PAPERS 10
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Éditorial Angelina Harari PAPERS 10 Comité de Acción de la Escuela Una- Scilicet François Ansermet Susana Amado Domenico Cosenza Angelina Harari (coordinadora) Juan Fernando Pérez Antoni Vicens Rose-Paule Vinciguerra Responsable de la edición: Marta Davidovich 1 Papers 10 publica três novas contribuições ao tema “A ordem simbólica no século XXI (...)”. Os autores são Sérgio Laia (EBP), Françoise Haccoun (ECF) e Juan Pundik (ELP). Os textos abordam e questionam a idéia de ordem simbólica, começando com Sérgio Laia que assinala terem as vacilações do simbólico sempre estado em pauta no ensino de Lacan, portanto a desordem simbólica do século XXI pode estar atrelada à inércia, que já foi a do sujeito do inconsciente e passa a ser a inércia do objeto pequeno a. A degradação do simbólico, por sua vez, é enfocado por Françoise Haccoun num fragmento de caso de psicose, ilustrando o porvir da psicose na civilização. E por fim, temos a problematização da legalidade da psicanálise, trazida por Juan Pundik, mais exatamente traz uma pergunta sobre que legalidade interessaria à psicanálise? a resposta, para ele, está na crença: crer no sintoma, no inconsciente e no sujeito suposto saber, . Dez números constituíram uma série que não pretendia a exaustão do tema, não corremos assim o risco de nos cansarmos antes da abertura do Congresso. Nestes dez números alguns pontos de vista foram lançados, com conhecimento de causa e tendo como intuito provocar e manter aceso o interesse no acontecimento maior da AMP, que acontece bienalmente. Editorial mayor de la AMP, que tiene lugar cada dos años. Traducción: Marina Recalde Angelina Harari Papers 10 publica tres nuevas contribuciones al tema “El orden simbólico en el siglo XXI (…)”. Los autores son Sérgio Laia (EBP), Françoise Haccoun (ECF) y Juan Pundik (ELP). Sus textos abordan y cuestionan la idea del orden simbólico, comenzando por Sérgio Laia quien señala que las vacilaciones de lo simbólico siempre han estado presentes en la enseñanza de Lacan. Por lo tanto, el desorden simbólico del siglo XXI puede estar vinculado a la inercia, que fue la del sujeto del inconsciente, y que ahora pasa a ser la inercia del objeto a. La degradación de lo simbólico, a su vez, es enfocada por Françoise Haccoun en un fragmento de un caso de psicosis, a partir del cual propone ilustrar el porvenir de la psicosis en la civilización. Finalmente, tenemos la problematización de la legalidad del psicoanálisis, tema propuesto por Juan Pundik. Más exactamente propone una pregunta: ¿qué legalidad interesaría al psicoanálisis? La respuesta, para él, está en la creencia: creer en el síntoma, en el inconsciente y en el sujeto supuesto saber. Diez números constituyen una serie que no pretende ser exhaustiva sobre el tema, ya que la anima el objetivo de no fatigarnos antes de la apertura del Congreso. En estos diez números, algunos puntos de vista fueron expresados con conocimiento de causa y con la intención de provocar y mantener el interés en el acontecimiento 2 VACILAÇÕES DO SIMBÓLICO, INSTABILIDADES DO IMAGINÁRIO, CAUSALIDADES DO REAL E A PRESENÇA DO PSICANALISTA* Sérgio Laia Quando Sérgio de Castro me convidou para coordenar a XVI Jornada da Escola Brasileira de Psicanálise – Seção Minas Gerais (EBP-MG) e comecei a pensar no que poderia ser o título, já tínhamos como ponto de partida aquele do VIII Congresso da Associação Mundial de Psicanálise (AMP): A ordem simbólica no século XXI não é mais o que era – quais as consequências para a cura?. Também tínhamos a conferência “Uma fantasia”, proferida por MILLER (2004), em Comandatuba, em outro Congresso de nossa Associação e que é um dos pontos cardiais para aquele de 2012, em Buenos Aires, pois ressalta as mudanças provocadas pela ascensão do objeto maisde-gozar– objeto a – ao “zênite social” e, como a psicanálise não deixa de ter relação * Texto apresentado em Belo Horizonte, no dia 28 de outubro de 2011, na Abertura da XVI Jornada da Seção Minas Gerais da Escola Brasileira de Psicanálise (EBP-MG). Ele também é produto de uma pesquisa, realizada com apoio do Programa de