açúcar - JM Madeira

Transcrição

açúcar - JM Madeira
talvez a revista mais
doce da madeira
O VIAJANTE
Amsterdão
NA MODA
De regresso ao trabalho
BOCA DOCE
açucar 25 | este suplemento não pode ser vendido separadamente do JM | foto capa - Albino Encarnação
16 perguntas a Edgar Costa
Franco em entrevista
Nem só de mar
se faz um homem
2 | açúcar | SÁB 17 SET 2016
a
[short stories]
António Dacosta
Modus Operandi
Lentamente
os detritos apoderam-se da pólis.
Súbita derrocada
ou iniciação plena
do caos. Palavras
em forma de lixo e
um deus que se
aproxima na sua
transparência ou
sinónimo de uma
voz sem rosto.
Eduardo Quina
Professor/escritor
[email protected]
2.
Abres a porta para que
os animais se apoderem
da casa. Multiplicam-se
nos seus corpos e constroem insuspeitadamen-
te todas as confidências.
Nas suas patas sombrias
todos os gestos são meticulosos.
Na ardósia, de forma vagarosa, é tecido o destino
da hibernação. Os animais antropomórficos
enraízam os tecidos corpóreos na água gelada.
Depois, atravessando o
inverno a transformação
dolorosa do finamento.
Estação de destinos sim-
ples e a incerteza do processo. Transformação
para a deformação.
Depois a manhã de dias
felizes e tu no incerto
percurso da infância.
Respiras dentro da humidade. Os dedos entreabertos tacteiam a sombra. Os animais furtivos
ramificam-se pela cidade. Catástrofe de ruídos
luminosos.
Alguém controla o abate.
Aprendizagem de um homem só.
Lentamente os detritos
apoderam-se da pólis.
Súbita derrocada ou iniciação plena do caos. Palavras em forma de lixo e
um deus que se aproxima na sua transparência
ou sinónimo de uma voz
sem rosto.
Aqui os mortos não têm
nome, apenas um número. a
SÁB 17 SET 2016 | açúcar | 3
a
0 viajante
Amesterdão
Diogo C. Pinto
[email protected]
c
heguei a Schiphol com
um amigo meu, vínhamos de Londres impregnados daquele frenesim
típico. Estávamos quase
nos trinta anos. Saímos
do avião em busca de
um transporte que nos
levasse ao centro de
Amesterdão. No percurso, ao percorrer os diversos corredores do
aeroporto, uma sensação
de estranheza crescia. Ao
contrário de onde vinha,
não se ouvia grande barulho, além de tudo estar
impecavelmente limpo.
Embora a Holanda seja
um país relativamente
pequeno dentro da Europa, aterrei numa grande
capital em pleno agosto,
seria expectável o alvoroço normal destes locais
nesta altura do ano. As
escolhas de transporte
para chegar a Amesterdão são múltiplas e em
diversos horários: comboio, autocarro ou táxi.
Escolhemos o primeiro,
Viajar também
é viver um pouco
a idealização que
tínhamos construído do nosso
destino antes de
o conhecermos
pela primeira vez.
Amesterdão,
cidade cenário,
presta-se a isso,
à criação de um
devaneio sobre ela.
que
nos foi deixar
no centro da cidade, na
Amsterdam Centraal,
uma das principais estações ferroviárias dos Países Baixos.
O comboio é a melhor
maneira de chegarmos a
uma cidade pela primeira
vez. A velocidade lenta
das carruagens a deslizar
pelas avenidas, vai desembrulhando vagarosamente a cidade enamorando o olhar. O céu lim-
po com
um sol resplandecente
iluminava as centenas de
canais do rio Amstel (que
deu o nome à cidade) que
bordavam toda a urbe
numa teia geométrica.
Nas margens, erguia-se a
sua peculiar arquitetura,
casas estreitas e altas, coladas umas às outras, inclinadas para a frente. Estas construções particulares e engenhosas têm a
ver com a conhecida luta
holandesa com
as águas e a
sua demanda
de criar território
em zonas pantanosas,
facilmente assoladas por
inundações. Houve a necessidade de construir
prédios que fizessem
frente a essas calamidades, o facto de estarem
juntos deve-se ao tipo de
solo instável em que foram edificados. Deste
modo, protegem-se para
não cair. Outra das suas
singularidades, é que são
ligeiramente inclinados
para a frente. Como as escadarias são demasiado
estreitas, o mobiliário
4 | açúcar | SÁB 17 SET 2016
tem de entrar pelas janelas dos andares de cima e
a inclinação previne que
não batam nas paredes.
Alojamo-nos no “Flying
Pig” perto da Praça
Daam, a tradução literal
de Porco Voador é bastante sugestiva, um hostel permanentemente
em festa para jovens travellers que se sujeitavam a partilhar um
quarto a baixo custo com
dezenas de pessoas. Na
época, uma boa opção
para quem queria conhecer a
Europa e gastar
pouco dinheiro.
abrir a porta. O ciclista
fez-lhe um gesto que não
havia nenhuma amolgadela e o outro confiou.
Logo que saímos do hostel, fomos em direção
a um coffeeshop, espaços de convívio onde os
holandeses com o seu ar
descontraído e super
cool, passam o seu tempo
a conviver sem precisarem de se esconder. Saímos com uma fome gigante e procuramos um
sítio para comer, comprámos qualquer coisa num
a
belo alourado e um ar
displicente, praticamente
sem maquilhagem, e
grandes artifícios flutuavam de bicicleta pelas
ruas.
No resto dos dias, fomos
calmamente conhecendo
alguns museus e monumentos: Museu Van
Gogh, Museu Nacional,
Casa Anne Frank e a
Casa de Rembrandt.
Numa das noites deambulamos pelo Red Light
District, o bairro boémio,
dos mais antigos da cidade, com as prostitutas
nas montras,
sex shops
e casas
No Porto de Amesterdão há marinheiros que
cantam os sonhos que os atormentam ao largo
de Amesterdão, há marinheiros que dormem
como estandartes ao longo de muralhas sombrias. No Porto de Amesterdão há marinheiros
que morrem às primeiras luzes do dia, cheios de
cerveja e de dramas, e há marinheiros que nascem no calor espesso dos langores do oceano.
No Porto de Amesterdão há marinheiros que comem caldeiradas de peixe, sobre toalhas muito
brancas. Exibem dentes prontos a despedaçar
fortunas, capazes de abocanhar a lua e estraçalhar enxárcias. E sente-se o cheiro a bacalhau
até dentro das batatas fritas que as suas mãos
grandes não se cansam de pedir. Depois levantam-se, rindo numa grande algazarra, apertam
as braguilhas e saem arrotando...
