Se alguém es ver disposto a fazer mais, o
Transcrição
Se alguém es ver disposto a fazer mais, o
CARMO JOVEM VIII Centenário de morte de Santo Alberto de Jerusalém Boletim Informativo da Província Carmelitana Pernambucana Julho - Setembro 2014 EDITORIAL ‘‘Se alguém es ver disposto a fazer mais, o Senhor mesmo, quando voltar, o recompensará’’. (Regra do Carmo, 24) Por Frei Cláudio, O.Carm. Mais um trimestre encerra‐se, e nós, Carmelitas, con nuamos a caminhada desejando que o Senhor complete em nós a obra começada. E que bela obra Ele está realizando em nós, não sem a nossa ajuda. Somos colaboradores de Deus, como diz São Paulo, e nunca será demasiada a nossa "ação", a va e passiva, para nostornarmos aquilo a que somos chamados: ser santos no Seu amor. Quanta coisa fizemos e o quanto de Deus expressamos sendo presença encarnada do carisma que recebemos de nossos antepassados. "Como é belo o Carmelo!" ‐ assim exprimem muitas pessoas que par cipam dos festejos em honra à Nossa Senhora do Carmo. Das capitais aos sertões pudemos contemplar, na diversidade de expressões de amor à Mãe do Carmo, que o Carmelo é mariano, é todo de Maria. A beleza do Carmelo, visibilizada na vida de irmãos e irmãs que encarnam o carisma carmelitano no seu modo de ser e agir, na liturgia celebrada, no amor a Jesus e a Maria..., con nua a atrair homens e mulheres que, fascinados pela beleza de Deus, escutam o chamado do Senhor para fazer parte de nossa família. Muitos são aqueles que nos procuram para receber o escapulário, para tornarem‐se terceiros carmelitas, para serem frades ou freiras. Isso é sinal da beleza divina que torna o Carmelo vivo e fecundo. A beleza nos atrai. Daí que precisamos voltar sempre o nosso olhar para o belo. O belo é Deus! Fascinados pela formosura de Deus, contemplando‐O em sua Palavra e na vida dos irmãos, somos chamados a deixar que Suas mãos nos modelem segundo a imagem de Seu filho, Jesus Cristo, "o mais belo entre os filhos dos homens". Quando os primeiros Carmelitas instalaram‐se no Monte Carmelo, o fizeram levando em conta a beleza daquele lugar. Todavia, mais do que um lugar desejavam encontrar o Senhor do Lugar, a "formosura que excede todas as formosuras", como diz Santa Teresa. E o encontro com Jesus nha uma finalidade concreta, restaurar a beleza interior desfeita pela realidade do pecado. Quando Santo Alberto de Jerusalém lhes entrega uma norma de vida, a pedido deles, coloca por escrito todo um i nerário espiritual capaz de os transportar de uma existência marcada pela fealdade do pecado e do mal para a condição de homens novos, restaurados pela beleza da vida da graça. O Carmelo não pode perder sua beleza e, consequentemente, sua vitalidade. Não deixemos que o desdouro e a palidez do tempo em que vivemos obscureçam a nossa visão e nos re rem de nós a capacidade de, pela fé, esperança e caridade, contemplar a presença e a ação amorosa de Deus na humanidade. Trabalhemos com afinco, com determinação, para restaurar o beleza de Deus em nós, no próximo e na humanidade. "Se alguém es ver disposto a fazer mais, o Senhor mesmo, quando voltar, o recompensará". Nesta Edição: 1. Pelos caminhos das Festas do Carmo neste ano de 2014 ........................................................03 2. Duas Vocações....................................................05 3- Santo Alberto de Jerusalém: Um Pai para o Carmelo ..............................................................08 4. A Mística que deve animar a leitura Orante da Bíblia ..............................................................11 5. Rezar os Salmos hoje..........................................14 6- Em nossa fonte: Projeto OC e OCD para o Wadi 'ain es-Siah...............................................15 7- Notícias...............................................................18 Dados do Informativo: O Carmo Jovem é um informa vo da Província Carmelitana Pernambucana que visa ser um veículo de formação e informação sobre temas carmelitanos e a caminhada do Carmelo, de um modo especial da família carmelitana do Nordeste. Diretor: Frei Altamiro Tenório da Paz, O.Carm. Editor: Frei José Cláudio de A. Ba sta, O.Carm. Design Gráfico: Almir Correia de Vasconcellos Junior Endereço: Convento do Carmo, Pá o do Carmo, s/n, 50010‐180. Recife/Pe Site: fradescarmelitas.org.br Capa: Santo Alberto entregando a Regra aos Carmelitas 02 CARMO JOVEM, edição 07-09/2014 Pelos caminhos das Festas do Carmo neste ano 2014 Por Frei Rogério Lima, O.Carm. As celebrações das Festas do Carmo neste ano de 2014, aqui no Nordeste, foram dinamizadas por um foco temá co bem preciso: a celebração dos 270 anos da criação da Prov. Carmelitana Pernambucana, orientada pelo tema: Peregrina no Carmelo, nos passos de Jesus, tua vida nossa história: expressão de amor e serviço à missão. É salutar reconhecer que nem todos os locais acolheram a proposta temá ca da mesma forma e com a mesma intensidade, o que não diminuiu a expressiva beleza de mais uma página nesta marcante história da família carmelita no Nordeste brasileiro. Nas diversas festas celebradas, evidenciamos a 1ª Festa do Carmo que a Comunidade da Vila da Guia, em Lucena/PB, realizou com a par cipação da comunidade dos frades e postulantes. Não poderíamos deixar de mencionar as tradicionais festas de João Pessoa e, especialmente aquela do Recife, onde N. Sra. do Carmo é copadroeira, e onde os seus festejos chegaram a suplantar os do padroeiro, levando a Província Eclesiás ca de Pernambuco a reconhecê‐la como sua padroeira. Como sempre, os fiéis acorrem com muito fervor e devoção à sua excelsa padroeira, a Virgem Mãe do Carmelo. Não podemos esquecer das festas do Carmo nas cidades de Natal, Maceió, Campina Grande/PB, Goiana/PE e Icó/Ce. É bom destacar alguns locais nos quais as festas do Carmo costumeiramente são dinamizadas pelas comunidades com a presença das irmãs ou ainda pelos membros de nossas Fraternidades do Escapulário, tais como a vibrante e familiar festa do Carmo de Caririaçu, no Cariri cearense, onde o laicato carmelitano tem uma presença preponderante. Mas se destacam ainda as festas do Carmo animadas pelas Irmãs Missionárias Carmelitas, no Carmelo de Cajazeiras/PB e em Mataraca/PB, Arquidiocese da Paraíba, um dos espaços que marcam a história que precedeu a criação da Província Carmelitana Pernambucana. Neste mesmo arco se encaixa a significa va festa de Nossa Senhora do Carmo na cidade de Conceição/PB, que contou este ano com a presença de Frei Fábio, filho da terra, e do frei Geraldo Bezerra, veterano colaborador na mesma. Merece também uma honrosa menção, nesta memória, as festas do Carmo celebradas na região de Sergipe: Carmópolis, cidade do Carmo, an ga terra de missão e para onde regressamos em 2000; Aracaju, no Bairro Suissa, e São Cristóvão, onde está um dos nossos conventos mais an gos. Festa do Carmo em Mataraca/PB CARMO JOVEM, edição 07-09/2014 03 Em outros lugares as festas do Carmo vêm ganhando uma notoriedade ímpar, é o caso da cidade de Ouricuri/PE, hoje Diocese de Salgueiro. É de lá que vem o ministério Vozes do Profeta Elias, que abrilhantou os momentos conclusivos da linda festa do Carmo de Goiana/PE. Do Sertão ao mar, os mesmos louvores a cantar: Salve, salve Virgem do Carmelo!!! Vale a pena ressaltar que em todos os lugares houve uma forte presença e inegável dinamismo dos/as leigos/as, irmãos e irmãs, vinculados a alguma Fraternidade do Escapulário ou às Ordens Terceiras Seculares, ou simplesmente, devotos da Mãe do Carmelo. Em todos os ambientes fes vos, fica bem visível o caráter sempre comunitário que norteia a fes vidade. A devoção à Mãe do Carmelo enlaça os múl plos rostos, afetos e es los de vida que perfilam seus filhos e filhas, devotados pelo mesmo amor. Sem sombras de dúvidas, os subtemas propostos para as fes vidades, neste marco histórico dos 270 Anos da criação da Província Reformada do Carmelo Pernambucano, exprimem, de modo muito feliz, o verdadeiro mo vo no qual reconhecemos Nossa Senhora do Carmo como peregrina em nossa história carmelita, nesta região do Nordeste brasileiro acentuadamente marcada pela