Moradores processam Sabesp por cobrar e não tratar
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abcdmaior.com.br Envie sua notícia agora pelo WhatsApp (11) 97589-3847 /abcdmaior Ultramaratonista Carlos Dias lança vaquinha na internet para correr no Sri Lanka. PÁG. 12 Regional, de verdade Divulgação DESDE 2006 | ANO 10 | nº 982 | 22 de dezembro de 2015 Moradores processam Sabesp por cobrar e não tratar esgoto Ação contra estatal paulista é encabeçada por associação de moradores de São Bernardo e pede que a Sabesp pare de cobrar taxa de esgoto, já que não executa o tratamento, além de reivindicar a devolução do que já foi pago. Omissão impede que moradores regularizem imóveis. PÁG. 3 ALUNOS DESOCUPAM ESCOLAS P olí t i ca Após a Justiça cancelar oficialmente a “reorganização” do ensino, que poderia fechar cerca de 94 escolas em todo o Estado, estudantes da Região desocuparam as últimas unidades de ensino no ABCD. Agora, “luta” será por qualidade de ensino. Pág. 6 prefeitura de são caetano abre 880 vagas Edital de concurso público já está publicado para empregos em diversos setores, como Saúde e Educação; inscrições variam de R$ 30 a R$ 60. PÁG. 4 Cult ura livro retrata primeira mulher a viver da escrita A italiana Christine de Pizan viveu no fim da Idade Média e é considerada a primeira escritora profissional da história. PÁG. 11 naci onal dilma defende ajuste, mas quer crescimento PÁG. 9 e conomi a movimento nas mecânicas cresce 60% PÁG.8 Fabiano Ibidi 2 ABCDMAIOR | 22 de dezembro de 2015 opinião EDITORIAL Sabesp nos cobra e não entrega A cada metro cúbico de água entregue pela Sabesp o consumidor paga também o equivalente a um metro cúbico de esgoto gerado que deveria ser coletado, transportado e entregue a uma estação de tratamento. Mas não é isso o que acontece. Conforme dados de relatório da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) 86% do esgoto da Grande São Paulo é coletado e, desse total, 49% é tratado. Ou seja, a Sabesp cobra por um serviço que não executa. Talvez resida aí um dos motivos pelo lucros exorbitantes alcançados pela empresa: foram R$ 903 milhões no ano passado. Tudo bem que esse valor represente queda de 53% frente ao resultado de R$ 1,92 bilhão em 2013. Afinal, foi o ano no qual a crise hídrica foi detonada. Se a Sabesp cumprisse com sua obrigação talvez a região Metropolitana não enfrentasse o racionamento que atravessa atualmente. E é para por fim aos abusos da companhia estadual que uma associação de moradores de São Bernardo ingressa na justiça para suspender o pagamento da taxa de esgoto da conta de água. O fato da Sabesp não recolher o esgoto destes moradores, especialmente em áreas de manancial, os impede de conseguir a regularização fundiária de suas propriedades por não conseguirem licença ambiental, uma vez que não há coleta de esgoto. A propósito, todo esse esgoto tem a Billings como destino, inviabilizado a represa como fornecedora de água potável. A demanda, no entanto, não é nova. Fatos assim levaram o Ministério Público do Estado (MP) a ingressar com uma ação contra a Sabesp em 2012. A Promotoria de Meio Ambiente do MP pede na ação indenização de R$ 11,2 bilhões da empresa por causa do lançamento, sem tratamento, de esgoto nos rios e represas da Região Metropolitana de São Paulo. O MP também pede na ação civil pública que a Justiça obrigue a Sabesp a universalizar a coleta e o tratamento do esgoto da Região Metropolitana até 2018, sob pena de multa diária. De acordo com a Promotoria, isso é necessário para cessar a “poluição hídrica na Bacia do Alto Tietê e também nas Represas Billings e do Guarapiranga, com prejuízos ao meio ambiente”. Aqui tem ABCD MAIOR Defender as empresas públicas e seus trabalhadores prossegue em 2016 Maria Rita Serrano * O ano de 2015 começou e termina com a marca do desafio, e assim também será 2016. Para defender o patrimônio público dos brasileiros, intensas disputas vêm sendo travadas e, agora, convergem para uma necessidade ainda mais ampla, que é a manutenção da democracia no País. Logo no início de janeiro, quando a sociedade ainda vivia a expectativa do novo governo de Dilma Rousseff – eleita com 54, 5 milhões de votos -, a notícia de que a Caixa poderia abrir seu capital mobilizou entidades em prol da Caixa 100% pública. Foram meses de debates, palestras, seminários e manifestações pelo Brasil para que seu principal banco público não abrisse mão do importante papel social que desempenha em nome de interesses do mercado. As iniciativas, que ganharam alcance nacional com o empenho das entidades representativas – CUT, CTB, Conlutas, sindicatos e representantes dos trabalhadores no Conselho de Administração do banco – resultaram num desfecho positivo, e a abertura de capital não se consolidou. Mas bem pouco tempo se passou www.abcdmaior.com.br até que uma nova ameaça surgisse, colocando em risco não só o papel e autonomia da Caixa como de todas as estatais em operação no País. Em setembro, veio a público o conteúdo do Projeto de Lei do Senado (PLS) 555, ou Estatuto das Estatais. Com o