JALES - Blog do Renato César Pereira
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Jales, 10 de abril de 2011 NEGÓCIOS Informe Publicitário Porto ganha reforço de peso A Porto, grife genuinamente jalesense voltada para o público jovem, que já vinha conquistando o mercado, chega à semana do 70º aniversário da cidade podendo festejar um salto de qualidade. Desde o início de abril, Mair Gama e Rafael Castinho, idealizadores da Porto, ganharam um parceiro de peso, o agropecuarista Devanil Papala Rossafa. Foto: Marcos Oliveira Estilo, beleza e modernidade são os diferenciais das peças da marca Porto Deva, como é conhecido na cidade onde nasceu, cresceu e vive, que é plantador de soja e criador de gado, chegou à conclusão de que este é o momento certo de diversificar investimentos, optando pelo segmento da indústria direcionada para a moda jovem. Até chegar a propor sociedade para Mair e Rafael, ele pesquisou algumas outras situações empresariais, fixando-se na Porto por enxergar naquela fábrica a possibilidade de grande crescimento. Além do mais, ficou muito bem impressionado com o empreendedorismo dos dois sócios, elogiando-lhes a criatividade e capacidade de trabalho. Ele acredita que a soma de forças do agora quarteto de empresários terá como conseqüência direta, a médio prazo, a geração de mais postos de trabalho. De sua parte, Mair e Rafael receberam a proposta de sociedade de Deva Rossafa como a prova viva de que valeu a pena acreditar em um projeto que vem dando certo e pode ser mais ampliado ainda. Eles também elogiaram o novo sócio não somente Estação da Embrapa chega à maioridade e parabeniza Jales pelo 70o aniversário A Estação Experimental de Viticultura Tropical (EEVT), vinculada à Embrapa Uva e Vinho, foi criada em 15 de abril de 1993 a partir da demanda do setor produtivo vitícola da região e viabilizada com a assinatura de convênio entre a Prefeitura Municipal de Jales, o Ministério da Agricultura/Embrapa e a Associação dos Viticultores da Região de Jales (AVIRJAL). Tendo como principal linha de pesquisa o melhoramento genético da videira, com o objetivo de criar variedades de uvas adaptadas às condições de clima tropical, a equipe formada por quatro pesquisadores e doze empregados de apoio também tem estendido a sua atuação nas áreas de manejo de doenças, manejo de plantas, tecnologia de aplicação de defensivos, irrigação e agrometeorologia, com o objetivo de gerar tecnologias que viabilizem a sustentabilidade da vitivinicultura em todo o Brasil. Além da região noroeste do Estado de São Paulo, a EEVT atua em outras regiões tropicais, dando suporte à implantação de novos pólos vitivinícolas, com projetos estabelecidos no norte de Minas Gerais, norte do Paraná, Goiás, Mato Grosso, Ceará, Pernambuco, Espírito Santo e Distrito Federal. A EEVT tem também investi- Divulgação A Estação Experimental de Viticultura Tropical (EEVT) completa 18 anos no dia 15 de abril, quando Jales comemorará o seu 70° aniversário de fundação do na formação de novos pesquisadores. Vários estagiários, estudantes dos cursos de Biologia e de Tecnologia em Agronegócio, do Centro Universitário de Jales (UNIJALES) e da Faculdade de Tecnologia de Jales (FATEC), respectivamente, têm sido treinados pelos pesquisadores lotados na EEVT. A EEVT completará 18 anos no dia 15 de abril de 2011 quando Jales comemorará o seu 70o aniversário de fundação. É com um saldo muito positivo que a EEVT chega à “maioridade”. E isso só foi possível graças à participação de várias pessoas e instituições, a quem expressamos o nosso reconhecimento e agradecimento por esse esforço cooperativo que resultou nessa história de sucesso. Agradecemos especialmente a participação e contribuição do Poder Público Municipal de Ja- les e demais municípios engajados nesse esforço, dos