SF0811 - Seleções em Folha

Transcrição

SF0811 - Seleções em Folha
PP
Quando a calúnia – fera triunfante
a chafurdar no lodo nauseabundo
rugir num brado altissonante, imundo
que estou no chão vencido e rastejante;
Quando a injustiça, cínica bacante
vencer os juizes justos deste mundo
e me lançar o seu pesar profundo,
meu derradeiro amigo retirante.
Com o realismo da sinceridade,
hei de mostrar, no brilho da verdade
e, no calor da pira da razão,
que tu consciência minha, imaculada,
serás a sombra a me abrigar na estrada,
serás a luz a iluminar-me o chão.
– Um dia partirás!... (quem diz é o vento
a farfalhar nas flâmulas sonoras)
E estas rimas gentis, aves canoras,
irão perdendo a vez no esquecimento.
Nem penso ouvi-lo. Passo as minhas horas
cristalizando imagens. Meu intento
é ser original. Não me contento
em vibrar nas mesmíssimas auroras.
Os outros que me chamem de avoado,
incauto, sonhador ou desligado.
(E sou) É jeito meu. Não há remédio.
em meu velório, o demo, ou Deus quiçá,
um deles, ao buscar-me exclamará:
Ao menos este não morreu de tédio!
Por mera e singular curiosidade
quis eleger a coisa mais preciosa.
Que ela tivesse a beleza da rosa,
da violeta a real simplicidade;
do ouro tivesse a maleabilidade
e do diamante a força poderosa;
da árvore a acolhida poderosa,
do sol o alento, da chuva a bondade...
Tudo encontrei. Ao longo dos caminhos
fui recolhendo entre pedras e espinhos,
uma porção de cada qualidade.
E de tudo o que enfim juntei, contente,
uma palavra só surgiu-me à frente,
a mais terna entre todas: Amizade!
João Ribeiro de Almeida Neto, Último Libelo
Miguel Russowsky, Voador
Dorothy Jansson Moretti, Amizade
Ano XII, Nº 11 – 2008, NOVEMBRO
Assinatura até 31.12.09: 13 selos postais de 1o Porte Nacional
Não-comercial (R$ 0,65) ou informe seu e-mail para remessa mensal grátis.
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y yo doy los redondos
brazos fragantes!
brazos fragantes,
por dos brazos menudos
Dígame mi labriego
que halarme saben,
cómo es que ha andado
y a mi pálido cuello
en esta noche lóbrega
recios colgarse,
este hondo campo?
y de místicos lirios
Dígame de qué flores
collar labrarme!
untó el arado,
¡Lejos de mí por siempre,
que la tierra olorosa
José Julián Martí 1853-1895, Ismaelillo: Brazos fragantes;
Valle Lozano – José Martí Poesía Completa, Tomo I,
Editorial Letras Cubanas, La Habana, Cuba, 1985
Fanal 9511: Rua Álvares Machado 22, 1º
01501-030 – São Paulo, SP – Fone: (0¨11) 2212-0193
Saudade, ponte encantada
entre o passado e o presente,
por onde a vida passada
volta a passar novamente.
Um templo, um tanque musgoso;
mudez apenas cortada
pelo ruído das rãs,
saltando à água, mais nada...
Entre o sonho e a realidade,
vendo o meu filho eu pensei:
eis a mais bela verdade
de tudo quanto sonhei.
Desculpe-me quem puder,
mas a história se enganou:
depois que fez a mulher,
nunca mais descansou!...
Nesses teus olhos risonhos,
senti que o amor chegaria...
Foram-se os dias tristonhos,
chegaram, os de alegria!
Eu fiquei numa deriva
quando partiste, querida,
tua chegada festiva
renovou a minha vida!
Archimino Lapagesse, 0806
Quatro Versos, Rua Santa Marta 70
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Bashô, Wenceslau de Moraes
Relance da Alma Japonesa
Edição Daniel Pires, 1999
Conceição A. C. de Assis, 0810
Trovalegre, Caixa Postal 181
37550-000 – Pouso Alegre, MG
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Vicente Alencar, 0807, Binóculo:
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Walter Rossi, Fanal 9511:
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E de repente,
a lua iluminando
a roda de amigos.