Alugámos
duas bicicletas. Em
Amesterdão é obrigatório
fazê-lo para
entrarmos no espírito da
cidade. Existem leis do
código da estrada que
protegem os ciclistas, havendo um grande respeito por parte dos condutores de outros veículos
por eles. Lembro-me de
ir a caminho do porto e
um ciclista deu um toque
na traseira de um carro.
O condutor do automóvel nem sequer esboçou
um movimento para
supermercado, e instalámo-nos nas escadas de
um canal qualquer perto
do imperdível Mercado
das Flores. Em Amesterdão, são um espaço privilegiado, pelo menos no
Verão, para desfrutar da
cidade e conhecer pessoas. Ficámos horas a
fruir do movimento.
Nunca vi tanta concentração de mulheres bonitas como aqui, anjos
bronzeados com o seu ca-
de live sex.
Viajar também é
viver um pouco a idealização que tínhamos
construído do nosso
destino antes de o conhecermos pela primeira vez. Amesterdão, cidade cenário, presta-se
a isso, à criação de um
devaneio sobre ela.
Lembrei-me de Jacques
Brel e de "Amsterdam"
com os seus marinheiros lascivos, empanturrando-se de cerveja e
mulheres da vida junto
ao porto. a
No Porto de Amesterdão há marinheiros que
dançam esfregando a pança na pança das mulheres. E giram, e dançam, como sóis escarrados
ao som dilacerado de um acordeão rançoso, e
torcem o pescoço para melhor se ouvirem rir, até
que de repente o acordeão se cala, e então, com
um gesto grave e com um olhar altivo, eles invocam os seus antepassados, já em plena luz do
dia...
No Porto de Amesterdão há marinheiros que bebem, e que bebem, e tornam a beber, e que bebem
mais uma vez. Bebem à saúde das putas de
Amesterdão, de Hamburgo, e doutros portos, por
esse mundo... Enfim, bebem à saúde das mulheres que lhes oferecem os seus corpos lindos, que
lhes oferecem a sua virtude por uma moeda de
ouro. E quando estão bem bebidos, empinam o
nariz, assoam-se nas estrelas, e mijam, como eu
choro, sobre as mulheres infiéis. No Porto de
Amesterdão... “
Tradução do texto ”Amsterdam”
em http://cantodobrel.blogspot.pt/2010/02/amsterdam.html
a
SÁB 17 SET 2016 | açúcar | 5
©Albino Encarnação
«Fui gozado durante anos
por sair de casa vestido de fato»
Francisco Freitas é Franco «para o mundo», professor Francisco para os seus alunos e Chico
para os amigos. Nesta entrevista à Açúcar, tratamo-lo por Franco, nome que designa o seu ambicioso projeto a solo e o transformou numa marca do pop/rock.
Natural de Câmara de Lobos, e descendente de uma família de pescadores, o cantor e compositor deu os primeiros passos na música como trompetista, na Banda Instrumental “Os Infantes”,
e rumou mais tarde ao Conservatório da Madeira, de onde saiu com uma média de 19,45 valores.
Sem estômago para acompanhar o pai na faina – vomitava ao balanço do barco e ao cheiro do
isco – entregou-se à música. New Dawn, gravado no Reino Unido, é o seu álbum de estreia.
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ENTREVISTA
Susana de Figueiredo
[email protected]
É fácil reconhecer
os homens que se
orgulham das
suas raízes, e
Franco é, decididamente, um deles. Não são só as
palavras que o
denunciam, basta
um olhar mais
atento para percebê-lo, até mesmo na luz que lhe
atravessa o rosto
bronzeado pela
beira-mar, no
exato momento
em que nos sentamos à conversa
numa das esplanadas junto à
baía de Câmara
de Lobos. Os outros ilhos da terra passam por
nós e reparam-no
de soslaio. Franco
ergue várias vezes a mão para
cumprimentar os
amigos dali - talvez os de sempre
-, mas nunca se
desprende da entrevista.
q
uando o desafiei para
esta entrevista, disse-me
logo que fazia questão
de ser entrevistado aqui,
em Câmara de Lobos.
Isto tem a ver com o orgulho que tem nas suas
raízes?
Sim, adoro a minha terra, mesmo com todos os
seus defeitos… Vivo aqui
e é aqui que eu quero
estar, embora, de vez em
quando, precise de sair,
de viajar.
E ser músico – ser o
Franco – deu-lhe essa
oportunidade... Até que
ponto o sucesso que alcançou redimensionou o
seu mundo?
É verdade, e, de facto,
mudou muita coisa na
minha vida. Lembro-me
que, quando entrei no
Conservatório e comecei
a andar mais pelo Funchal, era visto como um
“tristezinho”, um “xavelha” de Câmara de Lobos. Hoje, orgulho-me
do caminho que já fiz, e
sinto que as pessoas me
respeitam, ainda que
muitas tenham dificuldade em admitir o meu
sucesso. A inveja é um
sentimento muito feio.
Refere-se a algumas das
pessoas de Câmara de
Lobos, que o conhecem
desde criança?
Infelizmente, sim. Achei
que, com o tempo, isso
iria esbater-se, ou até
desaparecer, mas afinal,
acho que nada mudou…
Alguns dos miúdos daqui continuam a ter a
mesma mentalidade de
há anos atrás.
E isso custa-lhe?
Custa muito. Tenho essa
mágoa.
Quando começou a des-
a
tacar-se na música, sentiu de forma particular
essa “retaliação”?
Senti. Recordo-me que,
quando tocava na banda
filarmónica e saía de
casa vestido de fato, era
gozado, fui gozado durante anos. Quem se
destacasse, não prestava, e eu sofri bastante
com essa “retaliação”,
como diz. Creio que este
tipo de sentimento, este
mal-estar com o sucesso
alheio, é, lamentavelmente, muito característico da ilha.
nunca se opôs à minha
escolha, e embora tenha
sido sempre muito contido nas suas manifestações, percebi que me
apoiava, tal como a minha mãe.
De qualquer modo, eu
nunca poderia ser pescador, sempre que o
meu pai me levava com
ele para o mar, enjoava
imenso, quer com o balanço do barco, quer
com o cheiro intenso do
isco salgado, era um
horror. Vomitava uma e
outra vez, odiava aquilo.
A música sempre foi um
sonho?
Bem, o meu sonho era
ser futebolista, como todos os miúdos, sobretudo os de Câmara de Lobos. Por aqui era assim,
os miúdos queriam todos ser futebolistas e as
miúdas cantoras [risos].
Por altura das festas de
São Pedro, esta zona
[baía de Câmara de Lobos] transformava-se
num campo de futebol,
os barcos eram recuados
e, para nós, era quase
como se participássemos nos Jogos Olímpicos [risos].
Então, fugiu da faina
para o Conservatório?
De certa forma, sim. Julgo que a minha mãe
pensou que a ideia da
professora Zélia Gomes
era uma boa maneira de
o filho escapar à faina
[risos].
