editorial - EAPN Portugal

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editorial - EAPN Portugal
editorial
Em cima de uma pedra um relógio marca o tempo. O tempo de espera… para sermos atendidos num serviço público, ….para
receber um subsídio, … para sermos ajudados…
Em cima de uma pedra um relógio marca o tempo. Marca o tempo de um alerta. Da necessidade de pararmos e olharmos
para o lado e nos interrogarmos a quem se dirige a nossa actuação. E de que modo ouvimos e implicamos os nossos
beneficiários. Porque a lógica devia ser a de que trabalhamos com eles e não para eles. Não ouvi-los acaba por nos ensurdecer
e enrijecer as nossas propostas de soluções.
Em cima de uma pedra um relógio marca o tempo… um tempo circular: um ponto de chegada dos debates e discussões
que foram dinamizados pelo Núcleo Regional do Centro e que se partilharam num Encontro de Cidadãos/ãs em Risco Social
e agora neste boletim; mas também um novo ponto de partida, no sentido de assegurar às pessoas mecanismos que garantam
a sua participação nos processos de definição, planeamento, execução e supervisão das políticas que lhes dizem directa ou
indirectamente respeito.
Em cima de uma pedra um relógio marca o tempo. Marca o tempo da coragem dos participantes ao permitirem que, através
da sua experiência de vida, possamos reflectir sobre os caminhos a trilhar para debelar os fenómenos da pobreza e da
exclusão social.
Em cima de uma pedra um relógio marca o tempo. O tempo da audácia. De Alice Oliveira, Anabela Ramos, Aurora Coelho,
Bruno Cristóvão, Elvira Castelo, Fernando Ferreira, Irene Tomé, Isaurinda Rodrigues, João Almeida, João Paulo Flores, João
Pina, José Maia, Leila Ferreira, Luís Dias, Maria Cleonice Carneiro, Maria da Conceição Fernandes, Maria da Conceição
Fernandes, Maria de Lurdes Paiva, Maria Júlia Azevedo, Rosa Machado, Vera Janardo1.
Bruno Cristovão
Rui Ivo Lopes
1. participantes no Encontro Regional de Cidadãos/ãs em Risco Social e os principais responsáveis
pelos conteúdos nele abordados.
Ficha Técnica
Propriedade
Coordenação editorial
Rede Europeia Anti-Pobreza / Portugal
Rua de Costa Cabral, 2368 - 4200-218 Porto
Tel. 225 420 800 - Fax 225 403 250
E-mail: [email protected] • www.reapn.org
Núcleo Regional do Centro
(Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria, Santarém, Viseu)
Gabinete de Informação
Gabinete de Desenvolvimento
Design, Paginação e Impressão
A Diferença, Lda - Tel.: 255 911 042
Periodicidade
Quadrimestral
Tiragem
1.500 exemplares
Depósito Legal
247626/06
Distribuição
Gratuita
1
em destaque
O Photovoice: uma metodologia para a inclusão!
As tecnologias de informação e comunicação estão, cada vez
mais, presentes em várias áreas da nossa vida, cumprindo nela
as mais diversas funções. Com um crescente poder de
determinação sobre o nosso quotidiano, o acelerado avanço
do mundo tecnológico começa também a colocar desafios à
intervenção social que poderá utilizar os novos recursos
tecnológicos para promover o poder participativo e o exercício
de cidadania, nomeadamente nas populações mais
desfavorecidas.
A metodologia que aqui apresentamos, o Photovoice, apropriase, em particular, da fotografia como um instrumento para
promover (empower) competências de cidadania nas populações
mais vulneráveis.
A metodologia Photovoice
Considerada uma metodologia de investigação-acção
participativa, o Photovoice (PhV) serve-se da fotografia e da voz
dos participantes para conhecer as suas experiências e
vivências, as suas necessidades, dificuldades e desejos de
mudança. Através de uma câmara fotográfica, os indivíduos
recolhem imagens da sua realidade diária e reflectem sobre
ela para, posteriormente, dar a conhecê-la a agentes influentes
da sua comunidade. Originalmente criado por Carolina Wang
e Mary Ann Burris, o PhV surgiu na década de 90, a partir de
uma sequência de trabalhos desenvolvidos na área da promoção
e educação para a saúde. Inspirado em três grandes pilares
teóricos (i.e., na teoria feminista, na noção de “educação para
a consciência crítica”, de Paulo Freire e na tradição do
documentário fotográfico), o PhV procura concretizar três
grandes objectivos:
1) Capacitar os indivíduos para identificar e reflectir sobre
aspectos da sua própria identidade e experiência pessoal e
comunitária (potencialidades e problemas da sua comunidade);
2) Promover o diálogo crítico e o conhecimento sobre
aspectos importantes da sua comunidade através de grupos
de discussão acerca das fotografias;
3) Projectar a visão acerca das suas vidas a outros, especialmente
poderosos agentes políticos e financeiros (audiência).