Pica-pau repica
pau canoa empurra
ecos d´água.
A geada queimou tudo
até o cachorro
vaga a esmo.
O espelho do poço
distorce meu rosto
desperto da sesta.
Que barato
quando compro melão
penso em katakaná no ato.
A cerca já era
nos chifres do touro
coroa de rosas.
Pio de pássaro noturno
ou bramido de veado?
bêbado de pinga!
Nenpuku (Barriga Pensante) Sato, Trilha Forrada de Folhas, Maurício Arruda Mendonça, Edições Ciência do Acidente, 1999
Traduzir é uma arte improvável, costumam dizer os tradutores. Afinal é muito difícil haver uma correspondência absoluta entre o que o escritor quis dizer e o novo texto. Artur Fonseca, Super Interessante 254-A
QUIDAIS DE PRIMAVERA: TE
MAS DA ESTAÇÃO PRIMAVERA
Diante o vermelhão
da tarde que se aproxima,
flor de cerejeira.
No Dia da Música,
pai e filho ao violão.
Mãe batendo palmas!
Chega a primavera...
Rolam pétalas de flores
nas águas do rio.
Sozinhos na sala.
Eu, você – um só! – valsando...
No dia da Música.
Filhote de gato.
Sozinho, abandonado.
Miando, miando.
Abelha voando
entre as flores do jardim.
Colméia no galho.
Soldados em forma.
Leitura da ordem do dia.
Dia da República.
Analice Feitoza de Lima
Anita Thomaz Folmann
Elen de Novais Felix
Leonilda Hilgenberg Justus
Luiz Chamadoira
Mª Marlene N. T. Pinto
Roberto Resende Vilela
HAICUS
EM FOLHA
Sobre um chão de folhas
a primavera chovendo
um tapete fofo. S
Sossegadamente,
na chuva de primavera
casal se molhando. C
Aberta a gaiola,
o curió canta, em vôo
rumo à liberdade... S
No jardim
de formato quadrado,
flores desabrocham. S
Mãos em movimento,
o quadrado cabeceando.
Ventania. S
As mãos do menino
comandando a direção.
Quadrado no céu. G
Sopra forte o vento.
Na direção do infinito
se afasta o quadrado. A
Alba Christina
Analice Feitoza de Lima
Darly O. Barros
Flávio Ferreira da Silva
Manoel F. Menendez
Regina Célia de Andrade
Roberto Resende Vilela
No topo da árvore
um canto sutil vibrando
chegou curió. S
Preso na gaiola,
lutando para escapar,
o triste curió. G
Tomam fresco banho
na chuva de primavera,
aves no jardim. K
No final da tarde
ao frescor do vento, sobe
o quadrado de seda. S
Sinal fechado,
na chuva de primavera
sombrinhas passando. C
Jardineiro olha
a chuva de primavera.
Promessa de flores. K
Longe da floresta,
na solidão da gaiola
canta o curió. K
Alba Christina
Argemira F. Marcondes
Denise Cataldi
Iraí Verdan
Neuza Pommer
Regina Célia de Andrade
Roberto Resende Vilela
Só frescor e brilhos,
na chuva de primavera,
sobre as plantações! K
A rua molhada,
as flores desabrochando.
Chuva de primavera. K
Curió preso
na gaiola de bambu
só bebe e come... S
Bem silenciosa,
a chuva de primavera
cai, sem causar danos. S
À janela, avó
sorri ao neto na rua.
Quadrado no céu. G
Canto dos curiós
acorda a criançada
no sítio do avô. C
Massas: quente e fria.
A chuva de primavera
desfaz o mormaço. S
Amália Marie Gerda
Argemira F. Marcondes
Denise Cataldi
Iraí Verdan
Neuza Pommer
Renata Paccola
Roberto Resende Vilela
Crianças na rua.
E coloridos quadrados
dançando no espaço. B
Bagunça na sala.
O quadrado ganha forma
e uma rabiola. G
Chuva de primavera
asfalto molhado
cheiro de terra. S
Miúda e contínua
a chuva de primavera.