Sei que chegou a jogar
no Marítimo.
Cheguei, mas tornou-se
uma despesa incomportável para os meus pais,
e foi precisamente nesse
momento que a minha
mãe me pôs entre a espada e a parede… “Tens
de escolher, o futebol ou
a música?” Foi difícil,
chorei muito, mas optei
pela música. Tinha 9
anos.
E o seu pai, como reagiu?
O meu pai, que era pescador e levava os quatro
filhos para a pesca, estava convencido de que eu
lhe seguiria as pisadas,
como fez um dos meus
irmãos [somos quatro
rapazes e uma rapariga],
chateava-me para ser
pescador [risos], mas
Quando entrou no Conservatório, sentiu que
começava a traçar um
novo rumo para a sua
vida?
Na verdade, tenho de dizer-lhe que, nos primeiros dois anos, limitei-me
a jogar futebol no relvado à frente do Conservatório. Levei uns bons
“cascudos” da minha
mãe por ter perdido esses dois anos [risos], e
não me fizeram mal nenhum. Depois, no terceiro ano, fez-se um “clique”, que devo ao professor José Luís, de
quem gostei muito. Ele
abriu-me os olhos e, então, comecei a estudar a
sério.
E antes de chegar ao
Conservatório, que relação tinha com a música?
É preciso perceber que,
naquela época, não havia a oferta musical e
cultural que há hoje.
Lembro-me de ser sedento de informação,
ouvia falar nos Beatles,
Supertramp, Eagles, Led
Zeppelin, mas na rádio
só se ouvia a Amália Rodrigues. Até tenho um
trauma com aquele fado
bem conhecido: “Foi por
vontade de Deus, que eu
vivo nesta ansiedade...”
É que aquela “ansiedade” era a da minha mãe
[risos]. Ela costumava
cantar esse fado enquanto fazia a lida doméstica, e quando ela
cantava... Era mau sinal,
significava que estava de
mau humor e que eu estava habilitado a levar
umas palmadas, se não
me comportasse como
deve ser [risos].
SÁB 17 SET 2016 | açúcar | 7
«Nas “vendas”,
comprávamos um
quarto de pão
com molho, era
uma festa!
Aquelas moedas
[“mergulhança”]
davam-nos uma
possibilidade extra de comermos»
Essa escassez de sonoridades diversificadas aguçou ainda mais a sua curiosidade e a sua expetativa relativamente à música?
Sem dúvida. E, nesse aspeto, o Conservatório
abriu-me um novo mundo. Ali, encontrei outras
pessoas, outros instrumentos e, sobretudo,
pude confrontar-me com
mentalidades diferentes.
fascinado com um álbum de Supertramp que
um amigo me deu a conhecer. Foram eles a minha primeira grande influência exterior, mas a
nível regional foram as
bandas filarmónicas,
onde comecei a formarme como músico. As
bandas filarmónicas
eram, e continuam a ser,
as maiores escolas de
música da Madeira.
Recorda-se do primeiro
artista ou banda que admirou?
Fiquei absolutamente
E onde ouvia música?
Quais eram os seus rituais?
Havia uma loja no Fun-
chal, a Valentim de Carvalho, que ficava na Avenida Arriaga, onde eu comecei a ir quando entrei
para o Conservatório.
Passava lá horas a ouvir
CDs, e também em casa
de alguns amigos que tinham capacidade financeira para comprar música.
O Conservatório representou para si muito
mais do que uma experiência meramente académica. Se a sua mãe
não tivesse seguido o
conselho da professora
©Albino Encarnação
a
Zélia Gomes, hoje o
“Franco” existiria?
Provavelmente não, até
porque foi lá que me
cruzei com pessoas que
foram cruciais na minha
construção enquanto
músico e que fazem parte daquilo que sou hoje.
Uma dessas pessoas foi
o Duarte Andrade, pianista, compositor e orquestrador de formação,
que me orientou no improviso e na música ligeira.
E quando concluiu o
curso de música, sentiu
que estava, finalmente,
pronto para se fazer ao
mundo?
Foi, sem dúvida, uma
etapa importantíssima
do meu percurso, e orgulho-me muito de ter
terminado o curso com
média de 19,45 valores.
Nada mal para quem
perdeu os dois primeiros anos a jogar à bola…
[Risos] Pois é, quando
meto uma coisa na cabeça, nada me demove do
meu objetivo.
É obstinado.
Muito! Sou uma pessoa
de objetivos, é isso que
me obriga a estar focado. Se não tenho um objetivo, fico perdido, e
não gosto nada dessa
sensação.
Um momento marcante
do seu início de carreira?
Ter atuado na Expo 98,
em Lisboa, com o projeto “Max”[tributo ao popular cantor madeirense], cujo diretor artístico
era o Duarte Andrade.
Subi ao palco com promissores artistas madeirenses daquela altura,
como o Bruno Aguilar,
com quem mais tarde viria a tocar nos hotéis da
Madeira.
Nessa época ainda não
era vocalista.
Não. Tocava trompete e
fazia “backing vocals”.
8 | açúcar | SÁB 17 SET 2016
Só uns anos mais tarde,
já nos Kontraband, se assume como líder.
Sim, porque fui obrigado
a fazê-lo, tive de preencher a vaga deixada pelo
vocalista, o Eduardo
Abreu, que, sem avisar,
partiu para a África do
Sul, creio que por amor
[risos]. Então, o Juan
Freitas, outro elemento
da banda, disse-me “vais
ter de cantar”. Foi numa
quinta-feira, no bar onde
tocávamos, o O’Briens
Irish Pub, eu tremi de
nervos, mas cantei e, durante as duas semanas
que se seguiram, ganhei
um traquejo enorme.
Saí da zona de conforto e
as pessoas gostaram. É
assim que nasce a semente do Chico Freitas.
Mantém-se há 14 anos
como líder dos Kontraband, mas parece-me que
é no projeto Franco que
encontra a sua verdadeira identidade artística.
Terei razão?
Tem. Chegou um momento em que comecei a
sonhar com um projeto
de originais, algo mais
autêntico, e sim, acabei
por me encontrar a solo,
no Franco. Mas, até poder, vou manter-me nos
Kontraband.
Franco significa, precisamente, verdadeiro, autêntico. Não é só um nome
que fica no ouvido…
Escolhi o nome pelo seu
significado, porque me
define como pessoa, mas
também porque tem
uma sonoridade interessante e universal. Cheguei a pensar que as pessoas podiam associá-lo
ao ditador espanhol [risos]…
O vocalista de uma banda de música latina começa, então, a compor
música pop. É um salto
arrojado…
Confesso que pensei não
ser capaz de compor música pop, apesar de, na
altura, já ter experimentado outros registos e de,
inclusive, ter criado várias músicas infantis e
ganho três festivais da
Canção Infantil da Madeira.
