Protocolos no serviço de urgência - 12-26-2013

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Protocolos no serviço de urgência - 12-26-2013
Protocolos no serviço de urgência - 12-26-2013
por Pedro Serra Pinto - Nursing - http://www.nursing.pt
Protocolos no serviço de urgência
por Pedro Serra Pinto - Quinta-feira, Dezembro 26, 2013
http://www.nursing.pt/protocolos-no-servico-de-urgencia/
Artigo retirado da revista nursing nº259 Julho 2010
Autor:
I.A. FERNANDES; Enfermeiro Responsável pelo Serviço de Atendimento Permanente da Clínica CUF
Torres Vedras
Recebido para publicação: Janeiro de 2009
Aprovado para publicação: Julho de 2009
RESUMO
Introdução: Para que se obtenha cuidados de enfermagem adequados às exigências de um paciente que
recorre ao serviço de urgência, é necessária uma estrutura organizacional específica, tanto em relação aos
cuidados clínicos quanto aos recursos físicos e materiais. Não esquecendo que quanto maior o número de
necessidades de um paciente, maior a relevância de uma assistência planeada.
Objectivos: Pretende-se com o presente artigo destacar a importância da existência de protocolos de
triagem e de actuação no atendimento do doente urgente/emergente. Métodos: Efectuou-se pesquisa
bibliográfica sobre protocolos de triagem e de actuação clínica, publicados em revistas médicas e de
enfermagem.
Resultados: Após análise dos artigos seleccionados, descreve-se o Sistema de Triagem de Manchester
(STM), as suas vantagens e limitações, apresentando alguns estudos que fundamentam estas conclusões.
A variabilidade na prática clínica é uma realidade, sendo por isso fundamental a instituição de protocolos
de actuação com o objectivo de uniformizar os cuidados de saúde, facilitar a tomada de decisão e reduzir
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os riscos.
Conclusão: O STM detecta eficazmente os casos graves que necessitam de atendimento
urgente/emergente, devendo ser adaptada a cada realidade individual. Os protocolos de actuação clínica
melhoram a qualidade assistencial no âmbito da efectividade, eficiência e satisfação.
ABSTRACT
Introduction: In order to obtain nursing care appropriate to the urgent requirements of a patient, it’s
necessary a specific organizational structure. Not forgetting that the greater the number of patients
needs, the greater the relevance of planned assistance.
Objectives: The aim of this article is to highlight the importance of the existence of protocols for
screening and acting in the patient’s urgent care.
Methods: Literature search, about screening and acting protocols, was carried out in articles published in
medical and nursing journals. Results: After analysis the selected articles the author describes the
Manchester Triage System (MTS) and the advantages and limitations of such system. The institution of
acting protocols is very important in order to standardize medical care and reduce the risk. Conclusion:
The MTS effectively detect who needs urgent care but should be adapted to each different places. The
acting protocols improve the quality of care, effectiveness, efficiency and satisfaction.
A triagem de doentes num serviço de urgência compreende vários objetivos: avaliação do paciente logo
na sua chegada, obter um breve relato acerca da queixa actual e dos dados objectivos, realizar breve
avaliação física e estabelecer prioridades de atendimento.
INTRODUÇÃO
O trabalho no serviço de urgência é complexo e intenso, devendo o enfermeiro estar preparado para, a
qualquer momento, atender pacientes com patologias graves, as quais requerem conhecimento específico
e grande habilidade para tomar decisões e implementá-las em tempo útil.
O exercício profissional da enfermagem centra-se na relação interpessoal entre o enfermeiro e o paciente
que procura os serviços de urgência.
Desta forma, a preparação adequada dos profissionais de saúde constitui um importante instrumento para
o sucesso e qualidade dos cuidados prestados no serviço de urgência. O enfermeiro deve estar apto,
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independentemente do diagnóstico ou do contexto clínico, a cuidar de todos os pacientes, utilizando uma
abordagem sistematizada que lhes assegure a sua integridade.
A monitorização básica do paciente grave admitido no serviço de urgência é um dos primeiros passos que
o enfermeiro deve seguir, para que seja possível avaliar o estado clínico do paciente. O seu objectivo
principal é a obtenção de dados que possibilitem o diagnóstico rápido e intervenções terapêuticas
imediatas. Existem problemas inerentes ao desempenho do enfermeiro na urgência, nomeadamente:
problemas de comunicação com a equipe, indefinição do papel profissional, normas de actuação e a
multiplicidade de exigências e tarefas requeridas.
