Dissertação - IME

Transcrição

Dissertação - IME
MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
SECRETARIA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA
CURSO DE MESTRADO EM ENGENHARIA CARTOGRÁFICA
DIOGO DOS SANTOS ADELINO
VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES CARTOGRÁFICAS
Rio de Janeiro
2006
INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA
DIOGO DOS SANTOS ADELINO
VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES CARTOGRÁFICAS
Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de
Mestrado em Engenharia Cartográfica do Instituto
Militar de Engenharia, como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em Ciências em
Engenharia Cartográfica.
Orientador: Prof. Luiz Felipe Coutinho Ferreira da Silva
- D.E.
Rio de Janeiro
2006
2
c2006
INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA
Praça General Tibúrcio, 80 – Praia Vermelha
Rio de Janeiro - RJ
CEP: 22290-270
Este exemplar é de propriedade do Instituto Militar de Engenharia, que poderá incluí-lo
em base de dados, armazenar em computador, microfilmar ou adotar qualquer forma de
arquivamento.
É permitida a menção, reprodução parcial ou integral e a transmissão entre
bibliotecas deste trabalho, sem modificação de seu texto, em qualquer meio que esteja
ou venha a ser fixado, para pesquisa acadêmica, comentários e citações, desde que
sem finalidade comercial e que seja feita a referência bibliográfica completa.
Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do(s) autor(es) e
do(s) orientador(es).
A229 Adelino, Diogo dos Santos
Variáveis Táteis para Representações Cartográficas / Diogo dos Santos Adelino. - Rio de
Janeiro : Instituto Militar de Engenharia, 2006.
128 f. : il., graf., tab. : - cm.
Dissertação (mestrado) - Instituto Militar de Engenharia, 2006.
1. Variáveis Visuais. 2. Cartografia Tátil. 3. Deficiência Visual. 4. Percepção
Visual e Tátil.
CDD 526
3
INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA
DIOGO DOS SANTOS ADELINO
VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES CARTOGRÁFICAS
Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em Engenharia
Cartográfica do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para a obtenção
do título de Mestre em Ciências em Engenharia Cartográfica.
Orientador: Prof. Luiz Felipe Coutinho Ferreira da Silva - D.E.
Aprovada em 06 de abril de 2006 pela seguinte Banca Examinadora:
_______________________________________________________________
Prof. Luiz Felipe Coutinho Ferreira da Silva - D.E. do IME - Presidente
_______________________________________________________________
Prof. Oscar Ricardo Vergara - D. E. do IME
_______________________________________________________________
Prof. Manoel do Couto Fernandes - D. C. da UFRJ
Rio de Janeiro
2006
4
AGRADECIMENTOS
Um trabalho desta magnitude jamais poderia ter sido realizado através dos esforços de
uma única pessoa. Ele é resultado de várias pessoas, uma união de dedicação,
trabalho, amor e amizade de diferentes indivíduos, que direta e indiretamente
contribuíram de alguma forma para esta dissertação. Assim, a única forma que há de
retribuir é dedicando este trabalho a estas pessoas, agradecendo-as, pois a contribuição
dada para a elaboração deste trabalho jamais poderá ser recompensada.
Assim, agradeço, em primeiro lugar a Deus, por permitir mais esta vitória pessoal,
essa conquista, mesmo depois de tantos problemas, dificuldades e obstáculos.
A minha família um agradecimento especial. Aos meus pais, Cida e Luiz; aos
meus irmãos, Thiago, Luiz Carlos (Russo), Vitor e Valeria; a minha avó Marinalva e a
minha tia Ademilde; e a minha madastra Célia, um obrigado especial para todas estas
pessoas que mesmo sem ter a dimensão desta conquista, me apoiaram e estiveram
comigo em todos os momentos desta jornada.
A minha noiva Carla, agradeço pela compreensão e pelo conforto emocional que
foram fundamentais nesta minha caminhada. Aos meus sogros Vera Lucia e Antonio
Carlos, que sempre me receberam bem, e ajudaram-me através de conversas,
conselhos e da farta culinária de minha sogra, carinhosamente chamada de "tia".
Aos meus amigos, que na verdade são meus irmãos, Eduardo, Vinícius,
Alexandre, Cleber um agradecimento de joelhos pois em todo o momento desta jornada
lá estavam eles ao meu lado, ora ajudando na dissertação, ora descontraindo o
ambiente através das mais diversas brincadeiras. Aos meus quatro irmãos um muito
obrigado pela possibilidade em ter vocês como amigos e, com certeza, por ser pela vida
toda.
A minha "mãe acadêmica", Maria Naíse, que com seu perfeccionismo e com sua
fala mansa muito me ensinou nesta vida científica, sendo responsável pelo meu
crescimento tanto profissional quanto como pessoa.
Aos amigos e colaboradores do NEQUAT/UFRJ que indiretamente contribuíram
para a elaboração da dissertação, desde a infra-estrutura até ao ambiente descontraído
de trabalho.
A amiga Alessandra que quanto necessário me cobriu, lecionando nos dias que
estava mais enrolado que linha em carretel.
Aos professores do IME que sempre se mostraram disponíveis, e travam uma
batalha diária para manter os cursos de graduação e pós-graduação com recursos
praticamente inexistente.
Ao meu orientador, Luis Felipe, que esteve comigo em todos os momentos,
principalmente nas horas de desespero. Obrigado por me apoiar e acreditar no meu
trabalho, mesmo nos momentos que nem eu acreditava.
A todas as demais pessoas que, não menos importante, mas que seria inviável
descrevê-las o meu agradecimento, o meu muito obrigado.
A todos vocês meus amigos, que participaram direta e indiretamente, agradeçoos eternamente, e sintam-se vitoriosos também, pois esta vitória não é só minha, mas
de todos vocês.
5
“... Só posso levantar as mãos pro céu;
agradecer e ser fiel; ao destino que Deus me
deu. Se não tenho tudo que preciso; com o
que tenho, vivo; de mansinho, lá vou eu. Se a
coisa não sai do jeito que eu quero; também
não me desespero; o negócio é deixar rolar. E
aos trancos e barrancos, lá vou eu; e sou feliz
e agradeço por tudo que Deus me deu. E
deixa a vida me levar (vida leva eu)...”.
Trecho da música “Deixa a Vida
Me Levar” de Serginho Meriti e Eri do Cais,
interpretado por Zeca Pagodinho.
6
“... Mas digo sinceramente; na vida coisa
mais feia. É gente que vive chorando de
barriga cheia...”.
Trecho da música “Maneiras” de
Sylvio da Silva, interpretado por Zeca
Pagodinho.
7
SUMÁRIO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES..................................................................................
10
LISTA DE TABELAS............................................................................................
13
LISTA DE SIGLAS...............................................................................................
14
1
INTRODUÇÁO..........................................................................................
17
1.1
Posicionamento do Trabalho.....................................................................
17
1.2
Objetivos...................................................................................................
19
1.3
Justificativa do Estudo...............................................................................
20
1.4
Desenvolvimento do Trabalho...................................................................
23
2
DEFICIÊNCIA VISUAL E A PERCEPÇÃO..............................................
26
2.1
A Deficiência Visual...................................................................................
26
2.1.1
Definições e Classificações.......................................................................
26
2.1.2
Representatividade dos Deficientes Visuais.............................................
27
2.1.3
Tecnologias de Acessibilidade para os Deficientes Visuais......................
29
2.2
A Percepção..............................................................................................
31
2.2.1
O Sentido da Visão...................................................................................
32
2.2.1.1
A Anatomia do Globo Ocular.....................................................................
32
2.2.1.2
O Processo de Visualização.....................................................................
34
2.2.2
O Sentido do Tato.....................................................................................
37
2.2.2.1
A Anatomia da Pele...................................................................................
37
2.2.2.2
O Sistema Tátil..........................................................................................
39
2.3
A Percepção Tátil......................................................................................
39
3
CARTOGRAFIA TÁTIL.............................................................................
45
3.1
A Importância dos Mapas..........................................................................
45
3.2
Contextualização Histórica........................................................................
53
3.3
Cartografia Tátil: Uma Definição...............................................................
57
3.4
Mapas Táteis.............................................................................................
59
3.5
Métodos de Produção...............................................................................
63
8
4
VARIÁVEIS VISUAIS................................................................................
69
4.1
Cor.............................................................................................................
73
4.2
Valor..........................................................................................................
76
4.3
Forma........................................................................................................
78
4.4
Tamanho...................................................................................................
80
4.5
Textura......................................................................................................
81
4.6
Orientação.................................................................................................
85
5
METODOLOGIA
88
5.1
A Concepção das Matrizes-Bases............................................................
88
5.2
As Matrizes-Bases....................................................................................
91
5.2.1
Símbolos Pontuais....................................................................................
91
5.2.2
Símbolos Lineares.....................................................................................
102
5.2.3
Símbolos Poligonais..................................................................................
104
5.3
Aplicação dos Testes................................................................................
106
6
RESULTADOS.....................................................................................
110
6.1
Símbolos Pontuais................................................................................
110
6.2
Símbolos Lineares................................................................................
112
6.3
Símbolos Poligonais.............................................................................
113
7
CONCLUSÕES....................................................................................
117
BIBLIOGRAFIA........................................................................................................
122
9
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIG. 2.1
Anatomia do olho humano.................................................................
33
FIG. 2.2
Processo de visualização de um determinado objeto no globo
ocular.................................................................................................
35
FIG. 2.3
Estrutura de um globo ocular e as regiões do cérebro que
processam as informações provenientes destes órgãos...................
36
FIG. 2.4
Estrutura da pele com as suas três camadas....................................
37
FIG. 2.5
Epiderme com suas sub-divisões......................................................
38
FIG. 2.6
Derme com suas sub-divisões...........................................................
38
FIG. 2.7
Sensores hápticos do corpo humano utilizados na percepção tátil...
41
FIG. 3.1
Exemplos de representações classificadas como mapas. A) mapa
de localização de um sítio; B) mapa de localização de lojas; C)
mapa de riscos ambientais................................................................
48
FIG. 3.2
Mapa do tempo, com a previsão do tempo para o estado do Rio de
Janeiro, ocupando meia página com mais outros dois mapas..........
49
FIG. 3.3
Mapa turístico de Ilha Grande (RJ), com as principais praias e as
áreas de proteção ambiental da ilha..................................................
50
FIG. 3.4
Mapas dos sistemas de transporte coletivo ferroviário (A) e
metroviário (B) da cidade do Rio de Janeiro, encontrados em cada
uma das estações..............................................................................
50
FIG. 3.5
Comparação entre uma frase constituída por letras convencionais
e sua correspondência, abaixo, com o alfabeto Braille.....................
60
FIG. 3.6
Mapa tátil das rodovias federais de Santa Catarina, feito em
barbante cordonê sobre papel...........................................................
62
FIG. 3.7
Características primárias (A) e secundárias (B) da classificação de
mapas táteis.......................................................................................
63
FIG. 3.8
Elaboração de um mapa tátil baseado em um mapa convencional..
65
FIG. 3.9
Ilustração do equipamento thermoform, responsável por moldar a
película plástica. As três máquinas acima são destinadas para
braillons de dimensões distintas, da menor (esquerda) para maior
(direita)...............................................................................................
FIG. 3.10
Processo de reprodução de material em alto relevo através do
thermoform: (a) a matriz-base é inserida no thermoform, (b) e o
braillon é colocado sobre a matriz, (c) depois a matriz e o braillon
são fixados com o enquadramento e em seguida é deslocado (d) a
câmara de vácuo e temperatura sobre as duas. Dado o tempo e a
10
66
67
temperatura determinado no equipamento, retira-se a câmara e o
enquadramento para, assim, (e) destacar o braillon, moldado, da
matriz-base........................................................................................
FIG. 3.11
Reprodução de mapas táteis utilizando o braillon. Na parte
superior, o mapa tátil base, com as fronteiras entre os países
representadas por linhas e as capitais determinadas por alfinetes,
além da textura distinguindo o Brasil dos demais países sulamericanos. Na parte inferior o braillon moldado com as
características do mapa tátil base.....................................................
68
FIG. 4.1
Elementos Gráficos (Ponto, Linha e Área)........................................
69
FIG. 4.2
Variação da representação por meio dos elementos gráficos...........
70
FIG. 4.3
As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, em sua obra
intitulada de Semiologie Graphique, aplicadas nos elementos
gráficos ponto, linha e área................................................................
73
FIG. 4.4
Paleta de cores, com as cores primárias e secundárias...................
74
FIG. 4.5
Paleta de cores ilustrando a variação de tonalidades, entre o preto
e o branco, nas cores azul (A), vermelho (B) e cinza (C)..................
77
FIG. 4.6
Comparação entre diferentes tamanhos e espessuras. No primeiro
conjunto distingue-se o tamanho na forma linear. Já no segundo
conjunto, diferencia-se a espessura ou largura em linhas de
mesmo tamanho................................................................................
FIG. 4.7
Exemplos de variações de texturas, segundo BERTIN (1983)..........
FIG. 4.8
Diferentes tipos de superfícies que determinará texturas distintas e
percepções diferenciadas. Da esquerda para direita: mármore,
esteira, tela, papel amassado, cortiça e gotas de água ou ar...........
FIG. 4.9
Variação na espessura dos elementos lineares, o que
conseqüentemente altera o espaçamento entre eles........................
FIG. 4.10
Variação apenas no espaçamento entre os elementos lineares,
permitindo que visualmente se perceba a distância entre as
linhas..................................................................................................
81
82
83
84
84
FIG. 4.11
Variações de orientação com elementos lineares preenchendo
símbolos.............................................................................................
85
FIG. 4.12
Exemplo de TYNER (1992) ilustrando um mapa com símbolos
pontuais cuja orientação não possui significado algum.....................
86
FIG. 4.13
Proposta de adaptação das variáveis visuais para as variáveis
táteis..................................................................................................
87
FIG. 5.1
Dimensões da matriz a ser reproduzida, com o tamanho original e
a área útil...........................................................................................
89
FIG. 5.2
Esquema e a matriz 01, referente às formas pontuais regulares
92
11
básicas...............................................................................................
FIG. 5.3
Esquema e a matriz 02, referente às formas pontuais regulares
derivadas do quadrado e do triângulo...............................................
92
FIG. 5.4
Esquema e a matriz 03, referente às formas pontuais regulares
derivadas do círculo...........................................................................
93
FIG. 5.5
Esquema e a matriz 04, referente às formas pontuais regulares
básicas e derivadas...........................................................................
94
FIG. 5.6
Matrizes 05, 06 e 07, referentes às formas pontuais irregulares.......
95
FIG. 5.7
Esquema e a matriz 08, referente aos diferentes tamanhos de
quadrados..........................................................................................
96
FIG. 5.8
Esquema e a matriz 09, referente aos diferentes tamanhos de
símbolos triangulares.........................................................................
97
FIG. 5.9
Esquema e a matriz 10, referente aos diferentes tamanhos de
símbolos circulares com três tamanhos distintos..............................
98
FIG. 5.10
Esquema e a matriz 11, referente aos diferentes tamanhos de
símbolos circulares, com três tamanhos distintos.............................
98
FIG. 5.11
Esquema e a matriz 12, referente às avaliações da orientação de
símbolos quadrangulares regulares...................................................
99
FIG. 5.12
Esquema e a matriz 13, referente às avaliações da orientação de
símbolos triangulares regulares.........................................................
100
FIG. 5.13
Esquema e a matriz 14, referente às avaliações da orientação de
parte dos símbolos circulares regulares............................................
101
FIG. 5.14
Esquema e a matriz 15, referente às avaliações da orientação de
parte dos símbolos circulares regulares............................................
102
FIG. 5.15
Matriz 16, referente às avaliações da variável forma em
representações lineares.....................................................................
103
FIG. 5.16
Matriz 17, referente às avaliações da variável forma em
representações lineares.....................................................................
103
FIG. 5.17
Esquema com as distintas granulações e a matriz 18 referente às
avaliações da extensão lixa da variável textura em representações
em áreas............................................................................................
104
FIG. 5.18
Matriz 19, referente às avaliações da variável textura em
representações em áreas, com diversos tipos de superfícies...........
105
FIG. 5.19
Matriz 20, referente às avaliações da variável textura em
representações em áreas, com diversos tipos de superfícies...........
105
FIG. 5.20
Matriz 21, referente às avaliações da variável textura em
representações em áreas, com diversos tipos de superfícies
oriundas de papelão corrugado.........................................................
12
106
LISTA DE TABELAS
TAB. 2.1
População residente com cegueira por regiões geográficas,
segundo censo 1991. Adaptado de IBGE, 2006b.............................
29
TAB. 2.2
População residente com deficiência visual por regiões
geográficas, segundo censo 2000. Adaptado de IBGE, 2006b.........
29
TAB. 2.3
TAB. 2.4
TAB. 2.5
TAB. 6.1
Estímulos recebidos em condições normais pelos seres humanos..
Capacidade de retenção de dados retidos após três horas..............
Capacidade de retenção de dados retidos após três dias.................
Variáveis e suas respectivas extensões avaliadas e consideradas
perceptíveis através do sistema tátil..................................................
13
43
43
43
115
LISTA DE SIGLAS
CAEG
Centro de Atendimento Educacional ao Cego
CM
Centímetros
CIE
Comissão Internacional de Iluminação
DPME
Divisão de Pesquisa e Produção de Material Especializado
EEPG
Escola Estadual de Primeiro Grau
IBC
Instituto Benjamin Constant
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICA
Associação de Cartografia Internacional
LDB
Lei de Diretrizes e Bases
NCE
Núcleo de Computação Eletrônica
OMS
Organização Mundial da Saúde
UFRJ
Universidade Federal do Rio de Janeiro
14
RESUMO
A Cartografia utiliza a visualização como forma de transmissão das informações
contidas em seus documentos, trazendo como conseqüências não só a segregação
de um segmento da população, os deficientes visuais, mas também limitando as
formas de representação. Desta forma, o presente trabalho apresenta uma proposta
de variáveis táteis a partir das variáveis visuais de Bertin, e suas respectivas
extensões definidas através de testes de percepção háptica. Esta proposta tem
como objetivo a determinação de um conjunto de variáveis que sirva de base para a
construção de documentos cartográficos táteis e, assim, contribuir para a geração de
mapas mais eficazes no que concerne a comunicação cartográfica, através da
sistematização da construção de simbologia tátil.
Para a determinação do conjunto destas variáveis, foram realizados
levantamentos bibliográficos sobre os temas relacionados, uma discussão conceitual
sobre as variáveis visuais e a elaboração de um conjunto testes de validação. Os
testes realizados com os deficientes visuais permitiram avaliar a percepção das
variáveis táteis e suas extensões, determinando quais são possíveis de serem
implementadas em documentos cartográficos que utilizem o tato para a leitura e
interpretação das informações cartográficas contidas. Além disso, indicaram as
deficiências a serem corrigidas e as limitações da percepção tátil a serem levadas
em consideração na construção de mapas táteis.
Desta forma, espera-se que este trabalho contribua não só para o
aperfeiçoamento dos documentos cartográficos, mas também para a melhora da
qualidade de vida dos deficientes visuais, bem como o desenvolvimento da ciência
cartográfica.
15
ABSTRACT
The Cartography uses the visualization as a form of transmission of the
information contained in its documents, bringing as consequences not only the
segregation of a segment of the population, the blind people, but also limiting the
representation forms. This work presents a proposal of tactile variables from the
visual variable of Bertin, and its respective extensions defined throughout tests of
haptic perception. The aim of this proposal is the determination of a set of variables
that can be the bases for the construction of tactile cartographic documents and this
way contribute for the creation of more efficient maps in that it concerns the
cartographic communication, through the systematization of the tactile construction of
symbology.
For the determination of the set of these variable, bibliographical surveys on the
related subjects had been carried through, a conceptual quarrel on the visual variable
and the elaboration of a set validation tests. The tests made with the deficient
appearances had allowed to evaluate the perception of the táteis variable and its
extensions, determining which are possible to be implemented in cartographic
documents that use the tato for the reading and interpretation of the contained
cartographic information. Moreover, they had indicated the deficiencies to be
corrected and the limitations of the tactile perception to be led in consideration in the
construction of tactile maps.
In such a way, one expects that this work not only contributes for the
perfectioning of cartographic documents, but also for the improvement of the quality
of life of the deficient appearances, as well as the development of cartographic
science.
16
1 INTRODUÇÃO
1.1 POSICIONAMENTO DO TRABALHO
A Cartografia tanto como ciência quanto como técnica, e até mesmo como arte,
sempre se baseou, quase que exclusivamente, no sentido da visão para realizar o
seu objetivo principal, que é o de transmitir as informações geográficas1 através das
representações contidas nos mais variados documentos cartográficos, seja através
dos signos, das convenções, seja através das toponímias, seja através das cores,
dos gráficos, dentre outros.
Como ciência, a Cartografia na busca por novas metodologias de representação
do globo terrestre e as informações relacionadas ao mesmo, em geral, se apóia
somente no campo visual.
Já como técnica, os métodos de produção dos documentos cartográficos no
intuito de se alcançar uma maior eficiência utilizam como parâmetro a visualização
do mesmo, já que através da visualização ocorre a leitura e interpretação das
representações cartográficas.
Por fim, como arte, DUARTE (2002), ao comentar sobre a Cartografia como arte,
afirma que
“... não podemos esquecer que um mapa deve respeitar
determinados aspectos estéticos, pois se trata de um documento
que precisa ser agradável às vistas, razão pela qual necessita de
uma boa disposição de seus elementos (traços, símbolos, cores,
legenda, margens, etc.)”.
Desde a antiguidade, o homem vem utilizando mapas para diversos fins, tais
como conhecer melhor a área, armazenar rotas, caminhos, administrar e gerir o
território, dentre outros. DUARTE (op cit.) afirma que a confecção dos mapas parece
ser anterior à escrita, ou seja, a história da Cartografia acompanha, desde os
primórdios da raça humana, o desenvolvimento da humanidade.
1
Toda aquela de natureza física, biológica ou social, que possua um relacionamento com um sistema de
referência sobre a superfície terrestre (MENEZES, 2000).
17
Entretanto, ao longo de todo o desenvolvimento da Cartografia, um ponto é
mantido por toda a sua história, a sua dependência na visão como o canal de
comunicação entre a informação geográfica e a representação cartográfica.
Essa dependência do canal visual, por parte da Cartografia, pode ser entendida
pelo próprio comportamento do ser humano, que depende cada vez mais da visão,
principalmente nos dias de hoje onde as constantes mudanças no meio dificultam a
utilização dos demais sentidos, tais como a poluição sonora, diversidades de odores
artificiais originadas das indústrias, lixões, dentre outros focos.
A visão é o principal meio utilizado pelo homem para se perceber o espaço e
suas relações existentes, isso explica a preocupação predominante da visualização
na elaboração dos documentos cartográficos, já que a Cartografia representa
justamente esse espaço que o homem procura entender e perceber melhor.
A importância da visão, no processo de apreensão do conhecimento, é
demonstrada por BARROS (2006), que apresenta o estudo sobre a capacidade de
captação e retenção de informações pelos seres humanos através dos sentidos.
Segundo o referido autor, os estímulos recebidos pelos seres humanos em
condições normais captados pela visão são de 83%, enquanto que a audição,
segundo sentido que mais estímulos recebe, a porcentagem é de apenas 11%.
