Dimensionamento De Viga-Parede Construída em Concreto
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Dimensionamento De Viga-Parede Construída em Concreto
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL MARIA GABRIELA MARCONE DE ARAUJO DIMENSIONAMENTO DE VIGA-PAREDE CONSTRUÍDA EM CONCRETO REFORÇADO COM BARRAS DE GFRP MARINGÁ 2014 MARIA GABRIELA MARCONE DE ARAUJO DIMENSIONAMENTO DE VIGA-PAREDE CONSTRUÍDA EM CONCRETO REFORÇADO COM BARRAS DE GFRP Monografia apresentada como parte dos requisitos necessários para aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão do Curso de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Maringá. Orientador: Prof. Dr. Rafael Alves de Souza MARINGÁ 2014 MARIA GABRIELA MARCONE DE ARAUJO DIMENSIONAMENTO DE VIGA-PAREDE CONSTRUÍDA EM CONCRETO REFORÇADO COM BARRAS DE GFRP Monografia apresentada como parte dos requisitos necessários para aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão do Curso de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Maringá. Aprovada em ____/_____/_______ BANCA EXAMINADORA _____________________________________________________ Prof. Dr. Rafael Alves de Souza – Universidade Estadual de Maringá _____________________________________________________ Prof. Dr. Vladimir José Ferrari – Universidade Estadual de Maringá _____________________________________________________ Prof. Dr. Wilson Wesley Wutzow – Universidade Estadual de Maringá Aos meus pais pelas cobranças, constante apoio e incentivo ao longo desta caminhada, sem eles nada conseguiria. AGRADECIMENTOS A Deus, por ter abençoado os meus cinco anos de curso. À Universidade Estadual de Maringá, que oportunizou essa conquista. Ao Professor Rafael Alves de Souza, pela orientação e proposta de um tema atual e desafiador. Aos professores do Departamento de Engenharia Civil, que durante esses cinco anos se dedicaram a transmitir conhecimento de maneira admirável. Aos funcionários do Departamento de Engenharia Civil, Juarez, Valter e Celso, pela disposição e dedicação. À minha família, pelo amor, incentivo e apoio incondicional. À empresa Stratus, em especial ao Marcelo Souza, pela confiança em meu trabalho. E a todos que direta e indiretamente fizeram parte da minha formação, o meu muito obrigado. Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer. Mahatma Gandhi RESUMO No Brasil, o uso do concreto armado convencional predomina nas obras de infraestrutura, inclusive nas estruturas destinadas ao armazenamento e tratamento de água. Essas estruturas apresentam problemas de desempenho e durabilidade, pois o meio aquoso permite o desenvolvimento de inúmeras reações que em contato com a armadura causam corrosão do aço. Na última década, visando solucionar esse problema, barras não metálicas, como por exemplo, barras de resina impregnadas com fibra de vidro (GFRP), vem sendo desenvolvidas e aplicadas como alternativa ao aço nesses elementos estruturais. Esse trabalho tem como objetivo analisar o desempenho de vigas-paredes de concreto armado com barras de GFRP. Para essa finalidade foi realizada uma revisão bibliográfica envolvendo normas de desempenho do material e alguns trabalhos publicados sobre pesquisas de barras não metálicas. Além disso foram dimensionadas e ensaiadas quatro vigas-paredes com diferentes quantidades de malha de reforço de fibra de vidro. Os resultados obtidos foram satisfatórios e ressaltaram a necessidade de mais estudos abordando este tema. Palavras-chave: Viga-parede. GFRP. Malha de reforço. LISTA DE FIGURAS Figura 1- Seção transversal do compósito de FRP ........................................................... 5 Figura 2 - Categorias de compósitos ................................................................................ 6 Figura 3 - Fibra de vidro picada ....................................................................................... 9 Figura 4 - Fibra de vidro em fio ....................................................................................... 9 Figura 5 - Fibra de vidro em tecido ................................................................................ 10 Figura 6 - "Filament Winding" ....................................................................................... 11 Figura 7 - Compressão à vácuo ...................................................................................... 11 Figura 8 - Processo de pultrusão..................................................................................... 12 Figura 9 - Processo de pultrusão..................................................................................... 12 Figura 10 - Diagrama tensão x deformação.................................................................... 15 Figura 11 - Barra de FRP sujeita ao cisalhamento transversal ....................................... 16 Figura 12 - Esquema de um mecanismo de decomposição de um compósito de GFRP 18 Figura 13 - Aderência por adesão ................................................................................... 19 Figura 14 - Aderência por atrito ..................................................................................... 19 Figura 15 - Aderência mecânica ..................................................................................... 20 Figura 16 - Amostras submetidas à solução de 5 mols de NAOH em temperatura ambiente - seção transversal das fibras e seção longitudinal.......................................... 21 Figura 17 - Amostras submetidas à solução de 5 mols de NAOH em temperatura de 60ºC ................................................................................................................................ 21 Figura 18 - Hospital do Texas ........................................................................................ 23 Figura 19 - Túnel no Japão ............................................................................................. 23 Figura 20 - Ponte Aberfeldy ........................................................................................... 23 Figura 21 - Ponte em Lima - Ohio .................................................................................. 24 Figura 22 - Ponte em Dayton – Ohio .............................................................................. 24 Figura 23 - GFRP em pavimento rígido ......................................................................... 24 Figura 24 - Obra de proteção costeiras ........................................................................... 25 Figura 25 – Barra de GFRP aplicada na pregagem ........................................................ 25 Figura 26 - Barras de GFRP para enfilagem na linha lilás em São Paulo ...................... 26 Figura 27 - Primeira parede diafragma construída com GFRP no Brasil (11/2013 - RJ) ........................................................................................................................................ 26 Figura 28 - Cobertura da estação do Rossio ................................................................... 27 Figura 29 - Aqueduto de 36m construído em perfis de GFRP no Reino Unido............. 27 Figura 30 - Linha do tempo de pesquisas e normatizações sobre FRP .......................... 30 Figura 31 - Distribuição de tensões e deformações em condições últimas .................... 34 Figura 32 - Fator de redução da resistência em função da taxa de armadura ................. 38 Figura 33 - Tensões horizontais normais no meio do vão de uma viga convencional (a) e de uma viga parede (b) ................................................................................................... 43 Figura 34 - Tipos comuns de carregamentos em vigas-paredes ..................................... 44 Figura 35 - Exemplos de "Regiões D"............................................................................ 45 Figura 36 - Detalhamento de armação típica de viga-parede com h≤l ........................... 46 Figura 37 - Exemplo de aplicação do Método das Bielas: (a) Consolo, (b) Viga e (c) Viga-Parede .................................................................................................................... 47 Figura 38 - Configurações de escoras ............................................................................ 48 Figura 39 - Configurações básicas de nós ...................................................................... 48 Figura 40- Dimensões das vigas-paredes ensaiadas ....................................................... 52 Figura 41 – Analogia de treliça aplicada na viga. Escoras em verde, tirante em vermelho e nós em amarelo ............................................................................................................ 53 Figura 42 – Detalhamento ângulo θ ............................................................................... 53 Figura 43 - Equilíbrio do nó 1 ........................................................................................ 54 Figura 44 – Montagem das malhas de reforço ............................................................... 56 Figura 45 – Materiais utilizados; Mistura na betoneira; Concretagem; Corpos-de-prova de concreto ...................................................................................................................... 57 Figura 46 – Capeamento com enxofre e rompimento dos corpos-de-prova de concreto na prensa EMIC PCE 100-C........................................................................................... 58 Figura 47 – Fôrmas ......................................................................................................... 59 Figura 48 - Viga-parede posicionada na prensa EMIC M1E 100 .................................. 60 Figura 49 - Face A da viga-parede com 0% de malha de reforço .................................. 61 Figura 50 – Face B da viga-parede com 0% de malha de reforço .................................. 62 Figura 51 - Face A da viga-parede com 0,15% de malha de reforço ............................. 63 Figura 52 - Face B da viga-parede com 0,15% de malha de reforço ............................. 63 Figura 53 – Face A da viga-parede com 0,20% de malha de reforço............................. 64 Figura 54 - Face B da viga-parede com 0,20% de malha de reforço ............................. 65 Figura 55 – Face A da viga-parede com 0,30% de malha de reforço............................. 66 Figura 56 - Face B da viga-parede com 0,30% de malha de reforço ............................. 66 Figura 57 - Dimensões dos nós e escoras ....................................................................... 68 Figura 58 – Forças nos nós 1 e 4 .................................................................................... 69 Figura 59 – Forças nos nós 2 e 3 .................................................................................... 71 Figura 60 - Definição dos ângulos .................................................................................. 73 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Tipos de termofixos e termoplásticos e seus usos mais comuns .................... 7 Tabela 2 - Propriedades das matrizes poliméricas dos compostos de FRP ...................... 7 Tabela 3 - Propriedades das fibras .................................................................................... 8 Tabela 4 - Propriedades das mais usuais fibras de vidro em barras de GFRP ............... 10 Tabela 5 - Densidade das barras de GFRP com variação de 50% à 70% do volume de fibras (kg/m3) .................................................................................................................. 14 Tabela 6 - Coeficiente de dilatação térmica ................................................................... 14 Tabela 7 - Resistência à tração das barras de GFRP ...................................................... 15 Tabela 8 - Propriedades mecânicas das barras de FRP e do aço .................................... 16 Tabela 9 - Propriedades das barras de GFRP formadas de fibra de vidro-E .................. 17 Tabela 10 - Módulo de elasticidade mínimo .................................................................. 31 Tabela 11 - Fator de redução ambiental ......................................................................... 31 Tabela 12 – Propriedades Mecânicas dos vergalhões de GFRP ..................................... 51 Tabela 13 – Resumos da quantidade de materiais utilizados no concreto...................... 57 Tabela 14 – Resultado das resistências dos corpos-de-prova ......................................... 58 Tabela 15 - Resultados da viga-parede com 0% de malha de reforço ............................ 61 Tabela 16 - Resultados da viga-parede com 0,15% de malha de reforço ....................... 62 Tabela 17 - Resultados da viga-parede com 0,20% de malha de reforço ....................... 64 Tabela 18 - Resultados da viga-parede com 0,30% de malha de reforço ....................... 65 Tabela 19 - Resumo dos ensaios..................................................................................... 67 Tabela 20 - Distribuição da malha de reforço 0,15% Ac ............................................... 74 Tabela 21 - Distribuição da malha de reforço 0,20% Ac ............................................... 75 Tabela 22 - Distribuição da malha de reforço 0,30% Ac ............................................... 75 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1 1.1 JUSTIFICATIVA ................................................................................................... 