Se alguém es ver disposto a fazer mais, o

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Se alguém es ver disposto a fazer mais, o
CARMO JOVEM
VIII Centenário de morte de
Santo Alberto de Jerusalém
Boletim Informativo da Província
Carmelitana Pernambucana
Julho - Setembro
2014
EDITORIAL
‘‘Se alguém es ver disposto a fazer mais, o Senhor
mesmo, quando voltar, o recompensará’’.
(Regra do Carmo, 24)
Por Frei Cláudio, O.Carm.
Mais um trimestre encerra‐se, e nós, Carmelitas, con nuamos a caminhada desejando que o Senhor
complete em nós a obra começada. E que bela obra Ele está realizando em nós, não sem a nossa ajuda. Somos
colaboradores de Deus, como diz São Paulo, e nunca será demasiada a nossa "ação", a va e passiva, para
nostornarmos aquilo a que somos chamados: ser santos no Seu amor.
Quanta coisa fizemos e o quanto de Deus expressamos sendo presença encarnada do carisma que
recebemos de nossos antepassados. "Como é belo o Carmelo!" ‐ assim exprimem muitas pessoas que par cipam
dos festejos em honra à Nossa Senhora do Carmo. Das capitais aos sertões pudemos contemplar, na diversidade
de expressões de amor à Mãe do Carmo, que o Carmelo é mariano, é todo de Maria.
A beleza do Carmelo, visibilizada na vida de irmãos e irmãs que encarnam o carisma carmelitano no seu
modo de ser e agir, na liturgia celebrada, no amor a Jesus e a Maria..., con nua a atrair homens e mulheres que,
fascinados pela beleza de Deus, escutam o chamado do Senhor para fazer parte de nossa família. Muitos são
aqueles que nos procuram para receber o escapulário, para tornarem‐se terceiros carmelitas, para serem frades
ou freiras. Isso é sinal da beleza divina que torna o Carmelo vivo e fecundo.
A beleza nos atrai. Daí que precisamos voltar sempre o nosso olhar para o belo. O belo é Deus! Fascinados
pela formosura de Deus, contemplando‐O em sua Palavra e na vida dos irmãos, somos chamados a deixar que
Suas mãos nos modelem segundo a imagem de Seu filho, Jesus Cristo, "o mais belo entre os filhos dos homens".
Quando os primeiros Carmelitas instalaram‐se no Monte Carmelo, o fizeram levando em conta a beleza
daquele lugar. Todavia, mais do que um lugar desejavam encontrar o Senhor do Lugar, a "formosura que excede
todas as formosuras", como diz Santa Teresa. E o encontro com Jesus nha uma finalidade concreta, restaurar a
beleza interior desfeita pela realidade do pecado. Quando Santo Alberto de Jerusalém lhes entrega uma norma de
vida, a pedido deles, coloca por escrito todo um i nerário espiritual capaz de os transportar de uma existência
marcada pela fealdade do pecado e do mal para a condição de homens novos, restaurados pela beleza da vida da
graça.
O Carmelo não pode perder sua beleza e, consequentemente, sua vitalidade. Não deixemos que o desdouro
e a palidez do tempo em que vivemos obscureçam a nossa visão e nos re rem de nós a capacidade de, pela fé,
esperança e caridade, contemplar a presença e a ação amorosa de Deus na humanidade. Trabalhemos com
afinco, com determinação, para restaurar o beleza de Deus em nós, no próximo e na humanidade. "Se alguém
es ver disposto a fazer mais, o Senhor mesmo, quando voltar, o recompensará".
Nesta Edição:
1. Pelos caminhos das Festas do Carmo neste
ano de 2014 ........................................................03
2. Duas Vocações....................................................05
3- Santo Alberto de Jerusalém: Um Pai para o
Carmelo ..............................................................08
4. A Mística que deve animar a leitura Orante
da Bíblia ..............................................................11
5. Rezar os Salmos hoje..........................................14
6- Em nossa fonte: Projeto OC e OCD para
o Wadi 'ain es-Siah...............................................15
7- Notícias...............................................................18
Dados do Informativo:
O Carmo Jovem é um informa vo da Província Carmelitana
Pernambucana que visa ser um veículo de formação e
informação sobre temas carmelitanos e a caminhada do
Carmelo, de um modo especial da família carmelitana do
Nordeste.
Diretor: Frei Altamiro Tenório da Paz, O.Carm.
Editor: Frei José Cláudio de A. Ba sta, O.Carm.
Design Gráfico: Almir Correia de Vasconcellos Junior
Endereço:
Convento do Carmo, Pá o do Carmo,
s/n, 50010‐180. Recife/Pe
Site: fradescarmelitas.org.br
Capa: Santo Alberto entregando a Regra aos Carmelitas
02
CARMO JOVEM, edição 07-09/2014
Pelos caminhos das
Festas do Carmo neste ano 2014
Por Frei Rogério
Lima, O.Carm.
As celebrações das Festas do Carmo neste ano de
2014, aqui no Nordeste, foram dinamizadas por um
foco temá co bem preciso: a celebração dos 270 anos
da criação da Prov. Carmelitana Pernambucana,
orientada pelo tema: Peregrina no Carmelo, nos passos
de Jesus, tua vida nossa história: expressão de amor e
serviço à missão. É salutar reconhecer que nem todos
os locais acolheram a proposta temá ca da mesma
forma e com a mesma intensidade, o que não diminuiu
a expressiva beleza de mais uma página nesta
marcante história da família carmelita no Nordeste
brasileiro.
Nas diversas festas celebradas, evidenciamos a
1ª Festa do Carmo que a Comunidade da Vila da Guia,
em Lucena/PB, realizou com a par cipação da
comunidade dos frades e postulantes.
Não poderíamos deixar de mencionar as
tradicionais festas de João Pessoa e, especialmente
aquela do Recife, onde N. Sra. do Carmo é copadroeira,
e onde os seus festejos chegaram a suplantar os do
padroeiro, levando a Província Eclesiás ca de
Pernambuco a reconhecê‐la como sua padroeira.
Como sempre, os fiéis acorrem com muito fervor e
devoção à sua excelsa padroeira, a Virgem Mãe do
Carmelo. Não podemos esquecer das festas do Carmo
nas cidades de Natal, Maceió, Campina Grande/PB,
Goiana/PE e Icó/Ce.
É bom destacar alguns locais nos quais as festas
do Carmo costumeiramente são dinamizadas pelas
comunidades com a presença das irmãs ou ainda pelos
membros de nossas Fraternidades do Escapulário, tais
como a vibrante e familiar festa do Carmo de Caririaçu,
no Cariri cearense, onde o laicato carmelitano tem uma
presença preponderante.
Mas se destacam ainda as festas do Carmo
animadas pelas Irmãs Missionárias Carmelitas, no
Carmelo de Cajazeiras/PB e em Mataraca/PB,
Arquidiocese da Paraíba, um dos espaços que marcam
a história que precedeu a criação da Província
Carmelitana Pernambucana. Neste mesmo arco se
encaixa a significa va festa de Nossa Senhora do
Carmo na cidade de Conceição/PB, que contou este
ano com a presença de Frei Fábio, filho da terra, e do
frei Geraldo Bezerra, veterano colaborador na mesma.
Merece também uma honrosa menção, nesta
memória, as festas do Carmo celebradas na região de
Sergipe: Carmópolis, cidade do Carmo, an ga terra de
missão e para onde regressamos em 2000; Aracaju, no
Bairro Suissa, e São Cristóvão, onde está um dos nossos
conventos mais an gos.
Festa do Carmo em Mataraca/PB
CARMO JOVEM, edição 07-09/2014
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Em outros lugares as festas do Carmo vêm
ganhando uma notoriedade ímpar, é o caso da cidade
de Ouricuri/PE, hoje Diocese de Salgueiro. É de lá que
vem o ministério Vozes do Profeta Elias, que
abrilhantou os momentos conclusivos da linda festa do
Carmo de Goiana/PE. Do Sertão ao mar, os mesmos
louvores a cantar: Salve, salve Virgem do Carmelo!!!
Vale a pena ressaltar que em todos os lugares
houve uma forte presença e inegável dinamismo
dos/as leigos/as, irmãos e irmãs, vinculados a alguma
Fraternidade do Escapulário ou às Ordens Terceiras
Seculares, ou simplesmente, devotos da Mãe do
Carmelo. Em todos os ambientes fes vos, fica bem
visível o caráter sempre comunitário que norteia a
fes vidade. A devoção à Mãe do Carmelo enlaça os
múl plos rostos, afetos e es los de vida que perfilam
seus filhos e filhas, devotados pelo mesmo amor. Sem
sombras de dúvidas, os subtemas propostos para as
fes vidades, neste marco histórico dos 270 Anos da
criação da Província Reformada do Carmelo
Pernambucano, exprimem, de modo muito feliz, o
verdadeiro mo vo no qual reconhecemos Nossa
Senhora do Carmo como peregrina em nossa história
carmelita, nesta região do Nordeste brasileiro
acentuadamente marcada pela riqueza e
expressividade religiosa.