riqueza e expressividade religiosa. Por tudo, podemos con nuar louvando ao Deus da história, a exemplo da Virgem Maria, pois o Senhor con nua a fazer maravilhas, e Santo é o Seu nome. Todas as gerações de carmelitas con nuarão a proclamar a Virgem Mãe do Carmelo, Feliz e Ditosa. Amém! Festa do Carmo, São Cristóvão/Se 04 CARMO JOVEM, edição 07-09/2014 DUAS VOCAÇÕES O carisma carmelitano é um dom de Deus à Igreja. Cada geração de carmelitas, no passado ou no presente, tem diante de si um grande desafio: encarnar esse carisma em sua vida, em seu tempo, de modo que deixe um testemunho vivo para as futuras gerações. É esse testemunho vivo, fruto da ação conjunta da graça de Deus e do esforço humano, que mantém a vitalidade e a perenidade do carisma. Cada vocacionado que bate à porta dos conventos, masculinos ou femininos, ou das ordens terceiras, deseja mais do que conhecer o carisma carmelitano através de palestras ou livros, visualizá‐lo e experimentá‐lo concretamente na vida de irmãos e irmãs que se esforçam por testemunhar o dom que lhes é transmi do. Esta seção de nossa revista apresenta duas pequenas biografias de dois frades carmelitas, conhecidos por muitos dos nossos leitores, e que, neste ano, par ram para a casa do Pai, mas deixaram o seu testamento de vida carmelitana, para nós e para as futuras gerações: Dom Vital Wilderink e Frei Afonso Pflaum. DOM VITAL WILDERINK Dom Vital Wilderink nasceu em Denventer‐ Holanda, aos 30 de novembro 1931. Após três anos de seminário menor na Holanda, veio para o Brasil em janeiro de 1949, residiu em Itu‐SP, onde completou os estudos do seminário menor. No ano de 1951, em Mogi das Cruzes, ingressou para o noviciado, no fim do qual fez sua primeira profissão religiosa. Fez os estudos de Filosofia em São Paulo. Foi enviado para o curso de Teologia em Roma no Colégio Internacional dos Carmelitas. Terminado o curso de Teologia, foi ordenado sacerdote, junto com Frei Carlos Mesters, seu amigo e companheiro desde o seminário menor, no dia sete de julho de 1957, em bispo carmelita irlandês, missionário na África. CARMO JOVEM, edição 07-09/2014 Permaneceu em Roma para con nuar seus estudos de Teologia na Universidade Santo Thomás de Aquino, onde se doutorou na área de espiritualidade. A fim de redigir sua tese de doutorado fez prolongadas pesquisas na França. Lecionou no Colégio Internacional dos Carmelitas, em Roma, nos anos 63 e 64. Em janeiro de 1967, apesar do desejo do superior Geral, de que ele permanecesse em Roma, como professor, preferiu voltar para o Brasil. Retornando para o Brasil em 1967, estabeleceu‐ se em Minas Gerais, onde por algum tempo foi professor no Ins tuto de Teologia de Belo Horizonte. Neste mesmo ano, trabalhou como operário em uma pedreira e numa fábrica de tecidos, para conhecer melhor o mundo do trabalho dos pobres. No ano de 1968, foi nomeado diretor do departamento de formação da CRB nacional. Exerceu essa função por dois anos. Durante esse período, par cipou como representante da CRB, da segunda Conferencia Episcopal La no Americana, em Medellín. Em 1970, a pedido de quatro congregações, foi para diocese de Itabira/MG, para acompanhar as irmãs em um novo es lo de vida inserida no meio de povo, no con nuo esforço de responder às diretrizes da Conferência, e tornou‐se coordenador pastoral da mesma diocese até 1974. Neste ano, re rou‐se em ano sabá co para Colômbia, fazendo um curso no Ins tuto de Pastoral do CELAM, até outubro do mesmo. Retornando ao Brasil, foi transferido para Angra dos Reis, a pedido de D. Valdir, por quem foi nomeado vigário episcopal da região litorânea da diocese de Volta Redonda, onde era previsto, devido a sua extensão, a criação de uma nova diocese. Em 1977, frei Vital começou a assumir, em fins de semana, as celebrações desta paróquia de Lídice e da comunidade da Estação, devido a transferência do seu confrade frei Paulo. Neste tempo, fez um prolongado re ro no Alto do Rio das Pedras, onde foi acolhido pela família dos Moreira. Neste mesmo ano, num encontro casual com dom Raimundo, aconteceu a par lha de um sonho comum: viver uma vida de es lo mais contempla vo. Marcaram um encontro em Angra dos Reis, para verem a possibilidade de realizarem juntos esse sonho. Foram ver um pequeno terreno num bosque. Era dia 18 de novembro de 1977; no entanto, no dia seguinte, um telefonema de Brasília convocando o frei Vital, a comparecer na Anunciatura Apostólica desfez todo o seu projeto. Fora nomeado pelo Papa Paulo VI bispo auxiliar da diocese de Volta Redonda, com a tarefa de preparar a nova diocese Sul Litoral. 05 Sendo sagrado bispo por Dom Valdir, no dia 13 de agosto de 1978, na Igreja do Conforto, de Volta Redonda. Foi seu lema: Testemunhar o Evangelho da Graça de Deus. Foram dois anos, 78 e79, de trabalho com o povo desta região em conjunto com irmãs de várias congregações, chamadas por ele mesmo, para marcar presença na pastoral. Em abril de 1980, foi criada a nova diocese pelo Papa João Paulo II, tendo Itaguaí como sede. E nomeou dom Vital como seu primeiro bispo. Como seu carisma de unidade e no desejo de ter uma igreja feita por todos, Igreja Povo de Deus, convocou o Sínodo diocesano, que teve duração de cinco anos. Incen vou a pastoral catequé ca na diocese e a pastoral social, tendo especial atenção a duas pastorais, a operária e a CPT, da qual par cipou da reunião de fundação em Goiânia, e foi fundador da mesma no Estado do Rio de Janeiro. A vida consagrada sempre mereceu seu especial carinho, tanto a nível local quanto nacional. Ordenou os primeiros padres brasileiros da diocese. Com sua sensibilidade e opção preferencial pelos pobres, criou o projeto de acolhida a meninos e meninas de rua, construindo uma casa, a qual os meninos chamaram Nossa Casa. A diocese nha um rosto mul forme, onde todos se sen am acolhidos, expressão de uma preocupação sua, que o fazia dizer: “Na diocese, o meu primeiro desejo é que as pessoas que vêm prestar um serviço sintam‐se primeiramente acolhidas no seu ser e não pelo que podem fazer. Isso vem depois.” Por doze anos par cipou da CNBB, atuou especialmente como responsável na dimensão Bíblico‐ Catequé ca e fez parte da comissão catequé ca do CELAM. Par cipou da quarta Conferencia Episcopal La no Americana de Santo Domingo e de dois Sínodos em Roma. Os vinte anos passados no exercício do ministério episcopal não apagaram o sonho de uma vida de es lo mais contempla vo. Os laços criados com a família Moreira, durante o re ro que realizou em 1977, no Alto do Rio das Pedras, tornou possível a concre zação desse sonho, quando seu Zé Moreira, por ocasião das bodas de ouro de casamento, escreveu uma car nha a Dom Vital, convidando‐o a celebrar a missa para o casal, e dizendo que também lhe reservava uma supressa. A supressa consis a na doação de um pequeno terreno, onde construiu uma casa e uma capela, para viver sua vida num es lo mais contempla vo. Com a permissão do Papa João Paulo II, renunciou o governo da diocese, e desde 1998 vivia como eremita no Alto do Rio das Pedras. Não demorou muito para as pessoas amigas e conhecidas começarem a subir o Alto, para fazer re ros e desfrutar da sabedoria da pessoa de dom Vital na orientação espiritual. 