1 1.2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 2 1.2.1 Objetivo geral ................................................................................................. 2 1.2.2 Objetivos específicos ...................................................................................... 2 2 HISTÓRICO DO USO DE GFRP ............................................................................. 3 3 VERGALHÕES DE FIBRA DE VIDRO (GFRP) ................................................... 5 3.1 COMPOSIÇÃO ...................................................................................................... 5 3.1.1 Compósito de FRP (fiber reinforced polymer) ............................................. 5 3.1.2 Matriz Polimérica .......................................................................................... 6 3.1.3 Fibras .............................................................................................................. 8 3.2 PROCESSO DE PRODUÇÃO ............................................................................. 10 3.2.1 Processo de Produção de Barras de GFRP ............................................... 12 3.3 PROPRIEDADES ................................................................................................ 13 3.3.1 Propriedades Físicas das Barras de GFRP ............................................... 13 3.3.2 Propriedades Mecânicas das Barras de GFRP ......................................... 14 3.3.3 Fatores que afetam as propriedades mecânicas das barras de GFRP.... 17 3.4 ADERÊNCIA ....................................................................................................... 18 3.4.1 Aderência em Barras de GFRP .................................................................. 18 3.4.2 Ancoragem de Barras de GFRP ................................................................. 20 3.5 DURABILIDADE ................................................................................................ 20 3.6 VANTAGENS E DESVANTAGENS DO USO DO BARRAS DE FRP ........... 21 3.7 APLICAÇÕES ..................................................................................................... 22 3.7.1 GFRP na Indústria da Construção Civil ................................................... 22 3.7.2 Manuseio e Cuidados com as barras de GFRP ......................................... 27 4 NORMAS RELACIONADAS AO USO DE COMPÓSITOS DE FRP EM ESTRUTURAS DE CONCRETO ............................................................................... 29 4.1 HISTÓRICO ......................................................................................................... 29 4.2 DIMENSIONAMENTO....................................................................................... 30 4.2.1 Estado Limite Último – ELU ...................................................................... 31 4.2.1.1 Resistência à Tração (Item 7.2.) ............................................................. 31 4.2.1.2 Resistência à Tração em Trechos Curvos (Item 7.2) .............................. 33 4.2.2 Flexão ............................................................................................................ 33 4.2.2.1 Resistência à Flexão (Item 8.2) .............................................................. 35 4.2.2.2 Fator de Redução (Item 8.2.3.) ............................................................... 37 4.2.2.3 Armadura mínima (Item 8.2.4) ............................................................... 38 4.2.3 Considerações Gerais (Item 8.2.5) ............................................................. 39 4.2.3.1 Camadas múltiplas de reforço e combinações de diferentes tipos de FRP ............................................................................................................................ 39 4.2.3.2 Redistribuição de Momento ................................................................... 39 4.2.3.3 Armadura de Compressão ...................................................................... 39 4.2.4 Estado Limite de Serviço – ELS (Item 8.3) ............................................... 40 4.2.4.1 Fissuração ............................................................................................... 40 4.2.4.2 Deformação ............................................................................................ 41 5 VIGA-PAREDE ......................................................................................................... 43 5.1 DEFINIÇÃO......................................................................................................... 43 5.2 DIMENSIONAMENTO....................................................................................... 44 5.3 DETALHAMENTO DE VIGAS-PAREDES SEGUNDO A NBR 6118 (2014) 45 5.3.1 Armadura de flexão ..................................................................................... 45 5.3.2 Ancoragem da armadura de flexão positiva nos apoios........................... 46 5.3.3 Armadura vertical ....................................................................................... 46 6 MÉTODO DAS BIELAS .......................................................................................... 47 6.1 DEFINIÇÃO......................................................................................................... 47 6.2 PROCEDIMENTO DE APLICAÇÃO DO MÉTODO DAS BIELAS ................ 49 7 MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................... 51 7.1 DIMENSIONAMENTO....................................................................................... 51 7.1.1 Análise das características do vergalhão de GFRP .................................. 51 7.1.1.1 Resistência dos vergalhões de GFRP ..................................................... 51 7.1.1.2 Cálculo da armadura do tirante ............................................................... 52 7.1.1.3 Cálculo da malha mínima de reforço ...................................................... 55 7.1.2 Análise das características do concreto ..................................................... 57 7.2 FÔRMAS .............................................................................................................. 59 8 RESULTADOS .......................................................................................................... 60 9 ANÁLISE DOS RESULTADOS .............................................................................. 68 9.1 VERIFICAÇÃO DOS NÓS ................................................................................. 68 9.1.1 Verificação dos nós 1 e4 .............................................................................. 68 9.1.2 Verificação dos nós 2 e 3 ............................................................................. 70 9.2 VERIFICAÇÃO DAS ESCORAS ....................................................................... 72 9.2.1 Verificação das escoras segundo NBR 6118-14......................................... 72 9.2.2 Verificação das escoras segundo ACI 318-14 ............................................ 72 10 CONCLUSÃO.......................................................................................................... 77 11 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 78 1 1 INTRODUÇÃO Em meados do século XIX, surgiu na Europa o processo construtivo denominado concreto armado que consiste em utilizar barras de aço como reforço do concreto. Essa combinação tornou possível a construção de estruturas capazes de vencer grandes vãos e alturas. No Brasil, o uso do concreto armado predominou nas obras de infraestrutura, inclusive nas estruturas destinadas ao armazenamento e tratamento de água. Essas estruturas apresentam problemas de desempenho e durabilidade causados pela presença de água no elemento estrutural. O meio aquoso permite o desenvolvimento de inúmeras reações que em contato com a armadura causam corrosão do aço (BORGES, 2008). Na tentativa de solucionar esse problema, na última década, vem sendo amplamente aplicadas as barras não metálicas, como por exemplo, barras de GFRP (glass fiber reinforced polymer), em situações nas quais se faz necessária a substituição do aço por um material não corrosivo, visando menor manutenção e prolongamento da vida útil da estrutura. Vergalhões de GFRP são formados por um composto de fibras de vidro reforçadas com resina polimérica e foram introduzidos na indústria da construção civil na década de 50. Como principais propriedades pode-se citar: material não corrosivo, inerte à formação de campos eletromagnéticos e excelente resistência a tração (SILVA; GONZALEZ; MARTINS, 2013). 1.1 JUSTIFICATIVA Os reservatórios de água no Brasil são construídos, em sua grande maioria, de concreto armado. À presença de água nas estruturas causam corrosão da armadura, logo grande capital vem sendo aplicado em virtude do alto custo de manutenção e recuperação desses elementos. Em um reservatório, a umidade encontrada na estrutura pode ser originada de uma trinca, fissura ou até mesmo alguma falha na impermeabilização, permitindo a entrada da água pelos poros do concreto. De acordo com Benmokrane e Mohamed (2014), projetistas estão buscando obter baixo índice de porosidade do concreto e nenhuma abertura de fissura, trabalhando com misturas de baixo índice água-cimento, com aditivos e agregados específicos. Porém, os resultados até então obtidos tem sido limitados com relação à proteção do aço. 2 Logo, faz-se necessária a substituição desse material por armaduras não metálicas, como por exemplo, barras de fibra de vidro polimerizadas, que na última década apresentou uma relação custo-benefício atrativa devido sua baixa manutenção e maior durabilidade. 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Objetivo geral Dimensionar uma viga-parede composta de concreto e barras de GFRP. 1.2.2 Objetivos específicos A seguir serão apresentados os objetivos específicos do trabalho: a) Analisar as propriedades mecânicas do material a ser estudado, barra de GFRP; b) Dimensionar uma viga-parede de concreto reforçado com barras de fibra de vidro polimerizadas através do Método das Bielas; c) Verificar o comportamento da viga-parede com diferentes quantidades de malha de reforço mínima de GFRP. 3 2 HISTÓRICO DO USO DE GFRP Com o fim da segunda Guerra Mundial o uso de compósitos de polímeros reforçados com fibras (FRP) tornou-se comum na indústria naval, eletrônica, automobilística e aeronáutica pois já conheciam as vantagens da alta resistência e a leveza de materiais compósitos. Segundo o ACI 440 2R (2008), a construção civil não cogitou a hipótese de fazer o uso desse material até a década de 60, quando nos Estados Unidos iniciava uma expansão do sistema rodoviário e surgiu a preocupação com a intensa recuperação de pontes: uso de sal para eliminar o acúmulo de gelo causava corrosão das armaduras dessas estruturas. No entanto, até 1970 o uso de barras de FRP não era viável. Em 1980, as empresas norte americanas, Marshall-Vega e Internacional Grades, lideraram as pesquisas de desenvolvimento de reforços de barras de compósitos no concreto. Nessa época, o avanço tecnológico de equipamentos médicos exigiu o uso de materiais magneticamente inertes nas instalações hospitalares, tornando o reforço de FRP padrão para esse tipo de construção (ACI 440 2R, 2008). Em 1991, o Instituto Americano de Concreto (ACI) iniciou os estudos sobre o uso de FRP, publicando duas normas. A primeira, apresentando o Estado da Arte dos Compósitos de FRP (ACI 440R,1996) e a segunda norma publicada se referia ao dimensionamento de elementos estruturais em concreto com barras de FRP (ACI 440 1R, 2003) (TAVARES, 2006). Os japoneses mostraram-se a favor do uso de FRP em reforço estrutural e hoje possuem as maiores aplicações dessa tecnologia. Disposições de concepção de FRP foram incluídas na concepção e construção das recomendações da Sociedade Japonesa de Engenheiros Civis 1997. Já na Europa, o uso das barras de FRP iniciou-se na Alemanha, em 1986, com a construção de uma ponte rodoviária, o que deu início a programas de pesquisa do uso dessas armaduras como o projeto europeu BRITE / EURAM e, mais tarde, o EUROCRETE (SILVA; GONZALEZ; MARTINS, 2013). De acordo com Couto (2007), no Brasil, as pesquisas sobre o uso de barras de FRP como armadura para estruturas de concreto iniciaram-se em 1998, com a publicação de dois artigos no III Congresso de Engenharia Civil em Juiz de Fora – MG: Barras de Armação em FRP: Discussão de parâmetros para normalização (ALVES, A. B.; CASTRO, P.F., 1998) e Comportamento de Vigas de Concreto de Alta Resistência com Armadura Não Metálica Tipo FRP (RAYOL, J.O.; MELO, G.S., 1998). Quase dez anos depois, em 2006 Tavares estudou o comportamento de vigas armadas com compósitos de fibra de vidro submetidas a flexão e 4 publicou na Escola de Engenharia de São Carlos sua dissertação de mestrado: “Análise Teórica e Experimental de Vigas de Concreto Armadas com Barras Não-Metálicas de GFRP”. 