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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – 2014 RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA PATRÍCIA WERNER TSCHOEKE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PESQUISA VOLUNTÁRIA 2014 PLANO DE TRABALHO: Sistemas pergolados na arquitetura contemporânea Relatório final apresentado ao Grupo de Pesquisa em TEORIA E HISTÓRIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO (THAC) da UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR por ocasião do desenvolvimento das atividades voluntárias de Iniciação Científica (2014). NOME DO ORIENTADOR: Prof. Dr. Antonio Manoel Nunes Castelnou, neto Departamento de Arquitetura e Urbanismo TÍTULO DO PROJETO: Green Architecture: Estratégias de sustentabilidade aplicadas à arquitetura e design BANPESQ/THALES: 2014015429 CURITIBA PR 2014 1 1 TÍTULO Sistemas pergolados na arquitetura contemporânea 2 RESUMO Elemento de emprego bastante remoto e tradicional, o pergolado consiste basicamente em estruturas vazadas, as quais formam galerias semicobertas constituídas por vigas horizontais (pérgolas ou pérgulas) dispostas em paralelo e apoiadas por pilares ou colunas. São utilizadas em varandas e demais prolongamentos do espaço edificado, funcionando como uma extensão da área construída e local de transição entre interior e exterior, sendo bastante frequentes em jardins, terraços e agregados a fachadas. As pérgolas foram introduzidas na história da arquitetura e construção civil como estruturas portantes destinadas a criar áreas sombreadas, sendo geralmente cobertas de vegetação e voltadas à convivência ou simples passagem. Foram bastante utilizadas na antiguidade, tendo origem romana, porém caíram em desuso nos séculos XVIII e XIX. Atualmente, tiveram sua utilização resgatada a partir das discussões acerca da sustentabilidade aplicada às edificações, passando pela reformulação de seu desenho, técnicas executivas e materiais de composição, contribuindo plasticamente às correntes de arquitetura que defendem a inspiração vernacular. Esta pesquisa de iniciação científica faz parte do projeto intitulado “Green Architecture: Estratégias de sustentabilidade aplicadas à arquitetura e design” e tem como objetivo principal estudar a concepção e a execução de pergolados na arquitetura contemporânea, descrevendo suas origens históricas, principais características e aplicações voltadas à sustentabilidade das edificações bem como ilustrá-los através de exemplos internacionais. Realizada a partir da metodologia de pesquisa teórico-conceitual, de caráter exploratório e com estudo de caso, possui suas bases na investigação web e bibliográfica. Como resultado, constatou-se que seu emprego busca criar áreas permissíveis a iluminação natural sem o ofuscamento da visão, criando regiões sombreadas, além de favorecerem a ventilação e a proteção solar. O pergolado, quando usado corretamente, impede a incidência direta da radiação nas fachadas, melhorando assim a eficiência energética da construção. Além disso, seu uso é motivado por questões estéticas, pois cria espaços de convivência aconchegantes, locais de transição interior/exterior e sensações psicológicas de acolhimento e proteção. Adicionalmente, verificou-se a utilização de variados materiais para a sua concepção, como madeira, metal, bambu e concreto, com ou sem vegetação, além de diferentes dimensões, formatos e estruturação. 3 OBJETIVOS Esta proposta em iniciação à pesquisa científica pretende desenvolver uma investigação web e bibliográfica sobre a concepção e execução de pérgulas (ou pérgolas) na arquitetura contemporânea, descrevendo suas origens históricas, principais características e aplicações 2 voltadas à sustentabilidade das edificações, além de ilustrá-las por meio de exemplos internacionais. De modo específico, busca-se caracterizar esse tipo de elemento da arquitetura sustentável, ilustrando, descrevendo e analisando 01 (um) caso em particular, em termos funcionais, técnicos e estéticos. 4 INTRODUÇÃO A palavra “sustentabilidade” provém do latim sustentare, que significa sustentar, apoiar; conservar. No dicionário, o termo origina-se de um processo de derivação: sustentável+i+dade, o que remete à qualidade daquilo que é sustentável. Seu emprego contemporâneo começou a ser delineado a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Homem (United Nations Conference on the Human Environment – UNCHE), ocorrida em 1972, em Estocolmo, Suécia. Este evento internacional foi um dos primeiros passos em direção à conscientização ambiental em todo o planeta, originando pesquisas e debates a respeito das implicações do desenvolvimento em relação à preservação da natureza e, consequentemente, da própria sociedade humana. Essa discussão culminou uma década depois, quando foi publicado o relatório intitulado "Nosso futuro comum" (Our common future, 1987), redigido por uma equipe liderada pela Primeira-Ministra norueguesa Gro Harlem Brundtland (1937-), que consagrou a definição de desenvolvimento sustentável. De acordo com esse documento, que começou a ser mundialmente conhecido como Relatório Brundtland, a humanidade seria capaz de tornar o desenvolvimento sustentável, caso fosse capaz de “garantir que ele atenda as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem também as suas" (1991, p.9). Logo, acreditava-se que os homens poderiam construir um futuro mais próspero, mais justo e mais seguro, respeitando os limites da própria natureza. Segundo Arrudas et Quelhas (2010), "a humanindade vem estabelecendo uma relação cada vez mais predatória com a natureza em face do modelo capitalista de produção e que, por isso, [...] se