discípulo - Convenção Batista Mineira

Transcrição

discípulo - Convenção Batista Mineira
ilustradora
Expediente
“Reflexões Bíblicas II”
SENHORINHA GERVÁSIO LOURENÇO BRAGANÇA
2016
Publicação da
Convenção Batista Mineira
Diretor executivo da Convenção Batista Mineira
Pr. Márcio Alexandre de Moraes Santos
Coordenadora do comitê do programa
para o Crescimento Cristão
Tania Oliveira de Araujo
Diretoria da Convenção Batista Mineira
Pr. Ramon Márcio de Oliveira (Presidente),
Pr. Sandro Ferreira (1º vice-presidente),
Pr. Danilo Secon (2º vice-presidente),
Irmã Laiza Assumpção (3ª vice-presidente),
Pr. Jaelson de Oliveira Gomes (1º secretário),
Pr. Nicolas Alves Bastos (2º Secretário)
Irmã Rosimeire Rosa (3ª secretária),
Pr. Jonair Monteiro da Silva (Presidente de Honra),
Pr. Muryllo Casséte (in memorian) (Presidente Emérito).
Revisão Teológica
Pr. Tarcísio Farias Guimarães
Primeira Igreja Batista em Divinópolis
Pr. Ramon Márcio de Oliveira
Igreja Batista Parque Granada – Uberlândia
Pr. Sandro Ferreira
PIB Coronel Fabriciano
Revisão ortográfica
Pr. Francisco Mancebo Reis
Editoração
Tania Oliveira de Araújo
Senhorinha Gervásio Lourenço Bragança
Litza Alves
Diagramação
Adriana Angélica Costa Carvalho
Tiragem - 30.000 exemplares
Convenção Batista Mineira:
Rua Plombagina, 250 - Floresta - 31110-090
Belo Horizonte/MG - Fone: (31) 3429-2000
E-mail: [email protected]
Site: www.batistas-mg.org.br
Nasceu em Humaitá, município de Mutum
em 10 de abril de 1958. Em Belo Horizonte fez o Curso Livre de Educação Religiosa no Seminário Teológico Batista Mineiro,
onde foi professora nos anos 1996 a 2002.
Casou-se com Wagno Alves Bragança com
quem teve três filhos: Bruno Gervásio
Bragança, Breno Gervásio Bragança e Wagno
Alves Bragança Júnior. Trabalhou na Igreja
Batista Central no Palmeiras - BH como educadora nos anos 2004 a 2008, período em
que também foi professora no Instituto de
Liderança Cristã da Igreja Batista do Barro
Preto - BH/MG.
Cursou na Escola Guignard – UEMG Educação Artística, turma 2000 e foi professora
de Artes no Colégio Batista Mineiro - Séries
Iniciais, em Belo Horizonte, por um curto
período. Cursou na Casa dos Quadrinhos
- Técnico em Artes Visuais. Atualmente é
membro da Igreja Batista Memorial em Belo
Horizonte.
Equipe de planejamento
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
Ana Lúcia dos Santos Ribeiro
Pr. André Luiz Ferreira Silva
Elvira M. Gonçalves Rangel
Pr. Francisco Mancebo Reis
Isabel da Cunha Franco
Pr. Joselito Ferreira de Sena
Miriam de Oliveira Lemos Santos Mendonça
Pr. Reinaldo Arruda Pereira
Senhorinha Gervásio Lourenço Bragança
Pr. Tarcísio Caixeta de Araújo
Pr. Wagno Alves Bragança
autorEs
ISABEL DA CUNHA FRANCO (autora da 1ª parte - Estudos 1 a 26)
Dados Pessoais:
Nascida em 08 de dezembro de 1941 numa família batista do Estado do Rio de Janeiro
Membro de uma igreja batista desde 12 anos de idade
Membro da Igreja Batista do Barro Preto
Casada com o Pastor Jonair Monteiro da Silva
Membro do Comitê do programa para o Crescimento Cristão
Formação:
- Graduação em Geografia (1970) e em Psicologia (1991), pela UFMG - Pós-graduação em Educação Religiosa no IBER – RJ
- Pós-graduanda em Teologia Sistemática na Faculdade Batista de Minas Gerais
- Várias matérias avulsas em Seminários
Atividades já exercidas:
- Professora no Sistema Público Municipal e Estadual
- Professora no Seminário Teológico Batista Mineiro, da Convenção Batista Mineira
- Educadora Religiosa na Igreja Batista do Barro Preto e Primeira Igreja Batista do Tupi, ambas em Belo Horizonte.
- Diretora do Instituto de Liderança Cristã da Igreja Batista do Barro Preto, em Belo Horizonte.
- Professora de Antigo e Novo Testamentos no Instituto de Liderança Cristã da Igreja Batista do Barro Preto, em Belo Horizonte.
Obras:
- Livro “O poder do abraço” - 2011
- Revista para EBD - Panorama do Antigo Testamento com 26 estudos
- Revista de EBD - Livros Poéticos e Proféticos com 26 estudos
- Vários artigos publicados na antiga revista “Mulher Cristã Hoje“ cuja redatora era Nancy Gonçalves Dusilek; Outros: no Jornal
“Transformação” da Visão Mundial, no “Batista Mineiro”, etc jOSELItO FERREIRA DE SENA (autor da 2ª parte - Estudos 27 a 52)
63 anos, casado há 39 anos com a irmã Idélia S. Sena, tem dois filhos e cinco netos. É natural
de Jitaúna-BA. Tel. (31) 99644-1952. [email protected]
ESCOLARIDADE: Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil (Rio
de Janeiro), graduado em teologia pela Faculdade Teológica Batista Mineira. Bacharel em
Psicanálise pela Academia Brasileira de Psicanálise Clínica (Rio de Janeiro). Pós-graduado em
teologia sistemática pela Faculdade Teológica Batista Mineira. Pós-graduado em Psicanálise
pela Faculdade Einstein da Bahia.
PASTORADO: Igreja Batista Novo Horizonte (Rio de Janeiro); PIB de Muriaé (MG); PIB de Cel.
Fabriciano (MG); Igreja Batista de Acari (Rio de Janeiro); PIB do Barreiro (BH); Coordenador de Evangelismo e Missões – Igreja Batista
do Barro Preto (BH); atualmente PIB em Lagoa Santa (MG).
MAgISTÉRIO: 1ª e 2ª séries do ensino fundamental (Jitaúna – BA); Evangelismo e Missões, Psicologia Pastoral (Faculdade Teológica Batista de Itaperuna - RJ). Diretor do Campus Avançado do Seminário Teológico Batista Mineiro (Cel Fabriciano – MG); onde
também lecionou Homilética, Evangelismo e Missões. Teologia Bíblica do Antigo Testamento (campus-avançado do Seminário
Batista Brasileiro em Cambridge – EUA). Teologia sistemática na Pós-Graduação da Faculdade Teológica Batista Mineira. Teologia
(Faculdade Lagoa Santa - MG).
COOPERAÇÃO DENOMINACIONAL
Duas vezes presidente da Ordem dos Pastores Batistas de Minas Gerais e uma vez terceiro presidente. Duas vezes escreveu
meditações para a revista Manancial da UFBB. Diversas vezes escreveu matéria para a revista Visão Missionária da UFBB.
OBRAS PUBLICADAS:
Pela Editora Kárita: Classe de Batismos. Classe Vida Nova. Boa Notícia. O Novo Convertido. Estudando a Bíblia. Manual de
Treinamento de Discipulado. Manual de Pequenos Grupos. Panorama do Novo Testamento I. Panorama do Novo Testamento II.
Estudos no Evangelho de Mateus. Estudos no Evangelho de Marcos. Estudos no Evangelho de Lucas. Estudos no Evangelho de
João. Estudos no livro de Atos. Estudos na Carta aos Romanos. Estudos em I e II Coríntios. Estudos em Gálatas e Efésios. Estudos no
Livro dos Salmos - Volume I. Estudo no Livro dos Salmos – Volume II. O Mordomo Cristão. O Pescador.
Pela JUERP: O Evangelho de Marcos.
Atividades Pedagógicas
AndrÉ Luiz FERREIRA DA SILVA
Bacharel em Teologia pela FBMG - Faculdade Batista de Minas Gerais;
Graduado em Teologia pela FACETEN - Faculdade de Ciências, Educação e Teologia do Norte
do Brasil;
Especialista em exposição Bíblica pela LEADERSHEAP RESOURCES / CDL NPP PIBA;
Pós-graduado em psicopedagogia Clínica e Institucional pela - FANS - FACULDADE DE
NOVA SERRANA;
Mestrando Profissional em Ciências da Religião com especialização em Análise do Discurso
Religioso pela FACULDADE UNIDA DE VITÓRIA / ES);
Pastor da Igreja Batista Memorial em Uberlândia.
Celma Oliveira Araujo Ferreira Silva
Graduada em pedagogia - Universidade Norte do Pará
Membro da Igreja Batista Memorial em Uberlândia
Vice-presidente da UFMBM / Representante das Igrejas Batistas no comitê de
Crescimento Cristão
Selma Almeida de Morais
Bacharel em Pedagogia - Faculdade Anhanguera
Professora na E.B.D. da Igreja Batista do Progresso em Belo Horizonte MG.
Rosilene Deltiza Turci Oliveira
Bacharel em Teologia e Educação Religiosa pela Faculdade Batista de Minas Gerais
Professora do Ensino fundamental – Colégio Joaquim Nabuco.
Educadora religiosa na Igreja Batista Metropolitana – Contagem
Doriceia Alves Pedroso
Curso livre de Educação Religiosa – Seminário Teológico Batista Mineiro
Educadora Religiosa na Igreja Batista Humaitá – BH
Presidente da AECBMG – Associação dos Educadores Cristãos Batistas de Minas Gerais
palavra do dirEtor EXEcutivo da cBm
jesus, a Verdade que Liberta
O
evangelista João em seu
evangelho 8:32 cita as palavras de Jesus quando diz:
“conhecereis a verdade e a
verdade vos libertará”. A ênfase desse
versículo não está na verdade e sim no
conhecereis, a verdade já existe, ela já
está presente, ela é um fato. Se nós conhecermos a verdade então alcançaremos a plenitude do objetivo do texto pronunciado por Jesus, logo
seremos libertos. Há uma ação de liberdade que vem ao encontro
de cada um a mediada que conhece, que se tem acesso e intimidade com a verdade. Já em João 14.6, o próprio Jesus vai nos ensinar
que ele é essa verdade. Diante disso, fica muito claro para cada um
de nós que a missão que Jesus deixou para igreja é ensinar, ensinar
sobre Ele mesmo ou fazer discípulos como nos lembra Mateus 28.19.
Toda a palavra de Deus aponta para Jesus, de Gênesis a Apocalipse
encontramos uma redação Messiânica que converge para o Cristo,
tudo aponta para a Verdade! A Convenção Batista Mineira entendendo sua missão de servir e instrumentalizar a igreja local tem a alegria
de entregar gratuitamente um material de alta relevância para todas as igrejas batistas cooperantes do Estado de Minas Gerais. Esse
ano iremos falar sobre a vida e o ministério de Jesus e a formação
do discípulo, desta forma cada estudante da Palavra de Deus poderá conhecer cada vez mais a verdade e alcançar a liberdade que só
encontramos em Jesus.
Pr. Marcio Santos
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 5
PALAVRA DA COORDENADORA DO
COMITÊ de CRESCIMENTO CRISTÃO
Educação que transforma
para a Escola Bíblica em
nossas igrejas em tempos em que se requer
da sociedade pessoas
transformadas em sua integridade, coerentes em
seu viver e atuantes na
comunidade.
P
ara os batistas
a Escola Bíblica tem sido um
meio pelo qual
o aprendizado da Palavra
de Deus se propaga semanalmente, contribuindo para a formação do
caráter do cristão. Desde
a sua criação ela tem experimentado vários modelos e ênfases, sendo social, evangelística e educacional. Neste novo tempo a união desses valores estão sendo trabalhados de forma total e
atual, visando à formação
integral da pessoa. Temos experimentado em
Minas uma nova proposta
6 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
A Convenção Batista
Mineira entrega às igrejas
mais uma revista, contendo uma proposta inovadora e atualizada dos
estudos sobre a vida de
Jesus e seu exemplo para
a sociedade.
Nos primeiros estudos
estaremos focando a pessoa de Jesus em seu ministério e autoridade para
exercê-lo. Em um segundo momento estudaremos o discipulado através
do exemplo de Cristo através de toda sua caminhada terrena.
Vivemos em uma sociedade que necessita
de relacionamentos saudáveis para sua integra-
ção com o outro. O exemplo de Cristo relatado de
forma atual e reflexiva de
se permitir ser transformado e assim transformar
a sociedade.
O apóstolo Paulo em
sua carta aos Romanos
12.2 nos convida à transformação pela renovação
de nossa mente. Assim
nossa esperança é que
os estudos realizados na
revista do aluno e aplicação das sugestões de
atividades propostas no
exemplar do professor
contribuam para a coerência de vida e assim
uma ação transformadora
na comunidade.
Agradecidos
somos
a todos que contribuíram para a efetivação desse sonho: autores, ilustradora, editoras, pedagogos, teólogos, revisor ortográfico e diretor executivo.
Tania Oliveira de Araujo
sumário
Jesus Cristo – Vida e Ministério nos Evangelhos
ESTUDO 1: Os Evangelhos falam de Jesus.................................................................................................................. 11
ESTUDO 2: A CHEGADA DA MAIOR DÁDIVA DE DEUS AO MUNDO........................................................................... 14
ESTUDO 3: ANTECEDENTES AO MINISTÉRIO DE JESUS................................................................................................... 17
ESTUDO 4: INÍCIO DO MINISTÉRIO DE JESUS...................................................................................................................... 20
ESTUDO 5: ENTREVISTAS DE JESUS NO INÍCIO DO SEU MINISTÉRIO......................................................................... 23
ESTUDO 6: JESUS e o ESTABELECIMENTO DO REINO .................................................................................................... 27
ESTUDO 7: O AMOR DE JESUS NÃO DISCRIMINA.............................................................................................................. 30
ESTUDO 8: JESUS COMBATE A RELIGIOSIDADE EXTERIOR............................................................................................ 33
ESTUDO 9: JESUS SEMPRE SURPREENDE AS PESSOAS.................................................................................................... 36
ESTUDO 10: A ÉTICA DO REINO DE DEUS (i)........................................................................................................................ 39
ESTUDO 11: A ÉTICA DO REINO DE DEUS (ii) ...................................................................................................................... 42
ESTUDO 12: A ÉTICA DO REINO DE DEUS (III)........................................................................................................................ 45
ESTUDO 13: ALICERCES FIRMES, É O SEGREDO ................................................................................................................. 48
ESTUDO 14: O VALOR E O CRESCIMENTO DO REINO DEPENDEM DE SINAIS? ...................................................... 51
ESTUDO 15: PARÁBOLAS DO REINO........................................................................................................................................ 54
ESTUDO 16: A HUMILDADE FAZ PERDOAR........................................................................................................................... 57
ESTUDO 17: jesus se retira para estar a sós com os discípulos (I)............................................................ 60
ESTUDO 18: jesus se retira para estar a sós com os discípulos (II)........................................................... 63
ESTUDO 19: JESUS, O GRANDE MESTRE................................................................................................................................ 66
ESTUDO 20: O DESEJO DE JESUS PARA OS SEUS SEGUIDORES .................................................................................. 69
ESTUDO 21: A SEMELHANÇA COM O CARÁTER DO PAI................................................................................................... 72
ESTUDO 22: JESUS É VIDA QUE LIBERTA................................................................................................................................ 75
ESTUDO 23: JESUS SOFRE, RECONHECENDO O QUE O AGUARDA............................................................................. 78
ESTUDO 24: ENSINANDO ATÉ O FIM....................................................................................................................................... 81
ESTUDO 25: O FINAL DA VIDA TERRENA DE JESUS........................................................................................................... 84
ESTUDO 26: O MAIOR ACONTECIMENTO DE TODOS OS TEMPOS.............................................................................. 88
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................................................................................ 91
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 7
A formação do Discípulo de Jesus Cristo
ESTUDO 27: CHAMADO PARA SER DISCÍPULO .................................................................................................................. 92
ESTUDO 28: A TEOLOGIA DO DISCÍPULO DA CRUZ ......................................................................................................... 96
ESTUDO 29: O DISCÍPULO E O MARAVILHOSO CONVITE DE JESUS..........................................................................100
ESTUDO 30: O DISCÍPULO QUE OLHA PARA CRISTO......................................................................................................103
ESTUDO 31: O ALVO SUPREMO DO DISCIPULADO.........................................................................................................107
ESTUDO 32: O Discípulo E SEU ENCONTRO COM Jesus............................................................................................111
ESTUDO 33: UM PEDIDO ESPECIAL: FICA CONOSCO, SENHOR! . .............................................................................115
ESTUDO 34: O DISCÍPULO APROVADO POR DEUS..........................................................................................................118
ESTUDO 35: MINISTRO E DESPENSEIRO DOS MISTÉRIOS DE DEUS ........................................................................121
ESTUDO 36: QUANDO O DISCÍPULO NEGA A CRISTO ...................................................................................................125
ESTUDO 37: O OLHAR MISERICORDIOSO DE JESUS ......................................................................................................128
ESTUDO 38: O DISCÍPULO E A ORAÇÃO . ............................................................................................................................131
ESTUDO 39: REAFIRMANDO A FÉ ANTE AS ADVERSIDADES . ....................................................................................135
ESTUDO 40: VITÓRIA SOBRE O PECADO: “NÃO PEQUES MAIS” .................................................................................139
ESTUDO 41: A COSMOVISÃO DO DISCÍPULO ...................................................................................................................142
ESTUDO 42: O DISCÍPULO E OS ARGUMENTOS DA FÉ ..................................................................................................145
ESTUDO 43: O DISCÍPULO E OS MANDAMENTOS DA MUTUALIDADE (I) . ............................................................148
ESTUDO 44: O DISCÍPULO E OS MANDAMENTOS DA MUTUALIDADE (II)..............................................................152
ESTUDO 45: OS DISCÍPULOS NA TEMPESTADE ................................................................................................................156
ESTUDO 46: A MISSÃO PRECÍPUA DO DISCÍPULO DE CRISTO ...................................................................................159
ESTUDO 47: O DISCÍPULO QUE LEVA O IRMÃO A JESUS...............................................................................................163
ESTUDO 48: A PRIMEIRA DISCÍPULA MISSIONÁRIA .......................................................................................................166
ESTUDO 49: O DISCÍPULO RICO PARA COM DEUS...........................................................................................................170
ESTUDO 50: O DISCÍPULO E SUA FIDELIDADE .................................................................................................................173
ESTUDO 51: DISCIPULADO - QUE TERRENO SOU EU?....................................................................................................177
ESTUDO 52: DISCÍPULO – UM MORDOMO CRISTÃO......................................................................................................181
anotações ..................................................................................................................................................................................185
8 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
APRESENTAÇÕES
E
sta série de estudos apresenta um panorama da vida e do ministério de Jesus
contido nos Evangelhos. Deus se revela através de Sua maior dádiva à humanidade: Jesus Cristo, o Senhor.
Os evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João não apresentam os fatos da
vida de Jesus em absoluta ordem cronológica. Tentei apresentá-los o mais cronologicamente possível nestes estudos, com a ajuda preciosa do livro de HESTER, H.I., “Introduccion al estudio del Nuevo Testamento”, que consta nas referências bibliográficas ao
final. Sei, no entanto, das incertezas com relação ao tempo exato e local em que aconteceram alguns fatos e ensinos no ministério de Jesus. Mas tenho também a convicção
de que isto não é o mais importante para o estudioso dos Evangelhos.
Os primeiros estudos desta série se relacionam à vida de Jesus desde antes do Seu
nascimento até o início do Seu ministério. A seguir vem grande parte dos estudos focalizando Sua obra e ensino na Galileia, onde Ele exerceu a maior parte de suas atividades. Ele realizou milagres, proferiu o Sermão do Monte e contou muitas parábolas. No
período do ministério galileu, no entanto, há fatos importantes acontecidos na Judeia
que são também mencionados. Após o ministério galileu, virão dois estudos sobre as
Suas retiradas, isto é, o Seu afastamento das multidões para estar a sós com os discípulos. A seguir, dois estudos versarão sobre o ministério de Jesus na Judeia e dois sobre
o Seu ministério na Pereia. Finalmente, três estudos abrangerão a última semana da
vida terrena de Jesus e depois disto virá o último sobre a Sua gloriosa ressurreição.
Cada estudo está baseado em um ou mais evangelhos, de acordo com a escolha
pessoal da autora. Cada Evangelho, por sua vez, transmite a história de Jesus, conforme os traços pessoais e as preferências do evangelista inspirado. O fato é que Deus
não usou os escritores do NT como se fossem máquinas. Ele não os despersonalizou,
apossando-se deles independentemente de sua vontade, cultura ou características
pessoais. Pelo contrário! Respeitando seu modo de ser, Deus usou de cada um o desejo de escrever, além da inteligência, capacidade e formação. Todavia, segundo o que
cremos, cada evangelista escreveu o que Deus queria que soubéssemos.
- Mateus destaca Jesus como o Messias que deveria vir. Sendo este evangelho em
grande parte dirigido aos judeus, apresenta muitos textos do Antigo Testamento que
mostram ser Jesus o Messias esperado por eles.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 9
- Marcos apresenta Jesus sobretudo como servo. Descreve-O, muitas vezes, em
ações rápidas, deslocando-se sempre de um lugar para outro a fim de servir às pessoas.
- Lucas focaliza Jesus como filho do homem, realçando a sua humanidade.
Escrito mais para os gentios, visto ser o autor um gentio, mostra a universalidade do
evangelho.
- João é o evangelho que realça sobretudo a divindade de Jesus. Apresenta-O
desde o início como pré-existente, o Deus que se encarnou.
Recomendamos que ao se estudar esta série em grupo, que se leia antes
individualmente, para que se aproveite melhor o estudo.
Desejamos que, mais uma vez, o estudo da Palavra de Deus ajude você a
construir sua vida à semelhança d’Aquele cuja VIDA neste mundo é aqui estudada.
Isabel da Cunha Franco
MINHA VISÃO SOBRE AS LIÇÕES “O DISCÍPULO DE CRISTO”
Fazer discípulos deve ser não somente um alvo do cristão, mas deve ser o seu
estilo de vida. Jesus nos chamou para “ser” e “fazer” discípulos. Temos dois objetivos
especiais com nossa humilde contribuição ao escrever os estudos sobre o discípulo
de Cristo: O primeiro é incentivar aqueles que já estão obedecendo a Jesus na prática
do discipulado a prosseguir, porque o Senhor há de recompensá-los com a alegria
de voltar trazendo consigo os seus “molhos” (Sl 126.5-6). O segundo é despertar
aqueles que desejam obedecer a Deus em tudo, a cultivar a prática do discipulado.
Deve-se perceber que discipulado não é apenas tornar alguém num seguidor de
Jesus, mas levá-lo a prosseguir para o alvo da soberana vocação de Deus em Cristo
Jesus: Ser a imagem e semelhança de Deus (Fp 3.12-14 e 1Jo 3.2).
10 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
Joselito Ferreira de Sena
ESTUDO 1
Os Evangelhos falam
de Jesus
Introdução
Os escritores bíblicos não foram usados pelo Espírito Santo de forma mecânica. Deus não age assim. Ele os inspirou,
usando a inteligência, os dons e os talentos que lhes deu, além do próprio desejo
deles de investigar e relatar sua boa nova
à humanidade. Por isso, os Evangelhos,
embora semelhantes, diferem uns dos
outros, já que seus autores (Mateus, Marcos, Lucas e João), diferiam em formação
e em estilos de personalidade.
Os Evangelhos narram vida, obras e
ensinos de Jesus. Mateus, Marcos e Lucas são chamados Evangelhos Sinóticos1
porque há muito de comum em seu conteúdo e forma de apresentação. Eruditos
pensam que Marcos é o mais antigo, do
qual Mateus e Lucas tiraram muito do
que escreveram, além de terem pesquisado em outras fontes.
O Evangelho de João é diferente. Não
tem parábolas e narra alguns milagres
que só aparecem nele. O ensino de Jesus
neste evangelho é mais sobre Si mesmo e
aí são mais destacados os Seus encontros
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Leituras Diárias
João 5. 36-40 e 6.47-51
Efésios 3.14-21
Mateus 16.13-20
Marcos 1.14-28
Lucas 1.1-4, 26-38
João 1. 1-14
pessoais do que Seus encontros com as
multidões.
Os textos semelhantes nos evangelhos sinóticos parecem mostrar que eles
podem ter se servido um do outro ou de
fontes comuns. Algumas aparentes contradições entre os escritores não revelam
contradição na mensagem, mas na forma
de narrar o acontecimento. O objetivo
dos Evangelhos é apresentar a vida ímpar
de Jesus neste mundo como encarnação
da Divindade, demonstrando o Seu infinito amor no resgate de Sua criação.
Aplicação a sua vida: Quando você sabe
que Deus usou pessoas tão diferentes para
anunciar ao mundo as suas “boas novas”,
que sentimentos brotam em seu coração?
Veja a seguir um pouco sobre cada
um dos Evangelhos.
1. Evangelho segundo Mateus
Mateus foi o primeiro Evangelho aceito no cânon sagrado, talvez porque, senREFLEXÕES BÍBLIC
BÍBLIC AS
AS II
II
REFLEXÕES
|| 11
| O s E v an g el h os falam de J esus
do muito didático e com muitos ensinos
de Jesus, foi o primeiro a ser usado na
igreja nos primeiros séculos. Apresenta
mais organizadamente os discursos de
Jesus, como por exemplo o Sermão do
Monte. Seu autor, Mateus, foi um dos
doze discípulos mais próximos de Jesus,
cujo nome aparece como Levi por ocasião de sua chamada (Mt.9.9 e Mc.2.14).
Era publicano, isto é, cobrador de impostos. O fato de trabalhar com papéis
e documentos, pode lhe haver facilitado
escrever sobre Jesus.
Um propósito importante deste Evangelho é levar os judeus a reconhecer Jesus como o Messias esperado. Por isto
tem grande número de menções às profecias do Antigo Testamento. Exemplos:
Mateus 1.22-23; 2.5-6; 4.14-16; 12.17-21.
Você pode encontrar muitas.
É o único evangelho em que aparece
a palavra “igreja”.
Mateus 16.13-20
Jesus faz uma pergunta aos discípulos: “Quem vocês pensam que eu sou?
Estes O alegram através da resposta de
Pedro: “Tu és o Cristo, Filho do Deus vivo”.
Jesus afirma que tal declaração de Pedro
lhe viera do Pai e que sobre esta pedra,
este fundamento, edificaria a Sua igreja.
Pedro quer dizer pedra. O que significaria esta declaração de Jesus? Alguns
pensam que esta declaração tem o significado de que a igreja está edificada sobre Pedro, mas não concordamos com tal
interpretação. O que se pode entender
e que é confirmado por outros textos bíblicos, é que a igreja está edificada sobre
a declaração de Pedro, pois o verdadeiro fundamento é Jesus, como o próprio
Pedro declara (I Pe. 2.3-7). E Paulo diz
que “ninguém pode lançar outro fundamento, além do que já está posto, o qual é
Jesus Cristo”(I Co.3.11).
12 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
A seguir, Jesus afirma que pessoas
seriam ligadas ao céu através de Pedro.
Realmente, no dia de Pentecostes e muitas vezes depois, milhares de pessoas foram ligadas ao céu através de Pedro e de
outros apóstolos. O discípulo do Cristo
tem a missão de ligar pessoas ao céu e
desligá-las de cadeias demoníacas através da mensagem do amor divino. Pedro,
um discípulo como os demais, aprendeu
com Jesus a superar suas limitações porque cresceu na dependência do Senhor.
Aplicação a sua vida: Se você já é um discípulo de Jesus, de que maneira tem procurado desempenhar sua missão no mundo?
Você tem ligado pessoas ao céu, isto é, ao
que Deus deseja para elas?
2. Evangelho segundo Marcos
É o Evangelho mais curto, não tendo
muitos fatos anteriores ao ministério de
Jesus. Seu autor, João Marcos, era filho
de uma mulher de destaque na igreja primitiva em Jerusalém. Os cristãos
se reuniam em sua casa, durante a prisão de Pedro (At.12.12); era parente de
Barnabé (Cl.4.10); acompanhou Paulo e
Barnabé em sua primeira viagem missionária, voltando da Panfília, na Ásia
Menor (At.13.5,13 e 15.36-38); muitos
anos depois, João Marcos é mencionado
em várias epístolas como cooperador de
Paulo e de Pedro (Cl.4.10; Fm.24; II Tm.
4.11; I Pe.5.13). Segundo estudiosos, foi
de Pedro que Marcos ouviu muito do que
relatou a respeito de Jesus.
Marcos apresenta Jesus como servo,
sempre fazendo o bem às pessoas. Este
evangelho narra ações que se sucedem
com rapidez.
Marcos 1.14-39
Os acontecimentos se sucedem rapidamente. Aí aparecem muitas vezes,
expressões como “logo”, “a seguir” e “imediatamente”. Veja algumas ações de Jesus
O s E v an g el h os falam de J esus |
neste texto e como elas se sucedem:
chama os primeiros discípulos (14-20);
ensina na sinagoga e cura um endemoninhado (21-28); cura a sogra de Pedro
(29-31); cura muitos enfermos e endemoninhados (32-34); dedica-se à oração
(35-37); prega em muitas aldeias (38-39).
Apresentando Jesus como servo, este
Evangelho faz ver aos discípulos do Cristo que devem se dispor a prestar serviço
às pessoas.
Aplicação a sua vida: Como você tem, na
medida de suas possibilidades, servido aos
que estão próximos de você?
3. Evangelho segundo Lucas
Lucas 1.1-4 e Atos 1.1
Aplicação a sua vida: Você já pensou no
privilégio que tem o seguidor de Jesus de
fazer o que lhe é possível para ajudar pessoas e circunstâncias a estarem dentro do
propósito de Deus? Como você pode fazer
isto?
4. Evangelho segundo João
Este Evangelho é diferente na estrutura e no estilo. Não apresenta parábolas e só contém sete milagres, cinco dos
quais só aparecem nele. Os discursos
de Jesus dizem respeito principalmente
à Sua pessoa e não à doutrina ética do
reino. Exemplos: Eu sou a luz, a porta, o
pastor, o pão, o caminho, a verdade e a
vida. São várias as entrevistas pessoais
de Jesus. Sua relação com os indivíduos
é mais acentuada que Seu contato com
o público.
Os textos acima indicam que estes
dois livros são do mesmo autor. Possivelmente Lucas era um gentio muito culto
convertido ao Cristianismo. Com grande
capacidade para investigar e escrever,
narra com vivacidade e beleza os acontecimentos. Era médico (Cl 4.14) e companheiro de Paulo em suas viagens (II Tm.
4.11).
O Evangelho de João é fortemente
teológico. Apresenta a natureza divina
da pessoa de Jesus e o significado da fé
n’Ele. Ele é, ao mesmo tempo, o homem
perfeito que tem um papel de exemplo
para os Seus discípulos e a encarnação
do Deus, diante de quem precisamos nos
curvar em adoração.
Algumas características do Evangelho
de Lucas:
Este texto faz uma apresentação clara
e belíssima da divindade de Jesus.
- aparecem muitos cânticos, como os
de Zacarias, de Maria, de Simeão.
Conclusão:
- Aparecem grupos marginalizados
como crianças, mulheres, pobres, publicanos, meretrizes.
- É o que mais destaca a universalidade do evangelho.
- Narra em maior número e com grande beleza as parábolas.
Apresenta Jesus em sua humanidade,
estimulando os que O seguem a desempenhar no mundo um papel que ajude
pessoas e circunstâncias a se transformarem em direção à vontade de Deus.
João 1.1-14
Aplicação a sua vida: Jesus é apresentado
pelos evangelistas como Deus, o Messias, o
filho do homem e servo de todos... Se você
é um dos seus discípulos, que responsabilidade tudo isto lhe dá?
Embora diferentes, os quatro evangelhos têm o objetivo de anunciar o Cristo, o Redentor do mundo. Nos estudos
a seguir, procuro apresentar em ordem
cronológica a vida de Jesus, usando os
vários evangelhos.
________
1. Sinóticos - palavra grega que tem o significado
de “ver junto”.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 13
ESTUDO 2
A CHEGADA DA MAIOR
DÁDIVA DE DEUS AO MUNDO
Introdução
Neste estudo veremos o nascimento
de Jesus, além de alguns fatos que o antecederam e alguns que ocorreram imediatamente depois.
Dos quatro evangelhos, Lucas é o que
narra maior número de fatos anteriores
ao nascimento de Jesus; Mateus narra
pouco; Marcos já começa com a pregação de João Batista; e João fala apenas
da pré-existência de Jesus, destacando a
Sua divindade.
Neste estudo, usando vários evangelhos, serão apresentados alguns acontecimentos anteriores ao nascimento de
Jesus, mais ou menos em ordem cronológica, de acordo com H.I.Hester.
1. A Preciosidade da dádiva de Deus ao
mundo - João 1.1-18
O Evangelho de João tem maravilhosos ensinos a respeito de Jesus, enfatizando especialmente sua divindade.
14 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Leituras Diárias
Isaias 9.2-7
Lucas 1.5-38
Lucas 1.39-56
Lucas 2.1-7
Lucas 2.8-20
Lucas 2.21-38
Este texto majestoso é o prólogo deste
evangelho e nos mostra que:
2).
- Jesus é pré-existente, é eterno (v.1-
- Ele é o Criador e a origem da vida
(vs. 3-4);
- Ele é o Deus encarnado (v. 14);
- Ele veio dar início a um novo tempo
(vs. 14, 17);
- Ele é a revelação de Deus (v. 18).
O apóstolo João fala aí do Deus que
se encarnou e veio habitar entre nós. O
Cristianismo é a religião que apresenta,
não um Deus que devemos buscar com
os nossos esforços intelectuais ou de
boas obras, mas o Deus que desce até nós
em nossos descaminhos e pecados, para
resgatar-nos. Um Deus que toma a iniciativa. Que em Cristo se encarna e que por
amor se doa, identificando-se conosco. A
nós cabe responder ao Seu amor e doação, entrando numa relação com Ele para
sermos salvos da alienação em que vive-
A CHEGADA DA MAIOR DÁDIVA DE DEUS AO MUNDO |
mos, ao estar desvinculados da Sua vida
e da Sua vontade. Esta relação nos fará
ser as pessoas que Ele sempre desejou
que sejamos: felizes e que promovem a
felicidade, abençoadas e que espalham a
bênção por onde vão.
Por felicidade, entendo a satisfação
do desejo básico mais profundo do ser
humano: o de usufruir do amor e da comunhão com Deus, cumprindo em sua
vida a vontade do seu Criador. Este desejo em nós se origina do fato de havermos
sido criados com este sublime propósito.
A satisfação dele dá a alegria, a felicidade,
que nada nem ninguém poderá tirar. De
posse desta bênção, o ser humano passa
a ser bênção para muitos.
O cristão tem motivo para celebrar a
graça infinita do Deus a quem adora. E
é impossível adorá-Lo, sem colocar-se
ao lado d’Ele no Seu projeto de tudo fazer para que este mundo esteja mais de
acordo com a vontade divina.
O evangelista João apresenta Jesus
como o Deus encarnado, o Deus Conosco. Você já crê de todo o seu coração nesse Jesus, que é a revelação por excelência
de Deus? Que, sendo luz, deseja iluminar
sua vida para que você também possa
iluminar seu ambiente? Se você quer isto
de todo coração, poderá experimentar
alegremente os efeitos do Seu amor.
Aplicação a sua vida: Que sentimentos
brotam em você, como resultado de saberse alvo do amor sacrificial e resgatador do
grande e excelso Deus? Que atitudes práticas resultam disso?
2. Fatos que antecedem à chegada de
Jesus
Lucas 1.5-38
O sacerdote Zacarias cumpria seu serviço no templo, quando foi surpreendido
com a notícia que o deixou estupefato e
muito alegre, pois a vinda de um filho era
o que ele muito desejava. Os versículos
15-17 dizem o que João Batista seria. Alguns meses depois, o anjo Gabriel, que já
havia anunciado o nascimento de João
Batista, apareceu a Maria (vs. 26-38). Veja no v. 38 como Maria se coloca diante
de Deus, após ouvir o anúncio do nascimento de Jesus. Ela se entregou, mesmo
correndo grandes riscos, a fim de ser veículo de Deus para abençoar o mundo.
Através dela, Deus trouxe seu maior presente à humanidade.
Estamos nós dispostos a, mesmo com
sacrifícios, servir de veículo da graça de
Deus para outros? Após isto, Maria visitou Isabel, que era sua prima e estava
grávida de João Batista. Este encontro é
cheio de júbilo e poesia.
Lucas 1.39-56
Maria visitou Isabel. Nos versículos
41 a 45 temos as belas palavras de Isabel saudando Maria e reconhecendo
que Jesus, o bebê que ela esperava, era o
Senhor. Você vê aí que é o Espírito Santo
quem revelou a Isabel esta preciosa verdade (v.41).
A partir do versículo 46 é Maria quem
fala, expressando num belo cântico toda
a sua alegria e adoração ao Senhor. Este
cântico é muito semelhante ao de Ana
no Antigo Testamento (I Sm. 2.1-10). Isto
mostra que ela conhecia as Escrituras e
aguardava o Messias. Este texto mostra
sua humildade e consciência do seu privilégio (vs. 48-49).
Maria foi uma piedosa serva do Senhor, a quem devemos honrar e imitar.
Foi bendita e privilegiada, como veículo da maior dádiva de Deus ao mundo:
Jesus Cristo. Pena que no coração de muitos ela tenha tomado o lugar do próprio
Deus, os quais desconsideram que Maria
exultou em Deus, a quem rendeu graças
por poder conhecer o seu Salvador pessoal (vs. 46,47).
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 15
| A CHEGADA DA MAIOR DÁDIVA DE DEUS AO MUNDO
Aplicação a sua vida: Em quais circunstâncias você já se percebeu reverenciando
mais as pessoas do que o Deus que as fez?
sendo que no versículo 23 temos a citação de Isaías.
A seguir, a partir do versículo 57, temos o nascimento de João Batista e o
cântico de Zacarias, seu pai.
- O alistamento de Maria e José em
Belém - Lc. 2.1-5.
3. Fatos importantes relacionados à
vinda de Jesus ao mundo
Mateus 1.18-25
Neste texto, é patente a discrição e
sensatez de José, o marido de Maria. Ele
era um homem muito nobre e bom.
Outros fatos relacionados ao nascimento de Jesus:
Este alistamento foi ordenado pelo
Império Romano e as profecias diziam
que o Messias nasceria em Belém (Mq.
5.2). A história dirige-se para o cumprimento dos propósitos divinos.
- o nascimento de Jesus - Lc. 2.6-7;
- a visita dos pastores - Lc. 2.8-20
O nascimento de Jesus foi anunciado
com alegria a pessoas humildes e discriminadas socialmente.
Refletir antes de agir e falar produz
resultados positivos. Se temos a vida
colocada no altar do Senhor e refletimos
antes de agir, colocando diante d’Ele os
nossos problemas, com calma e sensatez,
como José, naturalmente teremos um
maior discernimento para encontrar a
Sua vontade.
- a apresentação de Jesus no templo
- Lc. 2.21-40.
O versículo 19 mostra a nobreza do
caráter de José. Ao saber que Maria estava grávida, antes que eles se unissem
como marido e mulher, José planejou
deixá-la sem expô-la publicamente. Depois do sonho que teve, José recebeu a
Maria como sua mulher. O último versículo diz que José se manteve afastado
dela, como marido, até que ela desse a
luz. Cremos que isto deixa claro que após
o nascimento de Jesus, eles se tornaram
marido e mulher, também no aspecto sexual.
A seguir, neste mesmo texto, vemos o
cântico de Simeão e as palavras da profetiza Ana.
Crer que Maria foi esposa de José no
sentido completo, não empana sua honra e dignidade. A relação sexual, dentro
da união conjugal, sob a égide do amor e
como foi planejada por Deus, é legítima,
pura e bela.
O autor de Mateus, segundo os eruditos, teve a intenção de dirigir-se de modo
prioritário aos judeus. Por isso o Antigo
Testamento é tão mencionado por ele,
16 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
Este texto nos mostra o espírito de
obediência e consagração dos pais de
Jesus. Eles circuncidaram Jesus ao oitavo
dia e depois O consagraram ao Senhor
como mandava a lei. Pais devotados
ao Senhor, levam a sério o seu dever de
cumprir a vontade de Deus na criação
dos seus filhos.
Aplicação a sua vida: Ao pensar no dono
do universo entrando na história humana
com tal simplicidade, como você pensa que
deve viver?
Conclusão
Jesus, o Deus encarnado, nasceu humildemente, entrando em nossa história
de maneira muito singela. Ele vai, através
da Sua vida e dos Seus ensinos, abrir os
olhos de homens e mulheres para perceberem a forma de viver vazia e hipócrita
dos seus dias, como veremos nos estudos
a seguir.
ESTUDO 3
ANTECEDENTES AO
MINISTÉRIO DE JESUS
Introdução
Os Evangelhos relatam muito pouco a respeito da vida de Jesus antes do
Seu ministério de aproximadamente três
anos.
Depois do que vimos no estudo anterior concernente aos seus primeiros dias
após o nascimento, temos poucos fatos.
Dois ainda na sua primeira infância: a visita dos magos e a fuga para o Egito; outro
aos doze anos de idade, quando ele no
templo, conversa com os doutores da lei.
Os outros, já próximos do início do ministério, foram o batismo e a tentação.
Embora a Bíblia se cale a respeito da
maior parte da vida de Jesus, sabemos
que toda ela se desenvolveu de modo a
que, na época própria, Ele cumprisse o
seu sublime propósito.
1. A infância de Jesus
Neste tópico, veremos os fatos a que
já se fez referência na Introdução.
Leia Mateus 2.1-23
Os versículos 1 a 12 falam da visita
dos magos do oriente e de como o rei Herodes, o Grande, sentiu-se ameaçado ao
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Leituras Diárias
Mateus 2.1-12
Mateus 2.13-23
Lucas 2.39-52
Mateus 3.13-17
Mateus 4. 1-11
Hebreus 1.1-3
saber que eles procuravam uma criança
que diziam ser o Rei dos Judeus. O medo
de perder o poder fez o rei desejar matar
essa criança. Avisado por Deus em sonhos, José fugiu com Maria e Jesus para
o Egito.
Herodes, não sabendo dessa fuga,
mandou matar todas as crianças abaixo
de dois anos, para que Jesus fosse atingido. Este é um dos motivos porque alguns pensam que a visita dos magos não
foi logo que Jesus nasceu. Este Herodes,
segundo registros históricos, foi muito
sanguinário, sempre mandando matar
os que imaginava que se opunham a ele,
inclusive pessoas da sua própria família.
Como se vê, Jesus enfrentou a primeira oposição nos Seus primeiros dias e
esta foi de alguém que detinha o poder.
Assim seria durante toda a Sua vida. Os
que detinham o poder político-religioso
não gostavam do Seu estilo de vida, nem
de sua mensagem, pois estes confrontavam todos os valores que para eles eram
muito preciosos.
Veja um pouco da situação política
no contexto da infância de Jesus. A Palestina estava sob o poder do Império
REFLEXÕES BÍBLIC
BÍBLIC AS
AS II
II
REFLEXÕES
17
|| 17
| ANTECEDENTES AO MINISTÉRIO DE JESUS
Romano e Herodes, o Grande, era o rei aí
quando Jesus nasceu. Quando Jesus era
ainda criança, estando no Egito com Seus
pais, Herodes, o Grande, morreu e o seu
domínio foi dividido entre seus filhos. Arquelau ficou com a Judeia; Antipas com a
Galileia e Pereia; e Filipe com Traconites e
regiões adjacentes (1).
Destes três herodes, Arquelau, da Judeia, deixou de governar primeiro, tendo
sido tirado pelos romanos. Antes disso,
Mt. 2.22-23 informa que, por ser ele o
governante na Judeia, José, ao voltar do
Egito, não desejou ir para lá, indo viver
em Nazaré, na Galileia. A partir de Arquelau, os romanos colocaram procuradores
seus na Judeia. O procurador na época
da morte de Jesus era Pôncio Pilatos.
Jesus, portanto, viveu junto com seus
pais na cidade de Nazaré.
No tempo do ministério de Jesus,
Herodes Antipas, filho de Herodes, o
Grande, governava a Galileia, sendo muito mencionado nos Evangelhos. Foi ele
quem mandou decapitar João Batista.
Leia Lucas 2. 39-52
Este fato, narrado apenas por Lucas, é
muito interessante e nos revela muito a
respeito de Jesus no final da Sua infância.
Indo com seus pais a Jerusalém para a
festa da páscoa, ele ficou no templo e foi
preciso que eles voltassem para buscá-lo.
Conversava com ele com os doutores da
lei e Sua palavra aos pais já parece revelar
a percepção que Ele começava a possuir
de Sua relação diferenciada com Deus.
Lucas destaca no final do texto que
Jesus era uma criança/adolescente, dentro de uma situação normal de vida em
submissão a seus pais, em Nazaré. E que
Ele se desenvolvia de forma equilibrada,
tanto física, quanto intelectual e espiritu18 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
almente. E que sua mãe, discretamente,
guardava o que percebia em seu coração.
2. O batismo de Jesus - Mateus 3.13-17
Antes do batismo de Jesus, os evangelhos relatam a aparição de João Batista, o precursor do Cristo, que anuncia
a chegada do Reino de Deus. Jesus é a
manifestação concreta do Reino de Deus,
isto é, da vontade divina sendo realizada
de forma absoluta numa vida humana.
O texto apresenta o batismo de Jesus. Veja o significado profundo do diálogo entre Jesus e João Batista, e o sinal
que Deus dá a Jesus da Sua aprovação
àquele ato e também à Sua filiação divina.
O batismo de Jesus mostra como
Ele assumiu a encarnação, identificando-se com os demais seres humanos,
além de colocar-se ao lado dos fiéis, dando apoio à obra de João. Seu batismo,
que acontece aos trinta anos, marca o
início de uma nova etapa em Sua vida. A
partir daí, após a tentação do diabo, tem
início o Seu ministério.
O batismo significa para o cristão uma
declaração pública de sua identificação
com Cristo, simbolizando mudança interior, com uma nova vida de obediência a
Ele.
O ato externo do batismo, símbolo
para o cristão de sua morte com Cristo,
seu sepultamento e sua ressurreição para
uma nova vida, nada significará, se não
existirem nele tais realidades espirituais.
Aplicação a sua vida: Você já deu, através
do batismo, seu testemunho público de
que está comprometido com Cristo, como
um seguidor d’Ele? Que atitudes suas demonstram a sua fidelidade a esse compromisso?
ANTECEDENTES AO MINISTÉRIO DE JESUS |
3. A tentação de Jesus - Mateus 4.1-11
Este texto, rico em significado e lições,
apresenta três tentações a Jesus. O diabo
procura atingi-Lo em três áreas de vulnerabilidade humana: necessidades físicas,
desejo de ser admirado e desejo por poder e glória. Atacado nestas três áreas,
Jesus venceu todas as tentações.
O que Deus deseja é que, ao enfrentarmos as tentações, a plenitude da Sua
graça e do Seu poder nos permitam vencê-las, tornando-nos mais fortes e maduros.
Algumas lições que este texto nos ensina:
- O diabo está sob a autoridade de
Deus (v.1) pois Ele, Deus, é soberano e
todos os poderes estão sob Seu controle.
Deus deseja usar todas as circunstâncias
que nos atingem para o nosso bem e Satanás quer usá-las para o nosso mal. Tudo
vai depender da nossa reação. De quem
somos cooperadores?
- Somos atacados nos nossos pontos
vulneráveis. Por isso, é importante nos
conhecermos, para que não nos deixemos envolver pelos nossos impulsos para
o mal. Quais são os nossos pontos fracos? Conheçamo-los.
- O diabo usou a Palavra de Deus (v.6),
tentando Jesus a errar o alvo de Sua vida.
Esta pode ser usada de forma distorcida
para nos fazer duvidar do amor e da santidade de Deus ou para que trilhemos caminhos perigosos.
- Jesus se relacionava perfeitamente
com Deus Pai e sabia muito bem qual
o objetivo de Sua vida. Por isso, usou a
Palavra de Deus de forma apropriada. É
importante usá-la, não como um amuleto ou objeto com poder mágico, mas
como veículo através do qual Deus está
nos aconselhando e construindo a nossa
vida, tornando-nos fortes para vencer o
que nos quer afastar da vontade d’Ele.
- As necessidades físicas, o desejo de
exibir-nos e a ambição por possuir posições e poder, tudo isto que tem sido tão
estimulado pela nossa cultura, tornam-se
pontos vulneráveis para nos afastar da
vontade divina. Por isso, é importante
conhecermos, além de nós mesmos, a
mentalidade do mundo no qual vivemos,
comparando-a com a mente de Cristo,
sob cuja égide devemos viver.
- Jesus saiu vitorioso sobre as tentações e enviou-nos Seu Espírito para que
nos dê força para vencê-las também. Dependamos d’Ele.
Aplicação a sua vida: Se Jesus, como Filho
de Deus, foi tentado, podemos, como discípulos seus, pensar que somos imunes às
tentações? Quais tentações mais atingem
sua vida? Como você poderá vencê-las?
Conclusão
Jesus enfrentou muitas provas antes
e durante o Seu ministério terreno. Nós,
como servos d’Ele, não poderemos ter
vidas significativas, sendo bênçãos para
outros, sem passar pelas tentações com
força e coragem, vencendo-as no poder
de Jesus Cristo. Se houver queda, olhemos para Ele e seremos reerguidos pela
Sua graça.
Que sempre tenhamos vidas submissas ao Senhor que, como diz o escritor
aos Hebreus, é o nosso sumo-sacerdote
que “foi tentado em todas as coisas, porém
sem pecado” (Hb. 4.15 ).
_______
(1)
DANA, H.E. O Mundo do Novo Testamento,
págs. 77-82
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 19
ESTUDO 4
INÍCIO DO MINISTÉRIO DE
JESUS
Introdução
O ministério de Jesus não é apresentado pelos evangelistas em ordem
cronológica e, como a nossa intenção é
um estudo panorâmico, veremos apenas
alguns fatos principais, ora num, ora noutro Evangelho.
Nos estudos 4 e 5 veremos alguns fatos do início do ministério de Jesus que
estão no começo dos Evangelhos, conforme apresentados por João e Lucas.
1. A pregação de João Batista
João 1.19-37
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Leituras Diárias
Jo. 1.19-28
João 1.29-37
João 2.1-12
Lucas 4.14-21
Lucas 4.21-30
Colossenses 2.6-10
quem foi João Batista, o precursor de
Jesus.
Diante da autoridade da pregação de
João Batista, uma comissão foi enviada
de Jerusalém pelos sacerdotes e levitas
para saber quem ele era afinal. Ele declarou que não era o Cristo, mas apenas
Seu precursor, que cumpria a profecia de
Isaías, sendo “a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor” (v.23).
João Batista menciona aí Isaias 40.3. Diz
mais: que ele não era digno de desatar a
correia das sandálias de Jesus (v.27).
Não se poderia começar um estudo do início do ministério de Jesus, sem
que se atentasse para esta grande figura
que foi João Batista, seu precursor. Este
homem do deserto apresentava uma
mensagem cheia de autoridade, com veemente ataque ao pecado. Um homem
que o próprio Jesus considera grande
(Mt.11.11).
João Batista, um pouco mais velho que Jesus, apresentou-O como o
“Cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo”(v.29) e disse que Jesus tem a primazia pois existia antes dele (v.30). João
Batista reconheceu a pré-existência de
Jesus e mostrou-se humilde ao não querer tomar um lugar que não era o dele.
Deu também o seu testemunho do que
ele vira acontecer quando batizara Jesus
(vs.31-37).
Já foi apresentado no estudo anterior
o batismo de Jesus por João Batista. Este
texto, no entanto, nos apresenta melhor
Mais tarde, ao saber que muitos estavam seguindo a Jesus, ele declarou: “É
necessário que Ele cresça e que eu diminua”
20 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
INÍCIO DO MINISTÉRIO DE JESUS |
(Jo.3.30). Que homem ao mesmo tempo
corajoso e humilde!
E pensar que, mesmo podendo ocupar altos postos na elite religiosa e política do seu povo, pois era descendente
de Arão, seu desejo era estar no centro
da vontade de Deus, anunciando a vinda
d’Aquele diante de quem se dizia indigno
de, curvando-se, desatar-lhe as sandálias.
Ah, como necessitamos de tal humildade
e submissão a Deus!
A vaidade e a inveja são pecados que
se relacionam um com o outro e atingem
a todos nós. Não há pecado que mais nos
afaste do Deus da graça do que o orgulho. Por vezes, até a nossa irritação contra o orgulhoso ou a nossa timidez por algum defeito nosso, podem ser sintomas
de um orgulho disfarçado.
Como Paulo, exclamamos: “Miserável
homem que sou! Quem me livrará do corpo
desta morte? ” (Rm. 7.24). Mas Paulo não
para aí e nós não podemos parar, pois,
a seguir, ele fala da vitória que tem em
Cristo Jesus (Rm. 7.25). Coloquemo-nos
sempre diante do nosso Redentor para
recebermos d’Ele força e perdão.
Aplicação a sua vida: “Deus resiste aos soberbos, mas aos humildes dá a sua graça”
(Tg. 4.6). Em quais circunstâncias você percebe que a falta de humildade tem prejudicado seu relacionamento com Deus e com
os seus semelhantes?
2. O primeiro milagre numa festa de
casamento - João 2.1-12
Este texto mostra que Jesus era uma
pessoa que fazia questão de conviver
com outras pessoas e, com isso, Ele ensina que santidade não significa necessariamente isolamento dos outros, mas
uma presença que conduza as pessoas
para mais perto da vontade de Deus, sen-
do bênção onde estiverem. Jesus se sentia à vontade com outros, sendo Aquele
que, onde está, ajuda e ilumina com Sua
vida.
Quando Maria falou a Jesus de uma
dificuldade que estava sendo enfrentada pela família que oferecia a festa, Ele
pareceu dar uma resposta grosseira à
Sua mãe (v.4). Muitos se têm preocupado com este texto. Alguns pensam que
Jesus foi realmente áspero para mostrar
que, como um homem adulto e com uma
missão tão especial, não poderia deixar
que Sua família traçasse os rumos do Seu
ministério. Alguns comentaristas argumentam que na palavra “mulher” não há
qualquer aspereza, e nós é que julgamos
de acordo com o valor da palavra na nossa cultura. Jesus usou a palavra “mulher”
ao referir-se à Sua mãe, na crucificação,
quando amorosamente se preocupou
com ela (Jo. 19.26) e depois de ressurreto,
no encontro com Maria Madalena, numa
palavra terna de consolação (Jo. 20.15).
O que se percebe neste texto (João
2.1-12) é que Jesus parece querer mostrar que Seu ministério e Sua obra não estariam vinculados à presença e à vontade
de Sua mãe ou de qualquer outro familiar. A Sua vontade e o Seu agir seriam
sempre em resposta às verdadeiras necessidades humanas, segundo a vontade
do Pai. Ele sabia a hora de agir.
Depois disto, é Maria quem diz que as
pessoas devem ser-Lhe obedientes (v.5).
Jesus fez o milagre e, conforme esse
texto, este fato levou seus discípulos a
crerem n’Ele. Interessante! Pensamos
que, se já eram discípulos e o seguiam,
era porque já criam n’Ele... Mas o conhecer e o crer vão crescendo com a experiência do andar juntos. Não é também
assim em nossa vida cristã? Talvez seja
por isto que Bonhoeffer diz que “Só o
obediente é que crê” (1). À medida que
andamos juntos, obedecendo-lhe, vamos conhecendo mais e crendo com
maior profundidade.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 21
| INÍCIO DO MINISTÉRIO DE JESUS
Aplicação a sua vida: A sua fé tem se desenvolvido em seu caminhar com Jesus?
Quais os sinais desse crescimento?
O milagre nos faz ver que o vinho que
Jesus ofereceu era de muito melhor qualidade do que o anterior. Isto nos transmite algum ensino? Será que percebemos quanto a vida com Cristo é melhor?
Devemos ter uma vida de santidade
em qualquer lugar em que estejamos.
3. Jesus na sinagoga de Nazaré - Leia
Lucas 4.16-30
Foi difícil para Jesus o cumprimento
de Sua missão, especialmente em Sua
própria terra. Ao entrar na sinagoga em
Nazaré, Ele leu o que está nos versículos
18-19 do texto acima. Esta é uma profecia de Isaías. Tinha neste momento a
atenção de todos sobre Ele. Quando disse que este texto de Isaías se referia a Ele,
muitos olharam incrédulos e escandalizados, perguntando: “Não é este o filho de
José? ” (v.22).
Temos também muitos preconceitos,
não acha? Parece que, para muitos, é
mais difícil perceber a presença e a voz
de Deus no simples, no cotidiano, pois,
querem sempre fatos espetaculares.
Quanto podemos perder por causa disto,
não acha?
Jesus mostrou aí que Sua missão
era dirigida aos humildes e necessitados:
“pobres, cativos, cegos, oprimidos...” Não
àqueles que se orgulhavam de estar no
topo da pirâmide social e de cumprirem
legalisticamente uma religião que não
os tornavam melhores. A declaração de
Jesus os enraiveceu. Depois vemos nos
versículos 24-30 mais uma palavra de Jesus que provoca uma reação indignada
contra Ele.
Jesus mencionou como Deus, deixando de atender judeus, abençoou pessoas
22 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
de outros povos através dos Seus profetas. Mostrou assim que Ele se importava
mais com a necessidade, a humildade e a
fé de alguém, do que com seu sangue ou
a qual grupo pertencia.
Os judeus ficaram irados, pois, se julgavam depositários das bênçãos de Deus
como Seu povo escolhido, enquanto Jesus disse que Deus tem abençoado outras pessoas, deixando-os de lado. Eles se
esqueciam que Deus os havia escolhido
para transmitir a Sua bênção “a todas as
famílias da terra” (Gn.12.3) e não simplesmente para receberem a bênção.
Isto pode acontecer conosco? Orgulhar-nos da nossa herança cultural ou
religiosa, desprezando outros? Esquecemo-nos que, se somos abençoados, é
para sermos canais destas bênçãos a outros?
Aplicação a sua vida: Como você considera o seguir a Cristo? Você tem recebido
as bênçãos de Deus, procurando abençoar
com elas outras pessoas? De quais maneiras você tem feito isto?
Conclusão
O primeiro milagre e este fato na sinagoga aconteceram na Galileia, respectivamente em Caná e em Nazaré. No
próximo estudo veremos alguns acontecimentos na Judeia.
Jesus começou logo a enfrentar pressões. Seria assim durante todo o tempo
do seu ministério terreno, pois, Ele incomodava os que detinham o poder.
O discurso de Jesus despertou muita
ira e alguns O expulsaram da cidade, levando-O ao pináculo do templo para de
lá O jogarem, mas Ele se desviou deles,
escapando.
____________
(1)
BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. p. 26
ESTUDO 5
ENTREVISTAS DE JESUS NO
INÍCIO DO SEU MINISTÉRIO
Introdução
Embora estivesse sempre em contato com grupos e grandes multidões, as
entrevistas individuais foram muito importantes no ministério de Jesus. Neste
estudo veremos o Seu encontro, logo no
início do Seu ministério, com Nicodemos
e a mulher samaritana.
O primeiro foi na Judeia, na cidade de
Jerusalém. O segundo foi na cidade de
Sicar, em Samaria, quando Ele se dirigia
para a Galileia. Foram entrevistas com
pessoas muito diferentes: um homem e
uma mulher. Ele, doutor da lei, da alta
sociedade e membro da mais alta corte
judaica, o Sinédrio. Ela, de uma classe
desprezada e socialmente baixa. Ele, de
uma seita que encarava com a maior
seriedade o cumprimento das leis e dos
ritos religiosos. Ela, que adotava um comportamento que feria os mais elementares princípios da religião.
Os dois, no entanto, eram igualmente
importantes para Jesus. Para ambos, Ele
tinha uma mensagem relevante. Obser-
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Leituras Diárias
João 3.1-16
João 3.16-21
João 4.1-14
João 4.13-30 Marcos 1. 40-45
João 4.31-42
Romanos 5.1-11
ve como Jesus se dirige a eles de forma
diferente, de acordo com a experiência
de vida e o contexto de cada um.
1. O encontro de Jesus com Nicodemos
- Leia João 3.1-21
Este é um dos textos mais conhecidos
do Novo Testamento. Sendo um importante fariseu e doutor da lei, Nicodemos
talvez tivesse um sentimento religioso
profundo. Já tendo naturalmente ouvido falar do poder e da sabedoria de Jesus, Nicodemos desejou conversar particularmente com Ele. Escolheu a noite
para encontrar-se com Ele, talvez para
não arriscar sua reputação, já que era
uma autoridade civil e religiosa, e Jesus
sofria pressões por parte destas autoridades. O Mestre se aproveitou da oportunidade para falar-lhe de temas muito
importantes. Nesta conversa temos um
dos versículos mais conhecidos do NT:
João 3.16.
REFLEXÕES BÍBLIC
BÍBLIC AS
AS II
II
REFLEXÕES
23
|| 23
| E N T R E V I S TA S D E J E S U S N O I N Í C I O D O S E U M I N I S T É R I O
Nesta palavra de Jesus a Nicodemos,
temos ensinos importantes sobre a doutrina da salvação.
- O novo nascimento - Vs.3-7
O reino de Deus só poderá ser usufruído por alguém através de sua natureza
espiritual, que só poderá ser gerada pela
ação do Espírito Santo. E Jesus fala sobre
isso a Nicodemos.
- O Espírito Santo é quem opera o
novo nascimento – Vs. 8-12
Esta ação é misteriosa, soberana e
não se pode explicar por métodos lógicos e racionais. Jesus compara o Espírito
Santo ao vento, mostrando que, como as
pessoas em geral não conheciam e nem
controlavam o vento, assim também a
ação do Espírito Santo ultrapassa a nossa
capacidade de compreender e controlar.
A nós cabe responder aos anseios que Ele
nos dá pelo que é espiritual, indo humildemente a Ele para que seja gerada em
nós esta nova vida.
- Só a fé em Jesus pode operar o novo
nascimento - Vs. 14-18
Usando a alegoria da serpente de
cobre levantada no deserto por Moisés
(Num.21.8-9), Jesus falou a Nicodemos
que só no Filho de Deus há redenção
para o pecador. Como aconteceu no deserto, assim também todos que foram
picados pela serpente do pecado (todos
os seres humanos foram) deverão olhar
com fé para o Filho de Deus levantado na
cruz, fazendo-se pecado por todos. Só
Ele nos poderá transmitir a cura, a salvação. Ao olharmos para Jesus, o Espírito
Santo aponta o nosso pecado, fazendonos nascer de novo. 24 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
Muitas vezes ficamos olhando para
dentro de nós para verificarmos se temos fé. O que Jesus diz é que precisamos
olhar e aceitar a providência de Deus: Sua
graça infinita, oferecendo-se em nosso
lugar. A fé vai chegando e crescendo, à
medida que andamos com o Jesus dos
Evangelhos, o Cristo vivo que, na pessoa
do Seu Espírito, está entre nós.
Aplicação a sua vida: Você deseja crer
com maior profundidade? Como você demonstra este desejo?
- O pecado faz rejeitar a luz - Vs. 19-21
Este é um texto que fala sobre a luz
e seus efeitos sobre a vida do pecador.
Quem deseja esconder suas más ações,
não querendo enxergá-las, não quer a luz
em sua vida. Mas quem vive dentro da
verdade, quer a luz, desejando enxergar
suas más ações para que sejam corrigidas.
Jesus proclamou-se como a luz e a
verdade. Se não queremos nos ver como
pecadores, rejeitaremos a luz e não desejaremos a verdade; por conseguinte,
Jesus está fora das nossas vidas.
Quando recebemos Jesus, a Sua luz
vai clareando a nossa compreensão para
perceber melhor o amor, a justiça e a santidade de Deus, cujo caráter vai nos mostrando como devemos ser e nos transformando em direção a este alvo. A Sua luz
faz com que enxerguemos a nós mesmos
como frágeis pecadores, mas também
como grandemente valiosos, amados
pelo Senhor do universo, a quem podemos chamar de Pai, que nos quer transformar a cada dia, levantando-nos quan-
E N T R E V I S TA S D E J E S U S N O I N Í C I O D O S E U M I N I S T É R I O |
do caímos e nos ajudando a caminhar. E
se somos Seus discípulos, podemos até
falhar e cair, mas voltaremos para a luz,
pois não desejaremos nunca mais viver
sem ela.
Jesus falou a Nicodemos sobre o novo
nascimento que nos traz para um mundo de luz. Cada um de nós tem a opção
de vir para luz ou rejeitá-la. Não sabemos
se o grande Nicodemos se tornou um
discípulo de Jesus, mas o fato é que ele
foi grandemente tocado pelo ensino do
Mestre. Se quer saber mais sobre Nicodemos, veja João 7.50-52 e 19.38-42.
2. O encontro de Jesus com a mulher samaritana - Leia João 4.1-30
Este encontro de Jesus, tão diferente
do encontro que vimos no item anterior,
também nos ensina grandes e preciosas
lições.
- Versículos 4 a 6
Aí vemos a humanidade de Jesus se
expressando em Seu cansaço junto ao
poço de Jacó. Ao se despojar de Sua glória, Jesus carregou todo o fardo da nossa
humanidade: fome, sede, cansaço, dores,
etc. A hora sexta era meio-dia, pois, os
judeus contavam o dia, de seis horas da
manhã às seis horas da tarde. Jesus estava cansado. Ali, todavia, Ele travaria contato com alguém muito importante.
- Versículos 7 a 9
Esta mulher pouco valia para os judeus, mas vemos aí como Jesus age com
as pessoas. Para Deus é o valor intrínseco
do ser humano que importa, e não o valor que lhe dá a sociedade.
Aplicação a sua vida: Como você valoriza
o ser humano? De acordo com o valor que
lhe dá o mundo, ou de acordo com o valor
que Jesus lhe dá?
Jesus quebrou aí vários tabus. Ele
era um homem, um judeu, um rabi ou
mestre. Um rabi não podia conversar
publicamente com uma mulher; ela era
samaritana, com quem os judeus não se
comunicavam, a ponto de não usarem
as vasilhas dos samaritanos (v.9); levava
uma vida moral irregular, arriscando a
reputação de quem tivesse contato com
ela. Jesus conversou com aquela mulher
por reconhecer ali um coração faminto
do verdadeiro amor.
- Versículos 10 a 15
Que sabedoria! Jesus parte de um
tema conhecido e corriqueiro, chegando ao tema desejado: a água que satisfaz
permanentemente. A mulher não percebe a alegoria, achando que Jesus está
falando de uma água que substituiria a
água que ela viera buscar.
