- Abrapress

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- Abrapress
FCCE
Federação das Câmaras de Comércio Exterior
Federación de las Cámaras de Comercio Exterior
2006
22 de maio
Seminário Bilateral de
Comércio Exterior e Investimentos
BRASIL
PERU
Federação das Câmaras de Comércio Exterior
Federación de las Cámaras de Comercio Exterior
La FCCE es la más antigua Asociación de Clase dedicada exclusivamente a las actividades de Comercio
Exterior.
Fundada en el ano 1950, por el empresario João
Daudt de Oliveira (se debe a él la fundación de la Confederación Nacional de Comercio – CNC, 5 años antes), la FCCE opera, ininterrumpidamente, desde hace
más de 50 años, incentivando y apoyando el trabajo de
las Cámaras Bilaterales de Comercio, Consulados Extranjeros, Consejos Empresariales y Comisiones Mixtas
a nivel federal.
La FCCE, por fuerza de su Estatuto, tiene ámbito nacional y posee Vicepresidentes Regionales en diversos
Estados de la Federación, operando también en el plano
internacional, a través de “Convenios de Cooperación”
firmados con diversos organismos de la más alta credibilidad y tradición, a ejemplo de la International Chamber
of Commerce (Cámara de Comercio Internacional –
CCI), fundada en 1919, con sede en París, y que posee
más de 80 Comités Nacionales, en los 5 continentes, además de operar la más importante “Corte Internacional de
Arbitraje” del mundo, fundada en el año 1923.
La FEDERACIÓN DE LAS CÁMARAS DE COMERCIO EXTERIOR tiene su sede en la Avenida General Justo nº 307, Río de Janeiro, (Edifício de la Confederación
Nacional de Comercio - CNC) y mantiene con esta entidad, hace casi dos décadas, “Convenio de Respaldo Administrativo y Protocolo de Cooperación Mutua”.
En un pasado reciente, la FEDERACIÓN DE LAS CÁMARAS DE COMERCIO EXTERIOR – FCCE firmó Convenio con el CONSEJO DE CÁMARAS DE COMERCIO
DE LAS AMÉRICAS, organismo que representa a las Cámaras Bilaterales de Comercio de los siguientes países:
ARGENTINA, BOLIVIA, CANADÁ, CHILE, CUBA,
ECUADOR, MÉXICO, PARAGUAY, SURINAME, URUGUAY, TRINIDAD Y TOBAGO y VENEZUELA.
Además de varias decenas de Cámaras Bilaterales de
Comercio afiliadas a la FCCE en todo Brasil, forman
parte de la Directoria actual, los Presidentes de las Cámaras de Comercio: Brasil-Grecia, Brasil-Paraguay, BrasilRusia, Brasil-Eslovaquia, Brasil-República Checa, Brasil-México, Brasil-Belarus, Brasil-Portugal, Brasil-Líbano, Brasil-India, Brasil-China, Brasil-Tailandia, Brasil-Italia
y Brasil-Indonesia, además del Presidente del Comité
Brasileño de la Cámara de Comercio Internacional, el
Presidente de la Asociación Brasileña de las Empresas
Comerciales Exportadoras – ABECE, el Presidente de
Ia Asociación Brasileña de la Industria Ferroviaria –
ABIFER, el Presidente de la Asociación Brasileña de los
Terminales de Contenedores, el Presidente del Sindicato de las Industrias Mecánicas y Material Eléctrico,
entre otros. Súmese aun, la presencia de diversos Cónsules y diplomáticos extranjeros, entre los cuales, el
Cónsul General de la República de Gabón, el Cónsul de
Sri Lanka (antiguo “Ceilán”), y el Ministro Consejero
Comercial de la Embajada de Portugal.
La Directoria
DIRECTORIA PARA EL TRIENIO 2003/2006
Presidente
JOÃO AUGUSTO DE SOUZA LIMA
1o Vicepresidente
PAULO FERNANDO MARCONDES FERRAZ
Vicepresidentes
Gilberto Ferreira Ramos
Joaquim Ferreira Mângia
José Augusto de Castro
Ricardo Vieira Ferreira Martins
Antonio Carlos M. Bonetti – São Paulo
Sohaku R. C. Bastos – Bahia
Claudio Chaves – Norte
Directores
Diana Vianna de Souza
Daniel André Sauer
Alberto Vieira Ribeiro
Jeferson Malachini Barroso
Alexander Zhebit
José Paulo Garcia de Pinho
Alexandre Adriani Cardoso
Juan Clinton Llerena
André Baudru
Luis Cesario Amaro da Silveira
Antonio Augusto de Oliveira Helayel
Marcio Eduardo Sette Fortes de Almeida
Arlindo Catoia Varela
Mariano Marcondes Ferraz
Augusto Tasso Fragoso Pires
Oswaldo Trigueiros Junior
Bruno Bastos Lima Rocha
Raffaele Di Luca
Carlos Fernando Maya Ferreira
Ricardo Stern
Cassio José Monteiro França
Roberto A. Nóbrega
Cesar Moreira
Ronaldo Augusto da Matta
Charles Andrew T‘ang
Sergio Salomão
Claudio Fulchignoni
Stefan Janczukowicz
Consejo Fiscal (Titulares)
Delio Urpia de Seixas
Elysio de Oliveira Belchior
Walter Xavier Sarmento
EDITORIAL
A Nação Sul-Americana
O Brasil redirecionou suas prioridades. Sem minimizar a importância de seu comércio
atlântico, voltou-se para a integração física e energética sul-americana. Compreendeu a
relevância da aproximação com os países vizinhos, para a superação do subdesenvolvimento histórico, a partir de ganhos de escala proporcionados pela ampliação do
mercado consumidor. Acordos de livre comércio e desenvolvimento vinham sendo
firmados desde os anos 60. Acordos de complementação econômica ampliaram ainda
mais as possibilidades do livre comércio. Faltava, porém, o facilitador logístico. O Brasil,
de dimensões continentais, que vivera em seus primórdios o modelo de arquipélagos
econômicos, no qual cada área comunicava-se apenas com a metrópole, após promover
a integração nacional, percebeu que faltava superar as dificuldades físicas de acesso aos
países vizinhos. Incentivou, apoiou e acordou, enfim, com os objetivos e pressupostos
da Iniciativa de Integração Regional Sul-Americana – IIRSA, objetivando a construção
de eixos de integração e de desenvolvimento. Nesse contexto, Brasil e Peru construíram,
em 2003, durante a visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, uma aliança estratégica
que privilegia a intensificação da relação comercial, cultural e política. A
complementaridade econômica, a convergência de interesses políticos e a promoção do
comércio e dos investimentos objetivam, sobretudo, a erradicação da pobreza. São os
passos iniciais para a construção de uma nação sul-americana.
O marco dessa integração física foi a inauguração, em janeiro de 2006, da ponte
binacional sobre o rio Acre, que contou com a presença dos presidentes do Peru e do
Brasil. A Rodovia Interoceânica objetiva integrar o Mercosul à Comunidade Andina e é
o indicador de que a Comunidade Sul-Americana de Nações, lançada em 2004, durante
a 3a Reunião de Presidentes da América do Sul, em Cuzco, no Peru, não foi um mero
exercício de retórica.
O Peru é, sem dúvida, um parceiro estratégico. A proximidade física com o litoral
daquele país, sinaliza a oportunidade de acesso facilitado aos mercados da Bacia do Pacífico.
O Peru, no entanto, não pode ser entendido, simplesmente, como um corredor de
escoamento. O esforço do governo daquele país em aumentar o acesso a novos mercados,
por intermédio de acordos de livre comércio, exalta uma gama de oportunidades a serem
aproveitadas pelos exportadores brasileiros. Destaca-se o acordo de livre comércio com a
Tailândia, considerado por muitos como um país chave para acessar mercados do Sudeste
asiático. A importância do Peru reside, igualmente, no dinamismo de sua economia, que
apresentou, em 2005, taxa de crescimento da ordem de 6,5%. Os negócios relacionados
ao setor minerador e o Projeto Camisea, com suas gigantescas reservas de gás, ampliaram
o afluxo de investimentos estrangeiros para o Peru.
A corrente de comércio entre o Brasil e o Peru atingiu, em 2005, o montante de US$
1,3 bilhão, e o Brasil gozou um superávit da ordem de US$ 910 milhões. O comércio
bilateral tende, efetivamente, a deslanchar na próxima década, por conta da integração
física e dos acordos comerciais. É mister considerar que o Peru é um Estado associado ao
Mercosul e que o Acordo de Complementação Econômica no 58, ou ACE-58, tem
apresentado resultados significativos.
Por tudo isso, a Federação das Câmaras de Comércio Exterior decidiu realizar, em 22
de maio de 2006, o Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos BrasilPeru. Trouxemos para o leitor, nesta edição, o acompanhamento dos trabalhos do
seminário. Apresentamos o perfil e o potencial de duas das principais economias da
América do Sul. Destacamos as oportunidades para os setores de infra-estrutura e
construção no Peru, bem como os principais nichos do mercado peruano a serem
explorados pelos exportadores brasileiros.
Boa leitura.
O EDITOR
APOIO
CONSELHO DE
CÂMARAS DE COMÉRCIO
DAS AMÉRICAS
Expediente
Produção
Federação das Câmaras de Comércio Exterior – FCCE
Av. General Justo, 307/6o andar
Tel.: 55 21 3804 9289
e-mail: [email protected]
Editor
O coordenador da FCCE
Textos e Repor tagens
Elias Fajardo
Felipe Castro
José Antonio Nonato
Projeto Gráfico, Edição e Ar te
Estopim Comunicação
Tel.: 55 21 2518 7715
e-mail: [email protected]
Revisão
Maria Virgínia Villela de Castro
Fotografia
Christina Bocayuva
Secretaria
Maria Conceição Coelho de Souza
Sérgio Rodrigo Dias Julio
As opiniões emitidas nesta revista são de
responsabilidade de seus autores. É permitida a
reprodução dos textos, desde que citada a fonte.
SUMÁRIO
6
E N T R E V I S TA
José Betancourt Rivera
“Brasil e Peru estão no
centro físico, político e
econômico da América
do Sul”
Gustavo Assad
“A economia e a área social
caminham juntas”
18 A B E RT U R A
Em busca da ligação bioceânica
21 PAINEL I
A diversificação das
relações comerciais
entre Brasil e Peru
25 PAINEL II
Parcerias entre países irmãos
32 PAINEL III
A política de integração
amazônica e as relações
bilaterais Brasil-Peru
48 HOTELARIA
Hotéis-escola Senac
49 PARCERIA
“Precisamos nos integrar com
toda a América Latina”
5 1 C U LT U R A
A Escola cuzquenha de
pintura: um tesouro da
América colonial
5 5 C I D A DA N I A
SESC:
De vento em popa
5 6 E X P O RTA Ç Ã O
A importância do
comércio para a
economia brasileira
Desburocratização do comércio exterior é um
caminho sem volta
A integração entre Brasil
e Peru
40 E N C E R R A M E N T O
Cultivar novas propostas para colher
desenvolvimento
41 E M P AU TA
61 GASTRONOMIA
Ceviche, a maravilha
suprema de uma
culinária rica e variada
6 5 R E L A Ç Õ E S B I L AT E R A I S
Pavilhões da
FCCE
42 TURISMO
Destino Peru
7 0 C U RTA S
ENTREVISTA
“Brasil e Peru estão
no centro físico,
político e econômico
da América do Sul”
José Betancourt Rivera é ministro encarregado de negócios da
Embaixada do Peru no Brasil. Nesta entrevista exclusiva à revista
da FCCE, ele teceu comentários sobre a integração entre os dois
países, que considera um processo irreversível, tendo como base
um entendimento mantido entre os presidentes do Brasil e do Peru.
O entendimento se expressa na construção de estradas e de
hidrovias, cortando as fronteiras e aproximando o comércio, a economia e, até mesmo, a cultura. Segundo José Betancourt Rivera,
com a integração física, o Brasil terá acesso garantido ao Oceano
Pacífico e o Peru terá acesso ao Oceano Atlântico por meio do território brasileiro. O ministro considera este um grande desafio que
os representantes do comércio e da política dos dois países precisam assumir, não só nos próximos anos, mas também durante todo
o século XXI.
Como o senhor analisa, hoje, a corrente comercial entre os dois países?
JBR – A corrente comercial entre os dois
países é promissora, pois há uma tendência de ampliação em muitos setores de
nosso comércio em muitos setores que
ainda não haviam sido convenientemente
explorados. No momento atual, temos
tido muitas possibilidades de incrementar
o comércio bilateral, especificamente por
meio da Rodovia Interoceânica. Estamos
trabalhando na construção de uma integração física direta entre o Brasil e o Peru. A
Rodovia Interoceânica é um sonho que
logo vai tornar-se realidade, com expressivos benefícios em muitas áreas. Algu6
mas empresas brasileiras e peruanas já estão iniciando as obras e esta estrada vai
conectar o Sul, o Centro-Oeste e parte
do Norte do Brasil com o Sul do Peru. Os
estados do Mato Grosso do Sul, Mato
Grosso, Rondônia e Acre e a região Sul do
Peru vão estar vinculados por intermédio
de uma rodovia que se constitui numa verdadeira via de integração física. Por meio
desta via, muitos produtos brasileiros terão acesso aos mercados asiáticos por meio
dos portos do Sul peruano no Oceano
Pacífico.
Por tudo isso, podemos afirmar que
essa rodovia é um elemento importantíssimo dentro da nova concepção das rela-
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ENTREVISTA
transportadas por terra possuem, como
única opção de escoamento, o Sul do
continente. Com a nova via, economizaremos tempo de viagem e poderemos
oferecer melhores condições para atividades de frete. Além disso, produtos peruanos como cimento, peixe e farinha de
peixe alcançarão as fronteiras brasileiras
com maior rapidez e eficiência. Eu acho
que as perspectivas do comércio bilateral são muito amplas e promissoras e
estamos todos trabalhando na mesma direção. Há muito tempo uma iniciativa
como esta se fazia necessária.
José Betancourt Rivera considera o Brasil e o Peru países estratégicos para a América do Sul.
8
ções bilaterais entre Brasil e Peru, principalmente no que diz respeito à região Sul
do nosso país. Pelo lado Norte, está sendo criado o Eixo Multimodal do Amazonas Norte, com a construção de uma via
multimodal de integração física entre os
dois países. Por meio desta via, os produtos do Norte peruano poderão chegar à
Amazônia brasileira e os produtos de
Belém do Pará e de Manaus terão acesso
ao litoral norte do Peru, de onde seguirão
de navio para o mercado asiático.
Atualmente, Peru e Brasil são dois
países considerados estratégicos para o
desenvolvimento da Amazônia e, também, para a própria América do Sul.
Eles têm um papel a cumprir e tudo
indica que o farão.
Peru são cobre refinado, cobre em forma
bruta, zinco, prata bruta e bromo refinado, todos eles minerais. Entre os produtos alimentícios, temos de destacar as azeitonas, que são o principal produto de exportação peruana para o Brasil.
Em relação às importações, o Peru
compra do Brasil automóveis, chassis,
tratores e muitos produtos químicos. Há,
entre os dois países, uma importante cor-
Quais os produtos mais comercializados entre os dois países e
quais necessitam de mais atenção
por parte dos respectivos governos e do empresariado para se
tornarem mais viáveis comercialmente?
JBR – Os produtos mais vendidos pelo
rente comercial, mas estamos convencidos de que, por meio da Rodovia Interoceânica, o fluxo do comércio será incrementado, porque a produção de soja dos
estados do Mato Grosso, Mato Grosso
do Sul e Rondônia chegará com facilidade aos portos peruanos do Oceano Pacífico. Atualmente, nossas mercadorias
“
A nossa corrente de
comércio será bastante
ampliada por meio da
Rodovia Interoceânica
”
J O S É B E TA N C O U R T R I V E R A N
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Qual a importãncia do Acordo de
Complementação Econômica entre
Brasil e Peru, no contexto do Mercosul?
JBR – O Acordo de Complementação
Econômica, o ACE 58, cria expressivas
facilidades de circulação para os produtos
brasileiros e peruanos, o que está plenamente de acordo com os objetivos do
Mercosul, ao qual o Peru também é associado. Este acordo, portanto, só vem somar pontos aos esforços do Mercosul,
uma vez que nossos produtos terão maior
circulação entre os países do Cone Sul.
O Embaixador Plenipotenciário
do Peru no Brasil, Hernán A. Couturier Mariátegui, que o senhor
está representando nesse seminário, afirmou em entrevista que,
hoje, as duas culturas mais fortes e
importantes da América Latina são
a brasileira e a andina, que inclui o
Peru, a Colômbia, a Bolívia e o
Equador. O senhor acha que a cultura tem algum reflexo no comércio bilateral?
JBR – Concordo plenamente com esta
afirmação do Embaixador do Peru no Brasil, Hernán A. Couturier Mariátegui. Se
lançarmos um olhar bem amplo, de caráter histórico e sociológico, sobre a América Latina, vamos verificar a presença de
duas grandes civilizações. A primeira delas é a cultura incaica, cujo centro político
e econômico ficava em Cuzco, no Peru, e
a outra é a cultura ameríndia tupi-guarani
cujo centro principal foi o Brasil.
Essas duas culturas, essas duas importantes civilizações da América do Sul, têm,
hoje, amplas possibilidades de enriquecer-se mutuamente, não só por meio do
comércio, mas também por meio da
interação cultural e política. É justamente
nesse sentido que o Peru e o Brasil estão
trabalhando. Nossos países firmaram um
acordo, uma aliança estratégica, e muitos
esforços estão sendo realizados para que a
integração Peru-Brasil seja o motor da
integração de toda a América do Sul. Os
dois países têm uma localização privilegiada, pois ocupam o centro geográfico desta região e agora estenderam as mãos para
trabalharem juntos em busca da bioceanidade. O que quero dizer é que o
Brasil terá seu acesso garantido ao Oceano Pacífico e o Peru o seu acesso ao Atlântico por meio do território brasileiro. Esse
é o grande desafio que nós temos que assumir para os próximos anos e durante
todo o século XXI.
Eu acho que as condições estão criadas: temos uma vontade política definida
nesse sentido, as nossas culturas se aproximam, somos vizinhos e estamos no centro geográfico da América do Sul. Nossa
integração física vai nos aproximar ainda
mais e, penso que, nos próximos anos, ela
trará vantagens não só para nossos países,
como para toda a América do Sul.
Alguns analistas da política e do
comércio internacional dizem que
o Brasil sempre esteve voltado para
a Europa e de costas para a América
Latina. É possível que no seu país
exista quem pense da mesma forma, ou seja, que o Peru se volta mais
para seus parceiros asiáticos. A nossa integração é uma questão de estradas de rodagem ou ela passa,
também, por iniciativas políticas,
econômicas e culturais?
JBR – A integração entre dois países requer, evidentemente, o apoio dos setores
político, econômico e cultural. É nesta linha que Peru e Brasil têm trabalhado. No
plano político, por exemplo, os dois são
países democráticos, e exercem liderança
na América do Sul, o que facilita esta
integração.
Como essa liderança política brasileira e peruana poderia se objetivar na América do Sul, no cenário atual?
JBR – Na medida em que avançamos por
meio da integração física, do desenvolvimento do comércio, da promoção cultural e da aproximação turística, fortalecemos ainda mais os laços políticos entre
nossos países e nossos povos.
“
Na medida em que
avança a integração
física, crescem os laços
entre os nossos povos
”
J O S É B E TA N C O U R T R I V E R A N
Peru e Brasil estão mais próximos desde agosto de 2003, ano em que se formou
a aliança estratégica. Os dois países estão
engajados na construção de uma relação
intensa e ampla que não abrange só aspectos econômicos e comerciais, mas também aspectos comuns de desenvolvimento, de posições em matéria de política externa, de combate à pobreza e à fome.
Estamos bastante próximos e queremos
continuar trabalhando juntos, pois há
muito o que fazer. Até o momento, é o
que posso dizer.
A trajetória de
José Betancourt Rivera
José Betancourt Rivera nasceu em
Lima em 14 de dezembro de 1957. É
diplomata de carreira e advogado. Estudou Direito na Universidade San
Martin de Porres de Lima e também
na Academia Diplomática do Peru,
graduando-se como diplomata em
dezembro de 1982. Desempenhou
funções diplomáticas nas embaixadas
do Peru na Holanda (1985-1988) e
na Colômbia (1988-1991). Foi Cônsul do Peru em Vancouver, no Canadá, de 1994 a 1999.
Está servindo em Brasília desde 2002
e, atualmente, é ministro encarregado
de negócios da Embaixada do Peru.
Um dos pólos mais importantes nessa junção de interesses entre o Peru
e o Brasil é justamente a Amazônia.
Como tratar a Amazônia, comercial, ecológica e cientificamente? O
que nos une e o que nos afasta com
relação à Amazônia?
JBR – Com relação à Amazônia, tudo
nos une. Somos os dois países mais importantes desta região e temos um compromisso firme, uma vontade engajada
na organização de um tratado de cooperação. A região amazônica representa, tanto para os peruanos como para os brasileiros, um setor com amplas possibilidades de desenvolvimento, de inovação
tecnológica, e de acordos comerciais. A
Amazônia é, pois, uma região que nos
vincula e da qual depende intensamente
nosso futuro comum.
O próprio Rio Amazonas, por meio
do eixo multimodal que será construído,
vai servir como um elo a unir ainda mais
o Norte do Peru com Manaus e Belém
do Pará. Estamos diante de um desafio
muito grande para nossas autoridades e
para nossos povos. A Amazônia possui
grande potencial de desenvolvimento. O
uso racional dos recursos energéticos de
que dispõe pode provocar profundas repercussões para o meio ambiente e trazer inovações tecnológicas e científicas.
Estamos alinhavando diversas parcerias
entre institutos tecnológicos da Amazônia brasileira e institutos tecnológicos da
Amazônia peruana. Estamos investindo
muito, nesses últimos anos, na integração
desta região.
O senhor é otimista com relação ao
incremento das nossas relações comerciais bilaterais?
JBR – Eu sou muito otimista. Nós temos
tudo para continuar na direção que temos
trilhado até agora. Temos, também, uma
vontade política definida nesse sentido e
acho que nos próximos cinco anos a relação bilateral Peru-Brasil será redimensionada, não só no comércio, mas também no que diz respeito aos programas
conjuntos de desenvolvimento nas regiões fronteiriças. Brasil e Peru vão surpreender todo o continente.
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ENTREVISTA
“A economia e a
área social
caminham juntas”
Gustavo Assad é Diretor-Adjunto da área internacional da Construtora Norberto Odebrecht.
Tem sob sua responsabilidade a obtenção de financiamentos para os
contratos da empresa no exterior e o apoio institucional à divulgação
do trabalho do grupo empresarial de exportação de serviços. Engenheiro civil com pós-graduação em Administração em Finanças e
Administração de Negócios, trabalhou em Angola e no Peru, onde
morou vários anos.
Nesta entrevista, ele fala sobre a atuação da Odebrecht no exterior, reafirma a preocupação da empresa com questões sociais e comunitárias e, por fim, revela a sua emoção diante dos resultados de
um projeto de irrigação realizado em território peruano. Segundo
Gustavo Assad, exportar serviços significa mostrar no exterior um
Brasil forte, competente e produtivo, capaz de atender a grandes
demandas em diferentes continentes.
Quais são os interesses e os negócios
que a Odebrecht mantém, hoje, no
Peru?
GA – O mercado peruano é importante
para nós – e aí vai um pouco do forte
simbolismo que existe na presença da
Odebrecht no Peru – porque começamos nossa atuação internacional nesse
país. O nosso primeiro contrato internacional foi a central hidrelétrica em Charcani V, na Província de Arequipa, em
1979. Deste então, a empresa vem realizando importantes projetos de desenvolvimento socio-econômico no território
peruano.
Um dos motivos que nos leva a estar
aqui, hoje, participando de um painel do
10
seminário, é tratarmos de duas obras de
integração: o Eixo Multimodal Amazônia
do Norte e a Rodovia Interoceânica Sul.
Elas se inserem dentro da Iniciativa para
a Integração da Infra-Estrutura Reginal
Sul-Americana – IIRSA, um projeto de
dimensões continentais que envolve vários países. Esta é a razão pela qual nós temos, hoje, duas obras de integração em
desenvolvimento. Ambas foram contratadas em 2005. Já iniciamos nossas atividades na região e a previsão de conclusão é
de quatro anos, aproximadamente.
São projetos com grande importância
logística, econômica e social e estão muito afinados com a orientação da empresa.
A Odebrecht tem 60 anos de existência –
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11
ENTREVISTA
começou em 1944, trabalhando em território brasileiro. Há 25 anos, ela se lançou no mercado internacional. Durante
estas duas décadas e meia trabalhando fora
do Brasil, não tivemos nenhum registro
de obra inacabada e nenhum registro de
inadimplência em qualquer país, ou reclamação de instituições que não tenham
ficado satisfeitas com nossos serviços.
“
Para nós, o importante é
trabalhar em programas
identificados com as necessidades
de toda a sociedade
G U S T AV O A S S A D N
”
Para nós, é importante mostrar as características da atuação da empresa. A
Odebrecht não faz projetos para o governo, ela faz projetos para o país. A partir do
momento em que é identificada a demanda, e depois de passar pelos estudos iniciais, uma obra de porte precisa de cerca de
três anos para começar o trabalho propriamente dito. Ora, os governos, normalmente, têm mandato de quatro anos. Algumas vezes os governos latino-americanos são interrompidos antes disto. Imagine, então, um projeto que além da maturação leva mais uns quatro ou cinco para
sua execução. Se não for uma necessidade
grande do país e se for apenas uma iniciativa de interesse do governo, corre o risco
de, após uma eleição, não ter sua continuidade garantida.
Um programa de obras identificado
como uma necessidade da comunidade
não pertence apenas ao governo. Ele é um
programa priorizado pelo governo, mas
tem um respaldo na necessidade da comunidade. Para nós, é importante trabalhar para toda a sociedade.
A Odebrecht é uma empresa de excelência internacional e consegue
contratos importantes em Portugal,
nos Estados Unidos e em países da
Ásia. De onde vem esse interesse
pela América Latina? Busca estar de
acordo com o interesse do governo
brasileiro, que pretende fortalecer
sua liderança na região, ou é uma
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orientação estratégica da empresa?
