Volume 7 – Nº 4 – Edição: Out/Nov/Dez 2013

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Volume 7 – Nº 4 – Edição: Out/Nov/Dez 2013
EDITORIAL
Os idosos são todos iguais?
251
ARTIGOS ORIGINAIS
Perfil epidemiológico dos idosos incluídos no Programa Acompanhante de Idosos (PAI)
| Camila Manzano Faria, Deborah Abuhab, Cintia Leci Rodrigues, Carlos Gorios, Jane de
Eston Armond, José Ricardo Dias Bertagnon, Patrícia Colombo‑Souza..........................
Doença de Alzheimer: um perfil diagnóstico dentro da estratégia de saúde da família |
Ronaldo Pontes Barreira Filho, Luís de França Camboim Neto, Carla Soraya Costa Maia..
253
259
Autopercepção de saúde e perfil de idosos de grupos de convivência da Regional Norte
BH/MG | Taís de Almeida Marra, Pollyanna Rinco Maluf Jacob, Izabella Lana Zivianni,
Thaísa Lins Vieira Dora, Rita de Cássia Guedes, Lygia Paccini Lustosa...........................
264
Estratégias de enfrentamento: fé como apoio emocional de cuidadores de idosos com
demência | Juliana Francisca Cecato, Flávia Ogava Aramaki, Aruana Bentini Souza, José
Maria Montiel, Daniel Bartholomeu, José Eduardo Martinelli............................................
269
Predição do risco futuro de tromboembolismo venoso em idosos no ambulatório | Fer‑
nanda Lyrio Borgo, Débora Carolina Netz Sanches, Daniela Cristina Kihara....................
Análise centesimal do cardápio de uma instituição de longa permanência de idosos:
Pinhais (PR) | Flávia Cristina Severo Grando, Cilene da Silva Gomes Ribeiro...................
Alterações na deglutição de portadores da doença de Alzheimer | Raquel Petry, Patrícia
Zart, Luciana Grolli Ardenghi, Ana Carolina Battezini, Cristine de Souza, Fernanda de
Cássia Saggiorato, Micheli Zambonin.............................................................................
Achados videofluoroscópicos na deglutição de pacientes com doença de Parkinson |
Claudia Sebben, Patrícia Zart, Luciana Grolli Ardenghi, Ana Clara de Oliveira Varella, Émille
Dalbem Paim, Mayara Santos de Matos, Munique Souza Jarces, Orlaine Rodrigues.........
Uso de plantas medicinais, obtenção, acondicionamento e preparo de remédios por
idosas | Nayara Machado Dias Pachêco, Cíntia Millena Tenório de Arruda, Ednaldo Ca‑
valcanti de Araújo, Luciana Helena Mendes Gomes........................................................
274
279
286
292
298
ARTIGOS DE REVISÃO
Intervenção fisioterapêutica na incontinência anal do idoso | Lucas Lima Ferreira, Laís
Helena Carvalho Marino,Simone Cavenaghi....................................................................
304
Qual a via mais adequada para a alimentação de idosos com demência avançada: oral
ou enteral? | Marco Túlio Gualberto Cintra, Nilton Alves de Rezende, Henrique Oswaldo
da Gama Torres..............................................................................................................
308
RELATO DE CASO
Demência frontotemporal associada à esclerose lateral amiotrófica: relato de caso | Ja‑
nete Martins, Lara Picanço Macedo Scarpini...................................................................
318
ARTIGO ESPECIAL
O uso da literatura infantil na UTI: um convite à reflexão e à discussão para os profissionais sobre a morte e o morrer | Anelise Fonseca, Fátima Geovanini................................
INSTRUÇÕES AOS AUTORES .....................................................
ISSN 1081-8289
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Volume 7
Número 4
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V
Controla a pressão arterial com
mínimos efeitos metabólicos.2
Aumenta a adesão ao tratamento.1,2
Preço único em todas
as apresentações.3
3
Aracor HCT (valsartana + hidroclorotiazida): APRESENTAÇÕES: Comprimido revestido 80mg + 12,5mg; 160mg + 12,5mg; 160mg + 25mg e 320mg + 25mg - embalagens contendo 30 comprimidos revestidos. Uso oral. Uso adulto. INDICAÇÕES
valsartana, hidroclorotiazida, ou a qualquer um dos seus excipientes. Pacientes com insuficiência hepática grave, cirrose biliar e colestase. Anúria e insuficiência renal grave (clearance (dep
também de hipocalemia em pacientes sob tratamento com diuréticos tiazídicos. Portanto, recomenda-se monitorização frequente do potássio sérico. Em pacientes com depleção grave de sódio e/ou hipovolemia, como nos que estejam receben
lúpus eritematoso sistêmico e também podem alterar a tolerância à glicose e podem elevar os níveis séricos do colesterol, triglicérides e ácido úrico. Como para qualquer medicamento que atue diretamente sobre o sistema renina-angiotensina-
tiazídicos, incluindo a hidroclorotiazida, potencializam a ação de derivados do curare. A administração concomitante de antiinflamatórios não esteroides (por exemplo, derivado
hipocalêmico dos diuréticos pode ser aumentado por diuréticos depletores de potássio, corticosteróides, ACTH, anfotericina, carbenoxolona, penicilina G e derivados do ácido salicílico. Pode ocorrer a hipocalemia ou a hipomagnesemia induzid
diuréticos tiazídicos, incluindo a hidroclorotiazida, pode aumentar a incidência de reações de hipersensibilidade ao alopurinol; pode aumentar o risco de efeitos adversos causados por amantadina; pode aumentar o efeito hiperglicêmico do dia
pode ser aumentada por agentes anticolinérgicos (por exemplo, atropina, biperideno), aparentemente em função do decréscimo da motilidade gastrintestinal e da taxa de esvaziamento gástrico. Pacientes recebendo concomitantemente hidroclo
ADVERSAS: As reações adversas mais comuns foram cefaléia, tontura, nasofaringite, fadiga, infecção do trato respiratório superior, tosse, diarréia, artralgia, dor nas costas. As seguintes reações adversas também têm sido relatadas em pacientes
pelo álcool, anestésicos ou sedativos e disfunção erétil. POSOLOGIA: 1 comprimido uma vez ao dia. O efeito anti-hipertensivo máximo manifesta-se dentro de 2 a 4 semanas. Não é necessário ajustar a dosagem em pacientes com insuficiência
colestase. A segurança e a eficácia em crianças não foram estabelecidas. Pacientes idosos: não é necessário ajuste de dose. Registro MS nº 1.2675.0150 NOVA QUÍMICA FARMACÊUTICA LTDA. “SE PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO
R. Valsartan plus hydrochlorothiazide for first-line therapy in hypertension. Expert Rev Cardiovasc Ther. 2009 Dec;7(12):1491-501. doi: 10.1586/erc.09.140 3. Revista ABC Farma, outubro 2013. 4. Laudo de bioequivalência. 5. Bula do medicamen
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Vai além da Hipertensão.1-4
4
1.2675.0150.002-1
1.2675.0150.004-8
1.2675.0150.006-4
1.2675.0150.008-0
Apresentações:
80mg + 12,5mg
160mg + 12,5mg
160mg + 25mg
320mg + 25mg
Embalagens contendo
30 comprimidos revestidos.
Posologia:
1 comprimido uma vez ao dia,
preferencialmente pela manhã.5
s. Uso oral. Uso adulto. INDICAÇÕES: é indicado para o tratamento da hipertensão arterial sistêmica. CONTRAINDICAÇÕES: contraindicado a pacientes com hipersensibilidade conhecida a
iência renal grave (clearance (depuração) de creatinina < 30 mL/min). Hipocalemia refratária, hiponatremia e hipercalcemia e hiperuricemia sintomática. PRECAUÇÕES E ADVERTÊNCIAS: Tem sido relatada a ocorrência de hipomagnesemia e
mia, como nos que estejam recebendo altas doses de diuréticos, pode ocorrer, em casos raros, hipotensão sintomática após o início da terapia. Tem sido relatado que os diuréticos tiazídicos, incluindo a hidroclorotiazida, exacerbam ou ativam o
obre o sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA), não deve ser usado durante a gravidez ou em mulheres que planejam engravidar. Não se recomenda o uso em lactantes. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSA: réticos
steroides (por exemplo, derivados do ácido salicílico, indometacina) pode enfraquecer a atividade diurética e anti-hipertensiva do componente tiazídico. A hipovolemia concomitante pode induzir insuficiência renal aguda. O efeito
emia ou a hipomagnesemia induzidas por diuréticos tiazídicos, o que favorece a incidência de arritmia cardíaca induzida por digitálicos. Pode ser necessário o ajuste da dosagem de insulina e/ou de antidiabéticos orais. A coadministração de
entar o efeito hiperglicêmico do diazóxido e pode reduzir a excreção renal de medicamentos citotóxicos (por exemplo, ciclofosfamida e metotrexato) e potencializar seus efeitos mielossupressores. A biodisponibilidade dos diuréticos tiazídicos
bendo concomitantemente hidroclorotiazida com carbamazepina podem desenvolver hiponatremia. Esses pacientes devem ser alertados sobre a possibilidade de ocorrer reações de hiponatremia e devem ser monitorados de acordo. REAÇÕES
ém têm sido relatadas em pacientes tratados com hidroclorotiazida: distúrbios metabólicos e eletrolíticos, urticária e outras formas de erupção cutânea, diminuição do apetite, náusea leve e vômitos, hipotensão ortostática, que pode ser agravada
em em pacientes com insuficiência renal leve a moderada (clearance (depuração) de creatinina > 30 mL/min). Nenhum ajuste de dosagem é necessário para pacientes com insuficiência hepática de origem não biliar leve a moderada e sem
TIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO”. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. Referências:1. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial. Arq Bras Cardiol 2010; 95(1 supl.1): 1-51. 2. Lacourcière Y, Poirier L, Samuel
equivalência. 5. Bula do medicamento.
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Revista Geriatria & Gerontologia
Editora-chefe
Maysa Seabra Cendoroglo – São Paulo, Brasil (Unifesp)
Editores Associados
João Macêdo Coelho Filho – Fortaleza, Brasil (UFC)
Júlio César Moriguti – Ribeirão Preto, Brasil (USP-RP)
Milton Luiz Gorzoni – São Paulo, Brasil (FCMSC-SP)
Rosângela Correa Dias – Belo Horizonte, Brasil (UFMG)
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João Senger – Novo Hamburgo, Brasil
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CONSELHO EDITORIAL NACIONAL
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Ana Amélia Camarano – Rio de Janeiro
Ângelo Boss – Porto Alegre
Annette Leibing – Rio de Janeiro
Anita Libetalesso Néri – Campinas
Cláudia Burlá – Rio de Janeiro
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Emilio Jeckel Neto – Porto Alegre
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João Carlos Barbosa Machado – Belo Horizonte
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Jay Luxenberg – San Francisco, EUA
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2013 © AC Farmacêutica® LTDA. Todos os direitos reservados.
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EDITORIAL
Os idosos são todos iguais?
Os idosos com 80 anos ou mais que apresentam envelhecimento ativo, embora acompanhado de independência e autonomia,
também apresentam maior risco de comprometimento funcional com dependência. Esses riscos diferem a cada década
de vida alcançada e também dependerão do contexto em que
o idoso vive. Há diferenças significativas ao considerarmos os
riscos de dependência funcional em idosos aos 60, 70, 80, 90 ou
100 anos de idade. Aqueles que ultrapassaram os picos de maior
incidência de doenças que levam à mortalidade terão perfil de
sobrevivente, o qual apresenta particularidades que precisam de
reconhecimento para uma abordagem efetiva; caso contrário, os
riscos podem ser subestimados e levar à dependência precoce.
No estudo de Campolina et al. (Cad. Saúde Pública, Rio de
Janeiro, 2013; 29(6):1217), os autores avaliaram dados secundários brasileiros dos últimos 10 anos e observaram que, para
as idosas, a doença cardíaca, o diabetes mellitus e a hipertensão
arterial eram doenças se eliminadas geraria maior expectativa
de vida livre de incapacidade. Já para os homens, a doença cardíaca, a hipertensão arterial, a queda (aos 60 anos) e a doença
pulmonar crônica (aos 75 anos). A compressão da morbidade vem se estabelecendo, principalmente, à custa da melhoria
das condições de saúde, mas o período de dependência nos
últimos anos de vida ainda persiste, comprometendo número elevado de indivíduos longevos. Ferrucci et al. (Radiol Clin
North Am. 2008 July; 46(4):643–v) chamaram a atenção para
o aumento da incapacidade progressiva (declínio progressivo,
resultado de uma ou mais doenças crônicas), assim como da
incapacidade catastrófica (pode ocorrer a qualquer momento como resultado de acidente vascular encefálico ou queda).
Entre idosos longevos com severa incapacidade, a proporção
daqueles com incapacidade catastrófica é menor do que a progressiva, e esta é mais comum naqueles com três ou mais doenças crônicas.
Fried et al., em 2001 (Journal of Gerontology, 56A(3):
M146), distinguiram a população frágil como um percentual relativamente menor quando comparada com os idosos
envelhecendo ativamente, apesar das comorbidades. Os dados dos estudos SABE (Saúde, bem-estar e envelhecimento) e
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FIBRA (Fragilidade, saúde e bem-estar em idosos), que avaliaram amostras populacionais brasileiras segundo os critérios mais atuais para caracterização da fragilidade, determinaram percentual elevado de idosos pré-frágeis, incluindo
muitos longevos, mesmo na comunidade. Esses achados
identificam uma população com maior suscetibilidade e que,
por isso, pode se tornar disfuncional, incapaz e dependente.
Com base nesses aspectos, o perfil epidemiológico de
idosos incluídos no PAI da Regional Norte BH/MG caracterizou-se por indivíduos na sua maioria longevos, que apresentam envelhecimento ativo, mas apesar disso, têm, potencial
de risco elevado de incapacidade progressiva ou até catastrófica. Também observamos que, na Estratégia de Saúde da
Família em Fortaleza/CE, há uma preocupação pertinente de
identificar os grupos de risco para doença de Alzheimer. Os
autores observaram que, entre 60-70 anos, 30,7% dos idosos
apresentaram diagnóstico possível, enquanto, naqueles acima
de 80 anos, 36,3% apresentaram diagnóstico provável de doença de Alzheimer.
A necessidade de ampliação da avaliação funcional e de
reavaliação da concepção de incapacidade pode ser decisiva
para alcançarmos a compressão da morbidade com redução da
expectativa de vida com incapacidade entre o aparecimento de
doenças e a mortalidade. O trabalho na prática clínica, além do
controle de sinais e sintomas, depende cada vez mais da identificação dos fatores de risco e de seu controle para, de fato,
alcançar ganhos na qualidade de vida dos idosos.
Maysa Seabra Cendoroglo
Editora-chefe
Base Editorial
Av. Copacabana, 500 sala 609/610, Copacabana
22020-001 – Rio de Janeiro.
e-mails: [email protected] / [email protected]
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Diretoria Nacional da SBGG
Presidente
Nezilour Lobato Rodrigues (PA)
1o Vice-Presidente
Paulo Renato Canineu (SP)
Pres. Depto. Gerontologia
Mariana Asmar Alencar (MG)
Secretária Geral
Ana Lúcia de Sousa Vilela (RJ)
Secretária Adjunta
Leila Auxiliadora José Sant’Ana (MT)
Tesoureiro
Daniel Kitner (PE)
Diretora Científica
Maria Alice Vilhena de Toledo (DF)
Diretora de Defesa Profissional
Silvia Regina Mendes Pereira (RJ)
Conselho Consultivo
Maria Angélica dos Santos Sanches (RJ)
Marcos Aparecido Sarria Cabrera (PR)
Paulo Roberto Cardoso Consoni (RS)
Conselho Consultivo Pleno
Adriano Cesar Gordilho (BA)
Antonio Jordão Neto (SP)
Eliane Jost Blessmann (RS)
Elisa Franco de Assis Costa (GO)
Elizabete Viana de Freitas (RJ)
Flavio Aluizio Xavier Cançado (MG)
João Carlos Barbosa Machado (MG)
Jussara Rauth (RS)
Laura Melo Machado (RJ)
Margarida Santos (PE)
Maria Auxiliadora Cursino Ferrari (SP)
Marianela Flores de Hekman (RS)
Myrian Spínola Najas (SP)
Paulo Cesar Affonso Ferreira (RJ)
Renato Maia Guimarães (DF)
Silvia Regina Mendes Pereira (RJ)
Sonia Maria Rocha (RJ)
Tereza Bilton (SP)
Zally Pinto Vasconcelos Queiroz (SP)
Representantes no Conselho da Associação
Internacional de Geriatria e Gerontologia (IAGG)
Nezilour Lobato Rodrigues (PA)
Mariana Asmar Alencar (MG)
Marianela Flores de Hekman (RS)
Comissão de Normas
Presidente: Marianela Flores de Hekman (RS)
Adriano Cesar Gordilho (BA)
Eliane Jost Blessmann (RS)
Elisa Franco de Assis Costa (GO)
Elizabete Viana de Freitas (RJ)
Jussara Rauth (RS)
Silvia Regina Mendes Pereira (RJ)
Comissão de Ética e Defesa Profissional
Presidente: Silvia Regina Mendes Pereira (RJ)
Adriano Cesar Gordilho (BA)
Carlos Roberto Takayassu (MT)
Cristiane Ribeiro Maués (PA)
Emylucy de Paiva Paradela (RJ)
Gelson Rubem A. Almeida (MG)
Janaína Alvarenga Rocha (ES)
João Senger (RS)
Jussimar Mendes de Aquino (MS)
Katíuscia Karine Martins da Silva (AL)
Marcelo Azevedo Cabral (PE)
Marcelo de Faveri (DF)
Mariste Mendes Rocha (PB)
Rangel Osellame (SC)
Rodolfo Augusto Alves Pedrão (PR)
Rosina Ribeiro Gabriele (CE)
Tassio José D. Carvalho Silva (SP)
Yara Maria Cavalcante de Portela (MA)
Comissão de Comunicação
Presidente: Salo Buksman (RJ)
Fabio Falcão de Carvalho (BA)
Ivete Berkenbrock (PR)
Leila Auxiliadora José Sant’Ana (MT)
Leani de Souza M. Pereira (MG)
Marcela Guimarães Assis (MG)
Renato Moraes A. Fabbri (SP)
Comissão de Cuidados Paliativos
Presidente: Daniel Lima Azevedo (RJ)
Isadora Crosara Alves Teixeira (GO)
Claudia Burlá (RJ)
Johannes Doll (RS)
José Francisco Pinto de Almeida Oliveira (RJ)
Josecy Maria S. Peixoto (BA)
Laiane Moraes Dias (PA)
Ligia Py (RJ)
Lucia H.Takase Gonçalves (SC)
Maristela Jeci dos Santos (SC)
Toshio Chiba (SP)
Comissão de Título de Geriatria
Presidente: Elisa Franco de Assis Costa (GO)
Adriano Cesar Gordilho (BA)
Karlo Edson Carneiro Santana Moreira (PA)
Livia Terezinha DEVENS (ES)
Maira Tonidandel Barbosa (MG)
Maria do Carmo Lencastre de M.E C. D.Lins (PE)
Paulo José Fortes Villas Boas (SP)
Rodolfo Augusto Alves Pedrão (PR)
Veronica Hagemeyer Santos (RJ)
Comissão de Título de Gerontologia
Presidente: Cláudia Fló (SP)
Jordelina Schier (SC)
Marisa Accioly R. da C. Domingues (SP)
Tulia Fernanda Meira Garcia (CE)
Viviane Lemos Silva Fernandes (GO)
Comissão de Formação Profissional e Cadastro
Geriatria Veronica Hagemeyer Santos (RJ)
Gerontologia Maria Celi Lyrio Crispim (RJ)
Comissão de Informática
Coordenador: Rodrigo Martins Ribeiro (RJ)
Representante Institucional
COMLAT-Diretora da Área de Educação
Marianela Flores de Hekman (RS)
CNA Elizabete Viana de Freitas (RJ)
CNDI Jussara Rauth (RS)
Comissão Científica de Geriatria
Presidente: Maria Alice Vilhena de Toledo (DF)
Ana Beatriz Galhardi Di Tommaso (SP)
Ana Lúcia de Sousa Vilela (RJ)
Daniel Apolinário (SP)
Edgar Nunes de Moraes (MG)
Einstein Francisco de Camargos (DF)
Jacira do Nascimento Serra (MA)
Juliana Junqueira M. Teixeira (GO)
Jussimar Mendes de Aquino (MS)
Luiz Antonio Gil Junior (SP)
Maisa Carla Kairalla (SP)
Marco Polo Dias Freitas (DF)
Marcos Aparecido Sarria Cabrera (PR)
Maria Fernanda Coelho Moreira Costa (PA)
Monica Hupsel Frank (BA)
Rubens de Fraga Junior (PR)
Comissão Científica de Gerontologia
Presidente: Leila Auxiliadora José Sant’Ana (MT)
Ana Elizabeth dos Santos Lins (AL)
Leonor Campos Mauad (SP)
Ligia Py (RJ)
Márcia Carrera Campos Leal (PE)
Maria Angélica dos S.Sanchez (RJ)
Maria Izabel Penha de o. Santos (PA)
Otávio de Toledo Nobrega (DF)
Rosângela Corrêa Dias (MG)
Vania Beatriz M. Herédia (RS)
Comissão de Avaliação de Divulgação
de Assuntos e Eventos Científicos
Leila Auxiliadora José Sant’Ana (MT)
Ligia Py (RJ)
Maria Alice Vilhena de Toledo (DF)
Marianela Flores de Hekman (RS)
Comissão de Políticas Públicas
Marilia Anselmo V. da S. Berzins (SP)
Comissão de Publicações
Editora-Chefe: Maysa Seabra Cendoroglo (SP)
Diretorias das seções estaduais da SBGG
ALAGOAS
Presidente: Helen Arruda Guimarães
2o Vice-Presidente: Ana Elizabeth Lins
Diretor Científico: Oswaldo da Silva Liberal
BAHIA
Presidente: Rômulo Meira
2o Vice-Presidente: Fábio Falcão
Diretor Científico: Lucas Kuhn Prado
MARANHÃO
PARANÁ
Presidente: Jacira do Nascimento Serra
2o Vice-Presidente: Adriano Filipe Barreto Grangeiro
Diretores Científicos: Herberth Vera Cruz Furtado
Marques Júnior e Margareth de Pereira de Paula
Presidente: Debora Christina de lacantara Lopes
2a Vice-Presidente: Rosemary Rauchbach
Diretor Científico: Breno Barcelos Ferreira
MATO GROSSO DO SUL
Presidente: José Roberto Pelegrino
Diretora Científica: Marta Dreimeier
Presidente: Alexsandra Siqueira Campos
2a Vice-Presidente: Luisiana Lins Lamour
Diretor Científico: Sergio Murilo Fernandes
PERNAMBUCO
Presidente: João Bastos Freire Neto
2a Vice-Presidente: Lucila Bonfim Lopes Pinto
Diretor Científico: Jarbas de Sá Roriz Filho
Presidente: Roberto Gomes de Azevedo
2a Vice-Presidente: Roseane Muniz
Diretora Científica: Janine Nazareth Arruda
MATO GROSSO
RIO DE JANEIRO
DISTRITO FEDERAL
MINAS GERAIS
RIO GRANDE DO SUL
PARÁ
SANTA CATARINA
PARAÍBA
SÃO PAULO
CEARÁ
Presidente: Marco Polo Dias Freitas
2o Vice-Presidente: Vicente de Paula Faleiros
Diretor Científico: Leonardo Pitta
ESPÍRITO SANTO
Presidente: Roni Chaim Mukamal
2o Vice-Presidente: Neidil Espinola da Costa
Diretora Científica: Daniela Souza Gonçalves Barbieri
GOIÁS
Presidente: Isadora Crosara Alves Teixeira
2a Vice-Presidente: Viviane Lemos Silva Fernandes
Diretora Científica: Ricardo Borges da Silva
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Presidente: Rodrigo Ribeiro dos Santos
2a Vice-Presidente: Marcella Guimarães Assis
Diretora Científica: Maria Aparecida Camargos Bicalho
Presidente: Karlo Edson Carneiro Santana Moreira
2a Vice-Presidente: Maria Izabel Penha de O. Santos
Diretor Científico: João Sergio Fontes do Nascimento
Presidente: Arnaldo Henriques Gomes Viegas
2a Vice-Presidente: Mirian Lucia Trindade
Diretor Científico: João Borges Virgolino
Presidente: Rodrigo Bernardo Serafim
2a Vice-Presidente: Maria Angélica dos S. Sanchez
Diretor Científico: Tarso Lameri Sant’Anna Mosci
Presidente: Ângelo José Bos
2a Vice-Presidente: Vania Heredia
Diretor Científico: Paulo Roberto Cardoso Consoni
Presidente: Paulo Cesar dos Santos Borges
2a Vice-Presidente: Silvia Maria Azevedo do Santos
Diretora Científica: Nagele Belettini Hahn
Presidente: Renato Moraes Alves Fabbri
2a Vice-Presidente: Valmari Cristina Aranha
Diretora Científica: Maisa Carla Kairalla
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Artigo
original
Perfil epidemiológico de idosos incluídos
no PAI
| 253
Perfil epidemiológico dos idosos
incluídos no Programa Acompanhante
de Idosos (PAI)
Camila Manzano Fariaa, Deborah Abuhabb, Cintia Leci Rodriguesc,
Carlos Goriosd, Jane de Eston Armonde,
José Ricardo Dias Bertagnonf, Patrícia Colombo‑Souzag
Re s um o
Palavras‑chave
Idosos,
epidemiologia,
cuidadores, saúde
do idoso.
Objetivo: O estudo objetivou caracterizar o perfil epidemiológico dos idosos incluídos no Programa Acompanhante
de Idosos (PAI) da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. Métodos: Foi realizado um estudo transversal. A
amostra constituiu-se de 100 idosos, de ambos os sexos, com idade de 60 anos ou mais residentes em São Paulo, atendidos pelo PAI implantado em uma Unidade Básica de Saúde no município de São Paulo. Foi realizado o preenchimento
de um formulário com dados sociodemográficos, de saúde e lazer com o objetivo de traçar o perfil epidemiológico da
população estudada. Este trabalho foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde
de São Paulo, obtendo parecer favorável. Resultados: Quanto aos dados sociodemográficos, encontramos prevalência
de idosos octogenários (52%), do sexo feminino (74%), viúvos (47%), católicos (81%), que cursaram de 1.ª à 4.ª série
(37%), que não possuíam cuidadores (78%) e não moravam sozinhos (76%). As atividades de lazer eram realizadas por
86% da população. Quanto aos dados de saúde, 72% não sofreram internações no último ano e a prevalência de doenças
crônicas degenerativas era de 100%. A dependência funcional leve esteve presente em 42%; os idosos com autonomia
total eram 56%, e 95% possuíam plano de cuidados simples. Conclusões: Concluímos que os idosos estudados eram
octogenários em sua maioria, do sexo feminino, com baixa escolaridade, com autonomia total, apesar de 42% terem
dependência funcional leve caracterizando um perfil de envelhecimento ativo.
Epidemiological profile of elderly included in the elderly People
Accompanying Program (Programa Acompanhante de Idosos – PAI)
AB ST RAC T
Keywords
Elderly,
epidemiology,
caregivers, health
of the elderly.
Objective: The following study aimed to characterize the epidemiological profile of elderly people included in the Elderly
People Accompanying Program (Programa Acompanhante de Idosos – PAI) of the Health Department of the city of Sao
Paulo. Method: We conducted a cross-sectional survey. The sample consisted of 100 elderly people of both sexes, aged 60
years or older, living in São Paulo, assisted by the PAI Program at a Basic Health Unit in São Paulo city. A formulary was
filled with socio-demographic, health and leisure data in order to delineate the epidemiological profile of the population
studied. This paper was submitted to the Research Ethics Committee of the Department of Health of the city of Sao Paulo,
obtaining its assent. Results: Regarding socio-demographic data, we found a prevalence of elderly octogenarians (52%),
women (74%), widows (47%), Catholic (81%), elementary level of education (37%), with no caregivers (78%) and who did
not live alone (76%). Leisure activities were carried out by 86% of the population. Regarding health data, 72% were not
hospitalized during the previous year, and the prevalence of chronic degenerative diseases was of 100%. Mild functional
dependency was present in 42%; those with total autonomy were 56%, and 95% had a simple care plan. Conclusions: We
concluded that the elderly studied were octogenarians, mostly female, with low level of education, with total autonomy,
although 42% had mild functional dependence characterizing a profile of active aging.
Enfermeira do Programa de Atendimento de Idoso, aluna da pós‑graduação em saúde coletiva da Universidade Nove de Julho. Elaboração de
todo o trabalho, coleta de dados. b Mestre em enfermagem psiquiátrica. Universidade Nove de Julho. c Mestre em saúde pública. Departamento
de Saúde Pública do curso de medicina da Universidade de Santo Amaro. d Mestre em ortopedia e traumatologia. Departamento de Ortopedia
e Traumatologia. Universidade de Santo Amaro. e Doutora em saúde pública. Departamento da Saúde Coletiva e Mental da Universidade de
Santo Amaro. f Doutor em perinatologia. Departamento de Pediatria da Universidade de Santo Amaro. g Doutora em nutrição em saúde pública.
Departamento de Ciências da Saúde da Universidade de Santo Amaro.
a
Dados para correspondência
Cintia Leci Rodrigues – Rua Prof. Candido Nogueira da Mota, 409 – Interlagos. Cep: 04786‑070. Telefone: (11) 98519‑5224.
E‑mail: [email protected]
Artigo Orig 01.indd 253
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254 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
In tr o d ução
A população brasileira vem envelhecendo de forma rápi‑
da e progressiva. Esse evento é decorrente da queda das
taxas de natalidade e do aumento da expectativa de vida,
estreitando progressivamente a base da pirâmide popu‑
lacional.1,2
Alguns dos fatores que contribuem para o aumento
da expectativa de vida são a melhoria no acesso da popu‑
lação aos serviços de saúde, as campanhas de vacinação,
o aumento da escolaridade, a prevenção de doenças e os
avanços da medicina.3
O envelhecimento populacional, apesar de ser um
processo natural, biológico e irreversível, é uma questão
complexa, com impacto econômico, político e psicos‑
social. Há aumento da prevalência de doenças crônicas
e incapacitantes, como hipertensão, diabetes, doenças
cardíacas, depressão etc., além de uma relevante mudan‑
ça de paradigma na saúde pública, gerando demanda
crescente por serviços de saúde, como aumento de in‑
ternações, maior tempo de ocupação no leito, acompa‑
nhamento constante, cuidados permanentes, medicação
contínua, exames periódicos, redução da capacidade
funcional, reorganização da atenção à saúde, cuidado
multidisciplinar direcionado ao idoso, familiares e cui‑
dadores. A sociedade, a família, os próprios idosos e o
sistema de saúde não tiveram tempo necessário para essa
nova adaptação.4,5
As diretrizes da Política Nacional da Pessoa Idosa
visam à promoção do envelhecimento ativo e saudável,
atenção integral à saúde da pessoa idosa, estímulo às
ações intersetoriais, provimento de recursos capazes de
assegurar qualidade da atenção à saúde da pessoa idosa,
estímulo à participação e fortalecimento do controle so‑
cial, formação e educação permanente dos profissionais
de saúde do Sistema Único de Saúde na área de saúde da
pessoa idosa.6
A Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, em
2008, implantou o Programa Acompanhante de Idosos,
que realiza atendimento domiciliar para idosos debilita‑
dos do município de São Paulo.7
O Programa Acompanhante de Idosos visa assegurar
o acesso do idoso ao sistema de saúde e aos recursos da
comunidade, realizar a inserção social e participação so‑
cial, buscando manter a autonomia e a independência do
idoso atendido.8
O objetivo desse estudo foi caracterizar o perfil epi‑
demiológico dos idosos incluídos no Programa Acom‑
panhante de Idosos.
M é to d o
Trata‑se de um estudo observacional transversal. Os
dados foram coletados por meio de prontuários de
todos os idosos cadastrados no Programa Acompa‑
nhante de Idosos, no período de janeiro a dezembro
de 2010.
Artigo Orig 01.indd 254
A equipe de saúde do Programa Acompanhante de
Idosos é composta por 10 acompanhantes de idosos, dois
auxiliares de enfermagem, um auxiliar técnico adminis‑
trativo, um motorista, uma enfermeira, um médico e um
assistente social e coordenador do programa inserido
em determinada Unidade Básica de Saúde, totalizando
17 integrantes por equipe.9
Foram analisados 100 prontuários de pessoas ido‑
sas (60 anos ou mais de idade) atendidas no Programa
Acompanhante de Idosos, vinculado a uma Unidade Bá‑
sica de Saúde, localizada no bairro do Itaim Bibi, região
oeste da cidade de São Paulo.
As variáveis levantadas nesse estudo referentes ao
idoso foram: idade (em anos), sexo (feminino/mascu‑
lino), estado civil, religião, escolaridade, com quem o
idoso reside.
As variáveis referentes ao estado de saúde do idoso
foram: número de internações hospitalares no último
ano, se tem cuidador (sim/não), se realiza atividades de
lazer, estado de morbidade.
Foi avaliada a capacidade funcional, que é medida
através de uma escala de avaliação funcional pela qual o
idoso tem as opções de sem (0), pouca (1) e muita difi‑
culdade (2).10
Determinadas ações são medidas através do grau de
dificuldade de mediar, como deitar/levantar da cama,
comer, cuidar da aparência, andar no plano, tomar ba‑
nho, vestir‑se, ir ao banheiro em tempo, subir um lance
de escada, medicar‑se na hora, andar perto de casa, fazer
compras, preparar refeições, cortar as unhas dos pés, sair
de condução, fazer limpeza da casa e administrar o di‑
nheiro. O somatório dessas ações dará como resultado:
0 = independente; 1‑15 = dependência leve; 16‑20 = de‑
pendência moderada; >20 = alta dependência.
A questão relacionada à autonomia do idoso foi ava‑
liada como: quem decide o dia a dia do idoso, o fami‑
liar ou o cuidador? Se, em tempo integral, é um familiar
ou cuidador quem decide o dia a dia, classificamos esse
idoso como sem autonomia. Se é o próprio idoso quem
decide, exercendo seu poder de decisão: todo o tempo –
autonomia total; uma parte do tempo – autonomia par‑
cial.11
Foi avaliado o plano de cuidados englobando as ati‑
vidades a serem desenvolvidas pelos acompanhantes de
idosos, segundo suas necessidades. São elas: cuidados
pessoais, como higiene pessoal e bucal, alimentação,
medicação, exames e consultas, observação de sinais e
sintomas, incentivo às atividades físicas, atividades fora
do domicílio, orientação em saúde para usuário e fami‑
liares. Cuidados com o ambiente, como limpeza da mo‑
radia e fatores de risco. Cuidados com a relação interpes‑
soal com o usuário, com a família, com a comunidade e
com o cuidador. Abrangem também a peridiocidade das
visitas domiciliares do idoso. Plano de cuidados simples:
uma visita por semana; plano de cuidados intermediá‑
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Perfil epidemiológico de idosos incluídos no PAI | 255
rios: 2‑3 visitas por semana; plano de cuidados comple‑
xos: quatro ou mais visitas por semana, além do tempo
de cada visita domiciliar.12
R e s ultad os
Dos 100 prontuários pesquisados, 52% encontram‑se na
faixa etária entre 80‑89 anos, 31% entre 70‑79 anos, 14%
entre 90‑99 anos e 3% entre 60‑69 anos (Figura 1).
Faixa etária
3%
14%
31%
60-69
70-79
80-89
90-99
52%
Figura 1 Distribuição da faixa etária dos pacientes incluídos no Progra‑
ma Acompanhante de Idosos.
Em relação ao sexo: 74% eram idosos do sexo femini‑
no e 26% do sexo masculino.
Dos prontuários analisados, o estado civil dos idosos
era: 47% viúvos, 29% casados, 16% solteiros, 5% separa‑
dos e 3% divorciados.
Verificamos que 81% da população estudada são ca‑
tólicos, e os demais idosos se declaravam evangélicos,
espíritas ou não possuir religião.
Quanto à escolaridade dos idosos estudados, apenas
15% da amostra tinham ensino superior completo e 37%
tinham 1‑4 anos de estudo.
Identificamos durante a pesquisa que 78% dos ido‑
sos não possuem cuidadores de idosos e 22% possuem
cuidadores.
Verificamos que, no último ano, 72% dos pacientes
não tiveram nenhuma internação, 23% tiveram uma in‑
ternação, 4% tiveram três internações e 1% teve duas in‑
ternações (Figura 2).
Analisamos que 76% dos idosos vivem com familia‑
res, enquanto 24% moram sozinhos. Nessa pesquisa, a
maioria dos idosos vive acompanhada, porém esse valor
cai conforme o aumento da idade.
A pesquisa mostrou que 86% dos idosos realizam ati‑
vidades de lazer e 14% não realizam nenhuma atividade
de lazer.
Entre as atividades de lazer mais citadas pelos idosos
estavam: atividades recreativas, como televisão, rádio,
jogos como baralho, dominó e dama, atividades sociais
como conversas, atividades ocupacionais como visitas a
familiares e amigos, além da criação de animais, ativida‑
des artesanais, como crochê, tricô e pinturas em geral,
atividades culturais como internet, leitura de jornais,
revistas e livros, e atividades físicas como caminhadas,
ginástica e hidroginástica.
Todos os idosos incluídos nesta pesquisa apresenta‑
vam comorbidades (Tabela 1).
Na escala de avaliação funcional, 42% possuem de‑
pendência funcional leve, 36% alta dependência, 19%
dependência moderada e 3% são independentes.
Na questão sobre autonomia da realização das ati‑
vidades de vida diária, concluímos que 56% possuem
autonomia total, 26% autonomia parcial e 18% não têm
autonomia.
Em relação ao grau de complexidade dos planos de
cuidado dos pacientes incluídos no Programa Acom‑
panhante de Idosos, verificamos que 95% dos pacientes
Tabela 1 Distribuição das patologias dos pacientes incluídos no
Programa Acompanhante de Idosos
Internações no último ano
4%
Patologia
1%
23%
Hipertensão arterial sistêmica
73
Dislipidemia
28
Artrose
22
Depressão
18
Diabetes mellitus tipo II
14
Osteoporose
14
Nenhuma
Diabetes mellitus tipo I
13
Uma
Hipotireoidismo
12
Duas
Catarata
12
Três
Insuficiência cardíaca
11
Sequela de acidente vascular encefálico
10
Déficit visual
10
Déficit auditivo
10
72%
Figura 2 Distribuição do número de internações, no último ano, dos
pacientes incluídos no Programa Acompanhante de Idosos.
Artigo Orig 01.indd 255
F (%)
N = 100
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256 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
possuem plano de cuidados simples e 5% possuem plano
de cuidados intermediários.
D i sc uss ão
O grupo populacional que mais cresce no mundo é o
formado por pessoas com mais de 80 anos, isto é, a po‑
pulação considerada idosa também está envelhecendo.13
No levantamento realizado, há uma frequência ele‑
vada de pacientes octagenários. O envelhecimento pode
ser entendido como um processo de redução da reserva
funcional, sem forçosamente comprometer a função ne‑
cessária para as atividades do cotidiano.13
A existência de uma limitação funcional é evidente,
mesmo em um nonagenário, porém pode ser entendida
como o efeito de um processo fisiopatológico (senilida‑
de), portanto torna‑se um processo natural de envelhe‑
cimento (senescência).13
A feminilização do envelhecimento é a situação atual em
que o número absoluto de idosas tem sido superior quando
confrontado com o de homens de 65 anos ou mais. Na Amé‑
rica Latina e Caribe, as previsões apontam que as mulheres
continuarão tendo uma vantagem na esperança de vida em
relação aos homens. Esse fato é decorrente da situação de
mortalidade diferencial por sexo que prevalece desde 1950,
somando seis anos a mais de vida para as mulheres. Isso se
explica pela maior expectativa de vida das mulheres, asso‑
ciada a fatores como menor consumo de álcool e tabaco, e
diferentes atitudes em relação às doenças.14‑18
A viuvez tem sido apontada, em geral, como sinôni‑
mo de solidão. A morte do cônjuge pode ser uma tra‑
gédia ou uma libertação. Para as idosas atuais, a viuvez
significa autonomia e liberdade, visto que na juventude
e vida adulta não tiveram liberdade, dadas as relações de
gênero prevalecentes.19,20
Em 1993, a grande maioria das mulheres idosas era
viúva, solteira ou separada, um enorme contraste com a
situação dos homens de mesma idade, dos quais a gran‑
de maioria era de casados. Tais diferenças se explicam
não somente pela menor longevidade dos homens, mas
também pela maior frequência de recasamento dos ho‑
mens após a viuvez e maior tendência de se casarem com
mulheres mais jovens.19,20
A religiosidade tem uma dimensão central na vida
de grande parte dos idosos relacionada ao surgimento, à
manutenção e às possibilidades de atenuação de agravos
à saúde física e mental.21,22
O aumento da espiritualidade, com o avançar da ida‑
de, é fonte importante de suporte emocional, com re‑
percussões nas áreas da saúde física e mental. Práticas
e crenças religiosas parecem contribuir decisivamente
para o bem‑estar na velhice, sobretudo pelo apoio social
e pelos modos de lidar com o estresse.21,22
No Brasil, as mudanças ocorridas nas últimas cinco
décadas na distribuição populacional das diferentes de‑
nominações religiosas parecem decorrer de mudanças
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socioculturais marcantes associadas à urbanização e à
modernização da sociedade.21,22
O aspecto religioso tem grande influência nessa fase
da vida, de forma que a grande maioria dos idosos de‑
monstrou afinidade com algum tipo de atividade ou prá‑
tica religiosa, predominando o engajamento na religião
católica, seguida da religião evangélica. Quanto às razões
para a ocorrência desse fato, verifica‑se que a prática de
uma religião pelo idoso permite‑lhe estabelecer um elo
entre as limitações e o aproveitamento de suas potencia‑
lidades, ajudando a vencer com mais facilidade as difi‑
culdades nessa etapa da vida.21,22
Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística – IBGE (Brasil, 2003), os estudos dos bra‑
sileiros se situam, na maioria, entre quatro e sete anos.
Entre os idosos, essa média é de 2,7 anos. O nível edu‑
cacional interfere diretamente no desenvolvimento da
capacidade de entendimento do tratamento prescrito e
na prática do autocuidado, interferindo diretamente na
relação médico–paciente.23
Da década de 1930 até o ano de 1950, o ensino fun‑
damental era restrito a segmentos sociais específicos. Até
o ano de 1980, os baixos níveis de escolaridade não eram
considerados fator limitador do desenvolvimento, sendo
aceitável pelo modelo econômico, industrial e tecnológico
da época. Acredita‑se que pode ser explicado pelos valores
culturais e sociais da primeira metade do século passado,
segundo os quais as mulheres assumiam o papel domici‑
liar, aliado à dificuldade de acesso ao sistema educacional,
pois essa geração de idosos vivia na zona rural quando
estava em idade de escolarização. Sua consequência é o
baixo nível da escolaridade da população idosa.22
Sabe‑se que os baixos níveis de escolaridade associa‑
dos a fatores socioeconômicos e culturais contribuem
para o aparecimento de doença, pois esses fatores podem
dificultar a obtenção de informações e a conscientização
das pessoas sobre a relevância dos cuidados com a saúde
ao longo da vida, a necessidade da adesão ao tratamento
e a manutenção de hábitos saudáveis.21
A prevalência de escolaridade nos pacientes estudados
foi de 1ª à 4ª série, podendo ser explicada pelo fato de que
os níveis de escolaridade da época não eram prioritários.22
Considerando‑se que o Programa Acompanhante
de Idosos foi criado para contribuir com a promoção da
saúde, houve um avanço quanto aos idosos que não fo‑
ram internados no último ano, sendo 72%. Vale a refle‑
xão de que o programa está contribuindo para que esse
número de internações diminua cada vez mais.
