DESIGUALDADE
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DESIGUALDADE
DESIGUALDADE (Contardo Calligaris) A DESIGUALDADE é a culpada da vez vez. Ela seria a nossa grande falha – política, política econômica e moral. "O Capital no Século 21", de Thomas Piketty, contestado ou aclamado, tornou-se um best-seller: enfim alguém apontava o dedo para a vergonha do capitalismo tardio. Depois da Segunda Guerra Mundial, nos EUA e na Europa, a gente parecia se encaminhar para um mundo médio, com ambições e consumo médios –um dia, estaríamos todos vivendo no bonito subúrbio de um filme americano dos anos 1960. Esse sonho (ou pesadelo) acabou nos anos 1980. Na década de 1990, pareceu claramente que o retorno dos investimentos financeiros era maior do que o nosso crescimento econômico. Ou seja, os ricos seriam sempre mais ricos, e os outros, mais pobres. Aumentando, a desigualdade econômica se traduziria em desigualdade de influência política e acabaria com nossas democracias –os ricos sendo mais cidadãos do que os pobres. No Brasil, isso não seria novidade. Na Folha de sábado (13), Eleonora de Lucena comentou o livro de Robert Gordon, "The RiseandFallof American Growth" (ascensão e queda do crescimento americano), para quem a desigualdade crescente compromete o futuro econômico dos EUA. Reduzir a desigualdade se tornou a palavra de ordem do século que começa. É preciso diminuir os supersalários, supersalários investir em educação para garantir oportunidades a todos, aumentar os impostos dos mais ricos e ajudar os mais pobres com políticas assistenciais. A desigualdade começou a parecer obscena, moralmente condenável. Mas eis que aparece o pequeno livro de um filósofo, que João Pereira Coutinho já comentou nesta "Ilustrada" (29/12/2015): "OnInequality" (sobre a desigualdade), de Harry Frankfurt. Frankfurt mostra que a desigualdade problema moral: o escândalo não é q que Bill está nos distraindo do verdadeiro p Gates tenha infinitamente mais do que eu; o escândalo é que alguém, aqui ou onde quer que seja, não tenha o necessário. Ou seja, em si, a igualdade não é um valor moral, nem a desigualdade é uma falha moral da sociedade. O escândalo é a existência da pobreza. Mas o que é a pobreza? O que significa não sermos pobres? Para Frankfurt, a resposta vai muito além da lista das necessidades vitais: não somos pobres quando temos o suficiente para viver uma vida que julguemos boa. Obviamente, a definição do que é suficiente e necessário para ter uma vida boa é diferente para cada um. Frankfurt poderia citar Marx, que não era igualitarista e, na "Crítica do Programa d Gotha" de G h " (1875), (1875) d definia fi i o comunismo i assim: i "D "De cada d um segundo d suas capacidades, a cada um segundo suas necessidades". Agora, de onde vem a idéia de que a diferença excessiva seria a grande falha moral da nossa época? Minha hipótese (e provocação) é que a indignação com a desigualdade (mais do que com a pobreza) é, digamos, um efeito Facebook: para saber se minha vida me satisfaz, eu preciso sempre compará-la à dos outros. Em termos psicológicos, para a moral que parece dominante na nossa época, o desejo se confunde com a inveja, perde-se nela. Cuidado. Não acho que a inveja seja desprezível. A inveja tem uma função importante: é por ela que descobrimos e valorizamos a série infinita dos objetos que nos dão alguma satisfação (efêmera, mas, mesmo assim, alguma satisfação). ) A inveja nos ajuda a escolher o carro, a bicicleta, o apê, o perfume, o bolo, o lugar de férias e até o parceiro –ou seja, aquelas ————————— ——————————————————————————————————— — 25 Coisas q que q queremos,, eventualmente,, para p emular um outro,, competir p com ele ou até pelo duvidoso prazer de ter o que ele não tem. O desejo se expressa nessas bagatelas atrás das quais a inveja corre ("Eu quero isso, quero aquilo"¦"); mas, antes disso, o desejo é aquela parte de nossa história que orienta nossa vida. Um exemplo trivial: 1) eu sonho com um carro de luxo (expressão de inveja); 2) mas quero ser professor e ter dois filhos (orientação