ENSINO DE CIÊNCIAS NA PERSPECTIVA WALDORF: PRIMEIROS

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ENSINO DE CIÊNCIAS NA PERSPECTIVA WALDORF: PRIMEIROS
Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014
V Enebio e II Erebio Regional 1
ENSINO DE CIÊNCIAS NA PERSPECTIVA WALDORF: PRIMEIROS OLHARES
Carolina Gulyas Figueiredo (Programa de Pós Graduação em Educação para Ciência – FC
UNESP Bauru)
Luciana Maria Lunardi Campos (Instituto de Biociências – IBB UNESP Botucatu)
Resumo
Este artigo apresenta resultados de uma pesquisa que tem por objetivo identificar e analisar
características do ensino de Ciências no âmbito da pedagogia Waldorf. Baseada na
antroposofia, a Pedagogia Waldorf visa o desenvolvimento físico, emocional e espiritual do
aluno. O ensino de Ciências é abordado, tendo como base o processo cognitivo descrito por
Goethe, sendo iniciado no 1º ano do ensino fundamental de maneira narrativa, ganhando
características científicas a partir do 4º ano. Foram observadas aulas de ciências em uma
escola Waldorf de São Paulo e os dados obtidos foram organizados em quatro categorias.
Verificou-se que a metodologia empregada envolve experimentação (observação, testagem,
elaboração de relatórios e de síntese), diálogo e incentivo ao pensamento autônomo sobre os
processos observados.
Palavras-chave: Pedagogia Waldorf. Ensino de Ciências. Antroposofia
Introdução
Este artigo apresenta resultados parciais de uma pesquisa de mestrado em andamento que tem
como objeto de estudo o ensino de ciência sob a perspectiva da Pedagogia Waldorf. No
Brasil, a pedagogia Waldorf é um tema pouco conhecido e explorado na área da educação
com poucos trabalhos acadêmicos registrados.
A pedagogia Waldorf foi introduzida por Rudolf Steiner em 1919, em Stuttgart, Alemanha,
inicialmente em uma escola para os filhos dos operários da fábrica de cigarros WaldorfAstória. Baseada na Antroposofia, possui métodos pedagógicos em oposição ao dualismo do
pensamento ocidental e a abordagem cartesiana (STEZER, 2010).
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A antroposofia ou ciência espiritual antroposófica foi fundamentada e estruturada por Steiner
e significa “sabedoria do homem”, mas não é apenas antropologia, é uma ciência do cosmo
(PROKOFIEFF, 2006; LANZ, 1994).. Reconhece todas as descobertas da ciência e utiliza o
método científico através da observação, descrição e interpretação dos fatos, mas reconhece
também a existência de um mundo espiritual (suprassensível), no qual se encontra a origem
da verdadeira essência do ser humano, assim é vista como uma ampliação da Ciência Natural,
englobando ao ser humano níveis físico, vital, anímico e espiritual que se inter-relacionam.
Steiner acreditava que a educação exerce um papel fundamental nas questões sociais,
enquanto meio de obter uma reforma da sociedade e das relações humanas, principalmente
através da valorização do ser humano e do desenvolvimento espiritual do homem. Por esse
motivo, buscou uma estratégia pedagógica que incluía o desenvolvimento espiritual do aluno
e sua interação cósmica com o universo (STEZER, 2010).
Assim, a Pedagogia Waldorf tem como premissa uma educação mais humanizada e
harmônica, através do desenvolvimento das potencialidades dos alunos, seja na esfera física,
emocional ou espiritual, levando em consideração um desenvolvimento completo e, portanto
é considerada como uma pedagogia holística. Objetiva uma formação integral e o
desenvolvimento da criatividade, autoestima e objetividade de pensamento, juntamente com
uma visão mais ampla e completa do mundo (SETZER, 2010). Além disto, combate
explicitamente a visão materialista/consumista que permeia nossa sociedade e busca resgatar
um maior contato entre o indivíduo e a natureza e entre o indivíduo e o seu “ser interior”
(SETZER, 2010).