5 3 VERGALHÕES DE FIBRA DE VIDRO (GFRP) 3.1 COMPOSIÇÃO 3.1.1 Compósito de FRP (fiber reinforced polymer) É considerado compósito todo material constituído de dois ou mais materiais fisicamente distintos, o objetivo de unir esses materiais é melhorar seu desempenho quando comparados ao dos seus componentes separados (HULL, 1981 apud MICALI, 2010). No caso de FRP, o compósito é formado de polímero (matriz) e de fibras (reforço). As matrizes são responsáveis pela resistência mecânica do compósito no sentido transversal às fibras, além de manter as fibras no posicionamento desejado, separando-as e evitando abrasão durante as deformações no compósito. Já o reforço possui altas resistências de tração e módulo de elasticidade elevado. Assim sendo, o comportamento físico do compósito depende das propriedades físicas e mecânicas das fibras e resina, orientação das fibras, proporção volumétrica e capacidade de adesão fibra-resina. A Figura 1 esquematiza a seção transversal do compósito de FRP. Figura 1- Seção transversal do compósito de FRP Fonte: ACI 440 1R (2003) Em três categorias distintas os compósitos podem ser classificados, dependendo da geometria, tipo e orientação do reforço. A Figura 2 apresenta as três diferentes categorias 6 Figura 2 - Categorias de compósitos Fonte: Adaptada Daniel e Ishida (1994 apud MICALI, 2010) 3.1.2 Matriz Polimérica A função do polímero no composto está vinculada em transferir as tensões entre as fibras e a estrutura ao redor, além de proteger as fibras de danos mecânicos e danos causados pelo ambiente (TAVARES, 2006). De acordo com Micali (2010), os polímeros podem ser classificados em termofixos e termoplásticos: a) Termofixos: São plásticos insaturados, com cadeia molecular composta por duplas ligações. Para permitir sua trabalhabilidade necessitam de algum tipo de solvente para mantê-los no estado líquido. Na moldagem, um catalisador deve ser adicionado para que seja ativada a polimerização. b) Termoplásticos: São plásticos saturados, com variados graus de dureza e não possuem ligações duplas. Na moldagem apenas necessitam de aquecimento para alcançar o estado líquido e, depois, confinamento em moldes fechados em que são injetados. Assim o plástico volta ao estado sólido mantendo a geometria do molde utilizado. A Tabela 1 apresenta os tipos mais comuns de polímeros termofixos e termoplásticos. 7 Tabela 1 – Tipos de termofixos e termoplásticos e seus usos mais comuns POLÍMEROS TIPOS TERMOFIXOS TERMOPLÁSTICOS USOS COMUNS Poliéster Insaturado Poliuretano Fenol Epóxi Acrílicos Éster Vinílico Compósitos, adesivo, peças decorativas. Compósitos, peças mecânicas, espumas. Adesivos diversos. Compósitos especiais e adesivos. Substituto do vidro, utensílios. Compósitos de maior resistência. Bisfenólico Adesivos, abrasivos, discos de corte. PE - Polietileno PVC- Policloreto de Vinila PET - Polietilino Tereftalo Polipropileno HD Nylon EVA - Etileno Vinil Acetato Embalagens, tubos flexíveis, utensílios. Tubos e mangueiras, embalagens de alimentos. Embalagens diversas e de alimentos. Peças industriais, compósitos injetados. Tecidos, peças mecânicas industriais. Calçados, materiais esportivos. Poliestireno Isolamento, embalagens, construção civil. Fonte: Adaptado Silva; Gonzalez; Martins (2013) Os polímeros normalmente usados nos compósitos de FRP são os termofixos, sendo esses os mais comuns: epóxi, vinil éster e poliéster insaturado. Na Tabela 2 estão presentes as propriedades físicas dessas resinas. Tabela 2 - Propriedades das matrizes poliméricas dos compostos de FRP MATRIZ PRORIEDADES 3 MASSA ESPECÍFICA (g/m ) RESISTÊNCIA À TRAÇÃO (MPa) MÓDULO LONGITUDINAL (GPa) COEFICIENTE DE POISSON COEFICIENTE DE DILATAÇÃO TÉRMICA (10-6/°C) TEOR DE UMIDADE (%) POLIÉSTER EPÓXI VINIL ÉSTER 1,20 - 1,40 34,5 - 104 2,1 - 3,45 0,35 - 0,39 1,20 -1,40 55 - 130 2,75 - 4,10 0,38 - 0,40 1,15 - 1,35 73 – 81 3,0 - 3,5 0,36 - 0,39 55 - 100 45 - 65 50 – 75 0,15 - 0,60 0,08 - 0,15 Fonte: Adaptado FIB 9.3 TG (2003) 0,24 - 0,30 Uomoto et al. (2002 apud COUTO, 2007) ressaltam a importância de considerar a deformação de ruptura das resinas e das fibras. Por exemplo, as resinas epóxi têm baixa capacidade de deformação e trabalham bem com as fibras de carbono. No entanto, quando são usadas fibras de aramida ou vidro os resultados não são satisfatórios, pois essas fibras possuem alta capacidade de deformação. 8 O polímero mais utilizado como matriz em FRP é o poliéster insaturado. Esse material apresenta baixa viscosidade, é suscetível de ser misturado com grandes quantidades de cargas (fillers) e apresenta um equilíbrio entre suas propriedades mecânicas, químicas e elétricas, além de possuir boa estabilidade dimensional e facilidade de processamento a um preço relativamente baixo (SILVA; GONZALEZ; MARTINS, 2013). Para combinar as propriedades melhoradas do epóxi com a facilidade de processamento do poliéster foi desenvolvido o vinil éster, apresentando boa resistência ao impacto e à fadiga, boas propriedade de isolamento térmico e elétrico e baixa permeabilidade de água. Sendo assim, as resinas vinil éster são mais indicadas para compósitos de GFRP. 3.1.3 Fibras O comportamento que se deseja obter em um compósito dependerá da escolha de seu reforço, ou seja, a fibra. Para compósitos de FRP, aplicados na construção civil, são aplicadas as fibras de Carbono (Carbon – C), Aramida (Aramid – A) e Vidro (Glass – G). A Tabela 3 contém as propriedades das fibras mais usuais em compósitos. Tabela 3 - Propriedades das fibras FIBRA DE CARBONO CARBONO POLIACRÍLICO NITRIL FIBRA DE ARAMIDA FIBRA DE VIDRO CARBONO PITCH KEVLAR 49 TWARON TECHNORA VIDRO-E VIDRO ÁLCALI RESISTENTE PROPRIEDADES ALTA RESISTÊNCIA ALTO MÓDULO DE ELASTICIDADE COMUM ALTO MÓDULO DE ELASTICIDADE RESISTÊNCIA À TRAÇÃO (MPa) 3430 2450 - 3920 764 - 980 2940 - 3430 2744 3430 3430 - 3528 1764 - 3430 MÓDULO DE DEFORMAÇÃO (GPa) 196 - 235 343 - 637 37 - 39 392 - 784 127 72,5 72,5 - 73,5 68,6 - 70 1,3 - 1,8 0,4 - 0,8 2,1 - 2,5 0,4 - 1,5 2,3 4,6 4,8 4 -5 / 2 - 3 1,7 - 1,8 1,8 - 2,0 1,6 - 1,7 1,9 - 2,1 1,45 1,39 2,6 2,27 ALONGAMENTO (%) MASSA ESPECÍFICA (g/m3) DIÂMETRO (μm) 5,0 - 8,0 9,0 - 18,0 12 8,0 - 12,0 Fonte: Adaptada Uomoto et al. (2002 apud COUTO, 2007) Segundo Micali (2010), as fibras de carbono são hoje utilizadas em todos os setores industriais, pois possuem as melhores características mecânicas, alto modo de elasticidade, baixo coeficiente de dilatação térmica, são imunes à corrosão, são as mais resistentes à ação de agentes químicos e não absorvem água. No entanto, apresentam os maiores custos e alguns problemas relacionados com a resistência ao impacto. Já as de aramida possuem baixa 9 densidade, alta resistência à tração e possibilita a criação de estruturas altamente resistentes ao impacto. São utilizadas na fabricação de coletes a prova de balas, na indústria automobilística, aeronáutica e marítima, mas possuem baixa resistência à compressão, dificuldades de moldagem e são susceptíveis a temperaturas elevadas e a raios ultravioletas. A fibra de vidro possui comportamento elástico linear quando submetida a uma força de tração, não apresentam fadigas em ambientes secos. Em contrapartida, as fibras reagem com a água e sua superfície é extremamente reagente. Assim, as fibras de vidro podem ser danificadas durante o manuseio, então um filme protetor é aplicado, fazendo com que, também, aumente o poder de adesão da fibra na matriz. Esse material pode ser encontrado em diversos formatos, as Figuras 3, 4 e 5 apresentam alguns exemplos. Figura 3 - Fibra de vidro picada Fonte: Owens Corning (2014) Figura 4 - Fibra de vidro em fio Fonte: Owens Corning (2014) 10 Figura 5 - Fibra de vidro em tecido Fonte: Owens Corning (2014) Atualmente o custo benefício da fibra de vidro fez com que essa fosse a mais utilizada na indústria da construção civil. O preço no mercado é consideravelmente inferior às fibras de carbono e aramida. As fibras de vidro comercialmente disponíveis para o compósito GFRP são: vidro-S, vidro-E e vidro álcali resistente (FIB TG 9.3). A Tabela 4 apresenta as propriedades desses materiais. Tabela 4 - Propriedades das mais usuais fibras de vidro em barras de GFRP TIPO DE FIBRA VIDRO-E VIDRO-S VIDRO-AR DENSIDADE Kg/m3 2500 2500 2270 RESISTÊNCIA À TRAÇÃO MPa MÓDULO DE YOUNG GPa COEFICIENTE DEFORMAÇÃO DE EXPANSÃO COEFICIENTE ÚLTIMA TÉRMICA DE POISON % 10-6/°C 3450 72,4 2,4 4580 85,5 3,3 1800 - 3500 70 - 76 2,0 - 3,0 Fonte: Adaptado FIB TG 9.3 (2003) 5 2,9 - 0,22 0,22 - 3.2 PROCESSO DE PRODUÇÃO De acordo com o ACI 440R (1996), a produção de componentes estruturais de FRP pode ser realizada por três diferentes processos. 11 a) “Filament Winding” (Enrolamento Filamentar): utilizado na fabricação de tubos, tanques e outros materiais cilíndricos (Figura 6). Figura 6 - "Filament Winding" Fonte: GD Ecotch (2014) b) Compactação a vácuo: utilizado na produção de laminados. A Figura 7 apresenta o esquema de produção do compósito por compactação à vácuo. Figura 7 - Compressão à vácuo Fonte: Tsai, Stephen W. et al. (2003 apud Micali, 2010) 12 c) Pultrusão: utilizado na fabricação de barras de GFRP (Figura 8). Figura 8 - Processo de pultrusão Fonte: Handbook of Composites, Wilson, Brian A. (1998 apud Micali, 2010) 3.2.1 Processo de Produção de Barras de GFRP A pultrusão é a palavra usada para descrever um processo de fabricação comercial para a produção de elementos compósitos de FRP. Esse processo tira proveito da força da fibra na direção longitudinal para puxar o extrudado, formado, após o processo de cura, uma seção transversal constante e um elemento estrutural pertencente a um sistema de material compósito (MICALI, 2010, p. 26). A Figura 9 apresenta o esquema desse processo. O método melhorou a eficiência na produção de barras, permitindo obter materiais de elevada resistência, minimizando os custos, garantindo alto padrão de qualidade e poucos desperdícios. Figura 9 - Processo de pultrusão Fonte: STRATUS Compostos Estruturais LTDA (2012, apud Silva; Gonzalez; Martins, 2013) 13 Segundo Silva, Gonzalez e Martins (2013), o princípio do processo de pultrusão consiste em fios de fibra de vidro puxados de várias bobinas passando por imersão em resina polimérica e posteriormente por uma boquilha, responsável por conformar a barra. Em seguida passa pelo processo de aquecimento para proceder a cura térmica da resina, depois segue para o tracionador e corte das barras no comprimento desejado. Antes do endurecimento, o acabamento superficial das barras é executado. Esse acabamento possibilita o aumento da aderência da barra como concreto, podendo ser feito por esses processos: impregnação de agregados finos na superfície da barra; moldando entalhes ao longo do comprimento da barra; enrolando filamentos de fibra em forma de hélice em toda barra. 3.3 PROPRIEDADES É sabido que as propriedades de um material estrutural são fundamentais para determinação da área de aplicação do mesmo. Como dito anteriormente, as propriedades físicas e mecânicas do compósito de FRP dependem da composição de sua matriz e seu reforço, além da quantidade e orientação das fibras, temperatura, agressividade do meio em que estão aplicados, tipo de carregamento do elemento estrutural, processo de produção e da qualidade do compósito. Em virtude desse leque de combinações dessas possibilidades o European Committee for Standardization (CEN) publicou em 2002 uma norma designada de EN 13706, que especifica as propriedades mínimas que as barras de FRP devem apresentar e os ensaios normalizados para caracterizar essas propriedades (SILVA; GONZALEZ; MARTINS, 2013). 3.3.1 Propriedades Físicas das Barras de GFRP a) Massa específica É obtida em termos de densidade e quantidade de cada constituinte, ou seja, a soma do volume da matriz polimérica e das fibras multiplicado pelas respectivas massas específicas, como apresentado na Equação 3.1 (FIB TG 9.3, 2003). 𝜌𝑐 = 𝜌𝑓 ∗ 𝑉𝑓 + 𝜌𝑝 ∗ 𝑉𝑝 (3.1) A Tabela 5 apresenta a densidade das barras de GFRP com variação do volume de fibras de 50% - 70%. 14 Tabela 5 - Densidade das barras de GFRP com variação de 50% à 70% do volume de fibras (kg/m3) MATRIZ GFRP POLIÉSTER 1750 - 2170 EPÓXI 1760 - 2180 VINIL ÉSTER 1730 - 2150 Fonte: Adaptado FIB TG 9.3 (2003) b) Coeficiente de dilatação térmica Esse coeficiente também é dependente do tipo de fibra e da fração volumétrica dos constituintes da barra de GFRP. A constante longitudinal (αL) é determinada pela fibra e, por sua vez, a transversal (αT) pelo polímero. A Tabela 6 mostra os valores típicos dessas propriedades para uma variação de 50% - 70% do volume de fibras. Tabela 6 - Coeficiente de dilatação térmica DIREÇÃO GFRP (10-6/°C) LONGITUDINAL 6,0 - 10,0 TRANSVERSAL 21,0 - 23,0 Fonte: Adaptado FIB TG 9.3 (2003) 3.3.2 Propriedades Mecânicas das Barras de GFRP a) Resistência à Tração O comportamento elástico-linear e a ruptura frágil são características das barras de GFRP, pois essas alcançam sua resistência última sem apresentar patamar de escoamento (Figura 10). No entanto, a resistência à tração depende da disposição e quantidade das fibras, além de ser influenciada pelo tipo de resina da barra. Assim, a padronização da resistência última nesse material é um grande problema (ACI 440 1R, 2003). 