A cana-de-açúcar não é brasileira, mas sua união com
Transcrição
A cana-de-açúcar não é brasileira, mas sua união com
Ano XI · Nº 129 · Novembro/2009 · R$ 9,90 www.panrural.com.br Especial implementos agrícolas - Coadjuvantes de luxo Automóveis rurais para todos os gostos Vampyrum spectrum - Pega, mata e come Novilho Precoce mais perto da mesa do brasileiro ! É DO BRASIL A cana-de-açúcar não é brasileira, mas sua união com este País é tão perfeita que somos campeões mundiais em produção e em tecnologia sucroenergética Panorama Rural Novembro 2009 1 As olimpíadas das mudanças climáticas Diretores: Plínio César e Marco Baldan Gerente de Comunicação: Fábio Soares Rodrigues Gerente Administrativo: Paulo Cézar Consultor Técnico: Neriberto Simões Não é só o urso polar que vai se dar bem com menos gases poluentes Publicação mensal da PC&Baldan / Abimaq / Agrishow www.panrural.com.br Filiada a: Editora Chefe: Luciana Paiva Editor Gráfico: Thiago Gallo Arte/Web: Anselmo Germano Caio Ingegneri João Domingos Outras publicações da PC & Baldan: Guia Oficial de Compras do Setor Sucroalcooleiro Revista CanaMix Portal Direto da Usina Publicidade: Arthur Elias: [email protected] Guilherme Vilela: [email protected] Juliana Camargos: [email protected] [email protected] Assinaturas: Mirian Domingues: [email protected] Vanessa Cassimiro: [email protected] Contatos com a Redação: [email protected] Impressão: Gráfica São Francisco Distribuição em bancas para todo o Brasil: Fernando Chinaglia Distribuidora S/A PC & Baldan Consultoria e Marketing Av. Independência, 3.262 CEP 14.025-230 - Ribeirão Preto - SP (16) 3913.2555 www.pcebaldan.net Para assinar, esclarecer dúvidas sobre sua assinatura ou adquirir números atrasados: SAC: (16) 3913.2555 - 2ª a 6ª feira, das 9 às 12 hs e das 13:30 às 18 hs. É permitida a reprodução total ou parcial dos textos, desde que citada a fonte. E m 2 de outubro, o presidente Lula, vários ministros, celebridades como o escritor Paulo Coelho e até o “rei” Pelé estavam presentes em Copenhague, na Dinamarca, para fazerem lobby a favor da candidatura da cidade do Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas de 2016. Esse esforço concentrado em prol da candidatura do Rio recebeu apoio irrestrito do Governo Federal e os organizadores desenvolveram um forte projeto de marketing para influenciar os formadores de opinião. Em dezembro, Copenhague será sede novamente de outro grande evento mundial, representantes de 192 países se reunirão para decidir o que farão em relação às mudanças climáticas, é o maior evento global desde a assinatura do Protocolo de Kyoto, em 1997. O objetivo é que o encontro coordenado pela Organização das Nações Unidas seja o palco para a costura de um acordo global agressivo de redução das emissões de gases causadores do efeito estufa. O cenário é de urgência, um recente estudo feito pelo Global Humanitariam Forum revela que mais de 325 milhões de pessoas já têm sua rotina afetada pelas mudanças climáticas, a um custo econômico de 125 bilhões de dólares por ano. O Brasil surge como uma das potencias no novo cenário, temos a matriz energética mais limpa do mundo, cerca de 85% baseada em fontes renováveis, além de a maior floresta do mundo. O campo e a agricultura são responsáveis, em grande parte, por esse diferencial brasileiro. O nosso etanol de cana-de-açúcar é hoje a opção mais barata e eficiente aos combustíveis fósseis. E o mercado para o nosso etanol poderá ser dourado. Só nos Estados Unidos, onde o governo determinou que 15% dos combustíveis de origem fóssil sejam substituídos por produtos de origem renovável, a demanda por etanol poderá chegar a 136 bilhões de litros em 2022. Na Europa, a meta é que, até 2020, 10% de todo o combustível usado nos transportes rodoferroviários venham de fontes renováveis, a estimativa é que serão necessários 60 bilhões de litros de etanol por ano. O Brasil ainda se destaca pelo emprego da biomassa na produção de energia elétrica, em que o mais utilizado é o bagaço da cana, mas a ele podem se somar as folhas e pontas, além de cavacos de madeira, palha de arroz e muitos outros. Essa energia da biomassa também pode ser exportada para outros países em forma de pellets. A Europa os tem adotado em substituição ao carvão mineral e gás natural. Naquele continente, em oito anos, o consumo de pellets saltou de 1,6 milhão de toneladas para 6,8 milhões e já movimenta 2,2 bilhões de dólares. Especialistas afirmam que a demanda global por pellets pode chegar a 20 milhões de toneladas em 2020 e o Brasil tem potencial para conquistar até 25% deste mercado. Em Pernambuco, está em desenvolvimento um projeto de uma microdestilaria de álcool, e um dos objetivos é produzir pellets de bagaço de cana para exportação. Outro ponto favorável ao Brasil será a criação de uma política de precificação das florestas por meio de créditos de carbono, países desenvolvidos pagarão para que as árvores continuem em pé. Estudos apontam que esse mercado poderia render às florestas mundiais até 20 bilhões de dólares anualmente, e o Brasil, por ter a maior delas, receberia boa parte dessa verba. Dependendo da política ambiental adotada pelos líderes mundiais neste encontro de Copenhague, o Brasil poderá ser o grande beneficiado, mas para isso, um lobby bem feito ajudaria muito. No entanto, até o final de outubro, o presidente Lula nem sabia se iria prestigiar esse evento que, simplesmente, tenta salvar o mundo. PR Luciana Paiva Editora CAPA É DO BRASIL 26 A cana-de-açúcar não é brasileira, mas sua união com este País é tão perfeita que somos campeões mundiais em produção e em tecnologia sucroenergética 4 Panorama Rural Novembro 2009 BEIRA D’ÁGuA De volta a ilha maldita Página 14 AMBIENTAL De bem com a natureza e com o bolso Página 18 CLIMA Em busca da adaptação Página 40 LEIA TAMBÉM 6 9 12 20 24 48 56 62 74 78 82 ENTREVISTA ESTRATÉGIA AGROINFORMÁTICA CURIOSIDADES LUIZ AUBERT NETO SONHO DE CONSUMO DIVERSIFICAÇÃO ESPECIAL - IMPLEMENTOS NEGÓCIOS MARKETING RURAL AGENDA A bruxa continua solta nas plantações de cacau Fatos, dados e os rumos da economia A tecnologia da informação a serviço do produtor Vampyrum spectrum - Pega, mata e come A vitória do bom senso Automóveis rurais para todos os gostos O marolo como fonte de renda Coadjuvantes de luxo Novilho Precoce mais perto da mesa do brasileiro Novidades, tendências e destaques Panorama Rural Novembro Feiras, exposições, eventos2009 e leilões5 ENTREVISTA Walter Tegani A bruxa continua solta nas plantações de cacau Ricardo Barbosa O Brasil é o 5º maior produtor de chocolate do mundo, mas a produção nacional de chocolate tem enfrentado dias amargos. É que sua matéria-prima, o cacau, sofre fortemente a ação de pragas e doenças. Em meados de 1992, o Brasil, cuja produção de cacau se concentra principalmente no Estado da Bahia, foi abatido por uma infestação de uma praga que persiste até hoje: a vassoura-debruxa, causada pelo fungo Moniliophtera perniciosa, doença descoberta em 1985, que deixa os ramos dos cacaueiros secos, o que faz parecer com uma vassoura velha, por isso o nome. Em 1969, o cacau da Bahia respondia por 80% das exportações do Estado, hoje, depois de 40 anos, o setor representa apenas 3%. A vassoura-de-bruxa vem destruindo plantações e arruinando produtores. Muitos já desistiram da cul- O Secretário executivo da Associação Brasileira das Indústrias Processadoras de Cacau, diz que doenças reduzem a oferta de cacau e a indústria brasileira se mostra insatisfeita por ter de importar o produto 6 Panorama Rural Novembro 2009 tura, quem ainda persiste enfrenta dificuldades. O governo federal se mostrou solidário a esta questão, mas não pode fazer muita coisa. Para o secretário da Agricultura do Estado da Bahia, Roberto Muniz, a recuperação da lavoura cacaueira é questão prioritária para o governo, mas o desafio ainda é grande. Já houve a tentativa de clonagem do fruto, mas o experimento não obteve sucesso contra a doença. Recentemente, a Embrapa mapeou o genoma do cacau para tentar descobrir uma solução para este problema. No entanto, regras simples como o bom manejo da cultura, pode amenizar esse caos, como explica o secretário executivo da Associação Brasileira das Indústrias Processadoras de Cacau, Walter Tegani. Em entrevista à ENTREVISTA Panorama Rural, Tegani explica a atual situação dos produtores e da indústria brasileira de cacau e traça um perfil sobre esse mercado tão esquecido no Brasil. PanRural - O que está acontecendo com o mercado brasileiro de cacau? Tegani - O que eu percebi em diversas reuniões que ocorreram neste ano em Salvador, é que a vassoura-de-bruxa reduziu fortemente a oferta de cacau, provocando perda significativa para o setor. A praga invadiu a Bahia e, ainda, não se achou uma solução para este problema. Para agravar ainda mais a situação, as dívidas dos produtores rurais foram se acumulando ao longo do tempo, acarretando efeitos irreparáveis. PanRural - Já existem iniciativas para tentar resolver este problema? Tegani - Há uma predisposição por parte do governo Federal e Estadual para tentar conter o avanço dessas dívidas, como foi dito na reunião na Câmara Setorial de Salvador, mas isso não significa que esse problema irá ser eliminado, ou até mesmo diminuído. Essa ajuda dará um fôlego a mais para os agricultores para se dedicarem à produção e ao combate às doenças do cacau. Além de eliminar esses problemas da vida do produtor, precisamos dar uma injeção de investimentos, para que ele possa ter tecnologias que deverão ser voltadas para a limpeza da área, maquinários, entre outros fomentos. PanRural - O que a indús- tria fez, em caráter emergencial, para atender a demanda? Tegani - Tivemos uma queda na oferta de cacau e um aumento significativo na demanda. Chegamos a tal ponto de escassez do produto, a partir daí, começamos a importar cacau. Hipótese até então absurda, já que éramos autossuficientes e exportadores de cacau. E foi um experimento dolorido por parte da indústria e para o produtor. Em 1994, período que se iniciou essa crise, o Ministério da Agricultura demorou em contornar toda essa situação, sendo que a preocupação é legítima, principal- paração com o ano passado. No final de novembro e dezembro, é que veremos se de fato será a realidade do setor. PanRural - Com isso, esses produtos vão ficar mais caros? Tegani - Não tenho avaliação sobre custos, mas uma coisa leva a outra. Se há fábricas concentradas na Bahia, é por causa da matériaprima abundante na região. Mas a partir do momento, em que precisam importar essa matéria-prima, isso passa a ser um problema, ainda mais porque os importadores enfrentam dificuldade marítima e “ ” Éramos autossuficientes e exportadores de cacau mente se tratando de um produto in natura. PanRural - Quais foram as consequências dessa série de problemas de queda de produção de cacau? Tegani - Essa situação momentânea, com o passar do tempo, perpetuou-se, as importações começaram a subir na mesma proporção das quedas na oferta de cacau no Estado da Bahia. Com tudo isso, as fábricas começaram a diminuir a sua produção perante essa situação atípica, que veio culminar agora com a crise econômica mundial. Pelos dados que tenho em mãos teremos uma queda de 10% de janeiro a agosto deste ano, em com- altos impostos. Quando compramos uma mercadoria, não sabemos quando ela vai chegar, e o pior, em que estado vamos levar para a indústria. Acontecem muitos acidentes de percurso. Importar cacau não é o desejo do setor industrial, queremos a matéria-prima em nossa porta. Quando nos instalamos naquela região contávamos com o cacau em nossa porta. Esperamos que a atual realidade mude em pouco espaço de tempo. PanRural - No momento de queda do cacau, houve alguma iniciativa por parte da indústria para reter o processo de declínio? Tegani - Acompanhamos pri- Panorama Rural Novembro 2009 7 ENTREVISTA meiro os trabalhos de órgãos do setor, pois além da vassoura-debruxa, nos preocupamos, também, com outras pragas incididas nos Estados da Bahia, Pará e Espírito Santo, que estão devastando todas as plantas. Nunca vi o produtor tão desanimado. Para poder dar um ânimo ao produtor, a única opção da indústria é por meio dos centros de treinamento de produtores. No ano passado, foi criado na Bahia um projeto chamado Fênix para incentivar novamente a produção de cacau. Partes dos recursos são enviados pelas empresas processadoras de cacau e outra parte de investidores holandeses. Verificamos a situação do cacau e sugerimos ações simples para tentar manter a produtividade, como a limpeza da área, deixar incidir uma maior quantidade de luz no cacaueiro para diminuir o avanço da vassoura-de-bruxa, entre outras séries de medidas que estamos tentando apoiar. PanRural - Esse projeto já conseguiu bons resultados? Tegani - O projeto Fênix ainda é pequeno, pois atinge apenas vinte fazendas. O projeto faz uma vistoria das fazendas mais atacadas e até verificação da qualidade do solo. Para isso, contamos com o apoio de engenheiros agrônomos e também estudamos a possibilidade de enriquecer o solo para aumentar a produtividade em uma determinada região. O projeto é recente, os dados ainda são insuficientes, mas já mostram recuperação em algumas regiões do Estado da Bahia. Isso foi uma das soluções que a indústria tomou para mostrar um caminho para os produtores, o custo desse projeto não é caro, pois conta 8 Panorama Rural Novembro 2009 com a força do homem do campo. PanRural - Quantas indústrias processadoras de cacau existem no Brasil? Tegani - Cinco, sendo quatro na Bahia e uma em Embu das Artes, em São Paulo. PanRural - A infestação de pragas no setor tem prejudicado a qualidade do produto? Tegani – Quando a indústria recebe o cacau há necessariamente uma inspeção para ver se o produto atende os critérios de qualidade. PanRural - A indústria trabalha com estoques? Tegani - Sempre. Recentemente as indústrias pararam por 20 dias, devido ao elevado crescimento dos estoques, resultado de demanda abaixo das estimativas. O setor de processados também está em queda, os números que tenho desde o ano passado consta que tivemos um retrocesso de 10%. A redução maior vem do mercado externo, em decorrência da crise financeira. As indústrias de processamento de cacau não têm nenhuma ajuda de fomento “ ” Se nada for feito a favor do cacau, a tradicional região produtora de cacau da Bahia se transformará em um grande pasto Até hoje não tivemos devoluções de matéria-prima. As fábricas instaladas na Bahia não anunciaram problemas com a qualidade do produto, mesmo com a incidência de pragas, o grande problema é a redução da oferta. Mas é certo que é necessário difundir o manejo correto a ser aplicado no cacaueiro, os erros acarretam prejuízo. As indústrias estão pensando em aumentar a exigência em relação a qualidade do produto e a aplicação de práticas corretas, mas acho isso um erro, defendo, primeiramente, a realização de um trabalho de orientação ao produtor. Não adianta aumentar a fiscalização se eles não sabem como realizar o trabalho. para o setor, mas também nunca solicitaram. A saída tem sido reduzir custo e amenizar preços. Mas estamos melhorando. PanRural – Quais os próximos passos? Tegani - Primeiramente, eliminar a vassoura-de-bruxa, a segunda seria tentar liquidar o caixa negativo dos produtores. É preciso motivação para o setor porque eles estão desanimados. O pasto voltado para a criação de gado está substituindo as áreas de plantação de cacau. Se nada for feito a favor do cacau, a tradicional região produtora de cacau na Bahia se transformará em um grande pasto. PR C onsiderado um dos mais importantes trabalhos de reflorestamento de mata nativa, o Programa Mata Ciliar do Paraná atingiu a sua muda de número 100 milhões. O feito foi comemorado no final de setembro em Londrina na área onde será formada a primeira coleção de plantas do jardim botânico do município. Envolvendo 399 prefeituras e mais de 130 mil agricultores, o Programa já garantiu 4,1 mil hectares de novas mudas de 85 espécies nativas. O índice de sobrevivência das mudas em campo é de 55%. A produção é viabilizada graças à reestruturação de 20 viveiros e de iniciativas de prefeituras, colégios agrícolas, centros de menores infratores, penitenciárias e outras instituições e organizações. E xemplo de diversificação produtiva familiar em reduzida escala vem do município de Ivinhema, no sudeste do Mato Grosso do Sul (283 km de Campo Grande). Enquanto os maridos tocam plantações de café e outras culturas em pequenas propriedades, um grupo de 18 mulheres trabalha com lã de ovinos na confecção de edredons e baixeiros. Elas formam o Núcleo de Artesanato Bom Pastor e são responsáveis em tosquiar, lavar, fiar, selecionar e cardar a lã. A matéria prima é originada a partir de um rebanho de cinco mil animais. O trabalho é viabilizado graças a uma parceria do Núcleo com duas propriedades da região: Cabanha Cordeiro do Rei e Agropecuária Tocando em Frente. A A recuperação de viveiros permitiu a oferta de mudas em escala Peixes e Cia. proximadamente 250 coletores de dados estão a campo, no Brasil, trabalhando no primeiro censo aquícola do País. O levantamento de dados vai até dezembro. O objetivo do Ministério da Pesca e da Aquicultura é ouvir todos os produtores brasileiros, tanto na costa quanto no interior do País (águas doces e salgadas). Espera-se muito trabalho até dezembro, mês limite para apuração dos dados. Só em Santa Catarina, por exemplo, estima-se que 20 mil pessoas vivam da piscicultura e do cultivo de moluscos. Para evitar eventuais resistências de produtores em fornecer informações, as coordenadorias regionais do censo estão propagando que todos os dados cadastrais terão caráter de sigilo e não poderão ser repassados a nenhum órgão federal, estadual ou regional. O governo brasileiro garante que os resultados serão utilizados apenas para direcionar políticas públicas para o setor. O censo tem parceria com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e apoio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ariosto Mesquita Família produtiva Divulgação Recomposição Ariosto Mesquita Artesãs de Ivinhema, MS, durante processamento de lã de ovinos. Censo aquícola quer mapear toda a produção marinha e continental brasileira Panorama Rural Novembro 2009 9 Cachaça for export U Divulgação O Brasil exporta apenas 1% da sua produção de um bilhão de litros de cachaça/ano. Esta pequena fatia é ainda diluída entre 55 países compradores. Para aumentar o mercado internacional, o Projeto de Lei 1.187 do deputado federal Valdir Colatto (PSDB/SC), quer identificar a cachaça como produto genuinamente brasileiro criando uma única denominação/ conceito para a bebida. Vários produtores, no entanto, querem a diferenciação entre o produto industrial e o artesanal alegando variações de preços para o mercado europeu. Algumas marcas artesanais são exportadas por valores até 16 vezes superiores ao preço pago pelo produto industrial. O autor do projeto, no entanto, esclarece seu foco: “vamos trabalhar em um conceito de cachaça para que ninguém tenha mais dúvida que cachaça é cachaça, seja qual for o processo de produção...”