produtores, por meio de suas associações e cooperativas, dos políticos e lideranças da região, da CATIEDR de Jales e todas as entidades envolvidas. E nesse clima de festa, também para a nossa instituição, é que, em nome da Embrapa Uva e Vinho, parabenizamos Jales por mais um ano de conquistas e rendemos nossas homenagens ao município que tão bem nos acolheu e nos tem apoiado durante todos esses anos de trabalho. ROSEMEIRE DE LELLIS NAVES (Engenheira Agrônoma, Doutora em Fitopatologia, Pesquisadora da Embrapa Uva e Vinho e Supervisora da Estação Experimental de Viticultura Tropical) Foto: Ana Carla Bologna Mair Gama e Rafael Castilho, à direita, com os novos parceiros Deva Rossafa e Neto pela injeção de capital, mas pelo grande interesse revelado em acompanhar todos os detalhes, desde o processo de criação até a industrialização propriamente dita. LOJA DE FÁBRICA Funcionando há quase dois anos, a marca Porto sacudiu o público no dia 5 de novembro do ano passado, quando lançou a coleção PrimaveraVerão durante desfile inspirado no tema circo, lotando a Mansão dos Amigos. Camisetas gola careca, gola v, regata e bermudas água e sunga fazem parte do portfólio de produtos da Porto. Outra novidade é que em breve a Porto lançará sua primeira coleção feminina, além de uma completa linha de acessórios. Recentemente, a Porto transformou-se em loja de fábrica e confecção própria, na Rua 12, 2789, esquina com a 15, telefone 36327571. Maiores informações podem ser obtidas no site www.embarqueporto.com.br. O folder mostra a primeira grande balada, que será realizada pela Porto, em junho deste ano 2- Jales, domingo, 02 10 de abril de 2011 Eu vim para ficar (1) Álbum de Família Fernanda com o marido, o empresário Fabrício Fuga, e os filhos Otávio e Geórgia Quando aqui cheguei, há 14 anos atrás, em uma noite chuvosa de março, jamais poderia imaginar que iria gostar tanto de Jales como gosto hoje. Aliás, adoro Jales! E também não poderia imaginar que em tão pouco tempo eu já diria: “Eu vim para ficar!” O que faz uma cidade são as pessoas que nela vivem. E, aos poucos, fui conhecendo a cidade, a partir das pessoas que me iam sendo apresentadas. Pessoas simpáticas, simples, dadas à amizade, abertas para novos contatos, amistosas. Muitas são amigas do peito até hoje, outras se tornaram conhecidas, ESPECIAL jornal de jales pelas quais tenho admiração e respeito. Mas todas, de uma forma ou de outra, foram me mostrando que morar em Jales é bom, é tranqüilo, vale a pena. Aos poucos, a saudade do Sul, o frio, os costumes de lá foram ficando para trás e sendo substituídos pelas novidades que esta terra ia me trazendo. Até que, num determinado momento, nem sei bem qual, me peguei feliz e muito adaptada a tudo, inclusive ao calorão. Aqui, junto com meu marido, edifiquei um lar, encontrei minha religião, construí minha carreira profissional, e crio meus filhos. Quando cheguei eu nem sabia, mas Jales é o lugar que eu pedi a Deus para viver. Espero que todos nós que vivemos aqui possamos continuar contribuindo para que a cidade seja um bom lugar para se viver. Depende muito de nós, das nossas ações, da forma como nos relacionamos, do que pensamos, do que falamos e fizemos em cada instante. Que Jales siga adiante, crescendo sempre, mas sem perder a essência de cidade que acolhe, de cidade feita por pessoas as quais podemos chamar de “gente boa”. FERNANDA POZZER FUGA (publicitária e professora universitária) Eu vim para ficar! (2) Saio do “Estação Café”, rumo ao trabalho, e deparo-me com o Deonel (ele saindo da academia), e vem a intimação: um artigo sobre os 70 anos do município. O mote: VIM PARA FICAR! Fico mais perdido que fã daltônico do RESTART, mas aceito o difícil encargo, afinal conto com a ajuda de meu inseparável guru, Johnnie Walker, o black. O que