A resolução CONAMA nº 357 de 17 de março de 2005 (BRASIL, 2006) permite uma
concentração de nitrato até 10 mg/l (10.000 µg/l) para as Classes 1 a 4 (ver Anexo). Portanto,
o ambiente estudado se encontra dentro desse limite.
Figura 2.17. Valores médios do Nitrato (µg NO3/L), por ponto de coleta, do açude público Jatobá I, Patos –
PB, entre os meses de abril e junho/2008 (período chuvoso) e julho e setembro/2008 (período de estiagem).
Tratando-se do fósforo total, houve forte heterogeneidade temporal, onde os maiores
valores médios dessa variável ambiental foram registrados durante a primeira metade dos
experimentos realizados na estação chuvosa, como mostrado na Figura 2.18, com o máximo
obtido na sexta semana, com 99,84 mgPO4/L.
Entretanto, os valores decresceram abruptamente da sétima a décima semana de
experimentos da estação chuvosa, com valores variando entre 0,02 a 0,04 mgPO4/L e
permanecendo relativamente baixos no período de estiagem, sendo nesta obtido o menor
valor de fósforo total, com 0,01 mgPO4/L na semana de instalação (semana 1). Os valores de
fósforo total foram mais elevados na estação úmida (U = 1468,5; p < 0,01 – ver Apêndices).
A resolução CONAMA nº 357 de 17 de março de 2005 (BRASIL, 2006) permite uma
concentração de fósforo total de até 0,03 mg/l (300 µg/l) para ambientes lênticos Classes 2
(ver Anexo). Logo, o açude Jatobá I se encontra dentro desse limite.
105
Figura 2.18. Valores médios do Fósforo total (mgPO4/L) do açude público Jatobá I, Patos – PB, entre os meses
de abril e junho/2008 (período chuvoso) e julho e setembro/2008 (período de estiagem).
As concentrações de nitrogenados e fosfatados podem determinar a abundância de
insetos aquáticos e de acordo com Pelli e Barbosa (1998), várias espécies de insetos aquáticos
apresentaram uma correlação positiva com a concentração de nutrientes, a de Chironomidae
com o nitrogênio na forma de amônia. Abílio (1997) para o M. tuberculata mostrou em seus
estudos uma forte correlação positiva com a concentração de amônio e nitrato na água.
No entanto, no presente trabalho realizado no açude Jatobá I, esses animais não
apresentaram nenhuma correlação com nitrogenados e fosfatados.
2.3.3. Hábitos Alimentares
Com relação aos hábitos alimentares do zoobentos do açude Jatobá I, destacou-se as
seguintes categorias durante todo o período estudado: Carnívoros, Herbívoros, Detritívoros e
Onívoros (Figura 2.19).
Os Detritívoros foram os mais representativos durante todo o estudo, sendo o
percentual máximo obtido na segunda coleta da estação chuvosa, com 96,3% do total da fauna
na segunda coleta, seguida do um elevado percentual de detritívoros registrado na mesma
estação, com 96% na terceira coleta. O menor registro desse grupo ocorreu na oitava coleta da
estação chuvosa, com a freqüência de 64,8% na sétima coleta da estação de chuvas.
Os carnívoros foram expressivos durante todo o estudo, oscilando o seu percentual
principalmente na época de chuvas, onde as suas maiores abundâncias foram obtidas na
sétima coleta, atingindo 26,5%, e na oitava coleta, com 27%.
106
Os onívoros, durante a fase de chuvas, houve certa representatividade, principalmente
na oitava coleta, tanto estação chuvosa quanto da seca, atingindo um percentual de 5,4% e
7,5%, respectivamente.
Dos grupos alimentares do zoobentos, a representatividade dos Herbívoros foi
relativamente a mais baixa, principalmente durante os experimentos da estação chuvosa, onde
atingiram um percentual máximo de 3,7% na primeira coleta. No entanto, ocorreu um leve
aumento em sua representatividade no período de estiagem, aonde chegou a um máximo de
7,5% na quarta coleta.
A disponibilidade de alimentos e o tipo de substrato contribuem para fortes flutuações
tanto na riqueza taxonômica de grupos quanto na abundância e dinâmica populacional dos
invertebrados bentônicos. (LIMA, 2002).
Os resultados obtidos neste trabalho concordam com os de Peiró e Alves (2006), que,
em estudos com invertebrados da represa do Ribeirão das Anhumas (SP), verificaram que
mais de sessenta por cento do total da fauna foi composta de organismos detritívoros, valor
um semelhante do registrado no presente estudo. Em estudos com a comunidade de
insetos aquáticos do Ribeirão do atalho, distrito de Itatinga-SP, Motta e Uieda (2004) e
Florentino (2008), na Paraíba também registraram a predominância de organismos
detritívoros.
Segundo Strixino e Trivinho-Strixino (2006), muitos invertebrados bentônicos são
detritívoros, alimentando-se de matéria orgânica produzida na coluna d’água. Rinaldi (2007),
diz que o acúmulo de detritos fornece aos macroinvertebrados uma maior quantidade de
recursos alimentares. Já Correia e Trivino-Strixino (2005), diz que os substratos artificiais
funcionam como uma mini-barreira capazes de reter detritos quando presentes em quantidade
suficientemente para se tornar atrativo à fauna bentônica.
Já os herbívoros foram os menos representativos, e esta baixa representatividade
também foi registrada por Souza (2006), em estudos na lagoa Panati (Taperoá-PB) durante o
período de 2003-2004 e por Florentino e Abílio (2006) no açude Namorados (São João do
Cariri-PB) Porém, no início do estudo estes apresentaram uma boa porcentagem, podendo
estar associado com grande quantidade de plantas que foram submersas no período de
chuvas.
Foi observado que na maioria das vezes em que a porcentagem de carnívoros se
elevou, também se elevou a porcentagem de herbívoros. Segundo Ricklefs (2003), os
predadores em um determinado local tende a controlar a população de organismos
dominantes, abrindo espaço para que outras espécies colonizem o lugar, aumentando a
107
diversidade. Isto foi verificado no açude Jatobá I, onde a presença de predadores pode ter
influenciado no aumentou da riqueza de táxons, diminuindo a abundância dos táxons
dominantes.
Figura 2.19. Hábitos alimentares dos invertebrados bentônicos obtido por substrato artificial do açude público
Jatobá I, Patos-PB, no período chuvoso e de estiagem entre os meses de abril a setembro de 2008.
*Desconsiderou-se a família Chironomidae, por esta possuir vários hábitos alimentares, de acordo com Souza e
Abílio (2006).
As análises de similaridade mostraram haver diferenças significantes entre as
comunidades zoobentônicas que colonizaram os substratos artificiais no açude Jatobá I.
Houve uma nítida diferença entre os agrupamentos dos experimentos da estação
chuvosa (úmida), representado pela letra “U”, e dos experimentos da estação seca,
representado pela letra “S”, evidenciando que cada fase da experiência teve suas
peculiaridades.
A Figura 2.20 evidencia a presença de quatro agrupamentos significativamente
distintos, onde as três primeiras semanas mostram-se distintas das demais, tanto no período
seco como no período úmido. No entanto, as diferenças entre os períodos climáticos são
maiores que as diferenças internas de cada período.
108
Figura 2.20. Diagrama de agrupamentos com base no índice de Bray-Curtis para as amostras dos experimentos
de colonização de substratos artificiais no Açude Jatobá I (Patos-PB) nos períodos Chuvoso ou úmido (U) e
estiagem ou seco (S) (os números associados às letras dos períodos indicam as coletas no experimento; as linhas
pontilhadas indicam agrupamentos significativamente distintos, de acordo com o Simproof, com 1000
simulações).
