Livreto Entrelaçando Histórias

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Livreto Entrelaçando Histórias
Projeto Entrelaçando Histórias
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Prefácio
Ana Gern
“Amar é ao mesmo tempo simples e forte,
pacificante e incentivador. Custa exatamente
o preço ao mesmo tempo doloroso e
alegre de tantas paciências e impaciências
entrelaçadas”.
Risco da década de 20,
bordado por Jutta Hagemann
(1980).
Abade PIERRE
E
ste livreto coordenado por Ana Gern e realizado pela
Sociedade Cultural Alemã de Joinville se insere no
projeto”Entrelaçando Histórias”, aprovado pela Lei de
Incentivo à Cultura, ao Turismo e ao Esporte- SEITEC, do Governo
do Estado de Santa Catarina.
O bordado é uma das mais fortes expressões culturais dentro da
categoria do artesanato, mas se constata que há pouco conhecimento
sobre as raízes históricas do bordado alemão, bem como são quase
inexistentes os registros a respeito em Joinville e região.
O objetivo do projeto foi recuperar essa expressão cultural,
trazida pelos nossos imigrantes, sendo de início realizado pesquisa
sobre a história e as técnicas do bordado desde as suas mais
remotas origens, bem como o conhecimento do bordado no Brasil,
em Santa Catarina e em Joinville. As informações foram levantadas
pela historiadora e professora Raquel S.Thiago e pela especialista
em design Ana Gern, junto às bordadeiras e familiares da região
de Joinville e arredores, ao Arquivo Histórico de Joinville, ao Museu
Nacional da Imigração de Joinville, à Sociedade Cultural de Joinville,
bem como internet e literatura especializada.
Uma vez obtidos os dados, o seguinte passo foi registrar
nesse trabalho o ensaio”Uma História do Bordado no Tecido
Social”, redigido por Raquel S.Thiago e também descrever no
artigo”Entrelaçando Histórias”os tipos de pontos e maneira como
são executados, extraídos dos diversos”Wandschoner”observados
no decorrer das entrevistas.
Uma das tradições que foram trazidas pelos nossos imigrantes
alemães, eram os”Wandschoner”, os protetores da parede, que
serviam de adorno e para decoração interna das casas, com frases
escritas em alemão, dando boas vindas aos visitantes e abençoando
suas casas.
Tendo como referência esses bordados, o próximo passo foi
desenvolver uma coleção de almofadas por Ana Gern, fazendo
releitura da aplicação desses pontos, resultando em almofadas
poéticas cheias de AMOR, ALEGRIA E PAZ.
Essas almofadas,desenvolvidas como linha do tempo entre
passado e presente, foram cuidadosamente bordadas nas três
oficinas oferecidas gratuitamente, dando continuidade a esta
importante expressão cultural que é o bordado.
Finalizando o projeto, foi concebida uma exposição da
coleção desenvolvida nas oficinas e de bordados antigos já
existentes na Casa da Memória, aberta a todo o público de
Joinville, possibilitando conhecer as raízes culturais desse gênero
de artesanato.
Esse projeto fez renascer uma ebulição de conhecimentos,
de sentimentos, de histórias, de sonhos que não podem
morrer. Temos que dar continuidade caminhando para um
aprofundamento na pesquisa, consolidando concretamente essa
conexão entre o passado e o presente.
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Projeto Entrelaçando Histórias
Agradecimentos
“Ninguém trabalha sozinho. Tenho certeza
de que somente a imersão de várias pessoas
juntas num trabalho forma um processo
criativo”.
Jaime Lerner
À equipe:
Daisy Dalberto - designer gráfica
Leni Zimmermann - professora das oficinas de bordados e bordadeira das
amostras
Luzie Pries - costureira das almofadas
Nelci Teresinha Seibel - assessoria de imprensa
Raquel S.Thiago - pesquisadora
Às entrevistadas:
Adelina Lenshow - Ângela Tiburtius - Brigitte Brandenburg - Carmen
Gehrmann - Ingrid Welling - Irene e Adenide Bozler - Iris Eberhardt Boldt
- Jutta Hagemann - Lenir Borges - Maria Eugênia Jensen - Norma Jahn
Baumer - Regina Colin - Rosita Larson da Silveira - Ondina Kunde - Wally
Schossland - Yolanda Daher
Às que emprestaram com amor os bordados antigos:
Ângela Tiburtius - Brigitte Brandenburg - Claudete Tereza Rodrigues Iris Eberhardt Boldt - Jutta Hagemann - Lídia Brandenburg - Margit Olsen
- Maria Eugênia Jensen - Myrta Trinks - Norma Kricheldorf - Raul Gern Rosita Larson da Silveira - Rosvita Gehrmann - Verônica Pabst
Aos colaboradores:
Brigitte Brandenburg - apoio na pesquisa
Juliana Silveira - apoio nas fotografias
Héctor Hugo Robles - apoio na exposição
Margit Olsen - apoio na organização
Regina Colin - apoio nas traduções
Sônia Regina Lourenço - coordenadora do Museu Nacional de Imigração
As instrutoras e aos grupos da Fundação 25 de Julho
Uma História do
Bordado no Tecido Social
Raquel S.Thiago
“acredito firmemente que o bordado seja a linha que conecta
as mulheres em todos os séculos da nossa história”
Lee Albrecht
o utilizarmos agulha e linha para bordar, estamos
praticando uma das mais antigas artes aplicadas da
história. Sua função é essencialmente estética. Afirmase que o bordado tenha se originado com o ponto cruz de que
se tem registros desde a pré-história. Descobertas arqueológicas
revelam que o ponto cruz era usado na costura das vestes, em
geral feitas com peles de animais. Mas como bordar sem agulhas
e fios? Bem, a criatividade encarregou-se de transformar ossos
em agulhas e as tripas de animais ou fibras vegetais no material
mais adequado para suas confecções. Com o passar dos milênios
chegaram as modernas linhas de bordar, fabricadas com os
mais diversos materiais, das fibras vegetais ao ouro. Um fóssil,
encontrado na Rússia, cujas vestes eram adornadas com grânulos
de marfim, nos faz acreditar que o bordado com aplicações já era
apreciado pelo homem há 30 mil anos a.C.
Nas civilizações antigas que se desenvolveram na
Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates região do atual Iraque,
o bordado foi muito cultivado. Em várias passagens da Bíblia há
referência à arte de bordar. Lee Albrecht em seu texto”História de
um bordado”relata que encontrou na Bíblia, o livro mais antigo
da humanidade, que as mulheres bordavam e transmitiam seus
sentimentos mais íntimos já desde a antiguidade. No livro de
Provérbios (970-700 a.C.) há uma passagem que diz: busca lã e
linho e de bom grado trabalha com as mãos...faz para si cobertas,
veste-se de linho fino e púrpura (1).
Homero fala dos bordados de Helena e Andrômaca, nos
quais essas princesas documentaram episódios da guerra de
Tróia. Vários exemplos de belos bordados e indícios de um
excelente trabalho das civilizações antigas ainda hoje sobrevivem.
As amostras podem ser encontradas desde o Antigo Egito, China,
Pérsia, Índia e Inglaterra.
A
Se quisermos definir como se opera o bordado,
podemos dizer que, com muita habilidade manipula-se uma
agulha em um determinado ponto com o uso de fios de
lã, seda, ouro, prata, etc., de forma a formar uma figura.
Existem dois tipos de bordado, o”platt- stickerei”e o
“erhaben-stickerei”. O primeiro é um bordado plano, também
conhecido como bordado francês – sobre lã ou tela. Com
modelos próprios, é uma das formas mais fáceis e mais populares
de bordado. O segundo, é mais difícil, exige muita prática pois é
usado na elaboração de letras, nomes, algarismos, flores, brasões
ou outros modelos sobre musselina, casimira, seda, veludo,
algodão”Battist”, incluindo pontos de base para lenços, echarpes,
golas, faixas, vestidos de baile, bandeiras e escudos, toalhas para
altar, etc. Este bordado envolve realmente trabalho artístico.
A partir da era das grandes navegações que promoveram
intenso intercâmbio cultural entre os povos, uma infinidade de
novidades chegou ao ocidente. O ponto cruz disseminou-se pela
Europa, Ásia e Estados Unidos, principalmente pela Inglaterra
onde, em 1598, foram encontrados os primeiros trabalhos. Os
europeus apropriaram-se de muitas técnicas orientais, mas cada
país acabou definindo seu próprio estilo de bordar. São reflexos e
imagens da sua história, sua cultura e tradições.
