Aspectos Fisiológicos das Técnicas de Estrangulamento (SHIME

Transcrição

Aspectos Fisiológicos das Técnicas de Estrangulamento (SHIME
LUTAS:
Aspectos Pedagógicos e Aprofundamentos
Prof. Ddo. José Fernando de
Oliveira
ASPECTOS FISIOLÓGICOS DAS TÉCNICAS DE ESTRANGULAMENTO
(SHIME-WAZA)
Introdução:
As técnicas de estrangulamento foram criadas com o objetivo de deixar o
adversário inconsciente. Porém, como adaptação para o judô competitivo, estabeleceuse que o indivíduo submetido a esta técnica deve "bater" três vezes no solo ou no
adversário indicando a desistência. A desistência ou a inconsciência determina o final
da luta (ippon).
Essas técnicas de estrangulamento exemplificam o princípio elaborado por Jigoro
Kano: mínimo esforço e máxima eficácia. Ou seja, indivíduos com menor força podem
derrotar indivíduos mais fortes, pela aplicação correta dessas técnicas (KOIWAI, 1996;
OHLEMKAMP, 1996).
Por uma questão de segurança, as técnicas de estrangulamento são permitidas
apenas a partir da classe Juvenil (acima de 15 anos de idade).
A classificação das técnicas de estrangulamento são realizadas a partir do
posicionamento do indivíduo que a aplica e do que recebe:
•
•
•
mae-jime - técnicas aplicadas pela frente do adversário;
yoko-jime - técnicas aplicadas ao lado do adversário;
ushiro-jime - técnicas aplicadas por trás do adversário (VIRGÍLIO, 1986).
Fisiologia:
Do ponto de vista fisiológico, as técnicas de estrangulamento podem ser
classificadas como:
a) Sanguíneas - causando interrupção do fluxo sanguíneo para o cérebro e
conseqüentemente do transporte de oxigênio;
b) Respiratórias - impedindo o fluxo de ar para os pulmões
No judô, há basicamente três maneiras de estrangular um oponente, ou uma
combinação destas (OHLEMKAMP, 1996):
1. Compressão das artérias carótidas nos dois lados do pescoço, restringindo o
fluxo sanguíneo e o transporte de oxigênio para o cérebro.
2. Compressão da traquéia, impedindo ou reduzindo o fluxo de ar para os
pulmões.
3. Compressão do tórax e pulmões, impedindo o adversário de inspirar (utilizada
juntamente com técnicas de imobilização).
Aspectos Fisiológicos das Técnicas de Estrangulamento
(SHIME-WAZA)
1
Do ponto de vista técnico, exceto por uma forma de estrangulamento (hadaka-
jime), a pressão é aplicada no lado lateral do pescoço, mais precisamente no “triângulo
carotídeo” (corpo carotídeo). No centro do “triângulo” estão: as veias jugulares, a
artéria carótida, suas ramificações e o sino carotídeo. Nenhum músculo extremamente
forte protege essa área. Portanto, a técnica consiste em aplicar pressão diretamente a
essas estruturas. A pressão pode ser aplicada pela lapela do quimono ou pela parte
distal do rádio e punho, comprimindo as estruturas do pescoço. Até que todas as
estruturas estejam comprimidas, a técnica não terá efeito (IKAI et al., 1958; KOIWAI,
1996; OGAWA & AKATSU, 1963).
A técnica hadaka-jime difere dessas outras, pois a pressão é aplicada na laringe
e na traquéia, fazendo com que o adversário desista mais pela dor do que pela
sensação de perda de consciência (KOIWAI, 1996).
Em ambas as técnicas, a utilização do quimono parece ser menos efetiva do que
a utilização de estruturas ósseas do antebraço.
Conseqüências:
1. O estado de inconsciência ocorre, em média, em cerca de 10 segundos (8-16
segundos) após o início da técnica. Após a liberação do estrangulamento, o
sujeito retoma a consciência naturalmente (espontaneamente) sem dificuldades
em cerca de 10-20 segundos.
2. No hadaka-jime, a pressão sobre a laringe e a traquéia produziam dor
extrema, enquanto nas outras técnicas a inconsciência não era precedida de
dor.
3. A inconsciência resultante da aplicação do estrangulamento no judô é
principalmente conseqüência da insuficiência de oxigênio e aos distúrbios
metabólicos, como resultado do distúrbio causado à circulação cerebral.
4. A aparição de rubor na face é conseqüência do distúrbio de pressão nas
artérias carótidas e veias jugulares.
5. Quando ocorriam convulsões, o eletroencefalograma era bastante similar ao de
um ataque epiléptico. Porém, quando o estrangulamento é interrompido antes
da
perda
de
consciência,
não
há
alterações
importantes
no
eletroencefalograma.
6. Ocorre taquicardia (aumento da freqüência cardíaca), hipertensão (aumento da
pressão sanguínea) e midríase (dilatação das pupilas).
7. De acordo com os testes, nenhum efeito deletério permanece após o
estrangulamento.
Observação:
Aspectos Fisiológicos das Técnicas de Estrangulamento
(SHIME-WAZA)
2
1. Realizar
estrangulamento
em
indivíduos
com
desordens
cardíacas
ou
hipertensão pode ter sérias conseqüências, assim, a prática não competitiva do
judô deveria evitar essas técnicas.
2. Aplicar estrangulamentos em indivíduos jovens, cujo sistema nervoso central e
o coração ainda não estão completamente desenvolvidos também pode trazer
conseqüências desastrosas, e nesse sentido, a regra proíbe a aplicação dessa
técnica antes da classe Juvenil; embora alguns técnicos ensinem seus atletas
em idades inferiores, com intuito de prepará-los para a classe Juvenil - o que é
inadequado para o desenvolvimento do atleta.
Aspectos Fisiológicos das Técnicas de Estrangulamento
(SHIME-WAZA)
3