Pesquisa e Iniciação Científica da Universidade FUMEC (ProPIC), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Científico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), sobre a versão 5 do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM). com esse destaque contemporâneo dado à satisfação, somos requisitados, especialmente hoje, a dar respostas muitas vezes diferentes daquelas do tipo “levantamento do recalque”. Referindo-me também às considerações de LAURENT(2011) a propósito do título do próximo Congresso da AMP, pareceu-me, por fim, que estava em jogo agora não nos limitarmos a apresentar como a ordem simbólica havia mudado ou mesmo destacar os sintomas que não são mais tão permeáveis à decifração do que manteriam como “inconsciente”1. Assim, considerei ser preciso fazer a pergunta do subtítulo (“quais consequências para a cura?”) retornar e mesmo se destacar diante da mudança da ordem simbólica aludida no título. Nesse contexto, mais do que descrições e elaborações sobre o declínio dos referenciais simbólicos, o próximo Congresso da AMP convoca-nos a dizer como a experiência psicanalítica é por ele afetada e lhe responde. Assim, para chegar ao título da XVI Jornada da EBP-MG, considerei que, se a ordem simbólica do nosso século mudou, LACAN (1974-1975), quase três décadas antes, já questionava a preponderância do registro do Simbólico sobre os registros do Real e do Imaginário. De fato, esse questionamento pode ser visto como uma espécie de autocrítica porque Lacan – especialmente para se contrapor ao domínio do Imaginário e à concepção do tratamento como retificação das relações do paciente com a realidade – tomou como norte, perante aos pós-freudianos e ao longo da primeira década de seu ensino, a 1 Afinal, em outras Jornadas da EBP-MG e em várias atividades do Instituto de Psicanálise e Saúde Mental de Minas Gerais (IPSM-MG), bem como em outros locais que partilham a orientação lacaniana e trabalham para a reconquista do Campo Freudiano no Brasil e no mundo, já foram abordados temas como: as novas formas de manifestação das psicoses, os declínios da virilidade e da função paterna, o funcionamento compulsivo de sintomas e atuações que invadem nosso cotidiano, o desaparecimento da infância, a segregação, etc. 3 primazia do Simbólico no seu “retorno a Freud”. Parece possível sustentar que, quanto ao Simbólico, onde tínhamos antes um referencial, um norteamento, teremos agora vacilações. Mas essa sustentação só me parece viável se considerarmos que o aparecimento das “vacilações do Simbólico” não o destitui como uma ordem. Afinal, desde os tempos lacanianos da primazia do Simbólico sobre o Imaginário e o Real, esse primeiro registro é marcado por vacilações: assim como “toda máquina pode se reduzir a uma série de sequenciamentos (relais) que são simplesmente de mais e menos”, “tudo, na ordem simbólica, pode ser representado com a ajuda de uma tal sucessão” (LACAN, 1954-1955, p. 218). Praticamente uma década mais tarde, apoiando-se nas elaborações de LÉVISTRAUSS (1962), LACAN (1964, p. 23) vai dizer: “antes de que sejam estabelecidas as relações propriamente humanas, algumas relações já são determinadas”, tal como encontramos “em tudo o que a natureza pode oferecer como suportes, suportes que se dispõem nos temas de oposição” e que são “significantes”, fornecidos pela natureza e que “organizam de maneira inaugural as relações humanas, dando-lhes as estruturas, e modelando-as”. Para nos mantermos ainda no contexto lévistraussiano, eu citaria, por exemplo, as oposições dia-noite, frio-quente, crucozido, macho-fêmea, extraídas da natureza e que, em suas vacilações, em seus ritmos, dão corpo a mitos desde os tempos mais imemoriais da presença dos homens no mundo. Mas, é também uma vacilação, inclusive sob a forma de alternância, que FREUD (1900) encontrou na cenografia dos sonhos formada por deslocamentos e condensações e que, mais tarde, LACAN (1957) retomará, com JAKOBSON (1954), no ritmo metafóricometonímico da elaboração onírica e de outras formações do inconsciente. Por fim, como um último exemplo, é também por uma vacilação entre um fort e um da, que o neto de FREUD (1920, p. 25-29) permitiulhe celebrizar um carretel como uma espécie de “maquininha”, de gadget de produção doméstica e caseira, para simbolizar não a “repetição... de uma necessidade que o faria chamar pelo retorno da mãe, e que se manifestaria pura e simplesmente no grito”, mas “a repetição da partida da mãe como causa de uma Spaltung [divisão] no sujeito – ultrapassada pelo jogo alternativo fort-da, que é um aqui ou lá e que, em sua alternância, visa apenas ser fort de um da e da de um fort” (LACAN, 1964, p. 60-61), ou seja, pura vacilação de dois significantes colocados um em contraposição com outro. Mas se as vacilações caracterizam o Simbólico, por que, hoje, a ordem simbólica – perpassada por vacilações a ponto de inclusive ser tomada como “em declínio” ou mesmo “liquidada” e “ineficaz” – não é mais o que era? Mais rapidamente, responderia a essa questão dizendo que hoje já não é tão fácil escamotear essas vacilações e, por isso, o Simbólico parece não nos convencer tão facilmente de que é uma Ordem: se tudo vacila, tudo parece literalmente desorganizado, ou seja, sem ordem. Entretanto, uma resposta mais precisa e menos tomada pelo que é imediatamente visível me leva a retomar uma elaboração feita por LACAN (1954-1955) a propósito da célebre “eficácia simbólica” que LÉVISTRAUSS (1949) soube escutar nas curas xamânicas e que IANNINI (2011) recentemente pôde trabalhar conosco: as rimas apresentadas nos cantos entoados durante as curas xamânicas asseguram-nos a “presença da eficácia simbólica” e ressaltam, por seu próprio ritmo, “certa inércia simbólica, característica do sujeito, do sujeito inconsciente” (LACAN(19541955, p. 223). Ora, a inércia, segundo a física clássica, é uma propriedade da matéria e, conforme a física einsteiniana, também da energia, pela qual um corpo – se não for submetido 4 à ação de forças ou se for submetido a um conjunto de forças de resultante nula – não sofre qualquer variação de velocidade. Assim, se o corpo está parado, pela propriedade da inércia, ele continuará parado e, se estiver em movimento e em linha reta, sua velocidade permanecerá constante. A inércia, portanto, implica uma constância e é justamente isso que, a meu ver, nas vacilações do Simbólico, hoje, não é mais tão facilmente detectável e faz com que elas, para muitos, não deem corpo a uma “Ordem”. Se nas rimas do canto xamânico, há “certa inércia simbólica, característica do sujeito, do sujeito inconsciente” (LACAN, 19551956, p. 223), levanto como hipótese se, com a aceleração promovida pelo avanço da ciência, particularmente desde a segunda metade do século XX, vamos ter de nos confrontar – inclusive devido ao fato de a ciência não deixar lugar para a particularidade própria ao sujeito – com outro tipo de inércia, relacionada não mais diretamente ao sujeito do inconsciente ($), mas a essa outra parte do matema da fantasia, ao “objeto pequeno a”. Para a formulação dessa hipótese, me valho de uma passagem da conferência de MILLER (2004) em Comandatuba. Após aludir ao desnorteamento, ao desamparo que a civilização ficou quando não pôde mais contar com a “bússola” do que FREUD (1908) chamou de “moral sexual ‘civilizada’”, essa ausência de bússola será colocada sob suspeita: “talvez tenhamos uma outra”, que é o próprio objeto pequeno a (MILLER, 2004, p. 15). Assim, no mundo freudiano, nas vacilações do simbólico, deduzia-se um sujeito que, no próprio escapamento, na própria vacilação entre um e outro significante, era permeável à decifração. Diferentemente, no nosso mundo, nas vacilações do simbólico, o que encontramos é menos a proliferação das “formações do inconsciente” e mais a inércia da fantasia que, como já podíamos ler em “Duas dimensões clínicas: sintoma e fantasia”, não dá muito lugar à fala, apresenta-se mais como um silêncio (MILLER, 1983). Essas duas facetas da inércia, se posso chamá-las assim, me pareceram muito esclarecidas por um comentário que LAURENT (2009) dedica a um caso clínico apresentado por MAZOTTI (2009). Tratava-se de um paciente que, tendo passado boa parte de sua infância sendo vestido pela mãe como se fosse um “dândi”, vai, na adolescência, ter uma grande