viagem no tempo

Transcrição

viagem no tempo
Aos olhos de todos
Alexandre Le Voci Sayad
O Irã agora é um país aos olhos de todos. Imagens da violência, em uma passeata de jovens em
oposição ao resultado das eleições, foram colocadas na internet para quem quisesse ver. Por mais
terríveis que fossem, os vídeos permitiram que o mundo percebesse que há, além de um presidente
anti-semita, juventude e indignação em Teerã.
Índice
Até então pouco se conhecia sobre o país e sua sociedade. A comunicação permitiu que aquela
violência não ficasse escondida, por mais alguns séculos, sob um belo tapete oriental.
Editorial 03
Um Dia
04
Mais Lento Há pessoas
que resolveram repensa
perceberam o quão bo
r prioridades e condiçõ
m é tirar o pé do acelerad
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Como Sustentar um Mun
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Naquele tempo é que er
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10
Enquanto isso, aqui em Pindorama, escândalos envolvendo o presidente do Senado mobilizaram
uma massa de cidadãos que, via Twitter, cobraram de políticos a tomada de posições. O legado
importante da ação foi que, desta vez, ninguém pôde dar-se ao luxo de ficar com “cara de
paisagem”, o que era bem comum em outras épocas.
A comunicação é uma ferramenta fundamental para a liberdade de expressão e democracia. Afinal,
o Twitter, o YouTube e os blogs exercem hoje, com mais fluidez, o papel que os fanzines e jornais
políticos bem humorados, como o Pasquim, tinham em épocas mais duras da história do Brasil.
Na lógica da comunicação atual, tempo, espaço e meios de produção não são mais entraves; os
canais abertos da internet fazem de todos nós pequenos empresários da mídia. E, nesse cenário, a
educação continua correndo atrás da comunicação.
Cada um encara a nosta
lgia de uma maneira dif
alta tecnologia, o passa
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do mantém um lugar no
coração de muitas pesso
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Olha o Flash!
Assim são os flash mobs
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como objetivo quebrar
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a rotina e chamar a ate
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O desafio é antigo: Célestin Freinet, pedagogo francês, já estimulava a produção de jornais por seus
estudantes na década de 30 do século passado. Acabou expulso do sistema educacional da França.
Assim muitas outras experiências sucederam-se; com características e ritmos próprios, a educação
e a comunicação são como duas irmãs que se amam e se odeiam ao mesmo tempo. Procuram estar
juntas, mas acabam repelindo-se mutuamente, intolerantes.
A propaganda, os amigo
s ou o comportamento
os jovens brasileiros es
de algum ídolo são
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consumidores do mund
o.
As Várias Faces do Fã
Se
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de e tem raízes filosófic
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Com coragem, o Colégio Bandeirantes tornou-se um pioneiro em experimentar essa relação. Há oito
anos o curso Idade Mídia estimula estudantes a produzir comunicação autêntica de qualidade e
conhecer melhor seus meandros. Afinal, numa época em que todos se comunicam, é preciso fazê-lo
ainda melhor.
fato é que, em tempos
de
12
Mãe, eu preciso muito!
14
alguns dos motivos para
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16
Jovens de Todo o Bras
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“Fora, Sarney”, as ruas
Enquanto o Twitter é co
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Viagem no Tempo Nu
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20
Pági
22
nas Digitais Mercado
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substituem celulose na
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produção de livros.
nte ao musical: bytes
Interessados, com identidade própria, calcados em múltiplas referências e dotados de uma estranha
nostalgia, os estudantes de 2009 elaboraram e produziram a oitava revista do curso. Uma palavra
oriunda das máquinas antigas de fliperama (tilt) deu nome à publicação, que aborda diferentes
temas, de maneira profunda e divertida.
Uma constante profusão de ideias e uma sede de expressão quase causaram um verdadeiro tilt nos
educadores durante o processo. Mas valeu a pena. Comunicação e educação deram as mãos. E os
estudantes, aos olhos de todos, são nitidamente cidadãos.
Por Juliana Morato e Luiz Leite
Há pessoas que resolveram repensar
prioridades e condições de vida, e perceberam
o quão bom é tirar o pé do acelerador.