Por tudo, podemos con nuar louvando ao Deus
da história, a exemplo da Virgem Maria, pois o Senhor
con nua a fazer maravilhas, e Santo é o Seu nome.
Todas as gerações de carmelitas con nuarão a
proclamar a Virgem Mãe do Carmelo, Feliz e Ditosa.
Amém!
Festa do Carmo, São Cristóvão/Se
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CARMO JOVEM, edição 07-09/2014
DUAS VOCAÇÕES
O carisma carmelitano é um dom de Deus à
Igreja. Cada geração de carmelitas, no passado ou no
presente, tem diante de si um grande desafio: encarnar
esse carisma em sua vida, em seu tempo, de modo que
deixe um testemunho vivo para as futuras gerações. É
esse testemunho vivo, fruto da ação conjunta da graça
de Deus e do esforço humano, que mantém a vitalidade
e a perenidade do carisma.
Cada vocacionado que bate à porta dos
conventos, masculinos ou femininos, ou das ordens
terceiras, deseja mais do que conhecer o carisma
carmelitano através de palestras ou livros, visualizá‐lo
e experimentá‐lo concretamente na vida de irmãos e
irmãs que se esforçam por testemunhar o dom que
lhes é transmi do.
Esta seção de nossa revista apresenta duas
pequenas biografias de dois frades carmelitas,
conhecidos por muitos dos nossos leitores, e que, neste
ano, par ram para a casa do Pai, mas deixaram o seu
testamento de vida carmelitana, para nós e para as
futuras gerações: Dom Vital Wilderink e Frei Afonso
Pflaum.
DOM VITAL WILDERINK
Dom Vital Wilderink nasceu em Denventer‐
Holanda, aos 30 de novembro 1931. Após três anos de
seminário menor na Holanda, veio para o Brasil em
janeiro de 1949, residiu em Itu‐SP, onde completou os
estudos do seminário menor.
No ano de 1951, em Mogi das Cruzes, ingressou
para o noviciado, no fim do qual fez sua primeira
profissão religiosa. Fez os estudos de Filosofia em São
Paulo. Foi enviado para o curso de Teologia em Roma no
Colégio Internacional dos Carmelitas. Terminado o
curso de Teologia, foi ordenado sacerdote, junto com
Frei Carlos Mesters, seu amigo e companheiro desde o
seminário menor, no dia sete de julho de 1957, em
bispo carmelita irlandês, missionário na África.
CARMO JOVEM, edição 07-09/2014
Permaneceu em Roma para con nuar seus
estudos de Teologia na Universidade Santo Thomás de
Aquino, onde se doutorou na área de espiritualidade. A
fim de redigir sua tese de doutorado fez prolongadas
pesquisas na França.
Lecionou no Colégio Internacional dos
Carmelitas, em Roma, nos anos 63 e 64. Em janeiro de
1967, apesar do desejo do superior Geral, de que ele
permanecesse em Roma, como professor, preferiu
voltar para o Brasil.
Retornando para o Brasil em 1967, estabeleceu‐
se em Minas Gerais, onde por algum tempo foi
professor no Ins tuto de Teologia de Belo Horizonte.
Neste mesmo ano, trabalhou como operário em uma
pedreira e numa fábrica de tecidos, para conhecer
melhor o mundo do trabalho dos pobres.
No ano de 1968, foi nomeado diretor do
departamento de formação da CRB nacional. Exerceu
essa função por dois anos. Durante esse período,
par cipou como representante da CRB, da segunda
Conferencia Episcopal La no Americana, em Medellín.
Em 1970, a pedido de quatro congregações, foi para
diocese de Itabira/MG, para acompanhar as irmãs em
um novo es lo de vida inserida no meio de povo, no
con nuo esforço de responder às diretrizes da
Conferência, e tornou‐se coordenador pastoral da
mesma diocese até 1974.
Neste ano, re rou‐se em ano sabá co para
Colômbia, fazendo um curso no Ins tuto de Pastoral do
CELAM, até outubro do mesmo.
Retornando ao Brasil, foi transferido para Angra
dos Reis, a pedido de D. Valdir, por quem foi nomeado
vigário episcopal da região litorânea da diocese de
Volta Redonda, onde era previsto, devido a sua
extensão, a criação de uma nova diocese.
Em 1977, frei Vital começou a assumir, em fins de
semana, as celebrações desta paróquia de Lídice e da
comunidade da Estação, devido a transferência do seu
confrade frei Paulo. Neste tempo, fez um prolongado
re ro no Alto do Rio das Pedras, onde foi acolhido pela
família dos Moreira.
Neste mesmo ano, num encontro casual com
dom Raimundo, aconteceu a par lha de um sonho
comum: viver uma vida de es lo mais contempla vo.
Marcaram um encontro em Angra dos Reis, para verem
a possibilidade de realizarem juntos esse sonho.
Foram ver um pequeno terreno num bosque. Era
dia 18 de novembro de 1977; no entanto, no dia
seguinte, um telefonema de Brasília convocando o frei
Vital, a comparecer na Anunciatura Apostólica desfez
todo o seu projeto. Fora nomeado pelo Papa Paulo VI
bispo auxiliar da diocese de Volta Redonda, com a
tarefa de preparar a nova diocese Sul Litoral.
05
Sendo sagrado bispo por Dom Valdir, no dia 13 de
agosto de 1978, na Igreja do Conforto, de Volta
Redonda. Foi seu lema: Testemunhar o Evangelho da
Graça de Deus. Foram dois anos, 78 e79, de trabalho
com o povo desta região em conjunto com irmãs de
várias congregações, chamadas por ele mesmo, para
marcar presença na pastoral. Em abril de 1980, foi
criada a nova diocese pelo Papa João Paulo II, tendo
Itaguaí como sede. E nomeou dom Vital como seu
primeiro bispo.
Como seu carisma de unidade e no desejo de ter
uma igreja feita por todos, Igreja Povo de Deus,
convocou o Sínodo diocesano, que teve duração de
cinco anos.
Incen vou a pastoral catequé ca na diocese e a
pastoral social, tendo especial atenção a duas
pastorais, a operária e a CPT, da qual par cipou da
reunião de fundação em Goiânia, e foi fundador da
mesma no Estado do Rio de Janeiro.
A vida consagrada sempre mereceu seu especial
carinho, tanto a nível local quanto nacional. Ordenou os
primeiros padres brasileiros da diocese. Com sua
sensibilidade e opção preferencial pelos pobres, criou o
projeto de acolhida a meninos e meninas de rua,
construindo uma casa, a qual os meninos chamaram
Nossa Casa. A diocese nha um rosto mul forme, onde
todos se sen am acolhidos, expressão de uma
preocupação sua, que o fazia dizer: “Na diocese, o meu
primeiro desejo é que as pessoas que vêm prestar um
serviço sintam‐se primeiramente acolhidas no seu ser e
não pelo que podem fazer. Isso vem depois.”
Por doze anos par cipou da CNBB, atuou
especialmente como responsável na dimensão Bíblico‐
Catequé ca e fez parte da comissão catequé ca do
CELAM. Par cipou da quarta Conferencia Episcopal
La no Americana de Santo Domingo e de dois Sínodos
em Roma.
Os vinte anos passados no exercício do ministério
episcopal não apagaram o sonho de uma vida de es lo
mais contempla vo. Os laços criados com a família
Moreira, durante o re ro que realizou em 1977, no Alto
do Rio das Pedras, tornou possível a concre zação
desse sonho, quando seu Zé Moreira, por ocasião das
bodas de ouro de casamento, escreveu uma car nha a
Dom Vital, convidando‐o a celebrar a missa para o
casal, e dizendo que também lhe reservava uma
supressa. A supressa consis a na doação de um
pequeno terreno, onde construiu uma casa e uma
capela, para viver sua vida num es lo mais
contempla vo.
Com a permissão do Papa João Paulo II, renunciou
o governo da diocese, e desde 1998 vivia como eremita no
Alto do Rio das Pedras. Não demorou muito para as
pessoas amigas e conhecidas começarem a subir o Alto,
para fazer re ros e desfrutar da sabedoria da pessoa de
dom Vital na orientação espiritual.
06
Dia 11 de junho de 2014, aos 82 anos, morre Dom
Vital, em um acidente de carro, em Rio Claro, no sul do
Rio de Janeiro.
FONTE: h p://www.pelafe.net/Sacerdotes/ Dom
_Vital/historico_de_dom_vital.htm . Exceto a parte em
itálico.
FREI AFONSO PFLAUM
Frei Afonso Pflaum nasceu dia 19 de fevereiro de
1939 em Bamberg, Alemanha. Seus pais eram
agricultores e moravam na cidadezinha (Dorf = aldeia)
Dietendorf. Foi ba zado já no dia seguinte de seu
nascimento com o nome de Friedrich (Fritz).
