Ler - Frutas, Legumes e Flores
Transcrição
Ler - Frutas, Legumes e Flores
SALA DE CORTE Em tempo de couve, uma salada Num espaço onde a especialidade são vários cortes de carne, Luís Gaspar abre mão da ementa habitual da Sala de Corte e constrói uma salada com couve roxa e couve coração-de-boi. Rita Marques Costa 60 frutas, legumes e flores | Janeiro 2016 Na rua da Ribeira Nova, no Cais do Sodré, entre bares que só abrem a horas mais altas da noite e tascas onde se pedem as imperiais e os tremoços ao balcão, pode encontrar-se no número 28 a recém-criada Sala de Corte. A porta da entrada, tapada por uma cortina semelhante às que se encontram nas salas de corte dos talhos, é o primeiro elemento com que nos deparamos ao entrar no restaurante lisboeta. Os pedaços de carne, do chuléton de buey à familiar picanha, expostos à entrada da Sala, são a especialidade. A escolha da carne foi feita através de uma prova cega para garantir a «melhor qualidade». Nenhuma vem de Portugal, «pela falta de consistência». Vêm maioritariamente da Polónia, à excepção da picanha, que é uruguaia. Contudo, os frutos e os hortícolas são «comprados a produtores locais», assegura o Chefe Luís Gaspar. O conceito do restaurante, que abriu portas no primeiro semestre de 2015, «não existia antes» em Portugal. O projecto está a «correr muito bem». Ao fim-de-semana, servem-se entre 60 a 70 jantares e 30 almoços no pequeno espaço da Sala de Corte. Durante a semana, as refeições servidas ficam-se pelas três dezenas ao almoço e ao jantar. Os bancos de couro, a luz suave, as conservas de cebolas e alhos em grandes potes e os presuntos pendurados pela pata são alguns dos elementos que compõem o ambiente do restaurante. Com a bancada imaculadamente limpa e todos os ingredientes preparados, Luís Gaspar inicia a preparação da salada de couve coração-de-boi e couve roxa, queijo de cabra e maçã Granny Smith enquanto conversa. Aos 24 anos, o currículo é longo. Natural de Leiria, onde se formou, Luís Gaspar escolheu Lisboa como local de trabalho. Começou no Hotel Pestana Palace, depois passou para o Real Villa Itália, de seguida para o Real Palácio e «há cerca de dois anos» integrou o grupo Multifood, onde trabalhou com o chefe Henrique Sá Pessoa, no Cais da Pedra. A Sala de Corte é o seu primeiro projecto como Chefe. Por isso, teve de se focar na aprendizagem de competências que lhe permitissem «trabalhar em monoproduto». «Tive de fazer estudos, formação, tive de desenvolver essa vertente académica», explica. No prato começa a materializar-se a salada que combina «sabores de que gosto muito», confessa o jovem Chefe. São as maçãs, as trufas e as avelãs, o fruto seco favorito de Luís. «Sempre quis ser cozinheiro. Foi através da minha mãe que nasceu o gosto pela cozinha, apesar de não ser cozinheira profissional», assegura. O seu horário normal não se encaixa no típico «horário de escritório». Todos os dias trabalha entre 12 a 16 horas. «Já estava mentalizado e formatado para ter de fazer esse sacrifício.» Os feitos do jovem Chefe não se ficam por aqui. Desde 2009 que integra a Selecção Nacional de Cozinha. Primeiro na equipa júnior, com a qual venceu, em 2010, uma medalha de ouro e outra de prata, e, actualmente, na equipa sénior. A competição, cujos expoentes máximos são os campeonatos do mundo e as Olimpíadas, colocam à prova grupos de seis Chefes que representam os seus países e devem cozinhar uma entrada, um prato principal e uma sobremesa, como se estivessem num restaurante. Com a precisão de um mestre que pratica a arte desde que tem memória, o cozinheiro recorre a pinças e bisnagas para terminar o seu prato. Pequenos apontamentos feitos com a maionese de trufas e microervas rematam a composição. Salada de couve coração-de-boi e couve roxa, queijo de cabra e maçã Granny Smith Ingredientes 200 g de couve roxa 200 g de couve-coração de boi 100 g de queijo de cabra 200 g de maçã Granny Smith 50 g de maionese caseira 5 ml de azeite de trufa 15 g de mostarda Dijon 5 g de mel 5 g de miolo de avelã torrado 5 g de presunto pata negra Flor de sal, q.b. Pimenta preta, q.b. 15 g de pão ralado 15 g de farinha de milho 2 ovos frescos Preparação Lamine a couve roxa e a couve coração-de-boi em juliana fina. Corte a maçã em juliana fina. Envolva a couve com a maionese, a mostarda Dijon, o azeite de trufa e a maçã. Tempere tudo com flor de sal e pimenta preta. Adicione o miolo de avelã torrado. Faça quatro bolas do mesmo tamanho com o queijo de cabra. Passe bolas de queijo de cabra por farinha de milho, ovo e pão ralado, e frite-as em óleo quente (180 °C). Emprate a salada de couve e sobreponha as lascas de presunto pata negra. Finalize com a bola de queijo de cabra frita. frutas, legumes e flores | Janeiro 2016 61