- Versículos 16 a 18
Jesus toca na ferida profunda da mulher porque a amava. Ela precisava saber
que Ele conhecia sua vida e que mesmo
assim não a desprezava. Que sua busca constante por novos parceiros podia
significar sede de um amor muito mais
profundo. Ou talvez, já havendo sido
rejeitada muitas vezes (o mais provável
naquela época), sentia-se frustrada com
o amor humano. Jesus sabia que só uma
abertura ao amor de Deus, poderia mudar sua vida.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 25
| E N T R E V I S TA S D E J E S U S N O I N Í C I O D O S E U M I N I S T É R I O
- Versículos 19 a 26
A mulher busca um tema mais confortável e procura descobrir quem é Jesus.
Às vezes é mais fácil trafegar pela via do
conhecimento teológico do que encarar
honestamente a nossa interioridade. Jesus responde à mulher, ensinando-nos
muitas lições, inclusive que a adoração
não depende de lugar, nem de tempo,
que Deus deseja adoradores sinceros,
que O adorem em espírito e em verdade.
Percebendo que a mulher estava pronta
para ir adiante, Jesus lhe declara o que
está no versículo 26.
Será que nós temos a sabedoria de
abordar a pessoa de acordo com sua circunstância? De conduzir a mensagem
de modo que ela perceba o cerne do
Evangelho, que é livrar o ser humano da
alienação em que vive, levando-o a conhecer a Deus e a si mesmo?
Ao chegarem, os discípulos se admiraram de que Jesus conversasse com
uma mulher, mas não lhe fizeram perguntas (v.27). E a mulher samaritana
convidou muitos da sua cidade a virem
a Jesus. E eles não apenas vieram, como
alguns creram ser Jesus o Salvador do
mundo (vs. 30,39,40,41).
26 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
Aplicação a sua vida: Os discípulos aprendiam a cada dia, em seu caminhar com Jesus. E você, o que tem aprendido? Como
deseja vivenciar tal aprendizado?
Conclusão
- Jesus se dirige a cada um, respeitando a sua individualidade ao lhe transmitir os ensinamentos do Evangelho.
Temos nós procurado apresentar o Evangelho de acordo com as características
pessoais daqueles a quem nos dirigimos?
- Pensar que Jesus, tão reticente
como era, não desejando revelar logo a
sua identidade, revelou-a a esta mulher
(v.26) ...
Aplicação a sua vida: Percebendo a forma
de agir de Jesus, é possível a um seguidor
Seu tratar a qualquer ser humano com desprezo ou discriminações? Como você vê
seu modo de agir, diante disso?
Viver na luz nem sempre é cômodo, mas produz correção, crescimento,
alegria... “Deus é luz e n’Ele não há treva
alguma” (I Jo. 1.5).
ESTUDO 6
JESUS e o
ESTABELECIMENTO
DO REINO
(O ministério galileu: curas e
sinais - 1ª Parte)
Introdução
Jesus desempenhou o Seu ministério
em várias regiões da Palestina, mas foi na
Galileia que Ele esteve a maior parte do
tempo. Era a Sua terra. Ali viveu a infância com os pais, na cidade de Nazaré. Ali
realizou seu primeiro milagre, em Caná.
Ali estabeleceu a base do Seu ministério,
em Cafarnaum, à margem do mar da Galileia.
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Leituras Diárias
Mateus 4.12-25
Marcos 1.21-28
Marcos 1. 29-39
João 1.40-45
Marcos 2.1-12
Atos 10.34-38
1. O início do ministério galileu - Leia
Mateus 4.12 a 25
Vemos neste texto que depois da prisão de João Batista, Jesus foi para a Galileia. Deixando a cidade de Nazaré, foi
para Cafarnaum, onde estabeleceu sua
residência (v.13).
Ele não tinha casa propriamente sua.
Estudiosos creem que em Cafarnaum, ele
ficou na casa de Pedro que devia morar
aí, pois pescava no mar da Galileia quando Jesus o chamou. E foi aí que Jesus
curou a sogra de Pedro.
Na Galileia Jesus começou a pregar
a chegada do reino de Deus, que n’Ele
tinha o seu cumprimento (vs.14-17), segundo Isaias 9.1-2. Muito se tem discutido a respeito do que significa reino de
Deus ou reino do Céu. Estudiosos esclarecem que reino de Deus ou reino do Céu
significa o governo divino sobre nós e em
nenhum ser humano o governo de Deus
se estabeleceu de forma absoluta, como
na pessoa de Jesus. E onde há o governo
de Deus, aí se estabelecem a paz, o amor,
a justiça, a misericórdia e tudo que faz
parte do caráter e do agir de Deus.
Vejamos neste estudo alguns feitos
de Jesus na Galileia.
O reino de Deus tem uma dimensão
passada, presente e futura. O reino já
REFLEXÕES BÍBLIC
BÍBLIC AS
AS II
II
REFLEXÕES
27
|| 27
| J E S U S E O E S TA B E L E C I M E N T O D O R E I N O
veio, está vindo e virá. Já veio, ao revelar-se Deus de forma crescente, até à Sua
manifestação plena e absoluta na pessoa
de Seu Filho Jesus. Está vindo sempre
que alguém permite que Deus reine sobre a sua vida ou que contribui para que
a vontade d’Ele se estabeleça no mundo.
E virá um dia, quando o reino se estabelecer em plenitude, no final dos tempos.
A missão dos cristãos é lutar para que
o reino de Deus se estabeleça nos corações e na sociedade em geral.
Aplicação a sua vida: Como seguidor de
Jesus Cristo, que atitudes suas demonstram
seu desejo de que a vontade de Deus se estabeleça no meio em que você vive?
Logo no início do Seu ministério na
Galileia, Jesus chamou quatro discípulos
que eram pescadores - dois pares de irmãos: Pedro e André e também Tiago e
João (vs.18-22). Eles deixaram suas atividades para seguir a Jesus. Seriam preparados para ajudar no estabelecimento do
reino de Deus nos corações.
de ver satisfeitas suas necessidades físicas. Outros, no entanto, queriam saciar
necessidades emocionais e espirituais.
Ele não os separava, a todos atendendo
com compaixão, pois, o reino de Deus
visa ao benefício do ser humano em todos os seus aspectos.
Aplicação a sua vida: Você é um representante do reino de Deus, desejando estabelecê-lo onde está? Como você pode fazer
isto?
2. Jesus atendeu o ser humano em sua
integralidade - Leia Marcos 1.21 - 45
- 1.21 - Uma parte importante da
missão de Jesus era o ensino. Ele se dirigia à mente das pessoas, falando-lhes
muitas vezes por parábolas ou fazendolhes perguntas que as levavam a pensar.
Deus quer o desenvolvimento da
nossa mente, pois foi Ele mesmo quem a
criou. Se a nossa religiosidade se baseia
apenas em emoções ou numa credulidade ingênua, desvinculada do nosso pensar, alguma coisa nela está errada.
O versículo 23 faz como que um resumo do ministério na Galileia.: ensino,
pregação e cura das pessoas em geral. O
trabalho de Jesus sempre visou ao alívio
dos sofrimentos físicos e emocionais do
ser humano, o desenvolvimento de sua
mente e, sobretudo, o benefício de sua
vida espiritual pela comunhão com o Pai
Eterno. Esta deve ser a plataforma de trabalho dos Seus seguidores, para ver cumprida a vontade de Deus de que o Seu reino de justiça e paz vá se estabelecendo
por este mundo, mesmo em meio a tantos males resultantes do pecado.
- 1.22 - A autoridade de Jesus era
reconhecida por todos. As pessoas estavam acostumadas com mestres que sabiam de cor as Escrituras e as recitavam
mecanicamente, mas não com alguém
em quem religião e vida se misturavam
tão profundamente.
Os últimos versículos deste texto falam que as multidões seguiam a Jesus.
Muitos O seguiam apenas com o desejo
Temos nós a autoridade de quem crê,
sente e vive aquilo que prega? É assim
com você?
28 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
Aplicação a sua vida: Está você interessado em desenvolver seu conhecimento de
Deus, do mundo, de você mesmo? O que
você está fazendo, para que isto aconteça?
J E S U S E O E S TA B E L E C I M E N T O D O R E I N O |
- 1.23-28 - Jesus confrontava os demônios que revelavam saber muito bem
quem Ele era. E Sua fama se espalhava
(V. 28).
- 1.29-45 - Neste texto, podemos
observar coisas importantes.
a) Jesus curou a sogra de Pedro e
muitos outros (vs. 29-34).
b) Em meio a tantas atividades, Jesus se dedicava à oração para cumprir o
Seu ministério (v.35-39).
c) Jesus era sempre impulsionado
pela compaixão que sentia pelas pessoas que sofriam (vs.40-41). O leproso era
discriminado e ninguém se aproximava
dele. Jesus tocou-o sem qualquer discriminação.
d) Jesus mandou que o leproso curado não divulgasse a sua cura e fosse ao
sacerdote para que este atestasse a ausência de lepra nele (v.44). Era a orientação judaica na época. O sacerdote fazia
o papel do médico. O suspeito de estar
com lepra deveria ficar isolado, ser examinado até que o sacerdote desse o seu
veredito, declarando-o curado; após as
ofertas e rituais, ele o liberava para o convívio social (Nm.13.9-11). Hoje as pessoas deveriam ser enviadas aos médicos
para que se averiguasse a autenticidade
de supostos milagres, você não acha?
e visando à cura espiritual do paralítico,
Jesus perdoa os seus pecados.
Estaria Jesus desejando mostrar a
possibilidade de a paralisia daquele homem ser resultante de seus sentimentos
de culpa pelos pecados? Jesus não encarava a doença como resultante do pecado do doente ou de seus familiares. Ele
disse isso em João 9.2-3.
O que Jesus parece mostrar aqui é
que mais do que da sua cura física, aquele homem precisava ser liberto do seu
pecado. Os escribas, então, O acusam
de blasfêmia. Realmente, para quem não
cria na divindade de Jesus, só restava
achá-lo presunçoso e blasfemo.
Não é este um argumento com o
qual se pode combater a ideia de que
Jesus foi um ser iluminado, de grandes
virtudes morais e espirituais, mas não
era Deus? Ou Ele era Deus, ou mentiu a respeito de Si mesmo, enganando
as pessoas. Neste caso, onde estariam
Suas virtudes morais?
Conclusão
3. Cresce a popularidade de Jesus Leia Marcos 2.1-12
Vimos neste estudo o começo do
ministério de Jesus na Galileia, onde
Ele passou o maior tempo de Sua vida.
Nesta terra está o Mar de Tiberíades ou
da Galileia, cenário de muitos acontecimentos da Sua vida ministerial. Ali Ele
proferiu o Sermão do Monte e muitos
outros ensinos. Ali estão cidades como
Cafarnaum, Nazaré, Caná, Betsaida,
Naim, etc, onde fatos importantes ocorreram.
A popularidade de Jesus crescia e as
multidões O cercavam por onde fosse.
Neste texto, um paralítico é trazido até
Jesus pelos seus solidários amigos que o
desceram pelo telhado. Vendo a fé deles
Jesus começou o Seu ministério dizendo que o Reino de Deus havia chegado. A Sua vida acompanhada de todos
os Seus sinais e também do Seu ensino,
atestava isto.
Quantas lições para nós neste texto,
hein?
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 29
ESTUDO 7
O AMOR DE JESUS NÃO
DISCRIMINA
(O ministério galileu: curas e
sinais - 2ª Parte)
Introdução
Veremos neste estudo, em alguns textos de Marcos e Lucas, mais alguns sinais
do ministério de Jesus na Galileia: milagres envolvendo tanto a área física quanto a área espiritual do ser humano, tanto
judeus como gentios, tanto ricos como
pobres, tanto o homem como a mulher.
O Filho de Deus não discriminava pessoas, espalhando entre todos as Suas bênçãos.
Jesus sempre sentia compaixão pelos sofredores e era está a Sua motivação
para agir em favor deles. Não esperava
agradecimentos, nem que as pessoas O
apreciassem ou se tornassem artificialmente suas seguidoras. Muitas vezes,
recomendava que não divulgassem Seus
atos.
Muitos se tornaram Seus discípulos atraídos pela Sua compaixão, seu
30 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Leituras Diárias
Lucas 7.1-17
Marcos 3.13-19
Marcos 4.35-41
Marcos 5. 21-43
Marcos 6. 30-44
Marcos 3.31-35
modo de viver e Seus ensinos. O bem
que Ele praticava, no entanto, era sempre resultante do Seu coração amoroso
e compassivo. Assim deveriam sempre
ser aqueles que pertencem ao Seu reino,
você não acha?
1. A compaixão de Jesus - Leia Lucas
7.1-17
O centurião era um capitão que comandava cem soldados. Vemos aí que
ele estava com um servo muito doente
e enviou alguns emissários para pedir a
Jesus que fosse curá-lo. Vejamos algumas
coisas que nos podem impressionar neste centurião:
- Sua humildade e interesse por um
servo doente;
- Sua fé elogiada pelo próprio Jesus.
Quando o Senhor foi se aproximando da
casa do centurião, veja o que ele lhe mandou dizer nos versículos 6 a 8. Jesus elogiou então a sua fé, principalmente pelo
fato de ele não pertencer a Israel, povo
O AMOR DE JESUS NÃO DISCRIMINA |
que se orgulhava de seu relacionamento
com Deus. Como tal fato nos ensina!
A partir do versículo 11 deste mesmo
texto, Lucas relata um outro milagre que
Jesus efetuou, levando alegria ao coração de uma mãe que chorava. Seu coração terno e misericordioso se enchera
de compaixão por essa mãe. Jesus não
veio nos revelar o Pai? Pois é assim o
nosso Deus.
A morte e a vida se encontraram naquele lugar - a vida representada por
Jesus e a morte representada por aquele féretro. Mas, em Jesus, a vida sempre
vence a morte.
No sentido espiritual, vivemos sempre
cercados por aspectos de vida e morte. O
que é mal e contrário à vontade de Deus
é sempre uma manifestação da morte.
Como discípulos de Jesus, devemos levar
a vida e seus sinais por onde formos.
2. Jesus acalma a tempestade - Leia
Marcos 4.35-41
Este fato, relatado também por Mateus e Lucas, mostra Jesus e Seus discípulos passando de um lado para outro do
Mar da Galileia, talvez para estarem mais
sozinhos e isolados da multidão, talvez
para acharem um outro campo missionário.
Vemos neste texto uma demonstração da humanidade de Jesus, quando Ele
se mostra cansado e dorme sobre a almofada. Quando ocorre uma tempestade, o
que era comum no Mar da Galileia, os discípulos assustados O chamam.
Temos aí uma visão da autoridade de
Jesus sobre as forças da natureza.
Com o fato ocorrido, podemos aprender algumas lições:
- Mesmo quando estamos junto com
o Mestre e seguimos o caminho da obediência, não estamos livres de sofrer dificuldades;
- Nas nossas horas de aperto, Jesus
poderá nos acudir em nossos temores,
acalmando as tempestades da nossa
vida.
3. O amor que não discrimina - Leia
Marcos 5.1-43
Neste texto de Marcos, temos três
fatos importantes: a cura do endemoninhado gadareno, a cura da mulher que
tinha um fluxo de sangue e a ressurreição
da filha de Jairo. Vejamos um pouco sobre cada um.
- O endemoninhado gadareno - Versículos 1 a 20
Este homem vivia entre os mortos,
despido, ferindo-se e atordoado por espíritos demoníacos. Curado por Jesus,
estava agora assentado, vestido e em
perfeito juízo. Quem antes não era contido por grilhões e cadeias, estava agora
calmo e equilibrado, sem que alguém o
subjugasse.
Muitos males neste mundo não serão debelados por forças externas, mas
somente por uma transformação interior
produzida pelo Espírito de Deus. Quantos criminosos que nenhuma força policial consegue deter, poderão ser transformados pela força divina em suas vidas!
Jesus, com Seu ato, causou prejuízo
a criadores de porcos, que trabalhavam
naquela região predominantemente habitada por gregos. Será que tal fato nos
faz refletir que o valor da vida humana é
superior ao dos bens materiais? O povo
da cidade em geral não compreendeu
isso.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 31
| O AMOR DE JESUS NÃO DISCRIMINA
Aplicação a sua vida: Você se dispõe a sacrificar bens materiais para ver o reino de
Deus se estender, beneficiando as pessoas?
Quais atitudes suas demonstram isso?
- A ressurreição da filha de Jairo e a
cura de uma mulher - Versículos 21-43
Jairo era um homem socialmente
muito importante (v.22). Sua angústia e
temor pela morte da filha levaram-no a
se prostrar, cheio de humildade e fé, aos
pés de Jesus (vs.22-23). Ao atendê-lo,
Jesus caminhou em direção à casa dele,
mas demorou muito a chegar, por causa
da grande multidão que o acompanhava
e porque foi interrompido pela necessidade de uma mulher enferma que Ele
curou.
Temos lições muito preciosas nesses
dois fatos entrelaçados:
- Jesus trata a todos sem discriminações. Aquele homem era, social e culturalmente, muito mais importante do
que aquela mulher. Mas não do ponto de
vista de Jesus.
- Deve ter sido muito difícil para aquele homem suportar a aflição e a demora
de Jesus em atender seu pedido. Era
muito difícil não se impacientar ou não
desistir. Temos nós paciência de esperar
as respostas de Deus às nossas necessidades?
- Por outro lado, enquanto ele caminhava com Jesus em direção à sua bênção, outra pessoa era muito abençoada e
ele podia, em sua caminhada, aprender
muitas lições. A humildade e a fé daquela mulher, bem como o cuidado amoroso
32 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
do Mestre pelas pessoas, lhe ensinaram
muito.
Aplicação a sua vida: As expectativas
quanto ao final da caminhada impedem
você de aproveitar a beleza e os ensinos
que Deus tem para sua vida durante o percurso? Como você pode agir para evitar
isso?
- A bênção que ele esperava demorou a realizar-se, mas valeu a pena esperar, pois, ela se tornou muito maior e
recebida com muito maior alegria e gratidão do que o esperado.
- A mulher, que desejava não ter seu
ato tornado público, pois, sua doença
lhe dava um sentimento de inferioridade
que a acompanhava há muitos anos, foi
elogiada por Jesus e saiu dali curada, não
apenas física, mas espiritualmente.
Deus tem o seu modo próprio de agir
e não vê como vê o homem.
Conclusão
- Cremos na soberania e no poder de
Deus?
- O que sentimos ao perceber a demora de Deus em nos atender?
- Não é verdade que muitas vezes perdemos as bênçãos da nossa caminhada,
porque ficamos aguardando o que Deus
nos dará ao final, em vez de usufruir da
alegria e beleza de cada trecho do percurso? Oremos para que tenhamos um
coração sempre disposto a aprender.
ESTUDO 8
JESUS Combate A
RELIGIOSIDADE EXTERIOR
(Controvérsias do ministério
galileu - 1ª Parte)
Introdução
Sabemos que Jesus, muitas vezes,
com Seu estilo de vida e Seus ensinos,
feriu os preconceitos de muitas pessoas,
especialmente daqueles que detinham
maior poder na época: os chefes políticos
e religiosos.
Muitos sacerdotes, escribas e fariseus
pertenciam ao Sinédrio, que era um tribunal civil e religioso na Palestina. No
tempo de Jesus, o Sinédrio tinha grande
influência política. O próprio sumo-sacerdote, que era o presidente do Sinédrio, passou a ser um cargo, cuja nomeação se dava por influência política (1).
Como você pode perceber, o poder político e religioso estavam entrelaçados.
Com seu modo de viver e ensinar,
Jesus ameaçava a situação cômoda
em que muitos se encontravam, ao
acumularem riquezas e prestígio, des-
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Leituras Diárias
Marcos 2.13-28
Marcos 3.1-12
João 5.1-18
João1.1-7
I João 2.1-6
Efésios 3.17-21
prezando e discriminando as classes
marginalizadas. Neste estudo, veremos
alguns confrontos de Jesus com pessoas que defendiam a observância das
leis, acima do amor a Deus e ao próximo.
1. Jesus combate o legalismo - Leia
Marcos 2.13-28
Encontramos neste texto a censura
que Jesus recebeu pelo seu modo de agir
e também pelo comportamento de Seus
discípulos.
Nos versículos 13 a 17 vemos dois
fatos:
- Jesus chama um publicano para
segui-lo - Os cobradores de impostos, ou
publicanos, eram considerados desonestos, sendo odiados pelo povo e desprezados pelos fariseus, pois, serviam aos
dominadores romanos e tinham muito
contato com os gentios. O chamado de
REFLEXÕES BÍBLIC
BÍBLIC AS
AS II
II
REFLEXÕES
33
|| 33
| J E S U S combate A R E L I G I O S I D A D E E X T E R I O R
Jesus era para todos, qualquer que fosse
a atividade, a posição política ou reputação na sociedade. Qualquer mudança
após o chamado deveria vir de dentro
para fora e como resultante da convivência com o Mestre.
- Jesus é criticado pelos escribas e
fariseus por estar entre publicanos e
pecadores – Levi, o novo discípulo, talvez tenha dado uma recepção para Jesus, chamando muitos daqueles com os
quais ele possuía relações. O partilhar
de uma mesma mesa de refeição para o
judeu simbolizava comunhão, amizade.
Por isso, eles estranharam Jesus estar ali
entre as pessoas a quem eles julgavam
impuras. Ele declarou então que sempre estará onde estão os que necessitam
d’Ele (v.17).
Jesus foi sempre censurado pelas pessoas para quem a religião estava baseada
no cumprimento de ritos externos. Isto
pode acontecer conosco? Valorizar mais
o externo e aparente do que a comunhão
com Deus e a mudança interior? Valorizar mais as pessoas pelo que fazem do
que pelo que são?
Do versículo 18 em diante temos dois
fatos que receberam a censura dos fariseus: os discípulos de Jesus que não jejuavam como os discípulos de João Batista;
e a colheita de espigas que eles realizaram num sábado.
Dando Sua resposta, Jesus transmite
ensinos de duas naturezas:
- Vs. 23-28 - Ele fala a respeito do valor
do ser humano, que é maior do que o de
cumprimento de ritos religiosos. Diz que
as leis não têm valor em si mesmas, pois,
foram feitas para beneficiar as criaturas
de Deus. Estas sim têm um valor incalculável.
- Vs. 21-22 - Com esta alegoria, Jesus
transmite o ensino de que o Evangelho
não caberia dentro de uma religiosidade
34 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
externa e legalista. Ele dá o exemplo dos
odres que eram feitos de couro e guardavam o vinho. Como o vinho novo colocado dentro de odres velhos, que já não
tinham flexibilidade, fazia com que os
odres se rompessem, assim a espiritualidade verdadeira romperia as estruturas
religiosas rígidas e inflexíveis que caracterizavam a religião daquelas pessoas.
Que pena! Às vezes as estruturas se
rompem, desperdiçando grande parte daquilo que Deus quer dar a todos,
porque não se adaptam ao novo agir de
Deus no mundo ou no meio do Seu povo.
Aplicação a sua vida: Quais atitudes você
pretende tomar para viver de acordo com
os valores percebidos em Jesus?
Deixemo-nos guiar pelo Espírito Santo, tendo uma vida que honre e glorifique
ao Senhor.
2. A pressão sobre Jesus aumenta Leia Marcos 3.1-12
Jesus sabia que era observado. Podia
deixar de curar o homem, não se confrontando com autoridades que acabariam
por tirar-lhe a vida. Resolveu, todavia,
dar testemunho daquilo por cuja causa
Ele entregaria a sua vida: o valor do ser
humano, acima de rituais religiosos.
Jesus mandou o homem vir para o
meio (v.3). Apesar de, às vezes, por prudência, não querer a divulgação do que
fazia, já que Sua vida corria risco, Jesus
não escondia por covardia Seus posicionamentos. Logo mostrou que estava
do lado dos que sofrem e não do lado
do cumprimento de regulamentos que,
embora formulados com o objetivo de
beneficiar o ser humano, pela sua prática mecânica e inflexível acabavam por
prejudicá-lo.
J E S U S C ombate A R E L I G I O S I D A D E E X T E R I O R |
No versículo 6 vemos que as confabulações já começavam para tirar a vida de
Jesus. Por que os líderes religiosos desejavam tanto eliminá-lo? Talvez a vida de
Jesus desmascarasse aquilo que era o seu
orgulho: a prática de uma religião ritualista, que não atingia o seu interior. Além
disso, eles tinham uma posição social e
política que era ameaçada por Jesus, ao
atrair tantas pessoas, levando-as a questionar o que para eles era tão importante.
Se Jesus vivesse fisicamente em nosso mundo, não encontraria a mesma
resistência por parte de muitos de nós?
Não desejariam muitos religiosos, que
se dizem cristãos, eliminá-lo também?
3. A cura de um paralítico - Leia João
5.1-18
Jesus vai rapidamente a Jerusalém.
Coloco o fato no ministério galileu porque, mesmo acontecido na Judeia, foi
dentro do período do ministério galileu.
Ele foi a Jerusalém e logo voltou.
Mais uma vez Jesus efetua uma cura
no sábado. Entre os que ali estavam,
havia este homem há 38 anos paralítico.
Jesus perguntou se ele desejava ficar são.
Parece uma pergunta sem sentido, já
que aquele paralítico estava sempre ali.
Mas Jesus gostava de fazer as pessoas
pensarem. Estaria ali por desejar realmente a cura? Para despertar piedade
ou conseguir algo? Queria mostrar como
as outras pessoas são egoístas? Já teria
pedido ajuda? Estaria acomodado com
sua imobilidade?
Tal pergunta, cuja resposta nos parece óbvia, várias vezes foi feita por Jesus.
Talvez para nos ensinar que o nosso desejo verdadeiro é condição para o agir de
Deus em nossa vida.
Jesus curou o paralítico e ele carregou
seu leito, sendo criticado por ser aque-
le dia um sábado. Interessante é que o
homem curado, ao ser interrogado, não
identificou o seu benfeitor (vs. 10-13).
Jesus curava por compaixão e não para
receber notoriedade ou mesmo agradecimentos.
Aplicação a sua vida: Quais são os seus
sentimentos quando suas boas ações não
são reconhecidas?
Ao encontrar-se com o curado, Jesus
disse o que está no versículo 14. Sabemos que Jesus não relacionava a doença
de alguém ao seu pecado pessoal, como
Ele disse aos discípulos em João 9.2-3.
Mas nesse caso específico, Jesus pareceu ver a doença daquele homem como
resultante de algum pecado dele e, por
isso, advertiu-o para que não continuasse no seu pecado, a fim de que não lhe
acontecesse coisa pior. Ou essa coisa pior
podia também ser a separação de Deus?
O versículo 16 diz que os judeus agora procuravam matar Jesus. Era a hostilidade aberta que começava.
Conclusão
Lemos em Atos que Jesus andou por
toda a parte fazendo o bem (10.38b).
Discípulos Seus devem espalhar o bem
onde estejam, mas sempre cuidando
para que a sua conduta resulte da atuação do Espírito Santo em suas vidas. Esta
produzirá amor e compaixão, sem qualquer interesse por visibilidade ou retribuições de qualquer tipo.
(1) O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo:
Ed. Vida Nova, 1979. p.1535
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 35
ESTUDO 9
JESUS SEMPRE
SURPREENDE AS PESSOAS
(Controvérsias do ministério
galileu - 2ª Parte)
Introdução
Este estudo trata um pouco mais das
controvérsias de Jesus enquanto desempenhava Seu ministério na Galileia. Com
Seus atos, Jesus estava sempre desrespeitando tabus e ideias religiosas que prejudicavam as pessoas a quem Ele viera resgatar. Por isso, a hostilidade e a oposição
a Ele iam crescendo. Ele teve sempre de
escolher entre o cumprimento de Sua
missão e o “estar bem” com todos.
Não foi esta a tentação que o Homem
Jesus recebeu a Sua vida inteira? Deixar
de lado a Sua missão, para se “dar bem”
em tudo? Não foi isto que o diabo lhe
ofereceu: “Eu te darei tudo isto, se prostrado me adorares? ” (Mt.4.9). Jesus resistiu.
A Bíblia diz que Ele foi “obediente até à
morte e morte de cruz. Por isso, Deus também O exaltou com soberania e Lhe deu o
nome que está acima de qualquer outro
nome” (Fl. 2.8-9).
36 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Leituras Diárias
Lucas 7.36-50
Mateus 12.9-21
Mateus 12.22-30
Mateus 9.35-38
Mateus 10.1-15
Marcos 6.1-6
Quando desobedecemos a Deus, deixando de cumprir a nossa missão para
receber as glórias do mundo, estamos
nos submetendo à tentação de Satanás.
Pense sobre isto!
1. Um jantar surpreendente - Leia Lucas 7.36-50
Jesus foi jantar na casa de Simão, um
fariseu. No estudo anterior nós O vimos
na casa de um publicano, pessoa desprezada pelos fariseus. Jesus surpreendeu
por não respeitar os preconceitos sociais
e religiosos de Sua época, amando antes
a todos os seres humanos.
Os fariseus pertenciam a uma seita
muito exigente quanto ao cumprimento
de leis e rituais religiosos. Muitos valorizavam mais o cumprimento de tais leis
do que as qualidades internas do caráter.
Ali compareceu uma prostituta, expondo-se ao desprezo social e religioso.
Ela derramava não apenas o perfume, mas suas lágrimas sobre os pés de
JESUS SEMPRE SURPREENDE AS PESSOAS |
Jesus. Por que ela chorava? Pela dor que
tal vida lhe provocava? Por sentir que
Jesus a amava, tendo consciência de que
só este amor seria capaz de resgatá-la da
vida promíscua e infeliz?
O fariseu ficou chocado por ver Jesus aceitando que tal mulher O tocasse
(V.39). Era o toque de uma pessoa considerada grandemente impura pela sua
sociedade. Talvez aquele fariseu fosse
sincero, ao defender rigidamente tabus
religiosos que aprendera desde criança.
Era escravo dos seus preconceitos. Quais
são os nossos preconceitos?
Jesus mostrou que Ele sabia quem era
a mulher e que aceitava a sua homenagem. Em vez de olhar simplesmente a
reputação dela, Seu olhar viu um coração
cheio de humildade e uma vida que podia ser resgatada.
A seguir, Jesus ensinou a Simão sobre
o amor e o perdão (vs. 40-47). Pensamos nós que temos sido pouco ou muito
perdoados pelo Senhor? A nossa noção
estreita de pecado, simplesmente como
descumprimento de deveres e tabus,
pode nos fazer pensar que somos pouco
pecadores. Desconsideramos o nosso
egoísmo, o nosso orgulho e a nossa vaidade, nossa falta de amor e compaixão
pelo próximo e tantas outras mazelas do
nosso caráter, deixando de perceber o
quão longe da vontade de Deus estamos.
Em consequência disso, somos menos
gratos pelo perdão divino, além de mais
orgulhosos e condenadores daqueles
que, a nosso ver, tem mais pecados que
nós. E a nossa “santificação” passa a basear-se simplesmente em cumprimento de
rituais religiosos e deveres morais.
Novamente ali Jesus perdoou pecados, causando admiração.
Aplicação a sua vida: Em quais situações
você tem julgado as pessoas simplesmente
pelo seu comportamento, desconsiderando suas dificuldades e sofrimentos?
2. O rei manso e sofredor - Leia Mateus
12.14-30
Depois de uma cura no sábado e vendo a oposição a Ele crescer, Jesus se retirou, sendo sempre acompanhado pelas
multidões. Por um lado, Jesus procurava
não se expor à morte e ao perigo, mas,
por outro lado, nunca fugia de Sua missão. Pedia que as pessoas não O divulgassem, mas não deixava de falar e fazer o
que era preciso.
Neste texto, Mateus mencionou uma
profecia de Isaías referente ao Messias
(vs.18-21). Ele cumpriria Sua missão sem
estardalhaço (v.19), protegendo os fracos
(v.20) e não fazendo acepção de pessoas
(v.21).
Depois da menção a esta profecia (Is.
42.1-4), Mateus fala da expulsão de um
demônio que causou admiração a toda
a multidão. Para os incrédulos, que não
desejam crer, os sinais não adiantam,
pois, eles tratam de explicá-los de uma
maneira que satisfaça sua incredulidade.
Não são as obras espetaculares que farão
nascer em alguém a fé, mas a humildade
e a fome de justiça de um coração que
deseja a sabedoria de Deus.
Jesus fala então de dois reinos: o de
Satanás e o de Deus. Mateus é o Evangelho que mais usa a expressão “reino dos
céus” e o que mais se refere a Jesus como
Rei. O autor tem por objetivo convencer
os judeus da messianidade de Jesus.
Reino dos céus e reino de Deus significam a mesma coisa. Mateus é o evangelista que evita usar a expressão “reino de Deus”, usando sempre “reino dos
céus”. Segundo os estudiosos, como ele
se dirige especialmente aos judeus, não
quer ferir a suscetibilidade deles usando
a palavra Deus. Estes evitavam usar tal
vocábulo por ser sagrado demais. O que
significa reino de Deus ou reino dos céus?
Estudiosos discutem sobre isto e alguns
pensam que é o governo de Deus sobre
nós, podendo ser visto em três tempos:
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 37
| JESUS SEMPRE SURPREENDE AS PESSOAS
a) o Reino já chegou, plenamente trazido por Jesus com Sua vida de absoluta
submissão a Deus Pai e, especialmente,
com Sua ressurreição que anuncia a vitória final do reino. Pertencem ao reino
aqueles que seguem a Cristo, o Rei, vivendo de acordo com os valores desse
reino e lutando pelo seu estabelecimento no mundo.
tribuindo na solução das necessidades
físicas, emocionais e espirituais de tantos
que sofrem. Podemos orar “Venha a nós
o teu reino e seja feita a tua vontade” se vivemos vidas fúteis e egoístas, cuidando
apenas dos nossos interesses pessoais,
sem nada fazer pelo estabelecimento da
vontade de Deus neste mundo?
b) o Reino chega a cada vez que novas pessoas se submetem ao Senhorio de
Jesus como Rei em suas vidas. Também
quando valores como o amor, a justiça, a
solidariedade, a paz, etc, que são valores
do reino de Deus, penetram onde antes
havia os valores contrários.
Aplicação a sua vida: Como a sua maneira de viver tem mostrado seu desejo
de que o Reino de Deus venha a nós?
c) o Reino chegará em plenitude,
quando não houver mais a presença do
pecado, mas o domínio do Rei Jesus for
completo.
Como súditos do Reino de Deus não
podemos nos conformar, vendo prevalecer em nosso mundo o que é contrário
aos valores divinos. Devemos lutar pela
disseminação nos corações humanos de
tudo que faz parte do coração do nosso Rei: amor, justiça, paz, enfim, todo
o desejo de Deus. Seja qual for a nossa
atividade diária ou profissão, que trabalhemos dentro dos princípios do reino de
Deus e para o benefício das pessoas que
Ele ama.
3. Um pedido de oração - Leia Mateus
9.35-38 e Marcos 6.1-6
Após relatar vários fatos do ministério de Jesus, Mateus fala que Ele, vendo
tantas necessidades, faz a Seus discípulos
um pedido de oração que é para nós ainda hoje (v.38).
Recebemos pedidos de oração das
pessoas, mas recebê-lo de Jesus é uma
grande responsabilidade, não acha? Oremos para que muitos se levantem, con-
38 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
No capítulo seguinte de Mateus, vemos Jesus investindo Seus discípulos de
autoridade para executar a Sua obra. A
mensagem aí é não apenas orar, mas ir.
Oração e trabalho andam juntos!
O segundo texto (Mc.6.1-6) mostra
Jesus ensinando na sinagoga em Nazaré,
a Sua cidade. Vendo a Sua sabedoria e o
Seu poder, as pessoas se escandalizavam
por ser Ele filho de uma família simples
e conhecida. A incredulidade criou obstáculos às obras de Jesus naquela cidade.
Teremos nós os mesmos preconceitos, desvalorizando pessoas perto de nós,
através de quem Deus quer promover
nosso crescimento?
Conclusão
As obras de Jesus abençoavam muitas pessoas, enquanto produziam rancor
e ódio em muitas outras. Os sofredores
e os humildes que desejavam a verdadeira sabedoria, queriam estar perto
d’Ele. Os que se sentiam prejudicados
em seus interesses mesquinhos, queriam
acabar com Sua vida.
Creio que um bom teste para sabermos se, como igreja, temos um ministério semelhante ao de Jesus é este: a
quem estamos agradando ou desagradando?
ESTUDO 10
A ÉTICA DO REINO
DE DEUS (i)
(Sermão do Monte: 1ª Parte)
Mateus 5. 1 - 16
Introdução
O Sermão do Monte, que está em
Mateus 5-7, conhecido como a ética do
reino de Deus, possui vários trechos do
seu conteúdo, dispersos em vários contextos da narrativa de Lucas. É um sermão magistral que torna os súditos deste
reino humildes, pela consciência de sua
incapacidade de cumpri-lo em suas vidas, sem a graça proveniente do exemplo de vida do seu Rei, e o poder do Seu
Santo Espírito, já habitando naqueles O
seguem.
O destaque que Mateus dá ao fato de
que o sermão foi feito no monte, pode
ter sido motivado pelo desejo de comparar Jesus com Moisés, que trouxe a lei
do monte Sinai. É bom lembrar que, segundo muitos estudiosos, Mateus dirigiu
seu Evangelho de modo especial aos judeus. Jesus, no entanto, “tanto maior que
Moisés, quanto maior que a casa é aquele
que a edificou”, como diz o escritor aos
Hebreus (3.3), dá uma nova ética aos que
pertencem ao Seu reino, isto é, aqueles
que vivem sob a Sua autoridade.
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Leituras Diárias
Mateus 5.1-12
Romanos 8.1-8
Romanos 12.9-21
Gálatas 5.16-23
Efésios 4.1-7
Mateus 5.13-16
O Sermão do Monte não se constitui
de um código de regras exteriores, mas
de princípios e valores do reino de Deus.
Em quatro estudos (10 a 13), serão considerados os princípios gerais do Sermão
do Monte, não se estudando particularmente cada ensinamento, já que, o que
se pretende nesta série de estudos, é
uma visão panorâmica da vida e ministério de Jesus com Seus grandes ensinos.
Neste estudo veremos, em duas partes, o
texto de Mateus 5.1-16.
1. Os bem-aventurados
Leia Mateus 5.1-12
Este trecho do sermão é conhecido
como “As bem-aventuranças”, que tem o
sentido de “felicidade”. Cada uma começa com a expressão “Bem-aventurados...”,
que tem o significado de “felizes...” Todas
as bem-aventuranças apresentam os
valores que podem tornar alguém feliz.
Jesus relaciona aí qualidades de caráter
que Ele deseja ver na vida de todos que O
seguem, para que possam servir de sal e
luz neste mundo. São virtudes interiores,
isto é, que caracterizam o ser e não simplesmente o fazer.
REFLEXÕES BÍBLIC
BÍBLIC AS
AS II
II
REFLEXÕES
39
|| 39
| A ÉTICA DO REINO DE DEUS (i)
Ser humilde de espírito, sensível,
manso, sedento de justiça, misericordioso, limpo de coração, pacificador, capaz
de sofrer perseguição e continuar cultivando estas virtudes, é o que Jesus deseja de Seus discípulos.
Veja de forma bem sucinta o significado de cada bem-aventurança encontrada
neste texto:
- Os humildes de espírito - Não são
presunçosos, pois, se julgam extremamente pobres e necessitados da graça
de Deus. Não se julgam sábios, estando
sempre dispostos a reconhecer os seus
erros, a aprender.
- Os que choram - São sensíveis ao
sofrimento de outros, à sua própria iniquidade e ao mal e sofrimento encontrados no mundo.
- Os mansos - Não respondem à violência com violência. Estão dispostos a
não revidar, sabendo que a vingança não
é caminho para o bem.
- Os que tem fome e sede de justiça
- Desejam ardentemente a justiça em sua
própria vida, na sociedade e no mundo.
- Os misericordiosos - Sentem uma
compaixão que os impulsiona a agir em
favor do próximo.
- Os limpos de coração - Reconhecem e confessam suas falhas, não cultivando sentimentos negativos ou dúbios
em seu coração...
- Os pacificadores - Estando em paz
com Deus, procuram promover a paz
onde estiverem.
- Os que são perseguidos por causa
da justiça - Não se curvam diante dos valores injustos da sociedade. Por viverem
uma vida que se contrapõe à injustiça,
são perseguidos e sofrem.
Não é verdade que no mundo em
que vivemos, tudo parece anunciar que
as pessoas felizes são justamente as que
vivem valores contrários aos que estão
sendo ensinados por Jesus? Através do
40 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
estilo de vida e das propagandas que
presenciamos, os que parecem felizes no
mundo são os orgulhosos, vaidosos, insensíveis, os que revidam o mal que recebem, os que não se importam com a justiça, os que não têm misericórdia, os que
não têm o coração limpo e nem buscam
a paz. Estes nunca serão perseguidos
por viverem os valores anunciados por
Jesus Cristo, pois se ajustam aos valores
do meio em que vivem.
E então? Teria Jesus razão? Podem ser
felizes as pessoas que desejam as virtudes pregadas por Ele? Depende do que
se entende por felicidade. Se por felicidade, entende-se prazer momentâneo,
superficial e barato, talvez não se possa
realmente chamar de felizes os que praticam tais virtudes. Mas, se por felicidade
entende-se a satisfação do desejo humano mais profundo, que é parecer-se com
o Pai, isto é, se por felicidade entende-se
uma alegria profunda, espiritual, duradoura, que nada nem ninguém poderá tirar, então, a resposta é SIM. Só tais
pessoas conseguirão ser realmente felizes, pois, estão começando a ser aqui
aquilo para o qual foram criadas. Estão
cumprindo o propósito de suas vidas. E
um dia, fora deste mundo mau e injusto,
terão com fartura tudo pelo qual as suas
almas mais anseiam.
As virtudes encontradas nas bemaventuranças não podem ser vistas de
forma legalista, pois, não são leis a serem
obedecidas, mas alvos a serem desejados
com sinceridade de coração. Jesus destaca aí não o fazer, mas o ser. Embora as
nossas ações sejam muito importantes,
até mesmo para construir o nosso ser, o
desejo de Jesus é que o nosso fazer se
torne, cada vez mais, resultante da nossa
forma de ser.
Podemos praticar atos de misericórdia sendo até cruéis, mas não é isto o que
Deus quer. O que Ele deseja é que a aquisição dessas virtudes seja o nosso mais
caro alvo. Tal alvo só poderá ir sendo alcançado mediante o domínio do Espírito
Santo nas nossas vidas.
A ÉTICA DO REINO DE DEUS (i) |
Aplicação a sua vida: Você deseja as virtudes anunciadas aí por Jesus? Se a sua
resposta é sim, quais atitudes você deverá
tomar para que isto aconteça?
O Evangelho verdadeiro sempre fará
com que nossos pontos de vista se aproximem dos pontos de vista de Deus. Estejamos atentos, no entanto, pois os valores não cristãos em nossa cultura entram
tão sorrateiramente em nós, contaminando-nos, que podem se tornar o estilo
de vida que vivemos e transmitimos, sem
que percebamos a sua contradição com
o evangelho.
2. Sendo sal e luz - Leia Mateus 5.13-16
Veja que belas figuras Jesus usa para
comparar Seus discípulos. Estes são os
que levam a sério ser as pessoas que o
seu Mestre quer neste mundo, de acordo
com os ensinos dos versículos anteriores.
Pense nas funções do sal e da luz...
As funções do sal têm sido principalmente conservar e dar sabor. Não deixar
que os alimentos entrassem em estado
de putrefação foi uma importante função
do sal quando não se possuía geladeira.
E dar sabor aos alimentos é algo pelo
qual muito valorizamos o sal.
A função da luz é clarear, mostrar a
realidade. Estando na luz, a pessoa percebe onde está, como está, para onde
deve ir, etc. Se há algo errado, a luz ajuda
a encontrar a solução.
Aplicação a sua vida: Como você poderá
ser sal, dando sabor ao ambiente em que
vive? Como ser luz para facilitar às pessoas
encontrar a direção correta?
O v.16 diz que não basta proceder
bem. É preciso ter motivação correta: a
glória do Pai. Não podemos fazer o bem
com atitude de orgulho e vaidade, pois,
tal modo de agir nos afasta de Deus e das
pessoas. Lembremo-nos: “Bem-aventurados os humildes de espírito.” Só a Deus, a
honra e a glória!
Só com a atuação do Espírito Santo
em nós, podemos caminhar cada dia na
direção de ser as pessoas sonhadas por
Jesus, sendo “sal e luz” nesta sociedade
que está tão perdida. Como sal, que evitemos a sua deterioração e que lhe demos um melhor sabor. Como luz, que lhe
facilitemos a visão do caminho a seguir.
Tudo isto com muita humildade e dependência do Espírito Santo. Que propósito
sublime e desafiador!
Conclusão
Quem não cultiva em seu coração
o desejo de ser o que Jesus ensina nas
bem-aventuranças, não pode se proclamar seguidor de Cristo. É difícil? Sim!
Mas quem disse que o cristão é chamado
para o que é fácil? A vida cristã é desafiadora. Este é o ideal de Deus para nós e
por isso deve ser também o nosso ideal.
Na medida em que nos reconhecermos falhos em alcançar tais virtudes, a
humildade deve nos cobrir e devemos
reconhecer no Senhor a perfeição absoluta. O que Ele quer de nós é o desejo
profundo de nos assemelharmos a Ele,
dependendo do Seu Santo Espírito.
A cada vez que falharmos, teremos a graça perdoadora de Deus e a força estimuladora do Espírito Santo para que continuemos.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 41
ESTUDO 11
A ÉTICA DO REINO
DE DEUS (ii)
(Sermão do Monte - 2ª Parte)
Mateus 5.17 a 6.18
Introdução
Desejaria Jesus frustrar as pessoas
com as demandas do texto acima? Não!
Jesus vivia rodeado por pessoas que obedeciam rigidamente a leis e normas religiosas, se sentiam orgulhosas e, por isso,
desprezavam os que não as cumpriam.
Jesus queria que as pessoas, ao perceberem as demandas de Deus, se tornassem humildes, sabendo que satisfazê-Lo não era fácil. Que não podiam julgar outros simplesmente pelo fazer, pois,
as demandas divinas vão muito além disso. Só numa relação estreita com Deus,
pode alguém buscar ser a pessoa segundo o Seu ideal. “A ética do “Sermão do
Monte”, como disse C. H. Dodd, é a ética
absoluta do reino de Deus”.1
Este estudo está dividido em três
partes: na primeira, Jesus apresenta Sua
posição de defensor e não de destruidor
da lei; na segunda, Jesus apresenta a su42 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Leituras Diárias
Mateus 5.17-26
Mateus 5.27-37
Mateus 5.38-48
Mateus 6.1-18
Romanos 13.8-14
Romanos 11.33 – 12.2
perioridade entre Seu ensino e a lei mosaica, conforme as interpretações literais
e legalistas dos escribas e fariseus; na terceira, Jesus faz ver que o que importa na
vida espiritual não é a aparência, mas a
atitude do coração.
1. O Deus da justiça
Leia Mateus 5.17-20
Jesus diz aqui que a verdadeira justiça vai muito além do cumprimento frio
das leis. Estas estavam sendo cumpridas,
em seu verdadeiro espírito, através de
Sua vida. Ele chama à responsabilidade
aqueles que, além de violar a lei, ensinam
isto a outros, bem como elogia os que fazem o contrário.
Jesus não combate a lei. O que Ele
combate aí é a interpretação da lei que
destaca o fazer e não o ser, o que motiva os seus praticantes a ficarem cheios
de orgulho e presunção e a julgarem os
demais como inferiores e dignos de desprezo.
A É T I C A D O R E I N O D E D E U S ( ii ) |
No versículo 20 Jesus diz que a justiça de quem O segue deve superar à dos
escribas e fariseus. Isto tanto podia se
referir à conduta que Deus deseja, como
à noção de justiça que o Seu seguidor deveria ter.
Como seguidores de Jesus, tanto o
nosso proceder como a nossa noção de
justiça, devem ir além de preceitos legais,
buscando o nosso modelo no caráter de
Deus espelhado em Jesus.
2. Além do cumprimento de leis - Leia
Mateus 5.21-48
Neste texto fica claro que Jesus não
está desvalorizando a lei, mas indo muito
além dela. Ele apresenta a superioridade
entre o ideal de Deus e o cumprimento
frio e formal da lei.
a) Não apenas não matar, mas estar
bem com o próximo, amando-o e considerando-o (vs.21-26).
b) Não apenas não praticar o ato de
adultério, mas ter um coração puro (vs.
27-28).
c) Não apenas legalizar a situação ao
separar-se da mulher, mas não separarse dela por razões pequenas e egoístas
(vs.31-32).
d) Não apenas cumprir os juramentos,
mas ter uma palavra tão séria e respeitada que não seja preciso jurar (vs. 33-37).
e) Não apenas não se vingar, mas agir
com paz e misericórdia, dando sempre
mais do que é exigido (vs. 38-42).
f ) Não apenas amar o próximo, mas
amar o inimigo (vs. 43-47).
Depois de proclamar a diferença entre a antiga e a nova aliança, Jesus diz
que nosso modelo é Deus, a quem devemos imitar (vs. 45-48). É fácil? Não!!! Mas
um Deus perfeito poderia se contentar
com algo menor que a perfeição? Ele
espera que n’Ele busquemos a perfeição,
desejando-a para as nossas vidas. E Ele
nos ajudará em nossas fragilidades na
busca de tão grandioso alvo!
Não vamos discutir no âmbito deste estudo o conteúdo de cada uma das
orientações dadas, pois, o que visamos
aqui é um estudo mais panorâmico e
cada orientação destas exigiria um estudo especial.
Nosso desejo é mostrar que a religião
de Jesus não é uma religião de aparência,
mas, de conteúdo interior. A característica interna é que deve se refletir nos atos
externos. SER é mais que simplesmente
FAZER.
Alguém poderia perguntar: “Por que
Jesus colocou alvos tão difíceis de se alcançar? ”
Como os religiosos do tempo de Jesus
que cumpriam os preceitos da lei ficavam
presunçosos e cheios de justiça própria,
isto pode acontecer conosco também.
Estabelecendo alvos tão grandiosos, Jesus nos “puxa o tapete”, fazendo-nos cair
em Seus braços, inteiramente dependentes de Sua graça. Só ela nos perdoa e nos
ajuda a viver dentro dos Seus padrões.
O padrão de Jesus é muito alto e sempre estaremos em débito com Ele. Isto
deve nos tornar humildes, não julgadores
de outros, além de mais dependentes do
Espírito- Santo. Desejar parecer-se mais
com o seu Mestre é a suprema ambição
do verdadeiro discípulo. Parecer-se com
Jesus não é fácil. Mas se esta for realmente a nossa ambição, Deus nos ajudará a
caminhar nessa direção, pois, este é também o Seu querer.
Aplicação a sua vida: Como você demonstra que, mais do que cumprir deveres, você
quer SER a pessoa que Deus deseja?
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 43
| A É T I C A D O R E I N O D E D E U S ( ii )
3. As motivações que agradam a Deus
- Leia Mateus 6.1-18
Jesus diz que Seus discípulos não
deveriam nunca fazer algo para serem
vistos pelos homens. Ele ensina que práticas religiosas com finalidade exibicionista não tem qualquer valor diante de
Deus. A verdadeira santidade é interior,
podendo se revelar exteriormente, é claro, mas sem qualquer intenção de receber admiração e louvor.
Dentro deste texto estão as esmolas,
o jejum e a oração, que eram importantes expressões da piedade judaica e que,
conforme eram praticadas, poderiam
provocar da parte de muitos a observação: “Como ele é religioso!”; “Como ele é
santo!” E muitos praticavam tais ações
para serem admirados. Tal motivação
para agir, conforme o ensinamento de
Jesus, não deveria nunca ser a atitude de
alguém que O segue. Por isso, Ele manda
fazer tudo de uma forma secreta (v.1).
As esmolas (vs.2-4) - A ajuda material
ou qualquer outra ajuda a alguém por
parte de um cristão não deveria ser resultante simplesmente de sentimentalismo, mas consequência de atitudes como
compaixão, responsabilidade, justiça e
consideração. Nunca poderemos nos julgar superiores por estarmos em condição
de ajudar alguém, pois, tudo que temos
é fruto da graça de Deus. Além disso,
muitas vezes, as diferenças entre as pessoas que podem ajudar e as pessoas que
precisam de ajuda, são consequência da
injustiça do nosso mundo de pecado. E
não deveríamos então, se temos condições favoráveis, ajudar os desfavorecidos?
As nossas boas ações podem também
contribuir para a construção do nosso caráter e isto agrada ao Senhor. Com espírito exibicionista, no entanto, elas não nos
ajudarão nisto.
A oração (vs.5-15) - Jesus ensina aí a
oração que se conhece como “Pai Nosso”.
44 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
Tal oração tem ensinamentos muito preciosos. Que os primeiros pedidos devem
expressar o desejo profundo de que o
nome de Deus seja por todos considerado santo, que o Seu governo (reino) justo
e santo possa atingir esta terra e que nela
a vontade d’Ele seja feita. O discípulo
cuja oração sincera é esta terá sua vida
gasta na conquista desses desafios. Depois destes, o pedido é pela provisão das
necessidades físicas e espirituais, sabendo-se que Deus é o grande provedor de
todas as carências.
O jejum (vs.16-18) - Era uma prática
da religião judaica também feita muitas
vezes com espírito de orgulho e exibição,
e Jesus orienta aí a alguém que deseje jejuar, como fazê-lo.
Aplicação a sua vida: Quais atitudes suas
podem contribuir para que o nome de
Deus seja santificado, para que o Seu reino
possa imperar nos corações e a Sua vontade seja feita na terra?
Conclusão
O Evangelho tem a ver com aquilo
que somos. Nosso viver deve ir além do
que a lei preconiza e a nossa motivação
ao cumprir os preceitos da lei, nunca deverá ser apresentar-nos diante de outros.
Jesus, no entanto, quer a nossa prática
de boas ações e admite que elas possam
ser vistas por outros. Você viu isto em textos do próprio Sermão do Monte, como
Mateus 5.16. Ele deseja, no entanto, que
em tudo que façamos, a motivação seja
honrar o nosso Pai.
Na dependência da graça de Deus,
cresçamos na direção de ser as pessoas
que Ele deseja.
________
(1)
Tasker. Mateus, Introdução e Comentário, p. 48
ESTUDO 12
A ÉTICA DO REINO
DE DEUS (iii)
(Sermão do Monte - 3ª Parte)
Mateus 6. 19 – 34
Introdução
Nos dois estudos anteriores, vimos
como Jesus estimula o desejo de se ter
um caráter semelhante ao de Deus e que
se valorize não a aparência, mas o crescimento em direção ao alvo de se parecer com Aquele que foi a encarnação de
Deus no mundo.
Jesus muda a ordem de valores deste mundo pecador. Neste estudo, serão
apresentados textos em que Ele fala do
valor das riquezas e de como devem ser
elas consideradas por aqueles que pertencem ao Reino de Deus. Ele nos adverte sobre as verdadeiras e as falsas riquezas e sobre o que deve ocupar o centro
das nossas vidas.
Nos dois estudos anteriores, vimos
sobretudo como um seguidor de Jesus
deve ser. Neste, Jesus fala-nos como
devemos agir em determinadas circuns-
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Leituras Diárias
Mateus 6.19-24
Mateus 6.25-34
Romanos 15.1-7
I Timóteo 6.11-12, 17-21
I Tessalonicenses 5.15-23
Hebreus 12.1-4
tâncias, dando-nos orientações que nos
ajudarão na vida prática.
1. Os verdadeiros valores
Leia Mateus 6. 19-24
Nos versículos 19 a 21 Jesus compara
as riquezas materiais e as espirituais, sendo que as primeiras são transitórias (as
da terra), não podendo ser levadas para
além desta vida. As últimas, no entanto,
são aquelas que poderão ser usufruídas
em toda a vida futura, pois, fazem parte
de nós, sendo valores internos e duradouros.
As nossas virtudes de caráter, o nosso
agir como fruto do domínio do Espírito
Santo em nós, as pessoas que ganhamos
como novos súditos do reino de Deus,
todos estes são valores eternos. Mas o
dinheiro e a aparência são coisas que ficarão aqui. Por isso, Ele nos recomenda
ajuntar tesouros no céu e ter aí o nosso
coração.
REFLEXÕES BÍBLIC
BÍBLIC AS
AS II
II
REFLEXÕES
45
|| 45
| A É T I C A D O R E I N O D E D E U S ( iii )
Uma vez ouvi sobre isto, uma ilustração que achei muito interessante. O conferencista, um líder indiano que trabalhava na Visão Mundial, disse que, se no livro
de Apocalipse lemos que as ruas no céu
são de ouro, a mensagem que deveríamos receber é que lá o ouro não valerá
nada, sendo pisado por nós. O que devemos, disse o conferencista, não é levar os
valores daqui para lá, dizendo: “Que bom!
Lá teremos ruas de ouro!” Em vez disso,
deveríamos trazer os valores de lá para
cá pensando: “Se o ouro de nada valerá
na vida futura, por que valorizá-lo tanto
aqui?”
O que Jesus destaca é que devemos
priorizar o que tem valor permanente.
Isto não significa sermos indolentes, não
nos preocupando com o progresso nosso e dos que estão sob nossa responsabilidade. A questão é onde colocamos o
nosso coração, a nossa paixão, o primeiro
lugar em nossas vidas. Jesus teve seguidores ricos. Ele não pediu a Zaqueu que
deixasse os seus bens. Quando Jesus
disse a Zaqueu “Hoje a salvação chegou
a esta casa”, Ele mostrava que a salvação
já estava operando na vida de Zaqueu,
mudando o valor que ele dava às riquezas. Ele, que parecia querer tanto ficar
rico, agora queria distribuir seus bens.
Se você ainda não leu ou não se lembra
do encontro de Zaqueu com Jesus, leia
Lucas 19.1-10.
A salvação de Jesus em nós muda os
nossos pontos de vista, a respeito de nós
mesmos e a respeito do mundo que nos
cerca. E isto nos leva ao próximo texto.
- Vs. 22-23 - Se os nossos olhos espirituais forem bons, dar-nos-ão um ponto
de vista correto a respeito das coisas e
assim todo o nosso ser terá luz. Quem valoriza mais a aparência do que a essência,
está tendo um ponto de vista que contraria o Evangelho. Está em trevas!
46 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
Este texto termina com a advertência
de que não podemos servir a dois senhores (v.24). Se servimos a Jesus, não podemos servir a Mamon (as riquezas). Naturalmente, neste mundo, temos coisas que
prezamos: dons, capacidade, influência,
amigos, familiares e mesmo bens materiais. Mas, todas estas coisas devem estar
sob o senhorio de Jesus, sendo usadas
para o nosso bem e colocadas a serviço
das pessoas que Ele ama. Do contrário, se
tornarão ídolos para nós, empobrecendo-nos dos valores permanentes.
Aplicação a sua vida: O que você mais ambiciona para a sua vida? Este é o valor que
domina o seu coração!
2. Vivendo com sabedoria
Leia Mateus 6.25-34
Neste texto, Jesus fala sobre os cuidados e inquietações provenientes da
ansiedade pelos bens materiais: “Não
andeis inquietos... A vida e o corpo valem
mais do que o alimento e o vestido. Olhai
os lírios que não trabalham, nem fiam e
são vestidos de forma tão esplendorosa...
Os pássaros não trabalham e Deus os alimenta”.
Será que Jesus está condenando aí o
trabalho, a produção, o cuidado com o
futuro? Claro que não! A Bíblia deve ser
vista no seu todo e não através de textos
isolados. Há nela condenação à preguiça
e à imprudência. O que Jesus recomenda
aqui é que não deixemos que a ansiedade e a inquietação tomem o nosso tempo
e roubem as nossas energias, a ponto de
prejudicar a nossa vida espiritual, os nossos relacionamentos, a nossa saúde e até
o nosso trabalho.
Trabalhar sim! Prover nossas necessidades, é claro que precisamos! Devemos
ser responsáveis. Deus nos deu talentos
A É T I C A D O R E I N O D E D E U S ( iii ) |
e inteligência, para que os empreguemos
providenciando o bem-estar nosso e daqueles que estão sob os nossos cuidados.
Que não nos descuidemos disso.
O que Ele nos adverte, no entanto, é
que não devemos gastar o nosso tempo
e as nossas emoções, inquietando-nos
por coisas que muitas vezes não estão
sob o nosso controle, ou que acontecerão a seu tempo, independentemente de
nós. Muitas vezes, as preocupações além
da medida certa, não apenas não nos
ajudam a conquistar nossos alvos, mas
também nos impedem de enxergar os
caminhos e as oportunidades que Deus
coloca à nossa frente.
A ansiedade só é útil em certa medida, ao nos impulsionar a agir positivamente. A ansiedade, da qual fala o texto,
é aquela que prejudica as nossas ações.
Que nos desorganiza e tolhe nossos movimentos.
Jesus diz, então, que seus discípulos
devem buscar em primeiro lugar o reino
de Deus e a Sua justiça (v.33). Buscar o reino de Deus significa buscar o domínio de
Deus na nossa vida, tendo como objetivo
viver os valores do reino de Deus proclamados neste sermão, especialmente nas
bem-aventuranças, bem como lutar pelo
estabelecimento deles neste mundo.
Este texto termina com a recomendação do seu início: “Não andeis inquietos”
(v.34). O que Jesus deseja é que o amanhã não seja a causa de nossas preocupações hoje. Devemos sim, ser prudentes com o amanhã, fazendo hoje o que é
possível e necessário para viver bem os
dias futuros. Não podemos, no entanto,
viver ansiosos com o que só poderemos
resolver amanhã. Isto nos tornará incapazes para as lutas de hoje.
A ansiedade, além de ser inútil, demonstra incredulidade. O que compete
ao cristão é ser trabalhador e prudente
no dia de hoje, sabendo, contudo, que
as inquietações só poderão lhe roubar a
paz, sem acrescentar qualquer coisa à sua
vida.
Aplicação a sua vida: Há tendência à ansiedade em você? Isto pode até fazer parte
do seu estilo de personalidade, mas não
é o que Deus quer. Ele deseja o seu bem
e isto prejudica você. É possível trabalhar
por uma mudança em seus pontos de vista
e em seu modo de agir? Como?
Conclusão
Devemos trabalhar, fazendo tudo que
estiver ao nosso alcance, dentro dos princípios do reino de Deus, para termos um
viver digno neste mundo. As inquietações pelo futuro, no entanto, não devem
roubar-nos a paz, dificultando as nossas
ações.
Se dermos prioridade ao reino de
Deus e à Sua justiça em nossas vidas, as
riquezas espirituais valerão mais para
nós que os bens materiais. Tal prioridade já será capaz de diminuir a nossa ansiedade, tornando-nos mais felizes e entregues à vontade de Deus. Além disso,
reconheceremos que tudo o que temos e
somos deve ser usado, não de forma egoísta, mas de uma maneira que beneficie o
reino de Deus e glorifique aquele que é o
Rei da nossa vida.
Que os tesouros mais importantes
para nós sejam aqueles que estão onde
nem a traça, nem a ferrugem consomem,
e onde os ladrões não conseguem roubar.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 47
Estudo 13
ALICERCES FIRMES,
É O SEGREDO
(Sermão do Monte - 4ª Parte)
Mateus 7.1-29
Introdução
Neste estudo você refletirá sobre a
última parte do Sermão do Monte. Em
Mateus, lemos sobre os vários assuntos
sobre os quais Jesus falou: julgamento,
práticas religiosas, falsos profetas e, no
final, como um encerramento do sermão,
a advertência sobre a importância de não
construirmos a nossa vida sobre valores
falsos e transitórios.
Esta construção da nossa vida sobre
valores verdadeiros e permanentes, vai
nos dar base, inclusive, para reconhecer a
falsidade daquilo com que muitas vezes
somos confrontados em nosso mundo,
que tenta solapar a nossa edificação.
Vejamos os assuntos finais do Sermão
do Monte:
48
48 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Leituras Diárias
Mateus 7.1-6
Mateus 7.7-23
Mateus 7.24-29
I Pedro 2.1-9
I Coríntios 3.10-15
I Coríntios 13.16-20
1. O julgamento - Leia Mateus 7.1-6
Neste texto, Jesus discorre sobre o julgamento. Diante do que foi visto do Sermão do Monte nos estudos anteriores,
isto é, de como as virtudes espirituais e
internas foram destacadas, quem poderá
se sentir capaz de julgar? Não estamos,
todos nós, em débito com o nosso Pai?
Diante da demanda de Jesus de que Seus
discípulos sejam humildes, mansos, sensíveis, misericordiosos, pacificadores, etc,
como julgar aqueles que se encontram à
nossa volta?
Devemos, no entanto, fazer distinção
entre julgar atos e julgar pessoas. É bastante diferente uma coisa da outra.
Julgar um ato é considerar o ato praticado por alguém como mau ou bom,
tendo por base padrões morais absolutos. Não apenas podemos, mas muitas
vezes precisamos fazer tais julgamentos.
Não fazê-lo, nos qualificaria como seres
ALICERCES FIRMES, É O SEGREDO
amorais. A própria Bíblia nos estimula a
discernir, a avaliar, a julgar...
Julgar uma pessoa, no entanto, é dizer o quanto ela é má em si mesma, impetrando sobre ela uma condenação que
só Deus, como justo juiz, poderá impetrar. Ao julgarmos alguém, nós a comparamos conosco, não vendo muitas vezes
maldades maiores que carregamos no
coração. Mesmo quando julgamos atos
hediondos, devemos pensar que só Deus
conhece a história de alguém, sua carga
genética, suas doenças, seus medos, seus
traumas, podendo julgar com absoluta
justiça e equidade.
Não há aqui, todavia, qualquer defesa
de impunidade. Cada pessoa, em princípio, deve ser responsabilizada pelos seus
atos. Do que se fala aqui é do julgamento em última instância, quando condenamos as pessoas, seguindo nossas avaliações pessoais e nossas emoções diante
dos fatos. E quando pensamos que, se
nós agimos melhor que tais pessoas, é
simplesmente por nossos próprios méritos pessoais.
No versículo 6 Jesus faz outra recomendação: a de que se tenha o bom
senso de não apresentar as verdades preciosas de Jesus Cristo a pessoas que as
ridicularizam e desprezam.
Aplicação a sua vida: É possível a você julgar as pessoas com justiça? Por quê?
2. Recomendações especiais
Leia Mateus 7. 7-23
- Vs. 7-12 - Jesus ressalta a necessidade de persistência na oração, fazendonos ver que Deus sempre quer dar o melhor a Seus filhos (vs.7-11). No versículo
12 encontramos o que parece um sumá-
|
rio de tudo que foi dito anteriormente
neste capítulo e em todo o sermão. Ele é
chamado de regra-áurea para os relacionamentos.
- Vs. 13-14 - mostram que, se você
cumprir o que está no versículo 12 e em
todo o ensino destes capítulos, você estará trilhando o caminho estreito, pois, o
caminho largo é o daqueles que não se
importam com o cumprimento da vontade de Deus em sua vida.
- Vs. 15-23 - Jesus recomenda aí que
seus discípulos tomem cuidado com os
falsos profetas. O caminho estreito não
é apenas difícil de ser trilhado, mas, muitas vezes, achá-lo se torna mais difícil,
por causa da existência de falsos profetas
que anunciam o falso como verdadeiro.