GA – A estratégia da empresa é baseada
no seguinte critério: onde houver a necessidade, não de uma obra, mas, principalmente, de projetos de infra-estrutura,
lá nós estaremos, querendo participar. A
Odebrecht está atuando em 19 países, nos
quatro continentes. Em alguns, começamos mais recentemente, como no Norte
da África, onde estamos avançando em
iniciativas importantes. É interessante esclarecer que nosso conceito estratégico
não é o de fazer apenas uma obra e depois
ir embora. Nosso interesse é permanecer
e colaborar com o país.Tanto que o tempo
médio de atuação nos países onde trabalhamos é de 14 a 15 anos.
O que buscamos, então, é uma atuação
em longo prazo. O que a Odebrecht quer
é a qualidade do trabalho e do serviço que
ela presta, Os clientes entendem, de maneira geral, que quem nos contrata não é
apenas uma instituição, mas é a própria
sociedade e a comunidade que é atendida
por esse projeto. Por isso, costumamos
ter uma relação longa e sólida com eles. A
partir deste tipo de relacionamento é que
vamos conseguir uma vantagem competitiva, porque uma coisa é abrir o mercado,
trazendo praticamente tudo de fora, procurando adaptar-se às condições locais.
Outra coisa é já estar instalado no país,
conhecendo as necessidades e anseios das
pessoas que nele vivem. Entendemos a
América do Sul como um continente que
demanda muita infra-estrutura. A nossa
política é dar prioridade a ela. Tanto é assim, que nós iniciamos no Peru nossa atuação internacional. Hoje, fala-se muito, e
com razão, num grande esforço com relação à integração regional. Nós já buscamos isso há muito tempo. Estamos atuando nesses países há décadas, não só no
Peru, mas também no Equador, onde trabalhamos há quase 20 anos.
Dentro dessa linha de raciocínio que o
senhor está construindo, o que significa vender serviços e não produtos?
GA – A exportação de serviços é fundamental para nós, por isso consideramos
importante comparecermos a fóruns e seminários como esse. A intenção é divulgar
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nosso negócio principal: a exportação de
serviços. Isto envolve bem mais do que a
questão do contato comercial. Se compararmos friamente a exportação de serviços
e a exportação de bens, vamos ver que a
parte comercial é praticamente igual: alguém demanda serviços, alguém demanda
um bem, e você vende.
Os bens, normalmente, são montados no país em que são fabricados e já
são exportados fechados. Quanto ao serviço, nós exportamos partes desses nossos produtos e os montamos lá fora. Isso
já determina algumas características diferentes. A primeira é a seguinte: quando
você exporta serviço, está exportando
tecnologia e inteligência; está exportando a capacidade de o Brasil trabalhar em
ambientes adversos. Digo adversos não
porque sejam ruins, mas no sentido de
serem diferentes da realidade local. É
importante que o mercado externo identifique esta capacidade no Brasil. Além
disso, todo esse processo também serve
como aprendizado, porque cada cultura
tem realidades diversas. É preciso aprender a se relacionar com elas. Isso significa que a empresa deve ser capaz de se
reciclar, de se readaptar e de se reestruturar para outros mercados. Quanto mais
exporta, mais a empresa adquire conhecimento nesse setor.
“
Tudo que veiculamos e
exportamos depende do
perfil da obra e da demanda
das comunidades locais
G U S T AV O A S S A D N
”
Um outro aspecto é que os projetos
de infra-estrutura têm uma forte demanda de integração regional. Assim, alguns
bens brasileiros vão ser também exportados, dentro de um pacote de prestação de
serviços. A Construtora Norberto Odebrecht não fabrica nenhum bem. Nós temos que comprar tudo, e nada melhor do
que comprar de nossos parceiros brasileiros que, nesses 25 anos de atuação no
exterior, já somam mais de 1.500.
Nós temos uma estrutura no Rio de
Janeiro que é o ramo da Odebrecht de
de Trujillo, numa região muito simpática do país.
O primeiro ponto a destacar foi a recepção do povo peruano à nossa participação.
Eles nunca nos enxergaram como alguém
que estivesse ocupando seu espaço. Muito pelo contrário, nos viam como possibilidades de soma e de conquista de benefícios para seu país.
Depois da inauguração da obra, pudemos ver aqueles vales, que antes eram extremamente secos, começarem a ser percorridos pela água. A população local ficou emocionada e os camponeses exultaram. Três ou quatro anos depois, tive a
oportunidade de voltar à cidade, por outros motivos, e vi, com satisfação, que a
região, hoje, está completamente diferente
do que era.
exportação. Já temos cadastrados algo em
torno de 1.800 empresas brasileiras. Entre elas estão desde uma grande siderúrgica que faz exportação de aço, até uma
empresa que faz equipamentos de proteção individual. Um dado curioso: já ganhamos um prêmio de maior exportador
de botas de segurança, por causa disso.
Tudo que veiculamos e exportamos depende do perfil da obra e da demanda.
A preocupação da empresa com a
segurança e com o meio ambiente é
tão grande quanto a preocupação
com a qualidade do serviço de engenharia que ela oferece?
GA – Hoje, não há mais como dissociar
meio ambiente e engenharia. Não existe
nenhum projeto sem um bom estudo de
viabilidade econômica e ambiental. Daí, a
grande importância de uma empresa que
vende serviços estar sempre se alimentando de informações. Cada país tem sua
legislação específica e, em cima dela, nós
vamos trabalhando e cada vez aprendendo mais. Isso passa necessariamente pela
preocupação com a natureza: não tem
como montar um projeto que não respeite as normas ambientais.
Depois de muitos anos estabelecida
na Bolívia, a Petrobras se viu subitamente envolvida numa questão ligada à nacionalização do gás natural e do petróleo. Como a Odebrecht vê essa questão, uma vez que
também atua no mercado latinoamericano?
GA – Sem querer parecer clichê, a forma
como percebemos essa questão é a seguinte: onde temos dificuldades é onde
enxergamos oportunidades. Quem trabalha com infra-estrutura atua no terreno
básico em termos do desenvolvimento de
que os países precisam.
A Petrobras é uma empresa muito grande. Ela foi bem estruturada para instalarse na Bolívia. Na exploração do petróleo
estão envolvidos grandes interesses econômicos, que passam, também, pela política. Acredito que uma empresa como a
Petrobras vai ter condições de negociar e
de contornar essa situação.
“
A vida das pessoas melhora
quando as obras têm
um caráter ao mesmo tempo
social e econômico
”
G U S T AV O A S S A D N
A Odebrecht nunca viveu nenhuma
situação parecida?
GA – Não. Com relação a contratos firmados, não. Temos uma rodovia de
integração regional em construção, num
ambiente de fronteira bem difícil. O Brasil deu um apoio muito forte a esse projeto e a obra está em andamento de modo
normal e tranqüilo.
O que mais o emociona no seu trabalho?
GA – Eu tive oportunidade, por conta
do meu trabalho, de morar três anos no
Peru, onde participei de um projeto
muito importante: uma iniciativa de
integração econômica e social por meio
da irrigação. Ele recebeu o nome de
Chavimochic, que é a junção do nome
dos quatro vales onde ele se situa. O
mais interessante foi a possibilidade de
residir durante três anos na cidadezinha
Como foi essa sensação?
GA – Quando voltei, pude perceber
que a região seca e árida se transformara
num lugar de grandes vales verdes,
onde são cultivados vários produtos para
exportação. A própria cidade ganhou
outra imagem, as pessoas passaram a investir mais na região e o desenvolvimento, finalmente, chegou. Essa é a grande
satisfação que podemos ter. São obras
nas quais se vê claramente um cunho
de importância social e econômica,
porque a economia e a área social caminham juntas. Quando isso acontece,
podemos constatar que a vida das pessoas, indiscutivelmente, melhora.
O senhor gostaria de dizer mais alguma coisa?
GA – Não. Basicamente eu queria agradecer essa oportunidade que a FCCE está
nos dando de participar desse seminário.
Para nós, é muito importante a divulgação da nossa atuação, não só pela característica de relacionamento entre os países,
mas, principalmente, pela própria essência do nosso trabalho. Conforme já disse,
exportação de serviços significa exportação de tecnologia; significa mostrar no exterior um Brasil forte, competente e produtivo, que oferece produtos e serviços
para atender a uma demanda muito grande e em diferentes lugares.
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
13
Pesquisa por produto, país de de
ou nome do exportador
Disponível em 4 idio
inglês,espanhol e f
Relação
atu
stino
mas: português,
rancês
de exportadores
alizada mensalmente
ABERTURA
Em busca da ligação bioceânica
Brasil e Peru constroem via integrada entre os oceanos Pacífico e Atlântico
José Betancourt Rivera; Marco Pólo Moreira Leite; Glorisabel Garrido Thompson-Flôres, Cônsul-Geral do Panamá no Rio de Janeiro; Franklin
Rivas, Cônsul-Geral da República Dominicana no Rio de Janeiro; e Pablo Jiménez Boada, Cônsul-Geral Adjunto da Bolívia no Rio de Janeiro.
A sessão solene de abertura do
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos
Brasil-Peru foi presidida por Lúcia Maldonado, Vice-Presidente
Executiva da Associação de Comércio Exterior do Brasil –
AEB. Contou, com o pronunciamento do Ministro José Betancourt Rivera, Encarregado de
18
Negócios da Embaixada do
Peru, representando o Embaixador Plenipotenciário Hernán
A. Couturier Mariátegui. Compuseram a mesa o Ministro Marco Carreón, Cônsul-Geral do
Peru no Rio de Janeiro; Marco
Pólo Moreira Leite, Presidente
da Câmara de Comércio BrasilPeru; Arthur Pimentel, Diretor
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
do Departamento de Comércio
Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC; Professor Theóphilo de Azeredo
Santos, Presidente da Câmara
de Comércio Internacional –
ICC, além dos cônsules gerais da
República Dominicana, do Panamá e da Bolívia.
úcia Maldonado iniciou sua fala
afirmando ser uma honra presidir a
sessão, pois considera que os seminários da Federação das Câmaras de Comércio Exterior – FCCE têm sido de grande importância. “Não que um encontro
como esse vá resolver todos os nossos
problemas, mas ele chama a atenção para
a importância do mercado externo. Nosso objetivo é formar uma cultura de comércio exterior que o Brasil nunca teve.
Eu gostaria de destacar a presença do Peru
nas nossas relações comerciais. Em 2005,
este país foi o 27o mercado de destino das
importações brasileiras. Isso se torna mais
relevante quando observamos que ele
ocupava a 30a posição no ano anterior e
apresentou um crescimento de 48% em
um ano, o que é realmente expressivo. As
exportações do Peru para o Brasil continuam estáveis. Em 2005, ficou em 32o lugar, sendo que, em 2004, ocupou a 34o
posição no ranking dos países que exportam para o Brasil”.
Lúcia Maldonado afirmou, também,
que o Peru é um Estado associado ao
Mercosul, o que indica uma perspectiva
de ampliação do comércio entre os dois
países.
“Gostaria, também, de chamar a atenção para um outro fato extremamente importante: quando falamos em mercado
exterior sempre pensamos apenas em
mercadoria. Para nós, os serviços ainda se
situam num mercado futuro e, nesse campo, as relações do Brasil com o Peru são
muito importantes. Nós temos empresas
brasileiras fazendo obras de vulto no Peru
e, também, estamos investindo bastante
no turismo. Todos devem prestar muita
atenção aos painéis que virão, em que serão expostas e definidas algumas metas
para o aumento dos intercâmbios com o
Peru. Agradeço a todos e vamos passar ao
pronunciamento especial de José Betancourt Rivera”.
L
Perfil peruano
O ministro da Embaixada do Peru informou estar representando o embaixador, pois este precisou viajar em caráter
de emergência para Lima. José Betancourt
Rivera introduziu uma breve apresenta-
“
Nosso objetivo é ajudar
a formar uma cultura de
comércio exterior que o
Brasil nunca teve
”
LÚCIA MALDONADON
ção das relações comerciais entre o Brasil
e o Peru.
“Historicamente, os dois países têm
políticas externas muito parecidas, no entanto, enquanto o Brasil se voltou para o
Oceano Atlântico e para a Europa, o Peru
se voltou em direção ao Pacífico e para os
Estados Unidos. Desde agosto de 2003,
nós temos uma aliança estratégica. Foi
acordado durante a visita do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva ao Peru, que os
dois países se propõem a manter uma relação bilateral comercial intensa e definem uma estratégia na qual não só aspectos comerciais possuem relevância, mas
também se priorizam trocas culturais e
políticas.”
Segundo José Betancourt Rivera, o
Peru, hoje, apresenta índices positivos de
crescimento sustentado. A sua taxa em
2005 foi de 6,7%, uma das mais altas da
América do Sul. Para 2006, é esperado
um índice de 7%. A taxa de inflação é de
1,5%, uma das mais baixas da região. O
país exporta anualmente mais de US$ 6,8
bilhões. Estados Unidos, China, Japão e
Europa são os principais mercados para
os produtos peruanos, entre os quais destacam-se peixes, farinha de peixe, mine-
rais, uvas, aspargos e páprica. O governo
tem desenvolvido diversos acordos para
colocar os produtos peruanos em novos
mercados. Um deles foi o de livre comércio com a Tailândia, um país chave no Sudeste Asiático, visto como porta de acesso ao mercado de outros países da região.
“Em 2005, a iniciativa privada peruana cresceu 17%, quer dizer, três vezes
mais do que o total da economia. Temos,
também, indicadores que apontam para
breve a troca de nossa matriz energética.
Atualmente, o petróleo é o produto mais
usado, mas estamos trabalhando para
mudar esta matriz, substituindo-a pelo
gás natural. Hoje, muitas empresas peruanas já usam o nosso gás, uma forma
de energia mais limpa. Agora, estamos desenvolvendo uma segunda etapa, que
consiste em exportar gás líquido para o
México e para os Estados Unidos; iniciativa que demanda investimentos na ordem de US$ 2,5 bilhões.”
Relação bilateral
O ministro da Embaixada do Peru informou, ainda, que, em 2005, o intercâmbio comercial entre o Peru e o Brasil somou US$ 1,3 bilhão, sendo que US$ 452
milhões corresponderam a exportações
peruanas e US$ 909 milhões corresponderam às exportações brasileiras para o
Peru. Isto significa que a balança comercial
é deficitária para o Peru em cerca de US$
457 milhões.
As exportações peruanas para o Brasil
incluem, principalmente, minérios como
zinco, cobre, prata, prata refinada e cobre
refinado. A eles se juntam produtos agrícolas cultivados no Sul do Peru, que encontram demanda nos estados brasileiros que
fazem fronteira com aquela região. Entre
eles destacam-se aspargos, uvas e páprica.
“Temos possibilidades para incrementar significativamente o comércio bilateral nos próximos anos. O intercâmbio comercial entre os nossos países tem
aumentado a partir da entrada em vigor
do acordo de complementação econômica entre Peru e Mercosul, o ACE-58. Por
meio deste acordo, o comércio com os
países do Sul tem-se intensificado notavelmente. Junto com estas novas frentes
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
19
ABERTURA
de comércio, nós temos também, um significativo setor de investimentos”.
Em seu pronunciamento, José Betancourt Rivera citou diversas empresas brasileiras que estão trabalhando no Peru,
entre elas o banco Sudameris Brasil, as
construtoras Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão,
além de empresas de produtos naturais,
confecções e calçados que já realizam investimentos no Peru há muitos anos.
“É importante destacar que, em maio
de 2006, a Petrobras assinou um contrato
com o governo para a exploração do petróleo e do gás natural em um lote na região de Loreto. Esta é uma notícia importante não só para o comércio bilateral, mas
também para o setor de serviços, possibilitando a geração de novos empregos e dinamizando a economia. O investimento estimado da Petrobras, no país, é de aproximadamente US$ 35 milhões. Vários outros
lotes já estão sendo explorados pela empresa, mas consideramos que o novo acordo assinado vai promover um grande impacto no desenvolvimento comercial. Essa
nova situação demonstra que o Peru pode
oferecer boas condições em matéria de investimentos e comércio aos países amigos,
como o Brasil. Elas são favorecidas por uma
situação política estável, na qual os contratos são respeitados e amparados por uma
segurança jurídica constitucional”.
Integração física
O Ministro José Betancourt Rivera
passou, em seguida, a tratar da integração
física entre os dois países, que se desenvolve em torno de três eixos. O primeiro
e mais avançado deles é o eixo do Norte,
na região amazônica, que vai do Peru até o
Pará, seguindo o trajeto dos rios, conectando diretamente o Norte brasileiro ao
Norte peruano. Este trecho de 1.200 km
está praticamente concluído e abre as exportações para os dois oceanos: o Pacífico e o Atlântico. O ministro lembrou, também, que a Vale do Rio Doce ganhou a
licitação para exploração de fosfato na
Amazônia Peruana, o que favorece o desenvolvimento da região.
O segundo é o eixo central, que busca vincular a cidade de Pucalpa, no cen20
se das autoridades políticas e empresariais
nesta integração é crescente.”
Destino dos investimentos
brasileiros no Peru
(em US$ bilhões)
Agronegócio
Comércio
8,70
Construção civil
3,42
Finanças
2,60
Indústria
1,11
Fonte: Ministro José Betancourt Rivera
A Amazônia peruana (acima) é
uma área estratégica que abriga
projetos como o de exploração de
fosfato, pela Vale do Rio Doce. A
integração Brasil-Peru inclui,
também, convênio com a Embrapa
para a produção de etanol a partir
de cana-de-açúcar.
tro do Peru, ao município de Cruzeiro
do Sul, a segunda maior cidade do Acre,
com grande potencial de complementação com o centro do Peru. Em médio
prazo, deverá ser construída uma ligação
terrestre entre as duas regiões. Essa via
vai integrar os estados de Rondônia e do
Acre ao centro do Peru. A previsão é
conectá-las por meio de uma linha ferroviária ligada à malha rodoviária existente no Peru. Finalmente, o terceiro eixo
de integração física é o da rodovia que
deverá ligar Brasil, Bolívia e Peru. Segundo o ministro, calcula-se que, em dois
ou três anos, este trecho estará pronto.
“Companhias como a Odebrecht estão envolvidas no projeto e estamos seguros de que, por meio desta via, estaremos
ligando de forma definitiva os estados do
Sul do Peru com o Acre, Rondônia, Mato
Grosso e Mato Grosso do Sul. O interes-
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
Um outro setor importante da relação
bilateral é o agronegócio, que inclui um
convênio básico assinado entre a EMBRAPA
e o Instituto de Pesquisa Agropecuária Peruano. Ele prevê o desenvolvimento da
utilização de cana-de-açúcar como fonte
de energia, através da produção do etanol.
O Peru e o Brasil têm grandes plantações
de cana-de-açúcar e esta complementaridade de produção poderá ser utilizada
no futuro.
Uma missão do Ministério da Agricultura do Brasil visitará o Peru e técnicos
peruanos visitarão o Brasil para fixar as
propostas desta cooperação.
“O programa do biocombustível brasileiro é pioneiro no mundo e o Peru,
como sócio e parceiro do Brasil, quer contribuir neste processo. Para isso, estamos
realizando um programa de cooperação
técnica para trocar conhecimentos sobre
a produção deste tipo de combustível.”
Finalmente, José Betancourt Rivera
voltou a afirmar a importância da aliança
estratégica entre os dois países, na qual o
elemento central é a o corredor bioceânico, que proporcionará ao Brasil ligação
comercial com a Ásia.
“Peru e Brasil estão estrategicamente
posicionados no centro da América do Sul.
Para nós, esta relação representa maior facilidade de integração, por meio de ferrovias e sistemas fluviais. Assim, poderemos
exportar nossos produtos para a Europa.
Finalmente, gostaria de dizer que as possibilidades e desafios são imensos, e que
estamos trabalhando com muita imaginação neste novo contexto, buscando uma
nova concepção da relação bilateral que
só será possível com a colaborção dos diplomatas, das autoridades políticas e empresariais. Nossa relação será muito mais
sólida se envolvermos também a sociedade civil, as forças sociais, os estudantes, os
profissionais e técnicos. Muito obrigado”.
Após o pronunciamento de José
Betancourt Rivera, Lúcia Maldonado
considerou encerrada a Sessão Solene de
Abertura.
PAINEL I
A diversificação das relações
comerciais entre Brasil e Peru
Os dois países estabeleceram aliança estratégica para estreitar seus laços
O painel I do Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos Brasil-Peru teve
como tema “O estado atual das
relações comerciais Brasil-Peru
e as possibilidades de diversificação e incremento”. Seu presidente foi o Cônsul-Geral do
Peru no Rio de Janeiro, Ministro Marco Carreón, que abriu a
sessão declarando-se honrado
em presidi-la e passou a palavra
ao moderador, Rogério Fernando Lot, Gerente de Comércio Exterior do Banco do Brasil. O moderador declarou, então, que faria algumas considerações a respeito do tema em
pauta ao final dos debates e concedeu a palavra ao primeiro expositor do painel, o Presidente
da Câmara de Comércio BrasilPeru, Marco Pólo Moreira Leite. O segundo expositor foi o
Diretor de Comércio Exterior
do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior, Arthur Pimentel.
O Ministro Marco Carreón, Cônsul-Geral do Peru no Rio de Janeiro, presidiu o painel I.
arco Pólo Moreira Leite iniciou
sua participação declarando-se
emocionado por ver na platéia do
seminário alguns estudantes e, confessando usar mais o coração do que a razão,
recordou sua primeira viagem aérea, quando ainda era estudante, e que teve como
destino o Peru. O país o encantou pela
hospitalidade. Ressalvou, ainda, que, apesar de se encontrar em missão comercial,
foi acolhido pelos peruanos como um irmão brasileiro. Pôde perceber o grande
interesse e a admiração despertados pelo
Brasil no exterior, constituindo-se, portanto, essa viagem, na sua primeira e inesquecível aula de “sulamericanidade”.
M
O expositor chamou a atenção dos participantes do seminário para o momento
excepcional por que passa, atualmente, a
integração sul-americana. Declarou-se
solidário com a Bolívia, que, a seu ver, tem
sido massacrada pela mídia brasileira por
haver assumido posições legítimas em favor de uma riqueza natural que lhe pertence, no caso o petróleo e o gás natural
encontrados em território boliviano. Apesar de reconhecer a possibilidade de
discordância em torno do assunto, reiterou a opinião de que o Brasil deve encarar
o problema sob a perspectiva daquele país
irmão. Para ele, é preciso compreender a
importância da adoção de medidas que
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
21
PAINEL I
Marco Pólo Moreira Leite realçou parcerias com o Peru na área de pesquisa agrícola.
merece um destaque especial graças à aliança estratégica que vem costurando com
o Brasil, no sentido de proporcionar-lhe a
tão sonhada saída para o Oceano Pacífico,
que facilitará e barateará o comércio com
a Ásia e a Oceania. Esta ligação por terra
com o Pacífico também vai permitir aos
peruanos alcançarem o Atlântico, com evidentes vantagens para o incremento comercial daquele país andino com a Europa e a África.
Aliança estratégica
Rogério Lot defendeu o incremento do
comércio com os países andinos.
levarão melhorias ao povo boliviano, a
partir da nacionalização do seu petróleo.
O expositor, em seguida, lembrou que,
entre todos os países do continente, o Peru
22
Marco Pólo Moreira Leite reafirmou a
importância dessa aliança estratégica e
mencionou o que, há alguns anos, ouviu
do General Baima Diniz, que considera
um homem aberto, progressista e profundo conhecedor dos problemas brasileiros. Disse-lhe o general, que, quando
desempenhava as funções de Chefe da
Casa Civil da Presidência da República,
ouviu de deputados e senadores, em uma
reunião social em Brasília, que a saída brasileira para o Pacífico jamais seria alcançada, porque isso contrariava os interes-
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
ses norte-americanos no continente. Esse
exemplo, que o expositor considerou um
fato simples, tem, em sua opinião, extrema gravidade.
O estabelecimento definitivo dos
objetivos perseguidos por essa aliança
estratégica, parece-lhe, pois, imperativo. Marco Pólo Moreira Leite lembrou,
ainda, que as obrigações do gigante brasileiro em relação a seus irmãos latinoamericanos – com quem, de um modo
geral, obtém sempre superávits na balança comercial – podem ser contrabalançadas pelo estabelecimento de
parcerias humanas e de conhecimento.
Em seguida, afirmou que persistem
motivos para uma expectativa favorável
em relação ao futuro da integração com
nossos países vizinhos da América.
Mencionou o fato de que o Brasil possui, atualmente, uma tecnologia agropecuária de altíssimo nível, e que o mundo inteiro, não apenas a América do Sul,
está de olho no trabalho da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária –
EMBRAPA. Segundo ele, esta instituição tem se destacado em vários setores,
seja no aprimoramento da produção e
da utilização do etanol, seja na produção do biodiesel, especialmente do que
é obtido a partir de plantas oleaginosas.
A seu ver, esses produtos podem servir
de matrizes energéticas para nossos vizinhos carentes ou impossibilitados de
desenvolverem a exploração de petróleo. Ao enfatizar, mais uma vez, a prioridade de nossas obrigações com os países latino-americanos, o expositor reconheceu que a realização do seminário
se insere nessa órbita e cumprimentou
o Presidente da Federação das Câmaras
de Comércio Exterior, João Augusto de
Souza Lima, pela iniciativa de sua organização.
Mudança de foco
Em seguida, o moderador Rogério
Fernando Lot usou da palavra para comentar brevemente a palestra do primeiro expositor. Lembrou que o seminário
atesta a mudança do foco de interesse do
comércio exterior brasileiro, que, até
hoje, supervalorizava as relações com os
países do Mercosul, em detrimento do
comércio com os países andinos. A situação lhe parecia não apenas injusta, como
economicamente prejudicial a nossos interesses. Em seguida, passou a palavra ao
segundo expositor do painel, o Diretor
de Comércio Exterior do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior, Arthur Pimentel.
