Agir - Tradição e inovação andam juntas

Transcrição

Agir - Tradição e inovação andam juntas
[editorial]
“É POSSÍVEL DESCOBRIR MAIS SOBRE UMA
PESSOA NUMA HORA DE BRINCADEIRA DO
QUE NUM ANO DE CONVERSA.”
Platão
D
A sabedoria
popular também
diz que o livro
alimenta a alma
iz a sabedoria popular que brincando falamos grandes verdades. Numa simples
brincadeira podemos mostrar o que somos, como pensamos e reagimos em
determinadas situações. Podemos ser afáveis ou agressivos, perspicazes ou ingênuos.
Sem contar que brincar pode ser bem divertido, principalmente se o autor da brincadeira for
ninguém menos que o bem-humorado João Ubaldo Ribeiro, um dos grandes nomes da nossa
literatura. É ele, com uma divertida entrevista, aliás, feita por ele mesmo, quem abre esta edição
do Chamois & Notícias, que vem pra lá de diversificada. E como brincadeira não é coisa só de
criança, damos seqüência com o brincalhão Saci-Pererê, a Mula-sem-cabeça e outros
personagens do folclore brasileiro que marcaram presença no imaginário
infantil e até hoje fazem parte das lembranças de milhares de adultos como
Paulo Roberto Pires, diretor da editora Agir, que mantém no seu catálogo
clássicos da literatura infantil como “O pequeno príncipe”, sucesso desde o
seu lançamento, na década de 60 até os dias de hoje. Esta edição também
vem com Guimarães Rosa, que neste ano de 2008 comemoramos o seu
centenário de nascimento. Ao nosso caboclo universal, prestamos uma justa
homenagem, relembrando fatos que marcaram sua vida. A sabedoria popular
também diz que o livro alimenta a alma. E, em pleno século XXI, cerca de 30
mil profissionais movimentam o mercado de livros porta a porta, contribuindo
para a disseminação da cultura em lugares onde as grandes livrarias ainda
não marcam presença. Quem faz isso também são os nossos gráficos, que,
há 200 anos, trabalham 24 horas por dia e por suas mãos passam diariamente
milhões e milhões de impressos, entre eles, uma infinidade de livros. E, nesta
edição, também prestamos nossa homenagem a eles, afinal, o mercado
editorial não existiria se eles não dessem sua contribuição. Pelas mãos dos
gráficos passou também o mais recente livro do escritor Paulo Coelho, “O
vencedor está só”, impresso em papel Chamois e tiragem inicial de 200 mil
exemplares, apenas uma semana após o seu lançamento, o livro já era
considerado um sucesso de vendas. Para novos escritores e para quem quer
saber tudo e mais um pouco sobre o mercado, a dica é o “Guia do profissional do livro”. É
prático, objetivo e eficiente. Nele, todas as informações úteis em um único lugar. “Leia e Exista”,
artigo de Cosmo Juvela sobre a importância da leitura para o crescimento e exercício da
cidadania. E, como um bom ano de comemorações, 2008 também é considerado o Ano
Internacional do Planeta Terra e, através da poesia de Vital Farias, apresentamos a “Saga da
Amazônia”. Por fim, um assunto que foi polêmica, gerou discussões e já está perto de um
final feliz. Para nós, brasileiros, em 2009 entrará em vigor a nova ortografia, que será adotada
por todos os países de língua portuguesa e que favorecerá um intercâmbio comercial no setor
de livros entre os países deste idioma.
E, como livro é o tema que nos motiva a cada edição, apresentamos aqui alguns lançamentos
da “20ª Bienal Internacional do Livro”, todos impressos em papel Chamois. Vale conferir!
Aos nossos leitores uma boa leitura e até a próxima edição!
CHAMOIS & NOTÍCIAS
3
[perfil]
JOÃO UBALDO RIBEIRO
O ENTREVISTADO
T
“A entrevista”
odo mundo sabe que ele é baiano, tem imenso orgulho da
sua origem, é um dos maiores romancistas brasileiros e com
sua obra conquistou visibilidade internacional. Todo mundo
sabe também que sua irreverência tornou-se quase que uma marca
registrada. Quem conhece João Ubaldo Ribeiro, também sabe que,
com sua fala mansa, não é de meias palavras. Fala o que pensa,
afinal como ele mesmo costuma dizer, não está comprometido com
ninguém.
Por sua obra, recentemente foi laureado com o Prêmio Camões
2008, o mais importante reconhecimento a autores da língua portuguesa. Que este reconhecimento é mais que merecido, também
não é novidade. O que também não é novidade é a sua falta de
tempo. Está sempre ocupado, comprometido com seu trabalho e
com uma infinidade de e-mails que recebe diariamente. Uma entrevista com ele não é fácil, isso todo mundo também sabe. Mas entre
seus textos, há uma entrevista e esta, escrita por ele mesmo. Descontraída como o escritor, não há nenhum segredo a descobrir, mas
sem dúvida nenhuma, vale conferir!
Foto: Berenice Batella Ribeiro
“Juro a vocês que não é falsa modéstia, mas não compreendo por
que querem tanto me entrevistar. Nunca tive muita coisa a dizer que
não houvesse posto em livros ou jornais e agora estou absolutamente seguro de que já disse tudo. São sempre as mesmas perguntas. A
moça (geralmente é uma moça e alimento a suspeita de que, no
futuro, não haverá mais jornalistos, só jornalistas) senta aqui, pergunta se pode usar o gravador, eu digo que sim e ela, como todo
bom repórter, procura logo desvendar um segredo guardado a sete
chaves:
João Ubaldo Ribeiro
4
CHAMOIS & NOTÍCIAS
- Você é baiano, não é?
