Vitrine Universitária nº 4 - Faculdade de Letras e Ciências Sociais

Transcrição

Vitrine Universitária nº 4 - Faculdade de Letras e Ciências Sociais
VITRINE UNIVERSITÁRIA
A N O 2
/
6º Congresso LusoMoçambicano de
Engenharia em
Maputo, 29 de
Agosto à 2 de
Setembro de 2011
“O homem ama
naturalmente
a
verdade e o bem, e
deles só se aperta
quando as paixões o
arrastam
e
extraviam.”
Anónimo
M A R Ç O / A B R I L
D E
2 0 1 1
EDITORIAL
BREVÍSSIMOS
A Associação de
Estudantes da
Escola Superior de
Tecnologia de
Setúbal do Instituto
Politécnico de
Setúbal
(ESTSetúbal/IPS)
organiza, de 22 a 24
de Março, a 2ª
edição da "Semana
do ESTudante"
_______________
N 1
Caros colegas…
Para os que estavam connosco ano passado, o jornal voltou e
traz muitas e boas novidades. Para os caloiros, primeiro sejam
bem vindos, segundo esperamos que portem-se bem e
esqueçam as regalias da secundária porque aqui se estuda a
sério (terão a prova disso).
Para os que não sabem, a Vitrine é um jornal de parede (como
vêem), com periodicidade mensal. Feito por estudantes para
servir estudantes, dentre vários, um dos objectivos é distrair o
estudante, elucidando-o sobre diversos assuntos culturais e
pegógicos para contribuir no processo de ensino e
aprendizagem.
Para esta edição, trazemos uma entrevista a não perder, vamos
saber um pouco mais da vida e obra do nosso professor,
Nataniel Ngomane e, um leque de conteúdos que acreditamos
ser do vosso agrado sem fugir da nossa linha de focalização.
Para todos que queiram escrever para nós temos as portas
abertas, aliás, escancaradas. Tragam de tudo, tudo mesmo,
desde que sejam conteúdos que condizem com a nossa linha
editorial.
A última coisa que queriamos dizer-vos caros e idolatrados
colegas, é sobre o colectivo estudARTE, este colectivo é
constituído por estudantes-artistas, alguns fazem este jornal, e
que tem como objectivo principal promover e divulgar a arte
feita pelos estudantes para estudantes. Nao importa a
expressão artistica. Se o colega pretende ser membro, tem o
email do jornal para fazê-lo.
Boas aulas!
Participe nas actividades do estudArte
email: [email protected]
Opinião estudantil
PÁGINA 2
As Propinas engordaram
Decidiu-se, quem somos
nós para…, se assim foi o
que se consumou nada
podemos fazer, apenas
lamentar. Porque de certo é
algo que nos preocupa.
Esta é a última notícia do
ano que nos foi dada pela
nossa maior e menor
universidade
maçambicana,
falamos
concretamente da UEM,
que decidiu dar-nos o seu
deradeiro
delúrio
de
propinas super altas, ou
melhor,
da
grande
inflação de propinas que
dantes custava um preço
simbólico e acessível de
105MT, e que qualquer
moçambicano
que
estivesse
na
penúria
conseguia pagar com o
pouco que tivesse no
bolso.
E agora! Estamos todos de
“boca aberta” sem nada
para dizer, contudo, só
temos de seguir a onda;
ainda que seja forte, pois a
regra é pagar para ser
doutor ou se não..., perde o
apanágio de ser doutor.
Eu digo, sinceramente caro
leitor, o aumento das
propinas para o assustador
420MT, naquilo que é a
nossa triste realidade de
pobreza
constitui
um
grande paradoxo, uma vez
que sabemos, no nosso
país,
o
grosso
da
população vive na base de
um pequeno negócio ou
trabalha, porém, mesmo
assim o salário não
compensa.
Portanto, face a esta
situação
de
aumento
exagerado de propinas,
imaginemos o caso de um
pai ou mãe ou um
estudante trabalhador que
recebe o salário mínimo
que,
actualmente
corresponde a 2500MT
OU 2700MT. Contudo,
para aqueles que recebem
1000 adiante de certo
modo estão a sustentar os
seus estudos e dos seus
filhos.