O segundo expositor iniciou sua participação no painel com a exibição de um
quadro demonstrativo da evolução das
exportações brasileiras para o Peru, no período de 1996 a 2005. Observou que, depois de vigorar um certo equilíbrio entre
as duas balanças comerciais, a partir de
2003 começou a existir um superávit por
parte do Brasil, tendência que tem permanecido até hoje.
“
Persistem motivos para uma
expectativa favorável
em relação ao futuro
da integração com nossos
países vizinhos da América
”
MARCO PÓLO MOREIRA LEITEN
Ao analisar as respectivas importações,
salientou que elas têm perfil semelhante.
O Brasil passou a comprar mais os produtos peruanos, o que, a seu ver, denota
um amadurecimento por parte do mercado brasileiro. Essa situação precisa ser
observada pelo governo, pois é necessário que o nosso país adquira mais matérias-primas, mais produtos diversificados e
mais componentes, para poder dar seguimento ao cumprimento dos contratos.
Arthur Pimentel comentou, em seguida, que o crescimento do saldo comercial brasileiro com o Peru e com
outros países é o resultado de uma soma
de esforços que não é recente, já que as
modificações que ocorrem no comércio
exterior não se dão de um dia para o outro. Ele lembrou, também, que os países
mais maduros e mais afeitos às práticas
do comércio exterior começam a entender a importância da corrente de comércio e já não falam apenas de compras e de
vendas, mas referem-se ao somatório.
Exemplificando, ele lembrou que, no
Arthur Pimentel afirmou que o Brasil deverá exportar US$ 132 bilhões em 2006.
período de 2005 a 2006, as exportações
brasileiras cresceram cerca de 17%, e as
importações 25%, resultando em crescimento de 20% da corrente comercial
brasileira.
O expositor alertou para o fato de que,
ainda hoje, ouvimos dizer que o nosso país
não passa de um exportador de produtos
primários, o que não é uma verdade por
inteiro. Se é fato que vendemos ao exterior nosso café, nossa soja, nossos produtos
oriundos do agronegócio, estamos exportando, também, nossos manufaturados e
semi-manufaturados – que incluem materiais de transporte, veículos, tratores,
máquinas de terraplanagem, autopeças e
outros – para os Estados Unidos, para a
União Européia e para outros tantos países dos quatro continentes com que temos laços de comércio.
Ao referir-se ao desempenho desse
tipo de exportações, informou, a título de
exemplo, que no período de janeiro a abril
de 2006, época considerada morna e sem
movimento nessa área, verificou-se um
crescimento de 15% na venda de manufa-
turados e de 5% na de semi-manufaturados. Cerca de 4% se devem a compras
dos Estados Unidos, vindo, em seguida,
Argentina, Chile e Alemanha, o que, em
sua opinião, retrata fielmente a situação
otimista porque vem passando a balança
comercial brasileira no setor.
“
Os corredores de exportação
entre o Pacífico e o Atlântico
vão mudar o perfil do comércio
entre o Brasil e o Peru
”
ROGÉRIO FERNANDO LOTN
Outra informação trazida pelo expositor disse respeito ao crescimento de 50%
nas importações brasileiras de matériaprima. Segundo Arthur Pimentel, isso é
muito importante para a economia brasileira, uma vez que tais insumos estão compondo bens exportáveis. Finalmente,
Arthur Pimentel mostrou aos participantes do painel um quadro demonstrativo
do crescimento da corrente de comércio
exterior brasileiro. Avaliou que o país de-
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
23
PAINEL I
Potencialidades de exportação do Brasil para o Peru
Valores em US$ 1.000
Fonte: SECEX/MDIC – Radar Comercial
Produto
Importações
Peru
Exportações
Brasil
Exportações do
Brasil para o Peru
1.099.951
2.527.691
30.622
Outros óleos de petróleo, exceto desperdícios
537.599
1.242.053
76
Aparelhos transmissores c/apar.receptor,p/radiofonia,
radiotelegrafia, radiofusão ou televisão
182.211
881.288
6.155
Milho, exceto p/semeadura
157.153
581.869
71
Tortas e outros resíduos sólidos da extração de óleo de soja
152.333
3.270.888
0
Óleo de soja, em bruto, mesmo degomado
131.303
1.155.756
0
Aparelhos receptores de televisão, a cores
86.838
129.310
10.737
Automóveis e outros veículos c/motor pistão alternativo
86.369
2.489.802
15.960
Tereftalato de polietileno
83.893
69.229
1.084
Unidades de processamento digitais
68.618
80.508
1.250
Polipropileno, em forma primária
63.767
100.622
9.225
Dumpers concebidos para serem utilizados fora de rodovias
62.977
86.587
0
Algodão, não cardado nem penteado
60.883
406.070
14.426
Polietileno de densidade < 0,94 em forma primária
60.703
259.930
1.212
Policloreto de vinila
53.906
29.947
22
Óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos
verá alcançar a meta de exportar US$ 132
bilhões até o fim de 2006.
Relações bilaterais
Em seguida, o expositor passou a referirse às relações bilaterais entre o Brasil e o
Peru, começando pelo crescimento das exportações brasileiras, que aumentaram 48%,
de 2004 para 2005, enquanto as importações cresceram 31%. Como principais produtos exportados, citou óleos, aparelhos celulares, chassis de automóveis, tratores, equipamentos off road para terraplanagem etc.
Mencionou, ainda, os principais bens importados: zinco, cobre e produtos do setor alimentício. Concluiu que as duas economias
possuem um excepcional potencial de incremento em suas trocas comerciais, por
serem complementares. Explicou, ainda,
que a aferição desses produtos e dos seus
números se deve ao chamado “radar comercial”, ferramenta de prospecção de oportunidades no comércio exterior que levanta
24
elementos referentes a 52 países em todo o
mundo, que representam 98% do movimento comercial internacional.
“
Estamos exportando cada
vez mais manufaturados
e semi-manufaturados
para os Estados Unidos
e a União Européia
”
ARTHUR PIMENTELN
O “radar” informou, por exemplo, a
existência de um entrave comercial em relação a um dos principais produtos exportados pelo Brasil, que é a soja. “Não conseguimos vender nem um litro de óleo de
soja para o Peru, um país que tem uma capacidade de compra na ordem dos US$ 172
milhões. Por quê?”, perguntou, sugerindo,
em seguida, que esse é um tema a ser pensado pelos experts em comércio exterior
brasileiro. Sem mencionar outros exem-
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
plos, Arthur Pimentel terminou sua participação mencionando o fato de que há, também, uma série de produtos brasileiros
passíveis de serem adquiridos pelo Peru e
que não constam de nossa pauta de exportações para lá. O expositor concluiu com
um apelo final aos nossos exportadores
para que acessem os dados gratuitamente
fornecidos pelos diferentes órgãos ligados
à exportação no Brasil, inclusive na
Internet, para que eventuais barreiras e gargalos possam ser vencidos e o nosso comércio exterior continue a crescer para o
bem do desenvolvimento geral do Brasil.
Retomando a palavra, o moderador Rogério Fernando Lot fez votos de que os corredores de exportação para o Pacífico e o
Atlântico, que devem resultar da política de
aproximação entre os dois países, tornemse, em breve, uma realidade que irá dinamizar as duas economias. Encerrando os trabalhos do painel, o cônsul-geral do Peru agradeceu aos participantes e ouvintes.
P A I N E L II
Parcerias entre países irmãos
Desenvolvimento de infra-estrutura portuária e de serviços turísticos é um
caminho para aproximar ainda mais Brasil e Peru
Fernando Vasconcelos de Sá, José Luiz Lopes Teixeira Filho, Oswaldo Trigueiros Jr, José Betancourt Rivera e Marco Carreón.
O painel II, que teve como temas o desenvolvimento do setor
de turismo e a modernização
portuária, foi dirigido pelo Presidente do Conselho de Turismo
da Confederação Nacional do
Comércio – CNC, Oswaldo Trigueiros Jr. O moderador foi o
Chefe de Gabinete do Secretário
de Estado de Turismo do Rio de
Janeiro, Sérgio de Mello Ferreira.
Os presentes ouviram exposi-
ções sobre a Companhia Docas
do Rio de Janeiro, que enviou ao
seminário os seguintes representantes: o Superintendente de
Marketing da companhia, José
Luiz Lopes Teixeira Filho; o Chefe
da Divisão de Mercado e Ação
Comercial, Fernando Vasconcelos de Sá; e o Assessor Técnico da
Divisão de Mercado e Ação Comercial, Luiz Guilherme Soares
Bonfim.
presidente d Conselho de Turismo da CNC assumiu o comando
dos trabalhos chamando os expositores para tomarem seus lugares à
mesa. Logo em seguida, fez uma apreciação sobre o turismo, atividade por ele considerada como a maior indústria do mundo. Oswaldo Trigueiros Jr. explicou que o
intercâmbio entre os dois países neste setor seria a matéria discutida com mais intensidade no painel, introduzindo o tema
em seus aspectos mais gerais.
O
Turismo global
O representante da CNC registrou a
importância da atividade turística para as
economias no contexto da globalização.
Nesse cenário, analisou ainda o paradoxo
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
25
P A I N E L II
entre as possibilidades oferecidas pelo
avanço da tecnologia e o fortalecimento
das culturas locais. “Quanto mais universais nos tornamos, mais tribalmente nós
agimos”, afirmou.
Logo em seguida, Oswaldo Trigueiros
Jr. lembrou o papel decisivo que a atividade possui na economia de diversos países
e ressaltou que, em algumas, o turismo
representa a maior fonte de receita. Em
sintonia com este raciocínio, apresentou
estatísticas reveladoras sobre o setor. Afirmou que ele emprega 240 milhões de
pessoas no mundo, o que significa 10,6%
da força de trabalho mundial. A fatia de
contribuição da atividade para a economia
é de 10,2% do Produto Interno Bruto –
PIB, levando-se em conta todas as economias do planeta.Trata-se, também, de acordo com as estatísticas apresentadas, do
maior gerador de receitas e impostos, mobilizando algo em torno de US$ 655 bilhões.
De uma maneira global, a atividade turística representa aproximadamente
10,9% dos gastos dos consumidores;
10,7% de todos os investimentos de capital; e 6,9% de todos os gastos governamentais. Com base nestes dados, o representante da CNC lançou dúvidas sobre
uma pesquisa feita com 400 articuladores
políticos e formadores de opinião em 20
países: eles citaram as indústrias de ener-
gia, eletroeletrônicos e a agricultura como
as de maior musculatura comercial no
mundo, ou seja, aquelas com maior contribuição para a economia global. Segundo Oswaldo Trigueiros Jr., neste panorama deveria, também, ter sido incluída a
atividade turística.
Futuro promissor
Os horizontes para a atividade estão
cada vez maiores. Apesar de ameaças, guerras no Oriente Médio, furacões e outros
obstáculos localizados, o futuro do turismo é considerado promissor. Nesse sentido, Oswaldo Trigueiros Jr. analisou a demanda de visitantes para lugares que não
“
O cidadão dos países
adiantados procura os países
emergentes, onde encontra
muita história e cultura
”
O S WA L D O T R I G U E I R O S J R . N
eram freqüentes na pauta das viagens internacionais e citou o exemplo do
Camboja, um país ainda carente de infraestrutura turística ideal, mas que recebe
um número cada vez maior de visitantes.
“O Camboja ainda não tem preparação, mas tem história. É um país de monumentos milenares, com uma população que apresenta fantástica facilidade de
comunicação, e é exótico. As pessoas não
querem mais saber de viajar para ver países adiantados ou arranha-céus. Elas querem conhecer culturas locais, diferentes
e que ainda estão por se desenvolver. Esse
é o interesse geral do cidadão que sai dos
países adiantados”, explicou. Essa também
é a opinião do Presidente do Conselho de
Agências de Viagens, Geoffrey Lipman.
Segundo Oswaldo Trigueiros Jr., Lipman
afirmou que neste século haverá um surto de viajantes asiáticos por todo o mundo
e, por outro lado, os países asiáticos serão
os destinos preferidos dos visitantes.
Nesse ponto de sua análise, Oswaldo
Trigueiros Jr. deteve-se diante da pergunta inevitável: “se tem contribuído de forma tão significativa para a economia mundial, por que o turismo ainda recebe uma
atenção tão pequena de governantes e dos
acordos no âmbito internacional?”
O representante da CNC explicou,
com base em um artigo publicado no periódico The Economist, que a importância
do setor é de difícil compreensão por pelo
menos três razões: “primeiro, não existe
uma definição precisa e unânime dos elementos que constituem esta indústria.
Qualquer tentativa neste sentido corre o
risco de superestimar ou subestimar os
aspectos econômicos”. O segundo motivo está relacionado à informalidade: “atividades como as dos guias de turismo e
Mesmo sem grande
infra-estrutura turística,
os templos milenares,
a natureza exuberante e a
população comunicativa do
Camboja atraem visitantes
de todo o mundo.
26
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
dos vendedores de souvenires, além de
trocos e gorjetas, se prestam bem à economia informal”, disse. A terceira razão
tem a ver com o fato de que “o turismo
internacional sofre diferenças espantosas
com relação aos dados divulgados pelos
diferentes países”.
Mesmo assim, Oswaldo Trigueiros Jr.
demonstrou confiança nos estudos empreendidos por duas organizações mundiais – o Conselho Mundial de Viagens e
Turismo, com sede em Bruxelas, e a Organização Mundial do Turismo, uma organização do Programa de Desenvolvimento da ONU – que se dedicam à tarefa de
tentar reconhecer o turismo como a maior indústria do mundo.
Na segunda parte de sua exposição,
Oswaldo Trigueiros Jr. apresentou o conceito de “viagem total”. Explicou que, com
o advento das novas tecnologias, muitos
empresários não precisam mais viajar com
grande freqüência. É possível resolver
muitas questões de trabalho utilizando o
computador e suas ferramentas, hoje indispensáveis. No entanto, ressaltou a importância do contato humano. “Nem sempre um negócio se realiza sem a presença
do homem. Os processos de negociação
exigem grandes câmaras de comércio,
como acontece aqui, pois é preciso que
haja troca e interação pessoal; é preciso
que haja o get together”, avaliou. Por isso,
um dos setores que mais tem-se desenvolvido no mundo é justamente o de turismo de negócios.
Custos da aviação
Outra área mencionada por Oswaldo
Trigueiros Jr. foi a aviação comercial. Além
de destacar a sua importância para o incremento das atividades do turismo, lembrou que neste setor o Brasil atravessa uma
fase difícil. “Os custos dos aeroportos do
mundo inteiro estão muito elevados e as
empresas brasileiras que exploram o turismo ganham em real, mas têm seus custos todos em dólar. É por isso que a aviação brasileira vive, hoje, no setor internacional, um momento delicado”, analisou.
Ele lembrou também que empresas internacionais, como a United Airlines, que
enfrentou recentemente outro tipo de
problema, costumam receber ajuda do
governo de seus países.
Finalmente, o representante da CNC
constatou a modificação que o setor vem
fazendo para atender às novas necessidades de viajantes e de homens de negócio.
Destacou que Brasil e Peru são exemplos
de países que podem explorar com mais
intensidade suas relações de turismo, citando o enorme interesse que patrimônios históricos da humanidade, como
Machu Picchu, podem representar para a
dinâmica de viagens entre as regiões. “Os
turistas estrangeiros estão indo ao Peru
para conhecer de perto este passado e esta
história. Nós, que somos um país vizinho,
podemos ajudá-lo a desenvolver um turismo complexo e de fácil acesso”, afirmou. Em seguida, Oswaldo Trigueiros Jr.
encerrou sua participação e passou a palavra ao Chefe de Gabinete do Secretário de
Estado de Turismo do Rio de Janeiro, Sérgio de Mello Ferreira.
Cidade maravilhosa
Sérgio de Mello Ferreira começou
mostrando estatísticas referentes aos dois
países em foco no seminário. Elas mostram que, em 2003, 38.900 turistas peruanos visitaram o Brasil e, em 2004,
Machu Picchu (à esquerda)
e o Pelourinho (abaixo),
(patrimônios da humanidade);
o rico artesanato peruano e
a exótica culinária brasileira
são atrativos singulares para
o turismo nessa região.
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
27
P A I N E L II
Em 2004, o fluxo de visitantes
peruanos para a cidade do Rio
de Janeiro aumentou em 80%.
A variedade de atrações que o
Estado do Rio oferece explica
essa grande procura,
direcionada tanto para o mar
quanto para a região serrana.
O governo pretende dotar todo
o território fluminense de uma
infra-estrutura adequada.
Cabo Frio está ampliado seu aeroporto internacional.
Sérgio de Mello Ferreira realçou as grandes potencialidades turísticas do Rio de Janeiro.
56.600, o que significou um aumento de
40% em apenas um ano. Do total de visitantes em 2003, 2.065 peruanos foram
para a cidade do Rio de Janeiro e, no ano
seguinte, 5.015, o que significou um incremento de 80% no fluxo.
Segundo Sérgio de Mello Ferreira, a
variedade das atrações explica o aumento
do número de visitantes. Além da capital
do estado, ele citou cidades de praias deslumbrantes como Arraial do Cabo, Cabo
Frio e Búzios – esta última considerada, atualmente, o sétimo destino brasileiro que
mais recebe turistas. Destacou, em seguida, as belezas e a riqueza histórica da serra
imperial, em especial, as cidades de
28
Petrópolis e de Teresópolis. Foram, também, lembradas as cidades ricas em belezas
naturais da Costa Verde, como Angra dos
Reis e Parati. A lista parecia não ter fim.
“Temos Agulhas Negras, uma área de colonização finlandesa. Entrando pelo Vale do
Paraíba, encontram-se as fazendas históricas
do ciclo do café. Trata-se de uma grande diversidade de produtos a poucas horas do
centro receptivo do país”. Ressaltou, ainda,
que o Governo do Estado do Rio de Janeiro vem realizando obras de infra-estrutura
para aumentar ainda mais o fluxo turístico,
como é o caso da ampliação do aeroporto
internacional de Cabo Frio, em conjunto
com o Ministério da Aeronáutica.
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
Tendo como atrativo
Sérgio de Mello Ferreira elogiou o comentário de Oswaldo Trigueiros Jr. sobre a necessidade de acordos comerciais
na área de turismo e destacou o projeto
Rio de Vocês, coordenado pelo Subsecretário de Turismo do Rio de Janeiro,
Nilo Sérgio Alves Felix. O trabalho consiste na realização de workshops para agentes de turismo, levando-os a conhecer
de perto as atrações do próprio país e,
também, de outros, como o Peru. O objetivo é incrementar o intercâmbio entre
as duas nações. Ele alertou que, para
viabilizar iniciativas como essa, é preciso
formar parcerias. “Tem que existir uma
via de duas mãos. É importante que os
operadores peruanos possam vir ao Brasil e ao Rio de Janeiro. Estamos à disposição para ajudar neste trabalho. Ao mostrarem seus produtos, fluminenses, cariocas e brasileiros passarão a conhecer
melhor os destinos peruanos”.
Finalmente, Sérgio de Mello Ferreira
colocou a Secretaria de Estado, da qual faz
parte, à disposição de todos que desejam
ampliar o turismo entre as diversas regiões. O convite foi prontamente agradecido por Oswaldo Trigueiros Jr., em nome
da CNC. Ele concorda que os produtos
brasileiros e peruanos devam ser mais acessíveis e mais divulgados entre os representantes de cada país.
Futuro dos portos
Apresentado pelo moderador Sérgio
de Mello Ferreira, o Superintendente de
o Pico das Agulhas Negras, o turismo se desenvolveu em Itatiaia.
Marketing da Companhia Docas do Rio
de Janeiro, José Luis Lopes Teixeira Filho, agradeceu em seu nome e no do Presidente da Companhia, Antônio Carlos
Soares Lima, ausente em virtude de uma
viagem à China, o convite de João
Augusto de Souza Lima para participar
do painel II.
Elogiou o povo peruano “pela capacidade de desenvolver o turismo, sem perder em momento nenhum as suas características individuais e sociais. É um exemplo para o mundo de como conciliar a
cultura do país com o recebimento de visitantes.”
Em seguida, analisou a evolução e a
melhoria dos portos no Brasil, em especial no Rio de Janeiro, e passou a especificar algumas ações que podem ser desenvolvidas em prol do turismo. José
Luiz Lopes Teixeira Filho explicou que a
companhia administra os seguintes portos fluminenses: o do Rio de Janeiro, o
de Itaguaí – antigo porto de Sepetiba –, o
de Angra dos Reis, e o de Niterói. Destacou principalmente o Porto do Rio de
Janeiro, em razão de estar recebendo um
número crescente de passageiros, atingindo, este ano, a marca de 160.000, e o
de Angra dos Reis, que será ampliado
para receber mais turistas. O superintendente ressaltou a participação do governo e o apor te de investimentos na
melhoria dos portos. Citou como resultado de boa aplicação dos recursos a presença, em águas brasileiras, do maior tran-
Espetáculo de luz e som no Museu Imperial, em Petrópolis.
satlântico do mundo, o Queen Mary, que
por questões de calado pouco profundo
não podia fundear na cidade do Rio de
Janeiro antes das melhorias introduzidas
em seu porto.
José Luiz Lopes Teixeira Filho lembrou, também, um entendimento estabelecido entre diferentes esferas da administração pública para gerar melhorias
no setor. “Foi firmado, com a presença
“
O Peru poderá usar alguns
dos portos fluminenses como
base para lançar seus produtos
na Costa Leste dos Estados
Unidos, na África e na Europa
”
JOSÉ LUIS LOPES TEIXEIRA FILHON
do Presidente da República, um convênio entre o município do Rio de Janeiro,
o Ministério das Cidades e a Companhia
Docas do Rio de Janeiro para revitalização
da área portuária na região onde localizase o terminal de passageiros. Esperamos
contribuir, assim, com a melhoria das
relações turísticas do Rio de Janeiro e,
também, com os intercâmbios entre Brasil e Peru”. Segundo ele, um novo horizonte de possibilidades se abre a partir
desta parceria. “O Peru poderá usar os
portos de Itaguaí e do Rio de Janeiro
como base para lançar seus produtos no
mercado da costa Leste dos Estados Unidos, da África e da Europa.”
Porto de Sepetiba
Após o discurso do superintendente
de marketing, foi apresentado ao plenário
o Chefe da Divisão de Mercado e Ação
Comercial da Companhia Docas do Rio
de Janeiro, Fernando Vasconcelos de Sá,
que iniciou sua apresentação com um breve resumo das atividades da Companhia.
Segundo ele, os portos de Angra dos Reis
e Niterói estão arrendados, sendo que o
de Niterói opera, basicamente, com movimentação offshore, com a Petrobras e com
o fluxo em direção ao Norte Fluminense.
“Angra dos Reis tinha uma vocação antiga para movimentação siderúrgica e, hoje,
já está bem inserida na movimentação
offshore. Acreditamos promover o arrendamento de mais um berço em Angra, que
seria para um terminal de passageiros, aproveitando a beleza da região Sul do estado”,
revelou Fernando Vasconcelos de Sá.
Com base em slides, o chefe da Divisão
de Mercado e Ação Comercial identificou
as rotas ferroviárias e rodoviárias entre os
portos e os destinos do Norte Fluminense e
do interior de São Paulo e Minas Gerais. Em
relação ao Porto do Rio de Janeiro, fez alguns comentários sobre o funcionamento
dos terminais de contêineres na região do
Caju e da Gamboa e sobre o terminal de passageiros, arrendado pelo Píer Mauá. “Estamos em fase de negociação, porque a movimentação de passageiros tem crescido muito e queremos ver se nos estruturamos melhor, junto com o arrendatário, com o próprio estado, e com a prefeitura”, explicou.
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
29
P A I N E L II
Porto de Itaguaí
Porto de Niterói
Porto de Angra dos Reis
Terminal de Sepetiba
ção de anéis rodoviários são alguns alicerces para este desenvolvimento.
Docas e correios
Luiz Guilherme Soares Bonfim, Fernando Vasconcelos de Sá e José Luiz Lopes Teixeira Filho.
Fernando Vasconcelos de Sá informou,
ainda, que existe um protocolo de intenções para aumentar a capacidade de passageiros, uma vez que todas as novas condições de atracamento e melhoria do calado
já foram realizadas. Em seguida, o convidado citou a relação dos operadores portuários que trabalham no Porto do Rio de Janeiro. Cada um com uma carga específica.
O Porto de Sepetiba também foi destaque, pois pode vir a ser “o futuro dos
portos do Brasil”. Ele acredita que a construção do ramo norte de uma ferrovia
para dar cobertura de transporte à cidade
de São Paulo é um fator determinante
neste processo. “O Porto de Sepetiba já é
realidade, com terminais de contêineres
com grande movimentação; um terminal
com importação de carvão, administrado
pela Companhia Siderúrgica Nacional; um
terminal de exportação de minério e um
30
terminal de alumina, administrados pela
Companhia Vale do Rio Doce.”
Fernando Vasconcelos de Sá observou
que este porto acolhe navios de até 50 mil
toneladas de porte bruto, o que faz dele
uma instituição portuária ímpar. E foi além:
“Vamos arrendar uma nova área para exportação. A Companhia e o país acreditam
que esse será o porto do futuro em nosso
estado”, apostou.
O expositor mostrou também estatísticas sobre a situação portuária do Estado do
Rio de Janeiro. No ano passado, foram
movimentadas 37,5 milhões de toneladas.
A previsão é de que, até 2009, o volume
seja aumentado em 100 milhões de toneladas. Como exemplo, citou o fato de os
portos fluminenses terem aumentado sua
movimentação em 70%, nos últimos três
anos. O início do projeto da duplicação da
estrada que liga São Paulo a Santos e a cria-
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
O representante da Companhia Docas
do Rio de Janeiro mencionou outro projeto que pode alavancar o desenvolvimento
portuário. “Há uma iniciativa da própria
Companhia, capitaneada pelo nosso presidente, que é a criação do Centro de Negócios e Logística. Trata-se de um trabalho
que a Docas está fazendo para o atendimento ao pequeno e médio exportador”, revelou. Em dezembro de 2005, foi assinado
um convênio com a Empresa de Correios
e Telégrafos – que já desenvolve o projeto
Exporta Fácil aéreo – para retomar, como
fazia há alguns anos, o Exporta Fácil marítimo. “A exportação pelos Correios tem uma
limitação tanto de peso quanto de volume.