Ninguém quer sair. K
Curió se esbalda
na reserva florestal.
Proteção da lei. C
Canção de ninar –
é chuva de primavera
no meio da noite. K
Quadrado,
por duas mãos pequenas
sendo preparado. K
Analice Feitoza de Lima
Darly O. Barros
Edmilson Felipe
Manoel F. Menendez
Regina Célia de Andrade
Renata Paccola
Sérgio Baldan
1. Preencher até três haicus, (veja quigos ao
O hocu era e é a partida para o
lado, à escolha) em uma única ½ folha de papel,
encadeamento de estrofes conhecido como
com nome, endereço e assinatura. Despachá-la
haicai, e nada tem a ver com os demais
normalmente pelo correio e/ou e-mail com nome,
tercetos ou duetos deste. O hocu (literalmente
endereço e CEP do remetente, até o dia 30 do
estrofe inicial), devido a sua função no
respectivo mês.
encadeamento, era e é um terceto aberto.
Considero o haicu com seus mesmos
2.
Posteriormente o haicuísta receberá,
princípios, e contendo um corte no texto, a
› Até o dia 30.11.08, enviar até 3 haicus de quigos: Apuração (Carnaval), Aranha, Samambaia. š devidamente numerada, a relação dos haicus
mais antiga poesia moderna do mundo.
desse mesmo mês (sujeita a possíveis falhas no
Até o dia 30.12.08, enviar até 3 haicus de quigos: Dia da Mulher, Figo, Gafanhoto.
texto e sem a devida correção em tempo hábil),
O haicu deve ser feito no momento da
afim de selecionar 10% deles.
ocorrência, dando destaque ao quigo (palavra
da sazão), seu único principal motivo:
3. Sete dias após remessa do rol para escolha, o haicuísta enviará
é um instantâneo filmado em palavras. Quanto mais
seus votos numa folha, para apuração do resultado. A folha
excluirmos pensamentos, explicações, conclusões, opiniões,
Enviar para: Manoel Fernandes Menendez
conterá o nome do haicuísta selecionador (em cima e à direita do
adjetivos, alterações nos seus substantivos, etc., mais
papel) e, em seguida, um abaixo do outro, o número e o texto de
aperfeiçoaremos sua feitura na metragem 5-7-5 ou menos.
Rua Des. do Vale 914, Apto. 82
cada haicu assim escolhido. Não se escolherá haicus de própria
Fazer este fácil entendido, só persistindo. Vamos lá, comece já!
05010-040 - São Paulo, SP
lavra, pois serão anulados, bem como os que forem destinados a
Num Quadro Final (análise dos votantes e votados do mês),
ou
haicus cujo autor deixar de votar.
à parte, orientaremos sobre os tercetos de Haicus em Folha,
[email protected]
visando o aperfeiçoamento quanto a melhor percepção para
4.
O resultado (somatório de todos os votos assim enviados),
os mesmos. Aguardamos seus trabalhos.
será dado por volta do dia 10 do mês seguinte.
SELEÇÕES MENSAIS
FAZER E ENVIAR ATÉ TRÊS HAICUS
Mais vale um haicu enviado do que três na mão! – Não deixe para amanhã, o que puder fazer agora!
T R E V O S
À
M O D A
O C I D E N T A L ,
T R E V O S
P E R S O N A G E M
E
O U T R O S
Sobre o muro antigo,
a sempre-lustrosa diz
não, à cerca elétrica.
Gigante das matas;
das cascas de jataí,
remédio caseiro.
Céu enfeitado.
Bandeirolas coloridas.
Pandorgas ao vento.
Sempre colorida,
torna os quintais mais bonitos
a flor do abricó.
Pencas de vagens!
Linda sibipiruna
encanta a todos.
Tira do armário
as flores secas da palma,
a anciã saudosa.
Verde diferente
nos galhos de folhas novas.
Lei da Natureza.
Alba Christina
Cecília Amaral Cardoso
Cecy Tupinambá Ulhôa
Djalda Winter Santos
Helvécio Durso
Iraí Verdan
Nadyr Leme Ganzert
Existem várias idéias que consideramos originais e que são na verdade versões de outras pessoas. Nem o Velho Testamento é uma exceção.