pretexto de trazer mais transparência para a governança destas empresas, o projeto, cujos autores são, respectivamente, os senadores Tasso Jereissati e Aécio Neves, propõe um modelo de gestão privada para as empresas públicas. Para brecar esse rolo compressor, teve início, então, uma nova onda de mobilização capitaneada por centrais sindicais e associativas, conselhos de administração, movimento social e parlamentares. Mais uma vez, foi preciso percorrer o País em busca de apoio para impedir a votação e questionar um projeto que pode abrir uma nova leva de privatizações, tão ao gosto dos governos do PSDB, como já demonstrou a era FHC. Paralelamente, porém, assistimos neste último mês do ano a uma grande turbulência política, com pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, que – não custa repetir – foi eleita democraticamente por 54,5 milhões de brasileiros. Um processo acionado por interesses pessoais de Eduardo Cunha e que não se sustenta já que, ao contrário do que ocorreu no impeachment de Collor (acusado de corrupção passiva e ativa), a presidenta tem uma biografia de defesa do Brasil e não há acusações contra ela. De qualquer forma, é um momento de alto risco para a democracia no Brasil, tão duramente conquistada. E também para seus trabalhadores e entidades representativas, ameaçados pela política do retrocesso e da retirada de direitos.Vamos somar nossas forças para barrar essas ameaças e construir um Brasil melhor. Que 2016 renove nossa esperança e a capacidade de acreditar e em nome da democracia e da perspectiva de que as gerações que nos sucedem possam usufruir de tempos mais solidários e menos desiguais. Afinal, somos brasileiros: a gente insiste, resiste e não desiste! *Maria Rita Serrano é representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Caixa, diretora do Sindicato dos Bancários do ABC e mestra em Administração. /abcdmaior Expediente MP Editora Ltda | Endereço: Trav. Monteiro Lobato, 95, Centro, SBC | CEP 09721-140 | (11) 4930-7450 Av. Santos Dumont x Av. Firestone (Pirelli) Santo André Ver lista completa no www.abcdmaior.com.br Diretor e Jornalista Responsável: Walter Venturini | Diretor Executivo: Silvio Berengani Editores: Política: Júlio Gardesani, (11) 4930-7467, [email protected] |Cidades: Mauricio Milani, (11) 4930-7470, [email protected] Economia: Silvio Berengani, (11) 4930-7457, [email protected] | Cultura: Marina Bastos, (11) 4930-7462, [email protected] | Esportes: Antonio Kurazumi, (11) 4930-7454, [email protected] | Fotografia: Amanda Perobelli, (11) 4930-7465, [email protected] | Projeto Gráfico: Ligia Minami | Diagramação e editoração: Evelyn Domingues | Tratamento de imagem: Fabiano Ibidi | Comercial: Paulo Lima (11) 4930-7452 , [email protected] | Distribuição: Casa da Arte - distribuicao@ abcdmaior.com.br (11) 4930-7474 Publicação trissemanal www.abcdmaior.com.br | Os artigos são de responsabilidade dos autores e não expressam a opinião deste jornal. Circulação em Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra @ABCD_MAIOR TIRAGEM 20 mil exemplares certificação: FONE 4193-5357 22 de dezembro de 2015 | ABCDMAIOR política 3 Economizando em tempos de crise A Câmara de Santo André devolverá nesta quarta-feira (23/12) R$ 4 milhões aos cofres da Prefeitura, diante de economias que realizou neste ano de 2015. Morador aciona Sabesp por cobrança indevida em SBC Estatal cobra por serviço de tratamento de esgoto, mas despeja dejetos na represa Billings Karen Marchetti [email protected] A Associação dos Movimentos de Moradia e Melhores Condições de Vida, que representa 69 vilas localizadas em áreas de mananciais de São Bernardo, entrou com ação civil pública para suspender a cobrança da taxa de esgoto nos locais, serviço que é cobrado pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) mas não é realizado. Isso porque a empresa, vinculada ao governo de Geraldo Alckmin (PSDB), continua despejando esgoto coletado na represa Billings, responsável pela água que abastece parte do ABCD e também da Capital. A ação representa diretamente cerca de 250 mil pessoas que moram nas áreas de mananciais. Os moradores reclamam que o Estado cobra não só pela coleta, mas também pelo tratamento do esgoto, o que não é efetuado. A ação, que também pede o ressarcimento dos valores já quitados pelas famílias, está respaldada pela lei de Direitos do Consumidor; a ausência na coleta de esgoto ainda causa mais transtornos à população, que não consegue registrar os imóveis. De acordo com a nova Lei da Billings, os proprietários só poderão receber a documentação de posse depois de receberem a licença ambiental, que só é emitida depois de comprovar a coleta e o tratamento de esgoto no local. O vereador José Ferreira realizou coletiva de imprensa nesta segunda-feira (21/12) para anunciar a ação civil pública e o apoio à população. “Não podemos pagar por serviço não prestado. Não existe cronograma da Sabesp para iniciar as obras para destinação do esgoto. Este processo, além de corrigir um erro, é uma forma de pressionar e obrigar a Sabesp a colocar