Observemos alguns ensinos deste
texto sobre os falsos profetas:
- Os falsos profetas não podem ser
conhecidos pela aparência (v.15).
- Nos versículos 16-20 temos a recomendação de julgar para saber se os profetas são falsos ou não. Será que esta recomendação não contradiz o que lemos
em 7.1? Não! O que devemos julgar não
é a pessoa, mas se o que ela faz e diz contraria a vontade de Deus. Para isso, todavia, é preciso conhecer a Deus e a Sua
Palavra. Só sabemos o que é falso, comparando com o legítimo. O que nos faz
conhecer o legítimo é o estudo, a oração
e a reflexão, tendo por base a Palavra e o
caráter de Deus, sempre na dependência
do Espírito Santo.
Os versículos 21-23 mostram que os
profetas do Senhor não serão identificados por discursos inflamados ou milagres, mas por sua vida e ensino em consonância com a vontade de Deus. Vida
íntegra, coração humilde e amoroso, simREFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 49
| ALICERCES FIRMES, É O SEGREDO
plicidade no viver são alguns dos sinais.
Não foi assim a vida de Jesus?
3. Edificando com segurança
Leia Mateus 7.24-29
Neste texto, Mateus fecha o sermão proferido por Jesus com uma bela e
significativa ilustração. Temos dois tipos
de pessoas aqui: o homem sensato, isto é,
o prudente, o que tem juízo; e aquele que
é louco, imprudente ou sem juízo.
O homem prudente edifica sua casa
sobre alicerce firme, embora possa isto
lhe custar mais tempo e mais dinheiro.
O insensato se preocupa com o imediato. O importante é a pressa em fazer ou a
aparência da edificação, e não sua firmeza e resistência às intempéries.
O resultado nós sabemos. Enquanto
a casa do homem sensato resiste às intempéries, a do homem imprudente não
suporta qualquer tormenta.
Aplicação a sua vida: Sobre quais alicerces
você está construindo sua vida, sua família,
seus valores? É preciso mudanças? Quais?
Jesus nos mostrou aí que nossa vida
tem de estar sobre alicerces firmes, isto
é, sobre valores que permanecem como
fé, amor, desprendimento. Assim, ela não
ruirá diante das procelas que lhe sobrevierem.
Nos últimos versículos deste texto,
vemos que as pessoas se admiravam ao
verem a autoridade de Jesus, pois, Ele
não ensinava como os escribas. Os escribas eram doutores da lei, que sabiam
de cor muito da Palavra de Deus, mas,
50 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
muitas vezes, ensinavam de uma forma
mecânica e legalista, pois, não tinham o
desejo intenso de ver a vontade de Deus
se cumprindo em sua própria vida e no
mundo em que viviam. Por isso, eles falavam com frieza e não como Jesus, que
estava disposto a oferecer a sua própria
vida para ver cumprida toda a vontade
do Pai.
Conclusão
O Sermão do Monte não poderá nunca ser considerado de forma legalista,
pois, segundo cremos, ele foi proferido,
dentre outras coisas:
- para tornar-nos humildes, pelo reconhecimento da nossa incapacidade de
cumprir tudo que aí está posto de forma
plena;
- para tornar-nos conscientes da nossa necessidade de dependência do Espírito Santo de Deus, para alcançarmos
estes ideais;
- para que não sejamos julgadores
dos nossos irmãos, sabendo que, com o
rigor com que julgarmos as falhas deles,
seremos julgados pelas nossas;
- para que lancemos o nosso olhar e
o nosso desejo para muito além da letra
morta da lei, desejando ser o que Deus é.
Jesus nos apresenta no Sermão do
Monte princípios que, indo muito além
de códigos legais de comportamento,
atingem a interioridade do ser humano.
Reconheçamos, humildemente, que não
podemos ir por este caminho sozinhos.
Andar sob o poder e a graça do Espírito
Santo é o segredo.
ESTUDO 14
Leituras Diárias
Mateus 12.38-42
Mateus 13.44-46
Mateus 13.31-33 e Mc.4.26-29
Mateus 3.1-2; 4.23-25 e 6.33
Lc.4.43; 17.20-21; Jo. 18.36-37
Romanos 12.9-16
O VALOR E O CRESCIMENTO
DO REINO DEPENDEM DE
SINAIS?
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Jesus continua o ministério
galileu - (1ª Parte)
rar as pessoas em dois grupos - o grupo
constituído das pessoas que já aceitaram
o governo divino em suas vidas e buscam
como prioridade lutar pelo estabelecimento desse reino, e o grupo das pessoas que vivem alienadas do plano de Deus
para elas.
Introdução
As parábolas foram recursos muito
usados por Jesus em seus ensinos. Elas
atingiam as pessoas conforme as suas
condições, necessidades e desejo de
apreender a mensagem. Através delas,
Jesus levava os ouvintes a elaborarem
suas próprias conclusões a respeito do
que Ele ensinava. Por outro lado, Ele
estava sempre disponível para dialogar
com aqueles que quisessem aprender
mais, refletindo sobre os Seus ensinos.
1. Um sinal é pedido - Leia Mateus
12.38-42
Neste e no próximo estudo, veremos
algumas parábolas conhecidas como
“parábolas do reino”. Já vimos anteriormente que “reino de Deus” significa o
governo divino sobre as pessoas, as instituições, a sociedade em geral. Estas parábolas eram assim chamadas pelo fato de
apresentarem o reino de Deus: seu valor,
seu poder de crescimento, como participar dele e como o reino acaba por sepa-
Jesus desejava que as Suas obras e os
Seus ensinos, por si só, falassem a eles da
necessidade de uma vida de arrependimento e fé, pois, nisto é que consiste o
reino de Deus.
Onde a vontade de Deus prevalece, aí
está em exercício o reino de Deus.
Ao pedirem um sinal, estes homens
pareciam querer um sinal diferente dos
milagres que Jesus estava fazendo. Talvez quisessem ver um sinal do céu, como
é pedido no incidente similar em Mateus
16.1.
Arrependimento significa mudança
de modo de pensar, com o reconheciREFLEXÕES BÍBLIC
BÍBLIC AS
AS II
II
REFLEXÕES
51
|| 51
| O V A LO R E O C R E S C I M E N T O D O R E I N O D E P E N D E M D E S I N A I S ?
mento do pecado e o desejo profundo
de viver uma vida dentro do sublime propósito de Deus.
A fé desejada por Jesus significa crer
que a vontade de Deus é perfeita, o que
leva à obediência a Ele sob o poder do
Espírito Santo.
Ao falar de Jonas neste texto, Jesus
parece referir-se à Sua permanência no
túmulo e, após os três dias, à Sua ressurreição.
A seguir, Jesus falou dos ninivitas e,
depois da rainha de Sabá, como pessoas
que tinham saído da situação ou do lugar
em que estavam por causa de alguém
muito menos importante do que Ele. A
rainha de Sabá (I Reis 10) saiu do seu
reino e mudou o seu modo de pensar a
respeito de Salomão; os ninivitas saíram
de uma acomodação ao pecado e se arrependeram com a pregação de Jonas (Jn.
3.4-5). E as pessoas com quem Jesus convivia continuavam insensíveis ao Messias
de Deus, muito maior do que Salomão ou
Jonas.
O que Jesus desejava era fazê-los enxergar que eles não precisavam de sinais,
além dos que lhes eram dados através de
Sua vida e do Seu ensino.
Quem precisa de fatos sensacionalistas para crer em Deus vai acabar não
crendo, ou adotando uma fé infantil e
equivocada, que não é a fé que Deus deseja. Pode, por exemplo, ver Deus como
um grande fazedor de milagres, e não
como quem deseja de nós a fé que resulta em compromissos éticos e espirituais
neste mundo.
Aplicação a sua vida: Sua fé se baseia em
sinais exteriores ou na perfeição dos ensinos de Jesus, o que levará você a obedecer?
Como você demonstra isso em sua vida?
52 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
2. O valor do Reino
Leia Mateus 13.44-46
Aí temos duas pequenas parábolas
que falam do grande valor do reino de
Deus. Elas mostram homens que acharam importantes tesouros.
Na parábola do tesouro escondido
(v.44), o homem parecia não estar procurando, mas ao encontrar o grande tesouro, reconheceu-o e trocou tudo que
tinha por ele. Parece ilustrar aqueles que,
mesmo tendo sede de Deus, não O estão
procurando de forma muito consciente.
Quando o encontram, no entanto, reconhecem a preciosidade do que encontraram.
Na parábola da pérola (vs.45-46), temos um homem que estava procurando
até achar uma pérola de grande preço.
Ao reconhecer o seu grande valor, vendeu tudo que tinha para adquiri-la. Esta
parábola parece exemplificar aqueles
que estão procurando o grande tesouro,
que é o reino de Deus e, ao achá-lo, o reconhecem e o valorizam prontamente.
Os dois homens (o do tesouro escondido e o da pérola), ao acharem riqueza
tão preciosa, souberam valorizá-la. Reconheceram-na como algo pelo qual abririam mão de tudo que haviam possuído
antes.
Já vimos que o reino de Deus ou reino dos Céus é a presença e o domínio do
Senhor em nossas vidas. Trocaríamos a
presença d’Ele em nós e o pertencimento
a Ele por qualquer outra coisa?
Temos nós considerado o pertencimento ao reino de Deus como algo de
extraordinário valor? Estamos nós dispostos a sacrificar outros valores, pagando o preço do discipulado, por considerálo um privilégio incomparável?
Aplicação a sua vida: Quais valores em
sua vida você se dispõe a abandonar pelo
reino de Deus?
O V A LO R E O C R E S C I M E N T O D O R E I N O D E P E N D E M D E S I N A I S ?
3. O crescimento do Reino
Leia Mateus 13.31-33 e Marcos 4.26-29
Se as parábolas do tópico anterior
ilustram o grande valor do reino dos Céus,
as três parábolas destes dois textos ilustram o seu poder de crescimento e expansão.
Estas parábolas mostram que o reino
de Deus, uma vez chegado, tem em si
mesmo o poder de crescer, de penetrar,
de se expandir. Este é o poder da Vida de
Deus!
A parábola do fermento (Mt.13.33)
mostra que os valores do reino de Deus
penetram de forma invisível; as outras
(Mt.13.31-32 e Mc.4.26-29) falam de sementes muito pequenas que, misteriosamente, se transformam, tornando-se
plantas ou árvores que fornecem alimento ou abrigo aos que precisam.
Assim é o reino de Deus. O amor de
Deus pode permear a vida dos cristãos
e, através deles, penetrar de tal maneira
a sociedade, que as suas leis e costumes
podem ser influenciados, atingindo até
os que não são declaradamente cristãos.
É a árvore que cresce e dá alimento e
abrigo.
A parábola que está em Marcos destaca os mistérios do nascimento, crescimento e da frutificação que ultrapassam
em muito a ação, a capacidade e a compreensão de quem semeia. “A semente
brota e cresce sem que o semeador saiba
como” (v.27b). Jesus nos mostra aí que
não conseguimos penetrar o mistério
da conversão ou do crescimento do discípulo de Cristo. Nosso papel é semear
e aguardar sem ansiedade, pois, é Deus
quem opera a frutificação.
A semente tem em si mesma o poder
de brotar e crescer. O seu germinar e
desenvolver-se não é obra do semeador.
Vem da parte de Deus. Sem ansiedade,
cumpramos nossa missão: semear atra-
|
vés do que somos, do que fazemos, do
que falamos.
Aplicação a sua vida: Você crê no poder
da semente que se transforma numa grande árvore? No poder do fermento que penetra a massa? Quais atitudes suas, mesmo
pequenas, podem fazer crescer o Reino de
Deus em seu ambiente? “O reino de Deus é
justiça, paz e alegria no Espírito Santo. ” (Rm.
14.17b)
Conclusão
Se pertencemos ao reino de Deus, reconheçamos o seu valor, conscientes de
que podemos, com as nossas palavras e
atitudes, penetrar o ambiente em que vivemos, purificando-o, melhorando-o.
Jesus gostava de usar figuras de linguagem: sal, luz, semente, fermento.
Tudo isto podemos significar na sociedade em que vivemos.
No início deste estudo, vimos que Jesus mostrou que o reino de Deus não deve
ser reconhecido por sinais miraculosos
ou fatos sensacionais. Nestas parábolas,
Ele ensina que Seu reino tem de ser reconhecido pelo seu poder silencioso, que o
faz crescer como a semente que se transforma numa árvore; que penetra como
o fermento. Os sinais mais espetaculares do reino são vidas misteriosamente
transformadas, que atuam para a transformação do mundo em que vivem.
Importa viver o Evangelho e não praticar feitos que provoquem sensações,
pois, Jesus disse que, no julgamento,
muitos lhe dirão: “Em teu nome não fizemos muitos milagres?” e Ele lhes dirá:
“Nunca vos conheci; afastai-vos de mim,
vós que praticais o mal.” (Mt. 7. 22c - 23 ).
Viver sob o governo de Deus, eis o maior
sinal do reino em nós!
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 53
ESTUDO 15
PARÁBOLAS DO REINO
Jesus continua o ministério
galileu - (2ª Parte)
Introdução
No estudo anterior, algumas parábolas nos mostraram o grande valor e o
poder de crescimento do reino de Deus.
Nosso papel é semear a bendita semente, sem ansiedade sobre o seu germinar
e crescer. O importante é semear com
o nosso modo de ser, falar e agir, aquilo
que faz parte do caráter divino: a paz, o
amor, a justiça, a santidade, a salvação.
Como é maravilhoso, depois de semeada uma pequena semente, ver uma árvore imensa, dando abrigo aos seres que
dela precisam.
Neste estudo, veremos outras parábolas de Jesus que nos ensinam sobre o
reino de Deus.
1. A semeadura - Leia Marcos 4.1-20
Encontramos esta parábola também
em Mateus e Lucas. O semeador espa54
54 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Leituras Diárias
Marcos 4.1-20
Mateus 13.24-30 e 36-43
Mateus 13.47-51
Mateus 18.1-5
Salmo 93.1-5
Salmo 99.1-9
lha a semente, que é a palavra de Deus
(Lc. 8.11). Os ensinos de Jesus devem ser
semeados neste mundo.
Quem é o semeador? Podemos considerar que este seja o Espírito Santo,
que coloca nos corações a semente. Mas,
também podemos considerar como semeadores aqueles homens e aquelas
mulheres que atuam como veículos Seus,
semeando aquilo que receberam de
Deus.
Temos sido semeadores do Evangelho e de tudo quanto ele significa, como
diferentes formas de ser, de pensar e de
agir?
A semente tem valor e poder em si
mesma, pois, é ela que cresce, que produz os frutos. Os tipos de solo são, no
entanto, variados, podendo favorecer
ou não a frutificação da semente. Não
vamos explicar o significado de cada um
PA R Á B O L A S D O R E I N O |
dos quatro tipos de terreno, pois, isto foi
explicado pelo próprio Jesus na parábola
(vs. 14 a 20).
A semente que o Espírito Santo lança
no coração produz de acordo com o tipo
de terreno em que é semeada. Não é só o
não crente que recebe a palavra de Deus
como um tipo especial de solo. Os que se
proclamam cristãos também. Todos nós
estamos constantemente, através de vários meios, recebendo a palavra de Deus
e apresentando, ou não, as condições
para que ela produza em nós os seus frutos.
Que tipo de terreno temos sido para
a bendita semente que Deus quer plantar em nós? Um terreno pedregoso em
que ela não pode nascer e ter raízes? Um
terreno à beira do caminho em que a semente é arrebatada logo? O terreno entre
espinhos em que a semente é sufocada
pelos cuidados deste mundo? Ou somos
a terra boa, onde a vontade de Deus tem
frutificado em abundância?
Aplicação a sua vida: Você tem estado
consciente de que o Espírito Santo tem lançado sementes preciosas em sua vida? Que
tipo de terreno você tem sido para elas?
2. A separação - Leia Mateus 13.24-30,
36-43, 47-50
Já vimos anteriormente sobre o valor
e o crescimento do reino dos Céus, bem
como sobre os tipos de terreno que recebem a sua semente. Nos textos acima,
vemos a separação entre os que participam e os que não participam do Reino.
A parábola da rede parece mostrarnos, figuradamente, que a mensagem do
evangelho lança a rede, trazendo todo
tipo de pessoas, mas que algumas não
estão preparadas para ficar. Isto é uma
figura do que acontecerá na consumação
dos séculos, quando a separação será feita. O próprio Senhor, como grande juiz,
separará o que pertence ao Seu reino daquilo que é antagônico a ele.
A parábola do trigo e do joio traz-nos
muitas lições. Vejamos algumas:
1. No campo, que é o mundo, são semeados dois tipos de semente: um tipo
é semeado pelo dono do campo e outro
por um inimigo. Quando semeamos o
que é mau, estamos a serviço do inimigo
de Deus, pois, Deus é o dono do campo e
só semeia o que é bom.
2. Neste mundo, é inevitável que tenhamos trigo e joio crescendo juntos. Jesus Cristo adverte que não devemos nos
apressar em julgar, querendo separá-los,
pois, isto só Deus é capaz de fazer. Só Ele,
que conhece o interior de cada um, poderá efetuar a separação.
3. Há joio e trigo no mundo e também
na igreja. O importante a considerarmos
é: estamos sendo trigo ou joio?
4. Também dentro de nós pode haver
joio, pois, mesmo sendo resgatados, somos pecadores. Cooperemos com o Espírito Santo, para que Ele retire de nossa
vida o que não foi plantado por Ele.
A disciplina na igreja deve ser exercida para fins de ensino, para evitar escândalos, mas sempre com muito amor e
paciência, sem precipitação ou qualquer
sentimento de partidarismo. Afinal, as
pessoas são mais importantes que qualquer instituição. Precisamos estar sempre conscientes de que somos frágeis e
imperfeitos, e de que nunca conseguiremos separar verdadeiramente o trigo do
joio. Deixemos isto para o justo e perfeito juiz.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 55
| PA R Á B O L A S D O R E I N O
Aplicação a sua vida: Você acha mais fácil
ver os seus erros ou ver os erros dos outros?
Em quais circunstâncias você se percebe
julgando e condenando as pessoas?
Ele mesmo nos ensina a medir as consequências dos nossos atos com maturidade. Por isso, o apóstolo Paulo diz em
I Coríntios 14.20: “Quanto ao mal, contudo, sede como criancinhas, mas adultos
quanto ao entendimento.”
3. O cidadão do Reino - Leia Mateus
18.1-5
A ética do reino dos céus é muito
diferente da ética do reino deste mundo, como vimos no Sermão do Monte.
Ela é proveniente de valores do interior
do coração, que resultam em atitudes
externas.
No texto de Mateus vemos Jesus,
diante de alguns que querem saber
quem é o maior no reino do céu, tomar
uma criança para ilustrar como deve
ser o cidadão desse reino. A criança em
geral não tem orgulho, não faz discriminações, é simples e humilde na sua dependência e fragilidade. Os que desejam
o Reino dos Céus nas suas vidas, devem
se revestir de tais atitudes.
A grandeza, segundo os valores do
“reino”, não resulta de poder econômicosocial ou de aparência, mas de humildade e graça. Por isso, segundo Jesus,
o maior no reino dos céus é o que é
servo de todos (Mc.10.44) ou que tem a
humildade de uma criança.
Jesus, no entanto, não está dizendo
que devemos ser como crianças em tudo.
56 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
Conclusão
Que como veículos do Espírito Santo,
semeemos a boa semente, enchendo o
mundo dos valores do “reino” como paz,
amor e todo o fruto do Espírito que encontramos em Gálatas 5.22.
Que tenhamos a consciência, no entanto, de que no mundo teremos sempre
sementes que não pertencem ao reino
de Deus.
Que não nos arvoremos em juízes,
querendo separar as más das boas sementes, pois, somos incapazes para tal
tarefa.
Que tenhamos sempre o espírito de
uma criança, para aprender com o nosso Pai e para não nos julgarmos nunca
autossuficientes. Que nossa missão no
mundo seja servir e não ser servido, a
exemplo do nosso Mestre e Senhor.
Que sejamos o bom solo para a semente que Deus deseja plantar em nosso
coração.
ESTUDO 16
A HUMILDADE FAZ PERDOAR
Jesus termina o ministério na
Galileia
Introdução
A ética vivida na sociedade em geral é
muitas vezes oposta à ética sonhada por
aqueles que pertencem ao reino do Senhor. A vida do nosso Rei atesta isto.
Por opor-se muitas vezes à religiosidade hipócrita da Sua época e ao comportamento daqueles que lideravam a
sociedade; por viver uma vida que punha
em cheque o modo de viver da maioria,
especialmente dos poderosos; por nunca
ter trocado a fidelidade à Sua missão redentora por qualquer glória deste mundo, Jesus, o Rei, foi rejeitado e perseguido.
Jesus sempre destacou a necessidade
da mudança interior, que traria como resultado um viver amoroso e produtivo na
sociedade.
Após a apresentação neste estudo de
uma importante exigência para o súdito
do reino de Deus, veremos alguns fatos
que marcaram a finalização do grande
ministério de Jesus na Galileia.
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Leituras Diárias
Mateus 18.21-35
Mateus 13.54-58
Marcos 6.14-29
João 1.27-34
Mateus 11.25-30
Colossenses 3.12-17
1. Quantas vezes perdoar?
Leia Mateus 18.21-35
Pedro, o apóstolo, fez uma pergunta.
Queria saber quantas vezes deveria perdoar. Tal indagação parece mostrar uma
falta de percepção do que Jesus sempre
ensinava. Para os discípulos, devia ser
muito difícil desvincular a religiosidade
das regras e dos tabus aos quais estavam
acostumados.
Talvez, Pedro estivesse ainda muito preso ao legalismo e, por isso, queria
regras bem claras e definidas quanto
ao que fazer ou deixar de fazer. Estas o
fariam saber se agira ou não segundo a
lei e, no caso de ter agido dentro da lei,
poderia sentir-se satisfeito consigo mesmo e até, quem sabe, poderia condenar
outros, como faziam muitos legalistas do
seu tempo.
Mesmo sendo boas as regras, o espírito legalista é sempre perigoso, pois,
pode nos afastar de Deus. O legalista, ao
se perceber como bom cumpridor de reREFLEXÕES BÍBLIC
BÍBLIC AS
AS II
II
REFLEXÕES
57
|| 57
| A H U M I L D A D E FA Z P E R D O A R
gras exteriores, torna-se orgulhoso e, por
vezes, condena os que não agem como
ele. Pode até ser sincero, mas não vive
conforme a vontade de Deus. Jesus queria que seus discípulos fossem sobretudo
guiados pela lei do amor (Jo. 15.12). O
desejo de amar verdadeiramente, como
Jesus, sempre nos tornará humildes e
ligados a Deus, pois, sabemos o quanto
somos incapazes de consegui-lo. Também nos deixará sem condições para
condenar outras pessoas, por reconhecermos quão distantes estamos sempre
do nosso tão maravilhoso alvo. Pedro
ainda não entendera isto.
Para responder à pergunta de Pedro,
Jesus contou a parábola indicada neste texto bíblico. Alguém devia ao seu
senhor uma quantia exorbitante e não
tinha como pagar. Após muitos rogos
do servo para que não o enviasse para
a prisão, seu senhor o perdoou. Logo
depois, ele encontrou um conservo seu
que lhe devia uma importância insignificante. Embora ouvisse as suas súplicas
pedindo-lhe perdão, foi insensível a isso,
mandando-o para a cadeia. Sabendo do
ocorrido, o senhor mandou chamá-lo e
negou-lhe o seu perdão, encerrando-o
na prisão.
Esta parábola nos ensina o que outros
textos bíblicos também nos mostram.
Que seremos julgados com o mesmo rigor com que julgamos. Que o usufruir o
perdão e o saber perdoar, andam juntos.
O servo que recebeu o perdão não
tinha noção da dimensão de sua dívida.
Você vê no versículo 26 que ele prometeu pagar a dívida ao seu senhor. Como
se isso fosse possível! Ele devia dez mil
talentos!!! Isto correspondia ao valor de
60 milhões de denários, sendo um denário o equivalente a um dia de trabalho
braçal. Sua vida de trabalho ininterrupto
daria para pagar apenas uma parte muito
insignificante de tal dívida.
Como aquele servo não tinha a dimensão do tamanho do perdão recebido
do seu senhor, não sentiu a alegria de
58 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
haver sido perdoado e, por isso, foi duro
com quem lhe devia.
Jesus colocou a dívida da parábola
com valor tão alto para nos ajudar a compreender quão monstruosa é a nossa
dívida para com Deus. Foi terrível o que
fizemos. Usamos mal o livre arbítrio que
nos tornava criaturas muito especiais.
Corrompemos o universo criado. Degradamos a imagem de Deus em nós. Trouxemos o mal para o nosso mundo. E Deus
nos perdoou em Cristo. A percepção da
enormidade do nosso pecado faz-nos ver
com gratidão a infinitude da graça divina.
Isto amacia o nosso coração em direção
aos que nos tem ofendido. Quem somos
nós para negar o perdão a quem quer
que seja?
O coração que não perdoa, na verdade não tomou posse do perdão. Continua carregando a culpa pela sua dívida.
E não conseguindo perdoar, torna-se prisioneiro. A solução para cada um é reconhecer a monstruosidade do seu pecado
contra Deus, receber com alegria o Seu
perdão e com o coração cheio da graça
divina, espalhar com outros, a começar
dos mais próximos, o perdão e o amor do
Senhor.
Aplicação a sua vida: Liste pessoas a
quem você não tem conseguido perdoar.
Reconheça o pecado inominável que você
cometeu contra Deus e o quanto Ele lhe
perdoou. Tome posse desse perdão e depois libere o seu perdão às pessoas que lhe
têm ofendido. Agora mesmo ore e peça a
Deus para abençoá-las.
Jesus, que conhece as leis espirituais, declara que, para sermos perdoados,
precisamos perdoar. Por outro lado, se
abrirmos o nosso coração, reconhecendo
a hediondez do nosso pecado e a grandeza do perdão, do amor e da graça de
Deus, nós canalizaremos toda esta preciosidade que recebemos de Deus para
os nossos semelhantes.
A H U M I L D A D E FA Z P E R D O A R
2. Jesus em Nazaré - Leia Mateus 13.
54-58
O grande ministério de Jesus na Galileia está chegando ao fim. Ele vai agora, mais uma vez, à sua cidade natal. Vai
dar ao Seu povo outra oportunidade de
recebê-lo. Mas, o resultado novamente
foi desanimador. Diz o texto: “E escandalizavam-se por causa d’Ele. ” (...) “E não
realizou muitos milagres ali, por causa da
incredulidade deles” (vs. 57a, 58).
Deus está sempre dando-nos novas
oportunidades.
Novamente, o preconceito fez com
que muitos O rejeitassem. “Não é este o
filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão
e Judas? ” (V. 55).
Os preconceitos são sempre perniciosos ao nosso desenvolvimento. Podem
eles nos tornar insensíveis aos veículos
que Deus quer usar para nos transmitir
sabedoria e maturidade. Julgamos que
a sabedoria está atrelada a títulos, status
ou tempo de vida cristã? Como os preconceitos podem nos tornar insensíveis à
mensagem de Deus!
|
“Este é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo.1.29). Depois de batizar Jesus, declarou: “Vi o Espírito descer do
céu como pomba e permanecer sobre ele”
(Jo.1.32).
Este foi João Batista. Um homem humilde e corajoso. Humilde para nunca
pretender ser algo além daquilo que era:
o precursor do Messias. Corajoso a ponto
de desafiar o tetrarca(1) da Galileia, como
você viu neste texto. Este tetrarca era
Herodes Antipas, filho de Herodes, o
Grande. Neste texto, temos o relato do
que aconteceu com o corajoso João Batista.
Interessante como Herodes, ao ouvir
a fama de Jesus, pensa que João Batista
houvera ressuscitado. Como pode sofrer
uma consciência atormentada! É triste o
sentimento de culpa associado ao orgulho. O pecado sem arrependimento sempre traz consequências desastrosas.
Aplicação a sua vida: Ser humilde verdadeiramente é mais difícil do que cumprir regras exteriores. Quais atitudes orgulhosas
você percebe em si mesmo (a)?
3. A morte de João Batista - Leia Marcos 6.14-29
Conclusão
Já dissemos anteriormente que os
evangelhos não relatam os fatos ocorridos no ministério de Jesus em ordem
cronológica. Este fato (a morte de João
Batista) parece estar relacionado ao fim
do ministério de Jesus na Galileia.
Jesus terminou assim o seu grande
ministério na Galileia. Dois anos, aproximadamente, são passados desde o Seu
batismo. Sua popularidade crescia e, na
mesma medida, as resistências a Ele por
parte das autoridades religiosas e políticas.
João Batista foi uma pessoa muito valorizada por Jesus. Ele disse que, dentre
os nascidos de mulher, ninguém houvera maior do que João Batista (Mt. 11.11).
Ele foi o precursor de Jesus. Anunciando
a Sua chegada, disse que não era digno
de desamarrar a correia das sandálias de
Jesus (Jo. 1.27). Ao saber que Jesus estava fazendo mais discípulos do que ele,
declarou: “É necessário que ele cresça e
que eu diminua” (Jo.3.26,30). Às pessoas
que viram Jesus se aproximar, ele disse:
Terminado o ministério na Galileia,
Ele começou uma curta etapa conhecida
como “as retiradas de Jesus”, que veremos
nos próximos estudos. Ele vai procurar
estar mais a sós com seus discípulos.
__________
(1)
Tetrarca - título usado para denotar o governante da quarta parte de uma região e mais tarde para
qualquer soberano sujeito a outro país (Davis - Dicionário da Bíblia)
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 59
ESTUDO 17
jesus se retira para
estar a sós com os
discípulos (I)
(Primeira Parte)
Introdução
Com este estudo começaremos a ver
a parte do ministério de Jesus conhecida
como “as retiradas”, tempo em que Ele
procura se afastar um pouco das grandes
multidões e passa a instruir Seus discípulos com maior intensidade. Sabemos
que os Evangelhos não registram tudo
que Jesus fez e ensinou, pois, aquilo que
está registrado é suficiente para que O
conheçamos como Messias e creiamos
n’Ele (Jo. 20.30-31). Vejamos alguns fatos
registrados:
Durante o grande ministério na Galileia, a fama de Jesus havia se espalhado e grandes multidões O seguiam. Os
fariseus e outros líderes com influência
política se opunham aos seus ensinos e a
pressão sobre Ele crescia muito. Sua vida
e Seus ensinos sempre contrariavam os
interesses dos que exerciam o poder.
Jesus então resolveu retirar-se um
pouco de cena, afastando-se para estar
60
60 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Leituras Diárias
Mateus 14.13-21
Mateus 14.22-36
João 6.22-40
João 6. 41-59
João 6.60-71
Mateus 15.1-20
mais a sós com os discípulos. Precisava
intensificar o ensino a eles, para que estivessem mais preparados para desempenhar a Sua missão quando Ele não mais
estivesse aqui.
As retiradas de Jesus são classificadas
em quatro:
A primeira: para o outro lado do mar
da Galileia, região de Betsaida-Júlia, na
parte oriental;
A segunda: na terra de Tiro e Sidon, na
antiga Fenícia;
A terceira: na região de Decápolis, a
sudeste do mar da Galileia;
A quarta: em Cesareia de Felipe, ao
norte do mar da Galileia.
Veremos neste estudo apenas a primeira retirada.
1. Os discípulos aprendem sobre o poder e a missão de Jesus - Leia Mateus
14.13-36
A primeira retirada foi rápida e para
um local bem próximo. Jesus foi com
J E S U S S E R E T I R A PA R A E S TA R A S Ó S C O M O S D I S C Í P U LO S ( i ) |
Seus discípulos para um lugar deserto, a
leste do mar da Galileia, mas, ao chegar
lá, já encontrou uma grande multidão
buscando a Sua ajuda. Mesmo vendo
frustrado o Seu plano de estar a sós com
os discípulos, Jesus sentiu compaixão por
aquela gente que O procurava. Aí aconteceu a multiplicação dos pães.
Diante deste milagre, um grande perigo ocorreu: muitos queriam fazer de
Jesus um rei político, conforme o relato
de João 6.15. Mas Jesus se recusou, pois,
isto seria trair Sua missão, caindo na tentação que o diabo lhe apresentara no deserto (Mt. 4.8-9).
A compaixão de Jesus e o Seu atendimento amoroso às necessidades humanas foram lições muito fortes para os discípulos. Não será esta uma importante
parte do ministério da Igreja como corpo
de Cristo no mundo? Será possível falar
do amor de Cristo, sem viver tal compaixão?
Aplicação a sua vida: Quais atitudes práticas de amor você tem dirigido ao próximo,
por ser um seguidor do Cristo que veio, não
para ser servido, mas para servir?
Temos aí outros ensinos que Jesus
transmite aos discípulos com Sua vida.
Vemos que Jesus os compeliu a entrar
no barco (v.22) e Ele sozinho subiu a um
monte para orar (v.23). Que lição importante!
A seguir, neste mesmo texto, vemos
que uma tempestade atingiu a embarcação em que os discípulos estavam e Jesus
lhes apareceu, dando uma lição de fé, especialmente a Pedro.
Este fato na vida de Pedro ilustra
algo muito importante para nós. Veja o
versículo 30. Não foi o vento, mas foi o
medo, que fez com que Pedro começasse
a afundar.
Às vezes não são as circunstâncias
que nos afundam, mas a nossa atitude
frente a elas. Olhos fitos em Jesus e coragem são elementos indispensáveis para a
vitória. Quantas lições para os discípulos!
2. Os discípulos aprendem sobre as dificuldades do discipulado - Leia João
6.22-71
Vemos neste texto que a multidão
procurou Jesus no dia seguinte e foi por
Ele acusada de procurá-lo apenas com interesse nas bênçãos materiais, já que havia sido atendida anteriormente em suas
necessidades físicas (v. 26).
A seguir, Jesus fez um discurso muito
duro para a multidão e que ensinou muito aos Seus discípulos. Ele operara antes
a multiplicação dos pães e agora lhes fala
do pão espiritual. Diz que eles deverão
beber o Seu sangue e comer a Sua carne
(vs. 51-58). Este discurso era duro (v. 60),
pois, significava ter a Sua vida, alimentarse d’Ele, viver como Ele.
Ele diz ser o pão da vida (v. 35). Diz
ainda que, para que alguém tenha a vida
eterna, será preciso que se alimente d’Ele
(vs. 53-57).
Diante de tão duro discurso (v. 60),
muitos discípulos O abandonaram (v. 66).
Seus discípulos mais próximos aprendiam com estes fatos. Jesus lhes ensinou
que as condições do discipulado não podem ser abrandadas para atrair as multidões. Não poderá forçá-los também
a permanecer com Ele, se não quiserem
atender às suas condições. Por isso, lhes
faz a pergunta que está no versículo 67.
É Pedro, em nome dos discípulos, quem
responde o que está no versículo 68, satisfazendo assim a Jesus.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 61
| J E S U S S E R E T I R A PA R A E S TA R A S Ó S C O M O S D I S C Í P U LO S ( i )
Não é preciso ser perfeito para
ser discípulo de Cristo. Ele está sempre
disposto a, com amor e paciência, ensinar, corrigir, perdoar e levantar-nos
quando caímos. O que Ele quer de nós é
que tenhamos um desejo muito forte de
satisfazer as condições do discipulado,
reconhecendo que, fora dos Seus propósitos para nós, a vida não tem realmente
sentido, como disse Pedro no versículo
68.
Aplicação a sua vida: Qual deve ser a sua
atitude ao chamar pessoas para seguirem a
Jesus?
3. Os discípulos aprendem mais uma
vez que Jesus quer vida interior e não
cumprimento de ritos - Leia Mateus
15.1-20
Este fato acontecido no ministério de
Jesus trouxe grandes ensinos aos Seus
discípulos. Eles foram acusados de não
lavar as mãos antes das refeições. Jesus
então os defendeu, acusando os líderes
judaicos de muitas vezes transgredirem
os mandamentos de Deus por causa da
sua tradição.
Para os judeus, o lavar as mãos às
refeições não significava simplesmente
um ato de higiene, mas um ritual de purificação, para afastar a possibilidade de
participar da refeição contaminado por
alguém religiosamente impuro - um gentio ou um judeu impuro. A refeição tinha
um aspecto sagrado de comunhão que
devia ser com os “iguais”
Jesus atacou tais tradições religiosas, falando que, na realidade, eles não
cumpriam os mandamentos de Deus por
causa das suas tradições, e dá o exemplo
do mandamento “Honra a teu pai e a tua
62 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
mãe”, que eles substituíam por uma oferta no templo chamada corbã. Os filhos
deveriam amparar financeiramente os
pais, pois, isto era o mesmo que honrálos; mas se eles dessem essa oferta no
templo (corbã), ficavam desobrigados de
ampará-los. Jesus via isso como algo que
contrariava a vontade de Deus.
Jesus então combateu a tradição do
lavar as mãos, dizendo que o que entra
pela boca não contamina o ser humano
(v. 11). Jesus sempre combateu o legalismo frio e hipócrita que tornava a religião
mecânica, ao expressar-se apenas pelo
comportamento exterior.
O legalismo pode se manifestar em
nossa vida cristã de muitas formas como:
- quando avaliamos a nossa situação
com Deus baseados, não na Sua graça,
mas nos nossos atos externos;
- quando nos comparamos a outros
pelo que fazemos ou deixamos de fazer,
desconsiderando a nossa maldade interior, como o egoísmo, o desamor, o desrespeito;
- quando avaliamos pessoas pela aparência ou pelo aspecto externo do seu
comportamento, sem considerar a sua
história ou as circunstâncias que nos são
desconhecidas.
Conclusão
Os discípulos de Jesus tiveram grandes lições com os fatos vistos neste estudo. Aprenderam com as atitudes e palavras do seu Mestre a respeito da fé, do
preço do discipulado, da necessidade de
se alimentar da vida de Jesus e também a
respeito dos perigos do legalismo.
O que temos aprendido em nossas
horas a sós com Jesus?
ESTUDO 18
jesus se retira para
estar a sós com os
discípulos (II)
(Segunda Parte)
Introdução
Neste estudo veremos as últimas retiradas de Jesus: uma para os lados de Tiro
e Sidon (Mc. 7.24); outra para Decápolis
(Mc.7.31); e a última para Cesareia de Felipe (Mc.8.27). Os episódios acontecidos
aí e os ensinos ministrados marcariam os
discípulos para sempre.
Jesus queria estar a sós com os discípulos. Sabia que não teria muito tempo
para ensinar-lhes.
1. Os discípulos aprendem que a graça de Deus é para todos - Leia Marcos
7.24-30
O fato relatado por este texto pertence à segunda retirada, que foi para as regiões de Tiro e Sidon. Não sabemos quanto
tempo Jesus ficou nesta área nem quais
foram Suas atividades. A maior parte do
tempo provavelmente foi empregado
em instruir Seus discípulos.
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Leituras Diárias
Marcos 7.24-30
Mateus 16.13-28
Lucas 9. 28-36
Lucas 9. 37-45
Atos 2. 37-43
I Pedro 2.1-9
O texto de Marcos diz que Jesus queria ficar a sós com os discípulos. Isto se
fazia quase impossível. Foi nessa segunda retirada que Ele foi abordado pela
mulher siro-fenícia, a que pediu a cura
de sua filha. Jesus disse que “não era
justo tomar o pão dos filhos e jogá-lo para
os cachorrinhos” (v. 27). Alguns comentaristas dizem que Jesus aqui procurou
ser cortês, expressando delicadamente o
modo como os judeus consideravam os
gentios.
A palavra cão no N.T. designa todos
quantos são incapazes de apreciar o que
é santo e elevado. Os judeus chamavam
de cães os gentios, por serem declarados
(1)
impuros pela lei cerimonial . Com sua
atitude, Jesus queria realçar a graça de
Deus que se estende a todos.
Aquela mulher sabia que, sendo uma
estrangeira, não pertencia ao considerado povo de Deus. Expressou, no entanto,
sua humildade e, por isso, teve a sua fé
enaltecida por Jesus, conforme relato de
Mateus 15.28.
REFLEXÕES BÍBLIC
BÍBLIC AS
AS II
II
REFLEXÕES
63
|| 63
|
J E S U S S E R E T I R A PA R A E S TA R A S Ó S C O M O S D I S C Í P U LO S ( ii )
A missão de Jesus era realmente para
todos, embora durante o Seu ministério
terreno fosse, primariamente, dirigida
aos judeus. A fé e a humildade desta mulher O tocaram profundamente.
Segundo alguns comentaristas, na
terceira retirada não estão registrados fatos de grande destaque ou diferentes dos
já acontecidos em outros períodos do
ministério de Jesus. Por isso, não comentaremos a terceira retirada e veremos,
nos dois próximos tópicos, dois acontecimentos que julgamos importantes na
quarta retirada.
2. Os discípulos aprendem sobre Cristo
e a missão da igreja
Leia Mateus 16.13-28
Nesta quarta retirada, Jesus seguiu
para a região de Cesareia de Filipe. Depois de saber a opinião de outros a Seu
respeito, Jesus perguntou aos discípulos
o que eles pensavam d’Ele.
Era muito importante para o Mestre, a
esta altura do Seu ministério, saber o que
os Seus discípulos pensavam a Seu respeito, porque Ele voltaria para o Pai e Sua
missão continuaria através deles. Como
poderiam cumpri-la se não tivessem clareza a respeito de quem era Jesus?
Pedro respondeu pelo grupo apostólico: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”
(v.16). Sua palavra satisfez a Jesus, que
lhe disse que aquela resposta se originara na própria revelação do Pai a ele. Jesus
fez então a declaração dos versículos 18
e 19 (releia-os). A Igreja Católica Romana interpreta que a pedra aí refere-se a
Pedro, que teria sido o principal líder da
igreja primitiva. Embora concordem que
Pedro foi realmente um dos grandes líderes da igreja em seus primeiros anos,
os evangélicos não aceitam tal interpretação. Eles veem aqui um jogo de pala64 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
vras, pois, Pedro significa pedra. Creem
eles que a afirmação de Jesus: “Sobre esta
pedra edificarei a minha igreja” refere-se à
declaração de Pedro:“Tu és o Cristo, o Filho
de Deus vivo”. Esta é a pedra fundamental da fé cristã - a convicção a respeito da
identidade de Jesus como Filho de Deus.
E o próprio Pedro diz isso em sua primeira carta (I Pe. 2.3-4).
De certa forma, no entanto, os apóstolos são pedras importantes na edificação da igreja, pois, foram testemunhas
oculares da vida e obra de Jesus, assim
como foram os primeiros divulgadores
do Evangelho. O próprio apóstolo Pedro
diz aos cristãos, em sua primeira carta,
que Cristo é a pedra angular e que todos
os cristãos são pedras na edificação da
igreja (I Pedro 2.3-5). Paulo, em I Coríntios
3.11, diz que o único alicerce ou fundamento é Cristo.
Jesus diz ainda a Pedro que lhe daria
as chaves dos céus e tudo que ele ligasse
ou desligasse na terra, seria confirmado
pelos céus. O poder das chaves é dado a
todo verdadeiro súdito do reino de Deus.
É o poder de, através do testemunho da
vida de Deus em si, abrir o reino de Deus
às pessoas que vivem em sofrimento e
desesperança. Pedro o abriu a milhares de pessoas no dia de Pentecostes
(At.2.38-41) e de um modo especial aos
gentios na casa de Cornélio (At. 10).
Quem comunica a mensagem de
Deus, isto é, a vida verdadeira e plena de
amor que há em Jesus, pode ligar pessoas ao céu e pode desligá-las das prisões
demoníacas. O que o cristão faz, na autoridade dada por Jesus, é confirmado pelo
céu.
A seguir, no texto indicado de Mateus
16, Jesus mostrou aos discípulos que Ele
deveria sofrer, morrer e ressuscitar (v. 21).
Pedro procurou convencê-lo a não deixar
J E S U S S E R E T I R A PA R A E S TA R A S Ó S C O M O S D I S C Í P U LO S ( ii ) |
que isto acontecesse. (v.22). Jesus considerou tal palavra de origem maligna (v.
23). Esta foi sempre a tentação que Jesus
sofreu durante a Sua vida: fugir da cruz,
desviando-se de Sua missão.
Pedro, que há tão pouco tempo fizera
uma declaração inspirada por Deus, agora era usado pelo inimigo para desviar Jesus da cruz. Este fato ensina como somos
vulneráveis e podemos, após declarações
sábias, ser por vezes insensatos. Temos
sempre de ser humildes e dependentes
de Deus.
Pedro aconselhou Jesus a fugir da
cruz. Não é esta também uma tentação
para todo o cristão: sacrificar o propósito
de sua vida pelo seu próprio bem-estar,
com a satisfação de motivos egoístas?
Jesus ensinava a Pedro e aos demais discípulos que não é possível um cristianismo sem cruz (vs. 24-25). Qual é a missão
da Igreja? Qual é a cruz da qual Satanás
deseja que nos desviemos?
Aplicação a sua vida: O propósito de sua
vida é tornar-se mais semelhante a Jesus,
servindo de bênção para o ambiente em
que você vive? Quais fatos em seu viver demonstram que você deseja isso?
3. Os discípulos aprendem que contemplação e serviço andam lado a lado Leia Lucas 9.28-45
Vemos aí que, na transfiguração de
Jesus à vista de Pedro, Tiago e João, apareceram Moisés e Elias. Estes falavam
com Jesus a respeito de sua morte e ressurreição. Diante do esplendor do acontecimento, Pedro sugeriu que permanecessem ali. Realmente, é muito mais
prazeroso participar de um momento
de adoração e contemplação junto com
aqueles em cuja companhia sentimos
grande prazer e afinidade espiritual, do
que com pessoas que passam por dificuldades e a quem precisamos ajudar. Ao
descerem do monte, Jesus e Seus discípulos encontraram um jovem possesso
por demônio, que precisava de libertação.
Estamos sempre a transitar entre as
alegrias produzidas em nós, pela consciência da presença de Deus nos momentos de enlevo espiritual, e as tristezas
ocasionadas pelas situações muitas vezes
dolorosas do cotidiano, que são um desafio à nossa fé.
Os momentos de nossa comunhão
com o Pai não nos devem alienar da vida
com suas tensões e desafios. Pelo contrário! Tais momentos devem servir de
alimento para tornar-nos mais fortes, servindo de bênção dentro das circunstâncias em que vivemos.
Estamos prontos a responder aos desafios que enfrentamos, ou queremos
apenas as situações que nos agradam?
Foi assim a vida d’Aquele a quem dizemos seguir?
Aplicação a sua vida: Qual serviço seu às
pessoas tem sido demonstração do amor
de Jesus através de sua vida?
Conclusão
Jesus gastou tempo para ensinar os
discípulos. Nada podemos fazer, se não
tivermos o nosso aprendizado aos pés de
Jesus.
_____
(1)
- Davis, John, D - Dicionário da Bíblia , S. Paulo:
Ed. Vida Nova, 1965. p.105
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 65
ESTUDO 19
JESUS, O GRANDE MESTRE
O Ministério de Jesus na Judeia
(Primeira Parte)
Introdução
João, o Evangelho que será usado
neste estudo, é o que mais realça a divindade de Jesus, desde o seu prólogo
em João 1.1-14. Neste Evangelho, Jesus
fala mais de si mesmo do que da ética
do Seu reino. Neste estudo, vemos que,
após as retiradas, Jesus volta à Judeia e
exerce parte do Seu ministério ali. Através de alguns fatos e ensinos deste período, usufruímos de grandes lições. Ao
dizermos que aceitamos Jesus, estamos
anunciando que O reconhecemos como
Mestre, desejando viver de acordo com
Seus ensinos.
1. O ensino de Jesus - Leia João 7.1418, 30-32 e 37-52
O ministério de Jesus está caminhando para o seu final. Ele foi para Jerusalém,
indo ao templo na festa dos tabernáculos
e ali ensinava. Enquanto isso, o cerco a
Jesus se apertava. Havia uma grande agitação entre o povo por causa de Jesus. A
66
66 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Leituras Diárias
João 7.14-18 e 30-32
João 7. 37-52
João 8. 1-11
João 9. 1-21
João 9. 18-41
Atos 10.34-42
questão era: Ele falava a verdade a respeito de si mesmo ou não? Jesus, então,
adverte no versículo 17 que aquele que
quiser fazer a vontade de Deus conhecerá se o que Ele fala é de Deus ou não.
Quantas vezes a falta de percepção
de uma verdade espiritual, com impedimento à fé, pode vir de uma resistência
em querer fazer a vontade de Deus! Coração aberto e desejo de estar em comunhão com a vontade de Deus são condições para perceber as verdades de Deus.
Guardas foram enviados para prender
Jesus, mas não O levaram por se sentirem
extasiados ante a sabedoria e a autoridade d’Ele (vs. 32, 45-46). O fato é que a
pressão sobre Jesus estava aumentando
muito. Aqueles, no entanto, que eram
sinceros, desejando a luz para as suas vidas, percebiam que algo na palavra e na
vida d’Ele atraia-os chamando-os a um
posicionamento diante de Deus. Somos
honestos em nossa relação com Deus?
É interessante como Nicodemos,
aquele que já conhecemos por haver es-
JESUS, O GRANDE MESTRE |
tado à noite com Jesus (Estudo 5), toma
a defesa dele perante os fariseus (vs. 4752).
Jesus declara muitas vezes o Seu poder, mas as pessoas em geral não desejam crer. Muitas vezes o nosso impedimento à fé resulta da falta de vontade de
obedecer, como já foi dito. Se isso está
acontecendo conosco, talvez precisemos
tomar algumas atitudes:
- confessar essa dificuldade ao próprio Deus, com a certeza de que Ele nos
ajudará a vencê-la;
- obedecer naquilo que já sabemos
ser a Sua vontade como amar, perdoar,
trabalhar em favor do próximo e tantas
outras coisas.
- lidar com os nossos preconceitos e
resistências, para estarmos mais disponíveis para ouvirmos a voz do Senhor.
Aplicação a sua vida: Qual resistência em
seu coração pode estar sendo obstáculo
para você crer na palavra de Jesus?
2. Todos são pecadores, ensina Jesus
aos fariseus - Leia João 8.1-11
Os fariseus levaram esta mulher a
Jesus, não por serem zelosos pela lei ou
pela moral da sociedade em que viviam.
O que eles queriam era pegar Jesus em
alguma contradição, para terem de que
O acusar (vs. 4-6). Se Jesus dissesse que
deveriam apedrejá-la, estaria sendo contrário à sua própria mensagem de amor e
perdão. Se dissesse que a mulher deveria
ser perdoada, estaria indo flagrantemente contra a lei de Moisés e atrairia a reação do povo contra Ele.
Jesus, então, deu uma resposta que
deixou aqueles homens estupefatos,
pois, não a estavam esperando. Jesus os
surpreendeu como sempre. Ele amava a
todas aquelas pessoas e desejava resgatá-las. Tanto a mulher, como os escribas
e fariseus. A resposta d’Ele, “Quem dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro
a atirar-lhe uma pedra” (v. 7), fez com que
aqueles homens se retirassem. Mas a
Sua palavra poderia também resgatá-los,
levando-os a pensar e perceber a si mesmos como pecadores, também necessitados da graça de Deus. A graça de Deus
é para todos nós, mas só a alcança quem
reconhece o seu pecado e a sua necessidade de perdão.
Aplicação a sua vida: Qual pecado separa mais a criatura do seu Criador: o pecado
daquela mulher ou o pecado daqueles homens tão religiosos? Por quê?
Após ficar sozinho com a mulher,
Jesus se dirigiu a ela com ternura e compaixão. “Mulher, onde estão eles? Ninguém
te condenou? ” E após a resposta dela, Jesus disse: “Nem eu te condeno. Vai e não
peques mais” (vs.10b e 11.b)
Jesus queria salvar ali, tanto a mulher
quanto os homens, todos vivendo em
pecado, embora manifesto de formas
diferentes. A mulher vivendo uma vida
de adultério e aqueles homens vivendo
cheios de orgulho, de interesses egoístas
e vazios de misericórdia.
Jesus trata a cada um de acordo com
sua condição. À pessoa que está humilhada, Ele tenta, através do seu amor e da
sua graça, levá-la a perceber a sua dignidade e a desejar viver uma vida íntegra.
Os orgulhosos, cheios de justiça própria
e condenação aos outros, Jesus tenta
aproximar de Deus, fazendo-os perceber
a estupidez do seu orgulho, que os torna
insensíveis e sem misericórdia.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 67
| JESUS, O GRANDE MESTRE
Que bom é entender que Jesus veio
para todos. Que nos ama e está sempre
disposto a nos perdoar, ajudando-nos a
viver uma vida de acordo com a Sua vontade.
3. Jesus ensina através de uma cura Leia João 9.1-41
O acontecimento central deste capítulo é a cura de um cego de nascença.
Há todo um processo de investigação
por parte dos escribas e fariseus para
saberem como havia acontecido aquele
milagre. Eles queriam achar um motivo
para prender Jesus.
Com este milagre importante no ministério de Jesus, muitas lições podemos
aprender:
- O sofrimento de alguém nem sempre é resultado do seu próprio pecado ou
do pecado de algum de seus antepassados (vs. 2-3).
- O cego não sabia muita coisa a respeito de Jesus, mas o que ele sabia era o
suficiente para dar aos outros o seu testemunho: “Eu era cego e agora estou enxergando! ” (Vs.24-25). Também nós, muitas
vezes, não sabemos muitas coisas, mas o
que sabemos é que o conhecimento e a
presença de Jesus dão à nossa vida significado e sentido de eternidade. Nesse
caso, podemos dar o nosso testemunho.
- Jesus aí desafiou mais uma vez os
legalistas religiosos e curou num sábado
(v.14). Mais uma vez mostrou que as leis
são feitas por causa do ser humano e devem sempre estar a serviço dele.
- No versículo 5 Jesus diz: “Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo. ”
Jesus possuía um sentido de urgência,
pois, tinha uma missão a ser cumprida
68 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
durante o Seu tempo de vida. Não poderia deixar para depois. Será que temos
consciência de que, como discípulos
seus, também temos uma missão a cumprir, que não deve ser deixada para depois? Também nós fomos comissionados
por Jesus para sermos luz do mundo. E só
podemos cumprir esta missão enquanto
estamos no mundo. Conscientizemonos de que nossa vida é breve e que não
podemos deixar de cumprir o propósito
divino para o qual estamos aqui.
Aplicação a sua vida: Você tem consciência de que Jesus deseja servir às pessoas
através de você? De que maneira isto está
acontecendo ou poderá acontecer?
- Jesus fez um trocadilho nos versículos 39 a 41, para mostrar que nem sempre
os cegos eram apenas aqueles pobres
que viviam marginalizados à beira do
caminho. Nem sempre também, o espiritualmente cego é aquele que tem menor
conhecimento, mas aquele que não quer
enxergar o que Deus quer lhe mostrar.
Queremos nós enxergar verdadeiramente? Aprender com Jesus? Isto nos
dará maiores responsabilidades, mas
também maiores privilégios.
Conclusão
Nestes textos, Jesus mostra que Ele
é o Deus encarnado, que veio para libertar o ser humano de sua ignorância e
do seu pecado. Veio perdoá-lo e abrir-lhe
os olhos para enxergar sua dignidade,
mas também sua pequenez; sua grandeza, mas também sua dependência de
Deus.
ESTUDO 20
O DESEJO DE JESUS PARA
OS SEUS SEGUIDORES
O ministério de Jesus na Judeia
(Segunda Parte)
Introdução
Jesus está chegando ao fim do Seu
ministério terreno. Trabalhara longo
tempo na Galileia. Teve depois suas retiradas com os discípulos para que os
instruísse (estudos dezessete e dezoito).
Agora estamos vendo, desde o estudo
anterior, alguns fatos do Seu ministério
na Judeia.
1. Jesus deseja que Seus seguidores
cumpram sua missão - Lucas 10.1-12
Jesus enviou setenta discípulos para
trabalharem no anúncio do reino de
Deus. Anteriormente, Ele havia enviado
os doze com mais ou menos as mesmas
recomendações. Jesus deu-lhes várias
instruções. Vejamos essas instruções e o
que elas ensinam para o desempenho da
nossa missão hoje:
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Leituras Diárias
Lucas 10.1-12
Lucas 10. 17-24
Lucas 10. 25-37
Lucas 10. 38-42
Filipenses 2.5-11
Efésios 6.10-18
- A missão era grande (v.2) - Hoje o
nosso mundo é maior ainda.
- A missão seria difícil (v.3) - Seus discípulos seriam como ovelhas no meio de
lobos. Haveria oposição.
Também hoje, o anúncio do reino
de Deus nunca será recebido sem oposição, embora seja esta muito maior em
alguns lugares do que em outros. Afinal,
os seguidores de Jesus devem ter uma
vida semelhante à do seu Mestre, contrapondo-se ao que é mal e injusto. Se
não há oposição alguma, de ninguém,
devemos prestar atenção se não estamos
enfraquecendo o nosso testemunho cristão para que sejamos mais aceitos. Ou
se não estamos perdendo a consciência
de que todo o cristão, seja qual for a sua
atividade, deve procurar viver dentro de
padrões que satisfaçam a justiça e a santidade de Deus, inclusive em seu relacionamento com as pessoas.
REFLEXÕES BÍBLIC
BÍBLIC AS
AS II
II
REFLEXÕES
69
|| 69
| O D E S E J O D E J E S U S PA R A O S S E U S S E G U I D O R E S
- A missão era urgente (v.4) - não deveriam ficar gastando tempo e energia
com o que não era importante. Cumprimentos ou bagagem não deveriam atrapalhar a caminhada.
Também nós, não devemos carregar
coisas em nossa bagagem que a tornem
pesada demais e nos impeçam de caminhar. Tiremos dela os cuidados deste
mundo, as vaidades, o luxo, as inimizades, o formalismo, etc... Caminhemos
com leveza, dando importância àquilo
que é realmente importante.
- Sobre o sustento, Jesus diz que digno é o trabalhador do seu salário (v.7)
- Deus providenciaria pessoas que os
sustentassem e eles deveriam viver com
simplicidade e sem ambições materiais.
Ainda hoje, devemos estar dispostos a sustentar os obreiros do Senhor,
que gastam a sua vida exclusivamente
no anúncio da Palavra de Deus ou na
preparação do povo de Deus para que
cumpra a sua missão no mundo. Estes
obreiros são dignos de duplicada honra (I
Tm. 5:17,18). Devemos ter a consciência,
no entanto, de que todos os cristãos são
chamados a representar o reino de Deus
onde estiverem, defendendo seus princípios, vivenciando um estilo de vida dentro dos valores que pertencem a tal reino.
Precisamos viver dentro do espírito
do reino de Deus, testemunhando que
tal reino manifestou-se em Jesus e já chegou em nossa vida. Que vivamos dentro
dos valores do reino de Deus, os quais
são humildade, simplicidade, paz, amor,
honestidade, pureza e tudo que caracterizou a vida do nosso Mestre.
Aplicação a sua vida: Como você pode
anunciar às pessoas com quem convive
que sua vida é um sinal do reino de Deus
entre elas?
70 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
2. Jesus deseja que ajudemos os semelhantes, sem preconceito - Leia Lucas
10.25-37
Esta parábola é muito conhecida: a
do samaritano que socorre o homem assaltado. Através dela, Jesus respondeu à
pergunta de um religioso que queria vêlo cair em contradição. Isto sempre acontecia com os escribas, que eram doutores
da lei, e com os fariseus. Queriam pegar
Jesus em contradição, para terem de que
acusá-lo perante o povo.
Jesus, então, proferiu esta parábola,
o que deve ter deixado irados os doutores da lei ali presentes, pois ela, além de
ter deixado em posição desfavorável os
religiosos, colocou como herói um samaritano. Jesus lhes ensinou várias lições.
Vejamos:
- Muitos escribas e fariseus valorizavam o cumprimento rígido de todas as
práticas religiosas, mas desprezavam a
justiça, a misericórdia e a fé (Mt. 23.23),
inclusive menosprezando os samaritanos. Nesta história, foi o samaritano
quem cumpriu o maior de todos os mandamentos.
- Jesus ensinou que o que importa
para Deus não é simplesmente o cumprimento de ritos religiosos, mas a fé que
tem por expressão o amor, o que leva à
ação. “Deveis fazer estas coisas e não omitir aquelas”, disse Jesus (Mt. 23.23).
O ensino de Jesus e o Seu confronto com os fariseus mostraram o quanto
Ele era corajoso. Sabendo os riscos que
corria, falava-lhes a verdade, mesmo que
isso lhes provocasse incômodo ou raiva.
Queria salvá-los de uma religião legalista
e de uma justiça própria, que os tornava
rígidos com os outros e os impedia de
enxergar os próprios pecados. Jesus os
amava e sabia que o jeito deles de ver a
O D E S E J O D E J E S U S PA R A O S S E U S S E G U I D O R E S |
lei de Deus os impedia de receber a graça
do Senhor.
Jesus! Que Mestre cheio de coragem
e amor!
3. Jesus deseja crescimento para aqueles que O seguem - Leia Lucas 10. 38-42
Jesus estava em Betânia, na casa de
Maria e Marta. Maria ficava aos pés do
Cristo, ouvindo-O, enquanto Marta se
preocupava em servi-lo com uma boa
refeição. No meu entender, as duas praticavam atividades importantes, pois,
precisamos tanto do alimento material
quanto do espiritual. O que havia era
uma preocupação excessiva de Marta
com o alimento material, no que ela foi
repreendida delicadamente por Jesus, o
qual focalizou a questão da prioridade. É
importante o fato de Jesus ter valorizado
o desejo de Maria de aprender aos pés de
um Mestre, especialmente num tempo
em que isto era, em grande parte, negado à mulher.
Para Jesus, era muito mais importante
repartir com as pessoas o alimento que
Ele possuía (o ensino), do que usufruir de
uma mesa farta ou de uma casa bem arrumada. Esta era a Sua comida, como Ele
disse aos seus discípulos - fazer a vontade
do Pai (Jo. 4.34).
Será que hoje, em nossa vida cristã,
pessoal ou comunitária, não podemos,
mesmo com as melhores intenções,
como aconteceu com Marta, gastar muito mais do nosso tempo com o que é material ou social? Preparamos ambientes,
programações, homenagens e banquetes para agradar a Jesus, e não gastamos
tempo em estar a Seus pés, aprendendo
d’Ele como viver uma vida verdadeira,
profunda e significativa neste mundo.
Aplicação a sua vida: Quais são as suas
prioridades? Quais atitudes suas mostram
o seu desejo de aprender com Jesus?
Com nossos trabalhos domésticos
e práticos, podemos realmente servir a
Deus, pois, de acordo com o ensino de
Jesus, servimos também a Ele quando
servimos com amor às pessoas que Ele
ama. Não devemos separar a nossa vida
“religiosa” da nossa vida cotidiana, como
se só estivéssemos servindo ao Senhor
quando estamos lendo a Bíblia, orando
ou em algum trabalho com a igreja. Devemos ter cuidado, no entanto, para não
inverter prioridades.
Jesus quer que desenvolvamos nossa
compreensão d’Ele, de nós mesmos e do
mundo em que vivemos, para que possamos atuar em Seu nome.
Conclusão
Estejamos atentos para viver de
forma equilibrada, tanto servindo aos
outros, quanto tendo uma íntima e produtiva comunhão com o Cristo dos Evangelhos. Assim se desenvolverá em nós
o Seu modo de ver a vida, o mundo e as
pessoas. Como consequência, teremos o
Seu jeito de ser e a Sua forma de agir, servindo de luz para o mundo. E, seguindo o
exemplo d’Ele, nosso alimento poderá se
tornar também fazer a vontade de Deus.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 71
ESTUDO 21
A SEMELHANÇA COM O
CARÁTER DO PAI
O Ministério de Jesus na Pereia Parábolas
Introdução
O ministério de Jesus na Pereia, onde
Ele se deteve enquanto viajava para
Jerusalém, inclui também acontecimentos em outras cidades fora dessa região,
onde Ele passou rapidamente. Este tempo do Seu ministério está narrado em
Lucas 13.22 a 19.28(1) e em textos menores de outros evangelhos. Neste estudo,
destaco algumas parábolas e, no próximo, alguns acontecimentos desta fase do
ministério de Jesus.
1. Parábolas do ministério na Pereia Leia Lucas 13.22 a 19.26
Lucas é, dos evangelistas, o principal
narrador de parábolas. Nos capítulos aí
referidos, você encontra muitas delas.
Mesmo sem ler todo o texto indicado,
procure reconhecer as parábolas aí con72
72 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Leituras Diárias
Lucas 15.1-10
Lucas 15.11-32
Lucas 18.9-14
II Coríntios 2. 14-15
II Coríntios 5.17-20
Efésios 5.3-6
tidas. Jesus era um grande Mestre. Ele
contava histórias do cotidiano porque,
assim, as pessoas que tinham real interesse em absorver as lições das parábolas,
percebiam os seus ensinos. Ao mesmo
tempo, as pessoas que tinham resistência a Ele, as que não queriam segui-lo
ou as que não estavam suficientemente
maduras para entender as parábolas,
não as entendiam naquele momento,
podendo vir a entendê-las mais tarde.
Por outro lado, os que O perseguiam e
queriam prendê-lo, não se sentiam suficientemente autorizados para isso, já que
Ele falava por parábolas.
las.
Veja a seguir algumas destas parábo-
2. O perdido é encontrado - Leia Lucas
15.1-32
Leia primeiro o texto todo, percebendo o que há de comum nas três parábolas que aí se encontram.
A S E M E L H A N Ç A C O M O C A R ÁT E R D O PA I |
Nos primeiros versículos (1-3) nós encontramos a razão por que Jesus contou
estas três parábolas. Os fariseus e escribas O criticavam por receber pessoas que
não cumpriam as leis religiosas. Tais pessoas eram consideradas por eles como
“os pecadores”. Jesus, então, conta estas
parábolas, mostrando em todas que algo
está perdido e é procurado, havendo
grande alegria ao se encontrar o que estava perdido.
Jesus queria que os fariseus e escribas entendessem o quanto é alegre para
Deus que o ser humano perdido se deixe
achar por Ele. Receber a pessoa que se
volta para Ele é o Seu desejo e a Sua alegria.
Vejamos algumas semelhanças e diferenças entre estas parábolas:
- Nas duas primeiras, quem toma a
iniciativa para o reencontro com o que
estava perdido é o dono. Isto mostra que
a graça de Deus vem sempre primeiro.
Ele nos busca antes mesmo de O procurarmos.
- Na parábola da dracma, o que está
perdido não tem consciência da sua perdição e nem sofre por isso. Na parábola
da ovelha perdida, ela já sofre como consequência do seu afastamento do pastor.
O filho já tem plena consciência do seu
afastamento do pai. Cada pecador pode
ter um grau diferente de consciência do
seu afastamento de Deus, mas todos estão perdidos enquanto não houver o reencontro com o Pai.
- Na parábola do filho pródigo, vemos
o filho voltando arrependido e o pai que
o espera. Isto nos mostra que há uma
parte a ser feita pelo homem afastado de
Deus. Este deve reconhecer o seu estado
de filho desgarrado e desejar a comunhão com o Pai, expressando-se tudo isto
na sua atitude de voltar.
