A cana-de-açúcar não é brasileira, mas sua união com

Transcrição

A cana-de-açúcar não é brasileira, mas sua união com
Ano XI · Nº 129 · Novembro/2009 · R$ 9,90
www.panrural.com.br
Especial implementos agrícolas - Coadjuvantes de luxo
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Vampyrum spectrum - Pega, mata e come
Novilho Precoce mais perto da mesa do brasileiro
!
É DO
BRASIL
A cana-de-açúcar não é brasileira,
mas sua união com este País é
tão perfeita que somos campeões
mundiais em produção e em
tecnologia sucroenergética
Panorama Rural
Novembro 2009
1
As olimpíadas das mudanças climáticas
Diretores: Plínio César e Marco Baldan
Gerente de Comunicação: Fábio Soares Rodrigues
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Consultor Técnico: Neriberto Simões
Não é só o urso polar
que vai se dar bem com
menos gases poluentes
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É permitida a reprodução total ou parcial
dos textos, desde que citada a fonte.
E
m 2 de outubro, o presidente Lula, vários ministros, celebridades como o escritor
Paulo Coelho e até o “rei” Pelé estavam presentes em Copenhague, na Dinamarca, para fazerem lobby a favor da candidatura da cidade do Rio de Janeiro para
sediar as Olimpíadas de 2016. Esse esforço concentrado em prol da candidatura do Rio
recebeu apoio irrestrito do Governo Federal e os organizadores desenvolveram um forte
projeto de marketing para influenciar os formadores de opinião.
Em dezembro, Copenhague será sede novamente de outro grande evento mundial,
representantes de 192 países se reunirão para decidir o que farão em relação às mudanças climáticas, é o maior evento global desde a assinatura do Protocolo de Kyoto, em
1997. O objetivo é que o encontro coordenado pela Organização das Nações Unidas seja
o palco para a costura de um acordo global agressivo de redução das emissões de gases
causadores do efeito estufa.
O cenário é de urgência, um recente estudo feito pelo Global Humanitariam Forum
revela que mais de 325 milhões de pessoas já têm sua rotina afetada pelas mudanças
climáticas, a um custo econômico de 125 bilhões de dólares por ano. O Brasil surge como
uma das potencias no novo cenário, temos a matriz energética mais limpa do mundo,
cerca de 85% baseada em fontes renováveis, além de a maior floresta do mundo.
O campo e a agricultura são responsáveis, em grande parte, por esse diferencial
brasileiro. O nosso etanol de cana-de-açúcar é hoje a opção mais barata e eficiente aos
combustíveis fósseis. E o mercado para o nosso etanol poderá ser dourado. Só nos Estados Unidos, onde o governo determinou que 15% dos combustíveis de origem fóssil sejam
substituídos por produtos de origem renovável, a demanda por etanol poderá chegar a
136 bilhões de litros em 2022. Na Europa, a meta é que, até 2020, 10% de todo o combustível usado nos transportes rodoferroviários venham de fontes renováveis, a estimativa
é que serão necessários 60 bilhões de litros de etanol por ano.
O Brasil ainda se destaca pelo emprego da biomassa na produção de energia elétrica, em que o mais utilizado é o bagaço da cana, mas a ele podem se somar as folhas
e pontas, além de cavacos de madeira, palha de arroz e muitos outros. Essa energia da
biomassa também pode ser exportada para outros países em forma de pellets. A Europa
os tem adotado em substituição ao carvão mineral e gás natural. Naquele continente,
em oito anos, o consumo de pellets saltou de 1,6 milhão de toneladas para 6,8 milhões
e já movimenta 2,2 bilhões de dólares. Especialistas afirmam que a demanda global por
pellets pode chegar a 20 milhões de toneladas em 2020 e o Brasil tem potencial para
conquistar até 25% deste mercado. Em Pernambuco, está em desenvolvimento um projeto de uma microdestilaria de álcool, e um dos objetivos é produzir pellets de bagaço de
cana para exportação.
Outro ponto favorável ao Brasil será a criação de uma política de precificação
das florestas por meio de créditos de carbono, países desenvolvidos pagarão para que as
árvores continuem em pé. Estudos apontam que esse mercado poderia render às florestas
mundiais até 20 bilhões de dólares anualmente, e o Brasil, por ter a maior delas, receberia boa parte dessa verba.
Dependendo da política ambiental adotada pelos líderes mundiais neste encontro
de Copenhague, o Brasil poderá ser o grande beneficiado, mas para isso, um lobby bem
feito ajudaria muito. No entanto, até o final de outubro, o presidente Lula nem sabia se
iria prestigiar esse evento que, simplesmente, tenta salvar o mundo. PR
Luciana Paiva
Editora
CAPA
É DO BRASIL
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A cana-de-açúcar não é brasileira, mas
sua união com este País é tão perfeita
que somos campeões mundiais em
produção e em tecnologia sucroenergética
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Panorama Rural
Novembro 2009
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MARKETING RURAL
AGENDA
A bruxa continua solta nas plantações de cacau
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A tecnologia da informação a serviço do produtor
Vampyrum spectrum - Pega, mata e come
A vitória do bom senso
Automóveis rurais para todos os gostos
O marolo como fonte de renda
Coadjuvantes de luxo
Novilho Precoce mais perto da mesa do brasileiro
Novidades, tendências e destaques
Panorama
Rural
Novembro
Feiras, exposições,
eventos2009
e leilões5
ENTREVISTA
Walter Tegani
A bruxa continua solta
nas plantações de cacau
Ricardo Barbosa
O
Brasil é o 5º maior produtor de chocolate do mundo,
mas a produção nacional
de chocolate tem enfrentado dias
amargos. É que sua matéria-prima,
o cacau, sofre fortemente a ação de
pragas e doenças. Em meados de
1992, o Brasil, cuja produção de
cacau se concentra principalmente
no Estado da Bahia, foi abatido por
uma infestação de uma praga que
persiste até hoje: a vassoura-debruxa, causada pelo fungo Moniliophtera perniciosa, doença descoberta em 1985, que deixa os ramos
dos cacaueiros secos, o que faz parecer com uma vassoura velha, por
isso o nome.
Em 1969, o cacau da Bahia
respondia por 80% das exportações
do Estado, hoje, depois de 40 anos,
o setor representa apenas 3%. A
vassoura-de-bruxa vem destruindo
plantações e arruinando produtores. Muitos já desistiram da cul-
O Secretário executivo da
Associação Brasileira das
Indústrias Processadoras de
Cacau, diz que doenças reduzem
a oferta de cacau e a indústria
brasileira se mostra insatisfeita
por ter de importar o produto
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Panorama Rural
Novembro 2009
tura, quem ainda persiste enfrenta
dificuldades. O governo federal se
mostrou solidário a esta questão,
mas não pode fazer muita coisa.
Para o secretário da Agricultura do
Estado da Bahia, Roberto Muniz, a
recuperação da lavoura cacaueira é
questão prioritária para o governo,
mas o desafio ainda é grande.
Já houve a tentativa de clonagem do fruto, mas o experimento
não obteve sucesso contra a doença. Recentemente, a Embrapa
mapeou o genoma do cacau para
tentar descobrir uma solução para
este problema. No entanto, regras
simples como o bom manejo da
cultura, pode amenizar esse caos,
como explica o secretário executivo
da Associação Brasileira das Indústrias Processadoras de Cacau,
Walter Tegani. Em entrevista à
ENTREVISTA
Panorama Rural, Tegani explica a
atual situação dos produtores e da
indústria brasileira de cacau e traça um perfil sobre esse mercado tão
esquecido no Brasil.
PanRural - O que está acontecendo com o mercado brasileiro de cacau?
Tegani - O que eu percebi
em diversas reuniões que ocorreram neste ano em Salvador, é que
a vassoura-de-bruxa reduziu fortemente a oferta de cacau, provocando perda significativa para o setor.
A praga invadiu a Bahia e, ainda,
não se achou uma solução para este
problema. Para agravar ainda mais
a situação, as dívidas dos produtores rurais foram se acumulando ao
longo do tempo, acarretando efeitos irreparáveis.
PanRural - Já existem iniciativas para tentar resolver este
problema?
Tegani - Há uma predisposição por parte do governo Federal e Estadual para tentar conter
o avanço dessas dívidas, como foi
dito na reunião na Câmara Setorial de Salvador, mas isso não significa que esse problema irá ser
eliminado, ou até mesmo diminuído. Essa ajuda dará um fôlego a
mais para os agricultores para se
dedicarem à produção e ao combate às doenças do cacau. Além de
eliminar esses problemas da vida
do produtor, precisamos dar uma
injeção de investimentos, para que
ele possa ter tecnologias que deverão ser voltadas para a limpeza
da área, maquinários, entre outros
fomentos.
PanRural - O que a indús-
tria fez, em caráter emergencial,
para atender a demanda?
Tegani - Tivemos uma queda
na oferta de cacau e um aumento
significativo na demanda. Chegamos a tal ponto de escassez do
produto, a partir daí, começamos
a importar cacau. Hipótese até
então absurda, já que éramos autossuficientes e exportadores de
cacau. E foi um experimento dolorido por parte da indústria e para
o produtor. Em 1994, período que
se iniciou essa crise, o Ministério
da Agricultura demorou em contornar toda essa situação, sendo que a
preocupação é legítima, principal-
paração com o ano passado. No final de novembro e dezembro, é que
veremos se de fato será a realidade
do setor.
PanRural - Com isso, esses
produtos vão ficar mais caros?
Tegani - Não tenho avaliação
sobre custos, mas uma coisa leva a
outra. Se há fábricas concentradas
na Bahia, é por causa da matériaprima abundante na região. Mas a
partir do momento, em que precisam importar essa matéria-prima,
isso passa a ser um problema, ainda mais porque os importadores
enfrentam dificuldade marítima e
“ ”
Éramos autossuficientes e
exportadores de cacau
mente se tratando de um produto in
natura.
PanRural - Quais foram as
consequências dessa série de
problemas de queda de produção
de cacau?
Tegani - Essa situação momentânea, com o passar do tempo,
perpetuou-se, as importações começaram a subir na mesma proporção das quedas na oferta de cacau
no Estado da Bahia. Com tudo isso,
as fábricas começaram a diminuir
a sua produção perante essa situação atípica, que veio culminar agora com a crise econômica mundial.
Pelos dados que tenho em mãos
teremos uma queda de 10% de janeiro a agosto deste ano, em com-
altos impostos. Quando compramos uma mercadoria, não sabemos
quando ela vai chegar, e o pior, em
que estado vamos levar para a indústria. Acontecem muitos acidentes de percurso. Importar cacau
não é o desejo do setor industrial,
queremos a matéria-prima em nossa porta. Quando nos instalamos
naquela região contávamos com o
cacau em nossa porta. Esperamos
que a atual realidade mude em pouco espaço de tempo.
PanRural - No momento de
queda do cacau, houve alguma
iniciativa por parte da indústria
para reter o processo de declínio?
Tegani - Acompanhamos pri-
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ENTREVISTA
meiro os trabalhos de órgãos do
setor, pois além da vassoura-debruxa, nos preocupamos, também,
com outras pragas incididas nos
Estados da Bahia, Pará e Espírito
Santo, que estão devastando todas
as plantas. Nunca vi o produtor tão
desanimado. Para poder dar um ânimo ao produtor, a única opção da
indústria é por meio dos centros de
treinamento de produtores. No ano
passado, foi criado na Bahia um
projeto chamado Fênix para incentivar novamente a produção de cacau.
Partes dos recursos são enviados
pelas empresas processadoras de
cacau e outra parte de investidores
holandeses. Verificamos a situação
do cacau e sugerimos ações simples
para tentar manter a produtividade,
como a limpeza da área, deixar incidir uma maior quantidade de luz
no cacaueiro para diminuir o avanço
da vassoura-de-bruxa, entre outras
séries de medidas que estamos tentando apoiar.
PanRural - Esse projeto já
conseguiu bons resultados?
Tegani - O projeto Fênix ainda é pequeno, pois atinge apenas
vinte fazendas. O projeto faz uma
vistoria das fazendas mais atacadas e até verificação da qualidade
do solo. Para isso, contamos com o
apoio de engenheiros agrônomos e
também estudamos a possibilidade
de enriquecer o solo para aumentar
a produtividade em uma determinada região. O projeto é recente, os
dados ainda são insuficientes, mas
já mostram recuperação em algumas regiões do Estado da Bahia.
Isso foi uma das soluções que a indústria tomou para mostrar um caminho para os produtores, o custo
desse projeto não é caro, pois conta
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Panorama Rural
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com a força do homem do campo.
PanRural - Quantas indústrias processadoras de cacau
existem no Brasil?
Tegani - Cinco, sendo quatro
na Bahia e uma em Embu das Artes, em São Paulo.
PanRural - A infestação de
pragas no setor tem prejudicado
a qualidade do produto?
Tegani – Quando a indústria
recebe o cacau há necessariamente
uma inspeção para ver se o produto atende os critérios de qualidade.
PanRural - A indústria trabalha com estoques?
Tegani - Sempre. Recentemente as indústrias pararam por
20 dias, devido ao elevado crescimento dos estoques, resultado de
demanda abaixo das estimativas.
O setor de processados também
está em queda, os números que
tenho desde o ano passado consta que tivemos um retrocesso de
10%. A redução maior vem do
mercado externo, em decorrência
da crise financeira. As indústrias
de processamento de cacau não
têm nenhuma ajuda de fomento
“ ”
Se nada for feito a favor do cacau,
a tradicional região produtora de
cacau da Bahia se transformará
em um grande pasto
Até hoje não tivemos devoluções de
matéria-prima. As fábricas instaladas na Bahia não anunciaram problemas com a qualidade do produto,
mesmo com a incidência de pragas,
o grande problema é a redução da
oferta. Mas é certo que é necessário difundir o manejo correto a
ser aplicado no cacaueiro, os erros
acarretam prejuízo. As indústrias
estão pensando em aumentar a exigência em relação a qualidade do
produto e a aplicação de práticas
corretas, mas acho isso um erro,
defendo, primeiramente, a realização de um trabalho de orientação
ao produtor. Não adianta aumentar
a fiscalização se eles não sabem
como realizar o trabalho.
para o setor, mas também nunca solicitaram. A saída tem sido
reduzir custo e amenizar preços.
Mas estamos melhorando.
PanRural – Quais os próximos passos?
Tegani - Primeiramente, eliminar a vassoura-de-bruxa, a segunda seria tentar liquidar o caixa
negativo dos produtores. É preciso
motivação para o setor porque eles
estão desanimados. O pasto voltado
para a criação de gado está substituindo as áreas de plantação de cacau. Se nada for feito a favor do cacau, a tradicional região produtora
de cacau na Bahia se transformará
em um grande pasto. PR
C
onsiderado um dos mais importantes trabalhos de
reflorestamento de mata nativa, o Programa Mata
Ciliar do Paraná atingiu a sua muda de número 100 milhões. O feito foi comemorado no final de setembro em
Londrina na área onde será formada a primeira coleção de
plantas do jardim botânico do município. Envolvendo 399
prefeituras e mais de 130 mil agricultores, o Programa já
garantiu 4,1 mil hectares de novas mudas de 85 espécies
nativas. O índice de sobrevivência das mudas em campo é
de 55%. A produção é viabilizada graças à reestruturação de 20 viveiros e de iniciativas de prefeituras, colégios
agrícolas, centros de menores infratores, penitenciárias e
outras instituições e organizações.
E
xemplo de diversificação produtiva familiar em reduzida escala vem do município de Ivinhema, no
sudeste do Mato Grosso do Sul (283
km de Campo Grande). Enquanto os
maridos tocam plantações de café e
outras culturas em pequenas propriedades, um grupo de 18 mulheres trabalha com lã de ovinos na confecção
de edredons e baixeiros. Elas formam
o Núcleo de Artesanato Bom Pastor
e são responsáveis em tosquiar, lavar, fiar, selecionar e cardar a lã. A
matéria prima é originada a partir de
um rebanho de cinco mil animais. O
trabalho é viabilizado graças a uma
parceria do Núcleo com duas propriedades da região: Cabanha Cordeiro
do Rei e Agropecuária Tocando em
Frente.
A
A recuperação de viveiros permitiu a oferta de mudas em escala
Peixes e Cia.
proximadamente 250 coletores de dados estão a campo, no Brasil, trabalhando no primeiro censo aquícola do País. O levantamento de dados
vai até dezembro. O objetivo do Ministério da Pesca e da Aquicultura é ouvir
todos os produtores brasileiros, tanto na costa quanto no interior do País
(águas doces e salgadas). Espera-se muito trabalho até dezembro, mês limite
para apuração dos dados. Só em Santa Catarina, por exemplo, estima-se que
20 mil pessoas vivam da piscicultura e do cultivo de moluscos. Para evitar
eventuais resistências de produtores em fornecer informações, as coordenadorias regionais do censo estão propagando que todos os dados cadastrais
terão caráter de sigilo e não poderão ser repassados a nenhum órgão federal,
estadual ou regional. O governo brasileiro garante que os resultados serão
utilizados apenas para direcionar políticas públicas para o setor. O censo tem
parceria com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e apoio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ariosto Mesquita
Família produtiva
Divulgação
Recomposição
Ariosto Mesquita
Artesãs de Ivinhema, MS, durante
processamento de lã de ovinos.
Censo aquícola quer mapear toda a produção marinha e continental brasileira
Panorama Rural
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Cachaça for export
U
Divulgação
O
Brasil exporta apenas 1%
da sua produção de um bilhão de litros de cachaça/ano.
Esta pequena fatia é ainda diluída entre 55 países compradores. Para aumentar o mercado
internacional, o Projeto de Lei
1.187 do deputado federal Valdir Colatto (PSDB/SC), quer
identificar a cachaça como produto genuinamente brasileiro
criando uma única denominação/
conceito para a bebida. Vários
produtores, no entanto, querem
a diferenciação entre o produto
industrial e o artesanal alegando
variações de preços para o mercado europeu. Algumas marcas
artesanais são exportadas por
valores até 16 vezes superiores
ao preço pago pelo produto industrial. O autor do projeto, no
entanto, esclarece seu foco: “vamos trabalhar em um conceito
de cachaça para que ninguém
tenha mais dúvida que cachaça é
cachaça, seja qual for o processo
de produção...”. Estima-se que
no Brasil existam mais de 40 mil
produtores e perto de quatro mil
marcas da bebida.
m plano com financiamentos a juro zero para os adimplentes pode beneficiar perto de 2,5 milhões de pessoas que vivem na zona rural da Bahia. É
o que prevê o Plano Agrícola e Pecuário do Estado, batizado de “Agricultura
Tamanho Família”, lançado no início de setembro. O foco das ações de estrutura é a agricultura familiar. O crédito será assistido, ou seja, haverá acompanhamento da aplicação dos recursos. Convênios a serem firmados devem garantir
assistência técnica e extensão rural. A grande novidade será o dinheiro “de
graça”. O agricultor familiar poderá tomar financiamento de até R$ 100 mil
para adquirir equipamentos através do Programa Mais Alimentos. Originalmente, o plano prevê juros de 2% ao ano, três anos de carência e sete anos para
pagar. O governo baiano, entretanto, está eliminando os juros de 2% para quem
pagar em dia. Isso está
sendo possível graças
à criação do “bônus
adimplência” através
de projeto do Executivo já aprovado pelo
Legislativo estadual.
Agricultura familiar
será diretamente
beneficiada na Bahia
U
Recuperação
m volume de 61 mil toneladas de uva e aproximadamente 79 mil
toneladas de manga. Esta é a expectativa dos produtores do Vale do
São Francisco, na região de Juazeiro, BA, para a safra de frutas 2009/10.
O lançamento do ciclo produtivo aconteceu no final de setembro e teve
como objetivo marcar o início da recuperação da fruticultura do Vale,
atingido na segunda metade de 2008 pelos efeitos da crise financeira mundial. No ano passado, importadores europeus e norte-americanos suspenderam compras antecipadas que ajudavam no financiamento da produção.
Com a renegociação de dívidas e novos recursos de financiamentos disponibilizados pelo BNDES os fruticultores puderam respirar. O Vale do São
Francisco é considerado o principal exportador de manga e uva do Brasil.
Antes de estourar a crise de 2008 a região vendia anualmente para o mercado internacional, 105 mil toneladas de manga e 60 mil toneladas de uva.
Alexssandro Loyola
Ariosto Mesquita
Dinheiro “grátis”
Frutas brasileiras
começam a
retomar mercado
externo
Objetivo é ampliar mercado
internacional para a cachaça brasileira
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Panorama Rural
Novembro
2009com
Fale
o editor desta coluna: [email protected]
Panorama Rural
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A Tecnologia da Informação
a Serviço do Produtor
* Celso G. Furlan
A
tecnologia da informação é
o instrumento por excelência
para ganhos de produtividade e alcance de novos patamares de
eficiência na execução dos processos
do agronegócio, administrativos ou de
produção, promovendo agilidade na
percepção de situações e na aferição
dos resultados obtidos.
Benefícios reais de economia de
tempo e dinheiro com melhor qualidade e maior produtividade podem
ser facilitados com o uso adequado
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Panorama Rural
Novembro 2009
da tecnologia da informação, desde
a seleção da mudas, do planejamento operacional das safras, gerenciamento da capacidade de execução das
operações agrícolas e dos seus resultados, logística da movimentação da
produção e sua comercialização, até
a apuração dos custos reais da cadeia
de valor e análise da rentabilidade do
negócio.
A tecnologia da informação viabiliza um processo
de gestão enxuto, produtivo
e lucrativo disponibilizando
hoje um conjunto de ferramentas cada vez mais acessível ao produtor para apoiar os
processos e contribuir para a
evolução sustentável do negócio. Do uso simples de sistemas para automação de rotinas até a conexão em tempo
real da cadeia produtiva, o
uso da tecnologia da informação não é mais uma opção,
mas sim um grande fator crítico de sucesso.
