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ISSN 2236-0468
Fundação Educacional Guaçuana – FEG
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Gilson Anacleto da Mota
Guilherme de Oliveira Martins
Editora FMPFM
I49
Interciência e Sociedade. v.1, n.1 (2012). – Mogi
Guaçu : Faculdade Municipal Professor Franco
FICHA CATALOGRÁFICA
Montoro, 2012.
Semestral
1. Divulgação científica – Periódicos. 2. Ciência. 3.
Cultura. 4. Gestão. 5. Sustentabilidade. 6. Educação.
7. Saúde. 8. Tecnologia. 9. Multidisciplinar
CDD-050
ISSN 2238-1295
Ficha Catalográfica: Adriano Madaleno Miossi – CRB 8 / nº 6981
Os textos publicados na revista são de inteira responsabilidade de seus autores.
Permite-se a reprodução desde que citada a fonte e o autor.
Endereço para correspondência e contato:
REVISTA INTERCIÊNCIA & SOCIEDADE
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EDITORIAL
Para o caminho da pesquisa na teia do conhecimento
A Sociedade do Conhecimento pode ser compreendida como a sociedade onde o
conhecer forma a rede de recurso para a produção científica e teórica na troca de conhecimento e para a criação de riqueza, de prosperidade e de qualidade de vida da população.
Por esta razão, o investimento na pesquisa e em sua interação entre a diversidade de saberes
tem caminhado na velocidade acelerada em nível científico pelo progresso tecnológico e pela
capacidade de aprendizagem das sociedades.
Desta feita, a segunda edição da REVISTA “INTERCIÊNCIA & SOCIEDADE” suscita
a teia das ideias nos diálogos da produção científica de pesquisadores de diversas unidades
e universidades de pesquisa para que haja a integração das abordagens diferentes na formação da totalidade de pensamento que se movimenta, na soma de saberes, o conceito maior
da trilha da humanidade. Essa noção de totalidade, mas ao mesmo tempo, cria uma concepção de que a simples soma das partes não leva ao simples total. É certo que a totalidade das
pesquisas provoca o conjunto dos saberes e também conclama o espaço de cada colocação
dos pesquisadores. Isso significa que na união das forças de cada pesquisa forma-se a soma
das ideias coletivas num só corpo: o conhecimento em teia.
Vale aqui ressaltar que os sentidos do homem não se diluem ao vento, mas são interlocutores do mundo. É nesse sentido, que se fala da capacidade auto-organizativa do ser
humano e da sua autonomia diante da complexa ambiência em que se vive atualmente.
Assim se observa que, na organização dos saberes da segunda edição da Revista,
os artigos bradam a união de todas as inquietações humanas, como: vida sustentável, administração em setores contábeis, planejamento da construção civil, expansão e aplicação tecnológica em diferentes setores, educação ambiental no aproveitamento do lixo urbano, ciclo
organizativo do ecossistema, políticas públicas no planejamento das cidades, gastronomia na
equação da vida social das pessoas, dentre outras preocupações.
Na complexidade das pesquisas, a humanidade está sujeita a cruzamento de múltiplas dinâmicas pessoais, contextuais, familiares e institucionais. Nessa mesma dinâmica,
a REVISTA “INTERCIÊNCIA & SOCIEDADE” ancora-se na multiversalidade das pesquisas
para não se calarem as inquietações dos pesquisadores, dos docentes e dos discentes na
busca da organicidade da vida através das pesquisas.
O Editorial tem certeza de que todos os envolvidos nesta Revista demonstram a
coragem de estarem juntos no fazer ciência para o crescimento sempre da instituição no envolvimento cada vez mais dos docentes-pesquisadores e no fortalecimento de seus futuros
profissionais.
Profª Drª Maria Suzett Biembengut Santade
Editora
SUMÁRIO
REVISÃO DOS CONCEITOS RELACIONADOS À UTILIZAÇÃO
CONJUNTA DE AÇOS DAS CATEGORIAS CA-50 E CA-60 EM
PEÇAS SUBMETIDAS À FLEXÃO SIMPLES POR MEIO DE
ESTUDO DE CASO
SARTORTI, Artur Lenz
PLANEJAMENTO AMBIENTAL URBANO: O CASO DO MUNICÍPIO
DE SERRA NEGRA – SP
FAGUNDES, Anatália Silva Montoro; FRAISOLI, Camila
PLANEJAMENTO PARA A VITALIDADE DAS CIDADES
MARANGONI FILHO, Mário
INVENTÁRIO DA ARBORIZAÇÃO DAS VIAS PÚBLICAS DE
INCONFIDENTES-MG E ANÁLISE DOS IMPACTOS GERADOS
09
19
31
CORRÊA, Rony Felipe Marcelino; PINTO, Lilian Vilela Andrade
41
SUSCEPTIBILIDADE DE MUSCA DOMESTICA À IVERMECTINA,
DORAMECTINA E MOXIDECTINA EM MOGI GUAÇU-SP
CAMARGO, Eliana Anunciato Franco de; PRADO, Angelo Pires do;
CAMARGO, José Tarcísio Franco de
53
ANÁLISE AMBIENTAL E GEOESPACIAL DOS DEPÓSITOS DE
LIXOS CLANDESTINOS DA CIDADE DE MOGI GUAÇU
COSTA, Ana Caroline; BARRAZA LARIOS, Mario Roberto
61
MARCO
REGULATÓRIO
E
O
ESTABELECIMENTO
DE
INDICADORES
COM
FOCO
EM
REQUISITOS
SOCIOECONÔMICOS PARA O RETROFIT DE EDIFICAÇÕES
BERNI, Mauro Donizeti; DELGADO, Antonio Carlos; PAGLIARDI,
Odail
73
EDUCAÇÃO EM DIABETES
MIRANDA, Silvio Cesar; OLIVEIRA, Daniela Soares
A SUSTENTABILIDADE E O
MERCADO GASTRONÔMICO
WERDINI, Marcelo Malta
EMPREENDEDORISMO
85
NO
95
INTERFACEAMENTO DE MODELOS PARA OTIMIZAÇÃO DE
SISTEMAS ANALÍTICOS
BORTOLOTI, João Alexandre; OCCHIUCCI, Fernando
101
DESENVOLVIMENTO DE METODOLOGIAPARADETERMINAÇÃO
DE COT POR ESPECTROFOTOMETRIA
LEME, Bruno de Campos; SAITO, Bruno Orui
109
DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA (DFC): CONCEITOS
E ESTRUTURA
COSTA, Rodrigo Simão da
117
REVISÃO DOS CONCEITOS RELACIONADOS À UTILIZAÇÃO CONJUNTA DE AÇOS DAS CATEGORIAS CA-50 E CA-60 EM PEÇAS SUBMETIDAS À FLEXÃO SIMPLES POR MEIO DE ESTUDO DE CASO
SARTORTI, Artur Lenz
Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP)
[email protected]
RESUMO: Este artigo refere-se à utilização conjunta de aços das categorias CA-50 e CA-60 em peças
de concreto armado submetidas à flexão simples. Este assunto tem gerado dúvidas e questionamentos
em alguns membros da comunidade técnica, a qual muitas vezes tem dividido as suas opiniões. Desta
forma, a presente pesquisa busca contribuir na elucidação do assunto com uma breve revisão teórica
ampliada por um estudo de caso prático de uma viga bi-apoiada, submetida à flexão simples com armadura composta por aço CA-50 e CA-60. Este artigo pode ser de utilidade para estudantes de graduação
em engenharia civil ou profissionais que queiram ampliar seu conhecimento sobre o assunto.
PALAVRAS CHAVE: Aço CA-50 e CA-60; flexão simples; vigas
ABSTRACT: This article refers to the joint use of steels in CA-50 and CA-60 categories in reinforced
concrete pieces submitted to the simple flexion. This issue has raised doubts and questions among
members that belong to the technical community, which often have divided their opinions. Thus, this research tries to contribute with the elucidation concerning to the subject with a brief theoretical increased
by a practical case study of a bi-supported beam, submitted to the simple flexion with a reinforcement
composed by CA-50 and CA-60 steel. This article can be use for students of graduation in Civil Engineering or professionals that desire to improve their knowledge about the subject.
KEYWORDS: Steel CA-50 and CA-60; simple bending; beams.
1. INTRODUÇÃO
A expansão dos produtos para a
construção civil tem possibilitado ao engenheiro projetista especificar soluções estruturais com variados materiais. Uma variável
possível é a utilização de aços das categorias CA-50 e CA-60 em peças de concreto
armado. Muitas vezes é levantada a dúvida por profissionais da área estrutural, no
que diz respeito à viabilidade técnica da
utilização de aços de diferentes categorias
de resistência e comportamentos em uma
mesma peça de concreto armado. Desta
maneira, muitas opiniões têm divergido e
alguns engenheiros têm evitado a “mistura”
de aços em seus projetos.
O presente artigo busca contribuir
no sentido de elucidar alguns pontos desta
discussão, apresentando um estudo teórico, baseado em uma revisão de conceitos,
sobre a utilização de aços de categorias
diferentes em peças de concreto armado
submetidas à flexão simples. Para que os
conceitos apresentados na revisão teórica
possam ser bem compreendidos, reserva-se ao final do artigo um espaço para a
demonstração de um caso prático de dimensionamento de uma viga de concreto
armado bi-apoiada com a mistura de aços
de diferentes categorias.
2. Objetivo
De forma geral, o objetivo do artigo é revisar os conceitos da aplicação de
aços de diferentes categorias em peças de
concreto armado submetidas à flexão simples, tentando responder a questão da possibilidade técnica de utilização conjunta de
aços de duas categorias na mesma peça.
Por meio de um estudo de caso, procura-se
ilustrar os conceitos abordados no artigo.
Interciência
& Sociedade
9
SARTORTI, A. L.
3. Metodologia
O artigo é baseado em uma breve revisão bibliográfica e em um estudo de
caso de uma viga bi-apoiada sujeita a flexão simples. Esta viga foi escolhida por se
tratar de uma estrutura básica de concreto
armado, de fácil entendimento, na qual os
conceitos aqui abordados podem ser facilmente identificados.
4. Aços CA-50 e CA-60
O aço é um material metálico, produto das usinas siderúrgicas, constituído
essencialmente de ferro e uma adição de
até 2% de carbono. Outros elementos químicos podem ser acrescentados para melhorar alguma de suas características.
A NBR 7480:2007 classifica como
barras os produtos de diâmetro nominal
igual a 5,0mm ou superior obtidos exclusivamente por laminação à quente (CA-25 e
CA-50), e como fios os produtos de diâmetro nominal até 10mm obtidos por trefilação
ou processo equivalente (CA-60).
Assim, nota-se que o processo de
fabricação do CA-50 e do CA-60 é diferente. Moraes e Rego (2005) afirmam que a
laminação é um processo de deformação
mecânica, responsável pela redução da se-
s
ção transversal do tarugo de aço, através
de cilindros paraleos em rotação. Já a trefilação é um processo de conformação mecânica a frio onde o fio-máquina passa por
meio de matrizes ou fieiras que são orifícios
calibrados.
Entretanto, não é apenas na fabricação que os aços CA-50 e CA-60 se
diferem. Como a sua designação deixa explícita, a capacidade resistente das duas
categorias é diferente. O comportamento
mecânico dos dois aços pode ser descrito
através dos diagramas tensão-deformação.
A NBR 6118:2003 no item 8.3.6
apresenta um diagrama-deformação único para qualquer categoria de aço. Porém,
sabe-se que o comportamento dos dois tipos de aço é diferente. Com base na antiga
NBR 6118:1978, Fusco (1981) apresenta
os diagramas tensão-deformação ilustrados nas Figuras 01 e 02. Apesar de não
serem mais válidos pela NBR 6118:2003,
estes diagramas expressam o real comportamento dos aços CA-50 e CA-60, sendo,
portanto, utilizados neste estudo para melhor elucidar o comportamento do uso misto
destas categorias em peças de concreto armado sujeitas à flexão simples. Vale ainda
destacar que a NBR 7480:2007 valida ainda
estes diagramas conforme as prescrições
encontradas no item 6.6.1.
s
s
f yd
f yk
f yd
Lei
Lei
de H
ook
de H
ook
e
e
0,7.f yd
Es
Es
yd
10‰
2‰
s
Figura 1: Diagrama tensão-deformação para o
aço CA-50.
Fonte: Adpt. Fusco (1981).
10
= s/Es + 1/45.( s /f yd - 0,7)²
yd
10‰
Figura 2: Diagrama tensão deformação para o
aço CA-60.
Fonte: Adpt. Fusco (1981).
Interciência
& Sociedade
s
Revisão dos conceitos relacionados à utilização conjunta de aços das categorias ca-50 e ca60 em peças submetidas à flexão simples por meio de estudo de caso
60 vale 36,54kN/cm²;
•
A deformação específica
equivalente ao fim da proporcionalidade de Hooke do aço CA-60 vale
;
•
A deformação específica
de início de escoamento do aço
CA-60 ( ) vale
, onde
é o módulo de elasticidade do aço da armadura passiva
definido em norma com o valor de
210GPa e
é o valor da deformação específica residual no
início do escoamento. Portanto
;
•
A deformação específica última vale
.
Da observação da Figura 01 pode-se notar que:
•
A resistência característica
ao escoamento do aço CA-50 ( )
vale 50kN/cm²;
•
A resistência de cálculo ao
escoamento do aço CA-50 ( ) vale
43,5kN/cm²;
•
A deformação específica de
início de escoamento do aço CA-50
( ) vale
, onde
é o módulo de elasticidade do aço da armadura passiva definido em norma
com o valor de 210GPa. Portanto
;
•
A deformação específica última vale
.
5. Utilização conjunta de aços das categorias CA-50 e CA-60 em peças submetidas à flexão simples
Da observação da Figura 02 pode-se notar que:
•
A resistência característica
ao escoamento do aço CA-60 ( )
vale 60kN/cm²;
•
A resistência de cálculo ao
escoamento do aço CA-60 ( ) vale
52,2kN/cm²;
•
A resistência de fim da proporcionalidade de Hooke do aço CA-
As peças sujeitas a flexão simples
perfazem uma grande parcela dos elementos estruturais de concreto armado. Para
ilustrar a situação de uma peça fletida, tem-se como exemplo uma viga qualquer com
esquema estático e seção transversal apresentada na Figura 03.
h
p
As
b
M = p. ²/8
Figura 3: Esquema estático e seção transversal de uma viga genérica.
Fonte: Autor.
Interciência
& Sociedade
11
SARTORTI, A. L.
Admitindo-se que a armadura As é
composta por barras e fios (CA-50 e CA-60)
e que o momento fletor M inicial seja exatamente maior que o momento de fissuração,
a seção média desta viga estará no Estádio
II. Sendo assim, o diagrama de deformações e tensões para esta seção transversal
pode ser ilustrado como na Figura 04.
-
Linha
Neutra
+
es
s
Figura 4: Diagrama de deformações e tensões da seção mais solicitada.
Fonte: Autor.
Quando o valor do momento fletor
M aumenta, os valores da tensão no aço
( )gradualmente irão elevar-se para níveis
mais próximos ao patamar de escoamento.
Como a armadura é composta por
aços das categorias CA-50 e CA-60 ter-se-ia a seguinte situação ao serem sobrepostos os diagramas tensão-deformação dos
dois aços (Figura 05).
s
Tre
cho
com
um
f yd CA-60
f yd CA-50
0,7.f yd CA-60
yd CA-50
yd CA-60
10‰
s
Figura 5: Diagramas tensão-deformação sobrepostos para os dois aços.
Fonte: Autor.
12
Fazendo-se uma rápida leitura da
Figura 05 nota-se que:
•
O trecho inicial do diagrama
tensão deformação pode ser admitido igual para os dois aços, pois a
NBR 6118:2003 define um único módulo de elasticidade para as diferentes categorias de aço;
•
Em um determinado ponto (a
0,7 de fyd do aço CA-60) os diagramas se separam, sendo que o aço
CA-50 segue ainda um pouco no regime elástico e o aço CA-60 passa
ao regime elasto-plástico;
•
Ao o aço CA-50 chegar ao
patamar de escoamento, o aço CA60 ainda absorve tensões com o aumento das deformações até o início
de seu patamar de escoamento;
•
Os dois aços devem apresentar uma deformação específica
máxima de
, sendo então o fator limitante a máxima deformação
específica e não a tensão de uma ou
outra categoria de aço;
Interciência
& Sociedade
Revisão dos conceitos relacionados à utilização conjunta de aços das categorias ca-50 e ca60 em peças submetidas à flexão simples por meio de estudo de caso
•
Na ruptura que se espera
em uma peça solicitada à flexão simples (deformação plástica excessiva
do aço – Domínios 1, 2 e 3), os dois
tipos de aço estarão em seus respectivos patamares de escoamento
sendo limitados pela máxima deformação.
6.Estudo de caso de uma viga composta
de aços das categorias CA-50 e CA-60
Para que os pontos observados na
análise teórica fiquem mais claros, reserva-se este espaço para o desenvolvimento
prático de um caso de um viga submetida à
flexão simples, na qual é empregada armadura passiva composta por CA-50 e CA-60.
Trata-se de uma viga bi-apoiada
com vão de 5m e resistência característica
à compressão do concreto (fck) equivalente
a 25 MPa. O esquema estático bem como a
seção transversal e o diagrama de momentos fletores estão representados na Figura
06.
Para efeito de análise, adotou-se a
posição relativa da linha neutra (
)
com o valor de 0,2, o que caracteriza a
peça estar trabalhando no Domínio 2 de deformações na ruptura, já que o limite entre
os domínios 2 e 3 dá-se com o valor 0,259.
50cm
p
5m
As
20cm
M = p. ²/8
Figura 6: Esquema estático e seção transversal da viga em análise.
Fonte: Autor.
Pelo equilíbrio de momentos no
Estádio III em uma seção retangular determina-se a equação (1):
(1)
Sendo:
é o momento fletor máximo
com seu valor de cálculo;
b é a largura da seção transversal
valendo 20cm neste caso;
d é a altura útil da armadura de tração medida do centro de gravidade da armadura de tração à borda mais comprimida
e neste caso vale 46cm;
neutra x;
é a posição relativa da linha
é o valor da resistência de cálculo à compressão do concreto, e é determinada pela divisão da resistência característica à compressão do concreto pelo
coeficiente de minoração da resistência
do concreto que nesta verificação vale 1,4.
Portanto, para este caso
vale 17,86MPa.
Portanto, o máximo momento fletor
que pode ser resistido por esta peça com a
imposição de
é:
Interciência
& Sociedade
13
SARTORTI, A. L.
Adotando-se a relação de eficiência igual a 1,2 entre o aço CA-50 e CA-60
(60/50=1,2) e determinando-se que a armadura em aço CA-50 deverá perfazer 76,7%
da área total e os outros 23,3% devem ser
atendidos com aço CA-60, tem-se:
Armadura
em
0,767.5,14=3,95cm²
Armadura
em
0,233.5,14/1,2=1,00cm²
CA-50
=
CA-60
=
Portanto o arranjo final fica em
.
Para ilustrar as variações de tensões dos dois aços em serviço, imagine-se
que na seção central da viga:
Situação 01: um pequeno carregamento seja aplicado a viga, o qual geraria
um momento fletor M1. Sendo M1 um valor
muito pequeno, ele estaria abaixo do momento mínimo de fissuração (limite entre os
Estádios I e II). Portanto, a peça não estaria
fissurada e as tensões de tração estariam
sendo suportadas apenas pelo concreto, independentemente da quantidade e categoria de aço envolvida no problema.
Para exemplificar, seja este carregamento igual a 2kN/m.
O momento fletor resultante máximo é igual à 625kN.cm.
14
LN
x
Sendo:
é a resistência de cálculo ao escoamento do aço.
Admitindo inicialmente que a área
de aço para resistir este momento seja apenas composta de aço CA-50, tem-se:
Situação 02: um acréscimo no
carregamento amplia os valores das tensões de tração e um novo momento fletor
M2, maior que o momento de fissuração,
começa a atuar. Desta maneira, o concreto não resiste mais a tração e encontra-se
fissurado. A armadura então começa a absorver as tensões de tração, porém estes
valores são baixos.
Para exemplificar, seja este carregamento igual a 15kN/m.
O momento fletor resultante máximo é igual à 4687,5kN.cm.
Já o momento de fissuração, definido na NBR 6118:2003 no item 17.3.1, vale
3206,20kN.cm.
Nota-se que o valor solicitante é
superior ao momento de fissuração e a seção está no Estádio II.
Para que seja possível o cálculo
da tensão na armadura, faz-se necessário a
determinação da posição da linha neutra na
seção mediana no Estádio II. Fazendo-se a
somatória do momento estático em relação
à linha neutra (equação (3)) tem-se (Figura
07):
d
(2)
x/2
Já o momento de fissuração, definido na NBR 6118:2003 no item 17.3.1, vale
3206,20kN.cm.
Nota-se que o valor solicitante é inferior ao momento de fissuração e a seção
está no Estádio I.
d-x
Por meio do equilíbrio de forças
normais na seção transversal retangular no
Estádio III tem-se a área de aço necessária para resistir a esta solicitação através da
equação (2).
20cm
As.a e
Figura 7: Determiação da linha neutra e do
momento de inércia no Estádio II.
Fonte: Autor.
Interciência
& Sociedade
Revisão dos conceitos relacionados à utilização conjunta de aços das categorias ca-50 e ca60 em peças submetidas à flexão simples por meio de estudo de caso
Sendo:
é a razão modular dada por
onde
é o módulo de elasticidade do aço (210GPa) e
é o módulo de
elasticidade secante do concreto dado por
. O valor de
neste exemplo é de 8,82.
Desta forma:
O valor da inércia no Estádio II é dado por (equação (4)): (4)
A tensão na armadura então pode
ser determinada conforme a equação (5):
(5)
Esta tensão está abaixo do limite
de proporcionalidade de Hooke, tanto para
o aço CA-50 (43,5kN/cm²) quanto para o
aço CA-60 (36,54kN/cm²). Portanto, essa
tensão ainda está contida no trecho comum,
ilustrado no diagrama tensão-deformação
da Figura 05. Para o cálculo da deformação
específica pode ser utilizada a Lei de Hooke
e esta valerá 1,06‰.
Situação 03: um acréscimo maior
no carregamento amplia os valores das tensões de tração, e um momento fletor M3
começa a atuar. Esse novo momento fletor
faz com que a deformação específica atinja
o valor de 1,74‰, que é o limite da proporcionalidade de Hooke para o aço CA-60. A
tensão tanto no CA-50 quanto no CA-60 valeria 36,54kN/cm².
Situação 04: um outro acréscimo
no carregamento amplia os valores das
tensões de tração e um momento fletor
M4 começa a atuar. Esse novo momento
fletor faz com que a deformação específica
atinja o valor de 2,07‰, que é o limite da
proporcionalidade de Hooke para o aço CA50. O aço CA-60 está em seu trecho curvo
do diagrama tensão-deformação.
A tensão no aço CA-50 valerá
43,5kN/cm².
Isolando-se a tensão do aço CA-60
para o trecho curvo na equação apresentada na Figura 02 tem-se a configuração da
equação (6):
(6)
Interciência
& Sociedade
15
SARTORTI, A. L.
Percebe-se que a tensão no aço
CA-60 é menor que no aço CA-50.
Situação 05: Um novo carregamento gera um momento M5. Esse novo
momento faz com que a deformação específica atinja o valor de 4,49‰, que é a deformação específica de início de escoamento
do CA-60.
A tensão no aço CA-50 valerá
43,5kN/cm².
A tensão no aço CA-60 valerá
52,2kN/cm².
Situação 06: Um último carregamento gera um momento M6, igual ao momento resistente último. Esse novo momento faz com que a deformação específica
atinja o valor de 10‰, que é a deformação
específica máxima tanto para o aço CA-50
quanto para o CA-60.
A tensão no aço CA-50 valerá
43,5kN/cm².
A tensão no aço CA-60 valerá
52,2kN/cm².
Nota-se que na ruptura as duas
categorias de aço estarão em seus respectivos patamares de escoamento.
7. Análise dos resultados
Das situações apresentadas no
item 6, podem ser observados os seguintes
fatos:
•
Quando a deformação específica do aço está abaixo de 1,74‰,
ambos os aços das duas categorias
analisados apresentarão a mesma
tensão atuante (situação 02 e 03);
•
Entre o limite de deformação de 1,74‰ e 2,07‰, o aço CA-50
apresenta um acréscimo de tensão
maior que o CA-60 (situação 04);
•
A partir da deformação
2,07‰, o aço CA-50 não tem acréscimo de tensão, enquanto que o aço
CA-60 apresenta acréscimo até a
deformação de 4,49‰ (situação 05);
•
Quando os dois aços chegam a deformação limite de 10‰,
ambos estarão com sua respectiva
tensão de escoamento (situação 06);
16
•
As diferentes tensões encontradas nos diversos níveis de
carregamento, para cada categoria
de aço, não representam problema
para o comportamento conjunto,
pois o concreto que envolve as barras garante a mesma deformação
específica para ambos os aços através do monolitismo;
•
As situações discutidas no
item 6 podem ser aplicadas a qualquer elemento simplesmente fletido
de concreto armado.
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através dos conceitos expostos,
nota-se que a utilização conjunta do aço
CA-50 e CA-60 em peças submetidas à flexão simples não acarreta problemas. Esta
conclusão pode ser sustentada pelos seguintes fatos:
•
Não existe diferença na tensão dos aços em uma fase inicial dos
diagramas tensão-deformação. Os
níveis de tensão usualmente encontrados em peças fletidas em serviço,
na maioria das vezes, estão abaixo
do valor de 36,54kN/cm²;
•
Quando os diagramas de
tensão-deformação dos dois aços se
dividem, as tensões em cada categoria de aço são diferentes, porém
não a deformação que é garantida
pelo concreto que envolve as barras;
•
Na iminência de ruptura, as
duas categorias de aço estão em
regime de escoamento e, portanto,
com tensões constantes. Isso é essencial para que seja garantida uma
ruptura avisada.
Portanto, fica evidente a possibilidade de utilização das duas categorias de
aço em uma peça simplesmente fletida.
Isto se mostra como uma vantagem quando existe a necessidade de alocação de um
número excessivo de barras. A eficiência
maior do aço CA-60 quanto à resistência
pode ajudar a descongestionar armaduras.
Outra situação muito comum é a utilização
de telas eletrossoldadas em aço CA-60
Interciência
& Sociedade
Revisão dos conceitos relacionados à utilização conjunta de aços das categorias ca-50 e ca60 em peças submetidas à flexão simples por meio de estudo de caso
como complementos de armaduras em vergalhões CA-50 para elementos de superfície.
Contudo, não se pretende fechar
a questão da utilização de armaduras conjuntas de aços de categorias diferentes em
peças fletidas neste artigo. Entretanto, espera-se que os comentários aqui expostos
possibilitem um melhor esclarecimento do
assunto ao leitor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Associação Brasileira de Normas Técnicas. Projeto
e execução de obras de concreto armado. NBR
6118. Rio de Janeiro, 1978.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. Projeto
de estruturas de concreto - procedimento. NBR
6118. Rio de Janeiro, 2003.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. Aço destinado a armaduras para estruturas de concreto
armado - especificação. NBR 7480. Rio de Janeiro,
2007.
Fusco, P. B. Estruturas de concreto: solicitações
normais. LTC editora. Rio de Janeiro, 1981.
Moraes, V. R.; Rego, L. R. M. Aços para Concreto
Armado. In. Concreto: ensino, pesquisa e realizações. Isaia, G. C. – editor. Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON). São Paulo, 2005.
Artur Lenz Sartorti. Graduado em Engenharia Civil pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (2005),
mestre em Engenharia Civil de Estruturas pela Universidade Estadual de Campinas (2008) e doutorando em Engenharia de Estruturas na Escola de Engenharia de São Carlos - USP, em fase de elaboração de tese. Atualmente
é professor associado de Engenharia Civil do Centro Universitário Adventista de São Paulo na área de Estruturas.
Engenheiro Civil Calculista/Projetista de Estruturas. Foi Calculista/Projetista de Estruturas na ILTRUK - Projetos &
Consultoria Técnica-Comercial Ltda apoiando as ações de consultoria da mesma. Possui experiência na área de
Engenharia Civil, com ênfase em Estruturas de Concreto Armado/Protendido e Estruturas Metálicas.
Interciência
& Sociedade
17
18
Interciência
& Sociedade
PLANEJAMENTO AMBIENTAL URBANO: O CASO DO MUNICÍPIO DE
SERRA NEGRA – SP
FAGUNDES, Anatália Silva Montoro
Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM)
[email protected]
FRAISOLI, Camila
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
[email protected]
RESUMO: Nas últimas décadas, com a necessidade de reflexão acerca das questões ambientais, o
termo planejamento ambiental tem estado na pauta de discussões de esferas privadas e públicas. O
termo planejamento, embora recente, vem sendo apontado como uma das soluções para promover
o desenvolvimento de um meio ambiente urbano sustentável, capaz de preservar os recursos e, ao
mesmo tempo, promover melhorias na qualidade de vida dos cidadãos. O presente trabalho visa realizar uma breve reflexão acerca do planejamento ambiental e das possibilidades de implantação de tal
planejamento no Município turístico de Serra Negra, interior do estado de São Paulo. Para realizar este
estudo foi efetivado o levantamento de aspectos legais, ambientais e econômicos do município, a fim
de compreender os principais problemas, impactos e limites de Serra Negra.
PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento Sustentável, Planejamento Ambiental, Turismo, Serra Negra.
ABSTRACT: In recent decades, with the need to reflect on environmental issues, the term environmental planning has been on the table of discussions of private and public spheres. The term planning,
although recent, has been appointed as a solution to promote the development of a sustainable urban
environment, which can preserve the resources and at the same time, improvements in quality of life
for people of medium and small municipalities. The present work aims at a brief reflection on the possibilities of environmental planning and deployment of such planning in the City tour of Serra Negra, in
the state of Sao Paulo. To make this study we realize an analyses of legal aspects, environmental and
economic municipality to understand impacts and limits of Serra Negra.
KEYWORDS: Sustainable Development, Environmental Planning, Tourism, Serra Negra.
1. INTRODUÇÃO
Desde a Primeira Revolução Industrial (meados do século XVIII) as transformações ambientais induzidas pelos
homens foram intensas e ininterruptas,
modificando por completo o meio ambiente
em escala mundial. Após essa revolução, o
meio ambiente e os recursos naturais passam a ser vistos como mercadorias, sendo
assim apropriados pelo modo de produção
capitalista. Da mesma forma, a Revolução
Industrial impôs um novo ritmo de consumo
às sociedades humanas, fato que interfere
diretamente sobre o meio ambiente, tanto
como recurso como quanto depósito dos resíduos gerados pela sociedade.
Segundo RIBEIRO (2001), as discussões sobre as questões ambientais
nascem como resposta a destruição de bases naturais, da caça indiscriminada e da
matança de animais e pássaros. A primeira
ação de destaque internacional relacionado
à questão ambiental ocorreu em 1890 nos
EUA, com a criação do Parque de Yellowstone, sendo essa a primeira Área de Proteção Ambiental do planeta.
Quase um século depois, em
Interciência
& Sociedade
19
FAGUNDES, A. S. M.; FRAISOLI, C.
1972, ocorre em Estocolmo a Conferência
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
Humano. Essa conferência é o marco mais
significativo do movimento ambiental mundial. Os objetivos da conferência davam
ênfase principalmente às questões referentes à poluição ambiental, ao acelerado processo de industrialização e urbanização, a
relação entre uso dos recursos naturais e
crescimento populacional.
Em 1983, a ONU organizou a Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento, que resultou no documento
intitulado Nosso Futuro Comum, também
conhecido como relatório Brundtland, publicado em 1987. Nesse documento, o
conceito de desenvolvimento sustentável
ganha destaque ao propor a possibilidade
de desenvolvimento, desde que este esteja atrelado ao uso racional dos recursos
naturais. O relatório também se destaca
por dar grande ênfase à questão da pobreza mundial, apontando este como um dos
principais problemas ambientais mundiais
(FERREIRA, 1992).
Em 1992 ocorre na cidade do Rio
de Janeiro a Conferência do Rio, chamada
de Eco 92. Essa Conferência representou
outro marco para o movimento ambientalista, pois resultou em alguns avanços teóricos metodológicos no debate ambiental.
A Conferência teve como principais itens: a
reafirmação sobre a soberania dos territórios nacionais; elege a pobreza como o principal elemento de degradação ambiental;
diferencia as responsabilidades dos países
ricos e pobres quanto à poluição; reafirma
a preocupação com as gerações futuras;
coloca a necessidade de maior mobilidade
social; difunde a meta do desenvolvimento
sustentável; cria o documento conhecido
como Agenda 21.
No contexto nacional, os primeiros movimentos brasileiros que podem ser
considerados como “ambientais” surgem
após 1930. Nesse contexto político, as preocupações ambientais diziam respeito ao
uso e ocupação do território, imprimindo,
portanto, uma preocupação geopolítica,
marcando assim o controle federal sobre a
biodiversidade do país. Coincidindo com as
tendências internacionais acerca das questões ambientais, os espaços naturais brasi-
20
leiros eram abordados, ao mesmo tempo,
por perspectivas naturalistas e geopolíticas,
procurando preservar os “ambientes naturais”, os ecossistemas, e os limites das fronteiras naturais.
As maiores mudanças das políticas
públicas ambientais nacionais só se efetivaram de fato após a Constituição Federal de
1988. Após 1988, é implementada a Política
Nacional de Meio Ambiente, cuja prioridade
era: “preservação, melhoria e recuperação
da qualidade ambiental propícia à vida visando a assegurar, no país, condições ao
desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e proteção
da dignidade da vida humana” (Lei 6. 938,
art. 2º, VENTURA e RAMBELLI, 1996).
Além da PNMA (Política Nacional
de Meio Ambiente), todas as Constituições
Estaduais passam a ter capítulos sobre o
meio ambiente, tão ou mais abrangentes
que a Constituição Federal. Os municípios,
agora com maior autonomia com a constituição de 1988, passaram a ter dispositivos
legais para a preservação ambiental, como
as Leis Orgânicas e os Planos Diretores.
Com novos mecanismos legais, todas as esferas do poder público são então
capazes de prover um meio ambiente que
respeite os recursos naturais e, ao mesmo
tempo, preserve e/ou promova a qualidade
de vida de seus habitantes. Nas esferas locais, os grandes instrumentos de destaque
são o Plano Diretor e a Lei Orgânica dos
municípios. Ambos os instrumentos são capazes de estabelecer normas que regulamentam o território e as atividades sociais e
econômicas das cidades.
Especificamente os planos diretores, apresentam a capacidade de organizar e traçar objetivos e metas de controle,
gerenciamento e regulamentação do meio
ambiente urbano. Assim sendo, o plano diretor, em si mesmo, estabelece características próprias de um planejamento ambiental
urbano. Nesse sentido, podemos entender
que o plano diretor de um município pode
ser um importante instrumento de planejamento ambiental.
O município de Serra Negra, localizado no interior de São Paulo, apresenta
condições ambientais particulares. Essas
características transformaram o município
Interciência
& Sociedade
Planejamento ambiental urbano: O caso do município de Serra Negra – SP
em um pólo de atração turística, sendo esta
a principal atividade econômica da cidade.
Porém, o intenso fluxo turístico, aliado ao
uso intenso do meio ambiente do município
pode comprometer tanto o sistema natural
de Serra Negra quanto a própria atividade
do turismo. Assim sendo, é necessário se
pensar em soluções e regulamentações
para o uso do meio ambiente do local.
O objetivo deste trabalho, tendo
em vista as condições de Serra Negra, consiste na análise da viabilidade de implantação de Planejamento Ambiental urbano no
município, dado as necessidades geradas
pela pressão turística.
2. Metodologia
Tendo como norteador os objetivos
propostos nesse trabalho, a metodologia se
baseia na interpretação e análise das características ambientais, econômicas, sociais e
jurídicas do município de Serra Negra. Para
esse fim, os seguintes passos foram seguidos;
- Avaliar o Plano Diretor Municipal, e
outros mecanismos legais de Serra
Negra;
- Interpretar e avaliar as características econômicas, sociais e ambientais de Serra Negra;
- Identificar os principais problemas
ambientais urbanos;
- Avaliar os principais problemas decorrentes da atividade turística do
município;
3. Planejamento ambiental nas esferas
municipais
Após a Constituição de 1988, os
três níveis de governo estão habilitados a,
da forma que melhor os couber, planejar e
controlar o meio ambiente. Á União cabe
questões de interesses mais gerais, à escala do território nacional, aos estados cabem
as questões em níveis regionais, enquanto
aos municípios caberiam os assuntos de interesses locais.
Na prática significa afirmar que a
autonomia dos estados e municípios após
1988 representa maiores possibilidades
de ação das administrações estaduais e
municipais. Porém, por vezes esses novos
instrumentos defrontam-se com a incapacidade política, com jogos de interesses e
com a inoperância de determinadas ações
frente aos problemas urgentes (financeiros,
sociais, etc.) dos estados e municípios brasileiros.
O termo Planejamento Ambiental é
uma expressão recente, usada com maior
freqüência nos últimos dez anos graças a
Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro, a ECO-92.
A conferência tem como destaque
a produção da chamada AGENDA 21, que
previa um planejamento ambiental desde o
nível global até os níveis nacional, regional
(estadual) e local (municipal). Segundo a
AGENDA 21, o objetivo do planejamento é
promover a melhoria da qualidade de vida
do ser humano e a conservação e preservação do meio ambiente.
Segundo BALDWIN (1985), o planejamento ambiental pode ser definido
como o iniciar e a execução de atividades
para dirigir e controlar a coleta, a transformação, a distribuição e a disposição dos
recursos de forma a sustentar as atividades
humanas com um mínimo de distúrbios nos
processos físicos, ecológicos e sociais.
Para FLORIANO (2004) planejamento ambiental é um processo de organizações de tarefas para se chegar a um fim,
com fases características e seqüenciais
que, em geral estão na seguinte ordem:
identificar o objeto do planejamento, criar
uma visão sobre o assunto, definir o objetivo do planejamento, determinar uma visão
ou compromisso para se cumprir o objetivo,
definir políticas e critérios de trabalho, estabelecer metas, desenvolver um plano de
ações necessárias para se atingir as metas,
desenvolver um plano de ações necessárias para se atingir as metas.
Segundo
CHRISTOFOLETTI
(2000), o planejamento ambiental é um importante instrumento de tomada de decisão,
e deve levar em consideração os seguintes
fatores: cenários econômicos e demográficos, projeção de uso das águas, demandas
hídricas; avaliação de limitação de recursos; avaliação de processos e fenômenos
Interciência
& Sociedade
21
FAGUNDES, A. S. M.; FRAISOLI, C.
naturais.
No caso do setor público, o planejamento ambiental apresenta algumas características diferenciadas. O governo tem
papel fundamental na consolidação do desenvolvimento sustentável1, uma vez que
ele é o responsável pelo estabelecimento
das leis e normas que estabelecem os critérios ambientais que devem ser seguidos
por todos. As leis e normas citadas devem
ter atenção especial ao setor privado que,
em seus processos de produção de bens e
serviços, se utiliza dos recursos naturais e
produz resíduos poluentes.
Além de definir as leis e fiscalizar
seu cumprimento, o poder público precisa
ter uma atitude coerente, responsabilizando-se também por ajustar seu comportamento ao princípio do desenvolvimento sustentável, tornando-se exemplo de mudança
de padrões de consumo e produção, adequando suas ações à ética socioambiental.
Com a maior autonomia dos municípios, novos instrumentos políticos foram
inseridos nas administrações públicas municipais, permitindo maior amplitude de solução dos problemas urbanos e rurais dos
municípios (FERREIRA, 2000). Dentre esses instrumentos, os principais são o Plano
Diretor e a Lei Orgânica municipal.
Braga (2001, p: 96) conceitua o
plano diretor como “instrumento básico da
política municipal de desenvolvimento e expansão urbana, que tem como objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções
sociais da cidade e garantir o bem estar de
seus habitantes”.
Para MOTA (1999, p: 25), “o plano
diretor deve conter as diretrizes e padrões
da organização do espaço urbano, do desenvolvimento sócio-econômico e do setor
político administrativo, sempre visando melhorar as condições de vida da população
da cidade”.
Inicialmente, a proposta era que
todos os municípios com mais de 20 mil habitantes seriam obrigados a formular seus
Planos Diretores2. Porém, em 2001,
com a aprovação do Estatuto da cidade (Lei
10. 257 / 2001), ficou estabelecido a obrigatoriedade do plano diretor para os municípios com as seguintes situações: cidades
pertencentes a regiões metropolitanas e
aglomerações urbanas; cidades localizadas
em áreas de especial interesse turístico;
cidades em áreas de influencia de empreendimentos ou atividades com significativo
impacto ambiental.
Segundo o documento “Cidades
Sustentáveis” do Ministério do Meio Ambiente, para a formulação e implementação
de políticas públicas pautadas no desenvolvimento sustentável e na Agenda 21, duas
estratégias de sustentabilidade estão diretamente ligadas ao Plano Diretor:
1 – Aperfeiçoar a regulação do uso e
da ocupação do solo urbano e promover o ordenamento do território,
contribuindo para a melhoria das
condições de vida da população,
considerando a promoção de equidade, eficiência e qualidade ambiental.
2 – Promover o desenvolvimento institucional e o fortalecimento da capacidade de planejamento e gestão democrática de cidade, incorporando
no processo a dimensão ambiental
urbana e assegurando a efetiva participação da sociedade.
Analisando os parâmetros acima
citados, o Plano Diretor se configura como
instrumento institucional que busca a normatização dos usos e a regulamentação do
espaço urbano. Por isso, sua regulamentação e prática organiza e transforma as cidades, se constituindo em um instrumento
de ação para o planejamento rural e urbano
dos municípios.
Segundo BRAGA (2001), há um
grande distanciamento entre o que é proposto pelos planejadores e seus projetos e
Nesse trabalho, entendemos por desenvolvimento sustentável o atendimento das necessidades da geração atual sem comprometer o direito das futuras gerações atenderem as suas próprias necessidades.
