Simleite
Transcrição
Simleite
Leite: benefício ou malefício à saúde humana? Glauce Hiromi Yonamine Nutricionista Unidade de Alergia e Imunologia – ICr - HCFMUSP Unidade de Gastroenterologia – ICr - HCFMUSP Especialista em Saúde, Nutrição e Alimentação Infantil - UNIFESP Mestre em Ciências - Depto de Pediatria – FMUSP Assessora Científica do Instituto Girassol 2011 Benefícios nutricionais ENERGIA PROTEÍNAS CARBOIDRATOS (LACTOSE) GORDURAS VITAMINAS E MINERAIS CÁLCIO POTÁSSIO FÓSFORO VITAMINA B2 VITAMINA B12 ZINCO MAGNÉSIO VITAMINA A É possível consumir estes nutrientes por meio de outros alimentos? Recomendação de cálcio Estágio de vida Estimated Average Requirement (mg/dia) Recommended Dietary Allowance (mg/dia) Upper Level Intake (mg/dia) 0 - 6 meses - 200 (AI*) 1000 6 – 12 meses - 260 (AI*) 1500 1 - 3 anos 500 700 2500 4 - 8 anos 800 1000 2500 9 – 18 anos 1100 1300 3000 *AI: Adequate Intake Recomendações para a população dos Estados Unidos e Canadá Dietary Reference Intake, Nov de 2010. www.iom.edu Leite como fonte de cálcio 1 copo (200mL) de leite = 240mg de cálcio Leite e derivados: 83% do cálcio da dieta de crianças pequenas 77% do cálcio da dieta de meninas adolescentes 65 a 72% do cálcio da dieta dos adultos Huth et al. Major Scientific Advances with Dairy Foods in Nutrition and Health. J. Dairy Sci. 2006; 89:1207–1221. Biodisponibilidade A biodisponibilidade de um nutriente representa a medida da proporção dos nutrientes alimentares ingeridos e efetivamente absorvida e utilizada Coelho RG. Revista de Metabolismo e Nutrição. 1995; 2(4): 179-82. Biodisponibilidade de cálcio Fatores que aumentam a absorção Fatores que diminuem a absorção Proteínas (?) Fosfatos Lactose Fitatos (presente na casca de cereais, soja) Aminoácidos (lisina e arginina) Celulose Gorduras (em quantidades normais) Oxalatos (chocolate, nozes, pimenta, acelga, espinafre, chá, refrigerante) Álcool Antiácidos Grüdtner et al. Aspectos da absorção no metabolismo do cálcio e vitamina D. Rev Bras Reumatol 1997; 37(3): 143-151. Silva e Cozzolino. Cálcio. In: Cozzolino SMF. Biodisponibilidade de nutrientes. 3ª. Ed. Barueri,SP: Manole, 2009. Cálcio e biodisponibilidade Porção (g)1 Conteúdo de cálcio (mg) Absorção (%) Leite 240 300 32,1 Queijo cheddar 42 303 32,1 97,2 1,0 Iogurte 240 300 32,1 96,3 1,0 Feijão 172 40,5 24,4 9,9 9,7 Brócolis 71 35 61,3 21,5 4,5 Couve 85 61 49,3 30,1 3,2 Espinafre 85 115 5,1 5,9 16,3 Batata doce 164 44 22,2 9,8 9,8 Alimento Cálcio Porções absorvível equivalentes estimado a 240mL de 2 (mg) leite 96,3 1,0 1 Para as folhas, foi considerado porção de ½ xícara (~ 85g de folhas) 2 Calculado pelo conteúdo de cálcio x absorção Weaver et al. Am J Clin Nutr 1999;70 (suppl):543S–8S. Cálcio em alimentos 500mg de cálcio correspondem a: Ou 2 copos de leite de vaca (~ 400mL) BIODISPONIBILIDADE?? 2 laranjas médias (120mg cálcio) 2 unidades médias de sardinha (110mg cálcio) 2 pratos de sobremesa cheio de agrião picado cru (53,2mg cálcio) 3 colheres de sopa cheia de espinafre cozido (73,5mg cálcio) 4 conchas de feijão (72mg cálcio) 4 colheres de sopa cheia de brócolis (34,4mg cálcio) 3 folhas grandes de chicória crua (22,95mg cálcio) 3 folhas grandes de alface lisa crua (12,6mg cálcio) TACO – Tabela Brasileira de Compsição de Alimentos, versão II. Campinas: NEPA-UNICAMP, 2006. Consequências da exclusão de leite de vaca Crianças: Baixa densidade mineral óssea Raquitismo Fraturas Baixa estatura Adultos: Osteoporose Black et al. Am J Clin Nutr 2002; 76: 675-80. Isolauri et al. J Pediatr 1998; 132: 1004-9. Monti et al. Ann Nutr Metab 2007; 51: 228-31. Yu et al. Ann Allergy Asthma Immunol 2006; 96: 615-9. Noimark et al. Pediatr Allergy Immunol 2008; 19: 188-95. Fox et al. Pediatr Allergy