- Abrapress
Transcrição
- Abrapress
FCCE Federação das Câmaras de Comércio Exterior Federación de las Cámaras de Comercio Exterior 2006 22 de maio Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos BRASIL PERU Federação das Câmaras de Comércio Exterior Federación de las Cámaras de Comercio Exterior La FCCE es la más antigua Asociación de Clase dedicada exclusivamente a las actividades de Comercio Exterior. Fundada en el ano 1950, por el empresario João Daudt de Oliveira (se debe a él la fundación de la Confederación Nacional de Comercio – CNC, 5 años antes), la FCCE opera, ininterrumpidamente, desde hace más de 50 años, incentivando y apoyando el trabajo de las Cámaras Bilaterales de Comercio, Consulados Extranjeros, Consejos Empresariales y Comisiones Mixtas a nivel federal. La FCCE, por fuerza de su Estatuto, tiene ámbito nacional y posee Vicepresidentes Regionales en diversos Estados de la Federación, operando también en el plano internacional, a través de “Convenios de Cooperación” firmados con diversos organismos de la más alta credibilidad y tradición, a ejemplo de la International Chamber of Commerce (Cámara de Comercio Internacional – CCI), fundada en 1919, con sede en París, y que posee más de 80 Comités Nacionales, en los 5 continentes, además de operar la más importante “Corte Internacional de Arbitraje” del mundo, fundada en el año 1923. La FEDERACIÓN DE LAS CÁMARAS DE COMERCIO EXTERIOR tiene su sede en la Avenida General Justo nº 307, Río de Janeiro, (Edifício de la Confederación Nacional de Comercio - CNC) y mantiene con esta entidad, hace casi dos décadas, “Convenio de Respaldo Administrativo y Protocolo de Cooperación Mutua”. En un pasado reciente, la FEDERACIÓN DE LAS CÁMARAS DE COMERCIO EXTERIOR – FCCE firmó Convenio con el CONSEJO DE CÁMARAS DE COMERCIO DE LAS AMÉRICAS, organismo que representa a las Cámaras Bilaterales de Comercio de los siguientes países: ARGENTINA, BOLIVIA, CANADÁ, CHILE, CUBA, ECUADOR, MÉXICO, PARAGUAY, SURINAME, URUGUAY, TRINIDAD Y TOBAGO y VENEZUELA. Además de varias decenas de Cámaras Bilaterales de Comercio afiliadas a la FCCE en todo Brasil, forman parte de la Directoria actual, los Presidentes de las Cámaras de Comercio: Brasil-Grecia, Brasil-Paraguay, BrasilRusia, Brasil-Eslovaquia, Brasil-República Checa, Brasil-México, Brasil-Belarus, Brasil-Portugal, Brasil-Líbano, Brasil-India, Brasil-China, Brasil-Tailandia, Brasil-Italia y Brasil-Indonesia, además del Presidente del Comité Brasileño de la Cámara de Comercio Internacional, el Presidente de la Asociación Brasileña de las Empresas Comerciales Exportadoras – ABECE, el Presidente de Ia Asociación Brasileña de la Industria Ferroviaria – ABIFER, el Presidente de la Asociación Brasileña de los Terminales de Contenedores, el Presidente del Sindicato de las Industrias Mecánicas y Material Eléctrico, entre otros. Súmese aun, la presencia de diversos Cónsules y diplomáticos extranjeros, entre los cuales, el Cónsul General de la República de Gabón, el Cónsul de Sri Lanka (antiguo “Ceilán”), y el Ministro Consejero Comercial de la Embajada de Portugal. La Directoria DIRECTORIA PARA EL TRIENIO 2003/2006 Presidente JOÃO AUGUSTO DE SOUZA LIMA 1o Vicepresidente PAULO FERNANDO MARCONDES FERRAZ Vicepresidentes Gilberto Ferreira Ramos Joaquim Ferreira Mângia José Augusto de Castro Ricardo Vieira Ferreira Martins Antonio Carlos M. Bonetti – São Paulo Sohaku R. C. Bastos – Bahia Claudio Chaves – Norte Directores Diana Vianna de Souza Daniel André Sauer Alberto Vieira Ribeiro Jeferson Malachini Barroso Alexander Zhebit José Paulo Garcia de Pinho Alexandre Adriani Cardoso Juan Clinton Llerena André Baudru Luis Cesario Amaro da Silveira Antonio Augusto de Oliveira Helayel Marcio Eduardo Sette Fortes de Almeida Arlindo Catoia Varela Mariano Marcondes Ferraz Augusto Tasso Fragoso Pires Oswaldo Trigueiros Junior Bruno Bastos Lima Rocha Raffaele Di Luca Carlos Fernando Maya Ferreira Ricardo Stern Cassio José Monteiro França Roberto A. Nóbrega Cesar Moreira Ronaldo Augusto da Matta Charles Andrew T‘ang Sergio Salomão Claudio Fulchignoni Stefan Janczukowicz Consejo Fiscal (Titulares) Delio Urpia de Seixas Elysio de Oliveira Belchior Walter Xavier Sarmento EDITORIAL A Nação Sul-Americana O Brasil redirecionou suas prioridades. Sem minimizar a importância de seu comércio atlântico, voltou-se para a integração física e energética sul-americana. Compreendeu a relevância da aproximação com os países vizinhos, para a superação do subdesenvolvimento histórico, a partir de ganhos de escala proporcionados pela ampliação do mercado consumidor. Acordos de livre comércio e desenvolvimento vinham sendo firmados desde os anos 60. Acordos de complementação econômica ampliaram ainda mais as possibilidades do livre comércio. Faltava, porém, o facilitador logístico. O Brasil, de dimensões continentais, que vivera em seus primórdios o modelo de arquipélagos econômicos, no qual cada área comunicava-se apenas com a metrópole, após promover a integração nacional, percebeu que faltava superar as dificuldades físicas de acesso aos países vizinhos. Incentivou, apoiou e acordou, enfim, com os objetivos e pressupostos da Iniciativa de Integração Regional Sul-Americana – IIRSA, objetivando a construção de eixos de integração e de desenvolvimento. Nesse contexto, Brasil e Peru construíram, em 2003, durante a visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, uma aliança estratégica que privilegia a intensificação da relação comercial, cultural e política. A complementaridade econômica, a convergência de interesses políticos e a promoção do comércio e dos investimentos objetivam, sobretudo, a erradicação da pobreza. São os passos iniciais para a construção de uma nação sul-americana. O marco dessa integração física foi a inauguração, em janeiro de 2006, da ponte binacional sobre o rio Acre, que contou com a presença dos presidentes do Peru e do Brasil. A Rodovia Interoceânica objetiva integrar o Mercosul à Comunidade Andina e é o indicador de que a Comunidade Sul-Americana de Nações, lançada em 2004, durante a 3a Reunião de Presidentes da América do Sul, em Cuzco, no Peru, não foi um mero exercício de retórica. O Peru é, sem dúvida, um parceiro estratégico. A proximidade física com o litoral daquele país, sinaliza a oportunidade de acesso facilitado aos mercados da Bacia do Pacífico. O Peru, no entanto, não pode ser entendido, simplesmente, como um corredor de escoamento. O esforço do governo daquele país em aumentar o acesso a novos mercados, por intermédio de acordos de livre comércio, exalta uma gama de oportunidades a serem aproveitadas pelos exportadores brasileiros. Destaca-se o acordo de livre comércio com a Tailândia, considerado por muitos como um país chave para acessar mercados do Sudeste asiático. A importância do Peru reside, igualmente, no dinamismo de sua economia, que apresentou, em 2005, taxa de crescimento da ordem de 6,5%. Os negócios relacionados ao setor minerador e o Projeto Camisea, com suas gigantescas reservas de gás, ampliaram o afluxo de investimentos estrangeiros para o Peru. A corrente de comércio entre o Brasil e o Peru atingiu, em 2005, o montante de US$ 1,3 bilhão, e o Brasil gozou um superávit da ordem de US$ 910 milhões. O comércio bilateral tende, efetivamente, a deslanchar na próxima década, por conta da integração física e dos acordos comerciais. É mister considerar que o Peru é um Estado associado ao Mercosul e que o Acordo de Complementação Econômica no 58, ou ACE-58, tem apresentado resultados significativos. Por tudo isso, a Federação das Câmaras de Comércio Exterior decidiu realizar, em 22 de maio de 2006, o Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos BrasilPeru. Trouxemos para o leitor, nesta edição, o acompanhamento dos trabalhos do seminário. Apresentamos o perfil e o potencial de duas das principais economias da América do Sul. Destacamos as oportunidades para os setores de infra-estrutura e construção no Peru, bem como os principais nichos do mercado peruano a serem explorados pelos exportadores brasileiros. Boa leitura. O EDITOR APOIO CONSELHO DE CÂMARAS DE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS Expediente Produção Federação das Câmaras de Comércio Exterior – FCCE Av. General Justo, 307/6o andar Tel.: 55 21 3804 9289 e-mail: [email protected] Editor O coordenador da FCCE Textos e Repor tagens Elias Fajardo Felipe Castro José Antonio Nonato Projeto Gráfico, Edição e Ar te Estopim Comunicação Tel.: 55 21 2518 7715 e-mail: [email protected] Revisão Maria Virgínia Villela de Castro Fotografia Christina Bocayuva Secretaria Maria Conceição Coelho de Souza Sérgio Rodrigo Dias Julio As opiniões emitidas nesta revista são de responsabilidade de seus autores. É permitida a reprodução dos textos, desde que citada a fonte. SUMÁRIO 6 E N T R E V I S TA José Betancourt Rivera “Brasil e Peru estão no centro físico, político e econômico da América do Sul” Gustavo Assad “A economia e a área social caminham juntas” 18 A B E RT U R A Em busca da ligação bioceânica 21 PAINEL I A diversificação das relações comerciais entre Brasil e Peru 25 PAINEL II Parcerias entre países irmãos 32 PAINEL III A política de integração amazônica e as relações bilaterais Brasil-Peru 48 HOTELARIA Hotéis-escola Senac 49 PARCERIA “Precisamos nos integrar com toda a América Latina” 5 1 C U LT U R A A Escola cuzquenha de pintura: um tesouro da América colonial 5 5 C I D A DA N I A SESC: De vento em popa 5 6 E X P O RTA Ç Ã O A importância do comércio para a economia brasileira Desburocratização do comércio exterior é um caminho sem volta A integração entre Brasil e Peru 40 E N C E R R A M E N T O Cultivar novas propostas para colher desenvolvimento 41 E M P AU TA 61 GASTRONOMIA Ceviche, a maravilha suprema de uma culinária rica e variada 6 5 R E L A Ç Õ E S B I L AT E R A I S Pavilhões da FCCE 42 TURISMO Destino Peru 7 0 C U RTA S ENTREVISTA “Brasil e Peru estão no centro físico, político e econômico da América do Sul” José Betancourt Rivera é ministro encarregado de negócios da Embaixada do Peru no Brasil. Nesta entrevista exclusiva à revista da FCCE, ele teceu comentários sobre a integração entre os dois países, que considera um processo irreversível, tendo como base um entendimento mantido entre os presidentes do Brasil e do Peru. O entendimento se expressa na construção de estradas e de hidrovias, cortando as fronteiras e aproximando o comércio, a economia e, até mesmo, a cultura. Segundo José Betancourt Rivera, com a integração física, o Brasil terá acesso garantido ao Oceano Pacífico e o Peru terá acesso ao Oceano Atlântico por meio do território brasileiro. O ministro considera este um grande desafio que os representantes do comércio e da política dos dois países precisam assumir, não só nos próximos anos, mas também durante todo o século XXI. Como o senhor analisa, hoje, a corrente comercial entre os dois países? JBR – A corrente comercial entre os dois países é promissora, pois há uma tendência de ampliação em muitos setores de nosso comércio em muitos setores que ainda não haviam sido convenientemente explorados. No momento atual, temos tido muitas possibilidades de incrementar o comércio bilateral, especificamente por meio da Rodovia Interoceânica. Estamos trabalhando na construção de uma integração física direta entre o Brasil e o Peru. A Rodovia Interoceânica é um sonho que logo vai tornar-se realidade, com expressivos benefícios em muitas áreas. Algu6 mas empresas brasileiras e peruanas já estão iniciando as obras e esta estrada vai conectar o Sul, o Centro-Oeste e parte do Norte do Brasil com o Sul do Peru. Os estados do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Acre e a região Sul do Peru vão estar vinculados por intermédio de uma rodovia que se constitui numa verdadeira via de integração física. Por meio desta via, muitos produtos brasileiros terão acesso aos mercados asiáticos por meio dos portos do Sul peruano no Oceano Pacífico. Por tudo isso, podemos afirmar que essa rodovia é um elemento importantíssimo dentro da nova concepção das rela- Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 7 ENTREVISTA transportadas por terra possuem, como única opção de escoamento, o Sul do continente. Com a nova via, economizaremos tempo de viagem e poderemos oferecer melhores condições para atividades de frete. Além disso, produtos peruanos como cimento, peixe e farinha de peixe alcançarão as fronteiras brasileiras com maior rapidez e eficiência. Eu acho que as perspectivas do comércio bilateral são muito amplas e promissoras e estamos todos trabalhando na mesma direção. Há muito tempo uma iniciativa como esta se fazia necessária. José Betancourt Rivera considera o Brasil e o Peru países estratégicos para a América do Sul. 8 ções bilaterais entre Brasil e Peru, principalmente no que diz respeito à região Sul do nosso país. Pelo lado Norte, está sendo criado o Eixo Multimodal do Amazonas Norte, com a construção de uma via multimodal de integração física entre os dois países. Por meio desta via, os produtos do Norte peruano poderão chegar à Amazônia brasileira e os produtos de Belém do Pará e de Manaus terão acesso ao litoral norte do Peru, de onde seguirão de navio para o mercado asiático. Atualmente, Peru e Brasil são dois países considerados estratégicos para o desenvolvimento da Amazônia e, também, para a própria América do Sul. Eles têm um papel a cumprir e tudo indica que o farão. Peru são cobre refinado, cobre em forma bruta, zinco, prata bruta e bromo refinado, todos eles minerais. Entre os produtos alimentícios, temos de destacar as azeitonas, que são o principal produto de exportação peruana para o Brasil. Em relação às importações, o Peru compra do Brasil automóveis, chassis, tratores e muitos produtos químicos. Há, entre os dois países, uma importante cor- Quais os produtos mais comercializados entre os dois países e quais necessitam de mais atenção por parte dos respectivos governos e do empresariado para se tornarem mais viáveis comercialmente? JBR – Os produtos mais vendidos pelo rente comercial, mas estamos convencidos de que, por meio da Rodovia Interoceânica, o fluxo do comércio será incrementado, porque a produção de soja dos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia chegará com facilidade aos portos peruanos do Oceano Pacífico. Atualmente, nossas mercadorias “ A nossa corrente de comércio será bastante ampliada por meio da Rodovia Interoceânica ” J O S É B E TA N C O U R T R I V E R A N Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U Qual a importãncia do Acordo de Complementação Econômica entre Brasil e Peru, no contexto do Mercosul? JBR – O Acordo de Complementação Econômica, o ACE 58, cria expressivas facilidades de circulação para os produtos brasileiros e peruanos, o que está plenamente de acordo com os objetivos do Mercosul, ao qual o Peru também é associado. Este acordo, portanto, só vem somar pontos aos esforços do Mercosul, uma vez que nossos produtos terão maior circulação entre os países do Cone Sul. O Embaixador Plenipotenciário do Peru no Brasil, Hernán A. Couturier Mariátegui, que o senhor está representando nesse seminário, afirmou em entrevista que, hoje, as duas culturas mais fortes e importantes da América Latina são a brasileira e a andina, que inclui o Peru, a Colômbia, a Bolívia e o Equador. O senhor acha que a cultura tem algum reflexo no comércio bilateral? JBR – Concordo plenamente com esta afirmação do Embaixador do Peru no Brasil, Hernán A. Couturier Mariátegui. Se lançarmos um olhar bem amplo, de caráter histórico e sociológico, sobre a América Latina, vamos verificar a presença de duas grandes civilizações. A primeira delas é a cultura incaica, cujo centro político e econômico ficava em Cuzco, no Peru, e a outra é a cultura ameríndia tupi-guarani cujo centro principal foi o Brasil. Essas duas culturas, essas duas importantes civilizações da América do Sul, têm, hoje, amplas possibilidades de enriquecer-se mutuamente, não só por meio do comércio, mas também por meio da interação cultural e política. É justamente nesse sentido que o Peru e o Brasil estão trabalhando. Nossos países firmaram um acordo, uma aliança estratégica, e muitos esforços estão sendo realizados para que a integração Peru-Brasil seja o motor da integração de toda a América do Sul. Os dois países têm uma localização privilegiada, pois ocupam o centro geográfico desta região e agora estenderam as mãos para trabalharem juntos em busca da bioceanidade. O que quero dizer é que o Brasil terá seu acesso garantido ao Oceano Pacífico e o Peru o seu acesso ao Atlântico por meio do território brasileiro. Esse é o grande desafio que nós temos que assumir para os próximos anos e durante todo o século XXI. Eu acho que as condições estão criadas: temos uma vontade política definida nesse sentido, as nossas culturas se aproximam, somos vizinhos e estamos no centro geográfico da América do Sul. Nossa integração física vai nos aproximar ainda mais e, penso que, nos próximos anos, ela trará vantagens não só para nossos países, como para toda a América do Sul. Alguns analistas da política e do comércio internacional dizem que o Brasil sempre esteve voltado para a Europa e de costas para a América Latina. É possível que no seu país exista quem pense da mesma forma, ou seja, que o Peru se volta mais para seus parceiros asiáticos. A nossa integração é uma questão de estradas de rodagem ou ela passa, também, por iniciativas políticas, econômicas e culturais? JBR – A integração entre dois países requer, evidentemente, o apoio dos setores político, econômico e cultural. É nesta linha que Peru e Brasil têm trabalhado. No plano político, por exemplo, os dois são países democráticos, e exercem liderança na América do Sul, o que facilita esta integração. Como essa liderança política brasileira e peruana poderia se objetivar na América do Sul, no cenário atual? JBR – Na medida em que avançamos por meio da integração física, do desenvolvimento do comércio, da promoção cultural e da aproximação turística, fortalecemos ainda mais os laços políticos entre nossos países e nossos povos. “ Na medida em que avança a integração física, crescem os laços entre os nossos povos ” J O S É B E TA N C O U R T R I V E R A N Peru e Brasil estão mais próximos desde agosto de 2003, ano em que se formou a aliança estratégica. Os dois países estão engajados na construção de uma relação intensa e ampla que não abrange só aspectos econômicos e comerciais, mas também aspectos comuns de desenvolvimento, de posições em matéria de política externa, de combate à pobreza e à fome. Estamos bastante próximos e queremos continuar trabalhando juntos, pois há muito o que fazer. Até o momento, é o que posso dizer. A trajetória de José Betancourt Rivera José Betancourt Rivera nasceu em Lima em 14 de dezembro de 1957. É diplomata de carreira e advogado. Estudou Direito na Universidade San Martin de Porres de Lima e também na Academia Diplomática do Peru, graduando-se como diplomata em dezembro de 1982. Desempenhou funções diplomáticas nas embaixadas do Peru na Holanda (1985-1988) e na Colômbia (1988-1991). Foi Cônsul do Peru em Vancouver, no Canadá, de 1994 a 1999. Está servindo em Brasília desde 2002 e, atualmente, é ministro encarregado de negócios da Embaixada do Peru. Um dos pólos mais importantes nessa junção de interesses entre o Peru e o Brasil é justamente a Amazônia. Como tratar a Amazônia, comercial, ecológica e cientificamente? O que nos une e o que nos afasta com relação à Amazônia? JBR – Com relação à Amazônia, tudo nos une. Somos os dois países mais importantes desta região e temos um compromisso firme, uma vontade engajada na organização de um tratado de cooperação. A região amazônica representa, tanto para os peruanos como para os brasileiros, um setor com amplas possibilidades de desenvolvimento, de inovação tecnológica, e de acordos comerciais. A Amazônia é, pois, uma região que nos vincula e da qual depende intensamente nosso futuro comum. O próprio Rio Amazonas, por meio do eixo multimodal que será construído, vai servir como um elo a unir ainda mais o Norte do Peru com Manaus e Belém do Pará. Estamos diante de um desafio muito grande para nossas autoridades e para nossos povos. A Amazônia possui grande potencial de desenvolvimento. O uso racional dos recursos energéticos de que dispõe pode provocar profundas repercussões para o meio ambiente e trazer inovações tecnológicas e científicas. Estamos alinhavando diversas parcerias entre institutos tecnológicos da Amazônia brasileira e institutos tecnológicos da Amazônia peruana. Estamos investindo muito, nesses últimos anos, na integração desta região. O senhor é otimista com relação ao incremento das nossas relações comerciais bilaterais? JBR – Eu sou muito otimista. Nós temos tudo para continuar na direção que temos trilhado até agora. Temos, também, uma vontade política definida nesse sentido e acho que nos próximos cinco anos a relação bilateral Peru-Brasil será redimensionada, não só no comércio, mas também no que diz respeito aos programas conjuntos de desenvolvimento nas regiões fronteiriças. Brasil e Peru vão surpreender todo o continente. Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 9 ENTREVISTA “A economia e a área social caminham juntas” Gustavo Assad é Diretor-Adjunto da área internacional da Construtora Norberto Odebrecht. Tem sob sua responsabilidade a obtenção de financiamentos para os contratos da empresa no exterior e o apoio institucional à divulgação do trabalho do grupo empresarial de exportação de serviços. Engenheiro civil com pós-graduação em Administração em Finanças e Administração de Negócios, trabalhou em Angola e no Peru, onde morou vários anos. Nesta entrevista, ele fala sobre a atuação da Odebrecht no exterior, reafirma a preocupação da empresa com questões sociais e comunitárias e, por fim, revela a sua emoção diante dos resultados de um projeto de irrigação realizado em território peruano. Segundo Gustavo Assad, exportar serviços significa mostrar no exterior um Brasil forte, competente e produtivo, capaz de atender a grandes demandas em diferentes continentes. Quais são os interesses e os negócios que a Odebrecht mantém, hoje, no Peru? GA – O mercado peruano é importante para nós – e aí vai um pouco do forte simbolismo que existe na presença da Odebrecht no Peru – porque começamos nossa atuação internacional nesse país. O nosso primeiro contrato internacional foi a central hidrelétrica em Charcani V, na Província de Arequipa, em 1979. Deste então, a empresa vem realizando importantes projetos de desenvolvimento socio-econômico no território peruano. Um dos motivos que nos leva a estar aqui, hoje, participando de um painel do 10 seminário, é tratarmos de duas obras de integração: o Eixo Multimodal Amazônia do Norte e a Rodovia Interoceânica Sul. Elas se inserem dentro da Iniciativa para a Integração da Infra-Estrutura Reginal Sul-Americana – IIRSA, um projeto de dimensões continentais que envolve vários países. Esta é a razão pela qual nós temos, hoje, duas obras de integração em desenvolvimento. Ambas foram contratadas em 2005. Já iniciamos nossas atividades na região e a previsão de conclusão é de quatro anos, aproximadamente. São projetos com grande importância logística, econômica e social e estão muito afinados com a orientação da empresa. A Odebrecht tem 60 anos de existência – Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 11 ENTREVISTA começou em 1944, trabalhando em território brasileiro. Há 25 anos, ela se lançou no mercado internacional. Durante estas duas décadas e meia trabalhando fora do Brasil, não tivemos nenhum registro de obra inacabada e nenhum registro de inadimplência em qualquer país, ou reclamação de instituições que não tenham ficado satisfeitas com nossos serviços. “ Para nós, o importante é trabalhar em programas identificados com as necessidades de toda a sociedade G U S T AV O A S S A D N ” Para nós, é importante mostrar as características da atuação da empresa. A Odebrecht não faz projetos para o governo, ela faz projetos para o país. A partir do momento em que é identificada a demanda, e depois de passar pelos estudos iniciais, uma obra de porte precisa de cerca de três anos para começar o trabalho propriamente dito. Ora, os governos, normalmente, têm mandato de quatro anos. Algumas vezes os governos latino-americanos são interrompidos antes disto. Imagine, então, um projeto que além da maturação leva mais uns quatro ou cinco para sua execução. Se não for uma necessidade grande do país e se for apenas uma iniciativa de interesse do governo, corre o risco de, após uma eleição, não ter sua continuidade garantida. Um programa de obras identificado como uma necessidade da comunidade não pertence apenas ao governo. Ele é um programa priorizado pelo governo, mas tem um respaldo na necessidade da comunidade. Para nós, é importante trabalhar para toda a sociedade. A Odebrecht é uma empresa de excelência internacional e consegue contratos importantes em Portugal, nos Estados Unidos e em países da Ásia. De onde vem esse interesse pela América Latina? Busca estar de acordo com o interesse do governo brasileiro, que pretende fortalecer sua liderança na região, ou é uma 12 orientação estratégica da empresa? GA – A estratégia da empresa é baseada no seguinte