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ESTUDO DA AÇÃO DE ADULTERANTES QUÍMICOS NA ANÁLISE DE CLORIDRATO DE COCAÍNA EM SUA FORMA IMPURA (COMERCIAL) UTILIZANDO REAÇÕES POR VIA ÚMIDA DO TIPO “SPOT TESTS”. Ana Paula Sant’Anna Fernandes – [email protected] IFG / Campus Itumbiara Matheus Manoel Teles de Menezes – [email protected] IFG / Campus Itumbiara PIBIC/CNPq Resumo: O crescente aumento na taxa de criminalidade em atividades decorrentes do tráfico de drogas vem comprometendo a qualidade de vida humana, por isso há necessidade de desenvolver estudos e pesquisas na área de detecção de drogas. Desta forma, este trabalho constitui-se em um estudo baseado em pesquisa experimental e bibliográfica, que teve como objetivo principal desenvolver metodologias por meio de testes analíticos do tipo “spot tests” sobre o cloridrato de cocaína na sua forma pura, impura (comercial) e seus interferentes de modo que os mesmos pudessem auxiliar na identificação de falsos positivos que podem ser capazes de ocorrer em análises forenses. Este trabalho aborda questões sociais, em um contexto de segurança pública com a finalidade de demonstrar a ocorrência de falsos positivos em substâncias ilícitas e assim ajudar no combate ao tráfico de drogas. Com base nas informações obtidas dos testes observou-se que há uma necessidade de rever as alternativas de identificação de drogas de abuso, já que houve incidências de falsos positivos na maioria dos testes realizados. Palavras-chave: Falsos positivos. Cocaína. Spot Tests. Introdução: A cocaína tem se destacado como uma das entorpecentes apreendidas no Brasil, por este motivo é importância de métodos simples, eficazes, de aplicações e ajudam na identificação do cloridrato de cocaína em (FERREIRA, 2012). principais necessário resultados amostras substâncias ressaltar a rápidos que apreendidas A cocaína raramente tem sido objeto de tráfico em sua forma pura. Além das drogas anestésicas (lidocaína, benzocaína e cafeína) serem utilizadas como excipientes, diversas outras substâncias também já foram identificadas como adulterantes para o aumento do volume do produto final comercializável, como o amido, açúcares, bicarbonatos, talco e outras (CARVALHO, 2000). Os procedimentos forenses clássicos utilizados para a identificação da cocaína e dos seus principais interferentes são os testes de Mayer, Scott, Tiocianato de Cobalto e 1 Tiocianato de Cobalto Modificado. Além de realizar os testes nas substâncias interferentes, serão realizados testes em pós-brancos usados no cotidiano. O desenvolvimento de todos esses testes será realizado para que os resultados possam provar a natureza exata da amostra quando envolvidas sob suspeitas. Este trabalho baseou-se no estudo e verificação dos principais métodos colorimétricos, denominados “spot tests”, quanto a sua utilização e resposta frente as drogas de abuso e seus interferentes químicos mais comuns, norteando a atenção para o possível relato e constatação de falsos positivos. Objetivos: O projeto visa o estudo a partir do cloridrato de cocaína em suas formas pura e impura através de metodologias analíticas por via úmida (testes de Mayer, Scott, Tiocianato de Cobalto e Tiocianato de Cobalto Modificado) para a obtenção de respostas a respeito do analito de interesse e de seus possíveis adulterantes. Metodologia: O projeto foi realizado com os seguintes testes: Mayer, Scott, Tiocianato de Cobalto e Tiocianato de Cobalto Modificado e foram analisados com pós-brancos utilizados no cotidiano: farinha de trigo, leite em pó, cloreto de sódio, açúcar refinado e fermento em pó e realizados nos seguintes componentes: cocaína impura, cocaína pura e seus adulterantes: teobromina, lidocaína e procaína. Resultados e discussões: No teste de tiocianato de cobalto: “Para resultados positivos, haverá aparecimento imediato de uma coloração azul turquesa, decorrente da formação de um complexo organometálico, indicando a possível presença de cocaína” (PASSAGLI, 2009). A farinha de trigo, fermento em pó e a lidocaína apresentaram como coloração final, o azul, indicando então, serem falsos positivos. As drogas também apresentaram essa coloração. A seguir, observa-se o resultado inicial e o final desse teste para a cocaína pura: Figura 2: Teste de tiocianato de cobalto para a cocaína pura. (i) Teste realizado com HCl diluído. (ii) Teste realizado com ácido clorídrico diluído e tiocianato de cobalto acetificado 0,5%. E então, os resultados deste teste para a teobromina: Figura 3: Teste de tiocianato de cobalto para a teobromina. (i) Teste realizado com HCl diluído. (ii) Teste realizado com ácido clorídrico diluído e tiocianato de cobalto acetificado 0,5%. No teste de tiocianato de cobalto modificado: “No início do teste, ao adicionar a solução de tiocianato de cobalto modificado, apresentará uma coloração