Sistemas integrados
de gestão, com excelente relação custo x benefício, não
são mais privilégios dos grandes produtores e das indústrias que processam a produção vinda do campo. Uma
análise crítica desse processo pode revelar níveis satisfatórios, para manter
um patamar conservador, de retorno
sobre o investimento (ROI) e também
do custo de propriedade ao longo do
tempo.
Uma questão fundamental que
precisa também ser avaliada quando
se analisa custos e oportunidades é
buscar respostas para alguns pontos
de atenção, tais como: que benefícios
os produtores estão deixando de obter
por não utilizar essas ferramentas?
Como administrar a sustentabilidade
do negócio sem tecnologia da informação? Quanto pode custar uma informação tardia ou imprecisa sobre
uma infestação de pragas ou sobre a
resposta de um tratamento aplicado?
Entre outros questionamentos, quais
são os custos invisíveis, de certa forma, que tendem a se perpetuar na ineficiência dos processos, na perda da
qualidade e da produtividade.
Vivemos o momento do conhecimento, e não mais só da informação.
É preciso reunir, organizar e viabilizar a reutilização do conhecimento
acumulado para melhorar a percep-
ção da realidade do hoje e das tendências do amanhã.
Imperioso se faz reconhecer, no
entanto, que os provedores de soluções, a sociedade organizada e principalmente os governantes, possam
evoluir e se tornarem mais sensíveis
aos desafios do agronegócio brasi-
leiro que, embora tenha a seu favor
representar uma considerável parte
do produto interno bruto nacional e
a perspectiva de crescimento para os
próximos anos, carece ainda de um
melhor entendimento de seus processos operacionais e de gestão. Há que
se agir e disponibilizar informações e
ferramentas para beneficiar, proteger
e fortalecer o agronegócio a partir do
seu principal agente: o Produtor.
Gestão. Sem ela, não se corre o
risco de dar certo. E a tecnologia da
informação está aí, presente, disponível e acessível, para prestar serviços
ao produtor viabilizando a gestão do
seu negócio em novos patamares de
competitividade.
* Celso G. Furlan – diretor-comercial
da Ancora Business Management
Panorama Rural
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Arquivo Walter do Valle
Baía de Castelhanos, beleza
incrível, fenômenos paranormais e
dezenas de navios naufragados
De volta à
ilha maldita
Walter do Valle
O
mergulhador fluvial José Borges da Costa, o Borjão, está
voltando de Ilhabela para se
juntar ao mergulhador Mané da Ilha.
Juntos, há 14 anos, passaram temporada caçando tesouros submersos no
mar de Castelhanos, avesso da ilha
considerada maldita por caiçaras e
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Panorama Rural
Novembro 2009
aventureiros.
Cientistas do Instituto de Pesquisas Espaciais (Impe), de São José
dos Campos, SP, garantem que, por
ser excessivamente imantada, a Baía
de Castelhanos enlouquece bússolas,
provoca naufrágios e atrai objetos
estelares. É comum cair ali chuva de
meteoritos, como aconteceu na noite
do último eclipse lunar.
Muita gente já viu objetos voadores mergulhando no mar revolto
da Praia do Gato. E bolas coloridas
(parecidas com enfeites de árvore de
natal, mas do tamanho de bola de futebol) que vagueiam pela ilha como
guardas-noturnos. O ex-repórter da
TV Globo, Jorge Licurci, morou na
ilha e jura que viu a tal bola colorida
vagante e um OVNI pousando no pico
largo de Castelhanos. A maioria dos
corpos foi parar nas praias de Ilhabela e Ubatuba. Os que apareceram
em Castelhanos foram enterrados na
praia ou cremados na laje.
Esculturas atraem a morte – o
manifesto de carga do Astúrias revela que o navio levava 4500 toneladas
de cobre, 1700 toneladas de estanho,
800 toneladas de chumbo, 45 mil
libras esterlinas em moedas e uma
carga de ouro diplomático de valor
ignorado, além da bagagem dos passageiros e suas jóias. Até hoje pouca
coisa foi recuperada, apesar do navio
estar “descansando” há quase um século a uma profundidade de 52 metros. De helicóptero, com mar calmo,
dá para ver seu contorno sombrio à
beira do abismo. Parece desafiar a lógica e a humanidade.
Ele carregava também 20 esculturas doadas pela Espanha à Argentina, para completar o monumento Los
Españoles, no centro de Buenos Aires.
São estátuas de anjos e querubins em
bronze, que iriam fazer o contorno da
estátua principal do general San Martin montado a cavalo. O mergulhador
grego Jeanis Michail Platon, hoje morando em São Sebastião, conseguiu
resgatar uma das estátuas que se encontra até hoje na Capitania dos Portos. Trata-se de uma figura feminina
de meia tonelada de bronze.
Outro mergulhador, conhecido
por Mané da Ilha, já retirou do Astúrias talheres de prata, bandejas, toalhas de seda com brasão da companhia, um abajur, além de garrafas de
vinho de fundo redondo. Tudo vendido
a colecionadores.
Platon conta que, de 1.916 a
1.924, a Seguradora Northon trouxe
equipamentos modernos e os melhores
mergulhadores do mundo para tentar
recuperar a carga do Astúrias. Conseguiram salvar um cofre cheio de
ouro, mas desistiram porque o mar de
Castelhanos é muito violento e estava
matando gente. “Quando Castelhanos
embravece faz devastação na superfície, aí fica impossível resgatar quem
mergulhou”, explicou Platon. Nessa
aventura da Northon morreram seis
mergulhadores. Os homens que voltaram vivos disseram que o Astúrias
está se equilibrando na beira de um
precipício submarino. “É muito perigoso vasculhar o interior, a retirada
da carga pode fazer o navio despencar, levando junto quem estiver dentro”, explicou.
Castelhano deslumbra e assombra – o ermitão Cícero Buarque,
ex-radialista em Mogi das Cruzes,
SP, conhece como ninguém o “avesso” de Ilhabela. Apesar de sua beleza
deslumbrante, Castelhanos continua
“virgem” do mercado imobiliário. As
Arquivo Walter do Valle
da montanha. Licursi vai fazer parte
da expedição de mergulho de Borjão,
tentando resgatar tesouros que repousam, há 93 anos, no Príncipe de Astúrias, navio que naufragou no mar de
Castelhanos em 1916.
Como a tragédia do Titanic –
orgulho da marinha espanhola, o navio Príncipe de Astúrias tinha 150m
de comprimento, 20m de boca e 10m
de pontal, que é a altura do casco.
Deslocava incríveis 16 mil toneladas
e podia transportar 1800 passageiros.
Fazia a rota Barcelona-Buenos Aires,
com escala no porto de Santos. Seu
naufrágio, o mais terrível da costa
brasileira, pode ser comparado ao do
Titanic, quatro anos antes.
Madrugada de domingo de
carnaval, o capitão José Lontina
conhecia bem a região, mas ao se
aproximar de Ilhabela as bússolas
“enlouqueceram” em meio a uma
tempestade tropical. Quando um raio
clareou o céu o navio entrou com tudo
num enorme rochedo em forma de
navalha, o Ponta de Pirabura, que
rasgou 50m do casco, de proa à popa.
A água invadiu, o Astúrias adernou a
bombordo (tombou para a esquerda) e
as caldeiras explodiram. Sobreviventes do naufrágio disseram que Lontina
deu um tiro na cabeça. Naufrágio é
desonra para o capitão, daí o suicídio.
445 mortos, ou mais de mil? O
Astúrias foi para o fundo do mar com
mais de mil pessoas. Números oficiais
falam em 445 mortos, entre passageiros e tripulantes, mas foi ignorada a
presença de mil imigrantes alojados
na parte baixa do navio, perto das
caldeiras. Seriam judeus que vinham
para a América Latina fugindo da 1ª
guerra mundial.
Nesse naufrágio iam morrer todos, mas, por sorte, os sobreviventes
foram recolhidos pelo navio Veja, de
bandeira britânica, que passava ao
Mané da Ilha, com badejo
quadrado. Mergulhador já
esteve no Príncipe de Astúrias
Panorama Rural
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postas por um gênio da trigonometria.
Ou do urbanismo.
Cícero acredita que foram ETs
que armaram o cenário. E nos mostra o riacho que vem da montanha
e “desaparece” antes de chegar ao
mar, “sugado” pela areia imantada
da praia. É de enlouquecer tantos fenômenos num mesmo lugar. E vamos
embora antes que a maré nos condene
para sempre.
Na volta, Cícero indica um atalho para evitar um cemitério de três
covas que dá arrepios e um casebre de
chão batido onde moram os “zumbis
tibetanos” que não falam, vestem roupa branca e opaca como se feita de
saco, cabeças raspadas. Olham, mas
parecem não ver. Nem ouvir. Passamos ao largo, não sem ver a janela
aberta e a porta encostada. Não sem
ouvir o brutal silêncio ou deixar de
sentir aqueles olhos mortiços furando
nossos corpos como se fossem transparentes.
Apressamos o passo, estugados
pelo frisson da morte que não foi falada uma única vez. PR
Arquivo Walter do Valle
poucas casas do lado de lá, com vistas
para o Oceano Atlântico, são de caiçaras que vivem da pesca. Ou de personagens exóticos e fantasmagóricos.
“No início do século 19 havia ali uma
fazenda de café com muitos escravos.
Contam que as mães negras, quando
davam a luz, atiravam os recém-nascidos no mar para que não virasse escravos. Espíritos dessas crianças vagam
pela ilha, assombrando pessoas”, acredita. Autor de quatro livros sobre Ilhabela e Castelhanos, Cícero costuma
passar meses nesse misto de inferno e
paraíso. “Paraíso pelas belezas naturais, samambaias, tinhorões, morangos silvestres que parecem praga perto
das nascentes, bananas nativas doces
como mel, Mata Atlântica intacta,
praias maravilhosas, fartura de peixes,
borboletas azuis gigantescas que saem
do nada e desaparecem. Mais 200 fios
d’água, riachos que nascem na montanha e vão para o mar”, diz o escritor.
“E inferno pelos fenômenos paranormais. Bolas coloridas que vagueiam pela ilha, zumbis que parecem
monges tibetanos, discos voadores
descendo na Praia do Gato, automóveis pendurados em árvores no precipício (acidentados na estradinha de
terra que sobe e desce a montanha),
mais esqueletos de 50 navios naufragados na baía”, completa.
A fantástica Praia do Gato –
Cícero Buarque espera a maré baixar
e nos levar à Praia do Gato.Com maré
alta não dá para ter acesso. Nem para
sair. Quando o mar sobe o invasor fica
preso num beco sem saída: atrás o
íngreme penhasco impossível de escalar, à frente o mar violento que explode na praia feito furacão.
A maré descera, tínhamos duas
horas para visitar a menor praia do
mundo, não mais de um quarteirão
de comprimento por 50 m de largura.
E esculturas da natureza de extasiar
Buda: no centro uma rocha em forma
de pirâmide. No canto, uma pedra redonda gigantesca. No outro, uma retangular. Como se tivessem sido dis-
Borjão com serra
elétrica retirando
árvores do Rio
Tietê. Agora ele vai
atrás dos tesouros
naufragados
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Panorama Rural
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Divulgação
Estudo visa o uso racional da aplicação
de herbicidas em áreas de cana
De bem com
a natureza e
com o bolso
Projeto desenvolvido pela Basf, IAC e unidades sucroenergéticas visa à
redução do uso de água, do custo e tempo na aplicação de herbicida
E
mpresa que pretende se manter no mercado não pode abrir
mão da competitividade e sustentabilidade, por isso, os gestores estão
empenhados em reduzir custos de produção, aumentar a eficiência, mas sem
provocar impactos ambientais e sociais.
Estudos apontam que a agricultura é
responsável por 70% da água utilizada
no mundo, essa estatística além de não
fazer bem à imagem da agricultura,
mostra que muitas práticas e processos podem ser melhorados para reduzir
esse desperdício não só de água, mas de
dinheiro. Muitas iniciativas estão em
curso pelo mundo do agronegócio, uma
delas é um estudo sobre a redução no
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Panorama Rural
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volume de calda em aplicação de herbicida na cultura canavieira. Trata-se do
Projeto Provar Plateau - Programa de
Valorização da Água em Pulverizações
Agrícolas, realizado por meio de uma
parceria entre o Instituto Agronômico
(IAC), a BASF e por unidades sucroenergéticas paulistas.
Coordenado pelo diretor do Centro de Engenharia e Automação do IAC,
Hamilton Ramos, o Provar Plateau almeja medir a eficiência proporcionada
pela adoção de menores volumes de
água na aplicação do herbicida em préemergência na cana-de-açúcar durante
três épocas do ano (início, meio e fim da
safra), principalmente em ganhos econômicos e de tempo. “O maior desperdício está na quantidade de água utiliza-
da para se colocar o herbicida. Quanto
maior o volume de água, menor o rendimento operacional dos pulverizadores e
maior o custo do seu transporte. Assim,
Luciana Paiva
Luciana Paiva
“Quanto maior o volume de água, menor o
rendimento operacional dos pulverizadores
e maior custo do seu transporte”, diz o
pesquisador Hamilton Ramos
Divulgação
Os equipamentos estão sendo regulados para o uso de menor volume de caldo
a adequação do volume de água pode reduzir sensivelmente o custo de aplicação
de herbicidas“, enfatiza Ramos. Segundo cálculos do IAC, em uma área de 15
mil hectares plantados, há uma perda
estimada de R$ 22 mil por safra.
Foco ambiental – iniciados em
junho de 2008, os ensaios do Provar
Plateau vêm sendo feitos em áreas comerciais de seis grandes grupos sucroenergéticos do Estado de São Paulo.
As avaliações consideram a utilização
de menores volumes de água na aplicação, com uso do herbicida Plateau. Segundo a Basf, a escolha desse produto
deveu-se a sua maleabilidade, o herbicida é destinado à soqueira (lavoura de
cana-de-açúcar após o primeiro ano de
colheita) e pode ser aplicado tanto no
período seco como úmido, ao contrário
dos herbicidas comuns, que só podem
ser aplicados na época úmida. “Pela
eficácia já comprovada, o herbicida foi
escolhido para a pesquisa do Provar,
avaliado com diferentes volumes de calda, tamanhos de gotas e épocas de aplicação”, observa Antônio César Azenha,
gerente de Desenvolvimento Cana.
Azenha explica que o projeto teve
origem a partir de uma monografia de
um aluno do curso de Agronomia da
faculdade Fafram de Ituverava e, desde 2007, havia o interesse da Basf em
desenvolvê-lo, pois o menor volume de
calda, não só reduzira custos na opera-
ção, mas principalmente, propiciará ganho ambiental, contribuindo com o uso
racional da água na agricultura.
Resultados – “Os resultados
apresentados até o momento demonstram que é possível obter melhorias no
rendimento operacional das pulverizações e reduzir, no mínimo, em 25% o
volume de calda. Hoje, o volume médio
de água utilizada pelas usinas varia de
200 a 300 litros por hectare, o objetivo
do estudo é chegar a uma redução entre
50 e 75% desse volume”, ressalta Hamilton Ramos.
Outros ganhos também estão sendo avaliados como: redução no custo de
transporte, aumento da capacidade de
pulverização e benefícios ambientais.
Azenha explica que a redução no volume de calda de pulverização propor-
ciona ganhos de rendimento operacional
quando associada à manutenção e melhoria na qualidade da aplicação, sem
comprometer a distribuição e eficácia
do produto. “Isso implica em ganhos de
rendimento nas operações e diminuição
no número de máquinas (tratores, pulverizadores e caminhões-tanques) e de operadores por área tratada, otimizando os
custos operacionais de aplicação. Além
da utilização de recursos hídricos de forma responsável e consciente”, salienta.
Os testes de aplicação acontecem em mais de 100 talhões de cana.
O projeto, financiado pela Basf, envolve
diretamente oito profissionais, além dos
estagiários que atuam no IAC, mais o
pessoal das usinas. O estudo tem duração de três safras, o resultado final,
com as análises dos pesquisadores e a
indicação do desempenho dos volumes
de calda, deverá ser divulgado no final
da safra 2010. Azenha ressalta que
os resultados apurados até o momento
superaram as expectativas e que não
há dúvidas de que o estudo cumprirá o
objetivo de oferecer informações sobre
o volume de calda correto, mantendo
a eficiência, reduzindo o consumo de
água, de logística, quantidade de operadores, enfim, ajudar a empresa a ficar
bem com a natureza e com o caixa. PR
Ensaio
Projeto
Provar
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Vampyrum spectrum
Pega, mata e come
Wilson Uieda segura
um exemplar do
Vampyrum spectrum
um estranho e
raro morcego
da Amazônia é
especialista em
caçar pássaros
em pleno vôo ou
dormindo em galho
de árvore. Como o
gavião carcará, ele
pega, mata e come
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Walter do Valle
Fotos: Paulo Villasboas
O
maior morcego das Américas, o Vampyrum spectrum, também conhecido por “carcará da Amazônia”, quase um metro de envergadura de
uma asa a outra, é uma espécie muito rara. Carnívoro por excelência, o
spectrum tem caninos iguais aos do lobo-guará e costuma ir à caça no crepúsculo, quando as aves estão voando para os ninhos. Estrategista, localiza a presa e
a segue cuidadosamente até encontrar a melhor chance de ataque. Ou em pleno
vôo ou quando ela descansa num galho de árvore.
Seu habitat são as florestas tropicais (Amazônia brasileira e peruana e
matas nativas da América Central). Esse morcego gigante escolhe troncos de
árvores mortas para morar, geralmente próximas de córregos, rios e cachoeiras.
O biólogo Wilson Uieda, sansei de 55 anos, chefe do Departamento de Zoologia
da Unesp de Botucatu, SP, trabalha
com morcegos desde 1977, mas só
recentemente descobriu no Pará essa
raridade brasileira. Ele conta que o
vampiro comedor de aves caça várias
vezes durante a noite. Nesse período
localiza as presas pelo cheiro das fezes, já que o spectrum prefere utilizar
o olfato ao invés da visão ou do sonar
(seu radar). A captura da presa pode
ser em pleno vôo, ou quando ela descansa no galho da árvore ou no ninho.
Apesar do nome, Vampyrum
spectrum, esse morcego carnívoro
não tem nada de vampiro. Come aves,
referencialmente, mas ataca também
roedores, insetos e até escorpiões, dos
quais arranca a cauda para só então
engolir o corpo. Quando a caçada noturna fracassa, o spectrum persegue,
captura, mata e come até outros morcegos. Uieda ensina que esse singular
morcego costuma dormir em grupos
de até cinco indivíduos da mesma família nos troncos de árvores mortas.
Monogâmico, forma um casal
e permanece unido até o fim da vida,
que poderá durar 20 anos. “O casal se
reveza na caça. Um sai para a captura e o outro fica no ninho cuidando da
prole”, conta o cientista. Mas o casal
pode sair à caça junto, deixando o fi-
Exemplar de morcego albino
lho mais velho para cuidar dos mais
novos.
O devorador de aves voa baixo
durante a caçada e pode cobrir uma
área de até cinco hectares, sempre
perto de rios. A grande envergadura
de suas asas permite que ele alce vôo
enquanto carrega grandes presas, algumas bem maiores do que ele.
Comedor de peixe – se o Vampyrum spectrum gosta de aves, o morcego Noctilio leporinus adora peixe.
70% dos morcegos são insetívoros
“Essa espécie dá vôo rasante no espelho d’água e captura o peixe com
suas garras afiadas”, diz Uieda, um
apaixonado por mato. Para estudar o
leporinus, Uieda morou durante dois
anos no Pantanal mato-grossense e
fez mais de 50 viagens à Amazônia
brasileira, do Pará a Roraima, e à
lendária Ilha do Mel, no Paraná.
Além de estudar os morcegos,
ele aproveita a estada na mata para
cuidar de índios e da população ribeirinha.
Nosso especialista diz que só
na América Latina (até o norte da
Argentina) existem morcegos hematófagos, ou vampiros, chupadores de
sangue. “É que essas boas criaturas
não gostam de frio prolongado.”
Aliás, todas as espécies de morcego, insetívoros, frugívoros, detestam clima frio. Daí ser impossível encontrar morcego no Pólo Norte ou na
Antártida, por exemplo.
Doces criaturas – os morcegos
são espécies silvestres e, no Brasil, estão protegidos pela Lei de Proteção à
Fauna. Sua perseguição, sua caça ou
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Garra de
um morcego
insetívoro
destruição é crime. Matar um morcego é como matar um mico-leão-dourado, por exemplo. Essas doces criaturas vivem 20 a 30 anos e estão no
ecossistema há mais de 60 milhões de
anos. Mas os morcegos hematófagos
são criaturas recentes, cerca de dois
milhões de anos. “Eles vivem só na
América Latina porque nessa época
os continentes já estavam separados”,
explica o professor.
Uieda tem um viveiro de morcegos no campus do Lageado, em Botucatu, para estudos. Os hematófagos
ele alimenta com cubos de sangue de
boi congelado, recolhido no matadouro e desfibrinado depois. O alimento é
colocado num bebedouro de passarinho. Cada morcego lambe cerca de 30
ml de sangue por dia. “Tive um morcego que viveu 29 anos em cativeiro,
um recorde. Na natureza eles vivem
20 anos, no máximo”, explica Uieda.
Únicos dos animais mamíferos
capazes de voar, os morcegos representam quase a quarta parte de toda
a fauna de mamíferos da Terra. São
1.200 espécies em todo o mundo, 160
espécies no Brasil, 65 espécies no Estado de São Paulo e 34 na região de
Botucatu, onde Uieda trabalha. Ele
explica que 70% dos morcegos são
insetívoros.
Sonar acha até pernilongo
voando – morcego come quase tudo:
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Panorama Rural
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frutas, néctar, pólen, aves insetos,
peixes, rãs e pequenos vertebrados.
