Uso de Clorador Econômico para Tratamento D`água em
Transcrição
Uso de Clorador Econômico para Tratamento D`água em
Uso de Clorador Econômico para Tratamento D’água em Granjas Leiteiras Associadas a Cooperativa Agro-Pecuária Batavo – Carambeí - Paraná Marcos Souza Barros1 Luís Augusto Pfau2 Benedito Henrique de Oliveira3 Apresentação A Cooperativa Agropecuária Batavo sediada no município de Carambeí, Estado do Paraná, possui uma abrangência regional, atingindo com seus serviços outras localidades como os municípios de Castro, Tibagi, Ponta Grossa, Palmeira, Teixeira Soares, Ortigueira, Imbaú e Piraí do Sul. Atualmente a Cooperativa Batavo possui 510 associados, sendo 180 produtores de leite com uma produção anual de aproximadamente 80 milhões de litros e uma produtividade de 6.000 litros/vaca/ano, performance esta, bastante superior à média estadual (1558 litros/vaca/ano) e nacional (1347litros/vaca/ano) conforme demonstrado por Koeler (2002). Contribuindo para esta produção e produtividade, os associados desta cooperativa detém um plantel de 14 mil vacas e um nível de tecnologia de produção de leite comparado as maiores bacias leiteiras do mundo. Com relação ao estrato produtivo do negócio leite, observa-se que mais da metade dos associados envolvidos com esta atividade são produtores com volume de leite de até 250 mil litros anuais, (685 litros/dia) conduzindo o empreendimento em pequenos módulos fundiários (média de 25 hectares), através do uso da mão-de-obra familiar. Analisando o processo de produção, depara-se com produtores experientes na condução do negócio, altamente especializados e adotadores de tecnologia por excelência independente do volume de leite produzido. Esta região é referência nacional na produção agropecuária pelo uso intensivo de insumos e das tecnologias de produção existentes. Há uma 1 Zootecnista - Emater / Convênio Cooperativa Batavo – [email protected] Médico Veterinário - Emater / Curitiba – [email protected] 3 Sanepar / Curitiba 2 1 predominância para clima temperado com temperatura média de 26ºC no verão e de 15ºC no inverno. Nesta bacia leiteira, predominam os sistemas de produção com os animais em regime de confinamento ou semiconfinados onde a alimentação é fornecida em local específico. Este modelo de produção facilita a utilização intensiva do esterco produzido, sendo utilizado principalmente nas áreas destinadas à produção de forragens, como milho - silagem e as pastagens de azevém e aveia. O relevo predominante desta região, caracteriza-se pelo ondulado ao levemente ondulado, não prejudicando os serviços de mecanização agrícola. A textura de solo é arenosa com predominância de solos do tipo podzólico vermelho-amarelo, cambissolos e litólicos. A região de Carambeí possui uma altitude variando de 900 a 1200 metros em relação ao nível do mar com índices pluviométricos médios de 1200 ml anuais, bem distribuídos ao longo das estações do ano. Justificativa Estima-se que aproximadamente doze milhões de pessoas morrem anualmente por problemas relacionados com a qualidade da água (Merten, 2002). No Brasil, os registros do Sistema Único de Saúde (SUS) aponta que 80% das internações hospitalares são devidas a doenças de veiculação hídrica, ou seja, doenças que ocorrem devido à qualidade imprópria da água para consumo humano, gerando um custo anual de U$ 2 bilhões (Merten, 2002). A água fornecida aos animais deve ser potável, ou seja, adequada nos aspectos físicos, químicos e microbiológicos. Nas propriedades leiteiras da região, a água é armazenada em caixas de amianto variando sua capacidade de 1000 a 1500 litros. Não é rotina a higienização periódica desses reservatórios como os órgãos gestores recomendam. A água, é utilizada em abundância, não somente nos quesitos pertinentes a higienização dos equipamentos de ordenha como também, para o consumo familiar. A origem da água, provém principalmente de poços 2 escavados e minas d’água onde a distância de captação ao local de armazenamento variam em média 300 metros. Como principal nutriente aos