Assim, para que se obtenha cuidados de enfermagem adequados às exigências de um paciente em estado
crítico, é necessária uma estrutura organizacional específica, tanto em relação aos cuidados clínicos
quanto aos recursos físicos e materiais. O doente em situação de urgência, dada a sua situação instável,
torna a assistência de enfermagem sistematizada ainda mais importante, facilitando um cuidado mais
adequado e eficaz. Não esquecendo que quanto maior o número de necessidades de um paciente, maior a
relevância de uma assistência planeada1.
PROTOCOLOS DE TRIAGEM
A problemática do serviço de atendimento permanente leva a repensar as práticas actuais de forma a
garantir uma eficiência dos serviços, uma satisfação dos pacientes e dos profissionais de saúde.
A procura do serviço de urgência aumentou drasticamente e esta tendência tende a continuar. A triagem
de doentes num serviço de urgência compreende vários objectivos: avaliação do paciente logo na sua
chegada, obter um breve relato acerca da queixa actual e dos dados objectivos, realizar breve avaliação
física e estabelecer prioridades de atendimento. É necessário implementar uma metodologia de trabalho
que seja coerente, que respeite a boa prática médica, que seja fiável, uniforme e objectiva ao longo do
tempo e que seja passível de auditoria. O Sistema de Triagem de prioridades de Manchester (STM) tratase de um sistema de apoio à decisão, que identifica a prioridade clínica e define o tempo recomendado até
à observação pelo médico, este sistema foi aplicado pela primeira vez em Manchester em 1997. O método
consiste em identificar a queixa inicial e seguir o respectivo fluxograma de decisão2. O fluxograma
contém várias questões a serem colocadas pela ordem apresentada que constituem os chamados
discriminadores. Cada utente é classificado numa das cinco categorias de urgência designadas por cores3.
Para cada cor existe um tempo máximo de espera previamente definido (Fig. 1):
vermelho, emergente – observação imediata (0,5-1%)
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laranja, muito urgente – observação em 10 minutos (6-10%)
amarelo, urgente – observação em 60 minutos (50%)
verde, pouco urgente – observação em 120 minutos (30-40%)
azul, não urgente – observação em 240 minutos (3-5%)
Foi realizado um estudo prospectivo pela Universidade de Birmingham com o objectivo de determinar a
capacidade do STM detectar os doentes em estado crítico. Avaliaram o modo de triagem e a cor atribuída
a todos os doentes admitidos na Unidade de Cuidados Intensivos durante um determinado intervalo de
tempo. 67 por cento dos doentes admitidos foram triados como vermelhos ou laranjas (níveis de
prioridade 1 e 2). Em 6 casos o agravamento clínico que motivou a admissão ocorreu após a triagem e em
18 casos o nível de prioridade foi mal atribuído. Pelo que se conclui que o STM é uma ferramenta
sensível para descriminar pacientes em estado crítico4.
O Serviço de Cardiologia do Hospital de Vila Franca de Xira realizou um estudo cujo objectivo foi
avaliar a eficácia do STM na triagem de doentes com Síndrome Coronário Agudo (SCA). Avaliaram 140
doentes admitidos no Serviço de Cardiologia com o diagnóstico de entrada de SCA. Um doente (0,9 por
cento) foi triado como vermelho, 71 doentes (62,3%) foram triados como laranja, 12 doentes (11 por
cento) como verdes e 2 doentes deram entrada acompanhados pela VMER. O tempo de espera médio
entre a chegada ao serviço de urgência e a triagem foi de 5,2 +/0,6 minutos e entre a triagem e a
observação médica foi de 20 +/-2,5 minutos. Os autores concluíram que a maioria dos doentes admitidos
com o diagnóstico de SCA, foram triados com níveis de prioridade adequados5.
PROTOCOLOS DE ACTUAÇÃO
O sistema bem integrado de urgência hospitalar estimula a confiança do cidadão, diminui a mortalidade,
diminui a morbilidade e cria uma estrutura de saúde constituída por profissionais bem formados na gestão
do doente urgente, possibilitando cuidados de enfermagem em tempo útil. A evolução sócio-demográfica
diznos que os doentes que recorrem ao serviço de urgência são doentes cada vez mais idosos, mais
incapacitados, com mais doenças crónicas e com mais problemas sociais.