1
2
22
No caso do Estado de São Paulo, todos os municípios foram obrigados a compor um plano diretor.
Interciência
& Sociedade
Planejamento ambiental urbano: O caso do município de Serra Negra – SP
a realidade dos processos sociais e econômicos que moldam o meio ambiente urbano. Em grande parte das cidades brasileiras, os Planos Diretores jamais saíram do
papel, ou então se tornaram obsoletos ou
pouco práticos, frente à realidade dos municípios. Na prática, o sistema político administrativo brasileiro, baseado no jogo de
interesse e na lenta máquina burocrática,
dificulta a aprovação e a aplicação dos planos, comprometendo o planejamento dos
municípios.
Ainda sim, a partir do Plano Diretor
é possível não apenas administrar o espaço
urbano dos municípios, mas também realizar um planejamento ambiental adequado
às condições naturais dos sítios urbanos.
Como instrumento de gestão, os planos diretores se configuram como uma saída à
degradação ambiental e a fragilização do
meio ambiente urbano.
Assim, podemos compreender que
o Plano Diretor pode ser utilizado como organismo de implantação de instrumentos de
planejamento. Os planos, da mesma forma
que os planejamentos ambientais aplicados
a meios privados, devem seguir metodologias de diagnósticos, traçar objetivos e metas, impor mecanismos de regulação de uso
e ocupação de terras.
4. O município de Serra Negra e o planejamento ambiental
As cidades podem ser compreendidas como a máxima representação do desenvolvimento técnico, econômico e social
das sociedades humanas. Desde os primeiros aglomerados humanos, até as atuais e
modernas megalópoles, podemos afirmar
que as cidades são o espaço primordial do
homem, onde ele realiza todas as suas atividades e relações.
Nos ambientes urbanos podemos
encontrar os objetos e elementos construídos pelo homem, bem como os elementos
e fenômenos naturais próprios do meio ambiente e fundamental aos meios de vida humana. É no meio ambiente urbano que se
evidencia intensamente a modificação do
meio ambiente causada pela ação humana.
Tendo em vista os impactos ambientais urbanos causados pela ação hu-
mana, bem como a qualidade de vida das
sociedades urbanas, é cada vez mais urgente pensar em alternativas para criar um
meio ambiente urbano que vise o desenvolvimento sustentável. Pensando em alternativas, a implantação de um planejamento
ambiental urbano pode ser uma saída para
a questão.
Nesse sentido, as políticas públicas municipais tornam-se um importante
instrumento de planejamento, uma vez
que permitem ao poder local a tentativa
de enfrentar o processo de degradação
sócio-ambiental.
Assim, visando os objetivos desse estudo, abaixo nos concentraremos nas
questões referentes ao município de Serra
Negra. O município de Serra Negra possui
26.613 habitantes (IBGE, 2011), e está situado numa ramificação da Serra da Mantiqueira, a leste do Estado de São Paulo.
Faz parte do chamado Circuito das Águas
Paulistas, sendo, portanto, um dos centros
turísticos da região.
Conforme suas características ambientais e econômicas, Serra Negra é um
grande centro turístico do país, recebendo
um público flutuante de cerca de 100.000
pessoas durante todo o ano (Prefeitura
Municipal de Serra Negra, 2011). O grande número de turistas, bem como sua alta
rotatividade, faz com que o turismo seja a
atividade econômica mais importante do
município.
Para compreender melhor as condições do município de Serra Negra é necessário avaliar suas características, a fim
de estabelecer limites e soluções propiciadas pelas pressões geradas pela atividade
turística.
4.1. Caracterização Ambiental
Avaliando a Geomorfologia e a
Geologia da região, podemos afirmar que o
relevo de Serra Negra é esculturado sobre
rochas muito antigas do chamado embasamento cristalino, e influenciado por grandes
alterações climáticas pretéritas, além de
movimentos tectônicos diversos. O município situa-se quase que integralmente sobre
rochas do chamado Complexo Amparo, de
idade pré-cambriana.
Interciência
& Sociedade
23
FAGUNDES, A. S. M.; FRAISOLI, C.
A pedologia de Serra Negra obedece às características geológicas e climáticas
da área, sendo, portanto, formado por solos
rasos, classificados como Cambissolos. Os
solos da região não apresentam acumulação significativa de óxidos de ferro, húmus
ou argilas.
O clima do Município é caracterizado como mesotérmico de invernos secos,
com verões quentes e chuvosos. A temperatura média do mês mais frio é inferior a
18°C e do mês mais quente, situa-se entre
22° e 24°C. O índice pluviométrico do Município varia entre 1.300 mm e 1.400 mm,
sendo a média do mês mais seco inferior
a 30 mm.
A vegetação original era formada
por floresta mesófila, caracterizada como
formação florestal estacional latifoliadas
subcaducifólia tropical pluvial. As espécies
características são o cedro, a peroba e a figueira, dentre outras.
As águas minerais do município de
Serra Negra são consideradas o principal
recurso natural da cidade, estando vinculadas diretamente às atividades turísticas do
município. O município é classificado como
“Estância Hidromineral”, devido à exploração da balneoterapia e água de mesa. Os
recursos hídricos de Serra Negra pertencem à UGRHI (Unidade de Gerenciamento
de Recursos Hídricos) nº 09, que é formada
pelos territórios dos municípios contidos na
Bacia do Rio Mogi Guaçu.
4.2. Caracterização Demográfica
De acordo com suas características demográficas, o município de Serra
Negra pode ser considerado um município
de pequeno porte, com uma área de aproximadamente 203 Km2. Com uma população
de cerca de 26.633 habitantes, o município
apresenta uma taxa de densidade demográfica de 131 habitantes por Km2. Com
essa taxa, podemos considerar o município
como sendo muito povoado, mesmo não
sendo populoso. Na tabela abaixo (tabela
1), podemos fazer uma breve avaliação das
condições demográficas gerais de Serra
Negra:
Tabela 1. Aspectos Demográficos do Município de Serra Negra
Área (km2 )
População (hab.)
Densidade Demográfica (hab./km2)
Taxa de Crescimento Anual da População (% a.a.)
Grau de Urbanização (%)
Taxa de natalidade (por mil hab.)
203,01
26.633
131,19
1,02
86,76
10,89
Taxa de mortalidade Infantil (por mil mulheres entre 15 e 49
anos)
3,48
Fonte: IBGE
4.3. Caracterização Socioeconômica
Conforme já destacado, o município de Serra Negra apresenta como principal fonte de renda a atividade turística. Essa
atividade proporciona aos moradores do
local um nível econômico considerado ele-
24
vado, com alto PIB e alto índice de Desenvolvimento Humano (vide tabela 2). Além
disso, o município também apresenta bons
índices de infraestrutura urbana, apontado
para uma boa qualidade de vida para grande parte de seus moradores.
Interciência
& Sociedade
Planejamento ambiental urbano: O caso do município de Serra Negra – SP
Tabela 2. Aspectos Econômicos do Município de Serra Negra
PIB (em milhões de reais correntes)
Renda per Capita (salários mínimos)
Índice de Desenvolvimento Humano – IDH
Participação nas Exportações do Estado (%)
Domicílios com Infraestrutura Interna Urbana Adequada (%)
Taxa de Analfabetismo (%)
262,61
3,08
0,817
0,000390
73,44
8,90
Fonte: SEADE
4.4 Plano Diretor de Serra Negra
Conforme citado anteriormente, o
plano diretor é o instrumento básico da política municipal de desenvolvimento e expansão urbana. Tem como objetivo ordenar o
pleno desenvolvimento das funções sociais
da cidade e garantir o bem estar da população (BRAGA, 2001).
De forma geral, os planos diretores tem se constituído basicamente em
instrumentos definidores das diretrizes de
planejamento, gestão territorial urbana e
ambiental. Possibilita a ordenação do uso e
ocupação do solo urbano por meio de uma
gestão democrática, que permite a inserção
da participação popular, gerando assim discussões acerca da problemática urbana e
das relações socioeconômicas das cidades
(SIVIERO, 1995).
O atual plano diretor do município
de Serra Negra foi aprovado em 30 de outubro de 2006. No decorrer do primeiro capítulo são estabelecidas diversas diretrizes.
Entre elas está a determinação de Plano Diretor ser o orientador das atividades públicas e privadas desenvolvidas no Município
pelo prazo de dez anos, e após esse prazo
o mesmo deve ser revisto.
No quarto capítulo, o Plano aborda
os Aspectos Econômicos. Especificamente
a Seção III determina que a política municipal de industrialização deverá estar de
acordo com a lei municipal vigente, bem
como com a vocação turística do município,
e não poderão ser instaladas indústrias poluentes ou cujas atividades apresentem risco ambiental, além de promover a formação
e atualização de mão-de-obra local.
Esta seção faz paralelo com a Se-
ção IV, que estabelece que a política municipal de turismo deverá estar plenamente
adequada à presente lei, devendo privilegiar
o potencial e a vocação turística do Município, procurando a sua consolidação e seu
crescimento de forma ordenada e equilibrada, de forma a não prejudicar suas maiores
riquezas, assim compreendidos o clima, a
água, a vegetação e sua paisagem natural.
No Capítulo V, o Plano aborda os
Aspectos Sociais do município, relacionado
com a Saúde, a Assistência Social, a Educação, a Cultura, ao Esporte e Lazer e a
Habitação. Dentro de todos os aspectos, o
Plano estabelece: a criação de programas
de prevenção e tratamento de doenças de
saúde pública; determina que os serviços
de assistência social deverão ter estrutura
organizacional adequada; que deverão ser
garantidas ao ensino fundamental e médio,
transporte gratuito e merenda escolar de
qualidade; que deverão ser valorizados os
eventos e manifestações culturais e artísticas existentes e incentivar o surgimento de
outros novos; que o poder público deverá
apoiar e incentivar todas as modalidades
de esporte, bem como os atletas amadores
que representarem o Município; que o Município e a iniciativa privada deverão desenvolver políticas de incentivo à construção de
casas próprias. Todos os esforços deverão
ser empenhados para evitar as sub-habitações e favelas, para isso o Município poderá ter áreas disponíveis para a implantação
de loteamentos ou desmembramentos populares.
No sexto capítulo, encontramos
questões relativas á Infra-Estrutura Física.
Assim, ficam estabelecidas as zonas urbana e rural, bem como vias, anéis viários
Interciência
& Sociedade
25
FAGUNDES, A. S. M.; FRAISOLI, C.
urbanos, entre outros e os critérios de funcionamento para todos os tipos de transporte. Neste mesmo capítulo, encontramos as
questões relativas ao Saneamento Básico.
Dessa forma, na seção IV, o Plano estabelece que os serviços de abastecimento de
água e de coleta e destinação final de esgotos sanitários do Município continuarão
sendo prestados pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
(Sabesp) mediante concessão pública.
O capítulo VII do Plano aborda
as questões relativas ao Meio Ambiente.
O Plano prevê a preservação dos corpos
d’água através das áreas de proteção permanente (APP). A paisagem urbana deverá preservar os aspectos característicos do
município, especialmente morros, montanhas, nascentes, fontes, praças, monumentos e marcos históricos e urbanísticos. Ainda, na seção IV, o Plano prevê a criação de
um programa de minimização de resíduos,
como também, o incentivo da participação
da comunidade no programa de coleta seletiva e na educação ambiental.
As questões relativas ás Áreas, o
Parcelamento, do Uso e da Ocupação do
Solo, do Código de Obras, Edificações e
Posturas é abordado no capítulo VII. Neste
capítulo é especificado que o território municipal fica subdividido em “área urbana”,
“área rural”, “área de urbanização específica” e “área de expansão urbana”. Define
também os abairramentos setoriais do Município. Na seção IX tem-se que nenhuma
edificação, reforma, demolição, movimentação de terra ou outra obra de qualquer
espécie poderá ser feita sem licenciamento
prévio pelos órgãos competentes e da Administração Municipal.
O capítulo XI aborda as questões
relativas ás Propostas das Audiências Públicas. Dispõe que a gestão municipal deverá seguir as propostas votadas e aprovadas
nas audiências públicas, no sentido de elevar a qualidade de vida, priorizando a educação, a saúde, protegendo os recursos naturais e as paisagens, evitando a ocupação
das áreas de risco, aumentando a eficiência
e a abrangência da economia, pensando no
bem-estar e na melhoria das condições de
vida da população.
A partir da leitura do Plano Dire-
26
tor observa-se que o mesmo é uma peça
chave para articular os processos de desenvolvimento e de tomada de decisões em
nível municipal, pois trabalha com mecanismos diversos, incluindo técnicas legais
e administrativas, cuidando da ordenação
do espaço territorial municipal, envolvendo,
ainda, aspectos sociais, econômicos, físico-territoriais e institucionais, além de suas
interferências no uso e na distribuição da
população e de suas atividades no solo urbano.
4.5 A Questão do Turismo
Estima-se (conforme dados da
Prefeitura Municipal de Serra Negra) que a
cidade recebe um público flutuante de cerca de 100.000 pessoas durante todo o ano,
sendo que os períodos de final de ano, carnaval, páscoa e Corpus Christi são as épocas de maior visitação. O município possui
uma média de 60 prédios voltados ao turismo, entre hotéis e pousadas, totalizando
uma média de 7000 leitos. Acredita-se que
o turismo represente 50% de toda economia do município.
O comércio local representa um
grande pólo de atração turística, com uma
enorme variedade em produtos em lã, linha,
couro, artefatos de madeira e laticínios. O
turismo rural também é representativo na
economia local, com propriedades abertas
à visitação que desenvolvem desde o plantio de café à fabricação de queijos e vinhos.
Atualmente encontra-se uma média de 10
propriedades rurais que oferecem esse tipo
de serviço aos turistas.
O plano diretor composto em 2006
aponta propostas e regulamentações a fim
de privilegiar o potencial e a vocação turística do Município. O plano procura a consolidação e o crescimento da atividade turística de maneira ordenada e equilibrada,
de forma a não prejudicar seus recursos
ambientais. Também faz parte do plano desenvolver a educação da população, visando estimular a mentalidade turística interna
e receptiva.
Faz parte das propostas do plano
diretor a criação de um Plano Diretor de
Turismo, prevendo a construção de novos
recursos e infraestruturas, além da exploraInterciência
& Sociedade
Planejamento ambiental urbano: O caso do município de Serra Negra – SP
ção de um espaço já existente no município, chamado de “Centro de Convenções”.
A localização do município na Serra
da Mantiqueira, o clima tropical de altitude,
a preservação de grande parte de suas matas nativas, além dos recursos hídricos, são
os elementos que proporcionaram a grande
atratividade do município. Esses foram os
recursos naturais e ambientais apropriados
como mercadorias pelo sistema econômico
e transformados em objetos de atração turística e fontes de renda.
Os recursos hídricos de Serra Negra, e em especial as fontes e minas de
água, são considerados os grandes bens
naturais da cidade. O desenvolvimento da
atividade turística ocorreu de fato a partir da descoberta da qualidade das águas
minerais, sendo que hoje Serra Negra é
considerada “Cidade da Saúde”. Segundo
os dados do plano diretor (2006), as águas
encontradas em Serra Negra têm como características a radioatividade, o baixo índice
de mineralização e o pH alcalino. As minas
e fontes de água foram transformadas em
fontanários, e hoje a cidade possui mais
de 10 fontes de visitação pública.
5. Propostas para o planejamento ambiental de Serra Negra
A partir de toda a caracterização
de Serra Negra, observa-se que o mesmo
necessita de um Planejamento Ambiental
Urbano. Isso se justifica pelo fato do município ter o turismo como atividade econômica
principal, ao passo que possui muitos recursos ambientais. A grande pressão exercida pela atividade turística acarreta alguns
problemas de ordem turística, ambiental e
de infra-estrutura. Dessa forma, é preciso
agregar o turismo ao Meio Ambiente para
que se tenha o desenvolvimento da atividade sem causar degradação.
Um importante instrumento do Planejamento Ambiental é Plano Diretor Municipal, uma vez que o mesmo possibilita a
regulamentação do uso e ocupação da Terra, legaliza atividades, e permite planejar os
espaços urbanos. Após a análise do Plano Diretor de Serra Negra observa-se que
muitas ideias contidas ali ainda não foram
colocadas em prática. Talvez um primeiro
passo seria a revisão do Plano e a tentativa
de usar as propostas ali descritas a fim de
melhorar alguns aspectos do município.
Em relação ao Turismo, percebe-se
que o mesmo deveria ter uma abrangência
maior no município, ou seja, a cidade precisaria criar Planos e Projetos a fim de desenvolver a educação da população, visando
estimular a mentalidade turística interna e
receptiva. Como descrito no Plano Diretor,
seria importante criar intensas campanhas
de motivação para todos os setores do município, a fim de que haja o engajamento da
população na consolidação do turismo.
Outro ponto importante seria investir na promoção do Município e na capacitação dos prestadores de serviços. Além dos
incentivos e investimentos, é importante salientar a participação ativa da administração
pública na criação e manutenção da infra-estrutura básica do município. Dentre eles,
a limpeza, o calçamento em bom estado de
conservação, iluminação eficiente, praças
conservadas, gerenciamento do trânsito e
dos estacionamentos, segurança etc.
Outro tópico importante é a proposta de criação de um Plano Diretor de Turismo, que contemple e regulamente a implementação de diretrizes importantes. Dentre
elas pode-se citar: a execução e implantação de pólos de atração turística em alguns
pontos estratégicos; implantação de cursos
profissionalizantes nas áreas de turismo e
hotelaria, mediante convênios; intensa promoção; divulgação do Município no Estado
de São Paulo e em âmbito nacional e valorização dos artesãos e agricultores locais.
Não menos importante, é a exploração do espaço chamado “Centro de Convenções”. Este espaço é uma ferramenta
muito importante para o município, por possuir um grande espaço para convenções,
além de abrigar um balneário que atualmente encontra-se desativado. O Plano Diretor
previa também, a conclusão e estruturação
administrativa do Centro de Convenções,
bem como a integração do local ao centro
da cidade durante as temporadas, dando
oportunidade para o turista usufruir do balneário e de outras atividades no local. Esse
espaço poderia contribuir muito para o desenvolvimento do turismo local, mas para
isso seria essencial o investimento para que
Interciência
& Sociedade
27
FAGUNDES, A. S. M.; FRAISOLI, C.
sua construção fosse finalizada e o balneário voltasse a funcionar.
Com relação ao Meio Ambiente,
também pode-se sugerir inicialmente a aplicação do Plano Diretor. Como já dito, o município possui muitas Áreas de Preservação
Permanente (APP), mas poucas são conhecidas da população e dos turistas. Um
trabalho importante seria a recuperação e
preservação das APP’s, bem como implantação de novos parques urbanos e áreas de
preservação permanente com finalidades
ecológicas e de lazer. Neste sentido seria
importante trabalhar com a população para
que os mesmos pudessem auxiliar na implantação, divulgação e preservação não só
destes parques, como também das APP’s.
Outro ponto importante seria a elaboração de um plano integrado de preservação e manutenção da paisagem urbana
do centro comercial, dos edifícios e dos monumentos históricos.
Com relação aos Resíduos Sólidos, é importante que o município possua
um Programa de Gerenciamento, a fim de
reduzir os riscos de degradação ambiental, que no caso do Ribeirão Serra Negra,
já está poluído. O gerenciamento dos resíduos beneficiaria não só a população local,
mas também os turistas que muitas vezes
sentem-se incomodados com a falta de Coleta Seletiva, por exemplo. O Plano Diretor
mesmo prevê um programa de minimização
de resíduos, visando a redução da quantidade de lixo a ser disposta em aterros. Neste sentido, a Administração Pública, deve
incentivar a participação da comunidade,
bem como a educação ambiental, divulgando a coleta seletiva, suas vantagens e forma de funcionamento.
É importante salientar que muitas
das propostas levantadas até aqui trarão
benefícios não só ao Meio Ambiente, mas
ao Turismo também. Uma ideia muito interessante apontada no Plano Diretor, é a
viabilização dos “Monitores Turísticos e Ambientais”, trabalhando com jovens a partir
dos quatorze anos, visando um turismo ambiental e receptivo.
Para que não só essas ideias, mas
outras que possam surgir, sejam colocadas
em prática é importante que se faça um
Planejamento Ambiental Urbano. Segundo
28
FLORIANO (2004), o processo de planejamento pode ser organizado da seguinte
maneira: identificação do elemento do planejamento, criação de uma visão sobre o
assunto, definição dos objetivos, definição
de critérios e ferramentas de trabalho, desenvolvimento de métodos de controle e
análise das ações planejadas e, então, a tomada de decisões para prevenção e correção quanto às irregularidades que poderão
ocorrer em relação ao plano.
Neste sentido, o Planejamento
Ambiental Urbano é uma iniciativa onde
poderão ser trabalhados muitos aspectos
relativos ao município, seja ele ambiental,
turístico, de uso e ocupação do solo, de
infra-estrutura, entre outros. Através dele,
será possível apontar os problemas do município e, principalmente, buscar soluções.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O município de Serra Negra, desde
o início de sua fundação, possui um caráter
turístico devido aos seus recursos ambientais e seu comércio local. Observa-se que o
Turismo foi se desenvolvendo, e o município absorveu esse crescimento, porém de
forma desordenada, sem o devido planejamento. Atualmente, percebe-se uma cidade
privilegiada de recursos ambientais, com
um fluxo de visitantes intenso, que mantém
a economia local, mas que é carente de planos de melhoria e previsão futura.
Serra Negra, da mesma forma
que outros municípios paulistas, possui
um Plano Diretor que apresenta diversas
idéias que, se postas em prática, poderiam
não apenas solucionar problemas urbanos,
como também alavancar a atividade turística e promover o desenvolvimento de Serra
Negra. O plano, com diretrizes, objetivos
e metas, poderia ser um forte instrumento
de planejamento ambiental, garantindo que
a atividade turística e o meio ambiente se
mantivessem de forma concomitante e harmoniosa.
O planejamento ambiental, conforme exposto nesse artigo, além de preservar
o meio ambiente, e garantir a sustentabilidade da atividade turística, também poderia
garantir uma maior qualidade de vida para
os moradores da cidade, uma vez que estaInterciência
& Sociedade
Planejamento ambiental urbano: O caso do município de Serra Negra – SP
beleceria uma série de ações de melhorias
contínuas. Com o Plano Diretor já composto, o mesmo poderia ser utilizado como embasamento legal para a composição de um
planejamento ambiental.
Porém, vale destacar que mesmo
com todos os aspectos positivos criados
pelo Plano Diretor, esse não foi colocado
em prática na íntegra, o que nos leva a crer
na existência de barreiras políticas e sociais
impostas pela dinâmica do município.
As condições para a construção
de um Planejamento Ambiental Urbano no
município de Serra Negra existem e talvez
não sejam tão complexas. Porém, ainda seria necessário ir além de questões legais,
alcançando também as perspectivas políticas, sociais e culturais.
Assim, podemos concluir esse estudo reafirmando as possibilidades de melhorias proporcionadas pelo planejamento
ambiental. No caso de Serra Negra, seria
de grande valia, pois uma cidade bem planejada tem grandes chances de obter o retorno de seu investimento, que não está só
no presente, mas no futuro também.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Gestão Ambiental em Cidades Médias. Rio Claro,
LPM-UNESP, 2001. pp 95 á 109.
CHRISTOFOLETTI, A., Modelagem de Sistemas
Ambientais, São Paulo, ed. Edgard Blücher, 2000.
236 p.
FERREIRA, L., C., Estado e Ecologia: Novos Dilemas e Desafios, Tese de Doutorado, IFCH, Unicamp,
Campinas, 1992.
FLORIANO, E. P., Planejamento Ambiental. Santa
Rosa, ed. ANORGS, 2004. 54 p.
FRANCO, M. A. R., Planejamento Ambiental para
a Cidade Sustentável. São Paulo, ed. Annablume:
FAPESP, 2001. 296p.
MOTA, S., Urbanização e Meio Ambiente, Rio de
Janeiro, ed. Abes, 1999.
PLANO DIRETOR DO MUNICÍPIO DE SERRA NEGRA ESTÂNCIA HIDROMINERAL – SP, 2006.
RIBEIRO, W. C., A Ordem Ambiental Internacional,
ed. Contexto, São Paulo, 2001.
SANTOS, R. F., Planejamento Ambiental: teoria e
prática, São Paulo, ed. Oficina de textos, 2004. 184 p.
SIVIERO, S. O., A Política Ambiental e o Pode Local: O Caso do Município de Campinas – SP, Campinas, 1995. 126 p. Tese de Mestrado, Universidade
Estadual de Campinas – UNICAMP.
BRAGA, R ., CARVALHO, P. F., Perspectivas de
Anatália Silva Montoro Fagundes é bacharel em Engenharia Ambiental pela Faculdade Municipal Professor
Franco Montoro.
Camila Fraisoli é bacharel em geografia pela Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, mestrado em geografia pela Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP.
Interciência
& Sociedade
29
30
Interciência
& Sociedade
PLANEJAMENTO PARA A VITALIDADE DAS CIDADES
MARANGONI FILHO, Mário
Faculdade Municipal “Professor Franco Motoro” (FMPFM)
[email protected]
RESUMO: O presente artigo abrange o estudo das propostas de três importantes autores que procuraram estabelecer princípios e diretrizes para o planejamento urbano. Inicia com a teoria da Cidade-Jardim de Ebenezer Howard na passagem do século 19 para o século 20; em seguida verifica algumas
das proposições do arquiteto Le Corbusier na primeira metade do século 20 e finaliza com as propostas
de Jane Jacobs, elaboradas no início da década de 1960. Pretende verificar como as propostas de
Jane Jacobs podem ser aplicadas no planejamento de cidades médias.
PALAVRAS-CHAVE: Planejamento urbano, cidade-jardim, vitalidade das cidades.
ABSTRACT: This article covers the study of the proposed three important authors who sought to establish principles and guidelines for urban planning. Starts with the theory of City-Garden of Ebenezer Howard in the passage of the 19 century for the 20 century; then verifies some propositions of the architect
Le Corbusier in the first half of 20 century and ends with the proposals of Jane Jacobs, compiled in the
early 1960. Aims to see how the proposals of Jane Jacobs can be applied in the planning of medium-sized cities.
KEYWORDS: Urban planning, City-Garden, vitality of cities.
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo faz parte de uma
pesquisa sobre o planejamento urbano e
sobre o espaço de Mogi Guaçu, cidade média do interior do estado de São Paulo. A
principal motivação da pesquisa foi a procura de indicações para a vitalidade urbana na
cidade de Mogi Guaçu. Considera-se que a
questão do planejamento urbano local deve
ser um processo contínuo que leve em conta os referenciais teóricos apropriados e
as observações e descrições precisas das
condições locais.
Quais devem ser os pressupostos
do planejamento urbano para o crescimento
das cidades médias com vitalidade urbana?
Esta é a problemática que a pesquisa procurou compreender e fazer indicações para
o caso de Mogi Guaçu.
O artigo concentra-se nos princípios de planejamento urbano a partir da te-
1
oria da cidade-jardim de Ebenezer Howard,
do planejamento moderno e racionalista de
Le Corbusier e das propostas de planejamento para a vitalidade das cidades de
Jane Jacobs. O trabalho tem por objetivos
verificar como as propostas de Jane Jacobs
podem ser aplicadas nos planos diretores
de cidades médias.
2. A teoria da Cidade-Jardim
Em seu livro Cidades-Jardins de
Amanhã, Howard (2002, p.191) apresenta
suas ideias não apenas para uma cidade,
mas para aglomerados de cidades de populações máximas entre 30.000 e 54.000
habitantes1, como alternativa ao crescimento de Londres com aproximadamente 5 milhões de habitantes por volta de 1900. O tamanho das cidades-jardins preconizado por
Howard, tinha a finalidade da preservação
do espaço urbano próximo do setor agrí-
As populações totais, incluindo os moradores da zona agrícola, seriam de 32.000 pessoas e de 58.000 pessoas.
Interciência
& Sociedade
31
MARANGONI FILHO, M.
cola, e a intenção de construção de novas
cidades, onde seria possível o estabelecimento de uma “sociedade na qual o amor
próprio a si mesmo nos leva a insistir numa
maior consideração pelo bem-estar de nossos semelhantes”.
A sua representação gráfica da
cidade-jardim (Figura 1), de forma circular,
ressalta corretamente que era apenas um
diagrama e a implantação deveria considerar o sítio selecionado para o projeto da cidade. A área da cidade ocupava 400 hectares, um sexto do total municipal de 2.400ha
que incluía a zona agrícola. No centro, localizavam-se os edifícios públicos: a sede
da municipalidade, as salas de concertos e
conferências, o teatro, a biblioteca, o museu, a galeria de arte e o hospital, disposto
como um belo e irrigado jardim. Seis avenidas ou bulevares com 36 metros de largura conduziam ao centro. Ao redor deste do
centro, haveria um parque central de 56 ha
com grandes áreas de recreação, circundado por um Palácio de Cristal.
Os lotes para residências, com
área mínima de 186 metros quadrados e dimensões de 6,10 x 30,50 metros somariam
5.500 unidades, em um sistema de arrendamento por 99 anos. Haveria também a
Grande Avenida com 128 m de largura dividindo a cidade em duas faixas circulares.
As fábricas e armazéns seriam implantados
na parte externa da cidade, defronte a via
férrea e teriam os maquinários movidos à
eletricidade.
A administração e o controle da cidade e do município seriam de uma Junta
Administrativa para o direcionamento da
iniciativa municipal, organizada conforme o
modelo de uma grande empresa e de forma
que a responsabilidade por cada setor da
administração seria assumida diretamente
pelos funcionários daquele setor.
Figura 1: Diagrama de Ebenezer Howard para a cidade-jardim.
Fonte: Benevolo, 1974, p.400.
32
Interciência
& Sociedade
Planejamento para a vitalidade das cidades
Letchworth foi a primeira cidade-jardim implantada, conforme a teoria de
Howard e localizada a aproximadamente 50
km ao norte de Londres, a partir de 1903,
com a compra de 1.546 ha para uma área
urbana de 505ha, pela companhia First
Garden City Ltd. Com a previsão de 30.000
habitantes, a cidade de Letchworth atingiu
26.000 habitantes somente em 1962 (Cf.
Ottoni, 2002, p.45). O plano inicial dos arquitetos Raymond Unwin e Barry Parker2, é
mostrado na Figura 2 a seguir.
Figura 2: Planta de Letchworth, a primeira cidade-jardim.
Fonte: Benevolo, 1974, p.400.
2
Os mesmos arquitetos são os autores do projeto do loteamento paulistano Jardim América, em 1919 (Cf. Ottoni, 2002, p.72).
Interciência
& Sociedade
33
MARANGONI FILHO, M.
Em 1919 Howard funda uma segunda sociedade e começa a construção
da cidade de Welwyn, localizada aproximadamente na metade do percurso entre
Londres e Letchworth. Com previsão de população total de 50.000 habitantes, alcança
35.000 habitantes antes da segunda Guerra
Mundial. Porém, o cinturão agrícola perde a
importância econômica nas duas cidades-jardins e se reduz às áreas verdes circundantes das suas zonas urbanas. No caso de
Welwyn, a proximidade de Londres proporciona a possibilidade de trabalhar na metrópole e residir na cidade-jardim. A cidade-jardim, enfim, torna-se uma cidade como as
demais, submetida à atração da metrópole,
restando da concepção original a elegância
dos traçados das ruas, a uniformidade dos
edifícios e a distribuição das áreas verdes.
A teoria e o movimento de Howard tiveram
uma grande influência na Europa e assim,
grande número de subúrbios das principais
cidades adotaram a forma de cidades-jardins (Cf. Benevolo, 1974, p.401).
A proposta da cidade-jardim e o
projeto de Letchworth mostram o zoneamento urbano como um dos fundamentos
da nova cidade, com quatro zonas de uso
do solo: residencial, industrial, comercial e
as áreas verdes.
Como visto acima, da ideia original da cidade-jardim permaneceu a parte
formal de ruas curvas e áreas verdes, com
resultados palpáveis em loteamentos arborizados. A distância dos centros urbanos,
outra ideia da cidade-jardim, também aparece em projetos de loteamentos murados ou
também em condomínios horizontais fechados, muitas vezes com apelos ou motivações de proximidade da natureza. Por outro
lado, loteamentos populares afastados das
áreas mais centrais das cidades, são tam-
34
bém chamados de jardins, o que aparece
apenas como um recurso de mercado sem
constituir uma prática imobiliária real.
3. Le Corbusier e o planejamento racionalista
Le Corbusier, um dos arquitetos
mais influentes da arquitetura moderna,
também foi um dos maiores teóricos do urbanismo progressista ou racionalista, característico do movimento moderno no século XX. Considerou a vida nos subúrbios
um engano, onde o campo tornou-se uma
zona imensa sem plano e sem ligação com
a aglomeração. “Esta teoria, nas cidades-jardim da Inglaterra, dos Estados Unidos,
criou a desarticulação do fenômeno urbano”
(LE CORBUSIER, 1979, p.22).
Procurou maneiras de evitar
que as cidades se estendam e se diluam,
perdendo a forma e a alma; assim, considerou que a solução é conferir altura às
construções para ganhar terreno em torno
delas (Cf. Le Corbusier, 2008, p.12 e p.87).
Sua maneira de pensar o urbanismo abrangia a reunificação da propriedade fundiária
urbana em uma renovação pela arquitetura
e pelo urbanismo, com a demolição do casario existente e a implantação de edifícios,
com a orientação racional da morada, onde
a cidade pouco a pouco se transforma em
um parque, e ocorria a abolição da tirania
da rua, local principal de circulação.
As figuras 3 e 4 mostradas
a seguir exemplificam sua ideia de separação entre os pedestres e os automóveis, e
a construção dos imóveis em meio às áreas
verdes. O projeto do plano piloto de Brasília
também apresentou estes princípios, como
parte da concepção urbanística de Lúcio
Costa.
Interciência
& Sociedade
Planejamento para a vitalidade das cidades
Figura 3: Separação de pedestres e automóveis (Le Corbusier).
Figura 4: Imóveis na cidade, conforme Le Corbusier.
Fonte: Le Corbusier, 1979, p.49.
Fonte: Le Corbusier, 1979, p.50.
Esta breve exposição evidencia as
propostas de Le Corbusier, como exemplos
de um planejamento racional e organizado
em todos os detalhes do espaço urbano,
onde não haveria possibilidades de existência da cidade espontânea e certamente desorganizada, conforme a sua visão.
Deve-se considerar também que as suas
ideias referem-se às grandes cidades, com
grandes populações, problemas de circulação, necessidades de habitações com qualidades ambientais e necessidade de áreas
verdes.
Em relação às ideias de Le Corbusier para o planejamento regional, destaca-se sua proposta de fábrica verde, em
centros industriais lineares ao lado das vias
entre cidades:
Os edifícios são dispostos segundo as
necessidades do terreno e as exigências
da fabricação; suas formas, suas dimensões são, em cada caso, proporcionais
às funções. A luz é larga e sistematicamente distribuída nas oficinas por dispositivos apropriados.
Mas, em determinados lugares, quando
o sol não incomodar, aberturas verticais
serão abertas, sobre perspectivas paisagísticas judiciosamente reservadas
ou regulamentadas. Os espaços entre
os edifícios constituirão conjuntos harmoniosos com vastas extensões de céu
e de perspectivas sobre lugares longínquos. A relva está justamente ao pé
dessas vidraças aberta sobre o campo:
as árvores são mantidas e outras são
plantadas para vestir o lugar. [...] Este é
um exemplo inteiramente ocasional da
fábrica verde, que pode servir de norma quando da constituição das cidades
lineares industriais. (LE CORBUSIER,
1979, p.143)
Interciência
& Sociedade
35
MARANGONI FILHO, M.
Figura 5: A fábrica verde de Le Corbusier.
Fonte: Le Corbusier (1979, p.141).
4. Vitalidade Urbana
Para Jane Jacobs (2000, p.1), seu
trabalho Morte e Vida de Grandes Cidades,
escrito no início da década de 1960, aborda o funcionamento das cidades na prática,
principalmente e basicamente as grandes
cidades norte-americanas. É uma tentativa de introduzir novos princípios no planejamento urbano, diferentes e em oposição
ao planejamento urbano moderno, cujos
princípios e objetivos procuram estabelecer
a ordem na desordem das cidades. Argumenta que o funcionamento das cidades na
prática é a única forma de saber que princípios de planejamento e quais iniciativas de
reurbanização conseguem promover a vitalidade socioeconômica nas cidades e quais
práticas e princípios a inviabilizam.
As grandes cidades são muito diferentes das cidades médias e pequenas e
se tentarmos entender as cidades menores
com base nas metrópoles, a confusão será
maior do que tentar entender as cidades
grandes com base no comportamento e no
suposto funcionamento das cidades menores (cf. JACOBS, 2000, p.15).
36
Para a autora (Jacobs, 2000,
p.23), Le Corbusier foi o arquiteto europeu
que propôs o planejamento anticidade dentro das cidades, ao imaginar nos anos de
1920, uma cidade chamada Ville Radieuse
formada por 24 grandes edifícios em meio a
um parque, resultado da demolição de uma
grande área de Paris. Com esta colocação
fica evidente o interesse da autora pela vida
urbana com possibilidade de encontro social informal entre as pessoas e que esta
possibilidade ocorre nas ruas com calçadas
de tamanho apropriado à circulação de pedestres e com a existência de comércio e
serviços diversificados, e com alta densidade populacional.
Apresenta-se a seguir modos de
análise para compreender as cidades,
com base nas propostas de Jacobs (2000,
p.491), tendo por objetivo a verificação das
possibilidades de aplicá-los no planejamento de cidades médias brasileiras.
1- Refletir sobre os processos.
As cidades e os seus elementos
abrangem processos urbanos; e é preciso
pensar nos catalisadores desses procesInterciência
& Sociedade
Planejamento para a vitalidade das cidades
sos. Os processos urbanos podem ser compreendidos por quase todos e não apenas
por especialistas, e ao compreender esses
processos é possível dar-lhes direção.
Para isso é de importância a realização de audiências públicas, tendo em
vista a participação popular para a elaboração dos planos diretores municipais, conforme é exigido no Estatuto da Cidade (Lei
nº. 10.257/2001, Art. 40, §4º), ou seja, no
processo de elaboração do plano diretor e
na fiscalização da sua implementação o Poder Legislativo e o Executivo garantirão a
promoção de audiências públicas e debates
com a participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade.
2- Usar de indução, raciocinando
do particular para o genérico e não o contrário, usar de dedução, raciocinando do genérico para o particular.
Os urbanistas foram treinados e
formados no raciocínio dedutivo. Por outro
lado, o raciocínio indutivo pode compreender particularidades e pode ser praticado
por cidadãos comuns, que não são acostumados a pensar sobre um lugar de maneira
genérica ou abstrata.
Não basta aos planejadores e administradores conhecer serviços e técnicas
específicas, mas precisam conhecer a fundo os lugares específicos. O conhecimento
local é imprescindível para o planejamento
urbano e as áreas de atuação dos planejadores não podem ser muito extensas, pois
deixa de focalizar o local específico e é muito difícil conhecer uma cidade por inteira ou
um grupo de bairros com o detalhamento
necessário (cf. JACOBS, 2000, p. 456).
3- Procurar índices sobre quantidades pequenas de coisas, que revelem
como funcionam quantidades médias e
maiores. Os índices precisos sobre quantidades pequenas de coisas informam como
as coisas estão funcionando, por exemplo,
os horários de funcionamento do comércio
informam sobre a permanência das pessoas nas vias públicas do local.
Neste sentido, é preciso considerar
a existência de pontos de interesse, ou de
elementos irregulares, como indispensável
para as cidades cheias de vida, sendo também importantes como indícios para análise
urbana. Irregularidades, nestes casos, têm
o sentido de diferença e de ponto de interesse. Os planejadores urbanos, ao exercer
a ciência do planejamento urbano e a arte
do desenho urbano, não podem considerar
as irregularidades, ou pontos de interesse
urbano, como incoerentes ou fora de padrão, mas como geradores de vitalidade urbana (cf. JACOBS, 2000, p.493).
Além da análise para compreender
as cidades, é preciso que o planejamento
urbano tenha objetivos específicos, e neste trabalho concorda-se com Jacobs (2000,
p.454/455), que o objetivo do planejamento
urbano é conseguir a vitalidade urbana com
a diversidade de usos, em locais específicos da cidade; sendo metas do planejamento urbano para obter a vitalidade urbana:
1- Estimular a diversidade de usos
e de usuários para a vitalidade social e
como alicerce da força econômica.
2- Interpenetração de vizinhanças,
cujos usuários e proprietários possam dar
uma contribuição para a segurança.
3- Evitar fronteiras desertas e ajudar a promover a identificação das pessoas
com os distritos extensos.
4- Estimular forças econômicas
construtivas e projetos pessoais, em meio
à diversidade em uma área mais ampla da
cidade.
5- Explicitar a ordem visual das cidades, por meio da promoção e da compreensão da ordem funcional3.
Para explicitar a ordem visual da cidade pode-se utilizar a comunicação visual para indicação dos lugares e dos prédios públicos e privados, inclusive a distribuição de mapas da cidade. Também por meio do urbanismo, com ruas, avenidas, prédios e
marcos visuais naturais ou construídos.
3
Interciência
& Sociedade
37
MARANGONI FILHO, M.
Estas metas estão inter-relacionadas e os responsáveis pelo diagnóstico
urbano, pela elaboração de táticas e pela
recomendação de medidas de revitalização
precisam ter um conhecimento detalhado
sobre os lugares específicos e únicos da
cidade, e não um conhecimento generalizado. Pode-se adquirir boa parte das informações com os próprios moradores do lugar,
que têm conhecimentos sobre esses lugares específicos e únicos, pois não há quem
mais saiba a respeito.
