48 AGÊNCIA INTERNACIONAL DE ENERGIA ATÔMICA AIEA

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48 AGÊNCIA INTERNACIONAL DE ENERGIA ATÔMICA AIEA
AGÊNCIA INTERNACIONAL DE ENERGIA ATÔMICA AIEA
ASSUNTO: SALVAGUARDAS AO IRÃ
Augusto Luna de Moura
Ivan Ferraz Lemke
1.
HISTÓRICO DA ORGANIZAÇÃO
Com o desenvolvimento da energia nuclear, foi
possível observar suas potencialidades: a de alternativa
energética, a de auxílio medicinal e, outra de suas
possibilidades, a de destruição. Esta última era a que aflorava
com o findar da Segunda Guerra Mundial e início de uma
Guerra Fria, criando um clima de tensão na sociedade mundial
da época.
O lançamento da bomba atômica por parte dos
Estados Unidos da América (EUA) sobre as cidades japonesa de
Hiroshima e Nagasaki, em 1945, demonstrou o quão arrasador
poderia ser a utilização da energia nuclear para fisn bélicos.
Essa atitude americana sacramentou o fim da Segunda Grande
Guerra, que foi sucedida pela bipolaridade formada no mundo,
provocada pela contraposição das ideologias comunista e
capitalista, a primeira tendo como principal representante a
União Soviética (URSS), e a segunda, os Estados Unidos.
Sabendo da periculosidade de tal armamento, poucos meses
após a utilização das bombas, o presidente norte-americano
do momento, Harry Truman, perante o Congresso dos Estados
Unidos em 3 de outubro daquele mesmo ano, explicitou a
importância do enfoque no lado pacífico de tal tipo de energia.
Foi esse o primeiro reconhecimento público da necessidade de Figura 1 - Explosão da bomba atômica lançada
endireitar o caminho a ser trilhado pelo potencial atômico, sobre o Japão.
para assim evitar que volte a ser usado como instrumento de guerra.
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Adentrando a década de 1950, o temor sobre a utilização da energia nuclear continuava
evidente, ainda mais sob um período de Guerra Fria. Foi então que Dwight D. Eisenhower, presidente
dos EUA de 1953 a 1961, propôs a criação de uma organização
que promovesse o uso pacífico da energia em questão. A
proposta, levada à Assembleia Geral das Nações Unidas no
ano de sua posse da presidência dos EUA, apostava no
surgimento da Agência Internacional de Energia Atômica
(AIEA), acreditando que os governos, com essa tecnologia,
deveriam realizar contribuições a partir dos seus estoques de
urânio para a agência. A intenção ia além da redução ou
eliminação de material capaz de ser usado militarmente:
executando esses depósitos, tirar-se-ia a energia atômica das
mãos daqueles tentados a usar essa força de maneira violenta
e passar-se-ia para domínio de um órgão que tivesse a
habilidade de transformá-la de modo a conceder à ela um
Figura 2 - Foto de Eisenhower, que com
seu discurso "Átomos para a Paz",
estimulou a criação da AIEA.
caráter de paz e de desenvolvimento social.
Eisenhower pensava que a organização deveria ter a
capacidade de reter, armazenar e proteger o banco de
depósito desse material. Oà
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um grande ímpeto para a política nuclear de então, que vinha buscando a transparência e a cooperação
internacional em detrimento da política de segredos (FISCHER, 1997). Depois de apresentada a ideia, a
trajetória percorrida para se chegar ao modelo de agência que deveria ser implementado foi complexa,
pois havia a necessidade de conciliar os interesses das duas principais potências do pós-segunda Guerra
(a saber, EUA e URSS).
As primeiras reações da União Soviética à proposta de Eisenhower foram de rejeição. Com esse
posicionamento dos soviéticos, os Estados Unidos cogitaram prosseguir no desenvolvimento da ideia e,
então, concluir o planejado, mesmo sem a assinatura do outro
Estado. Tal tipo de condução na criação da agência não foi
necessário, já que a URSS decidiu participar das negociações
em 1955. Em 23 de outubro de 1956, concluiu-se o estatuto
da Agência Internacional de Energia Atômica, que teria como
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à contribuição da energia
atômica para a paz, saúde e prosperidade
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e dentro dos meios de que dispusessem para
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auxílio prestado por ela própria ou a seu pedido ou sob a sua
direção ou sob fiscalização sua não seja utilizado de maneira a
servir para fins milit
à E“TáTUTO DA AIEA, 1956, tradução
nossa). O documento passou a vigorar a partir de 29 de julho
de 1957, depois que 18 ratificações requeridas para validar o Figura 3 - A Guerra Fria refletia um
estatuto foram completadas.
