propsico – clínica de psicologia prozac, a pílula da felicidade.

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propsico – clínica de psicologia prozac, a pílula da felicidade.
PROPSICO – CLÍNICA DE PSICOLOGIA
Psicologia Clínica e Consultoria Empresarial
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PROZAC, A PÍLULA DA FELICIDADE.
FELICIDADE NA DOSE CERTA? - Anna Moore
Em 1971, quando foi desenvolvido a LY110141, a substância que se tornou o Prozac, a
depressão raramente era discutida e os antidepressivos se restringiam em geral às clínicas
psiquiátricas. As pessoas iam ao médico por causa de “ansiedade’ e “nervosismo’.
Tranqüilizantes como o Valium eram a resposta mais provável.
A Eli Lilly, companhia farmacêutica que produziu o Prozac, de início viu um futuro
totalmente diferente para sua nova droga. Primeiro foi testada para o tratamento de pressão
alta e funcionou em alguns animais, mas não em seres humanos. O Plano B era um agente
contra obesidade, mas também não foi aprovado. Quando testada em pacientes psicóticos e
hospitalizados com depressão, a LY110141, então chamada de fluoxetina, não apresentou
claros benefícios, e diversos pacientes pioraram. A Eli Lilly a testou em depressivos brandos.
Cinco recrutas a experimentaram e todos ficaram mais animados. Em 1999, o medicamento já
respondia por mais de 25% do faturamento de 10 bilhões de dólares do laboratório.
A fluoxetina foi entregue à Interbrand, maior companhia mundial de branding (Sony,
Microsoft, Nikon, Nintendo), para ganhar uma identidade. O nome Prozac foi escolhido por
seu impacto. Soava positivo, profissional, rápido, eficaz. Ele foi comercializado como uma
fórmula fácil de prescrever, “uma pílula, uma dose para todos”, e chegou quando a classe
médica e a mídia estavam inundadas por histórias horríveis sobre a dependência de Valium.
O Prozac atingiu uma sociedade que estava no clima certo para ele. Campanhas
nacionais (apoiadas pela Eli Lilly) alertaram os médicos e o público para os perigos da
depressão. A Eli Lilly financiou 8 milhões de folhetos (“Depressão: o que você precisa saber”) e
200 mil cartazes. Os antidepressivos anteriores eram altamente tóxicos, letais em doses
excessivas e tinham outro efeitos colaterais negativos. O Prozac foi lançado como totalmente
seguro, podia ser receitado para qualquer um. Era a droga maravilhosa, a resposta fácil, o
reanimador instantâneo, o eldorado neurológico. Quando chegou o dia do lançamento, os
pacientes já o pediam pelo nome.
Vinte anos depois, o Prozac continua sendo o antidepressivo mais amplamente usado
na história, prescrito para 54 milhões de indivíduos em todo o mundo, e muitos acham que
devem a vida a ela. É receitado contra depressão, distúrbio obsessivo-compulsivo, síndrome
do pânico, distúrbios alimentares e transtorno disfórico pré-menstrual (antes, conhecido com
TPM).
Estranhamente, a depressão atingiu níveis epidêmicos. O dinheiro e o sucesso não
servem de proteção: escritores, a realeza, astros do rock, top models, atores, executivos, todos
a tiveram. Estudos sugerem que, nos Estados Unidos, a depressão mais que duplicou entre
1991 e 2001. No Reino Unido, estima-se que uma em cada seis pessoas a experimenta. E custa
mais de 9 bilhões de libras (cerca de 36 bilhões de reais) por ano em tratamentos, benefícios e
receitas cessantes. Enquanto isso, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a
depressão deverá ser o segundo problema médico mundial até 2020, perdendo apenas para as
doenças cardíacas.
A serotonina não era bem conhecida 20 anos atrás. Hoje, se você perguntar à pessoa
sentada a seu lado o que é, ela lhe dirá que está ligada à felicidade, que seus níveis são baixos
nas pessoas deprimidas, que o Prozac os faz aumentar, assim como o chocolate ou a aeróbica,
talvez a ioga.
Mas isso não é totalmente verdade, ou já foi contestado muitas vezes. E ainda precisa
ser provado. Segundo David Healy, professor de psiquiatria na Universidade de Cardiff e autor
de Let Them Eat Prozac (Que Comam Prozac), é puro “bioblablablá” que substituiu o “psicoblablablá” dos anos 1960 e 1970. Healy passou uma década estudante o neuro-transmissor
serotonina em deprimidos e encontrou poucas evidências que sustentem a teoria do
“desequilíbrio químico”.