Em 1949 entrou no Seminário Marianum dos
carmelitas em Bamberg. No dia 7 de setembro de 1958
iniciou seu noviciado em Straubing, recebendo o nome
de Afonso. Emi u seus primeiros votos na Ordem do
Carmo dia 8 de setembro de 1959. Estudou Filosofia e
Teologia em Bamberg. Em 30 de outubro de 1961
recebeu a Tonsura, e as Ordens Menores dia 23 de
dezembro de 1961. Professou seus votos perpétuos dia
8 de setembro de 1962. Seu Subdiaconato aconteceu
dia 17 de fevereiro de 1963, e foi ordenado diácono dia
9 de março de 1963. Foi ordenado sacerdote dia 26 de
julho de 1964 na catedral de Bamberg. Após a
ordenação trabalhou como prefeito no Seminário
Marianum.
Em 1966 foi designado para trabalhar no Brasil,
mais precisamente para subs tuir o Frei Rafael Mainka,
que estava muito doente, como professor no Seminário
Imaculada Conceição de Graciosa. Seu envio
missionário aconteceu dia 23 de outubro de 1966 na
Igreja do Carmelitas de Bamberg. Par u do porto de
Hamburgo para o Brasil dia 2 de novembro de 1966.
No seminário de Graciosa foi professor de La m,
Religião, Alemão e Grego nos anos 1967‐68.
Em 1969 Frei Afonso Pflaum transferido para
Curi ba, Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Vila
Fanny, como pároco, mestre dos junioristas e mestre
dos noviços. Em 1973 trabalhou em Paranavaí como
vigário paroquial da Paróquia São Sebas ão.
CARMO JOVEM, edição 07-09/2014
De 1974 a 1979 foi pároco em Graciosa. Nos anos
1980 e 1981 foi diretor do Seminário São João da Cruz
em Paranavaí e vigário paroquial da Paróquia São
Sebas ão.
Em 1982 foi transferido para Camocim de São
Félix, PE, como mestre de noviços do noviciado
interprovincial dos carmelitas do Brasil, mas também
foi pároco nesta cidade pernambucana. Em 1988 foi
eleito Comissário Provincial dos Carmelitas do Paraná,
e por isso retornou a Paranavaí. Em 1989 ajudou Frei
Joaquim Knoblauch na Paróquia Bom Jesus de
Dourados, MS, como vigário paroquial. Retornou a
Graciosa como pároco. Nos anos 1996‐98 trabalhou em
Angélica, MS, como pároco. Ali recebeu o tulo de
cidadão Honorário desta cidade mato‐grossense‐do‐
sul. Em 1999 retornou a Curi ba como pároco até o
início de 2002. Depois mais uma vez foi designado para
trabalhar em Graciosa. Em 2005 foi novamente para
Paranavaí como vigário Paroquial da Paróquia São
Sebas ão. Em 2006 foi transferido para Dourados, MS.
Em 2008 foi para Curi ba, mas desta vez para o
Mosteiro Monte Carmelo. Em setembro de 2009
retornou para a Alemanha, indo morar em Straubing,
onde havia feito o noviciado.
Em março de 2013 foi transferido para Bamberg,
mas em julho foi diagnos cado um tumor maligno em
seu pâncreas. Seu úl mo ano de vida, viveu em sua casa
materna em Dietendorf.
Aceitou a doença com grande resignação,
paciência e sem reclamação. Faleceu dia 22 de julho de
2014, quatro dias antes de completar 50 anos de sua
Ordenação Sacerdotal. Foi sepultado justamente no dia
de seu Jubileu de Ouro Sacerdotal, ou seja, dia 26 de
julho de 2014 – Festa de São Joaquim e Santa Ana, pais
de Nossa Senhora e avós de Jesus.
Frei Afonso Pflaum foi um homem de oração.
Todos que conviveram com ele são testemunhas disto.
Tinha um exemplar zelo pastoral. Além de ter
trabalhado em várias paróquias e comunidades,
dedicou‐se muito a movimentos eclesiais como
Cursilho de Cristandade, Movimento Familiar Cristão,
T.L.C. Por onde passou deixou saudades e muitas
amizades, mas principalmente deixou a imagem de um
grande carmelita, excelente sacerdote e dedicado
missionário. Os carmelitas do Paraná e do Brasil devem
muito a ele por ter trabalhado muito na formação.
Várias gerações de carmelitas brasileiros receberam a
sua orientação espiritual, humana e religiosa. Sua
espiritualidade deixava marcas por onde passava.
Estava sempre disponível para ser transferido.
Fonte:
h p://ocarmelo.blogspot.com.br/2014/07/frei‐
afonso‐pflaum.html
SER CARMELITA, EIS A MINHA VOCAÇÃO!
Durante a nossa vida somos obrigados a fazer escolhas, tomar decisões, seguir rumos. Deus sempre nos chama. Ele é a
fonte de toda vocação humana e está sempre nos convocando a sermos Seus cooperadores.
Na minha vivência em comunidade, eu sempre sen forte um chamado e um desejo de servir à Igreja de Cristo, sen
que eu podia ajudar a Igreja ainda mais. Desde pequeno me encanto com o trabalho nas comunidades paroquiais... E um dia
como outro qualquer, o Senhor me chamou, me despertou e me fez sen r uma inquietação pelo trabalho em seu Reino.
A ordem carmelita sempre me chamou atenção pelo modo de viver em oração e missão, como também pela grande
devoção Mariana. Posso até dizer que quem me atraiu para o Carmelo foi Nossa Senhora, a Mãe e mestra dos carmelitas: ela,
como ninguém, soube ouvir e fazer a vontade de Deus, e hoje nos ensina a cada dia a fazer o mesmo.
O Carmelo é uma grande escola onde aprendemos a ouvir a voz de Deus que fala no nosso
ín mo. O meditar e contemplar a Palavra nos ajudam a ter mais coragem de sair para a missão ‐ e é isso
que muito me atrai no Carmelo. Ser carmelita para mim é estar sempre a serviço do outro,é viver
dizendo como São Paulo falou: “Não sou eu que vivo, mas Cristo que vive em mim”. Tenho sempre essas
palavras de Paulo comigo, pois assim estarei pronto para melhor servir aos
irmãos e irmãs.
Estou muito animado e esperando ansioso, pois, se for da vontade de Deus, ano que vem estarei
entrando para começar a minha caminhada nesta grande família, uma família que não subs tui a minha,
mas que se soma aos meus tantos irmãos e irmãs. Tenho consciência que a caminhada não é fácil!
Problemas vão aparecer. Mas encontrarei forças na oração para vencê‐los.
Que Maria, mãe e mestra do Carmelo, interceda por todos os vocacionados, meus irmãos, que
junto comigo almejam fazer parte dessa bela Ordem.
Maria mãe e mestra do Carmelo, Rogai por nós!
José Ricardo da Silva, vocacionado carmelita
CARMO JOVEM, edição 07-09/2014
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SANTO ALBERTO DE JERUSALÉM:
UM PAI PARA O CARMELO
Por Pe. Giovanni
Grosso, O.Carm.
São João de Acre, cabo norte do golfo de Haifa, 14 de
setembro de 1214. O patriarca la no de Jerusalém, Alberto
Avogrado, avançava em procissão, rodeado de cônegos do
Santo Sepulcro e de outros clérigos, celebrando a festa da
Exaltação da Santa Cruz, na qual par cipava toda a
comunidade "franca", ou seja, os cristãos la nos e outros
cidadãos atraídos pelo acontecimento. De repente, uma
pessoa da mul dão a rou‐se contra o patriarca, ferindo‐o
de morte. O homicida, que era o professor do hospital do
Espírito Santo, quis vingar‐se por ter sido des tuído de sua
função por mo vos de imoralidade.
Assim morreu o patriarca Alberto, ví ma de seu
compromisso com uma igreja fiel ao Evangelho.
Descendente dos Avogrado, de uma família de classe média,
nascera uns 60 anos antes, por volta do ano 1150,
provavelmente em Castel Gual eri, na que hoje é província
de Regio Emilia, naquele tempo território piemontês
iden ficado com vários nomes: Lombardia, Itália... Sendo
um jovem de 20 anos, depois de acabar os primeiros estudos
de direito, optou pela vida religiosa: não por uma carreira
eclesiás ca cômoda, prometedora e remunera va, mas pela
austera vida comunitária dos Cônegos Regulares de
Mortara, que se ocupavam da vida comunitária de pobreza e
de oração litúrgica coral unida ao serviço pastoral. Tornou‐se
um intérprete autorizado se sua regra de vida, até ao ponto
de obter a confiança de seus superiores e dos irmãos para
converter‐se em mestre de noviços e, posteriormente, prior,
em 1180.
08
A fama de Alberto cresceu até ao ponto de, em 1184,
ser eleito bispo de Bobbio, onde só permaneceu alguns
meses, já que, no ano seguinte, foi des nado a presidir a
igreja de Vercelli, onde permaneceu uns vinte anos. Este
período foi rico em a vidade pastoral e diplomá ca,
aspectos fortemente unidos em sua vida. De fato, ele não só
presidia a diocese, mas também representava o imperador,
em cujo nome governava o condado de Vercelli.
