Zoantropia - Revista Cristã de Espiritismo

Transcrição

Zoantropia - Revista Cristã de Espiritismo
Especial
Muitos espíritos, desequilibrados e torturados moralmente, plasmam
formas monstruosas e animalescas no perispírito, transformando-se
em verdadeiros instrumentos das Sombras
Z
oantropia é o fenômeno em que os espíritos
desencarnados devotados ao mal se tornam visíveis aos homens sob formas animalescas, demonstrativas de sua degradação tanto moral, quanto espiritual. Essas formas são as mais diversas, sem esquecer da forma “diabólica” em que muitos se apresentam,
isto é, cara de homem, chifres, rabo e pés de bode, ou
seja, um ser misto de homem e animal.
Muitos livros de ficção foram escritos em cima do
tema, e surgiram vários filmes e novelas explorando esse
filão também. Como sempre, no fundo das lendas e da
imaginação popular, há sempre uma verdade a ser buscada. Não acreditar em tudo e nem negar tudo. Não
existe o sobrenatural, porque tudo que ocorre na natureza é natural, obedecendo a leis emanadas do Criador.
O desconhecimento dessas leis é que leva à descrença
ou à superstição. É por isso que o homem coloca “adereços” na verdade de forma a deturpá-la
Muitas pessoas do povo já me contaram casos de
lobisomem (licantropo) e juram que o viram. Vou deixar de lado, desta vez, esses casos e narrar alguns encontrados, principalmente, dentro da hagiografia e da
literatura espírita.
As forças malévolas sempre atacam aqueles que
servem ao bem. E assim sendo, não é raro encontrarmos
na vida dos santos, fenômenos de zoantropia.
O hagiógrafo José Hussleim, na obra Heroínas de
Cristo, Editorial Poblet, relata que na vida de Santa
Gemma Galvani (1878-1903) ocorreram dolorosos fenômenos de infestação espiritual produzidos por entidades malfazejas do mundo invisível, que tomavam as
mais terríveis formas. Uma delas aparecia, às vezes,
“como um cão feroz que se arrojava sobre ela, ou como
um monstro gigantesco que a afligia a noite inteira, gritando: Tu me pertences! Tu me pertences!”
São Pedro de Alcântara (1499-1562) sofreu grandemente a investida das forças do mal, às quais venceu
com sua humildade e devotamento ao bem. Frei Estefânio José Piat, na obra São Pedro de Alcântara, Editora
Vozes, descreve um desses ataques, acompanhado de
fenômenos físicos: “O Diabo entra agora em cena.
Obsessiona-o sob formas asquerosas, persegue-o com
escárnios, com gritos e ruídos noturnos. E chega mesmo às vias de fato: derruba-o, sufoca-o até quase o estrangular; cobre-o com chuvarada de pedras que, na
manhã seguinte, ainda se encontram espalhadas pelo
soalho da pobre cela.”
Ataques de obsessores
Dom Bosco (1815-1888) também recebeu cruéis ataques de tenebrosas e vingativas entidades, interessadas
em prejudicar a sua obra missionária. O Padre A. Auffray,
na célebre obra Saint Jean Bosco, Librairie Catholique
Emmanuel Vitte, descreve essas perseguições confidenciadas pelo notável santo aos padres Cagliero, Bonetti e
Ruffino, que certa manhã o encontraram pálido e extenuado. Além de gritos nos ouvidos, ventos repentinos,
puxão nas cobertas, estrondos no teto da casa e outros
fenômenos físicos, Dom Bosco enfrentou também os
fenômenos de zoantropia (inclusive a licantropia), atestando a sua mediunidade poderosa e grande espiritualidade. Os perseguidores desencarnados apareciam “sob
as expressões de animais ferozes – ursos, tigres, lobos,
serpentes – ou sob o aspecto de monstros indescritíveis,
que o atacavam furiosamente”.