Assim, a empresa deseja utilizar a infra-estrutura dos portos do estado”.
José Luis Lopes Teixeira Filho pediu a
palavra, por um instante, para fazer observações em relação ao contrato entre a Companhia Docas do Rio de Janeiro e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. “A
parceria significa a possibilidade de exportar ou, considerando a via inversa, a possi-
Porto do Rio de Janeiro
Nos últimos três anos, os
portos fluminenses
aumentaram sua
movimentação em 70% e em
2005 movimentaram 37,5
milhões de toneladas.
A Companhia Docas do Rio de
Janeiro está realizando
melhorias na logística dos
portos do estado. Uma das
iniciativas é a criação do
Centro de Negócios e Logística
para atender ao pequeno e
médio exportador.
bilidade de importar e dotar de capacidade
logística o médio e o pequeno empresário”, explicou. “O exportador que não tem
volume suficiente para lotar um contêiner,
pode participar de um pool”, ponderou.
“Estamos juntando a força dos correios –
que pode fazer a captação e a distribuição
em razão da sua capilaridade – com a possibilidade de serem obtidas tarifas mais baixas no transporte marítimo”, afirmou. Concluiu elogiando a iniciativa pioneira desse
projeto que poderá acontecer no Rio de
Janeiro. Fernando Vasconcelos de Sá
retornou a palavra e concluiu sua apresentação colocando o escritório da Superintendência de Marketing à disposição dos
interessados em esclarecimentos.
Amazônia
O Presidente da FCCE, João Augusto
de Souza Lima, agradeceu as palavras de
Fernando Vasconcelos Sá e registrou a pre-
Sérgio de Mello Ferreira e Cláudio Chaves no painel II do Seminário Brasil-Peru.
sença no plenário do Vice-presidente da
Federação das Câmaras de Comércio Exterior em Manaus, Cláudio Chaves, exdeputado com grande vivência na área de
turismo, especialmente na região Norte
do país. Cláudio Chaves compareceu ao
seminário na condição de representante
do Senador Bernardo Cabral. O Presidente
da FCCE pediu-lhe, então, que registrasse seu posicionamento sobre os temas debatidos, por exemplo, a respeito da diversificação da atividade turística brasileira em
relação ao Peru.
Com base em seu conhecimento da
Amazônia brasileira e peruana, por meio
de sua experiência como médico e político, Cláudio Chaves chamou a atenção para um grave problema. “A Amazônia, hoje, é alvo de grande cobiça internacional,” afirmou. Lembrou que a
tripla fronteira amazônica, com limites
entre Brasil, Peru e Colômbia, é pouco
explorada. “Nesta região, há uma cidade
brasileira em desenvolvimento chamada Benjamin Constant, e outra se desenvolvendo lentamente graças a uma
base militar, que é Tabatinga. Ali também se encontram dois vilarejos peruanos de população reduzida: Islândia e
Santa Rosa”, conta. Segundo Cláudio
Chaves, a área necessita de investimentos em turismo, já que há um grande
fascínio pela Amazônia. Lembrou que a
Colômbia tem um aeroporto internacional em Letícia, mas que o Peru não dispõe de aeroportos na fronteira.
Outra questão abordada foi a ligação
entre os países. De acordo com o Vice-presidente da FCCE, a partir de Manaus, é
possível criar um grande canal integrando
Brasil,Venezuela e Peru; algo que equivaleria, em sua opinião, a um segundo Canal do
Panamá. Cláudio Chaves sugeriu, ainda, a
realização de um desdobramento do Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos Brasil – Peru, na Amazônia,
com representações da Zona Franca de
Manaus, do governo do Acre e das autoridades peruanas das regiões fronteiriças. “O
Peru deve fazer investimentos nas suas cidades e a tripla fronteira deve competir para
trazer turistas do exterior para os três países. Dividir riqueza: este é o ponto mais
importante para se debater”. Concluiu, agradecendo a oportunidade de se pronunciar.
João Augusto de Souza Lima agradeceu e disse que, na condição de Presidente da FCCE, aceitava e aprovava a sugestão
do vice-presidente. “Agora, será apenas
uma questão logística, para que façamos
num futuro bem próximo um seminário
equivalente sediado e focado naquela região”. Desta forma, devolveu a condução
do painel ao moderador. Sérgio de Mello
Ferreira agradeceu a todos os palestrantes
e abriu caminho para o painel seguinte.
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
31
P A I N E L II I
A política de integração amazônica
e as relações bilaterais Brasil-Peru
O projeto de eixos de transporte multimodais vai mudar o perfil da região
ovelino Gomes Pires começou sua
apresentação analisando questões relativas à ligação terrestre do Brasil com
o Peru, que implica em obras como construção de pontes e abertura de estradas
de rodagem. Quando se trata de uma iniciativa que prevê a ligação com outros países, como a Rodovia Interoceânica, a situação fica ainda mais complexa, pois é
preciso haver interesse bilateral para a
execução das obras. No exemplo citado,
obstáculos físicos monumentais como a
Cordilheira dos Andes, que atravessa toda
a América do Sul, precisam ser vencidos.
Segundo Jovelino Gomes Pires,
hoje, as exportações brasileiras para o
Peru seguem, na sua grande maioria, por
via marítima. O restante, um percentual
pouco expressivo em relação ao total
das transações, segue por via aérea ou
terrestre, deixando claro que e a maior
dificuldade reside justamente no transporte rodoviário.
“Como conclusão, podemos observar
que a escassez de rodovias entre os principais centros de comércio do Peru e as
áreas fronteiriças do Brasil obriga ao transporte fluvial, que tem baixo custo
operacional, mas sofre restrições de volume, de carga e de peso. Por isso, a continuação da ligação terrestre precisa ser
priorizada. A continuação das obras é necessária para podermos nos conectar com
outros pontos do território peruano.”
J
Jovelino Gomes Pires analisou o transporte rodoviário entre os dois países.
A presença brasileira em território peruano se dá, principalmente, por meio da construção civil,
com a Rodovia Interoceânica e o
Eixo Multimodal Amazonas do
Norte. Como reflexo desta política de aproximação, a integração sul-americana se torna
mais factível. Estes foram os temas expostos e discutidos no painel III do Seminário Bilateral de
Comércio Exterior e Investi32
mentos Brasil-Peru, dirigido pelo
Presidente da FCCE, João Augusto de Souza Lima. Os expositores foram Jovelino Gomes Pires, Presidente da Câmara de
Logística da AEB (que também
foi o moderador do painel);
Gustavo Assad, Diretor Adjunto da Área Internacional da
Odebrecht; e Carlos Sánchez
Del Aguila, Cônsul-Adjunto do
Peru no Rio de Janeiro.
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
Fronteira agrícola
O presidente da Câmara de Logística
da AEB lembrou, também, que hoje existe um movimento de transporte bastante
expressivo pelos rios, pois a fronteira do
setor agropecuário brasileiro encostou no
sul do Pará. Assim, com o objetivo de
viabilizar novas saídas para a exportação e
dar fluidez à produção brasileira, principalmente de grãos, várias obras estão sendo realizadas ao longo dos rios. Um exemplo é o Porto de Santarém, que hoje permite o atracamento de navios Panamax,
pois tem profundidade suficiente para suportar cargas mais pesadas.
“Isso pode ser uma iniciativa a ser estudada com autoridades peruanas, para que
o país possa transportar carga pelo Rio
Amazonas, até Santarém. Eu digo mais: navios que não encostam no Porto do Rio
de Janeiro vão poder atracar em Santarém”.
Em seguida, foi a vez de Gustavo Assad
fazer o pronunciamento em nome da
Odebrecht, representando o Presidente
Marcelo Odebrecht e o Diretor da Área
Internacional, André Amaro da Silveira.
“Para nós, esta é uma excelente oportunidade de falar sobre atuações no exterior, principalmente no Peru, porque foi
em 1979, por meio da construção de uma
central hidrelétrica em território peruano, que a Odebrecht deu início à sua atuação internacional. Avaliamos nossa atuação externa como bem sucedida, porque,
desde aquela época, estamos neste mercado de forma ininterrupta e, também,
porque ela representa 85% de nosso
faturamento”.
Perfil da empresa
A Odebrecht foi fundada em 1944 e
atua em dois segmentos: engenharia e construção, liderada pela Construtora Norberto
Odebrecht. No setor petroquímico, atua
por meio de uma empresa fundada mais
recentemente e que, hoje, já conquistou
liderança na América Latina.
“Temos, ainda, duas instituições auxiliares: a Odebrecht Corretora e a Odeprev. Participando da área social, nós temos a Fundação Odebrecht. O grupo
todo se norteia por princípios éticos que
conduzem sua atuação. O cliente é nosso foco, é ele quem encomenda a obra,
mas também nos preocupamos com a
comunidade que será atendida pela mesma obra. Desenvolvemos programas na
área social, e isso fica sob a responsabilidade de cada contrato nosso, que prevê
aproximação com as comunidades, realizando programas sociais focados em
Atuação da Odebrecht no Peru
Os números
710 km Rodovias Pavimentadas
65 km
Túneis
5 un
Planta de Tratamento de Água
3 un
Tomadas d’água
242 km Canais de Irrigação
1 un
Sistema de Água Potável
4 un
Central Hidrelétrica
41 km
Redes de Distribuição de Água
2 un
Represa para Armazenamento
de Água
3 un
Projeto em Mineração
As principais obras
“
Nos nossos contratos,
realizamos programas sociais
voltados para a educação,
a saúde e o meio ambiente
G U S T AV O A S S A D N
”
educação, saúde e meio ambiente. Áreas
carentes são sempre nossa prioridade,
para onde buscamos levar desenvolvimento”.
Em seguida, o representante da Odebrecht exibiu um vídeo mostrando a implantação de três projetos no Peru: a construção de uma hidrelétrica, de um projeto
•Hidrelétrica de Charcani V
marco da internacionalização
•Projeto Chavimochic
•Rodovia Tingo Maria-Aguaytía
•Rodovia Ilo-Desaguadero
•Interceptor Norte
•Sistema de Água Potável de Chimbote
•Projeto Olmos
•Corredor Viário Interoceânico Sul
Peru/Brasil
•Eixo Multimodal Amazonas Norte - IIRSA
Inaugurada em janeiro de 2006, a ponte sobre o Rio Acre liga o Brasil ao Peru.
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
33
P A I N E L III
Odebrecht Peru
Energia: Hidrelétrica Charcani V (125 MW),
Arequipa, 1980-1988, 1.200 integrantes,
US$ 250 milhões.
de irrigação e de uma rodovia. Esses projetos não foram consideradas propriamente
programas de governo, mas sim empreendimentos priorizados pelo governo.
“Na realidade, quem determina a necessidade é a economia do país e os aspectos sociais da nação. Isso é importante porque, nos 25 anos de atuação internacional da Odebrecht, nós não tivemos
nenhum único caso de obra não concluída devido à mudança de governo. Temos
que considerar que obras desse tipo levam de dois a três anos de maturação, ou
seja, só se encerram num governo posterior. Dificilmente o mesmo governo
começa e conclui uma obra. Se for uma
iniciativa de governo, ela corre o risco de
não ter continuidade. Sendo uma necessidade do país, ela é independente e tem
a continuidade garantida”.
A Odebrecht se orgulha de informar
que não tem nenhum caso de falta de
pagamento relativo a financiamentos de
Odebrecht Peru
Irrigação: Projeto Especial Chavimochic,
etapas I e II, La Libertad, 1988-1997,
5.580 integrantes, US$ 574 milhões.
suas obras internacionais. A empresa é
reconhecida mundialmente, principalmente no item saneamento, sendo que,
em matéria de construção de hidrelétri-
A integração
entre Brasil e
Peru
O Cônsul-Adjunto do Peru no Rio
de Janeiro, Carlos Sánchez Del
Aguila fez o pronunciamento final
do painel II e tratou dos processos
de integração comercial e física em
curso entre os dois países, elaborados a partir de uma aliança estratégica entre seus governantes. Segundo ele, esses processos têm como
antecedente a longa história de relacionamentos diplomáticos do Brasil com os países vizinhos. Em 1909,
Rio Branco concluiu seu trabalho
para definir as fronteiras amazônicas brasileiras e iniciou a integração
por meio do Rio Amazonas.
34
Carlos Sánchez Del Aguila: “aproximação entre Brasil e Peru muda a face do continente”.
processo de integração peruanobrasileiro é recente, e as relações
entre o os dois países se caracterizaram
sempre pela cordialidade. Acidentes geográficos, como a Cordilheira dos Andes e
a Floresta Amazônica, além das grandes
distâncias entre os principais centros urbanos e econômicos, sempre foram obstáculos que impossibilitaram maiores intercâmbios”.
“O
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
Projeto IIRSA
Mais recentemente, como parte de
uma política de aproximação entre os países da América do Sul, foi criada a Iniciativa de Integração Regional Sul-Americana – IIRSA, que consiste na construção de eixos multimodais com rodovias
e hidrovias para a integração física do
continente. A IIRSA é uma iniciativa voltada para a estrutura regional sul-americana
cas, é considerada a primeira do mundo.
“Atuamos em quatro continentes, em
19 países e temos 28.000 colaboradores.
Na área internacional, começamos em
1979 no Peru, e na América Latina já executamos 396 projetos. Com grande alegria, informamos que esse número cresce a cada ano e, no Peru, especificamente,
temos 710km de rodovias e 65km de túnel construídos. As obras de maior impacto no mercado peruano são o Corredor Viário Internacional e Interoceânico
Pacífico-Atlântico Sul e o Eixo Multimodal Amazônia do Norte.”
Esses eixos foram definidos pelos
governos dos dois países e, portanto,
vêm sendo priorizados em matéria de
apoio creditício. A ligação do território
peruano com a fronteira brasileira em
com projetos de desenvolvimento adequados aos padrões físicos da América
do Sul, visando a uma evolução equitativa
e sustentável.
Os conceitos orientadores da IIRSA são
o regionalismo aberto e a construção de
eixos de integração e desenvolvimento;
conceitos mais amplos e mais potentes
que o de corredor econômico, porque
procuram gerar valor ao longo de todo o
percurso, privilegiando não só o ponto de
saída e o ponto de destino, mas o percurso total. A sustentabilidade econômica,
social, político-institucional e ambiental
do projeto; o aumento do valor agregado
da produção; a aplicação das tecnologias
de comunicação e informação; a convergência pública e privada são alguns de seus
princípios.
Aliança estratégica
A aliança político-estratégica entre o
Brasil e o Peru surgiu no ano de 2003,
com as visitas dos presidentes Alejandro
Toledo e Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o cônsul-adjunto do Peru no Rio de
Janeiro, sua base de sustentação reside nos
seguintes pontos: complementaridade das
economias, acesso do Peru ao Sistema de
Vigilância da Amazônia; promoção do comércio e dos investimentos; desenvolvi-
Odebrecht Peru
Mineração: Desenvolvimento da Mina
Yanacocha, Cajamarca, 1996-2001, 1,050
integrantes, US$ 82,7 milhões.
Assis Brasil, no Acre, foi um projeto
contratado em 2005, por meio de um
consórcio entre a Odebrecht e empresas peruanas. O consórcio conquistou
mento sustentável; convergência dos processos de integração com o Mercosul;
combate ao tráfico de drogas e luta contra
a pobreza.
O marco jurídico da aliança estratégica é
uma série de acordos que vão possibilitar a
integração e a complementação econômica. Os mais importantes são: o Acordo de
Complementação Econômica entre o Peru
e o Mercosul, mais conhecido como ACE58; memorando sobre os entendimentos
na relação física e econômica; memorando
com o entendimento sobre a vigilância
amazônica; acordo que facilita o trânsito de
produtos de ambos os países entre seus territórios; e memorando para a promoção de
comércio e investimentos, assinados pelos
ministros das relações exteriores de ambos os países, em fevereiro de 2005.
“O processo se sustenta nos esforços
de integração física, sendo este um elemento chave na procura de competitividade de nossos países, além de pôr
em contato as regiões interiores, favorecendo sua integração. Peru e Brasil estão
localizados no centro da América do Sul,
sendo peças fundamentais nas conexões
biocêanicas e em toda articulação do continente”.
Carlos Sánchez Del Aguila afirmou,
também, que o entendimento entre os
dois trechos da obra (um total de 703
quilômetros) participando de uma concorrência internacional para construção, reabilitação, operação e manutenção da estrada.
Gustavo Assad citou, ainda, o projeto
do Eixo Multimodal da Amazônia do Norte, também conquistado em 2005 por
meio de uma concessionária constituída
pela Odebrecht, Andrade Gutierrez e as
empresas peruanas Gran e Montero. Trata-se de um contrato de construção, reabilitação, operação e manutenção de uma
estrada que ligará o porto de Paica, no
Oceano Pacífico, a um porto na Amazô-
Os passos da aproximação
sul-americana
Carlos Sánchez Del Aguila considera que, na segunda metade do século XX, o relacionamento bilateral
girou em torno do papel desempenhado pelo Brasil como garantidor dos
acordos de paz assinados no Rio de
Janeiro, que tiveram como objetivo
equacionar as relações do Peru com
o Equador.
Em 1998, quando foi assinado o
Acordo de Brasília, esta função teve
fim, fazendo com que o relacionamento entre Brasil e Peru adquirisse
um novo caráter. O primeiro passo
no caminho de aprofundar o relacionamento foi o Plano de Ação de
Lima, uma iniciativa que se concretizou em 1999. No ano seguinte, uma
reunião de presidentes da América
do Sul, em Brasília, marcou a gênese
de uma política de aproximação sulamericana, que se objetivou em 2004,
em Cuzco. Esta reunião teve como
objetivo principal impulsionar a
integração política, econômica e social sul-americana, por meio da modernização da estrutura física na região, com investimentos nas áreas de
transportes, telecomunicações e
energia; elementos essenciais para o
desenvolvimento econômico e social e para o aumento da competitividade de suas economias.
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
35
P A I N E L III
Odebrecht Peru
Infra-estrutura viária: Carretera IloDesaguadero, Puno, 1999-2000, 900
integrantes, US$ 71 milhões.
nia brasileira. A estrada tem 900km, e apenas 103km serão construídos. O restante
implica em manutenção de estradas já existentes. O maior desafio técnico é sair de
uma altitude de 3 a 4 mil metros para chegar ao nível do mar.
“Neste exemplo, podemos ver, também, como funciona a transitabilidade.
Nossa idéia é melhorar as pistas da estrada e, a cada trecho recuperado, vamos liberando outro, de forma que não
haja interrupção total do trânsito em
momento algum. Inclusive, em curto
prazo, a transitabilidade já deve dar um
início de retorno do investimento. De
agosto de 2005 a janeiro de 2006, o trânsito dos dois trechos que cuidamos
melhorou. No primeiro, houve uma diminuição de cerca de duas horas no tempo de percurso e, no segundo, em cerca
de três horas, o que significa economia
não só de tempo, mas também de recursos.”
Odebrecht Peru
Saneamento: Estação de Tratamento de
Esgoto de San Bartolo, 1999-2000, 700
integrantes, US$ 27,6 milhões.
O representante de Odebrecht também revelou algumas inovações utilizadas nesta obra. Uma delas foi a topografia por laser, que permite observar deta-
Eixo Multimodal
Amazonas do Norte
O Eixo Multimodal Amazonas do
Norte acompanha a Linha do
Equador e vai ligar Macapá e
Belém ao Norte do Peru e ao
litoral do Equador. Por ele serão
transportados produtos
eletrônicos e agroflorestais;
petróleo; gás natural; e pescado.
36
dois países gira em torno de processos
complementares, que passam pela integração regional descentralizada. Uma tentativa de incluir as regiões de interior que
possuem um nível de desenvolvimento
muito inferior ao das cidades costeiras.
Os eixos IIRSA que vinculam o Peru ao
Brasil são três, mas, em sua exposição, Carlos
Sánchez Del Aguila tratou principalmente
de dois deles: o Eixo Multimodal Amazonas
do Norte e o Eixo Peru, Brasil e Bolívia.
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“O primeiro é um multimodal que
conecta alguns portos da Colômbia, do
Equador e do Peru, no Oceano Pacífico,
com portos brasileiros de Manaus, Belém
e Macapá, voltados para o Atlântico. Este
eixo amazônico procura conseguir a união
bioceânica utilizando os principais rios da
bacia do Amazonas nos quatro países. Sua
área de influência abrange 4,5 milhões de
km2, uma população de 52 milhões de
habitantes e um PIB estimado de US$ 93
milhões. Manaus é o maior pólo industrial e o maior fornecedor da região e, além
disso, tem mais de 20 mil km de vias de
navegação, o que lhe permite conexão
com todo o território sem impactos
ambientais significativos”.
As principais mercadorias desse eixo
amazônico são produtos eletrônicos, petróleo, gás natural, pesca, produção de
alumínio, papel, cosméticos, madeira,
móveis, produtos do setor agro-florestal,
fosfatos, além de material de construção,
confecções, artesanato e, também, ecoturismo. Segundo o cônsul-adjunto, o eixo
amazônico é estratégico porque possui
uma grande quantidade de recursos não
renováveis, como petróleo e gás, urânio,
ouro e ferro. Além disso, contém 20% da
lhes muito apurados da região, viabilizando um traçado da estrada muito mais
interessante em matéria de dirigibilidade
e de economia.
Benefícios sociais
Gustavo Assad fez questão de ressaltar,
em sua exposição, os benefícios sociais e
econômicos da integração entre os dois
países.
“Nós temos certeza de que, ao conseguirmos remover os gargalos da infra-estrutura, estabelecendo uma melhor comunicação entre os países, com o estabelecimento da ligação entre o Atlântico e o
Pacífico, vamos obter grandes benefícios
de ordem econômica. Procuramos, também, enfatizar os benefícios sociais do projeto. Uma obra de engenharia atende es-
pecificamente a uma demanda feita por
um contrato comercial, mas ela tem todo
o envolvimento com a sociedade e a comunidade. Uma obra só pode ser completa se ela atender a todos os requisitos
de tecnologia e engenharia e se trouxer
benefícios sociais às comunidades com ela
envolvidas. No caso específico, há uma
melhoria da infra-estrutura de transporte, pois a obra percorre parte expressiva
do território peruano. Facilitará, também,
o desenvolvimento turístico da região”.
Exportação de serviços
O último item abordado pelo diretor
da Odebrecht foi a exportação de serviços. Ele considerou que, ao exportar um
serviço, a empresa está exportando
tecnologia nacional, mostrando a competi-
tividade e a capacidade brasileira na solução de negócios.
“Ao reforçar a imagem de um país de
produção diversificada e competitivo, valoriza-se basicamente a engenharia e a
tecnologia nacionais, porque as empresas de engenharia não produzem bens.
Em qualquer obra nossa, precisamos adquirir bens para que o serviço contratado seja entregue ao cliente. Essa aquisição, em sua grande maioria, é feita no
Brasil, razão pela qual, volto a dizer, adicionamos valor agregado à pauta de exportação brasileira. Não existe como
desvincular exportação de serviços de
exportação de bens. Nessas duas áreas,
existem, hoje, 1800 empresas atuando,
e nós mantemos negócios com praticamente 1500 durante todo o ano.”
reserva de água doce do planeta. Tem um
grande potencial para a geração de energia
elétrica e concentra a biodiversidade da
floresta amazônica.
Eixo Peru, Brasil, Bolívia
O eixo Peru, Brasil, Bolívia, por onde
passará a Rodovia Interoceânica, engloba
sete departamentos da região Sul peruana,
dois departamentos amazônicos da Bolívia
e quatro estados brasileiro: Acre, Rondônia,
Amazonas e Mato Grosso.
Nesta região da tripla fronteira vivem
pequenas populações. Estas comunidades
são o centro de uma economia de fronteira que encontra dificuldade geográfica para
o abastecimento e escoamento de produtos. O objetivo do eixo é inserir estas populações no circuito econômico regional
e internacional. Ele tem uma área de influência de 3,5 milhões de km2, uma população de 12,3 milhões de habitantes e
um PIB estimado de US$ 30 milhões.
As principais atividades econômicas
deste eixo são a indústria de aço, o petróleo, as atividades florestais e o turismo.
Cuzco é o maior pólo de atração turística
da região. A agroindústria da soja, no Mato
Grosso, também é muito importante. Por
sua vez, a agricultura na região Sul do Peru
conta com uma diversidade de produtos,
como a batata, o kiwi e a páprica, que já
tem demanda certa, identificada no Centro Oeste brasileiro.
“Temos, ainda, o negócio de gado, a
construção, o negócio de pedras (escassas
na fronteira brasileira), o artesanato e a
aqüicultura. Em 2005 e 2006, duas missões comerciais visitaram este eixo. Iniciativas deste tipo permitem aprofundar o
conhecimento das possibilidades de negócios e de intercâmbio na região”.
O Eixo Peru Brasil Bolívia ligará
Porto Velho e Rio Branco a sete
departamentos da região Sul
peruana e a dois departamentos
amazônicos da Bolívia. Por ele
passarão petróleo, a soja
brasileira e os produtos
agrícolas do Sul do Peru.
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
37
P A I N E L III
A Iniciativa de Integração Regional Sul-Americana – IIRSA, tem como objetivo o desenvolvimento físico e sustentável do continente.
Segundo Carlos Sánchez Del Aguila, um
outro marco importante foi a inauguração
da ponte binacional sobre o rio Acre, em 21
de janeiro de 2006, com a presença dos presidentes do Peru e do Brasil. A Rodovia
Interoceânica já está concluída pelo lado brasileiro, ficando pendente ainda sua construção no território peruano. Os desafios no
processo de integração estão ligados, sobretudo, à tentativa de manter a dinâmica da
integração física, seguindo a agenda de metas
de 2005 a 2010 do projeto IIRSA. Nesta
agenda estão priorizadas as implementações
de centros binacionais de atenção fronteiriça
que facilitem o fluxo comercial de pessoas,
a continuação das obras da Rodovia Interoceânica no lado peruano, a estrada no Eixo
Multimodal Amazônia do Norte, a implementação de centros logísticos avançados e
a modernização dos portos das cidades de
Paitas e Iurimaltas.