Apesar de ser acessível à população em geral, o bordado
transforma-se em verdadeira jóia quando na sua execução são
empregados fios de ouro, prata e seda com muito luxo e ostentação.
Esse bordado acabou por tornar-se um símbolo de riqueza e
poder. No entanto, complementa-se, também, o bordado, com
materiais mais rústicos, como sementes, conchinhas, palha,
contas de vidro ou de madeira, etc., de modo que pode ser usado
e apreciado tanto por um”marajá”oriental, como por pessoas de
poucas posses. Na verdade, tanto os materiais como as fontes
Projeto Entrelaçando Histórias
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:: Uma História do Bordado no Tecido Social
de inspiração estão neste vasto manancial que é a natureza: o
mar, as florestas, as montanhas, os rios, e sua beleza sempre está
ligada à excelência do artista que o executa. De fato, o bordado é
uma arte aristocrática por um lado, e democrática por outro.
Por volta do século sete em diante, o bordado tornouse algo comum na Europa, intensificando-se de modo tal que
abadias e mosteiros se transformaram em verdadeiras oficinas
de artesanato. Muitas mulheres trabalhavam nesses conventos,
onde bordavam os ornamentos para as igrejas, alimentando quase
uma indústria de bordado que teria atingido alto padrão de luxo e beleza.
Também nos castelos o bordado fazia parte do cotidiano de rainhas e suas
damas. Daí surgiram, em bordados, armas, brasões, escudos e pendões
bordados a cores e em ouro e prata.
No século dezesseis difundiu-se o costume de bordar cenas
semelhantes a pinturas, reproduzindo temas religiosos, históricos,
assim como cenas do cotidiano, levando-nos a pensar que à
medida que o bordado se tornava uma técnica variada em pontos
e temáticas, associava-se a outras artes como o desenho e a
pintura. Assim, em geral os desenhos a serem bordados passaram
a ser cópias daqueles que os artistas ou desenhistas criavam.
A invenção das técnicas de impressão por Gutenberg, no
século XV, permitiu que o saber deixasse de ser um privilégio dos
abastados, mudando drasticamente o mundo inteiro: para além
de aperfeiçoar a escrita e facilitar a leitura, os textos poderiam
facilmente ser feitos de uma forma rápida e eficaz. A cultura e
o conhecimento, até então considerados privilégios aristocráticos
apenas acessíveis a determinadas classes, passam a popularizar-se
pela tipografia, dando, desta forma, oportunidades iguais para
quem quisesse alargar seus conhecimentos e instruir-se (2).
Para o bordado, a fabulosa invenção trouxe os livros com
modelos e amostras variadas, instruções para a execução dos
diversos pontos, enfim, libertou as bordadeiras dos privilégios
dos”iluminados”. Os diferentes tipos de bordado então,
disseminaram-se no mundo inteiro. O Brasil que por cerca de
300 anos foi colônia de Portugal, manteve seu território com
dimensões continentais e, através da imigração européia, africana
e asiática teve oportunidade de dialogar com diferentes tradições
culturais, refletindo-se também no bordado.
Na Idade Média encontramos o Bordado de Blackwork,
executado por Catarina de Aragão, casada com Henrique VIII,
em 1509, época em que, o bordado era ensinado e restrito às
mulheres da corte Até à Renascença o bordado foi empregado
quase exclusivamente para ornamentar as vestes religiosas ou civis.
A partir daí o bordado
passou a ser usado
mais amplamente, em
decoração de interiores,
tapeçaria, nos móveis
estofados, bandôs. A
Itália destaca-se, neste
período, como o centro
de todas as artes e seus
bordados tornaram-se
referência para toda a
Europa.
Pode-se encontrar,
em museus da Europa,
pedaços de tecidos
bordados no século
Sampler ou Panos de Amostra
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Projeto Entrelaçando Histórias
dezoito, que recebem o nome de Sampler ou Panos de Amostra.
Neles, as mulheres começaram a bordar as letras do alfabeto,
situações típicas do seu mundo tais como casas, árvores, animais,
plantas. Encontramos nesses panos, muitas vezes, referências, a
versículos Bíblicos e poemas; elas copiavam e bordavam as letras, já
que nessa época a leitura e a escrita eram restritas aos homens (3).
O século dezessete foi o marco dos bordados em toalhas
de mesa, e o século XVIII das roupas íntimas, dando origem ao
bordado a branco, assim chamado porque se executa sobre toda
espécie de tecido branco, com linhas de algodão, linho ou torçal
da mesma cor do fundo. O bordado a branco também abrange o
mesmo gênero de trabalho feito com cores delicadas, tom sobre
tom. Os pontos mais empregados no bordado a branco são os do
bordado de passagem, que se faz executando os contornos e as
nervuras do desenho com pontos também chamados de passagem,
e depois preenchendo-os com esses mesmos pontos (4).
A essa variedade pertence o bordado recortado ou festão, que
consiste em bordar e recortar o tecido, sem que desfie, seguindo
os contornos de um desenho denteado. As variações desse tipo
de bordado são o ponto veneziano, o ponto renascença e o ponto
richelieu. O bordado a cheio, ou ponto real, se faz sobre tecidos
leves, como a cambraia, a opala, a batista e a musselina, por meio
de um ponto horizontal que abraça o tecido tanto embaixo quanto
em cima. O bordado inglês mistura o bordado de recorte e o cheio.
O bordado de renda executa-se puxando fios de um tecido leve ou
com aplicações mais ou menos complicadas (5).
O bordado madeirense aplica várias dessas variações de
pontos e técnicas, mas adquiriu um estilo próprio disseminandose por vários continentes. Existe desde o início do povoamento
do arquipélago, mas foi só a partir da segunda metade do
século dezenove que este produto manufaturado começou a ser
reconhecido como mercadoria do sistema de trocas da ilha da
Madeira com o exterior e entrou na economia familiar de muitos
madeirenses. É muito apreciado no Brasil.
Com o passar do tempo e de um intenso intercâmbio
cultural, definiram-se três tipos de bordado: o bordado a branco,
o bordado de cor, que inclui os trabalhos de ouro e prata, e o
bordado sobre tela, que inclui a tapeçaria, executado a agulha
com lãs ou sedas. Consiste o bordado de cor no uso de fios
tintos em todas as cores e tons, e de fios de ouro e prata; já foi
empregado pelos povos orientais. Os principais bordados de cor
são os bordados de aplicação ou em relevo, o bordado mosaico,
o recamo, o bordado de transporte e a guipure. O bordado de cor
tradicionalmente se faz representar nos trabalhos folclóricos em
todo o mundo, bastante valorizados. Neste aspecto o Brasil soube
muito bem tirar proveito das suas cores e luminosidade de país
tropical, principalmente para ornamentar as fantasias dos desfiles
de carnaval. O bordado de aplicação ou em relevo é aquele cujos
ornamentos sobressaem e ganham relevo graças à colocação, por
baixo dos pontos, de algodão, feltro, cartão ou pergaminho, que
os sustêm. No bordado mosaico, reúnem-se pedaços de tecido de
diversas cores. (6)
Já o bordado de transporte se executa trabalhando as
partes do desenho em separado, para depois colocá-las sobre
o tecido-base. O recamo é obtido cosendo-se no tecido-base
galões, cordões e passamanaria, por meio de pontos bem juntos.
Na guipure, uma série de bordados de aplicação se mistura,
incluindo-se, em geral, entre seus elementos ouro, prata e pedras
preciosas. Os paramentos litúrgicos quase sempre são bordados
:: Uma História do Bordado no Tecido Social
nesse tipo (7). Pertencem também a essa categoria o bordado
a matiz, conhecido como pintura a agulha, pois os fios estão
dispostos de modo a imitar o mais possível a coloração natural dos
objetos e o bordado de cadeia, gênero antigo e muito empregado
no Oriente, que se fazia com os dedos e agulhas de coser. Mais
tarde passou a ser executado com agulhas de crochê; e o ponto
de nós, que se produz com uma seqüência de nós simples, cegos,
ou corrediços, que formam uma roseta (8).
No bordado árabe, o ouro, a prata e as pérolas reúnem-se com
fios de cor, ora sobre tecidos transparentes, gazes ou musselinas,
ora sobre tecidos espessos e até couro, para aí desenhar modelos
da maior fantasia. As letras árabes entrelaçadas, ou arabescos,
dão a esse bordado seu cunho particular. O bordado chinês e o
japonês usam uma variedade enorme de tonalidades de fios, o
que lhes confere efeitos de luz e de cores de grande beleza (9).