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São Geraldo Majela (1726-1755), cuja
vida foi povoada dos mais extraordinários fenômenos, não escapou também à zoantropia.
Seu hagiógrafo, padre Montes, narra na obra São
Geraldo, vários casos. O primeiro ocorreu antes do
santo entrar para o noviciado dos redentoristas. Dotado de grandes virtudes e fervor, gostava de fazer
vigília na igreja de Muro, sua cidade Natal. “Uma
noite, ao abrir a porta da igreja ,viu Geraldo na obscuridade os enormes olhos esbraseados de um cão
que avançou como se quisesse saltar-lhe ao pescoço. O primeiro impulso do jovem foi de gritar
e fugir. Compreendeu, todavia, que aquele cão
descomunal, que se encontrava dentro do templo, não era um animal como os demais. Entrou,
tomou água benta e fez o sinal da cruz. O macabro
assaltante retrocedeu e, dando horroroso uivo e desapareceu como por encanto”.
Já como Irmão coadjutor, em Iliceto e outros conventos, numerosos grupos de “demônios” apareciam-lhe
em forma corpórea. Às vezes, tais como os representa
a imaginação popular, com enormes chifres, fisionomia
repugnante, pele vermelha ou negra e rabo descomunal. Executavam ataques simulados e davam gritos e
uivos capazes de gelar o sangue de um cristão. Outras
vezes, disfarçados em enormes cães pretos e lobos
medonhos, atacavam a Geraldo como querendo devorá-lo. Vendo que as ameaças não impressionavam ao heróico jovem, os espíritos infernais não se contentaram
com berros e ameaças.
Certo dia, lançaram-se sobre Geraldo, deitaram-lhes
suas asquerosas mãos, lançaram-no por terra e maltrataram-no de tal maneira que, no dia seguinte, não pôde
levantar-se do leito. Outra noite, precipitaram-se sobre
ele dois lobos gigantes, com uivos selvagens e, agarrando-o pela batina, arrastaram-no pelos corredores, saíram com ele para a horta e lá no fundo, tendo-o arrastado por pedras e lama, e quanta imundície havia, lá o
deixaram semi-morto”. Tentavam, também atirá-lo ao
fogo ou afogá-lo.
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Especial
A semelhantes vampiros devemos muitos quadros dolorosos da
patologia mental nos manicômios, em que numerosos pacientes,
sob intensiva ação hipnótica, imitam costumes, posições e
atitudes de animais diversos
Frederica Hauffe (1801-1829), chamada a Vidente de
Prevorst, sensitiva alemã de faculdades excepcionais,
costumava expulsar espíritos por meio de fórmulas escritas. A pedido do dr. Justinus Kerner, enviou a Fritzlen,
uma senhora idosa, que foi perseguida durante vinte e
quatro anos, uma palavra de sua linguagem interior.
“Tudo começou quando, ao deitar-se, ainda acordada,
ouviu pela primeira vez um estalo na cama; em seguida viu um jato de luz azulada e a aparição de um ser
semelhante a uma raposa, que se lhe aproximou da
cama e desapareceu. Outra noite, percebeu a mão de
uma criança na sua. Esforçando-se para retirá-la, sentiu-se opressa, como sob a influência de um grande
peso. Desde então viu-se perturbada todas as noites, a
princípio por luzes brandas, depois pela aparição de
formas vivas, corujas, gatos ou cavalos, todos medonhos
e assustadores.” Com a ajuda prestada pela vidente
cessaram as perturbações na vida de Fritzlen.
Encontramos dentro da literatura espírita as explicações de como se processam esses aviltamentos das formas. Segundo Gúbio, instrutor de André Luiz, temos que
tomar “por base, acima de tudo, os elementos plásticos
do perispírito.”