Immunol 2004; 15: 566-69. Institute of Medicine, 2010. Benefícios à saúde Prevenção de osteoporose (cálcio) Controle da pressão arterial (proteínas, cálcio) Controle de peso e gordura corporal (cálcio) Prevenção de câncer (cálcio, gorduras – ácido linoleico conjugado) Prevenção da síndrome da resistência à insulina e diabetes tipo 2 (cálcio e vitamina D) Huth et al. Major Scientific Advances with Dairy Foods in Nutrition and Health J. Dairy Sci. 2006; 89:1207–1221. Tremblay e Gilbert. Milk products, insulin resistance syndrome and type 2 diabetes. J Am Coll Nutr 2009; 28(1): 91S-102S. Malefícios à saúde Idade Quantidade Condições clínicas específicas Não é recomendado para menores de 1 ano de idade Sociedade Brasileira de Pediatria Ministério da Saúde Organização Mundial da Saúde Academia Americana de Pediatria Comparação entre Leite Humano e Leite de Vaca Nutrientes Leite Humano Leite Vaca Proteínas Baixo teor (0,9%) Soro:caseína (70:30) Aa de acordo com necessidades Não alergênico Teor elevado (3,5%) Soro:caseína (18:82) Cisteína e taurina Pode ser altamente alergênico Gorduras Maior teor Insaturada (> digestibilidade) AG essenciais e derivados Teor > colesterol Contém lipase Menor teor Saturada (< digestibilidade) AG essenciais Carboidratos Teor elevado lactose (7%) Oligossacarídeos nitrogenados Menor teor lactose (4,9%) Não contém oligossacarídeos Minerais Baixo teor de eletrólitos Carga de solutos renal Boa relação Ca:P (2:1) Boa biodisponibilidade Fe e Zn Teor elevado de eletrólitos Carga de solutos renal Menor relação Ca:P Baixo teor de Fe e Zn Vitaminas Teor adequado (exceto K e D) Baixo teor de C, D, E Reduzido pelo processamento térmico Institute of Medicine. Nutrition during lactation; 1991. AAP. Pediatric Nutrition Handbook, 6th edition; 2009. Menores de 1 ano Imaturidade: Gastrintestinal Renal Imunológica Neuropsicomotora Aleitamento materno Fórmulas infantis Leite de vaca: Maior risco de alergias (proteínas alergênicas) Sobrecarga renal (proteínas e eletrólitos) Maior risco de anemia (microsangramentos, baixo teor ferro) Comprometimento do desenvolvimento neuropsicomotor e visual (deficiente em ácidos graxos essenciais) Deficiências nutricionais (pobre em vitaminas/minerais) Euclydes MP. Nutrição do lactente; 2000. Não deve ser consumido em excesso... Leite tem efeito diluidor (baixa quantidade de ferro) e inibidor (cálcio, caseína e proteína do soro) Excesso de leite de vaca Uso de mamadeira Refeições de madrugada Recusa de novos alimentos Baixa aceitação de almoço e jantar (substituição por leite) Má formação de hábitos alimentares saudáveis Pode causar sintomas clínicos em casos específicos... REAÇÕES ADVERSAS AOS ALIMENTOS TÓXICAS ENZIMÁTICA NÃO-TÓXICAS NÃO-IMUNE IMUNE (Intolerância) (Alergia) FARMACOLÓGICA INDEFINIDA IGE MEDIADA NÃO IGE MEDIADA Ortolani C, Pastorello EA. Best Pract Res Clin Gastroenterol 2006; 20(3): 467-483. Alérgenos Alimentares CRIANÇAS ADULTOS Leite de vaca Ovo Soja Trigo Amendoim Frutas oleaginosas Peixes Frutos do mar Amendoim Peixes Frutos do mar Frutas oleaginosas Alergia Alimentar – Prevalência 6 a 8% da população pediátrica 2 a 4% da população adulta Sampson HA. JACI, 2003 Munoz-Furlong A JACI, 2004. Fator de risco: Antecedentes familiares de atopia Proteína do leite de vaca 0,3 a 7,5% da população pediátrica 82% início aos 4 meses de idade Classificação das alergias Manifestações Mediada por IgE Mecanismo misto (IgE e não IgE mediada) Não IgE mediada Sistêmica Anafilaxia Cutânea Urticária Angioedema Dermatite atópica Dermatite de contato Dermatite herpetiforme Síndrome da Alergia Oral Esofagite eosinofílica alérgica Proctocolite Hipersensibilidade gastrintestinal imediata Gastroenterite eosinofílica alérgica Broncoespasmo Asma Gastrintestinal Respiratória Enterocolite Hemossiderose Pulmonar Anafilaxia Intolerância à lactose Enzima apical da borda em escova Dor e distensão abdominal, diarreia e flatulência Swagerty DL Jr, Walling AD, Klein RM. Am Fam Physician. 