Enquanto metodologia para trabalhar com populações muito
vulneráveis, o Photovoice enquadra-se na Estratégia de Lisboa
e nas últimas rectificações do tratado da União Europeia, que
alertam para a necessidade de promover o exercício de
cidadania no espaço europeu, de forma a aumentar e garantir
os direitos económicos e sociais de todos os cidadãos. Se a
cidadania implica fazer opções e tomar decisões conscientes,
agir individualmente e tomar parte em processos colectivos,
então as pessoas têm de desenvolver competências para agir
com base na informação e para poderem comunicar acerca
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dos seus problemas, necessidades e desejos. O PhV parece
constituir um instrumento muito apropriado a esses objectivos.
Quando é posto em acção, o PhV desenvolve-se ao longo de
3 fases que passamos a resumir:
1ª Fase: Preparação
Nesta fase define-se o tema a tratar e os seus objectivos da
intervenção. Aqui exercita-se não só a capacidade dos
profissionais para assumirem o papel de facilitadores da
mudança na aplicação do método, como antecipa-se o
recrutamento da “audiência” (agentes políticos, outros
profissionais) para a divulgação dos resultados.
2ª Fase: Acção
É na fase de acção que se desenrolam as várias sessões
grupais, que agrupam participantes e facilitadores numa arena
de discussão comum. Os grupos nunca devem ser extensos
(recomenda-se entre 8 a 12 participantes) para que todos
possam ter oportunidade de expressar a sua voz.
Essencialmente, pretende-se que os participantes reflictam
sobre temas importantes da sua comunidade através da
captação de imagens que respondem a perguntas que vão
sendo colocadas ao longo das sessões. Em cada sessão, os
participantes procedem sempre à apresentação individual das
suas fotos, explicando como estão relacionadas com o tema
da sessão. Segue-se a análise em profundidade das fotografias
que procura alargar a discussão de um nível pessoal para um
nível social.
3ª Fase: Finalização
Nesta fase, procede-se à documentação das histórias e
narrativas que emergiram nas sessões (a componente voz)
e prepara-se a disseminação dos resultados junto da “audiência”.
O PhV tem vindo a revelar um forte impacto na intervenção
com populações muito desfavorecidas/marginalizadas,
nomeadamente sem-abrigo e/ou famílias de etnia cigana,
ajudando a desenvolver uma maior consciência crítica, a
introduzir visões alternativas sobre os problemas da
comunidade, a desenvolver e mobilizar a rede social…etc.
Trata-se de um método com inúmeras vantagens com destaque
para a sua elevada flexibilidade, podendo ser adaptado a
diferentes objectivos, grupos e comunidades e para o seu
potencial de inclusão, já que permite incluir indivíduos com
dificuldades de expressão verbal. Para além disso, é um método
inovador que utiliza as novas tecnologias (fotografia e outro
material tecnológico) para diminuir a info-exclusão.
Concomitantemente, promove o empowerment e o
envolvimento (engagement) dos participantes no planeamento
das políticas, retirando-os de um papel de mero receptor,
promovendo a criação de um verdadeiro contexto de colaboração
entre profissionais e as populações. Este registo colaborativo
é importante pois, frequentemente, as populações mais
vulneráveis apresentam um conjunto significativo de habilidades
inexploradas, recursos e conhecimentos que precisam ser
reconhecidos e atribuídos para que se tornem úteis nas suas
vidas (Madsen, 1999 cit in Rodrigues et al, 2008).
Apesar de tudo, o PhV não é um método adequado para
indivíduos portadores de alguns tipos de deficiência (p.e.
invisuais) ou com problemas individuais severos, exigindo
também, como qualquer modelo de intervenção, a formação
adequada dos seus recursos humanos. O PhV pode ainda
encontrar algumas barreiras logísticas à sua implementação,
nomeadamente ao nível do material requerido e custos
associados (e.g. câmaras fotográficas, etc.).
Referências
Rodrigues, S., Carvalhal, S. & Alarcão, M. (2008). Roma people: an experiment
in the promotion of citizenship (Chapter 6), in L. Sousa (Ed.), Strengthening
Vulnerable Families. New York: Nova Science Publishers (no prelo).
Wang, C. & Burris, M. (1994). Empowerment through photo novella: portraits
of participation. Health Education Quarterly, 21, 171-186.