Ter conseguido surpreendeu-o?
De certa forma, sim.
O Franco surge quase
aos 40 anos. Em algum
momento sentiu que o
sonho foi concretizado
tardiamente?
Acho que se concretizou
no momento certo. Se tivesse acontecido aos 30
teria sido um projeto
completamente diferente
deste.
Menos franco? Menos
maduro?
Exato. Só recentemente é
que pude entregar-me a
sério, antes estava focado
na minha família, em organizar a minha vida.
É um homem de família?
Sou. A família foi sempre
a minha prioridade.
Ter um filho mudou-o
muito?
Mudou, fui pai aos 30
anos. Quando ouvi o coração dele pela primeira
vez, na ecografia, chorei
que nem um tonto, acho
que foi só naquele momento que acreditei que
ia ser pai [risos].
A paternidade tornou-me
mais calmo.
Como é que ele vê o pai
Franco?
Ele acha que eu mereço
o sucesso que tenho, porque vê como trabalho e
me dedico. E o melhor
ensinamento é precisamente aquilo que ele observa em mim.
… Espere, já que falamos
«Sou uma pessoa
de objetivos,
é isso que me
obriga a estar
focado. Se não
tenho um objetivo,
ico perdido, e não
gosto nada dessa
sensação»
em família, estava aqui a
pensar que uma pergunta engraçada que me podia fazer era “Quem foi o
grande impulsionador
do projeto Franco?”
Eu ia lá chegar [risos],
mas não há problema,
podemos atalhar caminho. Quem foi?
A minha mulher. Se não
fosse o incentivo dela,
provavelmente não estaríamos a ter esta conversa.
Eu dei sempre prioridade às minhas responsabilidades familiares, estive
durante muito tempo focado nisso, depois nasceu o meu filho, e eu
quis primeiro organizar
a vida, ter estabilidade.
O Franco surge quando o
meu filho já tinha 9
anos, foi aí que a Patrícia
me disse: “Já pensaste
em nós, agora vai lutar
pelo teu sonho”. É por
isso que, além de minha
mulher, ela é a minha
©Albino Encarnação
E não desejava “ir para a
frente”?
Admito que tinha esse sonho desde cedo, mas enquanto estava na “penumbra”, não pensava
muito nisso. Digamos
que estava na minha
zona de conforto [risos].
a
SÁB 17 SET 2016 | açúcar | 9
a
melhor amiga.
Às vezes, há críticas que
me deitam abaixo, mas a
Patrícia dá-me sempre
força para me reerguer.
Estão juntos há quanto
tempo?
Conhecemo-nos tinha eu
19 anos e ela 15. Ela tinha
namorado, não me ligava
nenhuma, mas um dia,
quando a convidei para
uma festa em minha
casa, apresentei-a à minha mãe da seguinte forma: «É a Patrícia, a sua
futura nora».
E assim a conquistou…
Pois, entretanto ela terminou a relação com o
namorado e começámos
a namorar.
Nessa altura já trabalhava?
Sim, já tinha terminado
o curso no Conservatório
e era professor na Escola
do Estreito de Câmara de
Lobos. Digamos que já tinha um certo estatuto
[risos].
«Sempre fui o
menino da mamã
[risos], como não
gostava da pesca,
o meu pai levava
com ele os meus
irmãos e eu icava
com a minha
mãe»
Aos 41 anos, sente-se um
homem realizado?
Posso dizer que sim, a
única coisa que me falta
é alcançar sucesso lá
fora, mas se não conseguir, também não é grave. Estou bem assim.
É um lutador, conquistou tudo a pulso. De
onde vem toda esta determinação para vencer?
Da educação que os
meus pais me deram,
dos valores que me
transmitiram desde
muito cedo. Eles ensinaram-me a ter os pés assentes na terra, a não
me deslumbrar e a não
ser demasiado otimista,
por isso, ainda hoje,
quando vou para cima
do palco, embora saiba
do que sou capaz, não
vou com excesso de confiança.
E como reagiram eles à
sua ascensão?
Com grande orgulho,
mas foram sempre muito discretos nas suas
manifestações. Sei que a
minha mãe guarda posters meus, entrevistas e
reportagens onde apareço. O meu pai, que infelizmente já faleceu, no
ano passado era mais
contido, dava-me aquela
“mãozada” e pouco
mais, mas estava lá, na
linha da frente.
É notório o orgulho que
tem nos seus pais.
Sim, sou um filho orgulhoso, e procuro passar
para o meu filho tudo
aquilo que recebi deles.
O importante é que ele
seja educado e tenha caráter, independentemente do caminho que escolher. Um curso é apenas
uma ferramenta para
chegarmos mais além. É
também esta a mensagem que tento transmitir aos meus alunos.
Quais são as melhores
recordações que guarda
da infância?
Eu sempre fui o menino
da mamã [risos], como
não gostava da pesca, o
meu pai levava com ele
os meus irmãos e eu ficava com a minha mãe.
Passava imenso tempo
com ela, é uma boa recordação…Outra, é o
tempo que eu passava
no calhau, o calhau era
um mundo para mim, e
mergulhar para ir buscar as moedas que os estrangeiros atiravam ao
mar…
«A minha mulher
foi a grande
impulsionadora
do projeto
Franco»
A sério? Tenho uma visão bastante negativa
desse gesto dos estrangeiros…
Muita gente tem essa visão, mas para os miúdos
aquilo era brutal, adorávamos! Criava-se um espírito de competição entre nós, era ver quem
conseguia mergulhar
mais fundo para apanhar a moeda. E a isso
juntava-se a nossa vaidade na proeza, ganhava
quem tinha mais fôlego.
Graças ao mergulho ganhei pulmão, sou um
peixe [risos].
As minhas primeiras palavras em inglês foram
“money for water”.
Entendo… Era como um
jogo para vocês, mas
continuo a achar triste a
atitude de quem atirava
a moeda…
Acredite, não víamos isso
como uma coisa má, não
acho que os estrangeiros
nos quisessem rebaixar.
De algum modo, tranquiliza-me sabê-lo.
Ah, e com eles vinham as
bonitas filhas [risos]…
Estou a ver… E as moedas, onde as gastavam?
Nas “vendas”, comprávamos um quarto de pão
com molho, era uma festa! Aquelas moedas davam-nos uma possibilidade extra de comermos.
A infância era vivida de
forma diferente. Não seria mais fácil, nessa altura, encontrar felicidade
nas coisas simples? E dar
mais valor a esses “extras”?
Claro que era. Uma san-
des de espada, por exemplo, era caviar para nós,
o pão fresco era uma
iguaria, então se fosse
com manteiga… [risos].
Hoje, são coisas banais,
que não se valorizam.