Somente três espécies se alimentam
de sangue, os hematófagos, encontrados na América Latina e no Sul do
México. Todos os morcegos, inclusive
os vampiros, contribuem para o equilíbrio dos ecossistemas, já que atuam
como polinizadores, dispersores de
sementes e controladores da população de insetos. Os morcegos possuem
Morcego
lambedor
de pólen
um sentido adicional, aliado aos cinco
a que nós humanos estamos acostumados: a ecolocalização. Ele emite
ondas ultrassônicas pelas narinas ou
pela boca. Essas ondas atingem obstáculos no ambiente e voltam a eles
em forma de ecos com frequência menor. Com base no tempo em que os
ecos demoram a voltar, nas direções
de onde vieram e nas direções de onde
nenhum eco veio, os morcegos sentem
se há obstáculos no caminho, as distâncias, as formas e as velocidades relativas entre eles, no caso dos insetos
voadores que servem de seu alimento,
por exemplo. Pelo eco o morcego localiza uma borboleta em pleno vôo ou
até um minúsculo pernilongo.
Corujas, gatos e falcões – há
poucos animais na natureza capazes
de caçar morcego. No Brasil, a coruja, que dorme de dia e caça à noite,
adora morcego malpassado. Marsupiais, como nosso malcheiroso gam-
Coruja
comedora de
morcegos
bá, também come
morcego de vez
em quando. Gatos
domésticos podem
capturar morcegos
que invadem casa
ou caiam no chão. Morcegos podem ir
ao chão por acidente enquanto aprendem a voar. Na Ásia existe uma espécie de falcão especialista em caçar
morcego em pleno vôo. Rãs e sapos que
moram em cavernas também comem
morcego filhote que despenca do teto.
Saliva anestésica – morcego hematófago pode ser transmissor
de raiva. Sua saliva tem forte poder
anestésico e coagulante. Ainda que o
perigo de transmissão de raiva se resuma aos locais onde a doença é endêmica, dos poucos casos relatados
a maioria é causada por mordida de
morcego. A grande maioria dos morcegos não tem raiva. Os que têm ficam
pesados, desorientados, incapazes de
voar. Quando com raiva o morcego
muda seu comportamento e sai para
se alimentar durante o dia. E tornase presa fácil dos predadores. A raiva
é transmitida pela saliva do morcego,
não pelo sangue, como a maioria presume.
Raposas voadoras – o maior
morcego do mundo, o Pteropus vampyrum, conhecido como raposa voadora, pode ter asas com até dois
metros de envergadura e corre perigo
de extinção. Cientistas e o governo
da Malásia temem que a espécie vá
desaparecer se o atual nível de caça
continuar. Segundo eles, cerca de 22
mil raposas voadoras são caçadas legalmente a cada ano, mas muitos outros são caçadas ilegalmente. Esses
morcegos gigantes são cruciais para
os ecossistemas da floresta tropical
na Ásia. Eles comem frutas, lambem
o néctar e, ao fazer isso, derrubam
sementes no solo e polinizam as árvores. As estimativas mais otimistas
indicam que a população de morcegos
da espécie Pteropus vampyrum na península malaia gira em torno de 500
mil animais.
Para o bem e para o mal – os
morcegos saíram das matas, vieram
para as cidades e viraram personagens de histórias em quadrinhos e
filmes de ficção. Quem não conhece a
história de Batman, o Homem Morcego, e seu fiel escudeiro, o adolescente
Robin, personagens do bem e inimigos do terrível Coringa? E quem não
assistiu a um filme do Conde Drácula, personagem noturno dos castelos
medievais da Transilvânia? Esse é do
mal, combatido com muito alho, crucifixo e lasca de aroeira enfiada no
coração. Arre! PR
Batman:
morcego do bem
Drácula:
morcego
do mal
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Luiz Aubert Neto
A vitória do bom senso
N
ormalmente definimos bom
senso como um conceito usado na argumentação, que é
estritamente ligado às noções de Sabedoria e de Razoabilidade, e que define
a capacidade média que uma pessoa
possui, ou deveria possuir, de adequar
regras e costumes a determinadas realidades e, assim, poder fazer bons julgamentos e escolhas. Pode, assim, ser
definido como a forma de “filosofar”
espontânea do homem comum, também
chamada de “filosofia de vida”, que supõe certa capacidade de organização e
independência de quem analisa a expe-
“
novas gerações, já com uma feira prevista para setembro de 2010.
Bom senso também deve ser a tônica em relação ao pré-sal. Ao contrário de uma postura cartorial, como em
um primeiro momento poderia parecer
a bandeira da necessidade de conteúdo
nacional proposta pela entidade, temos
que olhar principalmente para a necessidade de mobilização que precisamos
fazer para participar desse esforço industrial, desse novo desafio. A nossa
expectativa é inclusive poder contar
com financiamento para aumentar a
nossa participação no desenvolvimento
ção de bens de capital no país, além de
incentivar a aquisição dos mesmos com
a criação de um bônus-restituição aos
compradores. Precisamos de ajuda nessa tarefa, com postura séria, adequada
e transparente, no sentido de criar as
melhores condições de disputa de mercado para os nossos associados. Essa é
a nossa função, o nosso papel.
E mais uma vez vamos ter que
nos exercitarmos em relação ao bom
senso, que nesse caso do pré-sal vai
muito além da capacidade de discernir
... precisamos redobrar nossos esforços para evitar que os nossos associados
venham a competir em desvantagem com concorrentes de outros países...
riência de vida cotidiana.
Dentro da ABIMAQ usamos a expressão bom senso como forma de atender interesses diferenciados em relação
ao mesmo tema, como pudemos observar nos recentes episódios relacionados
à Cidade da Energia x Agrishow.
Aparentemente, diante de uma
situação de interesses divergentes, tivemos efetivamente a vitória do bom
senso, onde através de uma política
equilibrada obtivemos uma solução que
atendeu a todos,com a manutenção da
Agrishow em Ribeirão Preto e também
com outra oportunidade de expor equipamentos e ampliar as possibilidades de
vendas na Cidade da Energia, em São
Carlos, que deverá se transformar no
maior pólo tecnológico da energia limpa e renovável, atendendo aos apelos da
sustentabilidade e preocupação com as
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Panorama Rural
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do pré-sal. Entusiasmo é o que não nos
falta, mas precisamos redobrar nossos
esforços para evitar que os nossos associados venham a competir em desvantagem com concorrentes de outros países,
principalmente do Sudeste Asiático,
que possuem linhas de financiamentos
infinitamente melhores e, diferentemente do que ocorre no Brasil, operam com
total desoneração da produção .
A indústria brasileira de máquinas
e equipamentos, através da ABIMAQ,
em busca de melhores condições para
fornecer para o pré-sal, está apresentando, por meio do deputado Rodrigo
Rocha Loures (PMDB-PR), duas emendas parlamentares para o Projeto de Lei
5.938, que trata do regime de partilha
de produção das reservas. As emendas
têm o objetivo de criar condições mais
favoráveis à produção e comercializa-
”
o certo do errado. Além de agirmos com
ponderação, vamos ter que contar com
a capacidade dos nossos governantes de
agir com a sua capacidade intuitiva de
pensar e fazer as coisas certas.
O bom senso não envolve tanto
uma reflexão aprofundada sobre um determinado tema, lugar ou situação (isso
já entraria no campo da meditação),
mas sim a capacidade de agir e interagir, obedecendo certos parâmetros da
normalidade, face uma situação qualquer, guiando-se por um senso comum e
quase que completamente intuitivo.
Essa será a postura da ABIMAQ
em relação ao pré-sal e outras situações
que envolverem os seus associados. PR
Luiz Aubert Neto é Presidente da
Associação Brasileira da Indústria de
Máquinas e Equipamentos (Abimaq)
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É do
Brasil!
A cana-de-açúcar não é
brasileira, mas sua união
com este País é tão perfeita
que somos campeões
mundiais em produção e em
tecnologia sucroenergética
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Luciana Paiva
Luciana Paiva
H
Moenda de cana de 1620 produzida em madeira de lei
encontrou por aqui excelentes condições para se desenvolver. Solos férteis e clima adequado contribuíram
para o sucesso da atividade, por volta
de 1584, havia no Brasil cerca de 115
engenhos, que produziam mais de 200
mil arrobas de açúcar por ano, aproximadamente 3000 toneladas. Plantações de cana foram introduzidas
em várias regiões do litoral brasileiro passando o açúcar a ser produzido
Arquivo
á controvérsias quanto à origem da cana-de-açúcar, uns
dizem que surgiu na Índia,
outros em Nova Guiné. Sua chegada
ao Brasil também provoca dúvidas,
historiadores informam que foi introduzida por Martim Afonso de Souza,
que em 1533, fundou na Capitania
de São Vicente, próximo à cidade de
Santos, Estado de São Paulo, o primeiro engenho para produzir açúcar,
com o nome de São Jorge dos Erasmos. No entanto, há quem afirme que
antes disso, os portugueses já produziam cana no Brasil. Segundo o pesquisador Geraldo Eugênio de França,
diretor-executivo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), há registros na alfândega portuguesa que o primeiro carregamento
de açúcar proveniente do Brasil aconteceu em 1516.
Se há divergências em relação
a sua origem e o início da atividade
em nosso País, não há dúvidas sobre o
quanto essa gramínea se deu bem nas
terras brasileiras. A cultura da cana
A cidade de Olinda em Pernambuco nasceu com a cana-de-açúcar
nos Estados do Rio de Janeiro, São
Paulo, Pernambuco, Bahia, Espírito
Santo, Sergipe e Alagoas.
De todas essas regiões, a que
mais se desenvolveu foi a de Pernambuco, chegando a ter em fins do século
XVI cerca de 66 engenhos. As melhores condições de clima e solo do Nordeste brasileiro, a maior proximidade
com o continente europeu e a tecnologia de ponta introduzida pelos holadeses favoreceram o desenvolvimento
do açúcar naquela região.
Durante centenas de anos, o açúcar foi considerado uma especiaria
extremamente rara e valiosa. Apenas
nos palácios reais e nas casas nobres
era possível consumir açúcar. Vendido nos boticários (as farmácias de
então), o açúcar atingia preços altíssimos, sendo apenas acessível aos mais
poderosos. Mas, no século XVII com
o açúcar produzido nas Américas, sob
a liderança do Brasil, o consumo do
açúcar foi democratizado, a maior
oferta derrubou os preços e popularizou o produto.
Faz parte da cultura brasileira
– a cana-de-açúcar não se constituiu
apenas na primeira atividade econôPanorama Rural
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27
Arquivo Copersucar
O Brasil ajudou a democratizar o consumo de açúcar
la. Talvez essa ruptura entre a cana
e outros produtos agrícolas aconteça
porque a cana não tem raízes apenas
na roça, mas também na indústria, é
uma das poucas matérias-primas brasileiras que conseguiu agregar valor
ao seu processo, diversificando produtos, reduzindo custos e tornando
o negócio mais competitivo. Do seu
processo de industrialização obtém-
se como produtos o açúcar nas suas
mais variadas formas e tipos, o álcool (anidro e hidratado e especiais), o
vinhoto (utilizado na fertiirrigação da
lavoura) e o bagaço (combustível para
produção de vapor no acionamento
de turbinas no processo e geração de
eletricidade), além de levedura, plástico biodegradável, diamante de cana,
produtos para a área farmacêutica,
No Brasil, a cana-de-açúcar ocupa uma área de 8 milhões
de hectares, menos de 2% da área agricultável do País
Luciana Paiva
mica do Brasil. Essa gramínea espigada se entrelaçou à cultura do País,
era íntima da senzala e também da
casa grande. Durante muitos anos,
o Brasil e a cana-de-açúcar tinham
quase a mesma identidade e já davam
mostras do grande potencial de nosso
País para o agronegócio.
Polêmicas sempre cercaram
essa cultura, a cana foi taxada de
escravocrata, e até hoje, há quem a
responsabilize pelo período de escravidão no Brasil. Esquecem que esse
lamentável vício humano, de escravizar os seres mais frágeis, já existia
antes das lavouras canavieiras. E se,
por aqui, outro produto tivesse sido
cultivado no lugar da cana, a escravidão também ocorreria, foi assim com
o algodão nos Estados Unidos.
Acabou a escravidão mas as polêmicas envolvendo a cana não tiveram
fim. Uma hora é porque se trata de
uma monocultura, outra é porque seus
produtores mantiveram a postura de
senhores de engenho, e assim vai. Até
mesmo no meio rural, produtores de
outras atividades torcem o nariz para
a cana, não a consideram uma atividade nobre, acham que é um capim
e que qualquer um consegue produzi-
28
Panorama Rural
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gerando melhorias do campo à indústria, além de melhoramento genético
e tecnologias de ponta, o CTC é um
grande formador de profissionais.
Mas foi após 1975, quando foi
lançado o Proálcool, programa governamental para incentivar o etanol,
que o País começou a trilhar o caminho da liderança tecnológica no setor
de biocombustível. Hoje, a Nação de-
tecnologias que estão em desenvolvimento, pode se chegar a 14 mil litros
de etanol por hectare. Outra boa notícia é que 100% dos equipamentos das
usinas foram desenvolvidos e produzidos no Brasil. Cidades como Piracicaba e Sertãozinho, no interior paulista,
pode-se adquirir uma usina inteira.
“O Brasil responde por um terço da produção mundial de cana-deaçúcar, 20% da produção e 40% das
exportações mundiais de açúcar, 30%
da produção e 60% das exportações
mundiais de etanol. O etanol já representa mais da metade do consumo
nacional de combustíveis para automóveis leves e a biomassa da cana
responde por 3% da produção de eletricidade, com potencial de chegar a
15% da matriz elétrica brasileira até
2015. Desde o ano passado, a indústria da cana-de-açúcar já é a segunda principal fonte de energia do País,
atrás do petróleo e acima da hidroeletricidade. O setor sucroenergético
brasileiro possui mais de 400 indústrias processadoras, acima de 1 mil
indústrias de suporte, 70 mil fornecedores de cana e gera quase 1 milhão
de empregos diretos em 20 estados
brasileiros”, informa Marcos Jank,
presidente da União da Indústria da
Cana-de-Açúcar (Unica).
Arquivo CTC
química e muitas coisas mais.
O Brasil é o maior produtor
mundial de cana, de etanol e açúcar
de cana, além de ser o mais competitivo. Com o etanol de cana, desenvolve
o maior e melhor programa de combustível renovável do mundo. Mesmo
assim, vez ou outra, encontramos veículos de comunicação salientando que
a atividade canavieira brasileira não
evoluiu nesses 500 anos. Para saber
se essa alegação tem cabimento, a
Panorama Rural mergulhou no universo sucroenergético para apurar se
a cana, seu cultivo, produção, industrialização e a postura de seus produtores pararam no tempo.
Índices de produtividades – o
setor admite que mesmo estando no
País há 500 anos o potencial da canade-açúcar passou a ser melhor trabalhado nos últimos 50 anos, por meio
dos investimentos em pesquisas e desenvolvimento. A criação, em 1969,
do Centro Tecnológico da Copersucar,
atual Centro Tecnológico Canavieiro
(CTC), localizado em Piracicaba, SP,
maior empresa privada de pesquisas
na área canavieira, foi uma grande
alavanca para a evolução do setor,
tém as melhores técnicas para o plantio e colheita da cana-de-açúcar. Com
o uso de novas variedades da planta,
a média nacional de produtividade
por hectare passou de 47 toneladas
em 1975 para 85 toneladas atuais.
Avanços tecnológicos na usina permitem extrair 80 litros de etanol de cada
tonelada de cana limpa (sem palha),
quando em 1975 eram produzidos 45
litros por tonelada. Esse expressivo
ganho de produtividade nas etapas
agrícola e industrial fez com que hoje
se produza mais de 7,5 mil litros de
etanol por hectare de cana colhida,
contra três mil em 1975. Com novas
César Diniz
Vista aérea do CTC em Piracicaba, SP
Jank : “O Brasil responde
por um terço da produção
mundial de cana-de-açúcar”
Panorama Rural
Novembro 2009
29
Arquivo
Colheita de cana crua: menor custo que a manual
Edi Biazi
tórios. Por outro lado, havia ainda,
abudante procura por parte da mãode-obra, pelo trabalho nos canaviais
Pesquisas de
melhoramento
genético de
variedades de
cana ajudam
no processo de
mecanização
da lavoura
e o corte manual era mais economicamente viável que o mecânico.
Foi a partir da década de 1990
Luciana Paiva
A mecanização chegou tarde
– diferentemente de outras culturas
como a soja e algodão, a mecanização
demorou para chegar nos canaviais
brasileiros, na Austrália, por exemplo o corte é 100% mecanizado, já no
Brasil, segundo dados da Unica, na
safra 2008/09 na região Centro-Sul
o corte mecanizado com cana crua
foi de 41% e no Estado de São Paulo
50%. Segundo especialistas na área,
por muito tempo houve certa tolerância quanto à necessidade de se apressar o processo de mecanização da cana-de-açúcar. Talvez essa morosidade
deva-se ao fato de as dificuldades surgidas no início do processo, pois eram
tecnologias de difícil aplicação e que
não apresentavam resultados satisfa-
A máquina abre o sulco, planta as mudas, aplica o fertilizante, o inseticida, se necessário, e faz a
cobertura do sulco em uma única operação
30
Panorama Rural
Novembro 2009
que o setor ficou mais propenso a mecanização, as críticas da sociedade em
relação à queima de cana e a visão
agronômica da importância da palha
na lavoura passaram a ganhar maior
força. Neste momento, uma empresa
brasileira, a Santal, de Ribeirão Preto, SP, inovou de vez, lançando a colhedora Amazon para o corte de cana
crua, o modelo ganhou o mercado.
Com o aumento da necessidade
do corte mecanizado, os profissionais da área agronômica resolveram
que estava na hora de trabalhar para
o aperfeiçoamento do processo. Enquanto os institutos de pesquisa intensificavam o melhoremento genético
desenvolvendo variedades aptas ao
corte com máquina, os integrantes
dos Grupo de Motomecanização do
Setor Sucralcooleiro (Gmec) cobrava
das empresas fornecedoras o aprimoramento do corte, redução das perdas, inclusive, as invisíveis, pneus que
não compactam o solo, e até mesmo
exigiam que as empresas que tinham
fábricas em países fora do Brasil,
viessem para cá, e desenvolvessem
máquinas atendendo as características da lavoura brasileira. “Foi um
período de muitas lutas, mas válidas,
pois o corte mecânico passou a ter
qualidade, menor custo que o manual,
hoje está consolidado, e não é possível
desenvolver a lavoura canavieira sem
envolve as análises de variedades,
relevo, manejo, assistência técnica
e treinamento”, diz. Para Gustavo,
a mecanização mudou a realidade
Arquivo ETH
o auxílio da mecanização”, salienta Humberto César Carrara, gerente
agrícola da Usina São João, de Araras, SP. Na São João, 85% do corte é
Cana plantada com máquina na Usina Eldorado, MS
do setor tanto na parte agronômica
como econômica. “Falava-se muito
que o uso da máquina iria reduzir a
produtividade dos canaviais, aqui na
Guaíra temos áreas que há 10 anos
realizamos cortes, e a produtividade
é de 120 toneladas por hectare.” Na
Arquivo Santal
mecanizado e 20% do plantio.
Na Usina Açucareira Guaíra,
em Guaíra, SP, 96% de sua produção
é cortada com máquina. “E tudo cana
crua”, ressalta Gustavo Villa Gomes,
diretor-agrícola. “Para nós é inadmissível cortar cana queimada com
máquina, temos razões agronômicas e
ambientais que defendem nossa posição”, diz. Todo esse cuidado tem conquistado vários prêmios agroambientais à empresa, além da tranquilidade
de estar dentro da Lei.
Mudança agronômica e econômica – Humberto observa que, foi nos
últimos cinco anos que a mecanização
do corte realmente se firmou, deixou
de ser vista como custo e passou a ser
tratada como ferramenta para eficiência do sistema, além de ser a única
alternativa para a expansão da produção. Assim, a tecnificação passou a
ser parte do dia a dia do setor. “Até
surgiu o termo ‘colheitabilidade’, que
Guaíra são 33 mil hectares de área
de cana, 60% do plantio são direto
na palhada da soja, mas em 2009, a
expectativa da empresa é chegar aos
100%.
A prática do plantio de cana
com máquina é bem mais recente que
a do corte, começou a se intensificar
nos últimos três anos, incentivado
principalmente pela grande expansão
do setor e a escassez de mão-de-obra.
Apesar de não existir um levantamento preciso e confiável, estima-se que
em média apenas 15% dos canaviais
brasileiros sejam plantados com máquina, e que nos próximos três ou
quatro anos se ampliará para 80%,
isso dependerá, e muito, da saúde financeira das empresas sucroenergéticas. Nas novas fronteiras canavieiras,
a topografia plana e a escassez de
mão-de-obra estimulam ainda mais a
mecanização, um exemplo de corte e
plantio 100% mecanizado é a Eldorado, de Rio Brilhante, MS, unidade
adquirida pela ETH Bionergia, ramo
bioenergético da Odebrecht.
Geração de alimentos – a es-
Colheita de amendoim em
área de renovação de cana
Panorama Rural
Novembro 2009
31
Plantio de cana em meiose com
a soja na usina Volta Grande,
unidade do Grupo Caeté, MG
Produtores de feijão em área de rotação
de cultura nas usinas de Alagoas
32
Panorama Rural
Novembro 2009
gião colheu, na safra 2009, mais de 5
milhões de sacas (25 kg).
Cooperativas de produtores de
cana, como a Coplana, com sede em
Guariba, e a Copercana, de Sertãozinho, incentivam a produção nas áreas
de renovação de canaviais.
A prática é muito interessante,
tanto no aspecto agronômico, pois
ajuda na reciclagem de nutrientes do
solo e na fixação do nitrogênio, como
no aspecto socioeconômico, ao permitir que um pequeno produtor de cana
se torne, ao mesmo tempo, um médio
ou grande produtor de amendoim.
Desde a década de 80, os produtores
da região de Ribeirão Preto optaram
pelo amendoim como cultura de su-
cessão. Na maioria dos anos, o lucro
com amendoim cobre os custos de implantação do canavial.