Wang, C. & Burris, M. (1997). Photovoice: concept, methodology, and use
for participatory needs assessment, Health, Education and Behaviour, 24 (3),
369-387.
Wang, C.; Yi, W.; Tao Z. & Carovano, K. (1998). Photovoice as a participatory
health promotion strategy. Health Promotion International, Vol. 13, 75-86.
Mais informações em: http://www.photovoice.com
Nas páginas que se seguem, poderemos ver a aplicabilidade
desta metodologia numa primeira experiência levada a cabo
pelos distritos que compõem o Núcleo Regional do Centro
da REAPN, no âmbito do Dia Internacional para a Erradicação
da Pobreza, através da realização do II Encontro Regional de
Cidadãos/ãs em Risco Social, na Escola Profissional de
Torredeita, em Viseu.
Sofia Rodrigues
Psicóloga e investigadora na Universidade de Aveiro
A metodologia Photovoice no Núcleo Regional do Centro
A Rede Europeia Anti-Pobreza / Portugal procura assinalar
com bastante veemência o Dia Internacional para a Erradicação
da Pobreza (17 de Outubro) como alerta para os problemas
da pobreza e da exclusão social e para a necessidade de agir
sobre eles. Procura igualmente privilegiar, nas actividades que
desenvolve, as pessoas que experienciam de perto esses
fenómenos de forma a integrá-los no desenho das soluções.
É disso exemplo o projecto Activar a Participação que, em
2002, organizou 6 encontros regionais e depois um nacional
com beneficiários do Rendimento Social de Inserção. Outro
exemplo são os Encontros Regionais com Pessoas em Situação
da Pobreza que se organizam desde 2007.
Esta abordagem coloca ênfase crescente na participação das
pessoas e seus representantes, na formulação e implementação
dos programas e políticas que os afectam e que deve ser alvo
de um trabalho continuado. Nesse sentido, os núcleos que
compõem o Núcleo Regional do Centro têm vindo a
implementar um processo de auscultação prolongada no
tempo e que no Encontro Regional se concretizou através
do recurso à metodologia photovoice, que combina uma
abordagem centrada na comunidade com a fotografia e a voz,
numa tentativa de dar expressão visual à consciência social.
2. Facilitar a identificação de competências pessoais e de uma
causa comunitária comum (capacitar/empowerment);
3. Promover o diálogo crítico e o conhecimento sobre
aspectos importantes da sua comunidade;
4. Projectar a visão acerca das suas vidas a outros, especialmente
a decisores (membros influentes nas comunidades, políticos, …);
A implementação desta etapa concretizou-se em 8 momentos:
1) Escolha da temática a desenvolver nos 6 Grupos (saúde,
educação, emprego e formação e protecção social), tendose optado por duas questões. Para os aspectos positivos:
da ajuda que recebe e/ou recebeu o que é que foi mais útil
para si? Do que é que gostou mais? Para os aspectos
negativos: da ajuda que recebeu o que é foi menos útil?
O que é que correu pior?
2) Reunião com técnicos(as) das instituições para indicação
de 4 pessoas que pudessem participar;
3)1ª sessão com os participantes para:
- explicação da metodologia;
- assinatura do termo de consentimento;
Objectivos desta metodologia
- distribuição de equipamento (máquinas fotográficas,…);
1.Encorajar os indivíduos a identificar e a reflectir sobre
aspectos da sua própria identidade e experiência pessoal e
comunitária;
- exercício prático com o equipamento;
- entrega da 1ª questão.
3
4) Num espaço curto de tempo (2 a 5 dias) os participantes
responderam, com recurso à fotografia e ao seu
testemunho, à primeira questão;
5) Nova reunião com os participantes em que cada um
apresentou as suas fotos e as explicou. No final procedeuse à apresentação da 2ª questão;
6) Momento similar ao 4º mas desta vez os participantes
responderam à 2ª questão;
Por questões práticas os temas a abordar foram divididos
por distritos. Assim, os participantes:
1) de Castelo Branco e Leiria responderam às questões
focando as áreas da educação, formação e emprego;
2) da Guarda e Santarém responderam às questões focando
a área da saúde;
3) de Viseu e Coimbra responderam às questões focando a
área da protecção social.
7) Reunião com participantes para apresentação das fotos
e preparação do momento seguinte;
8) Devolução do trabalho à comunidade com a realização
do Encontro Regional de Cidadãos/ãs em Situação de
Pobreza.
Educação, formação e emprego
Da ajuda que recebeu ou recebe, o que é que foi mais útil para si / o que é que gostou mais?