azul na 2 presença do cloridrato de cocaína. Com a adição do HCl, o meio aquoso ficará fortemente ácido, assim o complexo do alcaloide quebra-se e promove-se a dissolução da cocaína. Por fim, ao adicionar o clorofórmio, para resultados positivos, haverá a afirmação de duas fases, em que a superior (aquosa) deverá ser rosa e a inferior (orgânica) será azul” (PASSAGLI, 2009). Ao adicionar a solução de tiocianato de cobalto modificado, somente a cocaína pura e impura apresentou colorações azuis. Ao final, quando adicionou o clorofórmio, a cocaína pura, impura e a lidocaína apresentaram o mesmo resultado: a formação das duas fases (superior rosa e inferior azul). A seguir, observa-se o resultado inicial e final para o cloreto de sódio: Figura 4: Teste de tiocianato de cobalto modificado para o cloreto de sódio. (i) Teste realizado com tiocianato de cobalto modificado. (ii) Teste realizado com tiocianato de cobalto modificado e ácido clorídrico diluído. (iii) Teste realizado com tiocianato de cobalto modificado, ácido clorídrico diluído e clorofórmio. Segue os resultados para a cocaína impura: Figura 5: Teste de tiocianato de cobalto modificado para a cocaína impura. (i) Teste realizado com tiocianato de cobalto modificado. (ii) Teste realizado com tiocianato de cobalto modificado e ácido clorídrico diluído. (iii) Teste realizado com tiocianato de cobalto modificado, ácido clorídrico diluído e clorofórmio. No teste de Scott: “Ao colocar a solução de tiocianato de cobalto 2%, na presença da cocaína, haverá formação de uma coloração azul turquesa, posteriormente ao adicionar HCl, ocorrerá a quebra do complexo azul que se forma na presença de cocaína, resultando na formação de uma solução límpida de cor rosa, ao final quando se adiciona o clorofórmio aparecerá uma intensa coloração azul turquesa” (PASSAGLI, 2009). Nenhuma das amostras apresentou a coloração proposta. Este resultado pode ter ocorrido devido à temperatura ambiente que pode comprometer no equilíbrio entre o resultado dos testes e/ou devido ao fato das amostras de cocaína conter excipientes insolúveis (LINCK, 2008). Abaixo é possivel verificar os resultados para a cocaína pura: Figura 7: Teste de Scott para o cocaína pura. (i) Teste realizado com tiocianato de cobalto 2%; (ii) Teste realizado com tiocianato de cobalto 2% e ácido clorídrico concentrado; (iii) Teste realizado com tiocianato de cobalto 2%, ácido clorídrico concentrado e clorofórmio. 3 No teste de Mayer: “Como resultado positivo, tem-se a formação de precipitados brancos floculentos, com o passar do tempo tornam-se amarelados. Ao adicionar o reativo de Mayer, a formação do precipitado é imediata e para a confirmação do resultado positivo, adiciona-se álcool etílico para a dissolução do precipitado formado” (PASSAGLI, 2009). A cocaína pura e impura foram as únicas que apresentaram precipitados amarelados e que ao adicionar o reativo de Mayer à amostra, este foi dissolvido. A seguir é mostrado os resultados para a cocaína impura: Figura 8: Teste de Mayer para a cocaína impura. (i) Teste realizado com 1mL de água deionizada e ácido clorídrico diluído; (ii) Teste realizado com 1mL de água deionizada, ácido clorídrico diluído e reativo de Mayer; (iii) Teste realizado com 1mL de água deionizada, ácido clorídrico diluído, reativo de Mayer e álcool. A seguir encontra-se os resultados para o açúcar refinado: Figura 9: Teste de Mayer para o açúcar refinado. (i) Teste realizado com 1mL de água deionizada e ácido clorídrico diluído; (ii) Teste realizado com 1mL de água deionizada, ácido clorídrico diluído e reativo de Mayer; (iii) Teste realizado com 1mL de água deionizada, ácido clorídrico diluído, reativo de Mayer e álcool. Conclusões: De acordo com os resultados apresentados em relação aos testes estudados, foi verificado então que somente no teste de Mayer foi constatado resultados positivos somente para as drogas, visto que nos outros testes obteve a presença de falsos positivos. Assim, observou-se que nem todos os métodos analíticos utilizados pela polícia apresentam resultados específicos. São necessários, então, novos estudos para o aperfeiçoamento e desenvolvimento de testes rápidos mais eficientes e seguros com o intuito de facilitar o trabalho das autoridades policiais no combate ao tráfico de drogas. Referências bibliográficas: CARVALHO, D. G. Determinação dos componentes do cloridrato de cocaína ilegalmente comercializado na região metropolitana de São Paulo no ano de 1997. São Paulo: 2000. FERREIRA, G. M. D. Comportamento de participação de cocaína e de seus adulterantes e, SABs: proposta de um novo método para a identificação da droga. Viçosa: 2012. LINCK, D. L. H. Métodos Colorimétricos de Identificação de Drogas de Abuso. Nova Hamburgo 2008. PASSAGLI, M. Toxicologia Forense: teoria e prática. 2ª ed. Campinas: Millennium, 2009. 4