Dom Bosco recebeu cruéis ataques de tenebrosas e vingativas entidades, interessadas
em prejudicar a sua obra missionária
A zoantropia não se manifesta só nos desencarnados. Os encarnados também apresentam problemas
desse tipo. Vejamos apenas três casos: um extraído da
Bíblia, outro de uma obra de André Luiz e o terceiro
narrado pelo Cel. Edynardo Weyne.
Zoantropia na Bíblia
O caso bíblico encontramos em Daniel (c.4:25 a 34).
O rei Nabucodonosor, da Babilônia, que viveu como
animal durante sete anos, findo os quais recobrou o
juízo, o reino e a figura humana, glorificando a Deus e
a Sua justiça. Destaquemos o trecho em que se opera a
transformação: “Isto é a ti, ó rei Nabucodonosor, se intima: O teu reino passará de ti a outro possuidor, e lançar-te-ão da companhia dos homens e a tua habitação
será com as alimárias e feras: comerás feno como o boi,
e sete tempos passarão por cima de ti, até que reconheças que o Excelso tem um poder absoluto sobre os remos dos homens, e que os dá a quem lhe apraz.
Na mesma hora se cumpriu esta palavra na pessoa
de Nabucodonosor, e ele foi lançado da companhia dos
homens, e comeu feno como o boi e o seu corpo foi
molhado do orvalho do céu: de sorte que lhe cresceram
os cabelos e o pelo, como as plumas das águias, e as
suas unhas se fizeram como as garras das aves”.
No capítulo 23 da obra Nos Domínios da Mediunidade, temos um exemplo de fascinação muito interessante. Uma senhora, dominada por um terrível
hipnotizador, acompanhado por vários companheiros
vingativos, adquiria aspecto animalesco, “quase que
uivando” e coleando pelo chão”. Não fosse a assistência espiritual, seria vítima integral da licantropia
deformante. O instrutor Gúbio explica: “Muitos espíritos, pervertidos no crime, abusam dos poderes da inteligência, fazendo pesar tigrina crueldade sobre
quantos ainda sintonizam com eles pelos débitos do
passado. A semelhantes vampiros devemos muitos
quadros dolorosos da patologia mental nos manicômios, em que numerosos pacientes, sob intensiva ação
hipnótica, imitam costumes, posições e atitudes de
animais diversos”.
Na obra A Próxima Parada, o Cel. Edynardo narra
um caso interessantíssimo: “A 5 de agosto deste ano
(1983), Valdeci Ribeiro de Souza, filho de João de
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FEB
Entenda como ocorre a subjugação
O Livro dos Médiuns - Cap. XXIII - Allan Kardec
240. A subjugação é uma
constrição que paralisa a vontade
daquele que a sofre e o faz agir a
seu mau grado. Numa palavra: o
paciente fica sob um verdadeiro
jugo. A subjugação pode ser moral
ou corporal. No primeiro caso, o
subjugado é constrangido a tomar
resoluções muitas vezes absurdas
e comprometedoras que, por uma
espécie de ilusão, ele julga sensatas: é uma como fascinação.
No segundo caso, o Espírito
atua sobre os órgãos materiais e
provoca movimentos involuntários. Traduz-se, no médium escrevente, por uma necessidade incessante de escrever, ainda nos momentos menos oportunos. Vimos
alguns que, à falta de pena ou lápis, simulavam escrever com o
dedo, onde quer que se encontrassem, mesmo nas ruas, nas portas,
nas paredes. Vai, às vezes, mais
longe a subjugação corporal; pode
levar aos mais ridículos atos. Conhecemos um homem, que não
era jovem, nem belo e que, sob o
império de uma obsessão dessa
natureza, se via constrangido, por
uma força irresistível, a pôr-se de
joelhos diante de uma moça a cujo
respeito nenhuma pretensão nutria e pedi-la em casamento. Outras vezes, sentia nas costas e nos
jarretes uma pressão enérgica,
que o forçava, não obstante a resistência que lhe opunha, a se ajoelhar e beijar o chão nos lugares
públicos e em presença da multidão. Esse homem passava por louco entre as pessoas de suas relações; estamos, porém, convencidos de que absolutamente não o
era, porquanto tinha consciência
plena do ridículo do que fazia contra a sua vontade e com isso sofria horrivelmente.