15 Figura 10 - Diagrama tensão x deformação Fonte: ACI 440 R (1996 apud COUTO 2007) Diferentemente das barras de aço, a barra de GFRP não segue a proporção da resistência da barra em função de sua seção transversal. Esse material sofre o efeito Shear Lag, onde as fibras mais solicitas estão localizadas próximas à superfície do vergalhão, resultando na redução de eficiência em barras com diâmetros maiores (ACI 440 R, 1996). A Tabela 7 apresenta essa redução de eficiência das barras de GFRP. Tabela 7 - Resistência à tração das barras de GFRP DIÂMETRO (mm) SEÇÃO TRANSVERSAL (mm2) RESISTÊNCIA À TRAÇÃO (MPa) 9 71 900 13 127 740 16 198 655 19 285 620 22 388 585 Fonte: Adaptado Jorquira & Mayorga (1998 apud COUTO, 2007) b) Módulo de Elasticidade Segundo o ACI 440 1R (2003), o módulo de elasticidade à tração das barras de GFRP é 75% menor do que o do aço e o módulo de elasticidade à compressão é aproximadamente 80% menor que o de tração. A Tabela 8 compara as propriedades de resistência das barras de FRP com o aço. 16 Tabela 8 - Propriedades mecânicas das barras de FRP e do aço PROPRIEDADES DAS CFRP ARFP GFRP BARRAS AÇO - - - 276 - 517 RESISTÊNCIA À TRAÇÃO (MPa) 600 - 3690 1720 - 2540 483 - 1600 483 - 690 MÓDULO DE ELASTICIDADE (GPa) 120 - 580 41 - 125 35 - 51 200 DEFORMAÇÃO DE ESCOAMENTO (%) - - - 0,14 - 0,25 DEFORMAÇÃO DE RUPTURA (%) 0,5 - 1,7 1,9 - 4,4 1,2 - 3,1 6,0 - 12,0 TENSÃO DE ESCOAMENTO (MPa) Fonte: Adaptado ACI 440 1R (2003) c) Resistência à Compressão Longitudinal De acordo com FIB 9.3 TG (2003, apud COUTO, 2007) as barras de FRP quando submetidas à compressão não apresentam um bom comportamento quando comparado à tração. Os modelos teóricos de resistência à tração não são válidos. A ruptura é associada à microfissuração das fibras, falha na tração transversal e no cisalhamento das fibras. d) Resistência ao Cisalhamento Influenciada pelas propriedades da matriz polimérica e pelas distribuições de tensões locais, a resistência ao cisalhamento é consideravelmente baixa (FIB TG 9.3, 2003). A Figura 11 mostra a solicitação ao cisalhamento transversal, com o vetor da tensão no mesmo plano da seção transversal. Figura 11 - Barra de FRP sujeita ao cisalhamento transversal Fonte: FIB TG 9.3 (2003 apud TAVARES, 2006) e) Fadiga Segundo ACI 440R (1996), as barras de GFRP possuem alta resistência à fadiga, suportando mais que quatro milhões de ciclos de carregamento antes de iniciar a ruptura na zona de ancoragem. 17 Por fim, a Tabela 9 resume as principais propriedades de uma barra de GFRP, composta por 55% de volume de fibra de vidro e com matriz polimérica de epóxi. Tabela 9 - Propriedades das barras de GFRP formadas de fibra de vidro-E PROPRIEDADE FRAÇÃO DO VOLUME DE FIBRAS DENSIDADE (kg/m3) MÓDULO LONGITUDINAL (GPa) MÓDULO TRANSVERSAL (GPa) MÓDULO DE CISALHAMENTO (GPa) COEFICIENTE DE POISSON MAIOR COEFICIENTE DE POISSON MENOR RESISTÊNCIA À TRAÇÃO LONGITUDINAL (MPa) RESISTÊNCIA ÀTRAÇÃO TRANSVERSAL (MPa) RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO NO PLANO (MPa) VIDRO-E/EPÓXI 0,55 2100 39 8,6 3,8 0,28 0,06 1080 39 89 DEFORMAÇÃO ÚLTIMA À TRAÇÃO LONGITUDINAL (%) 2,8 DEFORMAÇÃO ÚLTIMA À TRAÇÃO TRANSVERSAL (%) 0,5 RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO LONGITUDINAL (MPa) 620 RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO TRANSVERSAL (MPa) 128 Fonte: Adaptado FIB TG 9.3 (2003) 3.3.3 Fatores que afetam as propriedades mecânicas das barras de GFRP De acordo com a ACI 440R (1996), as propriedades mecânicas de um compósito podem sofrer influencias de diversos fatores como: a) Umidade: quando presente em meio aquoso, a resina ao absorver água pode inchar ou deformar a barra. Essa absorção excessiva de água nas barras de GFRP pode resultar em uma diminuição considerável de resistência e rigidez. Para estruturas que encontram-se permanentemente em contato com a água é ideal fazer o uso de resinas resistentes à umidade, garantindo, assim, a integridade do elemento estrutural. b) Fogo e Temperatura: como as resinas contêm quantidades consideráveis de carbono e hidrogênio – substâncias inflamáveis – o efeito da temperatura é mais preocupante nos polímeros do que nas fibras. Em um elemento estrutural composto de concreto e barras de GFRP, é função do concreto servir como barreira para proteger a armadura do contato direto com as chamas. 18 No entanto, é necessária atenção para os efeitos de temperaturas no interior do concreto, quando preciso, deve-se optar pelo uso de resinas resistentes à alta temperatura. A Figura 12 abaixo caracteriza o mecanismo de decomposição de um compósito de GFRP. Figura 12 - Esquema de um mecanismo de decomposição de um compósito de GFRP Fonte: Fernandes (2006 apud SILVA; GONZALEZ; MARTINS, 2013) c) Raios Ultravioleta: esse fator não surge efeito em armaduras não-metálicas encontradas no interior de estruturas de concreto. Porém, quando expostas aos raios, a matriz polimérica sofre reações químicas que levam à degradação de suas propriedades. Para evitar esse problema é recomendado incorporar aditivos à resina. d) Corrosão: as barras de GFRP não são afetadas pela deterioração eletroquímica, resistindo à corrosão pelo efeito dos ácidos, sais e materiais agressivos sob consideráveis mudanças de temperatura. No entanto, a alcalinidade do concreto no momento da cura cria uma atmosfera degradante ao vidro, causada pela sua afinidade de reações químicas com a sílica, matéria prima presente nos dois materiais (concreto e vidro). Logo, faz-se necessário produzir os vergalhões com uma fibra especial chamada de Vidro AR (álcali resistente), assim este meio agressivo é controlado. 3.4 ADERÊNCIA 3.4.1 Aderência em Barras de GFRP Segundo Fusco (1995, apud COUTO, 2007), a ligação do comportamento existente no concreto e nas barras de GFRP é estabelecida através da aderência entre esses materiais. Essa propriedade é composta por diversas parcelas, como por exemplo: a adesão, o atrito e o engrenamento da ligação (aderência mecânica). 19 a) Aderência por Adesão: essa parcela é estabelecida por ligações físico-químicas entre a barra e a pasta de cimento e um pequeno deslocamento relativo entre os materiais pode rompê-la facilmente. A Figura 13 mostra a aderência por adesão entre dois materiais. Figura 13 - Aderência por adesão Fonte: Fusco (1995 apud COUTO, 2007) b) Aderência por Atrito: o impedimento ao movimento por atrito está relacionado com a compressão uniformemente distribuída, exercida pelo concreto sobre a barra devido a retração e a rugosidade da superfície de contato entre os materiais. A aderência por atrito está exemplificada na Figura 14. Figura 14 - Aderência por atrito Fonte: Fusco (1995 apud COUTO, 2007) c) Aderência Mecânica: a resistência ao deslocamento é decorrente da presença de saliências na superfície da barra. Segundo Leonhardt & Mönning (1997 apud COUTO, 2007), o engremento mecânico entre a barra e o concreto pode conter formatos de encaixes variados que formam “consolos de concreto”, que são resistentes ao corte antes do deslizamento da barra. A Figura 15 apresenta a diferença entre as saliências de uma barra lisa e uma barra nervurada. 20 Figura 15 - Aderência mecânica Fonte: Fusco (1995 apud COUTO, 2007) Assim como o aço, a aderência entre o concreto e as barras de GFRP dependem do módulo de elasticidade, da conformação superficial e forma da barra (ACI 440 1R, 2003). Em contrapartida, a aderência das barras de GFRP não sofre grande influência da resistência à compressão do concreto, pois, quando submetidas aos ensaios de arranchamento, prevalece a parcela de aderência por atrito. 3.4.2 Ancoragem de Barras de GFRP De acordo com Couto (2007), a barra de GFRP requer maior comprimento de ancoragem devido a sua menor resistência quando comparada ao aço. A mudança de direção das fibras proporciona uma concentração de tensões laterais e a resistência axial da barra é minorada dependendo do processo de dobra empregado. 3.5 DURABILIDADE Como dito anteriormente, o maior problema que influencia na durabilidade de barras de GFRP aplicadas como reforço de estruturas de concreto está relacionado com o ambiente alcalino. Nessa exposição, o ataque químico na fibra é ocasionado pela alcalinidade do cimento, concentração e crescimento dos produtos de hidratação entre filamentos individuais. Tavares (2006) cita o estudo realizado por Kajorncheappunngam, Gupta e GangaRao em 2002, no qual as barras constituídas de fibra de vidro-E e resina epóxi obtiveram uma redução de 27,8% de sua resistência após estarem submetidas a uma solução de 5 mols de NAOH durante 5 meses em temperatura ambiente e, a 60ºC, essa redução chegou a 70%. As Figuras 17 e 18 ilustram as barras de GFRP durante esse estudo. 21 Figura 16 - Amostras submetidas à solução de 5 mols de NAOH em temperatura ambiente - seção transversal das fibras e seção longitudinal Fonte: Tavares (2006) Figura 17 - Amostras submetidas à solução de 5 mols de NAOH em temperatura de 60ºC Fonte: Tavares (2006) Assim, torna-se possível afirmar que a durabilidade das barras de GFRP pode ser melhorada quando a resina, protetora das fibras, é estritamente impermeável e as fibras forem de vidro álcali-resistente. Porém, a barra ótima para aplicação no concreto ainda não foi alcançada. Então, durante o dimensionamento da estrutura com GFRP é recomendável que seja considerado uma redução da capacidade resistente dessas barras. 3.6 VANTAGENS E DESVANTAGENS DO USO DO BARRAS DE FRP Segundo o ACI 440 1R (2006), as vantagens e desvantagens de barras de FRP na aplicação em reforços estruturais são: a) Vantagens: Alta resistência à tração longitudinal; 22 Resistente à corrosão (não dependendo do revestimento); Inertes aos efeitos magnéticos; Alta tolerância à fadiga (varia com o tipo de fibra); Baixa densidade (1/5 a 1/4 da densidade do aço); Baixa condutividade térmica e elétrica (vidro e aramida). b) Desvantagens: Não apresenta escoamento (ruptura frágil); Baixa resistência transversal; Baixo módulo de elasticidade (varia com o tipo de fibra); Alto coeficiente de expansão térmica perpendicular as fibras, relativo ao concreto; Baixa durabilidade das fibras de vidro em ambiente úmido e ambiente alcalino; 3.7 APLICAÇÕES 3.7.1 GFRP na Indústria da Construção Civil A aplicação de barras de GFRP na construção civil tem se tornado cada vez mais frequente. Suas vantagens impulsionaram o uso do compósito em estações de tratamento de água e esgoto, indústria ferroviária e termoelétrica. Além disso, a fibra de vidro vem sendo misturada ao concreto e a madeira para reforçar, proteger ou permitir leveza às peças. No entanto, esse material, quando comparado ao aço, ainda apresenta algumas limitações para uso estrutural (SILVA; GONZALEZ; MARTINS, 2013). a) Uso estrutural As aplicações desse material estruturalmente iniciaram-se em locais onde havia necessidade do uso de reforços inertes aos efeitos eletromagnéticos, não corrosivos e leves. Hospital no Texas – EUA, 1985 – armadura de GFRP aplicada em pilares e vigas devido sua não condutividade magnética. 23 Figura 18 - Hospital do Texas Fonte: ACI 440 R (1996) Túnel no Japão – 1990 – escolha de GFRP na estrutura justificada pelo baixo peso específico, resistência à corrosão e facilidade nas condições de montagem da armação. Figura 19 - Túnel no Japão Fonte: ACI 440 R (1996) Ponte Aberfeldy – Reino Unido, 1990 – primeira ponte construída apenas com materiais compósitos, estrutura faz a ligação entre dois campos de golf e foi projetada para uso de pedestres e veículos leves, tem comprimento de 113 metros. Figura 20 - Ponte Aberfeldy Fonte: Meireles (2011 apud SILVA; GONZALEZ; MARTINS, 2013) Pontes nos EUA – 1999 - armadura de GFRP aplicada na reabilitação de tabuleiros de pontes rodoviárias. A característica do material de resistência à corrosão foi usada como 24 justificativa por se tratar de um ambiente agressivo ou locais com aplicação de sal em períodos de neve. Figura 21 - Ponte em Lima - Ohio Fonte: ACI 440 1R (2003) Figura 22 - Ponte em Dayton – Ohio Fonte: ACI 440 1R (2003) Estradas e Obras de Proteção Costeira– EUA- utilização de barras de GFRP para transferência de esforços em pavimento rígido e como armadura para obras litorâneas, ou seja, ambiente agressivo para uso do aço. Figura 23 - GFRP em pavimento rígido Fonte: Blog Schock (2013 apud SILVA; GONZALEZ; MARTINS 2013) 25 Figura 24 - Obra de proteção costeiras Fonte: Blog Schock ( 2013 apud SILVA; GONZALEZ; MARTINS 2013) Linha Lilás do Metrô de São Paulo – Brasil – barras de GFRP são empregadas na execução das pregagens para estabilização do solo em túneis de metrô. De acordo com os documentos de Instrução de Projeto do Departamento de Estradas de Rodagem (2005 apud SILVA; GONZALEZ; MARTINS, 2013), pregagens são elementos estruturais com formato de barras ou tubos (fibra de vidro, pvc, ou aço), os quais são instalados na face frontal de escavação do túnel por meio de cravação ou perfuração. Sua função é fornecer tensão de confinamento horizontal, impedindo o cisalhamento do solo. Figura 25 – Barra de GFRP aplicada na pregagem Fonte: Instrução de Projeto DER (2005 apud SILVA; GONZALEZ; MARTINS, 2013) 26 Figura 26 - Barras de GFRP para enfilagem na linha lilás em São Paulo Fonte: Silva; Gonzalez; Martins (2013) Parede Diafragma no Rio de Janeiro – Brasil, 2013 – barras de GFRP utilizadas nas paredes de contenção de poços de emboque e desemboque de tuneladora, permitindo que a mesma consiga demolir a parede cm facilidade, rapidez e segurança, devido sua baixa resistência transversal. Figura 27 - Primeira parede diafragma construída com GFRP no Brasil (11/2013 - RJ) Fonte: FSB Comunicações (2013 apud SILVA; GONZALEZ; MARTINS, 2013) b) Uso não estrutural A propriedade dos compósitos de GFRP de possuírem baixa densidade permite que esse material seja empregado em coberturas com grandes vãos sem necessitar de muitos apoios (Figura 28). Além disso o fato desse material não ser corrosivo e ser facilmente moldável vem contribuindo positivamente para a utilização em estações de tratamento de água e esgoto (Figura 29) e para a indústria elétrica, produção de eletrodutos, conexões e leitos para cabos. 