JUNTOS PARA SEMPRE Jackie Merritt

Transcrição

JUNTOS PARA SEMPRE Jackie Merritt
JUNTOS PARA SEMPRE
Jackie Merritt
Série Mavericks 05
Wyatt North já esperou tempo demais para que seu verdadeiro amor finalmente lhe pertencesse. Divorciado e de volta a Whitehorn, esse rancheiro sexy pretende conquistar de uma vez por todas o coração de Melissa Avery. Mas ela está decidida a não ceder a seus encantos novamente. Afinal, ele já a desapontou no passado, abandonando­a para se casar com outra mulher. Mas Wyatt acaba de comprar o pedaço de terra que ela queria... Porém, está disposto a desistir do negócio... desde que Melissa aceite que ele a ama de verdade!
Digitalização: Ana Cris
Revisão: Crysty
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Querida leitora,
Melissa Avery se dedicava integralmente a seu badalado restaurante, o Hip Hop Café, em Whitehorn, até reencontrar Wyatt North, seu ex­namorado dos tempos de escola. No passado, eles se amaram intensamente, e tinham planos de se casar, mas uma noitada inconseqüente pôs tudo a perder. Ele está disposto a qualquer coisa para reparar seu erro... até mesmo raptá­la e levá­la para seu chalé nas montanhas. Agora, Melissa vive um dilema: será ela capaz de enterrar o passado e confiar em Wyatt mais uma vez?
Equipe editorial Harlequin Books
Sobre a autora:
Jackie Merritt ainda escreve, embora não com a mesma velocidade ou constância de alguns anos atrás. Ela e o marido estão novamente no sul de Nevada, adorando, como sempre, os longos e amenos invernos e tentando desesperadamente migrar para o norte em julho e agosto, quando o sol frita, sem distinção, pessoas e cáctus.
Nem mesmo o gato de Jackie, Tige, sai de casa no verão. Tige é companheiro, amigo e bichinho de estimação, tem listras laranja e é indescritivelmente fofo. Jackie também adora cachorros, e tem muitos amigos caninos na vizinhança. Ela já pôs tanto gatos quanto cachorros em seus livros, e diz que o próximo terá um gatinho laranja chamado Tige!
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Um
Era um dia quente de agosto. Melissa Avery abriu a porta de seu estabelecimento, o Hip Hop Café. Os ventiladores de teto refrescavam o ambiente.
Aquele horário, o meio da tarde, era o período menos movimentado no restaurante. Melissa virou­se para uma das garçonetes:
­ Vou deixar a porta aberta, Wanda. Este calor me deixa sem vontade de trabalhar.
Wanda deu um pequeno sorriso. Melissa podia não trabalhar sempre que sentisse vontade, embora raramente o fizesse. Ninguém dedicava­se tanto ao trabalho quanto Melissa. Na cidade de Whitehorn, em Montana, nunca houvera um restaurante como esse. Wanda adorava a decoração do lugar, e, aparentemente, muitos fregueses assíduos do Hip Hop compartilhavam dessa opinião.
Melissa voltou ao cubículo onde estava antes de abrir a porta. Em cima da mesa havia muitos papéis. Nesse horário planejava os cardápios e compras de alimentos, deliciando­
se com uma xícara de chá. Havia apenas alguns fregueses no local, e Melissa sorveu um gole do líquido fumegante. Estava a fim de fazer algo descompromissado naquele dia lindo, como, por exemplo, correr por um campo de flores silvestres. Sacudiu a cabeça ante aquela imagem maluca, ainda que engraçada, e preparou­se para voltar ao trabalho.
Nesse instante surgiu um homem na porta, alto, belo porte, longas pernas. Estava usando jeans, botas e camisa branca, de corte oriental. Trazia um chapelão na cabeça, e óculos escuros escondiam a parte superior de seu rosto.
Fazia quase dez anos que Melissa não via Wyatt North, mas o reconheceu de imediato. Ficou paralisada como estátua, de puro choque.
Nunca lhe passara pela cabeça a imagem de Wyatt entrando assim de repente. Ele sequer morava nos arredores.
Desde o casamento dele, seis anos atrás, ele morava em Helena.
Para alívio dela, ele nem olhou em sua direção. Caminhou até o balcão, sentou­se e pegou o cardápio. Wanda o atendeu imediatamente. Melissa conseguiu ouvi­los.
­ Oi ­ disse Wanda. ­ Café?
­ Chá gelado, e... ­ Wyatt tirou os óculos escuros. ­ Que sabores de torta vocês têm?
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­ Torta de maçã, cereja e banana. Todas caseiras. Wyatt esboçou um sorriso duvidoso.
­ Já me disseram isso antes.
­ Não fui eu. Você nunca esteve aqui durante o meu horário de trabalho.
­ Nunca estive aqui no horário de ninguém. Parece ser um lugarzinho legal, mas... ­ inclinou­se para a frente ­ se importaria de me dizer quem fez a decoração? Tem um objeto de cada década do século XX. Será que o dono não conseguiu resolver o que o ambiente gostaria de ser quando crescesse? ­ Riu baixinho de sua própria esperteza.
Wanda levantou o queixo, como se, em vez de ouvir uma piada, tivesse sido insultada.
­ A torta feita aqui é deliciosa. Quer uma fatia? Melissa desejou bater de leve nas costas de Wanda, em solidariedade. O Hip Hop era decorado de forma eclética. Além disso, pouco importava a opinião de Wyatt North. O que importava era que ele se sentasse ali, comesse uma fatia de torta, pagasse a conta e saísse sem notá­la. Se ela se levantasse e deixasse o cubículo, ele a veria.
­ Meu Deus ­ sussurrou ­ encostando a testa na mão esquerda para cobrir o rosto.
Não que ela tivesse medo de ver Wyatt, ela simplesmente não queria vê­lo. Não desejava ser educada com ele e fazer de conta que não o desprezava.
Pior do que isso, fazer de conta que não havia nenhuma razão para que ela não tivesse que desprezá­lo.
­ Banana ­ disse Wyatt a Wanda.
­ Chá gelado e torta de banana ­ repetiu Wanda. ­ É pra já.
Wyatt pôs­se a olhar em volta. Lembrou­se do dono do estabelecimento que havia antes ali: um velho rabugento que deixava claro para a turma do colégio que não queria adolescentes circulando pelo lugar. Naquela época, a cafeteria era encardida, e consumiam­se hambúrgueres engordurados e refrigerantes em lata.
Havia muitos lugares melhores ­ o Whirl­In Drive­In era um deles.
Um sorriso nostálgico esboçou­se nos cantos dos lábios de Wyatt. Há muito tempo o Whirl­In não lhe vinha à cabeça. Será que ainda existia?
Wanda trouxe o pedido.
­ Aqui está, senhor. Bom apetite.
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Melissa estava segurando o fôlego. Não ter se virado o suficiente para avistá­la enquanto olhava ao redor era um milagre. Porém, neste instante, o telefone tocou. Wanda atendeu e anunciou:
­ Melissa, é para você.
Não havia como evitar um contato cara a cara agora, pensou Melissa, aborrecida ao caminhar até o balcão.
Wyatt estava com um pedaço da torta a meio caminho da boca. Sua mão estacou no ar, embora engolisse em seco como se tivesse mordido o pedaço. Melissa havia virado de costas para ele enquanto falava ao telefone mas, com os olhos abertos e admirados, registrava­lhe o corpo esguio. Melissa... Deus do céu... era Melissa. Lentamente levou o garfo até o prato. Não conseguia tirar os olhos de cima dela. Girando no banco, ele avistou o cubículo com os papéis espalhados pela mesa. Ela o tinha visto entrar ­ e não havia dado sinal. Girando de volta, ele tornou a cravar os olhos nela. Tinha pensado em ver Melissa de novo cem mil vezes, mas não assim. Não em lugar público, sem que nenhum dos dois estivesse preparado. Quando ela retornara a Whitehorn? O que fazia nesta pequena lanchonete?
­ Obrigada ­ murmurou Melissa ao telefone. ­ Até logo.
Sentiu um frio na barriga. Teria que se virar e defrontar­se com Wyatt. Teria que cumprimentá­lo. Um arrepio lhe subiu pela espinha, deixando sua a pele eriçada. Assim que se virou, percebeu que ele se levantava.
­ Alô, Melissa.
Ela o fitou no rosto, e, em seguida, baixou o olhar para a camisa dele.
­ Alô, Wyatt.
­ Como vai você? ­ Olhe pra mim! Olhe dentro dos meus olhos!
­ Tudo bem. E você? ­ Que ousadia entrar na minha cafeteria e achar que eu tenho de ser educada com você?
Ela estava tão linda, percebeu Wyatt. Ele estava perplexo, com as pernas bambas.
­ Uh... você está ótima ­ gaguejou ele.
Em seguida, milagrosamente, formulou uma pergunta sensata. ­ Você está morando em Whitehorn de novo?
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Ela não conseguia sorrir para Wyatt. Simplesmente era impossível, mesmo que tivesse sido forçada a falar com ele.
­ Voltei há um ano e meio.
­ Também estou morando aqui de novo ­ disse Wyatt, em voz baixa e tensa. ­ Na fazenda, quero dizer. Não na cidade.
­ Ah? ­ Por que você acha que isso me interessaria?
­ Com licença, Wyatt. Tenho mil coisas para fazer antes da correria do jantar.
­ Melissa...
Ela girou, surpresa, ao descobrir que ele estava postado atrás dela.
­ Preciso falar com você. Dez minutos ­ disse ele com voz suave. ­ Lá fora.
Ela corou.
­ Não tenho dez minutos. Já lhe disse.
­ Sei o que me disse, Melissa. Estou tão surpreso em vê­la. Será que não poderíamos conversar só mais um pouco?
Todo mundo no salão estava observando­os. Ela ergueu o queixo.
­ Em outra ocasião, Wyatt. ­ Com os papéis empilhados nos braços, passou por ele e caminhou até a porta que levava à cozinha.
Wyatt ficou em pé estarrecido, perto do cubículo vazio.
As recordações o bombardeavam, e não conseguia fugir delas para pensar com clareza. Andando até o balcão, meteu a mão no bolso do jeans e tirou uma nota de dez dólares.
­ Essa quantia deve ser suficiente para pagar a despesa ­ disse a Wanda. ­ Fique com o troco.
Cruzou o salão até a porta, saiu e parou à luz do sol para pôr os óculos escuros. Refazia­
se do choque. Rumou para a caminhonete. Dirigiu até a cidade, onde entrou no enorme estacionamento de uma loja de equipamentos agrícolas.
Estacionando o mais distante possível dos demais veículos, desligou a ignição e finalmente permitiu­se sentir a dor que vinha de suas entranhas e se espalhava por todo o corpo. Gemendo, pôs os braços em volta do volante e enterrou o rosto neles. Melissa... Melissa... Lamento muito; sinto muito mesmo.
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Havia um escritório minúsculo, sem janelas ­ por esse motivo, raramente usado ­, do lado da cozinha, onde Melissa entrou. Acendeu a lâmpada, fechou a porta e deixou cair os papéis numa escrivaninha pequena, depois tombou numa cadeira. Suas mãos tremiam tanto que mal conseguia mantê­las paradas. Por fim, cruzou os dedos em forma de figa, tentando controlar o tremor. Mas não conseguia sustar o turbilhão dentro dela e, finalmente, baixou a cabeça na escrivaninha e pôs­se a chorar. Passara pelos empregados sem uma palavra, algo que nunca fazia. O que estariam pensando?
Será que era por isso que chorava? ­ porque a cozinheira, as garçonetes e alguns fregueses tinham testemunhado sua hostilidade em relação a Wyatt? Todo mundo tinha direito a perder as boas maneiras de vez em quando.
Com os olhos cheios de lágrimas, Melissa se ergueu. Como é que ele pôde falar com ela como se fossem simplesmente antigos conhecidos que se encontravam por acaso? Como foi audacioso em pedir dez minutos? Resmungou ao lembrar que ele havia dito que estava morando de novo na fazenda. Ela precisaria manter a presença de espírito e ter uma reação mais equilibrada da próxima vez em que se encontrassem. Ele sabia que a havia magoado, mas não saberia que a dor nunca havia sido superada. Tinha parado de tremer e estava se sentindo mais calma, até mesmo internamente, onde abrigava a dor com tanta tenacidade. Sentou­se à escrivaninha e suspirou, acalmando­se mais ainda. Sem a agonia que lhe tomara a mente alguns minutos antes, conseguiu reviver a cena no Hip Hop Café com frieza. Fazendo uma retrospectiva, não havia se comportado assim tão mal. Tinha­o cumprimentado civilizadamente. Com sorte, ele teria percebido que ela jamais tivera a intenção de ter aquela conversa com ele. Deixe­o ir para casa para junto de sua mulher. Deixe que ela lhe bajule o ego. Melissa jamais lhe diria que o que ele lhe fizera seis anos atrás estava certo; talvez a mulher dele pudesse tranqüilizá­lo a respeito desse assunto.
Por fim, Wyatt conseguiu ligar a caminhonete e deixar o estacionamento. Antes de parar no Hip Hop, ele passeara por Whitehorn, verificando as mudanças. Estava se divertindo, sentindo­se bem mais leve depois que Shannon aceitara lhe dar o divórcio. A mudança definitiva para a fazenda há cerca de uma semana tinha sido um dos pontos altos de sua vida, e ele estava deliciando­se com sua sensação de liberdade.
Mas agora a diversão com o inofensivo tour por Whitehorn desaparecera. Quais eram os desígnios do destino que o fizeram perceber o letreiro do Hip Hop Café, achar o nome bacana e entrar para beber algo?
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Por um lado, não queria mais apreciar os recantos de Whitehorn, também não queria voltar para a fazenda ­ Melissa estava ali, na cidade. Por isso ficou dobrando esquinas. O instinto o trouxe de volta ao colégio e, sem razão alguma, parou a caminhonete e desligou o motor.
Durante um tempo, ficou apenas olhando para a escola silenciosa, sem pensar em nada, depois as antigas recordações começaram a se agitar em sua mente. Suspirou desesperançado. O namoro com Melissa começara quando era aluno do terceiro ano, e ela, do segundo. Combinavam em muitas coisas. Ela era linda e inteligente e ele, louco por suas pernas longas e por seu irônico senso de humor. O sobrenome dele ­ North ­ indicava uma direção, o norte, e ela fingia esquecer qual direção. Ao passar por ele no corredor, muitas vezes gritava: "Oi, leste" ou "oeste" ou "sul". Eles riam, e ele seguia contente para a próxima aula.
Aquele tempo passou voando pela mente de Wyatt ­ os bailes, os jogos de futebol e de basquete, os encontros no cinema e uma paradinha no Whirl­In antes que ele a levasse para casa a tempo de chegar antes da hora limite, determinada pela mãe. O pai de Melissa havia desaparecido quando ela era garotinha, e Nan Avery, sua mãe, era rigorosa com a filha. O pai dele era viúvo, e nunca impusera horário de chegada a seu filho único. Além disso, as famílias North e Avery eram diferentes demais. Para além das risadas de Melissa, existia uma tristeza que muito pouca gente percebera. Wyatt a havia notado, e depois de terem namorado por algum tempo, ela falou a respeito do pai. Jamais acreditara que ele tivesse simplesmente abandonado a família como sua mãe dizia, Melissa contou a ele. Algo mais aconteceu, Wyatt, eu sei, e algum dia vou descobrir o que foi.
Era por isso que Melissa estava de volta a Whitehorn! Lembrou­se de ter lido que os restos mortais de Charlie Avery haviam sido localizados na reserva indígena Laughing Horse. Melissa tinha voltado para desvendar o mistério da morte do pai.
Wyatt relaxou os ombros de novo. Não. Os ossos tinham sido encontrados na primavera e Melissa já estava aqui havia mais de um ano. Ainda assim, certamente ela estava em busca da verdade. Estava convencida de que Charlie voltaria algum dia, mas o tempo todo ele sempre estivera morto.
Será que havia alguma possibilidade de Melissa perdoá­lo? Muitas vezes, durante os últimos seis anos, ele pensara em estabelecer contato com ela ou, pelo menos, fazer uma tentativa. Mas algo sempre o impedia. Talvez fosse honra ou um senso de responsabilidade, pois depois do nascimento de seu filho Timmy, ele se sentia compelido Projeto Revisoras
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a fazer seu casamento funcionar. Timmy fora a única coisa boa durante aqueles anos. Shannon ­ aquela que logo se tornaria sua ex­mulher ­ era superficial e egoísta, com uma personalidade dura e fria, que só se suavizava quando tudo saía como ela queria. Por que envolver Melissa no meio de seu sofrimento? Ainda que ele tivesse decidido procurá­la, ela provavelmente não falaria com ele. O rosto de Wyatt ficou sombrio com a lembrança do ocorrido no Hip Hop. Entretanto, não podia culpá­la por desprezá­lo. Suspirando, Wyatt ligou o carro. Decidiu ir para casa.
Melissa havia escolhido o velho apartamento acima da cafeteria como moradia. Tinha pintado as paredes de branco e pendurado persianas brancas na janela. A decoração escolhida era simples ­ estofados confortáveis e muitas plantas ­ criando um ambiente extremamente agradável. Quando a cafeteria fechava às 22h, como de costume, Melissa, exausta, subia as escadas internas que levavam ao apartamento. Havia também a escada externa, conveniente algumas vezes, embora preferisse usar a do interior do edifício. Em geral, não achava que 22h fosse muito tarde, permanecendo acordada até a meia­noite. Aquela noite, entretanto, ela foi imediatamente para a cama. Puxou o lençol e o cobertor fino de verão até o queixo, fechou os olhos e viu Wyatt North. Tomada de súbita fúria, levantou­se, abriu um pouco a janela, voltou para cama e ficou olhando o teto escuro. Por que ele voltara para a fazenda? Sua mulher estava envolvida, de certa forma, com a política estadual, ouvira comentários, e a área de Whitehorn não era exatamente um local de atividades políticas. Era provável que a sra. Wyatt North achasse a fazenda bastante entediante. Talvez Wyatt tivesse insistido em voltar por causa do filho. Talvez houvesse mais de um agora, e ele quisesse criá­los na fazenda. Mas ela só sabia com certeza da existência de um primeiro e não conseguia parar de se perguntar se era menino ou menina. Quando voltara para Whitehorn, pensara em ir à biblioteca pesquisar as edições antigas do jornal de Helena para ver se existiam publicações de fotos do casamento de Wyatt, e, assim, conseguir ver a mulher dele. Por alguma razão, não o fez. Tinha ajeitado a própria vida, comprado a velha lanchonete de Billy Struthers e reformado o local. Trabalhara em restaurantes na Califórnia, tendo sido gerente de um listro. Por isso, para ela, só tinha sentido continuar a fazer aquilo que mais sabia. Até agora ela havia sido... bem... quase feliz. Não no que dizia respeito à investigação sobre a morte do seu pai ­ que andava muito devagar. Seu trabalho, porém, era satisfatório e ela planejava expandir as atividades.
Agora, pensava, olhando para a escuridão, nada seria como antes. Ficaria eternamente olhando apreensiva, temendo outro encontro com Wyatt. Pior do que isso, um confronto Projeto Revisoras
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com Wyatt e sua mulher. A idéia de encontrar os dois na rua era horripilante. Wyatt diria:
­ Querida, esta é a mulher de quem fui noivo antes de você e eu termos nos casado.
Era uma suposição absurda, mas angustiante. Lágrimas enchiam os olhos de Melissa outra vez. Tinha muito em que pensar, a expansão de seu negócio e o caso sem solução da morte de seu pai, em particular. Wyatt North não ia interromper sua vida.
Dois
Pelo menos duas vezes por semana Melissa ia conversar com o xerife Judd Hensley sobre a morte de seu pai, Charlie Avery.
­ É claro que foi assassinato ­ disse Melissa com um pouco de raiva, quando Judd anunciou mais uma vez essa possibilidade. ­ Mas Judd ­ ela se inclinara para a frente ­ tem de haver alguma pista, e ninguém está encontrando nada.
Judd suspirou.
­ Você sabe que Tracy está encarregada da investigação. É com ela que você deveria falar.
Tracy era agente do FBI e esposa de Judd. A história deles era complexa. Casados desde jovens, tinham se divorciado após a morte do filho deles. Tracy se mudara de Montana e, para surpresa de Judd, entrara para o FBI. Muitos anos se passaram até que, por conhecer a área, ela recebera a incumbência de investigar ossos humanos encontrados por George Sweetwater, na reserva indígena Laughing Horse. Judd, na verdade, não tinha autoridade para se envolver em questões indígenas, mas não se surpreendera muito ao saber que a agente enviada para investigar o caso era sua ex­mulher. Apaixonaram­se novamente e casaram pela segunda vez.
­ Eu falo com Tracy ­ replicou Melissa. ­ Também falo com Sterling McCallum, Rafe Rawlings e outros investigadores. Só não consigo entender a demora.
­ As investigações de assassinatos na vida real não são como na TV, Melissa.
­ Bem, sem dúvida não são.... ­ Ela se calou. Talvez estivesse insistindo demais com Judd e Tracy. É claro que deviam estar fazendo todo o possível para solucionar o antigo crime.
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­ Desculpe, Judd.
Forçando­se a sorrir, Melissa pôs­se de pé.
­ Tudo bem se eu continuar aparecendo? Sei que é uma obsessão de minha parte, mas tenho que me manter a par da investigação.
Judd se levantou.
­ Apareça sempre que quiser, Melissa, mas lhe garanto que você será a primeira a saber se e quando acharmos alguma pista importante.
­ Obrigada, Judd.
Toda vez que Melissa conversava com Judd ou Tracy, ficava frustrada. Ela jamais acreditara que seu pai tinha simplesmente abandonado a família. No entanto, não o imaginava como vítima de um assassinato. Tinha freqüentes pesadelos com isso.
A mãe dela, por outro lado, recebera a notícia com muita calma.
­ Pode escrever minhas palavras. Quando a lei descobrir o assassino, haverá uma mulher envolvida. ­ Nan nunca hesitou em afirmar que devia haver uma mulher relacionada ao misterioso desaparecimento do marido.
Nan Avery se mostrara aliviada quando Judd Hensley telefonou para ela da Califórnia com informações sobre a descoberta do corpo.
­ Agora podemos requisitar o seguro de seu pai ­ dissera a Melissa.
Charlie tinha deixado uma apólice de seguro de vida de valor considerável, quitada, que, no entanto, continha uma cláusula segundo a qual os benefícios só seriam pagos aos beneficiários mediante a apresentação de um atestado de óbito. Agora o atestado de óbito imprescindível estava a seu alcance, e ela podia requerer o pagamento do seguro. Não havia dúvidas de que Nan precisava do dinheiro, mas Melissa achara grosseira e insensível a atitude da mãe. A amargura de Nan por ter sido abandonada pelo marido havia acompanhado seu crescimento, e várias vezes Melissa e seu irmão se aborreciam com a mãe por causa desse amargor. "Você não pode conceder o benefício da dúvida a papai?", Melissa perguntava. "Ele não nos abandonaria, mãe. Pense sobre o assunto. Ele não levou nada com ele suas roupas, dinheiro do banco, nada."
Ah, papai. O que de fato aconteceu com você?
Wyatt não conseguia tirar Melissa da cabeça. Queria que falasse com ele, ouvisse tudo Projeto Revisoras
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que ele tinha a dizer, e desesperadamente fazer­lhe recordar aquela noite, há muito tempo, quando ela lhe telefonara, chorando, em pânico, porque a mãe ia se mudar para a Califórnia.
Melissa mal começara o último ano do colégio. Wyatt tinha entrado na faculdade em Missoula. O telefone do dormitório tocara para ele. "­ Aqui fala Wyatt North.
­ Wyatt... oh, Wyatt. ­ Melissa? O que houve?
Após um minuto os soluços dela se acalmaram o suficiente para poder falar.
­ Mamãe... está se mudando para a Califórnia.
Ele lhe perguntou quando, tentando manter a voz calma e sensata.
­ O caminhão de mudanças estará aqui amanha ­ soluçou Melissa.
­ Amanhã! Não pode ser. Quando foi que ela decidiu isso?
­ Não sei. Ela só me disse hoje à noite. Ah, Wyatt, o que vamos fazer? Vou sentir tanto a sua falta. E não vou vê­lo nem para me despedir.
­ Vai, sim. Estou a caminho. Espere por mim." Wyatt percorreu cerca de 500 km em velocidade máxima, arriscando­se a ser multado. Era uma hora da manhã quando parou em frente à casa de Melissa. Acendeu os faróis dianteiros e aguardou. Logo a viu caminhando dos fundos da casa muito rapidamente. Abriu a porta do carona e ela entrou.
"­ Vá para algum lugar ­ disse ela, com a voz rouca de chorar.
Wyatt saiu com o carro.
­ Como está você? ­ perguntou ele suavemente.
­ Péssima. ­ Melissa começou a chorar de novo. Desculpe. Não quero me mudar para a Califórnia. Não quero me mudar para lugar nenhum. Quero terminar o colégio aqui. E se papai voltar e não nos encontrar?
­ E quanto a nós?
Ela escorregou pelo assento para acomodar a cabeça nos braços dele.
­ Não sei ­ ela sussurrou hesitante.
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­ Melissa, eu te amo!
­ Oh, Wyatt, eu também te amo."
Wyatt continuou pensando naquele encontro durante todo o dia e, à noite, sentou­se no seu refugio e ficou olhando para o vazio. Chegou à conclusão de que tinham sido jovens bem "estranhos" pelos padrões atuais. Namoraram por muitos anos e nunca tinham feito sexo. Mas, naquela noite, quando segurou Melissa nos braços ­ sentindo a dor de uma separação que estava além do controle de ambos ­ ele havia deixado que seus beijos evoluíssem para uma paixão incontrolável. Era uma bela lembrança para Wyatt, repleta de estranheza e de inocência adolescente, mas, ao mesmo tempo, tão terna e verdadeira. Depois disso, eles conversaram:
"­ Melissa, você pode voltar a Whitehorn depois de sua formatura. Só ficaremos separados até a próxima primavera."
E então fizeram dezenas de promessas naquela noite.
­ Como éramos inocentes ­ murmurou Wyatt. Melissa não havia retornado na primavera como eles haviam combinado. Um dia, pelo telefone, ela lhe disse:
"­ Wyatt, preciso ficar com minha mãe um pouco mais.
­ Tudo bem, querida. Meu pai está muito velho também e eu tenho que tomar conta da fazenda. Mas isto não é o fim de nossos planos; apenas uma dificuldade passageira"
Simon North nunca havia sido um homem robusto. Quando era aluno da Universidade de Stanford conhecera Sheila Winston, mulher inteligente e suave, que o amava exatamente como ele era: um homem gentil, ponderado e de boas maneiras. Simon e Sheila decidiram estabelecer­se em Montana. Simon havia herdado uma fortuna, dinheiro não era problema. Após uma viagem sem compromisso pelo estado, haviam finalmente escolhido a área de Whitehorn e comprado uma propriedade de dois mil acres, cerca de56km a oeste da cidade.
Construíram uma bela casa na propriedade, juntamente com currais, celeiros e outras estruturas necessárias no manejo do gado. Compraram um rebanho pequeno e trabalhavam na fazenda com calma, aproveitando a enorme biblioteca e os momentos que tinham juntos. Os pais de Wyatt viveram dias felizes durante cinco anos, até que Sheila engravidou. Anos depois, Simon contou ao filho que havia vivido uma felicidade inigualável. Contou também que durante toda a gravidez de Sheila havia orado pedindo Projeto Revisoras
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uma criança saudável, mas, secretamente, também desejava que fosse menino. Suas preces foram atendidas, pois Sheila deu à luz um garoto esperto, que batizaram de Wyatt Simon North.
O nascimento de Wyatt mudou tudo na vida dos Norths. Simon aumentou a área construída da fazenda até o limite máximo. Era profundamente grato pelo fato de Wyatt ser um homem de verdade, com saúde e força que ultrapassavam as suas. Por isso mesmo, Simon sempre encorajara as habilidades esportivas de Wyatt.
Então, quando Wyatt tinha 12 anos, sua mãe morreu. Não deixava de ser irônico o fato de que ele, Simon, cuja saúde sempre fora debilitada, ainda estivesse vivo, enquanto Sheila, que sempre havia gozado de boa saúde, tivesse morrido de repente. A luz se apagou dos olhos de Simon desde então, e sua própria saúde também começou a se deteriorar.
O verão, no qual o casamento de Wyatt e Melissa deveria ter acontecido, foi de trabalho duro para ambos. Durante esse tempo, eles se corresponderam freneticamente, e a conta de telefone de Wyatt atingiu níveis estratosféricos. Simon insistiu para que seu filho retornasse à faculdade no outono.
"­ Eu já me sinto bem melhor, e sua educação é mais importante, Wyatt."
Sendo assim, Wyatt escolheu o melhor trabalhador que tinham na fazenda para administrá­la na sua ausência.
"­ Meu pai não deve fazer absolutamente nenhum esforço físico. Se vocês o virem se excedendo de alguma maneira, devem me avisar imediatamente."
Wyatt retornou à faculdade em Missoula preocupado com o pai, com a fazenda e com Melissa. Os problemas dela eram de ordem financeira e ele poderia tê­los resolvido facilmente, se ela ao menos tivesse permitido. Certa vez tentou abordar o assunto, mas foi imediatamente repelido:
"­ Wyatt, eu nunca vou aceitar dinheiro seu ou de seu pai; não toque mais neste assunto."
E foi o que ele fez.
Mais um ano se passou. Melissa agora tinha aulas de administração e trabalhava em horário integral. Wyatt passava o tempo livre na fazenda. Eles ainda se amavam e mantinham contato constante, por telefone ou por carta. A saúde de Simon piorava. A fazenda precisava de sua atenção, mas ele não podia decepcionar o pai, desistindo da faculdade para estar lá o tempo todo. Quanto a Melissa, tudo o que Wyatt tinha dela eram lembranças, fotos, a voz ao telefone e numerosas cartas.
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Wyatt jogou a cabeça para trás e permitiu que o último episódio de seu relacionamento com Melissa viesse à tona, do fundo de suas memórias.
Certo dia, fragilizado e debilitado pelas aulas e pelas preocupações, deixou­se arrastar por seu colega de quarto! até uma festa. O evento era formal e, a princípio, Wyatt se recusou a vestir algo mais apropriado. Entretanto, até mesmo ele sabia que precisava de algo que pudesse lhe aliviar o estresse. Sendo assim, colocou seu melhor terno, escovou' bem os sapatos e aceitou o convite do amigo.
Foi o maior erro de sua vida. Na festa, conheceu Shannon Kiley, filha do senador Wilbor Kiley. Ela morava em Helena, mas estava em Missoula especialmente para a festa. Shannon era muito bonita e sexualmente agressiva. Wyatt nunca havia encontrado ninguém como ela. Era tão segura de si, que, após Wyatt ter tomado alguns drinques, ela parecia ser a única mulher na face da Terra. Ele terminou a noite no quarto de hotel de Shannon e acordou no dia seguinte com uma dor de cabeça latejante, e a consciência do que tinha feito.
Profundamente triste, explicou sua situação a Shannon.
"­ Estou noivo de uma mulher que amo muito, Shannon. Nem posso dizer o quanto sinto pela noite anterior.
Shannon ensaiou uma expressão pensativa e depois suspirou:
­ Não leve isso tão a sério, Wyatt. Afinal, você é humano. De minha parte, não estou nem um pouco arrependida de termos dormido juntos. Foi uma noite maravilhosa e nunca a esquecerei."
Wyatt também jamais esqueceria aquela noite. Um mês depois, Shannon ligou:
"­Wyatt, precisamos conversar sobre algo muito importante. Venha ao meu apartamento esta noite."
Deu a ele seu endereço em Helena.
Ele se dirigiu para lá. Entretanto, alguma coisa na voz de Shannon fez Wyatt engolir em seco. Ele viu que tinha razão após alguns minutos de conversa.
"­ Estou grávida, e como você foi o único homem com quem dormi nesses últimos meses, presumo que o filho seja seu. Não pretendo fazer um aborto nem envergonhar meu pai tendo um filho sozinha.
Ela fez uma breve pausa e continuou:
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­ É sua vez de falar, Wyatt."
Tudo o que ele queria era correr, voltar no tempo. Fazer qualquer coisa menos aquilo que ele sabia que seria obrigado a fazer. Seu próprio pai seria o primeiro a esperar que ele tomasse uma atitude honrada. Mas, e quanto a Melissa? E quanto a seus próprios planos?
Sentindo os joelhos fraquejarem, afundou na cadeira. Os Kileys não eram pobres, e Shannon vivia plenamente o papel da filha de um rico senador.
"­ Então, você, quer se casar comigo? — ele murmurou.
­ Você consegue pensar em outra solução que não arruíne a carreira do meu pai?
­ Ora, o seu critério para um casamento forçado é este... que a carreira de seu pai possa ser afetada?
­ Não seja tolo, Wyatt. Você realmente acha que eu estou mais feliz do que você com esta situação?"
Ele olhou dentro daqueles olhos e viu um brilho de contradição. Ela estava ­ sim ­feliz com toda aquela situação! Seu coração latejava de remorso. Então ele se levantou.
­ Eu vou me casar com você. Cuide de tudo e me avise. Estarei lá."
Ele voltou a Missoula em estado de torpor. Ficou deitado horas, pensando em Melissa. Precisava ligar para ela. Uma carta seria cruel demais. Chorava em silêncio para que seu companheiro de quarto não ouvisse.
O passado estava feito e nada poderia modificá­lo, mas ele ainda tinha um futuro. Encontraria Melissa e conversaria com ela.
A serenidade que ele sentia por sua volta à fazenda havia desaparecido por completo. Estava descontente. Na verdade, estava assim desde que vira Melissa no Hip Hop e havia sido dispensado por ela tão friamente. Apesar da determinação em vê­la outra vez, e fazer com que ela falasse com ele, não sabia como conseguir seu intento. Ah ele podia entrar na cafeteria de novo, porém isso ajudaria em quê? Além das garçonetes, certamente haveria fregueses. Forçar um encontro público provavelmente enfureceria Melissa. Sentia que havia uma coisa a favor dele: Melissa não parecera zangada, naquele dia no Hip Hop, mas sim chocada.
Bem, ele também ficara chocado. Caso contrário, teria lidado melhor com a situação.
O que o deixava frustrado era saber tão pouco a respeito de Melissa. Onde morava? Projeto Revisoras
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Tentara conseguir o telefone dela pelo serviço de informações e ficou sabendo que o número não constava da lista. A cafeteria sim, mas era um telefone público.
Finalmente teve uma idéia. Será que Nan Avery ainda tinha o mesmo número para o qual ligara tantas vezes quando Melissa vivia com ela, na Califórnia?
Olhou para o telefone com certa prudência, pesando o curso dos acontecimentos. Se tivesse sorte e falasse mesmo com Nan, como Melissa aceitaria sua atitude? Mas, se não tomasse alguma providência, Melissa e ele poderiam envelhecer, morando a cinqüenta e poucos quilômetros um do outro, sem jamais ter uma conversa. Discou o número gravado em sua mente. O aparelho tocou uma, duas, três vezes. Wyatt prendeu a respiração.
­ Alô? ­ disse uma voz feminina.
­ Sra. Avery? Nan?
­ Sim. Quem fala?
­ Wyatt North, sra. Avery.
­ Wyatt o quê?
­ North. A senhora deve se lembrar de mim
­ Wyatt North. Claro que me lembro. Como vai você?
­ Bem, sra. Avery. Como está a senhora?
­ Bem, não gosto de reclamar, mas não posso lhe dizer que esteja bem de fato. Também...
Wyatt a interrompeu.
­ Lamento saber que a senhora não está bem, sra. Avery. Liguei para lhe fazer algumas perguntas sobre Melissa.
­ Sobre Melissa? Bem, ela mora em Whitehorn. Por que você não pergunta diretamente a ela o que quer saber?
­ Bem, sra. Avery. Acabei de me mudar; voltei para Whitehorn. Gostaria de telefonar para Melissa, mas soube que o número não está na lista. A senhora poderia me dizer qual é?
­ É claro que sim. Tem como anotar?
­ Tenho, sra. Avery.
­ O número dela é 555­2888. Tenho certeza de que ela vai gostar de ter notícias suas. Não fiquei muito feliz por ela ter voltado para Whitehorn, mas não havia como fazê­la mudar Projeto Revisoras
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de idéia, uma vez que tinha condições financeiras para isso. Não conseguia entender por que ela queria voltar para lá, pois a Califórnia é uma maravilha. Mas ela achava mesmo que o pai dela ia voltar um dia. Bem, acredito que você tenha ouvido a notícia de que ele nunca chegou a ir embora. Pelo menos tive o bom senso de guardar a apólice de seguros. Agora que temos o atestado de óbito, estou finalmente recebendo algum dinheiro.
Wyatt escutava enquanto olhava fixamente para o número... o telefone de Melissa. Com o coração apertado, ainda precisava fazer mais uma pergunta.
­ A senhora também tem o endereço dela, sra. Avery?
­ Se você quer vê­la, Wyatt, basta ir até o Hip Hop Café. Ela mora no apartamento no segundo andar.
­ E trabalha na cafeteria?
­ Trabalha lá? Ela é dona do lugar, Wyatt, e vive para a cafeteria. Passa tempo demais trabalhando. Vive insistindo que eu a visite. Você acredita que ela tem planos para um funeral quando forem legalmente liberados os restos mortais de Charlie? Disse a Melissa que não me espere por lá. De qualquer forma, conte­me o que anda fazendo desde que saiu de Whitehorn.
Wyat ficou perplexo com a constatação. Melissa não havia contado nada à mãe a respeito do passado deles.
­ É uma história longa e entediante, sra. Avery, e eu realmente preciso desligar agora.
­ Bem, ligue de novo, uma hora dessas, e bateremos um bom papo.
­ Assim farei. Obrigado pela conversa.
­ Dê um alô a Melissa por mim.
­ Vou fazer isso. Até logo, sra. Avery.
Após desligar, Wyatt jogou­se na cadeira mais próxima. Melissa era dona no Hip Hop. E morava no apartamento em cima da cafeteria. Tinha o número dela à mão... que maravilha.
Tudo o que tinha a fazer agora era escolher uma hora para telefonar para ela.
Ou seria melhor, simplesmente, bater à sua porta?
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Três
Depois de pensar sobre o assunto, Wyatt decidiu que não ia telefonar para Melissa. Planejou outra estratégia.
Por volta de 21h30 da quarta­feira, foi à cidade e estacionou numa rua próxima ao Hip Hop. Um telefonema para a cafeteria fora o suficiente para saber seu horário de funcionamento. Melissa ia trabalhar até às 22h.
Agora, ele tinha um plano concreto. Eram ambos adultos e ele sempre soubera que ela era inteligente. Certamente tinha tido tempo para se recuperar do choque de tê­lo visto entrando no Hip Hop Café sem avisar, e teria uma conversa com ele.
Inclinando a cabeça para trás, enquanto esperava os últimos fregueses saírem e Melissa fechar o expediente da noite, Wyatt deixou a mente divagar, recordando os dias no colégio.
Antes de correr para Melissa, Wyatt estava planejando dar uma olhada para ver se algum de seus antigos amigos ainda morava por ali. Faria isso, pensou; porém mais tarde, depois que tivesse tido o encontro com ela.
Fazendo uma retrospectiva, perguntou­se como algum dia permitira que Shannon o mantivesse longe de Helena durante seis longos anos, os quais a vontade de voltar à fazenda provocava uma intensa dor.
Wyatt suspirou. Seu filho, Timothy Wyatt, o mantiver num casamento sem amor, e não Shannon. Timmy agora estava com cinco anos, e Wyatt tinha solicitado a custódia compartilhada no processo de divórcio.
De início, Shannon recusara com veemência o pedido de Wyatt, até que ele a ameaçou com o pedido de custódia total, o que significava batalha judicial e publicidade demais para o gosto dela. O casamento tinha sido uma farsa e ele lutara cotidianamente contra o sentimento de infelicidade. Era casado, magoara Melissa além do aceitável e tinha mesmo tentado viver o melhor possível com Shannon. Não mais. Descobrir que Shannon estava saindo com outro tinha sido a maior bênção de sua vida. Não tinha ficado zangado, e sim aliviado. Flagrada em adultério, ela teve de concordar com o divórcio amigável ­ a carreira de meu pai... sabe como é.