Acordar, vestir a primeira roupa que vir pela frente, sair
correndo para o trabalho, almoçar em um fast-food,
trabalhar, trabalhar, trabalhar, voltar tarde para casa,
tomar banho, comer algo rápido, escovar os dentes e
dormir (se der tempo!). No dia seguinte? Acordar, vestir a
primeira roupa que vir pela frente...
Essa é a rotina de muitos hoje em dia. Poucas pessoas
têm tempo para a família ou para si mesmos. A
exposição diária a inúmeras informações e propagandas
não ajuda. Há muito a ser refletido e pouco tempo
para isso. É preciso, segundo a mídia, trabalhar
incessantemente para ganhar o máximo de dinheiro:
condição essencial para adquirir os bens materiais que
proporcionarão felicidade e bem-estar. Mas será que
tudo isso é mesmo necessário?
Há pessoas que não levam a vida desse jeito. Elas
integram o slow movement (movimento lento). Contra
o estresse em que muitos vivem, alguns resolveram
repensar a conduta de vida e agora aproveitam mais o
dia, a família e eles próprios.
O slow movement iniciou-se em 1986, quando o
McDonald’s decidiu abrir uma franquia em Roma, na
Itália, próxima à Piazza di Spagna, uma praça histórica,
fascinante e muito visitada. Em protesto, um grupo,
armado de tigelas de penne e liderado pelo cozinheiro
italiano Carlo Petrini, manifestou-se contra os fast-foods
e a produção industrial de alimentos. Assim surgiu o
Slow Food, organização internacional (da qual Petrini é o
presidente) em defesa da chamada ecogastronomia e das
culinárias regionais, propondo uma alimentação caseira,
nutritiva e de qualidade, em que a comida é degustada
lentamente, para ser de fato apreciada. Depois,
movimentos semelhantes foram surgindo, como slow
travel (em defesa de um novo modelo de turismo, em
que o viajante se integra de fato à cultura visitada), slow
books (pelo resgate do prazer da leitura desinteressada
e compartilhada entre as pessoas), slow living (por uma
vida tranqüila) e muitas outros que, juntos, constituem o
slow movement.
Ricardo e Valéria Corrêa, proprietários da padaria Wheat
Organics, na Vila Leopoldina, em São Paulo, são adeptos
do Slow Food. A casa foi criada antes da adesão, mas
já com a proposta de conciliar o trabalho com uma vida
mais saudável e balanceada. Os donos, inclusive, moram
próximos da padaria e vão até ela bicicleta. “Ainda que
nosso trabalho exija muito esforço, dedicação e certa
‘correria’, nós gostamos do que fazemos e sabemos por
quais processos passam os alimentos que servimos.
Por isso, não o vemos como um fardo, mas como algo
prazeroso, que pode ajudar o planeta”, explica Valéria.
Visando equilibrar sabor, qualidade e sustentabilidade,
os produtos utilizados são muito bem selecionados
e, sempre que possível, orgânicos, ou seja, livres de
agrotóxicos, valorizando o produtor e o consumidor e
preservando o meio ambiente.
Por ser recente, o slow movement ainda não tem muitos
seguidores, mas está crescendo. A vantagem de integrarse formalmente é, principalmente, a troca de ideias com
outros membros. Aderir a ele é relembrar que a vida não
precisa passar na velocidade máxima. Afinal, quando
se está muito rápido, não se percebe o está ao redor: as
pessoas e a própria natureza.
Serviço
Wheat Organics
Rua Carlos Weber, 1622 – Vila Leopoldina – São Paulo (SP) - Tel. (11) 3628-8209
Slow Food Brasil
www.slowfoodbrasil.com
Slow Movement
Disponível em inglês: www.slowmovement.com
Quando o assunto é sustentabilidade, o esforço de
empresas, governos e cidadãos vai valer a pena ou
tudo não passa de mais uma moda passageira?