me fez retornar a este “pedacinho do Brasil”, três anos após ir embora? Uma cidade em que o termômetro marca trinta graus às 07:00 horas da manhã? Uma cidade onde Ulisses se grafa “Olices”, Hollywood vira “Oliúde”? Uma cidade que tem um bairro denominado Residencial Big Plaza que não tem nenhuma praça? Uma cidade cuja praça mais famosa (Praça do Jacaré) não é mais habitat do réptil que lhe deu o topônimo? Uma cidade onde os prefeitos (eleitos) morrem no exercício de seus mandatos (Guisso e Caparroz), ou após deixarem o paço municipal (Euphly, Pedro Nogueira, Rollemberg, Caparroz e Viola), e em que as primeiras-damas são longevas, imortais até (Dona Minerva, Dona Filhinha, Dona Naomi, Dona Alice Amadeu, Dona Maria Cândida, Dona Francisca, Dona Alice Nilsen, Dona Isabel e Dona Sirlei). Vim para ficar, que não sou aziago e nem me prendo a idiossincrasias. Aqui me sinto bem, amo o que faço e faço o que amo. Pontuo: - estou investindo em boi: compro umas pica- Arquivo Norton foi para São José dos Campos e, cheio de saudades, voltou três anos depois nhas todo final de semana ou feriado. - estou aprimorando minha habilidade de pescador, e tenho repassado minhas experiências aos amadores da cidade (Jair Vicente Júnior, Carlos Umberto, Sr. Dario, Sr. Caetano, Edmilson, Eliezer, Reginaldo da EMBRAPA e outros). - estou exercitando meu jeito mineiro de fazer (e viver) política, alçado que fui à condição de senador, pelas mãos do Martini, ainda que tenha faltado muito às sessões do Senadinho. - estou ampliando, e muito, meu rol de amigos (não cito nomes, pela extensão). Gosto da terra, da água, do ar e dos fogos que amarro, sempre em boas companhias. Vim para ficar! P.S. 1/ P. S. 2: Mensagem ao Garça: Pense bem. Jales ainda conta com todas as suas primeirasdamas, nem com todos seus prefeitos. P. S. 3: Não estarei aqui em Jales no dia de seu aniversário. Estaremos em Cuba eu, Martini, Gatão, Chico Melfi e Luiz Carlos Cervantes). Desconfio do objetivo oficial da missão (casar a Natalie Caparroz). Acho que o Martini pretende devolver Guantánamo ao sofrido povo cubano. Participaremos, em todo caso, de um casamento e uma reconciliação. Hasta la victoria siempre. E parabéns, Jales, minha jovem septuagenária. NORTON LUIZ BECHTLUFFT (diretor da Vara do Trabalho de Jales) MEMÓRIA Alunos da USP vinham para jales aprender rádio Ao sairmos da Estação da Luz, depois de 14 horas de viagem de trem, deparei-me pela primeira vez na vida com a grandiosidade de São Paulo. Início de 1973. Em Jales terminara o colegial. Único aluno da classe a optar por física nuclear. A professora de física e prima Dalva (esposa do “Maridinho”) me achava um louco. A família insistiu até o fim para eu optar por matemática no Soler, mas a minha geração tinha pernas longas. Meu pai deixou-me com as malas numa pensão do Bexiga. O primeiro mês pago adiantado. Os demais seriam comigo. Não demorou para aquele mundo inimaginável me mostrar outros caminhos. A ditadura, as artes, a solidão, a imensidão de tudo. Logo estava na Universidade de São Paulo, mas para cursar Comunicação. Os serviços de alto falante do interior e a incógnita da televisão que só chegou aqui na Copa de 70, instigaram-me a fazer Produção e Direção em Rádio e TV. Em Jales havia um fenômeno no rádio: Deonel Rosa Junior e o seu programa As doze mais dos estudantes (que já passou da hora de ganhar um estudo sério). Num curto exílio em 74/75 fiz nele uma participação especial. Eu contava essas e outras façanhas e meus amigos de turma da USP ficavam maravilhados. Organizei então as célebres viagens de um grupo para aprender rádio em Jales. Viagens de trem, charrete na estação e finais de semana dentro do estúdio da Rádio Assunção gravando programas especiais das Doze Mais, que iam ao ar aos sábados. Trazíamos Lps de MPB