aproxima rapidamente de um desastre ambiental" (p. 54). Desde a Pré-História, o homem vem modificando a natureza de acordo com as suas necessidades intrínsecas para sobreviver, o que foi se intensificando com o decorrer das eras. A Revolução Industrial (17501830), por sua vez, acabou por acelerar o consumo de matérias-primas, devido à crescente competitividade e consumo da população, o que ocasionou problemas sociais e ambientais. A natureza passou a ser vista cada vez mais como um objeto, concebida quase que exclusivamente como um produto agrícola e econômico (KEELER et BURKE, 2010). Pode-se assinalar como o início do processo de conscientização ecológica os anos do segundo pós-guerra, entre as décadas de 1940 e 1950, a partir de quando aumentou gradualmente até os dias atuais, graças ao trabalho dos setores da comunidade científica, da militância dos movimentos ambientalistas e, em especial, da ação de pacifistas e outras minorias, envolvidas no Movimento da Contra-Cultura, característico dos anos 1960 em diante. Em um 3 segundo momento, instituições internacionais, órgãos governamentais e organismos nãogovernamentais (ONG’s), somaram-se aos meios de comunicação de massa, ações de iniciativa privada e movimentos sociais e religiosos, para integrarem o Movimento Ambientalista, com o objetivo comum de busca pela consciência ecológica (LIMA, 1998). Todo esse processo ocorreu favorecido pela esperança de um mundo novo e melhor, a partir do otimismo da década de 1960, segundo Castelnou (2002), além de ideias cada vez mais progressistas, que resultaram no clima de reação e isolamento dos anos 1970, dando início às conferências realizadas pela ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU. A primeira delas, a de 1972, já citada, aconteceu com o objetivo de oferecer um caminho para que os povos do mundo pudessem ampliar suas esferas de cooperação, administrando os recursos naturais de modo a assegurar o progresso humano e combater a pobreza. Como consequência foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o qual visa manter o estado do meio ambiente global sob contínuo monitoramento, além de alertar povos e nações sobre problemas e ameaças ao meio ambiente e recomendar medidas para melhorar a qualidade de vida da população, sem comprometer os recursos e serviços ambientais das gerações futuras (BRUNDTLAND, 1991). Esse verdadeiro Despertar Ecológico fez com que a preocupação ambiental passasse a fazer parte também da arquitetura. Porém, ao invés de se voltar para o passado com técnicas vernáculas, os arquitetos ditos tardomodernos interessaram-se pela ecotecnologia, seguindo os princípios da sustentabilidade, a fim de garantir uma maior e mais produtiva vida útil das edificações, projetando – e construindo – para reduzir e/ou eliminar o desperdício de energia e utilizar energia renovável, além de aplicar sistemas computacionais para gerar uma arquitetura inteligente, empregar novos materiais e tecnologias, estas aplicadas desde a parte estrutural aos elementos de vedação e acabamento (CASTELNOU, 2010). De acordo com Adam (2001), a ecotecnologia consiste basicamente em qualificar a tecnologia em termos ecológicos e, assim, gerar uma tecnologia “limpa”, que não prejudica o meio ambiente, assim como promova um equilíbrio entre a preservação da natureza e o progresso da civilização, ou seja, que favoreça o desenvolvimento sustentável. Segundo Keeler et Burke (2010), a definição de um edifício sustentável está integrada por palavras tais como: eficiente, de alto desempenho, elegante e resiliente. Trata-se, portanto, de uma edificação integrada, a qual considera o ciclo de vida da construção em todos os níveis, da pré-concepção e projeto à sua execução e manutenção, estendendo-se até sua demolição e reaproveitamento. Seu planejamento necessita apresentar soluções para mais de um problema ambiental; tratar de questões quanto a resíduos durante a construção e após a ocupação, assim como a movimentação de terra e o transporte de materiais de construção; buscar a eficiência na utilização dos recursos; e favorecer a conservação de energia, ou seja, o consumo energético eficiente. 4 Para o site Novarquitetura (2014), a sustentabilidade na arquitetura deve conciliar três dimensões, as quais precisam estar equilibradas – a dimensão ambiental, a social e a econômica (Fig. 1) – e que resultam em um edifício considerado “verde” (Fig. 2), cuja qualidade expressa-se através de cinco itens, a saber: eficiência nos recursos ( água, energia e materiais); prevenção da poluição (solo, água e ar); saúde e conforto dos usuários (qualidade do ar, uso de luz natural e conforto térmico); adaptação do projeto às condições regionais; e baixo consumo energético (economia em torno de 30% em energia, 60% na geração de resíduos e 30% no uso de água). FIGURA 1 FIGURA 2 Quanto à questão econômica, conforme o site Sustentarqui (2014), as construções sustentáveis garantem o retorno financeiro em médio prazo, economizando nos custos operacionais e aumentando o valor do imóvel no mercado. Adicionalmente, são mais confortáveis e saudáveis para os usuários, o que proporciona maior produtividade, no caso de edifícios comerciais. De acordo com a pesquisa do Green Building Canada Council, apresentada pelo site, o custo médio da construção de uma casa sustentável no Canadá é aproximadamente 2% maior, mas a economia média de energia por ano é de 25% do gasto em uma residência convencional. Sendo assim, em cerca de três anos, o gasto na construção seria recompensado. Em reportagem da Revista Exame (BARBOSA, 2014), também citada pelo site, relata-se que a implantação de um edifício sustentável no Brasil custa de 1% a 7% mais caro do que a de uma construção convencional. Por sua vez, as economias na utilização do edifício variam de 8% a 9% e a valorização na revenda é de cerca de 10%. 