- Não, sou javanês - fico com vontade de responder, mas digo que
sim, sou baiano.
- E mora no Rio, não é?
- Não - fico com vontade de responder. - Esta, como você sabe, é
minha casa, isto aqui é meu gabinete de trabalho, mas na verdade
eu moro em Cochabamba.
Mas respondo que moro no Rio, sim.
- Há quanto tempo?
Respondo que há dez, doze ou vinte anos, conforme o dia.
- E, além de escrever, você exerce alguma outra atividade?
- Exerço. Minha principal atividade, aliás, não é escrever, é dar entrevistas.
- Ha-ha, você é sempre bem-humorado assim?
- Eu não estou de bom humor.
- Ha-ha-ha, imagine se estivesse. Esta é ótima, acho que vou abrir a
entrevista com ela. ‘Ele faz piada o tempo todo e garante que está
de mau humor.’
- Eu não estou fazendo piada. Eu estou de mau humor.
- Tudo bem, vou fingir que acredito. Quantos anos você tem, se incomoda em dizer?
- Me incomodo porque não tenho mais 39, mas digo. Tenho 59.
- 59? Eu pensava que era bem mais do que isso.
- Eu também penso, mas são 59 mesmo. De vez em quando eu dou
uma olhada na carteira de identidade, para me certificar.
- Ha-ha-ha, ho-ho-ho! Genial, essa, você é mesmo um...um pândego.
- Eu não sou um pândego.
- Melhorou minha abertura: ‘Ele faz piada o tempo todo, mas diz
que não é um pândego.’ Bem, mas vamos ao que interessa, é uma
entrevista curta.
- O Senhor seja louvado.
- Ha-ha, esta foi boa também, mas vamos mesmo logo ao que interessa. Você ainda fuma?
- Não, isto aqui fumegando em minha mão é um pirulito.
- Ha-ha-ha-ha! Ho-ho-ho-ho! Um pirulito! Mas você disse que tinha
deixado de fumar, não disse?
- Disse, mas voltei.
- E voltou por quê?
- Por estupidez.
- Ho-ho-ho-ho! Assim eu não vou conseguir terminar a entrevista.
Um acadêmico, um imortal das letras, se dizendo estúpido!
- Sem comentários.
- Sem comentários o quê?
- Nada, é que eu sempre quis dizer isso numa entrevista, acho chique.
- Ha-ha-ha-ha-ha, você vai me matar de rir.
- Infelizmente não.
- Ho-ho-ho-ho! Ha-ha-ha-ha! Infelizmente não, não é?
- É, porque de riso você não vai morrer mesmo e não creio que conseguisse estrangulá-la com facilidade, acabava tendo um enfarte.
- Você sofre do coração, não é?
- Mais ou menos. Tenho fibrilação atrial.
- Tem o quê?
- Deixa pra lá. Não, não tenho nada no coração.
- Bem, isso não estava na pauta mesmo. Você parou de beber, não
parou?
os
Lançament
hamois
em papel C
- Não.
- Mas você disse que parou de beber.
- Parei de beber como bebia antes. Hoje só bebo ocasionalmente.
- Isso é um furo. Todo mundo acha que você parou de beber.
- Não sei por quê. Eu não fico escondido atrás da cortina quando
bebo.
- Houve alguma vez em que você ficou atrás da cortina para beber?
- Não, só pendurado na sacada do edifício, é mais garantido.
- Ha-ha-ha-ha! Não brinque, é mesmo?
- É, é.
- Alguma palavra para os alcoólatras do Brasil?
- Nem para os alcoólatras nem para ninguém.
- Mas nada, nada mesmo?
- Talvez ‘evitem uísque paraguaio’.
- Ho-ho-ho-ho! Esta terminou sendo a entrevista mais engraçada
que eu já fiz, por causa do seu bom humor.
- Eu não estou de bom humor.
- Ha-ha-ha-ha! Eu... Chega, não agüento mais!
- Que bom, porque eu também não.
- A entrevista ficou ótima. E bem informativa, nossos leitores vão
saber tudo o que têm de curiosidade sobre você.
- Tenho certeza. Me procure no próximo mês, que vou ter ainda
mais novidades. Sem minhas opiniões, este país está perdido.
- Ha-ha-ha-ha! Ho-ho-ho-ho!” u
Por que meu vizinho ficou rico
e eu não?: pare de reclamar e
faça seu plano para enriquecer
Robert Shemin
Tradução: Eliana Bussinger
256 páginas
Campus-Elsevier
Chamois Fine Dunas 75g
Momentos críticos
Michael Useem
304 páginas
Campus-Elsevier
Chamois Fine Dunas 75g
Um admirável mundo bom
Ricardo Orestes Forni
192 páginas
EME
Chamois Bulk Dunas 90g
O aprendiz
Joseph Delaney
Tradução: Lia Wyler
224 páginas
Bertrand Brasil
Chamois Fine Dunas 80g
O último refúgio templário
I. Bigg
Tradução: Ernani Sso
448 páginas
Bertrand Brasil
Chamois Fine Dunas 80g
Psiu, dê uma espiadinha. O que
suas coisas revelam sobre você
Sam Gosling
248 páginas
Campus-Elsevier
Chamois Fine Dunas 75g
Restos
Mario Araújo
192 páginas
Editora EME
Chamois Fine Dunas 80g
Minúsculos assassinatos
e alguns copos de leite
Fal Azevedo
204 páginas
Rocco
Chamois Fine Dunas 70g
CHAMOIS & NOTÍCIAS
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[folclore]
EM CADA CONTO, UM ENCANTO
EM CADA HISTÓRIA DO
FOLCLORE, UM ESPANTO!
