Bauxita em Barro Alto Euclides Oliveira Barro Alto A Agência
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Bauxita em Barro Alto Euclides Oliveira Barro Alto A Agência
Bauxita em Barro Alto Euclides Oliveira Barro Alto A Agência Goiana de Meio Ambiente, mediou, na tarde de terça (20), no Salão do Júri do Fórum local, na presença de pelo menos 300 pessoas, a realização da primeira audiência pública para avaliar os possíveis impactos ambientais da extração de minério de bauxita, em Barro Alto. Depois do investimento de US$ 1,2 bilhão (R$ 2,64 bilhões) anunciado pela mineradora Anglo American no final do ano passado para a extração de níquel e produção de 36 mil toneladas de ferro-níquel por um prazo de 26 anos, a administração do prefeito Luciano Lucena (PFL) aguarda outros US$ 15 milhões (cerca de R$ 32,2 milhões) a serem aplicados na cidade até o início de 2010 pela Mineração Curimbaba, de Poços de Caldas (MG), no desenvolvimento do “Projeto Bauxita Goiás”. A bauxita é um minério utilizado para a produção do alumínio metálico e da alumina, empregados na fabricação de abrasivos, produtos refratários, cimento aluminoso, refinação de óleo e do propante (um estimulador de postos de gás e de petróleo). Segundo o geólogo e diretor de Pesquisa Mineral da mineradora mineira, Mário Luiz de Andrade Uchoa, a Curimbaba realizava pesquisas em Barro Alto há cerca de três anos, até decidir pela aquisição dos direitos de lavra de uma reserva com 6 milhões de toneladas de bauxita, em uma área montanhosa localizada nas proximidades do Distrito de Souzalândia, nos limites de Barro Alto com o município de Santa Rita do Novo Destino. Mais 1,5 milhão de toneladas do minério também deverão ser extraídas de uma reserva natural localizada na mesma região, que a Curimbaba requereu e conseguiu o direito de pesquisar e lavrar, junto ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Ao todo, segundo Uchoa, as 7,5 milhões de toneladas de bauxita vão garantir a extração de 200 mil toneladas do minério, por um prazo de 40 anos. Na primeira etapa do projeto, que é a fase de lavra, a expectativa da Curimbaba é gerar de 180 a 200 empregos diretos, na extração e beneficiamento do minério; e o mesmo número de vagas indiretas, na cadeia produtiva. Na segunda etapa, a Curimbaba deverá instalar moinhos e produzir, em Barro Alto, bauxita moída para o mercado de tratamento químico de água, fluxo de soldas, processos de jateamento e filtragem de óleo de transformadores. A produção de propante ficará para a terceira e última etapa. O investimento total poderá chegar a US$ 75 milhões (R$ 161,5 milhões) ao longo das próximas quatro décadas, segundo o diretor da empresa. “Nós calculamos que, em 2008, estaremos com a indústria licenciada, para ser montada em 2009 e começarmos as operações em 2010. Nessa fase inicial, vamos montar um forno, que já compramos, onde a bauxita será sinterizada. É importante ressaltar que não será utilizado nenhum processo químico, mas sim um processo físico de queima do minério”, detalhou o diretor da Curimbaba. O EIA-RIMA da Mineração Curimbaba foi elaborado e apresentado pelas empresas Geoflex Serviços de Mineração LTDA; e Neotrópica Tecnologia Ambiental, ambas com sede em Goiânia. O assessor jurídico da Agência Ambiental, Albane Alberto de Andrade, foi o mediador do debate entre a comunidade e a mineradora. Em linhas gerais, a apresentação concluiu que parte da área a ser explorada na região de Barro Alto pela empresa do Sul de Minas era antigamente utilizada para fins de pastagem. Outra parte possui o que se conhece por “passivo ambiental”, com um cerrado adaptado a um solo aluminoso, onde inexiste uma vegetação nativa exuberante. O trabalho também afirmou a atividade de extração é impactante ao meio ambiente, de forma que a Mineração Curimbaba também se comprometeu a implantar, em Barro Alto, programas de acompanhamento e de monitoramento; recuperação de áreas degradadas; monitoramento da água (que já teria sido iniciado); controle de erosões; programas de responsabilidade social (que ainda serão elaborados); e um viveiro de plantas nativas (a exemplo do que já existe em Poços de Caldas). “Na condição de filho barro altense, para onde tive o privilégio de vir morar com apenas dois anos de idade, acredito que se trata de um empreendimento que promete boas perspectivas para a nossa região. Porém, sabemos da nossa dupla responsabilidade, tanto para defender e preservar as nossas nascentes e o nosso meio ambiente, como para não ser um empecilho na geração de empregos para Barro Alto. É possível a preservação com um desenvolvimento sustentável. Mesmo assim, o estudo ambiental apresentado pela Curimbaba será encaminhado para o nosso corpo técnico para uma análise aprofundada”, afirmou o presidente da Agência Ambiental, Evangevaldo Moreira dos Santos. A Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) é outra empresa que realiza pesquisas minerais em Barro Alto para explorar bauxita. Os novos estudos poderão apontar reservas totais de até 10 milhões de toneladas desse tipo de minério. Prefeito de Barro Alto joga duro com as mineradoras “Nós não queremos empresas que vão se instalar em municípios vizinhos. A única coisa que a Curimbaba falou para mim foi que se instalará em Barro Alto, o que me deixou extremamente satisfeito. Temos o minério para eles extraírem, mas também queremos os impostos e os empregos, que são um direito nosso”. Essa foi a tônica