Castelo Branco
Anabela Ramos
34 anos, empregada na SCM do Fundão
“O conseguir emprego, acabar de construir a minha casa. O
meu percurso de vida foi lutar por um sonho “ter uma coisa
nossa.” Quando a fabrica fechou em 2003 estava no início
das obras, mas fui à procura, não estive parada, não desisti
e lutei pelo meu próprio emprego.”
“Hoje estou no quadro da Santa Casa da Misericórdia como
Auxiliar de Serviços Gerais, e tenho um trabalho, para poder
sustentar a minha família e que me dá uma certa estabilidade
financeira.”
Luís Dias
56 anos, Programa Ocupacional na SCM Fundão
“Este foi o emprego que mais garantias me trouxe até hoje,
vim pelo Centro de Emprego por um POC. Desde Fevereiro
de 2007, sou auxiliar de serviços gerais, tenho contracto
renovado até Dezembro de 2008. Penso que tenho a
possibilidade de ficar até Abril 2009, sem certezas. O meu
objectivo principal, e vou fazer de tudo para o alcançar, é
prestar o meu melhor a nível de utentes, colegas e técnicas.”
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João Flores
43 anos, desempregado
“Este foi o emprego no qual mais aprendi, e me profissionalizei
na montagem de ar condicionado e refrigeração. Continuo
à procura de trabalho. Tenho sido persistente nas minhas idas
ao Centro de Emprego, para também reforçar a minha
presença perante os técnicos e o meu interesse pela procura,
mas gostava de voltar a trabalhar nesta ou noutra empresa
do mesmo ramo.”
Leiria
Bruno Cristóvão
28 anos, desempregado
“Pela oportunidade de aprender coisas novas, por uma
formação, porque acho que é importante ter uma formação
hoje em dia e ter uma nova experiência, novos conhecimentos.
É a abertura de uma porta para o futuro! A informática hoje
em dia (…) é útil no dia-a-dia e vai ser mais útil no futuro,
de certeza. A informática está cada vez mais entre nós (…)
a formação é cada vez importante, porque se torna mais fácil
arranjar emprego.”
Mª Júlia Azevedo
48 anos, frequenta o curso de formação de Jardinagem e Espaços Verde
“Eu vejo alguém que está desempregada há muito tempo,
que é minha amiga, e foi nela que eu tomei coragem e foram
as palavras que ela me deu que me fez ir para a formação,
para estudar. Se não fosse ela não estaria onde estou, no
curso de jardinagem e espaços verdes. Ela deu-me muita
força.”
Isaurinda Rodrigues
32 anos, desempregada
“Vejo aqui três jovens... são meus filhos. Estou desempregada,
e para eles que eu vivo. Queria que eles tivessem uma vida
melhor e que um dia fossem alguém na vida e que eu
conseguisse ajudá-los a arranjarem um trabalho (…) eles é
que me dão a força e o apoio para seguir em frente.”
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Da ajuda que recebeu ou recebe, o que é que foi menos útil para si / o que é que correu pior?
Castelo Branco
Luís Dias
56 anos, POC na SCM Fundão
“A degradação da minha casa, é muito grande, devido à minha
idade (56 anos) e ao meu problema visual. Tenho vindo a ter
sérias dificuldades em relação ao emprego... fui imigrante em
França 4 anos depois, no 25 Abril, regressei com negócio
próprio, estive na Suiça, casei e tenho dois filhos.
Neste momento sou divorciado, tive sucessivos empregos,
mas o problema visual tem vindo a agravar-se. Continuo sem
estabilidade profissional.”
Anabela Ramos
34 anos, empregada na SCM Fundão
“Foi nesta fábrica que iniciei o meu percurso de actividade
profissional aos 17 anos. Encerrou em 2003.
Estive noutra fábrica no mesmo ano de confecção um ano
até 2004, em seguida fui seleccionada para um curso de Arte
de trabalhar o Esparto, com o ordenado mínimo e sub de
transporte e refeições (2005). Através do Centro de Emprego
fui inserida numa Empresa de Inserção “Cozinha para si”,
como ajudante de cozinha. O fecho desta fábrica levou muitas
famílias do concelho do Fundão para o desemprego. Eu nunca
desisti de procurar emprego.”
João Flores
43 anos, desempregado
“Devido à crise que temos neste concelho... os construtores
civis estão a ir para Angola e Países do Leste à procura de
trabalho, levando os melhores trabalhadores com eles. Não
existe oferta de trabalho nesta área. Estive inserido num
curso de electricidade de 1200 horas pelo Centro de Emprego.
Depois fui como um POC para a Escola da Gardunha como
auxiliar de educação e Limpeza. Por fim, estive 2 anos e meio,
até Agosto de 2008, numa Empresa de Inserção
“FundiConstroi”como servente. Neste momento continuo
à procura de trabalho.”