2.3.4. Diagnose prévia dos Educandos
Os questionários foram aplicados as turmas de 6º a 9º ano, sendo o universo da
pesquisa de 51 alunos. Estes possuem entre 10 a 21 anos de idade, sendo a maioria do sexo
masculino, com 26 educandos (50,9%) e 25 alunas (49,1%). A Figura 2.21 mostra o
momento em que um questionário pré-teste foi aplicado em uma das turmas dessa escola.
Figura 2.21. Alunos da 6º ano (A) e da 7º ano (B) da Escola Agrícola respondendo ao pré-teste aplicado no mês
de abril de 2008.
109
Os educandos, em sua maioria, são residentes do bairro do Alto da Tubiba , com 37
alunos (72,5%), localizado próximo a essa instituição de ensino, enquanto que 08 alunos
(15,6%) moram no bairro do Mutirão, 04 alunos (7,8%) moram na zona rural do entorno do
açude e 02 alunos (3,9%) residem no bairro do Jatobá I.
Quanto à profissão dos pais, boa parte dos educandos não respondeu a pergunta,
correspondendo a 15 alunos (29,4%). Para aqueles que responderam, a profissão de maior
freqüência foi a de pescador, informado por 07 alunos (13,7%) e agricultor por 05 alunos
(9,8%). As outras profissões informadas pelos educandos, 7,8% (04 alunos) foram para
motorista (taxista, moto-taxista); 7,8% foram para vendedores ambulantes; 7,8% para
pedreiro; 5,8%, correspondente a 03 alunos, para donas de casa; 5,8% para sapateiros; 02
alunos (3,9%) para vaqueiro, e 7,8% para outras profissões (um aluno para cada profissão
respectiva: agente de saúde, vigia noturno, lavadora de roupas e serviços gerais).
A freqüência que os educandos vão ao açude Jatobá I foi questionada, obtendo-se as
seguintes respostas: 35 deles (68,6%) responderam que vão pelo menos uma vez por semana;
5 dos discentes (9,8%), disseram que vão pelo menos uma vez por mês; 2 estudantes (3,9%)
responderam que vão ao açude de seis em seis meses; 3 alunos (5,8%) freqüentam o açude
pelo menos uma vez por ano, enquanto que 15,6% (correspondente a 8 educandos) não
freqüentam o açude.
Como esses educandos são também moradores dos bairros ou de propriedades rurais
do entorno do açude Jatobá I, e a maioria mantém certa freqüência nesse corpo hídrico. Sendo
assim, foram questionadas quais as atividades praticadas por eles quando freqüentavam o
corpo aquático referido. Dentre as respostas obtidas, somente tomar banho no açude
correspondeu a 68,7% do total, seguido da pesca e banho, com 9,8%, só passear de canoa
correspondeu a 3,9%, enquanto 17,6% responderam não realizar nenhuma atividade no açude
Jatobá I.
Embora haja educandos nessa escola que sejam moradores do entorno do açude em
questão e que convivem em um ambiente escolar próximo do mesmo açude, uma pequena
parte não exerce nenhuma atividade neste corpo aquático.
2.3.5. Concepções dos Educandos sobre Meio Ambiente e Educação Ambiental
Com relação às concepções que os educandos possuíam em relação ao Meio
Ambiente, a maioria dos educandos não quiseram responder, atingindo um percentual de
62,7%. Dentre os que responderam o quesito, a categoria de meio ambiente como natureza foi
110
a mais freqüente, com 17,6%, (Figura 2.22), seguidos da categoria de resposta como lugar
onde se vive, com 11,7%. O meio ambiente como problema obteve um percentual de 7,8% e
apenas 1 educando (1,9%) na mesma citação foi incluída em duas categorias: como lugar para
se viver e como Natureza.
A Tabela 2.3 mostras as respostas dos educandos que mais se enquadram nas
categorias sobre Meio Ambiente.
Figura 2.22. Porcentagens das respostas dos alunos da escola agrícola de Patos, segundo as categorias de Sauvé
(1997 e 2005), sobre Meio Ambiente.
Tabela 2.3. Comparação entre as informações dos educandos e classificação de Sauvé (1997
e 2005) sobre as concepções de Meio Ambiente.
Citações dos educandos
Classificação de Sauvé (1997 e 2005)
“É importante porque se concentra as árvores e
os animais” (discente do 8º ano)
“É uma floresta, muito grande chamada Meio Ambiente como Natureza
Amazônia... Nessa floresta tem pedras, riachos,
lagos, açudes e também um grande rio chamado
Amazonas” (discente do 6º ano)
“Meio em que vivemos” (discente do 6º ano)
Meio Ambiente como Lugar para se viver
“Acho que nosso meio ambiente pode ser metade
de um ambiente se a gente não cuidar dele”
Meio Ambiente como Problema
(discente do 9º ano)
111
Os educandos, em sua maioria, perceberam o Meio Ambiente como natureza, ao qual
se deve apreciar e respeitar, reforçando a idéia de que o ser humano está dissociado do
mesmo, apenas como um observador, expondo assim um aspecto utilitarista dos atores
sociais. Segundo Sato (2001), o sentido atribuído à natureza, seja como objeto externo ao
ambiente ou como espaço de apropriação do ser humano, está ligado a valores ideológicos
construídos socialmente.
Resultados semelhantes foram obtidos por Guerra e Abílio (2006) e Bonifácio (2008),
que constataram para os alunos de cinco escolas públicas do Município de Cabedelo-PB, e
três escolas públicas de João Pessoa-PB no entorno do rio Jaguaribe, respectivamente, ambos
no Estado da Paraíba, uma concepção de Meio Ambiente como natureza, em sua maioria, e
como lugar para se viver.
Candiani et al., (2004), encontrou na maior parte dos estudantes no município de
Cruzeiro e no município de São José dos Campos, ambos no Estado de São Paulo, se
referiram a percepções ligadas a conteúdos conceituais, nos quais o Meio Ambiente estava
ligado à natureza, apresentando, portanto, o que se chama de visão naturalizada do ambiente.
Almeida e Suassuna (2005) verificaram que entre os estudantes de uma escola pública
do Distrito Federal o meio ambiente significava como um meio natural em que vivemos;
Cunha e Zeni (2007) pesquisando estudantes de Ciências e Biologia de escolas públicas do
Município de Blumenau, Santa Catarina, observaram que estes tiveram uma noção de meio
ambiente como natureza preservada.
Observou-se, portanto, que essa idéia de Meio Ambiente como Natureza revelou para
os alunos uma visão imaginária, harmônica e perfeita de uma Natureza considerada como
distante de seu convívio, rebuscada em outros biomas, como a Amazônia: “É uma floresta,
muito grande chamada Amazônia... Nessa floresta tem pedras, riachos, lagos, açudes e
também um grande rio chamado Amazonas” (discente do 6º ano).
Sobre isso, Bach-Junior (2007) diz que a percepção que o ser humano tem do
ambiente e da natureza é profundamente marcada pelo imaginário, o que pode ser confirmado
na constatação de suas construções míticas elaboradas a partir de uma vivência nos lugares
habitados ou contemplados, e por sua identificação com as múltiplas imagens que a natureza
revela. Tamaio (2002), no entanto, diz que o sentido atribuído a natureza, seja como objeto
externo ao ambiente ou como espaço de apropriação e usufruto do ser humano está ligado á
valores ideológicos construídos socialmente.