satisfação de mergulhar na banheira vestido (algumas vezes até com roupas femininas); na vida adulta, passa compulsivamente a buscar sites que lhe permite, sob pagamento on line e com uma webcam, não apenas olhar mulheres que se exibiam sensualmente usando roupas ensopadas, como ainda orientá-las que lhes lançassem líquidos nas costas. No comentário desse caso, lemos que, quando tal paciente era adolescente e se satisfazia mergulhando vestido na banheira, “o olhar, central à operação... pode ser esquecido”, passar despercebido e o que temos destacado é a cenografia inercial do sujeito, mas, em outro momento de sua vida libidinal, “graças ao virtual e ao dispositivo de webcam, é ele quem passa para a posição de olhar e quem, nesse momento, visa a por um véu, efetivamente, sobre o nada” (LAURENT, 2009, p. 45). Em outros termos, é pela presença do objeto (a) e não mais tanto pela cenografia subjetiva ($) que vamos captar a inércia dessa ordem simbólica que já não é mais o que era. Essa mudança no que concerne à inércia não é sem consequências sobre os dois outros registros que Lacan chamou de Imaginário e de Real. Muitos psicanalistas (inclusive lacanianos que não partilham da vida em jogo na AMP e no Campo Freudiano) tendem, hoje, a ler o mundo marcado pela precariedade simbólica como sendo propenso à invasão do Imaginário. A meu ver, essa leitura, embora não seja propriamente incorreta, fica restrita a um Lacan dos anos 1950: confrontado à 5 falência do Nome-do-Pai no Simbólico, um psicótico poderá se ver invadido pelo Imaginário. Já no título e no argumento que propus para a XVI Jornada da EBPMG – temas também deste texto – preferi seguir por outra via: por mais que vivamos em um mundo tomado pelas imagens, o poder e a permanência delas é inversamente proporcional à força dessa invasão. Assim, quanto mais variadas e inumeráveis são as imagens, quanto mais elas fascinam e referenciam os corpos, menor é sua pregnância ou, para retomar uma expressão do escrito sobre o estádio do espelho, menor é sua “função formadora do eu (Je)” (LACAN, 1936). Nesse viés, às vacilações do simbólico correspondem, a meu ver, não exatamente uma invasão do imaginário, mas sobretudo as instabilidades do Imaginário. Para cingir o que se passa, quanto ao Real, desde que o objeto a é alçado ao zênite social, é importante tomarmos o rumo do sintoma. Assim, de início, o que fazia um sintoma se manter como um conjunto, ou seja, a fazer valer literalmente o seu prefixo sym era o dizer: “o sintoma tinha alguma coisa a dizer” e “definitivamente, era a intencionalidade inconsciente que sustentava o sintoma” (MILLER, 2004, p. 16). Em um mundo onde essa “intencionalidade inconsciente” é desacreditada, em que a dimensão do sujeito já não é mais tão detectável, verificamos que, “na palavra sintoma, o ‘sym’ vai-se embora e o que fica não passa de ‘ptoma’” (MILLER, 2004, p. 16) ou seja, do que cai. No âmbito mais amplo da classificação contemporânea dos sintomas à la DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais), o privilégio da queda (ptoma) sobre a sustentação do “que se quer dizer” implica a redução do sintoma “ao transtorno”, ao disorder, ou seja, à desordem (MILLER, 2004, p. 16). Mas, na psicanálise de orientação lacaniana, a ênfase da queda sobre a intencionalidade do dizer faz o sintoma ser apresentado muito mais na “ordem do real” (MILLER, 2004, p. 17). Estamos, pois, como analistas dessa orientação, muito próximos da constatação do poeta cujo verso livre e modernista inquietou os defensores da métrica e da rima como critérios estético-literários: “Mundo, mundo, vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo, seria uma rima, mas não seria uma solução” (DRUMMOND DE ANDRADE, 1930). Em outros termos, a experiência analítica permite aos analistas de orientação lacaniana saber que o encontro de uma rima, o funcionamento inercial do simbólico não é uma solução. Afinal, se a inércia própria ao simbólico permite-nos decifrar uma espécie de lei que ordena o cenário subjetivo e também se manifesta como nessa inércia (mais sutil e ao mesmo tempo pregnante) própria da eternização do objeto da fantasia, descobriremos, com