os coletores troncos para fazer o afastamento e tratamento do esgoto nas regiões de mananciais”, disse o vereador. A assessoria de imprensa da Sabesp informou que a cobrança da tarifa de esgoto é regulamentada por meio do decreto estadual número 41.446/96 e que são cobrados os custos dos serviços “efetivamente prestados”. Fabiano Ibidi Esgoto é despejado na Billings, mas Sabesp ainda cobra da população Andris Bovo Zé Ferreira anuncia ação contra taxa Regularização fundiária fica prejudicada Sem as obras necessárias que garantam o tratamento do esgoto, o que evitaria o descarte na represa Billings, os proprietários dos imóveis nas áreas de mananciais ficam impedidos de receber o título de propriedade. “As obras dos coletores troncos do Ribeirão dos Couros são de nossa responsabilidade e estamos fazendo. Inclusive, vamos realizar uma parte que era de responsabilidade da Sabesp. No entanto, a empresa estatal não fez a rede para levar o esgoto até o coletor tronco central. A Sabesp informou que iria concluir as obras neste ano, mas as obras foram adiadas e não existe novo prazo”, afirmou o secretário de Serviços Urbanos de São Bernardo, Tarsicio Secoli. 4 ABCDMAIOR | 22 de dezembro de 2015 política Contra o golpe, de novo A base aliada irá recorrer ao STF se houver qualquer tentativa de “driblar” a decisão da Corte sobre o andamento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Prefeitura abre inscrições para 880 vagas em São Caetano Salários para os cargos variam de R$ 1,7 mil até R$ 6,5 mil em diversas oportunidades, na área da Saúde, Educação, entre outros Gislayne Jacinto [email protected] A Prefeitura de São Caetano abriu neste domingo (20/12) as inscrições para o concurso público que oferece 880 vagas de emprego. Os salários variam de R$ 1,7 mil a R$ 6,5 mil, sendo que a taxa para participar do processo é de R$ 30 a R$ 60, dependendo da escolaridade do candidato. O concurso será realizado pela USCS (Universidade de São Caetano do Sul). O edital pode ser encontrado no link (http://goo. gl/EN6uM6); já as inscrições são realizadas no seguinte endereço: http://goo.gl/zMXWHZ O prefeito Paulo Pinheiro (PMDB) foi obrigado a realizar o concurso após o TCE (Tribunal de Contas do Estado) cobrar a substituição de três mil funcionários terceirizados. A troca será feita de forma gradativa. Por isso, além das vagas oferecidas, a Prefeitura está criando um cadastro reserva. Entre as vagas oferecidas, está o cargo de agente administrativo. O salário para função, que conta com o maior número de oportunidades oferecidas, é de R$ 2,4 mil. A área da saúde também tem contratações abertas, sendo 102 para técnico de enfermagem, 86 para auxiliar de enfermagem e 42 para enfermeiro, além de médicos. ANDRIS BOVO Prefeitura foi obrigada a abrir concurso após TCE apontar que Administração contava com muitos funcionários terceirizados 22 de dezembro de 2015 | ABCDMAIOR cidades 5 Patrulha contra a dengue A Prefeitura de São Caetano lança nesta terça-feira (22/12) a Patrulha contra a Dengue. Quatro veículos irão circular pela cidade para combater o mosquito Aedes que transmite dengue, chikungunya e zika. Verão começa nesta terça com influência do El Niño Fenômeno climático contribui para elevação das temperaturas e aumento no volume de chuvas Rosângela Dias [email protected] O verão começa nesta terça-feira (22/12) em todo o hemisfério sul sob forte influência do El Niño. O fenômeno climático é responsável pelo aquecimento das águas do oceano, resultando na elevação da temperatura e distribuição irregular da chuva no País. Por isso, enquanto o clima seco será uma constante em áreas do Nordeste, a chuva deve aparecer com mais intensidade em estados do Sul e Sudeste. Em São Paulo, as temperaturas podem ficar acima da média, com mínima na casa dos 20°C e máxima entre 28°C e 30°C. Noites abafadas serão constantes ao longo da estação, mas em menor intensidade do que nos últimos dois verões, quando bloqueios atmosféricos impediram a aproximação de frentes frias. Considerado um dos eventos mais fortes desde 1997 e 1998, o El Niño deverá perder força com o final do verão, em março. “Já passamos pelo pico do El Niño no final de novembro e começo de dezembro, e a tendência é que ele perca a força ao longo da es- tação”, afirmou o meteorologista do Climatempo, Alexandre Nascimento. Para os próximos meses, a previsão é de chuva de 25% a 30% acima dos valores históricos para o período, variando de 220 a 330 mm a cada mês. A tendência é que fevereiro seja o mês com maior intensidade de chuva, seguido de dezembro e janeiro. Apesar de chuva perto ou um pouco acima da média, o volume não será suficiente para a recuperação dos reservatórios que abastecem o Estado. “As chuvas podem amenizar um pouco a situação, mas não há previsão de recuperação dos mananciais. O forte calor contribui para maior evaporação da água nos reservatórios e também para o maior consumo d’água por parte da população”, observou Marcelo Schneider, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia. O sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento de mais de 5 milhões de pessoas na Região Metropolitana de São Paulo, continua operando no volume morto em consequência da crise hídrica. Já o sistema Alto Tietê também seguirá em situação crítica. rodrigo pinto Verão terá chuvas acima da média 6 ABCDMAIOR | 22 de dezembro de 2015 cidades Feira de Artesanato melhorada! A Feira de Artesanato de Mauá foi entregue reformulada na sexta-feira (18/12). Os comerciantes, que ficam na praça da Paineira, no Centro, agora têm 20 barracas fixas e carrinhos ambulantes mais modernos para vender alimentos e artesanato em geral. Após vitória, alunos desocupam últimas escolas na Região Antes de deixar unidades, estudantes limparam e promoveram melhorias nas escolas e agora cobram qualidade no ensino Fabiano Ibidi Jéssica Marques [email protected] Carregando travesseiros, colchonetes e mochilas, os alunos das últimas cinco escolas ocupadas no ABCD deixaram as unidades na tarde desta segunda-feira (21/12). Após mais de um mês “na luta”, como dizem os estudantes, a ideia agora é de mudar de estratégia e buscar apoio para melhoria da qualidade de ensino, além de continuar se posicionando contra a proposta de “reestruturação” apresentada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), que previa o fechamento de quase 100 escolas em todo o Estado. Durante a desocupação o cheiro de produtos de limpeza e sacos de lixo na frente das unidades de ensino já anunciavam a mudança. Junto às chaves dos portões das quatro escolas em Santo André e uma em Diadema, os alunos entregaram documentos que garantiam a integridade física do prédio. Em Santo André, foram desocupadas as escolas Wanda Bento Gonçalves, Marajoara 2, Oscavo de Paula e Américo Brasiliense. “Limpamos tudo, As cinco escolas do ABCD que estavam ocupadas foram deixadas nesta segunda-feira pelos estudantes pintamos e até retiramos focos de dengue. Na entrega, fizeram vistoria e nenhum problema foi encontrado”, relatou o aluno Douglas Versuri, da Wanda Bento. Na E. E. Diadema (antigo Cefam), primeira escola do estado a ser ocupada, em 9 de novembro, os próprios alunos encontraram diversos problemas. Dentre os mais graves, estão extintores vencidos, man- gueiras de hidrante furadas, caixa d’água suja e materiais didáticos que deveriam ser distribuídos entre os alunos mas estavam guardados em armários. Todas as irregularidades foram anotadas para serem passadas à Diretoria de Ensino de Diadema. “Instalamos chuveiros nos vestiários, limpamos os banheiros, a cozinha, as salas de aula. Todo mundo participou e ajudou”, disse a estudante Rafaela Boani, 16 anos. No entanto, as mudanças vão além da parte estrutural. A experiência de ocupar as escolas e buscar a garantia de direito trouxe novos ensinamentos. “A maior e melhor loucura que fiz na minha vida foi anunciar a ocupação”, diz Rafaela, que estuda na E. E. Diadema desde a primeira série. “Acor- dar todos os dias e ver que todo mundo estava aqui, apesar dos problemas, foi muito gratificante”, contou a estudante, enquanto enxugava as lágrimas de emoção. REORGANIZAÇÃO O projeto de “reestruturação” da rede estadual de ensino foi anunciado em setembro e motivou uma série de protestos em todo o Estado. A ideia inicial era ampliar o número de escolas de ciclo único, o que resultaria no fechamento de 94 escolas. O movimento de protesto foi intensificado a partir do mês de novembro, quando as ocupações tiveram início. Foram mais de 200 escolas tomadas por estudantes no Estado, sendo pelo menos 25 unidades no ABCD. Após forte pressão estudantil, Alckmin anunciou, em 4 de dezembro, a suspensão da medida. Neste período, Herman Voorwald pediu demissão do posto de secretário de Educação. Na quarta-feira (16/12), uma decisão da justiça determinou que a reorganização fosse suspensa até 2016. IMPLANTE DENTÁRIO SEGURANÇA, CONFORTO E QUALIDADE NA MASTIGAÇÃO. REALIZE SEU SONHO; AUMENTE SUA AUTO-ESTIMA; TRANSFORME SEU SORRISO. 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A estudante de direito Vanessa dos Santos Almeida, 19 anos, que é negra, contou que desde pequena foi preparada para ser melhor que os brancos para conseguir estar no mesmo patamar. Outra crítica feita pela jovem é a diferença entre salários entre brancos e negros. Jessica Marques [email protected] ABCD MAIOR – Uma pichação racista foi encontrada no banheiro feminino da Faculdade Direito São Bernardo em outubro. Como foi a reação das estudantes negras? Vanessa - Estávamos procurando umas às outras, porque não podíamos deixar esse episódio passar batido. A gente conseguiu juntar um grupo de sete meninas e fizemos a semana Cena Preta, para falar sobre racismo e a cultura negra. A faculdade nos apoiou bastante, porque não quer ser vista como uma instituição racista. Tudo o que nós precisamos foi fornecido e os alunos também estavam de acordo com a gente. A pichação dizia que “turbante não é coisa da faculdade.” Qual a importância deste item na cultura negra? O turbante é uma expressão de poder. Não é só mulher que usa, principalmente nos países africanos. Eu acho