Percebeu-se também, em respostas dos educandos da Escola Agrícola de Patos-PB, a
categoria “como lugar para viver”, sendo simplesmente reduzido a uma dimensão geográfica,
112
ou seja, compreendem o espaço natural sem considerar as interações e a dinâmica dos seres
que fazem parte do ambiente. Segundo Sauvé (2005) esta concepção do meio ambiente
impede que o ser humano perceba os problemas ambientais de forma mais ampla, fomentando
uma visão reducionista, imediatista e até egocêntrica, por que a preocupação se restringe a sua
casa, seu trabalho e talvez ao seu bairro, impossibilitando a formação de uma consciência
planetária.
Para os que se enquadraram na categoria “como um problema”, o ser humano aparece
como aquele que destrói e polui, mas que tem a obrigação de cuidar dela. Sauvé (1997) diz
que esse é o ambiente biofísico pertencente a todos, o sistema de suporte da vida que está
sendo ameaçado pela poluição e pela degradação, onde se deve aprender a preservar e a
manter a sua qualidade.
Quanto à questão das concepções dos discentes sobre a educação ambiental, as
respostas revelaram que a maioria dos educandos desconhece o tema, sendo registrado um
percentual de 80,4% (41 alunos) que não responderam o quesito. Esse fato pode ser
relacionado a dois tipos de explicações: ou os discentes não estavam cientes de que se tratava
o assunto, não querendo se arriscar em expor sua opinião, ou os mesmos não estavam com
disposição em escrever no questionário.
Dentre os que responderam 3,9% (dois educandos) se enquadraram na categoria
Preservacionista, mostrando uma preocupação com a preservação do meio ambiente, 9,8% se
enquadram na categoria Generalista, pois demonstraram uma ampla e confusa visão sobre
conteúdos e/ou atividades de educação ambiental (5 educandos); 1,9% (1 educando) foi
enquadrado na categoria Prática educativa Interdisciplinar, enquanto que 3,9% (2 educandos),
como mostrado na Figura 2.23.
113
Figura 2.23. Porcentagens das respostas dos alunos da escola agrícola de Patos, segundo as categorias de Guerra
e Abílio (2006), para as concepções em Educação Ambiental.
Abaixo, na Tabela 2.4, estão listadas algumas das respostas fornecidas pelos alunos.
Tabela 2.4. Comparação entre as informações dos educandos e classificação de Guerra e
Abílio (2006) sobre as concepções de Educação ambiental.
Citações dos educandos
“É a pessoa que organiza as outras para não
jogar lixo” (discente da 7ª série)
“É muito bom” (discente da 7ª série).
Classificação de Guerra e Abílio (2006)
E.A. como Generalista
“É a educação do muito ambiente onde nós
vivemos” (discente da 7ª série).
“Muito importante” (discente do 9º ano)
“Para todos” (discente de 8ª série)
“Não jogar lixo e nem desmatar” (discente da 6ª
série).
E.A. como preservacionista
“Preservação” (discente da 6ª série)
“É tudo o que os professores e outras pessoas E.A. como prática de ensino interdisciplinar
nos ensina sobre a nossa educação no ambiente”
(discente da 7ª série).
“É importante que ensina as pessoas a preservar
o meio ambiente” (discente do 9º ano).
E.A. como Sensibilização e conscientização
“É a gente se educa respeitando o meio
ambiente” (discente da 7ª série)
114
Almeida e Suassuna (2005), por meio de questionário revelaram que a maioria dos
estudantes da escola pública acreditava que a educação ambiental seria um importante tema a
ser estudado e a associação à preservação do meio ambiente e que apenas uma pequena
parcela deles disse não ver importância na educação ambiental e demonstraram
desconhecimento a seu respeito. Fonseca et al., (2005) observou que na visão da maioria dos
alunos em uma escola federal do Rio de Janeiro, a educação ambiental significava proteger e
preservar o meio ambiente.
Percebeu-se que houve certo distanciamento entre a realidade social dos sujeitos e as
questões que envolvem a educação ambiental. Segundo Reigota (2001), “A educação
ambiental não deve estar baseada na transmissão de conteúdos específicos, já que não existe
um conteúdo único, mas sim vários, dependendo das faixas etárias a que se destinam e dos
contextos educativos em que se processam as atividades. (...) O conteúdo mais indicado deve
ser originado do levantamento da problemática ambiental vivida cotidianamente pelos alunos
e que se queira resolver. Esse levantamento pode e deve ser feito conjuntamente pelos alunos
e professores”.
2.3.6. Percepção dos Educandos sobre a Importância do Açude Jatobá I
Todo reservatório público tem a finalidade de suprir as necessidades hídricas de uma
população local. Por este motivo, os educandos foram questionados sobre a importância do
açude Jatobá I para Patos e região, sendo obtidos os seguintes dados: a resposta mais
freqüente foi o Jatobá I servir de abastecimento de água, correspondendo a 24,5% e como
fonte de renda para muitas famílias. A Figura 2.24 mostra as categorias sobre a importância
do açude Jatobá I de acordo com as respostas obtidas pelo educandos.
Figura 2.24. Percepções dos educandos da Escola Agrícola de Patos-PB sobre a importância do açude público
Jatobá I.
115
Quando os educandos responderam sobre o açude ser importante como fonte de renda,
se tratava de pessoas que dele dependiam deste corpo aquático, como citado por um aluno da
7º ano:
“É importante pois ajuda as pessoas ganharem a vida” (discente do 7º ano).
É importante elucidar que 39,6% dos alunos não responderam sobre a importância
desse açude para a cidade e para moradores do entorno, onde muitos deles residem. Houve um
aluno que informou que tal açude não tinha nenhuma importância. Ao contrário desta, houve
respostas interessantes sobre essa questão:
“Que é uma riqueza para todo o povo da cidade e também abastece a
cidade e água é vida para todos nós” (discente do 9º ano)
“Importante para equilíbrio ecológico e o ambiente fica um ar mais puro”
(discente da 9º ano).
Os educandos, principalmente da 9ª série, perceberam o referido ecossistema aquático
como algo mais de equilíbrio ecológico, a qual, implicitamente, refere-se como importante
para todos s serem vivos que dele depende.
Questionaram-se os educandos sobre as atividades humanas existentes no açude
Jatobá I. De acordo com o que eles perceberam e/ou vivenciaram, obteve-se o banho de açude
como a resposta mais freqüente, com 29,4%, seguido da prática da pescaria, com 21,5% . O
número de alunos que não responderam ou não sabiam sobre esse quesito atingiu 31,3%. A
Figura 2.25 mostra as respostas dos alunos dessa escola em relação à questão acima.
Figura 2.25. Percepções dos educandos da Escola Agrícola de Patos-PB sobre as atividades humanas que
ocorrem no açude público Jatobá I.
116
Nas respostas dos educandos sobre o banho de açude, houve comentários a respeito de
que a população de Patos durante os festejos realizados na sangria do açude Jatobá I leva as
pessoas exagerarem nas suas comemorações e morrerem afogados, ou para aqueles jovens que
saltam da “casinha”. Abaixo, está uma citação de um dos educandos sobre essa atividade, e
em seguida, a Figura 2.26 mostrando essa atividade percebida pelos alunos:
“Sim, porque os homens bebem, ficam pulando na sangria, os jovens e
outras pessoas pode causar acidente grande, pode até morrer” (discente do
7º ano).
Figura 2.26. Banho de açude Jatobá I, Patos-PB, como uma atividade humana percebida pelos educandos da
escola Agrícola: (A) Festejos durante a sangria; (B) jovens saltando da “casinha”.
A segunda atividade mais freqüente, na percepção dos alunos, foi a pescaria nesse
açude. Como existem educando matriculados nessa escola cujos pais são pescadores, seria
evidente que tal atividade fosse mencionada nesse quesito, aliado ao fato de que estes
profissionais são freqüentemente observados realizando suas atividades.
