Seleção Mensal - Sociedade da Mesa
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Seleção Mensal - Sociedade da Mesa
junho/2015 clube de vinhos Sociedade da Mesa do livre exercício dos prazeres 147 R$ 16,00 Castelvero Le Stelle 2012 | Itália Boneshaker Zinfandel 2013 | E.U.A. História Bandeja Viagem Roma Drink Gibson Sociedade da Mesa do livre exercício dos prazeres junho/2015 147 Editorial Direção Geral Dario Taibo [email protected] Direção Técnica Dario Taibo [email protected] Direção da Revista Paula T. Morales [email protected] Projeto gráfico e diagramação Debora Ochoa [email protected] Sociedade da Mesa clube de vinhos Rua Branco de Moraes, 248/11 Chácara Santo Antônio - São Paulo - SP - Brasil CEP 04718-010 (55-11) 5180-6000 0800 774 0303 www.sociedadedamesa.com.br Redação [email protected] Não sei por que não o fiz antes, mas a partir de agora sempre escreverei a nota “Por que selecionei”. Quando seleciono vinhos para o clube, quando decido por um vinho em particular, sempre o faço por uma razão muito concreta. Sempre o faço por meio de um critério que, se para mim é muito claro, muitas vezes não o é para o associado. Não é para menos, não é nem sequer um critério fácil de explicar. Levo em conta muitos fatores: o preço, é claro, a qualidade, é claro. Mas isso é pouco, muito pouco. A seleção de um clube de vinhos tem que ir muito além. A assinatura de um clube de vinhos é sua seleção e a nossa assinatura é unica e irrepetível. Daí a faço pessoalmente e a considero uma tarefa “interceirizável”. O preço, sim, a qualidade, sim, mas a variedade, a novidade, o atrevimento, a oportunidade comercial, o reconhecimento de trabalhos carinhosos dos enólogos, o pionerismo, o acompanhamento, durante anos, de um determinado vinho, até chegar à sua safra ideal, o acompanhamento de um vinhedo novo até que o mesmo atinja sua maturidade, vinhos de países que chegaram ao Brasil pela primeira vez por nossas mãos... A seleção independente que despreza qualquer compromisso que não seja esse critério, que para mim é claro. Fomos pioneiros no formato clube de vinhos no Brasil. Hoje existem dezenas e eu diria até que alguns são bastante bons. Nosso clube foi copiado sem contemplação, mas a cópia faz parte do mundo comercial e o mercado é livre. Devo encarar isso com naturalidade e assim o faço, mas fico muito confortável com o fato de termos um valor que não é possível copiar: nossa seleção, nossa assinatura. Enfim, me perco e repito: nem sempre o associado entende por que está recebendo aquele vinho. A partir de agora farei sempre o comentário do porquê selecionei o vinho daquele mês. Assim, o entendimento do vinho fará muito mais sentido. Atendimento ao cliente [email protected] Contato de Publicidade [email protected] Impressão 15.000 exemplares Dario Taibo sócio-diretor clube de vinhos # Sociedade da Mesa do livre exercício dos prazere meumomentosociedadedamesa índice Compartilhe seu Momento Sociedade da Mesa conosco. Poste no instagram suas fotos que traduzam melhor este momento com a #meumomentosociedadedamesa e marque nosso perfil #sociedadedamesa. As fotos escolhidas por nossa equipe serão publicadas na nossa revista. Participe! Sociedade da Mesa c l u b e d e vin h o s 0800 774 0303 www.sociedadedamesa.com.br 06 / Seleção Mensal 48 / Drinks 12 / Seleção Grandes Vinhos51 / Por aí 20 / Receita 1,2 e 3 52 / Química dos alimentos 24 / Na cozinha tem 54 / Perguntas frequentes 28 / Almanaque 58 / Notícias 32 / Entrevista 59 / Calendário 36 / Ingredientes 60 / Saca-rolha 40 / Viagem 62 / Além da Garrafa 46 / Cantero 65 / Estoque 47 / Dica de quem sabe 66 / Próximas seleções Seleção Mensal Texto: Alberto Pedrajo Fotos: divulgação seleção Mensal PIEMONTE, AO PÉ DA MONTANHA Piemonte é uma das regiões mais reconhecidas no mundo. Aqui se encontram Denominações de Origem tão importantes como Barolo, Asti ou Barbaresco, situando seus vinhos no topo dos melhores e mais caros da Itália. Por isso, acreditamos que vale a pena parar para conhecer um pouco mais desta região da Itália e neste mês selecionamos o Castelvero Le Stelle 2012, um delicioso vinho 100% Barbera – um dos varietais estrela de Piemonte. Seleção Mensal Castelvero Le Stelle 2012 | Barbera D’Asti Superiore DOCG | Itália O Vinho na Itália Superfície de vinhedo: 769.000 Hectares Ranking mundial de superfície de vinhedo: 3º Volume de vinho produzido: 40.600.000 hl Ranking mundial por produção de vinho: 2º Dados: OIV 2012 6 7 A origem do nome de Piemonte procede precisamente de sua acidentada orografia. Em italiano, Piamonte significa “ao pé das montanhas”, e assim é literalmente esta região italiana: rodeada de montanhas. Situada ao nordeste da Itália, limita com a Suíça ao Norte e com a França ao Oeste, encontrando-se rodeada pelos Alpes por 3 pontos cardeais. Quase a metade de Piemonte é montanhosa, por isso os vinhedos são plantados em ladeiras elevadas e escarpadas e terraços inclinados, para aperfeiçoar o espaço de cultivo e melhorar a exposição do vinhedo ao sol. Recentemente viajei para Piemonte. Conhecer melhor seus vinhedos era parte dos objetivos da viagem, mas uma vez por lá, surpreendi-me - mesmo havendo lido muito previamente - com o que encontrei. Na cozinha piemontesa, encontramos uma curiosa combinação de pratos rústicos e pesados, com outros leves e sofisticados. Acontece que nesta região, a aristocracia do Reino de Saboya, bem relacionada com seus vizinhos da França, transformava sua rica diversidade de matérias-primas em um refinado banquete, que competia com a rusticidade dos pratos que o povo consumia, mas que partia das mesmas - e suculentas matérias-primas, como o delicioso e simples “Peperoni Acciughe”, que consiste em pimentões cozidos com um simples molho a base de anchovas. Cada canto de 8 Piemonte tem suas próprias especialidades e influências, onde a tradição misturou-se com a modernidade de maneira magistral, graças à sua incrível despensa, onde a rainha, sem dúvida, é a trufa branca. Além dela, temos o arroz arbóreo, doces, avelãs, deliciosos queijos como os castelmagno e o gorgonzola, embutidos como o salametto, a deliciosa carne da raça autóctone fassona, uma grande diversidade de hortaliças e - como não – seus vinhos, que são o complemento perfeito para uma mesa tão generosa. As colinas, vales e povoados de Piemonte estão cobertos de uvas autóctones: a Nebbiolo, a Barbera e a Dolcetto ou l Brachetto, que se cultivam junto com outras como a Moscatel (base para seu famoso Moscato d´Asti), ou a internacional Merlot. Aproximadamente 90% da vitivinicultura na região está situada na zona sul de Piemonte, em torno das cidades de Alba, Asti e Alessandria. Enologicamente, Piemonte pode ser dividido em cinco áreas: Canavese, Colline Novarese, Coste della Sesia, Le Langhe e Monferrato. Dentre elas, destacam-se, pela qualidade vitícola, as zonas de Monferrato, ao redor de Asti e Alessandria, e Le Langhe, que engloba o entorno da cidade de Alba e o Roero. As terras argilosas e os vinhedos deste entorno montanhoso e de interior são ideais para a produção de vinhos tintos fortes e complexos. As Colinas de Monferrato produzem o Asti Spumante, também conhecido como Asti, à base de uva Moscato, e é um dos melhores espumantes do mundo. Também se destacam os tintos elaborados com Barbera, que em alguns casos são bastante conhecidos, como este que estamos apresentando. As colinas de Le Langhe, ao sul de Asti e Alba, são menores que as de Monferrato, e delas destacam-se duas regiões, as melhores de Piemonte: o Barolo e o Barbaresco BARBERA, A UVA D’ASTI A variedade Barbera é nativa das colinas de Monferrato, sendo atualmente a uva mais plantada na região de Piemonte e é uma das principais uvas da Itália. A grande adaptação às diferentes condições de solo e clima permite que, com a Barbera, se elabore uma grande diversidade de vinhos. Ela é Considerada uma variedade “todo terreno”, por isso, tornou-se muito popular entre viticultores e enólogos de outras regiões da Itália. A Barbera, como tal, é conhecida na zona de Monferrato desde o século Xlll, mas não foi até a chegada da filoxera nos primeiros anos do século XX, que ela se firmou no Piamonte. Tornou-se a varietal majoritariamente eleita pelos viticultores, graças a suas aptidões agronômicas. Seus altos rendimentos sobre o enxerto de pé americano, sua constante produção, sua grande resistência frente às doenças e sua capacidade para adaptar-se a todos os tipos de terrenos, fizeram-na popular, conseguindo uma rápida expansão. A variedade Barbera tem a virtude de ter passado de vilã a heroína em somente duas décadas. Relegada aos vinhos de mesa e baixa qualidade até os anos 1980, a Barbera encontrou seu espaço graças aos viticultores e enólogos, produzindo atualmente vinhos com corpo médio, bom nível de álcool, boa cor e alta acidez. Os vinhos elaborados com a Barbera costumam surpreender pela cor intensa, de cepa profunda, geralmente são muito frutais e delicados no nariz. Em boca são valentes e com uma acidez excelente, mesmo faltando um pouco de estrutura, dada a sua escassez de taninos. Mas esta pode ser suprida com variedades mais tânicas ou com uma passagem por barril. Assim, o vinho adquire uma boa estrutura, com taninos redondos e fluidos. 9 seleção Mensal ficha técnica Castelvero Le Stelle 2012 | Barbera D’Asti Superiore DOCG | Itália ARALDICA CASTELVERO País: Itália Araldica Castelvero está situada no coração histórico da zona vitícola de Barbera d’Asti e foi fundada em 1954 por um grupo de viticultores. Após mais de 60 anos de história, as bodegas Araldica Castelvero são formadas, atualmente, por 200 viticultores que cultivam 900 hectares de vinhedo no coração de Piemonte. Região: Piemonte Em seus vinhedos, situados nas principais áreas de Le Langhe, Monferrato, Roero e Gavi, podemos encontrar variedades autóctones como a Barbera, Dolcetto, Nebbiolo, Cortese, Arneis, Moscato, Brachetto e Freisa, junto com outras varietais mais conhecidas internacionalmente, como Merlot, Cabernet Sauvignon e Chardonnay. A bodega, desde sua fundação, vem adaptando suas instalações sucessivamente, implementando novas tecnologias, além de se adaptar às necessidades do mercado. Hoje, alcança uma capacidade total de elaboração de 8 milhões de quilos de uva e capacidade de armazenamento de 11 milhões de litros, dos quais 1,5 milhões de litros em “botti” - carvalho tradicional - e 450 mil litros em seus 2 mil barris de carvalho, que têm diferentes procedências. 10 Indicação Geográfica: Barbera D’Asti Superiore DOCG Uvas: 100% Barbera Produtor: Araldica Castelvero Aproximamo-nos desta importante bodega para descobrir este Castelvero Le Stelle 2012,100% Barbera que nos permitirá, sem dúvida, desfrutar de uma variedade de suaves taninos e forte acidez, a qual, em vinhos como o que apresentamos neste mês, mostra sua grande personalidade e complexidade, graças a uma cuidadosa elaboração. O vinho: a uva Barbera, com a qual se elabora este vinho, procede de vinhedos com rendimento médio de 5,3 mil litros/hectare. Uma vez recebida a uva na bodega, é fermentada em depósitos de aço inoxidável. Finalizada a fermentação alcoólica, é prensada e trasfegada para os depósitos de aço inoxidável, onde continua sua fermentação malolática, após a qual é transferido para seu envelhecimento no carvalho. A “crianza” acontece 70% em barris de carvalho francês de 225 litros, e o restante nas típicas “botti” de carvalho esloveno, durante 12 meses. Ao finalizar a “crianza”, realiza-se o “blending” de ambas as frações, e se procede com o engarrafamento. A cata: cereja com um raio malva. Nariz envolvente, com as primeiras notas complexas de madeira que vão abrindo na taça. Aparecem então notas leves de anis e de frutas vermelhas muito maduras, como morangos. Na boca, bom equilíbrio. Aparecem novamente notas de madeira e fruta vermelha. Um tempo na taça é necessário para apreciar plenamente a fruta e as notas de “crianza”. Harmonização: estamos ante outro “todo terreno”. Seu equilíbrio e frescor nos permitirá uma grande diversidade de pratos para harmonizar. Vamos apostar em algo da região, como uma boa carne picada, embutidos curados e queijo gorgonzola, para continuar com tartare de vitela jovem ligeiramente marinada com sal, pimenta preta e umas gotas de lima. Temperatura: degustar a uma temperatura compreendida entre os 16 e 17º C. Não é necessária a decantação ou oxigenação prévia. Recomenda-se apenas a abertura da garrafa ao menos meia hora antes do consumo. Conservação: para consumir já, mesmo que seja esperado um desenvolvimento positivo na garrafa pelos próximos meses. Por essa razão, recomendase um pouco de paciência para desfrutar plenamente os matizes deste vinho. Estima-se um consumo ótimo dentro dos próximos 4 anos (2015 a 2019). Um excelente exemplo de Barbera, que nos permitirá desfrutar deste delicioso vinho em qualquer momento. Um ótimo exemplo das qualidades desta variedade de uva. Saúde! 