Estudiosos acreditam que suas histórias são inspiradas em mitos pagãos de culturas mesopotâmicas. Matt Mason, Super Interessante 0811
A noite da vida traz consigo a sua lâmpada. Joseph Joubert, em Fé (Ilka Brunhilde Laurito), 2000 – Seleção Masau Simizo
– Transformo em flores, espinhais cerrados;
em dia, a noite; em alegria, a dor;
dou à poesia os tons mais delicados,
com passos mágicos: sou luz e cor!
– De pedras, de tensões, de indevassados
problemas me cerquei. Muito valor
exijo! Desprezando os teus dourados
anéis, vivo do esforço e do suor!
– No mundo imaginário que componho,
sou a ilusão – que não se entrega nunca! –
à vida imprescindível: sou o Sonho!
– Rígida sou, quer tenha ou não vontade!
Presa ao fato – dragão de garra adunca,
meu mundo á aquilo que é!: sou Realidade!
Abandona, ó jovem, vil ambição...
Sê firme, forte, corajoso, audaz.
É tempo... Mostra que ainda és capaz
de subjugar as drogas, com razão.
Reflete bem e vê que é uma ilusão...
Que nenhum bem este vício te traz;
que a saúde vais perder – rapaz
nesta vida horrível, de perdição!
Dá ao vício um basta! Um solene adeus,
pois tanto mal te faz ao coração
e negros os dias, insanos, sandeus,
farão sofrer, a ti, sofrer aos teus –
sê forte, ó jovem, sê como um dragão:
domina as drogas, pelo amor de Deus!
Adélia Victória Ferreira, Sonho X Realidade
Juracy Machado de Ávila, Domina as drogas...
Segura as minhas mãos: estão geladas!
Outro ano pelos dedos se me escoa,
deixando uma aflição que não perdoa,
que dói nas minhas mãos tão machucadas!
Magoei-as no cascalho das estradas,
de rastros pelo chão, correndo à toa;
mãos livres, como um pássaro que voa,
mãos presas, como pétalas pisadas...
De beijos e de pranto as sinto cheias
e em tantas despedidas agitei-as
que agora estão sem força, estão sem pressa...
E as lanço pelo espaço e ao céu as lanço
e enquanto quero a luz, que não alcanço,
outro ano chega... e tudo recomeça!
Chove lá fora... e há frio e há tristeza...
Parece, a vida morta. A chuva, o pranto.
Criança rota passa... nenhum manto
a protege... caminha sem defesa...
Mas... aqui dentro, forte luz acesa
aquece e alegra vidas tanto quanto
feliz aniversário ao acalanto
de amores com presentes, de surpresa.
...Sempre, tristeza versus alegria,
acontecendo por acontecer...
À revelia, ou não... esta, a magia...
Se um pobre chora, um dia pode rir...
Se um rico ri, um dia vai sofrer...
Inferno e céu, àquele que existir.
Janske Niemann Schlenker, ...Tudo Recomeça
Leonilda Hilgenberg Justus, Em dia de chuva
Posso sentir que já não és o mesmo
e que eu assim também mudei, por certo
e nós vamos, então, vivendo a esmo,
longe um do outro, mesmo quando perto.
O famoso Marajá
é uma classe contradita:
se é nobreza em Calcutá,
No Brasil é parasita.
As verdades controversas
que à justiça dão trabalho,
apesar de tão diversas,
são folhas do mesmo galho.
Não se procuram mais as nossas mãos,
nem nos buscamos num olhar ansioso.
Foram pequenas fendas, frestas, vãos,
a minarem um potencial copioso...
A. Lacerda Júnior
A. Lacerda Júnior
O astronauta,
metido em capacete
e veste espacial,
pisou na face da lua
cinzenta e fria,
pardacenta e nua...
Olhou o céu escuro, em pleno dia
pontilhado de estrelas...
A Terra, lá no zênite,
imensa esfera azul,
já em quarto minguante...
