Entendendo a Identidade de Gênero

Transcrição

Entendendo a Identidade de Gênero
1
Entendendo a Identidade de Gênero
Por Wal Torres, Ph.D.
Copyright © 2007, Gendercare.com
Abstract/Resumo:
Infelizmente ainda se considera – equivocadamente – que só seres humanos têm uma
identidade de gênero, definida como “se perceber homem ou mulher”. Confunde-se
muito a identidade com os papeis de gênero, “como alguém se mostra como homem ou
mulher” numa sociedade. Aqui generalizamos o conceito de identidade de gênero:
“como um organismo se percebe num espaço virtual de percepção de gênero” e não
consideramos a vivência de papéis – que são exclusivamente humanos. Para
conhecermos a identidade de gênero, antes precisamos caracterizar o que é e como se
forma o EU e como pode ocorrer através dele qualquer percepção. Consideramos para
modelo de formação de um EU para qualquer organismo o modelo de relação mentecérebro de Neumann/Stapp (ou o de Bohm, ou o de Penrose). Com base nesses
modelos, cada organismo através de seu sistema sensorial imerso num universo,
desenvolve evolutivamente as possibilidades de atenção, questionando o universo – a
atenção questionando o meio – e recebendo uma resposta desse meio. A atenção
“colapsa” – no sentido quântico, questionando e recebendo respostas do meio. Deese
colapso da atenção, surge a percepção e da percepção a ação – como mostra Bohm, a
mente movimenta a matéria. Dessa forma se vive um Eu consciente – e esse Eu em
relação com o corpo e o meio desenvolve diferentes dimensões em espaços mentais
virtuais de personalidade. Em uma dimensão – ou num conjunto de dimensões – se
desenvolve a identidade de gênero – para todo organismo sexuado. A vivência dessa
identidade virtual se dá num meio – e nesse meio ela se mostra. Podemos considerar
que o desenvolvimento se dá num espaço mental e virtual de Hilbert na consciência – e
se mostra no espaço de fase, também virtual, no espaço social – onde pode ser expresso
e conhecido por outros organismos. Seres sexuados têm que se mostrar e se fazer
reconhecer. Dessa forma podemos avaliar e reconhecer desenvolvimentos de
identidades – inclusive de gênero – pelos sinais que exteriorizam no espaço de fase do
meio social. No espaço da consciência, a identidade de gênero, para organismos
complexos, certamente será muito complexa, com um envolvimento (“entanglement”) –
em inter-relação com muitas dimensões, sofrendo influências de afinidades, amores,
atrações, desejos, odores, medos, memórias, repulsas, entre outros fatores, no seu
desenvolvimento integrado. No ser humano a identidade de gênero na consciência tem
uma complexidade muito grande – mas se mostra no espaço de fase de forma mais
simples – evidenciando padrões e estados típicos dentro da sociedade humana. Nesse
espaço de vivência social, pode-se tentar subverter a identidade – quando
“inconveniente”, através da vivência de papéis. Esse espaço de fase coletivo e humano
pode ser conhecido, reconhecido e estudado, e assinaturas dinâmicas típicas podem ser
reconhecidas, e dessa forma avaliadas.
2
Introdução
Quando pesquisei e escrevi “Meu Sexo Real”, escrito em 1995 e publicado em
1998 pela Editora Vozes, e então comentava com “especialistas” que o
sexo/gênero – a percepção de gênero eu queria então dizer – derivava do
cérebro e não da criação e do meio social somente – sendo então o estudo do
cérebro e das diferenças no cérebro principalmente em suas porções mais
antigas e basais um aspecto fundamental - muitos zombaram. Eu contrariava
John Money. Para a sexologia/psicologia oficial ele era o Papa.
Ele definia o que valia ou não valia. Ele definia identidade de gênero, papéis de
gênero, dizia que hormônios afetavam os papéis e não a identidade, e todos
acreditavam. Ai de quem lhe fosse contrário!
Para muitos, até hoje – inclusive nossa Lei dos Registros Civis – identidade de
gênero não se estuda – ela é considerada óbvia – pois de forma certa e
inequívoca, a forma como somos conformados entre as pernas a caracteriza.
Se alguém não se adapta a essa simplicidade – a essa noção ingênua para
dizer o mínimo – ou é pecador e merece o ostracismo – já que hoje em dia
seria inconveniente mandar para a fogueira - ou é doente mental e merece o
ostracismo já que “não tem cura”. De qualquer forma deve ser um
desqualificado que merece o ostracismo – este sempre presente no destino
dessas pessoas que “não se conformam” com o que outros gostariam que se
conformassem.
Noto inclusive no Brasil – em partes mais civilizadas já não é mais assim – o
pobre do profissional que tiver padecido desses assuntos e neles se
especializar é visto com muito desrespeito – é verdadeiramente marginalizado,
principalmente se quiser pensar, conhecer, criar e inovar. Uma pena.
No assunto correlato a esse, da compreensão de como se forma a mente, do
que ela é e como se relaciona com o mundo material e com o próprio cérebro,
também surgiram dogmas, e ostracismos.
Penrose, o descobridor do Big-Bang junto com Stephen Hawking, quando se
voltou para a relação mente-cérebro, começou a ficar mal-visto no meio da
física quântica.
David Bohm nem se fala. Banido de Princeton, caiu no Brasil por 3 anos. E
depois por 2 em Israel, até encontrar guarida em Londres. Hoje suas posições
começam a ser consideradas com mais seriedade. O futuro dirá.
Esses grandes físicos se vêm banidos da física por seus pares, por colocarem
em xeque velhos – ou não tão velhos -- dogmas. Quando falam de consciência
3
e mente, são rejeitados por psicólogos por seu corporativismo – é uma classe
muito insegura dos próprios conhecimentos, e muito limitada em seu
background científico – e sempre nada sistêmicos mesmo que adorem ser
“interdisciplinares”.
No mundo da física o mundo está mudando.
Mesmo no mundo da sexologia as coisas podem mudar, reconheço. Não no
mundo inteiro, infelizmente, mas pelo menos na parte mais civilizada. Hoje, ao
contrário – como me centro no cérebro – mas não mais apenas nele – alguns
estrangeiros muito amigos chegam a me criticar por não mais me centrar só no
cérebro. Hoje quem se centra mais no cérebro são os holandeses, e mesmo
grupos que advogam a diferenciação do cérebro como a única causa, e
qualificam transexuais em especial como portadores de síndrome de Harry
Benjamin (HBS). Muita coisa mudou nestes 12 anos, mas não mudou o
essencial: a maneira equivocada de perceberem e estudarem a identidade
de gênero
Não mudou para a maioria, o conceito de Stoller de que só humanos têm
identidade. Mesmo depois de Damásio (1996) mostrar que primatas têm um
cerne basal de identidade, e de Waal (1997, 2006) mostrar fortes evidências
disso em primatas não humanos.
Como a identidade de gênero se forma na mente? Não apenas na mente
humana muito complexa, mas em um outro primata? em um réptil? Ou num
tubarão?
Vi outro dia um filme em que um biólogo fez profunda amizade com um tubarão
tigre, a tal ponto de nadarem juntos, como vemos com golfinhos. A relação dele
com os tubarões chegou a tal ponto que ele vive mergulhando entre os outros
tubarões tigre, mesmo sem o amigo por perto, e os toca e os abraça, também
como amigos. Na mais profunda amizade e harmonia.
Essa possibilidade com mamíferos – golfinhos, baleias, ainda vá lá... mas com
peixes? Tubarões tigre?
John Money admitia, entre outros de seus equívocos, que só o homem teria
uma identidade de gênero. Não se podia falar de identidade de gênero entre os
outros animais que não o homem. Assim ele, com uma canetada, do alto de
seu pedestal, desqualificava pesquisas seríssimas, se indicassem o contrário.
Total engano. Não falo nem de primatas, mas entre tubarões tigre se percebe
claramente um eu, a capacidade de sentir amizade, até de demonstrar afeto.
Quem tem uma identidade suficientemente desenvolvida para demonstrar afeto
e amizade, certamente tem um eu. Não um eu humano, evidentemente, não
tão complexo, não tão multifacetado, não apresentando o mesmo número
incalculável de dimensões humanas, mas certamente existe, já é bastante
4
complexo, e apresenta uma identidade sexual e de gênero, mesmo que ainda
muito simples a nossos olhos.
O que ela, a identidade de gênero, é?
Quais as variáveis que interferem, causalmente, em sua formação?
Quais os inter-relacionamentos com outras causas e com outros efeitos
advindos de mesmas causas?
Essas são poucas entre as inúmeras perguntas que, seriamente, parece que
ninguém quer fazer e muito menos arriscar a responder.
Infelizmente quando alguém procura responder, o faz de forma muito antiga,
cartesiana, reducionista e mesmo preconceituosa – para não dizer autoritária,
sempre buscando relações simples e fórmulas mágicas (o que chamo de
pseudociência e superstição), como fizeram e continuam fazendo e
perpetuando nossos “juristas” em nosso Código Civil.
Os dogmas se sucedem.
São os genitais entre as pernas, o que existe entre elas define o gênero de
forma certa e inquestionável!
Não é verdade. Muitas pessoas apresentam os genitais normais e demonstram
que eles não são o fator determinante absoluto para definir o gênero de
alguém.
Os médicos mais antigos bradam, atônitos: sãos os cromossomos! Vamos
verificar o cariótipo!
Não necessariamente. E as síndromes AIS? E outras síndromes nem vamos
comentar, já é do conhecimento do mundo mineral, segundo Mino Carta.
Então é a criação, como ensinamos nossas crianças a serem nos primeiros
anos de vida (gostei sempre da precisão matemática dos dois anos de John
Money)! Assim, com alguma tortura, poderemos moldar as crianças ao que
achamos ser o melhor para elas! (vide Colapinto, 2000)
Não, isso é uma violência. Suicídios decorreram dessa postura agressiva e
violenta contra pessoas que não se adaptavam a ela – e pior, contra ela
estavam indefesas.
Então está nos genes! Vamos procurar um gene da “homossexualidade ou da
transexualidade”!
Não, esse reducionismo genético não funciona para o gênero e identidade de
gênero. Muitos fatores interferem e evolvem conjuntamente (entanglement), o
que impossibilita essa simplificação reducionista da realidade.
5
Então vamos encontrar no cérebro! Vamos fazer ressonâncias nos cérebros e
descobriremos quem são de forma simples!
Não, esse é outro reducionismo, que eu advoguei e depois repensando o
assunto, não posso aceitar integralmente. O cérebro é a parte central, é o
cerne da questão e como devemos compreender a questão – já que mente e
cérebro tem uma íntima relação – mas essa relação não é necessariamente
simples, tipo uma causa um efeito. Ao contrário, o cérebro é o cerne, mas a
mente transcende o cérebro. Estamos falando de ciência e não de misticismos
ou metafísicas – transcender aqui significa estar em relação mas não se limitar
direta e linearmente a suas influências.
São assim porque são gays enrustidos, e ficam imaginando que queriam ser
meninos (lésbicas masculinizadas, “sapatões”) ou meninas (gays efeminados e
passivos), querendo “mudar de sexo”. Não passam de gays radicais e
efeminados (ou masculinos se lésbicas). Se forem “gays” , como gays devem
ser considerados normais. Se não forem ou não se considerarem gays, são
completamente malucos – ou “autoginefílicos” (os MtF’s... e os FtM’s...?)!