Leiria
Bruno Cristovão
28 anos, desempregado
“Representa o tempo que estamos à espera para sermos
atendidos no Centro de Emprego; o tempo que estamos à
espera para nos oferecerem um emprego; o tempo que
estamos à espera para recebermos qualquer subsídio (…)
1 mês, 2 meses, 3 meses. Sem ordenado é difícil viver, comprar
qualquer coisa, pagar a renda de casa (…) Sinceramente
nunca arranjei um trabalho sem ter que ir à procura (…)
O Centro de Emprego ajuda, mas poderia fazer mais.”
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Isaurinda Rodrigues
32 anos, desempregada
“Esta fotografia representa uma fábrica que há 3 anos atrás
empregava centenas e centenas de pessoas, e agora está à
beira da falência e já tem ordenados em atraso. Foi a fábrica
onde eu trabalhei (…) [agora] ando na apanha da fruta. O
Centro de Emprego uma vez tentou arranjar-me [um emprego]
mas não era compatível, tinha a minha filha muito pequenina
e queriam-me mandar ou para a Marinha Grande ou para
Leiria e isso para mim não dava, porque não tinha transportes
e isso era muito complicado.”
Mª Júlia Azevedo
48 anos, frequenta o curso de formação de jardinagem e espaços verdes
“Vejo uma amiga que passa toda a vida a passar ferro, (…)
ela é engomadeira, e (…) está sempre à espera para receber,
não vê um tostão, trabalha de manhã à noite e não vê nada,
é triste. Tem que sustentar os filhos, a casa. O marido é doente
(…) e eu não gosto disso.”
Propostas de melhoria do painel educação, formação e emprego
Mais investimento no concelho do Fundão, a nível de empresas (criar incentivos);
Maior sensibilidade por parte dos empregadores face à idade da pessoa, pois “mais velho significa maturidade;”
As mulheres face aos empregos nas fábricas, deveriam ser mais apoiadas, sobretudo no acompanhamento dos filhos
menores;
Acções de formação para os empresários face à aceitação da mulher casada e com filhos;
Formar os adultos e inseri-los em empresas: “Primeiro prepará-los e depois integrá-los;”
Criação de mais empregos;
Reabertura de fábricas e empresas;
Maior apoio às empresas para evitar falências e despedimentos: “Que tivessem mais força de vontade para nos
ajudarem.”
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Saúde
Da ajuda que recebeu ou recebe, o que é que foi mais útil para si / o que é que gostou mais?
Guarda
Alice Oliveira
66 anos, reformada
“Fui operada em Lisboa às vistas, só que a operação correu mal
(…) andei 14 anos sem ver quase nada e quando ia ao Hospital da
Guarda diziam-me que as vistas já não tinham compostura (…). Foi
então que fui a uma óptica [na Guarda] e o Dr. disse que me
operava. Eu disse que não tinha dinheiro e ele disse que eu pagava
quando pudesse (…).” “Fui operada então em Janeiro [há 8 anos]”
“Eu disse-lhe que queria pagar a operação (…) todos os meses lá
ia entregar o dinheiro (…) no Natal ele não o quis aceitar (…)
depois do Natal fui lá entregar outra vez o dinheiro.” “Graças a
Deus hoje vejo.”
Maria de Lurdes Pais
37 anos, empregada, beneficiária RSI
“A melhor coisa que me aconteceu no que respeita à questão
da saúde foram os meus filhos, e tenho 4!”
“Não me posso queixar, para mim os serviços têm sido 5
estrelas!”
Irene Tomé
43 anos, desempregada, beneficiária RSI
“Num problema grave de saúde que tive fui muito bem recebida,
muito bem acompanhada por profissionais dedicados e atenciosos.”
“(…) As pessoas estão no sítio certo e gostam daquilo que
fazem.”
“Eu refugiava-me um bocado no campo (…) daquilo que se
estava a passar (…) gosto mais do campo que da cidade.”
“Eu vinha dos tratamentos e ia para a aldeia (…) era o meu
refúgio, ia para o meio da terra e sentia-me bem.”
Santarém
Conceição Cardador
37 anos, beneficiária RSI
“Há três anos iniciei uma nova etapa da minha vida através
de um tratamento na Unidade de Consultas de Alcoologia,
no Hospital de Santarém...”
“Toda a equipa do Serviço se empenhou em me ajudar...tive
o apoio de todos...”
(Esta Unidade hoje em dia encontra-se encerrada...)”
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Elvira Castelo
63 anos, beneficiária RSI
“Além da prestação do RSI, foi possível usufruir de um Apoio
Complementar para a compra de uns óculos, fundamentais
para a minha qualidade de vida...”
