daniel côrrea cardoso - engenharia civil
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daniel côrrea cardoso - engenharia civil
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA COLEGIADO DE ENGENHARIA CIVIL DANIEL CORRÊA CARDOSO Aproveitamento de Águas Pluviais em Habitações de Interesse Social – Caso: “Minha Casa Minha Vida” Feira de Santana-BA 2010 ii DANIEL CORRÊA CARDOSO Aproveitamento de Águas Pluviais em Habitações de Interesse Social – Caso: “Minha Casa Minha Vida” Esta monografia é a avaliação do trabalho de conclusão de curso realizado pela disciplina Projeto Final II do curso de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), outorgada pelo Departamento de Tecnologia, para obtenção do título de Bacharel em Engenharia Civil. Orientador: Professor Diogenes Oliveira Senna Feira de Santana-BA 2010 iii DANIEL CORRÊA CARDOSO Aproveitamento de Águas Pluviais em Habitações de Interesse Social – Caso: “Minha Casa Minha Vida” Esta monografia é a avaliação do trabalho de conclusão de curso realizado pela disciplina Projeto Final II do curso de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), outorgada pelo Departamento de Tecnologia, para obtenção do título de Bacharel em Engenharia Civil. Feira de Santana, 04 de Agosto de 2010 ___________________________________________________________________ Orientador: Prof. MSc. Diogenes Oliveira Senna Universidade Estadual de Feira de Santana ___________________________________________________________________ Prof. MSc. Luis Cláudio Alves Borja Universidade Estadual de Feira de Santana ___________________________________________________________________ Eng. Silvio Cláudio da Silva Secretaria de Desenvolvimento Urbano – Pref. Mun. de Feira de Santana iv AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, pela vida, pela saúde e por todas as coisas e pessoas ao meu redor. Ao orientador Professor Mestre Diogenes Oliveira Senna, pelo conhecimento transmitido, pelo incentivo e por toda dedicação empenhada. Aos membros da banca examinadora, por aceitarem o convite. Minha Mãe, Regina Maria Corrêa, pelo incentivo e pela grande preocupação com a formação dos seus filhos. Minhas irmãs, Camila e Daniele, pelo carinho, força e união. A minha namorada, Neive, pelo apoio, compreensão e paciência nos momentos difíceis. Aos amigos e colegas que me deram força para realização deste trabalho, em especial, a Carlos Alibert, Ítalo Giovanne e a Valéria Carvalho. v SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS.................................................................................................. vii LISTA DE TABELAS .................................................................................................viii LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS ................................................................ ix RESUMO..................................................................................................................... x ABSTRACT ................................................................................................................ xi 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 12 1.1. JUSTIFICATIVA............................................................................................ 13 1.2 OBJETIVOS.................................................................................................. 13 1.2.1 Objetivo Geral ............................................................................................... 14 1.2.2 Objetivos Específicos ................................................................................... 14 1.3 HIPÓTESE.................................................................................................... 14 1.4 METODOLOGIA ........................................................................................... 14 1.5 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA ................................................................ 15 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................ 17 2.1 IMPORTÂNCIA DA ÁGUA ............................................................................ 17 2.2 A PROBLEMÁTICA DA ESCASSEZ DA ÁGUA ........................................... 19 2.3 USO DA ÁGUA PELA SOCIEDADE ............................................................. 22 2.4 UTILIZAÇÃO DA ÁGUA DA CHUVA AO LONGO DA HISTÓRIA ................ 25 2.5 APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL NO MUNDO ............................... 29 2.6 APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL NO BRASIL ............................... 31 2.7 REUSO DA ÁGUA ........................................................................................ 32 2.8 SISTEMA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA DE CHUVA ......................... 36 2.8.1 Elementos do sistema de aproveitamento pluvial ......................................... 40 2.9 HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL X SUSTENTABILIDADE .............. 43 2.10 PROGRAMA ―MINHA CASA MINHA VIDA‖ ................................................. 46 3 ESTUDO DE CASO ..................................................................................... 47 3.1 DESCRIÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO ..................................................... 47 3.2 DADOS PLUVIOMÉTRICOS DA REGIÃO ................................................... 47 4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................ 49 4.1 DETERMINAÇÃO DAS ÁREAS DE COBERTURA ...................................... 49 4.2 ESTIMATIVA DO CONSUMO DE ÁGUA ..................................................... 50 vi 4.3 DIMENSIONAMENTO DO RESERVATÓRIO PARA APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL ........................................................................................................ 52 4.4 DIMENSIONAMENTO DE CALHAS, CONDUTORES VERTICAIS E CONDUTORES HORIZONTAIS ............................................................................... 54 4.4.1 Calhas .......................................................................................................... 54 4.4.2 Condutores Verticais .................................................................................... 56 4.4.3 Condutores Horizontais ................................................................................ 57 5 CONCLUSÃO E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ............... 59 5.1 CONCLUSÃO ............................................................................................... 59 5.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ............................................ 60 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 61 ANEXOS ................................................................................................................... 65 vii LISTA DE FIGURAS Figura 1 Distribuição dos recursos hídricos e da população no Brasil 20 Figura 2 Previsão de disponibilidade hídrica no Brasil 21 Figura 3 Distribuição do consumo de água nas residências na Alemanha 24 Figura 4 Distribuição do consumo de água nas residências em São Paulo 24 Figura 5 Sistema de captação de água de chuva do Irã 26 Figura 6 Cisterna do século X 27 Figura 7 Cisterna de captação de água de chuva 32 Figura 8 Esquema de utilização de água pluvial 40 Figura 9 Indicações para cálculos da área de contribuição 49 Figura 10 Ábaco para determinação de diâmetros de condutores verticais 57 viii LISTA DE TABELAS Tabela 1 Classificação da disponibilidade hídrica segundo o UNEP 21 Tabela 2 Dados Pluviométricos de Feira de Santana (2005 – 2009) 48 Tabela 3 Parâmetros de demanda residencial para estimativa de consumo de água 51 Tabela 4 Consumo de água estimado para a residência em estudo 52 Tabela 5 Valores de C de diferentes autores 53 Tabela 6 Coeficiente de rugosidade 55 Tabela 7 Capacidade de calhas semicirculares 56 Tabela 8 Capacidade de condutores horizontais de seção circular (vazões em L/min) 58 ix LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS AAP Aproveitamento de Água Pluvial ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas C Coeficiente de Escoamento EMBASA Empresa Baiana de Água e Saneamento Hab Habitantes L Litros m² Metros quadrados m³ Metros cúbicos mm Milímetros NBR Norma Brasileira ONU Organização das Nações Unidas PAC Programa da Aceleração do Crescimento SAAE Sistema Autônomo de Água e Esgoto UEFS Universidade Estadual de Feira de Santana x RESUMO Os problemas de escassez de água e poluição dos mananciais, aliados à má utilização da água potável que chega até nossas residências, sugerem a procura de alternativas para a solução desses problemas. Uma alternativa é a coleta da água pluvial. As técnicas de aproveitamento de água pluvial são soluções sustentáveis que contribuem para uso racional da água, além disso, podem proporcionar uma redução nas faturas pagas pelo usuário às concessionárias de abastecimento de água. O presente trabalho verificou a possibilidade de implantação de um sistema de aproveitamento de água pluvial para fins não potáveis, aplicado às Habitações de Interesse Social – Caso: ―Minha Casa Minha Vida‖, situada no Município de Feira de Santana - BA. Para desenvolver esse estudo foi feita uma breve revisão bibliográfica, coleta de dados referente à quantidade de chuva na região em estudo, descrição da tipologia da edificação em estudo, o dimensionamento da área do telhado da edificação, o dimensionamento do reservatório para armazenar a água pluvial captada e uma estimativa do consumo de água não potável nessa habitação. Assim permitiu comparar o consumo de água não potável com o volume de chuva que ira captar e armazenar, verificando a possibilidade de implantação do sistema para atender suas necessidades de consumo. Palavras-Chaves: Aproveitamento, Água, Chuva, Habitação de Interesse Social xi ABSTRACT The problems of water scarcity and pollution of watercourses, allies to misuse of drinking water that reaches our homes, suggests the search for alternatives to solving these problems. An alternative is the collection of rainwater. The techniques of rainwater utilization are sustainable solutions that contribute to the rational use of water, moreover, can provide a reduction in the invoices paid by the user on water supply dealers. This work was the