. Estima-se que no Brasil existam mais de 40 mil produtores e perto de quatro mil marcas da bebida. m plano com financiamentos a juro zero para os adimplentes pode beneficiar perto de 2,5 milhões de pessoas que vivem na zona rural da Bahia. É o que prevê o Plano Agrícola e Pecuário do Estado, batizado de “Agricultura Tamanho Família”, lançado no início de setembro. O foco das ações de estrutura é a agricultura familiar. O crédito será assistido, ou seja, haverá acompanhamento da aplicação dos recursos. Convênios a serem firmados devem garantir assistência técnica e extensão rural. A grande novidade será o dinheiro “de graça”. O agricultor familiar poderá tomar financiamento de até R$ 100 mil para adquirir equipamentos através do Programa Mais Alimentos. Originalmente, o plano prevê juros de 2% ao ano, três anos de carência e sete anos para pagar. O governo baiano, entretanto, está eliminando os juros de 2% para quem pagar em dia. Isso está sendo possível graças à criação do “bônus adimplência” através de projeto do Executivo já aprovado pelo Legislativo estadual. Agricultura familiar será diretamente beneficiada na Bahia U Recuperação m volume de 61 mil toneladas de uva e aproximadamente 79 mil toneladas de manga. Esta é a expectativa dos produtores do Vale do São Francisco, na região de Juazeiro, BA, para a safra de frutas 2009/10. O lançamento do ciclo produtivo aconteceu no final de setembro e teve como objetivo marcar o início da recuperação da fruticultura do Vale, atingido na segunda metade de 2008 pelos efeitos da crise financeira mundial. No ano passado, importadores europeus e norte-americanos suspenderam compras antecipadas que ajudavam no financiamento da produção. Com a renegociação de dívidas e novos recursos de financiamentos disponibilizados pelo BNDES os fruticultores puderam respirar. O Vale do São Francisco é considerado o principal exportador de manga e uva do Brasil. Antes de estourar a crise de 2008 a região vendia anualmente para o mercado internacional, 105 mil toneladas de manga e 60 mil toneladas de uva. Alexssandro Loyola Ariosto Mesquita Dinheiro “grátis” Frutas brasileiras começam a retomar mercado externo Objetivo é ampliar mercado internacional para a cachaça brasileira 10 Panorama Rural Novembro 2009com Fale o editor desta coluna: [email protected] Panorama Rural Novembro 2009 11 A Tecnologia da Informação a Serviço do Produtor * Celso G. Furlan A tecnologia da informação é o instrumento por excelência para ganhos de produtividade e alcance de novos patamares de eficiência na execução dos processos do agronegócio, administrativos ou de produção, promovendo agilidade na percepção de situações e na aferição dos resultados obtidos. Benefícios reais de economia de tempo e dinheiro com melhor qualidade e maior produtividade podem ser facilitados com o uso adequado 12 Panorama Rural Novembro 2009 da tecnologia da informação, desde a seleção da mudas, do planejamento operacional das safras, gerenciamento da capacidade de execução das operações agrícolas e dos seus resultados, logística da movimentação da produção e sua comercialização, até a apuração dos custos reais da cadeia de valor e análise da rentabilidade do negócio. A tecnologia da informação viabiliza um processo de gestão enxuto, produtivo e lucrativo disponibilizando hoje um conjunto de ferramentas cada vez mais acessível ao produtor para apoiar os processos e contribuir para a evolução sustentável do negócio. Do uso simples de sistemas para automação de rotinas até a conexão em tempo real da cadeia produtiva, o uso da tecnologia da informação não é mais uma opção, mas sim um grande fator crítico de sucesso. Sistemas integrados de gestão, com excelente relação custo x benefício, não são mais privilégios dos grandes produtores e das indústrias que processam a produção vinda do campo. Uma análise crítica desse processo pode revelar níveis satisfatórios, para manter um patamar conservador, de retorno sobre o investimento (ROI) e também do custo de propriedade ao longo do tempo. Uma questão fundamental que precisa também ser avaliada quando se analisa custos e oportunidades é buscar respostas para alguns pontos de atenção, tais como: que benefícios os produtores estão deixando de obter por não utilizar essas ferramentas? Como administrar a sustentabilidade do negócio sem tecnologia da informação? Quanto pode custar uma informação tardia ou imprecisa sobre uma infestação de pragas ou sobre a resposta de um tratamento aplicado? Entre outros questionamentos, quais são os custos invisíveis, de certa forma, que tendem a se perpetuar na ineficiência dos processos, na perda da qualidade e da produtividade. Vivemos o momento do conhecimento, e não mais só da informação. É preciso reunir, organizar e viabilizar a reutilização do conhecimento acumulado para melhorar a percep- ção da realidade do hoje e das tendências do amanhã. Imperioso se faz reconhecer, no entanto, que os provedores de soluções, a sociedade organizada e principalmente os governantes, possam evoluir e se tornarem mais sensíveis aos desafios do agronegócio brasi- leiro que, embora tenha a seu favor representar uma considerável parte do produto interno bruto nacional e a perspectiva de crescimento para os próximos anos, carece ainda de um melhor entendimento de seus processos operacionais e de gestão. Há que se agir e disponibilizar informações e ferramentas para beneficiar, proteger e fortalecer o agronegócio a partir do seu principal agente: o Produtor. Gestão. Sem ela, não se corre o risco de dar certo. E a tecnologia da informação está aí, presente, disponível e acessível, para prestar serviços ao produtor viabilizando a gestão do seu negócio em novos patamares de competitividade. * Celso G. Furlan – diretor-comercial da Ancora Business Management Panorama Rural Novembro 2009 13 Arquivo Walter do Valle Baía de Castelhanos, beleza incrível, fenômenos paranormais e dezenas de navios naufragados De volta à ilha maldita Walter do Valle O mergulhador fluvial José Borges da Costa, o Borjão, está voltando de Ilhabela para se juntar ao mergulhador Mané da Ilha. Juntos, há 14 anos, passaram temporada caçando tesouros submersos no mar de Castelhanos, avesso da ilha considerada maldita por caiçaras e 14 Panorama Rural Novembro 2009 aventureiros. Cientistas do Instituto de Pesquisas Espaciais (Impe), de São José dos Campos, SP, garantem que, por ser excessivamente imantada, a Baía de Castelhanos enlouquece bússolas, provoca naufrágios e atrai objetos estelares. É comum cair ali chuva de meteoritos, como aconteceu na noite do último eclipse lunar. Muita gente já viu objetos voadores mergulhando no mar revolto da Praia do Gato. E bolas coloridas (parecidas com enfeites de árvore de natal, mas do tamanho de bola de futebol) que vagueiam pela ilha como guardas-noturnos. O ex-repórter da TV Globo, Jorge Licurci, morou na ilha e jura que viu a tal bola colorida vagante e um OVNI pousando no pico largo de Castelhanos. A maioria dos corpos foi parar nas praias de Ilhabela e Ubatuba. Os que apareceram em Castelhanos foram enterrados na praia ou cremados na laje. Esculturas atraem a morte – o manifesto de carga do Astúrias revela que o navio levava 4500 toneladas de cobre, 1700 toneladas de estanho, 800 toneladas de chumbo, 45 mil libras esterlinas em moedas e uma carga de ouro diplomático de valor ignorado, além da bagagem dos passageiros e suas jóias. Até hoje pouca coisa foi recuperada, apesar do navio estar “descansando” há quase um século a uma profundidade de 52 metros. De helicóptero, com mar calmo, dá para ver seu contorno sombrio à beira do abismo. Parece desafiar a lógica e a humanidade. Ele carregava também 20 esculturas doadas pela Espanha à Argentina, para completar o monumento Los Españoles, no centro de Buenos Aires. São estátuas de anjos e querubins em bronze, que iriam fazer o contorno da estátua principal do general San Martin montado a cavalo. O mergulhador grego Jeanis Michail Platon, hoje morando em São Sebastião, conseguiu resgatar uma das estátuas que se encontra até hoje na Capitania dos Portos. Trata-se de uma figura feminina de meia tonelada de bronze. Outro mergulhador, conhecido por Mané da Ilha, já retirou do Astúrias talheres de prata, bandejas, toalhas de seda com brasão da companhia, um abajur, além de garrafas de vinho de fundo redondo. Tudo vendido a colecionadores. Platon conta que, de 1.916 a 1.924, a Seguradora Northon trouxe equipamentos modernos e os melhores mergulhadores do mundo para tentar recuperar a carga do Astúrias. Conseguiram salvar um cofre cheio de ouro, mas desistiram porque o mar de Castelhanos é muito violento e estava matando gente. “Quando Castelhanos embravece faz devastação na superfície, aí fica impossível resgatar quem mergulhou”, explicou Platon. Nessa aventura da Northon morreram seis mergulhadores. Os homens que voltaram vivos disseram que o Astúrias está se equilibrando na beira de um precipício submarino. “É muito perigoso vasculhar o interior, a retirada da carga pode fazer o navio despencar, levando junto quem estiver dentro”, explicou. Castelhano deslumbra e assombra – o ermitão Cícero Buarque, ex-radialista em Mogi das Cruzes, SP, conhece como ninguém o “avesso” de Ilhabela. Apesar de sua beleza deslumbrante, Castelhanos continua “virgem” do mercado imobiliário. As Arquivo Walter do Valle da montanha. Licursi vai fazer parte da expedição de mergulho de Borjão, tentando resgatar tesouros que repousam, há 93 anos, no Príncipe de Astúrias, navio que naufragou no mar de Castelhanos em 1916. Como a tragédia do Titanic – orgulho da marinha espanhola, o navio Príncipe de Astúrias tinha 150m de comprimento, 20m de boca e 10m de pontal, que é a altura do casco. Deslocava incríveis 16 mil toneladas e podia transportar 1800 passageiros. Fazia a rota Barcelona-Buenos Aires, com escala no porto de Santos. Seu naufrágio, o mais terrível da costa brasileira, pode ser comparado ao do Titanic, quatro anos antes. Madrugada de domingo de carnaval, o capitão José Lontina conhecia bem a região, mas ao se aproximar de Ilhabela as bússolas “enlouqueceram” em meio a uma tempestade tropical. Quando um raio clareou o céu o navio entrou com tudo num enorme rochedo em forma de navalha, o Ponta de Pirabura, que rasgou 50m do casco, de proa à popa. A água invadiu, o Astúrias adernou a bombordo (tombou para a esquerda) e as caldeiras explodiram. Sobreviventes do naufrágio disseram que Lontina deu um tiro na cabeça. Naufrágio é desonra para o capitão, daí o suicídio. 445 mortos, ou mais de mil? O Astúrias foi para o fundo do mar com mais de mil pessoas. Números oficiais falam em 445 mortos, entre passageiros e tripulantes, mas foi ignorada a presença de mil imigrantes alojados na parte baixa do navio, perto das caldeiras. Seriam judeus que vinham para a América Latina fugindo da 1ª guerra mundial. Nesse naufrágio iam morrer todos, mas, por sorte, os sobreviventes foram recolhidos pelo navio Veja, de bandeira britânica, que passava ao Mané da Ilha, com badejo quadrado. Mergulhador já esteve no Príncipe de Astúrias Panorama Rural Novembro 2009 15 postas por um gênio da trigonometria. Ou do urbanismo. Cícero acredita que foram ETs que armaram o cenário. E nos mostra o riacho que vem da montanha e “desaparece” antes de chegar ao mar, “sugado” pela areia imantada da praia. É de enlouquecer tantos fenômenos num mesmo lugar. E vamos embora antes que a maré nos condene para sempre. Na volta, Cícero indica um atalho para evitar um cemitério de três covas que dá arrepios e um casebre de chão batido onde moram os “zumbis tibetanos” que não falam, vestem roupa branca e opaca como se feita de saco, cabeças raspadas. Olham, mas parecem não ver. Nem ouvir. Passamos ao largo, não sem ver a janela aberta e a porta encostada. Não sem ouvir o brutal silêncio ou deixar de sentir aqueles olhos mortiços furando nossos corpos como se fossem transparentes. Apressamos o passo, estugados pelo frisson da morte que não foi falada uma única vez. PR Arquivo Walter do Valle poucas casas do lado de lá, com vistas para o Oceano Atlântico, são de caiçaras que vivem da pesca. Ou de personagens exóticos e fantasmagóricos. “No início do século 19 havia ali uma fazenda de café com muitos escravos. Contam que as mães negras, quando davam a luz, atiravam os recém-nascidos no mar para que não virasse escravos. Espíritos dessas crianças vagam pela ilha, assombrando pessoas”, acredita. Autor de quatro livros sobre Ilhabela e Castelhanos, Cícero costuma passar meses nesse misto de inferno e paraíso. “Paraíso pelas belezas naturais, samambaias, tinhorões, morangos silvestres que parecem praga perto das nascentes, bananas nativas doces como mel, Mata Atlântica intacta, praias maravilhosas, fartura de peixes, borboletas azuis gigantescas que saem do nada e desaparecem. Mais 200 fios d’água, riachos que nascem na montanha e vão para o mar”, diz o escritor. “E inferno pelos fenômenos paranormais. Bolas coloridas que vagueiam pela ilha, zumbis que parecem monges tibetanos, discos voadores descendo na Praia do Gato, automóveis pendurados em árvores no precipício (acidentados na estradinha de terra que sobe e desce a montanha), mais esqueletos de 50 navios naufragados na baía”, completa. A fantástica Praia do Gato – Cícero Buarque espera a maré baixar e nos levar à Praia do Gato.Com maré alta não dá para ter acesso. Nem para sair. Quando o mar sobe o invasor fica preso num beco sem saída: atrás o íngreme penhasco impossível de escalar, à frente o mar violento que explode na praia feito furacão. A maré descera, tínhamos duas horas para visitar a menor praia do mundo, não mais de um quarteirão de comprimento por 50 m de largura. E esculturas da natureza de extasiar Buda: no centro uma rocha em forma de pirâmide. No canto, uma pedra redonda gigantesca. No outro, uma retangular. Como se tivessem sido dis- Borjão com serra elétrica retirando árvores do Rio Tietê. Agora ele vai atrás dos tesouros naufragados 16 Panorama Rural Novembro 2009 Panorama Rural Novembro 2009 17 Divulgação Estudo visa o uso racional da aplicação de herbicidas em áreas de cana De bem com a natureza e com o bolso Projeto desenvolvido pela Basf, IAC e unidades sucroenergéticas visa à redução do uso de água, do custo e tempo na aplicação de herbicida E mpresa que pretende se manter no mercado não pode abrir mão da competitividade e sustentabilidade, por isso, os gestores estão empenhados em reduzir custos de produção, aumentar a eficiência, mas sem provocar impactos ambientais e sociais. Estudos apontam que a agricultura é responsável por 70% da água utilizada no mundo, essa estatística além de não fazer bem à imagem da agricultura, mostra que muitas práticas e processos podem ser melhorados para reduzir esse desperdício não só de água, mas de dinheiro. Muitas iniciativas estão em curso pelo mundo do agronegócio, uma delas é um estudo sobre a redução no 18 Panorama Rural Novembro 2009 volume de calda em aplicação de herbicida na cultura canavieira. Trata-se do Projeto Provar Plateau - Programa de Valorização da Água em Pulverizações Agrícolas, realizado por meio de uma parceria entre o Instituto Agronômico (IAC), a BASF e por unidades sucroenergéticas paulistas. Coordenado pelo diretor do Centro de Engenharia e Automação do IAC, Hamilton Ramos, o Provar Plateau almeja medir a eficiência proporcionada pela adoção de menores volumes de água na aplicação do herbicida em préemergência na cana-de-açúcar durante três épocas do ano (início, meio e fim da safra), principalmente em ganhos econômicos e de tempo. “O maior desperdício está na quantidade de água utiliza- da para se colocar o herbicida. Quanto maior o volume de água, menor o rendimento operacional dos pulverizadores e maior o custo do seu transporte. Assim, Luciana Paiva Luciana Paiva “Quanto maior o volume de água, menor o rendimento operacional dos pulverizadores e maior custo do seu transporte”, diz o pesquisador Hamilton Ramos Divulgação Os equipamentos estão sendo regulados para o uso de menor volume de caldo a adequação do volume de água pode reduzir sensivelmente o custo de aplicação de herbicidas“, enfatiza Ramos. Segundo cálculos do IAC, em uma área de 15 mil hectares plantados, há uma perda estimada de R$ 22 mil por safra. Foco ambiental – iniciados em junho de 2008, os ensaios do Provar Plateau vêm sendo feitos em áreas comerciais de seis grandes grupos sucroenergéticos do Estado de São Paulo. As avaliações consideram a utilização de menores volumes de água na aplicação, com uso do herbicida Plateau. Segundo a Basf, a escolha desse produto deveu-se a sua maleabilidade, o herbicida é destinado à soqueira (lavoura de cana-de-açúcar após o primeiro ano de colheita) e pode ser aplicado tanto no período seco como úmido, ao contrário dos herbicidas comuns, que só podem ser aplicados na época úmida. “Pela eficácia já comprovada, o herbicida foi escolhido para a pesquisa do Provar, avaliado com diferentes volumes de calda, tamanhos de gotas e épocas de aplicação”, observa Antônio César Azenha, gerente de Desenvolvimento Cana. Azenha explica que o projeto teve origem a partir de uma monografia de um aluno do curso de Agronomia da faculdade Fafram de Ituverava e, desde 2007, havia o interesse da Basf em desenvolvê-lo, pois o menor volume de calda, não só reduzira custos na opera- ção, mas principalmente, propiciará ganho ambiental, contribuindo com o uso racional da água na agricultura. Resultados – “Os resultados apresentados até o momento demonstram que é possível obter melhorias no rendimento operacional das pulverizações e reduzir, no mínimo, em 25% o volume de calda. Hoje, o volume médio de água utilizada pelas usinas varia de 200 a 300 litros por hectare, o objetivo do estudo é chegar a uma redução entre 50 e 75% desse volume”, ressalta Hamilton Ramos. Outros ganhos também estão sendo avaliados como: redução no custo de transporte, aumento da capacidade de pulverização e benefícios ambientais. Azenha explica que a redução no volume de calda de pulverização propor- ciona ganhos de rendimento operacional quando associada à manutenção e melhoria na qualidade da aplicação, sem comprometer a distribuição e eficácia do produto. “Isso implica em ganhos de rendimento nas operações e diminuição no número de máquinas (tratores, pulverizadores e caminhões-tanques) e de operadores por área tratada, otimizando os custos operacionais de aplicação. Além da utilização de recursos hídricos de forma responsável e consciente”, salienta. Os testes de aplicação acontecem em mais de 100 talhões de cana. O projeto, financiado pela Basf, envolve diretamente oito profissionais, além dos estagiários que atuam no IAC, mais o pessoal das usinas. O estudo tem duração de três safras, o resultado final, com as análises dos pesquisadores e a indicação do desempenho dos volumes de calda, deverá ser divulgado no final da safra 2010. Azenha ressalta que os resultados apurados até o momento superaram as expectativas e que não há dúvidas de que o estudo cumprirá o objetivo de oferecer informações sobre o volume de calda correto, mantendo a eficiência, reduzindo o consumo de água, de logística, quantidade de operadores, enfim, ajudar a empresa a ficar bem com a natureza e com o caixa. PR Ensaio Projeto Provar Panorama Rural Novembro 2009 19 Vampyrum spectrum Pega, mata e come Wilson Uieda segura um exemplar do Vampyrum spectrum um estranho e raro morcego da Amazônia é especialista em caçar pássaros em pleno vôo ou dormindo em galho de árvore. Como o gavião carcará, ele pega, mata e come 20 Panorama Rural Novembro 2009 Walter do Valle Fotos: Paulo Villasboas O maior morcego das Américas, o Vampyrum spectrum, também conhecido por “carcará da Amazônia”, quase um metro de envergadura de uma asa a outra, é uma espécie muito rara. Carnívoro por excelência, o spectrum tem caninos iguais aos do lobo-guará e costuma ir à caça no crepúsculo, quando as aves estão voando para os ninhos. Estrategista, localiza a presa e a segue cuidadosamente até encontrar a melhor chance de ataque. Ou em pleno vôo ou quando ela descansa num galho de árvore. Seu habitat são as florestas tropicais (Amazônia brasileira e peruana e matas nativas da América Central). Esse morcego gigante escolhe troncos de árvores mortas para morar, geralmente próximas de córregos, rios e cachoeiras. O biólogo Wilson Uieda, sansei de 55 anos, chefe do Departamento de Zoologia da Unesp de Botucatu, SP, trabalha com morcegos desde 1977, mas só recentemente descobriu no Pará essa raridade brasileira. Ele conta que o vampiro comedor de aves caça várias vezes durante a noite. Nesse período localiza as presas pelo cheiro das fezes, já que o spectrum prefere utilizar o olfato ao invés da visão ou do sonar (seu radar). A captura da presa pode ser em pleno vôo, ou quando ela descansa no galho da árvore ou no ninho. Apesar do nome, Vampyrum spectrum, esse morcego carnívoro não tem nada de vampiro. Come aves, referencialmente, mas ataca também roedores, insetos e até escorpiões, dos quais arranca a cauda para só então engolir o corpo. Quando a caçada noturna fracassa, o spectrum persegue, captura, mata e come até outros morcegos. Uieda ensina que esse singular morcego costuma dormir em grupos de até cinco indivíduos da mesma família nos troncos de árvores mortas. Monogâmico, forma um casal e permanece unido até o fim da vida, que poderá durar 20 anos. “O casal se reveza na caça. Um sai para a captura e o outro fica no ninho cuidando da prole”, conta o cientista. Mas o casal pode sair à caça junto, deixando o fi- Exemplar de morcego albino lho mais velho para cuidar dos mais novos. O devorador de aves voa baixo durante a caçada e pode cobrir uma área de até cinco hectares, sempre perto de rios. A grande envergadura de suas asas permite que ele alce vôo enquanto carrega grandes presas, algumas bem maiores do que ele. Comedor de peixe – se o Vampyrum spectrum gosta de aves, o morcego Noctilio leporinus adora peixe. 