principal do discurso do prefeito de Barro Alto, Luciano Lucena (PFL), durante a audiência pública em que a Mineração Curimbaba expôs seu projeto para a exploração de bauxita na cidade, na tarde de terça (20). Apesar de animado com o fato de a cidade concentrar os maiores investimentos privados de Goiás na área de extração de minério de níquel e de bauxita, Lucena continua exibindo um discurso contundente em suas aparições públicas. Na audiência, o prefeito afirmou que a população barro altense estava descontente quando a Anglo American apenas transportava o minério para Niquelândia, sem dar a Barro Alto alguma esperança de montar uma indústria em seus limites. “Para nós, isso não era interessante. Hoje, o relacionamento entre a empresa (Anglo American) e a prefeitura é bom. Mas tem que ser bom quando é bom para os dois lados”, afirmou Lucena. A intenção do chefe do Executivo é que a cidade se desenvolva, para que a população atual, de 8 mil habitantes, possa chegar a 25 mil moradores nos próximos anos, com um crescimento ordenado e sustentável, com qualidade de vida, aproveitando-se para tanto da tão alardeada elevação na arrecadação de impostos. O prefeito também espera que a mineração proporcione oportunidades de estudo e de emprego para os jovens da cidade. “Minério, depois que você colheu, adeus e nunca mais. Na verdade, Barro Alto não precisava ter um quilo sequer de minério, se outras empresas estivessem instaladas aqui dentro. Sabendo hoje que a questão do desemprego é um grande desafio, o interessante não é apenas ter o minério, mas ver as empresas investindo no município, para que aqui não sobre apenas um buraco, evitando assim que Barro Alto se transforme numa cidade fantasma”, afirmou o chefe do Executivo. Promotor de Goianésia diz que danos ao meio ambiente serão inevitáveis O promotor do Ministério Público em Goianésia, Uigvan Pereira Duarte, em seu pronunciamento na audiência pública, disse que o nível de conhecimento técnico e profissional deverá melhorar substancialmente em Barro Alto, com a chegada de pessoas vindas de outras localidades para trabalhar nos projetos de extração de minérios da Mineração Curimbaba e da Anglo American. Embora tenha elogiado a Usina Jalles Machado e a Usina Goianésia (ambas voltadas para a extração de álcool) como empresas preocupadas com a questão ambiental, o representante do MP cobrou da sociedade barro altense uma maior participação nas discussões. Apesar dos compromissos assumidos pela mineradora mineira na audiência pública, Uigvan foi enfático. “Queira ou não, o meio ambiente é completamente afetado por empreendimentos desse porte. A nossa região já foi maldosamente afetada na questão da reserva legal. Sabendo disso, esperamos que a empresa não deixe que nada de mais grave aconteça. Eu também vou ser um cobrador disso. Representa progresso, mas precisa ser um progresso programado”, afirmou o promotor. SAIBA MAIS Mineração Curimbaba foi criada em 1961 no Sul de MG Em 1940, os “campos” de Poços de Caldas, a 1.400 metros de altitude, no Sul de Minas Gerais, eram áreas de baixo valor econômico, com grande quantidade de pedras e impróprias para qualquer tipo de cultivo. Nessa época, Benedito Moreira Curimbaba, acreditou que tais espaços poderiam ter a alguma utilidade. Com poucos recursos, começou a investir em alguns depósitos e desenvolver a utilização das rochas potássicas como adubo. Em 1950, ele criou uma empresa individual, que recebeu o seu próprio nome. Onze anos depois, em 1961, juntamente com seu filho, Sebastião Curimbaba, Benedito constituiu a Mineração Curimbaba LTDA, como uma extensão contínua dos trabalhos iniciais. Atualmente, a mineradora tem licenças exclusivas de 250 jazidas de bauxita, em várias localidades, com uma reserva superior a 300 milhões de toneladas; 36 jazidas de argilas refratárias (2,8 milhões de toneladas); 30 jazidas de rochas potássicas (500 milhões de toneladas); cinco jazidas de calcário (30 milhões de toneladas); e uma jazida de quartzo (5 milhões de toneladas). Na audiência pública em Barro Alto, a empresa apresentou um vídeo institucional sobre suas atividades em Poços de Caldas, onde emprega 650 pessoas. SAIBA MAIS QUEM ESTEVE PRESENTE NA AUDIÊNCIA PÚBLICA A audiência pública comandada pela Agência Ambiental do Estado de Goiás para avaliar os prováveis impactos ambientais da extração de bauxita em Barro Alto pela Mineração Curimbaba foi acompanhada pelas seguintes pessoas e autoridades, a saber: Luciano Lucena (prefeito de Barro Alto/PFL); João Cardoso dos Santos (prefeito de Santa Rita do Novo Destino/PP); Geraldo Aílton dos Santos (presidente da Câmara Municipal de Barro Alto); Iodete de Almeida Passos (vice-prefeita de Barro Alto); Uigvan Pereira Duarte (promotor do Ministério Público/MP em Goianésia); Albane Alberto de Andrade (assessor jurídico da Agência Ambiental); Antônia Lacerda (Presidente do Conselho de Meio Ambiente de Barro Alto); Wilio Rodrigues de Faria (vereador em Santa Rita do Novo Destino); Iranor Vieira (Presidente da Associação Comunitária de Souzalândia); Ivan César Zanatta (gestor de Qualidade e Meio Ambiente da Usina Jalles Machado, de Goianésia); Luiz Fernando Magalhães (Superintendente de Geologia e Mineração da Secretaria Estadual de Indústria e Comércio); André Naves (que representou o prefeito de Goianésia, Otávio Lage Filho); Valdemir de Almeida Conterato (chefe do Departamento de Geologia da Anglo American em Barro Alto);