06 Dia 11 de junho de 2014, aos 82 anos, morre Dom Vital, em um acidente de carro, em Rio Claro, no sul do Rio de Janeiro. FONTE: h p://www.pelafe.net/Sacerdotes/ Dom _Vital/historico_de_dom_vital.htm . Exceto a parte em itálico. FREI AFONSO PFLAUM Frei Afonso Pflaum nasceu dia 19 de fevereiro de 1939 em Bamberg, Alemanha. Seus pais eram agricultores e moravam na cidadezinha (Dorf = aldeia) Dietendorf. Foi ba zado já no dia seguinte de seu nascimento com o nome de Friedrich (Fritz). Em 1949 entrou no Seminário Marianum dos carmelitas em Bamberg. No dia 7 de setembro de 1958 iniciou seu noviciado em Straubing, recebendo o nome de Afonso. Emi u seus primeiros votos na Ordem do Carmo dia 8 de setembro de 1959. Estudou Filosofia e Teologia em Bamberg. Em 30 de outubro de 1961 recebeu a Tonsura, e as Ordens Menores dia 23 de dezembro de 1961. Professou seus votos perpétuos dia 8 de setembro de 1962. Seu Subdiaconato aconteceu dia 17 de fevereiro de 1963, e foi ordenado diácono dia 9 de março de 1963. Foi ordenado sacerdote dia 26 de julho de 1964 na catedral de Bamberg. Após a ordenação trabalhou como prefeito no Seminário Marianum. Em 1966 foi designado para trabalhar no Brasil, mais precisamente para subs tuir o Frei Rafael Mainka, que estava muito doente, como professor no Seminário Imaculada Conceição de Graciosa. Seu envio missionário aconteceu dia 23 de outubro de 1966 na Igreja do Carmelitas de Bamberg. Par u do porto de Hamburgo para o Brasil dia 2 de novembro de 1966. No seminário de Graciosa foi professor de La m, Religião, Alemão e Grego nos anos 1967‐68. Em 1969 Frei Afonso Pflaum transferido para Curi ba, Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Vila Fanny, como pároco, mestre dos junioristas e mestre dos noviços. Em 1973 trabalhou em Paranavaí como vigário paroquial da Paróquia São Sebas ão. CARMO JOVEM, edição 07-09/2014 De 1974 a 1979 foi pároco em Graciosa. Nos anos 1980 e 1981 foi diretor do Seminário São João da Cruz em Paranavaí e vigário paroquial da Paróquia São Sebas ão. Em 1982 foi transferido para Camocim de São Félix, PE, como mestre de noviços do noviciado interprovincial dos carmelitas do Brasil, mas também foi pároco nesta cidade pernambucana. Em 1988 foi eleito Comissário Provincial dos Carmelitas do Paraná, e por isso retornou a Paranavaí. Em 1989 ajudou Frei Joaquim Knoblauch na Paróquia Bom Jesus de Dourados, MS, como vigário paroquial. Retornou a Graciosa como pároco. Nos anos 1996‐98 trabalhou em Angélica, MS, como pároco. Ali recebeu o tulo de cidadão Honorário desta cidade mato‐grossense‐do‐ sul. Em 1999 retornou a Curi ba como pároco até o início de 2002. Depois mais uma vez foi designado para trabalhar em Graciosa. Em 2005 foi novamente para Paranavaí como vigário Paroquial da Paróquia São Sebas ão. Em 2006 foi transferido para Dourados, MS. Em 2008 foi para Curi ba, mas desta vez para o Mosteiro Monte Carmelo. Em setembro de 2009 retornou para a Alemanha, indo morar em Straubing, onde havia feito o noviciado. Em março de 2013 foi transferido para Bamberg, mas em julho foi diagnos cado um tumor maligno em seu pâncreas. Seu úl mo ano de vida, viveu em sua casa materna em Dietendorf. Aceitou a doença com grande resignação, paciência e sem reclamação. Faleceu dia 22 de julho de 2014, quatro dias antes de completar 50 anos de sua Ordenação Sacerdotal. Foi sepultado justamente no dia de seu Jubileu de Ouro Sacerdotal, ou seja, dia 26 de julho de 2014 – Festa de São Joaquim e Santa Ana, pais de Nossa Senhora e avós de Jesus. Frei Afonso Pflaum foi um homem de oração. Todos que conviveram com ele são testemunhas disto. Tinha um exemplar zelo pastoral. Além de ter trabalhado em várias paróquias e comunidades, dedicou‐se muito a movimentos eclesiais como Cursilho de Cristandade, Movimento Familiar Cristão, T.L.C. Por onde passou deixou saudades e muitas amizades, mas principalmente deixou a imagem de um grande carmelita, excelente sacerdote e dedicado missionário. Os carmelitas do Paraná e do Brasil devem muito a ele por ter trabalhado muito na formação. Várias gerações de carmelitas brasileiros receberam a sua orientação espiritual, humana e religiosa. Sua espiritualidade deixava marcas por onde passava. Estava sempre disponível para ser transferido. Fonte: h p://ocarmelo.blogspot.com.br/2014/07/frei‐ afonso‐pflaum.html SER CARMELITA, EIS A MINHA VOCAÇÃO! Durante a nossa vida somos obrigados a fazer escolhas, tomar decisões, seguir rumos. Deus sempre nos chama. Ele é a fonte de toda vocação humana e está sempre nos convocando a sermos Seus cooperadores. Na minha vivência em comunidade, eu sempre sen forte um chamado e um desejo de servir à Igreja de Cristo, sen que eu podia ajudar a Igreja ainda mais. Desde pequeno me encanto com o trabalho nas comunidades paroquiais... E um dia como outro qualquer, o Senhor me chamou, me despertou e me fez sen r uma inquietação pelo trabalho em seu Reino. A ordem carmelita sempre me chamou atenção pelo modo de viver em oração e missão, como também pela grande devoção Mariana. Posso até dizer que quem me atraiu para o Carmelo foi Nossa Senhora, a Mãe e mestra dos carmelitas: ela, como ninguém, soube ouvir e fazer a vontade de Deus, e hoje nos ensina a cada dia a fazer o mesmo. O Carmelo é uma grande escola onde aprendemos a ouvir a voz de Deus que fala no nosso ín mo. O meditar e contemplar a Palavra nos ajudam a ter mais coragem de sair para a missão ‐ e é isso que muito me atrai no Carmelo. Ser carmelita para mim é estar sempre a serviço do outro,é viver dizendo como São Paulo falou: “Não sou eu que vivo, mas Cristo que vive em mim”. Tenho sempre essas palavras de Paulo comigo, pois assim estarei pronto para melhor servir aos irmãos e irmãs. Estou muito animado e esperando ansioso, pois, se for da vontade de Deus, ano que vem estarei entrando para começar a minha caminhada nesta grande família, uma família que não subs tui a minha, mas que se soma aos meus tantos irmãos e irmãs. Tenho consciência que a caminhada não é fácil! Problemas vão aparecer. Mas encontrarei forças na oração para vencê‐los. Que Maria, mãe e mestra do Carmelo, interceda por todos os vocacionados, meus irmãos, que junto comigo almejam fazer parte dessa bela Ordem. Maria mãe e mestra do Carmelo, Rogai por nós! José Ricardo da Silva, vocacionado carmelita CARMO JOVEM, edição 07-09/2014 07 SANTO ALBERTO DE JERUSALÉM: UM PAI PARA O CARMELO Por Pe. Giovanni Grosso, O.Carm. São João de Acre, cabo norte do golfo de Haifa, 14 de setembro de 1214. O patriarca la no de Jerusalém, Alberto Avogrado, avançava em procissão, rodeado de cônegos do Santo Sepulcro e de outros clérigos, celebrando a festa da Exaltação da Santa Cruz, na qual par cipava toda a comunidade "franca", ou seja, os cristãos la nos e outros cidadãos atraídos pelo acontecimento. De repente, uma pessoa da mul dão a rou‐se contra o patriarca, ferindo‐o de morte. O homicida, que era o professor do hospital do Espírito Santo, quis vingar‐se por ter sido des tuído de sua função por mo vos de imoralidade. Assim morreu o patriarca Alberto, ví ma de seu compromisso com uma igreja fiel ao Evangelho. Descendente dos Avogrado, de uma família de classe média, nascera uns 60 anos antes, por volta do ano 1150, provavelmente em Castel Gual eri, na que hoje é província de Regio Emilia, naquele tempo território piemontês iden ficado com vários nomes: Lombardia, Itália... Sendo um jovem de 20 anos, depois de acabar os primeiros estudos de direito, optou pela vida religiosa: não por uma carreira eclesiás ca cômoda, prometedora e remunera va, mas pela austera vida comunitária dos Cônegos Regulares de Mortara, que se ocupavam da vida comunitária de pobreza e de oração litúrgica coral unida ao serviço pastoral. Tornou‐se um intérprete autorizado se sua regra de vida, até ao ponto de obter a confiança de seus superiores e dos irmãos para converter‐se em mestre de noviços e, posteriormente, prior, em 1180. 