Não, isso tudo não faz o menor sentido. Veremos que a identidade de gênero
se envolve com a orientação sexual, mas são diferentes e têm bases
diferentes. Existe uma relação, como que num des-envolviento em relação,
mas não numa dependência de causa e efeito.
A natureza prova isso. Basta avaliar os Pan paniscus, os primatas mais
próximos do homem. Toda a sociedade se comporta de forma homo e bisexual
– o mesmo ocorre entre as fêmeas na espécie de Macaca fuscata (macaco
japonês), mas não se encontram problemas de gênero – macacos se sentindo
em disforia ou inadequação de gênero entre eles.
Essa teoria do “transexual gay” e do “transexual não-gay” de Blanchard/Bailey
vai exatamente no mesmo sentido dos velhos equívocos de John Money –
querendo sempre autoritariamente impor seus equívocos (agora os gays
querendo impor sua maneira de ser e ver as coisas aos variantes de gênero,
que as rejeitam). Para eles o “transexual gay” é normal. O “transexual não-gay”
é “doente”, é “transexual a-normal”. Ou seja, querem submeter a identidade de
gênero como em dependência absoluta e simplista mais uma vez, da
orientação sexual, o que na natureza os primatas citados mostram que não é
verdade.
Apenas, ninguém se interessa seriamente em pensar e estudar como se
desenvolve na mente a percepção de gênero – os fatores que interferem nessa
percepção e os sinais sociais que podem ser externados e reconhecidos. Não
como papéis, mas como sinais, assinaturas distintas da identidade. Se
conseguirmos conhecer – se conseguirmos estimular os indivíduos a mostrar
esses sinais ou assinaturas que transcendem os papéis que porventura tenham
6
sido forçados a aceitar, talvez se possa avaliar quem é quem entre eles, para
poder ajudar essas pessoas em suas dificuldades, angustias e sofrimentos.
7
Um modelo de “eu” – I
Quando falamos em modelo de eu, falamos da relação mente-cérebro e mais
generalizadamente da relação mente-matéria.
Falamos sempre de dualidades.
Em ciência, um bom modelamento de uma dualidade, um modelamento que
funciona, foi conseguido pela física, com a Mecânica Quântica – QM.
Para Bohr, esse modelo era bom porque funcionava, mesmo que não se
entendesse o que realmente ele significava no mundo da concretude material –
que deixava de existir, ontologicamente. A partícula, a matéria, deixava de
existir “de per se” e passava a existir apenas se observada. Quando não
observada, o que existia era uma onda de probabilidades matemáticas de
existir se observada.
Einstein e De Broglie não gostaram desse modelo, mas ele prevaleceu como a
“ontologia de Copenhagen”. É o que vale na física quântica hoje, os campos
quânticos têm por base ela sem questionamentos.
Penrose na realidade, não a questiona. Ele a considera em sua teoria da
formação da mente.
Von Neuman e Henry Stapp não a questionam, em sua teoria da formação da
mente, na qual centramos mais em nossas suposições.
Mas talvez justamente por isso, elas até hoje permaneçam teorias mais
filosóficas que científicas, pois não podem ser falseadas, como considera
necessário Popper.
Por outro lado, Bohm foi além.
Ele definiu uma ontologia para a QM. Podemos chamar de QM Bohmiana – ou
BQM.
Para Bohm, a QM estava incompleta – como imaginavam Einstein e De Broglie
– e seria mais completa se acrescentar-se uma limitação – uma direção – para
a função de campo de probabilidades.
Podemos interpretar, para o assunto mente – matéria, as conseqüências
principais da teoria BQM:
1. Para a teoria QM, a matéria só colapsava, se fosse observada. Se não
fosse observada, ela permanecia limitada por suas probabilidades mas
não colapsava. Essa ontologia – da qual se aproveitam Penrose e Stapp
– faz com que a realidade seja sempre mental – e talvez material.
8
2. Para a teoria BQM, a matéria colapsa sempre, tem uma trajetória
sempre, concretude sempre – independentemente de ser ou não
observada – mas para que essa concretude exista sempre é necessário
um “envolvimento à distância” – ou seja, cada parte está intrinsecamente
ligada (entanglement) com o todo.
3. Nesse sentido, na teoria BQM, a trajetória de uma partícula (“o
movimento da matéria”) depende não só das forças conhecidas da física
quântica e relativística: nucleares, atômicas, eletromagnéticas e
gravitacionais ; mas também de um “potencial quântico” definido por
Bohm, que interrelaciona as partículas – a matéria.
4. É importante notar que a BQM é teoria científica e não só filosofia – ela
está comprovada por experimentos e medidas, e reproduz à perfeição –
ou quase – todas as previsões mensuráveis da QM.
5. Bohm sugere então que a mente é análoga ao “potencial quântico”. É
um potencial quântico gerado e em relação com o cérebro e com o meio
e com o todo.
6. De onde ele tem essa idéia? O que faz, na BQM o potencial quântico?
Ele movimenta matéria.
7. O que faz a mente? Seja numa bactéria seja no homem? Ela tem a
capacidade de movimentar matéria.
8. A bactéria movimenta-se e movimenta o seu meio – a mente da bactéria
movimenta matéria.
9. O homem movimenta seu corpo, seu automóvel, manda ao espaço uma
nave... a mente movimentando matéria.
9
Um modelo de “eu” - II
A identidade de gênero diz respeito a uma percepção.
Os papéis de gênero são vivenciados externamente, como exposição.
A exposição se dá no meio social, se dá num “espaço virtual de fase social”,
para sermos mais precisos.
A percepção se dá num “eu”.
Para entender o que é, como se forma, quais as causas e relações envolvidas
nessa formação, temos antes de mais nada – se quisermos fazer ciência e não
política, ideologia ou neo-superstições – saber como se forma um “EU”.
Como se forma um eu?
Não humano, que se perde em sua própria complexidade, mas em um pavão?
Para estudar esse modelo – para adotar um modelo possível, coerente e
inteligente entre os hoje existentes – vou propor uma analogia.
Uma historinha.
Vou chamar um pavão fêmea de Maria.
Vou chamar um outro pavão da mesma espécie de João.
Como se sente – como se forma – o perceber-se Maria ou João?
Observando.
Vamos definir como um EU, “aquele que observa”.
O mesmo pressuposto de Bohr, em sua mecânica quântica, em sua discussão
com Einstein.
Para que uma medição quântica seja feita – para que um evento quântico
ocorra – para que esse evento quântico “colapse” de sua situação de uma onda
de probabilidades de poder ser, na realidade concreta de vir a ser uma
partícula, é necessário que um observador observe.
Ou seja, o universo quântico é sempre o da dualidade (não se confunda com a
dualidade na teoria das cordas por favor) – a relação quântica se dá entre um
observado e um observador – quando existe a dualidade na natureza, não
importando a escala do fenômeno.
A física quântica surgiu, antes de mais nada, da percepção por Planck de que a
energia não era um “continuum”, mas que existiam pacotes ou quanta de
10
energia. Quantidades muito pequenas. Daí derivou-se a teoria quântica para a
compreensão do átomo e suas partículas subatômicas, onde a física de
Newton (do continuum de energia) não funcionava.
Por isso, sempre se imagina que o quanta só se aplica ao muito pequeno –
porque se esquecem que o formalismo matemático da teoria não derivou
apenas da escala das partículas mas também de seu comportamento DUAL.
Ou seja, a matemática – o modelamento matemático considerado – se mostra
válido pois consegue modelar a dualidade – no caso onda/partícula. Com o
resultado dessa modelagem, chega-se – como falou Bohr em sua discussão
com Einstein (quando Einstein disse que achava que Deus não jogava dados!),
e depois Von Neumann e atualmente Penrose e Stapp – à necessidade de um
observador para o “colapso” da onda de probabilidades em partícula concreta
– mesmo que essa partícula colapse com características incertas (incerteza de
Heisemberg).
Bohr deixa claro que a partícula surge com o colapso da equação de onda,
mais como criação mental virtual do que como existência material concreta.
Mas essa existência se mostra efetiva, de tal forma que permitiu o avanço
vertiginoso da tecnologia nuclear e eletrônica – mesmo como descrição de uma
realidade – que ainda permanece “de per se” misteriosa.
O que seria da partícula sem um observador?
Ela não existiria como partícula, mas existiria como onda de probabilidade de
vir a existir.
Então existem duas possibilidades:
Ou a partícula não existe – ela colapsa apenas na mente do observador – mas
na natureza ela continua como uma onda de probabilidade, e neste caso cada
observador que observar gera o colapsar para si mesmo,
ou
Ela existe na natureza como onda de probabilidade e de energia real, num
campo quântico da realidade – e esse campo interage com um outro campo
quântico mental virtual – onde colapsa a partícula ao ser observada.
Em outras palavras, ou como Bohr não importava muito onde estava o campo –
o que importava era que funcionava, nem que só existisse no observador, ou
haveria a possibilidade de DOIS CAMPOS, um real material e outro em relação
ao primeiro, mental e virtual.
Ou seja, a partícula, com a atenção do observador surge de maneira incerta:
11
Com o colapso da onda de probabilidades, num espaço - da mente do
observador ou do espaço físico – na realidade isso não era tão importante
saber - a conclusão de “Copenhagen” que prevaleceu na física;
ou
Em dois espaços – mais uma dualidade – no espaço físico e no espaço virtual
da mente do observador – defendida por Neumann, Stapp e Penrose.
Essas possibilidades delimitam as diferenças de percepção de Bohr e Von
Neumann (1955), e o assunto modernamente é muito bem analisado tanto por
Penrose (1996, 2000, 2007) como por Stapp (2004, 2007).
O mais importante para mim é notar que o que está em jogo nessa discussão é
a realidade do campo quântico da partícula na realidade física – mas todos
implicitamente concordam, e não está em jogo, a existência do campo quântico
mental virtual do observador – onde necessariamente a partícula deve
colapsar. O colapso da partícula como ente real é duvidoso – para a teoria
quântica, mas o colapso da partícula como ente de razão é certo.
Por outro lado, todo o desenvolvimento tecnológico em física quântica e
nuclear, assim como na eletrônica de supercondutores por exemplo, testificam
que a mecânica quântica funciona no mundo físico – também.
O observado existe em “potência” – ele tem uma distribuição de probabilidades
de existir – que limitam sua possibilidade de existir - mas apenas existirá
efetivamente – colapsará na concretude – se observado. A partir dessa
observação ele passa a existir – o colapso já aconteceu – aquele colapsar não
se repetirá pois já colapsou.
Nota importante:
Existem conceitos com base em “mente quântica”, defendidos por Amit
Goswami, entre outros, que em minha opinião sem qualquer base sólida
científica – e mesmo filosófica – extrapolam a realidade quântica para mundos
paralelos, poderes da mente, controles de destino, vidas passadas e daí por
diante. Nada temos a ver com essas imaginações, não as consideramos
válidas e nem as sufragamos. Pelo contrário, infelizmente elas denigrem o que
existe de sério em relação a estudos sérios como os de Stapp, Bohm e
Penrose a respeito do assunto.
Daí a substancial importância do observador.