VASCONCELLOS (1993) afirma que a percepção do espaço e as relações
espaciais dependem basicamente do sentido visual, sendo o olho o único canal de
comunicação da informação visual. Vale ainda ressaltar que a visão é responsável
por 80%, aproximadamente, da aquisição de conhecimento obtido pelo homem,
como afirma LOUZADA (2004).
Entretanto, a utilização predominante do canal visual justificado tanto pela
dependência do homem quanto pela eficiência na transmissão das informações
geográficas traz consigo conseqüências na leitura e interpretação de informações
representadas nos documentos cartográficos realizada por pessoas que possuem
deficiência visual, seja esta deficiência parcial ou total (cegos).
A linguagem escrita por ter como uma de suas principais características a sua
estruturação, possibilitou a elaboração de um sistema de códigos que representasse
os signos utilizados na escrita, como as letras e os números, na forma tátil, sendo
este conjunto de códigos denominado de sistema braile, criado em 1829 pelo
francês Louis Braille. Contudo, com relação à imagem espacial, a sua complexidade
18
torna a transcrição e comunicação na forma tátil um processo de maior
complexidade, o que justifica o baixíssimo número de material tátil desta natureza.
Assim, dentro do presente contexto, torna-se necessário o desenvolvimento de
metodologias que possibilitem e auxiliem na elaboração não só de documentos
cartográficos, mas também de material didático na forma tátil, com o intuito de
atender a este segmento da sociedade, tão carente e ao mesmo tempo desprovido
de ferramentas que os ajudem no conhecimento e na percepção do espaço
geográfico2.
Ao mesmo tempo, trata-se de ampliar as possibilidades da Cartografia, através
de novas formas de representação e transmissão da informação. Desta forma, o
desenvolvimento da representação cartográfica através da percepção tátil não pode
ser limitado apenas a ser uma forma de atender e possibilitar o acesso à informação
aos deficientes visuais, mas sim de buscar formas alternativas e complementares às
já existentes, objetivando uma representação mais fidedigna possível da realidade e
uma transmissão cada vez mais eficiente da informação no que tange ao
entendimento dos códigos cartográficos.
1.2 OBJETIVOS
A presente dissertação tem como objetivo principal propor um conjunto de
variáveis táteis, bem como definir as extensões3 respectivas de cada variável que,
aplicadas aos três elementos gráficos básicos (ponto, linha e área) servirão de base
para a construção de simbologias que permitirão a transmissão de informações
espaciais, nos documentos cartográficos que serão identificados e interpretados por
meio da percepção tátil.
Desta forma, essas simbologias táteis poderão ser uma forma alternativa de
representação cartográfica, e terão a possibilidade de serem implementadas
unicamente ou em conjunto com os códigos tradicionais já utilizados amplamente.
Assim, os documentos que adotarem as simbologias táteis não só atenderão aos
2
3
Conjunto de objetos geográficos distribuídos sobre um território (SANTOS, 1985).
Corresponde ao número de divisões de uma componente, factível de serem percebidas.
19
deficientes visuais, mas também poderão ser utilizados pelos não-deficientes, uma
vez que a representação tátil não impossibilita a representação visual.
O processo de elaboração das variáveis táteis, bem como suas respectivas
extensões, estará baseado no conjunto de variáveis visuais criado e sistematizado
por BERTIN (1983). A partir destas variáveis visuais, serão realizadas adaptações
com o objetivo de possibilitar a percepção, agora, através do tato.
Entretanto, como não será possível a adaptação de todas as variáveis visuais
devido a incompatibilidade das características com a representação tátil, como a
variável cor por exemplo, será necessário a criação de variáveis, bem como a
exclusão de outras. Desta forma, espera-se formar o conjunto de variáveis táteis que
servirá de base para as representações cartográficas que serão utilizadas em
documentos cartográficos voltados para a percepção tátil.
1.3 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO
A Cartografia Tátil vem crescendo e ganhando cada vez mais espaço no cenário
acadêmico-científico, com um número crescente de centros de pesquisa e núcleos
de estudos que adotam-na como objeto de estudo e buscam o seu desenvolvimento.
Este fato pode ser demonstrado pelo número de trabalhos publicados nos encontros
científicos. Em um deles, o Congresso Internacional de Cartografia, realizado em
2003, houve apenas quatro trabalhos apresentados. Diferentemente da última
edição do mesmo congresso, realizado em 2005, onde o número de trabalhos
apresentados que contemplava o tema foi de dezoito, demonstrando assim um
crescimento de trabalhos desenvolvidos na área de Cartografia Tátil (ICA, 2003;
ICA, 2005).
No entanto, esse desenvolvimento está concentrado na Europa, sendo mais da
metade dos trabalhos publicados desenvolvidos em países europeus. Dos quatros
trabalhos apresentados na edição de 2003 do Congresso Internacional de
Cartografia, três eram oriundos da Europa. Já na última edição do mesmo
congresso, em 2005, dos dezoito trabalhos registrados dez deles eram de origem
européia (ICA, 2003; ICA, 2006).
20
Na América do Sul, o Chile se destaca no desenvolvimento de alternativas de
representação cartográficas baseado no tato. Sua presença está registrada nos
anais do Congresso Internacional de Cartografia de 2005, com duas publicações.
Além disso, os centros de pesquisas chilenos ligados ao desenvolvimento da
Cartografia Tátil participam de encontros e seminários com outros países da América
Latina, como a Argentina, Uruguai e o Brasil, trazendo contribuições através de
discussões, debates e apresentações de produtos didáticos e mapas táteis
(BRANDÃO, 2005).
No Brasil, a Cartografia Tátil vem sendo caracterizada e restringida a formas
artesanais de se elaborar mapas táteis, desenvolvidas, principalmente, por núcleos
especializados na educação de deficientes visuais, como o Instituto Benjamin
Constant (IBC), no Rio de Janeiro, motivados pela necessidade imediata por
materiais didáticos que possam ser trabalhados através do sentido do tato.
Desta forma, como há uma carência de material tátil de um modo geral, as
instituições ligadas à educação de deficientes visuais desenvolvem e elaboram
formas alternativas que minimizem as dificuldades do ensino voltado aos portadores
de deficiência visual e aumentem a capacidade de reprodução.
Dentre esses materiais desenvolvidos encontram-se os mapas táteis, utilizados,
principalmente, nas disciplinas de Geografia e História, que, em geral, são
elaborados
sem
nenhum
conhecimento
cartográfico.
Normalmente
são
confeccionados com retalhos de diversas texturas e bijuterias, manualmente, sem
nenhuma padronização e com avaliações do sistema de comunicação cartográfica
restringida. Vale destacar que estas avaliações são realizadas com voluntários
deficientes, que testam os materiais ao término de sua elaboração. Através do relato
da percepção tátil relativa ao material gerado, o profissional identifica se as
informações representadas estão sendo identificadas e as possíveis deficiências a
serem corrigidas, em um processo de “tentativa e erro” (BRANDÃO, 2005).
Em suma, o processo de produção de material cartográfico tátil é caracterizado
por ser artesanal, com baixa tiragem de cópias, sem rigor cartográfico. Vale lembrar
que ainda não há o estabelecimento de técnicas de produção de mapas táteis que
orientem o processo de elaboração desse tipo de documento cartográfico, como há
na Cartografia tradicional. Técnicas estas que determinem regras, padrões e formas
de se representar em um formato tátil eficazmente no que tange a comunicação
21
cartográfica, ou seja, o entendimento da informação geográfica pelo usuário através
do documento cartográfico.
Estes fatores apresentados que caracterizam a Cartografia tátil no país trazem
como conseqüência a inviabilização da disseminação de material tanto cartográfico
quanto didático aos portadores de deficiência visual, bem como a implementação do
processo de alfabetização cartográfica e a difusão da própria Cartografia tátil e a sua
respectiva importância.
Além disso, a preocupação com estas dificuldades e a importância dada a este
segmento da sociedade se justifica por dois aspectos. O primeiro, pela maior
necessidade dos mesmos de se conhecer o espaço, principalmente o que está
relacionado ao seu cotidiano, uma vez que a ausência, completa ou parcial, do
campo visual, dificulta a percepção e o conhecimento do espaço; segundo, pela
dimensão desta parcela da sociedade, que vem obtendo taxas de crescimento a
cada ano.
Nesta última década houve um crescimento de quase 10% referente ao número
de deficientes visuais no Brasil, segundo dados dos censos de 1991 e 2000,
chegando a, aproximadamente, 9% da população brasileira no início desta década
(IBGE, 2006a; SONZA & SANTAROSA, 2005; VASCONCELLOS, 1993).
Assim, o desenvolvimento de novas metodologias que auxiliem na busca por
processos mais eficientes de elaboração de mapas táteis será de grande valia para
o desenvolvimento da Cartografia tátil. Isto se refere tanto ao processo de
comunicação entre o usuário deficiente, a informação geográfica e a percepção
espacial, quanto a produção em série, em larga escala, que possibilite a difusão de
um material adequado para todo o país.
Além disso, haverá uma contribuição no que tange a inclusão social, uma vez
que hoje, a legislação em vigor garante o acesso ao ensino de todo e qualquer
portador de necessidades especiais, dentre eles o deficiente visual, como
determinam a Constituição Brasileira de 1988 (BRASIL, 1988), em seu sexto
capítulo, e a Lei de Diretrizes e Bases, a LDB-9394/96 (BRASIL, 1996), que
estabelece as diretrizes para educação, em seu quinto e qüinquagésimo nono
artigos, respectivamente:
“São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a
moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
22
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na
forma desta Constituição”.
“O acesso ao ensino fundamental é direito Público subjetivo,
podendo qualquer cidadão, grupos de cidadão, associação
comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra
legalmente constituída, e, ainda, o Ministério público, acionar o
Poder Público para exigi-lo”.
“Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com
necessidades especiais:
I- currículos, métodos e técnicas, recursos educativos e
organização específicos, para atender às suas necessidades;...”.
Vale ressaltar que, atualmente, mais do que garantir o acesso à educação é o de
possibilitar a integração dos portadores de deficiência na rede pública de ensino,
alterando o procedimento de “isolar” os alunos com necessidades especiais em
centros especializados.
Na verdade, a própria Constituição Brasileira de 1988 já determina isso, em seu
artigo 288, onde contempla o dever do Estado com a educação, no terceiro inciso:
“atendimento
educacional
especializado
aos
portadores
de
deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino”. O plano nacional de educação
especial, do Ministério de Educação, coloca que na diretriz atual que é a de plena
integração dessas pessoas, uma das questões em voga é o direito da educação,
sempre que possível junto com as demais pessoas nas escolas “regulares” (MEC,
2006a).
Assim, a política de inclusão social torna-se mais um fator que justifica o
desenvolvimento de pesquisa na Cartografia Tátil, buscando atender essa carência
e contribuindo para melhora na qualidade de vida dos deficientes visuais.
1.4 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO
No intuito de atingir os objetivos propostos deste estudo, o mesmo foi
estruturado em sete capítulos, cujo conteúdo, em linhas gerais, será apresentado a
seguir.
23
O presente capítulo, o primeiro, constitui-se de um texto introdutório sobre o
tema. Apresenta o trabalho em linhas gerais, contextualizando-o. Aborda não só os
objetivos propostos para esta dissertação, mas também os argumentos que
justificam a realização deste trabalho.
O capítulo posterior, o segundo, tem em seu corpo constituinte uma abordagem
sobre a deficiência visual, uma vez que o trabalho está voltado ao desenvolvimento
de formas que auxiliem, principalmente, pessoas que possuam este tipo de
deficiência. Assim, são apresentadas as definições bem como as classificações para
considerar um indivíduo como deficiente visual ou não.
Além da deficiência visual, o segundo capítulo também contempla os tipos de
percepção visual e tátil, abordando suas características e, desta forma, as
diferenças entre si. Isso se explica pela necessidade de se conhecer a forma de
funcionamento dos dois tipos de percepção, uma vez que o objetivo do trabalho é
adaptar a forma de representação visual para a tátil.
O terceiro capítulo é composto por uma abordagem sobre a Cartografia tátil. A
proposta deste capítulo é de realizar uma simplificada revisão conceitual sobre o
tema em questão, buscando apresentar uma definição que represente por completo
o termo, bem como delimitar o mesmo dentro da própria Cartografia.
Já o quarto capítulo tem como foco principal as variáveis visuais. Este capítulo
consiste em apresentar o referido tema, definindo cada variável juntamente com
suas características peculiares. Posteriormente, são propostas modificações que
possibilitem que as variáveis visuais possam ser percebidas através do tato, e desta
forma, ser aplicadas em documentos cartográficos táteis. Logo, será possível
constituir um conjunto de variáveis táteis que seja viável a sua utilização na
composição de simbologia tátil.
O quinto capítulo aborda a metodologia adotada para a elaboração e a
realização dos testes de validação das variáveis adaptadas ao formato tátil. Este
capítulo contempla as características de cada matriz gerada, abordando as
propostas de modificações realizadas, o processo de elaboração dos testes, a
montagem e a constituição do grupo de teste e a aplicação do mesmo.
O sexto capítulo refere-se aos resultados obtidos pela aplicação dos testes
montados. Neste capítulo apresenta-se não só as extensões percebidas pelo tato
24
mas também as deficiências indicadas pelos voluntários e os problemas de
identificação através do sentido háptico4 de alguns símbolos utilizados.
O sétimo capítulo é constituído pelas conclusões, que serão elaboradas a partir,
não só de todo o levantamento realizado na bibliografia existente, mas também na
experiência prática adquirida no desenvolvimento e na aplicação dos testes de
validação. Além disso, serão apresentadas sugestões de trabalhos futuros que
contribuirão na continuação deste trabalho e no desenvolvimento do tema em voga.
Desta forma, através desta sistematização, o presente trabalho espera contribuir
com o desenvolvimento de novas metodologias que proporcionem não só uma maior
inclusão social no que tange aos deficientes visuais, possibilitando a estas pessoas
acesso à informação e uma melhor qualidade de vida, mas também ao crescimento
da Cartografia como ciência e como técnica, ampliando sua área de influência,
estendendo suas formas de aplicação e, assim, auxiliando o seu desenvolvimento.
Vale ressaltar que são conhecidas as dificuldades de todo deficiente visual no
que diz respeito ao acesso de qualquer tipo de informação e as suas dificuldades na
percepção e no conhecimento do espaço geográfico, mesmo aquele referente ao
seu cotidiano. Logo, o presente trabalho não tem a pretensão de resolver todos
esses problemas, muito menos de preencher toda esta lacuna na Cartografia,
referente ao déficit no desenvolvimento de formas de representação tátil.
Contudo, espera-se contribuir na busca de soluções que venham minimizar os
problemas enfrentados por este segmento significativo da sociedade. Além disso,
espera-se auxiliar no desenvolvimento da Cartografia Tátil, contribuindo não só na
construção de novos conhecimentos, mas também estimulando novas pesquisas
sobre o presente tema e, desta forma, difundindo a própria Cartografia Tátil e a sua
importância, para que mais pessoas venham a se beneficiar e contribuir com a
mesma.
4
O termo háptico está diretamente associado ao sentido do tato, conforme apresenta CARNEIRO (2003)
25
2 A DEFICIÊNCIA VISUAL E A PERCEPÇÃO
2.1 A DEFICIÊNCIA VISUAL
2.1.1 DEFINIÇÕES E CLASSIFICAÇÕES
Um indivíduo pode ser considerado como sendo um deficiente visual se o
mesmo possui um severo comprometimento no seu campo visual (na capacidade de
visualizar em várias direções) ou na capacidade de perceber detalhadamente uma
imagem (problemas na sua acuidade visual), mesmo com a implementação de
correções óticas (óculos e lentes de contato, por exemplo) ou cirúrgicas, conforme
explicita LAZARO (2002).
A deficiência visual não se restringe somente à cegueira, termo este que não
significa a incapacidade total de visualizar, mas sim, o prejuízo dessa aptidão em
níveis incapacitantes para o exercício de tarefas rotineiras (CONDE, 2005).
A deficiência em questão pode variar desde a cegueira total, passando pela
cegueira parcial até a visão subnormal. A primeira também é conhecida como
cegueira funcional ou amaurose que se caracteriza pela ausência por completo de
sensibilidade luminosa. Já a segunda pode ser denominada também como cegueira
legal ou profissional onde o deficiente é capaz apenas de contar os dedos a curta
distância e perceber vultos, além de fazer a distinção entre claro e escuro. A visão
subnormal
se
caracteriza
pelo
razoável
resíduo
visual
de
um
indivíduo
(CONGRESSO BRASILEIRO DE PREVENÇÃO DA CEGUEIRA, 1980 e CONDE,
2005).
Desta forma, uma pessoa é considerada como cega se a sua visão corrigida é
de 20/200 ou menos, ou seja, se a mesma tem condições de visualizar a 20 pés de
distância, o equivalente a 6 metros, o que é detectado por uma pessoa sem
deficiência a 200 pés, o que corresponde a 60 metros. Outra forma de se identificar
a cegueira é através do diâmetro do seu campo visual, onde no caso do diâmetro
26
mais largo subtender um arco de até 20 graus, ainda que sua acuidade visual nesse
estreito campo possa ser superior a 20/200 (CONDE, 2005).
Já os fatores que caracterizam um indivíduo como sendo portador de visão
subnormal são a acuidade visual de 6/60 e 18/60 (escala métrica) e/ou um campo
visual entre 20 e 50 graus, conforme afirma (CONDE, 2005).
O referido autor ainda apresenta uma classificação baseada na questão
pedagógica
“Pedagogicamente, delimita-se como cego aquele que,
mesmo possuindo visão subnormal, necessita de instrução em
Braille e como portador de visão subnormal aquele que lê tipos
impressos ampliados ou com o auxílio de potentes recursos
ópticos”.
Outra classificação de grau de deficiência, bastante aplicada nas práticas
esportivas, mas informal, divide os indivíduos em B1, que são as pessoas totalmente
ou praticamente cegas, B2, que é composto por pessoas que ainda possuem um
resíduo visual mínimo, e o B3, que são aquelas pessoas com bastante resíduo
visual (CONDE, 2002).
Vale registrar que todas as pessoas que não possuem nenhum tipo de
deficiência visual são denominadas como videntes, ou seja, a deficiência visual pode
distinguir dois grupos, os que a possuem, denominados de deficientes visuais, e
aqueles que não a possuem, conhecidos como videntes.
2.1.2 REPRESENTATIVIDADE DOS DEFICIENTES VISUAIS
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 1% de toda a
população mundial possui algum tipo de deficiência visual, e desse contingente,
mais de 90% se encontram nos países em desenvolvimento. Somente a China, a
Índia e os países africanos possuem, dois terços dos cegos de todo o mundo. Já nos
países desenvolvidos, a título de comparação, a população de deficientes visuais é
composta de 5% de crianças e 75% de idosos (FOLHA DE SÁO PAULO, 2001).
No Brasil, baseado no censo demográfico de 2000 do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), estima-se que existam, aproximadamente, cerca de
27
16,5 milhões de deficientes visuais, ou seja, 9,76% de toda a população brasileira.
Desse contingente, 159.823 são cegos (0,96%), 2.398.471 possuem grande
dificuldade permanente de enxergar (14,47%) e 14.015.641 têm alguma dificuldade
permanente de enxergar (84,56%). Em relação a população brasileira, os
percentuais ficariam em 0,09% de cegos, 1,41% de pessoas que possuem grande
dificuldade permanente de enxergar e 8,25% de indivíduos que têm alguma
dificuldade permanente de enxergar (IBGE, 2006a; REDE SACI, 2004). A
distribuição dos deficientes visuais por regiões brasileiras são expressas nas tabelas
2.1 e 2.2.
Vale ressaltar que esses números comprovam um aumento expressivo no
contingente de pessoas que possuem deficiência visual, uma vez que a estimativa
do número de deficientes visuais no início da década de noventa era de 1% do
número total da população brasileira, segundo o censo realizado no ano de 1991
(IBGE, 2006b; VASCONCELLOS, 1993; SONZA e SANTAROSA, 2005).
Entretanto, é necessária extrema cautela na adoção dessas estimativas, uma
vez que devido à diferença considerável entre os dois percentuais, registrando um
crescimento de quase 10% em apenas uma década, há, provavelmente, uma
diferença de metodologias entre os dois censos no que tange à determinação de
deficientes visuais.
O censo de 2000 define a variável deficiente visual como toda pessoa incapaz,
com alguma ou grande dificuldade permanente de enxergar. Esta definição traz
como conseqüência uma generalização da deficiência visual, uma vez que engloba
qualquer indivíduo que tenha alguma dificuldade no campo visual, mesmo que seja
mínima, como, por exemplo, todas as pessoas que utilizam óculos ou lentes de
contato com grau, diferentemente dos conceitos mencionados na seção anterior.
Já em relação ao censo de 1991, não há registro da metodologia ou da definição
adotada para a identificação de deficientes visuais. Esta informação foi buscada no
sítio do IBGE e, posteriormente, foi enviada uma mensagem eletrônica (e-mail) ao
mesmo órgão requisitando esta informação, mas também sem sucesso.
Contudo, há alguns indícios que nos levam a supor a distinção entre os termos
adotados nos dois censos. Um deles é que no censo de 1991 o termo utilizado foi
cegueira e no censo de 2000 o termo adotado foi o de deficiente visual. Desta forma,
pode-se inferir que no censo de 1991 foram contabilizados apenas os portadores de
28
cegueira total, ou seja, aqueles que não possuem nenhum resquício de visão, e no
censo de 2000 contabilizou-se todas as pessoas que possuíam algum tipo de déficit
no campo visual.
População residente com cegueira por regiões – Censo 1991
Brasil e Região
População (Habitante)
População (Percentual)
Brasil
145.857
0.10
Norte
10.414
0.10
Nordeste
52.689
0.12
Sudeste
59.238
0.09
Sul
16.991
0.08
Centro-Oeste
6.525
0.07
Geográfica
Tab 2.1: População residente com cegueira por regiões geográficas, segundo censo
1991. Adaptado de IBGE, 2006b.
População residente com deficiência visual por regiões geográficas
- Censo 2000
Brasil
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
CentroOeste
16.644.842
1.415.370
5.747.461
6.031.472
2.326.259
1.124.279
Tab 2.2: População residente com deficiência visual por regiões geográficas, segundo
censo 2000. Adaptado de IBGE, 2006b.
2.1.3 TECNOLOGIAS DE ACESSIBILIDADE PARA OS DEFICIENTES VISUAIS
Devido ao número de pessoas que possuem algum tipo de deficiência visual, há
uma preocupação no que tange ao desenvolvimento de novas tecnologias que
permitam o acesso destas pessoas a ambientes, antes, exclusivos aos videntes. O
desenvolvimento de novas tecnologias é, em sua maioria, focado na área da
29
informática, principalmente, no que se trata de ambientes virtuais. Desta forma, será
abordado, sucintamente, os principais sistemas utilizados no Brasil voltados para os
deficientes visuais, que são, segundo SONZA & SANTAROSA (2005) o Dosvox, o
Virtual Vision e o Jaws.
O DOSVOX é um sistema para microcomputadores que tem a potencialidade de
se comunicar com o usuário através de síntese de voz. Desenvolvido pelo Núcleo de
Computação Eletrônica (NCE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
desde 1993, o sistema, elaborado em sua totalidade com tecnologia nacional, é
composto por mais de setenta programas, incluindo desde editor de texto até
navegadores de internet, e com mais de cinco mil usuários em todo o território
nacional.