Rosa Machado
41 anos, beneficiária RSI
“Local que eu visito praticamente todos os dias, e, no qual
tenho tido todo o apoio, tanto a nível físico como psicológico...”
“Reúne todas as condições desejáveis num Centro de Saúde,
tanto exterior como interiormente....”
“ Tem todas as condições de acessibilidade....”
Vera Janardo
32 anos, utente CAT de Santarém
“Foi na minha nova casa que encontrei o meu refúgio....”
“Os trabalhadores do CAT também são como família...”
“...agora tenho estado receptiva à ajuda e ao apoio que me
têm dado....” “O Serviço persistiu muito para me poder
ajudar...”
Da ajuda que recebeu ou recebe, o que é que foi menos útil para si / o que é que correu pior?
Guarda
Maria de Lurdes Pais
37 anos, empregada, beneficiária RSI
“Esta fotografia mostra bem como os médicos também se
enganam (…) a minha irmã sentiu-se mal, tinha falta de ar e
foi ao Hospital, onde foi-lhe diagnosticado uma gripe e deramlhe medicação para a gripe, (…) mas afinal tinha um pulmão
deslocado e teve de ir para Coimbra para solucionar o
problema.” “Uma falha médica (…) os médicos devem estar
mais alerta (…) ouvir mais o paciente.”
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Alice Oliveira
66 anos, reformada
“Dormi aqui muitas vezes com as minhas filhas e a minha
mãe porque não tínhamos casa para dormir nem para comer.”
“Íamos pedir, mas o Sr. Padre dizia que as pessoas que estavam
juntas não tínhamos direito a ser ajudadas e nem nos
baptizavam os filhos, naquela altura não ligavam às pessoas
e nos hospitais era quase a mesma coisa.”
Irene Tomé
43 anos, desempregada, beneficiária RSI
“Entrei na sala de partos e já ia com indicação do médico que
iria ser cesariana (…), porque a minha filha já estava em sofrimento,
e elas [as enfermeiras] implicaram com a minha camisa de dormir
porque a manga era comprida [e não conseguiam puxar a manga
para cima para introduzir o cateter].” “Eu disse-lhe que ela tinha
uma tesoura no bolso para cortar a manga, porque a minha filha
era mais importante que uma camisa.”
“Foram pessoas que me marcaram, porque eu estava muito
nervosa e acho que foi uma situação que poderia ter sido
evitada.”
Santarém
Conceição Cardador
37 anos, beneficiária RSI
“Precisava de uma casa maior...para poder ter os meus filhos
comigo...”
“A minha casa parece uma casinha de bonecas...”
“Tenho cinco filhos, a mais velha está com a avó... os mais
pequenos estão num colégio em Lisboa...”
“...ainda na sexta feira passada fui vê-los...”
Rosa Machado
41 anos, beneficiária RSI
“Este degrau simboliza a dificuldade de todas as pessoas com
deficiência em se movimentarem....”
“Este degrau é da minha casa....”
“Muitos edifícios públicos apenas têm acesso por escada....”
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Elvira Castelo
63 anos, beneficiária RSI
“...isto deve-se aos maus tratos que tive toda a minha vida...”
“Por vezes não consigo sair da cama, tenho que ser assistida
em casa....”
“Já tive uma depressão muito grande….”
Vera Janardo
32 anos, beneficiária RSI
“Este problema fecha muitas portas....”
“...dificuldades em conseguir trabalho...devido ao passado....”
“Até eu própria assumo a carga negativa do passado, depois,
até eu própria não consigo....”
Propostas de melhoria do painel da saúde
Aumentar o número de enfermeiros e auxiliares nos serviços de saúde para poderem prestar um melhor apoio aos utentes;
Integrar psicólogos para acompanhar os utentes enquanto estão internados nos serviços de saúde;
Ter uma equipa de profissionais (enfermeiros, psicólogos, terapeutas ocupacionais, …) que façam a ponte entre os serviços
de saúde e a família que ficará com o utente quando este tiver alta / acompanhamento das famílias cuidadoras;
Profissionais de Saúde (médicos, enfermeiros, auxiliares, …): têm mais formação actualmente, no entanto é necessário serem
mais atenciosos e sensíveis para com os utentes; saber ouvir os utentes; ter uma maior preparação e também apoio para
lidar com casos de saúde mais complicados;
Clarificação do enquadramento de doenças associadas à problemática da adição;
Melhorar a articulação inter-serviços;
Aumentar a capacidade de resposta ao nível das ajudas técnicas, nomeadamente ao nível dos cidadãos portadores de deficiência;
Garantir o cumprimento da legislação existente ao nível das acessibilidades;
Reforçar a política de mainstreaming nos diversos sectores, uma vez que muitas das situações de pobreza e exclusão social
são transversais;
Desenvolver acções de promoção da saúde e de prevenção da doença;
Prevenir a toxicodependência em meio escolar, com acções de sensibilização e informação.
