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“A Traição das Imagens”
Ana Maria Silva Gomes, nº8368
Curso de Ciências da Arte e do Património , 1º ano
FBAUL, 2014/2015
Sumário
Introdução.................................................................................................................................. 1
Desenvolvimento....................................................................................................................... 2
1. O signo de Saussure......................................................................................... 2
1.1. Arbitrariedade do signo, significante e significado.................................. 2
1.2. Linearidade do signo................................................................................ 3
2. Arbitrariedade do signo em Roland Barthes................................................... 3
2.1. Significante e significado......................................................................... 3
2.2. Semiologia das imagens........................................................................... 4
2.2.1 Representação das imagens....................................................... 5
3. “La Trahison des Images”............................................................................... 5
Conclusão.................................................................................................................................. 6
Referências................................................................................................................................ 7
Resumo
Explora-se o conceito de arbitrariedade do signo, nomeadamente a arbitrariedade nos
conceitos de significado e significante de Saussure e o problema da semiologia das imagens
de Roland Barthes, interligando-os com o quadro do pintor René Magritte, “La Trahison des
Images”, demonstrando assim a diferença entre imagem e realidade.
Palavras chaves: significado, significante, semiologia, imagem.
Introdução
Este trabalho visa estabelecer uma ligação entre os conceitos apresentados por
Saussure, relativamente á arbitrariedade do signo e aos conceitos de significado e
significante, também abordados pelo seu discípulo Roland Barthes, mas incidindo no
seu conceito de semiologia das imagens, com o quadro do pintor surrealista René
Magritte, “Le Trahison des Images”.
Primeiramente irão ser analisados detalhadamente os conceitos relativos aos
respetivos autores, incidindo na diferença entre imagem e realidade, definindo-se
assim cada conceito com o tema.
Após esta abordagem, irá ser analisada a obra em questão e será interligada
com os conceitos referidos e analisados.
O trabalho inicia-se assim com uma análise ás obras de Saussure e de Roland
Barthes, onde os autores exaltam os conceitos de arbitrariedade do signo, significado
e significante, finalizando com uma conclusão acerca da ligação com a obra de
Magritte.
1 Desenvolvimento
1. O signo de Saussure
Segundo Saussure a língua consiste num sistema de signos que exprimem ideias,
sendo comparável a outros sistemas como o alfabeto dos surdos-mudos, ritos
simbólicos, entre outros. Entretanto, a língua em si sobressai a esses sistemas, por
estudar a vida dos signos no seu âmbito social. Saussure descreve no seu livro “Curso
de Linguística Geral” (1999) o significado de signo como sendo qualquer coisa que
está para outra coisa. O autor explica que “o signo linguístico une não uma coisa e um
nome, mas une conceito e uma imagem acústica”, definindo imagem acústica como
facto natural virtual da língua, diferente de qualquer realização ao nível da fala,
ligando também o “signo á combinação do conceito e da imagem acústica; mas no
uso corrente este termo designa geralmente só a imagem acústica”. Ambos os termos
implicados no signo linguístico são psíquicos e unidos no nosso cérebro por meio de
associação. Saussure diz também que o signo “é sensorial e se, por vezes, lhe
chamamos <material> é neste sentido e por oposição ao outro termo da associação, o
conceito, geralmente mais abstracto”. Portanto, o autor propõe “manter a palavra
signo para designar o total e substituir conceito e imagem acústica respectivamente
por significado e significante”, logo “o signo linguístico é, pois, uma entidade
psíquica de duas faces”.
Quanto ao uso de signo, Saussure diz que a língua comum não sugere
nenhuma outra terminologia, pois “se o aceitamos é porque não sabemos como o
substituir”.
1.1. Arbitrariedade do Signo, Significante e Significado
Após explicar o signo, Saussure divide-o então na união de dois conceitos, o
do significante e do significado, dizendo “uma vez que entendemos por signo o total
resultante da associação dum significante a um significado: o signo linguístico é
arbitrário”. Saussure utiliza um exemplo para demonstrar tal arbitrariedade que é a
cadeia de sons da palavra ‘pé’, explicando que a ideia de ‘pé’ “não está ligada por
nenhuma relação á cadeia de sons <p>+<e> que lhe serve de significante”, que
poderia ser representada por outra cadeia de sons, prova disso mesmo é a diferença
entre as línguas e a própria existência de diferentes línguas.