Em relação aos impactos ambientais (no questionário colocado como problemas
ambientais existentes no açude) decorrentes das atividades humanas, percebidos pelos
educandos em suas experiências vividas no entorno do Jatobá I, a poluição foi a resposta
dominante, atingindo um percentual de 27,4%.
Entretanto, houve, por parte dos educandos dessa escola, um equívoco em relação ao
entendimento sobre tais impactos ou problemas ambientais, onde muitas dessas estavam em
desacordo com a proposição da pergunta. Dentre essas respostas, os mosquitos, Barata
d’água, Cobra, Morte, Correnteza, Caracol, Plantas aquáticas e Brigas foram informados. A
Figura 2.27, mostra as respostas obtidas pelos educandos sobre os impactos ambientais no
Jatobá I.
117
Figura 2.27. Percepções dos educandos da Escola Agrícola de Patos-PB sobre os Impactos Ambientais que
ocorrem no açude público Jatobá I.
Segundo Guerra e Abílio (2006) em estudos com estudantes de escolas públicas do
município de Cabedelo-PB, a maioria destes atores sociais apresentam facilidade em dar
exemplos de problemas ambientais, e mencionam a poluição, as queimadas, o desmatamento,
como aspectos que prejudicam o meio ambiente.
Dentre as maiores preocupações com o meio ambiente, o grupo de estudo se referiu à
poluição em geral e, num segundo plano, o lixo. Entretanto, esse mesmo grupo pouco
questiona os seus valores consumistas e não tem o hábito de separar o lixo para vendê-lo ou
doá-lo (FONSECA et al.,2005).
Os alunos elucidam que a morte (neste caso, refere-se às pessoas que exageram em
bebidas alcoólicas e imprudências, morrendo afogados ou levados pela correnteza no
sangradouro) como um problema freqüente, principalmente durante a época das chuvas.
Nesse período de chuvas, os educandos também comentaram que havia muita discórdia
entre os banhistas, sendo aqui também relacionado como um problema ambiental encontrado no
açude.
Já os alunos que são residentes no bairro do Mutirão perceberam que havia lavagem de
carros naquele local (preferido por estes devido ao fácil acesso ao açude Jatobá I). Para esse
118
educandos, observar tais impactos se torna constante, uma vez que estas atrocidades ocorrem
quase todos os dias.
Observou-se um elevado percentual de educandos que não respondeu, não soube informar
ou mencionou que não havia problemas no açude (27,1% no total). Isso deve ser explicado pelo
número de alunos que não freqüentam o açude Jatobá I com tanta intensidade. Porém, revela que
a Escola não realiza atividades práticas de Educação Ambiental na realidade vivida pelos
educandos, uma vez que estes são todos residentes de bairros ou propriedades do entorno do
açude Jatobá I.
Foi questionado aos discentes da escola se estes percebiam os animais aquáticos existentes
nesse açude e se estes poderiam citá-los pelo menos cinco deles. As Respostas sobre a fauna
existente no açude Jatobá I foi listado na Figura 2.28.
Figura 2.28. Percepção dos educandos da Escola Agrícola de Patos sobre os animais aquáticos que habitam o
açude Jatobá I, Patos-PB.
Os grupos de animais que foram informados pelos educandos foram: peixes, aves,
répteis, anfíbios, moluscos e artrópodes (inseto e crustáceo). O peixe, genericamente, foi a
resposta mais freqüente entre todas, atingindo um percentual de 16,5%. Dentre os peixes, os
mais comentados foram o Tucunaré, o Piau e a Piaba, cada um com 3,4%.
119
Já para os répteis, a cobra atingiu 9,5% do total de respostas, sendo a segunda mais
freqüente, seguido do cágado, com 6,1%; Já os moluscos, o aruá ou caramujo atingiu 5,1%;
dentre as aves, a galinha d’água (marreco) foi a terceira mais freqüente, atingindo 8,7% das
respostas; Para os artrópodes, o camarão (3,4%) e a barata-d’água (2,6%). Educandos que não
responderam ou não souberam, obteve-se um percentual de 17,3%.
Observou-se que os educandos, de acordo com os seus valores, indicaram os animais
de estima econômico (peixe), ou de potencial perigo (cobra), sendo assim mais notável de ser
percebido.
Quanto à importância desses animais aquáticos para o açude Jatobá I e/ou para o
homem, os discentes, em sua maioria, não souberam ou não responderam o quesito,
atingindo-se 47,4%.
Para os que informaram sobre a importância dos animais citados, a que mais se
destacou foi que essa fauna servia para a alimentação humana, como no caso o peixe, camarão
e marreco, atingindo 28%. Abaixo, a Figura 2.29 mostra a importância desses animais na
percepção dos educandos.
Figura 2.29. Percepção dos educandos da Escola Agrícola de Patos sobre a importância dos animais aquáticos
que habitam o açude Jatobá I.
Houve resposta em que os animais aquáticos promovem a limpeza do açude Jatobá I,
indicando que as sujeiras lançadas pelo homem podem ser facilmente removidas por estes
organismos. A citação abaixo mostra esse tipo de associação:
“Multiutilidades, é que os peixes comem as sujeiras que nós trazemos de
casa”. (discente do 9º ano).
120
“Sim, eles servem de alimento para seres humanos, servem para limpar o
açude de diversos Métodos” (discente do 9º ano).
Os alunos ainda foram questionados sobre a existência de algum animal aquático no
açude Jatobá I que fosse potencialmente perigoso para o ser humano. As respostas mostraram
que houve uma relação a cobra como o animal mais perigoso do açude Jatobá I %, atingindose um percentual de 30,5% entre os educandos. A barata-d’água foi a segunda mais freqüente,
com 6,7%, enquanto que o caramujo (aruá) obteve-se 5,1%. Apenas 1,7% foram atribuídas ao
mosquito. A Figura 2.30 mostra as respostas sobre essa questão.
Figura 2.30. Percepção dos educandos da Escola Agrícola de Patos sobre os animais aquáticos que apresentam
perigo para o homem existente no açude Jatobá I.
Embora não houvesse justificativa por parte dos educandos, a relação de perigo com a
cobra pode estar associada ao fato de que o açude em questão estar repleto de capim-elefante
e vegetação rasteira o que poderia oferecer condições propícias para a acomodação desses
animais nas margens desse corpo aquático, justificando-se pelo perigo potencial da cobra no
Jatobá I.
Dentre os poucos alunos que justificaram as suas respostas, o aruá (Pomacea lineata)
oferece perigo por essa maneira:
“Corte nos pés pelo aruá causa doença” (discente do 8º ano).
Para alguns educandos, havia o mito de que se cortar com a concha do “aruá”
(Pomacea lineata) poderia causar além do corte no pé, uma doença. Porém, tal doença não foi
especificada por aqueles.
121
A respeito da barata-d’água (Belostoma sp.), observou-se que os alunos, em sala de
aula, comentaram que a picada desse animal é muito dolorida e que causa lesões
consideráveis no local da picada. Segundo Epler (2006), diz que esses animais possuem
digestão extracorpórea, liberando suas enzimas digestivas em suas presas. Embora o ser
humano não seja uma presa para esses animais, isso não impede uma eventual picada por
esse.
Sobre os animais aquáticos que oferecem risco a saúde humana, o percentual de
educandos que não respondeu, não soube, que informaram que não existe tais animais no
açude ou que as informações foram consideradas desconexas, atingiu 55,8%. Isso mostra que
a maioria dos discentes não conhece a respeito desses animais que podem ser hospedeiros
intermediários de agente causadores de doenças ou que possam ferir o ser humano.
