Apocalipse
Transcrição
Apocalipse
O Apocalipse de Lorvão e a ilustração dos comentários ao Apocalipse do Beato de Liébana na Península Ibérica O Comentário ao Apocalipse do Beato de Liébana (fins séc. VIII) O Comentário ao Apocalipse do Beato de Liébana (fins séc. VIII) • Existem vários comentários feitos ao livro do Apocalipse. Porém, a compilação feita pelo monge Beato de Liébana (†798) teve um enorme sucesso na Pen. Ibérica, sobretudo entre os século IX e XII. • Subsistem ainda 34 cópias do comentário (datadas entre finais séc. IX e séc. XIII), 22 das quais iluminadas. • Este monge pertencia ao mosteiro de S. Martinho, situado junto a Covadonga, o local lendário onde Pelágio infligiu a 1ª derrota aos muçulmanos na Pen. Ib. O Comentário ao Apocalipse do Beato de Liébana (fins séc. VIII) • Esta obra apresenta o texto integral do Apocalipse junto com longos comentários do Beato de Liébana, incluindo comentários de autores mais antigos (como Apríngio de Beja, bispo pacense no séc. VII). • Tal como o Apocalipse reflecte o contexto das perseguições romanas aos cristãos (séc. I) – anunciando o fim das tribulações, a derrota do opressor e o triunfo do Bem e a felicidade eterna – o Comentário ao Apocalipse do Beato surge num contexto de perseguição islâmica aos cristãos. • Neste caso a Besta não é o imperador romano/Império, mas sim o poder islâmico peninsular. • A Nova Babilónia não é Roma, mas sim Córdova. O Comentário ao Apocalipse do Beato de Liébana (fins séc. VIII) • Esta obra é uma manifestação de resistência, de consolação e uma promessa de triunfo perante os opressores, aspectos bem adequados ao difícil contexto que os cristãos das Astúrias viviam na época (e mais tarde em contexto de Reconquista). • Esta obra surge num momento em que entre os cristãos do sul, vivendo em território islâmico, surgia de novo um movimento religioso pró-arianista, o adopcionismo, vivamente condenado pelos teólogos carolíngios e pelo Papa. O Comentário ao Apocalipse do Beato de Liébana (fins séc. VIII) • No séc. IV os arianos defendiam que Cristo não existe desde toda a eternidade, ao contrário de Deus. Negam a consubstancialidade entre Pai e Filho. O Filho está subordinado ao Pai. O Filho “encarnou” em Jesus Cristo. Ário afirma que só existe um Deus • Consideravam, também, que o Apocalipse (onde se acentua a divindade de Cristo) não era um livro revelado. • No final do séc. VIII alguns prelados hispânicos adopcionistas (ex. arcebispo de Toledo, bispo de Urgel) defendiam, de novo, uma separação entre as naturezas humana e divina de Cristo. Por um lado, Cristo era Filho de Deus (divino), mas por outro era um homem adoptado por Deus pelo acto do Baptismo. Beatus do Escorial, c.950-955 Adoração e Teofânia Final Beatus do Escorial (c.950-955) Originário do mosteiro de S. Miguel de Cogolla A Ceifa e a Vindima escatológicas Beatus do Escorial, c.950-955 Adoração da Besta e do Dragão O 6º Selo As duas testemunhas (Ap. 11) Beatus da Bib. de Pierpont Morgan, c.970 (Most. Escalada) A 5ª Trombeta: Gafanhotos do Inferno. Beatus de Valladolid, 970. Arca de Noé O Cordeiro triunfa sobre as Bestas e a serpente Beatus de Urgel, c.975 Abertura do 5º Selo Cerco de Jerusalém por Nabucodonosor Beatus de Urgel, c.975 Cerco de Nabucodonosor a Jerusalém Beatus de Urgel, c.975 O Dragão dá o seu poder à Besta Juízo Final Beatus de Leão (copiado e iluminado em 1047 na colegiada de San Isidoro de León e oferecido ao «imperador» Fernando I e à rainha Sancha) A Mulher e o Dragão Babilónia incendiada (Ap. 18, 9) Beatus de Leão (pintado por Facundus para o rei Fernando I e a rainha Sancha em 1047) Beatus de Saint-Sever, c.1060/70 «Vi então sair da boca do Dragão, da boca da Besta e da boca do Falso Profeta espíritos imundos, semelhantes a rãs.» (Ap. 16, 13) As rãs Cristo vingador Beatus de Osma, 1086 A 5ª Trombeta: os Gafanhotos do Inferno «Pelo seu aspecto, os gafanhotos eram semelhantes a cavalos aparelhados para a guerra. Sobre as suas cabeças havia uma espécie de coroa semelhante ao ouro e os seus rostos lembravam os rostos humanos. Tinham cabelos como os das mulheres e os seus dentes eram como os dos leões. Tinham um tórax parecido com uma couraça de ferro, e o barulho das suas asas era parecido ao ruído dos carros de muitos cavalos correndo para a guerra. Tinham caudas semelhantes aos dos escorpiões …» (Ap. 9, 7-10) Beatus de Osma, 1086 O Comentário ao Apocalipse do mosteiro de Lorvão (1189) • Mosteiro beneditino, masculino, de S. Mamede do Lorvão. Tornou-se