Depois, naquela época,
não era preciso mandar
ninguém para a cama às
nove da noite, porque
chegávamos a casa estafados de andar no calhau.
Eu até gosto de “gadgets”, mas reconheço que
aquilo é que era viver a
sério.
Hoje, o que sente o Chico
Freitas quando o chamam Franco?
Fico com um bom sentimento, porque isso significa que o projeto está a
resultar. Gosto de ver o
meu trabalho reconhecido, porque tudo o que
conquistei é fruto de
muita entrega e sacrifício. Embora haja quem
pense o contrário, ninguém me deu nada, para
chegar até aqui tive de
investir muito dinheiro
que fui poupando.
Os madeirenses já se renderam à tua música. O
mercado internacional é
o próximo passo?
É, até porque considero
que é esse o mercado do
Franco. Foi por essa razão que fiz questão de
gravar o álbum [New
Dawn] lá fora, no Reino
Unido. Tive oportunidade de gravá-lo no continente, mas queria ir ao
centro do mundo da música pop. Resultou, o álbum está muito bom, é
um trabalho sério e tem
um cunho internacional
muito forte, tal como eu
pretendia.
Como correram as gravações?
Quando cheguei ao estúdio [em Londres], intimidei-me… Era um espaço
enorme, mas depois fluiu
tudo muito bem, escrevi
a letra do “Won't let you
go” em 20 minutos, e
chorei muito, de emoção,
quando terminei; nem
sequer pensei que teria
capacidade para tal, julguei que fosse apenas
um momento de inspiração, no entanto, aconteceu o mesmo com os outros temas, com exceção
do “New Dawn”… É uma
música dedicada ao meu
pai, que compus quando
ele já estava bastante
doente no hospital e, então, bloqueei.
Quão importante foi ter
gravado em Londres?
A experiência num país
tão grande, num estúdio
tão grande marcou um
ponto de viragem, fez-se
um “clique”, foi ali que
senti o sonho como possível, que tive perfeita
noção daquilo que era
capaz de fazer. Lembrome de ter pensado “isto
vai resultar.”
Ainda hoje, quando interpreto “Won't let you
go”, é como se revivesse
aquele momento. Sou
muito de emoções.
Foi bater ao sítio certo,
na hora certa. Seguiu
mais a sua intuição ou a
ambição de abarcar o
mundo?
Creio que ambas. Acredito muito no poder da
energia e que tudo acontece por uma razão, não
há coincidências, o universo está muito bem
construído. E, se tivermos esta perspetiva, a
vida correrá melhor, com
toda a certeza.
Alguma vez lhe passou
pela cabeça mudar-se
para Londres?
O ideal seria eu estar baseado lá, mas como tenho a vida organizada
aqui na Madeira, uma família linda e os meus
alunos – adoro dar aulas
-, só daria essa passo se
do outro lado encontrasse algo muito sólido, que
valesse realmente a
pena. E a verdade é que
eu sou feliz aqui, na minha terra. a
10 | açúcar | SÁB 17 SET 2016
a
feliz com menos
A pirâmide da necessidade: tudo
o que pode fazer antes de comprar
Débora G. Pereira
www.simplesmentenatural.com
N
a nossa sociedade, adquirir
bens materiais é
relativamente fácil, aliás, as estratégias de
marketing estão tão sofisticadas que o difícil mesmo é não o fazer. Atualmente, com o desenvolvimento da indústria e o
aparecimento das grandes
superfícies, apareceram
as promoções, os preços
baixaram e a aquisição e
acumulação de pequenos
bens aumentou em larga
medida. Comprar algo
não é por si só uma coisa
negativa, o problema surge quando adquirimos
bens sem, de facto, necessitarmos deles. Pois é,
caro leitor, a necessidade
não é de todo o único motivo pelo qual gastamos
dinheiro, sendo que, na
maioria das vezes nem é a
principal razão. Compramos, também, por conforto emocional, por prazer,
por impulso, por hábito e
pela oportunidade. Ainda
por cima, por detrás do
pano existe a propaganda,
em que alguém é pago
precisamente para nos fazer crer que algo que não
necessitávamos há cinco
minutos passou a ser absolutamente indispensável.
Antes de ceder ao primeiro impulso, tire um tempo para refletir um pouco
sobre vários aspetos da
importância do objeto em
si. Se tiver consistência no
seguimento desta pirâmi-
de que encontrei algures
online, perde apenas alguns minutos e na volta
ainda poupa uns trocos.
Saliente-se, então, a reflexão como base deste processo, isto porque, comprar sem pensar é, de facto, o maior problema e, sabendo disso, há quem a
use como estratégia de
marketing fazendo grandes promoções de um ou
dois dias. A pessoa tem de
comprar naquele período
de tempo ou perde a oportunidade. Obviamente que,
neste âmbito, tende a querer aproveitar e não tem a
janela de abertura temporal necessária para pensar
sobre o assunto.
Vamos à pirâmide! Em primeiro lugar, usar aquilo
que já se tem. Muitas vezes, já temos algo em casa
com a mesma função daquilo que vamos comprar,
o facto de ser mais bonito
ou moderno em nada
acrescenta á utilidade do
mesmo. “Pronto, não tenho, vou comprar!” Não,
ainda não. Ainda pode recorrer ao empréstimo. Não
raramente, aquilo de que
necessitamos não é algo
para utilizar com frequência. Recorrer ao empréstimo é inteligente, no entanto, tenha em atenção de
também de ser solícito
para com o outro na mesma proporção. Trocar
também é válido, embora
seja algo mais definitivo
que o empréstimo. As
crianças fazem-no naturalmente, mas é interessante
como este comportamento
incomoda os adultos.
Uma interessante maneira
Aedes aegypti
Bruno Olim
Farmacêutico
[email protected]
N
estas últimas semanas, assistese paulatinamente a um aumento da incidência das
picadas de mosquito,
maioritariamente, pela
característica da picada
do nosso já bem conhecido Aedes aegypti. É importante conhecer bem
este invasor, que encerra
em si um potencial muito
grande como vetor de
uma panóplia de vírus,
tais como, Dengue, West
Nile Vírus, Chikungunya e
Zika. Sabemos, no entanto, que para ocorrer um
surto necessitamos, primeiro, da presença de alguém infetado com o vírus, e o vetor (mosquito)
encarrega-se de propagar
o mesmo, pelo que devemos estar vigilantes, mas
não alarmados.