Na grande maioria das vezes, o cuidador familiar desem‑
penha seu papel sozinho, sem ajuda de outros familiares ou
de profissionais.23,24 Nesse caso, esse cuidador se transforma
também na ligação do idoso com a equipe de saúde.
A enfermeira, entre outros profissionais da saúde, é a
mais indicada para promover e orientar o cuidado diário
e a manutenção dos idosos fragilizados em condições de
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Perfil epidemiológico de idosos incluídos no PAI | 257
vida mais satisfatórias possíveis, em parceria com os cui‑
dadores, familiares, amigos, vizinhos, voluntários ou
cuidadores contratados.23,24
A enfermeira pode também desenvolver a função de
controlar conflitos e problemas familiares, porém difi‑
cilmente teremos profissionais suficientes para o aten‑
dimento domiciliar e diário de todas as pessoas que se
encontram doentes em seus domicílios. A orientação e o
acompanhamento dos cuidadores leigos é uma modali‑
dade de prática que precisa ser mais avaliada.23,24
Neste estudo, foram encontrados diversos cuidadores
com as seguintes características: família cujos filhos cui‑
dam de seus idosos, família em que alguns filhos e netos
cuidam de seus idosos, família em que filhos e netos cui‑
dam de seus idosos, família em que os cônjuges idosos se
cuidam, família em que o idoso é cuidado por cuidador
contratado pela família.23,24
Cuidados básicos, muitas vezes, são negligenciados
pelas cuidadoras ou por seus próprios familiares, por
conflitos entre cuidadoras e familiares, falta de experiên‑
cia para a realização de cuidados por parte da cuidadora,
falta de materiais necessários para a realização de alguns
procedimentos básicos, ausência dos familiares nas de‑
cisões pertinentes aos cuidados prestados ao idoso.24,25
Nesta pesquisa, a maioria dos idosos vive acompanhada,
porém esse valor cai à medida que eles envelhecem. É cres‑
cente a proporção de idosos vivendo sozinhos. É comum
que a industrialização e a urbanização destruam e tornem
as relações estreitas entre as famílias. Porém, as melhorias
nas condições de saúde e outros avanços tecnológicos,
como meios de comunicação, elevadores, automóveis, po‑
dem sugerir que viver só representa mais formas inovado‑
ras e bem‑sucedidas de envelhecimento do que abandono,
descaso ou solidão. Viver só pode ser um estágio temporá‑
rio do ciclo de vida e pode estar refletindo preferências.10,21
Morar sozinho não constitui um problema em si, já
que pode ser uma opção se as condições financeiras e de
saúde o permitirem, porém é considerado uma situação
de risco caso o idoso possua algum comprometimento
funcional, tendo‑se em vista a possibilidade de perda da
autonomia e independência. As dificuldades se relacio‑
nam ao sentimento de solidão, má alimentação, higiene
pessoal e domiciliar. O idoso que mora sozinho deve pro‑
mover o convívio com os familiares, com a comunidade,
preservando a sua autonomia e independência. A perda
do apoio familiar ao idoso geralmente acontece devido
a mudanças na composição familiar, modificações so‑
cioculturais e econômicas. Antes, as famílias numerosas
conviviam no mesmo ambiente domiciliar, e a presença
do idoso representava um status social elevado. Com o
transcorrer dos anos, a família numerosa foi substituída
por uma família com pai, mãe e poucos filhos. Detec‑
ta‑se ainda que as mulheres, que geralmente assumiam o
papel de cuidadoras, estão no mercado de trabalho e não
têm mais tempo para cuidar de seus idosos.10,21
Artigo Orig 01.indd 257
Grande parte dos idosos ocupa seu tempo livre com
atividades recreativas como televisão, rádio, jogos como
baralho, dominó e dama. Atividades sociais são as con‑
versas. As ocupacionais são as visitas a familiares e ami‑
gos, além da criação de animais. As artesanais são cro‑
chê, tricô e pinturas em geral. Atividades culturais são
internet, leitura de jornais, revistas e livros. Atividades
físicas são caminhadas, ginástica e hidroginástica.24
A televisão tem várias funções como fonte de infor‑
mação e entretenimento, reduzindo o isolamento, uma
vez que oferece companhia e comunicação substitutiva,
ocupação do tempo livre, relaxamento, divertimento e
fuga da realidade.26
O rádio tem grande penetração na população brasi‑
leira e possibilita a acessibilidade de sua linguagem em
todas as camadas sociais. As pessoas têm acesso à mú‑
sica, que possibilita mover sentimentos e emoções, des‑
pertar interesse e permitir a recordação.24
A caminhada, além de atividade física propriamente
dita, possibilita que esses idosos tenham a ampliação da
rede de amigos e colegas.24
Foi observado durante a pesquisa que 100% dos pacien‑
tes não possuem apenas uma patologia principal. Do total
dos pacientes, 73% possuem hipertensão arterial sistêmica.
A hipertensão arterial sistêmica é uma doença de alta
prevalência na população idosa. A maioria dos casos de
hipertensão é do tipo primário, cuja causa é desconhe‑
cida. Se não for detectada precocemente, a hipertensão
pode ocasionar uma série de distúrbios, levando a lesões
de órgãos vitais, como coração, cérebro e rins.25
No idoso portador de doença crônica, como é o caso
da hipertensão arterial sistêmica, encontramos, com
frequência, dificuldades na adaptação, tanto alimentar
quanto medicamentosa, o que pode gerar conflitos.25
A capacidade funcional vem sendo vista como um
novo paradigma de saúde para o idoso. Presença de doen‑
ça, falta de autonomia, fatores culturais, socioeconômi‑
cos e estilo de vida podem comprometer a capacidade
funcional de um indivíduo, afetando o bem‑estar e o
processo de envelhecimento saudável.26
O declínio da capacidade funcional geralmente con‑
duz a pessoa idosa à limitação ou perda total da capa‑
cidade de desempenhar, de forma independente, suas
atividades cotidianas. Geralmente, as atividades instru‑
mentais da vida diária (AIVDs) são atingidas primeira‑
mente, sendo utilizadas como indicadores para detectar
a incapacidade funcional. Essas atividades estão relacio‑
nadas à participação social do idoso ou à manutenção de
sua integração com o meio social que requer uma reor‑
ganização familiar. A partir de incapacidades instaladas
nas AIVDs, as outras atividades básicas da vida diária
(AVDs) também poderão estar comprometidas.26
A vulnerabilidade da pessoa idosa não pode ser vista
de forma única em cada plano. Também não se contam
com instrumentos que meçam o grau de vulnerabilidade
25/02/14 09:18
258 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
do idoso. A abordagem da vulnerabilidade pressupõe
que a mudança não ocorre a partir da pessoa em rela‑
ção ao outro de seu entorno, mas que seja construída nas
possibilidades de as pessoas estarem diante de outras, de
modo a tornar a saúde de todos mais satisfatória.27
C o n c l us ão
Concluímos que os idosos estudados eram octogenários
em sua maioria, do sexo feminino, com baixa escolaridade,
com autonomia total, apesar de 42% terem dependência
funcional leve, caracterizando um perfil de envelhecimen‑
to ativo. De acordo com os resultados, pode‑se constatar
que as representações sobre o envelhecimento ativo, ligan‑
do‑o ao lazer, foram elaboradas em uma dimensão que
estava ao alcance das possibilidades dos idosos. Pode‑se
concluir que, para que tal situação aconteça, os idosos de‑
vem estar inseridos em espaços que promovam o desen‑
volvimento do envelhecimento saudável, bem‑sucedido
e ativo. Nesta pesquisa, o alto percentual encontrado de
idosos funcionalmente independentes deveu‑se, em gran‑
de parte, ao fato de residirem em casa própria e convive‑
rem na comunidade com parentes próximos.
C o n f l ito s d e i n t e r e s s e s
Os autores declaram não possuir nenhum conflito de in‑
teresse na sua realização e publicação.
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25/02/14 09:18
original
A doença de Alzheimer dentro da estratégia de saúdeArtigo
da família
| 259
Doença de Alzheimer: um perfil
diagnóstico dentro da estratégia
de saúde da família
Ronaldo Pontes Barreira Filhoa, Luís de França Camboim Netob,
Carla Soraya Costa Maiac
Re s um o
Palavras‑chave
Doença,
Alzheimer, idoso,
estratégia de
Saúde da Família.
Objetivo: O presente estudo teve como objetivo avaliar a condição de uma população de idosos inseridos na estratégia da Saúde da Família, no aspecto de incidência da doença. Métodos: Foram avaliados 118 idosos, divididos
em grupos de 60-70, 71-80 e acima de 80 anos de idade, no período de abril a maio de 2008. A pesquisa foi realizada
por meio de avaliação do quadro clínico, seguida por exame físico básico, exames complementares disponíveis pelo
SUS e aplicação de questionários, pelos quais foram levantadas informações sobre estado mental, cognitivo, de
orientação temporal e espacial de cada paciente. Foram avaliadas a memória imediata, a memória de evocação, a capacidade de raciocínio, o julgamento, a atenção a cálculos e linguagem, a alteração do humor e do comportamento.
Resultados: No grupo estudado observou-se que, entre os idosos na faixa etária de 60-70 anos, 7,7% apresentaram
diagnóstico provável de doença de Alzheimer, e 30,7%, diagnóstico possível; entre os idosos na faixa de 71-80 anos,
23% apresentaram diagnóstico provável, e 23%, diagnóstico possível. Entre o grupo de idosos acima de 80 anos,
36,3% apresentaram diagnóstico provável para doença de Alzheimer, e 27,4%, diagnóstico possível. Conclusão: O
aumento do número de casos dessa doença ocorre com o aumento da idade, e o número de casos de pacientes não
portadores da doença de Alzheimer ocorreu em ordem decrescente com a idade.
Alzheimer’s disease: a diagnostic profile within the family health strategy
AB ST RAC T
Keywords
Disease,
Alzheimer,
elderly, Family
Health strategy.
Objective: The present study aimed to evaluate the condition of an elderly population included in the Family Health Program regarding the incidence of the disease. Methods: A hundred eighteen elderly people were evaluated
at Rebouças Macambira Family Healthcare Center; they were divided into age groups of 60-70 years old, 71-80
years old, and above 80 years old, within April-May 2008. The research was conducted through a clinical review,
followed by a basic physical examination, extra laboratory tests available at the Unified Health System (SUS), and
questionnaires, which gave information about the mental state, cognition, temporal and spatial orientation of each
patient. Immediate memory, recall memory, reasoning ability, judgement, attention to language and calculations,
mood and behavior changes were features evaluated. Results: In the group studied it was observed that, among the
elderly people aged 60 to 70 years, 7.7% had a probable diagnosis of Alzheimer’s disease, 30.7%, a possible diagnosis;
among the elderly in the range of 71 to 80, 23% had probable diagnosis, and 23% had a possible diagnosis. Among
the group of patients over 80 years old, 36.3% had a diagnosis of probable Alzheimer’s disease and to 27.4%, possible
diagnosis. Conclusion: The number of cases of this disease increased with age, and the number of cases of patients
not suffering from Alzheimer’s disease decreased with age.
a
Especialização lato sensu em geriatria, ESP (Escola de Saúde Pública) do estado do Ceará. Rua Livreiro Arlindo, 177, Farias Brito, Fortaleza,
CE, 60011‑320, e‑mail: [email protected]
b
Professor doutor em engenharia agrícola e ouvidor da Fatene Caucaia.
c
Doutora em nutrição, professora da UECE (Universidade Estadual do Ceará).
Dados para correspondência
Ronaldo Pontes Barreira Filho – Rua livreiro Arlindo, 177, Farias Brito. 60.011‑320,Fortaleza, CE. Telefone: (85) 8891‑2772.
E‑mails: [email protected], [email protected] e [email protected]
Artigo Orig 02.indd 259
25/02/14 09:19
260 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
IN TR O D U ÇÃ O
Atualmente, a população mundial de idosos vem sendo
acometida por diversos tipos de demência. Uma, que
tem se manifestado de forma significativa e relevante,
denomina‑se doença de Alzheimer (DA), sendo de lon‑
ge a causa mais frequente das chamadas síndromes de‑
menciais. A doença de Alzheimer é uma doença insidio‑
sa caracterizada por múltiplos comprometimentos nas
funções cognitivas, de início lento e caráter progressivo,
sem afetar a consciência, cujas funções cognitivas afeta‑
das incluem inteligência geral, aprendizagem e memória,
linguagem, solução de problemas, orientação, percep‑
ção, atenção e concentração, julgamento e habilidades
sociais. A personalidade também é afetada.1
Essa síndrome se caracteriza por déficit de memória
adquirido e comprometimento de outra função intelec‑
tual superior (p. ex., orientação temporal, julgamento
etc.). Com frequência, observam‑se mudanças no com‑
portamento e personalidade, com prejuízo no desempe‑
nho psicossocial.2
Estima‑se que em torno de 10% da população mun‑
dial acima de 65 anos seja acometida pelos sintomas
dessa doença. Já a população acima de 85 anos apresen‑
ta incidência de aproximadamente 50%.3 É importante
ressaltar que, a partir dos 60 anos, todas as depressões e
psicoses de difícil tratamento podem ser um prenúncio
de doença de Alzheimer, e até agora não existe cura ou
prevenção para ela.4
De acordo com um estudo de metanálise, a preva‑
lência das demências muda de 1,4% dos indivíduos en‑
tre 65‑69 anos para 20,8% daqueles entre 85‑89 anos,
chegando a alcançar aproximadamente 38,6% daqueles
entre 90‑95 anos. Especula‑se sobre a tendência de ocor‑
rência de um efeito platô em indivíduos com mais de 95
anos de idade.5 De todos os pacientes com demência,
50‑60% apresentaram o tipo de Alzheimer, que repre‑
senta cerca de 60% do conjunto das doenças que afetam
a população geriátrica.6
No presente, não dispomos de medicamentos capazes
de interromper ou modificar o curso da DA nem sequer
impedir a sua eclosão. Mesmo assim, muito se pode fazer
pelo paciente e por seus familiares; em outras palavras,
embora ainda incurável, a DA é tratável.5
M ÉTO D OS
A rede de saúde pública, através da estratégia de Saúde
da Família, pode ser considerada um meio de grande
diversidade para investigação quantitativa e qualitativa,
pois há uma grande procura por parte da população ca‑
rente por esse serviço, gerando intensa relação entre o
médico e o paciente. Essa interação permite diferentes
percepções e conclusões a respeito dos aspectos que es‑
tão sendo submetidos a avaliação.
A pesquisa realizada foi quantitativa e transversal, ana‑
lisando‑se um grupo de pacientes do CSF selecionados de
Artigo Orig 02.indd 260
forma sistemática e divididos em grupos diferentes de acor‑
do com a faixa etária. No período de fevereiro a março de
2008, foram convocados os agentes comunitários de saúde
(ACS) para que os mesmos convidassem idosos da comu‑
nidade a participar da pesquisa. Os ACS foram orientados
sobre a pesquisa para que pudessem informar aos idosos e
convocá‑los para participar da mesma em visita marcada
no Centro de Saúde da Família José Rebouças Macambira.
A coleta de dados realizou‑se de abril a maio de 2008, ten‑
do sido examinados e avaliados 118 pacientes no Centro
de Saúde da Família (CSF) José Rebouças Macambira,
localizado na Rua Creuza Rocha s/n, no bairro Jardim
Guanabara, situado no município de Fortaleza (CE), dos
quais 37 aceitaram participar da pesquisa. A composição
da amostra dessa investigação foi obtida de amostragem
sistemática, já que a população de idosos encontrava‑se
cadastrada ordenadamente em prontuários, no CSF,
levando‑se em conta a diversidade das condições e con‑
textos nos quais se inserem os pacientes. Dessa forma, fo‑
ram excluídos os pacientes que por motivos diversos não
puderam ir ao CSF e os que não aceitaram participar da
pesquisa.
Os pacientes examinados foram divididos em três
grupos conforme a faixa etária, sendo distribuídos da
seguinte forma: primeiro grupo – idoso na faixa etária
de 60‑70 anos de idade; segundo grupo – idoso na faixa
etária de 71‑80 anos; terceiro grupo – idoso acima de 80
anos. Todos os pacientes foram avaliados criteriosamen‑
te da mesma forma, sendo inicialmente verificado o qua‑
dro clínico por meio de anamnese minuciosa, iniciando
pela queixa principal (QP) seguida da história da doença
atual (HDA), investigando‑se de forma detalhada a his‑
tória do problema inicial, seu caráter evolutivo e a com‑
pleta sintomatologia relacionada à doença de Alzheimer.
Dessa forma foi verificado como tais sintomas interferem
nas atividades de vida diária do paciente, assim como a
associação de distúrbios relacionados.
A anamnese foi composta ainda pela HPP (história
patológica pregressa), pela qual foram consideradas as
doenças concomitantes de relevância, o uso de outras
medicações. A história familiar (HF) de quadros de‑
menciais também foi considerada, bem como os hábitos
sociais do paciente, sua bagagem cultural e nível educa‑
cional, na história social (HS). Finalizando a anamnese,
foi proposta uma hipótese diagnóstica (HD) para cada
caso analisado. Foi feito um exame físico básico em cada
paciente, dentro das condições da unidade de saúde.
Constou de ectoscopia, ausculta pulmonar e cardíaca,
medição da pressão arterial (PA), frequência cardíaca
(FC), peso, temperatura axilar e altura, para calcular o
índice de massa corpórea (IMC) de cada paciente. Foi
realizado também um exame do abdome, verificando‑se
a peristalse, e feita palpação superficial e profunda das
vísceras abdominais. Por fim, foram testados os reflexos
primitivos básicos.
25/02/14 09:19
A doença de Alzheimer dentro da estratégia de saúde da família | 261
Após a anamnese e o exame físico foram solicitados
os exames complementares disponíveis pelo SUS, que
são: hemograma completo, TSH, EAS (elementos anor‑
mais do sedimento), dosagem de cálcio e sódio, sorolo‑
gia para sífilis, ureia, creatinina e ácido úrico, glicemia
em jejum, dosagem de vitamina B12, proteínas totais e
frações, dosagem de colesterol e frações, e triglicerídeos.
A realização dos exames complementares teve como ob‑
jetivo afastar possíveis causas de demência, não relacio‑
nadas com a doença de Alzheimer, e outras patologias.
Ainda assim ficou de fora uma quantidade significativa
de exames essenciais para complementar o diagnósti‑
co e afastar outras síndromes demenciais. Em seguida,
foram aplicados vários questionários nos quais foram
levantadas informações sobre o estado mental e cogni‑
tivo, orientação temporal e espacial de cada paciente, e
avaliada a memória imediata, a memória de evocação,
a capacidade de raciocínio, de julgamento e atenção do
idoso a cálculos e linguagem, sendo por fim possível ava‑
liar alterações do humor e do comportamento.
Os resultados foram avaliados pelos métodos estatís‑
ticos descritivos, segundo Martins,7 verificando a inci‑
dência de portadores da doença de Alzheimer e comor‑
bidades associadas, bem como o nível de escolaridade, o
uso de medicamentos controlados e o grau de dependên‑
cia para as atividades de vida diária por grupo estudado.
Como conclusões finais da associação das entrevistas fo‑
ram feitas comparações entre a sintomatologia e o núme‑
ro de casos detectados, objetivando identificar os pacien‑
tes portadores dessa demência na área objeto de estudo.
Não é tarefa fácil estabelecer a diferença entre o normal
e a doença de Alzheimer nas alterações cognitivas leves,
o que não acontece quando o quadro demencial evolui
para estágios mais avançados, com deficiências muito
mais evidentes. Além disso, os testes neurocognitivos ge‑
ralmente sofrem limitações, principalmente em estudos
populacionais, devido à heterogeneidade socioeconomi‑
cocultural da população.
Não se objetivou utilizar toda a gama de testes e ba‑
terias de avaliação neuropsicológica existente; decidiu‑se
usar os testes, através de questionários julgados mais im‑
portantes e que podem ser assim citados: miniexame do
estado mental (MMSE), escala de depressão geriátrica,
escala de Katz, escala de Tinetti, teste do relógio (Clock
Drawing Task) conforme Castro.4 É importante citar que
o miniexame do estado mental (Mini‑Mental State Exam
– MMSE) foi eleito pelos critérios do NINCDS‑ADRDA
(McKhann et al.8), o método básico de screening ou ras‑
treamento de déficit cognitivo.
A escala de depressão geriátrica permite avaliar casos
suspeitos de depressão e, dessa forma, podemos estabe‑
lecer uma relação entre o possível quadro depressivo e a
DA. A escala de Katz nos dá uma noção da dependên‑
cia do paciente à família ou a um cuidador, e isso pode
ser importante e útil para estabelecer uma estratégia de
Artigo Orig 02.indd 261
tratamento. Além do mais, a dependência está associada
a uma série de patologias, bem como às consequências
do imobilismo. A escala de Tinetti, além de detectar um
possível distúrbio neurológico, dá uma noção geral do
estado funcional do paciente. Alterações na marcha e
equilíbrio podem estar implicados na maior propensão
para quedas. O teste do relógio também é um teste de
rastreamento de déficits cognitivos, considerado o teste
de maior facilidade para a aplicação, refletindo as fun‑
ções frontais e temporoparietais, e avalia as habilidades
visuoespaciais e construcionais.8
O estudo foi aprovado pelo comitê de ética e pesquisa
da Escola de Saúde Pública do Ceará, com o protocolo
CEP/ESP‑CE no 104/2007, por estar de acordo com a re‑
solução no 196/96, do Conselho Nacional de Saúde para
pesquisa com seres humanos.
R ESU LTA D OS
A partir da convocação dos idosos, o estudo foi finaliza‑
do com a participação de 37 deles. A Tabela 1 apresenta
a distribuição dos idosos portadores de DA agrupados
de acordo com os critérios diagnósticos da doença de
Alzheimer em provável, possível e não portador.
Tabela 1 Idosos portadores da doença de Alzheimer no CSF Rebouças
Macambira (Fortaleza)
DA (%)
Idade
(anos)
Idosos
Possível
60‑70
13
71‑80
13
>80
11
Provável
Não portadores
30,7
7,7
61,6
23,0
23,0
54,0
27,4
36,3
36,3
DA: doença de Alzheimer.
Foram assim analisados: 13 idosos pertencentes ao
primeiro grupo (faixa etária entre 60‑70), 13 idosos no
segundo grupo (71‑80 anos) e 11 idosos no terceiro
grupo (com idade superior a 80 anos). Observa‑se que,
no grupo que compreende os idosos na faixa etária en‑
tre 60‑70 anos, 7,7% (n = 1) apresentaram diagnóstico
provável da doença de Alzheimer, enquanto 30,7% apre‑
sentaram diagnóstico possível. O grupo de idosos
na faixa etária entre 71‑80 anos apresentou 23% de
diagnóstico provável da doença de Alzheimer e 23%
de diagnóstico possível da doença de Alzheimer. Já o
grupo de idosos acima de 80 anos apresentou 36,3% de
diagnóstico provável da doença de Alzheimer, enquan‑
to 27,4% apresentaram diagnóstico possível de DA. Esse
perfil condiz com os trabalhos de avaliação cognitiva e
funcional de Nitrini et al.9 sobre as recomendações do
departamento científico de neurologia cognitiva e do
envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia, as
quais afirmam que o diagnóstico de demência deve base‑
ar‑se, principalmente, nos critérios da Associação Psiquiá‑
trica Americana (DSM) e os de doença de Alzheimer nos
critérios do NINCDS‑ADRDA.
25/02/14 09:19
262 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
Observa‑se que, apesar de o índice de idosos com DA
possível se manter elevado entre os idosos nos três in‑
tervalos de idade, em 30,7%, 23,0% e 27,4%, respectiva‑
mente, no total de 81,1%, a proporção de idosos com DA
provável cresceu progressivamente de 7,7% para 23%
e 36,3%, respectivamente, no total de 67%. Observa‑se
ainda que DA provável é superior em idosos acima de 80
anos, enquanto DA possível se manifesta de forma mais
ampla em idosos na faixa etária de 60‑70 anos de idade.
Isso é verificado devido ao critério diagnóstico para DA
possível ser mais abrangente, porém menos específico.
Notadamente, o aumento de idade é um fator prepon‑
derantemente importante na detecção de casos de DA,
confirmando‑se em análise com o aumento de casos de
DA provável em consequência do aumento da idade.
Observa‑se ainda, na Tabela 1, que os não portadores
de DA ocorrem em ordem decrescente de idade, ou seja,
61,6%, 54% e 36,3% para os grupos 60‑70, 71‑80 e acima
de 80 anos, respectivamente. Esse panorama é confirmado
por Ramos & Montaño,8 os quais afirmam que a prevalên‑
cia de DA aumenta com a idade. Os mesmos reiteram que
os níveis de DA incidem em torno de 5% em idosos acima
de 65 anos e 20% acima dos 80 anos de idade.
Lopes & Botino,10 ao analisarem os estudos de pre‑
valência de demência, no período de 1994‑2000, cons‑
tataram que o fator idade exerceu importante influência
sobre os resultados, com taxas médias de prevalência que
variam de 1,77% na faixa de 65‑69 anos a 54,83% na faixa
acima de 95 anos. Afirmam ainda que a população idosa
vem aumentando em todo o mundo, especialmente nos
países em desenvolvimento. A perspectiva é que, em 2025,
o Brasil venha a ser o sexto país do mundo em número
de idosos.10 A dificuldade de reunir pacientes acima de 80
anos foi elevada por causa do baixo índice de idosos nessa
faixa etária que se propuseram a participar da pesquisa ou
estavam impossibilitados de se locomover ao CSF.
As doenças mais frequentes identificadas, além da
DA, para os grupos estudados, estão relacionadas na Ta‑
bela 2.
Tabela 2 Doenças mais frequentes nos idosos no CSF Rebouças
Macambira (Fortaleza)
Patologias
HAS
ANS
DEP
DAM
DLP
DGO
Outras
Idade
(anos)
Idosos
60‑70
13
61,6
61,6
53,9
23,1
30,7
46,1
53,9
71‑80
13
84,6
84,6
69,2
38,4
30,7
61,5
76,9
>80
11
90,9
45,4
63,6
27,4
36,3
81,8
81,8
‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑%‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑
ANS: ansiedade; DAM: diabetes mellitus; DEP: depressão; DGO: doenças
degenerativas e ósseas; DLP: dislipidemias; HAS: hipertensão arterial sistêmica.
Verifica‑se que a doença predominante nos três gru‑
pos estudados foi a hipertensão arterial sistêmica (HAS),
com índices elevadíssimos (61,6%, 84,6% e 90,9%, respec‑
tivamente) em cada grupo analisado. Em segundo lugar,
Artigo Orig 02.indd 262
porém, com índices também elevados, observamos os
quadros de ansiedade (ANS) e depressão (DEP). A ansie‑
dade efetivamente oscila de um grupo para o outro, apre‑
sentando‑se no primeiro grupo (idosos entre 60‑70 anos)
em 61,6%, concomitante ao mesmo valor para HAS, no
segundo grupo (idosos na faixa etária entre 71‑80 anos)
com o valor de 84,6%, também o mesmo valor atribuído
à HAS, enquanto no terceiro grupo (idosos acima de 80
anos) foi em torno de 45,4%. Observa‑se ainda que a de‑
pressão se manteve elevada nos três grupos, sendo mais
prevalente no segundo grupo (idosos entre 71‑80 anos).
Outro fator importante na análise dos dados está re‑
lacionado com os quadros de doenças degenerativas e
ósseas, cujos valores aumentaram em ordem crescente e
de maneira significativa de um grupo para o outro, fican‑
do distribuídos no primeiro, segundo e terceiro grupos,
respectivamente: 46,1%, 61,5% e 81,8%. As dislipidemias
apresentaram porcentagem menor em relação às demais
doenças, que variaram de 30,7% a 36,3% nas faixas etá‑
rias estudadas. O diabetes mellitus foi a doença de menor
prevalência no grupo estudado.
Esse panorama condiz com a análise de Almeida et al.,11
que afirmam que a avaliação de pacientes com DA não
termina com a demonstração de que dificuldades cogniti‑
vas estão presentes. A detecção de vários desses sintomas
depende, com frequência, de informações fornecidas pelo
cuidador do paciente. Apesar disso, os pacientes demons‑
traram capacidade relativamente preservada para identi‑
ficar os sintomas, como irritabilidade, choro, depressão,
problemas com o sono e o apetite, e foram relatados pelos
cuidadores casos de agressividade física, embora todos os
pacientes tenham negado ser fisicamente agressivos.
Segundo Tomoko & Cummings,12 os distúrbios da
memória associados a ansiedade, depressão ou fadiga,
ou o esquecimento benigno associado ao envelhecimen‑
to, precisam ser considerados antes de se fazer um diag‑
nóstico de comprometimento da memória secundária
da demência.
Na Tabela 3 é analisado outro fator de fundamental
importância, relativo ao nível de escolaridade de cada
idoso, de acordo com o grupo no qual está inserido. Ob‑
serva‑se que o índice de analfabetismo é elevado no ter‑
ceiro grupo, com valor em torno de 18,1%. O número de
idosos com ensino fundamental incompleto reduziu‑se
do primeiro para o segundo grupo, elevando‑se no ter‑
ceiro grupo, com valores de 77%, 53,8% e 54,5%, respec‑
tivamente; a quantidade de idosos com ensino funda‑
mental completo foi igual no primeiro e segundo grupos,
decrescendo no terceiro, com valores em torno de 23%,
23% e 18,1%, respectivamente. Observa‑se ainda a presen‑
ça, no segundo grupo, de uma quantidade de idosos, em
torno de 15,6%, com ensino médio incompleto e a pre‑
sença de pequena quantidade de idosos com ensino mé‑
dio completo no segundo e terceiro grupos, com valores
em torno de 7,6% e 9,3%, respectivamente. Verifica‑se
25/02/14 09:19
A doença de Alzheimer dentro da estratégia de saúde da família | 263
Tabela 3 Nível de escolaridade dos idosos
Escolaridade
Analfabeto
Idade
(anos)
Número de idosos
60‑70
13
71‑80
>80
Fundamental
incompleto
Fundamental
completo
Médio incompleto
Médio completo
‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑%‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑
0,0
77
23
0,0
0,0
13
0,0
11
18,1
53,8
23
15,6
7,6
54,5
18,1
0,0
9,3
também o baixo nível educacional dos idosos: de modo
geral, mais da metade dos idosos entrevistados possui
apenas o fundamental incompleto, refletindo a dificul‑
dade ao acesso escolar, bem como o fato de que a baixa
renda os levou a trabalhar desde cedo, afastando‑os da
escola.
Outro importante fator avaliado foi o grau de depen‑
dência dos idosos nas atividades de vida diária (AVDs),
estabelecido pela escala de Katz, notando‑se que, no
grupo de idosos de 60‑70 anos, o grau de independência
foi maior, com valor de 77%, decrescendo do segundo
para o terceiro grupo, com valores de 46,1% e 36,3%, res‑
pectivamente, enquanto o grau de dependência parcial
torna‑se crescente do primeiro ao terceiro grupo, com
valores em torno de 7,7%, 30,9% e 36,3%, respectiva‑
mente. O grau de dependência importante também au‑
mentou do primeiro para o terceiro grupo, com valores
de 15,3%, 23% e 27,4%, respectivamente, como obser‑
vado na Tabela 4. Esse fato é resultado do processo de
envelhecimento natural porque, mesmo na senescência,
à medida que envelhecemos nos tornamos cada vez mais
dependentes, com perda funcional, cognitiva e motora,
porém em idosos com comorbidades, principalmente na
DA, esse processo acontece de forma acentuada devido à
evolução progressiva da doença. Esse perfil condiz com
a avaliação de Fichman‑Charchat et al.,13 que afirmam
que, no Brasil, o comprometimento cognitivo associado
ao grau de dependência nas atividades da vida diária está
fortemente relacionado com a mortalidade em idosos re‑
sidentes em centros urbanos.
Tabela 4 Grau de dependência dos idosos para AVDs no CSF
Rebouças Macambira (Fortaleza)
Grau de dependência
Independência
Idade
(anos)
Idosos
60‑70
13
Dependência
parcial
Dependência
importante
‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑%‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑
77
7,7
15,3
71‑80
13
46,1
30,9
23
>80
11
36,3
36,3
27,4
Durante este estudo verificou‑se dificuldade para so‑
licitar determinados exames complementares, os quais
se encontram disponíveis pelo SUS, como dosagem de
níveis de vitamina B12 (para determinação de estados
carenciais) e dosagem de ácido fólico (para detectar o
estado nutricional e outros processos patológicos), os
quais não são dispendiosos, porém os pacientes necessi‑
tam entrar em uma lista de espera para realizá‑los.
Por último, tendo como fator primordial da pesquisa
a doença de Alzheimer, constatou‑se como é tênue a linha
que divide o normal e a DA, pois é muito difícil estabele‑
cer um diagnóstico mais preciso, tendo em vista que o bai‑
xo nível educacional é um fator que muitas vezes prejudi‑
ca a avaliação dos questionários, mas ao mesmo tempo se
observou o quanto essa avaliação se faz importante, pois
foi possível detectar casos possíveis e prováveis de DA.
C o n f lito s de int e re s ses
Os autores declaram não possuir nenhum conflito de in‑
teresse.
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25/02/14 09:19
264 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
Artigo original
Autopercepção de saúde e perfil
de idosos de grupos de convivência
da Regional Norte BH/MG
Taís de Almeida Marraa, Pollyanna Rinco Maluf Jacobb,
Izabella Lana Ziviannib, Thaísa Lins Vieira Dorab,
Rita de Cássia Guedesc, Lygia Paccini Lustosac
Re s um o
Palavras‑chave
Idoso fragilizado,
perfil de saúde,
envelhecimento
da população.
Objetivos: Avaliar autopercepção de saúde (APS) e perfil socioclinicodemográfico de idosos frequentadores de
grupos de convivência da Regional Norte de BH/MG e verificar correlação com o fenótipo de fragilidade. Métodos:
Participaram idosos frequentadores dos grupos de convivência, sem distinção de raça, sexo ou condição social. Excluíram-se aqueles com marcha dependente, déficit visual, auditivo ou de fonação incapacitante, doenças neurológicas, relato de dor que impossibilitasse os testes, alterações cognitivas (MEEM). Dados socioclinicodemográficos e
APS foram informados por meio de entrevista estruturada. O fenótipo de fragilidade foi verificado pela presença dos
itens: perda de peso, diminuição da velocidade de marcha, baixa atividade física, força de preensão manual, relato
de exaustão. Foram utilizados estatística descritiva e frequência, e o teste qui-quadrado para verificar associações (a
= 5%). Resultados: Participaram 117 idosos (70 ± 7,2 anos), sendo 86,3% mulheres, sendo 48,7% viúvas, de baixa
escolaridade (84,0%), baixa renda (91,4%), sedentários (58,9%), com doenças crônicas associadas (92,0%), polifarmácia (23,0%) e sobrepeso (68,0%). A maioria classificou a saúde como “muito boa/boa” (58,1%). Pré-frágeis foram
51,2%, não frágeis foram 41,8% e frágeis foram 6,8%. O fenótipo de fragilidade mostrou-se associado positivamente
com a APS (p = 0,01) e não regularidade na prática de atividade física (p = 0,01). Demais associações não foram
observadas (p >0,05). Conclusão: A maioria dos frequentadores dos grupos de convivência da Regional Norte de
BH/MG são mulheres, viúvas, sedentárias, não longevas, com sobrepeso e hipertensão arterial, baixas escolaridade
e renda. A categoria pré-frágil foi a mais prevalente, com boa APS da saúde.
health self‑perception and profile of an elderly companionship group at
Regional Norte in BH/MG
AB S T RACT
Keywords
Frail elderly,
health profile,
demographic
aging.
Objective: The aim of this study was to evaluate health self-perception (HSP) and the socio-demographic and clinical
characteristics in a group of elderly people attending activity groups at Regional Norte in the city of Belo Horizonte, in
the state of Minas Gerais, and to verify the correlation with the frailty phenotype. Methods: Elderly people (65 years
old or more) attending the groups, with no distinction of race, gender or social class. Those with dependent gait, visual,
hearing or phonatory deficits, neurological diseases, pain, cognitive dysfunctions (MMSE) were excluded. The sociodemographic and clinical variables and HSP were informed during the interview. The frailty phenotype was identified
with the presence of: weight loss; slow walking speed; low physical activity; low grip strength, and exhaustion. The
statistical analysis was done by descriptive and frequencies analyses, and the association was made with chi-square
test (a = 5%). Results: Seventeen hundred elderly people participated (70 ± 7.2 years old). The characteristics were:
women (86.3%); widows (48.7%); low educational level (84.0%); low income (91.4%), sedentary (58.9%), with associated chronic diseases (92.0%), polipharmacy (23.0%) and over weight (68.0%). Most of participants classified their own
health as “good/ very good” (58.1%). Pre-frail individuals were 51.2%, 41.8% were not frail and 6.8% were frail. The
frailty phenotype was associated with HSP (p = 0.01) and irregularity of physical activity (p = 0.01). Other associations
were not observed (p >0.05). Conclusion: Most of the participants of the activity groups of Regional Norte in BH/MG
were women, widows, sedentary, overweight, not old, with low educational level and incomes, and with high arterial
blood pressure. The pre-frail individuals were most prevalent, with most of them showing good health self-perception.
a
Professora do Departamento de Fisioterapia da Faculdade Pitágoras, Belo Horizonte, MG, Brasil. Concepção e desenho do projeto, interpreta‑
ção dos dados, revisão crítica e aprovação final. bFisioterapeuta. Coleta, interpretação dos dados e redação. cProfessora adjunta do Departa‑
mento de Fisioterapia do Centro Universitário de Belo Horizonte, MG, Brasil. Análise e interpretação dos dados, revisão crítica e aprovação final.
Dados para correspondência
Lygia Paccini Lustosa – Av. Mário Werneck, 1685, Buritis, Belo Horizonte, MG, Brasil. Tel.: (31) 9983‑1854. E‑mail: [email protected]
Artigo Orig 03.indd 264
25/02/14 09:19
Autopercepção de saúde e perfil de idosos | 265
INT R O D U ÇÃ O
O envelhecimento populacional é, hoje, um proeminente
fenômeno mundial.1 Tal cenário demográfico repercute
no cenário epidemiológico, no qual se observa aumento
da prevalência e incidência de doenças cronicodegene‑
rativas e suas implicações clínicas e funcionais.1 A fra‑
gilidade é considerada altamente prevalente com o au‑
mento da idade e confere adversos e altos riscos para a
saúde, como quedas, incapacidade, institucionalizações,
hospitalizações e mortalidade.2,3 A síndrome de fragili‑
dade pode ser definida como um estado fisiológico do
aumento da vulnerabilidade para estressores que resulta
da diminuição das reservas fisiológicas e desregulação
dos múltiplos sistemas fisiológicos.4
Construindo o consenso clínico e pesquisando evi‑
dências para desenhar um fenótipo de fragilidade clínica
para idosos, Fried et al., em 2001, propuseram considerar
frágeis aqueles idosos que apresentam três ou mais dos
seguintes elementos: emagrecimento, fraqueza, exaus‑
tão, lentidão e baixo nível de atividade física.2,4 Idosos
pré‑frágeis seriam aqueles que apresentam um ou dois
dos critérios positivos, e os não frágeis aqueles que não
apresentam nenhum critério positivo.2,4 A identificação
precoce da fragilidade pode reduzir o comprometimento
da capacidade funcional do idoso, uma vez que a incapa‑
cidade tem implicações importantes para a família, a co‑
munidade, o sistema de saúde e a vida do próprio idoso.
Essa condição pode ocasionar maior vulnerabilidade e
dependência na velhice, contribuindo para a diminuição
do bem‑estar e da qualidade de vida dos idosos.5
Uma boa saúde é fundamental para aumentar ou
manter a qualidade de vida dos idosos.5 A autopercepção
de saúde (APS) mensura, de maneira global e subjetiva,
o estado de saúde do indivíduo, incorporando aspectos
da saúde cognitiva e emocional, como também da saú‑
de física.6 Esse é um poderoso e confiável indicador de
mortalidade entre os idosos.7,8 Além disso, a APS é um
determinante particularmente importante de satisfação
de vida ou do bem‑estar subjetivo de saúde,9‑11 princi‑
palmente em idosos com idade mais avançada.12 A APS
apresenta associação com variáveis como morbidade,9
maior utilização dos serviços de saúde e necessidade de
cuidados em longo prazo.6,7,9,13 Vários fatores determi‑
nantes influenciam, simultaneamente, a APS do idoso.
Esses determinantes podem ser organizados, basicamen‑
te, em quatro grupos: 1) demográfico, que compreende
idade, sexo, arranjo familiar e estado conjugal; 2) socio‑
econômico, que inclui educação e renda; 3) doenças crô‑
nicas; 4) capacidade funcional, avaliada pelas atividades
básicas de vida diária (ABVD), atividades instrumentais
de vida diária (AIVD) e mobilidade.13
Nesse contexto, identificar a síndrome de fragilida‑
de e sua associação com indicadores socioclinicodemo‑
gráficos e de autopercepção de saúde pode contribuir
para propor medidas preventivas do declínio fisiológi‑
Artigo Orig 03.indd 265
co do idoso. Portanto, os objetivos do presente estudo
foram: levantar o perfil socioclinicodemográfico (sexo,
idade, escolaridade, estado civil, renda familiar, núme‑
ro de medicamentos em uso, doenças crônicas associa‑
das); avaliar a autopercepção de saúde; e verificar pos‑
síveis associações entre o fenótipo de fragilidade com
as variáveis pesquisadas, em idosos frequentadores dos
grupos de convivência da Regional Norte de Belo Ho‑
rizonte/MG.
M É TO D OS
Trata‑se de um estudo de corte transversal, aprovado
pelo Comitê de Ética do Centro Universitário de Belo
Horizonte (CEP‑UNI 028/08), com a participação de
idosos frequentadores de grupos de convivência da Re‑
gional Norte de Belo Horizonte/MG. Cinco grupos de
convivência foram selecionados de forma aleatória, por
meio de sorteio. Os idosos foram convidados a participar
da pesquisa e, havendo concordância, assinaram um ter‑
mo de consentimento livre e esclarecido.
Amostra
Composta de indivíduos com idade igual ou superior a
60 anos, de ambos os sexos, frequentadores dos cinco
grupos de convivência de idosos da Regional Norte há
pelo menos seis meses, assinatura do termo de consenti‑
mento livre e esclarecido.
Foram excluídos os idosos que utilizavam auxílio hu‑
mano para deambular; cadeirantes; os que apresentaram
déficit visual, auditivo e/ou de fonação incapacitantes;
doenças neurológicas e/ou relato de dor ou limitações
que impossibilitem a realização dos testes. Também fo‑
ram excluídos aqueles que apresentaram baixo desempe‑
nho no miniexame do estado mental (MEEM), de acor‑
do com a escolaridade, segundo Bertolucci et al.14
Medidas de desfechos
Os idosos responderam a uma entrevista estruturada, re‑
alizada por pesquisadores treinados, informando sobre
seus dados socioclinicodemográficos, como sexo, idade,
escolaridade, estado civil, rendimento familiar, número
de medicamentos em uso, relato de doenças crônicas as‑
sociadas e prática de atividade física.
A prática de atividade física foi avaliada por meio de
duas perguntas: você pratica alguma atividade física?
quantas vezes na semana você pratica atividade física?
Foram classificados como sedentários aqueles que prati‑
cavam atividade física 0‑2 vezes na semana e como ativos
aqueles que realizavam exercícios mais de três vezes por
semana.