que aqui no Brasil o turbante vem para empoderar o negro. Mesmo assim ainda é visto como um absurdo. Tem também a questão capitalista, o turbante vende muito, porque as mulheres brancas acham bonito e virou um sinal de consumismo. Não que a mulher branca não possa usar, mas o turbante é visto como feio na gente e bonito nelas. Você considera que os jovens negros não têm voz ou que reprodução a discussão já está sendo ampliada? Temos aproximadamente 4% de alunos que se declaram negros e 11% daqueles que se declaram pardos. Estamos em um número reduzido em salas totalmente diferentes. Depois dessa pichação, começamos a nos juntar e temos a ideia de formar um coletivo. Ainda sim, a gente vê que são poucos alunos. Como está sendo feita a organização para o coletivo? A internet facilita esse processo, o que é bom por um lado, mas é ruim por ser um espaço cheio de ódio. A gente consegue se unir mais e se manifestar, principalmente agora, após a ocupação das escolas, em que a juventude teve mais voz, de forma geral. A gente não via isso antes, então é uma luta que tem que continuar. Além de aproximar as pessoas, a internet também favorece o debate sobre o empoderamento dos negros? Sim, porque com o conhecimento do outro a gente acaba descobrindo que existem vários modos de pensar. Tendo esse diálogo, a gente consegue ultrapassar a barreira do racismo. Como você sente o racismo no ambiente acadêmico? Só de entrar em uma instituição e ter pouca representatividade, nenhum professor negro e poucos alunos negros, a gente já sabe que existe um racismo institucional. Mesmo que a gente não sofra um racismo de forma individualizada, a gente sente na pele que tem um racismo, principalmente depois dessa pichação. Inclusive, temos um debate para Estudante Vanessa Almeida alerta que poucos negros atuam no judiciário porque poucos ingressam no curso de Direito implementar uma política de cotas dentro da faculdade. É um espaço universal, tem que haver mais negros, não pode ser apenas um grupo determinado. Como você está se preparando para o mercado de trabalho? Sei que vou enfrentar dificuldades, porque o negro é visto como alguém que não é bonito e quem contrata ainda preza pela imagem. Desde pequena fui preparada para isso, meus pais sempre falam que preciso ser melhor que um branco para chegar no mesmo patamar. Espero não precisar falar isso para os meus filhos. Não tem cabimento, porque nós deveríamos ser iguais e não somos. Na sua visão, como o judiciário recebe os negros? O ambiente jurídico é muito tradicionalista, a faculdade de direito é tradicional, apesar de agora nós termos um alunado feminino muito grande, dentro dos tribunais ainda são mais homens. O número de mulheres está crescendo porque o concurso é mais justo e ninguém vê sua cara. Ainda assim, poucos negros entram na faculdade de direito. Na minha sala tem duas negras e tem sala que não tem nenhum. Consequentemente, poucos vão atuar no judiciário, é um reflexo. Você tem uma visão otimista sobre mudanças nesta área? Não muito. Nossa luta é revolucionária. A gente quer chegar lá e ter mais igualdade, mas não adianta a igualdade estar só na constituição e não no mercado de trabalho. Para a mulher chegar ao mesmo patamar que o homem, foram feito pesquisas de que vão levar 40 anos. A mulher negra ganha quatro vezes menos que o homem branco, vai levar quanto tempo até chegarmos no mesmo patamar? A mulher negra não sofre só o racismo, mas também com o machismo. 8 ABCDMAIOR | 22 de dezembro de 2015 economia Contratação gigante O Ministério do Planejamento autorizou o IBGE a contratar por tempo determinado até 82.023 pessoas para realizar o Censo Agropecuário 2016. As contratações deverão ser feitas em processo simplificado, observados critérios estabelecidas pelo governo. Acordo de Leniência é 1ª resposta de Dilma a centrais e a empresas Empresas envolvidas em corrupção poderão manter atividades e firmar contratos com o governo mudando procedimentos Redação [email protected] O Diário Oficial da União publicou em sua edição de ontem o texto da medida provisória que permite acordos de leniência entre empresas envolvidas em escândalos de corrupção com a União, estados e municípios. A medida foi anunciada pela presidente Dilma Roussef como a primeira das respostas prometidas por ela aos representantes de 70 entidades, entre centrais sindicais e patronais, que lhe entregaram na terça-feira (15/12) uma carta com sugestões e propostas pra acelerar o desenvolvimen- to do país em 2016. O intuito da iniciativa é construir uma agenda econômica positiva, de emprego e renda para o próximo ano. E o acordo de leniência foi uma das solicitações. Ele permite que investigações em caso de corrupção não atrapalhem as atividades econômicas das mesmas, como vem ocorrendo com a empreiteiras envolvidas na operação Lava Jato. De acordo com a presidente, seu governo apoia totalmente o combate à corrupção. Conforme destacou ela, a medida provisória vai permitir que empresas investigadas e declaradas inidôneas possam voltar a fechar negócios com o governo, de