O Aedes aegypti é um
mosquito que mede menos de um centímetro,
apresenta uma cor escura
(café ou preto) e é listado
a branco em toda a sua
extensão. Ao contrário de
outros mosquitos, pica de
dia e de noite (preferencialmente nas alturas em
que o sol não está tão forte), é a fêmea que pica (é
hematófaga), tem como
alvo preferencial o ser humano, não emite som audível, sendo o seu ataque
mais eficaz, apresentando
a capacidade de atravessar roupa mais espessa
como a ganga. Tem um
teto de voo baixo, daí se
percebe a grande incidência de picadas a nível de
tornozelos e mãos. No
momento da picada, o individuo não se apercebe,
pois é indolor e, no imediato, não provoca prurido. A diversidade de criadouros deste mosquito
torna a sua erradicação
muito difícil. Esta versatilidade, aliada ao facto de
haver deposição dos seus
ovos em águas turvas ou
de poupar é não comprar
logo que sente essa necessidade e deixar passar um
ou dois meses. Se após
esse período ainda se lembrar de tal aquisição, então é porque se calhar vale
a pena considerá-la. Pode
ainda considerar fazer. Por
vezes, pensamos que não
somos capazes ou não temos tempo, quando, na
verdade, a conclusão de
algo produzido por nós,
traria imenso prazer ou
momentos muito agradáveis em família.
Em suma, se necessitar de
algo que ainda não tem,
que não dá para trocar ou
emprestar e que não consegue fazer, vá em frente e
compre-o sem culpa, mas
não esqueça, já diziam os
meus avós, no poupar é
que está o ganho! a
saúde
insalubres, ou em locais à
espera do contacto de
água (onde resistem por
vários meses), tornam
hercúlea a tarefa da sua
eliminação.
Conhecendo quem estamos a enfrentar torna-se
mais fácil a prevenção do
confronto. Prevenção essa
que passa pela utilização
de redes mosquiteiras,
uso de roupa clara de
mangas compridas e utilização de repelentes, sendo de extrema relevância
as medidas de prevenção
ambiental, para o controlo da população do mosquito. Estas passam por
eliminar as fontes de
água parada/estagnada,
começando nos pratos
dos vasos, as plantas que
armazenam água, passan-
do pelas piscinas, caleiras, pneus, garrafas, todo
o tipo de lixo suscetível à
acumulação de água, bebedouros dos animais,
etc. A utilização de peixes
em lagos decorativos ou
extensões de águas paradas, e mais recentemente
a introdução de Aedes
modificados geneticamente, levaram à redução
da população dos mesmos.
Quanto ao tratamento da
picada, deverá ser analisada caso a caso pelo profissional de saúde, sendo,
na maior parte das vezes,
necessária a aplicação de
uma pomada antipruriginosa, a toma de um antihistamínico oral e a aplicação de um anti-séptico
no local da picada. a
SÁB 17 SET 2016 | açúcar | 11
a
feliz com mais
Um café para a despedida
SideDish Moustache
[email protected]
As variações da
baga de Deus são
mais que muitas.
Englobam também as versões
pecadoras, se
destas abusar irá
bater ao inferno...
Não, ao inferno
não, mas a uma
manhã de ressaca é provável.
O irish coffee,
café misturado
com whisky, é,
provavelmente,
a mescla mais
famosa nesse
departamento,
mas também
temos cafés
misturados com
brandy, gin,
Tia Maria – não
a minha tia, mas
sim o licor, rum,
vodka e por aí
fora.
T
udo tem um princípio, um meio e
um fim... Tudo
começa e acaba,
assim como uma refeição.
A melhor maneira, pelo
menos no meu entender,
é com um café, bem tirado, de preferência, com a
quantidade certa de espuma e com a intensidade
certa do mesmo, não queremos o café demasiado
aguado ou queimado. Depois, temos vários tipos
ou um tipo de café com o
vários nomes, por exemplo, o expresso ou o cimbalino, ou a bica ou o cortado, o típico café português, servido como um
shot de cafeína que poderá ser degustado em todo
o país, consoante a linguagem ou a expressão
que usar. Caso tenha dúvidas, peça sempre um
café que, assim, não corre
o risco de passar pelo Nicola, em Lisboa, e pedir
um cimbalino, ou chegar
ao Majestic, no Porto, e
solicitar uma bica. Siga
este conselho e evite que
olhem para si como se
fosse de outro planeta.
Mas nem só de bicas, cimbalinos e expressos vive o
homem. O mundo do café
é vasto, bem vasto. Desde
o simples café preto,
aquele que é feito de forma parecida à do chá, ou
seja, água a ferver e as bagas do café lá para dentro,
até aos mais complexos,
cappuccinos, machiattos,
afogatos, etc., existem mil
e uma formar de servir as
bagas de café em formato
liquido. O tempo, quando
ajuda, pede um desses
mais elaborados em que
o simples prazer de colocar os lábios numa chávena coberta de espuma do
leite de um cappuccino atenção(!!!) espuma de
leite, não chantilly - parece que, atualmente, nos
esquecemos deste pequeno por maior; em que o
que chega primeiro às papilas gustativas é essa espuma seguida do calor e
do amargo do café, a fazer despertar sentimentos que ficam adormecidos durante os meses de
mais calor.
Não pense, caro leitor,
que o café só deve de ser
tomado em alturas do
ano em que a temperatura é mais baixa, é uma
bebida polivalente, devo
acrescentar. A famosa
bica/cimbalino/expresso,
fruto do seu tamanho,
sempre ouvi dizer que
mais vale pequenina e
trabalhadora do que
grande e preguiçosa, é a
multi-estação. Tomamola a qualquer altura do
campeonato, e sabe sempre bem. Depois, temos
as variações aptas para o
enfrentar os meses mais
quentes, podemos dizer
que estas variações são os
calções e os chinelos do
café. Os frappés entram
em campo com a vestimenta necessária para
atacar o verão; frescos,
saborosos e igualmente
calóricos como os seus
companheiros de inverno, fazem as delícias de
quem quer arrefecer com
um gostinho a café.
As variações da baga de
Deus são mais que muitas. Englobam também
as versões pecadoras, se
destas abusar irá bater ao
inferno... Não, ao inferno
não, mas a uma manhã
de ressaca é provável. O
irish coffee, café misturado com whisky, é, provavelmente, a mescla mais
famosa nesse departamento, mas também temos cafés misturados
com brandy, gin, Tia Maria – não a minha tia,
mas sim o licor, rum,
vodka e por aí fora.
Agora, caro leitor, é tempo de me despedir e pedir o tal café que me
aquece a alma e me faz
ficar com a espuma no
bigode. Até um dia destes... a
12 | açúcar | SÁB 17 SET 2016
horas vagas
Sandra Sousa
http://estrelasnocolo.wordpress.com
D
orothy Koomson
é indiscutivelmente uma autora cheia de talento, e é sempre uma alegria saber que vai sair um
livro novo. “Um novo
amanhã” é uma novidade
recente e traz ao leitor a
história de duas meninas
Virgílio Jesus
[email protected]
R
ealizado pelo arrojado Robert Zemeckis (Regresso
ao Futuro, Forrest
Gump, Polar Express),
The Walk é convictamente um desafio cinematográfico para todos. Com
uma interpretação curiosa de Joseph Gordon-Levitt este é um filme que
celebra as Torres Gémeas
do World Trade Center,
E
m primeiro lugar,
é incrivelmente
relevante assinalar a estreia de um
filme português nas salas
de cinema madeirenses,
sobretudo tratando-se de
um projeto com densidade dramática, não fosse a
sua história sobre a Guerra Colonial Portuguesa
(1961-1974). Na verdade,
não encontramos uma
Por E.V.