mundo divido entre a ideologia norteA conclusão do estatuto também definiu as funções america e a soviética.
relativas à AIEA. Entre as funções que lhe foram atribuídas,
estão a de fomento e facilitação para todos quanto ao desenvolvimento e utilização pacífica da energia
atômica, a de fornecimento de materiais, serviços e instalações necessárias para esse desenvolvimento
pacífico, a de facilitação do intercâmbio de informações técnicas e científicas na área, a de investigações
nesse campo, a de estabelecimento de padrões de segurança para a proteção da saúde e minimização
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do risco à vida (como a definição das condições de trabalho para lidar com esse material), e outras.
Considerando o supracitado, a missão da AIEA é guiada pelos interesses e necessidades de seus
participantes, pelos seus planos estratégicos e pela visão que sustenta o seu estatuto. Sua política é
baseada em três pilares de atuação: segurança, ciência e tecnologia, e salvaguardas e verificações. A
Agência exerce suas funções respeitando o direito de soberania dos Estados (ESTATUTO DA AIEA, 1956).
Figura 4 - Reunião do Conselho de Governadores, que tem
entre suas funções a de aprovar acordos de salvaguarda.
O dia 23 de outubro de 1957 foi marcado pela criação da Agência Internacional de Energia
Atômica e pela primeira Conferência Geral da referida agência, na cidade de Viena (que continua sendo a
sede atualmente), na Áustria. De lá até os dias de hoje, vários membros passaram a fazer parte,
totalizando 151 Estados-membros em 2010.
A Agência Internacional de Energia Atômica é uma organização internacional independente, mas
relacionada ao sistema da Organização das Nações Unidas (ONU). Dessa forma, a ONU reconhece a AIEA
como uma agência e fornece-lhe amparo. Por sua vez, a Agência de Energia Atômica deve agir sem
desconsiderar os direitos e responsabilidades das Nações Unidas no campo nuclear de acordo com a
Carta da ONU.
A Agência ainda deve submeter relatórios a essa outra organização, mostrando suas atividades à
Assembleia Geral a cada temporada e apresentar relatórios também ao Conselho de Segurança,
notificando-lhe sempre que surgirem temas da competência deste Conselho (THE TEXTS OF THE
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também deixa explícito que é o Conselho de Segurança das Nações Unidas que carrega a
responsabilidade pela manutenção da paz e da segurança internacional. Portanto, a Agência não possui
o poder de impor sanções. São dois os principais órgãos executivos da AIEA: a Conferência Geral e o
Conselho de Governadores. Além disso, o mais alto cargo na organização é o de Diretor Geral. O
Conselho é composto por 35 países-membros e reúne-se cinco vezes por ano.
Nos encontros, realizam-se exames, fazem-se recomendações à Conferência Geral quanto ao
orçamento e aos programas da Agência e ainda consideram-se os requerimentos de entradas de novos
membros à organização. O Conselho também aprova acordos de salvaguarda (vistorias em países para
verificar o andamento do desenvolvimento nuclear, procurando garantir que os Estados cumpram suas
obrigações internacionais e que uso do material atômico não seja alocado para fins militares). Já a
Conferência Geral acontece uma vez ao ano, geralmente em setembro, e é o principal órgão decisório.
Nela, todos os países-membros se encontram, com a tarefa de considerar e aprovar os programas e
orçamentos e também decidir sobre outras questões trazidas pelo Conselho de Governadores, pelo
Diretor-Geral e por outros membros (IAEA.org). O Diretor Geral deve ser o chefe administrativo da
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Agência, mas sob a autoridade do Conselho de Governadores. No exercício do cargo, ele não deve
receber ou procurar instruções de quaisquer fontes externas à AIEA. O atual ocupante do posto é o
japonês Yukiya Amano.
A partir da aprovação do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), a AIEA conseguiu ter um
papel mais efetivo no cenário internacional. Entre as décadas de 1960 e 1970, cada vez mais países
começavam a possuir tecnologia nuclear, levando à
preocupação quanto ao desenvolvimento de armamentos. Figura 4 - Na imagem, o presidente da
Esse sentimento encontrou maior fundamento com a França República Islâmica do Irã, Mahmoud
Ahmadinejad.