D
iz a lenda que toda floresta é
habitada por seres mágicos. Alguns são humanos, outros são
animais, mas o que todos têm em comum
é exercer uma função muito importante na
natureza ou nos ensinar uma lição.
Há quem diga também que entrar na floresta durante o dia é mais seguro, isso não se
aplica se a floresta for habitada pelo Curupira. Um barulho estranho no mato ou um
vento muito forte passando pode significar
que ele está por perto. Os poucos que conseguiram vê-lo dizem que é um jovem índio,
com cabelos vermelhos e pés virados pra
trás, para despistar quem quiser segui-lo.
Alguns dizem que ele está sempre montado
em um porco selvagem, mas outros dizem
que esta é a pelagem dele mesmo. Ele cuida
dos animais da floresta, protegendo contra
a devastação e a caça de animais. Ainda
assim ele é muito temido e quem
não levar uma oferenda ao
Curupira antes de entrar na
mata, corre o risco de ficar
perdido para sempre.
Como se isso não bastasse ainda há a possibilidade de cair
em alguma travessura do SaciPererê. Aquele negrinho de
uma perna só, sempre com
seu gorrinho vermelho na
cabeça e um cachimbo na
boca. Ele é um
grande bagunceiro, some com objetos, dá
nó em crina de cavalo e se diverte com a
confusão, mas também é um grande protetor das matas e um profundo conhecedor
de suas ervas e propriedades medicinais.
Quem na mata se ferir, com certeza iria querer se encontrar com o Saci. Mas aos homens e meninos, um alerta em especial:
todo final de tarde, vindo de sua casa no
fundo do rio, surge Iara, com seu canto hipnotizante. Uma bela figura metade mulher,
metade peixe com cabelos longos e loiros,
que atrai para a sua direção um homem diferente a cada dia, sempre à procura de um
companheiro. É difícil um homem que resista a sua beleza e que não acabe se atirando
na água e morrendo afogado antes mesmo
de alcançá-la. Então, apesar de todas essas
figuras ainda é possível andar na mata? Sim,
desde que não seja noite. É na escuridão
que rasteja p
pelo chão o Boitatá, uma cobra
de fogo que não enxerga nada de dia, mas
enxerga tud
tudo durante a noite. Na verdade,
Boitatá era uma cobra normal da espécie
boiguaçu que,
q
após uma inundação, passou a com
comer os olhos dos animais mortos para não morrer de fome. De tantos olh
olhos brilhantes que ela comeu
transf
transformou-se em um monstro incand
candescente que assusta quem
passa pela mata durante a noite.
Sua m
missão é proteger a mata dos incêndios. Apesar da aparência horrível, o
Boitatá é uma serpente inofensiva, mas
pode ser confundido com a Mula-sem-cabeça. A Mula já foi um dia uma mulher que
apaixonou-se por um padre e foi amaldiçoada, transformando-se todas as noites de
quinta para sexta-feira. Ela percorre sete povoados e ataca quem ela encontrar pelo caminho, comendo seus olhos, unhas e dedos.
Quem já a viu costuma dizer que apesar do
nome ela tem cabeça sim, mas como lança
fogo pelo nariz e pela boca, sua cabeça fica
toda coberta por fumaça. Para que a maldição seja quebrada é preciso que um homem
corajoso arranque os freios de dentro de
sua boca, façanha que até hoje ninguém
conseguiu realizar. E essas são apenas algumas estórias, ainda
nda há muitas outras contadas por aí. Podem
odem parecer pura
invenção, mas ainda há quem
acredite nelas. Na verdade,
não faz muita diferença,
pois como diz a lenda:
“Era uma vez...”.
”.
[mercado]
AGIR TRADIÇÃO E INOVAÇÃO
ANDAM JUNTAS
o diretor da editora, Paulo Roberto Pires, o
mercado está bastante aquecido, competitivo e diversificado. Muito bom para os leitores que tem à sua disposição uma gama
de títulos e ofertas. Prova disso é o mais recente livro do escritor Paulo Coelho, “O vencedor está só”, sucesso absoluto, já na sua
primeira semana de lançamento. Segundo
Paulo Roberto Pires, o maior desafio da editora hoje é crescer e diversificar. “Estamos
preparando uma linha de livros de negócios
e uma linha de livros de saúde e bem-estar.
Mas, continuaremos trabalhando nas frentes
de literatura, assim como em livros comerciais”, diz o diretor. “Este ano foi de muitas
mudanças, incorporamos a Desiderata, que
é uma pequena editora do Rio, especializada
em humor, que trouxe trabalhos importantes
como Millôr Fernandes. A partir disso estamos abrindo uma nova frente da Desiderata,
ligada à Agir e também ao nosso projeto de
livros de bolso, os “Pocket Ouro”. O otimismo de Pires não é gratuito. Ele é resultado de
um trabalho sério que vem sendo desenvolvido com a participação de uma equipe que
acredita que é possível melhorar a cada dia.
Isto tem sido feito e o reflexo pode ser confirmado pelas conquistas da editora. O mercado editorial também tem respondido positivamente. Nos últimos anos tem apontado
índices de crescimento bastante satisfatórios.
O leitor, por sua vez, tem qualidade e variedade à sua disposição, e, no que depender
da Agir, terá ainda mais conteúdo. “Para a
Agir, 2008 tem sido um ano muito bom e já
esperamos por 2009 com grandes perspectivas”, finaliza Pires. u
Foto: Orlando Aguiar
T
radição em conteúdo e qualidade.