Bordado chinês
O bordado sobre tela ou talagarça executa-se sobre um
tecido de trama frouxa, que serve de guia para contar os pontos;
uma vez pronto o trabalho, a tela é desfiada, deixando sobre o
tecido-base apenas o bordado. A tapeçaria também emprega
os pontos contados sobre um fundo de tela que permanece.
Tem esse nome porque o resultado final do trabalho aparenta
a tapeçaria tecida no tear. Pode ser feita com lãs, sedas ou fios
metálicos (10).
No início do século vinte surgiu o bordado a máquina. Esse
tipo de bordado requer bastante trabalho por parte do bordador,
que tem de movimentar braços e pernas para bordar e tem pouco
rendimento comparado a outras formas de bordar. Na década
de cinqüenta, surgiu o bordado em máquina de costura zig-zag
industrial, garantindo uma produtividade maior, exigindo do
bordador, entretanto, mais habilidade e agilidade. Acompanhadas
de softwares de criação, aliaram ao antigo prazer de bordar, a
facilidade, a praticidade, a produtividade e a elevação da renda.
Desde seu surgimento, as bordadeiras eletrônicas e os softwares
de criação de bordados têm sido aprimorados constantemente. A
cada ano surgem novos modelos com mais recursos para facilitar
o trabalho dos bordadores. A partir das bordadeiras eletrônicas
cresceu muito o número de homens envolvidos no trabalho de
bordados, tanto na parte de software quanto na operação das
máquinas (11).
A indústria do bordado do nosso tempo tornou-se popular
na roupa feminina no início do século dezenove, nos anos vinte.
Desde essa época tornou-se um trabalho muito afeito ao público
feminino. A cada mudança na moda, aumentava o interesse,
valorizando sobremaneira o bordado, tanto nos trabalhos mais
simples como em peças de alto luxo. Tornou-se especialmente
forte na França, Suíça, Saxônia, Würtenberg e Inglaterra, e iniciou
em tempos mais recentes na Áustria, Silésia e Bélgica (12).
O bordado no Brasil - No Brasil a arte do trançado e
da tecelagem indígena, são referência importante quando falamos
do artesanato nativo. Darcy Ribeiro, antropólogo apaixonado
pela cultura dos povos indígenas da América, destaca a arte de
trançar e tecer ; as vestimentas e as máscaras de entrecasca, feitas
pelos Tukuna e primorosamente pintadas; as admiráveis redes ou
maqueiras de fibra de tucum do Rio Negro; as belíssimas vestes
de algodão dos Paresi que lamentavelmente, só se podem ver nos
museus (13).
No entanto, a colonização portuguesa, acabou por
trazer ao Brasil não somente a cultura européia mas também a
africana, resultando em interessante intercâmbio cultural. Ao
incorporarem em seus trajes elementos da cultura européia,
como saias com bico de renda, batas e camisus bordados em
richelieu, as mulheres negras por meio de uma simbologia
contida na vestimenta, exprimiam características do panorama
cultural, histórico e econômico no qual possuíam determinadas
funções e papéis sociais (14). O ponto richelieu surgiu na Europa
do século quinze, como um tipo de bordado intermediário entre
o bordado tradicional e a renda, que só apareceria tempos
depois.”Relacionado diretamente ao emprego do bordado às
roupas brancas, esse tipo de bordado intermediário distinguese por sua técnica, realizada com pontos cortados – os picots –
aplicados sobre um fundo de tecido aberto, no qual os fios foram
sendo delicadamente retirados até formarem verdadeiros vazios
entre os motivos (15)”.
Bordado Richelieu
A denominação richelieu tem origem na França entre 1624
e 1642, pelo uso freqüente nos paramentos de Armanol Jean
du Plessis, cardeal e duque de Richelieu. Curioso que o nome
de origem francesa tenha sido tão apropriado pela cultura afrobrasileira, a ponto de ser um dos símbolos da elegância na roupa
das baianas de acarajé. Marca da relação de um povo com
a sociedade de sua época, os tecidos, ferramentas religiosas e
Projeto Entrelaçando Histórias
5
:: Uma História do Bordado no Tecido Social
adornos ultrapassaram as barreiras do tempo e do espaço e hoje
são, ao mesmo tempo, documentos históricos, peças estéticas e
por vezes sagradas, verdadeiros símbolos de resistência, identidade
e auto-afirmação (16).
Num país como o Brasil não é de admirar que manifestações
culturais trazidas por tantas correntes migratórias nos quinhentos
anos de nossa história, tivessem sofrido, de uma forma ou de
outra, adaptações à medida que interagiam com o meio ambiente.
Assim, as várias regiões do Brasil desenvolveram seus modos
de bordar, de acordo com suas especificidades e interesses. Em
algumas regiões o bordado tornou-se interessante gerador de
emprego e renda: Eis exemplos que merecem ser citados:
riqueza é uma das suas especificidades. O livro”Feito a mãos”- O
Artesanato em Santa Catarina, nos brinda com um texto que diz
com rara inspiração sobre esta riqueza:
“difícil saber o que causa maior encantamento:
os movimentos apressados das mãos que
cruzam os bilros para produzir um dos semnúmeros de pontos de renda, a calmaria
metódica das tesouradas que, de miolo em
miolo, dão vida ao richelieu ; o ritmo enérgico
e contínuo da batida do pente de um tear ou
o passear de agulhas que bordam coloridas
flores. Cada uma dessas técnicas que, há
séculos transformam fio em obras de arte,
revela um pouco da própria personalidade da
artesão que a adotou (...) ¨
Bordados da Caatinga (PI): Localizado a 615 quilômetros
de Teresina, Dom Inocêncio é um município situado no sul do
Estado do Piauí. Com 10 mil habitantes, a economia da cidade
se sustenta principalmente da agricultura de subsistência e da
pecuária. Foi em Dom Inocêncio que surgiu, em 1963, o projeto
Bordados da Caatinga, com o objetivo de fazer com que o
homem sertanejo permaneça na sua terra natal, para que não
seja obrigado a migrar para as grandes cidade no período da
seca.
A tradição local do bordado começou a ser ensinada
na escola do município, para as meninas, e tornou-se uma
das mais importantes ferramentas de geração de renda nos
longos períodos de estiagem. Trata-se do resultado de um forte
trabalho educacional, e um dos patrimônios da localidade.
Conseqüentemente foi criada a marca”Bordados da Caatinga”que
expandiu as possibilidades de comercialização. Atualmente são
conhecidos nacional e internacionalmente e comercializados
em países como Estados Unidos, França, Itália, Alemanha e
Inglaterra.
Bordados de Ibitinga (SP): Ao longo dos anos a produção
do bordado, em Ibitinga, consolidou uma cadeia produtiva que
engloba cerca de 2.100 estabelecimentos comerciais, industriais e
de serviços, responsáveis por aproximadamente 35 mil empregos
diretos e indiretos (dados de 2010) (17).
No Ceará o bordado é, junto da agricultura e da pesca,
uma das fontes de sustento de diversas localidades e tornou-se
uma alternativa para as mulheres das comunidades litorâneas,
enquanto esperavam seus maridos voltarem da pesca, que durava
vários dias. Uma das características do bordado da região são as
formas geométricas criadas em peças de linho. O tecido recebe
uma espécie de goma para ficar mais rígido e depois é trabalhado
à mão, seja cortando, desfiando ou cozendo, dependendo do
efeito que se queira dar à renda. Essa técnica, que também é
conhecida por labirinto, faz muito sucesso entre os que visitam o
Estado devido à perfeição com que é executado (18).
Assim como no Piauí, em São Paulo e no Ceará, outras
regiões, cada qual a seu modo, como já foi dito, desenvolve
atualmente o bordado já reconhecido como fonte de renda
alternativa.
O Estado de Santa Catarina é privilegiado, na medida
em que recebeu, em seu território diversas correntes migratórias:
portugueses, africanos, açorianos, alemães, italianos, ucranianos,
poloneses, além dos indígenas que aqui se encontravam e já
desenvolviam diversos tipos de artesanato. Pode-se afirmar que o
Estado de Santa Catarina constituiu-se num mosaico cultural cuja
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Projeto Entrelaçando Histórias
O crivo é um dos bordados mais típicos da herança açoriana.