08 A fama de Alberto cresceu até ao ponto de, em 1184, ser eleito bispo de Bobbio, onde só permaneceu alguns meses, já que, no ano seguinte, foi des nado a presidir a igreja de Vercelli, onde permaneceu uns vinte anos. Este período foi rico em a vidade pastoral e diplomá ca, aspectos fortemente unidos em sua vida. De fato, ele não só presidia a diocese, mas também representava o imperador, em cujo nome governava o condado de Vercelli. Sendo bispo acompanhou a igreja eusebiana na celebração de um sínodo diocesano (1191), no qual nasceram novos estatutos, fruto, ao menos em boa parte, da clarividência e da competência do próprio bispo. Esta an ga legislação, desafortunadamente desaparecida, esteve em vigor ao menos até o início do século XVII, sendo modelo de concreção e flexibilidade. Alberto teve outra preocupação, a formação do clero diocesano. Foi muito valorizado pelos papas, os quais enviaram‐no como mediador para dirimir desavenças entre os bispos e os capítulos dos cônegos ou entre as dioceses vizinhas. Estes foram também anos de intensa a vidade polí ca: como bispo‐conde manteve sempre boas relações com os imperadores Frederico I "Barbarocha" e seu filho Henrique IV, a quem acompanhou muitas vezes em suas viagens para Itália. Não foi fácil a relação com o município de Vercelli, cuja conhecida notoriedade ia crescendo. A sabedoria e a competência jurídica de Alberto também tornaram‐se visíveis por ocasião da reforma dos estatutos dos capítulos dos Cônegos de Biella e Santa Ágata e Santa Maria Maggiore de Vercelli. O bispo também foi requerido para colaborar na revisão das cons tuições dos Humilhados, a nova ordem religiosa composta por leigos em con nência e sacerdotes. Todas estas a vidades, junto com sua fama de homem espiritual, fizeram que os cônegos do capítulo do Santo Sepulcro sugerissem o seu nome ao papa para ser patriarca de Jerusalém. Inocêncio III (1198‐1216) acolheu a proposta e, depois de vencer sua resistência como candidato, enviou‐o como patriarca de Jerusalém e legado papal para a província da Terra Santa. Nos primeiros meses de 1206, Alberto permaneceu em São João de Acre, sede provisória do patriarcado, por estar impedida a entrada e a residência em Jerusalém, que estava em mãos dos sarracenos. Em seguida, ocupou‐se em melhorar a situação da Igreja la na na Terra Santa. Como legado papal interviu no nomeamento de bispos e fomentou o diálogo com os sarracenos e entre os diversos grupos e autoridades cristãs. Nessa ocasião, o reino la no de Jerusalém se limitava a pouco mais da costa do golfo de Haifa aos territórios libaneses e à ilha de Chipre. Depois da batalha de Ha n (1187) o domínio sarraceno fora restabelecido em quase toda a Terra Santa. CARMO JOVEM, edição 07-09/2014 Entre os territórios dominados pelos "francos" ficou o promotório do Carmelo. Justamente em sua vertente ocidental sul, no vale do Peregrino ( Wadi ' ain es Siah), nas ruínas da an ga capela bizan na, depois de 1189, estabeleceu‐se um grupo de peregrinos la nos que se propuseram viver como eremitas em santa penitência. Formavam uma de tantas comunidade nascidas durante aqueles anos na terra fecunda de uma sociedade em movimento e de uma Igreja em efervescência pelos interrogantes sobre a essencialidade, a simplicidade e a radicalidade de vida. A sociedade ocidental estava em profunda transformação: as an gas estruturas feudais, fechadas e baseadas numa agricultura de subsistência com mínimas mudanças sociais, iam dando espaço a novas aglomerações urbanas cujo centro vital era o mercado, o bispado, a administração municipal e inclusive a universidade. Novos grupos sociais compostos por mercadores, artesãos, profissionais, iam subs tuindo as an gas estra ficações sociais dos cavaleiros e camponeses. Inclusive na própria Igreja, pululavam os movimentos de opção pela pobreza e os "evangélicos", que eram pregadores populares que com frequência percorriam amplas regiões, alimentando a fome da Palavra de Deus; além desses, ainda havia os eremitas solitários e em grupo, que se estabeleciam em lugares desér cos, passando a ser um atra vo para muita gente. O desejo espiritual de uma vida cristã mais substancial e baseada no Evangelho mesclou‐se com a explosão demográfica, o crescimento da riqueza e, como causa disto, as diferenças sociais, o aumento da cultura universitária, a mobilida de social e outrosfatores, provocando uma imponente marcha à Terra Santa, o que levou às cruzadas. O desejo de trasladar‐se àquela Terra para encontrar o Senhor, visitando os lugares de sua vida terrena, provocara efe vamente um movimento intenso no povo, que se transformou na peregrinação armada chamada cruzada. Neste contexto nasceu a comunidade dos Irmãos Eremitas do Carmelo. Alberto lhes escreveu a Fórmula de Vida, autên ca coluna vertebral da vida carmelitana, que passou a ser a Regra Carmelita. Uma breve carta na qual se descrevia em poucas linhas seu propósito, ou seja, a vida e a fisionomia por as quais o grupo se decidira. Pretendiam ser uma fraternidade de eremitas obedientes ao prior, reunidos em torno de Jesus Cristo, em con nua e orante meditação de sua Palavra, alimentados pela Eucaris a, em silêncio, trabalho, pobreza, discernimento e diálogo fraterno. Nela aparece, pela primeira vez, o DNA do grupo, ou seja, o carisma. Este era formado por dois elementos essenciais da vida cristã e religiosa, porém combinados de uma maneira original. Caridade, oração, centralidade de Cristo, serviço e algum outro elemento da vida espiritual, tudo isto ar culado de maneira harmoniosa tal que proporcionava ao grupo e aos seus membros a graça de permanecerem em constante busca do rosto de Cristo, para serem transformados pelo Espírito e viverem em plena comunhão com o Pai e também com os irmãos. CARMO JOVEM, edição 07-09/2014 O ícone ideal da primeira comunidade de Jerusalém, como é descrito nos Atos dos Apóstolos ( 2,42‐47; 4,32‐35; 5, 12‐16) cons tuía a firme referência estrutural dos primeiros Carmelitas. É di cil saber se a ideia foi sugerida por eles ou por Alberto, porém é certo que a composição da Fórmula de Vida e a ar culação dos elementos são do patriarca. Alberto, sem que saibamos de que modo, porém certamente em diálogo com os próprios irmãos, conseguiu harmonizar as diversas aspirações que aparecem na Fórmula de Vida. Antes de tudo, aparece o forte chamado a seguir Jesus justamente ali onde ele viveu, consumou seu sacri cio e ofereceu a vida por sua ressurreição: este era o ideal da peregrinação a Jerusalém, con do na tradição cristã. Tratava‐se de um caminho de transformação con nua, que conduzia os eremitas a fazer a experiência de ressuscitar da morte, a passar da vida carnal à espiritual. Deste modo, os carmelitas se fizeram irmãos, capazes de construir uma comunidade na qual é possível encontrar o Senhor e estar dispostos para servir os irmãos e irmãs do povo de Deus. Tinham o desejo de seguir Jesus na pobreza apostólica, como sinal da essencialidade da vida e da radical dependência de Deus, próprio de muitos movimentos do tempo que optavam pela pobreza. Havia um chamado à solidão do deserto, mesmo que mi gado por elementos comunitários e cenobí cos, que expressava o desejo de buscar o Senhor como o absoluto, para permanecer na in midade com Ele. Havia a exigência da luta espiritual expressa no convite a reves r‐se da armadura espiritual (Ef 6,11‐17): uma interessante releitura da mentalidade do momento imbuída dos ideais cavalheirescos e do espírito da cruzada. O desejo de contribuir com a reforma da Igreja se expressou na escolha por venerar a Maria, a Mãe do Senhor, a Senhora do Lugar, ou seja do próprio Carmelo e da Terra Santa, conquistada pelo sangue de seu Filho: a ela foi dedicada a capela construída no meio das celas dos irmãos. 09 Pretendiam ser uma fraternidade de eremitas obedientes ao prior, reunidos em torno de Jesus Cristo, em con nua e orante meditação de sua Palavra. Esta devoção mariana inicial con nha todos os elementos que se desenvolveram ao longo da mul ssecular história da Ordem. À semelhança da escolha do modelo ideal do profeta Elias, ao qual estava unido o lugar no qual se estabeleceram os eremitas ‐ "junto à fonte", chamada popularmente de Fonte Elias ‐, a devoção mariana passou a ser mo vo de iden ficação e chamado à dimensão profé ca ou seja, ao anúncio livre e visível do quanto Deus quer para a história humana. Alguns autores têm tentado definir a contribuição específica de Alberto e seu papel na fundação do Carmelo; porém são somente hipóteses baseadas em provas frequentemente frágeis e não sempre suficientemente verificadas. Se bem que seja plausível atribuir a Alberto a redação da carta que contém a Fórmula de Vida (isto nunca foi posto em dúvida pelas fontes), e, além disso, se possa atribuir a Alberto as citações bíblicas diretas ou indiretas (são tantas que alguém chegou a dizer que a Fórmula de Vida se apresenta como fruto de uma lec o divina), sem embargo não se pode afirmar com certeza que partes ou que conselhos são fruto exclusivo da mente e do coração do patriarca e quais do desejo dos próprios eremitas. De fato, estes já viviam no Carmelo e haviam dado