70% dos morcegos são insetívoros “Essa espécie dá vôo rasante no espelho d’água e captura o peixe com suas garras afiadas”, diz Uieda, um apaixonado por mato. Para estudar o leporinus, Uieda morou durante dois anos no Pantanal mato-grossense e fez mais de 50 viagens à Amazônia brasileira, do Pará a Roraima, e à lendária Ilha do Mel, no Paraná. Além de estudar os morcegos, ele aproveita a estada na mata para cuidar de índios e da população ribeirinha. Nosso especialista diz que só na América Latina (até o norte da Argentina) existem morcegos hematófagos, ou vampiros, chupadores de sangue. “É que essas boas criaturas não gostam de frio prolongado.” Aliás, todas as espécies de morcego, insetívoros, frugívoros, detestam clima frio. Daí ser impossível encontrar morcego no Pólo Norte ou na Antártida, por exemplo. Doces criaturas – os morcegos são espécies silvestres e, no Brasil, estão protegidos pela Lei de Proteção à Fauna. Sua perseguição, sua caça ou Panorama Rural Novembro 2009 21 Garra de um morcego insetívoro destruição é crime. Matar um morcego é como matar um mico-leão-dourado, por exemplo. Essas doces criaturas vivem 20 a 30 anos e estão no ecossistema há mais de 60 milhões de anos. Mas os morcegos hematófagos são criaturas recentes, cerca de dois milhões de anos. “Eles vivem só na América Latina porque nessa época os continentes já estavam separados”, explica o professor. Uieda tem um viveiro de morcegos no campus do Lageado, em Botucatu, para estudos. Os hematófagos ele alimenta com cubos de sangue de boi congelado, recolhido no matadouro e desfibrinado depois. O alimento é colocado num bebedouro de passarinho. Cada morcego lambe cerca de 30 ml de sangue por dia. “Tive um morcego que viveu 29 anos em cativeiro, um recorde. Na natureza eles vivem 20 anos, no máximo”, explica Uieda. Únicos dos animais mamíferos capazes de voar, os morcegos representam quase a quarta parte de toda a fauna de mamíferos da Terra. São 1.200 espécies em todo o mundo, 160 espécies no Brasil, 65 espécies no Estado de São Paulo e 34 na região de Botucatu, onde Uieda trabalha. Ele explica que 70% dos morcegos são insetívoros. Sonar acha até pernilongo voando – morcego come quase tudo: 22 Panorama Rural Novembro 2009 frutas, néctar, pólen, aves insetos, peixes, rãs e pequenos vertebrados. Somente três espécies se alimentam de sangue, os hematófagos, encontrados na América Latina e no Sul do México. Todos os morcegos, inclusive os vampiros, contribuem para o equilíbrio dos ecossistemas, já que atuam como polinizadores, dispersores de sementes e controladores da população de insetos. Os morcegos possuem Morcego lambedor de pólen um sentido adicional, aliado aos cinco a que nós humanos estamos acostumados: a ecolocalização. Ele emite ondas ultrassônicas pelas narinas ou pela boca. Essas ondas atingem obstáculos no ambiente e voltam a eles em forma de ecos com frequência menor. Com base no tempo em que os ecos demoram a voltar, nas direções de onde vieram e nas direções de onde nenhum eco veio, os morcegos sentem se há obstáculos no caminho, as distâncias, as formas e as velocidades relativas entre eles, no caso dos insetos voadores que servem de seu alimento, por exemplo. Pelo eco o morcego localiza uma borboleta em pleno vôo ou até um minúsculo pernilongo. Corujas, gatos e falcões – há poucos animais na natureza capazes de caçar morcego. No Brasil, a coruja, que dorme de dia e caça à noite, adora morcego malpassado. Marsupiais, como nosso malcheiroso gam- Coruja comedora de morcegos bá, também come morcego de vez em quando. Gatos domésticos podem capturar morcegos que invadem casa ou caiam no chão. Morcegos podem ir ao chão por acidente enquanto aprendem a voar. Na Ásia existe uma espécie de falcão especialista em caçar morcego em pleno vôo. Rãs e sapos que moram em cavernas também comem morcego filhote que despenca do teto. Saliva anestésica – morcego hematófago pode ser transmissor de raiva. Sua saliva tem forte poder anestésico e coagulante. Ainda que o perigo de transmissão de raiva se resuma aos locais onde a doença é endêmica, dos poucos casos relatados a maioria é causada por mordida de morcego. A grande maioria dos morcegos não tem raiva. Os que têm ficam pesados, desorientados, incapazes de voar. Quando com raiva o morcego muda seu comportamento e sai para se alimentar durante o dia. E tornase presa fácil dos predadores. A raiva é transmitida pela saliva do morcego, não pelo sangue, como a maioria presume. Raposas voadoras – o maior morcego do mundo, o Pteropus vampyrum, conhecido como raposa voadora, pode ter asas com até dois metros de envergadura e corre perigo de extinção. Cientistas e o governo da Malásia temem que a espécie vá desaparecer se o atual nível de caça continuar. Segundo eles, cerca de 22 mil raposas voadoras são caçadas legalmente a cada ano, mas muitos outros são caçadas ilegalmente. Esses morcegos gigantes são cruciais para os ecossistemas da floresta tropical na Ásia. Eles comem frutas, lambem o néctar e, ao fazer isso, derrubam sementes no solo e polinizam as árvores. As estimativas mais otimistas indicam que a população de morcegos da espécie Pteropus vampyrum na península malaia gira em torno de 500 mil animais. Para o bem e para o mal – os morcegos saíram das matas, vieram para as cidades e viraram personagens de histórias em quadrinhos e filmes de ficção. Quem não conhece a história de Batman, o Homem Morcego, e seu fiel escudeiro, o adolescente Robin, personagens do bem e inimigos do terrível Coringa? E quem não assistiu a um filme do Conde Drácula, personagem noturno dos castelos medievais da Transilvânia? Esse é do mal, combatido com muito alho, crucifixo e lasca de aroeira enfiada no coração. Arre! PR Batman: morcego do bem Drácula: morcego do mal Panorama Rural Novembro 2009 23 Luiz Aubert Neto A vitória do bom senso N ormalmente definimos bom senso como um conceito usado na argumentação, que é estritamente ligado às noções de Sabedoria e de Razoabilidade, e que define a capacidade média que uma pessoa possui, ou deveria possuir, de adequar regras e costumes a determinadas realidades e, assim, poder fazer bons julgamentos e escolhas. Pode, assim, ser definido como a forma de “filosofar” espontânea do homem comum, também chamada de “filosofia de vida”, que supõe certa capacidade de organização e independência de quem analisa a expe- “ novas gerações, já com uma feira prevista para setembro de 2010. Bom senso também deve ser a tônica em relação ao pré-sal. Ao contrário de uma postura cartorial, como em um primeiro momento poderia parecer a bandeira da necessidade de conteúdo nacional proposta pela entidade, temos que olhar principalmente para a necessidade de mobilização que precisamos fazer para participar desse esforço industrial, desse novo desafio. A nossa expectativa é inclusive poder contar com financiamento para aumentar a nossa participação no desenvolvimento ção de bens de capital no país, além de incentivar a aquisição dos mesmos com a criação de um bônus-restituição aos compradores. Precisamos de ajuda nessa tarefa, com postura séria, adequada e transparente, no sentido de criar as melhores condições de disputa de mercado para os nossos associados. Essa é a nossa função, o nosso papel. E mais uma vez vamos ter que nos exercitarmos em relação ao bom senso, que nesse caso do pré-sal vai muito além da capacidade de discernir ... precisamos redobrar nossos esforços para evitar que os nossos associados venham a competir em desvantagem com concorrentes de outros países... riência de vida cotidiana. Dentro da ABIMAQ usamos a expressão bom senso como forma de atender interesses diferenciados em relação ao mesmo tema, como pudemos observar nos recentes episódios relacionados à Cidade da Energia x Agrishow. Aparentemente, diante de uma situação de interesses divergentes, tivemos efetivamente a vitória do bom senso, onde através de uma política equilibrada obtivemos uma solução que atendeu a todos,com a manutenção da Agrishow em Ribeirão Preto e também com outra oportunidade de expor equipamentos e ampliar as possibilidades de vendas na Cidade da Energia, em São Carlos, que deverá se transformar no maior pólo tecnológico da energia limpa e renovável, atendendo aos apelos da sustentabilidade e preocupação com as 24 Panorama Rural Novembro 2009 do pré-sal. Entusiasmo é o que não nos falta, mas precisamos redobrar nossos esforços para evitar que os nossos associados venham a competir em desvantagem com concorrentes de outros países, principalmente do Sudeste Asiático, que possuem linhas de financiamentos infinitamente melhores e, diferentemente do que ocorre no Brasil, operam com total desoneração da produção . A indústria brasileira de máquinas e equipamentos, através da ABIMAQ, em busca de melhores condições para fornecer para o pré-sal, está apresentando, por meio do deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), duas emendas parlamentares para o Projeto de Lei 5.938, que trata do regime de partilha de produção das reservas. As emendas têm o objetivo de criar condições mais favoráveis à produção e comercializa- ” o certo do errado. Além de agirmos com ponderação, vamos ter que contar com a capacidade dos nossos governantes de agir com a sua capacidade intuitiva de pensar e fazer as coisas certas. O bom senso não envolve tanto uma reflexão aprofundada sobre um determinado tema, lugar ou situação (isso já entraria no campo da meditação), mas sim a capacidade de agir e interagir, obedecendo certos parâmetros da normalidade, face uma situação qualquer, guiando-se por um senso comum e quase que completamente intuitivo. Essa será a postura da ABIMAQ em relação ao pré-sal e outras situações que envolverem os seus associados. PR Luiz Aubert Neto é Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) Panorama Rural Novembro 2009 25 É do Brasil! A cana-de-açúcar não é brasileira, mas sua união com este País é tão perfeita que somos campeões mundiais em produção e em tecnologia sucroenergética 26 Panorama Rural Novembro 2009 Luciana Paiva Luciana Paiva H Moenda de cana de 1620 produzida em madeira de lei encontrou por aqui excelentes condições para se desenvolver. Solos férteis e clima adequado contribuíram para o sucesso da atividade, por volta de 1584, havia no Brasil cerca de 115 engenhos, que produziam mais de 200 mil arrobas de açúcar por ano, aproximadamente 3000 toneladas. Plantações de cana foram introduzidas em várias regiões do litoral brasileiro passando o açúcar a ser produzido Arquivo á controvérsias quanto à origem da cana-de-açúcar, uns dizem que surgiu na Índia, outros em Nova Guiné. Sua chegada ao Brasil também provoca dúvidas, historiadores informam que foi introduzida por Martim Afonso de Souza, que em 1533, fundou na Capitania de São Vicente, próximo à cidade de Santos, Estado de São Paulo, o primeiro engenho para produzir açúcar, com o nome de São Jorge dos Erasmos. No entanto, há quem afirme que antes disso, os portugueses já produziam cana no Brasil. Segundo o pesquisador Geraldo Eugênio de França, diretor-executivo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), há registros na alfândega portuguesa que o primeiro carregamento de açúcar proveniente do Brasil aconteceu em 1516. Se há divergências em relação a sua origem e o início da atividade em nosso País, não há dúvidas sobre o quanto essa gramínea se deu bem nas terras brasileiras. A cultura da cana A cidade de Olinda em Pernambuco nasceu com a cana-de-açúcar nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Bahia, Espírito Santo, Sergipe e Alagoas. De todas essas regiões, a que mais se desenvolveu foi a de Pernambuco, chegando a ter em fins do século XVI cerca de 66 engenhos. As melhores condições de clima e solo do Nordeste brasileiro, a maior proximidade com o continente europeu e a tecnologia de ponta introduzida pelos holadeses favoreceram o desenvolvimento do açúcar naquela região. Durante centenas de anos, o açúcar foi considerado uma especiaria extremamente rara e valiosa. Apenas nos palácios reais e nas casas nobres era possível consumir açúcar. Vendido nos boticários (as farmácias de então), o açúcar atingia preços altíssimos, sendo apenas acessível aos mais poderosos. Mas, no século XVII com o açúcar produzido nas Américas, sob a liderança do Brasil, o consumo do açúcar foi democratizado, a maior oferta derrubou os preços e popularizou o produto. Faz parte da cultura brasileira – a cana-de-açúcar não se constituiu apenas na primeira atividade econôPanorama Rural Novembro 2009 27 Arquivo Copersucar O Brasil ajudou a democratizar o consumo de açúcar la. Talvez essa ruptura entre a cana e outros produtos agrícolas aconteça porque a cana não tem raízes apenas na roça, mas também na indústria, é uma das poucas matérias-primas brasileiras que conseguiu agregar valor ao seu processo, diversificando produtos, reduzindo custos e tornando o negócio mais competitivo. Do seu processo de industrialização obtém- se como produtos o açúcar nas suas mais variadas formas e tipos, o álcool (anidro e hidratado e especiais), o vinhoto (utilizado na fertiirrigação da lavoura) e o bagaço (combustível para produção de vapor no acionamento de turbinas no processo e geração de eletricidade), além de levedura, plástico biodegradável, diamante de cana, produtos para a área farmacêutica, No Brasil, a cana-de-açúcar ocupa uma área de 8 milhões de hectares, menos de 2% da área agricultável do País Luciana Paiva mica do Brasil. Essa gramínea espigada se entrelaçou à cultura do País, era íntima da senzala e também da casa grande. Durante muitos anos, o Brasil e a cana-de-açúcar tinham quase a mesma identidade e já davam mostras do grande potencial de nosso País para o agronegócio. Polêmicas sempre cercaram essa cultura, a cana foi taxada de escravocrata, e até hoje, há quem a responsabilize pelo período de escravidão no Brasil. Esquecem que esse lamentável vício humano, de escravizar os seres mais frágeis, já existia antes das lavouras canavieiras. E se, por aqui, outro produto tivesse sido cultivado no lugar da cana, a escravidão também ocorreria, foi assim com o algodão nos Estados Unidos. Acabou a escravidão mas as polêmicas envolvendo a cana não tiveram fim. Uma hora é porque se trata de uma monocultura, outra é porque seus produtores mantiveram a postura de senhores de engenho, e assim vai. Até mesmo no meio rural, produtores de outras atividades torcem o nariz para a cana, não a consideram uma atividade nobre, acham que é um capim e que qualquer um consegue produzi- 28 Panorama Rural Novembro 2009 gerando melhorias do campo à indústria, além de melhoramento genético e tecnologias de ponta, o CTC é um grande formador de profissionais. Mas foi após 1975, quando foi lançado o Proálcool, programa governamental para incentivar o etanol, que o País começou a trilhar o caminho da liderança tecnológica no setor de biocombustível. Hoje, a Nação de- tecnologias que estão em desenvolvimento, pode se chegar a 14 mil litros de etanol por hectare. Outra boa notícia é que 100% dos equipamentos das usinas foram desenvolvidos e produzidos no Brasil. Cidades como Piracicaba e Sertãozinho, no interior paulista, pode-se adquirir uma usina inteira. “O Brasil responde por um terço da produção mundial de cana-deaçúcar, 20% da produção e 40% das exportações mundiais de açúcar, 30% da produção e 60% das exportações mundiais de etanol. O etanol já representa mais da metade do consumo nacional de combustíveis para automóveis leves e a biomassa da cana responde por 3% da produção de eletricidade, com potencial de chegar a 15% da matriz elétrica brasileira até 2015. Desde o ano passado, a indústria da cana-de-açúcar já é a segunda principal fonte de energia do País, atrás do petróleo e acima da hidroeletricidade. O setor sucroenergético brasileiro possui mais de 400 indústrias processadoras, acima de 1 mil indústrias de suporte, 70 mil fornecedores de cana e gera quase 1 milhão de empregos diretos em 20 estados brasileiros”, informa Marcos Jank, presidente da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica). Arquivo CTC química e muitas coisas mais. O Brasil é o maior produtor mundial de cana, de etanol e açúcar de cana, além de ser o mais competitivo. Com o etanol de cana, desenvolve o maior e melhor programa de combustível renovável do mundo. Mesmo assim, vez ou outra, encontramos veículos de comunicação salientando que a atividade canavieira brasileira não evoluiu nesses 500 anos. Para saber se essa alegação tem cabimento, a Panorama Rural mergulhou no universo sucroenergético para apurar se a cana, seu cultivo, produção, industrialização e a postura de seus produtores pararam no tempo. Índices de produtividades – o setor admite que mesmo estando no País há 500 anos o potencial da canade-açúcar passou a ser melhor trabalhado nos últimos 50 anos, por meio dos investimentos em pesquisas e desenvolvimento. A criação, em 1969, do Centro Tecnológico da Copersucar, atual Centro Tecnológico Canavieiro (CTC), localizado em Piracicaba, SP, maior empresa privada de pesquisas na área canavieira, foi uma grande alavanca para a evolução do setor, tém as melhores técnicas para o plantio e colheita da cana-de-açúcar. Com o uso de novas variedades da planta, a média nacional de produtividade por hectare passou de 47 toneladas em 1975 para 85 toneladas atuais. Avanços tecnológicos na usina permitem extrair 80 litros de etanol de cada tonelada de cana limpa (sem palha), quando em 1975 eram produzidos 45 litros por tonelada. Esse expressivo ganho de produtividade nas etapas agrícola e industrial fez com que hoje se produza mais de 7,5 mil litros de etanol por hectare de cana colhida, contra três mil em 1975. Com novas César Diniz Vista aérea do CTC em Piracicaba, SP Jank : “O Brasil responde por um terço da produção mundial de cana-de-açúcar” Panorama Rural Novembro 2009 29 Arquivo Colheita de cana crua: menor custo que a manual Edi Biazi tórios. Por outro lado, havia ainda, abudante procura por parte da mãode-obra, pelo trabalho nos canaviais Pesquisas de melhoramento genético de variedades de cana ajudam no processo de mecanização da lavoura e o corte manual era mais economicamente viável que o mecânico. Foi a partir da década de 1990 Luciana Paiva A mecanização chegou tarde – diferentemente de outras culturas como a soja e algodão, a mecanização demorou para chegar nos canaviais brasileiros, na Austrália, por exemplo o corte é 100% mecanizado, já no Brasil, segundo dados da Unica, na safra 2008/09 na região Centro-Sul o corte mecanizado com cana crua foi de 41% e no Estado de São Paulo 50%. Segundo especialistas na área, por muito tempo houve certa tolerância quanto à necessidade de se apressar o processo de mecanização da cana-de-açúcar. Talvez essa morosidade deva-se ao fato de as dificuldades surgidas no início do processo, pois eram tecnologias de difícil aplicação e que não apresentavam resultados satisfa- A máquina abre o sulco, planta as mudas, aplica o fertilizante, o inseticida, se necessário, e faz a cobertura do sulco em uma única operação 30 Panorama Rural Novembro 2009 que o setor ficou mais propenso a mecanização, as críticas da sociedade em relação à queima de cana e a visão agronômica da importância da palha na lavoura passaram a ganhar maior força. Neste momento, uma empresa brasileira, a Santal, de Ribeirão Preto, SP, inovou de vez, lançando a colhedora Amazon para o corte de cana crua, o modelo ganhou o mercado. Com o aumento da necessidade do corte mecanizado, os profissionais da área agronômica resolveram que estava na hora de trabalhar para o aperfeiçoamento do processo. Enquanto os institutos de pesquisa intensificavam o melhoremento genético desenvolvendo variedades aptas ao corte com máquina, os integrantes dos Grupo de Motomecanização do Setor Sucralcooleiro (Gmec) cobrava das empresas fornecedoras o aprimoramento do corte, redução das perdas, inclusive, as invisíveis, pneus que não compactam o solo, e até mesmo exigiam que as empresas que tinham fábricas em países fora do Brasil, viessem para cá, e desenvolvessem máquinas atendendo as características da lavoura brasileira. “Foi um período de muitas lutas, mas válidas, pois o corte mecânico passou a ter qualidade, menor custo que o manual, hoje está consolidado, e não é possível desenvolver a lavoura canavieira sem envolve as análises de variedades, relevo, manejo, assistência técnica e treinamento”, diz. Para Gustavo, a mecanização mudou a realidade Arquivo ETH o auxílio da mecanização”, salienta Humberto César Carrara, gerente agrícola da Usina São João, de Araras, SP. Na São João, 85% do corte é Cana plantada com máquina na Usina Eldorado, MS do setor tanto na parte agronômica como econômica. “Falava-se muito que o uso da máquina iria reduzir a produtividade dos canaviais, aqui na Guaíra temos áreas que há 10 anos realizamos cortes, e a produtividade é de 120 toneladas por hectare.” Na Arquivo Santal mecanizado e 20% do plantio. Na Usina Açucareira Guaíra, em Guaíra, SP, 96% de sua produção é cortada com máquina. “E tudo cana crua”, ressalta Gustavo Villa Gomes, diretor-agrícola. “Para nós é inadmissível cortar cana queimada com máquina, temos razões agronômicas e ambientais que defendem nossa posição”, diz. Todo esse cuidado tem conquistado vários prêmios agroambientais à empresa, além da tranquilidade de estar dentro da Lei. Mudança agronômica e econômica – Humberto observa que, foi nos últimos cinco anos que a mecanização do corte realmente se firmou, deixou de ser vista como custo e passou a ser tratada como ferramenta para eficiência do sistema, além de ser a única alternativa para a expansão da produção. Assim, a tecnificação passou a ser parte do dia a dia do setor. “Até surgiu o termo ‘colheitabilidade’, que Guaíra são 33 mil hectares de área de cana, 60% do plantio são direto na palhada da soja, mas em 2009, a expectativa da empresa é chegar aos 100%. A prática do plantio de cana com máquina é bem mais recente que a do corte, começou a se intensificar nos últimos três anos, incentivado principalmente pela grande expansão do setor e a escassez de mão-de-obra. Apesar de não existir um levantamento preciso e confiável, estima-se que em média apenas 15% dos canaviais brasileiros sejam plantados com máquina, e que nos próximos três ou quatro anos se ampliará para 80%, isso dependerá, e muito, da saúde financeira das empresas sucroenergéticas. Nas novas fronteiras canavieiras, a topografia plana e a escassez de mão-de-obra estimulam ainda mais a mecanização, um exemplo de