Quando a escola Waldorf foi inaugurada em 1919, Steiner ministrou um curso pedagógico
com duração de três semanas, direcionado aos primeiros professores que atuariam na escola e
a outras pessoas que atuariam nessa pedagogia. O curso foi dividido em três módulos que
abordavam as bases da antropologia antroposófica, metodologia e didática no ensino e
debates sobre as práticas das disciplinas e os caminhos para solucionar os problemas
educacionais (STEINER,1992).
No Brasil, a primeira escola Waldorf foi fundada em 1956, na cidade de São Paulo, através da
iniciativa de um grupo de amigos que estudavam regularmente as obras pedagógicas de
Steiner e tinham como objetivo uma educação que pudessem contribuir para um mundo
melhor. Assim, convidaram o casal Karl e Ida Ulrich, professores na Escola Waldorf de
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Pforzheim (Alemanha), para a fundação da escola no Brasil e tiveram como tarefa lecionar na
escola e preparar os novos professores (MIZOGUSHI, 2002).
Hoje a Escola Waldorf Rudolf Steiner de São Paulo conta com aproximadamente 850
alunos e 75 professores. Desde sua criação surgiram aproximadamente 1.000 escolas no
mundo inteiro, espalhadas por 50 países, sendo 25 instituições escolares oficiais no Brasil. Em
2010, havia um total de 73 escolas Waldorf reconhecidas pela Federação de escolas Waldorf
no Brasil, com 2050 professores e 2500 alunos de jardim de infância, 4180 alunos no ensino
fundamental, 580 no ensino médio (SETZER, 2010).
Steiner enfatiza que a responsabilidade do professor é muito maior do que a tarefa de matéria
de ensino. O professor Waldorf deve levar em conta a totalidade do homem, concebido como
corpo, alma e espírito. Sua maneira de ensinar tem influências sobre a saúde física e psíquica
da criança. O grande desafio de cada professor é transformar a dedicação e seriedade com que
a criança se entrega ao brinquedo em uma seriedade para com o estudo e o trabalho. É
responsabilidade do professor o trabalho de mostrar que a seriedade da vida, que começa na
escola, não precisa ser cinzenta e tristonha, mas cheia de entusiasmo e fervor. (KÜGELGEN,
1984)
O ensino dividido em setênios representa um dos princípios da pedagogia Waldorf, cujo
objetivo é o desenvolvimento equilibrado do indivíduo. Para Rudolf Steiner, a vida humana
não acontece de forma linear, mas em ciclos de aproximadamente sete anos. Assim, em cada
um desses ciclos um determinado membro da entidade humana (corpo físico, corpo etérico,
corpo astral e a organização do eu) se desenvolve de maneira mais pronunciada (LANZ,
1998). A estruturação da vida segundo os setênios, bem como a tipologia segundo os quatro
temperamentos básicos, devem-se a Aristóteles. Rudolf Steiner renovou as teorias
aristotélicas, aprofundando de acordo com seus conhecimentos da época, na tentativa de obter
o conhecimento do homem (KÜGELGEN, 1984).
O currículo traz todas as disciplinas sugeridas pelos documentos oficiais, como
História, Geografia, Linguagem, Matemática, Línguas Estrangeiras, Ciências, Artes (trabalhos
artesanais e atividades corporais), além de outras como jardinagem, desenho de formas,
marcenaria, música, etc. Os conteúdos e a metodologia a ser aplicada estão organizados
respeitando-se os setênios (LANZ, 1998).
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Cada grupo de alunos que ingressa no primeiro ano tem um (a) professor (a) que acompanha
essa turma durante os oito anos do Ensino Fundamental. Além de ministrar as matérias
básicas, o professor tem a possibilidade de conhecer em profundidade cada criança e pode
desenvolver um acompanhamento mais individualizado nas necessidades de cada uma delas.
O professor da classe acompanha o grupo em viagens, estabelece o elo entre as famílias das
crianças e cria um grupo social integrado entre elas. Em vista disso, a formação do professor é
um fator determinante na pedagogia Waldorf, pois ele deve ter conhecimento não somente do
currículo proposto, mas também de como ocorre o desenvolvimento do ser humano de acordo
com Steiner. (LANZ, 1998).