recém lançados em São Paulo, como Nara Leão, Paulinho da Viola, João Gilberto, Itamar Assunção... Assim a meninada desse interior passou a ter contato com os biscoitos finos, saindo um pouco do marasmo do brega e do sertanejo. Meus amigos aprenderam muito com Deonel, Petrô e Mauro Ferraz. Marta Fantini, a nossa locutorazinha, depois de passar pela Cultura de São Paulo, vive há mais de 20 anos na Europa. Trabalhou na Deutsche Welle da Alemanha e hoje está na Rádio de Bordeaux, França. No início da década de 80, com a chegada de Dom Demétrio a Jales, tive a honra de ter sido convidado por ele para reestruturar a velha Rádio Assunção (ainda não havia FM na cidade). Já devidamente instalado em Jales desde 81, não Arquivo Foto do arquivo pessoal do autor do texto: da esquerda para a direita, Kimura, Saulo e a namorada Silvia, Deonel, Petrô e a esposa Chica, Marta Fantini e o saudoso Mauro Ferraz pensei duas vezes, larguei tudo, aceitei o convite e fui sonhar mais um pouco na vida. Dirigi e convivi com grandes vozes como o lendário Marcos Alberto, José Pedro dos Santos, Jara Roberto, Maninho Carlos Augusto, Petrô Carlos da Fonseca, Benê Ribeiro e o próprio Deonel entre outros. Ganhamos prêmios estaduais. Nessa mesma época surgiram inúmeros novos talentos como Ilson Colombo, Irineu de Carva- lho, José Roberto Favaro, Flumenal, Galvão Junior...Uma outra história a ser contada. SAULO NUNES DA SILVA (diretor-presidente da agência Preview) ESPECIAL jornal de jales Jales, domingo, 10 de abril de 2011 2- 03 2- domingo, 04 Jales, 10 de abril de 2011 jornal de jales ESPECIAL ESPECIAL jornal de jales Jales Forever A des peito de toda crítica que lemos nos jornais locais, nos blogs e nas redes de relacionamento sobre a cidade abandonada à sua própria sorte, surgiu um grupo no Facebook para saudar os velhos tempos, amizades e amores: o “Jales-Forever”. Hoje o grupo já se aproxima de duzentos associados e mais de seiscentas fotos foram postadas no grupo. Este grupo foi criado para estreitar a distância de muita gente que em sua juventude fez e aconteceu nesta santa terra de Jales. Tudo muito positivo e saudável. Apenas boas recordações e muita saudade. Ali não ocorre aborrecimento ou notas tristes. É pura diversão e saudade de um tempo que jamais voltará, mas que arrebatou o coração de muitos. Foram postadas fotos dos times de vôlei e basquete dos Jogos Regionais de 1976, de alguns times de futebol, como o CAJ , Sputnik e também do futebol de Salão. Também podem ser vis- tas fotos de festivais da canção no Cine Jales, Blocos Carnavalescos, Carnaval do Ipê, Bailes de Debutantes, desfiles em datas comemorativas, encontros e festas de várias tribos jalesenses de diferentes épocas. Tem até uma foto de 1968, da antiga quadra de esportes, de grandes glórias para o desporto jalesense, demolida para dar lugar ao maior shopping da cidade. Os encontros virtuais acontecem às 24 horas do dia e em todos os dias, sempre haverá um jalesense que recebeu o greencard tempos atrás, conectado e trocando figurinha. Legal é que tem jalesense em todo lugar. Sorte de nosso planeta! Os assuntos permeiam pelo reencontro, recordações da infância e adolescência, primeira comunhão, festas e bailinhos, viagens pelo mundo, esportes, gatinhas e gatões da época e etc. Feliz aniversário minha querida cidade de Jales. Que o tempo não consiga apagar da memória grandes amizades e eternos jalesenses. RENATO CÉSAR PEREIRA (www.renatocesarpereira.com.br / Campinas – SP) , Jales, domingo, 10 de abril de 2011 2- 05 2- Jales, domingo, 08 10 de abril de 2011 ESPECIAL jornal de jales E os nossos festivais? Luiz Carlos Seixas Participei dos dois últimos FERECE (Festival Regional da Canção Estudantil) e das duas primeiras MOCAP (Mostra da Canção Popular), realizados em Jales no início das décadas