É maravilhoso saber que ao filho basta o reconhecimento da sua condição e
a atitude de voltar, para que possa restabelecer sua condição junto ao pai. Não é
preciso melhorar o aspecto para se voltar
para Deus. As mudanças acontecerão
com o restabelecimento da condição de
filho e pela comunhão com o Pai (vs. 2122). Assim aconteceu com o filho pródigo.
A volta para Deus é aquilo que a alma
do pecador mais almeja, tenha ele consciência disso ou não. Pena que muitos
continuem em estado de rebelião, resistindo à sua própria necessidade de voltar.
Não percebem que nesta volta estaria
sua possibilidade de ter uma vida feliz e
com propósito.
Outra lição que a parábola do filho
pródigo nos ensina é o perigo de sermos
como o filho mais velho que, embora vivendo em casa, tinha o coração cheio de
amargura e distante da comunhão com o
pai. Não se aproveitava de sua riqueza.
Parecia mais ser um empregado, cumprindo fielmente todos os seus deveres,
sem afinidade com o seu pai. Não sofreu
com ele e nem partilhou da alegria do pai
com a volta do seu irmão.
Jesus falava aos fariseus, lembra-se?
(vs.1-3). Eles cumpriam a lei, mas não
tinham misericórdia. Por isso, condenavam Jesus, por aceitar aqueles que eles
julgavam “grandes pecadores”.
Será que podemos ser como o filho
mais velho? Estar na “casa do Pai” e apenas cumprir as nossas obrigações, sem
qualquer alegria? Se não amamos o Pai
Celeste e nem temos comunhão íntima
com Ele, não nos alegraremos em Sua
casa e nem teremos um caráter parecido
com o d’Ele: amoroso e perdoador.
Com o coração livre e feliz, recebamos
com alegria as pessoas na nossa família
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 73
| A S E M E L H A N Ç A C O M O C A R ÁT E R D O PA I
espiritual, pois, somos todos pecadores
perdoados.
Aplicação a sua vida: Você se alegra no
seu convívio com Deus? Quais efeitos esse
convívio tem produzido em sua vida? Seu
coração está cheio de amor e espírito perdoador como o coração do Pai?
3. O fariseu e o publicano - Leia Lucas
18.9-14
No versículo 9, Lucas declara que Jesus contou esta parábola aos religiosos,
aqueles que confiavam em sua própria
justiça. Ele queria fazê-los compreender
que, o reconhecimento humilde de que
se é pecador, é agradável a Deus. Não o
sentimento de orgulho e de desprezo a
outros.
Ali estavam o fariseu e o publicano no
templo.
O publicano era considerado impuro
diante de Deus, pois, não praticava os deveres e rituais religiosos. Era, no entanto,
humilde, reconhecendo-se pecador e necessitado da misericórdia de Deus.
O fariseu, no entanto, que cumpria
com rigor as regras da lei mosaica, julgava-se superior e desprezava aqueles que
não tinham o seu modo de viver. Talvez
aquele fariseu fosse até sincero. Julgavase realmente melhor por cumprir a lei.
Só que ele mostrava com isso que não
conhecia a Deus e que julgava apenas de
acordo com a aparência exterior, não percebendo o orgulho, a falta de misericórdia, e a pobreza de amor que habitavam
o seu coração.
O publicano, cheio de humildade, reconhecia o quanto necessitava da graça
de Deus, o que não acontecia com o fariseu. Lemos na Bíblia: “Deus se opõe aos
74 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
arrogantes, porém dá graça aos humildes
(Tg. 4.6)
Esta parábola nos mostra o perigo de
agirmos como o fariseu. Agimos assim
quando consideramos pecado apenas a
quebra das leis exteriores, sendo pessoas
interiormente abaixo do padrão de Deus.
E existe alguém que não esteja muito
abaixo? Estamos abaixo quando nos
faltam humildade, justiça, amor, compaixão, coragem para viver o que é correto.
Quando, em vez de nos considerarmos
pecadores, sentimos orgulho porque
cumprimos exteriormente os nossos deveres religiosos. Quantas vezes agimos
como o fariseu da parábola! Isto é abominável a Deus, pois, nos afasta d’Ele, impedindo o nosso crescimento espiritual.
Aplicação a sua vida: É possível crescer
no relacionamento com Deus sendo como
o fariseu? Por quê?
O reconhecimento do nosso pecado,
e a nossa contrição, com desejo profundo
de ser o que Deus quer de nós, fará com
que Ele nos tome nos braços e nos ajude
a crescer em direção ao Seu ideal.
Conclusão
Vimos neste estudo algumas parábolas contadas por Jesus nesta parte do seu
ministério, quando Ele estava na Pereia
ou indo para Jerusalém. No próximo estudo veremos alguns fatos do Seu ministério nesta região.
Que Deus nos dê a humildade que
nos abra à Sua graça!
_________
(1) Gioia Egídio. Notas e Comentários à Harmonia
dos Evangelhos. RJ: JUERP, 1969
ESTUDO 22
JESUS É VIDA QUE LIBERTA
O Ministério de Jesus na Pereia Fatos importantes
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Leituras Diárias
Lucas 17.11-19
João 11.1-14
João 11.14-27
João 11.28-44
Lucas 18.18-24
Lucas 19.1-10
Introdução
No estudo anterior, dissemos que o
ministério de Jesus na Pereia está narrado principalmente em Lucas 13.22 a
19.28, havendo poucos fatos relacionados e esta fase em outros evangelhos.
Enquanto no estudo anterior vimos
algumas parábolas ensinadas por Jesus,
agora veremos alguns fatos desta parte
do seu ministério, alguns narrados em
Lucas e um contado pelo evangelista
João. Antes de passarmos ao estudo dos
fatos que serão vistos neste estudo, examine o texto de Lucas indicado acima e
identifique todos os fatos encontrados
aí.
1. Jesus faz o bem, sem visar gratidão Leia Lucas 17.11-19
Vemos aí que Jesus não curava para
receber qualquer forma de retribuição,
nem mesmo para receber agradecimen-
tos. Ele curava por sentir compaixão das
pessoas. Ele satisfazia a necessidade das
pessoas e não Suas próprias necessidades, como pode acontecer hoje com muitos de nós que desejam com suas obras
atrair audiências, receber agradecimentos, atenção, notoriedade, etc. Com Jesus
nunca acontecia isto.
Neste milagre, vemos que apenas um
voltou para agradecer, o que nos ensina
que o grupo dos que não revelam gratidão é sempre maior do que o grupo dos
agradecidos. Jesus se agrada de um coração grato, não em Seu próprio benefício,
mas por saber que a pessoa agradecida
receberá bênçãos maiores.
Aplicação a sua vida: Em qual grupo
você está? Quais bênçãos você tem recebido sem agradecer e, às vezes, sem mesmo
notar?
REFLEXÕES BÍBLIC
BÍBLIC AS
AS II
II
REFLEXÕES
75
|| 75
| J E S U S É V I D A Q U E L I B E R TA
Muitas pessoas não recebem as bênçãos mais preciosas de Deus (as espirituais) por não terem o coração preparado
para isso. Dos que receberam a cura, o
samaritano foi mais abençoado, pois, não
apenas o seu corpo, mas sua alma foi tocada, além de ter tido mais um contato
com Jesus.
2. Jesus é a Vida - Leia João 11.1-48
Quando Jesus estava na Pereia, soube
que seu amigo Lázaro estava enfermo.
Foi, então, à Betânia, na Judeia. Jesus estava numa fase de grande popularidade
e de grande pressão em Seu ministério.
Era perigoso para Ele voltar à Judeia, pois,
poderia ser perseguido e talvez até morto. Os discípulos sabiam disso e o próprio
Tomé disse aos outros no versículo 16:
“Vamos nós também para morrer com Ele”.
Ao chegar à casa dos Seus amigos e
encontrar Lázaro já morto, Jesus realizou
o grande milagre de trazer à vida alguém
já morto há quatro dias. Isto causou
grande sensação.
Este texto faz-nos ver não apenas o
poder de Jesus ao realizar este milagre,
mas outros aspectos a respeito d’Ele.
- Ele é vida. Quem está n’Ele não experimentará a morte eterna (vs. 25-26).
- Ele tinha emoções como qualquer
ser humano: comovia-se, chorava, sofria
(vs. 33-35, 38).
- Ele tinha uma dependência profunda de Deus e disso dava sempre testemunho (vs. 41-42).
Muitos creram n’Ele após este milagre
(v. 45). Outro resultado do milagre, no
entanto, foi que os fariseus e sacerdotes
passaram a desejar mais ainda matar a
Jesus (vs. 47-48). A presença e as ações
76 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
do Filho de Deus ameaçavam as suas atividades e posições.
A presença de Jesus em nossas vidas
sempre ameaçará aquilo que para nós é
ídolo. Mas os ídolos escravizam, não nos
dão a verdadeira alegria, e um dia nos
deixarão totalmente desamparados.
Aplicação a sua vida: Quais ídolos você
ainda percebe em sua vida?
Apesar de ter estado em Betânia,
Jesus se dirigiu depois para longe de
Jerusalém, pois, ainda não era chegada a
Sua hora, embora esta já estivesse muito
próxima.
3. Jesus quer a nossa libertação - Leia
Lucas 18.18-24 e 19.1-10
Temos aí dois fatos interessantes
desse período do ministério de Jesus: o
encontro d’Ele com duas pessoas muito
diferentes uma da outra. O jovem rico e
o publicano Zaqueu.
Façamos um paralelo ligeiro entre essas duas pessoas tão diferentes do ponto
de vista social e religioso, mas ambas tão
profundamente necessitadas da graça do
Senhor.
- O jovem era corretíssimo e guardava criteriosamente toda a lei de Moisés,
desde muito cedo em sua vida. Zaqueu
era um homem de péssima reputação na
sociedade e acumulara muitas riquezas,
cobrando impostos do seu povo - o judeu - para o povo romano que oprimia os
judeus. E cobrava além do devido, através daqueles a quem ele chefiava. Era
considerado um “pecador”.
J E S U S É V I D A Q U E L I B E R TA |
- O jovem rico era muito correto, parecendo confiar na sua própria bondade
e correção, não percebendo o seu profundo egoísmo. Preso às riquezas, não
estava disposto a renunciar uma posição confortável em favor de outros. Não
se deixou tocar pela graça, talvez por se
julgar muito correto. Zaqueu talvez se
considerasse um pecador e, por isso, a
presença de Jesus na sua casa o tocou
profundamente. Ele estava pronto a ser
tocado pela graça e a renunciar aquilo
que até ali ele julgara tão importante. O
toque da graça o transformou.
- O jovem rico confiava em sua justiça,
julgando-se bom porque cumpria a lei.
Zaqueu considerava-se um pecador e sabia que, para ser perdoado, precisava da
misericórdia de Deus.
Muitas lições podemos tirar desses
dois encontros de Jesus.
Do encontro de Jesus com o jovem
rico, aprendemos que:
- Precisamos ter cuidado com as coisas que consideramos preciosas em nossas vidas, pois, estas poderão fazer com
que percamos o que é muito mais valioso. Não devemos inverter os valores,
desprezando o espiritual em função do
material, trocando o essencial e eterno
pelo que é secundário e transitório.
- Jesus quer nos libertar da escravidão. Aquele moço era um escravo de
suas riquezas e infeliz por causa disso.
Saiu triste. Veio buscar segurança e alegria, e saiu sem elas.
No encontro com Zaqueu, o publicano, observamos que:
- As pessoas murmuravam, isto é, falavam mal de Jesus por haver Ele entrado
na casa de um homem de má reputação
na sociedade. Novamente, Jesus valoriza
mais o ser humano que está disponível
para a transformação e o crescimento, do
que a opinião de pessoas legalistas que
acabam se tornando desumanas.
O que é ser verdadeiramente humano, senão ser o humano conforme o ideal
de Deus? E qual é o ideal de Deus para
nós? Não é que tenhamos a Sua imagem
em nós, que foi danificada na queda, o
mais restaurada possível? E qual o modelo de ser humano perfeito, senão Jesus?
- Ninguém que é tocado pela graça
deixa de sentir, como efeito da transformação que ela causa, além da alegria,
o desejo de corrigir-se e de doar de si
aos outros. Como você percebe, tudo
isto aconteceu aí com Zaqueu. Conhecer
verdadeiramente a Jesus provoca transformações que nos humanizam e nos
alegram!
Aplicação a sua vida: O que está impedindo que Deus opere transformações em sua
vida?
Conclusão
Jesus termina o Seu ministério na Pereia. Aproximam-se agora seus últimos
dias sobre a terra. Veremos nos próximos
estudos sua última semana de vida terrena. Caminhará para Jerusalém como a
ovelha que vai para o matadouro. Sabe
que ali estarão Seus dias de agonia, sofrimento e morte. Mas, era necessária a Sua
submissão ao Pai, isto é, ao cumprimento
do projeto divino, que era o Seu próprio
projeto, já que Ele e o Pai, em Suas próprias palavras, são UM (Jo.10.30 e 14.9 e
11).
Ir a Jerusalém significava levar a termo a sua dolorosa e sublime missão até o
fim. Isso significaria a Sua vitória e o nosso supremo bem.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 77
ESTUDO 23
JESUS SOFRE,
RECONHECENDO O QUE
O AGUARDA
A Última semana na vida de
Jesus - Domingo e Segunda-feira
Introdução
Neste e nos dois próximos estudos,
veremos a última semana da vida terrena
de Jesus. Eles foram divididos pelos dias
da semana. Para isto, consultei o livro
“Introduccion al estudio del Nuevo Testamento” do autor H. I. Hester, que consta
das Referências Bibliográficas, ao final.
Esta última semana foi de muitas
atividades e de trágicos sofrimentos na
vida de Jesus. A páscoa dos judeus foi
na sexta-feira em que Jesus foi crucificado. Como o dia judaico começa com o
pôr do sol do dia anterior, a partir do pôr
do sol de quinta-feira já a páscoa era celebrada. Em João 12.1 lemos que Jesus
foi a Betânia seis Dias antes da páscoa.
Provavelmente foi na sexta-feira da semana anterior e aí Ele passou o sábado.
Enquanto isto, em Jerusalém muitos co78
78 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Leituras Diárias
João 12.12-19
Marcos 11.12-19
João 12. 20-30
João 14.15-17
João 15.1-5
João 14.6-11
gitavam se Ele iria ou não à festa. O cerco
se apertava em torno de Jesus (Leia João
11.55-57).
Este estudo abrangerá o domingo e a
segunda-feira.
Jesus chegou no final da semana anterior à páscoa, na casa de Seus amigos
Marta, Maria e Lázaro, em Betânia, e ali
passou o sábado. Ali foi homenageado
por Maria, que lhe perfumou os pés com
um caríssimo perfume (Jo. 12.1-3).
Betânia distava de Jerusalém, aproximadamente, três quilômetros. No domingo e na segunda-feira, vários fatos
tiveram lugar na vida de Jesus, na cidade
de Jerusalém. Vejamos tais fatos.
1. A entrada triunfal - Leia João 12.1219
Após passar o sábado em Betânia,
Jesus corajosamente foi no dia seguinte
a Jerusalém. Foi quando se deu a Sua
JESUS SOFRE, RECONHECENDO O QUE O AGUARDA |
entrada triunfal. Chegou montado num
jumentinho. Assim se cumpriu o que lemos em Zacarias 9.9. A multidão O aclamara, espalhando ramos de palmeira.
Era a semana da páscoa e a cidade estava cheia. A Sua fama se espalhara de
forma estrondosa, especialmente depois
da ressurreição de Lázaro. Muitos ainda
estavam esperando que Ele fosse o líder
político que libertaria Israel do Império
Romano.
Ao vir montado num simples jumento
em vez de montar num imponente cavalo, Ele anunciava que vinha numa missão
de paz, pois este era o significado do Seu
ato. E, ao chegar cumprindo uma profecia, estava proclamando ser o Messias.
Acabado o domingo, Jesus voltou a Betânia, indo passar a noite na casa de Seus
amigos (Mc. 11.11).
2. Dois fatos ocorridos na segunda-feira
- Leia Marcos 11.12-19
Na segunda-feira, novamente Jesus
foi a Jerusalém. O primeiro fato narrado neste texto foi a maldição da figueira. Este milagre tem sido criticado por
alguns porque esta não era época de figos. “Contudo consta que na Palestina a
figueira dá fruto temporão, verde e imaturo, que aparece antes das folhas e serve de
alimento para os camponeses. A ausência
desse fruto seria evidência inegável da esterilidade da árvore”.(1)
Este fato era uma lição para os israelitas, pois, a figueira era símbolo da nação.
A nação, embora abundante em folhas
de aparência religiosa, não produzia frutos de justiça.
O segundo fato dessa segundafeira, narrado por Marcos, foi a purificação do templo.
Transcrevemos aqui um texto do
Novo Comentário da Bíblia:
“Ele agia mais uma vez na Sua função de Messias. Nesta ocasião o pátio
dos gentios serviu de palco para a cena.
Naquele pátio havia um mercado para a
venda de objetos necessários ao templo,
e um câmbio onde se obtinha dinheiro
judaico, visto que não se aceitava no recinto sagrado, tributo pago em moedas
pagãs. Estas provisões aparentemente
razoáveis abriram, no entanto, uma porta para a hierarquia extorquir dinheiro e,
ao mesmo tempo, para o povo regatear
os animais como se fosse bazar oriental,
com o consequente prejuízo dos peregrinos. Parece que alguns usavam o recinto
como atalho entre a cidade e o Monte
das Oliveiras (v.16), minúcia esta notada
somente por Marcos. ”(2)
Na época da páscoa, havia muita gente em Jerusalém e os animais vendidos
no templo tinham a garantia de serem
aceitos para o sacrifício, pois, estes deveriam ser animais sadios e perfeitos. Os
vendedores exploravam, por isso, especialmente os que vinham de longe. Isto
provocou a indignação, a ira de Jesus,
pois, via que, por motivos egoístas da
classe mais alta, muitas criaturas amadas
por Deus eram prejudicadas.
Aplicação a sua vida: Quando você se ira,
isto é sempre resultante do seu senso de
justiça ao ver outras pessoas sendo prejudicadas, ou tem por causa motivos egoístas e
pecaminosos, como o orgulho ferido ou interesses pessoais prejudicados? Examinese nos momentos de ira para se conhecer
melhor. Talvez este seja um caminho para
as transformações que Deus quer operar
em sua vida.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 79
| JESUS SOFRE, RECONHECENDO O QUE O AGUARDA
3. Gregos querem ver Jesus - Leia João
12. 20-30
Jesus foi procurado por alguns gregos
que desejavam vê-lo, ainda na segundafeira, segundo H. I. Hester.
Estes gregos eram prosélitos (3), pois,
o v. 20 diz que eles também foram adorar.
Eles procuraram a Filipe, talvez por ser
este de Betsaida da Galileia, onde havia
muitos gregos. Filipe falou a André e ambos se dirigiram a Jesus. O Mestre, então,
dirigiu-lhes a palavra, expressando-lhes o
que lhe iria acontecer nos próximos dias,
como também a grande angústia que tomava conta de Sua alma. Disse-lhes que
a hora de Sua glorificação chegara (v. 23),
mas que, antes disto, haveria muita humilhação e sofrimento (v. 24).
Parece que Jesus viu na vinda dos gregos as primícias da grande colheita que
virá a partir de Seu sofrimento, morte e
ressurreição. Por isso, Ele proclamou a
grande verdade do versículo 24: “Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão
de trigo, caindo na terra, não morrer, fica
ele só; mas se morrer, dá muito fruto”. A
grande colheita de almas remidas, entre
judeus e gentios, deveria ser precedida
de Sua morte.
Jesus falou da sua angústia e declarou que para isso Ele veio, não podendo
pedir ao Pai que O salvasse dessa hora.
Em intenso sofrimento, recebeu a confirmação dos céus de que era necessário o
cumprimento de Sua missão.
80 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
Nos versículos 24-26, embora falando do Seu próprio sofrimento e morte,
Jesus está falando também daquele que
deseja segui-lo, conforme Mateus 10.39.
A vida que se doa é a vida que produz.
É preciso renunciar para ter. O ser humano pecador está dividido. Deseja a
comunhão com Deus e ter uma vida que
O sirva, mas sente também atração pelas
solicitações vindas de um mundo pecador. Ele precisa perder o que deseja a sua
natureza pecaminosa, para tomar posse
daquilo que vai satisfazê-lo plenamente.
Aplicação a sua vida: Em quais circunstâncias você tem demonstrado que se dispõe a
perder para ganhar?
Conclusão
Este estudo apresentou algumas coisas que aconteceram no domingo e na
segunda-feira da última semana da vida
terrena de Jesus. No final do dia, Ele novamente foi repousar na casa de Seus
amigos, em Betânia. Marcos diz apenas
que Ele se retirou da cidade (11.19) e Mateus diz que Ele foi para Betânia (21.17).
_______
(1) O Novo Comentário da Bíblia - Vol. II - Ed Vida
Nova - Pag. 1012
(2) O Novo Comentário da Bíblia - Vol. II - Ed Vida
Nova - Pág. 1013
(3) Prosélitos - Palavra que no NT se aplica aos
pagãos convertidos ao judaísmo.
Estudo 24
ENSINANDO ATÉ O FIM
A última semana na vida de Jesus
Terça, Quarta e Quinta-feira
Introdução
Veremos neste estudo a terça, quarta
e quinta feiras da última semana de Jesus neste mundo. A terça-feira foi um dia
cansativo e de muitos confrontos, quando Jesus ensinou através deles. Muitos
são os relatos bíblicos sobre acontecimentos e ensinos na terça-feira. Por isso,
há neste estudo referências a muitos capítulos de Mateus, apenas para que você
tenha uma visão geral da intensidade
das atividades de Jesus na terça-feira. À
tardezinha foi novamente para Betânia,
onde esteve à noite e todo o dia de quarta-feira, voltando a Jerusalém somente
na quinta-feira.
Os evangelhos não falam de nenhuma atividade na quarta-feira. Ele deve ter
passado esse dia em oração e reflexão,
preparando a Si mesmo e aos Seus discípulos para o que aconteceria a seguir.
Na quinta-feira, Jesus foi outra vez
para Jerusalém, celebrou a páscoa com
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Leituras Diárias
Mateus 23.12-15
Mateus 23.23-28
Mateus 26. 17-30
João 13.1-20
Mateus 26. 36-46
Mateus 26.47-56
Seus discípulos e transmitiu-lhes muitos
ensinamentos. Dali não sairia mais, enfrentando todos os horrores do final de
Sua vida terrena entre nós.
1. Muitos ensinos na terça-feira
Terça-feira foi um dia exaustivo e penoso. Jesus chegou cedo a Jerusalém,
havendo ensinado aos Seus discípulos
sobre a fé, quando estes viram a figueira que fora amaldiçoada na véspera (Mc.
11.20-24). Foi um dia de confronto, de
controvérsias. Os inimigos tudo fizeram
para pegá-lo em alguma armadilha. Regressou a Betânia tarde.
No domingo e na segunda-feira, Jesus havia assumido sua posição de Messias. Isto precipitou o desejo dos líderes
judaicos de pegá-lo nalguma falta, para
terem de que O acusar, condenando-O à
morte. Membros do sinédrio, como também vários outros fariseus, herodianos e
saduceus, através de perguntas capcioREFLEXÕES BÍBLIC
BÍBLIC AS
AS II
II
REFLEXÕES
81
|| 81
| E N S I N A N D O AT É O F I M
sas, embora aparentemente ingênuas,
puseram Jesus à prova. Tudo fizeram
para deixá-lo mal diante do povo.
Examine ligeiramente os textos indicados a seguir, para que você tenha ideia
da intensidade das atividades de Jesus
neste dia.
a) Em Mateus 21.23 a 22.40 temos
algumas das perguntas feitas a Jesus.
- A primeira foi sobre sua autoridade
(21.23-27). Ele contou, então, três parábolas que ilustravam a atitude dos líderes
judaicos (21.28 - 22.14). - A segunda foi sobre o pagamento de
tributo a César (22.15-22).
- A terceira foi sobre a ressurreição
(22.23-33).
- A quarta foi sobre o principal dos
mandamentos (22.34-40).
Jesus respondeu a todas com sabedoria, de tal maneira que deixou a multidão
admirada e encantada.
b) Em Mateus 23.1-39 Jesus fez pesado discurso, denunciando a hipocrisia
dos escribas e fariseus. Depois, Ele observou e elogiou a oferta da viúva pobre,
fato observado apenas por Marcos e Lucas (Mc. 12.41-44 e Lc. 21.1-4).
c) Em Mateus 24-25, temos três discursos de Jesus.
1º) Sobre a destruição de Jerusalém
(Mt. 24.1-35). Isto veio a ocorrer mais ou
menos trinta anos depois.
2º) Sobre sua vinda, com exortação à
vigilância através das parábolas das dez
virgens e dos talentos (Mt.24.36 - 25.30).
3º) Por último, sobre o último julgamento (Mt. 25.31-46). Foi um dia emocionalmente muito difícil. Depois disto
foi para Betânia.
Em Mateus 26.1-16, vemos, ainda na
terça-feira, primeiro Jesus preparando
82 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
seus discípulos para o que lhe aconteceria na quinta e sexta-feiras. Enquanto
isso, os líderes judaicos planejavam pegá-lo para O matarem. Mais tarde, vemos
Jesus, já em Betânia, sendo ungido por
uma mulher, que João parece identificar
como Maria, irmã de Marta e Lázaro (Jo.
12.2-3).
Houve crítica por parte dos discípulos
ao uso de um perfume tão caro ali. João
identifica o autor da crítica como Judas e
diz que ele, como tesoureiro, queria depositar dinheiro na bolsa do grupo para
roubá-lo (Jo. 12.4-6). O relato de Mateus e
o de João referem-se ao mesmo fato.
O dia de terça-feira foi, portanto, muito cheio. Desde cedo, na vinda, com os
ensinamentos sobre a figueira que havia
secado; depois, os confrontos e ensinamentos no templo; por fim, a volta para
Betânia, sendo ungido na casa de Simão.
Quarta-feira foi um dia sobre o qual
não temos nenhum fato registrado nos
evangelhos. Foi um dia, talvez em Betânia mesmo, de preparação para o que
viria.
Nos dois próximos ítens veremos fatos que ocorreram na quinta-feira.
2. Ceia do Senhor com lição de humildade, despedidas, ensinos e oração sacerdotal - Leia Mateus 26.17-30 e João
13.1-20
Jesus celebrou a ceia pascal, que se
transformou em Ceia do Senhor para os
cristãos. Aqueles que já eram Seus discípulos e outros milhares, que O seguiriam
após a Sua morte e ressurreição, tem
celebrado a Ceia do Senhor com todo o
simbolismo cristão que conhecemos, o
qual nos foi transmitido pelo próprio Jesus e seus primeiros seguidores.
O Evangelho de João nos mostra, durante a ceia, Jesus lavando os pés dos discípulos - a grande lição de humildade e
E N S I N A N D O AT É O F I M |
de serviço que eles jamais esqueceriam.
Para os discípulos, foi chocante ver Jesus
fazendo um trabalho de escravo. Mas, Ele
ensinava com isso que no Seu reino os
valores são diferentes dos valores deste
mundo. O maior é o que serve. Devia-se
procurar servir e não ser servido. A partir
do versículo 21 de João 13, o traidor é revelado e Pedro é avisado de que negaria
o Senhor.
João, nos capítulos 14 a 17 do seu
Evangelho, nos mostra Jesus, ao se despedir de Sua vida terrena, transmitindo
outros ensinos a Seus discípulos e orando por eles.
Aplicação a sua vida: Jesus, o grande Mestre, ensinou o tempo todo, com Seu modo
de viver e Seus pronunciamentos. Quais
atitudes demonstram em você o desejo de
aprender com Jesus? E como você tem demonstrado em sua vida esse aprendizado?
3. Jesus no Getsêmane - Leia Mateus
26. 36-56
Aqui vemos o sofrimento de Jesus
atingindo uma intensidade indescritível.
A hora final se aproximava, quando Ele se
ofereceria como holocausto pelos nossos
pecados. A Sua alma estava extremamente angustiada. Seu desejo era fugir
da cruz. Mas, para isso veio.
Durante toda a Sua vida, Jesus foi
tentado a desviar-se da cruz. Para isso, o
diabo lutou com Ele na tentação após o
batismo; para isso, usou o povo que quis
fazê-lo rei; para isso, usou até Pedro quando aconselhou Jesus a não deixar que
coisas tão penosas lhe acontecessem. E
agora esta agonia, esta angústia, esta
dor inominável... Mas Jesus tinha plena
consciência de Sua missão e iria cumprila. Ele mesmo disse: “Eu sou o bom pastor;
o bom pastor dá a Sua vida pelas ovelhas”
(Jo. 10.11).
No Getsêmane, Jesus recomendou
aos Seus seguidores: “Vigiai e orai para
que não entreis em tentação” (v. 41). Deus
tem propósitos para a nossa vida, dos
quais somos sempre tentados a nos desviar.
Temos nós resistido a tais tentações?
Depois da terceira vez que orou em
extrema angústia as mesmas palavras,
Jesus serenamente anunciou aos Seus
discípulos que Sua hora era chegada.
Então Judas se aproximou com muitas pessoas da parte dos líderes do povo
judeu. Jesus foi preso. Um dos discípulos, identificado como Pedro por João (Jo.
18.10), feriu o servo do sumo-sacerdote,
sendo repreendido por Jesus. O nosso
Mestre nos ensina a trilharmos o caminho da não violência, a sermos pacificadores.
Conclusão
Assim passaram-se terça, quarta e
quinta feiras daquela fatídica semana.
Lembra-se dos principais acontecimentos desde o domingo? Veja:
- domingo: entrada triunfal em Jerusalém;
- segunda-feira: a figueira é amaldiçoada, a purificação do templo, os gregos
procuram Jesus;
- terça-feira: os discípulos se admiram
de que a figueira haja secado, respostas
a perguntas e ensinamentos no templo,
Jesus é ungido em Betânia;
- quarta-feira: provavelmente, oração
e contato com os discípulos em Betânia;
busca de força para enfrentar os momentos finais;
- quinta-feira: celebração da ceia, muitos ensinamentos, despedidas, oração sacerdotal, Jesus ora no Getsêmane e ali é
traído e preso. Aproxima-se o doloroso
final.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 83
ESTUDO 25
O FINAL DA VIDA TERRENA
DE JESUS
A última semana na vida de Jesus
- Sexta-feira e Sábado
Introdução
No estudo anterior, vimos que na
quinta-feira Jesus celebrara a Páscoa com
Seus discípulos e se despedira deles com
uma grande lição de humildade, e depois
com vários ensinos e oração (Jo. 14-17).
A seguir, ainda na quinta-feira, Jesus sofreu a Sua agonia no Getsêmane, sendo
preso e entregue às autoridades por uma
multidão chefiada por Judas Iscariotes.
Neste estudo, veremos a sexta-feira e
o sábado. Sexta-feira, o dia tenebroso em
que o maior sofrimento já enfrentado por
um ser humano aconteceu. Sábado, o dia
em que o corpo de Jesus passou no túmulo. Para os discípulos, dia de silêncio,
de espanto, de desamparo, de desolação,
de decepção, de tristeza, de medo. O dia
de sofrimento que antecedeu ao maior
e mais surpreendente acontecimento já
visto sobre a terra.
84
84 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Leituras Diárias
Mateus 26.57-75
Mateus 27.1-31
Mateus 27.32-44
Mateus 27.45-56
Mateus 27. 57-61
Filipenses 2.5-11
1. Jesus perante as autoridades judaicas - Mateus 26.57-75
Apanhado na quinta-feira à noite por
guardas e outras pessoas, todos enviados pelos líderes judaicos e guiados por
Judas Iscariotes, Jesus foi levado até Caifás. Só João narra que, antes de ser conduzido a Caifás, que era o sumo-sacerdote, levaram-no a Anás, o sogro de Caifás.
Os membros do Sinédrio se reuniram
para julgar Jesus. Foi um julgamento, segundo os estudiosos, totalmente ilegal,
já que além das testemunhas contra Jesus serem completamente tendenciosas,
não havia testemunha favorável a Ele.
Além disso, Jesus fora arrastado até ali,
sem que pesasse sobre Ele uma acusação
formal.
Durante aquela madrugada, um fato
envolveu o apóstolo Pedro e que nos traz
muitas lições - Leia Mateus 26.69-75
Ali no pátio, perto de onde Jesus estava, Pedro foi indagado, por várias vezes,
O FINAL DA VIDA TERRENA DE JESUS |
se pertencia ao grupo de Jesus, ao que
ele negou categoricamente. Após negar
por três vezes que era um seguidor de
Jesus e ouvir o galo cantar, Pedro se lembrou de que Jesus lhe dissera que ele O
negaria três vezes (Mt. 26.33-35).
Jesus mandou que ele apascentasse
Suas ovelhas. Deus nos usa quando desejamos de coração a Sua vontade, reconhecendo, no entanto, as nossas fragilidades e entregando-nos a Quem pode
nos encher de poder e graça.
Algumas observações sobre Pedro:
Mais tarde, cheio do Espírito Santo,
Pedro se tornou corajoso, mas sabia que
esta coragem não vinha dele e, por isso,
não poderia ficar vaidoso.
- Pedro seguia Jesus de longe. Estava
amedrontado. Quando seguimos Jesus
de longe, nossa fé se enfraquece, nossos
temores aumentam. - Pedro estava na companhia de inimigos de Jesus. Se, principalmente em
nossos momentos mais vulneráveis, andamos com aqueles que amam a Jesus,
nossa fé se fortalece e nos sentimos encorajados. Mas, ele estava com estranhos
e adversários.
Lucas registra que Jesus, após Pedro
lhe haver negado pela terceira vez, olhou
para ele. Isto quebrantou o coração de
Pedro, que saiu para chorar fora dali. Estava arrependido e decepcionado consigo mesmo.
Pedro estava se confrontando com o
que havia feito e conhecendo-se melhor.
Ele, que dissera a Jesus que o seguiria até
à morte, sem negá-lo (Mt. 26.35), agora
teve que admitir sua fragilidade e covardia.
Depois da ressurreição, num diálogo
com Pedro (Jo. 21.15-17), Jesus lhe perguntou por três vezes (tantas vezes quantas ele O negara), se ele O amava. Pedro
hesitou em responder e, quando respondeu que o amava, usou em grego, um
verbo diferente do que Jesus usou. Este
não significava amar profundamente, a
ponto de se sacrificar por Ele. Pedro estava agora quebrantado, humilde. Amava
a Jesus, mas não confiava em si mesmo,
como antes. Precisaria depender de
Deus para isso.
Somos fracos e temos de viver sempre sob a graça de Deus.
Aplicação a sua vida: É apenas para executar algum trabalho extraordinário que
devemos confiar na força que Deus dá ou
em qualquer área do nosso viver, seja em
casa ou na sociedade? Em quais ocasiões
você tem se percebido cheio de confiança
em sua própria força e capacidade?
2. Jesus perante Pilatos - Mateus 27.131
Pela manhã, bem cedo, o Sinédrio se
reuniu para julgar Jesus e, após O julgarem digno de morte, mesmo sem nenhuma acusação formal contra Ele, O enviaram a Pilatos. Vemos neste texto que
Pilatos concordou com a morte de Jesus,
apesar de saber que Ele era justo. Tinha
medo da multidão e das autoridades judaicas. Queria estar bem com todos e
conservar seu poder.
Lucas diz que Pilatos enviou Jesus
a Herodes Antipas, que governava a
Galileia e estava em Jerusalém naqueles
dias. Nenhum crime foi visto em Jesus e
Ele foi novamente enviado a Pilatos que,
pressionado pela multidão, O entregou à
morte (Lc. 23.6-25).
Depois que Pilatos se dobrou aos
desejos da multidão e das autoridades
judaicas, Jesus foi açoitado e entregue
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 85
| O FINAL DA VIDA TERRENA DE JESUS
aos soldados romanos que d’Ele escarneceram.
Quando interesses mesquinhos e pecaminosos nos levam a tomar decisões,
estas acabam nos trazendo a infelicidade. Foi o caso de Pilatos que, embora
alertado pela mulher dele, teve medo de
perder o poder. Foi o caso de Judas, que
traiu a Jesus por dinheiro.
Será que podemos acusar Judas, Pilatos e autoridades religiosas, ou temos
de nos sentir todos, como diz Sttot.(1),
culpados pela morte de Jesus? Quantas
vezes já traímos a Jesus, deixando de
defender os interesses do Seu reino, por
motivos egoístas e covardes muito mais
fáceis de resistir do que os motivos de Pilatos, Judas e das autoridades religiosas?
Nesse caso, podemos garantir que não
faríamos o mesmo se estivéssemos no
lugar dessas pessoas?
O que precisamos é reconhecer nossas fragilidades e depender do Espírito
de Jesus para nos dar a força necessária
para vivermos uma vida sincera e íntegra,
que O alegre e dê testemunho d’Ele a
este mundo tão carente.
Se nos sentirmos melhores que qualquer pessoa, nosso acesso à infinita graça
de Deus fica prejudicada, pois, Ele rejeita
os soberbos, mas aos humildes dá graça
(Tg. 4.6). Todos nós fazemos parte desta humanidade pecadora e, de alguma
forma, por ação ou omissão, somos culpados por todos os pecados que acontecem no mundo. Se em alguns aspectos
nos portamos melhor que outros, isto
nos acontece pela graça divina. Pense
nisto!
O inimigo das nossas almas não deseja que reconheçamos quem somos,
porque só quando o fizermos em verdadeira e completa humildade, estaremos
86 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
prontos para usufruir da superabundante
graça do Senhor. Só quando reconhecermos a nossa fraqueza, é que nos tornaremos mais fortes.
Aplicação a sua vida: O que em você o
está impedindo de ser tocado pela graça
de Deus?
3. A crucificação - Mateus 27.32-66
Neste texto, temos a crucificação de
Jesus. Esta era uma forma de condenar
à morte os piores criminosos. A crucificação, além de humilhante, era inenarravelmente dolorosa. Os pés e as mãos do
criminoso eram pregados com cravos e o
corpo pendurado ficava em agonia até à
morte.
Foi este o tipo de morte do nosso Senhor amado. Alguns fatos sobre a crucificação são narrados por um e não por
outros evangelistas. Se você quiser fazer
um estudo mais completo, deve consultar os quatro Evangelhos.
Jesus é maltratado aí por três grupos,
como diz Tasker: os pecadores ignorantes
(vs. 39-40), os pecadores religiosos (vs.
41-43) e os pecadores condenados (vs.
44).(2)
Alguns fenômenos depois da morte
de Jesus foram:
- Trevas da hora sexta à hora nona: de
meio-dia às três da tarde (v. 45).
- O véu do templo que dava acesso ao
Santo dos Santos, onde só o sumo sacerdote, apenas uma vez por ano, entrava
para ser o mediador entre Deus e os homens, se rasgou (v. 51). O fato é relatado
também por Marcos e tem grande significado para os cristãos. O véu, que interditava ao povo o lugar mais sagrado do
O FINAL DA VIDA TERRENA DE JESUS |
templo, estava rasgado. A barreira que
separa os pecadores de Deus foi desfeita
pela morte vicária de Jesus.
- A visão de pessoas ressurretas (vs.
52-53).
Alguns parecem profundamente impressionados e reconhecem Jesus como
Filho de Deus.
Já no final do dia de sexta-feira, Jesus
foi colocado no sepulcro novo de José de
Arimateia, que era um homem importante, um senador, membro do sinédrio e
que Mateus diz ser um discípulo de Jesus
(Mt. 27.57-60). João, ao narrar este fato,
diz também que ele era um discípulo,
mas ocultava isto por medo dos judeus e
acrescenta que Nicodemos estava junto
com ele, levando especiarias para preparar o corpo de Jesus para a sepultura
(Jo. 19.38-40).
As autoridades, então, mandaram
guardar bem o sepulcro (vs. 62-66). Não
queriam que os discípulos roubassem o
corpo.
Conclusão
Os fatos relacionados aqui e que mostram o sacrifício de Jesus aconteceram
até o final da sexta-feira. No sábado não
acontece nada especial.
Há certa ansiedade e temor por parte
das autoridades que mandaram guardar
bem o sepulcro de Jesus. Há tristeza,
frustração e medo no coração dos discípulos.
É sábado. Aproxima-se o domingo.
O acontecimento mais extraordinário,
mais admirável, mais espantoso está para
acontecer na manhã do dia seguinte. É o
que veremos no próximo estudo.
_______
(1)
STOTT John. A Cruz de Cristo. p.61
(2)
TASKER, R.V.G. “Mateus - Introdução e Comentário. pp 210-211
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 87
ESTUDO 26
O MAIOR ACONTECIMENTO
DE TODOS OS TEMPOS
A ressurreição de Cristo
Introdução
Este é o último estudo desta série e
focalizará a ressurreição de Cristo e várias
de Suas aparições durante os quarenta
dias, até a Sua ascensão. Serão usados
textos dos vários evangelhos.
A ressurreição de Cristo, diz Paulo, é o
acontecimento que dá razão à nossa fé (I
Co.15.14). Embora seja questionada pelos céticos, há sobejas razões para que a
aceitemos como fato histórico. O maior,
o mais sublime, o mais extraordinário
acontecimento de todos os tempos,
quando a eternidade invadiu a história
humana. Não crer na ressurreição é negar, além dos registros dos evangelhos,
fatos históricos que, sem dúvida, foram
resultantes dela. É acreditar que, mesmo
sem convicção de que Jesus ressuscitou,
os cristãos primitivos continuaram se reunindo a cada Domingo para celebrarem a
ressurreição de Jesus (Jo. 20:1,19,26; I CORÍNTIOS 16:2). É acreditar ainda que, os
88
88 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Leituras Diárias
Mateus 27.62-65
Mateus 28.1-10
Mateus 28.11-15
Lucas 24.13-27
Lucas 24. 28-35
Lucas 24. 36-43 e Mateus 28.16-20
discípulos de Jesus, planejaram ganhar
o mundo inteiro, arriscando suas vidas,
em prol de uma mensagem falsa e de um
evento acerca do qual não eram testemunhas oculares.
Jesus anunciou, antes de Sua morte,
que ressuscitaria e depois, como disse
Lucas, apresentou-se vivo, com muitas
provas incontestáveis (Atos 1.3). Os discípulos, que antes de verem Jesus ressurreto, eram covardes e medrosos, escondendo-se com medo dos judeus, adquiriram
novo ânimo e, depois do Pentecostes,
espalharam o Evangelho com tal vigor
que, em pouco tempo, todo o mundo
conhecido por eles tinha sido alcançado.
Muitos foram martirizados e Pedro disse
que não podiam deixar de falar daquilo
que tinham visto e ouvido (Atos 4.20).
Será que alguém se deixaria martirizar
por algo do qual não tivesse certeza?
Acreditamos na ressurreição de Cristo
como um fato histórico. Este teve um impacto tão grande sobre todos os discípulos, que a igreja cristã se espalhou logo
O MAIOR ACONTECIMENTO DE TODOS OS TEMPOS |
por todo o Império Romano, apesar de
todas as perseguições que sofreu.
1. As primeiras aparições - Lucas 24.
1-45
Os evangelistas narram diferentemente as primeiras aparições de Jesus.
O que vemos é que as mulheres são as
primeiras a saber da ressurreição e vão
correndo contar aos discípulos (vs. 1-12).
Que privilégio! As mulheres foram as
primeiras a ver e a anunciar a ressurreição
de Cristo. Como disse alguém, se a narração da ressurreição fosse uma história
arranjada, nunca se poderia registrar as
mulheres como as primeiras a saber da
ressurreição, já que eram pessoas menos
dignas de crédito na sociedade, além de
consideradas mais sugestionáveis. Estas
mulheres foram anunciar aos onze e a outros, mas eles acharam que elas estavam
delirando. Devemos estar conscientes de
que os discípulos não esperavam que Jesus ressuscitasse dos mortos (Jo.20.9). A
primeira missão de Jesus após a ressurreição foi fazer Seus discípulos acreditarem que Ele estava vivo.
Ao chegarem em casa, eles convidaram o viajante para entrar. Na hora da refeição, quando Jesus abençoou e partiu
o pão, eles O reconheceram, mas Jesus
desapareceu. Naquele momento, eles
recordaram que, ao ouvi-lo no caminho,
algo lhes tocou o coração. O cansaço e
a tristeza foram embora e eles voltaram
para Jerusalém. Precisavam compartilhar a nova. Ao chegarem ali, encontraram os onze juntamente com outros. Já
corria entre eles a notícia da ressurreição
de Jesus e de uma aparição d’Ele a Pedro.
Jesus teve que provar que estava vivo.
Que não era apenas um espírito, mas podia ser tocado. Seu corpo, em uma outra
dimensão, podia aparecer em lugares fechados, embora fosse concreto, real. Jesus apareceu aos discípulos várias vezes.
A ressurreição para eles já era um fato.
Suas vidas começaram a tomar novo
rumo.
2. Outras aparições - João 20.24 a 21.14
Estes textos nos mostram outras aparições de Jesus.
Lucas relata aí a aparição aos dois no
caminho para Emaús, que era uma aldeia
distante, aproximadamente, 11 quilômetros de Jerusalém. É uma narração linda
e emocionante (Lucas 24.13-35).
A aparição registrada nos versículos
anteriores a este texto (vs. 19-23) parece
ser a mesma registrada por Lucas, após a
volta a Jerusalém dos dois que iam para
Emaús. Tomé não estava com eles.
Tristes e desanimados, os dois conversavam sobre o que acontecera a Jesus Sua crucificação. Eis que o próprio Jesus
apareceu e se pôs a caminhar e conversar com eles, como se fosse um simples
companheiro de caminhada. Eles falavam de sua decepção e tristeza, pelo que
havia acontecido com Aquele em quem
eles haviam depositado tanta esperança.
Afirmaram até que alguns diziam tê-lo
visto. Naturalmente, eles não acreditavam nisto. Sem que O reconhecessem,
Jesus lhes anunciou as Escrituras.
Em João 20.24-28 temos outra aparição aos discípulos, estando Tomé presente. Ele, que não acreditara e que dissera
que precisava de provas concretas, se viu
agora frente a frente com Jesus e exclamou: “Senhor meu e Deus meu” (v. 28).
Às vezes, só acreditamos no que vemos. Mas, Jesus disse: “Bem-aventurados
os que não viram e creram” (v. 29b).
Uma outra aparição foi a sete discípulos que estavam na praia (Jo. 21.1-14). Depois, Jesus apareceu várias outras veREFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 89
| O MAIOR ACONTECIMENTO DE TODOS OS TEMPOS
zes. Paulo fala de algumas dessas aparições em I Co. 15.4-8.
Aqueles discípulos tiveram o testemunho destas aparições. Nós temos,
além das Escrituras (Antigo e Novo Testamentos), todo um testemunho cristão de
dois mil anos de história, que nos falam à
mente e ao coração. Deus se revela a nós
especialmente através de Jesus Cristo,
a expressão máxima do Seu amor e da
Sua superabundante graça para com os
pecadores. Recebamos a Sua bendita
mensagem.
3. Jesus, que é UM com o Pai, quer que a
igreja cumpra sua missão - Leia Mateus
28.16-20, Lucas 24.44-53 e Atos 1.1-11
No texto de Mateus, vemos mais uma
aparição de Jesus. Pode ser a aparição
à qual Paulo se referiu em I Co. 15.6. Aí
Jesus transmite a chamada “Grande Comissão” aos discípulos. Este é o comissionamento para que eles espalhem o
Evangelho por todo o mundo. Promete
também que estaria com eles sempre.
No texto de Atos 1.1-11, vemos a ascensão de Jesus, após ter recomendado
aos discípulos que ficassem em Jerusalém, pois, um acontecimento muito importante ocorreria, inaugurando o ministério do Espírito Santo e preparando
a igreja para o início de sua atuação no
mundo, a partir daí. Jesus continuaria
com eles, não mais em forma humana e
limitada como em Sua encarnação, mas
na pessoa do Seu Espírito, que conforme
Ele mesmo falou, lhes ensinaria e lhes
transmitiria poder para fazerem coisas
maiores ainda (Jo. 14.12).
O texto de Atos tem algumas lições
importantes para nós.
- No versículo 11, os homens de branco que viram as pessoas olhando para
cima disseram: “Por que estais olhando
para o céu?” Quão significativa pode ser
esta observação! É como se eles estives90 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
sem dizendo: “vocês tem de olhar para
a terra onde há muitas necessidades a
serem supridas por aqueles que constituem a igreja do Senhor. ” Será que até
hoje não há muitos cristãos mais preocupados e curiosos em descobrir sobre
o futuro do que responsáveis por saber
sobre o seu próprio papel no presente?
Nos versículos 4-8 temos uma mensagem semelhante. Os discípulos se mostram preocupados com o tempo em que
Jesus restauraria o Reino de Israel. Jesus
diz, então, que eles não deveriam estar
preocupados com as coisas futuras, que
estão apenas no poder de Deus realizar.
Que eles deveriam sim, receber a virtude
do Espírito e ser testemunhas d’Ele aqui
e agora, agindo sempre em benefício das
pessoas.
Temos nós meras curiosidades sobre
coisas que não estão em nossas mãos
realizar, deixando de cumprir o que é a
nossa missão?
Aplicação a sua vida: Você faz parte da
igreja de Jesus Cristo neste mundo? Como
você tem demonstrado que deseja conhecer a vontade de Deus para sua vida, para
que a igreja, através de você, cumpra a sua
missão?
Conclusão
A ressurreição de Cristo tem um grande significado para os cristãos, sendo Ele
as primícias dos que dormem
(I Co. 15.20-22). Isto significa que ressuscitaremos também porque Ele venceu
a morte (I Co. 15.54-56).
Aleluia! Não temos um Senhor morto. Ele apareceu a João na ilha de Patmos
e disse “... fui morto mas agora estou aqui,
vivo para todo o sempre” (Ap. 1.18).
O MAIOR ACONTECIMENTO DE TODOS OS TEMPOS |
Antes de Sua morte, Jesus havia
dito a Seus discípulos: “Não vos deixarei
órfãos, voltarei para vós.” (Jo. 14.18). E foi
em Jerusalém que o grande fato da manifestação do Espírito Santo, o Consolador,
aconteceu, como lemos em Atos 2. Jesus
veio aos seus seguidores, na pessoa do
Espírito Santo, para ficar com eles para
sempre. Reconheçamos essa bênção!
Os discípulos, cheios de alegria e coragem, após o Pentecostes, passaram a
anunciar aquilo que eles tão bem já sabiam: Jesus estava vivo! A divulgação tão
rápida e poderosa do Cristianismo poderia ter acontecido sem a ressurreição
de Jesus? Daí para frente, ninguém os
seguraria mais na divulgação desta mensagem que continua sendo a base da fé
cristã até os dias atuais. Glória a Deus!
Jesus está vivo e, através do Seu Espírito
Santo, está entre nós. Aleluia! E como
seus seguidores, somos chamados a
reproduzir a Sua vida, o Seu ensino,
a Sua pregação, os Seus atos, sendo
sinais da Sua graça neste mundo tão necessitado.
Aplicação a sua vida: Você deseja atender o Seu chamado, cumprindo esta
sublime missão?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- A Bíblia - versões diversas
- BONHOEFFER, Dietrich. O discípulo. Tradução de Ilson Kaiser. São Leopoldo, sinodal,
2004. 208 págs.
- CARSON, D.A., MOO, Douglas J. e MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento.
Tradução de Márcio Loureiro Redondo. São Paulo: Ed. Vida Nova, 1997. 556 páginas
- DANA, H.E. O mundo do Novo Testamento. Tradução de Jabes Torres. Rio de Janeiro:
JUERP, 1977. 215 págs.
- DAVIS, John D. Dicionário da Bíblia, S.Paulo: Ed. Vida Nova, 1965.
- GIOIA, Egídio. Notas e Comentários à Harmonia dos Evangelhos. RJ: JUERP, 1969. 412
págs.
- GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. Tradução de João Marques
Bentes. São Paulo: Edições Vida Nova, 1ª edição, 1978. 445 páginas
- HESTER, H.I. Introduccion al estudio del Nuevo Testamento. Casa Bautista de Publicaciones, 1986. 354 páginas
- DOUGLAS, J.D. (Editor Organizador). O Novo Comentário da Bíblia - Volume II - São
Paulo: Ed. Vida Nova, 1987,
- SHEDD, Russel P. (Responsável pela edição em Português). O Novo Dicionário da
Bíblia - São Paulo: Ed. Vida Nova, 198
- TASKER, R.V.G. Mateus, introdução e comentário. Tradução de Odair Olivetti. Série
Cultura Cristã. São Paulo: Ed. Vida Nova, 1980, 229 págs.
- STOTT, John. A Cruz de Cristo. Tradução João Batista. São Paulo: Ed. Vida, 2006, 367
págs.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 91
ESTUDO 27
CHAMADO PARA SER
DISCÍPULO
Marcos 1.14-20; 3.13-19
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Leituras Diárias
Mc 1.14-20
Mc 3.13-19
Lc 4.18-19
Mc 16.15-16
Mt 6.33; Mc 1.15
Hb 3.7-8
Fp 1.1-6
Introdução
O que é um discípulo? Como ele se
forma? Qual é sua missão? Este estudo
procura responder a estas perguntas,
mas também apontar como cada um
de nós pode se tornar um discípulo de
Jesus. A palavra grega para discípulo é μαθητης mathetes, definida como “aprendiz, pupilo, aluno, discípulo”
(Strong).1 “Aquele que recebe ensino
de alguém; aquele que aprende; aluno”
(O Dicionário Português).2 “Pessoa que
segue os ensinamentos de um mestre.
No NT se refere tanto aos apóstolos (Mt
10.1) como aos cristãos em geral (At
6.1)” (O Dicionário Almeida). “O conceito de discípulo — aquele que aprende
de um mestre — surgiu no judaísmo
do Segundo Templo. De fato, no Antigo Testamento a palavra só aparece
uma vez (1 Cr 25.8). Nos evangelhos, o
termo indica a pessoa chamada por Jesus (Mc 3.13; Lc 6.13; 10.1) para segui-lo
92
92 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
(Lc 9.57-62), fazendo a vontade de Deus,
a ponto de aceitar a possibilidade de
enfrentar uma morte vergonhosa como
era a condenação à cruz (Mt 10.25 e
37; 16.24; Lc 14.25ss). Os discípulos de
Jesus são conhecidos pelo amor existente entre eles (Jo 13.35; 15.13). A fidelidade ao chamado do discípulo exige uma
humildade confiante em Deus e uma
disposição total para renunciar a tudo
que impeça seu pleno seguimento (Mt
18.1-4; 19,23ss.; 23.7). Mesmo que, tanto
os apóstolos como o grupo dos setenta
(Mt 10.1; 11.1; Lc 12.1) tenham recebido a designação de discípulos, o certo
é que não pode restringir-se somente
a esses grupos. Discípulo é todo aquele
que crê em Jesus como Senhor e Messias
e segue-o (At 6.1; 9.19)” (O Dicionário de
Jesus).
Além da definição dicionarizada,
compreende-se que discípulo é todo
C H A M A D O PA R A S E R D I S C Í P U LO
aquele que se parece com Jesus, alguém
que reflete a imagem de Cristo na sua
vida. Um excelente exemplo foi o que
aconteceu com os discípulos de Antioquia: Eles encarnaram tanto a imagem de
Jesus que passaram a ser chamados “cristãos” (At 11.26).
Jesus deu-nos o exemplo de liderança, formando o seu grupo de discipulado.
Esses homens teriam uma missão específica, mas precisavam ser submetidos
a um treinamento que, principalmente,
implicaria no relacionamento com o seu
Mestre.
Aplicação a sua vida: relembrando o
momento em que Deus o convidou a participar do Seu Reino e você aceitou, reflita
agora em quais aspectos você tem se assemelhado a Ele.
O DISCÍPULO É CHAMADO PARA PREGAR O EVANGELHO E ANUNCIAR QUE
O REINO DE DEUS CHEGOU (Mc 1.14 17).
Jesus iniciou o seu ministério sendo
batizado por João Batista e tentado por
Satanás. Ele venceu todas as tentações
do inimigo e prosseguiu em seu ministério pregando o Evangelho de Deus. Sua
mensagem era de que veio trazer boas
novas e esperança para os cansados e
oprimidos (Lc 4.18-19). Essa preocupação
divina para conosco é maravilhosa, mas
nos desafia a fazer o mesmo que Jesus
fez. O verdadeiro discípulo de Jesus faz
outros discípulos e glorifica o Pai através
da produção de “muito fruto”, conforme
João 15.8, onde Jesus diz: “Nisto é glorificado meu Pai, em que deis muito fruto;
e assim sereis meus discípulos”. Por este
motivo o discípulo de Jesus tem a missão
de anunciar o evangelho a toda criatura
|
(Mc 16.15-16). Alguém que se intitule discípulo de Cristo, mas não prega o evangelho, está negando sua identidade.
O Reino e a justiça de Deus devem
estar em primeiro lugar na missão do
discípulo (Mt 6.33), daí a necessidade de
arrependimento e fé (o evangelho, isto é,
as boas novas divinas). Mc 1.15 nos assegura que Deus cumpre o que promete e
o tempo para arrependermos é chegado, portanto, não pode ser adiado para
amanhã (Hb 3.7-8). Ao ouvir o evangelho
cada pessoa deve arrepender-se e crer.
Esta é a única resposta aceitável a Deus.
Este tipo de mensagem era revolucionária e demandava escolha de pessoas especiais para transmiti-las.
O DISCÍPULO DE JESUS É CHAMADO PARA SER MOLDADO POR ELE
(Mc 1.16-17)
Simão e André, os dois primeiros discípulos chamados por Jesus, eram pescadores; pessoas simples e iletradas, que
podiam ser “moldadas” por ele. Observe
que, ao convidá-los, Jesus acrescenta “eu
vos farei pescadores de homens”. Um discípulo de Jesus é mais que um seguidor
do Mestre. Ele é moldado como “pescador
de vidas”. Para Deus, não importa a posição social ou intelectual de uma pessoa,
mas, sim, o quanto ela se deixa ser usada
por Ele. O Senhor tinha um plano para os
dois irmãos (Simão e André): Eles seriam
“feitos” por Jesus em pescadores de homens. Jesus iria trabalhar e moldar suas
vidas, seu caráter e sua visão do Reino de
Deus. Mas eles tinham que vir após Ele.
O que o Senhor vai fazer em nossas vidas
só o experimentaremos quando nos deixarmos moldar por Ele. Deus começou
uma “boa obra” na vida de cada um de
nós, e a está aperfeiçoando, porém, é
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 93
| C H A M A D O PA R A S E R D I S C Í P U LO
importante lembrar que esse processo
durará até “o dia do Senhor” (Fp 1.6).
Aplicação a sua vida: Deus quer nos moldar conforme Jesus fez com Simão e André.
Qual é a sua contribuição para que isso
aconteça?
O DISCÍPULO CHAMADO POR JESUS
DEIXA IMEDIATAMENTE “SUAS REDES”
(Mc 1.18-20)
Quando Jesus chama, não podemos
continuar envolvidos com as “redes” da
vida. Não há desculpa, não pode haver
demora! Temos que deixar tudo e seguilo imediatamente. O mesmo fizeram os
outros dois irmãos, Tiago e João. Eles
deixaram o pai, os empregados e os barcos para seguir Jesus. Nada neste mundo
(nem bens materiais, nem sentimentos
familiares) deve nos impedir de atender
ao chamado de Jesus (Mt 19.27-29). O
escritor da Carta aos Hebreus nos concita
ao desembaraço de tudo o que nos rodeia e a corrermos com firmeza em busca
do alvo proposto, sempre com os olhos
fitos em Jesus (Hb 12.1-2). Cabe a cada
um de nós verificar no que está enredado, embaraçado, bem como quais são os
laços familiares, de trabalho ou qualquer
pecado que nos impede de atender a
chamada para ser “feito” no discípulo que
Jesus quer que sejamos. Em Hb 12.16 somos alertados a não trocarmos o nosso
direito de primogenitura por um prato
de lentilhas.
Aplicação a sua vida: Como você tem demonstrado que é um discípulo chamado
por Deus?
94 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
A LISTA DOS DISCÍPULOS CHAMADOS
POR JESUS (Lc 6.13-16)
Jesus escolheu os seus discípulos
após uma noite de oração. O texto bíblico acima nos apresenta a seguinte lista:
“Simão, ao qual também chamou Pedro,
e André, seu irmão; Tiago e João; Filipe
e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelote; e
Judas, irmão de Tiago, e Judas Iscariotes,
que foi o traidor”.
Note que Jesus não chamou a liderança religiosa e nem a elite da sociedade do
seu tempo. Na verdade, essas pessoas foram alcançadas e envolvidas mais tarde.
Dessa maneira, Jesus demonstrou que o
discipulado não precisa ser iniciado com
os melhores e mais renomados homens
e mulheres. Muitos obreiros procuram se
justificar, dizendo que não tem pessoas
realmente empenhadas no discipulado,
que o grupo envolvido na evangelização
é muito pequeno etc. Lembremos que
Jesus não chamou para o discipulado
uma multidão, mas, sim, apenas doze e
que (aos olhos humanos) não seriam os
melhores homens de então. Dificilmente
escolheríamos pescadores, cobradores
de impostos (alguns deles pessoas temperamentais e incultas) para um projeto
que alcançaria governadores, presidentes, reis e revolucionaria o mundo. Cremos que essa opção de Jesus não se deu
porque Ele desprezava quem fosse culto
ou de alto poder aquisitivo. Entendemos
que Ele desejava demonstrar que o reino
de Deus pode ser expandido através de
qualquer pessoa, de qualquer classe social, religiosa, política, de estatura ou de
cor, que se coloque em suas mãos e se
deixe usar por Ele. Tanto é verdade que,
depois, vamos ter na lista dos cristãos,
C H A M A D O PA R A S E R D I S C Í P U LO
pessoas como Lucas, Paulo, Barnabé e
outras personalidades cultas e de elevada posição social (At 13.1 e 17.12; Cl 4.14;
Lc 8.3). Na verdade todos são chamados a
fazer parte da lista de discípulos de Jesus
e a ter um relacionamento especial com
Ele.
O DISCÍPULO CHAMADO E O SEU RELACIONAMENTO COM JESUS (Mc 3.14)
Observe que, primeiramente, os discípulos foram chamados “para estar com
Jesus”. Relacionamento é a chave do discipulado. Discipulado não é estudo bíblico, não é pregação, não é doutrinamento. DISCIPULADO É RELACIONAMENTO.
O discípulo chamado precisa primeiro
ter relacionamento especial com Jesus.
Sem relacionar-se com Jesus ninguém é
“feito” discípulo e muito menos pescador
de vidas. É a partir do relacionamento
com Jesus que o discípulo sai a pregar.
Talvez aqui resulte o fracasso de muitos
pregadores que enfrentam “as portas do
inferno” (Mt 16.18) sem ter estado com
Jesus. É verdade que Jesus começou com
homens simples e incultos, mas também
é verdade que o segredo do sucesso no
discipulado é o tempo que se passa com
ele. Quando você investe tempo para estar com Deus em oração; quando você é
suficientemente humilde para deixar-se
ensinar (treinar), então você tem uma
mensagem de Deus para os corações famintos da Palavra!
Aplicação a sua vida: Como cristão que
busca um relacionamento profundo com
Jesus, preciso ter uma vida ajustada conforme seus valores, para fazer a vontade de
Deus.
|
CONCLUSÃO
O objetivo de nossa missão no reino
de Deus é repartir com outros a mensagem do evangelho (das boas novas).
É transmitir a outros o que recebemos
de Jesus, através daqueles que nos
discipularam (2Tm 2.2). O exemplo de
Jesus demonstra isso e também indica a importância da estratégia na chamada e capacitação dos discípulos. Ele
iniciou o seu ministério pela Galileia, e
não pela Judeia. Seu critério de escolha
também foi singular. Ele o fez chamando homens simples, pessoas comuns,
e não os líderes políticos ou religiosos.
Jesus queria pessoas que pudessem ser
moldadas, discipuladas por Ele. Jesus
primeiramente nos chama para nos
relacionarmos com Ele, e só então sermos enviados a pregar, a repartir com
os outros o que recebemos dele (1Co 11.
11 e 23). Que este exemplo nos leve a
ter critérios divinos no momento de
escolher aqueles que servirão ao Senhor
no seu reino, e que todos vejam em
nós o caráter de Jesus e assim nos
imitem!
____________
Bíblica eletrônica Word.
Bíblica eletrônica Word.
3
Bíblica eletrônica Word.
1
2
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 95
ESTUDO 28
A TEOLOGIA DO DISCÍPULO
DA CRUZ
Lucas 23.33-43
INTRODUÇÃO
Jesus disse que Deus ocultou conhecimentos aos sábios e entendidos e os
revelou aos pequeninos (Mt 11.25). Jesus
foi crucificado entre dois ladrões e um
deles se tornou seu último seguidor, discípulo que Jesus fez antes de sua morte.
Quem eram esses ladrões? A tradição os
denomina de Gestas e Dimas.4 Em Dimas
vemos profunda demonstração de arrependimento e conhecimento teológico
nunca esperados de um ladrão prestes a
morrer. Vamos chamá-lo neste estudo de
“O Discípulo da Cruz”. Esse conhecimento
e sua atitude naqueles últimos momentos abriram-lhe a porta do paraíso. Ele
revelou o verdadeiro coração de um discípulo de Jesus. Sua coragem, confissão
e transformação podem ser identificadas
como “A Teologia do Discípulo da Cruz”.
TEMOR A DEUS (Lc 23.39-40; Pv 14.27)
O temor a Deus é uma das chaves
para a vida eterna (Sl 111.10). Muitos
96 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Leituras Diárias
Lc 23.33-43
Sl 111.10
Lc 19.40
Lc 23.40
2Co 5.19
Rm 10.9-10
1Co 2.9-13
hoje, entretanto, vivem insolentemente,
blasfemam de Deus (Lc 23.39), brincam
ou escarnecem dele. O resultado é a colheita do que se planta (Gl 6.7). Apesar de
sua vida de crimes, nos últimos momentos de sua vida Dimas caiu em si, como
o fez o “filho pródigo” (Lc 15.17). Dimas
viu que chegara o momento de temer a
Deus e se tornou “O Discípulo da Cruz”.
Suas primeiras palavras a Gestas, o outro
ladrão crucificado, foi: “tu ainda não temes a Deus (v. 40)? ”.
Apesar de crucificado, Dimas não se
calou, pelo contrário, ante a insolência de
Gestas, ele tomou a posição de confrontá-lo e confessar seu temor a Deus.
Aplicação a sua vida: Nos dias de hoje, temos enfrentado situações parecidas com a
de Dimas e Gestas, momentos quando temos de crucificar sonhos e desejos. Como
temos respondido a Deus diante dos sacrifícios?
A T E O LO G I A D O D I S C Í P U LO D A C R U Z |
CONFRONTO AO ERRO (Lc 23.40)
O discípulo de Jesus não pode ser conivente com o erro, com o pecado. Paulo
recomenda a Timóteo a não ser participante dos pecados alheios (1Tm 5.22).