Para concluir, foi aplicado aos educandos quinze ilustrações de invertebrados
bentônicos, [(Melanoides tuberculata, Oligochaeta, Belostomatidae (barata-d’água), Naiada
de Odonata (libélula), larva de coleóptera, Nepidae, Dytiscidae, Chironomidae, Aedes egipti,
Baetidae, Hirudínea (sanguessuga), Pomacea lineata (aruá), Biomphalaria sp., Bivalvia,
Macrobrachium (camarão)], propondo-se para os mesmo que respondessem sim ou não para
os animais conhecidos, informando o nome deles. As respostas foram representadas na
Figura 2.31.
Figura 2.31. Reconhecimento dos invertebrados bentônicos através das ilustrações aplicadas aos educandos da
escola agrícola de Patos.
122
Dentre os animais das ilustrações, 67% dos educandos reconheceram o gastrópode P.
lineata, seguido do pulmonado Biomphalaria sp. (56%). O Macrobrachium sp. foi o terceiro
mais reconhecido (44%), a barata-d’água (39%).
A explicação foi que a maioria dos educandos que visitam o açude Jatobá I,
supostamente observaram esses animais, tão comuns nesse ambiente aquático, além de serem
fáceis de serem percebidos devido ao seu tamanho e ao valor a estes atrelados, seja positivo
(fator econômico, como o camarão) ou negativo (apresentam perigo ao homem, como o aruá).
As respostas também indicam que os educandos reconheceram o Melanoides tuberculata,
conhecido também como aruá-parafuso (36,5%) e as sanguessugas (15%).
Porém, os alunos mostraram conhecer alguns animais que vivem no referido açude,
uma vez que foi registrado nos questionários, ao lado da ilustração do Bivalvia, que “esse não
tem no açude”.
2.3.7. Excursão Didática
Como se trata de uma escola cujo ensino era de nível técnico-fundamental, a maioria
dos discentes já conhecia alguns conceitos básicos, como lixiviação, erosão, o que facilitou
bastante a linguagem usada na situação.
Todas as turmas estiveram presentes durante a realização da excursão didática, cujo
objetivo foi apontar, na prática, as belezas e os problemas existentes no açude Jatobá I. Nesse
contato com o ambiente vivenciado pelos alunos, foram sendo evidenciadas, com a ajuda dos
professores da escola, a influência do ciclo hidrológico no açude Jatobá I e as atividades
humanas existente na área. A Figura 2.32 mostra as aulas de campo experienciadas pelos
alunos nas margens do açude Jatobá I, nas proximidades da escola agrícola.
123
Figura 2.32. Aula de campo desenvolvida com os alunos e professores da Escola Agrícola de Patos-PB, no mês
de Agosto de 2008.
À medida que foi sendo explorado o ambiente, às margens da bacia hidráulica do
Jatobá I, um dos professores solicitou uma explicação sobre as doenças transmitidas por
moluscos, apontando para um gastrópode vulgarmente conhecido como “aruá” (Pomacea
lineata).
Baseado nas respostas dos alunos sobre a periculosidade dos animais aquáticos, onde
foram falados do risco no corte por conchas deste animal, foram mostrados para os educandos
exemplares encontrados no local de animais que apresentam perigo para o ser humano,
quebrando-se, naquele momento, qualquer mito. A Figura 2.33 abaixo mostra os animais P.
lineata (aruá) e Melanoides tuberculata (aruá-parafuso) que foram mostrados para os
educandos em observações de campo.
Figura 2.33. Pomacea lineata (aruá) e Melanoides tuberculata (aruá-parafuso) encontrados durante as
observações em campo no açude Jatobá I, Patos – PB.
2.3.8. Educandos e o Substrato artificial
Foi realizado também com todas as turmas da escola Agrícola, um acompanhamento
dos experimentos com substrato artificial para a captura de invertebrados aquáticos.
Durante essa fase do experimento, realizou-se uma breve explicação sobre a
importância desses animais para o ambiente, o porquê da captura dessa fauna no açude e
como ocorreria a colonização dos invertebrados nos substratos. A Figura 2.34 mostra o
momento em que o substrato artificial estava sendo instalado, com as devidas explicações e
cuidados.
124
Figura 2.34. Instalação dos substratos artificiais no açude Jatobá I, juntamente com alunos e professores da
escola agrícola de patos, nas proximidades da sede educacional estudada.
Percebeu-se que as turmas participavam das atividades com grande interesse, uma vez
que os educandos estavam assistindo às aulas em plena margem do açude Jatobá I, em contato
direto com a natureza.
As coletas ocorreram duas semanas após a instalação, o qual apenas um cesto foi
coletado para que fossem mostrados os animais capturados no açude Jatobá I aos educandos,
inferindo sobre as características do mesmo no ambiente. Os invertebrados capturados foram:
ninfas de Odonata (libélulas), moluscos (Pomacea lineata) além de camarão (Macrobrachium
sp.) e besouro-d'água (Dytiscidae). A Figura 2.35 ilustra um dos momentos de captura de
animais em substrato artificial, onde em campo foram revelados para os educandos, que
anotavam as informações sobre o ambiente no momento da coleta.
Figura 2.35. (A) Coleta de substrato artificial para a captura de zoobentos, no açude Jatobá I, com os educandos
da escola Agrícola de Patos (B); mostrando, em campo, alguns animais capturados.
125
2.3.9. Atividades em Sala de Aula
Após as aulas de campo e a realização de um curto diagnóstico do açude Jatobá I
através dos experimentos com substrato artificial com zoobentos, foram desenvolvidas, na
sede da escola, aulas voltadas para a questões sobre o açude Jatobá I.
Na primeira aula, foi trabalhado com os alunos, através de pergunta e respostas (aulas
participativa) a respeito do que foram vistos pelos educandos nas aulas de campo. Estes, por
sua vez, lembravam-se do que foram mostrados durante as aulas de campo, reconhecendo-se
diversas áreas e pessoas presentes nas fotografias expostas, despertando o interesse nas aluas.
Monteiro (2004), estudando as escolas municipais de ensino fundamental e médio de
São José dos Ausentes-RS, disse que as fotografias poderiam ser aplicadas, abrangendo suas
questões teórico-filosóficas, suas interferências no desenvolvimento de maiores estágios das
percepções, leitura e críticas às questões ambientais, priorizando a exposição de fotografias
como vetor principal de apoio à educação ambiental.
Abordou-se, também na mesma aula, sobre a poluição, atividades humanos e impactos
no ambiente, meio Ambiente e uma breve apresentação sobre os resultados obtidos na
pesquisa com substratos artificiais, mostrando alguns dos animais capturados no substrato
artificial, como ninfas de libélulas, besouros d’água, camarão, larvas de mosquitos,
oligoquetas e as quatro espécies de moluscos existentes no açude Jatobá I.
Aproveitou-se a oportunidade para apresentar o perigo que alguns animais bentônicos
poderiam oferecer para a saúde humana, explicando-se o ciclo de uma doença comum no
Nordeste brasileiro, a Esquistossomose (vulgarmente conhecida como “barriga-d’água”),
como mostrado na Figura 2.36.
Figura 1.36. Aula-palestra desenvolvida na Escola Agrícola de Patos-PB referente à importância do açude
Jatobá I para a região, bem como aprofundar nos problemas ambientais existentes nos local devido as atividades
humanas.
126
Em outro momento, por fim, houve uma explanação sobre o objetivo da educação
ambiental para as escolas e comunidade em geral, mostrando-se casos práticos vivenciados
pelos educandos da escola agrícola de Patos.
De acordo com Oliveira (2003), a Educação Ambiental (EA) se apresenta como uma
estratégia que promove a busca de soluções das questões relacionadas ao meio ambiente e nos
leva a repensar o mundo enquanto espaço de convivência dos seres humanos entre si e deles
com a natureza.