A partir do lançamento do documentário
“Uma Verdade Inconveniente”, baseado nas
conferências feitas pelo ex-vice-presidente
americano Al Gore sobre as mudanças
climáticas do planeta, a questão da
sustentabilidade ambiental parece que ganhou
proporções maiores nas agendas social e
política do mundo. É como se todos tivessem
finalmente despertado de uma hibernação com
relação ao destino do planeta.
O que poucos realmente discutem é a que
modelo de sustentabilidade estamos nos
referindo. Como ter uma economia e um modelo
de vida sustentável? E será que esse assunto
veio para ficar ou é algo momentâneo, apenas
uma moda?
Segundo Ana Paula Coscrato, consultora em
gestão de sustentabilidade corporativa, da
consultoria Via Gutenberg, não se trata de um
tema momentâneo, mas de um passo definitivo
para a transformação profunda das formas
de produção e organização da sociedade.
“Ela pressupõe todo um novo modelo de
desenvolvimento econômico. As empresas
investem volumes representativos de dinheiro
no desenvolvimento de tecnologias de produção
mais limpa, na gestão de resíduos e na
adaptação de sua estrutura produtiva para gerar
menor impacto social e ambiental”, esclarece.
É extremamente importante a iniciativa privada
liderar o movimento a favor da sustentabilidade,
mas existem também empresas que acabam
por mudar hábitos somente no que diz respeito
à sua imagem, e não promovem de fato grandes
Por Joaquim Eugênio de Lima e Thales Zanichelli
transformações. Por pressão da sociedade,
quando o tema ganhou força maior, governos e
instituições internacionalmente reconhecidos
(como a Organização Internacional do Trabalho,
OIT, entre outras) estabeleceram novas
regulamentações e padrões de operação das
empresas.
De acordo com a geógrafa Regina Mara,
“sustentabilidade é poder se manter
continuamente sem exaurir os recursos
necessários”. Levar uma vida sustentável,
então, seria utilizar, no cotidiano, recursos
renováveis, ou seja, que possam ser
reaproveitados, minimizando os danos ao meio
ambiente.
No campo individual, e nas pequenas
comunidades, pessoas têm percebido que esse
modelo é também bom para o bolso. Muitos
vêm adotando outra maneira de viver porque,
além da melhora da qualidade de vida, acabam
economizando nas despesas do dia-a-dia, como
a conta de luz e de água.
Os cerca de quinhentos pescadores que
habitam a comunidade da Prainha do Canto
Verde, em Beberibe, no Ceará, por exemplo,
utilizam energia solar e eólica como forma de
abastecimento, aproveitam a água da chuva
para a descarga nos banheiros e empregam
a água do vaso sanitário como adubo natural.
Sinal da importância de se pensar grande e agir
pequeno, ou seja, preocupar-se com o planeta
cuidando do quintal da própria casa.
Animais domésticos podem ficar fora da proteção da
legislação brasileira caso Projeto de Lei seja aprovado.
Por Beatriz Lima
Um dia, o líder indiano Mahatma Gandhi disse: “O grau de civilização de uma sociedade
pode ser medido pela forma como trata seus animais”.
Enquanto a Espanha tenta abolir as touradas, a União Europeia proíbe a importação de
peles vindas da China e Canadá, a Tailândia deixa de abrigar navios baleeiros japoneses
e a Bolívia veta a utilização de animais em espetáculos circenses, parece que o Brasil
está na corrente contrária. Acaba de voltar à pauta o projeto de lei 4548/98, do exdeputado José Thomaz Nonô. O PL, que propõe a retirada da expressão “domésticos ou
domesticados” do Artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais, seria um retrocesso para a
proteção animal no Brasil.
O projeto foi apresentado ao plenário em 1998 e, desde então, teve de passar pela
aprovação da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, cuja função é avaliar
as propostas sob os aspectos de constitucionalidade, juridicidade, técnica legislativa e
mérito. Também passou pela Comissão de Defesa do Consumidor. Depois de aprovado
por essas comissões, foi arquivado e retirado da gaveta muitas vezes. Agora está para
ser colocado em pauta no plenário.