E o sol, acima do horizonte,
estranhamente rútilo e flamante,
engastado no breu da imensidão...
...
E esvaiu-se-lhe logo da memória,
do espírito excitado
por tantas emoções contraditórias
e extraordinárias,
a magia do sonho que tivera...
Só restou-lhe em redor
a magia da Lua
erma, silente nua,
iluminada pelo Sol!...
Cai o pano sobre a chama
desse amor, que foi tão grande...
tentando encerrar o drama
que encontro, onde quer que eu ande...
Tu te fechaste num desprezo horrendo.
Sozinha, eu me tranquei também em mim.
Aos poucos nosso amor se foi, morrendo,
em agonia foi chegando ao fim...
Não te faltei em nada que pediste
mas teu louvor jamais eu consegui
e quando mortalmente me agrediste,
também, por certo, então, eu te agredi.
Tua maldade repudiou meu ego.
Chocada, ao mutilar-me, mais sofri.
Qual lenho trespassado por um prego,
cheia de dor, desmoronei... ruí...
Já não sou mais o que já fui um dia,
nem quero ser isto que agora sou.
Fui chama viva que voraz ardia
e que, perante a mágoa, se apagou...
E o nosso amor que um dia foi verdade,
flor que orvalhada e fresca vicejou,
tem hoje a cor dorida da saudade.
Morreu... Despetalando-se, murchou...
Sylvia Reis, Ruir de Um Sonho
Maria Nunes de Andrade,
Lua em Quarto Crescente,
Terra em Quarto Minguante (trechos).
Alba Christina Campos Netto
– Vamos brincar de passado?
dizia a lágrima à areia.
Eu sou a saudade,
tu és o amor.
Mas neste instante
a lágrima rolou,
misturou-se à areia
e nunca mais voltou!
Arita Damasceno Pettená
Mais colhi
desses olhos do que quanto
lhe pedi.
Da centelha
desse olhar é que seu rosto
se avermelha.
Me concentro;
este amor que só eu sinto
aqui dentro.
Lauro de Almeida, Gotas de Poesia.
Fanal 9511: Rua Álvares Machado 22, 1º; 01501-030 – São Paulo, SP – Fone: (0¨11) 2212-0193
O amor é coisa que a gente
sente e não sabe porquê
e foi assim de repente
o meu amor por você
Ana Romano Santoro
Do teu beijo eu só desejo
saber o gosto que tem...
Se não gostar do teu beijo
devolvo o beijo, meu bem...
Anis Murad
Toda nossa ventura enternecida
meu relógio a marcava hora por hora
o dia em que tornaste à minha vida,
o amargo instante em que te foste embora.
Não gosto dele. Continua a lida
contando o tempo em que te encontras fora.
Por que não pára se me vê sentida
e me entristece a sua voz sonora?
Quero um relógio assim como o arco-íris,
que vem ou vai, com horas singulares.
Compre-me um desses, quando acaso o vires.
Um que tenha expressão enquanto o olhares
que sempre atrase antes de partires,
e que se adiante para tu voltares!
Em algum lugar do passado
devo ter deixado alguém
esperando por mim...
porque a saudade que sinto
de algo indistinto
é grande demais.
A esperança é tiririca
que vive dentro da gente,
parece morta mas fica
rebrotando eternamente!
Doroni Hilgenberg, Nostalgia
Cultiva a paz ai dentro
do teu coração, agora.
Sentirás o amor no centro
e a alma brilhar por fora!
Eu me levanto pela manhã
dividido entre dois desejos:
o de melhorar o mundo,
e o de curtir o mundo.
Isso é o que torna difícil
planejar o dia...
Héron Patrício
João Batista X. Oliveira
Sonho ser
sonho de valsa
que dança
nos teus lábios.
Não tenho dinheiro
não tenho posses
gado, terras
carro do ano
cartão de crédito
mas – se eu quiser
aquela estrela lá em cima desce
e vem brincar na minha mão.
Eliakin Rufino, Sonho de Valsa
José Carlos Aragão, Poder
O telefone o chamou,
mas foi logo desligando
quando a mulher avisou:
– É Jesus que está chamando!