Souza Filho e Francisca Ribeiro de Souza, 14 anos,
residente no “Sítio Coqueirinho”, em Mangabeira,
Aquiraz, e aluno do Grupo Escolar local, teve uma
crise convulsiva.
Foi levado às pressas para o Posto José Frota de
Mecejana. Aplicaram-lhe uma injeção de Diasepan e
recomendaram que o conduzissem ao Hospital de Saúde Mental para tirar um eletroencefalograma, pois suspeitavam de epilepsia. Como as crises continuavam,
não falava, não dormia e chorava sem parar, o levaram
para o Hospital de Saúde Mental. Lá ficou por três dias.
Ao voltar para casa, o corpo tinha marcas de pancadas, o rosto edemaciado e um olho “preto”. Contou
que apanhara muito.
Tratamento espiritual
No nosso plantão das quartas-feiras, a família o trouxe ao Centro Espírita Amor ao Próximo. Não mais parecia uma criatura humana! A entidade que o manipulava
lhe transmitira sua configuração espiritual (fenômeno de
zoantropia). Adquirira a forma de um macaco. Essa degradação do perispírito do possessor foi logo identificado por uma vidente da nossa equipe de desobsessão.
Cerca de dez pessoas, que se encontravam presentes,
viram-no com as mãos dobradas, como se fossem patas,
tentando agredir a tapas. Com fúria animalesca, procu-
241. Dava-se outrora o nome
de possessão ao império exercido
por maus Espíritos, quando a influência deles ia até à aberração das
faculdades da vítima. A possessão
seria, para nós, sinônimo da subjugação. Por dois motivos deixamos de adotar esse termo: primeiro, porque implica a crença de seres criados para o mal e perpetuamente votados ao mal, enquanto
que não há senão seres mais ou
menos imperfeitos, os quais todos
podem melhorar-se; segundo, porque implica igualmente a idéia do
apoderamento de um corpo por um
Espírito estranho, de uma espécie
de coabitação, ao passo que o que
há é apenas constrangimento.
A palavra subjugação exprime
perfeitamente a idéia. Assim, para
nós, não há possessos, no sentido
vulgar do termo, há somente obsidiados, subjugados e fascinados.
rava morder quem dele se aproximasse. Não falava, guinchava. Sua expressão fisionômica era simiesca. Coçava
a barriga exatamente como fazem os macacos. Sua força era superior a de vários homens juntos.
Após três sessões de transfusão energética, com
complementação ectoplásmica, recuperou o aspecto
humano e o comando da mente.
Na segunda-feira seguinte, dia de sessão pública,
mais de cem assistentes, de todas as classes sociais,
viram o final dessa trágica metamorfose. Voltara-lhe a
consciência de sua própria identidade!
Reprimir, bloquear, dopar, submeter a choques elétricos ou bioquímicos a incipiente mediunidade de um
paciente-sensitivo é inócuo, quase perversidade! Jamais
ele passará de um “trapo ambulante”. Nunca se chegaria a uma solução autêntica como no caso desse menino-macaco
Para esse tratamento não empregamos nenhum produto farmacêutico convencional. Apenas o humilde arsenal terapêutico da medicina dos espíritos: a prece, o
passe, a cooperação dos benfeitores do espaço, a água
fluidificada, o amor e a fé. Principalmente a fé. Fé consciente, inamovível, granítica. Aquela fé que remove
montanhas, como nos falou o meigo Filho de Maria”.
Quando a medicina terrestre estiver de mãos dadas
com o conhecimento espiritual será mais fácil o tratamento e a cura desses problemas expostos. Aguardemos!
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