Sempre a nossa mente vem como o observador – seja a observação de um
cientista maluco em Berkeley ou no MIT, seja na observação de Maria ou José.
Meu observador vai ser o João – sim, o pavão. Ou será que um pavão não
percebe, não observa?
12
Ele foge de condições adversas e procura comida. Como nosso pavão é
sexuado ele procurará uma parceira que se espera deixar-se-á achar por
parceiros reprodutivos também. Só para criar um clima de romance entre
Joãozinho e Maria.
Vamos imaginar uma espécie ainda mais simples. Bactérias.
A bactéria para se alimentar, ela tem que perceber a necessidade do alimento
e a possibilidade de encontrá-lo. Ela tem que sentir. Ela tem que procurar – ela
tem que observar e ter atenção. Nesse sentido, a sua atenção TEM QUE
COLAPSAR, não a realidade de uma partícula elementar, seu momento ou
posição num espaço de Hilbert num laboratório – mas colapsar EM SEU EU,
em si mesma, em seu espaço mental e virtual de Hilbert, a percepção da fome
primeiro e da caça do alimento depois.
Nesse exemplo a necessidade interna da bactéria gera a atenção, depois a
ação de buscar alimento. O colapso da atenção gera a percepção. A percepção
continuada gera a possibilidade de ação.
Nem toda percepção do sistema nervoso precisa ser consciente – a maioria é
autônoma e inconsciente.
Na realidade, podemos imaginar para uma bactéria, pelo menos duas
dimensões conscientes que exigem atenção, percepção e ação, e inúmeras
inconscientes. Conscientes derivam da fome e do medo. Sobrevivência.
Entre pavões já é bem mais complexo. Existem muito mais dimensões no
espaço mental virtual de Hilbert num pavão que numa bactéria.Certamente
dezenas de dimensões são acrescidas, e algumas delas dizem respeito à
reprodução.
Onde se desenvolvem fome, medo, “sexualidade” em Joãozinho?
No EU.
Como se forma o EU do Joãozinho?
Observando.
Através de seu sistema nervoso – ele percebe o meio e suas necessidades
internas – e recebe inputs de sensores nervosos vindos do meio e do seu
interior. Esses inputs, segundo Damásio, formam imagens dispositivas que
serão “digeridas” - algumas permanecerão no inconsciente – por sua
simplicidade e autonomia – como o respirar por exemplo – e outras virão para a
atenção – colapsarão a mente como atenção - o colapsar da mente é a
atenção – na fome por exemplo. Nesse sentido a mente questiona, através do
sistema nervoso o meio interno e interno, e recebe inputs deles. Digere essa
informação, seleciona um foco de atenção, e estimula mais questionamentos
recebendo mais inputs seletivos por essa atenção. Essa atenção se torna
percepção se continuada, e pode se tornar em ação. Procurar comida por
13
exemplo. Assim se forma em Joãozinho – não me pergunte onde em seu
corpinho ou seu cérebro por favor, muito menos se num “Hiperuranion” de
Platão – uma “mente”, que vive num espaço virtual de Hilbert com pelo menos
essas 3 dimensões conscientes – fome, medo, reprodução. Num ser mais
complexo como o pavão, deve ser no cérebro, mas já numa bactéria, não faço
a mínima idéia onde estaria.
Como funcionam essas 3 dimensões?
Um sistema de informações. Sempre observando. O observar – o ter atenção
gera o perceber – o colapsar da mente – e nesse colapsar ela se relaciona com
o meio. O observar já traz uma pergunta – como mostra o modelo de
Neumann/Stapp. A pergunta sempre simples – um Booleano sim ou não –
sempre terá do universo/meio – ou do íntimo visceral para quem tem vísceras e
não numa bactéia - uma resposta Booleana – um sim ou um não.
Por exemplo uma bactéria gosta de frio. Ela vive na água e gosta de frio, por
exemplo por volta de 10° C é uma boa temperatura para ela. Mais de 15° C ela
começa a sofrer. Com o sofrimento ela observa – pergunta para o meio através
de seus sensores nervosos e obtém respostas – assim ela sente, percebe, que
a temperatura está subindo. Ela age, foge, debate-se para encontrar um lugar
mais frio.
Ela observou. Perguntou a temperatura, está boa ou ruim? A resposta do meio
foi... RUIM! Imediatamente ela continua perguntando e os sensores nervosos
respondendo e ela fugindo (percebendo e agindo), até que enfim ela pergunta
e do meio, pelos sensores vem a resposta. BOA!. Ela continua por algum
tempo perguntando e e enfim se acalma. Passa a nem perguntar mais
CONSCIENTEMENTE, ou seja, sua mente vai CONCENTRAR SUA ATENÇÃO
em outro assunto. Mas inconscientemente sempre os sensores estão
recebendo informações do meio.
Num certo sentido a mente metaboliza informações. Ela as digere, no sentido
de separar o que é importante - que chama a atenção e em que ela se
concentra, deixando o resto no inconsciente, em parte para ser guardado na
memória e em parte para ser esquecido. Onde na bactéria existe esse
metabolismo de informações, esse arquivo de memória? Não sei, talvez nem
chegue ainda a existir numa bactéria, mas certamente no Fred, o peixinho lá de
casa, EXISTE! E nos meus dobermans, memória, metabolismo de informações
e identidades existem CERTAMENTE! E também em Joãozinho, o nosso
pavão.
As bactérias têm poucos assuntos para se concentrarem, para colapsarem sua
equação de onda de seu espaço virtual de Hilbert. A fome quando cresce, sai
do inconsciente e atua no consciente motivando a atenção. O que ativa a
observação do observador? A necessidade em alguma de suas dimensões –
percebida no digerir as informações, ATRAVÉS DE SEU SISTEMA DE
SENSORES – e da interconexão entre sensores e receptores.
14
Como João e Maria são pavões, eles têm uma dimensão especial que as
bactérias geralmente não têm! Sexo! Oba! Vamos para o motel!
15
A identidade de gênero se forma quanticamente num
espaço mental virtual de Hilbert
O Eu consciente – a auto percepção de um eu - é formado pelo contínuo (na
realidade descontínuo – lembremos que o quanta é sempre descontínuo)
colapsar no espaço virtual de Hilbert n dimensional, da atenção (quando em
vigília) pela necessidade (na bactéria só a necessidade – mas em seres mais
complexos pluricelulares como o pavão, novas dimensões são acrescentadas
como desejos, memórias e no homem até projetos, cálculos, abstrações) –
detectada por um crivo ou pela digestão das informações vindas de sensores
internos e externos, que segundo Damásio (1994) formam “imagens
dispositivas”. A avaliação dessas imagens ativa a atenção, faz com que
colapse a atenção.
A atenção tem vários “assuntos” ou dimensões onde pode se concentrar, focar
ou colapsar – entre uma variabilidade e ao mesmo tempo condicionamento
“quântico” de possibilidades ou probabilidades – e a cada iteração, apenas uma
colapsa. Como a freqüência de iterações é enorme, mesmo descontínua,
sentimos como um contínuo, como percebemos um filme.
Quem detalha isso tudo não sou eu, mas o modelo de relação cérebro - mente
de Neumann/Stapp. Outro modelo interessante, mas que segue “grosso modo”
considerações análogas, é o de Penrose (infelizmente um pouco “contaminado”
por Amit Goswami & Cia).
Para Joãozinho e Maria, eles teriam uma terceira dimensão – pelo menos nesse espaço em que poderia colapsar sua atenção em seu eu formando uma
identidade de gênero – no caso muito simples mesmo – provavelmente
inconsciente – que se mostraria no interesse reprodutivo – já que, ao que tudo
indica, amor e prazer ainda não evoluíram em pavões desse tipo.
O desejo da cópula, não é a identidade de gênero – é outra dimensão, que
podemos chamar do amor, do afeto, do desejo sexual, da reprodução – ou um
complexo entre eles.
Mas como estamos numa história romântica, no caso de João e Maria tudo era
consciente. Eles se apaixonaram desesperadamente. Amor a primeira vista.
Êpa!
Observação!
Amor... a primeira vista!
A observação – a percepção – pode levar ao reconhecimento de si mesmo –
de alguém, de uma necessidade. A fome vem de dentro. O medo também. Os
desejos, quaisquer que sejam, também. Realmente não necessariamente num
16
pavão – mas em Joãozinho e Maria, pavões talvez um pouco humanizados é
verdade, tudo isto estava presente!
Joãozinho, é verdade, já se sentia “o tal”, o pavão mais valente, bonito e
galante do bairro empavonado. Ele a toda hora, a qualquer feromônio já quer
começar uma dança para elas, se abre como um leque, sabe ser o tal. Maria se
sentia lindíssima, feminina, apetitosa, e um dia se observaram.
Não preciso dizer que essas fortes diferenças entre Maria e João são
características de suas diferentes identidades de gênero! Eles se fixavam
nelas, de forma consciente? Provavelmente não, eles se viam e reagiam como
os outros, deveria tudo se dar de forma inconsciente.
Colapsou nos espaços de Hilbert de ambos a atenção entre eles. O resto da
história é conhecida de todos – terminou num motel de pavões mais próximo –
mas muito charmoso.
A auto-observação leva ao desenvolvimento da identidade de gênero. Como
que colapsando e se formando e dinamicamente se desenvolvendo no Eu.
Sem dúvida esse desenvolvimento não é estanque, ele se dá também com o
envolvimento (“entanglement”) de outras dimensões, que interagem entre si.
As dimensões SÃO DIFERENTES, mas se inter desenvolvem em relação uma
com a outra – como relações de feedback positivo ou negativo – por exemplo.
A atração sexual pode levar, através de um feedback positivo ou negativo – a
novas excitações no desenvolvimento da identidade de gênero, e vice versa.
Quanto mais complexa é a espécie, mais complexas são essas relações.
Por isso inclusive, sempre será falsa qualquer relação simples de causa e
efeito, com relação à formação da identidade de gênero no indivíduo.
Por outro lado, analisando não o indivíduo, mas a coletividade, agora já entre
humanos sabemos que a identidade de gênero se desenvolve de forma
caótica – formando um espaço virtual de fase, de estados, em que muitos
estados são possíveis – os de alta probabilidade (normais ou Gaussianos –
dicotomia M/F) e os de menor probabilidade – havendo nesse espaço um
“espectro de probabilidades” (ou de intensidade versus incidência de variâncias
de gênero - GV)
Por esse espectro de probabilidades sempre será totalmente imprevisível “a
priori” como se desenvolverá a identidade de gênero em qualquer indivíduo
humano.
Mesmo em outras espécies, quando não se relacionam sexualmente apenas
reprodutivamente, como os Macaca fuscata e os Pan paniscus, o espectro de
gênero se resume basicamente à dualidade simples.
17
Portanto, esse espectro de gênero entre humanos, que parece típico e único
entre humanos e não em outras espécies mesmo próximas do homem, parece
mesmo singular. Não encontramos analogias entre outras espécies.
Podemos em laboratório, fazer essas analogias, atuando em cérebros e
ministrando hormônios, a fetos, mães, ovos – mas na natureza essa dispersão
não se encontra – jamais existe algum relato nesse sentido que conheçamos.