No terceiro ano do casamento, o pai de Wyatt falecera. Nessa ocasião, tinha tentado Projeto Revisoras
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convencer Shannon a se mudar para a fazenda. A recusa dela fora definitiva: Helena era a casa dela, e o lugar onde as coisas aconteciam. Enterrar­se numa fazenda no meio do nada?
"­ Esqueça, Wyatt. Jamais sequer pensaria no assunto."
Agora sentia­se feliz por ela ter recusado, porque assim a fazenda se livrara de lembranças sórdidas.
O olhar de Wyatt ficou vagueando e seus pensamentos continuavam. Nos últimos seis anos, a cidade se modificara. Não estacionara diante do Hip Hop, e sim no meio­fio do terreno ao lado da propriedade de Melissa. Era um terreno bom, pensou ele, notando a placa À VENDA exposta ali. Amity era uma boa avenida. O terreno poderia será um bom investimento. Procurou um pedaço de papel no porta­luvas e anotou o número do telefone.
Em seguida, esqueceu o terreno e tudo mais. As luzes tinham se apagado no Hip Hop. Conseguia ver a escada externa que levava ao segundo andar do edifício e, a qualquer instante, Melissa deveria sair em direção ao apartamento dela.
No entanto, ao fim de dez minutos, ele se perguntava o que estava acontecendo. Olhando para as janelas lá em cima, iluminadas, veio­lhe à mente que devia haver um lance interno de escadas.
Certo, North, é isso, disse a si próprio, esfregando a boca, numa crise de ansiedade. Ela podia bater a porta diante dele, mas será que faria isso? Respirando fundo, saiu da caminhonete. Nunca tivera medo de nada, mas agora sentia o peito apertado.
Será que era medo, perguntou­se, ou excitação? Não restava dúvida de que estava ansioso para ver Melissa outra vez, mesmo que por um instante.
Subiu as escadas. Nervosamente, bateu à porta. Lá dentro, Melissa enrijeceu­se. Ninguém batia à sua porta a esta hora da noite. Olhando cuidadosamente para além da porta da cozinha, viu o vulto de um homem.
­ Wyatt ­ murmurou ela aterrada, embora só o identificasse pela silhueta.
Durante um minuto, não conseguiu pensar. Ele bateu novamente.
­ Melissa?
­ Quem é? Quem está aí?
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­ Wyatt. Por favor, abra a porta.
Um arrepio louco percorreu seu corpo, alarmando­a. Ele era casado e, por Deus, só podia sentir mais do que repugnância por ele.
Fique calma, ela disse a si mesma. Pelo jeito, ele teria de ouvir que ela detestava visitas tarde da noite.
Ela entrou na área de serviço e, chegando à porta, destrancou­a e entreabriu­a.
­ O que você quer, Wyatt?
A luz perto da porta revelava seu belo rosto e os olhos, que ela no passado usava para avaliar o humor dele.
­ Só quero conversar um pouco. Por favor, deixe­me entrar.
Ela olhou para longe.
­ Não temos nada para falar. Por que está fazendo isso?
­ Melissa, por favor, não me mande embora.
Ele a amara tanto ­ o riso dela, seus beijos. Este amor podia arder de novo. Pelo menos no que se referia a ele.
­ Só quero conversar ­ falou em voz baixa, o que, por enquanto, era verdade.
Se ela recusasse essa pequena concessão, não haveria nenhuma esperança para os dois.
O que ele queria fazer, pensou Melissa com tristeza, era pedir desculpas pessoalmente por ter casado com outra mulher. Ela queria ouvir isso? Que diferença faria um outro pedido de desculpas, de toda forma?
­ Wyatt, estou cansada. Trabalhei muito e... Estou cansada.
­ Então não vai me deixar entrar?
O olhar triste e decepcionado no rosto dele despertou a generosidade inata de Melissa. Ele ainda era Wyatt, o rapaz que ela amara de coração e alma. A crueldade não fazia parte de sua natureza, e não conseguiria ser tão dura.
Deu um passo atrás e abriu a porta um pouco mais.
­ Entre. Mas só uns minutinhos.
Wyatt ficou aliviado, a ponto de se sentir tolo.
­ Obrigado, Melissa. Você não se arrependerá.
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Isso era discutível, pensava ela enquanto o encaminhava à sala.
­ Sente­se, se quiser.
­ Se você se sentar.
Nenhum dos dois se sentou. Permaneceram em pé, bem distantes um do outro, e pareciam nervosos. Wyatt deu um sorriso constrangido.
­ Tinha todas as palavras preparadas para lhe dizer, e agora não consigo lembrar de nada.
­ Tente ­ disse ela friamente.
Ele respirou devagar e fingiu que estava interessado^na sala de visitas.
­ O ambiente está bem decorado e bonito.
­ É confortável ­ ela admitiu. Estava se sentindo sem chão em sua própria casa; os dois em pé, bastante desajeitados. Sentou­se no sofá, e Wyatt, numa cadeira. Seu corpo preencheu a cadeira totalmente, ela percebeu.
Ele sorriu para ela; ela não sabia se devia rir ou chorar do efeito diante dele. A expressão dela ficou, de propósito, mais fria.
­ Sobre o que você queria me falar? ­ perguntou, ríspida. Wyatt ergueu um pé, com bota, para descansá­lo sobre o outro joelho. ­ Você ouviu falar do meu divórcio? Melissa arregalou os olhos.
­ Quando foi isso? Wyatt pigarreou. ­ Na verdade, está em curso. Vai levar mais algumas semanas.
Aboca de Melissa ficou seca, de repente. Certamente Wyatt não estava pensando que o divórcio dele significaria algo para ela. Havia, pelo menos, uma criança envolvida, e tendo sido criada como filha abandonada ­ na opinião dos outros, não na dela ­, ela odiava a idéia de saber que Wyatt abandonava seus próprios filhos porque ele e a mulher não se davam bem. Só se ele estivesse com os filhos na fazenda.
Mesmo assim, ela agora sabia por que ele estava ali. Será que teve a ousadia de pensar que poderia haver alguma coisa entre eles outra vez?
­ Melissa, nunca deixei de... sentir sua falta ­ disse ele suavemente.
Ela se pôs de pé.
­ Que pena, Wyatt. Parei de sentir sua falta há mais ou menos seis anos. Agora, com sua Projeto Revisoras
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licença?
Wyatt levantou­se lentamente.
­ Você não está entendendo. Eu queria lhe dizer tudo.
­ Não quero ouvir, Wyatt.
Mesmo zangada como estava, algo dentro dela reagia à sua bela aparência ­ o corpo longo e delgado e seus olhos. Malditos olhos, por serem tão expressivos.
­ Wyatt, nós não vamos ser amigos ­ falou.
­ Você sempre foi especial para mim ­ começou ele.
­ É, verdade ­ comentou ela friamente.
­ Você provou até que ponto eu era especial, Wyatt, então, por favor não me venha com falsidades.
O rosto dele ficou corado.
­ Essa é uma das coisas sobre as quais gostaria de conversar com você.
­ Não, acho que não. De fato não tenho interesse no passado. ­ Ela pensou um instante, lembrando­se de que tinha enorme interesse no passado ­, mas só no que dizia respeito a seu pai.
Ela percebeu o olhar sobre seu roupão e, de forma desafiadora, pôs a faixa para trás.
­ Vá para casa, Wyatt. Aqui não há nada para você.
­ Nada mesmo, Melissa? Nem sequer amizade?
Ele não procurava só a amizade dela. Era bonita e inteligente e nunca deixara de amá­la. Verdade, ela havia mudado. Seu ar de independência e autoconfiança era óbvio, mas só de estar na mesma sala que ela fez­lhe o sangue correr mais forte.
­ Você nunca se casou ­ falou em tom suave.
­ É verdade, nunca me casei. Mas não se engane pensando que isso tem algo a ver com você. ­ Ela estava se exasperando de novo. ­ Wyatt... por favor, vá. É tarde e tenho muitas coisas para fazer antes de me deitar.
Ela caminhou até a cozinha. Com alívio, registrou o fato de que ele a seguia. Dando­lhe as costas, passou pela cozinha e pela área de serviço para abrir a porta. Esticou a mão até a maçaneta, mas não tinha percebido como ele estava próximo e quase perdeu o controle Projeto Revisoras
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ao sentir a mão dele em seu cabelo. Durante uma fração de segundo, permitiu­se ter arrepios até se recompor. Os dedos dele movendo­se por entre seu cabelo davam­lhe a sensação do paraíso na Terra.
Logo girou o corpo e mostrou­lhe um rosto zangado.
­ Como se atreve a me tocar desse jeito? Os olhos dele estavam escuros e encobertos.
­ Você não conteve o arrepio. Estou feliz.
­ É claro que sim ­ respondeu­lhe contundente. ­ Não é essa a questão. Você não tem o direito de me tocar. Sei o que você quer, Wyatt, e não vai acontecer.
­ O que eu quero? Se você sabe tanto a respeito disso, fale.
­ Não banque o inocente, Wyatt. Por favor, afaste­se para eu poder abrir a porta.
Ele a sufocava, ao ficar perto demais, e ela estava achando difícil respirar normalmente.
Ele, no entanto, estava cheio de coragem, vinda da tensão sexual entre eles, e permaneceu onde estava.
­ Você ficará comigo?
­ Não, de jeito nenhum.
­ Você tem medo de mim, Melissa? Medo do que estou fazendo você sentir?
Ela tentou menosprezá­lo.
­ Você tem um ego enorme, Wyatt. A única coisa que você me faz sentir é desconforto.
­ Isso é mentira. Você acha que um homem não sabe quando uma mulher está se derretendo por ele?
Os olhos de Melissa subitamente faiscaram.
­ Chega! Que audácia a sua vir a minha casa, agir como se eu tivesse prazer em vê­lo e, então, ter o descaramento de insinuar... ­ Não conseguiu dizer as palavras.
Tomada pela raiva, ela o empurrou.
­ Você pode estar se divorciando, mas ainda assim é um homem casado. Só o fato de ainda ser casado impediria qualquer tipo de tolice entre nós. E o que você está interpretando como vibração e excitação é a incapacidade de acreditar que você teve o atrevimento de vir até aqui. Não quero ser sua amiga, Wyatt North. Não quero...
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As palavras de Melissa foram abruptamente interrompidas porque a boca de Wyatt estava colada à dela, assim de repente. Gaguejando, ela o empurrou para longe. As mãos dele, porém, estavam em volta de sua cabeça como se a aninhassem, segurando­a firme. Os lábios dele moviam­se sobre os dela, a princípio com delicadeza, depois com força e, em seguida, com delicadeza outra vez. Sua visão escurecia, e sentia os membros inertes, como se fosse desmaiar.
Finalmente, ele parou de beijar­lhe os lábios e levantou a cabeça para olhar dentro dos olhos dela.
­ Não pretendia fazer isso ­ sussurou. ­ Mas não lamento. Melissa, você pode negar até o fim, mas sempre haverá algo entre nós. O que eu lhe fiz nunca poderá ser desfeito. Se eu
pudesse voltar atrás... Não esperava vê­la de novo e, aparentemente, você não esperava me ver outra vez. Mas aconteceu.
­ E eu não tenho o que dizer sobre isso? ­ perguntou, com voz frágil.
As mãos dele pousavam suaves sobre sua cabeça, os dedos dividiam seu cabelo.
­ Você tem tudo a dizer. Olhe para mim, Melissa. Não estou pedindo perdão, mas sim uma chance.
­ Magoar­me uma vez, é culpa sua. Magoar­me duas vezes, é culpa minha ­ afirmou ela com voz rouca. ­ Não, Wyatt, não vou lhe dar a chance de provar outra vez que é de fato um patife. E sabe de uma coisa? Eu o perdôo. Mas perdoar não é esquecer; isso, jamais, conseguirei fazer.
O olhar dele fitava seu rosto.
­ Você me beijou também.
­ Você não vai me fazer brigar por nada; por isso, pode parar de tentar.
­ Você quer mesmo que eu saia daqui e faça de conta que não aconteceu nada hoje à noite?
­ Nada aconteceu, a não ser na sua cabeça. Durante um minuto, enquanto a beijava, sentira sua aceitação, sua resposta, e agora sentia que ela escapava, recuando.
­ Melissa, você significa tanto para mim. Não seja implacável, por favor. Você nunca foi implacável. Você sempre foi...
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­ Burra ­ interrompeu ela com amargura. ­ Tire as mãos de cima de mim, Wyatt. Tenho certeza de que você consegue achar quantas mulheres quiser que adorariam ir para a cama com você.
Ele percebeu que não ia mudar o ponto de vista dela essa noite. Entretanto, quer ela admitisse ou não, tinham dado um passo em direção a um relacionamento. Precisaria ter muita paciência com ela e manter a esperança de que o tempo pudesse diminuir o sofrimento do passado,
No entanto, ela estava completamente enganada acerca de uma questão.
­ Você sinceramente acredita que tudo o que quero de você é sexo? Você tem razão a respeito da existência de muitas mulheres interessadas por aí, Melissa. Não é por esse motivo que estou aqui.
­ Da minha perspectiva, é difícil acreditar ­ replicou. ­ Parei de acreditar em contos de fada há muito tempo, Wyatt. Você me beijou. Diga olhando nos meus olhos se não foi um beijo cheio de intenções sexuais.
Ele olhou dentro dos olhos dela por um instante, mas não conseguiu mentir.
­ Foi um beijo cheio de intenções sexuais, mas tente se recordar de que não cheguei aqui com nada disso em mente. Simplesmente aconteceu. ­ Deu um passo para trás. ­Sinto muito.
­ Tenho certeza de que sente mesmo ­ murmurou Melissa. Ele pelo menos lhe cedera espaço para que abrisse a porta, coisa que fez de imediato.
­ Boa noite, adeus. E, por favor, não faça isso de novo. Da próxima vez, não abrirei a porta, Wyatt. Acho que o melhor caminho para nós é nos evitarmos inteiramente. Gostaria muito que você cooperasse nesse sentido.
Ele balançou a cabeça negativamente.
­ Isso não posso lhe garantir.
Os lábios de Melissa estreitaram­se.
­ Então você está planejando me molestar em todas as oportunidades? Se preciso, registrarei queixa na polícia.
­ Certo ­ resmungou Wyatt. ­ Não se preocupe, não a molestarei mais.
Deu um passo em direção à saída e olhou para o céu.
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­ O tempo de fato mudou ­ comentou. ­ Desejo que sua vida seja feliz, Melissa.
Desceu as escadas com toda a dignidade possível.
Melissa fechou a porta. Sentia­se sufocada e enjoada. Durante os últimos vinte e poucos minutos tinha vivido um calvário incrível. Ela tinha certeza de que ele ia achar um jeito de vê­la novamente.
Ao chegar ao quarto, Melissa sentou­se na beira da cama. Como poderia ser tão tola? O divórcio dele não tinha nem terminado e ele já estava procurando outra mulher.
Levava tempo para os habitantes de Montana obterem o divórcio. Seria possível que Wyatt tivesse rompido com a mulher após saber da volta dela para Whitehorn?
Depois de alguns instantes, Melissa ridicularizou sua própria imaginação louca.
­ Chega disso ­ murmurou.
Debaixo do chuveiro, caiu em prantos. Soluçando e deixando correr pelo rosto as lágrimas junto com a água, ela se deixou tomar pela raiva e dirigiu a Wyatt uma série de palavrões. Vociferou todos os que sabia. Mas ficar sob o chuveiro xingando feito louca era bobagem. No entanto, ao sair e se enxugar, sentiu­se muito melhor. O primeiro pensamento que lhe veio à mente ao deitar­se foi que ele a beijara e ela não sentira vontade de furar seus olhos ou chutar­lhe as canelas. Pelo contrário, ficara lá, imóvel, permitindo que ele a beijasse. E não apenas isso: ela retribuíra o beijo.
­ Sua idiota ­ murmurou para si própria. ­ O que um homem precisaria fazer para que você se recusasse a abrir a porta para ele às 22h30?
Seu humor mudou e ela se sentiu infeliz. Nunca conseguiria esquecer o telefonema de Wyatt seis anos atrás. Estava assando biscoitos e fazendo um trabalho sobre marketing ao mesmo tempo. Como a fornada ainda não estava pronta, ela estava na mesa da cozinha com o livro de marketing quando o telefone tocou. Sorriu, pois aquela era a hora do dia em que Wyatt costumava ligar.
"­ Alô ­ disse ela animada.
­ Olá, Melissa
­ Eu tinha certeza de que era você. Como estão as coisas?
­ Humm. Bem, acho.
Aquele não era o Wyatt de sempre. Parecia deprimido.
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­ O que aconteceu? ­ ela perguntou com doçura ­ E pensou em Simon North, que estava doente. ­ Foi alguma coisa com seu pai?
­ Papai? Não, papai está bem. Quer dizer, ele não está bem, mas também não piorou. Não, não tem nada a ver com papai.
Nesse momento um arrepio percorreu a espinha de Melissa. Nunca em sua vida ela ouvira aquele tom na voz de Wyatt.
­ O que aconteceu então, Wyatt?Fale. ­ Ela se assustou quando ouviu do outro lado da linha aquilo que parecia ser um soluço. Ele prosseguiu.
­ Tem uma coisa que eu preciso lhe contar. Pensei em escrever uma carta, mas achei que não seria justo. Melissa, você acredita que eu te amo?
­ Claro que acredito. Wyatt, você está me deixando assustada.
Então ele pôs­se a falar, despejando as palavras em cima dela.
­ Eu engravidei uma garota e vou me casar com ela. Ela se sentiu totalmente confusa, incapaz de entender o que ele estava dizendo.
­ Melissa? Está me ouvindo? Entendeu o que eu disse?"
Ela não entendeu. Enquanto tentava conciliar um trabalho de tempo integral com as aulas à noite; enquanto tinha recusado as investidas de todos os homens que se aproximavam dela; enquanto tinha se preocupado, planejado e vivido pensando no dia em que, finalmente, deixaria sua mãe para retornar a Montana e casar­se com ele, Wyatt havia passado seu tempo dormindo com outra mulher.
De repente, ela se sentiu velha, com o peso dos anos em suas costas.
"­ Eu entendi, sim ­ murmurou.
­ Não, você não consegue entender de verdade ­ Wyatt lamentou­se. ­ Na verdade, como você poderia entender? Melissa...
­ Por favor, não há mais nada a dizer. Não quero ouvir os detalhes desta história. Adeus, Wyatt. ­ E desligou o telefone. Ele ligou novamente. E novamente ela desligou, para depois retirar o telefone do gancho.
Rolava na cama de um lado para o outro. Depois disso, Wyatt ainda escreveu várias cartas, que ela queimou sem abrir. Agora ele tinha a audácia de tentar se reaproximar dela. Será que ele tinha consciência do que estava fazendo? Ainda que ela quisesse ir Projeto Revisoras
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embora de Whitehorn para não encontrar Wyatt, não poderia até que o assassinato de seu pai estivesse resolvido. Os negócios estavam indo bem e Whitehorn era a sua casa. Se ele continuasse a perturbá­la, iria saber que ela havia aprendido a lutar pelos seus direitos.
Quatro
Com cuidado, Melissa examinou os croquis recém­chegados do arquiteto para a expansão do Hip Hop Café. O terreno próximo estava à venda desde a sua volta a Whitehorn. Ela falara com o dono e o preço parecia razoável. O dinheiro que ela havia recebido do seguro de vida de seu pai tinha sido usado para pagar a hipoteca do Hip Hop. Melissa vinha poupando boa parte do lucro da cafeteria, mas para comprar o terreno e realizar a expansão, precisaria de muito mais dinheiro. Havia duas opções, pensou: fazer um empréstimo bancário ou procurar um sócio. A idéia de ter um sócio não lhe agradava, então ela resolveu fazer uma visita a Paul Rodell, o gerente de empréstimos do banco local.
Marcou uma entrevista. Paul Rodell tinha uma sala na própria agência e Melissa foi levada até ele assim que falou com a secretária. A jovem apresentou­a:
­ Sr. Rodell, a srta. Melissa Avery. ­ Um homem alto e de boa aparência, com finos cabelos castanho­claros, levantou­se de sua mesa e veio falar com ela:
­ Olá, srta. Avery. ­ Melissa estendeu a mão para ele.
­ Como vai, sr. Rodell? Obrigada por me receber.
­ Este é meu trabalho, srta. Avery. Sente­se, por favor.
­ Obrigada.
Havia duas cadeiras em frente à mesa do sr. Rodell. Melissa escolheu a da direita, pôs a maleta no chão a seu lado e sorriu.
­ Como você é o gerente de empréstimos do banco, deve saber por que estou aqui.
Rodell assentiu.
­ Você é a dona do Hip Hop Café, certo? Sempre achei a comida e o serviço de lá bem superiores aos de qualquer restaurante em Whitehorn.
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­ Que bom ouvir isto. O negócio vai bem, sr. Rodell. Estou planejando expandir o estabelecimento. O terreno ao lado está à venda e eu contratei um arquiteto para fazer a planta. Eu a trouxe comigo.
Melissa estendeu a mão para pegar a maleta.
­ Antes de ver o que trouxe, srta. Avery, deixe­me explicar a política do banco. Nós não fazemos empréstimos para áreas não construídas. Para que alguém possa ter o empréstimo para a construção de qualquer tipo, deve ser proprietário legal do terreno, sem que haja nenhuma hipoteca sobre ele.
­ Ah. Este era um obstáculo inesperado. Melissa pensou por um momento. ­ Se eu conseguisse comprar o terreno com recursos próprios, então poderia me candidatar a um empréstimo para a construção?
­ Na verdade, "empréstimo" não é o termo correto para o que a senhorita precisa. Em geral, um empréstimo deste tipo é temporário e deve ser pago após o término da construção. Construtores de casas sem garantia sempre usam essa forma de operação. Eles vendem a casa, e o novo dono faz um empréstimo de longo prazo, que acaba pagando a construção em si, entende?
Melissa pigarreou antes de falar:
­ Eu não estava familiarizada com isso, mas, sim, está claro.
A questão era onde diabos ela iria conseguir dinheiro para comprar o terreno? ­ Sr. Rodell, seria possível, então, fazer o empréstimo dando como garantia o prédio do Hip Hop para comprar o terreno...
Nesse momento ela parou porque Paul Rodell estava balançando a cabeça negativamente.
­ Infelizmente, devo dizer que não, srta. Avery. Assim a senhorita extrapolaria os limites fixados. Acabaria com virtualmente dois empréstimos sobre o mesmo negócio.
­ É verdade.
Naquele momento sentiu­se realmente tola por pensar que tudo estava em perfeita ordem quando, na verdade, não estava. O gerente inclinou­se em direção a ela e pôs as mãos sobre a mesa.
­ Tudo isto é muito simples, srta. Avery. Compre o terreno. Ainda que leve algum tempo Projeto Revisoras
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para pagar, o banco estará à sua disposição para discutir a possibilidade de um empréstimo para construção.
Melissa notou que ele sorria de forma simpática. Era um homem agradável e, admitindo­
se que ela conhecesse alguma coisa sobre os homens, sentiu que ele a admirava. Ela não havia saído com ninguém desde o retorno a Whitehorn, mas não pôde deixar de notar que ele não usava aliança na mão esquerda. Uma olhada rápida pelo escritório revelou que não havia fotografias de família espalhadas. Será que ela devia perguntar a ele se era casado? E por que não? Mas sabia que uma pergunta sutil causaria melhor impressão. Então sorriu.
­ O senhor e a sra. Rodell moram aqui em Whitehorn? Ele pareceu encantado com a pergunta.
­ Não sou casado, srta Avery.
­ Pode me chamar de Melissa.
­ Claro, Melissa.
Paul recostou­se na poltrona.
­ Então, vai comprar o terreno?
­ Com certeza. Vou falar com o proprietário hoje mesmo.
­ Que ótimo ouvir isto. Fique com esses formulários para empréstimos. Assim pode ter uma idéia melhor daquilo que o banco espera de um pretendente a empréstimo.
Melissa colocou os papéis na pasta.
­ Obrigada. Grata pela atenção e pela gentileza. Ambos se levantaram.
­ Bem ­ disse Paul com um sorriso resplandecente. ­ Foi um prazer conhecê­la, Melissa.
­ Obrigada, Paul. Da próxima vez que for ao Hip Hop, não deixe de me procurar. Talvez possamos tomar um cafezinho juntos.
­ Se é um convite, pode ter certeza de que vou aceitá­lo. Melissa saiu decepcionada e exultante ao mesmo tempo.
Não ia ser fácil, mas ela ficara sabendo das exigências, e também encontrara um homem que poderia amar. Tinha certeza de que Paul Rodell apareceria para um café.
Queria ser uma mosquinha para ver a reação de Wyatt quando descobrisse que ela estava saindo com outro homem. Era exatamente disso que ele precisava.
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Wyatt apertou a mão de John Hendrix. A transação era definitiva.
­ Foi um prazer fazer negócios com você, John ­ disse Wyatt ao apertar sua mão.
­ O prazer foi meu. Ninguém erra investindo em terrenos ­ comentou John.
­ Tenho a mesma impressão. Bem, mais uma vez, obrigado.
Wyatt saiu da casa de Hendrix sentindo­se bem. Pagara uma ninharia pelo terreno, pois John e a mulher estavam vendendo tudo que tinham em Whitehorn para se aposentar no Arizona. Já tinham um comprador para a casa deles. Estariam indo embora em poucas semanas.
Wyatt entrou em sua caminhonete e foi para a fazenda.
Só no fim da tarde Melissa teve tempo de telefonar para o número do anúncio A VENDA
­ Olá, sr. Hendrix. Aqui é Melissa Avery. Telefonei há algumas semanas perguntado o preço de seu terreno na avenida Amity. Lembra­se de mim?
­ Claro que sim, srta. Avery.
­ Agora tenho condições para fazer uma oferta, sr. Hendrix. Eu poderia dar um sinal de dez mil e...
­ Srta. Avery, o terreno já foi vendido. Atônita, Melissa perdeu a voz.
­ Uh... quando?
­ Hoje pela manhã.
­ Atrasei­me para o negócio? ­ Por que não tinha feito um depósito, pelo menos? Seus planos agora iriam por água abaixo, e ela era a única culpada. ­ O senhor se importaria de me dizer quem o comprou, sr. Hendrix?
­ Foi Wyatt North. Ele é dono de uma fazenda fora da cidade. Talvez você o conheça.
­ Eu o conheço ­ disse ela. ­ Obrigada, sr. Hendrix. Melissa estava tão chateada que não sabia o que fazer. Estava no apartamento, de onde havia telefonado para
o sr. Hendrix, tentando se recompor. Por que Wyatt compraria uma propriedade na cidade? Não era possível que fosse mera coincidência Wyatt ter comprado em Whitehorn Projeto Revisoras
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exatamente o pedaço de terra que queria e precisava. Por que tinha adiado a oferta que faria ao sr. Hendrix? Essa deveria ter sido sua primeira providência. Talvez Wyatt pensasse que ele poderia usar o terreno como instrumento de influência na relação pessoal entre eles. Melissa logo sacudiu a cabeça descartando essa teoria. Em primeiro lugar, não tinham relação pessoal, e Wyatt certamente era esperto o suficiente para saber que chantagem não funcionaria com ela. O que deveria fazer? O que poderia fazer?
Wyatt pensava sobre a idéia de esquecer Melissa. Não havia dúvidas de que ela o havia beijado também naquela noite no apartamento dela. É claro que o golpe que ele lhe inflingira há seis anos não havia cicatrizado, mas ela o havia beijado também.
Será que ela de fato registraria queixa se ele lhe fizesse outra visita? Algo dentro dele lhe dizia que não, que ela tinha só apelado para a ameaça por desespero. Era um homem bastante excitado, mas não em relação a qualquer mulher. Desejava apenas uma ­ Melissa Avery. Agora tudo que tinha que fazer era imaginar uma forma de vê­la novamente sem irritá­la.
O tempo tinha mesmo virado. O movimento no Hip Hop Café era pequeno depois do almoço.
­ Vou ficar fora algumas horas ­ Melissa avisou a Wanda ao sair.
Não tinha apanhado um casaco lá em cima, e sentiu­se gelada ao entrar no carro. Ligou o aquecedor. Dentro de poucos minutos o carro estaria confortável para dar uma volta. Um passeio para onde?
Toda semana ela ia de carro até a reserva Laughing Horse. Havia um cordão amarelo isolando a área, com a seguinte inscrição: CENA DE CRIME. NÃO ULTRAPASSE. Ela, porém, ficava em pé, diante do cordão, tentando imaginar o que acontecera ali há tanto tempo.
Hoje, ela com certeza ficaria no carro, pensou logo que começou o passeio. Sua cabeça estava repleta de perguntas, e como sua outra grande preocupação era o assassinato do pai, parecia­lhe muito natural fazer uma nova visita à cena do crime.
A única conclusão que dava sentido ao golpe brutal era ele ter descoberto que ela queria a propriedade. Então, o que é que ele pensou que ela faria: ir até ele? Tentar comprá­la dele? Implorar, humilhar­se um pouco? A simples idéia lhe dava náuseas.
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Diabos! Por que ela permitiu que ele a beijasse? Por que não tinha gritado e berrado e lutado como uma fera?
Havia poucos carros na estrada até a reserva, mas ela se manteve no limite de velocidade por causa do asfalto molhado. Tinha tentado quase desesperadamente conversar com a mãe sobre o fato de voltarem juntas para Whitehorn. Nan recusara­se; nem sequer discutiu a possibilidade. No entanto, o ato de independência de sua mãe não evitava que se preocupasse com ela. A única coisa boa em sua própria vida no momento era o Hip Hop.
Bem, sorte não era o caso, Melissa tinha de admitir. Havia trabalhado sem parar durante semanas. Tudo no prédio estava coberto com fuligem acumulada durante vinte anos. Na verdade, trabalhara arduamente. Todo o equipamento da cozinha era velho, mas grande parte só precisava mesmo de uma boa limpeza. Havia trazido alguns aparelhos modernos, tais como um microondas e um forno comum. Porém não havia segredos para se administrar um restaurante de sucesso. Como ressaltara Paul Rodell, o serviço e a comida no Hip Hop eram bons, e é isso que os fregueses procuram.
Além dos limites da reserva, Melissa continuou na área onde haviam sido encontrados os restos mortais de seu pai. Saiu do carro e caminhou até a área que havia sido isolada. As equipes de polícia, do departamento de investigação e do FBI vinham investigar sempre que podiam ­ embora um assassinato de vinte e tantos anos não fosse prioridade.
No entanto, hoje não havia ninguém. Parecia impossível que não tivessem descoberto pistas reais, mas de acordo com Judd, vinte e tantos anos era muito tempo. As estações do ano haviam destruído as pegadas, pistas de pneus e itens deterioráveis como palitos de fósforo ou pedaços de papel.
Melissa cedeu ao choro. Sempre ouvira que Charlie Avery tinha abandonado a família. Era uma grande mentira.
Finalmente, gelada até os ossos, voltou ao calor do carro. Decidida a pegar o caminho mais longo, seguiu por uma estrada que passava pela fazenda Kincaid e, após várias curvas, finalmente saiu da reserva.
Já estava a muitos quilômetros da área de Kincaid quando sentiu que um dos pneus tinha furado.
­ Ah, que inferno ­ resmungou, parando no acostamento. Os pneus estavam praticamente novos, então devia ter passado em cima de um prego em algum lugar.
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­ Diabo! ­ exclamou ao sair e verificar que o pneu traseiro direito estava vazio. Não viera vestida para trocar pneu. Apareceria alguém, disse a si mesma, tremendo e voltando para o carro. Depois de um minuto levantou a capota ­ como sinalização de perigo ­ e voltou ao conforto do interior do carro.
Wyatt apertava a mão de Dugin Kincaid, o único filho ainda vivo de Jeremiah Kincaid. Jeremiah tinha sido um fazendeiro poderoso na região. Morrera há alguns meses num acidente bizarro: escorregara durante o banho, batendo a cabeça e se afogando na própria água do banho. Jeremiah fora um dos poucos amigos de Simon North, ainda que a amizade entre eles parecesse bem improvável. A visita de Wyatt à fazenda Kincaid Ranch era uma obrigação que devia à memória de seu pai e de Jeremiah. Pessoalmente jamais se importara com Jeremiah, que Wyatt sempre julgara severo demais não só com os empregados, como também com o filho, Dugin.
­ Foi gentileza sua aparecer, Wyatt ­ disse Dugin.
Também não gostava de Dugin, que sempre lhe parecera fraco e efeminado, mas nada disso o impedia de expressar seus pêsames.
­ Não faço mais do que minha obrigação, Dugin. Peço desculpas por não ter ido ao enterro. A verdade é que não fiquei sabendo da morte de Jeremiah antes.
­ Você também não foi a meu casamento ­ ressaltou Dugin.
­ É verdade. Foi há quanto tempo... quase um ano? Dugin concordou com um aceno de cabeça. Nessa hora exata, surgiu uma mulher na sala.
­ Dugin, querido, por que não me disse que temos visita?
­ Desculpe, Mary Jo. Este é Wyatt North. Wyatt, minha mulher, Mary Jo.
Mary Jo estendeu a mão, sorrindo.
­ Prazer em conhecê­lo, Wyatt. Gosto de conhecer os amigos de Dugin.
Wyatt apertou­lhe a mão.
­ Prazer em conhecê­la, sra. Kincaid.
Na verdade não acreditava no que via. Mary Jo Kincaid não parecia mulher de fazendeiro. O penteado dela era tão perfeito que parecia artificial. Seu rosto estava emplastado de maquiagem, bem­feita, porém exagerada. Ela usava um vestido florido com babados e sapatos de salto alto cor­de­rosa. As unhas eram longas demais, pintadas em rosa Projeto Revisoras
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brilhante. Porém seus olhos incomodavam e constrangiam Wyatt. Os olhos de Mary Jo estavam abertamente flertando com ele. E diante do marido. Ele puxou a mão. ­ Já estava de saída, sra. Kincaid. ­ Dugin, a gente se vê. ­ Deu um passo para a porta. ­ Por favor, não tenha pressa ­ disse Mary Jo com voz melosa. A mão de Wyatt parou na maçaneta da porta. ­ Obrigado, mas tenho mesmo que ir. ­ Fique até a chuva passar. Vamos tomar um café. Dugin não dizia palavra, observou Wyatt. ­ Em outra ocasião, sra. Kincaid. Até logo. Mary Jo correu até a porta antes que Wyatt a fechasse atrás dele. ­ Pode me chamar de Mary Jo, Wyatt ­ gritou enquanto ele corria pela chuva até a caminhonete. Ele fez de conta que não ouviu. A mulher era provocante, pensou ele, dando partida no motor. Pobre Dugin. Onde diabos arranjara aquilo? Mary Jo fechou a porta e foi para a janela ver a caminhonete de Wyatt partir. Na verdade, estava odiando Wyatt North. Que diabos ele achava que era, esnobando­a desse jeito? Nesse instante revelou­se seu verdadeiro eu, Lexine Baxter, ex­prostituta. Todo mundo ali cairia para trás se soubesse disso, mas ninguém saberia. Ela era esperta demais para o bando de caipiras do lugar. Wyatt pensava na longa amizade entre seu pai e Jeremiah. Não poderiam ter sido mais diferentes. A única atividade física que não abalava a saúde frágil de Simon era a pesca, e talvez tenha sido o amor comum pela pescaria que criara o elo que o unia a Jeremiah Kíncaid. De toda forma, Wyatt sentira a necessidade de fazer uma visita de condolências. Depois de ter conhecido Mary Jo, no entanto, ele estava aliviado pela missão cumprida. Chovia torrencialmente. Ele observou que a neblina era mais densa em alguns pontos, e ligou o farol. Já estava quase ao lado do carro parado no acostamento quando o avistou. O capo estava aberto, sinalizando problemas. Logo parou na lateral da pista, atrás do seda avariado. A janela do carro estava embaçada. Projeto Revisoras
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O motorista estava com o motor ligado por causa do aquecedor. Wyatt correu para o veículo, curvando­se para olhar dentro da janela. Ao ver Melissa, deu um pulo e teve uma reação peculiar gargalhou. Com um sorriso sem graça, ela baixou um pouquinho o vidro da janela.. ­ Fico feliz de lhe fazer rir, sr. North. Que diabos você está fazendo aí nessa estrada? Sua fazenda fica do outro lado. ­ Desculpe. Foi uma coincidência. O que aconteceu? ­ O pneu direito traseiro furou. Eu poderia trocá­lo, mas saí de casa sem casaco. Aceitar a ajuda de Wyatt era irritante. Bem, ela não era totalmente inútil. Desligou o motor e saltou. ­ Hei. O que você está fazendo? ­ Vou abrir o porta­malas. ­ Você deve achar difícil acreditar, mas já arrombei algumas malas.
­ Não diga? Você seria a última pessoa que eu imaginaria encontrar ­ esbravejou.
­ Desculpe ­ disse ele. ­ Quer que eu vá embora para você esperar o próximo transeunte?
­ Como você é irritante ­ resmungou. ­ De propósito desconfio.
­ Você é bastante desconfiada. ­ O porta­malas já estava então todo aberto. ­Aqui estão o estepe e o macaco. Por que você não liga o aquecedor de novo? Se preferir, aguarde em minha caminhonete.
Embora ela estivesse esperando ajuda de qualquer pessoa, era extremamente exasperante que esse alguém fosse Wyatt. Tremendo intensamente, ela correu em direção ao carro e entrou mais uma vez para se aquecer.
Wyatt checou o estepe e o macaco. Se aquele pneu, por acaso, também estivesse vazio, Melissa teria de pegar uma carona de volta para a cidade com ele. Essa seria uma oportunidade de passar algum tempo com ela. Pegou o canivete do bolso do jeans, abriu­o e enfiou a ponta afiada no pneu sobressalente. Ouviu o barulhinho do ar escapando da câmara.
Ele deu a volta até a janela do motorista e bateu de leve no vidro. Melissa abriu uma pequena brecha.
­ Odeio ter que lhe dar más notícias, Melissa, mas seu estepe está vazio também.
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­ Não pode ser! Wyatt a encarou com uma expressão inocente.
­ Melissa, seu estepe está tão vazio quanto o pneu direito.
­ Impossível. Não acredito nisso.
­ Que sorte um amigo estar passando por aqui justo nessa hora, porque acho que vou ter que lhe dar uma carona até a cidade.
Ela levantou a cabeça bruscamente.
­ E, claro, nós dois sabemos como uma mulher está segura com você, certo?
­ Claro que sim ­ concordou ele, embora nem mesmo tivesse prestado atenção ao sarcasmo dela. ­ Ah, o que é isso, Melissa? Está escurecendo. O melhor é trancar o carro e ir embora. Podemos mandar um mecânico até aqui.
Ela viu que a chuva começava a cair.
­ Tudo bem. ­ Que outra escolha teria? Wyatt foi o único a atravessar a estrada e ela não podia recusar sua ajuda, correndo o risco de ter que passar a noite toda naquele lugar.
Wyatt abaixou o capo e fechou o porta­malas, enquanto Melissa trancava o carro. Ela pegou a bolsa e correu para a caminhonete dele. Estava ainda mais frio do que antes, chovendo muito.
Ela se sentia completamente infeliz. Estavam a cerca de 30 km de distância da cidade. Tentando esticar ao máximo o tempo que passariam juntos, Wyatt dirigia na menor velocidade possível.
­ Como aconteceu de você estar naquele lugar? Melissa olhava fixamente para a frente, sem a menor disposição de ceder um centímetro a Wyatt, por mais que estivesse em débito com ele por tê­la salvo.
­ Fiz um passeio até a reserva.
­ Sem casaco e nessa chuva? Ela lançou­lhe um olhar frio.
­ Eu não esperava ter problemas com o pneu.
O perfil atraente dele causou­lhe uma reação perturbadora, que ela repeliu imediatamente. Tratou, portanto, de olhar para a frente de novo.