A preferência pelo amendoim
como rotação de cultura se dá em
municípios como Sertãozinho, Jaboticabal, Guariba, Dumont e Pradópolis, enquanto que de Ribeirão rumo a
Minas Gerais, passando por Orlândia,
São Joaquim da Barra e Batatais a
opção é pela soja. A experiência de
rotação com cereais está sendo replicada nas novas fronteiras da cana,
aumentando a geração de alimentos
nas áreas degradadas. No Nordeste,
a rotação é principalmente por meio
do plantio de feijão e milho. Em Alagoas, existe o projeto Barriga Cheia,
Arquivo Caeté
calada de preço do petróleo a partir
de 2006, a adesão dos Estados Unidos ao etanol como alternativa aos
combustíveis fósseis, o aumento da
consciência ambiental sobre a necessidade de redução de gases tóxicos e a
entrada do carro flex impulsionaram
fortemente a expansão canavieira no
Brasil, tanto que, de acordo com Plínio Nastari, presidente da consultoria
Datagro, 1/4 das atuais 423 unidades
foram instaladas nos últimos quatro
anos. A área plantada com cana no
Brasil alcançou os oito milhões de
hectares e aumentaram as críticas de
que a cana está roubando áreas de outros alimentos.
O setor se defende ao afirmar
que a cana ocupa menos de 2% da
área agricultável do País e tem crescido em regiões degradadas, além disso também produz outros alimentos,
por meio da rotação de cultura com
grãos. O cultivo do amendoim nas áreas de renovação é um bom exemplo.
A região de Ribeirão Preto, responsável por 40% da produção nacional
de amendoim, é a maior produtora do
Estado de São Paulo, que responde
por 75% da produção nacional, a re-
Luciana Paiva
Niels Andreas
no qual as usinas cedem as áreas de
renovação para os pequenos agricultores cultivarem feijão.
Já em Barrinha, no interior
paulista, o IAC iniciou em agosto de
2008, um experimento que visa a
produção de cereais, mais especifica-
Agronegócios), os resultados preliminares são bastante aceitáveis. O feijão é plantado na entrelinha da cana
e tem um ciclo de 90 dias. O projeto
objetiva analisar o desempenho das
lavouras e fornecer dados para os
canavicultores que desejem iniciar a
produção em consórcio em suas propriedades. Ainda sobre o tema cana
como geradora de alimentos, outro
fator a ser abordado é a utlização da
cana como volumoso para gado, além
do uso de seus subprodutos como bagaço hidrolizado, melaço e levedura
para o aumento da produtividade na
pecuária.
Evolução industrial – nova geração de usinas sucroenergéticas têm
como características layout moderno
visando as futuras ampliações e facilitando a instalação de novas tecnologias. Unidades que privilegiam a
As unidades sucroenergéticas investem em tecnologia para aumento de eficiência e menor
consumo de vapor e água
mente feijão, nas entrelinhas da cana
e não apenas nas áreas de renovação.
O projeto chama-se Feijão Doce, e
utiliza a variedade IAC Alvorada.
De acordo com o pesquisador Denizart Bolonhezi, do Pólo Regional do
Centro Leste coordenado pela APTA
(Agência Paulista de Tecnologia dos
economia, eficiência e a preservação
ambiental, atendendo a nova realidade do setor estruturada na competitividade e sustentabilidade. Tornou-se
comum encontrar unidades que possuem um centro de operações integradas (COI), que permite operar todos
os processos de produção, que estão
totalmente automatizados. Fábricas
100% eletrificadas, com caldeiras de
alta pressão e tecnologia osmose de
ultrafiltração para a purificação de
água visando a produção de energia
elétrica.
Os investimentos também objetivam o funcionamento de indústrias
com menor impacto ambiental, entre eles a menor captação de água e
maior recuperação de água da cana.
Segundo dados da Agência Nacional
de Água (ANA), em 1997 eram captados cerca de 5 mil litros de água para
o processamento de uma tonelada de
cana; em 2004 este valor passou a ser
de 1,8 mil litros de água. A expectativa é que este valor caia para mil litros
por tonelada de cana. “A agroindústria canavieira, busca pela sustentabilidade de água desde a década de 80 e
os instrumentos para isso incluem balanço hídrico, racionalização do uso,
fechamento de circuitos, alterações
com a adoção de novos processos e
equipamentos, PERH (Plano Estadual de Recursos Hídricos) e cobrança
pelo uso da água”, enumera o engenheiro químico Homero Tadeu de Carvalho Leite, especialista em projetos
ambientais nas indústrias.
Ainda nesta linha de utilização
de água, em 2008, a Dedini Indústrias
de Base apresentou para o mercado
uma usina autossuficiente em água,
que não capta água externa e ainda
produz água. Como 70% da cana é
água, o processo “otimiza” o uso da
água que está presente na cana. Essa
usina não desperdiça nada, ou seja,
ela tem o mínimo gasto porque perde o mínimo em evaporação. A água
doce produzida por uma usina pode
ter uso doméstico e industrial (não
potável) ou para irrigação. Nesse processo pode-se produzir cerca de 300
litros de água por tonelada de cana,
ou seja, em uma usina com capacidaPanorama Rural
Novembro 2009
33
existente; extremamente empregadora; os produtos açúcar e etanol ficarão mais competitivos; a localização
dessa cana está junto aos grandes
centros de consumo, diminuindo perdas; não precisaremos de nenhuma
área de terra nova; há uma perfeita
sinergia com o sistema hidroelétrico,
considerando a defasagem da safra e
do período das chuvas; a engenharia e
Arquivo Usina Boa Vista
Edi Biazi
Otávio Koblitz, diretor-presidente da
Areva Koblitz.
“Somente com o bagaço de
cana, hoje ainda utilizado de forma
perdulária visando apenas atender as
necessidades energéticas das usinas de
açúcar e álcool, e as pontas e palhas,
na sua grande maioria descartada no
campo - considerando os 650 milhões
de toneladas existentes de cana-de-
“Somos campeões, mas podemos melhorar”,
afirma Luiz Otávio Koblitz
de para processar 12 mil toneladas de
cana/dia, terá a produção diária de
3,6 milhões de litros de água.
A cana e a bioeletricidade –
o Brasil é o país que utiliza o maior
percentual de energia renovável do
mundo. Considerando apenas a energia elétrica, são mais de 80%, e, se
considerarmos a energia como um
todo - combustível para os carros,
para fazer vapor para as indústrias e
inclusive a própria energia elétrica são 46%, contra uma média mundial
de 14%, onde apenas 7% são dos países desenvolvidos. “Somos campeões,
mas podemos melhorar”, afirma Luiz
Usina Boa Vista em Goiás: a luz que vem da cana ilumina a usina, toca as máquinas e ilumina as
cidades
açúcar - poderíamos produzir 15.000
MW médios, 50% mais do que Itaipu.
Ou ainda, quase 30% da energia gerada hoje em nosso País”, diz Koblitz.
Segundo ele, as vantagens são
muitas: agrega valor a uma atividade
os equipamentos são todos nacionais.
“Além disso, produziremos um quarto
produto, Créditos de Carbono; ciclo
curto de implantação de apenas dois
anos, ajuda no planejamento do crescimento do setor elétrico; tudo isso
Rodrigo Petterson
Área de preservação na
Usinas Itamarati, MT
34
Panorama Rural
Novembro 2009
sem emitir CO2 ”., ressalta.
O etanol e o meio ambiente – dados da Agência Internacional
de Energia indicam que o etanol de
cana é capaz de reduzir em até 90%
a emissão de gases de efeito estufa
quando comparado à gasolina. Cálculos do Ministério das Minas e Energia
apontam que a utilização de etanol
nos últimos 30 anos no Brasil evitou a
emissão de 850 milhões de toneladas
de CO2. De acordo com a Associação
Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), 88% dos
veículos leves vendidos no Brasil hoje
têm motor flex fuel. A perspectiva é
que, em 2014, 65% da frota brasileira será flex. Atualmente, dez montadoras multinacionais produzem quase
100 modelos diferentes de carros flex
no Brasil, o que faz do País detentor
da maior frota deste tipo de veículo no
mundo. O etanol brasileiro é de alta
qualidade, aumenta a potência do veículo em mais de 10% e não oferece
riscos ao motor.
A meta do setor é expandir para
o mundo a experiência brasileira na
utilização do etanol. “A matriz energética global está em transformação.
Líderes e cientistas das principais nações reconhecem o impacto das emis-
César Diniz
“A matriz energética global está em
transformação”, diz Grubisich
passos firmes e responde aos desafios
de energia limpa e sustentável no plano global.
A cana e a sustentabilidade
– mais do que avanços tecnológicos
a agroindústria canavieira apresenta
grande evolução em relação aos conceitos. A mais antiga atividade econômica do Brasil passou a ser exemplo
de sustentabilidade. Em 2008, a Unica, principal entidade do setor, que
Luciana Paiva
Arquivo Unica
Etanol de cana é capaz de reduzir em até 90%
a emissão de gases de efeito estufa quando
comparado à gasolina
sões de CO2 e os efeitos das mudanças
climáticas causadas pelo homem. A
civilização do petróleo cede espaço
a fontes renováveis de energia. Ao
mesmo tempo os incômodos do aquecimento global se tornam palpáveis e
potências como Índia, China, Estados
Unidos e União Europeia se mobilizam para inserir em suas matrizes
energéticas novas fontes de energia
limpa”, observa José Carlos Grubisich, presidente da ETH Bioenergia.
Nesse contexto, segundo Grubisich, a experiência brasileira na produção de etanol a partir de cana-deaçúcar é uma resposta eficaz para o
mundo. Entre 2006 e 2008, a produção brasileira de etanol dobrou para
24 bilhões de litros e a tendência é
manter o mesmo ritmo até 2015, superando os 50 bilhões de litros ao final desse período. O executivo salienta que a transformação do mercado
de etanol no Brasil ocorreu a partir
da entrada dos carros flex e ao aumento da renda e da maior oferta de
linha de crédito disponíveis para esse
setor. A cadeia produtiva do setor
consolidou-se e é hoje um dos setores
de mais destaques na economia. Uma
iniciativa ambiciosa que avança com
Maria Luiza : crescimento econômico, social
e ambiental
congrega 127 associadas e responde
por cerca de 60% da cana moída,
do etanol e do açúcar produzidos no
País, tornou-se a primeira associação
no Brasil a publicar um relatório de
sustentabilidade. “Isso mostra a evolução do setor e o comprometimento
de todos com a sustentabilidade. Essas ações encorajam a reflexão sobre
a atividade produtiva e demonstram
à sociedade o forte compromisso com
um modelo de desenvolvimento que
alia crescimento econômico, social e
ambiental”, diz Maria Luiza Barbosa, coordenadora do Núcleo de Responsabilidade Socioambiental e Sustentabilidade da Unica.
As associadas da Unica desenvolvem mais de 600 projetos socioambientais, que demandaram
Panorama Rural
Novembro 2009
35
Luciana Paiva
Alunos do Projeto Criança Doce Energia, desenvolvido pela Usina Cerradinho, Catanduva, SP
36
Panorama Rural
Novembro 2009
e público interno. Também adotou os
métodos do GRI (Global Reporting
Initiative), metodologia universal de
apresentação dos relatórios sócioambientais das empresas, que traz ações
de sustentabilidade sem prejudicar a
transparência das informações.
Entidades representantivas do
setor em outros Estados também desenvolvem programas de sustentalidade. Projetos sociais e ambientais
passaram a fazer parte da gestão das
unidades sucroenergéticas de todo o
Brasil, assim como a adesão a pactos
contra o trabalho escravo e explora-
Luciana Paiva
investimentos de R$ 160 milhões, beneficiando aproximadamente 400 mil
pessoas. “Mas não são ações a esmo,
e sim resultados de pesquisas sobre as
carências da comunidade nas áreas
da saúde, educação, meio ambiente,
cultura, esporte, qualidade de vida e
capacitação profissional”, diz Maria Luiza. Segundo ela, desde 2002,
as associadas elaboram informações
sobre os projetos, benefícios e ações
dirigidas aos empregados, investidores, acionistas e comunidade. Esse
balanço de informações passou a ser
uma moderna ferramenta de gestão
para o direcionamento das tomadas
de decisões.
Para a produção de relatórios
de sustentabilidade, a Unica firmou
parceria com o Ibase na elaboração
do Balanço Social Empresarial. E,
em 2006, iniciou um trabalho com
o Instituto Ethos para implantar os
Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial, mapeando
por meio de questionários de autoavaliação o estado de cada empresa
sucroalcooleira em relação a transparência e governança; governo e sociedade; meio ambiente; consumidores
e clientes; fornecedores; comunidade
ção de mão de obra.
Protocolo agroambiental – na
opinião de Marcos Jank, presidente da Unica, a criação, em 2007, do
Protocolo Agroambiental do Estado
de São Paulo, que estabelece uma série de medidas ambientais na indústria da cana, entre elas, a eliminação
da queima da palha até 2014 em áreas mecanizáveis, e até 2017 em áreas
hoje consideradas não-mecanizáveis,
é um grande avanço para o setor. O
Protocolo Agroambiental já obteve
80% de adesão voluntária das usinas
produtoras de açúcar, etanol e bioeletricidade do Estado.
E o setor não investe apenas
na mecanização da cana crua, dados
divulgados pela Secretaria do Meio
Ambiente e da Agricultura e Agropecuária de São Paulo confirmaram
que a indústria da cana-de-açúcar
está mantendo e até ampliando sua
posição como principal contribuidora
para a preservação de matas ciliares
do Estado. No total, 260 mil hectares
em Áreas de Preservação Permanente
(APP) já estão comprometidos pelo
setor. O índice, que equivale a mais de
43 mil quilômetros de rios, riachos e
córregos protegidos, faz parte das metas estabelecidas no Protocolo Agro-
Coral da Usina Virálcool, Pitangueiras, SP
Henrique Santos
Viveiro de mudas na Usina Santa Cruz, SP
e coloca a adoção das melhores práticas trabalhistas em primeiro plano no
setor sucroenergético”, disse Marcos
Jank durante o evento. Para as usi-
Arquivo Case IH
ambiental do Setor Sucroenergético,
firmado com o governo do Estado.
Ações envolvendo preservação
ambiental promovidas pelo segmento canavieiro têm sido cada vez mais
comuns, e as maiores em comparação
com outros setores da economia brasileira. Dados da Unica mostram que na
safra 2008/09, as empresas do setor
investiram R$ 2,8 milhões no plantio
de 1 milhão e 600 mil mudas de árvores, a maioria de viveiros próprios.
Também foram doadas outras 120 mil
mudas a diversas prefeituras. Para os
próximos anos serão aplicados mais
R$ 5,6 milhões na manutenção de
áreas reflorestadas em 2008 e 2009.
Boas práticas trabalhistas e
qualificação profissional – em 25
de junho deste ano, a agroindústria
canavieira apresentou mais um avanço em direção a modernidade, lançou
em Brasília, com a participação do
presidente Lula, o Compromisso Nacional para Aperfeiçoar as Condições
de Trabalho na Cana-de-Açúcar, que
logo em sua largada contou com mais
de 75% de adesão do setor sucroenergético. “É um passo decisivo e histórico que trata do presente e do futuro
Como ferramenta para auxiliar
o cumprimento do Compromisso, o setor lançou, também em 25 de junho, o
Programa de Requalificação de Trabalhadores em Operações Manuais da
Cana-de-açúcar (RenovAção), considerado o maior programa de requalificação de trabalhadores do setor sucroenergético do mundo. O Programa
é uma iniciativa da Unica, da Feraesp,
com apoio do Banco Interamericano
de Desenvolvimento (BID) e patrocínio de várias empresas fornecedoras
de produtos e serviços do setor. Tem
como objetivo treinar e requalificar
anualmente sete mil trabalhadores e
integrantes das comunidades canavieiras no Estado de São Paulo.
A imagem do setor – a maioria
dessas informações é de conhecimento dos integrantes do universo sucroenergético, mas é fundamental que
Formação de operadores de colhedoras de cana na fábrica da Case IH em Piracicaba
nas, assinar o termo de adesão significa cumprir um conjunto de cerca de
30 práticas empresariais exemplares,
que em seu conjunto extrapolam as
obrigações estabelecidas na lei. Cada
usina participante receberá ainda um
certificado de conformidade.
essa comunicação ultrapasse as porteiras das usinas para que a sociedade
possa ter acesso à imagem que reflete a realidade de uma atividade que
vem crescendo e se modernizando em
ritmo acelerado. Para isso, a Unica
criou o Projeto Agora – Agroenergia
Panorama Rural
Novembro 2009
37
Luciana Paiva
e Meio Ambiente –, com o objetivo de
aglutinar toda a extensa cadeia produtiva em torno da cana-de-açúcar
em um grande esforço conjunto de comunicação e marketing.
O Projeto conta com a participação da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), empresas parceiras do setor, além dos sindicatos
estaduais dos produtores de açúcar
e etanol de Goiás, Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do
Sul. Entre as ações do Projeto Agora
Artesanato de ouricuri produzido pelas associadas da Cooperativa de Artesãs de Coruripe,
Alagoas. Projeto desenvolvido pela Usina Coruripe
está a iniciativa educacional “Desafio
Mudanças Climáticas”, que pretende
informar professores e estudantes sobre as causas do aquecimento global,
além de fomentar a busca por formas
de combater os efeitos do aquecimento global. Entre as alternativas para
enfrentar os desafios das mudanças
climáticas estão as energias renováveis.
A ação envolve 3.500 escolas públicas da Bahia, Goiás, Mato
Grosso do Sul, Minas Gerais, Pa-
Projeto educacional desenvolvido pela
Usina São José, em Pernambuco
38
Panorama Rural
Novembro 2009
raná, Rio de Janeiro, São Paulo e
do Distrito Federal. Mais de 40 mil
alunos, além de ficarem por dentro
sobre o tema mudanças climáticas,
saberão que o etanol, a cana-deaçúcar e o Brasil podem ajudar a
reduzir a emissão de gases que provocam o efeito estufa, resultando em
melhoria para todo o planeta. Ainda
há duvidas sobre evolução da cultura canavieira? PR
Luciana Paiva
Luciana Paiva
Criadouro conservacionista
de animais silvestres em
extinção na Usina Uruba,
na Fazenda Santa Tereza,
Grupo João Lyra, no
município de Atalaia, AL
Panorama Rural
Novembro 2009
39
Em busca da
adaptação
Em decorrência do excesso de chuva,
doenças atacam o trigo no Paraná
Adair Sobczak
As mudanças
climáticas provocam
alterações na
agricultura e o
produtor rural precisa
rever conceitos para
se adequar ao que
vem por aí
40
Panorama Rural
Novembro 2009
N
ão bastasse a volatilidade do
mercado mundial das commodities, os altos custos de
produção e a falta de políticas de garantias, os agropecuaristas serão cada
vez mais obrigados a conviverem com
um fantasma que independe de fatores
micro e macroeconômicos e que tem
desafiado o mundo científico: as mudanças climáticas. Em grande parte,
resultado da ação desordenada do ser
humano, a quem cabe criar alternati-
vas que minimizem os efeitos causados
por um fenômeno de sua própria criação. A ciência vem estudando o redesenho da produção agrícola, visando
a adaptação dos fatores de produção
aos novos ambientes e nesta batalha
será imprescindível a participação do
homem do campo, através da mudança de concepção, voltada a um sistema produtivo ambientalmente correto
e, principalmente, o apoio de políticas
públicas de garantias à produção para
que a agricultura sustentável não seja
apenas mais uma filosofia dogmática e
insetos e outras pragas que, até então,
mesmo presente, estavam em níveis
controláveis”, explica Cunha. Segundo
ele, com o aquecimento, insetos típicos
do Centro-Oeste estão se deslocando
para o Sul, como o percevejo que ataca a soja. “Neste contexto, institutos
de pesquisa e tecnologia têm trabalha-
equipamentos com base tecnológica
moderna, defensivos menos agressivos
ao ambiente e dar preferência para
cultivares com bom potencial genético
de produtividade e tolerância geral a
doenças e pragas, entre outros”, comenta Cunha.
Segundo o pesquisador da área
Paulo Kurtz
Adair Sobczak
“Desde 2000,
todos os índices
médios de
precipitação
no Sul foram
superados”, diz
Gilberto Cunha
sim, uma realidade.
De acordo com o pesquisador em
Agrometeorologia da Embrapa Trigo,
Gilberto Cunha, o Brasil tem vivenciado duas situações: o aumento da
temperatura e uma maior quantidade
de chuvas nos Estados do Centro-Sul,
paralelamente há perspectiva de redução do volume nos Estados do Norte
e Nordeste. “Desde 2000, todos os
índices médios de precipitação no Sul
foram superados e isto causa preocupação, pois o ambiente úmido e quente
pode elevar a incidência de doenças, de
do no sentido de criar cultivares, via
programas de melhoramento genético,
que se adaptem a este novo ambiente e
sejam também, tolerantes ao calor e a
falta de água ”, aponta, revelando que,
os defensivos agrícolas e a tecnologia
de aplicação também estão sendo aprimorados para que estas mudanças ambientais não sejam tão catastróficas.
Boas práticas de manejo – no
entanto, não basta apenas o auxílio
tecnológico se o produtor não adotar
boas práticas de manejo do solo, como
o sistema plantio direto na palha, a rotação de cultura, o revolvimento mínimo do solo – apenas na linha de semeadura – e a manutenção permanente
da cobertura da terra. “Isto é fundamental para melhorar a fertilidade dos
solos e evitar a erosão. A preocupação
técnica é fazer um manejo adequado
do solo, de acordo com as características de cada região e atividade agrícola em exploração, adotando, também,
de Mudanças Climáticas Globais da
Embrapa Informática Agropecuária,
Giampaolo Queiroz Pellegrino, além
do aumento da temperatura, se observa também, a tendência de aumento da
frequência dos eventos extremos, como
ondas de calor, chuvas fortes e tornados. “As chuvas poderão se concentrar
em um menor período de tempo, prolongando as estações secas”, explica.