T
música
enho vários ídolos a nível musical, de facto são
demasiados para
serem enumerados, penso que a cada dia que passa acrescento um na lista.
Um deles, um dos maiores, é o Nick, sim, só Nick,
penso que posso ter conversas com ele sobre as
suas músicas, sobre a reli-
a
[livro, filme, música]
livro
Um novo amanhã
que partilham a mesma
paixão, mas quando um
homem destrói o sonho
destas crianças parece
que o mundo de ambas
desaba e acaba por as
afastar.
Depois de muitos anos,
ambas querem mudar de
vida e o desejo é forte, tão
Dorothy Koomson
forte que faz com que
consigam lutar por aquilo
que não conseguiram
quando eram ainda crianças.
Como já vem sendo habitual este é novamente
mais um livro intenso de
Dorothy. Não é fácil para
o leitor imaginar que su-
cedem coisas destas no
dia-a-dia de várias crianças, pelo mundo fora.
Este é um livro comovente, com segredos e reviravoltas, e que certamente
deixará o leitor com o coração apertado. Mas valerá a pena cada minuto da
sua leitura! a
televisão & cinema
antes de terem sido destruídas no 11 de setembro
de 2001, e fá-lo com romance, aventura e drama.
A história já havia sido explorada no documentário
Man on Wire, de James
Marsh, vencedor do Óscar
na categoria, porém Zemeckis ao romancear um
pouco a narrativa, mantém o espetador preso às
emoções de um cinema
que é, ainda, referenciado
como bigger-than-life
(maior do que a vida). The
Walk - O Desafio é um filme memorável que mostra como os efeitos especiais podem não ser o
centro da narrativa, mas
aquilo que a sustenta,
confrontando, também,
as dimensões do real com
a construção de uma memória. a
história genérica sobre o
assunto, mas uma das estórias entre histórias. Baseado nas memórias do
escritor António Lobo Antunes, Cartas da Guerra é
um verdadeiro marco cinematográfico do ano de
2016, ao relembrar um
acontecimento que moldou e alterou as vidas dos
nossos cidadãos. Prima
pela poesia conferida à
narrativa, sem filmar imagens nauseantes e ensanguentadas dos homens
que perderam as suas vidas, e ao apontar ao inesquecível realismo de Hiroshima, Meu Amor ou a
êxitos de guerra como
Apocalypse Now e A Barreira Invisível. Um filme,
também, para os mais jovens compreenderem o
nosso valioso passado. a
The Walk
- O Desafio
TV Cine 1
Domingo 18 de setembro - 21h30
Realizado por: Robert Zemeckis
Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Charlotte Le Bon
e Ben Kingsley
Género: Drama, Aventura, Família
Cartas da
Guerra
(já nos cinemas)
Realizado por: Ivo M. Ferreira
Elenco: Miguel Nunes, Margarida Vila-Nova
e Ricardo Pereira
Género: Drama, Guerra, Biografia
Nick Cave & The Bad Seeds – Skeleton Tree
gião, morte, amor, uma
treta metafísica qualquer,
e por aí fora. Há momentos em que a música e as
letras fazem “click” e juntam-se para formar algo
inédito, algo que só diz
respeito ao ouvinte e ao
intérprete, é isso que sinto quando oiço o Nick e é
por aí que se desenvolve a
conversa com um amigo,
um companheiro de luta,
se é que o podemos chamar.
Neste último álbum cabeme o papel de ouvir, só
ouvir, os lamentos dele, a
angústia, o luto que se
abateu sobre o Nick, a
morte de um filho, imagino, deve ser das piores
dores que alguém pode
ter, e durante os 39 minu-
tos e 42 segundos de duração do Skeleton Tree é
isso que sentimos: dor,
luto, e cabe a mim, a nós,
ouvir esses magníficos lamentos. Em “I need you”
o verso que acaba a música é de um suplício tremendo, Nick mostra-nos
a aflição de um pai ao
perder um filho, “just
breath”/apenas respira, é
a suplica final de alguém
que está à beira do desespero.
Skeleton Tree é o esqueleto de uma derivação para
um Nick mais negro,
mais poético e menos romancista, e mais grandioso que a própria vida. É a
dor inserida num álbum
que só ele podia fazer e só
eu poderia ouvir. a
SÁB 17 SET 2016 | açúcar | 13
a
na moda
De regresso ao trabalho
la: Mango;
Top, calções e ma
sapatos: Zara
Saia e mala: Zara;
ngo
top e sapatos: Ma
e mala: Zara;
Calças: Mango; top
M
sandálias: H&
a.com;
s: mytheres
Calções e sapatilha
la: Zara
ma
top: BCBG.com;
t.com;
Saia e top: theoutne
om;
a.c
res
the
my
sapatos:
mala: Zara
ra;
Vestido e mala: Za
rter.com
sandálias: net-a-po
Laura Capontes
lauracapontes@[email protected]
foto © Laura Capontes
a
s férias terminaram, dias
de praia e descanso dão
lugar ao regresso ao trabalho e às rotinas. Para
voltar ao trabalho em
grande estilo, torna-se
imprescindível deixar de
lado as roupas de praia e
demasiado informais. E
isso implica abdicar do
conforto? Não, apenas ter
uma imagem mais cuidada e sofisticada. As escolhas dos looks deverão
ter em conta o ambiente
em que trabalha, se é menos ou mais descontraído.
Dos looks mais clássicos
aos mais arrojados, o importante é que sejam
sempre do seu gosto, fiéis
ao seu estilo, que lhe
transmitam confiança e,
claro, que vão de encontro ao “dress code” do seu
local de trabalho.
Depois das férias ficamos
Aproveite para
conjugar peças
“statement” da
nova estação com
outras peças que
já tem.
sempre mais confusas e
sem criatividade na hora
de voltar a escolher os
outfits para o dia a dia,
estamos a entrar numa
nova temporada, mas o
tempo ainda é de verão,
por isso, trate de desfrutá-lo ao máximo e aproveite para conjugar peças “statement” da nova
estação com outras peças
que já tem. Aposte nas
que são versáteis, que
servem tanto para situações mais formais como
para as informais. Os básicos facilitam sempre
em caso de dúvidas e,
bem conjugados, criam
looks sofisticados e elegantes.Inspire-se nos
looks! a
14 | açúcar | SÁB 17 SET 2016
a
mais açúcar
Alfajores
ingredientes
modo de preparação
150g de amido de milho
70g de farinha
70g de açúcar em pó
1cc de fermento em pó
120g de manteiga
2 gemas de ovo
1/2 cc de extracto de baunilha
Doce de leite para rechear
Bater a manteiga com o açúcar. Adicionar as gemas e o
extrato de baunilha. Por fim, adicionar a farinha, o amido
de milho e o fermento em pó. Formar uma bola com a
massa, envolver em película e refrigerar por uma hora.