possibility of deploying a system of rainwater utilization for purposes not potable, applied to social housing schemes – Case: "my house, my life", in the municipality of Feira de Santana (BA). To develop this study was made a brief bibliographic review, collects data on the amount of rainfall in the region under study, description of the typology of the building in study, the scaling of the roof of the building area, sizing of tank to store the captured rainwater and an estimate of the non-potable water consumption in housing. So comparing the nonpotable water consumption with the volume of rain that will capture and store, noting the possibility of deploying the system to meet your needs. Key words: Harnessing, Water, Rain, Social Interest Housing 12 1. INTRODUÇÃO A água é um recurso limitado e precioso. Embora cerca de 3/4 da superfície da Terra seja ocupada pela água, deste total apenas 3% são de água doce, dos quais apenas 20% encontram-se imediatamente disponíveis para o homem. Além disto, a distribuição desigual da água pelas diferentes regiões do planeta faz com que haja escassez do recurso em vários países. Os meios naturais de transformação da água em água potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo, esta deve ser manipulada com racionalidade, preocupação e moderação, não devendo ser desperdiçada, poluída, ou envenenada. De maneira geral, sua utilização deve ser feita com consciência e discernimento, para que não se chegue a uma situação de esgotamento ou de deterioração da qualidade das reservas atualmente disponíveis (Zampieron, 2005). Para tanto, sugere-se então, a adoção da captação da água da chuva como ferramenta de gestão da água. O Reuso Planejado da Água faz parte da Estratégia Global para a Administração da Qualidade da Água, proposta pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2005). Ela prevê o alcance simultâneo de três importantes elementos que são a proteção da saúde pública, a manutenção da integridade dos ecossistemas e o uso sustentado da água (Reuso, 2005). Neste contexto, este trabalho é voltado para o aproveitamento da água da chuva, para o uso doméstico, porque parte do consumo doméstico não exige que seja utilizada água potável. Sendo assim, a água da chuva coletada através do escoamento do telhado e calhas de uma edificação, a qual é aproveitada posteriormente para limpeza de calçadas, pisos e carros, descargas de banheiros, jardins, entre outros, através de instalações hidráulicas adequadas. 13 1.1. JUSTIFICATIVA A água é um dos fatores ambientais que tem suscitado grande preocupação dos planejadores. Os maiores desafios que se vislumbram hoje, no Brasil, são a consolidação dos aspectos institucionais do gerenciamento dos recursos hídricos, o controle desses recursos nas grandes metrópoles brasileiras, a preservação ambiental, o uso e controle do solo rural e o controle da poluição difusa, no âmbito de uma visão racional de aproveitamento e preservação ambiental (TUCCI, HESPANHOL, NETTO, 2003). A água é um bem essencial à vida de todos os seres vivos que habitam nosso planeta. A sua facilidade de acesso, armazenamento, tratamento e destino adequado dos efluentes devem ser objetivos a serem perseguidos por todos os cidadãos do planeta. Reusar a água traz benefícios porque reduz a demanda nas águas de superfície e subterrâneas além de proteger o meio ambiente, economizar energia e reduzir investimentos em infra-estrutura. O uso eficiente da água representa uma efetiva economia para consumidores, empresas e a sociedade de um modo geral. Grande parte da água utilizada dentro das edificações pode ser reaproveitada para fins menos nobres, para isso é necessário analisar as diversas utilizações da água na edificação e definir alternativas para reaproveitamento da mesma. Diante da baixa disponibilidade de recursos hídricos e a crescente degradação de sua qualidade é imprescindível buscar novas alternativas que minimizem o consumo da água. Devido a tal situação, este trabalho deverá abordar uma técnica de Aproveitamento de Água Pluvial (AAP), buscando conseguir um uso mais racional deste recurso. 1.2 OBJETIVOS 14 1.2.1 Objetivo Geral Verificar a possibilidade do aproveitamento de águas pluviais em habitações de interesse social, para uso não potável. 1.2.2 Objetivos Específicos 1.3 Reduzir o consumo de água potável, Reduzir a fatura mensal do consumo de água, Dimensionar reservatório, calhas e condutores (vertical e horizontal). HIPÓTESE Inicialmente, busca, através do presente tema, propiciar conhecimentos novos à área de estudo e também trazer benefícios práticos e reais para a sociedade. O processo de pesquisa estará voltado para evidenciar o método utilizado a fim de um melhor aproveitamento da água capitada das chuvas, e como conseqüência primordial, mostrar a viabilidade da implantação do sistema em edificações de interesse social, além de minimizar o desperdício de água potável. 1.4 METODOLOGIA Avaliação de um sistema de aproveitamento de água pluvial para fins não potáveis, em habitações de interesse social, localizada no município de Feira 15 de Santana – Ba, onde será desenvolvida uma metodologia que compreende as seguintes etapas: 1.5 Revisão bibliográfica sobre o tema Descrição do objeto de estudo Dados pluviométricos da região Determinação das áreas de cobertura Estimativa do consumo de água Dimensionamento do reservatório para aproveitamento de água pluvial Dimensionamento de calhas e condutores pela NBR 10844/89 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA A estrutura da presente monografia surge assim como uma consequência dos objetivos enunciados, sendo que o respectivo texto será organizado em cinco capítulos. Nos parágrafos que se seguem é efetuada uma descrição sumária de cada um desses capítulos. No capítulo 1 contemplará introdução, justificativa, o objetivo geral e os específicos, hipótese, metodologia a ser aplicada e a própria estruturação da monografia. O capítulo 2 irá constar todo o embasamento teórico, como a importância da água, a problemática da escassez da água, uso da água pela sociedade, uso da água ao longo da história, aproveitamento de água pluvial no Brasil e no 16 mundo, o reuso da água, o funcionamento do sistema de aproveitamento de água de chuva e uma abordagem sobre Habitações de Interesse Social. O capítulo 3 será feito um estudo de caso de uma Habitação de Interesse Social do Programa do Governo Federal ―Minha Casa Minha Vida‖, localizada na cidade de Feira de Santana – Ba. O capítulo 4 irá apresentar e discutir os resultados provenientes do estudo de caso. E por fim, o capítulo 5 irá conter as conclusões e fazer sugestões para trabalhos futuros. 17 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 IMPORTÂNCIA DA ÁGUA A água subterrânea é bastante explorada no Brasil. Estima-se que existam no Brasil pelo menos 400.000 poços (ZOBY e MATOS, 2002). A água de poços e fontes vem sendo utilizada para diversos fins, tais como o abastecimento humano e industrial, irrigação e lazer. No Brasil, 15,6% dos domicílios utilizam exclusivamente água subterrânea, 77,8% faz uso de rede de abastecimento de água e 6,6 % usam outras formas de abastecimento (IBGE, 2002a). Segundo Macedo (2004) atualmente, há uma constante preocupação com o recurso natural água. Constata-se que esse recurso que antes pensava-se que fosse infinito, ganhou novas proporções e hoje nota-se que essa informação é errônea, pois 1,5 milhões de quilômetros cúbicos de água existente no planeta, cerca de 97,5% é salgada, 2,49% na forma de geleiras, resultando somente 0,007% de água para o consumo humano. Segundo dados apresentado por ANEEL/ANA (2002) o Brasil possui a maior reserva de água do planeta, cerca de 8% da água doce disponível, mas 73% destas águas estão na Amazônia, onde a população é de apenas 5%. Os 27% restantes respondem pelo abastecimento de 95% da população. Mesmo com 20% de toda a água doce superficial da Terra, aqui, como no resto do mundo, a situação é delicada. Nossos rios e lagos vêm sendo comprometidos pela queda de qualidade da água disponível para uso em decorrência da poluição e da degradação ambiental. De acordo com Derisio (2000) o ciclo da água representa o percurso da água desde a atmosfera, passando por várias fases, até retornar de novo à 18 atmosfera. Essas fases englobam, basicamente, a precipitação, escoamento superficial, infiltração, escoamento subterrâneo e a evaporação. Segundo Magossi (1991), sem dúvida, o baixo custo da água estimula o seu alto consumo e, portanto, se caracteriza como um inimigo da eficiência. Como o mundo assiste a uma disponibilidade decrescente de água, este recurso se destaca como um importante fator de desenvolvimento, surgindo, assim, três princípios: a atenção ao uso eficiente da água é proporcional aos preços cobrados pelo seu acesso; o estabelecimento de valor econômico para este recurso, portanto determina seu uso mais eficiente e finalmente, uma forma de reduzir os custos sociais causados pela apropriação da qualidade da água pelos agentes poluidores é o estabelecimento de preço para esta utilização que estimule a adoção de sistemas de tratamento de efluentes. Em resumo, a definição de preços para o uso da água é um incentivo poderoso para aumentar a eficiência de seu uso. Machado (2004) afirma em seus estudos que ao longo dos últimos 50 anos, mediante o crescimento acelerado das populações e da indústria, as fontes disponíveis de água doce do planeta estão comprometidas. Embora o colapso do abastecimento seja uma realidade em muitos lugares, sobretudo em bairros da periferia de centros urbanos densamente povoados, ainda assim vive-se a ilusão de que a água é um recurso infinito. A generosidade da Natureza fazia crer em inesgotáveis mananciais, abundantes e renováveis. Hoje, o mau uso, aliado à crescente demanda pelo recurso, vem preocupando especialistas e autoridades no assunto, pelo evidente decréscimo da disponibilidade de água limpa em todo o planeta. (JAQUES, 2005) A água pode ser abundante em algumas regiões do planeta Terra, mas, em outras, chega a ser quase inexistente. A maior parte da água doce existente no mundo está localizada em apenas 10 países, entre eles o Brasil. É preciso levar em consideração que a distribuição da água é irregular, e essa situação tende a piorar devido aos fenômenos climáticos. Em alguns lugares há muita 19 chuva e as enchentes causam grandes problemas, enquanto em outros a seca é grande (KITAMURA, 2004). De acordo com Santos (2002), entre as soluções apontadas para os problemas que afetam os recursos hídricos, a universalização dos serviços de água e esgoto é o primeiro objetivo colocado por largos setores da sociedade, pelos organismos internacionais como a ONU e o Banco Mundial e pelo governo brasileiro. Além de atender a uma necessidade de melhoria das condições de saúde e de vida da população se refletirá também na adoção de práticas de conservação e na recuperação da qualidade ambiental dos ecossistemas como um todo. Outro objetivo para a gestão dos recursos hídricos e reversão dos problemas é a aplicação de mecanismos de gestão que incentivem o uso mais racional da água, ou seja, incentivar a todos aqueles que usam a água de forma ineficiente a pagar pelo seu uso ou desistir e transferir a água para usos de valor maior, entre eles, inclusive, os usos ambientais (SANTOS, 2002). 