Por exemplo, para a revisão do
Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de Mogi Guaçu, Lei nº 968 de 2008, a
Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano realizou audiências públicas
em 2006, para adquirir informações com os
próprios moradores da cidade e do distrito
de Martinho Prado.
Os cinco itens relacionados acima
podem fazer parte dos planos diretores de
cidades médias como Mogi Guaçu, de diversas formas, no zoneamento urbanístico,
nas diretrizes viárias e no planejamento de
áreas de lazer.
Tendo por objetivo a vitalidade urbana, se pode abordar essas questões no
zoneamento urbanístico dos planos diretores municipais, possibilitando usos diferentes em uma mesma área: habitação unifamiliar, habitação multifamiliar, comércio e
serviços. Também devem ser evitados os
núcleos habitacionais populares sem comércio e serviços.
Uma forma de evitar fronteiras desertas é a permissão ou previsão de lotes
comerciais, de serviços, habitacionais ou
institucionais na parte externa dos condomínios fechados, e também dos loteamentos fechados, evitando assim os muros extensos e desertos.
A implantação de áreas de lazer
menores para o atendimento de áreas menores da cidade também pode evitar as áreas verdes grandes, desertas e inseguras.
Em outra escala, a implantação de
áreas de lazer para atendimento de áreas
maiores da cidade deve ocorrer com comércio e serviços nas proximidades ou na
própria área de lazer para evitar áreas desertas. A forma de parques lineares junto
aos córregos urbanos permite a existência
38
de residências próximas, assim como o comércio e os serviços.
A implantação de sinalização informativa dos lugares, com placas, indicações
e inclusive com a distribuição de mapas da
cidade, pode ajudar a explicitar a ordem visual e a compreensão funcional.
Em relação à vitalidade de projetos
urbanos específicos, são apresentadas algumas considerações propostas por Jacobs (2000, p.437/445), que também podem
ser utilizadas no planejamento urbano das
cidades médias, como Mogi Guaçu.
1- É necessário evitar projetos autônomos em si e separados da cidade, assim é preciso costurar os projetos na trama
urbana e fortalecer a trama ao redor. Aqui
aparece novamente a questão de como fazer com que os loteamentos fechados ou
murados e os condomínios horizontais nas
cidades médias, sejam integrados de alguma forma na trama urbana, ou pelo menos,
não criem longas barreiras arquitetônicas
ao longo das suas divisas. Como foi visto
acima, outros tipos de uso, comerciais, serviços, institucionais ou ainda habitacionais
junto das divisas muradas, eliminam ou reduzem o isolamento dos muros.
Também é possível a utilização
do estudo de impacto de vizinhança (EIV),
previsto no Art. 36 da Lei nº. 10.257/2001,
Estatuto da Cidade, da seguinte forma: lei
municipal definirá os empreendimentos e
atividades privados ou públicos em área
urbana, que dependerão de estudo prévio
de impacto de vizinhança, para obter as licenças ou autorizações de construção, ampliação ou funcionamento a cargo do Poder
público municipal.
2- Os novos projetos de núcleos
habitacionais populares precisam de personagens públicas informais, espaços públicos vivos, bem vigiados e usados com
constância e inter-relação de usos com pessoas de fora.
Para os núcleos habitacionais existentes é preciso diagnosticar as condições
de gerar diversidade que estão faltando e
os conjuntos devem ser seguros e viáveis
para a vida urbana.
Considera-se que os núcleos habiInterciência
& Sociedade
Planejamento para a vitalidade das cidades
tacionais não podem ser apenas de habitação, mas precisam conter também comércio
e serviços diversos, permitindo a interpenetração de vizinhanças. Assim, para apagar
a monotonia dos conjuntos residenciais é
necessário atrair outros usos não residenciais. O piso térreo deveria ser incorporado
aos usos da rua com pedestres, quiosques,
comércio e serviços. As ruas nesse pavimento térreo deveriam ser ruas verdadeiras
para carros e pessoas.
As figuras públicas como os vendedores, comerciantes, policiais, vigias, taxistas em pontos de táxi, são importantes
para a vitalidade urbana, pois geram comunicação e segurança. Pequenos comerciantes são tipicamente propensos a manter a
lei e a ordem pública.
3- Ao contrário de superquadras,
características do planejamento urbano
moderno, as quadras devem ser pequenas,
para maior circulação de pessoas nelas. As
novas ruas devem ligar-se a ruas além dos
limites do projeto para a integração desse
local ao que está à sua volta. As ruas devem ligar-se aos elementos fixos e notáveis
do terreno, quando existem esses elementos.
4- Pequenos parques públicos e
áreas de esportes e lazer devem estar junto
das ruas movimentadas. Também é importante prever outros usos para os espaços
públicos, como auditórios e escolas, nos
fins-de-semana.
Assim como Le Corbusier, Jacobs
(2000, p.494/498) considera um equívoco a
vida nos subúrbios, que é vista como uma
aproximação desejada da natureza. Este
modo de vida não é uma característica de
Mogi Guaçu como uma cidade média, porém existem alguns loteamentos de chácaras afastados da cidade e também o distrito
de Martinho Prado Júnior, distante 20 km da
cidade sede.
No século XVIII, o romantismo disseminou o sentimento da natureza e as cidades, com seus problemas, foram vistas
como inimigas da natureza.
Os planejadores urbanos crêem
na irracionalidade das cidades e no caos
urbano, e nesta crença existe um equívoco
sobre a inter-relação das cidades e dos homens com o restante da natureza. Porém,
os seres humanos fazem parte da natureza,
e as cidades são produtos de uma forma de
natureza, de uma natureza transformada;
assim, as cidades são naturais e não antinaturais. É possível e necessário poder
observar a natureza nas cidades, com parques, áreas verdes, rios limpos, atmosfera
limpa, etc.
A mentalidade que só vê desordem
na vida das ruas das cidades é ansiosa por
destruí-la, padronizá-la, transformá-la em
subúrbio. Talvez por isso a ideia de Cidade-Jardim ainda é um conceito forte no pensamento do planejamento urbano e manifesta-se, de certa forma, nos loteamentos
fechados nos subúrbios.
As ideias e proposições de Jacobs
foram elaboradas tendo em vista a aplicação nas grandes cidades, porém princípios
como a diversidade urbana, a convivência
urbana com privacidade, a qualidade de
vida urbana sem segregação ou discriminação também são válidos para as cidades
médias como Mogi Guaçu.
Para a formação de condições de
vitalidade urbana é necessário que o planejamento urbano e o desenho urbano não se
tornem apenas componentes técnicos da
gestão das cidades.
As cidades vivas têm uma estupenda capacidade natural de compreender, comunicar, planejar e inventar o que
for necessário para enfrentar as dificuldades.
[...] As cidades monótonas, inertes, contêm, na verdade, as sementes de sua
própria destruição e um pouco mais.
Mas as cidades vivas, diversificadas e
intensas contêm as sementes de sua regeneração, com energia de sobra para
os problemas e as necessidades de fora
delas. (JACOBS, 2000, p.498 e 499)
Também é preciso colocar,
como uma possibilidade de utilização nos
planos diretores municipais, uma proposta de Mumford (2003, p.289), que consiste
no acesso público às paisagens rurais, por
meio do planejamento de faixas contínuas
de terrenos públicos no conjunto da paisagem, sem alterar o funcionamento da ecoInterciência
& Sociedade
39
MARANGONI FILHO, M.
nomia agrícola.
Ressalte-se, porém, que esta proposta de acesso público aos espaços rurais
deve ser bem mais detalhada, envolvendo
aspectos complexos de propriedades rurais
e de uso para turismo local nos municípios,
aspectos esses que podem constituir uma
pesquisa específica.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De forma geral, verifica-se que as
colocações de Jane Jacobs (2000) para o
planejamento urbano são adequadas para
a cidade de Mogi Guaçu e também para outras cidades médias brasileiras na atualidade, como a cidade vizinha de Mogi Mirim. Algumas ideias de Jacobs formam um conjunto de procedimentos para o planejamento urbano, que podem estabelecer a vitalidade das cidades: estimular a diversidade
de usos e de usuários em uma mesma área
da cidade; interpenetração de vizinhanças,
cujos usuários e proprietários possam contribuir para a segurança pela simples presença nos locais de atividades comerciais
e de serviços; evitar as fronteiras desertas
em áreas verdes e muros extensos de condomínios fechados; estimular forças econômicas construtivas e projetos pessoais;
explicitar a ordem visual das cidades, por
exemplo, com a adequada sinalização informativa dos lugares inclusive com a distribuição de mapas urbanos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENEVOLO, L. Historia de la Arquitectura Moderna. Editorial Gustavo Gili, Barcelona, 1974.
HOWARD, E. Cidades-Jardins de Amanhã. Annablume Editora, São Paulo, 2002.
JACOBS, J. Morte e Vida de Grandes Cidades.
Martins Fontes, São Paulo, 2000.
LE CORBUSIER. Os Três Estabelecimentos Humanos. Editora Perspectiva, São Paulo, 1979.
LE CORBUSIER. Planejamento Urbano. Editora
Perspectiva, São Paulo, 2008.
MUMFORD, L. Paisagem natural e paisagem urbana. In CHOAY, Françoise. O Urbanismo. Ed. Perspectiva, São Paulo, 2003.
OTTONI, D. A. B. Cidade-Jardim: Formação e Percurso de uma Idéia. In HOWARD, E. Cidades-Jardins
de Amanhã. Annablume Editora, São Paulo, 2002.
BRASIL, Lei 10.257 de 10/07/2001: O Estatuto da Cidade.
MOGI GUAÇU, Lei Complementar nº. 968, de
05/12/2008: Revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI) de Mogi Guaçu.
Mário Marangoni Filho é Arquiteto graduado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de S.
Paulo. Ex-Diretor de Planejamento, Urbanismo e Meio Ambiente de Mogi Mirim entre 2001 e 2004. Pós-graduado
com Mestrado e Doutorado pelo Instituto de Geociência da Universidade de Campinas – UNICAMP. Doutor em
Ciências na área de Análise Ambiental e Dinâmica Territorial do Curso de Doutorado em Geografia. Professor da
Faculdade Municipal Prof. Franco Montoro e das Faculdades Integradas Maria Imaculada, em Mogi Guaçu – SP.
40
Interciência
& Sociedade
INVENTÁRIO DA ARBORIZAÇÃO DAS VIAS PÚBLICAS DE INCONFIDENTES-MG E ANÁLISE DOS IMPACTOS GERADOS
CORRÊA, Rony Felipe Marcelino
Faculdade Municipal “Professor Franco Montoro” (FMPFM)
[email protected]
PINTO, Lilian Vilela Andrade
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas,
Campus Inconfidentes (IFSULDEMINAS)
[email protected]
RESUMO: O presente trabalho teve como objetivos inventariar quali-quantitativamente a arborização
urbana em vias públicas de Inconfidentes-MG, seus impactos negativos, as espécies mais frequentes
e as que trazem mais problemas para que posteriormente a prefeitura municipal possa traçar um plano
de arborização urbana. Para atender esses objetivos foi realizado um inventário quali-quantitativo das
espécies arbóreas e arbustivas encontradas na arborização de 35 quadras da cidade, sendo identificados 408 indivíduos distribuídos em 40 espécies e 21 famílias botânicas. As espécies que apresentaram
maior frequência foram a Caesalpinia peltophoroides (sibipiruna) totalizando 27%, Ficus benjamina
(fícus) com 11%, Delonix regia (flamboyant) com 8% e Murraya exótica (murta) com 7,5%. Pôde-se
constatar que 226 indivíduos (55,39%) geram algum tipo de conflito, sendo os maiores conflitos relacionados com fios, calçadas e pedestres, e apenas 182 indivíduos (44,61%) não geram nenhum tipo
de conflito.
PALAVRAS-CHAVE: Arborização urbana; planejamento urbano; gestão ambiental.
ABSTRACT: This study aimed to elaborate a qualitative and quantitative inventory urban forestry on public roads MG-Inconfidentes, its negative impacts, the most frequent species and bring more problems
for the municipal government may later develop a plan for urban forestry. To meet these objectives we
performed a qualitative and quantitative inventory of tree and shrub species found in the afforestation
of 35 city blocks, being identified 408 individuals in 40 species and 21 botanic families. The species
with the highest frequency were Caesalpinia peltophoroides ) totaling 27%, Ficus benjamina with 11%,
Delonix regia with 8% and Murraya exotic with 7.5%. It might be noted that 226 individuals (55.39%)
generate some kind of conflict, with the biggest conflicts over power lines, sidewalks and pedestrians,
and only 182 individuals (44.61%) did not generate any kind of conflict.
KEYWORDS: urban forestry, urban planning, environmental management.
1. INTRODUÇÃO
O planejamento da arborização
urbana é indispensável para o desenvolvimento urbano, evitando que traga prejuízos
ao meio ambiente, levando em consideração os diversos benefícios diretos e indiretos que traz ao homem, através da estabilização climática, embelezamento gerado
pelo colorido das árvores, da sombra e lazer
que fornece às praças, parques, ruas e avenidas das cidades (Dantas & Souza, 2004).
A caracterização física de cada rua
é essencial no planejamento da arborização
para, assim, definir as espécies mais adequadas para cada área. Nessa caracterização não se pode esquecer alguns critérios
básicos tais como, o aspecto visual-espacial, limitações físicas e biológicas que o
local impõe ao crescimento das árvores,
espécies que melhoram o microclima e condições ambientais locais (Amir & Misgav,
1990 apud Dantas & Souza, 2004).
A escolha das espécies adequadas
é essencial na hora de se planejar a arborização, pois a escolha de espécies com
características inapropriadas aos locais de
plantio faz com que muitas vezes a árvore
Interciência
& Sociedade
41
CORRÊA, R. F. M.; PINTO, L. V. A.
seja percebida como um elemento negativo
na cidade. Não só a má escolha da espécie,
mas também a mudança do espaço público onde a espécie foi plantada será negativo, causando danos às edificações, atrapalhando trânsito de pedestres e veículos,
causando interferência na rede de serviços
públicos (Programa de Arborização Urbana,
2005).
Apesar de em muitas cidades a
população tomar para si a responsabilidade
de realizar plantios e até mesmo podas de
árvores, é importante salientar que a responsabilidade é das prefeituras municipais,
que devem ter leis que tratem especificamente da arborização urbana. Ainda que a
responsabilidade seja das prefeituras, parcerias devem ser feitas entre prestadoras
de serviços públicos e privados no que se
A
diz respeito à arborização e, também, a população deve ser orientada para colaborar
nos planos de arborização (Bahia, 2002).
O presente trabalho teve como objetivos conhecer a arborização urbana em
vias públicas de Inconfidentes-MG, seus
impactos negativos, as espécies mais frequentes e as que trazem mais problemas,
para que posteriormente a prefeitura municipal possa traçar um plano de arborização
urbana.
2. Material e Métodos
A partir do mapa da cidade (Figura
1) foram selecionadas 35 quadras para serem inventariadas, totalizando 70% da área
total da cidade.
B
Figura 1: Cidade de Inconfidentes-MG: A) Mapa das quadras da cidade; B) Mapa
das quadras inventariadas.
Fonte: Autores.
O mapa de Inconfidentes foi adquirido junto à Prefeitura Municipal que, segundo informações, foi confeccionado por alunos da Universidade Federal de Ouro Preto,
onde os mesmos realizaram as medições
das quadras e a locação de seus respectivos lotes. A partir do mapa foi constatado
que as larguras das ruas e calçadas não
coincidiam com a realidade dessas medidas
na cidade e, por isso, teve-se que adicionar
esses parâmetros na planilha de avaliação
das quadras.
Para medição da altura dos indivíduos arbóreos e arbustivos ao longo da
cidade foi elaborado um metro, feito a partir
42
de duas barras de ferro e um cano PVC ligados entre si, através de conectores em
PVC, que foi devidamente graduado com
auxílio de fita métrica.
A medição de ruas e calçadas foi
realizada por meio de uma trena de 50 metros, a circunferência a altura do peito (CAP)
foi mensurada fazendo uso de uma fita métrica de 1 metro e em troncos maiores utilizou-se a trena de 50 metros. As medições
da CAP foram efetuadas a 1,30 metros do
solo.
A metodologia adotada para obter
as informações em campo foi do tipo censo, ou seja, foram avaliados todos os indiInterciência
& Sociedade
Inventário da arborização das vias públicas de Inconfidentes-MG e análise dos impactos
gerados
víduos individualmente, em quadras pré-determinadas na cidade. As planilhas com
a determinação dos dados referentes às
características e localização das espécies
(Tabela 1) e das características espaciais
das vias públicas (Tabela 2) foram desenvolvidas seguindo orientações encontradas
na literatura de Gonçalves & Paiva (2004) e
Soares (1998).
Tabela 1. Características e localização das espécies.
QUADRA “X”
Garagem
Sinalização
Fios
Postes
Iluminação
Muro
Veículos
Casas
P
CONFLITOS ESPACIAIS
Pedestres
A
Formação
Ótima (1)
Boa (2)
Regular (3)
Ruim (4)
Calhas
C
Marquises
Altura
Calçada
Espécie
Fonte: Autores.
Tabela 2. Características espaciais das vias públicas.
Orientação
da Rua N/S/
E/O
Largura da
Rua
QUADRA “X”
Largura da
Rede elétriCalçada
ca Sim/não
Edificações
com marquises ou
toldos
Nº médio
de mudas à
plantadar
Fonte: Autores.
A formação do indivíduo arbustivo-arbóreo foi caracterizada com os conceitos
de ótima, boa, regular e ruim, seguindo os
seguintes critérios: i) Ótima: quando a formação do indivíduo era bem definida, com
copa bem formada, tronco perfeito e aspecto sanitário bom; ii) Boa: quando o indivíduo
apresentava imperfeições em 1 dos 3 aspectos descritos acima; iii) Regular: quando
o indivíduo apresentava imperfeições em 2
dos 3 aspectos descritos no conceito “ótima”; iv) Ruim: quando o indivíduo apresen-
tava imperfeições nos 3 aspectos descritos
no conceito “ótima”.
3. Resultados e discussão
O inventário das espécies arbóreas e arbustivas das 35 quadras que representam 70% da cidade de Inconfidentes é
apresentado na Tabela 3.
Nas 35 quadras amostradas foram
identificados 408 indivíduos distribuídos em
40 espécies e 21 famílias botânicas.
Interciência
& Sociedade
43
CORRÊA, R. F. M.; PINTO, L. V. A.
Tabela 3. Inventário de 35 quadras do município de Inconfidentes contendo informações sobre a
família, nome científico, nome comum, número de indivíduos, frequência e origem.
Famílias
Anacardiaceae
Apocynaceae
Arecaceae
Bignoniaceae
Espécies
Nome comum
Número de
indivíduos
Freqüência (%)
Origem
Mangifera indica
mangueira
3
0,74
exótica
Schinus molle
aroeira-salsa
11
2,70
nativa
Thevetia peruviana
chapéu-de-napoleão
1
0,25
exótica
Nerium oleander
espirradeira
10
2,45
exótica
Roystonea oleracea
palmeira-imperial
24
5,88
exótica
Syagrus romanzoffiana
palmeira-jerivá
2
0,49
nativa
Archontophoenix alexandrae
palmeira-real
1
0,25
exótica
Tabebuia chrysotricha
ipê-amarelo
2
0,49
nativa
Tabebuia heptaphylla
ipê-roxo
1
0,25
nativa
Tecoma stans
ipê-mirim
23
5,64
exótica
Boroginaceae
Cordia superba
baba-de-moça
2
0,49
nativa
Chrysobalanaceae
Licanea tomentosa
oitizeiro
4
0,98
nativa
Combretaceae
Terminalia catappa
sombreiro
4
0,98
exótica
Delonix regia
flamboyant
32
7,84
exótica
Caesalpinia pulcherrima
flamboyant-mirim
6
1,47
exótica
Schizolobium parahyba
guapuruvu
1
0,25
nativa
Leucaena leucocephala
leucena
22
5,39
exótica
Bauhinia variegata
pata-de-vaca
13
3,19
nativa
Caesalpinia peltophoroides
sibipiruna
109
26,72
nativa
Tamarindus indica
tamarindo
1
0,25
exótica
Lythraceae
Lagerstroemia indica
resedá
15
3,68
exótica
Fabaceae
Malvaceae
Hibiscus rosa-sinensis
hibisco
1
0,25
exótica
Melastomataceae
Tibouchina granulosa
quaresmeira
3
0,74
nativa
Meliaceae
Muntingia calabura
calabura
1
0,25
exótica
Ficus benjamina
fícus
43
10,54
exótica
Ficus boni
fícus-boni
1
0,25
exótica
Ficus benjamina var. variegata
fícus-variagata
3
0,74
exótica
Moraceae
Myrtaceae
Oleaceae
Pinaceae
Ficus doliaria
gameleira
1
0,25
exótica
Callistemon viminalis
esponja-de-garrafa
2
0,49
exótica
Eugenia involucrata
cereja-do-rio
15
3,68
nativa
Eugenia uniflora
pitangueira
4
0,98
nativa
Eugenia pyriformis
uvaia
1
0,25
nativa
Jasminum officinale
jasmim
1
0,25
exótica
Ligustrum lucidum
legustrum
3
0,74
exótica
Pinus sp.
pinus
5
1,23
exótica
Proteaceae
Grevillea robusta
grevilha
1
0,25
exótica
Punicaceae
Punica granatum
romã
2
0,49
exótica
Rosaceae
Eriobotrya japonica
nêspera
1
0,25
nativa
Rutaceae
Murraya exotica
murta
31
7,60
exótica
Solanaceae
Cestrum nocturnum
dama-da-noite
2
0,49
exótica
408
100
TOTAL
Fonte: Autores.
44
Interciência
& Sociedade
Inventário da arborização das vias públicas de Inconfidentes-MG e análise dos impactos
gerados
As espécies que apresentaram
maior frequência foram a Caesalpinia peltophoroides (sibipiruna) totalizando 27%,
Ficus benjamina (fícus) com 11%, Delonix
regia (flamboyant) com 8% e Murraya exótica (murta) com 7,5%. O restante das espécies ficou abaixo dos 6%. Segundo Ferreira
Junior (2000) deve-se por razões estéticas
e fitossanitárias estabelecer o número de
espécies a utilizar e a proporcionalidade de
uso de cada espécie em relação ao total de
árvores a ser plantado, sendo que cada espécie não deve ultrapassar 15% da população total de árvores. Seguindo essa orientação verificou-se que somente a sibipiruna
está acima dos padrões recomendados.
Segundo Pivetta & Filho (2002), na cidade
de Piracicaba-SP, a frequência de sibipiruna
foi alta (56,1%), pouco maior que o dobro
da mesma espécie encontrada na cidade
de Inconfidentes-MG. Em um conjunto habitacional de Santa Maria-RS, Teixeira (1999)
constatou que somente a espécie Melia
azedarach (cinamomo) apresentou 18,07%
do total inventariado, ultrapassando os limites máximos de espécies recomendadas.
Já na cidade de Jacareí-SP, segundo Faria et.al. (2007), destacam-se as espécies
Tipuana tipu (tipuana) com 21,7%, Anadenanthera colubrina (angico) com 11,5% e
sibipiruna com 11,2%. Observa-se que em
Jacareí-SP, somente a tipuana ultrapassa
os limites recomendados. Na cidade Águas
de São Pedro-SP a sibipiruna também é a
de maior frequência com 13,63% dos indivíduos inventariados (Bortoleto, 2004).
Das 21 famílias botânicas presentes em Inconfidentes-MG as que apresentaram o maior número de espécies foram
Fabacea (7), Myrtaceae (4), Moraceae (4),
Arecaceae (3), Bignoniaceae (3) e Proteaceae (3) (Tabela 3), englobando 60% das
40 espécies presentes na cidade (Tabela 3).
Nas vias públicas inventariadas nas cidades
de Jacareí-SP, Águas de São Pedro-SP e
no conjunto habitacional de Santa Maria-RS
foram constatadas 28 (Faria et al., 2007),
161 e 112 espécies (Bortoleto, 2004), respectivamente.
Com relação ao percentual de
espécies encontradas verificou-se que a
soma das 10 espécies mais frequentes na
arborização de vias públicas de Inconfiden-
tes-MG totalizaram juntas 79,68% dos 408
indivíduos inventariados. Na cidade de Jaboticabal-SP as 10 espécies mais frequentes totalizam 71,25% do total de indivíduos
(Bortoleto, 2004), situação próxima a de
Inconfidentes-MG. Já no Conjunto Habitacional Tancredo Neves a soma das 10 espécies mais frequentes totalizaram 63,58%
de um total de 2.788 indivíduos (Teixeira,
1999), valor muito mais preocupante que
em Inconfidentes-MG por apresentar um
número baixo de espécies considerando o
grande número de indivíduos inventariados.
Na cidade de Águas de São Pedro-SP as 10 espécies de maior frequência correspondem a 48,33% de toda arborização
viária (Bortoleto, 2004). Na arborização urbana é comum poucas espécies representarem a maior parte da arborização, mesmo
não sendo uma situação desejável (Silva,
2000 apud Faria et al., 2007). Em Céu Azul-PR foram encontradas 18 espécies em
uma análise quali-quantitativa total da cidade, que tem 11.755 habitantes, sendo que
somente um tipo de espécie, Lagerstroemia
indica (resedá), representou 66% do total
de indivíduos (Pivetta & Filho, 2002), indicando uma frequencia bastante elevada.
Na arborização de vias públicas de
Inconfidentes-MG foi constatado que as origens das espécies se dividem em 35% de
nativas e 65% de exóticas que são plantadas por sua beleza e por serem observadas
em muitas cidades, servindo de referência
para os moradores. Na arborização do conjunto habitacional de Santa Cruz a maior
parte das espécies são exóticas (Teixeira,
1999). Klein (1985) apud Teixeira (1999)
afirma que o sucesso obtido por meio da introdução das espécies exóticas se deve a
fatores como a adequada seleção das espécies, metodologia silvicultural desenvolvida
e grande facilidade de coleta de sementes.
Na composição da arborização urbana das
vias públicas que contém mais árvores em
Jacareí-SP verificou-se a mesma quantidade de nativas e exóticas (Faria et al., 2007).
Os conflitos gerados pelo plantio
de espécies inadequadas ao local e/ou a
má condução das mesmas encontram-se
na Figura 2. Os maiores conflitos foram
com fios, calçadas e pedestres. Com relação aos fios da rede elétrica e telefônica,
Interciência
& Sociedade
45
CORRÊA, R. F. M.; PINTO, L. V. A.
103 indivíduos estão em conflito. Isso se
deve ao fato da má escolha de espécies,
cujo porte não é compatível com o local de
plantio, por exemplo, a utilização de árvores de médio e grande porte sob fiações.
Segundo Vasconcelos (2000), o contato entre galhos de árvores e componentes das
redes de distribuição de eletricidade pode
causar curtos circuitos com pequenas interrupções no fornecimento de energia e até
mesmo acidentes fatais com pessoas. O
autor ressalta que no ano de 2000 a CEMIG
estimou que 500.000 árvores de grande
porte se encontravam em conflito com suas
redes, o que causou 15.000 desligamentos
em 1998. Segundo Rocha et al. (2004), 45%
dos indivíduos analisados nas vias públicas
de Nova Iguaçu-RJ apresentavam conflitos evidentes, com necessidade de poda e
substituição de algumas árvores por outras
mais adequadas.
Figura 2: Conflitos gerados pelo plantio de espécies inadequadas ao local e/ou a má
condução das mesmas no município de Inconfidentes.
Fonte: Autores.
Já em relação à calçada, 87 indivíduos (21,3%) geraram conflitos pela má
escolha da espécie e também pela falta de
área livre impermeável ao redor da árvore,
fazendo com que a mesma provocasse o
levantamento das calçadas. Em Piracicaba-SP, os maiores problemas gerados pelos
indivíduos é também com relação ao conflito com a calçada, representando 62,3% dos
indivíduos inventariados por Lima (1993).
Outro conflito significante foi em relação
46
aos pedestres, onde 58 indivíduos (14,2%)
geravam problemas pelo fato de não terem
sido conduzidos adequadamente, apresentando as primeiras bifurcações abaixo de
1,80 metros, atrapalhando o trânsito dos
pedestres.
Pode ser constatado também que
226 indivíduos (55,39%) geram algum tipo
de conflito e que 182 indivíduos (44,61%)
não geram nenhum tipo de conflito (Figura
3).
Interciência
& Sociedade
Inventário da arborização das vias públicas de Inconfidentes-MG e análise dos impactos
gerados
240
220
200
Nº de indivíduos
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
SIM
NÃO
Geram conflitos
Figura 3: Número de indivíduos arbóreos e arbustivos que geram conflitos nas vias públicas de Inconfidentes.
Fonte: Autores.
Entre as espécies inventariadas,
a sibipiruna é a que mais traz transtornos
na cidade, sendo que dos 109 indivíduos de
sibipiruna avaliados 41 (37,61%) estão em
conflito com fios e 49 (44,95%) estão em
conflito com calçadas. Quando foi realizada a primeira arborização pela prefeitura do
município, no ano de 1967, foram selecionadas sibipirunas para o plantio em calçadas,
o que era muito utilizado na arborização da
maioria das cidades do Brasil, e flamboyant
para plantio nos canteiros centrais. Em Piracicaba-SP, ao longo do tempo, a sibipiruna e outras árvores de maior porte foram
cortadas devido às inúmeras solicitações
dos munícipes incomodados com a queda
de folhas, entupimento de calhas e danificação de calçadas. Houve um processo de
intensa retirada arbórea na região central
de Piracicaba-SP, sem a devida reposição
(Aguirre Junior et al., 2007). Na cidade de
Maringá-PR a sibipiruna apresentava-se
com uma frequência de 49,8% do total de
espécies, sendo, o seu plantio, proibido pela
prefeitura no município pelo fato da grande
densidade e frequência dessa espécie.
Outra espécie que traz preocupação na cidade de Inconfidentes-MG é
a fícus, por promover o levantamento de
calçadas, interferência na rede de esgoto,
problemas com muros e fios no local onde
está plantada, sendo solicitado a prefeitura o corte destas árvores. A alta densidade
dessa espécie, representando 11% dos indivíduos avaliados, pode ser explicada pelo
fato dos moradores ficarem encantados
com sua sombra e beleza de suas folhas.
Na cidade do Rio de Janeiro-RJ, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente promoveu a
substituição da espécie fícus na arborização
da cidade por estarem provocando danos
significativos em edificações e calçadas, e
o plantio de novas mudas da espécie está
proibido tanto nas ruas como em praças
(Secretaria de Meio Ambiente da Cidade do
Rio de Janeiro-RJ, 2008).
A formação dos indivíduos inventariados foi satisfatória, sendo que a soma de
indivíduos com formação ótima e boa totalizaram 85,54%, restando apenas 14,46%
na soma de regular e ruim (Figura 4). A
classificação da qualidade de formação não
Interciência
& Sociedade
47
CORRÊA, R. F. M.; PINTO, L. V. A.
leva em conta o espaço físico ao entorno
do indivíduo, mas sim sua formação natural,
como por exemplo, em uma análise da copa
do indivíduo não foi levado em consideração se o mesmo está em conflito ou não
com os fios, mas sim a formação da copa
do mesmo. Nas vias analisadas na cidade
de Jacareí-SP, Faria et al., (2007) relatou
que 84% dos indivíduos apresentavam-se,
numa análise semelhante à realizada na ci-
dade de Inconfidentes-MG, em ótimo e bom
estado, e que o restante se encontrava em
situação de regular a ruim. Na análise qualitativa da arborização viária de Águas de
São Pedro-SP, Bortoleto (2004) constatou
que 79,18% dos indivíduos apresentavam
condição ótima e boa e 20,82% dos indivíduos apresentavam-se em uma condição
de regular, péssima e morto.
140
Nº de indivíduos
120
100
80
60
40
20
0
Ótima
Boa
Regular
Ruim
Formação
Figura 4: Formação dos indivíduos arbóreos e arbustivos das vias públicas de
Inconfidentes.
Fonte: Autores.
A altura dos indivíduos mais frequentes na cidade ficou entre 2,98 a 7,07
metros (66,18%) (Figura 5), porte considerado adequado que pode promover benefícios à fauna, clima, psicológico para munícipes e para o paisagismo da cidade. Com
8,5 metros de altura foram constatados
quase que exclusivamente os indivíduos da
espécie flamboyant e entre 12 a 20 metros
somente as Roystonea oleracea (palmeira
imperial). Tanto os flamboyant quanto as
palmeiras imperiais tinham espaço para
48
crescer por se encontrarem em canteiros
centrais da cidade. Como exceção, destaca-se uma árvore de sibipiruna e uma de
Tabebuia heptaphylla (ipê-roxo) com 12 metros cada uma, localizadas em calçadas da
cidade. Vale ressaltar que, segundo Gonçalves & Paiva (2004), de um modo geral, o
porte inadequado das árvores na arborização urbana conflita com as redes de energia elétrica e prejudica também a iluminação pública, as fachadas dos prédios e as
placas de sinalização.
Interciência
& Sociedade
Inventário da arborização das vias públicas de Inconfidentes-MG e análise dos impactos
gerados
110
100
90
Nº de indivíduos
80
70
60
50
40
30
20
10
0,
26
-1
1, ,62
62
-2
2, ,98
98
-4
4, ,34
34
-5
5, ,71
71
-7
7, ,07
07
-8
8, ,43
43
9, 9,7
79 9
11 11
,1 ,15
512 12
,5 ,51
113 13
,8 ,87
715 15
,2 ,24
416 16
,6 ,60
017 17
,9 ,96
619 19
,3 ,32
220
,6
8
0
Altura (m)
Figura 5: Altura dos indivíduos arbóreos e arbustivos das vias públicas
de Inconfidentes.
Fonte: Autores.
A circunferência a altura do peito (CAP) da maior parte dos indivíduos
(17,64%) foi de 0,99 a 1,20 metros (Figura
6). As CAP de 1,41 a 3,08 metros apareceram com mais freqüência para as espécies
sibipiruna, flamboyant e palmeira imperial.
Na cidade de Águas de São Pedro-SP a
situação encontrada foi semelhante a de
Inconfidentes, tendo as maiores CAP os indivíduos de sibipiruna, flamboyant, ficus e
sombreiro representando 16,47%, 7,16%,
5,13% e 4,92%, respectivamente.
80
70
Nº de indivíduos
60
50
40
30
20
10
-0
,0
50
0, ,15
15
-0
0, ,36
36
-0
0, ,57
57
-0
0, ,78
78
-0
0, ,99
99
-1
1, ,20
20
-1
1, ,41
41
-1
1, ,62
62
-1
1, ,83
83
-2
2, ,04
04
-2
2, ,25
25
-2
2, ,46
46
-2
2, ,67
67
-2
2, ,88
88
-3
,0
8
0
CAP (m)
Figura 6: Circunferência a altura do peito (CAP) dos indivíduos arbóreos e
arbustivos.
Fonte: Autores.
Interciência
& Sociedade
49
CORRÊA, R. F. M.; PINTO, L. V. A.
Um dos problemas para planejar
a arborização de vias públicas de Inconfidentes-MG se deve ao fato da rede elétrica
estar presente na maior parte das calçadas
e por não se estabelecer um padrão de largura mínima de calçadas para novos loteamentos implicando muitas vezes no plantio
de espécies de pequeno porte e arbustivas,
impedindo o plantio de espécies de médio e
grande porte.
Constatou-se que nos 125 lados
das quadras avaliadas, 77 (61,6%) continham rede elétrica (Figura 7). Em Piracicaba-SP, a presença de fiação aérea também é um problema, sendo encontrada
em 55,9% das ruas (Pivetta & Filho, 2002),
resultando numa escolha pouco adequada
das espécies quanto ao local de plantio.
80
Lado de quadras
60
40
20
0
Não
Sim
Rede elétrica
Figura 7: Número de lados de quadras com rede elétrica no município
de Inconfidentes.
Fonte: Autores.
No município de Inconfidentes,
a troca da rede elétrica convencional pela
compacta ou subterrânea permitiria um melhor convívio das árvores com as redes de
distribuição de energia, evitando conflitos.
Outra solução para as redes elétricas seria
uma padronização no sistema de distribuição de energia, deixando livre de rede elétrica as calçadas que devem receber espécie
de médio e grande porte e com presença
de rede elétrica as calçadas que receberão
árvores de pequeno porte.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O inventário das espécies arbustivas e arbóreas na cidade de Inconfidentes-
50
-MG mostrou que a arborização urbana de
vias públicas segue o padrão encontrado
em outros municípios brasileiros. Houve
uma grande ocorrência da espécie sibipiruna (27%) superando os limites de frequência de cada espécie indicados por alguns
autores que é de 15%. A espécie traz grandes benefícios na arborização, desde que
seja plantada em local compatível. A espécie ficus também teve uma frequência considerável (11%), sendo que esta não é indicada para plantio em calçadas pelos danos
que ela traz ao local. Espécies exóticas são
encontradas com frequência na arborização
urbana devido sua adaptação comprovada
com o meio, salientando que as mais indicadas são as nativas.
Interciência
& Sociedade
Inventário da arborização das vias públicas de Inconfidentes-MG e análise dos impactos
gerados
Os conflitos provocados pelo plantio inadequado de espécies em vias públicas foram considerados altos, constatando
que 55,39% das espécies geravam algum
tipo de conflito. Este alto índice deve-se ao
fato de a cidade não ter um plano de arborização, ficando para a população o objetivo
de plantar qualquer espécie que julgue conveniente.
Árvores que geram conflitos significantes com grandes danos a população devem ser substituídas gradualmente a médio
prazo.
As características físicas largura
das ruas e calçadas não limita o plantio de
espécies e portes diversificados em grande
parte da cidade, mas a presença de rede
elétrica convencional limita o plantio de espécies de médio e grande porte.
Uma das maiores dificuldades em
convencer os moradores a deixarem plantar uma árvore em frente a sua residência é
resultado da má impressão que a sibipiruna
passa para a população. As reclamações
são muitas, exigindo a retirada das mesmas
por estarem “quebrando” a calçada, por estarem em contato com casas, por entupirem
as calhas através de suas folhas e por provocarem muita sujeira, além do impacto visual devido às inúmeras podas mutiladoras
que as árvores sofreram ao longo dos anos.
A educação ambiental é imprescindível para a conscientização da população
sobre a importância da arborização urbana.
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Universidade Estadual da Paraíba. Campina Grande.
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FARIA, J.L.G.; MONTEIRO, E.A.; FISCH, S.T.V.. Arborização de vias públicas do município de Jacareí-SP. Revista da sociedade brasileira de arborização urbana, Piracicaba, v.2, n.4, p. 20-33, 2007.
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ROCHA, R.T.; LELES, P.S.S.; OLIVEIRA NETO, S.N.
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VASCONCELOS, A Arborização urbana. Revista
ação ambiental, Viçosa, n.9, p. 5 e 6, 2000.
Interciência
& Sociedade
51
CORRÊA, R. F. M.; PINTO, L. V. A.
Rony Felipe Marcelino Corrêa é graduado em Gestão Ambiental pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Sul de Minas Gerais, Campus Inconfidentes-MG, pós-graduado em Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável pela Faculdade São Luís de Jaboticabal-SP e acadêmico do curso de Engenharia Ambiental da Faculdade Municipal “Professor Franco Montoro” de Mogi Guaçu-SP.
Lilian Vilela Andrade Pinto possui graduação, mestrado e doutorado em Engenharia Florestal pela Universidade
Federal de Lavras (UFLA). Atualmente é coordenadora e professora do curso de Gestão Ambiental no Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, Campus Inconfidentes-MG.
52
Interciência
& Sociedade
SUSCEPTIBILIDADE DE MUSCA DOMESTICA À IVERMECTINA, DORAMECTINA E MOXIDECTINA EM MOGI GUAÇU-SP
CAMARGO, Eliana Anunciato Franco de
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
[email protected]
PRADO, Angelo Pires do
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
[email protected]
CAMARGO, José Tarcísio Franco de
Faculdade Municipal “Professor Franco Montoro” (FMPFM)
[email protected]
RESUMO: Neste trabalho, insetos adultos de Musca domestica foram coletados em propriedade rural
no município de Mogi Guaçu, no Estado de São Paulo a fim de determinar a susceptibilidade ou a
resistência destes insetos aos larvicidas ivermectina, moxidectina e doramectina. Através de diluições
seriadas no meio de cultura de larvas foram determinadas as concentrações letais para cada um deles.
As concentrações utilizadas foram: 0,02, 0,05, 0,1 e 0,5 ppm. Os dados obtidos foram expressos com
CL50 e CL95 e demonstraram que a população coletada apresentou-se muito sensível quando comparada com os valores expressos pela OMS para populações sensíveis. A presença de elevado grau
de susceptibilidade às avermectinas sugere que os aspectos operacionais do uso destes compostos
e, provavelmente, o tempo de utilização nesta região ainda não permitem a detecção de resistência.
PALAVRAS-CHAVE: Musca domestica, ivermectina, moxidectina, doramectina, controle de insetos.
ABSTRACT: In this study, Musca domestica adults were collected in a farm in order to detect and to
determine the susceptibility or resistance of these insects to the ivermectin, moxidectin and doramectin
larvicides in Mogi Guaçu. The determination of lethal concentration for each larvicide were made through the larvicide dilutions in larvae culture medium. The concentrations used were 0.02, 0.05, 0.1 and 0.2
ppm. Data were expressed as LC50 and LC95 and results demonstrated that the population collected in
this city had been showed more susceptible to the tested larvicides than the reference pattern used by
the World Health Organization values for sensitive populations. The presence of high level of susceptibility to avermectins suggests that the operational use of these compounds and possibly the time of use
in this region doesn’t allow the detection of Musca domestica resistance.
KEYWORDS: Musca domestica, ivermectin, moxidectin, doramectin, insect control.
1. INTRODUÇÃO
Musca domestica L. (Diptera: Muscidae) é uma espécie de grande importância econômica e, em áreas de criação de
animais domésticos, seus estágios larvais
obtêm nas fezes e resíduos alimentares
desses animais um excelente substrato
para desenvolvimento (MILLER, 1970; AXTELL & EDWARDS, 1983; MULLA & AXELROD, 1983).