Uma das limitações do sistema Dosvox é no que diz respeito ao acesso à
internet, isso devido ao fato da maioria das páginas possuírem gráficos, figuras e
fotos, dificultando para o deficiente visual o entendimento do conteúdo da página,
uma vez que o sistema identifica o texto e digitaliza o som em português, mas ainda
não interpreta as imagens.
O Virtual Vision, desenvolvido pela empresa paulista MicroPower, é uma
aplicação da tecnologia de síntese de voz, podendo ser adaptado em qualquer
programa Windows. Em outras palavras, o virtual vision, segundo SONZA e
SANTAROSA (2005) é um “leitor de telas” capaz de informar aos usuários quais
controles estão ativos em determinado momento, como botões, lista dentre outros,
tendo suas potencialidades e outras características apontadas pelos autores
supracitados.
O JAWS também é um sistema que tem como objetivo fazer a “leitura da tela”.
Apesar de se tratar de um programa estadunidense5, desenvolvido pela empresa
Henter-Joyce, o software possui sintetizador de voz em diversos idiomas, incluindo o
português. As demais características e peculiaridades do programa também podem
ser encontradas na página do fabricante ou em SONZA e SANTAROSA (op cit).
Além dos sistemas apresentados, pode-se destacar outras formas de auxílio ao
deficiente visual no que tange a acessibilidade de informação, como os programas
de ampliação de telas de computador, que permitem um aumento no tamanho da
5
Natural dos Estados Unidos da América
30
fonte das letras, como o zoom text6 e o LentePro (criado pelo projeto Dosvox, sendo
sua disponibilização gratuita), os sistemas de translação para impressão em Braille
de textos em língua portuguesa, como o Duxburg e o próprio sistema Dosvox, além
dos sistemas de transcrição para o Braille, como o Tactus que realiza a tarefa em
textos editados no Word para Windows7. Outro software de grande auxílio ao
deficiente visual é o Open Book, programa este que lê materiais impressos através
de um scanner. Além dos programas, pode-se citar também as máquinas Braille
portáteis eletrônicas, como a Mountbatten Brailler, que permitem a conexão aos
microcomputadores e assim ser utilizados até nos processos de inclusão e/ou
iniciação digital (MENEGUETTE & MÁXIMO, 1997; MEC, 2006b).
2.2 A PERCEPÇÃO
A palavra percepção é definida como sendo um ato, efeito ou faculdade de
perceber; recepção, pelos centros nervosos, de impressões colhidas pelos sentidos,
que pode ser do tipo externo, faculdade de perceber pelos sentidos; interno, a
consciência; natural ou primária, a que é dada imediatamente pelos sentidos; ou
adquiridas deduções imediatas (MICHAELIS, 2005).
SIMÕES e TIEDEMANN (1985 apud MONIZ 1997) entendem percepção como a
porta de entrada para toda a informação que a pessoa recebe e processa. MONIZ
(1997) define a percepção como sendo um processo de interpretação de dados
sensoriais. BALLONE (2006) contribui para a conceituação do termo afirmando que:
“a percepção não identifica o mundo exterior como ele é na
realidade, e sim como as transformações, efetuadas pelos
nossos órgãos dos sentidos nos permitem reconhecê-lo. Assim é
que transformamos fótons em imagens, vibrações em sons e
ruídos e reações químicas em cheiros e gostos específicos. Na
verdade, o universo é incolor, inodoro, insípido e silencioso,
excluindo-se a possibilidade que temos de percebê-lo de outra
forma”.
Contudo, o objetivo deste trabalho não é discutir a conceituação do termo
percepção, mas sim demonstrar, dentre os vários tipos de percepção, as duas
6
7
Fabricante Telesensory dos EUA
Primeira versão lançada pela Universidade Estadual de Santa Catarina.
31
formas que possuem ligação com o desenvolvimento do trabalho, a visual e a tátil,
apresentando as principais diferenças entre elas.
Somente desta forma, conhecendo-se o funcionamento das duas formas de
percepção e a distinção entre elas será possível o desenvolvimento de uma
metodologia que permita a transformação da forma de transmissão da informação
gráfica. Em outras palavras, permitir que uma determinada informação gráfica possa
ser compreendida não somente pela forma visual, mas também possa ser
transmitida e entendida pela forma tátil.
Assim, será explicitado, simplificadamente, a anatomia básica dos sentidos da
visão e do tato, bem como o seu sistema de funcionamento, com o objetivo de se
entender, mesmo que resumidamente, não só as características peculiares de cada
sentido, mas também a sua forma de perceber e apreender as informações do
mundo externo. Assim, espera-se obter um conhecimento básico que possa calcar o
desenvolvimento do presente trabalho.
2.2.1 O SENTIDO DA VISÃO
2.2.1.1 A ANATOMIA DO GLOBO OCULAR
Os globos oculares situam-se dentro de cavidades ósseas, que são chamadas
de órbitas, formadas de partes de diversos ossos faciais, como o frontal, palatino e o
maxilar. Os globos oculares constituem o sistema da visão humana juntamente com
outras estruturas associadas que são as pálpebras, os supercílios (sobrancelhas),
conjuntiva, músculos e o aparelho lacrimal.
Dentre os principais elementos constituintes do sistema, apresentados na figura
2.1, segundo VILELA (2005a) e TRAVI (2006), estão:
a)
Esclerótica: é a túnica resistente de tecido fibroso e elástico que envolve
externamente o olho. A córnea é a parte anterior da esclerótica e atua
como uma lente convergente.
32
b)
Úvea: constitui-se de três elementos, a coróide, o corpo ciliar e a íris. A
coróide é formada por pigmentos que absorvem a luz que chega até a
retina. Já a íris é uma estrutura muscular que possui um orifício central, a
pupila, que tem como uma de suas principais funções o poder de
determinar a quantidade de luz que penetra no olho, de acordo com a
iluminação do ambiente.
Fig 2.1: Anatomia do olho humano. Extraído de curlygirl.naturlink.pt/
sentidos.htm
c)
Retina: Possui dois tipos de células fotossensíveis, os cones e os
bastonetes.
Os cones são células capazes de distinguir cores. Os bastonetes são
mais sensíveis à luz que os cones. Em situações de pouca luminosidade,
a visão passa a depender exclusivamente dos bastonetes (visão noturna
ou visão de penumbra).
A fóvea (uma das regiões da retina) contém apenas cones e permite que a
luz atinja os fotorreceptores sem passar pelas demais camadas da retina,
maximizando a acuidade visual.
Em suma, a retina é composta de células receptoras e fibras nervosas que
tem como função transformar a imagem em sinais elétricos. Desta forma,
33
a retina é o destino final da imagem que agora se transforma em impulsos
que serão transmitidos ao cérebro.
d)
Córnea: porção transparente da esclerótica. Constitui a primeira interface
que a imagem deve atravessar para poder chegar ao seu destino final.
e)
Cristalino: lente biconvexa que orienta a passagem da luz até a retina. O
cristalino fica mais espesso para a visão de objetos próximos e, mais
delgado para a visão de objetos mais distantes, permitindo que nossos
olhos ajustem o foco para diferentes distâncias visuais. A essa
propriedade do cristalino dá-se o nome de acomodação visual.
2.2.1.2 O PROCESSO DE VISUALIZAÇÃO
A visão é a principal forma de provimento de conhecimentos e informações.
Estima-se que metade do potencial de processamento cerebral humano seja
utilizada para lidar com informações visuais. Segundo LOUZADA (2004) a visão nos
proporciona mais de 80% das informações que nos chegam, sendo por isso o
principal sentido do ser humano.
A visualização é algo que pode ser considerado inerente ao ser humano, seja
por ser algo que nos acompanha desde a nossa inconsciência, seja por ser algo tão
espontâneo, por ser um sentido que nós utilizamos involuntariamente. Entretanto, a
visão corresponde a um processo complexo, que necessita do funcionamento de
inúmeros órgãos e elementos, que vai desde a simples captação da luz até o
processamento pelo cérebro.
Segundo VILELA (2005b), o processo de visualização inicia-se com a captação
dos raios luminosos, que ao penetrarem na córnea e no humor aquoso, passando
pela pupila, chegam ao cristalino, levando a imagem mais para trás ou para frente,
permitindo que ela se projete sobre a retina.
Fazendo uma analogia com a máquina fotográfica, o meio transparente é a lente
e a superfície sensível à luz, o filme. No olho, a luz atravessa a córnea, o humor
aquoso, o cristalino e o humor vítreo e se dirige para a retina, que funciona como o
34
filme fotográfico; a imagem formada na retina também é invertida, como na máquina
fotográfica, conforme ilustra a figura 2.2 (VILELA, 2005b).
Fig 2.2: Processo de visualização de um determinado objeto no globo ocular.
Fonte: www.medonline.com.br/med_ed/med6/download1.htm, com adaptações
O nervo óptico conduz os impulsos nervosos para o centro da visão, no cérebro,
que o interpreta e nos permite ver os objetos nas posições em que realmente se
encontram.
Outro ponto importante a ser considerado é a questão da acuidade visual, que é
definida, segundo VILELA (2005a), como sendo a capacidade do olho de distinguir
dois pontos próximos, a qual dependerá de outros fatores tais quais o espaçamento
dos fotorreceptores na retina e da precisão da refração do olho.
VASCONCELLOS (1993), baseada em HYVARINEN (s/d), afirma que ao
nascermos, todo o ser humano possui uma baixa visão, sendo a acuidade visual de
um recém-nascido de 0,03 ou 6/200. Essa característica vai se modificando a partir
das primeiras semanas de vida, quando há o desenvolvimento dos contatos
celulares da retina, das vias ópticas e do córtex visual.
Outra importante característica da visão humana é o fato que apesar de dois
globos oculares a visão é de apenas uma imagem, pois a captação de uma
determinada imagem pelos dois olhos é fundida em uma única imagem, processo
este denominado de estereoscopia, que permite que possamos ter uma visualização
tridimensional, e ter a sensação de profundidade.
35
Fig 2.3: Estrutura de um globo ocular e as regiões do cérebro que processam as
informações provenientes destes órgãos.
Fonte: www.medonline.com.br/med_ed/med6/download1.htm, com adaptações
A informação visual da porção direita de ambas as retinas é transferida para a
porção direita do cérebro, e a informação visual da porção esquerda de ambas as
retinas é encaminhada para a porção esquerda do cérebro, possibilitando assim que
a informação visual de ambos os olhos chegue às células corticais que combinam a
dupla informação em uma única imagem, como ilustra a figura 2.3 (HYVARINEN, s/d
apud VASCONCELLOS, 1993).
36
2.2.2 O SENTIDO DO TATO
2.2.2.1 A ANATOMIA DA PELE
Como o maior órgão do corpo humano, a pele tem como principal objetivo a
proteção do corpo através do seu revestimento, que funciona como mecanismo
contra a perda excessiva de água, o atrito e os raios ultra-violetas. Constitui-se de
três camadas, entretanto apenas as duas mais importantes para a percepção tátil
serão explicitadas, sendo elas a epiderme e a derme. A figura 2.4 apresenta as
estruturas da pele juntamente com alguns elementos constituintes do sistema tátil.
Fig 2.4: Estrutura da pele com as suas três camadas. Fonte:
http://www.saudeparavoce.com.br/pintanapele/histoepiderme.htm
A epiderme é a camada mais superficial da pele, a que está sempre em contato
com o exterior do corpo, sendo esta a parte visível. É formada por um revestimento
de camadas de células sobrepostas, sendo a divisão destas camadas com baixa
nitidez pelo processo contínuo de renovação da pele, conforme apresenta a figura
2.5 (ESTAÇÃO DIGITAL MÉDICA, 2005).
37
Fig 2.5: Epiderme com suas sub-divisões. Fonte:
http://www.saudeparavoce.com.br/pintanapele/histoderme.htm
Já a derme é definida como sendo a camada intermediária da pele, sendo um
tecido conjuntivo sobre o qual se apóia a epiderme, conforme apresenta a figura 2.6.
Pêlos, glândulas (sebáceas e sudoríparas) e unhas são as estruturas anexas da
pele. São derivadas da epiderme, mas acham-se imersas na derme. Além disto há
diversos tipos de receptores nervosos, cada qual responsável por um tipo de
sensação, o que faz da pele um órgão sensorial (ESTAÇÃO DIGITAL MÉDICA, op
cit.).
Fig 2.6: Derme com suas sub-divisões. Fonte:
http://www.saudeparavoce.com.br/pintanapele/histoderme.htm
38
2.2.2.2 O SISTEMA TÁTIL
Toda a superfície cutânea possui inúmeras terminações nervosas, que são
capazes de captar estímulos de naturezas térmicas, mecânicas ou de dor.
Segundo VILELA (2005a), especificamente na área da pele onde encontramos
os pelos há dois tipos de terminações nervosas, uma específica nos folículos
capilares que captam as forças mecânicas aplicadas contra o pêlo, e a outra
denominada de receptores de Ruffini, que são responsáveis pela captação térmica
de calor.
Já nas regiões da pele que não há pelos, mas que são cobertos por ele existem
outros três tipos de receptores que são os corpúsculos de Paccini, que captam
estímulos vibráteis e táteis (além de serem capazes de captar aplicação de pressão,
sendo enviada aos centros nervosos correspondentes); discos de Merkel,
responsável pela sensibilidade tátil e de pressão; terminações nervosas livres,
sensíveis aos estímulos mecânicos, térmicos e especialmente aos dolorosos.
Há ainda outros dois receptores na pele sem pêlo que são os corpúsculos de
Meissner, que se localizam nas saliências da pele sem pêlos, como nas partes mais
altas das impressões digitais, e possuem sensibilidade tátil; e bulbos terminais de
Krause, que são receptores térmicos de calor, localizadas nas áreas limítrofes da
pele com as membranas mucosas, como por exemplo, ao redor dos lábios e dos
genitais.
Todos esses receptores ao serem estimulados, emitem informações ao cérebro,
através de células nervosas, que são processados e produzem a sensação de calor,
frio, pressão, áspero, liso, dentre outros.
2.3 A PERCEPÇÃO TÁTIL
O desenvolvimento de uma metodologia que tem como intuito adaptação da
transmissão de informação da forma visual para forma tátil necessita, primeiramente,
39
conceber que se tratam de dois sistemas completamente distintos, cada uma com
suas particularidades, vantagens e limitações.
SMITH (2001) afirma que um indivíduo completamente cego, quando bem
treinado, locomove-se facilmente sem precisar de auxílio em um ambiente
conhecido. Os deficientes visuais, mesmo com a ausência do canal visual,
apreendem o conhecimento relativo ao ambiente que os cercam através de outros
mecanismos sensoriais. O conhecimento do ambiente é feito, principalmente,
através do tato, que é utilizado para identificar as propriedades que sejam passíveis
de serem percebidas, como a forma, tamanho, textura, posição, disposição espacial,
dentre outras (CARNEIRO, 2003).
Segundo OAKLEY et al. (2000 apud CARNEIRO, 2003), o ser humano, no
sentido tátil, possui dois componentes independentes: cutâneo e cinético. O primeiro
está ligado aos sensores localizados na superfície da pele e são responsáveis por
sensações como pressão, temperatura, vibração e dor. Já o segundo, está ligado
aos sensores encontrados nos músculos, tendões e juntas e por isso são
responsáveis pelas sensações de movimento e força.
Desta forma, o indivíduo tem a possibilidade de identificar em um objeto
qualquer as propriedades como textura, através da análise da informação cutânea, e
peso e forma, através da análise da informação cinética. A figura 2.7 apresenta os
sensores hápticos do corpo humano que são utilizados na percepção tátil.
KLATZKY et al (1993b apud CARNEIRO, 2003), realizou uma experimentação
que consistia em mostrar para uma pessoa vidente um par de objetos e
posteriormente questioná-la qual dos dois objetos possui maior peso e a maior
dimensão, além de outros questionamentos. Percebeu-se que para avaliação das
propriedades geométricas, tais como forma, área e volume, os indivíduos
necessitavam apenas de aproximar de si os objetos para a análise. Já na avaliação
das propriedades materiais, como a textura, rigidez e peso e outros, era necessária
a utilização efetiva do sentido do tato em detrimento da visão.
Desta forma, foi possível inferir que há a tendência de se utilizar o sentido do
tato quando há a necessidade de se perceber propriedades materiais, mesmo que
exista a disponibilização do sentido da visão.
40
Fig 2.7: Sensores hápticos do corpo humano, utilizados na percepção tátil.
Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO, 2005.
O mesmo autor (KLATZKY et al 1985 apud CARNEIRO, 2003), a partir de outro
experimento realizado, afirmava que o sistema háptico é bastante eficiente no
processo de identificação de objetos. Seu experimento constituiu-se em apresentar
objetos de simples identificação visual para que usuários videntes8 pudessem
reconhecê-los apenas utilizando o tato. Os resultados apresentados indicam que
96% das respostas foram corretas, sendo que 68% delas foram emitidas em menos
de três segundos e apenas 6% foram emitidas após 5 segundos de teste. Logo, este
trabalho demonstra a eficiência e agilidade do sentido do tato na identificação de
8
Pessoas que não possuem nenhum tipo de deficiência visual.
41
objetos familiares. Contudo, ressalta o autor dos experimentos, que não
necessariamente será obtida a mesma eficiência em outras situações.
LEDERMAN e CAMPBELL (1982) desenvolveram experimentos com o intuito de
medir a utilidade de gráficos de linha em alto relevo para a representação de dados
científicos bidimensionais. O trabalho tinha como característica a intenção de
investigar a possibilidade do tato humano em inferir propriedades estruturais de
objetos, tais como curvatura, inclinação, posição etc.
Os resultados do trabalho constataram que as representações em alto relevo
são úteis aos deficientes visuais, tendo sido possível, com razoável precisão, a
percepção das informações locais sobre a configuração de curvas, tais como
inclinação, convergência, paralelismo e outras.
Vale ressaltar, ainda sobre o trabalho anterior, que apesar dos resultados
demonstrarem a eficácia das representações em alto relevo, não se pode afirmar
que os mesmos são suficientes para a construção de um modelo mental da estrutura
espacial dos objetos como um todo.
Dentre
as
diversas
diferenciações
entre
a
forma
visual
e
a
tátil,
VASCONCELLOS (1993) destaca como uma das principais distinções entre as duas
formas de percepção a capacidade de síntese. A visão tem a capacidade de captar
a informação do todo instantaneamente, para depois iniciar uma análise das partes
ou detalhes desse todo. Ao contrário ocorre com a forma tátil, que permite a
percepção da parte, e somente depois de se processar as informações de todas as
partes é possível analisar o todo. Essa característica diferenciadora entre as duas
formas será determinante na aplicação de qualquer metodologia de transmissão de
informação que se baseie em uma das duas formas ou nas duas simultaneamente.
Outra importante característica, também apontada por VASCONCELLOS (op.cit)
que necessita ser levada em consideração é na resolução da percepção. A visão
permite a percepção de uma quantidade de detalhes muito maior que a forma tátil.
Logo, através do campo visual há a possibilidade de se trabalhar tanto com um
número maior de detalhes quanto um maior número de informações em um único
plano, ao mesmo tempo em que no campo tátil surge a necessidade de uma maior
generalização e simplificação da informação, uma vez que a percepção feita desta
forma não permite o processamento de um número elevado de detalhes e
informações.
42
Outras comparações entre as formas de percepção são mensuradas por
BARROS (2006) que apresenta dados, em tabelas, calcados em estudos sobre a
capacidade de captação e retenção de informações pelos seres humanos através de
seus sentidos. Este estudo tem como objetivo a minimização de custos de
treinamento de pessoal em companhias estadunidense que totaliza algo em torno de
cinqüenta bilhões de dólares.
SENTIDO
PORCENTAGEM
Paladar
1%
Tato
5%
Olfato
3,5%
Audição
11%
Visão
83%
Tab 2.3: Estímulos recebidos em condições normais pelos seres
humanos (BARROS, 2006).
FORMA DE
CAPACIDADE DE
APRESENTAÇÃO
RETENÇÃO
SOMENTE ORAL
70%
SOMENTE VISUAL
72%
VISUAL E ORAL
85%
Tab 2.4: Capacidade de retenção de dados retidos após três horas
(BARROS, 2006).
FORMA DE
CAPACIDADE DE
APRESENTAÇÃO
RETENÇÃO
SOMENTE ORAL
70%
SOMENTE VISUAL
72%
VISUAL E ORAL
85%
Tab 2.5: Capacidade de retenção de dados retidos após três dias
(BARROS, 2006).
Além da mensuração dos estímulos recebidos em condições normais que
aponta, em BARROS (op cit.), uma predominância do canal visual, vale ressaltar
43
também a avaliação da capacidade de retenção em função do tempo, onde a visão
se destaca com um dos principais sentidos.
Em suma, há que se respeitar às limitações de cada forma de percepção toda
vez em que se buscar a transformação de uma dada forma de transmissão para
uma outra específica, pois caso contrário, o processo de comunicação estará
comprometido, uma vez que o receptor não terá condições de receber, ler e/ou
interpretar a informação veiculada.
44
3 CARTOGRAFIA TÁTIL
3.1 A IMPORTÃNCIA DOS MAPAS
A necessidade de se conhecer e registrar o espaço é algo que acompanha o
homem desde os primórdios da humanidade. Dentre as pinturas encontradas nas
paredes da caverna de Lascaux, no sudoeste da França, datadas da Era Glacial, há
retratações diagramáticas que podem ser interpretadas como representações da
localização de armadilhas e laços para a caça do bisão, conforme afirma LOCH e
ALMEIDA (2006). Segundo ALBUQUERQUE (2006), a Cartografia como atividade já
aparece nas descobertas pré-históricas, antes mesmo da invenção da escrita.
A partir das pinturas rupestres, registros nas paredes das cavernas em geral,
estas necessidades vêm se intensificando a medida em que novas áreas são
descobertas, conquistadas e exploradas. Ao mesmo tempo, novas técnicas e
métodos vão surgindo, instrumentos e ferramentas são desenvolvidos para que este
registro do espaço seja realizado o mais próximo da realidade e/ou buscando
transmitir de forma cada vez mais clara e direta a informação representada ao
usuário.
Constitui-se então um dos principais objetivos da ciência cartográfica, a
representação do espaço, da superfície terrestre. ALBUQUERQUE (2006), afirma
que a Cartografia foi a principal ferramenta usada pela humanidade para ampliar os
espaços territoriais e organizar sua ocupação.
A Cartografia, então, busca saciar esta necessidade do homem, de conhecer o
espaço através das representações, por meio dos seus documentos. Dentre estes
documentos podemos destacar o mapa, que a cada dia vem sendo cada vez mais
disseminado e popularizado por diversos setores da sociedade, que o utilizam em
um formato mais ilustrativo, direto e didático de transmitir as informações, sendo
trabalhado desde as escolas primárias até nos meios de comunicação.
O mapa pode ser entendido como uma representação gráfica de parte ou de
toda a superfície terrestre e dos fenômenos que ocorrem sobre ela, utilizando
45
convenções cartográficas (ou elementos de composição cartográficos), ou seja,
escala, orientação, coordenadas, legenda, dentre outros. São estas convenções que
diferem o mapa de outros tipos de representações como o cartograma, croqui,
desenho ou esboço.