27 Figura 28 - Cobertura da estação do Rossio Fonte: Martins (2011 apud SILVA; GONZALEZ; MARTINS. 2013) Figura 29 - Aqueduto de 36m construído em perfis de GFRP no Reino Unido Fonte: Fiberline (2013 apud SILVA; GONZALEZ; MARTINS. 2013) A fibra de vidro pode ainda ser encontrada incorporada ao concreto, reduzindo o peso de painéis de revestimento de fachadas. O metro quadrado das placas de concreto maciço pesa 300kg enquanto o de um painel com adição de fibra de vidro pesa 70kg (FOLHA DE SÃO PAULO, 2014 apud SILVA; GONZALEZ; MARTINS, 2013). 3.7.2 Manuseio e Cuidados com as barras de GFRP De acordo com Silva, Gonzalez e Martins (2013), os principais cuidados no manuseio de barras de GFRP para evitar a perda de resistência da barra e garantir a durabilidade devido à infiltração de álcalis são: Manusear as barras com luvas para proteção dos trabalhadores devido a fibras expostas ou pontas afiadas; Estocar as barras sobre pallets, afim de mantê-las limpas; No armazenamento e transporte evitar contato com altas temperaturas, raios ultravioletas e substâncias químicas; Atentar-se a escolha de solvente para descontaminar as barras, caso necessário, pois alguns deles podem causar danos às fibras; 28 No caso de transporte vertical (içamento) utilizar uma barra de distribuições de tensões para evitar de a GFRP sofra flexão excessiva; Máscaras contra poeira, luvas e óculos de proteção são recomendados durante o corte, que deve ser feito com um cortador de alta velocidade (a partir de 600 rpm) ou uma serra de lâmina fina; Garantir que o posicionamento da armadura de GFRP seja mantido durante a concretagem com utilização de cadeiras de plástico e laços de arame, as barras possuem baixa massa específica e podem “flutuar” no concreto. 29 4 NORMAS RELACIONADAS AO USO DE COMPÓSITOS DE FRP EM ESTRUTURAS DE CONCRETO 4.1 HISTÓRICO Como a utilização de barras de FRP na indústria da construção está na fase inicial, as normas referentes ao dimensionamento de estruturas compostas por esse material estão em desenvolvimento. Países como EUA, Japão, Canadá e Europa já possuem algumas normas de dimensionamento de FRP: EUA – ACI 440 1R-03 e ACI 440 1R-06; Japão – diretrizes de FRP adicionadas ao JSCE 1997; Canadá – prescrições de estruturas armadas com FRP adicionadas ao Canadian Highway Bridge Design Code - CHBDC; Europa - FIB 9.3 TG – 03. No entanto, ainda são encontradas divergências nos procedimentos devido ao fato desses documentos serem baseados em normas de concreto armado convencional (SILVA; GONZALEZ; MARTINS ,2013). A Figura 30 apresenta uma linha do tempo com pesquisas e normas sobre FRP. 30 Figura 30 - Linha do tempo de pesquisas e normatizações sobre FRP Fonte: Silva; Gonzalez; Martins (2013) 4.2 DIMENSIONAMENTO A norma de dimensionamento das barras de GFRP utilizada nesse trabalho foi o ACI 440 1R (2006) – Guide for the Design and Construction of Structural Concrete Reinforced with FRP Bars. Como dito anteriormente, o ACI 440 1R (2006) é baseado nos processos de cálculo de estruturas de concreto armado convencional. Então, para os projetos com armaduras não metálicas os elementos estruturais são dimensionados para garantir segurança com relação à ruína (ELS) e capacidade última de resistência (ELU). É importante ressaltar que essa norma especifica os valores mínimos do módulo de elasticidade dos compostos que podem ser utilizados como parâmetros iniciais de cálculo, mas como existem diversas combinações de fibras e resinas é importante controlar a qualidade dos materiais do projeto. A Tabela 10 abaixo especifica os valores mínimos dessa propriedade prédefinidos pela norma. 31 Tabela 10 - Módulo de elasticidade mínimo BARRAS MÓDULO DE ELASTICIDADE (GPa) 39,3 GFRP 68,9 AFRP 110,3 CFRP Fonte: Adaptado ACI 440 1R (2006) 4.2.1 Estado Limite Último – ELU Assim como nas estruturas de concreto armado convencional, o critério de dimensionamento em ELU relaciona as resistências e as solicitações da peça. 𝑅𝑑 ≥ 𝑆𝑑 (4.1) Onde: Rd: Resistência de cálculo; Sd: Solicitações de cálculo. Nesse processo as solicitações são majoradas, utilizando um fator de segurança que dependerá do tipo de carregamento e das combinações de ações. Em contrapartida, as resistências do elemento são minoradas através do fator de redução ambiental, que varia de acordo com o tipo de compósito e o ambiente de exposição da estrutura (Tabela 11). Esse mesmo coeficiente é aplicado na redução da resistência do concreto. Tabela 11 - Fator de redução ambiental CONDIÇÃO DE EXPOSIÇÃO TIPO DE FIBRA FATOR DE REDUÇÃO CARBONO CONCRETO SEM EXPOSIÇÃO AO SOLO E AO TEMPO VIDRO ARAMIDA 1 0,8 0,9 CARBONO CONCRETO COM EXPOSIÇÃO AO SOLO E AO TEMPO VIDRO ARAMIDA Fonte: Adaptado ACI 440 1R (2006) 0,9 0,7 0,8 4.2.1.1 Resistência à Tração (Item 7.2.) A determinação da resistência à tração da barra de GFRP é, inicialmente, vinculada com as informações fornecidas pelo fabricante, ou seja, resultado de ensaios de tração. A norma pede que seja calculada a média dos ensaios realizados e, desse valor, deve diminuir três vezes o desvio padrão da amostra, como demonstra a Equação 4.2 abaixo. 32 𝑓𝑓𝑢̇ = ̅̅̅̅ 𝑓𝑓𝑢 − (3 ∗ 𝜎) (4.2) Onde: 𝑓𝑓𝑢̇ : resistência à tração de uma barra (MPa); ̅̅̅̅ 𝑓𝑓𝑢 : valor de resistência médio das amostras (MPa); 𝜎: desvio padrão das amostras do ensaio de tração(MPa). Em seguida, é calculado o valor de projeto da resistência à tração utilizando os coeficientes de exposição ambiental apresentados na Tabela 11. 𝑓𝑓𝑢 = 𝑓𝑓𝑢̇ ∗ 𝐶𝑒 (4.3) Onde: 𝑓𝑓𝑢 : resistência à tração de projeto de uma barra (MPa); 𝑓𝑓𝑢̇ : resistência à tração de uma barra (MPa); 𝐶𝑒 : coeficiente de redução (Tabela 11). Analogamente, esse procedimento de cálculo também é válido para definição dos valores de módulo de elasticidade. ̇ = ̅̅̅̅̅ 𝐸𝑓𝑢 𝐸𝑓𝑢 − (3 ∗ 𝜎) (4.4) ̇ ∗ 𝐶𝑒 𝐸𝑓𝑢 = 𝐸𝑓𝑢 (4.5) Onde: 𝐸𝑓𝑢 : módulo de elasticidade de projeto de uma barra; ̇ : módulo de elasticidade de uma barra; 𝐸𝑓𝑢 ̅̅̅̅̅ 𝐸𝑓𝑢 : valor do módulo de elasticidade médio das amostras; 𝜎: desvio padrão das amostras do ensaio detração; 𝐶𝑒 : coeficiente de redução (Tabela 11). 33 4.2.1.2 Resistência à Tração em Trechos Curvos (Item 7.2) A resistência à tração em trechos curvos, ou seja, em ganchos, pode ser determinada como: 𝑓𝑓𝑏 = (0,05 ∗ 𝑟𝑏 + 0,3) 𝑓𝑓𝑢 ≤ 𝑓𝑓𝑢 𝑑𝑏 (4.6) Onde: 𝑓𝑓𝑏 : resistência à tração de projeto em trechos curvos (MPa); 𝑟𝑏 : raio de curvatura (mm); 𝑑𝑏 : diâmetro da barra (mm); 𝑓𝑓𝑢 : resistência à tração de projeto de uma barra (MPa); De acordo com o ACI 440 1R (2006), a Equação 4.6 é uma adaptação das recomendações de projeto da Sociedade Japonesa de Engenheiros Civis -1997, a qual especifica que a força de tração no gancho de uma barra de FRP depende, principalmente, da relação raio de curvatura (rb) e do diâmetro da barra (db), do comprimento da ancoragem e, em menor escala, da resistência do concreto. 4.2.2 Flexão Para obter as equações de dimensionamento de peças estruturais de concreto armado com barras de FRP, o ACI 440 1R (2006) toma como base resultados do comportamento de elementos de seções transversais retangulares com uma única camada de reforço de barras de FRP submetidos à flexão, que apresentaram resultados parecidos com o de um elemento de concreto armado convencional. No entanto, o projeto de peças reforçadas com barras de FRP deve levar em conta a relação tensão-deformação uniaxial de materiais FRP. É importante salientar que os conceitos de dimensionamento podem ser aplicados em diferentes geometrias e em mais camadas de reforço se o comportamento de seções não retangulares for estudado e confirmado através de experimentos. No dimensionamento de estruturas de concreto armado com aço, busca-se que a armadura entre em escoamento antes do esmagamento do concreto, garantindo a ductilidade da estrutura. Em contra partida, as barras de GFRP são materiais que apresentam um comportamento elástico linear e ruptura frágil, logo, o elemento armado com compósitos é dimensionado de maneira que ocorra o esmagamento do concreto na fibra mais comprimida. 34 Assim, no dimensionamento busca-se o método mais econômico, a chamada ruína balanceada (Figura 31-b), onde ocorre a deformação da armadura e o esmagamento do concreto simultaneamente. Isso acontece quando a linha neutra da seção está localizada perto da seção comprimida, ou seja, na parte superior da altura útil. Figura 31 - Distribuição de tensões e deformações em condições últimas Fonte: ACI 440 1R (2006) Para simplificar o processo de dimensionamento, algumas hipóteses devem ser consideradas: A tensão no concreto e no reforço de FRP é proporcional à distância da linha neutra; A deformação de compressão máxima no concreto é assumida como sendo de 0,003; A resistência à tração do concreto é ignorada; O comportamento à tração do reforço FRP é linearmente elástico até a ruína; Existe aderência perfeita entre concreto e reforço de FRP. 35 4.2.2.1 Resistência à Flexão (Item 8.2) Utilizando a filosofia da capacidade última de resistência (ELU), o dimensionamento à flexão consiste em majorar as ações submetidas a estrutura e minorar sua capacidade resistente. 𝜑𝑀𝑛 ≥ 𝑀𝑢 (4.7) Onde: 𝑀𝑛 : momento fletor obtido das ações que o elemento é submetido; 𝑀𝑢 : momento fletor resistente calculado através das equações de equilíbrio e a compatibilidade de deformações; 𝜑: coeficiente dependente do tipo de ruína da peça. O tipo de ruína de cada peça pode ser determinado pela comparação as taxas de armadura do elemento: 𝜌𝑓 = 𝜌𝑓𝑏 = 1,0 ∗ 𝛽1 ∗ 𝐴𝑓 𝑏∗𝑑 𝑓′𝑐 𝐸𝑓 ∗ 𝜀𝑐𝑢 ∗ 𝑓𝑓𝑢 𝐸𝑓 ∗ 𝜀𝑐𝑢 + 𝑓𝑓𝑢 (4.8) (4.9) Onde: 𝜌𝑓 : taxa de armadura de FRP; 𝜌𝑓𝑏 : taxa de armadura balanceada, dois tipos de ruína ocorrerão simultaneamente. Assim, se 𝜌𝑓 < 𝜌𝑓𝑏 ,ocorrerá ruptura da barra de FRP. Caso contrário, 𝜌𝑓 > 𝜌𝑓𝑏 , ruína devido ao esmagamento do concreto aproximando a distribuição de tensão no concreto ao bloco retangular. Com base no equilíbrio de forças e na compatibilidade das deformações, como observado na Figura 32-a, é possível calcular a capacidade resistente da peça: 𝑎 𝑀𝑛 = 𝐴𝑓 ∗ 𝑓𝑓 ∗ (𝑑 − ) 2 𝑎= 𝐴𝑓 ∗ 𝑓𝑓 0,85 ∗ 𝑓𝑐 ∗ 𝑏 𝛽1 ∗ 𝑑 − 𝑎 𝑓𝑓 = 𝐸𝑓 ∗ 𝜀𝑐𝑢 ∗ ( ) 𝑎 Substituindo a Equação 4.11 na Equação 4.12: (4.10) (4.11) (4.12) 36 2 𝑓𝑓 = (√ (𝐸𝑓 ∗ 𝜀𝑐𝑢 ) 0,85 ∗ 𝛽1 ∗ 𝑓′𝑐 + ∗ 𝐸𝑓 ∗ 𝜀𝑐𝑢 − 0,5 ∗ 𝐸𝑓 ∗ 𝜀𝑐𝑢 ) ≤ 𝑓𝑓𝑢 4 𝑓 (4.13) O reforço de FRP é linearmente elástico no esmagamento do concreto, sua deformação pode ser obtida na Equação 4.12. A resistência à flexão normal de uma seção pode ser expressa em termos da razão de esforço, utilizando a Equação 4.14 para substituir na Equação 4.10. 𝑀𝑛 = 𝜌𝑓 ∗ 𝑓𝑓 ∗ (1 − 0.59 ∗ 𝜌𝑓 ∗ 𝑓𝑓 ) 𝑏 ∗ 𝑑2 𝑓′𝑐 (4.14) Quando 𝜌𝑓 < 𝜌𝑓𝑏 , a ruína da peça é iniciada pela ruptura da barra de FRP, e o bloco de tensão ACI não é aplicável, pois a tensão máxima de concreto (0.003) não pode ser atingida. Neste caso, um bloco de tensão equivalente teria de ser utilizado, que se aproxima da distribuição de tensão no concreto a nível da deformação atingida. A análise incorpora duas incógnitas: a deformação no concreto e a distância da fibra mais comprimida à linha neutra. Além disso, os fatores de tensão do bloco retangular, α1 e β1, são desconhecidas. O fator α1 é a razão entre a tensão média de concreto para a resistência do mesmo. Já, o fator β1 é a relação entre a profundidade do bloco de tensão retangular equivalente à distância da linha neutra. A análise envolvendo todas essas incógnitas torna-se complexa. Resistência à flexão nominal a uma seção pode ser calculada como se mostra na Equação 4.17. ∝1 = 𝑓𝑐𝑚 𝑓𝑐′ (4.15) 𝛽1 = 𝑎 𝑓𝑐𝑐′ (4.16) 𝑀𝑛 = 𝐴𝑓 ∗ 𝑓𝑓𝑢 ∗ (𝑑 − 𝛽1 ∗ 𝑐 ) 2 (4.17) O caso ideal nesse dimensionamento é a ruína balanceada, ou seja, ruptura da barra e esmagamento do concreto simultaneamente. Para isso, a linha neutra é leva em consideração e a resistência nominal à flexão é obtida através da multiplicação da força resultante na armadura com o braço de alavanca, determinado pela capacidade resistente do concreto. 𝑀𝑛 = 𝐴𝑓 ∗ 𝑓𝑓𝑢 ∗ (𝑑 − 𝛽1 ∗ 𝐶𝑏 ) 2 (4.18) 37 𝐶𝑏 = ( 𝜀𝑐𝑢 )∗𝑑 𝜀𝑐𝑢 + 𝜀𝑓𝑢 (4.19) 4.2.2.2 Fator de Redução (Item 8.2.3.) Como as barras de FRP não apresentam comportamento dúctil, um fator de redução de força deve ser adotado para proporcionar uma maior segurança. As recomendações japonesas, JSCE (1997b), para dimensionamento de elementos de flexão utilizando FRP sugere um fator de redução de resistência igual a 0,77. Outros pesquisadores, Benmokrane et al. - 1996, sugerem um valor de 0,75 determinado com base em conceitos probabilísticos. Com base em ACI 318-05, Szerszen e Nowak – 2003 determinaram que o fator de compressão para φ falha controlada é de 0,65, com um índice de fiabilidade alvo compreendido entre 3,5 a 4,0. O ACI 318-14 considera uma falha sempre que a curvatura é maior do que 0,008 / d (que corresponde a uma tensão no aço de 0,005) controlado por tensão. Isto indica que, devido o módulo de elasticidade baixo da armadura, vigas reforçadas com fibras de FRP terão grandes desvios no final, e que peças de FRP que vão a ruína por ruptura barra de reforço terão deflexões maiores do que aquelas que rompem por esmagamento do concreto. Embora os valores de curvatura de vigas de FRP são maiores do que os de vigas reforçadas com aço, a comissão recomenda um fator φ de 0,55 para a ruína controlada pela tensão para manter um índice mínimo de confiabilidade de 3,5 (ACI 440 1R-06). Enquanto o esmagamento do concreto pode ser previsto com base em cálculos, deve-se considerar a possibilidade de ruptura da barra de FRP. Por exemplo, se a resistência do concreto é maior do que o especificado, o membro pode falhar devido a ruptura de FRP. Por esta razão, e para estabelecer uma transição entre os dois valores de φ, uma seção controlada por esmagamento do concreto é definida como um ponto em que ρf ≥ 1.4ρfb, e uma seção controlada pela ruptura FRP é definida como aquele em que ρf < ρfb. O fator de redução da força de flexão pode ser calculado pela Equação 4.20. Esta equação está representada graficamente na Figura 32 e, obtém-se um fator de 0,65 para seções controladas por esmagamento do concreto e 0,55 para seções controladas por ruptura de FRP, além disso, fornece uma transição linear entre os dois. 38 0,55 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝜌𝑓 ≤ 𝜌𝑓𝑏 𝜌𝑓 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝜌𝑓𝑏 ≤ 𝜌𝑓 < 1,4𝜌𝑓𝑏 𝜑 = 0,3 + 0,25 𝜌𝑓𝑏 0,65 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝜌𝑓 ≥ 𝜌𝑓𝑏 { (4.20) Figura 32 - Fator de redução da resistência em função da taxa de armadura Fonte: ACI 440 1R (2006) 4.2.2.3 Armadura mínima (Item 8.2.4) Quando um elemento estrutural é projetado para que a ruína ocorra por ruptura FRP, ρf <ρfb, uma quantidade mínima de armadura deve ser fornecida. Essa armadura mínima de FRP visa evitar fissuras no concreto. 