Há mais de sete décadas, a Editora
Agir assumiu este propósito com o
mercado editorial brasileiro e até hoje segue firme no seu compromisso. Mas onde
tem tradição, também tem evolução, crescimento e mudanças. E para a editora não
tem sido diferente. Os últimos anos foram
marcados por grandes mudanças.
Em 2002 foi adquirida pelo Grupo Ediouro,
o segundo maior grupo editorial brasileiro.
Da aquisição, mudanças gráficas e editoriais. O logotipo da empresa foi redesenhado e a Editora Agir começou a desenvolver
um forte trabalho no mercado, conquistando seu espaço na linha de frente entre as
editoras mais competitivas do setor. Do tradicional catálogo, que inclui os lançamentos originais de “O pequeno príncipe”, o
“Auto da compadecida”, de Ariano Suassuna, toda a prosa de Nelson Rodrigues, a
obra completa de Mário de Andrade, Sérgio Porto e de Caio Fernando Abreu, a editora está investindo fortemente em novos
talentos, conseguindo assim um equilíbrio
entre a tradição e a inovação literária. Para
Paulo Roberto Pires
s
Lançamento
hamois
em papel C
A soma dos dias
Isabel Allende
Tradução: Ernani Sso
378 páginas
Bertrand Brasil
Chamois Fine Dunas 80g
Sobreviventes do
holandês voador
Brian Jacques
Tradução: Beatriz Horta
294 páginas
Bertrand Brasil
Chamois Fine Dunas 80g
Trade marketing: teoria e
prática para gerenciar os
canais de distribuição
Neusa Santos, Francisco
Serralvo e Rodrigo Motta
200 páginas
Campus-Elsevier
Chamois Fine Dunas 90g
As confissões de um homem
invisível
Alexandre Plosk
392 páginas
Bertrand Brasil
Chamois Fine Dunas 80g
CHAMOIS & NOTÍCIAS
7
[homenagem]
JOÃO GUIMARÃES ROSA
O CABOCLO UNIVERSAL
C
onsiderado um gênio para os
críticos literários e um pesadelo
para estudantes brasileiros. Em
quase 60 anos de vida, foi médico, soldado, embaixador, pai, marido e brilhante escritor. Quando morreu estava para ser indicado ao Prêmio Nobel de Literatura, fazia
parte da Academia Brasileira de Letras e havia conquistado três prêmios nacionais: o
Machado de Assis, do Instituto Nacional do
Livro, o Carmen Dolores Barbosa, de São
Paulo e o Paula Brito, do Rio de Janeiro.
Nascido e criado no meio rural de Minas
Gerais, foram a terra, os costumes, pessoas
e acontecimentos do cotidiano que o inspiraram. Era visto sempre carregando um
bloco de anotações onde colecionava terminologias, ditos e falas do povo, que distribui pelas histórias que passou a escrever.
Primeiro arriscando-se em concursos literários e vencendo todos, sendo que o volume
8
CHAMOIS & NOTÍCIAS
intitulado Contos, vencedor do último concurso, resultou, em 1946, no livro “Sagarana”. A obra lhe rendeu o reconhecimento
como um dos mais importantes livros surgidos no Brasil contemporâneo. Especialmente por transpor a linguagem rica e pitoresca
do povo, registrando regionalismos que jamais foram escritos na literatura brasileira e
apresentando a paisagem mineira em toda
a sua beleza selvagem, da vida das fazendas, aos vaqueiros e criadores de gado.
A superstição também era traço marcante
de sua personalidade, juntamente com
uma descomunal sensibilidade que juntas o
fizeram protelar por quatro anos a posse do
assento na Academia Brasileira de Letras.
Não apenas Guimarães Rosa sabia que não
agüentaria a emoção deste dia, como também tinha certeza que morreria assim que
aceitasse o posto. Seu pressentimento tornou-se verdadeiro e o autor veio a falecer
quatro dias depois da cerimônia. O lado supersticioso também possuía um fundamento vindo de uma experiência que viveu
quando morava na Alemanha, durante a
Segunda Guerra Mundial. Segundo suas
palavras, no meio da noite, sentiu uma
vontade irresistível de sair para comprar ci-
garros. Quando voltou, encontrou a casa
totalmente destruída por um bombardeio.
A superstição e o misticismo acompanhariam o escritor por toda a vida.
Ele acreditava na força da lua, respeitava
curandeiros, feiticeiros, a umbanda, a quimbanda e o kardecismo. Dizia que pessoas,
casas e cidades possuíam fluidos positivos e
negativos, que influíam nas emoções, nos
sentimentos e na saúde de seres humanos
e animais.
Estudava também o espírito e o mecanismo
de outras línguas. Dizia que assim fazia por
gosto, divertimento e distração e ao final
de sua vida conhecia o português, alemão,
francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto e um pouco de russo. Lia sueco, holandês, latim e grego (mas com o auxílio do
dicionário), entendia também alguns dialetos alemães e chegou a estudar a gramática do húngaro, do árabe, do sânscrito, do
lituânio, do polonês, do tupi, do hebraico,
do japonês, do tcheco, do finlandês, do dinamarquês e ainda bisbilhotou um pouco a
respeito de outras. Talvez por isso Guimarães Rosa demonstrava tanta intimidade
com nosso idioma e seus diferentes regionalismos. Os contos e romances do autor,
Dicionário de neologismos de Guimarães Rosa
Nonada – coisa sem importância
Arreleque – asas abertas em forma de leque
Suspirância – suspiros repetidos
Enxadachim – designar um trabalhador do campo que luta para sobreviver.