Sendo bispo acompanhou a igreja eusebiana na
celebração de um sínodo diocesano (1191), no qual
nasceram novos estatutos, fruto, ao menos em boa parte, da
clarividência e da competência do próprio bispo. Esta an ga
legislação, desafortunadamente desaparecida, esteve em
vigor ao menos até o início do século XVII, sendo modelo de
concreção e flexibilidade. Alberto teve outra preocupação, a
formação do clero diocesano. Foi muito valorizado pelos
papas, os quais enviaram‐no como mediador para dirimir
desavenças entre os bispos e os capítulos dos cônegos ou
entre as dioceses vizinhas. Estes foram também anos de
intensa a vidade polí ca: como bispo‐conde manteve
sempre boas relações com os imperadores Frederico I
"Barbarocha" e seu filho Henrique IV, a quem acompanhou
muitas vezes em suas viagens para Itália. Não foi fácil a
relação com o município de Vercelli, cuja conhecida
notoriedade ia crescendo. A sabedoria e a competência
jurídica de Alberto também tornaram‐se visíveis por ocasião
da reforma dos estatutos dos capítulos dos Cônegos de
Biella e Santa Ágata e Santa Maria Maggiore de Vercelli. O
bispo também foi requerido para colaborar na revisão das
cons tuições dos Humilhados, a nova ordem religiosa
composta por leigos em con nência e sacerdotes.
Todas estas a vidades, junto com sua fama de
homem espiritual, fizeram que os cônegos do capítulo do
Santo Sepulcro sugerissem o seu nome ao papa para ser
patriarca de Jerusalém. Inocêncio III (1198‐1216) acolheu a
proposta e, depois de vencer sua resistência como
candidato, enviou‐o como patriarca de Jerusalém e legado
papal para a província da Terra Santa. Nos primeiros meses
de 1206, Alberto permaneceu em São João de Acre, sede
provisória do patriarcado, por estar impedida a entrada e a
residência em Jerusalém, que estava em mãos dos
sarracenos. Em seguida, ocupou‐se em melhorar a situação
da Igreja la na na Terra Santa.
Como legado papal interviu no nomeamento de
bispos e fomentou o diálogo com os sarracenos e entre os
diversos grupos e autoridades cristãs. Nessa ocasião, o reino
la no de Jerusalém se limitava a pouco mais da costa do
golfo de Haifa aos territórios libaneses e à ilha de Chipre.
Depois da batalha de Ha n (1187) o domínio sarraceno fora
restabelecido em quase toda a Terra Santa.
CARMO JOVEM, edição 07-09/2014
Entre os territórios dominados pelos "francos" ficou
o promotório do Carmelo. Justamente em sua vertente
ocidental sul, no vale do Peregrino ( Wadi ' ain es Siah), nas
ruínas da an ga capela bizan na, depois de 1189,
estabeleceu‐se um grupo de peregrinos la nos que se
propuseram viver como eremitas em santa penitência.
Formavam uma de tantas comunidade nascidas
durante aqueles anos na terra fecunda de uma sociedade
em movimento e de uma Igreja em efervescência pelos
interrogantes sobre a essencialidade, a simplicidade e a
radicalidade de vida. A sociedade ocidental estava em
profunda transformação: as an gas estruturas feudais,
fechadas e baseadas numa agricultura de subsistência com
mínimas mudanças sociais, iam dando espaço a novas
aglomerações urbanas cujo centro vital era o mercado, o
bispado, a administração municipal e inclusive a
universidade. Novos grupos sociais compostos por
mercadores, artesãos, profissionais, iam subs tuindo as
an gas estra ficações sociais dos cavaleiros e camponeses.
Inclusive na própria Igreja, pululavam os movimentos de
opção pela pobreza e os "evangélicos", que eram
pregadores populares que com frequência percorriam
amplas regiões, alimentando a fome da Palavra de Deus;
além desses, ainda havia os eremitas solitários e em grupo,
que se estabeleciam em lugares desér cos, passando a ser
um atra vo para muita gente. O desejo espiritual de uma
vida cristã mais substancial e baseada no Evangelho
mesclou‐se com a explosão demográfica, o crescimento da
riqueza e, como causa disto, as diferenças sociais, o
aumento da cultura universitária, a mobilida de social e
outrosfatores, provocando uma imponente marcha à Terra
Santa, o que levou às cruzadas. O desejo de trasladar‐se
àquela Terra para encontrar o Senhor, visitando os lugares
de sua vida terrena, provocara efe vamente um movimento
intenso no povo, que se transformou na peregrinação
armada chamada cruzada.
Neste contexto nasceu a comunidade dos Irmãos
Eremitas do Carmelo. Alberto lhes escreveu a Fórmula de
Vida, autên ca coluna vertebral da vida carmelitana, que
passou a ser a Regra Carmelita. Uma breve carta na qual se
descrevia em poucas linhas seu propósito, ou seja, a vida e a
fisionomia por as quais o grupo se decidira.
Pretendiam ser uma fraternidade de eremitas
obedientes ao prior, reunidos em torno de Jesus Cristo, em
con nua e orante meditação de sua Palavra, alimentados
pela Eucaris a, em silêncio, trabalho, pobreza,
discernimento e diálogo fraterno.
Nela aparece, pela primeira vez, o DNA do grupo, ou
seja, o carisma. Este era formado por dois elementos
essenciais da vida cristã e religiosa, porém combinados de
uma maneira original. Caridade, oração, centralidade de
Cristo, serviço e algum outro elemento da vida espiritual,
tudo isto ar culado de maneira harmoniosa tal que
proporcionava ao grupo e aos seus membros a graça de
permanecerem em constante busca do rosto de Cristo, para
serem transformados pelo Espírito e viverem em plena
comunhão com o Pai e também com os irmãos.
CARMO JOVEM, edição 07-09/2014
O ícone ideal da primeira comunidade de Jerusalém,
como é descrito nos Atos dos Apóstolos ( 2,42‐47; 4,32‐35; 5,
12‐16) cons tuía a firme referência estrutural dos primeiros
Carmelitas. É di cil saber se a ideia foi sugerida por eles ou
por Alberto, porém é certo que a composição da Fórmula de
Vida e a ar culação dos elementos são do patriarca.
Alberto, sem que saibamos de que modo, porém
certamente em diálogo com os próprios irmãos, conseguiu
harmonizar as diversas aspirações que aparecem na
Fórmula de Vida. Antes de tudo, aparece o forte chamado a
seguir Jesus justamente ali onde ele viveu, consumou seu
sacri cio e ofereceu a vida por sua ressurreição: este era o
ideal da peregrinação a Jerusalém, con do na tradição
cristã. Tratava‐se de um caminho de transformação
con nua, que conduzia os eremitas a fazer a experiência de
ressuscitar da morte, a passar da vida carnal à espiritual.
Deste modo, os carmelitas se fizeram irmãos, capazes de
construir uma comunidade na qual é possível encontrar o
Senhor e estar dispostos para servir os irmãos e irmãs do
povo de Deus. Tinham o desejo de seguir Jesus na pobreza
apostólica, como sinal da essencialidade da vida e da radical
dependência de Deus, próprio de muitos movimentos do
tempo que optavam pela pobreza. Havia um chamado à
solidão do deserto, mesmo que mi gado por elementos
comunitários e cenobí cos, que expressava o desejo de
buscar o Senhor como o absoluto, para permanecer na
in midade com Ele. Havia a exigência da luta espiritual
expressa no convite a reves r‐se da armadura espiritual (Ef
6,11‐17): uma interessante releitura da mentalidade do
momento imbuída dos ideais cavalheirescos e do espírito da
cruzada. O desejo de contribuir com a reforma da Igreja se
expressou na escolha por venerar a Maria, a Mãe do Senhor,
a Senhora do Lugar, ou seja do próprio Carmelo e da Terra
Santa, conquistada pelo sangue de seu Filho: a ela foi
dedicada a capela construída no meio das celas dos irmãos.
09
Pretendiam ser uma fraternidade de eremitas
obedientes ao prior, reunidos em torno de Jesus Cristo, em
con nua e orante meditação de sua Palavra. Esta devoção
mariana inicial con nha todos os elementos que se
desenvolveram ao longo da mul ssecular história da
Ordem. À semelhança da escolha do modelo ideal do
profeta Elias, ao qual estava unido o lugar no qual se
estabeleceram os eremitas ‐ "junto à fonte", chamada
popularmente de Fonte Elias ‐, a devoção mariana passou a
ser mo vo de iden ficação e chamado à dimensão profé ca
ou seja, ao anúncio livre e visível do quanto Deus quer para a
história humana.
Alguns autores têm tentado definir a contribuição
específica de Alberto e seu papel na fundação do Carmelo;
porém são somente hipóteses baseadas em provas
frequentemente frágeis e não sempre suficientemente
verificadas. Se bem que seja plausível atribuir a Alberto a
redação da carta que contém a Fórmula de Vida (isto nunca
foi posto em dúvida pelas fontes), e, além disso, se possa
atribuir a Alberto as citações bíblicas diretas ou indiretas
(são tantas que alguém chegou a dizer que a Fórmula de Vida
se apresenta como fruto de uma lec o divina), sem embargo
não se pode afirmar com certeza que partes ou que
conselhos são fruto exclusivo da mente e do coração do
patriarca e quais do desejo dos próprios eremitas. De fato,
estes já viviam no Carmelo e haviam dado uma forma inicial
a seu propositum (Regra 3). Ainda assim, creio que se pode
atribuir à experiência de Alberto, cônego da Santa Cruz de
Mortara, ao menos a indicação de São Paulo como modelo
(Regra 20): um dom específico do patriarca Alberto aos
Carmelitas. A menção do apóstolo foi, de maneira mais ou
menos consciente, de grande ajuda para os irmãos na hora
de orientar‐se para o apostolado explícito e direto, sem que
por isso fosse desprezada a dimensão contempla va
carismá ca, originária e própria. Por outra parte, o mesmo
Paulo foi também um mís co (cfr. 2Cor 12,1‐10) e um
homem de profunda oração (Rom 16,25‐27; 2Cor 2,1; Ef.