127
2.4. CONCLUSÕES
Os Chironomidae e Oligochaeta foram os grupos dominantes durante o período de
chuvas, enquanto que os Ostracoda e os Oligochaeta dominaram o período de estiagem no
açude Jatobá I.
A dominância de Chironomidae e Oligochaeta no açude Jatobá I, durante o estudo
com substrato artificial, pode indicam alterações geradas pela ação antrópica no ambiente,
embora os valores físicos e químicos da água analisadas se mostrassem dentro dos limites
estabelecidos pelo CONAMA.
A presença do Macrobrachium sp., um animal de origem exógena, foi marcante no
açude, principalmente entre as plantações de capim-elefante que foram plantadas dentro da
faixa úmida no Jatobá I.
De uma maneira geral, a maioria dos educandos da Escola Agrícola de Patos convive
com o problema que assola o açude Jatobá I (principalmente a poluição), porém, não se
sentem como agentes capazes de melhorar o seu ambiente.
As concepções atribuídas ao meio ambiente e ao problema ambiental abordam
elementos que se encontram mais presentes no cotidiano desses educandos, não fugindo da
visão naturalista (referindo a Meio Ambiente), como também a elementos que incomodam o
bem-estar individual, a sujeira e poluição, por exemplo (referindo a Problema Ambiental).
Quanto à compreensão do que seja Educação Ambiental, este precisa ser melhor
trabalhado nas referidas Escolas e de forma urgente e interdisciplinar, uma vez que, é algo que
deve está na base das relações dos seres humanos.
Com relação aos experimentos com substratos, notou-se um grande interesse por parte
dos discentes para com os animais aquáticos, despertando a curiosidade em conhecê-los
melhor.
128
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise de zoobentos em substratos artificiais, como um diagnóstico de curta
duração para avaliar a qualidade ecológica do açude Jatobá I, Patos-PB, demonstrou que
existem alterações no ambiente devido a atividades humanas no seu entorno. Entretanto, tais
alterações não são consideradas como um risco a saúde pública, uma vez que os valores
médios de nutrientes (nitrogênio e Fósforo total) estão dentro dos parâmetros recomendados
pelo CONAMA para o abastecimento de água.
Mesmo assim, o estudo poderia ser mais prolongado, pois diagnóstico ambiental
utilizando-se o zoobentos em substrato artificial, embora seja mais prática em relação aos
métodos tradicionais, exige muito esforço amostral durante os experimentos em um prazo
curto de tempo para processar as amostras. Além disso, o tempo estabelecido nesse trabalho
seria de três meses de análises para cada estação (chuvosa e seca), porém a ação de vândalos
e/ou curiosos no local, associado ao fácil acesso aos experimentos, destruiu ou deslocou boa
parte dos cestos de polietileno, inutilizando-as para as análises.
Outro transtorno ocorrido neste trabalho foi a demora do documento de autorização
do IBAMA para a realização de coletas de invertebrados bentônicos no local, o que provocou
o atraso da instalação dos experimentos.
Além disso, contou-se que seria um período sem grandes chuvas na região, o que
ocasionou a instalação dos experimentos no mês de março/2008, pois se contava com as
precipitações pluviométricas para iniciar a instalação dos substratos artificiais sem problemas
(nesse período, o açude Jatobá I estava com 35% da sua capacidade). Porém, uma semana
depois da instalação dos cestos, o referido açude estava com 95% da capacidade total,
ocasionando a inacessibilidade de todos os pontos já determinados, tendo que refazer tudo
novamente, desde à aquisição do material, confecção de cestos, bóias e substrato.
Para os trabalhos realizados na Escola Agrícola de Patos, os problemas ocorridos
foram com relação à burocracia exigida pela Secretaria de Educação do município e pela
instituição de ensino, e pela justificativa fornecida pela diretoria da escola dizendo que os
alunos precisariam de aulas de recuperação, impedindo boa parte das atividades a serem
realizadas com os educandos em sala de aula, inclusive o questionário pós-teste.
Com relação às entrevistas realizadas pelos moradores e pescadores, houve problemas
com relação ao universo da pesquisa. Muitos atores sociais se recusavam ser entrevistados por
associarem o tipo de trabalho o entrevistas políticas, devido ao ano eleitoral para prefeito,
129
mesmo sendo indicados por pessoas influentes do local e fosse mostrado a finalidade da
pesquisa.
Porém, observações e entrevistas realizadas com os moradores do entorno utilizam
formicida na época de vazante para proteger as plantações, além de lançamento de efluentes
domésticos sem nenhum tratamento no açude, sendo necessária uma maior fiscalização por
parte dos órgãos competentes para conter esse tipo de poluição, pois estes efluentes podem
percolar e atingir os lençóis freáticos, enriquecendo a água subterrânea, uma vez que estas
águas são utilizadas em momentos de seca na construção de cacimbas para atenderem as
demandas hídricas do local.
Também é necessária uma maior intervenção dos órgãos públicos com a questão de
informações a respeito da participação popular na fiscalização contra atrocidades ocorridas no
açude Jatobá I.
130
RECOMENDAÇÕES
É necessária uma maior intervenção dos órgãos públicos com a questão de
informações a respeito da participação popular na fiscalização contra as influências antrópicas
negativas ocorridas no açude Jatobá I.
Que haja maiores esclarecimentos para a população sobre a Política Nacional dos
Recursos Hídricos, informando principalmente os moradores sobre a questão das atividades
nas suas propriedades, como queimadas, efluentes domésticos, impedimento da população ao
livre acesso ao açude Jatobá I, além da construção de cercas dentro da faixa úmida da bacia
hidráulica, oferecendo riscos para os banhistas e pescadores.
Deve-se promover com os estudantes atividades voltadas para a percepção do meio
ambiente como um elemento constituinte do seu dia a dia e também incorporar a visão do ser
humano como elemento transformador do seu meio e um dos principais elementos causador
de problemas ambientais.
Atividades educacionais, mais voltadas para o campo (de preferência, no lugar de
convívio), também devem ser estimuladas, uma vez que os educandos dessa escola técnicafundamental apresentaram mais interesse em conhecer mais sobre o seu ambiente de
convivência.
É recomendado também se trabalhar a parte de coliforme fecal e total e matéria
orgânica no sedimento do açude Jatobá I, em locais onde haja a presença de criação de
animais. Embora não tenha sido analisado nenhum desses parâmetros, observou-se em muitos
desses locais um aspecto de decomposição. Isso é necessário, pois se evidenciou que muitos
atores sociais ingerem a água in natura do açude.
Recomenda-se em não realizar trabalhos de pesquisa em anos eleitorais, uma vez que
se perde muita no universo da pesquisa ou nas respostas dos entrevistados por estes acharem
que estão sendo abordados por pessoas envolvidas em campanhas políticas.
É necessário que haja mais estudos aprofundados em taxonomia e ecologia desses
invertebrados bentônicos regionais, para futuramente promover uma maior confiabilidade de
índices bióticos, ale, de confecção de chaves de identificação mais apurada para o semi-árido
brasileiro.
131
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138
APÊNDICES
_____________________________________________
139
APÊNDICE A – Questionário semi-estruturado aplicado aos alunos da Escola Agrícola de
Patos-PB.
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
MESTRADO
Sub-Programa UFPB/UEPB
QUESTIONÁRIO PARA O(A) ALUNO(A)
Turma (série): ____________________ Idade: ______ Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino
1.Você mora em qual bairro da cidade de Patos?___________________________________
2.Profissão do pai dou da mãe?____________________________________________
3. Na sua opinião, qual a importância do açude Jatobá I para a cidade de Patos?
4. Você costuma ir ao açude Jatobá I pelo menos:
( ) Uma vez por dia;
( ) Uma vez por semana;
( ) uma vez a cada mês;
( ) uma vez por ano;
( ) Nenhuma vez.