A palavra é formada por enxada e espadachim
Imitaricar – arremedar, fazer trejeitos imitativos
Fluifim – pequenino, gracioso e se compõe da junção de fluir e fino
Velvo – uma das várias palavras criadas com base em outros idiomas.
É uma adaptação do inglês velvet, que quer dizer veludo.
Embriagatinhar – origina-se da fusão de embriagado e gatinhar para indicar
qualquer um que esteja engatinhando de tão bêbado
Fonte: O Léxico de Guimarães Rosa, de Nilce Sant'Anna Martins (Edusp; 568 páginas)
na primeira impressão, parecem inacessíveis, mas ao mesmo tempo envolvem o leitor, principalmente através da linguagem
poética e uma construção estética consciente do som e ritmo da palavra. Misturava também com maestria conceitos e pes-
A superstição e o
misticismo
acompanhariam
o escritor por
toda a vida
soas, como o doutor e o jagunço de
“Grande sertão: veredas”, além da cultura
popular do sertão e da erudita.
Mas o que o torna imortal e extremamente
cativante é a força e atualidade de seus textos. Assim como as grandes mentes da humanidade, como Leonardo da Vinci e suas
técnicas revolucionárias ou a beleza estética de Dante Alighieri, a atemporalidade de
João Guimarães Rosa recai na consistência
com que trabalha com as palavras, conseguindo envolver dos mais cultos ao mais
simples vaqueiro do sertão mineiro e transpõe até as barreiras geográficas do Brasil,
rumo ao mundo afora. u
[negócio]
VENDA DE LIVROS PORTA A PORTA
MOVIMENTAM A ECONOMIA
E LEVAM CULTURA A REGIÕES
CARENTES DO PAÍS
H
oje em dia temos grandes livrarias, sempre uma próxima de
casa para atender nossas necessidades. Se não quiser sair de casa, a internet também oferece todas as facilidades.
Mas ainda há grandes regiões aonde isso
não existe e, muitas vezes o leitor não vai
até o livro, mas o livro vai até o público.
Como? Através de uma simpática figura
que bate porta a porta, carregada de pilhas
de livros debaixo do braço. É o vendedor
de livros.
Por todo o país circulam cerca de 30 mil
profissionais que visam não somente as
vendas, mas também disseminar cultura e
educação através da leitura. De acordo com
dados da Associação Brasileira de Difusão
do Livro (ABDL), há mais de 30 editoras es-
pecializadas no ramo e juntas comercializam cerca de 35 milhões de livros por ano.
Na matemática simples, esses números somam 500 milhões de reais. É uma concorrência e tanto para as tradicionais livrarias,
praticamente, 15 em cada 100 exemplares
vendidos.
Esta prática, além de prover mais empregos, colabora para o aumento do hábito da
leitura, tão importante para enriquecer o
vocabulário, estimular novas idéias e ajudar
a conhecer melhor o mundo. Mais do que
vender um livro, esses mascates, como são
chamados os vendedores, distribuem também sonhos. A prova disso é que entre os
livros mais requisitados estão os clássicos
contos de fada infantis e, atualmente, os
livros religiosos.
E o futuro desse negócio parece ser do tipo
“felizes para sempre”, pois a estimativa é
que com o atual universo de cerca de 500
empresas atuantes no mercado editorial no
segmento de venda direta, entre atacadistas, distribuidores e crediaristas, o número
de vendedores possa chegar a 400 mil. Para
Luís Antônio Torelli, presidente da ABDL, “o
livro e a leitura devem se transformar, de
fato, em pólos disseminadores de humanismo para o desenvolvimento e o aperfeiçoamento da sociedade”. Pode parecer pouco,
mas, alguns livros têm muito a adicionar a
um país com uma das distribuições de renda mais injustas do mundo e o que se espera é que ele consiga manter sua propriedade transformadora e trazer em suas futuras
páginas histórias de um Brasil melhor.
CHAMOIS & NOTÍCIAS
9
[indústria gráfica]
os
Lançament
hamois
em papel C
Uma breve história dos
tratores em ucraniano
Marina Lewicka
Tradução: Marina Slade
322 páginas
Bertrand Brasil
Chamois Fine Dunas 80g
Victor Hugo na arena política
Ricardo Orestes Forni
Tradução: Jorge Bastos
144 páginas
Difel
Chamois Fine Dunas 80g
A nova era da inovação
C.K. Prahalad e M.S. Krishnan
Tradução: Afonso Celso da
Cunha Serra
252 páginas
Campus-Elsevier
Chamois Fine Dunas 75g
A promessa da política
Hannah Arendt
Tradução: Pedro Jorgensen Jr.
288 páginas
Difel
Chamois Fine Dunas 80g
Superando a ansiedade
Eulália Bueno
224 páginas
EME
Chamois Fine Dunas 75g
10
CHAMOIS & NOTÍCIAS
IMPRESSÃO,
A MELHOR
SEMPRE!
A
s 24 horas do dia já não são suficientes para este mercado. Nos
sete dias da semana, nove entre
cada dez palavras têm o mesmo sentido:
manda para a gráfica!
Impressão, impressão, impressão...
Se o resultado é satisfatório, ótimo, manda
para o acabamento. Caso contrário, volta
para a impressão. Ela tem que estar impecável. Por ela, espera um cliente ávido por
qualidade. Ele quer ser surpreendido.
Em algum lugar do outro lado do país, lá
está ela, incessante e incansável palavra a
ecoar: impressão. Leitores não esperam!