Há uma hora em que a pessoa errada
precisa ser confrontada. O discípulo de
Jesus contesta o conselho dos ímpios (Sl
1.1). Se nos calarmos, até as pedras clamarão (Lc 19.40). Dimas, o Discípulo da
Cruz, poderia racionalizar, dizendo: “Não
tenho nada a ver com isto; estou morrendo e ninguém me ajuda... e, talvez Gestas
tenha razão... por que Jesus não salva a
si mesmo e a nós também? ”. A teologia
do Discípulo da Cruz nos ensina que não
precisamos permanecer no erro; que todos têm oportunidade de arrependimento e conversão. Aquela era sua última
oportunidade e ele não a desperdiçou.
Além de confrontar o seu companheiro
de infortúnio, Dimas fez a seguinte confissão:
CONFISSÃO DE QUE JESUS É DEUS
(Lc 23.40)
Repreendendo Gestas, Dimas perguntou: “Tu não temes a Deus?”. Quem
lhe ensinou que Jesus era Deus? Ele disse
que a vida eterna é conhecer a Deus e ao
próprio Jesus (Jo 17.3). Comparar com Jo
10.30; 14.8-9. Durante o período da crucificação, Dimas ouvira diversos títulos de
Jesus, dentre eles, “o Cristo” (isto é, o Messias); “o rei dos judeus”, mas houve um
que era a maior revelação da pessoa de
Jesus: Ele era “o Filho de Deus” (Lc 22.70).
Dimas era criminoso, estava condenado,
mas seu coração se abriu para conhecer a Jesus como o Filho de Deus. Para
ele, Gestas foi insolente para com Deus.
É interessante que Dimas reconheceu
que Jesus é “o Deus condenado”. Ele perguntou a Gestas: “Tu nem ainda temes a
Deus, estando na mesma condenação?”.
Isto nos reporta a Paulo, ao afirmar que
Jesus se tornou maldito em nosso lugar,
e que “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (Gl 3.13; 2 Co 5.19).
Moltmann1 diz que Jesus é “O Deus Crucificado”. Dimas teve pouco tempo com
Jesus, mas percebeu sua divindade e demonstrou profundo reconhecimento dos
próprios pecados, bem como das consequências dos mesmos.
Aplicação a sua vida: De qual modo podemos confessar a Cristo diante do mundo
hoje? Compartilhe quais são suas maiores
dificuldades, ou como tem feito.
O PECADOR E SUA CONDENAÇÃO
(Lc 23.40-41)
O discípulo de Jesus não justifica os
seus pecados; não transfere responsabilidade para os outros. Não condena o sistema político ou a sociedade pelos seus
erros. Dimas confessou que sua condenação era justa, porque a merecia. Quando
uma pessoa confessa o seu pecado e apela para a misericórdia divina, essa pessoa
é atendida. A Bíblia diz que Deus não rejeita o coração quebrantado e contrito (Sl
51.17). O coração do verdadeiro discípulo
de Cristo é reconhecedor de que é salvo
pela graça, por meio da fé (Ef 2.8). Uma
das funções do Espírito é, justamente,
convencer o ser humano do pecado, da
justiça e do juízo (Jo 16.8). Dimas se tornou o Discípulo da Cruz, exatamente por
ter sido conduzido a Cristo pelo Espírito
Santo, daí ter experimentado tão profunda transformação. Deus não espera que
justifiquemos os nossos pecados, mas se
os confessarmos, Ele nos purifica de todo
pecado e nos justifica pela fé em Jesus
(1 Jo 1.9 e Rm 5.1). Faça como “o Discípulo da Cruz”. Abra o seu coração, confesse
seus pecados e desfrute de perdão e justificação do Senhor.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 97
| A T E O LO G I A D O D I S C Í P U LO D A C R U Z
Prosseguindo em sua confissão de fé,
Dimas fez mais uma declaração surpreendente a respeito de Jesus. Dimas, além
de confessar que era pecador, teve a coragem de afirmar que Jesus era imputável de erro.
Aplicação a sua vida: Temos a certeza que,
diferentemente de Jesus, somos pecadores.
Como você tem trabalhado com essa realidade?
JESUS NÃO PECOU (Lc 23.41)
Como ele podia ter certeza de que
Jesus não praticou qualquer coisa errada? Os judeus o acusaram de variadas
transgressões: Quebrar o sábado, dizerse Filho de Deus, ser pecador, enganar
o povo, e ser um falso Messias (Jo 5.18;
9.24; 7.12 e 27). Jesus foi rejeitado pelos
seus (o povo, a nação), pelos sacerdotes
(a religião oficial), e pelos governantes
(o poder político), foi traído por Judas e
negado por Pedro. O último de seus discípulos, aquele “gerado” na cruz, é quem
o inocenta. E aquele era de fato um momento propício, porque acontecia a execução de condenados. Na teologia do
“Discípulo da Cruz”, ele e Gestas eram
culpados, e Jesus inocente. Naquela execução, o justo levava a culpa que devia
ser dos pecadores. Jesus não pecou, mas
conhece todas as tentações pelas quais
passamos e pode nos socorrer em nossas
tentações (Hb 2.18; 7.25; 4.15-16). A inocência de Jesus foi declarada por um pecador condenado. Isto é extraordinário!
Porém, “o Discípulo da Cruz” surpreendeu
mais uma vez, pois, até este momento,
seu discurso fez parte da reprimenda a
98 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
Gestas. Entretanto, ao dirigir-se a Jesus,
ele fez mais uma declaração teológica.
Aplicação a sua vida: Diante do fato de
que Jesus não pecou, mas foi tentado em
todas as áreas nas quais também somos
tentados, qual é a sua sugestão para, como
discípulo d’Ele, buscar esse ideal de vida?
JESUS É O REI ETERNO (Lc 23.42)
Quem ensinou para aquele homem
moribundo que Jesus tinha um reino?
Com estas palavras, “o Discípulo da Cruz”
demonstrou crer na imortalidade da
alma e na vida eterna. Ora, se ele estava
morrendo, como poderia esperar ou crer
num “reino”? Ele superou a teologia dos
saduceus, que não criam na ressurreição (Mc 12.18). Quando nos tornamos
discípulos de Jesus, o Espírito Santo nos
conduz “a toda a verdade” (Jo 16.13). Para
Dimas, não somente havia vida após a
morte, como Jesus entraria no seu reino.
Note que o reino era de Jesus. “O Discípulo da Cruz” não tinha mais dúvida de
que estava ao lado do Rei Eterno. Esta é
a visão que todos precisamos ter de Jesus: Ele é o Rei dos reis e o Senhor dos
Senhores (1 Tm 6.15; Ap 17.14). Ele está
no comando. Se morrermos com Ele,
haveremos de ressuscitar com Ele (2 Tm
2.11-12). É importante lembrar que é a fé
na morte e ressurreição de Jesus que nos
assegura a salvação (Rm 10.9-10). Jesus
não respondeu a Gestas, mas atendeu a
Dimas. O Senhor se manteve em silêncio
enquanto era tripudiado por Gestas, mas
falou quando “o Discípulo da Cruz” lhe dirigiu uma oração.
A T E O LO G I A D O D I S C Í P U LO D A C R U Z |
A resposta de Jesus: “Hoje mesmo
estarás comigo no Paraíso”, nos assegura
que o Paraíso perdido por Adão e Eva é
restituído na cruz. A morte, que triunfou
no Éden, é vencida no Calvário. É através
de Cristo que todo pecador arrependido tem sua condenação eterna anulada
(Rm 8.1). Observe que o Paraíso era para
“hoje” (Lc 23.43). Neste caso, a oportunidade para a salvação de cada um de nós
é também para “hoje” (2 Co 6.2). Paulo diz
que Deus releva os tempos da ignorância
e convida todos ao arrependimento (At
17.30). Adúlteros, ladrões ricos e pobres,
não importa a condição, todos podem
ser perdoados, crescer na graça e no conhecimento de Jesus, e penetrar nas mais
profundas verdades espirituais reservadas aos discípulos de Cristo (2 Pe 3.18 e
1 Co 2.9-13). Seja você também a pessoa
que, pela fé, entrará hoje no paraíso.
E então, que discípulo é você? Jesus
disse que qualquer pessoa que desejar
ser seu discípulo, precisa tomar sua cruz
e segui-lo. Não foi a cruz que salvou Dimas, mas sim o Messias crucificado que
ele confessou ser Justo, ser o Rei que podia lembrar-se dele. Enfim, foi o arrependimento dos pecados e a fé na pessoa de
Jesus que o fez um discípulo, um seguidor, não somente naquele momento de
crucificação, mas acompanhou Jesus ao
Paraíso.
Aplicação a sua vida: Que você também
confesse a Jesus como Senhor e Salvador
de sua vida, independente das circunstâncias. Faça isto e Jesus o confessará diante
do Pai que está no céu (Mt 10.32-33).
___________
4
http://www.escribacafe.com/dimas-e-gestas-ladroes-crucificados. Acesso em 19/06/2015.
5
MOLTMANN, Jürgen – O Deus crucificado. Santo
André, SP. Academia Cristã. 2011.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 99
ESTUDO 29
O DISCÍPULO E O
MARAVILHOSO CONVITE
DE JESUS
Mateus 11.28-30
INTRODUÇÃO
Já vimos em estudos anteriores que
Jesus veio buscar e salvar o que estava
perdido (Lc 19.10). Acontece que a salvação é oferecida através de um convite, em respeito ao livre arbítrio de cada
pessoa. Aquele que aceita o convite de
Jesus se torna um discípulo dele e assume compromissos nessa caminhada com
o Senhor. Apesar de todos serem convidados ao discipulado cristão, este texto
bíblico nos aponta um grupo específico
a quem Jesus dirige o respectivo convite.
Vejamos as lições que podemos aprender
do maravilhoso convite de Jesus.
JESUS CONVIDA PARA VIR A ELE (Mt
11.28)
Ele diz “vinde a mim”. Talvez sua vida
continue cansada e oprimida porque
você tem ido a outras pessoas ou lugares.
Você precisa de uma experiência pessoal
com Jesus. Seu maravilhoso convite demanda resposta da parte de cada pessoa
convidada. É preciso atendê-lo. Enquan100
100 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Leituras Diárias
Mt 11.28-30
1Jo 5.18
Fp 4.6-7
Lc 7.48
Jo 8.11
Jo 5.14
Hb 8.12
to você permanecer onde está, significa
rejeição ao convite de Jesus. Quando diz
“vinde a mim”, Jesus chama para si a responsabilidade do convite. Em Mc 10.4650 vemos que Jesus iria curar o homem
cego e o convidou a vir a Ele: “E Jesus,
parando, disse que o chamassem; e chamaram o cego, dizendo-lhe: Tem bom
ânimo; levanta-te, que ele te chama. E
ele, lançando de si a sua capa, levantouse, e foi ter com Jesus. ” Você percebe que
Jesus quer ter um encontro com você,
mas você precisa ir a ele? É maravilhoso
observar que o cego, após sua cura, seguiu a Jesus pelo caminho (Mc 10.52).
Você também é convidado agora a vir a
Jesus e se tornar um discípulo dele.
Aqui vemos duas situações que podem sobrevir a um discípulo de Cristo:
cansaço e opressão. Há muitas áreas do
cotidiano que nos cansam, desde o estresse pelo excesso de trabalho e pelas
preocupações da vida, até nas questões
religiosas, no que diz respeito ao anseio
por um encontro pessoal com Deus. Uma
religiosidade vazia angustia a alma e resulta em desesperança. A sensação que
se tem é de um cansaço, muitas vezes ge-
O D I S C Í P U LO E O M A R AV I L H O S O C O N V I T E D E J E S U S |
neralizado. Se você se sente assim, então
o convite de Jesus é extensivo a você. O
convite é também para os oprimidos. As
opressões da vida têm origem nas pressões da sociedade, da família, mas podem ser oriundas de cobranças pessoais
sobre alvos não alcançados. Jesus disse
que veio pôr em liberdade os oprimidos
(Lc 4.18-19): “O Espírito do Senhor é sobre
mim, pois que me ungiu para evangelizar
os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados do coração, a pregar liberdade aos
cativos, e restauração da vista aos cegos,
a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor. ” O desejo
de Jesus é que você venha a Ele e O experimente para ter uma nova qualidade e
perspectiva de vida. Que seja aliviado de
todo cansaço e liberto de toda opressão.
Qual é o seu cansaço e o que o oprime?
Observe que o convite é bem específico:
“cansados e oprimidos”. Se você se sente
assim, então você está na lista dos convidados por Jesus.
Aplicação a sua vida: o convite feito por
Jesus aos seus discípulos se estende a nós.
Para tanto, se você se encontra em alguma
situação de cansaço e opressão, é hora de
aceitar o Seu convite.
A PROMESSA DO MARAVILHOSO CONVITE DE JESUS (Mt 11.28)
Mais uma vez Jesus chama a responsabilidade para si: “Eu vos aliviarei”.
Ele empenha sua própria palavra e sua
pessoa. Observe que a promessa está
condicionada a ação de vir a Ele. Cabe a
você aceitar ou não ter um encontro com
Jesus. Ele disse que muitas pessoas perderam a vida eterna porque não vieram a
Ele (Jo 5.40). Só Jesus pode aliviar as nossas cargas e nos proteger de toda e qualquer opressão. O fato de Jesus querer os
seus discípulos perto d’Ele é porque Ele
é o “Bom Pastor” e nós somos ovelhas do
seu pasto. Quem está fora ou longe de Jesus leva sozinho, e inutilmente, suas cargas, e sofre a opressão do inimigo. Para
quem está perto do Senhor, fica a certeza
de que o inimigo não lhe toca (1 Jo 5.18).
Torne-se um discípulo de Jesus e seja aliviado de toda carga e opressão!
Aplicação a sua vida: atender ao convite
de Jesus implica em cumprimento de promessa. Você tem experimentado essa promessa em sua vida?
COMPROMISSOS DOS CONVIDADOS
POR JESUS (Mt 11.29)
Discipulado implica em comprometimento. Jesus foi claro ao afirmar que,
aquele que O quisesse seguir, deveria
renunciar a si mesmo e tomar a sua cruz.
Porém, neste texto de Mt 11.29, Ele lista
outros compromissos dos seus seguidores:
a) Tomar sobre si o jugo de Jesus. A
ideia do jugo tem significados muito importantes: Primeiro, leva a pessoa a estar
comprometida com Jesus e a andar lado
a lado com Ele. Jugo ou canga é um instrumento colocado no pescoço de dois
bois para que ambos levem a mesma carga. Um não pode ir à frente e nem ficar
para trás do outro. Ambos têm que andar
lado a lado. Isso significa que a canga é
divida entre os dois. Segundo, você deve
tomar o jugo de Jesus, e não o seu próprio ou de outrem. Jesus diz que a razão
disto é que o seu jugo é suave e o seu
farde é leve. É a promessa de que, ao se
tornar um discípulo de Jesus, Ele suaviza
todo peso e opressão que há na sua vida.
b) Aprender de Jesus. No meio rural,
quando alguém quer treinar um boi novo
para levar uma carga, ele é colocado junto com um boi treinado e experiente. Estando atrelado ao boi experiente, o novo
boi “aprende” a andar com o boi treinado.
Aqui está em foco uma figura similar. Ao
recebermos o jugo de Jesus, aprendemos
a andar com Ele. Jesus quer nos ensinar
todas as coisas concernentes a sua pessoa e ao seu reino (Mt 28.19-20). Isto, entretanto, só é possível quando estamos
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 101
| O D I S C Í P U LO E O M A R AV I L H O S O C O N V I T E D E J E S U S
atrelados a Ele através do seu jugo. O cristão deve fazer de sua vida uma escola de
aprendizado a respeito de Jesus. Observe que Jesus diz que devemos aprender
d’Ele porque é manso e humilde de coração. Mansidão e humildade são virtudes
que norteiam o caráter cristão. Nisso consiste um dos segredos da felicidade (Mt
5.3): “Bem-aventurados os humildes de
espírito, porque deles é o reino dos céus. ”
O RESULTADO DE APRENDERMOS COM
JESUS (Mt 11.29)
Note que o “descanso” é para as nossas “almas”. O termo grego usado aqui
é “psuche” e pode referir-se também a
alma, no sentido de nossas emoções. O
discipulado de Jesus alcança diretamente a alma do discípulo e resulta em livramento de toda ansiedade (Mt 6.25): “Por
isso vos digo: Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer,
ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de
vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário? ”.
Leia ainda Fp 4.6-7: “Não andeis ansiosos
por coisa alguma; antes em tudo sejam
os vossos pedidos conhecidos diante de
Deus pela oração e súplica com ações
de graças; e a paz de Deus, que excede
todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos
em Cristo Jesus. ” A ansiedade obstrui a
fé e adoece o corpo. Jesus quer tratar diretamente nossa alma, porque uma alma
cansada e oprimida resulta em muitas
doenças psicossomáticas. Tome, agora
mesmo, o jugo de Jesus e deixe que Ele
cuide de suas ansiedades e alivie sua
alma (1 Pe 5.7).
Aplicação a sua vida: Aceitar o convite de
Jesus não significa término total das dificuldades ou problemas. Significa que, ao dividirmos com Ele, o nosso julgo fica suave.
102 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
O JUGO E A CARGA DE JESUS
Jesus assegura que o jugo dele é suave e sua carga é leve. Ele não aumenta
nossa carga. Ele nos alivia dela. Jesus não
nos escraviza. Ele nos liberta e suaviza
nossa alma.
O mundo escraviza, mas Jesus liberta.
O mundo aflige, porém Jesus dá alívio. O
mundo não tem paciência com os nossos
problemas, entretanto, Jesus nos acolhe
(os cansados e oprimidos). O mundo tira
a paz, porém Jesus nos dá sua paz (Jo
14.27). O convite de Jesus é para virmos
a Ele; é para desfrutarmos de sua companhia e sermos aliviados de nossas cargas.
Cabe a você atender o maravilhoso convite de Jesus.
Acreditamos que uma das maiores
cargas do ser humano é o sentimento
de culpa. Mas para todos que atenderam
o convite de Jesus, Ele disse: Filho, filha,
estão perdoados os teus pecados. Exemplos:
a) O paralitico de Cafarnaum: “E Jesus,
vendo-lhes a fé, disse ao paralítico: Filho,
perdoados são os teus pecados.” (Lc 5.20)
b) A mulher que ungiu os pés de Jesus: “E disse a ela: Perdoados são os teus
pecados” (Lc 7.48)
c) A mulher adúltera: “Respondeu ela:
Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem
eu te condeno; vai- te, e não peques
mais” (Jo 8.11)
d) O paralítico de Betesda: “Depois
Jesus o encontrou no templo, e disse-lhe:
Olha, já estás curado; não peques mais,
para que não te suceda coisa pior” (Jo
5.14)
Conclusão
A cada um de nós, a Bíblia afirma que
Deus jamais se lembrará dos nossos pecados: “Porque será misericordioso para
com nossas iniquidades, e dos nossos
pecados não se lembrará mais” (Hb 8.12)
Agora só depende de você: atender o
maravilhoso convite de Jesus, assumindo
o compromisso de ser um discípulo d’Ele
e, consequentemente, desfrutar de todoas as bênçãos dispensadas àqueles que o
seguem.
ESTUDO 30
O DISCÍPULO QUE OLHA
PARA CRISTO
Hebreus 12.1-17
INTRODUÇÃO
Ser discípulo de Jesus é segui-lo, mantendo os olhos fitos n’Ele. A recomendação de Hb 12.2 é: “olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo
que lhe estava proposto, suportou a cruz,
desprezando a afronta, e assentou-se à
destra do trono de Deus.” Em Isaías 45.22,
também somos convidados a olhar para
Deus a fim de sermos salvos. Este estudo
aponta os motivos e resultados de uma
vida focada em Cristo.
OLHAR PARA JESUS POR CAUSA DOS
QUE VENCERAM (Hb 12.1) “Portanto,
também nós, visto que temos a rodearnos tão grande nuvem de testemunhas. ”
A “nuvem de testemunhas” à qual o
autor se refere é a lista de “heróis da fé” do
capítulo anterior. Por esse motivo, o após-
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Leituras Diárias
Hb 12.1-17
Sl 139.23-24
2 Tm 4.7-8
2 Cr 7.14
Hb 12.14
Hb 12.16-17
Rm 8.18
tolo Paulo diz que os discípulos de Cristo
foram postos como espetáculo “ao mundo, aos anjos e aos homens” (1 Co 4.9). No
verso primeiro, Paulo espera que os homens nos considerem como ministros de
Cristo. Jesus disse que devemos ser suas
testemunhas (At 1.8). Se olharmos para
nós mesmos, certamente fracassaremos.
Os heróis da fé são testemunhas de que é
possível vencer, mas não é para eles que
devemos olhar, nem para os anjos, muito menos para o mundo. Nosso foco tem
que ser Cristo. Se assim o fizermos, não
decepcionaremos a ninguém, muito menos ao nosso Senhor.
Aplicação a sua vida: é muito importante sabermos que, ao olharmos para Jesus,
temos a vitória garantida. Para isso, temos
uma nuvem de testemunhas. Mas, nosso
foco não pode ser desviado de Jesus. Apesar dos inúmeros exemplos de vencedores,
onde está firmado seu olhar?
REFLEXÕES BÍBLIC
BÍBLIC AS
AS II
II
REFLEXÕES
103
|| 103
| O D I S C Í P U LO Q U E O L H A PA R A C R I S T O
OLHAR PARA JESUS E REMOVER OS
EMBARAÇOS (Hb 12.1): “Desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que
tenazmente nos assedia”
Assim que Jesus ressuscitou a Lázaro,
recomendou: “Desligai-o, e deixai-o ir”
(Jo 11.44). O autor de Hebreus reconhece que lidamos com embaraços e somos
tenazmente assediados pelo pecado.
Jesus recomendou que devemos nos livrar de qualquer coisa que nos sirva de
tropeço (Mt 5.29-30). Hoje, um dos maiores embaraços do discípulo de Cristo é
justamente a “rede”, tradução da palavra
“net”, do Inglês. Apesar de sua inestimável contribuição à informação, a Internet
tem se constituído num grande embaraço quando mal utilizada ou quando se
torna um vício. Essa forma de embaraço
tem destruído não apenas famílias, como
principalmente a alma de muitas pessoas. Você não vai remover a Internet da
sua vida, mas pode usá-la para o seu bem
e de outras pessoas que o rodeiam. Há
muitos outros embaraços que somente
pela oração sincera podemos detectá-los
e removê-los de nossa vida. Para tanto,
oremos como o salmista: “Sonda-me, ó
Deus, e conhece o meu coração; provame, e conhece os meus pensamentos. E
vê se há em mim algum caminho mau, e
guia-me pelo caminho eterno” (Sl 139.2324).
Aplicação a sua vida: temos em nosso
viver alguns embaraços que nos impedem
o crescimento. Jesus deixa claro que precisamos fazer a nossa parte. Qual é a sua
contribuição?
OLHAR PARA JESUS E CORRER PARA O
ALVO (Hb 12.1): “Corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta”
O nosso alvo é a soberana vocação de
Deus em Cristo Jesus (Fp 3.14). O alvo é o
104 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
próprio Cristo, pois que “nele estão todos
os tesouros da sabedoria e da ciência” (Cl
2.3). O desejo divino é que nos tornemos
semelhantes a Cristo e cheguemos à sua
estatura (Ef 4.13; 2 Co 3.18). Esta é a razão
pela qual o discípulo de Cristo não pode
tirar os olhos d’Ele! Nos próximos estudos, desenvolveremos melhor o tema do
supremo alvo do discípulo de Cristo.
OLHAR PARA JESUS E SUPORTAR A
CRUZ (Hb 12.2): “Olhando firmemente
para o Autor e Consumador da fé, Jesus,
o qual, em troca da alegria que lhe estava
proposta, suportou a cruz”
Não existe discipulado sem crucificação diária. Jesus disse que aquele que
quiser ser seu discípulo deve tomar, a
cada dia, sua cruz (Lc 19.23). Paulo dizia
que estava crucificado com Cristo (Gl
2.20); e que em nós se cumpre o resto das
aflições de Cristo (Cl 1.24). Nossa crucificação diária não é para pagar ou purificar
pecados, porque Jesus já o fez por nós.
A crucificação diária de um discípulo faz
parte de sua santificação, no sentido de
abandonar os pecados e consagrar sua
vida ao Reino de Deus e à sua justiça (Rm
6.13 e 19). É a apresentação do corpo em
sacrifício a Deus, de que fala Rm 12.1.
Somente com os olhos fitos em Jesus é
que o discípulo suportará, a cada dia, sua
cruz.
Aplicação a sua vida: O que significa livrarse de tudo o que atrapalha, inclusive do
pecado, e correr com perseverança, mantendo os olhos fitos em Jesus?
OLHAR PARA JESUS E NÃO DESANIMAR (Hb 12.3, 4 e 12): “Considerai,
pois, atentamente, aquele que suportou
tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis,
O D I S C Í P U LO Q U E O L H A PA R A C R I S T O |
desmaiando em vossa alma. Ora, na vossa luta contra o pecado, ainda não tendes
resistido até ao sangue. Por isso, restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos. ”
Por estas palavras, o discípulo de Cristo tem consciência de que sua caminhada pode lhe custar o sangue ou a própria
vida, como muitos cristãos da “Igreja Primitiva” deram a vida por amor a Cristo.
Quando, porventura, lhe vier o desânimo,
os joelhos ficarem trôpegos e as mãos
descaírem, olhe para Jesus e você encontrará forças para se levantar e estar de pé
Sl 20.8. Aquele que for fiel até ao ponto
de morrer, receberá a “coroa da vida”:
Ap 2.10; 2Tm 4.7-8; Ap 3.11.
OLHAR PARA JESUS E FAZER CAMINHO
DIREITO PARA OS PÉS (Hb 12.13): “E fazei caminhos retos para os pés, para que
não se extravie o que é manco; antes, seja
curado. ”
Os versos cinco a onze de Hebreus, capítulo doze, falam do modo como Deus
nos trata como filhos, corrigindo-nos,
como o pai corrige ao filho que ama. Em
Hb 12.10 diz que a correção do Senhor
é para sermos participantes de sua santidade. E 1 Co 11.31 diz que a disciplina
do Senhor é para não sermos condenados com o mundo. Daí a recomendação
de Hb 12.12, que apreciamos no ponto
anterior. Porém no verso treze, Ele recomenda fazermos “caminhos retos”. Não
podemos andar com Deus se não estivermos de acordo com Ele (Am 3.3). Quem é
discípulo, seguidor de Jesus, anda pelos
caminhos de Jesus, e os caminhos d’Ele
são retos. Observe que a responsabilidade de fazer caminhos retos é nossa. É
uma ordem divina. Essa determinação
pessoal nos livrará do extravio e nos trará
a cura. Isto combina com 2 Cr 7.14, onde
é prometido que, se nos convertermos
dos maus caminhos, o Senhor nos ouvirá
e trará saúde à terra. O discípulo de Cristo
precisa ter a consciência de que é membro do corpo de Cristo; de que Ele age na
terra também através dos membros desse corpo.
OLHAR PARA JESUS E SEGUIR A SANTIFICAÇÃO (Hb 12.14): “Segui a paz com
todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor. ”
Não é possível nos determos aqui na
questão de “seguir a paz com todos”, mas
nos ateremos à segunda parte do versículo: “Seguir a santificação”. É impossível
não seguir a santificação e andar com
Deus. Observe que não diz que você chegou ao “topo” da santificação. Você a segue, no sentido de procurar santificar-se
a cada dia. E ela se dá pela crucificação
diária, conforme vimos anteriormente.
Aliás, Paulo diz que não julga haver alcançado o alvo, mas que prossegue para
ele (Fp 3.13-14). É a ideia de não se conformar com o mundo e nem amá-lo (Rm
12.1-2; 1 Jo 2.15). Santificação é um processo. Ela começa na aceitação de Jesus
como Senhor e Salvador e prossegue por
toda a vida. É uma obra começada por
Deus e aperfeiçoada até o dia do nosso
encontro com o Senhor (por nossa morte, ou pela volta de Jesus). Leia Fp 1.6.
OLHAR PARA JESUS E EVITAR RAIZ DE
AMARGURA (Hb 12.15): “Atentando, diligentemente, para que ninguém seja
faltoso, separando-se da graça de Deus;
nem haja alguma raiz de amargura que,
brotando, vos perturbe, e, por meio dela,
muitos sejam contaminados. ”
Uma vida que não prima pela santificação, tem efeitos letais: Primeiro, nos
priva da graça de Deus. Segundo, faz
brotar raiz de amargura. Aquele que não
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 105
| O D I S C Í P U LO Q U E O L H A PA R A C R I S T O
confia na graça de Deus não pode ser um
discípulo de Cristo. A Bíblia admite que
cometemos pecados, mas recomenda
confessá-los, crendo no poder purificador do sangue de Jesus (1 Jo 2.1 e 1.7-9).
O perigo é abusar da graça de Deus, pois,
significa que pisa o sangue de Jesus e faz
agravo ao Espírito da graça (Hb 10.26 e
29). Deus está pronto a nos perdoar e a
se “esquecer” dos nossos pecados (Is 55.7;
Hb 8.12). Esse desprezo para com o sangue de Cristo e o agravo ao Espírito da
graça, produz na pessoa raiz de amargura contra todos e até contra Deus. Daí a
recomendação bíblica para não sermos
vagarosos no cuidado e para cuidarmos
quando estamos em pé, pois, corremos
o risco de cair (Rm 12.11; 1 Co 10.12). A
única maneira de evitarmos tudo isso é
mantendo os olhos fixos em Jesus.
Aplicação a sua vida: o que você já descobriu que o ajuda a manter os olhos fixos
em Jesus?
OLHAR PARA JESUS E NÃO PERDER A
BÊNÇÃO MAIOR (Hb 12.16-17): “Nem
haja algum impuro ou profano, como foi
Esaú, o qual, por um repasto, vendeu o
seu direito de primogenitura.”
106 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
Esaú desprezou o seu direito de primogenitura por um prazer momentâneo.
O autor sagrado nos adverte para não
sermos como ele. O primogênito tinha
direito a herança dobrada e, dependendo da preferência do pai, era também especialmente abençoado. Acontece que a
Bíblia nos assegura que somos herdeiros
de Deus e coerdeiros de Cristo (Rm 8.17).
Este é o sentido maior da salvação. Ser
salvo não é apenas ser livre do inferno.
Inferno é uma consequência para quem
não foi salvo. Até mesmo porque o inferno foi preparado para o diabo e seus
anjos (Mt 25.41). A bênção maior de um
discípulo de Jesus é ser transformado
na mesma imagem de Jesus (1 Jo 3.1-2).
Mas, esta é matéria para o próximo estudo.
CONCLUSÃO
Deixamos aqui o desafio de que o
verdadeiro discípulo de Cristo mantenha
seus olhos fitos em Jesus. Por esta razão,
ele procura se desembaraçar dos pecados e busca a santificação. A caminhada
pode lhe custar a vida, mas ele entende
que a verdadeira vida não é aqui, pois,
está na glória que está para ser revelada
(Rm 8.18).
ESTUDO 31
O ALVO SUPREMO DO
DISCIPULADO
Filipenses 3.1-21
INTRODUÇÃO
O capítulo onze da Carta aos Hebreus
fala dos “heróis da fé”. Eles tinham um alvo
para o qual olharam de longe e foram capazes de passar pelo fogo, serem serrados
ao meio ou submetidos a muitas outras
formas de sofrimento por causa de algo
que esperavam do futuro. Paulo, em Fp
3.13-14, fala do “alvo pelo prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus”. Que
alvo é esse? Antes de nos concentrarmos
no alvo supremo de Cristo para nós, reflitamos nos versículos que precedem o texto
em foco.
CONSIDERA LUCRO COMO PERDA (Fp
3.7): “Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo.”
O passo inicial do discipulado cristão
é a renúncia por amor a Cristo. Jesus disse
que, quem não renunciar a tudo quanto
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Leituras Diárias
Fl 3.13-14
Fl 3.1-6
2 Co 12.2-4
1 Co 3.11-15
1 Co 2.10-14
Ef 3.19
1 Jo 3.1-2
tem não pode ser seu discípulo (Lc 14.33).
Em Fp 3.1-6, Paulo está falando dos “cães”,
que se introduziam no seio da igreja ensinando doutrinas falsas. Um dos grandes
perigos do cristianismo mal interpretado
é o entendimento equivocado de que
somos aceitos por Deus mediante nossa
ascendência religiosa ou por méritos pessoais. Paulo fala de sua condição anterior
ao cristianismo. Ele era descendente de
Israel, fariseu, circuncidado ao oitavo dia,
zeloso da lei (chegando a ser irrepreensível) e perseguidor da igreja. Mas, quando
conheceu a graça do Senhor Jesus Cristo, o que para muitos era lucro, Paulo o
reputou como perda, por amor a Cristo.
O nosso passado sem Cristo não deve ser
nenhum motivo de satisfação ou orgulho, mas como refugo (Fp 3.9). No verso
oito, ele diz que essas perdas foram pela
“excelência do conhecimento de Cristo”,
isto é, o supremo alvo que tinha diante
de si.
REFLEXÕES BÍBLIC
BÍBLIC AS
AS II
II
REFLEXÕES
107
|| 107
| O A LV O S U P R E M O D O D I S C I P U L A D O
Aplicação a sua vida: como discípulo,
o que você tem perdido em sua vida por
amor a Deus e ao próximo?
ESTÁ ADIANTE, NÃO DIANTE (Fp 3.13):
“Irmãos, quanto a mim, não julgo que o
haja alcançado; mas uma coisa faço, e é
que, esquecendo-me das coisas que atrás
ficam, e avançando para as que estão diante de mim. ”
Paulo reconhecia que ainda não havia
alcançado o supremo alvo, ou que fosse
perfeito, mas prosseguia para aquilo para
o que também fora alcançado por Cristo.
Observe que Cristo nos salvou não apenas
para irmos para o céu, mas também para
termos uma vida abundante aqui na terra.
Há uma vocação celestial, um “prêmio” que
transpõe a capacidade dos sentidos físicos
ou de um homem natural compreendê-la
(1 Co 2.9 e 14). Paulo reconhecia que há
um propósito maior para o discípulo de
Cristo. Ele tivera uma aparição especial
de Jesus e passara por uma revelação no
“terceiro céu”, tão sublime que não podia
ser relatada aos homens (Gl 1.12 e 16; 2
Co 12.2-4). Apesar de tudo isto, e de servir a Cristo e ao seu Reino, não julgava
estar no topo da vida espiritual. Ele reconhecia que ainda havia um caminho a ser
percorrido e, nesse sentido, prosseguia,
pois, “o alvo estava adiante, não diante
dele. ” Nada conquistado deve servir de
merecimento espiritual. Não podemos
olhar para trás (vitórias ou derrotas). O
alvo supremo está adiante e precisamos
prosseguir até que recebamos ou alcancemos esse “prêmio”.
Aplicação a sua vida: Nosso alvo é Cristo.
Cada batalha vencida nos fortalece, mas
ainda temos uma caminhada a seguir. As
vitórias ou derrotas do caminho precisam
nos dar força para continuar. Como você
tem tratado essas situações em sua vida?
108 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
O “LUGAR” DO ALVO (Fp 3.14): “Prossigo
para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. ”
Observe que a “soberana vocação de
Deus” é “em Cristo Jesus”. N’Ele estão todos
os tesouros da sabedoria (Cl 2.2-3). Então,
o “segredo” está em Cristo Jesus. Daí a necessidade de crescermos na graça e no
conhecimento de Cristo (2 Pe 3.18). Paulo
chega mesmo a dizer que isso é um “mistério” (1 Co 1.27). Bem, como, então, alcançar
esse mistério? Continuemos esse estudo
e, quem sabe, teremos um “vislumbre” do
que poderá ser esse alvo. Tenhamos sempre em mente que o alvo é de Deus para
nós. Há uma vontade de Deus que precisa
ser cumprida em nossa vida. Precisamos
conhecê-la para sabermos como chegar a
ela.
SEMELHANÇA DE DEUS EM CRISTO (Fp
3.14 e 1 Jo 3.2b): “Prossigo para o alvo,
pelo prêmio da soberana vocação de
Deus em Cristo Jesus (...); seremos semelhantes a Ele; porque assim como é o veremos.”
a) A soberana vocação de Deus é
para ser conforme a imagem de Jesus
(Rm 8.29): “Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho, a fim
de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.”
A imagem de Deus idealizada em
Adão é concluída na pessoa de Cristo. O
texto é claro em afirmar que Deus nos
predestinou para ser conforme a imagem do seu Filho. Cristo é o modelo a ser
atingido e o propósito divino é nos tornar
semelhantes a Ele.
b) O processo de transformação na
mesma imagem de Jesus (2 Co 3.18):
O A LV O S U P R E M O D O D I S C I P U L A D O
“Mas todos nós, com rosto descoberto,
refletindo como um espelho a glória do
Senhor, somos transformados de glória
em glória na mesma imagem, como pelo
Espírito do Senhor.”
A transformação é um processo: “De
glória em glória”. O alvo é a imagem de
Cristo: “Na mesma imagem”. O Agente
transformador é o “Espírito do Senhor”.
Enquanto a boa obra que foi iniciada
em nós é processada, o Espírito Santo
nos conduz a toda verdade até o dia em
que nos entregará a Cristo “sem mácula,
nem ruga, nem coisa semelhante” (Fp
1.6; Jo 16.13; Ef 5.27; 1.13-14; Ap 22.17).
Esta é uma das razões da importância
da santificação a que somos submetidos
pela disciplina do Senhor, e as provações
pelo fogo das tribulações (Hb 12.10; 1 Co
11.32; 1 Pe 4.12; Rm 8.18; 1 Co 3.11-15).
c) Participantes da natureza divina (2 Pe 1.3-4): “Visto como o seu divino
poder nos deu tudo o que diz respeito
à vida e piedade, pelo conhecimento
daquele que nos chamou pela sua glória
e virtude; pelas quais Ele nos tem dado
grandíssimas e preciosas promessas,
para que por elas fiqueis participantes da
natureza divina, havendo escapado da
corrupção, que pela concupiscência há
no mundo. ”
Pedro disse que Paulo escreveu coisas difíceis de compreendermos, mas ele
também não ficou atrás, quando fala de
nossa participação da “natureza divina”.
A palavra grega “participantes” é “koinonoi”, de “koinonos”, que significa comunhão, companheirismo enfim, a ideia de
manter comunhão com a natureza divina. Podemos associar essa ideia ao que
Paulo diz sobre o homem natural não
compreender as coisas do Espírito, mas
|
Deus no-las dá a conhecer pelo Espírito
Santo (1 Co 2.10-14). Na mesma linha de
pensamento, devemos entender a afirmação paulina de que “temos a mente
de Cristo” (1 Co 2.16). Mesmo entendendo que a participação da natureza divina
tem a ver com nossa comunhão com Ele,
sabemos que essa comunhão é num nível que transpõe a capacidade humana
de compreensão (1 Co 2.9; Ef 3.19). Observe que o final de Ef 3.19 diz “para que
sejais cheios da plenitude de Deus. ” Então, lembre-se que este é o supremo alvo
da vocação de um discípulo de Cristo.
Ainda não o alcançamos, mas caminhamos para ele.
d) Veremos a Deus e seremos semelhantes a Ele (1 Jo 3.1-2): “Vede quão
grande amor nos tem concedido o Pai,
que fôssemos chamados filhos de Deus.
Por isso o mundo não nos conhece;
porque não o conhece a Ele. Amados,
agora somos filhos de Deus, e ainda não
é manifestado o que havemos de ser. Mas
sabemos que, quando Ele se manifestar,
seremos semelhantes a Ele; porque assim
como é o veremos. ”
Somente na volta de Cristo esse alvo
supremo se cumprirá em nossa vida. Veremos como Deus é! Então, estaremos
prontos para andar com Ele, pois, seremos semelhantes a Ele. Não tem alvo
ou recompensa maior do que ver e ser
semelhante a Deus. Observe que não é
igual, mas, semelhante. Isto também não
é por nossos méritos, mas através de Cristo (Jo 14.6). Então, a plenitude de Deus se
cumprirá em nossas vidas. Por esta razão,
dissemos em estudos anteriores que, ser
salvo, é muito mais que não ir para o inferno ou apenas ir para o céu. Eu quero
ir para o céu, porém, muito mais que ser
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 109
| O A LV O S U P R E M O D O D I S C I P U L A D O
livre do inferno, o céu que entendo é poder ver a Deus, ter comunhão com sua
natureza divina e ser cheio de sua plenitude. Para isso Ele nos criou, para isso nos
salvou e para isso nos está transformando
de glória em glória.
Aplicação a sua vida: Se você fosse comparar sua vida em Cristo a uma corrida, qual
seria a sua posição: sentado á margem da
pista, no aquecimento, à espera do sinal de
largada ou já em disparada dando tudo de
si?
CONCLUSÃO
O supremo alvo de Deus para cada
discípulo é torná-lo participante da natureza divina, no sentido de ter perfeita comunhão com Deus; é que tenha a mente
de Cristo, no que diz respeito a ser usado
pelo Espírito Santo no conhecimento do
“mistério de Deus”, que é o próprio Cristo. Por esta razão é que o discípulo está
110 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
sendo transformado de glória em glória
na mesma imagem de Cristo e que, por
fim, será semelhante a Deus. Tudo isto,
entretanto, culminará na volta de Jesus,
quando os mortos ressuscitarão e os
salvos que estiverem vivos serão arrebatados para encontrar com o Senhor nas
nuvens. Todos os salvos (ressuscitados
e arrebatados) serão transformados na
mesma imagem de Cristo (1 Co 15.5152). Em 1 Jo 3.2, lemos: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é
manifestado o que havemos de ser. Mas
sabemos que, quando Ele se manifestar,
seremos semelhantes a Ele; porque assim
como é O veremos” (grifo nosso). Por enquanto, estamos na caminhada em busca
desse alvo, por isso, como vimos no estudo anterior, é necessário que o discípulo
mantenha os olhos fixos em Jesus, pois, é
n’Ele que se cumpre a vocação de Deus!
Então, firme como propósito este tipo
de vida com Deus e você verá que ser crente é muito mais que ter o céu; é ser semelhante a Deus. Aleluia!
ESTUDO 32
O Discípulo E SEU
ENCONTRO COM Jesus
Lucas 19.1-10
INTRODUÇÃO:
O estudo de hoje mostra como um
homem por nome Zaqueu buscou e encontrou Jesus, sendo salvo e levando salvação também a toda sua casa. Zaqueu,
aparentemente, tinha um bom emprego, pois, era o chefe dos cobradores de
impostos a serviço do império romano,
e era muito rico. Nos padrões de hoje,
ele poderia ser considerado uma pessoa
bem-sucedida. Mas, sua busca por Jesus
demonstrou que seu emprego e condição financeira não eram suficientes para
trazer salvação para si mesmo e sua família. Nossa esperança é que você também possa ter um encontro pessoal com
Jesus e desfrutar da mesma alegria que
Zaqueu desfrutou.
APROVEITA BEM CADA OPORTUNIDADE (Lc 19.1; Is 55.6-7; Ef 5.16)
Esta era a última vez que Jesus passaria por Jericó. Era imprescindível que
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Leituras Diárias
Lc 19.1-10
Is 55.6-7
Hb 3.7-8
Rm 12.11
Mt 16.24-26
At 17.27-28
Ap 3.20
Zaqueu aproveitasse aquela oportunidade. O sentido de Ef 5.16 é que devemos
aproveitar bem cada oportunidade. Para
Deus, o dia de nossa salvação é sempre
“hoje” (Hb 3.7-8; 2 Co 6.2). Não temos o
direito de adiá-lo. Não devemos perder a
oportunidade de buscar ao Senhor. Apesar
de ser um homem perdido e, possivelmente, estar em caminhos ímpios, havia chegado o momento de Zaqueu encontrar-se
com o Salvador e de ajustar sua vida como
um novo discípulo de Cristo. O quadro é
interessante: Zaqueu procurava por Jesus
e este queria “pousar” em sua casa. Caso
você também precise de um encontro com
Jesus, não deixe passar essa oportunidade.
Daí a importância de superar eventuais
obstáculos.
SUPERA OBSTÁCULOS (Lc 19.3-4)
Encontrar-se com Jesus não é tão
simples como parece. Enquanto a pesREFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 111
| O D I S C Í P U LO E S E U E N C O N T R O C O M J E S U S
soa está longe do Senhor, não enfrenta
certos obstáculos, mas, ao aproximar-se
d’Ele, aparecem os mais diferentes obstáculos.
Observemos a experiência de Zaqueu: Sua estatura o impedia de ver Jesus entre a multião; sua função o estigmatizava perante seus conterrâneos; sua
conduta como chefe dos publicanos, isto
é, dos cobradores de impostos a serviço
do império romano, era reprovada. Jesus
foi censurado por ir à casa de Zaqueu e
comer com ele, porque na avaliação dos
seus críticos, este era pecador. Mas ele
tomou as decisões certas para superar
os obstáculos que o impediam de ver a
Jesus e de se tornar um discípulo do Mestre. Porém, observe, ele foi diligente: Correu, subiu numa árvore e ficou aguardando a aproximação de Jesus. Mais à frente,
veremos que ele tomou outras decisões
que motivaram Jesus a dizer que ele também era filho de Abraão.
percebeu a multidão, ele correu na frente
e subiu numa árvore. A Bíblia diz que há
tempo para todo propósito debaixo do
céu (Ec 3.1). Aquele que deseja ser um
discípulo de Jesus não deve ser “moroso”.
É preciso agir depressa. O escritor de Hebreus diz que devemos correr com perseverança (Hb 12.1). Paulo nos exorta a não
sermos vagarosos no cuidado (Rm 12.11).
Ninguém tem o direito de retardar a busca por Jesus. O verso seis diz que Zaqueu,
apressando-se, recebeu Jesus alegremente. Nossa diligência em buscar e em
receber Jesus resulta em grande alegria (Jo
15.11; Lc 10.20).
É AMADO POR ELE (Lc 19.5)
É DILIGENTE (Lc 19.3-8)
Observe que Jesus foi ao encontro de
Zaqueu, olhou para ele e ordenou que descesse depressa porque iria a sua casa. Mais
um detalhe: Jesus o chamou pelo nome.
Jesus disse que as ovelhas dele ouvem sua
voz e ele as conhece (João 10.27). Quando damos o primeiro passo em direção a
Deus, descobrimos que Ele já vem ao nosso encontro. Deus realmente se importa
conosco. Ele está procurando você, apenas
esperando que você tome a iniciativa de
ir em busca d’Ele. Quando você fizer isto,
descobrirá que é Jesus quem o está procurando. Ponha isto no coração: Jesus a ama,
sabe o seu nome e deseja fazer de você um
discípulo d’Ele.
Zaqueu “procurou ver Jesus”. A visão
e o conhecimento de Jesus são fatores
preponderantes na obtenção da vida
eterna (Jo 17.3). Zaqueu não se contentou em apenas ouvir falar de Jesus, ou
saber que ele havia passado por sua cidade. Sua procura o levou a muito mais que
um conhecimento meramente visual. Ela
redundou em bênçãos para sua vida e
sua família (Lc 19.9). O verso quatro diz
que ele “correu adiante”. No verso cinco,
Jesus ordena para Zaqueu descer “depressa”. Na sua busca por Jesus, quando
Em Lc 19.7, Jesus é acusado de ser
hóspede de um pecador. Aqui talvez esteja um dos grandes mistérios do amor
de Deus. Ele não procura “justos” arrogantes, mas pecadores humildes e dispostos a recebê-lo e, assim, se tornar um
discípulo dele. As demais pessoas presentes na casa de Zaqueu censuraram Jesus. Perderam, assim, a oportunidade de
também se tornarem discípulos dele e,
deste modo, não somente serem salvas,
como também levarem a salvação para
sua família.
Aplicação a sua vida: Quais são os obstáculos que o impedem de ser um discípulo
de Jesus? Você sente-se perdido, discriminado ou estigmatizado? Anime-se! Jesus o
procura e quer fazer de você um discípulo.
112 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
O D I S C Í P U LO E S E U E N C O N T R O C O M J E S U S
Em Lc 19.9-10, Jesus declara: “Hoje
veio a salvação a esta casa, pois, também
este é filho de Abraão. Porque o Filho do
homem veio buscar e salvar o que se havia perdido. ” Jesus quer buscar e salvar o
que está perdido na sua vida. Tudo aquilo
que o pecado tem destruído. Sua paz, sua
alegria da salvação e sua família. Jesus quer
fazer de você um discípulo e, desta forma,
usufruir de todas as bênçãos prometidas
àqueles que o seguem (1 Co 2.9): “Mas,
como está escrito: As coisas que o olho
não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que
Deus preparou para os que o amam. ” É
importante salientar, entretanto, que Jesus
só pôde fazer isso na vida e casa de Zaqueu
quando este procurou Jesus e o levou para
sua casa.
Aplicação a sua vida: Jesus aproveitava
todas as oportunidades para fazer o bem e
levar salvação às pessoas. Como discípulo
d’Ele, tenho aproveitado as oportunidades
para fazer outros discípulos?
QUER A SALVAÇÃO DE SUA FAMÍLIA
(Lc 19.9)
Cada momento do encontro de Zaqueu com Jesus, nos transmite uma
mensagem especial sobre a salvação da
família.
A promessa divina a Abraão é que,
nele, seriam benditas todas as famílias
da terra (Gn 12.3). Paulo assegurou ao
carcereiro de Filipos que, se ele cresse em
Jesus, seria salvo ele e toda a casa dele (At
16.30-31). O plano divino é que você seja
o instrumento do Senhor para que sua
família experimente a graça salvadora do
Senhor Jesus Cristo.
É importante salientar, entretanto,
que o discípulo de Cristo precisa tomar
a iniciativa de conhecer Jesus e levá-lo
|
para sua família (Lc 19.3). Na história do
cristianismo, Deus sempre começa por
uma ou mais pessoas de uma família e a
Palavra vai alcançando os corações dos
demais familiares. Aliás, esta é a ordem
divina para cada seguidor de Jesus (Mc
5.19).
Aplicação a sua vida: O que está perdido
na sua vida ou na sua casa? Observe que Jesus está procurando exatamente o que está
perdido. Seu objetivo é salvá-lo. Peça para
Jesus entrar em sua casa, curar suas feridas,
perdoar seus pecados e salvar sua família.
AJUSTA A VIDA PARA SEGUI-LO (Lc
19.7-8)
Jesus foi claro com os seus seguidores, ao dizer-lhes que não existe discipulado sem crucificação do ego (Mt
16.24-26). No discipulado, há renúncias
e perdas; há valores a serem refeitos. Sobre este assunto, a irmã Isabel Monteiro
já escreveu no semestre passado, ao falar
sobre as instruções de Jesus aos seus discípulos, nos capítulos cinco a sete de Mateus. Entretanto, o exemplo de Zaqueu,
evidencia que os valores do Reino de
Deus, apresentados por Jesus, eram agora encarnados por aqueles que decidiram
se tornar seus discípulos.
O verdadeiro arrependimento produz
mudança. Aquele homem, antes ávido
por cobrar impostos e, possivelmente,
um defraudador, revela-se agora um altruísta, honesto e mais que justo para
com o próximo, ao decidir devolver quatro vezes mais no que tivesse defraudado
alguém.
Zaqueu estava disposto a reparar os
seus erros. Ele não argumentou contra
aqueles que o acusavam. Ele tomou uma
decisão que demonstra mudança de
vida. Deus espera que nossa fé vá além
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 113
| O D I S C Í P U LO E S E U E N C O N T R O C O M J E S U S
de nossas intenções. O discípulo de Jesus
precisa reconhecer seus pecados, tomar
decisões que demonstrem sincero arrependimento e conversão.
Aplicação a sua vida: sabemos que Jesus
nos chama como estamos, mas para ser seu
discípulo, temos que fazer alguns ajustes
em nossa vida que refletirão em nosso relacionamento com Ele.
Conclusão
Uma das extraordinárias revelações
de “O Novo Testamento” é que o “Deus
Santo” procura o “homem pecador” e lhe
faz o convite para vir após Ele, isto é, ser
um discípulo d’Ele. Todo pecador perdi-
114 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
do está sendo procurado por Jesus para
ser salvo. Ele está bem perto. Na verdade, “n’Ele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17.27-28). Quando o “homem
pecador” dá o primeiro passo em busca
do “Deus Santo”, descobre que ele está
à sua procura. Uma das pessoas convertidas no meu ministério no Rio de
Janeiro, compôs uma música que diz:
“Me arrependo, meu Deus, eu não sabia... que a felicidade estava em Cristo!...
eu não sabia. Eu vivia agarrado ao mundo, sem para Cristo olhar. É que eu fugia de Cristo, e Ele queria me achar”.
Jesus está também à sua procura. Dê o
primeiro passo para segui-lo, e descobrirá que Ele está bem juntinho de você,
na verdade, batendo à porta do seu coração (Ap 3.20).
ESTUDO 33
UM PEDIDO ESPECIAL: FICA
CONOSCO, SENHOR!
Lucas 24.13-31
INTRODUÇÃO
O pedido dos dois discípulos a Caminho de Emaús retrata a realidade de cada
um de nós hoje, também discípulos do
Senhor.
Se eu lhe perguntasse qual é a sua
maior necessidade neste momento, o
que você me diria? A maior necessidade
de uma pessoa não é de saúde, de emprego, alimento, casa, escola, segurança,
dinheiro ou outros bens materiais. Nossa
maior necessidade hoje é de Deus mesmo, como diz o salmista: “A minha alma
tem sede de Deus, do Deus vivo; quando
entrarei e me apresentarei ante a face de
Deus? ” (Sl 42.2).
Aqueles discípulos caminhavam tristes, mas a companhia de Jesus lhes fez
tanto bem que O convidaram para ficar
com eles. Jesus atendeu ao pedido deles e, no partir do pão, revelou-se como
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Leituras Diárias
Lc 24.13-31
Sl 119.126
Ap 3.20
Lc 24.16 e 31
Rm 10.9-10
At 3.15
Lm 3.19-21
o Cristo Ressurreto. Então, toda tristeza
e sentimento de derrota desapareceram
da vida daqueles discípulos e eles foram
anunciar que viram Jesus ressuscitado.
Aplicação a sua vida: tudo muda quando
convidamos Jesus para entrar em nossa
vida e ficar conosco. Quais motivos o levariam a convidar Jesus para ficar com você,
hoje?
PORQUE É TARDE E JÁ DECLINOU O
DIA! (Lc 24.13-29)
Aqueles discípulos no caminho de
Emaús estavam sob domínio romano, e
na hora em que o livramento parecia ter
chegado, o que eles viram foi a tragédia
do julgamento e da crucificação de Jesus.
Suas mentes estavam entorpecidas; eles
não perceberam que tudo aquilo estava
no plano de Deus, exatamente para livráREFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 115
| U M P E D I D O E S P E C I A L : F I C A C O N O S C O, S E N H O R !
los de uma escravidão mais aguda, a escravidão do pecado. A noite passara, mas
eles não perceberam. A companhia de
Jesus naquele momento lhes fazia bem,
e eles pediram-lhe: Fica conosco.
A Bíblia nos adverte que “a noite vem”
(Jo 9.4). Todos nós vivemos experiências
de noites que parecem intermináveis! Às
vezes temos a sensação de que o tempo
e a esperança se vão e não acontece o livramento. Porém, devemos nos lembrar
de que, se a Bíblia nos assegura que “a
noite vem”, também nos promete que o
“choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (Sl 30.5).
Pode ser que você se identifique com
os discípulos que pediram para Jesus fazer-lhes companhia porque estavam tristes (Lc 24.17). Pode ser que você julgue
que a oportunidade está passando e não
percebe que veio ajuda divina. Pode ser
que você sinta que não há mais esperança e nem qualquer expectativa para sua
vida, como compartilharam os discípulos
no caminho de Emaús. Então, peça para
Jesus ficar com você, porque já é tarde.
Aplicação a sua vida: Que horas são na
sua existência? Já lhe ocorreu de refletir
sobre o quanto a vida passa rápido? O que
está passando “da hora” na sua vida? Onde,
na sua vida, você entende que já é tempo
de Deus atuar?
PORQUE PRECISAMOS DA TUA
COMPANHIA! (Lc 24.29) Uma das grandes bênçãos da igreja é a experiência da
presença de Jesus no meio da mesma (Mt
18.20). A Igreja de Laodicéia deixou Jesus
do lado de fora de sua vida, mas ele batia
à porta, esperando ser ouvido, para entrar e ter comunhão com eles (Ap 3.20).
116 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
Da mesma forma, Jesus bate à porta do
nosso coração; seu maior desejo é que
ouçamos sua voz e abramos a porta, para
desfrutarmos de sua doce comunhão.
Aplicação a sua vida: Você percebe Jesus
batendo à porta do seu coração, desejoso
de lhe fazer companhia? Ele espera que
seus discípulos ouçam sua voz e O convidem para entrar e estar com eles.
Porque queremos VER QUE ESTÁS CONOSCO! (Lc 24.16 e 31)
Observe que o verso dezesseis diz
que os discípulos estavam “como que
com os olhos fechados”. E no verso trinta
e um é dito que “abriram-se-lhes então
os olhos, e o conheceram”. Eles estavam
com Jesus mas não viam que era Jesus.
Somente depois que Jesus lhes abriu os
olhos, foi que O reconheceram.
A visão correta de Jesus, ou o relacionamento com Ele, é que dá vida eterna
(Jo 17.3). Então, precisamos pedir que Jesus nos abra os olhos.
a) Quando Jesus nos abre os olhos,
entendemos melhor as escrituras. Aqueles discípulos não sabiam, mas sua experiência ficaria registrada nas páginas
sagradas. Da mesma forma, cada um de
nós faz parte dos planos de Deus na história da Igreja. Sua vida, amado irmão,
está sendo escrita nesta nova etapa da
história do povo de Deus.
Aplicação a sua vida: De qual modo você
permitirá que sua história seja registrada?
O que vão dizer de você quando Deus te
chamar para a eternidade?
U M P E D I D O E S P E C I A L : F I C A C O N O S C O, S E N H O R ! |
b) Para vermos que Jesus morreu, mas
ressuscitou. Ele vive para todo o sempre
(Ap 1.18). Paulo diz que a mensagem dele
era que Cristo foi crucificado, morto e sepultado, mas ressuscitou ao terceiro dia
(1 Co 15.2-4). A certeza da ressurreição de
Cristo é que nos assegura a vida eterna
(Rm 10.9-10). A tristeza daqueles discípulos era porque, para eles, o seu Cristo estava morto. Você deve remover toda tristeza e lembrança de derrotas de sua vida,
pois, Cristo é Aquele que venceu a morte
e nos conduz em vitória (1 Co 15.54 e 57;
Rm 8.37).
c) Para vermos que Jesus é o autor da
vida (At 3.15). Jesus nos dá vida abundante e eterna porque Ele é o AUTOR DA
VIDA. Os discípulos caminhavam com a
imagem de um Jesus morto e nem percebiam que Ele estava vivo e com eles.
Paulo nos recomenda a tomarmos posse
da vida eterna (1 Tm 6.12). Não permita
que imagens destrutivas e de morte dominem sua mente. Traga à memória o
que lhe pode dar esperança (Lm 3.19-21).
Somente assim, você poderá exercitar a
fé e perceber que Deus está no controle
de sua vida.
Conclusão
Se você ainda não convidou Cristo
para ficar com você, este é o momento de
fazê-lo. Se já fez este convite, identifiquese com aqueles discípulos a caminho de
Emaús e abra os olhos, perceba que Ele
está com você para mudar a sua vida.
Peça a Ele que lhe abra os olhos para ver
como você poderá participar mais significativamente do reino.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 117
ESTUDO 34
O DISCÍPULO APROVADO
POR DEUS
Lucas 13.1-9
INTRODUÇÃO
O discípulo de Cristo deve reavaliar
seus conceitos de “culpa e castigo”, bem
como quando trata da questão sobre
quem é mais pecador: aquele que comete um crime bárbaro ou aquele que
não se arrepende de outros pecados, por
julgá-los menos graves que os pecados
do próximo. Na condição de discípulos
de Jesus, somos responsáveis pela divulgação do Reino de Deus e de sua justiça,
conforme o Senhor nos recomenda em
Mt 6.33. De acordo com esse padrão de
justiça, o que é um discípulo aprovado
por Deus? Este estudo aprecia valores
divinos que nos tornam aprovados por
Deus.
É AQUELE QUE RECONHECE OS VALORES DO REINO (Lc 13.1-3)
Os “galileus” aos quais Jesus se refere neste texto bíblico, foram mortos a
118
118 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Leituras Diárias
Lc 13.1-9
Mt 27.24-25
Is 55.8-9
Lc 18.9-14
Gl 5.19-23
Hb 3.7-8
2Co 6.2
mando de Pilatos, enquanto ofereciam
sacrifícios a Deus. O sangue deles fora
misturado com os próprios sacrifícios
oferecidos ao Senhor. Pilatos os considerava insurgentes contra o governo e, por
isso, os mandara matar. As palavras de Jesus nos dão a entender que aqueles galileus eram julgados pela sociedade como
grandes pecadores. Entretanto, Jesus
redireciona o mérito da questão para a
realidade de que o maior pecado de uma
pessoa é a rejeição do Reino de Deus. Ele
os adverte de que, se não se arrependessem, de igual modo pereceriam. Isto nos
faz lembrar que esta palavra de Jesus literalmente aconteceu quando da destruição do templo de Jerusalém e da morte
de milhares de judeus no ano setenta da
era cristã. No julgamento de Jesus, Pilatos
disse que era “inocente do sangue deste
justo”, então, o povo respondeu: “O seu
sangue caia sobre nós e sobre os nossos
filhos. ” (Mt 27.24-25). Aquele que se torna um discípulo de Jesus, precisa rever os
O D I S C Í P U LO A P R O V A D O P O R D E U S |
seus valores em comparação com os valores do mundo (Rm 12.1-2). Em Is 55.8-9,
aprendemos que a escala de valores de
Deus é elevada; a nossa é baixa.
Aplicação a sua vida: os valores de Deus
são diferentes dos valores humanos, pois,
Deus busca a essência da pessoa. De qual
forma os valores humanos tem influenciado a sua vida?
É AQUELE QUE SE ARREPENDE (Lc 13.
3-5)
A Bíblia diz que Deus não rejeita o coração quebrantado e contrito. Deus não
leva em conta o quanto nós pecamos,
mas o quanto nos arrependemos. Deus
se importa não com o nosso passado,
mas com o que somos e como estamos
agora (At 17.30; Hb 8.12). Na parábola do
fariseu e do publicano (Lc 18.9-14), Jesus
disse que o fariseu se gabava de sua religiosidade e “justiça”, enquanto que o
publicano apenas clamava: “Ó Deus, tem
misericórdia de mim, pecador”. Jesus concluiu afirmando que o publicano desceu
justificado, enquanto que o fariseu não.
O problema dos ouvintes a quem Jesus
dirigiu as palavras de Lc 13.3-5 é que eles
julgavam os outros e não se arrependiam
dos próprios pecados. Se você quer ser
um discípulo aprovado por Deus, deixe
de apontar os pecados do próximo e se
arrependa dos seus. Porém, o verdadeiro
arrependimento produz resultados.
Aplicação a sua vida: para Deus, o arrependimento é sempre na “primeira pessoa”.
Deus se importa com o meu tempo presente. Qual ou quais situações você ainda precisa colocar diante de Deus?
É AQUELE QUE TEM O FRUTO DO ESPÍRITO E RENEGA A OBRA DA CARNE (Gl
5.19-23)
Neste texto bíblico, o apóstolo Paulo nos apresenta uma lista das obras da
carne e o fruto do Espírito. Em Gl 5.19,
ele menciona “prostituição, impureza,
lascívia”. O termo grego para a palavra
prostituição é “porneia”, que significa “relação sexual ilícita, adultério, fornicação,
homossexualidade, lesbianismo, relação
sexual com animais, relação sexual com
parentes próximos, relação sexual com
um homem ou mulher divorciada” (Mc
10.11,12). O termo “impureza” é “akayarsia”, que significa “impureza física; impureza moral; impureza proveniente de
desejos sexuais, luxúria, vida devassa. Já
o termo lascívia é “aselgeia”, que significa:
“luxúria desenfreada, excesso, licenciosidade, libertinagem, caráter ultrajante
impudência, desaforo, insolência; adoração de ídolos”. Precisamos ser honestos
para, ao detectarmos em nós qualquer
uma dessas atitudes, termos a coragem
de renunciá-la e buscarmos o fruto do
Espírito Santo.
Gl 5.21 aponta: “invejas, bebedices,
orgias, e coisas semelhantes a estas.” É
impressionante verificar que o invejoso
não herdará o Reino de Deus. Na mesma lista, entram as bebedeiras, as orgias
e coisas similares. Por esta “lista” de impedimentos apontados por Paulo, fica
caracterizado que, para Deus, não existe
um “jeitinho” para ninguém na eternidade. Todas essas manifestações são obras
da carne, diferentes do “fruto do Espírito”,
conforme veremos a seguir.
Diferentemente de “obras da carne”, a
partir de Gl 5.22, Paulo fala sobre o “fruto do Espírito”, que é: “amor, gozo, paz,
longanimidade, benignidade, bondade,
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 119
| O D I S C Í P U LO A P R O V A D O P O R D E U S
fidelidade. ” O amor é o primeiro produto
(fruto) do Espírito, que deve ser traduzido em atitude, e não somente em palavra. Todo estilo de vida deve ser pautado
no amor. Quem é possuído pelo Espírito
Santo, desfruta ainda de alegria e paz; ele
é longânimo (tem o ânimo longo), busca
o bem do próximo, é bom e fiel. A infidelidade é uma deturpação do caráter e evidencia a ausência do Espírito Santo.
Em Gl 5.23, temos “mansidão e domínio próprio”. Mansidão e domínio próprio
estão relacionados e nos identificam com
Jesus, que disse: “Sou manso e humilde
de coração” (Mt 11.29). Na sequência de
Gl 5.23, Paulo diz que contra essas coisas
não há lei. No verso 24, ele justifica por
que o discípulo de Cristo age diferente
daqueles que não seguem a Jesus: “E os
que são de Cristo crucificaram a carne
com as suas paixões e concupiscências”.
O fruto do Espírito é a evidência clara de
que nascemos de novo, nascemos do
Espírito Santo (Jo 3.3-5). Quem não tem
o Espírito Santo não está ligado a Deus,
não é de Cristo (Rm 8.9).
É AQUELE QUE PRODUZ FRUTOS (Lc
13.6-9 e Jo 15.2 e 6)
É inadmissível para Deus que alguém
“plantado” no seu Reino não produza frutos para o mesmo. É inadmissível
para Deus que alguém ligado à “Videira
Verdadeira” não produza frutos verdadeiros. Então, o que Deus faz? Remove
esse “intruso” do Reino (ou da Videira).
João Batista, ao iniciar o seu ministério,
conclamava a todos para produzirem
fruto digno de arrependimento (isto é,
fruto que demonstrasse sincero arrependimento), conforme Mt 3.8-10. João os
alertava para que não confiassem na sua
tradição religiosa (religião dos seus pais),
mas que dessem evidência de verdadeira
mudança, conforme se pode ler nos versos seguintes de Mateus, capítulo três.