𝜑 ∗ 𝑀𝑛 ≥ 𝑀𝑐𝑟 (4.21) Onde Mcr é o momento de fissuração. As disposições do ACI 318-05 para reforço mínimo são baseadas neste conceito e, com modificações, são aplicáveis aos membros reforçados com FRP. As alterações resultam de um fator de redução de resistência diferente (isto é, de 0,55 para as seções de tensão controlada, em vez de 0,9). A área mínima de reforço para os membros reforçados com FRP é obtida multiplicando a equação do ACI 318-05 existente para reforço de aço por 1,64 (1,64 = 0,90 / 0,55). Isto resulta na Equação 4.22. 𝐴𝑓,𝑚𝑖𝑛 = 4,9 ∗ √𝑓′𝑐 330 ∗ 𝑏𝑤 ∗ 𝑑 ≥ ∗ 𝑏𝑤 ∗ 𝑑 𝑓𝑓𝑢 𝑓𝑓𝑢 (4.22) 39 Se a ruína do elemento não é controlada pela ruptura da barra de FRP, a quantidade mínima de reforço para evitar fissuras é alcançada automaticamente. Portanto, a Equação 4.22 é necessária como uma seleção somente se ρf <ρfb. 4.2.3 Considerações Gerais (Item 8.2.5) 4.2.3.1 Camadas múltiplas de reforço e combinações de diferentes tipos de FRP Em uma seção de controle de tensão, toda a tensão atuante no reforço de aço é assumida no estado último, quando se utiliza o método de projeto de tensão para calcular a resistência à flexão nominal dos membros com reforço em aço dispostos em de múltiplas camadas. Portanto, a força de tensão é assumida para atuar no centroide do reforço, com uma grandeza igual à área de reforço vezes a tensão limite de escoamento de aço. Em contra partida, para os materiais compostos de FRP a tensão em cada camada de reforço pode variar, dependendo da sua distância a partir da linha neutra. Da mesma forma, se os diferentes tipos de barras de FRP são usadas para reforçar o mesmo elemento, a variação do nível de tensão em cada tipo de barra deve ser considerada no cálculo da capacidade de flexão. Nestes casos, a insuficiência da camada mais externa controla a ruína geral de reforço, e a análise da capacidade de flexão deve basear-se na deformação de compatibilidade. 4.2.3.2 Redistribuição de Momento O mecanismo da ruína de elementos submetidos à flexão armados com FRP, a redistribuição não deve basear-se na formação de rótulas plásticas, porque os materiais FRP demonstram um comportamento elástico-linear até a ruptura. A redistribuição de momentos em vigas contínuas ou outras estruturas indeterminadas estaticamente não deve ser considerado para o concreto reforçado com FRP. 4.2.3.3 Armadura de Compressão Considerando que as barras de FRP tem uma resistência à compressão significativamente menor do que à tração, a força de qualquer barra de FRP em compressão devem ser ignorados em cálculos de projeto, especifica o ACI 440 1R (2006). Logo, esse material não deve ser aplicado como reforço longitudinal em pilares ou como reforço de compressão em vigas. Em alguns casos não é possível evitar essas situações, quando isso ocorrer o confinamento deve ser considerado para as barras de FRP em regiões de compressão para evitar a sua instabilidade e para minimizar o efeito da expansão transversal relativamente elevada de alguns tipos de barras de FRP. 40 4.2.4 Estado Limite de Serviço – ELS (Item 8.3) Os elementos de concreto reforçados com FRP apresentam uma rigidez relativamente pequena após a fissuração, consequentemente, aumentando as deformações. Em geral, a verificação para os limites de serviço não pode ser a mesma para estruturas armadas em aço, pois após o carregamento a peça armada em FRP apresentará uma maior deformação e maior abertura de fissuras. O estado limite de serviço pode ser definido como um desempenho satisfatório sob condições de carga de serviço. Este, por sua vez, pode ser descrito em termos de dois parâmetros: Fissuração: indesejável por razões estéticas e de outros (por exemplo, para evitar o vazamento de água) que pode danificar ou deteriorar o concreto estrutural; Deformação: deve estar dentro de limites aceitáveis impostos pelo uso da estrutura. 4.2.4.1 Fissuração As barras de FRP são resistentes à corrosão, portanto, o limite máximo de abertura de fissuras com o objetivo de proteger a armadura às intempéries é dispensável. Outras considerações com relação a limites de abertura de fissura aceitáveis incluem a estética e os efeitos de cisalhamento. No entanto, alguns países estabelecem limites para essas aberturas: Japão – JSCE 1997 considera apenas estética para limitar a abertura de fissuras: o máximo permitido é de 0,5 mm; Canadá - CSA S806-02 implicitamente permite abertura de fissuras de 0,5 mm para a exposição exterior e 0,7 mm para exposição interior quando FRP é usado como reforço. As disposições do ACI 318-05 de espaçamento máximo de reforço para o controle de quebra são derivados a partir de uma formulação de abertura de fissuras com base em um modelo físico, em vez de ser empiricamente derivado (Frosch 1999). Esta fórmula é independente do tipo de reforço, aço ou FRP, exceto que ele deve ser modificado por um coeficiente kb. Portanto, a abertura máxima de fissuras prováveis para reforços de FRP pode ser calculada a partir da Equação 4.23 (ACI 440 1R-06). 𝑓 𝑤 = 2 ∗ 𝐸𝑓 ∗ 𝛽 ∗ 𝑘𝑏 ∗ √𝑑𝑐2 + (𝑠⁄2)2 𝑓 Onde: [MPa e mm] (4.23) 41 < 1, 𝑠𝑒 𝑎𝑑𝑒𝑟ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑑𝑜 𝐹𝑅𝑃 > 𝑎𝑑𝑒𝑟ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑑𝑜 𝑎ç𝑜 > 𝑘𝑏 { 1, 𝑠𝑒 𝑎𝑑𝑒𝑟ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑑𝑜 𝐹𝑅𝑃 < 𝑎𝑑𝑒𝑟ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑑𝑜 𝑎ç𝑜 = 1,4, 𝑠𝑒 𝑎 𝑎𝑑𝑒𝑟ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑑𝑜 𝐹𝑅𝑃 𝑓𝑜𝑟 𝑑𝑒𝑠𝑐𝑜𝑛ℎ𝑒𝑐𝑖𝑑𝑎 4.2.4.2 Deformação Em geral, as disposições do ACI 318-05 relativas ao controle de deformação estão preocupados com os desvios que ocorrem em níveis de serviço em imediata e sustentada cargas estáticas, e não se aplicam a cargas dinâmicas, como terremotos, ventos transitórios, ou vibração de máquinas. As deformações se subdividem em dois casos: Deformação Imediata (Ie); Deformação Lenta. Por causa da rigidez variável, a natureza frágil elástico e particulares características do reforço de FRP, desvios de elementos estruturais de concreto armado com FRP são mais sensíveis às variáveis que afetam a deformação do que as estruturas que contém aço como reforço. Deformações das peças com reforço de FRP também tendem a ser maiores em magnitude por causa da rigidez inferior, portanto, o ACI 440 1R (2006) requer o uso de um método de controle direto de deformação. Quando o momento aplicado na seção (Ma) é maior que o momento de fissuração (Mcr), ocorre a ruptura da seção, reduzindo a rigidez. Em seguida, utiliza-se um novo momento de inércia (Icr), obtido através de uma análise elástica. O ACI 440 1R (2006) adapta a fórmula de Branson para estruturas armadas em FRP, modificando o que se refere a diferença de rigidez das barras de GRFP e do aço. 𝐼𝑐𝑟 𝑏 ∗ 𝑑3 = ∗ 𝑘 3 + 𝑛𝑓 ∗ 𝐴𝑓 ∗ 𝑑 2 ∗ (1 − 𝑘)2 3 2 (4.24) 𝑘 = √2 ∗ 𝜌𝑓 ∗ 𝑛𝑓 + (𝜌𝑓 ∗ 𝑛𝑓 ) − 𝜌𝑓 ∗ 𝑛𝑓 (4.25) 𝑀𝑐𝑟 3 𝑀𝑐𝑟 3 𝐼𝑒 = ( ) ∗ 𝛽𝑑 ∗ 𝐼𝑔 + [1 − ( ) ] ∗ 𝐼𝑐𝑟 ≤ 𝐼𝑔 𝑀𝑎 𝑀𝑎 (4.26) 42 𝛽𝑑 = 𝜌𝑓 1 ∗ ( ) ≤ 1,0 5 𝜌𝑓𝑏 O parâmetro de aderência αb é 0,5 quando não se conhece seu real valor. (4.27) 43 5 VIGA-PAREDE 5.1 DEFINIÇÃO Segundo Kuehn (2002), vigas-parede são elementos estruturais presentes em projetos de engenharia, encontradas normalmente em paredes de reservatórios, silos, nas fachadas de edifícios, como elementos de transição suportando cargas de pilares, blocos de coroamento de estacas e como estruturas de contenção em subsolos. A principal diferença entre vigas convencionais e vigas-parede está relacionada com o desenvolvimento das tensões principais quando solicitadas à flexão. O diagrama de tensões normais σx de uma viga convencional é retilíneo, em contra partida, no caso da viga parede esse diagrama possui uma grande curvatura com uma pequena região tracionada e uma grande região comprimida (Figura 33). Figura 33 - Tensões horizontais normais no meio do vão de uma viga convencional (a) e de uma viga parede (b) Fonte: Leonhardt (1979 apud KUEHN, 2002) De acordo com a NBR 6118 (2014), são consideradas vigas-paredes as vigas altas em que a relação entre vão e altura 𝑙 ⁄ℎ é inferior a 2 em vigas biapoiadas e inferior a 3 em vigas contínuas. Esses elementos podem receber carregamentos superior ou inferior (Figura 34). 44 Figura 34 - Tipos comuns de carregamentos em vigas-paredes Fonte: NBR 6118 (2014) Devido à sua altura, as vigas-paredes apresentam alguns problemas de estabilidade, como corpo rígido e estabilidade elástica. Na maioria das vezes é necessária a utilização de enrijecedores de apoio ou travamentos. Se a viga-parede apresentar aberturas, engrossamentos ou estarem submetidas a cargas concentradas poderão surgir perturbações de influenciarão no comportamento e resistência da peça. 5.2 DIMENSIONAMENTO A “Hipótese de Bernoulli” é aplicada apenas em estruturas que possuem regiões com comportamentos bem definidos, conhecidas como “Região B”. No entanto, as vigas-paredes são dotadas de zonas de descontinuidades, denominadas “Região D” (Figura 35). Então, esse elemento estrutural apresenta deformações não-lineares ao longo de sua seção transversal, tornando inadequado a aplicação de rotinas convencionais de dimensionamento. Nesse caso, convém aplicar o Método das Bielas ou o Método dos Elementos Finitos, objetivando um critério de dimensionamento sistemático, racional e seguro (SOUZA et al., 2005). 45 Figura 35 - Exemplos de "Regiões D" Fonte: NRB 6118 (2014) A definição dos modelos concebidos a partir do Métodos das Bielas assegura um comportamento adequado em serviço, a geometria das treliças deve ser tal que os valores das forças dos tirantes resultem o mais próximo possível dos obtidos em um modelo plano elástico linear. Além disso, a verificação da compressão máxima nas bielas pode ser feita indiretamente, limitando-se o valor de cálculos das tensões de compressão verticais no apoio (NBR 6118, 2014). 5.3 DETALHAMENTO DE VIGAS-PAREDES SEGUNDO A NBR 6118 (2014) 5.3.1 Armadura de flexão Para segurança desse elemento estrutural em especial, os tirantes de tração não podem ser concentrados em uma ou poucas camadas de armadura, mas sim devem cobrir toda zona efetivamente tracionada determinada pelo modelo de cálculo, como apresentado na Figura 37. Em vigas biapoiadas a norma recomenda que essa armadura seja distribuída em altura da ordem de 0,15h. Já nas vigas-paredes contínuas, a altura de distribuição da armadura negativa 𝐴𝑆 deve ser feita considerando três faixas na altura h, não se considerando para h os valores 𝑙 superiores ao vão teórico 𝑙(3 ≥ ℎ ≥ 1): 46 𝑙 20% superiores de h: 𝐴𝑆1 = (2ℎ − 0,50) ∗ 𝐴𝑆 (5.1) 60% superiores de h: 𝐴𝑆2 = (1,50 − 2ℎ) ∗ 𝐴𝑆 (5.2) 20% inferiores de h: 𝐴𝑆3 = 0 (5.3) 𝑙 A armadura horizontal mínima é de 0,075% b por face, por metro. 5.3.2 Ancoragem da armadura de flexão positiva nos apoios A norma especifica que a armadura de flexão deve ser prolongada integralmente até os apoios para depois ser ancorada. Não é permitido o uso de ganchos no plano vertical, logo devese usar laços ou grampos no plano horizontal, ver detalhe na Figura 37. 