Entretanto,
é
desastroso, posto que o
dinheiro que a pessoa
recebe não é suficiente,
como se não bastasse a
pessoa é obrigada a
acrescentar mais valores.
Quer dizer, as tais propinas
ultrapassam
o
própio
salário mínimo.
Enfim, sem mais delongas,
rogamos a nossa honrosa
UEM para que nos salve
porque
já
estamos
afogados, assim, irremonos livrar da corda ao sair,
todavia com um fim jubílo
ainda com...
Celestino Víctor
Sabias que…
A doença mais antiga do mundo é a lepra, ela agride principalmente os nervos e a
pele, podendo, em estágios mais graves, resultar em deformações. A lepra consome,
resseca, agride e penetra na pele, deforma nervos, músculos e ossos. Os primeiros
registros dessa doença datam de 1350 a.C.. Apesar de ser muito antiga, o tratamento
eficaz da doença só foi descoberto no começo dos anos 80.
Noticiando
PÁGINA 3
3 anos de amizade celebrados com Bossa Nova
Bairro do Aeroporto B, é o
novo endereço da Escola
Nacional de Artes Visuais,
que entrará em funcionamento
em Março de 2011. A
cerimónia de inauguração de
agradeceu a população do
Bairro do aeroporto pela
sensibilidade e apoio a
construção da escola, os
residentes deste Bairro tem
consciência
da
sua
conclusão e entrega da escola
foi realizada no passado dia
11 de Novembro de 2010. O
Projecto da escola Rural de
Amizade Chino-moçambicana
que culminou na construção
da escola, é resultado das
excelentes relações entre
Moçambique e China e do
entendimento entre o
Ministério da Cultura com a
população do aeroporto que
muito apoiou a construção da
escola.
O Ministro da Cultura,
responsabilidade
no
desenvolvimento das artes, e
espero que protejam a
escola
de
possíveis
vandalizações, afirmou
Armando Artur.
Segundo Jorge Dias, docente
da Escola, as actuais
instalações da escola não
suportavam todos os cursos,
daí a necessidade de se fazer
uma escola maior. E como
estamos no fim do ano
lectivo, as aulas, a escola
entrará em funcionamento
em Março de 2011, afirmou
Jorge, e acrescentou que no
acto da transferência, alguns
cursos e a direcção da escola
vão se manter nas actuais
instalações. Portanto, a
transferência será
gradual.
Os estudantes da
Escola de Artes
Visuais, sentemse
muito
contentes, com o
fim das obras.
Júnior,
um
e s tud ant e
da
escola no curso
de
gráfica
afirmou
estar
muito feliz com a
transferência da
escola, pois deste
modo
terão
m e l h o r e s
condições
de
trabalho, o que
influenciará no
s
e
u
aproveitamento pedagógico.
Igualmente, Ester Arnaldo do
curso de artes visuais, disse
que a transferência era há
muito tempo esperada, e está
muito ansiosa por ter aulas na
nova escola.
A escola Nacional de Artes
Visuais passa a contar com
maior número de salas de
aulas, uma biblioteca, uma
sala de reuniões, dois
gabinetes, e num futuro muito
próximo com um campo de
jogos.
PÁGINA 4
Marília Pessane
Alicia Keys abraça luta contra SIDA
Segundo o site da
comunidade Vogue
Portugal, Lady Gaga,
Justin Timberlake e
Kim Kardashian são
algumas das estrelas
que vão acabar com as
suas
contas
no Facebook e Twitte
r, a pedido de Alicia
Keys.
"Digital
Life
Sacrifice" é
a
campanha levada a
c a b o
p e l a
cantora
Alicia
Keys em prol da
instituição
de
caridade Keep
a
Child Alive, da qual
ela é embaixadora.
Dezenas
de
cel ebridades
vão
acabar com as suas
contas em redes
soci ais
no
Di a
Mundial Contra a
Sida e prometem só
voltar a fazer log
in quando se tiver
somado um milhão
de dólares.