do desejo); 3) terei o suficiente para uma vida boa, se conseguir ser professor e sustentar meus filhos; 4) poderia deixar de ensinar ou de ter filhos para me dedicar a ganhar dinheiro. Terei uma vida boa? Só um cuidado: às vezes, dedicar-se a ganhar di h i é mesmo o d dinheiro desejo j d de alguém l é – geralmente, l aliás, liá esse é o caso d de quem consegue mesmo enriquecer. CONTARDO CALLIGARIS é psicanalista, doutor em psicologia clínica e escritor. E i Ensinou EEstudos t d C Culturais lt i na New N School S h l de d NY e ffoii professor f d de antropologia t l i médica na Universidade da Califórnia em Berkeley. Reflete sobre cultura, modernidade e as aventuras do espírito contemporâneo (patológicas e ordinárias) Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, ordinárias). PAULO Fevereiro de 2016 2016. A POBREZA NO BRASIL E NO MUNDO No Brasil, o crescimento econômico que estamos vivendo não está necessariamente ligado à melhoria da qualidade de vida da população, pois grande parte dela ainda não tem acesso às condições mínimas de saúde, educação e serviços básicos. A POBREZA NO BRASIL E NO MUNDO No Brasil Brasil, o crescimento res imento econômico e onômi o que q e estamos vivendo i endo não está necessariamente ligado à melhoria da qualidade de vida da população, pois grande parte dela ainda não tem acesso às condições mínimas de saúde, educação e serviços básicos básicos. Em outras palavras, o país enriqueceu, mas não conseguiu transferir esta riqueza em maior expectativa de vida e alfabetização para toda população. Ao menos na mesma velocidade. velocidade Este problema é, em parte, conseqüência da grande concentração de renda que existe no país. O Brasil continua sendo um dos países onde é maior a concentração de renda. Enquanto os 20% mais pobres ficam apenas com 2,5% da renda, os 20% mais ricos ficam com mais de 60% da renda. É verdade, no entanto que nos últimos 25 anos a situação vem apresentando melhora entanto, melhora, mas ainda está precisando atenção do governo para resolver estes problemas. A concentração de renda é uma tendência muito antiga, se se levarem em conta estatísticas dos séculos passados, estatísticas, passados naturalmente menos completas e refinadas refinadas. Em 1870, por exemplo, os 20% mais ricos tinham renda apenas 7 vezes maior do que a dos mais pobres. Os desníveis sociais não vem aumentando apenas entre países países, mas também dentro dos países. Mesmo nações ricas, como as da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, que reúne as 29 nações supostamente mais industrializadas) registraram grandes aumentos na desigualdade depois dos anos 80 – especialmente a Suécia, o Reino Unido e os Estados Unidos. A gglobalização ç tem um enorme potencial p para p reduzir a diferença ç de renda. Temos mais riqueza, tecnologia e mais compromissos em relação à comunidade mundial do que antes. Mercados mundiais, tecnologia mundial, idéias mundiais e solidariedade mundial podem enriquecer a vida das pessoas por toda parte, aumentando muito suas escolhas. Mas ainda está longe de se atingir estas metas metas, pois apenas 40 países mantém crescimento médio de renda per capita de mais de 3% ao ano, ao passo que quase 100 países têm renda mais baixa que há um década e países da África, Europa do Leste e países desmembrado da extinta União Soviética têm renda per capita decrescentes. Por isto, organismos internacionais com a ONU, por exemplo, pedem a ampliação do p papel p dessas organizações, g ç , pois p Estados nacionais têm crescente dificuldades em implantar políticas que respondam a desafios que superam suas fronteiras. A pobreza no Brasil A pobreza no Brasil vem diminuindo nos últimos anos, mas o país ainda apresenta uma grande quantidade de pessoas em condições de miséria. Publicado p por: Rodolfo F. Alves Pena em Geografia g humana do Brasil A pobreza ainda é um problema no Brasil, apesar dos últimos avanços O Brasil, em função de seu histórico de colonização, desenvolvimento tardio e dependência econômica, além dos problemas internos