de 1970 e 1980, respectivamente. O primeiro FERECE, vencido pelo José Moreira em 1969, aconteceu no palco do Cine Jales, onde hoje está a agência do Bradesco. Antonio Edson Altimari (Arroz), Mauro Ferraz, Ruy Rodrigues e Mário Ramires eram as nossas estrelas de então. Transferido por dois anos para a quadra do Instituto de Educação, na Rua 2, o FERECE acabou voltando para o cinemão, em 1973, para a sua quinta e derradeira edição. As MOCAP aconteceram na quadra do recém construído Ginásio de Esportes. “É hora de cantar / Cala teu grito de protesto / E canta a beleza da vida / Nesta manhã tão florida / Azul e tão cheia de sol” (José Moreira, vencedor do I FERECE) O modelo de ambos eram os festivais da televisão, criados por Solano Ribeiro, que na segunda metade da década de 1960 lançou uma leva de compositores que, depois de meio século, continua sendo a nossa elite musical: Edu Lobo, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque e outros vovôs geniais. Festival competitivo, com prêmio em dinheiro, troféu, vaia, músicas de protesto, palco decorado com muitas flores e casais de recepcionistas vestidos com o traje do último baile de debutante (Matilde Nogueira, Luiz Carlos Cervantes, Ana Saura, José Luis Viana Coutinho, Misael Carvalho, Gertrudes Voltan, todos, evidentemente, menores de idade). Participavam, em pé de igualdade, jovens e adultos, gente de Jales e de cidades vizinhas – para as MOCAP também vieram compositores de longe, que ainda não tinham sido “descobertos” pelas grandes gravadoras e viviam de ganhar festivais pelo Brasil afora, como peão, sem os riscos do rodeio. “Você estava tão bonita de azul” (Marco Aurélio, vencedor do III FERECE) De uma sequência de acordes que vi o professor Jerônimo Garcia Ferreira fazer no violão, compus minha primeira música. Era um samba que o Silas cantou de calça boca de sino e camisa cor de rosa de manga comprida. O Silas não decorou e eu tive que soprar a letra pra ele, no Fotos: Arquivo “Maria é mulher de malandro / Por isso tem que sofrer / Lava até tarde da noite / E amanhece pra estender” (Mulher de malandro, de Luiz Carlos Seixas, vencedora do V FERECE, 1973) palco, enquanto cuidava de não errar no violão. Na arquibancada, minha mãe ouviu o veredito de um funcionário público desafinado, que a todo custo tentava macaquear o Vinícius de Moraes no Coqueiro, a única lanchonete da cidade: “É Seixas, com esse andei, andei, você não vai chegar a lugar nenhum”. Minha mãe ficou triste, coitada, mas o cover de Vinícius tinha razão: não passei de um 4º lugar, empatado com um pessoal de Poloni. ESTICADA Mas, naquele ano, o melhor aconteceu depois do festival. Deonel me convidou para uma serenata na casa do dr. Lair Seixas Vieira. José Otávio, presidente do júri e estudante de medicina de Rio Preto que tinha acabado de vencer um festival universitário em São Paulo precisava de um violão emprestado. Na falta de outro, podia ser o meu Di Giorgio, que eu guardava em um saco branco de farinha. Dr. Lair nos recebeu com três garrafas de whisky (Chivas, Passport e Vat 69), e Leninha cantou até às 6 da manhã acompanhada pela primeira vez, creio, por alguém que sabia de cor as músicas dos discos que a gente escutava, com aqueles acordes cheios de diminutas e nonas com sé- timas aumentadas que ainda não tinham chegado a Jales. “A estrada é um caminho / Caminho é uma estrada / Quem dera ser um ninho / A estrada onde caminha o sol” (Etão e Pachi, vencedores o IV FERECE). No ano seguinte, 1973, concorreram 46 músicas, de 8 cidades da região. O júri era formado por 13 legítimos representantes da comunidade: o presidente da Câmara, a primeira dama do município, os presidentes do Lions, do Rotary, do Clube do Ipê, da APAE, das emissoras de rádio da cidade e até da Delegacia de Polícia! Acabei