açúcar - JM Madeira

Transcrição

açúcar - JM Madeira
O VIAJANTE
Paris
FELIZ COM MAIS
Esperem!! Há vida
no Japão para lá do suhi
BOCA DOCE
açucar 22 | este suplemento não pode ser vendido separadamente do JM | Foto capa - JM/Albino Encarnação
16 perguntas ao jornalista
Filipe Gonçalves
«A depressão foi uma
parte muito desagradável
da minha aprendizagem»
Entrevista a Júlio Machado Vaz
a
2 | açúcar | SÁB 6 AGO 2016
do tempo íntimo
Os Verões
Sonolentos
CRÓNICA
Diogo Correia Pinto
[email protected]
Na varanda, eu
e o meu avô
sentados,
comungávamos
o silêncio espesso
do passar do dia.
Olhávamos
o longe. Ele,
figura grave
e granítica de
outros tempos.
Eu, uma criança,
observador aguçado, tentando
perceber
os ínfimos
detalhes do que
me rodeava.
o
s verões cheiravam a tempo longo, com os meses sonolentos a vaguearem
numa preguiça estival entre os pinheiros bravos, a
erva seca e a água
dos ribeiros. Ao longe, os
sinos da igreja vigiavam as
horas
apressadas, desviando-as
da sua sofreguidão implacável. Cada badalada
adormecia no campanário
e ecoava pela cidade numa
aragem quente,
deixando os corpos ao prazer dos cansaços entorpecidos. As paredes da
casa ferviam, inspiravam
demoradamente o ar abrasador, instalando-o
pelos compartimentos.
Na varanda, eu e o meu
avô sentados, comungávamos o silêncio espesso
do passar do dia. Olhávamos o longe. Ele, figura
grave e granítica de
outros tempos. Eu, uma
criança, observador aguçado, tentando perceber
os ínfimos detalhes do que
me rodeava.
(Pausa.)
-Avô.
- Sim.
- Quando nasceste aquela
montanha era assim?
- Assim como?
- Como é agora.
- Sim, quando nasci aquela
montanha já existia.
(Pausa.)
- E quando eu for velhinho,
ela continuará ali.
- Penso que sim.
- Quer dizer então que ela
será muito velhinha.
-Sim.
(Pausa.)
-Ela não vai morrer?
-As montanhas não morrem.
(Pausa.)
A tarde alongava-se sem
esforço, no reforço da pausa. Havia entre nós
um elo secreto, uma fonte
inesgotável que nos unia
ao espaço e
tempo. Tudo era uma coisa só. O entendimento
surgia não por aquilo
que se dizia ou fazia, mas
na simplicidade de uma
respiração conjunta.
Estávamos. Só.
Entretanto, a noite descia
dando tréguas ao calor.
Um vento brando
bafejava-nos a fronte, despertando-nos da lassidão
da vespertina.
(Pausa.)
-Avô.
- Sim.
- Para onde foi o Sol?
- Fugiu para o outro lado
da Terra.
- Mas amanhã ele volta?
- Sim, amanhã ele está cá
outra vez.
(Pausa.)
- E se um dia ele fugir e
nunca mais voltar.
- Ele não vai fugir.
(Pausa.)
- Pode-se zangar.
- (Rindo-se) Sim, talvez.
(Pausa.)
Logo um sono manso vinha beijar-me as pálpebras, acalentando-me para
a travessia nocturna. O dia
seguinte seria igual e os
que viriam a
seguir também, numa
constante reprodução familiar que me embalava
num silêncio cúmplice e
seguro. a
a
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o viajante
Diogo Correia Pinto
Paris
[email protected]
Nunca me senti um turista nesta
cidade, provavelmente
por isso é que nunca subi
à Torre Eiffel.
e
stive em Paris diversas vezes, em anos que não consigo precisar. Viajei de
avião, carro, carrinha, cheguei a ir de autocarro,
cheio de "avecs" com o seu
português afrancesado, da
janela tipo "fenêtre" e da
casa estilo "maison".Eram
vinte e cinco horas ininterruptas, o veículo atulhado
impedindo-me o mínimo
movimento, com o cheiro a rissol e a frango assado da merenda dos viajantes a enjoar-me nas curvas
e contracurvas do percurso. Mas valia o esforço. As inúmeras memórias
avulsas impõem uma organização cronológica. Em
1993, aterrei pela primeira
vez na cidade. A minha
primeira grande viagem. Fiquei em casa de C., na
Rue des Martyrs, bem perto do Pigalle, zona de
transgressão para a minha
cabeça de catorze anos, na
altura, um bairro com sex
shops, "cabarets", prostitutas, todo um movimento
de figuras noturnas que
deambulavam pela zona,
criavam em mim sentimentos ambivalentes, um
misto de encantamento e
estranheza.
Recordo-me de chegar a
casa ao fim do dia, extenuado, os meus sentidos
em permanente alerta filtrando cada pequeno mo-
vimento da vertigem citadina deixavam-me de rastos. Anos mais tarde, C. mudou de casa, descendo
para a Rue Saint-Lazare,
mais pacata e aburguesada. Corria o ano de 1999,
tinha dezanove anos
e, sem aqueles medos iniciais das primeiras visitas,
comecei a conhecer a cidade, deixando-me perder
pelos grandes Boulevards
Haussmann, ele que foi
responsável pela grande reforma urbana de Paris no
século XIX, cortando-a em
grandes avenidas. A melhor maneira de conhecer
uma cidade começa por
perdermo-nos nela. Calcorreava as ruas a pé, raramente apanhava o metro,
fiz quilómetros. Na altura,
C. trabalhava no Marais,
zona icónica da cidade, espaço de referência das co-
munidades gay e artística,
com um comércio muito
criativo, desde lojas de decoração, livrarias, perfumarias, casas de chá e restaurantes. Ao lado, o inenarrável Centre George
Pompidou, com a sua arquitectura vanguardista
e exposições de arte contemporânea. Perto, a Torre Sant-Jacques ou a conhecida Catedral NotreDame de Paris.Talvez
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não conheça outra cidade
em que todas as tendências arquitectónicas se organizem e se integrem tão
harmoniosamente. Foram
meses de descoberta,
com pequenas vivências
cotidianas, de fazer coisas
tão prosaicas como comprar uma baguete para o
pequeno-almoço, que me
fizeram sair fora do roteiro turístico e sentir-me
um verdadeiro parisiense,
um cidadão do mundo,
numa área em que todas
as raças, credos, línguas se
concentram e que têm
uma convivência diária
quase sempre pacífica.
Por isso, para mim foi tão
difícil entender os atentados do último ano. Em 2008, C. instalou-se
no bairro 10°, na Rue de
l'Échiquier perto da PorteSaint-Denis, uma zona
muito popular, com uma
grande comunidade do
Magreb. Por vezes, em Paris, se mudamos de bairro,
"arrondissement", parece
que estamos noutro país.
Na altura consegui arranjar uma bicicleta,
que permitia locomoverme mais fácil e rapidamente. Visitei o Père-Lachaise, um cemitério
imenso, onde estão Jim
Morrison ou Edith Piaf,
entre tantos outros. Conheci também o cemitério de Montparnasse, onde
está sepultado Serge
Gainsbourg, num túmulo
muito bonito, simples, em
que os fãs depositam gitanes, a marca de tabaco favorita do músico e uma
das suas imagens de marca. Outros ilustres também lá estão, tais como
Sarte ou Simone de Beauvoir, Beckett ou Ionesco.
Tenho o hábito de conhecer os cemitérios por onde
passo,além de ser um espaço de calma na azáfama
urbana, conseguimos perceber muito da cultura de
um povo através da sua
relação com a morte. Após alguns anos de au-
sência, em 2014 regressei
com a minha namorada.