(1960) e a China (1964) vindo a fazer parte daqueles Estados
detentores de material militar nuclear. Entretanto, a TNP, que
entrou em vigor em 1970, congelou o número declarado
desses armamentos de cinco países: EUA, Rússia, Reino
Unido, França e China. Além disso, o tratado requer que os
demais se afastem da ideia de buscar tal recurso e que eles se
comprometam a cumprir os acordos de salvaguarda firmados
com a Agência sobre suas possessões nucleares. Os objetivos
são a prevenção da proliferação da tecnologia armamentista
e a garantia do uso pacífico nuclear. Para atingir as metas, o
acordo impede os países à
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por outros meios dispositivos
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GODOY, 2010). Dos 189 Estados que fazem parte do acordo,
Israel, Índia, Paquistão e Coreia do Norte não estão entre
eles. A Coreia do Norte havia aderido ao tratado, mas retirouse do mesmo em 2003.
Em 1997, a AIEA criou um protocolo adicional ao Tratado de Não Proliferação Nuclear. Com esse
protocolo, a Agência fica autorizada a averiguar instalações que o TNP antes não permitia, como
reatores parados, centros de pesquisa ou usinas que produzam materiais passíveis de utilização em
programa nuclear (AFP, 2006). Desse novo texto, 93 signatários do Tratado optaram por participar
também do protocolo adicional. O Irã não internalizou esse novo dispositivo.
2.
O PROGRAMA NUCLEAR IRANIANO
O programa nuclear iraniano tem início na década de 1950, quando da democratização da
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programa tinha como seu principal mentor o então presidente norte-americano Dwight David
Eisenhower, cujo discurso, proferido na Assembleia Geral da ONU de 1953, em Nova Iorque, alertava
para o perigo eminente do uso de tecnologia nuclear para fins militares, ao mesmo tempo em que
defendia a difusã à
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-me impulsionado a falar hoje em
uma linguagem que em um sentido é nova uma linguagem na qual eu, que tenho gastado grande parte
de minha vida na profissão militar, haveria preferido não usar nunca essa nova linguagem é a
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(Tradução nossa).
O Irã e o Paquistão foram os primeiros países beneficiados com o programa, que previa a
instalação de reatores nucleares pela empresa norte-americana American Machine and Foundry em seus
respectivos territórios. A ajuda dos EUA e seu consequente apoio ao programa nuclear iraniano
51
permaneceu até a Revolução Islâmica de 1979 quando o governo do xá Reza Pahlevi, simpático aos
Estados Unidos, foi derrubado por líderes religiosos islâmicos liderados pelo aiatolá Ruhollah Khomeini
que instituiu a República Islâmica do Irã com o objetivo de blindar o país da influência ocidental e
fundamentar as leis nacionais nos ensinamentos contidos no Alcorão e demais escrituras sagradas do
Islã. Na época, a empresa alemã Kraftwerk, contratada para construir dois reatores nucleares em solo
iraniano, abandonou as obras alegando a falta de pagamento por parte do governo iraniano, não
obstante a pressão estadunidense tenha sido o fator determinante da retirada.
Em 1995, após um acordo entre o Irã e a Rússia, a construção dos reatores foi reiniciada e
estabelecia o ano de 2009 como o prazo de entrega da usina nuclear Busher I, o que não ocorreu. Desde
então, o programa nuclear iraniano tem sido
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ões e questionamentos de
países ocidentais (sobretudo os EUA, o Reino Unido, a França e a Alemanha) que colocam em xeque as
reais intenções do país com o enriquecimento de urânio, temendo que este possa ser destinado à
produção de ogivas nucleares. Por outro lado, o governo iraniano nega, veementemente, as acusações
de que seu programa nuclear seja destinado para fins militares, ao mesmo tempo em que reafirma o
compromisso assumido, ao assinar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear¹ (TNP), de destinar a energia
atômica tão somente para fins pacíficos. De acordo com as autoridades iranianas, todo urânio
enriquecido no país seria destinado ao aumento da capacidade de geração de energia elétrica em até
6000 MW.
O período que correspondente à retomada do programa nuclear iraniano, em 1995, com o
auxílio do Rússia, até os dias atuais, caracterizou-se por uma série de embates envolvendo a República
Islâmica do Irã, a Agência Internacional de Energia Atômica e o Conselho de Segurança das Nações
Unidas. O histórico desses litígios será mais bem detalhado na seção que seguinte, bem como serão
apresentados os posicionamentos de cada país com relação ao tema e as soluções propostas para
resolver a questão de modo definitivo.