vencendo o V FERECE, aos 15 anos de idade, graças a uma interpretação arrebatadora da Leninha. Foi a vez da Jayne Molina ficar em 4º lugar! Dividimos o dinheiro do prêmio e a Leninha foi de excursão pro Paraguai. Minha mãe, grávida do meu irmão caçula, para quem eu escolheria o nome de Paulo César em homenagem ao Paulinho da Viola, estava na platéia naquela minha noite de glória. Ganhei até um beijo da nossa eterna Miss Jales, a Dionéia. Dei a primeira entrevista da minha vida. O entrevistador, claro, o Deonel. Meu pai ficou em casa ouvindo pela Rádio Cultura. Do arquivo pessoal do articulista: Leninha e Seixas, vencedores do festival, entrevistados Justo ele, o primeiro ouvinte de Mulher de Malandro, que compus no trem, entre Urânia e Jales. Voltamos para casa a pé, como se andava então. Eu carregando o pesado troféu, minha mãe com o Paulo César na barriga e, Alice, Renato, Cristina e Claudinha, minha torcida organizada. O pessoal do Quinteto Aracatu era quase mascarado, só porque tirava as dúvidas com o professor Jerônimo e cantava em mais de uma voz. Fora de Jales, o Barrinha se chamava Tom, e o Zaqueu, certa vez, resolveu fazer o balanço da carreira artística do nosso grupo: “Tocamos na TV, representamos Jales em Araçatuba, Votuporanga, Estrela d’ Oeste, Santa Albertina, sem falar nas cidadezinhas menores da redondeza”(Sic). Disso tudo só me recordo de quando fomos a Rio Preto, numa Kombi, tocar no programa do Amaury Júnior. Não pela apresentação em si, mas porque tivemos que esperar duas horas na coxia assistindo ao entra e sai de pelo menos vinte concorrentes ao prêmio de Miss Rio Preto – todas com mais de 1,70, em trajes menores e tão perto de ver! Nos anos da MOCAP eu venci dois festivais em Santa Fé do Sul, durante o primeiro mandato do Edinho Araujo como prefeito. Uma das músicas, curiosamente, era 50% instrumental. A outra, Aparecidão das Águas, eu fiz em parceria com o Marco Aurélio Altimari, meu ídolo dos primeiros festivais. Tinha a primeira parte de um samba autobiográfico dele (Marco) que eu transformei numa homenagem ao líder messiânico Aparecido Galdino (preso pela ditadura militar por 10 anos num manicômio), que conheci varrendo as ruas de Santa Fé. Nos FERECE do professor Ariovaldo Luis Moura, um conjunto de Fernandópolis, The Hells, garantia o acompanhamento musical a quem não sabia tocar. As MOCAP trouxeram como integrantes da banda de apoio importantes nomes da música instrumental brasileira, como Heraldo do Monte, Amilson Godoy e o maestro Edson Alves. Fiz um samba enredo homenageando Charles Chaplin, outras duas músicas tristes e uma em tom maior que pelos próximos 30 anos serviu para encher de alegria meus reencontros com o amigo Perigo. Na padaria ou na rua ele me saudava cantando De velho pra velho, inteira, com versos que nem eu lembrava mais. Mas a melhor lembrança dos festivais, para mim, são os incontáveis ensaios com Zaqueu, Barrinha, Beto, Saulo, Pachi, Silas, Cristina, Vânia, Dercione e minhas irmãs. O clima de disputa dos festivais me fazia mal: a adrenalina lá em cima, o medo de errar, e uma tremedeira que só se repetia quando eu pulava o muro da casa da Míriam, na Rua 2, para a serenata de todo sábado. Nota: Quem tem a coleção completa pode conferir que esse título “E os nossos festivais?” é o mesmo do artigo de página inteira que escrevi para o Jornal de Jales em 13/3/1977. ESPECIAL jornal de jales Jales, domingo, 10 de abril de 2011 2- 09 2- 10 Jales, domingo, 10 de abril de 2011 ESPECIAL jornal de jales JALES – PRECURSORES E PIONEIROS Autor revela as dificuldades para escrever o primeiro livro Genésio Seixas Para quem busca dados históricos sobre os primeiros anos de nossa cidade surgem fatos inacreditáveis. Uns fantásticos, senão, vejamos. “Aqui, em Jales, grupos armados travavam tiroteio