Considerando o exposto, o objetivo central desse estudo é identificar e analisar
características do ensino de ciências proposto pela Pedagogia Waldorf.
Aspectos Metodológicos
Para a realização da pesquisa optou-se por uma abordagem qualitativa, na qual serão
utilizadas para análise diferentes textos que tratam sobre a Pedagogia Waldorf (livros e
trabalhos acadêmicos), observação de aulas da disciplina de ciências, entrevistas com
professores; análise de apostilas específicas para ensino de ciências e conhecimento adquirido
durante o curso de formação de professores Waldorf.
A abordagem qualitativa neste contexto mostrou-se mais condizente com o objeto de
estudo, pois permitiu a livre expressão das informações, experiências e vivências dos sujeitos,
além de estar mais adequada a trabalhar com um universo de significados, não se
preocupando em quantificar, mas em compreender a dinâmica das relações através das
crenças, valores, atitudes e hábitos (MINAYO, 1994).
Neste texto serão apresentados dados parciais referentes à primeira fase da pesquisa e
coletados por meio de observação, entendida como estratégia que possibilita o contato mais
direto com a realidade e a obtenção de informações sob determinados aspectos dessa
realidade, sem a utilização de meios técnicos especiais. A observação é, geralmente,
empregada em estudos exploratórios sobre o campo a ser pesquisado (LAKATOS;
MARCONI, 1996).
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Foram realizadas observações de aulas de ciências em uma turma do oitavo ano, com
30 alunos, durante uma semana, na escola Waldorf Rudolf Steiner, em São Paulo. As
observações foram realizadas a partir de um roteiro previamente planejado e definido,
contendo informações sobre o número de alunos, o conteúdo ministrado, série, organização
do espaço, como se inicia a aula, comportamento dos alunos, contextualização do conteúdo,
recursos utilizados, relação professor – aluno e atividades desenvolvidas.
Resultados e discussões
Os dados coletados foram organizados em quatro categorias: Organização geral e
rotina diária, Conteúdo, Metodologia de ensino e Interações.
Organização geral e rotina diária
O ensino na pedagogia Waldorf é estruturado em épocas, que correspondem a um
período de três a quatro semanas, nas quais uma matéria é trazida como tema principal (aula
principal), pelo professor de classe nas primeiras horas do dia escolar. Esse período é
identificado como época. Concluído um assunto, outra época se inicia e passa a ocupar o
papel de aula principal e assim sucessivamente, alternado as épocas entre as disciplinas
regulares, matemática, português, ciências, entre outras. Outras atividades que o currículo
Waldorf contem são articuladas de maneira complementar a aula de época, sob perspectiva
interdisciplinar (MIZOGUSHI, 2002).
As observações foram realizadas na época de Ciências, no período de 10 a 14 de
março de 2014 e permitiu verificar que a organização em época possibilitou aos alunos o
contato, de forma concentrada, com conteúdo abordado, o que pode favorecer o
aprofundamento do tema.
Segundo Mizogushi (2002), o objetivo dessa organização é que os alunos recebam os
conteúdos de uma forma não fragmentada, desconectada com o todo ou ainda de uma forma
superficial. O aluno pode efetivamente “mergulhar” e vivenciar profundamente cada matéria.
Verificou-se, ainda, a existência de uma rotina diária. A aula principal sempre começa
da mesma forma, com exercícios para despertar o corpo e a mente, com algumas mudanças de
acordo com a idade dos alunos. Era realizado um alongamento corporal com exercícios de
respiração, seguido de um verso recitado em conjunto por alunos e professor.
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Os alunos tinham atividades de teatro em sua grade curricular e por esse motivo, a
atividade subsequente foi a realização de exercícios de improvisação. Ao término dessa rotina
a aula ciências se iniciava.
Segundo Setzer (2010), a aula principal da época ocorre no período da manhã e tem
duração média de duas horas, sendo ministrada pelo professor de classe até o nono ano e por
professores específicos, que se revezam, no ensino médio.
Conteúdo
A época de Ciências em questão abordou conteúdos de termologia.