corte e plantio 100% mecanizado é a Eldorado, de Rio Brilhante, MS, unidade adquirida pela ETH Bionergia, ramo bioenergético da Odebrecht. Geração de alimentos – a es- Colheita de amendoim em área de renovação de cana Panorama Rural Novembro 2009 31 Plantio de cana em meiose com a soja na usina Volta Grande, unidade do Grupo Caeté, MG Produtores de feijão em área de rotação de cultura nas usinas de Alagoas 32 Panorama Rural Novembro 2009 gião colheu, na safra 2009, mais de 5 milhões de sacas (25 kg). Cooperativas de produtores de cana, como a Coplana, com sede em Guariba, e a Copercana, de Sertãozinho, incentivam a produção nas áreas de renovação de canaviais. A prática é muito interessante, tanto no aspecto agronômico, pois ajuda na reciclagem de nutrientes do solo e na fixação do nitrogênio, como no aspecto socioeconômico, ao permitir que um pequeno produtor de cana se torne, ao mesmo tempo, um médio ou grande produtor de amendoim. Desde a década de 80, os produtores da região de Ribeirão Preto optaram pelo amendoim como cultura de su- cessão. Na maioria dos anos, o lucro com amendoim cobre os custos de implantação do canavial. A preferência pelo amendoim como rotação de cultura se dá em municípios como Sertãozinho, Jaboticabal, Guariba, Dumont e Pradópolis, enquanto que de Ribeirão rumo a Minas Gerais, passando por Orlândia, São Joaquim da Barra e Batatais a opção é pela soja. A experiência de rotação com cereais está sendo replicada nas novas fronteiras da cana, aumentando a geração de alimentos nas áreas degradadas. No Nordeste, a rotação é principalmente por meio do plantio de feijão e milho. Em Alagoas, existe o projeto Barriga Cheia, Arquivo Caeté calada de preço do petróleo a partir de 2006, a adesão dos Estados Unidos ao etanol como alternativa aos combustíveis fósseis, o aumento da consciência ambiental sobre a necessidade de redução de gases tóxicos e a entrada do carro flex impulsionaram fortemente a expansão canavieira no Brasil, tanto que, de acordo com Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro, 1/4 das atuais 423 unidades foram instaladas nos últimos quatro anos. A área plantada com cana no Brasil alcançou os oito milhões de hectares e aumentaram as críticas de que a cana está roubando áreas de outros alimentos. O setor se defende ao afirmar que a cana ocupa menos de 2% da área agricultável do País e tem crescido em regiões degradadas, além disso também produz outros alimentos, por meio da rotação de cultura com grãos. O cultivo do amendoim nas áreas de renovação é um bom exemplo. A região de Ribeirão Preto, responsável por 40% da produção nacional de amendoim, é a maior produtora do Estado de São Paulo, que responde por 75% da produção nacional, a re- Luciana Paiva Niels Andreas no qual as usinas cedem as áreas de renovação para os pequenos agricultores cultivarem feijão. Já em Barrinha, no interior paulista, o IAC iniciou em agosto de 2008, um experimento que visa a produção de cereais, mais especifica- Agronegócios), os resultados preliminares são bastante aceitáveis. O feijão é plantado na entrelinha da cana e tem um ciclo de 90 dias. O projeto objetiva analisar o desempenho das lavouras e fornecer dados para os canavicultores que desejem iniciar a produção em consórcio em suas propriedades. Ainda sobre o tema cana como geradora de alimentos, outro fator a ser abordado é a utlização da cana como volumoso para gado, além do uso de seus subprodutos como bagaço hidrolizado, melaço e levedura para o aumento da produtividade na pecuária. Evolução industrial – nova geração de usinas sucroenergéticas têm como características layout moderno visando as futuras ampliações e facilitando a instalação de novas tecnologias. Unidades que privilegiam a As unidades sucroenergéticas investem em tecnologia para aumento de eficiência e menor consumo de vapor e água mente feijão, nas entrelinhas da cana e não apenas nas áreas de renovação. O projeto chama-se Feijão Doce, e utiliza a variedade IAC Alvorada. De acordo com o pesquisador Denizart Bolonhezi, do Pólo Regional do Centro Leste coordenado pela APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos economia, eficiência e a preservação ambiental, atendendo a nova realidade do setor estruturada na competitividade e sustentabilidade. Tornou-se comum encontrar unidades que possuem um centro de operações integradas (COI), que permite operar todos os processos de produção, que estão totalmente automatizados. Fábricas 100% eletrificadas, com caldeiras de alta pressão e tecnologia osmose de ultrafiltração para a purificação de água visando a produção de energia elétrica. Os investimentos também objetivam o funcionamento de indústrias com menor impacto ambiental, entre eles a menor captação de água e maior recuperação de água da cana. Segundo dados da Agência Nacional de Água (ANA), em 1997 eram captados cerca de 5 mil litros de água para o processamento de uma tonelada de cana; em 2004 este valor passou a ser de 1,8 mil litros de água. A expectativa é que este valor caia para mil litros por tonelada de cana. “A agroindústria canavieira, busca pela sustentabilidade de água desde a década de 80 e os instrumentos para isso incluem balanço hídrico, racionalização do uso, fechamento de circuitos, alterações com a adoção de novos processos e equipamentos, PERH (Plano Estadual de Recursos Hídricos) e cobrança pelo uso da água”, enumera o engenheiro químico Homero Tadeu de Carvalho Leite, especialista em projetos ambientais nas indústrias. Ainda nesta linha de utilização de água, em 2008, a Dedini Indústrias de Base apresentou para o mercado uma usina autossuficiente em água, que não capta água externa e ainda produz água. Como 70% da cana é água, o processo “otimiza” o uso da água que está presente na cana. Essa usina não desperdiça nada, ou seja, ela tem o mínimo gasto porque perde o mínimo em evaporação. A água doce produzida por uma usina pode ter uso doméstico e industrial (não potável) ou para irrigação. Nesse processo pode-se produzir cerca de 300 litros de água por tonelada de cana, ou seja, em uma usina com capacidaPanorama Rural Novembro 2009 33 existente; extremamente empregadora; os produtos açúcar e etanol ficarão mais competitivos; a localização dessa cana está junto aos grandes centros de consumo, diminuindo perdas; não precisaremos de nenhuma área de terra nova; há uma perfeita sinergia com o sistema hidroelétrico, considerando a defasagem da safra e do período das chuvas; a engenharia e Arquivo Usina Boa Vista Edi Biazi Otávio Koblitz, diretor-presidente da Areva Koblitz. “Somente com o bagaço de cana, hoje ainda utilizado de forma perdulária visando apenas atender as necessidades energéticas das usinas de açúcar e álcool, e as pontas e palhas, na sua grande maioria descartada no campo - considerando os 650 milhões de toneladas existentes de cana-de- “Somos campeões, mas podemos melhorar”, afirma Luiz Otávio Koblitz de para processar 12 mil toneladas de cana/dia, terá a produção diária de 3,6 milhões de litros de água. A cana e a bioeletricidade – o Brasil é o país que utiliza o maior percentual de energia renovável do mundo. Considerando apenas a energia elétrica, são mais de 80%, e, se considerarmos a energia como um todo - combustível para os carros, para fazer vapor para as indústrias e inclusive a própria energia elétrica são 46%, contra uma média mundial de 14%, onde apenas 7% são dos países desenvolvidos. “Somos campeões, mas podemos melhorar”, afirma Luiz Usina Boa Vista em Goiás: a luz que vem da cana ilumina a usina, toca as máquinas e ilumina as cidades açúcar - poderíamos produzir 15.000 MW médios, 50% mais do que Itaipu. Ou ainda, quase 30% da energia gerada hoje em nosso País”, diz Koblitz. Segundo ele, as vantagens são muitas: agrega valor a uma atividade os equipamentos são todos nacionais. “Além disso, produziremos um quarto produto, Créditos de Carbono; ciclo curto de implantação de apenas dois anos, ajuda no planejamento do crescimento do setor elétrico; tudo isso Rodrigo Petterson Área de preservação na Usinas Itamarati, MT 34 Panorama Rural Novembro 2009 sem emitir CO2 ”., ressalta. O etanol e o meio ambiente – dados da Agência Internacional de Energia indicam que o etanol de cana é capaz de reduzir em até 90% a emissão de gases de efeito estufa quando comparado à gasolina. Cálculos do Ministério das Minas e Energia apontam que a utilização de etanol nos últimos 30 anos no Brasil evitou a emissão de 850 milhões de toneladas de CO2. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), 88% dos veículos leves vendidos no Brasil hoje têm motor flex fuel. A perspectiva é que, em 2014, 65% da frota brasileira será flex. Atualmente, dez montadoras multinacionais produzem quase 100 modelos diferentes de carros flex no Brasil, o que faz do País detentor da maior frota deste tipo de veículo no mundo. O etanol brasileiro é de alta qualidade, aumenta a potência do veículo em mais de 10% e não oferece riscos ao motor. A meta do setor é expandir para o mundo a experiência brasileira na utilização do etanol. “A matriz energética global está em transformação. Líderes e cientistas das principais nações reconhecem o impacto das emis- César Diniz “A matriz energética global está em transformação”, diz Grubisich passos firmes e responde aos desafios de energia limpa e sustentável no plano global. A cana e a sustentabilidade – mais do que avanços tecnológicos a agroindústria canavieira apresenta grande evolução em relação aos conceitos. A mais antiga atividade econômica do Brasil passou a ser exemplo de sustentabilidade. Em 2008, a Unica, principal entidade do setor, que Luciana Paiva Arquivo Unica Etanol de cana é capaz de reduzir em até 90% a emissão de gases de efeito estufa quando comparado à gasolina sões de CO2 e os efeitos das mudanças climáticas causadas pelo homem. A civilização do petróleo cede espaço a fontes renováveis de energia. Ao mesmo tempo os incômodos do aquecimento global se tornam palpáveis e potências como Índia, China, Estados Unidos e União Europeia se mobilizam para inserir em suas matrizes energéticas novas fontes de energia limpa”, observa José Carlos Grubisich, presidente da ETH Bioenergia. Nesse contexto, segundo Grubisich, a experiência brasileira na produção de etanol a partir de cana-deaçúcar é uma resposta eficaz para o mundo. Entre 2006 e 2008, a produção brasileira de etanol dobrou para 24 bilhões de litros e a tendência é manter o mesmo ritmo até 2015, superando os 50 bilhões de litros ao final desse período. O executivo salienta que a transformação do mercado de etanol no Brasil ocorreu a partir da entrada dos carros flex e ao aumento da renda e da maior oferta de linha de crédito disponíveis para esse setor. A cadeia produtiva do setor consolidou-se e é hoje um dos setores de mais destaques na economia. Uma iniciativa ambiciosa que avança com Maria Luiza : crescimento econômico, social e ambiental congrega 127 associadas e responde por cerca de 60% da cana moída, do etanol e do açúcar produzidos no País, tornou-se a primeira associação no Brasil a publicar um relatório de sustentabilidade. “Isso mostra a evolução do setor e o comprometimento de todos com a sustentabilidade. Essas ações encorajam a reflexão sobre a atividade produtiva e demonstram à sociedade o forte compromisso com um modelo de desenvolvimento que alia crescimento econômico, social e ambiental”, diz Maria Luiza Barbosa, coordenadora do Núcleo de Responsabilidade Socioambiental e Sustentabilidade da Unica. As associadas da Unica desenvolvem mais de 600 projetos socioambientais, que demandaram Panorama Rural Novembro 2009 35 Luciana Paiva Alunos do Projeto Criança Doce Energia, desenvolvido pela Usina Cerradinho, Catanduva, SP 36 Panorama Rural Novembro 2009 e público interno. Também adotou os métodos do GRI (Global Reporting Initiative), metodologia universal de apresentação dos relatórios sócioambientais das empresas, que traz ações de sustentabilidade sem prejudicar a transparência das informações. Entidades representantivas do setor em outros Estados também desenvolvem programas de sustentalidade. Projetos sociais e ambientais passaram a fazer parte da gestão das unidades sucroenergéticas de todo o Brasil, assim como a adesão a pactos contra o trabalho escravo e explora- Luciana Paiva investimentos de R$ 160 milhões, beneficiando aproximadamente 400 mil pessoas. “Mas não são ações a esmo, e sim resultados de pesquisas sobre as carências da comunidade nas áreas da saúde, educação, meio ambiente, cultura, esporte, qualidade de vida e capacitação profissional”, diz Maria Luiza. Segundo ela, desde 2002, as associadas elaboram informações sobre os projetos, benefícios e ações dirigidas aos empregados, investidores, acionistas e comunidade. Esse balanço de informações passou a ser uma moderna ferramenta de gestão para o direcionamento das tomadas de decisões. Para a produção de relatórios de sustentabilidade, a Unica firmou parceria com o Ibase na elaboração do Balanço Social Empresarial. E, em 2006, iniciou um trabalho com o Instituto Ethos para implantar os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial, mapeando por meio de questionários de autoavaliação o estado de cada empresa sucroalcooleira em relação a transparência e governança; governo e sociedade; meio ambiente; consumidores e clientes; fornecedores; comunidade ção de mão de obra. Protocolo agroambiental – na opinião de Marcos Jank, presidente da Unica, a criação, em 2007, do Protocolo Agroambiental do Estado de São Paulo, que estabelece uma série de medidas ambientais na indústria da cana, entre elas, a eliminação da queima da palha até 2014 em áreas mecanizáveis, e até 2017 em áreas hoje consideradas não-mecanizáveis, é um grande avanço para o setor. O Protocolo Agroambiental já obteve 80% de adesão voluntária das usinas produtoras de açúcar, etanol e bioeletricidade do Estado. E o setor não investe apenas na mecanização da cana crua, dados divulgados pela Secretaria do Meio Ambiente e da Agricultura e Agropecuária de São Paulo confirmaram que a indústria da cana-de-açúcar está mantendo e até ampliando sua posição como principal contribuidora para a preservação de matas ciliares do Estado. No total, 260 mil hectares em Áreas de Preservação Permanente (APP) já estão comprometidos pelo setor. O índice, que equivale a mais de 43 mil quilômetros de rios, riachos e córregos protegidos, faz parte das metas estabelecidas no Protocolo Agro- Coral da Usina Virálcool, Pitangueiras, SP Henrique Santos Viveiro de mudas na Usina Santa Cruz, SP e coloca a adoção das melhores práticas trabalhistas em primeiro plano no setor sucroenergético”, disse Marcos Jank durante o evento. Para as usi- Arquivo Case IH ambiental do Setor Sucroenergético, firmado com o governo do Estado. Ações envolvendo preservação ambiental promovidas pelo segmento canavieiro têm sido cada vez mais comuns, e as maiores em comparação com outros setores da economia brasileira. Dados da Unica mostram que na safra 2008/09, as empresas do setor investiram R$ 2,8 milhões no plantio de 1 milhão e 600 mil mudas de árvores, a maioria de viveiros próprios. Também foram doadas outras 120 mil mudas a diversas prefeituras. Para os próximos anos serão aplicados mais R$ 5,6 milhões na manutenção de áreas reflorestadas em 2008 e 2009. Boas práticas trabalhistas e qualificação profissional – em 25 de junho deste ano, a agroindústria canavieira apresentou mais um avanço em direção a modernidade, lançou em Brasília, com a participação do presidente Lula, o Compromisso Nacional para Aperfeiçoar as Condições de Trabalho na Cana-de-Açúcar, que logo em sua largada contou com mais de 75% de adesão do setor sucroenergético. “É um passo decisivo e histórico que trata do presente e do futuro Como ferramenta para auxiliar o cumprimento do Compromisso, o setor lançou, também em 25 de junho, o Programa de Requalificação de Trabalhadores em Operações Manuais da Cana-de-açúcar (RenovAção), considerado o maior programa de requalificação de trabalhadores do setor sucroenergético do mundo. O Programa é uma iniciativa da Unica, da Feraesp, com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e patrocínio de várias empresas fornecedoras de produtos e serviços do setor. Tem como objetivo treinar e requalificar anualmente sete mil trabalhadores e integrantes das comunidades canavieiras no Estado de São Paulo. A imagem do setor – a maioria dessas informações é de conhecimento dos integrantes do universo sucroenergético, mas é fundamental que Formação de operadores de colhedoras de cana na fábrica da Case IH em Piracicaba nas, assinar o termo de adesão significa cumprir um conjunto de cerca de 30 práticas empresariais exemplares, que em seu conjunto extrapolam as obrigações estabelecidas na lei. Cada usina participante receberá ainda um certificado de conformidade. essa comunicação ultrapasse as porteiras das usinas para que a sociedade possa ter acesso à imagem que reflete a realidade de uma atividade que vem crescendo e se modernizando em ritmo acelerado. Para isso, a Unica criou o Projeto Agora – Agroenergia Panorama Rural Novembro 2009 37 Luciana Paiva e Meio Ambiente –, com o objetivo de aglutinar toda a extensa cadeia produtiva em torno da cana-de-açúcar em um grande esforço conjunto de comunicação e marketing. O Projeto conta com a participação da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), empresas parceiras do setor, além dos sindicatos estaduais dos produtores de açúcar e etanol de Goiás, Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Entre as ações do Projeto Agora Artesanato de ouricuri produzido pelas associadas da Cooperativa de Artesãs de Coruripe, Alagoas. Projeto desenvolvido pela Usina Coruripe está a iniciativa educacional “Desafio Mudanças Climáticas”, que pretende informar professores e estudantes sobre as causas do aquecimento global, além de fomentar a busca por formas de combater os efeitos do aquecimento global. Entre as alternativas para enfrentar os desafios das mudanças climáticas estão as energias renováveis. A ação envolve 3.500 escolas públicas da Bahia, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pa- Projeto educacional desenvolvido pela Usina São José, em Pernambuco 38 Panorama Rural Novembro 2009 raná, Rio de Janeiro, São Paulo e do Distrito Federal. Mais de 40 mil alunos, além de ficarem por dentro sobre o tema mudanças climáticas, saberão que o etanol, a cana-deaçúcar e o Brasil podem ajudar a reduzir a emissão de gases que provocam o efeito estufa, resultando em melhoria para todo o planeta. Ainda há duvidas sobre evolução da cultura canavieira? PR Luciana Paiva Luciana Paiva Criadouro conservacionista de animais silvestres em extinção na Usina Uruba, na Fazenda Santa Tereza, Grupo João Lyra, no município de Atalaia, AL Panorama Rural Novembro 2009 39 Em busca da adaptação Em decorrência do excesso de chuva, doenças atacam o trigo no Paraná Adair Sobczak As mudanças climáticas provocam alterações na agricultura e o produtor rural precisa rever conceitos para se adequar ao que vem por aí 40 Panorama Rural Novembro 2009 N ão bastasse a volatilidade do mercado mundial das commodities, os altos custos de produção e a falta de políticas de garantias, os agropecuaristas serão cada vez mais obrigados a conviverem com um fantasma que independe de fatores micro e macroeconômicos e que tem desafiado o mundo científico: as mudanças climáticas. Em grande parte, resultado da ação desordenada do ser humano, a quem cabe criar alternati- vas que minimizem os efeitos causados por um fenômeno de sua própria criação. A ciência vem estudando o redesenho da produção agrícola, visando a adaptação dos fatores de produção aos novos ambientes e nesta batalha será imprescindível a participação do homem do campo, através da mudança de concepção, voltada a um sistema produtivo ambientalmente correto e, principalmente, o apoio de políticas públicas de garantias à produção para que a agricultura sustentável não seja apenas mais uma filosofia dogmática e insetos e outras pragas que, até então, mesmo presente, estavam em níveis controláveis”, explica Cunha. Segundo ele, com o aquecimento, insetos típicos do Centro-Oeste estão se deslocando para o Sul, como o percevejo que ataca a soja. “Neste contexto, institutos de pesquisa e tecnologia têm trabalha- equipamentos com base tecnológica moderna, defensivos menos agressivos ao ambiente e dar preferência para cultivares com bom potencial genético de produtividade e tolerância geral a doenças e pragas, entre outros”, comenta Cunha. Segundo o pesquisador da área Paulo Kurtz Adair Sobczak “Desde 2000, todos os índices médios de precipitação no Sul foram superados”, diz Gilberto Cunha sim, uma realidade. De acordo com o pesquisador em Agrometeorologia da Embrapa Trigo, Gilberto Cunha, o Brasil tem vivenciado duas situações: o aumento da temperatura e uma maior quantidade de chuvas nos Estados do Centro-Sul, paralelamente há perspectiva de redução do volume nos Estados do Norte e Nordeste. “Desde 2000, todos os índices médios de precipitação no Sul foram superados e isto causa preocupação, pois o ambiente úmido e quente pode elevar a incidência de doenças, de do no sentido