Parte da desconstrução do tecido, que precisa ser todo desfiado
no bastidor:”depois é tapar, urdir e casear”(19). Assim como
as mulheres nordestinas bordam durante à espera do marido
pescador, as açorianas faziam a renda de bilro, quando seus
maridos lançavam-se ao mar e demoravam meses e meses. Este
costume foi trazido para Santa Catarina. Assim surgiram, além
do crivo e da renda de bilro, o ponto labirinto, o ponto corrente
açoriano, o ponto corrente alemão, ou ponto Blumenau, o ponto
perna cheia. A rebuscada sinuosidade de flores e folhas do bordado
richelieu difundiu-se Brasil afora e estão presentes também em
Santa Catarina.
Bordado de Crivo
O bordado ucraniano, que também entrou em Santa
Catarina pelas mãos da mulher imigrante, é caracterizado
principalmente pelas cores vermelho e preto. Porém, dependendo
da mensagem pretendida, podem aparecer o verde, o amarelo
e o azul. As formas geométricas e a simbologia cristã ucraniana
são o ponto forte deste bordado, cultivado no Planalto Norte de
Santa Catarina, como Mafra, Itaiópolis e Rio Negro, Canoinhas e
localidades vizinhas.
:: Uma História do Bordado no Tecido Social
O bordado em Joinville
E
m Joinville o bordado tem forte influência dos colonizadores
europeus que fundaram, em 1851, a Colônia Dona
Francisca. Esses colonos trouxeram consigo sua cultura,
conhecimentos e tradições, os quais tentaram reproduzir no
Brasil. Embora as listas dos navios registrem a entrada de muitos
lavradores na colônia, sua chegada demarcou um incremento
técnico em profissões como marceneiro, funileiro, sapateiro,
tecelão, oleiro, e tantas outras necessárias ao desenvolvimento de
um núcleo de colonização.
Com eles chegaram, igualmente, o teatro, a poesia, o jornalismo,
a dança, a música e o artesanato, em boa parte representado
pelos bordados em tecidos e tapeçarias. Apesar disso, não
podemos considerar que em Joinville construiu-se uma cultura
exclusivamente européia. É sempre bom lembrar que ao imigrante
não cabe simplesmente transpor sua cultura, mas adaptá-la ao
novo ambiente, e com ele interagir. Muitas receitas da culinária
alemã viram-se modificadas no momento em que se substituía
a farinha de trigo pela farinha de milho ou mesmo a mandioca.
Assim como na culinária, a arquitetura sofreu modificações,
embora refletindo fortemente a cultura européia.
Nessa ótica, podemos supor que o bordado, nos primeiros
tempos, dependia da existência de tecidos importados, assim
como de fios, de agulhas e tudo mais que fosse necessário. Na
falta desses produtos, ou ficava-se sem bordar, ou buscava-se
uma forma criativa de suprir tais necessidades. Como o bordado
não é uma atividade essencial à sobrevivência humana, supõe-se
que nos primeiros tempos quem os apreciasse, entre os menos
abastados, teria que cuidar muito bem daqueles que fizeram parte
da sua bagagem. A maioria dos colonos era de origem humilde
e vítima da grave crise econômica e social que invadira o Imperio
Alemão no século dezenove, motivo pelo qual a maioria deles
buscou a sobrevivência em outros continentes.
Um anúncio de 20 de fevereiro de 1864, permite constatar
a dependência de produtos importados não somente na Colônia,
mas em todo o Brasil. No entanto, demonstra que, apesar da
dependência, o comércio crescia aceleradamente nos primeiros
treze anos da Colônia Dona Francisca:
Diretores da Colônia ou acionistas da Companhia Colonizadora
de Hamburgo.
Apenas sete anos após fundada a Colônia, em 1858, surgiu
a Sociedade Ginástica de Joinville não somente como um órgão
agregador entre colonos, mas também como reflexo da grande
campanha de reestruturação da ginástica verificada em toda a
Alemanha. Em janeiro de 1863, o associado Sr. Hermann Lepper
lançou a idéia da aquisição de uma bandeira para a Sociedade.
Naquele momento de união de forças para fazer vingar a
ainda débil colônia, a idéia foi aceita por todos, que resolveram
arrecadar o dinheiro necessário até julho daquele mesmo ano,
para que se pudesse encomendar, da empresa Hietel, de Leipsig,
Alemanha, uma bandeira bordada, cujo simbolismo significasse o
papel daquela sociedade para o desenvolvimento da Colônia Dona
Francisca (20).
Foi com orgulho que a população ficou sabendo, pela
edição de 15 de setembro de 1866 do Kolonie Zeitung, que”Uma
bandeira, com magnífico bordado, de J.H. Hietel, em Leipzig, no
valor de 109 taleres, chegou no último navio de imigrantes (Marie
Block) para a nossa Sociedade Alemã de Ginástica”. Na edição de
24 de novembro de 1866, o jornal comentava as comemorações
do décimo segundo aniversário da sociedade, cujo ponto alto fora
a sagração da bandeira.
Em 1874 o bordado aparece como item da primeira
exposição agro-industrial de Joinville, na qual Marie Fiebiger
ganhou o segundo prêmio, entre outros concorrentes, afirma a
pesquisadora Brigitte Brandenburg. Bordados e trabalhos manuais
para meninas desde o início faziam parte do currículo das escolas
em Joinville. Por volta de 1970, com a lei 5692 de reforma do
ensino, a disciplina”Educação Artística”substituiu a de Trabalhos
Manuais e o bordado desapareceu da sala de aula (21).
Encontra-se algumas referências ao bordado na Colônia,
nos anúncios do Jornal Kolonie Zeitung nos primeiros tempos
de colonização. No ano de 1881 temos um anúncio usando
especificamente a palavra bordado. Foi em 1º de outubro daquele
ano, quando Cäcile Hempel anunciava o seguinte:”Qualquer
trabalho manual feminino como bordados, costura branca etc., é
executado com rapidez e por preços módicos”.
“Acabo de receber nova remessa da Europa:
tecidos de lã e algodão para paletós e calças.
Panos, casimiras, linho grosso para roupas
de trabalho, linho nas cores cinza, azul e
branco, couro inglês, lenços de seda e algodão,
camisas prontas, tecidos finos de algodão,
cassa estampada, panelas de ferro, frigideiras,
moedores de café, pás. Brochas de pedreiro,
vassouras de pêlo e muitos outros artigos,
preços módicos”.
Fios para bordados não constam da lista, o que nos faz
supor que realmente nos primeiros anos da colonização, não
era comum a prática do bordado entre a população. Acreditase, pois, que bordados finos podem ter existido, porém entre as
senhoras e jovens mais abastadas, esposas, filhas ou parentes dos
O mais claro brilho do sol de Deus ilumina dentro desta casa.
O ”wandschoner”, protetor de parede, é um artesanato
típico da Alemanha e trazido para Joinville pelas famílias
imigrantes alemãs. Após o nascimento dos filhos, a mulher já não
se dedicava tanto aos trabalhos manuais em função das tarefas de
Projeto Entrelaçando Histórias
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:: Uma História do Bordado no Tecido Social
casa, ficando o bordado a cargo das meninas que, então, tinham
mais tempo para esses trabalhos. O wandschoner foi o bordado
mais usado nos primeiros tempos da colônia por ser popular.
Eram feitos em tecidos de sacos de trigo, de onde também se
buscava o fio, desfiando o tecido (22).
Em geral o wandschoner tem no centro uma mensagem
bordada, como um provérbio popular ou determinada citação
bíblica, ou mesmo agradecendo a Deus, sempre escritos em
alemão. Com o passar do tempo, as mensagens tornaram-se
recomendações ou frases jocosas (23). Em torno da mensagem
geralmente são bordados ramos de flores nas cores azul e
vermelho. Nas paredes, refletem e transmitem valores e normas
das famílias (24). Dona Wally Schossland, ex- modelista da
malharia Bozler, conta que o azul representava fidelidade e
o vermelho o amor. Os pontos mais comumente usados eram
ponto cruz, ponto cheio e ponto haste. E D. Jutta Hagemann,
ainda lembra dos wandschoner que decoravam e protegiam as
paredes dos quartos dela e dos irmãos, em geral bordados com
motivos de histórias infantis como a da Branca de Neve.
A senhora Ingrid Welling afirma que grande parte dos
wandschoner eram bordados nas cores azul cobalto e vermelho,
nos tecidos etamine, linho e granitê. Acrescentou, ainda que
predominava a cor azul, por ser a cor mais firme, ou seja, que não
desbotava facilmente. Dona Ingrid guarda lembranças de tenra
idade, quando tinha apenas cinco anos e o idioma alemão fora
proibido durante a Campanha de Nacionalização imposta pela
política de Getúlio Vargas durante a Segunda Guerra Mundial.