Elaborei um roteiro amoroso, tentando passar pelos diversos pontos interessantes da cidade. Alojamo-nos em Montmartre,
zona de boémia e artistas
da Belle Époque, embora
seja tremendamente turística, o bairro tem algumas
das mais belas vistas de
a
Paris, como serve de
exemplo a panorâmica
que se tem da cidade a
partir da Basílica de Sacre
Coeur. Fomos descendo e
continuamos a rota até à
Ópera de Paris, Place Vêndome, Jardin des Tuileries, Louvre, o itinerário
normal. Subimos ao último andar do edifício do
Printemps, onde conseguimos ter uma visão 360° da
cidade e de todos os seus
monumentos.Foi uma experiência única, redescobrir a cidade através do
primeiro olhar de outra
pessoa.
Há muitas cidades em Paris, muitos recantos, diversos detalhes. Seriam precisas muitas crónicas para
eu conseguir
transmitir todas as experiências que passei. Nunca
me senti um turista nesta
cidade, provavelmente por
isso é que nunca subi à
Torre Eiffel. a
a
© Albino Encarnação
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entrevista
«É raro encontrar
pessoas que, como eu,
privilegiam o amor
sobre a paixão»
Psiquiatra,
psicoterapeuta
e sexólogo,
Júlio Machado
Vaz entra em
casa dos porENTREVISTA
tugueses há
Susana de Figueiredo
vários anos.
[email protected]
Começou na
Rádio Nova,
com “O Sexo
dos Anjos”,
e, depois,
«veio o poder
da televisão».
a estar matriculado
O rapaz tímido, hegou
em letras, mas atendendo
nascido e criado ao desejo da mãe, acaba por
licenciar em medicina.
no Porto, filho se
Hipocondríaco, não se via
numa enfermaria, e, quase
único de um
por acaso, esbarra numa esmédico
pecialidade mais “limpa”, a
psiquiatria.
e de uma
Cedo se deixa fascinar pela
cançonetista, psicoterapia - faz um estágio
Suíça - e é essencialmenacredita, como na
te nessa área que passa a
mover-se. Aos 66 anos, leva
Vergílio
40 de prática clínica.
Ferreira, que
o amor é
A “medicina da mente” é a
mais complexa?
“uma longa
Necessariamente. Vivemos
paciência”.
num tempo em que, até de
c
uma forma exagerada, se
fala muito na “medicina baseada na evidência”, e eu até
entendo essa nostalgia… O
que conta são os factos e,
como diz o povo, “contra
factos não há argumentos”,
mas há interpretações.
É indiscutível que existem
ramos da medicina que se
podem reclamar de muito
mais evidências científicas
do que a psiquiatria, e a psicoterapia, que é a área em
que eu me movo, tem tanto
de fascinante como de nebuloso.
Aquilo que é menos evidente é, então, mais complexo?
Claro. Há quarenta e tal
anos, um professor meu disse: “a psicoterapia é um processo em que uma pessoa
chega, fala connosco e, um
dia, vai-se embora” e, de facto, é um pouco isso, são
duas pessoas a pensar em
paralelo.
É uma relação…
Sem dúvida nenhuma. A
psicoterapia é, efetivamente, uma relação, e se a relação não for boa, se não se
criar quilo a que nós chamamos a “aliança terapêutica”, não acontece nada…
A relação transforma-se em
silêncio ou numa conversa
de café, e uma conversa de
café pode ser agradável,
mas não é terapêutica.
Júlio Machado Vaz esteve recentemente na Madeira para participar na tertúlia “Uma História de Vida”, cujo protagonista
foi o presidente do Montepio, António Tomás Correia.
Mas ainda há muita gente
que atribui a uma conversa
de café o mesmo efeito terapêutico de uma psicoterapia.
É verdade, eu ando nisto há
quase quarenta anos e ainda
há pessoas que me perguntam: “porque é que a malta
não conversa a tomar um
café na Foz?” E eu tenho de
lhes explicar que, se me torno amigo da pessoa que estou a tratar, tenho de enviála a outro psicoterapeuta.
Não resulta.
Voltamos à complexidade…
Como é que numa relação
que exige tanto envolvimen-
to se consegue manter a distância “no ponto”? Como se
evita o desenvolvimento de
uma amizade num terreno
onde tem de existir afeto?
É um vai-vem… É complicado, até porque muitas vezes
subestimamos o que vai de
nós para a pessoa, a contratransferência. Queremos intervir sobre o que a pessoa
sente, ou julga que sente,
por nós [na maioria das vezes, esses sentimentos são
imagens que projetam sobre
o psicoterapeuta], mas não
podemos esquecer que nós
também sentimos coisas
pela pessoa que está
a
E, efetivamente, uma relação terapêutica, como qualquer relação, pode não funcionar...
Pois pode. E, no extremo, o
psicoterapeuta pode chegar
à conclusão que o processo
não avança devido a características dele. Nesses casos,
há que encaminhar a pessoa para um colega.
Já passou por essa experiência?
Claro que sim, em tantos
anos de profissão seria até
estranho se não tivesse
passado por isso [risos].
Aconteceu-me, há muitos
anos, uma situação em
que eu me apercebi de que
o processo não avançava –
e admito que pudesse estar enganado – porque eu
tinha em mim uma resistência às características da
pessoa que estava a acompanhar, e não fui capaz de
ultrapassar aquilo. Se fosse hoje, talvez tivesse conseguido, a experiência ajuda muito, mas naquela altura senti-me completamente incapaz de fazê-lo.
E como é que lidou com
esse “divórcio”?
Foi difícil, claro, mas em nenhum momento me senti
humilhado, acima de tudo
está o interesse da pessoa
que nos pede ajuda.
Tomou a decisão sozinho ou
aconselhou-se junto de alguém?
Pedi conselho a um colega
mais velho, que me disse
que se a minha perceção
era aquela, devia terminar a
relação, e foi o que fiz.
O seu pai era médico, é influenciado por ele que ingressa em medicina?
O mais politicamente correto seria dizer que aos 9 anos
já sonhava ser psicoterapeuta, mas é uma mentira
do tamanho da Torre dos
Clérigos [risos]…
É uma profissão um pouco
complexa para um sonho de
infância…
Penso que sim [risos]. Eu
nem sequer tencionava ir
para medicina, aliás, no 5º
ano, atual 9º, cheguei a estar
inscrito em letras, mas…
Sabe, eu sou filho único, e a
minha mãe, como o meu pai
era médico, e tinha um laboratório de análises clínicas,
gostava que eu fosse para
medicina, para dar seguimento ao laboratório. Ela tinha um enorme poder sobre
mim [as mães têm um enorme poder sobre os filhos, nomeadamente sobre os filhos
únicos].
E de repente, para minha
surpresa, sem a minha mãe
nunca mo ter pedido, tinha
anulado a matrícula em letras e lá estava eu no curso
de medicina.
Mas, afinal, acabou por ir parar à área certa. Talvez o desejo da sua mãe tenha sido
polvilhado de alguma intuição...
Pois, talvez. Mas foi complicado, porque medicina é um
curso [ou era, naquele tempo, não quero ser injusto
para os currículos atuais] de
“marranço” e, por isso, fi-lo
com relativa facilidade e
boas classificações, o proble-
ma é que eu não me sentia
nada à vontade naquele
meio, sobretudo nas enfermarias, lidava muito mal
com a doença, com a morte… Então, no último ano
tropecei na psiquiatria, uma
disciplina muito “limpa”,
que consistia sobretudo em
falar com os doentes. E ali
dava-me bem, ao contrário
de alguns colegas meus que,
mesmo naquele tempo em
que havia lugares para todos, preferiam não ter especialidade do que ir para psiquiatria, tinham horror à
loucura.
O velho mito de que todos os
psiquiatras têm um pouco
de “loucos”…
Costumamos dizer que esses
são os melhores [risos].
Os que não se deixam intimidar pela “loucura” e, ao invés disso, se deixam seduzir.