2.2 A PROBLEMÁTICA DA ESCASSEZ DA ÁGUA Atualmente vários países enfrentam o problema da escassez da água, em decorrência do desenvolvimento desordenado das cidades, da poluição dos recursos hídricos, do crescimento populacional e industrial, que geram um aumento na demanda pela água, provocando o esgotamento desse recurso. Outro aspecto importante a cerca dos recursos hídricos é a desigualdade com que o mesmo se distribui nas regiões do mundo e até mesmo no Brasil. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente (CONSUMO SUSTENTÁVEL: Manual de educação, 2002), o Brasil detém cerca de 13,7% de toda a água superficial da Terra, sendo que desse total, 70% está localizado na região amazônica e apenas 30% está distribuído pelo resto do país. 20 A Figura 1 apresenta os dados da distribuição dos recursos hídricos e da população em cada região do Brasil. Observa-se que as regiões Norte e Centro-Oeste detêm a maior parte dos recursos hídricos do país, sendo responsável pelo abastecimento da menor parcela da população, ao passo que as regiões sudeste e nordeste, concentram a menor parcela de água e são responsáveis pelo abastecimento de mais de 70% da população brasileira. Figura 1 — Distribuição dos recursos hídricos e da população no Brasil Fonte: Consumo sustentável: Manual de educação, 2002. A United Nations Environment Programe (UNEP), classifica a disponibilidade hídrica de muito alta a catastroficamente baixa, de acordo com a quantidade de água disponível em m³ por pessoa por ano (Tabela 1), e segundo as projeções do estudo realizado por Ghisi (2005), se nenhuma atitude for tomada no sentido de preservar a água, reservando esta para ser utilizada apenas para os fins mais nobres, a disponibilidade hídrica nas regiões Nordeste e Sudeste do Brasil podem chegar à condição de catastroficamente baixa (Figura 2). 21 Tabela 1 — Classificação da disponibilidade hídrica segundo o UNEP Disponibilidade Hídrica Classificação (m³ per capita/ano) Maior que 20.000 Muito Alta 10.000 – 20.000 Alta 5.000 – 10.000 Média 2.000 – 5.000 Baixa 1.000 – 2.000 Muito Baixa Menor que 1.000 Catastroficamente baixa Fonte: UNEP, 2002. Figura 2 — Previsão de disponibilidade hídrica no Brasil Fonte: Ghisi, 2005. As estatísticas internacionais confirmam o problema que diversos países têm em garantir ao cidadão acesso à água com qualidade adequada e quantidade suficiente. Dentre às restrições à melhora desse serviço estão questões econômicas, organizacionais, climáticas e, sustentabilidade hídrica (THOMAS, 2003). principalmente, a falta de 22 Diante deste panorama, cresce a necessidade de se encontrar meios e formas de preservar a água potável. As soluções que preservam a quantidade e a qualidade da água passam, necessariamente, por uma revisão do uso da água nas residências, tendo como meta a redução do consumo de água potável e conseqüente conservação dos recursos hídricos. Dentre as estratégias utilizadas atualmente para reduzir o consumo de água pela população pode-se citar a medição individualizada de água, a racionalização do uso, a utilização de dispositivos economizadores de água, como as bacias sanitárias com volume de descarga reduzido e os registros de fechamento automático de torneiras, chuveiros e mictórios e a utilização de fontes alternativas de água. Em alguns locais, atitudes como a de se instalar submedidores em apartamentos, promovendo a medição individualizada já apresenta bons resultados. Em Guarulhos a medição individualizada de 2.880 ligações trouxe ao SAAE uma economia de 15% no fornecimento de água (TOMAZ, 2003). Campanhas de conscientização dos consumidores também resultam em efeitos positivos e devem ser realizadas inclusive com as crianças, para a formação da consciência ambiental. 2.3 USO DA ÁGUA PELA SOCIEDADE A água é utilizada em todos os segmentos da sociedade, e está presente no uso doméstico, comercial, industrial, público e agrícola. A demanda de água de cada um desses setores é distinta. Em linhas gerais, a maior parte da água doce do mundo é consumida na agricultura, a qual é responsável pela utilização de, aproximadamente, 70% da mesma. O consumo doméstico está em segundo lugar com 23%; segundo Terpstra (1999), esse consumo tem aumentado durante a última década numa média de 4% por ano. A indústria apresenta um consumo de água de cerca de 7% (CONSUMO SUSTENTÁVEL: Manual de educação, 2002). 23 A agricultura está na dianteira no consumo de água, principalmente, devido ao desperdício. Segundo Rebouças (2003), o uso da água na agricultura ocorre de forma ineficiente, com um desperdício estimado de cerca de 60% de toda a água fornecida a este setor. Em uma residência o consumo de água é influenciado por diversos fatores como o clima da região, a renda familiar, o número de habitantes, as características culturais da comunidade e a forma de gerenciamento do sistema de abastecimento, que englobam a micromedição e o valor da tarifa. Estima-se um consumo médio de água nas residências de 200 L/hab/dia, com grandes oscilações, que podem ir de 50 L/hab/dia a 600 L/hab/dia (TSUTIYA, 2005). Nas residências a realidade do desperdício também se faz presente, a água é má utilizada e desperdiçada dentro das próprias casas, muitas vezes em virtude do desconhecimento, da falta de orientação e informação dos cidadãos. A busca por uma sociedade sustentável passa, necessariamente, pela educação ambiental e pela mudança de hábitos e conceitos da população, como o de carrear os dejetos com água tratada e clorada. Uma das tentativas para a solução do problema da água é a reformulação do sistema de abastecimento de água atual, que utiliza água potável para todos os fins, tanto para higiene pessoal quanto para lavar calçada e para carrear dejetos. Chilton et al. (1999) descrevem que a água de abastecimento utilizada pela população no Reino Unido é purificada para atender exigentes padrões de potabilidade, sendo que grande parte desta água é utilizada para fins que não necessitam de tal qualidade como, por exemplo, nos vasos sanitários. Segundo Terpstra (1999) os propósitos e aplicações da água dentro de uma residência podem ser separados um quatro categorias: higiene pessoal, descarga de banheiros, consumo e limpeza. 24 Observa-se portanto, que a água destinada ao consumo humano pode ter dois fins distintos, parte da água que abastece uma residência é utilizada para higiene pessoal, para beber e na preparação de alimentos, sendo estes usos designados como usos potáveis, e a outra parcela da mesma água que chega às residências é destinada aos usos não potáveis, como lavagem de roupas, carros e calçadas, irrigação de jardins e descarga de vasos sanitários. Estudos realizados mostram que dentro de uma residência os pontos de maior consumo de água são para dar descarga nos vasos sanitários, para a lavagem de roupas e para tomar banho (Figuras 3 e 4). Em média, 40% do total de água consumida em uma residência são destinados aos usos não potáveis. Desta forma, estabelecendo um modelo de abastecimento de rede dupla de água, sendo uma rede de água potável e outra de água de reúso, a conservação da água, através da redução do consumo de água potável, seria garantida. O uso de fontes alternativas de suprimento para o abastecimento dos pontos de consumo de água não potável é uma importante prática na busca da sustentabilidade hídrica. Dentre as fontes alternativas pode-se citar o 25 aproveitamento da água da chuva, o reúso de águas servidas e a dessalinização da água do mar. Destaca-se o aproveitamento da água da chuva como fonte alternativa de suprimento pela sua simplicidade. A precipitação da chuva é umas das etapas do ciclo hidrológico, também conhecido como ciclo da água. De toda a água precipitada, parte escoa pela superfície do solo até chegar aos rios, lagos e ao oceano, parte retorna imediatamente para a atmosfera por evaporação e parte infiltra no solo, promovendo a recarga subterrânea (GARCEZ, 1974). A crescente urbanização, realidade em grande parte do mundo, gerou uma mudança no ciclo hidrológico das áreas urbanas (ZAIZEN et ai., 1999). O aumento das áreas impermeáveis provocou uma redução da função de infiltração e armazenamento de água de chuva nas camadas subterrâneas da terra. Com isso, a realidade desses centros é a diminuição da recarga dos aqüíferos e aumento do escoamento superficial das chuvas, provocando enchentes e trazendo sérios problemas à população. A utilização da água da chuva além de trazer o benefício da conservação da água e reduzir a dependência excessiva das fontes superficiais de abastecimento, reduz o escoamento superficial e dá chance à restauração do ciclo hidrológico nas áreas urbanas, sendo este extremamente necessário para garantir o desenvolvimento sustentável. 2.4 UTILIZAÇÃO DA ÁGUA DA CHUVA AO LONGO DA HISTÓRIA O manejo e o aproveitamento da água da chuva não é uma prática nova, existem relatos desse tipo de atividade a milhares de anos atrás, antes mesmo da era cristã. No Planalto de Loess na China já existiam cacimbas e tanques para armazenamento de água de chuva há dois mil anos atrás. Na Índia existem 26 inúmeras experiências tradicionais de colheita e aproveitamento de água de chuva. A Figura 5 mostra a foto do Abanbar, tradicional sistema de captação de água de chuva comunitário do Irã. No deserto de Negev, hoje território de Israel e da Jordânia, há 2.000 anos existiu um sistema integrado de manejo de água de chuva (GNADLINGER, 2000). Existem relatos do uso da água da chuva por vários povos, como os Incas, os Maias e os Astecas. No século X, ao sul da cidade de Oxkutzcab, a agricultura era baseada na coleta da água da chuva, sendo a água armazenada em cisternas com capacidade de 20 a 45 m3, chamadas de Chultuns pelos Maias (GNADLINGER, 2000). As cisternas Chultuns eram escavadas no subsolo calcário e revestidas com reboco impermeável, acima delas havia uma área de coleta de 100 a 200 m2 (Figura 6). Figura 5 – Sistema de captação de água de chuva do Irã (Abandar) Fonte: Gnadlinger, 2000. 