3,14‐21). Da mesma maneira se pode manter que é uma
herança de Alberto a forte dimensão eclesial que percorre o
texto da Fórmula de Vida, a qual conservou em todo tempo o
esforço dos Carmelitas a favor da vida eclesial e da
evangelização.
Tudo isto permi u à comunidade eremí ca do
Carmelo não encerrar‐se em si mesma num narcisismo
conservador da própria escolha e do próprio es lo de vida.
Os irmãos se abriram ao mundo e à história, sem perder, por
isso, as próprias origens, seu DNA.
Foto: Texto antigo da Regra do Carmo
I n s ga d o s p e l o a u m e n t o d e m e m b ro s d a
comunidade, pela pressão sarracena e pela insegurança do
lugar, decidiram iniciar a migração para o Ocidente, do qual
procediam os primeiros peregrinos penitentes. Desta
maneira, além das fundações na Terra Santa e em Chipre,
formaram‐se Carmelos na Sicília e na Itália (Messina e,
depois, Pisa), na Inglaterra (Aylesford, em Kent, e Hulne, em
Northumberland), em Provenza (Les Aygalades e
Valenciennes), e na Alemanha (Colônia).
A Fórmula de Vida de Santo Alberto con nuou
modelando a vida dos irmãos e passou a ser Regra
reconhecida e aprovada, com alguns importantes
acréscimos e modificações do papa Inocêncio IV (01 de
outubro de 1247). A essencialidade, a flexibilidade e o
dinamismo deste tesouro fizeram dele uma referência capaz
de oferecer alimento e inspiração a muitos grupos de fiéis,
religiosos e leigos, que cons tuem a Família Carmelitana.
A carta entregue por Alberto aos irmãos eremitas
que viviam junto à fonte de Elias completa agora mais de 800
anos, porém não perdeu absolutamente seu frescor, e,
como um fruto em tempos de mudança, conseguiu adaptar‐
se a situações sempre novas, abertas à esperança de Deus
para os homens.
Foto: Santo Alberto entregando a Regra aos Carmelitas.
10
CARMO JOVEM, edição 07-09/2014
A MÍSTICA QUE DEVE ANIMAR
A LEITURA ORANTE DA BÍBLIA
Por Frei Carlos Mesters
3. Criar um ambiente de recolhimento e de escuta
É importante criar um ambiente adequado que
favoreça o recolhimento diante da Palavra de Deus. Ler
a Bíblia é como conversar com uma amiga. As duas,
tanto a conversa como a leitura, exigem o máximo de
atenção, respeito, amizade, entrega e escuta atenta.
Para isto você deve aprender a cul var dentro de você
o silêncio (Rc 21), recolher‐se dentro da sua cela
interior (Rc 10), durante todo o tempo da Leitura
Orante. E lembre‐se: uma boa e digna posição do corpo
favorece o recolhimento da mente.
1. "Faça‐se em mim segundo a tua palavra!"
Ao iniciar a Leitura Orante da Bíblia, você não vai
estudar; não vai ler a Bíblia para aumentar o seu
conhecimento nem para preparar algum trabalho
apostólico; não vai ler para ter experiências
extraordinárias. Mas vai ler a Palavra de Deus para
escutar o que Deus lhe tem a dizer, para conhecer a Sua
Vontade e, assim, viver melhor em obséquio de Jesus
Cristo (Rc 2). Em você deve estar a pobreza; deve estar
a disposição que o velho Eli recomendou a Samuel:
"Fala, Senhor, que teu servo escuta!" (1Sm 3,10). Deve
estar a mesma a tude obediente de Maria diante da
Palavra: “Faça‐se em mim segundo a Tua Palavra!” (Lc
1,38).
2. Pedir o Espírito Santo: "Pedi e recebereis!"
Poder escutar a Deus não depende de você nem do
esforço que fará, mas só e unicamente de Deus, da Sua
decisão gratuita e soberana de entrar em contato com
você e de fazer com que você possa ouvir a Sua voz. O
ponto de par da da Leitura Orante deve ser a
humildade. Saber recolher‐se à sua própria pequenez e
dignidade. Para isto é necessário que você se prepare,
vigiando em orações (Rc 10), pedindo que Ele mande o
seu Espírito. Pois sem a ajuda do Espírito de Deus, não
é possível descobrir o sen do que a sua Palavra tem
para nós hoje (cf Jo 14,26; 16,13; Lc 11,13).
CARMO JOVEM, edição 07-09/2014
4. Receber a Bíblia como o Livro da Igreja e da
Tradição da Vida Religiosa
Abrindo a Bíblia, você deve estar bem consciente de
que está abrindo um livro que não é seu mas sim da
comunidade. Fazendo a Leitura Orante, você está
entrando no grande rio da Tradição da Igreja que
atravessa os séculos. A Leitura Orante é o barquinho
que o carrega pelas curvas deste rio até o mar. O clarão
luminoso que nos vem do mar já clareou a "noite
escura" de muita gente. Mesmo fazendo sozinho,
sozinha, a Leitura Orante da Bíblia, você não está só,
mas estará unido aos irmãos e às irmãs que, antes de
você, procuraram "meditar dia e noite na lei do
Senhor" (Rc 10). São muitos! Mesmo aqueles e aquelas
que não sabiam ler o texto escrito! Eles sabiam ler o
texto da vida e dos acontecimentos no rosto dos
irmãos e das irmãs. Por isso, “permaneça firme naquilo
que aprendeu e aceitou como certo. Você sabe de
quem o aprendeu!” (2 Tim 3,14).
5. Ter uma correta a tude diante da Bíblia
A leitura atenta e proveitosa da Bíblia deve estar
marcada, do começo ao fim, por uma a tude
interpreta va que tem três aspectos básicos: Leitura,
Meditação e Oração. Estes três aspectos formam a
marca registrada e a espinha dorsal da Vida Religiosa,
culminando na Contemplação:
1º ASPECTO: Leitura: conhecer, respeitar, situar
Antes de tudo, você deve ter sempre a preocupação de
inves gar: "O que o texto diz em si?". Isto exige que se
faça silêncio (Rc 21). Dentro de você tudo deve
silenciar, para que nada o impeça de escutar o que
texto tem a dizer, e para que não aconteça que você
leve o texto a dizer só aquilo que você gosta de escutar.
11
Neste ponto, o estudo da Bíblia, feito a par r de um
bom método, pode ser de grande ajuda.
2º ASPECTO: Meditação: ruminar, dialogar, atualizar
Você também deve ter sempre a preocupação de se
perguntar: "O que o texto diz para mim, para nós?"
Este segundo aspecto pede que você entre em diálogo
com o texto, para que o sen do se atualize e penetre
sua vida. Como Maria, rumine o que escutou (Lc
2,19.51) e, assim, descobrirá que “a Palavra está muito
perto de você: está na sua boca e no seu coração, para
que a ponha em prá ca” (Dt 30,14; Rc 19).
3º ASPECTO: Oração: suplicar, louvar, recitar
Além disso, você deve estar sempre preocupado,
preocupada, em descobrir: "O que o texto me faz dizer
a Deus?" É a hora da prece, o momento de vigiar em
orações (Rc 10). Até agora, Deus falou para você;
chegou a hora de você responder a Ele.
6. Colocar‐se sob o julgamento da Palavra de Deus
Fazer Meditação não é o mesmo que ficar sentado,
sem fazer nada, mas é o momento forte do confronto
entre a vontade de Deus e as próprias aspirações.
Guigo dizia: "A Meditação é uma diligente a vidade da
mente que, com a ajuda da própria razão, procura o
conhecimento da verdade oculta". Meditar é fazer o
que fazia o filho pródigo quando estava longe da casa
do Pai:
* é cair em si e confrontar‐se com a vida na Casa do Pai,
com a Palavra de Deus;
* é olhar a própria vida com os olhos do Pai, levar em
conta o ponto de vista da outra, do outro;
* é conversar muito com Deus e com os pobres, pois
conversa bem grande produz conversão;
* é confrontar as aspirações pessoais com a proposta
do ideal do Carmelo;
* é aprender a situar‐se dentro do projeto de Deus que
se revela na Bíblia e na vida;
* é resolver mudar de idéia e de vida, por mais
doloroso que seja ;
* é erguer‐se e decidir voltar para o Pai, para os irmãos
e as irmãs.