um dos últimos Seminários de Lacan, que “o real é sem Lei” (LACAN, 1975-1976, p. 125-135). Portanto, para me estender um pouco mais na menção a Drummond de Andrade, frente ao empobrecimento da rima, restanos os “versos livres” que, na experiência analítica, me parecem análogos à montagem que caracteriza a pulsão e também essa “colagem” de “peças avulsas” (MILLER, 2006-2007) que LACAN (1975-1976) grafou como “sinthoma”. Por fim, nesse contexto do sinthoma, eu me permitiria avançar, cotejando-o com MILLER (2004), mais uma hipótese. Em “Uma fantasia”, encontramos a seguinte surpresa: “o discurso da civilização hipermoderna tem a estrutura do discurso do analista” (MILLER, 2004, p. 17). Logo em seguida, nessa mesma conferência, será ressaltado que, em tal discurso de nossa civilização, os “diferentes elementos” do discurso do analista “ficam dispersos” e é “apenas... na psicanálise pura que esses elementos se ordenam como discurso” (MILLER, 2004, p. 17). Ora, se é na psicanálise pura que vamos nos haver com o analista como produto de uma análise, minha hipótese consistiria em propor que é o analista, como parceiro-sintoma, quem 6 vai manter entrelaçadas as vacilações do simbólico, as instabilidades do imaginário e as causalidades do real. Para sustentar a pertinência dessa minha hipótese, me sirvo de duas passagens de Lacan: 1) Em Problemas cruciais da psicanálise, Lacan (1965) sustenta que, sem o analista, “não haveria sintoma acabado, realizado (achevé)”. 2) Em L’insu que sait de lune-bévue s’aile à moure, já nos tempos do “último Lacan”, temos a afirmação de que “o inconsciente é que… alguém fala sozinho… porque não diz mais do que uma única e mesma coisa”, mas, se alguém “se dispõe a dialogar com um psicanalista” (LACAN, 1977), deixa de estar tão só com o gozo inconsciente e acaba por dizer alguma coisa diferente, surpreendente. Nessa diferença, nessa surpresa, a libido poderá se fazer disponível ao ego que, na última lição do Seminário 23, LACAN (1975-1976, p. 139-151) ensina-nos a conceber agora não mais apenas como o outro imaginário com quem o sujeito se identifica, mas também como um corpo vivo, estranhamente próximo e tomado pela substância-gozo. Nessa perspectiva se, no final da análise, teríamos a identificação do analistante com seu sintoma, é porque, conforme esclareceu-nos o texto de um colega que foi Analista da Escola (AE), o sintoma “é o que se conhece melhor” (ESQUÉ, 2004), ou seja, é o parceiro do sujeito na sua lida com o real impossível de suportar, aquilo que é mais próximo inclusive quando lhe parece muito longínquo e desconhecido. Ao longo de uma análise, enquanto um analisante insiste em passar ao largo de seu sinthoma, é no corpo de um analista que ele poderá encarná-lo e tomá-lo como um parceiro... Até ter a coragem, singular e publicamente exposta pelos Analistas da Escola (AEs), de transferi-lo para seu próprio corpo que, por sua vez, poderá ser oferecido a um outro analisante, mantendo vivo o que se passa de uma análise a outra, produzindo o que enlaça registros que, particularmente desde que a ordem simbólica deixou de ser o que era, apresentam-se cada vez mais isolados, especialmente quando não ganham espaço no percurso de uma experiência analítica. REFERÊNCIAS: DRUMOND DE ANDRADE, Carlos. Poema de sete faces (1930). In: Alguma poesia. Rio de Janeiro: Record, 2001. ESQUÉ, Xavier. Más lejos que el inconsciente (2004). In: Ornicar? digital, n. 277. Disponível, para inscritos na lista eletrônica AMP-UQBAR, em: http://www.elistas.net/lista/ampuqbar/archivo/indice/161/msg/1268/ &actn=findMsg&text=Ornicar (Acesso janeiro de 2012). FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos (1900). 