Vários métodos para combate e
controle desta praga podem ser elencados,
tais como, manejo de matéria orgânica depositada nos locais de criação, alteração
das características bióticas do esterco,
uso de parasitas, parasitóides, predadores,
competidores e patógenos como tentativa
de controle biológico e, também, o uso de
inseticidas seletivos (AXTELL & EDWARDS, 1983; BARNARD & HARMS, 1992).
No passado, o uso indiscriminado
de inseticidas em programas de controle
de doenças e na agricultura influenciou o
desempenho de muitos compostos químicos, fazendo com que espécies resistentes
Interciência
& Sociedade
53
CAMARGO, E. A. F.; PRADO, A. P.; CAMARGO, J. T. F.
surgissem rapidamente nas mais diversas
regiões (METCALF, 1980; BLOOMCAMP et
al., 1987).
Segundo HERD (1995), as avermectinas são compostos endectocidas, ou
seja, são efetivas contra endo e ectoparasitas e representam uma classe de lactonas
macrocíclicas que tem demonstrado atividade contra helmintos, ácaros e insetos. As
avermectinas, cujos principais compostos
produzidos são a ivermectina e a abamectina, demonstram ser tóxicas para a maioria
dos insetos (STRONG & BROWN, 1987).
Seu modo de ação em invertebrados relaciona-se com a interrupção dos receptores
do ácido gama-aminobutírico (GABA) no
sistema nervoso central e no sistema muscular (STRONG & BROWN, 1987; FISHER
& MROZIK, 1989; LASOTA & DYBAS, 1991;
CLARK et al., 1995; ROHRER & SCHAEFFER, 1995).
Alguns estudos demonstram o
efeito de ivermectina em larvas de dípteros.
Em fêmeas de Neomyia cornicina (Díptera:
Muscidae) observou-se uma redução significante na taxa de oviposição e de eclosão de ovos (GOVER & STRONG, 1995).
KRÜGER & SCHOLTZ (1995) relatam redução na fertilidade de Musca nevilli (Diptera:
Muscidae), enquanto FARKAS et al. (2003)
demonstraram redução na emergência de
Musca domestica em fezes tratadas de bovinos e suínos.
Considerando que a aplicação de
inseticidas para controle de pragas é uma
prática difundida no Brasil e, as avermectinas, por consequência, utilizadas amplamente, esta pesquisa objetivou documentar
a ocorrência de problemas na susceptibilidade da população de Musca domestica
coletada em Mogi Guaçu-SP à ivermectina,
à doramectina e à moxidectina através da
determinação das CL50 e CL95 para cada larvicida.
Tal fato se justifica em virtude dos
relatos de alteração da susceptibilidade das
populações deste insetos coletadas em diferentes regiões e que causam implicações
financeiras, pois demandam aplicações
mais frequentes, elevação nas dosagens
utilizadas pelos consumidores finais, além
da necessidade de pesquisas adicionais
para desenvolvimento de novos produtos
54
químicos.
2. Material e métodos
Foram realizados bioensaios utilizando exemplares de Musca domestica
coletadas como insetos adultos, numa propriedade particular no município de Mogi
Guaçu-SP, utilizada como criadouro rural
em pequena escala de animais domésticos,
onde não se observou nenhum tipo de manejo ou controle.
Os insetos coletados no campo
foram levados ao laboratório e transferidos
para gaiolas com armação de ferro recobertas com tela de “nylon”, sendo mantidos
em sala apropriada para criação com temperatura (26,5 ± 1,0ºC), umidade (70%) e
fotoperíodo (12/12) controlados, disponível
no Laboratório de Entomologia do Departamento de Parasitologia do IB/Unicamp.
A alimentação destes insetos consistiu em
uma mistura em partes iguais de açúcar
refinado, leite em pó integral e levedura de
cerveja. Água e alimento eram oferecidos
e mantidos em abundância no interior das
gaiolas.
Para a realização dos bioensaios
para determinação das concentrações letais, era oferecido meio de oviposição e
cultura de larvas proposto por PICKENS &
LORENZEN (1983) com algumas modificações e que era constituído por 4 partes de
ração utilizada na alimentação de camundongos devidamente triturada e 6 partes de
água. As gerações obtidas em laboratório
foram tratadas com os seguintes larvicidas:
- Doramectina (formulação comercial
como Dectomax, Pfizer, 10% i.a.)
- Ivermectina (formulação comercial
como Ivomec, MSD, 10% i.a.)
- Moxidectina (formulação comercial
como Cydectin, Cyanamid, 10% i.a.)
Os bioensaios para a determinação
das respectivas CL50 e CL95 consideravam a
taxa de mortalidade nos meios tratados até
a emergência dos adultos. O cálculo era realizado da seguinte maneira:
Interciência
& Sociedade
Susceptibilidade de Musca domestica à ivermectina, doramectina e moxidectina em Mogi
Guaçu-SP
onde:
TMA = taxa de mortalidade
LI = número inicial de larvas
AE = número de adultos emergentes
Para a obtenção dos meios tratados, foram realizadas diluições seriadas
dos larvicidas no meio de cultura das larvas,
os quais eram utilizados para a determinação das concentrações letais da população.
TURNER & SCHAEFFER (1989) classificam as avermectinas como pouco solúveis
em água, por isso, optou-se por diluir a ivermectina em 1 ml de acetona PA conforme
sugere REED et al. (1985). Os meios testemunha também foram preparados com e
sem acetona, a fim de pesquisar a interferência ou não desta no desenvolvimento das
larvas. Os meios tratados apresentavam as
seguintes concentrações: 0,02, 0,05, 0,1 e
0,2 ppm (partes por milhão) de ingrediente
ativo de cada larvicida.
Os bioensaios foram realizados
em copos plásticos (50 ml) contendo 25 g
de meio de cultura, onde foram colocadas
25 larvas de primeiro instar. A relação larva/quantidade de meio foi 1:1 que, segundo
BARNARD & GEDEN (1993), em temperaturas entre 23-32ºC são adequadas. Foram
feitas quatro réplicas para cada tratamento
e dois grupos testemunha, um com acetona
e outra sem acetona. Os copos recobertos
com organza foram mantidos em câmara de
germinação modelo FANEN 347 CGD, com
temperatura (26,5 ± 0,5ºC), umidade (70%)
e fotoperíodo (12/12) controlados. Após 9
dias, as pupas foram recolhidas pelo método de flutuação (SCHMIDT & KUNZ, 1980;
BLOOMCAMP et al., 1987). A contagem
dos sobreviventes era realizada considerando os insetos que conseguiam emergir
por completo do pupário. Insetos com emergência incompleta, mesmo com alguma
mobilidade eram descartados da contagem.
A mortalidade nos meios tratados foi corrigida pela mortalidade nos meios testemunha pela fórmula de ABBOTT (1925), a qual
se refere a índices de mortalidade natural
ou acidental dos organismos analisados,
alheios ao efeito do composto químico (FINNEY, 1971).
Para a determinação das concentrações letais foi utilizado o programa “Probio”, que consistia numa análise por “probits”
dos resultados (BATSON, 1956), desenvolvido pelo Prof. Dr. José Tarcísio Franco de
Camargo. A taxa comparativa entre larvicidas foi calculada dividindo-se a CL50 obtida para o larvicida pela menor CL50 obtida
dentre os larvicidas testados, onde foram
considerados resistentes, os testes com
taxas cujos valores fossem maior que um
(KEIDING, 1999). O programa “Minitab for
Windows” foi utilizado para a realização dos
testes estatísticos.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os valores percentuais obtidos
para os bioensaios larvicida/concentração
são mostrados na Tabela 1, sendo possível
verificar que a população tratada com ivermectina apresentou percentuais maiores de
mortalidade em comparação com os outros
larvicidas em todas as concentrações utilizadas. Conforme demonstrado na Tabela
2, a menor CL50 observada no bioensaio
foi demonstrada por insetos tratados com
ivermectina (0,017 ppm), tendo sido utilizada como referência para o cálculo da Taxa
Comparativa (TC) entre os larvicidas utilizados. A TC foi obtida dividindo-se as CL50 dos
larvicidas pela CL50 do larvicida referência.
Tabela 1. Percentual médio de mortalidade de Musca domestica coletada em Mogi Guaçu.
Larvicida/Concentração
Doramectina
Ivermectina
Moxidectina
0,02 ppm i.a. 0,05 ppm i.a.
40 (3,27)
65 (6,00)
83 (3,83)
87 (2,00)
44 (3,27)
57 (8,87)
0,1 ppm i.a. 0,2 ppm i.a.
81 (3,83)
90 (9,52)
97 (2,00)
100 (0,00)
74 (3,27)
88 (3,27)
Fonte: Autores. Os valores descritos entre parênteses correspondem ao desvio padrão dos percentuais de mortalidade.
Interciência
& Sociedade
55
CAMARGO, E. A. F.; PRADO, A. P.; CAMARGO, J. T. F.
A maior CL50 observada foi demonstrada pelos insetos tratados com moxidectina, sendo, portanto, considerado o
larvicida que demonstrou menor susceptibilidade. Convém citar os resultados de
SCHMIDT & KUNZ (1980) que relatam que
a CL50 utilizada pela OMS para considerar
populações de Stomoxys calcitrans e Haematobia irritans como sensíveis para a
ivermectina é 0,024 ppm e 0,003 ppm, res-
pectivamente, o que se aproxima muito dos
resultados obtidos nestes bioensaios.
HERD (1995) e KIERAN (1994)
demonstram que, em programas de rotação
de inseticidas, a moxidectina é mais efetiva que a ivermectina, pois permite seu uso
combinado com outras classes de drogas,
além de permanecer efetiva por mais tempo.
Tabela 2. Susceptibilidade de Musca domestica aos larvicidas doramectina, ivermectina e moxidectina coletada em Mogi Guaçu (SP).
Larvicida/Concentração
Doramectina
Ivermectina
Moxidectina
0,02 ppm i.a. 0,05 ppm i.a.
40 (3,27)
65 (6,00)
83 (3,83)
87 (2,00)
44 (3,27)
57 (8,87)
0,1 ppm i.a. 0,2 ppm i.a.
81 (3,83)
90 (9,52)
97 (2,00)
100 (0,00)
74 (3,27)
88 (3,27)
Fonte: Autores.
CL50 = concentração letal para 50% dos insetos tratados.
CL95 = concentração letal para 95% dos insetos tratados.
T.C. = taxa comparativa (CL50 da população/CL50 da população susceptível de referência)
* = CL50 escolhida como referência no cálculo dos fatores de resistência
LUMARET et al. (1993) em seu experimento, indicam que o impacto potencial
da ivermectina no ambiente é muito variável, dependendo principalmente da região,
do clima, dos insetos e das estações. Neste
bioensaio, no entanto, o que se observou foi
uma maior eficácia da ivermectina em relação à moxidectina, não concordando com
os dados destes autores.
TITCHENER & PURNELL (1996)
relatam que a doramectina apresentou resultados favoráveis quando comparada
com a ivermectina no controle de piolhos
de gado. Porém, conforme observado na
Tabela 2, o mesmo não se aplica à Musca
domestica. Além disso, no local de coleta,
não se observou nenhum tipo de controle
químico, o que indica que, teoricamente,
não se observou nenhuma pressão seletiva
anterior exercida por inseticidas químicos.
De maneira geral, os resultados
obtidos indicam a alta sensibilidade da população estudada em relação aos larvicidas
e permitem sugerir técnicas para a manutenção da sensibilidade desta população,
56
bem como retardar o processo de desenvolvimento de resistência em populações
de campo.
Cabe aqui ressaltar que, a partir do
momento que as densidades populacionais
destes insetos são aumentadas, pode ocorrer invasão de variados espaços, inclusive
domicílios, causando incômodo, do ponto
de vista estético e sanitário, com a possibilidade de veiculação de um número elevado de patógenos, como vírus, bactérias,
fungos, protozoários e helmintos, sendo,
portanto, questão de saúde pública (GREENBERG, 1973; GUIMARÃES et al., 1983;
MARILUIS et al., 1989; FOTEDAR, 1992;
KOBAYASHI et al.,1999; FISCHER, 1999).
Além disso, ressalta-se as perdas
financeiras geradas pela presença dos estágios imaturos destes insetos em locais de
criação de animais domésticos, tais como,
granjas e currais (POVOLNÝ, 1971) que
implicam na necessidade de utilização de
técnicas de controle.
Considerando que a utilização de
controladores químicos é prática amplaInterciência
& Sociedade
Susceptibilidade de Musca domestica à ivermectina, doramectina e moxidectina em Mogi
Guaçu-SP
mente disseminada no Brasil e, que estes
compostos perdem a sua eficiência à medida que os insetos desenvolvem resistência
genética aos produtos mais poderosos atuais (LEARMOUNT et al., 2002) a observação de populações resistentes aos compostos químicos utilizados é muito frequente, o
que gera custos financeiros elevados pois
implica o desenvolvimento de novos produtos ou novas tecnologias para controle de
insetos considerados pragas.
HERD et al. (1993) sugerem monitoramento periódico de populações de
campo, como o realizado neste bioensaio.
Porém, uma vez constatada a resistência,
o manejo deste processo envolve a exposição da população considerada “praga”
a “controladores não químicos” (ROUSH,
1993).
HOY (1995) cita que as estratégias devem combinar uma variedade de
táticas: redução de pesticidas aplicados,
controle biológico e controle cultural. Cabe
ressaltar que, conforme citam DENHOLM &
ROWLAND (1992) não existe uma solução
universal e nem facilitadores para tratar da
resistência à inseticidas, por isso, o monitoramento da susceptibilidade das populações frequentemente atingidas por algum
inseticida se torna imprescindível.
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58
Interciência
& Sociedade
Susceptibilidade de Musca domestica à ivermectina, doramectina e moxidectina em Mogi
Guaçu-SP
Eliana Anunciato Franco de Camargo possui mestrado em Parasitologia pela Universidade Estadual de Campinas (1997), graduação em Licenciatura em Ciências - Faculdades Integradas Maria Imaculada (1992) e graduação em Pedagogia - Faculdades Integradas de Amparo (2000). Atualmente é doutoranda do curso de Ciências
Biológicas em Biologia Animal na Universidade Estadual de Campinas, professora e coordenadora do curso de
Ciências Biológicas do Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal e professora de educação básica
II do Governo do Estado de São Paulo. Tem experiência na área de Parasitologia, com ênfase em Entomologia e
Malacologia de Parasitos e Vetores e na área de Ensino Aprendizagem.
Ângelo Pires do Prado possui graduação em Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(1964) e doutorado em Parasitologia pela Universidade Estadual de Campinas (1969). É professor do curso de
Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Campinas. Tem experiência na área de Parasitologia, com ênfase em Entomologia de Parasitos e Vetores e Sanidade Vegetal, atuando principalmente nos seguintes temas:
Musca domestica, Diptera, dípteros sinantrópicos, desenvolvimento e ecologia de moscas domésticas, de frutas e
varejeiras; ácaros domésticos (de poeira), ácaros fitófagos, ácaros associados às aves sinantrópicas e silvestres
(nidícolas, plumícolas , calamícolas e da pele).
José Tarcísio Franco de Camargo possui graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de
Campinas (1989), mestrado em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (1992) e doutorado
em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (1995). Atualmente é Professor do Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal, Professor da Faculdade Municipal “Professor Franco Montoro”,
Professor do Centro Guaçuano de Educação Profissional “Governador Mário Covas”, Membro de corpo editorial da
Revista CEGEP Acadêmico e Membro de corpo editorial da Interciência e Sociedade - Fac. Municipal “Professor
Franco Montoro”. Tem experiência na área de Ciência da Computação.
Interciência
& Sociedade
59
60
Interciência
& Sociedade
ANÁLISE AMBIENTAL E GEOESPACIAL DOS DEPÓSITOS DE LIXOS
CLANDESTINOS DA CIDADE DE MOGI GUAÇU
COSTA, Ana Caroline
Faculdade Municipal “Professor Franco Montoro” (FMPFM)
[email protected]
BARRAZA LARIOS, Mario Roberto
Faculdade Municipal “Professor Franco Montoro” (FMPFM)
[email protected]
RESUMO: O presente estudo foi realizado no município de Mogi Guaçu/SP. Foi realizado um levantamento dos bolsões de lixo encontrados nas principais vias de acesso da zona urbana. Para esse
levantamento dividiu-se a zona urbana em três zonas: Zona Leste/Centro, Zona Norte/Oeste e Zona
sul, facilitando os trabalhos realizados. Foram visitados no total de 80 bairros, sendo 34 bairros na
zona Leste/Centro com 284 pontos, 27 na zona Norte/Oeste com 144 pontos e 19 bairros na zona Sul
com 100 pontos. Nas visitas foram determinadas as coordenadas e foi possível registrar por meio de
fotografias a situação e a quantidade de lixo nos pontos. Com todos os dados levantados foi possível
obter a distribuição geoespacial dos pontos irregulares de lixo, em uma planta planimétrica do município de Mogi Guaçu. Também foi possível obter a distribuição do percentual por zonas e bairros, sendo
a região Zona Leste/Centro com maior percentual de 54% e com uma quantidade maior de bairros de
baixa renda.
PALAVRAS-CHAVE: Mogi Guaçu/SP, Bolsões de Lixo, Resíduos Sólidos, Coordenadas, Planta Planimétrica.
ABSTRACT: This study was conducted in the city of Mogi Guaçu / SP. A survey of the pockets of trash
found on the main access roads of the urban area. For this survey divided the urban area into three
zones: the East / Central, North Zone / West Zone and South, facilitating the work. We visited a total of
80 districts, 34 districts in the Eastern / Central with 284 points, 27 in the northern / West with 144 points
and 19 districts in the South with 100 points. During the visits the coordinates were determined and it
was possible to register through photographs the situation and the amount of garbage points. With all
the data collected it was possible to obtain the distribution of geospatial rough spots of garbage in a planimetric plant in the city of Mogi Guaçu. It was also possible to obtain the distribution of the percentage
of districts and neighborhoods, the East and the region / center with the highest percentage of 54% and
a larger amount of low-income neighborhoods.
KEYWORDS: Mogi Guaçu / SP, Pockets of Waste, Solid Waste, Coordinates, Plant planimetry.
1. INTRODUÇÃO
Lixo é todo e qualquer resíduo sólido proveniente das atividades diárias do
homem em sociedade. Esses resíduos gerados diariamente são causadores da destruição de boa parte do meio ambiente em
que vivemos. Normalmente os resíduos e
seus problemas são ignorados pela popula-
ção e órgãos públicos, ou seja, descartando
de forma indevida simplesmente por achar
que o lixo desaparecerá, em outras palavras
popularmente conhecida “empurrar a sujeira para debaixo do tapete”. Para diminuir
esses tipos de pensamentos, o descaso e
principalmente a falta de comprometimento do poder público, foram criadas diversas
normas e leis como a Política Nacional dos
Interciência
& Sociedade
61
COSTA, A. C.; BARRAZA LARIOS, M. R.
Resíduos Sólidos onde descrimina a função
de cada um perante os nossos resíduos de
cada dia tanto para o poder público como
para toda a população e com prazo para
que possa ser cumprida. Algumas empresas viram no lixo o poder de ganhar dinheiro
com a reciclagem, ajudando assim o meio
ambiente.
Os resíduos sólidos são destinados de diversas formas diferentes, isso varia muito de acordo com o procedimento de
cada cidade ou região. Mas por muito tempo
muitas cidades fizeram a destinação incorreta, ou seja, em lixões, e com isso surgiram os problemas como às contaminações
do solo, transmissões de doenças, proliferação de vetores e até mesmo catadores vivendo em condições impróprias para seres
humanos.
Com o tempo começou-se a ter
uma visão melhor da destinação dos resíduos, ou seja, encaminhando-os para aterro sanitário e até mesmo na recuperação,
reutilização, reciclagem e a redução.
Mesmo com tantas leis e as mudanças do poder público, ainda é comum
vermos tantos cursos d’águas, solos e diversos recursos naturais sendo destruídos
e contaminados, justamente pelos resíduos
sólidos destinados incorretamente e por negligencia da população.
A falta de controle da geração dos
resíduos perante a quantidade, a coleta e a
falta de conscientização da sociedade são
os principais problemas nos centros urbanos, ou seja, formando assim os depósitos
irregulares tão comumente encontrados
nas cidades.
Os depósitos de lixos indevidos
não é só uma poluição visual, isso leva a
diversos problemas como enchentes em
centros urbanos, proliferação de vetores,
contaminação do solo, mau odor entre outros mais.
A poluição encontrada em cursos
d’águas, em depósitos indevidos normalmente é produzida pelos próprios moradores.
Em preocupação a esse grande
problema é que neste estudo considerou-se a necessidade de mapear e identificar
esses depósitos irregulares de lixo, para
realizar o controle, identificar as possíveis
62
contaminações existentes nesses locais, e
se possível a eliminação dos mesmos.
2. Objetivos
2.1. Objetivos gerais
Fazer um levantamento dos depósitos irregulares de lixo e mapeá-los no município de Mogi Guaçu.
2.2. Objetivos específicos
- Identificar locais indevidos de depósitos lixos;
- Mapear os pontos dos depósitos;
- Apontar os problemas causados
pelos depósitos irregulares de lixo;
- Apontar soluções e conscientização;
3. Revisão Bibliográfica
3.1. Resíduos Sólidos
Lixo é todo e qualquer resíduo sólido resultante das atividades diárias do homem em sociedade. Pode encontrar-se nos
estados sólido, líquido e gasoso.
Sua origem pode ser: industrial,
doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição, ficam incluso
nesta definição os lodos provenientes de
sistemas de tratamento de água, os resíduos gerados em equipamentos e instalações
de controle de poluição, e todo e qualquer
líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento em redes públicas de
esgotos ou corpos de água, ou ainda exijam
para isso soluções técnicas e economicamente viáveis em face à melhor tecnologia
disponível (NBR 10.004, 2004).
3.2. Classificação dos Resíduos Sólidos
Segundo MONTEIRO et.al. (2001)
e a Lei 12.305 (2010) são várias as maneiras de se classificar os resíduos sólidos. As
mais comuns são quanto às características
físicas: secos e molhados, quanto à composição química aos riscos potenciais de
contaminação do meio ambiente: orgânico
e inorgânico e quanto à natureza ou origem:
Interciência
& Sociedade
Análise ambiental e geoespacial dos depósitos de lixos clandestinos da cidade de
Mogi Guaçu
resíduos domiciliares, resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de
serviços, resíduos dos serviços públicos de
saneamento básico, resíduos da construção civil, resíduos industriais, resíduos de
serviços de transportes, resíduos agrossilvopastoris e resíduos de serviços de saúde.
3.3. Etapas do Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos
Segundo ZVEIBIl (1991) o gerenciamento dos resíduos envolve uma seqüência de atividades que ajudam a melhorar o sistema de limpeza urbana. As etapas
básicas do sistema são:
- 4Rs: Redução (ou Prevenção),
Reutilização, Reciclagem e Recuperação (do material ou da energia);
- Acondicionamento;
- Coleta;
- Transporte;
- Tratamento;
- Disposição Final
3.4. Tratamento dos Resíduos Sólidos
MONTEIRO et.al. (2001) define-se
tratamento como uma série de procedimen-
tos destinados a reduzir a quantidade ou o
potencial poluidor dos resíduos sólidos, seja
impedindo descarte de lixo em ambiente ou
local inadequado, seja transformando-o em
material inerte ou biologicamente estável.
O tratamento mais eficaz é o prestado pela própria população quando está
empenhada em reduzir a quantidade de
lixo, evitando o desperdício, reaproveitando os materiais, separando os recicláveis
em casa ou na própria fonte e se desfazendo do lixo que produz de maneira correta.
(MONTEIRO et.al., 2001).
Além desses procedimentos, existem processos físicos e biológicos que objetivam estimular a atividade dos microorganismos que atacam o lixo, decompondo a
matéria orgânica e causando poluição.
As usinas de incineração ou de reciclagem e compostagem interferem sobre
essa atividade biológica até que ela cesse,
tornando o resíduo inerte e não mais poluidor. (MONTEIRO et.al., 2001).
4. Materiais e Métodos
No presente Trabalho foram analisadas algumas áreas no município de Mogi
Guaçu, SP. (Figura 1).
Figura 1: Área de Estudos – Município de Mogi Guaçu, SP.
Fonte: Google Earth, 2011.
Interciência
& Sociedade
63
COSTA, A. C.; BARRAZA LARIOS, M. R.
A Existência de muitos depósitos
de lixo irregular espalhados pelo município
levou a idealizar o presente trabalho, que
busca elaborar um mapeamento dos mesmos.
Os pontos mais relevantes pesquisados são as principais vias de acesso da
cidade, próximos aos corpos d’água e áreas
verdes.
Esses pontos foram inseridos em
cartas topográficas, sendo possível obter a
distribuição geoespacial dos mesmos.
Para o desenvolvimento destas atividades de campo foram utilizados os seguintes materiais:
- Máquina Fotográfica digital
- Computador para trabalhar os locais identificados.
- GPS (Global Position Sistem ou
Sistema de Posicionamento Global) .
5. Resultados
Apresentam-se a seguir os resultados encontrados por meio dos levantamentos e investigações em campo e dos trabalhos executados no escritório.
5.1. Situação atual do Município de Mogi
Guaçu/SP
Segundo o questionário realizado
no município encontra-se em fase de aprovação o Plano Diretor Municipal de Resíduos Sólidos, faltando apenas a audiência
pública.
Mogi Guaçu não possui a caracterização do lixo gerado pela população,
ou seja, apenas se conhece a geração de
lixo total e não especificadamente por tipo.
Existe coleta para todos os tipos de resíduos no município, excluindo no setor privado.
5.2. Resíduos Sólidos de Mogi Guaçu/SP
Uma pesquisa realizada junto a
SSM permitiu identificar a situação atual
em relação à coleta dos resíduos sólidos do
município.
Resíduo Domiciliar
64
Segundo a CETESB (2010) o município de Mogi Guaçu se enquadra na geração per capita de 0,5 kg/hab.dia, sendo
coletado por dia em média 65,2 t/dia.
O município possui no total onze
caminhões para a coleta domiciliar, sendo
seis caminhões trabalhando no período da
manhã, cinco no período da tarde e um fixo
no distrito de Martinho Prado.
As coletas são divididas em três
dias por semana em todo o município. Totalizando o atendimento no período da manhã
de Oitenta e cinco bairros e no período da
tarde de Cinqüenta e Nove bairros ambos
com os dias alternados.
Resíduo da Construção Civil e Outros
O município possui dez caminhões
caçambas para coleta de resíduos da construção civil (entulhos) e cinco caminhões de
carrocerias para a coleta de galhos, sofás e
outros resíduos não domiciliares.
Os resíduos da construção civil são
coletados com datas agendadas através de
um calendário realizado pela prefeitura do
município.
Esses mesmos resíduos coletados
têm sua destinação final em um depósito de
inertes, situada na Avenida Brasil próximo
as margens do rio Mogi Guaçu, esse local
possui licença para operar obtida pelo órgão responsável (CETESB).
Os resíduos de galhos, móveis inservíveis entre outros, inclusive resíduos
domésticos são coletados com as mesmas
datas da coleta de inertes, sendo os mesmo
destinados ao depósito que se encontra no
Distrito Industrial Getulio Vargas II próximo
ao Comércio de Sucata Bueno.
A SSM possui um disk denuncia na
intenção que a população faça parte dessa
luta contra os bolsões de lixo.
A secretaria possui hoje cinco fiscais para realizar todo o trabalho no município de Mogi Guaçu que possui uma extensão de 812 km² com aproximadamente 153
bairros e um total de 137.245 hab. (IBGE,
2010).
Resíduo de Serviços de Saúde
O município possui uma coleta para
Interciência
& Sociedade
Análise ambiental e geoespacial dos depósitos de lixos clandestinos da cidade de
Mogi Guaçu
os resíduos de serviços de saúde com caminhão próprio (furgão), coletando apenas
no setor público, sendo sua destinação para
uma empresa particular Sterlix Ambiental situada no município de Mogi Mirim. Por dia é
coletado 84 t sendo realizada a pesagem na
balança do aterro sanitário do município. As
unidades hospitalares do município não realizam nenhum tipo de tratamento em suas
unidades como recomendam as normas.
5.3. Identificação dos Bolsões de Lixo
Os trabalhos de campo foram realizados nos meses de abril, maio, junho,
julho e agosto de 2011.
Com o levantamento dos bolsões
de lixo realizado pela prefeitura, foi possível ir diretamente aos pontos identificados e
com as visitas aos bairros foi possível identificar outros pontos não cadastrados.
Juntamente com essas visitas foram determinadas as coordenadas dos
pontos e foi possível registrar por meio de
fotografias a situação atual dos pontos.
O município de Mogi Guaçu possui
uma extensa área urbana, por isso foi dividido em Zonas: Zona Leste/Centro, Zona
Norte/Oeste e Zona Sul. Sendo assim possível a elaboração das tabelas 1 a 3 dos
bairros com mais pontos encontrados após
todos os levantamentos.
Tabela 1. Identificação e Coordenadas Geográficas dos Pontos Irregulares de Lixo em Mogi
Guaçu – Zona Leste/Centro.
JARDIM CANAÃ II
L178
Alameda Nazareth Maria Biazotto inicio da alameda divisão de bairro 301705; 7529321 L/C
L217
Alameda Rubens Martini canteiro central
301956; 7530007 L/C
L184
Rua Almir Nelson Falseti área verde
301831; 7529461 L/C
L192
Rua Antonio G. de Souza na quadra por todo perímetro do escoa- 301866; 7529332 L/C
mento de água pluvial
L190
Rua Benedita G. de oliveira lado da escola
301997; 7529464 L/C
L187
Rua Benedita P. Garcia em frente 492
301940; 7529911 L/C
L195
Rua Célia Stabile final da rua
302135; 7530043 L/C
L198
Rua Idalina Colombo inicio da rua
302180; 7529338 L/C
L197
Rua Idalina Colombo lado direito 380
302197; 7529705 L/C
L196
Rua Idalina Colombo lado esquerdo 365
302192; 7529699 L/C
L193
Rua Jose Nunes de Matos final da rua
302209; 7529585 L/C
L189
Rua Jose Rodrigues Neto área verde
302113; 7529675 L/C
L191
Rua Jose Rodrigues Neto área verde final da rua
302097; 7529296 L/C
L188
Rua Jose Rodrigues Neto em frente 2590
302123; 7529681 L/C
L185
Rua Marli Ricci Toso em frente ao 193
301732; 7529655 L/C
L186
Rua Marli Ricci Toso lado direito 243
301780; 7529708 L/C
L218
Rua Nair Simioni Pancieira canteiro central
301855; 7529909 L/C
L219
Rua Nair Simioni Pancieira canteiro central
301820; 7529870 L/C
L220
Rua Nair Simioni Pancieira canteiro central
301767; 7529839 L/C
L221
Rua Nair Simioni Pancieira canteiro central
301731; 7529807 L/C
L222
Rua Nair Simioni Pancieira canteiro central
301573; 7529673 L/C
L183
Rua Reinaldo Pelegrini em frente ao 25
301685; 7529404 L/C
L194
Rua Reinaldo Pelegrini final da Rua
302197; 7529794 L/C
L182
Rua Rita de Cássia Ramos esquina com rua Oscar Ravagnani
301760; 7529552 L/C
Fonte: COSTA, 2011.
* L/C – Zona Leste Centro.
* Margem de erro do GPS + ou – 10 metros.
Interciência
& Sociedade
65
COSTA, A. C.; BARRAZA LARIOS, M. R.
Tabela 2. Identificação e Coordenadas Geográficas dos Pontos Irregulares de Lixo em Mogi Guaçu –
Zona Norte/Oeste
JARDIM IPÊ PINHEIRO
L335
Avenida das Petunias por extensão
299331; 7529511 N/O
L336
Avenida das Petunias por extensão
299360; 7529477 N/O
L337
Avenida das Petunias por extensão
299388; 7529441 N/O
L338
Avenida das Petunias por extensão
299404; 7529385 N/O
L339
Avenida das Petunias por extensão
299464; 7529314 N/O
L340
Avenida das Petunias por extensão
299526; 7529263 N/O
L341
Avenida das Petunias por extensão
299609; 7529203 N/O
L343
Avenida das Petunias por extensão
299298; 7529578 N/O
L344
Avenida das Petunias por extensão
299267; 7529595 N/O
L345
Avenida das Petunias por extensão
299220; 7529660 N/O
L348
Avenida das Petunias por extensão
299186; 7529710 N/O
L346
Avenida dos Ipês lado esquerdo da EMEI
299000; 7529530 N/O
L347
Avenida Flamboyants esquina com a rua Geranios
299079; 7529751 N/O
L349
Avenida Flamboyants final da rua
299104; 7529821 N/O
L371
Avenida Flamboyants por toda extensão
299138; 7529518 N/O
L372
Avenida Flamboyants por toda extensão
299188; 7529425 N/O
L373
Avenida Flamboyants por toda extensão
299218; 7529373 N/O
L374
Avenida Flamboyants por toda extensão
299252; 7529298 N/O
L375
Avenida Flamboyants por toda extensão
299279; 7529291 N/O
L376
Avenida Flamboyants por toda extensão
299312; 7529249 N/O
L377
Avenida Flamboyants por toda extensão
299307; 7529245 N/O
L350
Estrada Municipal esquina com a rua Azaléias
298893; 7529913 N/O
L351
Estrada Municipal para o matadouro
298950; 7529921 N/O
Fonte: COSTA, 2011.
* N/O – Zona Norte e Oeste.
* Margem de erro do GPS + ou – 10 metros.
Tabela 3. Identificação e Coordenadas Geográficas dos Pontos Irregulares de Lixo em Mogi Guaçu –
Zona Sul
JARDIM IPÊ PINHEIRO
66
L464
Rua Cristovão Colombo área verde esquina com a rua Vicen- 300486; 7522833 S
te J. de Carvalho
L448
Rua Cristovão Colombo extensão do córrego
300310; 7522427 S
L449
Rua Cristovão Colombo extensão do córrego
300346; 7522491 S
L450
Rua Cristovão Colombo extensão do córrego
300371; 7522539 S
L447
Rua Maria C. P. Marchesi esquina com rua Cristovão Colom- 300255; 7522358 S
bo
L460
Rua Osvaldo de Carvalho área verde
300254; 7522868 S
L462
Rua Osvaldo de Carvalho área verde toda extensão
300297; 7522873 S
L456
Rua Osvaldo de Carvalho em frente ao 250
300112; 7522920 S
L455
Rua Osvaldo de Carvalho em frente ao 274
300131; 7522904 S
Interciência
& Sociedade
Análise ambiental e geoespacial dos depósitos de lixos clandestinos da cidade de
Mogi Guaçu
Tabela 2. Continuação
L461
Rua Osvaldo de Carvalho em frente ao 444
300275; 7522857 S
L463
Rua Osvaldo de Carvalho em frente ao 506
300337; 7522832 S
L457
Rua Osvaldo de Carvalho inicio da rua área grande
300026; 7522951 S
L458
Rua Osvaldo de Carvalho inicio da rua área grande
300003; 7522959 S
L459
Rua Osvaldo de Carvalho em frente ao 310
300179; 7522894 S
L453
Rua Vereador Jose Martini em frente ao 12
300166; 7522627 S
Fonte: COSTA, 2011.
* S – Zona Sul.
* Margem de erro do GPS + ou – 10 metros.
As tabelas 1 a 3 mostram a real
situação dos bairros em suas respectivas
Zonas.
Foram visitados 34 bairros nessa
região Leste/Centro encontrando-se 284
pontos no total. Em média tem-se 8,35 pontos por bairro. Os bairros que possuem
mais pontos irregulares de lixo são Jardim
Novo II com 22 pontos, Jardim Nova Canaã
e Jardim Canaã II com 24 pontos cada.
Já na região Norte/Oeste foram visitados 27 bairros encontrando-se 144 pontos no total. Em média tem-se 5,33 pontos
por bairro. Os bairros que possuem mais
pontos irregulares de lixo são Ipê Pinheiro
com 23 pontos e Jardim Ipê V com 14 pontos.
E na região Sul foram visitados 19
bairros encontrando-se 100 pontos no total.
Em média tem-se 5,26 pontos por bairro.
Os bairros que possuem mais pontos irregulares de lixo são Jardim Novo Itacolomy
com 15 pontos, Jardim Sta. Madalena com
12 pontos e a Rua Benedito Euclides Martini que atravessa 3 bairros com 13 pontos.
car as quantidades de lixos, os tamanhos
dos bolsões e os tipos de lixos encontrados
que vão de resíduos da construção civil até
resíduos sólidos urbanos, encontrando diversos tipos de resíduos nesses pontos.
Zona Leste/Centro
Nessa região foram escolhidas
as figuras 2 a 3, as quais representam os
bairros Jardim Canaã II e Loteamento Nova
Mogi Guaçu. Nestes foi possível encontrar
inúmeros pontos irregulares de lixo.
•
Jardim Canaã II
A pior situação entre os bairros
da região Leste/Centro foi encontrada no
Jardim Canaã II. Só nesse bairro foram registrados vinte e quatro pontos, todos com
grandes extensões e com muito odor.
A figura 2 mostra o ponto onde sua
extensão é por todo o quarteirão.
5.4. Bolsões de Lixo
De acordo com as visitas realizadas nos bairros supra mencionados, nota-se que a maioria dos bolsões de lixo são
encontrados em ruas ainda sem asfalto, terrenos baldios sem muros, próximos a cursos d’águas em especial próximo as linhas
férreas e áreas verdes.
Foram escolhidas algumas das
imagens dos piores pontos encontrados em
determinados bairros separados por regiões, para demonstrar a situação encontrada em cada um dos bairros visitados.
Nessas imagens é possível verifi-
Figura 2: Bolsão de Lixo - Alameda Nazareth M.
Biazotto.
Fonte: COSTA, 2011.
Interciência
& Sociedade
67
COSTA, A. C.; BARRAZA LARIOS, M. R.
•
Loteamento Nova Mogi Guaçu.
No Loteamento Nova Mogi Guaçu
são encontrados doze pontos, como o bairro situa-se mais afastado a prefeitura colocou uma lixeira para realizar a coleta deste
bairro. Na figura 3 nota-se que há mais lixo
no chão do que na própria lixeira.
Zona Sul
Nessa região foram escolhidas as
figuras 5 a 6 os bairros Areião, Jardim Cristina, Jardim Munhoz, Jardim Novo Itacolomy
e Recanto Itamaracá. Nestes foi possível
encontrar inúmeros pontos irregulares de
lixo.
•
Jardim Novo Itacolomy
No Jardim Novo Itacolomy são encontrados quinze pontos. Nove desses pontos encontram-se na mesma rua sendo bem
próximo uns dos outros. Todos com grandes
extensões chegando a atingir um quarteirão
e com muita quantidade de lixo como podemos ver na Figura 5 a seguir.
Figura 3: Bolsão de Lixo - Estrada Policarpo A. C
Fonte: COSTA, 2011.
Zona Norte/Oeste
Nessa região foi escolhida a figura
4, ao qual representa o bairro Jardim Altos
dos Ipês. Nesta região foi possível encontrar
inúmeros pontos irregulares de lixo. •
Jardim Alto dos Ipês
No Jardim Alto dos Ipês são encontrados nove pontos. Na Figura 5 pode-se observar a quantidade de lixo, a grande
extensão desse ponto e principalmente a
prefeitura realizando a limpeza do local.
Figura 5: Bolsão de Lixo - Rua Cristovão Colombo área verde.
Fonte: COSTA, 2011.
•
Recanto Itamaracá
No Recanto Itamaracá são encontrados seis pontos. Um deles chama bem
atenção pelo tamanho, a quantidade de
lixo, o mau odor e por ser próximo a área
verde. A figura 6 mostra a real situação do
local que fica na principal avenida do bairro.
Figura 4: Bolsão de Lixo - Rua Basílio Brugheroto.
Fonte: COSTA, 2011.
68
Interciência
& Sociedade
Da figura 3 passa para a
figura 5.
Análise ambiental e geoespacial dos depósitos de lixos clandestinos da cidade de
Mogi Guaçu
Foram visitados 80 bairros dos
153 do município, totalizando 528 pontos,
que foram identificados e inseridos na planta planimétrica divididos por regiões (Zona
Leste/Centro, Norte/Oeste e Sul).
A Figura 8 mostra um dos bairros
que possuem mais pontos irregulares de
lixo o Jardim Canaã II. O bairro pertence à
Zona Leste/Centro com os vinte e quatro
pontos irregulares de lixo locados.
Figura 6: Bolsão de Lixo - Rua Maria do Carmo
B. Bueno.
Fonte: COSTA, 2011.
5.5. Distribuição Espacial dos Bolsões de
Lixo em Mogi Guaçu
O município de Mogi Guaçu possui
uma extensão de 812 km² e aproximadamente 153 bairros incluindo os mais afastados.
As coordenadas dos pontos foram
adquiridas por meio do GPS e transferidas
para o computador sendo assim possível
a distribuição espacial dos mesmos como
pode-se observar na figura 7.
Figura 8: Distribuição espacial dos pontos irregulares de lixo – Jd. Canaã II – Zona Leste/
Centro.
Fonte: COSTA, 2011.
Com a materialização de todos os
pontos levantados e inseridos na planta foi
possível fazer a avaliação de cada região e
sua porcentagem encontrada como mostra
figura 9.
Figura 7: Distribuição espacial dos pontos irregulares de lixo.
Fonte: COSTA, 2011.
Figura 9: Percentual de Bolsões de Lixos por
Zonas.
Fonte: COSTA, 2011.
Interciência
& Sociedade
69
COSTA, A. C.; BARRAZA LARIOS, M. R.
Nota-se claramente que a porcentagem maior de bolsões de lixos está na
Zona Leste/Centro com 54%, a Zona Sul é
a que possui uma porcentagem menor com
19% mas isso não é vantagem, pois essa
região possui cinco pontos dos quais são de
grandes extensões chegando a atingir até
um quarteirão inteiro.