Outro desafio a ser enfrentado é a aquisição de novos recursos via financiamentos. Os países envolvidos no projeto enfrentam restrições fiscais ou sofrem com
38
limitações provocadas pela dívida externa
que lhes impedem de destinar novos recursos para esta iniciativa.
“
É preciso regulamentar
normas que facilitem
os fluxos de comércio
”
CARLOS SÁNCHEZ DEL AGUILAN
“É preciso continuar explorando mecanismos financeiros inovadores. É importantíssimo, também, desenvolver um sistema de transporte aéreo transfronteiriço,
que facilite o desenvolvimento dos negócios e do turismo entre nossas regiões. É
preciso, também, insistir na regulamentação das normas que orientam e facilitam
os fluxos de comércio nas áreas terrestre,
aérea e marítima, e na aplicação das
tecnologias de informação e comunicação a serviço da competitividade da
integração sul-americana.”
Finalmente, o cônsul-adjunto concluiu
que o processo de cooperação entre o Peru e
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
o Brasil para a implementação da IIRSA é fundamental para o desenvolvimento do interior
dos dois países e do próprio continente.
“A integração peruano-brasileira é fundamental para os países andinos e para o
Mercosul. Oferece, também, uma projeção para o Oceano Pacífico, especialmente para mercados como a costa Oeste dos
Estados Unidos, a China, o Japão e a Austrália. As economias do Peru e do Brasil
são complementares. As prospecções comerciais mostraram isso. Temos que seguir avançando para aumentar o número
de negócios e, finalmente, entrarmos na
segunda etapa do processo de integração,
que é a articulação de transportes transfronteiriços e a harmonização das normas
que permitam o fluxo comercial. Isso é
tudo, muito obrigado”.
O moderador Jovelino Gomes Pires
ressaltou, então, a importância de se estimular a iniciativa privada a investir no transporte da região, sobretudo no fluvial. Ele
agradeceu a participação de todos e considerou encerrado o painel.
FCCE
Federação das Câmaras de Comércio Exterior
Foreign Trade Chambers Federation
Seminários Bilaterais de Comércio Exterior e Investimentos
Calendário 2006
20 de fevereiro
RÚSSIA
20 de março
ÁFRICA DO SUL
24 de abril
FRANÇA
22 de maio
PERU
19 de junho
PORTUGAL
17 de julho
CHINA
21 de agosto
PANAMÁ
18 de setembro
SUÉCIA
23 de outubro
ESPANHA
13 de novembro
FINLÂNDIA
11 de dezembro
ALEMANHA
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
39
ENCERRAMENTO
Gustavo Assad, José Betancourt Riveta, Marco Carreón, Marco Aurélio Andrade e Arthur Pimentel participaram do encerramento do seminário.
Cultivar novas propostas para
colher desenvolvimento
Sessão Solene de Encerramento do
Seminário Bilateral de Comércio
Exterior e Investimentos BrasilPeru foi presidida pelo Diretor de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
– MDIC, Arthur Pimentel, representando o Ministro de Estado, interino, do
MDIC, Ivan Ramalho.
Ele chamou para compor a mesa o
Ministro José Betancourt Rivera, encarregado de negócios da Embaixada do
Peru no Brasil; o Ministro Marco Carreón, Cônsul-Geral do Peru no Rio de
Janeiro; Gustavo Assad, Diretor da Área
Internacional da Construtora Norberto
Odebrecht; Luiz Guilherme Soares
Bomfim, Assessor Técnico da Divisão de
Mercado e Ação Comercial da Companhia Docas do Rio de Janeiro; Fernando
Vasconcelos de Sá, Chefe da Divisão de
Mercado e Ação Comercial da Compa-
A
40
nhia Docas do Rio de Janeiro; e José Luiz
Lopes Teixeira Filho, Superintendente de
Marketing da Companhia Docas do Rio
de Janeiro.
O presidente da sessão iniciou sua fala
destacando a contribuição de todas estas
personalidades ao seminário e falou sobre a atuação da Odebrecht no exterior:
“É isto mesmo, nós devemos insistir em
exportação de serviços, pois é no vácuo
da exportação de serviços que o país está
construindo os números e a realidade da
sua política de exportações”.
O Diretor de Comércio Exterior do
MDIC, Arthur Pimentel, fez questão de
deixar registrada a presença, no seminário, do secretário de desenvolvimento e
turismo do Maranhão, “porque sabemos
o interesse dos estados no comércio exterior e na atração de investimentos. Gostaria, ainda, de agradecer a participação do
médico e amigo Cláudio Chaves,Vice-Pre-
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
sidente da primeira filial da Federação das
Câmaras de Comércio Exterior, no Amazonas, com quem tivemos a honra de conviver durante a inauguração.”
Finalmente, o presidente da sessão fez
um agradecimento especial ao SecretárioGeral da Câmara de Comércio Brasil-Peru,
Marco Aurélio de Andrade e, também, ao
Presidente da mesma câmara, Marco Pólo
Moreira Leite.
“Eu gostaria de dizer que este tipo de
evento, um fórum desta natureza, pode
parecer um encontro meramente institucional, mas cada um de nós, tanto da
esfera do governo quanto da esfera empresarial, sai daqui com uma idéia nova
ou uma boa sugestão. Seminários como
esse, realizado pela FCCE, têm dado um
retorno direto e é com isso que nos
aproximarmos ainda mais dos países da
América Latina, que consideramos
como irmãos.”
EM PAUTA
Pavilhões da FCCE
Histórico e origens
Federação das Câmaras de Comércio Exterior possui, desde a sua criação, no ano de 1.950, seu Pavilhão,
sua “Bandeira”, a qual representa as tradições
e os objetivos maiores de nossa FCCE;
incrementar o Comércio Bilateral, por meio
do apoio às câmaras de comércio filiadas. O
“Pavilhão” original, gironado de verde e branco, apresenta, no centro, a representação do
Globo Terrestre identificando assim o caráter internacional do comércio (fig. A). Esse
Globo é ladeado por ramos de café e canade-açúcar, sugerindo a nacionalidade,
encimados pelo caduceu do deus grego
Hermes, conhecido na mitologia romana
como o Deus Mercúrio, filho bastardo de
Júpiter, patrono de todas as atividades comerciais.
Esse primeiro pavilhão foi herdado pela
FCCE de sua antecessora, a Federação das
Câmaras de Comércio Estrangeiras, que havia
sido criada no ano de 1.932, desativada
durante a II Guerra Mundial, e que depois
deu lugar à atual Federação das Câmaras
de Comércio Exterior, reativada pelo
empresário João Daudt de Oliveira, no ano
de 1.950.
Na década de 80, a diretoria da FCCE
decidiu atualizar e modernizar esse Pavilhão, tendo, então, promovido um “concurso” entre diversos desenhistas profissionais, sobretudo aqueles com conhecimentos sólidos em heráldica.
Foram finalistas 3 propostas, (figs. B, C
e D) bastante parecidas, por sinal. Foram
submetidas ao julgamento do plenário do
Conselho Deliberativo da FCCE e seus
membros decidiram pela composição atual, que é: em fundo vermelho, uma estrela
raiada de ouro bordada de prata (branco),
carregada de um circulo contendo a esfera
armilar em preto o branco e, em abismo, o
desenho atualizado, modernizado, do
caduceu-simbolo, já usado, porém de forma arcaica, no pavilhão anterior (fig.D).
O novo Pavilhão possui, ainda, nascendo lateralmente, uma larga faixa, em pre-
A
Fig. A: O pavilhão original, utilizado a partir
de 1.932, e “restaurado” em 1.950.
Figs.B e C: propostas finalistas do concurso
de 1.980.
Fig. D: Pavilhão vencedor do concurso.
Fig. E: Pavilhão de honra, privativo do
Conselho Superior e do Presidente.
to, com as iniciais da Federação em branco, ou prata.
Na vertical, partindo do meio da estrela raiada, temos uma faixa preta carregada
de 2 palas de branco ou prata, carregada
de uma faixa menor, em vermelho.
Essa é a versão atual, oficial, do Pavilhão da FCCE, que pode ser utilizado tanto na forma de bandeira como galhardete.
A Federação utiliza, também, um “pavilhão de honra” que tem exatamente a
mesma concepção, porém com fundo
prata, predominando as cores ouro e negro (fig. E). Esse “pavilhão de honra” é,
de acordo com o Estatuto da FCCE, privativo do Presidente, e dos DiretoresConselheiros titulares do Conselho Superior. Somente pode, e deve ser utilizado, quando na presença de um desses
membros, ou seja, é privativo dos mesmos. Essa foi a forma que a direção da
FCCE encontrou para homenagear e diferenciar, sobretudo, os componentes do
Conselho Superior, vitalícios, em número de 15, e que são, não só o orgulho da
FCCE, como principalmente a história
do Comercio Exterior Brasileiro. Conforme dito, esse Conselho Superior é
composto de membros vitalícios, independentes de mandato ou eleição e, para
ele, por proposta do presidente e aprovação da Assembléia Geral, serão conduzidos novos membros somente quando da vacância por falecimento.
O nosso “pavilhão” é , portanto, a representação viva das tradições e do trabalho realizado pela FCCE ao longo de todas
essas décadas, e esperamos que ele continue assim representando a seriedade, a honestidade, e a dignidade que são os princípios básicos da atuação de nossa Federação
das Câmaras de Comércio Exterior.
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41
TURISMO
Destino Peru
Uma diversidade impressionante de atrações seduz os visitantes brasileiros
Abrir o baú de tesouros peruanos pode
ser uma experiência encantadora para o
turista. Além da cidade perdida dos Incas,
Machu Picchu, a 2.400 metros de altura,
e rodeada por um silêncio místico, o visitante pode se deslumbrar com os mistérios das linhas de Nazca; com as tumbas
de ouro do complexo arqueológico de
Huaca Rajada; com a antiga metrópole de
barro, próxima à cidade de Trujillo; ou,
ainda, conhecer o centro histórico e as igrejas da capital, Lima.
Segundo dados da Embratur, entre
1996 e 2003, o número de brasileiros que
visitou o país andino aumentou mais de
100%, passando de 19.357 para 52.812
pessoas.
As Linhas de Nazca
Em maio de 2006, arqueólogos peruanos anunciaram a descoberta do corpo de uma jovem guerreira, mumificada
há mais de 1.500 anos, pertencente à
extinta dinastia moche. Apesar de contar
com um patrimônio arqueológico rico
em tesouros já descobertos e estudados,
novos achados como este estão sempre
surgindo. É como se o Peru estivesse
sempre se descobrindo. Esta presença
constante de surpresa e magia desperta a
curiosidade e o instinto arqueológico de
muitos turistas.
42
As linhas de Nazca formam desenhos só percebidos a grandes alturas, como este beija-flor.
Entre as fascinantes atrações peruanas
destacam-se as misteriosas Linhas de
Nazca. Essas linhas são rachaduras ou sulcos de 20cm de profundidade, que formam imagens com cerca de 500m de extensão, em uma área de aproximadamente 350km2. Entre os desenhos, podem ser
identificadas representações de animais
como a aranha, o macaco, o cachorro e,
também, figuras de plantas e vegetais. O
mais curioso é que ninguém sabe exatamente como elas surgiram nas planícies
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de San José, a 100 km ao Sul da cidade de
Ica, uma das mais importantes do país,
onde se desenvolveram algumas das mais
representativas civilizações do antigo Peru,
como Paracas e Nazca.
Foram feitas há séculos, numa época em
que não existia avião. Como puderam ser
desenhadas de modo a formar figuras gigantescas, identificáveis apenas de cima?
Houve quem levantasse a hipótese de terem sido realizadas por extra-terrestres. A
alemã María Reiche dedicou meio século
A monumental Plaza de Armas de Cuzco é cenário para danças folclóricas (abaixo) e procissões.
Cuzco: destino preferido
A cerâmica (na página ao lado) impressiona
pela elegância, estilização dos motivos e
diversidade.
As lãs produzidas em teares manuais, com
padronagem e colorido característico,
podem ser encontradas em todo o país.
ao estudo das linhas e concluiu que se trata
de um calendário astronômico. Em 1994,
depois de sucessivos trabalhos empreendidos desde o início do século XX para
pesquisar e entender as origens e a maneira
utilizada para produzi-las, as Linhas de Nazca
formam declaradas Patrimônio Cultural da
Humanidade pela Unesco.
O destino mais conhecido e procurado pelos turistas que visitam o país é
Cuzco, a capital arqueológica da América.
Perto de Cuzco, na região Sudeste da Cordilheira dos Andes, fica Machu Picchu. O
nome é de origem quéchua e quer dizer
umbigo ou centro do mundo, para evidenciar que ali era a capital do império
Tawantinsuyo, um dos maiores centros de
poder pré-colombianos. Durante séculos,
as ruínas ficaram perdidas na selva e puderam se conservar.
Como toda cidade mística, Cuzco também é cercada de lendas. Uma delas conta que um casal, Manco e Mama, emergiu
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43
TURISMO
das águas do lago Titicaca a fim de mostrar
ao seu povo a melhor maneira de cultivar
a terra. Com a chegada dos espanhóis, em
1533, a região se transformou num dos
pólos do poder colonial. A arquitetura do
país ibérico se sobrepôs às pedras incas e
é impressionante ver igrejas católicas
erguidas sobre templos ancestrais. Apesar disso, ainda restaram zonas arqueológicas de imenso valor. Assim, a cidade conta, também, com edificações de estilo barroco e renascentista. Em 1983, a região
de Cuzco foi considerada Patrimônio Cultural da Humanidade.
Visitar Cuzco é como fazer uma viagem no tempo, em direção a uma época
na qual poesia e conflitos se juntavam em
histórias e lendas. A cidadela de Ollantaytambo, por exemplo, homenageia o cacique Ollanta, famoso por ter conquistado
uma princesa inca, filha de Pachacútec.
Neste sítio arqueológico estão o Templo do
Sol e um local onde a amada de Ollanta
tomava seus banhos: Los baños de la princesa.
Em Tipon, não muito distante do centro de Cuzco, é possível entender porque
os historiadores celebram as habilidades
do povo inca, principalmente no trato com
a agricultura. Impressiona o domínio da
técnica do escoamento de água por meio
de aquedutos, para citar apenas uma façanha da engenharia. É importante ter em
mente que a tecnologia utilizada pelos
incas remonta há mais de quinhentos anos.
Outro lugar fascinante é Moray e seu
anfiteatro rebaixado. Estudiosos afirmam
que o local era largamente utilizado para
experimentações agrícolas. Os nativos
No Anfiteatro de Moray, civilizações pré-colombianas cultivavam 250 espécies vegetais.
queriam descobrir formas de irrigação e
cultivo em diferentes altitudes. Segundo
os especialistas, nesta região foi testado o
cultivo de mais de 250 espécies diferentes de vegetais.
Em direção à Machu Picchu
Além de mapas, guias ou dicas de viagens, muitos turistas gostam de levar na
mochila as impressões de poetas ou cronistas sobre as regiões visitadas. O poema
“Alturas de Machu Picchu”, faz parte do
livro “Canto General”, publicado originalmente em 1950 pelo poeta chileno Pablo
Neruda, Prêmio Nobel de Literatura. Estes versos dão bem a medida da dimensão
Na Isla de los Uros, no Titicaca, aterros e barcos de junco.
44
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
simbólica e magnífica das ruínas da cidade
histórica do império inca.
Para aqueles que têm mais fôlego e
adoram uma caminhada, uma boa maneira de alcançar a cidade é pela Estrada do
Inca. O percurso, de 40 km, normalmente é feito em quatro dias. O visitante avança por diferentes níveis de altitude e passa
pelas cidades de pedra de Phuyupatamarca
e Wiñay Wayna, além de outros 16 sítios
arqueológicos. Este é, sem dúvida, um dos
roteiros de trekking mais festejados da
América Latina.
Além do poeta chileno, que usava as palavras para lutar pelo povo e pelo amor, outros se encantaram com a cidade perdida dos
O Templo do Sol (acima) é uma das atrações de Machu Picchu (à direita).
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45
TURISMO
Em Chan Chan, casas, palácios e labirintos
A luxuosa tumba do Senhor de Sipán e
seus tesouros fazem parte do Complexo
Arqueológico de Huaca Rajada.
incas. Ernesto Che Guevara também alcançou este destino com seu amigo Alberto
Granada, em 1952, quando tinha 23 anos,
durante sua primeira viagem pelas veias abertas da América Latina. No filme “Diários de
Motocicleta”, do diretor brasileiro Walter
Salles Jr., é possível perceber o impacto
emocional que a vista da herança arquitetônica dos incas causou nos dois aventureiros.
Machu Picchu foi descoberta em 1911
por Hiran Bingham, um explorador norte-americano. Está localizada no alto de
uma montanha, a 2.400 metros de altitude, no centro de um cânion do rio
Urubamba. Impressiona o fato de ser uma
cidade totalmente construída com pedras
encaixadas, com aproveitamento de todos
os espaços. Pode ser dividida em duas
grandes áreas. Uma delas é destinada ao
armazenamento de alimentos e à agricultura e possui escadarias e terraços próprios para o cultivo de vegetais, como a bata46
ta, uma planta que foi cultivada pelos antigos peruanos. A outra é considerada urbana e tem templos, praças e mausoléus.
Bingham descobriu nela até um cemitério
de mulheres, o que o levou a pensar que a
cidade tivesse como finalidade principal o
culto à religião. Alguns estudiosos acreditam que a região também era amplamente
utilizada como posto privilegiado para a
observação astronômica.
Além da Estrada do Inca, pode-se, também, chegar à cidadela a partir de Cuzco
em uma viagem de trem que dura três
horas. Depois, vans conduzem o visitante
a Machu Picchu. Para os mais apressados,
e com maior poder aquisitivo, um helicóptero reduz bastante o tempo de subida. Logo em frente à cidade, se descortina,
soberana, a montanha Huayna Picchu.
Relíquias por toda parte
O Peru é um país que tem relíquias em
todo o seu território. Ao Norte, por exemplo, localiza-se a luxuosa tumba do Senhor de Sipán, patrimônio de destaque no
complexo arqueológico de Huaca Rajada.
As escavações e o trabalho de especialistas revelaram uma história de mais de
1700 anos. O Senhor de Sipán era considerado um semi-deus e, por isso mesmo,
sua morte foi acompanhada de rituais místicos e de sacrifícios religiosos. Na sua tum-
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ba também foram encontrados corpos de
três mulheres, um chefe militar, um porta-estandarte, um sentinela, um guardião
e uma criança. Ao todo, oito pessoas, além
do soberano que foi sepultado coberto
de ouro, prata e símbolos de autoridade.
O museu que abriga as tumbas de ouro
fica a 35 km da cidade de Chiclayo e é
considerado um dos principais centros de
arqueologia da América.
A cidade de barro
O que dizer, por exemplo, de uma metrópole de barro? Ela ainda existe, no Peru,
próximo à cidade de Trujillo. Naturalmente, não mantém a mesma exuberância de
tempos idos, mas o que dela restou dá
para entender por que motivo o Rei Chan
Chan (Sol Sol) decidiu ali ficar por toda a
eternidade. Segundo os especialistas, a cidade abrigava mais de 100 mil pessoas de
diferentes classes sociais. Esta descoberta
é justificada pelas características das
edificações encontradas: desde casas populares, até palácios. As ruínas mostram,
ainda, moradias, praças, depósitos, oficinas, ruas e labirintos. A beleza está nos
detalhes, pois até nos muros é possível
identificar minuciosas decorações em relevo, com figuras geométricas e de animais. A cidade foi construída a partir do
século XII, no reinado do Grande Chimu.
mação da República do Peru, já no século
XIX. Lima voltaria, então, à vanguarda das
cidades da América. Atualmente, a capital
reúne 25% de toda a população do país,
além de concentrar dois terços de sua atividade econômica e industrial. Por tudo
isso, a capital é conhecida como pequeno
Peru.
Uma das características marcantes do
país é a mestiçagem. Essa mistura de raças e
crenças reflete-se na culinária e na arquitetura. A igreja de La Merced é um bom
exemplo. Construída no século XVII, ela
se ergue majestosa no centro da cidade e
homenageia a Virgem das Mercedes, padroeira do exército peruano. A igreja abriga
uma das mais importantes coleções de
obras de arte da época em que Lima estava
sob o domínio dos espanhóis.
A presença colonizadora do país ibérico deixou marcas e costumes em terras americanas. Um exemplo é o bairro
de Rímac, um dos mais tradicionais de
Lima. Na região foi construída uma das
primeiras arenas de touros da América
que leva o nome de Praça de Touros de
Acho. É comum os maiores toureiros do
mundo se apresentarem na Feira Taurina
do Senhor dos Milagres, que acontece
no bairro.
Como se não faltassem motivos para
visitar as cidades peruanas, os dois governos aprovaram a isenção da apresentação
de passaporte entre Brasil e Peru, como
acontece entre os países pertencentes ao
Mercosul. Assim, fica facilitado, para os
brasileiros, um mergulho cultural e histórico em terras peruanas.
feitos de barro, com detalhes em relevo.
Lima, a capital
Conhecida como cidade dos reis e dos
vice-reis, Lima é cercada por templos barrocos e renascentistas. Originalmente uma
área de pescadores, a atual capital do Peru
foi fundada em 1535. A privilegiada localização no litoral do Oceano Pacífico foi
fundamental para que a cidade concentrasse atividades comerciais, culturais e
políticas, tendo tornado-se a metrópole
mais importante da América espanhola.
Com a criação do Vice-Reino do Rio
da Prata, ao Sul do continente, o novo centro de poder passou a gerenciar as minas
de Potosi, no atual território boliviano. Isto
levou Lima a um processo de decadência
que só seria revertido depois da procla-
A Catedral de Lima abriga em seu interior
uma admirável coleção de pinturas e
esculturas dos séculos XVII e XVIII.
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HOTELARIA
Hotel Senac Grogotó.
Hotel Grande Hotel São Pedro.
Grande Hotel Campos do Jordão.
Hotel Ilha do Boi.
Hotéis-escola Senac
Vivência de trabalho em ambiente de ensino
Os Hotéis-Escola do Senac
• Hotel Ilha do Boi
Vitória – Senac/ES
• Hotel Senac Grogotó
Barbacena – Senac/MG
O crescimento e a modernização da
rede hoteleira nacional são hoje pilares do
desenvolvimento do turismo no Brasil. Ao
lado de grandes complexos hoteleiros,
multiplicam-se no país estabelecimentos
de pequeno e médio portes, financiados
por empreendedores nacionais.
O sucesso desses novos empreendimentos hoteleiros está condicionada à
qualidade dos recursos humanos empregados. Disposto a acompanhar e respal48
dar esse crescimento, o Senac, além de
algumas centenas de cursos de qualificação, habilitação e aperfeiçoamento, mantém seis hotéis-escola.
São instalações de primeiro nível, onde
o aluno tem oportunidade de aprender ao
mesmo tempo em que vivencia situações
reais de trabalho. Para o cliente, os hotéisescolas representam uma oportunidade
de desfrutar serviços de qualidade, com
padrão Cinco Estrelas.
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• Hotel Grande Hotel São Pedro
Águas de São Pedro – Senac/SP
• Grande Hotel Campos do Jordão
Campos do Jordão – Senac/SP
• Hotel Senac Guaramiranga –
Escola de Turismo e Hospitalidade
Guaramiranga – Senac/CE
• Hotel-Escola Senac Barreira Roxa
Natal – Senac/RN
PARCERIA
“Precisamos nos integrar com
toda a América Latina”
“Voltar os olhos para os países-irmãos;
estabelecer parcerias que visem ao equilíbrio da região; incentivar a transferência
de conhecimento; e encontrar maneiras
para salvaguardar as riquezas nacionais sem
danos à relação comercial.” Estas são algumas idéias do Presidente do Conselho
de Comércio Exterior da Associação Comercial do Rio de Janeiro e Presidente da
Câmara de Comércio Brasil-Peru, Marco
Pólo Moreira Leite, para o desenvolvimento de uma América Latina vigorosa
no cenário do comércio internacional.
Nesta entrevista, ele comenta as vantagens de facilitar o acesso terrestre aos oceanos Pacífico e Atlântico, para o Brasil e o
Peru respectivamente. Ressalta, ainda, o
papel que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa tem a desempenhar no comércio entre os dois países.
Qual o panorama da relação comercial entre Brasil e Peru e quais as
perspectivas de entendimento entre os dois países?
MPML – Nossa relação comercial está
como sempre esteve nos últimos anos.
Houve, entretanto, uma melhoria e um
crescimento. Há uma balança comercial
extremamente favorável ao Brasil. No ano
passado, se não me engano, foi para mais
de US$ 400 milhões em favor do Brasil.
Acho que o Brasil tem um papel extremamente importante no sentido de equilibrar sua relação com os países sul-americanos e de buscar uma forma mais equânime de lidar com este processo.
O que digo não se expressa em números que a balança vai mostrar, porque é
impossível comparar o grau de adiantamento do Brasil, que tem um grande parque industrial, com o de nossos vizinhos.
Nós podemos, sim, desenvolver parcerias estratégicas que permitam o crescimento de uma relação mais próxima com o
Peru. Vejamos, por exemplo, o agrone-
Marco Pólo Moreira Leite.
gócio. Por meio da Embrapa, o Brasil tem
possibilidades de dar uma grande ajuda
àquele país, na área das fazendas marinhas.
Hoje, o Brasil tem uma Secretaria de Pesca extremamente desenvolvida e poderia,
inclusive, fazer esta ligação. É por aí que
temos que caminhar.
A que modelos de interação o senhor
se refere? O Acordo de Livre-Comércio Mercosul-Peru, por exemplo, é
uma dessas formas?
MPML – Sem dúvida. Hoje, há um acordo
de livre comércio, por exemplo, assinado
entre Estados Unidos e Peru. Esta é uma
estratégia que está sendo desenvolvida claramente pelo governo norte-americano: fazer acordos em separado. Eu não digo que
isto vá minar o Mercosul, mas dificulta nossa integração por esta via. Por isso acho necessária uma ampliação das relações comerciais entre o Mercosul, propriamente dito, e
o Pacto Andino, onde questões como essas
podem e devem ser aprofundadas.
A construção da ponte Assis-Brasil,
ligando o Brasil ao Peru é um marco
no estreitamento das relações?