27 Figura 6 – Cistema do século X (Chultuns) Fonte: Gnadlinger, 2000. A coleta e o aproveitamento da água da chuva pela sociedade perdeu força com a inserção de tecnologias mais modernas de abastecimento, como a construção de grandes barragens, o desenvolvimento de técnicas para o aproveitamento de águas subterrâneas, a irrigação encanada e a implementação dos sistemas de abastecimento. Entretanto, atualmente a utilização da água da chuva voltou a ser realidade, fazendo parte da gestão moderna de grandes cidades em países desenvolvidos. Vários países europeus e asiáticos utilizam amplamente a água da chuva nas residências, nas indústrias e na agricultura, pois sabe-se que a mesma possui qualidade compatível com usos importantes, sendo considerada um meio simples e eficaz para atenuar o problema ambiental de escassez de água. Muitos países desenvolvidos da Europa, principalmente, a Alemanha e outros como o Japão, a China, a Austrália, os Estados Unidos e até mesmo os países da África e a Índia estão seriamente empenhados e comprometidos com o 28 aproveitamento da água da chuva e com o desenvolvimento de pesquisas e tecnologias que facilitem e garantam o uso seguro desta fonte alternativa de água. Um dos primeiros estudos realizados neste século sobre o aproveitamento da água da chuva através de cisternas, foi reportado por Kenyon (1929), citado por Myers (1967), composto por um sistema artificial de armazenamento de água de chuva para o consumo humano e animal, em uma região com precipitação média anual de 305 mm, sendo até hoje utilizado. Segundo Konig (1994 apud DIXON, BUTLER & FEWKES, 1999) a utilização da água da chuva além de ter uma longa história difundida mundialmente, nos dias atuais, é aplicada em muitas sociedades modernas, como uma valiosa fonte de água para irrigação, para beber e mais recentemente para suprir as demandas de vasos sanitários e de lavagem de roupas. No Japão, a coleta da água da chuva ocorre de forma bastante intensa e difundida, em especial em Tóquio, que atualmente depende de grandes barragens, localizadas em regiões de montanha a cerca de 190 km do centro da cidade, para promover o abastecimento de água de forma convencional. Nas cidades do Japão, a água da chuva coletada, geralmente, é armazenada em reservatórios que podem ser individuais ou comunitários, esses, chamados ―Tensuison‖, são equipados com bombas manuais e torneiras para que a água fique disponível para qualquer pessoa. A água excedente do reservatório é direcionada para canais de infiltração, garantindo assim a recarga de aqüíferos e evitando enchentes, problema também enfrentado pelas cidades japonesas, devido ao grande percentual de superfícies impermeáveis (FENDRICH & OLIYNIK, 2002). Ainda no Japão, a coleta da água da chuva e o seu aproveitamento são praticados em estádios para a descarga de vasos sanitários e a rega de plantas. Os Estádios de Tokyo, Nagoya e Fukuoka são exemplos dessa prática, com áreas de captação de 16.000, 25.900 e 35.000 m2 e reservatórios de armazenamento de 1.000, 1.800 e 1.500 m3, respectivamente (ZAIZEN et ai., 1999). 29 Segundo Gardner, Coombes e Marks (2004), os sistemas de aproveitamento de água de chuva na Austrália proporcionam uma economia de 45% do consumo de água nas residências, já na agricultura, a economia chega a 60%. Estudos realizados no sul da Austrália em 1996 mostraram que 82% da população rural desta região utilizam a água da chuva como fonte primária de abastecimento, contra 28% da população urbana (HEYWORTH, MAYNARD & CUNLIFFE, 1998). Em alguns locais o governo financia parte da construção do sistema de coleta e aproveitamento da água da chuva, como forma de incentivo à população. Em Hamburgo, na Alemanha, concede-se cerca de US$ 1.500,00 a US$ 2.000,00 a quem aproveitar a água da chuva; este incentivo terá como retorno para o governo o controle dos picos das enchentes durante os períodos chuvosos (TOMAZ, 2003). No Reino Unido, o uso da água da chuva também é incentivado, visto que 30% do consumo de água potável das residências é gasto na descarga sanitária (FEWKES, 1999). Além das residências, outros segmentos da sociedade também começam a olhar com interesse para o aproveitamento da água da chuva. Indústrias, instituições e até mesmo estabelecimentos comerciais como, por exemplo, os lava-jatos, buscam a água da chuva visando tanto o retorno da economia de água potável quanto o retorno publicitário, se intitulando como indústrias e estabelecimentos ecologicamente corretos e conscientes (KOENIG, 2003). 2.5 APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL NO MUNDO Registros históricos indicam que a água da chuva já é utilizada pela humanidade há milhares de anos. Existem inúmeras cisternas escavadas em rochas, utilizadas para aproveitamento de água pluvial, que são anteriores a 3.000 a.C. Em Israel, encontra-se um dos exemplos mais conhecidos, a 30 famosa fortaleza de Masada, com dez reservatórios escavados na rocha, tendo como capacidade total 40 milhões de litros. No México, existem cisternas ainda em uso, que datam de antes da chegada de Cristóvão Colombo à América (TOMAZ, 2003). Em países industrializados, como a Alemanha, a população e as autoridades públicas estão apoiando ativamente o aproveitamento de água de chuva. Além disso, o governo alemão está participando com apoio financeiro, oferecendo financiamentos para a construção de sistemas de captação de água pluvial, incentivando assim a economia de água potável para suprir as futuras populações e novas indústrias, conservando as águas subterrâneas que são utilizadas como fontes de recurso hídrico em muitas cidades do país (GRQUP RAINDROPS, 2002). Segundo Tomaz (2001a), especialistas acreditam que até o ano de 2010, um percentual de 15% de toda água utilizada na Europa seja proveniente de aproveitamento de água de chuva. Um dos países que mais utiliza sistemas de aproveitamento de água pluvial além de promover estudos e pesquisas nessa área, é o Japão. Como exemplo, tem-se o caso de Tóquio, onde regulamentos do governo metropolitano obrigam que todos os prédios com área construída maior que 30.000 m2 (metro quadrado) utilizem mais de 100 m³ (metro cúbico) por dia de água para fins não potáveis, façam reciclagem da água de chuva e de água servida (água de lavatórios, chuveiros e máquinas de lavar roupas). Além disso, a fim de evitar enchentes, devem ser construídos reservatórios de detenção de água de chuva em áreas de terrenos maiores de 10.000 m2 (metro quadrado) ou em edifícios que tenham mais que 3.000 m2 (metro quadrado) de área construída (TOMAZ, 2003). Países como Estados Unidos, Austrália e Cingapura também estão desenvolvendo pesquisas referentes ao aproveitamento de água pluvial. Em 1992, iniciou-se sistema de uso de água de chuva no Aeroporto de Chagi, em Cingapura. A água pluvial captada nas pistas de decolagem e aterrissagem é 31 coletada e utilizada para descarga dos banheiros, evitando transtornos com enchentes nas pistas. Essa iniciativa abriu caminhos para novas áreas de pesquisa de aproveitamento de águas pluviais nesses países. (GROUP RAINDRQPS, 2002). 2.6 APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL NO BRASIL No Brasil, até aproximadamente 20 anos atrás existiam poucas experiências de aproveitamento de água pluvial. No nordeste brasileiro a falta de água nos açudes, lagoas e nos rios, que são temporários naquela região, e a salinidade das águas subterrâneas são fatores que levam parte da população nordestina a utilizar a água da chuva para suprir as necessidades de uso doméstico e das atividades na agricultura. O Semi-árido brasileiro foi o pioneiro na arte de captação de águas pluviais. Existem várias experiências de tecnologias de sucesso de captação e manejo de água de chuva para uso humano, para criação de animais e produção de alimentos, na sua maioria, desenvolvidas por agricultores familiares. Hoje, já existe no país a Associação Brasileira de Manejo e Captação de Água de Chuva, que é responsável por divulgar estudos e pesquisas, reunir equipamentos, instrumentos e serviços sobre o assunto (ABCMAC, 2008). Na cidade de Guarulhos, estado de São Paulo, algumas indústrias utilizam água de chuva para suprimento de alguns pontos na sua produção. Segundo Thomaz (1993), é realizado aproveitamento de água de chuva em uma indústria de tingimento de tecidos, captada através de um telhado de 1.500 m2 (metro quadrado) e armazenada em reservatório subterrâneo de 370 m3. Já em Blumenau, cidade localizada no estado de Santa Catarina, foi instalado sistema de aproveitamento de água pluvial em um hotel com 569,50 m2 (metro 32 quadrado) de área de cobertura (área de captação). O volume da cisterna utilizada é 16.000 litros, estimando-se a economia anual de água potável em torno de 684.000 litros (BELLA CALHA, 2008). Nos últimos três anos, o Brasil conseguiu construir mais de 100 mil cisternas, capazes de armazenar cerca de 1,5 bilhões de litros de água, na região do semi-árido brasileiro. A meta dos brasileiros envolvidos nesse projeto é construir 1 milhão de cisternas até o ano de 2010 (MONTOIA, 2008). Figura 7 – Cisterna de captação de água de chuva Fonte: UFRJ, 2005 2.7 REUSO DA ÁGUA A água de reuso tratada é produzida dentro das Estações de Tratamento de Esgoto e pode ser utilizada para inúmeros fins, como geração de energia, refrigeração de equipamentos, em diversos processos industriais, em prefeituras e entidades que usam a água para lavagem de ruas e pátios, no setor hoteleiro, irrigação/rega de áreas verdes, desobstrução de rede de esgotos e águas pluviais e lavagem de veículos. 