Existem espécies primitivas na natureza, principalmente entre peixes e
anfíbios, por outro lado, em que POR NECESSIDADE DO GRUPO e não de
indivíduos, ocorre uma transição completa não só de gênero, mas sexual e
reprodutiva em alguns do grupo.
Como no grupo se escolhe um ou outro para que ocorra a transição radical?
Parece que o meio é fundamental, como temperatura e certamente a
necessidade. Mas não ocorre na mesma espécie um espectro de distribuição.
Isso só conhecemos na espécie do primata homem.
A identidade de gênero pode-se definir então como o desenvolvimento do
colapso da dimensão de gênero na auto-percepção do eu, num espaço
mental virtual de Hilbert, que é pluri-dimensional de dimensão desconhecida
– dependendo da espécie.
Esse colapso pode aparecer em qualquer espécie? Certamente sim.
Poder aparecer não quer dizer que necessariamente factualmente algum outro
animal, que não o homem, fixe sua atenção em si mesmo sob esse aspecto.
Isso parece bastante improvável, pela inexistência do espectro de gênero em
outras espécies.
Para que serve saber tudo isso?
Por enquanto, para nada.
Espero que venha a servir para alguma coisa.
A mecânica quântica na física serviu para muita coisa. Vamos ver se será útil
também para Joãozinho e Maria mesmo que não sejam humanos, mas pavões.
18
O “envolvimento” (entanglement) da Identidade de
Gênero no espaço mental virtual de Hilbert
Vamos tentar descobrir para que pode servir tudo isso.
Ao contrário do que as pessoas imaginam, conforme o que disse Bohr em seu
debate com Einstein, a física quântica é muito pragmática – ela simplesmente
funciona – mesmo que ela não aprofunde os conhecimentos reais sobre a
realidade da matéria, ela funciona.
Meu laptop prova que ela funciona.
Dentro desse mesmo princípio, o que podemos saber é que seu embasamento
matemático pode resolver o problema da compreensão do funcionamento de
dualidades – seja ela material no sentido onda/partícula seja ela virtual na
dualidade cérebro/mente.
Na dualidade onda/partícula, podemos medir, podemos experimentar.
Podemos contradizer, podemos falsear. Nesse sentido, de acordo com Popper,
a teoria quântica em física é plenamente científica.
Quanto a sua aplicação à dualidade cérebro/mente, tanto Penrose com sua
teoria, como Stapp com a sua, alegam ter dados experimentais e condições de
mostrar que as teorias são científicas e falseáveis. Não tenho conhecimento
para entrar, pelo menos por enquanto, nesses detalhes. Mas mesmo que não
possam comprovar sua validade plenamente científica ainda, seu valor
filosófico já é enorme.
A identidade de gênero então, no íntimo da consciência, é vivido como um
conjunto de dimensões ou uma dimensão da identidade, da personalidade, da
formação do eu, no espaço mental virtual de Hilbert.
Quem acessa esse espaço?
Só o próprio indivíduo.
Onde se localiza esse espaço?
Não sei, ele é virtual. Não sei onde se localiza, mas sei que está em contínua
relação de interdependência com o cérebro. Mesmo que não seja uma criação
“só do cérebro”, ele só vive em contato com o cérebro.
Como funciona esse espaço?
Primeiro, pela informação. A mente é um espaço de informação. Na mente,
num certo sentido a informação é processada – ela é metabolizada, digerida –
através do cérebro Então a mente em vigília colapsa pela atenção em alguma
informação. A atenção se concentra sobre um aspecto. Esse aspecto como
que colapsa na atenção. Esse colapso se dá sempre pelo questionamento da
19
atenção com relação a alguma coisa. Essa coisa em organismos mais simples,
é o meio. Em organismos mais complexos pode ser a memória, a sensação
visceral do próprio corpo, o meio, a imaginação, etc..
No caso da identidade de gênero, a atenção se volta – por algum motivo - para
esse assunto. Sua auto percepção de gênero. Se em harmonia existencial e
social, essa auto percepção não fixará a atenção, e ficará inconsciente – como
parece sempre acontecer entre os não humanos. O problema não existindo, a
própria identidade se torna menos consciente, chama menos a atenção.
Quem tem alguma inadequação, terá sua atenção voltada para essa
dimensão, e colapsará essa dimensão.
John Money e Stoller, entre outros, partiam do princípio de que os outros
animais não tem uma identidade de gênero, de que nem teriam uma
identidade. Eles estavam equivocados. Hoje em dia sobejam evidências de que
eles têm. Por outro lado, como a maioria dos humanos não pensa em sua
identidade de gênero pois ela não surge em sua atenção por estar
harmonizada com corpo, mente e meio, esse tipo de desatenção é colocada
como óbvia. Nas outras espécies – de onde derivamos – essa questão também
não se coloca – por isso parece aos olhos da maioria como óbvia.
As dimensões, como a atenção, são dinâmicas. A atenção estará sempre a
postos para variar, em estado de vigília. Viverá sempre na beira do caos, ou
seja, será sempre instável, podendo variar e bifurcar à medida das
necessidades dos estímulos.
A dimensão da identidade de gênero se formará, amadurecerá – em todos, de
todas as espécies sexuadas, de indivíduo em indivíduo. Permanecerá
inconsciente para quase todos, inclusive humanos. Mas entre os humanos, não
em todos.
Nossos testes de identidade (MFX e FMX) visam estimular a pessoa a nos
mostrar, respondendo umas poucas perguntas Booleanas, o que se lembra,
desde sua infância, sobre sua atenção com relação a essa dimensão.
Para as pessoas normais (Gaussianas), as questões propostas são estúpidas e
não fazem sentido – porque para elas essas coisas não afloraram no seu
consciente.
Segundo Stapp, a atenção se forma e permanece através de questionamentos.
Como se o cérebro perguntasse para o meio – ou o íntimo, ou a própria
memória – perguntas Booleanas, e recebesse respostas Booleanas, e
dependendo das respostas, a atenção se fixaria ou moveria para outra direção.
20
Que outras variáveis do espaço mental virtual de Hilbert afetam a identidade de
gênero? Com que outras dimensões ela está envolvida, interconectada, em
relação? O que afeta a identidade de gênero e sua formação?
Certamente existe um cerne que catalisa essa formação – esse cerne tem sua
origem biológica e no cérebro – ao que tudo indica as variáveis mais influentes
deverão ser os genes, os hormônios, o meio intra-uterino afetando estes
últimos, atuando em partes antigas “reptilianas” do cérebro, como no
hipotálamo, estria terminal, amígdalas e sistema límbico por exemplo.
As diferenças encontradas entre os gêneros masculino e feminino nessas
partes basais do cérebro – em todas as espécies inclusive nos primatas e no
primata homem - indicam que essas regiões são importantes para a formação
de algo tão basal quanto a auto percepção – consciente ou não – do próprio
gênero.
Como deve funcionar essa formação do cerne da identidade de gênero – na
auto percepção do gênero?
No bebê e na criança, esse cerne estará formado – sabe-se que essas
estruturas em primatas se formam durante a gestação, e dificilmente são
alteráveis por hormônios de forma substancial após o nascimento. Então, esse
cerne estará pronto para gerar na consciência, na mente, nesse espaço mental
virtual quântico, a dimensão da percepção do próprio gênero.
Para as espécies não humanas, essa informação não aflorará, não colapsará
na atenção – permanecerá existente mas inconsciente. Por isso não existe um
espectro de probabilidades em incidência versus intensidade no espaço social
de gênero para eles.
Entre humanos essa inadequação pode acontecer.
Quando essa percepção está em desacordo com outras percepções – do
próprio corpo, de como é reconhecido pela família, do próprio nome
inadequado, das situações inadequadas de vida onde desejos e propensões
não se harmonizam com as perspectivas do meio, a atenção que esqueceria
essa dimensão no inconsciente, passa a se fixar nela de forma
consciente.
A partir daí outras dimensões acrescentam ou suavizam a situação. Os
amores, o afeto... a forma de dirigir afeto e a forma de amar, de desejar, pode
se mostrar também de forma a ser considerada imprópria – aí já dependendo
do meio e da cultura. Poderão ou não haver incentivos ou repressões. Mas a
identidade não será afetada, ela será modulada, ela será estimulada a se fixar
mais na mente, a colapsar na atenção ou não – mas sem a capacidade de
alterá-la.
21
Essa incapacidade do meio em alterar o cerne na formação da identidade de
gênero é demonstrada pela forma do espectro de freqüências – do espectro de
incidência e intensidade – que é fractal – que não demonstra situações de falta
de “naturalidade”. Por outro lado, se os casos de variâncias de gênero radicais
como de transexuais são raros, os casos de “regressão” de transexuais é
praticamente inexistente.
Outros fatores interferirão. A perda de oportunidades de vida e profissionais
advindas dessa situação serão notadas e percebidas pela atenção. A
inteligência será uma variável a atuar, e a participar da decisão na ação de se
mostrar ou de se esconder socialmente.
E assim por diante.
O sistema é muito complexo – quanto mais complexo o organismo, quanto
mais complexo o cérebro, mais complexa a mente, e mais complexa a
formação das identidades, de gênero inclusive. E mais coisas vêm a tona, e do
inconsciente passam a ser conscientes, a chamar a atenção, a colapsar na
mente.
As variáveis envolvidas são muitas, e essa dinâmica toda se desenvolve na
consciência, na mente, no eu, na forma como a atenção se fixa, na maneira
como a inteligência participa e reage, na forma como as modulações
interferem, na forma como o cerne se fixa e se mantém.
Por isso, ninguém avalia melhor uma variância de gênero, que o próprio
indivíduo que a sofre. Tudo se passa dentro dele.
Mas nem todo indivíduo, mesmo consciente de sua situação, tem
conhecimento para se avaliar completamente. Certamente poderá estar muito
perturbado por sua situação, e poderá não saber discernir plenamente detalhes
e relações com outros que vivem situações semelhantes – se não tiverem o
preparo profissional para tanto.
Por outro lado, o melhor avaliador, é o avaliador experiente e capacitado
tecnicamente, mas que tenha sofrido os mesmos problemas para poder avaliálos em toda a sua dimensão.
O paciente, ou seus pares, ou seus pais, devem procurar um profissional
especializado, ou um “grupo interdisciplinar” especializado – para que o
paciente possa ser ajudado convenientemente.
22
A avaliação “interdisciplinar”
Os grupos “interdisciplinares” de avaliação de transexuais no Brasil, antes de
mais nada se mostram inadequados desde o princípio – desde seu objetivo.
O que deve ser avaliada não é a transexualidade, que é um caso particular
inserido numa gama muito maior de fenômenos – mas as variâncias de gênero
– que são múltiplas e se manifestam de inúmeras maneiras.
As pessoas sempre imaginaram que o que existe, em termos de gênero, são
duas caixas pretas reprodutivas – aliás não são pretas, mas são caixas: uma
rosa feminina – a que tem o óvulo e vai trazer o ovo e fazê-lo vingar; e a caixa
azul, daqueles que querem mandar em tudo e apenas ajudam a fecundar o
óvulo.
Quem não se adaptar a essas duas caixas é um problema. Deve ir logo para a
caixa dos “transtornos mentais” – pois não se adaptam a nossas duas
caixinhas – com problemas genitais, ou só com problemas de gênero ou com
os dois!
A realidade não é assim.