“A idéia foi divulgada nos anos 1960, e o homem por trás dela, George Ashcroft, mais
tarde se retratou”, diz Healy. “Nos anos 1960 e 1970, foi considerada uma idéia simplista.
Hoje é vista como muito conveniente, parece tão clara. Há alguma coisa em você que está
baixa e precisa ser consertada. Tomar uma droga o deixa mais feliz” (Vejam Brooke Shields,
que descreveu como “reconfortante” descobrir que a depressão pós-parto estava “diretamente
ligada a uma alteração bioquímica”).
O Prozac é um inibidor seletivo de reabsorção de serotonina (ISRS). Os antigos
antidepressivos tricíclicos (ADTs) atuavam sobre três neurotransmissores associados ao humor
ou estado de espírito (serotonina, dopamina e noradrenalina), enquanto o Prozac concentrase em apenas um: a serotonina.
“A idéia de que foi um grande avanço o Prozac selecionar apenas a serotonina é pura
hipótese”, diz Malcolm Lader, professor de psicofarmacologia clínica no Instituto de
Psiquiatria da Grã-Bretanha.
A teoria de que as emoções são regidas pelos níveis de serotonina é altamente simplista
e funciona igualmente bem no sentido oposto (isso é, nossas emoções e nossos níveis de
estresse alteram a química do cérebro, portanto é no mínimo uma rua de mão dupla). Outros
fatores importantes que contribuem para a depressão incluem a experiência de vida, o
histórico familiar, os hormônios e a dieta. No entanto, a teoria freqüentemente repetida do
“desequilíbrio químico” (o defeito não está em nós, mas em nossos preciosos fluidos
corpóreos) é promovida nos websites de companhias farmacêuticas e na publicidade.
Chega o Prozac líquido com sabor de hortelã. Nos Estados Unidos, pesquisa de
companhias farmacêuticas descobriu que, entre 1995 e 1999, o uso de drogas semelhantes ao
Prozac por crianças de 7 a 12 anos aumentou 151%, e entre as menores de 6 anos, 580%. Em
2004, as crianças de 5 anos ou menos foram o segmento de maior crescimento no uso de
antidepressivos na população não adulta dos EUA. O “mutismo seletivo” (medo de falar em
situações sociais) é um problema comum em pré-escolares, que tem sido tratado com Prozac.
Nos EUA, os ISRSs, incluindo o Prozac, hoje trazem uma “caixa-preta” de advertência
de que as drogas podem aumentar o comportamento suicida em crianças. Acredita-se que,
em conseqüência disso, sua prescrição esteja diminuindo nos dois países.
Romain Pizzi, especialista em medicina zoológica e de animais silvestres no Real
Colégio de Cirurgiões Veterinários (RCVS), lembra que prescreveu Prozac para Mercedes, o
urso polar do zoológico de Edimburgo.
“Não podemos dizer que seja ´depressão´ (o que o urso sofria), mas é um
comportamento anormal, um mecanismos de animais mantidos fora do habitat natural”, diz
Pizzi.
Os papagaios de estimação também estão recebendo antidepressivos, porque são aves
altamente inteligentes, que se automutilam quando entediadas, enquanto gatos e cães podem
sofrer estresse ou ansiedade da separação. “Um cachorro não pdoe sentar no sofá e discutir
suas preocupações, mas pode uivar pela casa, correr atrás do rabo ou mastigar tudo”, diz Mark
Johnton, um especialista em pequenos animais no RCVS.
Quando o treinamento e a modificação de comportamento não têm eficácia, cerca de
um em cada dez pacientes animais recebe antidepressivos. O Reconcile é uma nova versão do
Prozac com sabor de carne, destinada aos cães. “As drogas podem parecer drásticas, mas,
literalmente, podem salvar a vida deles”, diz Johnston. “Se você tem um cachorro que é
constantemente agressivo, você não vai agüentar muito tempo. A última opção é a
eutanásia.”
O alto consumo de Prozac por celebridades fez das ISRSs a droga dos anos 1990, a bolsa
Fendi farmacêutica. Se antes as celebridades tentavam esconder sua depressão, a era do Prozac
ajudou a eliminar o estigma. A depressão quase faz parte do ofício. Espera-se que as
celebridades a sofram de alguma fora, e preferivelmente escrevam sobre ela numa
autobiografia, falem a respeito ou sejam tratadas em clínicas para dependência de
antidepressivos no Arizona. E seus vidros vazios de Prozac podem ser colecionados como arte
pop.