de criar cultivares, via programas de melhoramento genético, que se adaptem a este novo ambiente e sejam também, tolerantes ao calor e a falta de água ”, aponta, revelando que, os defensivos agrícolas e a tecnologia de aplicação também estão sendo aprimorados para que estas mudanças ambientais não sejam tão catastróficas. Boas práticas de manejo – no entanto, não basta apenas o auxílio tecnológico se o produtor não adotar boas práticas de manejo do solo, como o sistema plantio direto na palha, a rotação de cultura, o revolvimento mínimo do solo – apenas na linha de semeadura – e a manutenção permanente da cobertura da terra. “Isto é fundamental para melhorar a fertilidade dos solos e evitar a erosão. A preocupação técnica é fazer um manejo adequado do solo, de acordo com as características de cada região e atividade agrícola em exploração, adotando, também, de Mudanças Climáticas Globais da Embrapa Informática Agropecuária, Giampaolo Queiroz Pellegrino, além do aumento da temperatura, se observa também, a tendência de aumento da frequência dos eventos extremos, como ondas de calor, chuvas fortes e tornados. “As chuvas poderão se concentrar em um menor período de tempo, prolongando as estações secas”, explica. Para ele, a elevação da temperatura, associada ao aumento do período seco, ocasionará uma crescente deficiência hídrica do solo. Assim, é importante usar culturas e cultivares adequadas às novas faixas de temperatura de cada região. “Temos que utilizar cultivares de ciclos mais precoces, pois elas terão menos tempo para crescer”, comenta o pesquisador. Nova geografia – um estudo apontando a nova geografia da produção agrícola no Brasil, resultante da simulação de cenários agrícolas futuPanorama Rural Novembro 2009 41 ros analisando nove culturas, revela que a maioria terá uma redução na área potencial de baixo risco até 2070, principalmente a soja. “Neste documento trabalhamos com dois cenários: otimista e pessimista. Para soja, a projeção otimista indica uma redução da área potencial de 34,86% e no pessimista de 41,39%. Para a mandioca, o Brasil teria um aumento na área de 16,64%, podendo chegar a 21,26%, o estudo aponta para uma redução da área potencial, o mesmo não ocorrerá com a cana-de-açúcar, que terá um aumento de até 143,4%. Discutir as mudanças climáticas, os recursos hídricos e uma agricultura sustentável foi o objetivo do XVI Congresso Brasileiro de Agrometeorologia, CBA, realizado em setembro passado em Belo Horizonte, MG. Organizado pela Sociedade Brasileira de paciais, Inpe, Maurício Alves Moreira, apontou o crescimento exponencial da população mundial nas últimas décadas, comparado ao crescimento linear da produção de alimentos no período. “No Brasil, por exemplo, há um consumo médio diário de 90 mil toneladas de alimentos, algo próximo de 33 milhões de toneladas por ano. E como chegar a uma produção deste porte? Só mesmo através de uma agricultura Marina Torres - Embrapa Milho e Sorgo Especialistas debatem alternativas no Congresso Brasileiro de Agrometereologia Clenio Araujo - Embrapa Milho e Sorgo porém no Nordeste, haveria uma redução da área, o que traria problemas, inclusive para a segurança alimentar da população local”, ressalta Pellegrino. Se para a maioria das culturas 42 Agrometeorologia, Universidade Federal de Viçosa, UFV, e Embrapa Milho e Sorgo. Durante o evento, o especialista do Instituto Nacional de Pesquisas Es- moderna e sustentável”, aponta. Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Denise Fontana, comentou sobre o Laboratório de Estudos em Agricultura e Agrometeorologia, LEAA, que trabalha com o mapeamento de áreas e modelagem agrometeorológica do rendimento de culturas agrícolas e pastagens. “Com a geração das chamadas “más- Eduardo Assad: “A agricultura é a única atividade que pode, em um curto espaço de tempo, virar o jogo” Panorama Rural Novembro 2009 caras de cultivo”, é possível quantificar as áreas de lavoura, localizando-as e estudando-as”, explica Denise. A nova geografia que está se formando no País foi abordada pelo pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária, Eduardo Assad, que apresentou dados sobre diferentes culturas agrícolas e alertou para a necessidade de estudá-los melhor, já que se referem ao que pode acontecer em pouco tempo. Entre as soluções que amenizariam os danos causados na agricultura, Assad citou o plantio direto – desde que bem feito – e a integração lavoura-pecuária. Frente às acusações de que a agricultura é a vilã da história, ele foi veemente. “Muito pelo contrário, é a única atividade que pode, em um curto espaço de tempo, virar o jogo”, afirmou. Manejo de irrigação – presidente do XVI CBA e pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Reinaldo Lúcio Gomide apontou que a possibilidade de mudanças climáticas tem chamado a atenção de autoridades. “O conhecimento sobre possíveis cenários futuros pode ajudar a prever riscos e pensar em políticas públicas adequadas”, diz ele. Já o professor da UFV, Everaldo Adair Sobczak Gerson Schiochet mostra trigo que sofreu com o excesso de chuvas: perda da lavoura Mantovani, defendeu a importância da gestão e do manejo da irrigação. “O manejo decide quando e quanto irrigar. A gestão envolve o manejo e vai além, considerando o solo, planta, clima, água, equipamentos, energia e estratégias de condução da lavoura”, explica. Para o gerente de negócios da área de irrigação do Grupo Fockink para a região Sul, Bruno Rauber, a irrigação é a melhora alternativa para fugir da estiagem, já que possibilita que o produtor programe o plantio para a melhor época de acordo com cada região. “Assim, o agricultor não depende das chuvas para plantar, o que possibilita que ele faça mais safras por ano com elevado ganho em produtividade”, explica. Segundo Rauber, dependendo apenas das chuvas, o produtor acaba atrasando o plantio e a colheita, perdendo em produtividade. “Em anos normais, o produtor pode até dobrar Panorama Rural Novembro 2009 43 Adair Sobczak Adair Sobczak a produtividade nas lavouras de milho irrigadas e na soja, o aumento fica acima de 50%. Salvo as intempéries, o lucro é garantido, pois o produtor investe em adubação, sementes e manejo cultural, já que água, ele sabe que não faltará”, afirma. De acordo com Rauber, linhas de financiamento, como o Finame PSI, a juros de 4,5% ao ano sem limite de valor e três anos de carência têm aquecido as vendas de equipamentos. “Em média, o agricultor paga o investimento nos três primeiros anos, mas há casos de produtores paulistas de feijão que quitaram tudo já no primeiro ano de produção”, revela, alertando que, quem desejar investir na irrigação, primeiro deve buscar a liberação ambiental para depois encaminhar os projetos. Na opinião de Gilberto Cunha, a irrigação, em algumas regiões do Brasil – semi-árido do Nordeste ou na estação seca do Cerrado – é imprescindível para a exploração agrícola. No Sul do Brasil, sem estação seca definida, a técnica pode, em algumas situações, ser usada para suplementação das chuvas, Até meados de outubro, as lavouras da região – em fase de floração e formação do grão – apresentavam perdas médias de 40% particularmente em culturas de valor econômico agregado como, por exemplo, na produção de sementes, flores e de hortaliças, que abastecem os centros urbanos. “Porém, deve-se ter cuidado com o manejo da água na irrigação, especialmente nas regiões áridas, com vistas a evitar problemas de salinização dos solos. Todavia, para o Sul do País, a solução não está apenas na irrigação. O principal aspecto é a absorção e a conservação da água das chuvas no solo através da melhoria da sua estrutura física e química, elevando a capacidade de armazenamento e permitindo o aprofundamento do sistema radicular dos cultivos”, orienta Cunha. Excesso de chuvas – se na safra 2008/09 os Estados do Sul sofreram em função da estiagem, desta vez é o excesso de chuvas, causado pelo El Niño, quem tem tirado o sono dos produtores. No Paraná, maior produtor brasileiro de trigo, as chuvas têm prejudicado o desenvolvimento da cultura e impedido a colheita, causando prejuízos que podem chegar a 100%. No município de Vitorino, PR, os resultados positivos das últimas safras, com produtividades de até 80 sacas por “Para próxima safra de trigo, vou reduzir a área em 50%”, diz Schiochet 44 Panorama Rural Novembro 2009 hectare em função de novas cultivares, estimularam os produtores a dobrarem as áreas. “Porém, o período chuvoso tem provocado o avanço de doenças, como a giberela, a brusone, mal-do-pé e manchas foliares, dificilmente controladas quando há muita chuva, pois os fungicidas não surtem o efeito desejado”, explica o técnico da Emater, Gerson Schiochet. Segundo ele, a principal doença é a giberela, que provoca a morte da espiga ou o estrangulamento de parte dela. “Em anos de chuvas regulares, ela é controlada com um ou dois tratamentos, mas nesta safra, já há casos de produtores que realizaram cinco aplicações de fungicidas e mesmo assim, correm o risco de perderem a lavoura”, afirma Schiochet. Até meados de outubro, as lavouras da região – em fase de floração e formação do grão – apresentavam perdas médias de 40%. “Se a precipitação continuar, os prejuízos poderão chegar a 100% em algumas áreas, embora ainda cedo para diagnosticar. Mesmo que as chuvas parem, o que for colhido não cobrirá mais os custos de produção e dificilmente atingirá a qualidade exigida pela indústria. Assim, o produtor receberá um valor bem abaixo do preço de mercado e para agravar ainda mais a situação, o preço atual do agora, perdi 40% da lavoura e se continuar chovendo, não precisarei nem passar a colhedora”, lamenta Ivair Schiochet, embora tenha feito quatro tratamentos fúngicos. “O prejuízo já chega a R$ 44,2 mil e se as chuvas continuarem, o valor poderá chegar a R$ 80 mil”, revela, acrescentando que contratou o seguro privado, mas que este, não cobre perdas desta natureza. tão não me resta alternativa”, justifica Schiochet, reivindicando que deveria haver um preço mínimo garantido e um seguro que cobrisse todas as intempéries climáticas. Na região de Cascavel, PR, a situação é mais grave ainda. As geadas de final de maio e 25 de julho que atingiram as lavouras provocaram perdas de 77% na produção e o pouAdair Sobczak grão está muito aquém do mínimo estabelecido pelo governo”, aponta o técnico da Emater. Outro problema, segundo a Emater, é que mesmo a maioria dos produtores tendo financiado a lavoura, ainda não há uma definição se o Proagro cobrirá as áreas atingidas por doenças decorrentes das chuvas. “Há o risco de o produtor não ficar assistido pelo seguro”, diz Schiochet. Já os produtores que optaram pelo seguro privado, onde o governo cobre 70% e o produtor 30% do custo da contratação, não terão direito ao prêmio. “O questão é que este seguro cobre 100% das perdas decorrentes da geada e do granizo, mas não as causadas pelas chuvas”, diz Schiochet. Perdas com a estiagem e com as chuvas – na safra 2008/09, o produtor de Vitorino, PR, Ivair Schiochet amargou perdas de 40% na área de 41 hectares de milho e 95% em 13 hectares de feijão por causa da estiagem. Na safrinha, ele apostou no feijão, plantando 54 hectares, mas a estiagem e as geadas acabaram consumindo 90% da lavoura. Na tentativa de reverter o quadro, o produtor apostou todas as fichas em 84 hectares de trigo e, novamente, mais uma decepção. “Até “Mesmo com seguro a situação não muda”, diz Daga Com tanto prejuízo, a atitude do produtor não poderia ser outra. “Para próxima safra de trigo, vou reduzir a área em 50%, pois vou colher mal e o preço do produto esta péssimo, en- co que está sendo colhido é recusado pela indústria, pois o grão não possui qualidade para a panificação. Segundo o engenheiro agrônomo e produtor em Cascavel, Modesto Félix Daga, a Panorama Rural Novembro 2009 45 José Martins Luiz Cláudio Costa, reitor da UFV: informações para minimizar os riscos climáticos e ambientais situação dos triticultores e lamentável. “Nos 520 hectares que semeei tive uma perda de 80% e o pouco que colhi, não conseguindo vender! Ninguém quer comprar, porque o grão não tem qualidade”, desabafa. Mesmo os produtores possuindo seguro, seja através de Proagro ou seguradoras privadas, Daga diz que a situação não muda, pois eles cobrem apenas as perdas qualitativas. “O trigo é um cereal cujo preço está atrelado à qualidade do grão. De nada adianta produtividade, se o grau qualitativo não for a exigida pela indústria, que acabará pagando um preço insignificante. Então estamos discutindo com as seguradoras e com o governo, para que seja assegurada também, a qualidade do produto”, revela Daga. Até meados de outubro, segundo Daga, estudos apontavam para uma significativa queda na produção estadual em função das geadas e das chuvas. “As perdas no rendimento (quantitativas) já chegam a 28%, mas há também, as perdas financeiras (qualitativas), que já ultrapassam os 40%”, ressalta. Instituto do clima – analisar as mudanças ambientais globais e seus impactos nas diversas áreas da atividade humana, principalmente a agrícola é o objetivo de um projeto da Universidade Federal de Viçosa, UFV, que prevê a criação de um Instituto voltado aos estudos do clima e agrometeorolo46 Panorama Rural Novembro 2009 gia de forma integrada com projetos nacionais e internacionais, através de parcerias com órgãos e Institutos de pesquisa do Brasil e do exterior, como o INPE, a EMBRAPA, a Organização Meteorológica Mundial, a FAO, entre outros. De acordo com o Reitor da UFV e também presidente da Sociedade Brasileira de Agrometeorologia, Luiz Cláudio Costa, o Instituto estudará aspectos ligados à adaptação do setor agrícola às mudanças climáticas, fornecendo aos agricultores, informações para minimizar os riscos climáticos e ambientais oriundos destas mudanças. “Quais as variedades, os manejos e as épocas de plantio mais adequadas serão questões abordadas pelo Instituto e que estarão disponíveis aos agricultores”, revela Costa, acrescentando que, da mesma forma, serão estudas e divulgadas técnicas para o setor agrícola em mitigar a emissão de carbono por meio de uma agricultura de baixo impacto ambiental. PR Medidas de prevenção E m Santa Catarina, a Gerência de Extensão e o Centro de Informações Ambientais da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural, Epagri, estão propondo algumas medidas para prevenir e tentar minimizar as perdas na agricultura que vêm ocorrendo no Estado em função dos fenômenos agroclimáticos. “Nossa intenção é divulgar, de maneira ampla, recomendações para plantios e outros cuidados com as culturas, especialmente para os agricultores familiares”, diz o gerente técnico de extensão da Epagri, Jose Cezar Pereira. Entre as medidas preventivas estão: • Plantar de acordo com os períodos recomendados no zoneamento agrícola para reduzir os riscos climáticos; • Utilizar as cultivares recomendadas pelo zoneamento agrícola; • Quando houver possibilidade, realizar o escalonamento do plantio ou semeadura de grãos, considerando o potencial de produção da cultura nas diferentes épocas; • Os períodos propícios à semeadura da safra de verão poderão ser mais restritos, em especial para a soja que ainda concentra áreas semeadas em novembro. • Poderá ocorrer um ambiente favorável para doenças, portanto, quando aplicar pesticidas e adubos, deve-se ter atenção redobrada para evitar perdas de produto e intoxicações; • As chuvas podem reduzir a ação dos agentes polinizadores durante o período de floração de frutíferas como a videira e a macieira. Panorama Rural Novembro 2009 47 AUTOMÓVEIS Divulgação RURAIS para todos os gostos F-250: 100% de mercado no agronegócio Linha 2010 de picapes médias e SuV´s para o público do agronegócio ganha mais opções. Mercado oferece modelos flex, reduções de preços e até descontos para o produtor rural Ariosto Mesquita A Jaqueline Stamato pós a redução da turbulência provocada pela crise financeira mundial e com o início da consolidação das primeiras picapes e utilitários (SUV) flex no Brasil, o mercado dos automóveis off road e assemelhados, mais especificamente voltado para profissionais do agronegócio (agricultores, pecuaristas, agroindustriais, executivos, etc.), está bem mais acirrado para 2010. A concorrência exigiu mudanças em vários modelos para garantir diferenciais e estimular o consumidor. Melhor para o comprador, que encontra mais alternativa, sendo algumas com preços “congelados” e até inferiores às versões anteriores. Algumas montadoras, de olho no potencial do segmento e acirrando a briga com os concorrentes, oferecem descontos para o produtor rural na compra de suas caminhonetes. Na liderança das chamadas picapes médias estão, respectivamente, a Chevrolet S-10, Toyota Hilux, Mitsubishi L200 e Ford Ranger. No entanto, há opções às picapes - algumas mais robustas e outras mais esportivas - também muito utiliza- Picapes médias mais emplacadas de janeiro a julho de 2009: Modelo unidades Participação Segmento Chevrolet S10 20.656 35,4% Toyota Hilux 16.331 28,0% Mitsubishi L200 11.415 19,5% Ford Ranger 6.290 10,8% Nissan Frontier 3.117 6,4% Total 57.508 100% Fonte: Chevrolet das no campo e com bom desempenho em estradas pavimentadas e na cidade. Além das já conhecidas picapes líderes de mercado, uma nova força deve chegar ao mercado brasileiro em 2010. A previsão é de que nos primeiros meses do próximo ano a Volkswagen lance a VW Amarok, a sua primeira picape média, já apresentada no Salão do Automóvel de São Paulo de 2008. O carro deverá ser produzido inicialmente na Argentina e sua primeira versão tende a ser a cabine dupla com tração 4x4 com motor turbo diesel. O mercado brasileiro de picapes médias vem em evolução crescente desde 2003, ano em que foram comercializadas 104.233 unidades, segundo dados da Nissan Brasil. O mesmo levantamento aponta para 126.845 caminhonetes comercializadas em 2004 e 191.158 em 2007. No entanto, dificilmente este número deverá ser alcançado em 2009. Dados da Chevrolet apontavam para apenas 57,5 mil unidades vendidas de janeiro a julho deste ano, envolvendo as cinco picapes mais vendidas do segmento. Nunca é demais fazer esclarecimentos sobre o que há no mercado. Existe uma série de denominações para veículos funcionais comumente no meio rural, estradas e cidades. Muitas vezes, os conceitos se misturam. As chamadas picapes (ou caminhonetes) trazem compartimentos individualizados para cargas e passageiros e não oferecem comunicação interna entre eles. Os utilitários esportivos - também chamados de SUV´s (Sport Utility Vehicles) - são fabricados a partir de chassis de caminhonetes. A diferença é que a capota se estende até o fim do veículo que ainda possui, internamente, banco traseiro e porta-malas. Portanto, apresentam bom espaço para passageiros e uma versatilidade de carga próxima de uma picape. Dependendo de sua configuração (potência, tração, etc.) é uma boa alternativa para acesso a ambientes rurais. A Blazer, da Chevrolet e a Pajero, da Mitsubishi, são exemplos de SUV. As caminhonetes não devem ser confundidas com as chamadas “camionetas”, popularmente conhecidas como “peruas”, que possuem carroceria destinada a uso misto (passageiros e carga), mas de uso limitado no meio rural, Já as chamadas “vans” são veículos em forma de “caixa” Montadoras de veículos realizam teste drive de picapes na Agrishow em Ribeirão Preto: seduzindo o público-alvo Em se tratando de tecnologia, o desempenho mais recente da S-10 acontece, em boa parte, em função do seu motor bicombustível que oferece a pulou de pouco mais de 20 mil unidades vendidas em 2006 para 32.773 em 2008, de acordo com dados da própria GM. Esta picape leve, segundo Neto, tem boa penetração em consumidores do meio rural. Preço menor e descontos – ainda sem dispor do motor flex em sua principal caminhonete, a Ford aposta na redução de preços e descontos para o produtor rural como diferenciais de mercado e atrativos para impulsionar as vendas da Ranger. O modelo 2010 chegou ao mercado em agosto com visual renovado (sobretudo na dianteira) e preços inferiores aos praticados no modelo 2009. A picape pode ser adquirida a partir de R$ 45.900,00 (R$ 3.355,00 a menos que a versão imediatamente anterior). Por outro lado, como a montadora oferece 18 configurações diferentes, um modelo mais completo pode custar até R$ 96.730,00. Detalhe que não se pode esquecer: a Ranger cabine simples 2009 foi eleita “melhor compra” entre as picapes médias brasileiras pela “Quatro Rodas”. Também chama atenção junto ao setor agropecuário as possibilidades de abatimento no valor total do veículo Divulgação com uso no transporte de carga e/ou pessoas. No campo, tem uma demanda forte para o turismo rural, através do transporte de pequenos grupos a hotéis fazendas pelo Brasil. Líder – a S-10 é a campeã de vendas entre as picapes médias brasileiras e parece que ganhou mais fôlego ainda com seu motor flex, lançado a partir da linha 2007 – o único no segmento. De acordo com o vice-presidente da General Motors do Brasil, João Carlos Pinheiro Neto, a vendagem deste modelo pulou de 18.599 unidades em 2006 para 31.443 em 2008. Estes números podem ser batidos ainda em 2009. Segundo a montadora, de janeiro a julho deste ano foram emplacadas 20.656 unidades da S-10, o que representaria 35,4% do segmento de picapes médias no Brasil. Neto lembra que liderança não é novidade para a S-10: “nossa picape é líder no mercado brasileiro há 14 anos, desde o seu lançamento em 1995; o modelo continua sendo o preferido pelo homem do campo e também pelo consumidor da cidade graças à sua versatilidade e evolução tecnológica”. 