3.
PROGRAMA NUCLEAR IRANIANO EM CRISE: SOLUÇÕES PROPOSTAS
A partir de meados da década de 1990, a comunidade internacional voltou a direcionar os olhos
para o projeto nuclear iraniano, temendo a possibilidade de
este ser destinado à fabricação de armas nucleares. Signatário
do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), o Irã, que diz ser
favorável a uma zona livre de armas nucleares no oriente
médio, passou a ser
acusado
de desenvolver,
clandestinamente, um programa nuclear.
No ano de 2002, foram divulgadas fotos de duas
instalações nucleares, omitidas pelo governo iraniano, nas
cidades Arak e Natanz. Esta descoberta, trazida à tona por um
grupo de exilados iranianos, levou o então presidente iraniano,
o moderado Mohammad Khatami, confrontado com a
possibilidade de sofrer sanções internacionais, a permitir que a Agência Internacional de Energia
Atômica1 intensificasse as inspeções e fiscalizações nas instalações atômicas daquele país. Relatórios de
inspetores da AEIA, relativos às inspeções realizadas nos anos de 2002 e 2003, apontaram a presença de
vestígios de urânio nas instalações de Natanz e Kalaye. Tais relatórios levaram o Conselho de
Governadores da AIEA, em setembro de 2003, a dar um ultimato ao governo de Teerã, até o fim do mês
seguinte, para que aceitasse inspeções sem aviso prévio para sanar as dúvidas sobre seu programa
1
Para mais informações, visite: http://www.onu-brasil.org.br/doc_armas_nucleares.php
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nuclear. Em caso de não cumprir o prazo, o Irã seria submetido a sanções do Conselho de Segurança das
Nações Unidas (CSNU).
No mês seguinte, contudo, o Irã se comprometeu, junto aos ministros das Relações Exteriores da
Alemanha, França e Reino Unido, a assinar o protocolo adicional do TNP (como dito anteriormente,
apesar de assinar, não internalizou o protocolo adicional) e a suspender, temporariamente, o processo
de enriquecimento de urânio. Ademais, o governo iraniano entregou a AIEA um relatório com
documentação detalhada sobre seu programa nuclear para provar que não estava tentando fabricar
armas atômicas.
No dia 13 de março de 2004, o Conselho de Governadores da AIEA aprovou uma resolução de
repúdio ao Irã por suspender temporariamente a visita da equipe de inspetores. Em julho daquele
mesmo ano, o governo iraniano anunciou que retomaria a construção de centrífugas e a produção do
material para alimentá-las para a produção de eletricidade. O Conselho de Governadores voltou a aplicar
uma nova resolução ao Irã, em 18 de setembro de 2004, indicando que o governo iraniano deveria
suspender seu programa de enriquecimento de urânio até 25 de novembro. Por sua vez, o país persa
alegou que, caso sofresse sanções do Conselho de Segurança, se retiraria do Tratado de Não-Proliferação
Nuclear.
Ainda em 2004, diversas fontes alegaram que Abdul Qadeer Khan, cientista idealizador do
programa nuclear paquistanês, estaria fornecendo tecnologia e conhecimentos nucleares ao Irã. No ano
de 2005, Mohammad Khatami foi sucedido por Mahmoud Ahmadinejad, um fundamentalista islâmico
ultraconservador. Mantendo forte relação com o regime dos aiatolás, Ahmadinejad deu novo e
intensificado ânimo ao programa nuclear iraniano, que havia sofrido retrocessos devido às pressões de
Alemanha, França e Reino Unido, e afirmou que a produção de energia atômica para fins pacíficos é um
direito inalienável do Estado iraniano.
A partir daí, a relação entre a República Islâmica do Irã e a Agência Internacional de Energia
Atômica Tornou-se cada vez mais conturbada. Em 31 de janeiro de 2006, os membros permanentes do
Conselho de Segurança da ONU China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia , mais a
Alemanha e a União Europeia, deliberaram, em Londres, que o relatório sobre o programa nuclear
iraniano, elaborado pelo Conselho de Governadores, deveria ser enviado ao CSNU para sua reunião de
emergência em 2 de fevereiro. Alguns meses depois, em 31 de julho, uma resolução aprovada pelo
Conselho de Segurança, exigindo que o Irã suspendesse suas atividades nucleares até 31 de agosto, foi
completamente ignorada por Teerã.
