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Olhando o espelho dos outros
Olhar para o incômodo dos outros é mais fácil do que para o próprio
Por Carlos Oliveira
O único jeito de olharmos para nós mesmos
é usando um espelho. Seja no sentido figurativo ou no literal, podemos perguntar aos outros como somos mas, independentemente da
resposta, não fomos nós que nos vimos.
Ron Mueck sabe disso, e sabe muito bem.
Australiano, nascido em 1 958, trabalha no
momento com esculturas hiperrealistas na
Grã-Britanha. O “hiper” se refere ao respeito à
verossimilhança, mas não deixa de emprestar
uma ênfase especial, necessária à arte do artista. As obras de Mueck são grandes. Muito
Bebê – um recém-nascido ainda com cordão
umbilical
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grandes.
M u e c k
começou trabalhando com
modelos animatrônicos
feitos
para
propagandas.
Eles
muitas
vezes
eram
completos
parcialmente, Pé de Menino e pé humano
porque apenas
seções deles eram fotografadas. Insatisfeito
com isso, começou a fazer obras completas:
realistas sob todos os ângulos.
Em 1997, o artista revelou sua mais nova
obra na exposição Sensation, curada por um
grupo de artistas experimentais britânicos. A
obra de Mueck, Dead Dad, foi especialmente
controversa, uma vez que não só era uma representação do corpo do pai – falecido – do artista, como era extremamente fiel à realidade.
Sendo aproximadamente 2/3 do tamanho real,
Dead Dad chegou ao extremo de incluir pêlos
do próprio Mueck, o que já explica relativamente bem porque o artista seria considerado,
mais tarde, como hiperrealista.
A partir de então, Ron Mueck aprimorou-se
em esculturas gigantes de humanos. Elas são
fiéis, em cada detalhe, às suas representações. E são também incômodas, uma vez que
freqüentemente retratam pessoas em situações privadas – um garoto chorando, uma
mulher no parto, um casal seminu deitado. Ver
uma escultura de Mueck é como olhar pela
fresta da porta: você presencia, sem interferir,
um instante particular do outro. E assim como
as esculturas contam com corpos ampliados,
também contam com o aumento desses momentos privados: imperfeições tornam-se falhas. A proporção é exata, mas aumentam-se
as partes e a curiosidade
A obra de Mueck é uma foto com zoom
do espelho do outro. O congelamento e a ampliação de um momento desconfortável de
outrem são curiosamente atraentes. Talvez,
olhando para esse momento dos outros, esquecemos dos nossos. Mas há certeza que,
olhando Bebê, Menino e outras esculturas (ou
seres?) todos tentam não pensar em si mesmo
naquela posição, naquela situação e naquele
tamanho.
4
Menino e outras obras de Ron Mueck
Menino e outras obras do artista
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