A consequência direta de sua aprovação será a exclusão dos animais domésticos da
proteção que a lei fornece. Entende-se por animais domésticos não só o cachorro ou gato,
mas aqueles que não vivem mais em ambientes naturais e tiveram seu comportamento
alterado pelo convívio com o homem. Assim, muitos vão ficar sujeitas à mera boa vontade
de quem os trata.
Há um propósito maior na aprovação: liberar atividades culturais, esportivas e folclóricas
que utilizam animais – como a Farra do Boi. Mas, segundo o ministro do Meio Ambiente,
Carlos Minc, as expressões culturais e as competições esportivas podem conviver
harmoniosamente com as normas de proteção aos animais já existentes.
Cada um encara a nostalgia de uma maneira diferente.
O fato é que, em tempos de alta tecnologia, o passado
mantém um lugar no coração de muitas pessoas.
Por Carolina Arcas e Nathália Castanho
São sete da matina e, assim, como em todas as férias
escolares, estou em Avaré, na casa de meus avós. Acordo
com o cheiro de café recém-passado no coador. O friozinho
da manhã faz com que a cama pareça cada vez mais
aconchegante. Retorço-me mais umas duas vezes, ainda
deitada, mas o aroma da broa de milho quentinha da
minha avó não me deixa alternativas. Levanto e escuto o
doce canto dos passarinhos e meu avô desejando-me bom
dia. Um tempo bom que não volta mais!
São lembranças como essa que caracterizam o sentimento
nostálgico. Afinal, quem nunca ouviu de seus pais
algo como: “Ah, no meu tempo...”? Não conseguindo
acompanhar todas as mudanças da vida moderna, algumas
pessoas preferem recorrer a coisas que remetam ao
passado.
Para o cantor e compositor Lobão, que tem entre seus
trabalhos o CD Nostalgia da Modenidade, de 1995, “as
pessoas nostálgicas tendem a não se adaptar à vida
presente ou não ver possibilidade de ter um futuro mais
interessante do que o já vivido”.
O antigo ganha espaço no cenário atual, em que o
moderno tem maior destaque social, mas talvez não
maior valor pessoal. Os adeptos das bolachas de vinil,
por exemplo, acreditam que nenhuma tecnologia lançada
por Steve Jobs irá substituir as vantagens dos seus
queridinhos. “O CD oxida facilmente, enquanto os LPs
têm uma maior durabilidade, são eternos”, alega Carlos
Galdy, amante dos vinis e dono de uma loja no centro de
São Paulo que contém centenas deles. Ele ainda afirma se
sentir “meio dinossauro”, considerando que vive em um
mundo no qual as tecnologias se renovam a cada minuto.
Aproveitando-se desse saudosismo, algumas empresas
direcionam as suas campanhas publicitárias ao público
nostálgico. A Kibon lançou, no final de 2009, embalagens
retrô que, segundo Lucíola Costa, uma das responsáveis
pelo marketing da empresa, “têm a intenção de resgatar
a nostalgia de uma maneira positiva, mostrando que os
produtos do passado também têm qualidade”.
Outro tipo de apego ao passado é a saudade do não vivido.
É comum encontrar jovens que têm em seus aparelhos
de última tecnologia, músicas que fizeram sucesso vinte
anos antes do surgimento do CD. Como alguém pode
ter como ídolo alguém que nem é da sua época? Muitos
adolescentes acreditam que a música de hoje em dia
não tem um conteúdo tão diferenciado como as músicas
de antigamente. Para sair da mesmice, essas pessoas
buscam músicas de tempos passados e tentam trazê-las
de volta, construindo, então, um sentimento nostálgico.
Mas, afinal, o sentimento nostálgico está ou não associado
à saudade? O exemplo dado no início da reportagem
tem ou não a saudade “do tempo que não volta mais”?
Para o músico Lobão, a saudade representa o quanto
valeu a pena ter vivido certo momento, diferentemente
do sentimento nostálgico, que se manifesta quando há
uma sensação de perda daquele tempo.
O fato é que não há certo ou errado quando se trata de tal
assunto, apenas manifestações diferentes em cada um.
Como você encara a nostalgia, afinal?
Assim são os flash mobs, protestos ou brincadeiras
organizados via internet, que têm como objetivo quebrar a
rotina e chamar a atenção para alguma causa.