antigos e recentes, possui uma grande quantidade de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza. Assim, por representar um país subdesenvolvido emergente, a pobreza no Brasil apresenta elevados patamares. S Segundo d um d dado d oficial fi i l d do Ministério i i éi d de Desenvolvimento l i d de Combate b à Fome datado de 2011, existiam no Brasil até esse ano cerca de 16,27 milhões de pessoas em condição de “extrema pobreza”, ou seja, com uma renda familiar mensal abaixo b i d dos R$70 R$70,00 00 por pessoa. Vale V l llembrar b que ultrapassar lt esse valor l não ã significa abandonar a pobreza por completo, mas somente a pobreza extrema. É preciso dizer, porém, que a pobreza não é uma condição exclusiva de uma região ou outra, outra como se costuma pensar. pensar Praticamente todas as cidades do país (principalmente as periferias dos grandes centros metropolitanos) contam com pessoas abaixo da linha da pobreza. No entanto entanto, é válido ressaltar que, que apesar dos problemas históricos históricos, o Brasil vem avançando na área de combate à fome e à pobreza no país. Segundo um relatório divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o número de pessoas que abandonaram a pobreza no Brasil em 2012 ultrapassou os 3,5 milhões. Nesse estudo, o critério para pobreza extrema era, inclusive, mais alto que o acima mencionado: R$75,00 por membro da família. Outra boa notícia é a de um relatório apresentado pela Assembleia das Nações Unidas em 2013 que colocou o Brasil como o 13º país que mais investe no combate à pobreza no mundo, em um rankingcomposto por 126 países em desenvolvimento. Assim, o país investe mais do que todos os demais membros do BRICS (Rússia, Índia, China e África do Sul), mas ainda está atrás de nações como Argentina e Venezuela. Ao todo, segundo o relatório, o Brasil gasta quase US$ $ 4 mil dólares por p ano p para cada p pessoa [[1]. ] O carro-chefe atual das políticas públicas de combate à fome no Brasil é o programa Bolsa Família, criado em 2003. Trata-se de uma política assistencialista de transferência de renda, em que o governo oferece subsídio para famílias em condições de pobreza ou miséria acentuada. Apesar das muitas críticas e polêmicas na esfera política, o programa vem recebendo elogios por parte de sociólogos e economistas, uma vez que gasta muito pouco (0,5% do PIB) e contribui substantivamente para a melhoria da qualidade vida. Segundo o Ipea, a estimativa é a diminuição de 28% da miséria do país em 2012 somente pelo Bolsa Família. Recentemente, um apontamento do Banco Mundial revelou que o Brasil vem servindo de modelo e exemplo no que diz respeito ao combate à pobreza no mundo, com a redução da miséria, a diminuição de dependentes do próprio Bolsa Família e com a criação do Cadastro Único, que visa a identificar a quantidade de pessoas em extrema pobreza b no país í [2] [2]. Tais T i medidas did vêm ê sendo d estudadas d d e até é copiadas i d por especialistas e governantes de outras localidades do mundo. Por outro lado, há uma grande quantidade de pessoas que ainda vivem à margem da so iedade no Brasil sociedade Brasil, problema q que e difi dificilmente ilmente se resol resolverá erá somente com om a promo promoção ão de programas assistencialistas. Os principais desafios estão em vencer os problemas nas áreas de saúde e educação, que vêm recebendo tímidos avanços, e ampliar a qualificação profissional e a oferta de emprego no país país. Além disso, para muitos especialistas, diminuir o número de pessoas que vivem com menos de US$1,25 por dia – critério elaborado pelo Banco Mundial e pela ONU para definir a pobreza extrema – não é o suficiente suficiente. A ideia seria a de elevar esse valor na definição de miséria e traçar uma nova meta para a redução da pobreza no Brasil, principalmente através de medidas que não taxem tanto as classes média e baixa e que consigam encontrar formas de diminuir a desigualdade social e a concentração de renda, que ainda são muito acentuadas no Brasil. ________________________ [1] Development D l t