Para avaliar o índice de massa corporal (IMC) uti‑
lizaram‑se os dados antropométricos de altura e peso
corporal, sendo considerados: baixo peso IMC <18,5 kg/
m2; eutrófico 18,5 ≤ IMC <25,0 kg/m2; sobrepeso ≥25,1
kg/m2.15
25/02/14 09:19
266 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
A APS foi determinada por meio de uma pergun‑
ta simples: você diria que sua saúde é muito boa, boa,
razoá­vel, ruim ou muito ruim?16
Posteriormente, os idosos foram avaliados para os
critérios propostos por Fried et al.2,4 para identificação
das classes frágil, pré‑frágil e não frágil, conforme o fenó‑
tipo proposto: perda de peso não intencional no último
ano; diminuição da velocidade de marcha; diminuição
do gasto calórico pela baixa de atividade física; diminui‑
ção da força de preensão manual e relato de exaustão.2,4
Análise estatística
De acordo com o último censo demográfico do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2000), a po‑
pulação de indivíduos com 60 anos ou mais que residiam
na Regional Norte de Belo Horizonte era de 13.062 pes‑
soas. Foi realizado o cálculo amostral por meio do teste
qui‑quadrado e, considerando o nível de significância de
5%, o poder do teste de 90%, com um grau de liberdade
e efeito médio (0,30) a ser detectado, o número amostral
previsto foi de 117.
para a caracterização da amostra utilizou‑se estatísti‑
ca descritiva com cálculo da média e desvio‑padrão para
as variáveis quantitativas. Para avaliar a presença de as‑
sociação entre variáveis qualitativas (categóricas) foi uti‑
lizado o teste qui‑quadrado. Considerou‑se um nível de
significância de 5%.
R ESU LTAD OS
Foram 117 idosos elegíveis para o estudo. As caracterís‑
ticas socioclinicodemográficas e a APS estão descritas na
Tabela 1. A média de idade dos voluntários foi de 70,1
(± 7,3) anos. Houve predomínio de indivíduos do sexo
feminino (86,3%), não longevos (89,7%), de baixa esco‑
laridade (84,0%), baixa renda (91,4%), viúvas (48,7%)
e que não praticavam atividade física regularmente
(58,9%).
Em relação às condições clínicas, 92,0% relataram
apresentar doenças crônicas associadas, sendo a mais
prevalente a hipertensão arterial (HAS; 66,7%); 23,0%
relataram o uso de cinco ou mais medicamentos. A
maioria dos idosos apresentou sobrepeso, IMC >25 kg/
m2 (68,0%). Em relação à APS, 58,1% tiveram percepção
positiva da sua saúde geral, classificando‑a como “muito
boa” ou “boa”.
Em relação à síndrome de fragilidade, 51,3% foram
classificados como “pré‑frágeis” (PF), 41,9% como “não
frágeis” (NF) e 6,8% como “frágeis” (FF).
Na análise de correlação entre as classes de fragili‑
dade e as variáveis secundárias, observou‑se associação
estatística significativa com a APS (p = 0,01) e com a não
prática regular de atividade física (p = 0,01) (Tabela 2).
A maioria dos NF (57,1%) era adepta da prática regu‑
lar de exercícios físicos, enquanto nos grupos PF e FF a
maioria era sedentária (71,7%; 62,5%; Tabela 2). Quan‑
Artigo Orig 03.indd 266
Tabela 1 Caracterização socioclinicodemográfica e autopercepção de
saúde da amostra avaliada (n = 117)
Variável
%
N
Idade
Média (±DP): 70,1 (±7,3)
Não longevos (60-79 anos)
Longevos (>80 anos)
89,7
10,3
105
12
Gênero
Feminino
Masculino
86,3
13,7
101
16
Estado civil
Viúvo
Casado/mora junto
Divorciado
Solteiro
48,7
32,5
12,8
5,9
57
38
15
7
Escolaridade
Baixa escolaridade
Ensino médio
84,0
16,0
98
19
Renda
Baixa renda (<4 SM*)
5 ou mais SM*
91,0
9,0
107
10
Atividade física
0-2 dias sem regularidade
2 ou mais dias com regularidade
58,9
41,0
69
48
Comorbidade (presença de 2 ou mais
doenças)
Sim
Não
92,0
8,0
108
9
Medicamentos
Até 4 medicamentos
5 ou mais medicamentos
77,0
23,0
90
27
APS
Muito boa/boa
Razoável
Muito ruim
58,1
35,9
6,0
68
42
7
IMC
Sobrepeso (≥25,1 kg/m2)
Adequado(18,5 ≤ IMC <25,0 kg/m2)
Baixo peso (<18,5 kg/m2)
68,0
30,0
2,0
80
35
2
51,3%
41,9%
6,8%
60
49
8
Fenótipo
Pré-frágil
Não frágil
Frágil
*SM: salário-mínimo.
to à APS, a maioria do grupo NF considerou sua saúde
“muito boa/boa” (73,5%), seguido dos FF (50,0%) e dos
PF (46,7%). Além disso, as piores classificações de saúde
estavam nos grupos PF (8,3%) e F (25,0%), enquanto no
grupo NF nenhum voluntário classificou a saúde como
“ruim/muito ruim”. Demais associações não foram ob‑
servadas (p >0,05).
D I S C USS ÃO
Este estudo teve como objetivo levantar o perfil socioclini‑
codemográfico e de fragilidade dos idosos frequentadores
de cinco grupos de convivência da Regional Norte de Belo
Horizonte/MG, assim como avaliar a autopercepção de
saúde e as associações entre as variáveis analisadas. Os re‑
sultados demonstraram frequência maior de mulheres,
viúvas, sedentárias, não longevas, com sobrepeso, de
25/02/14 09:19
Autopercepção de saúde e perfil de idosos | 267
Tabela 2 Análise de correlação entre atividade física, autopercepção de saúde e as categorias do fenótipo de fragilidade
Variáveis
Categorias
Não frágil
Pré-frágil
Frágil
Valor P
Atividade física
Sim (com regularidade)
Não (sem regularidade)
57,1%
42,9%
28,3%
71,7%
37,5%
62,5%
0,01*
APS
Muito boa/boa
Razoável
Muito ruim/ruim
73,5%
26,5%
0,0%
46,7%
45,0%
8,3%
50,0%
25,0%
25,0%
0,01*
* Diferença significativa.
baixas escolaridade e renda, classificadas como pré‑frá‑
geis. A doença mais prevalente foi a HAS, mas a maioria
dos entrevistados relatou boa percepção da saúde.
Sabe‑se que a fragilidade aumenta o risco de quedas,
de hospitalização, do tempo de internação, do desen‑
volvimento de algumas doenças crônicas e da incapa‑
cidade, além da dependência e da mortalidade dos ido‑
sos.17,18 Os resultados do presente estudo apresentaram
maior número de idosos pré‑frágeis e não frágeis, e me‑
nor percentual de frágeis. Tal resultado pode ter ocor‑
rido pelo fato de que, apesar de serem sedentários, os
voluntários eram independentes funcionalmente e par‑
ticipavam das atividades propostas pelo grupo de con‑
vivência, incluindo os mais participativos e que tinham
maior interação com a comunidade. Acredita‑se que
isso pode ter sido um fator contribuinte para encon‑
trarmos menor percentual de fragilidade, assim como
uma melhor percepção de boa saúde. Observamos a
associação entre a atividade física e a síndrome de fra‑
gilidade, com o sedentarismo. Binder et al. (2002), vi‑
sando investigar a relação do exercício e da fragilidade,
observaram que um programa de exercícios foi capaz
de promover melhora da capacidade funcional de ido‑
sos que apresentavam fragilidade leve a moderada.17 Da
mesma forma, Gill et al. (2004) demonstraram eficácia
da prática de exercício físico na prevenção do declínio
funcional e na diminuição do grau de capacidade em
idosos com fragilidade moderada.19
Em relação às características da população estu‑
dada, houve predomínio de mulheres viúvas, o que
é confirmado por estudos epidemiológicos prévios
e também chamado de feminilização da velhice.20 A
maioria era não longeva (60‑79 anos), o que pode es‑
tar relacionado com o grau de independência dos vo‑
luntários, sugerindo que os mais velhos provavelmen‑
te não são frequentadores dos grupos de convivência
por estarem mais limitados quanto ao acesso e à parti‑
cipação em atividades fora do domicílio.20 Essa obser‑
vação aponta para uma limitação do estudo quanto à
generalização dos resultados, devendo ser realizados
estudos futuros para aumentar a validade externa dos
resultados.
Por outro lado, o maior número de idosos com baixa
escolaridade está de acordo com estudos de base popu‑
lacional,1,21 mas pode também estar relacionado com o
tipo de população estudada, frequentadores de grupos
Artigo Orig 03.indd 267
de convivência de uma região economicamente desfavo‑
recida, confirmado pelo maior percentual de idosos com
baixa renda avaliados na amostra pesquisada.
Sabe‑se que as doenças crônicas apresentam forte
influência na capacidade funcional dos idosos.5 Percen‑
tualmente, a hipertensão arterial aumenta 39% a chance
de dependência nas AIVDs, a doença cardíaca aumenta
em 82%, as artropatias em 59% e as doenças pulmona‑
res em 50%.5 No presente estudo, a HAS foi a doença
mais prevalente associada. Diante disso, pode‑se supor
que implementar medidas de prevenção e controle dessa
condição poderia contribuir para adiar o aparecimento
da síndrome de fragilidade. Da mesma forma, evitando
comprometimento da capacidade funcional, os idosos
provavelmente teriam melhor qualidade de vida, por se
manterem na comunidade, desfrutando da sua indepen‑
dência até idades mais avançadas e com menor uso de
medicamentos.6 No entanto, essas afirmações são apenas
especulativas e devem ser confirmadas em estudos fu‑
turos.
A autopercepção de saúde tem se mostrado um mé‑
todo confiável, mais utilizado do que a observação direta
para a análise desse aspecto.22 No presente estudo, obser‑
vou‑se que a maioria dos idosos teve percepção positiva
da sua saúde geral, classificando‑a como “muito boa” ou
“boa”, incluindo os NF e FF. Esses resultados podem es‑
tar relacionados com as características do idoso que par‑
ticipa de grupos de convivência,20 mas também indicam
uma relação de baixa percepção quanto ao maior nú‑
mero de doenças crônicas e dependência. Dessa forma,
pode‑se inferir que a chance de o idoso autoperceber sua
saúde como ruim aumenta se ele apresentar maior grau
de dependência. Desse modo, reforçaria o pressuposto
de que a capacidade funcional é um dos principais deter‑
minantes da percepção de saúde do idoso.
C O N C L US Ã O
Este estudo demonstrou que frequentadores dos grupos
de convivência da Regional Norte de Belo Horizonte/
MG apresentam prevalência de mulheres, viúvas, seden‑
tárias, não longevas, com sobrepeso, de baixas escolari‑
dade e renda, classificadas como pré‑frágeis. Além disso,
a maioria relatou apresentar hipertensão arterial, mas
informando boa percepção da saúde. Esses resultados
podem auxiliar os profissionais de saúde na triagem e
em novas propostas de intervenção para essa população.
25/02/14 09:19
268 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
Ag rad e ci m e ntos
Agradecemos à professora Dra. Rosângela Corrêa Dias,
do Departamento de Fisioterapia da Escola de Educação
Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, da Universi‑
dade Federal de Minas Gerais, por ter disponibilizado o
dinamômetro manual Jamar® para a coleta dos dados de
força de preensão manual.
C o nflito s d e int e r e s s e s
Os autores declaram não possuir nenhum conflito de in‑
teresse na realização e publicação deste estudo.
R e fe r ê ncia s
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25/02/14 09:19
original
Fé e estratégias de enfrentamento naArtigo
depressão
| 269
Estratégias de enfrentamento:
fé como apoio emocional de
cuidadores de idosos com demência
Juliana Francisca Cecatoa, Flávia Ogava Aramakia,
Aruana Bentini Souzaa, José Maria Montielb,
Daniel Bartholomeub, José Eduardo Martinellia
Palavras‑chave
Espiritualidade,
cura pela fé,
idoso, doença de
Alzheimer.
Re s um o
Objetivos: Analisar a contribuição da fé na influência dos sintomas da depressão em cuidadores de idosos com doença de Alzheimer. Métodos: Estudo de coorte transversal, com 24 pacientes, de ambos os sexos, com escolaridade
> 5 anos, com idade variando entre 26-70 anos e que frequentam um curso de cuidadores de idosos no município
de Jundiaí. Foi elaborado um questionário contendo informações a respeito de perguntas afetivas, emocionais e
religiosas. Além desse instrumento, foi avaliada a sobrecarga do cuidador por meio da escala de Zarit reduzida e a
escala de depressão geriátrica (EDG). Utilizou-se o coeficiente de correlação de Spearman a fim de correlacionar a
EDG com a idade, o estado civil e a escala de Zarit. Resultados: A média do escore na escala de Zarit foi de 14,24
pontos, indicando sobrecarga leve. Já a média do escore da EDG foi de 3,38 pontos, o que não pontua para síndrome
depressiva. Observou-se coeficiente de correlação negativo, moderado e não significativo entre a variável idade e
a EDG (r = –0,38; p = 0,065) e a escala de Zariti (r = –0,46; p = 0,062). O coeficiente de correlação (moderado e
positivo) apresentou tendência a significância entre a escala de Zarit e a EDG (r = 0,48; p = 0,051). Cem por cento
dos participantes responderam que têm e acreditam na fé, 69,56% relataram que sempre experenciaram a fé como
suporte no enfrentamento dos sintomas negativos que surgem durante o cuidado do paciente com doença de Alzheimer Conclusão: Pacientes paliativos e cuidadores utilizam a fé como auxílio diante do desgaste diário. Pode-se
concluir que a espiritualidade parece melhorar a capacidade de lidar com a condição de doença incurável.
Coping strategies: faith as emotional support of elderly
caregivers with dementia
AB ST RAC T
Keywords
Spirituality, faith
healing, elderly,
Alzheimer’s
disease.
Objectives: To analyze the contribution of faith influence on the depressive symptoms in caregivers of patients with
Alzheimer’s disease. Methods: Cross-sectional study with 24 subjects of both sexes, with schooling over five years,
ages from 26 to 70 years and attending caring for the elderly courses in the city of Jundiaí. A questionnaire was developed with information about affective, emotional and religious issues. Besides this instrument, caregiver burden was
evaluated with the short Zarit Scale and Geriatric Depression Scale (GDS). Spearman correlation coefficient was used
to correlate the GDS with age, marital status and Zarit Scale. Results: The mean score on Zarit scale was 14.24 points,
indicating light overburden. The average score of the GDS was 3.38 points which did not score for depressive syndrome.
There was a negative, moderate, and no significant correlation coefficient between age and the GDS variable (r = –0.38;
p = 0.065) and the Zarit Scale (r = –0.46; p = 0.062). The correlation coefficient (moderate and positive) showed a trend
to significance between the Zarit Scale and GDS (r = 0.48; p = 0.051). A hundred percent of the participants confirmed
they have faith, 69.56% reported to have experienced faith as a support to face Alzheimer’s negative symptoms during
patient’s care. Conclusion: Caregivers and palliative patients use faith as an aid to face everyday weariness. It can be
concluded that spirituality seems to improve the ability to deal with the incurable disease condition.
Faculdade de Medicina de Jundiaí
Centro Universitário Fieo (UniFieo)
a
b
Dados para correspondência:
Juliana Francisca Cecato – Rua Prudente de Moraes, 111. Vl Argos. Jundiaí, SP. CEP: 13201‑004. E‑mail: [email protected]
Artigo Orig 04.indd 269
25/02/14 09:19
270 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
In tr o d ução
Muito se discute sobre novos procedimentos para a in‑
tervenção e o tratamento de diversos tipos de doenças,
desde as mais simples até as mais graves (doenças termi‑
nais). A busca de tecnologias e dos profissionais de saúde
é para melhor atender o paciente.1‑3 No que se refere a
doenças terminais, os cuidados devem focar o alívio da
dor, minimizando o sofrimento, tanto do paciente com
doença terminal quanto de sua família.1,2,4
Nesse sentido, alguns estudos têm apresentado discus‑
sões a respeito do verdadeiro papel da espiritualidade e das
orações no impacto da saúde física do ser humano. Esses
estudos apontam que mais de 90% dos brasileiros acredi‑
tam em uma divindade superior,5‑7 sendo possível verificar
uma ação direta da religiosidade na saúde mental.8
Guimarães et al.,4 em um estudo de revisão, descreve‑
ram evidências científicas sobre a influência da espiritua­
lidade e da religiosidade atuando na saúde dos pacien‑
tes. Assim também, Naghi et al.9 realizaram um estudo
de revisão e apontaram que, nos casos de enfermidade
crônica e incurável, é comum os pacientes procurarem
métodos alternativos que complementam o tratamento
clínico. A espiritualidade parece melhorar a capacidade
de lidar com a condição de doença incurável. Eles res‑
saltam ainda que a espiritualidade tem ação benéfica na
qualidade de vida do paciente, melhorando inclusive os
quadros depressivos.
De fato, as doenças terminais se tornam alvo de pes‑
quisas com intervenções alternativas. Travado et al.10
estudaram 323 pacientes que receberam diagnóstico de
câncer e verificaram que 79,3% referiam estar sendo
apoiados, principalmente, por suas crenças espirituais e
pela fé como meio de enfrentamento da doença. Os au‑
tores encontraram também diferenças estatisticamente
significativas entre o grupo que acreditava na espiritu‑
alidade e entre os participantes do grupo que relataram
não ter fé (p <0,01). O que mais chamou a atenção dos
autores foi que a espiritualidade era encarada como fator
protetor contra os sentimentos negativos que a doença
provoca. Assim também, Faria et al.6 e Almeida et al.5
corroboram a ideia de crenças espirituais como prote‑
toras no enfrentamento e no estabelecimento de estraté‑
gias sobre a saúde.
Assim, parece existir uma relação entre religião e
saúde física, o que se torna tema de interesse para di‑
versos pesquisadores.9‑11 Embora possam ser utilizadas
no mesmo contexto, espiritualidade e religiosidade não
são sinônimos.2,12‑14 A espiritualidade está pautada em
uma atitude, na busca do significado da vida, em um
contato do indivíduo com sentimentos e pensamentos
superiores e no fortalecimento. A religiosidade envolve
sistematização de culto e doutrina compartilhados por
um grupo.12,13
Considerando a espiritualidade e a fé como ferra‑
mentas importantes no processo de enfrentamento de
Artigo Orig 04.indd 270
situações adversas e dolorosas para quem cuida, esta
pesquisa teve como objetivo analisar a contribuição da fé
na influência dos sintomas da depressão em cuidadores
de idosos com doença de Alzheimer.
M é to d o s
Estudo de coorte transversal, com 24 pacientes, de am‑
bos os sexos, escolaridade > 5 anos, com idade variando
de 26 a 70 anos e que frequentam um curso de cuida‑
dores de idosos no município de Jundiaí. Foi elaborado
um questionário contendo informações a respeito de
perguntas afetivas, emocionais e religiosas (que abor‑
davam informações condizentes com a fé). Ao todo, o
questionário tinha 16 perguntas, das quais 12 eram de
múltipla escolha, e avaliava a fé, os sintomas emocionais,
quem ajuda no cuidado, com quais profissionais da saú‑
de o cuidador tem mais contato. As outras questões eram
perguntas discursivas pelas quais o participante poderia
expressar seus sentimentos em relação ao tema finitude
(morte), o que mais precisa no momento do luto e sobre
experiências nas quais a fé o ajudou.
Além desse questionário, foi avaliada a sobrecarga do
cuidador por meio da escala de Zarit reduzida15 e a esca‑
la de depressão geriátrica (EDG)16 (Tabela 1). A escala de
Zariti reduzida tem sete questões e corresponde a uma
escala Likert, com os escores variando de 1 a 5. A pontu‑
ação final consiste no somatório das pontuações obtidas
em cada uma das sete questões: até 14 pontos indica so‑
brecarga leve; entre 15‑21 pontos, sobrecarga moderada;
acima de 22 pontos indica sobrecarga grave15 (Tabela 1).
A EDG é uma escala que avalia sintomas depressivos,
tem 15 perguntas e a pontuação corresponde ao somató‑
rio das perguntas que equivalem a um ponto cada. Esco‑
re inferior a cinco pontos não indica sintoma depressivo.
Pontuação entre 6‑10 pontos indica sintoma leve a mo‑
derado, e pontuação superior a 11 pontos indica sintoma
depressivo grave16 (Tabela 1).
Para a apreciação dos resultados, foi utilizado o pro‑
grama estatístico SPSS 15.0 (2007), pelo qual foram re‑
alizadas análises descritivas das variáveis idade, gênero,
Tabela 1 Instrumentos utilizados na pesquisa
Instrumento
Descrição
Escore
Escala
de Zariti
reduzida
Avalia a
sobrecarga
do cuidador
≤14 pontos: sobrecarga leve
15‑21 pontos: sobrecarga
moderada
>22 pontos: sobrecarga grave
Escala de
depressão
geriátrica
(EDG)
Avalia
sintomas
depressivos
<5 pontos: normal
6‑10 pontos: sintoma depressivo
moderado
>10 pontos: sintoma depressivo
grave
25/02/14 09:19
Fé e estratégias de enfrentamento na depressão | 271
escolaridade e estado civil. As variáveis foram descritas
através de frequências, porcentagens e médias com des‑
vio‑padrão. Um teste de distribuição foi realizado por
meio do testes estatísticos de Kolmogorov‑Smirnov (KS)
com o objetivo de conferir se a amostra representa dis‑
tribuição normal ou não paramétrica, estabelecendo‑se
um nível de significância de 5%. Como o resultado do
teste KS evidenciou distribuição normal (Tabela 2),
utilizou‑se o coeficiente de correlação de Spearman (r)
(Tabela 3) a fim de correlacionar a EDG com a idade, o
estado civil e a escala de Zarit.
Tabela 2 Resultados do teste de Kolmogorov‑Smirnov da amostra
Amostra
Idade
Zarit
EDG
Média
48,67
14,24
3,37
dp
12,23
5,68
3,02
p
0,997
0,946
0,450
N= número de participantes; dp= desvio‑padrão.
aplicadas, como mostra a Tabela 2. Pode‑se inferir que,
pelo baixo número de participantes, os resultados da
análise KS seguiram distribuição paramétrica.
A média do escore na escala de Zarit foi de 14,24
pontos, indicando sobrecarga leve, sendo que 52,95%
pontuaram para sobrecarga leve, 35,29% para sobre‑
carga moderada e 11,76% para sobrecarga grave, como
mostra a Figura 1. Já a média do escore da EDG foi de
3,38 pontos, o que não pontua para síndrome depressiva.
Observou‑se coeficiente de correlação negativo, mode‑
rado e não significativo entre a variável idade e a EDG
(r = –0,38; p = 0,065), e a escala de Zariti (r = –0,46; p =
0,062). O coeficiente de correlação (moderado e positi‑
vo) apresentou tendência a significância entre a escala de
Zarit e a EDG (r = 0,48; p = 0,051).
Escala de Zarit
60%
Tabela 3 Coeficiente de correlação de Spearman entre EDG, escala de
Zarit, idade e estado civil
52,95%
50%
Escala
Análises
Idade
Zarit
Estado civil
40%
EDG
r
p
–0,38
0,065
0,48
0,051
0,16
0,940
30%
r = correlação de Spearman; p = x2.
35,29%
20%
11,76%
R e s ultad os
A média de idade da amostra foi de 48,67 anos (mínimo
= 26; máximo = 70; desvio‑padrão [dp] = 12,23), sendo
que 95,8% correspondiam ao sexo feminino e 66,7%
dos participantes eram casados. Quanto à escolaridade,
39,13% dos participantes tinham 1‑8 anos de estudo, ou‑
tros 39,13% apresentavam escolaridade entre 9‑11 anos e
apenas 21,74% tinham cursado o ensino superior.
Em relação aos aspectos religiosos, 100% dos parti‑
cipantes responderam que têm e acreditam na fé. Uma
das questões, “Você já teve alguma experiência em que
sua fé o ajudou?”, fez 69,56% relatarem que sempre ex‑
perienciaram a fé como suporte no enfrentamento dos
sintomas negativos que surgem durante o cuidado do
paciente com doença de Alzheimer. Os participantes que
relataram que “às vezes” experienciam a fé foram 26,09%,
e apenas 4,35% relataram que nunca tiveram experiência
em que a fé ajudou.
Considerando os sentimentos negativos mais fre‑
quentemente relatados pelos participantes, encon‑
tram‑se a “angústia” e a “incapacidade”, respectivamente,
com 56,52% e 26,09%. Em contraposição, o sentimento
positivo verbalizado com maior frequência pelos partici‑
pantes foi “esperança”, com 30,44%.
Com relação às escalas aplicadas, Zarit e EDG, foi re‑
alizado o cálculo estatístico Kolmogorov‑Smirnov (KS),
a fim de identificar a distribuição da amostra. Os resulta‑
dos obtidos indicam distribuição normal para as escalas
Artigo Orig 04.indd 271
10%
0%
Leve
Moderada
Grave
Figura 1 Representação gráfica da porcentagem dos escores encontra‑
dos na escala de Zarit.
Outro ponto importante observado no questionário foi
em relação a preces. Em uma das questões discursivas, o
participante podia descrever suas experiências em relação
à fé. Observou‑se que muitos fazem uma oração ou prece,
conversando com Deus e pedindo o alívio do sofrimento,
tanto seu quanto do seu familiar que está passando pelo
processo de cuidado paliativo. Na Tabela 4, pode‑se ob‑
servar o relato de duas participantes. A participante M.F.S.,
sexo feminino, 42 anos, relata que a “conversa” (prece/
oração) com Deus a faz sentir‑se melhor. A participante
A.C.A., sexo feminino, 52 anos, relata uma “conversa” (pre‑
ce/oração) pedindo o alívio do sofrimento de seu pai.
Discussão
As discussões sobre espiritualidade como instrumento
no tratamento e até mesmo no enfrentamento de do‑
enças físicas e emocionais que causam sofrimento estão
cada vez mais atraindo a área acadêmica e científica.5‑7,10
É notório o número de artigos publicados em relação ao
papel da espiritualidade, sendo que essa preocupação
tem ganhado espaço a partir deste século, quando o ho‑
25/02/14 09:19
272 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
Tabela 4 Relatos de prece e oração de duas participantes no questionário aplicado (“Se você se sentir à vontade, descreva a sua experiência
sobre a fé”)
Participante
Idade
Descrição
M.F.S, sexo feminino, escolaridade de 1‑4 anos; casada;
cuidadora principal de sua mãe
42
“Minha fé consiste em conversar e expor minhas dificuldades; só eu e
Deus. Então, me assusto com as energias revitalizadas, forte e alegre.”
A.C.A., sexo feminino, escolaridade de 9‑11 anos;
divorciada; era cuidadora do pai, que acabara de falecer
52
“Foi quando meu papai estava em coma e eu pedi com muita fé para
ele deixar de lutar e ir embora, pois minha mãe estava esperando por
ele há 26 anos e tinha chegado a hora dele.”
mem busca a compreensão do significado da vida huma‑
na na Terra.17 Para Boff,17 o homem pertence a um todo,
resultado de sua matéria (o corpo), de sua consciência
(mente) e também do espírito.
Observa‑se que a espiritualidade, na área da saúde,
está ligada a dor, sofrimento, oncologia e cuidados pa‑
liativos.5‑7,10,18 De fato, é nos momentos de sofrimento e
dor que a espiritualidade e a religiosidade são lembradas.
A dor crônica causa sofrimento não só para os pacien‑
tes, mas para quem cuida, prejudicando a qualidade de
vida.2,18‑20 Wachholtz et al.21 afirmam que a espirituali‑
dade traz benefícios e melhor bem‑estar para pacientes
com doença terminal.
Pode‑se verificar, com os resultados dessa pesquisa,
que todos os participantes relataram ter fé. Esse dado
está em concordância com o estudo realizado por Lar‑
son et al.,22 que encontraram porcentagem igual a 95%
dos participantes entrevistados tendo fé em um ser su‑
perior (Deus). Outro ponto importante foi que, apesar
da sobrecarga do trabalho de cuidar de um idoso de alta
dependência, a média encontrada na escala de depressão
(EDG) não pontua para sintomas depressivos. Esse fato
pode ser justificado pela crença que os participantes têm
na fé (100% relataram ter fé). Esse resultado corrobora
as pesquisas de Moreira‑Almeida23 e Koening,24 que re‑
latam diminuição do estresse e de sintomas emocionais
negativos em pessoas que mantêm práticas religiosas,
conservando assim sua saúde mental quando vão prestar
os serviços de saúde.
Uma maneira descrita na literatura como meca‑
nismo de alívio do sofrimento emocional e psíquico
é a oração.25,26 Comumente, as pessoas têm tendência
de se referirem à prece como uma maneira de realizar
uma interlocução com um ser superior, que pode ser
Deus, os santos, entre outros, entidades relacionadas
sempre a uma forma maior, em religiões específicas.
A Tabela 4 descreve dois relatos de participantes que
utilizaram a reza ou prece, essa “conversa” com um
ser superior, para aliviar um sofrimento da alma. Es‑
ses dois relatos podem ser justificados – de acordo
com o trabalho de Ladd et al.26 – pelo fato de a prece
ou oração ser uma forma de expressão da crença, ge‑
radora de alívio e fornecedora de esperança. A prece
feita em momento de sofrimento auxilia o indivíduo
a entender o processo pelo qual está passando, sen‑
do capaz de dar significado ao curso de finitude que
atravessa.26
Por uma questão lógica, a espiritualidade, crença
em um ser superior, se faz presente no momento do
sofrimento e, na área da saúde, esse momento é fre‑
quentemente relacionado à oncologia e aos cuidados
paliativos.27,28 Pode‑se afirmar, pelas análises feitas nesta
pesquisa, que a espiritualidade se faz presente no mo‑
mento do sofrimento e acaba se transformando também
como mecanismo de enfrentamento de sentimentos
emocionais negativos (incapacidade, tristeza, desânimo,
entre outros), promovendo alívio do sofrimento psíqui‑
co do cuidador de idosos de alta dependência.
Conclusão
A fé é um sentimento inato que o indivíduo converte
em maneira de enfrentar obstáculos com a esperança
de cessar o sofrimento. Pacientes paliativos e cuidado‑
res utilizam a fé como auxílio diante do desgaste diário.
Pode‑se concluir que a espiritualidade parece melhorar
a capacidade de lidar com a condição de doença incu‑
rável. Apesar de a média na escala de Zarit sugerir so‑
brecarga leve, os cuidadores não pontuaram para sinto‑
mas depressivos na EDG, e os efeitos desses resultados
podem ser justificados por todos acreditarem na fé.
Parece que a espiritualidade em cuidadores de idosos
com doença de Alzheimer protege contra sentimentos
negativos, especialmente os encontrados em pessoas
deprimidas. Estudos com número maior de participan‑
tes precisam ser realizados a fim de contribuir com pes‑
quisas futuras.
C o n f l ito s d e i n t e r e s s e
Os autores declaram não possuir nenhum conflito de in‑
teresse na sua realização e publicação.
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28. Pulchalsk CM, Kilpatrick SD, McCullough ME, Larson D. A sys‑
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medicine. Journal of Pain and Symptom Management. Palliative
and Supportive Care. 2003; 1:7‑13.
25/02/14 09:19
274 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
Artigo original
Predição do risco futuro
de tromboembolismo venoso
em idosos no ambulatório
Fernanda Lyrio Borgoa, Débora Carolina Netz Sanchesa,
Daniela Cristina Kiharaa
Palavras‑chave
Tromboembolismo
venoso, idoso,
risco.
Re s um o
A incidência de tromboembolismo venoso eleva-se com a idade. A presença de fatores de risco é a condição inicial
para o estabelecimento de suspeita clínica e realização de adequada profilaxia. Objetivo: Identificar risco futuro
para tromboembolismo venoso, de acordo com as características de cada indivíduo no ambulatório de geriatria e
avaliar a necessidade de prevenção mais ativa. Método: Foi aplicado o questionário QThrombosis, desenvolvido e
validado pela University Park, Nottingham (Reino Unido), na Divisão de Cuidados Primários, publicado na British
Medical Journal em 2011, com a revisão de prontuários, calculando, assim, o risco absoluto de tromboembolismo
venoso. Resultados: Foram avaliados 160 prontuários, incluindo 119 de mulheres e 41 de homens, com média de
idade de 76,4. Observamos que a maioria dos pacientes se encontra na faixa de risco de 0-0,5% no ano um, e, no ano
cinco, na faixa 1,1-5,0%. Nenhum paciente teve risco maior que 10% com um ano e, em cinco anos, encontramos
que 1,25% dos pacientes têm risco maior que 10%, sendo que o intervalo de confiança desse percentual deve estar
entre 0,15% a 4,44%. Conclusão: O envelhecimento envolve alterações que podem aumentar o risco de tromboembolismo venoso. Ao avaliarmos essa população, identificamos que o risco médio para tromboembolismo venoso em
um e cinco anos não justifica a implantação de medidas profiláticas sistemáticas no ambulatório para tromboembolismo venoso. O recomendado é individualizar cada caso, pois o evento é grave e potencialmente fatal, podendo
trazer muitos prejuízos ao paciente, impactando todo o seu contexto de vida.
Prediction of the future risk of venous thromboembolism in elderly
people at an ambulatory
AB S T RACT
Keywords
Venous thrombo‑
embolism, elderly,
risk.
The incidence of venous thromboembolism increases with age. The presence of risk factors for venous thromboembolism is the initial condition for the establishment of clinical suspicion and proper prophylaxis. Objective:
To identify future risk to venous thromboembolism, according to the characteristics of each person at the geriatric
ambulatory, and to evaluate the need for more active prevention. Method: QThrombosis questionnaire was applied,
which was developed and validated by University Park, Nottingham, UK, in the Division of Primary Care, and published in the British Medical Journal in 2011, with a review of medical records, calculating thus the absolute risk of
venous thromboembolism. Results: We evaluated 160 records, including 119 women and 41 men, mean age 76.4.
We observed that most patients are in the range of 0-0.5% of risk in year one, and 1.1 to 5.0% in year five. No one
had risk greater than 10% in one year, and in five years we found that 1.25% of patients have a risk greater than 10%,
with confidence interval of this percentage being between 0.15% and 4.44%. Conclusion: Aging involves changes
that may increase the risk of venous thromboembolism. When assessing this population, we identified that the
average risk for venous thromboembolism within 1 year and 5 years does not warrant systematic implementation
of clinical preventive services for venous thromboembolism. The recommended approach is to individualize each
case, since the event of venous thromboembolism is serious and potentially fatal, and can cause much harm to the
patient, impacting his/her way of life.
Hospital do Servidor Público Estadual, Setor de Geriatria
a
Dados para correspondência:
Fernanda Lyrio Borgo – Rua Francisco Cruz, 239, apt.º 91, Vila Mariana, São Paulo – SP. CEP: 04117‑090. E‑mail: [email protected]
Artigo Orig 05.indd 274
25/02/14 09:19
Predição do risco futuro de tromboembolismo venoso em idosos | 275
INT R O D U ÇÃ O
O tromboembolismo venoso (TEV) pode ser dividido
em trombose venosa profunda (TVP) e embolia pulmonar (EP), importantes causas de morbidade e mortalidade na população. A incidência de TEV eleva‑se com o
aumento da faixa etária. Suas taxas de mortalidade e EP
recorrente permanecem elevadas, pois a doença é subdiagnosticada, uma vez que sinais e sintomas não são específicos, principalmente no idoso, confundindo‑se com
doenças respiratórias e cardiológicas.1 A sobrevida desses pacientes depende da brevidade de seu diagnóstico e
tratamento.
As taxas de incidência anual por 1.000 pessoas na faixa etária de 65‑69 anos são de 1,3 para EP e 1,8 para TVP,
sendo que ambas aumentam com a idade.1 Pacientes hospitalizados e/ou com múltiplas comorbidades são mais
acometidos, porém sabe‑se que o TEV também atinge pacientes que previamente parecem saudáveis. Por
se tratar de doença com alto potencial de impactar a
funcionalidade e a sobrevida do paciente, justifica‑se a
necessidade de tentar conhecer melhor a doença e desenvolver mais e melhores técnicas de diagnóstico, profilaxia e tratamento.2
Definir os fatores de risco, validados para os sexos
feminino e masculino, independentemente da região geográfica ou etnia, é primordial para estratégias de prevenção primária de algumas doenças. Avaliando esses
fatores de risco, consegue‑se identificar os pacientes que
necessitam de maior atenção, evitando maiores complicações quando otimizadas as medidas para profilaxia e
tratamento.2 Uma boa avaliação clínica, com anamnese
detalhada e exame físico minucioso, é fundamental.
A presença de fatores de risco para o TEV é a condição inicial para o estabelecimento de elevada suspeita
clínica e, também, a realização de adequada profilaxia.3
As situações em que prevalece um ou mais componentes
da tríade de Virchow4 (estase venosa, lesão endotelial e
estado de hipercoagulabilidade) são propícias ao desenvolvimento da trombose.5 Os principais fatores de risco
para TEV são: trauma não cirúrgico e cirúrgico, idade
> 40 anos, TEV prévio, imobilização, doença maligna,
insuficiência cardíaca, infarto do miocárdio, paralisia de
membros inferiores, obesidade, veias varicosas, uso de
estrogênio, parto, doença pulmonar obstrutiva crônica.6
Wells et al.7 (1997) foram os primeiros a desenvolver
um modelo de probabilidade clínica pré‑testes para TVP
e TEP, classificando os pacientes em grupos de probabilidade baixa, moderada e alta, sendo essas ferramentas
importantes para a avaliação inicial dos pacientes, que
muitas vezes apresentam‑se oligossintomáticos.
O objetivo do presente trabalho é avaliar o risco de
eventos tromboembólicos dos pacientes no ambulatório
de geriatria, visando ao impacto na sobrevida dos pacientes, à qualidade de vida após possíveis internações, e
diminuir o tempo e o custo delas. A justificativa é avaliar
Artigo Orig 05.indd 275
a necessidade de prevenção de tromboembolismo venoso identificando os pacientes de alto risco, de acordo
com as características de cada indivíduo e suas comorbidades; identificar se essa população apresenta alto risco
antes de hospitalizações e de viagens aéreas prolongadas, para melhores decisões sobre medidas profiláticas
sistemáticas sobre o uso de medicações que aumentam
o risco de tromboembolismo, de acordo com a avaliação do risco‑benefício de cada indivíduo; identificar
indivíduos de alto risco que necessitem de reavaliações
futuras, monitorização próxima e que tenham indicação
para tratamento preventivo otimizado, pensando no impacto da sobrevida dos pacientes, na qualidade de vida
após internação e na diminuição do tempo e do custo
das internações.
ME TO D O L O G I A
Trata‑se de um estudo de corte transversal com duração
de dois meses, realizado através de revisão de prontuários de 160 pacientes assistidos no ambulatório de
geriatria do Hospital do Servidor Público Estadual de
São Paulo, com acompanhamento periódico, preenchendo as variáveis contidas no questionário QThrombosis,
no período de fevereiro a abril de 2013.
Em 2010, a Division on Primary Care, da University
Park (Reino Unido), desenvolveu um algoritmo para
predição do risco individual de TEV (QThrombosis)8
para identificar pacientes de alto risco, focando a ajuda
na profilaxia de TEV e também as decisões médicas sobre iniciar o tratamento com fármacos que aumentam o
risco de tromboembolismo, individualizando assim cada
paciente de acordo com o seu risco. Foi disponibilizada a
calculadora de risco na internet (www.qthrombosis.org),
facilitando o acesso ao algoritmo para todas as clínicas.8
A tabela possui fatores de risco estatisticamente
significativos (previamente estabelecidos) para TEV,
incluindo idade, sexo, índice de massa corpórea, carga
tabágica, história pregressa de cirurgia para varizes, insuficiência cardíaca congestiva, doença renal crônica,
câncer, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença inflamatória intestinal, uso de antipsicóticos, contraceptivos, uso de tamoxifeno, terapia de reposição hormonal,
admissão hospitalar nos últimos seis meses.
Após coleta dos dados, foi calculado o risco futuro de
cada paciente desenvolver TEV, em 1 e 5 anos. Com os
resultados, calculou‑se a média percentual de risco para
TEV, avaliando a necessidade de medidas preventivas
precoces e otimizadas nessa população.
Foram excluídos os pacientes com história de TEV
prévio e que fizeram uso de anticoagulação oral em qualquer momento antes da data de início do estudo.
As variáveis qualitativas são descritas pela frequên­
cia absoluta e relativa. As variáveis quantitativas são
descritas pela média, mediana, desvio‑padrão, mínimo,
máximo e primeiro e terceiro quartis. Nas porcentagens
25/02/14 09:19
276 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
Risco em 1 ano
encontradas de TEV, calculamos o intervalo de confiança de 95% para as proporções. O nível de significância
adotado foi de 5%.
100%
80%
R ESU LTAD OS
Foram avaliados 160 prontuários, dos quais 119 de mulheres e 41 de homens. Desse total, 20 pacientes estavam
na faixa etária de 65‑69 anos, 83 pacientes tinham idade
entre 70 e 79 anos e 57 pacientes tinham idade entre 80
e 84 anos. Na Tabela 1 temos a descrição das variáveis
quantitativas. A faixa etária dos pacientes era entre 65 e
84 anos, com média de idade encontrada de 76,4, com
desvio‑padrão aproximado de 5. A média do IMC foi de
27,6, com desvio‑padrão de 4,89.
Dentre os pacientes avaliados para risco de TEV em
1 ano, 95 apresentaram porcentagem de risco entre 0 a
0,5%, 55 pacientes com 0,6% a 1,0%, 10 pacientes com
1,1% a 5%. Na Tabela 2 e na Figura 1, temos as faixas do
escore para risco de TEV em 1 e 5 anos, com o número
de risco, o percentual e o intervalo de confiança. Dentre
os pacientes avaliados para risco de TEV em 5 anos, 6 pacientes apresentaram risco de 0,6% a 1,0%, 136 pacientes
com 1,1% a 5%, 16 pacientes com 5,1% a 10% e 2 pacientes com risco maior que 10%. Observamos que, com um
ano, nenhum paciente teve risco maior que 10%. Em cinco anos, encontramos que 1,25% dos pacientes têm risco maior que 10%, sendo o intervalo de confiança entre
0,15% a 4,44%. A maioria dos pacientes (95 pacientes)
se encontrava na faixa de 0‑0,5% no ano um, e, no ano
cinco, 136 pacientes estavam na faixa 1,1‑5,0%.
Observamos, no grupo em questão, que são mais prevalentes o sexo feminino (74,38%) e os pacientes não tabagistas (79,38%) (Tabela 3). Não houve casos de TRO
(terapia de reposição hormonal), uso de contraceptivos
orais e tamoxifeno.
60%
40%
20%
%
10
%
5,
>
1-
10
0%
5,
0%
1-
1,
1,
60,
0-
0,
5%
0%
% de risco
Figura 1 Gráfico de risco em um ano.
Risco em 5 anos
100%
80%
60%
40%
20%
%
>
10
5,
110
%
0%
1,
1-
5,
,0
%
-1
0,
6
0-
0,
5%
0%
% de risco
Figura 2 Risco em cinco anos.
Tabela 1 Descrição das variáveis quantitativas
Variável
N
Média
Mediana
Desvio‑padrão
Mínimo
Máximo
Q1
Q3
Idade
160
76,42
77,00
4,96
65
84
73,00
80,00
Peso
160
68,01
69,00
12,33
40,00
100,00
60,00
76,08
Altura
160
1,57
1,56
0,08
1,40
1,84
1,50
1,64
IMC
160
27,60
27,14
4,89
16,44
40,58
24,26
30,74
Tabela 2 Porcentagem de risco de TEV em 1 e 5 anos
1 ano
5 anos IC 95%
IC 95%
TVE
n
%
Lim. inf
Lim. sup.
n
%
Lim. inf
Lim. sup.