É a partir daí que tudo começa?
De certa forma, posso dizer
que sim. Naquela altura, tinha vindo da Suíça, de La
Chaux-de-Fonds, o professor
Eurico Figueiredo, foi ele
quem me aconselhou a fazer
lá um estágio em psicoterapia. Fiquei fascinado com o
que aprendi, aquilo para
mim era o paraíso, apesar de
La Chaux-de-Fonds ser uma
cidade deprimente, perdida
no meio das montanhas.
Quanto tempo durou esse
estágio?
Fui com a intenção de lá ficar dois anos… Não aguentei,
o estágio estava a ser excelente, mas La Chaux-deFonds era demasiado deprimente, regressei ao Porto
passado um ano.
Exato, e fiz também formação em terapia familiar, com os professores
Abel Sampaio e José Gameiro. É assim que me
torno, essencialmente, um
psicoterapeuta.
É nessa altura que se torna
assistente do professor Eurico Figueiredo, no Instituto
de Ciências Biomédicas de
Abel Salazar?
© Albino Encarnação
diante de nós, que há pessoas com quem simpatizamos mais. Tudo isso tem de
estar presente no nosso espírito, senão podemos prejudicar quem nos vem pedir
ajuda.
© Albino Encarnação
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E, rapidamente, mediático.
Começa por fazer um programa sobre sexologia na
rádio, “O Sexo dos Anjos”,
seguindo-se a televisão, com
“Sexualidades”. E assim surge Júlio Machado Vaz, “o sexólogo”.
Sim, até hoje “o sexólogo”
[risos]. É o poder da televisão… A sexologia foi outra
das descobertas que eu fiz
na Suíça, onde dei consultas
de disfunção sexual. Tinha
lido muito sobre o tema durante o estágio em La
Chaux-de-Fonds, então, decidi levar o assunto para as
minhas aulas.
Comecei a dar cursos extracurriculares em biomédicas
e, de repente, estava a falar
num anfiteatro com 200
pessoas, oriundas de várias
áreas. Lembro-me de um
episódio muito engraçado,
em que explicava a a visão
dos gregos sobre a sexualidade, e nisto um dos alunos
faz uma dissertação incrível
sobre o tema. Fiquei tão sur-
a
© Albino Encarnação
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preendido, que fiz um discurso todo orgulhoso: “dizem que os médicos têm
umas palas, que não leem
nada fora da medicina, afinal...” Qual não foi o meu espanto quando ele diz: “eu
sou de história” [risos].
Li algures que o convite para
fazer o programa “O Sexo
dos Anjos” partiu de um dos
seus alunos.
É verdade, o programa passava na Rádio Nova.
O “Sexualidades”, na televisão, surge pouco depois, por
causa d' “O Sexo dos Anjos”.
Sim, a Maria João Duarte,
mãe do Pedro Rolo Duarte,
que ouvia “O Sexo dos Anjos” [o programa resultou,
depois, num livro], deu o
livro a ler ao Carlos Cruz, e
ele convidou-me para fazer
o “Sexualidades”, na televisão.
O palco dos palcos…
O grande palco. A partir daí,
fiquei com um carimbo em
cima, as pessoas acham que
eu sou só sexólogo, que não
faço mais nada. Posso até jurar a pés juntos que sou o
presidente da Região Autónoma da Madeira, que, para
a grande maioria, serei sempre o sexólogo [risos].
Um rapaz tímido que se torna famoso; um hipocondríaco que vai parar à medicina.
Razão tinha eu em querer
ir para letras [risos]. Em
relação à hipocondria, eu
era muito mais hipocondríaco do que sou hoje – é
evidente que, após quatro
anos e meio de psicanálise, melhorei imenso. Também tinha muito medo de
andar de avião, o que cortou sobremaneira a minha
liberdade, mas há um aspeto curioso, quando o
meu neto fez um ano, o
meu filho mais velho disse-me: “um avô que se preza leva os miúdos à Eurodisney” [Paris].
Pronto, preparei-me para
passar mal… Surpreendentemente, fiz uma viagem de
avião tranquilíssima, a ler,
imagine!
«Senti falta de ter um irmão desde a infância, era chato ser
filho único, tinha só adultos à minha volta»
E como é que correu a viagem para a Madeira?
Bom, aquela aterragem, se
tem sido há trinta anos
atrás, teria sido terrível!
Mesmo sendo eu agnóstico,
teria rezado a todos os santos [risos].
É uma fobia que está ultrapassada, desde a ida à Eurodisney.
Sim, creio que houve qualquer coisa de simbólico na
minha vida quando os meus
netos nasceram. Fui acometido por uma sensação de
tranquilidade, dei por mim a
pensar: “agora, se o avião
caísse, [só comigo, claro, não
com a família] as coisas não
seriam demasiado graves”.
Porquê? Pela importância
daquilo já tinha vivido?
Exatamente. Bem ou mal,
já tinha coisas feitas, os rapazes já estavam encaminhados. Digamos que, com
o nascimento dos meus netos, passei a encarar a vida
de uma forma mais descontraída.
E o trabalho, também? Sei
que é um “workaholic”.
No trabalho, passei a não ser
tão rígido, tão obsessivo, embora mantenha a honestidade de sempre, claro.
Ser avô contribuiu para o
despertar desse seu lado
mais leve?
Contribuiu, eu adorei ser avô
[há quem não ache piada nenhuma], é bom ver a “tribo”
crescer.
Por outro lado, teve de lidar
com a morte dos seus pais,
com a doença da sua mãe...
Sim, o meu pai morreu no
ano em que eu fiz 50 anos e
a minha mãe, que já vivia há
anos com Alzheimer, piorou
drasticamente, a doença explodiu de uma forma trágica
após a morte do meu pai, o
que não foi uma coincidência. Morreu dez anos depois.
Felizmente, os meus pais
ainda estão vivos, mas, desde
muito cedo, tive a ideia de
que a morte dos pais marca
um momento simbólico na
vida dos filhos, acredito que
há uma transformação interna definitiva neste “deixar”
de ser filho. Será assim?
O meu bisavô dizia: “nenhum de nós cresce verdadeiramente até a mãe morrer”. Entendo-o… A mãe
tem, normalmente, um significado mais forte em termos afetivos. A minha mãe
estava já num estado de Alzheimer profundo, eu ia visitá-la e saía de lá apaziguado,
apesar de ela não me conhecer [e é sinistro uma mãe
não conhecer o próprio filho]. Havia uma parte de
mim que ficava de rastos,
mas quando encostava a minha cabeça no ombro dela,
voltava a sentir-me protegido junto daquela mulher
que havia sido sempre a rocha da família.
Concordo consigo, de facto, a
morte dos pais tem nos filhos
esse efeito “definitivo”, como
se uma barreira fosse derrubada. Sinto que entre mim e
o fim deixou de haver fronteiras, agora sou eu que estou
na geração “a terminar”.
E esse sentimento não o angustia?
Não é muito agradável, confesso… Não tenho pressa de
chegar ao fim, mas, por outro lado, se fosse possível parar no tempo, parava agora,
ou há dois, três anos atrás nunca nos trinta e tal -, porque estou muito mais apaziguado, tenho uma relação
mais saudável com a vida e
com os outros.
A sensação com que fico é
que viveu a perda dos seus
pais de um modo muito desamparado [já estava divorciado]. Nessas alturas, e até
durante a doença da sua
mãe, não sentiu falta de ter
um irmão?
Senti falta de ter um irmão
desde a infância, era chato
ser filho único, tinha só
adultos à minha volta. [Não
sou partidário de ter filhos
únicos].