5.3.3 Armadura vertical Essa armadura deve ser calculada de acordo com o comportamento estrutural da peça e respeitando um valor mínimo de 0,075% b por face, por metro. Se a viga estiver sujeita ao carregamento pela parte inferior, essa armadura deve ser capaz de suspender a totalidade da carga aplicada, como mostra a Figura 36. É recomendável que essa armadura envolva as armaduras horizontais, tanto as principais quanto as secundárias. Figura 36 - Detalhamento de armação típica de viga-parede com h≤l Fonte: NBR 6118 (2014) 47 6 MÉTODO DAS BIELAS 6.1 DEFINIÇÃO O conceito de “Analogia de Treliça” foi introduzido por Ritter e Mörsch no início do século XX, mais tarde, na década de 60, a teoria foi refinada por pesquisadores que buscaram melhorar os modelos de dimensionamento e contribuir para a criação de uma base científica sólida, que foi fundamentada na Teoria da Plasticidade (SOUZA, 2007). Como citado anteriormente, o Método das Bielas é o processo aplicado em estruturas que possuem zonas de descontinuidade, ou seja, “Regiões D”. A principal ideia do método consiste em substituir a estrutura real por uma estrutura resistente na forma de treliça, simplificando o problema original de maneira sistemática, como representado na Figura 37. Figura 37 - Exemplo de aplicação do Método das Bielas: (a) Consolo, (b) Viga e (c) VigaParede Fonte: Souza (2007) Assim, nessa configuração os elementos comprimidos são denominados escoras, os elementos tracionados, tirantes e, por sua vez, os pontos de intersecção entre as escoras e os tirantes são chamados de regiões nodais. Normalmente, as escoras são elementos prismáticos de concreto e os tirantes a armadura. De acordo com Schäfer & Schilaich (1991, apud SOUZA, 2007), os campos de compressão existentes no concreto estrutural podem ter três configurações de escoras: Escora prismática ou paralela: é um campo de tensão que se distribui uniformemente, não possui perturbações e não desenvolve tensões transversais de tração. São, normalmente, encontradas nas regiões B; Escora em leque: é uma aproximação de um campo de tensão com curvatura desprezível, que não produz tensões transversais de tração. Geralmente, são encontradas nas regiões D logo abaixo dos pontos de aplicação de cargas concentradas; 48 Escora garrafa: é uma configuração de escora que distribui a tensão em linhas curvilíneas com afunilamento da seção e desenvolve tensões transversais de tração consideráveis. São encontradas, normalmente, nas regiões D resultando do encaminhamento direto das cargas para os apoios através de escoras diagonais. A Figura 38 apresenta as três configurações típicas de campos de tensão de compressão Figura 38 - Configurações de escoras Fonte: Schäfer (1999 apud SOUZA, 2007) Segundo Tjhin (2014, apud SOUZA, 2007) as regiões nodais representam contornos em que há transferência de forças entre escoras e tirantes. No entanto, é preciso esclarecer a diferença ente nó e região nodal. O primeiro é basicamente o ponto de encontro dos eixos de escoras e tirantes, por outro lado, o segundo é definido como a dimensão finita do nó, ou seja, a geometria que possui o nó. A natureza das forças conectadas define quatro tipos básicos de nós: CCC: nós em que todos os elementos conectados são escoras; CCT: nós em que um dos elementos é um tirante; CTT: nós em que um dos elementos é uma escora; TTT: nós em que todos os elementos conectados são tirantes. A Figura 39 apresenta as quatro configurações típicas de nós. Figura 39 - Configurações básicas de nós Fonte: Tjhin & Kuchma (2004 apud SOUZA 2007) 49 O Método das Bielas tem como base o Teorema do Limite Inferior da Teoria da Plasticidade. A ideia principal do teorema está vinculada com a existência de uma carga para a qual pode-se encontrar um estado de tensão estável e estatisticamente admissível, garantindo que essa mesma carga será inferior à carga de ruína da estrutura (SOUZA et. al, 2005). É importante destacar que o nível de tensão estabelecido nas regiões nodais e nas escoras deve ser limitado a uma parcela da resistência à compressão do concreto, evitando, assim, fissurações indesejáveis e uma ruína prematura. Em estruturas compostas de armadura de GFRP, não será possível alcançar o escoamento dos tirantes antes da ruptura das escoras e das regiões nodais. No entanto, o Método das Bielas recomenda o escoamento da armadura antes da ruptura do concreto de modo a obter um modo de ruína dúctil. 6.2 PROCEDIMENTO DE APLICAÇÃO DO MÉTODO DAS BIELAS No que se diz respeito à utilização desse método, a NBR 6118 (2014) afirma que a treliça idealizada é isostática e os nós são concentradas as forças externas aplicadas ao elemento e as reações de apoio, formando um sistema auto equilibrado. As escoras inclinadas devem ter ângulo de inclinação cuja tangente esteja entre 0,57 e 2 em relação ao eixo da armadura longitudinal da peça estrutural. Alguns parâmetros de resistência são definidos por essa norma: a) Parâmetros de resistência de cálculo das bielas e regiões nodais: verificam tensões de compressão máxima Escoras prismáticas ou nós CCC: 𝑓𝑐𝑑1 = 0,85 ∗ 𝛼𝑣2 ∗ 𝑓𝑐𝑑 Escoras atravessadas por mais de um tirante, ou nós CTT ou TTT: 𝑓𝑐𝑑1 = 0,60 ∗ 𝛼𝑣2 ∗ 𝑓𝑐𝑑 (6.1) (6.2) Escoras atravessadas por tirante único, ou nós CCT: 𝑓𝑐𝑑1 = 0,72 ∗ 𝛼𝑣2 ∗ 𝑓𝑐𝑑 (6.3) b) Parâmetros de resistência de cálculo dos tirantes: quantidade de armadura a ser aplicada em cada tirante. 𝐴𝑠 = 𝐹𝑠𝑑 𝑓𝑦𝑑 (6.4) 50 Onde: 𝐹𝑠𝑑 : é o valor de projeto da força de tração determinada no tirante. 51 7 MATERIAIS E MÉTODOS A metodologia proposta para esse trabalho está baseada no estudo do desempenho de GRFP aplicado como malha mínima de reforço em um modelo reduzido de viga-parede, que possui dimensões de 60 cm de comprimento, 45 cm de altura e 10 cm de largura. Primeiramente, foram analisadas as propriedades do vergalhão de GFRP através de dados fornecidos pelo fabricante de barras de GFRP para identificação da resistência do material comparando com os valores de projeto exigidos pela norma ACI 440R1 (EUA). Em seguida, o dimensionamento do protótipo foi realizado através da modelagem proposta pelo Método das Bielas (modelo de escoras e tirantes). Por fim, foram ensaiados quatro modelos reduzidos de viga-parede, cada um com uma quantidade específica de barras de GFRP aplicadas como malha mínima de reforço. 7.1 DIMENSIONAMENTO 7.1.1 Análise das características do vergalhão de GFRP 7.1.1.1 Resistência dos vergalhões de GFRP A Tabela 12 apresenta as propriedades mecânicas dos vergalhões de GFRP produzidos pelo fabricante Stratus, fornecedor dos materiais do ensaio. Tabela 12 – Propriedades Mecânicas dos vergalhões de GFRP Fonte: STRATUS (2014) Observa-se que para φ = 12mm a resistência nominal de tração (𝑓𝑓𝑢̇ ) é de 989MPa. Como os modelos reduzidos não ficarão expostos ao vento e ao solo, pode-se dizer que o coeficiente de redução (Ce) é de 0,8, segundo ACI 440 – 03. Logo, a Equação 4.3 define a resistência de projeto desse material. 𝑓𝑓𝑢 = 𝑓𝑓𝑢̇ ∗ 𝐶𝑒 52 𝑓𝑓𝑢 = 98,9 ∗ 0,8 = 79,12𝐾𝑁/𝑐𝑚2 7.1.1.2 Cálculo da armadura do tirante Os modelos de viga-parede ensaiados possuíam largura bw=10cm, altura h=45cm e comprimento l=60cm, como mostra a Figura 40. Figura 40- Dimensões das vigas-paredes ensaiadas Fonte: Arquivo pessoal (2014) O dimensionamento da peça foi feito através do Método das Bielas em que as vigas deveriam suportar uma carga de cálculo de 20tf, ou seja, 200kN. Assim, ao aplicar o conceito de analogia de treliça à viga-parede, que apresenta relação a/d = 0,5, torna-se possível obter o ângulo de inclinação das escoras, θ. 53 Figura 41 – Analogia de treliça aplicada na viga. Escoras em verde, tirante em vermelho e nós em amarelo Fonte: Arquivo pessoal (2014) Figura 42 – Detalhamento ângulo θ Fonte: Arquivo pessoal (2014) 𝑡𝑔𝜃 = 𝑑 𝑎 𝑡𝑔𝜃 = 2 54 𝜃 = 63,435° Desse modo, quando faz-se o equilíbrio de nós, Figura 43, identifica-se a força de tração resultante no tirante. Figura 43 - Equilíbrio do nó 1 Fonte: Arquivo pessoal (2014) ∑ 𝐹𝑥 = 0 𝑅𝑠𝑡 = 𝑅𝑐 ∗ 𝑐𝑜𝑠𝜃 ∑ 𝐹𝑦 = 0 10 = 𝑅𝑐 ∗ 𝑠𝑒𝑛𝜃 𝑅𝑐 = 10/𝑠𝑒𝑛𝜃 𝑅𝑠𝑡 = 10 ∗ 𝑐𝑜𝑠𝜃 ≅ 5 𝑡𝑓 = 50𝑘𝑁 𝑠𝑒𝑛𝜃 Logo, aplicando a expressão definida pela NBR 6118-14 para determinar a armadura necessária para o tirante de uma viga-parede segundo o Método das Bielas (Equação 6.4), obteve-se: 𝐴𝑠𝑡 = 𝑅𝑠𝑡 50 = = 0,632𝑐𝑚2 𝑓𝑓𝑢 79,12 55 Como o objetivo do experimento é verificar o comportamento da diagonal comprimida trabalhando com a malha mínima de reforço de GFRP foi adotado 2 φ=12mm como armadura do tirante. Essa armadura foi adotada intencionalmente em excesso para provocar a ruptura da diagonal comprimida. 7.1.1.3 Cálculo da malha mínima de reforço Para analisar o comportamento de diferentes quantidades de malha de reforço, quatro vigas foram ensaiadas: a) CASO 1 – 0% Ac de malha de reforço por face Ash=Asv=0% b) CASO 2 – 0,15% Ac de malha de reforço por face 𝐴𝑠ℎ = 𝐴𝑠𝑣 = 0,15% ∗ 𝑏𝑤 ∗ ℎ 𝐴𝑠ℎ = 𝐴𝑠𝑣 = 0,15% ∗ 10 ∗ 45 = 0,675 𝑐𝑚2 𝑎𝑠ℎ = 𝐴𝑠ℎ 0,675 = = 1,5𝑐𝑚2 /𝑚 ℎ 0,45 φ=6mm a cada 12,5cm 𝑎𝑠𝑣 = 𝐴𝑠𝑣 0,675 = = 1,125𝑐𝑚2 /𝑚 𝑙𝑜 0,60 φ=6mm a cada 12,5cm c) CASO 3 – 0,20% Ac de malha de reforço por face 𝐴𝑠ℎ = 𝐴𝑠𝑣 = 0,20% ∗ 𝑏𝑤 ∗ ℎ 𝐴𝑠ℎ = 𝐴𝑠𝑣 = 0,20% ∗ 10 ∗ 45 = 0,90 𝑐𝑚2 𝑎𝑠ℎ = 𝐴𝑠ℎ 0,90 = = 2𝑐𝑚2 /𝑚 ℎ 0,45 φ=6mm a cada 9cm 56 𝑎𝑠𝑣 = 𝐴𝑠𝑣 0,90 = = 1,5𝑐𝑚2 /𝑚 𝑙𝑜 0,60 φ=6mm a cada 9cm d) CASO 4 – 0,30% Ac de malha de reforço por face 𝐴𝑠ℎ = 𝐴𝑠𝑣 = 0,30% ∗ 𝑏𝑤 ∗ ℎ 𝐴𝑠ℎ = 𝐴𝑠𝑣 = 0,30% ∗ 10 ∗ 45 = 1,35 𝑐𝑚2 𝑎𝑠ℎ = 𝐴𝑠ℎ 1,35 = = 3𝑐𝑚2 /𝑚 ℎ 0,45 φ=6mm a cada 6cm 𝑎𝑠𝑣 = 𝐴𝑠𝑣 1,35 = = 2,25𝑐𝑚2 /𝑚 𝑙𝑜 0,60 φ=6mm a cada 6cm Para amarração e posicionamento dos estribos das malhas mínimas de reforço foram utilizadas abraçadeiras de nylon (Figura 44), de acordo com a recomendação do fabricante das barras de GFRP, Stratus. Figura 44 – Montagem das malhas de reforço Fonte: Arquivo pessoal (2014) 57 7.1.2 Análise das características do concreto Para o desenvolvimento do ensaio foi utilizado concreto industrializado de alta resistência, tendo como nome comercial Supergraute Quartozite da marca Weber. O fabricante garante resistência de 30MPa em apenas três dias após a concretagem. O traço aplicado para atingir tal resistência contou com 3 litros de água e 8kg de brita 0 para cada saco de 25kg de Supergraute, que passaram por 3,5 minutos de tempo de mistura na betoneira. O resumo da quantidade de materiais utilizados está apresentado na Tabela 13. Tabela 13 – Resumos da quantidade de materiais utilizados no concreto CONCRETO Supergraute Brita 0 Água 275 kg 91,67 kg 35,9 l Fonte: Experimento realizado em outubro de 2014 A Figura 45 apresenta fotos dos materiais utilizados, o momento de mistura na betoneira e a concretagem das vigas e dos corpos-de-prova de concreto. Figura 45 – Materiais utilizados; Mistura na betoneira; Concretagem; Corpos-de-prova de concreto Fonte: Arquivo pessoal (2014) 58 A verificação da resistência do concreto foi feita através do ensaio de 10 corpos-de-prova, seguindo as orientações da NBR 5738/03: Concreto - Procedimento para moldagem e cura de corpos-de-prova. A Tabela 14 especifica a força de compressão máxima aplicada em cada amostra e a resistência média do concreto pela prensa EMIC PCE 100-C após 3 dias (idade do ensaio), a Figura 46 mostra o capeamento dos corpos-de-prova com enxofre e a prensa utilizada. Tabela 14 – Resultado das resistências dos corpos-de-prova CORPOS DE PROVA CONCRETO ÁREA DO CP: 78,5cm² CP CARGA (kN) fcj (MPa) 1 2 3 4 5 6 141,43 205,08 316,4 325,88 250,92 254,75 18,02 26,12 40,31 41,51 31,96 32,45 7 8 9 251,46 261,99 239,6 32,03 33,37 30,52 10 fcm (MPa) fck,3 (MPa) 32,32 21,09 289,33 36,86 Fonte: Experimento realizado em outubro de 2014 Figura 46 – Capeamento com enxofre e rompimento dos corpos-de-prova de concreto na prensa EMIC PCE 100-C Fonte: Arquivo pessoal (2014) 59 7.2 FÔRMAS As fôrmas utilizadas no ensaio eram de madeira compensada plastificada com espessura de 12mm, travadas com sarrafo de madeira pinus de 5cm (Figura 47). O madeirite plastificado foi adotado devido a facilidade na desfôrma e melhora no acabamento das peças. É importante ressaltar que cada fôrma foi cuidadosamente confeccionada, visando obter medidas exatas e alinhamento perfeito. Figura 47 – Fôrmas Fonte: Arquivo pessoal (2014) 60 8 RESULTADOS Logo após a desfôrma das vigas, aplicou-se uma mistura de cal em cada face da peça para obter uma melhor visualização das aberturas de fissuras e pontos de ruptura. Os modelos foram ensaiados 3 dias após a concretagem como apresentado na Figura 48. Figura 48 - Viga-parede posicionada na prensa EMIC M1E 100 Fonte: Arquivo pessoal (2014) a) CASO 1 – 0% Ac de malha de reforço por face A Tabela 15 e as Figuras 49 e 50 apresentam os resultados da viga-parede com 0% de malha de reforço. 61 Tabela 15 - Resultados da viga-parede com 0% de malha de reforço MALHA MÍNIMA DE REFORÇO 0,00% FORÇA APLICADA (tf) 0 31 40 52 63,5 68,7 CONTROLE DE FISSURAS -Aparecimento da primeira fissura na diagonal comprimida tendo origem no apoio inferior Aparecimento de novas fissuras nas diagonais comprimidas Grandes aberturas nas fissuras das diagonais e nos nós superiores Início de ruptura nos nós 2 e 3 Ruptura por compressão das diagonais Fonte: Experimento realizado em outubro de 2014 Figura 49 - Face A da viga-parede com 0% de malha de reforço Fonte: Arquivo pessoal (2014) 62 Figura 50 – Face B da viga-parede com 0% de malha de reforço Fonte: Arquivo pessoal (2014) b) CASO 2 – 0,15% Ac de malha de reforço por face A Tabela 16 e as Figuras 51 e 52 apresentam os resultados da viga-parede com 0,15% de malha de reforço. Tabela 16 - Resultados da viga-parede com 0,15% de malha de reforço MALHA MÍNIMA DE REFORÇO 0,15% FORÇA APLICADA (tf) 0 23 35 40 50 60 70,7 CONTROLE DE FISSURAS -Aparecimento da primeira fissura na viga-parede no meio do vão Aparecimento da primeira fissura na diagonal comprimida tendo origem no apoio inferior Aparecimento de novas fissuras nas diagonais comprimidas, porém as aberturas foram controladas pela malha Início do aparecimento de fissuras ao redor do ponto de aplicação do carregamento Ruptura iniciada nos nós 2 e 3 Ruptura da peça por fendilhamento ou tração na diagonal Fonte: Experimento realizado em outubro de 2014 63 Figura 51 - Face A da viga-parede com 0,15% de malha de reforço Fonte: Arquivo pessoal (2014) Figura 52 - Face B da viga-parede com 0,15% de malha de reforço Fonte: Arquivo pessoal (2014) 64 c) CASO 3 – 0,20% Ac de malha de reforço por face A Tabela17 e as Figuras 53 e 54 apresentam os resultados da viga-parede com 0,20% de malha de reforço. Tabela 17 - Resultados da viga-parede com 0,20% de malha de reforço MALHA MÍNIMA DE REFORÇO 0,20% FORÇA APLICADA (tf) 0 35 40,7 45 64 75 CONTROLE DE FISSURAS -Aparecimento da primeira fissura na diagonal comprimida tendo origem no apoio inferior Aparecimento de novas fissuras nas diagonais comprimidas, porém as aberturas foram controladas pela malha Início do aparecimento de fissuras