critério: onde houver a necessidade, não de uma obra, mas, principalmente, de projetos de infra-estrutura, lá nós estaremos, querendo participar. A Odebrecht está atuando em 19 países, nos quatro continentes. Em alguns, começamos mais recentemente, como no Norte da África, onde estamos avançando em iniciativas importantes. É interessante esclarecer que nosso conceito estratégico não é o de fazer apenas uma obra e depois ir embora. Nosso interesse é permanecer e colaborar com o país.Tanto que o tempo médio de atuação nos países onde trabalhamos é de 14 a 15 anos. O que buscamos, então, é uma atuação em longo prazo. O que a Odebrecht quer é a qualidade do trabalho e do serviço que ela presta, Os clientes entendem, de maneira geral, que quem nos contrata não é apenas uma instituição, mas é a própria sociedade e a comunidade que é atendida por esse projeto. Por isso, costumamos ter uma relação longa e sólida com eles. A partir deste tipo de relacionamento é que vamos conseguir uma vantagem competitiva, porque uma coisa é abrir o mercado, trazendo praticamente tudo de fora, procurando adaptar-se às condições locais. Outra coisa é já estar instalado no país, conhecendo as necessidades e anseios das pessoas que nele vivem. Entendemos a América do Sul como um continente que demanda muita infra-estrutura. A nossa política é dar prioridade a ela. Tanto é assim, que nós iniciamos no Peru nossa atuação internacional. Hoje, fala-se muito, e com razão, num grande esforço com relação à integração regional. Nós já buscamos isso há muito tempo. Estamos atuando nesses países há décadas, não só no Peru, mas também no Equador, onde trabalhamos há quase 20 anos. Dentro dessa linha de raciocínio que o senhor está construindo, o que significa vender serviços e não produtos? GA – A exportação de serviços é fundamental para nós, por isso consideramos importante comparecermos a fóruns e seminários como esse. A intenção é divulgar Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U nosso negócio principal: a exportação de serviços. Isto envolve bem mais do que a questão do contato comercial. Se compararmos friamente a exportação de serviços e a exportação de bens, vamos ver que a parte comercial é praticamente igual: alguém demanda serviços, alguém demanda um bem, e você vende. Os bens, normalmente, são montados no país em que são fabricados e já são exportados fechados. Quanto ao serviço, nós exportamos partes desses nossos produtos e os montamos lá fora. Isso já determina algumas características diferentes. A primeira é a seguinte: quando você exporta serviço, está exportando tecnologia e inteligência; está exportando a capacidade de o Brasil trabalhar em ambientes adversos. Digo adversos não porque sejam ruins, mas no sentido de serem diferentes da realidade local. É importante que o mercado externo identifique esta capacidade no Brasil. Além disso, todo esse processo também serve como aprendizado, porque cada cultura tem realidades diversas. É preciso aprender a se relacionar com elas. Isso significa que a empresa deve ser capaz de se reciclar, de se readaptar e de se reestruturar para outros mercados. Quanto mais exporta, mais a empresa adquire conhecimento nesse setor. “ Tudo que veiculamos e exportamos depende do perfil da obra e da demanda das comunidades locais G U S T AV O A S S A D N ” Um outro aspecto é que os projetos de infra-estrutura têm uma forte demanda de integração regional. Assim, alguns bens brasileiros vão ser também exportados, dentro de um pacote de prestação de serviços. A Construtora Norberto Odebrecht não fabrica nenhum bem. Nós temos que comprar tudo, e nada melhor do que comprar de nossos parceiros brasileiros que, nesses 25 anos de atuação no exterior, já somam mais de 1.500. Nós temos uma estrutura no Rio de Janeiro que é o ramo da Odebrecht de de Trujillo, numa região muito simpática do país. O primeiro ponto a destacar foi a recepção do povo peruano à nossa participação. Eles nunca nos enxergaram como alguém que estivesse ocupando seu espaço. Muito pelo contrário, nos viam como possibilidades de soma e de conquista de benefícios para seu país. Depois da inauguração da obra, pudemos ver aqueles vales, que antes eram extremamente secos, começarem a ser percorridos pela água. A população local ficou emocionada e os camponeses exultaram. Três ou quatro anos depois, tive a oportunidade de voltar à cidade, por outros motivos, e vi, com satisfação, que a região, hoje, está completamente diferente do que era. exportação. Já temos cadastrados algo em torno de 1.800 empresas brasileiras. Entre elas estão desde uma grande siderúrgica que faz exportação de aço, até uma empresa que faz equipamentos de proteção individual. Um dado curioso: já ganhamos um prêmio de maior exportador de botas de segurança, por causa disso. Tudo que veiculamos e exportamos depende do perfil da obra e da demanda. A preocupação da empresa com a segurança e com o meio ambiente é tão grande quanto a preocupação com a qualidade do serviço de engenharia que ela oferece? GA – Hoje, não há mais como dissociar meio ambiente e engenharia. Não existe nenhum projeto sem um bom estudo de viabilidade econômica e ambiental. Daí, a grande importância de uma empresa que vende serviços estar sempre se alimentando de informações. Cada país tem sua legislação específica e, em cima dela, nós vamos trabalhando e cada vez aprendendo mais. Isso passa necessariamente pela preocupação com a natureza: não tem como montar um projeto que não respeite as normas ambientais. Depois de muitos anos estabelecida na Bolívia, a Petrobras se viu subitamente envolvida numa questão ligada à nacionalização do gás natural e do petróleo. Como a Odebrecht vê essa questão, uma vez que também atua no mercado latinoamericano? GA – Sem querer parecer clichê, a forma como percebemos essa questão é a seguinte: onde temos dificuldades é onde enxergamos oportunidades. Quem trabalha com infra-estrutura atua no terreno básico em termos do desenvolvimento de que os países precisam. A Petrobras é uma empresa muito grande. Ela foi bem estruturada para instalarse na Bolívia. Na exploração do petróleo estão envolvidos grandes interesses econômicos, que passam, também, pela política. Acredito que uma empresa como a Petrobras vai ter condições de negociar e de contornar essa situação. “ A vida das pessoas melhora quando as obras têm um caráter ao mesmo tempo social e econômico ” G U S T AV O A S S A D N A Odebrecht nunca viveu nenhuma situação parecida? GA – Não. Com relação a contratos firmados, não. Temos uma rodovia de integração regional em construção, num ambiente de fronteira bem difícil. O Brasil deu um apoio muito forte a esse projeto e a obra está em andamento de modo normal e tranqüilo. O que mais o emociona no seu trabalho? GA – Eu tive oportunidade, por conta do meu trabalho, de morar três anos no Peru, onde participei de um projeto muito importante: uma iniciativa de integração econômica e social por meio da irrigação. Ele recebeu o nome de Chavimochic, que é a junção do nome dos quatro vales onde ele se situa. O mais interessante foi a possibilidade de residir durante três anos na cidadezinha Como foi essa sensação? GA – Quando voltei, pude perceber que a região seca e árida se transformara num lugar de grandes vales verdes, onde são cultivados vários produtos para exportação. A própria cidade ganhou outra imagem, as pessoas passaram a investir mais na região e o desenvolvimento, finalmente, chegou. Essa é a grande satisfação que podemos ter. São obras nas quais se vê claramente um cunho de importância social e econômica, porque a economia e a área social caminham juntas. Quando isso acontece, podemos constatar que a vida das pessoas, indiscutivelmente, melhora. O senhor gostaria de dizer mais alguma coisa? GA – Não. Basicamente eu queria agradecer essa oportunidade que a FCCE está nos dando de participar desse seminário. Para nós, é muito importante a divulgação da nossa atuação, não só pela característica de relacionamento entre os países, mas, principalmente, pela própria essência do nosso trabalho. Conforme já disse, exportação de serviços significa exportação de tecnologia; significa mostrar no exterior um Brasil forte, competente e produtivo, que oferece produtos e serviços para atender a uma demanda muito grande e em diferentes lugares. Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 13 Pesquisa por produto, país de de ou nome do exportador Disponível em 4 idio inglês,espanhol e f Relação atu stino mas: português, rancês de exportadores alizada mensalmente ABERTURA Em busca da ligação bioceânica Brasil e Peru constroem via integrada entre os oceanos Pacífico e Atlântico José Betancourt Rivera; Marco Pólo Moreira Leite; Glorisabel Garrido Thompson-Flôres, Cônsul-Geral do Panamá no Rio de Janeiro; Franklin Rivas, Cônsul-Geral da República Dominicana no Rio de Janeiro; e Pablo Jiménez Boada, Cônsul-Geral Adjunto da Bolívia no Rio de Janeiro. A sessão solene de abertura do Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos Brasil-Peru foi presidida por Lúcia Maldonado, Vice-Presidente Executiva da Associação de Comércio Exterior do Brasil – AEB. Contou, com o pronunciamento do Ministro José Betancourt Rivera, Encarregado de 18 Negócios da Embaixada do Peru, representando o Embaixador Plenipotenciário Hernán A. Couturier Mariátegui. Compuseram a mesa o Ministro Marco Carreón, Cônsul-Geral do Peru no Rio de Janeiro; Marco Pólo Moreira Leite, Presidente da Câmara de Comércio BrasilPeru; Arthur Pimentel, Diretor Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U do Departamento de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC; Professor Theóphilo de Azeredo Santos, Presidente da Câmara de Comércio Internacional – ICC, além dos cônsules gerais da República Dominicana, do Panamá e da Bolívia. úcia Maldonado iniciou sua fala afirmando ser uma honra presidir a sessão, pois considera que os seminários da Federação das Câmaras de Comércio Exterior – FCCE têm sido de grande importância. “Não que um encontro como esse vá resolver todos os nossos problemas, mas ele chama a atenção para a importância do mercado externo. Nosso objetivo é formar uma cultura de comércio exterior que o Brasil nunca teve. Eu gostaria de destacar a presença do Peru nas nossas relações comerciais. Em 2005, este país foi o 27o mercado de destino das importações brasileiras. Isso se torna mais relevante quando observamos que ele ocupava a 30a posição no ano anterior e apresentou um crescimento de 48% em um ano, o que é realmente expressivo. As exportações do Peru para o Brasil continuam estáveis. Em 2005, ficou em 32o lugar, sendo que, em 2004, ocupou a 34o posição no ranking dos países que exportam para o Brasil”. Lúcia Maldonado afirmou, também, que o Peru é um Estado associado ao Mercosul, o que indica uma perspectiva de ampliação do comércio entre os dois países. “Gostaria, também, de chamar a atenção para um outro fato extremamente importante: quando falamos em mercado exterior sempre pensamos apenas em mercadoria. Para nós, os serviços ainda se situam num mercado futuro e, nesse campo, as relações do Brasil com o Peru são muito importantes. Nós temos empresas brasileiras fazendo obras de vulto no Peru e, também, estamos investindo bastante no turismo. Todos devem prestar muita atenção aos painéis que virão, em que serão expostas e definidas algumas metas para o aumento dos intercâmbios com o Peru. Agradeço a todos e vamos passar ao pronunciamento especial de José Betancourt Rivera”. L Perfil peruano O ministro da Embaixada do Peru informou estar representando o embaixador, pois este precisou viajar em caráter de emergência para Lima. José Betancourt Rivera introduziu uma breve apresenta- “ Nosso objetivo é ajudar a formar uma cultura de comércio exterior que o Brasil nunca teve ” LÚCIA MALDONADON ção das relações comerciais entre o Brasil e o Peru. “Historicamente, os dois países têm políticas externas muito parecidas, no entanto, enquanto o Brasil se voltou para o Oceano Atlântico e para a Europa, o Peru se voltou em direção ao Pacífico e para os Estados Unidos. Desde agosto de 2003, nós temos uma aliança estratégica. Foi acordado durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Peru, que os dois países se propõem a manter uma relação bilateral comercial intensa e definem uma estratégia na qual não só aspectos comerciais possuem relevância, mas também se priorizam trocas culturais e políticas.” Segundo José Betancourt Rivera, o Peru, hoje, apresenta índices positivos de crescimento sustentado. A sua taxa em 2005 foi de 6,7%, uma das mais altas da América do Sul. Para 2006, é esperado um índice de 7%. A taxa de inflação é de 1,5%, uma das mais baixas da região. O país exporta anualmente mais de US$ 6,8 bilhões. Estados Unidos, China, Japão e Europa são os principais mercados para os produtos peruanos, entre os quais destacam-se peixes, farinha de peixe, mine- rais, uvas, aspargos e páprica. O governo tem desenvolvido diversos acordos para colocar os produtos peruanos em novos mercados. Um deles foi o de livre comércio com a Tailândia, um país chave no Sudeste Asiático, visto como porta de acesso ao mercado de outros países da região. “Em 2005, a iniciativa privada peruana cresceu 17%, quer dizer, três vezes mais do que o total da economia. Temos, também, indicadores que apontam para breve a troca de nossa matriz energética. Atualmente, o petróleo é o produto mais usado, mas estamos trabalhando para mudar esta matriz, substituindo-a pelo gás natural. Hoje, muitas empresas peruanas já usam o nosso gás, uma forma de energia mais limpa. Agora, estamos desenvolvendo uma segunda etapa, que consiste em exportar gás líquido para o México e para os Estados Unidos; iniciativa que demanda investimentos na ordem de US$ 2,5 bilhões.” Relação bilateral O ministro da Embaixada do Peru informou, ainda, que, em 2005, o intercâmbio comercial entre o Peru e o Brasil somou US$ 1,3 bilhão, sendo que US$ 452 milhões corresponderam a exportações peruanas e US$ 909 milhões corresponderam às exportações brasileiras para o Peru. Isto significa que a balança comercial é deficitária para o Peru em cerca de US$ 457 milhões. As exportações peruanas para o Brasil incluem, principalmente, minérios como zinco, cobre, prata, prata refinada e cobre refinado. A eles se juntam produtos agrícolas cultivados no Sul do Peru, que encontram demanda nos estados brasileiros que fazem fronteira com aquela região. Entre eles destacam-se aspargos, uvas e páprica. “Temos possibilidades para incrementar significativamente o comércio bilateral nos próximos anos. O intercâmbio comercial entre os nossos países tem aumentado a partir da entrada em vigor do acordo de complementação econômica entre Peru e Mercosul, o ACE-58. Por meio deste acordo, o comércio com os países do Sul tem-se intensificado notavelmente. Junto com estas novas frentes Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 19 ABERTURA de comércio, nós temos também, um significativo setor de investimentos”. Em seu pronunciamento, José Betancourt Rivera citou diversas empresas brasileiras que estão trabalhando no Peru, entre elas o banco Sudameris Brasil, as construtoras Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão, além de empresas de produtos naturais, confecções e calçados que já realizam investimentos no Peru há muitos anos. “É importante destacar que, em maio de 2006, a Petrobras assinou um contrato com o governo para a exploração do petróleo e do gás natural em um lote na região de Loreto. Esta é uma notícia importante não só para o comércio bilateral, mas também para o setor de serviços, possibilitando a geração de novos empregos e dinamizando a economia. O investimento estimado da Petrobras, no país, é de aproximadamente US$ 35 milhões. Vários outros lotes já estão sendo explorados pela empresa, mas consideramos que o novo acordo assinado vai promover um grande impacto no desenvolvimento comercial. Essa nova situação demonstra que o Peru pode oferecer boas condições em matéria de investimentos e comércio aos países amigos, como o Brasil. Elas são favorecidas por uma situação política estável, na qual os contratos são respeitados e amparados por uma segurança jurídica constitucional”. Integração física O Ministro José Betancourt Rivera passou, em seguida, a tratar da integração física entre os dois países, que se desenvolve em torno de três eixos. O primeiro e mais avançado deles é o eixo do Norte, na região amazônica, que vai do Peru até o Pará, seguindo o trajeto dos rios, conectando diretamente o Norte brasileiro ao Norte peruano. Este trecho de 1.200 km está praticamente concluído e abre as exportações para os dois oceanos: o Pacífico e o Atlântico. O ministro lembrou, também, que a Vale do Rio Doce ganhou a licitação para exploração de fosfato na Amazônia Peruana, o que favorece o desenvolvimento da região. O segundo é o eixo central, que busca vincular a cidade de Pucalpa, no cen20 se das autoridades políticas e empresariais nesta integração é crescente.” Destino dos investimentos brasileiros no Peru (em US$ bilhões) Agronegócio Comércio 8,70 Construção civil 3,42 Finanças 2,60 Indústria 1,11 Fonte: Ministro José Betancourt Rivera A Amazônia peruana (acima) é uma área estratégica que abriga projetos como o de exploração de fosfato, pela Vale do Rio Doce. A integração Brasil-Peru inclui, também, convênio com a Embrapa para a produção de etanol a partir de cana-de-açúcar. tro do Peru, ao município de Cruzeiro do Sul, a segunda maior cidade do Acre, com grande potencial de complementação com o centro do Peru. Em médio prazo, deverá ser construída uma ligação terrestre entre as duas regiões. Essa via vai integrar os estados de Rondônia e do Acre ao centro do Peru. A previsão é conectá-las por meio de uma linha ferroviária ligada à malha rodoviária existente no Peru. Finalmente, o terceiro eixo de integração física é o da rodovia que deverá ligar Brasil, Bolívia e Peru. Segundo o ministro, calcula-se que, em dois ou três anos, este trecho estará pronto. “Companhias como a Odebrecht estão envolvidas no projeto e estamos seguros de que, por meio desta via, estaremos ligando de forma definitiva os estados do Sul do Peru com o Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O interes- Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U Um outro setor importante da relação bilateral é o agronegócio, que inclui um convênio básico assinado entre a EMBRAPA e o Instituto de Pesquisa Agropecuária Peruano. Ele prevê o desenvolvimento da utilização de cana-de-açúcar como fonte de energia, através da produção do etanol. O Peru e o Brasil têm grandes plantações de cana-de-açúcar e esta complementaridade de produção poderá ser utilizada no futuro. Uma missão do Ministério da Agricultura do Brasil visitará o Peru e técnicos peruanos visitarão o Brasil para fixar as propostas desta cooperação. “O programa do biocombustível brasileiro é pioneiro no mundo e o Peru, como sócio e parceiro do Brasil, quer contribuir neste processo. Para isso, estamos realizando um programa de cooperação técnica para trocar conhecimentos sobre a produção deste tipo de combustível.” Finalmente, José Betancourt Rivera voltou a afirmar a importância da aliança estratégica entre os dois países, na qual o elemento central é a o corredor bioceânico, que proporcionará ao Brasil ligação comercial com a Ásia. “Peru e Brasil estão estrategicamente posicionados no centro da América do Sul. Para nós, esta relação representa maior facilidade de integração, por meio de ferrovias e sistemas fluviais. Assim, poderemos exportar nossos produtos para a Europa. Finalmente, gostaria de dizer que as possibilidades e desafios são imensos, e que estamos trabalhando com muita imaginação neste novo contexto, buscando uma nova concepção da relação bilateral que só será possível com a colaborção dos diplomatas, das autoridades políticas e empresariais. Nossa relação será muito mais sólida se envolvermos também a sociedade civil, as forças sociais, os estudantes, os profissionais e técnicos. Muito obrigado”. Após o pronunciamento de José Betancourt Rivera, Lúcia Maldonado considerou encerrada a Sessão Solene de Abertura. PAINEL I A diversificação das relações comerciais entre Brasil e Peru Os dois países estabeleceram aliança estratégica para estreitar seus laços O painel I do Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos Brasil-Peru teve como tema “O estado atual das relações comerciais Brasil-Peru e as possibilidades de diversificação e incremento”. Seu presidente foi o Cônsul-Geral do Peru no Rio de Janeiro, Ministro Marco Carreón, que abriu a sessão declarando-se honrado em presidi-la e passou a palavra ao moderador, Rogério Fernando Lot, Gerente de Comércio Exterior do Banco do Brasil. O moderador declarou, então, que faria algumas considerações a respeito do tema em pauta ao final dos debates e concedeu a palavra ao primeiro expositor do painel, o Presidente da Câmara de Comércio BrasilPeru, Marco Pólo Moreira Leite. O segundo expositor foi o Diretor de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Arthur Pimentel. O Ministro Marco Carreón, Cônsul-Geral do Peru no Rio de Janeiro, presidiu o painel I. arco Pólo Moreira Leite iniciou sua participação declarando-se emocionado por ver na platéia do seminário alguns estudantes e, confessando usar mais o coração do que a razão, recordou sua primeira viagem aérea, quando ainda era estudante, e que teve como destino o Peru. O país o encantou pela hospitalidade. Ressalvou, ainda, que, apesar de se encontrar em missão comercial, foi acolhido pelos peruanos como um irmão brasileiro. Pôde perceber o grande interesse e a admiração despertados pelo Brasil no exterior, constituindo-se, portanto, essa viagem, na sua primeira e inesquecível aula de “sulamericanidade”. M O expositor chamou a atenção dos participantes do seminário para o momento excepcional por que passa, atualmente, a integração sul-americana. Declarou-se solidário com a Bolívia, que, a seu ver, tem sido massacrada pela mídia brasileira por haver assumido posições legítimas em favor de uma riqueza natural que lhe pertence, no caso o petróleo e o gás natural encontrados em território boliviano. Apesar de reconhecer a possibilidade de discordância em torno do assunto, reiterou a opinião de que o Brasil deve encarar o problema sob a perspectiva daquele país irmão. Para ele, é preciso compreender a importância da adoção de medidas que Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 21 PAINEL I Marco Pólo Moreira Leite realçou parcerias com o Peru na área de pesquisa agrícola. merece um destaque especial graças à aliança estratégica que vem costurando com o Brasil, no sentido de proporcionar-lhe a tão sonhada saída para o Oceano Pacífico, que facilitará e barateará o comércio com a Ásia e a Oceania. Esta ligação por terra com o Pacífico também vai permitir aos peruanos alcançarem o Atlântico, com evidentes vantagens para o incremento comercial daquele país andino com a Europa e a África. Aliança estratégica Rogério Lot defendeu o incremento do comércio com os países andinos. levarão melhorias ao povo boliviano, a partir da nacionalização do seu petróleo. O expositor, em seguida, lembrou que, entre todos os países do continente, o Peru 22 Marco Pólo Moreira Leite reafirmou a importância dessa aliança estratégica e mencionou o que, há alguns anos, ouviu do General Baima Diniz, que considera um homem aberto, progressista e profundo conhecedor dos problemas brasileiros. Disse-lhe o general, que, quando desempenhava as funções de Chefe da Casa Civil da Presidência da República, ouviu de deputados e senadores, em uma reunião social em Brasília, que a saída brasileira para o Pacífico jamais seria alcançada, porque isso contrariava os interes- Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U ses norte-americanos no continente. Esse exemplo, que o expositor considerou um fato simples, tem, em sua opinião, extrema gravidade. O estabelecimento definitivo dos objetivos perseguidos por essa aliança estratégica, parece-lhe, pois, imperativo. Marco Pólo Moreira Leite lembrou, ainda, que as obrigações do gigante brasileiro em relação a seus irmãos latinoamericanos – com quem, de um modo geral, obtém sempre superávits na balança comercial – podem ser contrabalançadas pelo estabelecimento de parcerias humanas e de conhecimento. Em seguida, afirmou que persistem motivos para uma expectativa favorável em relação ao futuro da integração com nossos países vizinhos da América. Mencionou o fato de que o Brasil possui, atualmente, uma tecnologia agropecuária de altíssimo nível, e que o mundo inteiro, não apenas a América do Sul, está de olho no trabalho da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA. Segundo ele, esta instituição tem se destacado em vários setores, seja no aprimoramento da produção e da utilização do etanol, seja na produção do biodiesel, especialmente do que é obtido a partir de plantas oleaginosas. A seu ver, esses produtos podem servir de matrizes energéticas para nossos vizinhos carentes ou impossibilitados de desenvolverem a exploração de petróleo. Ao enfatizar, mais uma vez, a prioridade de nossas obrigações com os países latino-americanos, o expositor reconheceu que a realização do seminário se insere nessa órbita