Por Mariana Pereira e Sophia Torres
Sábado, 4 de abril. Você está andando pelo Parque
do Ibirapuera prestes a passar pelo Obelisco. Eis que
percebe que nem tudo está onde deveria. Olhando mais
de perto, vê uma aglomeração de pessoas. Nos rostos
repetem-se expressões de ansiedade por algo que você
não entende bem o que é. Deixando o som dos carros
para trás, escuta um coro arrastado e agitado de “3, 2,
1”... Travesseiros voam pelo ar. Começou. Mas o que
exatamente? Disseram-nos que era um tal de flash mob.
Fomos investigar.
A brincadeira surgiu em junho de 2003 em Nova York, na
loja de departamento Macy’s, em volta de um tapete. Lá
se reuniram cem pessoas. Para os olhos e ouvidos curiosos
tratava-se de um grupo que morava junto, nos subúrbios
da cidade, em busca de um tal “tapete do amor”. Era, na
verdade, uma crítica ao conformismo, modismo e à cultura
hipster (moderna e alternativa). Mas foi muito mais que
isso: marcou a origem do que viria a ser um flash mob (em
português, algo como “mobilização relâmpago”).
Achar um ponto em comum entre o tapete de Nova York
e uma guerra de travesseiros em pleno parque paulistano
pode parecer difícil, mas começa a ficar fácil a partir do
momento em que se encontra uma definição para esses
eventos. Basicamente, trata-se de um grupo de pessoas
que se organiza, em geral pela internet, para quebrar a
rotina por alguns minutos com uma ação inusitada, muitas
vezes como protesto, e logo voltar à normalidade, como se
nada houvesse ocorrido.
Todo mob tem o mesmo ponto de partida: os megabytes
de um computador. A partir dele, pessoas que nunca se
conheceram se unem para fazer com que a ação saia do
mundo digital para o concreto das cidades. Assim, os
flash mobs quebram o paradigma de que a internet isola
as pessoas. “É um efeito muito único, que é a sensação
de grupo. Ao agir em bando contagiamos uns aos outros
e nos libertamos de qualquer constrangimento”, explica
Stefano Azevedo, integrante da equipe do programa
de televisão Mob Brasil (Canal Multishow), dedicado à
divulgação das mobilizações tupiniquins.
Pessoas usando pijamas à luz do dia (em plena Avenida
Paulista), danças coreografadas em praças públicas,
homens andando de cueca no metrô. Tudo isso é flash
mob, inclusive guerras de travesseiros, como a citada no
início desta matéria. A pillow fight, como é conhecida
no mundo todo, é um mob diferente, organizado
simultaneamente em vários países e chamada de Dia
Internacional da Guerra de Travesseiros. “Imagina
você ir para o Ibirapuera e bater e brincar com pessoas
desconhecidas! É fantástico!” afirma Audrey Martini, de
16 anos, que foi ao evento em abril deste ano.
Fantasiado ou com um travesseiro na mão, cada um
acha no mob uma forma de se expressar. “Eles buscam
fazer parte de algo que consideram moderno, sofisticado
ou quaisquer conceitos que desejem agregar às suas
identidades”, completa Stefano Azevedo. A beleza do
fenômeno “mobeiro” é a possibilidade de cada grupo dar
sua cara ao mundo, seja qual for e ainda que efêmera.
“São 20 havaianas, 13 sapatilhas, 16
rasteirinhas e 18 tênis”, conta Luiza Russo,
17 anos, ao ser perguntada sobre quantos
pares de sapatos possui. “Não uso tudo
porque descubro que não gosto quando
chego em casa, ou porque não é útil ou
porque comprei por instinto”. Personagem
típica do cenário consumista adolescente da
atualidade, Luiza afirma ser consciente de
seu consumismo exagerado. “Eu compro e,
quando entro no meu closet e vejo que tem
muita coisa, me sinto mal”, assume.
A propaganda, os amigos ou o comportamento de algum ídolo são alguns dos motivos
para que os jovens brasileiros estejam entre os maiores consumidores do mundo.