5. O que você costuma fazer quando vai ao açude Jatobá I? (pode marcar mais de uma opção).
( ) Pescar;
( ) Tomar banho/ nadar
( ) Praticar esporte nas margens’
( ) Colocar os animais para pastarem
( ) Buscar grama para os animais
( ) Buscar água para consumo da casa
( ) Andar nas margens
( ) Passear em canoas
( ) Ajudar ou acompanhar parentes em bares ou restaurante nas margens
( ) Outras atividades:
___________________________________________________________________________
6. Você pode dizer quais as principais atividades humanas que você observa no açude Jatobá I
e no seu entorno?
7. Quais os principais problemas (impactos ambientais) encontrados no açude Jatobá I?
8. No seu ponto de vista, esses impactos que você mencionou anteriormente podem causar
problemas para as pessoas da cidade de Patos? Por quê?
140
9. E para os organismos (outros seres vivos) aquáticos do açude Jatobá I, tais problemas
podem prejudicá-los? Por quê?
10. Você pode listar pelos menos 5 (cinco) animais aquáticos do açude Jatobá I?
11. Você sabe alguma utilidade dos animais aquáticos possam ter no açude Jatobá I? Qual(is)?
E para o Homem, esses animais têm utilidade (Ver última folha com as figuras dos animais).
12. Tem algum animal que vive dentro do açude Jatobá I que pode ser perigoso para o
Homem? Qual(is)?
13. Você conhece alguém que tenha adoecido por causa de algum animal aquático do açude
Jatobá I? Qual doença?
14. Mapa de Conceitos: apresente um conceito (o que você acha sobre) para os seguintes
termos:
MEIO AMBIENTE:
EDUCAÇÃO AMBIENTAL:
15. Você já viu algum desses animais no açude Jatobá I (na última folha)? Se já viu, marque
sim, caso contrário, marque não. E circule aquele animal que pode transmitir doença?
141
142
APÊNDICE B – lista de Questionário aplicado aos Atores sociais do entorno do açude Jatobá
I, Patos-PB.
1. Você mora em qual bairro da cidade de Patos?
2. Há quanto tempo mora aqui? E há quanto tempo vive no açude Jatobá I?
3. Você gosta de morar/viver aqui? Por quê?
4. Na sua idéia, para que serve (qual a importância) do Açude Jatobá I para Patos e região?
5. Mudou muita coisa aqui no açude Jatobá I, de 20 anos para cá? O quê? Mudou para
melhor ou para pior?
6. Gostava mais do açude Jatobá I antigamente ou gosta dele nos dias de hoje, em relação a
sua profissão?
7. O que você acha do aumento do número de casas que estão sendo construídos nas
margens do açude Jatobá I? Por quê?
8. E quando o açude está secando, como vocês se apropriam do terreno? O que costumam
fazer?
9. Você pode dizer quais as principais atividades humanas que você observa no açude Jatobá
I?
10. E quais os principais problemas encontrados no açude Jatobá I, na sua opinião?
11. Você acha que alguma casa lança diretamente o esgoto no açude Jatobá I? E você acha
que isso é problema?
12. Quanto à questão das vacarias, você acha que de alguma forma prejudicam as águas do
Jatobá I? Por quê?
13. Você acha que de alguns anos para cá, tem aumentado ou diminuído a quantidade de
peixes no açude Jatobá I? Por quê?
14. Você considera o açude limpo ou sujo? Por quê?
15. Você costuma beber água do açude Jatobá sem nenhum tratamento? Por quê?
16. Quem você acha que deve cuidar do açude Jatobá I?
17. Você poderia me falar alguns nomes de animais aquático do açude Jatobá I?
18. Fora os peixes, você poderia me dizer outros animais (bichos) que vivem dentro d’água?
143
19. Alguma vez você já viu saindo “mariposas” da água do Jatobá I? Quando? É freqüente?
20. Sabe me dizer se no açude Jatobá I há sanguessugas?
21. Aquela massa rosada que está grudada nas canoas, estacas ou postes dentro do açude
Jatobá I, você sabe o que é? Se fosse na sua canoa, você tiraria aquilo? Você acha que
prejudicaria sua canoa? Sabe se alguém usa aquilo para alguma coisa, como cura de
doença, por exemplo?
22. Você já comeu ou conhece alguém que come “Aruás” ou “Lolôs”? Ou usa para a pesca?
23. E para os seres aquáticos do açude Jatobá I, os problemas como poluição, criação de
animais, lavagem de carros, entre outros, podem prejudicá-los? Por quê?
24. Você sabe alguma utilidade que esses animais aquáticos possam ter no açude Jatobá I?
Qual(is)? E para o Homem, esses animais têm utilidade? De que forma, na sua opinião?
25. Tem algum desses animais que vivem dentro do açude Jatobá I que possam ser perigosos
para o Homem? Qual(is)?
26. Quando você pega os camarões miúdos, onde você costuma ir pegá-los? O que você usa e
que horas você coleta? Costuma vir mais algum bicho, fora os peixes? O quê?
27. Há quanto tempo é pescador?
28. Quantas vezes vêm pescar no açude Jatobá I?
29. Que tipo de pesca costuma fazer? Usa Tarrafa? Qual a malha?
Armadilha?
Rede de Arrasto?
30. A que horas você costuma pescar? Dia? Noite?
31. Você passa quanto tempo para pescar?
32. O que você costuma usar como isca?
33. Você sabe quantos tipos de peixes tem no açude Jatobá I?
34. Qual a melhor época para Tarrafa; Vara de pescar; armadilha?
35. Dá para viver somente com o pescado do açude Jatobá I?
36. Qual a época que o IBAMA proíbe a pesca no açude Jatobá I? Pr quê? O que você
costuma fazer nessa época?
144
APÊNDICE C. Teste U das variáveis ambientais do açude Jatobá I, Patos-PB, nos períodos de Chuva e de Estiagem.
145
APÊNDICE D. Correlação não-paramétrica de Sperman das variáveis ambientais do açude Jatobá I e a sua fauna bentônica, Patos-PB, nos
períodos de Chuva e de Estiagem do ano de 2008.
146
ANEXOS
_____________________________________________
147
ANEXO A. Pluviosidade Diária de Patos - PB do ano de 2008, Local da coleta:
EMBRAPA/Patos
Meses Março
Abril
Dias
26,2
42,2
01
0
2,8
02
0
18,1
03
11,5
17,5
04
4,2
52,4
05
0,2
0
06
0
1,5
07
8,4
0
08
3,3
7,3
09
9,2
3,1
10
0
0
11
0
19,5
12
6,3
0
13
83,5
5,2
14
4,4
2,8
15
2,9
0
16
0
0
17
78,8
0
18
9,6
0
19
25
0
20
2,7
0
21
4,2
0
22
1,5
0
23
35
32,4
24
33
6,2
25
15,4
0
26
26,3
0
27
42,8
0
28
11,6
0
29
6,1
0
30
37,4
31
TOTAL
489,5
211
Fonte: EMATER de Patos – PB.
Maio
0
0
0
0
0
57,8
0
1,0
1,3
103
6,8
0
0,
0
0
0
0
2,3
0
0
0
4,8
0
0
0
0
0
6,0
0
0
0
183
Ano de 2008
Junho
Julho
0
0
0
0,8
8,6
0
0
0
0
0
0
0
0
0
4,4
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
13,8
0
5,6
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
1,4
0
0
0
0
0
0
0
0
0
7,0
Agosto
Setembro
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
3,7
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
3,7
148
ANEXO B. A tipologia das concepções sobre o Ambiente (retirado de SAUVÉ, 1997).