e cumprimentou o Presidente da Federação das Câmaras de Comércio Exterior, João Augusto de Souza Lima, pela iniciativa de sua organização. Mudança de foco Em seguida, o moderador Rogério Fernando Lot usou da palavra para comentar brevemente a palestra do primeiro expositor. Lembrou que o seminário atesta a mudança do foco de interesse do comércio exterior brasileiro, que, até hoje, supervalorizava as relações com os países do Mercosul, em detrimento do comércio com os países andinos. A situação lhe parecia não apenas injusta, como economicamente prejudicial a nossos interesses. Em seguida, passou a palavra ao segundo expositor do painel, o Diretor de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Arthur Pimentel. O segundo expositor iniciou sua participação no painel com a exibição de um quadro demonstrativo da evolução das exportações brasileiras para o Peru, no período de 1996 a 2005. Observou que, depois de vigorar um certo equilíbrio entre as duas balanças comerciais, a partir de 2003 começou a existir um superávit por parte do Brasil, tendência que tem permanecido até hoje. “ Persistem motivos para uma expectativa favorável em relação ao futuro da integração com nossos países vizinhos da América ” MARCO PÓLO MOREIRA LEITEN Ao analisar as respectivas importações, salientou que elas têm perfil semelhante. O Brasil passou a comprar mais os produtos peruanos, o que, a seu ver, denota um amadurecimento por parte do mercado brasileiro. Essa situação precisa ser observada pelo governo, pois é necessário que o nosso país adquira mais matérias-primas, mais produtos diversificados e mais componentes, para poder dar seguimento ao cumprimento dos contratos. Arthur Pimentel comentou, em seguida, que o crescimento do saldo comercial brasileiro com o Peru e com outros países é o resultado de uma soma de esforços que não é recente, já que as modificações que ocorrem no comércio exterior não se dão de um dia para o outro. Ele lembrou, também, que os países mais maduros e mais afeitos às práticas do comércio exterior começam a entender a importância da corrente de comércio e já não falam apenas de compras e de vendas, mas referem-se ao somatório. Exemplificando, ele lembrou que, no Arthur Pimentel afirmou que o Brasil deverá exportar US$ 132 bilhões em 2006. período de 2005 a 2006, as exportações brasileiras cresceram cerca de 17%, e as importações 25%, resultando em crescimento de 20% da corrente comercial brasileira. O expositor alertou para o fato de que, ainda hoje, ouvimos dizer que o nosso país não passa de um exportador de produtos primários, o que não é uma verdade por inteiro. Se é fato que vendemos ao exterior nosso café, nossa soja, nossos produtos oriundos do agronegócio, estamos exportando, também, nossos manufaturados e semi-manufaturados – que incluem materiais de transporte, veículos, tratores, máquinas de terraplanagem, autopeças e outros – para os Estados Unidos, para a União Européia e para outros tantos países dos quatro continentes com que temos laços de comércio. Ao referir-se ao desempenho desse tipo de exportações, informou, a título de exemplo, que no período de janeiro a abril de 2006, época considerada morna e sem movimento nessa área, verificou-se um crescimento de 15% na venda de manufa- turados e de 5% na de semi-manufaturados. Cerca de 4% se devem a compras dos Estados Unidos, vindo, em seguida, Argentina, Chile e Alemanha, o que, em sua opinião, retrata fielmente a situação otimista porque vem passando a balança comercial brasileira no setor. “ Os corredores de exportação entre o Pacífico e o Atlântico vão mudar o perfil do comércio entre o Brasil e o Peru ” ROGÉRIO FERNANDO LOTN Outra informação trazida pelo expositor disse respeito ao crescimento de 50% nas importações brasileiras de matériaprima. Segundo Arthur Pimentel, isso é muito importante para a economia brasileira, uma vez que tais insumos estão compondo bens exportáveis. Finalmente, Arthur Pimentel mostrou aos participantes do painel um quadro demonstrativo do crescimento da corrente de comércio exterior brasileiro. Avaliou que o país de- Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 23 PAINEL I Potencialidades de exportação do Brasil para o Peru Valores em US$ 1.000 Fonte: SECEX/MDIC – Radar Comercial Produto Importações Peru Exportações Brasil Exportações do Brasil para o Peru 1.099.951 2.527.691 30.622 Outros óleos de petróleo, exceto desperdícios 537.599 1.242.053 76 Aparelhos transmissores c/apar.receptor,p/radiofonia, radiotelegrafia, radiofusão ou televisão 182.211 881.288 6.155 Milho, exceto p/semeadura 157.153 581.869 71 Tortas e outros resíduos sólidos da extração de óleo de soja 152.333 3.270.888 0 Óleo de soja, em bruto, mesmo degomado 131.303 1.155.756 0 Aparelhos receptores de televisão, a cores 86.838 129.310 10.737 Automóveis e outros veículos c/motor pistão alternativo 86.369 2.489.802 15.960 Tereftalato de polietileno 83.893 69.229 1.084 Unidades de processamento digitais 68.618 80.508 1.250 Polipropileno, em forma primária 63.767 100.622 9.225 Dumpers concebidos para serem utilizados fora de rodovias 62.977 86.587 0 Algodão, não cardado nem penteado 60.883 406.070 14.426 Polietileno de densidade < 0,94 em forma primária 60.703 259.930 1.212 Policloreto de vinila 53.906 29.947 22 Óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos verá alcançar a meta de exportar US$ 132 bilhões até o fim de 2006. Relações bilaterais Em seguida, o expositor passou a referirse às relações bilaterais entre o Brasil e o Peru, começando pelo crescimento das exportações brasileiras, que aumentaram 48%, de 2004 para 2005, enquanto as importações cresceram 31%. Como principais produtos exportados, citou óleos, aparelhos celulares, chassis de automóveis, tratores, equipamentos off road para terraplanagem etc. Mencionou, ainda, os principais bens importados: zinco, cobre e produtos do setor alimentício. Concluiu que as duas economias possuem um excepcional potencial de incremento em suas trocas comerciais, por serem complementares. Explicou, ainda, que a aferição desses produtos e dos seus números se deve ao chamado “radar comercial”, ferramenta de prospecção de oportunidades no comércio exterior que levanta 24 elementos referentes a 52 países em todo o mundo, que representam 98% do movimento comercial internacional. “ Estamos exportando cada vez mais manufaturados e semi-manufaturados para os Estados Unidos e a União Européia ” ARTHUR PIMENTELN O “radar” informou, por exemplo, a existência de um entrave comercial em relação a um dos principais produtos exportados pelo Brasil, que é a soja. “Não conseguimos vender nem um litro de óleo de soja para o Peru, um país que tem uma capacidade de compra na ordem dos US$ 172 milhões. Por quê?”, perguntou, sugerindo, em seguida, que esse é um tema a ser pensado pelos experts em comércio exterior brasileiro. Sem mencionar outros exem- Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U plos, Arthur Pimentel terminou sua participação mencionando o fato de que há, também, uma série de produtos brasileiros passíveis de serem adquiridos pelo Peru e que não constam de nossa pauta de exportações para lá. O expositor concluiu com um apelo final aos nossos exportadores para que acessem os dados gratuitamente fornecidos pelos diferentes órgãos ligados à exportação no Brasil, inclusive na Internet, para que eventuais barreiras e gargalos possam ser vencidos e o nosso comércio exterior continue a crescer para o bem do desenvolvimento geral do Brasil. Retomando a palavra, o moderador Rogério Fernando Lot fez votos de que os corredores de exportação para o Pacífico e o Atlântico, que devem resultar da política de aproximação entre os dois países, tornemse, em breve, uma realidade que irá dinamizar as duas economias. Encerrando os trabalhos do painel, o cônsul-geral do Peru agradeceu aos participantes e ouvintes. P A I N E L II Parcerias entre países irmãos Desenvolvimento de infra-estrutura portuária e de serviços turísticos é um caminho para aproximar ainda mais Brasil e Peru Fernando Vasconcelos de Sá, José Luiz Lopes Teixeira Filho, Oswaldo Trigueiros Jr, José Betancourt Rivera e Marco Carreón. O painel II, que teve como temas o desenvolvimento do setor de turismo e a modernização portuária, foi dirigido pelo Presidente do Conselho de Turismo da Confederação Nacional do Comércio – CNC, Oswaldo Trigueiros Jr. O moderador foi o Chefe de Gabinete do Secretário de Estado de Turismo do Rio de Janeiro, Sérgio de Mello Ferreira. Os presentes ouviram exposi- ções sobre a Companhia Docas do Rio de Janeiro, que enviou ao seminário os seguintes representantes: o Superintendente de Marketing da companhia, José Luiz Lopes Teixeira Filho; o Chefe da Divisão de Mercado e Ação Comercial, Fernando Vasconcelos de Sá; e o Assessor Técnico da Divisão de Mercado e Ação Comercial, Luiz Guilherme Soares Bonfim. presidente d Conselho de Turismo da CNC assumiu o comando dos trabalhos chamando os expositores para tomarem seus lugares à mesa. Logo em seguida, fez uma apreciação sobre o turismo, atividade por ele considerada como a maior indústria do mundo. Oswaldo Trigueiros Jr. explicou que o intercâmbio entre os dois países neste setor seria a matéria discutida com mais intensidade no painel, introduzindo o tema em seus aspectos mais gerais. O Turismo global O representante da CNC registrou a importância da atividade turística para as economias no contexto da globalização. Nesse cenário, analisou ainda o paradoxo Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 25 P A I N E L II entre as possibilidades oferecidas pelo avanço da tecnologia e o fortalecimento das culturas locais. “Quanto mais universais nos tornamos, mais tribalmente nós agimos”, afirmou. Logo em seguida, Oswaldo Trigueiros Jr. lembrou o papel decisivo que a atividade possui na economia de diversos países e ressaltou que, em algumas, o turismo representa a maior fonte de receita. Em sintonia com este raciocínio, apresentou estatísticas reveladoras sobre o setor. Afirmou que ele emprega 240 milhões de pessoas no mundo, o que significa 10,6% da força de trabalho mundial. A fatia de contribuição da atividade para a economia é de 10,2% do Produto Interno Bruto – PIB, levando-se em conta todas as economias do planeta.Trata-se, também, de acordo com as estatísticas apresentadas, do maior gerador de receitas e impostos, mobilizando algo em torno de US$ 655 bilhões. De uma maneira global, a atividade turística representa aproximadamente 10,9% dos gastos dos consumidores; 10,7% de todos os investimentos de capital; e 6,9% de todos os gastos governamentais. Com base nestes dados, o representante da CNC lançou dúvidas sobre uma pesquisa feita com 400 articuladores políticos e formadores de opinião em 20 países: eles citaram as indústrias de ener- gia, eletroeletrônicos e a agricultura como as de maior musculatura comercial no mundo, ou seja, aquelas com maior contribuição para a economia global. Segundo Oswaldo Trigueiros Jr., neste panorama deveria, também, ter sido incluída a atividade turística. Futuro promissor Os horizontes para a atividade estão cada vez maiores. Apesar de ameaças, guerras no Oriente Médio, furacões e outros obstáculos localizados, o futuro do turismo é considerado promissor. Nesse sentido, Oswaldo Trigueiros Jr. analisou a demanda de visitantes para lugares que não “ O cidadão dos países adiantados procura os países emergentes, onde encontra muita história e cultura ” O S WA L D O T R I G U E I R O S J R . N eram freqüentes na pauta das viagens internacionais e citou o exemplo do Camboja, um país ainda carente de infraestrutura turística ideal, mas que recebe um número cada vez maior de visitantes. “O Camboja ainda não tem preparação, mas tem história. É um país de monumentos milenares, com uma população que apresenta fantástica facilidade de comunicação, e é exótico. As pessoas não querem mais saber de viajar para ver países adiantados ou arranha-céus. Elas querem conhecer culturas locais, diferentes e que ainda estão por se desenvolver. Esse é o interesse geral do cidadão que sai dos países adiantados”, explicou. Essa também é a opinião do Presidente do Conselho de Agências de Viagens, Geoffrey Lipman. Segundo Oswaldo Trigueiros Jr., Lipman afirmou que neste século haverá um surto de viajantes asiáticos por todo o mundo e, por outro lado, os países asiáticos serão os destinos preferidos dos visitantes. Nesse ponto de sua análise, Oswaldo Trigueiros Jr. deteve-se diante da pergunta inevitável: “se tem contribuído de forma tão significativa para a economia mundial, por que o turismo ainda recebe uma atenção tão pequena de governantes e dos acordos no âmbito internacional?” O representante da CNC explicou, com base em um artigo publicado no periódico The Economist, que a importância do setor é de difícil compreensão por pelo menos três razões: “primeiro, não existe uma definição precisa e unânime dos elementos que constituem esta indústria. Qualquer tentativa neste sentido corre o risco de superestimar ou subestimar os aspectos econômicos”. O segundo motivo está relacionado à informalidade: “atividades como as dos guias de turismo e Mesmo sem grande infra-estrutura turística, os templos milenares, a natureza exuberante e a população comunicativa do Camboja atraem visitantes de todo o mundo. 26 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U dos vendedores de souvenires, além de trocos e gorjetas, se prestam bem à economia informal”, disse. A terceira razão tem a ver com o fato de que “o turismo internacional sofre diferenças espantosas com relação aos dados divulgados pelos diferentes países”. Mesmo assim, Oswaldo Trigueiros Jr. demonstrou confiança nos estudos empreendidos por duas organizações mundiais – o Conselho Mundial de Viagens e Turismo, com sede em Bruxelas, e a Organização Mundial do Turismo, uma organização do Programa de Desenvolvimento da ONU – que se dedicam à tarefa de tentar reconhecer o turismo como a maior indústria do mundo. Na segunda parte de sua exposição, Oswaldo Trigueiros Jr. apresentou o conceito de “viagem total”. Explicou que, com o advento das novas tecnologias, muitos empresários não precisam mais viajar com grande freqüência. É possível resolver muitas questões de trabalho utilizando o computador e suas ferramentas, hoje indispensáveis. No entanto, ressaltou a importância do contato humano. “Nem sempre um negócio se realiza sem a presença do homem. Os processos de negociação exigem grandes câmaras de comércio, como acontece aqui, pois é preciso que haja troca e interação pessoal; é preciso que haja o get together”, avaliou. Por isso, um dos setores que mais tem-se desenvolvido no mundo é justamente o de turismo de negócios. Custos da aviação Outra área mencionada por Oswaldo Trigueiros Jr. foi a aviação comercial. Além de destacar a sua importância para o incremento das atividades do turismo, lembrou que neste setor o Brasil atravessa uma fase difícil. “Os custos dos aeroportos do mundo inteiro estão muito elevados e as empresas brasileiras que exploram o turismo ganham em real, mas têm seus custos todos em dólar. É por isso que a aviação brasileira vive, hoje, no setor internacional, um momento delicado”, analisou. Ele lembrou também que empresas internacionais, como a United Airlines, que enfrentou recentemente outro tipo de problema, costumam receber ajuda do governo de seus países. Finalmente, o representante da CNC constatou a modificação que o setor vem fazendo para atender às novas necessidades de viajantes e de homens de negócio. Destacou que Brasil e Peru são exemplos de países que podem explorar com mais intensidade suas relações de turismo, citando o enorme interesse que patrimônios históricos da humanidade, como Machu Picchu, podem representar para a dinâmica de viagens entre as regiões. “Os turistas estrangeiros estão indo ao Peru para conhecer de perto este passado e esta história. Nós, que somos um país vizinho, podemos ajudá-lo a desenvolver um turismo complexo e de fácil acesso”, afirmou. Em seguida, Oswaldo Trigueiros Jr. encerrou sua participação e passou a palavra ao Chefe de Gabinete do Secretário de Estado de Turismo do Rio de Janeiro, Sérgio de Mello Ferreira. Cidade maravilhosa Sérgio de Mello Ferreira começou mostrando estatísticas referentes aos dois países em foco no seminário. Elas mostram que, em 2003, 38.900 turistas peruanos visitaram o Brasil e, em 2004, Machu Picchu (à esquerda) e o Pelourinho (abaixo), (patrimônios da humanidade); o rico artesanato peruano e a exótica culinária brasileira são atrativos singulares para o turismo nessa região. Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 27 P A I N E L II Em 2004, o fluxo de visitantes peruanos para a cidade do Rio de Janeiro aumentou em 80%. A variedade de atrações que o Estado do Rio oferece explica essa grande procura, direcionada tanto para o mar quanto para a região serrana. O governo pretende dotar todo o território fluminense de uma infra-estrutura adequada. Cabo Frio está ampliado seu aeroporto internacional. Sérgio de Mello Ferreira realçou as grandes potencialidades turísticas do Rio de Janeiro. 56.600, o que significou um aumento de 40% em apenas um ano. Do total de visitantes em 2003, 2.065 peruanos foram para a cidade do Rio de Janeiro e, no ano seguinte, 5.015, o que significou um incremento de 80% no fluxo. Segundo Sérgio de Mello Ferreira, a variedade das atrações explica o aumento do número de visitantes. Além da capital do estado, ele citou cidades de praias deslumbrantes como Arraial do Cabo, Cabo Frio e Búzios – esta última considerada, atualmente, o sétimo destino brasileiro que mais recebe turistas. Destacou, em seguida, as belezas e a riqueza histórica da serra imperial, em especial, as cidades de 28 Petrópolis e de Teresópolis. Foram, também, lembradas as cidades ricas em belezas naturais da Costa Verde, como Angra dos Reis e Parati. A lista parecia não ter fim. “Temos Agulhas Negras, uma área de colonização finlandesa. Entrando pelo Vale do Paraíba, encontram-se as fazendas históricas do ciclo do café. Trata-se de uma grande diversidade de produtos a poucas horas do centro receptivo do país”. Ressaltou, ainda, que o Governo do Estado do Rio de Janeiro vem realizando obras de infra-estrutura para aumentar ainda mais o fluxo turístico, como é o caso da ampliação do aeroporto internacional de Cabo Frio, em conjunto com o Ministério da Aeronáutica. Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U Tendo como atrativo Sérgio de Mello Ferreira elogiou o comentário de Oswaldo Trigueiros Jr. sobre a necessidade de acordos comerciais na área de turismo e destacou o projeto Rio de Vocês, coordenado pelo Subsecretário de Turismo do Rio de Janeiro, Nilo Sérgio Alves Felix. O trabalho consiste na realização de workshops para agentes de turismo, levando-os a conhecer de perto as atrações do próprio país e, também, de outros, como o Peru. O objetivo é incrementar o intercâmbio entre as duas nações. Ele alertou que, para viabilizar iniciativas como essa, é preciso formar parcerias. “Tem que existir uma via de duas mãos. É importante que os operadores peruanos possam vir ao Brasil e ao Rio de Janeiro. Estamos à disposição para ajudar neste trabalho. Ao mostrarem seus produtos, fluminenses, cariocas e brasileiros passarão a conhecer melhor os destinos peruanos”. Finalmente, Sérgio de Mello Ferreira colocou a Secretaria de Estado, da qual faz parte, à disposição de todos que desejam ampliar o turismo entre as diversas regiões. O convite foi prontamente agradecido por Oswaldo Trigueiros Jr., em nome da CNC. Ele concorda que os produtos brasileiros e peruanos devam ser mais acessíveis e mais divulgados entre os representantes de cada país. Futuro dos portos Apresentado pelo moderador Sérgio de Mello Ferreira, o Superintendente de o Pico das Agulhas Negras, o turismo se desenvolveu em Itatiaia. Marketing da Companhia Docas do Rio de Janeiro, José Luis Lopes Teixeira Filho, agradeceu em seu nome e no do Presidente da Companhia, Antônio Carlos Soares Lima, ausente em virtude de uma viagem à China, o convite de João Augusto de Souza Lima para participar do painel II. Elogiou o povo peruano “pela capacidade de desenvolver o turismo, sem perder em momento nenhum as suas características individuais e sociais. É um exemplo para o mundo de como conciliar a cultura do país com o recebimento de visitantes.” Em seguida, analisou a evolução e a melhoria dos portos no Brasil, em especial no Rio de Janeiro, e passou a especificar algumas ações que podem ser desenvolvidas em prol do turismo. José Luiz Lopes Teixeira Filho explicou que a companhia administra os seguintes portos fluminenses: o do Rio de Janeiro, o de Itaguaí – antigo porto de Sepetiba –, o de Angra dos Reis, e o de Niterói. Destacou principalmente o Porto do Rio de Janeiro, em razão de estar recebendo um número crescente de passageiros, atingindo, este ano, a marca de 160.000, e o de Angra dos Reis, que será ampliado para receber mais turistas. O superintendente ressaltou a participação do governo e o apor te de investimentos na melhoria dos portos. Citou como resultado de boa aplicação dos recursos a presença, em águas brasileiras, do maior tran- Espetáculo de luz e som no Museu Imperial, em Petrópolis. satlântico do mundo, o Queen Mary, que por questões de calado pouco profundo não podia fundear na cidade do Rio de Janeiro antes das melhorias introduzidas em seu porto. José Luiz Lopes Teixeira Filho lembrou, também, um entendimento estabelecido entre diferentes esferas da administração pública para gerar melhorias no setor. “Foi firmado, com a presença “ O Peru poderá usar alguns dos portos fluminenses como base para lançar seus produtos na Costa Leste dos Estados Unidos, na África e na Europa ” JOSÉ LUIS LOPES TEIXEIRA FILHON do Presidente da República, um convênio entre o município do Rio de Janeiro, o Ministério das Cidades e a Companhia Docas do Rio de Janeiro para revitalização da área portuária na região onde localizase o terminal de passageiros. Esperamos contribuir, assim, com a melhoria das relações turísticas do Rio de Janeiro e, também, com os intercâmbios entre Brasil e Peru”. Segundo ele, um novo horizonte de possibilidades se abre a partir desta parceria. “O Peru poderá usar os portos de Itaguaí e do Rio de Janeiro como base para lançar seus produtos no mercado da costa Leste dos Estados Unidos, da África e da Europa.” Porto de Sepetiba Após o discurso do superintendente de marketing, foi apresentado ao plenário o Chefe da Divisão de Mercado e Ação Comercial da Companhia Docas do Rio de Janeiro, Fernando Vasconcelos de Sá, que iniciou sua apresentação com um breve resumo das atividades da Companhia. Segundo ele, os portos de Angra dos Reis e Niterói estão arrendados, sendo que o de Niterói opera, basicamente, com movimentação offshore, com a Petrobras e com o fluxo em direção ao Norte Fluminense. “Angra dos Reis tinha uma vocação antiga para movimentação siderúrgica e, hoje, já está bem inserida na movimentação offshore. Acreditamos promover o arrendamento de mais um berço em Angra, que seria para um terminal de passageiros, aproveitando a beleza da região Sul do estado”, revelou Fernando Vasconcelos de Sá. Com base em slides, o chefe da Divisão de Mercado e Ação Comercial identificou as rotas ferroviárias e rodoviárias entre os portos e os destinos do Norte Fluminense e do interior de São Paulo e Minas Gerais. Em relação ao Porto do Rio de Janeiro, fez alguns comentários sobre o funcionamento dos terminais de contêineres na região do Caju e da Gamboa e sobre o terminal de passageiros, arrendado pelo Píer Mauá. “Estamos em fase de negociação, porque a movimentação de passageiros tem crescido muito e queremos ver se nos estruturamos melhor, junto com o arrendatário, com o próprio estado, e com a prefeitura”, explicou. Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 29 P A I N E L II Porto de Itaguaí Porto de Niterói Porto de Angra dos Reis Terminal de Sepetiba ção de anéis rodoviários são alguns alicerces para este desenvolvimento. Docas e correios Luiz Guilherme Soares Bonfim, Fernando Vasconcelos de Sá e José Luiz Lopes Teixeira Filho. Fernando Vasconcelos de Sá informou, ainda, que existe um protocolo de intenções para aumentar a capacidade de passageiros, uma vez que todas as novas condições de atracamento e melhoria do calado já foram realizadas. Em seguida, o convidado citou a relação dos operadores portuários que trabalham no Porto do Rio de Janeiro. Cada um com uma carga específica. O Porto de Sepetiba também foi destaque, pois pode vir a ser “o futuro dos portos do Brasil”. Ele acredita que a construção do ramo norte de uma ferrovia para dar cobertura de transporte à cidade de São Paulo é um fator determinante neste processo. “O Porto de Sepetiba já é realidade, com terminais de contêineres com grande movimentação; um terminal com importação de carvão, administrado pela Companhia Siderúrgica Nacional; um terminal de exportação de minério e um 30 terminal de alumina, administrados pela Companhia Vale do Rio Doce.” Fernando Vasconcelos de Sá observou que este porto acolhe navios de até 50 mil toneladas de porte bruto, o que faz dele uma instituição portuária ímpar. E foi além: “Vamos arrendar uma nova área para exportação. A Companhia e o país acreditam que esse será o porto do futuro em nosso estado”, apostou. O expositor mostrou também estatísticas sobre a situação portuária do Estado do Rio de Janeiro. No ano passado, foram movimentadas 37,5 milhões de toneladas. A previsão é de que, até 2009, o volume seja aumentado em 100 milhões de toneladas. Como exemplo, citou o fato de os portos fluminenses terem aumentado sua movimentação em 70%, nos últimos três anos. O início do projeto da duplicação da estrada que liga São Paulo a Santos e a cria- Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U O representante da Companhia Docas do Rio de Janeiro mencionou outro projeto que pode alavancar o desenvolvimento portuário. “Há uma iniciativa da própria Companhia, capitaneada pelo nosso presidente, que é a criação do Centro de Negócios e Logística. Trata-se de um trabalho que a Docas está fazendo para o atendimento ao pequeno e médio exportador”, revelou. Em dezembro de 2005, foi assinado um convênio com a Empresa de Correios e Telégrafos – que já desenvolve o projeto Exporta Fácil aéreo – para retomar, como fazia há alguns anos, o Exporta Fácil marítimo. “A exportação pelos Correios tem uma limitação tanto de peso quanto de volume. Assim, a empresa deseja utilizar a infra-estrutura dos portos do estado”. José Luis Lopes Teixeira Filho pediu a palavra, por um instante, para fazer observações em relação ao contrato entre a Companhia Docas do Rio de Janeiro e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. “A parceria significa a possibilidade de exportar ou, considerando a via inversa, a possi- Porto do Rio de Janeiro Nos últimos três anos, os portos fluminenses aumentaram sua movimentação em 70% e em 2005 movimentaram 37,5 milhões de toneladas. A Companhia Docas do Rio de Janeiro está realizando melhorias na logística dos portos do estado. Uma das iniciativas é a criação do Centro de Negócios e Logística para atender ao pequeno e médio exportador. bilidade de importar e dotar de capacidade logística o médio e o pequeno empresário”, explicou. “O exportador que não tem volume suficiente para lotar um contêiner, pode participar de um pool”, ponderou. “Estamos juntando a força dos correios – que pode fazer a captação e a distribuição em razão da sua capilaridade – com a possibilidade de serem obtidas tarifas mais baixas no transporte marítimo”, afirmou. Concluiu elogiando a iniciativa pioneira desse projeto que poderá acontecer no Rio de Janeiro. Fernando Vasconcelos de Sá retornou a palavra e concluiu sua apresentação colocando o escritório da Superintendência de Marketing à disposição dos interessados em esclarecimentos. Amazônia O Presidente da FCCE, João Augusto de Souza Lima, agradeceu as palavras de Fernando Vasconcelos Sá e registrou a pre- Sérgio de Mello Ferreira e Cláudio Chaves no painel II do Seminário Brasil-Peru. sença no plenário do Vice-presidente da Federação das Câmaras de Comércio Exterior em Manaus, Cláudio Chaves, exdeputado com grande vivência na área de turismo, especialmente na região Norte do país. Cláudio Chaves compareceu ao seminário na condição de representante do Senador Bernardo Cabral. O Presidente da FCCE pediu-lhe, então, que registrasse seu posicionamento sobre os temas debatidos, por exemplo, a respeito da diversificação da atividade turística brasileira em relação ao Peru. Com base em seu conhecimento da Amazônia brasileira e peruana, por meio de sua experiência como médico e político, Cláudio Chaves chamou a atenção para um grave problema. “A Amazônia, hoje, é alvo de grande cobiça internacional,” afirmou. Lembrou que a tripla fronteira amazônica, com limites entre Brasil, Peru e Colômbia, é pouco explorada. “Nesta região, há uma cidade brasileira em desenvolvimento chamada Benjamin Constant, e outra se desenvolvendo lentamente graças a uma base militar, que é Tabatinga. Ali também se encontram dois vilarejos peruanos de população reduzida: Islândia e Santa Rosa”, conta. Segundo Cláudio Chaves, a área necessita de investimentos em turismo, já que há um grande fascínio pela Amazônia. Lembrou que a Colômbia tem um aeroporto internacional em Letícia, mas que o Peru não dispõe de aeroportos na fronteira. Outra questão abordada foi a ligação entre os países. De acordo com o Vice-presidente da FCCE, a partir de Manaus, é possível criar um grande canal integrando Brasil,Venezuela e Peru; algo que equivaleria, em sua opinião, a um segundo Canal do Panamá. Cláudio Chaves sugeriu, ainda, a realização de um desdobramento do Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos Brasil – Peru, na Amazônia, com representações da Zona Franca de Manaus, do governo do Acre e das autoridades peruanas das regiões fronteiriças. “O Peru deve fazer investimentos nas suas cidades e a tripla fronteira deve competir para trazer turistas do exterior para os três países. Dividir riqueza: este é o ponto mais importante para se debater”. Concluiu, agradecendo a oportunidade de se pronunciar. João Augusto de Souza Lima agradeceu e disse que, na condição de Presidente da FCCE, aceitava e aprovava a sugestão do vice-presidente. “Agora, será apenas uma questão logística, para que façamos num futuro bem próximo um seminário equivalente sediado e focado naquela região”. Desta forma, devolveu a condução do painel ao moderador. Sérgio de Mello Ferreira agradeceu a todos os palestrantes e abriu caminho para o painel seguinte. Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 31 P A I N E L II I A política de integração amazônica e as relações bilaterais Brasil-Peru O projeto de eixos de transporte multimodais vai mudar o perfil da região ovelino Gomes Pires começou sua apresentação analisando questões relativas à ligação terrestre do Brasil com o Peru, que implica em obras como construção de pontes e abertura de estradas de rodagem. Quando se trata de uma iniciativa que prevê a ligação com outros países, como a Rodovia Interoceânica, a situação fica ainda mais complexa, pois é preciso haver interesse bilateral para a execução das obras. No exemplo citado, obstáculos físicos monumentais como a Cordilheira dos Andes, que atravessa toda a América do Sul, precisam ser vencidos. Segundo Jovelino Gomes Pires, hoje, as exportações brasileiras para o Peru seguem, na sua grande maioria, por via marítima. O restante, um percentual pouco expressivo em relação ao total das transações, segue por via aérea ou terrestre, deixando claro que e a maior dificuldade reside justamente no transporte rodoviário. “Como conclusão, podemos observar que a escassez de rodovias entre os principais centros de comércio do Peru e as áreas fronteiriças do Brasil obriga ao transporte fluvial, que tem baixo custo operacional, mas sofre restrições de volume, de carga e de peso. Por isso, a continuação da ligação terrestre precisa ser priorizada. A continuação das obras é necessária para podermos nos conectar com outros pontos do território peruano.” J Jovelino Gomes Pires analisou o transporte rodoviário entre os dois países. A presença brasileira em território peruano se dá, principalmente, por meio da construção civil, com a Rodovia Interoceânica e o Eixo Multimodal Amazonas do Norte. Como reflexo desta política de aproximação, a integração sul-americana se torna mais factível. Estes foram os temas expostos e discutidos no painel III do Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investi32 mentos Brasil-Peru, dirigido pelo Presidente da FCCE, João Augusto de Souza Lima. Os expositores foram Jovelino Gomes Pires, Presidente da Câmara de Logística da AEB (que também foi o moderador do painel); Gustavo Assad, Diretor Adjunto da Área Internacional da Odebrecht; e Carlos Sánchez Del Aguila, Cônsul-Adjunto do Peru no Rio de Janeiro. Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U Fronteira agrícola O presidente da Câmara de Logística da AEB lembrou, também, que hoje existe um movimento de transporte bastante expressivo pelos rios, pois a fronteira do setor agropecuário brasileiro encostou no sul do Pará. Assim, com o objetivo de viabilizar novas saídas para a exportação e dar fluidez à produção brasileira, principalmente de grãos, várias obras estão sendo realizadas ao longo dos rios. Um exemplo é o Porto de Santarém, que hoje permite o atracamento de navios Panamax, pois tem profundidade suficiente para suportar cargas mais pesadas. “Isso pode ser uma iniciativa a ser estudada com autoridades peruanas, para que o país possa transportar carga pelo Rio Amazonas, até Santarém. Eu digo mais: navios que não encostam no Porto do Rio de Janeiro vão poder atracar em Santarém”. Em seguida, foi a vez de Gustavo Assad fazer o pronunciamento em nome da Odebrecht, representando o Presidente Marcelo Odebrecht e o Diretor da Área Internacional, André Amaro da Silveira. “Para nós, esta é uma excelente oportunidade de falar sobre atuações no exterior, principalmente no Peru, porque foi em 1979, por meio da construção de uma central hidrelétrica em território peruano, que a Odebrecht deu início à sua atuação internacional. Avaliamos nossa atuação externa como bem sucedida, porque, desde aquela época, estamos neste mercado de forma ininterrupta e, também, porque ela representa 85% de nosso faturamento”. Perfil da empresa A Odebrecht foi fundada em 1944 e atua em dois segmentos: engenharia e construção, liderada pela Construtora Norberto Odebrecht. No setor petroquímico, atua por meio de uma empresa fundada mais recentemente e que, hoje, já conquistou liderança na América Latina. “Temos, ainda, duas instituições auxiliares: a Odebrecht Corretora e a Odeprev. Participando da área social, nós temos a Fundação Odebrecht. O grupo todo se norteia por princípios éticos que conduzem sua atuação. O cliente é nosso foco, é ele quem encomenda a obra, mas também nos preocupamos com a comunidade que será atendida pela mesma obra. Desenvolvemos programas na área social, e isso fica sob a responsabilidade de cada contrato nosso, que prevê aproximação com as comunidades, realizando programas sociais focados em Atuação da Odebrecht no Peru Os números 710 km Rodovias Pavimentadas 65 km Túneis 5 un Planta de Tratamento de Água 3 un Tomadas d’água 242 km Canais de Irrigação 1 un Sistema de Água Potável 4 un Central Hidrelétrica 41 km Redes de Distribuição de Água 2 un Represa para Armazenamento de Água 3 un Projeto em Mineração As principais obras “ Nos nossos contratos, realizamos programas sociais voltados para a educação, a saúde e o meio ambiente G U S T AV O A S S A D N ” educação, saúde e meio ambiente. Áreas carentes são sempre nossa prioridade, para onde buscamos levar desenvolvimento”. Em seguida, o representante da Odebrecht exibiu um vídeo mostrando a implantação de três projetos no Peru: a construção de uma hidrelétrica, de um projeto •Hidrelétrica de Charcani V marco da internacionalização •Projeto Chavimochic •Rodovia Tingo Maria-Aguaytía •Rodovia Ilo-Desaguadero •Interceptor Norte •Sistema de Água Potável de Chimbote •Projeto Olmos •Corredor Viário Interoceânico Sul Peru/Brasil •Eixo Multimodal Amazonas Norte - IIRSA Inaugurada em janeiro de 2006, a ponte sobre o Rio Acre liga o Brasil ao Peru. Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 33 P A I N E L III Odebrecht Peru Energia: Hidrelétrica Charcani V (125 MW), Arequipa, 1980-1988, 1.200 integrantes, US$ 250 milhões. de irrigação e de uma rodovia. Esses projetos não foram consideradas propriamente programas de governo, mas sim empreendimentos priorizados pelo governo. “Na realidade, quem determina a necessidade é a economia do país e os aspectos sociais da nação. Isso é importante porque, nos 25 anos de atuação internacional da Odebrecht, nós não tivemos nenhum único caso de obra não concluída devido à mudança de governo. Temos que considerar que obras desse tipo levam de dois a três anos de maturação, ou seja, só se encerram num governo posterior. Dificilmente o mesmo governo começa e conclui uma obra. Se for uma iniciativa de governo, ela corre o risco de não ter continuidade. Sendo uma necessidade do país, ela é independente e tem a continuidade garantida”. A Odebrecht se orgulha de informar que não tem nenhum caso de falta de pagamento relativo a financiamentos de Odebrecht Peru Irrigação: Projeto Especial Chavimochic, etapas I e II, La Libertad, 1988-1997, 5.580 integrantes, US$ 574 milhões. suas obras internacionais. A empresa é reconhecida mundialmente, principalmente no item saneamento, sendo que, em matéria de construção de hidrelétri- A integração entre Brasil e Peru O Cônsul-Adjunto do Peru no Rio de Janeiro, Carlos Sánchez Del Aguila fez o pronunciamento final do painel II e tratou dos processos de integração comercial e física em curso entre os dois países, elaborados a partir de uma aliança estratégica entre seus governantes. Segundo ele, esses processos têm como antecedente a longa história de relacionamentos diplomáticos do Brasil com os países vizinhos. Em 1909, Rio Branco concluiu seu trabalho para definir as fronteiras amazônicas brasileiras e iniciou a integração por meio do Rio Amazonas. 34 Carlos Sánchez Del Aguila: “aproximação entre Brasil e Peru muda a face do continente”. processo de integração peruanobrasileiro é recente, e as relações entre o os dois países se caracterizaram sempre pela cordialidade. Acidentes geográficos, como a Cordilheira dos Andes e a Floresta Amazônica, além das grandes distâncias entre os principais centros urbanos e econômicos, sempre foram obstáculos que impossibilitaram maiores intercâmbios”. “O Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U Projeto IIRSA Mais recentemente, como parte de uma política de aproximação entre os países da América do Sul, foi criada a Iniciativa de Integração Regional Sul-Americana – IIRSA, que consiste na construção de eixos multimodais com rodovias e hidrovias para a integração física do continente. A IIRSA é uma iniciativa voltada para a estrutura regional sul-americana cas, é considerada a primeira do mundo. “Atuamos em quatro continentes, em 19 países e temos 28.000 colaboradores. Na área internacional, começamos em 1979 no Peru, e na América Latina já executamos 396 projetos. Com grande alegria, informamos que esse número cresce a cada ano e, no Peru, especificamente, temos 710km de rodovias e 65km de túnel construídos. As obras de maior impacto no mercado peruano são o Corredor Viário Internacional e Interoceânico Pacífico-Atlântico Sul e o Eixo Multimodal Amazônia do Norte.” Esses eixos foram definidos pelos governos dos dois países e, portanto, vêm sendo priorizados em matéria de apoio creditício. A ligação do território peruano com a fronteira brasileira em com projetos de desenvolvimento adequados aos padrões físicos da América do Sul, visando a uma evolução equitativa e sustentável. Os conceitos orientadores da IIRSA são o regionalismo aberto e a construção de eixos de integração e desenvolvimento; conceitos mais amplos e mais potentes que o de corredor econômico, porque procuram gerar valor ao longo de todo o percurso, privilegiando não só o ponto de saída e o ponto de destino, mas o percurso total. A sustentabilidade econômica, social, político-institucional e ambiental do projeto; o aumento do valor agregado da produção; a aplicação das tecnologias de comunicação e informação; a convergência pública e privada são alguns de seus princípios. Aliança estratégica A aliança político-estratégica entre o Brasil e o Peru surgiu no ano de 2003, com as visitas dos presidentes Alejandro Toledo e Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o cônsul-adjunto do Peru no Rio de Janeiro, sua base de sustentação reside nos seguintes pontos: complementaridade das economias, acesso do Peru ao Sistema de Vigilância da Amazônia; promoção do comércio e dos investimentos; desenvolvi- Odebrecht Peru Mineração: Desenvolvimento da Mina Yanacocha, Cajamarca, 1996-2001, 1,050 integrantes, US$ 82,7 milhões. Assis Brasil, no Acre, foi um projeto contratado em 2005, por meio de um consórcio entre a Odebrecht e empresas peruanas. O consórcio conquistou mento sustentável; convergência dos processos de integração com o Mercosul; combate ao tráfico de drogas e luta contra a pobreza. O marco jurídico da aliança estratégica é uma série de acordos que vão possibilitar a integração e a complementação econômica. Os mais importantes são: o Acordo de Complementação Econômica entre o Peru e o Mercosul, mais conhecido como ACE58; memorando sobre os entendimentos na relação física e econômica; memorando com o entendimento sobre a vigilância amazônica; acordo que facilita o trânsito de produtos de ambos os países entre seus territórios; e memorando para a promoção de comércio e investimentos, assinados pelos ministros das relações exteriores de ambos os países, em fevereiro de 2005. “O processo se sustenta nos esforços de integração física, sendo este um elemento chave na procura de competitividade de nossos países, além de pôr em contato as regiões interiores, favorecendo sua integração. Peru e Brasil estão localizados no centro da América do Sul, sendo peças fundamentais nas conexões biocêanicas e em toda articulação do continente”. Carlos Sánchez Del Aguila afirmou, também, que o entendimento entre os dois trechos da obra (um total de 703 quilômetros) participando de uma concorrência internacional para construção, reabilitação, operação e manutenção da estrada. Gustavo Assad citou, ainda, o projeto do Eixo Multimodal da Amazônia do Norte, também conquistado em 2005 por meio de uma concessionária constituída pela Odebrecht, Andrade Gutierrez e as empresas peruanas Gran e Montero. Trata-se de um contrato de construção, reabilitação, operação e manutenção de uma estrada que ligará o porto de Paica, no Oceano Pacífico, a um porto na Amazô- Os passos da aproximação sul-americana Carlos Sánchez Del Aguila considera que, na segunda metade do século XX, o relacionamento bilateral girou em torno do papel desempenhado pelo Brasil como garantidor dos acordos de paz assinados no Rio de Janeiro, que tiveram como objetivo equacionar as relações do Peru com o Equador. Em 1998, quando foi assinado o Acordo de Brasília, esta função teve fim, fazendo com que o relacionamento entre Brasil e Peru adquirisse um novo caráter. O primeiro passo no caminho de aprofundar o relacionamento foi o Plano de Ação de Lima, uma iniciativa que se concretizou em 1999. No ano seguinte, uma reunião de presidentes da América do Sul, em Brasília, marcou a gênese de uma política de aproximação sulamericana, que se objetivou em 2004, em Cuzco. Esta reunião teve como objetivo principal impulsionar a integração política, econômica e social sul-americana, por meio da modernização da estrutura física na região, com investimentos nas áreas de transportes, telecomunicações e energia; elementos essenciais para o desenvolvimento econômico e social e para o aumento da competitividade de suas economias. Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 35 P A I N E L III Odebrecht Peru Infra-estrutura viária: Carretera IloDesaguadero, Puno, 1999-2000, 900 integrantes, US$ 71 milhões. nia brasileira. A estrada tem 900km, e apenas 103km serão construídos. O restante implica em manutenção de estradas já existentes. O maior desafio técnico é sair de uma altitude de 3 a 4 mil metros para chegar ao nível do mar. “Neste exemplo, podemos ver, também, como funciona a transitabilidade. Nossa idéia é melhorar as pistas da estrada e, a cada trecho recuperado, vamos liberando outro, de forma que não haja interrupção total do trânsito em momento algum. Inclusive, em curto prazo, a transitabilidade já deve dar um início de retorno do investimento. De agosto de 2005 a janeiro de 2006, o trânsito dos dois trechos que cuidamos melhorou. No primeiro, houve uma diminuição de cerca de duas horas no tempo de percurso e, no segundo, em cerca de três horas, o que significa economia não só de tempo, mas também de recursos.” Odebrecht Peru Saneamento: Estação de Tratamento de Esgoto de San Bartolo, 1999-2000, 700 integrantes, US$ 27,6 milhões. O representante de Odebrecht também revelou algumas inovações utilizadas nesta obra. Uma delas foi a topografia por laser, que permite observar deta- Eixo Multimodal Amazonas do Norte O Eixo Multimodal Amazonas do Norte acompanha a Linha do Equador e vai ligar Macapá e Belém ao Norte do Peru e ao litoral do Equador. Por ele serão transportados produtos eletrônicos e agroflorestais; petróleo; gás natural; e pescado. 36 dois países gira em torno de processos complementares, que passam pela integração regional descentralizada. Uma tentativa de incluir as regiões de interior que possuem um nível de desenvolvimento muito inferior ao das cidades costeiras. Os eixos IIRSA que vinculam o Peru ao Brasil são três, mas, em sua exposição, Carlos Sánchez Del Aguila tratou principalmente de dois deles: o Eixo Multimodal Amazonas do Norte e o Eixo Peru, Brasil e Bolívia. Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U “O primeiro é um multimodal que conecta alguns portos da Colômbia, do Equador e do Peru, no Oceano Pacífico, com portos brasileiros de Manaus, Belém e Macapá, voltados para o Atlântico. Este eixo amazônico procura conseguir a união bioceânica utilizando os principais rios da bacia do Amazonas nos quatro países. Sua área de influência abrange 4,5 milhões de km2, uma população de 52 milhões de habitantes e um PIB estimado de US$ 93 milhões. Manaus é o maior pólo industrial e o maior fornecedor da região e, além disso, tem mais de 20 mil km de vias de navegação, o que lhe permite conexão com todo o território sem impactos ambientais significativos”. As principais mercadorias desse eixo amazônico são produtos eletrônicos, petróleo, gás natural, pesca, produção de alumínio, papel, cosméticos, madeira, móveis, produtos do setor agro-florestal, fosfatos, além de material de construção, confecções, artesanato e, também, ecoturismo. Segundo o cônsul-adjunto, o eixo amazônico é estratégico porque possui uma grande quantidade de recursos não renováveis, como petróleo e gás, urânio, ouro e ferro. Além disso, contém 20% da lhes muito apurados da região, viabilizando um traçado da estrada muito mais interessante em matéria de dirigibilidade e de economia. Benefícios sociais Gustavo Assad fez questão de ressaltar, em sua exposição, os benefícios sociais e econômicos da integração entre os dois países. “Nós temos certeza de que, ao conseguirmos remover os gargalos da infra-estrutura, estabelecendo uma melhor comunicação entre os países, com o estabelecimento da ligação entre o Atlântico e o Pacífico, vamos obter grandes benefícios de ordem econômica. Procuramos, também, enfatizar os benefícios sociais do projeto. Uma obra de engenharia atende es- pecificamente a uma demanda feita por um contrato comercial, mas ela tem todo o envolvimento com a sociedade e a comunidade. Uma obra só pode ser completa se ela atender a todos os requisitos de tecnologia e engenharia e se trouxer benefícios sociais às comunidades com ela envolvidas. No caso específico, há uma melhoria da infra-estrutura de transporte, pois a obra percorre parte expressiva do território peruano. Facilitará, também, o desenvolvimento turístico da região”. Exportação de serviços O último item abordado pelo diretor da Odebrecht foi a exportação de serviços. Ele considerou que, ao exportar um serviço, a empresa está exportando tecnologia nacional, mostrando a competi- tividade e a capacidade brasileira na solução de negócios. “Ao reforçar a imagem de um país de produção diversificada e competitivo, valoriza-se basicamente a engenharia e a tecnologia nacionais, porque as empresas de engenharia não produzem bens. Em qualquer obra nossa, precisamos adquirir bens para que o serviço contratado seja entregue ao cliente. Essa aquisição, em sua grande maioria, é feita no Brasil, razão pela qual, volto a dizer, adicionamos valor agregado à pauta de exportação brasileira. Não existe como desvincular exportação de serviços de exportação de bens. Nessas duas áreas, existem, hoje, 1800 empresas atuando, e nós mantemos negócios com praticamente 1500 durante todo o ano.” reserva de água doce do planeta. Tem um grande potencial para a geração de energia elétrica e concentra a biodiversidade da floresta amazônica. Eixo Peru, Brasil, Bolívia O eixo Peru, Brasil, Bolívia, por onde passará a Rodovia Interoceânica, engloba sete departamentos da região Sul peruana, dois departamentos amazônicos da Bolívia e quatro estados brasileiro: Acre, Rondônia, Amazonas e Mato Grosso. Nesta região da tripla fronteira vivem pequenas populações. Estas comunidades são o centro de uma economia de fronteira que encontra dificuldade geográfica para o abastecimento e escoamento de produtos. O objetivo do eixo é inserir estas populações no circuito econômico regional e internacional. Ele tem uma área de influência de 3,5 milhões de km2, uma população de 12,3 milhões de habitantes e um PIB estimado de US$ 30 milhões. As principais atividades econômicas deste eixo são a indústria de aço, o petróleo, as atividades florestais e o turismo. Cuzco é o maior pólo de atração turística da região. A agroindústria da soja, no Mato Grosso, também é muito importante. Por sua vez, a agricultura na região Sul do Peru conta com uma diversidade de produtos, como a batata, o kiwi e a páprica, que já tem demanda certa, identificada no Centro Oeste brasileiro. “Temos, ainda, o negócio de gado, a construção, o negócio de pedras (escassas na fronteira brasileira), o artesanato e a aqüicultura. Em 2005 e 2006, duas missões comerciais visitaram este eixo. Iniciativas deste tipo permitem aprofundar o conhecimento das possibilidades de negócios e de intercâmbio na região”. O Eixo Peru Brasil Bolívia ligará Porto Velho e Rio Branco a sete departamentos da região Sul peruana e a dois departamentos amazônicos da Bolívia. Por ele passarão petróleo, a soja brasileira e os produtos agrícolas do Sul do Peru. Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 37 P A I N E L III A Iniciativa de Integração Regional Sul-Americana – IIRSA, tem como objetivo o desenvolvimento físico e sustentável do continente. Segundo Carlos Sánchez Del Aguila, um outro marco importante foi a inauguração da ponte binacional sobre o rio Acre, em 21 de janeiro de 2006, com a presença dos presidentes do Peru e do Brasil. A Rodovia Interoceânica já está concluída pelo lado brasileiro, ficando pendente ainda sua construção no território peruano. Os desafios no processo de integração estão ligados, sobretudo, à tentativa de manter a dinâmica da integração física, seguindo a agenda de metas de 2005 a 2010 do projeto IIRSA. Nesta agenda estão priorizadas as implementações de centros binacionais de atenção fronteiriça que facilitem o fluxo comercial de pessoas, a continuação das obras da Rodovia Interoceânica no lado peruano, a estrada no Eixo Multimodal Amazônia do Norte, a implementação de centros logísticos avançados e a modernização dos portos das cidades de Paitas e Iurimaltas. Outro desafio a ser enfrentado é a aquisição de novos recursos via financiamentos. Os países envolvidos no projeto enfrentam restrições fiscais ou sofrem com 38 limitações provocadas pela dívida externa que lhes impedem de destinar novos recursos para esta iniciativa. “ É preciso regulamentar normas que facilitem os fluxos de comércio ” CARLOS SÁNCHEZ DEL AGUILAN “É preciso continuar explorando mecanismos financeiros inovadores. É importantíssimo, também, desenvolver um sistema de transporte aéreo transfronteiriço, que facilite o desenvolvimento dos negócios e do turismo entre nossas regiões. É preciso, também, insistir na regulamentação das normas que orientam e facilitam os fluxos de comércio nas áreas terrestre, aérea e marítima, e na aplicação das tecnologias de informação e comunicação a serviço da competitividade da integração sul-americana.” Finalmente, o cônsul-adjunto concluiu que o processo de cooperação entre o Peru e Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U o Brasil para a implementação da IIRSA é fundamental para o desenvolvimento do interior dos dois países e do próprio continente. “A integração peruano-brasileira é fundamental para os países andinos e para o Mercosul. Oferece, também, uma projeção para o Oceano Pacífico, especialmente para mercados como a costa Oeste dos Estados Unidos, a China, o Japão e a Austrália. As economias do Peru e do Brasil são complementares. As prospecções comerciais mostraram isso. Temos que seguir avançando para aumentar o número de negócios e, finalmente, entrarmos na segunda etapa do processo de integração, que é a articulação de transportes transfronteiriços e a harmonização das normas que permitam o fluxo comercial. Isso é tudo, muito obrigado”. O moderador Jovelino Gomes Pires ressaltou, então, a importância de se estimular a iniciativa privada a investir no transporte da região, sobretudo no fluvial. Ele agradeceu a participação de todos e considerou encerrado o painel. FCCE Federação das Câmaras de Comércio Exterior Foreign Trade Chambers Federation Seminários Bilaterais de Comércio Exterior e Investimentos Calendário 2006 20 de fevereiro RÚSSIA 20 de março ÁFRICA DO SUL 24 de abril FRANÇA 22 de maio PERU 19 de junho PORTUGAL 17 de julho CHINA 21 de agosto PANAMÁ 18 de setembro SUÉCIA 23 de outubro ESPANHA 13 de novembro FINLÂNDIA 11 de dezembro ALEMANHA Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 39 ENCERRAMENTO Gustavo Assad, José Betancourt Riveta, Marco Carreón, Marco Aurélio Andrade e Arthur Pimentel participaram do encerramento do seminário. Cultivar novas propostas para colher desenvolvimento Sessão Solene de Encerramento do Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos BrasilPeru foi presidida pelo Diretor de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC, Arthur Pimentel, representando o Ministro de Estado, interino, do MDIC, Ivan Ramalho. Ele chamou para compor a mesa o Ministro José Betancourt Rivera, encarregado de negócios da Embaixada do Peru no Brasil; o Ministro Marco Carreón, Cônsul-Geral do Peru no Rio de Janeiro; Gustavo Assad, Diretor da Área Internacional da Construtora Norberto Odebrecht; Luiz Guilherme Soares Bomfim, Assessor Técnico da Divisão de Mercado e Ação Comercial da Companhia Docas do Rio de Janeiro; Fernando Vasconcelos de Sá, Chefe da Divisão de Mercado e Ação Comercial da Compa- A 40 nhia Docas do Rio de Janeiro; e José Luiz Lopes Teixeira Filho, Superintendente de Marketing da Companhia Docas do Rio de Janeiro. O presidente da sessão iniciou sua fala destacando a contribuição de todas estas personalidades ao seminário e falou sobre a atuação da Odebrecht no exterior: “É isto mesmo, nós devemos insistir em exportação de serviços, pois é no vácuo da exportação de serviços que o país está construindo os números e a realidade da sua política de exportações”. O Diretor de Comércio Exterior do MDIC, Arthur Pimentel, fez questão de deixar registrada a presença, no seminário, do secretário de desenvolvimento e turismo do Maranhão, “porque sabemos o interesse dos estados no comércio exterior e na atração de investimentos. Gostaria, ainda, de agradecer a participação do médico e amigo Cláudio Chaves,Vice-Pre- Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U sidente da primeira filial da Federação das Câmaras de Comércio Exterior, no Amazonas, com quem tivemos a honra de conviver durante a inauguração.” Finalmente, o presidente da sessão fez um agradecimento especial ao SecretárioGeral da Câmara de Comércio Brasil-Peru, Marco Aurélio de Andrade e, também, ao Presidente da mesma câmara, Marco Pólo Moreira Leite. “Eu gostaria de dizer que este tipo de evento, um fórum desta natureza, pode parecer um encontro meramente institucional, mas cada um de nós, tanto da esfera do governo quanto da esfera empresarial, sai daqui com uma idéia nova ou uma boa sugestão. Seminários como esse, realizado pela FCCE, têm dado um retorno direto e é com isso que nos aproximarmos ainda mais dos países da América Latina, que consideramos como irmãos.” EM PAUTA Pavilhões da FCCE Histórico e origens Federação das Câmaras de Comércio Exterior possui, desde a sua criação, no ano de 1.950, seu Pavilhão, sua “Bandeira”, a qual representa as tradições e os objetivos maiores de nossa FCCE; incrementar o Comércio Bilateral, por meio do apoio às câmaras de comércio filiadas. O “Pavilhão” original, gironado de verde e branco, apresenta, no centro, a representação do Globo Terrestre identificando assim o caráter internacional do comércio (fig. A). Esse Globo é ladeado por ramos de café e canade-açúcar, sugerindo a nacionalidade, encimados pelo caduceu do deus grego Hermes, conhecido na mitologia romana como o Deus Mercúrio, filho bastardo de Júpiter, patrono de todas as atividades comerciais. Esse primeiro pavilhão foi herdado pela FCCE de sua antecessora, a Federação das Câmaras de Comércio Estrangeiras, que havia sido criada no ano de 1.932, desativada durante a II Guerra Mundial, e que depois deu lugar à atual Federação das Câmaras de Comércio Exterior, reativada pelo empresário João Daudt de Oliveira, no ano de 1.950. Na década de 80, a diretoria da FCCE decidiu atualizar e modernizar esse Pavilhão, tendo, então, promovido um “concurso” entre diversos desenhistas profissionais, sobretudo aqueles com conhecimentos sólidos em heráldica. Foram finalistas 3 propostas, (figs. B, C e D) bastante parecidas, por sinal. Foram submetidas ao julgamento do plenário do Conselho Deliberativo da FCCE e seus membros decidiram pela composição atual, que é: em fundo vermelho, uma estrela raiada de ouro bordada de prata (branco), carregada de um circulo contendo a esfera armilar em preto o branco e, em abismo, o desenho atualizado, modernizado, do caduceu-simbolo, já usado, porém de forma arcaica, no pavilhão anterior (fig.D). O novo Pavilhão possui, ainda, nascendo lateralmente, uma larga faixa, em pre- A Fig. A: O pavilhão original, utilizado a partir de 1.932, e “restaurado” em 1.950. Figs.B e C: propostas finalistas do concurso de 1.980. Fig. D: Pavilhão vencedor do concurso. Fig. E: Pavilhão de honra, privativo do Conselho Superior e do Presidente. to, com as iniciais da Federação em branco, ou prata. Na vertical, partindo do meio da estrela raiada, temos uma faixa preta carregada de 2 palas de branco ou prata, carregada de uma faixa menor, em vermelho. Essa é a versão atual, oficial, do Pavilhão da FCCE, que pode ser utilizado tanto na forma de bandeira como galhardete. A Federação utiliza, também, um “pavilhão de honra” que tem exatamente a mesma concepção, porém com fundo prata, predominando as cores ouro e negro (fig. E). Esse “pavilhão de honra” é, de acordo com o Estatuto da FCCE, privativo do Presidente, e dos DiretoresConselheiros titulares do Conselho Superior. Somente pode, e deve ser utilizado, quando na presença de um desses membros, ou seja, é privativo dos mesmos. Essa foi a forma que a direção da FCCE encontrou para homenagear e diferenciar, sobretudo, os componentes do Conselho Superior, vitalícios, em número de 15, e que são, não só o orgulho da FCCE, como principalmente a história do Comercio Exterior Brasileiro. Conforme dito, esse Conselho Superior é composto de membros vitalícios, independentes de mandato ou eleição e, para ele, por proposta do presidente e aprovação da Assembléia Geral, serão conduzidos novos membros somente quando da vacância por falecimento. O nosso “pavilhão” é , portanto, a representação viva das tradições e do trabalho realizado pela FCCE ao longo de todas essas décadas, e esperamos que ele continue assim representando a seriedade, a honestidade, e a dignidade que são os princípios básicos da atuação de nossa Federação das Câmaras de Comércio Exterior. Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 41 TURISMO Destino Peru Uma diversidade impressionante de atrações seduz os visitantes brasileiros Abrir o baú de tesouros peruanos pode ser uma experiência encantadora para o turista. Além da cidade perdida dos Incas, Machu Picchu, a 2.400 metros de altura, e rodeada por um silêncio místico, o visitante pode se deslumbrar com os mistérios das linhas de Nazca; com as tumbas de ouro do complexo arqueológico de Huaca Rajada; com a antiga metrópole de barro, próxima à cidade de Trujillo; ou, ainda, conhecer o centro histórico e as igrejas da capital, Lima. Segundo dados da Embratur, entre 1996 e 2003, o número de brasileiros que visitou o país andino aumentou mais de 100%, passando de 19.357 para 52.812 pessoas. As Linhas de Nazca Em maio de 2006, arqueólogos peruanos anunciaram a descoberta do corpo de uma jovem guerreira, mumificada há mais de 1.500 anos, pertencente à extinta dinastia moche. Apesar de contar com um patrimônio arqueológico rico em tesouros já descobertos e estudados, novos achados como este estão sempre surgindo. É como se o Peru estivesse sempre se descobrindo. Esta presença constante de surpresa e magia desperta a curiosidade e o instinto arqueológico de muitos turistas. 42 As linhas de Nazca formam desenhos só percebidos a grandes alturas, como este beija-flor. Entre as fascinantes atrações peruanas destacam-se as misteriosas Linhas de Nazca. Essas linhas são rachaduras ou sulcos de 20cm de profundidade, que formam imagens com cerca de 500m de extensão, em uma área de aproximadamente 350km2. Entre os desenhos, podem ser identificadas representações de animais como a aranha, o macaco, o cachorro e, também, figuras de plantas e vegetais. O mais curioso é que ninguém sabe exatamente como elas surgiram nas planícies Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U de San José, a 100 km ao Sul da cidade de Ica, uma das mais importantes do país, onde se desenvolveram algumas das mais representativas civilizações do antigo Peru, como Paracas e Nazca. Foram feitas há séculos, numa época em que não existia avião. Como puderam ser desenhadas de modo a formar figuras gigantescas, identificáveis apenas de cima? Houve quem levantasse a hipótese de terem sido realizadas por extra-terrestres. A alemã María Reiche dedicou meio século A monumental Plaza de Armas de Cuzco é cenário para danças folclóricas (abaixo) e procissões. Cuzco: destino preferido A cerâmica (na página ao lado) impressiona pela elegância, estilização dos motivos e diversidade. As lãs produzidas em teares manuais, com padronagem e colorido característico, podem ser encontradas em todo o país. ao estudo das linhas e concluiu que se trata de um calendário astronômico. Em 1994, depois de sucessivos trabalhos empreendidos desde o início do século XX para pesquisar e entender as origens e a maneira utilizada para produzi-las, as Linhas de Nazca formam declaradas Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco. O destino mais conhecido e procurado pelos turistas que visitam o país é Cuzco, a capital arqueológica da América. Perto de Cuzco, na região Sudeste da Cordilheira dos Andes, fica Machu Picchu. O nome é de origem quéchua e quer dizer umbigo ou centro do mundo, para evidenciar que ali era a capital do império Tawantinsuyo, um dos maiores centros de poder pré-colombianos. Durante séculos, as ruínas ficaram perdidas na selva e puderam se conservar. Como toda cidade mística, Cuzco também é cercada de lendas. Uma delas conta que um casal, Manco e Mama, emergiu Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 43 TURISMO das águas do lago Titicaca a fim de mostrar ao seu povo a melhor maneira de cultivar a terra. Com a chegada dos espanhóis, em 1533, a região se transformou num dos pólos do poder colonial. A arquitetura do país ibérico se sobrepôs às pedras incas e é impressionante ver igrejas católicas erguidas sobre templos ancestrais. Apesar disso, ainda restaram zonas arqueológicas de imenso valor. Assim, a cidade conta, também, com edificações de estilo barroco e renascentista. Em 1983, a região de Cuzco foi considerada Patrimônio Cultural da Humanidade. Visitar Cuzco é como fazer uma viagem no tempo, em direção a uma época na qual poesia e conflitos se juntavam em histórias e lendas. A cidadela de Ollantaytambo, por exemplo, homenageia o cacique Ollanta, famoso por ter conquistado uma princesa inca, filha de Pachacútec. Neste sítio arqueológico estão o Templo do Sol e um local onde a amada de Ollanta tomava seus banhos: Los baños de la princesa. Em Tipon, não muito distante do centro de Cuzco, é possível entender porque os historiadores celebram as habilidades do povo inca, principalmente no trato com a agricultura. Impressiona o domínio da técnica do escoamento de água por meio de aquedutos, para citar apenas uma façanha da engenharia. É importante ter em mente que a tecnologia utilizada pelos incas remonta há mais de quinhentos anos. Outro lugar fascinante é Moray e seu anfiteatro rebaixado. Estudiosos afirmam que o local era largamente utilizado para experimentações agrícolas. Os nativos No Anfiteatro de Moray, civilizações pré-colombianas cultivavam 250 espécies vegetais. queriam descobrir formas de irrigação e cultivo em diferentes altitudes. Segundo os especialistas, nesta região foi testado o cultivo de mais de 250 espécies diferentes de vegetais. Em direção à Machu Picchu Além de mapas, guias ou dicas de viagens, muitos turistas gostam de levar na mochila as impressões de poetas ou cronistas sobre as regiões visitadas. O poema “Alturas de Machu Picchu”, faz parte do livro “Canto General”, publicado originalmente em 1950 pelo poeta chileno Pablo Neruda, Prêmio Nobel de Literatura. Estes versos dão bem a medida da dimensão Na Isla de los Uros, no Titicaca, aterros e barcos de junco. 44 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U simbólica e magnífica das ruínas da cidade histórica do império inca. Para aqueles que têm mais fôlego e adoram uma caminhada, uma boa maneira de alcançar a cidade é pela Estrada do Inca. O percurso, de 40 km, normalmente é feito em quatro dias. O visitante avança por diferentes níveis de altitude e passa pelas cidades de pedra de Phuyupatamarca e Wiñay Wayna, além de outros 16 sítios arqueológicos. Este é, sem dúvida, um dos roteiros de trekking mais festejados da América Latina. Além do poeta chileno, que usava as palavras para lutar pelo povo e pelo amor, outros se encantaram com a cidade perdida dos O Templo do Sol (acima) é uma das atrações de Machu Picchu (à direita). Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 45 TURISMO Em Chan Chan, casas, palácios e labirintos A luxuosa tumba do Senhor de Sipán e seus tesouros fazem parte do Complexo Arqueológico de Huaca Rajada. incas. Ernesto Che Guevara também alcançou este destino com seu amigo Alberto Granada, em 1952, quando tinha 23 anos, durante sua primeira viagem pelas veias abertas da América Latina. No filme “Diários de Motocicleta”, do diretor brasileiro Walter Salles Jr., é possível perceber o impacto emocional que a vista da herança arquitetônica dos incas causou nos dois aventureiros. Machu Picchu foi descoberta em 1911 por Hiran Bingham, um explorador norte-americano. Está localizada no alto de uma montanha, a 2.400 metros de altitude, no centro de um cânion do rio Urubamba. Impressiona o fato de ser uma cidade totalmente construída com pedras encaixadas, com aproveitamento de todos os espaços. Pode ser dividida em duas grandes áreas. Uma delas é destinada ao armazenamento de alimentos e à agricultura e possui escadarias e terraços próprios para o cultivo de vegetais, como a bata46 ta, uma planta que foi cultivada pelos antigos peruanos. A outra é considerada urbana e tem templos, praças e mausoléus. Bingham descobriu nela até um cemitério de mulheres, o que o levou a pensar que a cidade tivesse como finalidade principal o culto à religião. Alguns estudiosos acreditam que a região também era amplamente utilizada como posto privilegiado para a observação astronômica. Além da Estrada do Inca, pode-se, também, chegar à cidadela a partir de Cuzco em uma viagem de trem que dura três horas. Depois, vans conduzem o visitante a Machu Picchu. Para os mais apressados, e com maior poder aquisitivo, um helicóptero reduz bastante o tempo de subida. Logo em frente à cidade, se descortina, soberana, a montanha Huayna Picchu. Relíquias por toda parte O Peru é um país que tem relíquias em todo o seu território. Ao Norte, por exemplo, localiza-se a luxuosa tumba do Senhor de Sipán, patrimônio de destaque no complexo arqueológico de Huaca Rajada. As escavações e o trabalho de especialistas revelaram uma história de mais de 1700 anos. O Senhor de Sipán era considerado um semi-deus e, por isso mesmo, sua morte foi acompanhada de rituais místicos e de sacrifícios religiosos. Na sua tum- Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U ba também foram encontrados corpos de três mulheres, um chefe militar, um porta-estandarte, um sentinela, um guardião e uma criança. Ao todo, oito pessoas, além do soberano que foi sepultado coberto de ouro, prata e símbolos de autoridade. O museu que abriga as tumbas de ouro fica a 35 km da cidade de Chiclayo e é considerado um dos principais centros de arqueologia da América. A cidade de barro O que dizer, por exemplo, de uma metrópole de barro? Ela ainda existe, no Peru, próximo à cidade de Trujillo. Naturalmente, não mantém a mesma exuberância de tempos idos, mas o que dela restou dá para entender por que motivo o Rei Chan Chan (Sol Sol) decidiu ali ficar por toda a eternidade. Segundo os especialistas, a cidade abrigava mais de 100 mil pessoas de diferentes classes sociais. Esta descoberta é justificada pelas características das edificações encontradas: desde casas populares, até palácios. As ruínas mostram, ainda, moradias, praças, depósitos, oficinas, ruas e labirintos. A beleza está nos detalhes, pois até nos muros é possível identificar minuciosas decorações em relevo, com figuras geométricas e de animais. A cidade foi construída a partir do século XII, no reinado do Grande Chimu. mação da República do Peru, já no século XIX. Lima voltaria, então, à vanguarda das cidades da América. Atualmente, a capital reúne 25% de toda a população do país, além de concentrar dois terços de sua atividade econômica e industrial. Por tudo isso, a capital é conhecida como pequeno Peru. Uma das características marcantes do país é a mestiçagem. Essa mistura de raças e crenças reflete-se na culinária e na arquitetura. A igreja de La Merced é um bom exemplo. Construída no século XVII, ela se ergue majestosa no centro da cidade e homenageia a Virgem das Mercedes, padroeira do exército peruano. A igreja abriga uma das mais importantes coleções de obras de arte da época em que Lima estava sob o domínio dos espanhóis. A presença colonizadora do país ibérico deixou marcas e costumes em terras americanas. Um exemplo é o bairro de Rímac, um dos mais tradicionais de Lima. Na região foi construída uma das primeiras arenas de touros da América que leva o nome de Praça de Touros de Acho. É comum os maiores toureiros do mundo se apresentarem na Feira Taurina do Senhor dos Milagres, que acontece no bairro. Como se não faltassem motivos para visitar as cidades peruanas, os dois governos aprovaram a isenção da apresentação de passaporte entre Brasil e Peru, como acontece entre os países pertencentes ao Mercosul. Assim, fica facilitado, para os brasileiros, um mergulho cultural e histórico em terras peruanas. feitos de barro, com detalhes em relevo. Lima, a capital Conhecida como cidade dos reis e dos vice-reis, Lima é cercada por templos barrocos e renascentistas. Originalmente uma área de pescadores, a atual capital do Peru foi fundada em 1535. A privilegiada localização no litoral do Oceano Pacífico foi fundamental para que a cidade concentrasse atividades comerciais, culturais e políticas, tendo tornado-se a metrópole mais importante da América espanhola. Com a criação do Vice-Reino do Rio da Prata, ao Sul do continente, o novo centro de poder passou a gerenciar as minas de Potosi, no atual território boliviano. Isto levou Lima a um processo de decadência que só seria revertido depois da procla- A Catedral de Lima abriga em seu interior uma admirável coleção de pinturas e esculturas dos séculos XVII e XVIII. Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 47 HOTELARIA Hotel Senac Grogotó. Hotel Grande Hotel São Pedro. Grande Hotel Campos do Jordão. Hotel Ilha do Boi. Hotéis-escola Senac Vivência de trabalho em ambiente de ensino Os Hotéis-Escola do Senac • Hotel Ilha do Boi Vitória – Senac/ES • Hotel Senac Grogotó Barbacena – Senac/MG O crescimento e a modernização da rede hoteleira nacional são hoje pilares do desenvolvimento do turismo no Brasil. Ao lado de grandes complexos hoteleiros, multiplicam-se no país estabelecimentos de pequeno e médio portes, financiados por empreendedores nacionais. O sucesso desses novos empreendimentos hoteleiros está condicionada à qualidade dos recursos humanos empregados. Disposto a acompanhar e respal48 dar esse crescimento, o Senac, além de algumas centenas de cursos de qualificação, habilitação e aperfeiçoamento, mantém seis hotéis-escola. São instalações de primeiro nível, onde o aluno tem oportunidade de aprender ao mesmo tempo em que vivencia situações reais de trabalho. Para o cliente, os hotéisescolas representam uma oportunidade de desfrutar serviços de qualidade, com padrão Cinco Estrelas. Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U • Hotel Grande Hotel São Pedro Águas de São Pedro – Senac/SP • Grande Hotel Campos do Jordão Campos do Jordão – Senac/SP • Hotel Senac Guaramiranga – Escola de Turismo e Hospitalidade Guaramiranga – Senac/CE • Hotel-Escola Senac Barreira Roxa Natal – Senac/RN PARCERIA “Precisamos nos integrar com toda a América Latina” “Voltar os olhos para os países-irmãos; estabelecer parcerias que visem ao equilíbrio da região; incentivar a transferência de conhecimento; e encontrar maneiras para salvaguardar as riquezas nacionais sem danos à relação comercial.” Estas são algumas idéias do Presidente do Conselho de Comércio Exterior da Associação Comercial do Rio de Janeiro e Presidente da Câmara de Comércio Brasil-Peru, Marco Pólo Moreira Leite, para o desenvolvimento de uma América Latina vigorosa no cenário do comércio internacional. Nesta entrevista, ele comenta as vantagens de facilitar o acesso terrestre aos oceanos Pacífico e Atlântico, para o Brasil e o Peru respectivamente. Ressalta, ainda, o papel que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa tem a desempenhar no comércio entre os dois países. Qual o panorama da relação comercial entre Brasil e Peru e quais as perspectivas de entendimento entre os dois países? MPML – Nossa relação comercial está como sempre esteve nos últimos anos. Houve, entretanto, uma melhoria e um crescimento. Há uma balança comercial extremamente favorável ao Brasil. No ano passado, se não me engano, foi para mais de US$ 400 milhões em favor do Brasil. Acho que o Brasil tem um papel extremamente importante no sentido de equilibrar sua relação com os países sul-americanos e de buscar uma forma mais equânime de lidar com este processo. O que digo não se expressa em números que a balança vai mostrar, porque é impossível comparar o grau de adiantamento do Brasil, que tem um grande parque industrial, com o de nossos vizinhos. Nós podemos, sim, desenvolver parcerias estratégicas que permitam o crescimento de uma relação mais próxima com o Peru. Vejamos, por exemplo, o agrone- Marco Pólo Moreira Leite. gócio. Por meio da Embrapa, o Brasil tem possibilidades de dar uma grande ajuda àquele país, na área das fazendas marinhas. Hoje, o Brasil tem uma Secretaria de Pesca extremamente desenvolvida e poderia, inclusive, fazer esta ligação. É por aí que temos que caminhar. A que modelos de interação o senhor se refere? O Acordo de Livre-Comércio Mercosul-Peru, por exemplo, é uma dessas formas? MPML – Sem dúvida. Hoje, há um acordo de livre comércio, por exemplo, assinado entre Estados Unidos e Peru. Esta é uma estratégia que está sendo desenvolvida claramente pelo governo norte-americano: fazer acordos em separado. Eu não digo que isto vá minar o Mercosul, mas dificulta nossa integração por esta via. Por isso acho necessária uma ampliação das relações comerciais entre o Mercosul, propriamente dito, e o Pacto Andino, onde questões como essas podem e devem ser aprofundadas. A construção da ponte Assis-Brasil, ligando o Brasil ao Peru é um marco no estreitamento das relações? MPML – Sem dúvida. Este é um passo extremamente importante. Um passo maior é a abertura do corredor bioceânico, ou seja, a ligação terrestre do Pacífico com o Atlântico. Há um estudo claro de saída para o Pacífico, por exemplo, pelo porto de Cajal, no Peru, criando uma ligação que pode ser estendida até o Porto de Sepetiba (RJ), integrada por rotas que incluem vias terrestres e fluviais. Enfim, esta é uma saída extremamente interessante, que vai permitir-nos um ganho de escala para a nossa produção de soja e de minério. É uma integração fundamental e tem que ser feita. O senhor poderia desenvolver um pouco este tema do corredor bioceânico? Quais são as vantagens práticas, para o Brasil, ter uma saída para o oceano Pacífico? MPML – Haverá um escoamento da produção do Centro-Oeste brasileiro, com custo reduzido, fretes mais baratos, saídas menores e tempo de viagem mais curto para os países da Ásia, que é um grande mercado nosso. A China, hoje, é um dos grandes parceiros comerciais do Brasil e, certamente, existindo saídas pelo Pacífico mais fáceis do que pelos portos tradicionais do Atlântico, você pode imaginar o que isso significaria, em termos de agilidade, para esta rota do nosso comércio exterior. Hoje, o principal é o tempo e o custo. Essas duas equações estarão resolvidas com o corredor bioceânico. O senhor citou, durante o seminário, a intenção do presidente da Bolívia, Evo Morales, de nacionalizar o gás boliviano. Gostaria que o senhor explicitasse um pouco mais sua posição sobre esse tema. MPML – Esta é uma posição particular, volto a dizer. Acho que temos que olhar a Bolívia como um país-irmão; um país com uma extrema pobreza, mas um país altivo e altaneiro. A Bolívia passa por grandes dificuldades. Sempre passou. Isto vem desde a época da exploração do estanho, na déca- Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • PERU 49 PARCERIA da de 50. A grande riqueza deles, hoje, é o gás natural. Com o gás, há uma tentativa e um caminho para sair da pobreza e o Brasil deveria colaborar com isso. Nesse cenário, é óbvio que os interesses brasileiros devem ser defendidos. Eu não tenho dúvida de que serão e de que haverá acordos entre o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Presidente Evo Morales. Eu não vejo a menor possibilidade de isso não acontecer. O Brasil é um grande parceiro e um grande comprador do gás boliviano. Não há por que não existir uma sólida parceria entre os dois países, e as coisas estão caminhando neste sentido. Acho que é preciso, também, verificar o momento político em que essa atitude foi tomada. Há uma grave crise política na Bolívia, que Evo Morales está buscando enfrentar. Ele passou por um período de declínio em sua popularidade, e teve que tomar uma atitude. De uma forma ou de outra, não vamos discuti-la aqui, mas não tenho a menor dúvida de que a Bolívia chegará a um bom termo na relaçãocom o Brasil e com a Petrobras. Não tenho a menor dúvida. O senhor considera que deve haver uma colaboração do governo brasileiro no sentido de aceitar essa nacionalização? MPML – O governo brasileiro já aceitou. Isso é irreversível. Havia uma discussão sobre os interesses brasileiros que terão de ser, de alguma forma, ressarcidos. Está sendo discutido, não passionalmente, como foi no início, o pagamento em gás ou em dinheiro. A Petrobras já demonstrou que esse entendimento é do seu interesse e pode ser alcançado de diversas formas. Para mim, volto a dizer, não há conflito. Há um estremecimento, vamos dizer, há um tremor na relação, mas não há nenhuma crise Brasil-Bolívia. Muito menos entre a Petrobras e a sua necessidade de ser ressarcida, de continuar mantendo o gás boliviano como sua fonte de abastecimento. Existe, hoje, um movimento de nacionalização na América Latina. O que isso muda na relação comercial entre Brasil e Peru? MPML – Acho que esse movimento começou com o próprio Brasil. Se formos 50 pensar, Getúlio Vargas nacionalizou o petróleo na época da campanha “O petróleo é nosso!”. O minério do Brasil também é nosso. Não tem jeito, minério de ferro é da Vale do Rio Doce. Isso é claro, por que não? É uma forma de os países em desenvolvimento se protegerem. Os países ricos se protegem de outra maneira. Os Estados Unidos subsidiam grande parte de sua produção agrícola, por exemplo, como a Europa também faz. “ O Brasil é um grande comprador do gás boliviano. Não há por que não existir uma sólida parceria. As coisas estão caminhando para isso ” MARCO PÓLO MOREIRA LEITEN Conversei recentemente com um empresário francês e ele me disse que o grau de financiamento da agricultura francesa é terrível. São justamente esses produtos subsidiados que vão chegar aos mercados para competir com os nossos. Há uma competição muito nítida. A maneira pela qual os países da América do Sul estão enfrentando essa questão é, a meu ver, absolutamente correta, procurando nacionalizar seus bens e seus recursos naturais. Mesmo que isso implique na expropriação de algumas empresas? MPML – Mesmo que isso implique na expropriação de uma empresa. Essa é a regra do jogo. É a forma como eles podem se defender. Isso nunca quer dizer abrir mão do que foi investido. Nem isso foi colocado pelo Presidente Evo Morales ou por qualquer outro presidente latinoamericano. Ele pode ter se manifestado de forma um pouco mais intempestiva, mas, em muitas ocasiões, ele demonstrou que quer a Petrobras e que quer o Brasil como parceiro. Como o senhor vê a questão das fronteiras brasileiras na região Amazônica? O senhor acha que a região é bem explorada? Ali pode ser um centro de desenvolvimento brasileiro e dos países-irmãos? MPML – Eu acho que sim. Mas em primeiro lugar, o Brasil precisa tomar muito Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U cuidado com as suas fronteiras. É o ponto número um. Nós temos que ter cuidado, porque hoje há um inimigo grande e forte que se chama narcotráfico. E voltamos então à discussão da necessidade de que esses nossos países vizinhos possam melhorar sua condição de vida, a condição de vida do seu povo. É na pobreza que se insere o narcotráfico, esse cancro que existe em todo o mundo. Muitas grandes cidades latino-americanas são depositárias dessa infeliz ligação pobreza-narcotráfico-traficantes e tudo mais. Até por uma questão de inteligência, não podemos deixar isso acontecer. E não podemos deixar isso acontecer simplesmente por causa de nosso futuro. Como o comércio de produtos legais pode ajudar nesse cenário? MPML – Em algumas regiões da Bolívia foi introduzido o cultivo da soja. No Peru, por exemplo, a Embrapa está presente, desenvolvendo o plantio de cana-de-açúcar, para melhorar a produção local. Isso tudo pode ser feito. São vários os caminhos. Nós temos, atualmente, no Peru, a presença da Embrapa, da Petrobras, da Vale do Rio Doce, da Odebrecht. Que outras empresas brasileiras o senhor citaria? MPML – Eu falo especificamente da Embrapa por ela ser gestora de uma transferência de conhecimento que vai permitir aos países atendidos melhorar sua produção. A melhoria da produção peruana, por exemplo, promove sua condição financeira, seu nível de vida e, certamente, tem rebatimento positivo sobre a economia brasileira, pois estimula o comércio bilateral. O Brasil dever investir, então, nos países da América do Sul? MPML – Qualquer país da América do Sul vale o investimento brasileiro. É importantíssimo que estejamos unidos. Sempre estivemos de costas para a América Latina e isso foi um erro histórico. Temos que nos integrar. Só assim vamos conseguir fazer frente a um comércio internacional com alto grau de competição. Nesse contexto, não há mais criança, nem brincadeira, nem amigo. É um jogo pesado. Se quisermos ter bons resultados, temos de estar juntos e integrados. CULTURA A Escola Cuzquenha de pintura: um tesouro da América colonial O Peru trabalha para assegurar a sobrevivência de um acervo valioso Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 51 CULTURA A o empreenderem a colonização da América do Sul, portugueses e espanhóis, além da descoberta e da exploração das riquezas mi- nerais das diversas regiões do continente, tinham objetivos catequéticos e visavam a converter os povos indígenas que por ali encontraram. Uma das ferramentas mais utilizadas para trazer as almas pagãs à religião católica foi o ensino das artes. Destacam-se a pintura e a escultura, pois privilegiavam a imagem, recurso valioso e que transcendia o conhecimento das línguas locais pelos colonizadores. Na América portuguesa, ficou famosa a imaginária criada pelos guaranis, sob orientação dos jesuítas, e cujos remanescentes constituem o rico acervo do Museu das Missões, localizado em Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul. Nada se compara, no entanto, à pujança e à alta qualidade da chamada arte cuzquenha, escola de pintura hispano-americana que vicejou em grande parte da costa do Pacífico, na região que constituía o imenso Vice-Reino do Peru. Foi com a conquista de Cuzco, em 1534, que os espanhóis iniciaram a evangelização dos povos incaicos, enviando para o vice- (Página 51) Sagrada Família com São João menino Séc. XVI Óleo sobre tela, 1,90m x 1,00m. Igreja da Companhia de Jesus, Arequipa Esse tema, ao mesmo tempo sacro e familiar, tão caro aos pintores da Renascença, é retomado aqui por um pintor anônimo da Escola Cuzquenha do século XVIII. A disposição das figuras não difere muito dos modelos europeus, mas a cortina entreaberta, a profusa e luminosa decoração das auréolas e das vestes das personagens constituem-se em marca registrada da escola. Esse óleo sobre tela pertence ao acervo do Mosteiro de Santa Rosa, de Lima. (Página 52) Cristo Ressuscitado Séc. XVII, circa 1603 Óleo sobre tela, 1,90m x 1,90m. Igreja da Companhia de Jesus, Arequipa (Página 53) Virgem com o Menino Séc. XVI Óleo sobre tela, 1,90m x 1,00m. Igreja da Companhia de Jesus, Arequipa Essas duas excelentes pinturas do padre jesuíta italiano Bernardo Bitti, que, vindo da Espanha, viveu 35 anos no Peru e é considerado o primeiro mestre da Escola Cuzquenha, ressentem-se da influência do maneirismo europeu e atestam a alta qualidade da arte praticada pelos professores que a metrópole designou para o ensino da pintura no vice-reino. São óleos sobre tela e pertencem ao acervo da Igreja da Companhia de Jesus, em Arequipa. 52 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U reino um grupo de religiosos artistas – tais como o jesuíta Bernardo Bitti. O grupo dedicou-se à criação de obras de caráter doutrinário, formando escolas de pintores índios e mestiços, a quem foram ensinadas a arte do desenho e a técnica do óleo. O termo “cuzquenho” , entretanto, não se restringe a Cuzco – que, atualmente, é uma cidade peruana – e dá nome à produção pictórica de vários países andinos, como Peru, Bolívia e Equador, entre os séculos XVI e XVIII. A denominação, que acabou batizando a primeira e mais importante escola de pintura das Américas, generalizou-se porque a cidade de Cuzco era a capital e o centro do Império Inca. Uma pintura religiosa Os temas da pintura cuzquenha são exclusivamente religiosos e, curiosamente, exploram uma temática já trabalhada pelos pintores italianos da Idade Média, como a dos mestres das cidades de Pisa e Siena, e a de Fra Angélico, na primeira metade do século XIV. Seus temas são, principalmente, as cenas bíblicas da tradição católica, como as que glorificam e exaltam as figuras de Jesus Cristo, de Maria Santíssima e dos santos. São abordadas, com freqüência, cenas que registram as glórias do Paraíso e da corte celestial, assim como as danações e castigos verificados nas profundezas do Inferno. Os cuzquenhos – assim como os pintores da Europa pré-renascentista – ignoram a perspectiva e, para dar ênfase à beleza física das figuras religiosas, agigantam os santos, enquanto reduzem seus devotos a pontos minúsculos nas suas telas. Para criar uma idéia de monumentalidade, imprimem grande volume aos mantos suntuosos que caem dos ombros de Cristo, da Virgem e dos santos, cujas figuras são contornadas, ainda, por cortinas e colunas. A Europa revisitada Assim como ocorreria na torêutica da Ouro Preto colonial portuguesa, os modelos das pinturas cuzquenhas eram estampas gravadas e livros ilustrados que os colonizadores faziam vir da Europa, o que, curiosamente, aproxima suas produções das escolas bizantina, flamenga e pré-renascentista italiana. Nas mãos dos nativos, entretanto, esses modelos sofrem todo o tipo de metamorfose, resultando em obras de artes originais, que exibem uma liberdade desconhecida dos europeus. Não dispensam, também, as cores vivas e, em obediência aos cânones do barroco, em voga na Europa seiscentista, as imagens distorcidas que configuram maior dramaticidade às cenas expostas. Marca Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 53 CULTURA A beleza que ressurge A pintura cuzquenha corresponde, cronologicamente, à vigência do maneirismo e do barroco na Europa. Com o advento da escola neoclássica, que empolgou a pintura ocidental, a partir do final do século XVIII, a temática cuzquenha, a que não faltam os exageros e meneios do barroco, cai em desuso e sai de moda. É, então, que muitas de suas obras mais representativas sofrem repinturas que as descaracterizam e mutilam, em busca de uma sobriedade e de proporções geométricas que nunca foram uma preocupação de seus artistas. As autoridades culturais do Peru, preocupadas com a sobrevivência, em boas condições de integridade e visibilidade, de todo o seu tesouro cuzquenho, iniciaram, a partir da década de 80 do século XX, um vasto programa de restauração dessas obras. O esplêndido resultado dessa ação meritória pode ser observado na publicação “Pintura en el Virreinato del Peru”. A obra consta de ensaios de autores sulamericanos, espanhóis e americanos e enfoca os diferentes momentos da evolução daquela pintura e o imenso trabalho de fazer com que ela retornasse ao seu esplendor original. Patrocinada pelo Banco de Crédito do Peru, essa ação garantiu a permanência, em ótimas condições, do mais rico e mais importante acervo de pintura colonial das Américas. registrada dessa pintura é, também, a ornamentação profusa dos seus quadros, cujos fundos são, quase sempre, ilustrados com figuras relativas à fauna e à flora andinas, misturadas a estrelas, anjos e arcanjos. A grande maioria dos trabalhos de pintura da escola cuzquenha pertence a autores cujo nome se ignora, dada a tradição recebida dos povos pré-colombianos, cuja arte era essencialmente comunitária, ritual e anônima. Os historiadores dessa arte, no entanto, ressaltam a importância de autores cuja obra revela forte influência flamenga, como Diego Quispe Tito, de ori54 gem índia, que viveu e produziu no século XVII, e seu contemporâneo, Juan Espinoza. Eles são considerados os primeiros expoentes da escola e sua pintura influi decisivamente na pintura colonial, que aumenta, paulatinamente, sua celebridade e demanda, gerando a criação de “ateliers” que rapidamente conhecem uma etapa de prosperidade e apogeu. Seja nas imagens piedosas, seja nas paisagens, esse estilo pictórico oferece uma gama muito particular de valores expressivos que combinam fantasia, misticismo, emoção e idealização de tipos, em busca de uma beleza terrestre. Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U ÁRIES: São José e a Virgem em busca de pousada. Evangelho de São Lucas, capítulo 2. (Detalhe). Séc. XVII, circa 1681 Óleo sobre tela, 1,40m x 1,84m. Catedral de Cuzco, Cuzco O autor desse quadro, Diego Quispe Tito, nasceu em Cuzco, em 1611, e é tido como um dos expoentes da escola no século XVII. É, sobretudo, famosa a série de quadros que produziu relacionando os signos do Zodíaco com os episódios da vida de Jesus Cristo, como nesse óleo sobre tela que está na catedral de sua cidade natal. As feições quase ameríndias do santo patriarca e a vegetação tropical do fundo do quadro demonstram que a influência européia já havia sofrido uma reinterpretação por parte dos artistas da colônia. CIDADANIA De vento em popa Números comprovam sucesso do Mesa Brasil SESC Principais Resultados do Programa Mesa Brasil em 2005 14.700.095 kg de alimentos distribuídos Atingida 123% da meta de 12.000.000 kg riado com o desafio de combater a fome e o desperdício de alimentos, o Programa Mesa Brasil SESC transformou-se em um importante veículo no qual o SESC viabiliza ações sociais, facilitando o engajamento de diversos setores nessa rede nacional de solidariedade e cidadania. “O Mesa Brasil, além de complementar as refeições das instituições, atua numa perspectiva de desenvolvimento comunitário, uma vez que propõe ações solidárias e socialmente responsáveis. É um instrumento de transformação de comportamento e hábitos, em relação às empresas, instituições sociais, voluntários e comunidade em geral”, diz o Coordenador do Programa Willian Dimas Bezerra. E os números comprovam. Só em 2005, mais de 14 mil toneladas de alimentos foram distribuídas, duas mil ações educativas realizadas e cerca de três mil instituições beneficiadas.Tantos resultados positivos fizeram do Programa uma referência nacional no cenário de bancos de alimentos e, em 2004 foi iniciada a segunda fase do Programa, denominada “Fase de Interiorização”. Neste momento, o Mesa Brasil SESC expandiu suas atividades para as cidades do interior com potencial e infra-estrutura para o desenvolvimento de suas ações. Uma nova frente de trabalho também foi priorizada pelo C 495.741 pessoas atendidas por dia 2.547 empresas parceiras (doadores sistemáticos) 2.894 entidades assistidas permanentemente 2.109 ações educativas realizadas no ano 77.867 multiplicadores treinados nas ações educativas no exercício 133.099.048 atendimentos 137 cidades Principais metas para 2006 16.800.000 quilos de alimentos distribuídos no ano 120.000.000 refeições Atender 700.000 pessoas/dia Atender a 170 cidades Capacitar 80.000 multiplicadores que atuam nas Instituições atendidas pelos Programas nos Estados. Mesa: os produtores rurais. E a estruturação de uma logística própria para arrecadação de alimentos no campo ajudou a potencializar os resultados do Programa em todo o país. Parceira que dá certo Em todos os estados, a parceria sempre foi uma das mais importantes estratégias do Mesa Brasil SESC. Mais de duas mil empresas são parceiras do SESC e doadores sistemáticos do Programa. Graças a uma grande mobilização o desafio de estar presente em todas as capitais brasileiras foi cumprido em apenas oito meses, o que rendeu ao SESC o certificado de entidade parceira do Fome Zero, entregue pelo Presidente Lula em outubro de 2003. “Quando vejo uma entidade importante como o SESC transformar experiências regionais bem sucedidas de combate à fome em uma tarefa nacional, fico mais otimista do que quando saí de casa hoje de manhã”, afirmou o Presidente na ocasião. E as metas continuam ambiciosas: a expectativa para o biênio 2006/2007 é superar em 100% o resultado obtido em 2005. Nesta perspectiva, para este ano propõe-se alcançar o número de dezesseis milhões e oitocentos mil quilos de alimentos. Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 55 EXPORTAÇÃO A importância do comércio para a economia brasileira O ideal é compatibilizar os mercados interno e externo, afirma Lúcia Maldonado Considerada pelos especialistas em comércio exterior como um dos melhores quadros de que o Brasil dispõe nessa área, a VicePresidente Executiva da Associação de Comércio Exterior do Brasil – AEB, Lúcia Maldonado, compareceu ao seminário promovido pela Federação das Câmaras de Comércio Exterior. Antes de presidir a Sessão solene de abertura do Seminário Bilateral Brasil-Peru, ela nos concedeu uma entrevista em que, além de tecer considerações técnicas sobre a situação atual da nossa balança comercial, falou, também, de como é atuar em um meio predominantemente masculino. Estamos aqui, na Federação das Câmaras de Comércio Exterior, pouco antes de começarem os trabalhos do seminário dedicado ao investimento e ao comércio bilateral Brasil-Peru. Uma leitura do programa, ou uma simples olhada no plenário, faz constatar que se constitui de homens a grande maioria dos participantes. A senhora é uma 56 Vice-Presidente Executiva da AEB analisou a exportação de serviços para o Peru. exceção nesse universo quase inteiramente masculino. Sente-se confortável? LM – Não me sinto mais como uma exceção no meio ainda masculino do comércio exterior. Veja, por exemplo, quantas estagiárias dos cursos de Economia, Administração e Relações Exteriores estão, hoje, aqui. Além disso, outras mulheres, cada vez mais, têm passado a fazer parte desse universo, embora eu possa, reivindicar, como um certo privilégio, o fato de Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U estar atuando nessa área desde o dia 19 de fevereiro de 1973, data em que – eu ainda era uma estagiária – começou a minha paixão pelo tema. Como se vê, foi mesmo uma paixão, porque só um sentimento assim tão forte justifica o fato de eu ter guardado até mesmo o dia em que essa relação começou. Outro privilégio é o de jamais ter sofrido discriminação, constrangimento, ou qualquer outro tipo de impedimento para exercer plenamente o meu trabalho, pelo fato de ser mulher. Fale um pouco mais dessa paixão. LM – Acho que ela começou quando eu me deparei, pela primeira vez na vida, com um enorme relatório estatístico da CACEX, de mais de dez palmos de altura. Meu primeiro trabalho foi o de segmentar a pauta de exportação brasileira. Eu não sabia, sequer, o que era FOB (a expressão Free On Board, que significa que o exportador deve entregar a mercadoria, desembaraçada, a bordo do navio indicado pelo importador, no porto de embarque). Em 1982, já profissional, passei a trabalhar na CACEX. Daí para frente, a paixão só aumentou. Para mim, o comércio exterior é como uma cachaça. Para se ter uma idéia da força desse vício, confesso que, por duas vezes na minha vida, tentei dar não exatamente uma saída, mas uma pequena derivada, só para provar a mim mesma que eu não era uma economista que só entendia de comércio exterior e de mais nada. Dediquei-me, então, por um breve tempo, à área financeira, mas devo confessar que foi apenas por um breve tempo, pois morri de saudade e voltei rapidinho. Trabalhei muito, a vida inteira. Agora me aposentei e faço o que eu amo. Que tipo de atividade a senhora desenvolve em sua vida profissional, atualmente? LM – Sempre atuei na área de estudos econômicos. Trabalhei na CACEX, no setor de promoção comercial de exportação, que é uma coisa gostosíssima. Todo mundo fala dos Encontros de Comércio Exterior – ENCOMEX, que hoje são considerados como uma iniciativa de pleno sucesso. O próximo – que vai ser o centésimo sexto - já está programado para se realizar em Niterói. Pois bem, no primeiro encontro, eu estava lá; sou mãe dessa realização tão bem sucedida, cujo crescimento acompanhei com atenção e carinho, e que me enche de orgulho. Para mim, portanto, comércio exterior é um mundo fascinante. Ao longo do tempo eu fui me dedicando um pouco mais à área tributária e, atualmente, na AEB, posso dizer que faço de tudo. Diz-se das mulheres que exercem uma vida profissional que, em suas vidas, ocorre uma dupla jornada de trabalho, pois, ao chegarem em casa, sempre há muito o que fazer. É o seu caso? LM – Minha jornada é tripla. Primeiro porque adoro cozinhar; sou apaixonada por culinária. Não é raro que eu chegue em casa e vá para a cozinha preparar alguma coisa para incrementar o jantar. Agora, estou tentando entender um pouco de vinhos, que é outra aventura fascinante. Como você vê, nem todas as jornadas duplas ou triplas são, assim, tão trágicas como se apregoa. “ Brasil e Peru tem papel fundamental