Initiatives. I iti ti I Investiments ti t to t End E d Poverty.2013. P t 2013 [2] The World Bank, 22/03/2014. Como reduzir a pobreza: uma nova lição do Brasil para o mundo? A POBREZA SÓ EXISTE POR CAUSA DA RIQUEZA... RIQUEZA Explico-me, enquanto o mundo se organizar com base na riqueza e na luta fratricida pelo seu domínio, a avalanche de pobres engrossará todos os dias. Por isso, enquanto a riqueza for um fim e não um meio, todos, nós todos, seremos pobres, muito pobres de valores e de espírito. E a Igreja g j Católica o q que p podia fazer como instituição ç a favor da p pobreza? - Muito,, devia denunciá-la sem medo e apontar claramente quem são os principais responsáveis por ela... Se tal acontecesse o mundo tremia e a Igreja fixava-se no essencial da sua missão, ser profeta à maneira de Jesus de Nazaré. Afinal bastava que o Evangelho fosse vida para a vida dos homens e mulheres concretos de cada tempo. Neste sentido, têm razão as vozes que apontam responsabilidades às igrejas pela pobreza. Cometeu-se aqui um pecado grave, as igrejas também se corromperam com a luta pela riqueza, pelo dinheiro - os vários escândalos que envolvem o Banco do Vaticano, é sintomático (não é curioso a Igreja Católica Instituição ser possuidora d d de um b banco?)... ?) Os vários sistemas políticos compraram as igrejas com chorudas ofertas. Manietaram a sua voz e a sua ação, para que imperasse a luta feroz pela riqueza. Negociado o silêncio de quem devia falar por missão, ficou o caminho livre para a ganância, o egoísmo. Com esta tragédia a humanidade construiu um sistema que f ffeliz faz li meia i dú dúzia, i mas o grosso d da h humanidade id d empobrece b cada d vez mais. i E enquanto não acabar esta injustiça o mundo não muda, afunda-se, miseravelmente, para o seu fim, porque a instabilidade social é já uma evidência por todo o lado e os re recursos rsos naturais nat rais (bens destinados a todos), todos) face fa e à ganância anân ia dos senhores da riqueza, esgotam-se aceleradamente, o que pode levar à destruição total do nosso habitat. Mas, continuemos o sonho com esperança... José Luís Rodrigues Desigualdade e pobreza no Brasil Ricardo Paes de Barros Ricardo Henriques Rosane Mendonça ç RBCS Vol. 15 no 42 fevereiro/2000 Introdução O Brasil, nas últimas décadas, vem confirmando, infelizmente, uma tendência de enorme desigualdade na distribuição de renda e elevados níveis de pobreza. Um país desigual, exposto ao desafio histórico de enfrentar uma herança de injustiça social que exclui l i parte t significativa i ifi ti d de sua população l ã d do acesso a condições di õ mínimas í i d de dignidade e cidadania. Como uma contribuição ao entendimento dessa realidade, este artigo procura descrever a situação atual e a evolução da magnitude e da natureza da pobreza e da desigualdade no Brasil Brasil, estabelecendo inter inter-relações relações causais entre essas dimensões. Trata-se de um relato empírico e descritivo, que retrata a realidade da pobreza e da desigualdade Nossa hipótese central desigualdade. central, presente em estudos anteriores anteriores,1 1 é que, que em primeiro lugar, o Brasil não é um país pobre, mas um país com muitos pobres. Em segundo lugar, acreditamos que os elevados níveis de pobreza que afligem a sociedade encontram seu principal determinante na estrutura da desigualdade brasileira — uma perversa desigualdade na distribuição da renda e das oportunidades de inclusão econômica e social. Procuramos, ainda, Procuramos ainda demonstrar a viabilidade econômica do combate à pobreza e justificar a importância, no atual contexto econômico e institucional brasileiro, de estabelecer estratégias que não descartem a via do crescimento econômico mas que enfatizem, sobretudo, o papel de políticas redistributivas que enfrentem a desigualdade. O trabalho está organizado em três partes. A primeira parte visa mensurar a pobreza no p p país,, descrevendo sua evolução ç nas últimas duas décadas. A segunda parte procura estabelecer um diagnóstico genérico sobre os principais determinantes da