33 A grande vantagem da utilização da água de reuso é a de preservar água potável exclusivamente para atendimento de necessidades que exigem a sua potabilidade, como para o abastecimento humano. Deve-se considerar o reuso de água como parte de uma atividade mais abrangente de gestão integrada que é o uso racional ou eficiente da água, o qual compreende também o controle de perdas e desperdícios, e a minimização da produção de efluentes e do consumo de água. O manejo das águas pluviais, historicamente representado por galerias pluviais, canais e áreas de retenção (hoje: piscinões), vem nas últimas duas décadas recebendo em muitos países do mundo a complementação por medidas como captação direta dos telhados, retenção temporária, aproveitamento e reinjeção no subsolo da chuva. A idéia é de captar água de chuva antes que chegue ao solo, onde normalmente se contamina e fica imprópria para uso. As águas pluviais assim captadas servem, após o tratamento adequado, para muitos usos não potáveis. A crise de abastecimento de água nos núcleos urbanos gera a necessidades de serem buscadas alternativas capazes de reverter o atual estado de uso irracional da água. Entre essas alternativas estão as ―alternativas de gerenciamento da demanda‖ as quais englobam ações, medidas, práticas ou incentivo que contribuam para o uso eficiente da água para a sociedade, sem prejudicar os atributos de higiene e conforto dos sistemas originais. O gerenciamento da demanda representa uma nova abordagem a tradicional prática da expansão contínua da oferta que busca o atendimento às demandas apenas através da construção de açudes, poços, barragens e transposição de vazões, práticas que em muitas regiões têm se mostrado não sustentáveis nos aspectos financeiros, sócio – econômico e ambiental (Silva et al 1999). A captação da água de chuva se enquadra nas ações de gerenciamento da demanda, juntamente com o reuso da água residencial e industrial, controle de vazamentos na rede publica etc. 34 Atualmente, segundo Universidade Livre do Meio Ambiente (Unilivre), o manejo e aproveitamento da água para uso doméstico, industrial e agrícola estão ganhando terreno em várias partes do mundo, sendo visto por especialistas como um meio simples e eficaz para se atenuar o grave problema ambiental da crescente escassez de água para consumo. A captação de água de chuva baseia-se na coleta da precipitação em áreas de intercepção (solo, telhados, rodovias), e seu encaminhamento para áreas menores para uso imediato ou armazenamento em reservatórios ou solo. A quantidade de água coletada depende da área efetiva de coleta, do volume do reservatório e da quantidade e distribuição temporal de chuva. A captação de água de cheia tem como princípio o desvio de vazões de cheia para áreas de cultivo agrícola. Em geral, são utilizadas barragens de terra, canais naturais ou artificiais e estruturas de desvio. Adicionalmente à função de aumentar a disponibilidade de água para irrigação, esta técnica permite reduzir a erosão e promover a recarga de água subterrânea, a qual pode também ser promovida utilizando-se efluentes de sistemas de tratamento de esgotos. A recarga artificial de aqüíferos, à qual geralmente está associada a construção de barragens subterrâneas, ainda tem o objetivo de controlar a degradação ambiental devido ao excessivo aproveitamento de águas subterrâneas, além de freqüentemente diminuir a salinidade dos aqüíferos. A captação da água da chuva é uma prática muito difundida em países como Austrália e Alemanha, aonde novos sistemas vêm sendo desenvolvidos, permitindo a captação de água de boa qualidade de maneira simples e bastante eficiente em termos de custo-benefício. A utilização de água de chuva traz várias vantagens (Aquastock, 2005): • Redução do consumo de água da rede pública e do custo de fornecimento da mesma; • Evita a utilização de água potável onde esta não é necessária, como por exemplo, na descarga de vasos sanitários, irrigação de jardins, lavagem de pisos, etc; 35 • Os investimentos de tempo, atenção e dinheiro são mínimos para adotar a captação de água pluvial na grande maioria dos telhados, e o retorno do investimento ocorre a partir de dois anos e meio; • Faz sentido ecológica e financeiramente não desperdiçar um recurso natural escasso em toda a cidade, e disponível em abundância todos os telhados; • Ajuda a conter as enchentes, represando parte da água que teria de ser drenada para galerias e rios; • Encoraja a conservação de água, a auto-suficiência e uma postura ativa perante os problemas ambientais da cidade. Reusar a água ou usar a água reciclada traz benefícios porque reduz a demanda nas águas de superfície e subterrâneas disponíveis (Strauss, 1991 apud Mieli, 2001). O uso da água de maneira mais eficiente protege o meio ambiente, economiza energia, reduz os investimentos em infra-estrutura, ocasionando melhoria dos processos industriais. O uso eficiente da água representa uma efetiva economia para consumidores, empresas e a sociedade de um modo geral. Segundo Hespanhol (2000) apud Mieli (2001), um dos pilares do uso eficiente da água é o combate incessante às perdas e aos desperdícios - no caso do Brasil a média de perdas nos sistemas de abastecimento é de 40%. Um sistema de abastecimento de água potável não deve ter como objetivo principal tratar água para irrigação ou para servir como descarga para banheiros ou outros usos menos nobres. Esses usos podem ser perfeitamente cobertos pelo reuso ou por água reciclada. Quando se deseja reaproveitar a água da chuva, para qualquer fim específico, é importante saber que sua aceitabilidade depende diretamente de suas qualidades físicas, químicas e micro bióticas, podendo estas serem afetadas pela qualidade da fonte geradora, da forma de tratamento adotada, da 36 confiabilidade no processo de tratamento e da operação dos sistemas de distribuição (Crook, 1993). Os critérios de qualidade para o reuso da água são baseados em requisitos de usos específicos, em considerações estéticas e ambientais e na proteção da saúde pública (Ramos, 2005). Estes critérios diferem bastante quando se comparam países industrializados com países em desenvolvimento, diferença que pode ser parcialmente atribuída a fatores como viabilidade econômica, tecnologia disponível, nível geral da saúde das populações e características políticas e sociais. 2.8 SISTEMA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA DE CHUVA O reaproveitamento eficiente da água da chuva não tem mistérios, mas são necessários alguns pequenos cuidados que tornam os sistemas mais seguros e de fácil manutenção. Abaixo se encontram os passos a serem seguidos na montagem do sistema de reaproveitamento da água (Aquastock, 2008): 1º Passo: Dimensionamento do Sistema O primeiro passo para o reaproveitamento eficiente da água da chuva é o dimensionamento do sistema ideal para cada caso, a partir das necessidades e objetivos do usuário, da área de captação e das características da construção. A definição do tamanho e localização do reservatório é particularmente importante, pois este é o item mais oneroso do projeto e sua especificação correta pode representar uma importante economia. É necessária a coleta de informações por meio de entrevista com o cliente e levantamentos no local. 2º Passo: Modelo do Sistema O segundo passo é definir o modelo do sistema de reciclagem, que pode ser feito de várias formas diferentes, dependendo da empresa contratada. Eles podem variar desde linhas que utilizam cisternas e filtros subterrâneos e 37 apresentam soluções mais completas de reciclagem de água de chuva, às linhas mais simples, que utilizam filtros de descida e caixas d'água acima do nível do solo. 3º Passo: Fornecimento de Componentes Com base no dimensionamento e na definição dos objetivos e características do sistema a ser implantado, o fornecedor especifica, integra e fornece os diversos componentes necessários. O principal componente a ser especificado nesta etapa será o filtro por onde a água passará antes de ir para o reservatório. 4º Passo: Instalação do Sistema A instalação fica por conta do fornecedor, que deve dispor de pessoal especializado para realizar a instalação de todos os componentes hidráulicos e também elétricos (no caso de utilização de bombas) dos sistemas. Em busca de um desenvolvimento urbano mais sustentável e da preservação dos recursos hídricos naturais, práticas descentralizadas de conservação de água nas edificações podem contribuir para a redução do consumo de água potável, através do uso de fontes alternativas de águas menos nobres para reuso não-potável, como a irrigação, lavagem e limpezas externas ou em descargas sanitárias. Apesar das tecnologias descentralizadas para o reuso de água existir desde a década de 70, o reuso de água ainda é uma prática pouco utilizada nos edifícios brasileiros. Porém, com a crescente preocupação com os recursos hídricos, a aceitação destes sistemas começa a tomar forma e novas tecnologias começam a surgir no mercado brasileiro. Em geral, os sistemas de reuso de água realizam o tratamento de águas menos nobres para seu reaproveitamento para fins não-potáveis, tais como irrigação, lavagem e limpeza, e descarga sanitária. Vários estudos demonstram que a aplicação de sistemas de reuso de água em edificações pode reduzir efetivamente o consumo de água potável. 