com os Castilhos que se julgavam donos das terras, os botequins fechavam as portas e todos saiam da rua. Mães precavidas, quando iam buscar água na cisterna da serraria, punham seus filhos sobre a cobertura dos ranchos para não serem comidos pelas onças. Maus elementos, para prejudicarem a cidade, deram uma tunda no padre afim de que o lugar fosse amaldiçoado por todos os séculos. Moradores perdiam seus ranchos e eram despejados sob a mira das carabinas. Até o Santo Expedito foi furtado e levado para um sítio, depois reapareceu milagrosamente numa igreja improvisada. Grupos de sacis-pererê faziam estripulias no cerrado da Praça Bandeirantes, e no cruzamento das ruas Um e Dois, no canto do cemitério, as mulas-sem-cabeça aterrorizavam o povo soltando fogo pelas ventas”. Quando escrevi o livro “Jales – precursores e pioneiros”, tive que eliminar, no primeiro crivo, muitos desses relatos e causos semelhantes assim contados pelos antigos moradores entrevistados, uns apelando para o exagero, emoção, outros confiantes no ouvi dizer. Na falta de comprovação da verdade ou cruzamento de informações, tive que recorrer ao bom senso e à própria experiência de vida. Quem se mudou da cidade vizinha deve ter comentado o confronto armado entre grileiros, que em verdade ocorreu e, como lorota tem pernas compridas, a má fama correu recaindo injustamente sobre Jales. As onças nunca ameaçaram crianças porque cedo se afastaram com a presença de pessoas, caçadores e cães. A polêmica a respeito do sacerdote, que culminou com uma surra, deve-se à motivação pessoal ou política; nada de maldição. Quanto aos despejos, consta que o fundador, Eng. Euphly Jalles, doou cem lotes de terra no traçado urbano sob a condição de o morador construir uma casa coberta com telhas de barro no prazo dois anos. Em caso de não cumprimento, o rancho seria desfeito e o terreno retomado. Ninguém furtou o santo. D. Eponina Jalles o levou para sua fazenda no Quebra-cabaça após a desativação da igreja Bom Jesus, devolveu-o para a igreja da Rua Onze que antecedeu a catedral. A “aparição” dos sacis e mula-sem-cabeça faz parte da crença popular aliada ao fol- clore místico muito bem alastrado pelo Interior. No capítulo 21 do livro em pauta escrevi sobre as visões fantásticas que ouvi, junto com outras crianças, contadas pelo “Lazo Guarda” – vigilante noturno dos anos 1940. O COMEÇO DE TUDO A idéia de divulgar fatos ligados à história pela mídia foi despertada nos anos1990 com pesquisas remontadas à Estrada Boiadeira em cujas margens passei parte de minha infância. Convivi no sertão com precursores, caçadores e boiadeiros falando a mesma linguagem. Foi lamentável, meio século após, assistir ao desaparecimento das marcas históricas do estradão com o desabamento de casarões de fazendeiros, cercas de cemitérios da época sendo derrubadas, sulcos profundos ao longo do percurso sendo nivelado pela erosão, cruzes queimadas e capelas esquecidas com seus santos de barro mutilados. De posse das matérias que se avolumavam surgiu a inspiração de partir para o primeiro livro sobre a região, particularmente sobre Jales e nossa gente. Compreender relatos procedentes de memórias cansadas, falta de fontes de crédito, raridade de documentos oficiais, inexistência de ensaios anteriores, de filmes, vídeos e internet redundaram nas maiores das dificuldades encontradas. A impressão foi onerosa e não se pôde contar com patrocinadores. Entre as facilidades, em contrabalanço com os obstáculos, tive em princípio a motivação por propiciar modestos subsídios para a história oficial de Jales*. Contei com o interesse dos leitores dos jornais e daqueles que procuraram o Jornal de Jales fornecendo matérias para os fascículos do Projeto Memória aberto para manifestação dos detentores de fotos, causos, documentos afins