Em dezembro daquele ano, o Conselho de Segurança, baseando-se em relatórios da AIEA e
acatando uma resolução proposta por Alemanha, França e Reino Unido, aprovou a primeira rodada de
sanções ao Irã que resultaram no bloqueio das exportações de material e equipamentos nucleares
àquele país, bem como o congelamento de ativos financeiros de pessoas ou organizações envolvidas nas
atividades nucleares iranianas. Além disso, a resolução obrigou que as atividades nucleares do Irã
fossem, imediatamente, paralisadas. O documento foi modificado várias vezes para atender a objeções
feitas pela Rússia e pela China. Teerã classificou as sanções como
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ONU afirmou que elas são à
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Em 08 de março de 2007, as 35 nações do Conselho de Governadores da AIEA aprovaram a
suspensão de 23 dos 55 programas de assistência técnica nuclear ao Irã. A decisão, recomendada pelo
chefe da AIEA, Mohammed Elbaradei, foi tomada por consenso e já era esperada. Mais uma vez, no
entanto, o Irã ignorou as exigências feitas pela AIEA e pelo Conselho de Segurança, o que levou a uma
nova rodada de sanções, em março de 2007. Essas proibiram as exportações de armas ao Irã e sanções a
suas instituições financeiras.
A segunda rodada promoveu o congelamento de ativos de mais 28 grupos, empresas e
indivíduos que exerciam ou apoiavam as atividades nucleares ou o desenvolvimento de mísseis balísticos
53
incluindo o banco estatal Sepah e empresas controladas pela Guarda Revolucionária. Apesar de mais
severas, as sanções descartavam a ação militar. Novamente, o presidente Mahmoud Ahmadinejad não
deu ouvidos às determinações internacionais para suspender o enriquecimento de urânio.
A terceira rodada de sanções foi imposta em março de 2008. Entre elas estão a proibição de
viagens internacionais para cinco autoridades iranianas e o congelamento de ativos financeiros no
exterior de treze companhias e de treze autoridades iranianas. A resolução também vetou a venda para
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à que podem ter tanto objetivos pacíficos como militares. Em
setembro de 2008, o Conselho de segurança da ONU aprovou por unanimidade uma resolução
ordenando novamente o Irã a suspender o enriquecimento, mas não impôs mais sanções devido à
oposição da Rússia e da China.
No fim de 2009, o Conselho dos Governadores da AIEA aprovou pela primeira vez, desde 2006,
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entre outros assuntos, uma suspensão completa do enriquecimento de urânio no Irã. Entre os 35 países
que fazem parte do Conselho, 25 votam a favor, 3 contra e 6 se abstiveram. O Azerbaijão deixou a sala
antes da votação. Os três países que votaram contra forma Venezuela, Cuba e Malásia, enquanto
Turquia, Afeganistão, Paquistão, Brasil, África do Sul e Egito se abstiveram. A nova resolução, elaborada
pela Alemanha em conjunto com os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança (5+1),
critica a construção, sem aviso prévio, de uma nova fábrica de enriquecimento de urânio na cidade de
Qom, a sudoeste de Teerã. A resolução advertiu que a fábrica de Q à
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No dia 17 de maio de 2010, Brasil,
Turquia e Irã assinaram um acordo para a
troca de urânio iraniano por combustível
nuclear enriquecido a 20% em território
turco, com o objetivo de superar a crise
provocada pela política de enriquecimento de
urânio do Irã. O acordo previa o envio por
parte do Irã à Turquia de 1.200 Kg de urânio
levemente enriquecido (a 3,5%) para uma
troca, num prazo máximo de um ano, por 120
Kg de combustível altamente enriquecido
(20%),
necessário
para
um
reator
experimental de Teerã. Os EUA, contudo,
qualificaram o
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àeste permitia que o Irã continuasse enriquecendo urânio.
A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, afirmou que o Irã usava o apoio de Brasil, China
e Turquia para evitar novas sanções. De fato, o acordo não foi capaz de impedir que o Irã sofresse uma
nova rodada de sanções.