Como em cada consciência humana, existe uma dimensão de gênero, que
pode ser esquecida na inconsciência da plena adaptação aos padrões sociais,
ou pode terminar por vir sempre à mente, devido a sua situação de
improbabilidade e de aparente falta de adaptabilidade, essas pessoas (essas
mentes) terminam por se mostrar no meio, em sociedade. Nessa sociedade e
nesse meio, elas mostram que nem sempre as duas caixas são as únicas
opções. Elas são as opções mais prováveis, mas existem outras menos
prováveis – que não podem ser simplesmente ignoradas.
Qualquer avaliador desses casos, deve estar consciente que esses casos
existem em todo o mundo, sob todas as culturas e já têm em algumas
levantamentos de sua incidência, e pode-se medir sua intensidade em várias
escalas – como na escala Cogiati ou nas escalas Gendercare, entre outras.
A avaliação de intensidade versus incidência, conforme apresentamos em
Chicago 2007, no espaço de fase da comunidade humana (não no espaço
mental virtual de Hilbert de ninguém) se mostra como uma função de
probabilidades do tipo 1/f – o que indica uma situação crítica, de mudanças de
fase, numa distribuição “auto-similar” ou “fractal”.
Podemos começar a pensar em medir, nesse espaço de fase virtual coletivo,
assinaturas, sinais característicos, padrões – que nos permitam identificar no
meio social através de comparações entre indivíduos – as respostas da
23
atenção de cada indivíduo, ao longo de sua história, em sua mente – de sua
dimensão de identidade de gênero e como ela se formou.
A identidade está no espaço de Hilbert do indivíduo – jamais poderemos
penetrar lá. Ele é gerado pelo indivíduo. Ele só é vivido pelo indivíduo. Mas
podemos estimular o indivíduo a mostrar a dinâmica de seu passado, a
dinâmica de sua formação – de forma a que possamos com a ajuda dele
montar padrões de assinaturas dinâmicas típicas para situações classificadas
como típicas – nos SOC6th da WPATH por exemplo – e classificá-lo através
dessas comparações com outros padrões, para depois de classificá-lo
podermos ajudá-lo a viver em harmonia e em paz consigo mesmo – e em
sociedade.
Nas equipes interdisciplinares cabem profissionais que compreendam que a
avaliação de um indivíduo com problemas de gênero, cabe a ele mesmo. Só
ele pode saber o que se passa no seu eu. Nós podemos estimulá-lo a se
mostrar e tentar verificar através do que ele mostra, quem ele é, para
podermos ajudá-lo.
Não temos o direito de impor nada a ele.
Nem uma realidade mais conveniente a nós, nem nossos conceitos, teorias e
percepções. Muito menos nossa “psicologia”.
A nós, avaliadores, só cabe estimular que a pessoa se mostre. E depois
compararmos o que ele mostrou com os padrões que deveremos ter
estabelecido previamente.
Essas pessoas têm pressa.
Geralmente são avaliadas tardiamente e não podem esperar muito mais. Já
sofreram muito, estão vivendo sempre uma situação de dificuldades.
Geralmente de dificuldades profissionais e financeiras a dificuldades
existenciais e familiares enormes.
Nossas equipes interdisciplinares, não só no Brasil, mas mesmo na Inglaterra,
demoram anos avaliando – ou torturando? – essas pessoas. Na Inglaterra só
se pode começar a corrigir e transformar o corpo, quando necessário, após
dois anos de avaliação prévia, o paciente se vestindo e se mostrando com
vestimentas do sexo pretendido por sua identidade. O sofrimento social é
inimaginável! Quem consegue seguir estudando ou trabalhando dentro dessas
premissas? O Reino Unido, nesse sentido, está na pré-história!
A pessoa se mostrando – como estimulamos em nossas anamneses e através
de nossos testes MFX e FMX de identidade inesperada, a avaliação é
instantânea. Já sabemos quem ela é. Apenas ainda precisamos de um
“peneiramento mental” preventivo, para sabermos como vai a saúde mental do
paciente – para podermos começar a pensar em ajudar em qualquer transição
desejada e necessária.
24
Não havendo graves riscos mentais que coloquem vida ou saúde em xeque,
podemos, se for o caso e o desejo do paciente, iniciar imediatamente a
transição.
Essa transição demorará algum tempo, pois o corpo precisa de tempo para se
transicionar de forma natural. Cada caso é um caso. Depende da idade e das
condições de cada caso. De um a dois anos geralmente são necessários – não
para a avaliação, que já foi terminada pois pode ser muito rápida – mas para
que o corpo se adapte.
Essa transição deve sempre respeitar o paciente e suas necessidades
profissionais inclusive. Se se mostrar socialmente de forma incômoda vai
fechar portas e causar problemas. Por isso propusemos o que chamamos de
transição tipo “borboleta” – resguardando o paciente num casulo, de roupas
largas e de não exposição social ou familiar prematura – muitas vezes esta
pode ser a melhor alternativa.
Os programas interdisciplinares e a própria SOC6th da WPATH temem essa
estratégia justamente porque suas avaliações como regra são inseguras e
desajeitadas – e jogam o paciente no fogo da necessidade de se mostrar –
mesmo sofrendo perdas vivenciais, profissionais e familiares – de forma
obrigatória.
Esse se expor não deve ser obrigatório nem essencial. É viável dependendo
das circunstâncias, é adequado em algumas situações. Em certas situações
levam à violência, ao suicídio, ao assassinato.
Interdisciplinaridade sem pensar no todo de forma sistêmica, e sem estar
centrado no paciente – é simplesmente uma falácia e uma perda de tempo
inaceitável. A primeira coisa que se deve pressupor num grupo interdisciplinar,
é que seus componentes atuem de forma sistêmica, que tenham uma
percepção sistêmica da realidade que querem conhecer não para remoldar a
seu bel-prazer ou com base em suas convicções - mas para harmonizar o
paciente consigo mesmo e com o meio social em que ele se vê constrangido a
viver.
Um grupo interdisciplinar que soma cartesianamente suas partes – para nada
serve e é totalmente inadequado.
Uma boa medida da atitude sistêmica de uma equipe dessas é verificar o
tempo médio entre a entrada de um paciente no programa, e sua saída após
completa harmonização.
Para transexuais, mais de 2 anos, evidencia problemas no programa. Mais de
4, o programa é absolutamente inócuo.
25
Para transgêneros, a harmonização, quando possível, deve necessitar menos
de 1 ano. Mais que isso, evidenciam-se problemas COM O PROGRAMA.
Se não atenderem cross-dressers, o programa em si, é falho.
Entre outros casos.
26
As assinaturas da identidade de gênero
Essas assinaturas podem ser medidas e comparadas.
Através de anos, em entrevistas pessoais – anos ou pelo menos meses –
procurando-se reconhecer sinais.
Ou através de nossos testes pela internet – que reconhecem os sinais
rapidamente – em uma ou duas semanas.
Vemos como um grande aprimoramento dos sistemas de avaliação “oficiais”
nossos métodos pela internet – por serem objetivos, precisos, rápidos e
baratos.
27
Bibliografia sugerida para saber mais
Sobre os modelos cérebro/mente:
Bohm, D - Veja a Bibliografia no final do artigo seguinte de Bohm em inglês
para uma bibliografia sobre seu trabalho. Sugiro que os mais interessados
consultem o site
www.citebase.org
com o tema Bohm – tema não autor – para acessar inúmeros e moderníssimos
estudos sobre BQM e comparações de resultados de BQM com QM.
Damasio, A --- O Erro de Descartes (1994 in English) --- Versão em português Cia das Letras, 1996;
De Waal, F & Lanting, F --- Bonobo, the forgotten Ape --- Oxford University
Press 1997;
De Waal, F --- Our Inner Ape --- Riverhead 2006.
Penrose, R --- The Emperor’s New Mind: concerning Computers, Mind and the
Laws of Physics --- Oxford University Press, 2002;
Penrose, R --- Shadows of the Mind: a Search of the Missing Science of
Consciousness --- Oxford University Press, 1996;
Penrose, R --- The Road to Reality: a Complete Guide to the Laws of the
Universe --- Vintage Books, 2007;
Stapp, H P --- Mind, Matter and Quantum Mechanics --- Springer 2004;
Stapp, H P --- Mindful Universe: Quantum Mechanics and the Participating
Observer --- Springer 2007;
Von Neumann, J --- Mathematical Foundations of Quantum Mechanics (1955 in
German) --- Princeton University Press – English Translation 1996.
Sobre assuntos referentes a identidade de gênero
diretamente sugiro consultar os outros artigos referentes a
Chicago
28
Veja a seguir, em inglês, a transcrição de um paper muito
importante de David Bohm – que lecionou física no Brasil
inclusive – sobre o assunto mente-cérebro, ou melhor, da
relação mente-matéria.
A teoria da mente de Bohm é tão ou mais importante do
que as de Penrose e Stapp.
Aproveite!
A diferença fundamental entre as teorias de Bohm e a de Stapp e também de
Penrose, é que as duas últimas consideram as equações da mecânica quântica
sem alterações, sem considerar “variáveis ocultas”. São idéias mais filosóficas
que físicas, pois discutem mais a ontologia de Bohr e não as equações
matemáticas.
Bohm vai mais fundo. Ele admite uma alteração na matemática na mecânica
quântica – alteração que afeta muito a ontologia quântica de forma radical, mas
que preserva todos os resultados físicos e experimentais da ontologia “de
Copenhagen” de Bohr.
Não há dúvida que a ontologia de Bohm (também conhecida como de De
Broglie – Bohm) faz sentido. Se ela tivesse surgido poucas décadas antes
certamente teria sido adotada de forma generalizada – na mesma época, em
1927, entre Bohr e Bohm, provavelmente Bohm prevaleceria. Mas como surgiu
depois de estabelecida a ontologia de “Copenhagen”, passou a ser difícil alterar
o que já havia e estabelecido – mas dia a dia sua importância cresce no mundo
da física – e ela permite uma física da mente – e não apenas uma filosofia da
mente – o que já é um feito extraordinário!!!!
Vale a pena fazer um esforçozinho e ler o artigo de Bohm – um grande
cientista!
29
A new theory of the relationship of mind and matter
DAVID BOHM
[Reprinted From: PHILOSOPHICAL PSYCHOLOGY, VOL. 3, NO. 2, 1990, pp. 271-286.]
Department of Theoretical Physics, Birkbeck College, University of London,
Malet St, London WC1E 7HX, United Kingdom
ABSTRACT: The relationship of mind and matter is approached in a new way in
this article. This approach is based on the causal interpretation of the quantum
theory, in which an electron, for example, is regarded as an inseparable union
of a particle and afield. This field has, however, some new properties that can
be seen to be the main sources of the differences between the quantum theory
and the classical (Newtonian) theory. These new properties suggest that the
field may be regarded as containing objective and active information, and that
the activity of this information is similar in certain key ways to the activity of
information in our ordinary subjective experience. The analogy between mind
and matter is thus fairly close. This analogy leads to the proposal of the general
outlines of a new theory of mind, matter, and their relationship, in which the
basic notion is participation rather than interaction. Although the theory, can be
developed mathematically in more detail the main emphasis here is to show
qualitatively how it provides a way of thinking that does not divide mind from
matter, and thus leads to a more coherent understanding of such questions
than is possible in the common dualistic and reductionistic approaches. These
ideas may be relevant to connectionist theories and might perhaps suggest new
directions for their development.