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Laurent fait l’éloge du désordre symbolique avec le recours à la psychanalyse et à son discours: « si la psychanalyse sait inventer, dans la discorde de l’ordre symbolique contemporain, comment rester le partenaire qui a la chance de répondre dans la cure, alors elle aura accompli son programme4 ». Une fois dénoncé le pouvoir des semblants, par l’expérience d’une cure menée à son terme, le psychanalyste sait que « l’ordre symbolique » n’est pas une donnée puisque « ce dont témoigne le désordre symbolique, c’est du réel de lalangue5 ». Introduction de la soirée préparatoire au VIIIe Congrès de l'AMP L’ordre symbolique au XXIe siècle. Il n’est plus ce qu’il était. Quelles conséquences pour la cure ? Désordres symboliques Françoise Haccoun Le sujet déboussolé du XXI siècle caractérise l’époque dite hypermoderne comme Jacques-Alain Miller le présente dans son exposé à Commandatuba2: « les sujets contemporains, postmodernes, voire hypermodernes sont des désinhibés, néodésinhibés, “desamparados”, désemparés, déboussolés ». L’époque de la montée au zénith social de l’objet a vient prendre le 2 J.-A. Miller, « Une fantaisie », Mental n°15, février 2005, pp. 9-27. 8 Le ravalement du symbolique est ce qui caractérise la position de Marianne, sujet qui se présente comme anorexique et « boulimique de mots ». Sa lalangue est imprégnée d’un désordre symbolique 3 F. Ansermet, « Tout, tout de suite », papers 2, site de l’AMP, HTTP://WWW.CONGRESOAMP.COM/FR/TEM PLATE.PHP?FILE=COMITE-DE-ACCIONPAPERS.HTML 4 J.-A. Miller, « Une fantaisie », op. cit., p. 146 5 Ibid., p 150 contre lesquels elle se débat afin de tenter de nouer mots et corps. Marianne est un sujet contemporain dans son rapport au symbolique : elle rencontre un analyste mais « aspire à se taire » pour reprendre son mot. Ses séances constituent pour elle des « espaces d’aérations ». Cela oblige à une manœuvre adroite de l’analyste, toujours sur le fil, qu’elle a à l’œil : maintenir le strict cadre analytique, se garder de l’interprétation signifiante (« Elle n’a « pas envie d’interpréter les rêves, s’en souvenir suffit pour ne pas crever la poche du rêve »), accueillir ses créations langagières et se servir de l’écrit comme dépôts de bouts de corps épars. La jouissance du corps épingle les dits de Marianne : corps comme substance mots-sonorités, motsjouissante, photographies, non pour dire mais pour jouir, dans un excès de sens qui exclut toute mortification signifiante. Conséquences 9 - Marianne est artiste et la scène est un tenant lieu de l’Autre scène freudienne, celle d’un inconscient à ciel ouvert. - Les inventions hors-sens que produit le travail de ce sujet lui permettent de localiser l’éparpillement de sa jouissance car, pour elle, « chaque jour est une bataille pour tenir le corps ». elle fait un usage des mots afin de à combler le vide d’un corps enveloppe : apprendre le langage des signes, apprendre des mots par cœur, composer des cadavres exquis… - La signification phallique qui permet d’ordonner le symbolique ne tient pas : « Le sens ne tient pas la route »/« un agglomérat de mots sans la porte d’entrée ». Ce qui prime pour Marianne, c’est, non la signification mais la formule de la « vraie écriture ». Ce bref fragment clinique illustre de l’avenir de la psychose dans la civilisation6. Un changement de cap est à adopter dans notre clinique quand le réel prédomine et dissout les balises traditionnelles de l’ordre symbolique avec ce que « parler veut dire ». ¿QUE LEGALIDAD PARA EL PSICOANÁLISIS EN EL SIGLO XXI? Juan Pundik La democracia es el menos malo de los sistemas posibles, pero ahí se acaba su virtud. La igualdad constituye una mera ilusión, en tanto que los amos detentan el poder, la riqueza y las armas, y en consecuencia el derecho que se atribuyen a ejercer la fuerza y la violencia. Los filósofos del derecho, como por ejemplo Hans Kelsen, han sido claros al respecto, al establecer que la legalidad y el derecho surgen inicialmente de un acto de violencia. Es la ley de los vencedores sobre los vencidos. Una legalidad mediante la cual los amos se considera omnipotentemente con derecho a reconocerme o no reconocerme. Si le reconozco ese usurpado derecho me transformo en cómplice de su tiranía y en consecuencia de mi servidumbre voluntaria. Mi complicidad le va a permitir una presentación más dulcificada del estatuto que va a regir la relación entre nosotros que, en lo profundo, no va a ser muy diferente que el de la dialéctica del amo y del esclavo hegeliana. 