Entretanto não há um consenso em relação a uma definição única, tendo assim
a existência de uma gama de conceitos sobre mapa, dentre os quais podemos citar
ROSSATO (2006) que apresenta uma proposta de conceituação e hierarquização
dos termos referentes aos documentos cartográficos. DENT (1999) define mapa
como representações gráficas de ambientes físicos e culturais; TYNER (1992) define
mapa como meios de comunicação e organização dos pensamentos que são
criados para transmitir alguns tipos de informações espaciais para o usuário, além
de permitir a sistematização do pensamento espacial e análises espaciais; e uma
das mais completas, do IBGE, que tem como definição:
“A representação no plano, normalmente em escala
pequena, dos aspectos geográficos, naturais, culturais e artificiais
de toda a superfície (Planisfério ou Mapa Mundi), de uma parte
(Mapas dos Continentes) ou de uma superfície definida por uma
dada divisão político-administrativa (Mapa do Brasil, dos Estados,
dos Municípios) ou por uma dada divisão operacional ou setorial
(bacias hidrográficas, áreas de proteção ambiental, setores
censitários)” (IBGE, 2006a).
Vale destacar que, atualmente, há diferentes formas de se perceber um mapa,
devido aos demais tipos de apresentação do mesmo, como os mapas digitais, táteis,
sonoros, dentre outros. Desta forma, as maneiras de percepção de um mapa não
devem alterar seu conceito, ou seja, o mapa tem que ter sua conceituação baseada
não na forma de percepção e sim no objeto em si, no que ele representa.
Em suma, quando se define uma representação cartográfica como um mapa,
esta definição deverá ser mantida independentemente do meio utilizado pelo usuário
para ler e interpretar as informações cartográficas (visual, tátil, sonoro, etc.).
Apesar de um conjunto extenso e heterogêneo de definições sobre o mapa e
suas diferenciações dos demais tipos de representações cartográficas, como o
cartograma, carta e etc., o termo mapa será utilizado neste trabalho para englobar
todos estes tipos de documentos cartográficos, apesar de se entender que há
características que os distinguem. Logo, para o conceito mapa neste trabalho
entende-se qualquer tipo de representação cartográfica.
46
Esta adoção do conceito mapa para referenciar todo o tipo de representações
visa não somente o melhor entendimento do trabalho, cabendo ao leitor a escolha
da conceituação que melhor o convém, apesar do autor entender que há distinções
que caracterizam o mapa e o diferencia dos demais documentos cartográficos,
conforme exposto anteriormente. Mas também a preocupação de não se esquivar do
foco principal do mesmo, uma vez que, apesar de certas definições diferenciarem os
tipos de documentos cartográficos, qualquer representação da superfície terrestre,
bem como seus fenômenos, é denominado como mapa. Isso pode ser ilustrado com
alguns exemplos de denominações utilizados cotidianamente, como: mapa de clima,
mapa para se chegar a casa de alguém, mapa do shopping-center, mapa das
seções de uma loja, mapa de riscos ambientais, e outros, ilustrados na figura 3.1.
A utilização dos mapas e de outros documentos cartográficos semelhantes,
como os cartogramas, tem sido, principalmente a partir da última década, ampliada e
intensificada. Na verdade, o momento histórico tem contribuído para ressaltar o
papel dos mapas, devido aos acontecimentos e transformações que vêm ocorrendo
no espaço geográfico e nos campos político, social e cultural.
Isso se deve, principalmente, à possibilidade de se registrar em tempo real a
ocorrência dos fatos e fenômenos, mas também à viabilidade de se disponibilizar a
notícia para um maior número de pessoas ao mesmo tempo, seja devido ao
desenvolvimento das formas de comunicação de massa, seja devido a possibilidade
de acesso da informação a qualquer lugar do planeta.
Indícios apontam uma maior presença da Cartografia no cotidiano, que são
percebidos,
principalmente,
na
mídia,
tanto
escrita
quanto
a
transmitida.
VASCONCELLOS (1993) afirma que a preocupação com a representação gráfica
provoca uma valorização dos recursos visuais, e cita os jornais paulistas como prova
desta preocupação.
Na verdade, esta valorização e a maior preocupação na elaboração dos mapas
veiculados na imprensa, que também são denominados como infográficos, é um fato
que vem ocorrendo de uma forma geral, dos jornais e revistas aos telejornais.
47
A
B
C
Fig 3.1: Exemplos de representações classificadas como mapas extraídas de anúncios
publicitários. A) mapa de localização de um sítio; B) mapa de localização de lojas; C) mapa de
riscos ambientais.
48
Esta valorização vem acompanhada, também, de uma preocupação em localizar
a área representada através de referências espaciais, como continentes, países,
estados, municípios, dentre outros.
Esse fato pode ser ilustrado nos jornais impressos, que não se limitam somente
aos da cidade de São Paulo, como os mapas (ou cartogramas) do tempo, diários,
que passaram a serem compostos com cores, a ocupar um maior espaço no jornal
e, assim, a adotar novas simbologias com o intuito de tornar a informação mais
legível e direta ao leitor, conforme exemplifica a figura 3.2.
Fig 3.2: Mapa do tempo, com a previsão do tempo para o estado do Rio de Janeiro,
ocupando meia página com mais outros dois mapas. Fonte: O Globo (2006).
Outro exemplo são os telejornais, que utilizam mapas, principalmente no que se
refere às notícias internacionais, com o objetivo de informar ao telespectador a
localização da ocorrência do fato. Esses mapas, geralmente, apresentam escalas
distintas, objetivando referenciar desde a localização do continente até o estado ou
região. Da mesma forma ocorre na exposição da previsão do tempo, onde o
apresentador informa o tempo previsto através de mapas ou imagens de satélites
com animações das movimentações das massas de ar.
49
Além da mídia, as representações cartográficas podem ser encontradas nos
parques ecológicos através dos mapas turísticos, nas estações ferroviárias e
metroviárias com os mapas das estações e suas conexões, os totens com a
localização das lojas nos shopping-centers, dentre outros. Algumas destas
representações estão exemplificadas nas figuras 3.3 e 3.4.
Fig 3.3: Mapa turístico de Ilha Grande (RJ), com as principais praias e as áreas de proteção
ambiental da ilha. Fonte: www.ilhagrande.org
A
B
Fig 3.4: Mapas dos sistemas de transporte coletivo ferroviário (A) e metroviário (B) da cidade
do Rio de Janeiro, encontrados em cada uma das estações.
Fonte: Supervia e MetrôRio.
50
Esta “redescoberta” do mapa como um instrumento de grande potencial também
traz como conseqüência à inserção de novos profissionais no processo de produção
de documentos cartográficos, o que era, em geral, restrito, principalmente, aos
cartógrafos.
Na verdade, o que se percebe hoje é uma abertura no processo de construção
de mapas, uma vez que a construção desse tipo de documento cartográfico era
realizada, em geral, apenas por cartógrafos e alguns profissionais de áreas afins,
cabendo aos demais profissionais o papel de usuários. Contudo, o desenvolvimento
e a popularização não só de programas, mas também dos próprios computadores
pessoais possibilitaram que antigos usuários pudessem construir seus próprios
mapas, tornando-se produtores de material cartográfico.
De certa forma, este maior acesso torna-se importante por proporcionar uma
maior democratização e popularização da Cartografia. Contudo, ao mesmo tempo
permite que pessoas não especializadas, sem nenhuma base técnica e
conhecimento cartográfico, possam produzir documentos cartográficos com
qualidade duvidosa.
Concomitantemente, são desenvolvidos e aperfeiçoados programas que
possibilitam a produção de mapas, em geral temáticos, pois permitem a
manipulação de dados e informações espaciais e a representação destes em uma
base cartográfica, como os sistemas de informações cartográficas (SIC), os sistemas
de informações geográficas (SIG), os programas de tipo CAD (AutoCad), dentre
outros.
Vale
lembrar
que,
normalmente,
esses
programas
desenvolvidos
e
aperfeiçoados, de uma forma geral, têm como uma de suas características a
simplificação e facilitação dos processos e mecanismos, ou seja, a tendência das
novas versões é serem mais acessíveis a todo tipo de usuário, fato este que
também contribui para que pessoas não especializadas e sem o conhecimento
necessário possam gerar documentos cartográficos.
Outro ponto importante a ser destacado é a questão legal, uma vez que há uma
legislação vigente que regulamenta as atividades dos profissionais relacionados à
Cartografia, atribuindo atividades específicas e responsabilidades exclusivas a este
segmento (CONFEA, 1973).
51
Destaca-se que não cabe ao presente trabalho discutir e expor as
conseqüências desta abertura do processo de construção de documentos
cartográficos, muito menos qualificar como benéfico ou maléfico o fato exposto.
Contudo, trata-se de um fato relevante no que tange ao uso dos mapas e, desta
forma, importante o seu registro, cabendo, assim, trabalhos futuros para maiores
discussões sobre o tema.
Nota-se assim que o mapa, atualmente, tem extrema importância, pois se
configura como uma forma eficiente de transmissão de informações. Entretanto, a
evolução do processo de elaboração dos mapas se baseia, quase que
exclusivamente, na visão para a leitura e interpretação visual do mesmo, como foi
visto no primeiro capítulo.
Isto traz como principal conseqüência a exclusão de uma parte considerável da
sociedade, os deficientes visuais, sendo que estas pessoas são as que possuem
uma maior necessidade de instrumentos de orientação e localização, devido à
ausência total ou parcial do principal meio de percepção e orientação espacial que é
o canal visual.
Outra conseqüência seria uma limitação da Cartografia no processo de
representação do espaço geográfico e seus fenômenos. Isto se deve porque a
inclusão de outros sentidos além da visão ampliaria as formas de representação
utilizadas pela Cartografia, permitindo assim não só a possibilidade de pessoas
portadoras de deficiência terem acesso aos documentos cartográficos, mas também
a elaboração e adoção de novas formas de leitura e interpretação de mapas, o que
tornaria viável até um maior número de informações a serem veiculadas em um
único documento cartográfico apenas, sem trazer problemas para o entendimento da
informação codificada.
Assim, a Cartografia Tátil tem a sua importância constituída, por desenvolver
meios de representação na forma tátil não só visando o acesso aos portadores de
deficiência visual, como a elaboração de novas formas de codificação que possam
ser adicionadas às tradicionais e, com isso, ampliar os meios de representação
oferecendo ao profissional responsável pela produção dos mapas uma maior gama
de possibilidades para que o processo de comunicação cartográfica seja realizado
sem interferências e o entendimento se torne mais simplificado e direto ao usuário.
52
3.2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
A Cartografia, como ciência, possui diversas definições, das restritas às
abrangentes, das simplistas às complexas, que tentam defini-la e caracterizá-la.
Consensualmente, há apenas a origem da palavra, derivada do grego “graphein”,
que significa escrita ou descrita, e do latim “charta”, referente ao significado de
papel. O surgimento do termo se deu através do historiador português Visconde de
Santarém, e foi utilizada pela primeira vez em uma carta, datada de 8 de dezembro
de 1839, escrita em Paris e encaminhada ao historiador brasileiro Adolfo Varnhagem
(OLIVEIRA, 1980 apud MENEZES, 2000).
O conjunto heterogêneo de definições existente para o termo Cartografia é
composto por significados de autores de diferentes áreas até a determinação de
órgãos e instituições, que direta ou indiretamente estão ligados a esta ciência.
Assim, podemos citar algumas destas definições em tempos cronológicos distintos, o
que irá possibilitar não só comparações entre os significados, mas também a
evolução e as modificações do termo referido ao longo do tempo. Vale ressaltar que
ROSSATO (2006) apresenta um levantamento e analisa a evolução da conceituação
do termo cronologicamente.
“Cartografia é a ciência que trata da elaboração de todos os
tipos de cartas, incluindo todas as fases do trabalho, dos
primeiros levantamentos até a sua impressão” (ONU, 1949 apud
MENEZES, 1999).
“Conjunto de estudos e operações científicas, estatísticas e
técnicas, realizadas a partir dos estudos de observações diretas,
ou de exploração de documentos, visando a elaboração de
cartas, plantas e outros meios de expressão (cartogramas,
gráficos e diagramas), bem como a sua utilização” (ICA, 1966
apud MENEZES, 1999; ICA, 1966 apud IBGE, 2006a).
“Ciência que trata da organização, apresentação,
comunicação e utilização da geoinformação, sob uma forma que
pode ser visual, numérica ou tátil, incluindo todos os processos
de elaboração, após a preparação dos dados, bem como o
estudo e utilização dos mapas ou meios de representação em
todas as suas formas” (ICA 1991 apud MENEZES, 1999).
Dentre as definições apresentadas, pode-se perceber que ao definir a
Cartografia não há uma preocupação de se contemplar as formas do produto final,
53
seja ela um mapa, uma carta, uma planta ou outro material cartográfico. Essa
abordagem só vem ser introduzida nas definições, principalmente, a partir da década
de 90, o que torna possível inferir que surge, de uma forma mais abrangente, uma
preocupação no que diz respeito às outras formas de percepção de um material
cartográfico, ou seja, percebe-se que há a necessidade de se desenvolver novas
formas de comunicação na Cartografia, como a auditiva, a olfativa e a tátil, e não
mais se basear predominantemente na visão para a construção de documentos
cartográficos.
Dentro desse contexto, é dado um forte impulso ao desenvolvimento da
Cartografia Tátil, onde se dissemina uma maior preocupação na elaboração de
material cartográfico em que o processo de comunicação cartográfica baseia-se na
percepção tátil e não na visual.
Essa nova abordagem é percebida nas duas últimas décadas, principalmente
nos anos noventa. VASCONCELLOS (1993), em sua análise sintetizada das
principais fases da história da Cartografia, aponta três épocas divididas por dois
períodos de transição:
- década de 20 a 40: advento do avião e da fotografia aérea: cartas topográficas
- década de 50: transição (primeiros satélites e computadores)
- década de 60 e 70: advento dos satélites e dos computadores, estudos sobre a
comunicação cartográfica.
- década de 80: transição (aplicação das novas tecnologias: sistemas de
informação geográfica e outros).
- década de 90: grandes transformações nas bases teóricas e técnicas e
ampliação da Cartografia, novas abordagens e novas perspectivas.
No final da década de 80, especificamente no ano de 1986, surge na Associação
Cartográfica Internacional, a ICA (International Cartographic Association), a
comissão de mapas e gráficos para pessoas cegas ou de visões parciais, com os
objetivos de troca e disseminação de informações; produção de tecnologias
incluindo desenvolvimento e apropriação destas e recursos; prover orientação e
fomento a prática adequada de utilização, produção e design; além de desenvolver
comunicação
e
cooperação
com
organizações
que
envolvem
Cartografia,
comunicação, educação e assistência a pessoas portadoras de deficiências visuais
(cegueira e visão parcial).
54
O surgimento desta comissão consolida assim uma maior preocupação em se
desenvolver esta área da ciência cartográfica, proporcionar novas tecnologias para
sua aplicação e atender, em princípio, uma parcela da população excluída da
percepção do espaço por meio do material cartográfico tradicional.
Na verdade, apesar de WIEDEL e GROVES (1969) afirmar que há um
crescimento no número de pessoas dedicadas ao processo de elaboração de mapas
táteis, GARDINER e PERKINS (1996) destacam a escassez de literatura
especializada sobre o tema, bem como a inexperiência dos próprios usuários, além
de ressaltar a inexistência de literatura que examina o envolvimento dos deficientes
visuais no processo de concepção e elaboração dos mapas táteis, algo de grande
valia para a eficácia dos documentos cartográficos deste tipo e considerado como o
primeiro passo na produção do design dos mapas táteis (PERKINS e GARDINER,
1997).
No Brasil não se tem um marco desta preocupação da questão tátil na
Cartografia. A realidade da Cartografia Tátil no país se constitui de alguns núcleos
que desenvolvem pesquisas nesta área e de centros dedicados à educação de
deficientes visuais.
Dentre as instituições que desenvolvem algum tipo de trabalho na Cartografia
Tátil podemos destacar a EEPG Profa. Maria Luiza Formosinho Ribeiro, de
Presidente Prudente, São Paulo, que durante seus 18 anos vem oferecendo
atividades de alfabetização cartográfica e disponibilizando materiais didáticos junto à
sala de recursos especiais (MENEGUETTE e EUGÊNIO, 1998), com o apoio do
Departamento de Cartografia da UNESP de Presidente Prudente, São Paulo, que
realizam projetos no bojo da linha de pesquisa “Educação Cartográfica”, como o
projeto “A Cartografia Tátil e o ensino de Geografia” (MENEGUETTE e EUGENIO,
1998).
Outro exemplo é o Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP de Rio
Claro, São Paulo, que vem desenvolvendo um projeto de pesquisa denominado
“Cartografia Tátil: Elaboração de Material Didático de Geografia para Portadores de
Deficiência Visual”, com o objetivo de elaborar e divulgar materiais didáticos que
facilitem a utilização da linguagem tátil no tratamento e comunicação da informação
geográfica (VENTORINI e FREITAS, 2004).
55
No Rio de Janeiro, o Instituto Benjamin Constant (IBC) destaca-se por ser uma
referência nacional para questões de deficiência visual. Dentre seus objetivos estão
a manutenção da escola voltada para o ensino dos deficientes, a capacitação de
profissionais para o trabalho com deficientes, assessoria a instituições de ensino e
consultas oftalmológicas. Além disso, o instituto, criado em 1854 pelo então
imperador Dom Pedro II, é responsável pela produção e distribuição de materiais
didáticos para todo o território nacional, dentre eles os mapas táteis, e também de
desenvolver técnicas de produção e novos materiais que auxiliem no processo de
educação e apreensão do conhecimento pelo deficiente visual, o que, normalmente,
é realizado pela Divisão de Pesquisa e Produção de Material Especializado (DPME).
O desenvolvimento de pesquisas científicas, em âmbito nacional, sobre este
referido tema, ainda se apresenta de forma iniciante, com ocorrências pontuais, não
recebendo a devida atenção que o tema exige. Além disso, a produção de mapas se
caracteriza pela forma artesanal e de baixa produtividade, pela falta de
desenvolvimento de técnicas e métodos que busquem a automatização e produção
em escala.
O principal encontro científico nacional sobre Cartografia e áreas afins, o
Congresso Brasileiro de Cartografia, em sua vigésima primeira edição, realizada em
2003, registrou apenas um único trabalho sobre Cartografia Tátil. Já a última edição,
a vigésima segunda, ocorrida no ano de 2005, também teve em seus anais apenas
um trabalho sobre o mesmo tema (SBC, 2005).
Já em âmbito internacional, o Congresso Internacional de Cartografia, realizado
pela ICA, apresenta um crescimento no número de trabalhos publicados. Em 2003,
houveram apenas quatro trabalhos apresentados, em contraposição com os dezoito
trabalhos registrados nos anais da edição do ano de 2005 (ICA, 2003; ICA, 2005).
Contudo, o desenvolvimento de produções científicas, tais como monografias,
dissertações e teses, juntamente com o desenvolvimento de tecnologia nacional que
auxiliem a educação dos deficientes visuais, como o projeto DOSVOX do Núcleo de
Computação Eletrônica (NCE-UFRJ), que será apresentado posteriormente,
mostram que já há uma maior preocupação em relação ao assunto, e que a
perspectiva é de crescimento e, conseqüentemente, de uma melhora da qualidade
de vida destas pessoas, além de uma nova vertente a ser explorada pela
Cartografia.
56
3.3 CARTOGRAFIA TÁTIL: UMA DEFINIÇÃO
Pode-se, então, determinar que a Cartografia Tátil é uma área de conhecimento
dentro da ciência cartográfica, possuindo o mesmo objetivo da Cartografia que é o
de transmitir as informações geográficas, mas com necessidades e metodologias
peculiares que as distingue das demais áreas. Áreas estas como a Cartografia
Temática, Cartografia na Internet ou webcartografia (webcartography), Cartografia
para crianças, dentre outras que possuem comissões específicas na Associação de
Cartografia Internacional (ICA) para o seu desenvolvimento, disseminação e
aplicação.
Como definição, a Cartografia Tátil pode ser entendida como uma área de
conhecimento dentro da Cartografia que possui como objetivo a representação de
informações
geográficas
através
de
símbolos
cartográficos,
sendo
estes
construídos, percebidos e identificados por meio da forma tátil, e não pela forma
visual como ocorre no processo de elaboração destes símbolos na Cartografia
convencional.
Assim, a Cartografia Tátil tem como particularidade a necessidade de utilizar e
aplicar o sentido tátil como meio de transmissão das informações geográficas nos
documentos cartográficos. Em outras palavras, o processo de comunicação
cartográfica ocorre utilizando o tato como forma ou meio que possibilita a leitura,
decodificação e interpretação das informações que estão codificadas, na forma de
símbolos táteis, nos mapas, cartas, plantas e outros documentos da mesma espécie.
Esta forma de transmitir as informações baseando-se pelo tato, traz consigo a
necessidade de se buscar novas formas de aplicação da representação cartográfica,
novas metodologias de elaboração de documentos cartográficos, novos processos
de construção de símbolos e uma nova maneira de pensar a ciência cartográfica
com o intuito de permitir que parcelas da sociedade, antes excluídas, possam
romper barreiras e desfrutar dos benefícios que a Cartografia pode oferecer.
Logo, essa nova mentalidade que vem sendo construída possibilita que a
Cartografia Tátil possa constituir-se como uma área dentro da Cartografia, com
metodologias e necessidades próprias.
57
Esse
novo
desafio da
Cartografia, a codificação
e
decodificação
da
representação de informações espaciais através da percepção tátil, se faz
indispensável devido às diferenças entre as percepções oriundas da forma visual e
da forma tátil. A percepção visual se caracteriza pela sua capacidade de síntese, ou
seja, visualiza-se o todo para posteriormente analisar as partes, ao contrário da
forma tátil que só é possível processar as informações das partes para depois
formar o todo (VASCONCELLOS, 1993). São essas particularidades, dentre outras
existentes, que fazem a necessidade de se buscar técnicas, metodologias e
processos distintos de elaboração de material cartográfico.
VASCONCELLOS (1993) afirma que para a produção de material cartográfico
tátil para deficientes visuais há a necessidade de um maior grau de generalização
com omissões, exageros e distorções nunca imaginados pelo cartógrafo, uma vez
que alguns problemas a serem evitados na Cartografia convencional tornam-se
condições necessárias para o design de mapas táteis eficazes. Assim, a Cartografia
tátil necessita de novos parâmetros e regras, com técnicas distintas para o processo
de elaboração de mapas.
Vale ressaltar que, apesar de necessidades e metodologias peculiares que
caracterizam a Cartografia Tátil, a mesma não se limita ou se restringe apenas à
forma tátil para estabelecer a comunicação cartográfica, excluindo totalmente a
forma visual do processo de elaboração de seus documentos cartográficos, ou seja,
uma integração com a representação cartográfica convencional. Isso se deve ao fato
de a representação tátil não inviabilizar a geração de símbolos visuais em um
mesmo documento e assim, ter a possibilidade de se gerar mapas híbridos,
explorando os dois tipos de percepção.
Outro ponto a ser destacado é que o público-alvo principal constitui-se além dos
cegos, também de pessoas que possuem visões parciais que tem a possibilidade de
visualização de cores com alto contraste. Além disso, os usuários que não possuem
deficiência visual também podem decodificar as representações cartográficas
através da percepção tátil, logo, um documento cartográfico com informações
visuais e táteis poderá ser de grande valia não só aos deficientes visuais, mas
também a outros indivíduos que não possuem ausência do campo visual.