1 Introduction
This article discusses some ideas aimed at bringing together the physical and
mental sides of reality. It is concerned mainly with giving the general outlines of
a new way of thinking, consistent with modern physics, which does not divide
mind from matter, the observer from the observed, the subject from the object.
What is described here is, however, only the beginning of such a way of
thinking which, it is hoped, can be developed a great deal further.
The problem of the relationship of mental and physical sides of reality has long
been a key one, especially in Western philosophy. Descartes gave a particularly
clear formulation of the essential difficulties when he considered matter as
extended substance (i.e. as occupying space) while mind was regarded as
thinking substance (which clearly does not occupy space). He pointed out that
in mind, there can be clear and distinct thoughts that correspond in content to
distinct objects that are separated in space. But these thoughts are not in
themselves actually located in separate regions of space, nor do they seem to
be anything like separate material objects in other ways. It appears that the
30
natures of mind and matter are so different that one can see no basis for a
relationship between them. This point was put very clearly by Descartes (see
Cottingham, 1986) when he said that there is nothing included in the concept of
body that belongs to mind, and nothing in that of mind that belongs to body. Yet,
experience shows that they are closely related.
Descartes solved the problem by assuming that God, who created both mind
and matter is able to relate them by putting into the minds of human beings the
clear and distinct thoughts that are needed to deal with matter as extended
substance. It was of course also implied by Descartes that the aims contained
in thoughts had somehow to be carried out by the body, even though he
asserted that thought and the body had no domain in common. It would seem
(as was indeed suggested at the time by Malebranche) that nothing is left but to
appeal to God to arrange the desired action somehow. However, since that
time, such an appeal to the action of God has generally ceased to be accepted
as a valid philosophical argument. But this leaves us with no explanation of how
mind and matter are related.
This article aims at the development of a different approach to this question,
which permits of an intelligible relationship between mind and matter without
reducing one to nothing but a function or aspect of the other (such reduction
commonly takes the forms of materialism which reduces mind, for example, to
an 'epiphenomenon' having no real effect on matter, and of idealism, which
reduces matter to some kind of thought, for example, in the mind of God).
The new approach described in this article is made possible from the side of
matter by the quantum theory, which is currently the most basic theory of the
nature of matter that we have. Certain philosophers of mind (see, e.g.
Haugeland, 1981, ch. 1) would criticize bringing physics into the study of mind.
In this way, because they assume mind to be of such a different (and perhaps
emergent) quality that physics is not relevant to it (even though they also
assume that mind has a material base in the brain). Such criticisms are
inspired, in large part, by the belief that physics is restricted to a classical
Newtonian form, which in essence ultimately reduces everything to a
mechanism of some kind. However, as will be explained in more detail later, the
quantum theory, which is now basic, implies that the particles of physics have
certain primitive mind-like qualities which are not possible in terms of Newtonian
concepts (though, of course, they do not have consciousness). This means that
on the basis of modern physics even inanimate matter cannot be fully
understood in terms of Descartes' notion that it is nothing but a substance
occupying space and constituted of separate objects. Vice versa, It will be
argued that mind can be seen to have always a physical aspect, though this
may be very subtle. Thus, we are led to the possibility of a real relationship
between the two, because they never have the absolute distinction of basic
qualities, that was assumed by Descartes and by others, such as the emergent
materialists.
31
The way is thus now opened to see the possible relevance of physics in this
context. This is because the quantum theory denies the mechanistic
(Newtonian) conceptual framework which has thus far implicitly justified the
notion that mind is of such a nature that it can have absolutely nothing to do
with the laws of matter. Moreover, though those new qualities of matter have
been established at the fundamental level of particle physics, we shall indicate
in a later section how it may be possible for them to become operative at higher
levels of organization such as that of brain and nervous system.
2 The implicate order and the quantum theory
The question of the relationship of mind and matter has already been explored
to some extent in some of my earlier work in physics (Bohm, 1980). In this work,
which was originally aimed at understanding relativity and quantum theory on a
basis common to both, I developed the notion of the enfolded or implicate order.
The essential feature of this idea was that the whole universe is in some way
enfolded in everything and that each thing is enfolded in the whole. From this it
follows that in some way, and to some degree everything enfolds or implicates
everything, but in such a manner that under typical conditions of ordinary
experience, there is a great deal of relative independence of things. The basic
proposal is then that this enfoldment relationship is not merely passive or
superficial. Rather, it is active and essential to what each thing is. It follows that
each thing, is internally related to the whole, and therefore, to everything else.
The external relationships are then displayed in the unfolded or explicate order
in which each thing is seen, as has already indeed been indicated, as relatively
separate and extended, and related only externally to other things. The
explicate order, which dominates ordinary experience as well as classical
(Newtonian) physics, thus appears to stand by itself. But actually, it cannot be
understood properly apart from its ground in the primary reality of the implicate
order.
Because the implicate order is not static but basically dynamic in nature, in a
constant process of change and development, I called its most general form the
holomovement. All things found in the unfolded, explicate order emerge from
the holomovement in which they are enfolded as potentialities and ultimately
they fall back into it. They endure only for some time, and while they last, their
existence is sustained in a constant process of unfoldment and re-enfoldment,
which gives rise to their relatively stable and independent forms in the explicate
order.
The above description then gives, as I have shown in more detail elsewhere
(Bohm, 1980) a valid intuitively graspable account of the meaning of the
properties of matter, as implied by the quantum theory. It takes only a little
reflection to see that a similar sort of description will apply even more directly
and obviously to mind, with its constant flow of evanescent thoughts, feelings,
32
desires, and impulses, which flow into and out of each other, and which, in a
certain sense, enfold each other (as, for example, we may say that one thought
is implicit in another, noting that this word literally means 'enfolded'). Or to put it
differently, the general implicate process of ordering is common both to mind
and to matter. This means that ultimaltely mind and matter are at least closely
analogous and not nearly so different as they appear on superficial
examination. Therefore, it seems reasonable to go further and suggest that the
implicate order may serve as a means of expressing consistently the actual
relationship between mind and matter, without introducing something like the
Cartesian duality between them.
At this stage, however, the implicate order is still largely a general framework of
thought within which we may reasonably hope to develop a more detailed
content that would make possible progress toward removing the gulf between
mind and matter. Thus, even on the physical side, it lacks a well-defined set of
general principles that would determine how the potentialities enfolded in the
implicate order are actualized as relatively stable and independent forms in the
explicate order. The absence of a similar set of principles is, of course, also
evident on the mental side. But yet more important, what is missing is a clear
understanding of just how mental and material sides are to be related.
Evidently what is needed is an extension of the implicate order, which develops
the theory in the direction indicated above. In this paper, we shall go into
another approach that in my opinion goes a long way toward fulfilling this
requirement. This is based on what has been called the causal interpretation of
the quantum theory (Bohm, 1952; Bohm & Hiley, 1975, 1987; Hiley & Peat,
1987). To show why this is being brought in, I shall first give a brief review or
some of the main features of the quantum theory that called for a new
interpretation along the proposed lines (see also Bohm, 1984; Zukav, 1979).
First, the quantum theory implies that all material systems have what is called a
wave-particle duality in their properties. Thus, electrons that in Newtonian
physics act like particles can, under suitable conditions, also act like waves (e.g.
electrons can show statistical interference properties when a large number of
them is passed through a system of slits). This dual nature of material systems
is totally at variance with Newtonian physics, in which each system has its own
nature independently of context.
Secondly, all action is in the form of definite and measurable units of energy,
momentum and other properties called quanta which cannot be further divided.
(For example, an atom is said to 'jump' from one state to another without
passing through intermediate states and in doing this to emit an indivisible
quantum of light energy.) When particle interact, it is as if they were all
connected by indivisible links into a single whole. However, in the large scale
limit, the number of links is so great that processes can be treated to a good
degree of approximation as divisible (as one can treat the collective movement
of a large mass of grains of sand as an approximately divisible flow). And this
33
explains the indefinite divisibility of processes that we experience on the large
scale level as a limiting case.
Thirdly, there is a strange new property of non-locality. That is to say, under
certain conditions, particles that are at macroscopic orders of distance from
each other appear to be able, in some sense, to affect each other, even though
there is no known means by which they could be connected. Indeed if we were
to assume any kind of force whatsoever (perhaps as yet unknown) to explain
this connection, then the well-known Bell's theorem gives a precise and general
criterion for deciding whether the connection is local, i.e. one brought about by
forces that act when the systems are not in contact (Bell, 1966). It can be
shown that the quantum theory implies that Bell's criterion is violated, and this
implication is confirmed by the actual experiments. Therefore, it follows that if
there are such forces, they must act non-locally. Such non-local interactions are
basically foreign to the general conceptual scheme of classical (Newtonian)
physics, as it has been known over the past few centuries (which states that
interactions are either in contact or carried by locally acting fields that propagate
continuously through space).
All of this can be summed up in terms of a new notion of quantum wholeness,
which implies that the world cannot be analyzed into independently and
separately existent parts. This sort of analysis will have at most an approximate
and limited kind of applicability; i.e. in a domain in which Newtonian physics is
approximately valid. But fundamentally, quantum wholeness is what is primary.
In particular, such wholeness means that in an observation carried out to a
quantum theoretical level of accuracy, the observing apparatus and the
observed system cannot be regarding as separate. Rather, each participates in
the other to such an extent that it is not possible to attribute the observed result
of their interaction unambiguously to the observed system alone. Therefore, as
shown by Heisenberg, there is a limit to the precision of the information that can
be obtained about the latter. This contrasts with Newtonian physics, in which it
is always possible in principle to refine observations to an unlimited degree of
precision.
Niels Bohr (1934, 1958) has made a very subtle analysis of this whole question.
For reasons similar to those outlined above, he treats the entire process of
observation as a single phenomenon, which is a whole that is not further
analyzable. For Bohr, this implies that the mathematics of the quantum theory is
not capable of providing an unambiguous (i.e. precisely definable) description of
an individual quantum process, but rather, that it is only an algorithm yielding
statistical predictions concerning the possible results of an ensemble of
experiments. Bohr further supposes that no new concepts are possible that
could unambiguously describe the reality of the individual quantum process.
Therefore, there is no way intuitively or otherwise to understand what is
happening in such processes. Only in the Newtonian limit can we obtain an
34
approximate picture of what is happening, and this will have to be in terms of
the concepts of Newtonian physics.
Bohr's approach has the merit of giving a consistent account of the meaning of
the quantum theory. Moreover, it focuses on something that is new in physics,
i.e. the wholeness of the observing instrument and what is observed. The
question is clearly also of key importance in discussing the relationship of mind
and matter. But Bohr's insistence that this wholeness cannot be understood
through any concepts whatsoever, however new they may be, implies that
further progress in this field depends mainly on the development of new sets of
mathematical equations without any real intuitive or physical insight as to what
they mean apart from the experimental results that they may predict. On the
other hand, I have always felt that mathematics and intuitive insight go hand in
hand. To restrict oneself to only one of these is like tying one hand behind one's
back and working only with the other. Of course, to do this is a significant
restriction in physics, but evidently it is even more significant restriction in
studying in mind, where intuitive insight must itself be a primary factor.