­ E como aconteceu de você estar por aqui?
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­ Eu estava na fazenda Kincaid, fui dar meus pêsames a Dugin. Foi apenas uma visita de cortesia. ­ Ele sorriu. Imagine o que teria acontecido se eu não tivesse passado por aqui.
­ Ah, sim, achei muito providencial a sua passagem por aqui ­ disse ela com rancor. E foi quase impossível não acrescentar: ­ Mas por que tinha que ser logo você?
­ Destino.
­ Ah, por favor ­ disse ela. ­ Isso tudo não passou de coincidência.
­ Acho que foi sorte.
­ Como queira.
Após alguns momentos de silêncio, Wyatt falou num tom de voz pesado.
­ Não me odeie, Melissa.
Assustada, ela virou a cabeça para olhá­lo.
­ Odiar alguém é algo que não passa de um desperdício de tempo e energia ­ disse ele. ­ Especialmente quando alguém sofreu mais do que você por conta da mesma infelicidade.
­ Duvido muito ­ retrucou ela
­ Você é a única mulher que eu amei na vida.
­ Mas como você tem a coragem de dizer isso? A sua interpretação do que é amor deixa muito a desejar. Já esqueceu que você casou com outra?
­ Como se eu pudesse esquecer. Mas será que em algum momento você pensou que eu realmente quis casar com aquela mulher? Eu fiz o que deveria ser feito, Melissa.
­ Não seja cínico. Então quer dizer que você tinha de dormir com aquela mulher e engravidá­la? Wyatt, não quero falar disso. Eu nunca quis falar sobre isso. ­ Você nunca vai superar esse ódio se a gente não conversar.
­ Droga, mas eu não o odeio. Você não significa nada para mim, é possível entender isso?
­ Não acredito em você.
Ela respirou fundo, já sem paciência.
­ Você tem um ego enorme. Acha mesmo que fiquei feliz de revê­lo? Quando resolvi voltar para cá, você estava morando em Helena. Nunca me ocorreu que voltaria também. Além disso, você estava casado e, se acontecesse de a gente se encontrar, isso não significaria nada. Eu me sentia razoavelmente segura.
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­ E agora você não se sente. E sabe por quê? É porque seis anos e muitos erros não são capazes de destruir o que a gente sentia. No momento em que a vi de novo, senti que isso era uma verdade.
Melissa jogou a cabeça para trás.
­ Oh, Deus, dai­me forças. Nada do que digo consegue abalar esse orgulho masculino. Ouça bem. Vivi muito bem durante seis anos sem você e pretendo continuar assim por toda minha vida. Será que tudo isso é tão difícil de compreender?
­ Claro que não. Apenas não é verdade. Você está mentindo para mim e para você mesma. Talvez nem se dê conta, mas é o que está fazendo.
Nesse momento, a raiva de Melissa veio à tona.
­ Seu miserável arrogante! Onde estão sua mulher e seu filho agora? Você se cansou da vida de casado e os abandonou? Você decidiu que é melhor...
­ Ei, vamos parar com isso!
Wyatt estacionou a caminhonete no acostamento e puxou o freio de mão. Então virou­se para ela.
­ Você não tem a menor idéia de como foi meu casamento. Talvez eu merecesse, mas a única razão que me fez ficar casado pelo tempo que fiquei foi meu filho.
Melissa o encarou. ­ Seu... filho.
­ Sim, meu filho. ­ Wyatt puxou a carteira e abriu­a. ­ Aqui está uma foto dele.
Melissa tremia. Ela não queria ver a foto do menino, mas algo a impelia a olhar. Ela viu um garoto bonito, cora cabelos louros, olhos castanhos e um sorriso contagiante.
­ Ele... ele é bonito ­ murmurou.
­ É sim ­ Wyatt concordou delicadamente. ­ O nome dele é Timmy... Timothy Wyatt, e eu estou pleiteando a guarda compartilhada.
Ele olhou para Melissa de maneira um pouco rude.
­ Como pode ver, não abandonei tudo e esqueci meu filho. ­ A expressão dele tornou­se mais branda. ­ Mas eu gostaria de falar com você sobre isso. Há tantas coisas que eu queria lhe contar.
Wyatt podia sentir que o assunto estava afetando Melissa. Ela cobriu o rosto com as Projeto Revisoras
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mãos; talvez estivesse chorando.
­ Mas são coisas que você não precisa ouvir agora ­ ele disse gentilmente. Não agora. ­ Pegando­lhe as mãos, fez com que ela descobrisse o rosto. Então aproximou­se, colocou os braços em volta de seu corpo e encostou a cabeça dela em seu peito. Depois tocou de leve seu queixo e encostou os lábios nos dela. Foi nesse momento que Melissa se deu conta do que estava acontecendo. Ela jogou a cabeça para o lado, tentando fugir do beijo.
­ Não, Wyatt.
­ Mas, querida...
­ Não!
Ele olhou para ela por um tempo que parecia não ter fim. A cabine da caminhonete estava mergulhada em sombras, iluminada apenas pelas luzes do painel.
­ Será que algum dia você vai me perdoar? ­ ele perguntou com voz triste.
­ Mas eu já lhe disse que está perdoado ­ ela respondeu.
­ Você tem medo de que...
­ Por favor, não comece com essa conversa de novo. Wyatt, me leve para casa.
Ele hesitou um pouco e, então, segurou o volante. E continuaram a viagem para a cidade em silêncio.
Cinco
Ver a foto do filho de Wyatt abalou Melissa. Primeiro fez com que pensasse se realmente o tinha perdoado. Afirmara a ele que sim, duas vezes, mas não era verdade. O fato é que, se ela o perdoara nesses últimos seis anos, havia sido parcialmente. Eram poucas as semanas que ela passava sem que se sentisse muito mal com algo que a lembrasse da traição de Wyatt; então podia concluir que esses momentos poderiam ser considerados períodos de perdão.
Por outro lado, como alguém consegue perdoar completamente uma traição? Hoje, entendia a situação de uma maneira melhor do que na época, mas ainda precisava lidar com a infidelidade de Wyatt.
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Além do mais, existia Timmy. Mesmo só tendo visto sua foto, o garotinho tocara o coração de Melissa. Mas por que, se tinha permanecido em um casamento supostamente infeliz por seis anos por causa do filho, Wyatt de repente resolvera pedir o divórcio? Seria porque ficara sabendo de sua volta a Whitehorn?
Essa possibilidade desestruturava Melissa de tal maneira que a ela não se permitia mais pensar no assunto. Na manhã que se seguira, após Wyatt tê­la resgatado, Melissa encontrou a chave do seu carro junto com a do apartamento na maçaneta da porta, e o carro estacionado ao meio­fio. Não tinha nenhum recibo, nenhum bilhete, nada informando o preço do serviço, então ela ligou para a oficina que tinha consertado os pneus.
­ O sr. North pagou a conta, senhora.
­ Ah! Então preciso saber o valor para ressarci­lo. Seria possível verificar, por favor?
­ Claro, um momento ­ Ao retornar, informou o valor. ­ São 126 dólares, srta. Avery. Cobramos 30 dólares para levar o carro até sua casa.
­ Tudo bem, obrigada. ­ Melissa anotou o valor e desligou.
Mesmo com a taxa de entrega de 30 dólares, o preço parecia muito alto para o conserto de dois pneus furados. Mas a situação não permitia que ela reclamasse, por isso fez um cheque nominal a Wyatt e colocou­o na bolsa. Não ia enviá­lo pelo correio. Tomaria coragem e falaria com Wyatt sobre o terreno perto do Hip Hop Café, e aproveitaria para lhe entregar o cheque.
Era preocupante que ela se sentisse tão confusa agora em relação a Wyatt. Teria ela sido muito dura com ele há seis anos?
Porém, o fato de ele ter admitido a traição fez com que mesmo uma amizade fosse difícil entre os dois. Ela acreditava com total sinceridade que, de sua parte, sempre haveria alguma desconfiança. Quase morrera ao tomar conhecimento da traição, ou melhor, ouvir dele mesmo pelo telefone. Aquilo, de fato, destruiu toda confiança, e, sem confiança, o relacionamento não sobreviveria.
Não tenho o que temer, ela repetia. Ter um romance com Wyatt estava fora de cogitação. Ela poderia ser um pouco mais gentil com ele agora, e eles talvez pudessem até tratar de negócios.
Nos últimos tempos, Paul Rodell aparecia para tomar café todos os dias. Às vezes ela se sentava para bater um papo.
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"­ Você fez um ótimo trabalho nesse prédio antigo, Melissa ­ comentou certa ocasião. Ela sorriu.
­ Espero que o banco leve isso em consideração quando eu pedir aquele empréstimo.
­ Você comprou o terreno?
­ Estou em processo de negociação.
Na tarde seguinte, ele fez um convite.
­ O jantar dançante anual da Associação dos Fazendeiros de Whitehorn está próximo, Melissa. Vários funcionários do banco foram convidados, eu, inclusive. Gostaria muito que você fosse comigo.
O coração de Melissa bateu forte. Os Norths eram membros da associação desde sempre, e era provável que Wyatt também fosse ao jantar. Ela adoraria ver a reação de Wyatt ao vê­la com outro homem.
­ Eu adoraria – respondeu”.
Melissa não podia mais esperar; com ou sem coragem, precisava falar com Wyatt sobre o terreno.
Ela não tinha certeza se Wyatt estaria na fazenda, mas decidiu que se ele não estivesse, simplesmente deixaria o cheque e um bilhete sobre o terreno. Na verdade, quanto mais pensava sobre o assunto, mais Melissa esperava que Wyatt não estivesse lá. Assim, ele teria tempo de ler o bilhete e refletir, antes de conversarem. Partia do princípio de que ele não comprara o terreno apenas para irritá­la. Ela ainda tinha algumas dúvidas sobre isso.
Ao chegar à entrada da fazenda, Melissa parou o carro em um ponto alto da estrada e suspirou. Ela sempre achara a fazenda North a mais bela do todo vale. Em especial a casa. Era imensa.
Wyatt nunca comentara com ela sobre sua situação financeira, mas percebia­se logo que eram muito ricos. E, desde a morte de Simon, toda a fortuna pertencia a Wyatt.
Ela não se importava com nenhuma outra propriedade de Wyatt, exceto aquele terreno que ele arrancara de suas mãos. Sentia­se envergonhada, pois fora ela a culpada. Wyatt não poderia ter "roubado" nada se ela tivesse cuidado do negócio como deveria.
Melissa se aproximava cada vez mais da casa. Tinha certeza de que nenhuma outra casa no vale poderia ser comparada àquela.
Melissa foi até a porta da frente e tocou a campainha. Uma mulher de meia­idade em um Projeto Revisoras
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uniforme impecável abriu a porta.
­ Pois não?
­ Olá, sou Melissa Avery. Wyatt está? ­ Melissa percebeu que a mulher a olhava de cima a baixo. É claro que estava imaginando quem era, mas foi muito educada ao responder à pergunta.
­ Ele está, mas não aqui na casa. Gostaria de entrar?
­ Não tem muito sentido eu entrar se ele não está em casa. Você tem alguma idéia de onde eu poderia encontrá­lo?
­ Provavelmente nos estábulos ou nos currais. Talvez tenha saído a cavalo. Pode procurá­
lo, se quiser.
­ É o que vou fazer, obrigada ­ disse, saindo da varanda. Melissa lembrava que os Norths sempre tiveram uma empregada e uma cozinheira.
Quando era criança, achava que ter uma empregada e uma cozinheira era muito luxuoso. Quando estreitou­se a amizade entre Melissa e Wyatt, o dinheiro da família dele perdera toda a importância. Wyatt era como qualquer outro aluno do ensino médio; e a condição financeira dos alunos não fazia a menor diferença. Os garotos dirigiam caminhonetes e as meninas geralmente, os carros dos pais, apesar de algumas terem o próprio carro. Melissa não tivera essa sorte. Sua mãe trabalhava em diversas atividades ­ costura, faxina, qualquer trabalho que conseguisse ­ e usava as reservas da poupança quando necessário. A POUPANÇA era o único bem que os Averys possuíam, e Nan falava sobre isso com muita reverência. Sempre que a mãe dizia algo a respeito da poupança, a palavra aparecia em letras maiúsculas na cabeça de Melissa, e até hoje ela valorizava cada dólar que passasse por suas mãos.
A maior diferença entre ela e sua mãe era que Nan estava satisfeita com os rendimentos da poupança ­ que crescera com a parte que lhe fora destinada do seguro de vida de Charlie ­, enquanto Melissa tinha sonhos e ambições.
Enquanto dava a volta na casa, Melissa saltitava apesar de sentir que deveria se arrastar. Sua visita seria uma surpresa paia Wyatt, e ela não queria que ele tirasse nenhuma conclusão errada. Porém, parecia mais apropriado chegar confiante quando sabia que falaria do terreno. Seus passos despreocupados e seu semblante tranqüilo, eram um blefe. Não era assim que os negociantes desarmavam seus adversários?
Havia um lindo jardim nos fundos da casa. Mais longe estavam os estábulos da fazenda e Projeto Revisoras
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o galpão de equipamentos. Melissa dirigiu­se para lá.
Alguém a chamou.
­ Melissa?!
Ela parou e olhou ao seu redor.
­ Melissa, aqui.
Era Wyatt. Ele a chamava de um dos currais.
Ao vê­lo, Melissa sentiu como se algo dentro dela se derretesse. Ele estava usando chapéu de couro curtido por cima da calça jeans e camisa sem manga. Ela achou que ele estava muito lindo. Melissa mal viu o cavalo no curral porque não conseguia tirar os olhos de Wyatt.
­ Venha até aqui ­ chamou ele ao vê­la ali parada. Melissa respirou fundo e pôs­se a andar. Ela conseguiu dar um "oi" razoavelmente casual antes de chegar à cerca do curral.
­ Oi. ­ Wyatt sorriu para ela com prazer e curiosidade. Ele não podia acreditar que ela estivesse ali, mas ela estava, linda, radiante, um tanto nervosa. ­ Que surpresa agradável ­ disse ele, ao chegar à cerca.
­ Eu queria lhe dar isso aqui. ­ Melissa tirou o cheque da bolsa e esticou a mão pela cerca.
Wyatt olhou o cheque e depois o dobrou e o colocou dentro do bolso da camisa.
­ Obrigado. ­Não tinha a menor intenção de descontar o cheque, mas não parecia uma boa idéia dizer­lhe isso agora.
­ A oficina cobrou uma fortuna pelo conserto dos pneus ­ comentou Melissa.
­ As coisas hoje estão muito caras ­ respondeu Wyatt, impassível. ­ Foi caro por causa da compra do pneu novo em substituição ao velho que ele destruíra.
Melissa olhou em direção ao cavalo logo adiante.
­ O que você está fazendo?
­ Tentando amansar este cavalo.
­ Ah, ele é teimoso. – Ela é teimosa.
~ Ah, é uma égua.
Wyatt riu.
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­ É. É fêmea. ­ Seu sorriso murchou ao olhar para Melissa.
Melissa afastou os olhos dos dele. Tinha que falar do assunto do terreno que ele comprara, mas como? Deveria haver uma maneira de levar a conversa de forma natural. De repente, Wyatt a ajudou.
­ Que tal uma bebida gelada?
­ Sim, obrigada.
­ Vamos até a casa. ­ Ele passou pelo portão do curral e começaram a caminhar.
Melissa olhou para a varanda.
­ Por que não nos sentamos aqui?
­ É claro, se você preferir. ­ Tirou as luvas e bateu a poeira do chapéu. ­ Você aceita um refrigerante, um chá gelado? ­ perguntou ele.
­ Só água, por favor.
Ele queria dar­lhe algo especial, mas água haveria de servir no momento.
Melissa se sentia feliz sozinha no pórtico esperando que Wyatt voltasse. Apesar da maneira como ele a magoara, parte dela se sentia muito mal por corresponder à sua beleza, ao seu sorriso maravilhoso, e às memórias do passado. Ela desejava de todo o coração que eles nunca tivessem feito amor. Só havia acontecido uma vez ­ na noite em que ela ligara para ele, aos prantos, porque estava sendo forçada a se mudar para a Califórnia ­ mas essa era uma lembrança que nunca se desgastaria com o tempo.
Em sua contemplação Melissa transportou­se para uma lembrança dolorosa. Ela era tão jovem, tão inocente que acreditara em um "final feliz", e isso não existia.
Wyatt chegou carregando dois copos, deu um deles para Melissa antes de se sentar em uma cadeira perto da dela.
­ Obrigada ­ ela murmurou, tomando um gole. ­ Sua fazenda está incrível. Exatamente como me lembrava.
­ Você está incrível ­ ele disse com voz suave. ­ Exatamente como me lembrava.
Ela poderia ter mandado o cheque pelo correio. O fato de trazê­lo pessoalmente aumentou suas esperanças.
­ Por favor ­ disse ela. ­ Não vamos levar a conversa para o lado pessoal.
Wyatt apertou um pouco os olhos. Não levar a conversa pára o lado pessoal? Será que ela Projeto Revisoras
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estava ali por outro motivo que não estivesse relacionado ao cheque?
­ Não quero nada que não seja pessoal com você, Melissa.
Ele apoiou o copo e chegou para frente. Tinha uma expressão grave.
­ Quero que seja o mais pessoal possível. Melissa corou.
­ Não diga uma coisa dessas. Você é casado.
­ Não por muito tempo. Devo receber os papéis do divórcio a qualquer momento. O jantar anual da Associação dos Fazendeiros é neste fim de semana. Quer ir comigo?
Ela não podia olhar para ele, nem podia explicar que ia ao evento com Paul Rodell. Não sairia com Wyatt de maneira nenhuma.
­ Não.
­ E por que não?
­ E por que você acha que iria? ­ Ela respirou e falou com calma. ­ Wyatt, eu não vou sair com você.
­ Nunca mais?
­ Nunca mais.
O rosto dele endureceu.
­ Por que você não mandou o cheque pelo correio? Melissa ficou nervosa repentinamente e evitou uma resposta tomando mais um pouco da água. Mas a hora havia chegado, e ela não podia mais evitar o assunto. Wyatt estava furioso, ou magoado, ou absorto, e há apenas três minutos estava de bom humor. Ela não queria irritá­lo, mas para ser justa, ele tinha causado aquilo tudo com aquele elogio. Não tinha mais outra maneira de tratar o assunto sobre o terreno se não diretamente, então o melhor que fazia era perguntar logo.
­ Eu não mandei o cheque pelo correio porque precisava tratar de um assunto com você ­ afirmou, na esperança de que não parecesse desesperada.
­ Qual assunto? Melissa limpou a garganta.
­ Soube que você comprou um terreno próximo da minha propriedade.
Wyatt piscou. As notícias voavam em Whitehorn.
­ É verdade. Um bom investimento ­ acrescentou depois de um momento de silêncio entre Projeto Revisoras
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os dois. ­ Comprei alguns terrenos.
Melissa se sentia desconfortável com o assunto. Aquilo o confundia.
­ John Hendrix, de quem comprei o terreno, disse que estivera à venda por muito tempo.
­ Por algum tempo ­ Melissa concordou em voz baixa. Tempo demais, na verdade e ela não via urgência em fazer uma oferta de compra, o que se mostrou ser um equívoco.
­ Acho que não estou entendendo, Melissa. Você está interessada naquele terreno? ­ Ele notou que ela mordia o lábio inferior nervosamente.
­ Na verdade... ­ como dizer isso sem parece estar implorando? ­ Eu queria saber o que você pretende fazer com ele.
Agora ele entendia. Ela estava preocupada que ele fosse construir algo que desvalorizasse seu negócio.
­ Não precisa se preocupar, provavelmente não farei nada com ele nos próximos anos.
Melissa estava confusa. Eles falavam de coisas diferentes. Mas ele estava falando com ela de um jeito muito suave. Ela se sentou com a postura mais ereta. Não estava adiantando usar de sutileza.
­ Será que você consideraria vender o terreno para mim?
Wyatt olhou assustado.
­ Você quer o terreno?
­ Venho planejando aumentar o Hip Hop Café há meses. Eu deveria ter feito um depósito para segurar o terreno, mas não o fiz e agora o perdi.
Melissa olhou para Wyatt esperando a reação ao seu próximo comentário.
­ Você me desarmou quando John Hendrix me contou quem era a pessoa que tinha comprado o terreno.
Com o cotovelo apoiado no braço da cadeira, Wyatt esfregava o queixo pensativamente.
­ Bem ­ ele se levantou ­ o terreno é seu. Melissa ficou boquiaberta.
­ Assim, sem mais nem menos? Você não quer discutir os termos do negócio? Posso lhe pagar o valor total em dinheiro, Wyatt. Tenho dez mil dólares.
­ Acho que não entendeu. Disse que o lote era seu. Estou dando ele para você.
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­ Dando? ­ Melissa deu um pulo. ­ De jeito nenhum! Por que cargas d'água eu aceitaria um presente de trinta mil dólares da sua parte?
­ Vinte e cinco mil dólares. John estava doido para concluir a venda.
Melissa se mantinha rígida e seus olhos queimavam.
­ Tenho dez mil dólares para pagar imediatamente, e posso pagar mil dólares por mês. Você deve ter interesse no negócio e eu pagarei o quanto pedir, e mais, se você quiser ter algum lucro...
­ Deixe de ladainha ­ disse Wyatt bruscamente. ­ A única maneira de você obter aquele terreno é não pagar por ele. É pegar ou largar.
­ Mas isso é um absurdo. Você sabe muito bem que eu não aceitaria isso.
­ E por que não?
­ Por quê? Porque não pode me comprar. Wyatt riu, apesar de não estar achando graça.
­ Não estou tentando comprá­la, pelo amor de Deus ­ a diversão havia acabado ­, mas talvez eu lhe deva alguma coisa.
Melissa empalideceu.
­ Você não me deve dinheiro.
Ela caminhava rapidamente pela grama em direção ao estacionamento onde estava seu carro.
­ Droga ­ Wyatt murmurou, quando caiu em si e percebeu o que fizera. Ele havia esquecido a reação de Melissa quando ele oferecera ajuda a ela e à mãe na época em que moraram na Califórnia.
Mas o que havia de errado em um homem querer dar um presente a uma mulher? E ele devia a Melissa. Mas, aparentemente, não era um débito que podia ser cancelado com algo material. Wyatt foi atrás dela chamando­a.
­ Melissa, espere. Escute o que eu tenho a dizer.
Ela abriu a porta do carro com força e entrou depressa. Sua raiva se transformou em humilhação. Era impossível segurar as lágrimas, e quando Wyatt alcançou o carro e abriu a porta, encontrou Melissa com o rosto molhado.
­ Fique longe de mim ­ ela soluçou.
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­ Melissa ­ disse Wyatt com voz desesperançada ­ eu sinto muito.
­ Você sempre sente muito depois de fazer algo abominável.
Sem se preocupar com as lágrimas, ela olhou para ele furiosamente.
­ Pode engolir aquele terreno, Wyatt. A não ser que você decida se comportar como um ser humano normal e vendê­lo pelo que vale.
Wyatt olhou para o rosto lindo de Melissa, coberto de lágrimas, mas não cedeu.
­ Eu lhe falei qual era o acordo. Não vou mudar de idéia.
Melissa vociferou.
­ Que ótimo! Fique com a sua droga de acordo. Isso foi premeditado, não é? Você sabia que eu queria aquele terreno, e o comprou só para me irritar. E, enquanto estamos nesse impasse, fico imaginando o andamento do seu divórcio. Se deixou sua mulher só porque eu estava de volta a Whitehorn, você é o pior cafajeste que já existiu.
Ela agarrou a maçaneta da porta.
­ Saia do meu caminho que eu quero passar.
­ Sua estúpida ­ disse Wyatt trincando os dentes. ­ Você está longe de saber a verdade a meu respeito. E o melhor que faria seria examinar essa sua cabeça. Porque uma pessoa normal nunca viria aqui jogar essas acusações na minha cara.
­ Vá para o inferno! ­ Ela saiu batendo a porta com toda força. Ligou o carro e deu uma ré violenta. Fez a volta e saiu a toda. Ele ficou olhando para ela longamente e balançou a cabeça.
Seis
A planta para a expansão do Hip Hop Café ficava guardada num canto do quarto de Melissa. A tentativa frustrada de Wyatt de lhe oferecer o terreno era tão ridícula que ela sentia ódio cada vez que pensava no assunto.
Ele estava fora da sua vida, ela jurou. Para ser honesta, não tinha certeza se seria capaz sequer de cumprimentá­lo, caso viessem a se encontrar.
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Na noite do jantar dançante da Associação dos Fazendeiros de Whitehorn ela começou a pensar nisso enquanto se arrumava.
Era quase certo que Wyatt também estaria lá, embora ela não se importasse que reação ele teria ao saber que ela estava saindo com Paul Rodell. No que dizia respeito a ela, Wyatt North era coisa do passado.
Havia apenas algumas poucas ocasiões formais em Whitehorn, e o jantar daquela noite era uma delas. Melissa sabia o que ocorria durante o jantar apenas de ouvir falar. No verão anterior, embora já estivesse morando na cidade, ninguém a havia convidado.
Ela examinou seu guarda­roupa cuidadosamente, levando em consideração o tempo, o evento e seu próprio humor. De certa maneira, ela desejava não ter aceitado o convite de Paul, mas, por outro lado, estava ansiosa por colocar uma roupa elegante e passar a noite na companhia de um homem atraente. O telefone tocou.
Distraidamente, ela olhava as roupas sobre a cama e pegou o telefone na mesa­de­
cabeceira.
­ Alô.
­ Melissa, aqui é o Wyatt. Por favor, não desligue.
Ao ouvir a voz dele ela foi tomada pela raiva. Sentiu­se tensa.
­ Como você conseguiu esse número? Ele não está na lista.
­ Eu liguei para sua mãe algum tempo atrás. Meliss...
­ Você ligou para minha mãe? Que petulância!
­ Pelo amor de Deus ­ Wyatt disse bruscamente. ­ Melissa, por favor, pense melhor e venha comigo esta noite. Dê uma chance a mim.
Melissa interrompeu­o bruscamente.
­ Desculpe, mas vou com outra pessoa.
Seguiu­se uma pausa e então ele perguntou: ­ E com quem você vai?
­ Paul Rodell.
­ Entendo. Bom, neste caso, tenha uma noite agradável.
­ Terei, com toda a certeza.
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Wyatt desligou o telefone e sentou­se de volta em sua cadeira, decepcionado. Ele estava se arrumando para o jantar. Mas será que ainda queria ir? Será mesmo que queria ver Melissa sorrindo para Paul Rodell? Ele conhecia Paul e, para seu azar, gostava dele. Talvez ela já estivesse saindo com ele há algum tempo.
­ Inferno!
Wyatt levantou­se da cadeira. As mulheres haviam sido a maldição de sua vida por seis anos ­ primeiro, Shannon; agora, Melissa. Ele tinha feito de tudo para redimir­se com Melissa, exceto se virar de cabeça para baixo para conseguir uma palavra amiga, um sorriso sincero. Ela disse várias vezes que o havia perdoado, mas era mentira, então por que ele simplesmente não aceitava o fato de que ela nunca o perdoaria? Abrir mão de Melissa seria como perder uma parte importante de si mesmo. Ele permaneceu ali um tempo, pensando. Tinha tudo que o dinheiro pudesse comprar, mas não tinha a única mulher que amou. Não, ele não abriria mão de Melissa. Ainda não.
E também não iria àquele jantar e fingir que não se importava com o fato de que Melissa estava com outro homem.
Wyatt tirou a roupa de festa. Quinze minutos depois, usando jeans, botas, camisa de algodão e jaqueta, ele saiu em sua caminhonete. Ia para o lugar onde costumava pensar melhor.
À meia­noite e meia, Melissa se despediu de Paul Rodell.
­ Obrigada, Paul. Foi uma noite muito agradável. Wyatt não veio. Por quê?
­ Eu me diverti muito, Melissa.
Os dois estavam dentro do carro de Paul, estacionado em frente ao prédio dela.
­ Amanhã eu adoraria fazer um passeio. Quer vir comigo? Poderíamos ir até Billings, talvez, e jantar. Ou qualquer outro lugar. Você escolhe.
­ Domingo é o dia em que o Hip Hop Café fica mais cheio, Paul, então eu realmente não posso ir.
Tinha sido uma noite agradável. Encontrara vários dos antigos amigos e conhecera pessoas novas. Paul fora cortês, e não fizera nada que mudasse a opinião de Melissa sobre dele. Porém aquilo tudo era vazio, e era perturbador admitir que tinha notado a ausência Projeto Revisoras
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de Wyatt.
Ela sorriu, para a alegria de Paul.
­ Está tarde, boa noite e obrigada novamente.
­ Espere, eu a levo até a porta.
­ Não precisa. ­ Olhando para dentro do carro, ela disse: ­ Boa noite, Paul ­ e viu que ele estava perplexo. Acenou para ele do segundo andar antes de entrar.
Foi direto para o quarto. As lágrimas começaram a escorrer.
Bem, Wyatt não a vira em seu vestido vermelho, dançando e sorrindo para Paul, conversando e se divertindo. Ele não comparecera!
Melissa secou os olhos. Por que Wyatt tinha decidido não ir? Será que ele não queria vê­
la com outro homem?
­ Ai, meu Deus ­ ela sussurrou, triste. Por que deixara isso acontecer? Por que ela não podia se apaixonar por um homem sem complicações como Paul Roddel?
É verdade, gostara da companhia de Paul hoje, mas não havia química, nenhum clima especial.
Wyatt gostava de lareiras, e no chalé na montanha havia uma lareira imponente. Naquela altitude, fazia frio o bastante para acendê­la à noite.
O chalé era silencioso. Seu pai o construíra quando Wyatt era criança. A família costumava ir ali pescar ou passear entre os altos pinheiros. O chalé era bastante luxuoso, apesar do design rústico. .
Ele queria.paz de espírito, disse a si mesmo. Um momento depois, Wyatt deu uma risada seca. Paz de espírito? Pensar sobre ele e Melissa durante horas não era o caminho para a paz. Ele chegara a uma conclusão: deveria deixar Melissa sossegada de uma vez por todas ou fazer algo drástico para chamar sua atenção.
Qual das duas escolhas seria melhor? O que poderia fazê­la mudar de opinião?
O Hip Hop estava cheio no domingo. Havia uma fila de espera do lado de fora.
Apesar disso, Melissa pensava em como abordar Wyatt sobre aquele terreno novamente.
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Às 20h, quando o movimento começava a diminuir, Melissa sentou­se. O que eu preciso é de férias, pensou ela, sentindo­se cansada. Uma semana, ela suspirou. Seus funcionários eram excelentes e poderiam tomar conta do local nesse período.
A idéia brilhou em sua mente. Ela poderia visitar a mãe. A única maneira de Melissa vê­
la era viajando para a Califórnia. Assim, também poderia ver seu irmão e os sobrinhos.
Talvez, uma mudança de cenário lhe fizesse bem.
Segunda­feira pela manhã, Melissa visitou todas as agências de investigação e falou com Judd, Tracy e Sterling. Não havia nenhuma novidade. Em vez de ir trabalhar, subiu ao apartamento e fez reservas para um vôo de Billing até Fresno no dia seguinte.
Pegou o telefone para avisar a mãe. Em seguida, desistiu pensando que, se por algum motivo tivesse que cancelar seus planos, Nan ficaria irritada. O melhor era pegar um táxi no aeroporto. Melissa não tinha dúvidas de que sua mãe estaria em casa ou, pelo menos, perto de casa.
Tudo bem, Melissa pensou, estava tudo pronto. Fazer as malas levaria uma hora. O mais importante era avisar os funcionários.
Depois de ficar olhando o dia nublado pela janela de seu esconderijo por dez minutos, Wyatt foi até a escrivaninha e pegou o telefone. Ele não podia mais ficar parado sem fazer nada nem mais um minuto. Tinha um plano, havia decidido tomar uma atitude drástica em relação a esse vacilante relacionamento, mas não podia fazer tudo sozinho. Tenso, Wyatt discou o número do Hip Hop Café e sentou esperando que atendessem.
­ Hip Hop Café ­ atendeu uma voz feminina.
­ Melissa Avery está, por favor? ­ disse Wyatt, com a voz controlada.
­ Um momento, por favor. Melissa, telefone! Demorou um minuto para pegarem novamente o telefone.
­ Alô, é Melissa.
­ Aqui é Wyatt.
­ Ah ­ ele ouviu a frieza súbita na voz dela ­, não tenho tempo para conversa agora.
­ Não liguei para conversar. Preciso ver você.
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Ela precisava vê­lo também, Melissa pensou com desconforto. De alguma forma, precisava dizer que não aceitaria a propriedade sem pagar por ela. Não tinha idéia de como faria isso. De qualquer modo, ela não poderia encerrar o assunto completamente.
Ela falou com um pouco menos de frieza.
­ Wyatt, não tenho tempo essa manhã, vou viajar por uma semana.
­ Vai para onde? Ela detestava essa intromissão. Mantendo a calma, continuou sem responder.
­ Podemos conversar quando eu voltar.
­ Melissa, preciso conversar com você sobre o terreno.
­ O terreno? ­ Melissa ficou com a boca seca. ­ Qual o assunto?
­ Eu falo pessoalmente. Quando você vai? ­ Por volta de 12h30. Wyatt olhou para o relógio. Eram 8hl5.
­ Você vai de carro para algum lugar? Até o aeroporto.
­ Sei. ­ Wyatt fervia de expectativa. Encaixava perfeitamente em seu plano. Mas ele tinha que sair logo.
­ Tudo bem, me liga quando voltar e a gente conversa sobre o terreno.
­ Será que você não pode falar agora?
­ Preferia que conversássemos pessoalmente. Faça uma boa viagem.
Melissa desligou, desanimada. Agora ela ficaria imaginando o que estaria passando pela cabeça de Wyatt enquanto viajava.
O vôo de Melissa estava marcado para as 15hl0, e como Billings ficava a cerca de 50km de Whitehorn e ela queria ter tempo suficiente para fazer o check­in no aeroporto, estava pronta para sair às 12h30. Guardava a bagagem no carro quando uma caminhonete parou atrás dela. Era Wyatt.
­ Oi ­ disse ele tranqüilamente.
­ Oi. ­ Olhou para ele com curiosidade. Talvez ele tivesse vindo para falar do terreno.
­ Parece que você já está pronta para partir. Melissa fechou o porta­malas.
­ Estou ­ Melissa tinha decidido ser delicada com ele. ­ Vou visitar a minha mãe.
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­ Espero que ela não esteja doente.
­ Ela está bem.
­ Só umas pequenas férias, então.
­ Mais ou menos isso. ­ Melissa se dirigiu para o lado do motorista. ­ Tenho que ir embora, meu vôo está marcado para as 15h.
­ Em relação ao terreno. Você pode comprá­lo.
Ela explodiu numa gargalhada de felicidade. Deu um enorme suspiro de alívio e sua expressão parecia de autêntica simpatia.
­ Obrigada.
­ Só tenho uma condição.
Todos os músculos de Melissa ficaram tensos.
­ Qual?
­ Que você me deixe levá­la ao aeroporto. De onde sai seu vôo, de Billings ou de Butte?
­ Billings. Mas se você me levar vai dificultar a minha volta, porque não terei meu carro para retornar ao meu apartamento.
­ Eu busco você.
Melissa desviou­se do olhar de expectativa de Wyatt. Ele ainda tinha esperança de que os dois se reaproximariam. Ela não queria ter nenhuma dívida com Wyatt a não ser em relação ao terreno, claro.
­ Você me venderá o terreno se eu deixar que você me leve ao aeroporto. Wyatt, isso não faz sentido ­ disse ela.
­ Talvez não faça, mas essa é a minha condição. O terreno é seu pelo preço que eu paguei por ele.
Uma pechincha. Ela não poderia recusar, apesar de ter parado para pensar um instante sobre qual seria a "condição" se ela não estivesse indo para o aeroporto.
Melissa respirou fundo.
­ Tudo bem. Como a minha bagagem já está dentro do meu carro, talvez fosse melhor irmos nele.
Wyatt se negou.
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­ Não, vou passar sua bagagem para o meu porta­malas. Onde estão suas chaves?
Melissa hesitou. Era estranho. Ele venderia o terreno se ela o deixasse levá­la ao aeroporto. Mas talvez não fosse má idéia. Eles poderiam combinar os termos da venda durante o trajeto.
Sentindo­se melhor em relação à condição de Wyatt, Melissa deu­lhe as chaves do carro.
­ Só um instante. Meus funcionários vão ficar preocupados se virem meu carro aqui. Vou avisá­los e volto já.
Wyatt concordou.
­ Claro, tudo bem. Eu espero aqui na caminhonete. Wyatt esperava na caminhonete. Aquele plano era um pouco arriscado. Se funcionasse, tudo ficaria maravilhoso entre Melissa e ele, mas se desse errado ele poderia ter problemas. Problemas sérios.
Era um risco, mas valia a pena, ele disse a si próprio. Ele havia perdido seis anos de sua vida fazendo a coisa certa.
Vendo que Melissa deixava a cafeteria, Wyatt saiu da caminhonete e abriu­lhe a porta do carona. Ela entrou ofegante.
­ Tudo pronto ­ disse ela.
Wyatt voltou para o banco do motorista e deu ré com a caminhonete, desviando do carro de Melissa. Depois foi para a rua na direção leste.
­ Está começando a chuviscar ­, ele comentou.
O caminho normal para Billings era pegar a Highway 191 até a interestadual. Melissa ficou alerta quando Wyatt virou na 191. Ela estava feliz por ele ter decidido vender o terreno, apesar de continuar sem saber por que tinha decidido fazê­lo.
­ Estou muito agradecida por me vender o terreno ­ disse ela, enquanto em sua mente perguntava, por quê?. ­ Como eu disse, posso pagar dez mil dólares agora mesmo.
­ Você decide os termos, por mim tudo bem.
­ Eu vou pagar da minha maneira, você sabe disso.
­ E, eu sei. Lembro­me que quando começamos a namorar você não deixava que eu pagasse nem a sua entrada do cinema e o lanche. Você se lembra?
Melissa não podia deixar de rir.
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­ Eu me lembro. Acho que exagerei um pouco algumas vezes. ­ Seu sorriso desapareceu. ­ Mas havia tantos comentários sobre o papai ter nos abandonado...
­ Deus do céu, Melissa, você é muito sensível. Acha que as pessoas as culparam pelo desaparecimento dele?
­ O que eu me lembro é que havia muitos boatos. E eu odiava saber que esse era o assunto principal de todas as conversas.
­ Bem, isso é provavelmente a verdade. As pessoas adoram um mistério.
Melissa franziu a sobrancelha.
­ Por que você está entrando aqui?
Wyatt acabara de entrar numa estrada de pedras.
­ Atalho ­ ele respondeu sem se alterar.
­ Não conheço nenhum atalho para Billings.
­ Conheço todas as estradas secundárias dentro de um raio de 300 km, Melissa. Meu pai e eu pescávamos em todos os riachos, rio e lagos da região. Você deve se lembrar disso.
­ Eu me lembro, mas hoje a interestadual deve ser a melhor opção. Não quero chegar atrasada ao aeroporto.
­ Você chegará lá mais cedo por aqui do que pela interestadual.
Melissa piscou assustada quando Wyatt entrou em outra estrada.
­ Wyatt eu nunca estive aqui. Tem certeza de que vamos ganhar tempo?
­ Tenho, fique calma.
Como ela poderia relaxar? As nuvens taparam o sol e ela não sabia mais em que direção estavam indo.
­ Fico pensando se esse volume de chuvas nesta época do ano significa que teremos muita neve no inverno ­ Wyatt comentou como que para si próprio ­. Seria muito bom termos gelo nas montanhas. Água é um bem precioso e nossos últimos invernos foram bem moderados.
­ Nevou no último inverno ­ Melissa o lembrou rispidamente. Ela estava começando a ficar preocupada com a hora. Queria chegar ao aeroporto bem adiantada.
­ Wyatt, por favor, volte para a 191. Não quero perder meu vôo.
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Ele deu um sorriso a ela.
­ Como você é pessimista.
­ Pessimista? Wyatt, nós estamos nas montanhas.