Conta que da janela da casa em que moravam, ela e sua família
espiaram entre as frestas, soldados surrando um casal de velhos
que moravam onde hoje se localiza a Casa da Memória.Como se
não bastasse a surra, destruíram seus livros e os wandschoner. Tal
fato teria impressionado profundamente seu pai que, no outro
dia queimou todos os wandschoner, destruiu diversos livros,
mas escondeu um que contava histórias em alemão. Enrolado
em panos, o livro permaneceu por muito tempo no sótão da
casa. A repressão e o medo fizeram com que a arte de bordar
wandschoner fosse quase abandonada pelas mulheres. (25)
Além dos wandschoner, D. Ingrid lembra que também
se enfeitava a casa com bordados nas toalhas de mesas e nas
prateleiras dos armários, nos panos compridos que escondiam as
toalhas da mão e de louça, no saco de guardar cebola e no portapegador de panelas. Estes bordados foram uma tradição ensinada
de mãe para filha.
Weisstickerei, bordado por Jutta Hagemann (1965), risco da D. Marieta Stock.
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Projeto Entrelaçando Histórias
Outro bordado da região da antiga Polônia também
trazido pela mulher imigrante, enriqueceu muitos enxovais de
roupa de cama e mesa. É o weisstickerei, bordado branco,feito
quase sempre com linha branca, sobre linho branco, em geral
com o ponto cheio. Por volta de 1500 encontrava-se peças desse
bordado em mosteiros católicos que se tornaram luteranos após
a Reforma na Charnenca, em Buxtehude, região da baixa saxônia.
Regina Colin, professora de alemão, conta que há uma expressão
popular nas famílias de origem alemã em Joinville,”Es geth nach
Buxtehude”que se diz que quando alguém te incomoda, o mesmo
que”mandar às favas”(26).
Pode-se dizer que o bordado fino ou o bordado a branco
das décadas de 1940, 1950, em Joinville, mantinham as
mesmas técnicas trazidas da Europa. Mesmo porque, passadas
as dificuldades dos primeiros tempos, era hábito em Joinville, as
pessoas mandarem buscar na Alemanha revistas, almanaques,
livros, manuais que trouxessem novidades como riscos, pontos e
descrição de técnicas.
Entre as décadas de 1940 e 1970, aproximadamente,
grande parte das moças da classe média joinvilense freqüentaram
as aulas da D. Marieta Stock, falecida em 1972, mas que ficou
na lembrança das suas alunas pelo bom gosto nos riscos e na
combinação das cores dos bordados que ensinava. Eram bordados
finos, geralmente em linho ou cambraia.
Toalha e guardanapo, bordados com gráfico baseado em um jogo de chá inglês,
por Marieta Stock, de 1946.
D. Jutta Hagemann é de opinião que D. Marieta tinha um
estilo próprio, seu bordado era facilmente identificado.”A gente
via que era da Marieta, o conjunto todo, do risco ao formato das
flores, as cores (...)“. D. Jutta conta, também, do hábito de bordar
em casa, principalmente à noite escutando rádio.
“A minha mãe bordava muito, mais do que eu
e minha irmã. Bordávamos em casa, não tinha
televisão, então, à noite era bordar e escutar
rádio. E assim eu bordei todo o meu enxoval e
da minha irmã também. Eu lembro que depois,
quando chegou a televisão, eu sempre dizia: eu
não vejo televisão, eu escuto televisão. Então,
de fato, eu bordei todo o meu enxoval, bordei
da Margot, minha irmã, depois das crianças.
Ainda tenho muitas peças desses bordados
que minhas filhas usaram, depois meus netos,
e agora os bisnetos. Tornou-se uma tradição
de família“.
:: Uma História do Bordado no Tecido Social
a coleção de xícaras antigas de Frau Grünsch
e mais uma variedade de objetos, pinturas a
óleo e aquarelas. Foi o espaço criado pela EFA
que reuniu pela primeira vez obras de arte
domiciliares, objetos raros e artes plásticas
num só local, quando foi possível, então, ter-se
uma idéia do aparato cultural da classe média
e da elite joinvilense (28).
Afirma D. Jutta que algumas moças aprenderam com D.
Marieta e tornaram-se bordadeiras profissionais. ”Algumas
trabalharam para o Rolf Kasemodel, que tinha loja em São Paulo
e era casado com minha prima. Ele organizava os enxovais dos
quatrocentões de lá, isto é, das famílias paulistanas tradicionais
e muitos dos bordados eram feitos aqui. Ele riscava e mandava
para cá. E aqui ele tinha bordadeiras que trabalhavam para ele,
entre elas D. Loni Klein” (29). A memória privilegiada de D. Jutta
lembra bordadeiras de que já não temos notícia como D. Hertha
Lehr que bordou na mesma época da D. Marieta no mesmo
estilo. E Frau Hühlemann, cujos trabalhos, feitos à máquina,
eram tão perfeitos que”parecia à mão, não tinha uma falha
do lado avesso. Você não via, você tinha que olhar muito bem
para saber que era à maquina“. Lembra ainda, D. Jutta, que
D. Brigitte Wendel bordava somente monogramas para os
enxovais de cama, mesa e os lenços.
Erica Schlemm, panô, década de 60.
Ao ser indagada sobre o significado dos bordados da
D.Marieta D. Jutta responde: ”olha, as moças todas bordavam
para o enxoval e automaticamente cada uma queria uma coisa
mais bonita do que a outra para a expor na EFA - Exposição de
Flores e Artes Domiciliares de Joinville que começou em 1936”(27).
De fato, a EFA, representando valiosa oportunidade de exposição
dos trabalhos, passou a ser, além do enxoval, o primeiro objetivo
de D.Marieta e suas alunas, que esperavam ansiosamente o mês
de novembro quando acontecia o principal evento cultural da
cidade, expondo um misto de flores, artes domiciliares e depois
artes plásticas. D. Jutta associa a EFA ao nome da sua amiga Erica
Schlemm que bordava com esmero panôs com aplicações em
feltro, ”era uma entusiasta das artes, ajudou na organização da
EFA desde o início“.
Souvenir EFA.
Toalha de Natal, bordada por Hertha Lehr (1945/1950)
No âmbito artístico, a Exposição de Flores
e Artes Domiciliares despontou como um
marco. Inicialmente destinada às flores e
artes domiciliares, a exemplo dos bordados de
dona Marieta Stock e dos quadros bordados
da Frau Trinks, rapidamente passou a mostrar
objetos raros e valioso, partes de coleções
particulares, como miniaturas do Sr. Engels,
as porcelanas francesas e portuguesas do Sr.
Rodrigo Lobo, os vasos chineses de Max Keller,
D. Ingrid Welling, também bordou na D. Marieta e conta que,
para criar os riscos a mestra se inspirava em revistas de bordados
como a Rakan, e também em estampas de tapetes. Então criava
o seu próprio risco, carregado de detalhes:”a toalha era toda
bordada, só tinha um pequeno espaço para pôr o vaso”comenta
D. Ingrid. Criados os riscos, estes eram passados, através de
carbono para tecidos, que eram bordados com linha da Ilha da
Madeira, que na verdade eram fabricadas na Inglaterra, Clarck’s
Anchor e na França, DMC. As joinvilenses adquiriam essas linhas
de vendedores madeirenses que de vez em quando apareciam
na cidade. Quando demoravam a aparecer, adquiria-se o fio em
Curitiba, na loja Princesa localizada no edifício Asa. A associação
com a Ilha da Madeira deu-se pela tradição dos belíssimos e
rebuscados bordados que as mulheres da Ilha faziam usando essa
linha. Interessante que em Joinville, na loja Singer vendia-se as
linhas nacionais, mas tanto D.Marieta como as alunas torciam o
Projeto Entrelaçando Histórias
9
:: Uma História do Bordado no Tecido Social
nariz diante da inferioridade da mercadoria que não tinha brilho.
Os tipos mais comuns de pontos bordados na D. Marieta
eram ponto sombra, ponto cheio, ponto richelieu, ponto haste
ou ponto atrás, ponto máquina, festão para recortar o tecido,
bainha aberta, bainha aberta tipo roletê. D. Ingrid conta, ainda,
que algumas alunas tornaram-se professoras de bordados e
ministraram aulas às gerações seguintes, referindo-se às senhoras
Helga Tiburtius e Alice Monich (30).