MPML – Sem dúvida. Este é um passo
extremamente importante. Um passo maior é a abertura do corredor bioceânico, ou
seja, a ligação terrestre do Pacífico com o
Atlântico. Há um estudo claro de saída para
o Pacífico, por exemplo, pelo porto de
Cajal, no Peru, criando uma ligação que pode
ser estendida até o Porto de Sepetiba (RJ),
integrada por rotas que incluem vias terrestres e fluviais. Enfim, esta é uma saída
extremamente interessante, que vai permitir-nos um ganho de escala para a nossa
produção de soja e de minério. É uma
integração fundamental e tem que ser feita.
O senhor poderia desenvolver um
pouco este tema do corredor bioceânico? Quais são as vantagens práticas, para o Brasil, ter uma saída
para o oceano Pacífico?
MPML – Haverá um escoamento da produção do Centro-Oeste brasileiro, com
custo reduzido, fretes mais baratos, saídas
menores e tempo de viagem mais curto
para os países da Ásia, que é um grande
mercado nosso. A China, hoje, é um dos
grandes parceiros comerciais do Brasil e,
certamente, existindo saídas pelo Pacífico mais fáceis do que pelos portos tradicionais do Atlântico, você pode imaginar
o que isso significaria, em termos de agilidade, para esta rota do nosso comércio
exterior. Hoje, o principal é o tempo e o
custo. Essas duas equações estarão resolvidas com o corredor bioceânico.
O senhor citou, durante o seminário, a intenção do presidente da
Bolívia, Evo Morales, de nacionalizar o gás boliviano. Gostaria que o
senhor explicitasse um pouco mais
sua posição sobre esse tema.
MPML – Esta é uma posição particular,
volto a dizer. Acho que temos que olhar a
Bolívia como um país-irmão; um país com
uma extrema pobreza, mas um país altivo e
altaneiro. A Bolívia passa por grandes dificuldades. Sempre passou. Isto vem desde
a época da exploração do estanho, na déca-
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L
• PERU
49
PARCERIA
da de 50. A grande riqueza deles, hoje, é o
gás natural. Com o gás, há uma tentativa e
um caminho para sair da pobreza e o Brasil
deveria colaborar com isso.
Nesse cenário, é óbvio que os interesses brasileiros devem ser defendidos. Eu
não tenho dúvida de que serão e de que
haverá acordos entre o Presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e o Presidente Evo
Morales. Eu não vejo a menor possibilidade de isso não acontecer. O Brasil é um
grande parceiro e um grande comprador
do gás boliviano. Não há por que não existir uma sólida parceria entre os dois países,
e as coisas estão caminhando neste sentido.
Acho que é preciso, também, verificar o
momento político em que essa atitude foi
tomada. Há uma grave crise política na Bolívia, que Evo Morales está buscando enfrentar. Ele passou por um período de declínio
em sua popularidade, e teve que tomar uma
atitude. De uma forma ou de outra, não vamos discuti-la aqui, mas não tenho a menor
dúvida de que a Bolívia chegará a um bom
termo na relaçãocom o Brasil e com a
Petrobras. Não tenho a menor dúvida.
O senhor considera que deve haver
uma colaboração do governo brasileiro no sentido de aceitar essa nacionalização?
MPML – O governo brasileiro já aceitou. Isso é irreversível. Havia uma discussão sobre os interesses brasileiros que terão de ser, de alguma forma, ressarcidos.
Está sendo discutido, não passionalmente,
como foi no início, o pagamento em gás
ou em dinheiro. A Petrobras já demonstrou que esse entendimento é do seu interesse e pode ser alcançado de diversas
formas. Para mim, volto a dizer, não há
conflito. Há um estremecimento, vamos
dizer, há um tremor na relação, mas não
há nenhuma crise Brasil-Bolívia. Muito
menos entre a Petrobras e a sua necessidade de ser ressarcida, de continuar mantendo o gás boliviano como sua fonte de
abastecimento.
Existe, hoje, um movimento de nacionalização na América Latina. O
que isso muda na relação comercial
entre Brasil e Peru?
MPML – Acho que esse movimento começou com o próprio Brasil. Se formos
50
pensar, Getúlio Vargas nacionalizou o petróleo na época da campanha “O petróleo
é nosso!”. O minério do Brasil também é
nosso. Não tem jeito, minério de ferro é
da Vale do Rio Doce. Isso é claro, por que
não? É uma forma de os países em desenvolvimento se protegerem. Os países ricos se protegem de outra maneira. Os
Estados Unidos subsidiam grande parte
de sua produção agrícola, por exemplo,
como a Europa também faz.
“
O Brasil é um grande
comprador do gás boliviano.
Não há por que não existir uma
sólida parceria. As coisas estão
caminhando para isso
”
MARCO PÓLO MOREIRA LEITEN
Conversei recentemente com um empresário francês e ele me disse que o grau
de financiamento da agricultura francesa é
terrível. São justamente esses produtos subsidiados que vão chegar aos mercados para
competir com os nossos. Há uma competição muito nítida. A maneira pela qual os
países da América do Sul estão enfrentando
essa questão é, a meu ver, absolutamente
correta, procurando nacionalizar seus bens
e seus recursos naturais.
Mesmo que isso implique na expropriação de algumas empresas?
MPML – Mesmo que isso implique na
expropriação de uma empresa. Essa é a
regra do jogo. É a forma como eles podem se defender. Isso nunca quer dizer
abrir mão do que foi investido. Nem isso
foi colocado pelo Presidente Evo Morales
ou por qualquer outro presidente latinoamericano. Ele pode ter se manifestado
de forma um pouco mais intempestiva,
mas, em muitas ocasiões, ele demonstrou
que quer a Petrobras e que quer o Brasil
como parceiro.
Como o senhor vê a questão das
fronteiras brasileiras na região Amazônica? O senhor acha que a região
é bem explorada? Ali pode ser um
centro de desenvolvimento brasileiro e dos países-irmãos?
MPML – Eu acho que sim. Mas em primeiro lugar, o Brasil precisa tomar muito
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
cuidado com as suas fronteiras. É o ponto
número um. Nós temos que ter cuidado,
porque hoje há um inimigo grande e forte
que se chama narcotráfico. E voltamos então à discussão da necessidade de que esses
nossos países vizinhos possam melhorar
sua condição de vida, a condição de vida do
seu povo. É na pobreza que se insere o
narcotráfico, esse cancro que existe em
todo o mundo. Muitas grandes cidades latino-americanas são depositárias dessa infeliz ligação pobreza-narcotráfico-traficantes
e tudo mais. Até por uma questão de inteligência, não podemos deixar isso acontecer. E não podemos deixar isso acontecer
simplesmente por causa de nosso futuro.
Como o comércio de produtos legais pode ajudar nesse cenário?
MPML – Em algumas regiões da Bolívia
foi introduzido o cultivo da soja. No Peru,
por exemplo, a Embrapa está presente, desenvolvendo o plantio de cana-de-açúcar,
para melhorar a produção local. Isso tudo
pode ser feito. São vários os caminhos.
Nós temos, atualmente, no Peru, a
presença da Embrapa, da Petrobras,
da Vale do Rio Doce, da Odebrecht.
Que outras empresas brasileiras o
senhor citaria?
MPML – Eu falo especificamente da
Embrapa por ela ser gestora de uma transferência de conhecimento que vai permitir aos países atendidos melhorar sua produção. A melhoria da produção peruana,
por exemplo, promove sua condição financeira, seu nível de vida e, certamente,
tem rebatimento positivo sobre a economia brasileira, pois estimula o comércio
bilateral.
O Brasil dever investir, então, nos
países da América do Sul?
MPML – Qualquer país da América do
Sul vale o investimento brasileiro. É importantíssimo que estejamos unidos. Sempre estivemos de costas para a América
Latina e isso foi um erro histórico. Temos
que nos integrar. Só assim vamos conseguir fazer frente a um comércio internacional com alto grau de competição. Nesse
contexto, não há mais criança, nem brincadeira, nem amigo. É um jogo pesado. Se
quisermos ter bons resultados, temos de
estar juntos e integrados.
CULTURA
A Escola Cuzquenha de pintura:
um tesouro da América colonial
O Peru trabalha para assegurar a sobrevivência de um acervo valioso
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
51
CULTURA
A
o empreenderem a colonização
da América do Sul, portugueses
e espanhóis, além da descoberta
e da exploração das riquezas mi-
nerais das diversas regiões do continente,
tinham objetivos catequéticos e visavam a
converter os povos indígenas que por ali
encontraram. Uma das ferramentas mais
utilizadas para trazer as almas pagãs à religião católica foi o ensino das artes. Destacam-se a pintura e a escultura, pois privilegiavam a imagem, recurso valioso e que
transcendia o conhecimento das línguas
locais pelos colonizadores.
Na América portuguesa, ficou famosa a
imaginária criada pelos guaranis, sob orientação dos jesuítas, e cujos remanescentes
constituem o rico acervo do Museu das
Missões, localizado em Santo Ângelo, no
Rio Grande do Sul. Nada se compara, no
entanto, à pujança e à alta qualidade da chamada arte cuzquenha, escola de pintura
hispano-americana que vicejou em grande
parte da costa do Pacífico, na região que
constituía o imenso Vice-Reino do Peru.
Foi com a conquista de Cuzco, em 1534,
que os espanhóis iniciaram a evangelização
dos povos incaicos, enviando para o vice-
(Página 51) Sagrada Família
com São João menino
Séc. XVI
Óleo sobre tela, 1,90m x 1,00m.
Igreja da Companhia de Jesus, Arequipa
Esse tema, ao mesmo tempo sacro e
familiar, tão caro aos pintores da
Renascença, é retomado aqui por um pintor
anônimo da Escola Cuzquenha do século
XVIII. A disposição das figuras não difere
muito dos modelos europeus, mas a cortina
entreaberta, a profusa e luminosa decoração
das auréolas e das vestes das personagens
constituem-se em marca registrada da
escola. Esse óleo sobre tela pertence ao
acervo do Mosteiro de Santa Rosa, de Lima.
(Página 52) Cristo Ressuscitado
Séc. XVII, circa 1603
Óleo sobre tela, 1,90m x 1,90m.
Igreja da Companhia de Jesus, Arequipa
(Página 53) Virgem com o Menino
Séc. XVI
Óleo sobre tela, 1,90m x 1,00m.
Igreja da Companhia de Jesus, Arequipa
Essas duas excelentes pinturas do padre
jesuíta italiano Bernardo Bitti, que, vindo da
Espanha, viveu 35 anos no Peru e é
considerado o primeiro mestre da Escola
Cuzquenha, ressentem-se da influência do
maneirismo europeu e atestam a alta
qualidade da arte praticada pelos
professores que a metrópole designou para
o ensino da pintura no vice-reino. São óleos
sobre tela e pertencem ao acervo da Igreja
da Companhia de Jesus, em Arequipa.
52
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
reino um grupo de religiosos artistas – tais
como o jesuíta Bernardo Bitti. O grupo dedicou-se à criação de obras de caráter doutrinário, formando escolas de pintores índios e mestiços, a quem foram ensinadas a arte
do desenho e a técnica do óleo. O termo
“cuzquenho” , entretanto, não se restringe a
Cuzco – que, atualmente, é uma cidade peruana – e dá nome à produção pictórica de
vários países andinos, como Peru, Bolívia e
Equador, entre os séculos XVI e XVIII. A
denominação, que acabou batizando a primeira e mais importante escola de pintura
das Américas, generalizou-se porque a cidade de Cuzco era a capital e o centro do Império Inca.
Uma pintura religiosa
Os temas da pintura cuzquenha são exclusivamente religiosos e, curiosamente,
exploram uma temática já trabalhada pelos
pintores italianos da Idade Média, como a
dos mestres das cidades de Pisa e Siena, e a
de Fra Angélico, na primeira metade do século XIV. Seus temas são, principalmente, as
cenas bíblicas da tradição católica, como as
que glorificam e exaltam as figuras de Jesus
Cristo, de Maria Santíssima e dos santos. São
abordadas, com freqüência, cenas que registram as glórias do Paraíso e da corte celestial,
assim como as danações e castigos verificados nas profundezas do Inferno.
Os cuzquenhos – assim como os pintores da Europa pré-renascentista – ignoram a perspectiva e, para dar ênfase à beleza
física das figuras religiosas, agigantam os santos, enquanto reduzem seus devotos a pontos minúsculos nas suas telas. Para criar uma
idéia de monumentalidade, imprimem
grande volume aos mantos suntuosos que
caem dos ombros de Cristo, da Virgem e
dos santos, cujas figuras são contornadas,
ainda, por cortinas e colunas.
A Europa revisitada
Assim como ocorreria na torêutica da
Ouro Preto colonial portuguesa, os modelos das pinturas cuzquenhas eram estampas
gravadas e livros ilustrados que os colonizadores faziam vir da Europa, o que, curiosamente, aproxima suas produções das escolas bizantina, flamenga e pré-renascentista
italiana. Nas mãos dos nativos, entretanto,
esses modelos sofrem todo o tipo de metamorfose, resultando em obras de artes originais, que exibem uma liberdade desconhecida dos europeus. Não dispensam, também,
as cores vivas e, em obediência aos cânones
do barroco, em voga na Europa seiscentista,
as imagens distorcidas que configuram maior dramaticidade às cenas expostas. Marca
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
53
CULTURA
A beleza que ressurge
A pintura cuzquenha corresponde,
cronologicamente, à vigência do maneirismo e do barroco na Europa. Com o
advento da escola neoclássica, que empolgou a pintura ocidental, a partir do final do século XVIII, a temática cuzquenha,
a que não faltam os exageros e meneios
do barroco, cai em desuso e sai de moda.
É, então, que muitas de suas obras mais
representativas sofrem repinturas que as
descaracterizam e mutilam, em busca de
uma sobriedade e de proporções geométricas que nunca foram uma preocupação
de seus artistas.
As autoridades culturais do Peru, preocupadas com a sobrevivência, em boas
condições de integridade e visibilidade, de
todo o seu tesouro cuzquenho, iniciaram,
a partir da década de 80 do século XX,
um vasto programa de restauração dessas
obras. O esplêndido resultado dessa ação
meritória pode ser observado na publicação “Pintura en el Virreinato del Peru”. A
obra consta de ensaios de autores sulamericanos, espanhóis e americanos e
enfoca os diferentes momentos da evolução daquela pintura e o imenso trabalho
de fazer com que ela retornasse ao seu
esplendor original. Patrocinada pelo Banco de Crédito do Peru, essa ação garantiu
a permanência, em ótimas condições, do
mais rico e mais importante acervo de pintura colonial das Américas.
registrada dessa pintura é, também, a ornamentação profusa dos seus quadros, cujos
fundos são, quase sempre, ilustrados com
figuras relativas à fauna e à flora andinas, misturadas a estrelas, anjos e arcanjos.
A grande maioria dos trabalhos de pintura da escola cuzquenha pertence a autores cujo nome se ignora, dada a tradição
recebida dos povos pré-colombianos, cuja
arte era essencialmente comunitária, ritual
e anônima. Os historiadores dessa arte, no
entanto, ressaltam a importância de autores cuja obra revela forte influência
flamenga, como Diego Quispe Tito, de ori54
gem índia, que viveu e produziu no século
XVII, e seu contemporâneo, Juan Espinoza.
Eles são considerados os primeiros expoentes da escola e sua pintura influi decisivamente na pintura colonial, que aumenta,
paulatinamente, sua celebridade e demanda, gerando a criação de “ateliers” que rapidamente conhecem uma etapa de prosperidade e apogeu. Seja nas imagens piedosas,
seja nas paisagens, esse estilo pictórico oferece uma gama muito particular de valores
expressivos que combinam fantasia, misticismo, emoção e idealização de tipos, em
busca de uma beleza terrestre.
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ÁRIES: São José e a Virgem em busca de
pousada. Evangelho de São Lucas, capítulo 2.
(Detalhe).
Séc. XVII, circa 1681
Óleo sobre tela, 1,40m x 1,84m.
Catedral de Cuzco, Cuzco
O autor desse quadro, Diego Quispe Tito,
nasceu em Cuzco, em 1611, e é tido como
um dos expoentes da escola no século XVII.
É, sobretudo, famosa a série de quadros que
produziu relacionando os signos do Zodíaco
com os episódios da vida de Jesus Cristo,
como nesse óleo sobre tela que está na
catedral de sua cidade natal. As feições
quase ameríndias do santo patriarca e a
vegetação tropical do fundo do quadro
demonstram que a influência européia já
havia sofrido uma reinterpretação por parte
dos artistas da colônia.
CIDADANIA
De
vento
em
popa
Números comprovam sucesso do Mesa Brasil SESC
Principais Resultados do Programa
Mesa Brasil em 2005
14.700.095 kg de alimentos distribuídos
Atingida 123% da meta de 12.000.000 kg
riado com o desafio de combater a
fome e o desperdício de alimentos, o Programa Mesa Brasil SESC
transformou-se em um importante veículo no qual o SESC viabiliza ações sociais,
facilitando o engajamento de diversos setores nessa rede nacional de solidariedade
e cidadania. “O Mesa Brasil, além de complementar as refeições das instituições, atua
numa perspectiva de desenvolvimento comunitário, uma vez que propõe ações solidárias e socialmente responsáveis. É um
instrumento de transformação de comportamento e hábitos, em relação às empresas,
instituições sociais, voluntários e comunidade em geral”, diz o Coordenador do Programa Willian Dimas Bezerra.
E os números comprovam. Só em
2005, mais de 14 mil toneladas de alimentos foram distribuídas, duas mil ações
educativas realizadas e cerca de três mil
instituições beneficiadas.Tantos resultados
positivos fizeram do Programa uma referência nacional no cenário de bancos de
alimentos e, em 2004 foi iniciada a segunda fase do Programa, denominada “Fase
de Interiorização”. Neste momento, o
Mesa Brasil SESC expandiu suas atividades para as cidades do interior com potencial e infra-estrutura para o desenvolvimento de suas ações. Uma nova frente
de trabalho também foi priorizada pelo
C
495.741 pessoas atendidas por dia
2.547 empresas parceiras (doadores sistemáticos)
2.894 entidades assistidas permanentemente
2.109 ações educativas realizadas no ano
77.867 multiplicadores treinados nas ações
educativas no exercício
133.099.048 atendimentos
137 cidades
Principais metas para 2006
16.800.000 quilos de alimentos
distribuídos no ano
120.000.000 refeições
Atender 700.000 pessoas/dia
Atender a 170 cidades
Capacitar 80.000 multiplicadores que
atuam nas Instituições atendidas pelos
Programas nos Estados.
Mesa: os produtores rurais. E a estruturação de uma logística própria para arrecadação de alimentos no campo ajudou
a potencializar os resultados do Programa
em todo o país.
Parceira que dá certo
Em todos os estados, a parceria sempre foi uma das mais importantes estratégias do Mesa Brasil SESC. Mais de duas
mil empresas são parceiras do SESC e doadores sistemáticos do Programa. Graças
a uma grande mobilização o desafio de estar presente em todas as capitais brasileiras foi cumprido em apenas oito meses, o
que rendeu ao SESC o certificado de entidade parceira do Fome Zero, entregue pelo
Presidente Lula em outubro de 2003.
“Quando vejo uma entidade importante
como o SESC transformar experiências
regionais bem sucedidas de combate à
fome em uma tarefa nacional, fico mais
otimista do que quando saí de casa hoje de
manhã”, afirmou o Presidente na ocasião.
E as metas continuam ambiciosas: a expectativa para o biênio 2006/2007 é superar em 100% o resultado obtido em 2005.
Nesta perspectiva, para este ano propõe-se
alcançar o número de dezesseis milhões e
oitocentos mil quilos de alimentos.
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55
EXPORTAÇÃO
A importância do comércio para
a economia brasileira
O ideal é compatibilizar os mercados interno e externo, afirma Lúcia Maldonado
Considerada pelos especialistas
em comércio exterior como um
dos melhores quadros de que o
Brasil dispõe nessa área, a VicePresidente Executiva da Associação de Comércio Exterior do
Brasil – AEB, Lúcia Maldonado,
compareceu ao seminário promovido pela Federação das Câmaras de Comércio Exterior.
Antes de presidir a Sessão solene de abertura do Seminário
Bilateral Brasil-Peru, ela nos
concedeu uma entrevista em
que, além de tecer considerações técnicas sobre a situação
atual da nossa balança comercial, falou, também, de como é
atuar em um meio predominantemente masculino.
Estamos aqui, na Federação das Câmaras de Comércio Exterior, pouco antes de começarem os trabalhos do seminário dedicado ao investimento e ao comércio bilateral
Brasil-Peru. Uma leitura do programa, ou uma simples olhada no
plenário, faz constatar que se constitui de homens a grande maioria
dos participantes. A senhora é uma
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Vice-Presidente Executiva da AEB analisou a exportação de serviços para o Peru.
exceção nesse universo quase inteiramente masculino. Sente-se confortável?
LM – Não me sinto mais como uma exceção no meio ainda masculino do comércio exterior. Veja, por exemplo, quantas
estagiárias dos cursos de Economia, Administração e Relações Exteriores estão,
hoje, aqui. Além disso, outras mulheres,
cada vez mais, têm passado a fazer parte
desse universo, embora eu possa, reivindicar, como um certo privilégio, o fato de
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estar atuando nessa área desde o dia 19 de
fevereiro de 1973, data em que – eu ainda
era uma estagiária – começou a minha paixão pelo tema. Como se vê, foi mesmo
uma paixão, porque só um sentimento
assim tão forte justifica o fato de eu ter
guardado até mesmo o dia em que essa
relação começou. Outro privilégio é o de
jamais ter sofrido discriminação, constrangimento, ou qualquer outro tipo de impedimento para exercer plenamente o
meu trabalho, pelo fato de ser mulher.
Fale um pouco mais dessa paixão.
LM – Acho que ela começou quando eu
me deparei, pela primeira vez na vida,
com um enorme relatório estatístico da
CACEX, de mais de dez palmos de altura. Meu primeiro trabalho foi o de segmentar a pauta de exportação brasileira.
Eu não sabia, sequer, o que era FOB (a
expressão Free On Board, que significa que
o exportador deve entregar a mercadoria, desembaraçada, a bordo do navio indicado pelo importador, no porto de
embarque). Em 1982, já profissional,
passei a trabalhar na CACEX. Daí para
frente, a paixão só aumentou. Para mim,
o comércio exterior é como uma cachaça. Para se ter uma idéia da força desse
vício, confesso que, por duas vezes na
minha vida, tentei dar não exatamente
uma saída, mas uma pequena derivada,
só para provar a mim mesma que eu não
era uma economista que só entendia de
comércio exterior e de mais nada. Dediquei-me, então, por um breve tempo, à
área financeira, mas devo confessar que
foi apenas por um breve tempo, pois
morri de saudade e voltei rapidinho. Trabalhei muito, a vida inteira. Agora me
aposentei e faço o que eu amo.
Que tipo de atividade a senhora desenvolve em sua vida profissional,
atualmente?
LM – Sempre atuei na área de estudos
econômicos. Trabalhei na CACEX, no
setor de promoção comercial de exportação, que é uma coisa gostosíssima.
Todo mundo fala dos Encontros de Comércio Exterior – ENCOMEX, que
hoje são considerados como uma iniciativa de pleno sucesso. O próximo –
que vai ser o centésimo sexto - já está
programado para se realizar em Niterói.
Pois bem, no primeiro encontro, eu estava lá; sou mãe dessa realização tão bem
sucedida, cujo crescimento acompanhei
com atenção e carinho, e que me enche
de orgulho. Para mim, portanto, comércio exterior é um mundo fascinante. Ao longo do tempo eu fui me dedicando um pouco mais à área tributária
e, atualmente, na AEB, posso dizer que
faço de tudo.
Diz-se das mulheres que exercem
uma vida profissional que, em suas
vidas, ocorre uma dupla jornada
de trabalho, pois, ao chegarem em
casa, sempre há muito o que fazer.
É o seu caso?
LM – Minha jornada é tripla. Primeiro
porque adoro cozinhar; sou apaixonada
por culinária. Não é raro que eu chegue
em casa e vá para a cozinha preparar alguma coisa para incrementar o jantar. Agora,
estou tentando entender um pouco de vinhos, que é outra aventura fascinante.
Como você vê, nem todas as jornadas duplas ou triplas são, assim, tão trágicas como
se apregoa.
“
Brasil e Peru tem papel
fundamental a desempenhar
na integração da
América Latina
”
LÚCIA MALDONADON
Quais são as suas expectativas em relação ao nosso seminário, que vai
examinar as relações comerciais e
financeiras entre o Brasil e o Peru?
LM – Este seminário tem características
bastante interessantes. O Peru, nosso vizinho de América Latina, sempre foi um
parceiro tradicional do Brasil. Em 2005, o
Peru foi o vigésimo mercado mais importante para as exportações brasileiras. Se
levarmos em conta que, no ano anterior,
ele estava colocado em trigésimo segundo lugar, vamos verificar que houve um
grande crescimento, da ordem de 48%,
em apenas um ano. Não ocorreu, apenas,
o crescimento das exportações brasileiras para lá: em 2005, o Peru era o nosso
trigésimo segundo mercado fornecedor
e, no mesmo período de um ano, deu um
grande salto e passou a ser o trigésimo,
tendo as suas vendas para o Brasil crescido 30%. Essa balança comercial vai ser
objeto de nossa análise durante o seminário, mas já podemos destacar, aqui, a crescente importância que vem assumindo o
setor de exportação de serviços para o
Peru. É uma estrada que vem sendo
construída, mas que já tem alguma
expressividade, pois, como se sabe, no
mundo, exportação de serviços já é uma
realidade, mas, no Brasil, ainda é uma expectativa, uma aspiração para o futuro.
A eleição de um novo presidente da
república, no Peru, pode, de alguma forma, alterar as relações comerciais entre os dois países?
LM – Não acredito. O povo e as autoridades peruanas têm demonstrado sempre
uma perfeita consciência do papel que o
Peru deve desempenhar na integração latino-americana, da qual, naturalmente, o
Brasil, por seu tamanho e pujança econômica, é parte muito importante. Aliás, na
campanha eleitoral, bastante acirrada, os
candidatos não têm hostilizado o nosso país,
e acredito que não haverá surpresas na política externa peruana.
