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AVALIAÇÃO DO USO DE CREME DENTAL POR CRIANÇAS E RELAÇÃO COM
DESENVOLVIMENTO DE FLUOROSE DENTÁRIA – ESTUDO PROSPECTIVO
Natiele Sousa Ribeiro de Carvalho (orientanda de ICV), Marcoeli Silva de Moura
(Orientador, Depto de Odontologia – UFPI)
INTRODUÇÃO: Para controlar a cárie dentária a medida mais efetiva, sem dúvida, é a escovação
dos dentes, que além de remover ou pelo menos desorganizar o biofilme, leva o fluoreto à cavidade
bucal interferindo no processo de des/remineralização dentária (AAPD, 2010; ELLWOOD, CURY, 2009;
MORAES et al., 2007). A associação entre o consumo de água fluoretada e dentifrício fluoretado pode
explicar o aumento da fluorose dentária, definida como uma hipomineralização do esmalte resultante
da ingestão crônica de flúor durante o desenvolvimento dos dentes (ROBINSON et al., 2004; LEVY et al.,
2010; OPYDO-SZYMACZEK; 2011). Dentifrícios sem ou com concentração reduzida de flúor tem se
difundido no mercado, incluindo em seus rótulos que devem ser utilizados por crianças menores de
seis anos. Diante do exposto, este estudo teve por objetivo conhecer os hábitos de higiene bucal de
crianças com dentição decídua, para em etapa futura do projeto avaliar a prevalência de cárie e
fluorose dentárias na dentição permanente.
MATERIAL E MÉTODO: Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFPI
(parecer 177.285). Pretende-se formar uma coorte de crianças em idade de risco para o
desenvolvimento da fluorose dentária. Foram selecionadas crianças com idade de entre 2 a 5 anos,
Calculou-se uma amostra baseada na prevalência de fluorose da cidade de Teresina, obteve-se uma
amostra mínima de 387 crianças, recrutadas em creche/escola pública (CP) ou particular (EP), na
cidade de Teresina, Piauí, Brasil. Os pais ou responsáveis foram convidados a participar e a
aceitação foi formalizada pela assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Inicialmente os responsáveis respondiam questionário contendo aspectos sócio demográficos,
histórico de saúde, hábitos dietéticos e de higiene bucal e em seguida os dentes da criança eram
examinados para avaliação de cárie dentária utilizando-se o índice ceod (dentes decíduos cariados,
extraídos devido a carie e obturados). A ingestão de dentifrício foi verificada de acordo com as
respostas dos pais ao questionário aplicado. Os dados foram apresentados por meio de frequência
simples e absoluta. Para verificar associação entre as variáveis foi utilizado o teste Qui-quadrado de
Pearson (²) considerando em todas as análises realizadas um nível de significância de 5%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Participaram da pesquisa 487 crianças com seus respectivos
responsáveis. Dessas, 60,5% eram de creches públicas, divididas entre os gêneros com idade entre
3 (32,6%), 4 (50,8%) e 5 (16%) e de escola privada divididas equitativamente entre os gêneros com
idades entre 2 (47,2%), 3 (41,1%) e 4 anos (11,7%). Não foi possível o pareamento porque as
crianças ingressam mais tarde no ensino infantil. Houve diferença (p=0,013) entre as mães da CP e
EP com relação à escolaridade, na primeira
as mães possuíam no máximo ensino médio e na
segunda todas possuíam nível superior. Com relação ao tempo de amamentação exclusiva e tempo
total de amamentação também houve diferença entre as crianças (p=0,014 e p<0,001
respectivamente), nas creches públicas se concentraram as crianças que tiveram maior tempo de
amamentação exclusiva e maior tempo total de amamentação. Isso pode ser atribuído ao fato de não
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trabalharem fora de casa, pois eram elas que cuidavam dos filhos. Quando questionadas a respeito
da água utilizada para consumo e para preparar os alimentos, percebeu-se que a maioria utilizava
água fluoretada da Agespisa (77,6% e 86% respectivamente), porém houve diferença (p<0,001)
quanto ao grupo que utilizava, das crianças que não utilizavam água da Agespisa para consumo
(61,5%) e para preparo de alimentos (79,1%) eram das EP, em contrapartida a grande maioria das
crianças de CP utilizava água fluoretada tanto para consumo (66,9%) quanto para o preparo de suas
refeições (66,8%). A ingestão de água fluoretada, pura ou utilizada para a reconstituição de leite e
fórmulas infantis contribui para a ingestão de fluoretos por crianças, consequentemente para o
desenvolvimento de fluorose. Em relação aos dados de higiene bucal, o início do uso de dentifrício
deu-se no período entre seis e doze meses (63,4%), porém, comparando os dois grupos em relação
às crianças que começaram a escovar os dentes com mais de doze meses a grande maioria era de
CP (62,1%). Quanto ao tipo de dentifrício utilizado inicialmente, 48% responderam que usavam o
infantil sem flúor, destes 70,5% eram da EP e apenas 29,5% das CP. Sobre o dentifrício atual, a
maioria utilizava infantil com flúor (42,5%), no entanto a maior parcela das crianças da EP continuava
a utilizar o dentifrício não fluoretado (74,6%). Na CP houve uma equivalência entre o uso de
dentifrício infantil com flúor e adulto, com um predomínio da frequência de escovação de duas vezes
ao dia em ambos os grupos (privada - 37% e pública – 63%), houve diferença em relação ao grupo
que escovava os dentes apenas uma vez por dia (p<0,001), desses a grande maioria fazia parte da