forma a preservar empregos. Os termos da MP foram acordados em conjunto entre representantes do Executivo e destas entidades sindicais e patronais. Para o presidente da CUT, Vagner Freitas, a MP vai ajudar a resolver o problema do desemprego no Brasil. “Só nos estaleiros, temos milhões de trabalhadores ficando desempregados. A agenda do Brasil para 2016 precisa ser o desenvolvimento e medidas que levem o país a crescer e gerar empregos, e não o impeachment e a crise política”, disse. O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, afirmou que a MP não é boa apenas para o setor rodrigo pinto Para Freitas, da CUT, acordo ajuda a resolver o problema do desemprego automotivo, mas para todas as organizações que se aliaram na parceria por um Brasil melhor. Na sua avaliação, o governo deu um excelente sinal, que foi o de agilidade e disposição no atendimento das propostas. “E agilidade é o que o país mais precisa neste momento para sair da crise.” (Com informações de Hylda Cavalcanti - da Rede Brasil Atual). 22 de dezembro de 2015 | ABCDMAIOR nacional/internacional 9 Mirou na presidência, mas ficou sem o partido Após desavenças, o presidente do Senado, Renan Calheiros, articula a destituição do vice-presidente da República, Michel Temer, do comando nacional do PMDB. Dilma defende ajuste, mas quer retomada do crescimento Novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, tomou posse nesta segunda-feira Redação [email protected] Durante a posse do novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, nesta segunda-feira (21/12), a presidente Dilma Rousseff afirmou que a mudança da equipe econômica não altera os objetivos de longo prazo, mas garantiu que será necessário conciliar o “equilíbrio fiscal” com a “retomada do crescimento econômico”. Barbosa assume em substituição ao ex-ministro Joaquim Levy, mais ligado aos interesses do mercado financeiro. Também foi empossado o substituto de Barbosa no ministério do Planejamento, Valdir Simão. “A tarefa dos ministros Nelson Barbosa e Valdir Simão é de imediato contagiar a sociedade brasileira com a crença de que equilíbrio fiscal e crescimento econômico podem e devem caminhar juntos. Na verdade, criam as bases para novas medidas e reformas de médio e longo prazo necessárias para um sustentado e prolongado ciclo de expansão. Precisamos também atuar para estabili- zar e reduzir a dívida pública ”, afirmou Dilma, em discurso. A presidente começou seu discurso agradecendo ao ex-ministro Levy, que estava presente na cerimônia. “Sua presença à frente do Ministério da Fazenda foi decisiva para que fizéssemos ajustes imprescindíveis. Sua dedicação e trabalho ajudaram na aprovação da legislação fiscal, mesmo em um ambiente de crise política. Joaquim Levy revelou grande capacidade de agir com serenidade e eficiência, mesmo sob intensa pressão.” Ainda nesta segunda. Barbosa disse a investidores estrangeiros que o governo continua comprometido com o ajuste fiscal e que fará o que for necessário para cumprir a meta de superávit primário de 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto, soma de todos os bens e serviços produzidos no país) em 2016. O superávit primário é a poupança que o governo faz para o pagamento dos juros da dívida. O objetivo é tranquilizar o mercado financeiro e mostrar o empenho do governo nos ajustes da economia. Roberto Stuckert filho/ PR Novo ministro, Barbosa defende meta de superávit primário menor do que seu antecessor, Joaquim Levy 10 ABCDMAIOR | 22 de dezembro de 2015 classificados Oportunidades e Serviços CENTRO EQUESTRE SÃO JORGE ATIVIDADES ASSISTIDAS POR EQUINOS CONVIDA ATIVIDADE CORPO, VOCÊ PARA CONHECER UMA PARA O PARA A MENTE E PARA UM FUTURO MELHOR! ESTRADA DOS ALVARENGAS, 11205 SÃO BERNARDO DO CAMPO SP CLUBE (ACAMPAMENTO) INSTITUTO ENGENHARIA Equoterapia Equitação Lúdica Equitação Terapêutica Equitação Feminina Psicoterapia Facilitada por Equinos Equitação Clássica / Salto Treinamento de Cavalos Aluguel de Baias FONE: 11 97385.2121 www.centroequestresaojorge.com.br (11) 4335 9664 MÁQUINAS DE CAFÉ ESPRESSO: Venda Locação Assistência Técnica SHOW ROOM Rua tiradentes, 118 - Centro São Bernanrdo do Campo - SP www.phtcafe.com.br Concessionário Autorizado 22 de dezembro de 2015 | ABCDMAIOR cultura 11 Arte pela Igualdade no Sesc Santo André A exposição Pestana: 30 anos de Arte pela Igualdade, de Mauricio Pestana ficará em cartaz no Sesc (rua Tamaratutaca, 302, Vila Guiomar) até 31/01. A mostra traz cartuns, cartazes e ilustrações sobre e relações de trabalho, a segurança pública e a educação. Grátis. DivulgaÇÃO Lucimara Leite é professora universitária e leciona sobre história da arte e teoria de gêneros; recentemente a autora esteve em São Bernardo para lançar seu livro sobre uma importante personagem da luta feminina Livro retrata primeira mulher a viver da escrita Christine de Pizan: uma resistência conta sobre aquela que é considerada a primeira escritora profissional Marina Bastos [email protected] O livro Christine de Pizan: uma resistência, de Lucimara Leite, é fruto de mais de 20 