Seu conhecimento da realidade peruana, além de acadêmico e estatístico inclui uma visita ao país. Conte-nos um pouco.
LM – Eu visitei o Peru, que é um país
lindo. Machu Picchu é um deslumbramento e a riqueza da arte cuzquenha é impossível de avaliar e descrever. Uma região magnífica, da qual pouco se fala, é a
do litoral do Pacífico. E a comida? Fantástica! Adoro o ceviche, que é uma delícia;
um peixe curtido no limão, com especiarias. Um manjar dos deuses! Há, também,
como em toda a América Latina, uma infinidade de delícias à base de milho; enfim, o país tem uma culinária rica, diversificada e deliciosa.
Espectadora privilegiada que sempre é e, muitas vezes, como agora,
parte integrante dos trabalhos de
nossos seminários, como avalia essa
série de encontros bilaterais?
LM – Bom, em primeiro lugar, gostaria
de registrar o absoluto sucesso desse um
ano de atividades em que estivemos sempre juntos, passando em revista as relações comercias brasileiras com tantos países do mundo. Acredito que, em termos
de resultados, não devemos ser ansiosos,
nem precipitados. Não devemos esperar
por resultados imediatos, pois, a meu ver,
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
57
EXPORTAÇÃO
o importante é chamar a atenção para determinados aspectos. Temos visto muita
gente nesses seminários promovidos pela
Federação das Câmaras de Comércio Exterior, que nem de longe suspeitava do
potencial de comércio de alguns países
em relação ao Brasil, seja quanto à exportação ou à importação. Essa série de encontros foi, portanto, de grande importância, até mesmo para desmistificar algumas dessas idéias. Eu ainda espero bastante dos que serão realizados até o final do
ano. Pessoalmente, posso garantir que estarei aqui, atenta e disposta a aprender
sempre mais sobre o meu adorado campo do comércio exterior.
Uma mensagem final aos nossos leitores.
LM – Gostaria de reiterar o quanto o comércio exterior é extremamente importante para nossa conjuntura. Não posso,
também, deixar de mencionar que estamos atravessando um momento extremamente delicado, e que é preciso rever essa
situação, sobretudo no que toca à valorização do real. A receita, a meu ver, não
passa pela desvalorização, pois câmbio é
uma coisa muito delicada, em que não se
pode mexer de uma hora para a outra.
Prefiro, portanto, propor que se adotem
medidas para compensar essa valorização
do real. Algumas delas, embora ainda não
tenham sido adotadas, já estão sendo cogitadas pelo governo, como é o caso da
utilização dos recursos do Fundo de Apoio
ao Trabalhador – FAT, para fornecer capital de giro àqueles setores que foram mais
atingidos e perderam bastante competitividade. O próprio Ministro Guido Mantega já mencionou que as grandes empresas, os expoentes do nosso comércio exterior, como a Petrobrás e a Vale do Rio
Doce, por exemplo, poderiam trabalhar
com compensação cambial, ou seja, elas
não precisariam trazer as divisas, porque,
cada vez que entram dólares em nosso país,
a relação e a taxa caem. Essas megaempresas trazem muitos dólares, porque são
obrigadas a isso pela legislação atual. Isso,
sem falar das entradas que são promovidas pelo capital especulativo. A compensação cambial ajudaria um pouco a
58
minimizar essa crise, porque, como se
sabe, ainda existem uma série de barreiras
internas ao nosso comércio exterior: um
sistema tributário muito ruim, a maior taxação do mundo civilizado e uma burocracia inenarrável e cujo custo, muitas vezes,
ultrapassa até o do tributo. Diz-se que as
exportações, hoje, estão desoneradas, mas
isso virou uma falácia. As empresas estão
carregando créditos tributários, principalmente na área do semi-árido. Ora, toda vez
que o governo não os devolve, está tirando
capital de giro. O que é importante ressaltar, a toda hora, é que o comércio exterior,
nesses últimos três anos, tem dado uma
segurada firme na economia brasileira. Deu
mesmo “A César o que é de César”. Pode
ser a conjuntura, o alinhamento favorável
dos astros, o que for, mas temos que convir que deu certo e foi isso que segurou o
emprego. O problema é que, como não
havia um mercado interno bem desenvolvido, e como as taxas de juros estavam estratosféricas, onde é que as empresas foram
buscar compensação? No mercado externo. Ora, se matarmos nossa galinha dos
ovos de ouro, haverá uma repercussão nefasta sobre o emprego do brasileiro. Atenção: vamos continuar dando emprego para
o nosso povo!
Desburocratização do comércio
exterior é um caminho sem volta
Gerente de Comércio Exterior do Banco do Brasil, Rogério Fernando Lot
foi o moderador do painel I do Seminário Bilateral de Comércio Exterior e
Investimentos Brasil-Peru. Seu conhecimento dos meandros da exportação
e da importação permite-lhe esclarecer aos nossos leitores algo dessa sistemática, que já foi bem mais complicada e, agora, caminha decisivamente
para a desburocratização e a simplicidade, com ganhos em eficiência e
lucratividade. Sua entrevista é marcada pelo otimismo em relação ao futuro
do nosso comércio exterior e pelo papel crescente que nele desempenha o
Banco do Brasil.
Que resultados o senhor espera do
Seminário Bilateral de Comércio
Exterior e Investimentos BrasilPeru?
RFL – Esses seminários promovidos pela
Federação das Câmaras de Comércio Exterior têm demonstrado ser um instrumento muito eficaz para a discussão da
relação comercial entre o Brasil e os diversos países que são nossos parceiros.
Tenho acompanhado com muita atenção
a sucessão dessas discussões, país por país.
Pude constatar que o alto nível das apre-
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
sentações que são realizadas traz à tona
importantes questões que, principalmente para pessoas como eu que trabalham
nessa área, permitem identificar os obstáculos ao incremento das relações com as
diferentes nações do mundo com que realizamos transações comerciais. Acredito,
portanto, que também essa experiência
que estamos tendo, agora, com o Peru
será muito positiva e que, por meio das
palavras dos expositores brasileiros e peruanos, possamos diagnosticar e resolver
os eventuais problemas que afligem a re-
lação comercial com esse nosso vizinho e
amigo sul-americano, com quem devemos operar em perfeita sincronia.
A integração dos países latino-americanos tem sido um sonho muito
perseguido e igualmente ameaçado. Como o senhor avalia os recentes movimentos políticos ocorridos
na América Latina?
RFL – Confesso que tenho visto com uma
certa preocupação os recentes movimentos políticos que têm ocorrido na América Latina. O mais importante, até então, é
que toda atividade e todo o trabalho que
vinham sendo desenvolvidos pelos diversos países do continente tinham como
base um plano de integração regional da
América do Sul. Isso independia de governos, de partidos políticos, ideologias
ou facções, porque visava ao bem estar
comunitário das populações – principalmente das populações que não tinham
acesso às condições econômicas mais positivas em nosso continente – e estava acima das convicções políticas de a, b, ou c.
Daí a minha preocupação. Eu gostaria realmente de acreditar que movimentos políticos desse gênero não abalassem esse projeto que visa a integrar toda a infra-estrutura continental, com a criação de corredores de exportação e de progresso para comunidades.
Que papel vem desempenhando o
Banco do Brasil no nosso comércio
exterior?
RFL – A atuação internacional do Banco
do Brasil, digamos assim, confunde-se
com a atuação internacional de um banco
na América Latina. Nossa primeira agência fora do país, no continente, foi a de
Assunção, no Paraguai. Hoje, no Peru, temos um escritório de representação em
Lima que é um dos mais atuantes de toda
a nossa gama de operações. Ele tem participado fortemente de todas essas operações de financiamento aos investimentos
que visam à integração da América do Sul.
Tem atuado fortemente no que diz respeito à concessão de crédito por parte do
governo brasileiro ao governo peruano,
para a construção dos famosos corredo-
Rogério Fernando Lot: “corredores de exportação e de progresso para a América Latina”.
res de exportação. Essas iniciativas envolvem tanto o Projeto Intermodal do Amazonas, quanto o chamado Projeto Bioceânico, que pretende facilitar o acesso de
bens brasileiros ao Pacífico e de peruanos
ao Atlântico.
O Banco do Brasil tem uma presença
muito forte em nosso comércio exterior
e não atua apenas no apoio ao exportador
brasileiro. Consegue, também, atuar junto ao importador brasileiro, ou seja, ajudando a exportação de países estrangeiros. Torna-se, portanto, fundamental que
os importadores brasileiros passem a conhecer os mecanismos de apoio de que
podem vir a dispor, para que, por exemplo, importem produtos peruanos. Dispomos de escritório em Lima e conhecemos localmente os empresários do país e
suas melhores opções de crédito e financiamento. Assim, podemos, também, oferecer nossas instalações físicas aos empresários brasileiros, para que possam desenvolver negociações comerciais. O banco
tem feito um bom trabalho e estou muito
satisfeito, pois é evidente que nós temos
um papel preponderante nesse grande
crescimento do comércio exterior do
país. O que não quer dizer, é claro, que
não haja, ainda, muito por fazer. Estamos
trabalhando.
O Banco do Brasil tem atuado na
conscientização do empresário brasileiro sobre as vantagens de exportar seus produtos, ou age apenas
quando essas exportações já estão
consumadas?
RFL – Muito boa pergunta. O grande desafio, atualmente, para todos os órgãos de
governo e para todos os órgãos formadores de opinião, como, por exemplo, a Federação das Câmaras de Comércio Exterior que hoje nos acolhe, é o de mostrar
esse potencial de crescimento. Por isso, o
banco tem-se esforçado no sentido de demonstrar às empresas brasileiras, por meio
de treinamento – eu diria mesmo que o
banco tem “pegado as empresas pela mão”
– o que é câmbio; o que é comércio exterior; que linhas são mais convenientes; se o
produto está adequado, se não está; se a
embalagem satisfaz;, se o produto se encaixa nas necessidades do país a que pretende
ser exportado, ou se convém escolher um
outro mais receptivo.
Todo esse trabalho de formação e de
preparação para atuar no comércio exterior é uma das atividades básicas e fundamentais que o Banco do Brasil tem desenvolvido. Eu queria mesmo fazer um reconhecimento, aqui, de público, à Federação das
Câmaras de Comércio Exterior, na pessoa
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
59
EXPORTAÇÃO
do nosso Presidente João Augusto de Souza Lima. Aos seminários são, também,
convidados estudantes para participarem
desses fóruns de debates. Isso é que é formação, e só assim teremos uma cultura de
exportação contínua em nosso país e o comércio exterior deixará de ser uma pauta
esporádica nas preocupações das nossas
empresas. Parabéns, portanto, ao Presidente Souza Lima por essa iniciativa tão lúcida e patriótica.
“
O Banco do Brasil financia
corredores de exportação
para levar bens brasileiros
ao Pacífico e peruanos
ao Atlântico
ROGÉRIO
”
FERNANDO
LOTN
O que no comércio exterior mais
assusta nossos empresários e potenciais exportadores: a burocracia, a
insegurança quanto ao retorno, ou
a sedução do mercado interno, que
é mais próximo e poderia parecer
bem mais seguro?
RFL – A resposta a essa pergunta é complexa e envolve uma soma de fatores. Primeiramente, eu acredito, no que toca à
pequena e média empresa – não vou falar das mega-empresas, em que a cultura
exportadora já está introjetada – que o
principal gargalo é representado pelo
desconhecimento, ou seja, elas não conhecem os trâmites. Não conseguiram,
até agora, receber a massa de informações necessárias para adquirir tranqüilidade em seu processo de exportação.
Isso ocorre não apenas por culpa do
empresário, mas também indica um desconhecimento por parte dos órgãos reguladores. Por exemplo: a questão tributária é muito complexa e exige das
empresas um grau de aprofundamento
que lhes permita conhecer a legislação
relativa à exportação, o que se constitui
em um problema que está muito acima
do dia-a-dia dessas empresas. Reconheço, também, que as empresas, muitas
vezes, desconhecem até mesmo as linhas
de financiamento de que podem dispor.
Ora, é, então, papel do Banco do Brasil e
60
dos demais agentes financeiros estar presentes, constantemente, em eventos
como este, no sentido de dar divulgação
e transparência a todas as possibilidades
de financiamento. Espera-se que as empresas tenham um custo financeiro cada
vez menor e, principalmente, aumentem
sua competitividade. Devemos reconhecer que ocorre, também, o desconhecimento do empresário, que deve buscar,
junto ao Sebrae, as melhores formas de
gestão. Deve, também, reivindicar ao
Banco do Brasil o treinamento adequado
para entender o mercado externo e seus
meandros de acesso. Torna-se nítido que,
quando a empresa compreende essa
soma de fatores, ela obtém um enorme
ganho de produtividade. Ela passa a dispor de uma alavancagem de negócios que
resulta em um ganho de faturamento e
compensa o esforço realizado. A experiência nos diz que todas as empresas que
executaram bem esse dever de casa obtiveram crescimento e lucratividade.
Esse boom de crescimento das exportações brasileiras, ocorrido de alguns anos para cá, ameaça, de alguma forma, o abastecimento do nosso mercado interno? Chegaremos à
situação dos noruegueses, de quem
se diz que não comem bacalhau, só
o exportam?
RFL – Não. O mercado interno brasileiro
é muito grande e temos um PIB em torno
de US$ 700 a 800 milhões, o que representa um mercado muito forte. Não acredito que estejamos nem perto de qualquer risco de desabastecimento. Isso poderá ocorrer com um ou outro produto
sazonal, o que vem a ser uma questão de
característica pontual.
Há casos como o do etanol e do açúcar,
por exemplo, cujos estoques devem ser
uma preocupação do governo e de seus
agentes, mas não há nada que ameace o
suprimento de nosso mercado interno.
Não vejo isso como uma preocupação e
acho que o que as empresas devem fazer é
o inverso, ou seja, não achar que só porque o mercado interno melhorou um
pouco elas devem deixar de exportar.
Deve fazer parte do planejamento das
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empresas o fato de que elas irão exportar
uma fatia de sua produção. Assim, elas vão
compor melhor os seus custos; vão diminuir seu custo unitário; vão ter melhor
percepção de seus fluxos de caixa e, se o
mercado interno melhorar, elas devem
aumentar sua produção dirigida a esse mercado, sem deixar de cumprir seus compromissos com a exportação. O ideal é
que aprendam a compatibilizar os mercados interno e externo.
O Banco do Brasil tem agido no sentido de promover a desburocratização das exportações? Ficou mais
fácil exportar, de uns tempos para
cá? Por quê?
RFL – Estamos desburocratizando, sim.
Acho que esse é um movimento sem volta. O Banco do Brasil tem apostado muito em soluções que passam diretamente
pela internet, o que facilita bastante o trabalho, pois chega-se a todos os exportadores e a empresas de qualquer nível.
Além disso, o próprio exportador interage melhor e mais diretamente; passa a
fazer cotações sem intermediação e pode
fechar negócios pela internet. O banco
“
Desburocratizar significa,
entre outras coisas, fazer
cotações sem intermediação
e fechar negócios
pela internet
ROGÉRIO
”
FERNANDO
LOTN
agregou agora a assinatura eletrônica, o
que permite ao exportador cotar; fechar
o negócio; enviar os documentos necessários digitalmente, via fax, e-mail, ou
scanner; assinar do seu próprio escritório, digitando sua senha com toda a segurança – isso é criptografado e reconhecido por todas as entidades. Assim, ele recebe seu dinheiro sem precisar se envolver com aqueles trâmites kafkianos
da burocracia de antigamente. Ou seja,
esse é um processo sem volta, que já adotamos na exportação e está em vias de ser
implementado nas importações. Nossa
meta é a de chegar ao maior número de
exportadores, e ao menor custo.
GASTRONOMIA
Ceviche
viche
A maravilha suprema de uma culinária rica e variada
variada
Se você gosta de comer bem,
nem sempre precisa ir a Paris.
Do outro lado dos Andes,
o Peru oferece uma gastronomia
de primeira ordem.
A
escola de culinária francesa Cordon Bleu, a mais
prestigiada em todo o mundo, escolheu o Peru para
estabelecer sua sede na América do Sul. Surpresa? Só
para quem não conhece a gastronomia peruana, cujo
requinte e diversidade surpreendem agradavelmente os visitantes desavisados, principalmente aqueles que, erroneamente, pensam que toda a cozinha da América de língua espanhola se resume aos chillis e às apimentadas tortillas, típicas do México e dos
países da América Central.
Ao contrário do que ocorre em muitos dos famosos centros
gastronômicos internacionais – como Nova Iorque – onde, para
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
61
GASTRONOMIA
comer bem, é preciso recorrer aos grandes restaurantes, em Lima se
come bem em qualquer parte: nos restaurantes típicos de
comida criolla do
Sul do país; nas
cebicherias populares, que se dedicam
aos frutos do mar; nas
chifas, que são restaurantes de comida chinesa;
ou nas parrilladas, onde se preparam assados à vista do cliente, importadas
da Argentina.
A ave que ensinou
os peruanos a cozinhar
Diz a lenda que o
Chiwake, pássaro
mitológico da cultura
nazca, representado no vaso acima, foi
quem ensinou aos peruanos a arte de
escolher os ingredientes e de combinar
aromas e sabores para produzir uma
culinária “dos deuses”.
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Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
Em todas as principais mitologias da
história existe a figura do “mensageiro dos
deuses”. São importantes personagens do
mundo mágico que têm, quase sempre,
características similares: são seres simpáticos, “do bem”, que possuem desenvolvido senso social e são extrovertidos e sensíveis. Essas qualidades tornam-nos
confiáveis tanto aos deuses quanto aos homens que habitam a Terra. O exemplo mais
significativo no universo mítico do Ocidente é o do deus Hermes, da mitologia
grega. Filho de Zeus e da náiade Maia, desde o seu nascimento, no cume da montanha Cilino, na Arcádia, deu sinais de
criatividade e empatia, tendo sido o inventor da lira, com que deleitava a todos os
que o escutavam. Além disso, valendo-se
de seu dom de adivinhação, ajudava a todos com sagacidade e prudência, ensinando ofícios e saberes relacionados à agricultura. Sendo um dos filhos prediletos
do deus supremo, a missão de Hermes
como interlocutor oficial entre os deuses
e os homens realizou-se à perfeição.
Na mitologia peruana ocorrem algumas diferenças substantivas no que diz respeito ao mensageiro dos deuses. Embora
não lhe faltem também loquacidade, simpatia e inteligência, esse mensageiro não
assume uma forma humana, mas é uma
ave – de nome Chiwake – mais exatamente um colibri, marcado, ainda, por ligeiros
toques de um estilo bem pessoal. Sua le-
genda remonta à região de Nazca, ao Sul
do Peru e tem cerca de 2500 anos de tradição oral. Conta-se que, em uma manhã
de forte inverno, quando os deuses estavam formando o antigo Peru, resolveram
atender ao pedido de seus habitantes, que
solicitavam maior quantidade e qualidade
de alimentos. Os Deuses lhes enviaram,
por intermédio de Chiwake (o mensageiro dos deuses) um caldeirão mágico de
onde sairiam as sopas mais deliciosas já
preparadas. Chiwake, no entanto, era travesso e brincalhão e, no caminho, perdeu
esse presente tão precioso.
Cheio de remorsos pelo seu descuido, a ave apresentou-se diante dos
homens e lhes disse que os
deuses queriam que eles
mesmos preparassem
seus alimentos. Ensinou-lhes, então, como
escolher os ingredientes, como combinar os
sabores e aromas de
mil maneiras diferentes
e como apresentá-los
com a devida harmonia. Foi
assim que os peruanos aprenderam a cozinhar com a mesma
arte e a mesma tecnologia dos deuses. Essa seria a explicação para a excelência da gastronomia peruana, que seria,
afinal de contas, uma arte dos deuses...
quase se cozinha graças ä ação cáustica do
tempero e do azedume da laranja”.
Como se vê, não é um prato dos mais
antigos da culinária do país e remonta não
aos primeiros tempos da conquista espanhola, como se pensava até pouco tempo,
mas às guerras da independência, no século XIX, ao contrário de outros famosos
e intraduzíveis acepipes dos tempos coloniais, como a carapulca – um ensopado de
batatas, às vezes desidratadas –, o locro –
um guisado de papas, carne e milho; o chupe de camarões - um caldo a que se acrescenta leite, grãos de milho, pedaços de
batata e de queijo; e as inúmeras variantes
de pratos à base de charque. Atribui-se a
descoberta do ceviche aos soldados republicanos, que teriam trazido a iguaria, do
Norte do país, às tendas onde se vendia
comida, em Lima.
Alguns gastrônomos, equivocadamente, tentam atribuir a invenção do ceviche
O ceviche, prato mais
importante da rica e
diversificada culinária
peruana, segundo alguns
gastrônomos, tem origem
na cultura moche e assume
novo paladar ao incorporar
o limão, trazido pelos
colonizadores espanhóis.
ao povo Moche, que habitava o Norte peruano, alegando que há inúmeros registros de que esse povo se alimentava
freqüentemente com pescado cru. Esquecem-se de que o peixe cru ainda não é
ceviche, pois falta-lhe importante componente, que é o limão ( ou a laranja muito
azeda), frutos que não existiam na América e, como todos os cítricos, foram trazidos pelos colonizadores espanhóis e portugueses, provavelmente do cabo africano de Ceuta, e eram utilizados nas viagens
transoceânicas, como preventivos do terrível escorbuto. Certamente, algum iluminado pescador indígena do litoral Nor-
Ceviche, o prato nacional
A abundância do pescado na costa peruana teria, forçosamente, que levar a essa
direção a gastronomia do país. Além disso, o Peru não possui as vastas extensões
planas onde, na Argentina e no Sul do Brasil, criam-se bovinos. Entre todos os pratos oriundos do generoso mar do Pacífico, o ceviche é a iguaria mais famosa e que
é reconhecido por cerca de 70% da população como seu prato mais representativo. O primeiro cronista a falar dele, em
1867, foi Manuel Atanásio Fuentes, que
disse: “Consiste de pedaços miúdos de
pescado ou de camarões que se deixam
curtir em sumo de limões ou laranjas azedas, com muita pimenta e muito sal. Conservam-se, assim, por algumas horas, até
que o pescado se impregna da pimenta, e
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63
GASTRONOMIA
te peruano aplicou sobre seu habitual peixe
cru o caldo do limão ou da laranja – talvez
para impedir que o pescado se estragasse
sob o clima muito quente da região – e
inventou a iguaria, já com seus ingredientes básicos: peixe ou camarão, sumo de
limão ou laranja, pimenta e sal.
Se existe uma receita básica, incrementada ou não com centenas de outros molhos e temperos, há muitas controvérsias
quanto à origem da palavra ceviche. Há
quem diga que provém do espanhol cebo ,
que significa isca, atribuindo-lhe, portanto, uma origem ligada à pesca. Para outros, deriva do quíchua sipich, cuja tradu-
ção estaria bem próxima do que chamamos atualmente de marinado. Até mesmo
já se aventurou que o ceviche, em verdade,
não passa de uma corruptela dos vocábulos ingleses sea beach . Talvez, por causa de
tanta polêmica, a Real Academia Espanhola, que é tão ciosa da pureza do idioma
castelhano, resolveu aceitar e registrar em
seu vocabulário variadas formas de se
grafar o quitute: cebiche, seviche, ceviche,
ou sebiche.
Controvérsias filológicas à parte, o
ceviche é mesmo o prato mais importante
da rica e diversificada culinária peruana.
Receita fácil de ser feita em casa, não tem
muitos mistérios, requerendo, apenas, um
peixe de carne consistente e que não recenda a maresia, e uma boa mão na administração da pimenta e do sal. Para quem
achar que melhor mesmo será deixar o
preparo do prato para as experientes mãos
do povo que o inventou, a solução, no Rio
de Janeiro, pode ser prová-lo no único
restaurante inteiramente dedicado à comida típica peruana da cidade, o Intihuasi,
que fica na Rua Barão do Flamengo, 35D.
Quanto ao acompanhamento, a pedida é preceder os generosos pedaços do
petisco com goles da puríssima bebida
nacional, o pisco, uma aguardente de
uvas fermentadas que pode ser tomada
como aperitivo; ou, no decorrer da refeição, degustá-los intercalados com doses do pisco sour – considerada a bebida
nacional peruana – e que tem em sua fórmula, o pisco, como base, a que se acrescentam limão, xarope de goma, clara de
ovo, angostura e gelo.
Pisco Sour tradicional
Ingredientes:
02 doses de pisco puro
02 doses de suco de limão
01 dose de xarope
01 clara de ovo
Gelo
Angostura
Modo de Fazer:
Prepara-se o Pisco Sour colocando as
claras de ovo no liquidificador e
batendo bastante. Quando as claras
já estiverem bem batidas, adicione o
gelo até cobrir a metade do copo do
liquidificador. Depois, bata novamente
para remover um pouco e adicione o
resto dos ingredientes, exceto a
angostura, batendo até que o gelo se
desmanche. Se for necessário,
adicione um pouco de água ou corrija
a quantidade de pisco, de acordo com
o seu gosto.
Na hora de servir, coloque por cima de
cada copo três gotas de angostura
64
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
RELAÇÕES BILATERAIS
A partir do ano de 2001, a corrente de comércio peruana vem
crescendo cerca de 20% ao ano, sendo que as exportações têm
aumentado de forma mais vigorosa do que as importações.
Comércio Exterior do Peru
ARTIGO ELABORADO PELA EQUIPE
DO DEPARTAMENTO DE
PLANEJAMENTO
E DESENVOLVIMENTO DO
COMÉRCIOEXTERIOR
Evolução da balança comercial do Peru
1995 a 2005 – US$ bilhões
18.000
16.000
Exportação
DA SECRETARIA DE COMÉRCIO
14.000
E XTERIOR DO MDIC
12.000
Em 2001, o Peru possuía uma corrente de comércio de apenas US$ 14,3
bilhões e um déficit de US$ 303 milhões.
A partir desse ano, o comércio externo
peruano apresentou aumentos constantes a uma taxa média de 20,4% ao ano.
Em 2005, a soma das importações e exportações peruanas contabilizou US$
29,7 bilhões, mais que o dobro da
alcançada em 2001.