Para eles, o que está por trás daquele pedaço de papel repleto de informações não faz
muita diferença. Habituados com o seu informativo diário, eles não vêem apenas um
pedaço de papel impresso, ali estão as principais notícias do mundo.
Na farmácia, no supermercado, nas ruas,
em todos os lugares, impossível não se deparar com impressos de todos os tamanhos,
formas e finalidades.
Perseguição?
Não, evolução!
De quem é a culpa?
Dos gráficos!
Mais que culpados, são os grandes responsáveis pela democratização da informação.
A história da indústria gráfica no mundo
começou na Europa, lá pelo século 15,
quando o alemão Johannes Gutenberg imprimiu pela primeira vez um livro (a Bíblia),
com tipos móveis, mas no Brasil deu-se início com a chegada da Família Real. Em
1808 D. João VI trouxe o primeiro equipamento tipográfico para o país. Assim, há
exatos 200 anos, a primeira gráfica brasileira começava a funcionar.
E, se os gráficos são os grandes responsáveis pela democratização da informação,
creditamos a eles também o mérito para a
evolução e o crescimento do Brasil.
Hoje, o mercado gráfico brasileiro é composto por 19.550 empresas, que juntas empregam um contingente de cerca de duzentas mil pessoas. A receita de vendas do
setor em 2007 foi de R$ 17 bilhões. Sua
participação no Produto Interno Bruto (PIB)
é de 0,82% e no PIB industrial, de 3,78%.
Em apenas duzentos anos, pouco tempo se
comparado a países europeus, a nossa indústria gráfica evoluiu tecnologicamente,
conquistou seu espaço e hoje ocupa lugar
de destaque entre as melhores do mundo.
Aos nossos gráficos que vivem todos os dias
ouvindo, falando e produzindo o que fazem
de melhor, a nossa homenagem e que todos
tenham sempre a melhor impressão. u
[leitura em destaque]
“O VENCEDOR ESTÁ SÓ” O MAIS
NOVO SUCESSO DE PAULO COELHO
A
pós onze livros bem-sucedidos
que o levaram ao patamar de
escritor vivo mais vendido no
mundo, Paulo Coelho lança seu 12º romance em meio a muitas expectativas. Com duzentas mil cópias já nas livrarias, é a primeira vez que o esoterismo não é abordado na
trama. A história trata de um serial killer
determinado a reconquistar o amor de sua
ex-esposa, que o abandonou por um estilista. O serial e milionário russo Igor Dalev
planeja cinco assassinatos em 24 horas, durante a realização do famoso Festival de
Cannes. Apesar de aparentar ser apenas
um romance policial, “O vencedor está só”
é um retrato impiedoso das elites que, da
moda à política, definem os rumos do mundo em que vivemos, pondo em cena diretores, produtores, estilistas, modelos, atores
consagrados e candidatas ao estrelato. Todos os personagens e conversas de bastidores são 80% verdadeiras, garante o autor,
fruto de sua própria convivência neste
meio. “Acho que, para quem não está no
mundo da moda, este livro é uma surpresa”, conta o autor.
Além das surpresas, Coelho também causa, obviamente, muita polêmica ao descrever friamente esse
ambiente, e ele admite que adora
isso, principalmente ao mostrar
como vive a “superclasse” e como
as pessoas estão dispostas a tudo
para serem famosas e influentes,
mesmo que tudo isso não passe
apenas de aparências. Para o autor, esta superclasse é sinônimo de
poder, mas nem sempre de felicidade: “O livro toca muito no tema
de como a massa é, de alguma maneira, facilmente guiada e dirigida. E a primeira coisa
que você experimenta como líder, como
vencedor, como uma pessoa que chegou a
algum lugar, é essa profunda solidão”, explica Coelho.
Com esta mistura de experiências reais, violência e glamour, mais uma vez, Paulo Coelho não decepciona e soma ao sucesso de
“O vencedor está só” as ótimas críticas de
sua biografia, escrita pelo jornalista Fernando Morais, “O Mago”. Coroando sua boa
fase estão também as produções cinematográficas de três de suas obras, “Veronika
decide morrer”, que já está em fase de edição, enquanto “O Alquimista” e “Onze Minutos” serão filmados ainda esse ano. u
O vencedor está só
Paulo Coelho
Editora Agir
400 páginas
Papel Chamois Fine
Dunas 70g
GUIA DO PROFISSIONAL DO LIVRO TEM TUDO E MAIS UM POUCO
É
quase uma Bíblia para o autor independente. Recheado de dicas e
informações, este guia é uma ferramenta e tanto para quem está
dando os primeiros passos no mercado editorial. Das questões
burocráticas, como a Lei de Direitos Autorais, às informações técnicas,
como tipo de papel, gramatura etc, a obra tem como objetivo fundamentar o profissional deste mercado, possibilitando, principalmente, ao
autor independente ferramentas e informações úteis e pertinentes para
o seu dia-a-dia.
Vale conferir!
Guia do profissional do livro
Maria Esther Mendes Perfetti
e João Scortecci
Editora Viena
253 páginas
CHAMOIS & NOTÍCIAS
11
[artigo]
LEIA E
EXISTA!
“A pessoa humana deve ser tratada sempre
como fim e nunca como meio.”
Immanuel Kant
C
om a eventual
possibilidade de
ser considerado
repetitivo, mas com forte aval do respeitado jornalista Joelmir Betting, a quem se
atribui a frase “o que é óbvio deve ser repetido”, e que adoto com a maior tranqüilidade, volto à velha discussão do tema que prega absoluta necessidade de leitura do jovem,
versus horas desperdiçadas em frente da TV
e com prática de certos jogos eletrônicos.