5 Salienta-se ainda que uma edificação sustentável traz outros benefícios, além do econômico. Por exemplo, a porcentagem de usuários doentes diminui entre 9% e 50% em relação a uma residência, onde tais técnicas não são adotadas. Com base no conceito de Gaia1, cunhado pelo cientista e ambientalista britânico James E. Lovelock (1919-), pode-se acrescentar que "as edificações podem ser vistas como organismos compostos por sistemas interatuantes e interrelacionados" (KEELER et BURKE, 2010, p.53), o que equivale a uma nova forma de conceber o projeto arquitetônico e, consequentemente, a edificação: arquitetura e meio ambiente se interagem e fazem parte de um mesmo sistema. Isto obviamente passou a exigir um sistema de avaliação, o qual pudesse medir e atestar a sustentabilidade de uma obra. Por meio de um mecanismo simples e de fácil interpretação (a etiqueta), a população passa a interagir com o tema, na medida em que pode facilmente optar por edificações de maior rendimento e naturalmente vai pondo à margem do mercado as empresas que não se adequarem à nova realidade, esse mesmo mecanismo permite às empresas demonstrarem seu diferencial umas frente às outras, o que passa a ser aproveitado como oportunidade de marketing (MEIRIÑO, 2004, p.01). Segundo Santos et Abascal (2012), as certificações “verdes” surgiram para atender os consumidores preocupados com o meio ambiente, garantindo a qualidade de produtos que possuem baixo impacto ambiental, visto que o setor da construção civil causa grandes distorções ao ambiente natural. Tais certificações são feitas a partir de critérios e pré-requisitos definidos por cada instituição, organismo ou país, medindo o impacto ambiental da construção no meio ambiente. Trata-se, portanto, de um incentivo para as práticas sustentáveis em edifícios, pois quantifica e confere reconhecimento formal às essas instituições. Existem diversas certificações pelo mundo todo, sendo o BUILDING RESEARCH ESTABLISHMENT ENVIRONMENTAL ASSESSMENT METHOD – BREEAM considerado o primeiro selo ambiental para a arquitetura, lançado em 1993, o qual qualificava o edifício como: suficientemente bom, muito bom ou excelente (CASTELNOU, 2010). Entretanto, um dos mais conhecidos selos verdes consiste no LEEDERSHIP IN ENERGY AND ENVIRONMENTAL DESIGN – LEED (“Liderança em Projetos de Energia e Ambientais”), criado em 2000 pelo Conselho de Edificações Sustentáveis (GBC) dos EUA e que classifica os edifícios como: Leed Certified, Silver, Gold e Platinum. No Brasil, já estão à disposição diversos sistemas de certificação ambiental, tais como: o LEED Brasil, que é uma adaptação do selo norte-americano de 2007; o AQUA (Alta Qualidade Ambiental), que classifica escritórios, escolas, hotéis e edifícios habitacionais em: bom, superior e excelente; o PROCEL EDIFICA, que categoriza edifícios comerciais, residenciais e de serviços públicos em: A, B, C, D e E; e o Selo Azul da Caixa Econômica Federal (CEF), que classifica unidades habitacionais com o valor de até R$130.000,00 em: Bronze, Prata e Ouro. 1 Também denominada de hipótese biogeoquímica, a chamada Hipótese de Gaia propõe que a vida na Terra funcione como um sistema vivo de inter-relações simbióticas, auto-organizadoras. Originalmente proposta por Lovelock em 1972, ela foi batizada de “Gaia” por William G. Golding (1919-93), ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1993, em alusão à deusa grega suprema da Terra. Tal hipótese concebe o planeta como um único organismo vivo e faz parte do cerne da chamada Deep Ecology (“Ecologia Profunda”); o ramo mais radical do ecologismo contemporâneo (N. autora). 6 5 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA O termo “pergolado” provém do latim pergula, que se referia à projeção de um beiral, uma extensão do telhado ou de um caramanchão2. Segundo o site Gazebo Creations (2014), o primeiro registro da utilização da palavra data de 1640, em referência ao período medieval tardio e usado por John Evelyn (1620-1706) em seu diário3 para descrever uma estrutura existente no claustro de Trinità dei Monti, em Roma, Itália. O pergolado encontrado nas vilas Medici (Fig. 3), perto de Florença, representa uma estrutura similar àquela descrita por Evelyn. Por sua vez, na Ásia Oriental, as pérgulas eram criadas com vigas curvas que se assemelhavam com as estruturas arqueadas de um pagode; uma edificação chinesa tradicional utilizada principalmente em construções religiosas. O pergolado constitui-se em um elemento FIGURA 03 popular na história da arquitetura, passando por transformações a partir dos estilos vigentes. Seu formato mais tradicional, de acordo com o site Walpole Outdoors (2013) data da Renascença Italiana, quando era feito em alvenaria ornamentada. Era utilizado mais por questões estéticas do que funcionais, possuindo pilares com grandes pedras lisas que criavam certa dramaticidade (GAZEBO CREATIONS, 2014). O emprego de pérgulas caiu em desuso nos séculos XVIII e XIX, voltando a se destacar somente na passagem para o século XX, tornando-se extensos e luxuosos, quando eram feitos pilares com tijolos e pedras que destacavam as vigas. Isto pode ser ilustrado com os FIGURA 04 pergolados feitos pelos paisagistas britânicos Sir Edwin Lutyens (1869-1944) e Gertrude Jekyll (1843-1932), que trabalharam juntos em diversos ajardinamentos residenciais (Fig. 5), marcados pela liberdade no plantio de diferentes plantas como lírios e lavanda, consagrando-se como os verdadeiros criadores do Jardim Inglês (WALPOLE OUTDOORS, 2013). Surgido como reação aos produtos industrializados e, principalmente, em oposição ao eclético estilo vitoriano, o Arts & Crafts Movement (1880/90) adotou as pérgulas, juntamente com arcos de rosas, conforme Schnare (2014), para criar áreas externas que ressaltavam a natureza e 2 Os caramanchões são varais para sustentar parreiras, considerados altamente decorativos, além de úteis. Podem situar-se tanto ao abrigo da casa como sobre um caminho ou terraço (N. autora). 