Protecção Social
Da ajuda que recebeu ou recebe, o que é que foi mais útil para si / o que é que gostou mais?
Coimbra
José Maia
55 anos, utente do Centro Comunitário da Cruz Vermelha Portuguesa Pólo da Figueira da Foz
“A ajuda do Centro Comunitário da Cruz Vermelha permiteme acesso a alimentação e roupa”.
“Com o RSI posso ajudar a criar a minha filha mais pequena,
frequentando também a formação para a inclusão.”
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Maria da Conceição Fernandes
36 anos, formação para a Inclusão, na FigueiraViva
“O curso é muito motivador, gosto do grupo e do seu
relacionamento…sinto que já me fez bem.”
“Com o RSI pude pelo menos pagar as despesas básicas da
minha casa!”
Leila Ferreira
42 anos, formação para a Inclusão na FigueiraViva
“A palmeira simboliza… a esperança de um viver melhor….”
“Aqui na formação, eu encontrei o apoio…, a solidariedade
e os amigos….”
“O grupo é uma forma de apoio nos momentos de mais
solidão….”
Aurora Coelho
50 anos, utente do Centro Comunitário da Cruz Vermelha Portuguesa- Pólo
da Figueira da Foz
“O melhor da vida são os afectos!”
“O RSI permite-me pagar a casa onde habito desde 98.”
“O ideal é termos a nossa casa com os filhos, não há nada
melhor que isso!”
Viseu
Fernando Ferreira
76 anos, utente do Apoio Domiciliário na Fundação Joaquim dos Santos
“Para mim é um símbolo, porque foi tirada em minha casa,
onde as senhoras põem os termos.”
“Vêm diariamente do lar, vão lá levar-me a comida todos os
dias.”
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Maria Cleonice Carneiro
76 anos, Centro de Dia da Associação de Solidariedade Social de Abraveses
“… Esta foto significa muito para mim porque são os meus
amigos, de quem gosto muito, estou com eles todos os dias!”
João Pina
32 anos, utente da APPACDM de Viseu
“… a cadeira para onde eu costumo ir na residência onde
estou a viver, estou lá sempre…”
João Almeida
32 anos, utente da APPACDM, ex- formando de uma empresa de inserção
“… o material que eu utilizava quando andava nas limpezas, o
cortador de relva com que eu aparava as ervas, o sacho com que
eu sachava as plantas…”
“ … as ferramentas que eu usava, com que aprendi a trabalhar…”
Da ajuda que recebeu ou recebe, o que é que foi menos útil para si / o que é que correu pior?
Coimbra
José Maia
55 anos, utente do Centro Comunitário da Cruz Vermelha Portuguesa - Pólo
da Figueira da Foz
“Pessoas que precisam realmente, não entram na habitação
social.”
“A reforma da minha mãe fica toda para a instituição, sobram
6€ para medicamentos.”
“A segurança social devia ter uma maior fiscalização da gestão
feita pelas instituições.”
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Aurora Coelho
50 anos, utente do Centro Comunitário da Cruz Vermelha Portuguesa- Pólo
da Figueira da Foz
“Lamento a atribuição incorrecta da habitação social a
determinadas pessoas e quem é verdadeiramente honesto nem
sempre é valorizado…”
“Nunca tive direito a pensão de viuvez, bem como o abono de
família só veio mais tarde, pois desconhecia a existência do
abono para o regime não contributivo…”
Maria da Conceição Fernandes
36 anos, Formação para a Inclusão na FigueiraViva
“A miséria… a pobreza… a necessidade de uma casa nova…”
“O meu maior sonho é conseguir ter uma casa com mais
condições, maior e poder ter os meus filhos comigo…”
Leila Ferreira
42 anos, formação para a Inclusão na FigueiraViva
“STOP!”
“À falta de humanidade na liderança das relações;”
“À violência para com os imigrantes;”
“À falta de condições dadas aos imigrantes que vêm para
Portugal;”
“Nós, os imigrantes, também contribuímos para o crescimento
do País.”
Viseu
Fernando Ferreira
76 anos, utente do Apoio Domiciliário Fundação Joaquim dos Santos
“…o pobre devia ter mais regalias, o nosso governo devia
olhar pelos pobres.”