0‑0,5%
95
59,38
51,34%
67,06%
0
0,00
0,00%
2,28%
0,6‑1,0%
55
34,38
27,06%
42,28%
6
3,75
1,39%
7,98%
1,1‑5,0%
10
6,25
3,04%
11,19%
136
85,00
78,51%
90,15%
5,1‑10%
0
0,00
0,00%
2,28%
16
10,00
3,04%
11,19%
>10%
0
0,00
0,00%
2,28%
2
1,25
0,15%
4,44%
Artigo Orig 05.indd 276
25/02/14 09:19
Predição do risco futuro de tromboembolismo venoso em idosos | 277
Tabela 3 Descrição geral das variáveis qualitativas
Variável
N
%
Sexo (M)
41
25,62
Cirurgia de varizes MMII
7
4,38
IRC
9
5,63
Câncer
25
15,63
IC
26
16,25
DPOC
11
6,88
Doença inflamatória intestinal
1
0,63
Admissão hospitalar nos últimos 6 meses
24
15,00
Antipsicóticos
21
13,13
TRO
0
0,00
Contraceptivos orais
0
0,00
Tamoxifeno
0
0,00
Não tabagista
127
79,38
Ex‑tabagista
26
16,25
Tabagismo leve
1
0,63
Tabagismo moderado
4
2,50
Tabagismo pesado
2
1,25
Tabagismo
DI S C USS ÃO
O envelhecimento normal envolve alterações que podem
aumentar o risco de TEV, com aumento significativo nos
níveis de fibrinogênio e fatores procoagulantes, entre
outras alterações. A incidência de comorbidades aumenta com o progredir da idade, com maior prevalência de
AVE, condições que levam a imobilidade, câncer, obesidade, carga tabágica, insuficiência cardíaca congestiva, hipertensão arterial, doença inflamatória intestinal,
veias varicosas, uso de estrogênio (mesmo em baixa dosagem), uso de raloxifeno ou tamoxifeno e de antipsicóticos, cirurgias ortopédicas, entre outros.
O risco de tromboembolismo venoso aumenta exponencialmente com a idade, desde a incidência anual de aproximadamente 30/100.000 aos 40 anos para 90/100.000
aos 60 anos e 260/100.000 aos 80 anos.1
O custo médio de internação no SUS é maior entre
idosos. O idoso consome mais os serviços de saúde, as
internações hospitalares são mais frequentes e o tempo
de ocupação do leito é maior devido à multiplicidade de
patologias, quando comparado a outras faixas etárias. O
custo da internação per capita tende a crescer à medida
que a idade aumenta.9
Os métodos profiláticos já estabelecidos têm eficácia significativa comprovada na redução dos eventos de
TEV dos pacientes internados, como o uso de heparina
não fracionada ou heparinas de baixo peso molecular,
métodos mecânicos, como meias elásticas de compressão graduada e dispositivos de compressão pneumática
intermitente, deambulação precoce e filtro de veia cava.
Ao avaliarmos essa população, identificamos que
o risco médio para TEV em 1 ano e 5 anos não justi-
Artigo Orig 05.indd 277
fica a implantação de medidas profiláticas sistemáticas
(que mudem a rotina do ambulatório) para prevenção.
A maior parte da população (136 pacientes) ficou com
risco em 5 anos de 1,1% a 5%. Apenas uma pequena parcela (dois pacientes) apresentou risco elevado para TEV
em 5 anos.
Ao avaliarmos os fatores de risco, sabemos que idade,
sexo, IMC e comorbidades influenciam diretamente no
risco de cada paciente desenvolver um episódio de TEV.
Apesar de não identificarmos a necessidade de mudança na abordagem ambulatorial da população como um
todo, o risco de cada indivíduo varia conforme suas características. Apresentaram risco em 5 anos entre 5,1% e
10%, 16 pacientes, e 2 apresentaram risco maior que 10%
em cinco anos, deixando claro a necessidade de individualização das medidas, conforme as peculiaridades de
cada paciente.
Por ser um trabalho baseado na revisão de prontuários médicos, os autores ficaram limitados aos dados
encontrados nesses documentos, dependendo da confiabilidade das anotações dos médicos responsáveis pelo
seu preenchimento.
Individualizar cada caso é importante, pois o evento
de TEV é grave e potencialmente fatal, podendo trazer
muitos prejuízos ao paciente, com sequelas irreversíveis, tornando‑o dependente para atividades básicas da
vida diária, impactando todo o seu contexto de vida.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define como
saúde o completo bem‑estar físico, mental e social. Com
base nesse princípio, a geriatria almeja trazer qualidade
de vida para o paciente idoso, com uma medicina preventiva ativa, disseminada, modificadora da saúde dos idosos.
C O N F L I TOS D E I N T E RESSE
Os autores declaram não possuir nenhum conflito de interesse.
APÊNDICE A –
QUES T I O N Á R I O Q T H ROMB OS IS
Idade:
Sexo:
Tabagismo:(
(
(
(
) Ex‑fumante
) Tabagista leve (menos de 10 cigarros/dia)
) Tabagista moderado (10‑19 cigarros/dia)
) Tabagista pesado (mais de 20 cigarros/dia)
Você tem alguma das seguintes comorbidades?
Varizes MMII ( )
Doença renal crônica ( )
Câncer ( )
Insuficiência cardíaca ( )
DPOC ( )
Doença de Crohn ou retocolite ulcerativa ( )
Admissão hospitalar nos últimos 6 meses ( )
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278 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
Você está tomando algum desses medicamentos?
Antipsicóticos ( )
Terapia de reposição hormonal (TRO) ( )
Contraceptivo oral ( )
Tamoxifeno ( )
Índice de massa corporal (IMC)
Peso:
Altura:
R E FE R Ê NCIA S
1. Freitas EV. Tratado de geriatria e gerontologia. 3. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2011.
2. Geerts WH, Pineo GF, Heit JA, Berqvist D, Lassen MR, Colwell CW
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Artigo Orig 05.indd 278
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saúde dos idosos: indicadores selecionados. Disponível em: http://
www.ibge.gov.br
25/02/14 09:19
Artigo
original
Análise centesimal de um
cardápio
| 279
Análise centesimal do cardápio de uma
instituição de longa permanência
de idosos: Pinhais (PR)
Flávia Cristina Severo Grando,a Cilene da Silva Gomes Ribeirob
Re s um o
Palavras‑chave
Serviços de saúde
para idosos,
planejamento
de cardápio,
recomendações
nutricionais.
Objetivo: Comparar os nutrientes ofertados no cardápio de uma instituição de longa permanência de idosos
com as recomendações Dietary Reference Intakes (DRIs). Método: Pesquisa quantitativa e transversal de identificação de 31 dias dos cardápios do mês de outubro de 2011. Foram analisados, per capita, alimentos ofertados em todas as refeições. Analisou-se o cardápio de dieta geral isolado, com complemento alimentar e complemento de fibras. Para a análise dos nutrientes, foram elaboradas as fichas técnicas de todas as preparações
e as análises centesimais. Resultados: A distribuição calórica de macronutrientes para a dieta geral e a dieta
geral com complemento de fibras encontrou-se dentro do recomendado. Micronutrientes, como vitaminas A,
C e E, manganês e ferro, apresentaram valores satisfatórios acima das referências. Vitamina D, potássio, ácido
pantotênico e fibra, quando analisados apenas na dieta geral, encontraram-se abaixo das recomendações. Entretanto, com a adição do complemento alimentar e do complemento de fibras, atingiram as recomendações.
O cálcio na dieta geral apresentou valor abaixo do recomendado. Nas dietas que apresentam complemento
alimentar ou complemento de fibras, sua quantidade teve aumento significativo. O sódio apresentou valores
acima das referências em todos os tipos de refeições. Conclusão: A oferta do cardápio que compõe a dieta
geral não é suficiente para atingir todas as recomendações nutricionais para o grupo em estudo. Entretanto,
quando ocorre complementação alimentar e complementação com fibras, as ofertas se adéquam às recomendações. Recomenda-se maior oferta de alimentos ricos em cálcio e redução dos alimentos ricos em sódio.
The menu centesimal analysis of long‑term care institution: Pinhais (PR)
AB ST RAC T
Keywords
Services for
the elderly,
menu planning,
nutrition policy.
Objective: To compare nutrients in the menu offered for the elderly people of a long-term care institution with
Dietary Reference Intakes (DRIs). Methods: A cross-sectional and quantitative identification of the menus during
31 days in October 2011. The amount of food per capita was analyzed in all the meals. We analyzed the menus of the
general diet, alone, with a meal supplement, and with fiber supplementation. For the nutrients analysis, data sheets
and the centesimal analysis were prepared for all the food made. Results: The caloric distribution of macronutrients
in the general diet, and the general diet with fiber supplementation were in the recommended range. Micronutrients, such as vitamin A, vitamin C, vitamin E, manganese and iron, were satisfactory, above references. Vitamin D,
potassium, pantothenic acid and fiber, when analyzed only in the general diet, were below the recommendations.
However, with the addition of a meal supplementation and a fiber supplementation the recommendations were
reached. Calcium in the general diet showed a lower value than what is recommended. In the diets with a fiber or a
meal supplementation its raise was significant. Sodium presented values above the references in all types of meals.
Conclusion: The general diet menu alone was not sufficient to reach all the nutritional recommendations. However, when there is a meal or a fiber supplementation, what is offered fits the recommendations. A greater supply of
calcium-rich food and a reduction in food with high sodium are also recommended.
Especialista em gerenciamento de serviços de alimentação e nutrição, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Campus Curitiba.
Coordenadora do curso de gerenciamento de serviços de alimentação e nutrição, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Campus
Curitiba.
a
b
Dados para correspondência:
Flávia Cristina Severo Grando – Rua José Boganiko Sobrinho, 246 casa 15, CEP: 83.306‑296 – Piraquara, PR. (41) 8411‑3064.
E‑mail: [email protected]
Artigo Orig 06.indd 279
25/02/14 09:19
280 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
IN TR O D U ÇÃ O
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) apud Nagaoka, Lemos, Yoshitome1 apontam
que desde 1960 a população brasileira vem apresentando
declínio de crescimento. Na década de 1960, a taxa de
crescimento era de 3,04% ao ano e em 2008 caiu para
1,05%. Projeções para 2050 apontam taxas de 0,29% ao
ano. Com o declínio da taxa de crescimento, supõe‑se
que a população brasileira tenda a apresentar um perfil envelhecido, modificando assim a estrutura etária do
país.
Em 2008, para cada grupo de 100 crianças de 0‑14
anos existiam 24,7 idosos de 65 anos ou mais. Para 2050
espera‑se que, para cada 100 crianças de 0‑14 anos, existirão 172,7 idosos.1
Analisando o perfil da população, os avanços tecnológicos e o fator qualidade de vida, percebe‑se que,
além do aumento da população idosa, eleva‑se também
a expectativa de vida ao nascer. Enquanto em 1940 a expectativa era de 45,5 anos, em 2008 aumentou para 72,7
anos, e para 2050 espera‑se uma expectativa de vida ao
nascer de 81,29 anos.1
Com o aumento da longevidade, vem ocorrendo um
aumento importante de idosos que são submetidos a
acompanhamento ambulatorial, domiciliar e hospitalar
em instituições de longa permanência de idosos, devido
a perdas biológicas e sociais, relacionadas às limitações
físicas, perdas cognitivas e sensoriais, sintomas depressivos, acidentes, doenças crônicas e isolamento social.
Quando analisado o perfil nutricional dessa população,
identifica‑se um estado nutricional crítico.1,2
O perfil nutricional é suscetível a influências de fatores ambientais, biológicos e sociais que prejudicam a
ingestão alimentar e, consequentemente, o estado nutricional ao longo do processo de envelhecimento. Também é influenciado significativamente pelo local de domicílio, sendo este em instituições de longa permanência
de idosos ou na residência.3
Desde a década de 1990, já se destacavam evidências
de que cerca de 70% dos idosos institucionalizados ingeriam dieta deficiente em energia e fibras e que o consumo
alimentar dessa população estava diretamente relacionado com fatores mórbidos, evidenciando que, quanto menor a ingestão alimentar, maiores as probabilidades de
internação, idade avançada, baixo peso, maior grau de
dependência funcional e maior morbidade.2
Alamo apud Wachholz et al.,3 ao estudar idosos institucionalizados, relata que a prevalência de desnutrição
nesse grupo está em 15‑20%, podendo atingir até 60%.
Em seu estudo, detectou uma prevalência de baixo peso
em 48,8% da amostra estudada.
Além de todos os fatores que interferem no estado
nutricional do idoso, sabe‑se que o envelhecimento em si
afeta diretamente o estado nutricional, sendo decorrente
Artigo Orig 06.indd 280
de questões senis (situações patológicas) ou senescentes
(situações fisiológicas).3‑5
A anorexia pode ser citada como a principal associação com a perda de peso em idosos, que pode estar
correlacionada a maior efeito inibidor do apetite, provocado pela colecistoquinina, menor efeito de opioides e
do óxido nítrico. Também relacionado com a anorexia
estão fatores sociais, psicológicos e clínicos.2,6
Com a crescente predominância de idosos, são realizados estudos com tal população demonstrando que
análises empíricas sobre os fatores que influenciam positiva ou negativamente sobre esse grupo vêm sendo substituídas por instrumentos e pesquisas que efetivamente
conseguem avaliar de forma precisa e científica.3
Observa‑se alto índice de idosos diagnosticados com
osteoporose, patologia que apresenta estratégia de prevenção baseada na manutenção da massa óssea pela dieta, exercício, uso apropriado de reposição hormonal e eliminação
de fatores de risco, como o fumo e certos medicamentos.2
Os principais fatores associados com a presença de
problemas nutricionais em idosos, segundo Coelho,7
são: doenças associadas, falta de informação e conhecimento sobre nutrição, escolhas alimentares erradas,
interação droga‑nutriente causada pelos medicamentos
utilizados, dificuldades socioeconômicas, limitações físicas, mentais e problemas bucais, como as próteses. Dessa
forma, a elaboração de cardápios adequados em quantidade, qualidade e consistência é necessária quando se
trata de idosos institucionalizados.
Segundo Teichmann,8 quando um alimento passa
pelas etapas de aquisição, armazenamento, manipulação,
preparo, sugestão em menus, oferta para os clientes de
forma impecável e em ambiente agradável, pode‑se dizer
que passou por etapas da elaboração de um cardápio.
É necessário conhecer alguns aspectos e regras, para
que a qualidade do atendimento, a produção e o desempenho do setor nada deixem a desejar quando se elabora
um cardápio. Esses aspectos devem levar em consideração a quantidade, a qualidade e a harmonia, visando à
oferta adequada de nutrientes em proporções corretas,
atendendo assim a satisfação do comensal e suas necessidades fisiológicas.8‑10 Para a determinação dos tipos de
serviços que são servidos dentro de um cardápio é necessária observação dos seguintes pontos: avaliar o tipo
de refeição que se pretende oferecer, a forma de preparo,
o número de pessoas que serão atendidas, qual o tempo
disponível dos clientes, as possibilidades financeiras do
comensal, a dimensão e a capacidade da cozinha, a quantidade de utensílios e equipamentos que o local dispõe e
o número de colaboradores para executar o serviço.8
A determinação do público que receberá o cardápio
implicará as peculiaridades que ele deverá abranger, sendo fundamental conhecer o perfil do cliente, como sexo,
idade, tempo disponível, tipo de atividade que desempenha, preferências alimentares e patologias específicas.8,11
25/02/14 09:19
Análise centesimal de um cardápio | 281
Justifica‑se o tema abordado pelo fato de o crescimento do envelhecimento estar fortemente presente na
população brasileira e esse processo de envelhecimento
submeter o organismo a diversas alterações anatômicas e funcionais, repercutindo no estado nutricional de
tal forma, que esse grupo etário possui recomendações
nutricionais específicas, fazendo‑se necessário o planejamento de cardápio ajustado a tais necessidades, possibilitando melhores resultados de estado nutricional e,
consequentemente, maior qualidade de vida para essa
população. Além disso, contribui com a instituição avaliada, verificando se o padrão alimentar adotado atende
ao esperado para o seu público‑alvo.
M É TO D OS
Pesquisa quantitativa e transversal de identificação de 31
dias dos cardápios do mês de outubro de 2011. Foram
analisados os alimentos ofertados em todas as refeições
servidas a idosos de 70 anos ou mais. Nesse local são
realizadas 6 tipos de refeições: café da manhã, almoço,
lanche, complemento alimentar, jantar e ceia. O complemento alimentar é uma preparação elaborada com
suplementos industrializados, como cappuccino enriquecido, creme de papaia etc. Analisamos o cardápio de
dieta geral, o complemento alimentar com a dieta geral,
o complemento de fibras com o complemento alimentar
e a dieta geral, o complemento de fibras e a dieta geral.
Para a análise dos nutrientes ofertados nos cardápios e
a comparação com as recomendações, foram elaboradas
as fichas técnicas de todas as preparações e realizadas as
análises centesimais, utilizando‑se como base a tabela de
composição de alimentos, o suporte para decisão nutricional.12 Os alimentos e/ou nutrientes não encontrados
foram verificados na tabela brasileira de composição de
alimentos13 e na tabela para avaliação de consumo alimentar em medidas caseiras.14 Para os alimentos não
identificados nas tabelas citadas foram utilizadas as informações nutricionais declaradas pelos fabricantes.
Foram identificados os principais nutrientes recomendados para idosos, sendo eles: carboidratos, proteínas, lipídeos, vitaminas A, C, D, E, cálcio, ferro, manganês, ácido pantotênico, sódio, potássio e fibras, de
acordo com os autores Marucci et al.15 Foi priorizado
o requerimento médio estimado (EAR),15 porém para
os nutrientes não citados em EAR15 utilizou‑se a inges-
tão diária recomendada (RDA)15 e a ingestão adequada
(AI)15 para idosos ≥70 anos, correlacionados com o ofertado no cardápio.
Foram utilizados como critério de inclusão para as
análises os cardápios com dieta‑padrão, que é a dieta
normocalórica, normoproteica, normolipídica e normo
em fibras e com complementação calórica, proteica e de
fibras.
Apesar de outros tipos de refeições serem ofertadas
aos hóspedes, como as dietas pastosas e enteral, elas não
foram analisadas neste estudo, uma vez que é reduzido
o volume ofertado das mesmas, comparadas à dieta‑padrão e ao complemento alimentar.
Os dados do cardápio foram inseridos em tabelas
dinâmicas previamente desenvolvidas pelo autor no
software Microsoft Office Excel 2003. O resultado desta
pesquisa foi obtido e discutido com as DRI apud Marucci et al.15
Esta pesquisa foi submetida ao CEP da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná.
R ESU LTA D OS
Para melhor compreensão, os resultados foram ilustrados de acordo com o planejamento dietoterápico da
instituição. Foi identificada a dieta geral, que é ofertada
para os idosos com estado nutricional eutrófico, dieta
com complementação alimentar, que é ofertada ao público que se encontra com desnutrição calórica e/ou proteica. E ainda a complementação de fibras para aqueles
com quadro de obstipação. Foi realizada média aritmética dos valores de cada nutriente, considerando os 31
dias, para cada tipo de dieta, conforme as Tabelas 1 e 2.
A distribuição calórica de macronutrientes para a
dieta geral e a dieta geral com complemento de fibras
encontrou‑se dentro do recomendado segundo o Institute of Medicine apud Marucci et al.,15 que especifica
45‑65% de carboidratos, 10‑35% de proteínas e 20‑25%
de lipídeos, por dia alimentar. Ao analisarmos os nutrientes presentes na dieta geral, foi possível perceber
que, em média, nas refeições a oferta de carboidratos
ficou em 64,66%. A proteína ficou em 11,17%, e os lipídeos em 25,23%. Foi verificado que a dieta geral com
complemento de fibras apresentou, em média, 63,94% de
carboidrato, 11,07% de proteínas e 25,12% de lipídeos. A
dieta geral com complemento alimentar e a dieta geral
Tabela 1 Média do valor calórico e distribuição de macronutrientes nas dietas ofertadas
Artigo Orig 06.indd 281
Variável
Dieta geral
Dieta geral com
complemento alimentar
Dieta geral com complemento
de fibras
Dieta geral com complemento
alimentar e com complemento de fibras
Valor calórico (Kcal)
1928,28
2356,11
1951,23
2360,81
% de carboidrato
64,66
61,86
63,94
61,77
% de proteína
11,17
11,80
11,07
11,80
% de lipídeos
25,23
27,85
25,12
27,96
25/02/14 09:19
282 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
Tabela 2 Média da quantidade de nutrientes identificados nas dietas ofertadas
Vit. A
(RE)
Ácido
pantotênico
Vit. C
Vit. D
Vit. E
Cálcio
Manganês
Potássio
Sódio
Fibra (g)
Ferro
(mg)
Dieta geral
1426,31
3,92
150,91
4,30
116,87
116,87
19,38
2,51
1,75
14,91
9,65
Dieta geral com
complemento alimentar
1918,29
5,01
177,25
20,03
120,15
120,15
20,43
3,24
1,97
21,16
13,73
Dieta geral com
complemento de fibras
1426,32
3,92
150,91
4,30
116,89
116,89
19,40
6,35
1,84
19,28
9,77
Dieta geral com
1918,30
complemento alimentar e
complemento de fibras
5,01
177,25
20,03
120,17
120,17
20,45
7,08
2,06
25,53
13,85
com complemento alimentar e complemento de fibras
excederam na distribuição de lipídeos, estando 2,9% acima do recomendado.
Com o estudo do cardápio de 31 dias, conforme as
Tabelas 3 e 4, percebeu‑se que o valor calórico total do
dia variou entre 1.455,16 kcal e 3.012,36 kcal. Com esses
dados, identificamos que há uma grande diferença no
valor calórico, quando analisados dias isolados. Quanto
à distribuição de macronutrientes, foi destacado que o
percentual de carboidratos apresentou, em nove dias do
mês, valor superior ao recomendado. Quando analisado
o percentual de proteínas, notamos que seis dias apresentaram percentual menor que o indicado. Pelo estudo,
foi especificado que 11 dias apresentaram percentual de
lipídeos acima do preconizado.
Micronutrientes, como as vitaminas A, C e E, manganês e ferro, apresentaram valores acima das referências
preconizadas com a dieta geral. Vitamina D, potássio, ácido pantotênico e fibra, quando analisados apenas na dieta
geral, encontraram‑se abaixo das recomendações. Com
a adição do complemento alimentar e do complemento
de fibras, os mesmos atingiram as recomendações. Por
exemplo, ao analisarmos as quantidades de fibra ofertada
na dieta geral, o valor médio foi de 14,91 g. Na dieta geral
adicionada de complemento alimentar e complemento de
fibras, o valor médio se elevou para 25,53 g.
Com a análise da dieta geral, foi identificado que o
cálcio apresentou valor de 683,21 mg, enquanto a ingestão adequada (AI) preconiza 1.200 mg/dia.15 Para a dieta
geral com acréscimo do complemento alimentar e complemento de fibras, identificamos o valor do cálcio em
1.063,53 mg, ainda abaixo do recomendado, porém com
aumento de 35,7%, quando comparado apenas à dieta
geral.
Na análise do sódio na dieta geral, foi encontrado
1,75 mg/dia. Segundo Marucci et al.,15 a ingestão adequada (AI) de sódio é de 1,2 g/dia. Adicionamos o complemento alimentar à dieta geral e foi detectado 1,97 g de
sódio/dia. Para a dieta geral com complemento alimentar e complemento de fibras, foram identificados 2,06 g/
dia. Tal resultado apresentou‑se como 71,66% a mais do
recomendado, porém ainda abaixo do limite superior
tolerável de ingestão (UL), que é de 2,3 g15, conforme a
Tabela 5.
D I S C USS ÃO
Diversas patologias que acometem o idoso estão associadas a deficiências de nutrientes, como a cardiopatia
isquêmica associada à deficiência de vitaminas E, C e
caroteno, e determinadas patologias neurológicas degenerativas relacionadas com a deficiência de vitamina E.
Vannucchi et al.,6 ao estudarem um grupo de 202 idosos
Tabela 3 Informação nutricional do dia 1 ao dia 15
Dia
1
Valor calórico (kcal)/dia
Dia
2
Dia
3
Dia
4
Dia
5
Dia
6
Dia
7
Dia
8
Dia
19
Dia
10
Dia
11
Dia
12
Dia
13
Dia
14
Dia
15
1842,65 1838,79 1568,08 1941,63 1931,62 1972,19 1851,44 1696,21 2357,74 1455,16 2582,00 2356,61 2198,20 2313,56 1950,68
% de carboidrato
70,36
62,92
61,03
56,56
71,63
62,83
55,40
64,84
60,05
60,56
74,49
69,05
64,34
68,54
57,51
% de proteína
11,12
11,50
12,09
9,76
10,66
13,58
17,33
10,73
15,01
13,78
5,59
7,80
10,33
9,35
10,78
% de lipídeo
22,12
25,58
26,88
33,68
17,71
23,59
27,27
24,43
24,94
25,67
19,92
23,15
25,33
22,10
31,71
Dia
28
Dia
29
Dia
30
Dia
31
Tabela 4 Informação nutricional do dia 16 ao dia 31
Dia
16
Dia
17
Dia
18
Dia
19
Dia
20
Dia
21
Dia
22
Dia
23
Dia
24
Dia
25
Dia
26
Dia
27
Valor calórico (kcal)/dia 2061,26 1923,23 1495,60 1879,09 2538,57 1710,60 1952,88 1636,18 1816,61 3012,36 1926,44 2107,94 2250,99 1902,16 2149,46 1618,01
% de carboidrato
67,48
52,94
63,80
61,48
73,93
64,32
60,07
64,02
60,81
% de proteína
8,95
10,69
12,84
10,69
10,57
11,55
13,80
10,30
% de lipídeo
23,58
36,37
23,35
27,83
15,50
24,13
26,13
25,68
Artigo Orig 06.indd 282
74,34
51,38
62,23
66,38
64,62
61,06
60,80
10,11
9,39
11,06
13,62
10,38
12,15
11,81
11,53
29,08
16,27
37,57
24,15
23,24
23,23
27,13
27,67
25/02/14 09:19
Análise centesimal de um cardápio | 283
Tabela 5 Recomendações nutricionais para pessoas com 70 anos ou mais
Recomendações
Vit. A
(mcg)
RDA
Ácido
pantotênico
(mg) AI
Vit. C
(mg)
EAR
Vit. D
(mcg)
AI
Vit. E
(mg)
RDA
Cálcio
(mg) AI
Manganês
(mg) AI
Potássio
(mg) AI
Sódio
(g) AI
Dieta geral
♂ 900
♀ 700
5,00
♂ 75
♀ 60
15
15
1200
♂ 2,3
♀ 1,8
4,7
1,2
Ferro
Fibra (g) (mg) RDA
25
8
FONTE: Marucci et al. Tratado de alimentação, nutrição e dietoterapia, 2007.
AI: ingestão adequada; EAR: requerimento médio estimado: RDA: ingestão dietética recomendada; UL: limite superior tolerável de ingestão; ♂: sexo masculino;
♀: sexo feminino.
hospitalizados, identificaram deficiências nutricionais
de diversos micronutrientes pelos níveis séricos bioquímicos. A maior prevalência de deficiência foi de zinco
(59,5%), seguido de deficiência de vitamina C (56,5%),
vitamina B2 (34,5%), vitamina E (26,0%), vitamina A
(13,2%) e carotenoides (6,8%). Os autores justificam a
elevada porcentagem de deficiência de zinco pelo fato de
os indivíduos idosos terem baixa ingestão desse nutriente, cerca de metade do ideal (RDA); outro fator seria, no
caso de idosos com insuficiência cardíaca congestiva e os
hipertensos, a utilização de medicamentos (captopril e
diuréticos, por exemplo) que aumentam as perdas renais
desse nutriente.
Estudos demonstram que a insuficiência da vitamina
C e outras vitaminas antioxidantes pode ser fator de risco para doenças cardiovasculares isquêmicas ou neoplásicas. A diminuição dos níveis séricos da vitamina A está
associada com maior risco de infecções.6
Neste estudo verificamos que esses nutrientes são
ofertados em quantidades satisfatórias quando comparados às recomendações.
Lopes et al.,16 ao estudarem o consumo de nutrientes em adultos e idosos, evidenciaram baixo consumo
de ferro em 50,9% da amostra, sendo 39,8% com alto
consumo e apenas 9,3% com ingestão adequada. Na
presente pesquisa verificamos que a oferta de ferro é
adequada, significando que há boa diversidade na oferta de alimentos que são fontes de ferro e que os mesmos
são ingeridos em quantidade adequada pelos idosos.
Em pesquisa realizada por Lopes et al.,16 obtiveram‑se
50,9% da amostra com baixo consumo de proteínas,
30,7% de alto consumo e 22,9% com consumo adequado. Ao avaliarmos as ofertas de proteínas, em todas as
dietas, a média da quantidade de proteínas se adequou
às recomendações para a população com faixa etária superior a 70 anos, porém, observando as análises
isoladas por dia, não foi atingida a recomendação em
100% dos dias.
Segundo Baker17 e Morais et al.,18 com o envelhecimento ocorrem alterações na composição corpórea,
redução na ingesta energética e aparecimento de patologias que alteram o metabolismo proteico, acarretando
impacto nos requerimentos dietéticos. Além das alterações corpóreas próprias do envelhecimento, a redução
da massa muscular é afetada pela ingestão inadequada
de proteínas e energia.
Artigo Orig 06.indd 283
Payete19 refere que estudos estimam que 50% dos idosos de ambos os sexos consomem quantidade inadequada de proteínas, estando abaixo da RDA.
Nos cardápios avaliados, foi possível evidenciar que
a quantidade de fibra ofertada atingiu o recomendado
apenas nas dietas com complemento alimentar e complemento de fibras. Assim, os idosos que recebem apenas a dieta geral não recebem quantidade satisfatória de
fibras. Lopes et al.16 verificaram que o consumo de fibras
foi insuficiente.
Alguns autores discutem que as fibras fazem o gerenciamento da função do intestino, a intensificação de
sua integridade e da função absortiva, a manutenção da
barreira intestinal e a normalização da microflora intestinal.20
Assim, como na pesquisa de Lopes et al.16 e dados da
Pesquisa de Orçamento Familiar,21 também identificamos
baixo consumo de cálcio, mesmo quando adicionado o
complemento alimentar, embora nesta última situação o
valor tenha ficado mais próximo da recomendação.
Cabe ressaltar que a necessidade de uma dieta rica
em nutrientes persiste mesmo depois que o crescimento
tenha cessado, visto que o cálcio é perdido diariamente
pelo corpo em quantidades consideráveis através da pele,
cabelo, unhas, urina e secreções digestivas. Se essa perda
não for compensada por uma quantidade correspondente, consumida via alimentação, o corpo rompe unidades de estrutura óssea no intuito de prover cálcio para a
circulação. Conforme a quantidade de cálcio absorvido
da dieta diminui e começa a se equilibrar com as perdas diárias, os níveis na circulação sanguínea começam a
decrescer e uma sucessão de eventos ocorre, começando
com o aumento da secreção do hormônio paratireoide
(PTH), que reabsorve osso e libera seus constituintes no
sangue.22 Estudos demonstram que a vitamina D tem
papel central na homeostase do cálcio e na homeostase
óssea através da ligação com o receptor da vitamina D
(VDR) em órgãos‑alvo relacionados ao cálcio, incluindo
intestino, ossos, rins, glândula paratireoide.22
Alguns autores comentam que o consumo adequado
de cálcio é a base para que qualquer terapia ou tratamento comece.22
O consumo de cálcio previne doenças como osteoporose, hipertensão arterial, obesidade e câncer no cólon.23
Segundo Nieves apud Pereira et al.,23 a biodisponibilidade do cálcio pode ser influenciada pelo consumo de
25/02/14 09:19
284 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
sódio, uma vez que a ingestão elevada desse nutriente
acarreta o aumento da excreção renal do cálcio. Pesquisas demonstram, pelas equações preditivas, que a cada
2 g de sódio ingerido a excreção de cálcio urinária aumenta, em média, 30‑40 mg. Entretanto, se a ingestão
de sódio for abaixo de 2.400 mg/dia, não haverá impacto
negativo sobre a saúde óssea.23
A suplementação de cálcio é recomendada a toda
mulher menopausada e a homens acima de 65 anos,
como prevenção de perda óssea. A dose recomendada é
de 1.200‑1.500 mg/dia. O cálcio ingerido reduz o hiperparatireoidismo associado à idade avançada e melhora a
mineralização do osso neoformado.24
Assim como no presente estudo, em que detectamos
elevado teor de sódio, outros autores também identificaram tal inadequação. Tian, apud Molina et al.,25 ao estudar a população chinesa utilizando o método dietético
(três recordatórios de 24 horas), identificou alto consumo de sódio, aproximadamente 6 g/dia. Segundo dados
da Pesquisa de Orçamento Familiar,21 a proporção de indivíduos com ingestão de sódio acima do nível seguro de
ingestão foi de 80% para homens e 62% para mulheres,
com 60 anos ou mais de idade.
Marchini et al.15 destacam que a suplementação calórica para indivíduos com mais de 75 anos contribui significativamente para a convalescência e a recuperação de
estados carenciais dos idosos. O mesmo se observou no
presente estudo, visto que apenas a dieta geral não atinge
todas as recomendações. Quando ocorre o acréscimo de
alimentos através do complemento alimentar e complemento de fibras, as quantidades atingem a recomendação ou se aproximam dela.
Veiros e Proença11 salientam que o cardápio é uma
importante ferramenta de trabalho para o nutricionista,
e no seu planejamento devem estar presentes as características nutricionais, mas também é necessário considerar as características sensoriais do alimento, como a
combinação, o tipo de alimento, as técnicas de processo,
as cores, os sabores e as texturas, transformando o alimento no ato de nutrir, de forma saudável, preservando
os indivíduos que estão sob sua responsabilidade.
Se os clientes de uma unidade de alimentação e nutrição (UAN) contarem com uma efetiva intervenção
alimentar, terão importante reflexo na saúde. As preocupações com a alimentação e as interferências na saú-
de tornam‑se cada vez mais visíveis para as instituições,
empresas e comércios destinados a ofertar refeições.11
Bernardo apud Veiros e Proença11 faz a resalva de
que o profissional nutricionista tem o desafio de ofertar alimentação saudável e prevenir problemas de saúde apenas com o conhecimento do processo fisiológico
e bioquímico da nutrição, relacionando a alimentação
saudável com o prazer do consumo do alimento.
Para Sousa e Proença,4 não basta o nutricionista ser
apenas criativo e crítico na transformação de um alimento em refeição, sendo necessário que seja sensível,
para poder intervir, criando um vínculo com os indivíduos, pois o alimento isolado perde o sentido se não
trabalhada a relação alimento versus homem e ato de
alimentar‑se.
C O N C L US Ã O
É relevante salientar os principais fatores que interferem no estado nutricional do idoso relacionados à idade
avançada, como a sensibilidade olfativa e gustativa reduzida, devido à redução nos botões e papilas gustativas
sobre a língua, a supressão do apetite e o aumento da
necessidade proteica. Os fatores dietéticos são: ingestão
inadequada de alimentos, redução da biodisponibilidade
de vitamina D, deficiência na absorção de vitamina B6,
redução da acidez gástrica com alterações na absorção
de ferro, cálcio, ácido fólico, B12 e zinco, dificuldade no
preparo e ingestão de alimentos, tendência à diminuição da tolerância à glicose, atividade da amilase salivar
reduzida, redução da atividade de enzimas proteolíticas,
como a amilase e a lipase pancreática.
Conclui‑se, com a pesquisa, sobre a importância da
análise centesimal do cardápio, verificando se ele está
atingindo as recomendações para o grupo etário específico. Sugere‑se, com esta análise, o estudo da viabilização
da complementação alimentar e de fibras para todo o público da instituição avaliada, para que dessa forma todos
recebam os nutrientes em doses adequadas. Ainda seria
recomendável maior oferta de alimentos ricos em cálcio
e redução dos alimentos ricos em sódio no cardápio da
instituição.
C O N F L I TO DE I N T ER ESSE
Os autores declaram não possuir nenhum conflito de interesse na sua realização e publicação.
R E FE R Ê NCIA S
1.Nagaoka C, Lemos NFD, Yoshitome AY. Caracterização dos idosos
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286 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
Artigo original
Alterações na deglutição
de portadores da doença de Alzheimer
Raquel Petrya, Patrícia Zartb, Luciana Grolli Ardenghic, Ana Carolina
Battezinid, Cristine de Souzae, Fernanda de Cássia Saggioratoe,
Micheli Zambonine
Re s um o
Palavras‑chave
Doença de
Alzheimer,
deglutição,
disfagia.
Objetivos: O principal objetivo deste estudo é identificar as alterações no processo de deglutição mais comumente
encontradas em pacientes com doença de Alzheimer através do exame de videofluoroscopia. Métodos: A coleta de
informações foi através de um banco de dados do setor de fonoaudiologia do Hospital da Cidade de Passo Fundo,
no período de junho de 2007 a fevereiro de 2011. Foram selecionados 24 exames, com a patologia de base sendo
somente a doença de Alzheimer. Os exames foram realizados com oferta de consistências líquidas e pastosas, analisando fases oral e faríngea na posição lateral. Resultados: Dos 24 exames com consistência pastosa, quatro (16,7%)
não deglutiram e 2 pacientes (8,3%) apresentaram grande dificuldade nessa consistência; assim, 18 pacientes (75%)
realizaram o exame com ambas as consistências. Na fase oral da deglutição, apresentaram movimentos ondulatórios
reduzidos da língua, para líquidos, 17 pacientes (94,4%), e 23 pacientes (95,8%), para pastosos. Na deglutição faríngea
com líquidos, a alteração mais predominante foi a dos resíduos em recessos faríngeos nos 18 pacientes (100,0%), sendo
que na deglutição com pastosos as alterações mais frequentes foram a reação de deglutição e resíduos em recessos
faríngeos, com 19 pacientes (95,0%). Conclusão: Os resultados obtidos permitem evidenciar que as alterações mais
significativas na função de deglutição nesses pacientes com doença de Alzheimer apresentam-se na fase oral, quando a
maioria dos pacientes retém alimentos na cavidade oral por longo período, possibilitando o escape prematuro posterior
para a faringe, seguindo-se reação de deglutição atrasada e, consequentemente, resíduos em recessos faríngeos.
Swallowing alterations in subjects with Alzheimer’s disease
AB S T RACT
Keywords
Alzheimer’s
disease,
swallowing,
dysphagia.
Objectives: The main aim of this study is to identify alterations in the swallowing process, mostly found in Alzheimer’s
disease subjects, through Videofluoroscopy exam. Methods: The data have been collected from the data bank of the
Speech Pathology Section in HCPF hospital, from June/07 to February/11. Twenty-four exams were selected with Alzheimer’s disease being the basic pathology. The exams were performed offering liquid and pasty consistencies to the
subjects, and then analyzing oral and pharyngeal phases in the lateral position. Results: From the 24 exams with pasty
consistency, 4 (16.7%) did not swallow, and 2 (8.3%) presented great difficulty to swallow this consistency; thus, 18 subjects (75%) underwent the exam with both consistencies. In the swallowing oral phase, 17 subjects (94.4%) presented
more alterations in the reduction of undulatory movement of the tongue (UMT) with liquids, and 23 subjects (95.8%)
with pasty food. In the pharyngeal swallowing phase with liquids the main alterations were in the residues in phraryngeal
recess in 18 subjects (100%), and in the swallowing with pasty consistency the more common alterations were swallowing
reaction and residues in phraryngeal recess in 19 subjects (95%). Conclusion: The results found allow us to evidence
that the mostly significant alterations in the swallowing function on patients with Alzheimer’s disease are presented in
the oral phase, when most subjects keep the substance in the oral cavity for a long period of time, allowing early posterior
escape to the pharynges, being followed by late swallowing reaction and consequently, residues in phraryngeal recess.
a
Fonoaudióloga pela Universidade de Passo Fundo. b Fonoaudióloga. Docente do curso de fonoaudiologia da UPF. Formada em fonoaudio‑
logia pela ULBRA‑POA. Especialização em linguagem e fonoaudiologia hospitalar. Mestre em distúrbios da comunicação humana. c Fonoau‑
dióloga. Docente do curso de fonoaudiologia da UPF. Formada em fonoaudiologia pela UFSM. Mestre em distúrbios da comunicação pela
UFSM. Doutoranda em ciências médicas pela UFRGS. d Graduanda em fonoaudiologia pela Universidade de Passo Fundo, organizadora.
e
Graduanda em fonoaudiologia pela Universidade de Passo Fundo, organizadora.
Endereço para correspondência:
Cristine de Souza – Rua Coronel Arthur Lângaro, 598, CEP: 99062‑020 São Cristovão, Passo Fundo, RS, Brasil. Tel.: (54) 3315‑3584 /
(54) 9934‑1484. E‑mail: [email protected]
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Deglutição na doença de Alzheimer | 287
INT R O D U ÇÃ O
O mal de Alzheimer é uma doença que ataca inicial‑
mente o cérebro, a memória, o raciocínio e a comunica‑
ção da pessoa, levando a uma deterioração mental das
funções intelectivas, caracterizando assim a demência.
Nesse caso, essa demência está ligada a duas categorias
de lesões cerebrais. Uma delas são as grandes placas
(placas senis) de uma proteína chamada beta‑amiloide
intracelular, que tem efeitos tóxicos sobre os neurônios.
A outra categoria de danos são os microtúbulos, ver‑
dadeiros nós em estruturas essenciais dos neurônios.
Eles ficam retorcidos e emaranhados, prejudicando seu
funcionamento.1
Com o crescente aumento da população geriátrica no
mundo, a incidência de doenças neurodegenerativas é
cada vez maior, destacando‑se entre elas a doença de Al‑
zheimer, que representa 70% do conjunto de patologias
que afetam essa população. Essa demência causa declí‑
nio considerável no funcionamento intelectual e inter‑
fere nas atividades do dia a dia, como higiene pessoal,
vestimenta e alimentação, principalmente a deglutição,
que se denomina disfagia.2,3
A fase oral da deglutição é a mais afetada em idosos
com demência moderada e grave. As principais altera‑
ções da deglutição são disfunção motora lingual (movi‑
mento de língua discinético, fraco ou lento), atraso no
disparo do reflexo da deglutição, falha no controle motor
oral do bolo, pela qual pode ocorrer o seu escape para a
faringe ou a laringe durante a manipulação na fase oral,
retenção do alimento na valécula e seios piriformes, pe‑
netração e aspiração, principalmente de líquidos, e mas‑
tigação ausente.4
Os distúrbios de alimentação podem manifestar‑se
por meio de uma série de sintomas, como desordem na
mastigação, dificuldade de iniciar a deglutição, regurgi‑
tação nasal, controle da saliva diminuído, tosse e engas‑
gos durante as refeições, dor no peito, sensação de ali‑
mento parado na garganta, podendo também apresentar
desidratação, perda de peso, tempo da refeição prolon‑
gado, diminuição de apetite e pneumonia aspirativa ou
quaisquer outros problemas pulmonares.5
A avaliação clínica fonoaudiológica é imprescindí‑
vel, pois permite identificar a presença de disfagia, bem
como aspectos da deglutição que estão alterados. Para
contribuir nesse processo avaliativo, a fonoaudiologia
tem à sua disposição exames complementares, que per‑
mitem a observação da função de deglutição de forma
mais eficiente. Dentre esses exames, a videofluoroscopia
da deglutição possibilita definir as disfunções anatômi‑
cas e funcionais da deglutição de forma mais precisa. É
considerado o exame mais importante na avaliação do
paciente com disfagia, juntamente com a história clí‑
nica. É uma avaliação dinâmica da deglutição, ou seja,
permite observar as diferentes fases da deglutição em
tempo real.