­ Você não tem medo de montanhas, tem?
­ Não, claro que não tenho medo de montanhas. Isso é ridículo, você sabe. Mas parece que nós estamos subindo. Olha como a floresta está ficando densa.
Wyatt olhou para cada uma das janelas.
­ É um lugar muito bonito, não acha?
Melissa se recusou a responder, cruzou os braços e olhou fixamente para frente enquanto sua mente funcionava.
Será que ela deveria se preocupar? Por algum motivo sentia que eles estavam indo na direção oposta a Billings. Ainda assim, não disse nada. O que Wyatt ganharia em fazê­la perder o vôo? Olhou para o relógio. Ainda dava tempo de pegar o avião. Ela voltou para o assunto do terreno como uma tentativa de parecer tranqüila em relação ao terror que sentia por causa do atalho que Wyatt tomara.
­ Meu plano é pagar mil dólares por mês. Temos que pensar em uma taxa de juros.
­ Você não precisa pagar juros.
­ Mas eu quero.
­ Bem ­ disse Wyatt de maneira bastante natural, que tal cinco por cento?
­ Não, é muito baixo. Ninguém pega dinheiro emprestado a cinco por cento de juros. Que tal nove por cento?
­ Nove parece muito alto. Que tal sete? Melissa pensou por um momento e concordou.
­ Tudo bem, sete. Quando voltar da Califórnia providenciarei um contrato.
­ Boa idéia, assim o negócio estará seguro se algo me acontecer.
Melissa virou­se.
­ Não era o que eu estava pensando quando sugeri o contrato.
­ Eu sei disso, mas essa é a verdade. Então, dá no mesmo. Ela continuou olhando para Wyatt. Alguma coisa em sua postura a deixava preocupada.
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­ Por que você mudou de idéia sobre a questão do terreno?
Ele sorriu para a Melissa.
­ Porque eu me lembrei de como você tinha ficado chateada quando eu lhe ofereci dinheiro há alguns anos. Acho que eu não me lembrava de quanto é independente.
­ Ah, está certo.
Na mesma hora, Wyatt deu mais uma volta. O coração de Melissa acelerou. Eles estavam subindo uma ladeira bem alta agora.
­ Essa estrada tem uma descida do outro lado? ­ ela perguntou.
­ Daqui a pouco ­ Wyatt respondeu. Ele sabia que ela estava ficando muito nervosa, e com toda a razão. Eles não estavam nem um pouco perto de Billings.
Eles já estavam chegando a seu destino.
Será que Melissa gritaria com ele? Talvez ela começasse a chorar. Ele estava preparado para qualquer reação.
Uma clareira apareceu do nada. Melissa viu um chalé lindo e enorme à sua frente.
­ Meu Deus, olha aquilo! ­ ela exclamou. Quem será que mora aqui?
Wyatt não disse nada. Eles estavam no final da estrada, mas Melissa ainda não podia ver. Ele se aproximou do chalé e parou a caminhonete.
Melissa olhou­o confusa.
­ Por que você parou?
Wyatt desligou o carro e virou­se para ela.
­ Porque nós chegamos.
O pânico se apoderou dos olhos de Melissa.
­ Chegamos?
­ Ao meu chalé. Vou ser bem direto. Você foi seqüestrada, Melissa, e é aqui que vai ficar nesta semana.
Melissa estava chocada demais para falar qualquer coisa. Então ela vociferou.
­ Você enlouqueceu? Tenho que pegar um avião!
­ Quer saber de uma coisa, docinho? Talvez eu tenha enlouquecido. ­ Ele tocou a ponta do nariz dela. E a culpa é sua.
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Ela recuou, ruborizada.
­ Não se atreva a botar um dedo em mim, seu louco. É melhor você ligar essa caminhonete e me levar para Billings nesse minuto.
Wyatt tirou a chave da ignição e abriu a porta.
­ Vou entrar. O que você vai fazer?
­ Eu não vou entrar no seu chalé. Ele parou e então acenou.
­ Fique à vontade. Ele saiu do carro.
­ Não tente sair daqui. Você se perderia em dez minutos. Wyatt fechou a porta da caminhonete, subiu três degraus
da varanda do chalé, abriu a porta e entrou.
Sete
Primeiro, Melissa não conseguia nem pensar. Meu Deus, o que estava fazendo ali? Começava a esfriar. Em seguida, olhou ao redor. O lugar era cercado pela floresta. Ficou arrepiada.
Pouco a pouco foi entendendo a situação esquisita em que estava. Wyatt a havia seqüestrado! Um grito histérico saiu de sua garganta. Não a levara até ali para machucá­
la, aquele cafajeste ­ ele a levara para convencê­la de que era um homem legal.
Agora ela estava raciocinando. A fúria quase a sufocou. Como ousava se meter em sua vida? Ela caíra como um patinho em sua generosidade e simpatia.
Sabia que não devia confiar em Wyatt, mas foi exatamente o que aconteceu hoje. Com um gemido, tremeu, sem saber se era de frio ou frustração.
Melissa não tinha a menor idéia de onde se encontrava. Desejava ter força suficiente para socar­lhe o nariz. Estava presa ali até que Wyatt decidisse levá­la de volta à cidade.
Olhou para a ignição de cara feia e voltou sua atenção para o chalé, que parecia muito mais bonito do que qualquer outro que já vira. Wyatt estava lá dentro, quentinho, enquanto ela...
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­ Maldito Wyatt North! ­ gritou.
Ele poderia pelo menos tentar convencê­la a entrai. Sabia que ela estava sentindo frio e que logo escureceria Ela viu a fumaça saindo da chaminé e ficou imaginando uma lareira crepitando e Wyatt sentado em uma cadeia confortável perto do calor.
Tinha que haver uma maneira de fazê­lo pagar por seu comportamento desprezível de hoje. Melissa se concentrou em planejar uma vingança.
Abriu a porta da caminhonete e saiu. Marchou até o chalé e entrou audaciosamente. A porta da frente abria direto para uma sala imensa, com a maior lareira que já vira.
Wyatt, que estava sentado junto à lareira, ficou de pé.
­ Oi ­ disse ele, simpático, como se aquela fosse uma situação comum e ela estivesse ali para lhe fazer uma visita.
Aquela expressão de que tudo estava muito bem a irritava ainda mais. Ela se aproximou da lareira.
­ Eu poderia mandar prendê­lo, sabe? ­ falou com raiva. Wyatt se afundou na cadeira.
­ É, acho que poderia.
Ela se virou e olhou para ele.
­ Você não acredita que eu faria isso, não é? Wyatt sorriu.
­ Não sei mais o que penso sobre você, querida.
­ Não me chame de nada além do meu nome. Você não tem o direito de me tratar com tanta intimidade.
­ Tudo bem, se "querida" a incomoda, não a chamo mais assim.
­ Não me incomoda ­ disse ela ­, me deixa furiosa. Depois de um momento Wyatt aquiesceu.
­ Entendo. Acho que não percebi que a irritava tanto assim.
Melissa poderia matá­lo com um olhar.
­ Onde você aprendeu a ser assim tão atrevido? Era para eu estar dentro do avião.
Wyatt levantou um dedo.
­ O que nos leva a uma pergunta: sua mãe está esperando você?
Melissa recebeu uma carga de adrenalina. Essa poderia ser sua oportunidade de sair Projeto Revisoras
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daquela situação.
­ Está, e como não chegarei lá na hora marcada, ela vai ligar para o meu apartamento. Como eu não estou lá para atender, ela vai ligar para o Hip Hop. Ela vai saber que entrei na sua caminhonete e que você deveria me levar ao aeroporto. Então, ela vai ligar para a polícia. Ela vai...
­ Espera aí ­ disse Wyatt, levantando­se e andando até o telefone.
Um telefone! Tudo o que Wyatt precisava fazer era dar as costas por três minutos e ela mesma chamaria a polícia.
Mas para quem ele estava telefonando? Ela observou que ele discava um número de memória e logo percebeu: estava ligando para sua mãe!
Melissa correu e desligou o aparelho antes de completar a ligação. Seus olhos destilavam veneno.
­ Minha mãe não está me esperando. Se você ligar para ela só vai deixá­la irritada.
­ Entendo. ­ Wyatt pôs o fone de volta na base e depois enrolou o fio do aparelho. ­ Você não vai encontrar outro telefone no chalé, nem perca seu tempo.
A fúria voltou aos olhos de Melissa.
­ O que você acha que vai conseguir de mim?
­ Conversar com você ­ disse ele.
­ Conversar? Você me seqüestrou para conversar comigo? Você deve estar mesmo louco.
Wyatt sorriu.
­ Louco por você.
­ Essa é realmente a melhor maneira de provar isso ­ disse Melissa com sarcasmo.
­ Se você relaxar, pode ser que dentro de alguns dias se permita gostar de mim de novo.
­ Pode esperar sentado.
Wyatt pegou o telefone. ­ Vou guardar isso aqui. Fique à vontade. ­ Isso nunca vai acontecer.
Wyatt saiu da sala e Melissa continuou ali, fervendo de raiva. Ele foi esconder o telefone, aquele cretino. Wyatt voltou com passos leves. Projeto Revisoras
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­ Vou buscar sua bagagem.
­ Deixe minhas malas onde estão!
­ Acho que não ­ disse ele, saindo e deixando a porta entreaberta.
­ Quem você pensa que é? Meu carcereiro? Eu não quero que você traga a minha bagagem para dentro de seu... de seu covil.
Wyatt riu de legítima alegria.
­ Você está linda assim.
­ Seu cretino. Eu o detesto e desprezo.
­ É o que veremos. ­ E lançou­lhe um grande sorriso. Melissa chegou até a varanda.
­ Espero que saiba que seqüestro é crime. Inabalável, Wyatt se inclinou para retirar as malas.
­ Você sabe o que a polícia faz com seqüestradores? ­gritou Melissa. ­ Espero que eles prendam você na masmorra mais escura do estado de Montana.
Wyatt apareceu com a mala.
­ Acho que não há mais presídios em Montana.
­ Acredito que seqüestro seja crime federal. Talvez o FBI o prenda numa penitenciária no Alasca, a quarenta graus abaixo de zero, onde você não tenha o que comer.
Wyatt conseguiu tirar a última mala. Fechou a porta, pegou a bagagem de Melissa e entrou na casa.
­ Você pode pedir no processo que eles me pendurem Pelos polegares de tempos em tempos ­ disse ele ao entrar no chalé.
Explodindo de raiva, Melissa o seguiu.
­ Você não é nada engraçado. Wyatt saiu da sala em direção ao hall. Melissa continua
atrás dele. Afinal de contas, era sua bagagem.
­ Para onde você está levando as minhas malas?
­ Para o seu quarto.
­ Nada nesse lugar medonho é meu, então você esta levando as minhas malas para um de seus quartos.
Wyatt deixou as malas no meio de um quarto espaçoso,
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­ Acho que você tem razão. Mas enquanto estiver aqui, considere esse quarto seu.
­ Como você é generoso ­ zombou.
­ É melhor que uma masmorra, querida. Você está com fome. Eu poderia preparar o jantar.
­ Se você acha que eu vou comer o que você cozinhar pode desistir.
Wyatt pensou por um momento.
­ Parece que você tem duas opções. Ou você cozinha ou não come.
E saiu do quarto.
Melissa nunca se sentira tão desesperada. Mas também, ela nunca havia sido seqüestrada em sua vida. Seria impossível sair dali.
As chaves da caminhonete estavam no bolso da calça às. Wyatt. Seria mais fácil encontrar o aparelho de telefone de que as chaves.
Com um suspiro, Melissa encostou a cabeça na cadeira e esticou as pernas.
O quarto parecia aconchegante, apesar de Melissa se irritar com isso. Ouviu uma batida na porta. Wyatt chamou.
­ Tem café fresco na cozinha.
Melissa virou a cara sem responder. Wyatt agia com delicadeza e tranqüilidade para mostrar que ser humano maravilhoso era. Só um canalha acharia que seqüestrar uma mulher era uma maneira de cortejá­la.
Melissa olhava pela janela. Não aceitava a situação, mas não havia nada a fazer, além de se comportar de modo grosseiro e não cooperar.
Não podia ser de outra maneira, não é? Mas ele não escaparia tão facilmente. Ela precisava se lembrar constantemente de tudo que ele tinha feito há seis anos, e não cair em suas armadilhas.
Wyatt estava bebericando o café na cadeira próxima à lareira. Nenhum som saía do quarto onde estava Melissa. Ele esfregou os lábios pensativamente.
Ele esperava pela raiva, mas por quanto tempo ainda? A noite toda, provavelmente. Amanhã o dia inteiro, possivelmente. O orgulho de Melissa não a deixaria relaxar.
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Passos provenientes do hall fizeram com que Wyatt ficasse alerta. Percebeu que Melissa vinha da cozinha para a sala onde ele estava. Deu uma espiada e a viu caminhar em direção à outra cadeira que ficava junto à lareira, segurando uma caneca de café.
Ele não tinha nenhuma esperança de que ela já estivesse se ajustando à situação, mas beber café parecia uma concessão. Melissa olhava as chamas. Finalmente o fuzilou com o olhar.
­ Quero comunicar a você que entendo o que está tentando conseguir com essa situação ridícula.
­ É mesmo? Isso é ótimo, Melissa. Facilita, e muito, as coisas para mim.
­ Você acha que estou preocupada em tornar as coisas mais fáceis para você? Não vou compactuar com essa brincadeira.
­ Você acha que isso é uma brincadeira? Por um minuto acreditei que você tivesse entendido por que a trouxe aqui. Acredita que eu arriscaria passar o resto de minha vida em uma masmorra congelada no Alasca por causa de uma brincadeira?
­ Você está rindo de mim. Seu idiota! Isso é uma brincadeira, uma perversão demente. Gente normal não seqüestra pessoas. Pelo menos ninguém que eu conheça.
Wyatt apontou o dedo indicador. ­ Sabe de uma coisa? Você mentiu para mim.
­ Não menti nada!
­ Duas vezes, se quer saber.
A expressão de Melissa era de congelar o deserto. ­ Sobre o que você está falando?
­ Estou dizendo que você afirmou duas vezes que tinha me perdoado pelo que aconteceu há seis anos.
Melissa levantou o queixo arrogantemente.
­ Não era mentira.
­ Paro inferno que não. Se tivesse me perdoado, Melissa, não me odiaria. E você me odeia. Você me disse há um minuto que me desprezava e detestava. Isso não é perdão. A minha conclusão é que você mentiu.
Melissa deu um sorriso sarcástico.
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­ Vou lhe dizer uma coisa, Wyatt. Quando eu o processar por seqüestro, você pode me processar por calúnia. Vamos ver qual dos dois crimes é mais grave, tudo bem?
­ Você gostaria mesmo que eu fosse mandado para uma masmorra no Alasca? ­ perguntou ele com um sorriso.
­ Preferia atingir você bem no meio do coração.
­ Você não está falando sério.
­ Não? Ponha­se no meu lugar por um minuto e imagine que alguém o levou para um chalé contra a sua vontade. Suponha que eu esteja em vantagem. Como você se sentiria?
­ Se você tivesse tido todo esse trabalho para ficar sozinha comigo em algum lugar, eu ficaria encantado.
Melissa deu um sorriso seco.
­ Bem, partindo do princípio de que já concordamos que você perdeu o juízo, acredito que você ficaria encantado. Essa conversa está enfadonha demais.
­ Vamos falar sobre perdão novamente ­ sugeriu Wyatt. ­ Tenho a sensação de que você não estava falando sério quando disse que havia me perdoado.
­ Pelo amor de Deus! ­ Melissa levantou­se com um pulo. ­ Não vou discutir o que aconteceu há seis anos.
Ele balançou a cabeça negativamente.
­ Não consigo esquecer. Tenho uma memória muito boa, assim como você.
­ Quem se importa com essa recordação desprezível? Melissa se aproximou da lareira.
­ Pare de me encarar, ou vou para outra sala.
Melissa saiu dali, parou no hall um momento e, finalmente, se decidiu pela cozinha. Sentou­se perto de uma mesa grande, redonda.
A cozinha era maravilhosa, apesar de odiar admitir isso.
Melissa tomou um gole de café com os olhos fechados. Seu gosto por organização aflorou. Ela conseguiria um caderno ou algo para escrever e documentar essa história toda.
Wyatt entrou.
­ Estou ficando com fome ­ disse ele calmamente, e encaminhou­se para a geladeira, de onde tirou um recipiente dourado de ensopado.
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Ligando o botão do forno, colocou o recipiente sobre o balcão.
­ O forno deve ser aquecido antes ­ explicou com um olhar de relance para Melissa.
­ Prefiro que não fale comigo. Você acha que estou me importando com o fato de você estar aquecendo esse seu forno idiota?
­ Esse forno é muito inteligente, Melissa.
­ Ah, pelo amor de Deus ­ ela resmungou. ­ Esse forno é quase tão inteligente quanto você.
Wyatt encostou os quadris contra o balcão e cruzou os braços.
­ Você me achava inteligente.
­ Isso prova que eu era estúpida. Não sou mais, Wyatt.
­ Talvez um pouquinho ­ sorriu Wyatt,
O rosto de Melissa ruborizou. Entrar na caminhonete dele hoje era prova de sua estupidez.
­ Você me enganou ­ ela o acusou. ­ Provavelmente não tem a menor intenção de me vender o terreno, e eu acreditava...
­ Você está enganada. O terreno é seu, como eu disse. Nas suas condições. Nunca volto atrás em minha palavra.
­ Oh, por favor ­ esbravejou ela. ­ Honestamente, posso até conservar uma certa credulidade de adolescente, mas isso está indo longe demais.
Wyatt deu um grande sorriso de satisfação.
­ O forno está quente.«Vou pôr o recipiente para esquentar.
­ Por favor, pare de falar o que vai fazer.
­ É bom usar um pano de prato ­ disse Wyatt, não levando em consideração seus comentários. ­ A panela não está quente, mas o forno está.
­ Não use o pano ­ disse Melissa rispidamente. ­ E bom que você se queime.
O sorriso de desprezo dele fez com que ela tivesse vontade de se levantar e lhe esbofetear. Ela achou que precisava se controlar. Havia outras coisas a serem levadas em consideração. Uma delas é que ela estava ficando com fome. Evidentemente, ia ter que comer a comida de Wyatt. De repente ficou séria. A panela. Será que ele era um Projeto Revisoras
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cozinheiro com experiência suficiente para preparar uma refeição tão rapidamente? Ela pigarreou.
­ Um... você cozinhou isso?
Wyatt fechou a porta do forno e colocou o pano de prato no balcão.
­ Não. Eu trouxe para cá esta manhã, juntamente com muitas outras comidas.
Melissa ficou espantada.
­ Você planejou tudo? Não foi um impulso momentâneo?
Ele riu.
­ Melissa, estou planejando isso desde a noite do jantar dançante da Associação dos Fazendeiros. Meu problema era quando e como lhe trazer para um passeio comigo.
­ Seu telefonema essa manhã esclareceu tudo, certo? ­ retrucou ela, sarcástica.
­ Você entendeu.
Acena agora estava completa. Pelo telefone, ela mesma dera a Wyatt a oportunidade de que ele precisava para executar seu plano detestável. Ele a enganou, dizendo­lhe que a levaria até o aeroporto, e ela se deixou levar pela conversa dele.
­ Você queria falar sobre perdão. ­ Levantou­se. ­ Eu jamais o perdoarei pelo que você fez hoje. Jamais. ­ E saiu em disparada da cozinha.
­ O jantar estará pronto dentro de meia hora ­ anunciou Wyatt alegremente.
­ Entupa­se com ele! ­ gritou ela, dando de ombros.
Oito
Melissa ficou no quarto. Em sua bolsa achou várias folhas de papel em branco nas quais começou a anotar os acontecimentos do dia.
Wyatt North disse claramente que havia me seqüestrado, e que ficaríamos aqui, neste chalé na montanha, durante uma semana, tempo que eu havia destinado a umas férias na Califórnia.
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Ela relatou como ele a tinha enganado, com a desculpa de lhe explicar a questão do terreno próximo ao prédio dela.
Ele não tem sido indelicado, nem tem tentado nada que possa ser interpretada como pressão sexual. No entanto, sei... Ela sabia o quê? Quando ela disse a ele que era louco, ele lhe respondeu: "Louco por você".
Ela percebeu que havia uma provocação séria em sua voz, como se ele quisesse que, ela entendesse o que aquilo significava.
Esquecendo­se da fome, enfiou as folhas de papel na bolsa e retirou de dentro de uma de suas malas a camisola. Ao voltar para o quarto, descobriu um banheiro privativo.
Ela trancou a porta que dava para o hall. Apagou as luzes.
Tinha certeza de que não adormeceria, porém, ao acordar sobressaltada e ver no relógio que já passava da meia­noite, teve que mudar de opinião.
Evidentemente havia dormido durante horas.
A casa estava em completo silêncio.
Sua fome era terrível.
Movendo­se cautelosamente, saiu da cama, acendeu a luz e, descalça, na ponta dos pés, caminhou até a porta. Uma lâmpada minúscula iluminava o corredor o bastante para chegar à cozinha.
Melissa localizou o interruptor da lâmpada da cozinha. A luz repentina fez com que ela fechasse os olhos por instantes. Abriu a porta da geladeira.
Seus olhos se arregalaram. A geladeira estava abarrotada de comida.
Melissa tirou uma garrafa de leite, procurou um copo e o encheu. Planejava levar o copo de leite para o quarto e já desligava as luzes da cozinha quando Wyatt apareceu na porta. Melissa encarou­o, assustada. Ele vestia apenas uma calça de moletom cinza, nada mais.
­ Está tendo algum problema para dormir? ­ perguntou. Era uma oportunidade para puxar conversa.
­ Levantei para pegar um copo de leite ­ disse, o que era óbvio. Sua nudez parcial era enervante. Ela evitava aquele tórax nu, mas de vez em quando lançava um olhar involuntário. Os pêlos entre os mamilos fizeram com que ela se sobressaltasse. Ele não tinha pêlos no peito antes de ela se mudar para a Califórnia.
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De repente, Melissa encontrou refúgio numa cadeira atrás da mesa. Wyatt entrou na cozinha e abriu a porta da geladeira.
­ Esse leite é muito bom. Acho que vou tomar um pouco também. ­ Pegou não apenas a garrafa de leite, como também uma garrafa de calda de chocolate.
­ Não me diga que você ainda coloca calda de chocolate no leite.
Ele pôs o leite no copo com uma quantidade generosa de chocolate.
­ Então você se lembra de que eu gosto de leite com chocolate, hein?
­ Eu não me lembrava até agora ­ disse Melissa friamente.
­ Você se lembra do Whirl­In Drive­In? É uma pena que não exista mais. Todos os nossos amigos iam lá. Lembra das batatas fritas deles? Eram batatas mesmo.
­ Minhas batatas fritas são feitas de batatas de verdade.
­ Jura? Vou ter de prová­las.
­ Na prisão?
Wyatt olhou um pouco assustado, mas depois sorriu.
­ Você não está realmente pensando em me mandar prender, está?
Melissa não respondeu.
­ Melissa ­ perguntou ele suavemente. ­ Vai prestar queixa?
­ Estou pensando nisso ­ disse ela sem se abalar.
­ Em minha opinião, isso é a coisa mais romântica que eu já fiz na vida ­ disse Wyatt.
­ Romântica? Você acredita que seqüestrar uma mulher é romântico?
­ Seqüestrar você é romântico. Esqueça as outras mulheres. Não tem nenhuma que se compare a você.
Ela não ia ficar ali sentada ouvindo aquela cafonice.
­ Vou voltar para a cama.
­ O que eu posso dizer para que você mude de atitude? Que tal isso? Você foi a única mulher que amei.
Ela se levantou depressa.
­ Essa frase é ridícula e eu não quero ouvi­la.
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Ela começou a sair da mesa, mas Wyatt entrou na frente dela.
­ Não se atreva a tentar nada ­ ela advertiu.
­ Não é apenas uma frase, Melissa.
A voz suave e ritmada de Wyatt a deixou alarmada, não por causa dele, mas pelo que causava nela. Os olhos de Melissa se inflamaram de repente.
­ Será que eu vou ter que lutar com você para sair daqui? Os olhos castanhos de Wyatt fitavam seu rosto.
­ Não lute comigo por nada, Melissa. Relaxe e aproveite o lugar. Essas férias poderiam ser bem mais proveitosas do que as que você planejou.
­ Eu não ia visitar a Califórnia, eu ia visitar minha mãe. Agora saia da minha frente.
Wyatt saiu da frente depois de instantes. Melissa deu a volta e foi para a porta.
­ Espero que você consiga dormir ­ disse ele.
­ Está certo! ­ ela resmungou. Melissa tinha lágrimas nos olhos, o que a deixava mais furiosa. Trancou a porta.
Estava chovendo novamente. Sua maior preocupação agora era que Wyatt conseguisse o que queria. Gostando ou não, o fato de ele aparecer sem camisa a tinha afetado. Talvez isso fosse compreensível, mas era muito perturbador se deixar abalar por ele ter dito algumas mentiras ridículas sobre ela ser a única mulher que ele amou. Seria possível que ele destruísse sua determinação de manter um abismo entre os dois apenas com um ataque de sedução? Sutileza sempre havia funcionado muito mais do que aquele machismo imbecil e controlador, e Wyatt não era tolo.
Melissa finalmente adormeceu. Não foi uma noite tranqüila.
Acordou devagar, se espreguiçou, olhou em volta do quarto e se lembrou de onde estava. Levantou­se de um salto, e surpreendeu­se por ter dormido até quase às 9h.
Voltou a se deitar, tão tensa quanto na noite anterior. Aquilo era um absurdo. Como é que uma situação podia ser tão clara e tão confusa ao mesmo tempo? Aceitar era inadmissível, mas nada lhe vinha à mente.
O que ele merecia era um pouco de seu próprio veneno. Mas uma vingança nessas circunstâncias significava ela também seqüestrá­lo um dia desses, o que era uma situação Projeto Revisoras
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ridícula.
Melissa suspirou com tristeza e se forçou a levantar da cama. Ao puxar a cortina, olhou com raiva a chuva que caía. Um pouco de sol não iria resolver o problema, mas pelo menos poderia animar seu espírito abatido.
Depois do banho, Melissa penteou o cabelo e se maquiou. Vestiu­se, arrumou a cama e finalmente saiu do quarto. Seria tolice se recusar a comer, concluiu. Com a fome que estava agora de manhã, ela comeria o que tivesse. Foi direto para a cozinha.
Para sua infelicidade, Wyatt estava sentado à mesa.
­ Oi ­ disse ele animado. Ela o fuzilou com o olhar.
­ O dia está lindo hein? ­ Wyatt observou. ­ Estava pensado em lhe mostrar a região.
Melissa virou­se com a xícara na mão.
­ Não estou interessada. Será que posso preparar torradas?
­ A geladeira e o armário estão cheios de comida, Melissa, sirva­se à vontade. Se você quiser, posso fritar bacon e...
­ Vou comer frutas e torrada ­ ela disse com frieza. ­Será que você precisa ficar me olhando?
­ Só estou tentando decifrar você.
­ Tente fazer isso com você mesmo, Wyatt. Pelo menos não sou criminosa.
Ele teve que rir.
­ Sempre me esqueço disso.
­ Você tem uma memória muito seletiva.
­ Já reparou como vivemos voltando ao assunto memória? Todo o nosso relacionamento gira em torno de memória.
­ Você não estava dizendo isso. ­ Melissa pegou uma laranja da travessa na mesa. ­ O que você estava dizendo é que sempre retornamos ao assunto memória. Deixe­me acrescentar que você é o único nesta casa preocupado com isso. ­ Ela começou a descascar a laranja. ­ Só existe uma parte do passado que me interessa: trata­se do assassinato do meu pai. Então, por mim, você pode falar do que quiser que não me importo.
­ Você está realmente tentando se manter com raiva de mim, hein?
Melissa lançou­lhe um olhar de repugnância.
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­ Você realmente acha que preciso tentar?
­ Raiva de verdade precisa de adrenalina, e o corpo humano só consegue sustentar isso por algum tempo. Você está remoendo a raiva de ontem.
­ Você é psicanalista também?
Ela adoraria colocá­lo em uma cadeira elétrica.
­ Você parece bastante abatido por causa de seu iminente divórcio.
­ Não é mais iminente. Recebi a certidão definitiva pelo correio alguns dias atrás. ­ Wyatt sorriu. ­Você está olhando para um homem livre.
Melissa continuou.
­ Fale­me sobre sua esposa.
O sorriso dele desapareceu, e cerrou os olhos.
­ Ficaria feliz em fazê­lo, se me deixasse começar pelo início.
­ Você quer dizer, começar de quando me traía? ­ Melissa pôs um gomo de laranja na boca. ­ Por que cargas d'água você acha que eu estaria interessada em sua vida amorosa da época da faculdade?
Wyatt nem pensava em sorrir agora.
­ Eu não tinha uma vida amorosa na faculdade. Cometi um erro e paguei por ele durante seis anos.
­ Chega ­ disse ela, levantando­se. ­ Não vamos começar a falar em como você é infeliz e eu, crítica.
­ Que tal falarmos de arrependimento? Eu lhe pedi perdão, mas você acha que eu me perdoei, ou que algum dia vou me perdoar? Melissa, sente­se, por favor. Vamos conversar.
Ela levou a casca da laranja para a pia.
­ A lixeira fica debaixo da pia?
­ Fica. Melissa, por favor, volte para a mesa.
Ela encontrou a lixeira e jogou fora a casca. Esticou­se, tomou fôlego e olhou para Wyatt.
­ Você quer que eu alivie sua consciência. Não posso ajudá­lo, Wyatt. Não vou dizer que está tudo bem. O preço que você pagou não foi o suficiente. É assim que eu me sinto, e Projeto Revisoras
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me trazer até aqui para uma lavagem cerebral não vai funcionar.
Ela voltou até a mesa para pegar o prato e a xícara. Levou­os para a pia, totalmente consciente de que ele continuava ali, observando cada movimento que fazia.
­ Nunca pensei que você fosse tão rígida ­ disse ele baixinho.
Ela se virou para fitá­lo.
­ Ah, por favor, Wyatt. Estou longe de ser aquela menina que você conheceu no colégio. E quer saber o que mais enrijece uma pessoa? Alguém passando sobre ela como um rolo compressor.
­ Da maneira que eu fiz com você, não é mesmo? ­ A carapuça serviu?
Ele hesitou e depois concordou.
­ Serviu perfeitamente, Melissa. Você sabe que eu faria qualquer coisa para consertar tudo? Será que você poderia acreditar em mim?
­ Meu Deus, não interessa se eu acredito ou não, Wyatt! Por que você não se permite acreditar nisso?
­ Você sabe por que eu não consigo.
­ Porque eu sou a única mulher que você amou? ­ Melissa completou sarcasticamente.
­ É verdade. ­ Wyatt parou diante dela. ­ Vou dizer em que acredito, Melissa. O amor não é algo que se possa acender ou apagar como uma lâmpada. Está bem, você está magoada e com um bom motivo. Eu preferia ter arrancado meu braço direito a fazer aquela ligação seis anos atrás. Mas não tive escolha. Eu...
­ Você fez sua escolha várias semanas antes do telefonema ­ disse Melissa amargamente. Vou para o meu quarto. Por favor, não me siga.
Wyatt trincou os dentes e a agarrou pelos pulsos antes que ela pudesse sair.
­ Maldição ­ ela gritou ­ Me largue!
­ Olhe para mim. ­ Ela continuou olhando para o outro lado. ­ Melissa, quando eu entrei no Hip Hop e a vi, quase morri do coração. E você também. Se todos os seus sentimentos por mim acabaram, como você quer que eu pense, encontrar comigo não teria sido um choque tão grande. Será que você não vê isso?
Os olhos de Melissa estavam arregalados de espanto.
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­ Você não pode ser tão pretensioso a ponto de pensar que ainda o amo. Sua teoria sobre amor e lâmpadas é uma Porcaria. Solte meus punhos ou eu chuto você.
Ele a puxou com força para junto de si.
­ Chute agora ­ murmurou ele, com o rosto enfiado nos cabelos de Melissa.
Tocá­la aumentava imediatamente seus batimentos cardíacos e fazia sua voz ficar mais intensa.
­ Você é tão bonita ­ sussurrou.
De repente, como num estalo, Melissa soube como dar o troco. Ela teria sua vingança. Ao final daquela semana infernal Wyatt iria sofrer, aquele imbecil, sofrer da mesma maneira que ela sofrerá lá na Califórnia ao receber aquele telefonema.
Ela permaneceu imóvel nos braços de Wyatt, apesar de seu rosto ter se encostado ao peito dele.
­ Estou muito confusa ­ ela sussurrou.
Os batimentos de Wyatt foram a mil de tanta esperança. Ele esperava que aquilo acontecesse: que, ao ficarem os dois juntos, a armadura de orgulho de Melissa rachasse.
Tinha acontecido um pouco mais cedo do que ele previra, ele havia percebido uma aceitação da parte dela, e até mesmo uma pequena reação.
A boca de Wyatt acariciava os cabelos de Melissa enquanto ele sentia seu cheiro inebriante.
­ Não estou tentando confundi­la, Melissa. Isso é como sair de um pesadelo para mim.
­ Pode ser ­ ela murmurou. Seu cafajeste. Vamos ver quem vai rir por último.
Será que ele se atreveria a beijá­la? Ele estava ficando excitado e, perto como estavam, ela perceberia.
Ainda assim, ela não se afastara. Wyatt tinha que beijá­la.
Seus lábios desceram até os dela. Apesar do consentimento que ela dera até ali, ele esperava que ela o empurrasse. Mas ela continuou parada e deixou que seus lábios se encontrassem. Ele a beijou gentilmente, um esforço monumental, uma vez que o que ele queria era pegá­la em seus braços e levá­la para o quarto.
Ainda assim, sua respiração pesada revelava o desejo que sentia, e Melissa estava totalmente consciente do que passava por aquela mente pervertida. Aquilo ia funcionar Projeto Revisoras
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perfeitamente, ela pensou. Fora apenas um beijo. Ela poderia até mesmo fazer amor com ele e não sentir nada. Bem, ela sentiria alguma coisa. Era humana. Mas ele nunca saberia seus verdadeiros sentimentos.
Wyatt levantou a cabeça e esboçou um sorriso que acabou saindo bastante fraco.
­ Você é uma mulher muito poderosa ­ sussurrou ele.
Ela lambeu os lábios vagarosa e sedutoramente, notando o interesse quase hipnótico que ele tinha pela ponta de sua língua.
­ Não deveríamos estar... fazendo isso ­ ela disse com a voz trêmula.
As mãos de Wyatt se levantaram e pegaram o rosto de Melissa. Ela podia sentir a rigidez em seu corpo, seus dedos, seus olhos. Outro beijo, e ele estaria pronto para perder o controle. Seria muito fácil.
­ Você tem que saber o quanto eu quero você ­ sussurrou. Ele tinha aprendido a ser atrevido. O Wyatt de que se lembrava nunca teria lhe falado isso.
­ Eu sei ­ ela sussurrou de volta ­, mas vamos esperar um pouco. Vou passar a semana aqui.
Com a respiração pesada, ele fechou os olhos e pressionou o rosto de Melissa contra seu peito.
­ O que você quiser ­ disse ele com voz fraca. ­ Se você soubesse o que significa para mim, como sonhei com você em meus braços, como gostaria de abraçá­la para sempre.
­ Eu não vou desaparecer. Estou aqui em carne e osso.
­ Por favor, Melissa ­ ele gemeu, e a agonia em sua voz fez com que ela franzisse a testa.
Mas ela queria que ele sofresse, não?
Tudo bem, talvez o plano de vingança não fosse tão fácil quanto ela pensara. Mas era um bom plano e exatamente o que Wyatt merecia. Suas próprias emoções teriam que abrandar um pouco.
O que realmente a irritava era achar agradável estar com ele. Essa era sua maior preocupação, ela concluiu. Se isso continuasse assim, ela poderia sair tão magoada quanto ele.
Não, isso não ia acontecer. Ela manteria suas próprias emoções sob controle e bagunçaria as dele. Então, quando ele estivesse totalmente iludido, ela diria que iria se casar com Projeto Revisoras
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outro homem.
É, esse seria o grande final. Ele faria questão de saber quem era o homem, claro, então o que ela diria? Depois pensaria nisso. Ela se aninhou em seus braços por alguns momentos, em seguida se afastou quando os braços de Wyatt a apertaram.
­ Até mais tarde ­ disse ela, com olhos cheios de promessa. Wyatt respirou pesadamente e repetiu, o que você quiser.
Nove
Depois que Melissa voltou para o quarto, Wyatt ficou andando de um lado para outro.
Embora isso fosse uma grande tortura, não era capaz de evitar imagens eróticas.
Ele não conseguia ficar sentado. Tentou ler. Saiu da sala e foi para a varanda por alguns instantes, depois tornou a entrar. Seu autocontrole estava chegando ao fim, sentia­se à beira de um despenhadeiro.
Refletiu várias vezes sobre o que acontecera de manhã. Ela deixou que a beijasse. Havia admitido estar confusa. Havia parado de fazer comentários com palavras agressivas e passou a ser gentil para com ele. Dissera "Até mais tarde".
Ele estava em pé junto à lareira, rodopiando nos saltos de suas botas, quando Melissa entrou na sala. Ele a olhou extasiado, com desejo ardente, enquanto o coração disparava no peito.
Ela vestia uma capa impermeável.
­ Vou sair para respirar um pouco de ar puro ­ avisou.
­ Vou com você.
­ Não, por favor, preciso pensar um pouco.
­ Não vá para longe. As montanhas podem ser perigosas.
­ Não se preocupe. Vou ficar dentro da clareira. Wyatt a observou pela janela. Ela parecia profundamente preocupada.
Era verdade, ela se questionava acerca de seu plano de vingança. Vingança ou justiça? A Projeto Revisoras
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justiça era um prêmio ou a condenação, de acordo com o que tivesse sido feito. A vingança era a resposta a uma ofensa. As duas definições eram completamente diferentes, e ainda assim havia momentos em que as duas pareciam apropriadas.
Ele não merecia sofrer um pouco, por vingança ou justiça? Ela poderia fazer isso. Bastava ser legal com ele por mais seis dias. Ele esperava beijá­la, com certeza, e provavelmente faria de tudo para levá­la para a cama. Ela poderia, com certeza, evitar sexo. Nenhum outro homem a levara para a cama sem seu consentimento, e isso era exatamente o que Wyatt era para ela, apenas outro homem. Nem mesmo um amigo, para ser bastante honesta.
Wyatt saiu da janela quando percebeu que Melissa retornava para o chalé. Forçou um tom natural em sua voz.
­ Ia acender a lareira. Melissa tirou a capa.
­ Vou pendurar isso.
Ele olhou como se implorasse.
­ Volte logo.
­ Já volto.
Ficar de frente para a lareira parecia uma ótima idéia. As mãos de Wyatt tremiam ao amassar as folhas de jornal e jogá­las na lareira.
Ela falava com ele cortesmente. Melissa voltou para a sala.
­ Sente­se aqui perto do fogo.
Ele puxou uma cadeira para mais perto da lareira.
­ Obrigada ­ ela se afundou na poltrona.
­ Está muito mais frio aqui nas montanhas do que ns cidade.
­ É assim em qualquer época do ano ­ Wyatt respondeu.
­ Seu pai construiu esse chalé?
­ Ele mandou construí­lo sim.
Wyatt pôs um pedaço grande de lenha na lareira. Então, levou sua cadeira para mais perto de Melissa e do fogo.
­ Depois que mamãe morreu, papai ficou muito tempo sem vir para cá ­ ele disse ­, mas nos últimos anos de sua vida, passava muito tempo aqui. Acho que se sentia mais Projeto Revisoras
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próximo de minha mãe aqui do que na fazenda.
Ele virou a cabeça e olhou para Melissa.
­ Eles tiveram um relacionamento especial.
­ Alguns têm ­ Melissa sussurrou, pensando em seus pais.
­ A história de um casamento realmente feliz renova nossas esperanças, você não concorda?
­ Possível é, mas segundo as estatísticas, não muito provável.