O dinheiro será para
ajudar
famílias
afectadas pelo vírus
da SIDA, em África e
n a
Í n d i a .
Os donativos podem
ser feitos de diversas
formas, como uma
simples SMS.
Jennifer
Hudson,
Ryan Seacrest, Elijah
Wood,
Serena
Williams, Janelle
Monae e o marido de
Alicia, Swizz Beatz,
também aderiram à
campanha.Cada
famoso fez um vídeo
de despedida e vai
aparecer num anúncio
dentro de um caixão,
simulando a sua morte
on-line.
Alicia Keys justificou
os moldes poucos
ortodoxos
da
campanha:
“É
importante
chocar as pessoas ao
p o n t o
d e
acordarem.
Esta
abordagem é uma
forma directa e
emocional, e um
pouco sarcástica, de
fazer com que as
pessoas
prestem
finalmente atenção.”
O que é bom recomenda-se…
PÁGINA 5
A crónica da rua vida dos vivos, do
outro lado, sob o
513.2
(Romance)
Algumas
vezes
deserto
inóspito,
outras um mar revolto,
a rua 513.2 oscila de
um extremo ao outro
sem
encontrar
serenidade todavia, se
fosse tirada uma
média a esses dois
estados ela não
passaria de uma rua
normalíssima.
Na rua 513.2, o
inspector Monteiro, o
doutor Pestana e a
Dona Aurora, o
mecânico Marquez, a
prostituta Arminda e
alguns
outros,
emergem do passado
para interferirem na
olhar do Filimone
Tembe, o secretário
do partido, esses
mesmos vivos fazem
o que podem para que
as
suas
vidas
avancem. Vendem
enquanto não há o que
vender, como o louco
Valgy, ou o incansável
Smith, apelam aos
conselhos de retratos
pendurados na parede,
como o empresário
P edrosa,
pescam
peixes forjados, como
Teles Nhantumbo,
lêem cadernos que
escondem história de
outros
tempos
enquanto reparam
automóveis quase
inexistentes, como
Zeca
Ferrazi
combatem no mato,
como o comandante
Santiago,
ou
distribuem
pelos
vizinhos aquilo que
lhes cheiram as mãos,
como
Jossefane
Mbeve que fundo
serve à risca as
directivas
do
presidente Samora
Machel e tenta fazer
do socialismo uma
realidade.
Até que um dia
chegam
novos
fantasmas
para
ocuparem o lugar dos
antigos, e as coisas
começam a mudar.
CO EL HO ,
João
Paulo Borges (2009),
A crónica da rua
513.2, 2ª Edição,
Maputo, Editorial
Ndjira
Por Erasmo Mapilele
Leia mais obras e enriqueça o seu intelecto!
PÁGINA 6
Cronicando
O MAIOR INSTRUMENTO DE MANIPULAÇÃO POLÍTICOSOCIAL DO MUNDO
Abordar
a
manipulação política das
sociedades realizada pelos
diversos actores da cena
política através da imagem
(defino-a, neste contexto,
como a faceta positiva e
ideal dos factos – vídeos,
ideias, etc. – políticosociais promovida por
alguns actores políticos
com fins políticos –
aquisição, manutenção e
uso do poder) requer
alguns esclarecimentos
preliminares. E fazê-lo
tomando em consideração
os conceitos de poder
(sede, forma e ideologias),
constituição formal e
constituição informal,
requer acrescidas cautelas.
Contudo, tudo tem que ver
com a imagem.
Ora, na Ciência
Política o aparelho do
poder é considerado o seu
objeto de estudo central,
embora subsistam acesos
debates relativamente ao
tipo de poder (o supremo,
ou os poderes menores
institucio nais,
comunitários, grupais
territoriais
ou
institucionais) que estuda.
Adicionalmente, no âmbito
da mesma Ciência esse utilizados astutamente para
mesmo poder deve ser a satisfação de fins
a n a l i s a d o políticos.