7. Ponto de chegada da Leitura Orante: olhar tudo
com os olhos de Deus:
Contemplação não é o mesmo que ficar longe do
mundo. Guigo dizia: "A leitura leva a comida à boca, a
meditação a mas ga e rumina, a oração prova o seu
gosto e a contemplação é a própria doçura que alegra e
recria". A Contemplação é enxergar, saborear, agir.
* é ter no peito pensamentos santos que nascem do
livro santo (Rc 19), e nos olhos algo da "sabedoria que
leva à salvação" (2Ts 3,15);
12
* é começar a ver o mundo e a vida com os olhos dos
pobres, com os olhos de Deus;
* é você assumir a própria pobreza e eliminar do seu
modo de pensar aquilo que vem dos poderosos;
* é tomar consciência de que muita coisa, da qual você
pensava que fosse fidelidade ao Evangelho e à Tradição
da sua Congregação, na realidade nada mais era do que
fidelidade a você mesma(o) e aos seus próprios
interesses e idéias;
* é saborear, desde já, algo do amor de Deus que
supera todas as coisas;
* é mostrar pela vida que o amor de Deus se revela no
amor ao próximo;
* é fazer com que a palavra desça da boca para o
coração e anime todas as nossas ações (Rc 19);
* é dizer sempre: "faça‐se em mim segundo a tua
Palavra" (Lc 1,38).
8. Procurar por todos os meios que a interpretação
seja fiel
Para que a sua Leitura Orante não fique entregue só às
co n clu s õ es d o s s eu s p ró p rio s s en mento s ,
pensamentos ou caprichos, mas tenha uma firmeza
maior e seja realmente fiel, é importante você levar em
conta três exigências fundamentais:
1ª EXIGÊNCIA: confrontar com a fé da Comunidade
Eclesial
Confronte sempre o resultado da sua Leitura com a fé
da Igreja viva, com a comunidade a que você pertence.
Do contrário, poderia acontecer que o seu esforço não
leve você a canto nenhum (Gl 2,2). Pois é lá, na
pequena comunidade eclesial, alimentada e
sustentada pela Palavra de Deus (Rc 7, 11 e 14), que
nasce a fé da igreja como da pequena fonte nasce o rio
que irriga a terra.
CARMO JOVEM, edição 07-09/2014
2ª EXIGÊNCIA: confrontar com a realidade
Confronte sempre aquilo que você lê na Bíblia com a
realidade que hoje vivemos. Quando a Leitura Orante
não alcança o seu obje vo na nossa vida, a causa nem
sempre é falta de oração, falta de atenção à fé da Igreja,
ou falta de estudo crí co do texto. Muitas vezes, é
simplesmente falta de atenção à realidade nua e crua
que hoje vivemos. Quem vive na superficialidade, sem
aprofundar sua vida, não pode a ngir a fonte de onde
nasceu a Escritura.
3ª EXIGÊNCIA: confrontar com o resultado da exegese
Confronte sempre as conclusões da sua leitura com os
resultados do estudo que você faz da Bíblia. O estudo
inves ga o sen do da Letra. A Leitura Orante não pode
ficar parada na Letra. Ela deve procurar o sen do do
Espírito (2Cor 3,6). Mas querer estabelecer o sen do
do Espírito sem fundamentá‐lo na Letra é o mesmo que
construir um castelo no ar (St. Agos nho). É cair no
engano do fundamentalismo. Hoje em dia, em que
tantas idéias novas se propagam, é muito importante
ter bom senso. O bom senso se alimenta do estudo
crí co da Letra e ajuda a integrar a Lec o Divina com o
estudo sério da Bíblia.
9. Imitar o exemplo de São Paulo
O apóstolo Paulo, primeiro teólogo do cris anismo,
soube reler a Bíblia a par r da sua fé na ressurreição de
Jesus. Nas suas cartas, como bom intérprete das
Escrituras Sagradas do seu povo, ele nos deixou vários
conselhos de como ler a Bíblia (Rc 20). Eis algumas das
normas e a tudes recomendadas ou observadas por
ele:
* Considere‐se des natário, des natária, do que está
escrito na Bíblia, pois tudo foi escrito para a nossa
instrução (1Cor 10,11; Rm 15,4); a Bíblia é o nosso
livro.* Procure ter nos olhos a fé em Jesus Cristo, pois é
só pela fé em Jesus que o véu cai e que a Escritura
revela o seu sen do e nos comunica a sabedoria que
leva à salvação (2Cor 3,16; 2Tm 3,15).
* Lembre‐se: Paulo falava de "Jesus Cristo Crucificado"
(1Cor 2,2), "escândalo para uns, loucura para outros".
Foi este Jesus que lhe abriu os olhos para perceber
aPalavra viva de Deus no meio dos pobres da periferia
de Corinto, onde a loucura e o escândalo da cruz
estavam confundindo os sábios, os fortes e os que
pensavam ser alguma coisa neste mundo (1Cor1,21‐31).
* A melhor carta de Deus é a Comunidade. O melhor
texto é a vida comunitário! "Vocês são a carta de
Cristo!" (2Cor 3,3). Pois é na comunidade viva que atua
o Espírito transfigurando seus membros na imagem do
próprio Jesus (2Cor 3,17‐18).
* Paulo alerta contra o fundamentalismo que toma
tudo ao pé da letra. Ele diz: "A letra mata, mas o
CARMO JOVEM, edição 07-09/2014
Espírito dá vida" (2Cor 3,6). Sem a ação do Espírito, a
Bíblia não passa de uma letra morta. Paulo rou esta
lição da sua própria experiência. Quando era
fundamentalista, chegou a matar Estêvão! (At 7,58;
8,1)
* Tenha presente os problemas da sua vida pessoal e
familiar, da sua família religiosa, das Comunidades, da
Igreja e do povo a que você pertence e serve. Foi assim
que Paulo relia e entendia a Bíblia: a par r dos
problemas do povo das comunidades (1 Cor 10,1‐13).
* Misture o eu e o nós; nunca só o eu, e nunca só o nós!
O apóstolo também misturava, pois recebeu sua
missão da comunidade de An oquia e falava a par r
dela (At 13,1‐3; Gál 2,2).
10. Descobrir na Bíblia o espelho do que vivemos hoje
Ao ler a Bíblia tenha bem presente que o texto bíblico
não é só uma janela, por onde você olha para saber o
que aconteceu com os outros no passado; é também
um espelho, um "símbolo" (Hb 11,19), onde você olha
para saber o que está acontecendo hoje com você
(1Cor 10,6‐10). A leitura orante diária é como a chuva
mansa que, aos poucos, vai amolecendo e fecundando
o terreno (Is 55,10‐11). Entrando em diálogo com Deus
e meditando a sua Palavra (Rc 10), você cresce como a
árvore plantada à beira dos córregos (Sl 1,3). Você não
vê o crescimento, mas perceberá o seu resultado no
encontro renovado consigo, com Deus e com os
outros. Diz o canto: "É como a chuva que lava, é como o
fogo que arrasa, Tua Palavra é assim, não passa por
mim, sem deixar um sinal" O obje vo úl mo da Leitura
Orante não é interpretar a Bíblia, mas sim interpretar a
vida. Não é conhecer o conteúdo do Livro Sagrado, mas
sim, com a ajuda da Palavra escrita, descobrir, assumir,
pra car e celebrar a Palavra viva que Deus fala hoje na
sua vida, na nossa vida, na vida do povo, na realidade
do mundo em que vivemos (Sl 95,7); é crescer na fé e,
como o profeta Elias, experimentar, cada vez mais, que
"Vivo é o Senhor, em cuja presença estou!" (1R
17,1;18,15).
13
REZAR OS SALMOS HOJE
O frei Carlos Mesters par lha conosco sobre o
novo livro que está preparando com Francisco Orofino
e a irmã Lúcia Weile:
‘‘Não é um Novo Testamento com comentários,
mas será um livrinho sobre os salmos. E aqui também
não será um comentário dos salmos, nem um estudo,
mas sim uma simples subsídio para ajudar as pessoas a
rezar melhor os salmos. Terá como provável tulo:
"Rezar os Salmos Hoje". Coloco aqui para você alguma
coisa que vai estar na introdução do livro.
Às vezes, acontece que rezamos um salmo e ele
não nos diz nada. Nem sempre é por falta de estudo ou
de piedade. Pode ser, simplesmente, por falta de
atenção à vida. É que os salmos nasceram da vida, e é
nas experiências concretas da vida de cada dia que
encontramos a chave principal para abrir a porta que
nos permite entrar no mundo dos salmos. Se vivemos
na superficialidade, sem aprofundar aquilo que nós
mesmos vivemos e sen mos, não chegaremos a
experimentar a vida que é a raiz de onde nasceu o
salmo, e o salmo permanecerá uma oração estranha e
distante, que não nos diz respeito.
Dizia o monge Cassiano do século IV: "Instruídos
por aquilo que nós mesmos sen mos, já não
percebemos o salmo como algo que só ouvimos, mas
sim como algo que experimentamos e tocamos com
nossas mãos; não como uma história estranha e
inaudita, mas como algo que damos à luz desde o mais
profundo do nosso coração, como se fossem
sen mentos que formam parte do nosso próprio ser”
(Colla ones X,11). Este é, até hoje, o ideal a ser
alcançado na reza dos salmos.