­ Melissa? ­ Wyatt hesitou, mas tinha que perguntar. ­Você nunca encontrou alguém especial na Califórnia?
Ele não deveria fazer perguntas daquele tipo. Ela só precisava renovar a dor de ter sido traída e se lembrar daquele telefonema.
"­ Melissa, eu engravidei uma mulher e vou me casar com ela."
Ela não devia nada a Wyatt, nada, exceto apenas um pouquinho de justiça, talvez.
­ Não ­ ela mentiu.
­ Melissa, você é a mulher mais bonita que eu já vi.
­ Isso é besteira. Que tal almoçarmos? Eu cozinho. Wyatt levantou­se devagar.
­ Eu ajudo ­ propôs.
­ Não, fique aqui. Eu sou muito boa cozinheira.
­ Tenho certeza de que é ­ ele falou. ­ Será que tinha entendido errado o fato de ela ter permitido que ele a beijasse?
Wyatt olhou desanimado para as chamas. Houve um tempo em que eles andavam juntos, de mãos dadas, e tudo era divertido. Ele se sentia tão orgulhoso por namorar a menina mais bonita, simpática, legal e inteligente da escola; Melissa só tirava nota máxima. Ele teria sido bom aluno se não fosse pelas aulas de ciência. Era ótimo em matemática e nos esportes.
Então veio a faculdade. Ele não queria ir, e só o fizera por causa da insistência do pai.
Tudo viraria um inferno, a partir da noite em que conheceu Shannon Kiley.
Durante o almoço, os dois conversaram sobre o tempo, sobre o pai de Wyatt e sobre a Projeto Revisoras
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mãe de Melissa. Nenhum dos dois falou de si mesmo, embora a conversa escondesse aquilo que tinham em mente.
Wyatt pensava na promessa ­ levada em consideração por muitos ângulos ­ de ir devagar com Melissa. Ela pensava em seu desejo de justiça. Arquitetava um plano para fazê­lo pagar por tê­la seqüestrado ­ justiça pura e simples.
Ainda assim, ela percebeu que não sabia ainda o que fazer. Dependia de sua resposta a uma pergunta crucial.
­ Se eu lhe pedisse para me levar de volta à cidade hoje, você me levaria?
A pergunta de Melissa chegou de repente e assustou Wyatt.
­ Bem...
O olhar dela era rígido, e ele quase podia ver todo o progresso que tinham alcançado indo por água abaixo. E eles não tinham resolvido nada. Ele olhou para o prato e falou em voz baixa.
­ Hoje não.
­ Amanhã, Wyatt? Depois de amanhã?
O tom calmo da voz de Melissa o surpreendeu. Seu olhar se encontrou com o dela.
­ Eu realmente gostaria de me ater ao plano original, Melissa.
Ela aquiesceu.
­ Entendo.
Se existia alguém que merecia "justiça" era Wyatt. A sensação de culpa desapareceu totalmente de Melissa. A expressão de Wyatt era de alerta.
­ Você não ficou com raiva. Ela sorriu com doçura.
­ Eu não vou ficar com raiva, Wyatt, vou empatar o jogo.
Ele piscou.
­ Você vai o quê? Como?
­ Eu ainda não sei ­ mentiu. Levantou­se e começou a limpar a mesa.
­ Você vai saber quando acontecer.
Ele nunca pensou que Melissa fosse capaz de assustá­lo, mas há muito tempo não estavam juntos. Ele se levantou.
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­ Você fez o almoço. Deixa que eu lavo a louça.
­ Que delicadeza. Claro. Estarei na sala de estar. Depois de arrumar a cozinha, Wyatt saiu para buscar
mais lenha. Melissa estava encolhida em sua cadeira. Sorriu para ele.
­ Fazendo as tarefas?
­ Carregando lenha. Wyatt saiu para buscar mais.
Melissa se sentia em paz com seu plano. Ela dera a ele todas as chances de se redimir.
Ele não sabia mais como agir com Melissa. Ela não permitia que ele tocasse em certos assuntos. Passaram­se uns cinco minutos e ele olhava para as chamas, preocupado. Finalmente não pôde mais suportar o silêncio.
­ Bem ­ disse ­, temos a tarde toda. Você gostaria de fazer alguma coisa?
Melissa se aninhou mais.
­ Estou perfeitamente satisfeita, mas talvez haja algo que você queira fazer.
Ele hesitou.
­ Se eu dissesse o que quero fazer, você provavelmente jogaria alguma coisa em cima de mim.
Ela riu.
­ Ah, você não tem como saber. Pode ser que eu o surpreenda.
­ Melissa, você me surpreende a cada minuto.
­ Diga­me o que você gostaria de fazer nesta tarde chuvosa. Vamos, não seja tímido.
­ É sério? Você realmente quer ouvir?
­ Eu adoraria ouvir.
­ Acho que você já sabe.
­ Sei? Ele virou o rosto para ela
­ Melissa, não me provoque.
­ E onde você gostaria que acontecesse? Aqui, em frente à lareira?
­ Aqui seria bom. Na verdade, poderia acontecer em qualquer lugar do chalé.
Melissa pigarreou delicadamente.
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­ Sei. Isso inclui tirar a roupa, claro. Você e eu sem roupas?
Por favor, Melissa. Era assim que ela queria empatar o jogo ­ enlouquecendo­o de desejo e nunca fazendo mais do que falar sobre isso?
­ Pare ­ ele sussurrou. ­ Se você não pretende fazer, não diga nada.
­ Então é melhor eu pensar se quero fazer ­ ela disse como se falasse consigo própria. ­ Talvez se você me beijasse...?
Wyatt não precisava de mais nada. Saiu de sua cadeira e se ajoelhou diante dela. Afastou os joelhos de Melissa e colocou o quadril entre eles, ao mesmo tempo em que pôs as mãos por detrás dela, trazendo­a para a frente. Melissa arregalou os olhos. Wyatt encostou o rosto na curva do pescoço de Melissa.
­ Você tem o melhor cheiro que já senti ­ sussurrou.
­ Wyatt, eu disse para me beijar, não... não para fazer isso.
Ele levantou o rosto para ver o dela.
­ Quando nós fizemos amor, eu não sabia o que fazer. Nem você.
Wyatt tomou o rosto de Melissa em suas mãos. Seus olhos queimavam de emoção.
­ Você disse que namorou. Seja o que for que você tenha feito, diga­me a verdade.
Ela não podia desviar o olhar. Havia muita paixão nos olhos de Wyatt, muita emoção.
­ Wyatt...
­ Diga!
­ Está bem! Eu fiz sexo com outros homens, por que não faria?
As mãos dele caíram sobre os ombros de Melissa.
­ Eu nunca disse que você não deveria, disse? ­ Mas a voz dele estava trêmula e rouca.
­ O que quer que eu tenha feito, não deveria aborrecer você ­ disse ela. ­ Você, com certeza, não estava dormindo sozinho.
Ele sentiu como se tivessem lhe puxado o tapete e não tinha o direito de se sentir assim.
­ Esse é um dos assuntos que queria conversar com você.
Melissa levantou a sobrancelha em completo assombro.
­ Você quer conversar comigo sobre sua vida sexual com sua mulher?
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­ Ex­mulher, e não, não foi isso que eu quis dizer. Não sou grosseiro.
­ Essa é uma pergunta retórica, levando em conta a maneira como você me trouxe para cá.
­ Não sei como lidar com você. Melissa, por que me perguntou o que eu queria fazer nessa tarde chuvosa?
­ Porque você me perguntou também.
­ Mas você não parou por aí, continuou me provocando. Ela não estava preparada para seu toque.
As mãos de Wyatt serpenteavam por seu cabelo até chegar ao pescoço. Um arrepio para o qual ela não estava preparada a atingiu com a rapidez e o impacto de um raio.
­ Espera, Wyatt...
Os lábios de Wyatt contra os dela acabaram com toda objeção. Foi um beijo prazeroso, doce, altruísta e, com certeza, nada mais que a preocupasse.
Então, Wyatt deixou a boca de Melissa e percorreu seu rosto. Ela suspirou, apesar de dizer para si mesma que não era nada pessoal. Ela se sentiria da mesma maneira se algum outro homem atraente a beijasse com tanta suavidade.
Então ele realmente a beijou, com a língua dentro da boca de Melissa e seu corpo pressionando o dela. Melissa sentiu a mente se ofuscar de repente. Mas o peso dele contra ela e seus beijos, um após outro, fizeram com que a realidade e até mesmo a justiça parecessem banais.
Wyatt se afastou da cadeira e puxou­a para o chão. Ela queria dizer "não", mas sua voz não saía. O único som que conseguia emitir eram gemidos de prazer intenso, que não estava em seus planos. Ela tentava empurrá­lo, mas estava concentrada sentindo sua língua. Estava claro que havia perdido a cabeça, mas não conseguia se conter. Wyatt deitou sobre ela com seus mais de noventa quilos como se fosse uma pluma. Seu corpo ardia como se estivesse com febre e sua cabeça parecia flutuar. Ela percebeu que ele tirou o suéter dela e baixou suas calças, mas tudo parecia estar acontecendo com outra pessoa. Seus dedos desabotoaram sua camisa e a arrancaram pela cabeça. A respiração de ambos era opressa, e não havia mais suavidade ou ternura na sofreguidão com que se despiam.
Seu sexo estava ereto enquanto arrancava a calcinha dela.
Ela murmurou:
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­Use proteção!
Ele foi rápido. Em seguida acomodou­se dentro do calor e da umidade dela, lugar pelo qual ele ansiava desesperadamente. Penetrou­a gemendo.
­ Melissa...
Ela ergueu os quadris para recebê­lo. Ele tirou o sutiã dela e começou a sugar­lhe os mamilos sem parar de se mover dentro dela. Ela arfava, seu cérebro flutuava. Tinha um prazer alucinante, mas não era o suficiente. Precisava se concentrar para atingir o clímax. Wyatt sabia que estava Prestes a perder o controle. Trincou os dentes e cerrou a mandíbula. Se ela não conseguisse agora, poderia não haver outra oportunidade. Ele suava em sofreguidão, mas o momento de Melissa tinha que ser perfeito ou tudo que ele conquistara se esvaneceria. Ele sentiu que ela estava chegando ao seu limite quando começou a murmurar e movimentar a. cabeça para frente e para trás. Ela o enlaçou com as pernas e o puxou para mais fundo dentro dela. Arranhava­lhe as costas com as unhas quando finalmente gritou:
­ Venha..., venha. Venha!
Liberando­se do autocontrole com alívio intenso, ele atingiu o clímax alguns segundos depois dela.
­ Melissa... Melissa! Dez
A princípio Melissa ficou deitada. Ela percebeu que havia lágrimas em seus olhos quando olhou para as chamas na lareira. O coração ainda estava fora de compasso. Ela fizera exatamente aquilo que jurava que não ia fazer ­ perder­se nos braços de Wyatt. Fazer amor com ele não tinha sido tão imprudente quanto seu comportamento de entrega total. Tudo sumira de sua cabeça. Depois disso, como poderia dizer que amava e ia se casar com outro homem? Ele agora deveria estar orgulhoso de sua masculinidade.
­ Deixe­me levantar ­ disse ela. Suspirando de satisfação, ele olhou para ela.
­ Sabia que seria assim entre nós, Melissa. Nunca deixei de amar você. Eu...
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­ Não diga nada! ­ Afastou­o. ­ Como pode dizer isso?
­ É verdade.
Os olhos dela encheram­se de lágrimas. Seu plano tinha ido por água abaixo.
Como poderia ter se comportado de forma tão absurda? Ela era uma mulher confiante, razoavelmente satisfeita, com várias metas importantes. Agora não se reconhecia, e tudo era culpa de Wyatt.
­ Ei ­ disse ele suavemente, limpando a umidade de seus olhos com o polegar. ­ Por favor, não lamente isso.
Sem saber o que fazer, ela permitiu que ele a abraçasse e chorou em seu ombro. Então, algo lhe veio à cabeça. Não era isso exatamente o que ele queria que acontecesse? – ele lhe declarando amor eterno? Ele nunca precisaria saber até que ponto fora afetada por ter feito sexo com ele. Conseguiu até sorrir tremulamente.
­ Preciso me levantar ­ disse. Chorar no chuveiro sempre lhe fazia bem.
Wyatt estava preocupado com as lágrimas em seus olhos.
­ Tem certeza de que está tudo bem?
­ Certeza absoluta. ­ Os lábios dele tocaram os dela carinhosamente a princípio, depois com possessão inesperada. No mesmo instante seu corpo a traiu.
­ Desculpe, não conseguia respirar ­ sussurrou. Com um sorriso indulgente, ele replicou:
­ Vá tomar uma ducha, querida. Vou ficar esperando. Assim que ele se afastou, ela o fitou surpresa. Ele não
tinha tirado o jeans nem a cueca, e as roupas estavam emaranhadas dos joelhos até as botas.
Ela pulou, juntou suas roupas e saiu correndo do quarto. Wyatt sorriu em profundo regozijo. Aquele era o momento mais feliz de sua vida.
Melissa não chorou no chuveiro. Em vez disso, refletiu muito profundamente. Parecia que mais do que nunca Wyatt precisava de uma dose de seu próprio veneno. Ela precisava assumir parte da responsabilidade, mas isso nunca teria acontecido em Whitehorn, isso ela sabia muito bem.
Ele não parava de mentir que nunca tinha deixado de amá­la. Ela não só ia dar Projeto Revisoras
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continuidade a seu plano de justiça direta e sem rodeios, mas quando ele a levasse de volta à cidade, iria à delegacia para prestar queixa de seqüestro contra ele. Havia feito as malas para passar uma semana na Califórnia, e não para o tempo úmido e frio das montanhas. Felizmente, o chalé era aquecido, portanto, podia usar o vestido de verão. Foi quando estava dando mais uma olhada em sua aparência na frente do espelho que decidiu rever suas decisões, surpresa com a própria ambivalência. Será que podia mesmo fazer queixa contra Wyatt e mandá­lo para a prisão? Além disso, procurar justiça pelos antigos crimes de Wyatt era uma tarefa perigosa. De um jeito ou de outro o que tinha a fazer era convencer Wyatt a levá­la de volta para a cidade e então esquecer todo esse episódio horrível. Atravessou o quarto até a porta do hall. Era hora de um duelo.
­ Puxa ­ exclamou Wyatt em voz baixa quando Melissa entrou na sala. ­ Adoro seu cabelo assim ­ disse, com os olhos cheios de admiração. Melissa deu uma olhada na roupa dele: calça cinza­claro, camisa azul­marinho de mangas longas e mocassins pretos. Também tinha tomado banho e seu queixo recém­barbeado brilhava.
­ Essa aparência deve ser parte de seu guarda­roupa de Helena ­ comentou friamente.
O tom da voz dela, diferente do que ele esperava, foi como um sinal de alerta.
­ Você prefere o jeans?
Melissa descartou o assunto com um aceno de indiferença.
­ Precisamos conversar.
Ele quase deu uma gargalhada. "Conversar" era o motivo principal pelo qual a trouxera para o chalé.
Bom, pensou ele. Talvez eles pudessem, enfim, chegar a um acordo. O relacionamento se desenrolara até então sem uma conversa importante.
­ Concordo inteiramente ­ disse ele. ­ Espere aqui. Voltarei num instantinho.
Franzindo a testa com sua saída apressada, Melissa caminhou pela sala. Esperando o quê? Que diabos, ela havia chegado pronta para derrubá­lo e a espera podia solapar sua determinação. Mas Wyatt cumpriu a palavra e retornou quase imediatamente. As costas de Melissa enrijeceram ao ver a garrafa de vinho tinto de boa qualidade e as duas taças que ele trazia. Ele se sentou, encheu as taças e então, com um sorriso nos lábios, estendeu­lhe uma delas.
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Melissa olhou para a taça como se fosse veneno.
­ Pegue ­ insistiu ele. ­ Por favor.
Ela respirou lentamente e lutou para se manter racional.
­ Tudo bem ­ concordou, aceitando a taça. Wyatt levantou sua taça.
­ Um brinde. A você, a mim, principalmente, a nós. Ela levantou as sobrancelhas, cínica.
­ Preferiria fazer um brinde à liberdade.
­ Liberdade da aventura? Liberdade da palavra? ­Havia uma faísca de provocação nos olhos de Wyatt.
­ Liberdade pura e simples. ­ O olhar dela o desafiava. Ele ponderou o desafio um instante, e assentiu.
­ Claro, por que não? Um brinde à liberdade pura e simples.
Cada um deles tomou um gole da taça.
­ Você não quer se sentar? ­ perguntou Wyatt. Os olhos de Melissa estreitaram­se ao fitá­
lo.
­ O que eu quero é que você me leve de volta para a cidade. Agora. Não estou pedindo, Wyatt. Estou exigindo.
A decepção o atingiu como um raio.
­ Era isso que você tinha para falar comigo?
­ Sim. Você vai fazer isso?
Ele tentou brincar com o assunto.
­ Você me seduziu e agora que se divertiu quer ir embora? É isso?
­ Eu seduzi você?
­ Você não me pediu para beijá­la?
­ Ah, pelo amor de Deus ­ sussurou ela. ­ Não seduzi você. Você me seduziu e nós dois sabemos disso. Era essa sua única razão para me trazer até aqui. Bem, você teve êxito, portanto não adianta manter­me aqui por mais tempo. Quero voltar para a cidade, e quero ir agora.
­ Você se enganou completamente. Veja bem, é por isso que ainda não posso levá­la de Projeto Revisoras
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volta. Você ainda não entendeu nada ­ disse Wyatt, paciente.
­ Você não percebe que vai me obrigar a acusá­lo de seqüestro? Serei honesta. Até agora não cheguei a uma conclusão sobre o assunto. Não posso dizer que seria bom vê­lo atrás das grades, mas seria bom para você acreditar que eu o farei se você continuar me mantendo aqui.
Observando­a intencionalmente, ele bebericou de sua taça. Em seguida, sentou­se.
A indiferença dele provocou a ira de Melissa. Ela ficou de pé, perto da lareira, de forma a olhá­lo no rosto. O rosto dela era o mais ameaçador que conseguia parecer.
­ Recomendo­lhe que me leve a sério ­ afirmou bruscamente.
Wyatt devolveu­lhe o olhar.
­ Acredito em você.
­ Ainda assim, vai me manter prisioneira aqui durante seis dias.
Ele pensou um instante.
­ Prisioneira não é uma boa palavra. Convidada é muito melhor. E pode não chegar a seis dias. Depende.
Sua fúria explodiu.
­ Convidada! Seu idiota metido! Acha mesmo que eu acreditei que você está apaixonado por mim? Pode repetir mil vezes e nem por isso será verdade. Quem ama não seqüestra.
­ No nosso caso, não.
­ Não existe nosso caso! Não existe nós. Não temos um relacionamento e jamais teremos!
­ Aconteceu há meia hora ­ disse Wyatt calmamente.
­ Ou será que você tem outro nome para o que aconteceu entre nós. ­ Olhou para a taça vazia e se levantou para enchê­la de novo. ­ Você quer um pouco mais de vinho? ­ ofereceu.
­ Meu Deus, odeio ser o sexo mais frágil. Se eu fosse fisicamente tão forte quanto você eu pegaria as chaves dessa caminhonete por bem ou por mal.
­ Você não precisa de força física para pegar as chaves.
­ Ah, por favor. Suponho que tudo o que tenho a fazer é pedi­las a você, certo?
­ Errado. Você é uma pessoa inteligente. Tenho certeza de que vai perceber mais cedo ou Projeto Revisoras
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mais tarde. Achei que você estava finalmente entendendo minhas razões para trazê­la para cá, mas pelo jeito não entendeu. ­ Deu de ombros. ­ Na verdade, já lhe apresentei minhas razões várias vezes.
­ Para conversar ­ ironizou ela. ­ Que é o motivo pelo qual você se aproveitou de mim hoje à tarde.
Wyatt deu uma gargalhada.
­ Essa é uma acusação pela qual nenhum tribunal me condenaria, querida. Pode acrescentá­la à lista de crimes quando for prestar sua queixa de seqüestro.
Melissa tentava se lembrar da denominação dada, no Velho Oeste, àquelas pessoas que faziam justiça com as próprias mãos contra os ladrões de gado. Lembrou­se subitamente. Eram chamados "vigilantes". Assim como Wyatt ia forçá­la a prestar queixa de seqüestro, também a obrigava à vingança pessoal.
­ Houve um tempo em que nada nem ninguém me faria crer que você fosse capaz de fazer algo assim ­ declarou ela com escárnio. ­ Você mudou, e não foi para melhor.
­ Você mudou também, Melissa.
­ Mas eu não virei um canalha. Ele não pôde evitar o riso.
­ Não, acho que não. ­ Parou de rir.
­ Mas não tem a cabeça tão aberta como no passado, e também não é tão agradável. Lembro­me de uma garota que ria de tudo.
­ Bem, eu me lembro de um garoto, um jovem, que era honesto e decente e... e...
­ Leal? ­ completou Wyatt mansamente. ­ Fiel?
Ela se virou e saiu do impasse caminhando para a janela.
­ E sobre isso que você quer conversar, não é? Minha deslealdade? Minha infidelidade?
Os ombros dela se contraíram de raiva quando levou a taça aos lábios e esvaziou­a.
­ Melissa?
Ele se aproximou. Ela se encolheu junto à janela.
­ Não me toque.
­ Não tocar em você, por quê? Explique­me por que não devo tocá­la depois do que aconteceu entre nós hoje. Está com medo de que aconteça de novo?
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­ Não seja maluco ­ ela debochou. ­ Foi... um acidente, um erro. Creia­me, não acontecerá de novo.
­ Um acidente. Hmm. Aprendi ao longo dos anos, que quase tudo é um acidente.
Discutir com Wyatt estava ficando extenuante.
Melissa estava cansada dessa confusão. Além do mais, tinha tentado de tudo para convencê­lo a encerrar essa situação ridícula e ele continuava a implorar por um pontapé simbólico.
Melissa se virou, quase simpática.
­ Vou beber um pouco mais de vinho, se você não se importar.
Aquilo gerou suspeita. Ela havia alternado de humor desde que chegara; num minuto furiosa, no outro agradável. Parecia que estava envolvida num jogo.
Wyatt pegou o copo vazio e voltou à mesa onde tinha deixado a garrafa de vinho.
­ Está com fome? Posso esquentar o jantar.
­ Outra refeição?
Wyatt passou­lhe a taça e riu suavemente. Â habilidade que Melissa tinha de mudar de humor o surpreendia.
Havia decidido agir conforme a situação.
­Vamos ­ disse ele ­vamos jantar.
A comida estava ótima, Melissa tinha de admitir.
­ Sua cozinheira é excelente ­ comentou ela.
­ Vou dizer isso a ela ­ prometeu Wyatt. ­ Você fez um bom trabalho no Hip Hop. Não poderia imaginar que você entraria para o ramo de restaurantes.
Melissa encolheu os ombros.
­ Acabou acontecendo sem que eu planejasse. Os únicos empregos que permitiam que eu continuasse a estudar eram nas redes de fast­food. Depois de terminar a escola, consegui um emprego de tempo integral em um restaurante.
­ Como garçonete?
­ Não, na cozinha. Assistente de cozinheiro. A cozinheira era a mulher mais nervosa que Projeto Revisoras
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já conheci, mas aprendi muito com ela. Fiz alguns cursos de culinária. No final das contas, gerenciar o negócio me pareceu mais atraente.
­ Parece que você pegou o touro pelo chifre. Melissa hesitou, então falou devagar.
­ Economizava o que podia para abrir meu próprio restaurante um dia. No início, a hipoteca era pesada, mas estava determinada a conseguir.
­ E escolheu Whitehorn para começar seu negócio.
A voz de Wyatt tinha alguma coisa de intimidadora. Ela o olhou nos olhos.
­ Não pense que eu voltei para Whitehorn por sua causa. Escolhi Whitehorn por causa de meu pai. Sempre esperei que ele voltasse, e agora quero descobrir quem o matou.
Wyatt levantou a sobrancelha com curiosidade.
­ Você está envolvida nas investigações?
­ Não, mas vou ter que me envolver. A investigação de Judd não avança.
­ Talvez você esteja um pouco impaciente, Melissa. Tenho certeza de que Judd está fazendo todo o possível para descobrir o assassino, que provavelmente nem está mais na região.
­ Eu sei que Judd está investigando ­ Melissa concordou. ­ Tracy e Sterling também.
­ O que você poderia fazer que Judd e Tracy não estejam fazendo?
­ Se eu soubesse a resposta para essa pergunta, já teria feito alguma coisa.
­ Acho que eu me sentiria da mesma forma se fosse meu pai ­ disse. Lembrou­se de que não estavam conversando sobre o que era mais importante, mas pelo menos estavam conversando sobre alguma coisa.
Melissa estava, sem dúvidas, mais relaxada.
­ Você se lembra de seu pai? Melissa indicou com a cabeça que sim.
­ Tenho poucas lembranças dele. Algumas não muito claras, mas sim, eu me lembro dele. Ele trabalhava como vaqueiro.
­ E em qual fazenda?
Melissa respirou, expressando incerteza.
­ Mamãe disse que ele era inquieto e impulsivo e que mudava de emprego com Projeto Revisoras
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freqüência. É possível que ele estivesse trabalhando na fazenda do Baxter quando desapareceu, mas mamãe é muito reticente. Ela me disse que ele poderia estar desempregado. Ela não gosta de falar sobre esse assunto. — Em sua opinião havia uma mulher envolvida, Melissa poderia ter acrescentado. ­ Acho que eles não eram muito felizes juntos. Diferente de seus pais.
Wyatt fez um gesto de cabeça, como se entendesse.
­ Parecido com meu casamento. Melissa recuou instantaneamente.
­ Não quero discutir seu casamento, Wyatt.
­ Mas temos que discutir. Como vou conseguir que você me perdoe se não falarmos sobre o passado?
­ Vai começar de novo? A noite terminou. Você pode arrumar a cozinha sozinho, então, boa noite.
Melissa deixou Wyatt olhando para ela, agitado.
­ Droga ­ murmurou ele.
Ele começava a acreditar que a única maneira de Melissa ouvi­lo era amarrada.
Se ela queria que nada acontecesse entre eles, por que tinha feito sexo com ele à tarde? Uma coisa era certa, ele não havia forçado nada. Só de pensar na resposta apaixonada de Melissa ficava excitado.
Também mudou a direção de seus pensamentos. A solução talvez fosse seduzi­la repetidamente até que ela admitisse sentir alguma coisa especial por ele. Será que assim o perdoaria?
Onze
Na manhã seguinte, o céu estava claro e os raios de sol entravam no quarto de Melissa através de uma fresta na cortina.
Melissa fez tudo o que normalmente fazia pela manhã e caminhou calmamente até a cozinha. Tomou café, foi até a sala principal do chalé e descobriu que Wyatt também não estava lá.
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Parou e ouviu. O chalé estava silencioso e parecia vazio.
­ Wyatt? Ninguém respondeu.
Ela virou cuidadosamente a maçaneta e olhou o quarto. Entrou rapidamente e mexeu nos armários, cheios de roupas masculinas. Não eram roupas de Wyatt, entretanto. Eram de um homem muito menor. Tinha o palpite de que era o quarto de algum empregado.
Sem dúvida, Wyatt mandou que o homem tirasse uns dias de folga. Melissa pressionou os lábios quando imaginou Wyatt planejando a semana.
Ela saiu do quarto e fechou a porta. Ia tentar encontrá­lo em outro cômodo. Bateu na porta levemente e chamou.
­ Wyatt?
Não houve resposta, mas ela descobriu que era a porta de um armário.
Melissa finalmente encontrou o que pensava ser o quarto de Wyatt. Estava vazio. Deu uma olhada para o hall e entrou, pois era o esconderijo mais lógico do telefone.
Primeiro ela deu uma olhada geral naquele espaço enorme e notou que a cama estava mal­arrumada, as cobertas puxadas até os travesseiros, sem o cuidado de serem estendidas. O telefone poderia estar em qualquer lugar, mas sua intuição dizia que estava na pista certa.
Começou a abrir portas e gavetas dos móveis. Dentro de algumas havia roupas, mas a maioria estava vazia.
O armário! Foi até lá rapidamente, viu duas portas e concluiu que uma devia dar para o banheiro e a outra para uni closet. O banheiro espaçoso ainda estava cheio de vapor. Ela correu para a segunda porta e viu o closet com uma variedade de prateleiras, gavetas e cabides.
Melissa estava ajoelhada, abrindo uma gaveta perto do chão, quando ouviu uma voz atrás dela.
­ Procurando alguma coisa?.
O coração de Melissa quase parou. Ruborizada, ela olhou para Wyatt, que estava encostado na porta com os braços cruzados.
­ Não estava mexendo nas suas coisas por curiosidade ­ disse em tom desafiador ­, estava procurando o telefone.
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­ Não está aí.
­ Bem, está em algum lugar nesta casa.
­ Talvez. ­ Wyatt deu um sorriso.
Envergonhada pelo flagrante e com raiva por ele ter rido dela, Melissa se levantou. Bateu o joelho contra a quina da gaveta.
­ Ai ­ gritou.
Sem pensar, levantou a barra da saia para ver o ferimento que doía demais.
Wyatt entrou no closet.
­ Deixe­me ver. Ela abaixou a saia.
­ Não foi nada. Só uma mancha roxa.
­ Machucou a pele?
­ Não ­ ela mentiu. Aparecia um fiapo de sangue.
O closet era apertado e Melissa tentou passar por Wyatt para sair.
Mas ele a pegou pelos braços.
­ Deixe­me ver o ferimento.
­ Meu machucado não lhe diz respeito. Wyatt, que droga, me largue.
­ Tudo bem.
Sem falar mais nada ele se inclinou, levantou­a do chão e a tomou nos braços. Ela começou a gritar.
­ Ponha­me no chão, droga!
Ela saiu dos braços dele ­jogada sob a cama de Wyatt. Ele foi para a cama e subiu em cima dela, imobilizando­a facilmente.
­ Agora ­ bradou ­, vou ver o machucado por bem ou por mal. Você escolhe. Não pense que estou brincando ­Wyatt avisou.
Ela virou, irada, com os olhos faiscantes para ele.
­ E só um machucado e não é da sua conta. Deixe­me levantar. Não gosto de estar na sua cama.
Então, Melissa viu o desejo escorrendo pelos olhos de Wyatt o próprio corpo de Melissa Projeto Revisoras
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a, traía. O peso dele, o cheiro, seu dorso e coxas eram armas de combate invencíveis.
­ Não ­ sussurrou, lendo os pensamentos dele.
­ Feche os olhos — ele disse com a voz rouca. Baixando c cabeça, começou a beijar Melissa na bochecha, na testa esta ponta do nariz.
­ Eu não quero isso de novo.
Era mentira. Lá no fundo, a vontade era alarmante. A força dela a abandonava.
­ Melissa ­ sussurrou.
Ele a amava. Nunca tinha deixado de amá­la e sabia que ela não se derreteria em seus braços se não o amasse também.
Ela tentou fugir de seus beijos, mas desistiu rapidamente. Depois de dois segundos, a paixão explodiu. Eles tiraram a roupa um do outro.
­ Melissa, o que você faz comigo...
Como ela poderia ser tão infiel a si mesma? Por que não se livrou dele? Ninguém a estava forçando a estar ali.
Ninguém a forçava a se contorcer a cada toque dele, ou a gemer quando ele acariciava seus seios.
Wyatt desabotoou a saia de Melissa e a tirou, e depois sua calcinha.
Ele se sentou, nu, para olhar para ela e, com adoração, passava as mãos pelo corpo macio, como seda, de Melissa. Wyatt abaixou a cabeça e molhou os mamilos de Melissa com sua língua, e então os sugou gentilmente.
­ Ah! ­ ela gritou, com um arrepio delicioso pelo corpo. Ele levantou.
­ Estou machucando você?
­ Não, não.
Ela se levantou para beijá­lo no pescoço e implorou por um beijo na boca. Ele deslizou em direção aos lábios e os beijos começaram, brutos e urgentes.
Ela direcionou o sexo dele até o lugar da urgência insuportável entre suas coxas, e ele a penetrou imediatamente. Fizeram amor de forma selvagem. Ele ia fundo, repetidamente; ela era sua.
­ Wyatt ­ gemeu ela, pedindo trégua.
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O clímax dos dois foi praticamente simultâneo, tão forte que tudo escureceu. Wyatt foi o primeiro a erguer a cabeça para encarar Melissa.
Com medo de dizer algo inconveniente, ficou calado. Dessa vez ela não ficou chocada com seu comportamento. Ao contrário, a confusão que sentia a deixou praticamente imóvel. Será que seu destino era ser um objeto para Wyatt, um brinquedo? Sentia­se decepcionada consigo própria.
­ Diga alguma coisa ­ falou ele com doçura.
­ Dizer o quê, Wyatt?
­ Não sei. Diga que me ama.
­ Foi ótimo ­ disse ela, sem graça. ­ E?
­ Só tenho isso a dizer.
­ Mas você me ama, eu sei.
­ Então sabe mais do que eu.
­ Sei que você não reagiria assim com outros homens.
­ Ah, é? Como sabe disso?
­ Sinto. Aqui. ­ Bateu no peito.
O plano de vingança lhe veio à cabeça. Talvez o cumprisse.
Ela desviou o olhar.
­ Eu não sei o que sinto agora. Uma idéia horrível então lhe ocorreu.
­ Você não usou preservativo. Deixe­me levantar.
­ Ah, bem ­ gaguejou ele, chateado por ter se esquecido disso.
Seria uma ironia, por causa da história com Shannon, se Melissa ficasse grávida.
­ Wyatt ­ disse bruscamente. ­ Saia de cima de mim! Nunca fora tão imprudente. Mesmo sem experiência com esse tipo de risco, ela achou que não podia simplesmente ficar ali.
O olhar de profunda ternura nos olhos dele, porém, a fez parar subitamente.
­ Em que está pensando? ­ perguntou ela, com a voz cheia de suspeitas.
­ Em um bebê. Adoraria ter uma filha com você. Projeto Revisoras
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Ela enfraqueceu e só conseguiu dizer:
­ Deixe­me levantar.
Ele a olhou, estudando seu rosto bonito.
­ Melissa, vamos recomeçar.
Fechando os olhos, ela inspirou profundamente.
­ Isso não é só um absurdo, é impossível. Ela olhou direto nos olhos dele.
­ Quero que você me leve de volta para a cidade. Você tem idéia do que está fazendo comigo?
Ele sorriu.
­ Sei o que estava fazendo com você alguns minutos atrás.
Ela resmungou alto ao notar que ele havia se recuperado a ponto de ter uma nova ereção.
­ De novo, não, Wyatt. Será que "não" significa alguma coisa para você?
Ele não conseguia se conter.
­ Quero engravidar você ­ sussurou. Seus lábios se moveram, fazendo seu sexo se mexer levemente dentro dela.
­ Não ­ resmungou, atirando sua cabeça contra o travesseiro. ­ Não... não....
Agora ela não conseguia se conter. Lágrimas de desespero encheram­lhe os olhos. Como é que ele tinha tanto poder sobre os sentidos dela? Não podia ceder outra vez, simplesmente não podia.
Nada disso era como o romance que tinham tido na juventude. A única vez em que haviam dormido juntos, ela fora extremamente emocional, mas não tinha sentido nada do que ele a fazia viver agora. Era claro que ela não estava lidando com o Wyatt do passado.
Era estranho, mas essa seqüência de idéias cortou por completo sua reação. O corpo dela endureceu e Wyatt percebeu.
­ O que aconteceu?
­ Chega, Wyatt.
Havia uma frieza de aço na voz dela que ele jamais ouvira antes. Em vez de progredir, eles estavam regredindo.
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Ele a soltou. Ela se levantou, juntou suas roupas e o deixou lá deitado, com um nó na garganta.
Melissa esticou a roupa na mala e levou a bagagem para a porta da frente do chalé, passando por Wyatt, que estava na cadeira perto da lareira. Ele se levantou lentamente.
­ Melissa, não vou levá­la de volta ainda ­ disse sóbrio, olhando a bagagem.
­ Vai, sim! ­ disse ela com voz estridente.
­ Por favor, se acalme e converse comigo.
­ Para você me atirar na outra cama? Que ousadia é essa de me dizer que quer me engravidar? Você tem a coragem de achar que pode reestruturar toda a minha vida? Meus planos não incluem transformar­me em mãe solteira.
­ Por Deus, Melissa, então você acha que eu deixaria você ter o bebê sozinha?
­ Se você tiver a audácia de mencionar a palavra "casamento", juro que volto para a cidade agora!
­ Não seja ridícula.
­ Ah, então você me acha ridícula? Eu vou lhe dizer quem é ridículo, Wyatt, me diga, o que você esperava conseguir com essa estratégia nojenta? E não venha com,essa história de conversa, porque nós já conversamos bastante.
­ E nunca sobre as coisas certas.
­ Ah, o que você quer dizer com isso? Que o fato de eu não querer ouvir as mentiras sobre como você caiu numa armadilha para se casar com Shannon significa que nós não falamos sobre as coisas certas?
Uma veia ameaçava pular no pescoço de Wyatt.
­ Não me acuse de mentir para você, Melissa. Eu nunca menti para você!
­ Quer dizer que aquela história de me levar ao aeroporto não foi uma mentira?
­ Exceto por aquela vez, jamais menti para você
­ Você realmente tem um talento especial, não é? Wyatt tapou os ouvidos com as mãos.
­ Você está tentando me deixar surdo?
Melissa levantou­se indignada. A intenção dela não fora começar um escândalo, mas ele tinha o poder de deixá­la furiosa.
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­ Eu não saio deste lugar até você me levar de volta à cidade. Estou falando sério, Wyatt. Vou ficar sentada aqui três dias se for preciso.
­ Você não pode estar falando sério ­ ele disse para testar o grau de determinação dela.
­ Estou falando muito sério. A única coisa que vai me fazer sair de cima dessa mala é voltar para a cidade.
­ E nada do que eu fizer ou disser vai fazer você mudar de idéia?
­ Por Deus, quantas vezes você quer que eu repita?
Com raiva, Melissa olhou para o outro lado. Um segundo depois ela percebeu um movimento dele. Os olhos dela se arregalaram quando viu que ele pegou uma cadeira.
­ Eu não vou usar a cadeira, então você pode levá­la de volta.
­ A cadeira não é para você ­ retrucou calmamente. ­ É Para mim.
Ele pôs a cadeira a alguns centímetros de distância dos joelhos dela e se sentou. Rapidamente, ela desviou os joelhos de maneira a evitar qualquer contato com ele.
­ Você é a pessoa mais irritante que eu já tive a infelicidade de conhecer ­ disse ela, aborrecida. ­ Se não vai me levar para casa, por que não me deixa sozinha?
­ Porque eu não consigo.
­ Está um dia lindo. Vá dar uma volta ­ disse ela num tom nervoso.
­ Tinha pensado nisso, mas tive uma idéia melhor.
­ Sentar e ficar aí me olhando? ­ perguntou ela com desprezo.
­ Tenho uma idéia melhor. Acho que esse é o momento perfeito para uma conversa séria.
­ Bom, então prepare­se para falar sozinho ­ ela rebateu, sentindo raiva de si mesma por ter­se colocado naquela situação absurda.
­ Tudo bem. Se é assim que você quer.
­ Obviamente, você nunca seria capaz de entender o que eu quero. Então, por que você não vai direto ao assunto, Wyatt? Você é um filho­da­mãe arrogante; nós dois sabemos. Você está longe de ser o cara legal que eu conheci.
­ Você está certa. Não cem por cento certa, mas quase. Será que você consegue imaginar o que pode ter causado tanta mudança?
­ Não sei nem quero saber.
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Wyatt inclinou­se para a frente. Seus olhos brilhavam intensamente.
­ Você sabe, mas não consegue admitir. Seus lábios se contraíram.
­ Ah, claro. O seu casamento. Bom, desculpe se não vou ser sentimental e chorar em solidariedade a uma coisa que você mesmo causou.
­ Sim, eu causei isso a mim mesmo. E sei disso melhor que ninguém.