ao redor do ponto de aplicação do carregamento Fissuras abertas nas diagonais comprimidas ganham formato de escora garrafa Ruptura da peça por fendilhamento ou tração na diagonal Fonte: Experimento realizado em outubro de 2014 Figura 53 – Face A da viga-parede com 0,20% de malha de reforço Fonte: Arquivo pessoal (2014) 65 Figura 54 - Face B da viga-parede com 0,20% de malha de reforço Fonte: Arquivo pessoal (2014) d) CASO 4 – 0,30% Ac de malha de reforço por face A Tabela 18 e as Figuras 55 e 56 apresentam os resultados da viga-parede com 0,30% de malha de reforço. Tabela 18 - Resultados da viga-parede com 0,30% de malha de reforço MALHA MÍNIMA DE REFORÇO 0,30% FORÇA APLICADA (tf) 0 20 40 55 68 70 74 CONTROLE DE FISSURAS -Aparecimento de fissura no meio do vão se prolongando até metade da altura Aparecimento da primeira fissura na diagonal comprimida tendo origem no apoio inferior Aparecimento de novas fissuras nas diagonais comprimidas, porém as aberturas foram controladas pela malha Aparecimento de novas fissuras nas diagonais comprimidas, porém as aberturas foram controladas pela malha Início do aparecimento de fissuras ao redor do ponto de aplicação do carregamento Ruptura da peça por fendilhamento ou tração na diagonal Fonte: Experimento realizado em outubro de 2014 66 Figura 55 – Face A da viga-parede com 0,30% de malha de reforço Fonte: Arquivo pessoal (2014) Figura 56 - Face B da viga-parede com 0,30% de malha de reforço Fonte: Arquivo pessoal (2014) É válido ressaltar que durante o ensaio dessa peça o apoio utilizado inicialmente foi esmagado, impossibilitando o carregamento da peça até a ruptura. No entanto, após realizar 67 uma análise visual na viga percebeu-se que essa não havia rompido. Assim, a peça foi novamente colocada na prensa e obteve-se os resultados mostrados acima (Tabela 18). Na Figura 56 nota-se que a armadura de GFRP não sofreu danos, mesmo após a viga ter atingido a ruptura no apoio superior. A Tabela 19 apresenta um resumo das quatro vigas ensaiadas comparando a carga de aparecimento da primeira fissura e a carga de ruptura de cada uma. Tabela 19 - Resumo dos ensaios As, malha Pcrack (tf) Pfailure (tf) VIGA 1 0% 31,0 68,7 VIGA 2 0,15% 23,0 70,7 VIGA 3 0,20% 35,0 75,0 VIGA 4 0,30% 20,0 74,0 Fonte: Experimento realizado em outubro de 2014 68 9 ANÁLISE DOS RESULTADOS Ainda de acordo com a NBR 6118/14 foram feitas as verificações nos nós e nas escoras das peças ensaiadas. Assim, tornou-se possível associar os resultados dos ensaios com a teoria prevista pelo Método das Bielas. A Figura 57 mostra as dimensões das escoras e nós previstos graficamente. Figura 57 - Dimensões dos nós e escoras Fonte: Arquivo pessoal (2014) 9.1 VERIFICAÇÃO DOS NÓS 9.1.1 Verificação dos nós 1 e4 A NBR 6118/14 especifica que para nós que sofram dois esforços de compressão e um de tração (CCT) deve-se aplicar a Equação 6.3 na verificação desses pontos. 𝑓𝑐𝑑3 = 0,72 ∗ 𝛼𝑣2 ∗ 𝑓𝑐𝑑 𝛼𝑣2 = (1 − Logo, 𝑓𝑐𝑘 ) 250 69 𝛼𝑣2 = (1 − 21,09 ) = 0,916 250 𝑓𝑐𝑑3 = 0,72 ∗ 0,916 ∗ 2,286 = 1,507 𝑘𝑁⁄𝑐𝑚2 O cálculo das tensões ocasionadas por cada força aplicada nos nós ( Figura 58) pode ser feito utilizando as dimensões encontradas graficamente de cada lateral dos nós (Figura 57). 𝜎= 𝐹 𝑤𝑖 ∗ 𝑏𝑤 Figura 58 – Forças nos nós 1 e 4 Fonte: Arquivo pessoal (2014) a) Para a força de compressão aplicada de 10tf = 100kN: 𝜎100𝑘𝑁 = 100 = 1,00 𝑘𝑁/𝑐𝑚2 10 ∗ 10 1,507𝑘𝑁/𝑐𝑚2 > 1,00 𝑘𝑁/𝑐𝑚2 b) Para a força de compressão aplicada de 5tf = 50kN: 𝜎50𝑘𝑁 = 50 = 0,83 𝑘𝑁/𝑐𝑚2 6 ∗ 10 1,507𝑘𝑁/𝑐𝑚2 > 0,83 𝑘𝑁/𝑐𝑚2 c) Para a força de compressão aplicada de 11,18tf = 111,80kN: 70 𝜎111,8𝑘𝑁 = 111,8 = 1,19 𝑘𝑁/𝑐𝑚2 9,41 ∗ 10 1,507𝑘𝑁/𝑐𝑚2 > 1,19 𝑘𝑁/𝑐𝑚2 De acordo com os resultados expostos, é possível concluir que as peças não sofrerão ruptura inicial nos nós 1 e 4. Durante os ensaios essa verificação foi comprovada. As vigas-paredes apresentaram abertura de fissuras nas diagonais comprimidas originadas desses pontos, mas a ruptura inicial das peças ocorreu nos nós superiores. 9.1.2 Verificação dos nós 2 e 3 A NBR 6118/14 especifica que para nós que sofram apenas esforços de compressão (CCC) deve-se aplicar a Equação 6.1 na verificação desses pontos. 𝑓𝑐𝑑1 = 0,85 ∗ 𝛼𝑣2 ∗ 𝑓𝑐𝑑 𝛼𝑣2 = (1 − 𝑓𝑐𝑘 ) 250 Logo, 𝛼𝑣2 = (1 − 21,09 ) = 0,916 250 𝑓𝑐𝑑1 = 0,85 ∗ 0,916 ∗ 2,286 = 1,78 𝑘𝑁⁄𝑐𝑚2 O cálculo das tensões ocasionadas por cada força aplicada nos nós (Figura 59) pode ser feito utilizando as dimensões encontradas graficamente de cada lateral dos nós (Figura 57). 71 Figura 59 – Forças nos nós 2 e 3 Fonte: Arquivo pessoal (2014) 𝜎= 𝐹 𝑤𝑖 ∗ 𝑏𝑤 d) Para a força de compressão aplicada de 10tf = 100kN: 𝜎100𝑘𝑁 = 100 = 1,33 𝑘𝑁/𝑐𝑚2 7,5 ∗ 10 1,78𝑘𝑁/𝑐𝑚2 > 1,33 𝑘𝑁/𝑐𝑚2 e) Para a força de compressão aplicada de 5tf = 50kN: 𝜎50𝑘𝑁 = 50 = 2,5 𝑘𝑁/𝑐𝑚2 2 ∗ 10 1,78𝑘𝑁/𝑐𝑚2 < 2,5 𝑘𝑁/𝑐𝑚2 f) Para a força de compressão aplicada de 11,18tf = 111,80kN: 𝜎111,8𝑘𝑁 = 111,8 = 1,46 𝑘𝑁/𝑐𝑚2 7,64 ∗ 10 1,78𝑘𝑁/𝑐𝑚2 > 1,46 𝑘𝑁/𝑐𝑚2 De acordo com os resultados expostos, é possível concluir que as peças sofrerão ruptura nos nós 2 e 3 devido a força resultante de 50kN entre esses nós. Durante os ensaios essa verificação foi comprovada, pois todas as vigas-paredes iniciaram sua ruptura nos nós superiores para depois romper nas diagonais tracionadas. 72 9.2 VERIFICAÇÃO DAS ESCORAS Para analisar o comportamento das escoras, foram utilizadas as definições previstas pela NBR 6118-14 e pelo ACI 318-2014, Building Code Requirements for Structural Concrete and Commentary. A última escolha foi feita devido ao fato dessa norma incluir na verificação o coeficiente βs que é dependente da quantidade de malha de reforço da viga-parede, atingindo, assim, o objetivo principal desse trabalho. 9.2.1 Verificação das escoras segundo NBR 6118-14 Segundo a norma, para escoras garrafa a Equação 6.1 deve ser aplicada. 𝑓𝑐𝑑1 = 0,85 ∗ 𝛼𝑣2 ∗ 𝑓𝑐𝑑 𝑓𝑐𝑑1 = 0,85 ∗ 0,916 ∗ 2,286 = 1,78 𝑘𝑁⁄𝑐𝑚2 Graficamente definidas e apresentadas na Figura 62, as escoras possuem dimensão de topo (wt) igual a 7,64cm e base (wb) igual a 9,41cm. Logo, o ponto mais crítico da escora encontrase próximo ao topo. 𝜎= 𝜎= 𝐹 𝑤𝑖 ∗ 𝑏𝑤 111,8 = 1,46 𝑘𝑁/𝑐𝑚2 7,64 ∗ 10 Dessa forma, com a verificação adotado pela NBR 6118-14, conclui-se que as peças não sofrerão ruptura nas escoras quando uma força de 20kN for aplicada. Mais uma vez o ensaio comprovou a teoria defendida pela NBR 6118 utilizando o Método das Bielas para dimensionamento de viga-parede. 9.2.2 Verificação das escoras segundo ACI 318-14 A Equação 10.1 contempla a relação da quantidade de armadura vertical e horizontal da malha com seus respectivos espaçamentos e ângulos formados entre as escoras. ∑ 𝐴𝑠𝑖 ∗ 𝑠𝑒𝑛𝛾𝑖 > 0,0030 𝑏𝑣 𝑠 Todas as peças possuem γ1 = 26,56º e γ2 = 63,44º como representado na Figura 60. (10.1) 73 Figura 60 - Definição dos ângulos Fonte: Arquivo pessoal (2014) Se confirmada essa hipótese, o coeficiente βs assume o valor de 0,75, caso contrário βs = 0,60. O ACI 318 define a seguinte expressão para verificação da tensão limite das escoras: 𝜎𝑙𝑖𝑚 = 0,85 ∗ 𝜑 ∗ 𝛽𝑠 ∗ 𝑓𝑐𝑑 (10.2) Onde: 𝜑 = 0,75 a) CASO 1 – 0,00% Ac de malha de reforço por face ∑ 𝐴𝑠𝑖 ∗ 𝑠𝑒𝑛𝛾𝑖 > 0,0030 𝑏𝑣 𝑠 0 < 0,0030 𝛽𝑠 = 0,60 𝜎𝑙𝑖𝑚 = 0,85 ∗ 0,75 ∗ 0,60 ∗ 2,286 = 0,77 𝑘𝑁⁄𝑐𝑚2 Como ponto mais crítico da escora encontra-se próximo ao topo, wt = 7,64cm, a tensão da força de compressão da escora é calculada nesse local: 𝜎= 𝜎= 𝐹 𝑤𝑖 ∗ 𝑏𝑤 111,8 = 1,46 𝑘𝑁/𝑐𝑚2 7,64 ∗ 10 0,77𝑘𝑁/𝑐𝑚2 < 1,46 𝑘𝑁/𝑐𝑚2 74 Após a verificação pelos métodos do ACI 318-14, conclui-se que a peça que possui 0,00% de malha de reforço sofrerá ruptura na diagonal comprimida. No ensaio a peça apresentou inúmeras fissuras nas diagonais conforme sofria o carregamento. A ausência da malha de reforço permitiu que essas fissuras adquirissem espessuras maiores quando comparadas as demais peças. b) CASO 2 – 0,15% Ac de malha de reforço por face Tabela 20 - Distribuição da malha de reforço 0,15% Ac 0,15% MALHA DE REFORÇO ARMADURA φ ESPAÇAMENTO VERTICAL 6mm 12,5 cm HORIZONTAL 6mm 12,5 cm Fonte: Experimento realizado em outubro de 2014 ∑ 𝐴𝑠𝑖 ∗ 𝑠𝑒𝑛𝛾𝑖 > 0,0030 𝑏𝑣 𝑠 2 ∗ 0,28 2 ∗ 0,28 ∗ 𝑠𝑒𝑛63,44 + ∗ 𝑠𝑒𝑛26,56 = 0,00601 10 ∗ 12,5 10 ∗ 12,5 0,00601 > 0,0030 𝛽𝑠 = 0,75 𝜎𝑙𝑖𝑚 = 0,85 ∗ 0,75 ∗ 0,75 ∗ 2,286 = 1,09 𝑘𝑁⁄𝑐𝑚2 Como ponto mais crítico da escora encontra-se próximo ao topo, wt = 7,64cm, a tensão da força de compressão da escora é calculada nesse local: 𝜎= 𝜎= 𝐹 𝑤𝑖 ∗ 𝑏𝑤 111,8 = 1,46 𝑘𝑁/𝑐𝑚2 7,64 ∗ 10 1,09𝑘𝑁/𝑐𝑚2 < 1,46 𝑘𝑁/𝑐𝑚2 Após a verificação pelos métodos do ACI 318-14, conclui-se que a peça que possui 0,15% de malha de reforço sofrerá ruptura na diagonal comprimida. Durante o rompimento da peça foi observado abertura de fissuras nas diagonais, mas a malha de reforço aplicada controlou essas aberturas permitindo que a peça chegasse a ruptura após aplicação de 70,7tf. 75 c) CASO 3 – 0,20% Ac de malha de reforço por face Tabela 21 - Distribuição da malha de reforço 0,20% Ac 0,20% MALHA DE REFORÇO ARMADURA φ ESPAÇAMENTO VERTICAL 6mm 9 cm HORIZONTAL 6mm 9 cm Fonte: Experimento realizado em outubro de 2014 ∑ 𝐴𝑠𝑖 ∗ 𝑠𝑒𝑛𝛾𝑖 > 0,0030 𝑏𝑣 𝑠 2 ∗ 0,28 2 ∗ 0,28 ∗ 𝑠𝑒𝑛63,44 + ∗ 𝑠𝑒𝑛26,56 = 0,00835 10 ∗ 9 10 ∗ 9 0,00835 > 0,0030 𝛽𝑠 = 0,75 𝜎𝑙𝑖𝑚 = 0,85 ∗ 0,75 ∗ 0,75 ∗ 2,286 = 1,09 𝑘𝑁⁄𝑐𝑚2 Como ponto mais crítico da escora encontra-se próximo ao topo, wt = 7,64cm, a tensão da força de compressão da escora é calculada nesse local: 𝜎= 𝜎= 𝐹 𝑤𝑖 ∗ 𝑏𝑤 111,8 = 1,46 𝑘𝑁/𝑐𝑚2 7,64 ∗ 10 1,09𝑘𝑁/𝑐𝑚2 < 1,46 𝑘𝑁/𝑐𝑚2 Após a verificação pelos métodos do ACI 318-14, conclui-se que a peça que possui 0,20% de malha de reforço sofrerá ruptura na diagonal comprimida. Durante o rompimento da peça foi observado abertura de fissuras nas diagonais, mas a malha de reforço aplicada controlou essas aberturas permitindo que a peça chegasse a ruptura após aplicação de 75tf. d) CASO 4 – 0,30% Ac de malha de reforço por face Tabela 22 - Distribuição da malha de reforço 0,30% Ac 0,030% MALHA DE REFORÇO ARMADURA φ ESPAÇAMENTO VERTICAL 6mm 6 cm HORIZONTAL 6mm 6 cm Fonte: Experimento realizado em outubro de 2014 76 ∑ 𝐴𝑠𝑖 ∗ 𝑠𝑒𝑛𝛾𝑖 > 0,0030 𝑏𝑣 𝑠 2 ∗ 0,28 2 ∗ 0,28 ∗ 𝑠𝑒𝑛63,44 + ∗ 𝑠𝑒𝑛26,56 = 0,0125 10 ∗ 6 10 ∗ 6 0,0125 > 0,0030 𝛽𝑠 = 0,75 𝜎𝑙𝑖𝑚 = 0,85 ∗ 0,75 ∗ 0,75 ∗ 2,286 = 1,09 𝑘𝑁⁄𝑐𝑚2 Como ponto mais crítico da escora encontra-se próximo ao topo, wt = 7,64cm, a tensão da força de compressão da escora é calculada nesse local: 𝜎= 𝜎= 𝐹 𝑤𝑖 ∗ 𝑏𝑤 111,8 = 1,46 𝑘𝑁/𝑐𝑚2 7,64 ∗ 10 1,09𝑘𝑁/𝑐𝑚2 < 1,46 𝑘𝑁/𝑐𝑚2 Após a verificação pelos métodos do ACI 318-14, conclui-se que a peça que possui 0,30% de malha de reforço sofrerá ruptura na diagonal comprimida. Durante o rompimento da peça foi observado abertura de fissuras nas diagonais, mas a malha de reforço aplicada controlou essas aberturas permitindo que a peça chegasse a ruptura após aplicação de 74tf. É válido ressaltar que essa peça já havia sofrido um ciclo de carregamento anterior ao de sua ruptura, chegando até 22tf sem apresentar fissuras nas diagonais comprimidas, somente apresentando fissuras no meio do vão da viga-parede. Esse ciclo foi interrompido devido ao esmagamento da placa de apoio. 77 10 CONCLUSÃO O comportamento desenvolvido pelas vigas-paredes com malha de reforço de GFRP foi melhor do que o esperado. Os resultados foram satisfatórios, pois quanto barras de GFRP foram aplicadas como malha, foi possível observar o controle das fissuras provenientes dos esforços nas diagonais comprimidas das peças. Os valores dos resultados experimentais apresentaram coerência com o conteúdo utilizado como base teórica neste trabalho. Para o dimensionamento da viga foi adotada a norma brasileira NBR 6118 de 2014 para aplicação do Método das Bielas em vigas-paredes. Também utilizou-se a norma americana ACI440.1R-06 de 2006 que sugere o uso de um coeficiente de segurança consideravelmente elevado, pois GRFP ainda é um material em desenvolvimento. Para verificação das diagonais comprimidas baseou-se pela norma americana ACI 318 de 2014, pois essa norma associa a condição de existência de malha de reforço com a capacidade das escoras. As inúmeras fissuras que surgiram na peça que não possuía malha de reforço eram incontroláveis e possuíam grandes aberturas, mesmo assim essa peça foi a ruptura somente quando carregamento de 687kN foi aplicado. Já a peça que possuía apenas 0,15% de malha de reforço apresentou carga de ruptura de 707kN, muito próxima da viga-parede sem malha mínima. No entanto, o destaque dessa peça foi o trabalho da malha de GFRP no tratamento da abertura das fissuras. Logo, conclui-se que a presença da malha de reforço em vigas-paredes é fator crucial para controle das indesejáveis fissuras e as barras de GFRP, por apresentarem ótimos resultados, podem ser consideradas uma alternativa para diminuição de problemas em elementos estruturais que permanecem constantemente em contato com água, por exemplo, reservatórios. É válido ressaltar que o uso de polímeros com fibra de vidro no Brasil é ainda muito limitado, mas pesquisas que envolvam esse material estão sendo feitas a todo momento. Isso contribui positivamente para aperfeiçoamento das propriedades das barras e, com o aumento da demanda do produto, é possível reduzir o custo do material. 78 11 REFERÊNCIAS AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. ACI 318: Building Code Requirements for Structural Concrete and Commentary, 2014. AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. ACI 440R: State-of-Report on Fiber Reinforced Plastic (FRP) Reinforcement for Concrete Structures, 1996. AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. 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