O poder da
Este artigo é dedicado ao estimulo imagem é tão grande que
da independência de pensamento, tem sido utilizado pelas
a inteligência analítica e crítica
sociedades para o alcance
dos estudantes universitários
de vários objetivos:
moçambicanos
que
f r e q u e n t e m e n t e a g e m - s e , conquista votos, aquisição
consciente ou inconscientemente e manutenção do poder,
influenciados pela conjuntura vendadebens, e mais. Um
sócio-culturalcircundante, como exemplo pouco utilizado,
meras caixas de ressonância de mas que traduz, nalguma
in form aç ões qu e rec eb em medida, a utilização da
passivamente nas universidades, imagem para o alcance de
nos média, livros, etc.
fins políticos é a forma do
poder (ex: a Constituição –
tridimensionalmente (sede causa formal dos estados
do poder, forma do poder e modernos). Muitos estados
ideologias).
africanos, ocidentais,
Portanto, feito o o r i e n t a i s ,
etc.,
devido esclarecimento frequentemente proclamam
importa salientar que o e m
s u a s
artigo se debruça sobre a Constituiçõesformais a
questão da forma do poder d efesa d o s d ireito s
para clarificar um assunto humanos, a recriminação
f r e q u e n t e m e n t e da descriminação racial e
i n c o m p r e e n d i d o p o r étnica, só para citar
muitos
e s t u d a n t e s , exemplos mais simples,
i n v e s t i g a d o r e s , m a s mas praticam o contrário
principalmente pelo povo – (constituição real).
o maior instrumento de Mas perceba-se que muitos
manipulação político social motivos estão por detrás
do mundo: a imagem.Neste desta atitude. Sendo que
processo de manipulação, a
para a maioria dos estados
televisão, os jornais e até
obras científicas são osobjectivosde eliminação
PÁGINA 7
Cronicando
Orlando do Rosário Sebastião
da pobreza absoluta e do
racismo, a promoção do
acesso
igualitário
(independentemente da
etnia ou raça a que a
pessoa pertence) ao poder,
aos direitos humanos, etc.,
seja
praticamente
impossível
por
constrangimentos de vária
ordem, a utilização de uma
imagem
que
não
corresponde à realidade
factual visa vários fins
( b e m
o u
ma l
intencionados): facilitar
relacionamentos
internacionais (ex.: na
actualidade a imagemde
país democrático é mais
viável que a imagem de
um país ditador);
contribuir
para
a
obediência
interna
(legitimidade do poder),
etc. Em vista disso, essa
imagem é manipulada
tomando em consideração
os juízos populares de
legitimidade do poder.
Portanto,
o
sucesso e o insucesso
político estão altamente
dependentes da habilidade
com que os actores
p o l í t ic o s e n v o l v id o s
manipulam a imagem. E
essa imagem não se
restringe ao campo da
dimensão formal do poder,
mas aplica-se igualmente a
manipulação televisiva de
factos e até mesmo de
in fo r maçõ e s escr i tas
(livros, etc.). Por exemplo,
na actual crise Líbia esta
questão da manipulação
televisiva transparece de
a l g u m a f o r ma e s t e
problema. Analisando as
várias notícias que passam
pelos telejornais (da RTP,
Stv, TVM, Tim, etc)
verifica-se
que
o
presidente líbio, Moammar
Kadhafi, tem utilizado a
televisão para mostrar que
tem vencido os combates
contra os paramilitares, e
do mesmo modo estes
últimos também têm usado
a televisão para afirmar o
contrário. Diante deste
complexo jogo político de
manipulação,não importa
por agora perceber quem
realmente diz a verdade,
importa somente registar
alguns
aspectos
importantes:utilizando-se
da televisãoKadhafi
c o n s e g u i u mo b i l i z a r
celebrações populares nas
ruas de Tripoli de vitória
da guerra contra os
paramilitares. Para alguns
analistas internacionais a
referida vitória é duvidosa,
mas foi celebrada.