11 Seleção Grandes Vinhos Texto: Alberto Pedrajo Fotos: divulgação seleção Grandes Vinhos O Vinho nos Estados Unidos Superfície de vinhedo: 407.000 Hectares Ranking mundial de superfície de vinhedo: 6º Volume de vinho produzido: 20.510.000 hl Ranking mundial por produção de vinho: 4º Dados OIV 2012 Seleção Grandes Vinhos Boneshaker Zinfandel 2013 | Lodi AVA | E.U.A. 12 13 LODI, UMA REGIÃO EM CONTÍNUO CRESCIMENTO A Califórnia, sem dúvida, lidera a produção de vinhos nos Estados Unidos da América. Durante muito tempo, somente um par de zonas dentro desta vasta região pareciam ter destaque sobre o resto do território, na elaboração de vinhos premium. Seriam elas Napa Valley e Sonoma. Porém, nos últimos anos, não paramos de descobrir outras regiões com incrível valor enológico. São autênticos édens da viticultura, como Mendocino, Paso Robles ou Lodi. Acontece que os velhos vinhedos destas regiões demostraram aos viticultores que, controlando as produções, seria possível elaborar vinhos de grande identidade, de uvas não tão conhecidas, dando uma oportunidade para variedades como a Zinfandel, a La Petite Sirah ou a Tempranillo, procedentes de velhos vinhedos. Mesmo que em outros artigos tenhamos falado um pouco sobre os vinhos de Lodi AVA (American Viticultural Area), neste vamos nos aprofundar um pouco mais. Assim, conheceremos, a partir deste Boneshaker Zinfandel, o potencial desta mais do que destacada AVA californiana. Lodi é uma das principais regiões vitivinícolas da Califórnia, situada 160 quilômetros a leste de São Francisco, sul de Sacramento e oeste da cordilheira da Serra Nevada. Sua proximidade com o enorme delta do rio Sacramento a beneficia com contínuas brisas, que refrescam os vinhedos na época estival. Lodi, além de região vitivinícola, é o maior povoado no qual se respira um ambiente rural. Nele, bodegas e vinhedos, cujos proprietários são famílias rancheiras que levaram gerações cultivando seus campos, souberam unir-se aos novos viticultores e enólogos procedentes de outras áreas para desenvolver, juntos, uma nova viticultura, que está levando Lodi ao reconhecimento. A produção de vinho em Lodi leva-nos para a década de 1850, na ocasião da febre do ouro na Califórnia, quando os primeiros colonizadores ali chegaram. Graças às condições de seus terrenos, iniciou-se uma grande variedade de cultivos, entre eles o do vinhedo. De todas as variedades ali plantadas, já na década de 1880 a Zinfandel era claramente a uva tinta mais cultivada na região, graças ao clima mediterrâneo seco e seus solos férteis e aluviais. O crescimento de Lodi foi constante e praticamente ininterrupto durante os últimos 150 anos. Curiosamente, inclusive durante a proibição de álcool nos Estados Unidos (Lei Seca 1919-1933), ao contrário de muitas regiões vinícolas dos Estados Unidos, Lodi prosperou. A produção de vinho no país reduziu dramaticamente, de início com o abandono do cultivo da vinha e, mais tarde, com a substituição por outros cultivos. Mas muitos viticultores em Lodi decidiram não arrancar os velhos vinhedos, ao contrário do que aconteceu em outras regiões da Califórnia. É por esse motivo que hoje é possível desfrutar desses vinhedos, entre os quais estão os mais antigos da variedade Zinfandel, com a qual se elabora o vinho que estamos apresentando neste mês. NA DÉCADA DE 1980, LODI COMEÇOU A SER PRESTIGIADO Graças aos velhos vinhedos de Zinfandel que se destacavam pela qualidade, Lodi converteu-se em um dos principais fornecedores desta variedade da Califórnia até que, em 1986, foi finalmente criada a AVA Lodi, o que permitiu reforçar sua identidade. Lodi é, na atualidade, o maior produtor dessa varietal: com mais de 40 mil hectares de vinhedos, produz mais de 40% da melhor uva Zinfandel da Califórnia. Seu clima mediterrâneo é propício para o desenvolvimento do vinhedo. Durante a temporada de crescimento, Lodi desfruta de um contínuo tempo ensolarado, com temperaturas cálidas durante o dia e moderadas quedas na temperatura à tarde, graças às brisas do delta, e com um importante salto térmico durante a noite, por conta da influência da cordilheira. Tudo isso favorece o amadurecimento das uvas. A chuva é outro fator de qualidade: a precipitação anual é de 480 mm, porém, chove somente 60 mm de maio a outubro, o que reduz o risco de doenças de origem fúngica e permite que nesta AVA exista uma significativa superfície de vinhedo biológico. Seus solos são de grande diversidade e ricos em minerais. Lá se encontram presentes desde os mais pesados em argilas até os mais pedregosos e melhor drenados, e isso permite grande diversidade de “terroirs” dentro da região. 15 seleção Grandes Vinhos ficha técnica HAHN FAMILY WINERY Nicolaus Hahn é um homem de negócios. Um suíço que se apaixonou pelo vinho da Califórnia e comprou, com sua esposa Gaby, a bodega Smith & Hook, além de outras duas grandes fazendas para transformá-las em vinhedo nas terras altas de Santa Lucia, em Monterrey, localizadas na região denominada “Central Coast” da Califórnia. Começou a produzir seus primeiros vinhos em 1980 e, em 1991, a marca com o sobrenome da família - Estate Hahn - foi criada. Em alemão, Hahn significa “galo”, e por essa razão o logo da bodega apresenta esta ave, ocupando um lugar de destaque nos rótulos da Hahn Winery – que elabora os vinhos mais especiais procedentes dos vinhedos da propriedade. As variedades tintas representam aproximadamente dois terços do vinhedo de Lodi. Atualmente, cultivam-se mais de 75 varietais, portanto, a diversidade e potencial de seus vinhos são gigantescos. Lodi é considerada a capital mundial da Zinfandel, e lá existem vinhedos deste varietal que datam da década de 1880. Hoje em dia, existem ao menos 2 mil hectares anteriores à proibição (1919-1933). Junto com a Zinfandel, também têm fama por aquelas terras a Cabernet Sauvignon, cultivada ao longo do limite oriental da denominação, e a Chardonnay, cultivada extensamente ao longo do extremo ocidental mais fresco. A Petite Sirah e a Syrah também estão em destaque. Além dessas, recentemente uma ampla gama de variedades originárias da Europa e procedentes de regiões climáticas de características similares chegaram a Lodi. São varietais da Espanha, Itália, Portugal e do sul da França, como Albariño, Tempranillo, Verdejo, Sangiovese, Viognier, Mazuelo e Touriga Nacional, que esperam sua vez para ser as novas sensações de Lodi. 16 O compromisso da família Hahn e sua paixão pelo mundo do vinho fizeram com que, após 30 anos, eles chegassem ao número de 8 bodegas, com uma produção total em conjunto de aproximadamente 400 mil caixas de vinho por ano, situando o grupo bodegueiro entre os 30 mais importantes dos Estados Unidos. Na elaboração destes vinhos, nota-se os projetos enológicos da entidade que a Hahn Family Winery desenvolve, onde cada detalhe é cuidado, desde o vinhedo até o engarrafamento. Como sempre há espaço para ser ainda mais exigente e mais intrépido... é possível ir ao extremo de uma elaboração cuidadosa, como a do vinho que apresentamos nesta ocasião. O compromisso da família para a elaboração de um vinho de alta qualidade levou-a a Lodi, em princípios dos anos 2000. A partir daí, o estabelecimento de relações de longa duração com os viticultores locais permitiu adquirir uvas Zinfandel de excelente qualidade, o que possibilitou a elaboração deste Boneshaker. Boneshaker Zinfandel 2013 | Lodi AVA | EUA País: E.U.A. Região: Califórnia Indicação Geográfica: Lodi AVA Uvas: 88% Zinfandel, 10% Petite Sirah e 2% Cabernet Sauvignon Produtor: Hanh Family Winery “Boneshaker” significa literalmente agitador de ossos. Um nome curioso para um vinho, não? A origem surgiu como uma homenagem aos pioneiros ciclistas do início do século XX, que percorriam as ruas cobertas de cascalho com suas rústicas bicicletas, o que fazia a estrutura delas chacoalhar. O vinho: a uva Zinfandel, com a qual se elabora este fantástico Boneshaker Zinfandel 2013, procede principalmente do vinhedo “Bruella”, cultivado pela família Mettler com uma média de idade superior aos 40 anos. As uvas são recolhidas manualmente em caixas e, após uma suave pressão, são depositadas diretamente em barris de carvalho francês (45% novos) onde fermentam para que, posteriormente e após o prensado, o vinho continue sua crianza nos mesmos barris. A cata: vermelho profundo com reflexos malva de grande intensidade e lágrima perceptível. Aromas de morango em calda que se entrelaçam com leves notas de fumaça, açúcar queimado e baunilha elegante, procedentes da crianza. Entrada na boca perfeita, redonda, untuosa, com elegantes notas de café e chocolate negro, amora e especiarias. Destaca-se sua estrutura, apoiada em taninos muito integrados - aportando longitude e volume a este vinho. Harmonização: o corpo deste vinho, seu estilo e sua crianza junto com sua origem de rancho americano, sugerem um fantástico hambúrguer de carne bovina feito na churrasqueira, com bacon e cogumelos. Para os que não são carnívoros, acompanhará muito bem um contundente prato de legumes. Temperatura: novamente estamos diante de um vinho que pode ser desfrutado 100%, se soubermos controlar sua temperatura de consumo. A temperatura ideal para degustação deverá estar compreendida entre 16 e 17º C, nunca superando 18 ºC, porque então o álcool será notado, reduzindo os aromas de fruta madura e as notas de crianza. Não é necessário decantá-lo, ao menos nos próximos meses. Se for consumido depois de 2016, certamente será necessário decantá-lo e oxigená-lo, ao menos uma hora antes do consumo, para ganhar em complexidade e intensidade. A guarda: está preparado para ser consumido agora mesmo. Este vinho tem excelente capacidade de envelhecimento, portanto, vale a pena guardar uma garrafa na sua coleção, para desfrutá-lo nos próximos dez anos (2015 a 2025). Este é um vinho com intensos sabores e perfeita fusão entre deliciosas notas de fruta madura e sabores da fermentação e crianza no carvalho - Tudo para ser um grande vinho! 17 Receita 1, 2 e 3 Texto: João Belezia www.joaobelezia.com.br Fotos: Elayne Massini Tiramisú receita 20 Rendimento: 16 porções para degustação ou 8 porções individuais. INGREDIENTES PREPARO APRESENTAÇÃO 350 g de queijo mascarpone Misture o café com a grappa e reserve. Desenforme o tiramisù no centro de um prato. 100 g de açúcar Bata as gemas com o açúcar até branquear. Incorpore o mascarpone às gemas. Decore com o cacau em pó. Acrescente as claras em neve, com muito cuidado, em 3 ou 4 vezes, formando um creme. OBSERVAÇÕES 2 colheres de sopa de cacau para decorar 100 ml de café forte (espresso) 3 gemas 2 claras batidas em neve 12 biscoitos champanhe 40 ml de grappa (ou amareto) Passe os biscoitos pela mistura de café e grappa. Forre o fundo de um aro com os biscoitos. Faça uma camada do creme de 1 cm e mais uma de biscoito. O anel para porção para degustação é de 3,5 cm de diâmetro por 4 cm de altura. O anel para porção individual é de 6 cm diâmetro por 5 cm de altura. Finalize com mais uma camada de creme e leve para a geladeira. 