A existência desses bolsões de
lixo é de extremo perigo, causando risco
à saúde da circunvizinhança, aos animais
domésticos, e principalmente ao solo onde
esses bolsões se encontram podendo até
contaminar o lençol freático.
As figuras a seguir mostram a real
situação de alguns dos bairros urbanos do
município, em destaque os bairros com
mais percentuais de bolsões de lixo.
Figura 10: Percentual de Bolsões de Lixos por Zona L/C dos Bairros.
Fonte: COSTA, 2011.
Figura 11: Percentual de Bolsões de Lixos por Zonas N/O dos Bairros.
Fonte: COSTA, 2011.
70
Interciência
& Sociedade
Análise ambiental e geoespacial dos depósitos de lixos clandestinos da cidade de
Mogi Guaçu
Figura 12: Percentual de Bolsões de Lixos por Zonas Sul dos Bairros.
Fonte: COSTA, 2011.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio do levantamento realizado foi possível visitar 80 bairros e identificar
528 pontos irregulares de lixos, a maioria
desses pontos encontra-se em áreas verdes, próximo a córregos, linhas férreas e
terrenos baldios. Nos pontos é possível encontrar todos os tipos de resíduos, os mais
comuns são resíduos da construção civil,
galhos e podas, restos de móveis e eletrônicos, restos de animais e principalmente
resíduos sólidos urbanos.
É comum dizer que esse cenário
se repete por bairros caracterizados como
de baixa renda, mas no município de Mogi
Guaçu foram encontrados muitos pontos
nos bairros de classe média.
Nota-se que pelo lado ambiental
que esses bolsões de lixo são um grande
risco ao solo, pois estão depositados sem
preparação alguma e podem resultar em
problemas com o lençol freático os quais
podem ser contaminados por chorume e
outros componentes químicos lixiviados do
solo por meio das águas de chuvas.
A prefeitura realiza sua parte porém com algumas falhas significativas, que
são apontados nesse referido trabalho e
suas conseqüências.
Segundo o levantamento junto à
prefeitura acredita-se que os bolsões de lixos existem somente por cultura da população, mas segundo esse estudo nota-se
que esse problema é um “efeito dominó”, ou
seja, eles existem por diversas falhas da coleta realizada pela prefeitura fazendo com
que a população se livre dos seus lixos depositando em qualquer lugar e é justamente
nessa parte que entra o problema cultural
mencionado.
Com base neste estudo juntamente com todas as legislações vigentes no
país no âmbito de resíduos sólidos urbanos
nota-se algumas soluções a serem tomadas pelos órgãos públicos do município ou
a quem couber a responsabilidade de gerir
esse grave problema, são eles:
•
•
•
•
•
Interciência
& Sociedade
Aplicar tudo o que diz a Lei
12.305 – Política Nacional dos
Resíduos Sólidos, onde os
principais são:
Coleta seletiva, e os sistemas
de logística reversa;
Educação Ambiental;
Realizar um planejamento de
coleta do município seguindo o
manual;
Incentivo do poder público para
coleta seletiva porta a porta,
com mão de obra de catadores
71
COSTA, A. C.; BARRAZA LARIOS, M. R.
•
•
•
•
•
do próprio município;
Criação de cooperativas de catadores e de Usina de reciclagem no município;
Criação de um aterro de inertes adequados para receber os
resíduos do município de Mogi
Guaçu;
Limpeza correta e definitiva
dos bolsões de lixos já existentes no município;
Realização de Ecopontos em
cada bairro para tornar fixo
apenas um ponto para coleta
de resíduos no município.
Buscar a melhoria continua
para o município lembrando
sempre que os resíduos sólidos podem ser aplicados os
quatros Rs: Redução na fonte,
Reciclar, Reutilizar e Recuperar sendo possível evitar o cenário dos bolões de lixos tão
comum em Mogi Guaçu.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ANBT. NBR 10004. Resíduos Sólidos - Classificação. 2004.
ra a Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Diário
Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,
DF, 3 ago. de 2010. Disponível em: < www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/.../lei/l12305.htm/>.
Acesso em: 22/08/2011.
BRASIL, Resolução CONAMA n.° 307 de 5 de Julho
de 2002, Diário Oficial [da] Republica Federativa do
Brasil, Brasília, 2002.
LEI COMPLEMENTAR Nº 968, DE 05 DE DEZEMBRO DE 2008 - Dispõe sobre a revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado - PDDI de Mogi
Guaçu e dá outras providências.
MONTEIRO, J. H. P.; et al. Coordenação técnica
Victor Zular Zveibil. Manual de Gerenciamento Integrado de resíduos sólidos. Patrocínio: Secretaria
Especial de Desenvolvimento Urbano da Presidência
da República. Rio de Janeiro: IBAM, 2001.
RAMOS, J. Sua Pesquisa. Resíduos Sólidos. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/o_que_e/
residuos_solidos.htm>. Acesso em 31/01/2011.
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Resíduos. Disponível em: <http://recicle-cia.com/crbst_12.html>. Acesso em: 22/08/2011.
ZVEIBIl, V. Z. Cartilha de Limpeza Urbana. Chefe
do Centro de Estudos e Pesquisas Urbanas do IBAM.
1991.pdf.
ABGE, 1995. Curso de Geologia Aplicada ao Meio
Ambiente. IPT Série Meio Ambiente, 247 p.
BRASIL. Lei n° 12.305, de 2 de agosto de 2010. Alte-
Ana Caroline Costa é graduada em Engenharia Ambiental pela Faculdade Municipal Professor Franco Montoro
– FMPFM.
Mario Roberto Barraza Larios é Doutor em Ciências da Engenharia Ambiental pela Universidade de São Paulo
– USP, Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Viçosa – UFV, Graduado em Engenharia Civil
pela Universidade Federal de Viçosa – UFV e Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho pelo Instituto
de Aperfeiçoamento Tecnológico – IAT. Atualmente é Professor do Curso de Engenharia Ambiental da Faculdade
Municipal Professor Franco Montoro – FMPFM, Professor dos cursos da Escola de Engenharia de Piracicaba
EEP–FUMEP, professor do curso de Engenharia Civil da Universidade Adventista de São Paulo – UNASP e Responsável Técnico da Empresa Gerenciamento Ambiental Ltda.
72
Interciência
& Sociedade
MARCO REGULATÓRIO E O ESTABELECIMENTO DE INDICADORES
COM FOCO EM REQUISITOS SOCIOECONÔMICOS PARA O RETROFIT DE EDIFICAÇÕES
BERNI, Mauro Donizeti
Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético – UNICAMP
[email protected]
DELGADO, Antonio Carlos
IYO Soluções Sustentáveis Ltda
[email protected]
PAGLIARDI, Odail
Faculdade Municipal “Professor Franco Montoro” (FMPFM)
Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético – UNICAMP
IYO Soluções Sustentáveis Ltda
[email protected]
RESUMO: O objetivo principal é o estabelecimento de um arcabouço metodológico e sua validação,
como resposta à necessidade de uma ferramenta de gestão em face da demanda recorrente de comparações a revitalização de edificações ou retrofits. Com o aprimoramento dos investimentos e da
execução de ações com critérios sócio-econômicos balizados por marcos regulatórios, cada vez mais
faz-se, necessário acompanhar os resultados passados e prospectar os futuros, relativos aos empreendimentos, para a medição de até que ponto os esforços estão atendendo aos requisitos regulatórios e
ao objetivo de contribuir com o desenvolvimento sustentável. Neste contexto a utilização de indicadores
tem sido uma das principais ferramentas de gestão.
PALAVRAS-CHAVE: retrofit, indicadores econômicos, indicadores sociais.
ABSTRACT: The main objective is to establish a methodological framework and its validation as a response to the need for a tool of demand management in the face of recurring comparisons revitalization
of buildings or retrofits. With the improvement of the investment and implementation of actions with
socio-economic criteria delimited by regulatory frameworks, increasingly it is necessary to monitor past
performance and future prospect, for the projects, to measure the extent to which efforts are meeting
regulatory requirements and aim to contribute to sustainable development. In this context the use of
indicators has been a major management tools.
KEYWORDS: retrofit, economic indicators, social indicators.
1. INTRODUÇÃO
As questões da sustentabilidade
vêm requerendo a atenção mundial e, na
esfera da construção civil e arquitetura,
coloca-se a necessidade da atuação empresarial estar voltada a contribuir para a
sustentabilidade global. Neste contexto,
requer-se como princípio, que cada pessoa,
física ou jurídica contribua com seu papel
para garantir que os recursos naturais e o
planeta, assim como se conhece hoje, sejam preservados para as futuras gerações.
A busca pela sustentabilidade ainda é incipiente em edificações, no entanto contata-se um aumento continuado das preocupações neste sentido. A inserção da avaliação
da sustentabilidade no ambiente empresarial da construção civil e no projeto arquitetônico pode contribuir para a melhoria do
Interciência
& Sociedade
73
BERNI, M. D.; DELGADO, A. C.; PAGLIARDI, O.
desempenho setorial e tomada de decisão
de novos investimentos.
2. Objetivo
Este estudo avalia o marco regulatório e sua interrelação concernente aos estudos prévios necessários para a viabilização dos empreendimentos de revitalização
imobiliária ou retrofits de forma sustentável,
com foco nas dimensões social e econômica. A sustentabilidade observada da perspectiva social, a ênfase é dada à presença
do ser humano na biosfera. A preocupação
maior é com o bem-estar humano, a condição humana e os meios utilizados para
aumentar a qualidade de vida dessa condição. Acesso a serviços básicos, água limpa
e tratada, ar puro, serviços médicos, proteção, segurança e educação pode estar ou
não relacionado com os rendimentos ou riqueza da sociedade. A sustentabilidade social refere-se a um processo de desenvolvimento que leve a um crescimento estável
com distribuição eqüitativa de renda; gerando com isso, a diminuição das atuais diferenças entre os diversos níveis da sociedade e a melhoria das condições de vida das
populações. A sustentabilidade econômica
abrange a alocação e distribuição eficiente
de recursos naturais dentro de uma escala
apropriada. O conceito de desenvolvimento
sustentável, observado a partir da perspectiva econômica, tende a ver o mundo em
termos de estoques e fluxos de capital. Na
verdade, essa visão não está restrita apenas ao convencional capital monetário ou
econômico, mas está aberta à consideração de capitais de diferentes tipos, incluindo
o ambiental, o humano e o social.
Nas seções seguintes apresenta-se uma alternativa metodológica e sua
validação no contexto da sustentabilidade
do retrofit de edificações, a partir de indicadores sociais e econômicos, permitindo
estabelecer uma linha de base para a sustentabilidade em edificações. Os indicadores são instrumentos importantes para o
processamento de informações múltiplas e
variadas, permitindo, de uma forma gráfica
e simples, a tradução de realidades complexas e a tomada de decisão. Decisões corretas na fase de projeto das edificações po-
74
dem resultar em menores impactos sociais
e ambientais, e consequentemente maior
sustentabilidade. Selos Verdes e/ou Certificações de qualidade são atestados de cumprimento de marcos regulatórios ainda na
fase de projeto, construção, desconstrução
e/ou qualidade no sentido de garantir o menor impacto social e econômico, bem como
menor consumo de energia para edificação
construída ou “retrofit” de edificação antiga.
3. Metodologia
3.1 Indicadores Sociais Em Retrofit
Um indicador social é uma medida
em geral quantitativa dotada de significado
social substantivo, usado para substituir,
quantificar ou operacionalizar um conceito social abstrato, de interesse teórico ou
programático. É um recurso metodológico,
empiricamente referido, que informa algo
sobre um aspecto da realidade social ou
sobre mudanças que estão se processando
na mesma (JANNUZZI, 2009).
Em âmbito nacional são exemplos
de sistemas de indicadores o Sistema de
Indicadores para Políticas Urbanas, o Sistema de Indicadores de Saúde, o Sistema de
Indicadores do Mercado de Trabalho, etc.
Em uma perspectiva internacional, pode-se citar o Sistema de Bem Estar Social da
OCDE, o Sistema Mínimo de Indicadores
Urbanos, para orientar a implementação
das diretrizes de ação.
A título de exemplificação, na avaliação das condições de vida em determinada tipologia, pode ser operacionalmente traduzida como o nível de atendimento
das necessidades materiais básicas para
sobrevivência e reprodução social naquela
tipologia. Desta forma, as dimensões operacionais de interesse poderiam ser as condições da saúde, tipo e qualidade da habitação, infraestrutura de serviços urbanos,
acessibilidade, segurança, etc.
Outro aspecto a ser comentado é
quanto à classificação e critérios para escolha de indicadores sociais. Por conta de
diferenças conceituais, indicadores sociais
podem ser objetivos e subjetivos, mesmo
estando em uma mesma dimensão social,
podem não apontar as mesmas tendências.
Interciência
& Sociedade
Marco regulatório e o estabelecimento de indicadores com foco em requisitos
socioeconômicos para o retrofit de edificações
Por exemplo, na investigação de uma tipologia como um programa de moradias habitacional, é bem possível que os indicadores
objetivos apontem melhoria com relação às
condições materiais de vida da população,
que, não se manifeste em indicadores de
satisfação baseados na opinião das pessoas ali residindo.
A Dimensão Social do Ambiente
Construído. Um dos elementos defendidos
pela teoria da construção enxuta é a agregação de valor, através do atendimento aos
requisitos dos usuários no Brasil, fenômenos relativamente recentes, como a estabilidade econômica, a edição da legislação do
consumidor, a maior disponibilidade de informação e a migração das empresas para
faixas de renda mais elevadas modificaram
o perfil do cliente: na faixa de classe média,
as empresas hoje se relacionam com usuários mais informados e qualificados. Como
reação a esta nova realidade, a maioria das
empresas buscou ampliar a eficiência, através de ações de gerenciamento da construção (otimização de processos, implantação
de programas de qualidade, certificação e
terceirização de grande parte das atividades necessárias à produção) e adoção de
algumas alternativas tecnológicas nas diferentes tipologias requeridas para este novo
momento. Entretanto, em última análise, ao
invés de ampliar a qualidade do produto e
conseqüentemente a satisfação do cliente
final, os esforços praticados são mais voltados ao enfrentamento da concorrência
acirrada e à redução de custos. Neste contexto, indicadores sociais contemplando a
avaliação pós-ocupação destas tipologias
estão sendo utilizados para identificar pontos positivos e negativos sobre decisões
tomadas na fase de projetos de empreendimentos, podendo ser utilizada no processo de projeto de novos empreendimentos.
São compostos por um amplo diagnóstico
do ambiente construído, incluindo análise
do sistema construtivo, conforto ambiental,
funcionalidade, acessibilidade, segurança
ao fogo, e as relações entre o ambiente
construído e o usuário.
Esta análise é geralmente realizada através de um conjunto de indicadores
sociais que podem ser utilizados por projetista para os projetos de novos empreendi-
mentos considerando os aspectos positivos
e negativos apontados pelos usuários, melhorando o processo de projeto e agregando maior valor aos empreendimentos. O
emprego de indicadores sociais deve considerar aspectos comportamentais, físicos e
comentários gerais de usuários. Com isto,
também, pode-se antecipar as necessidades futuras que a tipologia deverá atender.
Observe que as preferências dos
usuários são alteradas com base em transformações sociais, econômicas e culturais,
enquanto que as edificações imóveis são
bens duráveis, sendo utilizados continuamente por dezenas de anos. Quanto mais
ajustado às necessidades dos usuários,
melhor o conforto proporcionado ou então
menor a necessidade de retrofit futuro.
Considerando os diversos agentes que compõe as forças de mercado,
bem como os objetivos do empreendedor
da indústria da construção: funcionalidade,
com as necessárias condições de segurança para os efeitos das ações tanto naturais
como humanas e com características de
durabilidade que permitam a redução da
deterioração ao longo do seu ciclo de vida e
custos envolvidos, a aplicação da metodologia proposta levou à seleção dos seguintes indicadores sociais:
3.1.1 Tema A: Práticas Laborais
Os aspectos que devem ser considerados, no que se refere às práticas laborais, são baseados em normas universais reconhecidas internacionalmente. Há
dois instrumentos ligados diretamente às
responsabilidades sociais das empresas:
a Declaração Tripartida da OIT sobre as
Empresas Multinacionais e a Política Social
e as Diretrizes para Empresas Multinacionais da Organização para a Cooperação e
o Desenvolvimento Econômico. Desta forma, no que se refere às práticas laborais,
sugerem-se indicadores com os seguintes
aspectos: emprego, saúde e segurança no
trabalho, formação e educação, e diversidade e igualdade de oportunidades.
Emprego – pode ser obtido por:
● Discriminação da mão-de-obra total, por tipo de emprego, por contrato
Interciência
& Sociedade
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BERNI, M. D.; DELGADO, A. C.; PAGLIARDI, O.
de trabalho e por região; ou
● Número total de trabalhadores e
respectiva taxa de rotatividade, por
faixa etária, gênero e região.
Saúde e Segurança no Local de Trabalho
– este indicador pode ser obtido de:
● Taxa de lesões, doenças profissionais, dias perdidos, absentismo e
óbitos relacionados com o trabalho,
por região; ou
● Programas de educação, formação, prevenção e controle de risco
para garantir assistência aos trabalhadores, às suas famílias ou aos
membros da comunidade.
Formação e Educação – medida pela:
● Média de horas de formação, por
ano, por trabalhador, discriminadas
por categoria de funções; ou
● Programas para a gestão de competências e aprendizagem contínua
que apóiam a continuidade da empregabilidade dos funcionários e
para a gestão de carreira.
Diversidade e Igualdade de Oportunidades – tal indicador pode ser visto como:
● Composição dos órgãos sociais da
empresa e relação dos trabalhadores por categoria, de acordo com o
gênero, a faixa etária e as minorias;
ou
● Discriminação do salário base entre homens e mulheres, por categoria de funções.
3.1.2. Tema B: Direitos Humanos
Os indicadores de desempenho
relativos aos direitos humanos devem estar
relacionados aos investimentos nas práticas de seleção de fornecedores e empresas contratadas. Esses indicadores devem
incluir, ainda, a formação dos funcionários e
do pessoal de segurança em direitos humanos, abrangendo também a não-discriminação, a liberdade de associação, o trabalho
infantil, o trabalho forçado e escravo e os direitos dos indígenas, quando pertinente. Os
aspectos sobre direitos humanos que foram
levados em consideração para o estabele-
76
cimento de indicadores são: discriminação;
abolição do trabalho infantil; prevenção de
trabalho forçado e escravo e procedimentos
de segurança.
Mais especificamente tem-se:
Discriminação: Número total de casos de
discriminação e ações tomadas para sua
abolição.
Abolição do Trabalho Infantil: Número de
casos em que exista um risco significativo
de ocorrência de trabalho infantil e medidas
que contribuam para a sua eliminação.
Prevenção de Trabalho Forçado e Escravo: Número de casos em que exista um
risco significativo de ocorrência de trabalho
forçado ou escravo e medidas que contribuam para a sua eliminação.
Procedimentos de Segurança: Percentagem do pessoal de segurança submetido
à formação nas políticas ou procedimentos
da empresa, relativos aos direitos humanos
e que são relevantes para as operações.
3.1.3. Tema C: Sociedade
Os indicadores relativos à sociedade estão focados nos impactos que o empreendedor e a tipologia em construção e/
ou construída, produzem nas comunidades
em que atua e na divulgação da forma como
os riscos, resultantes de sua interação com
a sociedade, são gerenciados e mitigados.
É importante determinar indicadores que
forneçam informações sobre os riscos associados ao suborno, à corrupção, à influência indevida na elaboração de políticas
públicas e nas práticas de monopólio. Neste
sentido, os tópicos que devem ser abordados para definição dos parâmetros de sustentabilidade no âmbito da sociedade são:
comunidade; corrupção; políticas públicas e
concorrência desleal (BORBA, 2009).
Estes indicadores seriam:
Comunidade e Usuários: Natureza, âmbito e eficácia de quaisquer programas e práticas para avaliar e gerir os impactos das
obras nas comunidades, incluindo no momento da sua instalação, durante a operaInterciência
& Sociedade
Marco regulatório e o estabelecimento de indicadores com foco em requisitos
socioeconômicos para o retrofit de edificações
ção e na desmobilização.
3. 2. Indicadores Econômicos
Corrupção: Porcentagem de trabalhadores
que tenham efetuado formação nas políticas e práticas anti-corrupção da empresa.
Ainda, este indicador pode ser obtido pelas
“Medidas tomadas em resposta a casos de
corrupção”.
Projetos devem ter objetivos claros; e quando estão em andamento, devem
ser avaliados por indicadores operacionais,
além dos de impacto, efetividade e desempenho, para possíveis correções de sua
rota.
Trabalhar “por projeto” é algo extremamente pragmático, afinal, todo projeto
é um empreendimento temporário (prazo
finito), que envolve recursos (materiais, logísticos, humanos, entre outros) e, por isso,
exige orçamento prévio e gestão financeira dos investimentos realizados. Assim, em
um determinado período, um produto ou
serviço é gerado dentro de um orçamento
definido.
Na área de projetos existem lacunas que exigem ação imediata dos administradores e gerentes de projetos, com
destaque para os indicadores de desempenho. É evidente que antes de se iniciar
um projeto se faz necessária uma avaliação
de custo-benefício, a fim de tomar a decisão de prosseguir ou interromper o projeto.
Este conceito já está amplamente disseminado no mercado e a grande maioria das
empresas realiza isto com métodos criteriosos e específicos. Em todo o projeto está
implícita a idéia de risco. A noção de risco é
diversa, e muda conforme o enquadramento que deu origem à metodologia de gestão
de risco em causa. Em manuais publicados
pela US Project Management Institute (PMI)
encontra-se a seguinte definição de risco de
projeto: evento ou condição incerta que, se
ocorrer, terá um efeito positivo ou negativo
sobre pelo menos um objetivo do projeto,
como tempo, custo, âmbito ou qualidade –
PMI, PMBOK Guide (2008). O tipo de risco
e sua probabilidade de ocorrência ou o seu
impacto sobre o projeto, variam ao longo
do ciclo de vida do mesmo, sendo por isso
necessário proceder-se à identificação dos
riscos, em todas as suas fases.
A discussão que se segue é quanto ao acompanhamento do projeto durante
o ciclo de vida de uma edificação. Quando
se efetua uma avaliação do projeto durante seu ciclo de vida através de indicadores
(que não elimina as Revisões de Qualidade) é possível tomar decisões para mudar o
Políticas Públicas: Posições quanto a políticas públicas e participação na elaboração
de políticas públicas, bem como em grupos
de pressão.
Concorrência Desleal: Número total de
ações judiciais por concorrência desleal,
práticas de monopólio, bem como os seus
resultados.
3.1.4 Tema D: Responsabilidade
Os indicadores sociais referentes
à responsabilidade estão relacionados essencialmente à responsabilidade pela qualidade do produto obtido e comercializado.
Desta forma, os indicadores devem abordar os aspectos dos produtos e dos serviços decorrentes que afetam diretamente os
consumidores finais, como: saúde e segurança, informações e rotulagem, marketing
e privacidade. No que se refere à responsabilidade pelo produto e/ou serviço, os indicadores devem ser estabelecidos para os
seguintes aspectos: saúde e segurança do
consumidor; comunicações de marketing;
privacidade quando pertinente.
Saúde e Segurança do Consumidor: Indicar os ciclos de vida dos produtos e serviços em que os impactos de saúde e segurança são determinados, com a finalidade
de promover melhorias contínuas.
Sub-tema: Comunicações de Marketing:
Programas de observância das leis, normas
e códigos voluntários relacionados com comunicações de marketing, incluindo publicidade, promoção e patrocínio.
Privacidade do Cliente: Número total de
reclamações registradas relativas à violação da privacidade de clientes.
Interciência
& Sociedade
77
BERNI, M. D.; DELGADO, A. C.; PAGLIARDI, O.
rumo do projeto ou mesmo para paralisá-lo,
pois os indicadores mostram a situação atual e indicam tendências.
Na área de projetos, entre os indicadores, fala-se em CPI (Cost Performance
Index) e SPI (Schedule Performance Index),
que respectivamente representam: o índice
de desempenho de custos em um projeto
e o índice de desempenho de cronograma
no projeto, com base na execução de atividades e custos planejados/incorridos. Há,
no entanto, quatro tipos de indicadores de
projeto importantes que precisam ser vistos
recorrentemente: de impacto, de efetividade, de desempenho e operacionais. Os de
impacto medem o objetivo geral do projeto
com resultados em longo prazo e sua contribuição para a organização; os indicadores de efetividade medem os resultados dos
objetivos propostos em um determinado período de tempo. Já os de desempenho evidenciam se os resultados planejados foram
alcançados citando-se o ROI - Return of
Investment, (inclusive os tradicionais Valor
Presente Líquido, Taxa Interna de Retorno
e Payback), o CPI e o SPI obtidos ao final
do projeto. Os indicadores operacionais devem funcionar como ferramentas de monitoração dos projetos em seu dia-a-dia, sobretudo quanto ao orçamento e cronograma
– o CPI e o SPI se encaixam também neste
item.
Se um indicador é uma medida
quantitativa e se é possível estabelecer um
padrão (valor esperado) para ele, então as
possíveis variações determinam que algo
está fora das condições de normalidade,
exigindo do gerente de projetos avaliação
da variação, análise dos agressores que
causam as variações e elaboração/execução de planos de ação para ajuste da rota.
Por exemplo: o CPI e SPI têm como padrão
de normalidade o número 1,0 (um). Qualquer variação para cima indica que o projeto está melhor que o planejado em termos
de custos (CPI) ou em termos de prazos
(SPI); porém, se abaixo de 1,0 indicam situação adversa em uma ou em ambas as
dimensões citadas.
Os indicadores indicam tendências. Portanto, após a definição dos indicadores, deve-se fazer a sua implementação
estabelecendo plano de metas, definindo
78
percentuais ou quantitativos a serem atingidos em determinado período de tempo.
A Análise de Valor Agregado ou
Earned Value Analysis (VARGAS, 2009)
aproveita as fórmulas fundamentais de
Valor Agregado — Budget at Competion
(BAC), Custo Real, Valor Planejado e Valor
Agregado — para determinar o desempenho do projeto, índices relativos de custo e
cronograma. O valor agregado é parte do
Controle de Custos grupo de processos do
Custo de Gerenciamento de Projetos. As
fórmulas de Valor Agregado de desempenho consistem em:
● Cost Performance Index (CPI) Esta medida representa a quantidade
de trabalho que está sendo realizado
em um projeto para cada unidade de
custo gasto. O CPI é calculado pela
relação valor agregado (EV) e valor
real gasto (AC), isto é, EV / AC. Um
valor acima de 1 (um) significa que o
projeto está se encaixando no orçamento (MIGUEL, 2010).
● Schedule Performance Index
(SPI) - Este índice representa o quão
próximo o trabalho real está sendo
concluído quando comparado com
a programação. O SPI é calculado
pela relação Valor Agregado (EV) e
Valor Planejado (PV), ou seja, EV/
PV. Está se comparando o custo do
que foi ganho com o que foi orçado.
Um valor acima de 1 (um) significa
que o projeto está em sintonia com
o calendário proposto (MIGUEL,
2010).
Earned
value
management
(EVM) é uma técnica de gestão de projeto
para medir seu desempenho e seu progresso de uma forma objetiva. EVM tem a capacidade de combinar medidas de escopo,
cronograma e custo em um único sistema
integrado. As características essenciais de
qualquer implantação de EVM incluem:
● Um plano do projeto que identifica
o trabalho a ser completado;
● Uma avaliação do trabalho planejado, chamado Planned Value (PV)
ou Budgeted Cost of Work ScheduInterciência
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Marco regulatório e o estabelecimento de indicadores com foco em requisitos
socioeconômicos para o retrofit de edificações
led (BCWS); e
● Predefinir “earning rules” (também
chamado de métrica) para quantificar o trabalho realizado, chamado Earned Value (EV) ou Budgeted
Cost of Work Performed (BCWP).
A implantação do EVM para grandes e complexos projetos inclui características adicionais, tais como indicadores e
previsões da evolução dos custos e performance orçamentária. Entretanto, o requisito
mais básico de um sistema EMV é que ele
quantifica seu progresso utilizando PV e EV.
Existe um método prático de análise de investimento que é tempo de retorno
o investimento realizado.
Tempo de retorno (Payback)
O tempo de retorno, também conhecido como Payback, é a relação entre
o valor do investimento e o fluxo de caixa
do projeto (ROSS et al., 2002 e BRIGHAM
et al., 1999). O tempo de retorno indica em
quanto tempo deve ocorrer a recuperação
do investimento. Os pontos fracos desse
método são: a) não considera o valor do dinheiro no tempo; b) não considera os fluxos
de caixa após a recuperação do capital; e
c) não pode ser aplicado quando o fluxo de
caixa não é convencional.
Quanto aos métodos analíticos,
estes são precisos porque se baseiam no
valor do dinheiro no tempo. O valor do dinheiro no tempo para cada empresa é expresso por um parâmetro denominado Taxa
Mínima de Atratividade. Essa taxa é específica para cada empresa e representa a taxa
de retorno que ela está disposta a aceitar
em um investimento de risco (projeto empresarial) para abrir mão de um retorno certo num investimento sem risco no mercado
financeiro. Os métodos analíticos empregados em análise de investimentos são: o
Valor Presente Líquido e a Taxa Interna de
Retorno (ROSS et al., 2002 e BRIGHAM et
al., 1999).
Valor Presente Líquido
O valor presente líquido (VPL) de
um projeto de investimento é igual ao valor
presente de suas entradas de caixa menos
o valor presente de suas saídas de caixa.
Para cálculo do valor presente das entradas
e saídas de caixa é utilizada a Taxa Mínima
de Atratividade como taxa de desconto. Se
o Valor Presente Líquido de um projeto de
investimento for maior do que zero, significa que o investimento é economicamente
atrativo, pois o valor presente das entradas
de caixa é maior do que o valor presente
das saídas de caixa. Entre vários projetos, o
mais atrativo é aquele que tem maior Valor
Presente Líquido.
Taxa Interna de Retorno
A Taxa Interna de Retorno é a taxa
de juros que torna o valor presente das entradas de caixa igual ao valor ao presente
das saídas de caixa do projeto de investimento (VPL=0). A Taxa Interna de Retorno
de um investimento pode ser maior ou menor do que a Taxa Mínima de Atratividade,
significando que o investimento é, respectivamente, economicamente atrativo ou investimento não é atrativo, este último significando que seu retorno é superado pelo
retorno de um investimento sem risco.
3.2.1. Dificuldades na análise de investimentos
A principal dificuldade na análise
de investimentos é a obtenção de dados
confiáveis, principalmente as projeções
de entradas de caixa. Estas se originam
basicamente das estimativas das receitas. Quando estas são imprecisas, é recomendável que a análise de investimentos
utilize três hipóteses: provável, otimista e
pessimista. Desse modo, a análise de investimentos produzirá uma Taxa Interna de
Retorno ou Valor Presente Líquido máximo,
médio e mínimo esperados. A metodologia
de análise de investimentos apresentada,
na qual os dados são considerados como
certos, é denominada determinística. A taxa
interna de retorno e o valor presente líquido
podem ser enriquecidos com técnicas mais
sofisticadas (árvore de decisão, análise de
Monte Carlo, etc.) para lidar com o risco e
a incerteza relacionados com os dados do
projeto.
Cabe agora, analisar uma medida
Interciência
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79
BERNI, M. D.; DELGADO, A. C.; PAGLIARDI, O.
de desempenho usada para avaliar a eficiência de um investimento: o retorno sobre investimento ou Return On Investment
– ROI (ROSS et al., 2002 e BRIGHAM et
al., 1999). Este índice é obtido pelo quociente entre os benefícios (retornos) de um
investimento e o custo desse investimento;
o resultado é expresso (em percentagem).
Trata-se, assim, da relação entre o dinheiro ganho ou perdido através de um investimento, e o montante de dinheiro investido.
Existem três formulações possíveis
de taxa de retorno: retorno efetivo, retorno
exigido e retorno previsto.
torno Sobre o Investimento, não é apenas
um percentual, mas sim a compreensão total dos custos e benefícios associados ao
desenvolvimento de uma tecnologia. Uma
análise de ROI é tão boa quando sua suposição ou dado mais inconsistente. Para
se ter confiança em um cálculo, a organização precisa não apenas de um número,
mas sim de uma completa explanação das
suposições e cálculos utilizados para obter
esse índice.
a) O retorno efetivo serve como
medida de avaliação do desempenho de um
investimento, aferido a posteriori. O retorno
previsto serve como medida ex ante do desempenho de um investimento; é a sua taxa
implícita ou interna de retorno, aquela que
iguala o valor do investimento ao seu preço
ou custo.
b) A taxa de retorno exigida é a que
permite determinar o valor de um investimento. De fato, o valor de um investimento
é o equivalente atualizado dos seus cash-flows futuros, pela taxa de retorno exigida.
A ideia é que qualquer investimento deve
proporcionar uma taxa de retorno igual a
uma taxa sem risco acrescida de um prêmio
de risco função do grau de incerteza que
afeta os cash-flows futuros do investimento.
c) A taxa de retorno prevista é função do preço (ou custo) do investimento e
do fluxo de cash-flows futuros atribuíveis ao
investimento. Sendo incertos estes cash-flows, resulta que a taxa de retorno prevista é também incerta, apresentando-se como
uma variável aleatória. Este fato representa
o risco do projeto, que deve ser estimado
para ser estipulado o prêmio de risco a incluir na taxa de retorno exigida.
Adam Smith, David Ricardo e Karl
Marx utilizaram a palavra produtividade,
sempre em relação ao trabalho e sua divisão, e consequente ao rendimento. Na Revolução Industrial, a noção de produtividade
teve mais campo para se difundir, por meio
das substituições das ferramentas manuais
por máquinas, da mecanização da agricultura e do advento da produção em massa,
iniciada na Inglaterra em 1760 e desenvolvida nos Estados Unidos, Alemanha, França,
fazendo com que essa noção passasse a
significar bem-estar individual e social.
Pode-se definir produtividade (TOLEDO JR, 2004) como sendo a relação
entre produto gerado por homem-hora.
Formalmente, a produtividade do trabalho
corresponde à quantidade de trabalho necessária para produzir uma unidade de um
determinado bem.
O crescimento da produtividade
depende da qualidade do capital físico, da
melhoria das competências da mão-de-obra, dos progressos tecnológicos e de novas formas de organização. O crescimento
da produtividade é a principal fonte de crescimento econômico.
Uma força de trabalho bem formada desempenha um papel fundamental no
crescimento da produtividade. A sua qualidade é baseada na educação, na formação
e na aprendizagem ao longo da vida.
Portanto, o índice ROI = Lucro Líquido / Investimentos representa o retorno que determinado investimento oferece,
e geralmente é utilizado para determinar o
retorno de investimentos isolados. Invertendo-se a relação (ROI = Investimento / Lucro Líquido), obtém-se o tempo necessário
para se reaver o capital investido.
Finalizando, cabe um alerta. O Re-
80
3.2.2. Produtividade: a chave para a competitividade das empresas
Conceito amplo de produtividade
Para Ribeiro e Camargo (1994), a
elaboração e aplicação de conceito de medidas de desempenho são fundamentais
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Marco regulatório e o estabelecimento de indicadores com foco em requisitos
socioeconômicos para o retrofit de edificações
para o desenho de um programa de produtividade que seja eficaz na proposta de conduzir ao melhor gerenciamento. Deve-se
começar com conceitos importantes:
- insumos – os recursos com os
quais se trabalha;
- processo (atividade) – como se trabalham os insumos;
- produto – o que é produzido; e
- resultados – o impacto produzido.
Podem ser citados três critérios
básicos de mensuração e avaliação do desempenho de uma organização: eficiência,
eficácia e efetividade.
a) Eficiência – é uma medida mais
quantitativa que qualitativa. Trata-se da razão entre o custo dos insumos e o valor dos
produtos.
Eficiência significa fazer uma tarefa ou atividade com o menor custo possível,
realizando-a da forma mais econômica. Eficiência está associada à noção de poupar.
Daft (2005) define eficiência como “o uso
de recursos mínimos - matérias-primas, dinheiro e pessoas - para produzir um volume
desejado de produção”.
b) Eficácia – este conceito relaciona-se diretamente com objetivos e metas de produção, ou seja, trata-se da razão
entre os produtos/serviços produzidos e as
metas colocadas anteriormente.
Eficácia, segundo o mesmo autor,
é “O grau em que a organização alcança
uma meta declarada”. Eficácia tem que ver,
assim, com o nível ou grau em que se alcança uma meta ou resultado. Por exemplo, se ao programar pavimentar 10 km de
estrada e conseguir apenas 9 km, a eficácia
foi de 90%.
c) Efetividade – trata-se do
“grau de satisfação das necessidades e dos
desejos da sociedade pelos serviços prestados pela instituição” (TOLEDO JR, 2004).
Este conceito envolve, portanto, a noção de
qualidade.
Efetividade relaciona-se com grau
em que os resultados alcançados dão resposta ao problema para cuja resolução se
programou e executou uma determinada
ação. Por exemplo, se uma empresa quer
apoiar socialmente os seus trabalhadores,
pode abrir linhas de crédito bonificado para
a aquisição da casa própria, veículo automotivo ou custear despesas médicas. Os
trabalhadores normalmente têm seus pedidos atendidos (eficácia plena, quanto ao
objetivo “conceder empréstimos bonificados”). Contudo, se os pedidos forem atendidos com muita morosidade, levando meses
para se concretizar, pode representar perda
de oportunidades de compra pelo trabalhador, pois assumiram o compromisso de reservar o bem, muitas vezes mediante caução. Nestas condições, o trabalhador chega
muitas vezes a perder o “sinal” ou a ter que
se endividar para satisfazer suas necessidades. No final, o objetivo principal da empresa que era o de criar facilidades sociais
para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores, não é alcançado, pois não resolve o problema para o qual foi executada,
não atingindo a efetividade.
Para o nível estratégico, tem-se o
foco na conquista da eficácia, que é uma
medida do alcance dos resultados, ficando
o critério da eficiência mais ligado ao nível
operacional, com a utilização dos recursos
disponíveis no processo. (LOBATO, 1997).
Um problema comum quando se
pensa em programas de produtividade, é
decidir o que mensurar: os insumos, o processo ou atividade, o produto ou o resultado. Esta decisão depende do que se deseja
ou do que é mais fácil; a facilidade da mensuração está diretamente relacionada à natureza do serviço.
Após a determinação do nível de
produtividade (mensuração), sugere-se o
uso de outros métodos que eliminem o trabalho desnecessário ou o “retrabalho”. Deve-se pensar em técnicas de simplificação
do trabalho, análise de valor, brainstorming
(tempestade de idéias), análise organizacional, determinação de missão, levantamento
dos métodos e procedimentos correntes,
ou seja, qualquer procedimento e metodologia que possa melhorar a medida atual
de produtividade. A implantação prática da
participação dos funcionários é imprescindível para a viabilidade da implementação de
programas de produtividade.
A sensibilização do empregado
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BERNI, M. D.; DELGADO, A. C.; PAGLIARDI, O.
para os conceitos de produtividade e efetividade é obtida por meio da implementação de mecanismos de cooperação entre a
administração estratégica e o empregado,
que permite a participação dos funcionários
na tomada de decisão sobre seu trabalho e
resultados.
A questão da motivação dos funcionários e integração no processo decisório torna-se particularmente importante
quando se deseja reter mão-de-obra qualificada, motivar o desenvolvimento e melhorar a qualidade dos serviços prestados.
Devido à facilidade de se medir a
performance da mão-de-obra utilizada no
processo produtivo, em número de homens/
hora ou simplesmente número de funcionários, a produtividade da mão-de-obra é o
indicador mais usado. Por outro lado, quando o denominador é uma combinação de
mão-de-obra e capital, tem-se a chamada
produtividade total dos fatores, indicador
menos encontrado justamente pelas dificuldades em agregar insumos de natureza
diferente.
É difícil estabelecer regras rígidas
para o cálculo de índices de produtividade,
dada a riqueza e a diversidade das atividades de serviços, pois cada empresa possui
suas particularidades.
Na construção de um índice de
produtividade, as principais decisões a serem tomadas são as seguintes: a) objetivo
do índice; b) periodicidade; c) abrangência;
d) medida de produção a utilizar; e) medida
dos insumos.
Cada uma dessas decisões envolve problemas próprios que acabam fazendo
com que uma interfira sobre as outras. Na
prática, será preciso que todas sejam analisadas ao mesmo tempo.
Conceito restrito ou básico da produtividade
A definição técnica de produtividade é um conceito simples. É definida como
a relação entre os recursos empregados e
os resultados obtidos.
A produtividade pode ser definida
como a otimização do uso dos recursos empregados (inputs) para a maximização dos
82
resultados desejados (outputs). Isto significa que, no processo de transformação dos
recursos, o valor agregado aos produtos e
serviços resultantes deve levar ao crescimento e ao desenvolvimento da riqueza da
organização.
Para Falconi (1999), output é o que
a empresa produz, e input é o que ela consome, ou seja: produtividade é o quociente
entre valor produzido e valor consumido. Os
valores produzido e consumido podem ser
substituídos por qualidade e custos, respectivamente.
A idéia de produtividade pode ser
encarada sob os seguintes aspectos: técnica ou física; econômica; produtividade social; e do trabalho, descritas a seguir.
Entende-se por Produtividade
Técnica ou Física quando tanto a produção
como os recursos são expressos em unidades físicas (quantidades), que se apresenta
como o resultado de uma fração cujo numerador indica determinada quantidade de
produção (computada em volume, peso ou
unidade) e cujo denominador indica, englobadamente, os fatores arregimentados para
obter a produção em causa (equipamentos,
energia, trabalho, direção, etc.).
Produtividade Econômica refere-se à rentabilidade da empresa, definida
como a relação entre lucro auferido e capital empregado, ou a qualquer relação que
utilize valor e não quantidade. Permite um
conhecimento mais profundo da estrutura
da economia, sendo indispensável aos efeitos de uma política econômica e social.