50 Panorama Rural Novembro 2009 possibilidade de utilização do etanol. “Este automóvel foi pioneiro no segmento das picapes médias no Brasil a oferecer a motorização flex fuel; hoje, as vendas de picapes S-10 Flexpower já superam as das picapes com motorização a diesel, fato que era impensável há alguns anos”, revela. O vice-presidente da GM Brasil vê o perfil do homem de agronegócio brasileiro enquanto consumidor em potencial de picapes como “bastante exigente”. Ele aproveita para fazer considerações sobre dois outros veículos da Chevrolet com saída também para o segmento rural: Blazer e Montana. “A Blazer se destina mais aos consumidores frotistas e também para a área de segurança pública; já a picape Montana é bastante utilizada em pequenos ramos de negócios”, conta. A Montana, por sinal, Vice-presidente da General Motors do Brasil, João Carlos Pinheiro Neto Divulgação S-10 2010 – Beleza e evolução tecnológica para manter a liderança de mercado Divulgação vam na casa de 800 unidades/mês pularam para aproximadamente 1.300 veículos/mês em agosto e setembro deste ano. Para manter contato direto, medir a de- para aquisição por parte deste público consumidor. Os descontos oferecidos ao produtor rural, por exemplo, variam de 15% (picape a gasolina) a 9% (picape a diesel). Ao que tudo indica, a resposta do mercado parece que foi boa. De acordo com o gerente de Marketing de Picapes da montadora no Brasil, Wilson Vasconcelos, as vendas da Ranger que esta- Divulgação O SUV Blazer 2010 com motor bicombustível (gasolina e etanol) e tração 4x2 Ranger 2010: descontos de até 15% para o produtor rural Panorama Rural Novembro 2009 51 Divulgação Toyota Hilux: vice-campeã de vendas de janeiro a julho de 2009 52 Panorama Rural Novembro 2009 do para o pequeno empresário”, explica Vasconcelos. O que visivelmente ainda incomoda a Ford é a ausência do motor flex. Vasconcelos, no entanto, minimiza a questão, apostando em um futuro breve e de melhores resultados. “Tradicionalmente a Ford sempre demorou um pouco mais para lançar seus modelos flex, mas quando isso acontece nossos produtos são sempre os melhores”, afirma categoricamente. Versatilidade – a japonesa Mitsubishi aposta forte tanto em picape quanto em SUV para o mercado rural brasileiro. “O agronegócio é bastante diverso e variado no que diz respeito às necessidades”, comenta o diretor comercial da Mitsubishi Motors no Brasil, Robert Rittscher. É justamente este o termômetro da montadora para oferecer as suas opções, que começam pela picape L200 um dos três automóveis mais bem vendidos nos sete primeiros meses deste ano em seu segmento. “Quando pensamos em um veículo destinado apenas para o trabalho, ressalta-se a robustez de uma L200 Outdoor GL; já para uso misto, há a opção do Picape Frontier, da Nissan, oferece 10 opções de configuração para escolha do comprador conforto de uma L200 Outdoor GLS ou HPE, podendo evoluir para uma L200 Triton”, explica Hittscher. Ele ainda enumera as principais exigências do consumidor rural na aquisição de uma picape: “autonomia, resistência, tração 4x4, ângulos de entrada e saída mais elevados que não comprometam o uso e baixo custo de manutenção”. De 11,6 mil unidades vendidas em 2007 a fábrica tem previsão em atingir a marca de 20 mil picapes emplacadas em 2009. A L200 Triton, segundo a montadora, sai a um preço médio de R$ 110 mil. Mas a Mitsubishi não abre mão de focar uma de suas estrelas – Pajero – também para o consumidor rural. Este Oswaldo Luiz Palermo manda e o perfil do consumidor de picapes, a Ford do Brasil investe na participação em feiras agropecuárias. “Estamos sempre nas sete principais feiras nacionais, como a Agrishow e a Expointer, além de garantir presença em mais de 70 feiras regionais, muitas delas com pistas para testes drives”, revela o gerente de Marketing de Picapes da montadora, Wilson Vasconcelos. Com base neste trabalho extensional, o executivo da Ford já tem um perfil do produtor rural potencial comprador de um modelo Ranger: “este consumidor quer um veículo multifuncional, que o leve onde ele necessita, que ofereça conforto e a imagem de modernidade e de adequado status”. Como principais competidores diretos de mercado com a Ranger, o gerente de marketing cita a Mitsubishi L-200 e a Chevrolet S-10. A Ranger, na verdade, é a referência de vendas mesmo como opção intermediária (segmento de picapes médias) para o homem do campo, pois a Ford oferece ainda mais duas opções para o segmento rural: A F-250 (picapes grandes) e a Courier (picapes pequenas). “A F-250 é um veículo com seis metros de extensão e com 100% de mercado no agronegócio, enquanto a Courier é um carro bem menor em relação às duas outras opções, de custo inferior e volta- ranking das cinco picapes médias mais vendidas no Brasil, a Nissan Frontier não apresenta novidades em seu modelo 2010 (já à venda) em relação ao 2009. Pelo menos é o que garante o seu gerente de marketing de produto, Mário Furtado. Também não dispõe de motor flex e, segundo o executivo, sequer tem previsão desta versão no Brasil. Divulgação ta oferece a partir de sua linha 2010 a SW4 SR 4x2 a gasolina, agora com novos itens de série: rodas de liga leve de 17 polegadas envoltas por pneus 265/65 e sistema ABS de freios nas quatro rodas. A empresa espera que esta nova configuração seja opção para clientes que buscam um utilitário espaçoso e confortável para uso misto. A F- Milha é montada a partir de uma picape Ford F-250 A Toyota disponibiliza a linha SW4 em cinco versões buscando atender públicos urbanos, esportivos e rurais: SRV 3.0 diesel manual, SRV 3.0 diesel automática com bancos em couro, SRV 4.0 V6 gasolina automática com bancos em couro, SR 4x2 gasolina manual e SR 4x2 gasolina automática. O SW4 a gasolina também oferece terceira fileira de bancos e tem capacidade para sete passageiros, com saída e controle individual do sistema de ar condicionado para as segundas e terceiras fileiras de bancos. Pela tabela de outubro os preços do SW4 variavam de R$ 119,7 mil a 163,5 mil. Tanto a Hilux quanto a SW4 são veículos produzidos na fábrica da Toyota Argentina, na cidade de Zárate. Sem novidades – completando o A picape da Nissan disponibiliza 10 configurações para a escolha do comprador com opções de tração 4x2 e 4x4 e todas com motor 3.5 turbo die- Wilson Vasconcelos: “A Ford marca presença nas sete principais feiras nacionais de agronegócio e em mais de 70 regionais” Panorama Rural Divulgação SUV é apresentado em cinco versões, sendo duas bicombustíveis: TR4 Flex e Sport Flex. O diretor comercial da montadora ressalta a versão esportiva: “o Pajero Sport Flex 2010 é o primeiro V6 Flex do mercado e tem todos os requisitos necessários para o uso mais severo do agronegócio”. Bem no mercado – a Toyota não pode reclamar do desempenho de sua caminhonete Hilux. O carro iniciou 2009 sendo eleito a “melhor picape”, prêmio concedido pela agência de notícias Auto Press. Em dados divulgados pela própria concorrência – Chevrolet – o modelo aparece como o segundo mais emplacado em 2009 (janeiro a julho), atrás apenas da S-10. Em sete meses foram vendidas 16.331 unidades, o que corresponderia a 28% do mercado brasileiro de picapes médias. A Hilux 2010 chegou ao mercado em outubro deste ano com uma nova versão: a SR 4x2 gasolina com câmbio automático de quatro velocidades. Com esta, o modelo atinge 16 possibilidades de configurações diferenciadas para atender o mercado rural. Os preços nas regiões Sul e Sudeste para o mês de outubro deste ano variavam de R$ 71,5 mil a R$ 119,9 mil. Em se tratando de SUV, a Toyo- Novembro 2009 53 Divulgação sel. Os preços sugeridos variam de R$ 79.790,00 a R$ 115.890,00. No caso de pintura metálica há acréscimo de R$ 1.100,00. “Somente a Frontier atende ao agronegócio”, garante o gerente de marketing em relação aos automóveis disponibilizados pela montadora no mercado brasileiro. Furtado revela que foram 19.677 unidades vendidas de 2006 até setembro de 2009 no Brasil. O número é inferior às vendas da líder S-10 em um período de apenas sete meses (janeiro a julho de 2009). O F-Maxx é um gigante customizado cujo pacote completo custa R$ 350 mil Ariosto Mesquita formação acontece a partir da Ford F-250 cabine simples, de qualquer ano. Algumas de suas principais características são o rodado traseiro duplo (como picapes norteamericanas), caçamba tipo “splash”, alargadores de paralamas, quebra-sol com iluminação e pintura personalizada. Dentro do automóvel, destaque para um portamalas extra de 200 litros O produtor rural Jacinto Romon com sua e opções para acessórios S-10 flex: “este carro me completa” que incluem geladeiras, Gigantes – além das várias op- piloto automático e teto solar. Mas a Tropical garante que a ções em picapes e SUV´s no mercado brasileiro, muitos ainda querem mais, maior caminhonete do Brasil é a Susobretudo no quesito “tamanho”. De per Picape F-Maxx, desenvolvida soolho neste público algumas empresas bre a linha Ford F-12000, F-14000 se especializaram no desenvolvimento e F-16000. A primeira unidade deste de extensões para alguns veículos. Com veículo foi fabricada em 2005 e cauisso, surgem carros “gigantes”, consi- sou frisson por onde passou. A segunda unidade saiu no final de 2007, mais derados como “tamanho família”. É o caso, por exemplo, da F-Mi- personalizada e, segundo a empresa, lha, uma picape customizada e volta- impressionou ainda mais quem a viu de da para diversos segmentos, incluindo perto. Seus detalhes impressionam: a atividades de equitação e reboque de traillers, além de uso intensivo rural. Montada pela Tropical Cabines,foi lanPara o trabalho em sua mineradora e acesso a fazendas, Massimo fez opção pela SUV Acytion çada em outubro deste ano e sua trans54 Panorama Rural Novembro 2009 F-Maxx tem duas vezes o tamanho de uma F-250 e capacidade para até nove passageiros. Apesar de possuir “sangue de caminhão”, a F-Maxx pode surgir com linhas bem modernas, dependendo do gosto e das exigências do comprador. Mas quem optar por estes gigantes de estradas deve se preparar para desembolsar quantias significativas. A transformação básica do F-Milha varia de R$ 55 mil (básico, veículo usado) até R$ 178,9 mil no caso da opção completa (0 km + transformação + acessórios). No caso da Super Picape F-Maxx o pacote fechado é de R$ 350 mil. Preferências – o produtor rural Ariosto Mesquita paranaense, Jacinto Romon, é daqueles que não abrem mão de uma boa picape. Em 45 anos de lida no campo, teve várias caminhonetes, incluindo uma Pampa e uma Ranger. Hoje se diz satisfeito com uma S-10 modelo 2009 flex. “Dizem que a Mitsubishi é muito boa, mas este carro da Chevrolet me completa”. Ainda proprietário da Fazenda Três Patinhos (está em negociação), de 255 hectares, em Nova Londrina, PR, Romon usa seu carro tanto para o meio rural quanto para viagens pelas mais diversas estradas brasileiras. Produtor de cana, mandioca e gado de corte e de leite, o fazendeiro paranaense garante que a picape líder de mercado no Brasil tem desempenho e economia bastante satisfatórios. “Acabei de fazer uma viagem de 700 km e nem senti; o carro oferece mui- ta segurança, conforto e estabilidade; além disso, é econômico, fazendo até sete quilômetros por litro de álcool com o ar condicionado ligado”, revela. Integrante de uma cooperativa mista (café, álcool e mandioca) no noroeste do Paraná, Jacinto Romon tem uma outra vantagem: paga um preço diferenciado pelo litro do álcool: “desembolsava R$ 1,10 pelo litro, mas com o aumento de preço que teve entre agosto e setembro, o valor subiu para R$ 1,29, mas ainda assim compensa e muito”. No entanto, faz um alerta: “tive uma Ranger com motor a gasolina que adaptei para utilização de álcool, mas não ficou nada bom”. Já o minerador Massimo Henrique Notari Volpon, é adepto das SUV e se diz satisfeito com o desempenho de seu importado Actyon, da sul-coreana Ssang Yong. Trata-se de um modelo 2009, tração 4 x 4, motor diesel, que ele usa tanto em estradas pavimentadas quanto em vicinais, para acesso a fazendas ou à sua mineradora e indústria de granilha, em Campo Grande, MS. “O carro enfrenta qualquer terreno sem apresentar problemas; já rodei 42 mil quilômetros e até agora só abasteci e troquei o óleo”, garante. Para a sua atividade no agronegócio, Volpon considera o veículo – que possui motor, câmbio e suspensão Mercedes Bens - “mais do que suficiente” e destaca sua economia no diesel: “com um litro de combustível roda até oito quilômetros na cidade e chega aos 11 quilômetros na estrada”. Indagado sobre qual seria sua opção em uma eventual troca de carro, o minerador foi taxativo: “não trocaria de marca”. PR Panorama Rural Novembro 2009 55 • Diversificação • O marolo como fonte de renda Fruta nativa da região do cerrado ganha atenção de pesquisadores e produtores, o que reduz o risco de extinção e ainda a torna uma opção de negócio 56 Panorama Rural Novembro 2009 Luciana Paiva Fotos: Oswaldo Maricato O marolo é uma fruta nativa da região do cerrado brasileiro, com ocorrência em partes de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Distrito Federal, Bahia e interior de São Paulo. Nas cidades grandes pode ser encontrado, Em São Paulo é Marolo, em Minas Gerais e Goiás é araticum, mas de todo jeito é gostoso principalmente nos primeiros meses do ano, em barraquinhas de vendedores ambulantes de frutas, aqueles que vendem caju, jaca e até pequi, outro fruto do cerrado. O marolo é uma planta da família das Annonaceas. É parente da fruta do conde, da atemóia, da graviola dentre outras. Tem um perfume marcante e gosto pronunciado. Em Minas Gerais, o marolo, conhecido por araticum, faz parte da alimentação da população local e, além de ser vendido in natura, é usado para fazer doces e licores. A safra do marolo começa em meados de fevereiro e vai até abril. Nos últimos anos, a produção da fruta tem diminuído por causa da degradação ambiental do cerrado e a instalação da região. Para evitar essa ameaça, a Emater-MG e a Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG) criaram o projeto “Marolo: Gerando Trabalho e Renda”, que visa a transformar a fruta numa alternativa de renda para os produtores da região. O projeto “Marolo: Gerando Trabalho e Renda” tem o objetivo de ampliar o mercado da fruta, agregar valor à produção de seus derivados e garantir renda o ano inteiro para os produtores. O programa é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A estratégia para ampliar o mercado da fruta será a realização de estudos Fruta nativa da região do cerrado brasileiro de monoculturas no local. A organização precária em todo o seu sistema de plantio e processamento também desestimula a utilização do fruto com fins econômicos. Por essas razões, o marolo corre o risco de desaparecer envolvendo análises químicas, sensoriais, funcionais e socioeconômica do marolo produzido na microrregião de Alfenas. Qualificação dos maroleiros – outra proposta do projeto é a capaPanorama Rural Novembro 2009 57 • Diversificação • citação dos maroleiros para melhorar a qualidade de toda cadeia produtiva. A Emater-MG já treinou várias extensionistas rurais em boas práticas de fabricação de derivados do fruto e essas profissionais estarão repassando as técnicas às famílias de produtores da região durante este ano e em 2010. Também será criado um viveiro para produção de mudas de marolo. Com o projeto, os idealizadores querem padronizar receitas, trabalhar junto aos agricultores a agregação de valor ao produto e futuramente constituir uma cooperativa ou uma associação de maroleiros. Assim, acreditam ser possível afastar o perigo de extinção da fruta. A Emater-MG dará incentivo aos maroleiros, principalmente dos municípios de Paraguaçu, Alfenas, Três Pontas, Machado e Fama. Paixão pelo marolo – a fruta também nasce espontaneamente na região da pequena Itaí, interior de São Paulo. Desde criança, os irmãos Luiz Antonio Duarte Montanari e Ney Duarte Montanari nutrem verdadeira paixão por essa fruta tão saborosa. E aproximadamente 20 anos perceberam que o marolo corria o risco de desaparecer da região de Itaí, por causa do desmatamento dos cerrados Luiz Montanari: desde criança apaixonado pelo marolo para dar lugar aos grandes reflorestamentos, plantios de grãos e cana. “Decidimos então salvar o marolo de sua extinção e procuramos dedicar uma pequena parcela do nosso tempo em buscar frutos remanescentes na região, retirar sementes, germiná-las e assim obter as mudas”, conta Luiz Antonio, que é engenheiro e ex-executivo de empresa do ramo de madeira aglomerada e revestimentos, além de consultor. Os irmãos tentaram obter informações junto a outros plantadores, produtores de mudas, universidades, centros de pesquisa, mas, descobriram muito pouco a respeito. “Não havia livro sobre o manejo da cultura e nem pesquisas em relação ao cultivo do marolo. Então decidimos pesquisar por nossa conta”, diz Ney, advogado, ex-diretor de empresa, mestre em Administração e atualmente Doutorando em Direito na PUCSP. Já se vão 10 anos de aprendizado para a produção de mudas. Os irmãos descobriram que o marolo é muito rústico, de manejo complicado, de germinação dificílima. Desvendaram que na natureza as chances de germinação ocorrem de 0% a 3% e que a semente leva de 300 a 800 dias Em 2004, os Montanari plantaram as primeiras 130 mudas 58 Panorama Rural Novembro 2009 para nascer. “As pessoas não imaginam que demora todo esse tempo. Muitos devem ter plantado as sementes e, como não germinaram em 30, 60 dias, acabaram substituindo por outra cultura”, observa Luiz Antonio. Após decifrarem parte dos enigmas do marolo, os irmãos Montanari já conseguem a proeza de fazer com que 55% das sementes cultivadas por eles germinem. Em 2004, conseguiram produzir suas primeiras mudas e, no final daquele ano, plantaram 130 pés de marolo. “Em 2005, ficamos empolgados com os avanços conseguidos na produção de mudas e decidimos ampliar a plantação para uma escala comercial. Fizemos nossas próprias mudas e em 2006 plantamos 2700 pés. Em 2007, plantamos mais 3000 e em 2008, outras 2500”, diz Ney. O projeto piloto de produção de marolo dos irmãos Montanari ocupa uma área de sete Uma planta que comporta 10 frutos, comercialmente, apresenta um desempenho ótimo alqueires em uma fazenda em Itaí. A partir de três anos de plantio, já se constata os primeiros frutos, sendo que em sete anos a árvore já pode ser considerada adulta e pode produzir acima de 20 frutos. Primeira safra comercial – em 2010, acontecerá a primeira safra comercial, a expectativa de produção é de três a cinco mil frutos. Nesta pri- meira safra foram deixados de dois a três frutos por pés. Segundo Luiz Antonio, uma carga de 10 frutos por pé é considerada ótima, e isso já pode ocorrer na safra de 2011, com estimativa de produção de 20 mil frutos. Para 2012, esperam colher de 60 a 100 mil frutos. Mas o pomar de marolo atingirá a plenitude em 2016. Os irmãos ainda estão desvendando as As chances de germinação na natureza vão de 0% a 3%. Os Montanari conseguem 55% Panorama Rural Novembro 2009 59 • Diversificação • informações sobre os tratos culturais do marolo, mas plantaram as árvores em linhas com distância de três a cinco metros cada. Sabem que é possível fazer consórcio na mesma área do marolo com outras culturas, mas, por enquanto, não é esse o objetivo Antonio. Logo depois de colhido, manualmente, o marolo deve seguir para a câmara fria, pois, rapidamente, amadurece. Festa do marolo – os irmãos Montanari também estão em busca de informações sobre quais são as Flor da planta macho deles. As árvores adultas chegam a cinco metros de altura e os frutos até aos três meses podem sofrer a ação de ácaros, mas depois passam a ter uma autodefesa, pois formam uma carapaça tão dura que serve de escudo contra o ataque das pragas. Dispensando o uso de inseticidas. Esta carapaça também protege o fruto das quedas e pancadas. “Os marolos podem cair de uma altura de até três metros que não ficam machucados ou amassados”, diz Luiz Antonio. Isso é muito bom, pois o marolo só pode ser colhido quando está no ponto e seu talo não pode ser cortado com faca ou tesoura, assim, muitas vezes ele acaba despencando da árvore. “É uma fruta que se larga. A gente toca nela e ela se larga na nossa mão. Precisa ter olho clínico para saber se está na hora de colher”, observa Luiz 60 Panorama Rural Novembro 2009 exigências do consumidor de marolo. “Não sabemos, por exemplo, se o mercado prefere frutos maiores ou menores”, diz Luiz Antonio. Para apurar estas informações e também alternativas de demanda para o marolo, os irmãos têm realizado visitas Tereza, esposa de Luiz Antonio: Os Montanari pretendem industrializar o marolo sob a forma de compota, polpa e outros derivados às regiões onde o consumo da fruta é mais intenso. O objetivo é agregar valor ao negócio, além de vender a fruta in