Isto torna-se possível devido ao processo de construção dos mapas táteis
adotado. Um desses processos que possibilitam esta integração entre o deficiente e
58
o vidente, adotado pelo IBC, é a elaboração do mapa que tenha tanto a simbologia
visual quanto a tátil. Como o mapa tátil é construído em uma película plástica
transparente (braillon), há a possibilidade de sobrepor com o mapa convencional
(com simbologia visual) que serviu de base para sua elaboração. Desta forma, em
um mesmo produto haverá dois mapas, um convencional e outro tátil, permitindo a
sua utilização não só pelos deficientes como aos videntes, contribuindo, desta
maneira, para a inclusão social e a interação entre os alunos independente da sua
acuidade visual.
Independente das características de uma pessoa, só a visão, por si só, não
garante a leitura, interpretação e análise de um material cartográfico utilizado, como
afirma OKA (2003), sendo necessário o conhecimento prévio do usuário e da sua
habilidade de ler e interpretar as informações codificadas e contidas em um mapa.
Assim, da mesma forma essa necessidade se aplica aos deficientes visuais, ou seja,
é de extrema valia a alfabetização cartográfica dos usuários de mapas, e outros
tipos de representações, independente da forma de percepção da informação
cartográfica.
Logo, a importância do processo de alfabetização cartográfica aos deficientes
visuais se faz necessário paralelamente a elaboração de novas formas de
representações cartográficas táteis, pois esta alfabetização deve possibilitar a estes
usuários não somente ler, mas entender o “porquê”, “para quem”, “como”, “quando”
e “para qual finalidade” um mapa foi produzido.
Estas cinco perguntas são, segundo TYNER (1992), as novas questões a serem
respondidas pelos mapas, nesta nova era da informação, que deverão também
transmitir para o usuário a compreensão de uma variedade mais ampla de temas do
que era necessário anteriormente, e não mais ficar restrito simplesmente à função
de localização, ou seja, responder apenas a questão “onde”.
3.4 MAPAS TÁTEIS
Os mapas táteis são o principal documento cartográfico que utiliza a percepção
tátil como forma de decodificação da representação do espaço geográfico e de seus
59
fenômenos. Segundo KOCH (1997), os primeiros mapas táteis foram desenvolvidos
em meados do século XIX, por Martin Kunz.
Como a forma predominante de se transmitir as informações espaciais se dá pelo
tato, a construção desse tipo de documento deve ser diferenciada dos mapas
convencionais, uma vez que as percepções visual e tátil possuem características
distintas no seu processo de apreensão das informações.
As distinções entre os mapas tátil e convencional começam na fase de
planejamento. A área necessária para a construção de um mapa tátil, geralmente, é
mais extensa do que para um mapa que se baseia na visualização. Isso porque a
legenda referente ao mapa é composta pelo alfabeto Braille, no qual cada código
tem uma dimensão maior que a sua representação, ou seja, sua letra ou número
correspondente. A figura 3.5 ilustra esta diferença, tendo na primeira linha uma frase
formada por letras convencionais, nas linhas posteriores a mesma frase no alfabeto
Braille, sendo a segunda linha sem acentuação e a terceira linha com acentuação.
A cartografia tátil e sua aplicação
A cartografia tatil e sua aplicacao
A cartografia tátil e sua aplicação
Fig 3.5: Comparação entre uma frase constituída por letras convencionais e sua
correspondência, abaixo, com o alfabeto Braille.
Além de um espaço maior para a legenda, normalmente há a necessidade de
uma área maior também para a representação, pois como os mapas táteis, em
geral, são elaborados por texturas e peças de bijuterias, missangas e outros
materiais, a simbolização de informações ou áreas muito pequenas torna-se inviável,
uma vez que existe uma limitação no tamanho dos tipos de peças utilizadas, bem
como a inviabilidade da percepção ou da distinção das texturas através de um
fragmento de tamanho muito reduzido de qualquer tipo de superfície.
Esta limitação pode ser exemplificada através da construção de um mapa político
do território nacional. As fronteiras em um mapa convencional, por exemplo, serão,
normalmente, representadas por linhas com baixa espessura. Já em um mapa tátil,
60
as mesmas fronteiras serão simbolizadas por linhas de qualquer natureza (como de
costura, barbante, dentre outros) que deverão ter uma espessura suficiente para que
seja possível a sua percepção através do tato, pois linhas muito finas,
provavelmente, passarão despercebidas pelo usuário.
Desta forma, a representação das informações fica limitada, uma vez que a
variação de linhas que podem ser aplicadas no mapa tátil, por exemplo, é bem mais
restrita que no caso do processo de elaboração de um mapa convencional, onde se
tem uma gama maior de variáveis de formas lineares.
Além da questão da área a ser utilizada, o nível de generalização também é mais
elevado. Isso se explica devido ao fato das representações cartográficas serem
constituídas por símbolos em alto relevo, que possuem normalmente dimensões
maiores que as utilizadas em mapas convencionais, o que restringe o número de
informações a ser veiculado, bem como o nível de detalhamento das mesmas.
Aproveitando o mesmo exemplo, em um processo manual, a construção do
contorno das fronteiras, com o material escolhido para esta finalidade (linha de
costura, barbante, linha de crochê, etc.), é realizado com um baixo nível de
detalhamento, pois além de ser um processo complexo a etapa de agregar o
material nas linhas que representam a informação espacial (ou seja, colar a linha
exatamente sobre a representação das fronteiras), dependendo da espessura do
material torna-se inviável a geração de certas nuanças e contornos representativos.
Assim, pode-se concluir que os mapas táteis possuem características
particulares, como a necessidade de uma maior área para representação, um maior
nível de generalização, uma quantidade menor de informação além de outros pontos
relevantes que serão apontados e explicitados ao longo do desenvolvimento deste
trabalho, como ilustra a figura 3.6.
Além disso, pode-se acrescentar a questão do armazenamento, uma vez que se
trata de documentos maiores, cuja estrutura é rígida, inviabilizando a sua redução
através de dobras e dificultando o seu transporte, bem como a sua despesa, pois
todas essas características e cuidado tornam o custo mais elevado que o mapa
convencional.
Essas limitações devem ser levadas em consideração no processo de geração
de um documento cartográfico tátil, independente das características da construção
61
dos mapas convencionais, para que a transmissão da informação ocorra de forma
direta e eficaz, baseado, principalmente, na percepção tátil.
Fig 3.6: Mapa tátil das rodovias federais de Santa Catarina, feito em barbante
cordonê sobre papel (LOCH e ALMEIDA, 2006).
O número de pessoas que vem se dedicando a produção de mapas táteis vem
crescendo, como afirma WIEDEL & GROVES (1969). Contudo, PERKINS &
GARDINER (1997), criticam a forma de produção desses mapas táteis, uma vez
que, segundo os autores referidos, a maioria dos mapas voltados a percepção tátil
são transliterações de mapas convencionais. Em outras palavras, os mapas táteis
são,
em
geral,
elaborados
através
de
adaptações
de
mapas
visuais,
desconsiderando as limitações e dificuldades relativas ao deficiente visual. Os
autores supracitados destacam que a transferência da prática cartográfica existente
não oferece a melhor solução para o usuário deficiente visual, não apresentando
bons resultados no que tange aos designs dos mapas táteis.
PERKINS & GARDINER (op cit.) ainda enfatizam as distinções entre os mapas
visuais e táteis, destacando a necessidade, dos deficientes visuais, de um ponto de
referência fixo nos mapas táteis. Além disso, os autores supracitados destacam a
62
importância do envolvimento dos deficientes visuais na concepção e elaboração dos
mapas táteis, uma vez que os mesmos são os usuários deste tipo de documento
cartográfico, logo, será a partir da resposta da interpretação deles que será possível
a definição da melhor forma de representação tátil nos mapas a serem produzidos.
Outro ponto a ser destacado são as propostas de sistemas de classificação de
mapas táteis. Anteriormente, a classificação dos mapas era baseada na escala
utilizada, contudo, atualmente já há propostas que levam em consideração outros
fatores em conjunto. KOCH (1997), apresenta uma proposta constituída de
classificação de características primárias e secundárias. As características primárias
correspondem aos campos tema, propósito específico, área descrita, escala, grau de
complexidade e comunicabilidade da informação. Já as secundárias são os campos
método de representação, forma de uso, tipo de construção de mapa, construção
mestre, reprodução de mapa e características adicionais, conforme ilustra a figura
3.7.
MAPAS TÁTEIS
A
Tema do
mapa
Propósito
Específico
Área
Descrita
Escala
Complexidade
Comunicabilidade
da Informação
B
Método de
Representação
Forma
de uso
Tipo de
construção
de mapa
Construção
Mestre
Reprodução
de Mapa
Características
Adicionais
Fig 3.7: Características primárias (A) e secundárias (B) da classificação de mapas táteis
3.5 MÉTODOS DE PRODUÇÃO
A elaboração de um mapa necessita ser baseado em duas questões
fundamentais, o objetivo e o tipo de usuário. No caso do mapa tátil isso não difere,
63
assim, a representação cartográfica deverá levar em conta os limites do usuário e
possibilitar que o mesmo decodifique as informações codificadas no mapa.
A confecção de um mapa tátil inicia-se na definição da base cartográfica a ser
utilizada, tanto se for o caso de adaptação de uma representação convencional para
uma tátil, como se for o caso de se construir um mapa diretamente baseado na
percepção háptica.
É necessário um cuidado com a definição da escala do mapa a ser gerado, uma
vez que as informações ou áreas de tamanho reduzido terão sua representação
inviabilizada. Isso se deve ao fato da simbolização ser realizada com base em
retalhos de diversos tipos de texturas e peças de bijuterias, missangas e outros tipos
de materiais, além de uma maior necessidade de generalização das informações a
serem representadas cartograficamente. Logo, torna-se necessária uma área
mínima de representação para que o usuário possa identificar a superfície e associála a uma dada informação através da sensibilidade do tato.
Definido a base e a escala inicia-se a montagem da matriz, que é base para a
reprodução de cópias em folhas de pvc, que são películas plásticas também
denominadas de braillon. No primeiro momento, será gerado na matriz um mapa
convencional, em tinta, com as informações e formas pré-definidas, uma vez que há
a necessidade de uma maior generalização e simplificação nas informações
codificadas, conforme já explicitado anteriormente. A partir do mapa convencional,
insere-se os elementos que representarão em alto relevo e com texturas distintas as
informações registradas em tinta.
Normalmente, as informações pontuais são representadas por pequenos botões,
peças de bijuterias e missangas em geral, nas representações lineares são
utilizadas linhas como barbante, arame, linhas de costuras e outros, e nas
representações poligonais utilizam-se retalhos de tecidos e de lixas para que cada
área seja identificada por uma textura diferente. Desta forma, para cada informação
existente na matriz utiliza-se um objeto, como os citados anteriormente, são fixados
na matriz (geralmente com cola), formando assim o mapa tátil base.
Com o mapa tátil base elaborado, uma das formas de se construir réplicas é de
realizar o mesmo procedimento, utilizando o mapa convencional como base e
adicionando sobre as representações em tinta os objetos com alto relevo e texturas
diferenciadas. A figura 3.8 ilustra o processo de elaboração de um mapa
64
convencional com ruas e quadras (lado esquerdo) que foi adaptado para a forma tátil
(lado direito) com as ruas representadas com carpete de borracha, em marrom, e as
quadras preenchidos com E.V.A.9, em amarelo.
Fig 3.8: Elaboração de um mapa tátil baseado em um mapa convencional (LOCH e ALMEIDA,
2006).
A outra forma é através da reprodução em braillon, onde o mesmo é moldado de
acordo com as características estruturais dos símbolos contidos na matriz-base
através do thermoform.
A figura 3.9 apresenta três máquinas distintas do thermoform, utilizadas para
dimensões diferenciadas do braillon, da menor (esquerda) para maior (direita).
O thermoform é um equipamento que gera um ambiente a vácuo e eleva a
temperatura, fazendo com que o pvc torne-se maleável e se molde conforme as
formas e características estruturais dos objetos que estão fixados no mapa
convencional. Desta forma, ao final as representações estarão representadas no
braillon em alto relevo, com texturas e estruturas distintas, conforme os elementos e
materiais utilizados para a representação das informações geográficas (ver figuras
3.10 e 3.11).
Há, ainda, outras formas de produção de mapas táteis além do equipamento
thermoform, como swell paper, que é um tipo de papel especial com cápsulas
contendo álcool que dilatam ou contraem com a temperatura moldando formas em
alto relevo. O filme alemão (german film), plástico semi-transparente, também é
uma outra forma de confecção de gráficos em alto relevo, contudo possui uma
9
Espécie de borracha sintética, muito utilizada para a fabricação de solas de sapato.
65
limitação no que concerne as variações de altura das formas em alto relevo, o que
ocorre também com o swell paper (SHEPPARD e ALDRICH, 2000; GARDNER,
1996).
Fig 3.9: Ilustração do equipamento thermoform, disponível na DPME/IBC.
66
a
b
c
d
e
e
Fig 3.10: Processo de reprodução de material em alto relevo através do thermoform: (a) a matriz-base é
inserida no thermoform, (b) e o braillon é colocado sobre a matriz, (c) depois a matriz e o braillon são
fixados com o enquadramento e em seguida é deslocado (d) a câmara de vácuo e temperatura sobre as
duas. Dado o tempo e a temperatura determinado no equipamento, retira-se a câmara e o enquadramento
para, assim, (e) destacar o braillon, moldado, da matriz-base.
67
Fig 3.11: Reprodução de mapas táteis utilizando o braillon. Na parte superior, o mapa tátil base,
com as fronteiras entre os países representadas por linhas e as capitais determinadas por alfinetes,
além da textura distinguindo o Brasil dos demais países sul-americanos. Na parte inferior o
braillon moldado com as características do mapa tátil base. Disponível na DPME/IBC.
68
4 VARIÁVEIS VISUAIS
Como visto anteriormente, a Cartografia é uma ciência que se baseia
predominantemente no canal visual para transmitir as informações que estão
simbolizadas nos seus documentos. Ao mesmo tempo, estes mesmos documentos
cartográficos são, em geral, bidimensionais, ou seja, possuem apenas duas
dimensões, largura e comprimento.
Assim, a construção de símbolos para a representação cartográfica, em sua
maioria, é baseado em apenas três tipos de elementos gráficos, que são o ponto, a
linha e a área ou também chamado de polígono (figura 4.1). ROBINSON (1995)
denomina os três tipos gráficos como elementos gráficos básicos, pois através deles
podem ser criados todos os símbolos visuais.
Fig 4.1: Elementos Gráficos (Ponto, Linha e Área).
O ponto pode ser utilizado para simbolizar posições ou ocorrência de
determinados fenômenos, enquanto que a linha representa direções, fluxos ou até
mesmo feições contínuas, como vias terrestres e corpos hídricos. Já a área ou
polígono é atribuído a feições bidimensionais, representando extensões, áreas,
territórios, dentre outros.
Contudo, como afirma TYNER (1992), cada elemento gráfico pode ser utilizado
para representar feições ou fenômenos que não são característicos, ou seja, adotar
pontos para representar áreas, extensões e volumes, linhas para simbolizar um
conjunto de pontos de mesmo valor, como as isolinhas ou isobáricas, ou até mesmo
o polígono como uma representação de um conjunto de ocorrência de fenômenos
pontuais.
69
Estas modificações nos tipos de elementos gráficos para as representações
cartográficas podem ocorrer principalmente devido à escala adotada. Em outras
palavras, a escala é um dos fatores determinantes para a escolha dos elementos
gráficos a serem utilizados na codificação das informações geográficas. Entretanto,
a quantidade de informações também pode ser um outro fator para a escolha dos
elementos gráficos. O fator quantitativo da informação a ser representada pode
definir se a mesma deverá ser generalizada ou detalhada e assim baseando a
escolha do elemento gráfico a ser utilizado para a representação da informação.
Estas modificações estão ilustradas na figura 4.2.
Fig 4.2: Variação da representação por meio dos elementos gráficos.
Os três elementos gráficos são a base para o processo de representação
cartográfica, pois a partir deles é realizada a codificação das informações
geográficas. Entretanto, somente os elementos gráficos não tornariam possível a
construção dos símbolos utilizados na linguagem cartográfica. Por isso, os
elementos gráficos, ponto, linha e área, sofrem variações gráficas com o objetivo de
transmitir da melhor forma possível à informação codificada. Estas variações são
denominadas de variáveis visuais.
70
O termo variáveis visuais foi introduzido em 1967 pelo cartógrafo francês
Jacques Bertin, em sua obra intitulada de Semiologie Graphique, traduzido para o
inglês com o título de Semiology of Graphics: Diagrams networks maps, em 1983.
BERTIN (1983) define o conjunto de variáveis visuais como, simplesmente,
sendo os componentes do sistema gráfico, e ainda o denomina como a forma do
mundo das imagens. Já DUARTE (2002) considera variável visual toda
diversificação imposta aos símbolos, de modo a traduzir uma informação para a
linguagem gráfica, enquanto SLOCUM (1999) descreve as variáveis visuais apenas
como as várias percepções distintas dos símbolos dos mapas usados para
representar fenômenos espaciais.
As variáveis visuais foram determinadas por BERTIN (1983) em um conjunto de
seis no total, não incluindo as duas variáveis de posição que são utilizadas não para
mapas, mas sim para representação das informações em gráficos. As seis variáveis
visuais são: tamanho (size), valor (value), textura (texture), cor (color), orientação
(orientation) e forma (shape).
Segundo PRADO et al (2000) o ponto inicial de Bertin é a afirmação de que a
comunicação é feita através de marcas no papel, e as variações das características
destas marcas é que vão possibilitar a apresentação de um determinado dado ou
informação, como por exemplo, a posição, a forma, a cor, dentre outros.
Em outras palavras, o conjunto destas marcas são as variáveis visuais, e as
variações das características destas marcas são as extensões destas variáveis. O
conjunto das variáveis e suas extensões, aplicadas em conjunto ou isoladamente,
tornam possível a transmissão visual de qualquer tipo de informação que possua
duas características, bidimensionalidade e atemporalidade (duas limitações
impostas pelo próprio Bertin).
Vale ressaltar que as variáveis visuais, segundo MARTINELLI (2003),
apresentam perceptivas intrínsecas que devem ser consideradas no momento da
transcrição gráfica, sendo as principais, destacadas pelo próprio autor referenciado,
a percepção seletiva, onde o olho consegue isolar os elementos distintos (cor,
tamanho, valor, granulação e forma); percepção ordenada, onde as categorias se
ordenam espontaneamente (valor, tamanho, cores na ordem natural do espectro
visível); e a percepção quantitativa (onde a relação de proporção é imediata
(somente e tão-somente o tamanho).
71
Contudo, a noção de variáveis visuais vem sendo modificada por outros autores
incluindo McCLEARY (1983), MORRISON (1984), DIBIASE et al (1991) e
MacEACHERN (1994), como aponta SLOCUM (1999).
Dentre as alterações ocorridas com base no conjunto de variáveis visuais de
Jacques Bertin podemos destacar DUARTE (2002) que utiliza granulação para
substituir o termo textura.
ROBINSON
(1995)
trabalha
as
variáveis
visuais
em
dois
conjuntos,
denominados de primário e secundário. O primeiro, é composto por seis itens, sendo
as cinco variáveis de BERTIN, exceto a variável textura, adicionando a variável
chroma. Já o segundo conjunto, das secundárias, tem em sua composição três
variáveis, textura, disposição (pattern) e a orientação.
Outro autor que podemos citar por alterar as variáveis visuais a partir do trabalho
de BERTIN é SLOCUM (1999) que define o conjunto das variáveis com o
espaçamento, tamanho, perspectiva de altura, orientação, forma, disposição e a cor
que se subdivide em cores, claridade e saturação.
Contudo, apesar de vários autores modificarem o conjunto das variáveis visuais,
implementando novas variáveis, excluindo outras ou reagrupando-as, o presente
trabalho se baseará apenas nas seis variáveis originais de BERTIN (figura 4.3).
A adoção das variáveis visuais de BERTIN como ponto de partida se deve,
primeiro, ao fato de o mesmo ter sido pioneiro na elaboração e sistematização do
conjunto das variáveis visuais e, por isso, ter servido de base para todos os outros
autores que desenvolveram trabalhos sobre este tema, uma vez que BERTIN é o
ponto comum de todos os autores citados anteriormente. Além disso, todos os
conjuntos de variáveis visuais, levantados e conhecidos, são modificações do
conjunto das variáveis de BERTIN, tendo autores que apenas substituíram os
termos até aqueles que excluíram ou adicionaram outras variáveis.
Vale ressaltar que apesar deste trabalho adotar como ponto de partida o
conjunto de variáveis visuais de BERTIN, as possíveis e prováveis modificações a
serem realizadas, com o intuito de atingir o objetivo deste trabalho, poderão ser
semelhantes ou até mesmo iguais às que alguns autores já implementaram.
Contudo, as alterações que aqui forem colocadas terão como foco a questão da
percepção tátil, diferentemente dos demais autores, alguns aqui mencionados
anteriormente, que não possuíam este tipo de preocupação e/ou objetivo.
72
PONTO
LINHA
ÁREA
COR
VALOR
FORMA
TAMANHO
TEXTURA
ORIENTAÇÃO
Fig 4.3: As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, aplicadas nos elemetos gráficos
ponto, linha e área.
4.1 COR
Trata-se de uma variável que corresponde à percepção visual da reflectância de
luz sobre um objeto. DUARTE (2002) define a variável cor como sendo
73
“a sensação subjetiva das pessoas ao perceberem uma
radiação eletromagnética com determinado comprimento de onda
e que depende da intensidade do fluxo luminoso e da
composição espectral da luz.”
BERTIN (1983) define variação de cor como a sensação visual resultante da
diferença entre áreas uniformes. Através da diferenciação de uma ou mais cores
pode-se fazer a representação de diferentes informações hierarquizadas (figura 4.4).
Amarelo
Verde
Vermelho
Cyan
Azul
Magenta
Fig 4.4: Paleta de cores, com as cores primárias e
secundárias.
SLOCUM (1999), baseado em BREWER (1994), entende a variável cor como
um conjunto de três sub-variáveis, que são luminosidade (nível de claridade ou
obscuridade de uma determinada cor), tonalidade (comprimento de onda de luz que
produz a cor) e saturação (mistura entre a cor propriamente dita, “cor pura”, com a
cor cinza).
As propriedades ou o comportamento das cores em um contexto particular são
explicados por um método denominado de sistemas de cores, segundo afirma
TRAINA e OLIVEIRA (2005). Ainda baseado nos mesmos autores, não existe um
sistema que explique todos os aspectos relacionados à cor, assim, existem
diferentes tipos de sistemas para descrever as diferentes características da cor que
são percebidas pelo ser humano. Dentre eles, podemos destacar três principais
sistemas de cores, que são RGB, XYZ, CMY, que serão abordados resumidamente,
baseado em TRAINA e OLIVEIRA (2005) e MOREIRA e MACEDO (2006) para que
o presente trabalho não fuja do foco principal.
74
O modelo RGB (Red, Green e Blue) é um sistema aditivo10, estando baseado na
teoria dos três estímulos, proposta por Young-Helmholtz, que afirma que o olho
humano percebe a cor através da estimulação de três pigmentos visuais presentes
nos cones da retina, isto é, o olho é baseado na amostragem das faixas vermelha,
verde e azul do espectro visível. Contudo, algumas cores existentes na natureza não
podem ser mostradas nesse sistema devido a resposta do olho humano aos
estímulos espectrais.