No tempo de Jesus, o ideal era este: aprender a
rezar os salmos de tal maneira que eles despertassem
na pessoa a cria vidade e a levassem a produzir o seu
próprio salmo. Assim, a reza, em vez de levar à ro na,
leva ao aprofundamento da oração, a um encontro
mais ín mo com Deus. Foi o que aconteceu com Jesus.
Ele fez o seu próprio salmo que é o Pai Nosso (Mt
6,9‐13; Lc 11,2‐4). O salmo de Maria é o Magnificat (Lc
1,46‐55). Assim temos os salmos de Zacarias (Lc 1,68‐
79), do velho Simeão (Lc 2,29‐32), do apóstolo Paulo
(1Cor 13,1‐13; Fl 2,6‐11), dos primeiros cristãos (Ap
11,17‐18; 12,10‐12; 15,3‐4; 19,6‐8), e tantos outros
salmos espalhados pela Bíblia.
O obje vo que nos leva a escrever o livrinho não é
o de aumentar o conhecimento a respeito dos salmos,
mas sim, como já disse, ajudar a rezá‐los melhor. Para
muitos de nós os salmos são o prato de cada dia.
14
Frei Carlos Mesters
Por isso, vale a pena gastar algum tempo para
aprender a rezá‐los melhor. O livro que estamos
fazendo tenta abrir uma porta para a casa dos salmos e
encontrar lá dentro um lugar aconchegante para poder
louvar a Deus e fortalecer em nós o compromisso com o
Reino de Deus e a sua jus ça.
O livro traz o texto integral de cada salmo e os
quatro evangelhos. Traz um esquema bem simples com
o obje vo de ajudar a descobrir a situação concreta da
vida que provocou o salmo e a experimentar o rumo da
prece. Serão quatro os pontos de iden ficação para
cada salmo: (1) Um tulo que aponta o sen do do
salmo para a vida. (2) Uma frase do próprio salmo que
expressa e destaca o que nele vai ser rezado. (3) Uma
chave que explicita o obje vo, o conteúdo, o contexto
do salmo. (4) Uma divisão do salmo que aponta o rumo
da prece e ajuda a perceber a ar culação do
pensamento do salmista. Além disso, para cada salmo,
algumas perguntas que ajudam a trazer o salmo para
dentro do horizonte da nossa vida hoje. As perguntas
procuram ajudar‐nos a penetrar no coração do salmo e
a descobrir nele algo do mistério de Deus e da vida. De
vez em quando, uma pergunta que destaca a pessoa de
Jesus, pois os salmos eram a sua oração diária. Jesus os
rezou até a sua úl ma hora, na cruz (Mc 15,34)’’.
CARMO JOVEM, edição 07-09/2014
Em nossa fonte: Projeto OC e
OCD para o Wadi 'ain es-Siah
O nome "Wadi 'ain es‐Siah" talvez provoque em
muitos um diferente pulsar do coração, para outros talvez
seja só uma palavra estrangeira como tantas. Mas para
aquele que visita e percorre há anos o estreito vale do
Monte Carmelo, junto a Haifa, que leva esse nome, "Wadi
'ain es‐Siah", iden fica‐o como um lugar mís co e rico de
recordações an gas, que, apesar disso, são "sempre
novas".
Verdadeiramente, este vale natural, com seus
restos históricos e arqueológicos, perpetua e torna
presente aos Carmelitas nossas origens, nosso berço.
Agora não podemos recordar os aspectos históricos e os
elementos arqueológicos que fazem com que este vale
seja para nós, Carmelitas, um espaço singular.
Impulsionados pela emoção e pela esperança, nos
propomos a comunicar‐vos o projeto que os Priores
Gerais da OC e da OCD desejam que se leve a cabo de
maneira conjunta. Um projeto ambicioso de salvaguarda,
de tutela e restauração de todos os elementos
arqueológicos, naturais e do ambiente daquilo que é o
lugar concreto no qual viveram nossos primeiros
Eremitas Carmelitas.
Para nós como para muitos, evocar e percorrer o
Wadi 'ain es‐Siah, não supõe só conhecer um momento
de uma história passada ou um adentrar‐se na cultura
geral, também significa viver e sen r com o coração,
saciar a própria sede na mesma fonte que alimenta cada
dia nossa espiritualidade como carmelitas.
Não saberia dizer o que mais nos contagia, se o fato
de fazer parte da Terra Santa ou o fato de haver nascido
neste lugar concreto; este binômio, esta dupla via, nos
conduz à mesma meta santa. Cabe‐nos descobrir
pessoalmente este caminho e experimentá‐lo.
Referindo‐nos concretamente ao citado projeto no
Wadi 'ain es‐Siah, começamos falando do desejo e da
vontade expressos pelos Superiores Gerais de não deixar
no abandono este lugar tão querido.
CARMO JOVEM, edição 07-09/2014
Este desejo concre zou‐se posteriormente na
cons tuição de uma comissão mista, composta por
irmãos da O.C e da O.C.D, que, trabalhando juntos,
buscam a melhor maneira de seguir e concre zar estes
desejos comuns: como preservar, manter, visitar e
proteger este patrimônio carmelitano em seus aspectos
históricos, arqueológicos e naturais. Dita comissão é
formada atualmente pelo Pe. Raul Maraví, Conselheiro
Geral da O.C, e os padres José Colón, Francisco Nigral e o
Frei Fausto Spinelli, membros da Delegação de Israel da
O.C.D.
Infelizmente, os primeiros trabalhos orientar‐se‐ão
em duas frentes: o da segurança e da urgente
restauração arquitetônica e arqueológica. De modo
par cular se pretende, de acordo com o Departamento
da An guidade Israelita, por em andamento os trabalhos
urgentes de restauração nas ruínas das an gas
edificações, par cularmente a Igreja. Porém, como se
disse, antes de iniciar este trabalho deve‐se garan r que
este importante espaço carmelitano mantenha‐se seguro
frente aos intrusos e que se evite o perigo de possíveis
danos a pessoas e objetos.
Enquanto são tomadas estas medidas de cautela e
de limpeza, não iremos parar nestes primeiros passos;
desenvolver‐se‐á um projeto global que afetará toda a
área e todos os componentes essenciais, tanto
arqueológicos como naturais. É desejo tornar possível
que o lugar seja conhecido e visitado pelos peregrinos
carmelitas e visitantes locais. Não se pode esquecer que
este lugar tem um interesse específico não somente para
nós carmelitas, mas também para osHebreus e
Mulçumanos, e que este vale natural também é visitado
por famílias, alunos e excursionistas.
Sabemos de antemão que o projeto não encontrará
um caminho plano e fácil para sua realização, não só pelo
aspecto econômico, mas também porque são poderá ser
realizado de uma só vez, e nos exigirá muitos esforços e
acordos sobre as possibilidades econômicas e a obtenção
das permissões necessárias da autoridade local.
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Desde já somos conscientes de que tanto o Município
como o Departamento de An guidade Israelita e a
autoridade do Parque Natural, no qual se encontra nosso
preciosos lugar, nos pedirão: tempo, paciência e
capacidade econômica sólida. Como tudo o que é belo
compromete e pede grande esforço e dedicação, assim
também teremos de nos esforçar muito para que este
projeto se inicie e se mantenha através do tempo.
Para não cansar‐vos, não seguiremos elencando
todos as partes que carecem de restauro, nem
mostraremos os numerosos percursos que facilitarão a
visita, nem descreveremos os pontos panorâmicos nos
diversos e fascinantes i nerários. Fazer uma lista de tudo
resultaria frio e árido, e expressar soluções e desejos que
ainda devem ser tratados com a autoridade torna‐se
pouco profissional e pouco sério. Assim, pois, só nos resta
deixar‐vos, de momento, com um pouco de curiosidade,
na espera de que novamente poderemos informar‐vos
sobre como levar‐se‐á a cabo o projeto. Lendo o ar go
que trata sobre o assunto na web, e vendo as fotografias
de toda a área, podereis vislumbrar e imaginar, já agora,
seu desenvolvimento futuro.
Mesmo que a comissão mista das Famílias
Carmelitanas, sob a supervisão e orientação dos gerais,
tenha que trabalhar de uma maneira mais direta para
conduzir o projeto em suas diferentes fases, também será
necessária a colaboração de muitos outros agentes, e não
só de profissionais que realizarão os aspectos
burocrá cos, já que se pretende que toda a família
carmelitana, espalhada pelo mundo, conheça e
acompanhe a realização desta grande obra..
Como em toda grande obra e construção, todos
deverão colaborar, cada um poderá colocar seu próprio
jolo, e por isso, desde já, pedimos a todos os
interessados que peguem sua cesta e coloquem nela sua
contribuição, segundo suas possibilidades. Terminamos
pedindo‐vos uma oração par cular, e também que vossa
colaboração seja enviada a Roma, aos ecônomos gerais:
Pe Kevin Alban, O.Carm., e Pe. A lio Ghisleri, O.C.D, os
primeiros que coordenarão economicamente as ajudas e
colaborações para que sejam des nadas a cada fase do
projeto.