No período citado, as exportações do
Peru cresceram de forma mais vigorosa
do que as importações. O movimento
gerou um saldo de US$ 4,7 bilhões em
2005. Esse saldo foi resultado de exportações de US$ 17,2 bilhões, 36,4% acima
do alcançado em 2004, e importações de
US$ 12,5 bilhões, crescimento de 23,8%
sobre o ano anterior.
Em 2005, com uma participação de
0,2% nas exportações mundiais, o Peru
foi o 61º maior exportador mundial. No
mesmo ano, a participação das importações peruanas nas compras mundiais foi
de 0,1%, colocando o País como o 68º
maior importador mundial.
Os minérios (cobre, molibdênio, zinco, chumbo, ferro dentre outros) foram
os principais produtos exportados pelo
Peru, com uma participação de 22,6% no.
O segundo produto mais exportado pelo
país foram os metais preciosos (ouro e
prata), pedras preciosas e jóias, com 20,2%
Saldo
Importação
10.000
8.000
6.000
4.000
2.000
0
-2.000
-4.000
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Fonte: OMC
Exportações do Peru
Principais produtos – 2005 – participação %
Fonte: Global Trade Atlas
Metais e pedras preciosas
20,2%
Cobre e suas obras
12,6%
12,6
%
Minérios
22,6%
Combustíveis
minerais
9,1%
Desperdícios e
resíduos alimentícios
7,0%
Demais produtos
20,5%
Vestuário 5,7%
Especiarias, café e chá 2,4%
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
65
RELAÇÕES BILATERAIS
Importações do Peru
Importações do Peru
Principais produtos – 2005 – participação %
Principais países fornecedores – 2005 – participação %
Maquinaria
elétrica
9,0%
Plástico
6,2%
Máquinas e
equipamentos
13,6%
20,0
Veículos
automóveis
5,3%
18,0
Cereais
4,0%
Ferro e aço
3,4%
Fonte: Global Trade Atlas
17,7
16,0
14,0
12,0
10,0
8,5
8,2
7,3
8,0
Combustíveis
minerais
19,8%
6,2
5,8
6,0
Demais
produtos
38,8%
4,9
4,2
3,6
4,0
3,2
2,0
Fonte: Global Trade Atlas
ha
o
Alem
an
Jap
ã
Ven
ezu
ela
Chil
e
tina
ia
35,0
Fonte: Global Trade Atlas
30,4
30,0
25,0
20,0
15,0
10,9
10,0
6,6
6,0
4,6
5,0
3,6
3,3
3,1
3,0
2,7
sil
a
Alem
Bra
anh
s
aixo
es B
a
anh
País
Esp
ão
Jap
a
Suiç
adá
Can
e
Chil
a
Chin
ado
r
0,0
Participação do Brasil no comércio exterior do Peru
2000 a 2005
Fonte: MDIC/SECEX e OMC
2,7%
2,8%
2,8%
2,6%
3,0%
3,3%
7,5%
5,8%
5,8%
2002
2003
6,2%
4,8%
3,9%
2001
Importação do Peru
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
mb
Colô
Principais países de destino – 2005 – participação %
2000
66
Arge
n
do r
Bra
Equ
a
sil
a
Exportações do Peru
Equ
do total, seguido de cobre e artigos de cobre, 12,6% do total;
combustíveis minerais, 9,1% do total; e resíduos alimentícios,
participação 7,0%.
Em 2005, 20,0% das compras peruanas foram de combustíveis minerais. Os demais principais produtos importados pelo
país foram: máquinas e equipamentos mecânicos (participação
de 13,6% no total), máquinas e equipamentos elétricos (9,0%
do total), artigos de plástico (6,2%), veículos automotores (5,3%)
e cereais (4,0%).
O maior mercado de origem das importações peruanas são
os Estados Unidos. Em 2005, o país foi responsável por 17,7%
das compras do Peru, somando US$ 2,2 bilhões. O segundo
maior fornecedor é a China, com um total de US$ 1,1 bilhão
em exportações ao Peru. O Brasil está em terceiro e vendeu
US$ 933 milhões ao País. Em seguida, estão: Equador – responsável por US$ 914 milhões das compras peruanas, Colômbia – US$ 773 milhões, Argentina – US$ 724 milhões – e Chile
– US$ 616 milhões.
As exportações do Peru destinam-se, principalmente ao Equador – 30,4% do total somando US$ 5,2 bilhões. Em seguida
estão: China – US$ 1,9 bilhão, Chile – US$ 1,1 bilhão, Canadá –
US$ 1,0 bilhão – e Suíça US$ 786 milhões. O Brasil foi o décimo
maior mercado de destino das exportações do Peru, totalizando
US$ 458 milhões.
A participação das exportações brasileiras nas compras peruanas evoluiu significativamente nos últimos anos. Em 2000, o
Brasil tinha sido responsável por 4,8% das importações do país.
No ano de 2005, essa participação foi de 7,5%.
Quanto às exportações peruanas, o Brasil foi destino de 2,7%
das vendas do país no último ano. Em 2001, havia participado
com 3,3% do total das vendas do país.
Chin
E
Uni stados
dos
0,0
2004
Exportação do Peru
2005
Intercâmbio comercial entre Brasil e Peru – 2005
As vendas brasileiras para o mercado peruano cresceram subsIntercâmbio comercial Brasil/Peru
tantivamente no comparativo 2005/2004. No ano de 2004, o Brasil
2005/ 2004 – US$ milhões FOB
exportou o equivalente a US$ 631 milhões, no ano seguinte foram
Fonte: MDIC/SECEX
US$ 933 milhões, um aumento relativo de 47,9%. O crescimento
Variação % 2004/2005:
1.391
Exportação: 47,9%
das exportações para o Peru foi muito superior ao aumento do total
Importação: 31,2%
Corrente de comércio: 41,9%
das vendas brasileiras, proporcionando uma evolução, de 0,7% para
0,8%, na participação peruana nas exportações nacionais.
980
933
A importação brasileira de produtos peruanos também cresceu de forma significativa no comparativo 2005/2004. Esse au631
mento foi de 31,2%, de US$ 349 milhões, em 2004, para US$
475
458
458 milhões, em 2005. Entretanto, na participação do Peru nas
349
compras nacionais permaneceu estável em 0,6%.
282
O saldo comercial bilateral, historicamente favorável ao Brasil, foi de US$ 475 milhões em 2005, em termos relativos, ocorreu um aumento de 68,4%.
Saldo
Corrente de
Exportação
Importação
Comércio
Em 2005, ocorreu pela primeira vez a superação da marca de
2005
2006
US$ 1 bilhão no comércio bilateral, chegando a registrar US$ 1,4
bilhão. Esse total representa uma expansão de 41,9% em relação ao alcançado no
Evolução do intercâmbio comercial Brasil/Peru
ano anterior, de US$ 980 milhões.
1996/2005 – US$ milhões FOB
O crescimento da corrente de comércio
1.000
entre Brasil e Peru coincide com o período
Saldo Comercial
Exportação
Importação
de crescimento mais significativo das expor900
tações e importações peruanas, ou seja, 2000
a 2005. Em 2000, o Brasil vendeu apenas
800
US$ 353 milhões ao país, em 2005, essa
700
soma foi quase o triplo, US$ 933 milhões.
O saldo comercial que havia sido de US$
600
141 milhões, favorável ao Brasil, em 2000,
500
foi de US$ 475 milhões no último ano.
O aumento mais acentuado das expor400
tações destinadas ao Peru, em relação ao
total das exportações nacionais, propor300
cionou uma melhor colocação do País no
200
ranking de mercados compradores de
produtos brasileiros. Em 2004, o Peru foi
100
o 30º maior destino das vendas nacionais,
0
no ano seguinte, foi o 27º.
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Na ALADI – Associação Latino-ameFonte: MDIC/SECEX
ricana de Desenvolvimento e Integração,
exclusive países integrantes do Mercosul,
o Peru é o 5º maior comprador de produtos brasileiros, repreEm 2005, as exportações brasileiras destinadas ao mercado
sentando 6,8% das vendas a região, de US$ 13,7 bilhões em
peruano foram compostas por 84,2% de produtos industriali2005. O país está atrás de México, Chile, Venezuela e Colômbia.
zados e 14,3% de básicos. O grupo de produto que mais cresNas importações totais do Brasil, o Peru se posiciona como o
ceu, no comparativo 2005/2004, foi o de itens básicos, au32º maior mercado de origem, duas posições acima da que ocumento de 125,2%, atingindo a cifra de US$ 133 milhões. Em
pou em 2004 (34º). Na ALADI, exclusive Mercosul, o País ocuseguida vêm os manufaturados, com um crescimento de 38,7%
pa a 4ª colocação e responde por 10,1% das compras efetuadas à
para um total de US$ 771 milhões. Os produtos semimaregião, de US$ 4,5 bilhões. O maior fornecedor ao Brasil nesse
nufaturados apresentaram uma expansão de 5,3%, totalizando
bloco é o Chile, seguido de Bolívia e México.
US$ 14 milhões em 2005.
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
67
RELAÇÕES BILATERAIS
Ranking do Peru nas exportações brasileiras
2005/2004 – US$ milhões FOB
Ordem
País
Ranking do Peru nas importações brasileiras
Fonte: MDIC/SECEX
'%
Valor
2004 2005
Part%
2005/04
1
1
Estados Unidos
2
2
4
Ordem
País
'%
Valor
2004 2005
Part%
2005/04
22.741
11,8
19,2
1
1
Estados Unidos
12.851
11,6
17,5
Argentina
9.915
34,5
8,4
2
2
Argentina
6.239
12,0
8,5
3
China
6.834
25,6
5,8
3
3
Alemanha
6.144
21,1
8,4
3
4
Países baixos
5.283
-10,7
4,5
4
4
China
5.353
44,3
7,3
5
5
Alemanha
5,023
24,5
4,2
6
5
Japão
3.407
18,8
4,6
6
6
México
4.064
2,9
3,4
9
6
Argélia
2.838
45,9
3,9
9
7
Chile
3.612
41,9
3,1
7
7
França
2.700
18,0
3,7
8
8
Japão
3.476
25,6
2,9
5
8
Nigéria
2.652
-24,3
3,6
7
9
Itália
3.224
11,0
2,7
10
9
Coréia do Sul
2.327
34,5
3,2
30
27
Peru
933
47,9
0,8
34
32
Peru
458
31,2
0,6
Quanto aos principais itens que compõem a pauta de exportações do Brasil com destino ao Peru, o mais importante é petróleo em bruto. O produto representou 12,3% das vendas ao País
em 2005, US$ 115 milhões em valor. Em seguida, os principais
foram: aparelhos transmissores ou receptores, participação de
7,0% no total; veículos de carga, 5,2%; fio-máquina de ferro/
aço, 4,1%; polímeros de plástico, 4,0%; papel e cartão, 3,6%;
chassis com motor, 3,5%; produtos laminados planos de ferro/
aço, 3,3%; máquinas e aparelhos para terraplanagem, 3,0%; tratores, 2,5%; e automóveis de passageiros, 2,3%.
Alguns produtos apresentaram excepcional crescimento
nas vendas ao Peru e merecem destaque: máquinas e aparelhos para fabricação de celulose (+1.583,4%, para US$ 5,1
milhões); aparelhos transmissores e receptores (+311,8%,
para US$ 65,6 milhões); petróleo em bruto (+274,4%, para
US$ 114,7 milhões); veículos de carga (+153,4%, para US$
48,3 milhões); máquinas e aparelhos para terraplanagem
(+139,2%, para US$ 28,4 milhões); máquinas e aparelhos
para tratamentos de pedras (+116,2%, para US$ 6,4 milhões);
e falsos tecidos sintéticos ou artificiais (+102,5%, para US$
5,4 milhões).
A pauta importadora brasileira de produtos peruanos é composta por 76,2% de bens industrializados e 23,8% de básicos. O
grupo de produtos que mais cresceu, na comparação de 2005
com 2004, foi o de itens semimanufaturados, um aumento de
39,9%. Os básicos cresceram 24,0%, enquanto que os manufaturados se expandiram em 11,4%.
Os principais produtos importados foram: catodos de cobre, participação de 33,3% na pauta; minério de zinco e concentrados, 22,0%; prata em formas brutas 15,2%; chumbo em
formas brutas, 8,1%; chapas, fios e perfis de cobre, 6,6%; zinco
em bruto, 2,7%; cabos e fibras sintéticas, 1,9%; e produtos
hortícolas, 1,0%.
Quanto aos produtos que apresentaram excepcional desempenho no crescimento das importações advindas do Peru, desta68
2005/2004 – US$ milhões FOB
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
Exportações brasileiras para o Peru por fator agregado
2005/2004 – US$ milhões FOB
Básicos
14,3%
Semimanufaturados
1,5%
Operações
especiais
1,5%
Manufaturados
82,7%
Fonte: MDIC/SECEX
cam-se: preparações de produtos hortícolas (aumento de
2.620,5%, para um total de US$ 4,8 milhões); carvão mineral
(de zero, em 2004, para US$ 1,3 milhão, em 2005); fios e fibras
sintéticas ou artificiais (+134,1%, para US$ 2,2 milhões); catodos
de cobre (+107,0%, para US$ 152,8 milhões) e tecidos de algodão (+79,5%, para US$ 481 mil).
São Paulo e Rio de Janeiro responderam por 62,2% das exportações brasileiras para o Peru em 2005. A relevante participação do Rio de Janeiro nas vendas ao País – 19,0% do total – se
justifica pela composição da pauta, já que o principal item exportado pelo Brasil a esse mercado é petróleo em bruto e o Estado é
o principal produtor. As exportações paulistas ao Peru – 43,2%
da pauta total – se concentram em produtos manufaturados. Os
principais são: máquinas e equipamentos mecânicos, veículos
automóveis, máquinas e equipamentos elétricos, ferro fundido e
plástico e obras.
Depois de São Paulo e Rio de Janeiro, o estado que mais vendeu ao Peru foi o Rio Grande do Sul, o equivalente a 7,7% do
total da pauta. Seguidamente estão: Paraná, com 7,0% do total;
Amazonas, 6,6%; Minas Gerais, 3,9%; e Bahia, 3,5%.
As importações brasileiras provenientes do Peru são mais bem
distribuídas entre as unidades da federação. Entretanto, cinco estados respondem pela quase totalidade da pauta, representando
94,4% do total das importações oriundas do Peru. Com uma
participação de 25,8%, São Paulo é o maior comprador de produtos peruanos, Minas Gerais está logo em segundo com 24,0%
do total, depois vem o Espírito Santo, com 17,6% da pauta; Santa
Catarina, 14,0%; e Amazonas, com 13,0%.
Considerando os dados de 2005, 2.459 empresas brasileiras
exportaram para o Peru. Comparando com 2004 (2.397 empresas), o número cresceu em 62 (+2,6%).
No mesmo comparativo, em 2005, 361 empresas brasileiras
importaram do Peru contra 351 em 2004 (+10 empresas, +2,8%).
Principais produtos exportados pelo Brasil para o Peru
Principais produtos importados pelo Brasil do Peru
Estados brasileiros que mais exportam para o Peru
2005/2004 – US$ milhões FOB
2005 – US$ milhões FOB
Fonte: MDIC/SECEX
153
2005/2004 – US$ milhões FOB
Fonte: MDIC/SECEX
115
66
48
28
Máquinas para
Terraplanagem
Chassis com
Motor
31
23
Tratores
33
Papel e Cartão
Polímeros de
Plástico
34
Laminados
Planos de
Ferro e Aço
37
Fio-máquina
Veículos de
Carga
Apars. Trans./
Receptores
Petróleo
em bruto
38
Fonte: MDIC/SECEX
403
101
70
178
61
Estados brasileiros que mais importaram do Peru
33
32
9
8
Número de empresas brasileiras exportadoras e
importadoras no comércio com o Peru
2005 – US$ milhões FOB
Fonte: MDIC/SECEX
118
Demais
36
Mato
Grosso
Amazonas
Rio Grande
do Sul
Rio de
Janeiro
São Paulo
Minas
Gerais
36
Ceará
65
3
Couros e
Peles
3
Azeitonas em
Conserva
5
Cabos e Fibras
Sintéticas ou
Artificiais
Preparações
de Produtos
Hortícolas
Zinco em
Bruto
Barras, Perfis,
Fios e Chapas
de Cobre
Chumbo em
Formas Brutas
Prata em
Formas Brutas
Minérios
de Zinco
Catodos de
Cobre
9
Santa
Catarina
72
12
Bahia
30
Paraná
37
110
Fonte: MDIC/SECEX
2.459
2.397
81
64
60
5
4
4
3
4
Rio de
Janeiro
Mato Grosso
do Sul
Pernanbuco
Bahia
Rio Grande
do Sul
Demais
Amazonas
Santa
Catarina
Espírito
Santo
Minas
Gerais
São Paulo
351
6
2004
361
2005
Exportadores
Importadores
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
69
CURTAS
Crédito e Cobrança no
Peru
Nos dias 11 e 12 de
outubro de 2006, o Peru será
sede do Primeiro Congresso
Nacional de Créditos e
Cobranças. A expectativa dos
organizadores é de que esse
evento reúna os principais
líderes da indústria peruana.
Entre as finalidades do
congresso estão a divulgação
das atuais tendências na área
de crédito e cobrança, bem
como a atualização dos
profissionais do setor a
respeito das melhores
práticas em termos de
análises financeiras, origem
de créditos, administração e
negociação. O evento teve
outras edições sediadas em
países como Brasil, Argentina
e Colômbia e propicia o
desenvolvimento do turismo
de negócios.
Ciência em Lima
Outro evento importante
do semestre é o Encontro
Científico Internacional –
ECI, que será realizado na
capital do Peru, de 8 a 11 de
agosto. Esta é a décima edição
do encontro que tem como
objetivos divulgar as novas
descobertas do setor e
mostrar à opinião pública a
importância da ciência. O
evento destaca, igualmente,
as possibilidades na melhoria
da qualidade de vida, além do
aumento no intercâmbio de
idéias entre os engenheiros e
cientistas peruanos e os
profissionais da área em todo
A Revista dos Seminários Bilaterais de
Comércio Exterior e Investimento,
organizados pela FCCE, é distribuída entre
as mais destacadas personalidades, do
Brasil e do exterior, que atuam no
comércio internacional.
o mundo. Serão debatidos,
também, ainda este ano,
aspectos da política científica
do país e a relação dos
pesquisadores com as
universidades e com o
Estado. Outros temas já
consagrados em edições
anteriores serão objeto de
debate, como ciência e
tecnologia da informação,
comércio exterior,
comunicação, ciências
agrárias, de materiais, ciência
do mar, da saúde e ciência
empresarial. O evento é uma
forma de estimular novos
interesses e fomentar
investimentos no setor.
investigação da arte rupestre.
Além disso, foi produzido
um inventário sobre a riqueza
arqueológica local, que ainda
permanece preservada,
apesar dos séculos. Um dos
motivos que leva os
peruanos a se preocuparem
com os tesouros da
humanidade, em seu
território, deve-se ao fato
destes serem um forte
chamariz turístico para o país.
Visitantes de todas as partes
do mundo ali chegam para
conhecer as belezas
ancestrais das civilizações
pré-colombianas.
Arte Rupestre
De 12 a 17 de setembro
de 2006, a cidade peruana de
Trujillo será palco do
Segundo Seminário Nacional
de Arte Rupestre. Os
organizadores explicam que
o objetivo fundamental do
simpósio é aumentar a
consciência da população
sobre a importância desse
patrimônio histórico e, por
conseqüência, sobre a
necessidade de implementar
medidas de proteção. No
primeiro evento ocorrido no
país, com este propósito, em
novembro de 2004, em
Cuzco, foram reunidas mais
de 250 pessoas entre
profissionais, estudantes e
curiosos. Foram debatidas as
diversas linhas de
Detalhe do motivo geométrico
superposto sobre um grupo de
lhamas em fuga. Macusani y
Corani, repositórios de Arte
Rupestre Milenar na Cordilheira
de Carabaya, Puno, Peru.
Lhama de estilo naturalista
pintado na Cova Vicuñapintasha
IV. Santuário Nacional de Huayllay, Pasco.
Anunciar aqui é fazer chegar o seu
produto a quem realmente interessa, a
quem decide.
Procure-nos.
Tel.: 55 21 2221 9638
[email protected]
70
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
Grande Painel de Uquruyoc, dentro do Complexo Chaquicocha.
Santuário Nacional de Huayllay, Pasco.
Expoplast Peru 2006
O Expoplast Peru 2006 é
considerado o encontro mais
importante dos líderes de
indústrias de plástico da costa
do Pacífico. O evento foi
criado com a finalidade de
promover um movimento
nacional em benefício da
competitividade do setor de
plásticos, mediante
capacitação da mão-de-obra
especializada para utilização
de novas tecnologias.
Previsto para acontecer entre
24 e 27 de maio de 2006, o
evento é um marco do setor
e já é considerado uma
verdadeira feira internacional.
A edição de 2004, por
exemplo, contou com 12
stands de diversos países,
entre eles Brasil, Argentina,
Portugal, México, Itália e
Taiwan. Segundo os
organizadores, o evento
reuniu mais de 10 mil
pessoas.
Ponte entre Brasil e Peru
Em janeiro de 2006, foi
inaugurada uma ponte entre
as cidades de Assis Brasil, no
Acre, e Iñapari, no Peru, a
primeira ligando os dois
países. Presente na
solenidade, o Presidente Luiz
Inácio Lula da Silva afirmou
que a ligação sobre o Rio Acre
é um símbolo da aliança
estratégica que torna realidade
o imenso potencial de
cooperação entre os países.
“Este é o primeiro passo para
a realização de um sonho
antigo, a ligação sul-americana
entre o Pacífico e o Atlântico”,
afirmou o presidente. Com a
construção da rodovia
interoceânica, será possível,
por exemplo, escoar
produtos brasileiros pelo
Oceano Pacífico através dos
portos peruanos de Ilo,
Maratani e San Juan. A ponte
já começou a mostrar
reflexos no comércio da
região, diminuindo o tempo
de transporte dos produtos
locais.
Energia
Na solenidade de
inauguração da ponte que liga
o Brasil e o Peru, o
Governador do Acre, Jorge
Viana, lembrou a assinatura
do Termo de Compromisso
entre o seu governo e a
Eletronorte. O documento
prevê obras de infraestrutura elétrica no valor de
R$ 170 milhões que vão
significar, na prática, mais de
500 quilômetros de rede de
energia. Um benefício para a
infra-estrutura dos dois
países fronteiriços.
Parceria de sucesso
A empresa brasileira
Norberto Odebrecht,
fundada em 1945, em
Salvador, consta da lista das
25 melhores empresas para
se trabalhar no Peru. A
instituição iniciou sua atuação
internacional justamente no
Peru, com a construção da
Hidrelétrica de Charcani V,
em 1979. Nos anos 90,
desenvolveu a segunda etapa
do projeto Chavimochic,
para irrigação de áreas
desérticas do país. A lista das
25 melhores empresas foi
baseada em pesquisa realizada
pela instituição Great Place to
Work Institute, em parceria
com o jornal peruano El
Comercio.
Comunidade SulAmericana das Nações
O novo Presidente da
República do Peru, Alan
García, tem afirmado, em
pronunciamentos e
entrevistas coletivas, que
acredita na formação de um
bloco econômico e político
na América do Sul, liderado
pelo Brasil. A região já tem
um projeto de integração
lançado em 2004, no Peru,
durante o mandato do expresidente Alejandro
Toledo. Trata-se da
Comunidade SulAmericana das Nações, uma
união entre 12 países que
prevê a derrubada de
fronteiras econômicas e a
criação de instituições
supranacionais num prazo
de 15 anos. O novo bloco
reúne nações com
aproximadamente 360
milhões de pessoas, tem
um Produto Interno Bruto
total de US$ 1 trilhão,
exportações acima de US$
200 bilhões, e abriga cerca
de 27% da água doce de
todo o mundo.
Alan García, Presidente do Peru.
América Latina
“A América Latina e o
Caribe representam hoje o
maior mercado para as
exportações brasileiras”,
declarou o Ministro das
Relações Exteriores Celso
Amorim. Dentro desse
cenário, prioriza-se o
trabalho para incrementar a
corrente de comércio do
Brasil com vários países,
inclusive o Peru.
Recentemente, os ministros
das Relações Exteriores do
Mercosul assinaram um
acordo que prevê a
incorporação da Venezuela
como membro pleno do
Mercosul dentro de quatro
anos. “A entrada da Venezuela
cria uma vértebra sulamericana de integração
muito grande”, disse o
ministro.
Estudos andinos
A comunidade dos
países andinos tem hoje
120 milhões de
habitantes. Usando este
dado como um de seus
principais argumentos, o
Embaixador do Peru
Hernán-CouturierMariátegui está propondo a
criação de uma cátedra de
Estudos Andinos na
Universidade de Brasília
(UNB). Lauro Morhy,
Reitor da UNB, disse que
tem interesse em sediar a
cátedra, que terá grande
impacto na aproximação
acadêmica e científica entre
os países da América
Latina. O embaixador
peruano ressaltou que o
Brasil e o Peru detêm as
áreas de floresta mais
extensas da Amazônia e se
preocupam em conserválas e defendê-las: “A
Amazônia representa um
grande desafio não só
ambiental, como também
pelas teorias de
internacionalização da
floresta como patrimônio
universal, que têm sido
defendidas por países do
Hemisfério Norte.”
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
71
madnezz.com.br
A exportação de serviços de
engenharia traz divisas para o país,
promove exportações de pequenas e
médias empresas, reduz a vulnerabilidade
externa nacional e, assim, colabora para
desenvolvimento brasileiro.
Servindo ao desenvolvimento há mais de 60 anos
www.odebrecht.com
A atuação global da Odebrecht gera
mais que benefícios para os países
em que atua, traz desenvolvimento
para o Brasil. Operando há mais de 25
anos nos quatro continentes, a maior
empresa de engenharia e construção da
América Latina já acumula mais de
500 obras no exterior. São contratos
que geramexpor tações de bens eserviços
nacionais intensivos em tecnologia e,
assim, contribuem para o crescimento
econômico brasileiro.

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