21 PROGRAME SUA AGENDA PARA ESSE FINAL DE SEMANA INESQUECÍVEL. Existem vinhos muito bons. Existem os grandes vinhos. E existem as obras-primas... Obras Seleção Primas Além da Seleção Mensal e da Seleção Grandes Vinhos, a Sociedade da Mesa oferece a Seleção Obras-Primas. Uma seleção trimestral, com valor médio da garrafa ao associado de R$260,00 (aproximadamente 27% abaixo dos valores praticados pelo mercado). Uma seleção de vinhos únicos, com alto prestígio e reputação consagrada, apresentada por valores excepcionais. Para receber a Seleção Obras-Primas, inscreva-se pelo site www.sociedadedamesa.com.br, 0800 774 0303 ou pelo e-mail [email protected] 0800 774 0303 www.sociedadedamesa.com.br Sociedade da Mesa clube de vinhos Em sua sexta edição, Wine - Mais de 2.000 rótulos Weekend São Paulo Festival - Ofertas e promoções dos principais produtores e importadores reúne as melhores - Biergarten com variedade de cervejas artesanais oportunidades de - Palestras temáticas sobre vinho, cerveja e cachaça degustação e compra de - Análise técnica dos vinhos por especialistas convidados vinhos, com muitas atrações - Música ao vivo gastronômicas e enoculturais, - Jantares Temáticos Enoculturais no principal ponto de lazer da - Rádio ao Vivo cidade: o Parque do - Realização simultânea do Concurso Nacional de Vinhos e Ibirapuera. Destilados, com a presença de 20 jurados de 10 países Na cozinha tem história Texto: Fábio Angelini Fotos: banco de imagens A arte de servir teve início nos primórdios do homem, quando cabia às mulheres do grupo trazerem ao centro da roda alimentos acondicionados em cuias improvisadas, folhas de plantas, cascas Bandejas de frutas e até em crânios de animais e inimigos abatidos. Hoje, em qualquer restaurante do mundo, o que se vê são aquelas figuras solícitas e uniformizadas circulando lepidamente entre as mesas, garçons desafiando as leis da gravidade com suas bandejas de pratos empilhados e toda a sorte de alimentos e bebidas, ao melhor estilo Cirque du Soleil. Como cerimonial, o servir na bandeja manteve a sua essência praticamente inalterada desde a Pré-História. Ganhou até uma licença poética em quadras, nas mãos de alas, pivôs e armadores de basquete, que gentilmente soltam a bola em direção à cesta. Mas quando ela surgiu de fato? A bandeja etrusca de barro negro do Museu Hunterian, em Glasgow, sugere que o conceito do artefato é anterior ao século VII a.C.. Já a origem da palavra parece ser mais recente: bandeja é uma derivação regressiva de bandejar, que significa “sacudir de um lado para o outro”. E bandejar vem do provençal “banda”, que quer dizer “lateral, flanco”, carrega consigo a interpretação de sacudir, deslocar o conteúdo de um dado recipiente de um lado para o outro. A bandeja desempenhou e desempenha uma tarefa ativa na história da culinária, desde a Roma Imperial. Ela nasceu como instrumento estritamente utilitário, para transportar pra lá e pra cá utensílios de cozinha, comidas e bebidas. E bacias, jogos de chá, copos, pratos, frutas, xícaras, a lista é imensa. Na Idade Média, eram quase sempre feitas de madeira e quadrangulares, mas há relatos de bandejas ricamente ornamentadas, como as de cobre gravado, no Irã, ou com incrustações de prata, à época da Dinastia Islâmica Ayyubid, no Egito, ambos por volta do século XIII. De fato, a partir da Renascença a utilização das bandejas de prata ganha brilho, elas são sofisticadamente trabalhadas pelos melhores ourives disponíveis, em sua maioria italianos. Bem ao contrário dos alemães, que preferem materiais incomuns e rústicos, como ossos e chifres de rinoceronte, que você pode conferir ao vivo e em cores na Casa do Tesouro Real de Munique. No século XVI, a cerâmica branca (faiança) predomina como matéria-prima, e até o Papa Pio V prescreve o uso litúrgico da bandeja para apoiar o vinho e a água destinados à consagração. Depois, entre os franceses, destacamse as bandejas adornadas com pinturas esmaltadas de Limoges, cidade notória pela sua indústria de cerâmica desde o século XVIII. Ovais, redondas ou retangulares, de metal, madeira ou plástico, com ou sem alças laterais e pés, as bandejas de servir como são conhecidas hoje evoluíram a partir de uma prima próxima, a salva, do latim salvare. Quem nunca ouviu o nome “salva de prata”? Era este o termo utilizado na Inglaterra para designar bandejas planas de prata. Quando os alimentos eram servidos nela, é porque já haviam sido testados pelos servos – não continham veneno – e estavam prontos, “salvos” para serem consumidos pela realeza sem medo. Essa mesma realeza viu a prataria ser substituída pelas porcelanas chinesas e japonesas no século XVIII, enquanto os súditos contentavam-se com bandejas de papel marchê enfeitadas com padrões florais e frutais (às vezes com camadas de madrepérola), populares tanto na Europa quanto na Ásia. 25 Na primeira metade do século XIX, bandejas de metal laqueado com bordas de ouro produzidas em Zhostovo, subúrbio de Moscou, ganharam o status de arte: sobre o tradicional fundo preto, flores, paisagens e cenas folclóricas eram pintadas à mão e assinadas por mestres. É o glamour sobrepondose à praticidade, o design tomando a frente e o valor das peças se multiplicando, seja por ostentarem brasões reais gravados no centro, seja porque foram moldadas em 1840 com a antiga prata Sheffield. E também há quem pague uma pequena fortuna pelas bandejas decorativas de Coca-Cola, produzidas entre 1897 e 1957. 26 As transformações mais profundas, no entanto, ainda estavam por vir. Com o avanço dos processos de produção e, principalmente, a criação do polímero sintético em 1909, inicia-se a era do plástico e a pluralidade de estilos. A bandeja de mordomo cede espaço para as moderninhas bandejas compartimentalizadas, as bandejas de bandejão, que dispensam o uso de pratos. Na Segunda Guerra Mundial, a melamina – uma resina termoplástica reluzente e durável – vira companheira diária dos marinheiros norte-americanos à mesa, e também cai nas graças dos brasileiros pelo seu preço e sua semelhança com a porcelana. Em 1970, a Alitalia inova ergonomicamente as cabines de primeira classe com modelos de bandeja novos, que tornam muito mais confortável o ritual das refeições. O objeto passou pela art deco e pela art nouveau. Converteu-se em desafio e bibelô nas mãos de designers e decoradores. Há modelos para servir café feitos de fibra de vidro e outros de vime, que incrementam lavabos e aparadores, penteadeiras e até escritórios. Bandejas cirúrgicas de aço inoxidável e tipos bucólicos, com azulejos de porcelana pintada. Bandejas de sementes que propagam alimentos e plantas, e bandejas de fast food multicoloridas. Criatividade, funcionalidade e simplicidade para todos os gostos e serviços, de bandeja. C M Y CM MY CY CMY K Agora, imagine que você está num restaurante de Londres e o seu pedido chega numa bandeja voadora. Sim, até isso já existe. O iTray (na tradução livre, iBandeja) possui um drone controlado por garçons via iPad. Mas não se alarme, dificilmente deslizará um prato de fish and chips ou um Bife Wellington sobre a sua cabeça: toda bandeja que se preze tem bordas elevadas. 19 Almanaque ALQUIMIA E ALAMBIQUE Texto: Paulo Samá Fotos: banco de imagens A alquimia tem muita relação com os alambiques, pois o equipamento era essencial ao trabalho dos alquimistas. E, não por acaso, a destilação das primeiras bebidas alcóolicas é contemporânea deles. Mas, calma, isso não implica que os efeitos do álcool tenham algo a ver com as tentativas de produzir ouro. Até porque a alquimia não se resumia à obsessão pelo raro metal amarelo. Da alquimia à cachaça: a história do alambique Quem gosta de uma boa branquinha talvez não imagine que o equipamento utilizado para sua destilação tenha origem curiosa. Muitos bradam a autoria da cachaça como sendo coisa de brasileiro para brasileiro, original do Brasil, surgida talvez acidentalmente pelo trabalho dos escravos nas lavouras de cana-de-açúcar, como veremos mais adiante. Bem, se isso for verdade, não se pode dizer o mesmo do alambique. Este, com uma certa licença histórica, podese dizer que é coisa de egípcio. Datam do antigo Egito os primeiros equipamentos parecidos com alambiques, que podem ser vistos em desenhos de um antigo templo de Mênfis, bem como o hábito de curar algumas doenças ao inalar líquidos aromatizados e fermentados, diretamente do bico de algo parecido com uma chaleira, em ambiente fechado. Sim, você acertou ao lembrar daquela inalação caseira, feita com cânfora e vaporizadores de ar no quarto das crianças. O princípio é, de fato, o mesmo dos alambiques. Só não vale substituir a cânfora por cachaça. 28 O alambique é um equipamento de destilação semelhante a um vaso, que pode ser utilizado de forma doméstica ou industrial. Trata-se de uma caldeira que se conecta a uma serpentina de resfriamento através de um tubo. No fundo do recipiente recolhe-se o líquido destilado. Quanto à destilação, é o método usado para separar misturas através do equilíbrio entre líquido e vapor. Trocando em miúdos, quando há duas ou mais substâncias formando uma mistura líquida, a destilação é usada para purificá-las, desde que as volatilidades sejam diferentes. Anterior à criação dos alambiques, o processo vem de longa data: Aristóteles já falava sobre isso no século IV a.C., citando a possibilidade de obtenção de água potável destilando-se água do mar. Acredita-se que as primeiras destilações foram feitas por volta de 2000 a.C., provavelmente no Egito, China e Mesopotâmia. Via de regra, o objetivo era medicinal, mas também eram feitos bálsamos, essências e perfumes pelo mesmo processo. Em 1810 a.C., por exemplo, o rei mesopotâmico Zimrilim já tinha sua própria perfumaria, de onde saíam incensos, essências, cosméticos e até substâncias usadas em rituais e no embalsamamento dos falecidos importantes do reino. ORIGEM DO ALAMBIQUE O nome alambique vem da Grécia. O vocábulo “ambix” designava uma espécie de vaso com uma pequena abertura, que fazia parte do equipamento de destilação. Tempos depois, os árabes adotaram o termo, modificando-o para “ambic” e batizando o equipamento de destilação de “al ambic”, que significa, ao pé da letra, vaso destilatório. Na Europa, por sua vez, o termo mudou para alambique. A propósito, também vem do árabe o termo álcool, de “al cóhol”. Já no que toca a paternidade da invenção, chegamos à primeira controvérsia: Alguns historiadores creditam a criação do alambique a Maria, A Judia - não a de Nazaré -, por volta dos anos 200 ou 300 d.C.. Outros atribuemna a Zósimo de Panóplia, alquimista egípcio cuja irmã, Theosebeia, inventara diversos modelos de alambiques. Por fim, há uma corrente que dá o crédito ao alquimista árabe Jabir ibn Hayyan, em 800 d.C.. Embora a ciência alquímica tenha surgido na Grécia, por volta de 300 a.C., o grande momento deu-se em Alexandria, no período entre 200 e 300 d.C.. Documentos dão conta de que, dada a proximidade com o Oriente Médio, os trabalhos dos alquimistas chegaram até os árabes, bem como o equipamento usado na destilação. Também há relatos de que, mesmo antes do advento do alambique, muitos povos já haviam desenvolvido beberagens alcóolicas. Os chineses, que já eram “up to date” antes deste termo existir, já haviam destilado uma bebida a partir do arroz, em 800 a.C.. Isso confirma que a produção de bebidas alcóolicas ou espirituosas, como também são chamadas, já era feita na antiguidade. No entanto, foi somente nos séculos XIV e XV, que os segredos do alambique - e muitas outras tradições e costumes - disseminaram-se pela Europa, através das invasões turcas. Assim, o álcool foi finalmente introduzido no mundo cristão, como componente de bebidas e remédios. Quando perceberam a impossibilidade de produzir ouro via alambique, restou aos alquimistas a realidade de utilizar o equipamento na obtenção do álcool. A primeira destilação nesses moldes é atribuída ao alquimista Ibn Yasid, provavelmente depois do século X. De qualquer forma, o uso, digamos, recreativo do álcool ainda não era conhecido e, portanto, as beberagens produzidas nos alambiques eram utilizadas para fins medicinais, como mostram seus outros “apelidos”: Eau de Vie (água da vida), Acqua Vitae ou Elixir da Vida. Acreditava-se, então, que a substância aumentava a longevidade e curava uma grande gama de males. O famoso médico e filósofo árabe Avicena também descreve o alambique e suas utilidades médicas em suas obras, com riqueza de detalhes. 29 Embora não cite o álcool em seus escritos, a utilização fica implícita no contexto. Outra crença da época era que o álcool fosse mágico e tivesse características rituais, provavelmente pelos efeitos de relaxamento e bem-estar que provocava, de acordo com o nível de consumo nas “poções mágicas”. O tempo passou e o alambique evoluiu. Em 1526, Paracelsius criou o que conhecemos por banho-maria, evitando a abertura de fendas nos recipientes enquanto estes se aqueciam e estabilizavam a temperatura dos líquidos. O sistema de arrefecimento também melhorou, com o tubo funcionando através de recipientes com água fria. Já em 1771, o químico alemão Christian Ehrenfried Weigel (não tente pronunciar o sobrenome em voz alta) inventou o equipamento que originou os condensadores de hoje. Nele, o tubo que leva o destilado para fora do alambique ficava dentro de outro tubo cheio de água. A origem do nome cachaça tem várias versões e, portanto, muita polêmica. Alguns dizem que vem do termo castelhano cachaza (vinho elaborado a partir da borra de uva), outros evocam o cachaço (aguardente usada para amaciar carne de porco) e, outros tantos seguem a versão da cagaça. Esta última, defendida por muitos brasileiros, reza que a cachaça é genuinamente nacional, abordando como história os primórdios da indústria açucareira, quando empregava-se mão de obra escrava para produzir o açúcar nas lavouras. A cana era moída e dava um caldo que era aquecido e depois resfriado em fôrmas, originando a rapadura. Porém, a coisa nem sempre funcionava. Às vezes a mistura desandava e ficava azeda, originando a chamada cagaça, que era jogada fora. A hipótese é que este líquido era bebido pelos escravos, resultando num substancial aumento do ânimo e disposição deles para o trabalho. Daí por diante, o consumo da cagaça teria se tornado comum e até incentivado pelos senhores de engenho, que, com segundas, terceiras e quartas intenções, vislumbraram uma forma de fazer os escravos trabalharem mais, graças ao entusiasmo causado pela bebida. Por outro lado, a corte portuguesa não gostou nadinha disso, chegando a proibir o consumo entre os negros, temendo rebeliões. Esta teoria justificaria a clandestinidade atribuída à cachaça, durante longo tempo