3 Os diários ou memórias do escritor e jardineiro John Evelyn constituem fonte valiosa sobre arte, cultura e política do renascimento inglês, já que ele testemunhou as mortes de Charles I (1600-49) e de Oliver Cromwelll (1599-1658), além da última Grande Praga (1665) e o Grande Incêndio (1666) de Londres. Contemporâneo de outro importante diarista de seu tempo, Samuel Pepys (1633-1703), ambos se correspondiam, cujos textos em sua maioria foram preservados e permitem excepcional material sobre a vida no reino Unido do século XVII (ROBERTS, 2006). 7 o artesanato. Já no século XX, notou-se que o pergolado não poderia ser inserido em todos os lugares: Francis King (1921), por exemplo, defendeu que não se deveria utilizar pérgolas em pequenos jardins, pois eram difíceis de se fazer corretamente e, quando empregadas de maneira errônea, tornavam-se esteticamente ruins. Mesmo assim, alguns pergolados foram criados no século passado, em que foram inseridos novos materiais, tais como concreto, madeira e vinil, os quais tornavam mais rápida sua construção comparando-se com o tijolo e a pedra. Atualmente, está ocorrendo uma revalorização das pérgulas como elemento arquitetônico, pois fornecem sombra e a possibilidade do contato com vegetação em áreas com pouca terra disponível para o plantio. Além disso, criam paisagens que atraem o olhar e constituem locais convidativos de estar e de passagem, assim como melhoram a sensação térmica, por permitirem a ventilação e o sombreamento. A pérgula, para Petschek et Gass (2011), consiste em “uma estrutura que sombreia uma área, é aberta em pelo menos um lado [e] coberta por vigas horizontais sustentadas por pontos selecionados" (p. 22), cuja função é definida em como será usada, por exemplo, para criar áreas sombreadas de estar, com plantas ornamentais, próximo às casas, fazendo referência à origem da estrutura no mundo mediterrâneo. Adicionalmente, a pérgula pode ser empregada para criar áreas enclausuradas, gerando privacidade; ou para sombrear caminhos, um terraço e/ou galeria. Quando disposto corretamente agregado ao volume da construção, o pergolado FIGURA 05 gera sombreamento nas paredes e aposentos, além de estender visualmente o cômodo para o exterior, criando-se um jardim cercado por paredes e/ou muros; ou ainda permitindo uma transição entre espaços, como público construção, e privado. Pode tornando-se estar mais preso simples; FIGURA 06 à ou independente da mesma, necessitando assim de um desenho próprio. Pode ainda servir como guia de ligação entre dois pontos (dois espaços ou edificações), tornando-se, neste caso, uma estrutura independente, com dois lados vazados para permitir a FIGURA 07 transição nela. Por fim, o pergolado pode ser alternativamente fechado em um lado e sustentado em uma parede, cerca ou muro, do outro lado (PETSCHEK et GASS, 2011). Ainda segundo os mesmos autores, a forma e a estrutura da pérgula dependem de sua função, assim como das condições do local, o que inclui clima, solo, conceito do projeto e 8 questões econômicas de construção e manutenção. Outro aspecto que vai influenciar igualmente é o jogo de luz e sombra sob o pergolado, ou seja, a quantidade de sombra que se quer criar. A construção mais convencional do pergolado dá-se por pilares e sobreposição de vigas, as quais podem ser feitas de diferentes materiais e formas. Os pilares, por sua vez, podem ser executados em pedra (Fig. 5) com duas vigas em sentido longitudinal, apoiadas em tábuas transversais separadas entre si por 1,0 m; em troncos de alvenaria (Fig. 6) com o encaixe de toras; ou ainda em tijolo (Fig. 7) com armação de tora, sendo as mais espessas colocadas na transversal. Em geral, a estrutura de uma pergola é composta por elementos independentes que são encaixados uns aos outros (ULSAMER, 1981, p. 68). Segundo o site Build (2014), as pérgolas FIGURA 08 metálicas são mais resistentes e duráveis, permitindo diferentes formatos. Sua estrutura necessita de impermeabilização e pode ser pintada de diversas cores, resistindo à exposição esporádica a águas/chuva. Embora se trate de um material mais caro, compensa devido à durabilidade e manutenção, além de ser reutilizável. O pergolado é montado a partir do alinhamento dos pilares, que são concretados para a fixação. Já as vigas são parafusadas nos pilares e/ou na estrutura da construção; e os barrotes são parafusados às vigas, sendo que, dependendo da espessura do aço, há diferenciação do tamanho do parafuso. Como ilustração, a casa da Figura 8 utiliza o pergolado metálico para proteger a área social do sol poente (VIDRADO, 2011). Outro tipo de pergolado citado pelo site Build (2014) é aquele desenvolvido com tecido tensionado (Fig. 9), chamado de pergolado de vela. Este não se encaixa perfeitamente na definição de pérgula, visto FIGURA 09 que não possui viga na horizontal. Sua composição consiste de uma vela presa a pilares dispostos não necessariamente alinhados e na mesma altura, formando um teto. Uma das vantagens dessa categoria é a variedade de cores e tecidos existentes, além de permitir a passagem da luz, devido ao tecido não ser opaco: a luz que atravessa a superfície reflete a cor da vela usada. Além disso, o preço é mais acessível e a construção