2002 May 1; 65(9):1845-50. Sintomas e fatores associados Dose de lactose consumida Atividade residual da lactase Característica física do alimento (sólido ou líquido) Características da refeição Taxa de esvaziamento gástrico Motilidade Capacidade de fermentação Suchy et al. Ann Intern Med 2010; 152: 792-796. Intolerância à lactose Tipos: Congênita: Primária: extremamente rara ~70% população mundial, permanente hipolactasia primária do tipo adulto, lactase não persistente ou deficiência hereditária de lactase Secundária: mais comum na infância, passageira após infecção gastrintestinal com lesão da mucosa intestinal Heyman M B. Pediatrics 2006; 118: 1279-1286. Lomer MCE, Parkes GC, Sanderson JD. Aliment Pharmacol Ther 2008; 27: 93–103. Tratamento Alergia ao leite de vaca Exclusão da PROTEÍNA do leite Dieta de exclusão TOTAL de leite de vaca e todos os derivados Leitura de rótulos (alimentos, medicamentos, cosméticos) Substituto adequado de acordo com a idade Risco de contaminação cruzada Receitas, produtos isentos de leite e derivados Alimentação fora de casa Transgressões Não é para sempre Cardoso AL, Yonamine GH. Abordagem nutricional na alergia à proteína do leite de vaca. In: Nutrologia básica e avançada, 2010. Leite de outros mamíferos Não está indicado leite de cabra Proteínas alergênicas semelhantes (reatividade cruzada) Semelhante ao leite de vaca quanto à quantidade proteínas, cálcio e energia Deficiente em ácido fólico e vitamina B12 Menor risco: leite de égua e jumenta Leite de égua: composição mais semelhante à do leite materno Restani et al. Ann Allergy Asthma Immunol. 2002 Dec;89(6 Suppl 1):11-5. Järvinen et al. Curr Opin Allergy Clin Immunol. 2009 Jun;9(3):251-8. Fiocchi et al. WAO Journal 2010; 57-161. Muraro et al. Ann Allergy Asthma Immunol 2002; 89(Suppl): 97-101. Tratamento Intolerância à lactose Diminuição ou exclusão do CARBOIDRATO do leite De acordo com a tolerância individual Leite com baixo teor de lactose Iogurte Queijos Na intolerância primária, é para sempre Heyman M B. Pediatrics 2006; 118: 1279-1286. Mitos contra o leite Diversos problemas de saúde são atribuídos ao leite de vaca (percepção vs diagnóstico comprovado) Disponibilidade de exames não comprovados pela literatura (IgG ou IgG4) Stein K. J Am Diet Assoc. 2009;109(11):1832, 1834, 1836-7. Teuber e Porch-Curren. Curr Opin Allergy Clin Immunol. 2003 Jun;3(3):217-21. Beyer e Teuber. Curr Opin Allergy Clin Immunol. 2005 Jun;5(3):261-6. Stapel et al. Allergy. 2008 Jul;63(7):793-6. Mitos contra o leite Rinite, sinusite, otite, amigdalite, produção excessiva de muco Cistite de repetição, candidíase, enurese noturna Obesidade, bulimia, anorexia, hipoglicemia Gastrite, doença celíaca Cefaléia, enxaqueca, convulsão, fadiga Insônia, sonolência Distúrbios de concentração, alterações de humor, depressão, ansiedade Acne Olheiras Dores musculares e articulares Doenças auto-imunes: artrite reumatóide, psoríase, fibromialgia, esclerose múltipla, lúpus eritematoso sistêmico, tireoidite de hashimoto Posicionamento do CRN-3 SUPRIMENTO DIETÉTICO DE CALCIO: UMA QUESTÃO PARA A PRÁTICA DO NUTRICIONISTA Contra a supressão dos produtos lácteos como medida de rotina Sem respaldo na literatura Prejuízo para a saúde individual e coletiva Exclusão em casos individuais, amplamente justificados, sempre com acompanhamento dietético, para prevenir deficiências nutricionais www.crn3.org.br/legislacao/pareceres.php Muito obrigada!!! [email protected] [email protected]