definida através do epíteto de “bebida de gente de baixa renda” e “beberagem sem qualidade”. Chegando aos nossos dias, os alambiques tradicionais foram substituídos por aparelhos de destilação mais modernos e adequados à produção industrial. Porém, os tradicionais alambiques de cobre ainda são muito utilizados. Se você já foi a uma das dezenas de destilarias espalhadas pelo Brasil, deve ter percebido que a tradição ainda fala alto. Até porque, todos sabemos, a cachaça de alambique tem um charme - e uma alquimia - toda especial. Outras correntes defendem que a paternidade da cachaça residiria, na verdade, em Portugal, que afinal de contas, já produzia a chamada “aguardente” muito antes de seu Cabral aqui aportar. Por outro lado, o termo “aguardiente” já era usado na Espanha desde 1406. Mas, como diz Sérgio Rodrigues em seu blog “Sobre Palavras”, da revista Veja online, “o sentido literal de aguardente está mais próximo do holandês vuurwater, ou água de fogo”. Fato Com o tempo, a criatividade e o gosto nato dos europeus pelas bebidas ardentes, o alambique foi sendo utilizado para a criação de novas bebidas alcóolicas, como a bagaceira portuguesa, por exemplo. O consumo das tais bebidas relaxantes aos poucos virou moda, favorecendo, e muito, as relações sociais. O “elixir da vida” ganhou vários nomes e fórmulas país a país, como a Grappa (Itália), Cognac e Eau de Vie (França), Whisky (Escócia e Irlanda), Schnapps (Alemanha), Aguardente (Portugal) e por aí vai. Tendo o uso do álcool como combustível, o alambique alçou novos voos e já era possível encontrá-lo em casas de nobres, embalando - com muita gente alegre - grandes festas e eventos sociais. MODERNIZAÇÃO 30 CACHAÇA NO BRASIL é que a mistura entre álcool e água não é exclusividade brasileira, como todos sabemos. Tudo isso torna ainda mais temerário bater o martelo consolidando a cachaça, de forma unânime, como produto originariamente brasileiro. Mas não nos tira, de forma alguma, o mérito de país produtor de uma das bebidas que oferece a maior variedade de sabores e estilos. Somente no Brasil é possível encontrar cachaças ardentes e doces; fortes e fracas; branquinhas e douradas como o ouro que os alquimistas tanto sonharam; com nomes engraçados e absurdos como “Busca Vida”, “Velho Barreiro”, “Amansa Corno” e “Tomba Carro”; ou inusitadas como as que levam cobras, escorpiões, caranguejos e outros bichos dentro, o que acentua o sabor da cachaça, como diz (mais uma) lenda. Etimologias à parte, nossa produção de cachaça ultrapassa 1,3 bilhões de litros, dos quais apenas 0,4% são exportados. Tais dados, somados ao Decreto 4702, assinado em 2002 pelo então Presidente Fernando Henrique Cardoso, que declara a cachaça como destilado de origem nacional*, servem para dissipar algumas dúvidas. A cachaça é, sim, coisa de alquimistas. Mas também é coisa nossa. APRECIADORES BRASILEIROS NOTÓRIOS DA “MARVADA” Cachaça também é preferência nacional. Que o digam alguns dos fãs da aguardente mais ilustres, como o queridíssimo e saudoso Mussum, Zeca Pagodinho, os expresidentes Jânio Quadros e Lula, José Luiz Datena, João Canabrava (personagem de Tom Cavalcante), Adoniran Barbosa, Marinósio Trigueiros Filho (autor da marchinha “Você pensa que cachaça é água”, que escreveu num guardanapo de boteco), os cantores Leonardo e Noel Rosa, o escritor Lima Barreto, Bezerra da Silva e até Paolla Oliveira, que, segundo o namorado Joaquim Lopes, “senta com você no boteco e toma uma cachaça”. * Fonte: www.alambiquedacachaca.com.br PARA BEBERICAR LENDO OU LER BEBERICANDO: CURIOSIDADES CACHACEIRAS • Bebidas alcóolicas não são chamadas de espirituosas por nos deixarem alegres e rindo à toa. A origem provável do termo está no século XIII, quando a expressão “espírito do vinho” era amplamente utilizada. • O primeiro alambique chegou ao Brasil a bordo de um navio-pirata, do inglês Richard Hawkins, em 1590. Era usado para destilar água do mar. • A indústria brasileira de cachaça emprega 450 mil pessoas*. • Dia 13 de setembro é o Dia Nacional da Cachaça. É NOME PRA MAIS DE UM COPO Existem mais de 400 nomes para a cachaça usados no Brasil. Confira alguns deles: cátia, cajibrina, cana, marvada, água-que-passarinho-não-bebe, mé, branquinha, a-do-diabo, a-que-matou-o-guarda, aquelazinha, marafo, água-de-briga, aguardente, agundu, alicate, biriba, brava, bichinha, birinaite, café-branco, caninha, cobertor-de-pobre, caxaramba, chá-de-cana, engasga-gato, garapa doida, gasolina, goró, forra-peito, homeopatia, iaiá-me-sacode, levanta-velho, maria-teimosa, parati, purinha, remédio, quebra-goela, venenosa, três-tombos, tome-juízo, ximbica, zuninga, urina-de-santo e tira-vergonha, entre muitos outros. 31 Entrevista Heloísa Bacellar Texto: Ana Caldeira Fotos: Tadeu Brunelli 32 Comida caseira, gostosa e charmosa. Esse é o lema de vida da advogada Heloísa Bacellar, e o estilo que adotou também em todas as empreitadas gastronômicas em que já se envolveu. Foi a partir dessa fórmula e da vontade de ensiná-la aos amantes da cozinha que Helô abriu, em 1999, o Atelier Gourmand, em São Paulo. Da escola de cozinha, da qual foi sócia durante seis anos, Helô tirou um tempo para escrever livros, em que receitas e histórias, muito bem contadas, tornam suas obras sucesso de público. Há seis anos a chef, formada no Le Cordon Bleu de Paris, montou o Lá da Venda, uma mistura de venda com restaurante de comidinhas bacanas. Famosa pelo pão de queijo, Helô agora lança a famosa guloseima mineira e mais três bolos em misturas (quase todas orgânicas) para se fazer em casa. “Nada contra espumas e ingredientes estrambólicos, mas ninguém no dia a dia come abacaxi com formiga e priprioca. Isso é a versão restaurante. Eu sou a versão casa”, sentencia ela, que também mantém um café com todas as suas gostosuras no shopping JK, na capital paulista. Quando você começou na cozinha? Há 45 anos. Eu tinha seis anos de idade! Comecei cozinhando na barra da saia da minha avó e da minha mãe. E então fui indo: com 12, 13 anos, já cozinhava sozinha, e muito. Minha leitura eram os livros clássicos de culinária dos anos 1960 da minha mãe. Fui aprendendo. Quando era mocinha, era difícil um livro de cozinha diferente, pois tudo era importado, caríssimo e quase não chegava por aqui. Lembro-me de quando inaugurou uma livraria chamada Avant Garde em São Paulo. Comprar um livro importado era, então, um evento. Fui montando minha biblioteca numa época em que ninguém tinha nada. E estudava muito. Fui fazer faculdade de direito porque em cozinha só havia um curso técnico de cozinha no Senac. Como surgiu a escola de cozinha Atelier Gourmand? Trabalhei como advogada até 2005. Mas em 1995 passei um ano inteiro na França, cozinhando no Le Cordon Bleu. Cheguei à conclusão de que eu adorava ensinar, partilhar o saber fazer, que é uma coisa amorosa. Quando voltei, tive a ideia de montar o Atelier Gourmand, que durou seis anos. Inauguramos a escola em 1999. Naquela época, no começo da nossa empreitada, só tinha a escola da Wilma Kövesi, que atendia mais profissionais. Não tinha aulas de culinária para um público amador. Dei muita aula no Atelier e gostava muito do que fazia. Só parei quando fiquei doente. Vendi minha participação na sociedade porque não tinha sentido ficar lá sem dar aulas. Então, passei um tempo em casa, escrevendo e cuidando da minha saúde. Depois, comecei outra empreitada, o Lá da Venda. Você gosta muito de escrever sobre comida, não? Conte um pouco sobre seus livros. Adoro escrever. Parece que as ideias têm que sair de mim, pois tenho ideias demais. Escrevo todos os dias, mesmo que não tenha um objetivo imediato. Meu primeiro livro é Cozinhando para Amigos, que fiz pensando em ocasiões gostosas para receber em casa. São 40 ocasiões, com propostas de cardápio e explicações rápidas, para dar um contexto para cada momento. O segundo livro, Entre Panelas e Tigelas, reúne 16 temas. Neste, há desde festa junina até um capítulo sobre maçãs, outro sobre guloseimas parisienses, outro sobre abrir a geladeira e cozinhar o que tem lá dentro... Falo sobre estes assuntos e dou receitas. O terceiro, Chocolate Todo Dia, tem receitas de chocolate para quando se está triste e também para quando se está feliz. Depois, fiz um livro sobre bacalhau – estudei muito, fui para a Noruega a convite do governo de lá, para conhecer melhor o assunto e para divulgar melhor o peixe que o Brasil consome muito, mas de modo sazonal. Foi um assunto ao qual me dediquei muito e que pouca gente conhece. Depois, fiz um livro para um festival sobre cozinha brasileira no Le Bon Marché de Paris, em 2013. Chamou-se Le 33 E como você concebeu o Lá da Venda? Brésil à Table. Esse festival durou quatro meses, então uma parte grande da loja parisiense tinha mais de cem brasileiros, das mais variadas áreas, expondo produtos bacanas do Brasil. Fui a curadora do projeto na parte de alimentação. Assinei uma gôndola com mais ou menos 130 produtos brasileiros que tinham um significado, uma identidade – chocolate nacional, pimentas, leite de coco, sucos de fruta, farinhas, polvilho, feijão, geleias. Também coloquei em linha de produção trinta coisas gostosas brasileiras, que foram vendidas lá – biscoitos de castanha, brigadeiro, bolo de fubá, cuscuz, pão de queijo. Mostramos aos franceses o que fazer com esses produtos. Depois que escrevi o livro, a editora Larousse me convidou para fazer um livro em francês, o Made in Brasil, uma edição comercial, em Paris. Então fui para lá. Ele reúne 30 receitas brasileiras, e fiz pensando num europeu cozinhando. Isso significa que as receitas não têm excessos de regionalismos, mas mantêm a cara do Brasil. No ano passado, lancei o Brasil à Mesa – diferente do que fiz em Paris. A intenção foi levar o nosso Brasil gostoso pra casa das pessoas. Nada contra espumas e ingredientes estrambólicos, mas ninguém no dia a dia come abacaxi com formiga e priprioca. Isso é a versão restaurante. Eu sou a versão casa. 34 A venda é a minha cara, eu não ia conseguir ter apenas um restaurante. Quem tem um vínculo com o interior sabe que existiam vendas nesses lugares, que vendiam de tudo. É um comércio que estava um pouco perdido, onde há contato humano, o que vai contra as grandes redes de supermercados. Tentei resgatar isso porque fez parte da minha vida, não é uma coisa teatral. Brinco que cumpri meu objetivo quando entrou por aqui uma senhora e viu um cigarro de palha. Ela me disse que odiava aquele cigarro, mas comprou. “Meu pai fumava e quero me lembrar dele”, ela me disse. Isso sou eu, esse lado humano. Meu irmão dizia que eu tinha tudo para ser dona de venda, porque gosto de bater papo. Adoro trabalhar com receitas, testá-las. E ponho todos para experimentar, até o nosso carteiro. Tenho uma meta de fazer entre 8 e 12 receitas por dia. Faço testes todos os dias. E essas receitas vão para algum lugar. Escrevo todas e nunca é uma receita só, tem sempre uma entradinha. Não dou uma receita seca, sem nada. Sempre fui muito ligada a esse tipo de comida, que depois virou comfort food. Existem momentos em que você está a fim de ir ao restaurante e outros em que você está em casa, e quer aquela comidinha gostosinha e quentinha. Minha relação com bolo e com pão sempre foi forte. Minha casa sempre cheirou a pão e bolo, e faço-os diariamente há pelo menos dez anos. Corro muito, falo muito mas mesmo assim arranjo tempo para fazê-los. Acabo de lançar uma linha de misturas prontas. Quis levar essa ideia pra casa das pessoas. São três misturas para bolos (limão, chocolate e banana), pão de fubá e o pãozinho de queijo. Fui experimentando por aí, e não tem no mercado algo assim – algumas tem açúcar, fermento e farinha e é preciso juntar quase tudo. Estudei muito pra chegar nessa formulação. O pão de fubá, por exemplo, é rústico, com cara de fazenda. Quatro dessas misturas são orgânicas. Fiquei quase um ano para conseguir o selo da Ecosert, o mais importante selo de orgânicos. Dá um trabalhão para consegui-lo, são várias etapas a serem cumpridas, até o material de limpeza precisa ser orgânico. É um selo muito sério e cuidadoso. Como consumidora, achei muito bom. Foi difícil conseguir ingredientes que preenchessem esses requisitos todos. Quais são as novidades do restaurante? O pão de queijo não é orgânico, porque não tem polvilho comercialmente viável para produzir o pão de queijo. Tenho uma casa onde faço toda a minha produção. Meu objetivo era oferecer um produto simples e rápido, que qualquer pessoa pudesse fazer. Então queria evitar ao máximo essa história de ter 50 ingredientes para acrescentar. Experimentei um monte de misturas bacanas nos EUA, França e Escandinávia, e queria que pudessem ser no máximo dois ingredientes para acrescentar à mistura. Deu certo: nas minhas misturas, só se acrescenta duas coisas, ovo e leite (ou água). As embalagens são a vácuo, sem conservante algum e já vêm com a fôrma (importada) para fazer o bolo ou pão. Sempre tive uma relação forte com a comida de verdade, caseira, que é comida mesmo, de um jeito saboroso, charmoso. Continuo fiel a isso, de fazer pão e bolo em casa, colher bananas no quintal. Só no pão de queijo é que precisa acrescentar o queijo – que é um ingrediente que fermenta. Se ele entrasse na mistura, a durabilidade seria muito menor. As pessoas podem em casa ter o gostinho do “feito em casa”. 