Conforme explicita MOREIRA & MACEDO (2006), o monitor não reproduz todos
os comprimentos de onda de luz visível, ou seja, não reproduz todas as cores pela
combinação ponderada de luzes vermelha, verde e azul. Devido a este problema,
em 1931 a CIE (Comissão Internacional de Iluminação) resolveu adotar um novo
modelo de representação padrão, o sistema XYZ, que também é um sistema aditivo
que descreve as cores através de três cores primárias virtuais X, Y e Z. Tendo sido
criado devido a inexistência de um conjunto finito de cores primárias que produza
todas as cores visíveis possíveis, o sistema é formado por cores imaginárias,
definidas matematicamente.
Já o modelo CMY, também denominado de CMYK, é um tipo de modelo
subtrativo, baseado nas cores complementares, que são o azul (cyan), magenta
(magenta) e o amarelo (yellow). A variável K representa o preto, que é adicionado
aos pigmentos para obtenção de maior ou menor saturação, visto que, não
encontramos pigmentos puros
na natureza (LABORATÓRIO DE ILUMINAÇÃO,
2006).
Ainda pode-se destacar os modelos HSV (Hue, Saturation e Value), também
chamdo de IHS (sendo o I referente a intensidade) e o HLS (Hue, Lightness e
Saturation), que são sistemas de cores de grande utilização na computação gráfica.
A variável cor é utilizada com freqüência para diferenciar símbolos com formas e
tamanhos similares, distinguindo tipos e valores em representações gráficas
pontuais, lineares e de áreas. Na verdade, a Cartografia utiliza com freqüência a cor
como forma de padronizar determinadas simbologias nas representações, sendo
estas padronizações denominadas de convenções cartográficas.
10
As intensidades das cores primárias são adicionadas para produzir outras cores, como o branco sendo a
mistura das intensidades máximas das três cores primárias aditivas: vermelha, verde e azul (TRAINA E
OLIVEIRA, 2005)
75
Como exemplos de convenções que são distinguidas através de cores, podemos
citar em casos de símbolos lineares, linhas vermelhas para representação de
rodovias e linhas azuis para simbolizar rios e canais, e no caso de informação em
áreas, polígonos verdes para áreas vegetadas e polígonos azuis para corpos
hídricos como lagoas e baías. Além das convenções, a variável cor também é
utilizada para diferenciar informações diversas como, por exemplo, em um mapa de
uso e ocupação do solo, onde cada tipo distinto de uso e ocupação terá uma cor
para sua representação, ou em caso de simbolização pontual, diferenciando a
localização de objetos distintos como o local de colheita de diferentes produtos
agrícolas.
Em relação à forma de representação tátil, que é o foco deste trabalho, a
variável cor não será incorporada neste estudo. Isto se deve ao fato da
incompatibilidade de percepção da variável cor, bem como suas extensões, por meio
do tato.
Deve-se ressaltar que os deficientes que possuem a visão subnormal
(classificação de deficiência visual que será tratada no capítulo posterior), ou seja,
apenas parte da visão, podem perceber distinções de cores, uma vez que haja alto
grau de contraste, ou seja, que haja dessemelhança acentuada entre as cores, uma
variação bem distinta com uma proporção em intensidade entre as partes claras e
escuras, como por exemplo, a cor amarela com um fundo preto.
Contudo, a consideração da cor como uma variável tátil não poderá ser aplicada
aos demais deficientes, que perderam por completo seu canal visual. Logo, serão
adotadas apenas as variáveis que possam ser aplicadas a todos os deficientes
visuais, ou seja, que possam ser identificados através do tato.
4.2 VALOR
A variável valor, segundo BERTIN (1983), constitui-se nas diferentes tonalidades
de cinza, diversificando desde os tons mais claros, próximo ao branco, aos tons
mais escuros, próximo do preto.
76
Na verdade, a variável valor é a intensidade de luz ou pigmento, o que irá,
conseqüentemente, influenciar a tonalidade de uma dada cor. Logo, a variável valor
não trata apenas da variação do cinza, mas sim da variação de uma dada cor, do
seu tom mais claro ao mais escuro, como ilustra a figura 4.5.
A
B
C
Fig 4.5: Paleta de cores ilustrando a variação de tonalidades, entre o preto e o branco, nas cores azul
(A), vermelho (B) e cinza (C).
Esta variável pode confundir-se com a anterior, cor. Entretanto, sua
diferenciação torna-se clara uma vez que a variável cor está relacionada ao
comprimento de onda de luz, enquanto que a variável valor refere-se a intensidade
de luz de uma determinada cor. Em suma, em cada cor (vermelho, verde, azul, etc.)
há uma variação de valor (vermelho claro, vermelho escuro, verde claro, azul escuro,
etc.).
As atribuições de diversas tonalidades de cores para representar diferentes
informações já são amplamente utilizadas na Cartografia, como por exemplo, os
mapas de densidade populacional, onde geralmente são representadas as
concentrações populacionais através da cor vermelha e quanto menor a
concentração mais claro é o tom da cor vermelha.
Vale ressaltar que, independente do número de cores utilizadas, geralmente os
tons mais claros são utilizados para a representação de valores menores ou mais
fracos, enquanto que os tons mais escuros são aplicados na representação de
valores maiores ou mais fortes.
Por isso, a variável valor, em geral, é utilizada para simbolizar informações
ordenadas ou hierarquizadas, ou como afirma DUARTE (2002) para mostrar a
ordenação ou seqüência de um fenômeno.
Contudo, a referida variável não é aplicada somente em representações
quantitativas. A variação de tonalidade de uma ou mais cores também é utilizada
para a diferenciação de informações dentro de uma mesma classe ou agrupamento.
77
Um exemplo pode ser demonstrado através de um mapeamento de vegetação, onde
todas as informações relativas a esse tema terão a cor verde atribuída. Dentro do
grupo ou classe vegetação poderá haver sub-classes ou sub-grupos identificando os
diferentes tipos de vegetação (porte, espécie, origem, etc.), que serão simbolizados
por tonalidades diferentes da cor verde. Logo a distinção dos diferentes subgrupos/classes será feita pela variável valor e não pela variável cor.
Como a variável valor é expressa, originalmente, através de tonalidades de
cores, também não será possível o seu desenvolvimento neste trabalho pela
incompatibilidade com a percepção na forma tátil.
4.3 FORMA
Forma é uma variável que provém da variação geométrica de um símbolo,
podendo ser regular, no caso de triângulos, quadrados e círculos, ou irregulares no
caso de símbolos denominados pictórios.
As variações nas formas dos símbolos não são normalmente utilizadas para
distinguir quantidades variadas, mas sim para a identificação de objetos distintos,
como por exemplo, círculos para identificar cidades e estrelas para localizar capitais
ou linhas contínuas para simbolizar rodovias e linhas tracejadas para representar
estradas e vias vicinais.
TYNER (1992) classifica em três tipos de representação pela variável forma,
pictória, associativa e abstrata. A forma pictória, também denominada de replicativa
ou de símbolos miméticos, é designada quando ela é representacional, ou seja,
quando o símbolo tem relação com a forma do objeto representado, como por
exemplo o símbolo de um avião para representar a localização de um aeroporto ou
uma árvore para simbolizar uma floresta ou bosque.
Já as formas associativas, ou símbolos semimiméticos, estabelecem uma
associação indireta entre a forma do símbolo e o objeto representado, como um
triângulo para simbolizar um pico de uma montanha, ou pontos verdes regularmente
espaçados representando uma horta ou plantação.
78
Por fim, as formas abstratas, também conhecidas como arbitrárias ou símbolos
geométricos são caracterizados quando não há nenhuma relação entre o símbolo e
o objeto representado, como um ponto identificando uma cidade ou um triângulo
localizando capitais de estado.
Vale ressaltar que há alguns autores, como ROBINSON et al (1995), que não
aplicam a variável forma em símbolos poligonais, limitando-a apenas aos símbolos
pontuais e lineares. Outros, como TYNER (1992), colocam em suas obras que a
forma não é diretamente aplicada a símbolos de área, pois a forma corresponde a
área representada. Entretanto, o mesmo tipo de símbolo pode ser constituído por
uma variedade de símbolos menores em seu interior que possuam variações em sua
forma, como pode ser observado na figura 4.3.
No presente trabalho, a variável forma será aplicada apenas nos elementos
gráficos ponto e linha. Conforme ROBINSON (op cit.) e TYNER (op cit.), já
mencionado anteriormente, a variável forma nas representações em áreas será
correspondente à composição geométrica do polígono, ou seja, a forma da área
propriamente dita.
A exclusão da variável forma nas representações poligonais se deve à
adaptação para a percepção tátil. Os diferentes formatos que compõem o interior de
um polígono e definem a variável forma, conforme apresenta BERTIN (1983),
representam diferentes texturas ao se perceber tatilmente.
Em outras palavras, se o interior de um polígono é composto por um conjunto de
quadrados ou círculos, tatilmente, se houver esta possibilidade de percepção, o que
será detectado são superfícies distintas, texturas diferentes e não formas
heterogêneas.
Vale ressaltar que o conceito textura a que se refere o texto anteriormente não
se assemelha ao que é definido por BERTIN (1983) em sua obra onde sistematiza
as variáveis visuais. Posteriormente, serão explicitadas as diferenças entre a
conceituação do referido autor e a que se baseia o presente trabalho.
79
4.4 TAMANHO
A variável tamanho é a que se refere à mudança na dimensão geométrica do
símbolo, ou seja, variação no comprimento, largura , área e volume. Através desta
variável torna-se possível representar informações relativas à grandeza dos
componentes, sendo assim apropriada para a simbolização de informações
quantitativas ou hierarquizadas.
O tamanho em símbolos pontuais pode ser utilizado para a representação de
informações quantitativas como a localização de cidades e o tamanho dos pontos
variando em relação à taxa populacional de cada cidade, por exemplo. No caso de
representações lineares, o tamanho pode significar maior importância ou valor
relativo a uma determinada informação, como fluxos, vias de transportes, entre
outros.
Nas informações de áreas, a variável tamanho está relacionada não ao polígono
que delimita uma determinada área, mas sim ao preenchimento deste mesmo
polígono, como pode ser observado na figura 4.3. Alguns autores como ROBINSON
et al (1995) afirmam que a variável tamanho é aplicada somente a símbolos pontuais
e lineares, não sendo aplicado a símbolos de áreas ou poligonais.
A aplicação da variável tamanho neste trabalho será restringida apenas para as
representações pontuais, excluindo tanto os elementos gráficos lineares quanto os
poligonais ou de área.
O fato da variável tamanho não ser representada em área é devido as mesmas
características que impossibilitaram a representação da variável forma em
polígonos. O preenchimento do interior dos polígonos por formas de tamanhos
heterogêneos representa, por meio do tato, texturas distintas, pois há de se
considerar toda a superfície do polígono e não apenas uma forma isolada com o seu
tamanho.
Em relação às representações lineares, a variável tamanho também não é
utilizada para distinguir elementos gráficos. Na verdade, o fator diferenciador entre
os símbolos lineares é a sua espessura e não o seu tamanho, pois não há como
alterar a dimensão do objeto a ser representado para diferenciar a sua
representação cartográfica, como ilustra a figura 4.6.
80
Em outras palavras, o elemento gráfico linear que representará um canal hídrico
terá o seu tamanho definido pela dimensão do canal com a escala adotada no
documento cartográfico. Desta forma, o tamanho não poderá ser utilizado como
forma de distinguir as representações lineares, ou seja, esse mesmo rio não terá um
tamanho maior ou menor em relação a outro rio de característica distinta. A distinção
poderá ser feita pela espessura da representação, ou por outras formas como a cor,
por exemplo.
Um exemplo que pode ilustrar a afirmação é o caso das cartas topográficas,
onde as vias são informações codificadas em forma linear e possuem algumas
classes, como estradas ou rodovias, pavimentadas ou não-pavimentadas, federais
ou estaduais, dentre outros. Estas classes são diferenciadas umas das outras não
pelo seu tamanho, mas sim pela espessura, além das cores e símbolos.
Geralmente, as vias de maior importância são representadas por linhas mais
espessas, enquanto as de menor importância são codificadas através de linhas mais
finas ou menos espessas.
Fig 4.6: Comparação entre diferentes tamanhos e espessuras. No primeiro conjunto
distingue-se o tamanho na forma linear. Já no segundo conjunto, diferencia-se a espessura
ou largura em linhas de mesmo tamanho.
4.5 TEXTURA
A textura é definida, segundo BERTIN (1983), como a variação da espessura
dos elementos que compõem uma área com um dado valor. Geralmente, estes
elementos se tratam de linhas que preenchem um determinado símbolo (figura 4.7).
81
Fig 4.7: Exemplos de variações de texturas, segundo BERTIN
1983.
Alguns autores utilizam além de textura o termo padrão (pattern), como
ROBINSON et al (1995) e TYNER (1992). TYNER (op cit.) diferencia os dois termos,
definindo a textura como um composto de pequenos elementos agregados que
produzem uma impressão visual de maior ou menor largura, enquanto que o padrão
seria o arranjo espacial dos pequenos elementos que compõem o símbolo.
ROBINSON et al. (op cit.) classifica a variável textura/modelo como sendo
variáveis visuais secundárias, não pertencendo ao grupo das variáveis visuais
primárias, que são compostas pelas demais variáveis anteriormente explicitadas.
Isso se deve pelo autor entender que a textura é uma das três características de um
padrão (pattern), que é definido como o efeito gráfico de área, originado de várias
combinações das variáveis visuais primárias.
Vale ressaltar que acerca do uso do termo textura não há um consenso entre os
autores. DUARTE (2002), ao definir as variáveis visuais, utiliza o termo granulação,
no qual o define como a repartição do preto no branco, ou seja, a largura de linhas
pretas em uma área branca, como ARCHELA (1999) que salienta na definição do
termo a necessidade de se manter a mesma proporção de preto e branco.
A utilização de outros termos com o intuito de substituir a denominação textura,
dado por BERTIN (op cit.), ocorre por entender que a mesma não expressa o real
sentido da variável em questão.
Entende-se por textura a variação de uma superfície, tanto pela sua composição
como pela sua estrutura. Esta variação pode resultar em diversas classificações das
quais podemos citar liso, áspero, rugoso, entrelaçado, veludo, dentre outros,
conforme pode-se perceber pela figura 4.8.
A percepção da textura pode ser feita pelo campo visual, identificando algumas
das variações, entretanto somente através da sensibilidade tátil é que se torna
possível uma identificação detalhada e precisa das variações de texturas. Desta
82
forma, pode-se entender que a textura seria uma variável muita mais tátil que visual,
por ter como principal meio de percepção das variações o tato, e não a visão.
Fig 4.8: Diferentes tipos de superfícies que determinará texturas distintas e percepções
diferenciadas. Da esquerda para direita: mármore, esteira, tela, papel amassado, cortiça e
gotas de água ou ar.
Em substituição ao termo textura, adotado por BERTIN (op cit.), as
denominações que melhor expressariam a idéia da variável em questão seria
espaçamento e espessura, isto porque a principal variação perceptível visualmente é
em relação ao espaçamento e à espessura dos elementos que compõem um
determinado símbolo, sejam eles elementos lineares ou pontuais, e não a textura do
símbolo, como a denominação sugere.
Em outras palavras, o fator que possibilita a distinção de áreas, no caso desta
variável, é o espaço e a largura entre uma linha e outra ou entre um ponto e outro.
O conceito espaçamento também é utilizado por alguns autores que não adotam
o termo textura, dentre eles podemos citar SLOCUM (1999) que justifica a mudança
do termo pelo mesmo possuir diferentes usos na literatura.
Vale ressaltar que, geralmente, a variação de espaçamento é expresso através
de comparação entre linhas com diferentes larguras. Na verdade, a variação da
largura implica na diferenciação do espaçamento entre linhas ou pontos, pois quanto
mais largo é o símbolo maior será à distância entre o outro símbolo de mesma
forma. Contudo, neste caso a percepção que é dada é na distinção entre as
espessuras dos elementos e não no espaçamento entre eles.
Assim, a variação de espaçamento só ocorre quanto os elementos, ou seja, as
linhas e os pontos possuem a mesma espessura, logo, quando são iguais em forma
e largura.
No caso de variação da espessura de linhas, por exemplo, apesar de também
variar o espaçamento entre elas a principal alteração é na largura dos elementos.
Visualmente, a diferenciação notada, o fator que irá distinguir a informação
83
representada será a espessura e não o espaçamento. Logo, não há possibilidade de
representação com o cruzamento entre estas duas variáveis, espessura e
espaçamento (figuras 4.9 e 4.10).
Fig 4.9: Variação na espessura dos elementos lineares, o que conseqüentemente altera
o espaçamento entre eles.
Fig 4.10: Variação apenas no espaçamento entre os elementos lineares, permitindo
que visualmente se perceba a distância entre as linhas.
Visualmente, a variável textura é substituída por duas outras variáveis,
espessura e espaçamento, que normalmente são aplicadas em símbolos em áreas.
Entretanto, tatilmente, o que se percebe são as diferentes variações de superfície,
ou seja, as diferentes composições e estruturas de um símbolo. Logo, o
espaçamento e a espessura serão formas de representar diferentes texturas.
As diferentes composições do interior de um símbolo poligonal representarão
diferentes percepções através do tato. O preenchimento do interior com símbolos
circulares ou quadrangulares, com linhas mais espessas ou menos espessas, com
figuras maiores ou menores, mais espaçadas ou mais próximas, significará a
identificação de áreas distintas, ou seja, informações heterogêneas.
Desta forma, no que tange a percepção tátil, a variável textura é uma das mais
complexas, principalmente em símbolos de área, pois é um conjunto de outras
variáveis visuais, como o tamanho e a forma.
Ressalta-se que nas representações pontuais e lineares, as variáveis forma e
tamanho/espessura
são
aplicadas
e
percebidas,
conforme
já
explicitado
anteriormente. Entretanto, o mesmo não ocorre nas representações poligonais
84
devido à percepção não ser de um símbolo isolado, mas sim do conjunto desses
mesmos símbolos preenchendo uma dada superfície.
4.6 ORIENTAÇÃO
Corresponde à inclinação dos elementos que constituem os símbolos. No caso
de elementos lineares, a variação vai se dar de acordo com a direção da linha. Já no
caso de elementos pontuais, a variação só será possível dependendo da forma dos
mesmos, uma vez que no caso de símbolos circulares não há como definir sua
inclinação (orientação).
Para ROBINSON et al (op cit.) a variável orientação esta incluída no grupo de
variáveis visuais secundárias, juntamente com a variável textura. O mesmo autor
afirma que a orientação só ocorre através de elementos lineares, não sendo possível
em símbolos pontuais (figura 4.11). Já TYNER (op cit.) incluem elementos pontuais
como passíveis de variação de orientação, citando um exemplo através de um mapa
com símbolos pontuais com forma triangular (figura 4.12). O autor ainda ressalva a
possibilidade de haver orientações distintas em um mapa sem nenhum significado
que justifique a diferença.
Vale destacar que a orientação em símbolos lineares (ou seja, não sendo
aplicadas no preenchimento de um polígono) não se caracteriza como uma variável,
isso porque as orientações das linhas serão estabelecidas de acordo com a
informação a ser representada e não como forma de distinguir informações.
Exemplificando a afirmação acima, quando se representa um canal fluvial, a
orientação da linha será de acordo com a representação do leito do rio. Da mesma
forma quando se representa uma rodovia ou ferrovia, que representa linearmente a
informação baseado apenas no traçado dos mesmos. Logo, a variável orientação é
aplicada aos símbolos pontuais e poligonais, excetuando os lineares.
Fig 4.11: Variações de orientação com elementos lineares preenchendo
símbolos.
85
Fig 4.12: Exemplo de TYNER (1992) ilustrando um mapa com símbolos
pontuais cuja orientação não possui significado algum.
Conforme já mencionado anteriormente, tomou-se por base as seis variáveis
visuais de BERTIN (1983), cor, valor, forma, tamanho, textura e orientação.
Contudo, percebeu-se que havia necessidade de se adaptar essas variáveis visuais,
estabelecidas pelo referido autor, nos três tipos de elementos gráficos, ponto, linha e
área. Desta forma, estabeleceram-se as seguintes variáveis: valor, forma, tamanho,
espessura, espaçamento, textura e orientação, que poderão ser representadas nos
três tipos gráficos.
Assim, a proposta de variáveis táteis, baseada nas adaptações das variáveis
visuais de BERTIN (1983), é apresentada na figura 4.13, ilustrando as
características definidas para cada variável neste capítulo.
Os quadros preenchidos com NA significam as variáveis não aplicadas. As
representações relativas ao elemento gráfico ponto devem ser consideradas como
símbolos pontuais, uma vez que a dimensão exagerada foi adotada para efeitos
didáticos.
86
PONTO
LINHA
FORMA
TAMANHO
ESPESSURA
ESPAÇAMENTO
NA
NA
NA
NA
NA
NA
ÁREA
NA
NA
NA
NA
NA
NA
NA
NA
TEXTURA
ORIENTAÇÃO
NA
NA
Fig 4.13: Proposta de adaptação das variáveis visuais para as variáveis táteis.
87
5- METODOLOGIA
Após a elaboração da proposta do conjunto de variáveis táteis, gerada a partir
das variáveis visuais de BERTIN (1983), surge a necessidade de realizar testes que
verifiquem e atestem a possibilidade da percepção, através do tato, de cada variável
proposta, ou seja, para a aplicação destas variáveis em documentos cartográficos é
necessário, primeiro, averiguar se as mesmas são passíveis de se perceber
tatilmente.
Desta forma foi concebido um conjunto de testes onde cada variável será
exposta à sensibilidade tátil de um grupo de deficientes visuais, que definirá se estas
variáveis, bem como suas extensões, são perceptíveis ao sentido háptico.
5.1 A CONCEPÇÃO DAS MATRIZES-BASES
A matriz-base, onde serão inseridos os símbolos e reproduzida dando origem
aos testes de validação, será construída em um papel tipo quarenta quilos, com as
dimensões de 29,5 por 27,5 centímetros. Contudo, devido às limitações técnicas do
equipamento que produzirá as cópias, será necessária a inclusão de bordas de dois
centímetros para cada lado, reduzindo as dimensões da matriz para 25,5 cm por
23,5 cm (este procedimento será detalhado posteriormente), conforme ilustra a
figura 5.1.
A matriz será constituída por linhas com três colunas cada, sendo o número de
linhas definido pela quantidade de símbolos a ser representados ou pela limitação
da dimensão da matriz. As linhas serão distanciadas por medidas que podem variar
de 1,5 cm a 2 cm, com o objetivo de que o deficiente visual possa identificar cada
linha de representação, sem confundir os símbolos de linhas distintas.
Cada coluna representa um símbolo a ser reproduzido, logo, em cada linha
haverá três representações a serem identificadas pelo deficiente visual. Desta forma,
a matriz será implementada no formato retrato, ou seja, com sua maior dimensão
88
correspondente a altura e sua menor dimensão relativo a largura, uma vez que como
será representado apenas três símbolos em cada linha, não há necessidade de uma
maior extensão, além de que haverá a possibilidade de implementar um número
maior de linhas de representação e, assim, avaliar um número maior de variáveis em
uma única matriz.