2 O autor afirma que “quando a semiologia estiver organizada, ela terá de
decidir se o seu campo abarca também os modos de expressão que assentam em
signos naturais”, e mesmo que os acolha, o seu principal objecto será o conjunto de
sistemas baseados na arbitrariedade do signo.
Posto isto, “qualquer meio de expressão recebido numa sociedade assenta, em
princípio, num hábito colectivo ou, o que resulta no mesmo, numa convenção.”, como
por exemplo, as formas de cortesia adoptadas nas diferentes culturas, são tidas como
uma convenção por ser um hábito colectivo, ou seja, todas a gente o faz.
1.2. Linearidade do significante
O significante, por ser de natureza auditiva “desenvolve-se no tempo e ao tempo
vai buscar as suas características: a) representa uma extensão, e b) essa extensão é
mensurável numa só dimensão; é uma linha”. Saussure diz que, por oposição aos
significantes visuais, como por exemplo sinais marítimos, que podem causar
complicações simultâneas em várias dimensões, os significantes acústicos dispõem
apenas da linha do tempo, aparecendo mais nítida quando os representamos na escrita:
“a linha espacial dos sinais gráficos substitui a sucessão no tempo.”
2. Arbitrariedade do Signo em Roland Barthes
Roland Barthes foi um dos discípulos de Saussure continuando o seu estudo sobre
o signo e a sua arbitrariedade, que mais uma vez pode ser definido “como a união de
um significante e de um significado”. Após analisar o estudos de Saussure, Barthes
apercebe-se que, apesar da definição do signo, continuava a existir uma certa
ambiguidade, pois havia a tendência para tomar o signo como o significante e não
uma união de significado e significante. “O signo semiológico, tal como o seu
modelo, é composto por um significante e um significado (...) mas afasta-se dele ao
nível das substâncias.”
Barthes realiza um estudo mais aprofundado relativamente ao significado e ao
significante de forma a derrubar tais ambiguidades.
2.1. Significante e significado
Em relação ao significante e ao significado, Barthes defende que o plano dos
significantes “constitui o plano de expressão e o dos significados o plano do
3 conteúdo”, e citando o estudo de Hjelmslev, o autor analisa dois strata a que cada
plano comporta: a forma e a substância. A forma pode ser descrita com coerência
exaustiva e simplesmente pela linguística, sem recorrer a premissas extralinguística
(entenda-se por extralinguística algo que é exterior á língua), por outro lado a
substância é o conjunto dos fenómenos linguísticos e este não podem ser descritos
sem recorrer a premissas extralinguística. Estes dois strata aparecem nos planos de
expressão e de conteúdo, isso leva-nos a quatro noções: 1) uma substância de
expressão, como a substância fónica articulatória, não funcional, estudada pela
fonética e não pela fonologia; 2) uma forma de expressão, constituída pelas regras de
sintáticas e paradigmáticas, mas que da mesma forma pode ter duas substâncias
diferentes, uma fónica e outra gráfica; 3) uma substância de conteúdo, que são os
aspectos ideológicos, emotivos ou apenas nocionais do significado, segundo Barthes
“...o seu sentido “positivo””; 4) uma forma do conteúdo, é a organização formal dos
conteúdos entre si, através da ausência ou da presença de uma marca semântica; esta
última noção é difícil de apreender pela impossibilidade de separar os significados
dos significantes.
Ao analisar os diferentes estudos realizados aos conceitos de significante e
significado, o autor concluí que “todos insistem no facto de que o significado não é
<<uma coisa>> mas uma representação psíquica da <<coisa>> (...) portanto só
podemos dizer que a substância do significado é sempre material (sons, objectos,
imagens).”
2.2. Semiologia das imagens
No seu livro “Retórica das Imagens”, Roland Barthes coloca várias questões
relativamente á representação das imagens, destacando-se a questão que coloca
inicialmente: “pode a representação analógica (“a cópia”) produzir verdadeiros
sistemas de signos e já não apenas simples aglutinações de símbolos?”. Posto isto, o
autor faz uma análise á imagem enquanto “re-presentação”, explicando esse conceito
como “uma ressurreição, e, como é sabido, o inteligível é tido como avesso, em
relação á experiência vivida.”
O autor recorre ao exemplo de um artigo publicitário, neste caso a uma “marca de
comida italiana” francesa, e analisa-a, desde a disposição dos elementos na imagem,
4 destacando três mensagens: uma linguística, uma mensagem icónica codificada, e
uma mensagem icónica não codificada.