35 Ingredientes Texto: Ana Caldeira Fotos: banco de imagens AÇAÍ “Foi ao Pará, parou; bebeu açaí, ficou!” Este versinho secular foi reproduzido pelo folclorista Luís da Câmara Cascudo em seu Dicionário do Folclore Brasileiro, de 1954, para exprimir a importância do açaí (Euterpe oleracea) no modo de vida do paraense. Conhecido por vários nomes - açaí, açaí-do-pará e açaí-de-touceira – o fruto desta palmeira de origem amazônica é utilizado tanto na alimentação diária quanto na de festa. A versão popularizada no sul do país, o açaí doce na tigela, com banana e cereal, não dá a menor ideia de seu uso entre os habitantes do Pará, o maior produtor e consumidor do fruto. Até o início dos anos 1970 não havia demanda para o palmito. O produto extrativo mais importante do açaizeiro era, então, seu fruto. Enquanto o palmito é principalmente exportado para fora do país, o “vinho” de açaí é um produto fundamental na dieta alimentar do paraense. 36 Para se ter uma ideia de sua importância, uma família de quatro pessoas consome, em média, dois litros de vinho de açaí por dia – vinho é como chamam o suco extraído do açaí. Órgãos oficiais estimam que, só no Pará, cerca de 300 mil pessoas façam do açaí seu ganha-pão. Entre as populações ribeirinhas, que vivem ao longo dos cursos dos rios e igarapés, a fruta é a principal fonte de renda para cerca de 70%. Maranhão e Amapá, entre outros estados, também produzem açaí, e no Amazonas, ele é de outra espécie (Euterpe precatoria), o chamado açaí-do-amazonas ou açaí-da-mata. No cotidiano dos ribeirinhos, comese a fruta, geralmente transformada em vinho, em pratos salgados, como peixe frito com açaí, acompanhado de farinha-d’água, ou mesmo com arroz e feijão. Além do vinho, do açaí se fazem doces, licores, sabonetes e até cosméticos e creme dental. Seu caroço já é largamente utilizado na confecção das chamadas “biojoias”. Jovens chefs passaram a explorar a fruta em criações inventivas. O paraense Thiago Castanho, dos restaurantes Remanso do Peixe e Remanso do Bosque, em Belém, prepara uma tigelinha de bacalhau com farofa de açaí, ou usa seu vinho como tinta em alguns pratos. Todo um comércio e um modo de vida giram em torno do açaí. No Porto do Açaí, em Belém, aportam diariamente embarcações trazendo, entre outros produtos da Amazônia, açaí vindo de lugares próximos como a Ilha de Jussara e a Ilha do Combu. Do porto, a fruta é levada às casas de açaí. O frescor do produto é tão importante que bandeiras ou placas vermelhas anunciam a sua chegada nos locais de venda. No tradicional Mercado Ver-o-Peso, junto ao cais, acontece a feira do açaí – uma feira dentro da feira. Pesquisadores arriscam que a feira do açaí envolve o trabalho de 500 pessoas – incluindo aqueles que alimentam os vendedores e transportadores do fruto. No verão, auge da boa safra, as festas ou festivais da fruta acontecem em vários municípios do Pará. 37 Da terra à mesa, o açaí percorre um longo caminho, envolvendo muitas pessoas, em várias funções. O trabalho com a extração do açaí na região Amazônica, em geral é baseado em técnicas tradicionais, adaptadas às condições locais. Nas ilhas paraenses, a maior parte dos açaizeiros são selvagens. Pela manhã, os coletores de açaí, ou “peconheiros”, coletam o fruto escalando as altas palmeiras, com a peconha (espécie de cinto) nos pés e armados de luvas e facões. Cortam o cacho e, depois, com a mesma agilidade com que subiram, descem escorregando pelo tronco. Os cachos são então debulhados, os frutos maduros são separados manualmente e colocados nas rasas, que são cestos de fibra vegetal onde se transportam os frutos do açaí após a debulha, feita geralmente por mulheres. É este cesto, com capacidade para cerca de 28 kg, que chegará ao porto (embora os órgãos sanitários proíbam seu uso, orientando a utilização de basquetas, feitas de plástico). A rasa 36 é transportada na cabeça, às vezes por dentro dos igapós, e sua forma oval permite que os peconheiros consigam andar em equilíbrio. No porto, o açaí tem dois destinos – segue para a indústria, que a transforma em cosmético ou alimento (vendido para todo o Brasil e mesmo para o exterior), ou para a venda ao mercado local. Nos mercados, logo de manhãzinha, os frutos são vendidos por lata, como se chamam as cestas de vime menores, de 14 kg. Nestes locais, é possível ver também o trança-trança de carrinhos de madeira, que transportam as sacas de açaí, parecidas com sacas de café. Os batedores de açaí, outra das tantas especializações dentro da produção e comércio do fruto, serão responsáveis, depois, por bater o açaí, demolhado em água, para transformá-lo na polpa ou “vinho”. Alguns, mais ciosos de seu produto, peneiram-no para tirar a burra, como se chama o resíduo das cascas do fruto, que lhe conferem uma textura arenosa. Há açaís de vários tipos, que designam sua qualidade: para usá-lo como bebida, pode-se comprar a polpa (pura, sem adição de água e sem filtrar) ou escolhe-se entre os tipos grosso, médio e fino, que são filtrados e têm adição de água, sendo o grosso o mais denso e mais caro deles. O açaí batido no dia é fresco, completamente diferente daquele que conhecemos no sul do país, misturado a xarope de guaraná. Para saboreá-lo, no entanto, é preciso visitar o Pará. Boa viagem! 39 Viagens Revista Sobremesa Texto: Alberto Granados A maioria dos estrangeiros que chegam a Roma ficam sobrecarregados. Em cada canto, em cada rua, em cada esquina, encontra-se uma escultura, igreja ou estátua de valor incalculável. São necessários meses para conhecer cada detalhe desta cidade, que é o berço da civilização. ROMA Um passeio pela Cidade Eterna TURISTAS Os turistas andam acalorados e amontoados atrás de um guia que carrega um guarda-chuva fechado ou um cartaz. – os guias por lá sempre carregam um cartaz ou um guarda-chuvas para que os turistas o identifiquem. Levam horas percorrendo uma das cidades mais fotografadas do mundo. O guia já não tem que gritar ao grupo como antes. Hoje em dia, os viajantes levam pendurado no pescoço um pequeno transmissor e um fone de ouvido, por onde ouvem sua voz, que vai relatando cada detalhe dos locais que visitam. 40 Os amantes da história ficam fascinados com tudo aquilo que Roma testemunhou e sucumbem, perplexos, frente ao Panteão e ao Coliseu, dois dos monumentos mais visitados, aos quais o passar do tempo conferiu maior esplendor. Aqueles que preferem a arte veem nesta urbe um destino imprescindível e ficam extasiados ante as curvas torneadas do Moisés de Michelangelo, hoje situado na menor igreja de San Pietro in Vincoli. Enquanto isso, os mais crentes peregrinam até o Vaticano, observam assombrados a riqueza da Basílica de São Pedro e esperam pacientes nas grandes filas de acesso à famosa Capela Sistina, onde ainda é possível admirar os afrescos trabalhados por artistas do porte de Botticelli, Perugino, Luca e do próprio Michelangelo. Os mais cinéfilos percorrem as ruas da cidade buscando lugares retratados para a eternidade: a Fontana di Trevi, na qual banhou-se Anita Ekberg no incrível filme de Fellini, “La Dolce Vita”, ou as escadas de Piazza de Espanha, onde Audrey Hepburn conheceu o elegante Gregory Peck PARA COMER BEM enquanto saboreava um sorvete em “Férias em Roma”, ou pelas ruas procurando qualquer detalhe do famoso “Anjos e Demônios”, no qual Tom Hanks passou bons apertos tentando evitar os assassinatos de alguns cardeais. Obviamente, aqueles que desfrutam da gastronomia em Roma têm motivos mais que suficientes para tirar proveito da visita. Nem tudo o que brilha é ouro, porque a cidade está disposta a tirar dinheiro dos visitantes. E é por isso que os autênticos romanos fogem do caro e aglomerado centro. Ali, estão somente os turistas distraídos, que lotam locais que outrora foram templos gastronômicos, mas hoje em dia são um chamariz para os viajantes imprudentes, que buscam desesperadamente um prato de pasta regado com um delicioso vinho. Porém, há que se investigar ou se aconselhar com algum conhecido romano para encontrá-lo. No meu ponto de vista, muito mudou, gastronomicamente falando, na chamada “Cidade Eterna”. É verdade que um bom turista tem que pecar e visitar os famosos lugares, mesmo se ficar decepcionado... - Afinal, como sair de Roma sem comer um pedaço de pizza no famoso Baffeto? 42 Em cada rua de Roma encontramos uma loja com produtos especialmente desenhados e envasados para turistas, os quais, em alguns casos, dispõem de poucas horas para percorrer a cidade. Podemos escolher desde queijos (os mais famosos são o parmesão e a burrata) até todo tipo de azeites de oliva, garrafas de limoncello e, obviamente, pasta de todos os tipos: macarrões, fetuccines ou spaghetti, de mil cores, sabores e texturas. Outro dos prazeres gastronômicos que não se pode perder em Roma são os famosos sorvetes. A cidade está repleta de locais que bradam ser “o mais antigo” de Roma. A maioria das sorveterias estão abertas desde mil novecentos e pouco e seus atuais proprietários são sobrinhos, primos longínquos ou parentes daqueles que, supostamente, fundaram o negócio em questão. Roma é uma cidade mágica que merece ser descoberta, ideal para apaixonados ou para apaixonar-se...Tudo pode acontecer. No Trastevere, o bairro mais movimentado de Roma, encontrase um antigo restaurante chamado Capo de Rero, gerenciado por vários garçons que ficaram com o lugar após a aposentadoria do dono. Surpreendem os dois salões decorados com fotografias antigas de celebridades e murais pintados que conferem um estilo antiquado, como uma volta à Roma dos anos 1970. Boa comida romana a preços bons. Endereço: Via di San Cosimato, 16 Telefone: 06 581 8038 A Taverna dei Fori Imperiali é uma das clássicas de Roma. Um restaurante familiar que resistiu quatro gerações, onde é possível degustar o clássico tonnarelli cacio e pepe, um dos pratos emblemáticos da cozinha romana: uma massa ao ovo com queijo e pimenta, que neste restaurante é uma delícia. Prova disso é que o restaurante é visitado por grandes atores como Robert de Niro e Al Pacino, que deixam suas fotos nas paredes do estabelecimento. NÃO VÁ EMBORA SEM... Colocar a mão na Bocca dela Verità. Entrou na moda graças ao filme “Férias em Roma”. Não há turista que não fique em uma longa fila para colocar a mão e tirar uma foto junto com a famosa máscara de mármore. Conta a lenda que, se alguém coloca a mão na boca da máscara e conta uma mentira, ela se fecha e devora a mão do mentiroso. Endereço: Via della Madonna dei Monti, 9, 00184, Roma, Itália Endereço: Pórtico da Igreja de Santa Maria em Cosmedin Telefone: +39 06 679 8643 Via della Greca, 4 43 WINE EXPERIENCE COSTÃO O REQUINTE DO VINHO. A BELEZA DO MAR. UM QUARTO COM VISTA Telefone: +39 06 6880 5537 44 Oferece informações sobre eventos, hotéis, restaurantes, transportes e curiosidades. Uma consulta a ele é imprescindível antes de uma futura visita. http://www.turismoroma.it/?lang=en (em inglês) siv de op n desco a r a asso 9 a 12 de julho %to ed ad ed aM esa. Turismoroma é o portal oficial dedicado ao turismo da cidade de Roma. lu Endereço: Piazza della Maddalena, 6, Roma 10 INFORMAÇÃO TURÍSTICA E xc É o que oferece o hotel Relais Maddalena, em frente à Igreja da Maddalena. Um charmoso e confortável hotel 3 estrelas fincado em um dos melhores lugares de Roma: a 2 minutos do Panteão e a 5 da Fontana de Trevi e da Praça Navona. É um luxo descer a rua e ver a animação nos terraços e restaurantes na porta do hotel, além de desfrutar de um atendimento agradável e personalizado. i oc aS d s ciado PROGRAMAÇÃO • Wine’n Music: harmonização de vinhos e música. Almoços harmonizados de campanha, serrano e Patagônia. Jantares harmonizados português, francês e italiano. Palestra enocultural: “Cortes emblemáticos”. Jurado de vinho por um dia. Noites no cassino com premiação em garrafas de vinho medalhados. Workshop Gourmet Experience com azeites premium. Vinoterapia da beleza: parceria do Costão Spa e Vinotage. Toda a programação de lazer: caminhadas ecológicas, Museu Arqueológico ao Ar Livre, complexo aquático com piscinas climatizadas, Costão Golf, slackline e muito mais. TUDO ISSO EM FLORIANÓPOLIS, A CAPITAL DA QUALIDADE DE VIDA NO BRASIL. CONSULTE SEU AGENTE DE VIAGENS. [email protected] - Tel. (11) 3884 9500 e d o d a i r FSeã o P a u l o . COSTAO.COM.BR Dica de quem sabe Texto: Priscila Urbano Canteiro Texto: Érica Ochoa Fotos: banco de imagens Pimentas De cores vibrantes, com formatos variados e sabores inusitados, doces, suaves ou picantes, as pimentas Podemos dizer que as pimentas são personagens importantes desde a época da chegada dos colonizadores espanhóis e portugueses ao continente americano. A busca por novos sabores “picantes” resultou na descoberta do Novo Mundo. A pimenta já era uma peça importante na dieta indígena, mas a partir daí foi dispersada para conquistar o mundo. Hoje, as pimentas são as principais especiarias picantes do comércio de vários países. Além da culinária, a pimenta tem seu papel importante nas religiões, na medicina (remédios para artrites, dores musculares, dor de dente, má digestão, dor de cabeça e gastrite) e, quem diria, na autodefesa, através dos famosos sprays de pimenta. A variedade é de encher os olhos... ou melhor, de dar água na boca, sendo todas pertencentes ao gênero Capsicum. México, Coréia, China, Tailândia... elas estão por toda parte, mas no Brasil as mais conhecidas são (da mais suave para a mais picante) biquinho, dedo-demoça, cumari, malagueta e tabasco. Quanto mais suaves, podem ser consumidas “in natura” ou em conserva, mas quanto mais picantes, opte por desfrutá-las em molhos. 