Por Carolina Lima, Flávia Dorgan e Sofia Hanashiro
Luiza é só mais uma entre os milhares
de adolescentes brasileiros que não
conseguem se conter na hora de ir às
compras. Além dela, outros jovens
são verdadeiras vítimas do consumo,
influenciados por diversos fatores, sejam os
amigos, a propaganda ou o comportamento
de algum ídolo. O consumismo assume,
assim, diversas formas, chegando até a
ser considerado uma doença, em casos
extremos.
O também estudante Douglas Faria, de
17 anos, tem uma coleção de 25 pares de
tênis. Só em sua última viagem comprou
sete calças e oito camisetas polo. O garoto
explica que comprar o deixa feliz. “Eu
compro por impulso, e depois eu fico triste
porque comprei. Mas na hora parece que
ficou legal.”. Douglas diz que ao comprar
leva em consideração principalmente aquilo
que os seus ídolos usam, de modo que são
como uma inspiração para ele.
Duas pesquisas diferentes realizadas nos
últimos anos – uma da Organização das
Nações Unidas (ONU), outra do Instituto
Akatu pelo Consumo Consciente –, o
jovem brasileiro é o que mais se interessa
pela compra no mundo, à frente até do
americano. Para a psicóloga e psicanalista
Soraia Bento, os adolescentes estão em
fase de descoberta de sua identidade
e, ao comprarem, buscam um meio de
se identificarem e serem identificados.
“Encontrar um espaço no mundo para
você ser quem quer ser e não o que
desejam que você seja é a maior busca do
adolescente”, explica.
Justamente por serem facilmente
influenciados e estarem repletos de
incertezas, os jovens são alvo frequente
das campanhas publicitárias. “É um
público aberto a novas tendências. Por
quererem experimentar coisas novas,
muitas vezes não diferenciam com
clareza desejo e necessidade”, explica a
publicitária Mariana Viggiani.
Apesar de consumir ser, até certo ponto,
saudável para a construção de uma
personalidade própria, comprar de forma
exagerada prejudica não só a pessoa
que consome, mas todos ao seu redor e
até mesmo o meio ambiente. Por esses
motivos, em diversos países, entre eles
Irlanda, Itália e Inglaterra, há regras para
a publicidade voltada ao público infantil
e juvenil.
No Brasil, recentemente foi mais uma
vez regulamentada a propaganda voltada
a crianças, para que elas entrem na
adolescência sem tanta influência da
publicidade e estímulo ao consumo.
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Por Beatriz Moura e Izabella Bueno
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em filosofia, é estudiosa do filósofo
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jo. Quando os homens esquecem
ença do homem no mundo é o dese
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desejos se tornam imoderados
é a substância que tudo gerou, seus
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part
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faze
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diato disso é que os homens se
qual são dotados. O efeito mais ime
da
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lida
ona
raci
à
em
epõ
sobr
se
e
pensamentos”, acredita Eva.
desequilibram em suas ações e seus
toro, psicóloga, acredita
r da realidade a encará-la. Ariane Mon
fugi
s
veze
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mui
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cais
radi
Os fanáticos
momentos da vida as pessoas
causas do fanatismo. “Em muitos
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cipa
prin
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uma
ser
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que o escapism
a diferente. Quando isso
s às de outras que pensam de form
riore
supe
são
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suas
que
tentam mostrar
ica.
tismo, causado pelo escapismo”, expl
chega ao extremo, chamamos de fana
e
oas. Cristiana Assumpção, bióloga
o é parte saudável da vida das pess
há
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Em muitos casos, porém, a adoraçã
acre
Ela
e Star Trek.
l, por exemplo, até hoje é fã da séri
doutora em tecnologia educaciona
bros do fã-clube no cinema, para
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nova, encontrava-s
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idade para ser fã. Quando era mais
s. Segundo ela, muitos cientistas segu
organizarem concursos de fantasia
para
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séri
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utili
ano
assistirem aos episódios, além de
eric
norte-am
Trek, inclusive ela mesma; o governo
essa carreira influenciados por Star
na população.
despertar o interesse pela Ciência
e
que fez o personagem Sulu na séri
tiana: quando o ator George Takei,
Cris
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cion
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icula
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conv
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Uma hist
para Los Angeles e ele
ada para ser a tradutora. “Depois fui
original, veio ao Brasil, ela foi cham
brunch na casa dele”, orgulha-se.