D. Helga não gostava de bordar numa cor só, dando
preferência ao colorido principalmente nas cores amarelo, azul,
vermelho e rosa. Vendia seus bordados para conhecidos e em
lojas, além de bordar vestidos de noiva com predarias (31).
anos. Recorda que a fábrica produzia enxovais de bebê em tecidos
de algodão e lã e eram bordados com a linha varicor, motivos de
rosinhas e bichinhos, em gola de organza e cetim, pagão para
bebê, babador, mandrião. Os tipos de pontos eram: cheio, haste,
rococó e sombra (34).
Um bordado europeu muito difundido em Joinville décadas
atrás, foi o meio ponto bordado em tecido muito fino, o voal
suíço, que se usava para cortinas. É um trabalho muito minucioso,
pois o pano não é riscado, os pontos são contados e em muitas
cores. Em geral os motivos são florais e, por sua delicadeza, além
das toalhas, era bordado em roupinhas para bebês e tantas outras
peças. Usava-se em quadros, cujas molduras eram feitas na casa
Pieper, assim como armações para bandejas e cinzeiros.
A senhora Eugênia Kumlehn é a referência mais marcante
como bordadeira do meio ponto em voal suíço, cujos modelos
copiava de revistas européias. Sua neta, Maria Eugênia Jensen,
herdou o acervo da avó e guarda com muito cuidado toalhas
em vários tamanhos, roupas para bebês, amostras e uma colcha
belíssima, que a avó bordou para o seu enxoval. Maria Eugênia
conta que a avó começou a bordar para fora depois que o marido
faleceu, além de assumir as funções antes exercidas pelo marido,
como representante da fábrica de fósforos Fiat Lux (35).
Peças bordadas por Helga Tiburtius.
Coube a D. Alice Monich o precioso legado de D. Marieta
que três anos antes de sua morte, passou-lhe a tarefa de dar
continuidade às aulas de bordado, além de lhe confiar os riscos
que hoje estão com sua neta Rosita Larson da Silveira. Após o
falecimento da mestra, D. Alice assumiu suas alunas continuando
com as aulas por mais de vinte anos (32).
Colcha bordada por Eugênia Kumlehn.
Peça bordada por Alice Monich
Aos 89 anos, a senhora Wally Prox Schossland, filha de
alemães, recorda o tempo em que foi modelista da Malharia
Bozler. Trabalhou ali durante aproximadamente 30 anos. Conta
que na Malharia, os riscos dos bordados eram criados a partir de
modelos da revista Handarbeiten, como também da observação
da natureza. As roupinhas para bebê da Bozler tornaram-se
referência na composição dos enxovais. Pessoas de outras cidades
ou estados vinham a Joinville só para comprar as roupinhas
bordadas da afamada malharia (33).
D. Irene Bozler, 97 anos, carrega consigo a história da
malharia que comandou por durante aproximadamente cinqüenta
10
Projeto Entrelaçando Histórias
A Sra. Lenir Borges, que aprendeu a arte do meio ponto
com Frau Kumlehn, como era chamada D.Eugênia, relata que os
bordados eram feitos no tecido voal bege ou branco, com um fio
de meada de seis fios Mouline, com 20 a 30 cm de comprimento
para não embolar, bordado nos tipos de ponto: meio ponto e
sombra. É uma técnica de difícil execução, porquanto exige
paciência, habilidade manual e boa visão: o voal é preso num
bastidor, a agulha muito fina vai cravando o meio ponto no tecido
onde não há riscos para orientar a bordadeira. Os pontos são
contados no modelo escolhido (36).
Frau Kumlehn contratava outras bordadeiras para aumentar
sua produção que era muito requisitada. Tinha muitos conhecidos
e ”isso se tornou uma corrente” comenta Maria Eugênia. Quando
o Governador Luiz Henrique foi Prefeito da cidade, alguns dos
presentes da Prefeitura para os visitantes de fora, eram quadros,
bandejas ou cinzeiros com os bordados da Frau Kumlehn. Muitas
das amigas compravam tanto para seu uso como para presentes,
principalmente quando viajavam para a Alemanha, ocasião em
:: Uma História do Bordado no Tecido Social
que Frau Kumlehn aproveitava para encomendar tecidos que
provavelmente não encontrava no Brasil. Os fios eram nacionais,
da marca Âncora que comprava na Casa Edmundo e mais tarde na
Casa Willy. Como ela era representante da Fiat Lux, presenteava
as esposas dos representantes dos outros estados, e também as
esposas do diretores da empresa (37).
Não somente bordados finos, em linho, cambraia ou percal,
estiveram na pauta dos enxovais das moças joinvilenses: D. Margot
Wetzel foi professora dos bordados de ponto cheio para um lado,
um ponto de tradição alemã, muito difundido nos anos cinqüenta e
sessenta, o”ponto chato”, segundo D. Iris Eberhardt Boldt. Quando
o tecido era grosso, o risco era furado com vários pontinhos no
papel e passado com uma tinta à base de querosene, para o tecido.
As linhas usadas para o bordado eram grossas.
Risco da D. Margot Wetzel, década de 60.
Yolanda Daher relata que os riscos eram feitos no papel
manteiga, picotados com um aparelho, colocados em uma mesa
quadrada sobre um quarto da toalha. Em seguida passava-se
um pó preto de sapateiro misturado a parafina, com uma bucha
sobre a toalha. Depois de riscada, a toalha era passada a ferro,
ainda úmida, pelo avesso. Depois bordava-se uma amostra num
canto da toalha, com a seleção de cores e juntava a quantidade
de fios necessários. Diz Yolanda que os bordados eram feitos em
tecidos finos e grossos, as linhas eram da Hering e da Círculo,
nos pontos: cheio, haste, ponto-cruz riscado, pintura de agulha,
picuru, espinho. Eram bordados em três tons, escuro, médio e
claro, geralmente nas cores azul, amarelo, marrom, palha, verde
oliva, verde garrafa, vermelho e brique (parecido com laranja)
que Frau Wetzel vendia para lojas tradicionais de Joinville como
Tilp, Richlin, Boehm, e também para São Paulo e Curitiba.
Yolanda Daher foi aluna e depois auxiliar da Frau Wetzel, e
confessa: tenho muitas saudades daquele tempo, pois com
D. Margot Wetzel aprendi muitos costumes alemães, como os
ovinhos de Páscoa, a casa enfeitada no Natal, as cucas, a reunião
de crochê com as amigas (38).
A partir dos anos sessenta do século vinte, o bordado perde
a referência como uma atividade nobre exercida pelas mulheres
prendadas. Com algumas exceções, já não se bordava os enxovais,
que passaram para as mãos das bordadeiras profissionais. O
movimento feminista que teve seu auge naqueles tempos levou
muitas mulheres para os escritórios, empresas e principalmente
para as universidades, uma vez que buscava-se direitos iguais aos
dos homens e, portanto, tinham que provar que executariam com
maestria as tarefas até então confiada a eles. Com isso o bordado
foi ficando de lado e o status conferido à mulher prendada em
artes domiciliares,cedeu lugar à mulher que estudava, fazia
universidade, trabalhava em escritório ou exercia alguma atividade
intelectual.
Por outro lado, a tecnologia avançava a ponto de deixar em
segundo plano os trabalhos manuais. A televisão, por exemplo,
não só fragilizou as conversas e o diálogo familiar, como também
fez com que muitas mulheres relaxassem no bordado, tricô,
crochê, ou costura, pois diferentemente do rádio, que permitia
a execução de qualquer trabalho e ser ouvido ao mesmo tempo,
a televisão exige maior atenção. Não somente os ouvidos, mas
os olhos eram exigidos para que se usufruísse da maravilha da
imagem televisiva que então, para encantamento de todos, estava
dentro de casa. Não por acaso, o cinema passou a ser menos
freqüentado.
Atualmente pode-se perceber um retorno ao bordado,
mas já em outros papéis e significados, pois a história segue seu
curso afirmando sempre que um tempo não se repete em outro
tempo, mas se apropria do que há de mais sólido no pilar do
conhecimento acumulado pela humanidade. Com o bordado não
foi diferente.