Mas a minha mãe fez uma
coisa extraordinária, que foi
incentivar-me a brincar na
rua com outras crianças, passei toda a minha infância
a
8 | açúcar | SÁB 6 AGO 2016
em brincadeiras de rua, e
isso para mim foi uma escola. Cresci com o filho do padeiro, com o filho do senhor
da mercearia, etc. E essa vivência deu-me uma noção
de como viviam as classes
mais desfavorecidas da cidade do Porto, eu dominava
toda aquela linguagem, ao
contrário do meu pai, que
embora fosse um comunicador espantoso, era capaz de
chegar a uma garagem, virar-se para o mecânico e tratá-lo por “Vossa Excelência”:
“Vossa Excelência sabe dizerme se o carro está pronto?”,
e isso, por vezes, criava problemas [risos].
Que vantagens lhe trouxe
esse “traquejo” adquirido
nas brincadeiras de rua?
Deu-me a capacidade, sobretudo na prática clínica, de
falar com vários estratos sociais sem grandes problemas, e isso foi um privilégio,
porque, tal como dizia há
pouco, nesta especialidade a
relação é tudo. Por exemplo,
se me chega alguém que
vem de Trás-os-Montes, ou
das várias “ilhas” portuenses, eu domino a sua linguagem, e isso facilita muito o
meu trabalho no que toca
ao relacionamento.
Antes de entrar para a especialidade de psiquiatria, fiz
medicina geral durante um
par de anos, em Matosinhos,
na Afurada. Com as mulheres dos pescadores, fiquei
“doutorado” em linguagem
[risos].
Um dia, atendi um senhor
que me pôs uma garrafa de
whisky em cima da secretária com um sorriso de orelha a orelha. Eu disse: “não
precisava de se incomodar...”, ao que ele reponde
prontamente: “não me incomodei nada, Dr., foi contrabando” [risos].
Surpreende-me que essas
pessoas mais “simples” tenham aderido a consultas
de psicoterapia e até de sexologia. Talvez o olhassem
como um dos deles.
Sim, falávamos a mesma
língua e isso aproximavanos.
Em Matosinhos, uma colega
minha ginecologista, que sabia que eu estava a dar aulas
de Biomédicas, perguntoume se podia enviar-me alguns casos de sexologia. Eu
achei que estava ainda um
pouco verde, tinha 26 anos,
mas aceitei.
E como correu?
No início, pensei “sou um
imberbe, sou homem… Não
vai resultar”. E, de facto,
nem sempre resultava, mas
outras vezes funcionava
muito bem. Em termos gerais, aquelas mulheres aderiam de um modo muito
“terra à terra”, muito pragmático. A partir de momento em que confiavam em
mim, diziam “ok, vamos
tentar”, e tentavam a sério.
Lá está, mais uma vez, tem
tudo a ver com a relação,
com a confiança que se estabelece com o terapeuta.
Voltemos à sua psicanálise.
É um Júlio Machado Vaz
muito diferente, após quatro anos e meio de psicanálise?
Saí da depressão, divorcieime, com benefícios tanto
para mim como para a minha ex-mulher, enfim, aconteceram coisas, mas não foi
uma análise bonita, daquelas que se leem nos livros
[risos]. Às vezes, até achava
que era dinheiro deitado à
rua, os meus sonhos, por
exemplo, eram todos uma
seca...
O meu psicanalista tinhame dito que eu não estava
bem no casamento e que
me recusava a admitir isso,
e, portanto, investia brutalmente na família. Eu recusei imediatamente a interpretação dele, mas a análise
prosseguiu e, entretanto…
Divorciei-me [tinha 32 anos].
Que idades tinham os seus
filhos?
Tinham 6 e 8 anos, passavam uma semana comigo e
outra com a mãe.
Como é que descreveria essa
fase da sua vida? Fácil não
deve ter sido.
Foi o caos, eu tinha sido um
filho único, mimado, não estava sequer preparado para
tomar conta de mim sozinho, quanto mais de duas
crianças… nem um serviço
de louça tinha, ia ao café,
trazia o tacho e comíamos
os três do tacho [risos]; levantava-me às seis da manhã, levava um tempo infinito a arranjá-los para a escola. Então, houve um dia em
que o meu psicanalista me
disse: “isso é uma vida completamente louca, não tarda
você está a deitar os seus filhos pelos cabelos”. Eu fiquei escandalizado, mas
nessa noite tive o único sonho de que me recordo, um
sonho infantil, em que acontecia o seguinte: eu estava a
passear de carro com os
meus filhos e eles pedemme para parar o carro porque querem fazer chichi. Eu
paro, eles vão fazer chichi e
eu arranco… [risos].
Acho que foi a única vez em
que o meu analista desatou
à gargalhada [risos]. Era um
sonho, realmente, muito infantil, que denunciava a minha nostalgia de liberdade.
Estava deprimido? Decidiu
fazer psicanálise porque
sentiu que precisava de ajuda?
Sim. Alguns médicos e psicoterapeutas dizem que vão
fazer análise para aprender.
Os analistas detestam isso,
claro. Eu fui, não para
aprender, mas porque precisava mesmo de ajuda.
Estava em muito mau estado, o meu casamento estava
mal, trabalhava com dificuldade… Em suma, não havia
grandes áreas de gratificação na minha vida.
O facto de ter passado por
uma depressão, de já ter estado do outro lado, ajudou-o
na sua prática clínica?
Claro, quando uma pessoa
me diz “você nem imagina”,
eu digo-lhe “imagino...”
[com um deprimido à frente, até sou capaz de adivinhar o que ele vai dizer a seguir]. Isto pode ter um efeito terapêutico, porque as
pessoas pensam “se ele conseguiu sair disto, eu também posso conseguir”.
Mas não lhe escondo que
preferia não ter estado deprimido, foi uma parte muito desagradável da minha
aprendizagem [risos]
Não nos deprimirmos também pode ser grave...
Tem toda a razão. Eu entrei
na análise deprimido e a rebolar em auto-piedade,
achei que o mundo tinha
sido mau para mim e, três
meses depois, estava ainda
mais deprimido, pensava
“ando teso, só como em tascos, porque não tenho dinheiro para mais, e, com a
análise, o que descobri, até
agora, é que a culpa é minha”.
Com muita frequência,
numa primeira fase de uma
psicoterapia ou psicanálise,
há um momento em que a
pessoa se vê ao espelho e se
confronta com os seus próprios erros, o que não é fácil. Porém, é inevitável
para assumirmos as rédeas
da própria vida.
Esse “clarão” pode ser assustador…
Pode, e, de facto, há pessoas
que quando chegam a essa
encruzilhada, vão-se embora, inconscientemente preferem desistir, porque a
doença traz algumas vantagens. Às vezes, melhorar
significa perder muitos privilégios, deixamos de ter álibis para não mudar. Não é
por acaso que alguns jo-
a
© Albino Encarnação
SÁB 6 AGO 2016 | açúcar | 9
vens, quando decidem ir estudar ou trabalhar para o
estrangeiro, começam a passar mal, com sintomas de
agorafobia, morte iminente,
etc. Muitas vezes, estes sintomas são mecanismos para
não partir.
O Júlio Machado Vaz foi
acometido por algo semelhante?
Sim, também me aconteceu a mim. Hoje sei que me
vim embora da Suíça pelas
razões erradas [só me apercebi disso durante a análise…] A verdade é que uma
parte de mim não aguentou a culpabilidade infligida pelas cartas que os
meus pais enviavam a dizer
que estavam cheios de saudades minhas e dos netos.
Sentia que eles estavam a
envelhecer e que eu lhes
estava a roubar a alegria
dos últimos anos.
Apesar de não gostar de La
Chaux-de-Fonds, estava absolutamente encantado com
o que estava a aprender,
mas fui vencido por aquela
culpa.
Devolveu o tempo aos seus
pais, mas ficou deprimido…
Precisamente...
Durante o período em que
esteve deprimido nunca parou de trabalhar?
Não, mas pensei muitas vezes: “hoje é o último dia,
amanhã meto baixa”. Não o
fiz, não podia dar-me a esse
luxo, tinha uma família para
sustentar.