Desta vez a inspiração vem dos tristes resultados do recente Exame Nacional do Ensino
Médio, exaustivamente divulgado pela imprensa, onde se destilaram respostas que se
constituem em verdadeiras barbaridades
como: “Raios ultra-violentas”, “A concentização é um fato esperançoso para o territorio mundial”, “A natureza foi discuberta pelos homens a 500 anos atrás” e outras tristes
evidências de que, efetivamente, não estamos preparando bem quem vai comandar
este país no futuro.
Em face das terríveis respostas, algumas hilariantes, o clichê é inevitável: seria cômico se
não fosse trágico. Além das óbvias ilações
que se tiram dos textos, como absoluta falta
de conhecimento geral das matérias e dos
erros comuns de construção e grafia, há que
se lamentar, principalmente, as conclusões a
que os professores encarregados das correções chegaram, segundo as quais falta aos
alunos raciocínio e concatenação. Assim, se
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CHAMOIS & NOTÍCIAS
mostram não só pouco habilitados para escrever um texto, como também, o que é pior,
para pensar.
Ora, na vida e na ciência não existe efeito
sem causa. Assim sendo, quais seriam as razões que impedem nossos estudantes de se
expressar bem e de mostrar conhecimento
das matérias que estudam em, pelo menos,
razoável português?
Seria o nosso sol tropical que cozinha seus
jovens cérebros? Talvez a miscigenação de
raças que tanto nos caracteriza? Ou a culpa
deve recair sobre os livros e as escolas?
Nada disso, e nem o destino, pois muito já se
disse do talento, da criatividade e da versatilidade do nosso povo. A miscigenação é sadia e o sol é bem-vindo. Temos bons livros e
boas escolas.
Dizem que os neurônios são os músculos do
cérebro; se não são exercitados e desenvolvidos, como todo os músculos, se atrofiam. A
verdade é que qualquer pessoa razoavelmente bem informada e com real vontade
de ver as coisas deve observar que os mais
sensíveis jornalistas, redatores, educadores,
psicólogos, têm recheado páginas de jornais
e de revistas, nacionais e internacionais,
apontando o baixo nível dos programas de
TV, alguns jogos de vídeo-games e de enlatados do cinema industrial como a causa da
alienação da população, principalmente dos
menos preparados. A população em geral, e
principalmente, o jovem está sendo vítima
de uma overdose de TV com programas dirigidos por pessoas simpáticas, de rostos bonitos e sorrisos envolventes, que adentram
os lares sem proposta alguma a não ser a de
vampirizar os neurônios das pessoas, expondo, entre outras coisas a intimidade de desocupados, os desentendimentos de casais desajustados, que se expõem ao ridículo por
míseros cachês e pegadinhas pré-fabricadas,
não raro estreladas por “artistas” seminuas.
Não há como negar que esse passatempo
atrai, principalmente, o desavisado, vítima
da lei do menor esforço, porque provoca as
sensações mais fáceis de estimular, como a
do riso, do sexo, do ridículo, do medo, do
escárnio, etc. Dessa forma se diverte sem
pensar, espreguiçando-se. Indefeso, o telespectador de vítima torna-se cúmplice do
processo, já que passa a alimentá-lo, com o
IBOPE à espreita, pois o que se objetiva é o
consumidor e não o cidadão.
Além do mais, é evidente que está se formando uma sociedade de fofoqueiros teveguiados que segue hipnotizada pelo vídeo e agora
(são os dividendos) por inúmeras revistas especializadas em expor a vida de falsos ícones,
que fazem rir quando riem, chorar quando
choram e parir quando parem. É a valorização
da pieguice em detrimento da sensibilidade.
Está havendo supervalorização do físico em
detrimento do intelecto e do espírito. Ninguém quer “malhar” os neurônios!
A televisão, que afinal é uma concessão do
Governo, se não tem o objetivo e a função
de educar, igualmente não tem o direito de
invadir os lares com overdose de vulgaridades, que se repete em todos os canais. Seria
de toda a forma um poderoso canal para a
conscientização do jovem de que vivemos
numa economia globalizada com a competição cada vez mais acirrada no mundo todo,
e quem não se preparar vai ficar à margem
do processo. Dessa forma, como se esperar
do jovem conhecimento, lucidez, desembaraço, articulação, se ele não está sendo preparado para isso? Por outro lado, se não
existe uma escola que ensina a pensar e a
escrever, existe uma prática que treina qualquer pessoa para isso: a leitura.
A leitura além de um instrumento de aproximação do saber, proporciona a descoberta
de multifacetadas visões do mundo e desenvolve o potencial imaginário do leitor, aguçando seu senso crítico, localizando-o no
tempo e no espaço, quando, via conscientização, adquire o direito de se indignar e assim colaborar com a evolução da sociedade.
É necessário conscientizar o jovem de que a
vida é feita de tempo e que este deve ser
usado para ser vivido intensamente, também
pelo estudo, pela leitura, pelos jogos de inte-
ligência como o xadrez, por exemplo.
Quem desperdiça seu precioso tempo vivendo a vida dos outros, que espertamente estão
arrumando suas “carreiras”, está matando
sua própria vida e perdendo a oportunidade
de crescer. Vale, para encerrar lembrar o
pensamento da escritora Ethel Richardson:
O mais delicado e sensível dos instrumentos
é a mente da criança.
Cosmo Juvela
Editor, diretor da Editora Meca, fundador e
primeiro presidente da Associação Brasileira
de Difusão do Livro.