Para ele, a elevação da temperatura,
associada ao aumento do período seco,
ocasionará uma crescente deficiência
hídrica do solo. Assim, é importante
usar culturas e cultivares adequadas às
novas faixas de temperatura de cada
região. “Temos que utilizar cultivares
de ciclos mais precoces, pois elas terão
menos tempo para crescer”, comenta
o pesquisador.
Nova geografia – um estudo
apontando a nova geografia da produção agrícola no Brasil, resultante da
simulação de cenários agrícolas futuPanorama Rural
Novembro 2009
41
ros analisando nove culturas, revela
que a maioria terá uma redução na
área potencial de baixo risco até 2070,
principalmente a soja. “Neste documento trabalhamos com dois cenários:
otimista e pessimista. Para soja, a projeção otimista indica uma redução da
área potencial de 34,86% e no pessimista de 41,39%. Para a mandioca,
o Brasil teria um aumento na área de
16,64%, podendo chegar a 21,26%,
o estudo aponta para uma redução da
área potencial, o mesmo não ocorrerá
com a cana-de-açúcar, que terá um aumento de até 143,4%.
Discutir as mudanças climáticas,
os recursos hídricos e uma agricultura sustentável foi o objetivo do XVI
Congresso Brasileiro de Agrometeorologia, CBA, realizado em setembro
passado em Belo Horizonte, MG. Organizado pela Sociedade Brasileira de
paciais, Inpe, Maurício Alves Moreira,
apontou o crescimento exponencial da
população mundial nas últimas décadas, comparado ao crescimento linear
da produção de alimentos no período.
“No Brasil, por exemplo, há um consumo médio diário de 90 mil toneladas de alimentos, algo próximo de 33
milhões de toneladas por ano. E como
chegar a uma produção deste porte?
Só mesmo através de uma agricultura
Marina Torres - Embrapa Milho e Sorgo
Especialistas debatem alternativas no Congresso Brasileiro de Agrometereologia
Clenio Araujo - Embrapa Milho e Sorgo
porém no Nordeste, haveria uma redução da área, o que traria problemas,
inclusive para a segurança alimentar
da população local”, ressalta Pellegrino. Se para a maioria das culturas
42
Agrometeorologia, Universidade Federal de Viçosa, UFV, e Embrapa Milho
e Sorgo.
Durante o evento, o especialista
do Instituto Nacional de Pesquisas Es-
moderna e sustentável”, aponta.
Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Denise
Fontana, comentou sobre o Laboratório de Estudos em Agricultura e Agrometeorologia, LEAA, que trabalha
com o mapeamento de áreas e modelagem agrometeorológica do rendimento de culturas agrícolas e pastagens.
“Com a geração das chamadas “más-
Eduardo Assad: “A agricultura é
a única atividade que pode, em um
curto espaço de tempo, virar o jogo”
Panorama Rural
Novembro 2009
caras de cultivo”, é possível quantificar as áreas de lavoura, localizando-as
e estudando-as”, explica Denise.
A nova geografia que está se
formando no País foi abordada pelo
pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária, Eduardo Assad,
que apresentou dados sobre diferentes
culturas agrícolas e alertou para a necessidade de estudá-los melhor, já que
se referem ao que pode acontecer em
pouco tempo. Entre as soluções que
amenizariam os danos causados na
agricultura, Assad citou o plantio direto – desde que bem feito – e a integração lavoura-pecuária. Frente às
acusações de que a agricultura é a vilã
da história, ele foi veemente. “Muito
pelo contrário, é a única atividade que
pode, em um curto espaço de tempo,
virar o jogo”, afirmou.
Manejo de irrigação – presidente do XVI CBA e pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Reinaldo Lúcio
Gomide apontou que a possibilidade
de mudanças climáticas tem chamado
a atenção de autoridades. “O conhecimento sobre possíveis cenários futuros
pode ajudar a prever riscos e pensar
em políticas públicas adequadas”, diz
ele. Já o professor da UFV, Everaldo
Adair Sobczak
Gerson Schiochet mostra trigo que sofreu com o excesso de chuvas: perda da lavoura
Mantovani, defendeu a importância
da gestão e do manejo da irrigação.
“O manejo decide quando e quanto
irrigar. A gestão envolve o manejo e
vai além, considerando o solo, planta,
clima, água, equipamentos, energia e
estratégias de condução da lavoura”,
explica.
Para o gerente de negócios da
área de irrigação do Grupo Fockink
para a região Sul, Bruno Rauber, a irrigação é a melhora alternativa para
fugir da estiagem, já que possibilita que
o produtor programe o plantio para a
melhor época de acordo com cada região. “Assim, o agricultor não depende
das chuvas para plantar, o que possibilita que ele faça mais safras por ano
com elevado ganho em produtividade”,
explica. Segundo Rauber, dependendo
apenas das chuvas, o produtor acaba
atrasando o plantio e a colheita, perdendo em produtividade. “Em anos
normais, o produtor pode até dobrar
Panorama Rural
Novembro 2009
43
Adair Sobczak
Adair Sobczak
a produtividade nas lavouras de milho irrigadas e na soja, o aumento fica
acima de 50%. Salvo as intempéries,
o lucro é garantido, pois o produtor investe em adubação, sementes e manejo
cultural, já que água, ele sabe que não
faltará”, afirma.
De acordo com Rauber, linhas de
financiamento, como o Finame PSI,
a juros de 4,5% ao ano sem limite de
valor e três anos de carência têm aquecido as vendas de equipamentos. “Em
média, o agricultor paga o investimento
nos três primeiros anos, mas há casos
de produtores paulistas de feijão que
quitaram tudo já no primeiro ano de
produção”, revela, alertando que, quem
desejar investir na irrigação, primeiro
deve buscar a liberação ambiental para
depois encaminhar os projetos.
Na opinião de Gilberto Cunha, a
irrigação, em algumas regiões do Brasil – semi-árido do Nordeste ou na estação seca do Cerrado – é imprescindível
para a exploração agrícola. No Sul do
Brasil, sem estação seca definida, a técnica pode, em algumas situações, ser
usada para suplementação das chuvas,
Até meados de outubro, as lavouras da região – em fase de floração
e formação do grão – apresentavam perdas médias de 40%
particularmente em culturas de valor
econômico agregado como, por exemplo, na produção de sementes, flores e
de hortaliças, que abastecem os centros
urbanos. “Porém, deve-se ter cuidado
com o manejo da água na irrigação,
especialmente nas regiões áridas, com
vistas a evitar problemas de salinização
dos solos. Todavia, para o Sul do País,
a solução não está apenas na irrigação.
O principal aspecto é a absorção e a
conservação da água das chuvas no solo
através da melhoria da sua estrutura
física e química, elevando a capacidade de armazenamento e permitindo o
aprofundamento do sistema radicular
dos cultivos”, orienta Cunha.
Excesso de chuvas – se na safra
2008/09 os Estados do Sul sofreram
em função da estiagem, desta vez é
o excesso de chuvas, causado pelo El
Niño, quem tem tirado o sono dos produtores. No Paraná, maior produtor
brasileiro de trigo, as chuvas têm prejudicado o desenvolvimento da cultura
e impedido a colheita, causando prejuízos que podem chegar a 100%.
No município de Vitorino, PR, os
resultados positivos das últimas safras,
com produtividades de até 80 sacas por
“Para próxima safra de trigo, vou
reduzir a área em 50%”, diz Schiochet
44
Panorama Rural
Novembro 2009
hectare em função de novas cultivares,
estimularam os produtores a dobrarem
as áreas. “Porém, o período chuvoso
tem provocado o avanço de doenças,
como a giberela, a brusone, mal-do-pé
e manchas foliares, dificilmente controladas quando há muita chuva, pois
os fungicidas não surtem o efeito desejado”, explica o técnico da Emater,
Gerson Schiochet. Segundo ele, a principal doença é a giberela, que provoca
a morte da espiga ou o estrangulamento de parte dela. “Em anos de chuvas
regulares, ela é controlada com um ou
dois tratamentos, mas nesta safra, já
há casos de produtores que realizaram
cinco aplicações de fungicidas e mesmo assim, correm o risco de perderem
a lavoura”, afirma Schiochet.
Até meados de outubro, as lavouras da região – em fase de floração e formação do grão – apresentavam
perdas médias de 40%. “Se a precipitação continuar, os prejuízos poderão
chegar a 100% em algumas áreas,
embora ainda cedo para diagnosticar.
Mesmo que as chuvas parem, o que for
colhido não cobrirá mais os custos de
produção e dificilmente atingirá a qualidade exigida pela indústria. Assim, o
produtor receberá um valor bem abaixo do preço de mercado e para agravar
ainda mais a situação, o preço atual do
agora, perdi 40% da lavoura e se continuar chovendo, não precisarei nem
passar a colhedora”, lamenta Ivair
Schiochet, embora tenha feito quatro
tratamentos fúngicos. “O prejuízo já
chega a R$ 44,2 mil e se as chuvas
continuarem, o valor poderá chegar a
R$ 80 mil”, revela, acrescentando que
contratou o seguro privado, mas que
este, não cobre perdas desta natureza.
tão não me resta alternativa”, justifica
Schiochet, reivindicando que deveria
haver um preço mínimo garantido e
um seguro que cobrisse todas as intempéries climáticas.
Na região de Cascavel, PR, a
situação é mais grave ainda. As geadas de final de maio e 25 de julho que
atingiram as lavouras provocaram
perdas de 77% na produção e o pouAdair Sobczak
grão está muito aquém do mínimo estabelecido pelo governo”, aponta o técnico da Emater.
Outro problema, segundo a Emater, é que mesmo a maioria dos produtores tendo financiado a lavoura, ainda não há uma definição se o Proagro
cobrirá as áreas atingidas por doenças
decorrentes das chuvas. “Há o risco de
o produtor não ficar assistido pelo seguro”, diz Schiochet. Já os produtores que
optaram pelo seguro privado, onde o governo cobre 70% e o produtor 30% do
custo da contratação, não terão direito
ao prêmio. “O questão é que este seguro
cobre 100% das perdas decorrentes da
geada e do granizo, mas não as causadas pelas chuvas”, diz Schiochet.
Perdas com a estiagem e com
as chuvas – na safra 2008/09, o produtor de Vitorino, PR, Ivair Schiochet
amargou perdas de 40% na área de 41
hectares de milho e 95% em 13 hectares de feijão por causa da estiagem. Na
safrinha, ele apostou no feijão, plantando 54 hectares, mas a estiagem e
as geadas acabaram consumindo 90%
da lavoura. Na tentativa de reverter o
quadro, o produtor apostou todas as
fichas em 84 hectares de trigo e, novamente, mais uma decepção. “Até
“Mesmo com seguro a situação não muda”, diz Daga
Com tanto prejuízo, a atitude do
produtor não poderia ser outra. “Para
próxima safra de trigo, vou reduzir a
área em 50%, pois vou colher mal e
o preço do produto esta péssimo, en-
co que está sendo colhido é recusado
pela indústria, pois o grão não possui
qualidade para a panificação. Segundo o engenheiro agrônomo e produtor
em Cascavel, Modesto Félix Daga, a
Panorama Rural
Novembro 2009
45
José Martins
Luiz Cláudio
Costa, reitor da
UFV: informações
para minimizar os
riscos climáticos
e ambientais
situação dos triticultores e lamentável. “Nos 520 hectares que semeei tive
uma perda de 80% e o pouco que colhi, não conseguindo vender! Ninguém
quer comprar, porque o grão não tem
qualidade”, desabafa.
Mesmo os produtores possuindo seguro, seja através de Proagro
ou seguradoras privadas, Daga diz
que a situação não muda, pois eles
cobrem apenas as perdas qualitativas. “O trigo é um cereal cujo preço
está atrelado à qualidade do grão. De
nada adianta produtividade, se o grau
qualitativo não for a exigida pela indústria, que acabará pagando um
preço insignificante. Então estamos
discutindo com as seguradoras e com
o governo, para que seja assegurada
também, a qualidade do produto”, revela Daga.
Até meados de outubro, segundo
Daga, estudos apontavam para uma
significativa queda na produção estadual em função das geadas e das chuvas. “As perdas no rendimento (quantitativas) já chegam a 28%, mas há
também, as perdas financeiras (qualitativas), que já ultrapassam os 40%”,
ressalta.
Instituto do clima – analisar as
mudanças ambientais globais e seus
impactos nas diversas áreas da atividade humana, principalmente a agrícola
é o objetivo de um projeto da Universidade Federal de Viçosa, UFV, que
prevê a criação de um Instituto voltado
aos estudos do clima e agrometeorolo46
Panorama Rural
Novembro 2009
gia de forma integrada com projetos
nacionais e internacionais, através de
parcerias com órgãos e Institutos de
pesquisa do Brasil e do exterior, como
o INPE, a EMBRAPA, a Organização
Meteorológica Mundial, a FAO, entre
outros.
De acordo com o Reitor da UFV
e também presidente da Sociedade
Brasileira de Agrometeorologia, Luiz
Cláudio Costa, o Instituto estudará
aspectos ligados à adaptação do setor
agrícola às mudanças climáticas, fornecendo aos agricultores, informações
para minimizar os riscos climáticos e
ambientais oriundos destas mudanças.
“Quais as variedades, os manejos e as
épocas de plantio mais adequadas serão questões abordadas pelo Instituto
e que estarão disponíveis aos agricultores”, revela Costa, acrescentando
que, da mesma forma, serão estudas e
divulgadas técnicas para o setor agrícola em mitigar a emissão de carbono
por meio de uma agricultura de baixo
impacto ambiental. PR
Medidas de prevenção
E
m Santa Catarina, a Gerência de Extensão e o Centro de Informações Ambientais da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão
Rural, Epagri, estão propondo algumas medidas para prevenir e
tentar minimizar as perdas na agricultura que vêm ocorrendo no Estado
em função dos fenômenos agroclimáticos. “Nossa intenção é divulgar, de
maneira ampla, recomendações para plantios e outros cuidados com as culturas, especialmente para os agricultores familiares”, diz o gerente técnico
de extensão da Epagri, Jose Cezar Pereira.
Entre as medidas preventivas estão:
• Plantar de acordo com os períodos recomendados no zoneamento agrícola
para reduzir os riscos climáticos;
• Utilizar as cultivares recomendadas pelo zoneamento agrícola;
• Quando houver possibilidade, realizar o escalonamento do plantio ou semeadura de grãos, considerando o potencial de produção da cultura nas
diferentes épocas;
• Os períodos propícios à semeadura da safra de verão poderão ser mais
restritos, em especial para a soja que ainda concentra áreas semeadas em
novembro.
• Poderá ocorrer um ambiente favorável para doenças, portanto, quando
aplicar pesticidas e adubos, deve-se ter atenção redobrada para evitar perdas de produto e intoxicações;
• As chuvas podem reduzir a ação dos agentes polinizadores durante o período de floração de frutíferas como a videira e a macieira.
Panorama Rural
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47
AUTOMÓVEIS
Divulgação
RURAIS
para todos os gostos
F-250: 100% de mercado no agronegócio
Linha 2010 de picapes médias e SuV´s para o público do
agronegócio ganha mais opções. Mercado oferece modelos flex,
reduções de preços e até descontos para o produtor rural
Ariosto Mesquita
A
Jaqueline Stamato
pós a redução da turbulência
provocada pela crise financeira
mundial e com o início da consolidação das primeiras picapes e utilitários (SUV) flex no Brasil, o mercado
dos automóveis off road e assemelhados, mais especificamente voltado para
profissionais do agronegócio (agricultores, pecuaristas, agroindustriais, executivos, etc.), está bem mais acirrado
para 2010. A concorrência exigiu mudanças em vários modelos para garantir
diferenciais e estimular o consumidor.
Melhor para o comprador, que encontra
mais alternativa, sendo algumas com
preços “congelados” e até inferiores às
versões anteriores.
Algumas montadoras, de olho no
potencial do segmento e acirrando a
briga com os concorrentes, oferecem
descontos para o produtor rural na
compra de suas caminhonetes. Na liderança das chamadas picapes médias estão, respectivamente, a Chevrolet S-10,
Toyota Hilux, Mitsubishi L200 e Ford
Ranger. No entanto, há opções às picapes - algumas mais robustas e outras
mais esportivas - também muito utiliza-
Picapes médias mais emplacadas
de janeiro a julho de 2009:
Modelo
unidades Participação
Segmento
Chevrolet S10
20.656
35,4%
Toyota Hilux
16.331
28,0%
Mitsubishi L200
11.415
19,5%
Ford Ranger
6.290
10,8%
Nissan Frontier
3.117
6,4%
Total
57.508
100%
Fonte: Chevrolet
das no campo e com bom desempenho
em estradas pavimentadas e na cidade.
Além das já conhecidas picapes líderes de mercado, uma nova força deve
chegar ao mercado brasileiro em 2010.
A previsão é de que nos primeiros meses do próximo ano a Volkswagen lance
a VW Amarok, a sua primeira picape
média, já apresentada no Salão do Automóvel de São Paulo de 2008. O carro
deverá ser produzido inicialmente na
Argentina e sua primeira versão tende a
ser a cabine dupla com tração 4x4 com
motor turbo diesel.
O mercado brasileiro de picapes
médias vem em evolução crescente
desde 2003, ano em que foram comercializadas 104.233 unidades, segundo
dados da Nissan Brasil. O mesmo levantamento aponta para 126.845 caminhonetes comercializadas em 2004 e
191.158 em 2007. No entanto, dificilmente este número deverá ser alcançado em 2009. Dados da Chevrolet apontavam para apenas 57,5 mil unidades
vendidas de janeiro a julho deste ano,
envolvendo as cinco picapes mais vendidas do segmento.
Nunca é demais fazer esclarecimentos sobre o que há no mercado.
Existe uma série de denominações para
veículos funcionais comumente no meio
rural, estradas e cidades. Muitas vezes,
os conceitos se misturam. As chamadas picapes (ou caminhonetes) trazem
compartimentos individualizados para
cargas e passageiros e não oferecem comunicação interna entre eles.
Os utilitários esportivos - também chamados de SUV´s (Sport Utility
Vehicles) - são fabricados a partir de
chassis de caminhonetes. A diferença
é que a capota se estende até o fim do
veículo que ainda possui, internamente,
banco traseiro e porta-malas. Portanto,
apresentam bom espaço para passageiros e uma versatilidade de carga próxima de uma picape. Dependendo de sua
configuração (potência, tração, etc.) é
uma boa alternativa para acesso a ambientes rurais. A Blazer, da Chevrolet e
a Pajero, da Mitsubishi, são exemplos
de SUV.
As caminhonetes não devem ser
confundidas com as chamadas “camionetas”, popularmente conhecidas
como “peruas”, que possuem carroceria destinada a uso misto (passageiros e carga), mas de uso limitado no
meio rural, Já as chamadas “vans”
são veículos em forma de “caixa”
Montadoras de veículos realizam teste drive
de picapes na Agrishow em Ribeirão Preto:
seduzindo o público-alvo
Em se tratando de tecnologia,
o desempenho mais recente da S-10
acontece, em boa parte, em função do
seu motor bicombustível que oferece a
pulou de pouco mais de 20 mil unidades vendidas em 2006 para 32.773 em
2008, de acordo com dados da própria
GM. Esta picape leve, segundo Neto,
tem boa penetração em consumidores
do meio rural.
Preço menor e descontos – ainda sem dispor do motor flex em sua
principal caminhonete, a Ford aposta
na redução de preços e descontos para
o produtor rural como diferenciais de
mercado e atrativos para impulsionar
as vendas da Ranger. O modelo 2010
chegou ao mercado em agosto com visual renovado (sobretudo na dianteira)
e preços inferiores aos praticados no
modelo 2009.
A picape pode ser adquirida a
partir de R$ 45.900,00 (R$ 3.355,00
a menos que a versão imediatamente
anterior). Por outro lado, como a montadora oferece 18 configurações diferentes, um modelo mais completo pode
custar até R$ 96.730,00. Detalhe que
não se pode esquecer: a Ranger cabine
simples 2009 foi eleita “melhor compra” entre as picapes médias brasileiras
pela “Quatro Rodas”.
Também chama atenção junto ao
setor agropecuário as possibilidades de
abatimento no valor total do veículo
Divulgação
com uso no transporte de carga e/ou
pessoas. No campo, tem uma demanda forte para o turismo rural, através
do transporte de pequenos grupos a
hotéis fazendas pelo Brasil.
Líder – a S-10 é a campeã de vendas entre as picapes médias brasileiras
e parece que ganhou mais fôlego ainda
com seu motor flex, lançado a partir
da linha 2007 – o único no segmento.
De acordo com o vice-presidente da
General Motors do Brasil, João Carlos
Pinheiro Neto, a vendagem deste modelo pulou de 18.599 unidades em 2006
para 31.443 em 2008. Estes números
podem ser batidos ainda em 2009. Segundo a montadora, de janeiro a julho
deste ano foram emplacadas 20.656
unidades da S-10, o que representaria
35,4% do segmento de picapes médias
no Brasil.
Neto lembra que liderança não é
novidade para a S-10: “nossa picape é
líder no mercado brasileiro há 14 anos,
desde o seu lançamento em 1995; o modelo continua sendo o preferido pelo homem do campo e também pelo consumidor da cidade graças à sua versatilidade
e evolução tecnológica”.
50
Panorama Rural
Novembro 2009
possibilidade de utilização do etanol.
“Este automóvel foi pioneiro no segmento das picapes médias no Brasil a
oferecer a motorização flex fuel; hoje,
as vendas de picapes S-10 Flexpower já
superam as das picapes com motorização a diesel, fato que era impensável há
alguns anos”, revela.
O vice-presidente da GM Brasil vê
o perfil do homem de agronegócio brasileiro enquanto consumidor em potencial
de picapes como “bastante exigente”.