a desempenhar na integração da América Latina ” LÚCIA MALDONADON Quais são as suas expectativas em relação ao nosso seminário, que vai examinar as relações comerciais e financeiras entre o Brasil e o Peru? LM – Este seminário tem características bastante interessantes. O Peru, nosso vizinho de América Latina, sempre foi um parceiro tradicional do Brasil. Em 2005, o Peru foi o vigésimo mercado mais importante para as exportações brasileiras. Se levarmos em conta que, no ano anterior, ele estava colocado em trigésimo segundo lugar, vamos verificar que houve um grande crescimento, da ordem de 48%, em apenas um ano. Não ocorreu, apenas, o crescimento das exportações brasileiras para lá: em 2005, o Peru era o nosso trigésimo segundo mercado fornecedor e, no mesmo período de um ano, deu um grande salto e passou a ser o trigésimo, tendo as suas vendas para o Brasil crescido 30%. Essa balança comercial vai ser objeto de nossa análise durante o seminário, mas já podemos destacar, aqui, a crescente importância que vem assumindo o setor de exportação de serviços para o Peru. É uma estrada que vem sendo construída, mas que já tem alguma expressividade, pois, como se sabe, no mundo, exportação de serviços já é uma realidade, mas, no Brasil, ainda é uma expectativa, uma aspiração para o futuro. A eleição de um novo presidente da república, no Peru, pode, de alguma forma, alterar as relações comerciais entre os dois países? LM – Não acredito. O povo e as autoridades peruanas têm demonstrado sempre uma perfeita consciência do papel que o Peru deve desempenhar na integração latino-americana, da qual, naturalmente, o Brasil, por seu tamanho e pujança econômica, é parte muito importante. Aliás, na campanha eleitoral, bastante acirrada, os candidatos não têm hostilizado o nosso país, e acredito que não haverá surpresas na política externa peruana. Seu conhecimento da realidade peruana, além de acadêmico e estatístico inclui uma visita ao país. Conte-nos um pouco. LM – Eu visitei o Peru, que é um país lindo. Machu Picchu é um deslumbramento e a riqueza da arte cuzquenha é impossível de avaliar e descrever. Uma região magnífica, da qual pouco se fala, é a do litoral do Pacífico. E a comida? Fantástica! Adoro o ceviche, que é uma delícia; um peixe curtido no limão, com especiarias. Um manjar dos deuses! Há, também, como em toda a América Latina, uma infinidade de delícias à base de milho; enfim, o país tem uma culinária rica, diversificada e deliciosa. Espectadora privilegiada que sempre é e, muitas vezes, como agora, parte integrante dos trabalhos de nossos seminários, como avalia essa série de encontros bilaterais? LM – Bom, em primeiro lugar, gostaria de registrar o absoluto sucesso desse um ano de atividades em que estivemos sempre juntos, passando em revista as relações comercias brasileiras com tantos países do mundo. Acredito que, em termos de resultados, não devemos ser ansiosos, nem precipitados. Não devemos esperar por resultados imediatos, pois, a meu ver, Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 57 EXPORTAÇÃO o importante é chamar a atenção para determinados aspectos. Temos visto muita gente nesses seminários promovidos pela Federação das Câmaras de Comércio Exterior, que nem de longe suspeitava do potencial de comércio de alguns países em relação ao Brasil, seja quanto à exportação ou à importação. Essa série de encontros foi, portanto, de grande importância, até mesmo para desmistificar algumas dessas idéias. Eu ainda espero bastante dos que serão realizados até o final do ano. Pessoalmente, posso garantir que estarei aqui, atenta e disposta a aprender sempre mais sobre o meu adorado campo do comércio exterior. Uma mensagem final aos nossos leitores. LM – Gostaria de reiterar o quanto o comércio exterior é extremamente importante para nossa conjuntura. Não posso, também, deixar de mencionar que estamos atravessando um momento extremamente delicado, e que é preciso rever essa situação, sobretudo no que toca à valorização do real. A receita, a meu ver, não passa pela desvalorização, pois câmbio é uma coisa muito delicada, em que não se pode mexer de uma hora para a outra. Prefiro, portanto, propor que se adotem medidas para compensar essa valorização do real. Algumas delas, embora ainda não tenham sido adotadas, já estão sendo cogitadas pelo governo, como é o caso da utilização dos recursos do Fundo de Apoio ao Trabalhador – FAT, para fornecer capital de giro àqueles setores que foram mais atingidos e perderam bastante competitividade. O próprio Ministro Guido Mantega já mencionou que as grandes empresas, os expoentes do nosso comércio exterior, como a Petrobrás e a Vale do Rio Doce, por exemplo, poderiam trabalhar com compensação cambial, ou seja, elas não precisariam trazer as divisas, porque, cada vez que entram dólares em nosso país, a relação e a taxa caem. Essas megaempresas trazem muitos dólares, porque são obrigadas a isso pela legislação atual. Isso, sem falar das entradas que são promovidas pelo capital especulativo. A compensação cambial ajudaria um pouco a 58 minimizar essa crise, porque, como se sabe, ainda existem uma série de barreiras internas ao nosso comércio exterior: um sistema tributário muito ruim, a maior taxação do mundo civilizado e uma burocracia inenarrável e cujo custo, muitas vezes, ultrapassa até o do tributo. Diz-se que as exportações, hoje, estão desoneradas, mas isso virou uma falácia. As empresas estão carregando créditos tributários, principalmente na área do semi-árido. Ora, toda vez que o governo não os devolve, está tirando capital de giro. O que é importante ressaltar, a toda hora, é que o comércio exterior, nesses últimos três anos, tem dado uma segurada firme na economia brasileira. Deu mesmo “A César o que é de César”. Pode ser a conjuntura, o alinhamento favorável dos astros, o que for, mas temos que convir que deu certo e foi isso que segurou o emprego. O problema é que, como não havia um mercado interno bem desenvolvido, e como as taxas de juros estavam estratosféricas, onde é que as empresas foram buscar compensação? No mercado externo. Ora, se matarmos nossa galinha dos ovos de ouro, haverá uma repercussão nefasta sobre o emprego do brasileiro. Atenção: vamos continuar dando emprego para o nosso povo! Desburocratização do comércio exterior é um caminho sem volta Gerente de Comércio Exterior do Banco do Brasil, Rogério Fernando Lot foi o moderador do painel I do Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos Brasil-Peru. Seu conhecimento dos meandros da exportação e da importação permite-lhe esclarecer aos nossos leitores algo dessa sistemática, que já foi bem mais complicada e, agora, caminha decisivamente para a desburocratização e a simplicidade, com ganhos em eficiência e lucratividade. Sua entrevista é marcada pelo otimismo em relação ao futuro do nosso comércio exterior e pelo papel crescente que nele desempenha o Banco do Brasil. Que resultados o senhor espera do Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos BrasilPeru? RFL – Esses seminários promovidos pela Federação das Câmaras de Comércio Exterior têm demonstrado ser um instrumento muito eficaz para a discussão da relação comercial entre o Brasil e os diversos países que são nossos parceiros. Tenho acompanhado com muita atenção a sucessão dessas discussões, país por país. Pude constatar que o alto nível das apre- Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U sentações que são realizadas traz à tona importantes questões que, principalmente para pessoas como eu que trabalham nessa área, permitem identificar os obstáculos ao incremento das relações com as diferentes nações do mundo com que realizamos transações comerciais. Acredito, portanto, que também essa experiência que estamos tendo, agora, com o Peru será muito positiva e que, por meio das palavras dos expositores brasileiros e peruanos, possamos diagnosticar e resolver os eventuais problemas que afligem a re- lação comercial com esse nosso vizinho e amigo sul-americano, com quem devemos operar em perfeita sincronia. A integração dos países latino-americanos tem sido um sonho muito perseguido e igualmente ameaçado. Como o senhor avalia os recentes movimentos políticos ocorridos na América Latina? RFL – Confesso que tenho visto com uma certa preocupação os recentes movimentos políticos que têm ocorrido na América Latina. O mais importante, até então, é que toda atividade e todo o trabalho que vinham sendo desenvolvidos pelos diversos países do continente tinham como base um plano de integração regional da América do Sul. Isso independia de governos, de partidos políticos, ideologias ou facções, porque visava ao bem estar comunitário das populações – principalmente das populações que não tinham acesso às condições econômicas mais positivas em nosso continente – e estava acima das convicções políticas de a, b, ou c. Daí a minha preocupação. Eu gostaria realmente de acreditar que movimentos políticos desse gênero não abalassem esse projeto que visa a integrar toda a infra-estrutura continental, com a criação de corredores de exportação e de progresso para comunidades. Que papel vem desempenhando o Banco do Brasil no nosso comércio exterior? RFL – A atuação internacional do Banco do Brasil, digamos assim, confunde-se com a atuação internacional de um banco na América Latina. Nossa primeira agência fora do país, no continente, foi a de Assunção, no Paraguai. Hoje, no Peru, temos um escritório de representação em Lima que é um dos mais atuantes de toda a nossa gama de operações. Ele tem participado fortemente de todas essas operações de financiamento aos investimentos que visam à integração da América do Sul. Tem atuado fortemente no que diz respeito à concessão de crédito por parte do governo brasileiro ao governo peruano, para a construção dos famosos corredo- Rogério Fernando Lot: “corredores de exportação e de progresso para a América Latina”. res de exportação. Essas iniciativas envolvem tanto o Projeto Intermodal do Amazonas, quanto o chamado Projeto Bioceânico, que pretende facilitar o acesso de bens brasileiros ao Pacífico e de peruanos ao Atlântico. O Banco do Brasil tem uma presença muito forte em nosso comércio exterior e não atua apenas no apoio ao exportador brasileiro. Consegue, também, atuar junto ao importador brasileiro, ou seja, ajudando a exportação de países estrangeiros. Torna-se, portanto, fundamental que os importadores brasileiros passem a conhecer os mecanismos de apoio de que podem vir a dispor, para que, por exemplo, importem produtos peruanos. Dispomos de escritório em Lima e conhecemos localmente os empresários do país e suas melhores opções de crédito e financiamento. Assim, podemos, também, oferecer nossas instalações físicas aos empresários brasileiros, para que possam desenvolver negociações comerciais. O banco tem feito um bom trabalho e estou muito satisfeito, pois é evidente que nós temos um papel preponderante nesse grande crescimento do comércio exterior do país. O que não quer dizer, é claro, que não haja, ainda, muito por fazer. Estamos trabalhando. O Banco do Brasil tem atuado na conscientização do empresário brasileiro sobre as vantagens de exportar seus produtos, ou age apenas quando essas exportações já estão consumadas? RFL – Muito boa pergunta. O grande desafio, atualmente, para todos os órgãos de governo e para todos os órgãos formadores de opinião, como, por exemplo, a Federação das Câmaras de Comércio Exterior que hoje nos acolhe, é o de mostrar esse potencial de crescimento. Por isso, o banco tem-se esforçado no sentido de demonstrar às empresas brasileiras, por meio de treinamento – eu diria mesmo que o banco tem “pegado as empresas pela mão” – o que é câmbio; o que é comércio exterior; que linhas são mais convenientes; se o produto está adequado, se não está; se a embalagem satisfaz;, se o produto se encaixa nas necessidades do país a que pretende ser exportado, ou se convém escolher um outro mais receptivo. Todo esse trabalho de formação e de preparação para atuar no comércio exterior é uma das atividades básicas e fundamentais que o Banco do Brasil tem desenvolvido. Eu queria mesmo fazer um reconhecimento, aqui, de público, à Federação das Câmaras de Comércio Exterior, na pessoa Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 59 EXPORTAÇÃO do nosso Presidente João Augusto de Souza Lima. Aos seminários são, também, convidados estudantes para participarem desses fóruns de debates. Isso é que é formação, e só assim teremos uma cultura de exportação contínua em nosso país e o comércio exterior deixará de ser uma pauta esporádica nas preocupações das nossas empresas. Parabéns, portanto, ao Presidente Souza Lima por essa iniciativa tão lúcida e patriótica. “ O Banco do Brasil financia corredores de exportação para levar bens brasileiros ao Pacífico e peruanos ao Atlântico ROGÉRIO ” FERNANDO LOTN O que no comércio exterior mais assusta nossos empresários e potenciais exportadores: a burocracia, a insegurança quanto ao retorno, ou a sedução do mercado interno, que é mais próximo e poderia parecer bem mais seguro? RFL – A resposta a essa pergunta é complexa e envolve uma soma de fatores. Primeiramente, eu acredito, no que toca à pequena e média empresa – não vou falar das mega-empresas, em que a cultura exportadora já está introjetada – que o principal gargalo é representado pelo desconhecimento, ou seja, elas não conhecem os trâmites. Não conseguiram, até agora, receber a massa de informações necessárias para adquirir tranqüilidade em seu processo de exportação. Isso ocorre não apenas por culpa do empresário, mas também indica um desconhecimento por parte dos órgãos reguladores. Por exemplo: a questão tributária é muito complexa e exige das empresas um grau de aprofundamento que lhes permita conhecer a legislação relativa à exportação, o que se constitui em um problema que está muito acima do dia-a-dia dessas empresas. Reconheço, também, que as empresas, muitas vezes, desconhecem até mesmo as linhas de financiamento de que podem dispor. Ora, é, então, papel do Banco do Brasil e 60 dos demais agentes financeiros estar presentes, constantemente, em eventos como este, no sentido de dar divulgação e transparência a todas as possibilidades de financiamento. Espera-se que as empresas tenham um custo financeiro cada vez menor e, principalmente, aumentem sua competitividade. Devemos reconhecer que ocorre, também, o desconhecimento do empresário, que deve buscar, junto ao Sebrae, as melhores formas de gestão. Deve, também, reivindicar ao Banco do Brasil o treinamento adequado para entender o mercado externo e seus meandros de acesso. Torna-se nítido que, quando a empresa compreende essa soma de fatores, ela obtém um enorme ganho de produtividade. Ela passa a dispor de uma alavancagem de negócios que resulta em um ganho de faturamento e compensa o esforço realizado. A experiência nos diz que todas as empresas que executaram bem esse dever de casa obtiveram crescimento e lucratividade. Esse boom de crescimento das exportações brasileiras, ocorrido de alguns anos para cá, ameaça, de alguma forma, o abastecimento do nosso mercado interno? Chegaremos à situação dos noruegueses, de quem se diz que não comem bacalhau, só o exportam? RFL – Não. O mercado interno brasileiro é muito grande e temos um PIB em torno de US$ 700 a 800 milhões, o que representa um mercado muito forte. Não acredito que estejamos nem perto de qualquer risco de desabastecimento. Isso poderá ocorrer com um ou outro produto sazonal, o que vem a ser uma questão de característica pontual. Há casos como o do etanol e do açúcar, por exemplo, cujos estoques devem ser uma preocupação do governo e de seus agentes, mas não há nada que ameace o suprimento de nosso mercado interno. Não vejo isso como uma preocupação e acho que o que as empresas devem fazer é o inverso, ou seja, não achar que só porque o mercado interno melhorou um pouco elas devem deixar de exportar. Deve fazer parte do planejamento das Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U empresas o fato de que elas irão exportar uma fatia de sua produção. Assim, elas vão compor melhor os seus custos; vão diminuir seu custo unitário; vão ter melhor percepção de seus fluxos de caixa e, se o mercado interno melhorar, elas devem aumentar sua produção dirigida a esse mercado, sem deixar de cumprir seus compromissos com a exportação. O ideal é que aprendam a compatibilizar os mercados interno e externo. O Banco do Brasil tem agido no sentido de promover a desburocratização das exportações? Ficou mais fácil exportar, de uns tempos para cá? Por quê? RFL – Estamos desburocratizando, sim. Acho que esse é um movimento sem volta. O Banco do Brasil tem apostado muito em soluções que passam diretamente pela internet, o que facilita bastante o trabalho, pois chega-se a todos os exportadores e a empresas de qualquer nível. Além disso, o próprio exportador interage melhor e mais diretamente; passa a fazer cotações sem intermediação e pode fechar negócios pela internet. O banco “ Desburocratizar significa, entre outras coisas, fazer cotações sem intermediação e fechar negócios pela internet ROGÉRIO ” FERNANDO LOTN agregou agora a assinatura eletrônica, o que permite ao exportador cotar; fechar o negócio; enviar os documentos necessários digitalmente, via fax, e-mail, ou scanner; assinar do seu próprio escritório, digitando sua senha com toda a segurança – isso é criptografado e reconhecido por todas as entidades. Assim, ele recebe seu dinheiro sem precisar se envolver com aqueles trâmites kafkianos da burocracia de antigamente. Ou seja, esse é um processo sem volta, que já adotamos na exportação e está em vias de ser implementado nas importações. Nossa meta é a de chegar ao maior número de exportadores, e ao menor custo. GASTRONOMIA Ceviche viche A maravilha suprema de uma culinária rica e variada variada Se você gosta de comer bem, nem sempre precisa ir a Paris. Do outro lado dos Andes, o Peru oferece uma gastronomia de primeira ordem. A escola de culinária francesa Cordon Bleu, a mais prestigiada em todo o mundo, escolheu o Peru para estabelecer sua sede na América do Sul. Surpresa? Só para quem não conhece a gastronomia peruana, cujo requinte e diversidade surpreendem agradavelmente os visitantes desavisados, principalmente aqueles que, erroneamente, pensam que toda a cozinha da América de língua espanhola se resume aos chillis e às apimentadas tortillas, típicas do México e dos países da América Central. Ao contrário do que ocorre em muitos dos famosos centros gastronômicos internacionais – como Nova Iorque – onde, para Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 61 GASTRONOMIA comer bem, é preciso recorrer aos grandes restaurantes, em Lima se come bem em qualquer parte: nos restaurantes típicos de comida criolla do Sul do país; nas cebicherias populares, que se dedicam aos frutos do mar; nas chifas, que são restaurantes de comida chinesa; ou nas parrilladas, onde se preparam assados à vista do cliente, importadas da Argentina. A ave que ensinou os peruanos a cozinhar Diz a lenda que o Chiwake, pássaro mitológico da cultura nazca, representado no vaso acima, foi quem ensinou aos peruanos a arte de escolher os ingredientes e de combinar aromas e sabores para produzir uma culinária “dos deuses”. 62 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U Em todas as principais mitologias da história existe a figura do “mensageiro dos deuses”. São importantes personagens do mundo mágico que têm, quase sempre, características similares: são seres simpáticos, “do bem”, que possuem desenvolvido senso social e são extrovertidos e sensíveis. Essas qualidades tornam-nos confiáveis tanto aos deuses quanto aos homens que habitam a Terra. O exemplo mais significativo no universo mítico do Ocidente é o do deus Hermes, da mitologia grega. Filho de Zeus e da náiade Maia, desde o seu nascimento, no cume da montanha Cilino, na Arcádia, deu sinais de criatividade e empatia, tendo sido o inventor da lira, com que deleitava a todos os que o escutavam. Além disso, valendo-se de seu dom de adivinhação, ajudava a todos com sagacidade e prudência, ensinando ofícios e saberes relacionados à agricultura. Sendo um dos filhos prediletos do deus supremo, a missão de Hermes como interlocutor oficial entre os deuses e os homens realizou-se à perfeição. Na mitologia peruana ocorrem algumas diferenças substantivas no que diz respeito ao mensageiro dos deuses. Embora não lhe faltem também loquacidade, simpatia e inteligência, esse mensageiro não assume uma forma humana, mas é uma ave – de nome Chiwake – mais exatamente um colibri, marcado, ainda, por ligeiros toques de um estilo bem pessoal. Sua le- genda remonta à região de Nazca, ao Sul do Peru e tem cerca de 2500 anos de tradição oral. Conta-se que, em uma manhã de forte inverno, quando os deuses estavam formando o antigo Peru, resolveram atender ao pedido de seus habitantes, que solicitavam maior quantidade e qualidade de alimentos. Os Deuses lhes enviaram, por intermédio de Chiwake (o mensageiro dos deuses) um caldeirão mágico de onde sairiam as sopas mais deliciosas já preparadas. Chiwake, no entanto, era travesso e brincalhão e, no caminho, perdeu esse presente tão precioso. Cheio de remorsos pelo seu descuido, a ave apresentou-se diante dos homens e lhes disse que os deuses queriam que eles mesmos preparassem seus alimentos. Ensinou-lhes, então, como escolher os ingredientes, como combinar os sabores e aromas de mil maneiras diferentes e como apresentá-los com a devida harmonia. Foi assim que os peruanos aprenderam a cozinhar com a mesma arte e a mesma tecnologia dos deuses. Essa seria a explicação para a excelência da gastronomia peruana, que seria, afinal de contas, uma arte dos deuses... quase se cozinha graças ä ação cáustica do tempero e do azedume da laranja”. Como se vê, não é um prato dos mais antigos da culinária do país e remonta não aos primeiros tempos da conquista espanhola, como se pensava até pouco tempo, mas às guerras da independência, no século XIX, ao contrário de outros famosos e intraduzíveis acepipes dos tempos coloniais, como a carapulca – um ensopado de batatas, às vezes desidratadas –, o locro – um guisado de papas, carne e milho; o chupe de camarões - um caldo a que se acrescenta leite, grãos de milho, pedaços de batata e de queijo; e as inúmeras variantes de pratos à base de charque. Atribui-se a descoberta do ceviche aos soldados republicanos, que teriam trazido a iguaria, do Norte do país, às tendas onde se vendia comida, em Lima. Alguns gastrônomos, equivocadamente, tentam atribuir a invenção do ceviche O ceviche, prato mais importante da rica e diversificada culinária peruana, segundo alguns gastrônomos, tem origem na cultura moche e assume novo paladar ao incorporar o limão, trazido pelos colonizadores espanhóis. ao povo Moche, que habitava o Norte peruano, alegando que há inúmeros registros de que esse povo se alimentava freqüentemente com pescado cru. Esquecem-se de que o peixe cru ainda não é ceviche, pois falta-lhe importante componente, que é o limão ( ou a laranja muito azeda), frutos que não existiam na América e, como todos os cítricos, foram trazidos pelos colonizadores espanhóis e portugueses, provavelmente do cabo africano de Ceuta, e eram utilizados nas viagens transoceânicas, como preventivos do terrível escorbuto. Certamente, algum iluminado pescador indígena do litoral Nor- Ceviche, o prato nacional A abundância do pescado na costa peruana teria, forçosamente, que levar a essa direção a gastronomia do país. Além disso, o Peru não possui as vastas extensões planas onde, na Argentina e no Sul do Brasil, criam-se bovinos. Entre todos os pratos oriundos do generoso mar do Pacífico, o ceviche é a iguaria mais famosa e que é reconhecido por cerca de 70% da população como seu prato mais representativo. O primeiro cronista a falar dele, em 1867, foi Manuel Atanásio Fuentes, que disse: “Consiste de pedaços miúdos de pescado ou de camarões que se deixam curtir em sumo de limões ou laranjas azedas, com muita pimenta e muito sal. Conservam-se, assim, por algumas horas, até que o pescado se impregna da pimenta, e Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 63 GASTRONOMIA te peruano aplicou sobre seu habitual peixe cru o caldo do limão ou da laranja – talvez para impedir que o pescado se estragasse sob o clima muito quente da região – e inventou a iguaria, já com seus ingredientes básicos: peixe ou camarão, sumo de limão ou laranja, pimenta e sal. Se existe uma receita básica, incrementada ou não com centenas de outros molhos e temperos, há muitas controvérsias quanto à origem da palavra ceviche. Há quem diga que provém do espanhol cebo , que significa isca, atribuindo-lhe, portanto, uma origem ligada à pesca. Para outros, deriva do quíchua sipich, cuja tradu- ção estaria bem próxima do que chamamos atualmente de marinado. Até mesmo já se aventurou que o ceviche, em verdade, não passa de uma corruptela dos vocábulos ingleses sea beach . Talvez, por causa de tanta polêmica, a Real Academia Espanhola, que é tão ciosa da pureza do idioma castelhano, resolveu aceitar e registrar em seu vocabulário variadas formas de se grafar o quitute: cebiche, seviche, ceviche, ou sebiche. Controvérsias filológicas à parte, o ceviche é mesmo o prato mais importante