“Eu gasto muito em medicação, em moeda antiga às vezes
são 40 contos, que é quase o que eu recebo por mês!”
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Maria Cleonice Carneiro
76 anos, utente do Centro de Dia da Associação de Solidariedade Social de
Abraveses
“Este é o meu quarto, tem humidade nas paredes, mas há
quem esteja bem pior…”
“A nossa casa é a casa dos nossos filhos, mas a casa dos
nossos filhos não é a nossa casa.”
João Almeida
32 anos, utente da APPACDM, ex- formando numa empresa de inserção
“Na Junta Médica foi-me negada a pensão que iria receber!”
“Não tenho dinheiro nenhum, nem para tomar um café, olho
para os outros e sinto-me triste…”
“Se tivesse a pensão estava mais tranquilo, poderia ter coisas
que não tenho…”
João Pina
32 anos, utente da APPACDM
“A minha mãe ajudou-me e depois tive que ir para um lar.
Mãe é sempre mãe…”
Propostas de melhoria do painel da protecção social
Necessidade de clarificar a informação prestada por parte das instituições de protecção social (nomeadamente das técnicas
de acompanhamento do RSI);
Maior apoio à permanência dos imigrantes no país e à nação portuguesa que está no estrangeiro;
Maior disponibilidade de informação por parte das estruturas ligadas à habitação, sobre as diversas medidas disponíveis para
a recuperação de casas degradadas, ou atribuição de habitação social;
Reformas mais equitativas para os diversos sectores da sociedade;
Melhores acessos aos bens primários, como os alimentos e os medicamentos;
Uma habitação social mais eficaz com vista ao bem estar dos cidadãos;
Maior fiscalização da gestão feita pelas IPSS’s, por parte da Segurança Social, para averiguar como são feitas as contas, pois
esta existe para ajudar os mais necessitados.
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Agradecimentos
Participantes
Alice Oliveira
Anabela Ramos
Ana Paula Sousa
Bruno Cristóvão
Cátia Alves
Elisabete Reis
Elvira Castelo
Fernando Ferreira
Irene Tomé
Isaurinda Rodrigues
João Almeida
João Paulo Flores
João Pina
José Silva Maia
Leila Aparecida Ferreira
Luís Dias
Margarete Rebelo
Maria Aurora Coelho
Maria Cardador
Maria Cleonice Carneiro
Maria da Conceição Fernandes
Maria Júlia Azevedo
Maria de Lurdes Paiva
Rosa Machado
Tânia Baptista
Vera Janardo
Facilitadores
Ângela Simões
Carla Plácido
Cláudia Cardoso
Elisabete Reis
Lara Ferreira
Pedro Jorge
Renato Santos
Sandra Martins
Sónia Carvalho
Susana Simões
Vania Maia
Vânia Duarte
Cátia Azevedo
José Machado
Patrícia Grilo
Paula Montez
Ricardina Reis
Susana Lima
Tânia Baptista
Instituições
Academia Cultural e Social da Maceira (Leiria)
APPACDM (Viseu)
Associação para o Desenvolvimento Social e Comunitário Santarém
Cruz Vermelha Portuguesa - Pólo da Figueira da Foz
(Coimbra)
Cruz Vermelha Portuguesa - Delegação da Guarda
Figueira Viva (Coimbra)
Associação de Solidariedade Académico de Leiria (Leiria)
Fundação Joaquim dos Santos (Viseu)
Associação de Solidariedade Social de Abraveses (Viseu)
Núcleo Desportivo e Social da Guarda
Centro Social Interparoquial de Santarém
Provilei (Leiria)
CERCIG (Guarda) - Núcleo RSI
Santa Casa da Misericórdia do Fundão
Cooperativa Vários (Viseu)
Santa Casa da Misericórdia de Santarém
breves
Saúde
Direcção Geral de Saúde: www.dgs.pt
Alto Comissariado da Saúde: www.acs.min-saude.pt
Missão para os Cuidados Continuados de Saúde: www.rncci.min-saude.pt/RNCCI
Protecção Social
Direcção-Geral de Reinserção Social: www.reinsercaosocial.mj.pt
Site da Segurança Social: www.seg-social.pt - Programa Conforto Habitacional para Idosos / Rendimento Social de Inserção / Programa
Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados /
Documento de Estratégia Nacional para a Protecção Social e Inclusão Social 2008-2010:
http://ec.europa.eu.int/employment_social/spsi/strategy-reports-en.htm
Emprego e Formação
Portal Mais Emprego: www.maisemprego.pt
Portal Vidas.com - Certificação para Todos: www.vidas.com.pt
Associação Nacional de Oficinas de Projecto: www.anop.eu
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