natura, pretendem comercializar a polpa. Estiveram em Goiânia e conheceram a sede da Milca Sorvetes, empresa que desenvolve a marca Sorvetes do Cerrado, com franquias em várias cidades da região CentroSul. “Fomos conferir como é o negócio e, inclusive, a possibilidade de fornecermos polpa. Para o futuro, além da venda “in natura”, temos a ideia de industrializar o marolo sob a forma de compota, polpa e outros derivados, além de aprimorar nossa unidade de pesquisa e melhoramento dessa maravilhosa fruta”, comenta Luiz Antonio. Com o aprimoramento da produção, os Montanari pretendem ser os maiores plantadores de marolo do Brasil e também fornecedores de mudas, têm capacidade para produzir de quatro a cinco mil mudas por ano. Em 2010, já pensam em comercializar de duas a três mil mudas. “Nosso grande sonho é realizar a difusão do marolo na região de Itaí e cercanias e, quem sabe, um dia, fazer a “festa do marolo em Itaí”, salienta Luiz Antonio. Nós da Panorama Rural damos o maior apoio e aguardamos o convite para a festa do marolo. Serviço: Os interessados em mais informações sobre a cultura do marolo ou na aquisição do produto e mudas, os contatos são: Luiz Montanari (15) 9740-2502 [email protected] - Ney Montanari (11) 4226-6354 [email protected] PR Bolacha de marolo Ingredientes 2 xícaras (chá) de polpa de marolo; 1½ xícara (chá) de leite; 150 g de margarina; ½ kg de farinha de trigo enriquecida com ferro; 100 g de açúcar; 1 pitada de sal; 2 gemas. Modo de Fazer: Bata no liquidificador a polpa do araticum, o leite e as gemas. Numa vasilha, misture todos os ingredientes e sove bem; a seguir, faça uma bola e borrife uma colher (sopa) de água gelada. Cubra a massa com saco plástico e leve à geladeira por duas horas. Abra a massa em mesa enfarinhada. Corte as bolachas, colocando-as em assadeiras untadas e enfarinhadas. Leve ao forno médio até ficarem tostadas. A polpa do marolo rende doces, licores, sorvetes, muitas gostosuras Panorama Rural Novembro 2009 61 Divulgação 62 Panorama Rural Novembro 2009 Coadjuvantes de LUXO O trator é o principal sonho de consumo dos produtores rurais, no entanto, sem os implementos agrícolas o trator só serve para passear A evolução tecnológica dos equipamentos agrícolas tem sido responsável pela elevação nos índices de produção no agronegócio brasileiro. Os tratores não tracionam apenas implementos, mas também carregam em si um grau tecnológico de primeiro mundo, sejam eles destinados a grandes, médios ou pequenos produtores. Este desenvolvimento também acompanha os implementos agrícolas, que evoluíram do antigo arado puxado pela junta de bois para equipamentos automatizados. São implementos para todas as finalidades e tamanhos de propriedades, disponíveis aos produtores através de linhas especiais de financiamento. No entanto, embora as facilidades na aquisição, os fabricantes reclamam da burocracia dos bancos na liberação dos recursos, o que segundo eles, têm prejudicado os produtores e, principalmente, as vendas do setor. Em parte, a revolução tecnológica dos implementos, segundo as indústrias, se deve ao aumento no grau de exigências dos produtores, que passaram a buscar equipamentos cada vez mais adaptados às suas necessidades. Panorama Rural Novembro 2009 63 Divulgação “Geralmente, o agricultor é escravo da produção. Mas, com este vagão, por exemplo, um produtor de leite com 100 matrizes pode fazer em duas ho- ras, o trabalho que levaria o dia inteiro, restando mais tempo para outras atividades ou para o lazer”, ressalta Souza. Prêmio Gerdau incentiva a inovação tecnológica “Os produtores rurais se tornaram mais exigentes e adeptos às novas tecnologias”, diz o pesquisador Coelho de Souza De acordo com o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, Luiz Fernando Coelho de Souza, há uma visível mudança na concepção dos produtores rurais, que se tornaram mais exigentes e adeptos às novas tecnologias. “Há 15 anos, os fabricantes entregavam os equipamentos aos produtores e praticamente se eximiam de qualquer responsabilidade, cabendo aos agricultores o ônus de eventuais problemas. Hoje, o produtor prioriza a assistência técnica, a segurança operacional, a qualidade dos produtos e, principalmente, a segurança ao meio ambiente, tanto na agricultura empresarial como na familiar”, explica Souza. “O pequeno produtor evoluiu tecnologicamente. Com o apoio dos programas governamentais ele se sentiu seguro, respondendo muito bem e de forma rápida aos incentivos, alavancando as vendas de equipamentos”, afirma o professor. Pequenos, mas grandes por vocação, os agricultores familiares têm sido o foco das empresas do setor. Dos equipamentos premiados no Prêmio Gerdau Melhores da Terra 2009 na Categoria Destaque, dois são destinados aos pequenos produtores – um trator de 75cv e um vagão forrageiro. 64 Panorama Rural Novembro 2009 O Prêmio Gerdau Melhores da Terra foi criado em 1983, quando a Expointer era uma feira praticamente de animais. “Na época, começaram a surgir as indústrias de máquinas e implementos agrícolas, então criamos um prêmio para estimular a cadeia”, explica Luiz Fernando Coelho de Souza, criador e coordenador da comissão julgadora do Prêmio Gerdau Melhores da Terra, há 27 anos. Com o tempo, o Prêmio Gerdau passou a ser a nível nacional e com o apoio dos Institutos de Pesquisa e Ensino, tornou-se internacional. Desde a criação, pesquisadores e professores que fazem as avaliações a campo, já percorreram 600 mil km entre Brasil e países de Mercosul, visitando produtores, analisando suas necessidades e o desempenho dos equipamentos. “Quem ganha com o Prêmio Gerdau são: os fabricantes, porque colocam seus produtos na vitrine; os produtores, que no final do processo vão receber equipamentos com mais tecnologia e as Universidades e Institutos de Pesquisa que, através dos estudos de seus professores e pesquisadores, acabam repassando o conhecimento a seus alunos e entidades”, explica Souza, ressaltando que as empresas participantes recebem um feedback sobre seus equipamentos para que possam trabalhar no aprimoramento. “Muitas empresas nos procuram interessadas não apenas no Prêmio, mas sim, no estudo de desempenho que receberão de seus equipamentos”, revela. Divulgação Pulverizador da Herbicat um dos vencedores do Prêmio Gerdau 2009 Panorama Rural Novembro 2009 65 Divulgação “Nosso objetivo é que o agricultor melhore sua rentabilidade por hectare”, afirma Carolina Divulgação Assistência técnica – facilidades na aquisição com taxas baixas e longos prazos de pagamento, associadas a equipamentos de alta tecnologia, aparentemente fatores decisivos para impulsionar o setor rural. No entanto, Souza aponta para uma questão que ainda precisa ser solucionada: a assistência técnica. “Acredito que precisamos que os Estados e municípios disponibilizem mais técnicos para auxiliarem os produtores na utilização dos equipamentos, pois muitos têm dificuldades e não sabem com obter a melhor eficácia na utilização”, revela o professor. De acordo com o professor da UFRGS, há muitos produtores renovando os implementos, mas, há também uma parcela de agricultores com problemas financeiros agindo com cautela. “A tecnologia dos equipamentos tem evoluído muito rapidamente e o produtor tem acompanhado esta evolução, pois assim, ele ganha em produtividade, tem mais segurança na operação, conforto e redução em sua carga diária de trabalho”, comenta Souza. Para o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Abimaq, Celso Casale, a adesão dos produtores a implementos com novas tecnologias causa um impacto direto na produtividade com redução das perdas e maior agilidade nas tarefas. “Isso garante mais lucro e sustentabilidade ao processo produtivo, como é o caso do plantio direto que, só é possível graças aos equipamentos desenvolvidos para essa finalidade”, afirma. Investimento em tecnologia – de acordo com Celso Casale que, também é presidente da Casale Equipamentos, o Brasil é um dos maiores produtores de máquinas e implementos agrícolas do mundo, com sua balança comercial amplamente exportadora. “Esse fato por si só já demonstra o estágio tecnológico dos produtos brasileiros, sendo que a adaptabilidade e o desenvolvimento de produtos adequados às mais diferentes culturas e solos é uma forte característica do Brasil”, revela Casale, apontando para outras duas importantes características dos implementos: a rusticidade e a facilidade de operação. “Chamamos isso de “tropicalização” dos nossos produtos. Eles são desenvolvidos para operarem nas condições climáticas dos trópicos, onde estão localizados países pobres que praticam uma agricultura ainda atrasada. Em resumo, o Brasil está na vanguarda”, ressalta. Celso Casale: novas tecnologias levam a maior produtividade 66 Panorama Rural Novembro 2009 A diretora comercial da Semeato, Carolina Rossato Hayashida, salienta que a tecnologia está cada vez mais presente no campo e a prova disso são os incrementos em produtividade que o produtor vem alcançando, assim, os investimentos em tecnologia e inovação são prioridades para a Semeato. “Nosso objetivo é que o agricultor melhore sua rentabilidade por hectare. Desta forma, a mesma tecnologia empregada nos grandes equipamentos é disponibilizada nos de pequeno porte, como as semeadoras PH, vencedora do Prêmio Gerdau Melhores da Terra na Categoria Destaque de 2006 e, a pequena, mas robusta, semeadora múltipla SAM, disponível para o plantio de pastagem, trigo, aveia, soja, feijão e milho”, comenta a diretora comercial. O incremento na produtividade e a evolução na qualidade do plantio, segundo Carolina, que também, é vicepresidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Equipamentos Agrícolas do Rio Grande do Sul, Simers, estão relacionados à aquisição de implementos com novas tecnologias. “A demanda mundial por alimentos seguirá crescendo e não podemos mais criar novas terras agriculturáveis. Temos sim é que melhorar a produtividade nas áreas em que já plantamos, preservando o solo e o meio ambiente e isso só se Panorama Rural Novembro 2009 67 Divulgação Charles Rui Teixeira: plantadora com taxas variáveis para adubação e sementes 68 Panorama Rural Novembro 2009 em um sistema bipartido de condutor, onde 30% da dosagem é colocada no sulco e 70% a uma distância em torno de 15 cm para cada lado da linha. Assim, há melhor distribuição e aproveitamento do fertilizante pela planta, evitando problemas de salinização”, revela Teixeira. A constante evolução tecnológica dos implementos também contribui para o aumento de vendas de equipamentos. O gerente comercial da Implementos Agrícolas Jan, Claudiomiro dos Santos, diz que o produtor tem buscado equipamentos com alta eficiência produtiva, visando a redução dos custos e aumento da rentabilidade das lavouras. “Os implementos não serão mais apenas um “monte de ferro” e sim, equipamento com alta tecnoloDivulgação consegue com tecnologia no campo”, diz ela, apontando que os resultados do desempenho deste ano com as vendas do Mais Alimentos serão comprovados com o aumento de produtividade e de mais comida na mesa da população brasileira, assim como no aumento das exportações. O supervisor de marketing da Indústria de Implementos Agrícolas Vence Tudo, Charles Rui Teixeira, ressalta que o foco da empresa é desenvolver implementos com alta tecnologia destinados às pequenas, médias e grandes propriedades, mostrando o que há de melhor em cada segmento. “Esta tecnologia possibilita a otimização dos recursos e a maximização dos resultados, aumentando a produtividade e a qualidade da produção com redução dos custos, tornando o negócio mais lucrativo”, revela Teixeira. Segundo ele, a Vence Tudo está quebrando paradigmas no segmento de Agricultura de Precisão, pois atualmente é a única a trabalhar com uma plantadora com duplo reservatório para fertilizante, com taxas variáveis para a adubação e sementes. “A Panther Precision utiliza uma tecnologia inovadora na distribuição do potássio, consistindo gia, principalmente eletrônica”, diz o gerente comercial. Desenvolver produtos com avançados conceitos de engenharia, que se destinam ao preparo do solo e plantio e cultivo também é o objetivo da AgriTillage do Brasil – Baldan. Entre os lançamentos deste ano da Baldan está a Semeadora SPA-Megaflex, equipada com exclusivo e inovador sistema Speed box, que oferece maior praticidade e rapidez de ajuste na distribuição de adubo e sementes. Outra tecnologia apresentada pela Baldan é ISOBUS Brasil, que consiste na padronização da comunicação entre tratores e implementos agrícolas, fruto da parceria com a Embrapa. Na visão do gerente nacional de vendas da Baldan, Renato Forti Duarte, os conceitos no campo têm mudado dia a dia, pois os resultados positivos e os períodos propícios ao plantio estão sendo reduzidos a cada safra. “Isto faz com que os produtores busquem maior eficiência, procurando novas tecnologias para ter mais segurança em seus negócios. Hoje, mais do que nunca, os agricultores brasileiros são homens de negócios, empresários do campo”, comenta Duarte. Buscando a ampliação de mercado, a Baldan tem investido na complementação da linha de plantio e preparo do solo, analisando a possibilidade de ingresso em segmentos agrícolas ainda não contemplados pelo atual portfólio de produtos. Os bancos precisam cooperar – As expectativas de reaquecimento do mercado de implementos agrícolas recaem sobre os pequenos agricultores, que contam com o programa Mais Alimentos, além dos médios e grandes produtores que possuem o Moderfrota “Hoje, mais do que nunca, os agricultores brasileiros são homens de negócios, empresários do campo”, comenta Duarte Marcos Vaz As feiras agropecuárias são importantes canais para demonstração dos produtos, principalmente a Agrishow, em Ribeirão Preto, SP, que apresenta a parte de dinâmica Luciana Paiva e o Moderinfra, além do BNDES-PSI. Mesmo com as atuais linhas de crédito, Celso Casale aponta para o desinteresse e morosidade dos bancos na operação das linhas, além da ineficiência da assistência técnica em alguns Estados, fatores que acabam inibindo o volume de vendas. “O desafio está em fazer com que esses equipamentos cheguem aos produtores, sobretudo pela precariedade de nossa rede de Assistência Técnica e Extensão Rural, desmontada na maioria dos Estados. Outro problema, diz respeito ao baixo interesse dos bancos em operar com essas linhas e crédito, de alto custo de operação e um baixo retorno – muita gente compran- O Brasil é um dos maiores produtores de implementos agrícolas do produtos de baixo valor. É preciso estimular a concorrência entre bancos oficiais e privados”, alerta Casale. Segundo Casale, a segurança alimentar nos paises é tema estratégico e assim deve ser conduzida pelos governos, como tem sido feito no Brasil. Os programas governamentais, também possuem forte impacto social, contribuindo para fixar o homem no campo, diminuindo a pressão sobre as grandes metrópoles. “Vale lembrar, da impor- tância das empresas do setor - e de toda a cadeia de produção - na geração de empregos (aproximadamente 45 mil diretos e 250 mil indiretos), bem como no fortalecimento da indústria, tipicamente nacional e familiar”, aponta Casale. Para o gerente comercia da Implementos Agrícolas Jan o mercado superou as expectativas que, no final de 2008 e início deste ano, apontava para um cenário nebuloso em função da crise. Segundo ele, o aquecimento se deve ao Mais Alimento, embora no começo tenha andado a passos lentos em função da morosidade na execução e na liberação dos projetos. “Mas, o que mais vem travando as vendas, principalmente no Moderfrota PSI, é a dificuldade na liberação do crédito. Há bancos, que nem se interresam pelos programas e muitos emperram a liberação dos recursos. Outro entrave é que os produtores que possuem algum atraso ou prorrogamento junto às instituições, não conseguem o dinheiro, o que acaba reduzindo as vendas do setor”, aponta Santos. Cerca de 60% das vendas da Jan são através do Moderfrota PSI e têm como principais destino os Estados do Centro-Oeste. Segundo a empresa, a expectativa para 2010 é boa, embora haja muita especulação de mercado. “A gente não sabe o que vai acontecer, mas, acreditamos em bons momentos, principalmente em feiras e exposições”, comenta Santos. Jalmar Martel, presidente da Imasa, observa que as linhas de crédito nunca estiveram tão acessíveis aos produtores e só não são mais eficientes por causa da morosidade dos bancos. “É preciso que haja uma desburocraPanorama Rural Novembro 2009 69 to, como o Mais Alimentos do começo ao fim”, afirma. A Semeato tem direcionado suas vendas para os pequenos produtores Luciana Paiva tização no acesso ao crédito. As atuais linhas, a juros baixos, têm motivado os produtores a investirem em equipamentos, porém, a burocracia enfrenta- Os bancos precisam cooperar 70 Panorama Rural Novembro 2009 através do Mais Alimentos que possui ótimas vantagens, com juros de 2% ao ano e prazo de pagamento de 10 anos – com três de carência – para bens de Luciana Paiva da nos Bancos tem inibido as vendas”, critica Martel. Segundo ele, são muitas exigências e documentações, embora reconheça que haja um acúmulo de pedidos, o que até justifica a demora, mas, que nada tem sido feito para agilizar este processo. “Os pedidos não deveriam demorar mais que 30 dias. No entanto, há caso que levam até 90 dias e esta demora tem travado em média 50% o volume de vendas. Mesmo o setor apostando no aquecimento dos negócios, este só não será maior por causa da demora na liberação dos recursos”, alerta Martel, acrescentando que em relação às linhas disponíveis, não há o que reclamar. Mais Alimentos do começo ao fim – Carolina Rossato Hayashida observa que as partes envolvidas na cadeia agrícola estão cada vez mais conscientes da importância de se investir no plantio, etapa fundamental da agricultura. “Mas, ainda é preciso desenvolver mais este foco, para se alcançar o sucesso de programas de financiamen- carência – para valores de até R$ 500 mil. “Estes são os principais programas que trabalhamos e obtemos uma resposta muito positiva. Mas, ainda podemos incentivar o consumo em locais onde a agricultura é pouco desenvolvida e possui pouca tecnologia”, aponta Carolina. A Baldan foi a primeira empresa a investir no Mais Alimentos. Desenvolveu cartilha explicativa sobre o programa e vem realizando caravanas pelo Brasil com técnicos da Emater em visitas a cooperativas e associações para, por meio de palestras, informar aos produtores como podem se beneficiar com o programa. Segundo Duarte, o mercado agrícola no Brasil se comporta de forma oscilante, é vulnerável a crise e muito dependente de incentivos agrícolas, como os financiamentos. “Os incentivos governamentais são de suma importância, uma vez que estimulam categorias de produtores cuja maioria não tinha oportunidades de financia- Mega Flex da Baldan: maior praticidade e rapidez de ajuste na distribuição de adubo e sementes até R$ 100 mil. Outro plano eficiente, segundo a empresa, é o Finame Agrícola PSI, que possui juros de 4,5% ao ano e prazo de 10 anos – com dois de mentos. Um bom exemplo é o Pronaf Mais Alimentos, voltado à agricultura familiar”, destaca Duarte. Para a Baldan, o bom desempe- Divulgação A Semeato disponibiliza aos equipamentos de pequeno porte a mesma tecnologia empregada nos grandes equipamentos nho do setor de implementos depende do somatório de atitudes, como a garantia dos preços mínimos dos produtos, o acesso e a agilidade nos financiamentos, processos ainda burocrático, com pouca reciprocidade dos agentes financeiros. Vendas aquecidas e expectativa para o próximo ano – para o supervisor de marketing da Vence Tudo, Charles Rui Teixeira, as vendas de implementos encontram-se aquecidas em todas as regiões brasileiras, com bons resultados em todas as linhas de produtos. A boa fase do setor, segundo ele, se deve a facilidade e agilidade do crédito, com taxas atrativas, além dos bons preços dos cereais, o que vem proporcionando resultados positivos nas vendas da empresa. “São várias as linhas de crédito, todas muito atrativas e de fundamental importância para manter o mercado aquecido, pois criam um mecanismo facilitador para que as negociações fluam com maior facilidade”, explica Teixeira que prevê um 2010 um ano muito próspero para o setor e para e empresa. A Semeato também acredita na retomada de crescimento, como vinha ocorrendo em 2008, antes da crise. Otimismo este, decorrente do apoio que o governo vem demonstrando com o crédito e do comportamento das commodities, em níveis intermediários, mas, ainda acima das médias históricas. “Resta torcer por uma boa safra e pela estabilidade do dólar, já que exportamos tecnologia 100% brasileira para todo o mundo”, ressalta Carolina Rossato. Vamos torcer. PR Panorama Rural Novembro 2009 71 72 Panorama Rural Novembro 2009 Panorama Rural Novembro 2009 73 NEGÓCIOS Novilho Precoce mais perto da mesa do brasileiro Melhor remuneração ao produtor, garantia de escala e novas alianças quase triplica o mercado para o pecuarista do Mato Grosso do Sul 74 Panorama Rural Novembro 2009 Ariosto Mesquita Ariosto Mesquita A Cortes embalados de Novilho Precoce-MS: alianças comerciais valorizam apresentação do produto no mercado