rápida, sendo a previsão de montagem somente de uma tarde. Para a fixação, utilizase ganchos nos pilares e/ou estrutura da construção em diferentes alturas. No caso de pergolados de maior porte, são necessários materiais mais resistentes como o aço: a vela é rodeada por fios 9 de aço inoxidável, os quais são presos aos ganchos para permitir flexibilidade devido à ação dos ventos, sem deformar a estrutura. As desvantagens ocorrem quando há a escolha de uma vela de baixa qualidade e a montagem incorreta, o que pode diminuir a durabilidade graças à força eólica. O pergolado agregado (Fig. 10) pode estar FIGURA 10 sustentado pela estrutura da construção e/ou de um muro, sendo bastante utilizado em pátios e varandas. Uma das suas vantagens está no acesso, vista a proximidade das construções, o que permite a extensão dos cômodos para o exterior, a qual pode ser facilitada pelo tipo de porta utilizada, como as de correr e de enrolar (portas-camarão). É um tipo que cria áreas de convívio, lazer, estar e passagem. Estão presentes na estrutura vigas principais, que se ligam à estrutura da construção, assim como vigas secundárias na transversal. Ao projetar pérgulas agregadas deve-se levar em conta o escoamento da água, ou seja, a inclinação do telhado, para que as águas sejam direcionadas Adicionalmente, corretamente é para necessário a seguir drenagem. as normas construtivas regidas em cada cidade (BUILD, 2014). FIGURA 11 Ainda segundo o site Build (2014), o pergolado em forma de treliça (Fig. 11) possui essa forma mais por uma questão estética do que estrutural, pois as pérgulas são elementos leves. Dependendo do ângulo que a treliça forma pode-se gerar uma maior proteção solar, mesmo o conjunto não estando coberto completamente. Visto que a estrutura é feita com base nos telhados convencionais, este pode ser coberto por um filtro de luz ou vegetação. Com isto, a cobertura cria a sensação de uma sala no exterior. A construção é feita por vigas presas umas às outras, formando as tesouras, assim como vigotes para unir as tesouras e criar o formato triangular requerido. O único problema desse tipo de pergolado são as rajadas de vento que pressionam a fixação das vigas e podem destelhar o pergolado, caso este seja coberto. FIGURA 12 Um pergolado possibilita ainda o uso de painéis solares para cobrir a estrutura, o que pode ser feito impedindo parcialmente a passagem da luz (Fig. 12) ou mesmo completamente (Fig. 13). Esses painéis, de acordo com o site Build (2014), proporcionam uma excelente sombra, assim como boa proteção contra a chuva. Paralelamente, fornecem energia considerada limpa, por não poluir e afetar o meio ambiente. Embora 10 possa ser instalado em qualquer local, a forma apenas FIGURA 13 é limitada pelo formato das placas solares. Indica-se também que seja instalado perto dos cômodos, os quais possam aproveitar a energia gerada. Destaca-se que o investimento inicial de instalação é mais caro do que pérgulas sem as placas, entretanto, a economia de energia elétrica compensa ao longo dos anos. Contudo, não necessita estar ligado à rede de energia da casa, pois pode ser utilizado somente para iluminação externa, por exemplo. Para a instalação desse tipo de pergolado é necessário levar em conta a resistência da estrutura para suportar todo o peso, além da posição e inclinação correta dos painéis para que a incidência de luz sobre eles seja a máxima possível. Portanto, se os painéis forem inseridos em uma pérgula preexistente, deve ser analisado se a estrutura suporta a instalação e se serão necessárias modificações na inclinação da estrutura de cobertura. As vantagens do pergolado com painel solar são a utilização de um espaço que não estava sendo empregado para a geração de energia elétrica, assim como menor gasto da energia elétrica da rede e a possibilidade de diferentes formas. Porém, há desvantagens como em alguns tipos de pergolado em que não se permite a passagem de luz solar, além de custo elevado de implantação em comparação a uma cobertura comum e maior dificuldade de proteger contra as intempéries, visto que não existem paredes (BUILD, 2014). Em relação à construção da estrutura do FIGURA 14 pergolado, diversos materiais podem ser utilizados, tais como tijolos, pedra, madeira e concreto. Com vistas à sustentabilidade, materiais também metálicos que devem ser incluídos tiveram sua produção cerificada, como aço e alumínio, que podem ser reutilizados. Obviamente, quando a questão é reciclagem, vale a pena optar também pela madeira de demolição (Fig. 14), a qual reaproveita um material já utilizado, diminuindo o descarte das construções. A fim de impedir a passagem das águas pluviais, os pergolados são, em diversos casos, cobertos. Um material muito utilizado é o vidro, visto que possibilita a transparência, permitindo a passagem da luz e a criação de sombras pela estrutura. Há ainda as vegetações, que contribuem para o meio ambiente e permitem o contato com a natureza, gerando um local mais agradável aos usuários. Na opinião de Portilho (2014), as trepadeiras indicadas para pergolados são: maracujá, uva, flor-de-cera, jasmin-estrela, lágrima-de-cristo, sapatinho-de-judia e trepadeira-de-arco. Entretanto, é necessário utilizar uma vegetação que possa ser suportada pela estrutura. 