Os conceitos abordados pelo professor durante o período de observação foram
condução e isolamento térmico por meio de diferentes materiais; transmissão de calor e frio
através de condução, convecção e radiação; possibilidade de concentrar o calor com o uso de
espelhos refletores.
Durante as aulas os alunos interagiam com o professor, fazendo perguntas,
relembrando experiências vividas anteriormente, em seu cotidiano assim como, de
experiências de outras anos escolares que abordavam o mesmo tema de maneira diferente.
Metodologia de ensino
Nas aulas observadas, verificou-se a utilização de experimentos, diálogos, elaboração
de sínteses (orais e escritas) pelos alunos, exposições orais pelo professor e atividades em
grupo.
Verificou-se, ainda, que a aula é estruturada em momentos bem claros: na primeira
parte, o conteúdo foi apresentado de maneira objetiva; em seguida, o assunto é retomado e o
professor encaminha as discussões objetivando uma retrospectiva e uma ampliação do
observado, cada aluno contribui com sua opinião e impressão e, por fim, o professor conduz
as discussões com o objetivo de obter conclusões sobre o tema. Em todos esses momento, os
alunos expuseram suas observações e conclusões e elaboraram, coletivamente, conclusões
sobre o tema abordado.
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Segundo Mackensen (2011), a aula do ensino Waldorf é organizada em três etapas,
com base no processo cognitivo descrito por Goethe (observação, juízo e conclusão), pois ele
está mais de acordo com o processo cognitivo da criança (TRÍPODI, 2013). Na primeira
etapa, o professor realiza um experimento sobre o conteúdo que ainda será abordado, ao final
do experimento, o professor guarda os materiais e lança perguntas aos alunos que remetam a
experiência, proporcionando o julgamento do ocorrido pelos alunos. Ao término dessa etapa o
professor solicita para os alunos que organizem suas observações em um relatório contento
título, descrição e ilustração.
Com exceção da última aula observada, em todas, foi realizado um experimento, que
iniciava a aula. O experimento era realizado pelo professor, algumas vezes, com o auxílio de
alunos escolhidos ao acaso.
Durante o período de observação foram realizados cinco experimentos, todos
envolvendo termologia. Em um deles:
o professor acendeu o bico de Bunsen e deu para alguns alunos um tubo
de ensaio contendo água aproximadamente até a metade. Entregou os
tubos de ensaio para alguns alunos e convidou aos alunos que
aproximassem da chama o tudo de ensaio, até o momento em que a água
fervesse. Alguns alunos tentaram, mas à medida que a água esquentava
eles interrompiam o procedimento. Até que um aluno segurou o tubo de
ensaio na porção mais próxima da boca (local onde não havia mais água)
e aproximou o final do tubo da chama. (trecho extraído do relatório de
observação – dia 13 de março de 2014).
Em todos os experimentos, os alunos observavam e participavam ativamente. Por
exemplo, em um deles, os alunos foram vendados e sentados em frente aos espelhos e
experimentaram maior ou menor intensidade de calor, com a aproximação ou afastamento de
um bico de Bunsen. Em outro, os alunos montaram uma tabela na lousa com os dados obtidos
e a partir disso o professor pediu que os alunos descrevessem os eventos.
Ao término da experiência, o professor guardava todo o material antes de iniciar
qualquer diálogo com a turma. Em seguida, solicitava aos alunos que descrevessem oralmente
de maneira objetiva e ordenada os acontecimentos do experimento e ao final da aula era
solicitada a elaboração de um relatório contendo materiais utilizados, descrição do observado
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e ilustração do experimento. A leitura do relatório era realizada por alguns alunos, no dia
seguinte, e o professor apresentava sugestões de melhorias, caso fosse necessário.
Foi solicitado, ainda, que os alunos, em grupo, elaborassem e escrevessem algumas
conclusões sobre as experiências que acompanharam durante toda a semana.
A discussão de alguns conceitos era realizada a partir da exposição pelo professor das
conclusões dos grupos na aula seguinte. Os alunos anotaram em seus cadernos uma síntese
das conclusões.