Outro grande problema da
imagem tem haver com os
livros, por exemplo. O
facto de a sociedade
moçambicana, e outras
mais
sociedades
assumirem os livros como
somente
possuindo
i n f o r m a ç õ e s
inquestionáveis tem
implicações na produção
de professores e alunos que
somente repetem tudo o
que leem e aprendem, mas
o mais grave não é isso
(pois, de alguma forma, a
repetição de informação é
fundamental no ensino). O
pior é que este efeito caixa
de ressonância acaba
produzindo pensadores
fracos e por vezes
incapazes de acçãoanalítica
crítica, criativa e
i n d e p e n d e n t e .
Adicionalmente, esta
possibilidade mostra uma
brecha para a manipulação
política.
Página 8
Encontro com Nataniel Ngomane
1. Quem é Nataniel Ngomane?
- Nataniel Ngomane sou eu. Tal
é o nome que cresci sabendo que
me fora atribuído por um tio-avô,
que sonhara com o meu avô
materno, então já falecido,
Nataniel, dizendo-lhe que me
deveria atribuir o seu próprio
nome. O meu tio-avô narrou o
sonho ao meu avô paterno, que o
aconselhou a falar com a minha
mãe, entretanto nos últimos dias
de gestação, no sentido de se
cumprir o desejo manifestado
naqu ele s onh o. E a ssi m
aconteceu. Tenho sido tratado por
esse nome, Nataniel, antes
mesmo de vir ao mundo, ao qual
se juntou o nome de família,
Ngom a n e. Nat an i el
Ngomane sou eu.
2. De onde e quando
começa essa paixão pela
literatura?
- É uma paixão imensa,
que deve ter começado
quando a minha avó
materna se divertia
imenso comigo, contando
-me as estórias do coelho
e outros animais. Lembro
-me
que
seguia
atentamente
essas
narrações, tanto que, mais
tarde, no período das
férias escolares, ansiava
por esses momentos. Quando
voltasse às aulas, divertia-me com
os meus primos e irmãos,
reproduzindo e ampliando
aquelas estórias. Não raras vezes,
inventava as minhas, quando se
me acabava o repertório d' avó
(risos). Talvez porque já
despontasse essa paixão, na
escola primária devorava as
fábulas de La Fontaine, juntando
às minhas já conhecidas estórias
do coelho, àquelas outras do
macaco, do lagarto, do sapo, do
burro, etc. Com colegas, cedo
descobri o carro do Conselho
Municipal - uma biblioteca
itinerante - que emprestava livros.
Semanalmente, e infalivelmente,
requisitava e lia livros diversos.
Desde banda desenhada, Os
cinco, Os sete, Asterix, TimTim... por aí fora. Depois
descobri aquilo que hoje é a
Biblioteca Nacional de
Moçambique, na baixa da cidade,
que passei a frequentar com muita
assiduidade. E descobri, junto
com a minha malta, as livrarias,
onde, rgularmente, surupiávamos
livros infanto-juvenis, já que os
nossos pais não tinham dinheiro
para os comprarmos. Com os
meus primos, devorei quase todas
as colecções do far-west! Já no
Ensino Secundário, ou no liceu não me lembro bem... -, mas em
torno dos anos 74, 75, 76...
descobri Nós matamos o cão
tinhoso, que virou uma grande
paixão. Depois Craveirinha,
particularmente o de Cela 1.
Nessa altura até ensaiei a escrita
de poemas. Bom, foi por aí, até
chegar a Cuba, em 77, onde creio
que amadureceu a minha relação
com a Literatura: Nicolás Guillén,
Alejo Carpentier, Cabrera Infante,
César Vellejo, Honoré de Balzac,
Victor Hugo, Shakespeare, Alex
La Guma... e por aí fora.
3. O que seria se não fosse
professor de literatura?
- Costumo dizer que se não fosse
professor de literatura seria um
músico. Um bom músico! Ou um
pintor, ou um cineasta.
4. O que fazia ou fez antes de se
tornar docente?
- Muita coisa ! (risos).
Obviamente, fui aluno! (risos).
Mas,
essencial
e
fundamentalmente, fui militar
durante dezasseis (16) anos.
Formei-me numa
Escola
Militar
cubana,
como
cadete, de onde
saí como Oficial
Subalterno.