2 cm
29,5 cm
2 cm
ÁREA ÚTIL
25,5 cm
2 cm
23,5 cm
2 cm
27,5 cm
Fig 5.1: Dimensões da matriz a ser reproduzida, com o tamanho original (29,5 por 27,5 cm) e a área
útil.(25,5 por 23,5 cm)
O número de representações por linha na matriz foi definido a partir das análises
de experimentos realizados por BRANDÃO (2005), na Divisão de Pesquisa e
Produção de Material Especializado (DPME), responsável pelo desenvolvimento e
reprodução de materiais não só relativos a Cartografia, mas voltados para a
89
educação em geral dos deficientes visuais, tanto dos que compõem o corpo discente
do Instituto Benjamin Constant como aqueles que integram os vários centros
especializados na educação de cegos no território nacional, uma vez que o IBC
distribui os materiais desenvolvidos a estes centros.
Segundo a referida pesquisadora, um número elevado de representações em
uma única linha poderá impossibilitar a identificação e comparação entre os
símbolos táteis. Isso se deve ao fato do deficiente visual utilizar a sua memória tátil,
que possui uma maior limitação que a memória visual. Em outras palavras, o
deficiente visual pode identificar e comparar uma quantidade limitada de símbolos
táteis, pois o mesmo necessita de reconhecer um símbolo por vez, avaliando todas
as suas características geométricas e de textura. Logo, um conjunto extenso de
símbolos não permitirá que o deficiente avalie e compare cada uma das
representações, devido à limitação da percepção tátil.
Baseado nessas informações foi definido que cada linha terá apenas três
representações, e desta forma, os testes de validação foram realizados por linhas,
ou seja, o deficiente visual testará as representações em cada linha por vez, e não
avaliando toda a matriz de uma única vez.
Em cada linha haverá três tipos de representações táteis, que poderão ser
distintos ou repetidos. A repetição dos símbolos táteis tem como objetivo induzir o
deficiente visual ao erro e, desta forma, constatar a real percepção ou não das
representações.
A concepção das matrizes foi baseada na análise de uma variável por vez, ou
seja, cada matriz foi elaborada para que o deficiente visual pudesse identificar
apenas um único tipo de variação nos símbolos táteis, bem como suas extensões.
Assim, para cada variável visual que possua características que permitam a
adaptação para a percepção tátil será gerada uma ou mais matrizes para constatar a
possibilidade de percepção por meio tátil, bem como identificar as extensões que
possam ser utilizadas.
Desta forma, foram concebidas 21 matrizes com o intuito de se avaliar as
variáveis forma, tamanho, orientação, espessura e textura. Além das variáveis, as
matrizes também foram elaboradas levando em consideração os elementos gráficos,
logo, cada matriz além de se limitar a uma variável também estará avaliando esta
90
mesma variável em apenas um único tipo de elemento gráfico, ou seja, ponto, linha
ou área.
Entretanto, vale ressaltar que devido ao número de matrizes geradas, a variável
textura, no que tange aos elementos gráficos ponto e linha, será levada em
consideração no conjunto com as demais variáveis. Em outras palavras, a textura
será utilizada nas matrizes correspondente as variáveis de forma, tamanho,
orientação e espessura, como maneira de auxiliar na diferenciação dos símbolos.
Logo o deficiente visual, por exemplo, deverá perceber as formas das
representações de uma determinada matriz e posteriormente, nos mesmos
símbolos, deverá também identificar as texturas existentes.
Assim, a título de um melhor entendimento da construção das matrizes, serão
explicitadas cada uma com suas características peculiares, seguido de figuras
ilustrativas da mesma.
5.2 AS MATRIZES-BASES
5.2.1 SÍMBOLOS PONTUAIS
A primeira matriz foi concebida com o objetivo de se avaliar a variável forma em
representações pontuais (ver figura 5.2). Esta matriz foi constituída de cinco linhas
com representações com formas regulares básicas, ou seja, formas regulares que
servirão de base para a geração de outras formas derivadas destas. Os símbolos
utilizados nesta matriz são o círculo, o quadrado e o triângulo eqüilátero.
A segunda matriz é constituída de representações de diferentes formas
regulares derivadas, em símbolos pontuais (figura 5.3). Especificamente nesta
matriz, as formas regulares são derivadas das figuras de um quadrado e um
triângulo eqüilátero, ambas representadas e testadas na primeira matriz.
91
1
2
3
4
5
Fig 5.2: Esquema e a matriz 01, referente às formas pontuais regulares básicas.
A referida matriz contém cinco linhas de representações táteis, sendo as duas
primeiras referentes a derivações do quadrado, tendo as figuras do quadrado e do
retângulo. As duas linhas seguintes contêm representações derivadas do triângulo
eqüilátero, tendo além do mesmo o triângulo isósceles. A última linha contém
representações derivadas dos dois tipos de estruturas geométricas.
1
2
3
4
5
Fig 5.3: Esquema e a matriz 02, referente às formas pontuais regulares derivadas do
quadrado e do triângulo.
A matriz seguinte se refere aos símbolos cuja forma deriva da figura do círculo,
completando as três formas básicas da primeira matriz. No caso do círculo, optou-se
92
por uma matriz só com as representações derivadas desta figura, isso devido ao
número de derivações elaborado, em um total de quatro (figura 5.4).
Além do círculo completo a matriz contém os símbolos com formas de meio, um
quarto (1/4) e três quartos (3/4) de círculo, distribuídos em cinco linhas que
constituem a matriz.
1
2
3
4
5
Fig 5.4: Esquema e a matriz 03, referente às formas pontuais regulares
derivadas do círculo.
A quarta matriz foi elaborada para se avaliar todos os tipos de representações
com formas pontuais regulares, básicas e derivadas. Logo, esta matriz é constituída
de símbolos pontuais com as três formas pontuais básicas e as respectivas
derivações, em oito linhas ao todo (figura 5.5).
Esta matriz foi concebida com o intuito de se avaliar todas as representações
pontuais de formas regulares em uma mesma área de análise, uma vez que cada
matriz anterior avalia um tipo de forma pontual regular. Desta forma, há a
necessidade de se avaliar a percepção destes tipos de formas isoladamente e em
conjunto com os demais formatos descritos anteriormente, uma vez que nos
documentos cartográficos esses tipos de representações não serão utilizados
isoladamente, mas sim em conjunto com uma diversidade de outras formas e
variações a serem avaliadas nas matrizes seguintes.
93
Assim, estas quatros primeiras matrizes elaboradas possuem o objetivo de
avaliar a percepção da variável forma em símbolos pontuais, mas limitando-se aos
formatos regulares, tanto os básicos quanto os derivados.
1
2
3
4
5
6
7
8
Fig 5.5: Esquema e a matriz 04, referente às formas pontuais regulares básicas
e derivadas.
As três matrizes seguintes, a quinta, sexta e a sétima foram concebidas para se
avaliar as formas irregulares de símbolos pontuais, uma vez que as matrizes
anteriores limitaram-se a testar apenas as formas regulares.
As formas irregulares, em sua totalidade, compreendem de formatos oriundos de
peças de diversas origens, como brincos, miçangas, enfeites, dentre outros, que são
adquiridos e utilizados para elaboração de mapas táteis elaborados pelo IBC. Assim,
como são formas de peças únicas não há a possibilidade de se avaliar as demais
variáveis, como, por exemplo, a variável tamanho. Os testes se limitarão a avaliar
apenas os diversos tipos de formatos existentes, identificando somente as formas
passíveis de percepção tátil.
Logo, estas três matrizes serão utilizadas para constatar a percepção destas
formas irregulares, validando ou não sua aplicação em representações cartográficas.
A escolha de três matrizes em vez de uma única é devido ao elevado número de
peças que geram formas diferenciadas (ver figura 5.6).
94
Vale ressaltar que a idéia não é limitar e sim identificar uma maior quantidade
possível de extensões que possam ser utilizadas nos documentos cartográficos,
uma vez que quanto maior forem as variáveis e suas respectivas extensões, maior
será a liberdade do profissional responsável em criar um documento cartográfico
com mais informações e com uma maior eficácia no que tange o objetivo da
comunicação cartográfica.
Fig 5.6: Matrizes 05, 06 e 07,
referentes às formas pontuais
irregulares.
95
As matrizes seguintes têm como foco a variável tamanho e o principal objetivo é
a avaliação dos tamanhos dos símbolos pontuais com formatos regulares. Em outras
palavras, as matrizes foram geradas para identificar a variação perceptível de
tamanho dos três tipos de símbolos com formas pontuais regulares, que são o
círculo, o quadrado e o triângulo eqüilátero, os mesmos utilizados na primeira matriz.
Para se fazer esta avaliação, foram elaborados quatro matrizes para se testar os
diversos símbolos em diferentes dimensões. A primeira desta série é a oitava do
grupo de testes, gerada para se avaliar os diferentes tamanhos de um quadrado.
Foram escolhidos três tamanhos diferentes, cada um com medidas dos lados de
dois, quatro e seis milímetros de comprimento, distribuídos por cinco linhas de
representações (ver figura 5.7).
Vale ressaltar que os três valores não esgotam a problemática, entretanto,
servirão de parâmetro para que outros trabalhos e testes, que venham a ser
realizados, possam ter uma referência. Logo, o objetivo dos testes com estes três
tamanhos pré-definidos é iniciar uma delimitação das características da percepção
háptica no que tange a tamanhos distintos.
1
2
4
6
2
3
4
5
Fig 5.7: Esquema e a matriz 08, referente aos diferentes tamanhos de quadrados.
96
A nona matriz do grupo de teste avalia os tamanhos nos símbolos triangulares.
Com características semelhantes da matriz anterior, a matriz se constitui em cinco
linhas com representações de triângulos eqüiláteros com medida de lados variando
de dois, quatro e seis milímetros de lado (ver figura 5.8).
1
4
2
6
2
3
4
5
Fig 5.8: Esquema e a matriz 09, referente aos diferentes tamanhos de
símbolos triangulares.
As duas matrizes seguintes, a décima e a décima primeira, foram utilizados para
se avaliar os diferentes tamanhos de símbolos circulares, contendo a mesma
variação de dimensão que as matrizes anteriores utilizaram, dois, quatro e seis
milímetros de diâmetro (figuras 5.9 e 5.10).
Contudo, vale destacar que novamente os símbolos circulares foram avaliados
em um número de representações maior que os símbolos quadrangulares e
triangulares. Para se testar os símbolos circulares foi necessária a concepção de
duas matrizes, uma vez que como as derivações do círculo possuem uma maior
variação geométrica, uma única matriz não seria suficiente.
Detalhadamente, a décima matriz é constituída de representações de um círculo
inteiro e de um quarto de círculo, distribuídas em seis linhas de representações,
sendo três linhas de cada tipo de representações.
97
Já a décima primeira matriz, é composta pelas representações de metade de
círculo e três quartos de círculo. Da mesma forma que a anterior, a matriz contém
seis linhas de representações, com as três primeiras contendo as representações de
meio círculo, e as três linhas posteriores tendo as simbologias de três quartos de
círculo.
1
2
3
4
5
6
Fig 5.9: Esquema e a matriz 10, referente aos diferentes tamanhos de
símbolos circulares, com três tamanhos distintos.
1
2
3
4
5
6
Fig 5.10: Esquema e a matriz 11, referente aos diferentes tamanhos de
símbolos circulares, com três tamanhos distintos.
98
Nas formas irregulares, a variável tamanho não foi avaliada uma vez que os
símbolos com formatos irregulares, geralmente, possuem um único tamanho. Em
outras palavras, as peças utilizadas nas representações táteis, como miçangas,
elementos de bijuterias, dentre outros, normalmente, possuem um único tamanho
para cada forma, o que inviabiliza a avaliação da percepção da variável tamanho
neste tipo de peças.
As quatro matrizes seguintes têm como objetivo a avaliação da percepção tátil
da variável orientação, em símbolos pontuais regulares.
Igualmente ao realizado com a variável tamanho, a avaliação da variável
orientação também adotou um número determinado de orientação que não extingue
a problemática, mas permitirá uma primeira avaliação da percepção desta referida
variável através do tato.
A décima segunda matriz possui como finalidade o teste da orientação dos
símbolos pontuais quadrangulares. Logo, esta matriz foi constituída de dois tipos de
formas quadrangulares, o quadrado e o retângulo. O quadrado será disposto em
duas orientações distintas, com sua base na horizontal e inclinado, na disposição de
um losango. Já o retângulo, será trabalhado em quatro orientações diferentes, uma
com sua base maior na horizontal, outra com sua base menor na horizontal e com
inclinações tanto para direita, como para esquerda, ou seja, com orientações
variando 450 graus (ver figura 5.11).
1
2
3
4
5
6
7
Fig 5.11: Esquema e a matriz 12, referente às avaliações da orientação de
símbolos quadrangulares regulares.
99
A matriz seguinte se encarrega de testar, da mesma forma que a anterior, as
representações pontuais triangulares. Esta matriz foi composta de triângulos
eqüiláteros em quatro orientações distintas, sendo uma com um de seus lados como
base, a outra com um de seus lados para cima, e as demais com um de seus lados
na vertical, em lados opostos, formando a figura de uma seta, uma apontando para o
lado direito, e a outra para o lado esquerdo, distribuídas em cinco linhas de
representações (figura 5.12).
1
2
3
4
5
Fig 5.12: Esquema e a matriz 13, referente às avaliações da orientação de
símbolos triangulares regulares.
A duas matrizes seguintes, a décima quarta e décima quinta, foram elaboradas
para se avaliar as simbologias pontuais circulares. Como nas demais variáveis,
devido não só ao número de derivações adotadas da forma de um círculo, mas
também às diferentes orientações de cada derivação testada, a utilização de apenas
uma única matriz tornaria esta avaliação inviável. Logo, foram geradas duas
matrizes com o intuito de dar condições para a avaliação das derivações e suas
diversas orientações.
Torna-se óbvio que não foi utilizada a forma básica, ou seja, a circunferência
inteira devido ao fato de não haver distinção de orientação desta forma.
A décima quarta matriz contém as orientações das formas de um semi-círculo e
de um quarto de círculo colocadas em quatro posições cada uma. O semi-círculo,
100
representado nas quatro primeiras linhas, está orientado na horizontal, com a parte
esférica voltado para cima e para baixo, e na vertical, com a parte esférica voltado
para esquerda e para direita. Já a forma de um quarto de círculo está com a parte
convexa da forma voltada para a esquerda superior e inferior, e para a direita
superior e inferior, nas quatro linhas finais de representação (figura 5.13).
1
2
3
4
5
6
7
8
Fig 5.13: Esquema e a matriz 14, referente às avaliações da orientação de
parte dos símbolos circulares regulares.
Já a matriz seguinte, a décima quinta, foi dedicada exclusivamente para a forma
de três quartos de círculo, composta de seis linhas de representações. Esta forma
se apresenta em quatro tipos de orientações distintas, sendo a primeira com o um
quarto ausente do lado direito superior, a segunda com um quarto direcionado para
o lado direito inferior, a orientação seguinte com o um quarto ausente na parte
superior do lado esquerdo e a última no lado esquerdo na parte inferior (figura 5.14).
As formas irregulares mais uma vez foram excluídas deste tipo de avaliação,
uma vez que os formatos utilizados não necessitariam deste tipo de teste, pois suas
formas, independentemente da orientação, não sofrem alterações.
101
1
2
3
4
5
6
Fig 5.14: Esquema e a matriz 15 referente às avaliações da orientação de parte
dos símbolos circulares regulares.
5.2.2 SÍMBOLOS LINEARES
As duas matrizes seguintes foram concebidas e desenvolvidas para a avaliação
das simbologias lineares, no que concernem às variáveis forma, espessura e textura
(ver figuras 5.15 e 5.16). Vale lembrar que, conforme explicitado no capítulo de
variáveis visuais, a variável tamanho não será aplicada nas representações lineares,
sendo avaliada a apenas a variável espessura e forma. Além disso, a variável
orientação também não foi aplicada nos testes de símbolos lineares, uma vez que
esses tipos de representações não possuem uma única orientação, devido a sua
própria estrutura geométrica.
Outro ponto importante a ser ressaltado é que as variáveis espessura e textura
não foram sistematizadas para serem avaliadas, devido à ausência de símbolos que
fossem semelhantes e que se diferenciassem apenas pela espessura e pela textura.
Entretanto, serão utilizadas pelos deficientes visuais como um dos fatores de
distinção entre os símbolos lineares, ou seja, na verdade a identificação das
representações se dará pelas três variáveis, mas apenas a variável forma será
tabulada nos resultados.
102
As duas matrizes seguintes, a décima sexta e décima sétima, foram compostas
por oito linhas de símbolos lineares com formas, espessuras e texturas distintas.
Fig 5.15: Matriz 16
referente às avaliações da
variável forma e espessura
em representações
lineares.
Fig 5.16: Matriz 17,
referente às avaliações da
variável forma e espessura
em representações lineares.
103
5.2.3 SÍMBOLOS POLIGONAIS
As quatro matrizes finais foram concebidas para avaliar a variável textura,
principalmente, em símbolos de áreas. Desta forma, as matrizes foram constituídas
de polígonos com texturas distintas, compostas por diversos tipos de superfícies.
A décima oitava matriz foi composta apenas com texturas referentes a lixa,
tendo em sua constituição granulações diferentes, variando da 40 até a 120,
conforme ilustra a figura 5.17 com os tipos descritos na própria figura.
120
40
80
100
120
120
80
40
80
120
80
120
80
100
100
Fig 5.17: Esquema com as distintas granulações e a matriz 18 referente às avaliações da extensão
lixa da variável textura em representações em áreas.
As duas matrizes seguintes foram concebidas para avaliar a variável textura
através de um conjunto heterogêneo de tipos de superfícies, incluindo papelão,
telas, tecidos, veludo, dentre outros tipos de materiais, que estão ilustrados nas
figuras 5.18 e 5.19.
A matriz 19 se caracteriza pela sua composição apenas de tipos de telas e a
matriz 20 tendo em seu interior uma gama mais heterogênea, com papelão, tecido,
tela, emborrachado compactado e veludo, com variações desses materiais descritos.
104
Fig 5.18: Matriz 19, referente às avaliações da variável textura em representações em áreas, com
diversos tipos de superfícies.
Fig 5.19: Matriz 20, referente às avaliações da variável textura em representações em áreas, com
diversos tipos de superfícies.
105
A última matriz gerada, a vigésima primeira, também tem como objetivo a
avaliação da variável textura. Entretanto, a sua composição é caracterizada apenas
por papelão corrugado, tendo a diferenciação entre eles através da variação de
formas em seu interior, como polígonos irregulares e tipos de linhas, conforme ilustra
a figura 5.20.
Fig 5.20: Matriz 21, referente às avaliações da variável textura em representações em áreas, com
diversos tipos de superfícies oriundas de papelão corrugado.
5.3 APLICAÇÃO DOS TESTES
Para a aplicação dos testes de percepção tátil, foi concebida a montagem de um
grupo de deficientes visuais do Instituto Benjamin Constant. Este grupo seria
composto, em uma primeira etapa, apenas por cegos, ou seja, por pessoas que não
tivessem nenhum resquício do campo visual, o que não acontece com os deficientes
106
de visão subnormal, conforme já exposto anteriormente. A adoção somente dos
cegos na formação do grupo de teste se explica pelo fato de que a potencialidade de
percepção tátil do cego é a mesma que uma pessoa de visão subnormal. Na
verdade, o deficiente com visão subnormal tem uma “vantagem” sobre o cego, uma
vez que o mesmo possui, mesmo que de maneira deteriorada, o seu campo visual,
logo, há possibilidade de visualizar vultos, cores com fortes contrastes e outros
elementos, dependendo da deterioração da visão.
O grupo de deficientes visuais tem como uma de suas características a
heterogeneidade, isso devido a diversos fatores, como a idade da perda da visão,
que irá influenciar até na aprendizagem do deficiente visual. Quando a ausência da
visão é de nascença, geralmente, o deficiente não tem a assimilação de alguns
conceitos e conhecimentos que uma pessoa que tenha perdido o campo visual na
fase adulta possua, como o conhecimento das cores, por exemplo. Outros fatores
que contribuem para a heterogeneidade são a realfabetização através do sistema
Braille, introdução à alfabetização cartográfica, sensibilidade para a percepção de
texturas, dentre outros.
Desta forma, a constituição do grupo de teste teria que levar em consideração
estas diversidades para que os resultados dos testes e as conclusões consigam
abranger grande parte deste heterogêneo grupo que é o dos deficientes visuais. A
tabulação dos resultados da aplicação de todos os testes, ou seja, das matrizes
geradas e expostas anteriormente, possibilita a identificação das variáveis
perceptíveis ao tato, bem como a determinação e a mensuração da quantidade de
extensões, de cada variável tátil, que tenham a possibilidade de serem reconhecidas
através do sistema háptico. Assim, haverá condições de se tomar conhecimento da
quantidade de variáveis e extensões que poderão ser aplicadas na geração de
documentos cartográficos táteis e, logo, dimensionar a quantidade de informações
que poderão ser expostas, além de contribuir, também, para determinar formas de
apresentação destes documentos.
Entretanto, apesar de ser evidente a importância da aplicação destas matrizestestes para se alcançar o objetivo deste presente trabalho, conforme exposto
anteriormente, a montagem do grupo de deficientes para testá-las não foi possível.
Isso se justifica devido à impossibilidade da composição do grupo, devido ao fato da
indisponibilidade dos deficientes visuais do Instituto Benjamin Constant.
107
Os deficientes visuais que formariam o grupo de teste são, em sua maioria,
alunos da escola existente dentro do Instituto, que é especializada na educação
especial neste tipo de deficiência. Além dos alunos, contribuiriam professores e
colaboradores que possuem experiência não só na educação para os deficientes
como também na leitura e interpretação de objetos e superfícies através do sentido
do tato.
Sendo assim, a época de aplicação dos testes elaborados coincidiu com o
período de avaliações e provas finais do ano letivo. Posteriormente, seguiu-se a
época de férias onde não só os alunos não se encontrariam no Instituto, mas
também grande parte dos funcionários e colaboradores, o que inviabilizou a
aplicação dos testes.
Desta forma, buscou-se alternativas para que o presente trabalho não ficasse
restringido apenas na concepção e elaboração dos testes, mas também que
produzisse os resultados, mesmo que parciais. Os resultados parciais podem
permitir um conhecimento prévio das potencialidades e limitações da percepção tátil
além de um levantamento superficial das matrizes, indicando deficiências e pontos a
serem aperfeiçoados.
Entretanto, a série de testes elaborada é composta por vinte e uma matrizes,
cada uma com no mínimo cinco linhas, e em cada linha três símbolos táteis a serem
analisados, identificados e comparados. Logo, além da problemática de encontrar
pessoas com deficiência visual, havia a necessidade que estas pessoas tivessem
disponibilidade para realizar toda a série de testes.
Assim, enquadrando-se nestas características, foi possível a aplicação dos
testes em dois voluntários que se disponibilizaram a testar as vinte e uma matrizes.
O primeiro voluntário pertence ao Instituto Evangélico dos Cegos, entidade
particular fundada em 1927 e atualmente sediada em Jacarepaguá, na cidade do
Rio de Janeiro (RJ). Advogado por formação possui total deterioração no campo
visual. De acordo com o voluntário, até os 20 anos possuía a visão, quando sofreu
uma atrofia na retina que iniciou o processo de deterioração da visão. Como seus
pais eram primos, a genética favoreceu a perda total da visão três meses depois.
O segundo voluntário, de 25 anos, pertencente ao Centro de Atendimento
Educacional ao Cego (CAEG) do Núcleo de Computação Eletrônica (UFRJ).
Graduado em informática possuía visão parcial até os 14 anos, quando perdeu por
108
completo seu campo visual, devido também a uma herança genética, já que os pais
são deficientes visuais.