pobreza, documentando em que medida o grau de pobreza observado no país deve-se à insuficiência agregada de recursos ou à má distribuição dos recursos existentes. Nesta parte, realizamos uma comparação internacional e uma análise da evolução dessas dimensões ao longo do período estudado. Em seguida, procuramos descrever a estrutura da distribuição de renda entre as famílias brasileiras. A terceira t i e últi última parte t d do artigo ti pretende t d retratar t t em que medida did as modestas reduções no nível de pobreza observadas no período analisado resultam do crescimento econômico ou da redistribuição de renda. Em conclusão e de acordo com o diagnóstico proposto ao longo do texto conclusão, texto, destaca destacaDossiê desigualdade 124 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. VOL 15 Nº 42 mos a necessidade de as políticas públicas de combate à pobreza concederem prioridade à redução da desigualdade. Pobreza no Brasil: afinal, qual o seu tamanho? A evolução da pobreza e da indigência no Brasil entre 1977 e 1998 pode ser reconstruída a partir da análise das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios (PNADs) realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Estas (IBGE). E t pesquisas i domiciliares d i ili anuais2 i 2 permitem it construir t i uma di diversidade id d de indicadores sociais que retratam, entre outros, a evolução da estrutura da distribuição dos padrões de vida e da apropriação de renda dos indivíduos e das famílias brasileiras.3 A pobreza, evidentemente, não pode ser definida de forma única e universal. Contudo, podemos afirmar que se refere a situações de carência em que os indivíduos não conseguem manter um padrão mínimo de vida condizente com as referências socialmente estabelecidas em cada contexto histórico. Deste modo, a abordagem conceitual da pobreza absoluta requer que possamos, inicialmente construir uma medida invariante no tempo das condições de vida inicialmente, dos indivíduos em uma sociedade. A noção de linha de pobreza equivale a esta medida. Em última instância, uma linha de pobreza pretende ser o parâmetro que permite a uma sociedade específica p p considerar como p pobres todos aqueles q indivíduos que se encontrem abaixo do seu valor. Neste trabalho consideramos a pobreza na sua dimensão particular (evidentemente simplificadora) de insuficiência de renda, isto é, há pobreza apenas na medida em que existem famílias vivendo com renda familiar4 per capita inferior ao nível mínimo necessário para que possam satisfazer suas necessidades id d mais i bá básicas. i 5A magnitude da pobreza está diretamente relacionada ao número de pessoas vivendo em famílias com renda percapita abaixo da linha de pobreza e à distân ia entre a renda per capita distância apita de cada ada família pobre e a linha de pobre pobreza. a 6Os resultados das PNADs revelam que, em 1998, cerca de 14% da população brasileira vivia em famílias com renda inferior à linha de indigência e 33% em famílias com renda inferior à linha de pobreza pobreza. Deste modo modo, como vemos na Tabela 1, cerca de 21 milhões de brasileiros podem ser classificados como indigentes e 50 milhões como pobres. 7 Ao longo das últimas duas décadas décadas, como observamos na tabela tabela, a intensidade da pobreza manteve um comportamento de relativa estabilidade, com apenas duas pequenas contrações, concentradas nos momentos de implantação dos planos Cruzado e Real. Este comportamento estável, com a porcentagem de pobres oscilando entre 40% e 45% da população, população apresenta flutuações associadas associadas, sobretudo, sobretudo à instável dinâmica macroeconômica do período. O grau de pobreza atingiu seus valores máximos durante a recessão do início dos anos 80, em 1983 e 1984, quando a porcentagem de pobres ultrapassou a barreira dos 50%. As maiores quedas resultaram, como dissemos, dos impactos dos planos Cruzado e Real, fazendo a porcentagem de pobres cair abaixo dos 30% e 35%, respectivamente. Considerando o período como que a p porcentagem g de p pobres declinou de cerca de 