46 MAS COMO CONSERVAR PIMENTAS? Existem diferentes maneiras de conservá-las: congeladas, secas, no vinagre e azeite, no álcool, defumadas e até mesmo cristalizadas (doces). Todos os processos são simples. Vamos relatar os mais usuais. Para congelar as pimentas, basta escolher as mais frescas e sem manchas, retirar o caule e as sementes e fatiar. Coloque em sacos plásticos e feche bem. Leve ao congelador e retire os pedaços que for usar. O sabor não se altera com este processo. Uma boa dica para oito meses de conservação. As pimentas trituradas ou em pó necessitam passar pelo processo da secagem para conservação. Este processo não é feito sob o sol, pois este pode queimar o fruto, mas sim com o auxílio do vento e temperaturas que não ultrapassem os 35˚C. Você já deve ter visto aqueles cachos de pimentas penduradas, muito comuns em regiões mexicanas. Eles são chamados de “ristras” e ficam assim para secar ao vento, em um processo que pode levar de três a seis meses. Após secas, é importante conservá-las em um vidro fechado a vácuo e protegido da luz. Um método muito comum de conservação é no vinagre. A acidez do vinagre impede o desenvolvimento de fungos e bactérias na conserva, mantendo a textura e sabor por até um ano. Podemos também acrescentar legumes, como cenoura e pepino, além da mistura de diferentes pimentas na mesma conserva. O interessante deste processo é que a pimenta permanece crocante e não fica elástica. Algumas dicas importantes: opte pelo vinagre branco para não alterar a cor da pimenta e assegure-se de que ele tem uma taxa de acidez de pelo menos 5%, para garantir sua ação antibacteriana. A conservação em álcool é, sem duvida, o processo mais simples. Para começar, nem é preciso esterilizar o recipiente que receberá a conserva. A única condição é que a bebida utilizada (whisky, rum ou vodka) tenha pelo menos 35% de teor alcoólico. Apenas uma pimenta é necessária para 700ml de álcool. Basta fazer alguns furos na casca e mergulhá-la no álcool. Depois de oito dias você já poderá utilizá-la em molhos ou até mesmo em bebidas picantes. Conservar é fácil, mas cultivar também é? Claro que sim! A única exigência de qualquer pimenta é a exclusividade. Elas normalmente não aceitam ser plantadas junto com outras espécies, prejudicando o desenvolvimento de suas vizinhas de vaso. Para plantar, utilize terra adubada e rica em nutrientes, uma drenagem bem feita e regas constantes. A pimenteira não aceita solos áridos e pobres, mas lembre que tudo em excesso pode ser prejudicial, desde o adubo até a exposição ao sol. O clima, o solo e a exposição ao sol podem afetar o teor de ardência da pimenta, sem falar na genética de cada fruto, é claro! Outro fator interessante: quanto mais alto o fruto estiver na planta, menos ardência terá. Na hora da colheita, preste atenção para não arrancar o fruto da pimenteira: use uma faca ou tesoura para retirá-lo, garantindo a saúde da planta. E vale a pena lembrar: na hora de manusear as pimentas, use luvas para evitar qualquer acidente. Vida aos vegetais Você sabia que, no Brasil, o índice de pessoas que comem vegetais nas refeições é de apenas 24%? Apesar de o país ter uma imensa variedade de frutas, hortaliças, tubérculos, leguminosas, oleaginosas e sementes típicas, a maior parte da população tem como alimentos básicos o arroz, o feijão e alguma proteína animal. Desde que comecei a reparar nesse índice, escuto frases como: “não gosto de nada verde”, “detesto legumes”, “não gosto de comer o que não me agrada os olhos”... Pode ser difícil compreender isso, mas talvez o problema esteja na maneira de preparar os vegetais. Para quebrar esse tabu na alimentação, devemos saber algumas regrinhas básicas no preparo desses alimentos. É importante sempre manter sua cor, textura e sabor natural, dessa maneira conservaremos também suas qualidades nutritivas. Trabalhe, sempre que possível, com produtos selecionados e que não tenham viajado longas distâncias. Legumes devem ser sempre cozidos em água e sal. O sal, além de reforçar o sabor do alimento, ajuda a revitalizar sua cor natural. Somente no caso das leguminosas de cores avermelhadas (beterraba, por exemplo) e brancas (como a couve-flor e outras) devemos adicionar, além do sal, um produto ácido como vinagre, limão ou vinho, para evitar que fiquem com aspecto acinzentado. Outra dica: leguminosas que crescem acima da terra devem ser adicionadas sempre à água fervente, e alimentos que crescem abaixo dela, como os tubérculos, à água fria, para depois chegar à fervura. Quando for cozinhá-los, experimente de vez em quando, com ajuda de um garfo, para ver se estão macios e crocantes. Nosso paladar é o melhor medidor de tempo de cocção. Nunca duvide da sua própria intuição culinária! E não se esqueça: os legumes devem ser servidos assim que estiverem prontos e quentinhos. Mantê-los quentes por muito tempo faz com que percam a cor, a textura, o sabor e as virtudes nutritivas. 47 Drinks Texto: Rick Anson Fotos: banco de imagens Gibson o dilema da cebola A curiosa variação do Dry Martini em que a azeitona é substituída por uma pequena cebola em conserva tem origem tão controversa quanto sua referência. 48 Não adianta, se existem controvérsias em torno de uma bebida, elas sempre recaem sobre a história do clássico dos clássicos, o Dry Martini. A polêmica é tamanha que até a mais famigerada variação igualmente traz dúvidas a respeito de sua origem. Versões da saga do charmoso Gibson – um clássico da International Bartenders Association – trazem um dilema na utilização da cebola pela primeira vez no coquetel, visto que a mais antiga receita publicada aparece no guia “The World’s Drinks And How To Mix Them”, de William Boothby, em 1908, justamente sem a original guarnição. Contudo, relatos da antiga mídia impressa narram que por volta de 1930, um ilustrador de revista chamado Charles Dana Gibson desafiou o bartender Charlie Connoly, no bar New York’s Players, a criar uma nova bebida com referência ao consagrado Dry Martini. Segundo a lenda, Charlie simplesmente pegou uma cebola em conserva e substituiu a azeitona por ela. O Gibson é elaborado, segundo o receituário imutável da IBA, na taça clássica de cocktail, mexido no mixing glass com gelo, sendo 9/10 de gin e 1/10 de vermute seco. Acompanha como guarnição uma pequena cebola branca em conserva, no palito. Entretanto, para o pesquisador Graham (2006), recentemente surgiu uma versão muito mais admissível, contada por Charles Pollok Gibson, em que o verdadeiro criador deste coquetel foi o tio-avô de seu pai, chamado Walter D. K. Gibson. Em meados de 1898, W.D.K. Gibson frequentava o Bohemian Club, quando se deparou com o barman da casa preparando um Dry Martini. Logo opôs-se ao jeito do profissional preparar o clássico coquetel, citando suas preferências, como a do drinque ser agitado ao invés de mexido no “mixing glass”, ter como guarnição uma cebola em conserva - porque acreditava que prevenia a constipação do intestino, e um twist de laranja que não consta nas receitas atuais. No cinema, o coquetel aparece em cena por inúmeras vezes: do filme North by Northwest, em que o ator Cary Grant pede um Gibson durante uma conversa no jantar com Eva Marie Saint a bordo de um trem, assim como no sucesso “A Rede”, com Sandra Bullock, em que outro ator, Jeremy Northam, bebe um Gibson quando está em férias em Cozumel. Não podemos deixar de citar as séries como “Mad-Men” ou até o cartoon “American Dad!”. Com a origem desse misterioso coquetel aparentemente esclarecida, pode-se dizer que se trata de uma das variações do Dry Martini mais curiosas e notáveis, visto que a pequena cebola branca em conserva deixa uma marca simbólica tão contundente quanto seu sabor. Cheers! 49 Por aí, na capital paulista Texto: D. Alejandro ([email protected]) Fotos: divulgação Braz Trattoria Tenho que admitir que detesto shopping center e que dificilmente os frequento, mas este novo resto-bar no Shopping Cidade Jardim vale o sacrifício. Ele está localizado no último andar, onde há vários bons espaços gastronômicos, rodeado por um belíssimo jardim e uma vista linda, tipicamente paulistana, da Marginal e seus prédios colossais. A Braz Trattoria tem projeto do arquiteto Vitor Penha, que aproveitou muito bem o espaço, utilizando todo o pé direito imponente - de 12 metros - e deixando os ladrilhos, tubos de iluminação e de ar-condicionado aparentes, criando um clima contemporâneo, moderno e cult, com um estilo que nos leva a pensar que estamos em NYC. Chego a sentir uma sensação como a de Gotham City, do Batman (não me pergunte o porquê, mas me lembra). A Braz Trattoria é mais um restaurante em sociedade da dupla Benny Novak e Renato Ades (do ICI Bistrô e Tappo) com a CiaTC (Grupo da Braz, Astor, Pirajá e Lanchonete da Cidade, entre outros). O cardápio elaborado por Benny Novak, com a colaboração de Paulo Kotzent, é um petáculo! Uma verdadeira maravilha, com detalhes que respeitam ao máximo as tradições Italianas. serviço 50 Na entrada tem um bar com um enorme balcão, onde podemos experimentar uma carta de coquetéis sensacional, elaborada pelo barman italiano Fabio La Pietra (Chef bartender da CiaTC), um maestro com um conhecimento incrível da história da coquetelaria - uma verdadeira enciclopédia. Uma grande sacada do Fabio foi criar um tirador de Negroni, ou seja, como se fosse uma máquina de chope, mas que tira Negroni pronto. Petáculo! Quem quer ficar no bar e pedir uns tira-gostos também encontra uma grande pedida! Tem tudo que eu preciso para viver: Grana Padano, mortadela, sopressata, sardela, burrata, queijo de cabra... É D+! As pizzas são bárbaras e os pratos incríveis, com grande destaque para o Spaghetti do Poverello, Ragú de Cipolla e Alice, Ovo Frito, Ruote alla Norma, Pomodoro, Berinjela, Ricota Defumada, Zitti Amatriciana de Cordeiro, Pancetta, Peperoncino. Os pratos, além de saborosos e bem servidos, são apresentados de forma impecável. Para sobremesa, o Tiramisù, a Panna Cotta com Frutas Vermelhas e o Zabaione são as grandes pedidas. Gente, este lugar é realmente incrível e o serviço impecável. Vale Muito a pena! Viva la Vida! Viva el buen comer! Avenida Magalhães de Castro, 12.000, shopping Cidade Jardim, 4º piso - São Paulo - SP Tel.: (11) 3198-9435 / 3198-9436. www.braztrattoria.com.br 51 Nesta coluna você encontrará fatos e curiosidades sobre a química e composição de alimentos, além de algumas de suas contribuições para o organismo, sempre de forma leve e gostosa, no espírito de enaltecer o viver bem, com prazer e alegria. Texto: Paulo Samá Fotos: banco de imagens Química dos Alimentos Tanto faz, mas faz bem! BerinGela o u BerinJela? - Potássio: ajuda a controlar a pressão e o estresse. - Magnésio e cálcio: fortalecem os dentes e os ossos. POLEMICAMENTE SAUDÁVEL Parece piada, mas existe uma rixa entre dicionários no que se refere à Solanum melongena. O Aurélio grafa-a com “j” e o Houaiss, com “g”. Dizem que com “j” é do Português do Brasil e com “g”, do Português de Portugal, ó pá! Como não queremos ferir os brios deste ou daquele dicionário, vamos escrevê-la como brasileiros e considerá-la um vocábulo de dupla grafia. Originária da Índia e cultivada no Brasil desde o século XVI, a berinjela também diverge nas nomenclaturas: cientificamente falando, é um fruto, pois se desenvolve a partir do ovário de uma flor fecundada. Mas no jargão popular da feira livre e das donas-de-casa, é considerada legume, porque fruta, afinal de contas, é doce. E berinjela não é. 52 Como se duas polêmicas fossem pouco, ainda temos mais uma, que trata da discussão se a berinjela é mesmo efetiva contra o colesterol. Um estudo experimental da Unicamp feito em coelhos garante que é. A pesquisa constatou redução de 30% nos níveis de colesterol com o uso do