Artigo Orig 07.indd 287
O B J E T I VOS
Este estudo teve como objetivo identificar as alterações
no processo de deglutição mais comumente encontradas
em pacientes com doença de Alzheimer através do exa‑
me de videofluoroscopia. Sendo assim, serão abordados
aspectos que envolvem a doença de Alzheimer e sua re‑
lação com a deglutição.
M É TO D OS
Para a realização deste estudo, foram coletados exames
de um banco de dados do setor de fonoaudiologia do
Hospital da Cidade de Passo Fundo (HCPF), realizados
no período de junho de 2007 a fevereiro de 2011. Foram
coletados 358 exames de videofluoroscopia, dos quais 53
apresentaram DA e também outras patologias de base as‑
sociadas. Para finalizar, foram selecionados 24 exames que
apresentaram como patologia de base somente Alzheimer.
A pesquisa seguiu os padrões éticos exigidos pelo
comitê de ética em pesquisa da Universidade de Passo
Fundo e foi aprovada sob o protocolo número 404/2010.
Após a autorização do hospital, foi realizada a coleta
de dados, através do termo de autorização do HCPF e do
comitê de ética da Universidade de Passo Fundo.
Para inclusão e exclusão na pesquisa, os laudos dos
exames atenderam aos seguintes critérios:
• Pacientes com diagnóstico médico de doença de
Alzheimer que não apresentassem outra patologia
de base associada que pudesse levar à disfagia.
• A idade e o sexo desses pacientes não foram consi‑
derados relevantes para o estudo.
Os exames de videofluoroscopia estudados foram
realizados no bloco cirúrgico do HCPF pelo técnico de
radiologia e pela fonoaudióloga responsável. Para análise
do exame, seguiu‑se a proposta sugerida por Gonçalvez
& Vidigal (1999), organizada em forma de protocolo,
utilizada pelo serviço de fonoaudiologia desse hospital.
Para esse exame, foram ofertadas consistências líqui‑
das e pastosas. As imagens dos exames foram gravadas e
analisadas posteriormente.
As estruturas analisadas pelos laudos dos exames
videofluoroscópicos fazem parte da deglutição nas fases
oral e faríngea em posição lateral.
Para analisar o momento que desencadeava a reação
da deglutição, baseamo‑nos na literatura, a qual refere que
o final da fase oral é definido radiologicamente quando
o alimento passa o ramo posterior da mandíbula, dando
início à fase faríngea, acompanhada pelo movimento de
excursão anterior do hioide.6,7
Após a coleta dos dados, os mesmos foram organi‑
zados para análise, sendo os resultados apresentados de
forma descritiva.
R ESU LTA D OS
Dos 24 exames com oferta de consistência pastosa, 4 (16,7%)
não deglutiram, permanecendo com a consistência na ca‑
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6
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2
0
3
3
3
2
1
TTO
MOL
Alterado
Normal
RCO
EA
EPP
Figura1 Características da deglutição na fase oral com líquidos.
vidade oral, não ocorrendo deglutição faríngea. Dois
pacientes (8,3%) apresentaram grande dificuldade com
essa consistência, não sendo possível ofertar a consistên‑
cia líquida.
Assim, dos 24,18 pacientes (75,0%) conseguiram re‑
alizar o exame com ambas as consistências, ou seja, pas‑
tosa e líquida.
Nas Figuras 1 e 2 são descritos os resultados da ava‑
liação de videofluoroscopia da fase oral da deglutição.
Os parâmetros analisados e comparados foram: tempo
de trânsito oral (TTO), movimentos ondulatórios da
língua (MOL), resíduos na cavidade oral (RCO), escape
anterior (EA), escape profundo (EP) com ambas as con‑
sistências, líquida e pastosa.
Com relação aos líquidos, o TTO mostrou‑se aumen‑
tado em 16 pacientes (88,9%) durante a avaliação com lí‑
quidos, enquanto em 2 pacientes (11,1%) apresentou‑se
adequado. As alterações nos MOL foram em 17 pacien‑
tes (94,4%), e 1 (5,6%) apresentou movimentos adequa‑
dos. Apresentaram RCO, após a deglutição de líquidos,
15 pacientes, correspondendo a 83,3% dos pacientes pes‑
quisados. EA foi observado em 10 pacientes (55,6%). Em
relação ao EPP, esteve presente em 15 pacientes (83,3%).
Para a consistência pastosa, o TTO estava aumentado
em 20 pacientes (83,3%), enquanto em 4 (16,7%) apre‑
sentou‑se adequado; 23 pacientes (95,8%) apresentaram
alterações nos MOL, sendo que 1 (4,2%) apresentou mo‑
vimento normal. Sobre RCO, 18 pacientes (75,0%) dos
24 analisados apresentaram resíduos após a deglutição.
EA apresentou‑se em 9 pacientes (37,5%) e 15 (62,5%)
não apresentaram escape anterior. Para a consistência
pastosa, 18 pacientes (75,0%) apresentaram escape e 6
pacientes (25,0%) não apresentaram.
Nas Figuras 3 e 4 são descritos os resultados da ava‑
liação videofluoroscópica da fase faríngea com ambas
as consistências (líquida e pastosa), sendo observados:
reações de deglutição (RD), elevação de laringe (EL),
onda da parede posterior da faringe (OPPF), resíduos
25
20
15
10
5
Alterado
Normal
0
TTO
MOL
RCO
EA
EPP
Figura 2 Características da deglutição na fase oral com pastosos.
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Normal
0
RD
EL
OPPF
RRF
TTF
TF
MD
PL
Figura 3 Características da deglutição na fase faríngea com líquidos.
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Normal
RD
EL
OPPF
RRF
TTF
TF
MD
PL
Figura 4 Características da deglutição na fase faríngea com pastosos.
em recessos faríngeos de parede posterior e anterior da
hipofaringe (RRF), tempo de trânsito faríngeo (TTF),
transição faringoesofágica (TF), múltiplas deglutições
(MD), penetração laríngea e aspiração traqueal (PL).
Durante a oferta de líquido, as RD mostraram‑se
atrasadas em 16 pacientes (88,9%) e em 2 (11,1%) apre‑
sentaram‑se adequadas. A EL esteve adequada em 16
pacientes (88,9%). Em 9 pacientes (50%) observou‑se
que a OPPF estava ausente ou apresentava redução, e em
9 pacientes (50,0%) estava presente. Com relação aos
RRF, 18 pacientes (100%) apresentaram resíduos após
a deglutição. O TTF estava aumentado em 9 pacientes
(50,0%). A TF mostrou‑se adequada em 17 pacientes
(94,4%). Quanto às MD, 1 paciente (5,6%) apresentou
dificuldade. PL foi observada em 7 pacientes (38,9%).
Com consistência pastosa, em 19 pacientes (95,0%)
as RD apresentaram alterações. A EL estava adequa‑
da em 15 pacientes (75,0%). Houve ausência de OPPF
Artigo Orig 07.indd 289
em 11 pacientes (55,0%), sendo que nove deles (45,0%)
apresentaram presença desse aspecto. Com relação aos
RRF, 19 pacientes (95,0%) apresentaram resíduos, sen‑
do que apenas 1 (5,0%) não apresentou alteração nes‑
se aspecto. Em 17 pacientes (85,5%), o TTF apresentou
aumento, sendo que em 3 (15,0%) estava adequado. A
TF mostrou‑se adequada em 19 pacientes (95,0%) e com
alteração em 1 deles (5,0%). Quanto às MD, apenas 1
paciente (5,0%) apresentou dificuldade. Apresentaram
sinais de PL 8 pacientes (40,0%), e 12 deles (60,0%) não
apresentaram esse aspecto.
D I S C USS Ã O
Os processos fisiológicos associados ao envelhecimento
alteram vários parâmetros da deglutição, porém não há
evidências de que as mudanças relacionadas à idade te‑
nham efeito adverso em idosos saudáveis. Nos estágios
mais avançados das doenças neurológicas, a disfagia é
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290 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
um sintoma comumente observado. Nas demências, es‑
pecialmente na doença de Alzheimer, são observadas al‑
terações na deglutição decorrentes do déficit cognitivo
significativo, que altera os hábitos de alimentação, tor‑
nando os pacientes dependentes, antes mesmo do apare‑
cimento dos sintomas de disfagia.2
Os resultados do presente estudo confirmam que a
disfagia neurogênica pode se manifestar como desor‑
dem na mastigação, dificuldade em iniciar a deglutição e
como limitação da capacidade de manipular o alimento
durante a fase oral preparatória, impedindo a formação
do bolo alimentar na cavidade oral.2,5
Em outro estudo, as dificuldades de deglutição en‑
contradas foram mastigação ausente e esquecimento do
ato de deglutir, sendo mais evidentes para consistência
líquida.8 Esses dados concordam com os achados da pre‑
sente pesquisa, em que 4 (16,7%) dos 24 pacientes não de‑
glutiram, permanecendo com a consistência na cavidade
oral, não havendo deglutição faríngea, diferenciando ape‑
nas a consistência, que para este estudo foi pastosa.
Analisando os dados da literatura juntamente com
os encontrados neste estudo, pode‑se apontar que, in‑
dependentemente do tipo de consistência ofertada, os
pacientes com DA apresentam significativa dificuldade
na fase oral da deglutição. Esses dados permitem discu‑
tir o fator “esquecimento”, característico da DA, o qual
também é observado na função de deglutição, conforme
afirmam alguns autores, o que pode justificar o fato de
pacientes portadores dessa patologia reterem o alimento
na cavidade oral por muito tempo, sem mesmo realizar
movimentos mastigatórios.
Neste estudo, o escape prematuro posterior apresen‑
tou‑se em 15 pacientes (83,3%) com oferta de consistên‑
cia líquida e em 18 (75,0%) com consistência pastosa,
seguido de reação de deglutição atrasada em 16 (88,9%)
dos pacientes para consistência líquida e 19 (95,0%) para
pastosa.
Esses achados são confirmados em um estudo que
avaliou 25 pacientes com DA de grau moderado a grave
por meio de entrevista e de videofluoroscopia, sendo a
alteração mais prevalente o atraso no disparo do refluxo
de deglutição, seguido de alteração na preparação oral e
limpeza faríngea deficiente, evidenciada por resíduo na
faringe após a deglutição.9
Um estudo realizado no Canadá, por meio de revi‑
são de prontuários de 47 idosos com demência, verificou
que uma das causas primárias de morte em idosos com
diagnóstico de demência foi a pneumonia em aproxima‑
damente 50% dos casos.7
Um estudo realizado no Ambulatório de Geriatria
do Centro de Estudos do Envelhecimento e no Depar‑
tamento de Diagnóstico por Imagem da Universidade
Federal de São Paulo objetivou avaliar a dependência no
momento da alimentação (autoalimentação), os com‑
portamentos associados e a dinâmica da deglutição, ava‑
Artigo Orig 07.indd 290
liada por meio da videofluoroscopia, em indivíduos com
DA de graus leve e moderado. A alteração mais impor‑
tante foi a manipulação lenta do bolo alimentar, obser‑
vada em 50% dos indivíduos avaliados. A maior parte
das alterações foi observada com todas as consistências
alimentares. A principal alteração encontrada na fase fa‑
ríngea foi a permeação laríngea por meio de contraste.
Os autores concluem que as alterações nas fases oral e
faríngea da deglutição podem estar alteradas desde o iní‑
cio da doença de Alzheimer.4
Os resultados mais significativos deste estudo são
confirmados pela literatura, que também aponta que,
na fase faríngea da deglutição, pode haver presença de
deglutição atrasada ou ausente, escapes prematuros do
alimento e acúmulo de resíduos nas valéculas e recessos
piriformes, podendo causar aspiração antes de a degluti‑
ção faríngea ser iniciada.10
Com relação aos dados de sinais sugestivos de pe‑
netração laríngea, observa‑se que 7 dos 18 pacientes
(38,9%), durante a avaliação com consistência líquida,
ou seja, 61,1% não apresentaram esse aspecto. Já para
consistência pastosa, 8 pacientes (40,0%) apresentaram
sinais sugestivos de penetração laríngea e 12 (60,0%) não
apresentaram, demonstrando que neste estudo essa alte‑
ração não se mostrou em maior porcentagem.
Contrapondo com resultados de outro estudo, cita‑
do anteriormente, o objetivo foi encontrar por meio da
videofluoroscopia a alteração mais prevalente em pa‑
cientes com DA de grau leve a moderado, observan‑
do‑se como alteração mais importante na fase faríngea
a permeação laríngea.11 Mesmo que os resultados desse
aspecto não se apresentem de acordo com a literatu‑
ra consultada, sabe‑se que esses pacientes apresentam
grande fator de risco para aspiração devido à grande
alteração observada na dinâmica da deglutição.12 Esse
parece ser o aspecto mais importante da videofluoros‑
copia: observando a dinâmica da deglutição e os acha‑
dos, pode‑se predizer o risco que o paciente apresenta
de aspirar, prevenindo assim o aparecimento de com‑
prometimento pulmonar.
C O N C L US Ã O
Os resultados obtidos nesta pesquisa permitem concluir
que pacientes portadores de doença de Alzheimer apre‑
sentam importantes alterações na função de deglutição,
sendo mais significativas na fase oral, independentemen‑
te da consistência ofertada. Pode‑se apontar, ainda, a im‑
portância do exame de videofluoroscopia na avaliação
de pacientes com pouca colaboração, como na DA, pos‑
sibilitando visualizar e identificar aspectos da deglutição
que dificilmente são percebidos na avaliação clínica.
C O N F L I TO DE I N T ER ESSES
Os autores declaram não possuir nenhum conflito de in‑
teresse na sua realização e publicação.
25/02/14 09:20
Deglutição na doença de Alzheimer | 291
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7.Kim Y, Mccullough GH. Stage transition duration in patients post‑
stroke. Dysphagia. 2007; 22, apud Zart, 2008; 229‑305.
Artigo Orig 07.indd 291
8.Dantas RO. Disfagia OROFAríngea. In: Macedo Filho E et al. Dis‑
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efeitos‑organicos/pagina1.html#ixzz17i2fs2ti
25/02/14 09:20
292 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
Artigo original
Achados videofluoroscópicos
Na deglutição de PACIENTES
com doença de Parkinson
Claudia Sebbena, Patrícia Zartb, Luciana Grolli Ardenghic, Ana
Clara de Oliveira Varellad, Émille Dalbem Paimd, Mayara Santos de
Matosd, Munique Souza Jarcesd, Orlaine Rodriguesd
Re s um o
Palavras‑chave
Doença de
Parkinson,
deglutição,
transtorno de
deglutição.
Objetivo: Identificar as alterações no processo de deglutição encontradas em pacientes com doença de Parkinson
através do exame de videofluoroscopia. Métodos: Foram analisados 20 exames videofluoroscópicos de pacientes
portadores de doença de Parkinson, de um hospital de referência na cidade de Passo Fundo, Rio Grande do Sul.
Analisaram-se as fases oral e faríngea da deglutição, nas consistências pastosa e líquida contrastada com bário. Resultados: Dos 20 indivíduos analisados em fase oral, 9 pacientes apresentaram tempo de trânsito oral aumentado,
14 pacientes apresentaram resíduos presentes na cavidade oral e 16 apresentaram escape prematuro posterior. Na
fase faríngea, 16 pacientes apresentaram reação de deglutição atrasada e 17 apresentaram tempo de trânsito faríngeo
aumentado. Quanto ao grau da disfagia, o maior número apresentou grau moderado. Conclusão: A deglutição
de paciente com doença de Parkinson, tanto na fase oral quanto na fase faríngea, apresenta aspectos alterados, de
forma significativa, compatíveis com disfagia de grau moderado.
THE Results found in videofluoroscopy of subjects with Parkinson’s disease
AB S T RACT
Keywords
Parkinson disease,
deglutition,
deglutition
disorder.
Objective: To identify changes in the swallowing process, found in subjects with Parkinson’s disease through a Videofluoroscopy test. Methods: Twenty Viodeofluoroscopy tests of subjects with Parkinson’s disease were analyzed.
The subjects were patients of a well-known hospital in the city of Passo Fundo, in the state of Rio Grande do Sul. The
oral and pharyngeal phases of swallowing liquid and pasty food were analyzed with barium enema. Results: From
the 20 individuals analyzed in the oral phase, 9 had the Oral Transit Time increased; 14 subjects showed residues
present in the Oral Cavity and 16 subjects showed early posterior escape. In the pharyngeal phase 16 subjects had a
delayed reaction in swallowing; 17 subjects showed increased pharyngeal transit time. Regarding the degree of dysphagia, most of them presented a moderate degree. Conclusion: The swallowing of the patients with Parkinson’s
disease, both in the oral and pharyngeal phase, presented a significant change, consistent with moderate dysphagia.
Fonoaudióloga, graduada pela Universidade de Passo Fundo. Autora
Fonoaudióloga. Docente do curso de fonoaudiologia da Universidade de Passo Fundo. Especialista em Linguagem pelo Cefac. Especialista
em fonoaudiologia hospitalar pelo Instituto Pestalozzi. Mestre em distúrbios da comunicação humana pela Universidade Federal de Santa
Maria. Autora
c
Fonoaudióloga. Docente do curso de fonoaudiologia da Universidade de Passo Fundo. Mestre em distúrbios da comunicação humana pela
Universidade Federal de Santa Maria. Doutoranda em ciências médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Coautora
d
Graduanda do curso de fonoaudiologia da Universidade de Passo Fundo. Coautora
a
b
Dados para correspondência:
Émille Dalbem Paim – Avenida Brasil, 315, Apto 304, Centro – Passo Fundo, RS. CEP: 99010‑000. E‑mail: [email protected]
Artigo Orig 08.indd 292
25/02/14 09:20
Deglutição na doença de Parkinson | 293
INT R O D U ÇÃ O
Com o crescimento da população de idosos, existe au‑
mento na incidência de doenças e, entre elas, destaca‑se
a doença de Parkinson (DP).
A doença de Parkinson envolve sistemas neurais
múltiplos e resulta de mudanças em poucos e suscetí‑
veis tipos de células nervosas. A doença é degenerativa e
progressiva do sistema nervoso central, inicia‑se nos nú‑
cleos motores dorsais dos nervos glossofaríngeo e vago,
e no núcleo olfativo anterior.1
As principais manifestações encontradas com a pro‑
gressão da doença são perda de expressão facial, distúr‑
bio de deglutição, salivação, entre outras. A dificuldade
no processo de deglutição dos alimentos na DP é devida
à inabilidade de realização rápida e coordenada dos mo‑
vimentos envolvidos nesse processo,2 e a instabilidade do
controle fino dos lábios, língua e mandíbula, levando à
disfagia.
A disfagia pode ser entendida como a dificuldade na
passagem do material deglutido da boca para o esôfago,
sendo consequência de alterações nas fases oral, faríngea
e esofágica da deglutição.3
Em decorrência da rigidez muscular e da bradicine‑
sia, as manifestações disfágicas podem provir do atraso
no reflexo da deglutição e da mobilidade reduzida das
estruturas orofaríngeas, com possibilidade de perda pre‑
matura de alimento e o seu acúmulo na parte oral da
faringe, valéculas epiglóticas (VE) e recessos piriformes
(RP), o que favorece a aspiração pulmonar.4
Os parkinsonianos só costumam apresentar queixas
referentes de deglutição em estágios mais avançados da
doença, quando a disfagia orofaríngea é determinada
por prejuízos no transporte do bolo alimentar resultante
do aumento do tempo e trânsito orofaríngeo e alterações
na mobilidade laríngea.5‑7
Entretanto, remédios e cirurgias não são os únicos re‑
cursos para combater os sintomas, sendo de fundamental
importância os cuidados de enfermagem, de educação fí‑
sica, de fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional,
entre outros, desenvolvidos tanto individualmente quanto
em grupo, para restituição possível da capacidade funcio‑
nal, do bem‑estar e da qualidade de vida.8
Inicialmente, para a avaliação da deglutição, consi‑
dera‑se a videofluoroscopia como o padrão‑ouro, já que
fornece ao profissional dados qualitativos e quantitativos
sobre o funcionamento das estruturas, durante as várias
fases da deglutição, o que vai interferir nas condutas to‑
madas em um programa de reabilitação.9
A videofluoroscopia é um exame radiológico contras‑
tado, que visa mostrar, através de imagens, a sequência
dos movimentos em tempo real e com qualidade dos fe‑
nômenos, destacando o papel de diversas estruturas en‑
volvidas, o que pode permitir uma análise não invasiva e
adequada das fases oral, faríngea e esofágica, verificando
assim a dinâmica da deglutição de forma eficiente.10
Artigo Orig 08.indd 293
Contudo, o estudo teve como objetivo identificar as
alterações frequentemente encontradas em pacientes
com DP através do exame de videofluoroscopia, como
também analisar qual fase da deglutição é mais frequen‑
temente afetada pela DP e verificar o grau de comprome‑
timento de deglutição do paciente com DP.
ME TO D O L O G I A
O presente estudo é de caráter transversal quantitativo,
elaborado seguindo os padrões éticos exigidos pela Co‑
missão Nacional de Ética em Pesquisa, conforme Reso‑
lução 196/96, e aprovado pelo Comitê de Ética em Pes‑
quisa (CEP) da Universidade de Passo Fundo UPF (RS),
sob o protocolo de n. 0294.0.398.000‑11. A pesquisa foi
iniciada somente após assinatura do Termo de Autoriza‑
ção Institucional do Hospital da Cidade de Passo Fundo
(HCPF), onde a pesquisa foi realizada.
A coleta de dados foi realizada em exames – realizados
no período de 2007 a 2011 – de um banco de dados do
setor de fonoaudiologia do HCPF. Participaram da pes‑
quisa 20 pacientes com diagnóstico de DP, sem outra pa‑
tologia de base que levasse à disfagia.
Os exames de videofluoroscopia estudados foram
realizados no bloco cirúrgico do HCPF pelo técnico de
radiologia e pela fonoaudióloga responsável. O equi‑
pamento utilizado para o diagnóstico é um intensifica‑
dor da marca Shimadzu, modelo pleno. Para análise do
exame, seguiu‑se a proposta sugerida por Gonçalvez &
Vidigal (1999), organizada em forma de protocolo, o
qual é utilizado pelo serviço de fonoaudiologia desse
hospital. As imagens dos exames são gravadas em CD
para, posteriormente, serem analisadas através do pro‑
grama Viewerlite2, Philips InturisSuite Lite, v. 2.1.1.1
(2001).
Para esses exames, optou‑se por pesquisar os acha‑
dos nas consistências líquida e pastosa porque, com os
sólidos, os pacientes não apresentaram reação de de‑
glutição. Na consistência pastosa, é utilizado alimento
do tipo iogurte cremoso Danet misturado com bário e,
na consistência líquida, água e bário. Os resultados dos
exames foram analisados individualmente, após serem
agrupados com o objetivo de descrever os dados en‑
contrados.
R ESU LTA D OS
Foram selecionados 20 laudos de exames com diagnós‑
tico de DP, de pacientes internados ou que procuraram
a especialidade do HCPF para a realização do exame de
videofluoroscopia.
Na Figura 1 são descritos os resultados da fase oral da
deglutição para alimentos na consistência líquida, cujos
parâmetros analisados e comparados foram: tempo de
trânsito oral (TTO), movimentos ondulatórios da língua
(MOL), resíduos em cavidade oral (RCO), escape ante‑
rior (EA) e escape prematuro posterior (EPP).
25/02/14 09:20
294 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
Fase oral - consistência líquida
16
14
12
10
TTO
8
MOL
6
RCO
4
EA
2
0
EPP
Adequado
Reduzido
Aumentado
Presente
Ausente
Figura 1 Aspectos analisados na fase oral para alimentos na consistência líquida.
Para a avaliação com alimento na consistência líqui‑
da, observou‑se que 7 dos pacientes apresentam TTO
aumentado, mas adequado em 9. Em relação aos MOL,
não foram encontradas alterações em 12 pacientes, sen‑
do que 6 apresentaram esse aspecto reduzido, e apenas em
um estava ausente. Somente 11 pacientes apresentaram
RCO, 4 pacientes apresentaram EA contra 14 que não
apresentaram. O EPP esteve presente na consistência lí‑
quida em 15 pacientes, estando adequado em 3 pacientes.
Na Figura 2, observa‑se que, em relação ao TTO, es‑
tava aumentado em 8, enquanto em 9 pacientes apresen‑
tou‑se adequado. Em relação aos MOL, observou‑se que
em 12 pacientes se apresentaram adequados, sendo que
em 7 pacientes estiveram reduzidos e apenas em um au‑
sente. Apresentaram RCO após a deglutição 14 pacientes,
sendo observada presença de EA em 5, enquanto 14 pa‑
cientes não apresentaram alteração. O EPP foi observado
em 16 pacientes, contra 3 que não apresentaram alteração.
Na Figura 3 podem ser observados os resultados des‑
critos da avaliação videofluoroscópica da fase faríngea
da deglutição, sendo os parâmetros analisados: reação
de deglutição (RD), elevação da laringe (EL), onda da
parede posterior da faringe (OPPF), resíduos em reces‑
sos faríngeos e parede posterior e anterior da hipofarin‑
ge (RRF), tempo de trânsito faríngeo (TTF), múltiplas
deglutições (MD), penetração laríngea (PL) e aspiração
laringotraqueal (AL).
Em relação à RD durante a oferta da consistência lí‑
quida, 16 pacientes apresentaram atraso e em 2 pacientes
manteve‑se adequada. Um paciente não apresentou RD
com as consistências ofertadas. Em relação à EL para a
consistência líquida, em 11 pacientes apresentou‑se ade‑
quada e reduzida em 7. Conforme pode ser observado na
Figura 3, a OPPF foi observada em 9 pacientes, reduzida
em 3 e não visualizada nessa consistência em outros 3.
Durante a oferta, a OPPF esteve presente em 9 pacientes,
reduzida em 3, não sendo possível a visualização tam‑
bém em outros 3, sendo que 13 pacientes apresentaram
RRF, e o TTF mostrou‑se aumentado para 15 pacientes,
enquanto em 3 manteve‑se adequado. A presença de MD
não foi observada em 15 pacientes, enquanto 4 tiveram
necessidade de deglutir diversas vezes.
Fase oral - consistência pastosa
18
16
14
12
10
Adequado
8
Reduzido
6
Aumentado
4
Presente
2
Ausente
0
TTO
MOL
RCO
EA
EPP
Figura 2 Aspectos analisados na fase oral para alimentos na consistência pastosa.
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Deglutição na doença de Parkinson | 295
Fase faríngea - consistência líquida
18
16
RD
14
EL
12
OPPF
10
RRF
8
TTF
6
MD
4
PL
2
AL
o
ta
d
e
en
m
N
ão
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ed
R
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te
o
o
id
ad
At
ra
s
Ad
eq
ua
do
o
0
Figura 3 Aspectos analisados na fase faríngea para alimentos na consistência líquida.
Na Figura 4, nota‑se que, em relação à RD, para ali‑
mentos na consistência pastosa, mostrou‑se atrasada em
15 pacientes, enquanto 2 não tiveram alteração. Em rela‑
ção à EL, manteve‑se adequada em 12 pacientes, estando
reduzida em 7. A OPPF estava presente em 9 pacientes,
reduzida em 3 e não foi possível a visualização em 4 pa‑
cientes; 19 pacientes apresentaram RRF. Quanto ao TTF,
mostrou‑se aumentado em 17 pacientes, sendo que 3
não apresentaram alterações para essa consistência. A
presença de MD não foi observada em 15 pacientes, en‑
quanto 4 tiveram necessidade de deglutir repetidas vezes
em ambas as consistências.
Na Figura 5 pode‑se visualizar resultados com rela‑
ção ao grau de disfagia encontrado nos laudos analisa‑
dos. Observou‑se, em relação à disfagia, resultados sig‑
nificativos para o grau moderado, percebendo‑se essa
alteração em 8 dos pacientes avaliados. O estudo apon‑
tou, também, que 2 pacientes apresentaram disfagia de
grau grave, 5 dos pacientes apresentaram grau de disfa‑
gia discreta/moderada e também 5 pacientes apresentaram
disfagia discreta.
D I S C USS Ã O
Os achados videofluoroscópicos analisados nesta pesqui‑
sa possibilitam observar que, na fase oral da deglutição,
o aspecto TTO mostrou‑se aumentado para consistência
pastosa em 8 pacientes, enquanto para a consistência lí‑
quida foi observada alteração em 7 dos pacientes.
Essas descobertas condizem com o estudo7 em que
foram observadas alterações na fase oral: dificuldade no
movimento de preparo do bolo em 52% dos pacientes e
dificuldade no movimento de organização do bolo em
32% dos pacientes.
Ainda nessa fase, observou‑se presença de RCO no
dorso da língua e assoalho da boca em maior quantida‑
de, após a deglutição de consistência pastosa em 14 pa‑
Fase faríngea - consistência pastosa
20
18
Adequado
16
Atrasado
14
Reduzido
12
Não visualizado
10
Presente
8
6
Ausente
4
Aumentado
2
0
RD
EL
OPPF
RRF
TTF
MD
PL
AL
Figura 4 Aspectos analisados na fase faríngea para alimentos na consistência pastosa.
Artigo Orig 08.indd 295
25/02/14 09:20
296 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
Nível da disfagia
10%
25%
40%
Grave
Moderada
Discreta/Moderada
Discreta
25%
Figura 5 Nível da disfagia avaliado com a realização do exame de vi‑
deofluoroscopia.
cientes; já na consistência líquida, 11 pacientes tiveram
essa alteração. Em relação à EPP, obtiveram‑se índices
elevados para ambas as consistências, sendo em maior
número para a consistência pastosa em 16 pacientes.
Um estudo que concorda com os achados anteriores11
avaliou, pela videofluoroscopia, 16 pacientes portadores
de DP com disfagia e 16 indivíduos como grupo controle,
com o objetivo de determinar a natureza das desordens
de deglutição. Observaram‑se alterações na fase oral de 13
pacientes, como resíduos na língua ou no sulco anterior
e lateral, movimentos repetidos de língua, descontrole do
bolo ou perda prematura de líquidos e deglutição gradual.
O mesmo número de pacientes apresentou alterações na
fase faríngea, incluindo estase em valéculas.
Em relação à fase faríngea, pode‑se observar que a
RD manteve‑se atrasada para ambas as consistências,
mas em maior número de pacientes na consistência lí‑
quida, encontrando‑se 16 pacientes com essa alteração.
Percebeu‑se, que relacionado à PL, a maioria dos pacien‑
tes apresenta essa alteração para a consistência líquida,
sendo encontrada em 11 pacientes.
Os achados concordam com uma pesquisa12 na qual
foram avaliadas as alterações na deglutição em pacien‑
tes com doença de Parkinson, sendo a elevação laríngea
diminuída o evento que recebeu maior pontuação, en‑
quanto a presença de deglutição múltipla obteve o menor
valor. Os sinais que sugerem penetração ou aspiração do
alimento receberam os escores mais altos de toda a ava‑
liação, concordando com o resultado do presente estudo,
no qual a PL apresentou o maior índice de alteração.
Outro estudo que avaliou a deglutição e a tosse nos
diferentes graus da doença de Parkinson, avaliou 38 in‑
divíduos portadores de DP e 38 indivíduos sem doença
neurológica, obtendo os seguintes resultados: a ocor‑
rência de PL na deglutição de alimento de consistência
líquida foi manifestada em seis pacientes do subgrupo
2, em três pacientes do subgrupo 3 e em três casos no
Artigo Orig 08.indd 296
grupo controle; na consistência pastosa, a PL ocorreu em
quatro pacientes do subgrupo 2, em dois pacientes do
subgrupo 3 e foi ausente no grupo controle, no qual a
ocorrência de PL também se manifestou, porém não em
maior índice de alteração.13
Em relação à fase faríngea, pode‑se observar que a
RD manteve‑se atrasada para a consistência pastosa;
também foi observada presença de RRF para tal consis‑
tência, e 19 pacientes apresentaram alteração. Quanto ao
TTF, mostrou‑se aumentado na maioria dos indivíduos
na consistência pastosa, em 17 pacientes.
Os dados corroboram uma pesquisa que teve por ob‑
jetivo investigar efeitos da consistência do bolo alimen‑
tar na penetração/aspiração e no tempo de deglutição
em pessoas com doença de Parkinson. Os resultados
evidenciam que a ocorrência de penetração/aspiração
foi menor para a consistência pastosa grossa em relação
à fina. Contrariamente à presente pesquisa, o autor não
encontrou diferenças em relação ao tempo de trânsito
faríngeo e consistência alimentar.14
Tais resultados analisados anteriormente concordam
com um estudo que constatou que, na fase faríngea, 100%
dos pacientes apresentaram alguma alteração, sendo que
92% apresentaram estase em valéculas e recessos piriformes,
76% realizaram sucessivas deglutições para limpeza, 40%
aspiraram e apenas 12% apresentaram estase em TFE.15
Existe alta frequência de aspiração silenciosa da sali‑
va.16 No presente estudo, também foi observada AL em 4
pacientes para consistência pastosa.
Quanto à estase, evidenciou‑se em região da parede
posterior da faringe, na face laríngea da epiglote, na va‑
lécula da epiglote e em recessos piriformes, bem como
penetração laríngea e aspiração laringotraqueal.17
Tratando‑se do desempenho de pacientes com DP
na deglutição de diferentes consistências alimentares, os
resultados demonstram que a ocorrência de penetração/
aspiração foi maior para líquidos e significativamente
menos frequente para alimentos pastosos.18
Com relação à disfagia, obtiveram‑se resultados sig‑
nificativos em relação ao grau moderado, percebendo‑se
essa alteração em oito dos pacientes avaliados. O estudo
apontou também que 2 pacientes apresentaram disfagia
de grau grave, 5 apresentaram grau de disfagia discreta/
moderada e também 5 apresentaram disfagia discreta.
Neste estudo, pode‑se apontar que, em todas as con‑
sistências ofertadas, os pacientes com DP mostraram al‑
guma alteração no processo de deglutição, tanto na fase
oral quanto na fase faríngea, prevalecendo na maioria
dos pacientes avaliados a disfagia de grau moderado.
Frequentemente, a disfagia associa‑se a doenças sis‑
têmicas ou neurológicas, sendo que acomete 16%‑22%
da população com mais de 50 anos, alcançando índices
de 70%‑90% nas populações mais idosas. Nos pacientes
com doença de Parkinson, a disfagia acomete mais de
95%, ainda que apenas 15%‑20% percebam sua limitação
25/02/14 09:20
Deglutição na doença de Parkinson | 297
funcional, queixando‑se espontaneamente. A broncop‑
neumonia aspirativa é a principal causa de mortalidade
na população parkinsoniana.19
Os graus de comprometimento da disfagia encontra‑
dos no grupo 1, no qual se incluíam portadores da DP,
foram: 18 (21%) leve, 9 (11%) moderado e 16 (19%) gra‑
ve, segundo a escala proposta por Silva (1998).20 Isso dis‑
corda dos achados do presente estudo, em que a maior
parte dos pacientes apresentou disfagia moderada.
Portanto, a partir do exame de videofluoroscopia, po‑
de‑se ter uma descrição detalhada da dinâmica da deglu‑
tição de um paciente com DP, podendo determinar de
forma precisa o diagnóstico fonoaudiológico, ajudando
assim o processo de reabilitação.
ça de Parkinson, tanto na fase oral quanto na fase farín‑
gea, apresenta aspectos alterados de forma significativa,
provavelmente relacionados à lentidão e fraqueza mus‑
cular, compatíveis com disfagia moderada, em sua maio‑
ria, o que merece atenção importante do fonoaudió­logo
para o processo de reabilitação. Pode‑se mostrar, ainda, a
importância do exame de videofluoroscopia na avaliação
de pacientes com doença de Parkinson, possibilitando
visualizar e identificar alterações no processo de degluti‑
ção, que dificilmente podem ser percebidos na avaliação
clínica.
Por fim, sugere‑se a realização de novas pesquisas
nessa área, o que permitirá melhores conclusões quanto
aos dados deste estudo.
C O NCL US ÃO
C o nflito s de int e re s se
Os resultados dos laudos analisados permitem apontar
que a dinâmica da deglutição de um paciente com doen‑
Os autores declaram não possuir nenhum conflito de in‑
teresse na sua realização e publicação.
R E FE RÊ NCIA S
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17. Gasparim AZ. Eficácia da deglutição e do reflexo de tosse na doen‑
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18. Warnecke T, Oelenberg S, Teismann I, Hamacher C, Lohmann H,
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2013. Disponível em: http://www.fonovitae.com.br/uploadedfiles/
TCC%20publicacao.pdf.
25/02/14 09:20
Artigo original
298 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
Uso de plantas medicinais, obtenção,
acondicionamento e preparo de
remédios por idosas*
Nayara Machado Dias Pachêcoa, Cíntia Millena Tenório de Arrudaa,
Ednaldo Cavalcanti de Araújob, Luciana Helena Mendes Gomesa
Re s um o
Palavras‑chave
Idoso, plantas
medicinais,
fitoterapia.
Objetivo: Identificar o uso de plantas medicinais, forma de obtenção, acondicionamento e preparo de remédios
caseiros por mulheres idosas. Materiais e métodos: Estudo exploratório e descritivo, de natureza quantitativa,
realizado no Núcleo de Atenção ao Idoso (NAI), com 50 idosas, no período de janeiro a abril de 2012. Como critérios de inclusão foram considerados que todas tinham que ter 60 anos ou mais e ser alfabetizadas. Todas as que
aceitaram participar assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, após a aprovação do projeto de pesquisa
pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal de Pernambuco, sob o n.
0179.0.172.000-11 do CAEE e protocolo de n. 210/11. Após a coleta de dados, estes foram analisados mediante análise
estatística descritiva, com distribuição da frequência simples e apresentados em tabelas. A discussão foi realizada com
base na literatura. Resultados: Pode-se verificar que 97,3% das idosas costumavam se tratar e tratar seus familiares
com plantas medicinais. As plantas utilizadas eram oriundas dos mercados (55%) e de propriedades privadas (45%). O
acondicionamento era feito em embalagem (52,17%), vidro (30,43%) ou recipiente de plástico (17,39%). Revelaram conhecer o preparo correto das plantas 78% das idosas, porém apenas 6% o realizavam corretamente. Conclusão: Fez-se
importante identificar o uso de plantas medicinais, a forma de obtenção, o acondicionamento e a preparo de remédios
caseiros, visando evitar o uso inadequado e prevenir os agravos à saúde das idosas inscritas no NAI.
The use of medicinal plants, the obtaining, packaging and preparation of
remedies by elderly women
AB S T RACT
Keywords
Elderly,
medicinal plants,
phytotherapy.
Objective: To identify the use of medicinal plants, way of obtainment, packaging and preparation of home remedies by elderly women. Materials and methods: An exploratory and descriptive study, with quantitative approach,
carried out at Núcleo de Atenção ao Idoso (NAI), with 50 women in the period from January 2012 to April 2012. Inclusion criteria considered were: 60 years of age or over and to be literate. Those who accepted to participate signed
the Free Informed Form after research project approval by the Research Ethics Committee of Centro de Ciências da
Saúde, from Universidade Federal de Pernambuco under CAAE 0179.0.172.000-11 and Protocol no. 210/11. After
data collection, they were analyzed using descriptive statistics analysis with simple frequency distribution, and presented in tables. Data discussion was based on literature. Results: It can be seen that 97.3% of the elderly women
used to treat themselves and their family with medicinal plants. The plants were obtained from markets (55%) and
private properties (45%). Ppacking was done on packs (52.17%), glass (30.43%) or plastic container (17.39%). The
surveyed women revealed that 78% knew the correct preparation of the plants, but only 6% did it correctly. Conclusion: It is important to identify the use of medicinal plants, way of obtainment, packaging and preparation of home
remedies in order to avoid misuse and prevent health problems in this elderly people enrolled at NAI.
a
Graduada em enfermagem pela Universidade Federal de Pernambuco. Contribuição integral à concepção deste artigo, ao seu projeto, à
obtenção de dados, à análise, à interpretação e à revisão final.
b
Pós‑doutor em enfermagem/sociologia pela Université Paris‑Decartes, França. Contribuição integral à concepção deste artigo, ao seu
projeto, à obtenção de dados, à analise, à interpretação e à revisão final.
*Fontes de financiamento: bolsa de pesquisa Pibic/Facepe n. 1233‑4.04/10. Período de 1/8/2010 a 31/7/2011.
Dados para correspondência:
Nayara Machado Dias – Rua Joaquim Alheiros, 503. Cordeiro, Recife, Pernambuco, Brasil. Tel.: (81) 8507‑2807.
E‑mail: [email protected]
Artigo Orig 09.indd 298
25/02/14 09:20
Uso de plantas medicinais por idosas | 299
INT R O D U ÇÃ O
Um meio para fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS)
é garantir o acesso da população aos serviços básicos de
saúde e aos insumos terapêuticos, inclusive aos remédios
e tratamentos como as práticas integrativas e comple‑
mentares em saúde, dentre elas as plantas medicinais e a
fitoterapia, e componentes para a inclusão social respal‑
dada na Constituição Brasileira de 1988, segundo a qual
a saúde é um direito universal de todos.1
O uso de plantas no tratamento de enfermidades fí‑
sicas e psíquicas é uma prática ancestral, na atualidade
conhecido como “uso de remédios caseiros” e “fitotera‑
pia popular” (do grego therapeia = tratamento e phyton
= vegetal) uso das plantas medicinais na cura ou na pre‑
venção de doenças. Assim sendo, o cidadão que tem o
conhecimento de outras alternativas terapêuticas tem o
direito de escolher a que mais lhe convém e lhe dê segu‑
rança.2
No fim do século XIX, o uso de plantas medicinais
foi a terapêutica mais avançada do mundo, perdendo
espaço no século XX para os medicamentos industriali‑
zados.2 Ainda assim, neste século XXI, grande parte dos
brasileiros utiliza as plantas medicinais e a fitoterapia
como terapêuticas, principalmente a população idosa,
devido aos conhecimentos repassados de geração a gera‑
ção, em um período no qual o acesso aos medicamentos
era menos disponibilizado, e ao processo de envelheci‑
mento, que aumenta a vulnerabilidade do organismo
às agressões dos meios interno e externo, predispondo
a doenças. A “fitoterapia popular” é uma prática alter‑
nativa para os que não têm acesso à “medicina oficial”
devido aos altos custos ou por residirem em localidades
distantes dos grandes centros de saúde.3,4
Desde 1978, a Organização Mundial de Saúde (OMS)
tem incentivado os investimentos públicos em plan‑
tas medicinas, já que se observou aumento no uso pela
população e também a aceitação pelos profissionais da
saúde na atenção básica.5 Em estudo holístico realizado
por David e Deepak, observou‑se que pessoas cujo tra‑
tamento realizado era com as terapias naturais sofriam
menos efeitos colaterais e tinham resultados mais efica‑
zes que outros tratamentos. Nesse estudo, com mais de
200 pessoas, ficou comprovado que 60% das ervas utili‑
zadas apresentavam eficácia.6
Os testes realizados para a avaliação da eficácia no
uso de várias plantas medicinais no Brasil ainda são in‑
cipientes, o que desestimula aqueles que querem usar
esse recurso. Elas são utilizadas com pouca ou quase
nenhuma comprovação científica de suas ações, propa‑
gadas pelos comerciantes e usuários das mesmas. Sendo
assim, muitas vezes, são utilizadas erroneamente. Quan‑
do se compara a toxicidade das plantas medicinais com
os medicamentos industrializados, supõe‑se que por se
tratar de matéria‑prima natural sejam menos tóxicas, o
que não é verdade. A toxicidade das plantas pode levar a
Artigo Orig 09.indd 299
graves problemas de saúde.7 Com isso, os profissionais e
os serviços de saúde devem estar preparados para aten‑
der a população que faz uso dessa terapêutica.