uma forma inicial a seu propositum (Regra 3). Ainda assim, creio que se pode atribuir à experiência de Alberto, cônego da Santa Cruz de Mortara, ao menos a indicação de São Paulo como modelo (Regra 20): um dom específico do patriarca Alberto aos Carmelitas. A menção do apóstolo foi, de maneira mais ou menos consciente, de grande ajuda para os irmãos na hora de orientar‐se para o apostolado explícito e direto, sem que por isso fosse desprezada a dimensão contempla va carismá ca, originária e própria. Por outra parte, o mesmo Paulo foi também um mís co (cfr. 2Cor 12,1‐10) e um homem de profunda oração (Rom 16,25‐27; 2Cor 2,1; Ef. 3,14‐21). Da mesma maneira se pode manter que é uma herança de Alberto a forte dimensão eclesial que percorre o texto da Fórmula de Vida, a qual conservou em todo tempo o esforço dos Carmelitas a favor da vida eclesial e da evangelização. Tudo isto permi u à comunidade eremí ca do Carmelo não encerrar‐se em si mesma num narcisismo conservador da própria escolha e do próprio es lo de vida. Os irmãos se abriram ao mundo e à história, sem perder, por isso, as próprias origens, seu DNA. Foto: Texto antigo da Regra do Carmo I n s ga d o s p e l o a u m e n t o d e m e m b ro s d a comunidade, pela pressão sarracena e pela insegurança do lugar, decidiram iniciar a migração para o Ocidente, do qual procediam os primeiros peregrinos penitentes. Desta maneira, além das fundações na Terra Santa e em Chipre, formaram‐se Carmelos na Sicília e na Itália (Messina e, depois, Pisa), na Inglaterra (Aylesford, em Kent, e Hulne, em Northumberland), em Provenza (Les Aygalades e Valenciennes), e na Alemanha (Colônia). A Fórmula de Vida de Santo Alberto con nuou modelando a vida dos irmãos e passou a ser Regra reconhecida e aprovada, com alguns importantes acréscimos e modificações do papa Inocêncio IV (01 de outubro de 1247). A essencialidade, a flexibilidade e o dinamismo deste tesouro fizeram dele uma referência capaz de oferecer alimento e inspiração a muitos grupos de fiéis, religiosos e leigos, que cons tuem a Família Carmelitana. A carta entregue por Alberto aos irmãos eremitas que viviam junto à fonte de Elias completa agora mais de 800 anos, porém não perdeu absolutamente seu frescor, e, como um fruto em tempos de mudança, conseguiu adaptar‐ se a situações sempre novas, abertas à esperança de Deus para os homens. Foto: Santo Alberto entregando a Regra aos Carmelitas. 10 CARMO JOVEM, edição 07-09/2014 A MÍSTICA QUE DEVE ANIMAR A LEITURA ORANTE DA BÍBLIA Por Frei Carlos Mesters 3. Criar um ambiente de recolhimento e de escuta É importante criar um ambiente adequado que favoreça o recolhimento diante da Palavra de Deus. Ler a Bíblia é como conversar com uma amiga. As duas, tanto a conversa como a leitura, exigem o máximo de atenção, respeito, amizade, entrega e escuta atenta. Para isto você deve aprender a cul var dentro de você o silêncio (Rc 21), recolher‐se dentro da sua cela interior (Rc 10), durante todo o tempo da Leitura Orante. E lembre‐se: uma boa e digna posição do corpo favorece o recolhimento da mente. 1. "Faça‐se em mim segundo a tua palavra!" Ao iniciar a Leitura Orante da Bíblia, você não vai estudar; não vai ler a Bíblia para aumentar o seu conhecimento nem para preparar algum trabalho apostólico; não vai ler para ter experiências extraordinárias. Mas vai ler a Palavra de Deus para escutar o que Deus lhe tem a dizer, para conhecer a Sua Vontade e, assim, viver melhor em obséquio de Jesus Cristo (Rc 2). Em você deve estar a pobreza; deve estar a disposição que o velho Eli recomendou a Samuel: "Fala, Senhor, que teu servo escuta!" (1Sm 3,10). Deve estar a mesma a tude obediente de Maria diante da Palavra: “Faça‐se em mim segundo a Tua Palavra!” (Lc 1,38). 2. Pedir o Espírito Santo: "Pedi e recebereis!" Poder escutar a Deus não depende de você nem do esforço que fará, mas só e unicamente de Deus, da Sua decisão gratuita e soberana de entrar em contato com você e de fazer com que você possa ouvir a Sua voz. O ponto de par da da Leitura Orante deve ser a humildade. Saber recolher‐se à sua própria pequenez e dignidade. Para isto é necessário que você se prepare, vigiando em orações (Rc 10), pedindo que Ele mande o seu Espírito. Pois sem a ajuda do Espírito de Deus, não é possível descobrir o sen do que a sua Palavra tem para nós hoje (cf Jo 14,26; 16,13; Lc 11,13). CARMO JOVEM, edição 07-09/2014 4. Receber a Bíblia como o Livro da Igreja e da Tradição da Vida Religiosa Abrindo a Bíblia, você deve estar bem consciente de que está abrindo um livro que não é seu mas sim da comunidade. Fazendo a Leitura Orante, você está entrando no grande rio da Tradição da Igreja que atravessa os séculos. A Leitura Orante é o barquinho que o carrega pelas curvas deste rio até o mar. O clarão luminoso que nos vem do mar já clareou a "noite escura" de muita gente. Mesmo fazendo sozinho, sozinha, a Leitura Orante da Bíblia, você não está só, mas estará unido aos irmãos e às irmãs que, antes de você, procuraram "meditar dia e noite na lei do Senhor" (Rc 10). São muitos! Mesmo aqueles e aquelas que não sabiam ler o texto escrito! Eles sabiam ler o texto da vida e dos acontecimentos no rosto dos irmãos e das irmãs. Por isso, “permaneça firme naquilo que aprendeu e aceitou como certo. Você sabe de quem o aprendeu!” (2 Tim 3,14). 5. Ter uma correta a tude diante da Bíblia A leitura atenta e proveitosa da Bíblia deve estar marcada, do começo ao fim, por uma a tude interpreta va que tem três aspectos básicos: Leitura, Meditação e Oração. Estes três aspectos formam a marca registrada e a espinha dorsal da Vida Religiosa, culminando na Contemplação: 1º ASPECTO: Leitura: conhecer, respeitar, situar Antes de tudo, você deve ter sempre a preocupação de inves gar: "O que o texto diz em si?". Isto exige que se faça silêncio (Rc 21). Dentro de você tudo deve silenciar, para que nada o impeça de escutar o que texto tem a dizer, e para que não aconteça que você leve o texto a dizer só aquilo que você gosta de escutar. 11 Neste ponto, o estudo da Bíblia, feito a par r de um bom método, pode ser de grande ajuda. 2º ASPECTO: Meditação: ruminar, dialogar, atualizar Você também deve ter sempre a preocupação de se perguntar: "O que o texto diz para mim, para nós?" Este segundo aspecto pede que você entre em diálogo com o texto, para que o sen do se atualize e penetre sua vida. Como Maria, rumine o que escutou (Lc 2,19.51) e, assim, descobrirá que “a Palavra está muito perto de você: está na sua boca e no seu coração, para que a ponha em prá ca” (Dt 30,14; Rc 19). 3º ASPECTO: Oração: suplicar, louvar, recitar Além disso, você deve estar sempre preocupado, preocupada, em descobrir: "O que o texto me faz dizer a Deus?" É a hora da prece, o momento de vigiar em orações (Rc 10). Até agora, Deus falou para você; chegou a hora de você responder a Ele. 6. Colocar‐se sob o julgamento da Palavra de Deus Fazer Meditação não é o mesmo que ficar sentado, sem fazer nada, mas é o momento forte do confronto entre a vontade de Deus e as próprias aspirações. Guigo dizia: "A Meditação é uma diligente a vidade da mente que, com a ajuda da própria razão, procura o conhecimento da verdade oculta". Meditar é fazer o que fazia o filho pródigo quando estava longe da casa do Pai: * é cair em si e confrontar‐se com a vida na Casa do Pai, com a Palavra de Deus; * é olhar a própria vida com os olhos do Pai, levar em conta o ponto de vista da outra, do outro; * é conversar muito com Deus e com os pobres, pois conversa bem grande produz conversão; * é confrontar as aspirações pessoais com a proposta do ideal do Carmelo; * é aprender a situar‐se dentro do projeto de Deus que se revela na Bíblia e na vida; * é resolver mudar de idéia e de vida, por mais doloroso que seja ; * é erguer‐se e decidir voltar para o Pai, para os irmãos e as irmãs. 