CP (71%). CURY et al, 2007 observaram que as crianças engoliam mais dentifrícios infantis com
sabores e aromatizantes. Ao utilizar esses dentifrícios, as crianças deixam de cuspir após a
escovação, aumentando a ingestão quando comparado com dentifrícios normais. Revisão sistemática
da literatura associada à meta análise concluiu que dentifrícios fluoretados convencionais
(concentração de flúor igual ou superior a 1.000 ppmF) são efetivos na redução da cárie dentária na
dentição decídua e devem ser recomendados para pré escolares (SANTOS et al., 2013). Ao tempo em
que não há evidência para indicar o uso de cremes dentais com baixa concentração de flúor para préescolares para prevenir cárie e fluorose dentárias ( SANTOS et al., 2013). Medidas como recomendar o
uso de pequena quantidade de dentifrício, incentivar a cuspir após a escovação e impedir que a
criança engula ou lamba o creme dental, devem ser adotadas (MORAES et al., 2007). A escolha por
decisão própria do dentifrício predominou nas CP (73%), enquanto apenas 27% dos pais da EP
tomaram essa decisão sem consultar nenhum profissional, e a maior influencia foi a do dentista
(78,6%). Quando perguntado quem realizava a escovação do pré-escolar, nos dois grupos era
realizada em sua maioria por um adulto (EP: 75,7% e CP 71,6%), porém quando comparado os
dados da escovação feita apenas pela criança obteve-se diferença (p<0,001), apenas uma criança na
EP, o que corresponde a 2%, fazia a escovação sozinha, enquanto na CP 16,3% dessas crianças
não tinham a ajuda de um adulto para essa atividade, isso pode justificar o fato de que 38,6% das
crianças de CP apresentavam o ceo-d ≥ 1, e na CP 100% das crianças tinha ceo-d igual a 0. Foi
questionado às mães se a crianças aceitavam realizar a escovação, 68% afirmaram que sim, destas
41,1% eram da EP e 58,9% da CP, quando a resposta foi negativa, observou-se que as mães da EP
insistiam e faziam a escovação (92,9%), enquanto as de CP desistiam com mais freqüência (54%).
Quando questionadas se o pré-escolar engolia dentifrício observaram-se respostas diferentes, das
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mães que responderam não, 75,5% eram da CP enquanto apenas 24,5% eram da EP, justificativa
utilizada pelas mães para o emprego de dentifrício sem flúor. E como tentativa de evitar essa
ingestão os pais afirmaram conversar ou pedir para cuspir durante a escovação (EP 64,7% e CP
94,1%). Sobre saber o que a ingestão de flúor causava, a maioria respondeu que não (74%), no
entanto os pais de EP quando respondiam a causa de engolir o dentifrício acertaram mais (82,5%)
quando afirmaram que era a fluorose, contra uma pequena minoria dos pais de CP (17,5%). Com a
análise do diário alimentar foi possível delimitar quantas vezes a criança ingeria açúcar na
alimentação diária e não houve diferença entre os dois grupos, 53,3% ingeria seis ou mais vezes
açúcar por dia. Entretanto com relação a ingestão de guloseimas, houve diferença entre os grupos
(p<0,001) com maior ingestão nas crianças de CP.
CONCLUSÃO: De acordo com os resultados observados, concluiu-se que as crianças que estudam
na creche pública, pela aplicação do questionário, estariam mais sujeitas ao desenvolvimento de
fluorose pelo uso de dentifrício fluoretado associado a uma escovação sem supervisão dos pais e
ainda por fazerem o uso de água fluoretada. Apesar de na escola particular ter sido relatado pelos
pais maior ingestão de dentifrício, a maioria utiliza dentifrício sem flúor no período considerado crítico
para o desenvolvimento da fluorose, entretanto, essas crianças podem estar mais expostas ao
desenvolvimento de cárie dentária.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRIC DENTISTRY. Reference manual 2010- 2011. Oral health
policies, v. 32, 2010.
CURY, J.A, OLIVEIRA, M.J.L, MARTINS, L.H.P.M, RAMOS-JORGE, M.L, LIMA, Y.B.O. Fluoride
Intake by Children at Risk for the Development of Dental Fluorosis: Comparison of Regular
Dentifrices and Flavoured Dentifrices for Children. Caries Research; 41:460–466, 2007.
ELLWOOD, R.P, CURY, J.A. How much toothpaste should a child under the age of 6 years use?
European Archives of Pediatric Dentistry, 10 (3), 2009.
LEVY, S. M, BROFFIT, B, MARSHALL, T.A, EICHENBERG-GILMORE, J.M, WARREN, J.J.
Associations Between Fluorosis of Permanent Incisors and Fluoride Intake From Infant Formula,
Other Dietary Sources and Dentifrice During Early Childhood Journal American Dental
Association;141(10):1190-1201, 2010.
MORAES, S. M. PESSAN, J. P. RAMIRES, I. BUZALAF, M. A. R. Fluoride intake from regular and low
fluoride dentifrices by 2-3-year-old children: influence of the dentifrice flavor. Braz Oral Res. V. 21. P.
234-240, 2007.
OPYDO-SZYMACZEK, J. OPYDO, J. Dietary fluoride intake from infant and toddler formulas in
Poland. Food and Chemical Toxicology. V. 49, p. 1759-1763, 2011.
SANTOS A.P.P., NADANOVSKY P., OLIVEIRA B.H. A systematic review and meta-analysis of the
effects of fluoride toothpastes on the prevention of dental caries in the primary dentition of preschool
children. Community Dent Oral Epidemiol.v.41, p.41:1-12, 2013.
ROBINSON, C. CONNELL, S. KIRKHAM, J. BROOKES, S. J. The effect of fluoride on the developing
tooth. Caries Res. v. 38, p. 268-276, 2004.
Palavras-chave: fluorose dentária, dentifrício, higiene bucal.

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