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fez
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Ele me levou aos estúdios
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da série.
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quase todas cias na área do teletran
as ficções ci
sporte, “rec
urso”
entíficas.
Enquanto o Twitter é congestionado de mensagens de “Fora, Sarney”, as ruas
não vêem uma manifestação política maciça de jovens há muito tempo.
Por Marcos Vinicius Schimitd e Priscila Garcia
24 de abril de 1984: 1,7 milhão de pessoas tomam a Praça da Sé e o
Vale do Anhangabaú, em São Paulo, com o grito “Um, dois, três, quatro,
cinco mil... Queremos eleger o presidente do Brasil”. O movimento
“Diretas Já” reivindicava eleições diretas para presidente da República.
15 de agosto de 2009: também em São Paulo, aproximadamente
500 manifestantes foram para a Avenida Paulista protestar contra o
presidente do Senado, José Sarney, acusado, entre outras coisas, de
desvio de dinheiro público, movimentação de contas ilegais no exterior,
sonegação de impostos e nepotismo. Para onde foram os outros um
milhão, seiscentos e noventa e nove mil e quinhentos brasileiros? Para
onde foi a vontade dos jovens de mudar o país?
O jovem brasileiro continua politicamente ativo e tem consciência
dos problemas que o seu país enfrenta. A diferença do número de
manifestantes pode ser explicada pela tecnologia de uma ferramenta
que é muito usada quando a questão é protestar: a internet.
Para a subprefeita da Lapa, Soninha Francine, que se elegeu vereadora
com o apoio maciço da juventude, “o envolvimento do jovem na política
acontece e é extremamente importante”. O que acontece é que a
manifestação parece ter migrado para o mundo digital. A campanha
“Fora Sarney”, por exemplo, chegou por alguns dias a figurar nos Trending
Topics (tópicos mais influentes) do Twitter, site de relacionamento da
internet. “A internet é uma ótima ferramenta para unir as pessoas e
mostra-se, em diversos casos, uma maneira de disseminar informações”,
acredita Ricardo Joseph, criador do site Urbanias (www.urbanias.com.br),
que une o mundo virtual e real, disponibilizando informações de interesse
público de forma simples e integrada às tecnologias de comunicação. Contudo, para que os protestos se façam sentir, incomodem e
tenham verdadeiro impacto, os jovens têm de ir além da internet. As
manifestações online podem ser ignoradas simplesmente mantendo-se
o computador desligado. Por isso, a geração atual precisa ir para as ruas,
votar conscientemente, protestar, exigir seus direitos e fazer-se ouvir
também fora do ambiente virtual. Um bom exemplo de que isso é possível
foi a presença de cerca de quatrocentos jovens, num debate promovido
pela revista Trip em outubro de 2009, em São Paulo, numa tarde de
domingo, com o objetivo justamente de estimular a participação política.
Numa era de shopping centers, as galerias dos anos 50 mantêm
seu charme e prometem um retorno triunfante em São Paulo.
Por Anna de Oliveira e Isabela Taccolini
A porta não chama muito a atenção, apagada entre
todos os prédios da cidade; não seria difícil ignorá-la e
continuar o caminho normalmente. Mas, por vezes, os
olhares dos pedestres encontram as lojas, a arquitetura,
as longas escadas, e a curiosidade é inevitavelmente
despertada.
Viagem no Tempo
Entrar na galeria é uma sensação peculiar. Percebese logo que não se trata de algo da magnitude dos
shopping centers nem da desorganização das feiras
de rua. As lojas são muitas e de todos os estilos; uma
diferente da outra, uma nova amostra de originalidade
em cada vitrine. Acabam por tornar o lugar
extremamente colorido e diverso: em toda a cidade de
São Paulo, não existe uma galeria a outra. Em algumas,
encontra-se uma massa de compradores; em outras,
apenas uns poucos visitantes.