AMBIENTE
RELAÇÃO
Como natureza
Para ser apreciado e
preservado
Como recurso
Para ser gerenciado
Como problema
Para ser resolvido
Como lugar para viver
Educação ambiental, sobre
e no para cuidar do
ambiente
Como local para ser
dividido
Como biosfera
Como projeto comunitário
Para ser envolvido
CARACTERÍSTICAS
Natureza como catedral, ou
como um útero, pura e
original.
Herança biofísica coletiva,
qualidade de vida.
Ênfase na poluição,
deteriorização e ameaças.
A natureza com seus
componentes sociais,
históricos e tecnológicos.
Espaçonave Terra. “GAIA”
a interdependência dos
seres vivos com os
inanimados
A natureza como foco na
análise crítica, na
participação política da
comunidade
149
ANEXO C. Concepções e categorias para caracterizar os tipo de estudos com educação
ambiental (GUERRA e ABÍLIO, 2006).
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
CARACTERÍSTICAS
Generalista
Demonstra uma visão ampla e confusa sobre
conteúdos e/ou atividades de educação
ambiental.
Valorizam “em excesso” o processo de
preservação de recursos naturais (manutenção
de recursos naturais intocáveis ou para
gerações futuras);
Valoriza o processo de conservação dos
recursos naturais (estes podem ser explorados
desde que seja utilizados de forma racional)
Processos de formação do indivíduo crítico e
reflexivo quanto aos problemas ambientais e
utilização dos recursos ambientais de forma
racional.
Preservacionista.
Conservacionista
Sensibilização e conscientização
Desenvolvimento sustentável
Promoção de valores que mantenham os
padrões de consumo dentro do limite das
possibilidades ecológicas a que todos podem,
de modo razoável, aspirar, minimizar
impactos diversos sobre os recursos naturais,
a fim de manter a integridade global do
ecossistema.
Ecologista-ecossistêmico
Demonstra uma confusão com a ciência
Ecologia ou seus conceitos com quando se
verifica que apenas n ecossistema onde se
deve desenvolver atividades de educação
ambiental.
Prática educativa interdisciplinar
Demonstra que haja interações entre
disciplinas, através de um planejamento
integrado das experiências de aprendizagem,
para se desenvolver atividades e/ou práticas
educativas da Educação ambiental.
Sócio-ambiental-cultural
Considera o meio social e o cultura inserido
no ambiente natural; processo de formaçãoinformação e o desenvolvimento da
consciência crítica sobre as questões
ambientais com a participação das
comunidades na conservação e manutenção
do equilíbrio ambiental.
150
ANEXO D.. Médias das variáveis físicas e químicas da água do açude Jatobá I entre o período de abril a setembro de 2008.
Chuvoso
Estiagem
Dias das coletas
10/04/2008
24/04/2008
01/05/2008
08/05/2008
15/05/2008
23/05/2008
29/05/2008
05/06/2008
12/06/2008
23/07/2008
07/08/2008
13/08/2008
20/08/2008
27/08/2008
03/09/2008
10/09/2008
17/09/2008
24/09/2008
Média total
pH
5,74
7,43
7,59
7,67
7,55
8,06
7,86
7,99
8,23
8,45
7,95
7,93
8,22
8,19
8,23
8,26
8,40
7,56
7,86
CE
189,16
188,74
185,46
182,51
178,47
180,43
171,47
184,61
199,30
177,31
179,41
172,89
218,67
209,20
193,25
167,82
218,11
224,67
189,43
Turbidez
7,69
3,61
2,92
2,40
4,07
3,21
2,38
3,99
3,52
3,26
2,10
3,07
2,45
2,79
2,63
2,73
2,45
3,96
3,28
Sal. total
0,10
0,10
0,10
0,10
0,10
0,10
0,10
0,10
0,10
0,09
0,10
0,10
0,10
0,10
0,10
0,10
0,10
0,10
0,10
TDS
94,51
94,36
92,74
91,14
89,23
90,18
85,72
92,28
99,60
88,60
89,64
86,59
109,00
104,31
96,51
84,13
109,44
113,00
94,72
TºC
29,62
31,28
31,17
30,69
27,66
29,17
28,82
27,93
26,93
26,16
25,33
24,60
26,20
26,13
25,77
26,13
26,57
25,35
27,57
OD
2,24
4,99
5,55
5,80
3,96
4,93
6,83
6,22
6,53
10,39
7,72
8,31
8,89
7,35
8,06
8,73
8,14
7,70
6,78
Alcal
9,89
10,00
9,89
9,78
10,00
10,00
10,00
10,00
12,00
11,89
12,00
11,89
13,00
12,00
12,00
12,00
12,78
13,33
11,21
Dureza Total
45,11
41,56
42,00
42,00
42,00
42,11
42,89
44,00
42,00
42,89
42,67
43,78
44,22
44,00
44,00
44,00
45,78
47,00
43,38
Amônia
27,70
14,19
21,41
16,04
141,59
0,01
0,01
0,01
0,02
0,01
43,44
37,70
36,59
54,93
45,80
38,44
52,15
34,28
31,30
Nitrito
7,12
4,50
3,31
6,33
6,88
0,01
0,01
0,01
0,01
0,01
3,31
4,26
3,63
2,67
3,15
4,74
1,64
1,64
2,98
Nitrato
37,33
29,87
28,31
29,88
18,14
0,02
0,01
0,02
0,02
0,02
43,21
28,59
25,34
22,43
23,95
31,14
12,35
24,69
19,65
Fósforo Total
59,69
72,51
66,29
52,73
99,84
0,04
0,04
0,02
0,03
0,01
9,09
3,44
2,69
6,87
4,78
4,33
1,93
0,23
21,76
151
ANEXO E. Volume dos açudes Monitorados pelo DNOCS em janeiro de 2008.
MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL
DEPARTAMENTO NACIONAL DE OBRAS CONTRA AS SECAS - DNOCS
COORDENADORIA ESTADUAL DA PARAÍBA – CEST/PB
Nº
21
21
21
21
21
AÇUDE
Jatobá I ( 1 )
Jatobá I ( 1 )
Jatobá I ( 1 )
Jatobá I ( 1 )
Jatobá I ( 1 )
LOCALIZAÇÃO
Patos
Patos
Patos
Patos
Patos
RIO /
RIACHO
R. dos Mares
R. dos Mares
R. dos Mares
R. dos Mares
R. dos Mares
CAPACIDADE
( m³ )
17.515.000
17.515.000
17.515.000
17.515.000
17.515.000
VOLUME
( m³ )
6.175.716
5.455.524
5.455.524
17.515.000
17.515.000
VOL. PRECIP.
%
(mm) *
35
31
35
100
100
DATA
INFORMAÇÃO
28/12/2007
31/01/2008
27/02/2008
31/03/2008
30/04/2008
152
ANEXO F. Condições e padrões estabelecidas pelo CONAMA para água doce classe 2.
*Válidos também para água doce classe 2
competente;
III - cor verdadeira: até 75 mg Pt/L;
IV - turbidez: até 100 UNT;
V - DBO 5 dias a 20°C: até 5 mg/L O2
VI - OD, em qualquer amostra: não inferior a 5 mg/L O2
VII - clorofila a: até 30 µg/L;
VIII - densidade de cianobactérias: até 50000 cel/mL ou 5 mm3/L; e,
IX - fósforo total:
a) até 0,030 mg/L, em ambientes lênticos; e,
b) até 0,050 mg/L, em ambientes intermediários, com tempo de residência entre 2 e
40 dias, e tributários diretos de ambiente lêntico.
153
ANEXO G. Diário Oficial de União, de 22/02/2005.
154
155
ANEXO H. Diário Oficial da União número 24, fevereiro de 2008.

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