38 Existem diversos aspectos comuns na composição dos sistemas de reuso de água. Fontes alternativas de água, como por exemplo, águas pluviais, águas cinza ou águas residuárias, são coletadas por uma rede coletora de tubulações usada no seu transporte para tratamento e retenção. O nível de tratamento da água para reuso - seja ele biológico, químico, ou físico - varia de acordo com a qualidade inicial da água e sua qualidade final desejada. Depois de tratada, a água de reuso pode ser armazenada em um reservatório de retenção, cujo dimensionamento é em função do seu tempo de armazenamento e da sua oferta e demanda. Uma bomba de recalque transporta esta água armazenada para um reservatório de distribuição conectado à rede de água potável da concessionária, caso haja a necessidade de uma alimentação de água potável e, sem que haja conexões cruzadas com a rede de água potável, uma rede distribuidora transporta água de reuso para pontos de usos não-potáveis. Existe uma carência de normas e diretrizes no Brasil na definição dos parâmetros para instalações hidráulicas de sistemas de reuso. Porém, experiências internacionais apontam a necessidade de diferenciar as tubulações de água não-potável das tubulações de água potável por cor ou ilustrações, e fornecer um aviso visual da água imprópria para consumo nos pontos de consumo não-potáveis. O aproveitamento de água pluvial (AAP) é um conceito simples, no qual, em vez de escoar, as águas pluviais são coletadas por uma superfície, filtradas e armazenadas para reuso. Apesar de potável, a água da chuva torna-se imprópria para consumo ao entrar em contato com uma superfície de coleta. Impurezas como terra, poeira, galhos, folhas e excremento de aves são comuns em coberturas, portanto, o tratamento da água de chuva torna-se necessário. Também é possível coletar águas pluviais escoadas de pisos, mas neste caso um maior nível de tratamento é necessário, devido ao alto grau de impurezas encontradas no solo (óleos, graxa, fezes de animais, entre outros). (www.nteditorial.com.br/revista) Atualmente o interesse pelo aproveitamento da água de chuva é crescente. Segundo Gouvello et al. (2004), na França entre os anos de 2000 e 2003 39 houve um aumento em torno de 450% na elaboração de projetos e execução de sistemas de aproveitamento de água de chuva. Esse fenômeno tem contribuído para a realização de estudos mais criteriosos que estão ajudando a definir regulamentações e aspectos técnicos mais precisos sobre os sistemas prediais de aproveitamento de água de chuva. O aproveitamento de água de chuva no contexto dos sistemas hidráulicos prediais requer a introdução de uma série de elementos a esses sistemas possibilitando assim, a captação, o transporte, o tratamento, o armazenamento e o aproveitamento da água de chuva precipitada sobre as superfícies permeáveis de uma edificação. Segundo Fewkes (1999), os sistemas de aproveitamento de água de chuva podem ser implantados nos sistemas hidráulicos prediais por meio de soluções tecnicamente simples que visam reduzir significativamente o consumo de água potável. Para regiões com períodos chuvosos freqüentes e bem distribuídos durante todo o ano, esse sistema é amplamente viável. Em regiões com períodos prolongados de estiagem a adoção desse sistema requer a implantação de unidades de reservação com dimensões maiores, o que torna o sistema mais oneroso. Nesse caso, é aconselhada a adoção de um sistema integrado de aproveitamento de água de chuva e de reuso de efluentes domésticos, de forma a tornar o sistema funcional durante todo o ano, ampliando assim, seu potencial de sustentabilidade. Assim como no sistema de reúso de água, o sistema de aproveitamento de água de chuva não deve ser misturado ao sistema de água potável a fim de evitar a contaminação. O monitoramento e controle de qualidade da água de chuva destinada ao aproveitamento, também, deve ser contínuo, pois nem sempre a água de chuva possui qualidade apropriada que garanta segurança de manuseio ao usuário. Por outro lado, cabe ressaltar que os benefícios proporcionados pelos sistemas de aproveitamento de água de chuva não se restringem apenas na conservação da água, mas também, no controle do excesso de escoamento 40 superficial e de cheias urbanas. Nesse caso, os reservatórios de armazenamento de água de chuva, também, funcionam como tanques de detenção impedindo que parte do volume do escoamento superficial seja descarregado diretamente no sistema de drenagem urbana. Figura 8 – Esquema de utilização de água pluvial Fonte: site www.belacalha.com.br 2.8.1 Elementos do sistema de aproveitamento pluvial Sistema de captação: é definido pelas áreas impermeáveis que contribuem com a interceptação da água de chuva que será conduzida para um reservatório de armazenamento. Estas áreas são constituídas geralmente pelos telhados e lajes de cobertura por serem, teoricamente, superfícies mais limpas. A água proveniente do escoamento superficial de pisos impermeáveis no nível térreo, na maioria dos casos não é conduzida para o sistema de aproveitamento, pois são consideradas águas que transportam maior volume 41 de sólidos e carga poluidora e, desta forma, podem contaminar e assorear o sistema de aproveitamento de água de chuva. Sistema de transporte: é constituído por calhas e condutores verticais e horizontais, responsáveis pela condução do fluxo da água de chuva para os sistemas reservação, tratamento e distribuição. Sistema de descarte: tem como objetivo descartar automaticamente o volume de água coletado nos primeiros minutos de chuva, volume este, que escoa sobre as superfícies de captação e que geralmente carreia grande concentração de carga poluidora. Apresenta um by pass introduzido nos condutores, instalado após a saída das calhas e a montante do reservatório de armazenamento. Esse sistema ajuda a garantir a qualidade da água que será armazenada e aproveitada posteriormente. Existem diversas soluções de sistemas de descarte, entre elas citam-se os reservatórios de autolimpeza, este sistema retém o volume inicial da precipitação em um reservatório de descarte que é posteriormente limpo pelo processo manual. Existem válvulas de descarte automático, entretanto este sistema ainda não se encontra disponível no mercado nacional. Ele consiste na utilização de uma válvula que descarta automaticamente o volume de água coletado nos primeiros minutos de uma chuva. Após certo período ela se fecha e o fluxo de água de chuva passa a ser direcionado para o reservatório de armazenamento. Sistema de gradeamento: é composto por elementos utilizados para reter materiais sólidos em suspensão, tais como: folhas, gravetos, penas, papéis etc. que entram no sistema de aproveitamento juntamente com a água de chuva coletada. Esse sistema geralmente é introduzido anteriormente ao reservatório de armazenamento de água de chuva, de modo a evitar que haja sedimentação e acúmulo de impurezas dentro do mesmo. Atualmente, existem disponíveis no mercado vários modelos industrializados de ―filtros‖ que cumprem a função de gradeamento. Por outro lado, a construção in loco de uma caixa de gradeamento com telas removíveis, proporciona resultados similares. 42 Sistema de reservação: tem a função de armazenar a água captada que será utilizada posteriormente para fins não potáveis. É recomendada a adoção de reservatórios de fibra de vidro, plástico, poliéster, polipropileno ou de material similar, pois sofrem menos agressão da decomposição de matéria orgânica e da variação dos índices físicos de qualidade das águas. Neste reservatório deverá ser instalado um extravasor que possibilitará a condução do excesso de água de chuva para o sistema de drenagem pluvial, quando o reservatório de armazenamento estiver operando totalmente cheio. Visando uma maior sustentabilidade do sistema, pode-se interligar o extravasor do reservatório de armazenamento de água de chuva a um sistema predial de drenagem na fonte, que promoverá a infiltração do excedente de água de chuva no solo. Sistema de tratamento e desinfecção: visando obter uma água com a qualidade desejada para o uso, recomenda-se a instalação de um sistema de tratamento e desinfecção da água de chuva armazenada. Segundo May (2004), além do sistema de tratamento e desinfecção proporcionar a disponibilidade de água com padrões de qualidade adequados a um sistema seguro à saúde pública, a definição do tipo de tratamento necessário ao sistema de aproveitamento de água de chuva é um fator de extrema importância para a verificação da viabilidade econômica de implantação desse sistema. Apesar da qualidade da água de chuva ser distinta de região para região, a utilização de filtros de múltiplas camadas ou filtro de areia são soluções adequadas para o tratamento com eficiência da maioria dos sistemas prediais de aproveitamento de água de chuva. Segundo Macedo (2000), esse tipo de filtração além de reduzir o grau de contaminação microbiana, também melhora as características físicas da água, removendo a turbidez e partículas em suspensão. Como complementação do tratamento procede-se a desinfecção da água de chuva, que pode ser realizada por meio da cloração, radiação ultravioleta, ionização, entre outros. Sistema de recalque: esse sistema é constituído por um conjunto de motores e bombas que são utilizados para transportar a água do reservatório de armazenamento de água de chuva, quando situado abaixo do nível de utilização, para um reservatório elevado que distribuirá a água por gravidade 43 para os pontos de uso de água não potável. Em alguns casos, dependendo da concepção arquitetônica, o reservatório de armazenamento de água de chuva situa-se logo abaixo do telhado, não sendo necessária a instalação de um sistema de recalque. Sistema de distribuição: constituído por um conjunto de ramais que distribuem a água de chuva tratada para os pontos de utilização. Por se tratar de um sistema de distribuição de água não potável recomenda-se a identificação e a restrição de acesso a todos os pontos de utilização de água deste sistema. Sistema de sinalização e informação: A sinalização do sistema de aproveitamento de água de chuva é de extrema importância para que não haja utilização inadequada do sistema e nem contaminação do sistema público de distribuição de água. É constituído de avisos de alerta em todas as unidades do sistema (tubulações, reservatórios, unidades de tratamento, pontos de utilização etc.). 2.9 HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL X SUSTENTABILIDADE A habitação é um bem inatingível para grande parcela dos brasileiros. Aqueles que conseguem adquirir essa ―mercadoria impossível‖ o fazem, na maioria das vezes, em condições de grande precariedade (CARDOSO; RIBEIRO, 2003). A Fundação João Pinheiro (1995) apresenta o conceito de necessidades habitacionais em que é considerado: a) déficit – reposição de unidades precárias mais o atendimento à demanda não solvível nas condições de mercado; b) demanda demográfica – necessidade de construção de novas unidades para atender ao crescimento demográfico; e c) inadequação – melhoria de unidades habitacionais com certo tipo de carência. Esse estudo indicou, para 1995, um déficit de 5,6 milhões de moradias e de 13 milhões de moradias que precisam receber melhorias. 