E estava em condições de
dar consultas?
Aconselhei-me com um colega, mas a resposta dele foi
perentória: “você já tem preparação suficiente para fazer essa avaliação”. E eu optei por continuar a trabalhar.
É um psicoterapeuta dinâmico de inspiração psicanalítica, nunca pensou em ser
psicanalista?
Cheguei a pensar nisso, mas
creio que não teria muita
paciência para estar atrás
do divã, para aqueles longos
silêncios. Uma psicanálise é
um processo quase intemporal, se não quisermos arriscar uma interpretação
naquele dia, deixamos para
o mês seguinte, sem quaisquer problemas.
A psicoterapia tem, a meu
ver, mais adrenalina, até
pelo face a face.
E o “laboratório” não o seduz?
Não, nunca fui um investigador e, a esse respeito, não
me envergonho de dizer-lhe
que fiz uma tese de doutoramento muito má, sobre o
ensino da sexologia.
No início, pensei que ia escrever algo impressionista
sobre os cursos que estava a
dar, mas dissuadiram-me
disso, com o argumento de
que, nesses moldes, a tese
não teria substância em termos de investigação, etc.
Então, dei por mim a passar
por inquéritos sobre sexualidade e outras coisas do género. Não me deu gozo nenhum.
É um homem de relação.
Sou. Gosto muito de fazer
clínica, mas não vou negar
que, depois de tantos anos,
estou um pouco cansado,
vejo menos gente... Já tenho
dificuldade em ouvir muitas
horas seguidas.
O que eu gosto mesmo é de
me meter nos livros.
Sempre gostou.
Sim, sempre gostei.
Voltemos à sexualidade. Viveremos nós numa sociedade em que o sexo está tremendamente banalizado,
mas em que esquecemos a
intimidade?
Há sexo por todo o lado,
mas vivemos numa sociedade muito pouco erótica. O
erotismo exige tempo, exige
imaginário.
Atualmente, o que acontece
é que somos invadidos por
um sexo de “talho”, e isso
nada tem a ver com erotismo. Há a ideia de que da
quantidade surgirá a qualidade, o que é um engano.
passar uma noite inteira a
falar com alguém e, no dia
seguinte, acordarmos assustados, sem sabermos o que
fazer com aquela conversa,
com aquela intimidade que
se gerou.
Mas, no ritmo frenético em
que vivemos, haverá ainda
espaço para o erotismo?
Há, de facto, muito pouco
espaço para o erotismo, vivemos tempos muito castradores para a vida erótica.
E a generalidade das pessoas está ou não satisfeita
com a sua vida erótica?
Ouço gente de vinte e tal e
trinta anos muito desiludida
com a sua vida erótica. Cultivar uma relação erótica,
além de levar muito tempo,
exige uma intimidade que
não se constrói de um momento para o outro. As pessoas confundem intimidade
com estarem nuas.
E para o amor, também?
Também. É um salve-se
quem puder. Dou-lhe um
exemplo, houve uma pessoa
que, um dia, me disse: “Dr.,
ontem à noite apanhei-o a
dormir e disse-lhe – amo-te
muito”. Ora, este comportamento revela o medo que temos da entrega ao outro,
dos riscos que isso implica.
É um pouco triste, até porque alguém que é amado
merece ouvi-lo.
Eu prefiro viver com umas
nódoas negras a ter uma
vida assética, longe das pessoas.
E entre duas pessoas nuas
numa cama pode não existir
qualquer intimidade. É isto
que quer dizer?
Exato. O ato sexual pode ser
meramente mecânico, desprovido de intimidade, em
contrapartida, podemos
Pegando no nome do seu
programa na Antena 1, arrisco pedir-lhe uma definição
“O Amor É...”
Oh… [risos] Acho que é… A
intimidade, o dia-a-dia. É
muito raro encontrar pessoas que, como eu, não privi-
legiam a paixão sobre o
amor. Numa sociedade destas, de adrenalina, a paixão
“é que é”, vejo pessoas que
saltam de paixão em paixão,
que não suportam nada
abaixo desta. Mas, na paixão,
nós não gostamos verdadeiramente do outro, gostamos
da imagem que temos dele e
vice-versa. Quando isto se sedimenta no amor é um autêntico milagre.
O amor é complicado, é
você reconhecer no outro
todos os defeitos e mais alguns e, ainda assim, não se
conseguir imaginar com
mais ninguém.
Vergílio Ferreira, que não
era propriamente um otimista, dizia sobre o amor:
“não há definições, mas se
me pedem uma, o amor é
uma longa paciência”.
É uma definição que pode
desmotivar muita gente.
Estamos cada vez mais impacientes [estarei a ser pessimista?]
Tem razão. Para a maioria
das pessoas é muito angustiante pensar dessa forma,
porque há a nostalgia do
“pronto-a-vestir”. Ouvir dizer que uma relação dá
muito trabalho, escandaliza.
A tendência é pensar que
quando se ama sai tudo certo, e não é nada assim.
O amor pode sobreviver à
ausência de paixão?
É uma boa pergunta…. Há
casais que não passam pela
fase da paixão, entram diretamente na tranquilidade
do amor e são felicíssimos,
mas há muito preconceito
relativamente a este tipo de
relação. No entanto, não
vejo grandes diferenças entre um relacionamento que
não passa pela paixão inicial e um outro que passa.
É arrogante afirmar que um
deles é que é o “bom”. Isto
faz-me lembrar uma cena de
um filme do Woody Allen
em que uma personagem feminina tem a seguinte deixa:
“o meu psicanalista diz que
os meus orgasmos são do
tipo errado”, e ele responde:
“eu até dos do tipo errado
gosto muito” [risos]. a
a
10 | açúcar | SÁB 6 AGO 2016
horas vagas
Sandra Sousa
http://estrelasnocolo.wordpress.com
U
[livro, filme, música]
livro
Uma Noite para se Render
toma um rumo completamente diferente. Como seria de esperar, Susanna e
o jovem Conde Victor acabam sentindo uma intensa química e o envolvimento entre ambos tornase inevitável. Arriscam
tudo para estar juntos…
Mas será que Victor conse-
Tessa Dare
guirá soltar as amarras da
guerra e ficar junto a Susanna fazendo-a feliz?
Este é um livro muito engraçado, romântico, divertido e com muitas personagens alucinantes. É um
livro de leitura fácil e leve
para os dias de verão. a
ma noite para se
render, de Tessa
Dare, é um romance de época
muito divertido. Nesta história conhecemos a jovem
Susanna Finch, que vive
numa redoma ajudando na
sua pequena localidade jovens que, por alguma ra-
zão, não conseguiram arranjar um bom casamento.
Quando aparecem vários
cavalheiros e um deles se
torna conde através das
influências do próprio pai
de Susanna, ela mal pode
acreditar no que lhe está a
acontecer. A sua vida,
numa questão de horas,
Virgílio Jesus
[email protected]
televisão & cinema
ste não é um filme
sobre a vida completa de Steve
Jobs, que percorre
a sua infância até aos seus
últimos dias. A nova biografia do génio da tecnologia moderna – após o fracassado Jobs (2013), com
Ashton Kutcher no principal papel – é baseada no livro de Walter Isaacson e
centraliza-se na envolven-
te e contagiante história
dos bastidores dos auditórios onde foram lançados
três produtos que mudariam para sempre a sua
carreira – o Macintosh, o
NeXT e o iMac. A revolução tecnológica que o filme perpassa é evidente
nos três segmentos, filmados com diferentes formatos – em 1984 é utilizada a
película de 16 mm, em
1988 a película de 35 mm
e em 1998 o formato digital -, algo que transmite a
também bem sucedida
evolução do cinema, desde a película ao formato
recente. Com interpretações fidedignas à humanidade das suas figuras
reais, Steve Jobs prima
ainda pela banda-sonora,
que alia os ruídos do teclado do computador,
com magníficos ritmos de
ópera. a
O filme, para além de um
conceito de espectáculo,
apelativo aos fãs do cinema de Hollywood (aliás, é
esse o retrato das perseguições de automóveis em
Las Vegas), convoca os
problemas de vigilância
muito próximos dos “esquemas” de Edward
Snowden. Para proteger
secretos e umas certas
convenções estão o co-
mum vilão, diretor da CIA
(Lee Jones), e uma jovem
ambiciosa (a talentosa Vikander), sendo exatamente esta última a mais rica
personagem, pelo tom
pragmático. No final, abre
espaço a uma reviravolta,
a pensar na futura sexta
parte. Espera-se apenas
que a repetição constante
de elementos não torne o
enredo cansativo. . a
E
E
m Jason Bourne
somos apresentados a uma personagem muito familiar. Bourne (ou David
Webb) continua a sua jornada de descoberta pela
verdade, desta vez com a
figura do seu pai a ser trazida ao de cima, no sentido de explicar a o porquê
de ser um agente letal do
governo norte-americano.