cisterciense, feminino, em 1205. • É um dos exemplares iluminados mais tardios desta tradição. No entanto, foi copiado a partir de um MS mais antigo, presumivelmente realizado ainda nos sécs. IX-X. Engloba c.70 fólios iluminados. • Esta obra, tal como a maior parte dos Beatos, indica o nome do copista, Egeas, e refere a data de realização. • Segundo Peter Klein, há dois iluminadores neste manuscrito, e Egeas não foi um deles. O Comentário ao Apocalipse do mosteiro de Lorvão (1189) • Em Portugal, há ainda uma cópia do século XIII do Beato, realizada em Alcobaça (mas sem imagens). • Inclui várias glosas que se referem a passagens do Apocalipse que se costumavam ler na Páscoa. • O MS tem sinais de uma utilização individual, para leitura e meditação, e tem também indicações claras da sua utilização nas leituras públicas, realizadas no refeitório, durante a Páscoa. • O MS tem ainda vários sinais de rasuramento e esconjuramento nas imagens conotadas com o mal. Apocalipse do Lorvão, 1189. ANTT, Casa Forte, n. 160. Livro das Aves, 1184 (produzido no scriptorium do Lorvão). ANTT, Casa Forte, n. 90. Apocalipse do Lorvão, 1189. ANTT, Casa Forte, n. 160. Livro das Aves, 1184 (produzido no scriptorium do Lorvão). ANTT, Casa Forte, n. 90. Apocalipse do Lorvão, 1189. ANTT, Casa Forte, n. 160. Livro das Aves, 1184 (produzido no scriptorium do Lorvão). ANTT, Casa Forte, n. 90. A Mulher e o Dragão (Ap. 12, 1-18) Explicit historia draconis et Mulieris O dragão arrasta as estrelas do céu com a cauda e lança-as sobre a terra. Da boca vomita água vermelha para tentar arrastar a mulher e devorar o filho quando nascesse: «um Varão que há-de reger todas as nações com ceptro de ferro» (Ap. 12, 5). A mulher, prestes a dar à luz, está «revestida de sol», astro sobre a cabeça, tem 12 estrelas em redor da cabeça e os pés por cima da lua. O bebé é salvo e conduzido para o céu. Num 2º momento trava-se uma batalha celeste (ausente da imagem) e «O grande Dragão foi precipitado, a antiga Serpente, o Diabo, ou Satanás, como lhe chamam», Ap. 15, 9). (figura acorrentada em baixo pode representar este momento). Fol. 153v. Beatus de Leão (1047) Adoração do Cordeiro Ap. 8, 9-10 A Jerusalém Celeste (detalhe do Cordeiro, noutro fólio) (Ap. 21, 11-21) A Jerusalém Celeste (Ap. 21, 1 e 10; Ap. 22 1-2) «E vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do Céu, de junto de Deus (…) Transportou-me em espírito ao cimo de uma alta montanha e mostrou-me a Cidade Santa, Jerusalém, que descia do Céu, de junto de Deus» «Depois o Anjo mostrou-me o Rio da Água da Vida [a negro – inf. dir.], resplandecente como cristal, que saía do trono de Deus, e do Cordeiro. No meio da praça, com o rio de um lado e de outro está a Árvore da Vida, que produz frutos doze vezes, uma em cada mês, e cujas folhas servem para curar as nações.» João crítica Jesabel (Ap. 2, 20) «À Igreja da Tiatira. “Ao anjo da Igreja que está em Tiatira escreve”: (…) Mas tenho contra ti que deixas a Jesabel, que se diz profetiza, ensinar e enganar os meus servos, para que se entreguem à impureza e comam dos sacrifícios da idolatria. Deilhe tempo para se arrepender, mas ela não quer arrepender-se da sua Impureza. Vou prendê-la a um leito de dor, e virá uma grande tribulação para os que adulteraram com ela, se não se arrependerem das suas obras.» Idoli simulacrum Associação entre idolatria, luxúria e prostituição. A Grande Prostituta Babilónia, cavalgando a besta de 7 cabeças (fol. 186v) Raspagem da cabeça da Besta e/ou do rosto da Prostituta ocorre nos fols. 64, 152v, 153v, 182 e 186v Beatus da Bib. de Pierpont Morgan, c.970 (Most. Escalada) Beatus da Bib. de Pierpont Morgan, c.970 (Most. Escalada) A Jerusalém Celeste (Ap. 21, 11-21) «O seu esplendor era semelhante a uma pedra muito preciosa, a uma pedra de jaspe cristalino. Tinha uma grande e alta muralha com doze portas, guardadas por doze anjos, nas quais estavam escritos os nomes das doze tribos dos filhos de Israel (…) A muralha da Cidade tinha doze fundamentos e sobre eles os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro. Aquele que falava comigo tinha uma cana de ouro para medir a cidade, as suas portas, e a sua muralha. A cidade formava um quadrado (…) A muralha era construída de jaspe e a cidade de ouro puro (…) os fundamentos da muralha estavam adornados de pedras preciosas de toda a espécie. (…) As doze portas eram doze pérolas e cada porta era feita de uma só pérola (…)» Meados séc. XI. Beatus de Saint Sever. Atlante (museu da Catedral de Orense), 1188