Produtividade Social é indicada
pelo grau de utilidade que a empresa desenvolve em seu ambiente. É o grau de
economicidade de uma empresa.
Produtividade do Trabalho é a
noção mais usual de produtividade. Trata-se do quociente da produção pelo qual
essa produção foi obtida. Esta relação reveste-se de significado científico quando
se precisam, por um lado, a natureza e as
condições técnicas da produção e, de outro,
os elementos contidos no cálculo do denominador.
Existem fatores de incremento da
produtividade, apesar das diferenças existentes entre as economias desenvolvidas
Interciência
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Marco regulatório e o estabelecimento de indicadores com foco em requisitos
socioeconômicos para o retrofit de edificações
e aquelas em desenvolvimento, que propiciam incremento na produtividade, de forma
global e particular, tais como: ciência e tecnologia; sistema educacional; capital; mão-de-obra; motivações.
Produtividade na Terceirização dos Serviços de Manutenção
O empreendimento deve possuir
um Sistema Gerencial de Manutenção que
discrimina todos os serviços, englobando
serviços produtivos e serviços improdutivos.
Os serviços tratados como produtivos são aqueles relacionados com atividades de manutenção (de eletricidade, redes
de água e esgoto, etc.) tais como: consertar, substituir, remanejar componentes do
sistema operacional; substituir, instalar,
remanejar, retirar equipamentos; verificar
a qualidade da água e iluminação, dentre
outros serviços.
Os serviços improdutivos podem
ser discriminados por tipo: acidente de trabalho; aguardando instruções; aguardando
liberação de alvará; área critica de abastecimento; atendimento de emergência; cancelamento de serviço por erro de digitação;
cancelamento do serviço por entrada do pagamento; cancelamento do serviço a pedido
do cliente; defeito no veículo; deslocamento; equipe inadequada para o serviço; espera por material ou equipamento; impossibilidade de acesso; informação incompleta ou
incorreta; nada constatado como anormal;
serviços não executados por falta de material, falta de equipe, equipamento ou veículo; cliente não permitiu executar o serviço.
Como visto, a produtividade é a
relação do total de trabalho realizado pelo
número total de empregados para sua realização. Porém, a dificuldade é de como medir a produtividade, numa área de manutenção na qual a mão-de-obra está totalmente
terceirizada. Neste caso, um indicador de
produtividade que pode ser usado trata da
relação do número de atividades realizadas
(completas ou parciais), pelo número de
empregados da empresa (efetivos e afastados) mais os empregados contratados.
Com referência ao número de em-
pregados da empresa, entende-se como
efetivos os empregados em plenas funções
de suas atividades, e entre os empregados
afastados estão incluídos: por invalidez,
auxílio-doença, acidente de trabalho, maternidade e outros. Os contratados são empregados administrativos e operacionais,
(terceirizados) e empregados da Prefeitura
Municipal (ou setor privado) à disposição da
empresa. Normalmente não incluí no indicador de produtividade os empregados de
empreiteiras, que executam serviços operacionais na área e estagiários.
O que leva à produtividade é o aumento da produção com os mesmos custos fixos permitindo à empresa conquistar
novos mercados. Assim, o indicador de produtividade de uma Unidade de Manutenção
poderá estar relacionado em número total
de serviço realizado pelo total de despesas
desta.
A produtividade em alguns setores
envolve conceito amplo e prático da qualidade dos serviços. Trata-se da efetividade,
que é “grau de satisfação das necessidades
e dos desejos da sociedade pelos serviços
prestados”.
Como lembrete, tratar a eficácia
somente na redução de despesas pode
tornar-se algo prejudicial, porém tratar a
eficácia como aumento do número de operações, pode estar relacionado diretamente
com objetivos e metas da empresa.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para efeito de demonstração e
alavancar a incipiente e frágil política pública, visando a sustentabilidade no setor da
construção civil do Brasil, a determinação
de indicadores de sustentabilidade para o
setor é um objetivo a perseguir. Por outro
lado, faz-se necessário salientar que é comum haver certa confusão entre os temas
sustentabilidade e certificações. Este projeto poderá ajudar a minimizar este erro
interpretativo, na medida em que esforços
estão concentrados no estabelecimento de
uma metodologia nacional para o estabelecimento de indicadores de sustentabilidade
para vários tipos de tipologias.
Interciência
& Sociedade
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Mauro Donizeti Berni é engenheiro de produção pela Universidade Federal de São Carlos. É mestre e doutor
em Planejamento de Sistemas Energéticos pela Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp. Atualmente é
pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético – NIPE da Unicamp.
Antonio Carlos Delgado é engenheiro elétrico e sócio proprietário da empresa de consultoria IYO Soluções Sustentáveis Ltda.
Odail Pagliardi é bacharel em economia e também em matemática, ambas as graduações realizadas na Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. É mestre em Planejamento de Sistemas Energéticos pela Faculdade
de Engenharia Mecânica da Unicamp e Doutor pela Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp, com enfoque
em mercados futuros de produtos agrícolas. Atualmente é vice-diretor da Faculdade municipal Professor Franco
Montoro e pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético da Unicamp.
Os autores agradecem o suporte financeiro da Companhia Paulista de Força e Luz - CPFL e da Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL no desenvolvimento do projeto Green Building.
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Interciência
& Sociedade
EDUCAÇÃO EM DIABETES
MIRANDA, Silvio Cesar
Universidade Paulista (UNIP)
Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM)
Faculdades Integradas Maria Imaculada (FIMI)
[email protected]
OLIVEIRA, Daniela Soares
Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM)
[email protected]
RESUMO: O Diabetes Mellitus tipo I (DM1) é uma doença crônica caracterizada pela destruição parcial
ou total das células beta das ilhotas de Langerhans pancreáticas, resultando na incapacidade progressiva em produzir insulina. Esse processo pode levar meses ou anos, mas só aparece clinicamente
quando já houve a destruição de pelo menos 80% da massa de ilhotas. Há inúmeros fatores, genéticos
e ambientais que contribuem para que haja ativação imunológica desencadeando esse processo destrutivo. O Diabetes Mellitus tipo II (DM2) é a forma presente em 90%-95% dos casos e caracteriza- se
por defeitos na ação e na secreção da insulina. Em geral ambos os defeitos estão presentes quando a
hiperglicemia se manifesta, porém pode haver predomínio de um deles. O DM2 pode ocorrer em qualquer idade, mas é geralmente diagnosticado após os 40 anos. Os pacientes não são dependentes de
insulina exógena para sobrevivência, porém podem necessitar de tratamento com insulina para a obtenção de um controle metabólico adequado. Diferentemente do DM1 auto-imune não há indicadores
específicos para o DM2. Existem provavelmente diferentes mecanismos que resultam nessa forma de
DM, e com a identificação futura de processos patogênicos específicos ou defeitos genéticos, o número
de pessoas com essa forma de DM irá diminuir à custa de uma mudança para uma classificação mais
definitiva em outros tipos específicos de DM. O número de indivíduos diabéticos está aumentando devido ao crescimento e ao envelhecimento populacional, à maior urbanização, à crescente prevalência
de obesidade e sedentarismo, bem como à maior sobrevida do paciente com DM. Quantificar a prevalência de DM e o número de pessoas diabéticas, no presente e no futuro, é importante para permitir
uma forma racional de planejamento e alocação de recursos e ações educacionais, para a construção
de um comportamento saudável de pacientes diabéticos.
PALAVRAS-CHAVE: Diabetes Mellitus; insulina; ações educacionais.
ABSTRACT: Diabetes Mellitus type I (T1DM) is a chronic disease that is characterized by partial or
total destruction of the Beta Cells of the Langerhan’s pancreatic islets which results in the progressive
inability to produce insulin. This process may take months or years, but it only occurs clinically when the
body’s immune system attacks and destroys at least 80% of the pancreatic islet cells. There are numerous genetic and environmental factors that contribute to this destructive process. Diabetes Mellitus
type II (T2DM) present in 90% – 95% of the cases is characterized by the disability in producing and
secreting insulin. Both disabilities are presented when hyperglycaemic reactions manifest themselves,
but there may be preponderance of one of them. The T2DM may occur at any age but it is normally
diagnosed in adults over 40. Patients are not dependent on exogenous insulin for survival, but they may
need treatment with insulin in order to obtain an adequate metabolic control. There is no specific indicator for T2DM. There are probably different mechanisms that result in this type of DM, and with the future
identification of specific pathogenic processes or genetic disabilities, the number of people with T2DM
will decrease due to a conclusive classification of the other specific types of DM. The number of diabetics is increasing because of the growth and the ageing of the population, the stress, the obesity, the
sedentary habits as well the increase of their survival rate. To quantify the prevalence and the number of
the cases of DM nowadays and in the future is Important in order to allow a rational planning, resources
and educational activities to build a healthy behaviour for diabetic patients.
KEYWORDS: Diabetes Mellitus; insulin; educational activities.
Interciência
& Sociedade
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MIRANDA, S. C.; OLIVEIRA, D. S.
1. INTRODUÇÃO
O Diabetes Mellitus configura-se
hoje como uma epidemia mundial, e um
grande desafio para os sistemas de saúde de todo o mundo. O envelhecimento
da população, a urbanização crescente e
a adoção de estilos de vida pouco saudáveis como sedentarismo, dieta inadequada
e obesidade são os grandes responsáveis
pelo aumento da incidência e prevalência
do diabetes em todo o mundo. Segundo
estimativas da Organização Mundial de
Saúde, o número de portadores da doença
em todo o mundo era de 177 milhões em
2000, com expectativa de alcançar 350 milhões de pessoas em 2025. Um indicador
macroeconômico a ser considerado é que
o diabetes cresce mais rapidamente em países pobres e em desenvolvimento e isso
impacta de forma muito negativa devido à
morbimortalidade precoce que atinge pessoas ainda em plena vida produtiva, onera
a previdência social e contribui para a continuidade do ciclo vicioso da pobreza e da
exclusão social (MONTENEGRO, 2003).
O diabetes pode ser ocasionado
por carência de insulina, pela resistência
a esse hormônio ou pelas duas razões. No
processo normal a refeição, usada pelo corpo como energia, é transformada em glicose
que é uma fonte de combustível para o corpo e entra na circulação sanguínea. A insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas
para controlar a glicose sanguínea, ou seja,
transporta a glicose da corrente sanguínea
até as células dos músculos, de gordura e
do fígado, onde esse açúcar é usado como
combustível. (COLLET-SOLBERG, 2001).
As pessoas com diabetes possuem muita glicose no sangue. Isto se deve
ao fato do pâncreas não produzir insulina
suficiente para as células dos músculos, de
gordura e do fígado (COLLET-SOLBERG,
2001).
O diabetes é um grupo de doenças metabólicas caracterizadas por
hiperglicemia e associadas a complicações, disfunções e insuficiência de vários
órgãos,especialmente olhos, rins, nervos,
cérebro, coração e vasos sanguíneos. Pode
resultar de defeitos de secreção e/ou ação
da insulina envolvendo processos patogê-
86
nicos específicos, por exemplo, destruição
das células beta do pâncreas (produtoras
de insulina), resistência à ação da insulina,
distúrbios da secreção da insulina, entre outros (KUMAR,2008).
Há duas formas atuais para classificar o diabetes, definidos de acordo com
defeitos ou processos específicos, e a classificação em estágios de desenvolvimento,
incluindo estágios pré-clínicos e clínicos
(KUMAR, 2008).
O sucesso de tratamento e controle do diabetes caminha em conjunto com
uma educação para o diabetes. Desta forma torna-se fundamental fazer uma breve
reflexão sobre o comportamento alimentar
e a assimilação de informações pertinentes
à patologia do diabetes.
A educação é uma forma de socialização, ou seja, uma ferramenta para incluir o indivíduo na sociedade (BRANDÃO,
2007).
Atualmente existe uma obsessão
pela boa mesa e pela forma física, amplamente divulgado pelos meios de comunicação, nem sempre contribuindo para um
comportamento alimentar adequado e preventivo à inúmeras patologias, entre elas
o diabetes. Observa-se uma necessidade
de uma política educacional voltada para
a educação alimentar dos indivíduos já na
fase escolar, possibilitando a construção de
um conhecimento e comportamento na vida
adulta para à saúde.
2. Metodologia
A metodologia utilizada para o desenvolvimento do trabalho foi uma revisão
bibliográfica, em obras de cunho acadêmico
nacional e internacional. A pesquisa bibliográfica é considerada o primeiro passo de
toda a pesquisa científica (LAKATOS,1996).
Por se tratar de um trabalho acadêmico, portanto um saber organizado e sistemático faz-se necessário argumentar sobre
o conhecimento e metodologia.
O conhecimento classifica-se em
vulgar, a alcance de todos, da massa; esse
tipo de conhecimento na maioria das vezes
apresenta-se soluções rápidas e simples.
Científico, foge do alcance da massa, preocupa-se não só com os problemas, bem
Interciência
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Educação em diabetes
como, com as soluções nascidas de observação sistemática e análise do interrelacionamento das partes no conjunto e na compreensão do todo (CASTRO,2000).
Para o desenvolvimento do presente trabalho utilizamos o método acima
citado, compreendendo que o mesmo contribuiria para evidenciar a interface entre
educação e diabetes.
3. Tipos de Diabetes - classificação etiológica
Os tipos de diabetes mais frequentes são o diabetes tipo I, anteriormente conhecido como diabetes juvenil, que compreende cerca de 10% do total de casos, e
o diabetes tipo II, anteriormente conhecido
como diabetes do adulto, que compreende
cerca de 90% do total de casos. Outro tipo
de diabetes encontrado com maior frequência e cuja etiologia ainda não está esclarecida é o diabetes gestacional, que em geral,
é um estágio pré-clínico de diabetes, detectado no rastreamento pré-natal (NAVES et
al.,2003).
Outros tipos específicos de diabetes menos frequentes podem resultar de
defeitos genéticos da função das células
beta, defeitos genéticos da ação da insulina, doenças do pâncreas exócrino, endocrinopatias, efeito colateral de medicamentos,
infecções e outras síndromes genéticas associadas ao diabetes (NAVES et al.,2003).
3.1. Diabetes tipo
O termo tipo I indica destruição
das células beta que eventualmente leva
ao estágio de deficiência absoluta de insulina, quando a administração de insulina
é necessária para prevenir cetoacidose,
coma e morte. A destruição das células
beta é geralmente causada por processo
auto-imune, que pode se detectado por
auto-anticorpos circulantes como anti-descarboxilase do ácido glutâmico (anti-GAD),
anti-ilhotas e anti-insulina, e, algumas vezes, está associado a outras doenças auto-imunes como a tireoidite de Hashimoto,
a doença de Addison e a miastenia grave.
Em menor proporção, a causa da destruição das células beta é desconhecida (tipo 1
idiopático).O desenvolvimento do diabetes
tipo I pode ocorrer de forma rapidamente
progressiva,principalmente, em crianças e
adolescentes (pico de incidência entre 10 e
14 anos), ou deforma lentamente progressiva, geralmente em adultos, (LADA - Latent Autoimmune Diabetesin Adults). Esse
último tipo de diabetes, embora assemelhando-se clinicamente ao diabetes tipo I
auto-imune, muitas vezes é erroneamente
classificado como tipo II pelo seu aparecimento tardio. Estima-se que 5% à 10% dos
pacientes inicialmente considerados como
tendo diabetes tipo II podem, de fato, ter
LADA (ALBERTI,1999).
3.2.
Diabetes tipo II
O termo tipo II é usado para designar uma deficiência relativa de insulina. A administração de insulina nesses
casos, quando efetuada, não visa evitar
cetoacidose,mas alcançar controle do quadro hiperglicêmico. A cetoacidose é rara e,
quando presente, é acompanhada de infecção ou estresse muito grave. A maioria
dos casos apresenta excesso de peso ou
deposição central de gordura. Em geral,
mostram evidências de resistência à ação
da insulina e defeito na secreção de insulina, manifesta-se pela incapacidade de
compensar essa resistência. Em alguns
indivíduos, no entanto, a ação da insulina
é normal, e o defeito secretor mais intenso
(ALBERTI,1999).
3.3. Diabetes gestacional
É a hiperglicemia diagnosticada na
gravidez, de intensidade variada, geralmente se resolvendo no período pós-parto, mas
retornando anos depois em grande parte
dos casos. A OMS (Organização Mundial de
saúde) recomenda detectá-lo com os mesmos procedimentos diagnósticos empregados fora da gravidez, considerando como
diabetes gestacional valores referidos fora
da gravidez, como indicativos de diabetes
ou de tolerância à glicose diminuída (KUMAR, 2008).
Cerca de 80% dos casos de diabetes tipo II podem ser atendidos predominantemente na atenção básica, enquanto que
os casos de diabetes tipo I requerem maior
Interciência
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87
MIRANDA, S. C.; OLIVEIRA, D. S.
colaboração com especialistas em função
da complexidade de seu acompanhamento. Em ambos os casos, a coordenação do
cuidado dentro e fora do sistema de saúde
é responsabilidade da equipe de atenção
básica à saúde (KUMAR, 2008).
4. Diagnóstico
O diagnóstico do diabetes é estabelecido quando o indivíduo apresenta
uma concentração sérica alta de glicose.
Frequentemente, a concentração sérica de
glicose (glicemia) é verificada durante um
exame anual de rotina, no exame pré-admissional ou no exame para liberar um indivíduo para a prática esportiva. Além disso, o
médico pode verificar a concentração sérica
de glicose para descobrir a possível causa
de sintomas como o aumento da sede, da
micção ou do apetite, ou quando o indivíduo
apresenta fatores de risco típicos como, por
exemplo, uma história familiar de diabetes,
obesidade, infecções frequentes ou qualquer uma das complicações associadas ao
diabetes. Para dosar a concentração sérica
de glicose, uma amostra de sangue é comumente coletada após o indivíduo realizar um jejum de aproximadamente 8 horas.
Porém, a amostra pode ser coletada após
uma refeição. Uma certa elevação da concentração sérica de glicose após comer é
normal, mas assim mesmo ela não deve
atingir valores muito elevados. Nos indivíduos com mais de 65 anos de idade, o melhor é realizar o exame após um período de
jejum, uma vez que os idosos apresentam
um maior aumento da concentração de glicose no sangue após comer. Um outro tipo
de exame de sangue, o teste de tolerância
à glicose oral, pode ser realizado em determinadas situações, como por exemplo,
quando o médico suspeita que uma gestante apresenta diabetes gestacional. Neste
teste, o indivíduo jejua durante um período,
uma amostra de sangue é coletada para a
dosagem da concentração sérica de glicose
de jejum e, em seguida, o indivíduo ingere
uma solução especial contendo uma quantidade padronizada de glicose. Outras amostras serão coletadas num período entre 2 e
3 horas seguintes, após a coleta da primeira
amostra (COLLET, 2001).
88
5. Tratamento
O principal objetivo do tratamento
do diabetes é manter o máximo possível a
concentração sérica de glicose dentro dos
limites de normalidade. A manutenção da
concentração de glicose completamente
normal é difícil, mas quanto mais ela for
mantida dentro da faixa de normalidade,
menos provável será a ocorrência de complicações temporárias ou de longo prazo.
O principal problema ao se tentar manter
um controle rígido da concentração sérica
de glicose é a maior chance de se produzir
uma redução exagerada da mesma (hipoglicemia). O tratamento do diabetes requer
atenção ao controle do peso, à atividade física e à dieta (ALBERTI, 1999).
Indivíduos obesos com diabetes
tipo II não necessitariam de medicação,
caso perdessem peso e mantivessem uma
atividade física regular. Contudo, a redução
de peso e o aumento do exercício físico,
são para a maioria dos indivíduos diabéticos é difícil. Por essa razão, a terapia de reposição de insulina ou com medicamentos
hipoglicemiantes orais é frequentemente
necessária. O exercício reduz diretamente
a concentração sérica de glicose e, também, a quantidade de insulina necessária
(ALBERTI, 1999).
A dieta é muito importante, geralmente, os indivíduos diabéticos não devem
consumir alimentos doces em excesso e
devem alimentar-se dentro de um esquema regular. No entanto, o consumo de um
lanche no momento de deitar ou no final da
tarde frequentemente previne a hipoglicemia em indivíduos que auto-aplicam uma
insulina de ação intermediária pela manhã
ou à noite. Como os indivíduos diabéticos
apresentam uma tendência a apresentar
concentrações altas de colesterol, os nutricionistas normalmente recomendam a limitação da quantidade de gorduras saturadas
na dieta. No entanto, a melhor maneira de
se reduzir a concentração de colesterol é
controlar a concentração sérica de glicose
e o peso corpóreo. A maioria dos diabéticos beneficia-se com o fornecimento de informações sobre a doença, e sobre o que
eles podem fazer para controlá-la. Essa
orientação é mais adequadamente provida
Interciência
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Educação em diabetes
por uma equipe multidisciplinar, preparada
em educação sobre diabetes (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE DIABETES, 2000).
Todos os diabéticos devem compreender como a dieta e o exercício físico,
afetam a concentração sérica de açúcar e
devem estar conscientes de como evitar as
complicações como, por exemplo, examinar
a pele em busca de ulcerações. Também
devem tomar um cuidado especial para evitar infecções nos pés, podendo ser benéfico lançar mão de um podólogo para o corte
das unhas dos pés (Figura 1). É essencial a
realização anual de um exame oftalmológico para se investigar alterações dos vasos
sangüíneos que podem levar à cegueira
(retinopatia diabética). Os indivíduos diabéticos sempre devem carregar consigo um
cartão ou uma pulseira de alerta médico,
que identifique a patologia na eventualidade de sofrerem uma lesão ou apresentarem
uma concentração sérica alta ou baixa de
glicose. Alertar os profissionais da saúde
para a presença do diabetes permite que
eles instituam rapidamente um procedimento adequado ao portador de diabetes,
fundamental para salvar a vida do indivíduo
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES,
2000).
Figura 1: Lesão dos vasos sanguíneos dos pés.
Fonte: <http://saude.ig.org.br>
5.1. Terapia de Reposição da Insulina
No diabetes tipo I, o pâncreas não
consegue produzir insulina e, por essa razão, ela deve ser reposta. A reposição pode
ser realizada somente através de injeção.
Como a insulina é destruída no estômago,
ela não pode ser administrada pela via oral.
A insulina é injetada sob a pele, na camada de gordura, normalmente no membro
superior, na coxa ou na parede abdominal.
O uso de seringas pequenas com agulhas
muito finas torna as injeções praticamente
indolores. Um dispositivo de bomba de ar
que injeta a insulina sob a pele pode ser
utilizado nos indivíduos que não suportam
agulhas. Uma caneta de insulina, a qual
contém um cartucho com insulina e é fechada como uma caneta grande, é um modo
conveniente para o transporte da insulina,
especialmente para aqueles que administram várias injeções diárias longe de casa.
Outro dispositivo é a bomba de insulina, a
qual bombeia a insulina continuamente de
um reservatório através de pequena agulha
que é mantida na pele (NAVES, 2003).
Interciência
& Sociedade
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MIRANDA, S. C.; OLIVEIRA, D. S.
Doses adicionais de insulina podem ser programadas ou disparadas de
modo que a bomba simule o máximo possível a maneira como ela é normalmente produzida pelo organismo. Para alguns indivíduos, a bomba oferece um maior grau de
controle, enquanto outros consideram o seu
uso desconfortável ou apresentam feridas
no local de inserção da agulha. A insulina
encontra-se disponível sob três formas básicas, cada qual com velocidade e duração
da ação diferente. A insulina de ação rápida,
como a insulina regular, é a que possui a
ação mais rápida e curta. Este tipo de insulina frequentemente começa a diminuir a
concentração sérica de glicose em 20 minutos, atinge a atividade máxima em 2 a 4 horas e sua ação dura 6 a 8 horas. A insulina
de ação rápida é comumente utilizada por
indivíduos que tomam várias injeções diárias e é injetada de 15 à 20 minutos antes
das refeições. A insulina de ação intermediária, como a insulina zinco em suspensão
ou a insulina isofano em suspensão, começa a agir em 1 à 3 horas, atinge a atividade
máxima em 6 à 10 horas e a sua ação dura
de18 à 26 horas (NAVES, 2003).
Este tipo de insulina pode ser utilizado pela manhã, para dar cobertura durante a primeira parte do dia, ou ao entardecer,
para prover a quantidade necessária durante a noite. A insulina de ação prolongada,
como a insulina zinco em suspensão de
ação prolongada, tem um efeito muito reduzido durante as 6 primeiras horas (NAVES,
2003).
5.2. Controle do Tratamento
O controle da concentração sérica de glicose é uma parte essencial do
tratamento do diabetes. Embora possa ser
verificada a presença de glicose na urina,
o exame de urina não é uma boa maneira para se controlar o tratamento ou para
se realizar ajustes da terapia. Atualmente a
concentração sérica de glicose pode ser facilmente aferida em casa. Uma gota de sangue é obtida através da punção da ponta do
dedo, com uma pequena lanceta. A lanceta
pode puncionar o dedo ou pode ser colocada em um dispositivo com uma mola que
perfura a pele rápida e facilmente (Figura
2). Quase todos os diabéticos consideram
a perfuração praticamente indolor. A seguir,
uma gota de sangue é colocada sobre uma
tira reagente. Na presença de glicose, a tira
reagente muda de cor ou apresenta alguma
outra alteração química (OLIVEIRA, 2001).
Existem vários aparelhos disponíveis, e eles usam apenas uma gota de sangue. A automonitoração indica se a dieta, a
medicação e os exercícios físicos combinados e sob orientações de uma equipe multidisciplinar, estão sendo eficazes para controlar o diabetes. (DUNCAN, et al., 1993).
Figura 2: Autoteste de Glicemia Capilar.
Fonte: :<http://saude.ig.org.br>
90
Interciência
& Sociedade
Educação em diabetes
Algumas tiras mudam de cor o bastante para permitir a leitura da concentração
sérica de glicose através da sua comparação com as cores impressas em um gráfico. Outro sistema possível e mais preciso
consiste no uso de um aparelho que lê as
alterações da tira de teste e apresenta o
resultado em um monitor digital. A maioria
desses aparelhos cronometra a reação e lê
o resultado automaticamente. Os aparelhos
são pequenos, possuindo um tamanho que
varia do tamanho de uma caneta ao de um
maço de cigarros. Os indivíduos diabéticos
devem anotar os valores de suas concentrações séricas de glicose e informá-los ao
médico ou ao enfermeiro para orientação
sobre o ajuste da dose de insulina ou de
um hipoglicemiante oral. Em alguns casos
e durante as visitas sucessivas do paciente,
o médico ou o enfermeiro podem ensiná-lo
como ajustar a dose da insulina (DUNCAN,
1993).
Os profissionais da área da saúde
utilizam um exame de sangue denominado
hemoglobina glicosilada (ou hemoglobina
A1C) para controlar o tratamento. Quando
a concentração sérica de glicose encontra-se elevada, ocorrem alterações na hemoglobina, a substância que transporta o
oxigênio no sangue. Essas alterações são
diretamente proporcionais à concentração
sérica de glicose durante um longo período. Portanto, ao contrário da dosagem da
concentração de açúcar no sangue, a qual
revela o nível em um determinado momento, a dosagem da hemoglobina glicosilada
revela o grau de controle da concentração
sérica de açúcar nas últimas semanas. A
concentração normal da hemoglobina glicosilada é inferior a 7%. Os indivíduos diabéticos raramente atingem esses níveis, mas o
objetivo do controle rigoroso é aproximar-se
deles. A concentração superior a 9% revelam um mau controle e a superior a 12% revela um controle muito ruim. A maioria dos
profissionais especializados no tratamento
do diabetes recomendam a dosagem da hemoglobina glicosilada no período de 3 à 6
meses (KUMAR, 2008).
Um nutricionista pode ajudar no
planejamento das suas necessidades dietéticas. Diabéticos tipo I devem comer nos
mesmos horários todos os dias e tentar ser
consistentes com os tipos de alimentos selecionados. Isso ajuda a impedir que o nível
glicêmico fique extremamente alto ou baixo.
Diabéticos tipo II devem seguir uma dieta
bem balanceada com pouca gordura (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES,
2000).
A medicação para tratar o diabetes consiste em insulina e comprimidos
que reduzem o nível de glicose no sangue,
chamados de drogas hipoglicêmicas. Diabéticos tipo I não conseguem produzir sua
própria insulina. Por isso, eles precisam de
injeções de insulina. A insulina não é apresentada em comprimidos. Geralmente, são
necessárias de uma a quatro injeções por
dia. Algumas pessoas usam uma bomba de
insulina. Ela é usada o tempo todo e secreta um fluxo constante de insulina durante o
dia (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2000).
Diferentemente do tipo I, o diabetes tipo II responde a um tratamento com
exercícios físicos, dieta e medicamentos
orais. Existem diversos tipos de remédios
usados para reduzir a glicose sanguínea no
diabetes tipo II (KUMAR, 2008).
Durante a gravidez e a amamentação, os medicamentos podem ser trocados
pela insulina. A diabetes gestacional pode
ser tratada com exercícios físicos e mudanças na dieta (DUNCAN et al., 1993)
A prática regular de exercícios físicos é muito importante para os diabéticos.
Ela ajuda no controle da glicemia, do peso
e da hipertensão. Diabéticos que praticam
exercícios têm menor probabilidade de sofrerem um ataque cardíaco ou AVC (Acidente Vascular Cerebral), em comparação
àqueles que não praticam exercícios regularmente (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
DIABETES, 2000).
Com um bom controle da glicose
e da pressão arterial, muitas das complicações do diabetes podem ser evitadas.
Estudos mostram que o controle rígido dos
níveis de glicemia, de colesterol e de pressão arterial nos diabéticos ajuda a minimizar o risco de doença hepática, ocular, do
sistema nervoso, ataque cardíaco e AVC
(ALBERTI, 1999).
Manter o peso ideal e um estilo de
vida ativo pode evitar o diabetes tipo II. AtuInterciência
& Sociedade
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MIRANDA, S. C.; OLIVEIRA, D. S.
almente, não existe nenhuma maneira de
prevenir o diabetes tipo I. Não existem exames de triagem eficazes para o diabetes do
tipo I em pessoas que não apresentam os
sintomas. A realização de exames de triagem para o diabetes tipo II em pessoas que
não apresentam os sintomas é recomendado para: crianças acima do peso que apresentam outros fatores de risco para o diabetes (começando aos 10 anos de idade e
repetindo a cada 2 anos), adultos acima do
peso (com índice de massa corporal acima
de 25) que apresentam outros fatores de
risco, adultos acima dos 45 anos (repetindo
a cada 3 anos) (SOCIEDADE BRASILEIRA
DE DIABETES,2000).
6. Educação
Após ampla pesquisa e discussão sobre a patologia do diabetes, com os
alunos do sexto semestre do Curso de Nutrição, da Faculdade Municipal Professor
Franco Montoro, localizada no município de
Mogi Guaçu, estado de São Paulo, consideramos de fundamental importância, para
a construção do conhecimento, fazermos
uma breve reflexão sobre o papel da educação no controle e acompanhamento do
diabetes.
O controle da doença perpassa
pela educação alimentar, desta forma as
unidades de ensino em seu trabalho pedagógico constituem um importante elemento
na orientação sobre a patologia.
Com um perfil inovador os Parâmetros Curriculares Nacionais- PCNs, constituem a orientação curricular oficial para a
Educação Básica (educação infantil, ensino
fundamental I e II, ensino médio). Trazendo
as disciplinas tradicionais com os seis temas transversais: ética, pluralidade cultural,
meio ambiente, saúde, orientação sexual e
trabalho-consumo. Devendo ter um lugar de
destaque nas escolas, e, por isso a educação nutricional deve estar inserida no universo escolar.
Como o controle do diabetes está
diretamente ligado ao comportamento alimentar, e a criança, o adolescente na sua
fase escolar devem ser alvo de orientação.
A implantação da educação nutricional no
ensino fundamental é uma questão política
92
(HABERMAS,1990).
A implantação da educação alimentar nas unidades de ensino receberiam
críticas por desafiar o modelo vigente. Convivemos com uma cultura alimentar onde
encontramos os excessos ou exageros
gastronômicos, amplamente divulgados pelos compêndios médicos, artigos científicos
e pelos meios de comunicação de massa
(HABERMAS, 1990).
Para a educação em relação ao
diabetes, seria necessário uma construção
coletiva do conhecimento mediante planejamento didático participativo de todo o corpo
docente das unidades de ensino, sociedade, equipes de saúde, escola, a criança e
a família, e tendo como meta o comportamento adulto saudável, no que se refere a
alimentação, atividades físicas e exames
médicos preventivos.
Diante de tais reflexões e pesquisas, verificou-se a necessidade de uma palestra orientativa junto às unidades de ensino, da rede Estadual e Municipal de ensino.
Com uma postura e procedimento educativo, observamos uma variada rede de informações sobre o diabetes, porém nem
sempre compatível e coerente aos procedimento corretos e profiláticos do diabetes.
Confirma-se a concepção que a
educação determina o indivíduo, e a sociedade determina a educação (FERREIRA,
2000).
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos que a insulina é um
hormônio produzido pelo pâncreas, que é
necessário para as células utilizar o açúcar
no sangue, e que os indivíduos com diabetes possuem uma alta taxa de açúcar no
sangue, devido ao fato de que o pâncreas
não produz insulina suficiente para as células dos músculos, de gordura e do fígado. É
uma doença que pode ser controlada com
dieta e medicamentos específicos, porém
quando não tratada pode causar perda de
visão, ulcerações na pele e problemas cardíacos e renais. Os sintomas apresentados,
geralmente é vontade frequente de urinar,
sede exagerada, cansaço constante, infecções urinárias ou de pele, visão turva, coceira, perda de peso, eventuais feridas que
Interciência
& Sociedade
Educação em diabetes
demoram a cicatrizar. O diabetes apresenta
dois grupos: diabetes Mellitus tipo I - ocasionado pela destruição da célula beta do pâncreas, em geral por decorrência de doença
auto-imune, levando a deficiência absoluta
de insulina, e, diabetes Mellitus tipo II - provocado predominantemente por um estado
de resistência à ação da insulina associado a uma relativa deficiência de sua secreção. Outro tipo de diabetes encontrado com
maior frequência é o diabetes gestacional,
detectado no rastreamento pré-natal. Outros tipos específicos de diabetes menos
frequentes podem resultar de defeitos genéticos da função das células beta, defeitos
genéticos da ação da insulina, doenças do
pâncreas exócrino, endocrinopatias, efeito colateral de medicamentos, infecções e
outras síndromes genéticas associadas ao
diabetes.
De acordo com a importância da
patologia diabetes, a educação e a informação se fazem necessário, para evitar
perdas da função biológica e consequência
econômicas.
Educação em saúde possibilita
capacitação e ações transformadoras que
favorecem mudança de pensamentos e
ações, se aplicando bem às doenças crônicas, dentre as quais, destaca-se o diabetes.
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Silvio Cesar Miranda, possui graduação em Medicina Veterinária pela Faculdade Professor Antônio Secundino de
São José (1993) e Mestrado em Educação pelo Centro Universitário Monte Serrat (2003). Atualmente é Docente
na Faculdade Professor Franco Montoro – Mogi Guaçu/SP, Docente titular na Universidade Paulista - UNIP – Campus Swift – Campinas/SP e Docente na Faculdades Integradas Maria Imaculada – Mogi Guaçu/SP.
Daniela Soares de Oliveira, possui graduação em Nutrição (2000) e Especialização em Nutrição Clínica (2001)
pela Universidade Metodista de Piracicaba, Mestranda em Hospitalidade pela Universidade Anhembi Morumbi.
Atualmente é coordenadora do curso de Nutrição e Docente na Faculdade Municipal Professor Franco Montoro.
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& Sociedade
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94
Interciência
& Sociedade
A SUSTENTABILIDADE E O EMPREENDEDORISMO NO MERCADO
GASTRONÔMICO
WERDINI, Marcelo Malta
Universidade Anhembi Morumbi (UAM)
[email protected]
RESUMO: O mercado gastronômico assume um novo mecanismo de gestão que busca o aumento
da eficiência econômica sem agredir o meio ambiente e promovendo a igualdade social: o desenvolvimento sustentável. Para isso, mescla o uso de inovações tecnológicas que possibilitam um significativo
avanço na economia nos mais variados segmentos do ramo comercial à melhoria significativa das
condições de trabalho, da distribuição de renda e da proteção ambiental. A passagem de um modelo
de crescimento arcaico ao desenvolvimento sustentável implica em adotar uma nova visão voltada
não somente ao aspecto quantitativo na obtenção e acúmulo de bens ou ao usufruto indiscriminado de
matérias-primas, mas também há uma preocupação constante com as questões ambientais necessárias para a existência humana. Essa situação exige a conscientização do segmento para o uso racional
dos recursos naturais e um novo olhar para uma organização produtiva que seja capaz de levar ao
crescimento econômico ao mesmo tempo em que promova a igualdade e o desenvolvimento humano.
PALAVRAS-CHAVE: desenvolvimento sustentável, qualidade de vida, globalização.
ABSTRACT: The gastronomic market takes over a new manangerment mecanism that looks for the
growth of the economic efficiency without affect the environment and promoting social equality: the sustainable development. For this, mix the use of a tecnologic inovation that makes possible a significative
advance in the economy in the most different kinds of segments of comercial activity into na important
improvement of working conditions, of the income distribution and the enviroment protection. The passage of a arcaic modelo f growth of sustainable development imply in the adoption of a new view turned
not only to the quantitative aspect but also in obtaining asset acumulation or the indiscriminated usofruto
of raw material, but also there is a permanent concerne with enviroment issues that are necessary for
the human existence. This situation demands the counciousness of the segment for a rational use of
the natural sources and a new view towards to a productive organization that is capacble of leading to
economic grouth promoting at the same time the equality and the human development.
KEYWORDS: sustainable development, quality of life, globalization.
1. INTRODUÇÃO
As propostas de desenvolvimento
sustentável atualmente norteiam as ações
estratégicas fundamentais para a promoção do empreendedorismo e para a viabilidade de negócios, cruciais para atender
as exigências de estabilidade do mercado
gastronômico. Esse desenvolvimento será
alcançado se três critérios fundamentais forem atingidos simultaneamente: equidade
social, prudência ecológica e eficiência econômica (SACHS, 1993). Dentro dessa contextualização procura-se estabelecer uma
relação harmônica do homem com a natureza como centro de um processo capaz de
satisfazer às necessidades e às aspirações
humanas (IUCN/UNEP/WWF, 1980). O pre-
domínio de qualquer um desses critérios
desvirtua o conceito de sustentabilidade e
torna-se uma manifestação de interesse de
grupos, dissociando-se do contexto mais
geral que é o interesse da humanidade
como um todo (LÉLÉ, 1991).
Tal afirmação incorpora-se dentro
de um processo de transformação no qual
a exploração dos recursos, a direção dos
investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional
se harmonizam assegurando as idéias dos
principais objetivos das políticas ambiental
e desenvolvimentista, como o meio ambiente e a economia no processo de tomada de
decisão (CMMAD, 1991).
Em dezembro de 2008 foi inaugurado o primeiro Mc Donald´s sustentável
Interciência
& Sociedade
95
WERDINI, M. M.
da América Latina, localizado em Bertioga,
litoral de São Paulo, sendo o começo de
um novo conceito, chamado de “Restaurante Verde”, o qual inova várias técnicas
de mercado. Além disso, tende a privilegiar
o emprego de energia limpa, reutilização e
consumo consciente de água e o uso de
materiais naturais, recicláveis, renováveis e
de produção regionalizada. Com isso, seus
resultados foram significativos, permitindo
uma redução de 14% do consumo de energia e 50% do consumo de água, considerando que a alimentação é um dos maiores
contribuintes para o desperdício, desde a
atividade agrícola até as produções culinárias.
2. Objetivo
O presente artigo discorre sobre o
segmento gastronômico e suas tendências
atuais, em razão da grande evidência de
mercado que o setor conquistou. Reflete as
ações estratégicas e os novos mecanismos
de gestão que buscam o aumento da eficiência econômica sem agredir o meio ambiente.
O mercado de gastronomia contemporâneo, assim como todos os segmentos profissionais, busca a conscientização
da responsabilidade socioambiental. Para
isso, os estabelecimentos gastronômicos,
mesclam o uso de inovações tecnológicas
que proporcionam uma evolução na economia de diversos setores do ramo comercial
à melhoria das condições de trabalho, da
distribuição de renda e da proteção ambiental.
A mudança de um modelo de gestão tradicional para desenvolvimento sustentável implica em adotar uma nova visão
voltada não apenas para ao acúmulo de
bens ou ao usufruto indiscriminado de matérias-primas, mas também há uma preocupação constante com as questões ambientais necessárias para a existência humana.
Essa situação exige das empresas a responsabilidade com atitudes como a reciclagem de lixo, o reaproveitamento de sobras
de alimentos, reestruturação das cozinhas,
utilização consciente da água, além de um
foco especial obtenção de uma organização
produtiva que seja capaz de levar ao cresci-
96
mento econômico ao mesmo tempo em que
promova a igualdade e o desenvolvimento
humano. O restaurante auto-sustentável
será um objetivo de reflexão para diversas
classes profissionais ligadas à este segmento.
3. Mecanismos de gestão
A gestão ambiental é realizada
através de mecanismos e instrumentos que
estabelecem ações específicas para todas
as etapas que participam dos processos
produtivos. É a permanente busca pela melhoria da qualidade dos serviços, produtos
e ambientes afetados. Este processo de
aprimoramento é constante e deve ser estabelecido através de políticas, diretrizes e
programas específicos que evitem ou minimizem os impactos ambientais e sociais
dos empreendimentos gastronômicos.