animais, a água mantém o volume normal de sangue, as funções dos órgãos e sentidos, ajuda na digestão e absorção dos nutrientes e mantém a funcionalidade do rúmen. Taylor (2004), no Canadá demonstra a interferência da água na qualidade do leite, apontando a importância que as autoridades canadenses destacam para este item, obrigando que todas as propriedades rurais devam utilizar-se somente de água potável para produção de leite. A qualidade da água deve ser o primeiro parâmetro a ser observado com vistas a eficiência dos sistemas de produção de leite. Trabalhos de Adans, S.R. (2004), Britten, A M. (2003), Iramain, M.S.(2003) demostraram a interferência que a qualidade da água impõe no aumento da contagem de células somáticas no leite, na incidência de mastite em bovinos, na higienização das instalações e equipamentos utilizados pelo produtor de leite, principalmente quando ocorrem alterações físicas, químicas e microbiológicas na água utilizada. As propriedades leiteiras que produzem um produto de alta qualidade deveriam passar, pelo menos uma vez por ano, pelas mesmas provas bacterianas que se realizam nos sistemas públicos gestores da água potável. Além das provas elementares para detecção de coliformes, é importante verificar o surgimento na água de bactérias psicrotróficas como a das famílias das Pseudomonas, principalmente devido esses patógenos terem sua multiplicação a baixas temperaturas, dificultando assim o seu controle (Fonseca, 2000). Trabalho desenvolvido pela Universidade da Água em São Paulo (2003), relaciona as principais enfermidades causadas pela ingestão de água contaminada sendo: Cólera, Disenteria Amebiana, Disenteria Bacilar, Febre Tifóide e Paratifóide, Gastroenterite, Giardíase, Hepatite Infecciosa, Leptospirose, Paralisia Infantil, Salmonelose. O risco de ocorrência de surtos de doenças veiculadas pela água é alto no meio rural, devido à facilidade de contaminação bacteriana de águas captadas em fontes de abastecimento superficial, muitas vezes próximas de fontes contaminadoras como fossas e áreas de pastagens com a presença de 3 animais (Amaral, 2003). O mesmo autor cita que o uso de água subterrânea, não tratada ou inadequadamente desinfetada foi responsável por 44% dos surtos de doenças de veiculação hídrica nos Estados Unidos, entre 1981 e 1988. Na Inglaterra, foi possível associar o consumo de água de fonte subterrânea não tratada ao aparecimento de enfermidades. Os autores demonstram que, durante o período das chuvas, a infiltração da água de escoamento de uma pastagem que apresentava fezes de animais, para dentro da fonte, foi à causa da contaminação. Destacam também que o monitoramento periódico da qualidade microbiológica da água e a observação das medidas de proteção de fontes são medidas muito importantes para a prevenção de doenças de veiculação hídrica (Bridgman, 1995). Estudo piloto realizado em 2004 para monitorar a qualidade da água (parâmetros físico-químico e microbiológicos) foi executado na região de Ponta Grossa - PR, em 10 propriedades associadas a Cooperativa Batavo, (até 200litros/dia, de 200 a 600 litros/dia e acima de 600 litros/dia).As amostras de água foram coletadas na fonte de abastecimento (águas de mina, poço escavado revestido e artesiano) e no ponto final de utilização (sala de ordenha), onde foram analisados: Sólidos Dissolvidos Totais, Cor, Turbidez, Nitrato, Nitrito, Arsênio, pH, Dureza Total, Coliformes Totais, Coliformes Fecais e Pseudomonas. Os resultados laboratoriais demonstraram que para os parâmetros microbiológicos, os exames indicaram a presença, em todas as propriedades, de coliformes totais, fecais e/ou pseudomonas (variando entre zero a 69,6 ufc/ml para coliformes totais, de zero a 33,6 ufc/ml para coliformes fecais, e de zero a 101,0 ufc/ml para pseudomonas) demonstrando que a qualidade da água não atende os padrões de potabilidade definido pelos organismos regulamentadores. Fundamentados nos resultados laboratoriais, podemos afirmar que as famílias alvo deste trabalho, estão consumindo água não potável, desconhecendo o problema e suas conseqüências. Após a realização das análises laboratoriais, ficou caracterizado que o principal problema a ser superado seria a melhoria dos padrões microbiológicos das águas utilizadas não somente ao sistema de produção de leite como também, as águas destinadas ao consumo familiar. 