Brevemente se iniciará uma campanha conjunta
das duas famílias carmelitas para recolher contribuições,
de maneira que todas as Províncias, Conventos e
Mosteiros ajudem diretamente.
Manteremos‐vos informados. Também podereis
pedir‐nos que vos enviemos regularmente informações
sobre o que vai sendo realizado e as dificuldades
encontradas.
P. Fernando Millán Romeral,
O.Carm., Prior Geral
P. Saverio Cannistrà,O.C.D,
Superior Geral
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CARMO JOVEM, edição 07-09/2014
CONSELHOS GERAIS
Ordem dos Carmelitas da Antiga Observância
Ordem dos Carmelitas Descalços
Comissão conjunta para a manutenção do Wadi es-Siah
Roma, 01 de setembro de 2014
Aos
Priores Provinciais,
Outros Superiores,
Madres Federais,
Prioras dos Mosteiros,
Madres Gerais das Congregações aliadas,
Responsáveis pela OTC, das OCDS e de outros grupos de leigos carmelitas
Saudações fraternas desde Roma!
Conscientes de nosso patrimônio comum e da espiritualidade que compartilhamos, nossas
duas Ordens, OC e OCD, vêm desenvolvendo, como sabeis, diferentes projetos comuns nas
últimas décadas. Por isso, queremos agora convidá-los a colaborar no projeto de restauração e
manutenção das ruínas do primeiro mosteiro carmelita no Monte Carmelo.
Durante nossas reuniões, junho passado em Roma, tanto o Conselho Geral da Ordem como o
Denitório Geral dos Carmelitas Descalços decidiram realizar uma coleta extraordinária em
suas respectivas comunidades, a m de apoiar a restauração e conservação das ruínas do
primeiro mosteiro carmelita de Wadi es-Siah, no Monte Carmelo, Israel. Desde a restauração
levada a cabo nos anos 70, tanto os restos do primeiro convento como o belo ambiente natural
que os rodeia, vêm progressivamente deteriorando-se. Por isso, são necessários certos
trabalhos de conservação na estrutura, proteção do lugar e restabelecimento do acesso para os
peregrinos que chegam ao Monte Carmelo para orar e meditar no lugar onde moraram os
primitivos eremitas, junto à Fonte de Elias. Logicamente, este trabalho será desenvolvido de
forma coordenada com as autoridades da cidade de Haifa.
Como parte das celebrações pelo VIII centenário de Santo Alberto de Jerusalém, nosso
legislador, Sua Beatitude Fouad Twal, Patriarca de Jerusalém, presidirá a Eucaristia dia 12 de
outubro, na igreja de Sta. Maria, em Traspontina, Roma, com o Pe. Fernando Millán Romeral,
O. Carm., Prior Geral, e o Pe. Saverio Cannistrà, OCD, Prepósito Geral. Por isso, gostaríamos
de convidar a todas as nossas paróquias, santuários, centros de espiritualidade, mosteiros,
conventos, escolas, assim como outras instituições e casas nossas, para unirem-se a nós nesta
importante celebração, organizando uma coleta para colaborar com os gastos da dita
restauração, nesse mesmo domingo, 12 de outubro. Queremos que seja uma ocasião para
valorizar nossas origens e fortalecer os laços que nos unem como família carmelitana no
mundo.
Podeis encontrar algum mais informação sobre o Wadi es-Siah e as ruínas do primeiro mosteiro
carmelita em www.wadi.info
Que a nossa Mãe do Carmelo, a "domina loci", nos ilumine e nos guia neste belo projeto.
CARMO JOVEM, edição 07-09/2014
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NOTÍCIAS -
ACONTECEU E VAI ACONTECER:
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Preparação aos votos
No dia 03 de agosto, em Maputo, Moçambique, foi ordenado,
pelas mãos de Dom João Carlos H. Nunes, bispo auxiliar de
Maputo, o primeiro sacerdote carmelita moçambicano, o Frei
Sérgio Estefane Simone. O nosso provincial, frei Altamiro, se fez
presente à cerimônia.
Profissão Religiosa
A Família Carmelitana do Brasil realizou nos dias 17 a 31 de julho,
em Camocim de São Félix/PE, com a par cipação de 10
formandos: frades das Províncias de Santo Elias e Pernambuco, e
freiras das Missionárias Carmelitas, Carmelitas da Divina
Providência e Filhas de Santa Teresa. O encontro foi assessorado
por Frei Carlos Mesters, Frei Bruno Secondin, Frei Cláudio e Irmã
Anne e.
Um ano sem o Frei Ataíde
No dia 03 de agosto, na cidade de Cajazeiras/PB, aconteceu a
celebração eucarís ca, presidida pelo Bispo, na qual professaram
os primeiros votos, na congregação das Irmãs Missionárias
Carmelitas, as irmãs: Sara, Cícera e Marcela.
Experiência de língua inglesa em Aylesford Participação do Frei Manoel.
Dia 31 de julho, fez um ano que o Frei Ataíde par u para casa do
Pai. Ataíde Pereira da Silva nasceu dia 05 de outubro de 1956, na
cidade de Parelhas/RN. No Carmelo fez sua primeira profissão dia
06.02.83, e ordenou‐se sacerdote dia 08.12.88. Desenvolveu seu
ministério sacerdotal em diversas paróquias onde está presente a
nossa Província. De 1999 a 2001, esteve vinculado à Arquidiocese
de Natal, onde atuou como pároco da Paróquia de São Lucas, em
São Gonçalo do Amarante. Em 2013 contribuiu com o
Comissariado Geral de Portugal, neste mesmo país.
Ordenação de Frei Sérgio Estefane
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A comunidade de Aylesford, Grã Bretanha, levou a cabo uma
experiência de língua inglesa, de 01 a 14 de Agosto. Par ciparam
Andre Trujillo Herrera (Ita‐Col), Janer Fernando Gomez Torres (Ita‐
Col), karol Amroz (Pol), Antonin Prikasky (BM), David del Carpio
Horcajo (Baet), Jean de la Croix Dino Bori Sumbu (Ita RDC), Manoel
da Cruz Alves da Silva (Pern) e Jimmy Vogel (seminarista sueco).
As metas a serem alcançadas no término do curso foram:
‐ compreensão das leituras da Eucaris a diária;
‐ elaboração de alguns pontos para a homilia a par r das leituras;
‐ leitura das diferentes partes da oração eucarís ca;
‐ proclamação do evangelho ou de outras leituras;
CARMO JOVEM, edição 07-09/2014
Ereção Canônica da Ordem Terceira de Sergipe
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‐ breve introdução à Eucaris a;
‐ exercício do o cio de cantor ou leitor na Liturgia das Horas;
‐ breve apresentação da vida carmelitana nos países de origem;
‐ breve apresentação da espiritualidade ou história carmelitana.
O trabalho em sala de aula consis u numa síntese geral de alguns
pontos‐chaves da gramá ca, a compreensão da leitura e da
escuta, e também um tempo para diálogo espontâneo.
A experiência de imersão na realidade consis a em viver e
trabalhar com a comunidade local, em compar lhar a oração, a
mesa e a recreação. Algumas excursões para experimentar a vida
inglesa e ter a ocasião de usar a língua no contexto da vida real,
foram um bom complemento do trabalho realizado em sala e da
inserção na comunidade. Foram visitados os seguintes lugares:
Rochester Castle e a catedral, Maidstone, Canterbury, com a
par cipação no Evensong da catedral, e a cidade e universidade de
Cambridge e Londres.
Dia 23 de agosto, aconteceu na cidade de São Cristóvão/Se a
celebração Eucarís ca, presidida pelo Prior Provincial Frei Altamiro
Tenório da Paz, concelebrada Frei Francisco de Sales, Secretário Geral
da Ordem, e outros, na qual foi erigida canonicamente a Ordem
Terceira Secular de Sergipe. Marco Antônio foi nomeado Prior do
Sodalício.
A Ordem Terceira da de Sergipe é uma refundação da Ordem Terceira
do Carmo de São Cristóvão, fundada em 26 de dezembro de 1666, e
existente na mesma cidade até 1970, quando morreu seu úl mo
irmão professo.
Encontro vocacional
Aconteceu de 29 a 31 de agosto mais um encontro vocacional
em São Cristóvão/Se
Formação em Ávila e Salamanca (Espanha)
De 07 a 17 de Setembro a Ordem do Carmo promoveu um Curso de
Formação Permanente em Ávila e Salamanca. O encontro foi sobre
a Vida é a missão de Santa Teresa e São João da Cruz.
Da Província Pernambucana par ciparam os freis: Celso, Luis,
Severino e Gilsimar (na foto acima da esquerda para direita)
Jornadas Missionárias
A Província prepara‐se para a realização das jornadas missionárias
que serão realizadas em janeiro de 2015, nas seguintes
localidades: Princesa Isabel/PB, Simão Dias/Se e Nova Cruz/RN.
Retiros Carmelitanos promovidos pelo IETB
Dia 15 de novembro, em Goiana/Pe,
Dia 13 de dezembro, em Goiana/Pe.
Tema: Viver o Natal do Carmelo
CARMO JOVEM, edição 07-09/2014
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