Participei
na
guerra de 78,
operando
em
Tete,
Manica,
S o f a la
e
Inhambane. Foi
uma
grande
escola! Também
fui
jornalista,
durante cerca de
dez anos - alguns
dos
quais
sobrepostos ao meu tempo
militar. Colaborei com a revista
Tempo, com a Rádio
Moçambique - na qual cheguei a
produzir e apresentar alguns
programas. Depois decidi voltar
aos bancos da escola. O recomeço
foi na Manyanga, décima e
décima primeira. Logo a seguir
submeti-me ao exame de
admissão da UEM, aprovando na
primeira chamada.
¨mantenho o astral sempre em cima…¨
Fiz o curso de Linguística no
tempo regulamentar, quatro (4)
anos, tendo sido convidado a
fazer parte dos quadro da UEM
como, docente. Em 2004 terminei
o meu doutoramento em Estudos
Comparados de Literatura, e aqui
estou.
- Balela! É através das letras que
se constroem as ciências. A
captação de todos os conceitos
das chamadas "ciências" - como
se as outras áreas de
conhecimento não fossem
ciências... -, passa pelo crivo das
letras. Passa pelo processamento
mental dos objectos através do
5. Acredito que já parou para maior instrumento de conversão
olhar para a literatura
(poesia e prosa) feita
pela geração actual. O
que acha desta nova
forma de expressão?
- Nunca parei. Não tenho
tempo para parar! (risos).
Mas acho que essa
geração está a cumprir o
seu papel histórico,
dando
os
seus
contributos de acordo
com a sua visão do
mundo e das coisas. Há
muito lixo! Mas também
há coisas boas e,
algumas delas, muito
boas. Também não
podemos ter tudo bom e
muito bom, porque aí
haveria de se romper o
equilíbrio dialéctico.
(risos...)
do conhecimento humano: a
6. Do seu ponto de vista, qual é o língua e suas linguagens. Aparte
actual estágio da literatura em isso, isso é uma discussão estéril,
Moçambique? Está de boa que não leva a porto algum. Mais
importante do que isso, é fazer
saúde? Recomenda-se?
- Está de boa saúde, sim! coisas, inventar, construir. Seja
Recomenda-se a todos!! Leia-se, nas letras, nas humanidades ou
por exemplo, O olho de Hertzog nas exactas - sendo todas elas
(2010), de João Paulo Borges ciências.
Coelho, o maior romance
moçambicano publicado até hoje. 8. E quem é Nataniel Ngomane
Leia-se isso e saber-se-á a quantas fora da academia?
anda a Literatura Moçambicana.
- Um filho, pai, irmão, marido,
tio, amigo, vizinho, conhecido...
7. Nas conversas informais (risos). Um cidadão como
temos ouvido sempre que as qualquer um, com a sua vida
ciências são mais importantes privada, suas amizades e círculos
que as letras. O que tem a dizer diversos. Mas, sobretudo, um tipo
porreiro; um tipo fish! (risos)
sobre isso?
Página 9
9. Acho que já deve ter ouvido
dizer que tem uma aparência de
invejar; qual o segredo para
tanta juventude, aos 50anos?
- (risos) Nunca ouvi isso! (risos)
Gostaria de ouvir isso... (risos)
gostaria!... (risos). Mas se acha
que me mantenho jovem, pesem
os 50, deve ser porque mantenho
o astral sempre em cima. Muita
actividade... freneticamente!
Corro 60 minutos três vezes por
semana, fiz ciclismo - 60 km
três vezes por semana - durante
oito (8) anos. Alimento-me da
forma o mais diversificada
possível, na base de verduras e
legumes... e peixes. Ah, peixes!
Mas sobretudo verduras e
legumes: espinafre, brócolis,
couve, feijão - muito feijão
(risos) - feijão verde, milho,
repolho, acelga, alface,
cenouras... e fruta! Banana todos os dias! Normalmente,
três ao dia (de manhã, a tarde, a
noite) -, laranja, maçã, ananaz...
enfim! Pão, só pão integral. E
massas, muitas massas... (risos).