4 Em face aos problemas microbiológicos diagnosticado observou-se a necessidade de se criar um modelo econômico de cloração da água. O presente trabalho foi realizado para testar o uso de um clorador construído para tratamento de água nas pequenas propriedades de leite. Material e Método Construção do Clorador Numa parceria entre Emater – PR e a Sanepar, foi criado um modelo de clorador da água para pequenas propriedades leiteiras Este equipamento, instalado na fonte de abastecimento, permite que a água destinada ao consumo seja tratada logo após a sua captação, fazendo com que o cloro aja em todo o sistema de abastecimento até o ponto final de utilização. O clorador econômico, desenvolvido pela Sanepar possui um custo de aproximadamente R$ 80,00 a unidade, compondo-se de: • 01 bucha de redução FG 11/2” X ¾”; • 01 bucha de redução 11/2” X 1”; • 01 bucha de redução 1” X ¾”; • 01 niple de ponta rosca para mangueira ¾; • 01 tee de ponta rosca para mangueira e torneira ¾; • 01 válvula de retenção tipo portilhola de bronze de 1”; • 04 abraçadeiras para mangueira ¾”; • 01 torneira plástica. ESQUEMA DE UTILIZAÇÃO DO CLORO Para tratamento da água, o produtor introduz as pastilhas (14 gramas) de cloro (Tricloro Triazina Triona) de nome comercial HTH, num tee onde em seu interior existe uma peneira que sustenta as pastilhas realizando portanto a cloração da água a ser utilizada. Neste clorador também possui uma válvula de 5 retenção na qual impede que a água seja tratada em duplicidade, logo que a bomba d’água é desligada (água de retorno). PROPRIEDADES UTILIZADAS A instalação dos cloradores foi efetuada em duas pequenas propriedades leiteiras onde utilizam-se de água de poço escavado e água de mina onde, semanalmente, foram realizadas amostras da água clorada visando avaliar a eficácia do equipamento. A presença de cloro residual no ponto final de utilização (sala de ordenha) é um indicador que demonstrará se o sistema de abastecimento está sendo sanitizado pelo agente químico (cloro). Somente com a análise do cloro residual que o produtor irá quantificar o número de pastilhas necessárias para desinfecção. ANÁLISE DO CLORO RESIDUAL Para análise do cloro residual foi utilizado um aparelho específico para este fim denominado Neocomparador de Cloro Residual. O teste foi realizado num tubo de ensaio contendo a água tratada com gotas de reagente específico (orto-toleidina) para determinar a sua presença. De imediato, a água coletada com a presença de cloro residual transforma-se de transparente em amarela, indicando portanto a presença do agente germicida. A intensidade de cor amarela no tubo de ensaio indica maior ou menor presença de cloro no sistema. O equipamento utilizado para quantificar a presença do cloro residual, gera a informação comparando a tonalidade da água coletada com um referencial colorimétrico disponível no interior do equipamento de análise. Desta maneira, podemos afirmar se a água está devidamente tratada, quantificando a presença do cloro residual. 6 RESULTADOS Tabela 1- Padrões de potabilidade da água estabelecido pela portaria do Ministério da Saúde e os limites que causam interferências ao sistema de produção de leite, elaborado pela Universidade da Pensilvânia – EUA, 2004. PADRÃO RECOMENDADO PH: 6,0 – 9,0 Cor: 15,0 (uH) Nitrito(NO2): 1,0 mg/l Nitrato(NO3): 10,0 mg/l Turbidez: 5,0 (NTU) Sólidos Dissolvidos Totais: < 500 mg/l Arsênio (As): 0,01 mg/l Dureza Total: 250 mg/l Coliforme Total: AUSENTE Coliforme Fecal: AUSENTE Pseudomonas: < 1,0 UFC/ml Fonte: Portaria 1469 – Ministério da Saúde – 2001 POSSÍVEIS PROBLEMAS NO LEITE Abaixo de 5,1 ou acima de 9,0 Não limitante a produção Acima de 4,0 mg/l Acima de 100,0 mg/l Não limitante a produção