7. Ponto de chegada da Leitura Orante: olhar tudo com os olhos de Deus: Contemplação não é o mesmo que ficar longe do mundo. Guigo dizia: "A leitura leva a comida à boca, a meditação a mas ga e rumina, a oração prova o seu gosto e a contemplação é a própria doçura que alegra e recria". A Contemplação é enxergar, saborear, agir. * é ter no peito pensamentos santos que nascem do livro santo (Rc 19), e nos olhos algo da "sabedoria que leva à salvação" (2Ts 3,15); 12 * é começar a ver o mundo e a vida com os olhos dos pobres, com os olhos de Deus; * é você assumir a própria pobreza e eliminar do seu modo de pensar aquilo que vem dos poderosos; * é tomar consciência de que muita coisa, da qual você pensava que fosse fidelidade ao Evangelho e à Tradição da sua Congregação, na realidade nada mais era do que fidelidade a você mesma(o) e aos seus próprios interesses e idéias; * é saborear, desde já, algo do amor de Deus que supera todas as coisas; * é mostrar pela vida que o amor de Deus se revela no amor ao próximo; * é fazer com que a palavra desça da boca para o coração e anime todas as nossas ações (Rc 19); * é dizer sempre: "faça‐se em mim segundo a tua Palavra" (Lc 1,38). 8. Procurar por todos os meios que a interpretação seja fiel Para que a sua Leitura Orante não fique entregue só às co n clu s õ es d o s s eu s p ró p rio s s en mento s , pensamentos ou caprichos, mas tenha uma firmeza maior e seja realmente fiel, é importante você levar em conta três exigências fundamentais: 1ª EXIGÊNCIA: confrontar com a fé da Comunidade Eclesial Confronte sempre o resultado da sua Leitura com a fé da Igreja viva, com a comunidade a que você pertence. Do contrário, poderia acontecer que o seu esforço não leve você a canto nenhum (Gl 2,2). Pois é lá, na pequena comunidade eclesial, alimentada e sustentada pela Palavra de Deus (Rc 7, 11 e 14), que nasce a fé da igreja como da pequena fonte nasce o rio que irriga a terra. CARMO JOVEM, edição 07-09/2014 2ª EXIGÊNCIA: confrontar com a realidade Confronte sempre aquilo que você lê na Bíblia com a realidade que hoje vivemos. Quando a Leitura Orante não alcança o seu obje vo na nossa vida, a causa nem sempre é falta de oração, falta de atenção à fé da Igreja, ou falta de estudo crí co do texto. Muitas vezes, é simplesmente falta de atenção à realidade nua e crua que hoje vivemos. Quem vive na superficialidade, sem aprofundar sua vida, não pode a ngir a fonte de onde nasceu a Escritura. 3ª EXIGÊNCIA: confrontar com o resultado da exegese Confronte sempre as conclusões da sua leitura com os resultados do estudo que você faz da Bíblia. O estudo inves ga o sen do da Letra. A Leitura Orante não pode ficar parada na Letra. Ela deve procurar o sen do do Espírito (2Cor 3,6). Mas querer estabelecer o sen do do Espírito sem fundamentá‐lo na Letra é o mesmo que construir um castelo no ar (St. Agos nho). É cair no engano do fundamentalismo. Hoje em dia, em que tantas idéias novas se propagam, é muito importante ter bom senso. O bom senso se alimenta do estudo crí co da Letra e ajuda a integrar a Lec o Divina com o estudo sério da Bíblia. 9. Imitar o exemplo de São Paulo O apóstolo Paulo, primeiro teólogo do cris anismo, soube reler a Bíblia a par r da sua fé na ressurreição de Jesus. Nas suas cartas, como bom intérprete das Escrituras Sagradas do seu povo, ele nos deixou vários conselhos de como ler a Bíblia (Rc 20). Eis algumas das normas e a tudes recomendadas ou observadas por ele: * Considere‐se des natário, des natária, do que está escrito na Bíblia, pois tudo foi escrito para a nossa instrução (1Cor 10,11; Rm 15,4); a Bíblia é o nosso livro.* Procure ter nos olhos a fé em Jesus Cristo, pois é só pela fé em Jesus que o véu cai e que a Escritura revela o seu sen do e nos comunica a sabedoria que leva à salvação (2Cor 3,16; 2Tm 3,15). * Lembre‐se: Paulo falava de "Jesus Cristo Crucificado" (1Cor 2,2), "escândalo para uns, loucura para outros". Foi este Jesus que lhe abriu os olhos para perceber aPalavra viva de Deus no meio dos pobres da periferia de Corinto, onde a loucura e o escândalo da cruz estavam confundindo os sábios, os fortes e os que pensavam ser alguma coisa neste mundo (1Cor1,21‐31). * A melhor carta de Deus é a Comunidade. O melhor texto é a vida comunitário! "Vocês são a carta de Cristo!" (2Cor 3,3). Pois é na comunidade viva que atua o Espírito transfigurando seus membros na imagem do próprio Jesus (2Cor 3,17‐18). * Paulo alerta contra o fundamentalismo que toma tudo ao pé da letra. Ele diz: "A letra mata, mas o CARMO JOVEM, edição 07-09/2014 Espírito dá vida" (2Cor 3,6). Sem a ação do Espírito, a Bíblia não passa de uma letra morta. Paulo rou esta lição da sua própria experiência. Quando era fundamentalista, chegou a matar Estêvão! (At 7,58; 8,1) * Tenha presente os problemas da sua vida pessoal e familiar, da sua família religiosa, das Comunidades, da Igreja e do povo a que você pertence e serve. Foi assim que Paulo relia e entendia a Bíblia: a par r dos problemas do povo das comunidades (1 Cor 10,1‐13). * Misture o eu e o nós; nunca só o eu, e nunca só o nós! O apóstolo também misturava, pois recebeu sua missão da comunidade de An oquia e falava a par r dela (At 13,1‐3; Gál 2,2). 10. Descobrir na Bíblia o espelho do que vivemos hoje Ao ler a Bíblia tenha bem presente que o texto bíblico não é só uma janela, por onde você olha para saber o que aconteceu com os outros no passado; é também um espelho, um "símbolo" (Hb 11,19), onde você olha para saber o que está acontecendo hoje com você (1Cor 10,6‐10). A leitura orante diária é como a chuva mansa que, aos poucos, vai amolecendo e fecundando o terreno (Is 55,10‐11). Entrando em diálogo com Deus e meditando a sua Palavra (Rc 10), você cresce como a árvore plantada à beira dos córregos (Sl 1,3). Você não vê o crescimento, mas perceberá o seu resultado no encontro renovado consigo, com Deus e com os outros. Diz o canto: "É como a chuva que lava, é como o fogo que arrasa, Tua Palavra é assim, não passa por mim, sem deixar um sinal" O obje vo úl mo da Leitura Orante não é interpretar a Bíblia, mas sim interpretar a vida. Não é conhecer o conteúdo do Livro Sagrado, mas sim, com a ajuda da Palavra escrita, descobrir, assumir, pra car e celebrar a Palavra viva que Deus fala hoje na sua vida, na nossa vida, na vida do povo, na realidade do mundo em que vivemos (Sl 95,7); é crescer na fé e, como o profeta Elias, experimentar, cada vez mais, que "Vivo é o Senhor, em cuja presença estou!" (1R 17,1;18,15). 13 REZAR OS SALMOS HOJE O frei Carlos Mesters par lha conosco sobre o novo livro que está preparando com Francisco Orofino e a irmã Lúcia Weile: ‘‘Não é um Novo Testamento com comentários, mas será um livrinho sobre os salmos. E aqui também não será um comentário dos salmos, nem um estudo, mas sim uma simples subsídio para ajudar as pessoas a rezar melhor os salmos. Terá como provável tulo: "Rezar os Salmos Hoje". Coloco aqui para você alguma coisa que vai estar na introdução do livro. Às vezes, acontece que rezamos um salmo e ele não nos diz nada. Nem sempre é por falta de estudo ou de piedade. Pode ser, simplesmente, por falta de atenção à vida. É que os salmos nasceram da vida, e é nas experiências concretas da vida de cada dia que encontramos a chave principal para abrir a porta que nos permite entrar no mundo dos salmos. Se vivemos na superficialidade, sem aprofundar aquilo que nós mesmos vivemos e sen mos, não chegaremos a experimentar a vida que é a raiz de onde nasceu o salmo, e o salmo permanecerá uma oração estranha e distante, que não nos diz respeito. Dizia o monge Cassiano do século IV: "Instruídos por aquilo que nós mesmos sen mos, já não percebemos o salmo como algo que só ouvimos, mas sim como algo que experimentamos e tocamos com nossas mãos; não como uma história estranha e inaudita, mas como algo que damos à luz desde o mais profundo do nosso coração, como se fossem sen mentos que formam parte do nosso próprio ser” (Colla ones X,11). Este é, até hoje, o ideal a ser alcançado na reza dos salmos. No tempo de Jesus, o ideal era este: aprender a rezar os salmos de tal maneira que eles despertassem na pessoa a cria vidade e a levassem a produzir o seu próprio salmo. Assim, a reza, em vez de levar à ro na, leva ao aprofundamento da oração, a um encontro mais ín mo com Deus. Foi o que aconteceu com Jesus. Ele