A quarta e última rodada de sanções, aprovada em 09 de junho de 2010, proibiu a venda de
várias categorias de armamentos pesados ao Irã, inclusive helicópteros de ataque, mísseis e navios de
guerra. Ademais, a resolução pede que todos os países inspecionem, em portos e aeroportos dentro de
seus territórios, cargas suspeitas de conter itens proibidos a caminho do Irã ou vindos do país. As novas
sanções também incluem o congelamento de ativos de 40 empresas iranianas e de um alto funcionário
ligado ao programa nuclear iraniano, que ficará sujeito a uma proibição de viagens para fora do país
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54
afetados pela proibição. A resolução solicita, ainda, a criação de um regime de inspeção de carga similar
ao aplicado a Coréia do Norte.
As sanções foram aprovadas por 12 votos a favor, 2 contra e uma abstenção, pelos cinco
membros permanentes e os dez membros rotativos do Conselho de Segurança da ONU. Brasil e Turquia
foram os únicos que votaram contra a aplicação das sanções. O Líbano, que havia apoiado o acordo
entre Brasil, Turquia e Irã, se absteve. Os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança,
únicos com direito a veto, foram favoráveis às sanções. Ao justificar sua posição, o Brasil afirmou que
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à Oà verno brasileiro voltou a defender a
declaração de Teerã, segundo a qual o Irã se comprometeu a enviar seu urânio para ser enriquecido fora
do país. Menos de duas semanas após as sanções do CSNU, em 21 de junho, o governo do Irã proibiu a
entrada de dois inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica, alegando que estes haviam
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substituísse os inspetores.
Em 07 de novembro de 2010, o Irã propôs uma nova rodada de negociações a ser realizada na
Turquia, país aliado dos persas que tem atuado como mediador. As negociações darão com as seis
potências mundiais que compõem o grupo 5+1 (Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia, China e
Alemanha).
4. POSIÇÃO DE BLOCOS E PAÍSES
Ao longo dos vários capítulos do impasse envolvendo o programa nuclear iraniano, merecem
destaque a posição e a atuação de alguns blocos e países na tentativa de solucionar essa questão que se
arrasta, há vários anos, para uma direção incerta. Desde o início, os EUA, ao lado de Israel, acusam o Irã
de ocultar em seu programa nuclear civil, instalações destinadas a fins militares. O Estado judeu chegou,
inclusive, a fazer ameaças de uma intervenção militar no país persa, caso este não respeitasse as
resoluções da AIEA e as sanções do Conselho de Segurança. Do mesmo modo, Reino Unido, França e
Alemanha corroboram a desconfiança em relação às intenções do programa nuclear iraniano. Os dois
primeiros, membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, seguem o raciocínio de
Washington ao defender uma posição mais dura da comunidade internacional diante da decisão do
governo iraniano de prosseguir com seu programa atômico apesar das disposições em contrário. A
Alemanha que, por sua vez, não ocupa um acento permanente no Conselho de Segurança, forma o
chamado 5+1 (França, Reino Unido, EUA, China e Rússia + Alemanha) junto aos países membros do CSNU
para, igualmente, pressionar o governo iraniano.
Os outros dois membros permanentes do Conselho de Segurança, China e Rússia, são bem mais
cautelosos e costumam dificultar a aplicação de sanções mais rigorosas ao regime dos aiatolás. Os
russos, fornecedores de armamentos ao Irã, temem que as sanções possam comprometer seu comércio,
enquanto que os chineses, maiores parceiros comerciais dos iranianos, não estão dispostos a
comprometer este importantíssimo mercado consumidor.
Por fim, países como Brasil, África do Sul e Turquia defendem o diálogo e a diplomacia como as
ferramentas mais eficazes para solucionar a questão nuclear iraniana. Segundo esses países, as sanções,
ao longo do tempo, não têm apresentado resultados satisfatórios, pelo contrário, acirram ainda mais os
ânimos das partes envolvidas, o que faz com que as negociações tenham muito mais dificuldades em
lograr êxito.
São 35 os países-membros que compõem o Conselho de Governadores. No entanto, a simulação
será feita com 24 desses países, sendo eles: África do Sul, Argentina, Alemanha, Brasil, China, Coreia do
Sul, Cuba, Egito, Espanha, Estados Unidos, França, Índia, Japão, Malásia, Romênia, Rússia, Suíça, Turquia,
Uruguai, Grã-Bretanha, Quênia, Holanda, Peru e Venezuela.
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