Estender a massa sobre superfície enfarinhada com uma
espessura de 3mm e cortar as bolachas com um cortador
redondo. Colocar num tabuleiro forrado a papel vegetal e
levar a forno pré-aquecido a 180º durante cerca de 10 minutos.
Depois de completamente arrefecidas, rechear as bolachas com o doce de leite.
a
Joana Gonçalves
Sachertorte
Chef Pasteleira - Eleven, Lisboa
[email protected]
ingredientes
modo de preparação
Bolo de chocolate
200g de chocolate
8 gemas
10 claras
120g de manteiga
180g de açúcar
120g de farinha
1 colher de extrato de baunilha
Derreter o chocolate com a manteiga em banho-maria.
Bater as gemas e juntar o chocolate derretido. Adicionar
o extracto de baunilha. Bater as claras em castelo com o
açúcar Juntar a farinha e as claras em castelo ao creme
de chocolate, alternadamente. Dividir a massa por duas
formas forradas a papel vegetal e untadas com manteiga.
Levar a forno pré-aquecido a 180º durante cerca de 30
minutos. Para o creme, levar o chocolate, açúcar natas e
baunilha ao lume e deixar ferver por 5 minutos. Retirar
do lume e adicionar a gema. Mexer bem.
Colocar uma camada da compota de alperce, passada por
um coador, sobre um bolo. Cobrir com o segundo bolo.
Verter o creme de chocolate morno sobre o bolo. Refrigerar durante 3 horas. Retirar do frigorífico 30 minutos antes de servir.
Servir com natas batidas.
Cobertura de chocolate
150g de chocolate
150g de açúcar em pó
250g de natas
1 colher de café de baunilha
1 gema de ovo
200g de compota de alperce
a
LÁ AO FUNDO come-se e muito bem!
O
que acontece
quando se mistura Goa, Moçambique e Madeira é facilmente explicável no “Restaurante Lá
ao Fundo”, na zona velha
da cidade, à Rua Portão
de São Tiago, ou para ser
mais fácil, na rua que vai
para o forte de São Tiago,
lá ao fundo, à esquerda.
Um restaurante cujo proprietário e chefe de cozinha e escanção e relações
públicas, sim, caro leitor,
o Jaime Cruz faz isto
tudo como ninguém e,
para além disso, recebe a
todos de braços abertos e
um sorriso contagiante, é
meio caminho andado
para nos sentirmos em
casa.
Se juntarmos ao que
atrás foi escrito uma cozinha genuinamente influenciada pelas raízes do
Jaime, “goesomoçambicananoportuguesa”, temos aquilo a que se chama um restaurante com
ALMA, coisa rara nesta
terra.
Em relação à cozinha, e
devido ao caldo cultural
que está na base deste
restaurante, muito bem
interpretado nos pratos,
poderá encontrar chamuças de carne com tika
massala, caril de gambas
(senhoras gambas, a pro-
por
António Janela
pósito) à moçambicana,
deixem-me dizer que não
resisto a este prato, simplesmente maravilhoso,
polvo com puré de grão
de bico e bobó de camarão. Mas há mais sugestões, todas criativas, e
onde se misturam com
mestria os diferentes ingredientes do triângulo
dourado (Goa, Moçambique e Portugal) que é, no
fundo, aquilo que o Jaime constitui.
Não quero ser panegírico,
por respeito aos leitores e
por dever de consciência,
mas este restaurante e,
sobretudo, esta cozinha
com alma, enche-me as
medidas, e confesso-vos
que o Lá ao Fundo está
no top 5 dos meus restaurantes preferidos no Funchal.
Para terminar em grande,
aqui poderá, também, encontrar uma garrafeira
muitíssimo interessante a
preços razoáveis e com
aconselhamento profissional, já que o Jaime
também é um autêntico
“cromo” dos vinhos.
Vale a pena a visita porque este é um restaurante com muita Alma. a
SÁB 17 SET 2016 | açúcar | 15
a
boca doce
Edgar Costa
Jogador de futebol do Marítimo
1
12
O que distingue um
madeirense de um
continental?
Regra geral, acho que somos mais simpáticos e
acessíveis.
Três características
da sua personalidade que
melhor a definem?
Sou sincero, honesto
e amigo.
2
13
A crítica mais
construtiva que já
lhe fizeram?
E a mais injusta
ou absurda?
Que tinha de aprender
com os erros. Quanto às
injustas, simplesmente
não ligo.
Que opinião tem dos
madeirenses que
escondem o sotaque?
Não comento… [risos]
14
3
Que expressões
madeirenses usa com
maior frequência?
“À ‘paz”, “estás tonto”.
A decisão mais
importante que teve
de tomar?
Tornar o futebol como
prioridade na minha
vida. Chegar a um altura
e decidir que isto era para
mim, pois antes era mais
malandro.
A quem gostaria
de pagar uma poncha?
A quem ainda não provou,
pois não sabem o que
perdem.
4
A sua dúvida mais
persistente?
O meu rendimento em
campo. Nunca sei se vou
jogar bem e se estou a
dar uma boa educação
ao meu filho.
5
Um arrependimento?
Ter deixar a escola cedo.
15
6
10
Um ato de coragem?
Talvez no último jogo
com o Benfica, em que
meti os dedos na boca
do meu colega,
Maurício, para ele
não se afogar.
Quem são os seus
heróis na vida real?
Os meus pais
e o meu filho.
7
Uma atitude
imperdoável?
Que me tentem enganar.
8
A companhia ideal para
uma conversa metafísica?
A minha mulher,
converso com ela
sobre tudo.
9
Qual a sua maior
extravagância?
Já fiz muitas, mas
quando era pequeno
subia muros para ir
buscar bolas e houve
uma vez em que caí
e parti o braço.
11
Uma doce memória
da infância?
Sair da escola,
não jantar e ir para
a rua jogar futebol,
num campo a descer
e com uma rotunda a
meio.
16
Segredos da Ilha…
Local: Câmara de Lobos
Hotel: Pestana Promenade
Restaurante: Santo António, no Estreito de Câmara
de Lobos
Atividade ao ar livre: Jogar
futebol e brincar com o
meu filho
Loja: Beauty 4 U

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