fez o seu próprio salmo que é o Pai Nosso (Mt 6,9‐13; Lc 11,2‐4). O salmo de Maria é o Magnificat (Lc 1,46‐55). Assim temos os salmos de Zacarias (Lc 1,68‐ 79), do velho Simeão (Lc 2,29‐32), do apóstolo Paulo (1Cor 13,1‐13; Fl 2,6‐11), dos primeiros cristãos (Ap 11,17‐18; 12,10‐12; 15,3‐4; 19,6‐8), e tantos outros salmos espalhados pela Bíblia. O obje vo que nos leva a escrever o livrinho não é o de aumentar o conhecimento a respeito dos salmos, mas sim, como já disse, ajudar a rezá‐los melhor. Para muitos de nós os salmos são o prato de cada dia. 14 Frei Carlos Mesters Por isso, vale a pena gastar algum tempo para aprender a rezá‐los melhor. O livro que estamos fazendo tenta abrir uma porta para a casa dos salmos e encontrar lá dentro um lugar aconchegante para poder louvar a Deus e fortalecer em nós o compromisso com o Reino de Deus e a sua jus ça. O livro traz o texto integral de cada salmo e os quatro evangelhos. Traz um esquema bem simples com o obje vo de ajudar a descobrir a situação concreta da vida que provocou o salmo e a experimentar o rumo da prece. Serão quatro os pontos de iden ficação para cada salmo: (1) Um tulo que aponta o sen do do salmo para a vida. (2) Uma frase do próprio salmo que expressa e destaca o que nele vai ser rezado. (3) Uma chave que explicita o obje vo, o conteúdo, o contexto do salmo. (4) Uma divisão do salmo que aponta o rumo da prece e ajuda a perceber a ar culação do pensamento do salmista. Além disso, para cada salmo, algumas perguntas que ajudam a trazer o salmo para dentro do horizonte da nossa vida hoje. As perguntas procuram ajudar‐nos a penetrar no coração do salmo e a descobrir nele algo do mistério de Deus e da vida. De vez em quando, uma pergunta que destaca a pessoa de Jesus, pois os salmos eram a sua oração diária. Jesus os rezou até a sua úl ma hora, na cruz (Mc 15,34)’’. CARMO JOVEM, edição 07-09/2014 Em nossa fonte: Projeto OC e OCD para o Wadi 'ain es-Siah O nome "Wadi 'ain es‐Siah" talvez provoque em muitos um diferente pulsar do coração, para outros talvez seja só uma palavra estrangeira como tantas. Mas para aquele que visita e percorre há anos o estreito vale do Monte Carmelo, junto a Haifa, que leva esse nome, "Wadi 'ain es‐Siah", iden fica‐o como um lugar mís co e rico de recordações an gas, que, apesar disso, são "sempre novas". Verdadeiramente, este vale natural, com seus restos históricos e arqueológicos, perpetua e torna presente aos Carmelitas nossas origens, nosso berço. Agora não podemos recordar os aspectos históricos e os elementos arqueológicos que fazem com que este vale seja para nós, Carmelitas, um espaço singular. Impulsionados pela emoção e pela esperança, nos propomos a comunicar‐vos o projeto que os Priores Gerais da OC e da OCD desejam que se leve a cabo de maneira conjunta. Um projeto ambicioso de salvaguarda, de tutela e restauração de todos os elementos arqueológicos, naturais e do ambiente daquilo que é o lugar concreto no qual viveram nossos primeiros Eremitas Carmelitas. Para nós como para muitos, evocar e percorrer o Wadi 'ain es‐Siah, não supõe só conhecer um momento de uma história passada ou um adentrar‐se na cultura geral, também significa viver e sen r com o coração, saciar a própria sede na mesma fonte que alimenta cada dia nossa espiritualidade como carmelitas. Não saberia dizer o que mais nos contagia, se o fato de fazer parte da Terra Santa ou o fato de haver nascido neste lugar concreto; este binômio, esta dupla via, nos conduz à mesma meta santa. Cabe‐nos descobrir pessoalmente este caminho e experimentá‐lo. Referindo‐nos concretamente ao citado projeto no Wadi 'ain es‐Siah, começamos falando do desejo e da vontade expressos pelos Superiores Gerais de não deixar no abandono este lugar tão querido. CARMO JOVEM, edição 07-09/2014 Este desejo concre zou‐se posteriormente na cons tuição de uma comissão mista, composta por irmãos da O.C e da O.C.D, que, trabalhando juntos, buscam a melhor maneira de seguir e concre zar estes desejos comuns: como preservar, manter, visitar e proteger este patrimônio carmelitano em seus aspectos históricos, arqueológicos e naturais. Dita comissão é formada atualmente pelo Pe. Raul Maraví, Conselheiro Geral da O.C, e os padres José Colón, Francisco Nigral e o Frei Fausto Spinelli, membros da Delegação de Israel da O.C.D. Infelizmente, os primeiros trabalhos orientar‐se‐ão em duas frentes: o da segurança e da urgente restauração arquitetônica e arqueológica. De modo par cular se pretende, de acordo com o Departamento da An guidade Israelita, por em andamento os trabalhos urgentes de restauração nas ruínas das an gas edificações, par cularmente a Igreja. Porém, como se disse, antes de iniciar este trabalho deve‐se garan r que este importante espaço carmelitano mantenha‐se seguro frente aos intrusos e que se evite o perigo de possíveis danos a pessoas e objetos. Enquanto são tomadas estas medidas de cautela e de limpeza, não iremos parar nestes primeiros passos; desenvolver‐se‐á um projeto global que afetará toda a área e todos os componentes essenciais, tanto arqueológicos como naturais. É desejo tornar possível que o lugar seja conhecido e visitado pelos peregrinos carmelitas e visitantes locais. Não se pode esquecer que este lugar tem um interesse específico não somente para nós carmelitas, mas também para osHebreus e Mulçumanos, e que este vale natural também é visitado por famílias, alunos e excursionistas. Sabemos de antemão que o projeto não encontrará um caminho plano e fácil para sua realização, não só pelo aspecto econômico, mas também porque são poderá ser realizado de uma só vez, e nos exigirá muitos esforços e acordos sobre as possibilidades econômicas e a obtenção das permissões necessárias da autoridade local. 15 Desde já somos conscientes de que tanto o Município como o Departamento de An guidade Israelita e a autoridade do Parque Natural, no qual se encontra nosso preciosos lugar, nos pedirão: tempo, paciência e capacidade econômica sólida. Como tudo o que é belo compromete e pede grande esforço e dedicação, assim também teremos de nos esforçar muito para que este projeto se inicie e se mantenha através do tempo. Para não cansar‐vos, não seguiremos elencando todos as partes que carecem de restauro, nem mostraremos os numerosos percursos que facilitarão a visita, nem descreveremos os pontos panorâmicos nos diversos e fascinantes i nerários. Fazer uma lista de tudo resultaria frio e árido, e expressar soluções e desejos que ainda devem ser tratados com a autoridade torna‐se pouco profissional e pouco sério. Assim, pois, só nos resta deixar‐vos, de momento, com um pouco de curiosidade, na espera de que novamente poderemos informar‐vos sobre como levar‐se‐á a cabo o projeto. Lendo o ar go que trata sobre o assunto na web, e vendo as fotografias de toda a área, podereis vislumbrar e imaginar, já agora, seu desenvolvimento futuro. Mesmo que a comissão mista das Famílias Carmelitanas, sob a supervisão e orientação dos gerais, tenha que trabalhar de uma maneira mais direta para conduzir o projeto em suas diferentes fases, também será necessária a colaboração de muitos outros agentes, e não só de profissionais que realizarão os aspectos burocrá cos, já que se pretende que toda a família carmelitana, espalhada pelo mundo, conheça e acompanhe a realização desta grande obra.. Como em toda grande obra e construção, todos deverão colaborar, cada um poderá colocar seu próprio jolo, e por isso, desde já, pedimos a todos os interessados que peguem sua cesta e coloquem nela sua contribuição, segundo suas possibilidades. Terminamos pedindo‐vos uma oração par cular, e também que vossa colaboração seja enviada a Roma, aos ecônomos gerais: Pe Kevin Alban, O.Carm., e Pe. A lio Ghisleri, O.C.D, os primeiros que coordenarão economicamente as ajudas e colaborações para que sejam des nadas a cada fase do projeto. Brevemente se iniciará uma campanha conjunta das duas famílias carmelitas para recolher contribuições, de maneira que todas as Províncias, Conventos e Mosteiros ajudem diretamente. Manteremos‐vos informados. Também