Há muito tempo correm rumores de que o Prozac ajuda a perder peso. Louise, 44 anos,
de Kent, teve a droga prescrita para tratar depressão, mas continuou tomando por mais tempo
que o necessário, quando descobriu que ela diminuía o apetite.
“Era uma espécie de sensação suave de cocaína, uma coisa meio anfetamina, acelerada”,
diz ela. “Eu não sentia fome e estava sempre fazendo coisas. Perdi quase 15 quilos. Minha irmã
comprou o remédio na web, quando viu o que ele fez comigo.”
As Brazilian Diet Pills (pílulas de dieta brasileiras), amplamente encontradas na internet,
contêm fluoxetina, o ingrediente ativo do Prozac. Nos EUA, hoje alguns médicos prescrevem
Prozac para tratar obesidade, embora não tenha sido aprovado para esse fim. A empresa de
emagrecimento Nutrisystem também lançou um programa de dieta, “Phen-Pro”, uma
combinação de Phentermine e Prozac, apesar das fortes reservas da Eli Lilly.
Na verdade, os testes sugerem que o Prozac pode causar uma perda de peso média a
curto prazo de até 3,3 quilos em pacientes obesos. No entanto, ele também foi associado ao
aumento de peso depois que passa a falta de apetite inicial. (Louise tem hoje o mesmo peso
que antes de tomá-lo.)
A disfunção sexual revelou-se um dos efeitos ocultos do Prozac. Sarah, uma estilista, de
36 anos, de Londres, que toma Prozac contra ataques de pânico, teve uma experiência
bastante típica. “Ele me curou e me acalmou, mas eu não tive um orgasmo desde o dia em
que comecei”, ela diz. “Ainda tenho vontade abraçar e beijar, mas fora isso não sinto a menor
excitação física. Nada. Meu parceiro não consegue decidir qual ele prefere. A neurótica e
chorona que ainda gosta de sexo algumas vezes por semana ou a calma e composta que é
completamente frígida.”
As implicações vão além do mero sexo. Segundo Helen Fisher, antropóloga e autora de
Why We Love; The Nature and Chemistry of Romantic Love (Por que amamos: A natureza e
a química do amor romântico), os ISRSs podem impedir seriamente a capacidade de
apaixonar-se e seguir apaixonado. A felicidade que sentimos quando estamos amando, aquela
alegria, estimulação e ligeira insanidade são conseqüência dos altos níveis de dopamina. Os
ISRSs aumentam a serotonina e reduzem a dopamina. O resultado é a sensação antiamor, um
“tanto faz” satisfeito e não discriminatório.
Embora testes iniciais identifiquem a disfunção sexual em menos de 30% dos casos, o
número geralmente aceito hoje é de mais de 60% e um estudo recente o situa em 98. Com 54
milhões de usuários de Prozac em todo o mundo, é muita disfunção sexual. Os sintomas
incluem redução ou ausência de libido, retardo ou ausência de orgasmo, impotência ou
redução do volume de sêmen e menos lubrificação vaginal.
O Prozac foi insistentemente acusado de poder levar ao suicídio, não apenas depressivos,
mas também voluntários saudáveis. Alguns usuários de ISRS relataram agitação e incapacidade
de manter-se imóveis, uma preocupação com fantasias violentas, autodestrutivas, e uma
sensação de que “a morte seria bem-vinda”. Na Alemanha, o Prozac teve a licença
inicialmente recusada depois que testes resultaram em 16 tentativas de suicídio, duas das quais
se consumaram.
Os ISRSs estiveram centenas de vezes nos tribunais. O primeiro grande caso foi em l989,
quando Joseph Wesbecker entrou na gráfica Standard Gravure em Louisville, Kentucky, com um
fuzil AK 47 e matou oito empregados, e depois a si próprio. Wesbecker estava tomando o
recém-licenciado Prozac havia menos de um mês e tornara-se muito agitado. As famílias dos
mortos processaram a Eli Lilly, mas aceitaram um acordo não divulgado. David Healy, que depôs
como testemunha perita contra a Eli Lilly e a SmithKline, estima que os ISRSs podem produzir
idéias suicidas em um de cada 500 usuários.