120 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
Tanto João quanto o próprio Jesus, afirmaram que, aquele que não desse fruto,
seria cortado.
Em Lc 13.6-9, Jesus conta a “Parábola
da Figueira” plantada numa vinha. Durante três anos, o dono da vinha procurou figo na figueira e não a encontrou,
então, recomentou que fosse cortada. A
alegação era que a figueira ocupava o lugar “inutilmente”. O vinhateiro pediu mais
um ano de prazo; se, após aquele período
não desse fruto, seria cortada e lançada
fora. Vale lembrar ainda o episódio da figueira frondosa na qual Jesus procurou
fruto e, não o encontrando, a amaldiçoou
e ela secou imediatamente (Mt 21.18-19).
O texto de Jo 15.2 e 6, diz que o galho de
uma videira que não dá fruto é cortado,
lançado fora, seca, é colhido, é lançado
no fogo e arde. O discípulo aprovado por
Deus, não se contenta com uma vida de
aparência. Ele leva a sério a vida cristã,
produz fruto e cada vez mais é limpo,
isto é, santificado, para que dê mais fruto.
Quando percebe que não está com sua
vida aprovada por Deus, ele se arrepende
e demonstra isto na prática.
Conclusão
O discípulo aprovado Deus não retarda suas decisões (Hb 3.7-8; 2 Co 6.2). A
posição bíblica é que o momento de buscar o Senhor é sempre agora, hoje. Toda
a nossa vida terrena é uma oportunidade
dada por Deus para produzirmos frutos
para a vida eterna. Deus não aceita nossa
aparência ou meras palavras. Deus quer
vidas transformadas e produtivas. Deus
tolera os nossos pecados, mas tem um
limite. Pode ser que este seja também o
seu último ano de oportunidade, como
foi o da figueira que não produzia fruto.
Então, busque ao Senhor e produza fruto
digno de arrependimento. Seja um discípulo aprovado por Deus!
ESTUDO 35
MINISTRO E DESPENSEIRO
DOS MISTÉRIOS DE DEUS
1 Coríntios 4.1-4
INTRODUÇÃO
Considerando que Jesus, ao comissionar seus discípulos, lhes recomendou
que fizessem discípulos e lhes ensinassem todas as coisas que ele tinha ensinado (Mt 28.19), reflitamos sobre o desejo
de Paulo, expresso em 1 Co 4.1-2, onde
lemos: “Que os homens nos considerem
como ministros de Cristo e despenseiros
dos mistérios de Deus”.
Aplicação a sua vida: O que é um “ministro de Cristo” e o que significa ser despenseiro desses “mistérios divinos”?
DISCÍPULO E MINISTRO DE CRISTO (1
Co 4.1-2)
A palavra “ministro”, no grego
υπερετης (huperetes), significa “aquele que serve, ajudante”. Ela substitui a
palavra δουλος (doulos), que significa
“servo”.6 Todo cristão deve ter a CONS-
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Leituras Diárias
1Co 4.1-2
2Rs 4.8-9
Hb 2.17-18
Gl 5.19-21
2Co 11.28-29
2Tm 4.7-8
1Co 4.9
CIÊNCIA, isto é, “estar com a ciência” de
que é preciso servir ao “corpo de Cristo”,
a Igreja. Deste modo, vemos de imediato
que, na condição de ministro de Cristo,
cada discípulo tem funções básicas, a fim
de que desempenhe bem o seu ministério.
Aurélio7 define “ministro” como “título
genérico para qualquer empregado ou
funcionário público de nível mais elevado: secretário de Estado; membro de
Tribunal. Aquele que executa os desígnios de outrem: medianeiro, intermediário, executor, auxiliar; do evangelho (...)
Membro de um ministério; (...) Categoria
diplomática abaixo da de embaixador.
Aquele que, em nome da Igreja, exerce
certas funções sagradas, como pregar,
administrar os sacramentos. Pastor protestante. Designação comum aos juízes
do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal Militar, do Tribunal de Contas da União, do Tribunal Federal de Recursos, do Tribunal Superior do Trabalho
e dos tribunais eleitorais”.
REFLEXÕES BÍBLIC
BÍBLIC AS
AS II
II
REFLEXÕES
121
|| 121
| MINISTRO E DESPENSEIRO DOS MISTÉRIOS DE DEUS
O apóstolo Paulo espera que os homens nos considerem como “ministros
de Cristo, e despenseiros dos mistérios de
Deus”. A função do ministro é servir. O discípulo está a serviço de Cristo entre os homens, e é necessário que seja reconhecido
por eles. Isso nos faz lembrar de Eliseu, que
foi reconhecido como um santo homem
de Deus (2 Rs 4.8-9). Lembremo-nos ainda que, em Antioquia, os discípulos foram
chamados, pela primeira vez, de “cristãos”
(At 11.26). Observe que eles não se denominaram cristãos, mas foram reconhecidos
como tais em virtude de suas vidas refletirem o exemplo de Cristo.
O que diferencia um discípulo de Cristo
dos demais homens precisa ser o mesmo
sentimento que houve em Cristo (Fp 2.58). Observe de que modo Jesus nos serve
de exemplo: “De sorte que haja em vós o
mesmo sentimento que houve também
em Cristo Jesus”.
a) “Sendo em forma de Deus, não teve
por usurpação ser igual a Deus”. Jesus era
Deus, mas não reivindicou “seus direitos
divinos”. Sendo rico, se fez pobre, a fim de
nos enriquecer (2 Co 8.9). O discípulo de
Cristo não busca o seu interesse pessoal;
seu objetivo é o bem do próximo (1 Co
10.24).
b) “Esvaziou-se a si mesmo”. O discípulo de Cristo não se ufana de nada. Ele se
esvazia de si mesmo, e só deve gloriar-se
na cruz de Cristo (Gl 6.14).
c) “Tomou a forma de servo”. Jesus disse que basta ao discípulo ser igual ao seu
Mestre (Lc 6.40). O discípulo é chamado
para servir aos homens e a Deus (Cl 3.23).
d) “Fez-se semelhante aos homens”.
O discípulo somente entende o próximo quando procura se colocar “no seu
lugar”. Jesus veio viver como homem,
sentir como homem, ser tentado e morrer como homem. O escritor da Carta
122 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
aos Hebreus diz que, por assim viver, Ele
pode nos compreender e nos ajudar (Hb
2.17-18; 4.15-16). Ponha-se no lugar do
próximo e você se assemelhará ao mesmo que Jesus fez. Jesus tomou a iniciativa de humilhar-se a si mesmo. Ele não
esperou ser humilhado. Aliás, Ele assegurou que, somente quem se humilhar,
será exaltado (Mt 23.12). A Bíblia diz que
Jesus “sendo em forma de Deus, não teve
por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma
de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente
até à morte, e morte de cruz” (Fp 2.6-8). E
porque Ele se humilhou, Deus o exaltou
soberanamente, e lhe deu um nome que
é sobre todo o nome” (Fp 2.9). Se você se
humilhar, Deus o exaltará e honrará o seu
nome.
e) “Foi obediente até à morte”. A questão aqui não é ser obediente até quando
morrer, mas até a ponto de morrer. Este
também é o significado de Ap 2.10: “(...)
Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da
vida”. O discípulo, mesmo ante a ameaça
e concretização da morte, permanece
fiel.
f ) “Teve morte de cruz”. Jesus nos
chamou para, a cada dia, tomarmos a
nossa cruz (Lc 9.23). Paulo disse que estava crucificado com Cristo (Gl 2.20). O
verdadeiro discípulo de Cristo está crucificado com Ele, e é desta forma que
serve o próximo e glorifica a Deus. Vida
sem crucificação da carne e dos prazeres
mundanos não é vida cristã. Em Gl 5.1921, Paulo lista quais são esses prazeres ou
paixões da carne: “Adultério, prostituição,
impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas,
dissensões, heresias, invejas, homicídios,
bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas”.
MINISTRO E DESPENSEIRO DOS MISTÉRIOS DE DEUS |
g) “Veio para servir” (Mt 20.28). Quando o mundo enxergar essa predisposição
em cada um de nós, teremos dado o primeiro passo de um despenseiro dos mistérios de Deus. Somos administradores
da despensa divina aos homens, e eles
mesmos é que devem nos considerar
como discípulos e ministros, isto é, a serviço de Cristo neste mundo.
Aplicação a sua vida: Ter o mesmo sentimento de Cristo é o que diferencia um
discípulo de Cristo dos demais homens.
Assim, as qualidades apresentadas no caráter de Cristo devem ser evidenciadas em
nós. Identifique em seu viver diário quando
você apresenta essas qualidades.
DISCÍPULO E DESPENSEIRO DOS MISTÉRIOS DE DEUS
Os “mistérios de Deus” não se referem
a coisas “misteriosas”, mas tem a ver com
o suprimento espiritual que Deus nos
confia, como o discernimento e a pregação da Palavra, bem como a intercessão,
o ensino, o cuidado recíproco, o amor
não fingido e o ensino a respeito da própria pessoa de Jesus. Quando explicou o
significado da “Parábola do Semeador”,
Jesus disse que aquele era um mistério
do Reino de Deus revelado aos discípulos (Mt 13.11). Paulo disse que a salvação
estendida aos gentios era um mistério
que foi revelado (Cl 1.27). É desta forma
que o discípulo de Cristo é um despenseiro dos mistérios de Deus. Isto é, tem a
incumbência de ministrar as verdades da
Palavra a todas as pessoas.
O que é um despenseiro? É o encarregado da despensa; ecônomo. “É a tradução do vocábulo grego οικονομος;
oikonomos – que significa distribuir,
determinar, dirigir”. O despenseiro “indica alguém que tinha por função contro-
lar uma casa, determinando a cada um
quais os seus deveres específicos (...).
Essa palavra indicava também aquele
que geria os negócios externos de uma
casa”.8 O discípulo despenseiro é aquele que administra a despensa divina em
benefício não somente à Igreja, como
corpo de Cristo, mas também a todas as
demais pessoas do mundo. Paulo, em
2 Co 11.28-29, diz: “Além das coisas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente, a preocupação com todas as
igrejas. Quem enfraquece, que também
eu não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu não me inflame?”. Na condição de despenseiros desses mistérios de
Deus, o discípulo de Cristo é desafiado,
diariamente, a exercer essa função. Desse
modo, o discípulo está consciente de que
cuida da despensa de Deus a favor dos homens. Exemplo: Daniel e o despenseiro de
Babilônia (Dn 1.11): “Então disse Daniel ao
despenseiro a quem o chefe dos eunucos
havia constituído sobre Daniel, Hananias,
Misael e Azarias (...)”. Assim como o homem
que cuidava dos amigos de Daniel tinha
a responsabilidade de mantê-los bem alimentados e saudáveis, da mesma forma
somos responsáveis pela alimentação e
saúde espiritual daqueles que Deus nos
tem confiado.
a) O discípulo de Cristo é um despenseiro da Casa de Deus (Tito 1.7): “Porque
convém que o bispo seja irrepreensível,
como despenseiro da casa de Deus, não
soberbo, nem iracundo, nem dado ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de
torpe ganância. ”
b) O discípulo de Cristo é um despenseiro dos mistérios de Deus. Aqui cabe
uma pergunta: como ter acesso a esses
mistérios? É através da Palavra de Deus, a
chave da despensa divina (Sl 119.105; Jo
5.39; 2Tm 3.16-17).
c) O discípulo de Cristo é um despenseiro da graça de Deus a corações feridos,
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 123
| MINISTRO E DESPENSEIRO DOS MISTÉRIOS DE DEUS
vidas arruinadas e aprisionadas pelo inimigo (1 Pe 4.10): “Cada um administre
aos outros o dom como o recebeu, como
bons despenseiros da multiforme graça
de Deus”.
d) Quanto ao tema “mistérios de
Deus”, não nos deteremos nele, mas lembremos que Paulo mesmo nos informa
que esse “mistério” é o próprio Cristo em
nós (Ef 3.9; 1Co 2.7; 1 Tm 3.16; Cl 4.3, 2.2,
1.29).
Aplicação a sua vida: O despenseiro de
Cristo é aquele que guarda a Palavra e a
distribui ordenadamente àqueles que necessitam de alimento. Você tem sido fiel a
essa verdade?
FIDELIDADE DO DISPENSEIRO: DISCÍPULO E DESPENSEIRO FIEL (1 Co 4.2)
Na condição de ministro e despenseiro dos mistérios de Cristo, o discípulo
deve “ser achado fiel”. Todos havemos de
“dar conta” da administração (mordomia),
do que tivermos feito com o “estoque” da
despensa divina (Lc 16.2; Mt 25.19). A
despensa não é do discípulo, é de Deus.
Ele deve administrá-la com fidelidade e
segundo a expectativa divina (Mt 25.27).
Todos vamos comparecer ante o tribunal
divino para julgamento de nossas ações
(2 Co 5.10). Nossa fidelidade será não
apenas reconhecida pelos homens, mas
124 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
principalmente pelo Senhor (Mt 25.21 e
23). O discípulo fiel receberá a coroa da
justiça, a coroa da vida (2 Tm 4.7-8; Ap
2.10). A questão de nossa fidelidade é tão
significativa que Paulo diz que “somos
feitos espetáculo ao mundo, aos anjos, e
aos homens” (1 Co 4.9). A aprovação de
nossa fidelidade é o maior diploma de
um discípulo e despenseiro de Cristo.
Aplicação a sua vida: como tem sido seu
comportamento de um discípulo despenseiro? Quanto da Bíblia (versículos) você
tem guardado em sua memória?
CONCLUSÃO:
O discípulo e despenseiro fiel precisa estar ciente de que não vive para si, e que
deve olhar para Cristo, seu maior exemplo. Tudo o que fizer deverá ser na condição de servo, e para a glória de Deus.
Tem que ser por amor a Jesus, sabendo
que, tudo o que fizer a um dos seus pequeninos, é ao Senhor que está fazendo
(Mt 25.40).
________________
7
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda – Novo Aurélio o dicionário da língua portuguesa – Século XXI
– Dicionário eletrônico.
8
CHAMPLIN, - Russell Norman - O novo testamento
interpretado versículo por versículo. Vol. IV. Milênium. SP. Pag. 57.
ESTUDO 36
QUANDO O DISCIPULO NEGA
A CRISTO
Lucas 22.31-34
Introdução
Veremos neste estudo quais são as condições em que um discípulo de Cristo pode ser
tentado, os motivos da tentação (no caso de
Pedro), bem como os resultados da negação
a Cristo e a oportunidade do arrependimento
que é dada por Deus.
É vencido pelo TENTADOR (Lc 22.31;
Tg 1.13-15)
Ainda que o diabo ande ao nosso derredor, “rugindo como leão, e procurando a
quem possa tragar” (1 Pe 5.8), sabemos também que “o anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem e os livra” (Sl 34.7). Satanás só poderá atingir um discípulo de Cristo
sob a permissão de Deus, ou se o discípulo
der lugar à tentação (Ef 4.27). A experiência
de Jó é uma clara demonstração de que Satanás só pode tocar um filho de Deus sob sua
permissão (Jó 1.8-12). Em 1 Jo 5.18, é dito que
o inimigo não toca naqueles que são nascidos de Deus. Entretanto, este versículo diz
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Leituras Diárias
Lc 22.31-34
Tg 1.13-15
Lc 22.55-58
2 Tm 2.13
Jo 21.15-19
Mt 10.32-33
1 Pe 4.8
também que a pessoa nascida de Deus não
vive na prática do pecado. Contudo, o “cair
em tentação” pode ser uma realidade (Mt
6.13; 26.41). Por esta razão, veremos a seguir
o que acontece ao discípulo de Cristo ante as
tentações.
JESUS INTERCEDE POR ELE (Lc 22.3132)
No caso de Pedro, temos uma revelação
do que aconteceu antes dele negar ao Senhor: Satanás pediu permissão para cirandá-lo, isto é, peneirá-lo como se peneirava
o trigo. Depreende-se do texto que Satanás
obteve essa permissão, mas temos a revelação de que Jesus, sabendo da tentação à qual
Pedro seria submetido, orou mesmo antes
que acontecesse, para que aquele discípulo
não desfalecesse. Jesus intercede por nós e
pode socorrer os que são tentados porque
em “tudo foi tentado” (Hb 2.18; 4.15-16; 7.25).
Como Jesus é maravilhoso! O que acontece nas esferas espirituais é algo que, muitas
vezes, não temos conhecimento. Mas, o fato
REFLEXÕES BÍBLIC
BÍBLIC AS
AS II
II
REFLEXÕES
125
|| 125
| Q U A N D O O D I S C I P U LO N E G A A C R I S T O
de Jesus Saber do que estava acontecendo e interceder em favor de Pedro, só vem
a confirmar o que vimos nos textos bíblicos
mencionados anteriormente: Jesus intercede pelos que são tentados. Tiago diz que,
quando caímos em tentação, é por causa
de nossa cobiça (Tg 1.14-15). O discípulo de
Cristo deve resistir ao diabo e, no caso de cair
em tentação, confessar o seu pecado e crer
na intercessão de Jesus. Pedro não admitiu
a possibilidade de cair em tentação e deu
passos em direção à sua queda, conforme
pontuado a seguir.
Aplicação a sua vida: o discípulo de
Jesus não está imune às tentações, mas
temos exemplo a seguir, para não cairmos
e, quando cairmos em tentação, sabermos
o que fazer.
PASSOS PARA A NEGAÇÃO A CRISTO
NEGLIGÊNCIA À ORAÇÃO (Lc 22.33). Pedro
foi advertido de que negaria ao Senhor,
porém se achou mais forte que todos os
outros. Ele alimentava uma falsa fidelidade
(muito mais “bravata” que verdade). Quando nos estribamos na autoconfiança, damos o primeiro passo para a queda. Daí a
recomendação aos que estão em pé para
terem cuidado para não cair (1 Co 10.12).
SONOLÊNCIA NA TENTAÇÃO (Lc 22.4546). Apesar da advertência do Senhor, enquanto Jesus orava em agonia, os discípulos dormiam. Jesus os adverte para orarem
a fim de não entrarem em tentação, mas
eles estavam tão vencidos pela tristeza que
não atentaram para as palavras do Senhor.
Quando leio estes versículos fico envergonhado, porque é fácil julgar os outros, porém, quantas vezes, eu mesmo não me deixo abater pela tristeza e “durmo”? Descuido
assim do momento em que deveria estar
vigilante e em oração.
VIOLÊNCIA NA AÇÃO (Lc 22.50). Somos
assim: quando nossa fraqueza espiritual
vem à tona, usamos da violência física (ou
verbal) para encobrir nossos verdadeiros
126 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
motivos secretos. Jesus havia prevenido
que seria preso, julgado, morto e que ressuscitaria. A cegueira e surdez espiritual
daqueles discípulos os privavam de se colocarem à mercê da vontade do Senhor. A
visão espiritual verdadeira sabe que não
deve ser “por força, nem por violência, mas
pelo meu Espírito, diz o Senhor dos exércitos” (Zc 4.6).
DISTÂNCIA NA RELAÇÃO: (22.54). O discípulo que não ora e tenta defender o Reino
de Deus pela força, não tem firmeza para
acompanhar de perto o seu Senhor. Segue
o Senhor de longe, isto é, sem compromisso. Essa pessoa está prestes a dar um passo
ainda mais perigoso
FINALMENTE, NEGAÇÃO AO SENHOR (Lc
22.55-58). O discípulo que não ora, que usa
de violência para defender o Reino de Deus
e que segue a Jesus sem compromisso, na
hora em que deveria dar o seu testemunho,
senta-se com os escarnecedores e diz que
não conhece a Cristo. Como você pode ver,
a princípio, Pedro afirmava que estaria disposto até a morrer por amor a Cristo, mas
sua negligência à oração, apelo à violência e
excesso de autoconfiança o levaram a cometer o maior erro de sua vida: negar a Cristo.
O pecado é assim: vai minando nossas forças,
nossa resistência e, por fim, cometemos coisas absurdas!
Nossa infidelidade, entretanto, não torna
Deus infiel (2 Tm 2.13). O amor de Cristo por
seus discípulos, alertou Pedro da tentação e
lhe fez a recomendação de que, quando se
convertesse, confortasse a seus irmãos (Lc
22.32). Este texto nos leva à compreensão
de que Pedro teria uma queda em sua vida
espiritual, mas que teria também a oportunidade de conversão (não que ele ainda não
fosse convertido ao Senhor), mas que haveria
uma “reviravolta” tremenda na sua vida e que,
após essa experiência, poderia ajudar os seus
irmãos. É comum querermos “atirar pedras”
ou “puxar a espada” quando não admitimos
nossas fraquezas e pecados. Porém, quando reconhecemos que somos tão humanos
quanto os outros, choramos, amargamente,
os nossos pecados.
Q U A N D O O D I S C I P U LO N E G A A C R I S T O
|
RESULTADO DA NEGAÇÃO A JESUS? (Lc
22.61-62)
fessarmos diante dos homens, Ele também
nos confessará diante do Pai (Mt 10.32-33).
A previsão de Jesus se cumprira. Ele olha
para Pedro. Esse estremece. Suas “bravatas”
desvaneceram, sua fé esmaeceu, sua alegria
tornou-se amargo pranto. Olhar para Jesus
como Salvador tem um significado; mas
olhar para Jesus como Juiz, deve ser terrível.
Eu acredito que o olhar de Jesus foi de uma
amorosa advertência, mas o suficiente para
desmantelar o apóstolo Pedro. Ele saiu dali e
chorou amargamente.
A confissão de Pedro levou Jesus a fazerlhe a revelação de como havia de glorificar
a Deus através de sua morte (21.18-19).
Jesus disse que os que choram são bemaventurados e serão consolados (Mt 5.4). A
pecadora que ungiu os pés de Jesus chorava, e Jesus disse que os seus muitos pecados
foram perdoados (Lc 7.38, 44 e 47-48). Paulo
diz que a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação (2 Co 7.10). O
discípulo de Jesus que, sinceramente, chorar
por causa dos seus pecados, terá o perdão do
Senhor e será reintegrado à sua missão. Após
a ressurreição, Jesus procurou a Pedro e o reconduziu à função apostolar.
Aplicação a sua vida: segundo o estudo,
o pecado é consequência de alguns fatores
que culminam com a prática dele. Você tem
praticado algum desses passos? Reflita e
reconsidere a sua jornada de vida.
OPORTUNIDADE DE REABILITAÇÃO (Jo
21.15-19)
Jesus, pessoalmente, foi ao encontro de
Pedro. Esse voltara de Jerusalém para a Galileia e fora novamente pescar (Jo 21.1-7). Nos
versos 15 a 17, Jesus indaga Pedro se ele O
amava. Pedro desconversou, dizendo que
gostava de Jesus e que Ele sabia disso. Apelou para o conhecimento de Jesus, dizendo:
“Tu sabes que te amo”. Jesus reformulou a
pergunta e Pedro reafirmou sua resposta
por três vezes. Deus sabe todas as coisas,
mas é necessário confessar com a boca (Rm
10.9-10). Há implicações espirituais que exigem a confissão de nosso amor a Jesus. Pedro precisava confessar o seu amor a Jesus,
porque anteriormente havia até jurado que
não O conhecia. Jesus disse que, se O con-
Aplicação a sua vida: Pode ser que você
algumas vezes tenha negado seu amor a
Jesus, mas hoje Ele lhe dá nova oportunidade de provar que O ama.
Segundo a tradição, Pedro morreu crucificado de cabeça para baixo, em Roma. Na
hora da crucificação, ele teria dito que era indigno de morrer como o seu Senhor morreu,
então, Pedro teria pedido para ser crucificado
de cabeça para baixo. O que, entretanto, nos
chama a atenção nesse registro bíblico de
João, capítulo vinte e um, é a preocupação
de Jesus em reabilitar Pedro. Isto faz parte
do discipulado. Quando alguém fraquejar e
negar a fé, devemos, com todo amor, dar-lhe
nova oportunidade. E, foi com essa oportunidade, que Pedro se tornou uma bênção no
Reino de Deus e veio a escrever depois que
o amor cobre uma multidão de pecados (1 Pe
4.8).
Conclusão
Acreditamos que todos temos “um Pedro”
dentro de nós. Queremos servir a Jesus, porém, muitas vezes, nos vemos afundando nas
empoladas ondas do mar da vida. Dizemos
que somos fiéis a Jesus, porém é comum nos
vermos em situação de perigo e, ante alguma ameaça, fraquejamos e fingimos não conhecer o nosso Mestre, ou agimos como se
não O conhecêssemos. Cremos também que,
no processo do crescimento espiritual e do
discipulado cristão, devemos detectar atitudes que reflitam arrogância, negligência na
oração, omissão no compromisso de seguir
a Jesus e, finalmente, percebermos o desfecho ou resultado de tudo isso: negar a Cristo.
Caso você reconheça que tem falhado para
com o seu Senhor, confesse isto agora mesmo. Lembre-se de que Ele também está à sua
procura, desejando reabilitá-lo à comunhão
com Ele e no serviço cristão.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 127
ESTUDO 37
O OLHAR MISERICORDIOSO
DE JESUS
Mateus 9.9-13
INTRODUÇÃO
O comportamento cristão tende a
oscilar entre alguns extremos tremendamente perigosos. Exemplo: Há o extremo de alguém ter prazer no sofrimento
alheio. Por outro lado, alguém pode ir
ao extremo de ter prazer no sofrimento
pessoal. Outros extremos podem ser o
“farisaísmo” (falso pietismo) ou o ceticismo (aquele que faz da dúvida sua filosofia de vida). Todos nós sabemos que
os extremos são perigosos. Deus espera
que sejamos moderados, equilibrados e
justos quando fizermos qualquer juízo de
valor. O Estudo de hoje nos mostra o que
Deus mais quer de nossa vida (no que diz
respeito à misericórdia e ao sacrifício).
Que este seja uma grande bênção em sua
vida, levando-o a olhar o próximo como
Jesus olha: com misericórdia.
UM OLHAR DIFERENCIADO (Mt 9.9)
Assim como Zaqueu (Lc 19.1-10), Mateus também estava a serviço do império romano na cobrança de impostos. Os
judeus consideravam-no um grande pe128
128 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Leituras Diárias
Lc 22.31-34
Tg 1.13-15
Lc 22.55-58
2 Tm 2.13
Jo 21.15-19
Mt 10.32-33
1 Pe 4.8
cador, porque viam a função de Mateus
como uma traição ao povo judeu. Mas
não foi assim que Jesus “viu” Mateus. O
texto diz que Jesus “viu” Mateus e o convidou para segui-lo. Ele olhou para aquele homem com um olhar misericordioso.
É assim também que Ele nos vê: com
olhos misericordiosos. Ele olha para o
coração (1 Sm 16.7). Os homens viam em
Mateus um cobrador de impostos, mas
Jesus via nele um discípulo, alguém que
viria a escrever um dos evangelhos. Da
mesma forma devemos olhar o próximo,
não acusando-o por seus pecados, mas
convidando-o ao arrependimento e a ser
um discípulo de Cristo.
Não importa como os homens o
veem. Deus o olha com misericórdia. Ele
vê o seu coração e o que poderá fazer de
você no reino d’Ele.
Aplicação a sua vida: nos acostumamos
a ver os índices de violência, de corrupção,
de desigualdade, de pecado e não temos
uma atitude de mudança. O discípulo de
Jesus deve, como Ele, ter um olhar diferenciado diante destas questões. O olhar diferenciado é saber que temos a mensagem
de mudança destas situações.
O OLHAR MISERICORDIOSO DE JESUS |
UM OLHAR INCLUSIVO (Mt 9.9)
O texto diz que Mateus, assim que
recebeu o convite de Jesus, “levantandose, o seguiu”. Mateus não engendrou desculpas, como por exemplo: estou muito
ocupado; tenho que dar satisfações ao
governo... Ele simplesmente obedeceu.
Jesus não quer saber qual é sua religião;
se você é bom ou mal. O que Ele quer saber é se você está disposto a levantar-se
e segui-lo.
Enquanto os opositores de Jesus O espreitavam e questionavam Sua palavra,
Mateus atendeu de pronto o convite de
Jesus. Percebemos que Mateus rompeu
completamente com o seu compromisso
para com o governo romano.
Jesus chama pecadores, sim, mas
estes que atendem o convite de Jesus
mudam seu estilo de vida, passam a ser
discípulos, seguidores de Jesus. Quem
segue a Jesus se torna uma nova criatura. Deixa “as coisas” velhas e tudo se torna
novo (2 Co 5.17). Esta mudança na vida
de um seguidor de Jesus, proporciona
algo extraordinário.
Aplicação a sua vida: segundo o estudo,
o pecado é consequência de alguns fatores
que culminam com a prática dele. Você tem
praticado algum desses passos? Reflita e
reconsidere a sua jornada de vida.
UM OLHAR RELACIONAL (Mt 9.10-11;
Mc 2.15)
mostra que Jesus frequentou a casa de
pessoas da alta sociedade. Jesus era um
homem social, e não fazia acepção de
pessoas (ricas ou pobres). Os publicanos
e pecadores viram na pessoa de Jesus a
esperança de perdão dos seus pecados. É
reconfortador saber que o nosso Mestre
“come conosco”, pecadores! Jesus gostava de ir às casas das pessoas. Quando Zaqueu procurou vê-lo, Ele disse: Hoje vou
pousar na sua casa (Lc 19.5).
Jesus tinha como intenção estabelecer o seu reino através dos lares. Quando enviou os setenta discípulos, de dois
a dois, Ele orientou que os mesmos, ao
chegarem numa cidade, deveriam procurar uma casa onde houvesse um homem
de paz (Lc 10.1, 5-6). Isto combina com a
profecia de Is 54.2, 3 e 12, onde Deus promete que expandiria o seu reino através
dos lares.
No livro de Atos, ao referir-se ao crescimento da Igreja, Lucas diz que os cristãos primitivos se reuniam no templo e
nas casas (At 5.42). No versículo seguinte, At 6.1, vemos o resultado da reunião
da Igreja nos lares: crescia o número de
discípulos. Não importa como esteja sua
casa, peça para Jesus olhar com misericórdia para ela e estabelecer o seu reino
através dos seus moradores. Jesus deseja
ter um relacionamento especial com o
seu lar; Ele quer ter comunhão com você
e sua família. Ele quer olhar para você de
modo misericordioso.
Mateus leva Jesus para sua casa e lhe
oferece uma refeição. Mateus omite que
a casa era a dele próprio mas, em Lc 5.29,
diz que Levi (Mateus) “deu a Jesus um
lauto banquete em sua casa”. Isto nos faz
lembrar de Ap 3.20, onde Jesus diz que
aquele que ouve sua voz e abre a porta,
Ele entra nessa casa, tem comunhão com
a pessoa e esta com Ele.
UM OLHAR MISERICORDIOSO (Mt 9.12)
Este episódio de Jesus indo à casa
de Mateus (e também de Zaqueu), nos
Marcos acrescenta que “eram em
grande número e o seguiam” (Mc 2.15).
Aplicação a sua vida: o nosso olhar diferencial e inclusivo é fruto de um relacionamento maior com Deus. Relacionamento
requer investimento no tempo. Qual o
tempo que tenho dedicado a Deus e ao
próximo?
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 129
| O OLHAR MISERICORDIOSO DE JESUS
Os publicanos e pecadores percebiam na
pessoa de Jesus a esperança de perdão
dos seus pecados.
tão seja um instrumento de Jesus no tratamento dele. Isto porque...
Jesus via na família e convidados de
Mateus almas e corações feridos, vidas
arruinadas pelo pecado, consciências
carregadas de culpa. Você pode imaginar
o estigma que aquelas pessoas traziam,
classificadas como “pecadoras” diante da
“sociedade farisaica”? Devemos aprender,
entretanto, que onde houver um coração
ferido, uma alma angustiada, uma vida
humilhada, ali estará o Senhor: “Porque
assim diz o Alto e o Sublime, que habita
na eternidade, e cujo nome é Santo: Num
alto e santo lugar habito; como também
com o contrito e abatido de espírito, para
vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos.” (Is 57.15)
UM OLHAR QUE ALCANÇA A FELICIDADES: Mt 9.13; Os 6.6; Mt 12.7.
Na condição de discípulos de Jesus,
precisamos olhar o próximo com o mesmo olhar misericordioso de Jesus. Na
ótica divina, quem se considera “são” não
tem necessidade de Jesus. Ele foi categórico em afirmar que os sãos não necessitam de médico. Ele disse que veio curar
os quebrantados de coração (Lc 4.18; Sl
143.3). É importante refletir sobre esta
palavra de Jesus, para termos paciência
com aqueles que estão sendo tratados
por Jesus. Cada um de nós precisa, de
alguma maneira, estar sob o tratamento
de Jesus.
Jesus disse que os sãos não necessitam de médico, em virtude da acusação
dos fariseus de que Ele comia com pecadores. Devemos ter cuidado para não
assumirmos uma posição farisaica em
relação ao próximo, colocando-nos superiores a eles, justificando-nos aos nossos
próprios olhos. Precisamos perguntar a
Deus se a nossa “doença” não é vista por
Ele como mais perigosa do que a do semelhante (Lc 6.41-42; Rm 14.1-4; 15.1-3;
8.33-34; Fp 3). Enfim, se você entende
que o seu irmão precisa de médico, en130 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
Ao dizer que Deus quer misericórdia
e não sacrifícios, Jesus cita Oséias 6.6. Em
Mateus 12.7, Jesus volta ao tema, complementando que se eles entendessem
“o que significa misericórdia quero, e não
sacrifícios, não condenariam os inocentes. ” Não devemos julgar segundo a aparência, mas segundo a reta justiça: João
7.24. O exercício da misericórdia nos leva
a também alcançar a misericórdia divina:
Mt 5.7.
Um dos significados da palavra misericórdia é “pôr o coração na miséria do
próximo”. É deste modo que Deus nos
vê e é assim que Ele vem à nossa casa e
nos convida à comunhão com Ele. Deus
espera que, da mesma forma, seus discípulos se relacionem com o próximo. A
misericórdia é tão importante que Deus a
renova a cada manhã (Lm 3.22-23). Jesus
disse que o misericordioso é feliz e alcançará misericórdia. Aprenda a ter olhar de
misericórdia quando desejar condenar
alguém. Olhe com misericórdia e você
amará profundamente aquela pessoa.
Quando fizer isto, todos também o olharão com misericórdia. É a promessa de
Jesus (Mt 5.7).
Conclusão
Neste estudo, pudemos observar que
Jesus tinha uma forma toda especial de
olhar para o outro.
Como seus discípulos, forjados sob
seu ensino, devemos cultivar a cada dia
um olhar misericordioso. Um olhar que
inclui, relaciona, traz felicidade. Esse olhar
me fará perceber o quanto o mundo precisa de mim, para fazer a diferença e levar
a única mensagem que traz libertação.
ESTUDO 38
O DISCÍPULO E A ORAÇÃO
Lucas 11.1-4; Mateus 6.9-13
INTRODUÇÃO
Uma das principais lições dessa série
de estudos é que Jesus ensinou os seus
discípulos a orar. Esse ensino nasceu de
um pedido dos próprios seguidores do
Senhor ao observarem como Ele orava.
Jesus atendeu o pedido e lhes apresentou os princípios da oração.
ORAÇÃO – ENSINO E EXEMPLO (Lc 11.1)
Os apóstolos, ao observarem Jesus
orando, reconheceram que precisavam
aprender a orar. Nossa vida de oração
deve constituir-se num exemplo a ser seguido. Paulo desafiou os cristãos de Corinto a imitá-lo, assim como ele imitava a
Cristo (1 Co 11.1). Antes de pedirem que
Jesus os ensinasse a orar, os discípulos
observaram como Ele orava. Então, ore
de tal maneira que outros sejam desafiados a aprender a orar como você ora. O
texto de Lc 11.1 nos faz uma revelação:
João Batista ensinou os seus discípulos a
orar. O exercício da oração é uma prática
que precisa ser aprendida.
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Leituras Diárias
Lc 11.1-4
Mt 6.9-13
Rm 8.26
1Co 11.1
Tg 4.2-3
Mt 6.9-12
Hb 8.12
ORAÇÃO – A INTERCESSÃO DO
ESPÍRITO (Rm 8.26 e Tg 4.2-3)
Paulo diz que não sabemos orar convenientemente, por isso, o Espírito Santo nos
ajuda em nossas fraquezas (Rm 8.26). Precisamos da ajuda do Espírito Santo quando
oramos porque a oração errada não tem
resposta de Deus (Tg 4.2-3). Tiago nos descortina duas implicações de orarmos erradamente: pedir mal e ter objetivos errados.
Em Ef 6.18, Paulo recomenda que oremos
no Espírito Santo e com vigilância. Em Gl
5.16 e 18, lemos que a pessoa guiada pelo
Espírito Santo não anda segundo os desejos da carne, mas segundo o Espírito. Orar
certo é orar segundo a vontade de Deus,
isto é, dirigido pelo Espírito Santo. Esta oração tem resposta (1 Jo 5:14). Os discípulos
perceberam que precisavam aprender a
orar porque viram o modo como Jesus
orava. E Jesus atendeu o pedido deles.
REFLEXÕES BÍBLIC
BÍBLIC AS
AS II
II
REFLEXÕES
131
|| 131
| O D I S C Í P U LO E A O R A Ç Ã O
Aplicação a sua vida: o pedido dos apóstolos para que Jesus os ensinasse a orar
foi baseado no Seu exemplo. Como tenho
agido com referência à oração que tem
despertado o interesse de outros a esse
relacionamento?
ORAÇÃO – MODELO A SEGUIR (Lc 11.2
e Mt 6.9-13)
Lucas parece resumir o ensino de Jesus sobre a oração, por este motivo vamos nos basear na oração ensinada por
Jesus em Mt 6.9-13.
Em Mateus, antes de ministrar o ensino da “Oração do Pai Nosso”, Jesus já havia ensinado como não se deve e como
se deve orar, no que diz respeito à postura: evitar orar para exibição aos homens.
Neste estudo, nos ateremos sobre o que
dizemos na oração. Em Mt 6.9, Jesus ensina: “Portanto, vós orareis assim. ” Observe que, apesar de Jesus dizer “vós orareis
assim”, em nenhum lugar do Novo Testamento lemos que alguém tenha recitado
a “Oração do Pai Nosso”. Os discípulos
entenderam que o ensino de Jesus sobre
a oração se constituía num modelo, em
princípios a serem seguidos e não em palavras a serem decoradas e repetidas.
Aplicação a sua vida: a oração deve ser
baseada nos princípios do “Pai Nosso”.
Ela não é para ser repetida. Sigamos esse
exemplo e façamos nossas orações sob esses princípios!
ORAÇÃO - PRINCÍPIOS A OBSERVAR
Pontuamos a seguir os itens que devem constar de uma oração dirigida pelo
Espírito Santo e, portanto, com resposta
assegurada.
132 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
a) Temos um Pai Celestial: “Pai nosso
que estás nos céus” (Mt 6.9)
Não somos bastardos e nem órfãos
espiritualmente. Em Cristo Jesus, todos
somos filhos de Deus e isto tem significados que extrapolam a capacidade do entendimento humano (1 Co 2.9 e Fp 4.6-7).
Ser filho de Deus é ser herdeiro de Deus
e co-herdeiro de Cristo (Rm 8.17). Orar reconhecendo a Deus como Pai Celestial é
um dos modos de começarmos bem uma
oração. É a ideia de um filho que se agrada da presença do pai, e isto tem promessas (Sl 103.13-14 e 37.4). Pensamos que
não há termo mais doce e apropriado
para se começar uma oração do que se
dirigindo a Deus como Pai, porém há um
detalhe a não ser esquecido...
b) A Santidade do Nome de Deus:
“Santificado seja o teu nome” (Mt 6.9)
A ideia aqui é dirigirmo-nos a Deus
com a devida reverência. Não há desculpas
para se usar o nome de Deus irreverentemente (Ex 20.7). Ele não terá por inocente
quem tomar o seu santo nome em vão, isto
é, quem fizer brincadeiras ou for irreverente para com o nome de Deus. Não é por se
estar feliz e se agradar da presença de Deus
que ficamos desobrigados da exaltação ao
seu santo nome. Isso nos leva a ser mais
cautelosos quando nos referirmos ao Senhor e usarmos o seu santo nome. Na oração, você deve exaltar o nome e a pessoa
bendita do Pai Eterno.
c) A prioridade do Reino de Deus:
“Venha o teu reino” (Mt 6.10 e 33)
Observe que o primeiro “pedido” nesta oração é pelo Reino de Deus. A busca
pelo Reino de Deus deve estar em primeiro lugar na vida de um discípulo de Cristo. Se na oração, ele coloca em primeiro
lugar “as demais coisas”, esta oração não é
O D I S C Í P U LO E A O R A Ç Ã O
segundo a vontade do Senhor. Deus quer
reinar em nossos corações, em nossa
mente, em todo o nosso corpo, em toda
a nossa vida e em todo o mundo. Quando
oramos para que o Reino de Deus venha,
estamos pedindo também que Jesus
venha finalmente reinar. Que Ele volte,
conforme prometeu (Jo 14.3; At 1.11; Ap
22.20). É dizer para Deus que aceitamos
o seu reino absoluto sobre tudo o que
somos e temos. Se o Reino de Deus for
buscado em primeiro lugar, é certo que
as demais coisas serão acrescentadas.
d) Rendição à Vontade Divina: “Seja
feita a tua vontade, assim na terra como
no céu” (Mt 6.10)
Uma vez convidado para reinar sobre
tudo o que temos e somos, evidenciamos
nossa dependência do Senhor e desejamos que sua vontade seja feita aqui na
terra, do mesmo modo como é feita no
céu. Somente quem se rende à vontade
de Deus pode conhecer também qual é
sua “boa, agradável e perfeita vontade”
(Rm 12.1-2). Até este ponto, estamos falando da pessoa de Deus, do seu reino e
da sua vontade. A partir de então, começamos a pedir pessoalmente por nós.
e) Dependência do Pão Cotidiano:
“O pão nosso de cada dia nos dá hoje” (Mt
6.11). A oração começou reconhecendo a
Deus como Pai, portanto, o Supridor da
família, da vida. Realça a santidade do seu
nome, o domínio do seu reino, a importância do cumprimento de sua vontade,
agora demonstra a completa dependência do Senhor: pede o pão para cada dia.
É Deus quem dá o sustento. Não pede o
pão da semana que vem; é o pão de cada
dia. Isso evita ansiedade e exercita a fé na
certeza de que o Senhor não faltará com
o pão cotidiano, como o fez com o povo
de Israel durante quarenta anos no deserto (Ex 16.35).
|
f) Confissão de Pecados: “E perdoanos as nossas dívidas” (Mt 6.12). É impossível ter um encontro com Deus e não
reconhecer que se está em falta, que se
é pecador. Esta foi a experiência de Isaías (Is 6.1-7; Lc 5.1-8). Ele confessou qual
era o seu pecado: era um homem de lábios impuros e habitava no meio de um
povo de impuros lábios. Pedro não os
especificou, mas reconheceu que era um
homem pecador. É importante confessarmos pecados específicos quando formos
orar. Exemplo: Senhor, eu menti; eu fui
agressivo; eu faltei com os meus compromissos ou deveres na seguinte área. Devemos evitar as célebres frases, como por
exemplo, perdoa a multidão dos meus
pecados. Ao confessarmos determinado
pecado, devemos lembrar que o Senhor
realmente perdoa e não precisamos ficar
nos martirizando com o pecado confessado, visto que Deus o esqueceu (1 Jo
1.9 e Hb 8.12). Na confissão dos pecados,
está implícito o perdão a quem nos tem
ofendido. Aquele que não perdoa não
tem direito a perdão. Uma vez confessado o pecado, vem o próximo pedido.
g) Livramento da Tentação e do Mal:
“E não nos deixes entrar em tentação;
mas livra-nos do mal” (Mt 6.13; 26.41). Há
duas petições que fazemos nesta parte
da “Oração do Pai Nosso”. A primeira é
para que o Senhor não nos deixe “entrar
em tentação”. Ele pode nos alertar sobre
algum perigo ou armadilha do inimigo.
A tentação poderá vir, mas não chegará
a nos envolver. A segunda é para que o
Senhor nos livre do mal. Deus não somente nos guardará de entrar em tentação, mas também nos dará livramento do
mal. Esta palavra “mal” significa livramento do maligno. É a proteção que o salvo
tem, por Jesus, contra as hostes de Satanás (Sl 91.3; 1 Jo 5.18). Observe que, na
“oração modelo”, o único pedido material
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 133
| O D I S C Í P U LO E A O R A Ç Ã O
foi pelo pão cotidiano. Jesus nos adverte
ainda contra os “tesouros da terra”, contra
a ansiedade pela comida, pela bebida e
pelo vestuário. Ele nos assegura que, se
buscarmos em primeiro lugar o Reino de
Deus e a sua justiça, as demais coisas nos
serão acrescentadas (Mt 6.19-33).
h) O “Clímax” da Oração: “Porque
teu é o reino e o poder, e a glória, para
sempre” (Mt 6.13). A oração é concluída
reafirmando que o reino e o poder pertencem a Deus. Reconhece também a
Sua glória e a Sua eternidade, ao dizer
“para sempre”. Como você percebe, Jesus
não acrescentou mais nada a esta oração,
porque os princípios nela contidos pontuam verdades a respeito de Deus e das
necessidades do ser humano.
Mais uma vez, chamamos sua atenção, entretanto, para o fato de que Jesus só falou esta oração uma vez, e não
134 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
consta que algum dos discípulos a tenha
repetido em qualquer momento. Ela
não era para ser objeto de recitação decorada. Seus princípios é que deveriam
fazer parte de nossa oração, conforme
acabamos de expor. Com base nessa compreensão, quando formos orar,
devemos ter bem definidos os motivos
pelos quais devemos orar.
Conclusão O discípulo de Jesus precisa ter vida
de oração, mas com base nos princípios
ensinados pelo Senhor. Caso contrário, pode incidir no risco de pedir e não
receber, porque pede errado ou por
motivos errados. O discípulo deve crer
que, se ele se deixar ser guiado pelo Espírito Santo, orará segundo a vontade
de Deus e terá resposta a tudo o que pedir. Esta é uma questão de obediência e
de fé.
ESTUDO 39
REAFIRMANDO A FÉ ANTE AS
ADVERSIDADES
João 11.1-5; 25-46
INTRODUÇÃO
Esse milagre da ressurreição de Lázaro demonstra que, apesar de não sermos
do mundo, estamos no mundo e, portanto, sujeitos aos males do mesmo (Jo
17.11-16). Somente Jesus pode livrar-nos
do mal, daí ele ter ensinado na oração
do Pai Nosso que deveríamos pedir o livramento do mal (Mt 6.13). Deus tinha
um propósito na enfermidade e morte
de Lázaro. Ele era discípulo (seguidor)
de Cristo, juntamente com suas irmãs,
Marta e Maria. Estes eram moradores de
Betânia, aldeia próxima a Jerusalém. Eles,
entretanto, não sabiam desse propósito
divino. A experiência da enfermidade e
morte de Lázaro contribuiu para o crescimento espiritual de Marta não somente
em “saber”, mas principalmente em “crer”
que Jesus é a ressurreição e a vida. Serviu também de testemunho do poder de
Jesus sobre a morte.
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Leituras Diárias
Jo 11.1-5;25-46
Rm 8.18;37-39
2Co 4.16-17
Jo 11.44
Hb 12.1-2
2Co 1.3-7
Jo 13.7
FÉ ANTE A ENFERMIDADE (Jo 11.1-3 e 5)
Marta e Maria mandaram dizer a Jesus: “Está enfermo aquele a quem Tu
amas”. É linda a afirmação dos sentimentos de Jesus para com Lázaro. O verso
cinco diz que Jesus amava àqueles três
irmãos. Possivelmente, o pai e a mãe dos
amigos do Senhor já tivessem morrido.
Marta e Maria temiam por mais um duro
golpe na família e, por isso, mandaram
avisar a Jesus da doença de Lázaro. Este
fato nos ensina que, por sermos discípulos de Cristo e Ele nos amar, não estamos
isentos de enfermidades e outros males
deste mundo. Aliás, Cristo mesmo nos
alerta que no mundo teremos aflições,
mas que devemos ter bom ânimo, porque Ele venceu o mundo (Jo 16.33). Deus
tem propósitos específicos com tudo o
que nos acontece.
EFERMIDADE PARA A GLÓRIA DE DEUS
(Jo 11.4)
Ao ouvir que o seu amigo e amado
discípulo (Lázaro) estava doente, Jesus
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 135
| REAFIRMANDO A FÉ ANTE AS ADVERSIDADES
afirmou: “Esta enfermidade não é para
morte, mas para glória de Deus, para que
o Filho de Deus seja glorificado por ela”
(Jo 11.4). Esse é mais um caso na Bíblia
em que uma enfermidade foi para a glória de Deus. O outro está em Jo 9.3, onde
Jesus diz que a deficiência visual daquele
homem era para que nele se manifestasse “as obras de Deus. ” Fica evidente que,
apesar de Deus amar, Ele permite enfermidades e outros males na vida de seus
discípulos (e até permite a morte), tudo
contribuindo para o bem daqueles que o
amam (Rm 8.28). Nossa parte é procurar
compreender o propósito de Deus em
nos permitir qualquer situação adversa,
e crer que tudo é para o nosso bem. O
discípulo de Cristo deve lembrar-se sempre que, sua momentânea tribulação,
resultará na revelação da glória de Deus
através de sua vida e vai torná-lo mais do
que vencedor (Rm 8.18, 37-39; 2 Co 4.1617). Além de “saber”, você deve “crer” que
Deus está operando através de sua vida
para a glória d’Ele, mesmo que a resposta
divina pareça demorar.
Aplicação a sua vida: estamos todos sujeitos a adoecer, mas sabemos que Deus é
soberano em nossas vidas. Qual tem sido
sua experiência nessa área e como você
tem enfrentado essa situação?
FÉ ANTE A DEMORA DIVINA NA RESPOSTA A UM DISCÍPULO (Jo 11.6)
Quando o mensageiro chegou a Jesus, Lázaro já estava morto (Jo 11.11).
Jesus sabia, mas os discípulos não. Muitas vezes, não entendemos por que Deus
parece demorar quando vivemos uma
situação angustiante. A recomendação
é orarmos sempre e nunca desfalecer (Lc
18.1). Deus sempre tem um propósito de
bem até mesmo quando demora em nos
136 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
responder. No caso específico de Lázaro,
a demora de Jesus era porque Ele desejava levar os discípulos a crer (Jo 11.11-15):
“E folgo, por amor de vós, de que eu lá
não estivesse, para que acrediteis. ” Observe que diz “por amor de vós. ” Mesmo
a demora divina é porque Ele nos ama e
quer que a bênção que tem para nossa
vida seja mais e mais significativa. Porém,
lembre-se: Muito mais do que “saber”, o
discípulo precisa “crer”. Reconhecemos,
entretanto, que existe grande distância
entre saber e crer.
Aplicação a sua vida: mesmo firmados em
Cristo, muitas vezes chegamos a perder as
forças e esperanças. Como trabalhar diante
da demora na resposta divina?
SABER X CRER (Jo 11.20-26)
A paciência de Jesus no processo de
crescimento espiritual de Marta é impressionante. Ela, primeiro chega lamentando a ausência de Jesus, alegando que
se Ele estivesse presente, Lázaro não teria
morrido. Jesus inicia, então, um processo
de despertamento da fé em Marta (v. 23).
Ela disse que “sabia”, mas Jesus queria
que ela “cresse” (v. 25-26). Sua confissão
de fé, no v. 27, demonstra progresso espiritual, porém, Jesus queria operar algo
extraordinário naquela família. Ele, realmente, iria ressuscitar Lázaro naquele
dia. Mais adiante, quando Jesus manda
tirar a pedra e Marta alega que o corpo
de Lázaro cheirava mal, Jesus volta a reafirmar a questão da fé para ela ver a glória
de Deus (v. 40). A revelação de Jesus de
que Ele é a ressurreição e a vida (v. 25-26)
é uma das mais extraordinárias da Bíblia.
Ela responde à dúvida de Jó, quando
questiona se alguém tornaria a viver depois de morto (Jó 14.14). Jesus não apenas diz que ressuscita os mortos, mas que
REAFIRMANDO A FÉ ANTE AS ADVERSIDADES |
Ele próprio é a ressurreição e a vida. Fico
impressionado que, algumas das mais
impressionantes revelações de sua pessoa, Jesus tenha feito a mulheres. Vimos
isto, neste particular, a Marta; à samaritana, quando foi claro em dizer que ele
era o Messias (Jo 4.25-26); quando ressuscitou, Jesus apareceu primeiro a Maria
Madalena, e não a um dos apóstolos (Mc
16.9). Não há tempo e espaço para nos
determos nesses “motivos divinos”, mas,
nos concentramos no cuidado de Jesus
em transpor Marta do nível do saber para
o nível da fé, isto é, crer. Quando alguém
crê, move o coração de Jesus.
Aplicação a sua vida: Por muitas vezes,
parece que Jesus está longe e se esqueceu
de nós. Mas Ele é DEUS! Resta-nos recorrer
a Ele, para que possamos aprender a ser dependentes d’Ele.
JESUS CHORA POR SEU DISCÍPULO
(Jo 11.35)
Quando Jesus pergunta a Marta se ela
cria que Ele é a ressurreição e a vida, ela
confessa crer em Jesus como o Filho de
Deus, e sai para chamar sua irmã Maria
(Jo 11.26-28). Ela disse à sua irmã que Jesus a chamava. Maria, sim, era uma mulher que sabia e cria. Observe que, ao ir
ao encontro do Senhor, disse as mesmas
palavras que Marta, porém, prostrada
aos pés de Jesus (Jo 11.28-32). Jesus não
precisava transpor Maria do “saber” para
o “crer”; Ele apenas perguntou: “Onde o
pusestes? ” Então, se comoveu e chorou
(Jo 11.34-35). Para a viúva de Naim, que
chorava a morte do seu filho, Jesus disse:
“Não chores”, porém, agora, com a morte
do seu amigo, Ele se emocionou muito
(Jo 11.33) e chorou. Este lado humano
de Jesus é algo que nos comove e conforta. Deus compreende os nossos senti-
mentos e, muitas vezes, “chora” conosco.
Nessa atitude de Jesus, vemos também
que não é errado chorarmos a morte dos
nossos entes queridos. O v. 36 registra o
testemunho dos judeus sobre o amor de
Jesus para com Lázaro. Porém, o processo de levar Marta do “saber” para o “crer”
ainda teria mais uma etapa. Ela precisava
remover...
JESUS PEDE QUE REMOVA A PEDRA DA
INCREDULIDADE (Jo 11.39-40)
Aquela pedra na entrada da caverna
que servia de túmulo para Lázaro, não
seria retirada por Jesus, apesar do seu
poder, mas, sim, pelas pessoas presentes.
Marta temia pelo desconforto que poderia causar àqueles que vieram consolálas, pelo mau cheiro, em virtude do estado de decomposição do corpo de Lázaro.
Aquele era um momento para a fé e não
para se olhar ou “sentir” as circunstâncias
físicas. As pedras de nossa vida, que obstruem a manifestação do poder de Deus,
devem ser removidas por nós mesmos.
Isso é uma questão de fé. Ante o temor
de Marta, Jesus lembra o que lhe dissera há pouco: Para ver a glória de Deus,
é preciso mais que saber, é preciso crer
(Jo 11.40). O processo do discipulado de
Marta foi doloroso, mas se tornou glorioso, porque, ao permitir a remoção da
pedra do túmulo do irmão, Jesus ordenou que Lázaro saísse do sepulcro. Esta
ordem de Jesus nos leva a mais um passo
no discipulado.
Aplicação a sua vida: o fato de Jesus ter
pedido que removessem a pedra nos adverte sobre o nosso envolvimento no processo de realizações de Deus em nossa
vida. Como você tem removido as pedras
que te separam da vontade d’Ele?
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 137
| REAFIRMANDO A FÉ ANTE AS ADVERSIDADES
JESUS ORDENA: VENHA PARA FORA!
(Jo 11.43)
Jesus não foi lá dentro e nem impôs
as mãos sobre a cabeça do defunto. Ele
apenas ordenou que Lázaro viesse para
fora, e ele veio. A decomposição do corpo
foi revertida, seu espírito voltou; apesar
de se encontrar todo amarrado, Lázaro
veio andando (v. 44). Isso nos faz lembrar
que Jesus disse que virá à hora em que
todos os mortos ouvirão a voz do filho de
Deus e ressuscitarão (Jo 5.28-29). Jesus
realmente tem o comando sobre a morte
e sobre a vida. Ele próprio é a ressurreição e a vida, conforme vimos anteriormente. Como é bom crer em Jesus! Porém, aprendemos com esse episódio que
precisamos despertar da morte na qual
nossa vida pode estar presa, nos levantarmos e, assim, Cristo nos iluminará (Ef
5.14). Assim como Lázaro ouviu a voz de
Jesus e veio para fora, todo discípulo de
Cristo deve tomar consciência de onde
está e “vir para fora”. É interessante que a
palavra “igreja” no grego é “ekklesia”, que
significa vir de dentro para fora.
Aplicação a sua vida: Após a ressurreição
Jesus pediu que desatassem as faixas que
encobriam o corpo de Lázaro. No discipulado vemos a importância do outro para nos
ajudar nesse momento de desatar os nós
que nos impedem de crescer.
JESUS MANDA: DASATEM AS FAIXAS
(Jo 11.44)
Novamente, vem a parte do homem.
Eles precisaram retirar a pedra e, agora,
desembaraçar Lázaro das faixas de morto
que o prendiam. Em Hb 12.1-2, somos recomendados a deixar os embaraços que
138 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
nos rodeiam e a corrermos, olhando para
Jesus. Apesar de ressuscitado, Lázaro precisava ser desembaraçado. Também nós
devemos descobrir quais são os embaraços de nossa vida espiritual e nos livrarmos deles. Esta é uma clara demonstração do discipulado, que devemos fazer
com todos os que “saem da morte para
a vida”. Uma pessoa, mesmo convertida,
precisa de cuidados especiais, de alguém
que a ajude a desembaraçar-se.
Conclusão
Deus permitiu doença e morte naquela família de Betânia e pode permitir
o mesmo em qualquer um dos seus discípulos (seguidores). Precisamos ter sabedoria para que, quando isso nos acontecer, procurarmos entender os propósitos
divinos, que são sempre para o nosso
bem. Muitas tragédias acontecem provocadas por nós mesmos ou por outros. Isso
já entra na esfera da irresponsabilidade e
maldade do coração humano e não, necessariamente, que Deus tenha planejado isso para as nossas vidas. Entretanto,
quando somos vitimados por algo dessa
natureza, devemos entender que foi permissão de Deus, e que Ele nos consolará e
julgará os culpados. Entretanto, seu amor
e soberania poderão converter em bem
o que nos parece mal. Ele nos recompensará se nos mantivermos firmes e O glorificarmos em tudo. Nossa firmeza servirá
também como testemunho e ajuda para
outros (2 Co 1.3-7). Precisamos detectar
as pedras, ou embaraços, que obscurecem nossa fé e obstruem a manifestação
da glória de Deus em nossas vidas. Creia
sempre que o que você não entende
agora, entenderá depois (Jo 13.7).
ESTUDO 40
VITÓRIA SOBRE O PECADO:
“NÃO PEQUES MAIS”
João 5.1-14 e 8.12
INTRODUÇÃO
Por que Jesus teria recomendado,
tanto ao paralítico curado quanto à
“mulher adúltera”, para que não pecasse
mais? O que acontece a quem, depois de
perdoado, permanece no pecado? O presente estudo procura responder a estas
perguntas e propõe ações concretas para
que o discípulo de Cristo viva em santidade.
Jesus era um homem social, um homem do povo. Ele foi ao casamento em
Caná da Galileia, compareceu a diversas
festas do seu povo e comeu com os pecadores. O fato de estarmos no mundo e
sermos santos, não significa isolamento
social. Viver em santidade, isto é, não pecar, não é viver distante dos momentos
sociais do povo. Jesus ia às festas e não
pecava. Aonde Ele ia, causava impacto
positivo nos que viam e ouviam o Senhor.
Nesse sentido, o discípulo de Cristo pode
ir a qualquer lugar, desde que transforme
pessoas e mude o ambiente para a glória
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Leituras Diárias
Jo 5.1-14 e 8.12
Lc 16.19-21
Sl 37.5, 7
Fp 4.13
2 Rs 20.1-7
1 Tm 5.23
1 Co 11.30
de Deus. Quando a luz chega, as trevas
têm que ser dissipadas (Jo 1.5). Apesar de
ir a uma festa, Jesus não ignorou a miséria dos que sofriam. Talvez, este fosse um
dos grandes problemas do homem rico
que vivia em festas, mas ignorava o mendigo, o enfermo Lázaro que vivia à sua
porta (Lc 16.19-21).
Aplicação a sua vida: a experiência de Jesus nos mostra que devemos ter uma vida
social que abençoe o outro. Como tem sido
essa área da sua vida?
O DISCÍPULO E OS ENFERMOS (Jo 5.2-4)
Impressiona-nos, em primeiro lugar, o
número de pessoas enfermas nos alpendres do tanque de Betesda (v. 3): grande
multidão de enfermos. O problema da
enfermidade e outros males físicos tem
assolado a humanidade. O importante
de tudo isso é que Jesus veio ao encontro
daquelas pessoas. A palavra Betesda significa Casa de Misericórdia. Aqui há duas
lições que precisamos aprender com JeREFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 139
| VITÓRIA SOBRE O PEC ADO: “NÃO PEQUES MAIS”
sus. A primeira é que, na condição de seus
discípulos, não podemos ser indiferentes às
enfermidades e miséria do povo. A segunda é que Jesus curou apenas uma pessoa
de toda aquela multidão. Como discípulos dele, não podemos atender a todos. O
discípulo de Cristo não é insensível, mas
também precisa estar atento à direção do
Espírito Santo sobre o momento oportuno
de quando e a quem deve ajudar.
Quanto à crença sobre a descida de um
anjo que agitava a água, e quem descesse
primeiro ficaria curado, os comentaristas
bíblicos apresentam, entre outros argumentos, o fato desse relato não constar
nos mais antigos manuscritos. Admitem,
entretanto, que algo extraordinário acontecia ali para atrair tanta gente. Uma das
explicações plausíveis é que, aquela fonte
era afetada por um fenômeno natural, que
causava a intermitência das águas, e as pessoas criam tratar-se de um ato sobrenatural
e milagroso. Um dado importante é que
Jesus não comentou o argumento do paralítico (v. 7). Vamos nos ater, entretanto, ao
que é pertinente na cura daquele homem
e na recomendação de Jesus para que ele
não pecasse mais.
UMA BÊNÇÃO ESPECIAL (Jo 5.5)
Não sabemos há quanto tempo o paralítico estava junto ao tanque de Betesda. Mas,
o texto nos informa que sua paralisia já durava trinta e oito anos. E isto devia ser uma
experiência angustiante. Há quanto tempo
você ou um ente querido seu está enfermo
e você busca por um milagre? A pedagogia
divina recomenda duas atitudes básicas ao
discípulo de Cristo: crer e esperar com paciência no Senhor (Sl 37.5, 7 e 40.1). O aprendizado no discipulado é progressivo (Jo 16.12 e
13.7). O fato de Jesus advertir aquele homem
para que não pecasse mais, a fim de que algo
pior não lhe acontecesse, sugere que aquela
doença era resultado de um pecado específico. Somente trinta e oito anos depois é que
ele foi curado. Ele esperava que sua cura viria
140 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ao ser colocado no tanque de Betesda, mas
Deus tinha um plano melhor para sua vida:
viria na pessoa do seu Filho para encontrarse pessoalmente com ele. Há quanto tempo você está esperando pela sua cura, pela
intervenção divina em sua vida? Creia que,
assim como Jesus foi ao encontro daquele
homem, Ele virá também ao seu encontro e
realizará algo acima de suas expectativas (Ef
3.20): “Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além
daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera”.
VOCÊ QUER SER CURADO? (Jo 5.6)
A pergunta de Jesus pode parecer absurda. Porém, lembremos, a enfermidade
daquele homem era resultado de pecado (v.
14). A pergunta de Jesus em João 5.6 deve
ser comparada com o verso quatorze e com
Tg 5.15. Mais à frente, apreciaremos a questão da relação entre enfermidade e pecado,
mas vamos nos ater à pergunta de Jesus:
Você quer ser curado? Deus quer saber exatamente qual é o desejo do íntimo do nosso coração. Pergunta semelhante Ele fez ao
cego Bartimeu: “O que você quer que eu lhe
faça? ” (Lc 18.41). Bartimeu foi objetivo: “Eu
quero enxergar”. Já o paralítico não percebeu
que era Jesus quem estava diante dele, e falou sobre as dificuldades de não ter quem o
descesse ao tanque (Jo 5.7). Muitos de nós
também ficamos esperando nos fenômenos
desta vida e nos esquecemos de que temos o
Senhor de todos os fenômenos! Jesus conhece o nosso tempo de sofrimento; Ele sabe,
exatamente, há quanto tempo temos lidado
com determinada adversidade. Ele ignorou
os argumentos do paralítico e deu-lhe uma
ordem poderosa, conforme veremos a seguir.
Aplicação a sua vida: Lembremos que havia ali uma multidão de enfermos (v. 3 e 13),
mas Jesus curou apenas esse homem. O
que o diferenciou dos demais? O que pode
fazer a diferença entre você e uma multidão
de enfermos? Você, de fato, quer o perdão e
a bênção do Senhor?
VITÓRIA SOBRE O PEC ADO: “NÃO PEQUES MAIS”
LEVANTE-SE E ANDE! (Jo 5.8)
Mas se ele era paralítico, como poderia
levantar-se, tomar o leito e andar? A ordem
era para que ele fizesse o que não fazia há
trinta e oito anos. O verso nove diz que
“imediatamente, o homem se viu curado e,
tomando o leito, pôs-se a andar”. Imagine se
ele continuasse a argumentar com Jesus:
“Mas, Senhor, não posso andar! Estou aqui
há trinta e oito anos nesta cama... será que
o Senhor poderia me descer às águas quando o anjo viesse? ” Porém, ante a ordem de
Jesus, o paralítico se viu curado. Ele, que até
aquele dia era carregado num leito, agora era incumbido de carregar o seu leito.
Quando Jesus opera em nossa vida, deixamos de ser um peso para os outros e começamos a agir. Esta mesma ordem lhe é dada
hoje: Levante-se! Anime-se! Deixe de viver
preso a um leito, a uma depressão, ao sentimento de “não posso” (Sl 27.14 e Fp 4.13).
Esta é outra questão a aprendermos no
processo de discipulado que reafirmamos
aqui: Deus age, mas nossa parte Ele não faz.
Também há providências a serem tomadas
após as manifestações divinas e que fazem
parte do processo da santificação, conforme Jesus advertiu o recém-curado.
Aplicação a sua vida: em muitas áreas de
nossas vidas, estamos esperando a ação de
Deus, mas não fazemos nada em prol dessa
ação. Deus pode estar lhe dizendo: “ levanta, toma a tua cama e anda”.