A variabilidade da prática clínica é uma realidade cada vez mais estudada e demonstrada
internacionalmente. Esta variabilidade encontrase a todos os níveis, na comparação
entre países, regiões, serviços de saúde, equipes e a nível individual. Para além da variabilidade, por vezes
ocorrem actuações, fora das regras da boa prática clínica. Uma forma de responder a este problema é a
especialização dos profissionais de saúde. A implementação de Protocolos de Actuação é fundamental
para uniformizar a instituição de cuidados médicos e de enfermagem, diminuindo o tempo de actuação e
melhorando a eficácia dos cuidados prestados6. As vantagens da instituição destes Protocolos são :
-Facilitam a tomada de decisão;
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-Minimizam a incerteza e reduzem a variabilidade da prática clínica;
-Melhoram a qualidade assistencial no domínio da efectividade, eficiência e satisfação;
-Controlam o uso inadequado de recursos;
Diminuem o risco. O que se pretende é “fazer bem à primeira e sempre”.
Nem todas as patologias justificam a realização de protocolos de actuação pelo que existem critérios de
prioridade para a realização dos mesmos e que são7:
-Prevalência ou incidência da patologia clínica;
-Impacto da doença (mortalidade, morbilidade e deficit funcional);
-Variabilidade na prática clínica; Efeitos na melhoria da abordagem do paciente;
Efeitos na redução de custos.
É importante apresentar árvores de decisão, sob a forma de fluxogramas ou de percursos clínicos onde se
mapeiam os principais processos que se desenrolam com um doente com uma determinada patologia, de
uma forma cronológica. As formas de apresentação devem ser sintéticas e com grande aplicabilidade
clínica. Todos os protocolos de actuação devem ser organizados de acordo com determinadas regras,
devendo:
Ser baseados em Normas Nacionais e/ou Internacionais mas adaptadas à realidade de cada serviço e com
evidência científica;
-Ter uma apresentação sintética e de fácil utilização;
-Ser claro para poder ser interpretado e aplicado da mesma forma pelos diversos profissionais
-Ter informações concretas sobre:
-Título do protocolo; Responsáveis; Objectivo;
-Características dos pacientes aos quais se aplica;
-Estratégias de actuação; Indicadores de monitorização;
-Distribuição de tarefas pelos diferentes elementos da equipe.
CONCLUSÃO
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De um modo geral, o STM detecta eficazmente os casos graves que necessitam de atendimento
emergente/urgente, mas, como todos os sistemas com fluxogramas rígidos, exige uma correcta adaptação
às diferentes realidades de cada país e de cada região, devendo por isso ser complementado com
protocolos internos de actuação e encaminhamento que promovam o atendimento rápido e clinicamente
adequado de cada paciente.
O enfermeiro como profissional imprescindível no processo de cuidar deve contribuir para a excelência e
qualidade da assistência ao paciente, sustentando as suas atitudes em valores éticos e humanos, exercendo
as suas funções clínicas e técnicas em conjunto com a equipe multiprofissional.
Bibliografia
1 MILLER M, KEARNEY N. Guidelines for clinical practice: development, dissemination and
implementation. Int J Nurs Stud.2004 Sep;41(7):813-21
2 SOUTO-RAMOS AI. Clarifications on triage systems in emergency departments. The Manchester
Triage System. Enferm Clin. 2008 Sep-Oct;18(5):284-6
3-BUNNL,MURPHYA.Triagelabels: choosing the national standards. BMJ. 1989 Sep 30;299(6):854-6
4 COOKE MW, JINK S. Does the Manchester Triage System detect the critically ill? J Accid Emerg
Med. 1999 May;16(3):179-81
5 MATIAS C, OLIVEIRA R, DUARTE R, BICO P, MENDONÇA C, NUNO L et al. The Manchester
Triage System in acute coronary syndromes. Ver Port Cardiol. 2008 Fev;27(2):205-216
6 WETTENECK TB, PAK MH. Using clinical practice guidelines to improve patient care. WMJ.
2005Apr;104(3):30-3
7 “O SERVIÇO DE URGÊNCIA – Recomendações para a organização dos cuidados urgentes e
emergentes” – Publicação do Ministério da Saúde e Hospitais SA.
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