Melissa cruzou os braços e olhou para ele friamente.
­ Mas é claro que eu entendo. Entendo que você não conseguiu manter o zíper das calças fechado e sofreu as conseqüências. Enquanto você sente pena de seu próprio passado, não se esqueça de que eu continuei vestida e, portanto, não tive que pagar por nada.
Os olhos dele se fixaram nela.
­ Não queira se comparar a mim. Você é uma mulher. São vocês que podem engravidar e forçar um homem a se casar por conta disso. Os homens não podem tirar vantagem dessa situação.
Melissa virou a cabeça com desdém.
­ Só falta agora você me dizer que Shannon seduziu você.
Ela disse isso e sorriu com sarcasmo.
­ Talvez ela tenha estuprado você. Sinceramente, eu duvido que ela tenha ficado grávida por vontade própria.
O assunto era doloroso para Melissa. Wyatt havia comprometido sua confiança nos homens. Entretanto, quem ela via sentado ali na sua frente, com aquele olhar magoado, implorando seu perdão, não eram todos os homens. Quem estava ali era Wyatt, e ficar discutindo a infidelidade dele trazia de volta toda a dor que ela sentira.
­ Por favor, fale sobre outro assunto, ou vá embora e me deixe aqui.
­ Eu não vou a lugar nenhum, Melissa. O que vou fazer e contar a você tudo o que aconteceu exatamente há seis anos.
­ Não ­ ela disse com a voz abafada. ­ Eu não vou ouvir.
­ Então saia de cima dessa porcaria de mala e vá embora ­ ele falou de modo grosseiro.
Eles se olharam furiosamente, medindo forças.
­ Diga o que quiser ­ disse ela finalmente num tom tristonho. ­ Não vai mudar nada Projeto Revisoras
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mesmo.
­ Talvez não, mas para mim vai fazer uma enorme diferença.
Wyatt respirou fundo.
­ Você estava na Califórnia e eu na faculdade em Missoula. Trocamos milhares de cartas. Falávamos ao telefone pelo menos três vezes por semana, discutindo nossos planos de casamento. Os únicos momentos em que você não ocupava meus pensamentos era quando eu estava estudando e, ainda assim, às vezes eu começava a ler alguma coisa e me lembrava de seu rosto. Eu a amava demais e queria muito que ficássemos juntos. E você vivia adiando sua vinda para Montana.
Melissa não podia deixar aquele comentário passar impune.
­ Eu não tinha escolha ­ afirmou com raiva. ­ Como podia deixar minha mãe sozinha num momento em que ela mal ganhava para o sustento dela e de meu irmão? Ela precisava de minha ajuda para pagar o aluguel e comer. Talvez essas sejam preocupações menores para alguém da família North, mas, naquela época, eram vitais para a minha família.
­ Eu entendia o que você estava fazendo, Melissa. E aceitava. Muitas e muitas vezes eu me pegava pensando em ir até a Califórnia implorar a sua mãe que aceitasse morar na fazenda para que eu e você pudéssemos nos casar. Nós poderíamos ter vivido todos juntos lá. Meu pai nunca teria se importado.
­ Ela nunca teria aceitado.
­ Hoje eu entendo isso, mas naquela época eu sentia tanto a sua falta que teria feito qualquer coisa para resolver nosso dilema.
­ E então você procurou consolo com outras mulheres, certo? ­ ela disse amargamente.
­ Isso não é verdade ­ ele a interrompeu, brusco. ­ Você era a única mulher com quem eu tinha ido para a cama. Eu tive que aturar muita provocação dos colegas de faculdade por não querer sair com outras garotas. E havia algumas garotas bem bonitas que estavam interessadas em mim.
­ Também havia homens interessantes, inteligentes e bonitos atrás de mim, se você quer saber ­ ela retorquiu. ­ Mas eu permaneci fiel.
­ Eu também. Até que, certa noite, um de meus colegas de quarto me chamou para ir a uma festa com ele. Era um evento formal, mas Jason, e você com certeza se lembra de eu ter mencionado esse nome, insistiu até que eu aceitasse. Era uma festa oferecida por uma Projeto Revisoras
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família rica de Missoula, com contatos políticos. Bom, eu fui. Devia haver umas cem pessoas por lá. Relaxei e me esqueci da vida. Foi divertido e descontraído e comecei a gostar. Sempre tinha alguém pondo um copo de bebida em minha mão.
Melissa não olhava para ele, mas estava ouvindo. Ele se preparou para a parte mais dura da história.
­ Então, uma mulher jovem veio até mim e se apresentou.
­ Shannon ­ Melissa murmurou. Ela lutava contra as lágrimas.
­ E, Shannon. Ela era bonita, cheia de vida e eu estava bêbado demais para conseguir refletir. Eu mal consigo me lembrar, mas fui até o quarto de hotel dela depois da festa. Na manhã seguinte, acordei na cama dela com uma baita ressaca.
Embora o rosto de Melissa estivesse virado para a direção oposta, ele tinha certeza de ter visto o brilho de lágrimas em seus olhos.
­ Eu me levantei e me vesti imediatamente. Shannon perguntou se havia algo errado e eu expliquei que amava outra garota com quem ia me casar. Então fui embora. Os dias que se seguiram foram um pesadelo. Eu senti vontade de ligar, mas imaginei que você fosse ficar muito magoada e decidi que não podia acalmar minha consciência à sua custa. Um mês depois recebi uma ligação de Shannon Pedindo que eu fosse a Helena. Tive que ouvir que estava grávida e, como não tinha dormido com mais ninguém além de mim há meses, o filho só podia ser meu. Antes que eu pudesse abrir a boca, ela foi logo dizendo que não faria aborto e que ela também não iria prejudicar a carreira do Pai sendo mãe solteira. O pai de Shannon, Wilbur Kiley, ainda é senador. Enfim, ela queria uma aliança de casamento no dedo e não iria deixar por menos.
Wyatt sentiu o peso do silêncio e ficou olhando o chão Por um longo tempo.
­ Eu liguei para você na Califórnia para lhe contar o que tinha acontecido comigo. É essa a história, Melissa. Não andei por aí durante o nosso namoro, exceto dessa vez. Não posso deixar de dizer, embora pareça autopiedade, que paguei caro por essa noite.
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Wyatt ergueu os olhos.
­ Melissa, olhe para mim.
Os olhares se encontraram. Nos olhos dele havia remorso, comiseração e um pedido de compreensão. Os olhos dela estavam cheios de lágrimas.
Wyatt falou baixinho.
­ Sei que isso a magoa, mas você tem que saber. Havia ressentimento nos olhos de Melissa.
­ E aí vocês se casaram. ­ É.
­ Por que não viveram felizes para sempre? ­perguntou, amarga.
­ Porque não nos amávamos. Eu acho que Shannon sabia o que estava fazendo na noite em que nos conhecemos.
­ Ficou grávida de propósito? As mulheres só podem conceber em alguns dias do mês. É altamente improvável que tenha sido uma coincidência o que aconteceu. Sua idéia é uma bobagem.
­ Será? Ela queria um marido rico. Depois que casamos percebi indícios de que ela havia planejado tudo. Se não fosse pelo dinheiro, por que outro motivo ela ia querer se casar comigo?
Melissa olhou­o em meio às lágrimas. Será que ele não sabia que era lindo, que causava sensação nas mulheres com sua masculinidade estonteante?
­ Se você era tão infeliz no casamento, por que durou tanto? Sei que você disse que era por causa de seu filho, mas isso não mudou, e você finalmente obteve o divórcio ~ disse ela em tom de acusação.
Wyatt suspirou.
­ Eu já não tinha mais você, e o Timmy nasceu. Eu o adoro. Também porque o casamento é uma instituição que sempre me pareceu sagrada. Agora parece ter sido uma imensa perda de tempo, mas na ocasião, achei que tinha que tentar.
­ Ao longo de seis anos ­ disse Melissa.
­ Até eu descobrir que ela estava tendo um romance com outro homem.
­ Um romance? Isso o magoou?
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­ Magoar? ­ Wyatt riu, cínico. ­ Fiquei aliviado. Eu estava coberto de direitos, e quando disse a ela que tinha provas de sua infidelidade, ela não lutou contra o divórcio. Status é importante para ela, Melissa. Não queria a publicidade de uma separação litigiosa.
Ficaram sentados sem falar durante bastante tempo. Quando ela falou, não era o que ele queria ouvir.
­ Está se sentindo melhor agora? ­ disse ela em tom de acusação. ­ O que espera de mim?
­ Ficaria feliz se você, para começo de conversa, acreditasse em mim ­ disse ele.
­ Acreditar. Acreditar que tudo não passou de um erro, que tudo mudou em nossas vidas por causa de uma noite num motel? E depois?
Wyatt respirou fundo.
­ Confiança, afeto, amor e casamento.
Pronto, ele tinha falado e estava pronto para ouvir a resposta.
Se ela não estivesse tão alquebrada, daria uma gargalhada.
­ Você não quer muito?
­ Quero você ­ disse ele enfaticamente. ­ Quero que você tenha os meus filhos. Quero que você seja minha esposa, Melissa.
­ Em outras palavras, você está me propondo casamento.
­ Ainda não. Não enquanto você não estiver comigo inteiramente. Não até que você acredite em tudo que lhe contei e me perdoe, de verdade, pelo erro que cometi. Não até que você perceba que não passou de um erro e só isso.
­ Um erro ­ repetiu ela.
Foi essa a razão de tanta infelicidade, um erro? Tantas lágrimas e noites insones, por causa de um erro? Que palavra inocente para tanto sofrimento.
Ele tentou pegar nas mãos dela, mas ela as puxou.
­ Não ­ disse ela.
­ Você vai pensar no que lhe disse?
­ Espero... que não.
Mas ela sabia que mais tarde pensaria. Talvez, se eles não tivessem feito amor ali nas montanhas, ela pudesse esquecer e continuar com sua vida. Suspirou, cansada.
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­ Eu nunca planejei magoá­la ­ disse ele. ­ Espero que você acredite nisso, pelo menos.
Ela começou a sentir dor de cabeça.
­ Você vai me levar de volta à cidade agora?
­ Melissa, fique, por favor.
­ Ficar. ­ Ela repetiu, visivelmente surpreendida. ­ Não, Wyatt, preciso ir para casa.
Ele tentou outra tática.
­ Você não tomou café­da­manhã.
­ Não estou com fome.
Então fora para isso que ele a seqüestrara. Talvez ele estivesse certo, mas ela havia sido tão ferida que não podia levar mais a sério as declarações de amor de Wyatt e sua esperança de um futuro juntos. O único fato que não podia ignorar em relação a Wyatt era como seu corpo respondia ao dele.
O comportamento de Melissa deve ter aumentado, e muito, as esperanças dele, ela pensou. De fato, o palco estava montado para ela colocar em prática seu plano de vingança. Mas ela não estava mais obcecada com isso.
Melissa saiu de cima da mala.
­ Estou pronta para ir ­ disse ela com firmeza. Depois de hesitar por um momento, Wyatt também se levantou.
­ Vou pegar as chaves da caminhonete. ­ E saiu, deixando­a só.
Melissa sentiu­se fraca e se encostou à porta da frente. Aquela tinha sido a conversa que ela estava evitando. Qualquer um poderia achar desculpas para um pecado ou um crime, e Wyatt era esperto o suficiente para inventar uma história que atingisse as emoções de qualquer mulher. Sua necessidade de chorar deveria ser reprimida a qualquer custo. Ela poderia chorar o quanto quisesse quando estivesse sozinha em seu apartamento.
Wyatt carregou as bagagens de Melissa para a caminhonete e abriu a porta do carona para que ela entrasse.
­ Obrigada ­ ela sussurrou.
­ De nada.
Ele se sentou no banco do motorista. Virou­se para ela.
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­ Queria que você mudasse de idéia e ficasse. Ela balançou a cabeça negativamente.
­ Não. Eu não poderia fingir que as coisas estão bem entre nós dois.
­ Você não tem nenhum sentimento bom em relação a mim? Ela olhou para ele.
­ Não, não tenho. Você acha que eu deveria? Ele suspirou e ligou o carro.
­ Eu esperava que sim.
­ O mundo não gira em torno de suas esperanças ­ disse ela.
Wyatt começou a dirigir.
­ Você não acredita na minha história, não é?
­ Acredito que você acredita ­ disse ela.
­ Você acha que eu inventei tudo? Ela não respondeu.
­ Você acha que eu estava dormindo com todas as mulheres que encontrava enquanto planejava nosso casamento?
Mas também era verdade que ele havia dormido com sua ex­esposa durante grande parte dos seis anos.
­ Peço que me perdoe ­ ele disse com a voz embargada de emoção. ­ Estou muito arrependido. Eu faria qualquer coisa se pudesse voltar atrás.
­ Ninguém pode mudar o passado ­ disse ela.
­ Não, mas podemos mudar o presente, com certeza. E quanto ao futuro, Melissa? Ainda somos jovens e podemos ter tudo: filhos, um casamento longo e feliz. Eu sabia que se não a levasse para um lugar onde pudéssemos ficar a sós, você nunca me ouviria.
Melissa levantou a sobrancelha com uma expressão de suspeita e se virou para Wyatt.
­ Foi esse o único motivo? Wyatt ficou ruborizado.
­ Eu não a levei para o chalé para seduzi­la, apesar de isso ter acontecido.
Deu um soco no volante.
­ Sei que estou pedindo demais, mas preciso tentar. Se eu perder você pela segunda vez...
As lágrimas que brotavam dos olhos de Wyatt deixaram­no perplexo.
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Wyatt parou o carro no acostamento e encostou a cabeça no volante. Melissa se sentia surpresa com aquilo tudo. O nó em sua garganta só piorava as coisas. A bondade natural de Melissa não permitiria que ela ignorasse por muito tempo a tristeza que ele sentia, então respirou fundo e pôs a mão sobre o braço dele.
­ Wyatt.
Ele virou o rosto para que ela não o visse e saiu da caminhonete.
Ela olhava o relógio. Será que ela deveria ficar ali sentada? Eles não eram um casal e ela não tinha que ir atrás dele como se fossem. Depois de mais alguns minutos, Melissa saiu do carro e o chamou.
­ Wyatt?
Ele respondeu.
­ Só um minuto, já volto.
O tom rouco da voz dele causou­lhe um terrível sofrimento. Suas últimas palavras antes de parar a caminhonete foram "Se eu perder você pela segunda vez..." Ela se lembrava de como a voz dele falhara.
Melissa soltou um gemido de desespero. Ele a amava e queria que ela esquecesse o passado por completo. Tudo bem, esse era o lado dele dessa situação toda. Mas e o dela? Se ela não sentia mais nada por ele senão desprezo, por que tinha se deitado com ele de maneira tão devassa? Ela acreditava no que ele havia dito? Será que Shannon fora realmente a única mulher com quem ele tinha dormido durante o tempo em que ficaram separados? Ela não tinha tido momentos de desespero na Califórnia? Não que ela tivesse buscado consolo em outro homem, mas Wyatt tinha atingido o auge de sua vida sexual e vivia uma vida de celibato enquanto ela ainda não tinha experimentado o clímax. Seus pensamentos estavam focalizados no romance, não no sexo. Não podia comparar os dois, concluiu com tristeza.
­ Meu Deus ­ Melissa sussurrou, sentindo­se ínfima. Quando Wyatt voltou para a caminhonete, imediatamente colocou os óculos escuros.
­ Desculpe ­ Engatou a primeira marcha e partiu.
Melissa não sabia como responder a seu pedido de desculpas. Sentia­se constrangida, mas não podia dizer como Wyatt estava se sentindo porque ele só olhava para a frente, com os olhos fixos na estrada.
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A viagem de volta foi muito mais curta do que a de ida, o que confirmou a desconfiança de Melissa de que Wyatt tinha dirigido muito mais do que o necessário. Desta vez ele virou apenas duas vezes antes de chegar à estrada principal.
Ao ver Whitehorn, Melissa deu um suspiro ambíguo. Logo estaria novamente em casa. Mas o que Wyatt faria a seguir? Ele tinha apostado todas as fichas; como avaliaria os resultados?
Wyatt a consultou quando chegavam aos arredores da cidade.
­ Você quer ir à delegacia para prestar queixa de seqüestro?
Melissa o olhou.
­ Acho que seria cômodo para Judd. Ele não teria que ir à sua fazenda prendê­lo.
Depois de uma pausa, ela acrescentou.
­ Não se preocupe, não vou prestar queixa.
Um sorriso meio cínico surgiu no rosto de Wyatt.
­ Por que não? Eu cometi um crime, você não acha que deveria pagar por ele? Sempre pagamos por nossos pecados e nossos crimes de uma maneira ou de outra. Melissa também sorriu cinicamente.
­ Acho que vou deixar que o homem lá de cima decida. Não serei eu quem vai decidir isso.
­ O que a impede? Covardia, falta de interesse ou amor?
­ Não sou covarde ­ disse ela em tom severo.
­ Não, você não é covarde ­ concordou ele ­, acho que nos resta falta de interesse ou amor.
­ Não são as únicas opções, Wyatt, então, pare de ser tão convencido.
­ Eu não sou convencido ­ ele murmurou. O que eu tenho para me sentir convencido?
­ Nada.
Aquilo não era totalmente verdade, Melissa pensou de maneira nervosa. Ele a havia seduzido com um beijo ­ duas vezes, para ser exata.
Wyatt pegou o caminho em direção ao prédio de Melissa.
Melissa saiu imediatamente da caminhonete, mas Wyatt saiu logo atrás.
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­ Vou levar sua bagagem lá para cima ­ ele anunciou.
­ Posso fazer isso sozinha.
­ Tenho certeza de que pode. Mas eu vou levá­la. Vá na frente e abra a porta.
­ Você gosta de dar ordens, não é?
­ Não fique irritada de novo.
Melissa se virou devagar, subiu as escadas e abriu a porta do apartamento.
­ Pode deixá­las aqui ­ disse quando estavam a dois passos da área de serviço. ­ Está bem ­ disse Wyatt.
Ele a olhou longamente. Melissa não conseguia ver seus olhos por causa dos óculos, mas podia sentir a intensidade de seu olhar.
­ Bem ­ disse ela com hesitação.
­ Sobre o terreno ­ disse ele ­ fale para seu advogado elaborar um contrato, ou faça um você mesma. Nada muito rebuscado. Eu estou vendendo e você comprando. Quando estiver pronto, me avise e eu venho até a cidade assiná­lo.
­ Ah, o terreno! Tudo bem, eu ligo quando o contrato estiver pronto.
Melissa esquecera o terreno. E tudo por causa daquele homem que era uma combinação estranha do Wyatt de sua lembrança com um estranho sexy que fazia o coração de qualquer mulher disparar.
­ Bem, provavelmente deveria me desculpar por ter atrapalhado as suas férias, mas não me arrependo do que fiz. Pelo menos nós dois conversamos, o que nunca teria acontecido se eu não a tivesse levado até o chalé.
­ Não estou esperando nenhum pedido de desculpas ­ disse Melissa. ­Agora só quero esquecer do que aconteceu.
­ Esquecer? E isso que você quer?
Não havia mais nada a fazer. Aquilo era o fim da linha, então. Dentro dele só havia lugar para tristeza e frustração.
Wyatt passou as mãos sob o cabelo de Melissa. Os olhos dela se arregalaram de surpresa.
Não tinha mais nada a perder. Então, abaixou a cabeça e apertou sua boca contra a dela em um beijo áspero, mas cheio de emoção. Ele sentiu as mãos de Melissa se moverem para empurrá­lo, e ela tentou virar a cabeça para finalizar o beijo, mas Wyatt a imobilizou Projeto Revisoras
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segurando firmemente seu Pescoço. Ele a beijou até que sentiu suas próprias pernas bambas.
Quando estava sem ar, levantou a cabeça e olhou dentro dos olhos de Melissa.
­ Lembre­se de apenas uma coisa. Você pode ir até o fim do mundo e nunca vai encontrar um homem que a ame mais do que eu.
­ Vá embora ­ disse ela com a voz embargada. Ele viu as lágrimas que rolavam em seu rosto.
­ Você não vai esquecer. Nem tente. Ele a largou e foi até a porta.
­ Ligue quando o contrato estiver pronto. E saiu.
Melissa quase desmoronou sobre a secadora quando se inclinou para soluçar descontroladamente, segurando a cabeça com as mãos. Depois os soluços foram cessando e ela finalmente pôde se levantar, pegar as malas e levá­las até o quarto.
Estava pronta para se jogar na cama quando o telefone tocou. Ela pigarreou, enxugou os olhos e atendeu.
­ Melissa? Vi você saindo da caminhonete do sr. North. Está tudo bem?
Era Wanda que ligava lá de baixo.
­ Hum... Eu peguei um, um vírus ou algo parecido, então voltei para casa. Vou ficar de cama hoje. Espero estar melhor amanhã.
­ Ah, querida, que pena. Será que eu posso fazer alguma coisa por você? Eu poderia levar algo para você comer.
Melissa só havia tomado alguns goles de café o dia inteiro. Sabia que deveria comer alguma coisa.
­ Omelete, Wanda. Sem queijo. E algumas torradas.
­ Um bule de chá?
­ E, chá seria ótimo.
­ Estarei aí em dez minutos.
­ Obrigada, Wanda.
Wyatt dirigia com uma expressão amarga. Nos arredores da cidade, resolveria se ia para a fazenda ou voltava para o chalé.
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As coisas estavam nas mãos de Melissa, agora. O que mais poderia fazer?
Wyatt suspirou e tomou o caminho da fazenda. Quando chegasse, poderia ligar para Timmy. Sempre se sentia mais feliz quando falava com o filho. Em seguida, procuraria Joe Lott, o caseiro, a quem havia dispensado por uns dias. Era melhor que ele voltasse ao trabalho também.
Treze
No fim do dia Melissa se sentia mais calma. As emoções tinham se dissipado e conseguia pensar sobre Wyatt e os últimos dias sem exasperar­se. Uma coisa estava clara: Wyatt era amargurado acerca do próprio casamento. Mas era ridícula a teoria de que Shannon teria ficado grávida de propósito. Um encontro acidental? Uma noite juntos? Não, essa parte da história Melissa não engolia. O resto? Bem... não sabia.
Quando Wanda trouxera a comida, havia exclamado: ­ Céus, você está com uma aparência horrível. Parece muito doente.
Bem, ela não estava doente, mas Wanda acertara quanto à sua aparência; uma olhada no espelho era o suficiente para confirmar isso. Desde que abrira o Hip Hop Café, nunca havia deixado de descer para acompanhar o movimento. Tinha um problema bem maior do que um dia sem trabalhar ­ Wyatt, é claro. Ele a convencera de que ainda a amava. E, ainda assim, os sentimentos dele deveriam influenciar os dela? Era uma ironia que a justiça se fizesse sem que ela tivesse que mentir sobre a existência de outro homem em sua vida. Wyatt estava sofrendo da mesma forma que ela sofrerá seis anos atrás, e o que mais a incomodava era que ela não sentia prazer com isso. A proposta de casamento era estarrecedora. A idéia fez com que se arrepiasse, uma reação retardada em relação ao sexo maravilhoso que viveram no chalé, disse a si própria. Tinha sido espetacular. Nunca se perdera tão completamente nos braços de um homem, mas isso não significava que estava pronta, não é?
Seus sentimentos em relação a ele agora eram diferentes, admitia. Se não tivessem um passado cheio de mágoas, ela não teria motivos para ser tão dura. Enfrentar seus próprios sentimentos era difícil. Se conseguisse superar o passado e voltasse a confiar em Wyatt mais uma vez e ele a ferisse de novo, ela perderia o juízo. Podia correr esse risco? Por Projeto Revisoras
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outro lado, podia não correr o risco? Ele voltaria. Teriam que se encontrar para finalizar a transação do terreno. Talvez ela lhe desse a oportunidade que ele tanto queria. Agora eram ambos diferentes do que tinham sido no passado. E a grande verdade é que a dor mais pungente de seu corpo somente Wyatt podia aliviar. Talvez isso não passasse de uma reação química dos hormônios, mas ela precisava descobrir se havia mais alguma coisa.
Logo depois do meio­dia do dia seguinte, Melissa achou o número do telefone da fazenda North no catálogo de Whitehorn. Discou o número, nervosa. Uma mulher atendeu.
­ Fazenda North.
­ Alô. Aqui é Melissa Avery. Eu poderia falar com Wyatt?
­ Ele não está, senhora Avery, mas pedirei que ele lhe retorne a ligação.
­ Por favor. Preciso falar com ele sobre um assunto de negócios. Meu número é 555­ 3707. Gostaria que ele me ligasse o mais breve possível.
­ Darei o recado. Até logo.
­ Obrigada.
Ela estava no Hip Hop, no pequeno escritório onde tinha a máquina de escrever. Redigia o contrato para a transação do terreno e estava faltando a descrição da propriedade. Ela Poderia conseguir as informações no escritório do assessor no tribunal, mas como ela ia pedir para Wyatt vir esta noite para assinar o documento, preferia que ele mesmo lhe transmitisse esses dados. Leu o contrato mais uma vez, consertando os erros e melhorando o conteúdo. Ele estava vendendo, ela estava comprando, os termos eram sucintos, e era isso. Não havia frases supérfluas. Se estivesse bom para ele, estava bom para ela; a descrição legal entraria no espaço que ela havia deixado entre os parágrafos, e o documento estaria pronto para as assinaturas.
O telefone tocou. Pensando que alguém pudesse ter rapidamente localizado Wyatt, ela respirou fundo e atendeu.
­ Hip Hop Café. Melissa falando.
­ Você já voltou. Estava mesmo esperando encontrá­la aí.
­ Desculpe, quem é?
A voz masculina era familiar, mas não se lembrava de quem poderia ser.
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­ É Paul.
­ Paul?
­ Paul Rodell.
­ Paul, claro! Desculpe, não reconheci sua voz.
­ Parei aqui para tomar um café e uma de suas garçonetes me disse que você estava de férias.
­ Sim, de fato. Eu estava. Na verdade, planejei ficar fora uma semana, mas...
A mentira ficou parada em sua garganta.
­ Decidi voltar para casa mais cedo. Paul deu uma risada.
­ Você não consegue mesmo ficar longe do trabalho, não é?
Melissa sorriu sem graça.
­ Acho que sim.
­ Bom, o motivo da minha ligação... ou melhor, um dos motivos, é que gostaria de saber se você já tinha conseguido o terreno próximo ao Hip Hop Café.
­ Ele já é quase meu, Paul. Para dizer a verdade, a compra deve ser efetuada em breve. Mas não estará definitivamente em meu nome antes de seis ou sete meses.
Pelos termos no documento, havia um pagamento de mil dólares que deveria ser feito todos os meses, mas ela planejava pagar a Wyatt o máximo que conseguisse juntar a cada mês.
­ Bem, isso quer dizer que você não vai solicitar aquele empréstimo para a expansão até fevereiro ou março do próximo ano.
­ Penso que sim.
­ Tudo bem. Você sabe aonde ir quando estiver pronta para pedir o empréstimo. Bom, Melissa, sobre o outro motivo da minha ligação. Que tal se fôssemos a Billings jantar esta noite? A gente podia ver um filme e retornar por volta da meia­noite.
­ Puxa, Paul... esta noite não posso.
Subitamente, ocorreu­lhe que ela não queria sair com Paul naquela ou em qualquer outra noite. Ele era legal e gostava dele, mas, se saíssem novamente, isso poderia fazer com que o interesse dele por ela aumentasse.
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­ Paul, vou ser muito franca com você. Estou saindo com outra pessoa. ­ É mesmo? Quem? Wyatt? Desde quando ela sabia mentir tão bem? É claro que havia algo entre ela e Wyatt e, mesmo que não houvesse, Paul Rodell não era homem para ela.
­ Ah, entendi.
Era impossível não notar o tom inesperadamente gelado na voz dele.
­ Sinto muito, Paul ­ ela disse delicadamente.
A voz dele adquiriu uma qualidade máscula que Melissa notou no mesmo instante. Ele com certeza não deixaria transparecer o orgulho ferido.
­ Sem problemas, Melissa. Não se incomode com isso.
­ Amigos ainda? ­ perguntou calmamente.
­ Claro. Vejo você por aí. Até logo.
Melissa desligou o telefone. Agora ele provavelmente encontraria razões para lhe negar aquele empréstimo quando chegasse a hora, pensou um tanto quanto arrependida. Talvez, porém, ele fosse profissional o suficiente para manter a carreira separada de sua vida particular. Olhou para o contrato e a imagem de Wyatt apareceu em sua mente. Ela só conseguia lidar com um homem de cada vez e, naquele exato momento, ele era o primeiro de sua lista. De qualquer modo, Paul não iria querer nada com ela se viesse a saber o que se passou no chalé de Wyatt. O telefone tocou novamente.
­ Melissa? Aqui é Wyatt.
Ele não pareceu estar com raiva ou aborrecido pelo dia anterior, pensou ela com alívio.
­ Oi, preciso da descrição legal do terreno para redigir o contrato. Você tem isso aí à mão?
­ Só um minuto.
Melissa esperava pensando nas palavras de Wyatt. "Você nunca vai encontrar um homem que a ame mais do que eu." Engoliu em seco, consciente de como aquela declaração a tinha influenciado.
­ Melissa? Tem como anotar?
­ Vamos lá.
Então ele leu a descrição que estava no documento em seu poder.
­ É isso. E você, como está? Melissa pigarreou antes de falar.
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­ Tudo bem. Logo que eu datilografar o documento, e o contrato estará pronto. Você podei vir à cidade esta noite para assiná­lo?
­ Claro. A que horas?
Ela havia pensado sobre aquilo durante toda a manhã, era justo que ele soubesse se havia ou não uma chance para eles.
­ Bom, pensei que talvez pudéssemos jantar juntos.
­ No Hip Hop?
­ Sim, era o que estava planejando.
­ Aceito jantar se for no seu apartamento. O coração de Melissa disparou.
­ Bem... não era exatamente isso...
Wyatt permaneceu em silêncio, como se estivesse dando tempo a ela de repensar o convite.
­ Acho que tudo bem ­ disse ela, finalmente.
­ Ótimo. A que horas você quer que eu esteja aí? "Querer" aquele homem era de fato o problema com o
qual Melissa lutava naquele momento. Ela não sabia se o amava, nem mesmo se voltaria a amá­lo algum dia, mas uma coisa ela havia aprendido no chalé com Wyatt: uma mulher pode querer um homem sem que para isso precise amá­lo.
­ Por volta das 19h ­ ela determinou.
­ Sete está ótimo. Até a noite.
As 19h em ponto, Wyatt chegou. Estava ansioso, imaginando que ela pudesse ter repensado um pouco. A porta se abriu.
­ Oi ­ disse ela, tentando esconder o nervosismo.
­ Olá ­ disse ele, mirando cada centímetro do corpo dela.
­ Entre ­ disse Melissa. Wyatt entrou e fechou a porta.
­ Que cheiro bom.
­ E estrogonofe.
Melissa o levou até a sala de estar.
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­ Vou servir o jantar daqui a pouco. Quer um drinque?
­ Acho que vou querer um uísque com água, obrigado. Ele ficou surpreso com a oferta dela.
­ Vou buscar na cozinha. Pode sentar, volto num minuto. O humor de Melissa fez as esperanças de Wyatt se multiplicarem.
Muito nervoso, ele andava pela sala. Ela voltou com dois copos na mão e entregou um a ele. Aqui estava a segunda surpresa: Melissa também estava bebendo. Quantas surpresas teria ela guardado para esta noite? Um estado de excitação fez com que se sentisse eufórico.
­ Tintim ­ disse ele, levantando o copo.
­ Tintim ­ repetiu ela. ­ Vamos sentar.
Ela procurou uma cadeira e ele se sentou no sofá. Próxima à cadeira onde ela estava, havia uma mesinha redonda, de onde pegou duas folhas de papel.
­ Este é o contrato que redigi. Queria lhe agradecer pela venda do terreno. Quando fiquei sabendo que você o havia comprado achei que tivesse feito isso para... bem, não sei, mas pensei que você tivesse comprado o terreno somente porque eu o queria.
­ Eu não sabia que você queria comprá­lo.
­ Pois é, agora eu sei disso ­ e os olhos dela encontraram os dele. ­ Espero que você entenda por que eu não pude aceitá­lo como presente.
Ele se recostou no sofá.
­ Provavelmente porque não queria se sentir em débito comigo.
­ Em parte era isso sim, mas eu não poderia aceitar um presente dessa natureza de quem quer que fosse.
­ Melissa ­ ele disse delicadamente ­ eu não sou "quem quer que fosse". Um dia eu pretendo dar o mundo a você.
Ela ficou paralisada.
­ Por favor, não conte com isso, Wyatt. Pensei muito sobre tudo o que aconteceu desde que nos reencontramos e é certo que não posso negar que existe algo entre nós. Mas preciso de tempo, muito mais tempo do que você pretende me dar.
­ Eu quero você... ­ ele disse numa voz doce. ­ Mas se você precisa de tempo...
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A voz dele foi diminuindo e, depois de alguns momentos, ele sorriu.
­ Aceito qualquer coisa que você queira me dar. Melissa, você não imagina o quanto significa para mim estarmos assim agora.
O coração de Melissa estava estraçalhado. Wyatt exalava sensualidade. Pela primeira vez ocorreu a ela que talvez fosse a mulher mais tola do mundo. Apenas por conta de uma história antiga ela continuaria a recusar um homem bonito, sexy, generoso, loucamente apaixonado?
De repente, sentiu que estava perdendo o controle de seus sentimentos. Respirando fundo, segurou o contrato.
­ Acho que não é tão simples assim. Levantando­se, entregou o papel a ele.
­ Por favor, leia e diga o que você acha. Estarei na cozinha.
Ela saiu da sala levando o copo. Encostou­se no balcão da cozinha e bebeu o resto da bebida de um só gole. Wyatt entrou na cozinha.
­ Por mim está tudo bem. Tem uma caneta? ­ Ah... sim, perto do telefone.
Nervosa, correu para o telefone, pegou a caneta e virou­se para entregar­lhe. Não precisou ir muito longe, pois ele estava logo atrás dela. Wyatt segurou a mão de Melissa. Ela não conseguia tirar os olhos dele. Ele a amava e, por Deus será que ela o amava também? Ela sentiu os dedos dele se movendo de leve em seu pulso.
­ Você está especialmente bonita esta noite ­ disse ele com voz rouca.
­ Vo... você também ­ ela murmurou.
Devagar, ele a puxou para si. Sua mão escorregou pelos cabelos dela.
­ Sempre adorei seu cabelo. ­ Uma sombra passou por seus olhos. Ah, Melissa, se ao menos...
Ela pôs os dedos sobre os lábios dele.
­ Não diga nada. Estou realmente tentando esquecer o passado.
Os olhos dele olharam os dela profundamente:
­ Isso é verdade?
­ Se não houvesse passado, se tivéssemos apenas o presente... Então você poderia me amar... ­ disse ele com tristeza porque sabia que era verdade.
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Wyatt abraçou­a apertado, segurando­a contra seu corpo. Ela suspirou. Aquele corpo sólido e quente fazia tão bem a Melissa, que ela não hesitou, em se aconchegar mais. Ele tocou em seu queixo e olhou­a nos olhos. Vendo que ela não oferecia resistência, pressionou os lábios contra os dela.
Ele não tinha ido ali para isso, mas também não podia esperar a mudança de comportamento dela.
Apesar de ainda não estar claro, o seqüestro tinha surtido efeito. Os beijos eram mais profundos. A boca de Melissa se abria para a língua de Wyatt, e de repente Seus abraços não eram mais calmos.
Os olhos de Wyatt se abriram e pareciam queimá­la.
­ Melissa?
Queria saber até onde poderia ir. Ele precisava dela quase como um desesperado, mas a decisão era dela.
­ Tudo bem ­ ela sussurrou com a voz rouca. ­ Me dê um minuto.
Saindo dos braços dele, Melissa virou­se para o fogão, pegou a luva térmica, abriu o forno, pegou a travessa e apoiou­a sobre o balcão.
Wyatt olhou o que ela fazia com os olhos semicerrados, sem saber bem o que ela queria. Sua incerteza se dissipou quando ela tirou as luvas e andou em sua direção, pegou suas mãos e disse suavemente.
­ Vamos.
Parecia admitir a poderosa atração física existente entre eles, mas precisava de um tempo para assumir um compromisso sério. Quanto a ele, tinha mais certeza daquilo do que de qualquer outra coisa, mas teria que esperar.
As mãos de Wyatt começaram na cintura de Melissa e foram subindo em direção ao pescoço, até acariciar o rosto dela. Ele a beijava com todo o amor e paixão que tinha no coração.
­ Eu não tinha planejado isso ­ sussurrou ela ofegante.
­ Nem eu.
Não importa, ele pensou. Os beijos se tornavam urgentes, e começaram a desabotoar as roupas um do outro. Melissa arrancou a camisa de Wyatt. Ele conseguiu finalmente sentir a pele sob o vestido aberto, e o sutiã desabotoado. A pressa aumentava, e eles se Projeto Revisoras
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despiram, tiraram a colcha e se deitaram, braços e pernas enrolados eroticamente.
­ Ah, Wyatt.
As mãos de Melissa deslizavam pelo pescoço dele e depois subiam para acariciar seus cabelos. Eu não consigo mais entender o que acontece comigo.
Ele ficou paralisado e então levantou a cabeça vagarosamente para olhá­la nos olhos.
­ Por mais que eu a queira agora, e por mais doloroso que seja levantar­me da cama e sair do quarto, assim eu faria para não torná­la infeliz.
Melissa balançava a cabeça negativamente, deitada no travesseiro.
­ Não, não é isso. Eu, eu estou com medo.
­ De mim? ­ Percebendo que ela não respondia, ele sacudiu delicadamente seus ombros.
Não era um gesto de raiva, mas de profunda afeição e um pouco de medo.
­ Melissa, nunca mais vou magoar você. Como posso lhe provar isso? Diga­me o que fazer.
Ela olhou dentro de seus belos olhos castanhos. O medo que sentia era problema dela e teria que lidar com isso sozinha.
­ Fique ­ sussurrou ­, quero que você fique.
­ Meu amor ­ disse ele com ternura.
Assim fizeram amor lentamente, contendo as emoções mais violentas. Melissa maravilhava­se com a paciência e gentileza dele.
Totalmente sensibilizada por seu toque, gemia:
­ Agora, Wyatt, agora.
Penetrou­a com a mesma delicadeza. Agarrada a ele, sentiu o calor e a urgência deliciosa e torturante que indicavam o começo de seu clímax. Ergueu o quadril para acompanhar os movimentos dele. De olhos fechados, com a cabeça para trás, gemia:
­ Mais forte.
Ele deixou que viesse à tona seu lado selvagem e a cavalgou com força e rapidez.
Dentro de segundos, ela gritou:
­ Wyatt... Wyatt... Junto com ela, gritava:
­ Melissa... meu amor....
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Seguiu­se o silêncio enquanto recuperavam o fôlego. Nenhum dos dois se movia nem falava. Finalmente, Melissa disse:
­ Espero que você goste de estrogonofe frio.
Eles riram. Era a primeira vez em seis anos que riam juntos.
­ Você é a mulher mais fantástica que já existiu, sabia?
­ Nunca fui e nunca serei, mas obrigada por dizer isso. Vamos nos levantar. Vou tentar salvar o jantar.
­ Você é quem manda.
Ela deu um beliscão no ombro dele de brincadeira.
­ Vou me lembrar disso.
­ Até ficarmos velhos, eu espero. E saíram da cama rindo.
Catorze
Melissa e Wyatt ficaram sentados à mesa muito tempo depois de terminado o jantar. E conversaram. O assunto era o tempo do colégio, as brincadeiras, os bailes, os jogos de futebol e os velhos amigos.
­ Você se lembra? ­ iniciava diversas histórias que os faziam gargalhar.
E além de toda essa camaradagem que eles sentiam um pelo outro, estava a consciência do desejo que existia entre eles.
Melissa se pegou admirando o belo rosto de Wyatt que, muitas vezes, fazia o mesmo em relação a ela.
Wyatt se levantou e se esticou; estavam ali sentados havia horas.