Steve
Jobs
TV Cine 1
domingo, 7 de agosto — 21h30
Realizado por: Danny Boyle
Elenco: Michael Fassbender, Kate Winslet, Seth
Rogen e Jeff Daniels
Género: Drama, Biografia
Jason
Bourne
(nos cinemas)
Realizado por: Paul Greengrass
Elenco: Matt Damon, Alicia Vikander, Tommy Lee
Jones e Vincent Cassel
Género: Ação, Aventura
música
Por E.F.
D
a Austrália chega-nos The Avalanches, não deixa de ser curioso
que num país em que não
neva, alguém se lembre de
batizar um banda com o
nome “Avalanches”, mas
também The Avalanches
não deixa de ser, em si,
um caso curioso. O conjunto australiano formou-
The Avalanches – Wildflower, o regresso, após 16 anos de ausência
se no final do último milénio e conta no seu currículo com dois álbuns...
Sim! DOIS! Since I Left
You, de 2000, e deste ano,
Wildflower. É, no mínimo,
estranho, tendo em conta
a aclamação universal que
o primeiro teve.
Agora o que podemos esperar dos The Avalanches? Não são um banda
convencional, como já podemos verificar, a mistura
de hip-hop, eletrónica,
com toques de neo-psicadelismos anda por aí, mas
a maneira como tudo é
misturado através do sistema complexo de samples faz com que pareça
que estamos a ouvir algo
novo, inédito, coloca-nos
no meio da história da his-
tória em movimento. Em
Wildflower, recomeçamos
onde ficou o Since I Left
You e damos graças a
Deus por, apesar de demora, The Avalanches continuarem a soar como The
Avalanches.
Em Frankie Sinatra, a música, as samples interlaçadas entre swing, música
caribenha e o rap de Dan-
ny Brown e MF Doom
mostram The Avalanches
no seu esplendor. Se preferir algo mais dançável, ao
estilo de Daft Punk, Justice, com tiques de French
House, é só saltar para os
Subways.
Wildflower é um mundo
por explorar, assim como
um mundo onde neve, na
Austrália. a
a
SÁB 6 AGO 2016 | açúcar | 11
na moda
Vamos
à praia!
Laura Capontes
lauracapontes@[email protected]
ntê; kaftan:
look1: biquíni: Ca
ercatas:
alp
;
theoutnet.com
accessorize
spartoo.pt; cesta:
titid;
look2: triquíni: La
ercatas:
alp
o;
ng
ma
shorts:
spartoo.pt
foto © Laura Capontes
o
Verão é sinónimo de praia,
e para as idas à praia o biquini torna-se imprescindível. Apesar de ficarmos
com o corpo praticamente
exposto é sempre possível
mostrar o que gostamos e
disfarçar as áreas indesejadas. Ninguém é perfeito, e
na hora de escolher um biquini aparecem quase
sempre algumas dúvidas e
inseguranças, mas não há
razão para desanimar porque a verdade é que existe,
sim, um biquini para todos
os tipos de corpo.
Somos únicas, cada uma
com um corpo distinto, e
escolher um biquini, triquini ou fato de banho
para cada tipo de corpo é
possível, tendo noção da
nossa silhueta e estrutura,
sentindo-mo-nos bem e
passando uma imagem
confiante. Se não estivermos confiantes, mesmo o
biquini ideal não brilhará.
Para que tenhamos biqui-
titid;
look3: biquíni: La
om;
shorts: theoutnet.c
;
clutch: bluefly.com
as
ian
hava
s beachlook6: biquíni: Ro
o; clutch:
wear; saia: mang
m;
bloomingdales.co
s
ssa
Mu
s:
lia
dá
san
nis que evidenciem as nossas formas, mostrem os
nossos pontos fortes e, claro, escondam alguns "defeitos", existem alguns truques que devemos ter em
atenção na hora de comprálo.
Se a sua preocupação é esconder a barriga, uma ótima opção serão os biquinis
de cintura subida ou um
triquíni, que é uma grande
titid; havalook4: biquíni: La
-porter.com
ianas; cesta: net-a
s beachlook7: biquíni: Ro
bop.com;
op
sh
ta:
ces
;
ar
we
s
sandálias: Mussa
tendência. Se tem os seios
pequenos, o ideal é apostar
em modelos com cortina e
alças finas, com volume,
franjas ou outras aplicações, estampados grandes e
coloridos, pelo contrário, se
queremos disfarçar uns
seios maiores, as cores escuras e os estampados pequenos serão a opção, evite
usar cai-cai e invista em
partes de cima mais estru-
ntê; havaianas;
look5: biquíni: Ca
r.com
rte
-po
t-a
kaftan: ne
ntê; kaftan:
look8: triquíni: Ca
spartoo.pt;
s:
ata
erc
alp
M;
H&
om
r.c
rte
-po
t-a
cesta: ne
turadas. Para mostrar as
curvas, os triquinis são os
eleitos. No caso de querer
disfarçar as ancas largas ponha de lado biquinis cujas
partes de baixo tenham laços, argolas, nós, pois estes
ainda as realçam mais. Para
as mulheres mais gordinhas, se não se sentirem à
vontade de biquini, optem
por um triquini ou fato de
banho com cores mais es-
curas, padrões lisos e pequenos, riscas verticais e esqueça padrões muito geométricos, laços ou elásticos
apertados e cores néon.
Desfrute destes dias de sol,
calor e muita praia, sempre
com estilo e no seu melhor .
A escolha do biquini certo
fará toda a diferença, valorize sempre o que tem de melhor!
Inspire-se nos looks. a
a
12 | açúcar | SÁB 6 AGO 2016
feliz com menos
A arte da
longevidade
Débora G. Pereira
www.simplesmentenatural.com
E
sta semana, sem esperar, revi alguém
que já não via há
cinco anos, o meu
amigo Vittorio. O Vittorio
Calogero é alguém que já
viajou o mundo, alguém
que mudou completamente de vida aos 43 anos deixando de exercer advocacia
para passar a ser professor
de yoga e é sobretudo alguém com uma grande
sede de aprender e com
quem facilmente nos imiscuímos numa boa conversa. Quando o conheci em
Itália, na região da Toscânia, cativou-me pela sua
simpatia, pela sua história
de vida e pela energia de
“rapazinho” que emanava
aos seus 77 anos. Cinco
anos se passaram e tudo
continua igual, a mesma vitalidade, a mesma simpatia
e a mesma capacidade de
flexibilidade e de força que
nos fazem ver que vale
muito a pena envelhecer
com saúde.