legume/fruto. E antes que alguém polemize com isso também, é bom avisar: nenhum coelhinho fofo foi ferido no experimento. Mesmo assim, muitos ainda dizem que as pesquisas são inconclusivas a esse respeito. Por outro lado, existe uma desconfiança unânime dos estudiosos em relação aos poderes milagrosos e emagrecedores do extrato seco de berinjela em pílulas, que cansamos de ver na televisão nas madrugadas insones. De qualquer forma, a receita do suco de laranja com berinjela da vovó continua inofensiva. Pode tomar sem medo. Discussões à parte, sobram benefícios na berinjela, enquanto componente importante para uma boa alimentação. Ela é grande fonte de proteínas, tem propriedades laxantes, digestivas e, além de tudo, é magrinha: cada 100 gramas de berinjela crua têm só 20 calorias. - Zinco: faz bem para os sistemas reprodutor e imunológico. Quimicamente falando, nosso fruto/legume também não fica atrás: é uma importante fonte de betacaroteno, que melhora a imunidade e protege a pele dos raios ultravioleta, entre outros benefícios. Seu suco é um poderoso antioxidante, sua pele conta com um flavonóide chamado nasunina, que protege contra a ação dos radicais livres, e sua composição é rica em vitaminas, minerais, e fibras. Confira: - Vitamina B3 (Niacina): metaboliza carboidratos e ajuda na produção de energia, entre outras propriedades. - Vitamina B1 (tiamina): a chamada vitamina antiestresse é boa para os sistemas nervoso e cardiovascular, transforma carboidratos em glicose e produz energia. - Vitamina B2 (Riboflavina): ajuda na cicatrização e contribui para o crescimento. - Vitamina C: combate e reduz os sintomas de gripes e resfriados, acelera a cicatrização e aumenta a imunidade. - Ácido clorogênico: composto fenólico que combate os radicais livres. E como se tudo isso fosse pouco, a berinjela ainda é versátil. Assada, grelhada, refogada, à milanesa, recheada, no cuscuz, no suflê, nas tortas e até na lasanha, fica uma delícia. Com ou sem tempero de polêmica. O freguês é quem manda. 53 Perguntas Frequentes Texto: Joaquin Hidalgo Fotos: banco de imagens Por que os vinhos cheiram a coisas que não são uva? É comum que os catadores descrevam um vinho citando frutas, ervas e especiarias, quer dizer, aromas que não estão na uva. Em que momento o vinho adquire esses aromas? Como os identificamos? AROMAS PRIMÁRIOS DA UVA Na primeira vez que se cheira um vinho tinto, o assunto é muito simples: cheira a vinho e pronto. Sem dúvida, quando se afia o nariz e se está disposto a desmembrar essa primeira sensação, emergem, como em um ramo de flores, outros perfumes. É possível que agora o vinho cheira a ameixa? Couro? Cânfora? – É possível, claro! E esse é um dos maiores mistérios do vinho... Ou era. Porque a enologia atual, assessorada pela química, conseguiu desvendar o mistério sem acabar com a fascinação. Em que momento e como se produzem os aromas do vinho? E como chegam a adquirir notas animais quando se trata de uma fruta? Primeiramente, temos que saber que os aromas do vinho têm três origens bem diferentes: por um lado, estão os chamados primários que, em poucas palavras, são os que se desenvolvem a partir de compostos que efetivamente estão nas uvas. Logo depois os secundários, adquiridos na bodega e, por último, os complexos e raros terciários, que o vinho desenvolve a partir dos outros dois, e somente com o tempo. 54 Assim como há variedades de uvas tintas e brancas, há as que naturalmente cheiram diferente. Assim, um Sauvignon Blanc tem certos compostos que lhe conferem aromas cítricos, de pasto e de arruda, enquanto que um Chardonnay oferece, com regularidade, aromas de maçã, pera e manga. O assunto é que esses grupos aromáticos se desenvolveram ou não, segundo duas condições: por um lado o terroir e por outro o trabalho do homem. Seguindo o exemplo, os aromas primários de um Sauvignon Blanc de clima frio, como Sencerre, França, não desenvolvem aromas de frutas tropicais ou cítricos maduros como os que são feitos em Leyda, no Chile. A diferença é que o frio ou o calor de uma região condiciona a formação dos precursores aromáticos. Se a isso soma-se o fato de que a uva pode ser colhida verde, madura ou muito madura, a capacidade da planta de reter esses compostos muda radicalmente: enquanto os verdes vão ter cheiro de pasto, os muito maduros vão ter um traço de toranja um pouco passada. A mesma coisa acontece com um Cabernet Sauvignon, Pinot Noir ou Merlot, mencionando algumas tintas, mesmo que tenham outros percursores aromáticos. OS AROMAS SECUNDÁRIOS OU DA BODEGA Mas tudo muda quando a uva chega à bodega. Porque se por um lado o terroir e o momento da colheita são o ponto de partida para os grandes grupos aromáticos, na bodega a mão do enólogo pode potencializá-los, suprimi-los ou até modificá-los. Como? As leveduras são o fator mais determinante, junto com as madeiras empregadas. E quanto às primeiras, sabese muito sobre sua incidência nos aromas, basicamente porque elas transformam os precursores aromáticos originais nas substâncias aromáticas finais. Isso significa que, quando um Cabernet cheira a pimentão, ele tem a mesma molécula odorífera que as leveduras desenvolveram a partir das piracinas acumuladas na uva. Igualmente acontece com os aromas de ameixa ou pêssego. Como tudo tem um porém, nem todas as leveduras funcionam do mesmo modo, nem são todas iguais. Por isso, uma parte da enologia moderna estuda cepas particulares de certas leveduras selecionadas para potencializar, por exemplo, o aroma de terra em um Pinot Noir, enquanto outro ramo, diferente disso, pugna para que as leveduras sejam aquelas que vêm desde a vinha, e preservam assim a identidade do terroir. A diferença é que em um caso as leveduras são conhecidas e é possível ter uma previsão do resultado, e no outro, não. Às leveduras soma-se o barril, na definição dos aromas secundários, porque este tem seus próprios aromas para o vinho. Assim, como resultado da crianza aparecem traços de baunilha, que é um dos descritores do carvalho, caramelo e fumo, que o barril adquire quando é queimado durante a armação. Estes, junto com os derivados de outras transformações – como a fermentação malolática, que aporta aroma de manteiga, - formam a maior parte dos aromas adquiridos na bodega. Tanto os aromas primários como os secundários chegam identificáveis ao momento do engarrafamento. Mas uma vez tampada a garrafa, a história dessas moléculas aromáticas toma um novo caminho: a transformação em aromas terciários. OS AROMAS TERCIÁRIOS OU DE CRIANZA Uma vez que o gênio do vinho – como aquele da lâmpada mágica – fica fechado dentro da garrafa, começa uma história diferente. Porque até esse ponto da elaboração, o vinho sempre esteve na presença de oxigênio, enquanto dentro da garrafa não existe forma de respiração, isto é, passa-se de um ambiente oxidativo para um redutivo, numa espécie de sístole e diástole dos processos químicos. Em poucas palavras, invertese toda a corrente de transformação e as moléculas de aromas começam a reagir entre si, para iluminar novos e surpreendentes compostos, como se fossem criados por um gênio. O processo nunca é rápido e geralmente leva uns oito anos ou mais. Mas ao final, o que se obtém é algo que não existia antes no vinho e que faz únicas as garrafas velhas: o buquê. Assim chamaram-no os franceses quando o descreveram. Uma combinação rara de aromas exóticos como querosene, couro, cera e frutas secas em geral, aromas animais como o suor, e sexuais como o almíscar. É difícil saber como evoluirão os aromas de um vinho. Até mesmo a experiência indica que, quanto mais velhos, mais raros e curiosos. E, principalmente, quase nenhuma garrafa envelhece igual, mesmo dentro da mesma partida. Existe ainda um último critério para entender os aromas do vinho: a idade. Quando são jovens, os vinhos sempre cheiram em torno de descritores primários e secundários. Já quando velhos, a dominância está nos traços evolutivos e em saber que aromas lhe agradam para saber que tipo de vinhos beber. 55 Ajude a aquecer seus amigos neste inverno... Indique a Sociedade da Mesa e ganhe brindes! Indique um amigo e ganhe 2 pares de taças: um par para você e outro para seu amigo! Isso não é uma promoção. É regra do clube. 0800 774 0303 www.sociedadedamesa.com.br Como eu faço? Indique um amigo para a Sociedade da Mesa e a cada amigo que se associar, você recebe um par de taças de cristal bordeaux e seu amigo também! Envie um e-mail com o nome, telefone ou e-mail de seu amigo para [email protected] e entraremos em contato com ele. OU Preencha o formulário “Indique um Amigo” no nosso site www.sociedadedamesa.com.br OU Seu amigo também pode acessar o nosso site www.sociedadedamesa.com.br/amigo e clicar em “Associe-se”. Para que vocês ganhem os prêmios, basta que ele preencha o campo ”Caso tenha sido indicado por algum Sociedade da Mesa associado” com o seu nome completo. c l ube de v i nho s Notícias Calendário Joaquín Hidalgo foto: banco de imagem Texto: Joaquin Hidalgo 22 a 25 de junho Quantas calorias tem uma taça? O mundo ocidental, e principalmente os Estados Unidos, vive uma forte cruzada contra o excesso de peso. Em 2011, seguindo essa tendência sob a administração de Barack Obama, a FDA – Food and Drug Administration – aprovou um protocolo no qual os restaurantes estão obrigados a indicar as calorias de seus pratos. Porém, se naquele ano a medida causou muito tumulto, foi principalmente porque a regra não contemplava bebidas. Após alguns anos de debate, a FDA incluiu-as. Em março deste ano passou a vigorar a nova regra, e os restaurantes com mais de 30 lugares, como são os casos do Morton´s Steakhouse e do Olive Garden, devem ter no cardápio as calorias das bebidas também. Portanto, no momento de escolher um prato e revisar a coluna dos preços, pelo menos nos Estados Unidos, será possível verificar também as calorias: um tinto seco tem aproximadamente 120, enquanto que um branco, aproximadamente 70. Os doces podem ter mais que o dobro disso. Qualquer que seja o caso, uma coisa é certa: na guerra contra o excesso de peso, para alguns países o vinho pode estar na fila dos inimigos. Winespectator.com Uma mosca ameaça a Europa O mundo globalizado, com seus containers cruzando os oceanos e milhões de passageiros viajando em aviões diariamente, pressupõe um grande desafio para o combate às pragas, porque sua difusão é rápida e difícil de prever. Este é o caso de uma nova mosca das frutas que ameaça o vinhedo europeu. Chamada Drosophila suzukii, a mosca de asas pontudas, originária da Ásia, foi descoberta pela primeira vez no velho continente em 2008, nos portos da Espanha e Itália. E sem dúvida, na colheita de 2014, que foi úmida e complicada em muitos países, a presença da mosca foi notada. O problema é que a mosca deposita seus ovos nas uvas sãs e, depois, as larvas alimentam-se do mosto do interior da uva. O assunto é grave, pois basta um grão podre para arruinar litros de vinho. A mosca, por sua vez, é um problema de difícil solução que se observou recentemente, especialmente em função da proliferação de vinhedos biodinâmicos na Itália e França, que não contam com ferramentas de controle. Neste momento, a sobra dessa mosca é uma ameaça real sobre os vinhedos do velho continente. 