Ele aproveita para fazer considerações
sobre dois outros veículos da Chevrolet
com saída também para o segmento
rural: Blazer e Montana. “A Blazer se
destina mais aos consumidores frotistas
e também para a área de segurança pública; já a picape Montana é bastante
utilizada em pequenos ramos de negócios”, conta. A Montana, por sinal,
Vice-presidente da General Motors
do Brasil, João Carlos Pinheiro Neto
Divulgação
S-10 2010 – Beleza e evolução tecnológica para manter a liderança de mercado
Divulgação
vam na casa de 800 unidades/mês pularam para
aproximadamente 1.300 veículos/mês em agosto
e setembro deste ano.
Para manter contato direto, medir a de-
para aquisição por parte deste público
consumidor. Os descontos oferecidos ao
produtor rural, por exemplo, variam de
15% (picape a gasolina) a 9% (picape
a diesel).
Ao que tudo indica, a resposta do
mercado parece que foi boa. De acordo
com o gerente de Marketing de Picapes
da montadora no Brasil, Wilson Vasconcelos, as vendas da Ranger que esta-
Divulgação
O SUV Blazer 2010 com motor bicombustível
(gasolina e etanol) e tração 4x2
Ranger 2010: descontos de até 15% para o produtor rural
Panorama Rural
Novembro 2009
51
Divulgação
Toyota Hilux: vice-campeã de vendas
de janeiro a julho de 2009
52
Panorama Rural
Novembro 2009
do para o pequeno empresário”, explica
Vasconcelos.
O que visivelmente ainda incomoda a Ford é a ausência do motor flex.
Vasconcelos, no entanto, minimiza a
questão, apostando em um futuro breve
e de melhores resultados. “Tradicionalmente a Ford sempre demorou um pouco mais para lançar seus modelos flex,
mas quando isso acontece nossos produtos são sempre os melhores”, afirma
categoricamente.
Versatilidade – a japonesa Mitsubishi aposta forte tanto em picape
quanto em SUV para o mercado rural
brasileiro. “O agronegócio é bastante
diverso e variado no que diz respeito às
necessidades”, comenta o diretor comercial da Mitsubishi Motors no Brasil, Robert Rittscher. É justamente este
o termômetro da montadora para oferecer as suas opções, que começam pela
picape L200 um dos três automóveis
mais bem vendidos nos sete primeiros
meses deste ano em seu segmento.
“Quando pensamos em um veículo
destinado apenas para o trabalho, ressalta-se a robustez de uma L200 Outdoor GL; já para uso misto, há a opção do
Picape Frontier, da Nissan,
oferece 10 opções de configuração
para escolha do comprador
conforto de uma L200 Outdoor GLS ou
HPE, podendo evoluir para uma L200
Triton”, explica Hittscher. Ele ainda
enumera as principais exigências do
consumidor rural na aquisição de uma
picape: “autonomia, resistência, tração
4x4, ângulos de entrada e saída mais
elevados que não comprometam o uso
e baixo custo de manutenção”. De 11,6
mil unidades vendidas em 2007 a fábrica tem previsão em atingir a marca de
20 mil picapes emplacadas em 2009. A
L200 Triton, segundo a montadora, sai
a um preço médio de R$ 110 mil.
Mas a Mitsubishi não abre mão
de focar uma de suas estrelas – Pajero –
também para o consumidor rural. Este
Oswaldo Luiz Palermo
manda e o perfil do consumidor de
picapes, a Ford do Brasil investe na
participação em feiras agropecuárias.
“Estamos sempre nas sete principais
feiras nacionais, como a Agrishow e a
Expointer, além de garantir presença
em mais de 70 feiras regionais, muitas
delas com pistas para testes drives”, revela o gerente de Marketing de Picapes
da montadora, Wilson Vasconcelos.
Com base neste trabalho extensional, o executivo da Ford já tem um perfil
do produtor rural potencial comprador
de um modelo Ranger: “este consumidor quer um veículo multifuncional, que
o leve onde ele necessita, que ofereça
conforto e a imagem de modernidade e
de adequado status”. Como principais
competidores diretos de mercado com a
Ranger, o gerente de marketing cita a
Mitsubishi L-200 e a Chevrolet S-10.
A Ranger, na verdade, é a referência de vendas mesmo como opção intermediária (segmento de picapes médias)
para o homem do campo, pois a Ford
oferece ainda mais duas opções para o
segmento rural: A F-250 (picapes grandes) e a Courier (picapes pequenas). “A
F-250 é um veículo com seis metros de
extensão e com 100% de mercado no
agronegócio, enquanto a Courier é um
carro bem menor em relação às duas
outras opções, de custo inferior e volta-
ranking das cinco picapes médias mais
vendidas no Brasil, a Nissan Frontier
não apresenta novidades em seu modelo
2010 (já à venda) em relação ao 2009.
Pelo menos é o que garante o seu gerente de marketing de produto, Mário
Furtado. Também não dispõe de motor
flex e, segundo o executivo, sequer tem
previsão desta versão no Brasil.
Divulgação
ta oferece a partir de sua linha 2010
a SW4 SR 4x2 a gasolina, agora com
novos itens de série: rodas de liga leve
de 17 polegadas envoltas por pneus
265/65 e sistema ABS de freios nas
quatro rodas. A empresa espera que
esta nova configuração seja opção para
clientes que buscam um utilitário espaçoso e confortável para uso misto.
A F- Milha é montada a partir de uma picape Ford F-250
A Toyota disponibiliza a linha
SW4 em cinco versões buscando atender públicos urbanos, esportivos e rurais: SRV 3.0 diesel manual, SRV 3.0
diesel automática com bancos em couro, SRV 4.0 V6 gasolina automática
com bancos em couro, SR 4x2 gasolina
manual e SR 4x2 gasolina automática.
O SW4 a gasolina também oferece terceira fileira de bancos e tem
capacidade para sete passageiros, com
saída e controle individual do sistema
de ar condicionado para as segundas e
terceiras fileiras de bancos. Pela tabela
de outubro os preços do SW4 variavam
de R$ 119,7 mil a 163,5 mil. Tanto a
Hilux quanto a SW4 são veículos produzidos na fábrica da Toyota Argentina,
na cidade de Zárate.
Sem novidades – completando o
A picape da Nissan disponibiliza 10 configurações para a escolha do
comprador com opções de tração 4x2 e
4x4 e todas com motor 3.5 turbo die-
Wilson
Vasconcelos:
“A Ford
marca
presença
nas sete
principais
feiras
nacionais de
agronegócio
e em mais de
70 regionais”
Panorama Rural
Divulgação
SUV é apresentado em cinco versões,
sendo duas bicombustíveis: TR4 Flex
e Sport Flex. O diretor comercial da
montadora ressalta a versão esportiva:
“o Pajero Sport Flex 2010 é o primeiro V6 Flex do mercado e tem todos os
requisitos necessários para o uso mais
severo do agronegócio”.
Bem no mercado – a Toyota
não pode reclamar do desempenho de
sua caminhonete Hilux. O carro iniciou
2009 sendo eleito a “melhor picape”,
prêmio concedido pela agência de notícias Auto Press. Em dados divulgados
pela própria concorrência – Chevrolet –
o modelo aparece como o segundo mais
emplacado em 2009 (janeiro a julho),
atrás apenas da S-10. Em sete meses
foram vendidas 16.331 unidades, o que
corresponderia a 28% do mercado brasileiro de picapes médias.
A Hilux 2010 chegou ao mercado em outubro deste ano com uma nova
versão: a SR 4x2 gasolina com câmbio
automático de quatro velocidades. Com
esta, o modelo atinge 16 possibilidades
de configurações diferenciadas para
atender o mercado rural. Os preços nas
regiões Sul e Sudeste para o mês de outubro deste ano variavam de R$ 71,5
mil a R$ 119,9 mil.
Em se tratando de SUV, a Toyo-
Novembro 2009
53
Divulgação
sel. Os preços sugeridos variam de R$
79.790,00 a R$ 115.890,00. No caso
de pintura metálica há acréscimo de R$
1.100,00.
“Somente a Frontier atende ao
agronegócio”, garante o gerente de
marketing em relação aos automóveis
disponibilizados pela montadora no
mercado brasileiro. Furtado revela que
foram 19.677 unidades vendidas de
2006 até setembro de 2009 no Brasil.
O número é inferior às vendas da líder
S-10 em um período de apenas sete meses (janeiro a julho de 2009).
O F-Maxx é um gigante customizado cujo pacote completo custa R$ 350 mil
Ariosto Mesquita
formação acontece a partir da Ford F-250 cabine
simples, de qualquer ano.
Algumas de suas
principais características
são o rodado traseiro duplo (como picapes norteamericanas), caçamba
tipo “splash”, alargadores de paralamas, quebra-sol com iluminação
e pintura personalizada.
Dentro do automóvel,
destaque para um portamalas extra de 200 litros
O produtor rural Jacinto Romon com sua
e opções para acessórios
S-10 flex: “este carro me completa”
que incluem geladeiras,
Gigantes – além das várias op- piloto automático e teto solar.
Mas a Tropical garante que a
ções em picapes e SUV´s no mercado
brasileiro, muitos ainda querem mais, maior caminhonete do Brasil é a Susobretudo no quesito “tamanho”. De per Picape F-Maxx, desenvolvida soolho neste público algumas empresas bre a linha Ford F-12000, F-14000
se especializaram no desenvolvimento e F-16000. A primeira unidade deste
de extensões para alguns veículos. Com veículo foi fabricada em 2005 e cauisso, surgem carros “gigantes”, consi- sou frisson por onde passou. A segunda unidade saiu no final de 2007, mais
derados como “tamanho família”.
É o caso, por exemplo, da F-Mi- personalizada e, segundo a empresa,
lha, uma picape customizada e volta- impressionou ainda mais quem a viu de
da para diversos segmentos, incluindo perto. Seus detalhes impressionam: a
atividades de equitação e reboque de
traillers, além de uso intensivo rural.
Montada pela Tropical Cabines,foi lanPara o trabalho em sua mineradora e acesso a
fazendas, Massimo fez opção pela SUV Acytion
çada em outubro deste ano e sua trans54
Panorama Rural
Novembro 2009
F-Maxx tem duas vezes o tamanho de
uma F-250 e capacidade para até nove
passageiros. Apesar de possuir “sangue
de caminhão”, a F-Maxx pode surgir
com linhas bem modernas, dependendo
do gosto e das exigências do comprador.
Mas quem optar por estes gigantes de estradas deve se preparar para
desembolsar quantias significativas. A
transformação básica do F-Milha varia
de R$ 55 mil (básico, veículo usado) até
R$ 178,9 mil no caso da opção completa (0 km + transformação + acessórios). No caso da Super Picape F-Maxx
o pacote fechado é de R$ 350 mil.
Preferências – o produtor rural
Ariosto Mesquita
paranaense, Jacinto Romon, é daqueles
que não abrem mão de uma boa picape. Em 45 anos de lida no campo, teve
várias caminhonetes, incluindo uma
Pampa e uma Ranger. Hoje se diz satisfeito com uma S-10 modelo 2009 flex.
“Dizem que a Mitsubishi é muito boa,
mas este carro da Chevrolet me completa”. Ainda proprietário da Fazenda
Três Patinhos (está em negociação), de
255 hectares, em Nova Londrina, PR,
Romon usa seu carro tanto para o meio
rural quanto para viagens pelas mais
diversas estradas brasileiras.
Produtor de cana, mandioca e
gado de corte e de leite, o fazendeiro
paranaense garante que a picape líder
de mercado no Brasil tem desempenho e economia bastante satisfatórios.
“Acabei de fazer uma viagem de 700
km e nem senti; o carro oferece mui-
ta segurança, conforto e estabilidade;
além disso, é econômico, fazendo até
sete quilômetros por litro de álcool com
o ar condicionado ligado”, revela.
Integrante de uma cooperativa
mista (café, álcool e mandioca) no noroeste do Paraná, Jacinto Romon tem
uma outra vantagem: paga um preço diferenciado pelo litro do álcool: “desembolsava R$ 1,10 pelo litro, mas com o
aumento de preço que teve entre agosto
e setembro, o valor subiu para R$ 1,29,
mas ainda assim compensa e muito”.
No entanto, faz um alerta: “tive uma
Ranger com motor a gasolina que adaptei para utilização de álcool, mas não
ficou nada bom”.
Já o minerador Massimo Henrique Notari Volpon, é adepto das SUV
e se diz satisfeito com o desempenho de
seu importado Actyon, da sul-coreana
Ssang Yong. Trata-se de um modelo
2009, tração 4 x 4, motor diesel, que
ele usa tanto em estradas pavimentadas
quanto em vicinais, para acesso a fazendas ou à sua mineradora e indústria de
granilha, em Campo Grande, MS. “O
carro enfrenta qualquer terreno sem
apresentar problemas; já rodei 42 mil
quilômetros e até agora só abasteci e
troquei o óleo”, garante.
Para a sua atividade no agronegócio, Volpon considera o veículo – que
possui motor, câmbio e suspensão Mercedes Bens - “mais do que suficiente” e
destaca sua economia no diesel: “com
um litro de combustível roda até oito
quilômetros na cidade e chega aos 11
quilômetros na estrada”. Indagado sobre qual seria sua opção em uma eventual troca de carro, o minerador foi taxativo: “não trocaria de marca”. PR
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• Diversificação •
O marolo como
fonte de renda
Fruta nativa da região do cerrado ganha atenção
de pesquisadores e produtores, o que reduz o risco
de extinção e ainda a torna uma opção de negócio
56
Panorama Rural
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Luciana Paiva
Fotos: Oswaldo Maricato
O
marolo é uma fruta nativa da
região do cerrado brasileiro, com ocorrência em partes de Minas Gerais, Mato Grosso
do Sul, Tocantins, Distrito Federal,
Bahia e interior de São Paulo. Nas
cidades grandes pode ser encontrado,
Em São Paulo é Marolo, em
Minas Gerais e Goiás é araticum,
mas de todo jeito é gostoso
principalmente nos primeiros meses
do ano, em barraquinhas de vendedores ambulantes de frutas, aqueles
que vendem caju, jaca e até pequi,
outro fruto do cerrado. O marolo é
uma planta da família das Annonaceas. É parente da fruta do conde, da
atemóia, da graviola dentre outras.
Tem um perfume marcante e gosto
pronunciado.
Em Minas Gerais, o marolo,
conhecido por araticum, faz parte
da alimentação da população local
e, além de ser vendido in natura, é
usado para fazer doces e licores. A
safra do marolo começa em meados
de fevereiro e vai até abril. Nos últimos anos, a produção da fruta tem
diminuído por causa da degradação
ambiental do cerrado e a instalação
da região. Para evitar essa ameaça,
a Emater-MG e a Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG) criaram o
projeto “Marolo: Gerando Trabalho e
Renda”, que visa a transformar a fruta numa alternativa de renda para os
produtores da região.
O projeto “Marolo: Gerando
Trabalho e Renda” tem o objetivo de
ampliar o mercado da fruta, agregar
valor à produção de seus derivados e
garantir renda o ano inteiro para os
produtores.
O programa é financiado pela
Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de Minas Gerais (Fapemig) e o
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
A estratégia para ampliar o mercado
da fruta será a realização de estudos
Fruta nativa da região do cerrado brasileiro
de monoculturas no local. A organização precária em todo o seu sistema
de plantio e processamento também
desestimula a utilização do fruto com
fins econômicos. Por essas razões, o
marolo corre o risco de desaparecer
envolvendo análises químicas, sensoriais, funcionais e socioeconômica do
marolo produzido na microrregião de
Alfenas.
Qualificação dos maroleiros
– outra proposta do projeto é a capaPanorama Rural
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• Diversificação •
citação dos maroleiros para melhorar
a qualidade de toda cadeia produtiva.
A Emater-MG já treinou várias extensionistas rurais em boas práticas de
fabricação de derivados do fruto e essas profissionais estarão repassando
as técnicas às famílias de produtores
da região durante este ano e em 2010.
Também será criado um viveiro para
produção de mudas de marolo.
Com o projeto, os idealizadores
querem padronizar receitas, trabalhar
junto aos agricultores a agregação de
valor ao produto e futuramente constituir uma cooperativa ou uma associação de maroleiros. Assim, acreditam ser possível afastar o perigo de
extinção da fruta. A Emater-MG dará
incentivo aos maroleiros, principalmente dos municípios de Paraguaçu, Alfenas, Três Pontas, Machado e
Fama.
Paixão pelo marolo – a fruta
também nasce espontaneamente na
região da pequena Itaí, interior de
São Paulo. Desde criança, os irmãos
Luiz Antonio Duarte Montanari e Ney
Duarte Montanari nutrem verdadeira
paixão por essa fruta tão saborosa.
E aproximadamente 20 anos perceberam que o marolo corria o risco
de desaparecer da região de Itaí, por
causa do desmatamento dos cerrados
Luiz Montanari:
desde criança
apaixonado pelo
marolo
para dar lugar aos grandes reflorestamentos, plantios de grãos e cana.
“Decidimos então salvar o marolo de
sua extinção e procuramos dedicar
uma pequena parcela do nosso tempo
em buscar frutos remanescentes na
região, retirar sementes, germiná-las
e assim obter as mudas”, conta Luiz
Antonio, que é engenheiro e ex-executivo
de empresa do ramo
de madeira aglomerada e revestimentos,
além de consultor.
Os irmãos tentaram obter informações junto a outros
plantadores, produtores de mudas, universidades, centros
de pesquisa, mas, descobriram muito
pouco a respeito. “Não havia livro sobre o manejo da cultura e nem pesquisas em relação ao cultivo do marolo.
Então decidimos pesquisar por nossa
conta”, diz Ney, advogado, ex-diretor
de empresa, mestre em Administração e atualmente Doutorando em Direito na PUCSP.
Já se vão 10 anos de aprendizado para a produção de mudas. Os
irmãos descobriram que o marolo é
muito rústico, de manejo complicado,
de germinação dificílima. Desvendaram que na natureza as chances de
germinação ocorrem de 0% a 3% e
que a semente leva de 300 a 800 dias
Em 2004, os Montanari plantaram
as primeiras 130 mudas
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Panorama Rural
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para nascer. “As pessoas não imaginam que demora todo esse tempo.
Muitos devem ter plantado as sementes e, como não germinaram em 30,
60 dias, acabaram substituindo por
outra cultura”, observa Luiz Antonio.
Após decifrarem parte dos enigmas
do marolo, os irmãos Montanari já
conseguem a proeza de fazer com que
55% das sementes cultivadas por eles
germinem.
Em 2004, conseguiram produzir
suas primeiras mudas e, no final daquele ano, plantaram 130 pés de marolo. “Em 2005, ficamos empolgados
com os avanços conseguidos na produção de mudas e decidimos ampliar a
plantação para uma escala comercial.
Fizemos nossas próprias mudas e em
2006 plantamos 2700 pés. Em 2007,
plantamos mais 3000 e em 2008, outras 2500”, diz Ney. O projeto piloto de produção de marolo dos irmãos
Montanari ocupa uma área de sete
Uma planta que comporta 10 frutos, comercialmente, apresenta um desempenho ótimo
alqueires em uma fazenda em Itaí.
A partir de três anos de plantio, já se
constata os primeiros frutos, sendo
que em sete anos a árvore já pode ser
considerada adulta e pode produzir
acima de 20 frutos.
Primeira safra comercial – em
2010, acontecerá a primeira safra comercial, a expectativa de produção é
de três a cinco mil frutos. Nesta pri-
meira safra foram deixados de dois
a três frutos por pés. Segundo Luiz
Antonio, uma carga de 10 frutos por
pé é considerada ótima, e isso já pode
ocorrer na safra de 2011, com estimativa de produção de 20 mil frutos.
Para 2012, esperam colher de 60 a
100 mil frutos. Mas o pomar de marolo atingirá a plenitude em 2016. Os
irmãos ainda estão desvendando as
As chances de germinação na natureza vão de 0% a 3%. Os Montanari conseguem 55%
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59
• Diversificação •
informações sobre os tratos culturais
do marolo, mas plantaram as árvores em linhas com distância de três a
cinco metros cada. Sabem que é possível fazer consórcio na mesma área
do marolo com outras culturas, mas,
por enquanto, não é esse o objetivo
Antonio. Logo depois de colhido, manualmente, o marolo deve seguir para
a câmara fria, pois, rapidamente,
amadurece.
Festa do marolo – os irmãos
Montanari também estão em busca
de informações sobre quais são as
Flor da planta macho
deles. As árvores adultas chegam a
cinco metros de altura e os frutos até
aos três meses podem sofrer a ação de
ácaros, mas depois passam a ter uma
autodefesa, pois formam uma carapaça tão dura que serve de escudo contra o ataque das pragas. Dispensando
o uso de inseticidas.
Esta carapaça também protege
o fruto das quedas e pancadas. “Os
marolos podem cair de uma altura de
até três metros que não ficam machucados ou amassados”, diz Luiz Antonio. Isso é muito bom, pois o marolo
só pode ser colhido quando está no
ponto e seu talo não pode ser cortado
com faca ou tesoura, assim, muitas
vezes ele acaba despencando da árvore. “É uma fruta que se larga. A gente
toca nela e ela se larga na nossa mão.
Precisa ter olho clínico para saber se
está na hora de colher”, observa Luiz
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Panorama Rural
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exigências do consumidor de marolo. “Não sabemos, por exemplo, se
o mercado prefere frutos maiores ou
menores”, diz Luiz Antonio. Para
apurar estas informações e também
alternativas de demanda para o marolo, os irmãos têm realizado visitas
Tereza,
esposa de Luiz
Antonio: Os
Montanari
pretendem
industrializar
o marolo
sob a forma
de compota,
polpa e outros
derivados
às regiões onde o consumo da fruta
é mais intenso. O objetivo é agregar
valor ao negócio, além de vender a
fruta in natura, pretendem comercializar a polpa. Estiveram em Goiânia
e conheceram a sede da Milca Sorvetes, empresa que desenvolve a marca
Sorvetes do Cerrado, com franquias
em várias cidades da região CentroSul. “Fomos conferir como é o negócio e, inclusive, a possibilidade de
fornecermos polpa. Para o futuro,
além da venda “in natura”, temos a
ideia de industrializar o marolo sob
a forma de compota, polpa e outros
derivados, além de aprimorar nossa
unidade de pesquisa e melhoramento
dessa maravilhosa fruta”, comenta
Luiz Antonio.