Além do vegetal em si, são necessários outros parâ‑
metros para a segurança do uso de plantas medicinais.
As condições de coleta, armazenamento e secagem são
alguns pontos críticos necessários para garantir a segu‑
rança no uso dessa terapêutica. Dessa maneira, justifi‑
ca‑se a importância deste estudo, visto que a população
de menor poder aquisitivo não só tem dificuldade para
obter os medicamentos industrializados como também
adoece mais frequentemente, e o uso criterioso de plan‑
tas medicinais e fitoterápicos pode ser uma alternativa
para a redução dos custos com medicamentos industria‑
lizados e proporcionar melhor qualidade de vida.
Portanto, este estudo tem como objetivos identifi‑
car o uso de plantas medicinais, a forma de obtenção,
o acondicionamento e o preparo de remédios caseiros
por idosas inscritas no Núcleo de Atenção ao Idoso da
Universidade Federal de Pernambuco (NAI/UFPE), bem
como fornecer subsídios para maiores investigações so‑
bre o assunto.
M É TO D O
Estudo exploratório e descritivo, de natureza quantita‑
tiva, realizado no Núcleo de Atenção ao Idoso (NAI),
com 50 idosas, no período de janeiro a abril de 2012,
com emprego de uma entrevista semiestruturada. Como
critérios de inclusão foram consideradas idosas com 60
anos ou mais, alfabetizadas e após assinarem o termo de
consentimento livre e esclarecido.8,9
As pesquisadoras explicaram às participantes o obje‑
tivo do estudo, assegurando‑lhes a participação volun‑
tária e que poderiam se retirar da pesquisa a qualquer
momento sem prejuízo algum, garantindo‑lhes o sigilo
e a privacidade das informações. Em seguida, uma en‑
trevista semiestruturada foi realizada, composta por 18
perguntas, abrangendo caracterizações sociodemográfi‑
cas, características e uso de plantas medicinais.
No processo de análise dos dados, as plantas foram
registradas de acordo com a informação fornecida pelas
idosas, como o nome popular da planta, e os dados fo‑
ram interpretados mediante análise estatística descriti‑
va, com distribuição da frequência simples, apresentados
em tabelas e gráficos, seguida pela análise interpretativa.
A discussão foi realizada com base na literatura.
Cumprido os trâmites legais, a pesquisa foi iniciada
após obter o parecer de aprovação do Comitê de Ética e
Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde, da Universida‑
de Federal de Pernambuco/CEP/CCS/UFPE, e mediante
CAAE no 0179.0.172.000‑11 e protocolo no 210/11. Des‑
sa maneira, os princípios bioéticos – autonomia, benefi‑
cência, justiça e não maleficência – da Resolução 196 de
1996 do Conselho Nacional de Saúde/CNS, sobre pes‑
quisa com seres humanos, foram respeitados.9
25/02/14 09:20
300 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
R ESU LTAD OS
Mediante análise dos dados sociodemográficos das ido‑
sas do NAI (Tabela 1), observou‑se que, em relação ao
estado civil, a maioria era viúva (44%), seguida de ido‑
sas casadas (34%). No que se refere ao nível de escola‑
ridade, notou‑se que parte das idosas havia concluído
o ensino primário (20%) e apenas 10% cursaram o en‑
sino superior. Observou‑se também que o rendimento
médio mensal era de 1‑3 salários mínimos para 56%
das entrevistadas, contrapondo‑se à minoria sem renda
própria (34%) ou renda de um salário mínimo (10%),
destacando‑se também a prevalência das idosas apo‑
sentadas, que foram mais da metade da amostra pes‑
quisada (78%).
Das entrevistadas, 58% afirmaram que aprenderam
com familiares a usar as plantas medicinais, confirman‑
do a utilização como tradição familiar, passada de gera‑
ção a geração. Com a modernização, os conhecimentos
acerca do uso de plantas medicinais são repassados tam‑
bém pelos meios de comunicação (televisão/revistas/jor‑
nal), que no estudo realizado correspondeu a 6%, como
também através de cursos, chegando a 8% das idosas
(Tabela 2).
Tabela 1 Densidade sociodemográfica das idosas inscritas no NAI/
UFPE (Recife, 2012)
Idade
Nº
%
60‑70 anos
28
56
70 anos ou mais
22
44
Solteira
8
16
Estado civil
Viúva
22
44
Divorciada
3
6
Casada
17
34
Escolaridade
Primário completo
10
20
Primário incompleto
9
18
Fundamental completo
5
10
Fundamental incompleto
9
18
Ensino médio completo
7
14
Ensino médio incompleto
4
8
Superior
5
10
Não estudou
1
2
Ocupação
Sem ocupação
2
4
Pensionista
9
18
Aposentada
39
78
Renda
1 salário-mínimo
5
10
1‑3 salários-mínimos
28
56
Não remunerada
17
34
Artigo Orig 09.indd 300
Tabela 2 Meios de aquisição de conhecimento sobre plantas
medicinais (Recife, 2012)
Família
58%
Cursos
8%
Meios de comunicação
6%
Contatou‑se que 98% das idosas costumavam se tratar
e tratar seus familiares com plantas medicinais, confirman‑
do que a utilização torna‑se cada vez mais uma alternativa
terapêutica, sendo de grande relevância o uso correto. Se‑
gundo a OMS, cerca de 65%‑80% da população no mundo
acredita na eficácia das plantas para tratar doenças.5
A origem das plantas utilizadas pelas idosas neste es‑
tudo revelou que 55% foram oriundas dos mercados e
45% de propriedades particulares, das quais 62% possuíam
algumas dessas plantas medicinais em sua residência, o
que demonstra a facilidade de acesso como fator deter‑
minante para grande quantidade de pessoas que as uti‑
lizam como recurso terapêutico. Outro questionamento
levantado foi em relação à frequência dessa utilização,
sendo observado que 80% das idosas usavam as plantas
quando sentiam necessidade, enquanto 20% as usavam
rotineiramente. Isso leva a concluir que as idosas não
usavam apenas para tratar doenças, mas também para
preveni‑las ou pelo simples fato de gostar dos prepara‑
dos obtidos com as plantas medicinais.
Sabe‑se que as plantas possuem inúmeras substân‑
cias, muitas vezes desconhecidas, que podem influenciar
positiva ou negativamente na saúde da população. Por
isso, há necessidade do conhecimento do profissional de
saúde acerca do uso correto das plantas. No presente es‑
tudo foi constatado que mais da metade das idosas não
informava à equipe de saúde que fazia uso das mesmas,
o que correspondeu a 82%, e apenas 18% informavam
ao serviço de saúde sobre as plantas que costumavam
consumir, justificando que a equipe não tinha interesse
sobre o assunto, e cerca de 22% das idosas associavam os
fitoterápicos com medicações industrializadas.
Dados da pesquisa revelaram as plantas mais utiliza‑
das (Tabela 3), dentre elas o capim‑santo (Cymbopogon
citratus), com 20,48% das citações; 41,17% das idosas
afirmaram possuir a planta em sua residência, utilizando‑a
como calmante. Em segundo lugar está a erva‑doce
(Pimpinella anisus), com 15,66% das citações, das quais
apenas 5,88% as tinham em sua propriedade, com indi‑
cação de resolução de problemas digestivos e enxaqueca.
Em terceiro lugar, o boldo (Plectranthus barbatus), com
14,45% citações, sendo que 11,76% afirmaram que o ti‑
nham em sua residência, utilizando‑o para afecções do
sistema digestivo. A utilização do boldo para tratamento
de problemas de digestão tem seu efeito comprovado.
Em estudo realizado, os resultados mostraram a ação hi‑
possecretora gástrica, o que diminui a acidez e o volume
da secreção do suco gástrico.10
25/02/14 09:20
Uso de plantas medicinais por idosas | 301
Tabela 3 Principais plantas medicinais utilizadas pelas idosas inscritas
no NAI/UFPE (Recife, 2012)
Planta medicinal
%
Meios de acondicionamento
%
Capim‑ santo
20,48
Embalagens
52,17
Erva‑doce
15,66
Vidro
30,43
Recipiente plástico
17,39
Boldo
14,55
Hortelã
14,70
Camomila
8,43
Erva‑cidreira
6,72
Insulina
2,4
A hortelã (Mentha) e a canela (Cinnamomum zeylanicum
Breyn) apresentaram 9,63% de citações cada, sendo
que apenas 14,7% das idosas tinham a hortelã em
casa, mas não a canela; são indicadas, respectivamen‑
te, para doenças do trato respiratório e do trato diges‑
tivo. Outra planta citada foi a camomila (Matricaria
chamomilla), com 8,43% das citações; 5,4% das idosas a
tinham em sua residência com a indicação de calmante.
Por fim, a erva‑cidreira (Lippia citriodora), com 6,72%,
e a insulina (Cissus sicyoides L), com 2,4%, sendo que
a erva‑cidreira estava presente na casa de 8,8% dessas
idosas e era indicada no combate à insônia; a insulina,
na casa de 2,9%, para combater o diabetes. Outras plan‑
tas foram citadas, porém com menor frequência.
A parte da planta mais comumente utilizada foi a fo‑
lha, presente em 88% das respostas. Essa parte, quando
extraída, não impede o desenvolvimento e a reprodu‑
ção da planta, se for retirada uma porção não excessiva.
As outras partes mais utilizadas foram o caule (4%) e a
flor (8%).10 Em relação à forma de utilização das plan‑
tas medicinais (Tabela 4), observou‑se que a infusão
(chá) foi a principal forma de preparo dos remédios, o
que corresponde a 73,5%, seguida pela decocção (cozi‑
mento de parte da planta), com 23,5%, e apenas 1,5%
adicionado à comida e como pomada, respectivamente.
Informaram que o acondicionamento das plantas de‑
veria ser feito em embalagens 52,17% das participantes
da pesquisa, 30,43% em vidro e 17,39% em recipiente
plástico (Tabela 5). A planta deve ser armazenada para
ser utilizada em épocas do ano em que sua condição de
vida é mais desfavorável à colheita, devendo haver cuida‑
dos para que não seja espremida dentro da embalagem,
sendo mantida distanciada de outras espécies, principal‑
mente se for aromática.11
Tabela 4 Principais formas de utilização das plantas medicinais pelas
idosas inscritas no NAI/UFPE (Recife, 2012)
Artigo Orig 09.indd 301
Tabela 5 Forma de acondicionamento das plantas medicinais pelas
idosas inscritas no NAI/UFPE (Recife, 2012)
Meio de utilização
%
Infusão
73,5
Decocção
23,5
Comida
1,5
Pomada
1,5
De acordo com informações das idosas participan‑
tes deste estudo, quando questionadas sobre os cuida‑
dos com a coleta, preparo e indicação das plantas, 82%
afirmaram não conhecer a coleta das plantas, 78% afir‑
maram conhecer o preparo correto e 78% conheciam as
suas indicações. Todavia, foi visto que há necessidade
de essa população conhecer sobre a coleta e o preparo
dos remédios, pois apenas 6% os realizavam correta‑
mente.
Um dos questionamentos mais importantes deste es‑
tudo foi sobre se o uso dessas plantas tinha resultados
favoráveis no tratamento das doenças. Afirmaram ter
resultados benéficos com a utilização das plantas me‑
dicinais 94,6% das idosas, demonstrando paridade em
relação a outros estudos e que realmente existe função
terapêutica nas plantas medicinais, porém ainda há ne‑
cessidade da realização de mais estudos comprovando
cientificamente tais efeitos.
Por fim, as idosas foram questionadas sobre o interes‑
se em aprender mais sobre plantas medicinais, com 96%
respondendo afirmativamente. Isso comprova o interes‑
se da população senil por essa terapêutica, destacando a
grande relevância deste estudo e a necessidade de haver
maior abordagem acerca desse tema na academia e com
profissionais de saúde.
D I S C USS Ã O
Uma planta é um ser vivo acessível a toda a população,
seja qual for a raça, a escolaridade e o nível socioeconô‑
mico, pois pode ser encontrada facilmente nas residên‑
cias, mercados públicos e até mesmo nas ruas. Porém, a
população que mais busca a fitoterapia ainda é a de me‑
nor escolaridade, como também aquela de baixa renda,
podendo ser explicado pela facilidade do acesso às plan‑
tas e pelo alto custo dos medicamentos industrializados.5
Outro importante obstáculo que contribui para o trata‑
mento com plantas medicinais é, ainda nos dias atuais, a
dificuldade do acesso ao atendimento hospitalar. “Nesse
caso, as terapias alternativas são as principais formas de
tratamento, e as plantas medicinais, os medicamentos
essenciais.”12
A facilidade na obtenção e a tradição que favorecem
o uso dessas plantas podem ser evidenciadas em con‑
versas com pessoas idosas, que levam consigo muitos
conhecimentos adquiridos com seus ascendentes, para
tratar doenças que afetam o homem, e essas informa‑
25/02/14 09:20
302 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
ções são trocadas com outras pessoas de forma dinâ‑
mica.13
Grande parte das plantas utilizadas por indicação
médica ou própria não tem seu perfil tóxico total‑
mente conhecido. 5 A desinformação acerca da ação
das plantas, dos efeitos terapêuticos e colaterais, o
uso por conta própria associado com medicações in‑
dustrializadas são fatores de risco que causam pre‑
ocupação, pois podem acarretar problemas de saú‑
de. 14,15
No preparo dos remédios caseiros, algumas pessoas
costumam misturar várias plantas, o que pode ocasionar
efeitos inesperados devido à interação entre os consti‑
tuintes químicos das plantas.10
Dessa forma, reforçando que as plantas medici‑
nais e a fitoterapia são assuntos de saúde pública, cabe
aos profissionais da saúde e aos programas nacionais
da saúde (Estratégia Saúde da Família e Programa de
Agentes Comunitários de Saúde) orientar sobre o uso
correto das plantas medicinais e esclarecer as dúvidas
da comunidade.16
A falta de conhecimento, interesse e investimento na
educação continuada do profissional de saúde que está
na ponta contribui para a não notificação dos achados
pelos profissionais da saúde e o não conhecimento dos
possíveis efeitos adversos provocados pelo uso das plan‑
tas, assim como o não relato de sua utilização pelos pa‑
cientes durante as consultas.10 A não notificação dificulta
o profissional da saúde a adquirir mais informações re‑
lacionadas às plantas e à fitoterapia utilizada pelos pa‑
cientes.
Essa problemática foi comprovada através de uma
pesquisa em que a maioria dos pesquisados associava o
remédio caseiro, principalmente na forma de chá, com
os medicamentos industrializados. Assim, a associação
dos remédios caseiros com outras drogas pode vir a
causar efeito adverso, difícil de ser identificado como
reação à planta ou ao medicamento. Também pode ha‑
ver alteração do efeito de um ou de outro. Contudo, pe‑
quena parcela das idosas, por desconfiar da eficiência
das plantas, procura a cura para as doenças nos medi‑
camentos farmacêuticos, o que aponta para a tendência
das pessoas de associar as plantas medicinais com a te‑
rapia medicamentosa.17
O uso de plantas medicinais vai além do conheci‑
mento apenas da utilidade da planta, envolvendo a co‑
leta, a armazenagem e o preparo adequados. Deve‑se
evitar coletar plantas que tenham recebido agrotóxicos
ou que possivelmente estejam contaminadas, como
aquelas que estão próximas de estradas movimentadas
e rios ou lagoas poluídas. Optar sempre por aquelas que
não apresentam parasitas e não estejam queimadas. As
plantas precisam ser lavadas com água corrente e secadas
em local arejado, porque o resíduo de água predispõe à
formação de mofo.11
Artigo Orig 09.indd 302
Em relação ao armazenamento, existem fatores am‑
bientes (ar, umidade, luz, poeira, insetos) que prejudi‑
cam o acondicionamento da planta.11 Sendo assim, para
evitar o prejuízo causado pelos fatores ambientais, o
ideal é que o local de acondicionamento da planta seja
previamente limpo, removendo‑se todo e qualquer tipo
de sujidade, e o tempo de armazenamento deve ser o me‑
nor possível. Algumas embalagens podem ser utilizadas,
como fardos, sacos de papel ou plástico e recipientes de
vidros. Em hipótese alguma deve‑se utilizar ervas que
não se conhece.18
C O N C L US Ã O
Este estudo sobre plantas medicinais levou em consi‑
deração o contexto social e cultural em que o indiví‑
duo estava inserido. O homem utiliza as plantas medi‑
cinais como mais uma alternativa terapêutica devido
às informações, muitas vezes próprias de sua cultura,
que passam de geração a geração, perpetuando‑se, al‑
gumas vezes erroneamente, como também pela difi‑
culdade de acesso a terapia não integrativa de saúde.
Contudo, o uso de plantas medicinais sem os devidos
cuidados pode resultar na potencialização dos efeitos
tóxicos.
Observou‑se interesse da população pesquisada
em aprender o manejo das plantas medicinais, exal‑
tando a necessidade de educação em saúde, visto que
o uso adequado das plantas pode melhorar a quali‑
dade de vida do cidadão, como também reduzir cus‑
tos financeiros nos tratamentos de diversos males de
saúde.
No entanto, para isso, há necessidade de capacitação
dos profissionais da saúde acerca das plantas medicinais,
devido ao incipiente conhecimento da equipe da saú‑
de em relação a essa terapia alternativa para que possa
orientar e oferecer as plantas medicinais como mais uma
forma terapêutica ao cidadão.
Como sugestão pode ser produzido material in‑
formativo, na forma de folheto, contendo informações
acerca da importância das plantas medicinais, coleta,
armazenamento, preparo e modo de consumo, para que
se possa alcançar o maior número possível de adeptos à
terapia alternativa.
AG R A D E C I ME N TOS
À Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Es‑
tado de Pernambuco (Facepe), pelo oferecimento de
recursos para a realização da pesquisa, e ao Núcleo de
Atenção ao Idoso (NAI), por ter apoiado a pesquisa.
C O N F L I TOS DE I N T E R ESSE
Os autores declaram não possuir nenhum conflito de in‑
teresse na sua realização e publicação.
25/02/14 09:20
Uso de plantas medicinais por idosas | 303
R E FE RÊ NCIA S
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(Acessado em: 23/2/2012.)
25/02/14 09:20
304 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
Artigo de revisão
Intervenção fisioterapêutica
na incontinência anal Do idoso
Lucas Lima Ferreiraa, Laís Helena Carvalho Marinob,
Simone Cavenaghic
Re s um o
Palavras‑chave
Incontinência
anal, idoso,
fisioterapia
(especialidade).
O objetivo deste estudo foi agrupar e atualizar conhecimentos referentes à intervenção fisioterapêutica na incontinência anal do idoso. A pesquisa da literatura foi realizada nas bases de dados eletrônicas MedLine, Lilacs, Cochrane,
PubMed e Scielo, no período de janeiro de 2006 a julho de 2011. As palavras-chave usadas em várias combinações
foram anal incontinence, fecal incontinence, elderly, physical therapy, physiotherapy, exercises, rehabilitation e
electrotherapy. A intervenção fisioterapêutica inclui a avaliação da incontinência anal constituída pelos sinais e sintomas, exame físico e exames complementares, que incluem a manometria anorretal, a retossigmoidoscopia, a defecografia, a eletromiografia anorretal, a ultrassonografia endoanal e a latência motora terminal do nervo pudendo, os
exercícios para fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico, o biofeedback, o treinamento com balão retal e
a eletroestimulação. Essa atualização demonstrou a escassez de estudos abordando tal temática, encontrando apenas
cinco estudos publicados nos últimos anos, os quais enfatizam em sua maioria os procedimentos já consagrados
na literatura no tratamento desses pacientes. Porém, uma modalidade consideravelmente nova de tratamento, a
neuroestimulação sacral, tem sido investigada com resultados aparentemente positivos, suscitando a necessidade de
novos estudos com desenhos metodológicos específicos sobre esse problema.
Physiotherapy intervention in anal incontinence in elderly
AB S T RACT
Keywords
Anal
incontinence,
elderly, physical
therapy
(specialty).
The objective of this study was to group and update knowledge related to physical therapy intervention in anal
incontinence in the elderly. The literature research was done in electronic databases: Medline, Lilacs, Cochrane,
PubMed and Scielo, from January 2006 to July 2011. The keywords used in various combinations were anal incontinence, fecal incontinence, elderly, physical therapy, physiotherapy, exercises, electrotherapy and rehabilitation. The
physiotherapy intervention includes assessment of anal incontinence constituted by signs and symptoms, physical examination and laboratory tests, including anorectal manometry, retosigmoidoscopia, defecography, anorectal electromyography, endoanal ultrasonography and terminal motor latency of the pudendal nerve; exercises to
strengthen pelvic floor muscles, biofeedback, rectal balloon training and electrostimulation are the mainstay of
treatment. This update showed the scarcity of studies addressing this theme; only five studies published in recent
years were found, which mostly emphasize the procedures already established in the literature to treat these patients. However, a considerably new mode of treatment, sacral neurostimulation, has been investigated with apparently positive results, raising the need for further studies with specific methodological designs on this problem.
a
Fisioterapeuta. Mestrando em Fisioterapia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), Campus de Presidente Prudente. Especialista em
aprimoramento em fisioterapia pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp).
b
Fisioterapeuta doutoranda em ciências da saúde pela Famerp. Chefe do Serviço de Fisioterapia da Faculdade de Medicina de São José do
Rio Preto/ Fundação Faculdade Regional de Medicina (Famerp/Funfarme).
c
Fisioterapeuta doutora em ciências da saúde pela Famerp. Supervisora do Programa de Aprimoramento em Fisioterapia na área de fisio‑
terapia uroproctoginecológica da Famerp/Funfarme.
Dados para correspondência:
Lucas Lima Ferreira – Rua Claudionor Sandoval, 1.182, Jardim Paulista. Presidente Prudente – SP, 19023‑200.
E‑mail: [email protected]
Artigo Rev 01.indd 304
25/02/14 09:20
Fisioterapia na IA do idoso | 305
INT R O D U ÇÃ O
Incontinência anal (IA) é o nome utilizado para englobar
tanto a perda involuntária de material fecal quanto de gases.
Já a incontinência fecal (IF) pode ser caracterizada como a
incapacidade de manter o controle fisiológico do conteúdo
intestinal em local e tempo socialmente adequados, levan‑
do a perda involuntária de fezes líquidas, pastosas ou sóli‑
das.1‑4 Essa alteração funcional pode gerar insegurança, per‑
da da autoestima, angústia, depressão, transtornos físicos,
mentais e sociais, que podem contribuir para uma piora na
qualidade de vida dos indivíduos.5,6
A incontinência anal é, infelizmente, um problema
social e médico com grande impacto socioeconômico:
representa na América a segunda causa de hospitalização
de idosos em asilos e casas para idosos, com despesa de
mais de R$400 mil em fraldas e absorventes geriátricos.7
A prevalência exata dessa disfunção é desconhecida,
porém estima‑se que 2% a 7% da população apresentem
algum grau de incontinência anal.4,6,8 Esses dados não
são muito fidedignos, pois a prevalência da IA é subes‑
timada pelo fato de ser sub‑relatada, pois muitas pessoas
acometidas pela incontinência não procuram assistência
dos profissionais de saúde, devido ao medo, frustração e
vergonha.6 Sabe‑se, entretanto, que a incontinência é mais
comum em idosos e no sexo feminino, provavelmente de‑
vido a fatores relacionados ao parto e à maior prevalência
de constipação intestinal crônica nas mulheres.9,10
Embora não aumente significativamente a mortali‑
dade, a IA atinge o indivíduo física e psicologicamente,
o que resulta em seu isolamento progressivo e em altera‑
ções da imagem corporal, autoestima e identidade, além
de onerar seu portador, seja pelos custos de protetores de
roupas, seja por demandar pessoal e tratamento especia‑
lizados.11
A fisioterapia é apontada como procedimento de es‑
colha no tratamento dessas disfunções, por ser eficaz e
poder evitar ou retardar o processo cirúrgico. No caso da
IA, mediante a reeducação dos músculos do pavimento
pélvico, exercícios específicos e eletroestimulação, pode
melhorar e diminuir as disfunções da estática lombopél‑
vica, facilitando a função uroesfincteriana e promoven‑
do até a correção de outras disfunções.12
Contudo, estudos agrupando e sintetizando a abor‑
dagem da fisioterapia sobre pacientes idosos portadores
de IA não foram encontrados na literatura atual. Nesse
contexto, entende‑se a importância de estudos que reú‑
nam informações sobre o tema. Assim sendo, o objetivo
deste estudo foi agrupar e atualizar conhecimentos re‑
ferentes à intervenção fisioterapêutica na incontinência
anal no idoso.
M É TO D O
A pesquisa da literatura foi realizada nas bases de da‑
dos eletrônicas: MedLine, Lilacs, Cochrane, PubMed e
Scielo, no período de janeiro de 2006 a julho de 2011.
Artigo Rev 01.indd 305
As palavras‑chave usadas em várias combinações
foram anal incontinence, fecal incontinence, elderly,
physical therapy, physiotherapy, exercises, rehabilitation
e electrotherapy.
A pesquisa foi limitada às línguas inglesa, espanhola
ou portuguesa, com estudos realizados com seres huma‑
nos adultos de 60 anos ou mais e que tinham sido publica‑
dos nos últimos cinco anos. As referências bibliográficas
das pesquisas consultadas também foram usadas como
levantamento de publicações referentes ao tema. Foi rea‑
lizada uma análise de títulos e resumos para obtenção de
artigos potencialmente relevantes para a revisão.
Com base nos critérios preestabelecidos para esta
atualização, foram encontrados cinco artigos relevantes
ao tema proposto, além de uma publicação referente a
um protocolo de estudo com dois modelos de interven‑
ção sobre a incontinência a serem testados, que serão
apresentados a seguir com base em seus objetivos, me‑
todologia, resultados e conclusões. Antes, porém, será
abordado um ponto relacionado à avaliação fisiotera‑
pêutica na IA como forma de nortear os profissionais
da área sobre os principais focos da investigação dessa
condição patológica.
Avaliação fisioterapêutica na IA
A avaliação da incontinência anal inclui a avaliação clí‑
nica, constituída pelos sinais, sintomas e exame físico,
além dos exames complementares, que incluem a mano‑
metria anorretal, a retossigmoidoscopia, a defecografia,
a eletromiografia anorretal, a ultrassonografia endoanal
e a latência motora terminal do nervo pudendo.7,13
O exame físico é dividido em inspeção, palpação e
testes especiais, buscando identificar anormalidades
estruturais nos mecanismos de controle da defecação,
como, por exemplo, prolapsos, hemorroidas, cicatrizes,
fibroses, impactação, sinais de hipoestrogenismo, além
de indicações de anormalidades neurológicas. Inclui
também a avaliação da capacidade de locomoção e posi‑
cionamento para defecar e das condições da musculatu‑
ra pélvica estriada, como força, resistência, elasticidade e
tonicidade muscular.1,13
A história clínica é geralmente focada nos sinais e
sintomas que caracterizam o funcionamento intestinal,
como frequência e duração das perdas e das evacuações,
consistência das fezes, presença de urgência, diarreia, fla‑
tulência e constipação, e uso de proteção. Inclui, ainda,
um relato da história cirúrgica e de doenças em outros
sistemas que podem se relacionar com a ocorrência de
incontinência, uso de medicações, hábitos alimentares,
avaliação do estado mental e emocional.1,13 Para melhor
avaliação da IA, vários autores têm proposto um sistema
de quantificação, que considere a intensidade e a frequ‑
ência da perda, através de uma graduação numérica da
gravidade.13,14 Essa avaliação permite a comparação da
efetividade das propostas terapêuticas e entre pacientes,
25/02/14 09:20
306 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
grupos e tipos de tratamento. As escalas Continence
Grading Scale (índice da incontinência anal) e Fecal
Incontinence Severity Index (FISI) são as mais utilizadas
nos ensaios clínicos.15‑17
Intervenção fisioterapêutica na IA do idoso
A intervenção fisioterapêutica da incontinência anal
consiste em treinos para aumentar a capacidade contrá‑
til e no controle voluntário do esfíncter anal externo e
do elevador do ânus, que respondem à distensão retal.18
Desse modo, segundo Sobreira,19 o tratamento fisiotera‑
pêutico de pacientes com incontinência anal tem como
objetivos: melhorar a propriocepção vesical, retal e peri‑
neal; tonificar os músculos do assoalho pélvico, aumen‑
tando sua funcionabilidade, através da melhora da coor‑
denação, força e resistência muscular, e da sensibilidade
anorretal; melhorar o reflexo de fechamento perineal ao
esforço; melhorar o ciclo de continência‑evacuação.
Costa & Santos20 realizaram um estudo de caso com
o objetivo de avaliar a eficiência do biofeedback e cine‑
sioterapia na capacidade contrátil e propriocepção do
assoalho pélvico em mulheres portadoras de inconti‑
nência anal. Foram avaliadas duas mulheres idosas com
diagnóstico de IA, de forma objetiva, por intermédio do
biofeedback, e subjetiva por meio da avaliação funcional
do assoalho pélvico (AFA) e do índice de incontinência
anal (IIA), comparando os resultados antes e depois do
tratamento. As pacientes realizaram o protocolo fisio‑
terapêutico, que consta de biofeedback, e exercícios de
Kegel na bola suíça. Ambas as pacientes realizaram 16
sessões, três vezes por semana. Os resultados mostraram
melhora clínica das pacientes e ausência dos sintomas de
incontinência anal.
Estudo realizado com o objetivo de analisar, prospec‑
tivamente, a capacidade de testes para prever o resultado
da reabilitação do assoalho pélvico em pacientes com in‑
continência fecal (IF) selecionou 250 pacientes idosos que
foram submetidos a avaliação e testes específicos. Poste‑
riormente, os pacientes foram encaminhados para reabili‑
tação do assoalho pélvico por meio de um protocolo que
incluía treinamento com balão retal, estimulação elétrica
e/ou feedback eletromiográfico. Os resultados da reabilita‑
ção do assoalho pélvico foram quantificados pelo índice
de incontinência Vaizey (IIV). Análises de regressão line‑
ar foram utilizadas para identificar candidatos preditores e
para a construção de um modelo de previsão multivariada
para a pontuação Vaizey pós‑tratamento. O IIV no início
do estudo foi de 18,3 (±3). A média de pontuação Vaizey
após a reabilitação do assoalho pélvico foi de 15,0 (±5),
redução média de 3,2 pontos (95% IC: –2,6 para –3,9; p
< 0,001). Testes adicionais têm papel limitado na previsão
de sucesso de reabilitação do assoalho pélvico em pacien‑
tes com incontinência fecal.21
Navarro et al.22 relataram a experiência inicial no
tratamento da incontinência fecal (IF) com neuromodu‑
Artigo Rev 01.indd 306
lação de raiz sacral (NRS), demonstrando os resultados
de um estudo prospectivo com 26 pacientes idosos nos
quais escores basais da escala Wexner‑Cleveland e capa‑
cidade de adiar a defecação foram comparados com os
resultados após um ano com NRS. Foi utilizado estudo
inicial dos pacientes, incluindo anamnese, exame geral,
ultrassonografia anal, manometria, diário de três sema‑
nas de continência e qualidade de vida específico para
IF. Antes de NRS, a média de pontuação da escala Wex‑
ner‑Cleveland foi 15,00 (±1,81), e 62,5% dos pacientes só
podiam retardar a evacuação por menos de um minuto.
Depois de um ano com NRS, a pontuação média da esca‑
la foi de 4,87 (±2,54) (p = 0,0031), e 75,01% dos pacientes
puderam retardar a defecação acima de 15 minutos (p =
0,0018). A NRS é uma técnica eficaz para o tratamento
de IF em pacientes adequadamente selecionados, sem
resposta a terapias médicas (incluindo biofeedback) ou
a correção anatômica (esfincteroplastia), com eficácia,
pouca morbidade e tratamento de curta duração.
Outro estudo com paciente portador de IF teve como
objetivo demonstrar que o biofeedback constitui impor‑
tante meio terapêutico para o tratamento da dissinergia
do assoalho pélvico. Tratou‑se de um estudo de caso, de
um paciente de 62 anos que apresentava IF e anismo, e
que realizou tratamento com biofeedback. No total, foram
realizadas 10 sessões de biofeedback. Para complementar
as sessões, utilizou‑se o método de cinesioterapia domi‑
ciliar, utilizando exercícios de contração e relaxamento do
esfíncter anal similares aos realizados nas sessões de ree‑
ducação esfincteriana retoanal no consultório. O paciente
apresentou grande evolução, com diminuição da dissiner‑
gia pélvica e da incontinência fecal, melhora do controle
esfincteriano e da qualidade de vida. Assim, após a rea‑
lização desse estudo, pôde‑se inferir que a associação do
treinamento com biofeedback e a cinesioterapia domiciliar
auxiliou no tratamento dessa enfermidade.23
Bols et al.24 publicaram um protocolo de estudo an‑
tes de obter resultados, para investigar a eficácia de duas
intervenções de fisioterapia: treinamento com balão re‑
tal (TBR) e treinamento muscular do assoalho pélvico
(TMAP) na gestão da IF. Trata‑se de um ensaio clínico
randomizado controlado com 106 pacientes que recebe‑
rão TMAP combinado com TBR ou TMAP sozinho. As
medidas de base consistirão em IIV, história clínica, exa‑
me físico, uso de medicamentos, exames complementares,
diário de sintomas, escala de qualidade de vida em incon‑
tinência fecal (FIQL) e o escore Prefab. As avaliações se‑
rão programadas em três, seis e 12 meses após a inclusão.
Doze sessões de fisioterapia serão administradas durante
três meses, de acordo com um protocolo padronizado. O
TMAP consiste na coleta seletiva de contrações voluntá‑
rias e relaxamento dos músculos do assoalho pélvico e
do esfíncter anal. Já o TBR consiste em um balão ligado a
uma seringa, introduzido no reto e lentamente insuflado
com ar para imitar o conteúdo retal, pelo qual o limiar
25/02/14 09:20
Fisioterapia na IA do idoso | 307
sensorial, a sensação de urgência e o volume máximo tole‑
rado são avaliados. A hipótese é que pacientes que recebe‑
rem o treinamento combinado terão uma redução maior
na medida de desfecho primário.
Um estudo realizado com 19 pacientes com o objeti‑
vo de investigar se a neuromodulação nervossacral pode
melhorar pacientes com distúrbios de motilidade intes‑
tinal, com incontinência resistente durante seis anos, de‑
monstrou que a continência melhorou em todos os 24
meses (variação de 30‑60 meses), com 14 pacientes com‑
pletamente continentes. Os episódios de incontinência
diminuíram (p < 0,001), e a urgência e a qualidade de
vida melhoraram (p < 0,05). A pressão de contração
voluntária anal (p = 0,001) e a sensação retal (p < 0,01)
melhoraram. Essa pesquisa fornece fortes evidências de
que a estimulação do nervo sacral pode melhorar os pa‑
cientes com incontinência resistente e prova de conceito
para o tratamento da constipação.25
– físico, social e emocional –, devendo, portanto, ser
enfatizada uma abordagem multidisciplinar sobre es‑
ses pacientes. Nesse contexto, a intervenção fisiotera‑
pêutica se faz essencial e imprescindível, uma vez que
é apontada como procedimento de primeira escolha
nessa disfunção.
Apesar de a afirmação ser compartilhada na comu‑
nidade médico‑científica, essa atualização demonstrou a
escassez de estudos abordando tal temática, encontran‑
do apenas cinco estudos publicados nos últimos anos,
os quais enfatizam em sua maioria os procedimentos
já consagrados na literatura, cinesioterapia do assoalho
pélvico e biofeedback, no tratamento desses pacientes.
Porém, uma modalidade consideravelmente nova de tra‑
tamento, a neuroestimulação sacral, tem sido investiga‑
da com resultados aparentemente positivos, suscitando a
necessidade de novos estudos com desenhos metodoló‑
gicos específicos sobre esse problema.
C O NCL US ÃO
C o n f lito s de int e re s se
A incontinência anal no idoso constitui grave dis‑
função, atingindo os portadores em todos os campos
Os autores declaram não possuir nenhum conflito de in‑
teresse na sua realização e publicação.
R EFE RÊ NCIA S
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with fecal incontinence: design of the PhysioFIT‑study. BMC Pub‑
lic Health. 2007; 7:355.
25. Kenefick NJ. Sacral nerve neuromodulation for the treatment
of lower bowel motility disorders. Ann R Coll Surg Engl. 2006;
88:617‑23.
25/02/14 09:20
308 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
Artigo de revisão
Qual a via mais adequada
para a alimentação de idosos
com demência avançada:
oral ou enteral?
Marco Túlio Gualberto Cintraa, Nilton Alves de Rezendeb,
Henrique Oswaldo da Gama Torresc
Re s um o
Palavras‑chave
Demência,
gastrostomia,
nutrição enteral,
mortalidade,
transtornos da
deglutição.
Introdução: O cuidado dos idosos com demência em fase avançada apresenta importantes lacunas do conhecimento, principalmente naqueles com disfagia orofaríngea em que são utilizadas vias alternativas de alimentação em
detrimento da via oral. Existem controvérsias quanto ao emprego sistemático de gastrostomia ou sonda enteral para
alimentar essa população. Objetivos: Verificar a efetividade das vias alternativas de alimentação em relação aos
desfechos sobrevida, incidência de pneumonia, prevalência e cicatrização de úlceras por pressão, estado nutricional
e qualidade de vida através de revisão da literatura. Metodologia: Pesquisa nas bases de dados Medline, Lilacs e
Scielo, utilizando como descritores as palavras demência, gastrostomia e nutrição enteral, e seus equivalentes em
inglês, em todo o período de existência das bases de dados até dezembro de 2012, limitados aos idiomas inglês,
português e espanhol. Foram excluídos os editoriais, as revisões não sistemáticas e as cartas ao editor. Dos artigos
encontrados, foram selecionados para esta revisão somente trabalhos de coorte retrospectiva ou prospectiva que
comparam idosos com via alternativa de alimentação com pacientes com via oral exclusiva. Resultados: Foram
encontrados 364 artigos. Destes, apenas nove preencheram todos os critérios de inclusão. Não foram evidenciados
benefícios das vias alternativas de alimentação em nenhuma das variáveis estudadas entre idosos em fase avançada
de demência. Conclusão: Não há evidência na literatura de benefício das vias alternativas de alimentação em
relação à sobrevida, incidência de pneumonia aspirativa, cicatrização de úlceras por pressão, estado nutricional e
qualidade de vida nos pacientes com demência em fase avançada.
What is the most appropriate route to feed elderly patients with
advanced dementia: oral or enteral?
AB S T RACT
Keywords
Dementia,
gastrostomy,
enteral nutrition,
mortality,
deglutition
disorders.
Introduction: Care of the elderly with dementia in advanced stages has important knowledge gaps, especially in
those with oropharyngeal dysphagia in whom tube feeding, rather than oral feeding, is used as an alternative route.
There are controversies about the systematic use of gastrostomy or enteral feeding to feed this population. Objectives: To verify, through literature overview, the effectiveness of tube feeding in relation to survival, pneumonia incidence, prevalence and healing of pressure ulcers, nutritional status and quality of life. Methodology: A database
search in MEDLINE, LILACS and SciELO using as descriptors the Portuguese words for dementia, gastrostomy and
enteral nutrition and their equivalents in English for the whole database existence until December 2012, limited to
English, Portuguese and Spanish languages. We excluded editorials, non-systematic overviews and letters. Among the
articles found, only prospective studies, or retrospective cohorts comparing elderly with alternative route feeding and
patients with exclusive oral route, were selected for this overview. Results: Three hundred sixty four articles were
found. Of these, only nine met all the selection criteria. The studies selected were not able to demonstrate benefits
of gastrostomy and enteral nutrition in any of the variables studied in the elderly in an advanced stage of dementia.
Conclusion: There is no evidence in the literature that alternative routes of feeding improve survival outcomes,
aspiration pneumonia, pressure ulcers, nutritional status and quality of life in patients with advanced stage dementia.
Mestre em saúde do adulto, UFMG. Professor substituto do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG.
Pós‑doutor em epidemiologia clínica, UFMG. Professor associado do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG.
c
Doutor em saúde do adulto, UFMG. Professor adjunto do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG.
a
b
Dados para correspondência:
Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina da UFMG, Avenida Professor Alfredo Balena, 190, 2º andar, sala 246, bairro Santa
Efigênia. CEP: 30130‑100. Belo Horizonte‑MG, Brasil. E‑mail: [email protected]
Artigo Rev 02.indd 308
25/02/14 09:20
Demência avançada e dieta enteral | 309
In tr o d ução
O envelhecimento populacional está aumentando a pre‑
valência de doenças neurodegenerativas em todo o mun‑
do.1 As demências constituem um grupo de doenças que
acometem a funcionalidade e ao menos dois domínios
da cognição, resultando em alto grau de dependência.2 A
fase mais avançada caracteriza‑se pela perda do controle
esfincteriano, incapacidade para deambular e desenvol‑
vimento de disfagia orofaríngea.3
Diante de quadros de disfagia associados à demência,
geralmente é indicado por médicos e fonoaudiólogos o
uso de vias alternativas de alimentação, em geral a sonda
nasoenteral ou a gastrostomia, com o objetivo de prote‑
ger o paciente de pneumonia de aspiração, melhorar o
estado nutricional e promover a cicatrização de úlceras
por pressão.4,5 Nos Estados Unidos, estudos apontam que
18%–34% dos pacientes com demência nas instituições
de longa permanência para idosos (ILPIs) estão em uso
de vias alternativas.6‑8 Naquele país, a prevalência de gas‑
trostomia entre os pacientes com demência aumentou de
5% para 10% entre 1993 e 2003.9
Todavia, as evidências científicas são contraditórias
quanto ao benefício do uso de gastrostomia e cateter na‑
soentérico nessas situações. Uma revisão de 2009 da The
Cochrane Library avaliou os estudos até então disponíveis
sobre a utilização das vias alternativas de alimentação, sele‑
cionando os artigos publicados de maior impacto e melhor
metodologia, concluindo que não há evidência científica
do benefício das vias alternativas.10 Em 2010, a American
Society for Parenteral & Enteral Nutrition (ASPEN), por
meio da ASPEN Ethics Position Paper Task Force, declarou
que a administração de dieta enteral pode não resultar em
qualquer benefício, além de estar associado a alguns riscos
em pacientes com demência avançada. Afirmou ainda que
a prescrição de vias alternativas de alimentação não pro‑
move a cicatrização de úlceras por pressão, não reduz o
risco de pneumonia de aspiração, não aumenta o conforto
do paciente, não melhora a funcionalidade e não aumenta
a sobrevida, quando comparada com a manutenção da via
oral.11 Entretanto, Regnard et al. questionaram por meio de
um editorial se a evidência contra o uso das vias alternati‑
vas deriva de erros metodológicos dos estudos atualmente
disponíveis.12 Publicações recentes não relacionam a de‑
mência avançada com maior mortalidade após implemen‑
tação da via alternativa de alimentação.13‑15
Esta revisão tem como objetivo verificar a efetividade
das vias alternativas de alimentação nos pacientes com
demência avançada e disfágicos, em relação aos desfe‑
chos sobrevida, incidência de pneumonia de aspiração,
desenvolvimento e cicatrização de úlceras por pressão, e
quanto ao estado nutricional e à qualidade de vida.
M e tod ol og ia
A revisão sistemática da literatura foi realizada nas bases
de dados Medline, Lilacs e Scielo em todo o período de
Artigo Rev 02.indd 309
publicação dessas bases até dezembro de 2012. Foram
utilizados os seguintes descritores e seus correspon‑
dentes em inglês e espanhol com o operador booleano
AND: demência avançada, disfagia orofaríngea, nutrição
enteral. A busca inicial foi realizada sem nenhum tipo
de restrição. As referências bibliográficas dos artigos de
revisão encontrados foram avaliadas em busca de pu‑
blicações não selecionadas por meio das bases de dados
consultadas. Foram verificados e retirados os resultados
encontrados de forma duplicada. Posteriormente, foram
excluídas as revisões, as cartas ao editor e os editoriais.