podereis pedir‐nos que vos enviemos regularmente informações sobre o que vai sendo realizado e as dificuldades encontradas. P. Fernando Millán Romeral, O.Carm., Prior Geral P. Saverio Cannistrà,O.C.D, Superior Geral 16 CARMO JOVEM, edição 07-09/2014 CONSELHOS GERAIS Ordem dos Carmelitas da Antiga Observância Ordem dos Carmelitas Descalços Comissão conjunta para a manutenção do Wadi es-Siah Roma, 01 de setembro de 2014 Aos Priores Provinciais, Outros Superiores, Madres Federais, Prioras dos Mosteiros, Madres Gerais das Congregações aliadas, Responsáveis pela OTC, das OCDS e de outros grupos de leigos carmelitas Saudações fraternas desde Roma! Conscientes de nosso patrimônio comum e da espiritualidade que compartilhamos, nossas duas Ordens, OC e OCD, vêm desenvolvendo, como sabeis, diferentes projetos comuns nas últimas décadas. Por isso, queremos agora convidá-los a colaborar no projeto de restauração e manutenção das ruínas do primeiro mosteiro carmelita no Monte Carmelo. Durante nossas reuniões, junho passado em Roma, tanto o Conselho Geral da Ordem como o Denitório Geral dos Carmelitas Descalços decidiram realizar uma coleta extraordinária em suas respectivas comunidades, a m de apoiar a restauração e conservação das ruínas do primeiro mosteiro carmelita de Wadi es-Siah, no Monte Carmelo, Israel. Desde a restauração levada a cabo nos anos 70, tanto os restos do primeiro convento como o belo ambiente natural que os rodeia, vêm progressivamente deteriorando-se. Por isso, são necessários certos trabalhos de conservação na estrutura, proteção do lugar e restabelecimento do acesso para os peregrinos que chegam ao Monte Carmelo para orar e meditar no lugar onde moraram os primitivos eremitas, junto à Fonte de Elias. Logicamente, este trabalho será desenvolvido de forma coordenada com as autoridades da cidade de Haifa. Como parte das celebrações pelo VIII centenário de Santo Alberto de Jerusalém, nosso legislador, Sua Beatitude Fouad Twal, Patriarca de Jerusalém, presidirá a Eucaristia dia 12 de outubro, na igreja de Sta. Maria, em Traspontina, Roma, com o Pe. Fernando Millán Romeral, O. Carm., Prior Geral, e o Pe. Saverio Cannistrà, OCD, Prepósito Geral. Por isso, gostaríamos de convidar a todas as nossas paróquias, santuários, centros de espiritualidade, mosteiros, conventos, escolas, assim como outras instituições e casas nossas, para unirem-se a nós nesta importante celebração, organizando uma coleta para colaborar com os gastos da dita restauração, nesse mesmo domingo, 12 de outubro. Queremos que seja uma ocasião para valorizar nossas origens e fortalecer os laços que nos unem como família carmelitana no mundo. Podeis encontrar algum mais informação sobre o Wadi es-Siah e as ruínas do primeiro mosteiro carmelita em www.wadi.info Que a nossa Mãe do Carmelo, a "domina loci", nos ilumine e nos guia neste belo projeto. CARMO JOVEM, edição 07-09/2014 17 NOTÍCIAS - ACONTECEU E VAI ACONTECER: _ Preparação aos votos No dia 03 de agosto, em Maputo, Moçambique, foi ordenado, pelas mãos de Dom João Carlos H. Nunes, bispo auxiliar de Maputo, o primeiro sacerdote carmelita moçambicano, o Frei Sérgio Estefane Simone. O nosso provincial, frei Altamiro, se fez presente à cerimônia. Profissão Religiosa A Família Carmelitana do Brasil realizou nos dias 17 a 31 de julho, em Camocim de São Félix/PE, com a par cipação de 10 formandos: frades das Províncias de Santo Elias e Pernambuco, e freiras das Missionárias Carmelitas, Carmelitas da Divina Providência e Filhas de Santa Teresa. O encontro foi assessorado por Frei Carlos Mesters, Frei Bruno Secondin, Frei Cláudio e Irmã Anne e. Um ano sem o Frei Ataíde No dia 03 de agosto, na cidade de Cajazeiras/PB, aconteceu a celebração eucarís ca, presidida pelo Bispo, na qual professaram os primeiros votos, na congregação das Irmãs Missionárias Carmelitas, as irmãs: Sara, Cícera e Marcela. Experiência de língua inglesa em Aylesford Participação do Frei Manoel. Dia 31 de julho, fez um ano que o Frei Ataíde par u para casa do Pai. Ataíde Pereira da Silva nasceu dia 05 de outubro de 1956, na cidade de Parelhas/RN. No Carmelo fez sua primeira profissão dia 06.02.83, e ordenou‐se sacerdote dia 08.12.88. Desenvolveu seu ministério sacerdotal em diversas paróquias onde está presente a nossa Província. De 1999 a 2001, esteve vinculado à Arquidiocese de Natal, onde atuou como pároco da Paróquia de São Lucas, em São Gonçalo do Amarante. Em 2013 contribuiu com o Comissariado Geral de Portugal, neste mesmo país. Ordenação de Frei Sérgio Estefane 18 A comunidade de Aylesford, Grã Bretanha, levou a cabo uma experiência de língua inglesa, de 01 a 14 de Agosto. Par ciparam Andre Trujillo Herrera (Ita‐Col), Janer Fernando Gomez Torres (Ita‐ Col), karol Amroz (Pol), Antonin Prikasky (BM), David del Carpio Horcajo (Baet), Jean de la Croix Dino Bori Sumbu (Ita RDC), Manoel da Cruz Alves da Silva (Pern) e Jimmy Vogel (seminarista sueco). As metas a serem alcançadas no término do curso foram: ‐ compreensão das leituras da Eucaris a diária; ‐ elaboração de alguns pontos para a homilia a par r das leituras; ‐ leitura das diferentes partes da oração eucarís ca; ‐ proclamação do evangelho ou de outras leituras; CARMO JOVEM, edição 07-09/2014 Ereção Canônica da Ordem Terceira de Sergipe _ ‐ breve introdução à Eucaris a; ‐ exercício do o cio de cantor ou leitor na Liturgia das Horas; ‐ breve apresentação da vida carmelitana nos países de origem; ‐ breve apresentação da espiritualidade ou história carmelitana. O trabalho em sala de aula consis u numa síntese geral de alguns pontos‐chaves da gramá ca, a compreensão da leitura e da escuta, e também um tempo para diálogo espontâneo. A experiência de imersão na realidade consis a em viver e trabalhar com a comunidade local, em compar lhar a oração, a mesa e a recreação. Algumas excursões para experimentar a vida inglesa e ter a ocasião de usar a língua no contexto da vida real, foram um bom complemento do trabalho realizado em sala e da inserção na comunidade. Foram visitados os seguintes lugares: Rochester Castle e a catedral, Maidstone, Canterbury, com a par cipação no Evensong da catedral, e a cidade e universidade de Cambridge e Londres. Dia 23 de agosto, aconteceu na cidade de São Cristóvão/Se a celebração Eucarís ca, presidida pelo Prior Provincial Frei Altamiro Tenório da Paz, concelebrada Frei Francisco de Sales, Secretário Geral da Ordem, e outros, na qual foi erigida canonicamente a Ordem Terceira Secular de Sergipe. Marco Antônio foi nomeado Prior do Sodalício. A Ordem Terceira da de Sergipe é uma refundação da Ordem Terceira do Carmo de São Cristóvão, fundada em 26 de dezembro de 1666, e existente na mesma cidade até 1970, quando morreu seu úl mo irmão professo. Encontro vocacional Aconteceu de 29 a 31 de agosto mais um encontro vocacional em São Cristóvão/Se Formação em Ávila e Salamanca (Espanha) De 07 a 17 de Setembro a Ordem do Carmo promoveu um Curso de Formação Permanente em Ávila e Salamanca. O encontro foi sobre a Vida é a missão de Santa Teresa e São João da Cruz. Da Província Pernambucana par ciparam os freis: Celso, Luis, Severino e Gilsimar (na foto acima da esquerda para direita) Jornadas Missionárias A Província prepara‐se para a realização das jornadas missionárias que serão realizadas em janeiro de 2015, nas seguintes localidades: Princesa Isabel/PB, Simão Dias/Se e Nova Cruz/RN. Retiros Carmelitanos promovidos pelo IETB Dia 15 de novembro, em Goiana/Pe, Dia 13 de dezembro, em Goiana/Pe. Tema: Viver o Natal do Carmelo CARMO JOVEM, edição 07-09/2014 19
Documentos relacionados
Roteiro nº1 Breve História da Família Carmelita
cuidando de seus filhos com provas de misericórdia e carinho. Os Irmãos da Virgem do Carmo, por sua vez, cuidaram de viver sempre em fidelidade a vida de oração e serviço, a exemplo do Profeta Elia...
Leia maisrevista floscarmeli2016.1 – edição em pdf
durante o processo canônico: “Eu me lembro, em particular, de que todos os sábados, tomando o livro dos evangelhos, ela pegava dois ou três pontos do evangelho do domingo seguinte, a sua escolha, e...
Leia mais