Com o aprimoramento da produção, os Montanari pretendem ser
os maiores plantadores de marolo do
Brasil e também fornecedores de mudas, têm capacidade para produzir
de quatro a cinco mil mudas por ano.
Em 2010, já pensam em comercializar de duas a três mil mudas. “Nosso
grande sonho é realizar a difusão do
marolo na região de Itaí e cercanias
e, quem sabe, um dia, fazer a “festa do marolo em Itaí”, salienta Luiz
Antonio. Nós da Panorama Rural damos o maior apoio e aguardamos o
convite para a festa do marolo.
Serviço: Os interessados em mais
informações sobre a cultura do marolo ou na aquisição do produto e mudas,
os contatos são: Luiz Montanari (15)
9740-2502 [email protected]
- Ney Montanari (11) 4226-6354 [email protected] PR
Bolacha de marolo
Ingredientes
2 xícaras (chá) de polpa de marolo;
1½ xícara (chá) de leite;
150 g de margarina;
½ kg de farinha de trigo enriquecida com ferro;
100 g de açúcar;
1 pitada de sal;
2 gemas.
Modo de Fazer: Bata no liquidificador a polpa do araticum, o leite e as
gemas. Numa vasilha, misture todos os ingredientes e sove bem; a seguir,
faça uma bola e borrife uma colher (sopa) de água gelada. Cubra a massa
com saco plástico e leve à geladeira por duas horas. Abra a massa em
mesa enfarinhada. Corte as bolachas, colocando-as em assadeiras untadas
e enfarinhadas. Leve ao forno médio até ficarem tostadas.
A polpa do marolo rende doces, licores, sorvetes, muitas gostosuras
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Coadjuvantes de
LUXO
O trator é o principal sonho de consumo dos
produtores rurais, no entanto, sem os implementos
agrícolas o trator só serve para passear
A
evolução tecnológica dos equipamentos agrícolas tem sido responsável pela elevação nos índices de produção
no agronegócio brasileiro. Os tratores não tracionam apenas implementos, mas também carregam em si um
grau tecnológico de primeiro mundo, sejam eles destinados a grandes, médios ou pequenos produtores. Este
desenvolvimento também acompanha os implementos agrícolas, que evoluíram do antigo arado puxado pela junta de
bois para equipamentos automatizados. São implementos para todas as finalidades e tamanhos de propriedades, disponíveis aos produtores através de linhas especiais de financiamento. No entanto, embora as facilidades na aquisição,
os fabricantes reclamam da burocracia dos bancos na liberação dos recursos, o que segundo eles, têm prejudicado os
produtores e, principalmente, as vendas do setor.
Em parte, a revolução tecnológica dos implementos, segundo as indústrias, se deve ao aumento no grau de exigências dos produtores, que passaram a buscar equipamentos cada vez mais adaptados às suas necessidades.
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“Geralmente, o agricultor é escravo
da produção. Mas, com este vagão,
por exemplo, um produtor de leite com
100 matrizes pode fazer em duas ho-
ras, o trabalho que levaria o dia inteiro, restando mais tempo para outras
atividades ou para o lazer”, ressalta
Souza.
Prêmio Gerdau incentiva
a inovação tecnológica
“Os produtores rurais se tornaram mais
exigentes e adeptos às novas tecnologias”,
diz o pesquisador Coelho de Souza
De acordo com o professor da
Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, UFRGS, Luiz Fernando Coelho
de Souza, há uma visível mudança na
concepção dos produtores rurais, que
se tornaram mais exigentes e adeptos
às novas tecnologias. “Há 15 anos, os
fabricantes entregavam os equipamentos aos produtores e praticamente se
eximiam de qualquer responsabilidade, cabendo aos agricultores o ônus de
eventuais problemas. Hoje, o produtor
prioriza a assistência técnica, a segurança operacional, a qualidade dos
produtos e, principalmente, a segurança ao meio ambiente, tanto na agricultura empresarial como na familiar”,
explica Souza. “O pequeno produtor
evoluiu tecnologicamente. Com o apoio
dos programas governamentais ele se
sentiu seguro, respondendo muito bem
e de forma rápida aos incentivos, alavancando as vendas de equipamentos”,
afirma o professor.
Pequenos, mas grandes por vocação, os agricultores familiares têm
sido o foco das empresas do setor.
Dos equipamentos premiados no Prêmio Gerdau Melhores da Terra 2009
na Categoria Destaque, dois são destinados aos pequenos produtores – um
trator de 75cv e um vagão forrageiro.
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O
Prêmio Gerdau Melhores da Terra foi criado em 1983, quando
a Expointer era uma feira praticamente de animais. “Na época,
começaram a surgir as indústrias de máquinas e implementos agrícolas, então criamos um prêmio para estimular a cadeia”, explica Luiz
Fernando Coelho de Souza, criador e coordenador da comissão julgadora
do Prêmio Gerdau Melhores da Terra, há 27 anos.
Com o tempo, o Prêmio Gerdau passou a ser a nível nacional e com
o apoio dos Institutos de Pesquisa e Ensino, tornou-se internacional. Desde
a criação, pesquisadores e professores que fazem as avaliações a campo, já
percorreram 600 mil km entre Brasil e países de Mercosul, visitando produtores, analisando suas necessidades e o desempenho dos equipamentos.
“Quem ganha com o Prêmio Gerdau são: os fabricantes, porque colocam
seus produtos na vitrine; os produtores, que no final do processo vão receber equipamentos com mais tecnologia e as Universidades e Institutos de
Pesquisa que, através dos estudos de seus professores e pesquisadores, acabam repassando o conhecimento a seus alunos e entidades”, explica Souza,
ressaltando que as empresas participantes recebem um feedback sobre seus
equipamentos para que possam trabalhar no aprimoramento. “Muitas empresas nos procuram interessadas não apenas no Prêmio, mas sim, no estudo
de desempenho que receberão de seus equipamentos”, revela.
Divulgação
Pulverizador da Herbicat um dos vencedores do Prêmio Gerdau 2009
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“Nosso
objetivo é que
o agricultor
melhore sua
rentabilidade
por hectare”,
afirma
Carolina
Divulgação
Assistência técnica – facilidades na aquisição com taxas baixas e
longos prazos de pagamento, associadas a equipamentos de alta tecnologia,
aparentemente fatores decisivos para
impulsionar o setor rural. No entanto, Souza aponta para uma questão
que ainda precisa ser solucionada: a
assistência técnica. “Acredito que precisamos que os Estados e municípios
disponibilizem mais técnicos para auxiliarem os produtores na utilização
dos equipamentos, pois muitos têm
dificuldades e não sabem com obter a
melhor eficácia na utilização”, revela
o professor.
De acordo com o professor da
UFRGS, há muitos produtores renovando os implementos, mas, há também uma parcela de agricultores com
problemas financeiros agindo com cautela. “A tecnologia dos equipamentos
tem evoluído muito rapidamente e o
produtor tem acompanhado esta evolução, pois assim, ele ganha em produtividade, tem mais segurança na operação, conforto e redução em sua carga
diária de trabalho”, comenta Souza.
Para o presidente da Câmara
Setorial de Máquinas e Implementos
Agrícolas da Abimaq, Celso Casale,
a adesão dos produtores a implementos com novas tecnologias causa um
impacto direto na produtividade com
redução das perdas e maior agilidade
nas tarefas. “Isso garante mais lucro
e sustentabilidade ao processo produtivo, como é o caso do plantio direto que,
só é possível graças aos equipamentos
desenvolvidos para essa finalidade”,
afirma.
Investimento em tecnologia
– de acordo com Celso Casale que,
também é presidente da Casale Equipamentos, o Brasil é um dos maiores
produtores de máquinas e implementos
agrícolas do mundo, com sua balança
comercial amplamente exportadora.
“Esse fato por si só já demonstra o
estágio tecnológico dos produtos brasileiros, sendo que a adaptabilidade e
o desenvolvimento de produtos adequados às mais diferentes culturas e solos
é uma forte característica do Brasil”,
revela Casale, apontando para outras
duas importantes características dos
implementos: a rusticidade e a facilidade de operação. “Chamamos isso de
“tropicalização” dos nossos produtos.
Eles são desenvolvidos para operarem
nas condições climáticas dos trópicos,
onde estão localizados países pobres
que praticam uma agricultura ainda
atrasada. Em resumo, o Brasil está na
vanguarda”, ressalta.
Celso Casale: novas tecnologias
levam a maior produtividade
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A diretora comercial da Semeato, Carolina Rossato Hayashida, salienta que a tecnologia está cada vez
mais presente no campo e a prova disso
são os incrementos em produtividade
que o produtor vem alcançando, assim,
os investimentos em tecnologia e inovação são prioridades para a Semeato. “Nosso objetivo é que o agricultor
melhore sua rentabilidade por hectare.
Desta forma, a mesma tecnologia empregada nos grandes equipamentos é
disponibilizada nos de pequeno porte,
como as semeadoras PH, vencedora do
Prêmio Gerdau Melhores da Terra na
Categoria Destaque de 2006 e, a pequena, mas robusta, semeadora múltipla SAM, disponível para o plantio de
pastagem, trigo, aveia, soja, feijão e
milho”, comenta a diretora comercial.
O incremento na produtividade
e a evolução na qualidade do plantio,
segundo Carolina, que também, é vicepresidente do Sindicato das Indústrias
de Máquinas e Equipamentos Agrícolas do Rio Grande do Sul, Simers,
estão relacionados à aquisição de implementos com novas tecnologias. “A
demanda mundial por alimentos seguirá crescendo e não podemos mais criar
novas terras agriculturáveis. Temos
sim é que melhorar a produtividade nas
áreas em que já plantamos, preservando o solo e o meio ambiente e isso só se
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Charles Rui Teixeira: plantadora com taxas variáveis para adubação e sementes
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em um sistema bipartido de condutor,
onde 30% da dosagem é colocada no
sulco e 70% a uma distância em torno de 15 cm para cada lado da linha.
Assim, há melhor distribuição e aproveitamento do fertilizante pela planta,
evitando problemas de salinização”,
revela Teixeira. A constante evolução
tecnológica dos implementos também
contribui para o aumento de vendas de
equipamentos. O gerente comercial da
Implementos Agrícolas Jan, Claudiomiro dos Santos, diz que o produtor
tem buscado equipamentos com alta
eficiência produtiva, visando a redução
dos custos e aumento da rentabilidade
das lavouras. “Os implementos não serão mais apenas um “monte de ferro”
e sim, equipamento com alta tecnoloDivulgação
consegue com tecnologia no campo”,
diz ela, apontando que os resultados do
desempenho deste ano com as vendas
do Mais Alimentos serão comprovados
com o aumento de produtividade e de
mais comida na mesa da população
brasileira, assim como no aumento das
exportações.
O supervisor de marketing da Indústria de Implementos Agrícolas Vence Tudo, Charles Rui Teixeira, ressalta
que o foco da empresa é desenvolver
implementos com alta tecnologia destinados às pequenas, médias e grandes
propriedades, mostrando o que há de
melhor em cada segmento. “Esta tecnologia possibilita a otimização dos
recursos e a maximização dos resultados, aumentando a produtividade e a
qualidade da produção com redução
dos custos, tornando o negócio mais
lucrativo”, revela Teixeira. Segundo
ele, a Vence Tudo está quebrando paradigmas no segmento de Agricultura
de Precisão, pois atualmente é a única
a trabalhar com uma plantadora com
duplo reservatório para fertilizante,
com taxas variáveis para a adubação
e sementes. “A Panther Precision
utiliza uma tecnologia inovadora na
distribuição do potássio, consistindo
gia, principalmente eletrônica”, diz o
gerente comercial.
Desenvolver produtos com avançados conceitos de engenharia, que se
destinam ao preparo do solo e plantio
e cultivo também é o objetivo da AgriTillage do Brasil – Baldan. Entre os
lançamentos deste ano da Baldan está
a Semeadora SPA-Megaflex, equipada
com exclusivo e inovador sistema Speed box, que oferece maior praticidade
e rapidez de ajuste na distribuição de
adubo e sementes. Outra tecnologia
apresentada pela Baldan é ISOBUS
Brasil, que consiste na padronização
da comunicação entre tratores e implementos agrícolas, fruto da parceria
com a Embrapa. Na visão do gerente
nacional de vendas da Baldan, Renato
Forti Duarte, os conceitos no campo
têm mudado dia a dia, pois os resultados positivos e os períodos propícios ao
plantio estão sendo reduzidos a cada
safra. “Isto faz com que os produtores
busquem maior eficiência, procurando
novas tecnologias para ter mais segurança em seus negócios. Hoje, mais do
que nunca, os agricultores brasileiros
são homens de negócios, empresários
do campo”, comenta Duarte.
Buscando a ampliação de mercado, a Baldan tem investido na complementação da linha de plantio e preparo
do solo, analisando a possibilidade de
ingresso em segmentos agrícolas ainda
não contemplados pelo atual portfólio
de produtos.
Os bancos precisam cooperar
– As expectativas de reaquecimento
do mercado de implementos agrícolas
recaem sobre os pequenos agricultores, que contam com o programa Mais
Alimentos, além dos médios e grandes
produtores que possuem o Moderfrota
“Hoje, mais do que nunca, os agricultores
brasileiros são homens de negócios,
empresários do campo”, comenta Duarte
Marcos Vaz
As feiras agropecuárias são importantes canais para demonstração dos produtos, principalmente a
Agrishow, em Ribeirão Preto, SP, que apresenta a parte de dinâmica
Luciana Paiva
e o Moderinfra, além do BNDES-PSI.
Mesmo com as atuais linhas de crédito,
Celso Casale aponta para o desinteresse e morosidade dos bancos na operação das linhas, além da ineficiência da
assistência técnica em alguns Estados,
fatores que acabam inibindo o volume
de vendas. “O desafio está em fazer
com que esses equipamentos cheguem
aos produtores, sobretudo pela precariedade de nossa rede de Assistência
Técnica e Extensão Rural, desmontada
na maioria dos Estados. Outro problema, diz respeito ao baixo interesse dos
bancos em operar com essas linhas e
crédito, de alto custo de operação e um
baixo retorno – muita gente compran-
O Brasil é um dos maiores produtores de implementos agrícolas
do produtos de baixo valor. É preciso
estimular a concorrência entre bancos
oficiais e privados”, alerta Casale.
Segundo Casale, a segurança alimentar nos paises é tema estratégico e
assim deve ser conduzida pelos governos, como tem sido feito no Brasil. Os
programas governamentais, também
possuem forte impacto social, contribuindo para fixar o homem no campo,
diminuindo a pressão sobre as grandes
metrópoles. “Vale lembrar, da impor-
tância das empresas do setor - e de toda
a cadeia de produção - na geração de
empregos (aproximadamente 45 mil diretos e 250 mil indiretos), bem como no
fortalecimento da indústria, tipicamente nacional e familiar”, aponta Casale.
Para o gerente comercia da Implementos Agrícolas Jan o mercado
superou as expectativas que, no final
de 2008 e início deste ano, apontava
para um cenário nebuloso em função
da crise. Segundo ele, o aquecimento
se deve ao Mais Alimento, embora no
começo tenha andado a passos lentos
em função da morosidade na execução
e na liberação dos projetos. “Mas, o
que mais vem travando as vendas,
principalmente no Moderfrota PSI, é
a dificuldade na liberação do crédito.
Há bancos, que nem se interresam pelos programas e muitos emperram a
liberação dos recursos. Outro entrave é
que os produtores que possuem algum
atraso ou prorrogamento junto às instituições, não conseguem o dinheiro, o
que acaba reduzindo as vendas do setor”, aponta Santos. Cerca de 60% das
vendas da Jan são através do Moderfrota PSI e têm como principais destino os Estados do Centro-Oeste. Segundo a empresa, a expectativa para 2010
é boa, embora haja muita especulação
de mercado. “A gente não sabe o que
vai acontecer, mas, acreditamos em
bons momentos, principalmente em
feiras e exposições”, comenta Santos.
Jalmar Martel, presidente da
Imasa, observa que as linhas de crédito nunca estiveram tão acessíveis aos
produtores e só não são mais eficientes
por causa da morosidade dos bancos.
“É preciso que haja uma desburocraPanorama Rural
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to, como o Mais Alimentos do começo
ao fim”, afirma.
A Semeato tem direcionado suas
vendas para os pequenos produtores
Luciana Paiva
tização no acesso ao crédito. As atuais
linhas, a juros baixos, têm motivado
os produtores a investirem em equipamentos, porém, a burocracia enfrenta-
Os bancos precisam cooperar
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Panorama Rural
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através do Mais Alimentos que possui
ótimas vantagens, com juros de 2% ao
ano e prazo de pagamento de 10 anos
– com três de carência – para bens de
Luciana Paiva
da nos Bancos tem inibido as vendas”,
critica Martel. Segundo ele, são muitas exigências e documentações, embora reconheça que haja um acúmulo
de pedidos, o que até justifica a demora, mas, que nada tem sido feito para
agilizar este processo. “Os pedidos não
deveriam demorar mais que 30 dias.
No entanto, há caso que levam até 90
dias e esta demora tem travado em média 50% o volume de vendas. Mesmo
o setor apostando no aquecimento dos
negócios, este só não será maior por
causa da demora na liberação dos recursos”, alerta Martel, acrescentando
que em relação às linhas disponíveis,
não há o que reclamar.
Mais Alimentos do começo ao
fim – Carolina Rossato Hayashida observa que as partes envolvidas na cadeia agrícola estão cada vez mais conscientes da importância de se investir no
plantio, etapa fundamental da agricultura. “Mas, ainda é preciso desenvolver mais este foco, para se alcançar o
sucesso de programas de financiamen-
carência – para valores de até R$ 500
mil. “Estes são os principais programas que trabalhamos e obtemos uma
resposta muito positiva. Mas, ainda
podemos incentivar o consumo em
locais onde a agricultura é pouco desenvolvida e possui pouca tecnologia”,
aponta Carolina.
A Baldan foi a primeira empresa a investir no Mais Alimentos. Desenvolveu cartilha explicativa sobre o
programa e vem realizando caravanas
pelo Brasil com técnicos da Emater
em visitas a cooperativas e associações
para, por meio de palestras, informar
aos produtores como podem se beneficiar com o programa.
Segundo Duarte, o mercado agrícola no Brasil se comporta de forma
oscilante, é vulnerável a crise e muito dependente de incentivos agrícolas,
como os financiamentos. “Os incentivos governamentais são de suma
importância, uma vez que estimulam
categorias de produtores cuja maioria
não tinha oportunidades de financia-
Mega Flex da Baldan: maior praticidade e rapidez de ajuste na distribuição de adubo e sementes
até R$ 100 mil. Outro plano eficiente,
segundo a empresa, é o Finame Agrícola PSI, que possui juros de 4,5% ao
ano e prazo de 10 anos – com dois de
mentos. Um bom exemplo é o Pronaf
Mais Alimentos, voltado à agricultura
familiar”, destaca Duarte.
Para a Baldan, o bom desempe-
Divulgação
A Semeato disponibiliza aos equipamentos de pequeno porte a mesma tecnologia empregada nos grandes equipamentos
nho do setor de implementos depende
do somatório de atitudes, como a garantia dos preços mínimos dos produtos, o acesso e a agilidade nos financiamentos, processos ainda burocrático,
com pouca reciprocidade dos agentes
financeiros.
Vendas aquecidas e expectativa para o próximo ano – para o supervisor de marketing da Vence Tudo,
Charles Rui Teixeira, as vendas de
implementos encontram-se aquecidas
em todas as regiões brasileiras, com
bons resultados em todas as linhas de
produtos. A boa fase do setor, segundo ele, se deve a facilidade e agilidade
do crédito, com taxas atrativas, além
dos bons preços dos cereais, o que vem
proporcionando resultados positivos
nas vendas da empresa. “São várias
as linhas de crédito, todas muito atrativas e de fundamental importância
para manter o mercado aquecido, pois
criam um mecanismo facilitador para
que as negociações fluam com maior
facilidade”, explica Teixeira que prevê
um 2010 um ano muito próspero para
o setor e para e empresa.
A Semeato também acredita
na retomada de crescimento, como
vinha ocorrendo em 2008, antes da
crise. Otimismo este, decorrente do
apoio que o governo vem demonstrando com o crédito e do comportamento das commodities, em níveis
intermediários, mas, ainda acima
das médias históricas. “Resta torcer
por uma boa safra e pela estabilidade do dólar, já que exportamos tecnologia 100% brasileira para todo o
mundo”, ressalta Carolina Rossato.
Vamos torcer. PR
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NEGÓCIOS
Novilho Precoce
mais perto da
mesa do brasileiro
Melhor remuneração ao produtor, garantia de
escala e novas alianças quase triplica o mercado
para o pecuarista do Mato Grosso do Sul
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Ariosto Mesquita
Ariosto Mesquita
A
Cortes embalados de Novilho Precoce-MS: alianças
comerciais valorizam apresentação do produto
no mercado nacional. Toda a escala de oferta de animais e de abate é
controlada pela própria associação
(www.novilhoms.com.br), com sede
em Campo Grande, MS.
A associação, criada em 1998
já mantinha uma aliança com a Rede
Carrefour desde 2001, para abate
médio de 40 mil animais ano, visando
Divulgação
partir de julho deste ano pelo
menos 115 mil bovinos do
Mato Grosso do Sul, classificados como novilhos precoces,
passaram a ser abatidos anualmente
para abastecer, sobretudo, o mercado consumidor brasileiro. Trata-se da
maior oferta em escala do animal com
esta classificação no Brasil, garantida
pela Associação Sul-Mato-Grossense
de Produtores de Novilho Precoce
(ASPNP) graças à ampliação de uma
aliança mercadológica com a Rede
Carrefour e ao estabelecimento de
um novo acordo comercial, desta vez
com o Grupo Bertin. Com isso, o abate médio da oferta dos pouco mais de
200 produtores associados à ASPNP
praticamente triplica, subindo de 40
mil para aproximadamente 115 mil
animais/ano.