­ Eu poderia ficar aqui conversando a noite inteira. Melissa sorriu e se levantou.
­ Não seria uma boa idéia, Wyatt. Meus empregados chegam cedo e eu não quero dar motivo para comentários.
Ele deu a volta na mesa para ficar mais perto dela.
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­ Então, que tal amanhã? Posso vir de novo? ­ perguntou.
Melissa pensou um pouco e balançou a cabeça negativamente.
­ Eu não posso ficar de moleza todas as noites na hora do jantar, Wyatt. É a hora mais movimentada do Hip Hop.
­ Depois do horário do jantar?
­ Hum, vamos esperar alguns dias.
­ Se esperarmos alguns dias, perderemos o fim de semana.
­ É, eu sei, mas ainda preciso de um pouco mais de tempo. E nas segundas­feiras o Hip Hop normalmente fica mais vazio. Venha na segunda à noite.
­ Deixe­me levá­la para jantar. Podemos ir até Billings ou Butte ou algum outro lugar. Só para sairmos da cidade.
­ Claro, por que não? Ele se abaixou e a beijou.
Segunda­feira parecia distante, mas ela não podia ficar longe do Hip Hop Café durante o fim de semana.
­ Esquecemos de assinar o contrato ­ ela exclamou. Após a assinatura, Melissa entregou a Wyatt o original.
­ Pode ficar com você ­ ele disse.
­ Não, eu lhe devo dinheiro. O original fica com você. Wyatt deu de ombros.
­ Como quiser.
Ela chegou mais perto dele, ficou na ponta dos pés e o beijou nos lábios. Wyatt imediatamente a envolveu em seus braços e o beijo teve mais o sabor de olá do que de adeus.
­ Você é incrível ­ murmurou ele. Não queria ir, mas deu um passo para trás, relutante. ­A noite foi maravilhosa, Melissa, a melhor de todas.
­ Eu também achei.
­ Até segunda. Posso chegar por volta das 17h? Ela acenou afirmativamente.
­ Às 17h está ótimo.
Eles passaram pela área de serviço em direção à porta.
­ Até segunda­feira ­ sussurrou, beijando­a. Em seguida foi embora.
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Melissa trancou a porta, ainda sem ar. Uma alegria que nunca tinha sentido tomou conta dela. Voltou para limpar a cozinha com passos mais leves.
Percebeu que fazia as tarefas em câmara lenta, de tão sonhadora que estava. Ela não apressaria nenhum compromisso sério com Wyatt, mas as coisas iam naquela direção e a maior surpresa era que ela se sentia bem em relação àquilo.
­ Vamos deixar o passado para trás ­ murmurou.
Havia partes do passado que ela não se permitiria esquecer, mais especificamente o assassinato de seu pai. Um pequena ruga se formou no rosto de Melissa. Ela não estava fazendo nada para ajudar a encontrar o assassino de Charlie Avery, além de pressionar o delegado. Talvez pudesse contratar um investigador particular. Como Judd e Tracy reagiriam a isso?
Melissa tinha que pensar no assunto. Em primeiro lugar, não havia nenhum investigador particular em Whitehorn, ela teria que chamar alguém de fora. Ela suspirou e deixou que seus pensamentos retornassem àquela noite com Wyatt, o que aliviou sua expressão e trouxe um novo sorriso.
A verdade era que Melissa estava feliz. E não queria mais pensar em tristezas do passado.
Os empregados de Wyatt eram eficientes e honestos, fato comprovado durante o período em que ele morava em Helena. Durante aqueles seis anos, Wyatt só fora à fazenda quando Shannon queria. Ela achava que era papel de um genro do senador Wilbur Kiley ir a todos os eventos políticos. Não que Wyatt não gostasse de Wilbur. De fato, os dois se davam muito bem. Era Shannon quem tinha o nariz empinado.
Avaliando o passado, Wyatt se questionava como ele tinha agüentado aquilo por tanto tempo. Agora estava rio lugar que lhe pertencia.
Ele percebeu que estava feliz de verdade pela primeira vez em anos. No próximo fim de semana, veria Timmy ­ a primeira visita do menino, como fora determinado pelo acordo de custódia ­ e o filho ficaria com ele todos os fins de semana. Ele mal conseguia esperar para mostrar a fazenda a ele e apresentá­lo a Melissa.
No sábado, ele falou com seus homens, determinando as tarefas do dia, e então selou um cavalo para dar um passeio. O sol estava brilhando tanto que ele precisou usar óculos escuros. Andar por suas terras debaixo do sol e pensar em sua liberdade e em Melissa lhe davam vontade de gritar como criança.
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Em vez disso, porém, manteve sua dignidade intacta e cavalgou sorrindo.
Wyatt foi propositalmente para o lado da fazenda oposto ao que os homens estariam trabalhando. Não queria que nada interferisse em seus pensamentos.
A única coisa que Melissa havia pedido era um tempo, e Wyatt vislumbrava o dia em que ela estaria segura de seus sentimentos por ele. Então poderiam planejar seu casamento. Ele a amava tanto que nunca mais a magoaria de novo.
O futuro parecia tão maravilhoso que não conseguia parar de sorrir: ele, Melissa e Timmy juntos, os filhos que os dois teriam, Natal, aniversários, fins de semana no chalé. Talvez eles devessem viajar um pouco antes de terem filhos. Uma lua­de­mel em Paris, ou onde Melissa quisesse. Suspirou de alegria.
Já passava do meio­dia quando Wyatt retornou ao estábulo e tirou a sela do cavalo. Depois voltou para casa. Ao entrar, viu Marion, que parecia esperar por ele.
­ Wyatt, Shannon está aqui.
­ Sem o Timmy?
Quando Marion acenou afirmativamente, sentiu raiva.
­ Onde está ela?
­ No quarto... há mais de duas horas.
Os olhos dele se estreitaram. Em seis anos de casamento, ela havia concordado em vir à fazenda uma única vez, e no caminho de volta para Helena reclamara sem parar do isolamento do lugar.
"­ Nunca mais me peça para voltar. Não consigo imaginar uma pessoa ­ principalmente um homem culto como seu pai ­ levando uma vida tão limitada."
Wyatt não tinha tentado combater a atitude dela. Achava bom que ela não gostasse da fazenda. Na verdade, ele se divertia com a estreiteza de suas idéias. Limitada era a vida dela, sem ambições nem objetivos, sempre voltada para o prestígio do pai.
A visita dela à fazenda agora ­ sem Timmy ­ não era bom sinal. Sabia como funcionava a cabeça de Shannon, e ela não teria feito a longa viagem até lá sem ter alguma carta na manga.
­ Obrigado, Marion ­ murmurou.
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Entrou na casa e foi até o quarto. Shannon estava de costas para ele, olhando pela janela, segurando um cigarro numa das mãos e um copo na outra.
­ Shannon?
Entrou no quarto. Ela se virou, sorrindo.
­ Olá, Wyatt. Como está? Wyatt manteve a guarda.
­ Onde está Timmy?
­ Em casa. Precisava falar com você a sós.
­ Sobre o quê? ­ Tão rude ­ exclamou ela, em tom provocativo.
Movendo­se com rigidez, Wyatt tirou o chapéu e o posou na escrivaninha. Sentou­se na borda do móvel e cruzou os braços sem sorrir.
­ Por que você está aqui?
Shannon deu uma longa tragada e caminhou até um cinzeiro para amassar o cigarro. Por fim, respondeu:
­ Onde mais o encontraria?
­ Certo, você quer falar comigo. Sobre o quê?
Não conseguia imaginar. O divórcio fora consumado, com acordo financeiro e tudo mais. Não havia nenhuma razão para a presença dela ali.
­ Não temos nada a conversar ­ acrescentou ríspido.
­ Ah, temos sim.
Shannon olhou o copo quase vazio, caminhou até o armário de bebidas e serviu­se de vinho com gelo.
­ Pedi gelo a Marion. Espero que não se importe. ­ Virou­se para olhar Wyatt de frente.
­ Fale sem rodeios ­ disse Wyatt ríspido. Não gostava da presença dela.
Ela tomou um gole da bebida, em seguida encarou Wyatt.
­ Bem. Estou grávida.
Ele a fitou com um olhar vago. Essas duas palavras lhe trouxeram à mente o anúncio idêntico do passado.
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Dessa vez, porém, ele não era o mesmo jovem ingênuo. Ele falou friamente.
­ Se for verdade, o bebê não é meu.
Sem responder, Shannon foi até a bolsa e tirou um pedaço de papel.
­ Sei que você ia pensar que eu estava mentindo, por isso pedi que meu médico me desse isso. Ela atravessou o cômodo e esticou o papel na direção de Wyatt.
­ Pegue­o. Vamos.
Wyatt pegou o papel relutantemente e o leu. Seu coração começou a bater mais rápido e sua boca ficou seca. Tornou a ler, e levantou os olhos.
­ Esse atestado provavelmente é falso, mas mesmo que não seja, e você esteja realmente grávida, o que isso tem a ver comigo?
Ela falou de maneira natural.
­ Pode ser que você seja o pai. Wyatt retorceu a boca de raiva.
­ O que você está tentando armar para mim? Shannon arregalou os olhos.
­ Armar? Por que eu tentaria armar alguma coisa? Fatos são fatos. Eu estou grávida e tenho certeza de que você é o pai.
­ Nós dois sabemos como você mente bem ­ ele disse de maneira agressiva. E por que cargas d'água você acha que eu acreditaria que o bebê é meu, já que você estava tendo um caso bem debaixo do meu nariz? Você acha que eu sou um completo idiota?
­ Nunca o considerei idiota. Eu não estou tentando armar nada, como você está me acusando. Wyatt, essa criança pode ser sua. Isso não significa nada para você?
­ Essa criança é de Rick. Por que veio até mim? Por que você não vai perturbá­lo? ­ Eu não acho que uma conversa sobre um filho que ainda não nasceu seja uma perturbação. ­ Shannon andou até o bar e preparou outro drinque.
­ Prove que o bebê é meu ­ Wyatt a desafiou. ­ Prove e eu farei tudo o que for possível para ajudá­la a criá­lo.
Shannon virou­se com a sobrancelha levantada.
­ Com dinheiro? Não Wyatt, não estou aqui­ por causa de dinheiro. Quero seu nome na Projeto Revisoras
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certidão de nascimento dessa criança.
­ Então prove que o filho é meu ­ ele gritou. ­ Existem exames...
­ Que eu não vou fazer enquanto o bebê não nascer. Não fiquei grávida sozinha. Você também teve participação.
Wyatt estava ficando tão nervoso que tinha medo de cometer algum ato violento. A fim de se afastar um pouco de Shannon, foi para trás da escrivaninha. Então se inclinou e pôs os punhos em cima da mesa.
­ Você não vai me convencer de que esse bebê é meu. Não sem um exame. O que você achou que conseguiria quando veio me procurar?
­ Eu esperava que você fizesse a coisa certa, da mesma maneira que fez antes.
Ele estava completamente chocado.
­ Achou que eu me casaria com você novamente? Procure Rick. Conte suas mentiras a ele, ou diga a ele a verdade, mas peça que ele se case com você. Não vai funcionar comigo, Shannon. Dessa vez não.
Shannon bebeu um gole de seu drinque e desviou o olhar.
­ Rick foi embora.
­ Embora para onde?
Ela foi até a bolsa pegar outro cigarro.
­ Não sei para onde ele foi. Mas foi embora de Helena.
­ Em outras palavras, ele a deixou sozinha. A propósito, se você se preocupa tanto com o bebê que está esperando, como pode beber e fumar tanto?
­ Pare de criticar tudo que faço.
­ Pelo menos pense no bebê ­ replicou ele com desgosto. Será que havia alguma chance de esse filho ser dele? Wyatt tentava se lembrar da última vez em que tinham dormido juntos. Ele sempre fora muito cuidadoso no que dizia respeito à proteção, mas sabia que não havia um método anticoncepcional que fosse totalmente eficiente.
Shannon foi direto pegar mais bebida. Wyatt a observava com desprezo. Com o drinque na mão, ela se sentou.
­ Eu quero lhe propor um negócio. Faça o favor de me ouvir. Case­se comigo e divorcie­
se novamente depois que o bebê nascer. Eu não vou exigir que você more em Helena nem Projeto Revisoras
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vou lhe pedir qualquer ajuda financeira. Você sabe como eu odeio escândalos, e só quero que pareça que nós decidimos tentar de novo.
Wyatt moveu a cabeça em sinal de desaprovação.
­ Não, de maneira alguma. Deixe­me lhe dizer uma coisa, Shannon. Eu estou feliz, ou estava até alguns minutos atrás. Melissa e eu vamos nos casar...
­ Melissa? Você falou com ela na Califórnia? Já? Ou talvez vocês dois tenham mantido contato enquanto estávamos casados. E você teve a coragem de...
­ Um instante. Não estive em contato com Melissa durante nosso casamento. Enquanto estive fora, Melissa voltou para Whitehorn, sem que eu soubesse, quero acrescentar. Foi por acaso que entrei na cafeteria dela um dia.
­ Uma cafeteria? Ela possui um negócio? – Shannon disse com desdém. ­ Então a sensacional Melissa...
­ Droga, Shannon. Não se atreva a tentar humilhar Melissa! Você não tem o direito...
­ Eu não sei nada sobre ela? E aquele blablablá de menino de escola que eu tive que escutar na manhã em que você acordou na minha cama naquele motel em Missoula?
­ E aposto que você se lembra de cada palavra.
­ Pode apostar que sim.
A expressão de Shannon mudou de irada para apaziguadora num piscar de olhos.
­ Olhe, eu não vim aqui para brigar com você. Wyatt, estou em uma enrascada terrível. Essa seria apenas uma medida temporária. Por favor, reconsidere.
Wyatt permaneceu imóvel. Suas emoções estavam em frangalhos e ele quase não conseguia elaborar um pensamento completo. O desespero de Shannon era culpa dela mesma e eleja dedicara a ela tempo suficiente de sua vida. Se o filho fosse dele ­ cientificamente comprovado ­, faria tudo que estivesse a seu alcance pela criança, assim como fazia por Timmy. Mas isso seria tudo.
Ele respirou profundamente.
­ Não vou me casar com você. Shannon começou a chorar e gemer.
­ O que vou fazer?
­ Este é um problema seu, não meu. Você conhece a porta de saída.
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Shannon secou os olhos e o seguiu até a porta do escritório.
­ Como você pode ser tão frio e insensível? Tenho certeza de que esse filho é seu.
Wyatt parou.
­ Não, você não tem certeza. Você queria me convencer disso, mas não vou cair nessa.
­ Você é um filho­da­mãe. Ele riu cruelmente.
­ Também sei xingar. Não me provoque.
­ Você me amou um dia, sei disso.
Wyatt desacelerou os passos, mas não podia ser tão cruel, resolveu ignorar o choro histérico de Shannon e cruzou o hall.
Em seu quarto, arrancou a roupa empoeirada. Ligou o chuveiro, entrou no boxe e levantou o rosto em direção à ducha. Foi quando caiu em si. E se o bebê fosse dele? Ele não conseguia se lembrar de quando fora a última vez que tinha feito sexo com Shannon. Foram tantos os problemas que as datas não lhe vinham à cabeça.
Wyatt nunca concordaria com a proposta de Shannon mas e se o bebê fosse dele? Foi tomado por uma tristeza gigantesca. Ele queria ter filhos com Melissa.
Depois de se secar, Wyatt se esparramou na cama. A probabilidade era de que Rick fosse o pai do bebê. Wyatt decidiu que esperaria a criança nascer e, então, pediria um teste de paternidade.
Ele com certeza teria que exigir juridicamente a cooperação de Shannon, mas isso não o deteria. Enquanto isso, contaria a Melissa o que acontecera. Na verdade, sua vontade era ligar para ela agora e contar tudo.
Wyatt virou a cabeça e olhou para o telefone. Contar a notícia por telefone não era o melhor. Isso era uma coisa que ele teria que fazer pessoalmente. Melissa entenderia, não é?
Wyatt fechou os olhos com desalento. Se acontecesse alguma coisa que viesse a destruir tudo que Melissa e ele tinham alcançado em seu relacionamento, ele não agüentaria. Não era justo.
Uma batida na porta fez com que se sentasse.
­ Sim?
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Wyatt levantou­se da cama, dirigiu­se à porta e a abriu. Era Marion.
­ Wyatt, o jantar está quase pronto. Devo colocar uni lugar para Shannon?
­ Pensei que ela tivesse ido embora.
­ Ela ainda está no escritório, Wyatt, e...
Marion hesitou um pouco e depois continuou.
­ E não pára de beber.
­ Eu cuido disso, Marion ­ disse à empregada. ­ Obrigado.
A mulher saiu e Wyatt fechou a porta. Por que Shannon ainda estava ali?
­ Maldição ­ murmurou saindo do quarto em direção ao escritório.
A cena que viu o impressionou. Ao lado da cadeira estavam um cinzeiro cheio de guimbas e uma garrafa vazia de vinho. A cabeça de Shannon estava caída para a frente, encostada no peito. Ela tinha bebido até cair.
Wyatt reclamou em voz baixa, andou até onde ela estava e a sacudiu pelos ombros.
­ Shannon?
Ela praticamente não se moveu.
­ Shannon?
Estava claro que ela não iria acordar. Um sentimento de raiva endureceu os olhos de Wyatt. Mesmo que ela acordasse e tentasse ir embora, ele não poderia deixar que ela dirigisse.
Wyatt foi até a porta do escritório e chamou.
­ Marion?
A mulher apareceu no hall.
­ Pois não?
­ Vou pôr Shannon em uma cama e preciso de sua ajuda.
­ Claro ­ ela concordou.
Precisava, na verdade, era de uma testemunha, Wyatt pensou ironicamente. Não ia deixar que Shannon dissesse que ele a pusera na cama e tirara proveito disso, mesmo que a acusação fosse apenas a de tirar sua roupa.
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Wyatt a pegou no colo.
­ Vou colocá­la no quarto de hóspedes. O azul, Marion. depois, agradeceria se tirasse a roupa dela para deixá­la mais confortável.
­ Tudo bem, posso fazer isso. ­ Marion foi andando pelo hall na frente de Wyatt, e abriu a porta do quarto de hóspedes.
­ Desfaça a cama ­ Wyatt pediu, e Marion atendeu. Ele colocou Shannon em cima dos lençóis azuis perfumados e se afastou.
Wyatt não se sentia culpado por recusar aquele "negócio" que ela lhe propusera. Dessa vez ela havia caído em sua própria armadilha. Wyatt tinha certeza de que Rick deixara Helena depois de Shannon contar que estava grávida.
Rick não se casaria com ela e, pelo que Wyatt tinha percebido quando descobriu a traição de Shannon, era um tipo desprezível. Vivia trocando de mulher, preferindo as casadas, e se mantinha com o dinheiro da família. Tratava­se de um playboy, não queria esposa e filhos.
Ou isso, Wyatt pensou, ou Shannon tinha simplesmente decidido que não queria ficar solteira e então planejara convencê­lo a se casar com ela de novo. Poderia muito bem ter pedido a um amigo médico que lhe desse o atestado, e talvez aquele papo de gravidez fosse mentira. Wyatt rezava para que fosse o caso.
Enojado com toda a situação, balançou a cabeça.
­ Tire a roupa dela, Marion. Vamos deixá­la dormir. E saiu do quarto.
Quinze
O Hip Hop Café estava repleto de clientes. Melissa saiu da cozinha carregando uma bandeja e passou por Wanda, que entrava. Foi em direção à mesa de seis pessoas e começou a distribuir os pratos. O telefone atrás do balcão começou a tocar e ela o olhou ligeiramente. Sorriu para os clientes e continuou distribuindo os pratos de entrada.
Com o canto dos olhos, Melissa viu Wanda correndo para o telefone. Ela disse algumas palavras e depois colocou o aparelho no balcão. Melissa olhou para ela, e a garçonete Projeto Revisoras
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falou baixinho:
­ É para você.
­ Será que você poderia me trazer outra cesta desses pãezinhos deliciosos?
Melissa acenou para a senhora que fazia o pedido.
­ Claro, vou pegá­los agora mesmo.
Melissa correu para a cozinha e trouxe a cesta, que pôs sobre a mesa.
­ Mais alguma coisa?
­ Por enquanto não. Esse frango parece delicioso. Ah, talvez um pouco mais de café.
Melissa circulou o salão, enchendo pelo menos uma dúzia de xícaras em mesas diferentes.
Finalmente conseguiu chegar ao telefone.
­ Alô. Desculpe pela demora.
­ As coisas parecem um pouco agitadas por aí.
­ Ah, oi Wyatt. Dois funcionários ficaram doentes e Wanda e eu estamos tentando dar conta de tudo. Aconteceu alguma...?
Ela viu que algumas pessoas entravam e procuravam um lugar para se sentar.
­ Preciso falar com você.
O silêncio dos recém­chegados a pressionava.
­ Eu realmente não posso falar agora, Wyatt. Ligue­me amanhã. Não, espere, aqui é sempre muito movimentado aos domingos e pode ser que eu ainda esteja com falta de funcionários. Por favor, vamos deixar para segunda­feira à noite, quando nos encontrarmos. Poderemos conversar horas.
Wyatt hesitou. O fato de Shannon ter aparecido na fazenda já era notícia ruim o suficiente para contar para Melissa, mas sua ex­esposa dormir no quarto de hóspedes poderia muito bem terminar em mal­entendido. E ele tinha jurado que não incomodaria Melissa. Além do mais, aquela era uma conversa que seria melhor ter pessoalmente.
­ Tudo bem, a gente se fala na segunda. Até lá. ­ Obrigada, Wyatt. Tchau. ­ Melissa desligou o telefone e foi cumprimentar os clientes que chegavam. Projeto Revisoras
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­ Boa noite, mesa para quatro?
Wyatt se deitou às onze da noite, apesar de só ter dormido uma hora depois, de tanta preocupação. Ele não gostava do fato de Shannon estar na fazenda; especialmente de ela passar a noite ali em seu quarto de hóspede. Ele deveria tê­la colocado no carro e a levado de volta a Helena.
Então, por um momento, parou de. pensar em si mesmo e começou a pensar em Shannon. Apesar de nunca tê­la amado e sequer conseguir tolerá­la, ela fora sua esposa por seis anos e estava, possivelmente, desesperada. Quer dizer, se estivesse dizendo a verdade. Por conhecê­la bem, Wyatt sabia que não era sensato acreditar em tudo o que ela dizia sem uma prova definitiva. Tudo bem, talvez o atestado fosse legítimo. Se ele lhe concedesse o benefício da dúvida, ela estava grávida, procurando um bode expiatório. Mas será que ela realmente achava que ele seria estúpido o suficiente para acreditar que o filho era dele?
Wyatt se virou e deu um soco no travesseiro para ficar mais confortável. Mesmo com todos os argumentos, havia uma possibilidade ínfima de o bebê ser dele. Ele não tinha dormido sozinho durante o casamento, como Melissa dissera tão perfeitamente. Pelo que podia se lembrar, a última vez que Shannon e ele tinham dormido juntos fora há muito tempo, tempo demais para ela desconfiar que ele fosse o pai da criança. Seja qual fosse a verdade, ele odiava ter que contar isso a Melissa. Mas tinha que fazê­lo.
Ela precisava saber, e tinha que saber por ele. Wyatt finalmente conseguiu dormir enquanto pensava em diversas maneiras de contar a notícia.
Os sonhos que Wyatt teve foram perturbadores. Pessoas apareciam e desapareciam. Ele estava em um lugar e depois em outro. Não parava de se mexer na cama. Então, de repente, uma cena ficou muito clara. Ele estava em um enorme celeiro, mas não era na fazenda, e estava cheio de lixo e porcaria. Ele tentava limpar o estábulo, e, apesar de trabalhar duro, não conseguia. Parecia que não conseguia se concentrar em nenhum objeto. Controlado por uma força interior; por algum motivo desconhecido era crucial que limpasse o estábulo.
O sonho mudou e eleja não estava mais sozinho, apesar de não conseguir enxergar a mulher que o tocava porque tudo se tornara escuro e nebuloso. Ele sentia as mãos dela em seu tórax nu ­ para onde tinha ido a camisa? ­ e então sua boca. Ele suspirou em seu Projeto Revisoras
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sonho, imaginado que a mulher no sonho era Melissa e começava a se sentir quente e lânguido. Ele tocou em Melissa e descobriu uma pele nua. Gemeu suavemente e procurou seus lábios. E se beijaram, mas algo estava errado. Ele acordou. Melissa não fumava ou bebia Bourbon, e ele...
Desvencilhando­se do corpo de mulher em sua cama, ele se sentou e acendeu a luz.
­ Shannon.
Ela estava completamente nua, brilhando na luz.
­ O que é que você está fazendo aqui?
­ Apague a luz.
As palavras dela eram ininteligíveis, ela ainda estava bêbeda. Wyatt escorregou para fora da cama e se levantou.
­ Saia de minha cama e vá para o quarto de hóspedes. Agora.
Não lembrava de ter ficado tão enojado de alguém assim antes. Algo a deteria?
­ Você costumava ser mais receptivo a uma noite de amor ­ disse ela mal­humorada.
­ Eu era casado ­ retorquiu ríspido. ­ Saia daqui, Shannon.
Lentamente arrastou­se da cama, pegou o lençol que a cobria no trajeto do quarto de hóspedes e o enrolou em torno de si. Então o ameaçou:
­ Você vai me pagar por esse insulto, Wyatt.
­ Dane­se.
Ela cambaleou para fora do quarto e deixou a porta aberta.
Wyatt correu e fechou a porta com a chave. Percebeu que não ia mais conseguir dormir depois disso. Começou a se vestir. Andando na ponta dos pés, saiu pela porta de trás, pegou a caminhonete e rumou para as montanhas. Estava tentando encontrar Joe Lott, o caseiro do chalé, mas pelo jeito ele ainda não retornara. Tudo bem, pensou Wyatt. Era melhor que ficasse só lá esta noite e amanhã. Certamente não ia aparecer na fazenda no dia seguinte, sem saber quando Shannon ia se recuperar, perceber que seu joguinho não tinha funcionado e, enfim, ir embora.
Felizmente os funcionários não faltaram no domingo. Ela havia cumprimentado os fregueses cedo de manhã com um sorriso de boas­vindas. Tinha que admitir que o lugar Projeto Revisoras
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havia se tornado um sucesso.
A expansão não era simplesmente uma questão de orgulho para Melissa; precisava mesmo de mais espaço e de mais mesas. Nada a incomodava mais do que ver as pessoas esperando, com todas as mesas ocupadas.
À medida que passava a manhã, Melissa tomava consciência de uma pequena idéia no âmago de sua mente. Tinha a ver com o telefonema de Wyatt na noite anterior. Será que tinha sido brusca demais com ele? Ela estava ocupada, mas ele não disse que precisava falar com ela?
Passou o tempo trabalhando. Já eram duas horas quando Melissa deu atenção a tal pequena idéia. Tinha sido brusca com Wyatt.
Talvez a razão do telefonema dele fosse importante. Ela telefonaria de novo para ele... Não, ela não queria telefonar. Queria vê­lo, pedir desculpas por tê­lo tratado tão às pressas, explicar que tinha estado ocupada de fato. Se o relacionamento atual entre eles ia florescer, ela não podia deixar o trabalho vir antes dele.
­ Wanda? ­ Melissa chamou a garçonete. ­ Preciso ficar fora por cerca de duas horas. É importante.
­ Claro, Melissa.
Wanda estudou a preocupação no rosto da chefe.
­ Espero que esteja tudo certo.
­ É algo simples, mas tenho que ir. Tome conta de tudo, certo?
­ Pode contar comigo.
­ Obrigada, Wanda. Melissa correu até o carro.
A caminhonete de Wyatt não estava lá, observou ao estacionar perto de um carro esporte vermelho desconhecido. Melissa olhou com curiosidade o belo veículo.
Esperava que Marion abrisse a porta, mas, em vez disso, apareceu uma estranha.
­ Olá ­ disse a mulher com frieza, avaliando­a abertamente.
Melissa esboçou um sorriso, embora tivesse um sentimento horrível e inexplicável de terror.
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­ Wyatt está? Não vi a caminhonete, mas...
­ Não sei onde está Wyatt. Deixe­me advinhar. Você é Melissa Avery.
­ Ah... sou sim.
A mulher sorriu, embora Melissa não pudesse identificar uma gota de calor em sua expressão.
­ E você está visitando Wyatt. Que lindo.
O rosto de Melissa ficou em chamas, mas ela conseguiu se controlar.
­ E você é...?
­ Shannon North.
Melissa perdeu a cor.
­ Sei. ­ Seu coração batia disparado.
Perguntas sobre a presença de Shannon na fazenda bombardeavam seu cérebro atordoado. Os olhares delas se cruzaram, os olhos de Shannon eram profundos e verdes, os de Melissa, profundos e azuis. Wyatt tinha dito algo a respeito da beleza dela ­ comentava a fatídica noite em que se conheceram na festa ­ porém vê­la em pessoa era outra coisa. ­ Bem... É melhor eu ir andando ­ disse Melissa, rezando para dar a impressão de que conhecer a ex de Wyatt não a incomodava.
­ Deixe­me acompanhá­la até o carro. Melissa arregalou os olhos.
­ Como quiser.
Shannon acompanhou Melissa, que a encarou, e disse:
­ Por favor, diga a Wyatt que passei por aqui, está bem? Shannon sorriu.
­ É claro.
Os sorrisos dessa mulher lhe davam arrepios, pensou Melissa. Agora desconfiava de Wyatt de novo. Talvez estivesse sendo injusta, mas o que a ex­mulher estava fazendo na fazenda? Poderia haver alguma explicação lógica. Talvez fosse essa a razão pela qual Wyatt ligara para ela na noite anterior.
Mas essa "explicação perfeitamente lógica" poderia ser aquela que não queria ouvir, pensou Melissa, reabrindo as antigas feridas.
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­ Bem... até logo ­ disse, apática.
­ Espere, por favor. Talvez fosse melhor conversarmos.
­ Conversarmos? Sobre o quê, sra. North?
­ Por favor, me chame de Shannon. Não há motivo para sermos formais.
Melissa mal olhou para ela, questionando­se se ela e Wyatt eram loucos.
Ficou chocada quando Shannon enxugou uma lágrima.
­ Lamento muito. Prometi a mim mesma que não ficaria tão emocionada.
­ Emocionada com o quê? ­ perguntou Melissa em voz baixa, embora seu pulso tivesse acelerado.
O divórcio de Wyatt era um fato e era definitivo, não era? Sobre isso ele não tinha mentido, tinha? Por favor, não. Shannon estava olhando para outro lado, como que perdida em pensamentos.
­ É sobre Wyatt? ­ perguntou Melissa.
­ Não haveria outra razão, não é? Vai ser mais difícil do que pensei.
­ É sobre mim e Wyatt? ­ Melissa perguntou perturbada. Shannon respirou fundo de novo.
­ Em princípio é sobre mim e ele. Melissa, estou grávida de um filho de Wyatt. Nenhum de nós sabia disso quando nos divorciamos.
Shannon fez uma pausa e pareceu pensativa e triste por um instante.
­ Se soubéssemos, tenho certeza de que ainda estaríamos casados. Acho que... aos poucos nos descuidamos de nosso amor.
Melissa ficou inerte. Era o outro lado da moeda, ela pensou letargicamente, como se algo enorme e poderoso a estivesse sufocando. Tinha ouvido o lado de Wyatt e agora ouvia o outro lado da história. Shannon estava grávida agora. Sua boca estava tão seca que mal conseguia falar.
­ Você contou a Wyatt?
­ Ontem à noite.
Melissa murchou. Shannon tinha passado a noite aqui. Ah, Deus, pensou ela num grito de agonia silenciosa. Não teria mais forças para suportar o pesadelo que vivera há seis anos.
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Melissa se lembrava de que ele tinha telefonado, e ela estava ocupada demais para conversar com ele. Era isso que ia lhe contar ­ que a ex­mulher estava grávida dele... e daí? Quais eram os planos deles?
Melissa franziu o cenho. Mesmo que a história a deixas se nervosa, nada do que dissera explicava por que tinha agido assim. Por que ela estava lhe contando isso, perguntou­se Melissa.
Wyatt tinha morado com esta mulher durante seis anos. E dormia com ela. Como era possível que não tivesse si apaixonado por ela? Era bonita, e obviamente, inteligente
­ Quando contei a Wyatt sobre o bebê, ele ficou muito zangado.
Shannon mordeu os lábios, como se lágrimas estivessem prestes a rolar de seus olhos.
­ Não consegui acreditar, a julgar pela forma como trata Timmy. Então ele começou a falar sobre você. Perguntei a ele se você se tornara importante para ele, mas não respondeu. Disse­lhe que eu entenderia, mas ele afirmou que não era isso. Explicou que a conhecia há muito tempo, um namoro de escola... mas ele falou de forma tão natural que eu não dei a devida importância. Assim, quando fomo para a cama, perguntei por que ele tinha ficado tão zangado com a notícia do bebê. Ele...
Melissa a interrompeu aturdida
­ Vocês... foram para a cama... juntos? Shannon parecia envergonhada.
­ Desculpe. Não devia ter tocado nesse assunto. Suspirou desolada.
­ Fazendo uma retrospectiva, não sei mesmo por que nos divorciamos. Ele ouvira comentários sobre mim e outro homem; tudo mentira. Rick era um amigo, dele e meu. Wyat sempre teve muitos ciúmes. Esse era um de nossos problemas, eu sei.
Melissa sentia­se enojada. Shannon tinha dado a ele um oportunidade de explicar que estava apaixonado por ela ele não tinha feito nada.
­ Ele... ele lhe contou por que a sua gravidez o incomodava? ­ indagou Melissa com voz rouca.
­ Ele disse, antes de dormirmos, que ele tem uma dívida com você.
­ Ele tem uma dívida comigo? O que ele me deve? A palavra veio à sua cabeça e gerou ressentimento e raiva.
­ Melissa, não era minha intenção magoar você, mas... Shannon parecia indefesa.
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­ Tenho que pensar no bebê. Ele disse que havia rompido com você quando me conheceu. É verdade? Vocês dois estavam planejando se casar?
Melissa tinha os lábios secos de agonia.
­ Estávamos, sim ­ sussurou.
Os olhos de Shannon faiscavam de ódio.
­ Então por que ele me seduziu na noite em que nos conhecemos? Estava comprometido com você. É pior do que eu pensava. Ele continua com essa idéia de que é seu dono e ainda assim vai para a cama comigo.
Melissa não queria ouvir mais nenhuma palavra.
­ Tenho mesmo que ir.
­ Entendo ­ murmurou Shannon, solidária.
­ Melissa, acho que Wyatt se casaria comigo outra vez se você o liberasse dessa antiga dívida. Ele me fez prometer que eu ia parar de fumar e me cuidar, e vou cumprir a promessa. Sei que ele vai voltar para mim e para meus filhos.
­ Não existe nenhuma dívida, mas considere­o liberado, Shannon.
Shannon sorriu trêmula.
­ Nunca poderei lhe agradecer o suficiente. ­ Parecia tímida. ­ Melissa, eu gosto de você. Talvez a gente possa se reencontrar uma hora dessas.
Contendo as lágrimas, Melissa retorquiu:
­ Acho que não. É melhor que fiquemos longe uma da outra.
Shannon suspirou.
­ Acho que você tem razão. ­ Fez uma pausa.
­ Você tem idéia de quando conversará com Wyatt sobre o que sente?
­ Temos planos para amanhã à noite. Conversarei com ele.
­ Poderia me fazer o favor de não mencionar que conversou comigo? Ele é tão orgulhoso e se ressente facilmente.
Shannon deu uma risada ofegante.
­ Não quero que ele acabe odiando a nós duas. Apenas diga­lhe... Ah, não posso lhe mandar dizer nada. Tenho certeza de que você tratará do assunto com muito tato.
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Melissa entrou no carro. Para sua infelicidade, Shannon esticou­se dentro do carro e apertou­lhe a mão.
­ Você é uma pessoa muito especial, Melissa. Gostaria que pudéssemos ser amigas. Até logo.
Melissa deu marcha à ré, fez a curva e foi embora. Quando estava longe da fazenda, parou no acostamento da estrada e chorou todas as lágrimas que tinha para derramar.
Dezesseis
Melissa arrastou­se durante o resto do domingo e não conseguiu dormir naquela noite. Triste e desesperançada, viu o nascer do sol. Em seguida fez algo inédito: telefonou para os empregados e lhes avisou que o Hip Hop Café não ia abrir naquele dia. Seriam pagos pelo dia, mas não precisariam ir até lá. Saiu para dar uma caminhada matinal. Voltou exausta e caiu na cama. Dormiu imediatamente, e só despertou às três da tarde.
Às 4h45 estava pronta, esperando Wyatt. Ele parou no meio fio na frente do restaurante e olhou ao redor, surpreso, único carro à vista era o de Melissa, e normalmente havia! uma fila de carros no local. Viu o aviso de FECHADO no Hip Hop Café.
­ Que diabos? ­ murmurou, preocupado com Melissa. Com a dedicação dela, o Hip Hop não estaria fechado sem uma forte razão.
Correu até a porta de Melissa e bateu.
­ Melissa? Ela abriu a porta.
­ Olá. Wyatt arregalou os olhos.
­ Querida, você está doente?
­ Não.
­ Mas o Hip Hop Café está fechado.
­ Isso não significa que estou doente. Entre.
­ Bem, algo está errado. O que é? ­ perguntou ele. Tinha que ser algo grave e parecia que Projeto Revisoras
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era mesmo, pensou Wyatt preocupado. Ela estava com olheiras e uma expressão trágica no rosto.
­ Querida, é sua mãe?
­ Minha mãe? ­ Melissa levou um minuto para entender.
­ Mamãe está bem. Sente­se, Wyatt. Não vai levar muito tempo, mas pode ficar à vontade.
Uma premonição dolorosa começou a tomar forma. Wyatt se sentou nervoso na ponta do sofá.
­ Então, o que está acontecendo? ­ perguntou. Melissa estava sentada com as costas e a cabeça eretas.
Suas mãos estavam cruzadas sobre as pernas.
­ Decidi que não vou vê­lo novamente. Será que ele tinha ouvido direito?
­ Você o quê? Ela pigarreou.
­ Sei que você me ouviu. Tenho pensado bastante. Você e eu não somos compatíveis. Não nos vejo como inimigos, nada disso. Mas eu não quero vê­lo novamente, jantar com você, essas coisas...
Wyatt desabou sobre o sofá e olhou para Melissa como se ela tivesse anunciado o fim do mundo. Finalmente conseguiu pronunciar uma palavra.
­ Por quê?
­ Eu acabei de explicar. Você não estava me ouvindo?
­ O que você quer dizer com "não somos compatíveis"?
­ Wyatt, eu não quero falar sobre isso. Já estou decidida. Os olhos de Wyatt se apertaram.
­ O que aconteceu? Por que o Hip Hop está fechado? Por que parece que você não dorme há dias?
­ Não me irrite. Wyatt se levantou, cada fibra de seu corpo exalando raiva e frustração.
~ Não irritar você? Você acha que anunciaria calmamente uma notícia dessas, como você fez, e que eu a aceitaria sem fazer algumas perguntas? Quando eu saí daqui sexta à noite Projeto Revisoras
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tudo estava às mil maravilhas entre nós. Você estava mais amorosa e doce do que nunca, e agora isso?
Ele andava em círculos diante dela. Melissa olhava para ele incomodada.
­ Pelo menos me faça o favor de explicar honestamente ­ ele disse com um tom de sarcasmo em sua voz.
­ Eu já expliquei.
­ Explicou nada! ­ gritou. ­ Por que o Hip Hop está fechado?
Por alguma razão, o aviso na porta do estabelecimento parecia­lhe a resposta para toda aquela confusão.
­ Eu precisava de uma folga.
­ Você podia muito bem ter tirado um dia de folga sem ter que fechar a cafeteria ­ ele assinalou.
­ Se isso o faz se sentir melhor, vou lhe responder dessa maneira. Eu quis fechar o Hip Hop.
­ Por quê? Você disse que não estava doente, Melissa, você não é assim.
Ela se levantou em um pulo.