In view of the above, it seems very important to question Bohr's assumption that
no conception of the individual quantum process is possible. Indeed, it was just
in doing this that I was led to develop the causal interpretation of the quantum
theory, that I have already mentioned earlier, which is able, as will be shown in
this article, to provide a basis for a non- dualistic theory of the relationship of
mind and matter.
3 The causal interpretation of the quantum theory
brief account of the causal interpretation of the quantum theory win now be
given (see Bohm, 1952; Bohm & Hiley, 1987). The first step in this interpretation
is to assume that the electron, for example, actually is a particle, following a well
defined trajectory (like a planet around the sun). But it is always accompanied
by a new kind of quantum field. Now, a field is something that is spread out over
space. We are already familiar, for example, with the magnetic field, shown to
spread throughout space by means of iron filings around a magnet or a current
carrying wire. Electric fields spreading out from a charged object are also well
known. These fields combine to give electromagnetic waves, radiating out
through space (e.g. radio waves).
A
The quantum field is, however, not simply a return to these older concepts, but
it has certain qualitatively new features. These imply a radical departure from
Newtonian physics. To see one of the key aspects of this departure, we begin
by noting that fields can generally be represented mathematically by certain
expressions that are called potentials. In physics, a potential describes a field in
terms of a possibility or potentiality that is present at each point of space for
giving rise to action on a particle which is at that point. What is crucial in
classical (-Newtonian) physics is then that the effect of this potential on a
particle is always proportional to the intensity of the field. One can picture this
35
by thinking of the effect of water waves on a bobbing cork, which gets weaker
and weaker as the waves spread out. As with electric and magnetic fields, the
quantum field can also be represented in terms of a potential which I call the
quantum potential. But unlike what happens with electric and magnetic
potentials, the quantum potential depends only on the form, and not in the
intensity of the quantum field. Therefore, even a very weak quantum field can
strongly affect the particle. It is as if we had a water wave that could cause a
cork to bob up with full energy, even far from the source of the wave. Such a
notion is clearly fundamentally different from the older Newtonian ideas. For it
implies that even distant features of the environment can strongly affect the
particle.
As an example, we may consider the two slit interference experiment, shown in
Fig. 1.
FIG. 1. The two slit interference experiment.
In this experiment, one may think of quantum waves that are incident on a sheet
containing two slits, A and B. These waves pass through the two slits and then
spread out as they propagate forward. Where the waves meet, they interfere,
adding up to a stronger wave where their oscillations are in phase and
canceling each other where they are out of phase. With classical fields, such as
the electromagnetic, this gives rise to the well known interference pattern
consisting of a set of fringe-like bands that are alternately strong and weak.
36
To see what happens with quantum systems, let us consider a very weak beam
of electrons coming in to the slit system separately and independently, one after
another. Each electron follows a well defined path, going through one slit or the
other. Indeed, according to Newtonian ideas, after such an electron has passed
through one of the slits, it should move through the empty space in front of it in
a straight line at constant velocity. But quantum theoretically, this is not so. To
see what happens here, let us consider the quantum potential, shown in Fig. 2.,
which results from the interference of the waves shown in Fig. 1.
FIG. 2. The quantum potential for the two slit interference experiment.
The quantum potential is present in front of the slits. It consists of a series of
plateaus' separated by deep 'valleys'. When an electron crosses one of these
'valleys', it is sharply accelerated. So the electrons are deflected even in the
37
empty space in front of the slits by the quantum potential, and this deflection
may still be large even far from the slits.
Now, in a typical experiment of this kind, the source of electrons is a hot
filament, behind the slits, out of which they may be thought of as 'boiling' with a
random statistical variation of initial positions (i.e. appearing here and there by
chance). Each electron follows a particular path, going through one slit or the
other, as it arrives at the detecting screen as an individual, particle, producing,
for example, an individual spot in a photographic plate located at the screen. In
its movement the electron is affected by the quantum potential, which, as we
recall, is determined by the wave that in general precedes the particle.
However, if we follow the whole set of trajectories, which represents an initially
random distribution of particles, then, as shown in Fig. 3, these are 'bunched'
systematically into a fringe-like pattern (which will become apparent after many
electrons have arrived at the screen in front of the slits).
38
FIG. 3. Particle trajectories for the two slit interference expedient.
In this way, we explain how the electron can be a particle, and yet manifest
characteristics wave-like properties statistically. It is essential for this
explanation, however, that the quantum potential depends only on the form of
the wave, so that it can be strong even when the wave intensity is weak. Or to
put it differently, what is basically new here is the feature that we have called
non-locality, i.e. the ability for distant parts of the environment (such as the slit
system) to affect the motion of the particle in a significant way (in this case
through its effect on the quantum field).
I would like to suggest that we can obtain a further understanding of this feature
by proposing a new notion of active information that plays a key role in this
context. The word in-form is here taken in its literal meaning, i.e. to put form into
(rather than in it's technical meaning in information theory as negentropy). One
may think of the electron as moving under its own energy. The quantum
potential then acts to put form into its motion, and this form is related to the form
of the wave from which the quantum potential is derived.
There are many analogies to the notion of active information in our general
experience. Thus, consider a ship on automatic pilot guided by radar waves.
The ship is not pushed and pulled mechanically by these waves. Rather, the
form of the waves is picked up, and with the aid of the whole system, this gives
a corresponding shape and form to the movement of the ship under its own
power. Similarly, the form of radio waves as broadcast from a station can carry
the form of music or speech. The energy of the sound that we hear comes from
the relatively unformed energy in the power plug, but its form comes from the
activity of the form of the radio wave; a similar process occurs with a computer
which is guiding machinery. The 'information' is in the program, but its activity
gives shape and form to the movement of the machinery. Likewise, in a living
cell, current theories say that the form of the DNA molecule acts to give shape
and form to the synthesis of proteins (by being transferred to molecules of
RNA).
Our proposal is then to extend this notion of active information to matter at the
quantum level. The information in the quantum level is potentially active
everywhere, but actually active only where the particle is (as, for example, the
radio wave is active where the receiver is). Such a notion suggests, however,
that the electron may be much more complex than we thought (having a
structure of a complexity that is perhaps comparable, for example, to that of a
simple guidance mechanism such as an automatic pilot). This suggestion goes
against the whole tradition of physics over the past few centuries which is
committed to the assumption that as we analyze matter into smaller and smaller
parts, their behaviour grows simpler and simpler. Yet, assumptions of this kind
39
need not always be correct. Thus, for example, large crowds of human beings
can often exhibit a much simpler behaviour than that of the individuals who
make it up.
Does our knowledge of physics allow room for a structure of the kind suggested
above? Actually, the smallest distances that have thus far been probed in
physics are of the order of 10-16 cm. On the other hand, the shortest distance
that could have meaning in present-day physics is of the order of 10-33 cm, the
so-called Planck length, at which it is generally agreed that current concepts of
space, time and matter would probably have to change radically. Between 1016 and 10-33, there is a factor of 1017, which is about the same as that
between 10-16 and ordinary macroscopic distances (of the order of 10 cm).
Between 10 cm and 10-16 cm lies a tremendous possibility for structure. Why
should there not be a similar possibility between 10-16 cm and 10-33 cm, and
perhaps beyond even this? (It is interesting in this connection to note that even
the current string theories of physics lead to the possibility of very complex
structures at distances as short as 10-33 cm.)
The notion of active information implies, as we have seen, the possibility of a
certain kind of wholeness of the electron with distant features of its
environment. This is in certain ways similar to Bohr's notion of wholeness, but it
is different ill that it can be understood in terms of the concept of a particle
whose motion is guided by active information. On the other hand, in Bohr's
approach, there is no corresponding way to make such wholeness intelligible.
The meaning of this wholeness is, however, much more fully brought out by
considering not a simple electron as we have done thus far, but rather a system
consisting of many such particles. Here several new concepts appear.
First, two or more particles can affect each other strongly through the quantum
potential even when they are separated by long distances. This is similar to
what happened with the slits, but it is more general. Such non-local action at
long distances has been confirmed in experiments aimed at testing whether the
Bell criterion that I mentioned earlier is satisfied.
Secondly, in a many particle system, the interaction of the particles may be
thought of as depending on a common pool of information belonging to the
system as a whole,, in a way that is not analyzable in terms of pre-assigned
relationships between individual particles. This may be illustrated in terms of the
phenomenon of superconductivity. Now, at ordinary temperatures, electrons
moving inside a metal are scattered in a random way by various obstacles and
irregularities in the metal. As a result, there is a resistance to the flow of electric
current. At low temperatures, however, the electrons move together in an
organized way, and can therefore go around such obstacles and irregularities to
re-form their pattern of orderly movement together (see Fig. 4). Thus they are
not scattered, and therefore the current can flow indefinitely without resistance.
40
FIG. 4. Superconducting current flowing around an obstacles.
A more detailed analysis shows that the quantum potential for the
whole system then constitutes a non-local connection that brings
about the above described organized and orderly pattern of
electrons moving together without scattering. We may here make an
analogy to a ballet dance, in which all the dancers, guided by a
common pool of information in the form of a score, are able to move
together in a similar organized and orderly way, to go around an
obstacle and re-form their pattern of movement.
If the basic behaviour of matter involves such features as
wholeness, nonlocality and organization of movement through
common pools of information, how then do we account for ordinary
large scale experience, in which we find no such features? It can be
shown (Bohm & Hiley, 1987) that at higher temperatures, the
quantum potential tends to take the form of independent parts,
which implies that the particles move with a corresponding
independence. It is as if, instead of engaging in a ballet dance,
41
people were moving independently, each with his own separate pool
of information. They would then constitute a crowd, in which the
organized movement of the ballet has broken up.
4 Implications for mind
It follows from the above that the possibilities for wholeness in the quantum
theory have an objective significance. This is in. contrast to what happens in
classical physics, which must treat a whole as merely a convenient way of
thinking about what is considered to be in reality nothing but a collection of
independent parts in a mechanical kind of interaction. On the other hand, in the
quantum theory, the 'ballet-like' behaviour in superconductivity, for example, is
clearly more like that of an organism than like that of mechanism. Indeed, going
further, the whole notion of active information suggests a rudimentary mind-like
behaviour of matter, for an essential quality of mind is just the activity of form,
rather than of substance. Thus, for example, when we read a printed page, we
do not assimilate the substance of the paper, but only the forms of the letters,
and it is these forms which give rise to an information content in the reader
which is manifested actively in his or her subsequent activities. A similar mindlike quality of matter reveals itself strongly at the quantum level, in the sense
that the form of the wave function manifests itself in the movements of the
particles. This quality does not, however, appear to a significant extent at the
level at which classical physics is a valid approximation.
Let us now approach the question from the side of mind. We may begin by
considering briefly some aspects of the nature of thought. Now, a major part of
the significance of thought is just the activity to which a given structure of
information may give rise. We may easily verify this in our subjective
experience. For example, suppose that on a dark night, we encounter some
shadows. If we have information that there may be assailants in the
neighbourhood, this may give rise immediately to a sense of dancer, with a
whole range of possible activities (fight, flight, etc.). This is not merely a mental
process. But includes an involuntary and essentially unconscious process of
hormones, heart-beat, and neurochemicals of various kinds, as well as physical
tensions and movements. However, if we look again see that it is only a shadow
that confronts us, this thought has a calming effect, and all the activity described
above ceases. Such a response to information is extremely common (e.g.
information that X is a friend or an enemy, good or bad, etc.). More generally,
with mind, information is thus seen to be active in all these ways, physically,
chemically, electrically, etc.