39% em um todo, constatamos q 1977 para cerca de 33% em 1998. Este valor ao final da série histórica analisada, apesar de ainda ser extremamente alto, aparenta representar um novo patamar do nível de pobreza nacional. A intensidade da queda na magnitude da pobreza ocorrida entre 1993 e 1995 foi menor do que em 1986. No entanto, a queda de 1986 não gerou resultados sustentados, com o valor da pobreza retornando no ano seguinte ao patamar vigente antes do Plano Cruzado. Entre 1995 e 1998 a porcentagem de pobres permaneceu estável em torno do patamar de 34%, indicando a manutenção dos impactos do Plano Real. Apesar da pequena queda observada no grau de pobreza, o número de pobres no Brasil, em decorrência do processo de d crescimento i populacional, l i l aumentou em cerca d de 10 milhões, ilhõ passando de 40 milhões em 1977 para 50 milhões em 1998. A combinação bi ã entre t as fl flutuações t õ macroeconômicas ô i e o crescimento i t populacional l i l fez com que o número de pobres chegasse a quase 64 milhões na crise de 1984 e a menos de 38 milhões em 1986. DESIGUALDADE E POBREZA NO BRASIL 125 No final dos anos 80 registra-se uma aceleração no contingente da população pobre e, no período recente, após a implantação do Plano Real, cerca de 10 milhões de brasileiros deixaram de ser pobres. Os atuais 50 milhões de pessoas pobres, por sua vez, encontram encontram-se se heterogeneamente distribuídos abaixo da linha de pobreza e sua renda média encontra-se cerca de 55% abaixo do valor da linha de pobreza. Os 21 milhões de pessoas indigentes, que correspondem a um j da p população p ç p pobre,, estão igualmente g distribuídos de forma subconjunto heterogênea e encontram-se mais próximos de seu valor de referência, com sua renda média mantendo- se cerca de 60% abaixo da linha de indigência. Portanto, P t t a magnitude it d d da pobreza, b mensurada d ttanto t em ttermos d do volume l ed da porcentagem da população como do hiato de renda, apresenta, na segunda metade da década de 90, a tendência de manutenção de um novo patamar, inferior ao observado desde o final dos anos 70 70. Isto indica indica, sem dúvida alguma alguma, uma melhoria aparentemente estável no padrão da pobreza, mas este valor continua moralmente inaceitável para a entrada do Brasil no próximo século. Determinantes imediatos da pobreza: escassez de recursos e desigualdade na distribuição de recursos A pobreza, b como ressaltamos l anteriormente, estáá sendo d analisada l d neste artigo exclusivamente na dimensão de insuficiência de renda. Neste sentido, a pobreza responde a dois determinantes imediatos: a escassez agregada de recursos e a máá di distribuição t ib i ã d dos recursos existentes. i t t EEsta t parte t d do ttrabalho b lh iinvestiga ti essas relações causais, procurando avaliar os pesos relativos da escassez agregada de recursos e da sua distribuição na determinação da pobreza no Brasil. COMO FOMOS ENGANADOS! Sou um miúdo… Sei que tenho cinco anos, pois olho para as minhas pequenas mãos e tento aprender a contar pelos dedos dedos, em espanhol espanhol, para poder entrar na escola primária. Eu, que apenas sabia contar em italiano. Sou um miúdo, e ninguém se importa com o que eu possa ouvir… Talvez por essa razão posso acercar-me razão, acercar me da grande secretária de nogueira, nogueira onde meu pai, pai engenheiro de profissão, conversa com um famoso astrônomo da época, em Buenos Aires, chamado Martin Gil. Eram ambos discípulos das idéias de Einstein. Os dois entretêm-se a sonhar com uma segunda metade do século XX maravilhosa maravilhosa. Paro, presto atenção e depressa me esqueço de contar pelos dedos, em espanhol… Por fim, dão pela minha presença, sentam-me numa cadeira, que me parece duma altura imensa e sinto-me sinto me verdadeiramente importante. Depois olham-me olham me com meiguice e dizem-me que quando crescer verei um mundo maravilhoso. O homem chegará à Lua, os progressos da ciência e da técnica vão-nos permitir atingir planetas longínquos g q antes q que termine o fabuloso século XX. Invejam-me, j , porque p q dos três,, só eu poderei testemunhar todas essas coisas extraordinárias. Explicam-me que todos os meninos do futuro serão felizes e terão imensos brinquedos e guloseimas. Dizem-me, também, que a grande guerra que havia assolado a Europa em 1914-18 nunca mais se repetirá. Que haveria paz. Aconselham-me a que economize, que estude muito, pois nesse tal futuro dourado, cada moeda guardada se multiplicará por muitas, os livros serão muitos e estarão ao alcance de todos, e praticamente todas as doenças serão debeladas. Um deles, já não me recordo qual, acaricia-me a cabeça e diz-me: “Talvez até se descubra um remédio édi para todas d as d doenças e atéé para a morte”. ” Eu já tinha reparado que na cidade havia manchas de telhados que não eram de telhas mas de lata q telhas, que e cobriam obriam umas mas casitas, asitas q que e não eram bem casitas, asitas mas sim uma espécie de barracas, lá para baixo, junto ao porto, e que nelas viviam miúdos como eu, mas que não recebiam prendas pelo Natal. E perguntei porquê, e se no futuro não haveria miséria miséria, se todos os meninos teriam brinquedos como eu eu. Parece-me vê-los, lá longe na bruma do tempo, olharem um para o outro longamente e logo responderem que sim, com toda a certeza, pois o avanço da técnica e da ciência acabaria com todas essas diferenças diferenças. Continuaram a falar de coisas mais complicadas, falaram das enormes reservas de petróleo, do trigo, de metais e novos produtos. Falaram também de paz e de fraternidade entre todos os homens. De novo repararam em mim, D i que já me llevantara t d da cadeira, d i e um pouco aborrecido voltava a contar pelos dedos em espanhol; e o sábio astrônomo perguntou-me: “Para que aprendes espanhol?O mundo do futuro, aquele em que tu viverás só falará um idioma: o Esperanto” Esperanto . Saí da sala perguntando a mim próprio o que seria o Esperanto, e ao mesmo tempo sentia-me feliz por ter nascido no século XX, o século das maravilhas, da bondade, do progresso. Fui para o quarto dos brinquedos continuar a montar uma enorme grua com um imenso “Mecano” de centenas de pecinhas em metal. Sentia-me bem, sentia-me contente. Martin Gil, o astrônomo, dissera-me numa outra vez que tratasse de estar cá ainda neste mundo quando o cometa Halley passasse de novo pelo céu, pois era algo belíssimo de ver. Os túmulos são profanados. Desenterram-se os mortos e atiram-se bebes para as que lambia as mãos de lixeiras. Os avós são abandonados onde calha. O cão ffiel q seus donos é abandonado, às vezes atirado do carro em andamento, por altura das férias porque se tornou um estorvo. Como fomos enganados! Era este o maravilhoso século XX? Era este o maravilhoso século da justiça e da paz? Quantas maravilhas!... Não tinhas outras palavras para expressar o que sentia, e repetia-o e tornava a repetir, ora em italiano, ora em espanhol. Passaram os anos, e o meu enorme “Mecano” servia-me para reproduzir barcos e aviões de guerra, os quais depois fingia que incendiava, prendendo-lhes pedaços de algodão, pois queria imitar o que via nas fotografias do London News e no Signal. Só muito mais tarde tive consciência dos horrores dos «jogos de guerra», e ouvi falar dos campos de concentração, das cidades arrasadas e, por fim, das bombas atômicas que o idolatrado Einstein tinha ajudado a construir. Quando da primeira experiência feita com a bomba de hidrogênio, na ilha de Bikini, correu o boato de que devido ao fato do planeta estar cheio desse elemento, poderia desencadear uma explosão gigantesca que acabaria com o mundo; eu estava junto ao rádio, e ouvi aquele rugido terrível, seguido de repetidos estrondos que pareciam i não ã acabar b mais. i Mais tarde, vi pela televisão a chegada do primeiro Homem à Lua e a sua inesquecível pegada na poeira cósmica. cósmica E não há muito tempo visitei no Texas um museu, onde se encontra o Apolo XI, o vestuário utilizado e pedaços de rocha lunar. E tudo isso para quê? Não se continuou a viajar para o Lua, nem isso favoreceu o mundo cada vez com mais conflitos e mais fome