Concluindo que “se a imagem é de uma maneira o limite do sentido, permite
considerar uma verdadeira ontologia do processo de significação.”
2.2.1. Representação das imagens
Através da análise á imagem publicitária que o autor dá de exemplo, e com as
mensagens fornecidas, ele coloca duas questões pertinentes relativamente ao sentido
da imagem, “como é que o sentido adere á imagem? Onde acaba o sentido?”
O sentido da imagem é então relacionado com o signo, estando ligado
diretamente á mensagem transmitida pela imagem, “o signo desta mensagem já não é
extraído de uma reserva instituída, não é codificado, e ficamos perante o paradoxo de
uma mensagem sem código”, ou seja, uma imagem por si só.
Em suma, o autor conclui que:
Ora, sabemos que um sistema que toma os signos de outro sistema
para formar os seus significantes é um sistema de conotação;
diremos, assim, imediatamente que a imagem literal é denotada e a
imagem simbólica conotada (...) (Roland Barthes, 1964/1992: 8)
3. “La Trahison des Images”
Em relação ao quadro do pintor surrealista francês René Magritte, realizando
uma breve análise formal da obra, poderemos descrever como um quadro de caráter
realista, representa um cachimbo comum, mas com a particularidade de contemplar a
frase “Ceci n’est pas une pipe”, ou seja: Isto não é um cachimbo. Á primeira vista o
observador poderá pensar- Isto é um cachimbo, o que o leva a repensar no que vê e,
através de alguma análise mental, observar que de facto, embora seja representado um
cachimbo, o quadro em si não é um cachimbo mas uma imagem, ou seja, uma
representação de um cachimbo.
Com a análise ao estudo de Roland Barthes podemos concluir isso mesmo,
uma imagem de um objecto não é o objecto em si mas sim uma “re-presentação”,
neste caso da realidade.
O título da obra tem mesmo esse impacto, a traição das imagens, a traição da
representação do real; por vezes as representações do real conseguem obter uma
5 realidade maior que a do próprio real, mas será isso possível? Algo mais real que o
real?
Assim como o signo, é necessário apreender o significado e o significante,
neste caso não na linguística mas podemos transportá-lo para a representação das
imagens. Pegando no exemplo do quadro descrito em cima, a imagem do cachimbo
por si é rapidamente apreendida, pois o significado já está em nós, ao olhar para a
imagem conseguimos compreender o que nela está a ser representado, mas para
conseguirmos apreender o verdadeiro significado da imagem disposta á nossa frente
temos de passar por uma reflexão mental, ajudada pelo texto, levando-nos assim a
uma melhor apreensão do significante dado.
Posto isto, ao contrário da linguagem, as imagens não despendem tanto de
arbitrariedade, mas para as compreendermos, muitas vezes teremos de nos auxiliar
pela linguagem.
Figura 1: René Magritte, “La Trahison de Images (Ceci n’est pas une pipes.)”, 1929
(Los Angeles County Museum of Art)
Conclusão
Saussure desenvolveu a linguística a um elevado nível, definindo o signo e a
importância deste numa sociedade em que a linguagem e a comunicação se baseiam
neste princípios, quase de maneira inconsciente. O autor definiu assim signo como a
união de significante e significado, estando o significado intrinsecamente relacionado
com o significante, dependendo deste.
Roland Barthes desenvolve estes conceitos, abrindo novos caminhos á
compreensão do signo. Desenvolve também o conceito de semiologia, ligado aos
6 conceitos de Saussure, e desenvolve-o aplicando-o ao mundo das imagens e da
representação.
Através destes conceitos, foi possível estabelecer a ligação com o quadro de
René Magritte, “Le Trahison des Images”, explicando a ambiguidade na
representação da realidade, e como a linguística está presente.
Referências
BARTHES, Roland (1989) “Elementos de Semiologia”, Lisboa: Ed. 70;
BARTHES, Roland (1964/1992) “Retórica das Imagens”;
Los Angeles County Museum of Art (LACMA) René Magritte [Consult. 2015-01-13
22h19Z]. Disponível em <URL:
http://collections.lacma.org/node/239578
SAUSSURE, F. (1999) “Curse de Linguística Geral”, Lisboa: Dom Quixote.
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