anos de pesquisa relacionados a esta que é considerada a primeira mulher a viver da profissão de escritora. A obra, lançada recentemente na Fasb (Faculdade São Bernardo), retrata uma mulher medieval que tem muito em comum com as lutas femininas de hoje. Christine de Pizan viveu no final da Idade Média e, em seus livros Cité des Dames e Trois Vertus, já defendia um perfil de mulher atuante na sociedade, ideias revolucionárias para o período. Apesar de pouco difundida no Brasil, seu nome é bastante conhecido no exterior, inclusive com congressos internacionais específicos que debatem sua vida e obra. A autora, Lucimara Leite, teve o primeiro contato com a histó- ria de Christine Pizan enquanto cursava o último ano do curso de Filosofia na PUC-SP, e um professor solicitou um trabalho sobre mulheres do Renascimento. “Ele notou meu interesse pelo assunto e me passou uma lista com diversos nomes. Dentre eles, estava Christine de Pizan” contou. “Sabemos que em pleno século 21 as mulheres ainda precisam lutar para ter seus direitos atendidos. Então me intrigou saber que já no século 15 houve uma mulher que escrevia, que tinha uma profissão e sobrevivia do ato de escrever”, relacionou Lucimara, que é professora e no ambiente universitário desenvolve projetos nas disciplinas de Filosofia e História da Arte e em Teoria dos gêneros. Em tempos que campanhas feministas ganham força na internet é importante perceber que há muito tempo algumas mulheres já ousavam não se contentar com o papel que lhes era reservado na sociedade. Quando falamos em luta por direitos das mulheres no século 15, falamos de direitos básicos como o acesso aos estudos. “A importância de conhecermos uma autora como a Christine é sabermos que há 600 anos viveu uma autora que ousou afirmar que as mulheres eram consideradas inferiores porque não tinham acesso à educação. Que a diferença entre homens e mulheres é de origem social e não por uma determinação biológica”, afirmou Lucimara leite. Serviço O livro Christine de Pizan: uma resistência, está disponível no site da Editora Chiado: https://www.chiadoeditora.com/livraria/christine-de-pizan. O que une uma mulher medieval à contemporânea Após mais de 20 anos de pesquisa, Lucimara pode afirmar com propriedade que ser mulher sempre foi difícil em qualquer tempo. Sem jamais menosprezar as conquistas já feitas, como o direito à educação, ao voto, ou ao divórcio, é inegável ainda vivermos numa sociedade patriarcal e desigual. “O que nos une às mulheres medievais é a dificuldade, ainda, de ser mulher. No sentido de um ser livre com igualdade e direitos. Já conquistamos muito nesses 600 anos, mas ainda ganhamos menos, sofremos abusos e ficamos com a maior parte da educação dos filhos.” Christine e Gil Vicente Lucimara é doutora em Língua e Literatura Francesa pela Paris IV-Sorbonne/USP e considera que a maior dificuldade em escrever sobre Christine de Pizan foi a falta de acesso às fontes. “Estudar Idade Média no Brasil é difícil e pesquisar sobre a Christine, quase impossível. Para que eu pudesse desenvolver meu trabalho, contei com bolsas que me permitiram morar na França, no doutorado, e em Portugal, no pós-doutorado, para realizar o estudo. Aqui no Brasil, ainda há poucas pesquisas sobre ela”, relatou a autora. “Nesse sentido, este livro é uma referência importante. Mas Christine é um nome reconhecido internacionalmente, principalmente nos EUA e Europa. Na França, ela é referência obrigatória na formação dos alunos. Podemos dizer que ela é como um Luís de Camões ou um Gil Vicente para nós”, comparou. 12 ABCDMAIOR | 22 de dezembro de 2015 esporte Superliga Pela Superliga Feminina de Vôlei, o São Bernardo recebe o Sesi-SP nesta terçafeira (22/12), às 19h, no ginásio Poliesportivo. O time do ABCD sonha com vaga nos playoffs do campeonato nacional. Ultramaratonista lança vaquinha na internet para correr no Sri Lanka Carlos Dias precisa de R$ 30 mil para participar da última etapa da 4Deserts, principal ultramaratona de ambientes extremos no mundo Antonio Kurazumi [email protected] Há dois anos, o ultramaratonista Carlos Dias saiu nas páginas do ABCD MAIOR pela história ímpar no esporte, em que já cruzou o Brasil do Oiapoque ao Chuí, e a ligação com causas sociais. O bernardense é o garoto-propaganda do bem, pois corre para ajudar as pessoas fazendo campanha de arrecadação para o Graac (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança). Prestes a completar 43 anos, o super-humano - título ganho em programa do canal de TV The History Channel - lançou campanha de financiamento coletivo na internet, popularmente chamada de “vaquinha”, a fim de viabilizar participação em prova de 250 km no Sri Lanka. Prevista para fevereiro, a corrida é a última etapa da 4Deserts, principal ultramaratona de ambientes extremos do mundo. Dias vem de desafios no Ata- Canela de ferro cama (Chile), deserto do Saara, Gobi (China) e Antártida. O atleta convive com a dificuldade de obter apoios por não ser de um esporte olímpico no Brasil, o que afasta possíveis patrocinadores. Por esse motivo, ele