A pesquisa foi limitada a trabalhos publicados nos idio‑
mas inglês, português e espanhol. Após leitura crítica
dos resumos, foram selecionados para leitura completa
apenas os trabalhos de coortes prospectivas ou retros‑
pectivas com pacientes com demência avançada em que
havia comparação entre a via oral e as vias alternativas
de alimentação e nas quais os desfechos eram aumento
de sobrevida, redução da incidência de pneumonia de
aspiração e redução da prevalência ou melhora da cica‑
trização de úlceras por pressão.
R e s u ltad o s
A pesquisa resultou em 364 artigos, sendo que 53 eram
artigos repetidos e 36 em outro idioma que não o inglês,
o espanhol ou o português, restando 287 trabalhos para
a leitura dos resumos. Após a leitura dos resumos, foram
excluídos 122 editoriais, revisões e cartas ao editor. Dos
demais 165 artigos, foram excluídos estudos que não en‑
volviam diretamente o assunto em análise (101), além de
artigos de metodologia qualitativa (3), relatos de caso (8)
e estudos transversais (10). Ao final do processo, foram
selecionados 43 estudos para a leitura crítica completa
do artigo e aplicação dos critérios de inclusão e exclusão.
Após essa avaliação, restaram 9 artigos, 7 coortes pros‑
pectivas e duas coortes retrospectivas que atendiam a
todos os critérios de inclusão, analisados detalhadamen‑
te quanto à metodologia e aos desfechos em estudo. Os
motivos de exclusão dos artigos selecionados para leitura
completa são descritos na Tabela 1.
Ava l ia ç ã o da m e to d o lo gia do s
estudos
Na Tabela 2 encontram‑se resumidos os dados metodo‑
lógicos dos 9 artigos selecionados para análise.
Teno et al. (2012) desenvolveram uma coorte pros‑
pectiva de 3.170 idosos institucionalizados nos Estados
Unidos, por meio de base de dados utilizada naquele
país, Minimim Data Set (MDS), para avaliar se o uso de
vias alternativas de alimentação reduz a incidência de úl‑
ceras por pressão e se promove a cicatrização dessas úl‑
ceras. Foram incluídos dementados que evoluíram para
o Cognitive Performance Scale (CPS) 6, indicando neces‑
sidade de auxílio para alimentação e alto nível de declínio
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310 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
Tabela 1 Análise dos artigos não selecionados para revisão
Detalhamento do motivo de não inclusão
Kumagai et al. (2012)
Ausência de inclusão de grupo de pacientes com via oral exclusiva, seleção de vários tipos diferentes de demência e
possibilidade de inclusão de idosos com demência em fase não avançada16
Goldfeld et al. (2012)
Os pacientes com demência avançada avaliados não foram subdivididos em grupos via oral exclusiva e via
alternativa de alimentação. Não foi discriminada a etiologia da demência dos pacientes selecionados17
Shintani (2012)
Presença de grupo de pacientes com nutrição parenteral, inclusão de pacientes em fase leve a moderada de demência
e inclusão de idosos com incapacidade cognitiva por doença de Parkinson e após acidentes vasculares encefálicos18
Martins et al. (2012)
Menos de 50% da amostra com demência, ausência de grupo controle de idosos com demência em fase avançada em
uso de via oral exclusiva, ausência de critérios validados para o diagnóstico e classificação da gravidade da demência19
Malmgren et al. (2011)
Menos de 50% da amostra apresenta diagnóstico de demência, ausência de grupo controle de idosos em fase
avançada de demência em uso de via oral e de critérios para classificação da gravidade desse quadro13
Suzuki et al. (2010)
Ausência de grupo controle de pacientes com demência avançada disfágicos e em uso de via oral exclusiva. Menos
de 50% da amostra constituída por pacientes com demência; ocorreu inclusão de idosos em fase leve a moderada
dessa enfermidade14
Tominaga et al. (2010)
Os pacientes com diagnóstico de demência representam menos de 50% da amostra. Não há grupo controle com
essa enfermidade na fase avançada e sem uso de via alternativa de alimentação. Não foram definidos critérios para
classificação de gravidade da patologia20
Kuo et al. (2009)
O artigo atende aos critérios de inclusão, todavia não foram realizadas análises comparando o grupo controle com o
grupo intervenção nas variáveis de interesse desse estudo de revisão21
Gaines et al. (2009)
Grupo controle constituído por idosos sem demência, presença de pacientes no grupo intervenção com incapacidade
cognitiva de etiologia não demencial e ausência de critério padronizado para classificar a gravidade do quadro15
Attanasio et al. (2009)
Ausência de grupo controle de idosos com demência avançada sem uso de via alternativa e falta de critérios para
determinar fase da demência na amostra selecionada22
Chicharro et al. (2009)
A maioria dos pacientes apresenta doenças neurológicas, mas não é descrita a proporção que apresenta demência.
Ausência de grupo controle em uso de via oral exclusiva23
Morello et al. (2009)
Ausência de grupo controle com demência avançada sem uso de vias alternativas, não foram discriminados os
tipos de doenças neurodegenerativas incluídas e podem ter sido selecionados idosos com demência em fase leve a
moderada da enfermidade24
Higaki et al. (2008)
Grupo controle constituído por pacientes sem demência e ausência de avaliação padronizada do estado de gravidade
da patologia em estudo25
Shah et al. (2005)
Ausência de grupo controle com demência avançada em uso de via alternativa de alimentação e menos de 50% da
amostra constituída por idosos com quadros demenciais26
Rimon et al. (2005)
Menos de 50% da amostra apresenta diagnóstico de demência e não há grupo controle de idosos em fase avançada
da patologia em uso de via oral exclusiva27
Zalar et al. (2004)
Menos de 50% de pacientes com demência, ausência de grupo controle de idosos em fase avançada de demência em
uso exclusivo de via oral e ausência de classificação padronizada para definir a gravidade do quadro28
Ureña et al. (2004)
Menos de 50% da amostra com demência, inclusão de diversas etiologias de demência, ausência de critérios
padronizados para definir a etiologia da demência, ausência de grupo controle sem uso de vias alternativas29
De Luis et al. (2003)
Foram incluídos pacientes com doenças neurológicas, sem discriminar o tipo de enfermidade. Não há grupo
controle sem uso de vias alternativas de alimentação30
R Oman et al. (2003)
Menos de 50% dos pacientes apresentam demência e estes pacientes foram agrupados com outras enfermidades
neurológicas nas análises. Não foram realizadas comparações entre os grupos via oral e via alternativa de alimentação31
Pfitzenmeyer et al.
(2002)
Menos de 50% da amostra apresenta demência e ausência de grupo com via oral exclusiva de alimentação32
Paillaud et al. (2002)
Menos de 50% da amostra apresenta demência, ausência de grupo controle em uso de via oral exclusiva e não foram
utilizados critérios validados para o diagnóstico e gravidade da demência33
Schneider et al. (2001)
Menos de 50% da amostra composta por pacientes com demência e não há grupo controle com via oral exclusiva de
alimentação34
Dwolatzky et al. (2001)
Ausência de grupo controle de pacientes com demência avançada disfágicos em uso de via oral de alimentação e
ausência de critérios padronizados para definição de gravidade da patologia35
Sanders et al. (2000)
Menos de 50% da amostra apresenta demência. Ausência de grupo controle de idosos em uso de via oral exclusiva.
Ausência de critérios padronizados para definição de gravidade da demência36
Abuksis et al. (2000)
Os grupos em estudo diferem significativamente quanto ao percentual de pacientes com demência e não há
utilização de critérios padronizados para determinar o nível de gravidade dos idosos com demência37
Callahan, C.M. et al.
(2000)
Menos de 50% da amostra apresenta diagnóstico de demência. Ausência de grupo controle com pacientes com via
oral exclusiva38
Löser et al. (1998)
Menos de 50% da amostra apresenta o diagnóstico de demência. Ausência de grupo controle em uso de via oral
exclusiva de alimentação39
(continua)
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Demência avançada e dieta enteral | 311
(continuação)
Detalhamento do motivo de não inclusão
Feinberg et al. (1996)
Menos de 50 % da amostra apresenta demência. Não foram utilizados critérios validados para definição da fase da
demência40
Fox et al. (1995)
Menos de 50% da amostra com demência. Inclusão de grupo submetido à jejunostomia na análise. Ausência de
grupo controle com via oral exclusiva. Seguimento realizado somente até a alta hospitalar41
Kaw e Sekas (1994)
Ausência de grupo controle com demência em uso de via oral exclusiva de alimentação. Possível inclusão de
pacientes em fase leve a moderada devido à ausência de instrumento padronizado para esta avaliação42
Weaver et al. (1993)
Menos de 50% da amostra apresenta demência, ausência de grupo controle sem vias alternativas de alimentação
e ausência de critérios estabelecidos para o diagnóstico etiológico da demência, assim como da gravidade da
enfermidade43
Henderson et al. (1992)
Menos de 50% da amostra apresenta demência. Ausência de grupo controle com via oral exclusiva. Não foram
utilizadas escalas validadas para determinar a gravidade da demência44
Volicer et al. (1989)
Foram incluídos diversos tipos de demência não Alzheimer, recrutamento de idosos em fase leve a moderada de
demência e não foram incluídos idosos em uso de via alternativa de alimentação45
Ciocon et al. (1988)
Menos de 50% da amostra apresenta demência. Ausência de grupo controle em uso de via oral exclusiva. Não foram
empregados instrumentos validados para o diagnóstico e determinação da gravidade da demência46
Tabela 2 Análise metodológica dos estudos selecionados
Desenho do estudo
Seguimento
(meses)
Amostra
Vieses
Teno, 2012
Observacional
Coorte
Prospectiva
12 meses
3.170
idosos, 50%
com VA
Subnotificação de úlceras por pressão em estágio menos
grave e ausência de discriminação do tipo de via alternativa
empregada a cada paciente na base de dados Minimim Data
Set (MDS); nem todos os pacientes incluídos na amostra eram
disfágicos
Arinzon,
2008
Observacional
Coorte
Prospectiva
24 meses
167 idosos,
57 com VA
Os pacientes do grupo controle apresentam maior
pontuação do miniexame do estado mental (MEEM) e
maior independência para atividades de vida diária básicas
(ABVDs). Há possibilidade de inclusão de idosos sem
demência. A amostra é composta somente por pacientes
institucionalizados e o estudo é unicêntrico
Jaul, 2006
Observacional
Coorte
Prospectiva
17 meses
88 idosos,
62 com VA
Presença de várias patologias neurológicas nos grupos e
ausência de pareamento. O estudo é unicêntrico
Alvarez‑Fernández,
2005
Observacional
Coorte Prospectiva
30 meses
67 idosos,
14 com VA
Ausência de equiparação entre os grupos e o número pequeno
de pacientes com via alternativa de alimentação. O índice de
institucionalização é alto (52%) e o estudo é unicêntrico
Murphy, 2003
Observacional
Coorte
Retrospectiva
24 meses
41 idosos,
23 com VA
Falta de comparabilidade entre os grupos e a não foram
divulgados os critérios utilizados para o diagnóstico de
demência. A amostra é pequena e constituída exclusivamente
por idosos do sexo masculino. Somente foram avaliados os
pacientes atendidos especificamente por uma única equipe
de saúde
Meier, 2001
Observacional
Coorte
Prospectiva
59 meses
99 idosos,
68 com VA
Há ausência de equiparação entre os grupos, ausência de
informação sobre o tipo de via alternativa em parte da
amostra e alto índice de institucionalização. O estudo é
unicêntrico
Nair, 2000
Observacional
Coorte
Prospectiva
6 meses
88 idosos,
55 com VA
Há ausência de equiparação com os controles (não há certeza
se apresentam demência), ausência da descrição da fase da
demência e a caracterização do tipo de demência em cada
grupo. Observa‑se alto índice de institucionalização no grupo
com vias alternativas e desconhecido nos controles. O estudo
é unicêntrico
Mitchell, 1997
Observacional
Coorte Prospectiva
24 meses
1.386
idosos, 135
com VA
Recrutamento de pacientes sem demência, ausência de
equiparação entre os grupos intervenção e controle, além de
recrutamento exclusivo de pacientes institucionalizados como
os vieses. Deve‑se destacar a impossibilidade de determinar o
tipo de via alternativa prescrita pela base de dados MDS
Peck, 1990
Observacional
Coorte
Retrospectiva
6 meses
104 idosos,
52 com VA
Os dados foram obtidos retrospectivamente em prontuários,
havendo ausência de equiparação entre os grupos intervenção
e controle, presença de pacientes sem diagnóstico de
demência entre os controles, sendo incluídos apenas
indivíduos institucionalizados
VA: via alternativa de alimentação.
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312 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
funcional, que haviam necessitado de internação nos 12
meses anteriores ao recrutamento. Excluíram‑se pacien‑
tes que faleceram em menos de duas semanas de segui‑
mento. Foram formados dois grupos – um com úlcera
por pressão e outro sem úlcera por pressão –, sendo que
esses grupos foram subdivididos conforme a presença ou
a ausência de via alternativa de alimentação. Optou‑se
pela relação de um paciente com úlcera por pressão para
cada 3 idosos recrutados sem úlcera por pressão. Não fo‑
ram detectadas diferenças significativas entre os grupos
via oral exclusiva e via alternativa de alimentação, exceto
a maior proporção de casados e mais distúrbios de de‑
glutição entre os idosos com via alternativa.47
Arinzon et al. (2008) estudaram idosos instituciona‑
lizados em Israel, por meio de uma coorte prospectiva
com duração de 24 meses, que foram randomizados em
dois grupos: 110 em uso de via oral (76% recebendo su‑
plementos alimentares) e 57 em uso de vias alternativas
de alimentação, sendo 74% por meio de cateter nasoen‑
térico.48
Jaul et al. (2006) conduziram estudo observacional
prospectivo com duração de 17 meses e amostra de 88
pacientes com doenças neurológicas em Israel, incluindo
idosos com demência avançada e disfagia, entre os quais
62 com cateter nasoentérico. No grupo com cateter ha‑
via 68% de pacientes com demência versus 36% entre os
pacientes com via oral.49
Alvarez‑Fernández et al. (2005) realizaram estudo
observacional prospectivo com 67 pacientes com de‑
mência avançada na Espanha, classificados pelo Func‑
tional Assessment Staging (FAST) como 7A ou mais
avançado, 14 deles com cateter nasoenteral, com segui‑
mento de 832 dias.50
Murphy et al. (2003) desenvolveram uma coorte re‑
trospectiva, com duração de 2 anos dos pacientes com
demência avançada encaminhados para realização de
gastrostomia endoscópica, todos veteranos do exército
dos Estados Unidos, comparando 23 idosos nos quais
o procedimento foi realizado com os 18 pacientes nos
quais não se realizou o procedimento. Utilizou‑se a cur‑
va de sobrevida de Kaplan‑Meier.51
Meier et al. (2001) promoveram nova análise de 99
pacientes internados nos Estados Unidos com demência
avançada (mínimo FAST 6D) incluídos em uma coorte
destinada a avaliar a intervenção de cuidados paliativos.
Desses pacientes, 31 receberam alta sem via alternativa
de alimentação, 17 foram admitidos em uso de via alter‑
nativa de alimentação (não descrito o tipo) e 52 pacientes
foram submetidos a gastrostomia endoscópica durante a
internação. O período de recrutamento estabelecido foi
de 3 anos e o seguimento mínimo de 2 anos, por meio de
contato telefônico trimestral.52
Nair et al. (2000) realizaram seguimento nos Estados
Unidos, por 180 dias, de 55 pacientes com demência que
foram submetidos a gastrostomia endoscópica e 33 ido‑
Artigo Rev 02.indd 312
sos em uso de via oral. Os critérios de exclusão foram de‑
pendência de ventilação mecânica e presença de outras
patologias ameaçadoras à vida.53
Mitchell et al. (1997) recrutaram pacientes institucio‑
nalizados dos Estados Unidos por meio de base de dados
Minimim Data Set (MDS) com Cognitive Performance
Scale (CPS) entre 0‑5 pontos que evoluíram nos 24 me‑
ses seguintes até o nível CPS 6 pontos (nível máximo de
dependência da escala). Foram comparados os pacien‑
tes que necessitaram de vias alternativas de alimentação
com os que não necessitaram. Ao todo, 1.386 idosos al‑
cançaram os critérios de inclusão e 135 (9,7%) necessita‑
ram de vias alternativas de alimentação.54
Peck et al. (1990) conduziram uma coorte retrospec‑
tiva de 104 idosos norte‑americanos institucionaliza‑
dos, 52 sem uso de vias alternativas de alimentação, 39
com cateter nasogástrico, 9 com gastrostomia e 4 com
jejunostomia. Trata‑se do primeiro estudo que avaliou
pacientes dementados, por meio de coorte, e as consequ‑
ências da indicação das vias alternativas de alimentação.
Os controles foram selecionados de forma randomizada
entre os idosos em uso de via oral exclusiva que apresen‑
tavam MEEM inferior a 23 pontos. Todos os pacientes
em uso de vias alternativas de alimentação apresentavam
diagnóstico de demência.55
A n á l i s e da s o br e v ida
Dos nove artigos selecionados, oito realizaram análise de
sobrevida, dos quais em nenhum se detectou elevação
do período de sobrevida após introdução do dispositivo
de alimentação. A maioria dos trabalhos não encontrou
diferença entre os grupos, exceto Nair et al. (2001) e
Álvarez‑Fernández et al. (2005), como pode ser observa‑
do na Tabela 3.50,53 Teno et al. (2012) observaram maior
sobrevida em pacientes com via oral exclusiva apenas
entre os idosos sem úlceras por pressão, enquanto os de‑
mais não apresentaram diferença significativa.47
Teno et al. (2012) observaram maior mortalidade
após 180 dias de seguimento entre os pacientes com via
alternativa quando comparados com o grupo via oral,
ambos sem úlceras por pressão (p = 0,004). Não há dife‑
rença significativa entre os grupos nos idosos com úlcera
por pressão (p = 0,23).47
Arinzon et al. (2008) não detectaram diferença de
mortalidade entre os grupos estudados. Durante o se‑
guimento, faleceram 27% dos idosos do grupo controle e
42% do grupo intervenção (p >0,05).48
Jaul et al. (2006) encontraram taxa de mortalidade
e mediana de sobrevida de 65,4% e 40 dias nos pacien‑
tes com via oral e de 40,3% e 250 dias nos idosos com
vias alternativas (p = 0,001). A análise ajustada para
comorbidades clínicas e as principais doenças neuro‑
lógicas não evidenciou associação entre a mortalida‑
de e a via de alimentação instituída (RR:1,55; IC95%,
0,69‑3,46).49
25/02/14 09:20
Demência avançada e dieta enteral | 313
Tabela 3 Avaliação da efetividade das vias artificiais de alimentação
Sobrevida
Teno, 2012
Pneumonia
Úlcera por pressão
Estado nutricional
Sintomas desconfortáveis
TTT
ccc
TTT
==
==
ccc
TTT
TTT
TTT
(sem úlcera)
TTT
==
(com úlcera)
Arinzon, 2008
==
Jaul, 2006
==
Alvarez-Fernández, 2005
TTT
Murphy, 2003
cc
Meier, 2001
cc
Nair, 2000
cc
Mitchell, 1997
cc
Peck, 1990
TTT
TTT
cc
TTT
==
ccc
==
ccc favorável ao uso de vias alternativas; == sem diferença significativa entre a via oral e as vias alternativas; TTT desfavorável ao uso de vias alternativas.
Alvarez‑Fernández et al. (2005) observaram mediana
de sobrevida de 799 dias nos 67 pacientes avaliados e taxa
de mortalidade de 37,3%. A análise multivariada eviden‑
ciou maior mortalidade quando havia episódios de pneu‑
monia (p = 0,001), níveis séricos abaixo de 3 g/dL de albu‑
mina (p = 0,028) e uso de cateter nasoenteral (p = 0,003).50
Murphy et al. (2003) demonstraram mediana de so‑
brevida de 59 dias dos pacientes submetidos a gastrosto‑
mia endoscópica e de 60 dias dos idosos com manuten‑
ção da via oral (p = 0,37).51
Meier et al. (2001) revelaram taxa de sobrevida média
nos idosos com via alternativa de 195 dias e dos pacien‑
tes com via oral de 189 dias (p = 0,90). O diagnóstico de
infecção, como sepse urinária e pneumonia, na interna‑
ção hospitalar demonstrou associação significativa com
a mortalidade (OR: 1,9; IC95%, 1,01‑3,6).52
Nair et al. (2000) detectaram taxa de mortalidade em
seis meses de 44% nos pacientes submetidos a gastrosto‑
mia endoscópica e de 26% nos idosos com manutenção
da via oral, com diferença significativa a favor da manu‑
tenção da via oral (p = 0,03). Verificou‑se que a presen‑
ça de albumina <2,8 g/dL era fator de risco para maior
mortalidade em seis meses nos pacientes submetidos a
gastrostomia endoscópica (p = 0,04).53
Mitchell et al. (1997) não encontraram associação en‑
tre o uso de vias alternativas de alimentação e a sobrevida
dos pacientes com demência avançada (RR: 0,90; IC95%,
0,67‑1,21). Em análise multivariada, os determinantes de
maior mortalidade foram a presença de aspiração (RR:
1,64; IC95%, 1,08‑2,51), distúrbios da deglutição (RR:
1,33; IC95%, 1,12‑1,58), idade superior a 87 anos (RR:
1,37; IC95%, 1,16‑1,61), presença de úlcera por pressão
(RR: 1,49; IC95%, 1,22‑1,81) e ordem de não ressuscita‑
ção (RR: 1,45; IC95%, 1,10‑1,92).54
In cid ê n cia d e pne um o n ia
Três artigos selecionados demonstraram maior inci‑
dência de pneumonia nos pacientes com vias alternati‑
Artigo Rev 02.indd 313
vas de alimentação. Arinzon et al. (2008) relataram‑se
episódios de pneumonia em 24% dos idosos do grupo
controle e de 47% no grupo intervenção (p = 0,002).48
Alvarez‑Fernández et al. (2005) demonstraram que 52
dos 67 pacientes avaliados apresentaram intercorrên‑
cias clínicas significativas, destacando‑se que em 29,9%
foi diagnosticada pneumonia. Esse diagnóstico foi mais
comum entre os pacientes com cateter nasoenteral (40%
versus 12,8%, p = 0,01) e representou maior risco de
mortalidade para os pacientes em análise multivaria‑
da (RR: 3,71, IC95% 1,65‑8,36, p = 0,001).50 Peck et al.
(1990) verificaram que, entre os pacientes em uso de via
oral de alimentação, 17% apresentaram pneumonia de
aspiração, ao passo que entre os idosos em uso de vias
artificiais a taxa foi de 58% (p <0,01).55
Outros dois trabalhos apenas descrevem a incidência
de pneumonia, sem comparação entre os grupos via oral
e via alternativa. Nair et al. (2000) citaram que a prin‑
cipal causa de febre entre os pacientes recrutados pela
coorte foi pneumonia, sendo motivo desse sintoma em
dois terços dos 21% acometidos.53 Mitchell et al. (1997)
relataram que 108 idosos (8,8%) apresentaram pneumo‑
nia, no entanto essa taxa foi de 19,3% entre os pacientes
com vias alternativas de alimentação.54
Pr e va l ê ncia d e ú l ce ra p o r
p re s s ã o
Quatro dos artigos relacionados nesta revisão avaliaram
o efeito das vias alternativas de alimentação em relação
ao desenvolvimento e/ou cicatrização de úlceras por
pressão. Teno et al. (2012) e Arizon et al. (2008) identi‑
ficaram maior desenvolvimento de úlceras por pressão
entre os idosos com vias alternativas por alimentação,
enquanto Jaul et al. (2006) e Peck et al. (1990) não verifi‑
caram diferenças entre os grupos.47‑49,55
Teno et al. (2012) avaliaram o risco de desenvolvi‑
mento de úlcera por pressão grau 2 ou mais avançado
e detectaram OR: 2,27 (IC95%, 1,95‑2,65), enquanto o
25/02/14 09:20
314 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
risco de desenvolvimento de úlcera grau 4 foi OR: 3,21
(IC95%, 2,14‑4,89). Em relação à cicatrização das úlceras
por pressão existentes, evidenciou‑se que a possibilida‑
de de cicatrização era maior no grupo via oral OR: 0,70
(IC95%, 0,55‑0,89).47
Arinzon et al. (2008) indicaram diferença significativa
entre os grupos controle e intervenção durante o recruta‑
mento quanto à presença de úlceras por pressão (p = 0,017).
Ao final do seguimento, estavam presentes em 14% dos
controles e 30% dos idosos em uso de vias artificiais de ali‑
mentação (p = 0,012). As úlceras em estádios III e IV foram
mais prevalentes no grupo intervenção (p = 0,005).48
Jaul et al. (2006) detectaram, no início do estudo, úl‑
ceras por pressão em 64% e 49% dos pacientes com via
oral e via alternativa de alimentação, respectivamente (p
>0,05). Ao final do seguimento, as taxas caíram para 42%
e 21% (p >0,05). Entre os pacientes com via oral foram de‑
tectadas 2,28 úlceras por paciente versus 1,05 nos pacien‑
tes com via alternativa (p = 0,05) no início do estudo e de
1,92 versus 0,97 (p = 0,03) ao final do seguimento. A taxa
de redução das úlceras foi similar em ambos os grupos.49
Peck et al. (1990) encontraram incidência de úlcera
por pressão de 21% entre os idosos em uso de vias artifi‑
ciais de alimentação, enquanto entre os que estavam em
uso de via oral a taxa foi de 13%. Todavia, a diferença não
alcançou significância estatística.55
Outros três autores descrevem a prevalência das úlce‑
ras por pressão, e um autor relata o impacto das úlceras
por pressão sobre a mortalidade conforme descrito a se‑
guir. Alvarez‑Fernández et al. (2005) registraram intercor‑
rências clínicas em 77,6% dos pacientes em seguimento,
entre os quais 43,3% apresentaram úlceras por pressão,
sem detalhamento sobre o estadiamento e o número de
úlceras, assim como sem avaliação sobre prevalência en‑
tre os pacientes com e sem vias alternativas de alimenta‑
ção.50 Meier et al. (2001) descrevem que 55,6% dos idosos
apresentavam úlceras por pressão à admissão e que elas
não estavam relacionadas a maior mortalidade (OR: 1,07,
IC95% 0,6‑1,8).51 Mitchell et al. (1997) detectaram 233 in‑
divíduos (16,8%) com úlcera por pressão, no entanto de‑
tectaram essas úlceras em 29,6% dos idosos em uso de vias
alternativas, sem análise de significância.54
Avalia ção d o e stado
n utrici ona l
Quatro estudos avaliaram o estado nutricional de idosos
com demência avançada, no entanto os resultados en‑
contrados na literatura sobre esse tema são discordantes.
Arinzon et al. (2008) e Peck et al. (1990) reportaram que
o estado nutricional melhora com o uso das vias alterna‑
tivas de alimentação, ao passo que Alvarez‑Fernández
et al. (2005) relataram piora do estado nutricional, en‑
quanto Jaul et al. (2006) não observaram diferença esta‑
tística entre os grupos.48‑50,55
Artigo Rev 02.indd 314
Arinzon et al. (2008) avaliaram o estado nutricional por
meio da avaliação de ganho de peso, índice de massa corpó‑
rea (IMC), dosagem sérica de albumina, transferrina, coles‑
terol, hemoglobina e linfócitos. Mais pacientes obtiveram
ganho de peso no grupo intervenção (p < 0,001), todavia
permanecem com IMC inferior ao do grupo controle (p =
0,014). O colesterol total foi maior entre os pacientes com
via oral (p < 0,001) e a albumina foi ligeiramente superior
entre os pacientes com via alternativa (p = 0,043).48
Jaul et al. (2006) utilizaram a mensuração de peso e
IMC, avaliação de úlceras por pressão e nível sérico de he‑
moglobina e albumina para avaliar o estado nutricional.
No entanto, não foram observadas modificações significa‑
tivas entre os grupos ao final do período de seguimento.49
Alvarez‑Fernández et al. (2005) realizaram medidas
da circunferência do braço, área muscular do braço e
prega cutânea tricipital, além de resultados laboratoriais
de hematócrito, linfócitos, colesterol e albumina para
determinar o estado nutricional. Todavia, não ocorreu
melhora do estado nutricional com o uso das vias alter‑
nativas. Observou‑se redução do nível sérico de albumi‑
na (p = 0,043) e colesterol (p = 0,004), além de redução
da circunferência do braço (p = 0,024).50
Peck et al. (1990) compararam o peso em libras de
pacientes com e sem uso de vias artificiais de alimenta‑
ção e demonstraram maior ganho de peso entre os ido‑
sos em uso de vias artificiais de alimentação (48%) do
que entre os que utilizavam somente a via oral (17%), re‑
sultado que alcançou significância estatística (p < 0,01).55
Outros três artigos descrevem a incidência de úl‑
ceras por pressão, sem análise estatística da incidência
de úlceras ao longo do período de seguimento. Teno
et al. (2012) não constataram diferença significativa de
perda ponderal entre os idosos com via alternativa e
via oral exclusiva de alimentação, tanto no grupo com
úlcera por pressão como no grupo sem úlcera.47 Nair
et al. (2000) não observaram alterações entre os grupos
quanto a peso, IMC, prega tricipital, circunferência do
braço, nível sérico de colesterol, albumina e linfócitos.53
Mitchell et al. (1997) avaliaram o índice de massa cor‑
poral (IMC) e realizaram dicotomização da amostra,
considerando desnutrição quando de valores abaixo
de 21,0 kg/m2, demonstrando presença de desnutrição
por esse critério em 48,8% da amostra, sem diferença
estatística entre os grupos. A presença de perda pon‑
deral ocorreu em 30,8% dos pacientes, acometendo, no
entanto, 41,5% daqueles em uso de via alternativa, sem
análise de significância.54
Pr e va l ê n cia de s i n to m as
d e sc o n f o rt á v e i s e c o n t en ç ã o
f í s ica
Dois trabalhos avaliaram episódios de desidratação: um
verificou a presença de dor e outro os episódios de agi‑
25/02/14 09:20
Demência avançada e dieta enteral | 315
tação e contenção física. Os resultados são discordantes
entre os autores.
Arinzon et al. (2008) registraram maior prevalência
de desidratação entre os pacientes com via alternativa de
alimentação, taxa de 26% versus 13% do grupo controle
(p = 0,028). No entanto, Alvarez‑Fernández et al. (2005)
não observaram essa diferença, relatando episódios de
desidratação em 42,8% dos idosos com via alternativa
versus 26,4% com via oral (p = 0,38).48
Jaul et al. (2006) avaliaram em conjunto os desfe‑
chos dor e desconforto, evidenciando a presença desses
sintomas em 52% dos idosos com manutenção da via
oral e em 29% dos pacientes com cateter nasoenteral
(p = 0,043).49 Peck et al. (1990) verificaram alto índice
de agitação e risco de o paciente retirar a via alternativa
de alimentação; 90% dos pacientes estavam em uso de
contenção nas mãos em forma de “luva” e 71% ainda ne‑
cessitavam de formas adicionais de contenção, ao passo
que essa taxa foi de 56% entre os idosos com via oral,
sem alcançar significância estatística.55
D i s c us s ão
Pode‑se observar, pela Tabela 3, que a maioria dos es‑
tudos com melhor metodologia não demonstrou su‑
perioridade das vias artificiais no quesito sobrevida,
sendo que Alvarez‑Fernández et al. (2005) revelaram
maior mortalidade, enquanto Teno et al. (2012) evi‑
denciaram maior mortalidade entre os dementados
sem úlcera por pressão e similar entre os grupos na
presença de úlceras.47,50 Três autores – Arinzon (2008),
Alvarez‑Fernández (2005) e Peck (1990) –, avaliaram o
desfecho pneumonia aspirativa e reportaram maior in‑
cidência no grupo em uso das vias artificiais de alimen‑
tação.48,50,55 Os resultados são discordantes em relação
às variáveis sintomas desconfortáveis, como dor, desi‑
dratação, dispneia e estado nutricional. Teno (2012),
Arinzon (2008), Jaul (2006) e Peck (1990) avaliaram a
prevalência de úlceras por pressão, sendo que os dois
primeiros autores encontraram maior desenvolvimento
de úlceras por pressão entre os pacientes em uso de via
oral exclusiva.47‑49,55
Os resultados encontrados por esta revisão concor‑
dam com os encontrados por revisão recente realizada
pela Cochrane, que concluiu não haver evidência na li‑
teratura de qualquer benefício do uso de via enteral de
alimentação em relação ao tempo de sobrevida, índice
de mortalidade, qualidade de vida, parâmetros nutricio‑
nais, capacidade funcional e úlceras por pressão.10
Todavia, os estudos citados não permitem generali‑
zação devido aos problemas metodológicos, incluindo
o fato de a maioria ser unicêntrica, exceto dois que in‑
cluem a base de dados MDS, que não permite diferenciar
a via alternativa entre o cateter nasoentérico e a gastros‑
tomia endoscópica. A maioria dos trabalhos foi realiza‑
da nos Estados Unidos, sendo frequentemente adotados
instrumentos não validados para o diagnóstico da gravi‑
dade da demência e da disfagia orofaríngea. Faltam aná‑
lises multivariadas para ajuste de fatores de confusão na
maioria desses estudos. Ressalta‑se a ausência de estudos
de intervenção sobre o tema em revisão.
Quanto aos dois estudos que utilizam o MDS, o
diagnóstico da demência, assim como da gravidade da
enfermidade, baseia‑se exclusivamente no MDS, o qual
apresenta falhas, detectando‑se valor preditivo positivo
e sensibilidade entre 0,6‑0,7 na maioria das variáveis
avaliadas. No entanto, quanto ao CPS em pacientes com
demência, a consistência interna, mensurada pelo valor
preditivo positivo, alcança o interessante valor de 0,96.56
Portanto, trata‑se de uma base de dados confiável para
avaliação de pacientes com demência avançada.
Este estudo apresenta limitações inerentes a uma re‑
visão. Há possibilidade de não publicação de trabalhos
com resultados não favoráveis ao emprego de vias alter‑
nativas ou da manutenção da via oral. Pode haver artigos
publicados não indexados às bases consultadas. Para mi‑
norar essa segunda limitação, consultamos as referências
bibliográficas dos estudos de revisão encontrados. Além
disso, foram excluídos estudos que não foram publicados
em inglês, espanhol ou português.
Conclusão
Conclui‑se que as evidências atualmente disponíveis na li‑
teratura apontam para ausência de benefício das vias alter‑
nativas de alimentação nos pacientes com demência avan‑
çada com disfagia orofaríngea. A realização de estudos de
intervenção torna‑se imperativa para a resolução definitiva
das dúvidas ainda existentes sobre o emprego de dispositi‑
vos artificiais de alimentação nesse tipo de população.
C o n f l ito s de i n t e re s se
Os autores declaram não possuir nenhum conflito de in‑
teresse na sua realização e publicação.
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49. Jaul E, Singer P, Calderon‑Margalit R. Tube feeding in the de‑
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50. Alvarez‑Fernández B, Ordeñez MAG, Martínez‑Manzanares C,
Gómez‑Huelgas R. Survival of a Cohort of Elderly Patients with
25/02/14 09:20
Demência avançada e dieta enteral | 317
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dictor of survival after percutaneous endoscopic gastrostomy in el‑
derly patients with dementia. Am J Gastroenterol. 2000; 95(1):133‑6.
Artigo Rev 02.indd 317
54. Mitchell SL, Kiely DK, Lipsitz LA. The risk factors and impac‑
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dents with severe cognitive impairment. Arch Intern Med. 1997;
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variation in the validity and internal consistency of the Nursing
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Serv Res. 2011; 11:78‑91.
25/02/14 09:20
Relato de caso
318 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
Demência frontotemporal associada
À esclerose lateral amiotrófica:
relato de caso
Janete Martinsa, Lara Picanço Macedo Scarpinib
Re s um o
Palavras‑chave
Demência,
esclerose lateral
amiotrófica,
frontotemporal.
Demência frontotemporal é uma forma de demência pré-senil, mais prevalente em mulheres do que em homens.
Na maioria dos casos, afeta o comportamento e a personalidade dos pacientes, com relativa preservação do estado
cognitivo, motivo pelo qual os sintomas não são valorizados pela família. A primeira manifestação pode ser uma
crise de depressão, seguida por distúrbios comportamentais. Como a expectativa de vida vem aumentando mundialmente nas últimas décadas, a demência frontotemporal tem se tornado mais prevalente.¹ O diagnóstico é eminentemente clínico e relacionado com alterações do comportamento e personalidade.² O tratamento da demência
frontotemporal ainda é limitado. Os sintomas comportamentais são controlados por inibidores seletivos da recaptação de serotonina. Pesquisadores descobriram uma proteína anormal que se acumula no cérebro dos pacientes
com demência frontotemporal e esclerose lateral amiotrófica, a C9RANT.³ Relatou-se, em alguns casos estudados,
associação com esclerose lateral amiotrófica, sendo observada a natureza precocemente fatal nesses casos, motivo
do presente relato de caso.
Frontotemporal dementia associated with amyotrophic lateral sclerosis:
case report
AB S T RACT
Keywords
Dementia,
amyotrophic
lateral sclerosis,
frontotemporal.
Frontotemporal dementia is a form of presenile dementia, more prevalent in women than in men. In most cases
it affects the behavior and personality of patients with relative preservation of cognitive status, and that is why
the symptoms are not appreciated by the family. The first manifestation may be a crisis of depression, followed by
behavioral disorders. As life expectancy has been increasing worldwide in recent decades, frontotemporal dementia
has become more prevalent.¹ Diagnosis is essentially clinical and related to changes in behavior and personality.²
The treatment of frontotemporal dementia is still limited. Behavioral symptoms are controlled by selective serotonin
reuptake inhibitors. Researchers have found an abnormal protein that accumulates in the brains of patients with
frontotemporal dementia and amyotrophic lateral sclerosis, C9RANT.³ In some cases studied, association with ALS
was reported, and an early fatal nature in these cases was observed and was the reason for this case report.
a
b
Cardiologista pela Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Aluna do 12° período da graduação em medicina da Universidade Iguaçu Campus V.
Dados para correspondência:
Lara Picanço Macedo Scarpini, Alameda dos Lírios, 90, Quinta das Flores, Muriaé – MG. CEP:36880‑000. E‑mail: [email protected]
Estudo de Caso.indd 318
25/02/14 09:21
Uso de plantas medicinais por idosas | 319
INT R O D U ÇÃ O
O relato de caso a seguir pretende abordar aspectos que
permitem o diagnóstico preciso desse tipo de demência.
Demências incomuns estão associadas com degeneração
frontotemporal, incluindo a doença de Pick, que mais re‑
centemente foi definida como parkinsonismo ligado ao
cromossomo 17.4 Considerando‑se um tipo raro de sín‑
drome a associação de esclerose lateral amiotrófica com
demência, relata‑se o presente caso. É reconhecida a natu‑
reza precocemente fatal da demência frontotemporal con‑
comitante à esclerose lateral amiotrófica, possivelmente
por tal ligação significar o comprometimento do primeiro
e do segundo neurônios motores.5 Pesquisadores da clí‑
nica Mayo em Jacksonville, Flórida, descobriram uma
proteína anormal no cérebro de pacientes que possuem
demência frontotemporal com esclerose lateral amiotrófi‑
ca, a C9RANT. Aglomerados de proteína podem ser res‑
ponsáveis pela perda neuronal nesses pacientes.
Observaram‑se manifestações afetivas que precede‑
ram o quadro clínico de demência (depressão, ansieda‑
de, indiferença emocional, perda mimíca),6 distúrbio
comportamental (jocosidade inadequada, ritmo inquie‑
to, inflexibilidade, maneirismos como bater palmas), po‑
dendo ocorrer vários anos antes do aparecimento da
deterioração cognitiva propriamente dita. Foram ana‑
lisadas na demência frontotemporal a coexistência de
comportamento desinibido com estereotípico e relativa
preservação da memória.7
O objetivo do presente relato é descrever o caso em
si e aspectos clínicos da doença que, quando associados,
podem apresentar pior evolução clínica.
R E L ATO D O CA SO
Pedreiro de 58 anos de idade, com quatro anos de esco‑
laridade, foi admitido no hospital em dezembro de 2009,
apresentando tristeza, sintomas afetivos de ideação fixa,
ilusão e medo, que tinham começado um ano antes.
Apresentou perda da capacidade volitiva. Nos dois anos
consecutivos, em nova consulta, apresentava‑se com
comportamento bizarro (pegar sol todo dia pela manhã
no mesmo horário), compulsão alimentar (não necessa‑
riamente por alimentos doces) e mutismo.
Na investigação do paciente, não havia história de
transtornos psiquiátricos pregressos. Não houve exposi‑
ção ocupacional a metais pesados ou antecedentes fami‑
liares de demência.
O homem era incapaz de manter as pálpebras fecha‑
das. Os reflexos palatinos e faríngeos estavam abolidos,
e não havia hipomotilidade do pergaminho e da farin‑
ge. Havia atrofia da musculatura tenar e extremidades
superiores distais. Os músculos das mãos eram hipo‑
tróficos, com perda da força muscular, exacerbação dos
reflexos profundos, sinal de Babinski ausente bilateral‑
mente, miofasciculações presentes nos membros supe‑
riores e na face.
Estudo de Caso.indd 319
O exame neuropsicológico mostrou‑se inapropria‑
do. O contato com o examinador foi precário. O pacien‑
te se apresentou hipoativo, pouco cooperativo. Sua fala
espontânea era difícil de avaliar por causa da disartria
grave. A compreensão verbal foi prejudicada.
Rotinas sorológicas, sanguíneas e bioquímicas mos‑
traram‑se normais, no entanto a cintilografia de perfu‑
são cerebral realizada em 2011 demonstrou o padrão
típico de acometimento da demência frontotemporal8
com hipoperfusão em lobo frontal e parte anterior do
lobo temporal (Figuras 1 e 2).
Após três meses de tratamento com riluzol,9 na dose
de 50 mg por via oral, a cada 12 horas, o paciente evo‑
luiu com engasgos e dispneia, tendo sido admitido na
unidade de terapia intensiva devido a pneumonia bron‑
coaspirativa, evoluindo com insuficiência respiratória e
óbito em cinco dias. O diagnóstico final foi de demência
frontotemporal associada a esclerose lateral amiotrófica.
D I S C USS Ã O
O paciente estudado apresentou negligência na higiene
pessoal, sinais precoces de desinibição (como hipersexu‑
alidade, comportamento violento, jocosidade), comporta‑
mento estereotipado e perseverante (maneirismos como
bater palmas, cantar, dançar, colecionar objetos), distúr‑
bios afetivos e redução progressiva da linguagem, porém
não apresentou perda de memória, que é esperada em
outras demências degenerativas, como a de Alzheimer.10
O diagnóstico da doença degenerativa é realizado basica‑
mente pela clínica. Na associação de demência com doen‑
ça do neurônio motor, há impreterivelmente a destruição
de neurônios do sistema motor desde o córtex até o cor‑
no anterior da medula. A presença de disfunção sensitiva
afasta o diagnóstico de esclerose lateral amiotrófica.
Nesse paciente, distúrbios afetivos e de linguagem
foram caracterizados por ecolalia e perserverança, si‑
nais de desinibição (hipersexualidade), comportamento
estereotipado, redução progressiva da fala, perda da ca‑
pacidade cooperativa, mutismo tardio. Nesse caso, tam‑
bém ocorreram períodos de choro e riso incontidos que
se alternavam. Distúrbios que afetam os lobos frontais e
temporais, o terceiro ventrículo e o hipotálamo, e lesões
no tronco cerebral podem levar à labilidade emocional.