A entidade garante que, só em
2008, 50% dos bovinos precoces comercializados pela Rede Carrefour
no Brasil foram originados do Mato
Grosso do Sul. A expectativa é ampliar ainda mais esta participação
Escala de abate é controlada pela própria associação
o abastecimento de algumas lojas pelo
Brasil dentro do seu programa Garantia de Origem (GO). Durante a Feicorte 2009, realizada em junho, em São
Paulo, SP, a parceria foi ampliada
para uma nova linha de produtos.
Provavelmente a partir de outubro, o Carrefour deverá lançar a sua
linha “Selecion”, incluindo a chancela de carne “Novilho Precoce – Mato
Grosso do Sul”. Serão cortes embalados de carnes nobres como picanhas,
pontas do contrafilé, maminhas e filés
mignon. A rede de supermercados espera que, de início, o volume de abates
possa sair da atual média de 40 mil
para 50 mil animais/ano. A ASPNP
estima que serão de seis a oito cortes
selecionados para esta nova linha de
carnes.
Bom poder aquisitivo – de
acordo com o gerente Nacional de
Garantia de Origem Carrefour, Daniel Pereira Alexandre, a carne vai
abastecer, a princípio, boa parte das
62 lojas do Estado de São Paulo que
devem receber mensalmente de quatro a cinco toneladas do produto.
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NEGÓCIOS
Ariosto Mesquita
“Mas não descartamos outros mercados como Brasília onde há demanda
e um bom poder aquisitivo”, revela.
A eliminação de etapas também é um
detalhe desta parceria dentro da nova
linha de produtos: “a carne já chega
embalada, portanto não vamos manipular”. O abate obedecerá aos mesmos critérios da aliança firmada em
2001 e fica sob a responsabilidade do
Frigorífico Navicarnes, instalado em
Rochedo, MS. No entanto, um eventual aumento na demanda e consequente elevação da oferta em escala,
podem levar ao estabelecimento de
parceria com nova indústria. A oferta
é de apenas novilhas. A remuneração
ao produtor é equivalente ao preço do
boi Esalq menos 3%. Geralmente são
animais até 30 meses (cruzados) e até
36 meses (nelore).
Originário da França, o Carrefour possui 15.430 lojas em 33 países. O Brasil foi o primeiro a receber
a rede fora da Europa, há 34 anos.
São 770 lojas em 17 Estados que
recebem uma média de dois milhões
de clientes/dia. Em encontro da ASPNP realizado em maio deste ano em
Os animais devem possuir capa de gordura, sendo que sua ausência
ou o excesso (acima de 10 mm) leva à desclassificação
Campo Grande, MS, o diretor nacional de Açougue do grupo, Luis Carlos
Paschoal, confirmou a tendência de
ofertar carnes embaladas: “estamos
deixando de trabalhar com carne com
osso; não temos de fazer desossa na
loja, não somos indústria”.
Mais 65 mil animais – já a nova
aliança comercial com o Grupo Bertin prevê o abate anual de 65 mil animais, que pode ser feito em qualquer
planta industrial da empresa no Brasil. No entanto, os animais devem ser
originários dos associados da ASPNP.
Nos primeiros meses, os abates totalizaram 3.956 animais (julho/2009)
e 4.371 animais (agosto/2009). São
Rodrigues: “com as alianças agora
apostamos na ampliação de nossa oferta”
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Panorama Rural
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bois e vacas pesadas com um mínimo
de 16 e 15 arrobas, respectivamente.
A cobertura mínima de gordura deve
ser de três mm e não há, pelo menos
inicialmente, exigência com relação à
idade.
“Este é um trabalho piloto que
nos possibilita identificar mercados
que estejam dispostos a consumir a
carne de novilho precoce; inicialmente
estamos atendendo o mercado interno
em vários pontos do Brasil além de
também destinar parte para exportação”, revela o técnico de compra de
gado do Bertin, em Campo Grande,
MS, Cristiano Leal.
A remuneração ao produtor
neste caso é de preço Esalq mais 2%
(bois) e preço Esalq vaca mais 5%
até limite preço Esalq Boi (vacas). As
fazendas certificadas para a União
Europeia associadas da ASPNP (12
propriedades) ainda recebem uma remuneração extra de 3%.
A partir da detecção de nichos
específicos de mercado para a carne
de novilho precoce, o Bertin deverá
definir a rotina de abastecimento. “A
partir de 2010 vamos começar a tra-
var vendas”, prevê Leal.
A ampliação e o estabelecimento
de novas alianças comerciais aumentaram a procura de filiação à ASPNP
por parte de novos pecuaristas. Pelo
menos é o que garante o presidente da
entidade, Nedson Rodrigues: “a partir
desta ampliação de escala acatamos
mais 16 novos associados e existem
ainda oito pedidos em avaliação”.
Para se associar, o pecuarista
deve obedecer às normas determinadas pela ASPNP e submeter sua
propriedade a uma vistoria técnica.
Deve-se obedecer a critérios técnicos
e administrativos. Todos os procedimentos, segundo Rodrigues, demoram
cerca de 15 dias até a fazenda ser ou
não aceita como associada. O investimento do pecuarista é de uma taxa
de inscrição no valor de R$ 150,00,
uma mensalidade equivalente ao valor de uma arroba/boi. No abate pelas
alianças comerciais, o produtor ainda
colabora com a taxa equivalente a um
quilo de carne por animal.
De acordo com Rodrigues, o
número de pecuaristas associados só
não é ainda maior em função de al-
gumas características do pecuarista
brasileiro, sobretudo no Centro-Oeste.
“A maioria ainda vê dificuldades em
mudar padrões de trabalho, tem certo
medo do novo e culturalmente é tradicionalista”, comenta.
Diante da nova demanda gerada, a ASPNP pretende ampliar a escala de abates e mergulhar com mais
intensidade no mercado externo. Em
estudos preliminares, por exemplo,
está a possibilidade da busca do selo
de Indicação Geográfica “Novilho
Precoce do Mato Grosso do Sul” que
no entender de Rodrigues ajudaria a
promover a carne. “De imediato não
seria uma ferramenta para agregar
valor ao produto, mas vejo como uma
boa alternativa de marketing”, disse.
Como é – a ASPNP surgiu em
1998 com o objetivo estritamente
comercial, ou seja, para “melhorar
a remuneração do
pecuarista padronizando a produção
através de critérios
de qualidade, maturidade, peso de
carcaça, identificação de origem,
dentre outros parâmetros”, revela o
presidente.
A associação
é considerada uma
entidade independente, ou seja, não
se reporta a qualquer outra em nível
nacional. “Chegamos a tentar um
contato com a Associação Brasileira
de Novilho Precoce
(ABNP) mas não
progrediu; hoje tenho informações de
que estaria desa-
tivada”, comenta Rodrigues. A “Panorama Rural” tentou contato com a
ABNP por telefone por diversas vezes
em horário comercial, sem obter sucesso. No site oficial – www.novilhoprecocebrasil.com.br – há informações atualizadas até julho deste ano.
Dentre as normas técnicas gerais
– fora os padrões das alianças – exigidas pela ASPNP para o abate, está a
idade limite de 36 meses para animais
nelore e de 30 meses para animais cruzados. O peso varia de 180 kg (12@)
para as fêmeas e de 220 kg a 225 kg
(14 a 15 @) para machos. Todos os
animais devem ser rastreados e possuir
capa de gordura, sendo que sua ausência ou o excesso (acima de 10 mm)
leva à desclassificação. A associação
também exige um sistema produtivo
sustentável e social e ecologicamente
em sintonia com as leis brasileiras. PR
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unipac dispõe de soluções para produtores de leite e queijo
Divulgação
Divulgação
atóxicos e que não amassam mesmo sob condições severas
de transporte e manuseio e conservam a qualidade do leite
extraído da vaca até sua transferência aos reservatórios
refrigerados, mesmo em longos percursos sob o sol.
A novidade desta linha é a versão Standard. Disponível com 3 ou 5 litros, o item é indicado tanto para o armazenamento de leite como mantimentos, sucos, entre outros
alimentos. Do seu portfólio, destaca-se a linha Milkan Ordenhadeira, que possui capacidade de 40 litros é específica
para atender o produtor que utiliza o sistema de ordenha
mecânica ao pé da vaca. O produto é translúcido, possui
escala de graduação para facilitar a visão do nível do leite
no recipiente enquanto é ordenhado, evitando o transbordo
ou o retorno para a bomba de vácuo. Além disso, possui
alças nas laterais e área para encaixe da mão no fundo da
embalagem, que facilitam o manuseio.
Ordeinhadeira da Unipac
A
Unipac, uma divisão de negócios do Grupo Jacto,
amplia seu portfólio com soluções que atendem a
demanda do mercado agropecuário. Os produtos
são feitos de plástico e foram criados para facilitar a vida
do homem do campo, mas também beneficiam grandes laticínios, cooperativas e produtores de leite e queijo de todo
o Brasil, pois são facilmente higienizáveis e resistentes.
Dentre as soluções para este setor está a Linha de
Formas específicas para a produção de queijos. A forma
para o tipo minas frescal é encontrada nas versões com 1/2
kg ou 1 kg; já para a produção de mozarela, a capacidade
é de 4 kg. Para oferecer um resultado completo, a área de
laticínios da Unipac apresenta o Coador com Peneira. Seu
funil tem diâmetro de 300 mm, sendo próprio para dar a
vazão adequada no momento de colocação do leite em recipientes. A peneira tem diâmetro de 147 mm e é de nylon
com malha 100.
Para o transporte e armazenagem de leite, desde a
ordenha até o laticínio, os produtores têm à sua disposição a Linha Milkan, encontrada nas versões Standard, Ordenhadeira e Transporte. São produtos resistentes, leves,
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Unipac
Milkan
Standard
Produtos com resistência superior – Na produção
destes produtos, a empresa utiliza matérias-primas de qualidade e controla rigorosamente cada etapa do processo de
produção, visando oferecer o máximo em segurança e proteção. “Observamos um aumento da demanda por nossos
produtos principalmente porque eles possuem qualidade e
resistência superiores, se comparado aos similares de mercado. Além disso, facilitam o manuseio e a higienização,
o que se traduz em praticidade para o produtor agropecuário”, explica Geraldo Cassiano, gerente comercial da
Divisão de Agropecuária da Unipac. O executivo informa
que para a limpeza destes produtos basta vapor de água
(água quente) e escovas macias. Não é indicado o uso de
materiais abrasivos, como escovas ou palhas de aço. PR
CONHEÇA OS LANÇAMENTOS 2009 DA STARA
Em 2009, a Stara bate recorde de lançamento de produtos
Brava
Elektra
O
ano de 2009 está sendo marcado pelo lançamento recorde de novos produtos da Stara, o que demonstra a
eficiência da empresa em inovar e se antecipar lançando no mercado produtos que atendam as necessidades dos produtores. Essa estratégia mantém a Stara como uma empresa
líder em levar novidades para o campo, isso demonstra que na
Stara a evolução é constante.
Entre os oito lançamentos deste ano estão:
Brava Elektra – a líder absoluta do mercado agora com
regulagem elétrica das chapas despigadoras. A Brava Elektra
é uma plataforma para colheita de milho equipada com um
sistema de regulagem elétrica das chapas despigadoras, o qual
é acionado com apenas um toque no controle remoto, eliminando a regulagem manual das linhas. As suas transmissões
laterais recebem o banho de óleo que proporciona melhor desempenho do sistema, diminuindo o aquecimento e eliminando
o gotejo do óleo, resultando em maior durabilidade das correntes.
A
Fox – Escarificação e descompactação ideal para o
plantio direto realiza a escarificação e descompactação do
solo em uma profundidade máxima de 26 cm, proporcionando
uma maior capacidade de armazenamento das águas das chuvas e um melhor ambiente para o desenvolvimento das raízes
das culturas a serem plantadas. Ideal para o plantio direto,
pois preserva toda a palhada das culturas na superfície do solo.
Twister 1500 APS – primeiro distribuidor hidráulico do
Brasil com taxa variável. O Twister 1500APS, um distribuidor
de sementes e fertilizantes que possui como opcional o sistema
APS (Controlador Falcon + DGPS) que realiza aplicação a
taxa variável, garantindo uma aplicação precisa e uniforme
com melhor aproveitamento dos produtos a serem aplicados.
Seus mexedores são helicoidais com rotação de apenas 196
rpm, evitando que o produto aplicado sofra danos como moagem, o que garante maior distância de lançamento do mesmo.
Twister
controlador
Merial lança Gastrogard ® solução para o tratamento
e prevenção de gastrites e úlceras em equinos
Merial Saúde Animal acaba de lançar no mercado Gastrogard®, medicamento desenvolvido
especialmente para o tratamento e prevenção de
gastrites e úlceras em equinos. Em pesquisa inédita no
Brasil, a Merial apresentou durante o WEVA - Congresso Mundial de Medicina Veterinária para Equinos, estudos sobre a incidência da doença em animais de esporte,
haras e planteis brasileiros.
Diminuição do apetite, má condição corporal, diminuição do desempenho, diarréia, cólicas ranger de
dentes e salivação excessiva são apenas alguns dos sinais que um cavalo pode apresentar quando está com
úlceras gástricas. Segundo Alessandro Orsolini, Coordenador Técnico de Equinos da Merial Saúde Animal, a
incidência de úlceras está ligada a hábitos alimentares e
ao estresse desses animais. “A rotina de cavalos atletas
exige uma atenção especial de veterinários e proprietá-
rios, pois as atividades destes equinos normalmente são
intensas. Uma endoscopia pode confirmar a presença de
lesões para que um tratamento seja iniciado. Pesquisas
realizadas nos Estados Unidos mostraram que uso do
Gastrogard® curou ou ainda melhorou o problema de
úlceras em 99% dos cavalos analisados e, em poucos
dias, o equino pôde voltar às atividades diárias”, observa Orsolini.
Gastrogard deve ser administrado por via oral.
Seu princípo ativo omeprazol inibe a produção ácida
que provoca as lesões.”O Gastrogard® é sem dúvida a
solução que faltava no mercado de medicamentos para
equinos. Seu lançamento reflete nossa estratégia de
apoio multidimensional aos clínicos e criadores brasileiros objetivando o desenvolvimento e valorização do
segmento”, conclui Luiz Luccas, diretor de operações
para animais de companhia da Merial. PR
Panorama Rural
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O moderno procedimento VOMM para
desidratação de carne para uso alimentício
A
contínua crescente demanda de produtos protéicos, destinados à alimentação e sua limitada disponibilidade, devido especialmente a necessidade
da cadeia do frio, nem sempre disponível e de qualquer
forma extremamente cara, torna cada vez mais atual a necessidade de transformar alimentos frescos em produtos
desidratados (secos) regeneráveis e, portanto, conserváveis
durante longos períodos sem particulares estruturas limitantes (ex.: a linha de conservação de super gelados).
Dentro deste objetivo, a especialização na transformação de alimentos deve centrar sua atenção para soluções tecnológicas mais avançadas, que sejam possíveis com investimentos não excessivamente onerosos que, de forma contrária,
poderiam comprometer a estrutura financeira do negócio.
Por outro lado, deve-se resolver com rapidez e simplicidade problemas tecnológicos complexos para transformar estes produtos, a base de carne, frescos ou perecíveis,
num patrimônio energético alimentar de ampla disponibilidade.
A empresa VOMM propõe uma linha especializada
no tratamento de carne fresca baseada na utilização de
seus turbo secadoresTM, já amplamente conhecidos e aplicados no setor de alimentos processados.
O processo VOMM de produção de alimentos desidratados a partir de produtos de abate animal é dirigido
a obter o melhor resultado em termo de qualidade com o
menor custo de produção.
Como melhor resultado qualitativo entendemos:
- Elevado valor biológico.
- Ampla possibilidade de emprego do produto seco.
- Controlados níveis de pureza microbiológica, dentro
dos parâmetros exigidos para os produtos cárneos.
Para obter o mínimo custo de produção é necessário:
- Baixo consumido energético
- Investimento reduzido
- Processo compacto com poucas etapas
- Nenhuma emissão poluente
- Nenhum subproduto obtido no processo.
Do ponto de vista qualitativo, a TURBO TECNOLOGIATM VOMM aplicada ao procedimento de tratamento
de carne, permite manter no maior nível o valor biológico
das características nutricionais do produto original.
A tecnologia de processo escolhida (VOMM) possibilita realizar toda a operação (do produto fresco até o
granulado terminado) no tempo total de poucos minutos.
Este resultado se fundamenta nos reduzidos tempos
de contato em alta temperatura que a TURBO TECNOLOGIATM VOMM requer.
Esta tecnologia é baseada em reatores horizontais de
parede aquecida por circulação de vapor dentro dos quais
gira em alta velocidade periférica um turbo agitador de
desenho exclusivo que mantém em centrifugação, como película dinâmica fina, os ingredientes.
Eng. Marco Vezzani
Depto. Técnico – VOMM BRASIL
11 3931.9888 – [email protected]
Turbo
secadorTM
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Panorama Rural
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Panorama Rural
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Feiras & Exposições
68ª Expo Nordestina
Local: Parque Professor Antonio Coelho
– Recife/PE
Data: 08 a 15 de novembro de 2009
Contato: (81) 3228-4332 e snc@uol.
com.br
8ª Expo André da Rocha
Local: André da Rocha/RS
Data: 12 a 15 de novembro de 2009
Contato: (54) 3611-1331
VII FestBerro – Exposição
de Ovinos e Caprinos
Local: Tauá/CE
Data: 18 a 22 de novembro de 2009
Contato: (88) 3437-2068
Expovizinhos – Feira Agropecuária,
Comercial e Industrial de Dois Vizinhos
Local: Parque de Exposições de Dois Vizinhos/PR
Data: 22 a 29 de novembro de 2009
Contato: (46) 3536-1235
fale com o editor:
[email protected]
IV Expoloanda
Local: Loanda/PR
Data: 26 a 29 de novembro de 2009
Contato: (44) 3425-1330
Fenagro 2009 – 22ª Feira
Internacional da Agropecuária
Local: Salvador/BA
Data: 28 de novembro a 06 de dezembro
de 2009
Contato: (71) 3375-3062 e abcnews@
terra.com.br
Eventos & Leilões
II Congresso Nacional
do Cavalo Mangalarga
Marchador
Local: Porto Seguro/BA
Data: 19 a 22 de novembro de 2009
Contato: (31) 3379-6100 e abccmm@
abccmm.org.br
XVII Curso sobre Leite de
Cabra e Derivados: Queijos
Local: Capritec – Espírito Santo do Pinhal/SP
Data: 28 e 29 de novembro de 2009
Contato: (19) 3651-5531 e [email protected]
Congresso sobre Manejo e
Nutrição de Aves e Suínos
Local: Auditório do IAC – Campinas/SP
Data: 11 a 13 de novembro de 2009
Contato: (19) 3232-7518 e cbna@cbna.
com.br
4º Encontro Brasileiro de Hidroponia
Local: Hotel Praiatur – Florianópolis/SC
Data: 19 e 20 de novembro de 2009
Contato: (48) 3028-9052 e [email protected]
III Curso de Genética Molecular
aplicada à Reprodução Animal
Local: Parque Estação Biológica – Brasília/DF
Data: 16 a 21 de novembro de 2009
Contato: (61) 3448-4783 e [email protected]
Curso de Projeto e Construção
de Carretas de Transbordo
para Cana-de-Açúcar
Local: Centro de Pesquisa de Cana – Ribeirão Preto/SP
Data: 24 de novembro de 2009
Contato: (11) 3231-4522
I Curso de Gestão na
Caprinocultura e na Ovinocultura
Local: Capritec – Espírito Santo do Pinhal/SP
Data: 28 de novembro de 2009
Contato: (19) 3651-5531 e [email protected]
23º Curso de Sistema Rotacionado
Intensivo de Produção de
Pastagens para Bovinos Leiteiros
Local: Esalq/USP – Piracicaba/SP
Data: 16 a 19 de novembro de 2009
Contato: (19) 3417-6604 e cdt@fealq.
irg.br
11º Congresso de Agribusiness da
Sociedade Nacional de Agricultura
Local: Confederação Nacional do Comércio – Rio de Janeiro/RJ
Data: 24 e 25 de novembro de 2009
Contato: (21) 3231-6350 e eventos@
sna.agr.br
12ª Jornada de Atualização
em Agricultura de Precisão
Local: Esalq/USP – Piracicaba/SP
Data: 30 de novembro a 04 de dezembro
de 2009
Contato: (19) 3417-6604 e cdt@fealq.
org.br
17º Encafé – Encontro
Nacional da Indústria de Café
Local: Vila Galé Marés Resort – Salvador/BA
Data: 18 a 22 de novembro de 2009
Contato: (11) 3868-4037 e encafe@
abic.com.br
III Congresso Brasileiro
de Tomate Industrial
Local: Centro de Convenções – Goiânia/
GO
Data: 25 e 28 de novembro de 2009
Contato: (62) 3241-3939 e tomate@
wincentraldeeventos.com.br
4º Congresso Latino Americano
sobre as Perspectivas do
Setor de Celulose e Papel
Local: São Paulo/SP
Data: 15 a 17 de novembro de 2009
Contato: (11) 9904-5350 e
[email protected]
I Congresso Brasileiro de
Pesquisa em Pinhão Manso
Local: Brasília Alvorada Hotel – Brasília/DF
Data: 11 e 12 de novembro de 2009
Contato: (11) 5523-9413 e congresso@
abppm.com.br
82
Panorama Rural
Novembro 2009
9º Leilão Pompeu Borba
Oferta: Santa Inês, Boer e Dorper
Local: João Pessoa/PB
Data: 28 de novembro de 2009
Horário: 13 horas
Informações: (83) 9941-5649
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Panorama Rural
Novembro 2009