[poesia]
SAGA DA AMAZÔNIA
Vital Farias
E
ra uma vez na Amazônia a mais bonita floresta
mata verde, céu azul, a mais imensa floresta
no fundo d’água as Iaras, caboclo lendas e mágoas
e os rios puxando as águas
Papagaios, periquitos, cuidavam de suas cores
os peixes singrando os rios, curumins cheios de amores
sorria o jurupari, uirapuru, seu porvir
era: fauna, flora, frutos e flores
Toda mata tem caipora para a mata vigiar
veio caipora de fora para a mata definhar
e trouxe dragão-de-ferro, pra comer muita madeira
e trouxe em estilo gigante, pra acabar com a capoeira
Fizeram logo o projeto sem ninguém testemunhar
pra o dragão cortar madeira e toda mata derrubar:
se a floresta meu amigo, tivesse pé pra andar
eu garanto, meu amigo, com o perigo não tinha ficado lá
O que se corta em segundos gasta tempo pra vingar
e o fruto que dá no cacho pra gente se alimentar?
depois tem o passarinho, tem o ninho, tem o ar
igarapé, rio abaixo, tem riacho e esse rio que é um mar
Mas o dragão continua a floresta devorar
e quem habita essa mata, pra onde vai se mudar?
corre índio, seringueiro, preguiça, tamanduá
tartaruga: pé ligeiro, corre-corre tribo dos Kamaiura
No lugar que havia mata, hoje há perseguição
grileiro mata posseiro só pra lhe roubar seu chão
castanheiro, seringueiro já viraram até peão
afora os que já morreram como ave-de-arribação
Zé de Nata tá de prova, naquele lugar tem cova
gente enterrada no chão:
Pois mataram índio que matou grileiro que matou posseiro
disse um castanheiro para um seringueiro que um estrangeiro
roubou seu lugar
Foi então que um violeiro chegando na região
ficou tão penalizado que escreveu essa canção
e talvez, desesperado com tanta devastação
pegou a primeira estrada, sem rumo, sem direção
com os olhos cheios de água, sumiu levando essa mágoa
dentro do seu coração
Aqui termina essa história para gente de valor
pra gente que tem memória, muita crença, muito amor
pra defender o que ainda resta, sem rodeio, sem aresta
era uma vez uma floresta na Linha do Equador...
SAGA DA AMAZONIA,foi publicada em 1981 e gravada
pela Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro, em 1982.
Vital Farias, é bacharel em música, pela faculdade do Rio de
Janeiro, violeiro, poeta, compositor e cantador dos sertões.
CHAMOIS & NOTÍCIAS
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[acontece]
NOVA ORTOGRAFIA ENTRA EM VIGOR
EM 2009 O OBJETIVO É DESCOMPLICAR
A
mplamente discutida e criticada,
mas enfim finalizada. Essa é a “novela” da reforma ortográfica da língua portuguesa que vem desde 1990 e deveria ser adotada pelos países da CPLP
(Comunidade de Países de Língua Portuguesa, composta por Brasil, Portugal, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Timor-Leste) até 1994.
Burocracia e entraves políticos atrasaram os
planos durante 10 anos e por isso o Brasil
tomou a dianteira, ratificando o acordo no
Congresso Nacional em 2004.
A partir disso, intelectuais e principalmente
o meio acadêmico criticam duramente a reforma, classificando-a como superficial e
ineficiente. Em Portugal, a principal manifestação partiu de escritores e poetas que reclamavam que as novas regras atendiam somente a interesses brasileiros. Mesmo assim,
as alterações assumem caráter definitivo em
até seis anos para os portugueses. Já no Brasil começam mais cedo, a partir de 2009 e,
segundo determinação do Ministério da
Educação (MEC), os livros didáticos utilizados nas primeiras cinco séries do Ensino Fundamental devem ser editados já com a nova
ortografia em 2010. Em 2011 seria a vez dos
livros de 6ª a 9ª série e em 2012 dos livros de
Ensino Médio. Para o presidente da Abrale
(Associação Brasileira dos Autores dos Livros
Educativos) José de Nicola, a pressa e o ime-
s
Lançamento
m
ha ois
em papel C
diatismo é que conturbam a
situação e não as mudanças
em si. A proposta das editoras é que os primeiros livros
estejam editados em 2012,
atrasando o cronograma
oficial que previa a obrigatoriedade das novas regras
a partir de 1º de janeiro de
2013.
Mas, apesar da correria,
as notícias são boas para
o mercado editorial brasileiro. A unificação ortográfica deve favorecer
o intercâmbio comercial
no setor de livros entre
os países de língua portuguesa. A expectativa
é de redução nos custos de adaptação de
obras. Porém, esta
abertura deve se encaixar mais para o
segmento de livros
técnicos e de literatura, os livros didáticos ficariam um
pouco mais restritos por causa da
questão da semântica regional.
Mudanças climáticas : desafios
e oportunidades empresariais
John Woody, Andrew Hoffman
Tradução: Ana Beatriz Rodrigues
152 páginas
Campus-Elsevier
Chamois Bulk Dunas 90g
Túneis
Roderick Gordon e Brian Williams
Tradução: Ryta Vinagre
480 páginas
Rocco
Chamois Fine Dunas 70g
14
CHAMOIS & NOTÍCIAS
As novas regras
As mudança
s mais signifi
cativas altera
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os alunos dem
ram mais faci
o
nstralidade em ap
render.
Econopower – como
uma nova geração de
economistas está
transformando o mundo
Mark Skousen
288 páginas
Campus-Elsevier
Chamois Fine Dunas 75g

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