Na evidência de doença do neurônio motor, o acometi‑
mento bulbar leva a disfagia, disartria ou ambos. Mais
de 90% de todos os casos são esporádicos, e o restante se
enquadra no padrão de herança autossômica dominan‑
te relacionada à mutação no gene SOD1.1,2 Na evidência
das primeiras manifestações da esclerose lateral amio‑
trófica, mais de 80% dos neurônios motores estão com‑
prometidos. A sobrevida média varia entre 3‑5 anos. Em
estágios finais, na ausência de ventilação controlada, a
porcentagem de sobreviventes em 10 anos é de 8%‑14%,
podendo chegar a 15 anos com adequado suporte venti‑
latório.11 O percurso total, nesse caso, foi de quatro anos.
25/02/14 09:21
320 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
Figura 1 Tomografia computadorizada por emissão de fóton único mostrando áreas de hipoperfusão em lobo frontal e área anterior do lobo
temporal.
Há evidência de achados com as diferentes topogra‑
fias da degeneração dos núcleos motores apresentados
no exame de imagem. A cintilografia de perfusão mos‑
trou ser útil no diagnóstico. O exame de imagem revelou
hipoperfusão no lobo frontal e temporal bilateral, mais
evidente no lado direito. O exame físico permitiu pos‑
sível associação com doença do neurônio motor, tendo
sido realizada eletroneuromiografia dos quatro mem‑
bros, que mostrou denervação em mais de um segmento
e neurocondução motora e sensitiva inalteradas.12
C O N C L US Ã O
Manifestações como ansiedade, depressão e distúrbios
do comportamento podem ocorrer precocemente como
forma de apresentação da demência frontotemporal. Em‑
bora os primeiros sintomas tenham sido observados já na
Estudo de Caso.indd 320
fase avançada da doença, seu reconhecimento permite
investigação diagnóstica e manejo adequado do paciente,
mesmo não existindo tratamento curativo.11,12 Foi iniciada
trazodona (25 mg/dia) com melhora importante da agres‑
sividade e insônia. Como o paciente apresentou alucina‑
ção auditiva, mussitação e negativismo, foram introduzi‑
das lorazepam 6 mg/dia e risperidona 3 mg/dia, com boa
resposta. Foi administrado riluzol 100 mg/dia na tentativa
de obter maior sobrevida na esclerose lateral amiotrófica.
A cintilografia de perfusão cerebral mostrou‑se eficaz no
diagnóstico de demência frontotemporal, mostrando hi‑
poperfusão cerebral no lobo frontal e parte anterior do
lobo temporal. Diversos casos de demência associados a
esclerose lateral amiotrófica serão diagnosticados13 e no‑
vos estudos clinicopatológicos permitirão manejo ade‑
quado do paciente, proporcionando maior sobrevida.
25/02/14 09:21
Uso de plantas medicinais por idosas | 321
Figura 2 Tomografia computadorizada por emissão de fóton único mostrando áreas de hipoperfusão em lobo frontal e área anterior do lobo
temporal.
R E F E RÊ NCIA S
1.Barbosa LF, Medeiros MHG, Augusto O. Danos oxidativos e neu‑
rodegeneração: o que aprendemos com animais transgênicos e no‑
cautes? Scielo. 2006; 29(6):1352‑1360.
2.Almeida OP. Miniexame do estado mental e o diagnóstico de de‑
mência no Brasil. Arq Neuropsiquiatr. 1998; 56(3‑B):605‑612.
3.Mayo Clinic: proteína descoberta pela Mayo Clinic pode ajudar a
detectar doença de Lou Gering e demência. http://www.mayocli‑
nic.org/news2013‑prtg/7312.html (Acessado em 6/9/2013.)
4.Nitrini R, Silva LST, Rosemberg S, Caramelli P, Carrilho PEM, Iu‑
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se_lateral_amiotrofica_livro_2010.pdf (Acessado em 18/7/2013.)
13. Godoy JM, Oliveira MAR, Neto JBMM, Balassiano SL, Montagna
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diagnósticos. Arq Neuropsiquiatr, 1993; 51(2):236‑242.
25/02/14 09:21
Artigo especial
322 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
O uso da literatura infantil na UTI:
um convite à reflexão e à discussão
para os profissionais sobre a
morte e o morrer
Anelise Fonsecaa, Fátima Geovaninib
Re s um o
Palavras‑chave
Morte, unidade de
terapia intensiva,
literatura,
cuidados
paliativos.
Introdução: O comportamento contemporâneo da sociedade ocidental diante da morte revela as dificuldades enfrentadas pelo homem quando se depara com sua finitude. O silêncio e a tentativa de afastamento da morte são
atitudes comumente observáveis, caracterizando esse tema como assunto tabu, mesmo nos espaços onde ela se faz
rotineiramente presente, como no caso das instituições hospitalares. Para os profissionais da saúde, que diariamente
desempenham funções relacionadas com a morte, também encontramos barreiras que podem acarretar sofrimento,
tanto para o profissional como para os pacientes e sua família. Especial atenção deve ser dispensada às unidades
de terapia intensiva, locais onde a morte e o sofrimento se fazem ainda mais presentes, exigindo dos profissionais
contínuas e rotineiras estratégias de enfrentamento. Método: Descrever a literatura infantil como estratégia de auxílio no enfrentamento da morte, na rotina de trabalho do profissional da unidade de terapia intensiva. Resultado:
Atualmente conta-se com rico acervo de livros infantis que, utilizando linguagem densa e poética, tratam de questões relativas à morte, funcionando como importante estímulo para a discussão e o desenvolvimento de questões
complexas relacionadas à morte, ao morrer e ao luto. Conclusão: Ao utilizar a literatura infantil como instrumento
facilitador do processo de reflexão e discussão sobre a morte e o morrer, acredita-se que sua importância esteja no
compartilhamento das emoções entre os membros de uma equipe multiprofissional, promovendo amadurecimento
pessoal e o fortalecimento do trabalho em conjunto.
children’s literature in Intensive Care UnitS: an invitation to reflection
and discussion for professionals about death and dying
AB S T RACT
Keywords
Death, Intensive
Care Units,
literature,
palliative care.
Introduction: The behavior of our contemporary society in the face of death reveals the difficulties encountered by
man when faced with human finitude. Silence and the attempt to keep away from death are commonly observed attitudes, characterizing the issue as a taboo subject, even in areas where it is routinely present, such as hospitals. For
health care professionals, who daily perform functions related to death, we also found barriers that can cause suffering
for both the professional and for patients and their families. Special attention should be paid to the Intensive Care Unit,
where death and suffering are even more present, and require continuous and routinecoping strategies from health care
workers. Method: To describe children’s literature as a strategy to aid in coping with death in routine work of Intensive
Care Unit professionals. Results: Currently there is a rich collection of children’s books which, using a dense and poetic
language, deals with issues related to death, functioning as an important stimulus for the discussion and development
of complex issues related to death and bereavement. Conclusion: The use of children’s literature as a facilitator of the
process of reflection and discussion about death and dying shows that its importance lies in the sharing of emotions
among members of a multidisciplinary team, promoting personal growth and strengthening of group work.
Doutoranda da Escola Nacional de Saúde Pública e membro da Comissão de Cuidados Paliativos SBGG/RJ.
Doutoranda da Escola Nacional de Saúde Pública e membro da Comissão de Cuidados Paliativos SBGG/RJ.
a
b
Dados para correspondência
Fátima Geovanini – Rua 19 de Fevereiro, 101/102 Botafogo, Rio de Janeiro – RJ. Tel.: (21) 8617-2755. E-mail: [email protected]
Artigo Especial 01.indd 322
25/02/14 09:21
O uso da literatura infantil na UTI | 323
INT R O D U ÇÃ O
O comportamento da sociedade ocidental frente aos as‑
pectos relacionados ao adoecimento e à morte revela as
dificuldades do homem para aceitar sua finitude. A es‑
pécie humana é a única a ter conhecimento antecipado
de sua mortalidade, não apenas por instinto, mas princi‑
palmente pela racionalidade de seu conhecimento. Tra‑
ta‑se de um saber que desperta questões, demandando
elaborações em torno do tema, que comumente podem
ser observadas nos diversos campos da produção artís‑
tica, cultural, filosófica, científica e psicanalítica.1 Segun‑
do Freud, não há registro para o significante morte em
nosso inconsciente, o que torna praticamente impossível
para o paciente imaginar a própria morte. Assim, todos
ficam convencidos da própria imortalidade, fato que so‑
mente será colocado em questão quando se depara face a
face com a morte, seja por um evento de doença seja pela
morte de alguém, familiar ou não.2
Atualmente observa‑se uma dualidade no compor‑
tamento frente à morte, variando da fala excessiva ao
silêncio sepulcral. Na mídia, a morte pode ser exaustiva‑
mente falada, especialmente quando se trata de eventos
trágicos, divulgando sua faceta cruel e assustadora. Por
outro lado, a morte de uma pessoa pode desencadear no
núcleo familiar o desejo de ocultamento de informações
para as pessoas consideradas potencialmente mais frá‑
geis, como as crianças e os idosos.3,4
Para Elias, o processo civilizador foi decisivo, não
apenas no estilo de enfrentamento da morte, mas tam‑
bém no próprio processo de morrer das pessoas. Para o
autor, a tendência ao ocultamento da morte aumentou
desde o século XIX, acompanhando o desenvolvimen‑
to de nossa civilização, contudo observam‑se mudanças
no estilo de encobrimento realizado, especialmente na
modernidade. O autor afirma que, quanto maior o de‑
senvolvimento da sociedade, proporcionalmente maior
será a tentativa de recalcamento da morte e, segundo
suas pesquisas, a morte já foi mais pública, familiar e
comentada do que é nos dias atuais.4 Para acrescentar,
pode‑se destacar a tendência social atual para o afasta‑
mento de crianças da cena da morte e dos rituais fúne‑
bres, na tentativa de poupá‑las de assistir à tristeza dos
amigos e familiares.3,4
Apesar dessa realidade, é possível observar o sur‑
gimento de uma tentativa de aproximação do tema ao
público infantil através da literatura. Atualmente encon‑
tra‑se quantidade significativa de livros infantis voltados
para a discussão de temas existenciais e que auxiliam na
elaboração psíquica do leitor. Paiva5 atenta para a difi‑
culdade de abordagem da morte no âmbito escolar, de‑
senvolvendo uma pesquisa sobre a utilização dos livros
infantis como recurso para trabalhar a problemática da
morte e do luto com crianças e profissionais da área da
educação. Esse estudo evidenciou a aplicabilidade dos
livros infantis como instrumento para o estímulo à re‑
Artigo Especial 01.indd 323
flexão e à abertura ao diálogo em torno dessas questões
para crianças, adolescentes, adultos e idosos. Temas
como dor, adoecimento, perda, processo de morrer,
morte e luto são tratados de forma realista, reconhe‑
cendo a morte como um evento pertencente ao ciclo da
vida, sem deixar de lado a simplicidade e a beleza da po‑
esia, assim como a oportunidade de celebração desse ser
que se despede.6 Entretanto, ressalte‑se que, se a morte é
um tema tabu para nossa sociedade, encontra‑se intensi‑
ficado, no cotidiano de seu trabalho, entre os que lidam
diretamente com a vida e a morte: os profissionais de
saúde. Essas pessoas rotineiramente enfrentam a mor‑
te sob diferentes pontos de vista, seja conduzindo um
caso de extrema gravidade, seja comunicando o evento,
exercendo os rituais do cuidado em um paciente no fi‑
nal de sua existência, oferecendo suporte ao luto e, por
esses aspectos, deveriam receber estímulo e auxílio para
a reflexão do tema e a capacitação técnica que os habili‑
te a assumir suas responsabilidades diante da morte dos
pacientes. Diante desse cenário pretende‑se apresentar
neste artigo um método de trabalho de grupo que, utili‑
zando os livros infantis, visa proporcionar um espaço de
acolhimento, discussão e reflexão sobre a morte entre os
profissionais da área da saúde.
A m o rt e , o s p r o f i s s i o nai s da
sa ú d e e o s c u idad o s paliati vo s
Para os profissionais da saúde, independentemente da
área e do local de atuação, a morte é um assunto fre‑
quente na rotina, embora nem sempre esteja inserida
nas reflexões individuais e nas discussões de equipe. No
contexto hospitalar, como em nossa sociedade, a morte
também é encarada como algo inviolável, mas que inde‑
levelmente terá que ser enfrentado de alguma maneira.
Entretanto, o tema permanece distante da realidade des‑
se profissional e é necessário um fato pontual, na maioria
das vezes, para que haja envolvimento.
Vianna e Piccelli7 mostraram, a partir de um inquéri‑
to realizado com estudantes de medicina, médicos resi‑
dentes e professores médicos, que a maioria dos respon‑
dedores nunca participou de um debate ou foi preparada,
em aula, sobre o tema morte. Os autores também identi‑
ficaram que a vivência pessoal foi fator de estímulo para
que esse grupo de entrevistados se interessasse pela te‑
mática. Nuland8 aponta que, de todas as profissões, a me‑
dicina é a que apresenta mais chances de atrair pessoas
com alto grau de ansiedade com relação à morte. Dessa
forma, existem evidências de que o despreparo dos pro‑
fissionais de saúde, essencialmente o médico, na aborda‑
gem da morte está presente em determinados locais de
atuação, e o hospital pode ser considerado um local de
prevalência significativa dessa dificuldade. Destaca‑se,
inclusive, a unidade de terapia intensiva (UTI) por sua
peculiaridade, uma vez que é o local de maior concen‑
25/02/14 09:21
324 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
tração de mortes dentro de uma unidade hospitalar. Essa
área específica do hospital é o destino de pacientes de
maior gravidade do ponto de vista clínico, quando se
exige vigilância contínua e o uso de medicações e dis‑
positivos eletrônicos em função do risco iminente de
morte. Por isso é o local onde a equipe multiprofissio‑
nal, diante da dualidade vida‑morte, vive em constantes
conflitos e desafios, do ponto de vista técnico ou pessoal.
O clássico estudo Support mostrou que os pacientes mo‑
ribundos recebiam todo o arsenal terapêutico possível,
porém com índices elevados de sofrimento. Esse estudo
reflete o despreparo do profissional diante da terminali‑
dade da vida humana, provocando sentimentos de im‑
potência, de culpa e de medo. Pode‑se afirmar que esse
é um local propício para reflexão, elaboração e adoção
de novas condutas no enfrentamento diário dessa reali‑
dade. O tema morte deveria ser considerado uma ques‑
tão ímpar na área da saúde, demandante de ações cujo
alvo principal é capacitar o profissional da UTI, técnica
e emocionalmente, para lidar com essa realidade em sua
rotina de trabalho. Um grupo de pessoas aptas a oferecer
um suporte e capacitar esses profissionais, tecnicamente
formadas para atuar nesse cenário da morte, é o grupo
da paliação.9
Os cuidados paliativos como área do saber cuja es‑
sência é o estudo da morte oferecem sustentação teóri‑
co‑prática, estando o paliativista apto a auxiliar outros
profissionais nos desafios da finitude. O objetivo é agir
em diferentes demandas identificadas nas intervenções
farmacológicas, nos cuidados de enfermagem e nos
âmbitos psicossocial e espiritual, procurando amenizar
o sofrimento do paciente e de sua família. Uma forma
de inserir o suporte do paliativista nesse trabalho seria
através de ações em conjunto com outros profissionais,
mediante a solicitação de parecer ou com a formação
de uma parceria, compartilhando condutas e decisões.
O que se espera dessa parceria entre o paliativista e os
profissionais da UTI é a mudança do enfoque do obje‑
tivo desse trabalho, permitindo atuar nas necessidades
individuais, respeitando os desejos e trabalhando com os
receios do paciente e de sua família. Ao final, propicia a
divisão de responsabilidades e o compartilhamento de
resultados para que o cuidado seja revisto de forma con‑
tínua e ofereça os benefícios do conforto e de uma morte
digna. Além disso, a equipe paliativista poderá estimular
discussões e oferecer suporte nos momentos de reflexões
do cotidiano de trabalho, motivando os profissionais da
UTI a expor livremente o tema morte, tendo como alvo
o papel que exercem no cuidado do paciente e de seus
familiares.
Em paralelo a essas possibilidades de trabalho em
conjunto, visando ao paciente, o paliativista pode ofere‑
cer um suporte às questões individuais dos profissionais
diante da morte. Uma das propostas para a realização
desse tipo de trabalho é utilizar a literatura infantil como
Artigo Especial 01.indd 324
método de intervenção em uma unidade hospitalar,
como a UTI. Esse método funciona como uma ferra‑
menta de estímulo à reflexão dos profissionais da saúde
para discutir o tema morte, em suas diferentes aborda‑
gens e formas de enfrentamento, buscando elaborar su‑
gestões de melhoria pessoal e profissional nas condutas
diárias do trabalho.
A l it e rat u ra in fanti l c o mo
mé to d o de traba l h o
A utilização da literatura para fins terapêuticos constitui
a biblioterapia, cuja fundamentação teórica está alicerça‑
da na ideia de que a leitura exerce uma função terapêu‑
tica sobre seus leitores, através da liberação e da elabo‑
ração das emoções. A palavra biblioterapia origina‑se de
dois termos gregos: biblion (livro) e therapeia (tratamen‑
to). O uso de livros como ferramenta terapêutica não é
novo, pois podemos encontrar referências desse recurso
desde Aristóteles até Freud.2 Segundo Caldin, a bibliote‑
rapia facilita a interação entre as pessoas, estimulando a
expressão de sentimentos, angústias e receios. É impor‑
tante destacar que os efeitos da literatura sobre a psique
podem ser potencializados no caso de a leitura ser efe‑
tuada em grupo, quando a diversidade de interpretações
dos participantes enriquece as reflexões, as discussões
e as elaborações psíquicas individuais que devem pro‑
ceder à leitura. Outra característica desse trabalho que
merece ser ressaltada é que a biblioterapia constitui uma
atividade interdisciplinar, podendo ser aplicada por pro‑
fissionais de diversas áreas, dependendo do local onde
for aplicada, que pode ser em hospitais, escolas, asilos,
penitenciárias, centros comunitários, entre outros.10
Diante da riqueza literária disponível nos dias atuais,
pretende‑se destacar o potencial da literatura infantil.
Considera‑se a literatura infantil uma literatura clássica,
tendo sua origem na Índia, com a novelística popular
medieval, porém constituindo‑se como gênero durante
o século XVII, concomitantemente às mudanças estru‑
turais na nova sociedade. No Brasil, teve início no século
XX, com as obras de Monteiro Lobato. Segundo Paiva,
a expressão literatura infantil gera críticas por parte de
alguns autores, que defendem que literatura é uma só,
não devendo de antemão predeterminar o público, mas
corresponder aos anseios e identificações que o leitor de‑
seja estabelecer.5
É de acordo com essa ideia que se pretende apresen‑
tar a literatura infantil atual enquanto recurso metafóri‑
co e poético adequado para abordar temas de difícil ma‑
nejo, como a morte, o morrer e o luto. Trata‑se de livros
que, embora recebam o adjetivo “infantil” em função das
características apresentadas, como texto reduzido e ilus‑
trações coloridas, possuem conteúdos densos que, pela
plasticidade de seu material, oferecem a possibilidade
de serem esmiuçados proporcionalmente aos desejos e
25/02/14 09:21
O uso da literatura infantil na UTI | 325
à faixa etária do leitor, que pode ser dos “8 aos 80 anos”.
A estratégia de utilizar livros da literatura infantil
pode ser adotada por equipes que atuam em hospitais
e que atendem pessoas com diagnóstico de doença em
fase avançada. Entendendo a UTI como um local em
que o profissional, no seu exercício diário, enfrenta cons‑
tantes exigências de tomada de decisão e resolução de
conflitos, considera‑se a necessidade de um trabalho de
suporte específico nesse ambiente de trabalho. Segundo
Menezes, apesar das difíceis decisões assumidas diaria‑
mente na UTI, parece haver nesse local pouco espaço
para reflexões sobre essa prática.11 Diante desse cenário
busca‑se com o uso de livros infantis a abertura de es‑
paços para reflexão e discussão em torno do manejo e
das dificuldades encontradas pelos profissionais de UTI
quando diante da iminência da morte de seus pacientes,
dando também enfoque às repercussões dessa realidade
na sua vida pessoal.
A m o rt e e a l it e ratu ra
in fanti l na unidade d e t e ra pia
int e n s i va
Partindo da premissa de que na UTI encontram‑se co‑
mumente inúmeras e desafiadoras tarefas para o profis‑
sional, é de fundamental importância que haja pondera‑
ção entre os riscos e os benefícios das intervenções, com
atenção aos aspectos globais dos pacientes e do contexto
familiar. Silva et al. afirmam que é imprescindível que
os profissionais percebam que prolongar o processo do
morrer acarreta um sofrimento maior a todos aqueles
envolvidos nesse momento. Na tentativa de trabalhar
essas questões com o profissional da UTI, a literatura in‑
fantil, como ferramenta de trabalho em grupo, torna‑se
uma opção adequada por desenvolver o lúdico, a cria‑
tividade e a fantasia, estimulando repensar condutas e
os posicionamentos assumidos ao longo do cotidiano. É
importante salientar que, para uma boa aplicação desse
recurso, é necessária uma seleção precisa do material,
buscando a adequação do tipo de abordagem do livro às
características e às necessidades da equipe, pois influen‑
ciam no formato da discussão e no resultado esperado
do trabalho.12
De acordo com Paiva,5 na literatura infantil encon‑
tram‑se diferentes formas de abordar e contextualizar a
morte. Pode estar inserida como um ciclo vital da vida,
através de explicações concretas e/ou fantásticas, no en‑
redo de uma história e em atividades interativas com
o leitor. Considera‑se também importante o conheci‑
mento acerca das situações enfrentadas pela equipe,
identificando aquelas que provocaram maior impacto e
mobilização nos profissionais. Embora a leitura de um
livro possa sempre provocar efeitos positivos no leitor
individualmente, destaca‑se aqui a importância do tra‑
balho em grupo. Essa metodologia de trabalho em gru‑
Artigo Especial 01.indd 325
po, quando voltado para pessoas com vivências seme‑
lhantes, contribui com a troca de experiências, para que
cada participante encontre com mais facilidade novos
recursos de enfrentamento para suas dificuldades, enri‑
quecendo a forma de pensar e atuar individualmente.9,13
A dinâmica de grupo que utiliza a literatura infan‑
til deve ser realizada no tempo médio de 01h30min,
preferencialmente com dois profissionais coordenando
o grupo. Os profissionais devem ser, necessariamente:
um, do campo da psicologia, e outro atuante na equipe
multiprofissional, podendo ser o médico, o enfermeiro
ou o assistente social. Acredita‑se que os psicólogos, de
preferência com foco em CP, por suas características de
trabalho, sejam os profissionais mais adequados para o
manejo dessa tarefa. O número de participantes, o acer‑
vo de livros, o tempo e o espaço disponíveis determinam
a estratégia utilizada para a realização do trabalho; po‑
rém, em todos os casos, a discussão será iniciada a partir
da leitura de um ou mais livros selecionados. Quando a
dinâmica é realizada com um grupo pequeno, em torno
de 15 pessoas, pode‑se oferecer uma gama de livros que,
uma vez expostos, deverão ser escolhidos por cada par‑
ticipante, para leitura individual ou em minigrupos. No
caso de grupos maiores, torna‑se necessário a escolha,
por parte dos coordenadores da dinâmica, de apenas um
livro. Após a leitura, segue o tempo de reflexão e discus‑
são em torno dos questionamentos surgidos a partir da
leitura do texto, como: De que forma abordo a morte na
minha vida pessoal e com os meus pacientes? Que lugar
a morte ocupa hoje na minha vida? De que forma falo
sobre a morte e o luto com os meus pacientes? No caso
de grupos de trabalho desenvolvidos com regularidade,
as discussões surgem a partir da demanda e do ponto
de amadurecimento teórico e emocional em que se en‑
contra a equipe, dispensando do coordenador o estímulo
às discussões através de perguntas. É importante desta‑
car que, por se tratar de um tema mobilizador de emo‑
ções, os coordenadores da dinâmica devem estar atentos
às possíveis manifestações emocionais e psíquicas que
podem aflorar de qualquer participante. Espera‑se dos
coordenadores preparo adequado para oferecer também
suporte individual, quando necessário, a fim de acolher
os sentimentos despertados e os efeitos emocionais exa‑
cerbados que podem ser desencadeados pelo trabalho
em grupo. Por fim, diante da identificação de uma de‑
manda individual de um dos profissionais participantes,
é importante enfatizar que seja feito o encaminhamento
para um suporte específico ao profissional no intuito de
ajudá‑lo a lidar com suas questões.
C O N C LUS Ã O
São muitos os desafios quando estamos diante da mor‑
te, exigindo do profissional de saúde preparo técnico e
emocional para que possa, com maturidade, estabelecer
um diálogo transparente e objetivo em relação à finitude
25/02/14 09:21
326 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
com os pacientes, seus familiares e a equipe multiprofis‑
sional. Ao propor um método de trabalho para refletir
sobre a morte, o que se deseja é oferecer aos profissio‑
nais a oportunidade de discutir temas como seus medos,
suas angústias e sua sensação de impotência diante da
impossibilidade de cura, remissão da doença e morte do
paciente. Compartilhar experiências permite ao profis‑
sional da saúde alcançar um aprendizado a fim de que
exerça melhor sua capacidade de trabalho. Trabalhar e
desenvolver o estilo de enfrentamento dos profissionais,
especialmente do médico, para lidar com as perdas diá‑
rias inerentes à sua atuação profissional pode amenizar
condutas frequentemente fundamentadas na distanásia
ou na obstinação terapêutica. Ao focar o profissional
da UTI, o método permite oferecer suporte emocional
a uma equipe que, por suas especificidades de atuação,
demanda por ações que promovam a abertura para a
discussão sobre a morte e suas repercussões na vida de
todos os envolvidos.
O uso da literatura infantil através de dinâmicas de
grupo procura levar aos participantes o universo me‑
tafórico da literatura, resgatando de forma lúdica as di‑
ficuldades, os questionamentos e os medos do homem
com relação à morte. No contexto da UTI, a literatura
infantil selecionada pode contribuir como importante
alicerce de comunicação para promover o diálogo na re‑
lação profissional‑paciente, entre pacientes e familiares,
internamente na equipe multiprofissional, e, o mais im‑
portante, ser um exemplo contribuinte para a ampliação
desse trabalho em outras áreas do campo da saúde.
C o n f l ito s d e int e r e s s e s
As autoras declararam não possuir nenhum conflito de
interesse.
R EFE R Ê NCIA S
1.Zaidhaft S. Morte e formação médica. Rio de Janeiro: Francisco Al‑
ves; 1990.
2.Freud S. Reflexões para os tempos de guerra e morte. Rio de Janei‑
ro: Imago; 1974c. Edição standard brasileira das obras psicológicas
completas de Sigmund Freud. 1915; 14.
3.Áries P. História da morte no Ocidente. Rio de Janeiro: Francisco
Alves; 1977.
4.Elias N. A solidão dos moribundos. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
5.Paiva LE. A arte de falar da morte para crianças. São Paulo: Idéias
& Letras; 2011.
6.Lucas ERO, Caldin CF, Silva PVP. Biblioterapia para crianças em
idade pré‑escolar: estudo de caso. Belo Horizonte. Perspect. Ciênc.
Inf. Dez. 2006; 11(3).
7.Vianna A, Piccelli H. O estudante, o médico e o professor de medi‑
cina perante a morte e o paciente terminal. Revista da Associação
Medicina do Brasil. 1998; 44(1):21‑27.
Artigo Especial 01.indd 326
8.Nuland SB. Como morremos. Rio de Janeiro: Rocco: 1995.
9.Connors AFJ, Dawson NV, Desbiens NA, Fulkerson WJJ, Gold‑
man L, Knaus WA et al. Study to understand prognoses and
preferences for outcomes and risks of treatment. JAMA . 1995;
274:1591‑1598.
10. Caldin CF. A leitura com função terapêutica: biblioterapia. Revista
Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação. Dezem‑
bro de 2001; 12.
11. Menezes RA. Difíceis decisões: etnografia de um centro de trata‑
mento intensivo. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2006.
12. Silva TJA, Jerussalmy CS, Farfel JM, Curiati JAE, Jacob‑Filho W.
Predictors of in‑hospital mortality among older patients. Clinics
2009; 64(7):613‑8.
13. Contel JOB. Trabalhando com grupos no hospital geral: teoria e
prática. In: Botega NJ (org.). Prática psiquiátrica no hospital geral:
interconsulta e emergência. São Paulo: Artmed; 2006.
25/02/14 09:21
Instruções aos autores | 327
INSTRUÇÕES AOS AUTORES
Informações gerais
A revista Geriatria & Gerontologia – G&G é uma publicação
científica trimestral da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – SBGG, cujo objetivo é veicular artigos que contribuam para a promoção do conhecimento na área de Geriatria
e Gerontologia, em suas diversas subáreas e interfaces. A G&G
aceita submissão de artigos em português, inglês e espanhol. Seu
conteúdo encontra-se disponível em versão impressa, distribuída a todos os associados da SBGG, e em versão eletrônica acessada pelo site: www.sbgg.org.br.
Instruções para o envio dos manuscritos
Os trabalhos devem ser enviados por via eletrônica (arquivo
word) para o endereço: [email protected]. Antes de enviar
o manuscrito, verifique se todos os itens definidos em “Orientações para a preparação dos manuscritos” foram apontados em
seu texto. O autor receberá mensagem acusando recebimento
do trabalho; caso isto não aconteça, deve-se entrar em contato.
Concomitantemente, o autor deverá enviar uma declaração de
que o manuscrito está sendo submetido apenas à revista G&G,
a concordância com a sessão de direitos autorais, a declaração de
conflito de interesses e o documento de aprovação do comitê de
ética em pesquisa.
Avaliação dos manuscritos por pareceristas
(peer review)
Os manuscritos que atenderem à política editorial e às instruções
aos autores serão encaminhados aos editores, que considerarão o
mérito científico da contribuição. Aprovados nesta fase, os manuscritos serão encaminhados para pelo menos dois revisores de
reconhecida competência na temática abordada. Os manuscritos
aceitos poderão retomar aos autores para aprovação de eventuais
alterações no processo de editoração e normalização, de acordo
com o estilo da revista. Manuscritos não aceitos não serão devolvidos, a menos que sejam solicitados pelos respectivos autores no
prazo de até três meses. Os manuscritos publicados são de propriedade da revista, sendo proibida tanto a reprodução, mesmo que
parcial, em outros periódicos, como a tradução para outro idioma.
Pesquisas envolvendo seres humanos
Resultados de pesquisas relacionadas a seres humanos devem ser
acompanhados de declaração de que todos os procedimentos tenham sido aprovados pelo comitê de ética em pesquisa da instituição de origem a que se vinculam os autores ou, na falta deste,
por um outro comitê de ética em pesquisa credenciado junto a
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde.
Além disso, deverá constar, no último parágrafo do item Métodos, uma clara afirmação do cumprimento dos princípios éticos
contidos na Declaração de Helsinki (2000), além do atendimento
a legislação específicas do país no qual a pesquisa foi realizada. Os
indivíduos incluídos em pesquisas devem ter assinado Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.
Tipos de artigos publicados
A revista G&G aceita a submissão de:
Editoriais e comentários: esta seção destina-se à publicação
de artigos subscritos pelos editores ou aqueles encomendados a
autoridades em áreas específicas, devendo ser prioritariamente
relacionados a conteúdos dos artigos publicados na revista.
Artigos originais: contribuições destinadas à divulgação de resultados de pesquisas inéditas tendo em vista a relevância do
tema, o alcance e o conhecimento gerado para a área da pes-
Revista Inst aos autores.indd 327
quisa. Devem ter de 2 mil a 4 mil palavras, excluindo ilustrações (tabelas,
figuras [máximo de cinco]) e referências (máximo de 30).
Artigos de revisão: avaliação crítica sistematizada da literatura sobre determinado assunto, de modo a conter uma análise comparativa dos trabalhos
na área, que discuta os limites e alcances metodológicos, permitindo indicar
perspectivas de continuidade de estudos naquela linha de pesquisa e devendo conter conclusões. Devem ser descritos os procedimentos adotados para
a revisão, bem como as estratégias de busca, seleção e avaliação dos artigos,
esclarecendo a delimitação e limites do tema. Sua extensão máxima deve ser
de 5 mil palavras e o número máximo de referências bibliográficas de 50.
Comunicações breves: são artigos resumidos destinados à divulgação de
resultados preliminares de pesquisa; de resultados de estudos que envolvem
metodologia de pequena complexidade; hipóteses inéditas de relevância na
área de Geriatria e Gerontologia. Deve-se ter de 800 a 1.600 palavras (excluindo tabelas, figuras e referências), uma tabela ou figura e no máximo dez
referências bibliográficas. Sua apresentação deve acompanhar as mesmas
normas exigidas para artigos originais, fazendo-se exceção aos resumos, que
não são estruturados e devem ter até 150 palavras.
Relatos de caso: são manuscritos relatando casos clínicos inéditos e
interessantes. O título deve apresentar a doença ou a peculiaridade clínica
– relato de caso. Devem observar a estrutura de resumo (150 palavras)
com introdução (justificativa ao leitor o motivo do relato de caso, não
se estender na descrição da «doença ou particularidade clínica»), relato
do caso (com descrição do paciente, resultados de exames clínicos,
seguimento, diagnóstico. ATENÇÃO: Não utilizar siglas ou notas de
rodapé), discussão (comparar com dados de semelhança na literatura) e
conclusão do caso. Devem conter a bibliografia consultada e não podem
ter mais de 1500 palavras e 15 referências.
Artigos especiais: são manuscritos entendidos pelos editores como de
especial relevância e que não se enquadram em nenhuma das categorias
citadas. Sua revisão admite critérios próprios, não havendo limite de
tamanho ou exigências previas quanto as referências bibliográficas.
Cartas ao editor: seção destinada à publicação de comentários, discussão
ou críticas de artigos da revista. O tamanho máximo é de mil palavras e
até cinco referências.
Orientações para a preparação dos manuscritos
Os manuscritos devem ser digitados em Word for Windows (inclusive tabelas); as figuras devem ser enviadas em arquivo JPG com no mínimo 300
dpi de resolução.
Devem ser apresentados na sequência:
a) título completo do trabalho, em português e inglês, com até 90 caracteres; b) título abreviado do trabalho com até 40 caracteres (incluindo espaços), em português e inglês; c) nome de todos os autores por extenso,
indicando a filiação institucional de cada um; d) dados de um dos autores
para correspondência, incluindo nome, endereço, telefones, fax e e-mail.
Resumo: todos os artigos submetidos deverão ter resumo em português e
em inglês (abstracts), entre 150 a 250 palavras. Para os artigos originais
e comunicações breves, os resumos devem ser estruturados incluindo
objetivos, métodos, resultados e conclusões. Para as demais categorias, o
formato dos resumos pode ser o narrativo, mas preferencialmente com as
mesmas informações. Não devem conter citações e abreviaturas. Destacar no mínimo três e no máximo seis termos de indexação, extraídos do
vocabulário “Descritos em Ciências d Saúde” (DeCS – www.bireme.br),
quando acompanharem os resumos em português, e do Medical Subject
Headings – MeSH (http://www.nlm.nih.gov/mesh/), quando acompanharem os “Abstracts”. Se não forem encontrados descritores disponíveis para
cobrirem a temática do manuscrito, poderão ser indicados termos ou expressões de uso conhecido.
Texto: com exceção dos manuscritos apresentados como Artigos de Revisão os trabalhos deverão seguir a estrutura formal para trabalhos científicos:
25/02/14 09:21
328 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
Introdução: deve conter revisão da literatura atualizada e pertinente
ao tema, adequada a apresentação do problema, e que destaque sua
relevância. Não deve ser extensa, definindo o problema estudado, sintetizando sua importância e destacando as lacunas do conhecimento (estado de arte) que serão abordados no artigo. Métodos: devem
conter descrição clara e sucinta dos procedimentos adotados; universo e amostra; fonte de dados e critérios de seleção; instrumentos
de medida, tratamento estatístico, dentre outros. Resultados: Devem
se limitar a descrever os resultados encontrados sem incluir interpretações e comparações. Sempre que possível, os resultados devem
ser apresentados em tabelas ou figuras, elaboradas de forma a serem
autoexplicativas e com análise estatística. Discussão: deve explorar,
adequada e objetivamente, os resultados, discutidos a luz de outras
observações já registradas na literatura. É importante assinalar limitações do estudo. Deve culminar com as Conclusões, indicando
caminhos para novas pesquisas ou implicações para a prática profissional. Agradecimentos: podem ser registrados agradecimentos,
em parágrafo não superior a três linhas, dirigidos a instituições ou
indivíduos que prestaram efetiva colaboração para o trabalho.
Conflito de interesses
Deve incluir relações com: a) conflitos financeiros, como empregos,
vínculos profissionais, financiamentos, consultoria, propriedade,
participação em lucros ou patentes relacionados a empresas, produtos comerciais ou tecnologias envolvidas no manuscrito; b) conflitos
pessoais: relação de parentesco próximo com proprietários e empregadores de empresas relacionadas a produtos comerciais ou tecnologias envolvidas no manuscrito; c) potenciais conflitos: situações ou
circunstâncias que poderiam ser consideradas capazes de influenciar
a interpretação dos resultados.
Referências bibliográficas
As referências devem ser listadas no final do artigo, numeradas
consecutivamente, seguindo a ordem em que foram mencionadas
a primeira vez no texto, baseadas no estilo Vancouver (consultar:
“Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical
Journals: Writing and Editing for Medical Publication” www.icmje.
org). Nas referências com até seis autores, citam-se todos os autores;
acima de seis autores, citam-se os seis primeiros autores, seguindo
de et al. As abreviaturas dos títulos dos periódicos citados deverão
estar de acordo com o MedLine. A exatidão e a adequação das referências a trabalhos que tenham sido consultados e mencionados no
texto do artigo são de responsabilidade do autor.
Livros
Kane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics 5th
ed. New York: McGraw Hill, 2004.
Capítulos de livros
Sayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do
idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de Janeiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8
Artigos de periódicos
Ouslander JG. Urinary incontinence in the elderly. West J Med. 1981;
135 (2): 482-91
Dissertações e teses
Marutinho AF. Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacientes idosos portadores de Doença de Chagas [dissertação]. São Paulo:
Universidade Federal da SBGG; 2003.
Trabalhos apresentados em congressos, simpósios, encontros, seminários e outros
Peterson R, Grundman M, Thomas R, Thal L. Donepezil and vitamin
E as treatments for mild congnitive impairment. In: Annals of the 9th
International Conference on Alzheimer’s Disease and Related Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract 01-05-05.
Artigos em periódicos eletrônicos
Boog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para
curso de enfermagem. Ver Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado em
2002 Jun 10]; 15(1). Disponível em www.scielo.br/rm
Revista Inst aos autores.indd 328
Textos em formato eletrônico
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas de saúde: assistência médico-sanitária. www.ibge.gov.br (Acessado em:
05/02/2004)
More SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available from URL; www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em:
05/06/1996.
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Original articles: Contributions aiming at the release of unpublished
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Review articles: Critical and systematic evaluation of literature on
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Instruções aos autores | 329
certain subject containing a comparative review of papers in that area,
discussing methodological limitations and ranges, indicating further
study needs for that research area, and containing conclusions. The
proceedings adopted for the review, as well as search, selection, and
article evaluation strategies should be described, informing the limits
of the theme. They should not exceed 5,000 words and 50 references.
Brief communications: These are summarized articles designed for
dissemination of preliminary results, results of studies involving methodology of low complexity, and new hypotheses of relevance in the
field of Geriatrics and Gerontology. They should contain 800-1600
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Case Reports: These are manuscripts reporting original and interesting clinical cases. The title should have the disease or clinical
peculiarity — a case report. They must observe the structure of abstract (150 words) with introduction (an explanation to the reader
for the case report does not extend the description of “illness or
clinical particularity”), case report (with description of the patient,
results of clinical tests, follow-up, and diagnosis — WARNING: Do
not use acronyms or footnotes), discussion (comparison with similar data in the literature), and case outcome. They should contain a
bibliography and have no more than 1500 words and 15 references.
Letters to the editor: Section designed for publication of comments, discussion or any article reviews. They should not exceed
1,000 words and 5 references.
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Manuscripts should be typed in Word for Windows [(including
tables), figures should be supplied as JPG file and a minimum of
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Portuguese and in English having no more than 150 to 250 words. For
original articles and brief communications, abstracts should be structured to include objective, methods, results, and conclusions. For other
manuscript categories, abstract models could be narrative, but rather
carrying the same information. Abstracts should not contain quotations and abbreviations. At least three and at most six keywords should
accompany the Abstracts being extracted from the vocabulary in Descritores em Ciências da Saúde (DeCS - www.bireme.br) when accompanying abstracts in Portuguese and from Medical Subject Headings –
MeSH (http //www.nlm nih gov/mesh/) when accompanying abstracts
in English. If no descriptor is available to cover the manuscript theme,
words or expressions of known usage might be indicated.
Text: except for Review Articles, papers should assume formal structure of a scientific text. Introduction: The introduction should contain updated literature review, being appropriate to the theme, suitable to the problem introduced, and enhancing the theme relevance.
The introduction should not be extensive, but define the problem
studied, synthesizing its importance and stressing the knowledge
gaps addressed in the article. Methods: This section should have clear
and brief description of proceedings adopted, sampling, data source
and selection criteria, measurement instruments, statistical analysis,
among other features. Results: This section should be limited to describing the results found without including interpretation and comparison. Whenever possible, results should be displayed in tables or
figures designed to be self-explanatory and having statistical analysis.
Discussion: The discussion should properly and objectively explore
Revista Inst aos autores.indd 329
the results, discussed in the light of further observation already registered in literature. It Is important to point out the study limitations.
The discussion should culminate by conclusions indicating avenues
for new research or implications for professional practice.
Acknowledgements: Acknowledgments may be written in a no more
than 3-line paragraph towards institutes or individuals that effectively contributed to the paper.
Conflict of interest
Conflict of interest includes a) financial conflict such as employment, professional liaisons, funding, consulting, ownership, profit
or patent sharing related to marketed products or technology involved in the manuscript; b) personal conflict: close relatedness to
owners and employers in companies connected to marketed products or technology involved in the manuscript c) potential conflict:
situations or circumstances that could be considered capable of influencing the result interpretation.
References
Should be listed at the end of the manuscript and numbered in the
order they are first mentioned in the text, following Vancouver style
(v “Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals Writing and Editing for Medical Publication” [http://
www.icmje org]). List all authors up to 6; if more than six, list the
first 6 followed by et al. The titles of journals should be abbreviated
according to style used in Med-Line. Authors are responsible for
the accuracy and completeness of references consulted and cited
in the text.
Examples of reference style
Books
Kane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics.
5th ed New York: McGraw Hill, 2004.
Book chapters
Sayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do
idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de Janeiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8
Journal articles
Ouslander JG. Urinary incontinence in the elderly West J Med 1981;
135 (2): 482-91
Essays and theses
Marutinho AF Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacientes idosos portadores de Doença de Chagas [dissertação].
São Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003.
Papers introduced in congresso, symposiums, meetings, seminars etc.
Peterson R, Grundman M, Thomas R, Thai L. Donepezil and vitamin E as treatments for mild cognitive impairment. In: Annals
of the 9th International Conference on Alzheimer’s Disease and
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Abstract 01-05-05.
Articles from electronic journals
Boog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para
curso de enfermagem. Rev Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado
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Texts in electronic format
Institute Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas de saúde:
assistência médico-sanitária. www.ibge.gov.br (Acessado em: 05/
Fev/2004)
More SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available
from URL; www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em: Jun 5
1996.
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