6 Mental n°12, l’avenir de la psychose dans la civilisation, mai 2003 ¿Qué puede ocurrir si yo no le reconozco al amo, a su legislación y a su administración el derecho a reconocerme o no reconocerme como psicoanalista? ¿Qué podría suceder si yo impugno la capacidad que puedan tener un hato de burócratas, neuróticos, corruptos, perversos o psicóticos de decidir quién puede o no ejercer el psicoanálisis? ¿Qué consecuencias puede llegar a tener el hecho de que yo no le reconozca ningún derecho a decidir si yo soy o no psicoanalista? Oskar Pfister, Sigmund Freud escribió:” No se si ha adivinado usted la relación oculta entre Análisis laico y El porvenir de una ilusión. En el primero quiero proteger al análisis frente a los médicos y en el otro frente a los sacerdotes. Quisiera entregarlo a un grupo profesional que no existe aún, al de pastores de almas `profanos´ que no necesitan ser médicos y no deben ser sacerdotes.” El grupo, que para Freud no existía aún, hoy si existe y tiene una presencia consolidada en el campo de la cultura. Somos los psicoanalistas. En la continuidad de la ley Orsini en Italia, del informe Accoyer en Francia y de la Ley del 21 de noviembre del 2004 y sus reglamentaciones posteriores, sobre el ejercicio de las profesiones sanitarias en España, detrás del sonriente rostro democrático del Estado Protector y Garante de la salud de los ciudadanos, lo que aparece es el feroz rostro del amo decidido a darnos nuestro merecido en caso de no aceptar ni reconocer su derecho a someternos a sus exigencias. Las probables consecuencias de esa rebeldía pueden llegar a ser la marginación, las sanciones, las multas, las clausuras, las expropiaciones y la cárcel. Todo ello por practicar una supuesta profesión, que no lo es, y que el amo ha decidido además que es una profesión sanitaria. La lectura de los textos de Freud se presta a interpretaciones equívocas y a manipulaciones malintencionadas que son ruidosamente utilizadas por los esbirros del amo.. Antes de Freud las psicoterapias no existían. Tanto psicoanálisis como psicoterapia son términos acuñados por el propio Freud y utilizados por este a veces indistinta y ambigüamente. A partir de Lacan los psicoanalistas establecemos una clara distinción entre el significado de ambos términos. Pero a partir de la consagración de Freud florecieron una enorme cantidad de actividades supuestamente psicoterapéuticas que aprovechando el auge y la difusión de Freud y del psicoanálisis han desvirtuado y bastardeado la terminología. A mucho de ello contribuyeron muchos de los desviacionistas discípulos de Freud como Jung, Adler y Steckel y sobre todo gran parte de los psicoanalistas de la I.P.A. (Asociación Internacional de Psicoanálisis) fundada por Freud en 1910. En el Epílogo de 1927 a Análisis Profano Freud afirma que “después de 41 años mi autoconocimiento me dice que no he sido un médico cabal. Me hice médico porque me vi obligado a desviarme de mi propósito originario, y mi triunfo en la vida consiste en haber reencontrado la orientación inicial mediante un largo rodeo”. En la primera serie de lecciones del 1915 (Introducción al psicoanálisis, 1915-17) ya había escrito que los estudios en medicina eran los menos indicados, por su currículo, para formar psicoanalistas. En carta del 25 de noviembre de 1928, dirigida a su discípulo y pastor protestante 10 Para quienes formamos parte del movimiento de reconquista del psicoanálisis iniciado por Jacques Lacan y que continua la AMP (Asociación Mundial de Psicoanálisis) fundada por JacquesAlain Miller, el psicoanálisis constituye una experiencia de posibles efectos terapéuticos inventada por Freud. No es ni sanitaria, ni profesión. Es una creencia. En R.S.I. Lacan afirmó que “lo que constituye el síntoma es que uno cree en él”. Patrick Monribot agrega que se trata de “una creencia en el síntoma, en el inconsciente y en el sujeto supuesto saber, llave de la transferencia”. El amor, unas buenas vacaciones, las relaciones sexuales, las aguas termales, el mar, la playa, el deporte, la música, el teatro, la danza, la montaña, encontrar pareja, la amistad, una sauna, la buena alimentación, las caricias, los besos, recibir un regalo, cumplir una ilusión, recibir un premio