Interações
Durante toda a aula o professor dirige o processo de aprendizagem, sendo através da
realização das experiências controladas, seja pela maneira como a aula é construída em três
momentos distintos: 1) uma fase de reconhecimento, 2) uma fase de compreensão e 3) uma
fase de domínio. Em 1 o aluno pode vivenciar, observar e experimentar; em 2 o aluno passa
pelo processo de recordar, descrever, caracterizar e anotar e em 3 ele tem a possibilita de
processar, analisar, abstrair e generalizar (elaboração de teorias). No entanto, é preciso levar
em consideração que esse processo de 3 etapas não deve ocorrer em uma única aula. Assim, a
fase 3 ocorre depois de uma pausa, para que o aluno possa se distanciar daquilo que
assimilou, desta maneira o passo 3 só ocorre no dia seguinte (RICHTER, 2002)
Kügelgen (1984) aponta que Steiner acredita que o professor deve ser capaz de
transmitir vida a outra vida através do exemplo do professor estimulado e vitalizado. Steiner
(1999, p.156) diz claramente aos professores: “Na oitava série, os senhores terão de elaborar
uma imagem do homem apresentando o que foi construído nele a partir do exterior: a
mecânica dos ossos e dos músculos, a construção interior do olho e assim por diante...Se os
Senhores conseguirem estruturar o ensino das ciências naturais conforme acabamos de
abordar, poderão torná-lo extraordinariamente vivido; e a partir das ciências naturais
despertarão na criança um interesse por tudo o que há no mundo e por tudo o que é humano.”
Considerações finais
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O objetivo do estudo das Ciências nas escolas Waldorf está baseado no estudo
fenomenológico da natureza e de suas leis, bem como no processo de evolução do
pensamento humano nas ciências e suas tecnologias. Assim, o pedagogia Waldorf entende
que talvez o método científico, dado através da observação de fenômenos, levantamento de
hipóteses e verificação das mesmas através de experiências controladas, não seja o mais
adequado para alunos entre 12 e 18 anos, pois o método científico não ocorre naturalmente
durante a aprendizagem da criança.
O ensino de Ciências ocorre desde o primeiro ano fundamental, no entanto nessa idade
tais conteúdos são vistos de maneira descritivas e narrativas abrangendo o ensino de animais,
plantas e paisagens. Ao aproximar-se dos nove anos, inicia-se o ensino de Ciências com uma
explicação sobre o homem, embora a abordagem da, pois para Steiner, de outra forma o
ensino ficará totalmente deteriorado. Apesar de ser pouca coisa a ser dita a criança de nove
anos sobre a história natural do homem seja restrita, é interessante que durante o andamento
do ensino seja proporcionado a criança o sentimento de que o ser humano é uma síntese dos
demais reinos naturais (mineral, vegetal e animal). Sendo conveniente, começar pela
descrição exterior da figura humana (STEINER, 2014). No quarto ano, os conteúdos
abrangem a relação de alguns organismos com o homem (relacionando os animais com o ser
humano). Desta forma, o aluno aprende por exemplo, que o ser humano pode ser dividido em
cabeça, tronco e membros e aprende que a ovelha é um “animal tronco”, pois em sua
constituição os processos metabólicos (ex. digestão e temperatura do corpo), exercem um
papel dominante (STEINER, 2014). Nas séries seguintes os conteúdos abordados possuem
uma fundamentação mais cientifica, passando a incluir o estudo de física, astronomia,
química, mineralogia, a partir do sexto ano (STEINER, 1999).
Tendo em vista os dados parciais coletados até o momento, é possível perceber que o ensino
de ciências na pedagogia Waldorf busca promover um ensino de cunho mais universal, e tem
como base construir um indivíduo capaz de observar a natureza e chegar as suas conclusões,
tendo como referência princípios científicos. Em um primeiro momento, pode-se perceber que
as aulas de ciências buscam incitar a curiosidade dos alunos apoiando-se frequentemente em
modelos experimentais, promovendo o debate e julgamento da situação pelos próprios alunos.
No entanto, os dados coletados serão complementados, buscando-se identificar as
características principais do ensino de Ciências na Pedagogia Waldorf.
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