Há cerca de 39 anos, o Vittorio, tal como muitas pessoas na atualidade, deixou
de se identificar com o seu
modo de vida. Sentia-se
cansado e doente, tinha
asma e várias alergias. Nesta altura, estudou macrobiótica e decidiu experimentar este novo estilo de
vida por alguns meses com
o intuito de compreender
se de facto esta alteração
alimentar faria sentido na
sua vida. Sentiu-se rapidamente muito melhor, eliminando por completo qual-
quer sintoma dessa asma,
dessas alergias e desse malestar geral em dois meses.
Algum tempo mais tarde,
pediu demissão no local
onde trabalhava e conta,
com um sorriso nos lábios,
que praticamente todos o
julgaram louco, já que se
encontrava no auge da sua
carreira. A partir daí embarcou em várias aventuras
que o levaram a ficar por
meses a estudar em países
como o Japão, a Índia e o
Brasil.
Cá em casa tivemos a oportunidade de usufruir de
uma aula sua e posso afirmar com certeza que as
suas aulas de yoga são muito agradáveis e dinâmicas,
refletindo a sua prática pelos quatro cantos do mundo. São aulas um pouco diferentes daquelas que estamos habituados no yoga ocidental em que esteve bas-
tante presente o
movimento e a boa
disposição. O corpo
aquece muito facilmente e
sem forçar, senti que rapidamente ia mais longe. Posso dizer que adorei e que alterei por completo a minha
forma de praticar yoga. Algumas posturas foram executadas a pares, o que além
de divertido, facilitou a execução dos exercícios por
ambas as partes envolvidas.
Contou-me que mora numa
casa muito modesta, numa
pequena aldeia. Disse-me
que escolheu ficar lá, pois o
valor reduzido da renda permite-lhe luxos que a maioria de nós não consegue ter,
como viajar bastante ou fazer apenas o que lhe apetece durante o dia. Onde quer
que vá, acorda sempre cedo,
pelas 5 da manha, pratica
exercícios de yoga e meditação e depois toma o peque-
no almoço. A seguir, lê
muito, estuda e fá-lo simplesmente porque gosta.
Para ele a arte da longevidade, título de um dos seus
livros, parece ser simples,
não fosse essa mesmo a
arte da simplicidade, de ser
feliz com menos. Uma alimentação simples maioritariamente vegetariana, a
prática da compaixão por
todos os seres, os hábitos
de vida simples e a prática
de exercícios de movimento conscientes que se focam na força, na flexibilidade e no movimento articular parecem ser o segredo
deste jovem de 82 anos.
Uma semana completa e feliz! a
saúde
Medicamentos e condução
Bruno Olim
Farmacêutico
[email protected]
A
condução é uma
tarefa muito
complexa, que
acarreta exigências elevadas no plano físico e psicológico.
Existem medicamentos
que apresentam o potencial de reduzir as capacidades fundamentais
para a prática de uma
condução em segurança.
É reconhecido que algumas das vicissitudes dos
medicamentos, como sejam o aumento do tempo
de reação, alteração da
coordenação motora, raciocínio, sonolência, diminuição da atenção e
concentração, alteração
dos reflexos, perturbações no campo da acuidade visual, podem tornarse determinantes para a
ocorrência de um acidente.
A análise do potencial do
medicamento poder causar as alterações acima
descritas, tem de ser analisada caso a caso, sendo
reconhecido (muito fre-
quentemente nos antihistamínicos) que nem
todos nós experimentamos os mesmos efeitos
quando tomamos um
medicamento, logo é importante reconhecer alguns sinais de alerta,
para a não condução,
quando tomamos um
medicamento, como: sonolência, cansaço, confusão mental, vertigens,
tonturas, perturbações da
perceção, especialmente
da visão, náuseas ou malestar, tremores, alterações da coordenação motora, movimentos involuntários, dificuldade em
pensar claramente ou em
se concentrar, irritação
ou agressividade excesso
de confiança, perda da
noção de perigo, irregularidades na condução
Existem, no entanto, medicamentos para os quais
já estamos prevenidos,
por o potencial ser superior: os que atuam a nível
do sistema nervoso central, psicotrópicos, antipsicóticos, ansiolíticos,
hipnóticos, sedativos ou
antidepressivos, medicamentos para epilepsia,
problemas cardíacos e de
tensão arterial, diuréticos, medicamentos para
dores, gripes, alergias anti-histamínicos, diabetes, tosse, medicamentos
usados em oftalmologia,
colírios e pomadas etc.
A incidência da interação
entre medicamento e
condução assume contornos de maior relevância
para os idosos e para
quem trabalha por turnos. No caso de patologias crónicas, como a diabetes, é necessário que o
doente esteja controlado
com a medicação, por
forma a permitir a condução.
Antes da toma de qualquer medicamento solicitar a informação ao médico ou farmacêutico sobre a capacidade de este
afectar a condução (o folheto informativo contém
esta informação). a
a
SÁB 6 AGO 2016 | açúcar | 13
feliz com mais
O fantástico e admirável novo mundo do Sushi…
Esperem!! Há vida no Japão para lá sushi!
SideDish Moustache
[email protected]
S
Sushi, primeiro
pensamento, “peixe cru, doenças,
horrível”; segundo, “meh, não é mau,
mas isto cru não tem
muita piada”; terceiro,
“isto até é fresco e não é
nada mau”; quarto, “ok,
quando é que voltamos a
repetir?”. São estas as fases por que uma pessoa
passa enquanto se apaixona e fica fascinada
pela cozinha vinda do
oriente, mas sushi não é
o peixe cru, esse é o sashimi, o sushi, em si, é o
arroz que depois é combinado com peixe, legumes ou frutas.
Confesso que eu fui um
dos casos descritos acima, sim, na primeira
vez, odiei. Achei a textura do peixe horrível, o
arroz demasiado avinagrado e as algas igualmente horríveis, só pelo
aspeto. Foi a muito custo que me fui adaptando
às maravilhas do oriente, entrando nesse mundo com calma e muitas
caretas. Claro que, como
acontece com qualquer
homem, tal deveu-se a
um rabo de saia, ao de
sempre, caro leitor, não
sou nenhum D. Juan ou
um Zé vai com todas.
Lembro-me das primeiras resistências a serem
ultrapassadas por uns
rolinhos de salmão, seguidos de uns nigiri,
passando por uramaki e
acabando nos temakis,
algo que sempre me assustou, e continua a assustar, como é que como
aquilo sem me sujar
todo?!??!!
À medida que paredes
iam sendo derrubadas, o
meu gosto e curiosidade
pela gastronomia do país
do sol nascente foi crescendo. Fiquei a saber que
os japoneses não comem
sushi durante o tempo
todo, o peixe pode e deve
ser congelado, e que o
mais importante, como é
óbvio, é o arroz.
Na continuação dessas
descobertas, tentei replicar o peixe cru, sim, caro
leitor, o sashimi. A verdade é que a dificuldade no
corte lixa a maior parte
dos planos, uns ficam
mais finos, outros tortos,
mas no final vai tudo lá
para dentro.
Temos também a sopa de
miso, que começa a ser
introduzida na cultura
ocidental como entrada
ao prato principal, o sushi/sashimi, nos restaurantes que designamos
como restaurantes de
sushi, omitindo a parte
de sashimi, miso, mas
também não será correto
chamá-los restaurantes
japoneses, pois estaríamos a condicionar, ou
pior, a limitar a gastronomia japonesa aos sushis
e sashimis, o que deveria
dar lugar a uma ida a
Haia, pois nós, como portugueses, nunca nos podemos esquecer das tem-
Fiquei a saber
que os japoneses
não comem
sushi durante
o tempo todo,
o peixe pode
e deve ser
congelado,
e que o mais importante, como é
óbvio, é o arroz.
puras, peixinhos da horta dizem-lhe alguma coisa?! Sim, a influência é
portuguesa.
Mas, claro está, que não
só de sushi, sashimi, sopas de miso e tempuras
vivem os japoneses. Há
carne!!! Temos yakiniku,
que é o mesmo que carne grelhada, para além
dos famosos bifes Kobe,
que vem da região de
Kobe e chega a atingir
preços exorbitantes, à semelhança da nossa posta
mirandesa.