44 O Estado, na busca de rentabilidade do Sistema Financeiro de Habitação, foi privilegiando os gradativamente segmentos a prioridade solventes à da habitação população e de interesse abandonando social. Como conseqüência, no início da década de 80, o movimento dos sem-teto saiu às ruas exigindo soluções imediatas. Em resposta aos movimentos pela moradia, o Estado implementou programas habitacionais voltados às camadas menos favorecidas do estrato social, priorizando o aspecto quantitativo na busca de fazer mais em menor tempo. Disso decorreu oferta de unidades mínimas em locais inadequados e, na maioria das vezes, não adaptadas às necessidades dos usuários. Abiko (1996) menciona os fatores que dificultam o acesso das famílias de baixa renda à habitação: crises econômicas, ausência de políticas públicas para o setor, indisponibilidade física e financeira de terrenos adequados e custos, e a qualidade dos materiais de construção. Esses fatores contribuem para o aumento do número de favelas, cortiços e casas precárias verificado nas grandes cidades brasileiras. Alguns desafios devem ser superados para que se consiga enfrentar tais dificuldades, entre eles facilitar o acesso à terra urbana legalizada, ampliar as fontes de financiamento, capacitar os agentes dos setores público e privado, modernizar a legislação urbanística e simplificar procedimentos técnicos e operacionais. O Programa Habitação de Interesse Social, por meio da Ação Apoio do Poder Público para Construção Habitacional para Famílias de Baixa Renda, objetiva viabilizar o acesso à moradia adequada aos segmentos populacionais de renda familiar mensal de até 3 salários mínimos em localidades urbanas e rurais. O déficit habitacional brasileiro é de cerca de 7 milhões de domicílios, sendo as grandes cidades as mais impactadas especialmente as regiões metropolitanas. por este número expressivo, 45 Estudos da Fundação João Pinheiro (2007), definem diferentes tipologias de necessidades habitacionais no Brasil. O déficit habitacional é quantitativo, mas também é qualitativo e tem como componentes principais domicílios com precariedades físicas. Entre os problemas do déficit estão domicílios rústicos, famílias em coabitação e com ônus excessivo de aluguel, habitação sem um dos cinco elementos básicos da infra-estrutura – água, esgotos, coleta de lixo, energia, drenagem - que tenham número de moradores superior a 3 pessoas por dormitório, ou mesmo habitações que não tem banheiro com unidade sanitária. Essa realidade revela a urgência de encontrar medidas eficazes para reverter o grau da precariedade social e ambiental, que sujeitam milhões de pessoas, uma vez que são mais de 11 milhões de moradias que apresentam deficiência nos serviços de infra-estrutura. A parcela mais substancial dessas moradias está entre a população de baixa renda, que geralmente estão localizadas em grandes aglomerações urbanas, especialmente nas Regiões Metropolitanas. Esses déficits expõe a necessidade de medidas emergenciais e eficazes para construção de habitação, especialmente para a população mais pobre, vivendo com menos de 3 salários mínimos. Propõe-se que ao construir habitações com baixo custo e com técnicas construtivas sustentáveis é possível garantir a satisfação dos moradores e melhorar a qualidade de vida social e ambiental. Porém os modelos de construções dos empreendimentos habitacionais no Brasil, em geral, não vêm utilizando nenhum critério sócio ambiental, onde a valorização social e ambiental estejam integradas nos projetos. Visto que a maior carência de moradias encontra-se nos centros urbanos, a construção de habitações populares constitui solução indispensável. Contudo, essas habitações são muitas vezes realizadas de maneira negligente, tanto em relação à qualidade devida que traz ao morador, quanto com o meio ambiente. 46 Com o rápido crescimento da sociedade e com as alterações ambientais que ocorrem no mundo todo, fica claro que se precisa investir cada vez mais no desenvolvimento sustentável. 2.10 PROGRAMA ―MINHA CASA MINHA VIDA‖ O governo federal lançou no dia 25 de março de 2009 o Programa Minha Casa Minha Vida que prevê o aporte de 34 bilhões de reais visando à construção de 1 milhão de moradias, com a perspectiva de reduzir em 14% o déficit habitacional brasileiro. Deste total, 400 mil moradias destinam-se às famílias com renda de até 3 salários mínimos, faixa em que estão concentrados 90,9% do déficit habitacional; 200 mil moradias destinam-se àquelas que ganham de 3 a 4 salários; 100 mil, às que ganham de 4 a 5; 100 mil para as que recebem de 5 a 6; e 200 mil, às de 6 a 10 salários. Para as famílias com renda de até 3 salários mínimos, o governo deverá subsidiar integralmente a casa própria e aportar 16 bilhões para a construção de 400 mil casas. Quinze bilhões deverão ser acessados diretamente pelas construtoras e empreiteiras junto à Caixa Econômica Federal; e 1 bilhão, por associações e cooperativas, para construção em áreas urbanas e rurais. Entre subsídios para a aquisição da casa própria, financiamento da infra-estrutura e da cadeia produtiva, 34 bilhões de reais deverão ser movimentados na economia. O programa é uma das principais ações empreendidas pelo governo brasileiro tendo como objetivo o enfrentamento da crise financeira mundial e a retomada do crescimento econômico do país. Nesta perspectiva, o programa dá continuidade à estratégia do governo federal, iniciada com o Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), de o Estado assumir seu papel como promotor do desenvolvimento. Especialmente, como promotor do desenvolvimento urbano compreendido como elemento central para o desenvolvimento econômico e social do país. 47 3 ESTUDO DE CASO 3.1 DESCRIÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO O objeto de estudo do presente trabalho é um condomínio de Habitações de Interesse Social destinado ao Programa ―Minha Casa Minha Vida‖ do Governo Federal, para a população de renda até 3(três) salários mínimos, localizado na cidade de Feira de Santana-BA. Este condomínio é constituído de 200 lotes de 170m² e com área construída composto por: Compartimentos: sala, cozinha, banheiro, 2 dormitórios e área externa com tanque. Área da unidade: 45,54 m2. Área interna: 40,81 m2. Piso: cerâmico na cozinha e banheiro, cimentado no restante. Revestimento de alvenarias: azulejo 1,50m nas paredes hidráulicas e box. 3.2 Reboco interno e externo com pintura PVA no restante. Forro: laje de concreto na cozinha e forro de PVC no restante. Cobertura: telha cerâmica. Esquadrias: janelas de alumínio e portas de madeira. Pé-direito: 2,30m no banheiro e 2,60m no restante. Passeio: 0,50m no perímetro da construção. DADOS PLUVIOMÉTRICOS DA REGIÃO 48 Os dados pluviométricos utilizados neste trabalho foram fornecidos pela Estação Climatológica, nº 83221, da Universidade Estadual de Feira de Santana-BA. Para captação de água de chuva por cobertura o período de retorno é de 5 anos, segundo a NBR 10844/1989. Os dados de precipitação coletados são mensais e referentes aos últimos 5(cinco) anos(2005 a 2009), como demonstrado na tabela 2. Tabela 2 – Dados Pluviométricos de Feira de Santana (2005 – 2009) 2005 2006 2007 2008 2009 Janeiro 53,9 1,9 5,1 36,8 1,3 Fevereiro 127,5 1,3 267,2 119,3 152,7 Março 50,2 18,6 60,2 30,6 67,3 Abril 49,7 81,5 38,8 57,9 68,7 Maio 76,0 79,3 121 164,0 38,6 Junho 131,2 192,8 92,5 65,0 98,4 Julho 78,9 47,2 59,6 50,6 84,3 Agosto 52,1 42,7 38,2 39,8 56,5 Setembro 7,2 118,0 33,2 6,8 24,8 Outubro 1,6 64,5 15,3 27,5 31,2 Novembro 141,9 74,4 7,0 84,1 84,1 Dezembro 16,3 19,4 82,8 85,2 Total (mm) 786,5 760,1 757,5 765,2 796,5 37,9 Média Mensal(mm) 65,54 63,34 63,13 63,77 66,38 Fonte: Estação Climatológica UEFS 2010 Conforme tabela: A média anual pluviométrica dos últimos 5(cinco) anos é de 773,20mm. A media mensal pluviométrica dos últimos 5(cinco) anos é de 64,4mm 49 4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 4.1 DETERMINAÇÃO DAS ÁREAS DE COBERTURA O levantamento das áreas de cobertura (áreas de captação) será feita em apenas uma das edificações (casas) do Condomínio, para que se possa estimar o volume do reservatório de água de chuva. O cálculo destas áreas foi feito baseado nas áreas de telhado formados por 2(duas) águas e inclinação de 25º, verificadas na planta de cobertura da edificação (ver anexo). Esse cálculo da área de contribuição foi realizado através da NBR 10844/89, conforme a equação: Figura 9 – Indicações para cálculos da área de contribuição Fonte: NBR 1088/89 Onde: A = Área de contribuição, em m² a = Largura, em m h = Altura da tesoura, em m b = Comprimento, em m 50 Como a edificação possui duas áreas de contribuição diferentes, a primeira área calculada será: E a segunda área calculada será: Logo, a área total de contribuição será: 4.2 ESTIMATIVA DO CONSUMO DE ÁGUA Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNS), Ministério das Cidades, o consumo médio de água na Bahia é de 111,53 litros por habitante por dia (L/Hab/Dia). Considerando que na habitação em estudo reside 4(quatro) pessoas, o consumo diário será de 446,12L/Hab/dia. Isso significa que o consumo mensal será de 13.383,60L ou aproximadamente 13,38m³. Para uma residência ser beneficiada com o plano de tarifa social da EMBASA o seu consumo mensal não deverá ultrapassar 10m³. Então podemos concluir que essa habitação não poderá participar da tarifa social. 