o una buena noticia también pueden ser experiencias de muy posibles efectos terapéuticos. ¿Piensa el amo regular estas experiencias mediante leyes, decretos, reglamentaciones, autorizaciones y cámaras de vigilancia? En su trasfondo específico e íntimo el psicoanálisis poco tiene que ver con la medicina, ni con la psicología ni con las demás psicoterapias. En un reportaje publicado con el título El triunfo de la religión, a una pregunta que el entrevistador le hace al respecto, Jacques Lacan da una de sus habitualmente circunloquiales respuestas que yo resumo utilizando sus propios términos: “Los psicoanalistas se ocupan de lo que no anda bien, es decir de lo real. Se ocupan de las cosas que hacen que el mundo sea inmundo. Para ello es necesario que estén extremadamente acorazados contra la angustia”. ¿Dónde nos formamos los psicoanalistas para poder ejercer esta práctica y adquirir esas condiciones? En nuestros análisis personales, en nuestras Escuelas, en nuestros grupos y seminarios de estudio, en nuestras lecturas, en la supervisión de nuestra práctica, en nuestros Encuentros, Conversaciones, Jornadas y Congresos, de todo lo cual damos continuo testimonio a través de nuestras múltiples publicaciones. Se trata de una formación más estricta que cualquier otra de carácter universitario. Freud hizo referencia a un pequeño poblado de Tenessee, Estados Unidos, donde en 1925, John Scopes, un maestro de escuela fue sometido a juicio y 11 condenado por enseñar las teorías evolucionistas de Darwin, prohibidas por las leyes de ese estado. La historia fue llevada al cine con el título de Heredarás al viento, en la cual Spencer Tracy representó al abogado defensor del maestro. A lo largo del siglo XX, fueron varios los momentos en los que se pretendió quitar de los sistemas de enseñanza el conocimiento de los avances de ese evolucionismo que refleja una esfera de la lucha de clases, de la lucha entre lo atrasado y lo nuevo, entre la esclavitud mental y la liberación del pensamiento humano. Este ataque beneficia a formas del idealismo filosófico que alejan a las personas de la acertada comprensión del mundo y que promueven el conformismo ante un mundo injusto e insatisfactorio. Todavía en 2002, en los Estados Unidos, se presentaron casos en los cuales se expulsó a docentes que pretendían enseñar los avances científicos de Darwin, en contra de los dogmas religiosos creacionistas, principalmente en Kansas, donde la junta escolar del Estado pretendió prohibir la enseñanza de la Teoría de la Evolución, debate que se planteo en 17 estados más de Estados Unidos. Martín Lutero, el teólogo alemán iniciador de la Reforma protestante afirmó que: "La razón es la mayor enemiga de la fe. Quienquiera que desee ser cristiano debe arrancarle los ojos a su razón." "La fe debe sofocar toda razón, sentido común y entendimiento". El problema no es nuevo, Lo tuvo que enfrentar Theodor Reik ante los tribunales en 1925 lo cual impulsó a Freud a intentar fórmulas y a escribir las bases fundamentales de lo que debe ser nuestra posición ante el poder del estado y su legalidad. Nos las transmitió a través de su texto La cuestión del análisis profano publicado en 1926, subrayando el carácter lego de la práctica psicoanalítica y nos señalo que “Lo verdaderamente importante es que las posibilidades de desarrollo que en sí entraña el psicoanálisis no pueden ser coartadas por leyes ni reglamentos.” No le reconozco a ningún amo el derecho a regular nuestra más preciosa intimidad. No le reconozco el derecho a invadir la intimidad de nuestro psicoanálisis. Ni el derecho a decidir quien va a ser mi psicoanalista. Ni tampoco mi derecho y mi capacidad para ser psicoanalista de quién me elija para acompañarlo en ese viaje a la intimidad de uno mismo en el que se constituye un psicoanálisis. El futuro del psicoanálisis en el siglo XXI depende de nosotros, de nuestra convicción, de nuestra decisión, de nuestra firmeza, de nuestra fuerza y de nuestra intransigencia ante los amos sometedores que se han apoderado de casi todo y a quienes no deberíamos permitirles que se apoderen también del psicoanálisis. Madrid 08 de noviembre de 2011 12