fome. Depois tudo se tornou mais claro para mim. Tratava-se, praticamente, duma disputa entre os Estados Unidos e a URSS, e tal como dizem as crianças, a ver quem chegava primeiro Uma mera rivalidade para as duas potências se amedrontarem uma à primeiro. outra, aquilo a que depois se chamou imprópria e vaidosamente «A Guerra das Estrelas», que afinal acabou em intermináveis bichas para comprar batatas podres e em sofisticados sistemas que permitem matar um homem sem sequer lhe ver o rosto… e que nos assusta porque ameaça com um fuzil, detrás de uma árvore ou das ruínas de uma latrina. Os novos explosivos p p plásticos serviram p para matar cobardemente. Os p pára-quedas q foram reservados para os aviões militares. Em alguns lugares do mundo atiram-se alimentos ao mar para manter os preços em determinados níveis, enquanto que noutros lugares milhões de seres humanos morrem de fome. Já não escolhemos nem as bebidas, nem a comida, nem a roupa. Os “Amos da Caverna”, como lhes teria chamado Platão, fazem-no por nós. O racismo de todas as cores está de volta, e até dentro da mesma cor, pois o tribalismo troglodita está aí, utilizando de novo gases asfixiantes para exterminar povos i i inteiros, gases esses que fforam proibidos ibid pela l C Convenção ã d de G Genebra, b há mais i de setenta anos, e que nem os loucos que desencadearam a Segunda Guerra Mundial se atreveram a utilizar. Está de volta olta a mentalidade Inq Inquisitorial… isitorial Tamerlan e Saladino querem q erem de novo no o construir a sua pirâmide de crânios; Torquemada regozija-se e ao mesmo tempo chora na sua louca paixão por ver acenderem-se, a seu mando, milhares de fogueiras consumindo os infiéis nas suas labaredas labaredas, não deixando de falar de humildade, acariciando ao mesmo tempo os acetinados mármores dos seus palácios, os quais não pensa de nenhuma maneira deixar. Um produz… produz vinte especulam especulam… um consome consome. O estado é um sócio no que respeita a lucros, mas nunca nas perdas. Na hora da verdade, importa mais um cartão de crédito do que uma vida. E o pobre não terá sequer uma cama limpa para morrer. Mas, que importa? Estamos todos contentes pois temos democracia, leis, inúmeras associações de beneficências e os debates das Nações Unidas Unidas… Estamos tão contentes porque nos levaram à loucura e até nos rimos das nossas próprias desgraças. - E já repararam nas fotografias? - Não estão todos sempre tão sorridentes?! Deus foi destronado da Igreja para dar lugar à importantíssima polêmica sobre preservativos; das sinagogas pelo problema das barbas; e as mesquitas pela proibição p ç das mulheres mostrarem as solas dos sapatos p e de usarem óculos de sol. Muitos budistas tornaram-se guerrilheiros; os brahmanes adoram o traseiro das vacas e o ideal do Shinto é substituído por melhores aparelhos eletrônicos. Confúcio lê Mao. Os túmulos são profanados. Desenterram-se os mortos e atiram-se bebes para as lixeiras. Os avós são abandonados onde calha. O cão fiel que lambia as mãos de seus donos é abandonado, às vezes atirado do carro em andamento, por altura das férias porque se tornou um estorvo. Como fomos enganados! Era este o maravilhoso século XX? Era este o maravilhoso século da justiça e da paz?? E agora que estamos t ttodos d lloucos, que sobre b as nossas cabeças b se abre b o céu é para deixar passar mortíferos raios, e que a terra, o ar e a água empestam, deixar-nos-ão, ao menos, tentar outros caminhos? Deixar-nos-ão fazer filosofia, procurar a Verdade onde quer que ela esteja? Deixar-nos-ão Deixar nos ão crer de novo em Deus, Deus pois é a única certeza neste mundo? Não… Sei que farão tudo para o impedir, pois estão loucos. Mas como nós também estamos loucos, loucos mas de uma outra loucura, loucura a Divina Loucura Loucura, não abandonaremos o nosso objetivo! Custe o que custar! Porque, sabem de uma coisa? O mundo está em tal estado que já não temos nada a perder. Jorge Angel Livraga Fundador da Org. Internacional Nova Acrópole http://www.nova-acropole.pt/a p // p p / _fomos_enganados.html g