3.1. A globalização e a sustentabilidade
Para alguns alcançar o desenvolvimento sustentável é obter o crescimento econômico contínuo através de um uso
mais racional de recursos naturais e de tecnologias mais eficientes e menos poluentes. Para outros, o desenvolvimento sustentável é antes de tudo um projeto social
e político destinado a erradicar a pobreza,
elevar a qualidade de vida e satisfazer às
necessidades básicas da humanidade que
oferece os princípios e orientações para o
desenvolvimento harmônico da sociedade,
considerando a apropriação e a transformação sustentável dos recursos ambientais
(HERCULANO, 1992).
Partindo dessa premissa, trata-se
de compatibilizar o meio ambiente com um
crescimento econômico contínuo, mantendo
as condições que produzem e reproduzem
as relações de exploração, hierarquização
e dominação que permitem a apropriação
da capacidade produtiva social para alguns
homens.
Assim, esse processo implica em
criar novas bases, nas quais se sustenta à
civilização, através da construção de uma
nova racionalidade, uma racionalidade ambiental, dando como sentido e fim da organização produtiva o bem-estar material do
Interciência
& Sociedade
A sustentabilidade e o empreendedorismo no mercado gastronômico
ser humano, seu nível de vida, seu desenvolvimento espiritual e sua qualidade de
vida (BARONI, 1992).
O progresso em direção ao desenvolvimento sustentável é um bom negócio,
onde se observa a criação de vantagens
competitivas bem como o fomento de novas oportunidades de emprego, porém isso
exige mudanças profundas e de amplo alcance da atitude empresarial, incluindo o
surgimento de uma nova ética no sistema
econômico (SCHMIDHEINY, 1992).
Ainda de acordo com o proposto acima, o mundo se move em direção à
desregulação, às iniciativas privadas e aos
mercados globais, onde as empresas são
“obrigadas” a assumir uma maior responsabilidade social, econômica e ambiental ao
definir seus papéis e ações.
3.2. Os aspectos gerais da sustentabilidade
empresarial
Toda e qualquer organização, independentemente do segmento do mercado
que atue, gira em torno do desempenho e
do desenvolvimento e do comprometimento
de seus colaboradores tendo uma estreita
relação com a estratégia gestora da organização (LAGEMANN, 2004).
O princípio da sustentabilidade relaciona-se com a proteção ambiental, com
aspectos sociais e com aspectos econômicos, tendo como escopo principal a proteção da vida da atual e das futuras gerações,
devendo ser considerado um aspecto constitucional estruturante ou fundamental (CANOTILHO, 2003). A partir disso, os conceitos de desenvolvimento sustentável e o uso
racional dos recursos naturais e de energia
assumem um papel importante quando
exercidos na prática diária.
Assim como, deve-se estimular
o relacionamento e as parcerias do setor
privado com o governo e com a sociedade
em geral, bem como na melhoria contínua
dos processos de comunicação. Tais parcerias podem incentivar o desenvolvimento e
o fornecimento de produtos e serviços que
não produzam impactos inadequados ao
meio ambiente e à saúde da comunidade
(CNI, 2002).
O desenvolvimento sustentável
nas organizações apresenta três dimensões: a econômica, a social e a ambiental.
Do ponto de vista econômico, a sustentabilidade prevê que as empresas têm que ser
economicamente viáveis, onde seu papel
na sociedade deve ser cumprido levando
em consideração esse aspecto da rentabilidade, ou seja, dar retorno ao investimento
realizado pelo capital privado.
Considerando o lado social, a empresa deverá proporcionar as melhores
condições de trabalho aos seus empregados, dando ênfase à diversidade cultural no
segmento em que atua e estabelecer uma
promoção de caráter acessível aos deficientes de um modo geral.
E, quanto à questão ambiental, deverá a organização estabelecer um equilíbrio
dinâmico com os dois requisitos anteriores,
adotando uma postura de responsabilidade
ambiental, evitando uma contaminação ambiental diante dos procedimentos que forem
adotados, e, sobretudo procurar participar
de todas as atividades patrocinadas pelas
autoridades governamentais locais e regionais no que diz respeito ao meio ambiente
natural (DIAS, 2010).
Os empresários devem buscar o
lucro aceitável, os sindicatos devem buscar
reinvidicar o possível, objetivando manter
esse equilíbrio, e por último as entidades
ambientalistas devem ceder a fim de evitarem prejuízos quando da adoção das medidas de controle para a obtenção do ambiente natural (DIAS, 2010).
O fato é que nem sempre as medidas de controle da contaminação geram
custos, mas as intervenções do governo
que estimulam investimentos de controle ou
de prevenção da contaminação é que gera
custos iniciais. Todavia contribuem para a
melhoria das condições de competitividade
das cidades em que se situam, gerando benefícios públicos adicionais como o aumento de emprego e o bem-estar social (DIAS,
2010). Em muitos casos, na sua maioria,
a redução da contaminação pode ocorrer
sem necessidade de investimento, apenas
com a melhoria da gestão e das práticas
adotadas ao longo do processo operacional
(KINLAW, 1997).
Assim, tornar-se uma empresa ambientalmente responsável significa engajarInterciência
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WERDINI, M. M.
-se profunda e completamente num modelo globalizado, onde a integração parcial
dentro de uma perspectiva ambiental não
se converterá em vantagem competitiva
nem a médio e longo prazo, quando muito em curto prazo poderá ocorrer melhoria
na convivência social da organização com
outros agentes sociais (ALVES, 1996). De
qualquer modo, assumindo a necessidade de adoção de estratégias de negócios
de médio e longo prazo, deve-se levar em
consideração que em termos de competitividade, torna-se cada vez mais importante
a previsão das tendências da sociedade e,
particularmente, dos mercados de negócios
onde a empresa é atuante (ROOME, 1992).
3.3. Gestão ambiental: um modelo de competitividade?
O nível de competitividade de uma
empresa depende de um conjunto de fatores, variados e complexos, os quais se inter-relacionam e são mutuamente dependentes, como: custos, qualidade dos produtos
e serviços, nível de controle de qualidade,
capital humano, tecnologia e capacidade
de inovação. No entanto, ocorre que nos
últimos anos a gestão ambiental tem assumido uma posição de destaque no cenário
do marketing e meios de comunicação, e
em termos de competitividade empresarial, há duas variáveis ambientais relevantes: a gestão de processos e a de produtos
(VIALLI, 2004).
Na gestão ambiental de processos,
as principais ferramentas com as quais se
obtêm os melhores resultados são as tecnologias ambientais e são verificadas por
meio de certificação de processos. Em relação à gestão de produtos, as principais ferramentas são as análises do ciclo de vida, a
certificação dos produtos (selos ecológicos)
e o ecodesign (EPELBAUM, 2004).
O ecodesign é uma ferramenta que
vem ganhando destaque nos últimos anos
e que pode ser definido como um conjunto
específico de práticas de projeto, orientadas para a criação de produtos e processos
ecoeficientes, respeitando-se os objetivos
ambientais, de saúde e segurança durante
todo o ciclo de vida destes produtos e processos. Essa ferramenta possibilita reduzir
98
a utilização da matéria-prima, de energia e
de água necessárias para a fabricação do
produto (FIKSEL, 1996). Assim, um aspecto importante é que o Sistema de Gestão
Ambiental incorpora de forma sistemática a
inovação como componente fundamental e
permanente da estrutura organizacional.
E, uma estrutura organizacional
visa além da competitividade outros aspectos como a redução de custos através de
cortes nos desperdícios observados, com
isso pensa-se em melhorar a qualidade dos
produtos e serviços, a qual está relacionada
à funcionalidade dos operadores, confiabilidade na equipe de produção, durabilidade e
maior facilidade para a sua manutenção. Ao
mesmo tempo a imagem do produto deve
ser levada em consideração, pois um selo
ecológico eleva consideravelmente o nível
dessa ação.
A partir desses pressupostos, a
inovação por meio do uso dos recursos
tecnológicos busca uma diferenciação em
relação aos seus concorrentes, garantindo
uma posição de competitividade vantajosa
frente ao mercado gastronômico. Senso
assim, com o aumento da responsabilidade social devido à conscientização ambiental na sociedade, o nível de preocupação
empresarial aumentou no sentido de como
conservar o meio ambiente, considerando
as necessidades das gerações futuras e os
efeitos do processo produtivo na comunidade local.
Essa sensibilização certamente
deverá impulsionar o fomento de iniciativas
voltadas para os processos de implantação
de um Sistema de Gestão Ambiental Sustentável dentro do mercado gastronômico
(CNI, 2004).
Há um crescente aumento das exigências ambientais por parte de clientes e
consumidores finais, obrigando as empresas a melhorar sua forma de atuar, modificando seus processos e produtos. A partir
daí, muitas empresas de pequeno e médio
porte passam a disputar com seus concorrentes contratos das grandes empresas,
quando possuem, por exemplo, o certificado ISO 14.000, servindo como parâmetro
de controle de qualidade, onde o resultado
é a formação de uma cadeia de fornecedores com orientação ambiental, construindo
Interciência
& Sociedade
A sustentabilidade e o empreendedorismo no mercado gastronômico
uma cadeia produtiva ambientalmente correta (DIAS, 2010).
A Política Nacional do Meio Ambiente institui a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) interdisciplinar para projetos,
planos e programas de intervenção no meio
ambiente e que foi introduzido no país por
meio da Lei n.º 6.938, de 31 de agosto de
1981 (CONAMA, 1986).
É importante ressaltarmos, que
dentre os objetivos da Política Nacional podemos destacar no seu artigo 4º a compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do
meio ambiente e do equilíbrio ecológico,
que constituem as bases da dinâmica da
sustentabilidade empresarial e industrial.
A Confederação Nacional da Indústria considera que para o desenvolvimento sustentável e a responsabilidade
social, a indústria deve ter como princípios
básicos: a educação, a erradicação da pobreza, a promoção da saúde e a eliminação da exclusão social, os quais constituem
os paradigmas fundamentais das bases da
sustentabilidade frente ao mercado de trabalho (CNI, 2002).
Com isso, uma gestão empreendedora não pode ser considerada de forma
fragmentada, sendo imprescindível às tomadas de decisões que estão inter-relacionadas com o crescimento sócio-econômico,
com a gestão ambiental e com a infra-estrutura organizacional, as quais são fundamentais para a expansão de um mercado
de restauração no segmento gastronômico.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados econômicos e a sustentabilidade de uma empresa estão interligados e dependem direta e primordialmente
do desempenho humano, da sua satisfação, da sua motivação, da sua fidelidade
e do seu incentivo em amplos aspectos. O
sucesso está atrelado à estabilidade e as
negociações obtidas com parceiros que tenham o mesmo foco.
Com isso, as empresas conseguem seu “sucesso” por meio do alcance
das suas ações estratégicas, as quais estão
inseridas num contexto globalizado voltado
cada vez mais para uma qualidade de vida,
e para uma valorização de uma conscientização da sua responsabilidade social e ambiental.
A inovação por meio do uso dos
recursos tecnológicos busca uma diferenciação em relação aos seus concorrentes,
garantindo uma posição de competitividade
vantajosa frente ao mercado gastronômico.
Desse modo, com o aumento da
responsabilidade social devido à conscientização ambiental na sociedade, o nível
de preocupação empresarial aumentou no
sentido de como conservar o meio ambiente, considerando as necessidades das gerações futuras e os efeitos do processo produtivo na comunidade local.
Essa sensibilização certamente
deverá impulsionar o fomento das iniciativas
voltadas para os processos de implantação
de um Sistema de Gestão Ambiental Sustentável dentro do mercado gastronômico.
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Marcelo Malta Werdini possui graduação em Curso Tecnológico em Gastronomia, Graduação em Curso Superior
de Gestão em Gastronomia e Especialização em Gastronomia pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas. Atualmente é Coordenador e docente do Curso de Gastronomia do Centro Universitário das
Faculdades Metropolitanas Unidas. Mestrando em Hospitalidade pela Universidade Anhembi Morumbi (término em
2012). É Chef de cozinha desde 1991.
100
Interciência
& Sociedade
INTERFACEAMENTO DE MODELOS PARA OTIMIZAÇÃO DE SISTEMAS ANALÍTICOS
BORTOLOTI, João Alexandre
Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM)
Escola Superior de Administração e Marketing e Comunicação (ESAMC)
Universidade Paulista (UNIP)
[email protected]
OCCHIUCCI, Fernando
Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro”
[email protected]
RESUMO: Cromatografia e Eletroforese são métodos de separação amplamente utilizados em laboratórios de pesquisa e na indústria. Contudo a determinação de condições otimizadas para a realização
das análises muitas vezes representa uma dificuldade importante. Para auxiliar na determinação das
melhores condições analíticas desenvolveu-se um software com uma interface gráfica que permite a
visualização dos valores das variáveis envolvidas no processo e a previsão das posições dos picos
referentes às substâncias separadas pelos métodos citados.
PALAVRAS-CHAVE: Cromatografia, eletroforese, otimização multivariada, interface gráfica.
ABSTRACT: Chromatography and Electrophoresis separation methods are widely used in research
laboratories and industry. However the determination of optimum conditions for carrying out the analysis
often represents a challenge. To assist in determining the best analytical conditions developed software
with a graphical interface that allows viewing of the variables involved in the process and the prediction
of the positions of the peaks relating to the substances separated by the methods cited.
KEYWORDS: Cromatography, eletrophoresis, multivariate optimization, graphic interface.
1. INTRODUÇÃO
Na natureza as substâncias normalmente não se encontram isoladas, mas
sim formando misturas. As misturas podem
ser formadas por apenas alguns componentes ou até por centenas ou milhares
destes. De acordo com a complexidade das
misturas a separação de seus componentes pode se torna um desafio nos laboratórios da indústria e dos centros de pesquisa.
Ao longo dos anos com o desenvolvimento científico vários métodos foram
concebidos para se a realizar a separação
e identificação dos componentes das misturas. Alguns métodos são extremamente
simples e se baseiam nas diferentes propriedades físicas dos componentes da mistura como solubilidade ou ponto de ebulição.
Outros métodos empregam equipamentos
sofisticados e permitem não só a separação
dos componentes da mistura como também
a identificação mesmo em quantidades inferiores a 0,000.000.001g! Dentre os métodos
que apresentam grande precisão em seus
resultados analíticos destacam-se a cromatografia e a eletroforese.
A cromatografia é baseada na migração diferencial dos componentes de
uma mistura, que ocorre devido a diferentes
interações, entre duas fases: estacionária
e móvel. O termo foi primeiramente empregado em 1906 e sua utilização é atribuída
ao botânico russo Michael S. Tswett ao descrever suas experiências na separação dos
componentes de extratos de folhas. Como
os componentes apresentavam cores que
permitiam que fossem distinguidos isto levou a criação do termo cromatografia (chroma = cor e graphie = escrita) (Degani, Cass,
Vieira, 1998).
Em 1906 Tswett publicou dois traInterciência
& Sociedade
101
BORTOLOTI, J. A.; OCCHIUCCI, F.
balhos onde descreveu minuciosamente
suas pesquisas, nas quais usou um tubo de
vidro contendo um sólido para a separação
de pigmentos pela passagem descendente
de um líquido apolar. Os melhores resultados empregaram como fase estacionária
carbonato de cálcio e fase móvel éter dietílico. Tswett descreveu todo o processo que
é chamado hoje de cromatografia líquido-sólido em coluna seca. Segundo ele com a
realização da cromatografia os componentes coloridos que formavam a mistura foram
separados. A explicação para o processo de
separação foi baseada no fato de que cada
componente deveria interagir com a fase
estacionária e móvel de maneira diferente.
A adsorção diferencial de cada componente
da mistura com os componentes no material contido na coluna implicaria em diferentes tempos de eluição.
Com o desenvolvimento tecnológico e elevado grau de sofisticação a técnica
ganhou grande potencial de aplicação em
muitas áreas. A cromatografia pode ser utilizada para a identificação de substâncias,
por comparação com padrões, para a purificação de compostos, e para a separação dos componentes de misturas com alta
complexidade (Degani, Cass, Vieira, 1998).
A eletroforese é uma técnica de separação molecular comum em laboratórios,
por ser uma técnica poderosa, além de fácil
execução e de baixo custo. Pode ser definida como “o transporte, em solução eletrolítica, de compostos carregados eletricamente
sob a influência de um campo elétrico, no
qual a separação entre dois solutos ocorre
de acordo com diferenças entre suas mobilidades eletroforéticas” (Kuhn & Hoffstetter-Kuhn APUD Assis, 2006).
Apesar dos arranjos físicos e do
meio por onde as moléculas migrarão, todas as separações eletroforéticas dependem da distribuição de carga das moléculas
a serem separadas. As separações podem
ser em uma ou duas dimensões, feitas em
tubos ou lâminas, respectivamente (Heidcamp, 1995).
Na eletroforese a acidez do meio é
um fator muito importante. Mesmo pequenas variações no valor do pH podem melhorar a resolução, ou até inverter a ordem
da evolução dos picos correspondentes a
102
cada substância que passa pelo detector.
Adicionalmente, a interação do pH com outros fatores pode ser otimizada, tornando-o
especialmente adequado para otimização
multivariada. (Ballus, et al, 2011).
Métodos de eletroforese capilar,
particularmente, utilizam várias aplicações
de modelagem estatística multivariada,
uma vez que vários fatores influenciam o
resultado do processo de separação, como
concentração do eletrólito, voltagem e pH
médio.
Uma das dificuldades da técnica
de cromatografia e eletroforese está na
determinação das condições que permitam separações eficientes de componentes
das amostras. A otimização dessas condições de maneira confiável segundo critérios estatísticos envolve a realização de
experimentos com planejamento adequado
e tratamento dos dados. A geração e validação dos modelos permite a previsão de
condições adequadas para a realização
das análises. Em muitos casos apesar da
amostra apresentar uma grande quantidade de componentes apenas alguns são de
interesse naquele momento. Assim é muito
interessante que o analista possa adequar
as condições experimentais para otimizar
seu trabalho (Bortoloti, Bruns, 2007).
2. O Processo de otimização
Uma abordagem empregada na
formulação e resolução de problemas consiste no emprego de modelos de otimização,
os quais visam maximizar ou minimizar um
critério de desempenho, sujeito a restrições
que descrevem as condições operacionais.
A linguagem utilizada pela otimização para
expressar os problemas de uma forma declarativa é conhecida universalmente por
programação matemática.
Elementos típicos de um problema
de otimização consistem em variáveis de
decisão (parâmetros cujos valores definem
uma solução para o problema); função objetivo (função das variáveis de decisão a ser
minimizada/maximizada) e restrições (conjunto de funções que define o espaço de
soluções) (Camponogara, 2006).
Qualquer estratégia de otimização
envolve conjuntos de:
Interciência
& Sociedade
Interfaceamento de modelos para otimização de sistemas analíticos
a)
Variáveis independentes que
o experimento controla e
b)
Variáveis dependentes medidas em resposta.
Uma metáfora comum envolve visualizar as possíveis combinações de variáveis independentes (parâmetros) como
pares ordenados em um plano (geralmente
um plano cartesiano, com dimensões x e y),
onde a variável de resposta é representada
por uma de suas dimensões (normalmente
y).
A procura da combinação ótima
dos parâmetros é, portanto, um problema
de otimização combinatória, cuja dificuldade cresce exponencialmente com o número
de parâmetros a serem verificados. A partir
de certo ponto, o tempo gasto para a descoberta de uma solução ótima pode acabar se
tornando uma barreira e uma solução seria
recorrer aos assim chamados métodos heurísticos para obter um resultado aproximado
ou ótimo local (que nem sempre uma solução ótima global) (O’Hagan, et al. 2005).
O problema abordado neste trabalho pôde ser resolvido com a otimização por
enumeração, devido ao reduzido número
de variáveis (três), apesar de o número de
valores que cada variável pode assumir ser
um fator debilitante.
Problema inicial transcrito em programação matemática:
Maximize
Minimize
dm ≤ d1 – d2
dmo = ∑ (f(x)/n)
Sujeito a:
n> 0
-2 ≤ x ≤ 2
-2 ≤ y ≤ 2
-2 ≤ z ≤ 2
d1, d2 = f(x)
f(x) = ct + ax + by + cz + dx2 + ey2 + fz2 +
gxy + hxz+ iyz
Onde:
dmo = distância média entre os picos obtidos na separação;
dm = distância mínima entre dois
picos quaisquer obtidos na separação;
d1, d2 = tempos de retenção de
dois picos quaisquer;
n = número de reagentes utilizados
no processo de separação;
x, y, z = coordenadas inseridas na
interface gráfica representando o nível da
variáveis no processo;
ct, a, b, c, d, e, f, g, h, i = coeficientes inerentes aos parâmetros da f(x).
Figura 1: Diagrama de Fluxo de Dados (DFD)
Fonte: Autores.
Interciência
& Sociedade
103
BORTOLOTI, J. A.; OCCHIUCCI, F.
Isso quer dizer que a menor distância observada entre duas curvas quaisquer
em um determinado ponto deve ser a maior
possível, ao mesmo tempo em que a distância média entre as curvas também tenha
um valor mínimo. Com isso busca-se uma
solução com a melhor distribuição possível
dos resultados, e que leve o menor tempo
possível para ser verificada. A Figura1 indica o diagrama de fluxo de dados (DFD).
Para a resolução do problema inicial, foi desenvolvido um software para a
plataforma Windows utilizando o ambiente
Delphi 7 com o componente auxiliar Absolute Database.
A interface gráfica consiste de um
quadro representando as coordenadas que
indicam o nível das variáveis a serem uti-
lizados para promover a separação, com
uma barra de rolagem usada como uma terceira variável na definição do ponto inicial.
Esses valores serão registrados como um
ponto em
{x,y,z R3 || -2 ≤ x ≤ 2, -2 ≤ y ≤ 2, -2 ≤ z ≤ 2}.
As configurações dos reagentes
a serem utilizados no processo de separação têm seus valores calculados por fontes
externas, e são inseridas manualmente, ou
extraídas de arquivos com a extensão csv
(comma separated value). É oferecida a
opção de salvar a configuração atualmente
em uso, também em formato csv, através da
interface indicada na Figura 2.
Figura 2: Visualização da interface gráfica
Fonte: Autores.
104
Interciência
& Sociedade
Interfaceamento de modelos para otimização de sistemas analíticos
Figura 3: Configuração dos coeficientes para os modelos.
Fonte: Autores.
Figura 4: Visualização dos tempos de retenção.
Fonte: Autores.
Figura 5: Visualização de tempo de retenção com o nível das variáveis otimizados.
Fonte: Autores.
Interciência
& Sociedade
105
BORTOLOTI, J. A.; OCCHIUCCI, F.
A rotina de otimização apenas aplica a segunda regra se duas possíveis soluções apresentarem um mesmo valor para
a primeira. A Figura 4 indica os tempos de
retenção esperados para cada substância
segundo os níveis das variáveis escolhidos
pelo usuário. A Figura 5 representa os tempos de retenção após o processo de otimização pelo algoritmo.
Os processos de Cromatografia e
Eletroforese são exemplos de processos
que podem ser beneficiados pela aplicação
de métodos de otimização e o desenvolvimento de softwares de interface gráfica.
Áreas de pesquisa similares podem
também ser auxiliadas pelo desenvolvimento de simples softwares de interface gráfica
que auxiliem na otimização de processos.
Por isso esta é uma área propícia a melhorias com o advento de novas tecnologias e
novas áreas de pesquisa, bem como a descoberta de métodos de otimização mais eficientes. Vale lembrar que muitos problemas
de otimização requerem o uso de métodos
mais específicos para sua resolução, e com
isso um método pode não ter aplicação em
outro problema.
Sendo assim, uma área onde diversas pequenas soluções são possíveis constitui um nicho ideal para ser explorado por
programadores recém-introduzidos na comunidade acadêmica, permitindo resolver
problemas presentes em outras áreas. Vale
ressaltar que muitos pesquisadores na área
de engenharia necessitam de softwares específicos, mas por não possuírem tempo ou
conhecimento de linguagens de programação acabam não usufruindo das facilidades
das ferramentas computacionais.
Com o desenvolvimento deste
trabalho estabeleceu-se um elo para o desenvolvimento de pesquisas científicas entre pesquisadores da Faculdade Municipal
“Professor Franco Montoro” e do Instituto
de Química da Universidade Estadual de
Campinas que sem dúvida é um dos principais centros de excelência do Brasil. Assim,
projetos como este reforçam o desenvolvimento tecnológico e científico da FMPFM
em parcerias com grandes centros já reconhecidos internacionalmente.
106
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSIS, R. A. Aperfeiçoamento e aplicações de uma
metodologia para análise de especiação de arsênio por eletroforese capilar com detector de ICPMS.
2006. 159 f. Tese (Doutorado em Química). Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: <http://www2.dbd.puc-rio.
br/pergamum/tesesabertas/0212144_06_cap_02.
pdf> Acesso em 11 nov. 2011.
BALLUS, C. A., MEINHART, A. D., BRUNS, R. E., GODOY, H. T. Use of multivariate statistical techniques
to optimize the simultaneous separation of 13 phenolic compounds from extra-virgin olive oil by capillary
electrophoresis. Talanta. v.83, n.4, p.1181-1187, jul.
2011. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1016/j.talanta.2010.07.013> acesso em 11 out. 2011.
BORTOLOTI, J. A., BRUNS, R. E. Conseqüências da
análise incorreta de experimentos blocados. Química
Nova, v.30, 2007.
CAMPONOGARA, E. Métodos de Otimização: Teoria
e Prática, versão preliminar. 2006, 350 f. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.
Disponível em: <http://www.das.ufsc.br/~camponog/
Disciplinas/DAS-9011/LN.pdf> acesso em 09 jun.
2011.
DEGANI, A. L. G., CASS, Q. B., VIEIRA, P.C., Cromatografia: um breve ensaio, Química Nova na Escola,
7, 1998.
HEIDCAMP, W. H. Chapter 4: Electrophoresis – Introduction. Gustavus Adolphus College, Saint Peter,
Minnesota, USA, 1995. Disponível em: <http://homepages.gac.edu/~cellab/chpts/chpt4/intro4.html>
acesso em: 09 out. 2011.
S. O’Hagan, W. B. Dunn, M. Brown, J. D. Knowles,
and D. B. Kell. Closed-loop, multiobjective optimization of analytical instrumentation: Gas chromatography/time-of-flight mass spectrometry of the metabolomes of human serum and of yeast fermentations.
Analytical Chemistry, vol. 77, no. 1. 2004. Disponível
em <http://www.bnpands.com/media/ohagan_closedloopGCMS05_publishedgmax.pdf> acesso em 19
jun. 2011.
QUÍMICA NOVA. 2006 – Cem anos das palavras cromatografia e cromatograma. 2006. Química Nova,
vol.29, no.4. São Paulo. Jul/Ago. 2006. Disponível
em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-40422006000400045&script=sci_arttext> acesso em
08 ago. 2011.
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Interfaceamento de modelos para otimização de sistemas analíticos
Fernando Occhiucci é Técnico em Informática e graduado em Ciência da Computação pela Faculdade Municipal
“Professor Franco Montoro”. Atua como Monitor de Informática na EMEF Alice de Campos Silva em Mogi Guaçu
desde 2009.
João Alexandre Bortoloti é graduado em Química (Unicamp – 1998), Mestre em Físico-Química (Unicamp –
2001) e Doutorado em Ciências (Unicamp – 2006). Atua como professor universitário desde 2002 em disciplinas
da área de Química, Estatística e Matemática em cursos de engenharia. Como pesquisador publica nas áreas de
Química Analítica, Quimiometria, ensino de Engenharia e Tecnologia.
Interciência
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107
108
Interciência
& Sociedade
DESENVOLVIMENTO DE METODOLOGIA PARA DETERMINAÇÃO DE
COT POR ESPECTROFOTOMETRIA
LEME, Bruno de Campos
Technes Agrícola Ltda.
[email protected]
SAITO, Bruno Orui
Technes Agrícola Ltda.
[email protected]
RESUMO: O método oficial para determinação do COT se baseia na oxidação de toda a matéria orgânica presente na amostra em presença de um meio fortemente ácido utilizando dicromato de potássio
ou sódio, seguida de titulação dos íons dicromato remanescentes com sulfato de ferro. No trabalho presente, a quantificação passa a ser feita utilizando a espectrofotometria no visível. Através de diversas
análises, tanto espectrofotometricamente e titulometricamente, das mesmas amostras, verificou-se a
correlação entre os resultados obtidos em cada método. Os resultados obtidos através da espectrofotometria e volumetria se apresentaram sempre muito próximos. A partir dos resultados nota-se a alta
precisão do método de determinação proposto. As grandes vantagens do método espectrofotométrico
em relação ao titulométrico estão no menor tempo requerido por análise, menor gasto de reagentes e
diminuição de erros aleatórios.
PALAVRAS-CHAVE: carbono orgânico total, COT, espectrofotometria, dicromato.
ABSTRACT: The official method to determination of TOC is based on the oxidation of all organic matter
present in the sample in the presence of a strongly acidic medium using potassium or sodium dichromate, followed by titration of the remaining dichromate ions with iron (II) sulfate. In this work, the measurement becomes be carried out using the visible light spectrophotometry. Over multiple analysis of the
same samples (both spectrophotometrically and titulometricamente), there was a correlation between
the results obtained with each method. The results obtained by spectrophotometry and volumetric are
always presented very close. Based on the results it is noticed a very high precision of determination
proposed. The main advantages of the spectrophotometric determination against the titrimetric one is
the time required for analysis, a lower cost of reagents and reduction of random errors.
KEYWORDS: total organic carbon, TOC, spectrophotometry, dichromate.
1. INTRODUÇÃO
O elemento carbono (C) é o principal constituinte da matéria orgânica (MO),
a MO exerce importantes efeitos que beneficiam as propriedades químicas, físicas,
físico-químicos e biológicos do solo, favorecendo o crescimento e desenvolvimento
das plantas. A matéria orgânica é uma importante fonte de nutrientes para plantas,
microflora e fauna terrestre. Apesar da MO
não ser necessária diretamente na nutrição
vegetal, sua presença no solo tem como
funções: disponibilizar macro e micro nutrientes presentes, corretivo de toxidez e
condicionador de solo.
Atualmente existem inúmeros
produtos como fertilizantes organominerias fluidos e condicionadores de solo que
apresentam o C da MO como um de seus
“princípios ativos”, sendo então necessária
a quantificação do mesmo.
O método oficial descrito na Instrução Normativa (IN Nº 28) de 27 de Julho
2007 pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) para determinação do Carbono Orgânico Total (COT),
desenvolvido por Ciavatta et al. (1989), se
baseia na oxidação de toda a matéria orgânica presente na amostra em presença de
Interciência
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109
LEME, B. C., SAITO, B. O.
um meio fortemente ácido utilizando dicromato de potássio ou sódio, seguida de titulação dos íons dicromato remanescentes
com sulfato de ferro, originalmente proposto
pelo método de Walkley-Black em 1934.
No trabalho presente, propõe-se
uma metodologia diferente do ponto de
vista da quantificação dos íons dicromato,
mantendo a mesma forma de extração da
amostra. A quantificação passa a ser feita
utilizando a espectrofotometria em comprimento de onda adequado e com curva de
calibração apropriada ao problema.
1.1 Metodologia de determinação de COT
por oxidação com íons dicromato (Oficial)
O método empregado nessa determinação é baseado na oxidação por via
úmida do carbono orgânico presente na
amostra com dicromato de potássio em excesso e ácido sulfúrico concentrado seguido de aquecimento sob refluxo. A determinação do carbono é realizada indiretamente
através da titulação do dicromato não reagido com sulfato ferroso amoniacal. O
aquecimento sob refluxo é uma adaptação
à metodologia oficial sugerida pelo Prof. Dr.
Arnaldo Antônio Rodella (ESALQ/USP).
1.1.1 Procedimento
Pesa-se uma amostra cuja quantidade de carbono (COT) não exceda 0,1
gramas em erlenmeyer de 250 mL de boca
esmerilhada, posteriormente são adicionados 20 mL de solução dicromato de potássio a 2N e 26 mL de ácido sulfúrico concentrado P.A., o mesmo é realizado com uma
prova em branco sem a adição de amostra.
Logo após são colocados os erlenmeyers
em aquecimento sob refluxo, acoplando-os
em condensadores. Ao iniciar ebulição, diminui-se o aquecimento e deixa-se por mais
10 minutos. Após este período desliga-se
o aquecimento e retira-se os erlenmeyers
para resfriar.Transfere-se a solução obtida
da oxidação (solução extratora) para um
balão volumétrico de 200 mL e completa-se
com água deionizada.
Usando pipeta volumétrica transferir 10 mL da solução padrão 0,1N de dicromato de potássio para erlenmeyer de
110
250 mL. Adiciona-se 4 mL de ácido sulfúrico
(1+1), 5mL de ácido fosfórico (1+3), 4 gotas
de indicador e água deionizada para que o
volume total atinja cerca de 50 mL. Essa solução tem a cor castanha. Preenche a bureta com solução de sulfato ferroso amoniacal
0,1M a ser padronizada. Titular a solução
ao erlenmeyer. A padronização da solução
titulante deve ser repetida a cada dia de trabalho, isso porque o sulfato ferroso pode se
oxidar com o passar do tempo.
Para titulação da prova em branco
e das amostras, o procedimento segue da
seguinte forma: preenche-se uma bureta
com 50 mL de solução de sulfato ferroso
amoniacal padronizada. Transfere-se 10
mL da solução extratora para erlenmeyer
de 250 mL. Se junta 5 mL de ácido fosfórico
(1+3), 4 gotas de indicador e água para que
o volume total atinja 50 mL. Titular com a solução de sulfato amoniacal. Proceder igualmente a titulação com a prova em branco
utilizando o mesmo procedimento efetuado
para solução extratora.
1.2 Dificuldades da Metodologia Oficial
A metodologia oficial demanda
muito tempo de um analista, já que no procedimento de aquecimento deve-se ter muito controle, pois sob alta temperatura e tempo prolongado de aquecimento irá ocorrer
à degradação do dicromato resultando em
valores acima do real, sendo assim, é estritamente necessário que o analista esteja
cuidando da digestão. Outro fator crucial do
método é a padronização da solução de sulfato ferroso amoniacal, que deve ser feita
sempre no dia que a metodologia será realizada, já que há uma perda de concentração
em função do tempo devido à oxidação do
ferro e dependendo da forma como é estocada a solução, a concentração diminui
rapidamente. Há também a dificuldade de
observar o ponto de viragem na titulação,
que, dependendo da natureza da amostra,
não se torna evidente a mudança de cor.
2 Materiais e métodos
Materiais utilizados:
•
Interciência
& Sociedade
Balões volumétricos de 100 e
Desenvolvimento de metodologia para determinação de COT por espectrofotometria
•
•
•
•
•
•
•
200 mL
Pipetas volumétricas de 10, 5 e
4 mL
Bureta de 50 mL
Erlenmeyers, béqueres, povetas,
condensadores e chapas aquecedoras
Balança semi-analítica (3 casas
decimais)
Pipetador automático (1 mL - Digipet)
Reagente: K2Cr2O7, grau analítico (Merck); H2SO4 P.A.; H3PO4
P.A.; Difenilaminasulfonato de
Bário (indicador); Sulfato de Ferro (II) Amoniacal hepta-hidratado.
Espectrofotômetro UV-Vis NOVA
1600UV
Primeiramente foram realizadas
varreduras de λ com o intuito de analisar o
perfil de absorbância das amostras, extratos
e padrões de K2Cr2O7, comparando-os, e
também determinar o máximo de absorção,
o λmáx.
Realizaram-se estudos a respeito
da melhor faixa de concentrações de pa-
drões para confecção da curva de calibração.
Através de diversas análises tanto
espectrofotometricamente e titulometricamente das mesmas amostras, verificou-se
se há convergência entre os resultados
obtidos em cada método de determinação,
correlacionando-os.
Também foram feitos estudos sobre a precisão da leitura espectrofotométrica em diversas amostras.
3 Resultados e discussão
Abaixo estão os espectros de absorção de UV-Vis, das diferentes soluções
que foram usadas em laboratório.
As soluções utilizadas para obtenção dos espectros de varredura, foram
escolhidas em função de questionamentos
sobre a influência da matriz no perfil espectral, e do ácido sulfúrico, visto que quando
o mesmo é adicionado à solução de dicromato ocorre aumento na intensidade da cor.
Foi observado, no entanto, que a intensificação da coloração está relacionada com o
forte aumento da temperatura do meio.
Figura 1: Espectros de absorção UV-Vis de diferentes amostras.
Fonte: ????
Interciência
& Sociedade
111
LEME, B. C., SAITO, B. O.
112
Observa-se na Fig. 1 que a presença da matriz amostral não interfere no perfil
de absorbância das soluções de K2Cr2O7,
ou seja, tanto ensaios em branco (solução
de K2Cr2O7) como as soluções preparadas
segundo a metodologia oficial apresentam
pico de absorção quantitativo mais definido
em λ=350 nm. Outra observação refere-se
a presença de ácido sulfúrico concentrado
e aquecimento na extração da amostra, e
observa-se também que estes fatores não
interferem no perfil espectral.
Assim sendo a determinação da
concentração de K2Cr2O7 nas diferentes
soluções (branco e amostra) pode ser feita através da espectrofotometria no visível,
em λ=350 nm. Também foi observado um
pico na região do Ultravioleta, porém este
não foi usado, pois apresenta menor definição e por questões de custos, visto que um
colorímetro é mais barato do que um espectrofotômetro de UV.
Foram realizados também varreduras de comprimento de onda nos padrões
de dicromato de potássio.
Nota-se na Fig. 2 que a absorbância dos padrões é quantitativa, ou seja, a
relação entre a Abs e a concentração em λ=
350 nm, é diretamente proporcional, o que
também foi comprovado quando se fez a
curva de calibração (Fig. 3).
Figura 2: Espectros de absorbância no Vis dos
padrões utilizados para curva de calibração.
Figura 3: Curva de calibração para os padrões
de 20, 60, 80, 100 e 120 ppm de K2Cr2O7.
Fonte: ????
Fonte: ????
Nota-se o alto grau de linearidade na curva de calibração, R = 0,999671,
permitindo a quantificação de analitos desconhecidos através de comparação com
os padrões, ou seja, através da Abs obtida
pode-se determinar a concentração dessas
amostras fazendo-se uso da curva de calibração.
Finalmente, foram realizadas as
análises de COT em diversas matrizes,
comparando os resultados obtidos com a
determinação convencional (por titulação
redox). Os resultados obtidos são mostrados na Tabela 1.
Interciência
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Desenvolvimento de metodologia para determinação de COT por espectrofotometria
Tabela 1. Resultados de determinação de % COT por espectrofotometria e titulometria.
Amostra
Titulação
Espectrofotometria
% Esp/Tit
1
15,86
15,27
96,30
2
15,15
14,49
95,66
3
15,14
14,76
97,51
4
16,35
16,21
99,19
5
3,91
3,37
86,17
6
3,18
2,78
87,53
7
15,60
14,91
95,58
8
3,73
3,50
93,83
9
15,30
14,63
95,62
10
15,01
14,85
98,93
11
28,04
26,87
95,83
12
4,41
4,13
93,65
14
3,12
3,10
99,36
15
3,82
3,73
97,64
16
4,17
4,14
99,28
17
1,85
1,81
97,84
18
13,65
13,82
101,26
19
12,01
12,16
101,27
20
10,84
10,86
100,18
21
9,91
9,76
98,48
22
11,69
11,77
100,67
23
11,29
11,40
100,98
24
3,32
3,35
100,91
Fonte: ????
Figura 4: Valores obtidos de COT por titulometria versus espectrofotômetria.
Fonte: ????
Interciência
& Sociedade
113
LEME, B. C., SAITO, B. O.
Os resultados obtidos através da
espectrofotometria e volumetria se apresentaram sempre muito próximos, sendo
que existe um pequeno decréscimo no valor
de % COT, na maioria dos casos, quando
se realiza por espectrofotometria.
Provavelmente por dois motivos:
a presença de imprecisão na detecção
do ponto final da titulação redox dos íons
Cr2O72- com Fe2+, além de desvios no valor de concentração desta solução titulante
de Fe (II) e também desvios acumulados
na confecção dos padrões analíticos para a
curva de calibração.
Os estudos de precisão da determinação de COT por espectrofotometria
são apresentados nas Tabelas 2 a 5.
Tabela 2. Valores de % COT obtidos com leitura espectrofotométrica e valores de desvio padrão, média
e coeficiente de variação.
Amostra 1
C (ppm)
%COT
1
47,569
4,616681
2
48,065
4,664819
3
47,596
4,619301
4
47,506
4,610566
5
47,37
4,597367
6
47,163
4,577278
7
47,497
4,609693
8
47,172
4,578151
9
47,118
4,57291
10
47,118
4,57291
Desvio padrão
Média
% Coef. Var
0,028843
4,601968
0,626762
Fonte: ????
Tabela 2. Valores de % COT obtidos com leitura espectrofotométrica e valores de desvio padrão, média
e coeficiente de variação.
Amostra 2
C (ppm)
%COT
1
44,25
4,291164
2
44,404
4,306098
3
44,503
4,315699
4
44,395
4,305225
5
44,214
4,287673
6
44,539
4,31919
7
44,728
4,337518
8
44,837
4,348088
9
44,755
4,340137
10
44,566
4,321808
Desvio padrão
Média
% Coef. Var
0,020376
4,31726
0,471977
Fonte: ????
114
Interciência
& Sociedade
Desenvolvimento de metodologia para determinação de COT por espectrofotometria
Tabela 4. Valores de % COT obtidos com leitura espectrofotométrica e valores de desvio padrão, média
e coeficiente de variação.
Amostra 3
C (ppm)
%COT
1
53,034
5,142996
2
53,349
5,173544
3
53,196
5,158706
4
53,025
5,142124
5
53,187
5,157834
6
53,349
5,173544
7
53,349
5,173544
8
53,178
5,156961
9
52,989
5,138632
10
53,304
5,16918
Desvio padrão
Média
% Coef. Var
0,013738
5,158706
0,266314
Fonte: ????