A próxima febre? pergunta o caro leitor. Essa,
será ramen, um género
de caldo ao qual, no início, iremos torcer o nariz, mas no final, ficaremos mais agarrados a
este que um drogado. a
a
14 | açúcar | SÁB 6 AGO 2016
mais açúcar
Tarte de limão e basílico
ingredientes
ingredientes
Creme de limão e basílico:
20g de basílico
3 ovos
180g de sumo de limão
170g de açúcar
200g de manteiga
modo de preparação
Joana Gonçalves
Chef Pasteleira - Eleven, Lisboa
[email protected]
modo de preparação
Sablée:
Levar ao lume a raspa e sumo
de limão, basílico, ovos e açúcar, mexendo sempre até que o
creme comece a ficar espesso.
Retirar do lume e passar por
um coador. Adicionar a manteiga partida em pedaços e emulsionar com a varinha mágica.
Conservar no frigorífico por 3
horas. a
Amassar todos os ingredientes com a ponta dos
210g de farinha
dedos. Formar uma bola,
25g de amêndoa
envolver em película e reem pó
frigerar por 2 horas. Esten125g de manteiga
der a massa com cerca de
85g de açúcar em pó 2mm de espessura. Forrar
1 vagem de baunilha uma tarteira, colocar papel
2 g de sal vegetal e cobrir com fei1 ovo jões. Levar a forno préaquecido a 180º durante
cerca de 25 minutos. Depois de a massa estar
completamente arrefecida,
Colocar o creme com a ajuda de uma espátula. a
Trifle de morangos e manjericão
ingredientes
modo de preparação
Brownie:
170g de chocolate
80g de manteiga
30g de farinha
2 ovos
40g de açúcar
Para o brownie, derreter
o chocolate em banhomaria com a manteiga.
Depois de derretido, retirar do lume e juntar os
ovos batidos com açúcar.
Envolver a farinha. Colocar numa forma untada e
levar a forno pré-aquecido a 160º durante cerca
de 25 minutos.
Para o creme de mascarpone, bater as gemas com
o açúcar. Adicionar o
Creme de mascarpone :
2 gemas de ovo
40g de açúcar
200g de mascarpone
400g de morangos
50g de açúcar
Manjericão fresco
mascarpone e bater.
Levar os morangos ao
lume com o açúcar e
manjericão até ficarem
macios.
Em copos, colocar um
pedaço de brownie. Cobrir com creme de mascarpone e com os morangos. Finalizar com folhas
de manjericão. a
A pipa, no Porto da Cruz Por Susana de Figueiredo
A
primeira vez que
fui ao restaurante
A Pipa era ainda
turista na Madeira, e era também a primeira vez que pisava basalto no
Porto da Cruz. Não me recordo se estávamos no Verão ou no Inverno, mas
lembro-me que chovia nesse dia em que, como se diz
no sotaque da minha filha,
fomos “lá dentro”. Havia
uma única mesa disponível,
por sorte junto à janela.
Recebeu-nos o dono, o Sr.
José Vieira, nativo do Porto
da Cruz. Cumprimentounos com um sorriso franco,
daqueles que não precisam
de rasgar a cara para se encherem de calor. O do Sr.
Vieira não é escancarado,
mas é dos de verdade. Começávamos bem, entendo
que é por aqui que deve começar uma refeição, das
que valem.
Passei os olhos pela ementa, a escolha foi fácil, quem
me conhece sabe que não
resisto a umas lulas grelhadas, sobretudo quando o
mar está por perto. Afinal,
talvez fosse Verão… Pensando bem, lulas são o meu
prato de Verão, desde miúda já as experimentei em
quase todos os destinos de
praia do país, nem sempre
com agrado, mas, garantovos, não há como as lulas
d'A Pipa. Claro que isto era
só o (bom) começo. A entrada da turista na terra, na
gente dali.
Enquanto degustava o meu
prato, ia gostando de tudo
em torno. Dos clientes que
percebi serem de sempre,
da amizade deitada à mesa,
dos estrangeiros sempre estivais, de chinelos e olhos
infantis à volta do fumo das
lapas. Agora me lembro…
Foi n'A Pipa que aprendi a
gostar de lapas, depois de
várias tentativas inglórias;
ah, aquelas sim! Nessa altura já me tinha deixado do
turismo, já era mulher daqui. Continuo a ir “lá dentro”, ao peixe fresco, ao polvo guisado, à fragateira no
tacho. É de nos perdermos… Por (de)mais.
Hei-de lembrar-me sempre
do conselho do Sr. Vieira,
ao ver-me petiscar do prato
da minha filha: “Cuidado, é
assim que as mães ficam
gordas”. E sorriu.
P.S.: A maravilhosa poncha
faz jus a tudo o resto.a. a
a
SÁB 6 AGO 2016 | açúcar | 15
boca doce
Filipe Gonçalves
Jornalista
14
5
1
Três características da sua
personalidade que melhor
o definem?
Sou bem-disposto, extremamente perfecionista e teimoso (q.b)
2
A crítica mais construtiva
que já lhe fizeram? E a mais
injusta ou absurda?
Hoje em dia quase que é
tabu ser crítico. Gosto que
me critiquem. Há dias alguém dizia: ser demasiado
simpático, pode soar a
falso. Entendi a mensagem
e gostei.
3
A decisão mais importante
que teve de tomar?
Já tive de omitir as minhas
habilitações literárias para
conseguir um emprego.
4
A sua dúvida mais
persistente?
Serei capaz de contribuir,
dia após dia, para um
mundo melhor? Tento.
Que expressões
madeirenses usa com mais
frequência?
Uso muitos regionalismos:
Arrebendita (de propósito);
canjirão (caneca grande);
subir /descer as passadas
(degraus); estimar
(apreciar)
Um arrependimento?
Arrependo-me apenas de
coisas que não fiz e queria
fazer.
6
Um ato de coragem?
Amar sem preconceito
deu-me coragem para não
ter medo de ser livre e ser
feliz.
15
7
Uma atitude imperdoável?
Uma? Enumero várias
segundo a gravidade:
Homofobia. Preconceito.
Injustiça. Traição.
8
A companhia ideal para
uma conversa metafísica?
Ninguém. Gosto de imaginar que nem tudo precisa
de uma explicação. Dá-me
gozo pensar que nem sempre há explicação que nos
faça entender a essência
das coisas.
9
Qual é a sua maior
extravagância?
Viagens… (só de pensar, já
me sinto a viajar)
12
10
Quem são os seus heróis
na vida real?
Bombeiros, médicos
e voluntários. A minha
homenagem.
11
Uma doce memória
da infância?
Os doces à venda nas barracas dos arraiais, que,
quando se comiam, colavam-se aos dentes.
O que distingue um
madeirense de um
continental (além do
sotaque)?
A garra, a bravura,
o desenrascanço.
13
Que opinião tem dos
madeirenses que escondem
o sotaque?
Madeirense que é
madeirense, por mais que
tente, não consegue esconder o sotaque. Há sempre
um ‘lhe’ pelo meio a tramar. E isso nota-se
a ‘quilhómetros’
A quem gostaria de pagar
uma poncha?
Ao Cristiano Ronaldo. Pelo
exemplo transmitido enquanto capitão da seleção
portuguesa. E por mostrar
como ser um líder eficaz.
16
5 Segredos da Ilha…
Local: Cascata entre
a Madalena do Mar e
Ponta do Sol
Hotel: Difícil escolher…
Nem arrisco
Restaurante: Pizzaria
(prefiro não dizer o nome,
mas fica a dica: zona
do Amparo)
Atividade ao ar livre:
Caminhadas à noite
Loja: Não tenho nenhuma
específica. Sou muito
prático.

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