NOTAS
1. www.escoladebordado.com.br/historia.html
2. www.infopedia.pt/$prensa-de-gutenberg
3. www.escoladebordado.com.br/historia.html
4/5/6/7/8/9/10. www.emdiv.com.br/mundo/povosetradicoes/1722-o
bordado-e-sua-historia.html
11. www.coatscrafts.com.pt/Lavores/Bordados/Sobre/
12. Brigitte Brandenburg, citando a Revista Bazar
13. www.historiadaarte.com.br/arteindigena.html)
14/15/16. http://adm.cultura.ba.gov.br/conteudo/noticias/na-midia
impresso/identidade- ancestral/)
17. www.bonde.com.br/bonde
18. http://ombudspe.org.br/brasilquilombola/
19. Feito a mãos - O Artesanato em Santa Catarina/Editado por
Tarcisio Mattos, Florianópolis, Tempo Editorial, 2008, p.79
20. Sociedade Ginástica de Joinville.
São Paulo: Cia Melhoramentos,1958, p.39
21. Iris Eberhardt Boldt - depoimento para Ana Gern, 17-08-2010
22. Norma Jan Baumer - depoimento para Ana Gern, 09-08-2010
23. Regina Colin. depoimento para Ana Gern, 05-08-2010
24. Brigitte Brandenburg - depoimento para Ana Gern, 31-08-2010
25. Ingrid Welling - depoimento para Ana Gern
26. Regina Colin- depoimento para Ana Gern
27. Jutta Hagemann - depoimento para Raquel S.Thiago e Ana Gern,
19-10-2010
28. Raquel S.Thiago. Joinville: Cultura e História. In: Joinville 150 anos.
Joinville: Instituto Joinville 150 anos, 2001, p.21
29. Jutta Hagemann - idem
30. Ingrid Welling - idem
31. Ângela Tiburtius - depoimento para Ana Gern, 06-11-2010
32. Rosita Larson da Silveira - depoimento para Ana Gern - 10-11-2010
33. Wally Prox Schossland - depoimento para Ana Gern, 10-09-2010
34. Irene Bozler - depoimento para Ana Gern - 31-08-2010
35. Maria Eugênia Jensen - depoimento para Raquel S.Thiago e
Ana Gern, 25-1-2010
36. Lenir Borges - depoimento para Ana Gern, 09-08-2010
37. Maria Eugênia Jensen - idem
38. Yolanda Daher - depoimento para Ana Gern, 16-08-2010
Projeto Entrelaçando Histórias
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:: Wandschoner
Os Wandschoner
“Onde o amor faz as pazes
com a sorte, ali está o
melhor lar do mundo.”
“Inicie o dia com o
espírito alegre.”
“Deus irá prover
o hoje e o amanhã.”
“Não
reclame o
amanhã,
que te dá o
esforço e o
trabalho.
É tão bom
cuidar de
pessoas que
amamos.”
12
Projeto Entrelaçando Histórias
“Vem Senhor Jesus seja o nosso
Convidado. Abençoe o que Você
nos deu. Amém.”
:: Wandschoner
“O ser humano precisa
de um lugarzinho sendo
mesmo bem pequeno.
Do qual ele pode dizer,
olhe aqui, isto é meu.
Aqui eu vivo, aqui eu
amo, aqui eu descanso.
Aqui é o meu lar, aqui
estou em casa.”
“No momento certo
um bom gole. Alegra o
coração tanto no idoso
como no jovem.”
“Abençoarei
os lares onde
a imagem do
meu coração
for exposta e
venerada.”
“Limpo brilhantemente e varrido.
Todas as mãos rapidamente
se exercitam.”
Projeto Entrelaçando Histórias
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:: Entrelaçando Histórias
Entrelaçando Histórias
... Em cada ponto, um conhecimento, uma história, um sonho...
Observando os diversos “Wandschoner”, protetores de parede, da pesquisa
realizada para o projeto “Entrelaçando Histórias”, registramos vinte e
dois pontos de bordado que serão mostrados como são executados nesse
artigo. Estes pontos foram ensinados pela professora Leni Zimmermann,
nas oficinas de bordado desse projeto.
1. CORRENTE
7. AMARRA
13. PONTO
CHATO
2. HASTE
8. APANHADO
3. CASEADO
9. TRANÇADO
A expressão popular nas famílias de origem alemã em Joinville “LANGER FADEN, FAULES MÄNCHEN”, que se diz “Fio comprido,
menina preguiçosa”, era ensinada para as moças fazerem um bordado
caprichoso. Com o fio comprido, se perde o brilho e desfia.
Uma sugestão de tamanho de fio, a pessoa mede do seu nariz a
extensão do seu umbigo. Assim o braço não cansa e fica um bordado
bonito (1).
4. ALINHAVO
10. PONTO
RETO
11. MARGARIDA
16. PONTO
CRUZ
14. PONTO CHEIO
6. PÉ DE
GALINHA
5. NÓ FRANCÊS
17. MARGARIDA
DUPLA
18. CABEÇA DE SETA
15. APANHADO JACOBINO
19. BAINHA ABERTA
NOTAS
20. TEIA DE
ARANHA
1. LENI ZIMMERMANN- depoimento para as alunas- outubro de 2010.
3. ADELINA LENSHOW- depoimento para Ana Gern - 27-08-2010.
- ARAUJO, Altair C. de. Noventa Pontos de Bordado. Ediouro. Rio de Janeiro, 1980.
- Cem Pontos de Bordado. Corrente. São Paulo, 1979.
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Projeto Entrelaçando Histórias
21. BRUXA
OU RUSSO
12. AREIA
22. PONTO
ESPINHO
1. Ponto CORRENTE (KETTENSTICH)
Puxe a agulha no alto da linha e mantenha-a presa com
o polegar esquerdo. Introduza a agulha no mesmo lugar
de onde saiu a última vez e puxe-a a uma curta distância,
mantendo o fio por baixo da ponta da agulha.
4. Ponto de ALINHAVO (VORSTICH)
Passe a agulha por cima e por baixo do tecido, fazendo
os pontos no direito do mesmo comprimento. Os pontos
do avesso devem ser também do mesmo tamanho, porém
metade do tamanho, ou menor que os pontos do direito.
2. Ponto HASTE (STIELSTICH)
5. Ponto NÓ FRANCÊS (KNÖTCHENSTICH)
Trabalhe da esquerda para a direita fazendo pontos
levemente inclinados, regulares, ao longo da linha do
desenho. O fio sai sempre à esquerda do ponto anterior.
Esse ponto é usado para hastes de flores, contornos, etc.
Pode também ser usado como uma cobertura; carreiras de
Ponto de Haste feitas bem juntas dentro de um desenho
até cobri-lo completamente.
Puxe a agulha no lugar onde será feito o ponto, mantenha
a linha presa com o polegar esquerdo e enrole a linha duas
vezes na agulha com em A. Ainda mantendo a linha presa
firmemente, gire a agulha para trás ao ponto de partida e
introduza-a bem junto ao lugar de onde saiu a linha (veja
a seta). Passe a agulha para o avesso do tecido e arremate
no caso de um nozinho só, ou passe para o lugar onde
será feito o ponto seguinte, como em B.
3. Ponto CASEADO (KNOPFLOCHSTICH)
6. Ponto PÉ DE GALINHA (FISCHGRÄTENSTICH)
Estes pontos são feitos da mesma maneira. A única
diferença é a distânci entre os pontos, num mais largo,
e no outro bem juntos. Puxe a agulha na linha inferior,
introduza-a na posição certa na linha superior, fazendo
um ponto reto para baixo com a linha por baixo da ponta
da agulha. Puxe o ponto para formar uma laçada e repita.
Este ponto pode ser trabalhado em tecidos próprios para
bordado sobre fios contáveis.
Fig. A - Puxe a agulha no centro superior do desenho,
mantenha o fio para baixo com o polegar esquerdo,
introduza a agulha um pouco à direita no mesmo nível e
faça um pontinho para baixo até o centro, conservando a
linha por baixo da ponta da agulha. A seguir, introduza a
agulha um pouco à esquerda no mesmo nível e faça um
ponto para o centro, conservando a linha por baixo da ponta
da agulha. Faça estes dois movimentos alternadamente.
Projeto Entrelaçando Histórias
15
:: Entrelaçando Histórias
7. Ponto de AMARRA (DOPPELTER STEPPSTICH)
Este ponto é feito da esquerda para a direita. Fig. A.
Puxe a agulha na linha do desenho, introduza-a um
pouco à um pouco a direita na linha e traga-a à esquerda
justamente na metade do comprimento do ponto e com
a linha abaixo da agulha. Fig. B. Faça o ponto seguinte
da mesma maneira mas com a linha acima da agulha.
Continue desta maneira, alternando a posição da linha.
Este ponto pode também ser trabalhado em tecidos de
fios iguais como cânhamo, etamine, etc.