A partir dos resultados presentes
nas Tabs. 2 – 4 nota-se a alta precisão do
método de determinação, o que também é
confirmado através dos resultados obtidos
de % Coeficiente de Variação que mostram-se aceitáveis, pois segundo WOOD: o coeficiente de variação (ou desvio-padrão relativo) máximo aceitável está relacionado
com o nível de concentração do analito na
amostra, definido pela equação: CV(%) =2(10,5logC)
, na qual C é a concentração do analito
(p/p).
4 Metodologia proposta – espectrofotometria
Através dos resultados obtidos, pode-se então sugerir um método para determinação da % de COT por espectrofotometria, realizando a extração da amostra pelo
método oficial.
A curva de calibração foi feita com
padrões de K2Cr2O7 de 20, 60, 80, 100 e
120 ppm, usando como zero de absorbância o padrão de 20 ppm. O aparelho utilizado foi um espectrofotômetro NOVA 1600UV
ajustado em comprimento de onda (λ) de
350 nm.
A extração das amostras foi realizada de forma convencional, como descrito
na metodologia oficial. A partir da solução
extratora diluída em balão de 200 mL, retira-se 1 mL e transfere-se para balão volumétrico de 100 mL completando o volume
com água destilada.
Finalmente são realizadas as leituras de absorbância das amostras dos balões de 100 mL em comprimento de onda
de 350 nm utilizando a solução-padrão de
20 ppm para zerar o aparelho.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O alto grau de correlação entre os
resultados leva a inferir que o método é válido para a detecção da % COT nas amostras
utilizadas, que representam as amostras de
rotina do centro de qualidade de uma empresa que fabrica fertilizantes organo-minerais fluidos.
A presença de pequenos desvios
quando são comparados os métodos de espectrofotometria e titulação é natural, visto
o grande número de erros sistemáticos e
aleatórios que estão presentes na realização de uma análise, principalmente nas que
demandam um grande número de etapas.
Assim sendo, o uso de uma aparelhagem
simples em substituição à “mão humana” é
um ganho, pois minimiza os erros aleatórios
que podem ocorrer, sem tornar a análise
cara.
Interciência
& Sociedade
115
LEME, B. C., SAITO, B. O.
As grandes vantagens do método
espectrofotométrico em relação ao titulométrico estão no menor tempo requerido por
análise, menor gasto de reagentes, diminuição de erros aleatórios como detecção
de ponto de viragem por exemplo, e possivelmente em maior exatidão nos resultados, sendo que estudos futuros na parte de
extração de amostra podem fornecer mais
embasamento sobre as variáveis envolvidas no método, e consequentemente um
maior controle das mesmas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CIAVATTA, C.; VITTORI ANTISARI, L.; SEQUI, P.
Communication in soil and plant analysis. V 20, n
7-8, p 759-773, 1989.
KIEHL, E.J. Fertilizantes Orgânicos. São Paulo: Ed.
Agronômica Ceres, 1985.
MAPA, Instrução Normativa, Nº 28. 2007.
WALKLEY, A.; BLACK, I. A. Soil Science. 37: 29-38,
1934.
WOOD, R. Trends Anal. Chem., v. 18, p. 624-632,
1999.
Bruno de Campos Leme é bacharel em Química pela Universidade Federal de São Carlos (2011), Campus de
São Carlos / SP. Atualmente é profissional contratado pela Technes Agrícola.
Bruno Orui Saito é Engenheiro Químico pela Universidade Federal de São Carlos, mestrando em processos industriais pelo Instituto de pesquisa tecnológica do estado de São Paulo. Atualmente é profissional contratado pela
Technes Agrícola.
116
Interciência
& Sociedade
DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA (DFC): CONCEITOS
E ESTRUTURA
COSTA, Rodrigo Simão da
Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos (UNIFEOB)
[email protected]
RESUMO: A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) se tornou obrigatória no Brasil com a criação
da Lei 11.638/2007 e, desde então, todos os profissionais que fazem parte do ambiente empresarial
precisaram conhecer essa demonstração e saber interpretar os seus resultados. Com o presente estudo, procurou-se através de uma pesquisa bibliográfica abordar os conceitos e a estrutura da DFC e, ao
final, apresentar a resolução passo-a-passo de um exemplo prático para demonstrar as suas técnicas
de elaboração.
PALAVRAS-CHAVE: Fluxo de Caixa, Contabilidade, Finanças, Demonstração.
ABSTRACT: The Statement of Cash Flows (CFD) became mandatory in Brazil with the creation of Law
11638/2007, and since then, all professionals who are part of the business environment needed to go
through this demonstration and to interpret their results. In fact, the control box has always been practiced by companies, but the CFD brought a standardization to that tool. As the present study, we sought
through a literature search addressing the concepts and structure of the CFD and at the final table the
resolution step by step in a practical example to demonstrate their techniques of manufacture.
KEYWORDS: Cash Flow, Accounting, Finance, Demo.
1. INTRODUÇÃO
No atual mundo competitivo e globalizado, cada vez mais se torna necessária
a utilização de ferramentas que garantam a
sobrevivência das empresas no mercado.
Com a criação da Lei 11.638, em 28
de Dezembro de 2007, a Contabilidade brasileira passou a ser convertida nos moldes
do padrão internacional, isto é, das IFRS –
International Financial Reporting Standards
e, somada ao intenso processo de informatização do sistema de fiscalização, tornou
a Contabilidade, mais do que nunca, peça
chave para a sobrevivência das empresas.
Uma das novidades apresentada
por essa lei foi a obrigatoriedade da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), em
substituição à antiga DOAR – Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos.
Mesmo antes da aprovação da lei,
o IBRACON (Instituto dos Auditores Independentes do Brasil), pela NPC 20, de abril
de 1999, e a CVM (Comissão de Valores
Mobiliários), já recomendavam a apresentação da DFC como informação complementar. (FIPECAFI, 2010, p.565).
Salotti e Yamamoto (2008, p.48)
elaboraram uma pesquisa onde constataram que as companhias abertas que negociam suas ações na BOVESPA, divulgavam
a DFC de forma voluntária antes da adoção
da Lei 11.638/2007 porque já a divulgavam
em período anterior e também porque dão
mais importância às percepções dos seus
outsiders (usuários externos).
Nem todas as empresas estão
obrigadas a apresentar a DFC, por exemplo, ficam dispensadas as sociedades anônimas de capital fechado com patrimônio
líquido reduzido (inferior a R$ 2.000.000,00
na data do balanço) e as sociedades limitadas de pequeno e médio porte (as que
possuem ativo total igual ou inferior a R$
240.000.000,00 ou receita bruta anual igual
ou inferior a R$ 300.000.000,00).
A utilização da DFC pode proporcionar todo um gerenciamento do caixa,
Interciência
& Sociedade
117
COSTA, R. S. da
onde as empresas podem identificar os períodos de sobra e escassez de recursos.
Sobre esse aspecto, Marion (2009, p.446)
diz que ”por meio do planejamento financeiro o gerente saberá o montante certo
em que contrairá empréstimos para cobrir
a falta (insuficiência) de fundos, bem como
quando aplicar no mercado financeiro o excesso de dinheiro, evitando, assim, a corrosão inflacionária e proporcionando maior
rendimento à empresa”.
O objetivo desse artigo é apresentar os conceitos de caixa e a estrutura da
DFC, elaborando-se um exemplo prático no
final. Pretende-se demonstrar uma linha de
raciocínio para acompanhar o passo-a-passo da elaboração de uma DFC.
Como metodologia, foi realizada
uma pesquisa bibliográfica para se identificar os conceitos utilizados na DFC nos mais
recentes materiais publicados sobre o assunto e através de sua conclusão, espera-se contribuir para um melhor entendimento
sobre essa tão importante demonstração
contábil, e que o material sirva para posteriores estudos.
2. A Demonstração dos Fluxos de Caixa
(DFC)
O objetivo da DFC é evidenciar as
variações ocorridas no disponível das empresas entre um determinado período de
tempo. Observe que apesar do nome “fluxos de caixa”, farão parte dessa demonstração todas as contas do grupo do disponível,
isto é, caixa, bancos e aplicações de liquidez imediata (como a caderneta de poupança, por exemplo).
Segundo a FIPECAFI (2010,
p.565) “o objetivo primário da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) é prover informações relevantes sobre os pagamentos
e recebimentos, em dinheiro, de uma empresa, ocorridos durante um determinado
período”.
O conceito trabalhado na DFC é o
regime de caixa onde se evidencia o que
realmente entrou e o que realmente saiu de
recursos no disponível das empresas.
As informações históricas do fluxo de caixa são extremamente importantes
para o planejamento futuro de qualquer em-
118
presa, onde através de projeções, é possível construir cenários e se antecipar na execução das ações.
Os resultados da DFC também são
importantes para auditar as informações
contábeis na busca por erros e possíveis
fraudes contábeis, conforme comentado
por Lamas e Gregório (2009, p.101) e Marion (2009, p.446).
Serão alvos da DFC todos os recebimentos, ou entradas, e pagamentos, ou
saídas, de caixa (ou disponível). Quando
uma operação representar uma entrada de
caixa, deverá ser somada na demonstração
e, quando representar uma saída, deverá
ser subtraída na demonstração.
No próximo capítulo, serão abordadas a estrutura e as formas de apresentação da DFC.
3. Estrutura e Formas de Apresentação
da DFC
A elaboração de um fluxo de caixa pode ser feita de várias maneiras, pois
cada pessoa ou empresa poderia realizar
o controle dos recebimentos e pagamentos
de caixa conforme seus próprios entendimentos.
Porém, segundo Lamas e Gregório (2009), ao se elaborar uma DFC estruturada em normas, é possível comparar o
desempenho operacional entre diferentes
empresas, uma vez que elimina os efeitos
desiguais dos possíveis tratamentos contábeis.
Em razão dessa necessidade de
uniformização das demonstrações contábeis, torna-se necessário que algumas regras sejam respeitadas na elaboração da
DFC.
A norma contábil responsável por
esta normatização no Brasil é o Pronunciamento Técnico CPC 03 – Demonstração
dos Fluxos de Caixa. Esse pronunciamento
determina a estruturação da DFC em três
atividades: operacionais, de investimentos
e de financiamentos.
As atividades operacionais se referem ao montante dos recursos que a empresa gerou através de sua atividade-fim.
Farão parte dessas atividades os elementos relacionados com a DRE (DemonstraInterciência
& Sociedade
Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC): conceitos e estrutura
ção do Resultado do Exercício). As contas
pertencentes ao Balanço Patrimonial, mas
que foram originadas de transações ligadas
às receitas, custos e despesas, também
deverão ser consideradas, por exemplo:
as contas a receber (relacionadas com as
vendas a prazo), os estoques (relacionados
com os custos), os fornecedores (relacionados com as compras a prazo) e as contas a
pagar (relacionadas com as despesas).
Segundo a FIPECAFI (2010,
p.567), as atividades operacionais “envolvem todas as atividades relacionadas com
a produção e entrega de bens e serviços e
os eventos que não sejam definidos como
atividades de investimento e financiamento”.
Como exemplos de atividades operacionais, poderão ser classificadas como
entradas as vendas à vista, o recebimento
de clientes e o recebimento de juros, e como
saídas, o pagamento de fornecedores, o
pagamento de impostos e o pagamento de
despesas diversas.
As atividades de investimento se
referem às transações onde a empresa utilizou as sobras de caixa e aplicou, investiu
recursos visando um benefício futuro.
Dessa forma, quando há recurso disponível que possa ser investido pela
empresa, ela pode emprestá-lo para terceiros ou investi-lo na compra de ativos fixos
classificados como investimentos, imobilizado ou intangíveis no Balanço Patrimonial.
Quando a empresa adquiri um determinado
ativo fixo, isso representará uma saída de
caixa e, quando vende algum desses ativos, representará uma entrada de caixa.
Na IAS 7, a importância da divulgação separada de fluxos de caixa de atividades de investimentos é destacada, onde diz
ser “importante porque os fluxos de caixa
representam a extensão dos gastos efetuados com recursos destinados a gerar receita e fluxos de caixa futuros” (IASCF, 2008,
p.862).
Farão parte das atividades de investimentos todas as transações relacionadas com o ativo não circulante do Balanço
Patrimonial. Como exemplos de entradas
têm-se as vendas de investimentos, as
vendas de imobilizado e o recebimento de
empréstimos, e como exemplos de saídas,
têm-se as aquisições de investimentos, de
imobilizado e de ativos intangíveis.
Já as atividades de financiamento,
ao contrário das atividades de investimento,
referem-se às transações onde a empresa
toma recursos emprestados, geralmente,
quando há uma escassez de caixa.
Os recursos podem ser captados
tanto de terceiros, quanto dos próprios proprietários ou sócios das empresas.
Farão parte das atividades de
financiamento todos os elementos relacionados com o exigível a longo prazo, o
patrimônio líquido e os financiamentos e
empréstimos de curto prazo, localizados no
passivo circulante, todos localizados no Balanço Patrimonial.
Para as atividades de financiamento, podem-se citar como exemplos
de entradas de recursos, os aumentos de
capital, as emissões de novas ações e os
empréstimos e financiamentos tomados, e
como exemplos de saídas, os pagamentos
de dividendos, as recompras de ações da
empresa e os pagamentos de empréstimos
e financiamentos.
Algumas transações podem não
ser percebidas somente pelas informações
do Balanço Patrimonial e da DRE, necessitando da utilização de uma outra demonstração contábil, como a Demonstração das
Mutações do Patrimônio Líquido.
O resultado final da DFC será a
soma algébrica dos resultados líquidos de
cada uma das atividades, que deverá ser
conciliada com a diferença entre os saldos
respectivos das disponibilidades, isto é, entre o início e o fim do período considerado
(FIPECAFI, 2010, p.573).
Lustosa e Santos (2004) dizem
que essa classificação em três atividades
é muito útil em termos informativos, mas
também existem alguns aspectos polêmicos que devem ser melhor estudados para
algumas transações financeiras, por exemplo, as reservas de capital.
Algumas situações podem apresentar transações onde os fluxos de caixa
serão classificados em mais de uma atividade, por exemplo, quando há um desembolso de caixa para pagamento de empréstimo, onde os juros podem ser classificados
como atividade operacional e o valor do
Interciência
& Sociedade
119
COSTA, R. S. da
principal deve ser classificado como atividade de financiamento (BRASIL2, 2008).
Existem ainda algumas operações
que não deverão fazer parte da DFC, pelo
fato de não afetarem o caixa, por exemplo,
as depreciações, as provisões, os ganhos
e perdas de equivalência patrimonial, entre
outros.
Também podem acontecer transações de investimento e financiamento sem
efeito no caixa, como por exemplo, as dívidas convertidas em aumento de capital,
mas essas, devem ser evidenciadas em
notas explicativas (FIPECAFI, 2010, p.569).
A DFC pode ser elaborada se-
gundo dois métodos, o direito e o indireto.
A diferença entre eles está nas atividades
operacionais.
No método direto as atividades
operacionais são elaboradas utilizando os
reais recebimentos de clientes, pagamentos de fornecedores e pagamentos de despesas.
Segundo a FIPECAFI (2010,
p.573), “o método direto explicita as entradas e saídas brutas de dinheiro dos principais componentes das atividades operacionais, como os recebimentos pelas vendas
de produtos e serviços e os pagamentos a
fornecedores e empregados”.
Tabela 1. Balanço Patrimonial
BALANÇO PATRIMONIAL – EMPRESA ALFA
ATIVO (em R$)
31/12/X1
Circulante
Disponível
Dupl. a receber
Estoques
Total Circulante
Não Circulante
Investimentos
Part.outras cias
Imobilizado
Móveis e utensílios
(-) Depr. acum.
Terrenos
Total Não-Circul.
Total
PASSIVO (em R$)
31/12/X2
1.500
500
1.000
2.300
1.000
1.500
3.000
4.800
500
500
2.640
2.640
1.200
(200)
2.000
3.000
1.500
(320)
3.000
4.180
3.500
6.820
6.500
11.620
Circulante
Fornecedores
Empr. bancários
I.R. a recolher
Total Circulante
Patrimônio Líquido
Capital social
Lucros retidos
Total do P.L.
Total
Fonte: Autor.
120
Interciência
& Sociedade
31/12/X1
31/12/X2
1.000
1.000
-
2.000
1.470
1.050
2.000
4.520
4.500
4.500
6.000
1.100
7.100
6.500
11.620
Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC): conceitos e estrutura
Tabela 2. Demonstração do Resultado do Exercício.
DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO FINDO EM 31/12/
X2 (em R$)
Receita Bruta
10.000
(-) CMV
(5.500)
Lucro Bruto
4.500
(-)Despesa Operacional
Desp.Vendas
(500)
Desp. Administração
(380)
Desp.c/Depreciação
(120)
Outras Despesas
(500)
1.500
Lucro Antes Impostos
3.000
(-) Provisão p/ I.R.
(1.050)
Lucro Líquido
1.950
Fonte: Autor.
Tabela 3. Demonstração das Mutações do Patrimônio Lìquido.
DEMONSTR. DAS MUTAÇÕES DO PATRIM. LÍQUIDO FINDO EM 31/12/X2 (em R$)
Movimentações
Saldo Inicial em 31/12/X1
Aumento de capital
Capital Social
4.500
1.500
L. Retidos
-
Total
4.500
1.500
Lucro Líquido
1.950
1.950
Distribuição Dividendos
Saldo final em 31/12/X2
(850)
1.100
(850)
7.100
6.000
Fonte: Autor.
O primeiro método a ser elaborado será o método direto. Para se iniciar a
DFC, primeiramente é preciso conhecer a
variação do disponível. O valor encontrado
é de R$ 800,00, obtido pela diferença do
disponível entre os dois períodos, ou seja,
R$ 2.300,00 menos R$ 1.500,00.
Uma vez encontrada a variação do
disponível, o próximo passo é elaborar as
atividades operacionais, as quais possuem,
basicamente, três elementos: recebimento
de clientes, pagamento de fornecedores e
pagamento de despesas.
Para se encontrar o valor que foi
realmente recebido dos clientes é preciso
realizar um pensamento lógico, considerando todas as vendas como sendo a prazo.
Isso porque não é possível identificar de
forma direta qual seriam os valores à vista e a prazo, pelo fato da Contabilidade ser
elaborada por regime de competência, ou
seja, os fatos contábeis são contabilizados
independentemente do seu recebimento ou
pagamento.
No ano de X1, a empresa tinha
para receber R$ 500,00 (duplicatas a receber – ativo) e vendeu em X2 mais R$
10.000,00 (receitas brutas – DRE), tendo
para receber, portanto, um montante de R$
10.500,00. Como o valor a receber no ano
de X2 é de R$ 1.000,00 (duplicatas a receber – ativo), significa dizer que a empresa
recebeu a diferença, isto é, R$ 9.500.00 de
seus clientes.
Depois de encontrado o valor do
recebimento dos clientes, é preciso calcular o valor do pagamento das compras. O
raciocínio é bem semelhante ao utilizado no
recebimento dos clientes, com a única diferença, que para se encontrar o valor dos pagamentos dos fornecedores, primeiramente
é preciso encontrar o valor das compras,
o qual está embutido no valor do CMV na
DRE.
Interciência
& Sociedade
121
COSTA, R. S. da
O procedimento é utilizar a fórmula
do CMV e substituir os valores que podem
ser encontrados nas demonstrações contá-
beis. A fórmula está descrita abaixo, já com
os valores rastreados do Balanço Patrimonial e da DRE:
CMV = ESTOQUE INICIAL + COMPRAS – ESTOQUE FINAL
R$ 5.500,00 = R$ 1.000,00 + COMPRAS – R$ 1.500,00
COMPRAS = R$ 6.000,00
Encontrado o valor das compras,
deve-se também considerá-lo como sendo todo a prazo. O raciocínio é o seguinte:
Se a empresa devia ao seu fornecedor R$
1.000,00 (passivo circulante) em X1, e comprou a prazo em X2 mais R$ 6.000,00, teria
que pagar um montante de R$ 7.000,00 a
ele, mas como aparece no saldo da conta de
fornecedores em X2 apenas R$ 2.000,00,
significa dizer que a empresa realmente pagou aos seus fornecedores a diferença, ou
seja, R$ 5.000,00.
Em relação ao pagamento das
despesas, é preciso relacionar as despesas
da DRE com as contas do passivo. Caso
uma determinada despesa conste na DRE
e também conste, no mesmo valor, no passivo, significa que a mesma ainda não foi
paga, não havendo a necessidade de evidenciá-la na DFC e, caso ocorra o contrário,
deverá ser evidenciada.
As despesas constantes na DRE
são as de vendas, administração, com depreciação, outras despesas e provisão p/
I.R.
É possível verificar que além das
despesas operacionais, também foi incluída a provisão para imposto de renda, pois
também se trata de uma despesa, porém
classificada de uma outra forma.
Dentre as despesas elencadas na
DRE, a única conta que não deverá fazer
parte da DRE é a com depreciação, pelo
fato de não afetar o caixa (não representar
um desembolso).
Fazendo a relação com as contas
de passivo, não é possível verificar nenhuma conta intitulada “contas a pagar” ou alguma coisa parecida, o que demonstra que
todas essas contas foram realmente pagas
pela empresa, com exceção da provisão
para imposto de renda, pois aparece a conta
de “I.R. a recolher”, cujo valor é exatamente
122
o demonstrado na DRE, o que significa que
tal imposto ainda não foi pago.
Dessa forma, somente serão consideradas pagas as despesas com vendas,
administração e outras despesas, cujo montante soma R$ 1.380,00.
Utilizando os valores dos recebimentos dos clientes, pagamento dos fornecedores e pagamento das despesas, as
atividades operacionais totalizam, portanto,
R$ 3.120,00.
Encerradas as atividades operacionais, o próximo passo é elaborar as atividades de investimentos, onde serão utilizados os grupos do ativo não circulante, com
exceção do ativo realizável a longo prazo,
onde será utilizado apenas quando tiver valores relacionados com as vendas de mercadorias a longo prazo.
Na empresa ALFA, todas as contas
do ativo não-circulante tiveram uma variação positiva (aumento), devendo ser consideradas como aquisições da empresa e
saídas de caixa na DFC. A única conta que
não será utilizada é a da depreciação acumulada, pois não afeta o caixa. Aliás, pode-se verificar que a diferença entre os saldos
dessa conta é de R$ 120,00, exatamente o
mesmo valor evidenciado na DRE na conta
de despesas com depreciação.
Considerando as variações das
contas do ativo não-circulante, com exceção da depreciação acumulada, as atividades de investimento totalizam um montante
de R$ 3.440,00 que deve ser subtraído na
DFC por representar uma saída de caixa.
As últimas atividades a serem encontradas são as de financiamento, as quais
se referem aos grupos do exigível a longo
prazo, patrimônio líquido e os empréstimos
e financiamentos do passivo circulante.
Observando o grupo do passivo
circulante, percebe-se que existe uma conInterciência
& Sociedade
Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC): conceitos e estrutura
ta de empréstimos bancários, a qual apresenta uma variação positiva de R$ 470,00.
Isso quer dizer que a empresa necessitou
captar recursos e pegou mais essa quantia
dos bancos, representando assim, uma entrada de caixa na DFC.
Já no patrimônio líquido, a conta
capital social também sofreu uma variação
positiva de R$ 1.500,00, representando assim, um aumento de capital realizado pelos
sócios e uma entrada de caixa na DFC.
A outra conta é a de lucros retidos que em X1 não possuía saldo e em X2
passou a ficar com R$ 1.100,00. Como não
tinha nada e agora tem um saldo, subentende-se tratar do lucro líquido do exercício
que foi transportado para essa conta, porém, o valor do lucro líquido demonstrado
na DRE é de R$ 1.950,00. A diferença é de
R$ 850,00 e se justifica pela retirada desse
valor da conta lucros retidos para a constituição de dividendos (localizada no passivo
circulante), que está discriminada na Demonstração das Mutações do Patrimônio
Líquido. Como os dividendos não apare-
cem no passivo circulante, entende-se que
os mesmos foram pagos pela empresa e,
portanto, devem ser evidenciados na DFC
como uma saída de caixa.
As variações na conta de lucros
retidos não devem ser utilizadas na DFC,
pois, na verdade, as transações que afetaram o seu resultado já foram contempladas
pelas atividades quando foram utilizados os
valores relacionados com a DRE.
Considerando as variações dos
empréstimos de curto prazo, do capital social e o valor dos dividendos, as atividades
de financiamento totalizaram R$ 1.120,00,
uma vez que os valores das aquisições de
empréstimos de curto prazo e aumento de
capital foram somados e o pagamento de
dividendos foi subtraído.
Para se elaborar a DFC, basta somar as três atividades e verificar se o resultado é o mesmo identificado pela variação
do disponível, no caso, R$ 800,00. A DFC
pelo método direto fica estruturada da seguinte forma:
Tabela 4. DFC Método Direto.
DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA
DA EMPRESA ALFA
MÉTODO DIRETO
ATIVIDADES OPERACIONAIS
Recebimento de clientes
Pagamento de fornecedor
Pagamento de despesas
Caixa líquido atividades operacionais
R$
R$
R$
R$
9.500,00
(5.000,00)
(1.380,00)
3.120,00
ATIVIDADES DE INVESTIMENTO
Aquisição de Ações (Part.Outras Cias)
Aquisição de Móveis e Utensílios
Aquisição de Terrenos
Caixa líquido atividades de investimento
R$
R$
R$
R$
(2.140,00)
(300,00)
(1.000,00)
(3.440,00)
ATIVIDADES DE FINANCIAMENTO
Aquisição empréstimos curto prazo
Aumento de capital
Pagamento de dividendos
Caixa líquido atividades de financiamento
R$
R$
R$
R$
470,00
1.500,00
(850,00)
1.120,00
Variação de Caixa e Equivalentes
Saldo Inicial de Caixa e Equivalentes
Saldo Final de Caixa e Equivalentes
R$
R$
R$
800,00
1.500,00
2.300,00
Fonte: Autor.
Interciência
& Sociedade
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COSTA, R. S. da
Para se elaborar a DFC pelo método indireto, a diferença está nas atividades
operacionais. Ao invés de apresentarem
os reais recebimentos de clientes e pagamentos de fornecedores e despesas, serão
elaboradas ajustando-se o lucro líquido e
considerando as variações das contas patrimoniais relacionadas com a DRE. As atividades de investimento e de financiamento
serão idênticas às do método direto.
A primeira coisa a se fazer no método indireto é verificar o valor do lucro líquido na DRE, no caso, R$ 1.950,00. Nesse
valor, é necessário fazer alguns ajustes referentes às contas que não afetam o caixa.
Na DRE da empresa ALFA, a única conta
que não afeta o caixa é a despesa com depreciação, no valor de R$ 120,00.
Para eliminar o seu efeito sobre o
lucro líquido, é preciso inverter o seu sinal
na DFC, isto é, se na DRE a despesa com
depreciação foi subtraída, na DFC ela será
somada. Caso existam outras contas que
também não afetem o caixa, é preciso que
se faça o mesmo procedimento na DFC.
Feitos os ajustes no lucro líquido,
é preciso verificar as variações nas contas
patrimoniais relacionadas com a DRE. Essas variações serão favoráveis (aumento)
ou desfavoráveis (diminuição) para o caixa,
utilizando-se conta por conta do Balanço
Patrimonial.
No ativo, a primeira conta é a do
disponível e já foi utilizada para verificar a
variação de quanto tem que dar a DFC.
A próxima conta é duplicatas a receber e ela tem relacionamento com a DRE,
pois se origina das vendas a prazo. A variação de X1 para X2 é um aumento de R$
500,00, e é desfavorável para o caixa, ao
passo que a empresa abriu mão de parte de
suas vendas à vista para recebê-las em um
momento futuro, e representará uma saída
de caixa.
Logo após, tem-se a conta dos
estoques que também está relacionada
com a DRE, pois se origina das compras
124
de mercadorias. A variação foi positiva em
R$ 500,00, e também é desfavorável para
o caixa, uma vez que a empresa, para aumentar seus estoques, precisou tirar dinheiro do caixa.
As outras contas do ativo não possuem relação direta com a DRE e não farão
parte das atividades operacionais, pois já
foram utilizadas na atividade de investimento.
No passivo, a primeira conta é
fornecedores que está relacionada com a
DRE, pois é originada pela compras a prazo de mercadorias. Ela traz um aumento de
X1 para X2 no valor de R$ 1.000,00, sendo
favorável para o caixa e representará uma
entrada na DFC, ao passo que a empresa
está, de certa forma, postergando um pagamento.
A próxima conta é a de empréstimos bancários, e essa não tem relação direta com a DRE, pois pertence às atividades de financiamento.
Já a conta de imposto de renda a
recolher possui relacionamento direto com
a DRE, pois recebe os valores da provisão de imposto de renda. A variação de X1
para X2 dessa conta foi um aumento de R$
1.050,00 e também significa uma entrada
na DFC, pois é favorável para o caixa, isto
é, uma postergação de pagamento do seu
imposto de renda.
As outras duas contas do passivo
não se referem às atividades operacionais,
pois a conta capital social pertence às atividades de financiamento e a conta de lucros
retidos já foi computada, pois é composta
pelo lucro da DRE que já foi considerado
na DFC.
O resultado encontrado deve ser
o mesmo do método direto, ou seja, R$
3.120,00, pois se trata do mesmo caixa, da
mesma empresa, só que elaborado de uma
outra forma.
Portanto, a DFC elaborada pelo
método indireto fica representada dessa
forma:
Interciência
& Sociedade
Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC): conceitos e estrutura
Tabela 5. DFC Método Indireto.
DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA
DA EMPRESA ALFA
MÉTODO INDIRETO
ATIVIDADES OPERACIONAIS
Lucro Líquido
(+/-) Ajustes
Depreciação
Variações nos Ativos e Passivos
Variação em duplicatas a receber
Variação em estoques
Variação em fornecedores
Variação em imposto de renda a recolher
Caixa líquido atividades operacionais
R$
1.950,00
R$
120,00
R$
R$
R$
R$
R$
(500,00)
(500,00)
1.000,00
1.050,00
3.120,00
ATIVIDADES DE INVESTIMENTO
Aquisição de Ações (Part.Outras Cias)
Aquisição de Móveis e Utensílios
Aquisição de Terrenos
Caixa líquido atividades de investimento
R$ (2.140,00)
R$
(300,00)
R$ (1.000,00)
R$ (3.440,00)
ATIVIDADES DE FINANCIAMENTO
Aquisição empréstimos curto prazo
Aumento de capital
Pagamento de dividendos
Caixa líquido atividades de financiamento
R$
R$
R$
R$
470,00
1.500,00
(850,00)
1.120,00
Variação de Caixa e Equivalentes
Saldo Inicial de Caixa e Equivalentes
Saldo Final de Caixa e Equivalentes
R$
R$
R$
800,00
1.500,00
2.300,00
Fonte: Autor.
O método indireto é o mais utilizado pelas empresas, pois sua elaboração é
mais simples, mas, é o método direto o preferido para a tomada de decisão, uma vez
que para os usuários seria muito mais interessante conhecer os reais recebimentos
de clientes e os pagamentos de fornecedores e de despesas.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O controle do fluxo de caixa sempre foi e ainda é amplamente utilizado por
qualquer tipo de pessoa ou negócio, pois
o gerenciamento das entradas e saídas de
caixa é a base para todo planejamento e
posterior tomada de decisão.
Para que seja possível a comparação entre a posição financeira dos recursos de caixa das empresas, foi criada a
Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC),
que no Brasil, passou a ser exigida como
demonstração contábil obrigatória com a
criação da Lei 11.638/2007, embora já fosse evidenciada como informação complementar pelas instruções do IBRACON.
Interciência
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COSTA, R. S. da
A segregação da DFC em atividades operacionais, de investimento e de
financiamento torna possível uma melhor
análise da composição da variação de caixa.
Para se elaborar a DFC é preciso
seguir algumas técnicas que utilizam as informações de outras demonstrações contábeis, como o Balanço Patrimonial, a Demonstração do Resultado do Exercício e a
Demonstração das Mutações do Patrimônio
Líquido.
Com a realização dessa pesquisa,
procurou-se elaborar uma DFC explicando
cada passo e relacionando cada conta com
sua origem nas demonstrações contábeis.
Esse tipo de estudo torna-se importante não só para os profissionais relacionados com a Contabilidade das empresas,
mas para todas as pessoas que estejam relacionadas com o ambiente de negócios no
qual a empresa esteja inserida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Lei n. 11.638, de 27 de dezembro de 2007.
Altera os arts. 176 a 179, 181 a 184, 187, 188, 197,
199, 226 e 248 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro
de 1976. Diário Oficial [da] República Federativa do
Brasil, Brasília, DF, 28 dez.2007.
BRASIL2. Pronunciamento Técnico CPC 03. Demonstração dos Fluxos de Caixa. Ata CPC, Brasília,
DF, 13 jun.2008.
FIPECAFI. Manual de Contabilidade Societária.
São Paulo: Atlas, 2010.
IASCF INTERNATIONAL ACCOUNTING STANDARDS COMMITTEE FOUNDATION. Normas Internacionais de Relatório Financeiro (IFRSs). Incluindo
Normas Internacionais de Contabilidade (IASs) e
Interpretações , aprovadas em 1º de Janeiro de
2008. Volume 1. IASCF – International Accounting
Standards Committee Foundation e IBRACON – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil, 2008
LAMAS, F. R.; GREGÓRIO, A. A. Demonstração dos
Fluxos de Caixa e Contabilidade Criativa. Revista
Universo Contábil, Blumenau, v5, n.3, p.99-115, jul./
set. 2009.
LUSTOSA, P. R. B.; SANTOS, A. Como Classificar
as Reservas de Capital na Demonstração dos Fluxos de Caixa? In: XXVIII EnANPAD. Curitiba-PR,
2004.
MARION, J. C. Contabilidade Empresarial. 14. ed.
São Paulo: Atlas, 2009.
SALOTTI, B. M.; YAMAMOTO, M. M. Divulgação Voluntária da Demonstração dos Fluxos de Caixa no
Mercado de Capitais Brasileiro. Revista de Contabilidade e Finanças USP., São Paulo, v.19, n.48, p.3749, set./dez.2008.
Rodrigo Simão da Costa é Bacharel em Ciências Contábeis pelo UNIFEOB - Centro Universitário da Fundação
de Ensino Octávio Bastos (2001) onde também é Especialista em Gestão Empresarial (2003). É Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2006). Atualmente é professor
titular do UNIFEOB e coordenador dos cursos de Ciências Contábeis e Administração. Tem experiência na área
Contábil, com ênfase em Contabilidade Ambiental. É palestrante de diversos temas relacionados à área contábil e
financeira, publicou diversos artigos em revistas científicas e é o autor dos livros Contabilidade para Iniciantes em
Ciências Contábeis e Cursos Afins e Práticas de Contabilidade Gerencial, ambos publicados pela Editora Senac
de São Paulo.
ERRATA:
O artigo acima está sendo republicado devido a problemas de formatação referentes ao título e
cabeçalho ocorridos no vol. 1 - n. 1 - março 2011 da revista Interciência & Sociedade.
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Interciência
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SUBMISSÃO DE TRABALHOS
Os artigos deverão ser encaminhados para o Conselho Editorial via mensagem eletrônica para: revista@fmpfm.
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1.
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 Fonte: Arial, para todo documento;
 Parágrafo: espaçamento entre parágrafos: 0 cm; espaçamento entre linhas: simples; alinhamento justificado;
recuo especial da primeira linha: 1,25 cm.
2.
Estrutura do Trabalho
Seguem-se as recomendações em relação à estrutura dos trabalhos a serem avaliados e, posteriormente, se for o
caso, publicados pelo periódico INTERCIÊNCIA & SOCIEDADE.
2.1.Título
O título deve estar na primeira página, centralizado, devendo ocupar no máximo duas linhas, com espaçamento
entrelinhas 1,5, letras maiúsculas (caixa alta) em negrito, na fonte Arial, tamanho 14.
2.2.Autoria
As autorias constituem-se pelas pessoas físicas responsáveis na criação do conteúdo intelectual de um documento
e são indicadas pelos nomes dos autores, IES de origem e pelo e-mail.
2.2.1.Nome
Os nomes são referenciados pelo último sobrenome, em letras maiúsculas, seguidos dos prenomes e outros
sobrenomes, que podem ser abreviados ou não, no formato que se segue: SOBRENOME do 1º autor, letras
maiúsculas (caixa alta), na fonte Arial, tamanho 11; seguido do nome do 1º autor, letras maiúsculas e minúsculas
(caixa alta e baixa), normal, na fonte Arial, tamanho 11, alinhados à direita, espaçamento entrelinhas simples.
2.2.2.IES
O nome da Instituição de Ensino Superior deve estar em letras maiúsculas e minúsculas (caixa alta e baixa),
normal, na fonte Arial, tamanho 10, alinhados à direita, com a sigla da IES, entre parênteses, em letras maiúsculas
(caixa alta) normal, na fonte Arial, tamanho 10, alinhados à direita, espaçamento simples.
2.2.2.E-mail
O endereço eletrônico deve estar em letras minúsculas (caixa baixa), normal, na fonte Arial, tamanho 10, alinhados
à direita, espaçamento simples.
2.3.Resumo
O texto deve ser escrito em português, com no máximo 10 linhas, cerca de 500 palavras, na fonte Arial, normal,
alinhamento justificado e espaçamento simples. A palavra RESUMO, seguida de dois pontos, deve ser escrita em
letras maiúsculas (caixa alta), em negrito, na fonte Arial, tamanho 10, o texto do resumo vem logo a seguir.
2.4.Palavras-chave
As palavras-chave devem ser escritas em português, em número máximo de cinco palavras-chave, na fonte Arial,
normal, alinhamento justificado, espaçamento simples. PALAVRAS-CHAVE seguida de dois pontos devem ser
escritas em letras maiúsculas (caixa alta), em negrito, na fonte Arial, tamanho 10.
2.5.Abstract
O texto do abstract, que vem a ser a tradução para a língua inglesa do resumo, até 10 linhas, na fonte Arial, itálico,
alinhamento justificado e espaçamento simples. A palavra ABSTRACT, seguida de dois pontos, deve ser escrita
em letras maiúsculas (caixa alta), em negrito, na fonte Arial, tamanho 10.
2.6.
Keywords
São as palavras-chave traduzidas para o inglês, em número máximo de cinco palavras, na fonte Arial, itálico,
alinhamento justificado e espaçamento simples. KEYWORDS seguida de dois pontos devem ser escritas em letras
maiúsculas (caixa alta), em negrito, na fonte Arial, tamanho 10, em itálico, as keywords propriamente ditas vêm
logo a seguir.
Interciência
& Sociedade
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3.Introdução
O texto da Introdução deve ser escrito em português, na fonte Arial, tamanho 11, normal, alinhamento justificado,
espaçamento entrelinhas simples, sem hifenação, com recuo de 1,25 cm na primeira linha. A palavra Introdução
deve ser escrita em letras maiúsculas (caixa alta), na fonte Arial, tamanho 11, em negrito, alinhamento justificado,
espaçamento 1,5, entre a palavra Introdução e o texto propriamente dito não há espaçamento entrelinhas.
4.
Texto
4.1.Tópicos
Em quantidade necessária para o desenvolvimento estruturado do trabalho deve estar na fonte Arial, tamanho 11,
em negrito, alinhamento justificado, não sendo conveniente ultrapassar-se uma linha e deve obedecer a numeração
arábica progressiva crescente.
4.2.Sub-tópicos
Se fizerem necessários os sub-tópicos, até no máximo o terceiro nível, devem estar na fonte Arial, tamanho 11,
em negrito, alinhamento justificado, espaçamento entrelinhas simples, não sendo conveniente ultrapassar-se uma
linha. E, esses sub-tópicos devem obedecer a numeração arábica progressiva crescente. O texto referente ao
conteúdo dos sub-tópicos deve(m) estar na fonte Arial, tamanho 11, normal, alinhamento justificado, espaçamento
entrelinhas simples, obedecendo a um recuo de 1,25 cm para a primeira linha de cada parágrafo.
4.3.Figuras
O título da Figura e as legendas devem vir logo abaixo desta, na fonte Arial, tamanho 10, normal, centralizados,
com uma entrelinha 1,5 entre a figura e o título da figura, obedecendo a numeração arábica progressiva crescente,
e deve haver uma entrelinha 1,5 para a continuação do texto.
4.4.
Quadros e Tabelas
O título dos quadros e as tabelas devem vir logo acima desta, na fonte Arial, tamanho 10, normal, alinhado à
esquerda, com uma entrelinha 1,5 entre o texto e o título dos quadros ou tabelas, obedecendo a numeração
arábica progressiva crescente.
4.5.
Notas de rodapé
As notas de rodapé devem ser inseridas somente se forem extremamente necessárias para a compreensão do
texto, em numeração arábica progressiva crescente, na fonte Arial, tamanho 9, normal, alinhamento justificado,
com entrelinhas simples.
5.
Considerações finais
Deve ser escrito em letras maiúsculas (caixa alta), na fonte Arial, tamanho 11, em negrito, alinhamento justificado,
espaçamento simples.
6.
Referências bibliográficas
As referências citadas no corpo do texto, conforme padrão da ABNT (NBR-6023) deverão ser apresentadas
em ordem alfabética no final do texto, na fonte Arial, tamanho 9, normal, alinhamento justificado, espaçamento
entrelinhas simples, sem hifenação. Entre as referências deve ser utilizado um espaçamento antes do parágrafo de
6 pontos. Como nota de fim de texto deve ser inserido um minicurrículo do(s) autore(s), até no máximo 10 linhas, na
fonte Arial, tamanho 9, normal, alinhamento justificado, espaçamento entrelinhas simples e espaçamento simples
entre os minicurrículos (caso houver mais autores).
PROCESSO DE AVALIAÇÃO
Os artigos recebidos são submetidos à análise do Conselho Editorial para avaliação da adequação às áreas de
interesse da revista e às exigências para submissão. Posteriormente, os artigos são encaminhados para análise
por especialistas (pareceristas) nas respectivas áreas temáticas - método conhecido como avaliação por pares,
peer review. Os nomes dos pareceristas e dos autores são mantidos em sigilo durante todo o processo. Os autores
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