11 Outros materiais são também utilizados para cobrir as pérgulas, criando diferentes texturas e sombras. De acordo com o espaçamento entre as peças, permite-se mais ou menos a passagem da luz solar. Exemplificando, para criar efeitos com luz e sombra, utiliza-se o bambu (Fig. 15), proporcionando ripas e vigas de madeira dispostas mais próximas FIGURA 15 umas da outras. O tecido é também utilizado sobre as vigas para gerar uma cobertura para o pergolado que permita certa transparência, além de tornar o local ainda mais aconchegante. Segundo Petschek et Gass (2011), a maioria das estruturas em pérgulas ainda é construída de madeira. Como o conceito de sustentabilidade na construção civil está bastante relacionado ao uso de materiais de fontes renováveis, os quais demandam baixo consumo de energia em sua produção, o emprego de pergolados em madeira torna-se uma opção da arquitetura mais sustentável. A partir do gráfico da Figura 16, é possível observar que a madeira é o material que menos consome produção, seguido energia na sua pelo bloco de concreto, o que a coloca na categoria de material que contribui para a sustentabilidade, devido à baixa emissão de Gás Carbônico (CO2) na atmosfera FIGURA 16 (PLANTAR, 2012). Além disso, o pergolado pode contribuir para a eficiência energética da construção se for corretamente empregado. Uma das maneiras, segundo o site Urbane (2014), seria utilizá-lo na vertical com vegetação em uma parede dupla ventilada. Isto porque as fachadas duplas ventiladas fazem a transição entre as zonas do exterior e interior, reduzindo a perda de calor no inverno e o ganho de calor no verão, pois não há radiação direta no ambiente e a ventilação entre os espaços entre as duas fachadas melhora o desempenho. Adicionalmente, as pérgulas podem ser utilizadas nos pátios, o que fornece a ventilação por espaços intermediários. Essa solução é empregada, ainda de acordo com o site Urbane (2014), em locais com clima quente e seco, embora também possa ser aplicada em outros climas. Isto permite a circulação do ar pelos espaços intermediários juntamente com os corredores e cômodos, ocorrendo a ventilação cruzada nos ambientes, a partir de venezianas associadas às portas internas dos compartimentos. Outra forma de empregar pérgulas para obter uma melhor eficiência energética consiste no 12 pergolado agregado ao edifício. Segundo Lamberts, Dutra et Pereira (1997), a luz natural é superior à artificial, já que permite ao usuário a percepção espaço-temporal, através das intensidades diferenciadas de luz e sombra e da reprodução das cores, além de gerar menor quantidade de calor por lúmen (unidade de fluxo luminoso) do que a luz artificial. O uso do pergolado como elemento externo à edificação garante sombreamento e diminuição da incidência de radiação solar direta, permitindo apenas a entrada da luz natural (FONSECA et al., 2010). De acordo com Amorim (2014), "um bom projeto de iluminação natural pode fornecer a iluminação necessária durante 80/90% das horas de luz diária, permitindo uma enorme economia de energia em luz artificial" (p. 2). O pergolado, além de favorecer a iluminação natural, contribui para a diminuição de ganhos e perdas térmicas durante as diferentes estações dos anos. O site Habitare (2014) propõe a inserção de pérgulas com vegetação caducifólia4 junto à fachada oeste e revestimento externo com cores claras para evitar o ganho de calor nos meses mais quentes. O pergolado intercepta a radiação durante as estações mais quentes e possibilita a passagem da radiação nos meses mais frios. Por sua vez, outro pergolado é proposto na fachada norte para gerar sombra nos meses quentes e permitir a passagem da radiação nos meses frios. Finalizando, a contribuição do pergolado à construção mais sustentável ainda inclui o aumento da biodiversidade local, devido à possibilidade de se utilizar vegetação sobre a estrutura, o que acaba por atrair espécies de pássaros e insetos. Além disso, faz com que ocorra a redução na transmissão do calor absorvido pelo piso durante o dia, o qual é refletido para a edificação durante a noite. Ainda a partir da vegetação, permite a melhoria do clima urbano através do aumento da umidade no ar e retenção de partículas de pó, auxiliando no combate à poluição atmosférica (SOLANO, 2014). 6 MATERIAIS E MÉTODOS De cunho teórico-conceitual e caráter exploratório, esta pesquisa sobre o emprego de pergolados na arquitetura contemporânea e sua relação com a questão da sustentabilidade teve base em uma revisão web e bibliográfica, a partir de livros, textos e artigos. Voltada à iniciação científica, a metodologia envolveu algumas etapas, começando pela coleta e seleção de fontes de pesquisa, seguida pela leitura e organização de informações a respeito da arquitetura sustentável; origem dos pergolados, suas características e tipologia; e, finalmente, o uso contemporâneo desses elementos, suas vantagens e desvantagens. Na sequência, fez-se o estudo de um caso internacional, procurando ilustrá-lo, descrevê-lo e analisá-lo em seus aspectos estruturais, funcionais e estéticos. Concluiu-se a pesquisa com algumas observações finais, além a elaboração deste relatório final e a preparação da apresentação dos resultados no 22º EVINCI (Evento de Iniciação Científica) da UFPR, previsto para ocorrer em outubro de 2014. 4 Vegetação que perde as folhas durante certas estações do ano, geralmente nos meses mais frios, para diminuir o gasto de energia e sobreviver (N. autora). 