Such activity is evidently similar to that which was described in connection with
automatic pilots, radios, computers, DNA, and quantum processes in
elementary particles such as electrons. At first sight, however, there may still
seem to be a significant difference between these two cases. Thus, in our
subjective experience action can, in some cases at least, be mediated by
reflection in conscious thought, whereas in the various examples of activity of
42
objective information given here, this action is immediate. But actually, even if
this happens, the difference is not as great as might appear. For such reflection
follows on the suspension of physical action. This gives rise to a train of
thought. However, both the suspension of physical action and the resulting train
of thought follow immediately from a further kind of active information implying
the need to do this.
It seems clear from all this that at least in the context of the processes of
thought, there is a kind of active information that is simultaneously physical and
mental in nature. Active information can thus serve as a kind of or 'bridge'
between these two sides of reality as a whole. These two sides are inseparable,
in the sense that information contained in thought, which we feel to be on the
'mental' side, is at the same time a related neurophysiological, chemical, and
physical activity (which is clearly what is meant by the 'material' side of this
thought).
We have however up to this point considered only a small part of the
significance of thought. Thus, our thoughts may contain a whole range of
information content of different kinds. This may in turn be surveyed by a higher
level of mental activity, as if it were a material object at which one were
'looking'. Out of this may emerge a yet more subtle level of information, whose
meaning is an activity that is able to organize the original set of information into
a greater whole. But even more subtle information of this kind can, in turn, be
surveyed by a yet more subtle level of mental activity, and at least in principle
this can go on indefinitely. Each of these levels may then be seen from the
material side. From the mental side, it is a potentially active information content.
But from the material side, it is an actual activity that operates to organize the
less subtle levels, and the latter serve as the material' on which such operation
takes place. Thus, at each level, information is the link or bridge between the
two sides.
The proposal is then that a similar relationship holds at indefinitely great levels
of subtlety. I am suggesting that this possibility of going beyond any specifiable
level of subtlety is the essential feature on which the possibility of intelligence is
based.
It is interesting in this context to consider the meaning of subtle which is,
according to the dictionary 'rarefied, highly refined, delicate, elusive,
indefinable'. But it is even more interesting to consider its Latin root, sub-texere,
which means 'finely woven'. This suggests metaphor for thought as a series of
more and more closely woven nets. Each can 'catch' a certain content of a
corresponding 'fineness'. The finer nets can not only show up the details of form
and structure of what is 'caught' in the coarser nets; they can also hold within
them a further content that is implied in the latter. We have thus been led to an
extension of the notion of implicate order, in which we have a series of interrelated levels in which the more subtle-I.e. 'the more finely woven' levels
including thought, feeling and physical reactions-both unfold and enfold those
43
that are less subtle (i.e. 'more coarsely woven'). In this series, the mental side
corresponds, of course, to what is more subtle and the physical side to what is
less subtle. And each mental side in turn becomes a physical side as we move
in the direction of greater subtlety.
5 An extension of the quantum theory
Let us now return to a consideration of the quantum theory. What is its
relationship to the interweaving of the physical and the mental that has been
discussed above? First, let us recall that because the quantum potential may be
regarded as information whose activity is to guide the "dance" of the electrons,
there is a basic similarity between the quantum behaviour of a system of
electrons and the behaviour of mind. But if we wish to relate mental processes
to the quantum theory, this similarity will have to be extended. The simplest way
of doing this is to improve the analogy between mental processes and quantum
processes by considering that the latter could also be capable of extension to
indefinitely great levels of subtlety.
To bring this about, one could begin by supposing, for example, that as the
quantum potential constitutes active information that can give form to the
movements of the particles, so there is a superquantum potential that can give
form to the unfoldment and development of this first order quantum potential.
This latter would no longer satisfy the laws of the current quantum theory, which
latter would then be an approximation, working only when the action of the
superquantum potential can be neglected.
Of course, there is no reason to stop here. One could go on to suppose a series
of orders of superquantum potentials, with each order constituting information
that gives form to the activity of the next lower order (which is less subtle). In
this way, we could arrive at a process that would be very similar to that to which
we have been led in the consideration of the relationship of various levels of
subtlety in mind.
One may then ask: what is the relationship of these two processes? The answer
that I want to propose here is that there are not two processes. Rather, I 'Would
suggest that both are essentially the same. This means that that which we
experience as mind, in its movement through various levels of subtlety, will, in a
natural way ultimately move the body by reaching the level of the quantum
potential and of the 'dance' of the particles. There is no unbridgeable gap of
barrier between any of these levels. Rather, at each stage some kind of
information is the bridge. This implies, that the quantum potential acting on
atomic particles, for example, represents only one stage in the process.
The content of our own consciousness is then some part of this over-all
process. It is thus implied that in some sense a rudimentary mind-like quality is
present even at the level of particle physics, and that as we go to subtler levels,
this mind-like quality becomes stronger and more developed. Each kind and
44
level of mind may have a relative autonomy and stability. One may then
describe the essential mode of relationship of all these as participation, recalling
that this word has two basic meanings, to partake of, and to take part in.
Through enfoldment, each relatively autonomous kind and level of mind to one
degree or another partakes of the whole. Through this it partakes of all the
others in its 'gathering' of information. And through the activity of this
information, it similarly takes part in the whole and in every part. It is in this sort
of activity that the content of the more subtle and implicate levels is unfolded
(e.g. as the movement of the particle unfolds the meaning of the information
that is implicit in the quantum field and as the movement of the body unfolds
what is implicit in subtler levels of thought, feeling, etc.).
For the human being, all of this implies a thoroughgoing wholeness, in which
mental and physical sides participate very closely in each other. Likewise,
intellect, emotion, and the whole state of the body are in a similar flux of
fundamental participation. Thus, there is no real division between mind and
matter, psyche and soma. The common term psychosomatic is in this way seen
to be misleading, as it suggests the Cartesian notion of two distinct substances
in some kind of interaction (if not through the action of God, then perhaps in
some other way).
Extending this view, we see that each human being similarly participates in an
inseparable way in society and in the planet as a whole. What may be
suggested further is that such participation goes on to a greater collective mind,
and perhaps ultimately to some yet more comprehensive mind in principle
capable of going indefinitely beyond even the human species as a whole. (This
may be compared to some of Jung's (1981) notions.)
45
FIG. 5. Magnetic poles as abstractions from an overall magnetic field.
Finally, we may ask how we can understand this theory if the subtle levels are
carried to infinity. Does the goal of comprehension constantly recede as we try
to do this? I suggest that the appearance of such a recession is in essence just
a feature of our language, which tends to give too much emphasis to the
analytic side of our thought processes.
To explain what is meant here, one may consider the analogy of the poles of a
magnet, which are likewise a feature of linguistic and intellectual analysis, and
have no independent existence outside such analysis. As shown in Fig. 5, at
every part of a magnet, there is a potential pair of north and south poles that
overlap each other. But these magnetic poles are actually abstractions,
introduced for convenience of thinking about what is going on, while the whole
process is a deeper reality-an unbroken magnetic field that is present over all
space.
Similarly, we may for the sake of thinking about the subject abstract any given
level of subtely out of the unbroken whole of reality and focus our attention on it.
At each such level, there will be a 'mental pole' and a 'physical pole'. Thus as
we have already implied, even an electron has at least a rudimentary mental
pole, represented mathematically by the quantum potential. Vice versa, as we
have seen, even subtle mental processes have a physical pole. But the deeper
reality is something beyond either mind or matter, both of which are only
aspects that serve as terms for analysis [1]. These can contribute to our
understanding of what is happening but are in no sense separate substances in
interaction. Nor are we reducing one pole to a mere function or aspect of the
other (e.g. as is done in materialism and in idealism). The key point is, however,
that before the advent of the quantum theory, our knowledge of matter as
gained from the study of physics would have led us to deny that it could have a
mental pole, which would enable it to participate with mind in the relationship
that have been described here. We can now say that this knowledge of matter
(as well as of mind) has changed in such a way as to support the approach that
has been described here. To pursue this approach further might perhaps enable
us to extend our knowledge of both poles into new domains.
46
Note
[1] See Marshall (1989, p. 73) for an account of an idea having important
similarities with what has been proposed here. He, too, uses the notion of a
general quantum reality as a basis for the bodily and mental realms, considered
as inseparable sides or aspects. But he proposes to explain this from the
quantum theory as it now stands in its usual interpretation. However, in this
paper we have used the causal interpretation of the quantum theory with its
additional concepts of particle trajectories and active information, and have
assumed that ultimately the relationship of mental and material sides can be
understood only by extending the scheme beyond the domain in which the
current quantum theory is valid.
For other recent attempts to consider the mind-matter relation in the light of the
quantum theory, see Penrose (1989) and Lockwood (1989). For a discussion of
the notions of active information and implicate order by a number of authors,
see Pylkkanen (1989).
References
BELL, J.S. (1966) On the problem of hidden variables in quantum theory,
Reviews of Modern Physics, 38, p. 447.
BOHM, D. (1952) A suggested interpretation of the quantum theory in terms of
hidden variables, Physical Review, 85, pp. 166-189.
BOHM, D. (1980) Wholeness and the Implicate Order (London, Routledge &
Kegan Paul).
BOHM, D. (1984) Causality, and Chance in Modern Physics, new edn with new
preface (London, Routledge & Kegan Paul).
BOHM, D. & HILEY, B.J. (1975) On the intuitive understanding of Nonlocality as
implied by the quantum theory, Foundations of Physics, 5, pp. 93-109.
BOHM, D. & HILEY, B.J. (1987) An ontological basis for the quantum theory,
Physics Reports, 144, pp. 323-348.
BOHR, N. (1934) Atomic Theory and the Description of Nature (Cambridge,
Cambridge University Press).
BOHR, N. (1958) Atomic Theory and Human Knowledge (New York, Wiley).
COTTINGHAM, J. (1986) Descartes (Oxford, Basil Blackwell).
HAUGELAND, J. (Ed.) (1981) Mind Design: philosophy, psychology, artificial
intelligence (Mongtomery, VT, Bradford Books).
47
HILEY, B.J. & PEAT, F.D. (Eds) (1987) Quantum Implications (London,
Routledge & Kegan Paul).
JUNG, C.G. (1981) Memories, Dreams and Reflections (London, Collins
Fontana).
LOCKWOOD, M. (1989) Mind, Brain and the Quantum (Oxford, Basil
Blackwell).
MARSHALL, I.N. (1989) Consciousness and Bose-Einstein Condensates, New
Ideas in Psychology, 7, pp. 73-83.
PENROSE, R. (1989) The Emperor's New Mind: concerning minds, computers
and the laws of physics (Oxford, Oxford University Press).
PYLKKANEN, P. (Ed.) (1989) The Search for Meaning (Wellingborough,
Thorsons).
ZUKAV, G. (1979) The Dancing Wu Li Master: an overview of the new physics
(New York, Morrow).

Documentos relacionados