da rica e diversificada culinária peruana. Receita fácil de ser feita em casa, não tem muitos mistérios, requerendo, apenas, um peixe de carne consistente e que não recenda a maresia, e uma boa mão na administração da pimenta e do sal. Para quem achar que melhor mesmo será deixar o preparo do prato para as experientes mãos do povo que o inventou, a solução, no Rio de Janeiro, pode ser prová-lo no único restaurante inteiramente dedicado à comida típica peruana da cidade, o Intihuasi, que fica na Rua Barão do Flamengo, 35D. Quanto ao acompanhamento, a pedida é preceder os generosos pedaços do petisco com goles da puríssima bebida nacional, o pisco, uma aguardente de uvas fermentadas que pode ser tomada como aperitivo; ou, no decorrer da refeição, degustá-los intercalados com doses do pisco sour – considerada a bebida nacional peruana – e que tem em sua fórmula, o pisco, como base, a que se acrescentam limão, xarope de goma, clara de ovo, angostura e gelo. Pisco Sour tradicional Ingredientes: 02 doses de pisco puro 02 doses de suco de limão 01 dose de xarope 01 clara de ovo Gelo Angostura Modo de Fazer: Prepara-se o Pisco Sour colocando as claras de ovo no liquidificador e batendo bastante. Quando as claras já estiverem bem batidas, adicione o gelo até cobrir a metade do copo do liquidificador. Depois, bata novamente para remover um pouco e adicione o resto dos ingredientes, exceto a angostura, batendo até que o gelo se desmanche. Se for necessário, adicione um pouco de água ou corrija a quantidade de pisco, de acordo com o seu gosto. Na hora de servir, coloque por cima de cada copo três gotas de angostura 64 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U RELAÇÕES BILATERAIS A partir do ano de 2001, a corrente de comércio peruana vem crescendo cerca de 20% ao ano, sendo que as exportações têm aumentado de forma mais vigorosa do que as importações. Comércio Exterior do Peru ARTIGO ELABORADO PELA EQUIPE DO DEPARTAMENTO DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DO COMÉRCIOEXTERIOR Evolução da balança comercial do Peru 1995 a 2005 – US$ bilhões 18.000 16.000 Exportação DA SECRETARIA DE COMÉRCIO 14.000 E XTERIOR DO MDIC 12.000 Em 2001, o Peru possuía uma corrente de comércio de apenas US$ 14,3 bilhões e um déficit de US$ 303 milhões. A partir desse ano, o comércio externo peruano apresentou aumentos constantes a uma taxa média de 20,4% ao ano. Em 2005, a soma das importações e exportações peruanas contabilizou US$ 29,7 bilhões, mais que o dobro da alcançada em 2001. No período citado, as exportações do Peru cresceram de forma mais vigorosa do que as importações. O movimento gerou um saldo de US$ 4,7 bilhões em 2005. Esse saldo foi resultado de exportações de US$ 17,2 bilhões, 36,4% acima do alcançado em 2004, e importações de US$ 12,5 bilhões, crescimento de 23,8% sobre o ano anterior. Em 2005, com uma participação de 0,2% nas exportações mundiais, o Peru foi o 61º maior exportador mundial. No mesmo ano, a participação das importações peruanas nas compras mundiais foi de 0,1%, colocando o País como o 68º maior importador mundial. Os minérios (cobre, molibdênio, zinco, chumbo, ferro dentre outros) foram os principais produtos exportados pelo Peru, com uma participação de 22,6% no. O segundo produto mais exportado pelo país foram os metais preciosos (ouro e prata), pedras preciosas e jóias, com 20,2% Saldo Importação 10.000 8.000 6.000 4.000 2.000 0 -2.000 -4.000 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Fonte: OMC Exportações do Peru Principais produtos – 2005 – participação % Fonte: Global Trade Atlas Metais e pedras preciosas 20,2% Cobre e suas obras 12,6% 12,6 % Minérios 22,6% Combustíveis minerais 9,1% Desperdícios e resíduos alimentícios 7,0% Demais produtos 20,5% Vestuário 5,7% Especiarias, café e chá 2,4% Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 65 RELAÇÕES BILATERAIS Importações do Peru Importações do Peru Principais produtos – 2005 – participação % Principais países fornecedores – 2005 – participação % Maquinaria elétrica 9,0% Plástico 6,2% Máquinas e equipamentos 13,6% 20,0 Veículos automóveis 5,3% 18,0 Cereais 4,0% Ferro e aço 3,4% Fonte: Global Trade Atlas 17,7 16,0 14,0 12,0 10,0 8,5 8,2 7,3 8,0 Combustíveis minerais 19,8% 6,2 5,8 6,0 Demais produtos 38,8% 4,9 4,2 3,6 4,0 3,2 2,0 Fonte: Global Trade Atlas ha o Alem an Jap ã Ven ezu ela Chil e tina ia 35,0 Fonte: Global Trade Atlas 30,4 30,0 25,0 20,0 15,0 10,9 10,0 6,6 6,0 4,6 5,0 3,6 3,3 3,1 3,0 2,7 sil a Alem Bra anh s aixo es B a anh País Esp ão Jap a Suiç adá Can e Chil a Chin ado r 0,0 Participação do Brasil no comércio exterior do Peru 2000 a 2005 Fonte: MDIC/SECEX e OMC 2,7% 2,8% 2,8% 2,6% 3,0% 3,3% 7,5% 5,8% 5,8% 2002 2003 6,2% 4,8% 3,9% 2001 Importação do Peru Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U mb Colô Principais países de destino – 2005 – participação % 2000 66 Arge n do r Bra Equ a sil a Exportações do Peru Equ do total, seguido de cobre e artigos de cobre, 12,6% do total; combustíveis minerais, 9,1% do total; e resíduos alimentícios, participação 7,0%. Em 2005, 20,0% das compras peruanas foram de combustíveis minerais. Os demais principais produtos importados pelo país foram: máquinas e equipamentos mecânicos (participação de 13,6% no total), máquinas e equipamentos elétricos (9,0% do total), artigos de plástico (6,2%), veículos automotores (5,3%) e cereais (4,0%). O maior mercado de origem das importações peruanas são os Estados Unidos. Em 2005, o país foi responsável por 17,7% das compras do Peru, somando US$ 2,2 bilhões. O segundo maior fornecedor é a China, com um total de US$ 1,1 bilhão em exportações ao Peru. O Brasil está em terceiro e vendeu US$ 933 milhões ao País. Em seguida, estão: Equador – responsável por US$ 914 milhões das compras peruanas, Colômbia – US$ 773 milhões, Argentina – US$ 724 milhões – e Chile – US$ 616 milhões. As exportações do Peru destinam-se, principalmente ao Equador – 30,4% do total somando US$ 5,2 bilhões. Em seguida estão: China – US$ 1,9 bilhão, Chile – US$ 1,1 bilhão, Canadá – US$ 1,0 bilhão – e Suíça US$ 786 milhões. O Brasil foi o décimo maior mercado de destino das exportações do Peru, totalizando US$ 458 milhões. A participação das exportações brasileiras nas compras peruanas evoluiu significativamente nos últimos anos. Em 2000, o Brasil tinha sido responsável por 4,8% das importações do país. No ano de 2005, essa participação foi de 7,5%. Quanto às exportações peruanas, o Brasil foi destino de 2,7% das vendas do país no último ano. Em 2001, havia participado com 3,3% do total das vendas do país. Chin E Uni stados dos 0,0 2004 Exportação do Peru 2005 Intercâmbio comercial entre Brasil e Peru – 2005 As vendas brasileiras para o mercado peruano cresceram subsIntercâmbio comercial Brasil/Peru tantivamente no comparativo 2005/2004. No ano de 2004, o Brasil 2005/ 2004 – US$ milhões FOB exportou o equivalente a US$ 631 milhões, no ano seguinte foram Fonte: MDIC/SECEX US$ 933 milhões, um aumento relativo de 47,9%. O crescimento Variação % 2004/2005: 1.391 Exportação: 47,9% das exportações para o Peru foi muito superior ao aumento do total Importação: 31,2% Corrente de comércio: 41,9% das vendas brasileiras, proporcionando uma evolução, de 0,7% para 0,8%, na participação peruana nas exportações nacionais. 980 933 A importação brasileira de produtos peruanos também cresceu de forma significativa no comparativo 2005/2004. Esse au631 mento foi de 31,2%, de US$ 349 milhões, em 2004, para US$ 475 458 458 milhões, em 2005. Entretanto, na participação do Peru nas 349 compras nacionais permaneceu estável em 0,6%. 282 O saldo comercial bilateral, historicamente favorável ao Brasil, foi de US$ 475 milhões em 2005, em termos relativos, ocorreu um aumento de 68,4%. Saldo Corrente de Exportação Importação Comércio Em 2005, ocorreu pela primeira vez a superação da marca de 2005 2006 US$ 1 bilhão no comércio bilateral, chegando a registrar US$ 1,4 bilhão. Esse total representa uma expansão de 41,9% em relação ao alcançado no Evolução do intercâmbio comercial Brasil/Peru ano anterior, de US$ 980 milhões. 1996/2005 – US$ milhões FOB O crescimento da corrente de comércio 1.000 entre Brasil e Peru coincide com o período Saldo Comercial Exportação Importação de crescimento mais significativo das expor900 tações e importações peruanas, ou seja, 2000 a 2005. Em 2000, o Brasil vendeu apenas 800 US$ 353 milhões ao país, em 2005, essa 700 soma foi quase o triplo, US$ 933 milhões. O saldo comercial que havia sido de US$ 600 141 milhões, favorável ao Brasil, em 2000, 500 foi de US$ 475 milhões no último ano. O aumento mais acentuado das expor400 tações destinadas ao Peru, em relação ao total das exportações nacionais, propor300 cionou uma melhor colocação do País no 200 ranking de mercados compradores de produtos brasileiros. Em 2004, o Peru foi 100 o 30º maior destino das vendas nacionais, 0 no ano seguinte, foi o 27º. 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Na ALADI – Associação Latino-ameFonte: MDIC/SECEX ricana de Desenvolvimento e Integração, exclusive países integrantes do Mercosul, o Peru é o 5º maior comprador de produtos brasileiros, repreEm 2005, as exportações brasileiras destinadas ao mercado sentando 6,8% das vendas a região, de US$ 13,7 bilhões em peruano foram compostas por 84,2% de produtos industriali2005. O país está atrás de México, Chile, Venezuela e Colômbia. zados e 14,3% de básicos. O grupo de produto que mais cresNas importações totais do Brasil, o Peru se posiciona como o ceu, no comparativo 2005/2004, foi o de itens básicos, au32º maior mercado de origem, duas posições acima da que ocumento de 125,2%, atingindo a cifra de US$ 133 milhões. Em pou em 2004 (34º). Na ALADI, exclusive Mercosul, o País ocuseguida vêm os manufaturados, com um crescimento de 38,7% pa a 4ª colocação e responde por 10,1% das compras efetuadas à para um total de US$ 771 milhões. Os produtos semimaregião, de US$ 4,5 bilhões. O maior fornecedor ao Brasil nesse nufaturados apresentaram uma expansão de 5,3%, totalizando bloco é o Chile, seguido de Bolívia e México. US$ 14 milhões em 2005. Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 67 RELAÇÕES BILATERAIS Ranking do Peru nas exportações brasileiras 2005/2004 – US$ milhões FOB Ordem País Ranking do Peru nas importações brasileiras Fonte: MDIC/SECEX '% Valor 2004 2005 Part% 2005/04 1 1 Estados Unidos 2 2 4 Ordem País '% Valor 2004 2005 Part% 2005/04 22.741 11,8 19,2 1 1 Estados Unidos 12.851 11,6 17,5 Argentina 9.915 34,5 8,4 2 2 Argentina 6.239 12,0 8,5 3 China 6.834 25,6 5,8 3 3 Alemanha 6.144 21,1 8,4 3 4 Países baixos 5.283 -10,7 4,5 4 4 China 5.353 44,3 7,3 5 5 Alemanha 5,023 24,5 4,2 6 5 Japão 3.407 18,8 4,6 6 6 México 4.064 2,9 3,4 9 6 Argélia 2.838 45,9 3,9 9 7 Chile 3.612 41,9 3,1 7 7 França 2.700 18,0 3,7 8 8 Japão 3.476 25,6 2,9 5 8 Nigéria 2.652 -24,3 3,6 7 9 Itália 3.224 11,0 2,7 10 9 Coréia do Sul 2.327 34,5 3,2 30 27 Peru 933 47,9 0,8 34 32 Peru 458 31,2 0,6 Quanto aos principais itens que compõem a pauta de exportações do Brasil com destino ao Peru, o mais importante é petróleo em bruto. O produto representou 12,3% das vendas ao País em 2005, US$ 115 milhões em valor. Em seguida, os principais foram: aparelhos transmissores ou receptores, participação de 7,0% no total; veículos de carga, 5,2%; fio-máquina de ferro/ aço, 4,1%; polímeros de plástico, 4,0%; papel e cartão, 3,6%; chassis com motor, 3,5%; produtos laminados planos de ferro/ aço, 3,3%; máquinas e aparelhos para terraplanagem, 3,0%; tratores, 2,5%; e automóveis de passageiros, 2,3%. Alguns produtos apresentaram excepcional crescimento nas vendas ao Peru e merecem destaque: máquinas e aparelhos para fabricação de celulose (+1.583,4%, para US$ 5,1 milhões); aparelhos transmissores e receptores (+311,8%, para US$ 65,6 milhões); petróleo em bruto (+274,4%, para US$ 114,7 milhões); veículos de carga (+153,4%, para US$ 48,3 milhões); máquinas e aparelhos para terraplanagem (+139,2%, para US$ 28,4 milhões); máquinas e aparelhos para tratamentos de pedras (+116,2%, para US$ 6,4 milhões); e falsos tecidos sintéticos ou artificiais (+102,5%, para US$ 5,4 milhões). A pauta importadora brasileira de produtos peruanos é composta por 76,2% de bens industrializados e 23,8% de básicos. O grupo de produtos que mais cresceu, na comparação de 2005 com 2004, foi o de itens semimanufaturados, um aumento de 39,9%. Os básicos cresceram 24,0%, enquanto que os manufaturados se expandiram em 11,4%. Os principais produtos importados foram: catodos de cobre, participação de 33,3% na pauta; minério de zinco e concentrados, 22,0%; prata em formas brutas 15,2%; chumbo em formas brutas, 8,1%; chapas, fios e perfis de cobre, 6,6%; zinco em bruto, 2,7%; cabos e fibras sintéticas, 1,9%; e produtos hortícolas, 1,0%. Quanto aos produtos que apresentaram excepcional desempenho no crescimento das importações advindas do Peru, desta68 2005/2004 – US$ milhões FOB Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U Exportações brasileiras para o Peru por fator agregado 2005/2004 – US$ milhões FOB Básicos 14,3% Semimanufaturados 1,5% Operações especiais 1,5% Manufaturados 82,7% Fonte: MDIC/SECEX cam-se: preparações de produtos hortícolas (aumento de 2.620,5%, para um total de US$ 4,8 milhões); carvão mineral (de zero, em 2004, para US$ 1,3 milhão, em 2005); fios e fibras sintéticas ou artificiais (+134,1%, para US$ 2,2 milhões); catodos de cobre (+107,0%, para US$ 152,8 milhões) e tecidos de algodão (+79,5%, para US$ 481 mil). São Paulo e Rio de Janeiro responderam por 62,2% das exportações brasileiras para o Peru em 2005. A relevante participação do Rio de Janeiro nas vendas ao País – 19,0% do total – se justifica pela composição da pauta, já que o principal item exportado pelo Brasil a esse mercado é petróleo em bruto e o Estado é o principal produtor. As exportações paulistas ao Peru – 43,2% da pauta total – se concentram em produtos manufaturados. Os principais são: máquinas e equipamentos mecânicos, veículos automóveis, máquinas e equipamentos elétricos, ferro fundido e plástico e obras. Depois de São Paulo e Rio de Janeiro, o estado que mais vendeu ao Peru foi o Rio Grande do Sul, o equivalente a 7,7% do total da pauta. Seguidamente estão: Paraná, com 7,0% do total; Amazonas, 6,6%; Minas Gerais, 3,9%; e Bahia, 3,5%. As importações brasileiras provenientes do Peru são mais bem distribuídas entre as unidades da federação. Entretanto, cinco estados respondem pela quase totalidade da pauta, representando 94,4% do total das importações oriundas do Peru. Com uma participação de 25,8%, São Paulo é o maior comprador de produtos peruanos, Minas Gerais está logo em segundo com 24,0% do total, depois vem o Espírito Santo, com 17,6% da pauta; Santa Catarina, 14,0%; e Amazonas, com 13,0%. Considerando os dados de 2005, 2.459 empresas brasileiras exportaram para o Peru. Comparando com 2004 (2.397 empresas), o número cresceu em 62 (+2,6%). No mesmo comparativo, em 2005, 361 empresas brasileiras importaram do Peru contra 351 em 2004 (+10 empresas, +2,8%). Principais produtos exportados pelo Brasil para o Peru Principais produtos importados pelo Brasil do Peru Estados brasileiros que mais exportam para o Peru 2005/2004 – US$ milhões FOB 2005 – US$ milhões FOB Fonte: MDIC/SECEX 153 2005/2004 – US$ milhões FOB Fonte: MDIC/SECEX 115 66 48 28 Máquinas para Terraplanagem Chassis com Motor 31 23 Tratores 33 Papel e Cartão Polímeros de Plástico 34 Laminados Planos de Ferro e Aço 37 Fio-máquina Veículos de Carga Apars. Trans./ Receptores Petróleo em bruto 38 Fonte: MDIC/SECEX 403 101 70 178 61 Estados brasileiros que mais importaram do Peru 33 32 9 8 Número de empresas brasileiras exportadoras e importadoras no comércio com o Peru 2005 – US$ milhões FOB Fonte: MDIC/SECEX 118 Demais 36 Mato Grosso Amazonas Rio Grande do Sul Rio de Janeiro São Paulo Minas Gerais 36 Ceará 65 3 Couros e Peles 3 Azeitonas em Conserva 5 Cabos e Fibras Sintéticas ou Artificiais Preparações de Produtos Hortícolas Zinco em Bruto Barras, Perfis, Fios e Chapas de Cobre Chumbo em Formas Brutas Prata em Formas Brutas Minérios de Zinco Catodos de Cobre 9 Santa Catarina 72 12 Bahia 30 Paraná 37 110 Fonte: MDIC/SECEX 2.459 2.397 81 64 60 5 4 4 3 4 Rio de Janeiro Mato Grosso do Sul Pernanbuco Bahia Rio Grande do Sul Demais Amazonas Santa Catarina Espírito Santo Minas Gerais São Paulo 351 6 2004 361 2005 Exportadores Importadores Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 69 CURTAS Crédito e Cobrança no Peru Nos dias 11 e 12 de outubro de 2006, o Peru será sede do Primeiro Congresso Nacional de Créditos e Cobranças. A expectativa dos organizadores é de que esse evento reúna os principais líderes da indústria peruana. Entre as finalidades do congresso estão a divulgação das atuais tendências na área de crédito e cobrança, bem como a atualização dos profissionais do setor a respeito das melhores práticas em termos de análises financeiras, origem de créditos, administração e negociação. O evento teve outras edições sediadas em países como Brasil, Argentina e Colômbia e propicia o desenvolvimento do turismo de negócios. Ciência em Lima Outro evento importante do semestre é o Encontro Científico Internacional – ECI, que será realizado na capital do Peru, de 8 a 11 de agosto. Esta é a décima edição do encontro que tem como objetivos divulgar as novas descobertas do setor e mostrar à opinião pública a importância da ciência. O evento destaca, igualmente, as possibilidades na melhoria da qualidade de vida, além do aumento no intercâmbio de idéias entre os engenheiros e cientistas peruanos e os profissionais da área em todo A Revista dos Seminários Bilaterais de Comércio Exterior e Investimento, organizados pela FCCE, é distribuída entre as mais destacadas personalidades, do Brasil e do exterior, que atuam no comércio internacional. o mundo. Serão debatidos, também, ainda este ano, aspectos da política científica do país e a relação dos pesquisadores com as universidades e com o Estado. Outros temas já consagrados em edições anteriores serão objeto de debate, como ciência e tecnologia da informação, comércio exterior, comunicação, ciências agrárias, de materiais, ciência do mar, da saúde e ciência empresarial. O evento é uma forma de estimular novos interesses e fomentar investimentos no setor. investigação da arte rupestre. Além disso, foi produzido um inventário sobre a riqueza arqueológica local, que ainda permanece preservada, apesar dos séculos. Um dos motivos que leva os peruanos a se preocuparem com os tesouros da humanidade, em seu território, deve-se ao fato destes serem um forte chamariz turístico para o país. Visitantes de todas as partes do mundo ali chegam para conhecer as belezas ancestrais das civilizações pré-colombianas. Arte Rupestre De 12 a 17 de setembro de 2006, a cidade peruana de Trujillo será palco do Segundo Seminário Nacional de Arte Rupestre. Os organizadores explicam que o objetivo fundamental do simpósio é aumentar a consciência da população sobre a importância desse patrimônio histórico e, por conseqüência, sobre a necessidade de implementar medidas de proteção. No primeiro evento ocorrido no país, com este propósito, em novembro de 2004, em Cuzco, foram reunidas mais de 250 pessoas entre profissionais, estudantes e curiosos. Foram debatidas as diversas linhas de Detalhe do motivo geométrico superposto sobre um grupo de lhamas em fuga. Macusani y Corani, repositórios de Arte Rupestre Milenar na Cordilheira de Carabaya, Puno, Peru. Lhama de estilo naturalista pintado na Cova Vicuñapintasha IV. Santuário Nacional de Huayllay, Pasco. Anunciar aqui é fazer chegar o seu produto a quem realmente interessa, a quem decide. Procure-nos. Tel.: 55 21 2221 9638 [email protected] 70 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U Grande Painel de Uquruyoc, dentro do Complexo Chaquicocha. Santuário Nacional de Huayllay, Pasco. Expoplast Peru 2006 O Expoplast Peru 2006 é considerado o encontro mais importante dos líderes de indústrias de plástico da costa do Pacífico. O evento foi criado com a finalidade de promover um movimento nacional em benefício da competitividade do setor de plásticos, mediante capacitação da mão-de-obra especializada para utilização de novas tecnologias. Previsto para acontecer entre 24 e 27 de maio de 2006, o evento é um marco do setor e já é considerado uma verdadeira feira internacional. A edição de 2004, por exemplo, contou com 12 stands de diversos países, entre eles Brasil, Argentina, Portugal, México, Itália e Taiwan. Segundo os organizadores, o evento reuniu mais de 10 mil pessoas. Ponte entre Brasil e Peru Em janeiro de 2006, foi inaugurada uma ponte entre as cidades de Assis Brasil, no Acre, e Iñapari, no Peru, a primeira ligando os dois países. Presente na solenidade, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a ligação sobre o Rio Acre é um símbolo da aliança estratégica que torna realidade o imenso potencial de cooperação entre os países. “Este é o primeiro passo para a realização de um sonho antigo, a ligação sul-americana entre o Pacífico e o Atlântico”, afirmou o presidente. Com a construção da rodovia interoceânica, será possível, por exemplo, escoar produtos brasileiros pelo Oceano Pacífico através dos portos peruanos de Ilo, Maratani e San Juan. A ponte já começou a mostrar reflexos no comércio da região, diminuindo o tempo de transporte dos produtos locais. Energia Na solenidade de inauguração da ponte que liga o Brasil e o Peru, o Governador do Acre, Jorge Viana, lembrou a assinatura do Termo de Compromisso entre o seu governo e a Eletronorte. O documento prevê obras de infraestrutura elétrica no valor de R$ 170 milhões que vão significar, na prática, mais de 500 quilômetros de rede de energia. Um benefício para a infra-estrutura dos dois países fronteiriços. Parceria de sucesso A empresa brasileira Norberto Odebrecht, fundada em 1945, em Salvador, consta da lista das 25 melhores empresas para se trabalhar no Peru. A instituição iniciou sua atuação internacional justamente no Peru, com a construção da Hidrelétrica de Charcani V, em 1979. Nos anos 90, desenvolveu a segunda etapa do projeto Chavimochic, para irrigação de áreas desérticas do país. A lista das 25 melhores empresas foi baseada em pesquisa realizada pela instituição Great Place to Work Institute, em parceria com o jornal peruano El Comercio. Comunidade SulAmericana das Nações O novo Presidente da República do Peru, Alan García, tem afirmado, em pronunciamentos e entrevistas coletivas, que acredita na formação de um bloco econômico e político na América do Sul, liderado pelo Brasil. A região já tem um projeto de integração lançado em 2004, no Peru, durante o mandato do expresidente Alejandro Toledo. Trata-se da Comunidade SulAmericana das Nações, uma união entre 12 países que prevê a derrubada de fronteiras econômicas e a criação de instituições supranacionais num prazo de 15 anos. O novo bloco reúne nações com aproximadamente 360 milhões de pessoas, tem um Produto Interno Bruto total de US$ 1 trilhão, exportações acima de US$ 200 bilhões, e abriga cerca de 27% da água doce de todo o mundo. Alan García, Presidente do Peru. América Latina “A América Latina e o Caribe representam hoje o maior mercado para as exportações brasileiras”, declarou o Ministro das Relações Exteriores Celso Amorim. Dentro desse cenário, prioriza-se o trabalho para incrementar a corrente de comércio do Brasil com vários países, inclusive o Peru. Recentemente, os ministros das Relações Exteriores do Mercosul assinaram um acordo que prevê a incorporação da Venezuela como membro pleno do Mercosul dentro de quatro anos. “A entrada da Venezuela cria uma vértebra sulamericana de integração muito grande”, disse o ministro. Estudos andinos A comunidade dos países andinos tem hoje 120 milhões de habitantes. Usando este dado como um de seus principais argumentos, o Embaixador do Peru Hernán-CouturierMariátegui está propondo a criação de uma cátedra de Estudos Andinos na Universidade de Brasília (UNB). Lauro Morhy, Reitor da UNB, disse que tem interesse em sediar a cátedra, que terá grande impacto na aproximação acadêmica e científica entre os países da América Latina. O embaixador peruano ressaltou que o Brasil e o Peru detêm as áreas de floresta mais extensas da Amazônia e se preocupam em conserválas e defendê-las: “A Amazônia representa um grande desafio não só ambiental, como também pelas teorias de internacionalização da floresta como patrimônio universal, que têm sido defendidas por países do Hemisfério Norte.” Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 71 madnezz.com.br A exportação de serviços de engenharia traz divisas para o país, promove exportações de pequenas e médias empresas, reduz a vulnerabilidade externa nacional e, assim, colabora para desenvolvimento brasileiro. Servindo ao desenvolvimento há mais de 60 anos www.odebrecht.com A atuação global da Odebrecht gera mais que benefícios para os países em que atua, traz desenvolvimento para o Brasil. Operando há mais de 25 anos nos quatro continentes, a maior empresa de engenharia e construção da América Latina já acumula mais de 500 obras no exterior. São contratos que geramexpor tações de bens eserviços nacionais intensivos em tecnologia e, assim, contribuem para o crescimento econômico brasileiro.