13 7 RESULTADOS E DISCUSSÃO A revisão web e bibliográfica realizada possibilitou constatar que o pergolado possui diferentes usos, funções e formatos. Pode contribuir para a sustentabilidade arquitetônica se empregado corretamente, a partir da escolha do material e posicionamento no espaço. Para sua aplicação, deve-se estudar o local onde será inserido, a incidência solar e também o entorno. O sucesso da construção sustentável está relacionado, principalmente, com um projeto bem feito. Para ilustrar a possibilidade de maior sustentabilidade a partir do uso contemporâneo de pérgulas, buscou-se um estudo de caso internacional que seguisse parâmetros ambientais e possuísse estética interessante, já tendo sido executado e publicado em meios acadêmicos e profissionais. A partir de informações coletadas em livros e sites eletrônicos, de maneira objetiva, descreve-se e analisa-se na sequência o Sino-Italian Ecological and Energy Efficient Building – SIEEB, implantado no campus da Universidade de Tsinghua em Beijing, China. ESTUDO DE CASO Sino-Italian Ecological and Energy Efficient Building (2005/06, Beijing – China) Mario Cucinella Architects Localização: Tsinghua University, Beijing – China Área do projeto: 20.000 m² Data do projeto: 2003 Data de construção: 2005/06 Autoria: Mario Cucinella Architects Este projeto originou-se a partir de um acordo de cooperação bilateral entre a Itália e a China, consistindo em um centro sino-italiano de educação, treinamento e pesquisa na área de proteção ambiental e economia de energia, localizado na capital chinesa, Beijing (antiga Pequim). Em meio a discussões para a redução de emissão de Gás Carbônico (CO2), segundo Gerolla (2007), decidiu-se pela construção de uma nova geração de edifício sustentáveis, a qual seria iniciada com a construção deste SIEEB. A proposta foi um trabalho em conjunto de projetistas do Centro Politécnico de Milão, do escritório do arquiteto italiano Mario Cucinella (1960-) e dos engenheiros Fávero & Milan, resultando em um complexo formado por salas para docência e investigação científica, escritórios e um auditório para 200 pessoas (Figs. 17 e 18). FIGURA 17 FIGURA 18 14 Com cerca de 20.000 m² de área construída e FIGURA 19 40 m de altura, a edificação teve um custo estimado em 20,5 milhões de euros, de acordo com Duran et Herrero (2010), tendo como clientes o Ministério do Meio Ambiente e Território da Itália e o Ministério da Ciência e Tecnologia da China. A demanda energética é de 15,6kWh/m²/ano de eletricidade e 30,3m³/m²/ano de gás. Implantado em uma área urbana cercada por dez edifícios altos, o complexo apresenta sua forma resultante de estratégias voltadas à sustentabilidade, o que conduziu a uma simetria em forma de "U", com a fachada FIGURA 20 sul voltada para um pátio interno, caracterizado por uma série de pergolados e terraços (Fig. 19); e a fachada norte, totalmente opaca e isolada (Fig. 20). A edificação está inserida, também simetricamente, em um terreno quadrado de 60 x 60 m (Fig. 21) (CUCINELLA, 2014). O conjunto teve a orientação sul maximizada, a partir de simulações gráficas e estudos realizados por uma equipe de técnicos milaneses (Fig. 22). O intuito foi o de prever as sombras e todas as possibilidades relacionadas ao desempenho energético do edifício. Na fachada sul, localiza-se um conjunto de pergolados agregados à estrutura que gera sombra nos terraços. Já a fachada norte é mais fechada e isolada, para evitar os ventos frios do inverno; e, a leste e oeste, há uma dupla película de vidro com controle solar, para FIGURA 21 minimizar a luz e a radiação direta. O emprego de vidros acabou por favorecer a iluminação natural: por isto, os pavimentos do edifício inclinam-se, fazendo com que a iluminação atravesse todo o complexo e chegue ao pátio interno (GEROLLA, 2007). Quanto à setorização funcional, ainda de acordo com a mesma fonte, o conjunto edificado possui duas partes distintas: inferior e superior. A primeira, entre o subsolo e o primeiro andar, possibilita o acesso público, com hall de entrada, área de exibições e auditório, além de estar fisicamente ligada à rua. Para dar maior acessibilidade a essa porção do prédio, o térreo foi desenvolvido com entradas para ambos os lados, norte e sul (Fig. 23). Na face norte, uma fachada em dois níveis dá acesso ao edifício e transparece o pátio interno com seus jardins, que 15 podem ser vistos por todos que transitam na rua ou se encontram nos prédios em frente ao SinoItalian Ecological and Energy Efficient Building – SIEEB. FIGURA 22 De acordo com Gerolla (2007), os andares inferiores receberam um design mais complexo e dinâmico, com rampas, passagens, níveis irregulares e jardins, conferindo a todo o espaço público maior movimento em ambientes e perspectivas diferenciadas. Já os andares superiores, a partir do segundo pavimento, estão totalmente ocupados por escritórios e laboratórios de pesquisa. Como ambiente de trabalho e concentração, o desenho desses pavimentos adquiriu contornos mais regulares e tradicionais, voltando-se à face sul do terreno (Fig. 23). FIGURA 23 16 A fachada do edifício apresenta um recorte elegante e altamente funcional, coerente com a idealização do projeto. O elemento pode ser entendido como um envelope especial que cobre a construção e tem papel crucial na estratégia de preservação do meio ambiente. Dessa forma, cada uma das orientações – norte, sul, leste e oeste – recebeu um tratamento diferente (GEROLLA, 2007, p. 1). A fachada norte, voltada para a entrada principal do campus, foi desenvolvida para ser quase que totalmente opaca e isolada, sendo composta externamente por vidros azuis, os quais protegem contra as baixas temperaturas; e, no lado de dentro, por diferentes sistemas de canais para ventilação que direcionam o ar para o jardim e para os envelopes leste e oeste (Fig. 24). Na face sul, os pavimentos se projetam em comprimentos desiguais para fora da fachada, tornandose mais alongados pela estrutura das placas fotovoltaicas, que atuam como brises5 (Fig. 25). As fachadas leste e oeste exibem uma pele dupla composta por módulos de vidros transparentes e opacos, além de uma pele externa que produz um efeito de linhas de seda horizontais de diferentes espessuras, promovendo uma vibração elegante e contribuindo com o desempenho