Diferentemente do primeiro voluntário, o segundo deficiente estudou no IBC até
a oitava série, aprendendo o sistema Braille e tendo acesso aos diversos
equipamentos de auxílio à educação dos deficientes. Contudo, ele afirma que havia
grandes dificuldades quando a informação estava associada a uma representação
gráfica (figura, foto, esquema, etc.) principalmente quando se tratava de mapas.
Assim, os testes de validação foram realizados com estes dois voluntários que
possibilitaram não só a identificação de pontos a serem melhorados nas matrizes
como também as dificuldades, limitações e características do processo de
percepção do sistema tátil.
109
6 RESULTADOS
Os
testes
realizados
com
os
deficientes
visuais
geraram
resultados
correspondentes às percepções dos símbolos táteis. Estes resultados serão
apresentados mantendo a mesma ordem das matrizes, ou seja, seqüencialmente os
resultados da percepção na simbologia pontual, linear e poligonal.
6.1 SÍMBOLOS PONTUAIS
A identificação e distinção entre as três formas primárias (quadrado, triângulo e
círculo), referente à primeira matriz, foi realizada com êxito, não havendo na
avaliação dubiedade em nenhum momento.
Já em relação às formas derivadas, que corresponde às matrizes 2, 3 e 4, as
avaliações constataram dificuldades em relação ao processo de identificação das
mesmas.
Estas
dificuldades
concentraram-se
principalmente
nas
variações
triangulares e circulares, uma vez que os formatos quadrangulares (quadrado e
retângulo) foram identificados e distinguidos sem problemas.
Os dois tipos de triângulos utilizados (eqüilátero e isósceles) não foram, na
maioria das respostas obtidas, distinguidos. O formato triangular era identificado,
entretanto não se percebia as variações distintas deste formato, ou seja, não era
possível, através do tato, a identificação dos dois diferentes tipos de triângulos
utilizados.
Da mesma forma ocorria nos formatos circulares (círculo inteiro, semi-círculo,
um quarto de círculo e três quartos de círculo), onde houve grande dificuldade para
se identificar as diferentes variações desta forma, excetuando o círculo inteiro e em
alguns testes o semi-círculo. Por vezes o um quarto de círculo se confundia com a
forma triangular pelos dois lados retilíneos existentes. Já a forma três quartos de
círculo era diferenciado das demais variações, mas não identificado com tal.
110
No que diz respeito às formas irregulares, no geral, foram passíveis da
percepção através do tato, sendo possível a identificação e distinção entre as
diferentes formas utilizadas nas matrizes 5, 6 e 7. Contudo, algumas dubiedades
foram constatadas, como na matriz 5 os formatos circulares nas linhas 3 e 7. Na
matriz 6 houve uma maior dificuldade na distinção das formas, devido a mesma
possuir semelhanças de estrelas e triângulos, num total de nove tipos de variações.
Entretanto, a distinção das formas foi percebida, com exceção das linhas 5 e 7 onde
as variações do formato estrelar levaram a interpretar semelhanças em formas
distintas na percepção de um dos voluntários. As formas utilizadas na matriz 7 foram
todas identificadas e diferenciadas sem maiores problemas, com exceção da última
linha, onde ocorreu dificuldades na identificação e comparação entre os três
elementos da linha.
Após avaliar a forma nas primeiras sete matrizes, a variável testada foi o
tamanho, que compreendeu da oitava a décima matriz. Os três tamanhos adotados
nos símbolos táteis (2, 4 e 6 mm) foram identificados sem nenhum problema, tendo
a percepção de um mesmo símbolo com três tamanhos diferentes. Contudo, um
ponto foi destacado pelos deficientes visuais, que os símbolos de 2 mm, apesar de
ser possível a percepção do tamanho diferenciado dos demais, não permite a
identificação da forma. Em outras palavras, os símbolos utilizados com o menor
tamanho não tiveram sua forma identificada, pois além do tamanho a moldagem no
braillon suaviza as arestas, mascarando as características estruturais dos símbolos
adotados.
Em relação à variável orientação, compreendida entre a décima segunda matriz
e a décima quinta, os resultados obtidos variaram conforme o formato dos símbolos
(quadrangular, triangular e circular). Com o formato quadrangular (matriz 12) houve
a mesma dificuldade com os símbolos de 2 mm, impedindo assim a identificação das
respectivas orientações. Nos demais símbolos a determinação da orientação foi
realizada sem dubiedade.
No caso das formas triangulares (matriz 13) a determinação das diferentes
orientações foi acompanhada de vários erros e dúvidas. Pelo formato do triângulo
apresentar três lados iguais a identificação da orientação dos mesmos foi
problemática, não sendo possível nem mesmo se o símbolo estaria apontado para
cima, para baixo ou para os lados. Em grande parte das respostas, após a
111
percepção, se indicava que os triângulos estariam inclinados, mesmo aqueles que
estavam com sua base na horizontal (“de pé”). Além disso, os símbolos triangulares
de 2 mm também tiveram os mesmos problemas de percepção.
Apesar das matrizes 14 e 15 abrangerem os símbolos com formato circular, os
resultados dos testes foram bastante diferenciados. Isso se deve ao fato de que a
matriz 14, que possui as formas de semi-círculo e um quarto de círculo, tinha, em
grande parte, símbolos com tamanho de 2 mm, logo, a identificação da forma foi
inviabilizada (conforme os resultados das matrizes anteriores constataram) e
conseqüentemente a determinação da orientação também foi impossibilitada. Os
símbolos de maior tamanho tiveram suas respectivas orientações identificadas, que
foram os semi-círculos com a curvatura voltado para as partes superior, inferior e
esquerda. Vale ressaltar que mesmo com maior tamanho, os símbolos que
correspondem à forma de um quarto de círculo não tiveram suas orientações
identificadas.
Já a décima quinta matriz foi constituída por símbolos de tamanho maior, o que
permitiu que os deficientes pudessem perceber as características estruturais dos
símbolos (três quartos de círculo) e assim a sua orientação. Vale destacar que nesta
mesma matriz, a forma não foi identificada, a determinação da orientação se fez
através das características estruturais do símbolo, ou seja, os deficientes através da
ausência do restante do círculo (um quarto de círculo) percebiam que havia duas
arestas no círculo e através delas identificava-se para onde apontava estas arestas
e assim se determinava a orientação do símbolo.
6.2 SÍMBOLOS LINEARES
Os testes nas matrizes 16 e 17 permitiram avaliações na variável forma em
símbolos lineares, utilizando para isso as variáveis textura e espessura. Os
resultados das duas matrizes mostraram que as formas semelhantes não são
diferenciadas pela percepção tátil, ou seja, se duas formas forem parecidas, a
percepção destas identificará um único tipo de forma. Este resultado ocorreu em
diversos pontos das matrizes, como por exemplo, na matriz 16, na primeira linha, os
112
dois primeiros símbolos da segunda e da quinta linha, e na matriz 17, com a
segunda, quinta e oitava linha, e os dois primeiros símbolos da terceira linha.
Vale destacar que, no que concerne a variável espessura, apesar de terem sido
utilizadas como uma das maneiras de diferenciação dos símbolos lineares, a mesma
não foi sistematizada visando sua avaliação nos testes realizados. Isso se deve ao
fato de não haver símbolos disponíveis com mesmas características e espessuras
distintas, ou seja, não houve a disponibilidade de símbolos lineares que tenham
variação apenas na variável espessura e semelhança nas demais variáveis,
permitindo assim a avaliação da variável espessura.
Contudo, como os símbolos lineares possuem espessuras distintas (além das
formas diferenciadas) esta variável também foi utilizada como um dos meios de
distinção entre os símbolos, uma vez que os deficientes visuais além de perceberem
as formas para identificar os símbolos também percebiam a espessura, outro ponto
diferenciador das representações utilizadas. Da mesma forma ocorreu com a
variável textura, que não houve uma sistematização para avaliá-la, mas foi utilizada
como variável para distinção entre os símbolos lineares.
6.3 SÍMBOLOS POLIGONAIS
As quatros últimas matrizes correspondem à avaliação de símbolos poligonais,
mais especificamente à variável textura. A primeira desta série, a décima oitava, é
constituída apenas de variações de lixas, tendo os números 40, 80, 100 e 120 de
granulação da lixa. Os resultados obtidos constatam que a percepção destas
variações de lixas ocorreu sem nenhuma dúvida ou problema, tendo os deficientes
conseguidos identificar e diferenciar os quatros tipos de lixas adotados.
As matrizes 19 e 20 foram formadas a partir de tipos de telas, tecidos e
emborrachados. A décima nona teve todas as suas telas identificadas e
diferenciadas sem nenhuma dubiedade. Já a vigésima matriz apresentou, no
processo de percepção, maiores problemas de identificação da simbologia. Os
símbolos que provocaram dúvidas quanto a sua identificação foram os dois últimos
símbolos da primeira (emborrachados) e da segunda linha, e a terceira linha.
113
A última matriz, a vigésima primeira, foi constituída de tipos de papel corrugado,
tendo em todas as suas simbologias as texturas identificadas e diferenciadas. O
único problema constatado foi uma dificuldade entre os dois últimos símbolos na
terceira linha, devido à orientação diferenciada da textura (os quadrados formados
na superfície dos símbolos estão em diferentes orientações).
Em suma, baseado nestes resultados, pode-se então mensurar, em um primeiro
momento, as extensões de cada variável passíveis de percepção através do tato.
Isto possibilitará não só a determinação da quantidade de informação a ser
veiculada nos documentos cartográficos, mas também como representar as
informações a serem veiculadas.
De uma forma sucinta podemos apresentar os resultados preliminares da
seguinte forma, sendo os pontos positivos indicados por um visto e os pontos
negativos indicados por uma cruzeta:
a) Símbolos Pontuais
Formas regulares primárias (quadrado, círculo e triângulo)
Formas derivadas primárias (exceto as variações quadrangulares)
Formas irregulares
Tamanhos de 4 e 6 milímetros
Tamanho de 2 milímetros
Orientação das formas quadrangulares e circulares
Orientação das formas triangulares
b) Símbolos Lineares
Formas e texturas com características distintas
Formas e texturas semelhantes
c) Símbolos Poligonais
Lixas
Telas
Papel corrugado
Tecidos
114
Na tabela 6.1, as extensões descritas são aquelas que no processo de avaliação
foram identificadas pelos deficientes visuais sem dubiedade ou erro. As demais
extensões que baseado na percepção tátil tiveram sua identificação errada,
confundidas ou igualadas a outras distintas não foram consideradas nesta tabela.
EXTENSÕES PERCEPTÍVEIS PELO SISTEMA TÁTIL
VARIÁVEL
ELEMENTOS
EXTENSÕES
GRÁFICOS N0
DESCRIÇÃO
FORMA
PONTO
31
4 regulares (quadrado, retângulo, triângulo e
círculo);
27 irregulares
LINHA
24
14 (matriz 16);
8 (matriz 17)
TAMANHO
PONTO
2
4 e 6 milímetros
ORIENTAÇÃO
PONTO
10
2 quadrangulares (quadrado e losângo);
1 triangular;
7 circulares (4 três quartos de círculo e 3 semicírculo)
TEXTURA
POLÍGONO
18
4 tipos de lixa (n0 40, 80, 100 e 120);
5 tipos de telas (da matriz 19);
6 tipos de papel corrugado (da matriz 21);
3 tipos de tecidos (40 e 50 linha da matriz 20)
Tab 6.1: Variáveis e suas respectivas extensões avaliadas e consideradas perceptíveis
através do sistema tátil.
Vale destacar que esta tabela não encerra o trabalho pela identificação das
variáveis e extensões possíveis de serem utilizadas em documentos cartográficos
táteis. Isto se deve ao fato deste conjunto de avaliações não testarem as variáveis e
suas respectivas extensões em conjunto, sendo realizadas isoladamente.
Desta forma, faz-se necessário não só novas avaliações que ratifiquem esses
resultados e refinem outros, mas também testem as variáveis e as extensões em
conjunto, num contexto, ou seja, implementadas em um documento cartográfico tátil,
para que assim possam ser definidas como variáveis e extensões táteis. Além disso,
também é de suma importância ampliar o número de avaliações, ou seja, um maior
número de deficientes que possam analisar o material gerado e testar sua
viabilidade.
Desta forma, esta tabela é um resumo do quadro construído a partir dos
resultados dos testes de avaliação realizados, servindo como passo inicial para o
115
desenvolvimento de novas pesquisas que venham detalhar o tema principal. Logo,
trata-se de resultados preliminares, que necessitam de maiores avaliações, com o
intuito de ratificá-los ou não, bem como avaliar sua aplicação nos documentos
cartográficos.
116
7 CONCLUSÕES
O levantamento bibliográfico realizado, bem como a experiência adquirida na
confecção dos testes de validação (matrizes) juntamente com os resultados obtidos,
permitem a descrição de algumas considerações sobre o presente tema, além de
conclusões iniciais, que serão desenvolvidas mediante o prosseguimento deste
trabalho.
Em primeiro lugar, há uma necessidade de se desenvolver metodologias de
produção de documentos cartográficos, pois o que se encontra atualmente são
formas artesanais, de baixa escala produtiva e apenas com a preocupação dos
símbolos serem passíveis de identificação pelo tato. Também existe uma
necessidade de se conciliar formas que atendam não só a sensibilidade tátil, mas
também aos fundamentos da ciência cartográfica, principalmente, no que tange ao
sistema de comunicação cartográfica.
Ao mesmo tempo, se torna indispensável que a Cartografia reveja seus
fundamentos, princípios, normas e convenções para sua representação na forma
tátil, uma vez que, como já exposto anteriormente, as necessidades, limitações e
formas de representação para o sistema háptico são distintas da Cartografia
convencional, que se baseia, quase que na sua totalidade, na visualização.
No que tange a representação, ou seja, a simbologia tátil, algumas
considerações cabem serem expostas, e deverão ser confirmadas ou refutadas,
mediante a aplicação de novos testes de validação que darão prosseguimento a
este trabalho. Assim, cabe ressaltar que a percepção tátil possui limitações e
peculiaridades que devem ser respeitadas e levadas em consideração na concepção
e elaboração de qualquer documento cartográfico tátil.
A partir disso, um ponto a ser ressaltado é o fato de que nem toda simbologia
em alto relevo e nem toda textura utilizados em símbolos táteis são passíveis de
identificação e, logo, da leitura e interpretação da informação representada pelo
deficiente visual. Em outras palavras, a determinação dos símbolos e das texturas a
serem utilizados necessita de um conhecimento prévio da compatibilidade com a
percepção tátil, ou melhor, precisa-se saber se através do tato é possível a
117
identificação dos mesmos, pois há símbolos e texturas que não são passíveis de
identificação isoladamente ou em conjunto com outros tipos em um mesmo
documento.
Em relação aos símbolos pontuais constatou-se que as extensões avaliadas da
variável forma são passíveis de identificação através do sistema tátil, excetuando as
formas derivadas triangulares e circulares. Logo, através dos testes realizados,
pode-se considerar que as diferentes formas empregadas na composição das
matrizes poderão ser identificadas através do tato pelo deficiente visual.
No que se refere à variável tamanho, nos símbolos pontuais, a composição de
simbologia com a medida de dois milímetros ou menor torna inviável a sua
identificação através do sistema háptico. Isto porque o tamanho menor que dois
milímetros impede a identificação das características estruturais dos símbolos, o que
inviabiliza não só a determinação da forma, mas também de outras variáveis como a
orientação, por exemplo. Vale destacar que esta limitação ocorre tanto com formas
quadrangulares, como triangulares e circulares; assim, conclui-se que a simbologia a
ser adotada deve ter tamanho superior a dois milímetros.
Em relação à orientação dos símbolos pontuais, constatou-se que há uma
inviabilidade na determinação desta variável em formas triangulares. Contudo, nas
formas quadrangulares e circulares esta limitação não ocorre, uma vez que os
símbolos possuam um tamanho maior que dois milímetros, pois ao contrário há
também uma inviabilidade na determinação da orientação dos símbolos pontuais.
Outro importante ponto a destacar é que a referida variável necessita de uma
maior avaliação para a sua aplicação. Isso se deve porque o manuseio dos mapas
táteis e de outros tipos de documentos por parte do deficiente visual, normalmente,
não é realizado orientado convencionalmente, ou seja, com o norte na parte
superior. Devido à deficiência visual, o usuário, em geral, ao utilizar um mapa tátil
não tem como orientar o documento, assim, a variável orientação ao ser identificada
pode sofrer influências na decodificação do símbolo e, logo, a variável em questão
poderá ter limitações no que tange as suas respectivas extensões.
A aplicação da variável textura em símbolos pontuais, em geral, deve levar em
consideração a dimensão do mesmo, principalmente os tipos constituídos de
superfícies com formas em alto relevo ou vazados (como por exemplo, telas, papel
corrugado, dentre outros). Isto se deve, pois normalmente o tamanho destes
118
símbolos impede o reconhecimento do tipo de textura utilizada. Os tipos de textura
utilizados nestes casos são de superfícies contínuas, sem formas vazadas, e sem
variações (como ondulações ou formas e desenhos), como, por exemplo, veludos,
lixas, e outros.
Já nos símbolos lineares, após a execução dos testes de validação, pode-se
afirmar que as formas semelhantes tendem a serem interpretadas como iguais, ou
seja, se o formato de uma linha tiver características parecidas com uma outra linha,
a percepção tátil tenderá a identificar como uma única linha e não duas distintas. Isto
foi constatado nos testes, nas comparações entre dois tipos de correntes, barbantes,
cordas, etc. Entretanto, quando se compara símbolos lineares de naturezas distintas
a identificação e a distinção é realizada através do tato, como, por exemplo, entre
um barbante e um arame, ou entre uma corrente e uma corda. Desta forma, a
utilização da simbologia linear deve levar em conta as semelhanças de materiais a
fim de não gerar dubiedade de interpretações, levando ao usuário a leitura de
informação erradamente.
Outra limitação é de se implementar distintas texturas nos símbolos lineares,
ficando limitada às texturas próprias das peças utilizadas na confecção do mapa
tátil, como linha de costura, arames e outros.
Por fim os símbolos poligonais, onde foram avaliadas as variações do diferentes
tipos de texturas. A textura é um dos principais meios de distinção, uma vez que
outras variáveis não são aplicadas aos símbolos de áreas como a forma e o
tamanho, conforme já exposto anteriormente.
No que se refere a textura proveniente da lixa, os quatros tipos utilizados (40, 80,
100 e 120) foram todos identificados sem nenhuma dubiedade nas avaliações.
Entretanto, vale ressaltar que apesar da percepção dos diferentes tipos de lixa
utilizados sem dificuldades no processo de identificação, as superfícies ásperas, em
destaque a lixa, são pouco aprazíveis aos deficientes visuais. Isto se deve ao fato de
que estes tipos de superfícies são incômodas ao deficiente, sendo agressivas à
sensibilidade háptica.
Como a lixa, as variações de telas e papel corrugado também obtiveram
excelentes resultados no que tange a identificação dos diferentes tipos destas
texturas, sendo todas identificadas, apesar da semelhança visual. Já as variações
de emborrachados e de tecidos apresentaram dubiedade em algumas comparações,
119
constatando que, mesmo sendo perceptíveis, é necessário uma maior avaliação
para a determinação deste tipo de superfícies.
Sobre os tipos de texturas utilizados nos mapas táteis, cabem algumas ressalvas
sobre determinados materiais. Primeiramente, há de se determinar a forma de
reprodução dos documentos cartográficos táteis, ou seja, se os mapas táteis serão
reproduzidos da mesma forma que o original ou se as cópias serão feitas através da
película plástica thermoform. Esta definição é fundamental para se determinar os
tipos de materiais que serão utilizados na produção dos mapas táteis, uma vez que
há materiais incompatíveis com o método de produção como certos tipos de
emborrachado, que não podem ser utilizados no thermoform devido ao processo de
moldagem ser realizado em alta temperatura.
Outro exemplo que se pode citar são as peças e símbolos com baixa altura e
texturas com rugosidades e superfícies com variações suaves, que, normalmente,
não são registrados na película plástica depois do processo de moldagem.
Enfim, apesar do quadro atual requisitar maior desenvolvimento e disseminação,
a questão da deficiência visual, bem como a busca por formas de favorecer a
acessibilidade da informação ao deficiente, além da própria Cartografia tátil, vem
crescendo, se disseminando e popularizando. Isto pode ser percebido, além do
crescimento do número de artigos publicados sobre o tema, através de ações
tomadas pelo Estado, pela Academia e pela sociedade como um todo. Para ilustrar
esta afirmação, citaremos alguns exemplos, como a construção de um mapa tátil da
área central da cidade de Florianópolis (ALMEIDA e LOCH, 2004, e LOCH e
ALMEIDA, 2006), a elaboração de mapas táteis para uma maior acessibilidade aos
deficientes visuais nas estações metroviárias da cidade de São Paulo (AME, 2006) e
em eventos públicos como a Casa Cor SP, em sua edição de 2005 (TERRA, 2006).
Em suma, o presente trabalho, espera contribuir não só através de uma
discussão conceitual sobre alguns pontos que baseiam o tema, mas também através
dos testes realizados, permitindo assim um maior entendimento da percepção das
representações táteis. Desta forma, espera-se que este trabalho seja mais um passo
para o desenvolvimento de novas metodologias que auxiliem a este segmento
significativo da população brasileira e mundial na busca por uma melhora na
qualidade de vida, uma democratização no acesso a informação e uma maior
inclusão social.
120
Destaca-se que os testes de validação propostos neste trabalho constituem uma
primeira parte, uma vez que os mesmos avaliam apenas as variáveis e suas
respectivas extensões isoladamente, o que constituirá em um tipo de resultado ao
final da aplicação. Assim, faz-se necessário a continuação deste trabalho e a
concepção de um conjunto de testes que avaliem a percepção tátil das variáveis e
de suas extensões inseridos em um contexto, ou seja, aplicados a um documento
cartográfico.
Além disso, há necessidade de se refinar os testes realizados a fim de ratificar
os resultados obtidos e desenvolver as conclusões parciais geradas. Isso se justifica
devido a, primeiro, o número reduzido de avaliações, uma vez que só houve a
possibilidade de realizar os testes com apenas dois deficientes. Segundo, a
impossibilidade de se conhecer, através dos testes, todas as limitações e
peculiaridades da percepção tátil, que deverão nortear a concepção da simbologia a
ser utilizada na elaboração de documentos cartográficos táteis.
Desta forma, se faz necessário a formação de um grupo de testes formados por
deficientes visuais com o objetivo de ampliar o universo de avaliações realizadas e
assim ratificar ou não os resultados obtidos. Outro ponto é a necessidade de se
refinar os testes concebidos, uma vez que os resultados obtidos não responderam a
todos os questionamentos, como por exemplo, o tamanho mínimo a ser adotado
pelos símbolos pontuais, a diferença mínima entre os tamanhos dos símbolos, quais
outras formas derivadas que podem ser percebidas, qual a variação de orientação
possível de ser utilizada, dentre outros.
Em suma, o presente trabalho constitui-se apenas como uma contribuição inicial
para o desenvolvimento de novas pesquisas sobre o tema. Assim, espera-se que
esta dissertação além de contribuir para o crescimento da ciência Cartográfica e de
auxiliar na minimização dos problemas e na melhora da qualidade de vida dos
deficientes visuais estimule a produção de novos trabalhos, dando continuidade ao
desenvolvimento de um importante tema com reflexos acadêmicos e sociais.
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