10 a 12 de julho Gladmat Food Festival Finger Lakes Wine Festival Para os habitantes do sul da América do sul, a Noruega e os países escandinavos são tão exóticos quanto a Amazônia pode ser para um habitante de Oslo. Mas é claro que temos muitas coisas em comum, entre elas a gastronomia de alto nível. Uma boa oportunidade para aprender mais sobre as cozinhas do norte é o famoso festival Gladmat, em Stavanger, cidade recostada sobre o Mar do Norte, que a cada ano atrai 200 mil pessoas com seus aromas de churrasco e salmão durado com eneldo. Entre as coisas que diferenciam este festival, está o fato de que a culinária da Dinamarca, Suécia e Noruega experimentaram, nos últimos anos, um salto qualitativo grande na mão de chefs criativos. Não por acaso, o Noma, restaurante danes, foi eleito o melhor do mundo entre 2010 e 2014, de maneira sucessiva pela revista restaurante. Se o objetivo é provar pratos deliciosos e bons vinhos, Gladmat é a oportunidade perfeita na temporada: de 22 a 25 de julho, em pleno verão boreal. Dar uma volta pelos fiordes que circundam a cidade completaria o passeio com vistas maravilhosas. O verão no norte dos Estados Unidos é uma temporada bem ativa no que se refere a festivais. Enquanto os parques e praças das cidades preenchem-se com cerveja e música, há uma pequena localidade no estado de Nova Iorque, onde tudo tem a ver com o vinho: Finger Lakes. Durante três dias congregam-se na cidade mais de 80 bodegas, tanto do estado como de outros, para um raro e divertido festival, onde a música está presente além da gastronomia e dos vinhos. O entorno é muito verde e os cinco lagos compridos e finos,que parecem dedos -o que explica o nome da região - acrescentam um colorido especial ao evento. visitnorway.com Uma das coisas mais interessantes da FLWF é o clima de festa: as pessoas vão para se divertir e celebrar o verão durante três dias inesquecíveis. Neste ano, o evento será nos dias 10, 11 e 12 de julho e participarão uns 100 expositores de ramos diferentes, entre charutos, cozinha e comidas tradicionais, sem contar com os restaurantes ou o excêntrico “Toga Parade” (desfile de togas) que acontecerá no primeiro dia. Tudo isso rodeado de vinho. Não é precisamente um festival de alta gama, mas sim um típico festival da América do Norte e é justamente isso que o torna atraente para viajantes curiosos. flwinefest.com Winespectator.com 58 59 Sociedade da Mesa é muito bem-vinda e não paga rolha saca-rolha Aqui nesta coluna, publicamos bares e restaurantes onde você, associado da Sociedade da Mesa, poderá desfrutar de bons ambientes e boa gastronomia, com a liberdade de levar seu próprio vinho sem pagar a rolha! * Abaixo os restaurantes participantes do Programa Saca-Rolha. BRASILEIRA GUAIAÓ BROTAS ZEN BISTRÔ CONTEMPORÂNEA CEDRO ESPAÇO W RONCO DO BUGIO ITALIANA PASTA DEL CAPITANO PORTUGUESA VILA DON PATO Santos Brotas Rua Dom Lara, 65 Boqueirão, Santos - SP (13) 3877-5379 Rodovia Brotas-Patrimônio, Km 15 Brotas - SP (14) 99121-8040 St. Ant. do Pinhal Estrada do Pico Agudo, km 5, Sto. Antônio do Pinhal - SP (12)3666-1713 Ubatuba Av. Marginal, 2.244 Praia Grande, Ubatuba - SP (12) 3835-1374 Piedade Estrada PDD, 128 Bairro dos Pires, Piedade – SP (11) 8259-7788 Ilhabela Av. Pedro Paula de Morais, 703 Ilhabela - SP (12) 3896-5241 São Roque Estrada do Vinho, km 2,5 São Roque – SP (11) 4711-3001 São Paulo - capital São Paulo - interior / litoral Seja muito bem-vindo e bom apetite. ARGENTINA BÁRBARO CHE BÁRBARO São PauloRua Dr. Sodré, 241A São PauloRua Harmonia, 277 Vila Olímpia - SP (11) 3845-7743 Vila Madalena - SP (11) 2691-7628 ITALIANA ANTONIETTA São PauloRua Mato Grosso, 402 Higienópolis - SP (11) 3214-0079 GRAZIE A DIO! São PauloRua Girassol, 67 Vila Madalena - SP (11) 3031-6568 GENOVASão Paulo Rua Lisboa, 346 Pinheiros - SP (11) 3064-3438 LA GRASSA São PauloAv. Juriti, 32 Moema - SP (11) 3053-9303 NICOSão Paulo Rua Costa Aguiar, 1.586 Ipiranga - SP (11) 2068-3000 BOTTEGA PARADISI São PauloRua Pirapora, 218 Paraíso - SP (11) 3052-1473 ZEFFIROSão Paulo Rua Frei Caneca, 669 Consolação - SP (11) 3259-0932 outros estados ESPANHOLA BRASILEIRA DIVINA GULA CONTEMPORÂNEA DEL BARBIERE DIVINO ITALIANA DEGLI ANGELI DOMENICO VILA RICA VARIADA FLORES PERUANA TAYPÁ Maceió Av. Eng. Paulo Brandão Nogueira, 85 Maceió - Alagoas (82) 3235-1016 Porto Alegre Nova Lima Rua Jerônimo Coelho, 188 Centro - Porto Alegre - RS (51) 3019-4202 Quinta Avenida, 144 – Loja 6 Vale do Sol, Nova Lima - MG (31) 3541-4272 Belo Horizonte Porto Alegre Belo Horizonte Rua Francisco Deslandes, 156 Anchieta, Belo Horizonte - MG (31) 3281-7965 Rua Pe. Chagas, 293 /20 Moinhos de Vento - Porto Alegre - RS (51) 3389-2731 Av. Fleming, 900 Pampulha - Belo Horizonte - MG (31) 3646-9946 Belo Horizonte Rua Oriente, 609 Serra, Belo Horizonte - MG (31) 3227-6760 Brasília QI 17, Comercial, Bloco G Fashion Park - Lago Sul - Brasília (61) 3248-0403 CALÁ DEL GRAU São PauloRua Joaquim Távora, 1.266 MARIPILISão Paulo Rua Alexandre Dumas, 1.152 PAELLAS PEPE São PauloRua Bom Pastor, 1.660 TORERO VALESE São PauloRua Horácio Lafer, 638 MUSEO VERONICA São PauloRua Tuim, 370 FRANCESA FREDDYSão Paulo Rua Pedroso Alvarenga, 1.170 LIMONNSão Paulo Rua Manuel Guedes, 545 VARIADA SACRA ROLHA PRAÇA SÃO LOURENÇO URUGUAIA EL TRANVIA CONTEMPORÂNEA CASUAL MIL CENA SBC Vila Mariana - SP (11) 5549-3210 Chácara Santo Antônio - SP (11) 5181-4422 Ipiranga – SP (11) 3798-7616 Itaim Bibi - SP (11) 3168-7917 Moema - SP (11) 5051-2654 Itaim Bibi - SP (11) 3167-0977 Jardim Europa - SP (11) 2533-7710 São PauloRua Rio Grande, 304 São PauloRua Casa do Ator, 608 Vila Mariana - SP (11) 4304-0300 Vila Olímpia - SP (11) 3053-9300 São PauloRua Conselheiro Brotero, 903 Santa Cecília - SP (11) 3664-8313 São PauloRua Hungria, 1.000 Rua Doutor Fláquer, 571 Jardim Europa - SP (11) 2579-1029 Centro - SBC - SP (11) 4123-2799 * O nosso Programa Saca-Rolha possibilita que você, associado, leve até 2 garrafas de vinho, para acompanhar sua refeição, sem a cobrança de rolha. 60 61 além da garrafa Especial Destaque desta edição BICO-DOSADOR Jogo de 2 bicos dosadores Preço para associado: Conhecida mundialmente após lançar a inédita bomba a vácuo para vinhos, a marca Vacuvin é presença obrigatória no mundo do vinho e gastronomia. JOGO 12 MARCADORES TAÇAS FESTA TERMÔMETRO DE ENCAIXE SILICONE R$ 37,00 R$ 55,00 O elegante Bico Dosador Vacu Vin impedirá respingos ou desperdícios ao servir seu vinho. Sua superfície foi projetada para prevenir que qualquer excesso retorne para a garrafa. O material transparente dá a esse bico dosador uma aparência de cristal e seu design é compatível com a maioria das garrafas de vinho. VACUVIN Bomba a vácuo com 2 tampas Preço para associado: R$ 52,00 BICO DOSADOR VACUVIN CORTADOR DE LACRE Jogo de 2 tampas Preço para associado: Preço para associado: R$ 21,00 62 R$ 30,00 Preço para associado: Preço para associado: Solicite que o acessório seja enviado junto com a sua próxima seleção, para não pagar frete adicional. Faça suas compras por telefone (0800 774 0303) ou site até o último dia do mês e receba juntamente com sua próxima caixa de vinhos. ABS/TPR p/ vinho Preço para associado: R$ 19,00 SACA-ROLHA TWISTER PRETO BLISTER BICO DOSADOR R$ 60,00 R$ 51,00 Preço para associado: para espumante Preço para associado: R$ 39,00 Lembre-se de nos comunicar quaisquer alterações no envio do mês de julho, tais como alteração de quantidades, pedidos adicionais ou suspensão até o último dia deste mês de junho. Pedidos sujeitos à confirmação no estoque. 63 DECANTER BOHEMIA TAÇA DE ESPUMANTE Par de taças de cristal 228 ml Preço para associado: 1500 ml Preço para associado: R$ 65,00 R$ 52,00 (o par) nosso estoque Mais além da Especial garrafa Cristal Par de taças de cristal 180 ml Preço para associado: R$ 63,00 (o par) Par de taças de cristal 500 ml Preço para associado: R$ 50,00 (o par) Bolsa “SEIS” De lona, modelo engradado, para até 6 garrafas. Preço para associado: R$ 84,00 Solicite que o acessório seja enviado junto com a sua próxima seleção, para não pagar frete adicional. seleção Especial Cappupino Ccinotage 2013 Fleur du Thenac 2009 GG 2013 D.O.Ca. Rioja Barón de Kinsmore Reserva Cabernet Sauvignon 2013 Barón de Kinsmore Reserva Pinot Noir 2013 África do Sul Uva: 100% Pinotage Álcool: 13,5% R$ 49,80 França Uvas: 75% Merlot, 15% Cabernet Franc e 10% Cabernet Sauvignon Álcool: 15% Espanha Uvas: 50% Garnacha e 50% Graciano Álcool: 13% R$ 46,50 Chile Uvas: 100% Cabernet Sauvignon R$ 47,00 Chile Uvas: 100% Pinot Noir R$ 47,00 TAÇA BORDEAUX Par de taças de cristal 660 ml Preço para associado: R$ 50,00 (o par) Nerio Negroamaro Riserva 2010 El Vínculo Reserva 2008 Partal de Autor 2005 França Uva: 100% Merlot Álcool: 13,5% R$ 47,00 Itália Uvas: 80% Negroamaro e 20% Malvasia Nera di Lecce Álcool: 13,5% R$ 89,00 Espanha Uvas: 100% Tempranillo Álcool: 14% R$ 94,00 Espanha Uvas: 60% Monastrell, 20% Syrah, 10%, Tempranillo, 7% Cabernet Sauvignon e 3% Merlot Álcool: 14,5% R$ 93,00 Leone 2010 Château Tour Chaigneau 2011 Amani I Am 1 2009 Itália Uvas: 60% Sangiovese, 20% Merlot, 20% Cabernet Sauvignon Álcool: 13,5% R$ 89,00 França Uvas: 70% Merlot, 20% Cabernet Franc, 10% Cabernet Sauvignon Álcool: 13% R$ 109,00 África do Sul Uvas: 36% Cabernet Sauvignon, 28% Merlot, 21% Cabernet Franc, 10% Shiraz, 3% Malbec e 2% Petit Verdot Álcool: 14,5% R$ 79,25 Villa Chavin Merlot Reserva 2013 TAÇA BORGONHA seleção Grandes Vinhos Faça suas compras por telefone (0800 774 0303) ou site até o último dia do mês e receba juntamente com sua próxima caixa de vinhos. R$ 49,00 TAÇA PORTO seleção Mensal TAÇA DEGUSTAÇÃO Par de taças de cristal 255 ml Preço para associado: R$ 58,00 (o par) Bolsa “TRÊS” De lona, com detalhes em couro, para até 3 garrafas. Preço para associado: R$ 120,00 Vinhos em consignação Se você vai fazer um evento, festa ou jantar, e precisa de vinhos, consulte-nos. Consignamos o vinho para você. Assim, nem sobrará nem faltará. Sem contar que será um prazer ajudá-lo a escolher o vinho mais adequado para a ocasião. Pedido mínimo de 10 garrafas. 65 “Por que selecionei”. por Dario Taibo. O Manos Negras responde ao nosso critério de trazer novas experiências ao associado, bem como o de reconhecer o trabalho de enólogos que gostam de arriscar, de criar e se recusam a fazer vinho reproduzindo receitas consagradas. Um Pinot Noir argentino já não é, por si, algo habitual. Um Pinot Noir de Neuquem menos ainda, e um Pinot argentino de Neuquem com essa qualidade é algo único. À parte disso, conseguimos uma excelente negociação, que nos permitiu colocar na Seleção do Mês um vinho que seria mais próprio da Seleção Grandes Vinhos. janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho, JULHO, agosto, setembro, outubro, novembro, dezembro seleção Próxima Seleção janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho, JULHO, agosto, setembro, outubro, novembro, dezembro Manos Negras Red Soil Select Pinot Noir 2013 | Neuquén, Patagônia | Argentina R$ 52,00 Manos Negras Stone Soil Select Malbec 2012 | Mendoza | Argentina País: Argentina País: Argentina Valor para associado: Valor aproximado de mercado: R$ 88,00 Valor para associado: R$ 51,50 Valor aproximado de mercado: R$ 88,00 Região: Patagônia Região: Mendoza Indicação Geográfica: Neuquén Indicação Geográfica: Altamira, Mendoza Uvas: 100% Pinot Noir Uvas: 100% Malbec Produtor: Manos Negras Produtor: Manos Negras Preparem-se para desfrutar desta excelente seleção de vinhos espetaculares de uma das bodegas revelação da Argentina: Manos Negras. Da mão de um colossal enólogo – Alejandro Sejanovich – considerado um dos melhores da Argentina, capaz de interpretar o “terroir” dos vinhedos como poucos conseguem. Aqui temos dois vinhos amplamente reconhecidos pelas principais publicações, como Decanter, The Wine Advocate e Wine & Spirits, entre outras. Os autênticos enólogos são aqueles que sujam as mãos durante a vindima, aqueles que têm suas “Manos Negras” de vinho. Este é o significado do projeto “Manos Negras”: vinhos feitos com as mãos – vinhos artesanais. Manos Negras concentra-se na elaboração de vinhos denominados por eles de “latitude”. Cada latitude possui um “terroir” único, com combinações singulares edafoclimáticas (solo e clima) ideais para os diferentes varietais e isso se manifesta com os vinhos que apresentamos este mês. Vinhos baseados em uma emocionante combinação do “terroir” e os varietais. Mensal A cor vermelha característica dos solos onde se cultiva a uva com a qual é elaborado o Manos Negras Red Soil Select Pinot Noir, é a origem do nome e do caráter deste vinho. O vinhedo situado na beira de um afluente do rio Neuquén, com um solo baixo em matéria orgânica e alto conteúdo de minerais de ferro que dão essa cor característica, são a base da excepcional complexidade que ali adquire o Pinot Noir. Altamira começa a ser uma referência em Mendoza, pois seus solos são um autêntico mosaico. Os solos arenosos, com limo e pedregosos estão todos presentes no mesmo vinhedo. Manos Negras Stone Soil Select Malbec surge destes solos mistos com um alto conteúdo de pedras superficiais, que dão nome ao vinho. Solos pobres em matéria orgânica, porém com grande diversidade de minerais, o que, unido ao clima mendocino, consegue uma concentração de aromas e sabores de grande caráter para esse Malbec. Esta Seleção Mensal é fruto de um grande trabalho do clube, para apresentar uma excepcional caixa mista, imprescindível à bodega de todo consumidor que queira apreciar o caráter de duas latitudes, dois solos, dois varietais feitos pelas mãos de um excelente enólogo, que é capaz de interpretar o “terroir” com suma precisão e talento gigantesco. Lembre-se de nos comunicar quaisquer alterações no envio do mês de julho, tais como alteração de quantidades, pedidos adicionais ou suspensão até o último dia deste mês de junho. Pedidos sujeitos à confirmação no estoque. 66 67 Vinho não é para ser complicado. É para ser desfrutado. Sociedade da Mesa c l ube de vinhos Experimente sem moderação. Seleção Seleção Mensal Seleção com entrega mensal na porta de sua casa com vinhos de alta qualidade técnica, variados em tipo e origem. Grandes Vinhos Seleção Trimestral Seleção trimestral que explora vinhos de origens e cortes fora do alcance da Seleção Mensal. Seleção Obras Primas Seleção Trimestral Seleção trimestral de vinhos com alto prestígio e reputação consagrada, apresentada por valores excepcionais. Receba uma, duas ou as três seleções, na porta da sua casa. [email protected] 0800 774 0303 www.sociedadedamesa.com.br