Bonita e muito falada
na sua repartição
vai a Cota decotada
subindo de cotação!
E. B. Wite
,
Benedita de Melo, Relógio
Elton Carvalho
Joubert Araújo e Silva
Pegar a palavra
robusta e indefectível
domá-la
com chicotes de métrica
depois
repousá-la semi-morta
em brando papel
eis o poema recluso.
Assim me tornaram presa
com apetites contidos.
Aos poucos, ficando muda,
com sentimentos calados.
A todos contemplo e fujo.
De todos corro, me afasto.
Permuto os espaços, nada!
Nenhum lugar me liberta!
Prossigo o caminho, densa,
cheio de mágoas calcadas.
Assim me fizeram triste...
Entre parênteses fechada.
Lau Siqueira, Domesticália
A luz que irradia
do luar, paz singular
noite de poesia.
Marina Bruna, Reclusão
Líla Riciardi
Da terra surgiu a flor...
veio a rosa, o malmequer.
E do Universo do Amor
surgiu então a mulher.
Márcia de Aloan
As pessoas são o que são
e não necessitam de alguém
que tente mudá-las
apenas esperam que
alguém as aceite
como são
para, então,
poderem transformar-se.
Marlene Penna, Ego Não-ismo
Na sinfonia do amanhecer
desponta a energia
de um grande dia!
O amor fraterno
haverá de colorir
cada sorriso
cada olhar!
Mercedes Vasconcelos, Energia
Eu, trabalhar deste jeito
com a força que Deus me deu,
pra sustentar um sujeito
vagabundo que nem eu?
Orlando Brito
No meio da noite
o pernilongo me acorda
disposto a morrer...
Teruko Oda
Sou o mar, você o sol
diariamente aumenta
minha pressão arterial.
Eu sei que faz mal,
mas eu te amo.
Selmo Vasconcelos
Se... algum dos tantos
chamá-lo de louco
só por namorar pássaros
não argumente: voe!!!
Vander Porto
Meu poema
é feito de mãos,
de amor,
não somente
de palavras.
Contém flores
contém sorrisos
contém abraços,
contém saudades,
contém você.
Vicente Alencar, ...De Amor
O marido agonizante,
insistindo quer saber:
Fui traído? – e ela hesitante
– E se você não morrer?
Koisalinda é um jornal
com razão, sem exagero
que virou arte-postal
deste povo brasileiro!
A próxima estação
não é a do verão
e nem do inverno,
mas sim, do amor fraterno.
É verdade, sim senhor...
Só não vê quem não quiser!
que por trás de um vencedor
sempre existe uma mulher!
Quando a vida se distrai,
ou dá tudo, ou tudo nega:
rico... pega o carro e sai...
pobre sai... e o carro pega!
Enterrei meu canarinho
junto à roseira
agora, a primeira rosa,
vai amanhecer cantando...
Domitila B. Beltrame
Helena Agostinho
Juca da Silva
Oefe Souza
Therezinha D. Brisolla
Yeda Prates Bernis
Koisalinda 0803 Rua Liberdade 182; CEP 14085-250 – Ribeirão Preto, SP: Fone (0 16) 3610-8351; Fax 3636-6675
Maravilha, vejo a dona
alimentar seus bichinhos:
uma galinha matrona,
com uma dúzia de pintinhos!
Um contraste virou troça,
motivo de zombaria:
mesma enxada que faz roça,
faz isca pra pescaria!
Vejo a mata, o céu, o monte,
a fauna, a flora, o poente
e o cantarolar da fonte,
falando de Deus com a gente!
Estiagem tanto aterra,
mas por mim é suportada,
mesmo estando seca a terra,
Rosinha é sempre orvalhada!
Em janta na roça é fato,
e coerência se admira,
pois todo mundo é do mato
e até o frango é caipira!
Fernando Vasconcelos, Gotinhas de Orvalho – Contatos com o Autor: Rua São Josafat 389, CEP 84053-310 – Ponta Grossa, PR
Tempestade desabando,
mil raios e trovoada...
Eu, em ti, me aconchegando,
não vejo chuva, nem nada!