10. Em jeito de fecho... uma
palavra amiga para todos
aqueles que o admiram a si, às
artes, à cultura.
- Amo-os a todos. Amo e
respeito aos que me admiram.
Não sei o que vêem em mim,
enfim... mas amo-os muito! Amo
as artes, enquanto sínteses de
múltiplas formas de ver o mundo.
Amo a cultura, essa forma
elevada de diálogo entre nós,
pessoas, e o mundo que nos cerca.
Amo-os a todos. (X)
Por Mariamo Salimo
Página 10
Punhado de Palavras
É tão Simples
Deixar o tempo falar
Mandar a saudade calar
Olhar a volta e ver toda gente
a criticar-nos...
Abraça-me forte e faz-me
sorrir
Fica mais fácil ficarmos mais
ágeis
Para enfrentar o mundo.
Quando oiço aquela voz
Que manda te deixar
Eu imagino, o que farei
Sem ti no mundo,
Então abraça-me, torne as
coisas simples,
Esqueça quem não se lembra
da felicidade.
É tão simples quando nós
Esquecemos essa voz,
Nos abraçamos, nos livramos
do mundo,
É tão simples quando a sós
desamarramos os nós.
Vitória Maria
Para publicar os seus
textos neste jornal,
envie-os para o email
abaixo
[email protected]
O mapa de Mondlane
Ainda me lembro
Do papel rasgado em forma de segredo
Que para mim deixaste sem medo…
Na verdade seria um mapa!
Sendo ele da mudança
Roubado,
recuperado
e
mal
aproveitado nesta praça…!
O teu plano de levar os indivíduos às
Escolas
Aprendendo sempre coisas novas…
Da sua vontade de luta no tempo
colonial
A sua mentalidade mestre, era genial!
De levar o homem actual e fazê-lo
histórico…
Torná-lo mais racional, social e mais
económico…
Do teu exemplo poucos saboreiam…
Das tuas atitudes poucos beberam…
Os que o fazem são os que me rodeiam
Que acreditam num País melhor e o
ajudam…
Oh! Mondlane, onde os mentores de
hoje no seu tempo estavam!
Será que naquela altura não vigoravam
ou escondidos se encontravam!
Delson Jonas Muchanga
Página 11
Punhado de Palavras
Mãe, minha diva
Foi você
Quem deu a luz
E eu nasci.
Obrigado por trazer-me ao mundo.
Não cresci ao teu lado
Porque assim quis o destino.
Sinto saudades do teu carinho
Que a muito não o tenho.
Obrigado,
Por deixar-me em bom amparo,
Sendo bem-educado
E muito amado
Mãe,
Meu anjo.
Tu és a luz
Que na escuridão reluz
E por bons caminhos me conduz.
Vida dura
Desço as ondas do mar
Num vagar que parece imitar
O estático,
Desço o vento da vida
Numa velocidade contagiante
E de facto,
Desço as ondas com cuidado
Para não cuidar-me do vento
abandonado
Desço o mar todo clareiado
Que na vida o escuro é dobrado.
Engano Faringe
Espera
Amo-te demasiado
Embora não viva
Meu amor por ti me cativa,
És uma dádiva.
Mãe, minha diva
Do teu primogénito
Faz tempo que por ti espero.
Espero, esperando
Numa longa espera
Sem nunca cessar esta espera
Ou cansar-se de esperar.
A vida é uma longa espera
Todavia ensinaste-me a esperar
Que me valha a minha espera
Pois esperar-te-ei
Sem me desesperar
Para não perder a esperança.
Peter Pedro Pierre
Pedro Lígia Ubisse
Pagina 12
Fotologia
Sem comentário
Nas aventuras do “Tangará”
Ficha Técnica
Editor: Elcídio Bila
Apoio: Sector de Artes
Redaçcão : José dos Remédios
Grafismo: António Caetano,
Repórteres: Erasmo Mapilele, Carmen Horácio, Mariamo Salimo, Pedro Lígia,
Celestino Víctor.

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