recorreu ao crowdfunding para não ficar de fora dessa reta final do 4Deserts. A meta é juntar R$ 30 mil, que servirão para pagar a inscrição, equipamentos, hospedagem e alimentação. A ajuda na “vaquinha” de Dias prevê brindes, tais como camisetas, palestras e até treinos individuais. “Sobre a prova, minha maior expectativa é me manter firme na trilha e conseguir chegar ao final. Teremos um terreno bem molhado de floresta, muitas subidas e plantações de arroz que dificultam muito o ritmo. A lama densa faz com que os atletas atolem e percam até horas”, descreve o bernardense. Mais do que vencer ou terminar o trajeto, Carlos Dias se dá Divulgação por satisfeito em fazer a alegria das pessoas. “Estou entusiasmado em poder correr onde exista uma população que mora em um lugar completamente isolado do mundo e com minhas pernas vou poder passar uma mensagem de força e coragem.” Em 2015, Dias correu 42 maratonas em 42 dias consecutivos, sendo que na carreira já concluiu 40 provas acima de 42 km. O segredo, diz ele, é respeitar os limites do corpo. A descoberta da modalidade foi por acaso, aos 12 anos, quando era obrigado a percorrer 15 km por dia para vender doces. Formou-se em administração de empresas e fez pós-graduação em psicologia organizacional. Crowdfunding A contribuição para a “vaquinha” do bernardense no Sri Lanka pode ser feita no seguinte site: http://www.kickante.com. br/campanhas/ultramaratona-no-sri-lanka-250km-em-7-dias. Carlos Dias busca ajuda para correr 250 km no Sri Lanka por marcelo Mendez Nanã é zagueirão e anti-herói é o diabo A várzea da vez em Mauá... Para mim a ida até essa cidade sempre tem um charme, um elã de algo muito especial que me acomete quando saio da redação do jornal rumo aos bons terrões de lá. Uma sensação muito boa, gostosa, me sinto muito bem. Da janela do carro vejo seus muitos bairros, suas pessoas, sua peculiar alegria que acomete a cidade nos domingos pela manhã. Fecho os olhos, sinto o vento quente da manhã de verão de encontro a meu rosto, penso no Mississipi; O verão de lá no sul... Com um milhão de blues cantados por Johnny Shines, encho meu coração de poesia para mais um relato que não há como ser menos épico. Não se tem uma verdade inexorável, intrínseca e inconteste para tal. São várias as formas de se ver a coisa, mas não sei. Para mim, Mauá é muito de verdade, muito intensa, muito autêntica. Trata-se de uma cidade que se assume como tal. Popular, alegre, bem resolvida com o que há de mais prazeroro, eu diria que Mauá é a cidade hedonista da região. A cidade que melhor se diverte. Sua várzea não poderia ser diferente. Espalhada em várias divisões, seus times são todos formados por comunidades comprometidas e torcedores apaixonados. Em mundo que muda a cada minuto, com as exigências do futebol elitizado batendo na porta da várzea, pode-se dizer que Mauá resiste aos profissionais e o espírito da velha tradição do futebol amador se mantém em suas canchas. Domingo último, pela final da Copa Lourencini, tive contato com um desses que sem dúvida personifica esse espírito varzeano. Falo de Nanã, zagueiro do Hélida. Em uma bola que o time do Santa Rosa atacava com seu camisa 10, o craque Camisinha, tivemos o embate. Camisinha vinha com toda a sanha de pernas e requebrados pra cima do zagueiro. Este, por sua vez, não piscava o olho, mantinha-se atento a tudo e tal e qual o “Homem que Matou o Facínora” do filme de John Ford, esperou o momento certo para dar o bote; Preciso, firme, na bola. Em outro lance, o atacante veio pra dividir com tudo e Nanã deu-lhe uma escorada no ombro mandando longe de sua área qualquer tipo de problema que o 9 adversário causasse. Olhei para ele. Pouco riso, fala nenhuma e ar contrito. Mas esse negócio de “contrito” para a várzea num serve. Aqui o nome é cara feia, mesmo! Nanã é o zagueirão cara de mal típico. Não fica de risinho, não gosta de gracinha, não perde tempo, não inventa moda, não perde bola pra atacante, nem tempo. Zagueiro de várzea num é dado a frescuradas. Chega o reio mesmo. E tem que chegar... Diria um outro que o visse que “não se trata de um zagueiro clássico”. Eu digo que se trata de um zagueiro digno. Um homem honesto e verdadeiro que sabedor de seu papel de anti-herói, o faz com uma dignidade comovente. Emocionante vê-lo como o que para muitos seria um vilão. Não, Nanã é muito mais que isso. Sabedor da responsabilidade que carrega no bico de suas chuteiras cor de laranja, o zagueiro não foge as suas origens, as suas crenças, a sua gente. Com a camisa do Hélida, o zagueiro defende os amores todos de uma comunidade que luta pra viver, que aguenta a dureza do dia a dia e que precisa ao menos aos domingos pela manhã de um réquiem de paz e alegria. Defendendo a meta do Hélida, Nanã defende o sonho dessa gente toda e eles lhe são muito gratos por isso. Ao término do match, o Santa Rosa venceu o Hélida, mas Nanã não perdeu. Saiu de campo vitorioso, porque sua existência enquanto zagueiro varzeano é, por si só, grandiosa. Nanã, o Grande!
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