nacional. Toda a escala de oferta de animais e de abate é controlada pela própria associação (www.novilhoms.com.br), com sede em Campo Grande, MS. A associação, criada em 1998 já mantinha uma aliança com a Rede Carrefour desde 2001, para abate médio de 40 mil animais ano, visando Divulgação partir de julho deste ano pelo menos 115 mil bovinos do Mato Grosso do Sul, classificados como novilhos precoces, passaram a ser abatidos anualmente para abastecer, sobretudo, o mercado consumidor brasileiro. Trata-se da maior oferta em escala do animal com esta classificação no Brasil, garantida pela Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores de Novilho Precoce (ASPNP) graças à ampliação de uma aliança mercadológica com a Rede Carrefour e ao estabelecimento de um novo acordo comercial, desta vez com o Grupo Bertin. Com isso, o abate médio da oferta dos pouco mais de 200 produtores associados à ASPNP praticamente triplica, subindo de 40 mil para aproximadamente 115 mil animais/ano. A entidade garante que, só em 2008, 50% dos bovinos precoces comercializados pela Rede Carrefour no Brasil foram originados do Mato Grosso do Sul. A expectativa é ampliar ainda mais esta participação Escala de abate é controlada pela própria associação o abastecimento de algumas lojas pelo Brasil dentro do seu programa Garantia de Origem (GO). Durante a Feicorte 2009, realizada em junho, em São Paulo, SP, a parceria foi ampliada para uma nova linha de produtos. Provavelmente a partir de outubro, o Carrefour deverá lançar a sua linha “Selecion”, incluindo a chancela de carne “Novilho Precoce – Mato Grosso do Sul”. Serão cortes embalados de carnes nobres como picanhas, pontas do contrafilé, maminhas e filés mignon. A rede de supermercados espera que, de início, o volume de abates possa sair da atual média de 40 mil para 50 mil animais/ano. A ASPNP estima que serão de seis a oito cortes selecionados para esta nova linha de carnes. Bom poder aquisitivo – de acordo com o gerente Nacional de Garantia de Origem Carrefour, Daniel Pereira Alexandre, a carne vai abastecer, a princípio, boa parte das 62 lojas do Estado de São Paulo que devem receber mensalmente de quatro a cinco toneladas do produto. Panorama Rural Novembro 2009 75 NEGÓCIOS Ariosto Mesquita “Mas não descartamos outros mercados como Brasília onde há demanda e um bom poder aquisitivo”, revela. A eliminação de etapas também é um detalhe desta parceria dentro da nova linha de produtos: “a carne já chega embalada, portanto não vamos manipular”. O abate obedecerá aos mesmos critérios da aliança firmada em 2001 e fica sob a responsabilidade do Frigorífico Navicarnes, instalado em Rochedo, MS. No entanto, um eventual aumento na demanda e consequente elevação da oferta em escala, podem levar ao estabelecimento de parceria com nova indústria. A oferta é de apenas novilhas. A remuneração ao produtor é equivalente ao preço do boi Esalq menos 3%. Geralmente são animais até 30 meses (cruzados) e até 36 meses (nelore). Originário da França, o Carrefour possui 15.430 lojas em 33 países. O Brasil foi o primeiro a receber a rede fora da Europa, há 34 anos. São 770 lojas em 17 Estados que recebem uma média de dois milhões de clientes/dia. Em encontro da ASPNP realizado em maio deste ano em Os animais devem possuir capa de gordura, sendo que sua ausência ou o excesso (acima de 10 mm) leva à desclassificação Campo Grande, MS, o diretor nacional de Açougue do grupo, Luis Carlos Paschoal, confirmou a tendência de ofertar carnes embaladas: “estamos deixando de trabalhar com carne com osso; não temos de fazer desossa na loja, não somos indústria”. Mais 65 mil animais – já a nova aliança comercial com o Grupo Bertin prevê o abate anual de 65 mil animais, que pode ser feito em qualquer planta industrial da empresa no Brasil. No entanto, os animais devem ser originários dos associados da ASPNP. Nos primeiros meses, os abates totalizaram 3.956 animais (julho/2009) e 4.371 animais (agosto/2009). São Rodrigues: “com as alianças agora apostamos na ampliação de nossa oferta” 76 Panorama Rural Novembro 2009 bois e vacas pesadas com um mínimo de 16 e 15 arrobas, respectivamente. A cobertura mínima de gordura deve ser de três mm e não há, pelo menos inicialmente, exigência com relação à idade. “Este é um trabalho piloto que nos possibilita identificar mercados que estejam dispostos a consumir a carne de novilho precoce; inicialmente estamos atendendo o mercado interno em vários pontos do Brasil além de também destinar parte para exportação”, revela o técnico de compra de gado do Bertin, em Campo Grande, MS, Cristiano Leal. A remuneração ao produtor neste caso é de preço Esalq mais 2% (bois) e preço Esalq vaca mais 5% até limite preço Esalq Boi (vacas). As fazendas certificadas para a União Europeia associadas da ASPNP (12 propriedades) ainda recebem uma remuneração extra de 3%. A partir da detecção de nichos específicos de mercado para a carne de novilho precoce, o Bertin deverá definir a rotina de abastecimento. “A partir de 2010 vamos começar a tra- var vendas”, prevê Leal. A ampliação e o estabelecimento de novas alianças comerciais aumentaram a procura de filiação à ASPNP por parte de novos pecuaristas. Pelo menos é o que garante o presidente da entidade, Nedson Rodrigues: “a partir desta ampliação de escala acatamos mais 16 novos associados e existem ainda oito pedidos em avaliação”. Para se associar, o pecuarista deve obedecer às normas determinadas pela ASPNP e submeter sua propriedade a uma vistoria técnica. Deve-se obedecer a critérios técnicos e administrativos. Todos os procedimentos, segundo Rodrigues, demoram cerca de 15 dias até a fazenda ser ou não aceita como associada. O investimento do pecuarista é de uma taxa de inscrição no valor de R$ 150,00, uma mensalidade equivalente ao valor de uma arroba/boi. No abate pelas alianças comerciais, o produtor ainda colabora com a taxa equivalente a um quilo de carne por animal. De acordo com Rodrigues, o número de pecuaristas associados só não é ainda maior em função de al- gumas características do pecuarista brasileiro, sobretudo no Centro-Oeste. “A maioria ainda vê dificuldades em mudar padrões de trabalho, tem certo medo do novo e culturalmente é tradicionalista”, comenta. Diante da nova demanda gerada, a ASPNP pretende ampliar a escala de abates e mergulhar com mais intensidade no mercado externo. Em estudos preliminares, por exemplo, está a possibilidade da busca do selo de Indicação Geográfica “Novilho Precoce do Mato Grosso do Sul” que no entender de Rodrigues ajudaria a promover a carne. “De imediato não seria uma ferramenta para agregar valor ao produto, mas vejo como uma boa alternativa de marketing”, disse. Como é – a ASPNP surgiu em 1998 com o objetivo estritamente comercial, ou seja, para “melhorar a remuneração do pecuarista padronizando a produção através de critérios de qualidade, maturidade, peso de carcaça, identificação de origem, dentre outros parâmetros”, revela o presidente. A associação é considerada uma entidade independente, ou seja, não se reporta a qualquer outra em nível nacional. “Chegamos a tentar um contato com a Associação Brasileira de Novilho Precoce (ABNP) mas não progrediu; hoje tenho informações de que estaria desa- tivada”, comenta Rodrigues. A “Panorama Rural” tentou contato com a ABNP por telefone por diversas vezes em horário comercial, sem obter sucesso. No site oficial – www.novilhoprecocebrasil.com.br – há informações atualizadas até julho deste ano. Dentre as normas técnicas gerais – fora os padrões das alianças – exigidas pela ASPNP para o abate, está a idade limite de 36 meses para animais nelore e de 30 meses para animais cruzados. O peso varia de 180 kg (12@) para as fêmeas e de 220 kg a 225 kg (14 a 15 @) para machos. Todos os animais devem ser rastreados e possuir capa de gordura, sendo que sua ausência ou o excesso (acima de 10 mm) leva à desclassificação. A associação também exige um sistema produtivo sustentável e social e ecologicamente em sintonia com as leis brasileiras. PR Panorama Rural Novembro 2009 77 unipac dispõe de soluções para produtores de leite e queijo Divulgação Divulgação atóxicos e que não amassam mesmo sob condições severas de transporte e manuseio e conservam a qualidade do leite extraído da vaca até sua transferência aos reservatórios refrigerados, mesmo em longos percursos sob o sol. A novidade desta linha é a versão Standard. Disponível com 3 ou 5 litros, o item é indicado tanto para o armazenamento de leite como mantimentos, sucos, entre outros alimentos. Do seu portfólio, destaca-se a linha Milkan Ordenhadeira, que possui capacidade de 40 litros é específica para atender o produtor que utiliza o sistema de ordenha mecânica ao pé da vaca. O produto é translúcido, possui escala de graduação para facilitar a visão do nível do leite no recipiente enquanto é ordenhado, evitando o transbordo ou o retorno para a bomba de vácuo. Além disso, possui alças nas laterais e área para encaixe da mão no fundo da embalagem, que facilitam o manuseio. Ordeinhadeira da Unipac A Unipac, uma divisão de negócios do Grupo Jacto, amplia seu portfólio com soluções que atendem a demanda do mercado agropecuário. Os produtos são feitos de plástico e foram criados para facilitar a vida do homem do campo, mas também beneficiam grandes laticínios, cooperativas e produtores de leite e queijo de todo o Brasil, pois são facilmente higienizáveis e resistentes. Dentre as soluções para este setor está a Linha de Formas específicas para a produção de queijos. A forma para o tipo minas frescal é encontrada nas versões com 1/2 kg ou 1 kg; já para a produção de mozarela, a capacidade é de 4 kg. Para oferecer um resultado completo, a área de laticínios da Unipac apresenta o Coador com Peneira. Seu funil tem diâmetro de 300 mm, sendo próprio para dar a vazão adequada no momento de colocação do leite em recipientes. A peneira tem diâmetro de 147 mm e é de nylon com malha 100. Para o transporte e armazenagem de leite, desde a ordenha até o laticínio, os produtores têm à sua disposição a Linha Milkan, encontrada nas versões Standard, Ordenhadeira e Transporte. São produtos resistentes, leves, 78 Panorama Rural Novembro 2009 Unipac Milkan Standard Produtos com resistência superior – Na produção destes produtos, a empresa utiliza matérias-primas de qualidade e controla rigorosamente cada etapa do processo de produção, visando oferecer o máximo em segurança e proteção. “Observamos um aumento da demanda por nossos produtos principalmente porque eles possuem qualidade e resistência superiores, se comparado aos similares de mercado. Além disso, facilitam o manuseio e a higienização, o que se traduz em praticidade para o produtor agropecuário”, explica Geraldo Cassiano, gerente comercial da Divisão de Agropecuária da Unipac. O executivo informa que para a limpeza destes produtos basta vapor de água (água quente) e escovas macias. Não é indicado o uso de materiais abrasivos, como escovas ou palhas de aço. PR CONHEÇA OS LANÇAMENTOS 2009 DA STARA Em 2009, a Stara bate recorde de lançamento de produtos Brava Elektra O ano de 2009 está sendo marcado pelo lançamento recorde de novos produtos da Stara, o que demonstra a eficiência da empresa em inovar e se antecipar lançando no mercado produtos que atendam as necessidades dos produtores. Essa estratégia mantém a Stara como uma empresa líder em levar novidades para o campo, isso demonstra que na Stara a evolução é constante. Entre os oito lançamentos deste ano estão: Brava Elektra – a líder absoluta do mercado agora com regulagem elétrica das chapas despigadoras. A Brava Elektra é uma plataforma para colheita de milho equipada com um sistema de regulagem elétrica das chapas despigadoras, o qual é acionado com apenas um toque no controle remoto, eliminando a regulagem manual das linhas. As suas transmissões laterais recebem o banho de óleo que proporciona melhor desempenho do sistema, diminuindo o aquecimento e eliminando o gotejo do óleo, resultando em maior durabilidade das correntes. A Fox – Escarificação e descompactação ideal para o plantio direto realiza a escarificação e descompactação do solo em uma profundidade máxima de 26 cm, proporcionando uma maior capacidade de armazenamento das águas das chuvas e um melhor ambiente para o desenvolvimento das raízes das culturas a serem plantadas. Ideal para o plantio direto, pois preserva toda a palhada das culturas na superfície do solo. Twister 1500 APS – primeiro distribuidor hidráulico do Brasil com taxa variável. O Twister 1500APS, um distribuidor de sementes e fertilizantes que possui como opcional o sistema APS (Controlador Falcon + DGPS) que realiza aplicação a taxa variável, garantindo uma aplicação precisa e uniforme com melhor aproveitamento dos produtos a serem aplicados. Seus mexedores são helicoidais com rotação de apenas 196 rpm, evitando que o produto aplicado sofra danos como moagem, o que garante maior distância de lançamento do mesmo. Twister controlador Merial lança Gastrogard ® solução para o tratamento e prevenção de gastrites e úlceras em equinos Merial Saúde Animal acaba de lançar no mercado Gastrogard®, medicamento desenvolvido especialmente para o tratamento e prevenção de gastrites e úlceras em equinos. Em pesquisa inédita no Brasil, a Merial apresentou durante o WEVA - Congresso Mundial de Medicina Veterinária para Equinos, estudos sobre a incidência da doença em animais de esporte, haras e planteis brasileiros. Diminuição do apetite, má condição corporal, diminuição do desempenho, diarréia, cólicas ranger de dentes e salivação excessiva são apenas alguns dos sinais que um cavalo pode apresentar quando está com úlceras gástricas. Segundo Alessandro Orsolini, Coordenador Técnico de Equinos da Merial Saúde Animal, a incidência de úlceras está ligada a hábitos alimentares e ao estresse desses animais. “A rotina de cavalos atletas exige uma atenção especial de veterinários e proprietá- rios, pois as atividades destes equinos normalmente são intensas. Uma endoscopia pode confirmar a presença de lesões para que um tratamento seja iniciado. Pesquisas realizadas nos Estados Unidos mostraram que uso do Gastrogard® curou ou ainda melhorou o problema de úlceras em 99% dos cavalos analisados e, em poucos dias, o equino pôde voltar às atividades diárias”, observa Orsolini. Gastrogard deve ser administrado por via oral. Seu princípo ativo omeprazol inibe a produção ácida que provoca as lesões.”O Gastrogard® é sem dúvida a solução que faltava no mercado de medicamentos para equinos. Seu lançamento reflete nossa estratégia de apoio multidimensional aos clínicos e criadores brasileiros objetivando o desenvolvimento e valorização do segmento”, conclui Luiz Luccas, diretor de operações para animais de companhia da Merial. PR Panorama Rural Novembro 2009 79 O moderno procedimento VOMM para desidratação de carne para uso alimentício A contínua crescente demanda de produtos protéicos, destinados à alimentação e sua limitada disponibilidade, devido especialmente a necessidade da cadeia do frio, nem sempre disponível e de qualquer forma extremamente cara, torna cada vez mais atual a necessidade de transformar alimentos frescos em produtos desidratados (secos) regeneráveis e, portanto, conserváveis durante longos períodos sem particulares estruturas limitantes (ex.: a linha de conservação de super gelados). Dentro deste objetivo, a especialização na transformação de alimentos deve centrar sua atenção para soluções tecnológicas mais avançadas, que sejam possíveis com investimentos não excessivamente onerosos que, de forma contrária, poderiam comprometer a estrutura financeira do negócio. Por outro lado, deve-se resolver com rapidez e simplicidade problemas tecnológicos complexos para transformar estes produtos, a base de carne, frescos ou perecíveis, num patrimônio energético alimentar de ampla disponibilidade. A empresa VOMM propõe uma linha especializada no tratamento de carne fresca baseada na utilização de seus turbo secadoresTM, já amplamente conhecidos e aplicados no setor de alimentos processados. O processo VOMM de produção de alimentos desidratados a partir de produtos de abate animal é dirigido a obter o melhor resultado em termo de qualidade com o menor custo de produção. Como melhor resultado qualitativo entendemos: - Elevado valor biológico. - Ampla possibilidade de emprego do produto seco. - Controlados níveis de pureza microbiológica, dentro dos parâmetros exigidos para os produtos cárneos. Para obter o mínimo custo de produção é necessário: - Baixo consumido energético - Investimento reduzido - Processo compacto com poucas etapas - Nenhuma emissão poluente - Nenhum subproduto obtido no processo. Do ponto de vista qualitativo, a TURBO TECNOLOGIATM VOMM aplicada ao procedimento de tratamento de carne, permite manter no maior nível o valor biológico das características nutricionais do produto original. A tecnologia de processo escolhida (VOMM) possibilita realizar toda a operação (do produto fresco até o granulado terminado) no tempo total de poucos minutos. Este resultado se fundamenta nos reduzidos tempos de contato em alta temperatura que a TURBO TECNOLOGIATM VOMM requer. Esta tecnologia é baseada em reatores horizontais de parede aquecida por circulação de vapor dentro dos quais gira em alta velocidade periférica um turbo agitador de desenho exclusivo que mantém em centrifugação, como película dinâmica fina, os ingredientes. Eng. Marco Vezzani Depto. Técnico – VOMM BRASIL 11 3931.9888 – [email protected] Turbo secadorTM 80 Panorama Rural Novembro 2009 Panorama Rural Novembro 2009 81 Feiras & Exposições 68ª Expo Nordestina Local: Parque Professor Antonio Coelho – Recife/PE Data: 08 a 15 de novembro de 2009 Contato: (81) 3228-4332 e snc@uol. com.br 8ª Expo André da Rocha Local: André da Rocha/RS Data: 12 a 15 de novembro de 2009 Contato: (54) 3611-1331 VII FestBerro – Exposição de Ovinos e Caprinos Local: Tauá/CE Data: 18 a 22 de novembro de 2009 Contato: (88) 3437-2068 Expovizinhos – Feira Agropecuária, Comercial e Industrial de Dois Vizinhos Local: Parque de Exposições de Dois Vizinhos/PR Data: 22 a 29 de novembro de 2009 Contato: (46) 3536-1235 fale com o editor: [email protected] IV Expoloanda Local: Loanda/PR Data: 26 a 29 de novembro de 2009 Contato: (44) 3425-1330 Fenagro 2009 – 22ª Feira Internacional da Agropecuária Local: Salvador/BA Data: 28 de novembro a 06 de dezembro de 2009 Contato: (71) 3375-3062 e abcnews@ terra.com.br Eventos & Leilões II Congresso Nacional do Cavalo Mangalarga Marchador Local: Porto Seguro/BA Data: 19 a 22 de novembro de 2009 Contato: (31) 3379-6100 e abccmm@ abccmm.org.br XVII Curso sobre Leite de Cabra e Derivados: Queijos Local: Capritec – Espírito Santo do Pinhal/SP Data: 28 e 29 de novembro de 2009 Contato: (19) 3651-5531 e [email protected] Congresso sobre Manejo e Nutrição de Aves e Suínos Local: Auditório do IAC – Campinas/SP Data: 11 a 13 de novembro de 2009 Contato: (19) 3232-7518 e cbna@cbna. com.br 4º Encontro Brasileiro de Hidroponia Local: Hotel Praiatur – Florianópolis/SC Data: 19 e 20 de novembro de 2009 Contato: (48) 3028-9052 e [email protected] III Curso de Genética Molecular aplicada à Reprodução Animal Local: Parque Estação Biológica – Brasília/DF Data: 16 a 21 de novembro de 2009 Contato: (61) 3448-4783 e [email protected] Curso de Projeto e Construção de Carretas de Transbordo para Cana-de-Açúcar Local: Centro de Pesquisa de Cana – Ribeirão Preto/SP Data: 24 de novembro de 2009 Contato: (11) 3231-4522 I Curso de Gestão na Caprinocultura e na Ovinocultura Local: Capritec – Espírito Santo do Pinhal/SP Data: 28 de novembro de 2009 Contato: (19) 3651-5531 e [email protected] 23º Curso de Sistema Rotacionado Intensivo de Produção de Pastagens para Bovinos Leiteiros Local: Esalq/USP – Piracicaba/SP Data: 16 a 19 de novembro de 2009 Contato: (19) 3417-6604 e cdt@fealq. irg.br 11º Congresso de Agribusiness da Sociedade Nacional de Agricultura Local: Confederação Nacional do Comércio – Rio de Janeiro/RJ Data: 24 e 25 de novembro de 2009 Contato: (21) 3231-6350 e eventos@ sna.agr.br 12ª Jornada de Atualização em Agricultura de Precisão Local: Esalq/USP – Piracicaba/SP Data: 30 de novembro a 04 de dezembro de 2009 Contato: (19) 3417-6604 e cdt@fealq. org.br 17º Encafé – Encontro Nacional da Indústria de Café Local: Vila Galé Marés Resort – Salvador/BA Data: 18 a 22 de novembro de 2009 Contato: (11) 3868-4037 e encafe@ abic.com.br III Congresso Brasileiro de Tomate Industrial Local: Centro de Convenções – Goiânia/ GO Data: 25 e 28 de novembro de 2009 Contato: (62) 3241-3939 e tomate@ wincentraldeeventos.com.br 4º Congresso Latino Americano sobre as Perspectivas do Setor de Celulose e Papel Local: São Paulo/SP Data: 15 a 17 de novembro de 2009 Contato: (11) 9904-5350 e [email protected] I Congresso Brasileiro de Pesquisa em Pinhão Manso Local: Brasília Alvorada Hotel – Brasília/DF Data: 11 e 12 de novembro de 2009 Contato: (11) 5523-9413 e congresso@ abppm.com.br 82 Panorama Rural Novembro 2009 9º Leilão Pompeu Borba Oferta: Santa Inês, Boer e Dorper Local: João Pessoa/PB Data: 28 de novembro de 2009 Horário: 13 horas Informações: (83) 9941-5649 84 Panorama Rural Novembro 2009