­ Já chega. Eu disse que não ia falar sobre o assunto. Por favor, vá embora.
Por que ele estava brigando com ela? Dada a presente situação com Shannon, ele deveria estar aliviado.
A não ser que ele quisesse as duas.
Ele permaneceu ali e a encarou, estudando­a. Será que ele se apressara? Será que ela havia pensado novamente na traição e ficado com raiva? Mas ela não parecia estar com raiva. Ela parecia deprimida. Algo acontecera e ela não queria falar sobre o assunto.
­ E eu não posso falar nada ­ alegou com uma voz que transpareciam suas esperanças e sonhos e também a dor insuportável que sentia ­, mesmo que eu ame você e que sempre vá amar?
­ Só se eu acreditasse em você ­ disse Melissa, ainda de cabeça erguida.
O rosto de Wyatt perdeu toda a cor, e uma palidez que Melissa nunca esqueceria tomou conta dele.
­ Em que exato momento entre sexta à noite e hoje você deixou de acreditar? ­ perguntou Projeto Revisoras
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ele.
­ Não seja ridículo ­ replicou. ­ Não há um exato momento.
Mas existia, sim, ela pensou. Como ele podia ficar ali e dizer para ela que a amava, e que sempre a amara quando tinha passado o sábado transando com a ex­esposa?
Ele era o pior tipo de homem que existia, o tipo traidor e mentiroso que fazia isso com mais de uma mulher por vez. Podia haver outras mulheres, além de Shannon e ela, e ele podia estar usando a mesma conversa fiada com todas. Melissa levou as mãos nervosamente à cabeça, que doía.
­ Por favor, vá embora.
Wyatt se sentia tão desesperado, tão assustado.
­ Melissa, não faça isso.
Ela pôde perceber as lágrimas nos olhos dele, mas gelou o coração contra elas. Eleja usara lágrimas para influenciá­la antes e aquela encenação não funcionaria de novo.
Melissa olhou para a porta.
­ Vou ficar no meu quarto até você ir embora; você conhece a porta de saída.
As coisas tinham virado de cabeça para baixo tão rápido! Algo do que ela dissera continuava perturbando­o: "Você conhece aporta de saída." Ele tinha dito aquelas palavras Para Shannon no sábado à noite, mas ela não fora embora. Ele não estava na fazenda para vê­la partir, nem perguntou para ninguém ao voltar hoje às 15h. Shannon estava silenciosa demais para o gosto de Wyatt.
O sangue começou a correr furiosamente em suas veias quando sua mente seguiu por uma direção louca. Será possível que Shannon tivesse alguma coisa a ver com a atitude de Melissa? Aquela mulher era capaz de qualquer coisa. Mas por que Melissa não falou que Shannon tinha ido visitá­la?
­ Oh, inferno ­ ele murmurou.
Pensar nas mentiras e verdades distorcidas que Shannon pode ter falado a Melissa fez com que ele se sentisse fraco e vulnerável. Como um homem poderia se defender de uma mulher sem escrúpulos como ela?
Wyatt obrigou­se a sair da cadeira e foi ao quarto de Melissa. A porta estava entreaberta.
­ Não entre, Wyatt, eu pedi que fosse embora. Ele se encostou ao batente e cruzou os Projeto Revisoras
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braços.
­ A minha ex­mulher veio aqui?
­ Não seja ridículo.
Wyatt tinha certeza de que chegara à conclusão certa. Mas ainda não estava convencido.
­ Você conheceu minha ex­mulher?
Ele obteve sua resposta pela expressão surpresa de Melissa.
­ Oh, meu Deus ­ murmurou. Melissa e ele tinham voltado à estaca zero por causa das mentiras de Shannon.
Não, não era verdade. Eles tinham voltado à estaca zero porque Melissa acreditara nas mentiras de Shannon. Ainda existia um problema de confiança entre eles e ela nunca esqueceria o passado, não importa o que ele fizesse para repará­lo.
Wyatt abriu os olhos e viu o constrangimento de Melissa; ela não conseguia encará­lo.
­ Você a conheceu em algum momento durante o fim de semana, aparentemente, mas onde? ­ perguntou.
Melissa havia prometido a Shannon que não diria nada a Wyatt sobre a conversa que tiveram, mas ele havia adivinhado sozinho.
­ Em sua fazenda. Fui até lá ontem.
­ Sei, e você a conheceu.
Ele continuou olhando para a mulher à sua frente sentindo ao mesmo tempo uma empatia por ela e um vazio interior.
­ Eu sei o que ela falou ­ disse ele com voz entorpecida. ­ Tenho certeza de que você está aí sentada esperando que eu tropece em minhas próprias palavras, com explicações ansiosas e desculpas, Melissa, mas não vou fazer isso. Eu amo você. Sempre amei e sempre amarei. O resto é com você. Acredite no que quiser. Acredite em Shannon ou acredite em mim. Você sabe onde me encontrar.
Ele saiu do quarto.
Melissa não conseguia se mover. Mover? Ela não conseguia sequer pensar. Quem seria o mentiroso, Wyatt ou Shannon? "Acredite em Shannon ou em mim".
Um gemido veio do fundo de sua garganta e Melissa cobriu o rosto com as mãos.
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Melissa não conseguia se concentrar nos negócios nos últimos dias. De vez em quando, ela se pegava olhando para o nada, quando tinha muito trabalho a fazer, e procurando desculpas para entrar no carro e ficar sozinha por um tempo.
Numa tarde, Melissa virou na Rota 17. Depois de uns 25 ou 30 km de campo aberto, deu sinal com a seta e parou o carro no acostamento. Ela nunca vira bagunça maior do que aquela em torno do estabelecimento de Winona Cobb.
Melissa só a conhecia vagamente, mas não podia deixa de cumprimentá­la.
Foi recebida com alegria.
­ Olá!
Melissa se virou e viu Winona.
­ Oi, Winona.
­ Olá, Melissa Avery. ­ A mulher se aproximou. Que gentileza sua aparecer. Que tal um chá gelado?
­ Ótimo. Obrigada. ­Volto já.
Melissa foi até uma mesa cheia de objetos de cristal. Estavam todos empoeirados, mas Melissa examinou várias peça Uma delas, um vaso vermelho, era especialmente bonita.
Winona apareceu com dois copos nas mãos.
­ Quanto é esse vaso? ­ Melissa perguntou.
­ Ah, é uma imitação barata de vidro prensado. Se estiver interessada em artigos legítimos, eu tenho algumas peças na loja.
­ Eu não sou colecionadora, Winona. Achei bonito esse vaso. Quanto custa?
­ Bem, acho que dois dólares bastam.
Melissa tirou o dinheiro da bolsa e riu porque as mãos de Winona estavam ocupadas e ela não podia pegar o dinheiro.
­ Ponha no meu bolso ­ disse a mulher. Sentaram­se sob uma árvore.
­ Está muito bom, obrigada ­ disse, provando o chá.
­ Agora, diga­me o que a trouxe até aqui ­ pergunto Winona.
­ Eu só estava dirigindo por aí e decidi pegar a Rota 1 Winona sorriu.
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­ Nenhuma razão aparente, mas pode ter uma razão mesmo assim.
Melissa olhou para a mulher com curiosidade.
­ Você está falando de destino?
­ Você acredita em destino?
­ Não tenho certeza. A verdade é que eu nunca pensei muito nisso.
­ Não é muito religiosa?
­ Bem, existem vários argumentos razoáveis contra o destino, não é?
­ Quando pensamos nas tragédias da vida e pensamos em um Deus benevolente, sim, aparecem vários argumentos razoáveis contra o destino.
Melissa olhou para o horizonte e disse ponderadamente.
­ Acho difícil acreditar que meu pai, mesmo antes de nascer, estivesse destinado a ser assassinado tão jovem.
Winona disse com tato.
­ Você não é feliz, não é, Melissa?
Melissa sacudiu a cabeça e olhou para sua anfitriã.
­ É assim tão óbvio?
­ Para mim, é. Dê­me sua mão, minha jovem. Winona fechou os olhos. Melissa olhou para ela. As mãos da senhora eram quentes e confortáveis de uma maneira estranha.
­ O assassino do seu pai será encontrado no tempo certo ­ Winona sussurrou, acrescentando depois de um momento: ­ Mas esse não é o motivo pelo qual você está infeliz. O motivo é um homem, e uma mulher.
Melissa levantou a sobrancelha.
­ Outra mulher com duas caras. Winona abriu os olhos.
­ Tive uma visão com Tracy Roper a respeito da investigação que ela está fazendo sobre a morte de seu pai.
­ Que tipo de visão você teve, Winona?
­ Era sobre uma mulher com duas caras. E vejo algo muito parecido em relação a você.
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­ Deve ser a mesma mulher.
­ Não é. Isso é que é estranho.
­ Você consegue realmente ver uma mulher com duas caras? Quer dizer, ver mesmo? Você conseguiria descrevê­la?
Winona sorriu.
­ Só vejo simbolicamente, querida, é impossível explicar.
­ E como você interpretaria essa visão? Winona largou a mão de Melissa.
­ Pode significar várias coisas, Melissa... de uma mulher com uma personalidade totalmente diferente até alguém que simplesmente finge ser uma coisa que não é.
­ E você viu isso agora, enquanto segurava minha mão? Você realmente viu um homem que me faz infeliz e uma mulher de duas caras?
Winona balançou a cabeça concordando.
­ Isso faz algum sentido? Melissa cruzou os braços.
­ Talvez.
Wyatt precisou esperar até quinta­feira para se acalmar e ligar para Shannon em Helena.
­ Wyatt! ­ Ela exclamou em seu ouvido. ­ Que surpresa maravilhosa. Estava esperando sua ligação.
­ Estava? ­ falou friamente. Fiquei sabendo que você falou com Melissa antes de ir embora da fazenda.
­ Ah, ela lhe contou. Ela prometeu que não falaria nada. Acho que não podemos confiar em ninguém, não é mesmo?
­ Parece que essa é a opinião de todo mundo esses dias ­ ele respondeu. Mas só para você saber, ela não me contou. Eu adivinhei. Estou ligando para lhe dizer uma coisa. Depois que o bebê nascer, vou até a justiça descobrir quem é o pai dele.
­ Você vai o quê?
­ Você me ouviu. Se a criança for minha, eu vou até o tribunal pedir custódia Projeto Revisoras
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compartilhada. Claro que aceitarei minha responsabilidade financeira.
­ Seu filho­da­mãe.
­ Eu imaginei que você fosse dizer algo desse tipo. Adeus, Shannon.
E desligou.
Melissa estava perturbada desde que falara com Winona. Não estava dormindo bem e passava muito tempo andando pela casa à noite. O pior de tudo era a briga interminável que acontecia entre seu bom senso e suas fantasias.
­ Paranormalidade é uma grande besteira ­ uma voz dizia a ela.
­ Ah, é? Se alguém como Tracy leva Winona a sério, por que você não age de forma igual? ­ argumentava outra voz.
O problema era que Winona havia acertado completamente. Melissa estava infeliz, e a causa disso era definitivamente um homem e uma mulher. Era a história da mulher com duas caras que lhe causava arrepios. E se fosse verdade, Melissa, que sempre tinha se considerado inteligente, havia sido enganada por uma mulher sem escrúpulos.
E, o pior de tudo, claro, era a maneira terrível com que tratara Wyatt naquela noite. Pensando bem, o pior era ter se apaixonado por Wyatt. De novo.
­ Oh, Deus ­ lamentou­se ela quando aquele fato irrevogável ficou claro. Era contra aquilo que brigava todos os dias desde que ele entrara no Hip Hop e, obviamente, ela havia perdido a luta.
Então, ela faria algo ou sofreria a vida toda? "Acredite em Shannon ou em mim".
Era uma frase muito simples para afetar tanto uma pessoa. Com as mãos trêmulas, discou o número da fazenda.
­ Fazenda North.
Era Marion, a empregada. O fato de Wyatt não ter atendido ao telefone trouxe um alívio perverso a Melissa.
­ É Melissa Avery. Eu... eu preciso falar com Wyatt.
­ Ele não está, srta. Avery. Ele disse que ficaria no chalé por alguns dias; e isso foi ontem à tarde. Você pode ligar para lá.
­ Ah, Melissa respirou. ­ Eu não tenho o telefone de lá. Será que você poderia me dar, por Projeto Revisoras
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favor?
­ Claro. É 555­ 8828. Melissa anotou o número.
­ Obrigada.
Desligou, olhou para o papel em sua mão e percebeu que estava feliz por Wyatt não ter atendido ao telefone.
Talvez se ouvisse da boca de Wyatt que Shannon não tinha dividido a cama com ele, conseguisse pedir perdão pela grosseria que fizera na outra noite e retomasse do ponto em que estavam.
Quanto mais pensava nessa teoria, mais fazia sentido. Mas Melissa teria que tomar coragem e falar com ele pessoalmente. Ela teria de olhar para Wyatt quando ele desse a resposta... olhá­lo nos olhos. Suas emoções sempre transpareciam em seu olhar.
E Wyatt estava no chalé. Ela iria até lá e...
Melissa parou, com a ponta dos dedos nos lábios, numa pose questionadora. Pegou as chaves do carro, parou para falar com Wanda por um minuto e correu sem se preocupar em vestir algo mais apropriado para uma viagem às montanhas. Sentia que estava fazendo o certo, apesar de seu coração estar a mil por hora. Estava, pelo menos, fazendo alguma coisa... o que era muito melhor do que se comportar como alma penada.
Não importava o que acontecesse no chalé, fosse qual fosse o resultado do confronto, aquela tortura tinha que acabar.
Dezessete
Wyatt e Joe Lott tinham cortado madeira o dia inteiro. Estavam empilhando a lenha quando ouviram o ronco de um motor. O carro se aproximava da propriedade de Wyatt.
­ Tem alguém chegando ­ comentou Joe.
­ Parece que sim..
Do depósito de madeira não se conseguia ver a estrada que terminava na clareira, então Wyatt caminhou até o canto esquerdo do chalé para ver quem se aproximava. Ao Projeto Revisoras
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enxergar o carro de Melissa, ficou imóvel por alguns momentos e depois se voltou para Joe.
­ Joe, será que você podia sair por algumas horas? Os olhos azuis do homem brilharam provocativos.
­ Um pouco de privacidade?
­ É. Ligue antes de voltar, está bem?
­ Claro.
Wyatt bateu nas costas de seu velho amigo caseiro.
­ Obrigado.
Joe tirou as luvas, deixando­as em cima de uma pilha de lenha.
­ Até mais ­ E foi em direção à caminhonete. Wyatt estava nervoso, apesar de jurar que Melissa não
perceberia. Respirou fundo e então tirou as luvas e as usou para remover algumas farpas e lascas de madeira da calça jeans. Ele ouviu Melissa chegar e estacionar no momento em que Joe saiu com sua caminhonete.
­ Na hora ­ pensou Wyatt enquanto contornava o chalé e chegava ao estacionamento.
Melissa saiu do carro.
­ Oi.
Wyatt se aproximou, percebendo que ela não o olhava nos olhos.
­ Oi, alguma dificuldade para encontrar o lugar?
­ Poucas. Entrei em algumas entradas erradas, mas... aqui estou.
Melissa estava ali. E Wyatt queria perguntar o motivo. Talvez fosse melhor esperar que ela o dissesse.
­ Vamos entrar ­ ele a convidou, observando que ela não estava vestida adequadamente.
O dia estava ensolarado, mas o ar da montanha era frio demais.
­ Obrigada ­ Melissa sussurrou. Wyatt estava tão bonito que as pernas dela ficaram bambas só de olhar para ele. Mas será que estava feliz em vê­la? Não podia dizê­lo. Os olhos dele, normalmente tão expressivos, estavam quietos.
Andavam em direção ao chalé.
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­ Quem era o senhor que acabou de sair?
­ Joe Lott. Ele é o caseiro.
Wyatt abriu a porta da frente e se afastou para que Melissa entrasse antes dele.
­ Espero que ele não tenha sido expulso por minha chegada.
Wyatt fechou a porta atrás de si.
­ Ele tinha algumas coisas para fazer. Olha só, vou preparar um café e tomar um banho. Sinta­se à vontade, não demoro.
Melissa, que tinha andado até o meio da sala, virou­se para ele.
­ Por que você não vai direto para o banho e deixa que eu preparo o café?
Aquela oferta surpreendeu Wyatt, mas não tanto quanto o fato de ela estar ali.
­ Boa idéia, obrigado. ­ E a deixou sozinha.
Melissa foi para a cozinha. Ligou a cafeteira e, da janela, viu a serra elétrica, os machados, e concluiu que Wyatt estava cortando lenha antes de sua chegada.
Começou a andar pela cozinha, pensando que tinha que dar um fim àquele assunto. Esclarecer talvez não fosse o melhor termo para o que ela queria. Ouvir Wyatt não seria mais apropriado?
Quando Wyatt voltou, dez minutos depois, Melissa estava sentada à mesa com uma xícara de café.
­ Tem uma xícara para você perto do bule.
Ele vestia roupas limpas. Estava bonito e másculo, e Melissa sentiu que poderia ficar olhando para ele eternamente. Ela respirou e pensou que "para sempre" poderia ser o tempo desta visita.
­ Obrigado ­ ele disse. Virou­se para Melissa. ­ Quer ir para à sala? Sente­se mais confortável lá?
­ Melhor ficar aqui mesmo, se você não se importa. Eu gosto da cozinha.
Ele acenou concordando.
­ Também gosto.
A tensão estava no ar.
Wyatt foi quem falou primeiro.
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­ Bom ver você. Estou pensando se...
Ele logo parou, lembrando­se de não pressioná­la.
­ Você foi à fazenda antes de vir até aqui?
­ Telefonei para lá. Marion me disse que você tinha vindo passar alguns dias aqui. Ela me deu o número, mas quis vir aqui falar com você pessoalmente.
­ Fico feliz.
Os olhares se encontraram e despertaram emoções. Melissa engoliu em seco.
­ Wyatt.... Não sei por onde começar. Não, não é verdade. Sei exatamente por onde começar. Eu o tratei de maneira injusta naquela noite que você foi no meu apartamento para me levar para jantar, e eu gostaria de pedir desculpas.
­ Desculpas aceitas.
O fato de Melissa ter ido até ali era como um sonho. Agora, ele queria que ela falasse por si mesma.
Melissa abaixou os olhos e correu o dedo pela borda da xícara.
­ Você disse que eu tinha que decidir se acreditaria em Shannon ou em você. Não é assim tão simples, Wyatt. Shannon me disse umas coisas... ­ Ela parou para respirar e levantou os olhos. ­ Ela é muito bonita, não é mesmo?
­ Ela acha que sim.
Melissa olhou novamente para a xícara.
­ Eu também acho. Wyatt, aquilo que você disse sobre ela ter preparado uma armadilha para vocês se casarem há seis anos... Você não acredita naquilo de verdade, não é?
Wyatt se inclinou em sua cadeira. Alguns momentos se passaram. Por fim, disse:
­ Vou dizer uma coisa que nunca falei para ninguém. Não ia lhe contar, mas quero que conheça os meus pensamentos mais profundos. Não tenho certeza de que Timmy seja meu filho biológico. Na noite em que me contou que estava grávida, Shannon disse que eu era o único homem com quem ela havia dormido nos últimos meses. Depois que nos casamos, descobri que ela saía com vários homens, e conhecendo­a como conheço, sei que eles não ficavam apenas de mãos dadas.
Melissa parecia chocada. Wyatt se apressou a acalmá­la.
­ Eu não poderia amar Timmy mais do que amo. Respondendo, porém, à sua pergunta: Projeto Revisoras
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sim, acredito que ela preparou uma armadilha para me forçar a casar com ela. Acredito que, na noite da festa, ela queria encontrar um marido porque já estava grávida.
­ Oh, Wyatt, ela me disse que está grávida agora.
­ Ela me disse a mesma coisa.
­ E é verdade?
­ Ela me mostrou um atestado. Ela não lhe mostrou?
­ Não.
Melissa se sentiu tão nervosa de repente que não sabia o que fazer. Por que ela estava ali? Por que estava pondo a si mesma, e também a Wyatt, nessa situação? Ela começou a olhar em volta como se procurasse um lugar por onde escapar.
­ Acho que não tenho mais perguntas.
Wyatt percebeu que Melissa estava quase sufocando. Eles só tinham começado a conversa e ele não podia permitir que ela parasse.
­ Você ainda tem perguntas sim. Que tal essa: Wyatt, você acredita na autenticidade desse atestado?
Melissa o encarou.
­ Você não acredita?
­ Nem todos os médicos têm ética, Melissa. Não posso fazer uma acusação sem provas, mas Shannon tem vários amigos e talvez tenha conseguido o atestado de um deles. Ela manipula muito bem as pessoas.
Ele fez uma pausa.
­ Bem no fundo, entretanto, acredito sim.
­ O filho é seu? ­ Ela perguntou, quase inaudível.
­ Ela diz que sim, eu digo que não. Eu lhe contei sobre o caso dela com Rick Malone.
­ Você nunca mencionou esse homem.
Melissa empurrou a cadeira, levantou­se e foi olhar pela janela.
­ Esse filho pode ser seu?
Wyatt olhou para as costas de Melissa, sua cintura fina, o cabelo trançado e o belo vestido que ela usava. Ele a amava profundamente, mas será que discutir a vida sexual dele e de Projeto Revisoras
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Shannon ajudaria alguma coisa? Ainda assim, se ela estava decidida a saber, ele contaria.
Antes de responder, ele respirou vagarosamente.
­ Nós éramos casados, Melissa. Dividíamos a mesma cama. Você quer ouvir os detalhes? Se quiser, é só dizer. Contarei tudo o que quiser ouvir.
Ela se virou para ele.
­ Não. Sem detalhes, por favor, mas essa criança pode ser sua?
­ Existe uma probabilidade ínfima. Eu pretendo descobrir depois que a criança nascer, e já avisei isso a Shannon outro dia.
­ Você tornou a vê­la?
­ Não. Eu telefonei para ela. Especificamente para dizer que pretendo ir à justiça exigir testes de paternidade. Se for meu, quero todos os meus direitos como pai.
Melissa levou as mãos às têmporas.
­ Shannon... disse que vocês se casariam de novo.
­ Melissa, se você realmente acredita nisso, por que está aqui? ­ Ele a estudava. Você não acredita nela, acredita?
­ Eu acreditei, mas....
Wyatt se inclinou para a frente.
­ Shannon está acostumada a conseguir tudo o que quer, Melissa. Quando contou a Rick que estava grávida, ele foi embora de Helena, ela mesma me disse isso. Então, ela foi até a fazenda acreditando que poderia me convencer a me casar com ela de novo. Eu sei como funciona aquela mente e tenho certeza de que ela pensou que algumas lágrimas e uma atitude de "coitadinha de mim" fariam com que conseguisse aquilo de que precisa novamente: um marido. E não funcionou. Não dessa vez, eu disse a ela. Então cometi o erro de falar sobre você.
­ O que você falou de mim?
­ Que eu queria me casar com você. Melissa se desviou do olhar intenso de Wyatt.
­ Oh, meu Deus ­ ela sussurrou. ­ Fiquei imaginando, quando você me falou sobre seu divórcio, que você estava cortando os laços com Shannon por minha causa.
­ Você não teve nada a ver com isso ­ ele disse gravemente. ­ Olha, vivíamos Projeto Revisoras
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pessimamente desde o início, mas tentei fazer com que o casamento funcionasse. Morei em Helena, mesmo detestando o lugar. Ela se recusava a sequer visitar a fazenda, quanto mais morar nela. Melissa, quando tomei conhecimento de Rick Malone senti como se tivessem tirado o mundo de minhas costas. Foi isso que encerrou o fiasco que foi meu casamento, não o fato de você ter voltado para Whitehorn. Antes de ir até sua cafeteria, eu nem sabia que você tinha voltado. Deixe­me dizer uma coisa: mesmo que você não tivesse voltado, eu não me casaria com Shannon de novo. Mesmo que o bebê fosse meu.
Melissa ainda evitava olhá­lo nos olhos.
­ Ela me contou uma história totalmente diferente.
­ Como eu disse, ou você acredita nela ou em mim. Havia mais uma pergunta, e já que havia chegado tão longe, era melhor que fosse até o fim.
­ Ela dormiu com você quando estava na fazenda? Vocês fizeram sexo?
Wyatt sorriu amargamente.
­ Ela não perde uma oportunidade. Bem, vou lhe contar. Depois que ela fez sua ceninha e eu disse que não me deixaria enganar de novo, deixei­a no escritório. Antes de sair, disse que ela conhecia a saída. Mas, em vez de ir embora, ela se embebedou. Tinha bebido e rumado como uma louca, e reclamei sobre uma grávida prejudicar a saúde de seu bebê com cigarro e álcool. Não sei o que passou pela cabeça dela, mas depois que saí, ela bebeu até desmaiar. Eu estava na cama quando Marion me avisou. Pusemos Shannon no quarto de hóspede. Foi Marion que a despiu. Eu a deitei na cama e saí do quarto. Quando eram mais ou menos duas da manhã, acordei e a encontrei em minha cama. Ela estava nua e se insinuava. Acho que ela finalmente entendeu o recado quando eu a expulsei do quarto imediatamente. Lembro­me de que ela disse que se vingaria de mim por causa do insulto. Parece que encontrou a oportunidade quando você apareceu na fazenda. Melissa, essa é a história completa. Em vez de vir para o chalé, para não mais precisar vê­la novamente, eu deveria ter ido direto para sua casa, acordado você e contado tudo. Mas, mesmo sabendo que Shannon é egoísta e só se preocupa consigo própria, nunca imaginei que ela falaria com você e tentaria destruir tudo. ­ A voz dele ficou mais calma. ­ Talvez ela tenha conseguido, não é?
Melissa começou a chorar. Secava as lágrimas, mas elas não paravam.
Wyatt levantou­se, deu a volta na mesa, tirou­a da cadeira e a abraçou.
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­ Desculpe. Não sei por que estou chorando; estou muito confusa.
­ Como poderia ser diferente?
Apesar de sentir amargura nos lábios, ele falava gentilmente. Gostaria de ficar abraçado a ela para sempre.
­ Estava me sentindo extremamente infeliz a semana inteira ­ sussurou ela chorosa.
­ Eu também, querida. Deixe­me preparar­lhe alguma coisa para beber e aliviar sua tensão.
Fungando, ela assentiu. Wyatt a levou pela mão até uma cadeira ao pé da lareira.
­ Sente­se e relaxe ­ disse. ­ Volto já. Voltou logo com duas canecas fumegantes.
­ Está quente, cuidado ­ disse ele.
­ Obrigada. ­ Sentia o cheiro da bebida alcoólica. Estava boa e aqueceu­lhe a garganta.
Ele se sentou na cadeira próxima à dela. Então disse, baixo, com a voz tensa:
­ Se eu lhe fizer uma pergunta, você me responde com sinceridade?
­ Tentarei. ­ Com as mãos trêmulas, levou a caneca aos lábios.
­ Você sabe o que sinto por você... mas como se sente a meu respeito? Você me ama?
Que outro motivo ela teria para estar ali?, raciocinou ele. Ainda assim, precisava ouvir as palavras de Melissa.
­ Acho que... sim.
Wyat experimentou uma sensação de alívio.
Achar que o amava e ser capaz de afirmá­lo era um grande avanço. Mesmo assim, ele tinha percebido sua relutância. Não parecia muito animada com o fato de estar apaixonada por ele.
Sem dizer palavra, ele se levantou para acender a lareira. Quando o fogo começou a crepitar, Wyatt voltou à cadeira.
Suspirando, Melissa se enroscou no assento. A quentura da bebida e do fogo começava a lhe deixar um pouco sono; lenta, e ela se pôs a pensar nas diferenças entre as histórias contadas por Shannon e Wyatt.
"­ Acredite em Shannon ou acredite em mim..."
­ Quero acreditar em você ­ disse ela, como se não houvesse lapso na conversa.
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­ Sei que a magoei há seis anos e que isso destruiu sua confiança. Sei que nós dois nos reencontramos de forma inesperada e que conhecer e conversar com Shannon, logo quando estávamos superando o passado, abalou tudo novamente. Culpo você por reagir assim? Não. Guardo ressentimentos por sua reação? Tenho ressentimentos, mas não contra você. Shannon tem muito o que explicar, mas acho que toda causa tem conseqüências. Paguei por meus pecados, e Shannon pagará pelos dela.
Mordeu os lábios.
­ Não me entenda mal. Não estou lhe desejando o mal, mas seu egoísmo a atingirá mais cedo ou mais tarde. Não sei mais o que dizer. Não posso mudar o passado. Bom seria se eu pudesse. Perdemos seis anos, tempo que deveríamos ter passado juntos, nos amando e tendo filhos.
Ele viu as lágrimas correndo dos olhos dela.
­ Não chore.
­ Não... consigo evitar. Wyatt, você acha mesmo que sou uma pessoa rígida?
Ele sorriu.
­ Rígida comigo, é sim.
­ Não quero ser assim. Minhas esperanças eram de que...
Não conseguia se recordar de esperanças mais pessoais; certamente, nenhuma que incluísse se apaixonar.
Olhando para Wyatt, soube o motivo. Nunca tinha deixado de amá­lo, até mesmo quando estava zangada e magoada, jurando que o desprezaria. E ele jamais deixara de amá­la. Como é que ela pode ter sido tão tola a ponto de não perceber isso antes? Não ter acreditado?
­ Nossas vidas seguiram caminhos estranhos ­ murmurou ela.
Wyatt assentiu.
­ Um pouco mais estranho do que a maioria, acho. Mas é passado e já foi esquecido. Pelo menos, por mim. Meu casamento me deu algo bom, Timmy. Ele virá daqui a duas semanas. Eu gostaria que você o conhecesse.
­ Eu adoraria conhecê­lo também.
Havia algo na voz dela revelando que o pior já tinha passado. Ele se ajoelhou diante dela, Projeto Revisoras
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pegou a caneca vazia e a pôs no chão. Tomou suas mãos.
­ Eu amo você, Melissa. Sempre amei, e continuarei amando até o fim de meus dias.
Ela estava chorando de novo, aos soluços.
­ Tenho sido.... uma boba. ­ Puxou as mãos e o enlaçou pelo pescoço. ­ Wyatt, por favor, perdoe­me. Eu também amo você, amo muito.
Finalmente, pensou ele, tonto de alívio. Beijando seu rosto úmido, ele percebeu que as próprias lágrimas se misturavam às dela.
­ Melissa... Pousou os lábios sobre os dela, e a intensa reação acendeu­lhe as chamas da paixão.
­ Ah, Wyatt ­ disse ela. ­ Quero você. Preciso de você.
Beijaram­se até perder o fôlego. Com um grito de júbilo, ele a pegou no colo e saiu da sala.
Melissa fechou os olhos durante o percurso até o quarto dele.
­ Eu amo você ­ murmurava. ­ Eu amo você.
Era uma sensação boa dizer isso, mas melhor ainda era o sentimento. Libertar­se do passado foi como se tivesse dado um passo das trevas para a luz do sol.
No quarto de Wyatt despiram­se e se deitaram. Beijaram­se e trocaram carícias. Da alegria passaram para o ardor de completar o ato. Gritaram juntos e Wyatt jurou que seria sempre assim, para o todo o sempre. Saciados, abraçaram­se até normalizarem a respiração.
­ Jamais esquecerei o dia de hoje ­ murmurou Melissa.
­ Eu também não ­ disse Wyatt, com a voz embargada pela emoção.
Ergueu­se para contemplá­la.
­ Você é tão bonita, Melissa. Adoro ficar olhando para você.
Ela levou uma das mãos até o rosto dele.
­ Posso dizer o mesmo. Desculpe ter sido tão difícil ­ sorriu ela, arrependida.
­ Chega de desculpas, meu amor. Quer se casar comigo? Melissa ficou com os olhos fechados por um momento, e em seguida os abriu, cheios de luz:
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­ Quero, sim.
­ Agradeço­lhe, meu Deus! ­ disse em êxtase, abraçando Melissa com fervor. ­ Temos que fazer planos. Eu gostaria que tivéssemos uma longa lua­de­mel.
Olhando dentro dos olhos dela, perguntou:
­ O que você acha? Ela riu prazerosamente.
­ Adoraria.
­ Estou pensando na Europa... Paris, em particular. Um sorriso sonhador tomou­lhe o rosto.
­ Paris é uma idéia maravilhosa. Qualquer lugar com você é maravilhoso.
O telefone tocou.
­ Deve ser Joe ­ comentou Wyatt. ­ Alô? Melissa deu uma risada discreta.
Quando ele desligou, ela afirmou em tom de provocação:
­ Então Joe tinha umas coisas para fazer... ­ Com a voz suave, completou: ­ E você também. Fizemos, não foi?
­ Acho que sim ­ disse ele com um suspiro de felicidade.
Epílogo
Havia decisões importantes a tomar antes do casamento. Muitas delas diziam respeito ao Hip Hop Café. Wyatt podia deixar a fazenda sem preocupações, mas Melissa era um componente tão importante no sucesso da cafeteria, que sair numa lua­de­mel longa poderia provocar algum revés.
Viam­se todas as manhãs e discutiam o problema sob vários pontos de vista. A triste verdade é que sempre empacavam no fato de não tinham uma pessoa capaz, que pudesse substituir Melissa.
Discutiam outras questões, também. Melissa dera a notícia do casamento a sua mãe. Nan ficou feliz. Elas riram e conversaram um bom tempo antes de Melissa ter coragem de perguntar:
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­ Você vem para meu casamento, mamãe? Seguiu­se um pesado silêncio. Nan começou a alegar que a viagem era longa e sua saúde estava abalada, e Melissa sabia que a mãe ainda se agarrava à decisão de jamais voltar a Whitehorn.
A noite, comentou com Wyatt.
­ Ela não virá ao casamento. É porque todo mundo em Whitehorn acreditou, durante anos, que papai tinha nos abandonado e ela ficou tão magoada, que simplesmente não quer mais vir à cidade.
­ Boatos podem ser fatais ­ concordou Wyatt.
Outro problema a ser superado era a falta de resultados na investigação sobre a morte de seu pai. Conversava com Wyatt sobre o assunto.
­ Não acontece nada ­ comentou um dia, frustrada.
­ Faça as coisas acontecerem, querida.
­ Como? O que sei eu de investigações sobre assassinatos?
­ Contrate um detetive.
Os olhos de Melissa brilharam.
­ Já tinha pensado nisso. É uma boa idéia, não é?
­ Acho que sim.
E, assim, ela começou a procurar um detetive. Acabou chegando ao nome de Nick Dean, detetive particular, que a atendeu cordialmente ao telefone. Melissa explicou por que ela precisava de seus serviços e ele aceitou o caso, embora não tenha dado a ela uma data para começar, por causa de seu volume de trabalho.
­ Nas próximas semanas ­ disse ele. ­ Está bem assim? Melissa aceitou.
­ Com a condição de que nos encontremos para conversar antes de meu casamento em novembro. Depois disso estarei fora durante um tempo.
Ao desligar, sentiu­se melhor em relação a esse problema.
Wyatt jantou no apartamento dela numa quarta­feira à noite, mas Melissa mal tocou no prato. Wyatt notou.
­ O que está acontecendo, querida? Ela pôs os cotovelos na mesa.
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­ Wyatt, tenho que lhe perguntar uma coisa. Até que ponto você me ama?
Ele a olhou firme e, em seguida, riu.
­ Deixe­me ver. Em dimensões, mais ou menos do tamanho do universo...
­ Pare ­ disse ela rindo, e logo em seguida ficou séria. ­ Você ficaria profundamente decepcionado se não tivéssemos uma longa lua­de­mel depois do casamento?
­ É isso que você quer?
­ Não, mas como posso sair por tanto tempo sem ter alguém de confiança para tomar conta do Hip Hop Café?
Ele falou lentamente.
­ Acho que não pode.
Melissa esticou­se para pegar a mão dele.
­ Wyatt, podemos ir no próximo ano, talvez antes disso. Posso treinar uma pessoa para fazer o serviço, mas leva tempo.
­ Jamais lhe recusarei qualquer coisa, Melissa. Se você acha que devemos adiar nossa lua­
de­mel, assim será. Também tenho algo em mente. Estou preocupado porque Timmy está longe há muito tempo. Talvez seja melhor para nós dois se adiarmos a lua­de­mel.
Ela sorriu para ele.
­ Compreendo e concordo.
Após uma leve hesitação, ela disse humildemente:
­ Há um outro assunto.
­ O que é?
­ Gostaria que nos casássemos na Califórnia, para que minha família estivesse presente. Poderíamos levar Timmy conosco, se você quiser. Ah, Wyatt, sou um fardo para você, contra minha vontade. É que...
Ele estendeu­lhe a mão.
­ Venha cá.
Ele a puxou para seus braços.
­ Escute, meu bem. Você jamais será um fardo para mim. Adoro tudo que a rodeia. Não dou a menor importância ao lugar do casamento. Entendeu?
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Jackie Merritt
Juntos Para Sempre
Ela abriu um sorriso largo.
­ Entendi. Maravilha. Você é maravilhoso. Vou ligar para mamãe e...
­ Telefone para sua mãe de manhã. Agora, não. Com tom jocoso, Melissa olhou para a mesa.
­ E o jantar?
­ O jantar pode esperar, meu bem. Tomou sua mão e a levou para fora da cozinha.
Wyatt atendeu o telefone.
­ Fazenda North. ­ Wyatt, aqui é Wilbur Kiley. Wyatt ficou alerta.
­ Como vai, Wilbur?
­ Muito bem, obrigado. Wyatt, Shannon me pediu que ligasse.
­ Ah, é? ­ O estômago de Wyatt se apertou.
­ Ela se casou ontem à noite... com Rick Malone. Escute, Wyatt, eu sei o que ela quis fazer com você e sua mulher. Ela acabou me confessando toda a sordidez há alguns dias. Eu só queria lhe avisar que você está livre. O bebê é de Rick. Ambos me contaram.
Wyatt ficou bambo de alívio.
­ Obrigado, Wilbur.
­ Bem, Rick Malone não é Wyatt North, mas talvez seja o tipo de homem de que Shannon precisa. Tenho certeza de que a controlará.
­ Por favor, diga a ela que lhe desejo tudo de bom.
­ Muito generoso de sua parte, Wyatt. Darei a mensagem. Você vai ficar com Timmy no próximo fim de semana, não é? É um garoto legal, Wyatt.
­ É, sim.
­ E isso me leva à verdadeira razão deste telefonema Wyatt, você aceita ficar com a custódia integral de Timmy?
Seu queixo caiu.
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Jackie Merritt
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­ Claro que sim. Mas Shannon...
­ Rick prefere não criar o filho de outro homem, Wyatt. Tenho tentado não julgar Rick nem minha filha por aceitar­lhe os desejos, especialmente porque tinha certeza de que você daria pulos de alegria com essa decisão.
Wyatt achou que seu coração fosse explodir de felicidade.
­ Por escrito, Wilbur?
­ Por escrito. A única coisa que Shannon pede é permissão para vê­lo em intervalos regulares.
­ Claro que sim.
Wyatt não sabia como conseguia falar normalmente. Timmy podia morar na fazenda. Podia freqüentar a escola em Whitehorn. Parecia um sonho.
­ Sei que você vai se casar, Wyatt. Parabéns. Felicidades.
­ Obrigado, Wilbur.
Melissa apaixonou­se por Timmy à primeira vista e a recíproca foi verdadeira. Wyatt sabia que ela também ia ficar feliz com a custódia integral.
­ Vamos manter contato. Gostaria de ver meu neto Timmy de vez em quando.
­ Você pode vê­lo a hora que quiser, Wilbur. Tem convite para visitar a fazenda sempre que desejar.
Depois da ligação, Wyatt sentou­se, perplexo. Acabara de receber o presente mais precioso ­ seu filho, morando com ele.
Ligou para o Hip Hop. Queria compartilhar sua euforia com Melissa.
­ Melissa? Ouça, querida, algo incrível aconteceu. ­ Contou­lhe a novidade.
­ Ah, Wyatt, as coisas estão perfeitas, não estão?
­ Sim, meu amor. Está tudo perfeito. E estava tudo perfeito.
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