CUIDADO COM O PIOR (Jo 5.14)
Sabemos que não é toda enfermidade que tem origem direta do pecado (Jo
9.1-3), contudo o caso desse homem, em
particular, tinha a ver com pecado, tanto é
verdade que Jesus o advertiu para que não
pecasse mais. Tiago nos recomenda confessarmos os nossos pecados uns aos outros
para que saremos (Tg 5.16). Devemos pedir
discernimento a Deus quanto à origem de
nossas enfermidades para que, caso sejam
oriundas de pecados, possamos nos arrepender e sermos curados. Se a enfermidade
tem outra origem, também devemos pedir
|
orientação ao Senhor sobre sua vontade a
respeito da mesma: vai ser curada diretamente através da oração, de uma cirurgia
ou de um medicamento? Ezequias, mesmo
tendo a promessa de que seria curado e
viveria mais quinze anos, precisou aplicar
uma pasta de figos para restauração da
saúde (2 Rs 20.1-7). Paulo recomendou a Timóteo não beber somente água, em virtude de suas “constantes enfermidades” (1Tm
5.23). O próprio Paulo lidou com o seu “espinho na carne” e Jesus lhe disse que não o
curaria, mas que a graça d’Ele lhe bastava (2
Co 12.9). Por outro lado, os cristãos de Corinto estavam adoecendo, e alguns tinham
até morrido por causa da irreverência na
celebração da Ceia do Senhor (1 Co 11.30).
O importante firmarmos aqui é que a vigilância nos livra de muitas consequências
ruins em nossa vida. Então, na medida do
possível, evitemos o pior!
CONCLUSÃO
Tanto para a mulher flagrada em adultério quanto para este homem curado por Jesus, a ordem foi que não pecasse mais. Deus
sabe das consequências do pecado. O pecado traz enfermidades, tristezas, desavenças,
dá lugar ao diabo e, finalmente, produz a
morte. O desejo do Senhor é que não pequemos, contudo, se pecarmos, e, sinceramente,
nos arrependermos, temos Jesus como o
nosso suficiente advogado (1 Jo 2.1). No presente estudo, vimos que nem toda enfermidade tem origem no pecado, mas o pecado
sempre gera algum tipo de enfermidade:
desde a doença e a morte da alma (condenação eterna da pessoa, conforme Ap 21.8), até
doenças psicossomáticas, distúrbios psicológicos, emocionais, além de abrir espaço para
o inimigo de nossas almas.
Aplicação a sua vida: Evitar o pecado é a
vontade do Pai para cada um de nós. Caso
você tenha consciência de que tem pecado contra Deus, a primeira atitude deve ser
arrependimento e conversão. Confesse ao
Senhor, tome posse do perdão e desfrute
da graça redentora de Cristo.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 141
ESTUDO 41
A COSMOVISÃO DO
DISCÍPULO
João 9.1-12, 24-25
INTRODUÇÃO
Há um provérbio popular que diz: “O
maior cego é aquele que não quer ver”.
Na discussão dos fariseus com Jesus, sobre quem é o verdadeiro cego nesta vida,
Jesus disse que eles pecavam porque
afirmavam ver, mas não criam Jo (9.3941). Esta declaração de Jesus nos aponta para a cosmovisão da fé. A cura deste
cego de nascença vem a descortinar-nos
outro ângulo da revelação divina: os motivos de certos problemas e enfermidades em nossa vida. No capítulo cinco de
João, vimos um homem que, se voltasse
a pecar, lhe aconteceria alguma coisa
pior. Já a experiência deste homem que
nasceu cego, mostra que sua enfermidade não era consequência de um pecado
pessoal ou hereditário. Desse modo, há
uma visão no discipulado que transpõe
as concepções e limites materiais, e nos
aponta um novo caminho a seguir.
A VISÃO DO PECADO (9.1-3)
No “Sermão do Monte”, Jesus interpreta a lei mosaica e ensina que pecado
142
142 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Leituras Diárias
Jo 9.1-12, 24-25
Tg 5.15-16
Ef 5.8-13
Am 8.11-12
2 Rs 6.16-17
Hb 11.1 e 6
Sl 119.18
não significa um ato consumado, mas
uma intenção, como num olhar impudico, ou num desprezo exacerbado para
com o irmão (Mt 5.21-22 e 27-28). A palavra pecado, “hamartia”, no grego, indica
que pecado não é “errar o alvo” , no sentido de quem atira em algo e erra, mas deixar de atingir o alvo proposto por Deus
para as nossas vidas. Desse modo, Jesus
nos direciona para uma visão diferente
de pecado. A ótica humana enxergava
no homem que nascera cego um castigo
divino, em virtude de um pecado pessoal
ou hereditário. Jesus aproveitou a oportunidade para alargar a visão discipular,
para a manifestação das obras de Deus
em todas as circunstâncias de nossa vida.
Não podemos negar que todo pecado
traz consequências, muitas vezes físicas, porém nem toda enfermidade é de
origem direta do pecado. A deficiência
visual deste homem tinha um objetivo
espiritual: manifestar as obras de Deus. O
mesmo objetivo é revelado na morte de
Lázaro (Jo 11.4). Entretanto, há casos de
enfermidades em que sua origem é de
pecado (Jo 5.14; Tg. 5.15-16). Daí a necessidade de redefinirmos o que é pecado e
A C O S M O V I S Ã O D O D I S C Í P U LO |
quais suas reais consequências na vida
de um pecador.
Aplicação a sua vida: Diante da afirmação
de que o pecado é errar o alvo proposto por
Deus para o ser humano, como você identifica o pecado na atualidade?
A VISÃO da obra de Deus (Jo 9.4)
“Os filhos da luz” devem fazer as
obras de Deus enquanto é possível. Assim como Davi, cada pessoa deve servir
a Deus na sua geração, isto é, aproveitando bem cada oportunidade. É preciso cumprir as obras de Deus enquanto
as trevas não cobrem a terra (Is 60.1-2;
Ef 5.8-13; At 26.18). A noite vem para todos, mas há de vir de um modo especial,
pelo que cremos, num tempo bem próximo. Precisamos agir enquanto temos
“luz”! No mundo físico, quando não há
luz, não podemos ver, nosso deslocamento é perigoso e o trabalho é quase
impossível. Realmente, na completa escuridão é difícil alguém conseguir trabalhar, exceto em casos especiais, em
modalidades de trabalho que podem ser
realizados no escuro como, por exemplo,
aqueles realizados em câmaras escuras
na revelação de fotografias. Da mesma
forma, quando há escuridão espiritual, o
trabalho de Deus não pode ser realizado,
a menos que venha alguém com a luz do
evangelho e resplandeça. O que Jesus
queria dizer é que não devemos perder
as oportunidades que Deus nos dá. Isto
combina com a recomendação de Isaías
para buscarmos o Senhor enquanto podemos achá-lo (Is 55.6). Amós diz que
haverá um tempo em que Deus enviará
fome, não de pão, e sede, não de água,
mas de ouvir a Palavra de Deus. Muitos,
diz o profeta, buscarão a Palavra, mas
não a acharão (Am 8.11-12). A “Idade
Média” é também denominada de “Idade
das Trevas”, em virtude do marasmo e da
cegueira espiritual da Igreja, bem como
da rejeição ao conhecimento científico
por parte de muitos religiosos. A “Reforma Protestante” reacendeu a luz da graça de Deus e possibilitou a expansão do
evangelho no mundo. Entretanto, nos
últimos tempos, percebemos que o ateísmo, as “religiões radicais”, o misticismo
e a frouxidão moral da igreja chamada
de “evangélica” parece ter feito com que
a Igreja tenha perdido a visão de Deus,
de sua santidade e dos valores morais do
cristianismo. As trevas voltam a cobrir a
terra na “Idade Moderna”. Necessitamos,
desesperadamente, da “Luz do Mundo”,
conforme apreciaremos a seguir.
A VISÃO DA “LUZ MUNDO” (Jo 9.5 e
8.12)
João disse que Jesus é a luz que ilumina todos que vêm ao mundo (Jo 1.9).
Paulo nos convida ao despertamento e à
iluminação de Cristo (Ef 5.14). Cego não é
ser desprovido de visão física. Cego é não
ver a Deus. Porém, somente os limpos de
coração, os que seguem a paz com todos
e a santificação, é que verão a Deus (Mt
5.8 e Hb 12.14). Somente aquele que segue a Jesus não anda em trevas (Jo 8.12).
Talvez tenhamos que orar para que o Senhor nos abra os olhos espirituais para
vermos as maravilhas da sua lei, ou até
vermos que mais são os que estão conosco do que os que estão com o inimigo (Sl
119.18; 2 Rs 6.16-17). Para tanto, é preciso
que Jesus opere algo especial em nossa
vida, como operou na vida do homem
que era cego.
Aplicação a sua vida: como discípulos neste mundo, temos o desejo de levar a luz ao
mundo. Você, como discípulo, está envolvido na obra de clarear o mundo que está em
trevas?
VISÃO DA OBEDIENCIA (Jo 9.6-7)
Modo estranho de Jesus curar este
cego. Jesus usou de diferentes processos
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 143
| A C O S M O V I S Ã O D O D I S C Í P U LO
de cura: para uns, Ele simplesmente ordenou a cura; para outros, fez lodo ou aplicou
saliva; e, para outros, mandou ir para casa.
O resultado foi a restauração física de todos. No caso deste cego, após fazer lodo
e passar nos olhos do cego, o mandou ir e
se lavar no tanque de Siloé. Ele obedeceu
e voltou vendo. O tanque de Siloé “era um
grande reservatório, que recebia água mediante um canal subterrâneo que corria de
nordeste para sudoeste (...) provavelmente
o tanque de Betesda” (O NT versículo por
versículo, vol. 2, pág. 427). Percebemos
que a obediência do cego resultou na sua
cura. Enquanto ele ia não foi curado, e
sim quando voltou. Precisamos ver o que
Jesus está esperando no que diz respeito
à obediência de nossa parte, para que sua
obra se manifeste em nossa vida.
Aplicação a sua vida: A obediência a Deus
é muito importante para mantermos o foco
na visão de transformação que o mundo
precisa. Você tem sido obediente e procurado mudar a visão de mundo?
Jesus promove um segundo encontro com
o ex-cego e se revela como Aquele que o
curou.
Aplicação a sua vida: qual é sua visão
de Deus e de sua revelação na pessoa de
Jesus?
O PECADO E A COSMOVISÃO (Jo 9.3941)
O homem que foi curado, reconheceu
que era cego e creu em Jesus como o Filho de Deus. Os fariseus estavam presos
às questões da lei (guarda do sábado) e,
apesar de verem o milagre de Jesus, não
queriam ver que Ele era o Messias. Apesar da visão física, eram cegos espiritualmente, e isto os tornava culpados diante
de Deus. Eles precisavam confessar seus
pecados, sua ignorância e cegueira espirituais. Precisavam tomar a decisão pessoal
de “ver” a Luz (Jo 3.19; Jo 9.4-5). Era preciso
dizer como o salmista: “Desvenda os meus
olhos, para que eu veja as maravilhas da
tua lei” (Sl 119.18).
VISÃO, UMA QUESTÃO DE FÉ (Jo 9.8-14)
Os opositores de Jesus não acreditaram que um cego de nascença pudesse
ser curado. Para eles, era um milagre inacreditável. Sem a visão da fé, corremos o
risco de interpretarmos tudo a partir de
nossa ótica pessoal, de “valores” que nos
passaram ou desenvolvemos, mas sem
sustentação bíblica. Não podemos bitolar
as ações divinas. Deus é soberano e criativo. As ações divinas devem ser entendidas
a partir do fundamento da fé (Hb 11.1 e 6).
Analisemos, entretanto, o processo e o
desenvolvimento da fé do “ex-cego” (João
9): Nos versos 11-12, para ele Jesus era “um
homem” e não sabia onde ele estava. No
verso 17, Jesus “é profeta”. Nos versos 29
a 33, Jesus não é pecador, pois, foi ouvido
por Deus; Jesus é “homem de Deus” pelo
que fez. Nos versos 35-38, Jesus é “o Filho
do Homem”, é o “Senhor”, é Deus, por isso,
“o adorou”. É impressionante que o próprio
144 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
Conclusão
A maior visão que alguém pode ter é a
visão da graça e da misericórdia de Deus.
Realmente Deus tem um propósito para a
vida de cada um de nós. Um homem era
cego de nascença porque através dele
haveria de manifestarem-se as obras de
Deus. Ao chegar o momento de sua cura,
Jesus veio ao seu encontro e lhe concedeu
a visão. Este ex-cego passou a ter uma visão progressiva de Jesus: a princípio era
um homem, depois, um profeta e, finalmente, Jesus era o Messias, o Deus que se
fez carne, digno de ser adorado. Apesar de
tantos anos sem a visão física, aquele homem pode ver através da fé, enquanto que
os fariseus não tinham uma visão divina,
e enxergavam apenas através de valores
pessoais ou da interpretação equivocada
da lei mosaica. Eles não quiseram ver em
Jesus o Cristo de Deus.
ESTUDO 42
O DISCÍPULO E OS
ARGUMENTOS DA FÉ
Mateus 15.21-28
INTRODUÇÃO
A experiência desta mulher siro-fenícia retrata o que muitos discípulos de
Cristo vivem no cotidiano de suas famílias. Aponta também para a importância
de buscarmos solução com a pessoa certa e no lugar certo. O que mais chamou
a atenção de Jesus foi o argumento de
fé exercido por uma mulher que não era
do povo de Israel. O fato de Cristo tê-la
atendido nos transmite preciosas lições e
nos desafiam a uma nova postura como
discípulos de Cristo. Quais seriam os argumentos de fé que um discípulo do Senhor poderia usar hoje nas adversidades
e tribulações da vida?
TENHO UM GRANDE PROBLEMA, MAS
EU CREIO! (Mt 15.21-22)
“E, partindo Jesus dali, foi para as
partes de Tiro e de Sidom. E eis que uma
mulher cananeia, que saíra daquelas cercanias, clamou, dizendo: Senhor, Filho de
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Leituras Diárias
Mt 15.21-28
Sl 121.1-2
Tg 4.6-7
Rm 4.17-18
Jo 4.46-50
At 10.34-35
Mc 7.29-30
Davi, tem misericórdia de mim, que minha filha está miseravelmente endemoninhada.”
Marcos diz que ela era siro-fenícia
(Mc 7.26). Ela não era judia, nascera na
divisa da Síria com a Fenícia. Apesar das
tribulações, ao invés de buscar ajuda entre
os feiticeiros ou exorcistas da época, a sirofenícia reuniu forças para buscar o auxílio
de Jesus. Não importam as circunstâncias,
o socorro está em Deus (Sl 121.1-2).
Somente quem já lidou com alguém
com desequilíbrio mental, possessão demoníaca ou doença incurável, entende a
magnitude desse problema. Um discípulo de Cristo não está imune aos problemas do mundo, e pode vir a lidar com um
problema pessoal ou na família que parece insolúvel, uma montanha intransponível. Mas ele pode usar o seguinte argumento da fé hoje: Meu problema parece
insolúvel, mas eu creio!
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 145
| O D I S C Í P U LO E O S A R G U M E N T O S D A F É
Conta-se que um empresário mantinha uma placa na sua mesa de escritório,
onde estava escrito: “Deus é maior que
todos os meus problemas”. A mulher sirofenícia não tinha um problema qualquer:
sua filha era afligida pelo demônio; estava “miseravelmente endemoninhada”. A
Bíblia diz que Jesus veio para “desfazer
as obras do diabo” (1 Jo 3.8). O discípulo
de Cristo precisa avaliar as possíveis áreas nas quais tenha dado lugar ao diabo. A
Bíblia recomenda: “Não deis lugar ao diabo” (Ef 4.27); também deve lembrar que,
se resistir ao diabo, o mesmo fugirá dele
(Tg 4.6-7). Tudo isto é importante, porque
a Bíblia diz que o diabo anda ao nosso
derredor, buscando a quem possa tragar
(1 Pe 5.8). Porém, se entregarmos nossa
vida a Jesus, Ele nos libertará (João 8.32 e
36) e desfará as obras do diabo (1 Jo 3.8).
Não existe problema maior que a fé no
poder de Deus para resolvê-lo.
Aplicação a sua vida: a mulher siro-fenícia
tinha um grande problema e procurou a Jesus para resolvê-lo. Qual seria o seu “grande
problema”, que precisa de uma intervenção
divina?
DEUS ESTÁ EM SILÊNCIO, MAS EU
CREIO! (Mt 15.23)
“Mas ele não lhe respondeu palavra. E
os seus discípulos, chegando ao pé dele,
rogaram-lhe, dizendo: Despede-a, que
vem gritando atrás de nós. ”
A Bíblia diz que Abraão creu contra a
esperança (Rm 4.18): “O qual, em esperança, creu contra a esperança, tanto que
ele tornou-se pai de muitas nações, conforme o que lhe fora dito: Assim será a
tua descendência.” A siro-fenícia clamou,
mesmo quando as evidências eram desfavoráveis. A fé argumenta que o discípulo de Cristo deve insistir, mesmo quando
146 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
Deus parece indiferente, que não está
ouvindo. Jesus nos anima a nunca desistirmos (Lc 18.1): “Contou-lhes uma parábola sobre o dever de orar sempre e nunca desfalecer.” Isto nos faz lembrar do que
Jesus disse a Jairo quando lhe trouxeram
a notícia de que sua filha havia morrido
(Lc 8.49): “Ao que Jesus lhe disse: Não
temas! Crê somente. ” O silêncio divino
sempre tem objetivos para o nosso bem,
porém, reconhecemos, ele é um desafio
à nossa fé. Daí a decisão do salmista em
esperar confiantemente no Senhor, com
a certeza de que Ele o ouviria (Sl 40.1 e
27.14). Se Deus lhe parece em silêncio,
persista, porque Ele quer lhe ensinar algo
muito especial.
Aplicação a sua vida: há sempre em nossa
vida momentos em que sentimos que Deus
está em total silêncio. O que devemos fazer
nesses momentos?
EU NÃO MEREÇO, MAS EU CREIO! (Mt
15.24-28)
“E ele, respondendo, disse: Eu não fui
enviado senão às ovelhas perdidas da
casa de Israel. Então chegou ela, e adorou-o, dizendo: Senhor, socorre-me! Ele,
porém, respondendo, disse: Não é bom
pegar no pão dos filhos e deitá-lo aos
cachorrinhos. E ela disse: Sim, Senhor,
mas também os cachorrinhos comem
das migalhas que caem da mesa dos seus
senhores. Então, respondeu Jesus, e disse-lhe: Ó mulher, grande é a tua fé! Seja
isso feito para contigo como tu desejas.
E desde aquela hora a sua filha ficou sã. ”
Esta resposta de Jesus parece-nos estranha, entretanto, em lugar de procurarmos entendê-la, inspiremo-nos na humildade da siro-fenícia. Ela não se revoltou,
não desistiu, mas, pelo contrário, fez das
palavras de Jesus um motivo para de-
O D I S C Í P U LO E O S A R G U M E N T O S D A F É
monstrar sua humildade e fé. O resultado
foi a vitória que tanto desejava. Ela sabia
que, por não ser judia, não teria o merecimento da atenção de Jesus. Os israelitas acreditavam que os povos de outras
nações não eram herdeiros das promessas feitas a Abraão. Até mesmo a Igreja
Primitiva censurou Pedro por ter ido à
casa de um gentio (At 11.1-3). Mas, o argumento da fé ignora as leis e preconceitos dos homens; a fé contraria a lógica.
Um discípulo de Cristo não se firma em
merecimentos pessoais; ele apenas crê,
mesmo que seja “contra a esperança” (Rm
4.17-18). Jesus quebrou muitos paradigmas etnológicos. Apesar dos judeus não
se darem com os samaritanos, Jesus se
aproximou de uma samaritana e fez dela
uma missionária para o seu povo. Em seguida, entrou na cidade deles e ficou ali
dois dias, levando muitos a crerem n’Ele
(Jo 4.9, 28-29 e 39-42). Ele curou outras
pessoas de origem romana (Mt 8.8-12;
Jo 4.46-50). Quando Pedro foi à casa de
Cornélio, disse que “Deus não faz acepção de pessoas; mas que lhe é agradável
aquele que, em qualquer nação, o teme
e faz o que é justo” (At 10.34,35). A mulher siro-fenícia não retrucou as palavras
de Jesus, mas se humilhou, dizendo que
até mesmo os cachorrinhos “comem das
migalhas que caem da mesa dos seus senhores”. Quem se humilha na presença
do Senhor, Ele o exalta (1 Pe 5.6). Em Tg
4.6, é dito que “Deus resiste aos soberbos,
mas dá graça aos humildes”.
CREIO E OBEDEÇO! (Mc 7.29-30)
“Então ele disse-lhe: Por essa palavra,
vai; o demônio já saiu de tua filha. E, indo
ela para sua casa, achou a filha deitada
sobre a cama, e que o demônio já tinha
saído”
|
Marcos acrescenta este texto no qual
Jesus manda que a mulher volte porque a
filha dela já estava libertada. A siro-fenícia
buscou a Jesus porque cria, persistiu porque confiava e obedeceu sem questionar.
Jesus mandou que ela voltasse, que a filha
estaria curada, e ela o fez. A fé não deve ser
exercida apenas para pedir, mas também,
para obedecer. Se você quer ser vitorioso
na fé, além de buscar, deve persistir e, ao
obter a confirmação da palavra de Jesus,
deve fazer o que Ele mandar. É comum,
em muitas ações divinas, cada um de nós
precisar fazer sua parte. Aquela mulher
teria que voltar, crendo que encontraria
sua filha liberta, e ela o fez, encontrando a
filha exatamente como Jesus prometeu. O
discípulo de Cristo precisa examinar quais
áreas de sua vida precisam ser submetidas
à obediência a Cristo. Jesus foi taxativo em
afirmar que somente é amigo d’Ele quem
obedece a suas palavras (Jo 15.14).
Conclusão
Deus vê a aflição de cada discípulo
seu, mas espera a manifestação de obediência e fé do mesmo. Ele quer que não
confiemos em nossos merecimentos ou
virtudes. O escritor aos hebreus diz que
Deus é galardoador dos que O buscam
com fé (Hb 11.6). Se você tem um grande
problema, creia que Deus é maior que os
seus problemas. Deus parece em silêncio? Ele está apenas ajudando-o a crescer
na fé. Você não tem nenhum merecimento? Cristo morreu para usar os merecimentos d’Ele em favor daqueles que não
têm nenhum. Se for necessário, veja qual
área de sua vida precisa ser submetida à
obediência a Cristo. Use sempre os argumentos da fé e o Senhor o honrará!
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 147
ESTUDO 43
O DISCÍPULO E OS
MANDAMENTOS DA
MUTUALIDADE (I)
PARTE 1 - Jo 13.34 - 35
INTRODUÇÃO
A reciprocidade e a mutualidade são
atitudes imperativas a todos os discípulos de Cristo. É raro acontecer algo positivo que não tenha reciprocidade e mutualidade. Exemplo: Quando adquirimos
um produto, somos beneficiados, mas
também beneficiamos a dezenas e até a
milhares de pessoas. Quem presta algum
serviço, é também servido por alguma
forma de retribuição. A seguir, compartilhamos como um discípulo de Cristo
pode cumprir os mandamentos recíprocos no relacionamento com os outros.
Considerando que o número de textos
é muito extenso, fizemos pequenos comentários sobre a maioria deles, porém,
cabe a você aplicar esses mandamentos
à sua vida.
148
148 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Leituras Diárias
Mt 14.22-36
Rm 4.10, 13
Ef 4.2
Tt 3.10-11
Sl 23.1; Dt 32.11-12
Tg 5.19-20
Ef 4.12-13; Fp 1.6.
AMAR UNS AOS OUTROS (Jo 13.34;
15.12; Rm 12.10; 1Ts 4.9; Rm 13.8; 1Pe
1.22)
O amor é o principal elo do cristianismo. Se não amamos o próximo, também
não amamos a Deus (1 Jo 4.8, 20-21). É o
amor que nos faz conhecidos como discípulos de Cristo (Jo 13.35). Quem não ama
o irmão, permanece na morte (1Jo 3.14).
De acordo com esta palavra, você está
morto ou vivo? Ver ainda João 15.17 e 1Jo
3.11, 23. Cumprir o mandamento de Jo
15.12, “O meu mandamento é este: Que
vos ameis uns aos outros, assim como eu
vos amei”, constitui-se num grande desafio para o discípulo de Cristo. Observe o
modelo de amor proposto: “Assim como
eu vos amei”. De que forma Jesus provou
o amor de Deus para conosco? (Rm 5.8)
“Cristo morreu por nós”. O amor verdadeiro se consuma em nossa morte em favor do irmão (1Jo 3.16). E essa morte não
é apenas a física, é a morte do “ego”, das
O D I S C Í P U LO E O S M A N D A M E N T O S D A M U T U A L I D A D E ( I ) |
“vantagens” pessoais em benefício do irmão. Conforme Rm 12.10, o amor fraternal nos leva a honrar o nosso irmão. Neste caso, sempre que buscarmos a honra,
a preferência deve ser para o irmão e não
para nós. Será maravilhoso o dia em que
alguém possa nos dizer o mesmo que
Paulo disse para os discípulos de Tessalônica (1Ts 12.10): “Nem preciso falar sobre
o amor fraternal, porque vocês já estão
instruídos por Deus nessa questão”. Estas
palavras de Paulo combinam com João
13.35, quando Jesus diz que todos conhecerão que somos discípulos d’Ele, se
tivermos amor uns para com os outros.
De acordo com Rm 13.8, a maior dívida
que um discípulo de Cristo deve ter é
a dívida do amor para com o próximo.
Pedro nos instrui que o amor recíproco
deve ser não fingido, mas de coração, e
isto “ardentemente” (1 Pe 1.22). O termo
grego para “ardentemente” é “ektenos”
e significa “seriamente, fervorosamente,
intensamente”, de um verbo que significa
“estender a mão.”9
O mandamento do amor é determinante para todos os demais, porque
quem ama obedece ao mandamento recíproco de “não julgar uns aos outros”.
Aplicação a sua vida: nos tempos atuais,
a prática do amor está cada dia mais difícil
de ser realizada devido à falta de limite das
pessoas. Como exercer o amor de forma integral sem, em contrapartida, estar prejudicando o irmão, criando dependência?
NÃO JULGAR UNS AOS OUTROS (Rm
14.13)
Jesus recomenda que, antes de olharmos o “cisco” no olho de um irmão, devemos
remover a “trave” que está no nosso olho
(Mt 7.3). Quando assumimos a postura de
juízes, usurpamos o lugar de Deus (Tg 4.11;
1.20); Somente Deus pode exercer o juízo,
porque julga justamente (Rm 14.10, 13). O
fato de que não devermos julgar uns aos
outros, não exclui a confrontação daquele
que estiver errado. O ideal é que, ao se ter
dúvida sobre uma atitude de um irmão,
procurá-lo e esclarecer a referida dúvida. Em
caso positivo, de ele estar errado, procurar
levá-lo à correção de sua atitude. Se ele for
contumaz e não aceitar a repreensão, seguir
o que a Bíblia recomenda em Tt 3.10-11: “Ao
homem herege, depois de uma e outra
admoestação, evita-o, sabendo que esse
tal está pervertido, e peca, estando já
em si mesmo condenado”. O escritor da
carta aos Hebreus nos recomenda a exortação mútua (Hb 12.25). Advertir não é
julgar. O julgamento é também perigoso
porque podemos estar equivocados.
Nossos sentidos e, muitas vezes, certos
valores, nos enganam. Jesus disse para
não julgarmos segundo a aparência, mas
conforme a reta justiça (Jo 7.24). Outro
perigo de julgarmos uns aos outros é
que, quando julgo, dou o direito de ser
julgado na mesma medida (Mt 7.2). Agora, reflita, se julgamos alguém por um
erro que ele não cometeu, que direito de
julgamento estamos dando a outrem?
Daí a importãncia de procurarmos o irmão quando “julgarmos” que ele está errado. Isto pode corrigir muitos equívocos
e evitar muitos danos aos outros, a nós e
à Igreja de Cristo.
Aplicação a sua vida: o julgamento faz
parte da nossa velha natureza e convivemos com ela diariamente. A matriz de referência tem sido sempre nós. O não julgar
é um exercício diário. O que você tem feito
para diminuir o seu julgamento em relação
ao próximo?
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 149
| O D I S C Í P U LO E O S M A N D A M E N T O S D A M U T U A L I D A D E ( I )
ACOLHER E ADMOESTAR UNS AOS OUTROS (Rm 15.7 e 14)
A palavra “acolher” no grego é “proslambano”, e significa “levar a, pegar a
mais, tomar para si mesmo; tomar como
companheiro; (...) conceder acesso ao
coração”.10 O sentido para os relacionamentos cristãos é dar guarida, abrigar
ou proteger. Esse acolhimento tem mais
a ver com o lado emocional do que com
o físico. Todos nós sentimos necessidade
de aceitação e compreensão. Daí as metáforas bíblicas de Deus como refúgio e
fortaleza (Sl 46.1); Deus como Pastor que
protege o rebanho, ou como uma ave
que abriga os seus filhotes (Sl 23.1; Dt
32.11-12; Sl 91.4). Jesus se apresentou
como o Bom Pastor que dá a vida pelas
suas ovelhas (Jo 10.11). No cristianismo,
esse abrigo deve ser realizado também
pelos discípulos de Cristo, uma vez que
devem imitar o seu Mestre (Mt 23.37; 1Pe
2.21; Mt 10.25). Quando acolhemos uns
aos outros no coração, vivemos o mais
profundo significado do cristianismo. O
maior desejo de Deus é que mantenhamos uns aos outros no próprio coração.
A palavra “admoestar” é “noutheteo”
e significa “admoestar, advertir, exortar. ”
Observe que o discípulo de Cristo deve
praticar essa admoestação “cheio de bondade”. Tiago diz que, ao convertermos um
irmão do erro do seu caminho, cobrimos
uma multidão de pecados e salvamos
uma vida da morte (Tg 5.19-20). Como
vimos no ponto anterior, não devemos
julgar, mas admoestar, isto é, chamar a
atenção daquele que estiver errado e
procurar levá-lo ao caminho do arrependimento e da conversão. É o sincero desejo de trazer o seu irmão para perto de
você, na verdade para dentro do coração,
conforme vimos no verso anterior.
150 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
Aplicação a sua vida: nos tempos atuais,
a prática do amor está cada dia mais difícil
de ser realizada devido à falta de limite das
pessoas. Como exercer o amor de forma integral sem, em contrapartida, estar prejudicando o irmão, criando dependência?
NÃO PRIVAR UNS AOS OUTROS (1Co 7.5)
Paulo trata aqui do relacionamento conjugal, recomendando que marido e mulher
cumpram os deveres sexuais recíprocos. A
razão dessa recomendação é para evitar a
tentação de Satanás. No original, a palavra
usada para privar é “apostereo”, derivada
de “stereo” (destituir), e significa “defraudar, roubar, despojar”. Quando um cônjuge “priva” o outro de suas obrigações
conjugais, significa que está defraudando, roubando e despojando bens e direitos do outro. Por esta razão, as relações
íntimas têm interferência na resposta às
orações e podem dar lugar a Satanás (Hb
13.4; 1Pe 3.7; 1Ts 4.3-5). É muito importante que você leia estes textos bíblicos
e os aplique à sua vida pessoal. Como
se percebe, essa questão é muito séria,
porque não se trata apenas do relacionamento entre cônjuges, mas das consequências de quando esse mandamento
não é observado: Julgamento divino, dar
lugar à tentação e a Satanás, e ainda interferência na resposta às orações.
NÃO PROVOCAR UNS AOS OUTROS (Gl
5.26)
O verbo “provocar”, no grego, é
“prokaleomai” e significa “trazer à tona,
extrair; extrair para si mesmo; desafiar
a um combate ou disputa com alguém;
provocar, irritar”.
Neste caso, provocamos o próximo
quando “trazemos à tona” algo que inco-
O D I S C Í P U LO E O S M A N D A M E N T O S D A M U T U A L I D A D E ( I ) |
moda, que humilha, que irrita, ou quando desafiamos alguém para uma discussão (ou até uma briga). Jesus disse que os
pacificadores serão chamados filhos de
Deus (Mt 5.9). Se você é filho de Deus, ao
invés de instigar a intriga, você promove a paz, busca sempre a reconciliação,
a melhor maneira de resolver um ponto
conflitante. No entendimento do apóstolo Paulo, quando nos vangloriamos ou temos inveja, provocamos uns aos outros.
Daí a recomendação de que devemos
considerar os outros superiores a nós
mesmos (Fp 2.2). Quando nossa atitude é
humilde e pensamos sempre no bem do
outro, evitamos o orgulho e a provocação ao próximo. Deste modo, cumprimos
o próximo mandamento recíproco.
Aplicação a sua vida: nos tempos atuais,
a prática do amor está cada dia mais difícil
de ser realizada devido à falta de limite das
pessoas. Como exercer o amor de forma integral sem, em contrapartida, estar prejudicando o irmão, criando dependência?
SUPORTAR E PERDOAR UNS AOS OUTROS (Ef 4.2)
A palavra suportar no grego é “anechomai”. Significa “levantar; manter-se
ereto e firme; sustentar, carregar (...).”11 É
a ideia não apenas no sentido de tolerar,
mas também de dar suporte. Cada pessoa tem motivos de ser o que é. Cada discípulo de Cristo deve ver a área na qual
o próximo é mais fraco e, ao invés de
criticá-lo, buscar um modo de lhe dar suporte, que pode ser até através da amo-
rosa exortação. Observe que Paulo diz
que o “suporte” deve ser feito com “toda
humildade e mansidão, com longanimidade”. Se houver esse sentido recíproco,
todos podemos ser suportes para que o
próximo não caia. Comparar com Cl 3.13.
Quanto à segunda recomendação de Ef 4.2,
que é “perdoar uns aos outros”, apreciaremos
no próximo estudo.
CONCLUSÃO
Os valores cristãos devem superar os valores do mundo. Jesus disse que nossa justiça deve exceder a justiça do farisaísmo (Mt
5.20). O primeiro passo deve ser o do exercício do amor mútuo, tendo como modelo
o amor sacrificial de Cristo em nosso favor.
Quem ama, não julga (1Co 13.5), mas aconselha, exorta, acolhe, não prova, pelo contrário, dá suporte. Os mandamentos recíprocos
levam em conta o bem-estar do próximo. O
maravilhoso de tudo isso é que, no sentido
positivo, sempre que exercemos os mandamentos recíprocos, somos beneficiados na
mesma medida. Está na hora de avaliarmos
nossos valores e ver onde temos falhado,
para corrigirmos, e onde temos acertado,
para melhorarmos. O desejo divino para
cada um de nós é o aperfeiçoamento, até
que os propósitos divinos sejam plenamente cumpridos em nós (Ef 4.12-13; Fp 1.6)
______________
9
Bíblia eletrônica Word.
10
Bíblia eletrônica Word.
11
Bíblia eletrônica Word.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 151
ESTUDO 44
O DISCÍPULO E OS
MANDAMENTOS DA
MUTUALIDADE (II)
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Leituras Diárias
Ef 4.32-5.2
1 Co 13.4; Gl 5.22
Mt 6.14-15
Mt 18.15-35
Ef 5.14-21
Cl 3.9
1 Ts 4.18; 5.11
PARTE 2 - Efésios 4.32-5.2
INTRODUÇÃO
A questão da mutualidade é tão importante que até a Trindade se revelou
existindo como três pessoas, mas um só
Deus. Antes de ser preso, Jesus orou por
nossa unidade, da mesma forma que Ele
era um com o Pai (Jo 17.11 e 21). O apóstolo Paulo disse que as divisões são evidências de carnalidade na vida da igreja
de Jesus (1 Co 3.3). O salmista diz que é
bom e agradável que os irmãos vivam em
união (Sl 133.1). Os mandamentos sobre
a mutualidade são a “bússola” de como
seguir nessa direção e alcançar esse alvo.
No estudo anterior, pontuamos alguns
desses mandamentos. Neste estudo,
apreciaremos outros.
SER BENIGO, COMPASSIVO E PERDOAR UNS AOS OUTROS (Ef 4.32)
Benignidade é uma das características e fruto do amor (1 Co 13.4; Gl 5.22).
152
152 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
A Bíblia diz que Jesus andou fazendo o
bem a todos (At 10.38). O discípulo de
Cristo deve seguir os passos do seu Senhor, sempre visualizando o bem “uns
dos outros”. Se não é benigno, não pode
ser discípulo de Jesus. Além de benigno, o
discípulo de Cristo deve ser compassivo. No
grego, a palavra “compassivo” é “eusplagchnos”, e significa “ter fortes entranhas;
compassivo; de bom coração”. A ideia
é a do envolvimento do coração para
com o próximo. Quando olhamos o próximo com o coração, no sentido de “sofrer com”, pois, esta é outra maneira de
compreendermos a palavra compassivo
(com+paixão), temos uma postura amorosa para com ele. Daí a necessidade de
obedecer à outra recomendação de Ef
4.32, que nos manda “perdoar uns aos
outros”. O perdão é tão determinante nos
relacionamentos que Jesus afirma que,
se não perdoarmos a quem nos ofender,
também não seremos perdoados por
Deus (Mt 6.14-15). Observe que o perdão
O D I S C Í P U LO E O S M A N D A M E N T O S D A M U T U A L I D A D E ( I I ) |
não é para quem foi benigno ou compassivo, mas para quem nos ofendeu. Em
Mt 18.15-35, Jesus fala sobre como tratar alguém quando tivermos algo contra
ele, ou quando ele tiver uma dívida para
conosco. Chamamos sua atenção para o
servo que não quis perdoar o conservo,
apesar de perdoado pelo seu senhor. Este
servo foi entregue “aos atormentadores,
até que pagasse tudo o que lhe devia”. No
verso 35, Jesus conclui: “Assim vos fará,
também, meu Pai celestial, se do coração
não perdoardes, cada um a seu irmão, as
suas ofensas”. Não há desculpas para os
ressentimentos e a falta de perdão, pois,
quebra os relacionamentos e obstrui um
dos maiores alvos divinos para a vida de
um discípulo de Cristo: A unidade do seu
povo.
Aplicação a sua vida: a lição descrita nos
adverte quanto à forma como devemos
lidar com as pessoas que nos magoam ou
as que magoamos. Você tem perdoado de
coração e não voltado a incorrer no mesmo
erro?
SUJEITAR UNS AOS OUTROS (Ef. 5.21)
Desde Ef 5.14 que Paulo nos convoca a
um despertamento do sono, a nos levantarmos dentre os mortos, pois, somente assim
seremos esclarecidos por Cristo sobre sua
vontade (Ef 5.17). A seguir, no verso 18, nos
exorta a sermos cheios do Espírito Santo.
Nos versos 19 a 20, ele nos orienta como:
“compartilhando a Palavra uns com os outros e entoando cânticos espirituais”. Ef 5.21
é a continuação desse despertamento espiritual, conhecimento da vontade de Deus
e enchimento do Espírito Santo: a sujeição
uns aos outros. Observe que essa “sujeição”
é no temor de Cristo. Não significa que devamos nos submeter à tirania de alguém
que se diga cristão. O princípio aqui é o de
uma comunidade de amor, de benignidade
e de valorização recíproca. Quando alguém
pretende ser tirano, deve ser confrontado e
chamado ao caminho do amor e do respeito
cristãos (Rm 16.17; Mt 18.15; 1Ts 3.14-15; Gl
2.11). Tudo, entretanto, deve ser feito com
amor e no temor de Deus. É por essa razão
que Paulo nos recomenda a respeitar as autoridades (Rm 13.1-2). Essas autoridades não
são apenas as civis e militares, mas também
no nosso trabalho, em nossa comunidade
(religiosa ou não) e na família (Ef 6.1-6; 1 Tm
5.17-19; Hb 13.7,17). A humilde sujeição, no
sentido de respeito e obediência, é uma maneira de testemunharmos que somos discípulos de Cristo (1 Pe 2.12-21).
NÃO MENTIR UNS AOS OUTROS (Cl 3.9)
Acredita-se que evitar a mentira é um
dos maiores desafios no discipulado cristão. Jesus foi taxativo em afirmar que os
mentirosos são filhos do diabo e que estes
não entrarão no Reino de Deus (Jo 8.44; Ap
21.8 e 22.15). Mas, o que nos impressiona é
a nossa tendência para mentir. A recomendação divina é que cada um fale a verdade
com o seu próximo (Ef 4.25). A mentira é
como uma máscara que pomos no rosto e
escondemos nossa verdadeira face. Acontece que ninguém se sente confortável quando descobre que a outra mente. As pessoas
nos amam quando somos verdadeiros e
nos rejeitam quanto encobrimos a verdade
e mentimos. Falar a verdade, por mais que
doa, nos torna mais aceitáveis e acreditados.
Um dos recursos para evitar a mentira e, consequentemente, falar a verdade, é buscar a
direção de Deus, porque Ele ama a verdade
no íntimo. Uma das funções do Espírito Santo é nos guiar e conduzir em toda a verdade
(Jo 16.13).
Aplicação a sua vida: a mentira tomou um
caminho tão amplo que já há música pedindo para que o amado minta, mas diga
coisas lindas. Como temos tratado essa
relação com a mentira em nossas igrejas?
Temos achado palavras mais brandas para
explicar ações e palavras mentirosas?
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 153
| O D I S C Í P U LO E O S M A N D A M E N T O S D A M U T U A L I D A D E ( I I )
CONSOLAR UNS AOS OUTROS (1Ts
4.18)
O verbo “consolar”, no grego, é “parakaleo”, e significa “chamar para o (meu)
lado, chamar, convocar; dirigir-se a, falar
a, (recorrer a, apelar para), o que pode ser
feito por meio de exortação, solicitação,
conforto, instrução etc.; admoestar, exortar (...)”. Impressiona-nos a ideia de que
consolar tem a ver com chamar a pessoa
para perto, a fim de desfrutar de nosso
calor humano e ter um ombro amigo. É
nesse sentido que o Espírito Santo é o nosso Consolador (Jo 15.26). Em nossas tribulações, Ele nos chama para perto de si e nos
oferece seu “ombro amigo”. O discípulo de
Cristo tem o Espírito e, portanto, deve consolar uns aos outros. As tribulações têm a finalidade de nos preparar para consolar a quem
passa por semelhante experiência (2 Co 1.37). Deus nos usa como instrumentos d’Ele
na edificação uns dos outros, objetivando
levar-nos à estatura de Cristo, à medida do
homem perfeito (Ef 4.11-16). Ao invés de
criticar o seu irmão, pelo pouco crescimento
que ele tem em Cristo, ajude-o na edificação
nessas áreas na vida dele.
EDIFICAR UNS AOS OUTROS (1 Ts 5.11)
Deus começou uma obra maravilhosa em nossas vidas e estamos sendo
construídos até a volta de Cristo (Fp 1.6).
Somos edificados das mais diferentes
maneiras por Deus: através da Palavra, da
oração, do serviço no Reino, mas Deus usa
a cada um de nós nesse processo de edificação mútua (Ef 2.22). O surpreendente
é que essa edificação é para a morada
de Deus. Pedro diz que estamos sendo
edificados em casa espiritual (1 Pe 2.5). A
edificação é mútua. Neste caso, quando
deixamos de “pôr um tijolo” na construção do outro, ficamos também atrofiados
em alguma área de nossa construção. Daí
154 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
a importância do discipulado, quando
cuidamos uns dos outros e nos suprimos
mutuamente. Esta é também uma das
importâncias da Escola Bíblica Dominical,
dos cultos e demais atividades espirituais
que realizamos em conjunto. Cada um
edifica o outro com o seu dom (Ef 4.16).
Aplicação a sua vida: nosso crescimento
em Cristo está diretamente ligado ao relacionamento com Ele e com o próximo. Assim crescemos, quando nos relacionamos
bem com Ele e com o outro. À medida que
tratamos o outro como gostamos de ser
tratados, crescemos juntos diante de Deus.
Temos contribuído para a edificação do
próximo com os dons que Deus nos deu?
CONFESSAR UNS AOS OUTROS (Tg 5.16)
Acreditamos que a melhor aplicação deste texto seria o pecado que cometemos contra o nosso próximo. Neste caso, devemos
procurá-lo e pedir-lhe perdão. Não é recomendável procurar uma pessoa que nos tenha ofendido e dizer-lhe que estávamos com
raiva dela, mas que a perdoamos. Há muitas
pessoas que levam um susto com esse tipo
de “pietismo” daquele que se julgou ofendido. Quando isto acontece, é melhor perdoar
o ofensor em nosso coração e não precisar
informá-lo do fato. Se o ressentimento persistir, é recomendável procurar aquele que
nos ofendeu e indagá-lo sobre o motivo de
ter agido assim. Na maioria das vezes, houve
um equívoco de nossa parte e interpretamos mal a palavra ou atitude do outro. Isto é,
o problema pode ser nosso e não do próximo. Quanto à confissão de pecados pessoais
contra outra pessoa, esta questão não é simples, até mesmo pelo grau de confiabilidade
que precisa haver entre os“confessores”. A recomendação é que devemos abrir o coração
com alguém comprovadamente confiável. A
primeira pessoa a quem devemos confessar
O D I S C Í P U LO E O S M A N D A M E N T O S D A M U T U A L I D A D E ( I I ) |
os nossos pecados é a Deus, porque Ele não
somente nos perdoa como se “esquece” dos
nossos pecados (Hb 8.12). Há pessoas, entretanto, que sentem necessidade de abrir
o coração com alguém de confiança. Tiago
recomenda isto com fins terapêuticos “para
serdes curados. ” É importante salientar que
a confissão deve ser específica: Exemplo: “Ó
Deus, perdoa aquela palavra que disse indevidamente; perdoa a mentira que falei hoje;
perdoa a atitude grosseira que tive para com
aquela pessoa”. É sempre viável mencionar
ocasião, nomes de pessoas etc. Deve-se evitar a confissão generalizada, como: “Perdoa
a multidão dos meus pecados”. Ora, se você
confessa diariamente seus pecados, não é
multo compreensível dizer que tem “multidão de pecados”. Pecado confessado não
precisa ser “reconfessado”, a menos que você
não o tenha feito sinceramente. Lembre-se:
Deus esquece os nossos pecados, e o sangue de Jesus purifica a nossa consciência de
pecado (Jr 31.34 e Hb 9.14). Mais um lembrete: Se você sinceramente confessou o pecado a Deus e experimentou o seu perdão, não
há necessidade de que procure alguém para
confessar o mesmo pecado.
SERVIR UNS AOS OUTROS (1 Pe 4.10)
Este mandamento é regulado pelo
“amor uns aos outros”: servir, e não apenas ser servido. Jesus disse que nos deu o
exemplo de como servir uns aos outros e
que devemos fazer o mesmo (Jo 13.15).
Ele disse que não veio para ser servido,
mas para servir. Acontece, entretanto,
que esse serviço não se restringe a fazer algo por alguém, mas em servir com
a própria vida, se necessário (1 Jo 3.16):
“Conhecemos o amor nisto: que Ele deu
a sua vida por nós, e nós devemos dar a
vida pelos irmãos”. Pedro disse que de-
vemos servir “uns aos outros conforme
o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. ” Já
vimos este assunto, no estudo sobre o
discípulo como ministro e despenseiro
dos mistérios de Deus. Cabe realçar aqui
que o serviço deve ser conforme o dom
de cada um. Deus capacita a cada um de
nós com, pelo menos, um dom espiritual,
visando o serviço ao próximo. Precisamos
descobrir qual é o nosso dom e servir de
modo fiel (1 Co 4.1-2).
Aplicação a sua vida: temos que ressaltar
nesse ponto que, em várias ocasiões, o
servir tem dado lugar ao serviçal. Servir o
outro é utilizar-nos dos dons que Deus nos
deu em favor do próximo, seja ele familiar
ou não. Como tenho usado os dons que
Deus me deu? Qual é a minha participação
no corpo de Cristo?
CONCLUSÃO
Discipulado é relacionamento. Por
esta razão, a prática dos mandamentos
recíprocos é o mais elevado exercício do
discipulado. Sua maior motivação deve
ser o amor. Seu maior modelo é o exemplo do Senhor Jesus. A culminação de
sua prática deve ser a predisposição de
dar a vida uns pelos outros. Eles devem
fazer parte do estilo de vida do discípulo
de Cristo: viver para servir e não para ser
servido. A partir do momento em que os
discípulos de Cristo fizerem dos “mandamentos recíprocos” o seu estilo de vida,
a plenitude do cristianismo será experimentada e Cristo será manifestado ao
mundo, conforme Jo 13.35: “Nisto todos
conhecerão que sois meus discípulos, se
vos amardes uns aos outros”.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 155
ESTUDO 45
OS DISCÍPULOS NA
TEMPESTADE
Mateus 14.22-36
INTRODUÇÃO
O presente estudo retrata realidades
da experiência cotidiana de um discípulo de Cristo e também nos aponta o que
devemos fazer mesmo após grandes manifestações divinas em nossa vida. Neste,
procuramos entender como lidar com
as adversidades e tempestades da vida.
O estudo nos revela ainda a divindade
de Jesus no controle da natureza, e sua
prontidão de vir em nosso socorro quando estamos em perigo. Começamos com
a intrigante ordem de Jesus aos seus discípulos.
OBRIGADOS A ENTRAR NO BARCO (Mt
14.22-23)
O verso 22 diz que Jesus obrigou os
discípulos a entrarem no barco e passarem adiante dele para o outro lado. O
complemento do verso 23 diz que Ele “subiu ao monte para orar à parte. Ao anoitecer, estava ali sozinho”. Apesar do milagre
156
156 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Leituras Diárias
Mt 14.22-36
Lm 3.26-29
Sl 30.1-5
Sl 46.1-11
Hb 13.1-6
Jo 16.33 e Mt 28.20
Tg 1.2-8
da multiplicação dos pães, Jesus sentiu
necessidade de orar. Ele preferiu ficar
sozinho, porém na comunhão com o Pai.
Cada um de nós deve evitar contentar-se
a viver apenas de milagres e manifestações do poder de Deus no passado. Precisamos reabastecer nossa alma. Haverá
momentos em que necessitaremos criar
condições para que a comunhão com o
Pai seja desfrutada, quando estivermos
inteiramente sozinhos. Uma das grandes
bênçãos em nossas vidas é o momento
do “a sós com Deus”, conforme nos sugere Mt 6.5-6. Comparar com Lm 3.26-29.
Porém, além de querer ficar sozinho com
o Pai, Jesus levou os discípulos a serem
testados na fé. Ele os obrigou a entrarem
no barco. Isto fazia parte da “pedagogia
de Jesus aos seus discípulos”. Deus nos
submete a tempestades na vida, a fim
de aprendermos que, não importando as
circunstâncias, Ele está sempre presente.
Ele é o “socorro bem presente na angústia” (Sl 46.1).
O S D I S C Í P U LO S N A T E M P E S TA D E
O BARCO AÇOITADO PELAS ONDAS (Mt
14.24-25; Sl 30.5)
A vida tem muitas surpresas. Após um
milagre, pode vir uma tempestade. O fato
de sermos seguidores de Jesus não nos
isenta de revoltosas ondas e adversidades
na vida. Eles estavam ali em obediência a
Jesus, mesmo assim, foram apanhados por
uma violenta tempestade. O verso 24 diz
que eles eram “açoitados pelas ondas; porque o vento era contrário”. Quando servimos a Jesus, mesmo que encontremos empoladas ondas e ventos adversos, sempre
teremos Jesus vindo ao nosso encontro.
Comparar com Jo 16.33 e Mt 28.20.
Primeiro, ressaltamos que Jesus tinha
orado desde o cair da tarde (verso 23) até
à 4ª vigília da noite. A 1ª vigília era das
18h às 21h; a 2ª era das 21h à meia noite;
a 3ª era de zero hora às 3h da manhã; a 4ª
vigília era das 3h às 6h da manhã. Já passava, portanto, das 3h da manhã quando
Jesus veio ao encontro dos discípulos em
meio à tempestade. Eles haviam remado
a noite toda. Mesmo parecendo demorar, Jesus veio em socorro deles. Isso reafirma a promessa de que “o choro pode
durar uma noite, mas a alegria vem pela
manhã”. O próprio Jesus disse que devemos “orar sempre e nunca desfalecer” (Lc
18.1). Permaneça firme; não se desespere
porque, a qualquer momento, Jesus virá
em seu socorro, sobrepujando o mar revoltoso e vencendo os ventos contrários
que açoitam sua vida!
Aplicação a sua vida: quais áreas da sua
vida representam tempestade e pelas quais
você sente-se açoitado?
ADVERTIDOS A NÃO TEMER (Mt 14.2627)
A falta de ânimo conduz ao medo; o
medo traz confusão da mente (os discí-
|
pulos pensaram que Jesus fosse um fantasma); o medo leva ao estado de pânico.
O desânimo, muitas vezes, ofusca a visão
da presença e do poder do Senhor. Jesus disse: “sou eu”. O discípulo de Cristo
deve lançar fora os temores de sua vida
(Hb 13.6). Resista aos medos de sua vida
e renove sua confiança na presença e no
poder de Jesus! Por toda a Bíblia, percebemos o empenho divino em despertar o
ânimo no seu povo (Sl 27.14; Lc 8.48). Observe que não é Deus quem nos anima,
mas Ele recomenda que nos animemos.
O ânimo é uma predisposição interior de
não se entregar à derrota. Não é algo que
vem de fora, mas do nosso coração, e o
desejo sincero de não ser vencido. Daí a
recomendação divina a não temermos,
mas termos ânimo.
BUSCA PELA SALVAÇÃO (Mt 14.28-30)
Pedro pediu que Jesus provasse que
era ele mesmo, permitindo-lhe que fosse
ao encontro do Senhor, andando sobre
as águas. Jesus o convidou. Pedro começou muito bem, mas depois, “sentindo
o vento forte, teve medo”. Pedro nos representa perfeitamente em nossas “aventuras de fé”: pedimos provas a Deus,
recebemos sua aprovação, iniciamos a
jornada e, depois, tememos. Ao temer,
o apóstolo começou a submergir. Se em
alguma área de sua vida você está afundando é porque fez algo errado, ou porque não exercitou fé suficiente para manter os olhos em Jesus. Você está olhando
para sentimentos pessoais e não para
Jesus (Hb 12.1-2). Ao submergir, Pedro
deu um grito de desespero, pedindo que
o Senhor o salvasse. Jesus o salvou, mas
repreendeu o apóstolo, pela falta de fé.
Aplicação a sua vida: Clame agora pela
salvação do Senhor, para a área de sua vida
ou família que você percebe que está afundando.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 157
| O S D I S C Í P U LO S N A T E M P E S TA D E
EXERCITANDO A FÉ (Mt 14.31)
Ainda que o nosso “afundamento”
seja por falta de fé, contudo, ao clamarmos pela salvação de Jesus, Ele estende a
mão e nos segura. Deus trata a incredulidade ou a dúvida com muita firmeza. Duvidar é ofender a Deus, para quem tudo
é possível (Jo 20.24-29; Tg 1.2-8). Deus
recompensa, isto é, galardoa, a quem se
aproxima dele com fé (Hb 11.6). Observe
que o Senhor espera que seu discípulo
“exerça” fé. Os homens e as mulheres “heróis” da fé foram aceitos por Deus porque
demonstraram fé, e não porque pediram
fé. Não se deve confundir a fé para crer
no poder de Deus, isto é, a fé que Deus
espera que a exerçamos, com o dom da
fé, concedida pelo Espírito Santo (1 Co
12.7). O dom da fé é uma capacitação sobrenatural, concedida a algumas pessoas
quando se convertem. Esse dom tem a
finalidade de suprir necessidades especiais na vida da Igreja ou no Reino de
Deus (Ef 4.11-12). A fé que Jesus cobrou
dos seus discípulos é aquela que deve ser
exercida por todos para a salvação, ou no
relacionamento pessoal de cada um de
nós com Deus.
Aplicação a sua vida: Deus está sempre
pronto a nos atender. Você crê ou duvida?
Mas, só depende da sua intimidade de fé
com Ele para que você seja atendido!
ADORANDO O SENHOR DE TODAS AS
COISAS (Mateus 14.32-33)
Aprecio muito o texto do hino
328 do Cantor Cristão, que diz: “Tais
águas não podem a nau tragar, que leva o Senhor, Rei do céu e mar!”.
Quando os discípulos perceberam o senhorio de Cristo sobre os ventos, sobre
as ondas, enfim, sobre a tempestade, eles
158 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
transformaram o temor em adoração.
Só Deus deve ser adorado. Ao reconhecerem que Jesus era o Filho de Deus, os
discípulos confessaram também sua divindade. Ele foi adorado e recebido como
o Filho de Deus. Crer que o Deus Eterno
gerou um Filho entre os homens, é algo
que aviva nossa fé e nos leva a experimentar o verdadeiro amor de Deus por
nós.
O exemplo de Jesus orando após o
milagre da multiplicação dos pães, demonstra a necessidade de continuarmos
a orar, mesmo após grandes manifestações do poder de Deus em nossas vidas.
O fato de obedecermos a Jesus, não nos
isenta de tragédias e adversidades. Nessas
circunstâncias, devemos ter a certeza de
que “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia” (Sl 46.1).
A desconfiança é uma atitude que desagrada e ofende a Deus. Sempre que houver perigo, Jesus virá em nosso socorro e,
quando clamarmos “Senhor, salva-nos”,
Ele estenderá a mão e, mesmo que nos
repreenda, contudo nos livrará e conduzirá
em segurança.
Aplicação a sua vida: Você já confessou a
Jesus como o verdadeiro Filho de Deus? Já
O recebeu no seu coração como único Senhor, Salvador e Mediador? Então, adore-O
sempre; louve-O sempre, independente
das circunstâncias. Creia que Ele virá ao seu
encontro em meio às tempestades da vida.
Conclusão
Precisamos ter sempre em mente que
Jesus é Deus. Ele deve ser adorado e cultuado. Caso sua vida esteja como a daqueles
homens, no meio do mar, açoitados pelo
vento, clame também agora a Jesus para
que o salve!
ESTUDO 46
A MISSÃO PRECÍPUA DO
DISCÍPULO DE CRISTO
Mateus 28.18-20
INTRODUÇÃO
Neste estudo, objetivamos chamar os
discípulos de Cristo a uma releitura do
Novo Testamento, à avaliação de como
tem cumprido a ordem de Jesus para fazer discípulos.
Vejamos, a seguir, exemplos de pessoas que causaram impacto na sua geração pelo cumprimento de sua missão
precípua:
No Século XIX, Edward Kimball se
empenhou em discipular os alunos da
EBD, e deu especial atenção a um jovem
recém-chegado da roça (era Dwight L.
Moody), que veio emocionar milhões de
pessoas na América do Norte e na Europa
com suas poderosas mensagens. Moody
influenciou F. B. Meyer, que influenciou J.
W. Chaman, que influenciou Billy Sunday.
Liderado por Billy Sunday, um grupo de
oração se empenhou em ganhar toda
a cidade para Cristo. Durante as reuni-
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Leituras Diárias
Mt 28.18-20
Sl 126.6
Jo 4.25-26
Js 1.8
Lc 14.26-33
Lc 6.12-13
Jo 15.8
ões nas quais pregava Mordecai Ham (o
evangelista Cowboy), converteu-se Billy
Graham.
Essas experiências são comoventes,
porém, muitas vezes, nos parecem de outra realidade que não a nossa ou, então,
nos sensibilizam e nos constrangem, mas
parecem não funcionar conosco. Então,
nos perguntamos: Poderíamos também
ser usados assim por Deus? E por que
muitas pessoas não o conseguem? Teria
Deus ainda hoje homens e mulheres que
se tornariam poderosos instrumentos
discipuladores em suas mãos? Waylon
Moore, em seu livro “Multiplicando Discípulos”, diz que sim. Que Deus tem esses
homens e mulheres hoje. E sabem quem
são eles? Exatamente eu e você! Quer saber como?
SAIA DO DISCURSO PARA A PRÁTICA
(Mt 28.19): “Portanto ide, fazei discípulos
de todas as nações, batizando-os em nome
do Pai, e do Filho, e do Espírito
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 159
| A M I S S Ã O P R E C Í P U A D O D I S C Í P U LO D E C R I S T O
Não me preocupo com a interpretação gramatical do texto bíblico, se é “ide
e fazei” ou “indo, fazei”. O importante é
que discípulos sejam feitos quando se foi
ou quando se ia. Para se fazer discípulo, é
preciso agir imediatamente. De nada vale
fazer discursos, pregações e estudos sobre discipulado, se você não for. Enquanto você não agir, nada acontecerá. Há
pessoas que discutem sobre quais são os
métodos mais eficazes de fazer discipulado. Na verdade, é raro um método que
não funcione. O melhor método é aquele
que se pratica. Conhecemos uma senhora que fazia evangelização e discipulado
escrevendo cartas a presidiários. Dezenas
deles se converteram, inclusive o carteiro
que levava e trazia as cartas. Houve um
pastor que simplesmente saía, todos os
dias, conversando com a vizinhança e
muitas pessoas foram levadas a Cristo.
Por isto, cremos que uma das melhores
definições para discipulado é “relacionamento”. O resultado dos relacionamentos
de discipulado é a construção de vidas
para obedecer e viver com Deus. Se você
obedecer a Jesus e for, Ele promete que
estará com você todos os dias (Mt 28.20).
A Bíblia nos assegura que, “aquele que
leva a semente, andando e chorando,
voltará, sem dúvida, trazendo consigo os
seus molhos” (Sl 126.6). Então, deixe de
“conversa mole” e haja!
do com eles o Senhor, e confirmando a
palavra com os sinais que se seguiram”.
Amém.
Aplicação a sua vida: na zona de conforto
onde estamos, muitas são as vezes em que
a rotina diária nos afasta de nossa missão.
Como você pode conciliar sua missão à pratica diária?
Os homens de Deus que investiram
em vidas e nos seus sucessores tiveram a
continuação de seu ministério. Exemplo:
Moisés e Josué; Elias e Eliseu; Jesus e os
seus apóstolos; Paulo e Timóteo. Diz-se
que Barnabé foi o maior discipulador do
Novo Testamento. Ele discipulou Paulo
e João Marcos; e João Marcos escreveu
o Evangelho de Marcos. Este evangelho
INVISTA NA TAREFA DE FAZER DISCÍPULOS (Mc 16.20): “E eles, tendo partido,
pregaram por todas as partes, cooperan160 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
Observe que o texto diz “cooperando
com eles o Senhor”. K. Bruce Miller diz:
“Você despenderia o mesmo tempo, para
se preparar a fim de atender as necessidades de uma pessoa, que usaria para
se preparar a fim de pregar um sermão
para cinco mil pessoas? Quanto você crê
no potencial de uma pessoa? ”. Há muitos casos em que os discípulos de Cristo
estão envolvidos na igreja com “ensaios”
e reuniões para os mais diferentes objetivos, que até tem o seu valor, mas poucos resultam na produção de frutos e no
cuidado para com os novos convertidos
ou interessados no evangelho. Impressiona-nos o tempo que Jesus investiu no
encontro com “a mulher samaritana”, mas
principalmente com os seus discípulos
que O acompanhavam. A samaritana se
tornou a primeira missionária do Novo
Testamento, conforme veremos num
estudo mais adiante. Foi para ela que o
Senhor fez uma das mais surpreendentes
revelações de sua pessoa: “Eu sou o Messias, que fala contigo” (Jo 4.25-26).
Horatius A. Bonar nos conclama a investir nossas vidas em favor dos perdidos
e faz uma oração: “Senhor, ponha em
nossos olhos as suas lágrimas, porque os
nossos corações estão endurecidos. ”
A M I S S Ã O P R E C Í P U A D O D I S C Í P U LO D E C R I S T O
serviu de fonte para Lucas e Mateus escreverem os seus evangelhos. Paulo escreveu treze cartas do Novo Testamento
e foi um dos maiores missionários da história da Igreja.
Waylon Moore diz que “quando a igreja exala discípulos inala convertidos; desta forma ela cresce. O discipulado é a forma mais rápida de multiplicar líderes que
apressarão tanto a evangelização quanto
o discipulado. ”
Para tanto, é necessário o investimento de tempo, de recursos e de capacitação para discipular.
O PREÇO DO DISCIPULADO (Mt 16.24)
Billy Graham disse que “salvação é
de graça, mas o discipulado custa tudo
o que temos. ” Para Waylon Moore “discípulo é alguém que dá a sua vida pelos
outros. ” Então, para cumprir sua missão
precípua, o discípulo deve “pagar” os seguintes preços:
a) Renúncia (Mt 16.24): Além de renunciar a si mesmo, cada discípulo de
Cristo sofre perdas ou podas em áreas de
sua vida que são infrutíferas. Então, ele
precisa renunciar também aos “galhos infrutíferos de sua vida” (Jo 15.1-2).
b) Crucificação diária (Lc 9.23): Já
vimos anteriormente que a crucificação
diária é o processo da santificação, ao
qual todo discípulo de Cristo é submetido. Todo discípulo de Cristo precisa estar
“crucificado com Cristo”, e não mais viver,
mas Cristo viver nele (Gl 2.20). Sem crucificação diária não há discipulado.
c) Tempo com Jesus (João 15.5): Discipulado não é algo mecânico ou “estratégico”. Discipulado é o resultado de como
se vive em e com Cristo. Quando Jesus
chamou os seus discípulos, Ele o fez “para
|
que estivessem com Ele” (Mc 3.14). O discípulo de Cristo tem que investir tempo
para estar com Ele em oração, ouvindo e
meditando na sua Palavra (Js 1.8).
d) Tempo com o discipulando: Jesus
investiu cerca de três anos com os seus
discípulos. Ele sempre investia tempo naqueles que o procuravam. Exemplo: Nicodemos, Zaqueu, Maria e Marta, e muitos
outros. Se discipulado é relacionamento,
é necessário se ter tempo para investir
naqueles que pretendemos discipular.
Discipular é também construir vidas, e
isto demanda tempo!
e) Lágrimas (At 20.19; 2 Co 2.4; 2 Tm
1.4): Discipulado custa lágrimas. Paula fala das lágrimas que derramou por
aqueles que ele evangelizou.
Você terá de fazer as contas de “quanto custa” ser um discípulo de Cristo (Lc
14.26-33). John Knox orava, dizendo: ”Dáme a Escócia, senão eu morro! ” O discipulado é como o processo da gestação,
do nascimento e do desenvolvimento de
uma criança (Gl 1.19; Fm 1.10). Essa negligência de priorizar os novos convertidos
tem levado muitos discípulos de Cristo a
gerar frutos imperfeitos (conforme sua espécie), que gera outros frutos imperfeitos,
uma geração doente (Lc 8.14).
Muitas igrejas pagam um alto valor
para realizações de mega shows, chamados de cultos, mas abandonam as criancinhas espirituais nos seus primeiros
momentos de nascimento. Então, elas
morrem ou se tornam “deficientes espirituais”.
Convidamos você a pagar o preço do
discipulado, gerando discípulos que estejam prontos a também pagarem o seu
preço e prosseguirem para o alvo da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 161
| A M I S S Ã O P R E C Í P U A D O D I S C Í P U LO D E C R I S T O
Aplicação a sua vida: para sermos discipuladores, temos um preço a pagar. Diante dos tópicos apresentados, a qual deles
você precisa recorrer?