Além disso, ao entrar em uma galeria, a sensação é,
inevitavelmente, a de um outro tempo. Talvez pela
arquitetura, pelas lojas com aspecto antigo ou o
ambiente em que cada elemento remete à década
em que foi fundada (a maioria tem mais de 50 anos).
Muitas vezes essa atmosfera antiga é proposital; a
Barbearia 9 de Julho, por exemplo, da Galeria Ouro
Velho, localizada na Rua Augusta, apesar da juventude
dos funcionários, tem todas as características de uma
barbearia dos anos 50.
A despeito das diferenças, as galerias têm um ponto
em comum: a criatividade. Segundo Maria Lúcia Costa,
da loja Coelho Show, na Galeria Ouro Fino, também
na Rua Augusta, as lojas são feitas sob medida para
o seu público – os inovadores, que buscam algo mais
original do que as produções em massa dos shopping
centers. “Você não vai comprar algo aqui e encontrar
alguém usando a mesma coisa; o público se enxerga
nas nossas lojas”, acredita.
Aline Moraes, dona da loja Fever, na Galeria Ouro
Velho, defende também a criatividade das galerias:
“Elas estão ficando cada vez mais fortes”. Segundo a
lojista, cada vez mais pessoas estão buscando essa
originalidade, já cansadas dos shopping centers. E,
uma vez que as galerias agregam diferentes estilos,
qualquer um, na opinião de Aline, pode encontrar algo
de seu agrado nelas.
Maurício Eloy, do Sebo Nós Três, também na Ouro
Velho, acredita absolutamente na “volta das galerias”.
Acrescenta que ele próprio não gosta do “clima” do
shopping. “É muita vitrine para nada”, brinca.
Nenhum deles nega que, por outro lado, os shoppings
oferecem uma estrutura que, em geral, as galerias
não possuem, como estacionamento e praça de
alimentação. Maurício reforça a questão da comida,
que, segundo ele, atrai muitas pessoas que acabam
depois entrando nas lojas e comprando.
É consenso entre os comerciantes das galerias que
falta divulgação para elas. Poucas pessoas sabem sua
localização e o que oferecem. Talvez com a divulgação
certa e investimentos, possam se fortalecer e
recuperar enfim o prestígio que já tiveram.
Expediente
Colégio Bandeirantes
Diretor-Presidente: Mauro de Salles Aguiar
Idade Mídia 2009: Alexandre Le Voci Sayad, Gilberto Dimenstein e Marina Consolmagno (Cidadania)
Estudantes-repórteres: Anna Gabriela Nicolau Coelho de Oliveira, Beatriz dos Reis Moura, Beatriz Spínola
de Góis Lima, Carolina Tomishige Alves Lima, Carolina Tonet Tambosi Arcas, Flávia Dorgan, Isabela
Sarno Taccolini, Izabella Bueno, Joaquim Eugênio Fernandes de Lima, Juliana Yumi Shiina Morato, Laura
Grossmann, Luiz Eduardo Rudge Leite, Marcus Vinicius de Abreu Schimitd, Mariana Campos Pereira,
Nathália Castanho Brunelli, Priscila Garcia Barbosa, Sofia Yumi Mori de Hanashiro, Sophia Neitzert Torres
e Thales Eduardo Zanichelli.
Tilt
Edição: Alexandre Le Voci Sayad • Direção de Arte e Projeto Gráfico: Murilo Martins
Fotografia: Alexandre Le Voci Sayad (Estudantes); Anna de Oliveira e Isabela Taccolini (Viagem no Tempo)
Revisão: Cassiano Pimentel • Tiragem: 1500 exemplares
Agradecimentos
Departamento Cultural (Bandeirantes), Erika Vieira, Matheus Mlot (que deu significado ao nome Tilt), Rádio
107 FM, Rubens Vianna, Sérgio Rizzo e Sylvio Ayala.
Para conhecer o processo educativo do Idade Mídia,
acesse o blog www.idademidia.colband.blog.br
Tilt é o produto final do curso Idade Mídia 2009, do Colégio Bandeirantes.