8. Ponto APANHADO
MODO 1: Desça quatro fios na vertical. Vire a agulha para
a esquerda, pegando um fio. Volte à agulha para a direita,
pegando um fio e saia com a agulha no centro. Repita o
movimento.
MODO 2: Estenda um fio ao longo do traçado do
desenho e com a outra linha, prenda o fio estendido ao
tecido, com pontinhos feitos a intervalos regulares. A linha
que prende o fio estendido pode ser de cor diferente.
16
10. Ponto RETO (SPANNSTICH)
Este ponto é mostrado como pontos individuais espaçados
feitos de modo regular e irregular. Algumas vezes os
pontos são de tamanho variado. Os pontos não devem
ser feitos nem muito longos nem muito frouxos. O ponto
pode também ser feito em tecidos de fios iguais.
11. Ponto MARGARIDA (MARGERITENSTICH)
Faça este ponto com o Ponto Corrente (A) (veja nº1),
mas prenda cada laçada com um pontinho (B).
Este ponto pode ser feito individualmente ou em
grupos para formar pétalas de flores.
9. Ponto TRANÇADO
12. Ponto AREIA
Este ponto é feito da direita para a esquerda e é
geralmente usado no Bordado Negro Espanhol para o
contorno do desenho. Faça o Ponto Haste (veja nº 2)
primeiro e depois com outra agulha na linha, enrole cada
Ponto Atrás, sem apanhar o tecido.
Este ponto simples de cobertura é composto de pequenos
Pontos Retos (veja nº10) de igual tamanho, dispostos a
espaços regulares sobre o desenho, conforme mostrado
no diagrama.
Projeto Entrelaçando Histórias
:: Entrelaçando Histórias
13. Ponto CHATO
15. Ponto APANHADO JACOBINO
(ou Ponto Treliça)
Faça um pontinho alternadamente em cada lado do
espaço a ser preenchido, com a ponta da agulha sempre
saindo na beirada do desenho. Duas linhas podem ser
traçadas no centro do desenho, como guias para o
tratamento do ponto. Os pontos devem ser bem unidos e
cruzados uns sobre os outros.
Este ponto faz uma bonita cobertura para miolos de flores
ou de desenhos onde um efeito aberto é necessário.
Consiste de pontos longos (fios estendidos) espaçados
uniformemente, feitos de lado a lado de um desenho,
horizontal e verticalmente como em (A) ou diagonalmente
(B); então o cruzamento dos fios é preso com os
pontinhos que podem ser pequenos pontos inclinados ou
Ponto Cruz (veja nº16).
14. Ponto CHEIO (PLATTSTICH) e Ponto
CHEIO COM ENCHIMENTO
16. Ponto CRUZ (KREUZSTICH)
Borde como se fossem Pontos Retos (veja nº10) feitos
bem unidos de lado a lado de um desenho, conforme
mostrado no diagrama.
Se preferir faça primeiro um enchimento de Ponto de
Alinhavo ou de Ponto Corrente por baixo. Isto dá um
efeito de relevo. É necessário que a beirada fique perfeita.
Não faça os pontos muito longos, para que não sejam
puxados para fora de lugar.
Fig. A - Puxe a agulha na linha inferior direita da cruz e
introduza-a no alto da mesma linha, fazendo um ponto
através do tecido para a linha inferior esquerda. Continue
até o fim da carreira desta maneira. Fig. B - Complete
a outra metade da cruz. É importante que a metade
superior de cada ponto caia sempre na mesma direção.
Puxe a agulha no lado direito inferior, introduza-a quatro
fios acima e quatro fios à esquerda e puxe-a quatro fios
abaixo, formando assim um meio ponto cruz; continue
desta maneira até o fim da carreira. Complete a outra
metade da cruz, conforme mostrado. O Ponto Cruz pode
ser feito tanto da esquerda para a direita, conforme
mostrado, como da direita para a esquerda. É importante
que a metade superior de todos os pontos caia na mesma
direção.
Projeto Entrelaçando Histórias
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:: Entrelaçando Histórias
17. Ponto MARGARIDA DUPLA
Faça este ponto com o Ponto Corrente (veja nº1),
mas prenda cada laçada com um pontinho, como no
Ponto Margarida simples (veja nº11). Depois repita o
mesmo movimento com uma laçada menor.
18. Ponto CABEÇA DE SETA
Fácil e ótimo para contornos ligeiros, use linha bem grossa
e brilhante para melhor realce. Como sempre, olhe os
desenhos A e B e siga cuidadosamente os seus traçados.
19a. BAINHA ABERTA ou “AJOUR”
19b. BAINHA ABERTA ou “AJOUR”
em ziguezague
Esta variação é feita da mesma maneira que o Ponto
“Anjour”, porém é necessário um número ímpar de fios
em cada grupo apanhado de fios na primeira carreira.
Na segunda carreira, os grupos são divididos pela metade,
para que cada grupo fique composto pela metade dos
fios de um grupo e metade do grupo vizinho. A segunda
carreira é começada e terminada por um meio grupo.
19c. BAINHA ABERTA ou “AJOUR”
entrelaçado
Faça o Ponto Ajour básico primeiro. Emenda um fio longo
bem no centro do lado direito dos fios do desfiado. Fig. A.
Passe a agulha pela frente de dois grupos de fios amarrados
e introduza a agulha da esquerda para a direita por baixo
do segundo grupo. Fig. B - Torça o segundo grupo por cima
do primeiro, introduzindo a agulha por baixo do primeiro
grupo da direita para a esquerda. Puxe a agulha.A linha
entrelaçada deve ser puxada com firmeza para ficar
esticada através dos grupos torcidos.
19d. BAINHA ABERTA ou “AJOUR”
(HOHLNAHTSTICH)
Meça a largura necessária. Corte os fios (sugestão seis
fios) no centro e desfie gradualmente em direção a cada
lado até onde foi marcada a barra. Pelo lado avesso, cerzir
os fios desfiados. Corte a sobra dos fios. O número de fios
pode variar de acordo com o tecido ou desenho desejado.
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Projeto Entrelaçando Histórias
Em ziguezague ou entrelaçado com o Ponto
Bruxo (veja nº21) no meio - Faça o ponto “ajour” em
ziguezague ou entrelaçado. Pule os fios (sugestão oito fios)
e repita novamente o ponto “ajour” em ziguezague ou
entrelaçado. Na parte não desfiada fazer o ponto bruxa,
usando dois blocos de fio.
:: Entrelaçando Histórias
20. TEIA DE ARANHA
22. Ponto ESPINHO (KREUZNAHTSTICH)
Comece com um Ponto de Mosca feito em direção ao
centro do círculo, conforme mostrado em A, e então faça
dois Pontos Retos, um em cada lado da Cauda do Ponto
de Mosca, no centro do círculo. Isto divide o círculo em
cinco partes iguais e os raios formam a base da tela. Faça
a seguir um cerzido por cima e por baixo dos raios até
encher o círculo como em B. Em Bainhas Abertas os raios
não são completamente cobertos, e somente metade do
círculo é preenchido, o que dá um efeito de cobertura
rendada e aberta.
Faça um pontinho alternadamente em cada lado do
espaço a ser preenchido, com a ponta da agulha sempre
saindo na beirada do desenho. Duas linhas podem ser
traçadas no centro do desenho, como guias para o
tratamento do ponto. Os pontos devem ser bem unidos e
cruzados uns sobre os outros.
21. Ponto BRUXA (ou Russo) (HEXENSTICH)
Puxe a agulha na linha inferior à esquerda e introduza-a
na linha superior um pouco à direita, fazendo um
pontinho para a esquerda com a linha abaixo da agulha.
A seguir introduza a agulha na linha inferior um pouco
à direita e faça um pontinho para a esquerda com
a linha acima da agulha. Estes dois movimentos são
repetidamente até o fim. Para melhor efeito, o tecido
apanhado pela agulha e os espaços entre os pontos
devem ser sempre de igual tamanho. Este ponto pode ser
enlaçado com linha da mesma cor ou de cor diferente.
Use uma agulha de ponta redonda para o enlaçado e
não apanhe tecido algum. O Ponto Russo pode também
ser trabalhado em tecido para o bordado sobre os fios
contáveis.
Curiosidade sobre o Ponto Bruxa
D. Adelina Lenshow conta que aprendeu que o
ponto bruxa, “hexenstich”, quando se bordava no
“wandschoner”, era para espantar os maus espíritos (2).
Joinville, novembro de 2010.
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