e conhecimento de fatos inéditos. Gente simples que teve a oportunidade de participar no regate de nosso passado e tradição. O editor Luiz Carlos Seixas, meu sobrinho, crítico e incentivador, prestou significativa cooperação. Mudou-se daqui há muitos anos, mas continua jalesense de coração – puxou para este tio. Desse parente, da imprensa e dos moradores, pré e pós fundação de Jales, recebi a injeção de entusiasmo que faltava. HUMORES A busca de informações trouxe-me uma lição: aprendi que em trabalho de pesquisa, o entrevistado responde de modos diferentes dependendo do momento considerado. Em dias de pagamento, o aposentado pode estar desgostoso, porque a despesa foi maior que a receita, e comenta que nos velhos tempos era tudo melhor, não tinha imposto ou aluguel a pagar, consumia-se lenha em vez de gás, não comprava combustível. Tinha despesa com querosene, mas não pagava energia elétrica e a despesa com armazém era pequena. Com esse ressentimento, certamente vai nos passar uma falsa ideia de que aqui a vida era ideal e que tudo parecida maravilhoso no tempo do seo Getúlio Vargas. Se o entrevistado estiver num momento de satisfação, não lhe faltando dinheiro, vai dizer que no passado não havia fundo rural, nem instituições de previdência, tampouco cesta básica, o governo não dava salário e que foi um grande sofrimento conseguir manter os filhos na escola sem merenda. Nessas condições, tudo era sofrível na funda- ção de Jales. Dá para induzir que não convém entrevistar o velho morador nos dias imediatos ao recebimento do salário. Como há malhação para o corpo em academias, também precisamos de exercício mental - mens sana in corpore sano. Tem ocorrido de perguntar, por exemplo, sobre o nome de um político, antigo conhecido, que o entrevistado não se recorda mais porque nunca falou sobre isso. Ninguém se importou em saber. O que era familiar no passado vai para o inconsciente e de lá não sai nas primeiras tentativas. No dia seguinte, telefona dizendo que lembrou do nome perguntado, depois comenta fatos e fatos decorrentes. Na maioria, sentem-se agradecidos por serem procurados, têm satisfação em resgatar o passado como se estivessem revivendo-o. De um assunto passa para outro que nem foi perguntado. Imagina cenários como se ainda estivesse entre parentes e companheiros. Chora, enfim. Também há quem prefere não abordar o que já passou, principalmente se perdeu glamour ou a boa forma física com a chegada da terceira idade. Quando perguntamos certa vez: – Professor, quem é esse jogador fotografado aqui ao seu lado? – Não gosto de ver foto antiga, traz-me má recordação. – Mas professor, é apenas para identificar um companheiro. – Estou sem óculos. É a resposta final, porque hoje já não se trata daquele atleta esbelto rodeado de garotas pedindo-lhe autógrafos. Há até quem opte por esquecer o que passou. Por princípio da historiografia, a transmissão oral dos acontecimentos na elaboração de um livro dever ser inferior a 10%, Tal não foi pos- sível para escrever “Jales – precursores e pioneiros” em razão do que foi ponderado acima. É um livro que representa o brado dos pioneiros. Sua primeira edição está esgotada com inúmeros pedidos para uma segunda. “Este livro”, prefaciou o jornalista Deonel Rosa Junior, “é um canto de louvor aos pioneiros, aos que enfrentaram toda sorte de dificuldades para que, em pleno sertão, fosse erguida uma cidade que se tornou efetivamente, centro de região”. · – Para escrever nossa história oficial teremos um trabalho pesado pela frente, mas “não queremos cargas leves, precisamos é de ombros fortes”. (Phillips Brooks) ESPECIAL jornal de jales Jales, domingo, 10 de abril de 2011 2- 11 2- 12 Jales, domingo, 10 de abril de 2011 jornal de jales ESPECIAL
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