termoenergético dos interiores. Componentes como brises e persianas embutidas também foram introduzidos para controlar a incidência da luz e distribuí-la da melhor forma pelos ambientes (GEROLLA, 2007; CUCINELLA, 2014). A estrutura do edifício é basicamente em aço; FIGURA 24 material cuja escolha deu-se baseada na sua possível reutilização, tendo sido empregado na sustentação dos pavimentos acima do térreo. As escadas e elevadores situados em dois blocos a leste e a oeste são envoltos por uma estrutura de aço, que contribui para a estabilidade da construção. Os terraços são cobertos por pergolados de aço com painéis solares que atuam FIGURA 25 como brises-soleil. Segundo o site MoreAEdesign (2014), a cobertura da construção é feita a partir de uma forma de concreto pré-moldado de 12 cm colocado sobre uma estrutura de aço interno, possuindo um isolamento de 5 cm e recobrimento de 3 cm de pavimentação em pedra, cercada por paralelepípedos. As lajes são feitas em concreto e se integram com a estrutura metálica. Os pavimentos subterrâneos são sustentados por pilares de concreto de 8 m x 8 m, sobre fundações de até 8 m de profundidade. 5 Esse recurso faz o edifício lembrar um grande arquivo com gavetas abertas; imagem pertinente a uma edificação dedicada à pesquisa e documentação. Muito além da questão estética, entretanto, o desenho buscou a um só tempo conferir proteção contra a incidência solar e transparência à obra (GEROLLA, 2007). 17 Como o intuito do edifício era FIGURA 26 o de diminuir a emissão do CO2, foram implantadas fotovoltaicas, assim placas como equipamentos utilizados no forro e cômodos para regular a temperatura e evitar o gasto desnecessário de energia. A construção inclui 190 módulos de placas fotovoltaicas na fachada sul (Figs. 26 e 27), as quais produzem com incidência máxima solar de 19,95kWp. Além disso, o estudo da iluminação natural e artificial resultou em um sistema automático que regula a iluminação artificial nos escritórios e laboratórios a partir da necessidade captada pela presença de luminescência (Figs. 28 a 30). FIGURA 27 Por fim, o edifício também reutiliza as águas provenientes da captação da chuva pela cobertura e igualmente das águas cinzas, provenientes do uso das pias ou de limpeza, em funções sanitárias, sendo realizada uma filtração antes da reutilização. Há reservatórios para ambos os tipos de água, interligados ao sistema de esgoto público caso se atinja o limite dos reservatórios (Figs. 31 e 32). 18 FIGURA 29 FIGURA 28 FIGURA 30 Como todos os elementos constitutivos dessa arquitetura demonstram, em nenhum segundo perdeu-se o fio de condução do trabalho focado no conceito da sustentabilidade [...] A ética encontra-se além do design do edifício, que busca maximizar o aproveitamento de recursos renováveis. A funcionalidade da arquitetura encontrou aqui ótimo resultado no próprio sentido de existência do edifício, que recebe cientistas e pesquisadores preocupados em preservar o meio ambiente para as futuras gerações (GEROLLA, 2007, p. 1). FIGURA 31 Estratégias Ambientais (Verão) - Proteção solar - Superfície verde - Captação voltaica (ganho solar) - Ventilação de espaços abertos - Coleta de águas pluviais FIGURA 32 Estratégias Ambientais (Inverno) - Insolação (ganho solar) - Alto isolamento (Dupla película) - Proteção ao vento frio - Coleta de águas pluviais 19 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS De forma introdutória ao tema, esta pesquisa abordou o emprego do pergolado através do tempo, além dos seus diferentes tipos, usos e materiais utilizados em projetos de edificações. Sendo a sustentabilidade das construções uma preocupação atual, pôde-se observar como este elemento arquitetônico pode contribuir para com esta, por meio de seu uso correto para a eficiência energética, geração de sombras, melhoria do conforto e maior contato com a natureza. Além disso, a escolha de um material que gasta menos energia para ser utilizado na construção de um pergolado – como é o caso da madeira, especialmente a certificada e/ou provemniente de reciclagem – também favorece esse objetivo. Com o estudo de caso, foi possível apresentar um exemplo internacionalmente reconhecido da utilização do pergolado em contribuição à sustentabilidade. O uso combinado do pergolado com a tecnologia permitiu a geração de energia para consumo do próprio edifício, ao mesmo tempo em que se criaram áreas sombreadas destinadas aos terraços de escritórios e laboratórios de pesquisa. Como exemplo da efetividade desse tipo de tecnologia, enfocou-se o Sino-Italian Ecological and Energy Efficient Building – SIEEB, que foi criado para servir como referência mundial de prédio sustentável, logrando pleno sucesso. A maior dificuldade encontrada durante a pesquisa esteve associada à pouca bibliografia voltada ao assunto – arquitetura de pergolados –, tanto em inglês ou espanhol, mas principalmente em português. Em geral, as informações mais frequentes estão relacionadas a questões estéticas e não funcionais, sendo a maioria com o intuito de venda do produto através de sites comerciais. Apesar disso, foi possível encontrar subsídios para a construção de um panorama geral sobre esse elemento arquitetônico de origem antiga, mas com grande potencialidade de emprego contemporâneo. Como continuação da pesquisa, podem-se apontar outros casos de estudos internacionais e/ou nacionais, assim como um maior aprofundamento técnico do desempenho do pergolado no que se refere à economia energética. 9 REFERÊNCIAS ADAM, R. S. Princípios do ecoedifício: Interação entre ecologia, consciência e edifício. São Paulo: Aquariana, 2001. AMORIM,C. N. D. 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