A GERAÇÃO DE DISCÍPULOS MULTIPLICADORES (2 Tm 2.2)
A recomendação de Paulo a Timóteo
foi para que ele produzisse discípulos
que fizessem outros discípulos. Discípulo
que não se multiplica deixa de cumprir
sua missão. Waylon Moore diz que “Este
ministério perdurará através de toda a
eternidade, se você investir na vida de
indivíduos que, por seu turno, se disponham a alcançar outros, que alcançarão
outros”. Como isto pode acontecer? Comece imediatamente, ainda hoje!
Aplicação a sua vida: você pode considerar-se como parte de uma geração de discipuladores? O que você precisa buscar ou
deixar para ser um discipulador?
162 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
Sugestão: Faça uma lista de novos decididos, parentes não crentes, amigos e vizinhos, e experimente visitá-los, orar por
eles e se relacionar com eles. Você terá uma
grande surpresa: eles estão interessados na
salvação deles, sim! Este foi o método de Jesus. Por que há pessoas que querem fazer
diferente? Seriam elas mais sábias do que
Jesus?
Conclusão
Quando Jesus chamou os seus discípulos, Ele disse que os faria “pescadores
de homens”. Da mesma forma, ao despedir-se deles, recomendou que fossem
e fizessem discípulos, que pregassem
o evangelho e que fossem suas testemunhas. A missão do discípulo é fazer
outros discípulos. Quem assim não está
agindo está fora da missão, fora de foco.
Então, não há mais desculpa e nem tempo a perder. Obedeça a Jesus e comece a
cumprir sua missão ainda hoje!
ESTUDO 47
O DISCÍPULO QUE LEVA O
IRMÃO A JESUS
João 1.35-51
INTRODUÇÃO
Nos versículos 35 – 37 João Batista apresenta Jesus como o Cordeiro de
Deus. O testemunho de João (de que Jesus era o Cordeiro de Deus) levou aqueles discípulos a deixá-lo e seguir a Jesus.
André figura como um dos primeiros discípulos a se interessar por Jesus. A Bíblia
fala pouco sobre a atividade apostolar
desse irmão de Pedro, porém o que ele
fez ao seu irmão serviu de exemplo para
um dos princípios do discipulado, conforme veremos mais adiante. O testemunho
de João nos impressiona pela sua despretensão pessoal. Desde a primeira vez
que viu Jesus, chamou a atenção para a
importância do Senhor, sem se importar
que os seus discípulos o deixassem e seguissem a Jesus. João tinha o sentimento de que devia diminuir e Jesus crescer
(Jo 3.26-30). Este é um dos mais nobres
sentimentos que podemos cultivar em
relação ao próximo: Diminuir para que o
outro cresça! Uma das principais funções
do discipulado é apresentar o Cordeiro
de Deus aos homens. O foco do discipu-
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Leituras Diárias
Jo 1.35-51
Jo 3.26-30
At 2.37-41
1Co 1.27-29
Gn 28.12-13
Ef 3.20
Jo 13.7
lado deve ser a pessoa de Jesus e não a
pessoa do discipulador.
João apresenta detalhes, não descritos pelos demais evangelhos, da chamada dos discípulos. Um desses detalhes diz
respeito ao modo como André conheceu
Jesus e como levou o seu irmão (Pedro)
a conhecer o Senhor. Da mesma forma
aconteceu com Filipe, que falou de Jesus
para Natanael. É sobre a importância de
levarmos outros a Jesus que tratamos no
presente estudo.
ESTÁ EM COMPANHIA DE JESUS (Jo
1.38-39)
Por estes versículos, fica evidente que
Jesus estava residindo em uma casa, e
não era como há quem pense, que ele
não tivesse uma residência, vivendo a perambular pelo mundo. O convite de Jesus
é para uma experiência pessoal: “Vinde, e
vereis”. O texto diz que eles passaram o
resto do dia com Jesus. Deve ter sido uma
tarde maravilhosa estar na companhia
de Jesus! O maior desejo de Jesus é que
REFLEXÕES BÍBLIC
BÍBLIC AS
AS II
II
REFLEXÕES
163
|| 163
| O D I S C Í P U LO Q U E L E V A O I R M Ã O A J E S U S
tenhamos comunhão, sejamos um com
Ele, assim como Ele é um com o Pai (Jo
17.21). Jesus convidou aqueles dois discípulos para irem com Ele e verem onde Ele
morava. Aliás, Ele diz que está à porta do
nosso coração e bate. Quando abrimos a
porta Ele entra, ceia conosco e nós com
Ele (Ap 3.20).
LEVANDO O IRMÃO A JESUS (Jo
1.41-42)
André compartilhou com Simão o seu
“grande achado”. Aquele não era um achado comum. Era uma esperança alimentada desde o Jardim do Éden, quando Adão
e Eva pecaram (Gn 3.15), esperança essa
reafirmada na promessa a Abraão, Isaque, Jacó, Moisés, a todo o povo de Israel,
e anunciada pelos profetas. Essa notícia
deve ter “eletrizado” Simão. O passo seguinte foi ainda mais importante: diz que
André o levou a Jesus. Que bênção extraordinária é levar um membro da família
a Jesus! É dessa experiência que surgiu
a “Operação André”, em que cada pessoa é desafiada a levar alguém a Cristo.
Mais tarde, Simão veio a ser instrumento
divino para conduzir quase três mil pessoas a Jesus, num só dia (At 2.37-41). Ao
encontrar-se com Jesus, Simão teve o seu
nome mudado para Cefas (em aramaico)
ou Pedro (em grego). Ambos significam
“pedra”. Simão significa “audição”. Desse
modo, o Senhor lhe dava um novo significado ao seu nome a partir daquele dia.
A lição principal aqui é que todo aquele
que conhece Jesus como Salvador deve
ser instrumento d’Ele para conduzir outros à salvação.
Aplicação a sua vida: sempre que experimentamos algo bom, queremos contar
para pessoas que amamos, a fim de que todos possam desfrutar. Quando, pela última
vez, você levou alguém a Cristo?
ACEITA O CONVITE E SEGUE A JESUS
(Jo 1.43-49)
João nos descortina que Jesus teve
um encontro com os seus discípulos an164 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
tes de chamá-los para o apostolado. Esses contatos foram logo após Jesus ser
batizado por João e este ter testemunhado que Jesus era o Cordeiro de Deus. A
continuação do texto bíblico menciona
outros encontros de Jesus com pessoas
que vieram mais tarde fazer parte do grupo de apóstolos.
Em Jo 1.43, vemos que Filipe teve o
chamado especial de Jesus para segui-lo.
O mesmo convite é feito a cada um de
nós. Jesus tem um plano especial para
cada pessoa no seu reino. Talvez você não
venha a ser o destaque que foi Pedro, Tiago ou João, entretanto, do mesmo modo
como Filipe foi chamado a fazer parte
dos doze que seguiam a Jesus, também
você é convidado agora a ser um discípulo, isto é, seguidor de Jesus. A seguir, vemos como Filipe também foi instrumento
divino para levar Natanael a Cristo.
Filipe se torna um evangelista e discipulador de primeira mão (Jo 1.45). Ele
compartilha que acabara de achar “aquele de quem escreveram Moisés na lei, e os
profetas: Jesus de Nazaré, filho de José”.
Primeiramente, Filipe demonstra conhecimento das escrituras e, em seguida,
afirma ter achado o Messias prometido.
Esse “achado” não é algo comum, pois
trata-se do cumprimento de uma promessa feita há séculos e referida nos escritos do Antigo Testamento. Afirmar que
havia achado Aquele de quem falaram
Moisés e os profetas era algo que revolucionaria a vida daqueles homens! Porém,
Natanael tinha uma mente inquiridora,
investigativa e duvidou que pudesse vir
alguma coisa boa de Nazaré (Jo 1.46). Ele
desconfiava de que uma promessa tão
auspiciosa pudesse estar se cumprindo
naquele momento e vindo de um lugar
sem tradição profética (Jo 7.52). É nesse
ponto que Deus diz confundir os sábios
na sua sabedoria (1 Co 1.27-29) e, “onde
foi dito: Vós não sois meu povo, se lhes
dirá: Vós sois os filhos do Deus vivo” (Os
1.10). Entretanto, apenas como curiosidade, os fariseus estavam equivocados
quanto a vir profeta da Galileia, porque
Jonas era de Gate-Hefer, cidade da Gali-
O D I S C Í P U LO Q U E L E V A O I R M Ã O A J E S U S
leia (2 Rs 14.25). Filipe não entra na provocação de Natanael e o convida para vir
e ver Jesus. Não existe argumento maior
na evangelização e no discipulado do
que levar a pessoa a se relacionar diretamente com Jesus.
TORNA-SE DISCÍPULO SEM DOLO (Jo
1.47)
A primeira palavra de Jesus sobre
Natanael foi que ele era um verdadeiro
israelita em quem não havia dolo. Ele não
era um trapaceiro e nem corrupto. Ele era
sincero na sua vida com Deus, apesar de
ainda não conhecer Jesus. Imagine como
seria eu e você sermos assim apresentados por Jesus! Esta declaração intrigou
Natanael, que perguntou a Jesus de onde
ele o conhecia (Jo 1.48). Jesus novamente o surpreende ao dizer que o conhecia
antes que Filipe o chamasse, quando ele
estava debaixo da figueira. A reação seguinte de Natanael comprova seu grau
de discernimento espiritual (Jo 1.49),
pois, de pronto, ele confessa que Jesus
é “o Filho de Deus, o rei de Israel”. Deus
procura homens e mulheres verdadeiros,
sinceros e honestos para fazerem parte
do seu grupo de discipulado.
Aplicação a sua vida: Acrescentamos ainda que esse encontro de Natanael com
Jesus, em primeiro lugar, demonstra o poder de Jesus em conhecer os nossos sentimentos e atitudes. Possivelmente, Natanael
estava meditando, quando Jesus diz tê-lo
visto debaixo da figueira. O elogio de Jesus,
de que Natanael era um verdadeiro israelita, em quem não havia dolo, constitui-se
num desafio para cada um de nós. Valeu
a pena Natanael ser um homem honesto.
Todas as nossas atitudes de fidelidade,
honestidade etc., são consideradas pelo
Senhor.
O que Jesus diria a nosso respeito se tivesse
que falar sobre nossa honestidade?
TEM UMA VISÃO ESPECIAL (Jo 1.50)
Natanael creu que Jesus era “o Filho
de Deus, o rei de Israel”. Surpreende-nos
|
que Natanael conhecesse o conceito de
“Filho de Deus”, pois, Jesus ainda não havia revelado isto ao mundo. As palavras
seguintes de Jesus apontam para o fato
de que a reação de Natanael foi o produto da fé e, deduzimos, uma revelação
especial de Deus naquele momento. Jesus, então, lhe assegura que seus discípulos veriam “o céu aberto, e os anjos de
Deus subindo e descendo sobre o Filho
do Homem”. Deus honra a nossa fé. Esta
palavra de Jesus tem a ver com a experiência de Jacó, quando fugia de Esaú, o
qual, dormindo, viu uma escada na qual
os anjos subiam e desciam (Gn 28.12-13),
mas aponta também para a obra expiatória de Cristo e para o seu retorno a este
mundo em glória (Jo 14.6; Mt 25.31). Mais
tarde, Jesus assegurou que seus discípulos fariam obras grandiosas (Jo 14.12).
Paulo diz que o que Deus reserva aos que
o amam está acima da capacidade do
conhecimento humano (1 Co 2.9). Deus
quer dar uma visão especial a cada um de
nós, não no sentido de uma nova revelação, mas nos levar a conhecer e desfrutar
bênçãos, realizar obras que estão acima
do que pedimos ou pensamos (Ef 3.20).
Há muita coisa revelada que não entendemos agora, mas o Espírito Santo nos
conduzirá a toda verdade e nos ajudará a
compreendê-las depois (Jo 13.7).
Conclusão
O modo como João Batista falou de
Jesus para os seus discípulos, mostra o
quanto ele era despretensioso e humilde. Os discípulos de João, ouvindo o seu
testemunho a respeito de Jesus, resolvem segui-lo e passam um fim de tarde
com Ele. O texto diz que André levou o
seu irmão a Jesus, Filipe testemunhou
para Natanael e o convidou a vir e ver o
Senhor. Foi uma sucessão de atos em que
um discípulo falava de Jesus para o outro, experiência essa que bem caracteriza
o processo de discipulado. Que este estudo tenha levado você a se empenhar em
levar outros a Jesus!
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 165
ESTUDO 48
A PRIMEIRA DISCÍPULA
MISSIONÁRIA
João 4.1-30 e 7.37-39
INTRODUÇÃO
Este estudo está baseado no encontro
de Jesus com a “mulher samaritana”. Ele
se reveste de especialidade incomum por
causa do modo da abordagem e o tempo
que lhe foi dedicado pelo Senhor, bem
como pela revelação que Jesus lhe fez de
sua pessoa como o Messias prometido e,
ainda, pelo resultado produzido na vida
daquela mulher, indo anunciar aos samaritanos que o homem que ela havia encontrado podia ser o Cristo. Ela se tornou
a primeira discípula do Novo Testamento.
O VALOR DE UMA VIDA PARA JESUS (Jo
4:3-4)
No verso quatro João diz que “era
necessário” Jesus passar por Samaria. O
significado é que lhe era moralmente necessário. Os judeus não se comunicavam
com os samaritanos (v. 9) por questões
166
166 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Leituras Diárias
Jo 4:3-4.
Jo 4.6.
Jo 4.7
Jo 4.11-14 e 7.37-38.
Jo 4.15-18.
Jo 4.19-24
Jo 4.25-26 - Jo 4.28-29.
políticas e religiosas. É que Samaria foi
a capital do Reino do Norte, enquanto
que Jerusalém foi a capital do Reino do
Sul. Essa divisão aconteceu a partir do
reinado de Roboão, filho de Salomão,
que se negou a ouvir o pedido de alívio
dos impostos feito pelo povo. Jeroboão,
filho de Nebate, foi eleito rei das dez tribos dissidentes e elegeu Samaria como a
capital do “novo reino”; fez bezerros para
o povo adorar, receoso de que o mesmo
o abandonasse, para vir adorar a Deus
no templo em Jerusalém (1 Rs 12.1-33).
Jesus estava acima dessa “pendenga”
político-religiosa; Ele veio para todas as
ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt
15.24). Ali havia uma vida que tivera cinco casamentos desfeitos, porém poderia
se tornar um instrumento d’Ele para levar
sua mensagem de amor aos demais samaritanos. Era-lhe necessário passar por
Samaria e revelar-se como o Messias prometido, conforme veremos mais adiante.
A PRIMEIRA DISCÍPULA MISSIONÁRIA |
APROVEITANDO BEM CADA OPORTUNIDADE (Jo 4.6)
Jesus se utiliza do momento e das
circunstâncias para revelar à samaritana
que Ele é a água viva que dessedenta a
cada pessoa. Ali havia um poço “dado”
por Jacó (v. 12), do qual, segundo a samaritana, ele mesmo bebera e dera de beber
ao seu rebanho. Jesus se vale da oportunidade para ensinar que só Ele pode dar
a verdadeira água ao seu rebanho. Outro
detalhe do v. 6 é que Jesus estava cansado e sentou-se. Isso mostra a humanidade de Jesus e o exemplo de que também
devemos separar tempo para o descanso
do corpo. Jesus sabia o que era ter fome
e cansaço; Ele podia experimentar todos
os sentimentos do ser humano, a fim de
poder ajudá-lo (Hb 4.15-16).
Aplicação a sua vida: podemos observar
que toda oportunidade é válida para sermos discípulos de Jesus e levarmos a mensagem salvadora a todos. Como você tem
se apropriado desse privilégio e falado do
nosso Deus, que é água viva?
A SEDE E A FOME DE JESUS (Jo 4.7)
Jesus pediu de beber à samaritana.
Com qual propósito você pensa que Jesus lhe pediu de beber? Comparar com o
v. 10. O desdobramento do relato bíblico
mostra que foi para que a mulher soubesse quem era que lhe fazia aquele pedido e lhe pedisse da água viva. Quando
o Senhor foi crucificado, também disse
que tinha sede (Jo 19.28). Cada palavra
ou ação de Jesus tinha uma aplicação circunstancial, mas apontava também para
realidades espirituais e eternas. Isto fica
claro quando os discípulos tendo voltado da cidade, onde foram comprar pão,
insistiram para que Jesus comesse, mas
Ele falou de uma comida que eles não
conheciam. Ante a dúvida dos discípulos, Ele disse que sua comida era fazer a
vontade do Pai (Jo 4.8 e 31-34). A maior
sede de Jesus naquele momento, assim
como na cruz, não era pelo líquido físico,
mas por alcançar e salvar vidas sedentas
da água da vida. Como você percebe, o
método de evangelização de Jesus é ilustrativo: o poço, as montanhas, a diferença política e religiosa entre samaritanos
e judeus, a situação conjugal da mulher
etc. De cada situação, Jesus fazia um motivo para usar de sua pedagogia, sempre
apontando para realidades espirituais.
Aplicação a sua vida: o mundo tem sede
e fome. Esse é um fato que acompanha a
humanidade. Temos experimentado na
atualidade a baixa em nossas reservas de
água. Como você tem usado os recursos da
natureza e aproveitado para anunciar a Jesus como manancial inesgotável?
CANAIS DA FONTE ETERNA (Jo 4.11-14
e 7.37-38)
Jesus é a fonte da água da vida, mas
espera que sejamos os canais através
de quem essa água jorre. Para que isto
aconteça é necessário crer em Jesus (Jo
7.37-38). O verso seguinte (39) explica
que Jesus estava se referindo àqueles
que haviam de crer n’Ele e, portanto, receberiam o Espírito Santo. Jesus, além
de salvar-nos da condenação eterna, dános vida abundante (Jo 10.10) e faz de
nossas vidas verdadeiros canais de água
viva. Aquele que é salvo por Jesus se torna uma referência da fonte eterna, que é
o próprio Jesus. Neste caso, esses canais,
conectados a Jesus, devem chegar a outros que tem sede. Daí a importância de
transmitirmos aos outros aquilo que teREFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 167
| A PRIMEIRA DISCÍPULA MISSIONÁRIA
mos recebido, isto é, praticar o discipulado.
COMPROMISSO COM A VERDADE (Jo
4.15-18)
Assim que a samaritana demonstrou
interesse pela água viva, Jesus a confrontou com a verdade: “Vai, chama o teu
marido e vem cá”. A samaritana abriu o
coração, revelando não ter marido e Jesus disse que ela falou a verdade. A Bíblia
diz que Deus ama a verdade no íntimo (Sl
51.6). Aquela mulher viu que não podia
esconder a verdade de Jesus. Ela havia
alimentado a esperança de um lar, de
uma família, de um marido. Cinco vezes
se casara e cinco vezes tivera que enfrentar a realidade de uma separação. Não
sabemos quem fora o culpado, mas com
toda certeza, ela era uma pessoa muitas
vezes ferida. Possivelmente, tenha ferido
outros também. A pessoa com quem vivia agora não era o seu marido. Era um
relacionamento ilegal. Ao falar a verdade, viu que Jesus já sabia como era a sua
vida. Deus nos conhece, mas espera que
confessemos os nossos pecados, as nossas fraquezas. A samaritana reconheceu
que Jesus era profeta e tratou logo de
desviar o foco da conversa para a polêmica sobre o verdadeiro lugar de adoração.
Foi neste ponto que Jesus lhe fez uma extraordinária revelação.
Aplicação a sua vida: podemos observar
que a mulher samaritana abriu o coração
para Jesus e foi verdadeira em suas afirmações. Quantas são as vezes que, por medo
das consequências ou perda de privilégios,
tentamos mudar a verdade ou mentimos
deliberadamente? Reflita neste momento e
peça perdão a Deus, assumindo novo compromisso com a verdade.
168 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
O VERDADEIRO ADORADOR (Jo 4.1924)
Jesus afirma que Deus procura adoradores verdadeiros. Ele não se impressiona com a formalidade, com a liturgia ou
com a aparência. Ele olha para o coração.
Nossa motivação para adorar é o que fala
mais alto para Deus. Encontramos na Bíblia, diversos exemplos de como adorar a
Deus em espírito e em verdade (Sl 51.17;
Lc 18.10-14). Deus quer humildade e quebrantamento daqueles que se propõem
a adorá-lo. Ele procura aqueles que assim
estão adorando-O. Isso era diferente, tanto para os samaritanos quanto para os
judeus, que estavam afeitos a questões
da forma e não da essência da adoração.
O que mais os impressionava é que Jesus
fez esta revelação particularmente a uma
mulher, e esta era uma samaritana. Não
foi para uma multidão, nem mesmo para
os apóstolos. O assunto se tornou cada
vez mais interessante e a samaritana falou de algo que era comum a samaritanos e judeus: a esperança do Messias.
Aplicação a sua vida: ser adorador é estilo
de vida. Deus tem buscado adoradores que
O adorem em espírito e em verdade. Como
tem sido sua adoração?
DIANTE DO MESSIAS (Jo 4.25-26)
Neste ponto, novamente Jesus nos
surpreende. Ele diz para a samaritana
que ela está diante do Messias: “Sou eu
que falo contigo”. Aquela mulher era uma
fracassada em cinco casamentos e vivia
com um homem que não era seu marido. Como dissemos no ponto anterior,
esta revelação tão sublime não foi assistida por seus discípulos, nem por mais
ninguém. As palavras de Jesus se asse-
A PRIMEIRA DISCÍPULA MISSIONÁRIA |
melham às que Deus disse a Moisés no
Monte Sinai: “EU SOU” (Ex 3.14). Elas caíram no coração da samaritana de modo
transformador. Visto ser conhecedora de
tão especial revelação, ela agora tinha
uma missão.
MISSÃO INADIÁVEL (Jo 4.28-29)
O impacto de Jesus na vida da samaritana foi tão grande que ela deixou de
lado o seu objetivo de buscar água, e ainda abandonou o cântaro. Seu testemunho na cidade foi tão convincente que
uma grande multidão a acompanhou
para vir a Jesus. Dessa maneira, ela se
tornava a primeira missionária do Novo
Testamento. Jesus investiu nela, revelouse como o Messias prometido a Israel, e
possibilitou à samaritana ser a primeira
mulher a levar a uma cidade o anúncio
de ter encontrado o Cristo.
Jesus quebra preconceitos e paradigmas. De fato, Deus não faz acepção de
ninguém e pode usar qualquer pessoa
para se tornar um canal por onde jorre
a água da vida eterna. A samaritana teve
uma revelação particular de Jesus, quando este lhe afirmou que Ele era o Messias
prometido a Israel. Isso se reveste de uma
importância toda especial. É singular
também que uma mulher tenha saído a
pregar que teria encontrado o Messias, e
isso para samaritanos. Nesse sentido, vemos esta mulher como a primeira missionária a ter uma revelação direta de que
Jesus era o Messias, e voltar para anunciar essa grande descoberta.
Aplicação a sua vida: ser adorador é estilo
de vida. Deus tem buscado adoradores que
O adorem em espírito e em verdade. Como
tem sido sua adoração?
Conclusão
Cada pessoa que tem um encontro
pessoal com Jesus deve ser portadora
dessas boas novas, inclusive com a plena
convicção de que Jesus é o Filho de Deus,
o Senhor e Salvador do Mundo, o Messias
prometido. Seja você também um discípulo missionário!
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 169
ESTUDO 49
O DISCÍPULO RICO PARA
COM DEUS
Lucas 12.13-21
INTRODUÇÃO
Humanamente falando, o conceito
de riqueza ou de pobreza é avaliado pela
renda pessoal ou per capta de uma família. Dessa forma, temos as classes A B, C,
D ou E. Não importa como você é classificado socialmente, mas como Deus o vê.
A conceituação divina difere da humana.
Pensando nisto, considere o seguinte:
qual é sua maior riqueza? Sinceramente,
o que tem tido maior valor na sua vida?
E mais: qual é a maior preocupação dos
pais em relação aos seus filhos hoje? Em
que as pessoas hoje investem mais tempo? Porém, a pergunta mais contundente é: como vai sua alma? Este texto nos
convida a reavaliarmos nossos valores.
Ele inicia-se com um pedido equivocado
de alguém dentre os ouvintes de Jesus,
querendo que o Senhor ordenasse que o
irmão dele repartisse a herança com ele.
Após questionar aquele homem sobre
quem o teria colocado como juiz entre
o povo, Jesus conta “a parábola do rico
170
170 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Leituras Diárias
Lc 12.13-21
Tg 4.14
1 Tm 6.17-19
Sl 128.1-2
Mt 7.24-27
Ap 3.18
At 17.30
insensato”. Vejamos os ensinos que podemos aprender sobre o que seria um discípulo rico para com Deus.
NÃO TEM O FOCO NA HERANÇA
TERRENA (Lc 12.13-14): “E disse-lhe um
da multidão: Mestre, dize a meu irmão
que reparta comigo a herança. Mas ele
lhe disse: Homem, quem me pôs a mim
por juiz ou repartidor entre vós?”
Observe que Jesus estava instruindo
seus discípulos sobre a missão deles
neste mundo (Lc 12.11-12). O homem
ouvia Jesus, mas seus pensamentos estavam na herança terrena. O objetivo
dele em seguir a Cristo era totalmente
equivocado. Deus é justo nas questões
do direito, mas seu foco é o reino em
primeiro lugar (Mt 6.33). Quando o nosso
foco está nas “heranças” desta vida, perdemos a visão de Deus, como a pessoa
em questão que pediu para Jesus intervir
na divisão de herança familiar. Jesus disse
O D I S C Í P U LO R I C O PA R A C O M D E U S |
que onde estiver o nosso tesouro (isto é,
nossa herança) aí estará o nosso coração
(Lc 12.34).
Aplicação a sua vida: nossas necessidades
pessoais são tantas que envolvem todo o
tempo que temos. O mundo está cada dia
mais informatizado e confortável, assim,
estamos precisando trabalhar mais para ter
mais. Perdemos a vontade de ser alguém
significativo para ter algo significativo.
Nesse momento de sua vida, onde estão
concentrados os desejos de seu coração?
TEM SUA ESPERANÇA EM DEUS (Lc
12.15): “E disse-lhes: Acautelai-vos e
guardai-vos da avareza; porque a vida de
qualquer não consiste na abundância do
que possui.”
A Bíblia nos faz uma pergunta existencial: “O que é a vida?” (Tg 4.14). Paulo
diz que, se esperamos em Cristo só nesta
vida, somos as mais miseráveis de todas
as pessoas (1 Co 15.19). A consistência da
vida está na esperança em Deus (Sl 42.5;
Hb 10.23). A resposta à pergunta existencial é: a vida consite em estar em Cristo e
viver n’Ele (Gl 2.20). Caso contrário, é ser
mais que pobre, é ser miserável!
Aplicação a sua vida: aqui vale a pergunta:
onde está a sua esperança? Qual seu relacionamento com Deus? Em que consistem
seus pedidos?
EXPERIMENTA A VERDADEIRA RIQUEZA (Lc 12.19-21): “E direi a minha alma:
Alma, tens em depósito muitos bens para
muitos anos; descansa, come, bebe e folga. Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite
te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é aquele
que para si ajunta tesouros, e não é rico
para com Deus.”
A verdadeira riqueza é ser rico para
com Deus. A verdadeira riqueza é a que
Jesus nos dá (2Co 8.9). A verdadeira riqueza é a acumulada no céu (Mt 6.19-20). A
verdadeira riqueza é ser herdeiro de Deus
e co-herdeiro de Cristo (Rm 8.17). A verdadeira riqueza é a da fé (1 Tm 6.17-19).
Não importa como você é classificado
socialmente, mas como é classificado por
Deus. Disto independe sua posição social
neste mundo. O fato de ser rico materialmente não significa que seja pobre espiritualmente e vice-versa. A questão está
no que ou em quem você põe sua confiança. E os discípulos se admiraram destas palavras de Jesus; mas Ele, “tornando
a falar, disse-lhes: Filhos, quão difícil é,
para os que confiam nas riquezas, entrar
no reino de Deus!” (Mc 10.24).
E você, é rico ou pobre?
EVITA AS RIQUEZAS ILUSÓRIAS (Lc
12.19): “E direi a minha alma: Alma, tens
em depósito muitos bens para muitos
anos; descansa, come, bebe e folga.”
O que seria uma riqueza ilusória?
a) Riqueza fácil: Ela é contrária à ordem Divina (Sl 128.1-2; Gn 3.19). O trabalho honesto foi o meio estabelecido por
Deus para o ser humano viver bem e ser
feliz.
b) Expedientes humanos escusos
aos olhos de Deus: O discípulo de Cristo deve ter pesos justos e balanças justas, porque o nosso Deus é justo e ama
a justiça (Lv 19.36; Pv 11.1; 20.23; Sl 11.7).
Precisamos ter cuidado também com os
subterfúgios e as desculpas esfarrapadas,
para justificar palavras e ações dolosas.
c) Amor ao dinheiro (1Tm 6.10): O
nosso amor deve ser a Deus e ao próximo. O amor ao dinheiro contribui para
pensamentos e atitudes que resultam
em males para a própria pessoa, para a
família e para a sociedade. O dinheiro é
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 171
| O D I S C Í P U LO R I C O PA R A C O M D E U S
necessário, mas não deve ser o principal
foco de qualquer pessoa.
Riquezas ilusórias não estão apenas
na esfera material. Estão também no sentido moral, educacional, familiar, profissional etc. Cabe a cada um de nós avaliar
as motivações da vida e detectar se elas
são verdadeiras ou ilusórias.
Aplicação a sua vida: em um país com tantas injustiças e impunidades, muitas vezes
somos levados a buscar caminhos mais
curtos e fáceis para conquistar nossos sonhos. Como temos trabalhado com essas
riquezas ilusórias que se apresentam a nós
todos os dias?
É O SÁBIO (Lc 12.20): “Mas Deus lhe disse:
Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e
o que tens preparado, para quem será?”
Para Deus, viver somente para esta
vida é loucura. Isto nos faz lembrar de
outra parábola contada por Jesus sobre a pessoa sábia e a pessoa louca (Mt
7.24-27). O louco é quem ouve a palavra de Deus e não a cumpre. Ele é comparado a quem constrói a casa sobre a
areia, a qual não suporta as intempéries
da vida. O sábio é quem ouve a palavra
de Deus e a cumpre. Ele é semelhante a
quem constrói a casa sobre fundamento
sólido, a qual não é sequer abalada pelas
tempestades deste mundo. Ouvir e praticar a palavra de Deus é construir a casa
para a eternidade. Já vimos anteriormente que, quem espera em Cristo somente
nesta vida, é a mais miserável de todas
as criaturas (1 Co 15.19). Precisamos nos
lembrar de que nossa vida está nas mãos
de Deus e vivemos na dependência d’Ele.
Lc 12.21 diz: “Assim é aquele que para si
ajunta tesouros, e não é rico para com
Deus.”
Por estas palavras de Jesus, vemos
que há quem seja rico para com os ho172 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
mens, mas não é rico para com Deus. A
Igreja de Laodiceia era assim (Ap 3.17).
Aqueles cristãos se consideravam ricos,
mas Jesus os considerava desgraçados, e
miseráveis, e pobres, e cegos, e nus. Certamente, nenhum de nós gostaria de ter
uma avaliação divina assim. Todos queremos ser ricos para com Deus. Então, precisamos ouvir os conselhos de Jesus (Ap
3.18): “Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te
enriqueças; e roupas brancas, para que te
vistas, e não apareça a vergonha da tua
nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas”. Isto demanda uma
profunda avaliação de como estamos
diante de Deus e sincero arrependimento (At 17.30). É preciso pôr o foco ou os
olhos em Jesus, conforme vimos em estudo anterior.
Aplicação a sua vida: uma pergunta muito oportuna neste momento é a seguinte:
Que bem eterno você está propiciando à
sua alma com o estilo de vida que tem levado? Deus lhe pergunta: “Se hoje” sua alma
for pedida, para quem será o que você tem
preparado? Qual é sua resposta?
Conclusão
Nossa busca a Jesus não deve ser
por motivos interesseiros. A prudência
da vida precisa conduzir-nos a priorizar
os valores eternos, uma vez que a vida
é passageira e não podemos levar nada
deste mundo. A ambição pela riqueza
pode levar-nos ao afastamento de Deus
e à supervalorização dos bens materiais,
em detrimento dos valores morais.
Está na hora de você adquirir realmente uma grande riqueza. A recomendação do Senhor é o arrependimento e o
redirecionamento dos olhos unicamente
para o Reino de Deus e sua justiça (Mt
6.33).
ESTUDO 50
O DISCÍPULO E SUA
FIDELIDADE
Lucas 19.11-27
Introdução
Neste texto Jesus demonstra que, apesar do seu “reino” não ser “deste mundo”
(Jo 18.36), contudo foram dados “dons aos
homens” (Ef 4.8), e eles darão conta desses
dons quando da segunda vinda do Senhor
a este mundo. O Senhor ilustra estas verdades através da “parábola das dez minas”.
Em Mt 25.14-30 temos uma parábola similar, sendo que ali são mencionados “talentos”. É possível que as duas parábolas tenham sido contadas mesmo em diferentes
ocasiões e com detalhes diferentes, mas os
“evangelistas” Lucas e Mateus as adaptaram em seus livros.
DIANTE DA PROXIMADE DO REINO DE
DEUS (Lc 19.11): “E, ouvindo eles estas
coisas, Ele prosseguiu, e contou uma parábola; porquanto estava perto de Jerusalém, e cuidavam que logo se havia de
manifestar o reino de Deus.”
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Leituras Diárias
Lc 19.11-27
Mt 13.31-33
Mt 14.13-21
1 Co 15.57-58
Lc 19.20-21
Mt 15.7-9
Ec 9.10
Muitas pessoas esperavam que Jesus
estabelecesse um reino político e terreno.
Porém, Jesus contou esta parábola apontando para as dimensões espirituais do
Reino de Deus, bem como para a responsabilidade pessoal de todo aquele que tem
recebido “minas” ou “talentos” de Deus.
É verdade que o Reino de Deus já havia
chegado, mas sua consumação ainda se
daria na segunda vinda de Cristo (Lc 10.9,
11; 13.29). Todos devemos buscar o Reino
de Deus, isto é, o domínio divino sobre
nossas vidas. Porém, haverá um dia em
que todos os reinos do mundo virão a ser
de Cristo, quando todo o império do mal
e da morte for aniquilado (Ap 11.15; 1Co
15.26). Jesus nos advertiu sobre os sinais
que apontariam para a proximidade desse
reino (Lc 21.31). A incidência crescente de
terremotos, tsunamis, epidemias e guerras confirma o cumprimento dos sinais da
volta de Cristo. Realmente o Rei Eterno se
aproxima. Preparemo-nos!
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 173
| O D I S C Í P U LO E S U A F I D E L I D A D E
Aplicação a sua vida: diante da afirmativa
de que fazemos parte do reino de Deus estabelecido por Cristo, como você está atuando diante da proximidade da Sua volta
para nos buscar?
DIANTE DAS IMPLICAÇÕES DA VOLTA
DE JESUS (Lc 19.12): “Disse pois: Certo
homem nobre partiu para uma terra remota, a fim de tomar para si um reino e
voltar depois”. Comparar com At 1.11.
É maravilhoso saber que Jesus veio
libertar-nos do reino das trevas para a sua
maravilhosa luz, e do poder de Satanás
para o poder de Deus (At 26.18). Agora pertencemos a Jesus e ao seu Reino. Entretanto, Pedro diz que essa libertação tem uma
implicação: “Anunciar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz” (1 Pe 2.9). Desse modo, “o
reino” agora é tomado através de nós, os
discípulos de Cristo. Sendo assim, daremos
contas da missão e dos benefícios recebidos: “E muito tempo depois veio o senhor
daqueles servos, e fez contas com eles”
(Mt 25.19). Por este texto, fica evidente
que a volta de Jesus será também para o
“acerto de contas”. Entendemos que, em
relação aos salvos, o acerto é para conceder galardão (Ap 22.12) porém, quanto aos perdidos, o acerto é para o julgamento final. Cada pessoa neste mundo
recebe bênçãos divinas, mas cada uma é
responsável e haverá de prestar contas.
Mais adiante, veremos que Jesus elogiou
aqueles que foram fiéis no sentido de
bem administrar o que receberam.
DIANTE DA RECOMPENSA
Os textos bíblicos a seguir apontam
para a recompensa à fidelidade de cada
discípulo de Cristo ao que tiver recebido
d’Ele:
174 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
a) Investimento dos bens recebidos
(Lc 19.13): “E, chamando dez servos seus,
deu-lhes dez minas, e disse-lhes: Negociai até que eu venha”. O discípulo de Cristo deve “negociar” o que recebeu até que
Ele volte. A palavra grega para “negociai”
é “pragmateuomai”, e tem a ver com “estar ocupado com algo; exercer um negócio de banqueiro ou comerciante”. A ideia
é que dádivas divinas não são para o nosso benefício exclusivo, nem mesmo para
devolvermos apenas o que tivermos recebido. “Minas” (certa quantia em dinheiro
(v. 15); um valor não muito alto), contrastando com “talentos” (cada talento pesava
30 kg de prata). A proposta de Jesus para
o Reino de Deus é de algo que começa
pequeno e se expande. Foi assim na comparação com o grão de mostarda e com o
fermento (Mt 13.31-33). O próprio Jesus
tomou cinco pães e dois peixes, e alimentou cinco mil homens além das mulheres e
crianças (Mt 14.13-21). Também, ao iniciar
o seu ministério terreno, convocou apenas
doze discípulos que deveriam ser testemunhas por todo o mundo. A questão não é o
que ou quanto temos recebido, mas nossa
fidelidade para com o que nos foi confiado.
b) A multiplicação esperada (Lc
19.16, 18): “E veio o primeiro, dizendo:
Senhor, a tua mina rendeu dez minas.
(...) E veio o segundo, dizendo: Senhor, a
tua mina rendeu cinco minas”. O primeiro
teve resultado decuplicado; o segundo
quintuplicado. Tanto na “parábola dos talentos” quando na “parábola das minas¨, o
resultado foi a multiplicação dos recursos
recebidos. Não podemos devolver apenas
o que nos foi confiado (muito menos não
devolver nada). Aqui, uma mina rendeu
dez minas, e a outra rendeu cinco. Jesus
disse que “nisto é glorificado o meu Pai,
que deis muito fruto; e assim sereis meus
discípulos” (Jo 15.8). Isaías previu que o
O D I S C Í P U LO E S U A F I D E L I D A D E |
menor viria a ser mil (Is 60.22). E, na parábola do semeador, o que produziu menos,
produziu trinta. A fidelidade não consiste
em devolver qualquer coisa, mas de modo
multiplicado.
c) Aplicação dos bens recebidos (Lc
19.23): “Por que não puseste, pois, o meu
dinheiro no banco, para que eu, vindo, o
exigisse com os juros?”. Aqui temos a revelação de que, naquele tempo, havia bancos, aplicações, juros etc. Jesus pergunta
ao servo infiel: “por que não puseste, pois
o meu dinheiro no banco para que o recebesse com juros quando voltasse? ” Excelente lição de aplicação dos recursos recebidos onde dá resultado. Isto significa que
tudo o que Deus nos dá deve ser ampliado
e produzir resultados; e daquilo que temos
recebido, multiplicar e expandir. Vale salientar que aquele senhor não recriminou
o servo que só trouxe cinco minas (a metade do primeiro). A ambos recompensou na
proporção que produziu.
A cada um dos dois primeiros servos
aquele senhor tratou de “servo bom e fiel”
que, pelo fato de ter sido fiel no pouco,
receberia a recompensa maior. O texto de
Mateus diz: “Entra no gozo do teu Senhor!
” (Mt 25.21 e 23). Deus nos testa nas pequenas coisas para nos recompensar com
maiores. Se formos fiéis nas mínimas e passageiras coisas, Ele nos confiará a maior e
verdadeira herança (Lc 16.10-11). A Bíblia
diz que até “um copo de água fresca” dado
a um servo de Deus será recompensado
na eternidade (Mt 10.42). Deus não pede
aquilo que não nos tenha dado, contudo, daquilo que Ele nos der, certamente
quererá resultados. Tudo será conforme a
capacidade de cada um (Mt 25.15). Fazer
parte do Reino de Deus é ter certeza da
vitória final de Cristo sobre todas as coisas; de que, através d’Ele, somos vitoriosos (1 Co 15.57-58), mas também que
compareceremos ao “tribunal de Cristo,
para cada um receber o que fez por meio
do corpo, segundo o que praticou, o bem
ou o mal” (2 Co 5.10).
Aplicação a sua vida: conscientes somos
que recebemos alguns talentos, os quais
devem ser multiplicados para entregarmos
ao nosso rei Jesus na prestação de contas.
Como você está se preparando para esse
momento?
DIANTE DA PROVA DE AMOR (Lc 19.14
e 27): “Mas os seus concidadãos odiavamno, e mandaram após ele embaixadores,
dizendo: Não queremos que este reine
sobre nós. (...) E quanto àqueles meus
inimigos que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui, e matai-os
diante de mim.”
O texto de Lc 19.14 é colocado logo
após o registro da distribuição das minas
pelos servos. Ele diz que os seus concidadãos odiavam aquele homem e mandaram embaixadores informando que não
queriam que o mesmo reinasse sobre
eles. Em Lc 19.27, vemos a sentença do rei
sobre os súditos rebeldes: foram trazidos
à presença do rei e sentenciados à morte. A “parábola das minas” retrata qual é
nosso sentimento para com o nosso Senhor: se O amamos ou O odiamos. É raro
alguém dizer que odeia a Jesus. Entretanto, a infidelidade demonstra desprezo
para com Ele e seu reino. Odiar a Jesus é
rejeitar o seu reino. Cada pessoa precisa
decidir se ama ou odeia a Cristo, se aceita ou rejeita o seu reino. Amar a Cristo é
fazer a sua vontade, guardar as suas palavras e segui-lo (Jo 14.15; 15.14 e 10.27).
Não basta dizer que ama a Deus, se a vida
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 175
| O D I S C Í P U LO E S U A F I D E L I D A D E
o contradisser (Mt 15.7-9). Quando não
investimos os bens e talentos recebidos
no Reino de Deus, isto pode significar
contradição entre o que dizemos e praticamos (Lc 19.20-21). Deus não se ilude
com palavras ou justificativas fraudulentas.
Ele espera ação, resultados: tudo quanto vier às nossas mãos para fazer, devemos fazê-lo conforme as nossas forças
(Ec 9.10).
Aplicação a sua vida: muitas são as vezes
em que os lábios falam o que não vai ao
coração. Outras tantas são palavras diferenciadas das ações. Quando afirmamos amar
a Deus, temos que estar coerentes com o
estilo de vida por Ele determinado. Você é
um discípulo fiel no sentir, falar e viver?
176 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
CONCLUSÃO
Deus espera que sejamos fiéis tanto
no muito quanto no pouco. O fiel não olha
para quanto tem, mas para o que deve fazer com o que tem. Deus há de recompensar a cada um de acordo com sua fidelidade. A fidelidade é uma questão de amor a
Jesus. Não há desculpa para sermos infiéis.
Não podemos negar que temos talento ou
que o nosso dom é muito pequeno. O importante é multiplicar o que foi concedido
por Deus; e isto é feito quando colocamos
o que temos à disposição de Jesus. Assim
como o discípulo fiel será recompensado,
o discípulo infiel será condenado. É até
uma contradição dizer que alguém infiel
seja discípulo de Jesus, mas aqui subentende-se que são discípulos nominais, e
não verdadeiros. Seja, então, um discípulo
fiel e entre no “gozo do seu Senhor”.
ESTUDO 51
DISCIPULADO QUE TERRENO SOU EU?
Marcos 4.1-20
INTRODUÇÃO
No exercício do discipulado, levamos
em conta o terreno ou solo onde semeamos a palavra, porém, ao mesmo tempo, fazemos um exame introspectivo, na
tentativa de responder: qual terreno sou
eu? Jesus fala sobre quatro tipos de solos
onde se faz a semeadura, e os respectivos resultados: À beira do caminho vêm
as aves do céu e comem a semente. Entre
pedregais, a semente nasce viçosa, mas
não tem profundidade e o sol mata. Entre
espinhos, a planta até nasce, mas é sufocada por espinhos e não produz fruto.
A semente na boa terra produz a trinta,
a sessenta e a cem por um. Os discípulos
pedem a explicação da “parábola do semeador” e Jesus passa a explicá-la conforme vemos a seguir.
Aplicação a sua vida: Lembre-se que você
deve comparar sua vida a um desses solos
no que diz respeito à produção de frutos
para o Reino de Deus.
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Leituras Diárias
Mc 4.1-20
1 Co 2.14-15
At 16.14-15
Mc 4.16-17
Jr 17.9
1 Pe 4.12
1 Co 15.58
À BEIRA DO CAMINHO (Mt 13.19): “Ouvindo alguém a palavra do reino, e não a
entendendo, vem o maligno, e arrebata o
que foi semeado no seu coração; este é o
que foi semeado ao pé do caminho”.
A explicação de Jesus para este tipo
de solo é grave em virtude do resultado.
Ele representa as pessoas que ouvem a
palavra do reino e não a entendem, vem
o maligno e lhes arrebata o que foi semeado no coração. Em 2 Co 4.3-4, Paulo
diz que as pessoas que não entendem
o evangelho são as que se perdem, visto ser o “deus deste século” quem cega
o entendimento delas para que não lhes
resplandeça o evangelho “da glória de
Cristo”. Isto tem a ver também com 1 Co
2.14-15, onde afirma que “o homem natural não compreende as coisas do Espírito
de Deus, porque lhe parecem loucura; e
não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”. Somente quando o coração está aberto para ouvir a palavra do reino é que o Espírito Santo tem
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 177
| DISCIPULADO – QUE TERRENO SOU EU?
livre acesso. Isto foi o que aconteceu com
Lídia, em Filipos, ao ouvir Paulo: O Senhor
lhe abriu o coração, e ela entendeu e recebeu a palavra de Deus, sendo salva juntamente com sua casa (At 16.14-15).
Aplicação a sua vida: Em nome de Jesus,
não deixe que o maligno arrebate a Palavra
do seu coração. Peça agora mesmo para
que o Senhor lhe desvende as maravilhas
da sua lei (Sl 119.18).
SOLO PEDREGOSO (Mc 4.16-17): “Do
mesmo modo, aqueles que foram semeados nos lugares pedregosos são os que,
ouvindo a palavra, imediatamente com
alegria a recebem; mas não tem raiz em
si mesmos, antes são de pouca duração;
depois, sobrevindo tribulação ou perseguição por causa da palavra, logo se escandalizam”.
O solo pedregoso não tem a ver com
terra misturada com pedra, mas com
aquele que tem uma camada de terra por
cima e uma espécie de laje de pedra por
baixo. Inicialmente, a semeadura brota
viçosa, mas a pedra por baixo impede a
penetração da raiz da planta. Então, ela
fica sem nutrientes para o seu desenvolvimento. Deste modo, não suporta o calor solar e morre por inanição. A ausência
de profundidade espiritual nos leva à superficialidade na fé e no relacionamento
com Deus. E, assim, confiamos no entusiasmo e na emoção, e deixamos de nos
basear na Palavra. Passamos a confiar no
coração e ficamos sem sustentação espiritual. Jeremias diz que o nosso coração é
enganoso (Jr 17.9). O discípulo de Cristo
não deve confiar no coração, isto é, nos
sentimentos, porque a vida é cheia de
variantes. Há momentos em que estamos
alegres e há outros em que estamos tristes. Quem assim procede, não suporta
178 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
tribulação ou perseguição e, quando esta
vem, logo “se escandaliza”. Jesus foi claro com os seus discípulos a respeito das
aflições na vida cristã: “No mundo tereis
aflições, mas tende bom ânimo, eu venci
o mundo” (Jo 16.33). Pedro diz para não
estranharmos as provas de fogo que vêm
para nos tentar, “como se coisa estranha
nos acontecesse” (1 Pe 4.12). Aqueles que
buscam somente emoções e um cristianismo sem cruz, vivem correndo atrás de
“ventos de doutrinas”, por serem meninos em Cristo (1 Co 3.1; 4.14).
Aplicação a sua vida: Uma pergunta:
Por acaso, você reconhece que é esse terreno superficial? Então, clame ao Senhor
agora e peça-Lhe uma vida espiritual profunda, comprometida com Cristo e com
Sua Palavra.
SOLO ESPINHOSO (Mc 4.18-19): “Outros
ainda são aqueles que foram semeados
entre os espinhos; estes são os que ouvem a palavra; mas os cuidados do mundo, a sedução das riquezas e a cobiça
doutras coisas, entrando, sufocam a palavra, e ela fica infrutífera”.
Três motivos fazem com que a palavra
do reino seja sufocada no terreno “entre
espinhos”: “Os cuidados deste mundo, a
sedução das riquezas e a cobiça doutras
coisas”. As pessoas que não tem tempo
para Deus, mesmo tendo ouvido a palavra do reino e tendo assumido, “formalizado” um compromisso, são atraídas
pelas “ocupações” e “as riquezas”. Assim,
ficam infrutíferas. São crentes nominais.
Dizem que são cristãos, mas sua vida é
igual à vida das pessoas deste mundo.
Observe que esse tipo de solo fica “infrutífero” (Mc 4.19). Lucas diz que são
produzidos frutos imperfeitos. Isto é
preocupante por dois motivos: primeiro,
DISCIPULADO – QUE TERRENO SOU EU? |
quem não produz muito fruto é cortado da videira verdadeira, é lançado fora,
seca, é colhido, é lançado no fogo e queima (Jo 15.2, 5-2). Observe que essa falta
de frutificação abundante acontece com
aquele que não está ligado à palavra, isto
é, ao próprio Jesus. Segundo, o fruto imperfeito, não desfruta da comunhão com
o Pai, porque o Pai é perfeito (Mt 5.48).
Acreditamos que os dois textos bíblicos
mencionados anteriormente não têm a
ver com a perda de salvação, até mesmo
porque ela não se perde. Pensamos estar
em foco aqui a perda de comunhão, resultando no entristecimento do Espírito
Santo (Ef 4.30; 1 Ts 5.19). O fruto imperfeito corre o risco de produzir outros frutos
segundo sua espécie. Daí a necessidade
do discipulado para aprofundar raízes
doutrinárias e espirituais na palavra e
transformar cada discipulando numa
“boa terra”.
Aplicação a sua vida: Se você reconhece
que tem sido esse tipo de terreno, renuncie
agora àquilo que torna sua vida infrutífera
no reino de Deus e a consagre ao Senhor.
Decida, hoje mesmo, a dar frutos.
A BOA TERRA (Mc 4.20): “Aqueles outros
que foram semeados em boa terra são
os que ouvem a palavra e a recebem, e
dão fruto, a trinta, a sessenta, e a cem, por
um”.
A “boa terra” é qualificada pela quantidade de fruto que produz. Há quem
pense que Deus quer qualidade e não
quantidade. Na verdade, Deus deseja
quantidade com qualidade. Já vimos em
estudos anteriores que Jesus disse que
o Pai é glorificado por aquele que produz muito fruto, e é isto o que qualifica
um discípulo de Cristo (Jo 15.8). Seguir
a Cristo e não produzir muito fruto é
contraditório à natureza do discipulado.
Observe que a “quantidade” começa com
trinta, dobra para sessenta e é elevada
para cem. Esses números indicam diferentes “quantidades” de frutos, apesar de
todos serem da “boa terra”. Deus conhece
a realidade dos desafios de quem pratica o discipulado. Ele sabe quem pode e
deve produzir nessas proporções. Aliás,
Ele diz que devemos fazer conforme nossas forças (Ec 9.10). Há quem diga: “não
estou preocupado com números, o que
importa é que se pregue a palavra”. Isto
também é contraditório ao ensino da palavra, que assegura: “Aquele que leva a
preciosa semente, andando e chorando,
voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos” (Sl 126.6). Em
Jo 15.16, Jesus diz que nos escolheu para
irmos e darmos fruto, e fruto que permaneça. Muitas pessoas não voltam com
os seus “molhos” porque não praticam o
discipulado, não investem em vidas, se
limitam a espalhar semente, sem investir
no aproveitamento e na edificação dos
resultados. Deve-se considerar também
que, na parábola do semeador, foram
alcançados quatro tipos de solo, e só um
foi qualificado como “boa terra”. De onde
se deduz que o semeador semeou muito,
ainda que o aproveitamento tenha sido
de apenas um tipo de solo. Porém, este
produziu a trinta, a sessenta e a cem por
um. Quem pratica o discipulado, deve ter
consciência dessa realidade e não esperar que todos os solos sejam “boa terra”.
Contudo, deve confiar que, se dispuser
o coração, não somente encontrará, mas
ele mesmo será a “boa terra”. Se não fizer
isto, ficará como um dos três primeiros
terrenos.
O primeiro fruto que alguém deve
produzir na vida é o fruto “digno de arrependimento” (Mt 3.8). Em seguida, vem
o fruto do Espírito, que revela a nova
natureza de uma pessoa cujo terreno se
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 179
| DISCIPULADO – QUE TERRENO SOU EU?
tornou “boa terra” (Gl 5.22-24). Ainda que
esses tipos de fruto estejam implícitos
na parábola do semeador, em virtude
de Jesus especificar o resultado da “boa
terra” (“Produziu a trinta, a sessenta e a
trinta por um”), estão explícitas as questões qualitativa e quantitativa. Se a terra
é “boa”, isto é, tem qualidade, produz em
quantidade.
CONCLUSÃO
E você, sinceramente avaliando sua
vida, levando em conta os frutos que
tem produzido, de que modo responderia à pergunta do tema deste estudo? Se
você não se enquadra nas qualificações
da “boa terra”, ore para que a palavra de
Deus penetre completamente em sua
vida. Peça para Deus tirar toda falta de
180 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
entendimento, toda superficialidade e
todo comprometimento com o mundo de sua vida. Peça para Deus fazer de
sua vida uma “boa terra”, uma terra produtiva, uma terra que glorifique o nome
do Pai (João 15.8). Se você entende que
tem sido uma “boa terra”, pois, tem sido
instrumento de Deus para levar dezenas,
centenas e milhares a Cristo, não se vanglorie disto, porque é Deus quem opera
em nós tanto o querer quanto o efetuar
(Fp 2.13). Isto deve ser natural ao discípulo de Cristo, pois, é a produção de muito
fruto que o qualifica como tal. Também
não se acomode, achando que já alcançou o alvo, porque nem o apóstolo Paulo
se julgava assim (Fp 3.12). Apenas prossiga, sendo firme, constante e “sempre
abundante na obra do Senhor, sabendo
que o seu trabalho não é vão no Senhor”
(1 Co 15.58). Amém!
ESTUDO 52
DISCÍPULO – UM MORDOMO
CRISTÃO
Mateus 14.13-21; Marcos 6.3444; Lucas 9.10-17; João 6.1-13.
INTRODUÇÃO
O estudo de hoje labora sobre o discípulo de Cristo como um mordomo cristão. Procura conscientizá-lo de sua responsabilidade na administração daquilo
que tem recebido de Deus. Mostra, ainda,
atitudes que o mordomo cristão deve tomar quando estiver em situações desafiadoras da vida. Orienta também sobre
como usar, responsavelmente, os recursos de que dispõe em benefício do próximo. Ele tem a ver com a mordomia cristã,
isto é, como bem administrar aquilo que
Deus coloca nas suas mãos ou diante de
si. Muitos desses princípios são encontrados nos registros bíblicos da multiplicação dos pães e peixes.
VÊ COMO DEUS VÊ (Mc 6.34): “Ao desembarcar, viu Jesus uma grande multidão e compadeceu-se deles, porque
eram como ovelhas que não tem pastor.
E passou a ensinar-lhes muitas coisas”.
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Leituras Diárias
Mt 14.13.21
Mc 6.34-44
Lc 9.10-17
Jo 6.1-13
Pv 24.11-12
Mt 14.17-18
Jo 6.12
O mordomo cristão não deve ser indiferente às multidões que Deus coloca
diante de si. Ele precisa vê-las como Deus
as vê. O texto bíblico diz que Jesus compadeceu-se daquelas pessoas. A palavra
grega para “compadeceu-se” é “splagchnizomai”, e significa “mover-se intimamente”. É a ideia de “sofrer com”, isto
é, partilhar do sofrimento do outro. Somente quando nos colocamos no lugar
do outro é que podemos entender seu
sofrimento. Jesus viu ainda que aquela
multidão era “como ovelhas sem pastor”.
A ovelha sem pastor está desprotegida,
desorientada e não é bem alimentada.
O discípulo de Cristo, como mordomo
cristão, tem o dever de se empenhar por
levar as multidões ao Bom Pastor. Essas
ovelhas caminham para o “matadouro”,
mas o discípulo e mordomo de Cristo
não pode dizer que não sabe disto, e se
mostrar fraco no esforço para livrá-las (Pv
24.11-12). O final de Mc 6.34 diz que Jesus
“passou a ensinar-lhes”. Se as multidões
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 181
| D I S C Í P U LO – U M M O R D O M O C R I S TÃ O
vivem sem Deus e estão caminhando
para a matança, é dever do discípulo de
Cristo ir a elas e ensiná-las, na esperança
de fazer “discípulos de todas as nações”
(Mt 28.20).
Aplicação a sua vida: a humanidade tem
passado por momentos de desesperança.
Jesus Cristo nos ensina que devemos levar
às pessoas a esperança que liberta. Que temos feito para transpor essa barreira e levar
o conhecimento da Palavra de Deus aos
cativos?
É CHAMADO À REFLEXÃO (Jo 6.5): “Então, Jesus, erguendo os olhos e vendo
que grande multidão vinha ter com Ele,
disse a Filipe: Onde compraremos pães
para lhes dar a comer?”.
O Evangelho de João mostra que Jesus
viu outra necessidade daquela multidão:
sua fome de pão. Em razão disto, Jesus
pergunta aos discípulos “onde” comprariam “pães para lhes dar de comer”. Esta
pergunta chama os discípulos à reflexão.
Há perguntas clássicas que precisamos
fazer diante de um projeto ou de uma dificuldade. Exemplo: o que, por que, para
que, como, onde, quando, de que forma
etc. Neste caso, temos uma multidão faminta (de pão material e espiritual) e desorientada em diversas áreas da vida. Então, Jesus pergunta: “onde compraremos
pão”? Como, assim, “compararemos”?
Uma mente mais arguta perceberia que
Jesus é o pão da vida, que Deus convida
todos para virem comer e beber de graça (Is 55.1). Deus quer que descubramos
“onde” está a verdadeira resposta para
nossos projetos e a real solução para os
desafios que se descortinam diante de
nós. Deus quer que usemos a razão, pois,
Ele nos deu essa capacidade.
182 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
Aplicação a sua vida: o mordomo cristão,
antes de agir, para e pensa em como encontrar a resposta de que necessita a cada
desafio da vida. Você tem experimentado
essa atitude?
É APROVADO NO TESTE DIVINO (Jo 6.67): “Mas dizia isto para o experimentar;
porque ele bem sabia o que estava para
fazer. Respondeu-lhe Filipe: Não lhes bastariam duzentos denários de pão, para
receber cada um o seu pedaço”.
João explica o motivo de Jesus chamar os discípulos à reflexão: para os “experimentar”. Os testes divinos fazem parte da pedagogia de Jesus. O mordomo
cristão passa por experiência de aprendizado e precisa descobrir o “como fazer”
de Deus. Ele tem seus projetos e sabe
como realizá-los, mas o mordomo cristão precisa se juntar a Ele e cumprir Sua
vontade. Muitas vezes, nossas sugestões
de “como fazer” são totalmente destoantes do propósito divino. Filipe, que era
“calculista” e “pragmático”, se apressa em
afirmar que “não lhes bastariam duzentos
denários de pão, para receber cada um o
seu pedaço”. Em Mc 6.36, vemos que os
discípulos foram mais radicais: “Despede-os, para que vão aos lugares e aldeias
circunvizinhas, e comprem pão para si;
porque não tem o que comer”. Porém, a
solução não estava no dinheiro e nem em
outro lugar, estava entre eles e em Jesus.
ASSUME RESPONSABILIDADES (Lc
9.13): “Ele, porém, lhes disse: Dai-lhes vós
mesmos de comer. Responderam eles:
Não temos mais que cinco pães e dois
peixes, salvo se nós mesmos formos comprar comida para todo este povo”.
Cada um dos evangelhos nos apresenta o problema e a respectiva solução
sob uma ótica. Lucas nos informa que
D I S C Í P U LO – U M M O R D O M O C R I S TÃ O |
Jesus responsabiliza os discípulos pela
alimentação do povo: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. A gente percebe que “bateu” meio que um desespero neles. Não
podemos transferir para os outros o que
Deus põe como responsabilidade nossa.
Tiago diz que isto é falta de fé (Tg 2.1417). Quando Deus coloca um desafio
diante de nós, Ele sabe qual é a solução,
porém há providências concretas a serem tomadas.
Aplicação a sua vida: você está sendo
usado por Deus para levar a mensagem do
evangelho como fruto da ação do Espírito
Santo em sua vida?
DISPÕE DOS SEUS RECURSOS (Mc 6.38):
“E ele lhes disse: Quantos pães tendes?
Ide ver! E, sabendo-o eles, responderam:
Cinco pães e dois peixes”.
A resposta dos discípulos no ponto
anterior é melhor compreendida quando
comparada com Mc 6.38. Eles deveriam
fazer um levantamento de quais eram os
recursos disponíveis. Se você está endividado ou tem um projeto, então, você
sabe “o que” e “onde” estão o seu problema. Agora, você precisa saber “como” encontrar a solução. Então, precisa fazer um
levantamento de quais são os recursos
disponíveis. O que você tem? Vá ver, recomenda Jesus. Relacione seus recursos
e traga-os a Jesus. Não os menospreze,
porque você é um “mordomo cristão” e
não um incrédulo irresponsável.
É PRÁTICO E OTMISTA (Jo 6.8-9): “Um de
seus discípulos, chamado André, irmão
de Simão Pedro, informou a Jesus: Está aí
um rapaz que tem cinco pães de cevada e
dois peixinhos; mas isto que é para tanta
gente? ”.
Na verdade, André foi prático, porém
pessimista. Mas, vamos nos firmar no fato
de que já identificamos o problema ou
definimos o projeto, fizemos o levantamento dos recursos e o trouxemos a Jesus. O projeto era alimentar cinco mil homens, sem contar as mulheres e crianças.
A dificuldade era que, humanamente, os
recursos eram insuficientes. Ficamos impressionados que os recursos não estavam com os discípulos, mas com um “rapaz”; outras versões dizem “um menino”.
Os pães eram de “cevada”, pão de pobre;
e os peixes eram “peixinhos”, portanto,
pequenas tilápias, possivelmente assadas. Humanamente falando, é realmente
frustrante se ter um projeto tão grande
com recursos tão parcos! É neste ponto que, ao colocarmos o que temos nas
mãos de Jesus, faz-se toda diferença!
Aplicação a sua vida: uma característica
do discípulo de Jesus é ser otimista. Você
tem aprendido a ver possibilidades quando
surgem as dificuldades?
É DADO AO PLANEJAMENTO E À ORGANIZAÇÃO (Mc 6.40): “E assentaram-se
repartidos de cem em cem, e de cinquenta em cinquenta”.
Esta informação de Marcos, de que a
multidão assentou-se em grupos de cinquenta e de cem pessoas nos impressiona. Imagine o que é sair contando milhares de pessoas famintas e agrupando-as
dessa forma. E mais um detalhe: deveriam estar assentadas. Certamente, você
já viu o que acontece na distribuição de
alimento entre grandes multidões famintas. Deus nos abençoa e multiplica o que
temos, mesmo pouco, mas precisamos
planejar e nos organizar para recebermos a bênção. Gosto da versão dos Salmos 50.23, que diz: “Aquele que oferece
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 183
| D I S C Í P U LO – U M M O R D O M O C R I S TÃ O
o sacrifício de louvor me glorificará; e
àquele que bem ordena o seu caminho
eu mostrarei a salvação de Deus”. Deus
mostra a porta de saída, o socorro para
aquele que “bem ordena o seu caminho”.
Se você quer encontrar “a salvação” divina para o momento em que se encontra,
haja como um mordomo cristão: planeje
e organize-se. Se fizer isto, Deus é poderoso para enviar socorrro sem que você
imagine de onde. Quem poderia imaginar que o “lanche” de um menino pudesse alimentar aqueles milhares de pessoas
que ouviam Jesus? Experimente! Funciona!
COLOCA TUDO NAS MÃOS DE DEUS
(Mt 14.17-18; Lc 9.16): “Mas eles responderam: Não temos aqui senão cinco pães
e dois peixes. Então, ele disse: Trazei-mos.
(...) E, tomando os cinco pães e os dois
peixes, erguendo os olhos para o céu, os
abençoou, partiu e deu aos discípulos
para que os distribuíssem entre o povo”.
Você seria capaz de dar graças por tão
pouco, para tanta necessidade? Pois é, Jesus o fez. Esta é outra lição, mas não nos
deteremos nela aqui. O fato é que trouxeram tudo o que tinham e entregaram nas
mãos de Jesus. Faça o mesmo em relação
aos projetos de vida e às dificuldades que
lhe sobrevêm. Ponha tudo nas mãos de
Jesus e permita que Ele abençoe.
RESPEITA O MEIO AMBIENTE (Jo 6.12):
“E, quando já estavam fartos, disse Jesus
aos seus discípulos: Recolhei os pedaços
que sobraram, para que nada se perca”.
Observe que, no verso doze, as “sobras” foram recolhidas após todos estarem fartos, e o motivo era para que “nada”
184 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
se perdesse. Jesus nos transmite mais algumas lições com essa recomendação.
Primeiro, Deus não aprova o desperdício.
Se todos estavam fartos, as sobras deveriam ser recolhidas. E se o motivo era
para que “nada” se perdesse, deduz-se
que o que foi recolhido teve um destino
apropriado, não sabemos qual, mas certamente bem aproveitado; afinal era para
que “nada” se perdesse. Segundo, sobras
não devem ser abandonadas (jogadas)
na natureza. Servir um banquete para
milhares de pessoas e preservar a natureza é uma lição que devemos trazer para o
nosso estilo de vida: a natureza não deve
ser contaminada com nossas “sobras”.
Aplicação a sua vida: o maior clamor da
modernidade é que destruímos o jardim
que Deus esculpiu para a humanidade.
O que você tem feito para preservar esse
jardim tão maravilhoso chamado planeta
terra?
CONCLUSÃO
Veja as pessoas com a visão compassiva de Deus. Não invente soluções para
Deus. Siga sua orientação. Avalie sua realidade (veja quanto ou o que você tem).
Traga o que tem para Jesus. Confie n’Ele.
Não argumente que é pouco. Apenas
creia! Organize-se! Faça planilha; controle os gastos. Lembre-se: a salvação divina
é somente para quem bem ordena o seu
caminho. Cumpra sua parte: administre
o que você tem, distribuindo-o criteriosamente. Não desperdice e nem agrida
a natureza, porque tudo é criação divina.
ANOTAÇÕES
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 185
ANOTAÇÕES
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
186 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ANOTAÇÕES
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 187
188 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 189
190 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
REFLEXÕES BÍBLIC AS II
| 191
192 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I

Documentos relacionados