51 Para diminuir o consumo de água potável o presente estudo considera que a água de chuva seria utilizada para descarga de bacia sanitária, para irrigação de jardim, para lavagem de carro e limpeza em geral. Na tabela 4 são apresentados os consumos estimados desses pontos de utilização de água não potável para a residência em estudo, a partir de estimativas de valores apresentados por Tomaz (2000) conforme a tabela 3. Para a determinação do consumo de água não potável, foram feitas as seguintes considerações: - Cada habitante da casa utiliza a bacia sanitária 3 vezes ao dia; - O volume de água utilizado em cada descarga sanitária é de 6 litros (caixa acoplada); - Foi utilizada uma freqüência de irrigação do jardim de 8 vezes ao mês com jardim de 5m²; - Foram contabilizados 4 dias por mês para utilização de água para limpeza de uma área de 40,81m²; - A freqüência de lavagem de carros de 2 vezes ao mês. Tabela 3 – Parâmetros de demanda residencial para estimativa de consumo de água. Demanda Interna Unidade Faixa Vaso Sanitário – Volume L/descarga 6 a 15 Vaso Sanitário – Freqüência Descarga/hab./dia 3a6 Unidade Faixa Demanda Externa Gramado ou Jardim – Volume L/dia/m² Gramado ou Jardim – Freqüência Irrigações/mês Lavagem de Carro – Volume L/lavagem/carro Lavagem de Carro - Freqüência Lavagens/mês Lavagem de Piso – Volume L/dia/m² 3 Lavagem de Piso – Freqüência Lavagens/mês * Fonte: adaptado Tomaz (2000) 2 8 a 12 80 a 150 1a4 52 Tabela 4 – Consumo de água estimado para a residência em estudo Uso Interno Descarga na bacia Uso Externo Consumo (litro/mês) 2.160 Consumo (litro/mês) Gramado ou jardim 80 Lavagem de carro 200 Limpeza de pisos 489,72 Total de uso interno e externo 2.929,72 Após a quantificação do consumo de água a ser suprido pela água de chuva, para os fins não potáveis especificados nesse trabalho, foi encontrado um valor de consumo de 2.929,72L/mês, ou seja, aproximadamente 2,93m³/mês. 4.3 DIMENSIONAMENTO DO RESERVATÓRIO PARA APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL Para o dimensionamento do volume do reservatório, fez-se necessário conhecer a precipitação pluviométrica media mensal da região de Feira de Santana-BA, a área de contribuição dos telhados da edificação em estudo e o coeficiente de escoamento superficial, que é o quociente entre a água que escoa pela superfície de captação pelo total de água precipitada. Esse coeficiente varia com a inclinação e com o material da superfície de captação. Pacey et aI. (1996 apud TOMAZ, 2003) adotam, como uma boa estimativa, C igual a 0,80, que significa uma perda de 20% de toda a água precipitada. Na Tabela 5 observam-se valores de C adotados por diferentes autores, para diferentes materiais. 53 Tabela 5 - Valores de C de diferentes autores MATERIAL COEFICIENTE DE 0,80 a 0,90 Telha cerâmica 0,75 a 0,90 Telha esmaltada Telha metálica AUTORES ESCOAMENTO 0,90 a 0,95 0,70 a 0,90 Hofkes (1981) e Frasier (1975) aput May (2004) Van den Bossche (1997) apud Vaes e Berlamont (1999) Van den Bossche (1997) apud Vaes e Berlamont (1999) Hofkes (1981) e Frasier (1975) aput May (2004) 0,85 Khan (2001) Plástico 0,94 Khan (2001) Betume 0,80 a 0,95 Telhados verdes 0,27 Pavimentos 0,40 a 0,90 0,68 Van den Bossche (1997) apud Vaes e Berlamont (1999) Khan (2001) Wilken (1978) aput Tomaz (2003) Khan (2001) Assim, a quantidade de água de escoamento que pode ser coletada na área do telhado da edificação foi calculada observando a fórmula baseada no Método Racional: Onde: V – é o volume mensal de água de chuva aproveitável C – é o coeficiente de escoamento superficial da cobertura = 0,80 I – é a precipitação = 64,4 mm/mês = 0,0644 m/mês A – é a área de coleta = 64,44 m² 54 Logo, V = 0,80 x 0,0644 x 64,44 V = 3,32 m³/mês Portanto a quantidade de água de chuva coletada seria 3,32 m³/mês, o equivale a 3.320 litros de água por mês, em média. Conseqüentemente, a edificação terá que possuir uma reservação para águas pluviais de 4.000L. 4.4 DIMENSIONAMENTO DE CALHAS, CONDUTORES VERTICAIS E CONDUTORES HORIZONTAIS 4.4.1 Calhas São dispositivos que captam as águas diretamente dos telhados impedindo que estas caiam livremente, evitando a ocorrência de danos nas áreas circunvizinhas, principalmente quando a edificação é bastante alta. No caso em estudo, essas calhas serão de PVC, e terão a utilidade de captação das águas de chuva para armazenamento da mesma. Para o cálculo de vazão, é necessário conhecer o coeficiente de rugosidade, na Tabela 6 mostra o coeficiente de rugosidade para a fórmula de ManningStrickler. 55 Tabela 6 – Coeficiente de rugosidade Material n Plástico, fibrocimento, aço, metais não-ferrosos 0,011 Ferro fundido, concreto alisado, alvenaria revestida 0,012 Cerâmica, concreto não alisado 0,013 Alvenaria de tijolos não-revestida 0,015 Fonte: NBR 10844/1989 Segundo a NBR 10844/89, a vazão de projeto (Q, L/min.) para o prédimensionamento de calhas e condutores calcula-se pela equação: Onde: Q = vazão de projeto, em L/min I = intensidade pluviométrica, em mm/h A = área de contribuição, em m² Para construção até 100m² de área de projeção horizontal, salvo casos especiais, pode-se adotar I = 150mm/h (NBR 1044/89). Como a cobertura da edificação em estudo possui duas áreas de contribuição utilizaremos a de maior área para o cálculo da vazão de projeto, . Assim, ou A tabela 7 fornece as capacidades de calhas semicirculares, usando coeficiente de rugosidade n = 0,011, para alguns valores de declividades usuais. Os valores foram calculados utilizando a equação de Manning-Strickler, 56 com lâmina de água igual à metade do diâmetro. Observa-se que devem ser adotadas aquelas seções com capacidade de escoamento igual ou superior à vazão de projeto. Tabela 7 – Capacidade de calhas semicirculares D (mm) Declividades (%) 0,5 1,0 2,0 100 130 183 256 125 236 333 466 150 384 541 757 200 829 1167 1634 Portanto, as calhas terão um diâmetro de 100mm, com declividade de 0,5%. 4.4.2 Condutores Verticais São tubos verticais que conduzem a água das calhas aos condutores horizontais. Segundo a NBR 10844/1989, o diâmetro interno dos condutores verticais de seção circular deve ser maior ou igual a 70mm. Para o dimensionamento dos condutores foi utilizado ábacos específicos apresentados na NBR 10844/1989. Os dados de entradas nestes ábacos são: Q = 84L/min (Vazão de projeto) H = 100mm (Altura da lâmina de água na calha) L = 2,70m (Comprimento do condutor vertical) 57 Figura 10 – Ábaco para determinação de diâmetros de condutores verticais: Fonte: NBR 10844/1989 Analisando pelo ábaco o diâmetro dos condutores horizontais seriam menores que 70mm, porém a NBR 10844/89 determina que estes sejam maiores ou iguais a 70mm. Portanto, serão utilizados condutores verticais de PVC, no diâmetro de 75mm devido a dimensões comerciais. 4.4.3 Condutores Horizontais É o canal ou tubulação horizontal destinado a recolher e conduzir as águas pluviais até locais permitidos pelos dispositivos legais (NBR-10844/89). Sendo assim, é a tubulação que conduzirá a água pluvial do condutor vertical para o dispositivo de auto-limpeza e posteriormente ao reservatório inferior. 58 Segundo a NBR 10844/89, os condutores horizontais devem ser projetados, sempre que possível, com declividade uniforme, com valor mínimo de 0,5%. O dimensionamento dos condutores horizontais de seção circular deve ser feito para escoamento com lâmina de altura igual a 2/3 do diâmetro interno (D) do tubo. As vazões para tubos de vários materiais e inclinações usuais estão indicados na Tabela 8. Observa-se que devem ser adotadas aquelas seções em que o escoamento é igual ou superior a vazão de projeto. Tabela 8: Capacidade de condutores horizontais de seção circular (vazões em L/min) Diâmetro n = 0,011 n = 0,012 n = 0,013 interno 0,5% 1% 2% 4% 0,5% 1% 2% 4% 0,5% 1% 2% 4% 50 32 45 64 90 29 41 59 83 27 38 54 76 75 95 133 188 267 87 122 172 243 80 113 159 226 100 204 287 405 575 187 264 372 527 172 243 343 486 125 370 521 735 1.040 339 478 674 956 313 441 622 882 150 602 847 1.198 1.890 358 777 1.100 1.330 509 717 1.010 1.430 200 1.300 1.820 2.670 6.650 1.190 1.870 2.360 3.350 1.100 1.540 2.180 6.040 250 2.350 3.310 4.580 6.620 2.150 3.030 4.280 6.070 1.990 2.800 3.950 5.600 300 3.820 5.380 7.590 10.800 8.500 4.930 6.690 9.870 3.230 4.550 6.420 9.110 (mm) Fonte: NBR 10844/1989 Portanto, serão utilizados condutores horizontais de PVC, com diâmetro de 75mm e declividade de 0,5%. 59 5 CONCLUSÃO E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS 5.1 CONCLUSÃO Através deste estudo de caso, realizado numa tipologia de residência do Programa do Governo Federal – ―Minha Casa Minha Vida‖, localizada no município de Feira de Santana-BA, foi possível estimar o consumo de água não potável obtendo um consumo de 2,93m³/mês. A captação da água de chuva para a implantação do sistema de aproveitamento de águas pluviais foi realizada apenas pela cobertura (telhado), e com dados pluviométricos da região, assim os cálculos resultaram um volume aproveitável de 3,32m³/mês. A partir desses dados foi possível concluir que o aproveitamento de águas pluviais, obteve resultados satisfatórios, pois a demanda para utilização de água não potável foi maior que a captação de água pluvial por este sistema utilizado em estudo. Como o consumo médio de água estimado na residência é de 13.38m³/mês, a utilização deste sistema AAP servirá para redução das contas de água fornecida pela concessionária (EMBASA), pois a utilização da água potável para fins menos nobres nos pontos mostrados em estudo é de 2,93m³/mês, o que significa uma redução de aproximadamente 22% no gasto com água potável. Além disso, a EMBASA possui uma campanha de tarifa social, que é um valor fixo, pago pelas residências que consumirem até 10m³/mês de água. Porém a habitação em estudo teria que reduzir cerca de 26% do seu consumo de água mensal. Mas com a utilização do sistema de AAP que reduz esse consumo em 22%, basta fazer uma economia de 4% da água potável utilizada no mês. Assim a população de baixa renda residente neste tipo de habitação poderá ser 60 beneficiada com a tarifa social e reduzir ainda mais o valor mensal pago nas suas faturas. Apesar da contribuição financeira que a implantação do sistema AAP proporciona, a sua utilização também é de grande valia ambiental, pois pode preservar a água combatendo o desperdício e ajudando a controlar as inundações ao evitar que essas águas sejam liberadas para o sistema de drenagem. Desse modo a viabilidade de implantação do sistema de aproveitamento de água de chuva nesse tipo de habitação localizado no município de Feira de Santana-Ba, pode proporcionar uma utilidade nos requisitos financeiros e ambientais. O presente trabalho não avaliou os custos da implantação do sistema AAP nem como o transporte dessas águas ao novo uso, pois o trabalho foi voltado para a viabilidade da implantação desse sistema em habitações de interesse social na região de Feira de Santana. Porém para facilitar estudos futuros foram dimensionados: o volume do reservatório, e os diâmetros de calhas e condutores (verticais e horizontais). 5.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS Após o final deste estudo, seguem algumas sugestões para trabalhos futuros: Estudo da viabilidade econômica da implantação do sistema de aproveitamento de água de chuva. Análise da qualidade da água de chuva na cidade de Feira de Santana. Estudo de projeto para transportes das águas de chuva aos pontos de utilização. 61 REFERÊNCIAS ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10844 – Instalações Prediais de Águas Pluviais. RJ, 1989. ABIKO, A. K. Gestão habitacional e mutirão. In: ABIKO, A. ALBIERI, L. Mutirão habitacional. 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