Acima de 3.000 mg/l Acima de 0,20 mg/l Acima de 300 mg/l Acima de 1 UFC/ ml Acima de 1 UFC/ml Acima de 1,0 UFC/ml Fonte: Pennsylvania State University - 2004 A avaliação da presença do cloro residual demonstra que este germicida (cloro) está cumprindo com as suas funções, ou seja, mantendo a qualidade microbiológica da água apta ao consumo humano e animal, como também na higienização das instalações, máquinas e equipamentos utilizados na produção de leite. A presença do cloro residual é tolerável ao consumo d’água dentro de um intervalo variando de 0,6 ppm até 1,8 ppm de cloro dissolvido na água. Valores abaixo de 0,6 indicam a necessidade de adicionar um número maior de pastilhas de cloro ou que as mesmas já estariam dissolvidas. Valores superiores a 1,8 ppm, demonstram níveis de cloro acima do permitido, causando repulsa no consumo de água e a possibilidade de maior corrosão dos equipamentos de ordenha. Nas primeiras semanas, quando ainda nada de cloro foi adicionado, geralmente ocorre um maior consumo de pastilhas, posteriormente a adição do cloro no sistema de abastecimento d’água o consumo de pastilhas decresce pois o caminho percorrido pela água já foi previamente desinfectado, diminuído assim a necessidade de cloro. Na propriedade que utiliza água de mina, o produtor consome uma pastilha por semana devido a distância entre o ponto de 7 captação e armazenamento ser aproximadamente de 200 metros. Já para o produtor que utiliza de água de poço escavado, consome quatro pastilhas de cloro por semana, devido a distância percorrida pela água ser em média de 400 metros. Conclusão Nas condições que foram realizados este trabalho, podemos afirmar que o clorador econômico proposto realizou de maneira eficiente a desinfecção das águas de poço escavado como também, das águas de mina. Outra vantagem observada, é que este modelo de clorador se mostrou de fácil montagem, pois suas peças são adquiridas em qualquer estabelecimento que comercialize peças destinadas a tubulações hidráulicas, possibilitando assim, além da fácil aquisição e montagem, um custo operacional bastante acessível. 8 Referências Bibliográficas BRITTEN, A.M. The contaminated water can conduct to the beginning of the mastitis. Hoard’s Dairyman – December, 2003, p 797 e 798. DAMS, S.R. et al. Water intake and quality for a dairy cattle. The Pennsylvania State University Department of Dairy Science, E.U.Ahttp://www.das.psu.edu/teamdairy acesso em 03/05/2004. FONSECA, L.F; SANTOS, M.V. Qualidade do leite e controle da mastite. Ed. Lemos – São Paulo – 2000; IRAMAIN, M.S.; NOSETTI,L.; HERRERO,M.A ; MALDONADO MAY,V.; FLORES, M.; CARBÓ,L.. Evaluacion del uso y manejo del agua en establecimentos lecheros de la Provincia de Buenos Aires, Argentina. Area Agricola – Universidad de Buenos Aires – http://www.aguabolivia.org acesso em 11/12/2003. KOELER, J.C. Caracterização da bovinocultura de leite no Estado do Paraná. Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento / Departamento de Economia Rural –Curitiba – 2000. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria N.º 1469 de 29/12/2000. Normas e padrões de potabilidade da água para consumo humano. Diário Oficial da União, Brasília, 2001. RIMBAUD, E. Patologias determinadas por la composición y calidad del agua de bebida en animales de produción. IICA - Montevideo,2003, http://www.iica.gov.uy acesso em 09/07/2003. TAYLOR, V. The importance of water quality to your batton line. Ministry of Agriculture and Food – Ontario - Canada. http://www.gov.on.ca/omafra... acesso em 05/05/2004. UNIVERSIDADE DA ÁGUA. Qualidade das Águas. São Paulo, 2003 http://www.uniagua.org.br acesso em 12/12/03. 9 ANEX0 01 - RELAÇÃO DE FOTOS Figura 01 – Vista frontal do clorador. Figura 02 – Clorador em poço escavado. 10 Figura 03 – Clorador em água de mina. Figura 04 – Preparação de reagente para detecção do cloro residual 11 Figura 05 – Coleta de água para detecção do cloro residual. Figura 06 – Quantificação do cloro residual. 12 Figura 07 – Tratamento da água com pastilhas de cloro. 13